etsp artemarinheiro

29
ARTE DO MARINHEIRO FLUVIAL

Upload: wailton-duarte

Post on 02-Aug-2015

36 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ETSP ArteMarinheiro

ARTE DO MARINHEIRO

FLUVIAL

Page 2: ETSP ArteMarinheiro
Page 3: ETSP ArteMarinheiro

3

Sumário

1 Introdução ........................................................................................................ 51.1 Conceito ............................................................................................................ 51.2 Características e empregos dos trabalhos marinheiros ..................................... 61.2.1 Trabalhos marinheiros ....................................................................................... 61.2.2 Nós e balsos ...................................................................................................... 61.2.3 Voltas ................................................................................................................. 81.2.4 Botões ............................................................................................................... 91.2.5 Pinhas ...............................................................................................................101.2.6 Alças .................................................................................................................111.2.7 Estropos ...........................................................................................................111.2.8 Falcaças ...........................................................................................................111.2.9 Gachetas e Coxins ...........................................................................................121.2.10 Redes ...............................................................................................................121.2.11 Costuras ...........................................................................................................131.3 Cabos ...............................................................................................................141.3.1 Tipos de cabos .................................................................................................141.4 Resistência dos cabos ......................................................................................15

2 Nós e voltas ....................................................................................................162.1 Elaboração de voltas simples ...........................................................................162.2 Elaboração de nós ............................................................................................172.2 Elaboração de voltas ........................................................................................19

3 Amarração de embarcações ..........................................................................213.1 Defensas ..........................................................................................................213.2 Fainas de laborar um cabo ...............................................................................22

4 Estropos ..........................................................................................................254.1 Conceito ...........................................................................................................254.2 Principais tipos de estropo ................................................................................254.3 Uso dos estropos ..............................................................................................274.4 Como cortar um estropo ...................................................................................28

Bibliografia ..................................................................................................................29

Page 4: ETSP ArteMarinheiro

4

Page 5: ETSP ArteMarinheiro

5AMNAMN

1 Introdução

A vida marinheira requer dos seus participantes um conjunto de trabalhos específicospara a garantia da segurança da embarcação, da sua carga e dos próprios tripulantes.

Estes são os chamados trabalhos marinheiros ou obras dos marinheiros. Executá-los, depende de dedicação no aprendizado. O mais importante nesta execução é unir ofazer ao conhecer. Por isso é que não só os marinheiros, mas os mestres e toda aoficialidade devem imbuir-se dos deveres desta matéria.

Pelo fato de serem trabalhos artesanais, muitos subestimam-nos, sem seaperceberem de que os trabalhos marinheiros, quando negligenciados, ocasionam perdasirreparáveis à carga, à embarcação e às vidas humanas.

O valor dos trabalhos marinheiros é incomparável, pois das suas atividades resultalucro ou perda de caríssimos materiais, de cargas de grande valor e de preciosas vidas,bastando que não saibamos fazer um nó certo, na hora exata ou que não saibamos dar osgraus de leme requeridos, no momento exato. No rio, as fainas não podem ser deletadas.Após a execução, temos que arcar com as conseqüências.

1.1 Conceito

Os trabalhos marinheiros designam tudo que possa resultar no bom andamento davida daqueles que exercem atividades em qualquer tipo de embarcação, entendendo-seesta como qualquer peça que flutue sobre águas com possibilidade de transportar comsegurança de um ponto a outro, pessoal ou material; essa definição abrange tanto osgrandes navios de passageiros, mistos ou cargueiros, como as pequeninas canoas oujangadas. Em grandes, médias e pequenas embarcações, sempre os trabalhos marinheirossão cabíveis. A arte marinheira é imprescindível!

O conhecimento dos trabalhos marinheiros somente surte o devido efeito quandocorretamente executados. Por outro lado, quando desconhecidos podem constituir-se emfator de risco, como mencionaremos a seguir.

