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EVENTO CATASTRÓFICO DE SUBSIDÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS EM TRECHO DO RIO AMAZONAS À MONTANTE DA CIDADE DE PARINTINS-AM FABRÍCIO DA PAZ QUEIROZ SARDINHA 1 JOSÉ ALBERTO LIMA DE CARVALHO 2 ANDRÉ CAMPOS ALVES 3 RAIONE GONÇALVES DE CASTRO 4 RESUMO: Ocorrência de subsidência na superfície terrestre é comum e está sempre associada a fatores geológicos, mas podem resultar também de atividades econômicas como extração de água subterrânea, atividades minerárias, extração de petróleo e gás. Em canais fluviais, geralmente em rios de médio e grande porte, podem sofrer acomodação em seu leito. É o caso do rio Amazonas onde já há registros de várias ocorrências de subsidência em seu leito e em seus afluentes. No caso dos rios amazônicos as subsidências são fenômenos exclusivamente naturais, e que podem provocar alterações consideráveis na dinâmica fluvial, bem como na paisagem ribeirinha, como foi o caso de um fenômeno que ficou conhecido como evento Saracura na Comunidade da Costa da Águia em Parintins-AM. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma interpretação para esse evento que ocorreu no leito do rio Amazonas a 35 km a montante da cidade de Parintins-AM em março de 2007 quando por volta das 11:00hs os moradores foram surpreendidos por um grande estrondo vindo do meio do rio, seguido por uma onda gigante de aproximadamente 6m de altura seguida de outras menores que como efeito dominó adentrou 460m na margem, inclusive com perda humana e muitos prejuízos para os moradores. Os procedimentos metodológicos foram baseados em observação em campo e análise laboratorial. A interpretação é de que o sinistro ocorrido naquele trecho do rio resultou de um abatimento no fundo do rio, resultado da ação conjugadas de vários fatores, sendo a influência dos lineamentos neotectônicos uma das principais causas. Disso se conclui que o fenômeno é complexo e afetou uma área de centenas de metros quadrados e, pela intensidade com que ocorreu, provocou sérios transtornos socioeconômicos aos moradores ribeirinhos, em alguns casos com perdas humanas, sendo decretada, pelas autoridades do município, área de risco. . Palavras-chave: Rio Amazonas; subsidência; paisagem; Costa da Águia. 1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 3 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 4 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected]

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EVENTO CATASTRÓFICO DE SUBSIDÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS EM TRECHO DO RIO AMAZONAS

À MONTANTE DA CIDADE DE PARINTINS-AM

FABRÍCIO DA PAZ QUEIROZ SARDINHA1 JOSÉ ALBERTO LIMA DE CARVALHO2

ANDRÉ CAMPOS ALVES3 RAIONE GONÇALVES DE CASTRO4

RESUMO: Ocorrência de subsidência na superfície terrestre é comum e está sempre associada a fatores geológicos, mas podem resultar também de atividades econômicas como extração de água subterrânea, atividades minerárias, extração de petróleo e gás. Em canais fluviais, geralmente em rios de médio e grande porte, podem sofrer acomodação em seu leito. É o caso do rio Amazonas onde já há registros de várias ocorrências de subsidência em seu leito e em seus afluentes. No caso dos rios amazônicos as subsidências são fenômenos exclusivamente naturais, e que podem provocar alterações consideráveis na dinâmica fluvial, bem como na paisagem ribeirinha, como foi o caso de um fenômeno que ficou conhecido como evento Saracura na Comunidade da Costa da Águia em Parintins-AM. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma interpretação para esse evento que ocorreu no leito do rio Amazonas a 35 km a montante da cidade de Parintins-AM em março de 2007 quando por volta das 11:00hs os moradores foram surpreendidos por um grande estrondo vindo do meio do rio, seguido por uma onda gigante de aproximadamente 6m de altura seguida de outras menores que como efeito dominó adentrou 460m na margem, inclusive com perda humana e muitos prejuízos para os moradores. Os procedimentos metodológicos foram baseados em observação em campo e análise laboratorial. A interpretação é de que o sinistro ocorrido naquele trecho do rio resultou de um abatimento no fundo do rio, resultado da ação conjugadas de vários fatores, sendo a influência dos lineamentos neotectônicos uma das principais causas. Disso se conclui que o fenômeno é complexo e afetou uma área de centenas de metros quadrados e, pela intensidade com que ocorreu, provocou sérios transtornos socioeconômicos aos moradores ribeirinhos, em alguns casos com perdas humanas, sendo decretada, pelas autoridades do município, área de risco. . Palavras-chave: Rio Amazonas; subsidência; paisagem; Costa da Águia.

