Ética para o cidadão

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7/25/2019 Ética Para o Cidadão http://slidepdf.com/reader/full/etica-para-o-cidadao 1/21 Revista Eletrônica Print by FUNREI <http://www.funrei.br.publicações/ Met av noi a  > Met av noi a. São João del-Rei, n. 3. p. 29-49, jul. 2001 A ÉTICA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Luciano Busato Especialização Filosofia –DFIME-FUNREI Resumo:  Alain Badiou (1995), afirma que a comunicação é algo de enorme “fortuna” nos dias atuais, e que muitos vêem nela a raiz do democrático e do ético. Ele questiona sobre o que se deve comunicar: “Se perguntarmos: comunicar sim, mas o quê?, a resposta é fácil: opiniões, opiniões sobre toda a extensão de múltiplos que esse múltiplo especial, o animal humano, experimenta na teimosa determinação de seus interesses.” (p. 56). Sendo assim, partimos daí para nosso questio- namento sobre a importância da comunicação no mundo atual e, especialmente, sobre seu desen- volvimento acelerado rumo a uma interação cada vez maior com o corpo social, tornando-se um dos elementos mais importantes na construção do nosso mundo. Palavras-chave: Abstract :  Alain Badiou (1995), he affirms that the communication is something of enormous "for- tune " in the current days, and that many see in her the root of the democratic and of the ethical. He questions on the one that she should communicate: "If we ask: to communicate yes, but the some- thing?, is the answer easy: opinions, opinions on the whole extension of multiples that that special multiple, the human animal, tries in the stubborn determination of your interests ". (p. 56). being like this, we left then for our inquiry on the importance of the communication in the current world and, especially, on your accelerated development heading for an interaction every time larger with the social body, becoming one of the most important elements in the construction of our world. Key word: Introdução  saber humano torna-se cada vez mais dependente das co- municações e, de um modo geral, passa a depender dela para sua expansão e transmissão. Daí decorre a importância de uma avalia- ção ética do tipo de comunicação que queremos para nosso mundo. Será que queremos uma forma de comuni- cação não comprometida com a for- mação de um homem mais digno e senhor de si? Ou queremos uma co- municação isenta da responsabilida- de de ajudar o homem a ser sempre melhor em sua eterna autoconstru- ção?  A reflexão sobre o tipo de comunica- ção que queremos para nosso mundo é fundamental para clarearmos al- guns pontos acerca de como devem ser os meios de comunicação. Refle- tindo sobre o tema e estabelecendo parâmetros de avaliação baseados na busca de um mundo mais humano e mais ativo para o homem, onde possa ele sentir-se um determinador de seu próprio destino, assumindo assim seu papel na construção de um mundo melhor, estaremos dando a O

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Revista Eletrônica Print by FUNREI <http://www.funrei.br.publicações/ Met av n oi a   >

Metavnoia. São João del-Rei, n. 3. p. 29-49, jul. 2001

A ÉTICA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Luciano BusatoEspecialização Filosofia –DFIME-FUNREI 

Resumo:  Alain Badiou (1995), afirma que a comunicação é algo de enorme “fortuna” nos diasatuais, e que muitos vêem nela a raiz do democrático e do ético. Ele questiona sobre o que se devecomunicar: “Se perguntarmos: comunicar sim, mas o quê?, a resposta é fácil: opiniões, opiniõessobre toda a extensão de múltiplos que esse múltiplo especial, o animal humano, experimenta nateimosa determinação de seus interesses.” (p. 56). Sendo assim, partimos daí para nosso questio-namento sobre a importância da comunicação no mundo atual e, especialmente, sobre seu desen-volvimento acelerado rumo a uma interação cada vez maior com o corpo social, tornando-se umdos elementos mais importantes na construção do nosso mundo.

Palavras-chave:

Abstract:  Alain Badiou (1995), he affirms that the communication is something of enormous "for-tune " in the current days, and that many see in her the root of the democratic and of the ethical. Hequestions on the one that she should communicate: "If we ask: to communicate yes, but the some-thing?, is the answer easy: opinions, opinions on the whole extension of multiples that that specialmultiple, the human animal, tries in the stubborn determination of your interests ". (p. 56). being likethis, we left then for our inquiry on the importance of the communication in the current world and,especially, on your accelerated development heading for an interaction every time larger with thesocial body, becoming one of the most important elements in the construction of our world.

Key word:

Introdução

 saber humano torna-se cadavez mais dependente das co-municações e, de um modo

geral, passa a depender dela parasua expansão e transmissão. Daídecorre a importância de uma avalia-ção ética do tipo de comunicação quequeremos para nosso mundo. Será

que queremos uma forma de comuni-cação não comprometida com a for-mação de um homem mais digno esenhor de si? Ou queremos uma co-municação isenta da responsabilida-de de ajudar o homem a ser sempremelhor em sua eterna autoconstru-

ção?