Os pequenos nós aprendidos no curso das aulas garantirão muitas vezes asegurança dos grandes transatlânticos que você poderá vir a tripular ou de um simplesrebocador que venha a ser o orgulho da sua vida profissional. Seja qual for a suaembarcação funcional, garanta o bem-estar e a segurança por meio de acuradaaprendizagem do valor dos nós, voltas, balsos, botões, coxins e toda a gama de trabalhosmarinheiros que você possa aplicar na ocasião adequada.

Vale a pena garantir a segurança da tripulação da sua embarcação, da cargatransportada e acrescentar-lhe estética, pois além da segurança, os trabalhos marinheirossão também capazes de oferecer expressiva beleza.

Seguem alguns exemplos de trabalhos marinheiros. Visualize-os e peça ajuda aoseu instrutor para aplicá-los sabiamente.

Page 6: ETSP ArteMarinheiro

6

1.2 Características e empregos dos trabalhos marinheiros

1.2.1 Trabalhos marinheiros – Por serem muitas as atividades que garantem a segurançaespecificada na introdução, apresentaremos por grupos que denominaremos de nós, voltas,botões, pinhas, alças, estropos, rabichos, gachetas, coxias, redes, costuras, falcaças,etc.

1.2.2 Nós e balsos – Os nós são entrelaçamentos feitos à mão, emendando cabos peloschicotes, pelos seios ou um chicote a uma alça. Nas figuras a seguir vemos o nó direito,os nós de escota (singelo e dobrado), o nó torto, o nó de correr (ou de pescador), o nóde moringa, o nó de azelha e o lais de guia. Os balsos que aqui agregamos aos nós,são destinados a sustentar e içar ou arriar alguém que precise fazer um serviço urgenteno mastro, numa verga, no costado e até para salvar um náufrago. Para tais fins sãousadas suas alças. Os balsos mais usados são: calafate, pelo seio, dobrado, de correr(ou lais de guia de correr).

Nó de escota singelo – é um nó de muitasegurança, com a grande vantagem de poder unircabos de bitolas iguais ou diferentes.

Nó de escota dobrado – é um nó deescota singelo com o chicote fazendo uma voltaredonda em vez de singela para dar maiorsegurança. É usado para emendar duas espias,epecialmente quando uma delas tem alça.

Nó torto – parece-se com o nó direito,porém a segunda volta é invertida, tornando-odesusado por correr e quando aperta não sedesfaz com facilidade.

Nó direito – por ser um dos nós maisfáceis de fazer, é usado com muita freqüênciapara unir cabos de bitolas iguais, sendo paraisso, o mais seguro dos nós.

Nó de correr – é muito útil paraemendar dois cabos, é um nó fácil de fazer,bastando unir os cabos ou fios e dar umameia volta em cada no chicote e deslizarpara que as meias voltas esbarrem uma naoutra.

Page 7: ETSP ArteMarinheiro

7AMNAMN

Nó de moringa – serve onde sejanecessária uma alça permanente. Antigamenteera usado para içar barris de água potável ebujões de gás, entre outros materiais cilíndricos.

Nó de azelha – é uma simples laçada peloseio, podendo ser usada para fazer umamarcação num cabo, ou silar uma parte do caboque esteja coçada (ferida em conseqüência deatrito).

Balso pelo seio – também chamado delais de guia dobrado. Como os demais balsos,oferece uma boa opção para salvamento deum náufrago, bem como para agüentar umhomem que trabalha num costado ou nummastro, podendo ele ficar com as mãos livres.

Balso de calafate – também chamado de lais de guiadobrado. Como os demais balsos, oferece uma boa opção parasalvamento de um náufrago, bem como para agüentar um homemque trabalha num costado ou num mastro, podendo ele ficar com asmãos livres.

Balso dobrado – é um balso comdois seios formados por duas voltasredondas com o chicote do cabo antes dedar um lais de guia. Serve para agüentar umhomem que trabalha no costado ou para içarum objeto, servindo de estropo.

Lais de guia – é um dos mais executados em todas asMarinhas. Trata-se de um nó que garante uma alçasegura, substituindo a mão ou alça de uma espia. Balsosingelo é o seio ou alça que resulta de um lais de guia.