1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 3 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected] 4 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail de contato: [email protected]

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ABSTRACT: Land surface subsidence is common and is always associated with geological factors, but can also result from economic activities such as extraction of groundwater, mining activities, extraction of oil and gas. In river channels, usually in medium and large rivers, they may be accommodated in their beds. This is the case of the Amazon River where there are already records of several occurrences of subsidence in its bed and its tributaries. In the case of the Amazonian rivers, subsidence is exclusively natural phenomena, which can cause considerable changes in river dynamics as well as in the riverside landscape, as was the case of a phenomenon that became known as Saracura event in the Community of Costa da Águia in Parintins- AM. The present work aims to present an interpretation for this event that occurred in the bed of the Amazon River 35 km upstream of the city of Parintins-AM in March 2007 when around 11:00 am the residents were surprised by a great crash coming of the middle of the river, followed by a giant wave of approximately 6m of height followed by other smaller ones that like domino effect entered 460m in the margin, including with human loss and many damages for the residents. The methodological procedures were based on field observation and laboratory analysis. The interpretation is that the sinister occurred in that part of the river resulted from a reduction in the river bottom, a result of the action of several factors, and the influence of neotectonic lineaments is one of the main causes. From this it is concluded that the phenomenon is complex and affected an area of hundreds of square meters and, due to the intensity with which it occurred, caused serious socioeconomic disorders to the riverside residents, in some cases with human losses, being decreed, by the authorities of the municipality, area of risk

1 – Introdução

Texeira et al. (2001) compreende o processo de subsidência como um fenômeno

sutil e lento, todavia de colapso rápido, e que provoca rebaixamento na superfície

devido às alterações que ocorrem nas camadas subterrâneas, em outras palavras, é

a redução do nível do terreno devido à remoção do suporte de base (CABRAL, 2006).

No entanto, quando se trata dos casos de subsidência no leito dos rios amazônicos,

as causas são exclusivamente naturais, talvez por isso o tema seja tão pouco

discutido. Mesmo assim, não podemos negligenciar o potencial transformador da

subsidência na geometria dos canais dos rios amazônicos, nem tão pouco negar suas

implicações sociais.

Para comprovar esse processo, o presente trabalho utilizou como exemplo o

evento ocorrido no dia 02 de março de 2007, na Costa da Águia, margem direita do

Rio Amazonas, 35 km a montante da cidade de Parintins - AM, quando uma

subsidência no leito do Rio Amazonas desencadeou a maior catástrofe de terras

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caídas que se tem registro. O episódio ficou conhecido como Evento Saracura da

Costa da Águia.

O presente trabalho apresenta uma interpretação de que se trata de abatimento

que aconteceu no fundo do rio, ou seja, um processo de subsidência que como efeito

dominó adentrou 460m na margem, causando mudança na paisagem da margem e

muitos prejuízos aos moradores, inclusive o mais grave que foi o medo psicológico

causado aos moradores.

2 – Localização da área de estudo

O município de Parintins localiza-se no extremo leste do Estado do Amazonas

tendo como limite o município de Juriti no estado do Pará (Figura 01). Suas

coordenadas geográficas são 02º36’48’’ Latitude Sul e 56º44’09’’ Longitude Oeste.

Possui uma área territorial de 5.952,30 km². Sua distância em relação à capital

Manaus é de 369 km em linha reta e 420 km em via fluvial (IBGE, 2010). Já a

Comunidade da Costa da Águia fica localizada 35km à montante da cidade de

Parintins, à margem direita do rio Amazonas, tendo como coordenadas geográficas:

S 02º 33’ 07’’ e W 57º 02’ 14’’ (Figura 01). Figura 1 - Mapa de localização geográfica do trecho onde ocorreu a subsidência.

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Fonte: IBGE (2010). Org.: O autor, 2019.

O trecho onde ocorreu a subsidência encontra-se em uma zona limítrofe entre

duas unidades geológicas distintas onde se cruzam dois “trends” estruturais criando

assim uma zona rebaixada regida por falhas que, por sua vez, controlam todo o Rio

Amazonas na região, desde antes de sua entrada no município de Parintins até a sede

do município, como podemos observar na figura 3.

Figura 3 - Imagem do LANDSAT 7 (2000) usada para interpretar o controle estrutural do rio Amazonas.

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Fonte: Igreja, H. L. S; Palha, W. S.M; Carvalho, A. S., (2008). Org.: autor (2019).

