evangelho do dia e homilia · ... as tentaÇÕes a jesus no deserto ... para quarenta dias de jejum...

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM I DOMINGO DA QUARESMA ANO B "SE ÉS FILHO DE DEUS..." Vídeo - JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO - https://www.youtube.com/watch?v=uqxIYPD6qjE Vídeo - AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO - https://www.youtube.com/watch?v=4l18Onzmd1g A Noroeste de Jericó, há um maciço montanhoso, inculto e áspero, que tem o nome de "Monte da Quarentena" (Djebel Garantal). Nesse lugar, segundo a tradição, é que Jesus se retirou para quarenta dias de jejum e oração, logo depois do batismo recebido nas águas do rio Jordão. A primeira quaresma do cristianismo! E aí, como nos contam os evangelhos, Jesus foi agredido pelo demônio com três violentas tentações. Misteriosas tentações, na verdade, pelas quais o divino Salvador quis ser solidário com nossa condição de frágeis criaturas humanas, sujeitas a todo o tipo de tentações. É claro que Ele jamais poderia ceder a nenhuma tentação; mas quis com seu exemplo ensinar-nos o modo de vencê-Ias. Como disse elegantemente o nosso Padre Vieira, no sermão que pregou em Roma, num.primeiro domingo da Quaresma, na igreja de Santo Antônio dos Portugueses: "Permitiu, pois, Cristo Senhor nosso ser tentado do demônio hoje, não para se honrar com a vitória (que era pequeno triunfo), mas para nos ensinar a vencer com seu exemplo". O evangelho de Marcos, na sua costumeira concisão, nos diz apenas que Jesus se retirou para o deserto e aí foi tentado por Satanás, e os anjos o serviam (cfr Mc 1,12 -13). Mas tanto Mateus como Lucas desenvolvem a narração das tentações e da vitória. Jesus tinha passado quarenta dias em jejum, e estava sentindo fome. O demônio começou por aí: "Se és filho de Deus, manda que

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B "SE ÉS FILHO DE DEUS..."

Vídeo - JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO - https://www.youtube.com/watch?v=uqxIYPD6qjE Vídeo - AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO - https://www.youtube.com/watch?v=4l18Onzmd1g

A Noroeste de Jericó, há um maciço montanhoso, inculto e áspero, que tem o nome de

"Monte da Quarentena" (Djebel Garantal). Nesse lugar, segundo a tradição, é que Jesus se retirou para quarenta dias de jejum e oração, logo depois do batismo recebido nas águas do rio Jordão. A primeira quaresma do cristianismo! E aí, como nos contam os evangelhos, Jesus foi agredido pelo demônio com três violentas tentações. Misteriosas tentações, na verdade, pelas quais o divino Salvador quis ser solidário com nossa condição de frágeis criaturas humanas, sujeitas a todo o tipo de tentações. É claro que Ele jamais poderia ceder a nenhuma tentação; mas quis com seu exemplo ensinar-nos o modo de vencê-Ias. Como disse elegantemente o nosso Padre Vieira, no sermão que pregou em Roma, num.primeiro domingo da Quaresma, na igreja de Santo Antônio dos Portugueses: "Permitiu, pois, Cristo Senhor nosso ser tentado do demônio hoje, não para se honrar com a vitória (que era pequeno triunfo), mas para nos ensinar a vencer com seu exemplo".

O evangelho de Marcos, na sua costumeira concisão, nos diz apenas que Jesus se retirou para o deserto e aí foi tentado por Satanás, e os anjos o serviam (cfr Mc 1,12 -13). Mas tanto Mateus como Lucas desenvolvem a narração das tentações e da vitória. Jesus tinha passado quarenta dias em jejum, e estava sentindo fome. O demônio começou por aí: "Se és filho de Deus, manda que

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estas pedras se transformem em pães" (Mt 4, 3).

A resposta de Jesus foi imediata: "Está escrito: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda a

palavra que sai da boca de Deus'" (v 4). O tentador o levou, então, à Cidade Santa e o colocou no pináculo do Templo. E o desafiou: "Se és Filho de Deus, atira-te daqui para baixo, pois está escrito: 'Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para não tropeçares em alguma pedra'''.