Page 8: ETSP ArteMarinheiro

8

1.2.3 Voltas – as voltas abraçam objetos; a principal, por ser aquela que usamos naamarração das embarcações de qualquer porte, é a volta falida. A seguir mostramos ameia-volta, o cote, a volta de fiador, o catau de corrente, volta de fiel, volta de fateixa,volta de tortor.

Cote – é uma volta singela em que uma das partes docabo morde a outra; raramente é usado só, serve para arremataroutras voltas.

Meia volta – é a volta dada nos embrulhos,a qual se dá com o chicote do cabo e pode-sedesfazer facilmente. Serve como base ou partede outros nós. Utilizada para impedir que o tiradorde um aparelho de laborar se desgurna.

Voltas falidas - são uma série de voltasalternadas dadas em torno de um objeto, são muitousadas nas atracações, desde que o cabeço seja duplo.

em cunho em malagueta em cabeços

Catau de corrente – é uma sériede voltas dadas com o objetivo de diminuiro comprimento de um cabo que não sofreesforço.

Volta do fiador – uma volta que lembra onúmero 8. É utilizada em chicote de cabo quelabora em aparelho de força para não o deixardesgurnir.

Page 9: ETSP ArteMarinheiro

9AMNAMN

Volta do fiel – são dois cotes dados um contra o outro, demodo que os chicotes saiam por entre eles e em sentidos contrários.É a volta mais usada a bordo para se passar um fiel ou uma adriçaem torno de um balaustre, um olhal ou um pé de carneiro.

Volta da fateixa – utilizada para amarrar umaespa a um ancorote ou um fiel a um balde.

1.2.4 Botões – Unem cabos paralelamente, formam alças, cruzam cabos, unindo-os.Dentre os muitos existentes, citamos o botão redondo, o redondo-esganado (reforçado),o falido, o falido-esganado, o cruzado e o peito de morte.

Na seqüência a seguir observa-se a elaboração de um botão redondo.

Volta de tortor (ou nó de rabiola, aquele queprende os papéis que formam a rabiola das pipas. Avolta prende pequenos objetos que queiramos içar, comopor exemplo um pincel para alguém que esteja pintandoum mastro. Serve também para amarração de pranchasde trabalho no costado.

Page 10: ETSP ArteMarinheiro

10

1.2.5 Pinhas – A pinhas são usadas principalmente como enfeites, embora por vezescomo terminais em cabos de vai-e-vem e como peso para arremesso, o que facilita apassagem das espias de bordo para o cais, nas atracações. Existem diversos tipos depinhas, como exemplos citamos: singela, dobrada, pinha de rosa singela, pinha decesta ou de retinida.

Botão Redondo

Botão Redondo Esganado

Pinhas de retinida

Botão Falido

Page 11: ETSP ArteMarinheiro

11AMNAMN

1.2.6 Alças – As alças são usadas na atracação para fixação de uma espia no cais. Asalças podem ser feitas de cabos de fibra vegetal ou cabos de arame, por vezes forradascom percintas de lona ou couro.

1.2.7 Estropos – São arranjos ou alças feitas em cabos resistentes ou em correntes,destinando-os ao embarque de cargas, geralmente laçando-as ou abraçando-as.

1.2.8 Falcaças – Ao cortarmos um cabo qualquer, a tendência é que os seus cordões sedesbolinem. Para que isso não ocorra, recomenda-se que se dêem voltas redondas,mordendo-se o chicote. Estas voltas são feitas com cabos finos, linha de barca ou merlim.Isto é falcaçar um cabo. Os cabos de arame são falcaçados com fios de arame.

Alceado

Estropo redondo

Pinha de rosa singela DobradaSingela

Page 12: ETSP ArteMarinheiro

12

1.2.9 Gachetas e Coxins – São trançados de cordões que têm fins ornamentais e tambémsão usados para proteção de uma embarcação miúda, em seu içamento, ou ainda comocapachos.