 A reflexão sobre o tipo de comunica-ção que queremos para nosso mundoé fundamental para clarearmos al-guns pontos acerca de como devemser os meios de comunicação. Refle-tindo sobre o tema e estabelecendoparâmetros de avaliação baseadosna busca de um mundo mais humanoe mais ativo para o homem, ondepossa ele sentir-se um determinador de seu próprio destino, assumindoassim seu papel na construção de ummundo melhor, estaremos dando a

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ele a chance de ser cada vez melhor.Por isso, refletir sobre comunicação enormas para seu funcionamento faz-se um tema de importância ímpar.

O estabelecimento de normas deconduta para orientar os meios decomunicação de massa é habitual-mente visto como uma forma de cer-cear a liberdade de imprensa e deestabelecer controle externo, na ten-tativa de dominar a informação e osmeios de comunicação. Todas asiniciativas de estabelecer um debatesobre o assunto são logo abortadascom a desculpa de que não se podecolocar qualquer código normativo ou

restritivo sobre a divulgação de in-formações e sobre a produção cultu-ral. Para um país que está saindo deum longo e forte sistema de repres-são à liberdade de expressão, é dese esperar que tal debate possa sus-citar algum temor. Entretanto, o queprecisa ficar claro é a necessidade dese debater os principais aspectos daconduta dos meios de comunicaçãode massa em uma sociedade tãodiversificada e com tantas formas de

expressão cultural.

O medo de debater este tema temum longo histórico, pois desde a épo-ca de Getúlio Vargas na presidênciada república (1930-1945), a imprensabrasileira conviveu com a interferên-cia direta de governos sobre suasações e com a questionável relaçãocom o poder político e com o poder econômico. Nota-se claramente emnossos meios de comunicação a es-

treita ligação dos órgãos de informa-ção com interesses políticos domi-nantes e com o inteiro compromissodesses mesmos meios com a infin-dável difusão de novos hábitos deconsumo e de comportamento. A

idéia de que os meios de comunica-ção são serviços públicos e que por isso devem ser constantemente ava-liados pela sociedade foi devida-mente colocada de lado e, de modo

bastante contundente, qualquer ten-tativa de questionar essas práticas étaxada de cerceamento de liberdadee de uma afronta à democracia.

Entretanto, apesar de toda essa pre-ocupação em afastar qualquer tenta-tiva de debater a questão de um có-digo de ética para os meios de co-municação, não pode ser esquecida.Não são os meios de comunicaçãoque devem dizer sim ou não a possí-

veis normas de conduta, mas a pró-pria sociedade deve assumir essaresponsabilidade.

Este trabalho tem como objetivo pro-por uma reflexão sobre as seguintesquestões: 1. a possibilidade ou nãoda implantação de um código de éticapara os meios de comunicação; 2. aquem caberia a função de normalizar tais programas; 3. a quem caberia opapel de avaliação dos desvios de

conduta da imprensa. O método deprocedimento será através de pes-quisas bibliográficas.

1. Sobre a Conceituação deComunicação

 A análise de um código de ética paraos meios de comunicação passa,necessariamente, por uma compre-ensão e interpretação dos principaisproblemas considerados polêmicos

na sua relação com o governo e coma sociedade de modo geral. Passatambém por uma conceituação dosignificado da comunicação e da de-finição de sua importância para oprogresso humano e para a socieda-

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de como um todo. Assim, entende-mos que nosso raciocínio deva co-meçar a partir do esclarecimentodesses aspectos.

Vidigal de Carvalho (1995) define oconceito de comunicação a partir dapalavra “comunicar”.

Comunicar significa repartir, dividir, pôr em comum. O homem compreende asi mesmo quando entra em comunhãocom os outros e para os outros, poisas relações inter-humanas implicam aalteridade entre os próprios homens.Fora disto fica caracterizada a agres-são existencial.(158).

 A comunicação é uma das faculda-des humanas que mais o caracteri-zam como um ser que constrói etransforma o mundo. E essa constru-ção e transformação precisam estar sempre sendo transmitidas. A trans-missão dessas etapas de cresci-mento humano, tanto no plano indivi-dual quanto no plano coletivo, fazemdo homem um ser que está sempreem contato construtivo, comparti-lhando com os demais aquilo queaprende. Por isso, a comunicaçãodeve ser ilimitada e ampla. Não podeser cerceada e nem proibida. Pelocontrário, deve ser estimulada e cadavez mais desenvolvida. Só assim ohomem pode chegar a uma plenaintegração com o mundo e os benefí-cios conquistados por algumas pes-soas podem transformar-se em con-quistas para toda a humanidade. En-tretanto, liberdade de comunicaçãonão pode ser confundida com irres-ponsabilidade. A liberdade de comu-nicação não pode ser pretexto para afalta de compromisso com um mundomelhor e mais humano. Há sempreum compromisso ético a ser obser-vado.