E Jesus respondeu prontamente: "Também está escrito: 'Não tentarás o Senhor teu Deus'

(ibid., vv 6 e 7). É interessante notar que uma desta tentação vai reaparecer no Calvário: "Se és Filho de Deus, desce da cruz" (Mt 27, 40). E veio, então, a terceira tentação. Por não sabermos qual sorte de fantasmagoria, o demônio transportou Jesus a um monte altíssimo, e ali daquelas alturas lhe mostrou o deslumbrante espetáculo da grandeza de todos os reinos do mundo. E lançou seu insolente desafio: "Eu te darei tudo isto, se prostrado me adorares". E Jesus respondeu com nobre majestade: "Vai-te, Satanás, porque está escrito: 'Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto" (vv. 8-10). Aí, o demônio o deixou em paz e vieram os anjos do céu para servi-Io.

E fácil descobrir como essas tentações correspondem às três áreas de inclinação para o mal

a que está sujeito o homem nesta terra: a área dos prazeres dos sentidos, a área da soberba e da vaidade, e a área da cobiça dos bens e do dinheiro. Os três ídolos aos quais o homem de hoje presta sua adoração: o prazer, o poder, o dinheiro. E Jesus nos ensina o caminho para vencer essas más inclinações. E procurar a força de Deus, a força de sua palavra, que ilumina os caminhos e nos dá coragem para caminhá-Ios.

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A Quaresma está aí para nos ajudar nesse trabalho. Para nos levar à conversão, na medida

em que dela precisamos. E justamente nos traz neste primeiro domingo o exemplo de Jesus. Convidamos a usar o remédio que Ele usou: a Palavra de Deus, a oração, o jejum. Quaresma é tempo da Palavra de Deus. Como não lembrar as famosas pregações quaresmais de outros tempos? Os pastores de hoje, em estilo mais modesto, sabem descobrir novos caminhos para a catequese e a evangelização. A Campanha da Fraternidade cumpre em grande parte esse papel. Quaresma é tempo de oração.

Rezar mais e, sobretudo, rezar melhor. E incrível a desproporção entre os poucos minutos

diários que os cristãos, na média, dedicam à oração, e as muitas horas gastas nas outras ocupações! Quaresma é tempo de jejum e penitência. A Igreja abrandou muito a antiga disciplina do jejum, que era observado outrora realmente durante quarenta dias. Em parte ela o fez, olhando para os milhões de cristãos de hoje, que fazem um jejum forçado, pelas condições de pobreza em que se encontram. Mas não estamos dispensados do jejum. Ou melhor, não estamos dispensados de praticar a sobriedade cristã, que nos faz moderar o uso da comida e da bebida e fugir de todos os excessos, por exemplo, no hábito de fumar. Vamos desejar e esperar que a Quaresma nos leve a um conhecimento sempre maior de Jesus Cristo - é o que pede a "coleta" da missa deste domingo - de quem vamos celebrar no fim destes quarenta dias a Sagrada Paixão, a Morte e a Ressurreição.

LEITURAS do 19 domingo da Quaresma - Ano B: 1º - Gn 9. 8-15. 2º -1 Pd 3.18-22. 3º - Mc 1, 12-15.

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B A TENTAÇÃO A JESUS

Vídeo - JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO - https://www.youtube.com/watch?v=uqxIYPD6qjE Vídeo - AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO - https://www.youtube.com/watch?v=4l18Onzmd1g

PUXANDO A CONVERSA: A LENDA DO CAVALO

Vocês certamente já conhecem aquela estória do homem que se propôs a rezar um “Pai-nosso” bem rezado para ganhar um presente. Dizem que isso aconteceu em tempos idos. Numa roda de amigos, todos falavam que era muito difícil a gente fazer uma oração bem feita, sem nenhuma distração. A maioria dizia que de fato ninguém consegue rezar um “Pai-nosso” sem distrair-se, ao menos um instante. Mas no meio daquela discussão, apareceu um homem que disse ser capaz de rezar sem distrair-se. Foi então combinado um valioso prêmio, se ele chegasse ao fim do Pai-nosso, sem se atrapalhar e sem desviar o seu pensamento. O pessoal fez silêncio dentro daquela sala. Todos duvidavam da palavra do homem: “Vamos ver se ele é capaz”. O cavalo estava lá fora, segurado firmemente por alguém. Um belo animal, bem arreado. O homem fez o sinal da cruz, impôs respeito e começou a rezar: “Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino... Escuta, é com arreio também?” Uma pergunta: Que é que fez o infeliz do homem distrair-se e cair em tentação? Duas coisas: o orgulho e a ambição. Daí tiramos uma conclusão: Para não cairmos em tentação, devemos ser humildes e desapegados dos bens deste mundo. O próprio Jesus um dia foi tentado pelo demônio.