1.2.10 Redes – mesmo sendo de fácil manufatura, as redes hoje em dia são feitas emmáquinas. Antigamente o bom marinheiro possuía os seus moldes e agulhas de madeira,com os quais teciam redes de proteção para as bordas dos navios, das embarcaçõesmiúdas e outras fortes e grandes, que serviam como estropos.

a) nó de escota

b) agulha

c) início da rede

d) rede pronta

Gachetas Coxins russo

Page 13: ETSP ArteMarinheiro

13AMNAMN

1.2.11 Costuras – Muitos são os trabalhos marinheiros feitos com lonas. Chamamos deforração. Forramos corrimão, alças e cabos fixos. Nas forrações e nas costuras de lonasusados vários tipos de pontos de costura.

Ponto de espinha de peixe

Ponto esganado (em dois movimentos)

Ponto de bigorrilha pelo redondo

Ponto de bigorrilha chato (cosido por dentro)

Ponto de palomba

Page 14: ETSP ArteMarinheiro

14

1.3 Cabos

1.3.1 Tipos de cabos

Saber manusear os cabos é garantia de uma embarcação bem amarrada, de umacarga bem peada.

Os cabos, quanto à natureza de suas fibras, podem ser:

• Vegetal – quando desfiamos certos vegetais como o sisal, cânhamo, linho,algodão, coco, juta e outros, torcemos as fibras, formamos os fios de carreta. Aotorcermos os fios de carreta formamos os cordões e ao torcermos os cordõesformamos os cabos. Medimos o cabo de vegetal pela sua circunferência e emmilímetros. Assim dizemos “a bitola do cabo é de tantos milímetros”.

• Sintético – de matérias plásticas artificiais e que podem ser esticadas em formade fios. É mais resistente que o vegetal, sendo de aparência muito maisapresentável. Existem vários tipos de cabos de matéria plástica, sendo o nylon omais conhecido.

• De arame – a formação dos cabos de arame difere bastante da que se faz comfibra vegetal, uma vez que compõe-se apenas de fios torcidos e isto não podeser feito de forma manual. Mesmo assim o cabo de arame, também chamado decabo de aço, é o mais resistente. Medimos o cabo de arame pelo seu diâmetro eem polegadas. Assim dizemos “a bitola do cabo é de tantas polegadas”.

• Mistos – em certas operações especiais, como em alguns reboques, é preferívelusar-se um cabo misto, isto é, parte de arame e parte de fibra vegetal.

Cabo solteiro – O cabo que para muitos é um cabo inútil, torna-se um cabo demultiuso. Os cabos solteiros não têm especificação de comprimento ou bitola. Seja comofor, se o cabo não tiver uso determinado, ele passa a ser um cabo solteiro. O uso doscabos solteiros deve ser feito depois de conhecermos a sua resistência, isto é, se eleresiste ao esforço que dele precisamos.

Os cabos, matéria-prima mais importante em quase todos os trabalhos marinheiros,têm as suas pontas denominadas chicotes (“1” e “2”) enquanto que o espaçorepresentado por “3” é chamado de seio do cabo.

Este mesmo cabo, se for usado para amarrar uma pequena embarcação ao cais,deixa de ser solteiro para ser um boça. E, se usado para vestir uma talha, passa a serchamado beta e o seu chicote, onde se exerce a força para içar o peso, recebe o novonome de tirador.

2

3

12

3

Page 15: ETSP ArteMarinheiro

15AMNAMN

satlovesónsnuglaedaicnêtsiseredalebaT

satlovesónedsopiT aicnêtsiseR

odimúobaC %111arapaicnêtsiseraatnemuA

ocesobaC %001

adimú,oãmedarutsoC %001

,aces,oãmedarutsoCohlitapasme

%59arapzudeR

adnoderarutsoC %58arapzudeR

1.4 Resistência dos cabos

Nos diversos trabalhos marinheiros, como os nós e voltas, a resistência dos cabosé enfraquecida pelo uso. Isto ocorre porque, ao mudarmos a direção de uma força, ela seenfraquece naturalmente. Como exemplo, podemos observar que em cabo de guerra, arecomendação é que o grupo não mude a direção, mantendo-o em linha reta. Abaixoapresentamos a tabela de resistência de alguns nós e voltas, com base no trabalhoapresentado pela “Columbian Rope Company, Auburor, N.Y., EUA.