Nunca os homens puderam comuni-car-se com tanta rapidez. Jamais foipossível conhecer tão de perto e tãoimediatamente os fatos ocorridos.Estamos hoje sendo “bombardeados”

por todo tipo de informação. E o queé mais complicado é que esse exces-so de informação não nos leva, ne-cessariamente, a um conhecimentomais apropriado da realidade. Emgrande parte, o excesso de informa-ções nos leva à dificuldade de com-preensão da realidade. Ficamos àmercê do grande impulso tecnológicoe, conseqüentemente, perdemos apossibilidade de uma aproximaçãomaior com o nosso cotidiano. Ou

seja, vivemos mais uma realidadedistante de nós e nos afastamos danossa circunstância.

Ortega y Gasset (1961) afirma:

viver é o que fazemos e nos acontece – desde pensar ou sonhar ou comover-nos até especular na bolsa ou ganhar batalhas. Mas, bem entendido, nadado que fazemos seria nossa vida senão nos déssemos conta disso. É esteo primeiro atributo decisivo que topa-mos: viver é essa realidade estranha,única, que tem o privilégio de existir para si mesma. (p.165).

  Nesta linha de pensamento, nos fir-mamos para concluir que, especial-mente na modernidade, o homemtem sido dominado e manipuladopelos meios de comunicação de talmodo que sua vida já não é maisdecidida por ele mesmo e sim padro-nizada de acordo com os modelosestabelecidos pelos meios de comu-

nicação. E é bastante provável quenestas circunstâncias o homem nãoesteja se dando conta de sua própriacondição de sujeito. Tem sido mani-pulado e dominado, não lhe sendopermitido pensar livremente e muito

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menos crescer como pessoa. E é aíque centramos nossa grande preocu-pação com este tema. Como poderiao homem construir sua própria vidadentro de uma sociedade onde lhe é

usurpado o direito de tomar consci-ência de si e de seu mundo? Que tipode homem estará se formando dentrodesta bolha de comunicações quenão lhe permitem conhecer e optar de forma lúcida e consciente? Comcerteza não é dessa forma que esta-remos nos tornando mais humanos emenos dependentes. Estaremos, sim,é nos tornando ovelhas de um reba-nho que não se guia a si próprio, masque é controlado a partir de estímulos

externos e até alheios à sua vontade.

 Através do decreto intitulado Inter Mirifica, promulgado pelo Papa PauloVI em 4 de dezembro de 1963, citadopor Alberto André (1994), a IgrejaCatólica marcou sua posição acercade seu entendimento sobre a impor-tância das comunicações. Diz ela nodecreto:

1. Entre as admiráveis invenções datécnica, (...) aquelas que de preferên-cia se referem ao espírito humano, querasgaram caminhos novos na comuni-cação fácil de toda sorte de informa-ções, pensamentos e determinaçõesda vontade. Dentre estas invenções,porém, destacam-se aqueles meiosque não só por sua natureza são ca-pazes de atingir e movimentar os indi-víduos, mas as próprias multidões e asociedade humana inteira, como a im-prensa, o cinema, o rádio, a televisão eoutros deste gênero, que por istomesmo podem ser chamados com ra-zão de Instrumentos de Comunicação

Social. (p. 59).

2.Sabe, com efeito, (...) que estes ins-trumentos retamente empregados, re-presentam subsídios valiosos ao gêne-ro humano, porquanto muito contribu-em para recrear e aprimorar os espíri-tos (...) e angustia-se pelos danos cau-

sados mui freqüentemente à socieda-de humana pelo mau uso deles. (p.59).

Nota-se aqui, uma preocupação da

Igreja de Roma com o reconheci-mento da importância dos meios decomunicação social. Reconhece aIgreja que a comunicação humana éum sinal do progresso da humanida-de e que por isso é louvável seucrescimento. E ainda mais, pode-sededuzir que a comunicação deve ser incentivada nas suas diversas formasde manifestação e estendida a todosos povos, como forma de progresso ede aproximação. Entretanto, a Igrejamanifesta grande preocupação comos danos causados à sociedade pelomau uso que pode ser feito pelosmeios de comunicação. E não sãoraros os exemplos que possam justi-ficar tal preocupação. Habitualmentenos deparamos com situações ondepodemos questionar os efeitos daação dos meios de comunicação. Emmuitos casos temos a nítida sensa-ção de que os meios de comunicaçãovalem-se da velha justificativa maqui-avélica de que os fins (lucros) justifi-cam os meios. E, nesse aspecto,estamos de pleno acordo com aIgreja. Se a comunicação não estásendo em proveito da própria huma-nidade ela deve ser questionada. Ocompromisso com o ser humanodeve ser o norteador das ações nacomunicação.