A PALAVRA DE DEUS

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Depois do seu batismo, Jesus, cheio do Espírito santo voltou do rio Jordão. E foi levado ao deserto, pelo Espírito de Deus. Ali Ele foi tentado pelo demônio durante quarenta dias. Ele não comeu nada nesse tempo todo. No fim, ele ficou com fome. Então, o demônio disse: “Se você é o filho de Deus, mande esta pedra virar pão”. Mas Jesus respondeu: “Está escrito o homem não vive só de pão”. Aí, o demônio levou Jesus para um lugar mais alto.

Em um segundo, ele mostrou para Jesus todos os reinos do mundo e disse: “Eu vou dar para você todo esse poder e toda essa riqueza. Por que tudo isso foi entregue a mim. E eu posso dar a quem eu quiser. Olhe bem! Tudo isso vai ser de você, se você se ajoelhar diante de mim e me adorar”. Jesus respondeu: “Está escrito: Adore o senhor seu Deus. Preste culto só a Ele”.

Depois, o demônio levou Jesus a Jerusalém e o colocou na parte mais alta do Templo. E disse; “Se você é o Filho de Deus, pule daqui lá em baixo. Porque está escrito: Deus vai mandar os seus anjos para cuidar de você.

E está escrito também: eles vão carregar você nos braços, para você não machucar os pés em alguma pedra.” Então Jesus respondeu: “Está escrito: “Não vá tentar o Senhor seu Deus”. Quando o demônio acabou de tentar Jesus de todas as maneiras ele foi-se embora por algum tempo. (Mt 4,1-11)

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a) POR QUE JESUS PERMITIU QUE O DEMÔNIO O TENTASSE?

Jesus permitiu que o demônio o tentasse para nos dar um exemplo. É como se nos dissesse: Cuidado! Ninguém passará sem ser provado pela tentação. E, como foi a tentação de Cristo assim será a nossa: Insistente, com aparência de coisa boa, e até buscando fundamento na própria Bíblia. O diabo não se apresentou como inimigo de Cristo, mas como amigo. Queria ver Jesus comer e sentir-se satisfeito. Queira que Jesus manifestasse a sua glória saltando do alto do templo. Queria enfim que Cristo se tornasse dono do mundo. Mas, na verdade, o que o diabo queria é que Cristo, sendo Deus, lhe obedecesse e o adorasse. São essas as tentações que também nós temos: DOS PRAZERES SENSUAIS OU DOS SENTIDOS;

DA GLÓRIA OU DO TRIUNFO TERRENO;

E DA POSSE DE MUITAS RIQUEZAS.

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Todas essas tentações virão como coisas boas e oportunas como se elas nos fossem tornar mais felizes, como se elas viessem do próprio Deus. Aí não podemos nos esquecer dos ensinamentos do Evangelho. Cristo se defendeu com a própria palavra de Deus, mostrando imediatamente ao diabo como as propostas dele contrariava a Bíblia

b) NÃO CONFIAR EM SI MESMO Para não cairmos em tentação devemos desconfiar de nós mesmos e confiar muito na graça de Deus. A obra da santificação só se realiza conjuntamente: com o nosso esforço e com a ajuda de Deus. O orgulhoso caminha sempre à beira do abismo. E o que confia somente em si próprio cairá com o seu fardo. Cristo fez jejum, passou noites em oração, e, mesmo sendo Senhor absoluto do céu e da terra, por ser Deus, ainda assim nunca falou mais do que era preciso. Antes, foi humilde e disse que ele não se gloriava a si mesmo, porque sua glória vinha do pai. Disse ele: “Dei-vos o exemplo, para que assim como eu fiz vós façais também”. Jesus já nos avisou que somos fracos e que não podemos ter grandes pretensões, como se tudo dependesse de nossas forças e de nossa obediência. Quem pede é porque sente falta de alguma coisa. Por isso, o auto-suficiente não rezará bem o Pai Nosso, porque acha que não precisa pedir a Deus. São Pedro jurou a Cristo que, mesmo que todos abandonassem o Mestre ele não o abandonaria. Quis dar uma de valente perante os colegas e Cristo. Mas que acabou

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acontecendo? No fim jurou que nem sequer conhecia Jesus de tanto medo de ser perseguido. O próprio São Pedro dizia uma coisa muito importante: “Sede sóbrios, e vigiai porque vosso inimigo, o demônio, vos rodeia como o leão que ruge, à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos são impostos aos vossos irmãos no mundo inteiro...(1Pd 5,5-11) Se de fato um leão solto, rugindo pelas ruas da cidade, será que alguém, se atreveria a passar folgadamente pela praça? Pois bem: o demônio é para nossa vida de cristãos o que é um leão bravio diante de qualquer animal. Por isso é que devemos tomar cuidado, ser prudentes. Andar de olhos abertos para não cairmos no perigo. Há um provérbio que diz: “Ajuda-te que Deus te ajudará”.