Pela tabela acima, podemos tirar as seguintes conclusões:

a) que os cabos umedecidos são sempre mais resistentes que os secos;b) que as costuras são mais resistentes do que as voltas e os nós;c) que os nós são os menos resistentes de todos os trabalhos marinheiros.

Diante destas conclusões recomenda-se que não sejam usados cabos emendados,pois além do enfraquecimento produzido pela emenda, ainda somam-se os desgastesnaturais dos cabos usados.

axietafedatloV %67arapzudeR

aiugedsiaL %06arapzudeR

leifedatloV %06arapzudeR

atocseedóN %55arapzudeR

otieridedóN %54arapzudeR

atlovaieM %54arapzudeR

Page 16: ETSP ArteMarinheiro

16

2 Nós e Voltas

2.1 Elaboração de voltas simples

Nesta Unidade você está convidado a exercitar-se, fazendo alguns nós e voltasque você já viu anteriormente. Para estes treinamentos, prepare uma linha de barca de40 milímetros de circunferência com 1,20 m de comprimento, falcaçando os seuschicotes, a fim de que não descochem.

Preparou? Muito bem, vamos à ação.

Façamos a meia-volta:

1º) Estique a linha debarca e cruze os chicotes, como o cabo da figura

2o) Agora faça com que o chicote que está por cima dê uma volta sobre a outrapernada e, pronto. Assim, se você o apertar, fará um esbarro que impedirá que o tiradorde um aparelho se desgurna. Você também acabou de aprender a primeira parte do nódireito.

Agora o desafio é fazer um cote. Também é fácil. É quase o mesmo que a meia-volta; apenas você terá o cuidado de, ao dar o segundo passo da meia-volta, em vez deabrir os dois chicotes, colocá-los paralelos. Nunca devemos arrematar um trabalhomarinheiro fazendo apenas um cote, pois não daria a segurança esperada. Faça dois outrês cotes.

Page 17: ETSP ArteMarinheiro

17AMNAMN

2.2 Elaboração de nós

Nó direito

É importante não apenas saber fazer um nó, mas também identificar a utilidadedeles no dia-a-dia do marinheiro.

Embora seja um nó que enfraqueça o cabo em 5% da sua resistência, o nó direitoé bastante usado para unir cabos de bitolas iguais. É extremamente fácil de fazer e tambémde ser desfeito. São apenas duas meias-voltas superpostas.

Veja como é fácil: é só fazer o chicote “a” seguir o trajeto da linha pontilhadapassando por cima e, em seguida, por baixo da parte “b” do cabo.

Lais de guia

Com o lais de guia, chamado de “rei dos nós”, confeccionamos uma segura alçaprovisória em uma espia, uma aboçadura em substituição a um balso, ou então qualqueroutro serviço em que se precise de alça.

b

a

Page 18: ETSP ArteMarinheiro

18

Tente fazê-lo conforme a figura e depois pratique. Basta fazer o chicote “a” percorrero caminho da linha pontilhada passando por baixo da parte “b” e depois por dentro doseio “c”.

Aboçadura

As aboçaduras são usadas para unir boças ou espias com rapidez e segurança.Elas podem ser elaboradas com dois lais de guia ou com vários cotes em cada um doschicotes. Veja como é fácil e prático.

Aboçadura com lais de guia

ab

c

Page 19: ETSP ArteMarinheiro

19AMNAMN

Nó de correr

O nóde correr ou de pescador consiste na união de dois chicotes paralelamente,dando-se uma meia volta em cada um deles, abraçando um ao outro. Serve para unircabos finos e até linhas finas, daí o nome de nó de pescador.