Também Pedrinho Guareschi (1997)escreveu: “o direito humano à comu-nicação é bem mais: é o direito que

toda pessoa tem de dizer sua pala-vra, expressar seu pensamento, ma-nifestar sua opinião”. (p. 51). Esseaspecto nos leva a um outro tipo dequestionamento. Que tipo de infor-mação deve ser veiculada? Será que

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a comunicação pode refletir apenasalgumas vertentes de pensamentocorrente ou deve ser uma espécie demosaico de informações? É semprepertinente lembrar que ao ser huma-

no deve ser dado o direito de esco-lha. O fato de não haver qualquer forma de controle da sociedade civilsobre os meios de comunicação podeabrir uma lacuna para a restrição àamplitude das informações. Ou seja,a não avaliação pela própria socieda-de de seus veículos de comunicaçãopode tornar-se para ela uma interse-ção entre ter uma comunicação com-prometida com toda a sociedade ouuma comunicação comprometida

com os interesses de alguns peque-nos grupos de pessoas.

Sendo assim, a pergunta que noscala sempre é exatamente acerca daregulamentação da forma de comuni-cação que nos é apresentada e es-pecialmente, sobre a utilização dacomunicação como forma de desen-volvimento humano dentro de umaperspectiva mais centrada na consci-entização que na massificação das

pessoas. Definir o tipo de comunica-ção que queremos nos levará a defi-nir que tipo de sociedade esperamosconstruir. Quanto melhor forem nos-sos meios de comunicação, melhor será nossa sociedade e melhorespessoas seremos.

 A partir daqui, passamos já a definir nosso posicionamento em relação aoque queremos dos meios de comuni-cação. De modo algum aceitamos a

censura pura e simples como formade regulamentação. Da mesma for-ma, também não aceitamos o exces-so de liberdade que os meios de co-municação possuem e a falta de ummaior compromisso com a dignidade

do ser humano. Queremos sim é ummaior compromisso com a informa-ção responsável e principalmentecom uma conduta mais voltada parao respeito às individualidades e ao

direito humano a uma comunicaçãomais esclarecedora e menos com-prometida com vertentes econômicase políticas nem sempre muito dignifi-cantes. É preciso sempre colocar ohomem como o centro de ação quan-do se trata de comunicação. Só as-sim teremos um mundo cada vezmais humano.

1.1. Porque e como a comuni-cação deve humanizar o homem

Erbolato (1982) escreveu:

a liberdade de informação é um direitoque deve ser defendido intransigente-mente. Todavia, em contraposição, in-dagaríamos: até onde o jornalista, opublicitário, o produtor de programas(de cinema, de rádio e de televisão)podem exercer as suas atividades,sem que seja comprometida a segu-rança do país e a moral dos que irãoconsumir seu trabalho? Será ético tudoquanto for permitido pelas leis positi-

vas? No caso dos programas cinema-tográficos proibidos ou impróprios paramenores de 18 anos, justifica-se o en-foque, cada vez mais real, de atos se-xuais? Se o órgão oficial competenteconcedeu a liberação, ferirá a éticamostrar na tela encontros escusos,adultério e crimes?. (p. 65).

Partindo desse questionamento,acreditamos que os meios de comu-nicação de massa precisam refor-mular seus conceitos sobre sua im-portância, sua função e, especial-mente, como serviços e concessõespúblicas que são, precisam ser maiscriteriosos em sua programação auto-regulamentando-se, e sendo tambémanalisados e regulamentados a partir de órgãos da sociedade civil.

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Uma das principais funções da co-municação deve ser a permissão aohomem de uma nova visão diantedos fatos a ele apresentados. Não sepode negá-lo a sua total liberdade de

escolha em relação a qualquer fatoque lhe diga respeito. Moda, com-portamento, religião, filosofia, educa-ção, política e outros temas mais de-vem ser sempre apresentados comoelementos de discussão e nuncacomo temas acabados. A comunica-ção pode perfeitamente levar ao ho-mem essa dimensão de questiona-mento e construção de novos parâ-metros de comportamento. Não é istoque está em discussão. O que se

propõe aqui é a comunicação, emqualquer de suas formas, não servir àmassificação e alienação do homem.

E como então, poderia a comunica-ção ajudar o homem a se libertar desua alienação e massificação e tor-nar-se cada vez mais um homem quevive sua própria vida, na expressãode Ortega y Gasset? É possível aosmeios de comunicação ajudar o ho-mem a construir seus próprios con-

ceitos de vida, liberdade, cidadania ecomunidade?