Quer dizer: não basta só pedir no Pai Nosso para que Deus nos livre da tentação e do mal. É preciso que nosso comportamento se revista de prudência, evitando as ocasiões de pecado. Por exemplo o homem dado ao álcool, se quiser abandonar o vício, a primeira coisa que deve fazer é fugir da pinga, e não ficar rodeando os bares. O homem que deseja romper com o adultério, não pode ficar passeando em volta da casa de sua amante. A graça de Deus sempre nos é dada na medida em que a sabemos aproveitar. Quem a despreza, uma, duas e mais vezes, não tem direito de ficar pedindo. Há outro ditado que diz : “Deus não nega a sua graça para aquele que sempre faz o que está ao seu alcance”

c) TENTAÇÃO E PECADO O que pedimos no Pai Nosso é isso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Nós não pedimos para Deus nos livrar de tentações. Pois a tentação em si, não é pecado. Ninguém se condenará pelo fato de ter sido tentado. Antes, a tentação é uma ocasião para mostrarmos o que somos. Se buscamos a Deus, a tentação nos ajudará a chegar mais perto dele, desde que não nos entreguemos ao mal que ela nos apresenta.

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Não há santo que não foi tentado, porque a santidade é uma conquista. Uma ascensão através da virtude. Quanto mais obstáculos nós vencermos, mais glória se acumulará para nós na eternidade. Uma coisa é dizer que a equipe ganhou os pontos, porque o adversário não compareceu, outra coisa é conquistar um troféu porque de fato venceu o jogo. Ninguém, pois, deve desanimar-se diante das tentações, porque elas não tiram nosso merecimento, mas ao contrário elas aumentarão o nosso merecimento. E Deus nunca tenta a ninguém acima das forças que o homem tem. Cristo nos falou: “Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança: Eu venci o mundo”(Jo 16,33). A QUARESMA E O SEU SIGNIFICADO

Estamos entrando na quaresma, esses quarenta dias de oração e penitência com que a Igreja nos prepara para a solene celebração da Páscoa. Quarenta era o número particularmente significativo no mundo Bíblico. O dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites. O povo Hebreu viveu quarenta anos de vida nômade no deserto. Moisés passou quarenta dias junto de Deus no Sinai. Mas, sobretudo, Jesus passou quarenta dias de jejum no deserto, o que inspirou-o estabelecer-se na Igreja desses quarenta dias de penitência da quaresma. O deserto de que se fala aqui nesse Evangelho não é um deserto de areia, como Saara. É uma região pedregosa, árida e inculta, onde apenas na primavera uma escassa vegetação dá uns sinais de vida. Trata-se do deserto de Judá e, segundo a tradição, da elevação chamada Djebel-Qarantal, não longe de Jericó. Aí se

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estabeleceram monges desde o século IV. Hoje está em mãos dos cristãos ortodoxos. É sempre muito misterioso pensar em Jesus submetido às tentações do demônio. Ele, o santo, Ele, um impecável, Ele, que jamais poderia sucumbir à tentação! A Carta aos Hebreus diz que “ tendo ele mesmo sofrido pela tentação é capaz de socorrer os que são tentados”.(Hb.2,18).

Uma vez que Ele se fez tudo igual a nós, exceto no pecado. Há proveitosas reflexões de comentadores do Evangelho e de mestres espirituais que nos mostram como Jesus passou pelas várias espécies de tentação porque nós passamos, resumidas na gula, na soberba e na avareza. E nos mostrou como é na força da Palavra de Deus que encontramos o meio de resistir às tentações. O nosso Padre Vieira disse elegantemente: “Permitiu pois Cristo Senhor Nosso ser tentado do demônio hoje, não para si honrar com a vitória (que era pequeno triunfo) mas para nos ensinar a vencer com seu exemplo”: (Sermão do primeiro domingo da quaresma). Mas, segundo as mais ponderadas considerações dos estudiosos, as tentações visavam o messianismo de Jesus. O demônio queria tirar a dúvida se ele era realmente o Messias. E queria desencaminhá-lo da idéia de um Messias sofredor destinado à morte, com está nas profecias de Isaías, e levá-lo para a idéia de um Messias político e triunfador.

São três desafios: 1. “Se és o Filho de Deus”. 2. Iguais ao que vai aparecer no dia da crucifixão: “Se és o Filho de Deus, desça da Cruz”.(MT 27,40). E, como só podia ser, Jesus resistiu a tudo com divina sabedoria.