2.2 Elaboração de voltas

Volta de fiador

Serve de distintivo para o contramestre e do mestre. Semelhante a um númerooito, é usado no chicote do tirador dos aparelhos de içar, para que não se desgurna. Paraessa finalidade, é melhor que a meia-volta porque não fica mordido e se desfaz facilmente.

Aboçadura com cotes e botões

Page 20: ETSP ArteMarinheiro

20

Volta de fiel

Pode ser feita em volta de uma viga horizontal ou vertical. É usada a bordo sempreque queremos fixar rapidamente um cabo a qualquer parte do navio. Quando necessárioé arrematada com um ou dois cotes.

Você pode fazê-la em torno de qualquer objeto cilíndrico ou na sua própria mão. Olhepara a figura apresentada em três tempos e faça-a vagarosamente. Esta é aquela volta queo cavaleiro faz para amarrar seu cavalo nas estacas da cerca. Insista em aprendê-lo.

Volta da encapeladura singela

Assemelha-se a um nó-de-borboleta (de gravata). É fácil de fazer e serve para aimprovisação de alças na fixação de cabos de sustentação de mastros. Sua parte centralé encaixada no tope do mastro.

Faz-se duas meias-voltas, segurando uma em cada mão e encaixa-se lateralmenteuma a outra, apertando-as e puxando-se os seios para os lados opostos.

Depois de feito isto, encaixamos a sua parte central em uma viga e teremos assimduas alças onde podemos fixar um aparelho ou dois cabos que queiramos fixar lateralmente.

Page 21: ETSP ArteMarinheiro

21AMNAMN

3 Amarração de embarcações

3.1 Defensas

Nesta unidade você conhecerá alguns tipos de defensas de proteção ao costadodo navio, em simulação ou, de preferência, por meio de aula a bordo de uma embarcaçãofluvial ou similar.

Veremos alguns dos tipos de defensas mais comuns, todas recobertas pelo pontode embotijamento, ou embotijo. As figuras deixam claro tratar-se de um trabalho marinheiroimprescindível à proteção do costado da embarcação. É lamentável ver embarcações emque, por falta de bons marinheiros, são colocados pneus de automóveis como proteçãode costado.

As defensas são fáceis de fazer. Consistem em um saco de lona com enchimentode pedaços de cabos velhos, cortiças ou borrachas; colocando-se uma cinta ao meio dosaco fechado, passa-se a embotijar do centro para cada uma das extremidades do saco,no qual são afixadas as suas alças.

Embotijar é simplesmente dar-se cotes sobre cotes, até recobrir a área desejada.Os formatos das defensas dependerão do tipo da embarcação, do cais em quehabitualmente esta atraque e do local que você queira proteger. A exemplo, no bico deproa, você não poderia usar uma defensa do tipo balão.

A defensa tipo balão é usada em pequenos navios eembarcações em geral, por ocasião da atracação e desatracação. Podeser manuseada por um só marinheiro.

As defensas cilíndricas horizontais são fixadasaos verdugos das embarcações miúdas ou de portemédio, servindo de proteção permanente.

As defensas cilíndricas verticais são usadas principalmentenos rebocadores por ocasião da atracação.

Page 22: ETSP ArteMarinheiro

22

Defensa da roda – este tipo de defensa não temformato fixo, variando de acordo com o formato do bicode proa dos rebocadores, lanchas ou outrasembarcações.

Defensa circular – feita de pneus recheados com cabos ecobertos com embotijo, tem um furo na parte oposta à alça e é usadafixa no costado de embarcações de apoio.

Defensa para cais – estas defensas não são trabalhos marinheiros; porém, alémde proteger o cais, protegem também o costado das embarcações que nele atraquem.Podem ser flutuantes amarrados ao cais, toros de madeira em posição vertical, etc.

Como você pode observar, a faina de proteção do costado é importante, mas denada valerá a teoria se você não souber utilizar as defensas. Saiba quais usar, quando ecomo usá-las. Mas não abuse, deixando que a sua embarcação “viaje de brincos”, porcausa da preguiça de retirar as defensas e guardá-las logo após o uso. Saiba que defensano costado, em viagem, reduz a velocidade da embarcação, além de demonstrar desleixoda sua tripulação.