Trata-se de um trecho subsidente, onde podemos observar claramente a

presença de falhas geológicas que controlam todo o rio Amazonas e o seu grande e

complexo sistema flúvio-lacustre na região. Logo, podemos concluir que se trata de

uma zona sismogênica, onde a combinação das falhas pode ter sido o grande fator

responsável pela formação dessa fossa tectônica.

O trecho é composto por cinturões holocênicos argilosos, siltosos e silto-

arenosos incoesos que formam uma várzea baixa (planície de inundação), susceptível

a intensos processos fluviais.

3 – Materiais e métodos

Para a interpretação do ocorrido naquele trecho do rio foram feitas medições

batimétricas transversais e longitudinais do trecho em questão, utilizando-se para isso

um ecobatímetro da marca Garmin, cujo sensor foi amarrado a uma haste de madeira

posicionada na lateral de uma pequena embarcação, a uma profundidade de 70cm.

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O equipamento, modelo echoMAP 52dv, conta com tela colorida de 5 polegadas, com

sensor que opera em 50/200 kHz e é conectado ao sistema de posicionamento por

satélites. Foram feitas 2 medições batimétricas (transversal e longitudinal) no trecho

Rio Amazonas no dia 08 de fevereiro de 2019, quando o rio estava iniciando o período

de enchente.

4 – Resultados e discussões

4.1 Perfis batimétricos da área afetada

O perfil batimétrico Nº 1 foi transversal e seguiu no sentido margem direita

(2°33'17.94"S e 57° 2'51.31"O) em direção a margem esquerda (2°32'14.28"S e 57°

2'53.59"O) partindo exatamente da direção de onde ocorreu a subsidência. O perfil

nos revela que o talvegue se aprofunda de maneira notável ao nos aproximarmos da

margem direita exatamente onde ocorreu a subsidência que desencadeou o Evento

Saracura (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Perfil batimétrico transversal no local da subsidência

O perfil Nº 2 foi longitudinal, tendo como uma distância média de 400 m da

margem direita, 1.220 m à montante do local da subsidência (2°33'2.79"S e 57°

3'29.33"O) seguindo sentido jusante se estendendo até 1.108 m abaixo do local da

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subsidência (2°33'0.80"S e 57° 2'20.65"O). Percebe-se no perfil longitudinal que o leito

do Rio Amazonas se aprofunda de maneira abrupta no trecho onde ocorreu o Evento

Saracura da Costa da Águia, além de ser o único trecho dentre todos percorridos a

alcançar a marca dos 100 m de profundidade (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Perfil longitudinal descendo o rio no sentido jusante

A área afetada pela subsidência, encontra-se sob grande “stress” hidrodinâmico,

onde podemos observar um intenso processo fluvial, como podemos observar na

figura 4, isso deve-se principalmente pelo controle estrutural, que por sua vez, causa

o estreitamento do canal fazendo com que haja um aumento considerável na

velocidade de fluxo, aumento assim a competência do rio em remover material tanto

de fundo, quanto de margem.

Figura 4 – Processos fluviais na área de estudo

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Fonte: MARQUES, R. O. (2017). Org.: autor (2019).

Ainda na figura 4, podemos observar o entrelaçamento do canal no trecho à

montante da área onde ocorreu o Evento Saracura, que ao se unir no trecho estreito

exatamente em frente a Costa da Águia, gera uma pressão hidráulica que, intensifica

tanto o processo erosão lateral e vertical, como o aumentando o fluxo do rio à jusante.

4.2 A subsidência

A detonação do evento a pelo menos 300 m da margem direita, exatamente onde

está essa zona de grande “stress” hidrodinâmico, provocou o levantamento de uma

onda gigantesca de aproximadamente 6 m de altura que se chocou contra a margem

direita, bem como uma acomodação de massa que progrediu em direção a base da

mesma margem.

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Todos esses fenômenos acontecendo de maneira quase que simultânea,

provocaram o abatimento de um grande volume do pacote sedimentar, abrindo assim

uma enseada semicircular com 620 m de frente por 480 m de fundo dando origem a

uma área de 297.600 m², como se pode observar na figura 5.

Figura 5 -Imagem mostrando a área afetada na margem direita do rio Amazonas

Fonte: Igreja, H. L. S; Palha, W. S.M; Carvalho, A. S., (2008). Org.: autor (2019).

Também não podemos deixar de ressaltar a influência da presença de um

paleoparaná de pequena profundidade que, eventualmente na ocasião das cheias

anuais, erodia a margem hoje abatida (CPRM, 2007).

4.3 Implicações sociais

Dentre as implicações destacam-se os seguintes danos: 130 pessoas atingidas,

com morte de um agricultor; trinta e duas residências localizadas próximas à margem

do rio danificadas; perda de aproximadamente 20 hectares de malva; Perda de três

embarcações, duas residências e do cultivo de agricultura de subsistência familiar

(CPRM, 2007).