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Primeiro, foi a tentação de satisfazer a fome. Jesus tinha jejuado 40 dias e 40 noites( Não como os muçulmanos no mês de Ramadã, que jejuam de dia mas comem durante a noite.

Teve fome. Na frente estavam as pedras daqueles lugares selvagens. O demônio se aproximou e lançou a tentadora insinuação: “Se és o filho de deus, manda que essas pedras se transformem em pães”. E Jesus prontamente respondeu: “Está escrito: não só de pão vive o homem mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”.( MT 4,4). O demônio, então o arrebata até Jerusalém e o coloca sobre o pináculo do Templo. E lhe diz: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui a baixo porque está escrito: Dará ordem a seus anjos a teu respeito a fim de que te guardem”. E também: “Hão de ti levar em suas mãos para que não tropeces em alguma pedra”.(LC 4,3-4)

E a resposta de Jesus foi mais do que pronta: “Foi dito: não tentarás ao Senhor Teu Deus”. (LC 4,12). Deus pode fazer milagres e os faz. Porém nunca para satisfazer à vaidade de alguém. Ele os faz, quando assim o determina sua Santíssima vontade. E veio a terceira tentação ( em LC está em segundo lugar). Por não se saber qual o prodígio de fantasmagoria, o demônio levou Cristo ao Cimo de um altíssimo monte donde se viam todos os reinos do mundo com todo o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares”. Foi quando Jesus respondeu com vibrante energia: “Vai-te, satanás, porque está escrito: “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto”. (MT 4,8-10). Quanta gente perde a dignidade e chega até perder a fé por causa do dinheiro! É a cobiça do dinheiro, traduzida em todas as formas de especulação, que está

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desequilibrando nosso país e amargurando a vida dos mais pobres. Se todos lessem o Evangelho ! Quanto mais falta no mundo a Palavra de Deus, quanto mais se alarga a estrada de todas as desordens a lição de Jesus vem nos ensinar como vencer as tentações. Elas se vencem pela força de Deus. Como fez Jesus que, a cada arremetida de satanás, respondeu com uma Palavra da escritura.

Não fez como nossos primeiros pais que confiaram em suas próprias forças e foram derrotados. Temos que imitar Jesus, o novo Adão, e descobrir para nós a força de cada Palavra do Livro de Deus que ele citou: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. (DT 8,3).“Não tentarás ao Senhor teu Deus” (DT 6,16).

“Ao Senhor Teu Deus adorarás e só a Ele servirás”( DT 6,13). Gosto de imaginar a quaresma como um alto e confiante clamor da humanidade periclitante, erguendo-se na direção do céu, pelas vozes de toda Igreja orante. Três ataques! Três vitórias! Tudo pela força da Palavra de Deus! O demônio então se retirou e os anjos do céu se aproximaram de Jesus para servi-lo. (MT 4,11). LEITURAS do 19 domingo da Quaresma - Ano B: 1º - Gn 9. 8-15. 2º -1 Pd 3.18-22. 3º - Mc 1, 12-15.

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B

1ª Domingo da Quaresma

1ª LEITURA: Gn 9,8-15 Leitura do Livro do Gênesis

Disse Deus a Noé e a seus filhos: Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa

descendência, com todos os seres vivos que estão convosco: aves, animais domésticos e

selvagens, enfim, com todos os animais da terra, que saíram convosco da arca. Estabeleço

convosco a minha aliança: nunca mais nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio,

e não haverá mais dilúvio para devastar a terra". E Deus disse: "Este é o sinal da aliança que

coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações

futuras: ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra. Quando eu reunir

as nuvens sobre a terra, aparecerá meu arco nas nuvens. Então eu me lembrarei de minha aliança

convosco e com todas as espécies de seres vivos. E não tornará mais a haver dilúvio que faça

perecer nas suas águas toda criatura. Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL - Sl 24

R - Verdade e amor, são os caminhos do Senhor.

1 - Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação. - R

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2 - Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e a vossa compaixão que são eternas! de mim lembrai-vos, porque sois misericórdia e sois bondade sem limites, Senhor! - R

3 - O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores. Ele dirige os humildes na justiça, e aos pobres ele ensina o seu caminho. - R

2ª LEITURA: 1Pd 3,18-22- Leitura da primeira Carta de São Pedro

Caríssimos: Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a

fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte; na sua existência humana, mas recebeu nova vida

pelo Espírito. No Espírito, ele foi também pregar aos espíritos na prisão, a saber, aos que foram

desobedientes antigamente, quando Deus usava de longanimidade nos dias em que Noé construía

a arca. Nesta arca, umas poucas pessoas — oito — foram salvas por meio da água. À arca

corresponde o batismo que hoje é a vossa salvação. pois o batismo não serve para limpar o corpo

da imundice, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da

ressurreição de Jesus Cristo. Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a ele

anjos, dominações e potestades.