Nessa mesma linha de pensamento,entendemos que a imprensa, o rádio,a televisão não devem ser apenastecnicamente perfeitos, ou serviremsomente a fins comerciais ou mesmoaos interesses dos que as dirigem.Cabe a eles um papel fundamental

 junto à criança e ao adolescente, aohomem do futuro. Ou promovem a

humanização, ou tornam o homemmelhor ou transformam-se em ins-trumentos de dominação, de animali-zação, de selvageria.

 A partir desse conceito, entendemos

mais claramente que os meios decomunicação não são absolutamenteinofensivos e imparciais. Semprecumprem uma função. Seja ela posi-tiva ou negativa na formação huma-

na. Por isso é importante o questio-namento sobre os limites éticos quedevem reger a produção e a trans-missão de informações e de cultura.Não se trata de uma preocupaçãoinfundada. Lamentavelmente, muitasfamílias devido às precárias condi-ções econômicas estão restritas àtelevisão como meio de lazer e en-tretenimento. Isso torna-se preocu-pante a partir do momento em que,nessas mesmas famílias, o nível

educacional é extremamente baixo.Sendo assim, o discernimento entreaquilo que é melhor ou pior fica com-prometido seriamente.

Um outro aspecto significativo équanto ao compromisso de uma me-lhor formação de nossas crianças e

 jovens. Submetidos ao consumo deprogramas e informações que difun-dem o consumismo e a competitivi-dade como valores fundamentais da

vida humana, provavelmente nãoterão a oportunidade de conhecer valores referentes à formação huma-na que levem em consideração ocompanheirismo, a solidariedade e osvalores morais ligados ao bem estar humano

No Decreto Inter Mirifica  , já acimacitado, a Igreja explica seu interesseno assunto, da seguinte forma

2. Sabe, com efeito, a Mãe Igreja queestes instrumentos, retamente empre-gados, representam subsídios valiososao gênero humano, porquanto muitocontribuem para recrear e aprimorar osespíritos e propagar e firmar o reino deDeus; sabe também que os homenspodem utiliza-los contra o desígnio do

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divino Criador e converte-los em perdi-ção de si próprios. Até mesmo, commaterno sentimento de dor, angustia-se pelos danos causados mui fre-qüentemente à sociedade humanapelo mau uso deles. (p. 59).

Sendo uma época em que se lutaveementemente contra qualquer tipode censura, muitas pessoas argu-mentam que a intervenção da Igreja émais uma tentativa de refrear a capa-cidade humana de criação, limitando-a aos padrões morais cristãos. Claroque qualquer interferência direta,mesmo que da Igreja Católica, nosentido de censurar os meios de co-municação faz recordar a época me-

dieval. O retorno à censura religiosaà produção cultural seria um retro-cesso. Entretanto, o que se observano decreto é a preocupação emalertar à sociedade para que cuidedessa conquista humana para queela seja sempre um veículo de cres-cimento e de valorização do homem.

E, no mesmo decreto, a Igreja explicacomo podem os meios de comunica-ção ajudar no desenvolvimento do

homem:4. Para o emprego correto destes ins-trumentos é absolutamente necessárioque todos os que fazem uso deles co-nheçam as normas da ordem moral enesta matéria lealmente tirem as con-seqüências práticas. Tomem em conta,portanto, a matéria das coisas que sãocomunicadas, em vista da naturezaespecífica de cada instrumento, damesma forma, tenham diante dosolhos também as circunstâncias todos,isto é, a finalidade, as pessoas, o lu-gar, o tempo e outras mais, pelas

quais a própria comunicação se com-pleta e que podem mudar ou inteira-mente alterar sua bondade moral; en-tre estas circunstâncias enumera-se omodo de agir próprio de cada instru-mento, melhor, sua força, que é capazde ser tão grande que os homens,

mormente se desprevenidos, dificil-mente podem dar-se conta dela, domi-ná-la e, se for o caso, rejeitá-la. (p. 60).

 Aqui podemos detectar na posição da

Igreja uma preocupação extra. Nãose pode deixar que os meios de co-municação, aproveitando-se do des-preparo de grande parte da popula-ção para julgar com opinião própriaaquilo que considera adequado ounão para seu crescimento, seja leva-da a aceitar novos conceitos moraissem um maior questionamento. Apreocupação aqui é com o processode educação. E aqui podemos con-cluir que, dentro de um nível de des-envolvimento intelectual mais avan-çado, a ação dos meios de comuni-cação deixaria de ser tão preocu-pante quanto é hoje. Em uma socie-dade com formação educacional maissólida, o próprio indivíduo teria auto-nomia para decidir-se pelo que de-seja. Este é um ponto em que acre-ditamos plenamente. Com um níveleducacional mais aprimorado, o ser humano pode decidir-se pelo que lheé mais apropriado de forma clara erejeitar aquilo que considera inade-quado, sem necessitar de códigos deética ou de uma orientação religiosa,por exemplo. É onde o ser humanotorna-se senhor de si.