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Além das perdas matérias e do ente querido os moradores estavam em pânico,

pois perderam a confiança de morar no local. Em depoimento diziam que davam

graças a Deus quando o dia amanhecia, pois não conseguiu dormir durante a noite

com receio de novos eventos. Atônitos não conseguiam entender o que poderia ter

causado tamanha tragédia. (IGREJA, H. L. S; CARVALHO, J. A. L.; FRANZINELLI,

E., 2010).

Segundo a população local, logo após o evento, as autoridades públicas se

comprometeram em retirar a população da área de risco, fato esse que até os dias

atuais não foi concretizado de maneira plena.

Tanto a CPRM, quanto a defesa civil, concluíram que a área deve ser

continuamente monitorada, pois trata-se de uma área de risco e que atualmente está

sendo ocupada pela população ribeirinha.

Figura 6 – A: Embarcações que foram lançadas para fora do rio indicando a grandeza das ondas. B: Vista da margem atingida pelo processo de subsidência.

Fonte: CPRM, 2007. Org.: Autor (2019).

Outro fato que podemos ressaltar, são os relatos dos ribeirinhos que afirmam

que antes do Evento Saracura, a margem direita era a mais rasa, enquanto que depois

do evento, passou a ser a mais profunda, tornando-se assim, a menos utilizada pelo

fluxo de embarcações que por ali passam desde então.

5 – Conclusões

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O curso do Amazonas na região, corresponde a uma geossutura antiga,

rebaixada, também regida por falhas que exercem um controle estrutural em todo o

rio Amazonas e o seu grande e complexo sistema flúvio-lacustre na região. Esse

controle estrutural influencia diretamente na geometria do canal, bem como na

pressão hidráulica na região, afunilando-a, provocando assim, um considerável

“stress” hidrodinâmico.

Por se tratar de uma zona rebaixada, regida por falhas e com um espesso

entulhamento sedimentar, formado principalmente por materiais arenosos, siltosos e

argilosos inconsolidados, podemos concluir que se trata de uma área instável,

suscetível a diversos processos naturais, dentre eles a subsidência em canal fluvial.

Analisando o caso ocorrido na Costa da Águia, podemos observar a extrema

impacto que o processo de subsidência em canal fluvial pode gerar na construção da

paisagem fisiográfica dos rios amazônicos.

Esse fato corrobora a importância do aprofundamento do debate científico a

respeito do tema, visto que as alterações na paisagem por tal processo interferem

diretamente na vida da população ribeirinha.

Ao finalizarmos esse trabalho, não podemos deixar de comentar a respeito da

situação de extrema vulnerabilidade a qual encontra-se a população ribeirinha da

Costa da Águia. Ressaltamos a necessidade de um mapeamento das possíveis áreas

onde a população está sujeita às influencias de novos eventos de subsidência. A

hierarquização dessas áreas de risco auxiliaria no planejamento ocupacional da área,

podendo evitar futuras tragédias como a ocorrida na Costa da Águia.

6 – Referências

CARVALHO, J. A. L. de. Terras caídas e consequências sociais: Costa do

Miracauera, Paraná da Trindade, Município de Itacoatiara-AM. 2006, Dissertação (Mestrado no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia) – Instituto de Ciências humanas e letras, Universidade Federal do Amazonas, Manaus: UFAM, 2006.

CARVALHO, J. A. L. Erosão nas margens do rio Amazonas: o fenômeno das terras caídas e as implicações na vida dos moradores. 185 p. (Tese de Doutorado.

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Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-Graduação em Geografia-PPGEO/UFF) Niterói, 2012.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial. São Paulo: Edgard Blucher, 1981. vol.

1. 313 p.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS – CPRM - (2007).

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CUNHA, Sandra Baptista da & GUERRA, A.J.T. - A questão ambiental: Diferentes abordagens. 4ª edição, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.

GUERRA, A.T. Novo Dicionário Geológico-geomorfológico / 3ª edição, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.

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IGREJA, H. L. S.; CARVALHO, J. A. L.; FRANZINELLI, E. Aspectos das Terras Caídas na região Amazônica. In: ALBUQUERQUE, A. R. C. (org.) Contribuições Teórico-metodológicas da Geografia Física. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2010.

MARQUES, R. O. Erosão nas margens do rio Amazonas: o fenômeno das terras caídas e as implicações para a cidade de Parintins-AM. 175 p. (Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia - Universidade Federal do Amazonas), Manaus-AM, 2017.

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