Palavra do Senhor EVANGELHO: Mc 1,12-15

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos

Naquele tempo, O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam. Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus e dizendo: "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!"

Palavra da Salvação.

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Tentação de Jesus

O Espírito o impeliu para o deserto (Mc 1,12). Deserto é lugar de provação. É o lugar onde Deus forma o homem. Os 40 dias (Mc 1, 13) relembrando a revelação de Moisés (Ex 34,28) e o caminho de Elias (Rs 19, 1 -8). Também Israel esteve no deserto por 40 anos, duração de uma vida. Isto significa que a vida de Jesus foi deserto e provação. tentação e luta, do princípio ao fim. Em virtude do nosso batismo, também nós passamos do sujeição à luta contra o mal. Trata-se de tini combate que dura a vida inteira. Só quem não optou pelo bem não é tentado pelo mal. A vida humana é tentação e prova em todos os sentidos, isto é, ela se desenvolve no perigo da liberdade de quem, por tentativas, deve entender e querer a verdade para a qual caminha. Satanás é o inimigo do homem. Por sua inveja, o mal entrou no mundo (Sb 2,24). É o ladrão da Palavra (cf. Me 4,15). Ele, com sua mentira, está na origem de todo mal, porque o homem se torna a palavra que escuta. Se ouve a Deus, torna-se como Ele, pai da verdade e amante da vida (Sb 11,26); se escuta Satanás, torna-se como ele, pai da mentira e homicida desde o início (Lo 8,44). Marcos, diferentemente de Mateus de Lucas, não especifica as tentações. Ele as deixa aparecer no decorrer do Evangelho como perigo constante de antecipar a glória do Filho evitando a cruz do servo. Essa tentação geral se exprime em tentações individualizadas típicas de cada homem. A primeira delas é o protagonismo que confunde o Reino de Deus com o sucesso do próprio eu. Aparece para Jesus logo no primeiro dia de seu ministério, quando lhe diziam: "todos te procuram” (Me 1,35). Pôr o próprio eu como fim absoluto, no lugar de Deus, é o egoísmo que originou todo mal (cf. Gn 3). A segunda é busca de poder mundano para realizar o Reino de Deus. O fim é justo, porém o meio e impróprio. 0 Reino não se realiza com o poder, mas com a impotência de quem oferece a própria vida a serviço dos irmãos. Essa tentação aparece logo depois da multiplicação dos pães, quando influencia os discípulos a ir embora (Mc 6,45). A terceira tentação é a busca do poder religioso. Consiste em querer sujeitar Deus à própria vontade, em vez de sujeitar-se à vontade dele. Jesus vai,, passar essa tentação no horto das oliveiras (Mc 14,32). Vivamos o tempo de Quaresma fortalecendo-nos, espiritualmente com a graça divina! LEITURAS do 19 domingo da Quaresma - Ano B: 1º - Gn 9. 8-15. 2º -1 Pd 3.18-22. 3º - Mc 1, 12-15.

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B "SE ÉS FILHO DE DEUS..."

Mc 1, 12-15

“Durante quarenta dias, no deserto, ele foi tentado por satanás”

Os três evangelhos sinóticos contam a história das tentações de Jesus no deserto - Marcos de uma forma resumida, Mateus e Lucas mais detalhadamente. Mas, devemos lembrar que esses relatos procuram expressar uma experiência mística de Jesus, e então não devem ser interpretados ao pé da letra ou de uma maneira fundamentalista!

Uma coisa logo chama a atenção – nos três Evangelhos as tentações vêm logo após o batismo de Jesus! O batismo significava o assumir público da sua identidade e missão, como Servo de Javé. Logo após esse compromisso, Ele tem que enfrentar as tentações. Aqui a experiência de Jesus é como a nossa própria - nós temos compromisso com o projeto de Deus, mas, entre o nosso compromisso e a nossa prática do seguimento de Jesus, existem muitas tentações!!

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Marcos sublinha que “o Espírito impeliu Jesus para o deserto”. O Espírito não conduz Jesus à tentação, mas é a força sustentadora d’Ele, durante as suas tentações. Como o Espírito dava força a Jesus, Marcos quer ensinar às suas comunidades que elas também poderão contar com este apoio do Espírito Santo nos momentos difíceis da vivência da sua fé!