Respondendo às perguntas anterio-res, podemos afirmar que a comuni-cação de massa pode sempre servir ao interesse de possibilitar ao homemuma maior reflexão e construção denovos modelos éticos. Isso sempreocorrerá, na medida em que os con-

teúdos apresentados ao homem nãosejam direcionados pela excessivaliberalidade e consumismo com queos meios de comunicação se condu-zem. Podem perfeitamente apresen-tar ao homem conteúdos de melhor 

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qualidade formativa que os que hojesão mostrados. Colocar a dignidadehumana no primeiro plano de qual-quer projeto é o parâmetro maisapropriado de conduta da mídia. O

ser humano precisa ser valorizadocomo tal, e não como simples con-sumidor de produtos e de idéias dire-cionadas por grupos restritos da so-ciedade. A elasticidade dos padrõesmorais vista hoje nos meios de co-municação assusta a maioria daspessoas. Como então explicar queesses mesmos meios de comunica-ção não possam ser controlados pelaprópria sociedade que é por eles in-fluenciada? Fica muito incoerente

negar à sociedade alguma forma decontrole sobre aquilo que lhe é tãosignificativo.

1.2. A comunicação e a ética:principais problemas

Erbolato (1982) pergunta:

Estarão certos os meios de comunica-ção de massa quanto aos critérios queimprimem à sua atuação? Devemoscontinuar com as “pornochanchadas”

no cinema, a violência na televisão(mesmo em programas livres), o ero-tismo na publicidade, os livros queapelam para os instintos e as revistasque mostram corpos jovens de mulhe-res bonitas? Que comentários faría-mos diante de jornais que anunciammanchetes como estas: “Cortou e co-meu a orelha do amigo como tira-gosto

 – ofereceu 350 mil para matar o genro – Fez picadinho do amante da mu-lher?”. (p. 69).

Em outra afirmação Erbolato (1982)

diz:

Quantos desses assuntos – em texto efotos, como matéria redacional e emforma de anúncios – chegam a influir oleitor, mudando o seu modo de pensar ou de agir? Com a complexidade dos

dias atuais, o homem aos poucos vaideixando de pensar, de raciocinar e depesquisar, porque os meios de comu-nicação de massa o atormentam comas mensagens visuais e auditivas. (...)O indivíduo torna-se mais manipulável

e tudo o que lê, vê e ouve, muda-lhe,até certo ponto, a personalidade e aopinião. (p. 47).

Mais uma vez temos a oportunidadede refletir sobre o tema da total liber-dade de ação dos meios de comuni-cação. Apesar da alegação de queeles próprios têm meios de auto-regulamentação, o que temos obser-vado é uma acentuação cada vezmaior da exploração da sensualida-de, da violência e de outros recursosfortemente apelativos apenas com afinalidade de ganhar audiência. E aaudiência é ligada diretamente aofaturamento das empresas de comu-nicação. De olhe nesse filão, temproliferado a criação de programasde televisão, revistas e jornais queperdem a noção do bom senso nouso de recursos apelativos. E o que épior é que argumentam que sua ação

limita-se a mostrar a “realidade”. Quea violência, a sensualidade, a com-petitividade exacerbada fazem partede nossa vida cotidiana. Aqui nosperguntamos. Não estarão eles ex-trapolando seus limites apenas por competição? Essa realidade que elesquerem mostrar faz realmente partedo cotidiano de todas as pessoas?Em que essa demonstração de “rea-lidade” dignifica o homem e desen-volve nele o senso de bondade, de

dignidade, de confiança no outro e degenerosidade?

Esse modelo de comunicação é queleva o homem a ter medo de seu se-melhante, a vê-lo como um rival, um

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inimigo a ser combatido. Os instintossão sempre aguçados. Não no senti-do de valorizar o homem, mas detorna-lo menos racional e menos hu-mano.

Dentre os diversos temas que pode-riam ser abordados nesta linha deraciocínio, nos limitaremos a avaliar as repercussões da ação dos meiosde comunicação referentes à política,aos interesses econômicos, à diver-sidade cultural e ao comportamentosexual.