3.2 Fainas de laborar um cabo

Dar a volta a uma espia em um cabeço

Quando duas alças de espias são passadas no mesmo cabeço, a segunda alça ésempre passada por dentro da primeira, de modo a permitir que qualquer das duas sejaretirada sem interferir com a outra.

Page 23: ETSP ArteMarinheiro

23AMNAMN

Dar a volta a uma espia em dois cabeços

A primeira volta é dada no cabeço oposto à direçãoque a espia vem e, então, são dadas voltas falidas em tornodos dois cabeços. No final, arremata-se com um cote em umdos cabeços.

Fazer retorno a um cabo

Faz-se retorno em qualquer peça que sirva para mudar a direção de um cabo sempermitir atrito forte.

Aboçar ou passar a trapa em um cabo sob tensão

Aboça-se ou trapeia-se um cabo sob tensão quando é necesário mudar o local emque estiver amarrado, como por exemplo, mudar a espia de um cabrestante pelo qual foirondada para um cabeço onde ficará amarrada.

Dar a volta em um cunho ou numa malagueta

Por meio de voltas falidas é que se dá volta a adriças ou tiradores de talhas em umcunho ou em uma malagueta.

Aboçar cabo de fibra com cabo mais fino Aboçar cabo de aço com corrente

Page 24: ETSP ArteMarinheiro

24

Gurnir um cabo em um cabrestante

O vivo que será alado fica por dentro do tambor e o chicote vai se movimentandopara fora à medida que o tambor girar. Quem labora o cabo deve ficar ao socairo, colhendoo brando de forma a nao permitir que as voltas mordam.

Page 25: ETSP ArteMarinheiro

25AMNAMN

4 Estropos

4.1 Conceito

Embora se defina estropo como sendo um pedaço de cabo ligado pelo seus chicotespor um nó ou uma costura, formando um anel, de cabo, usado para ligar um peso a seriçado a um aparelho de içar, julgamos mais correto simplificarmos essa definição dizendoser tudo o que faça conexão ou ligação entre o peso a ser içado e o aparelho deiçar.

Assim, não só o anel de cabo é um estropo, mas também uma lona, uma rede,uma corrente, um cabo com duas mãos ou alças, um sistema de imantação, tudo istopodemos arrolar entre os estropos. A função do estropo é aumentar a capacidade docarregamento.

Tal é o progresso na área do carregamento que hoje os estropos já se tornam rarosem alguns tipos de carga. Por exemplo, as grandes lingadas que se faziam para embarquee desembarque de trigo, soja, arroz e outros grãos, foram trocadas por potentes sugadoresque carregam um navio num espaço de tempo bastante reduzido.

Assim, também, ocorre com o embarque de caixas que hoje deslizam pelas esteirasrolantes, reduzindo o tempo de embarque e dispensando, em muito, a ação dos estropos.Isto sem falar nos contêineres içados por guindastes imantados ou embarcados diretamenteem cima de viaturas.

4.2 Principais tipos de estropo

Entre os muitos tipos de estropos citados, não podemos deixar de destacar comoum dos principais o estropo comum. É importante por ser fácil de fazer e de usarproporcionando grande segurança.

Page 26: ETSP ArteMarinheiro

26

O estropo comum é feito usando-se apenas um cabo solteiro. Basta que façamosuma costura redonda ou mesmo que apliquemos um simples nó direito em seus chicotese teremos feito um estropo. Veja.

Estropos abertos ou braçalotes – pedaços de cabos de fibra vegetal, fibra sintéticaou arame de aço que terminam em seus dois chicotes.

Os chicotes podem ser de cabos com alças, uma em cada um dos chicotes, oucom gancho em um dos chicotes e alça ou anel no outro.