O relato mais desenvolvido de Lucas (Lc 4, 1-14) pode nos ajudar a aprofundar o sentido das tentações de Jesus. Nelas podemos reconhecer as mesmas tentações que nós, individualmente e comunitariamente, enfrentamos na nossa caminhada da fé hoje! Primeiro, Jesus é tentado a mandar que uma pedra se torne pão.

Podemos ver aqui a tentação do “prazer” - logo que enfrenta um sacrifício por causa da sua opção, Jesus é tentado a escapar dele! Uma tentação das mais comuns hoje, em um mundo que prega a satisfação imediata dos nossos desejos, criando necessidades falsas através de sofisticadas campanhas de propaganda. Pois, vivemos em uma sociedade que prega o individualismo, onde a

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regra é “se quer, faça!”, e onde sacrifício, doação e solidariedade são considerados como ladainha dos perdedores! É só olhar o número de casamentos que fracassam diante da primeira crise, ou a quantia de seminaristas, religiosos/as e padres que desistem, às vezes pouquíssimo tempo depois de professar os seus votos ou de se ordenar, diante de uma sentida falta de “auto-realização imediata”.

A resposta de Jesus é contundente: “Não só de pão vive o homem”. O homem vive de pão certamente, mas não só! Jesus não é sádico, contra o necessário para viver dignamente. Mas salienta muito bem que não é somente a posse de bens que traz a felicidade, mas a busca de valores mais profundos, como a justiça, a partilha, a doação, a solidariedade com os sofredores. Não faz nenhum contraste falso entre bens materiais e espirituais – ambos são necessários para que se tenha a vida plena! Nessa frase, Jesus desautoriza tanto os que buscam a sua felicidade na simples posse de bens, como os que dispensam a luta pelo pão de cada dia para todos!

A segunda tentação pode ser vista como a do “ter”. De novo algo muito atual! Nós vivemos na sociedade pós-moderna da globalização do mercado, do neoliberalismo, do consumismo, do “evangelho” do mercado livre. Diariamente, a televisão traz para dentro das nossas casas a mensagem de que é necessário “ter mais”, e que não importa “ser mais”! Como sempre, a tentação vem em forma atraente - até a Igreja pode cair na tentação de achar que a simples posse de bens, que podem ser usados em favor da missão, garantirá uma pregação mais evangélica. Isso sem falar das pregações midiáticas que glorificam um Deus que supostamente faz da posse de bens materiais sinal da sua bênção! Somos tentados a não acreditar na força dos pobres, de não seguir o caminho do carpinteiro de Nazaré. Jesus também teve que enfrentar esta tentação - Ele que veio para ser pobre com os pobres, para mostrar o Deus que opta preferencialmente pelos sofredores, é tentado a confiar nas riquezas! Para o diabo - e para o nosso mundo que idolatra o bem-estar material e o lucro, mesmo sacrificando a justiça social - Jesus afirma: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (v. 8).

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A terceira tentação pode ser entendida como a do “poder”. Uma tentação permanente na história da Igreja e dos cristãos. Quantas vezes a Igreja confiava mais no poder secular do que na fragilidade da cruz, para “evangelizar”. Quanta aliança entre a cruz e a espada - a América Latina que diga! Ainda hoje todos nós enfrentamos esta tentação - não de ter poder para servir, mas de confiar no poder aparente deste mundo, mais do que na fraqueza aparente de Deus. Jesus, que veio para servir e não para ser servido, que veio como o Servo de Javé e não como dominador, teve que clarificar a sua vocação e despachar o diabo com a frase: “Não tentarás o Senhor seu Deus” (v. 12).

Realmente, podemos nos encontrar nas tentações de Jesus! São as tentações do mundo moderno - o ter, o poder e o prazer! Coisas boas em si, quando bem utilizadas conforme a vontade de Deus, mas altamente destrutivas quando tomam o lugar de Deus em nossas vidas! Jesus teve que enfrentar o que nós enfrentamos - o “diabo” que está dentro de nós, o tentador que procura nos desviar da nossa vocação de discípulos. O relato de Lucas nos coloca diante da orientação básica para quem quer vencer: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (Lc 4, 8). LEITURAS do 19 domingo da Quaresma - Ano B: 1º - Gn 9. 8-15. 2º -1 Pd 3.18-22. 3º - Mc 1, 12-15.

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EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B Vídeo - JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO -

https://www.youtube.com/watch?v=uqxIYPD6qjE Vídeo - AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO - https://www.youtube.com/watch?v=4l18Onzmd1g

No Deserto

Estamos no início da QUARESMA. Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos em

preparação da festa da Páscoa. É o coração do ano litúrgico e o cume da fé cristã.