1.2.1. Ação dos governos sobre a impren-sa .

Segundo Erbolato (1982):

os governos, sejam eles da esfera fe-deral, estadual ou municipal, têm por norma tentar impor-se à opinião públi-ca, mostrando que agiram acertada-mente. Esse desiderato pode ser con-seguido de várias formas: a) negandoinformações oficiais aos meios de co-municação de massa; b) fornecendoexclusivamente comunicados esclare-cedores; c) divulgando matérias pagasde auto-elogio. Os atos do poder públi-co se submetem à apreciação de to-

dos, de uma forma ou de outra, e é por intermédio de jornais, revistas, rádio,televisão, cinema e livros que a popu-lação fica sabendo o que aconteceu ouestá ainda por ocorrer. (p. 57).

 A partir dessa afirmação podemosdestacar a importância fundamentaldos meios de comunicação na apura-ção das informações, de modo quenão se tornem meros agentes propa-gandísticos dos governos, sendo ma-nipulados e não conseguindo escla-

recer à população a verdade dos fa-tos aos quais só se pode chegar pelavia da informação jornalística.

É indiscutível que a relação entre oEstado e os meios de comunicação

de massa é por muitas vezes perme-ado pelos interesses de favores eco-nômicos e/ou políticos e que, por serem empresas concessionárias deserviços públicos, sendo ainda tam-

bém empresas comerciais e que ne-cessitam de lucros para sua sobrevi-vência, podem ceder a associaçõesindevidas com os governos.

 A manipulação da mídia pelos gover-nos pode ocorrer pelo fato de seremeles próprios grandes anunciantes eque investem grandes somas de di-nheiro nos meios de comunicação.Essa força econômica pode ser utili-zada para forçar a atuação da mídia

no sentido em que o governo deseja,seja não o criticando ou mesmo apoi-ando incondicionalmente ações go-vernamentais de forma clara. Nessesentido, Teixeira Coelho (1989) afir-ma que “... a ameaça de um governo,estadual ou federal, de retirar suasverbas de um grande jornal de SãoPaulo ou do Rio já é suficiente parafazer tremer, e muito, o grupo jorna-lístico correspondente.” (p. 82).

Não são exemplos raros aquelesonde os meios de comunicação tor-nam-se veículos de informação es-tatal. Com certeza é do conhecimentocomum o uso maciço que Hitler fezdos meios de comunicação duranteseu período de líder do terceiroReich. É um caso típico de domina-ção da mídia pelo Estado e especi-almente com a sua utilização irrestritapara a informação direcionada a di-vulgar idéias nazistas.

Outro exemplo dessa natureza podeser encontrado durante a permanên-cia de Getúlio Vargas no governobrasileiro (1930-1945). Em 1941 criouo Departamento de Imprensa e Pro-

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paganda (DIP) como órgão da presi-dência da república para o culto àpersonalidade de Getúlio e para adivulgação das idéias políticas dogoverno bem como de suas ações

governamentais. O mais importanteveículo de propaganda utilizado peloDIP era a Rádio Nacional e o pro-grama criado para divulgar as ativi-dades do governo foi intitulado “AVoz do Brasil”, presente ainda hojenas emissoras de rádio, de segundaa sexta-feira, às 19 horas.

Obviamente que não podemos nosfurtar à idéia de que os meios de co-municação precisam ser suficiente-

mente isentos da influência governa-mental para que possam informar com neutralidade adequada aquiloque se refere à ação política nosseus diversos níveis. É inaceitávelque os meios de comunicação sejamutilizados como forma de divulgaçãode informações meramente oficiais eque, por isso mesmo, percam suafinalidade essencial que é esclarecer a opinião pública acerca daquelesassuntos que lhe sejam pertinentes.

Da mesma forma, os órgãos de in-formação não podem ser instrumen-tos de crítica sistemática antigover-namental, correndo o risco de mani-pular a opinião pública que, dessaforma poderia estar sendo conduzidanuma direção sem o devido esclare-cimento. Tanto os meios de comuni-cação utilizados para justificar posi-ções oficiais quanto aqueles estrutu-rados apenas como aparelhos de

fomento à crítica sistemática servemmuito bem aos interesses a que seprestam. Entretanto, nunca podemosperder de foco que o objetivo primor-dial da informação é levar ao indiví-duo em particular os elementos ne-

cessários para que ele se posicione.Não sendo dessa forma, não se esta-rá dando a devida e necessária liber-dade ao indivíduo e ao cidadão paraque posso fazer seus juízos de valor 

e posicionar-se livremente.