Os chicotes ainda poderão ter um sapatilho na alça como fim de evitar o desgaste e em seu seio uma garracorrediça com o objetivo de permitir um melhor aperto.

Poderão ser conectados, em números de 2, 3 ou 4, por meio de umanel formando, assim, aparelhos de 2, 3, ou 4 ramais ou pernadas.

Os estropos podem ser de correntes que terminam em dois (2)chicotes:

• com anel num chicote e um gancho no outro;

• com dois anéis, um em cada chicote;

• com manilha, em ambos os chicotes; e

• com anel num dos chicotes e uma manilha no outro.

Page 27: ETSP ArteMarinheiro

27AMNAMN

O estropo de corrente é formado por duas ou quatro pernadas de corrente, ou decabo de arame, todas ligadas a um olhal e tendo em suas extremidades gatos. Na figuravemos um estropo aberto com apenas duas correntes próprio para carga e descarga debarris, tonéis, trilhos, etc.

O estropo de lona é uma forte lona, geralmente quadrada, provida de fiéis fixadosem seus quatro cantos. A bordo são usados para cargas como mantimentos e outrosserviços do próprio navio. Da mesma forma, usamos fortes estropos feitos de rede. Asredes também são usadas em operações de salvamento e em caso de abandono donavio, ocasião em que são estendidas no costado do navio.

Estropos fechados - aqueles cujos chicotes são ligados, por meio deanel, manilha ou costura.

4.3 Uso dos estropos

Consideremos a utilização dos estropos na fainas de carga e descarga dos naviose demais embarcações mercantes.

As sacarias perderam bastante do seu valor, como já citamos, com o surgimentodos sugadores, os quais dispensam que muitos sejam ensacados; porém, os estroposcomuns continuam a ser bastante usados em carregamentos regionais, em embarcaçõesde menores portes e em cargas que não podem ser transportadas a descoberto, etc..

Os estropos feitos com cabos de arame levam a vantagem de ter capacidade bemmaior de içar pesos, embora sejam pesados e de difícil manuseio.

Os estropos de corrente, com já citamos, içam desde grandes tubos de ferro atégrandes caixotes, razão porque podem possuir quatro correntes. Como desvantagem,estes estropos são muito pesados, precisam ser feitos de material de boa qualidade eexigem contínua inspeção.

Page 28: ETSP ArteMarinheiro

28

4.4 Como “cortar” um estropo

Não se espante porque jamais você precisará da navalha do marinheiro para“cortar” um estropo, mesmo sendo ele de cabo de fibra. “Cortar” um estropo ésimplesmente a operação de reduzir o seu comprimento.

Na figura ao lado veja a volta boca de lobo, com a qualse pode cortar um estropo comum.

Você pode cortar o estropo dobrando-o simplesmenteou aplicando uma boca-de-lobo dobrada, ou ainda fazendouma encapeladura singela com a alça que se prende ao gato.

O bom marinheiro deve ter em seu paiol estropos de tamanhos diversos de modo anão precisar sempre estar cortando estropos. O corte é um remédio que não deve serusado com freqüência, pois como você sabe, qualquer nó ou volta que se aplique numcabo reduz a resistência do mesmo. Portanto, previna-se sabendo a quantidade de volumesa içar, a fim de usar estropos no tamanho exato.

Atenção

Não se esqueça de que os estropos comuns devem ser confeccionados comcostura redonda, em vez de nós ou voltas.

Page 29: ETSP ArteMarinheiro

29

Bibliografia

FONSECA, Maurílio M. Arte Naval. 6. ed. Rio de Janeiro: SDGM, 2003.

KIHLBERG, Bengt. The Lore of ships. Gotemburg: AB Nordbok, 1975.

McLEOD, William A. The Boatswain’s Manual. Glasgow: Brown, Son & Fergunson, 1977.

NOEL, John V. Jr. Knight’s Modern Seamanship. 17 ed. New York: Von NostrandReinhold, 1984.

PREFECTURA NAVAL ARGENTINA. Direccion del Personal. Manual de conocimientosmarineros. Buenos Aires, 1970.