Na Igreja Primitiva, na Quaresma fazia-se a preparação próxima do Batismo.

As Leituras nos introduzem no caminho da renovação do Batismo e nos chamam à conversão.

A 1a

Leitura evoca o Dilúvio, o 1° BATISMO pelo qual todo o Universo teve de passar para que surgisse uma

nova criação. (Gn 9,8-15)

Começamos a ler a Historia da salvação a partir do episódio do Dilúvio, quando Deus salvou o justo Noé e sua

família e fez a primeira Aliança com a humanidade. Através do dilúvio, Deus purificou a humanidade

corrompida. O Dilúvio foi o grande batismo de todo o Universo, que renasceu das águas para estabelecer uma

nova Aliança. E o arco-íris deixado por Deus no céu foi o sinal dessa Aliança, desse abraço entre o céu e a

terra, entre Deus e os homens.

A 2a Leitura, nos lembra que as águas purificadoras do Dilúvio são imagem das águas purificadoras do

Batismo. (1Pd 3,18-22)

* Pedro interpreta a figura de Noé e do Dilúvio em chave batismal. É uma antiga catequese Batismal da Igreja

primitiva.

O Evangelho resume as palavras inaugurais do ministério de Jesus, proclamando a graça do reino e chamando

os homens à conversão. (Mc 1,12-15)

O episódio das TENTAÇÕES de Jesus no DESERTO, mais do que uma narrativa histórica, trata-se de uma

Catequese.

- "O deserto", para os judeus, é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Foi no deserto que o Povo

experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi no deserto que Deus propôs a Israel uma Aliança.

Foi também no deserto, que Israel tentou Deus: Valia a pena o êxodo: Não seria melhor permanecer no Egito ao

redor das panelas de carne e cebolas.

- Para Jesus o "deserto" é o "lugar" do encontro com Deus e do discernimento dos seus projetos. E é o "lugar"

da prova, da tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.

- "Quarenta dias" é um número simbólico, que lembra o tempo da caminhada do Povo no deserto e a

experiência de Moisés e de Elias.

- "Satanás" representa os que se opõem ao estabelecimento do seu Reino.

- "As tentações": Marcos não especifica as tentações, mas elas simbolizam as provações que Jesus enfrentou

ao longo de toda a sua vida para se manter fiel à missão confiada por Deus.

Elas resumem também as tentações de todos nós...

A vida de Jesus será uma luta constante de superação até a vitória definitiva na cruz, através da Ressurreição.

Da sua opção, vai surgir um mundo de paz e de harmonia.

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Jesus aparece como o novo Adão, que vence o tentador. Vencendo a tentação, Jesus inaugura a Aliança

definitiva, mais importante que a de Noé. Após ser Batizado e ter superado as Tentações no DESERTO,

Jesus inicia o seu trabalho apostólico, proclamando:

"O Reino já chegou... Convertei-vos e crede no evangelho".

As mesmas palavras, que ouvimos quarta feira passada ao receber as cinzas e que são um resumo do espírito da

Quaresma, que estamos iniciando.

* QUARESMA é DILÚVIO e DESERTO.

- É Dilúvio que arranca o pecado e leva a construir a área de Salvação e é Sinal de que Deus está em Paz

conosco.

- É Deserto pela espiritualidade do despojamento, que nos propõe.

* QUARESMA é CONVERTER-SE e CRER:

- "Converter-se" é muito mais que fazer penitências ou realizar privações momentâneas. É fazer com Deus seja

o centro de nossa existência e ocupe sempre o primeiro lugar.

- "Crer" não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais. É aderir à pessoa de Cristo, escutar a sua

proposta, acolhê-la no coração e fazer dela o guia de nossa vida.

A nossa Quaresma:

A Liturgia de hoje nos conscientiza da fidelidade de Deus e da necessidade de morrer ao homem velho

para ressuscitar com Cristo a uma vida nova.

Sinal eficaz desse passo é o Batismo; o caminho é a conversão até a Páscoa.

Gesto concreto:

O que pretendo fazer nesse tempo sagrado da Quaresma?

Planejei gestos concretos:

- Quais são os momentos especiais de Oração... de Deserto?

- Qual a minha Penitência quaresmal, proveitosa para mim e agradável a Deus?

- Quais os atos de Caridade que pretendo realizar?

- O que poderia fazer para promover a minha saúde e de todos os irmãos,

para que "a saúde se difunda sobre a terra".

Esse é o caminho para que a Páscoa aconteça dentro de cada um de nós...