1.2.2. Os interesses econômi-cos:

Erbolato (1982) afirma:

Os meios de comunicação social sãosuperpotentes e, usá-los, requer res-ponsabilidade ética. Uma ocorrênciasem muito significado poder ser habil-mente redigida, com um texto exce-lente, e figurar na primeira página de

um jornal. Os outdoors e os  jinglestambém influenciam pela insistênciacom que são vistos e ouvidos. A televi-são sugere produtos e maneiras deagir, tanto de forma perceptível (anún-cios) quanto de modo indireto (atravésde propaganda indireta dentro da pro-gramação). O rádio e alguns jornaisimpressos possuem programas ou se-ções sob patrocínio de firmas. A publi-cidade é fator determinante do com-portamento, porque desperta o desejode consumo de algo que possa ofere-cer bem-estar, ou menores esforços.(p. 24).

Não é preciso grande esforço nosentido de detectar nos meios decomunicação a incessante oferta deprodutos e serviços ao público demodo geral. Obviamente esse as-pecto das comunicações não podeser ignorado, pois eles necessitam desustentação econômica. Como em-presas de cunho comercial sobrevi-vem em função dos lucros que obtémnão só com a venda dos próprios

produtos, bem como dos anúnciosfeitos por empresas que patrocinameventos ou mesmo anúncios de pro-dutos que queiram comercializar. Anecessidade de sustentação econô-mica das empresas é plenamente

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compreensível. O aspecto a ser abordado se refere à forma e aosconteúdos apresentados. Será real-mente necessário oferecer todo equalquer tipo de produto, mesmo que

nem sempre sejam realmente bonsou até mesmo úteis? Esse é umquestionamento que não pode ser ignorado. No momento em que so-mos induzidos a escolher produtos apartir da propaganda, passamos aquestionar qualidade e a necessidadedo que nos é oferecido. E quanto àforma, será que é correto utilizar-sede qualquer meio, mesmo que apela-tivo, para convencer o consumidor?

Quanto à forma da apresentação dosprodutos a serem consumidos, Vidi-gal de Carvalho (1995) afirmou:

O objetivo, direta ou indiretamente,perquerido (sic! ) é fazer conhecer,apreciar e desejar o que é oferecidopor meio de idéias nem sempre com-patíveis com a ética. Todos os recur-sos são empregados no sentido deformar uma mentalidade hedonistaatravés de modelos de comportamentoque aceitem o que interessa aosadeptos do utilitarismo e do amoralis-

mo. A cobiça que vai às raias do im-ponderável move todo um sistemapara que haja assimilação total do queé veiculado, condicionando inteira-mente as pessoas, mudando inclusiveo comportamento humano, impingindomodelos desumanos, procurandoabalar eticamente todos os valores queconstituem obstáculos sérios aos obje-tivos de domínio, ou mesmo de planoos alijando.” (p. 158).

 Acompanhando o teor das idéiasapresentadas até então, é possível

compreender nossa preocupaçãocom esse tipo de comportamento damídia. A alegação da necessidade desustentação econômica para a ma-nutenção das empresas de comuni-cação não pode servir de pano de

fundo para a completa irresponsabili-dade com que se tem tratado o tema.Em nome do lucro, são apresentadosà população produtos e mais produ-tos como sendo excepcionalmente

superiores aos seus concorrentes. Até aí não há qualquer problema demaior gravidade visto que é possívelcomparar os produtos. A questão aser analisada se refere à forma comosão apresentados.

De um modo geral, produtos de qual-quer natureza, são hoje apresentadosde forma erotizada aos consumido-res. É o hedonismo sendo supervalo-rizado. Corpos femininos e masculi-

nos seminus ou mesmo nus são as-sociados a todos os tipos de produ-tos. Mesmo que não haja qualquer associação à primeira vista, o ho-mem-consumidor é convidado aprestar sua atenção aos novos pro-dutos associados a poses sensuais,insinuações de prazer e mesmo con-vidando–o a novas experiências,mesmo que nem sempre concordan-tes com os hábitos e costumes mo-rais correntes. Notadamente, há aí

uma gratuidade da forma de apre-sentação e principalmente uma asso-ciação indevida, onde quem é abor-dado está sendo manipulado por im-pulsos desassociados da real utilida-de dos produtos.

Outro aspecto bastante evidente naspropagandas é a tentativa de desen-volver a idéia consumista de modogeneralizado. Quem está na ponta desaída dos meios de comunicação

acaba sendo envolvido numa teia depropagandas que reforçam cada vezmais a mentalidade do consumismopuro e simples. A idéia de consumoreforçada por lançamentos constan-tes de novos modelos e formas é

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sistematicamente apresentada a todoo tempo em jornais, revistas, tv, rá-dios, outdoors. Somos bombardea-dos a todo o momento com propa-gandas. Há alguns casos de revistas

que dedicam quase metade de suaspáginas a anúncios comerciais. Tudonormal, não fossem elas compradaspelo consumidor que deveria ser poupado de tanto cerceamentomental, explorando aspectos mera-mente sensoriais, com o objetivo úni-co e exclusivo de transformar o leitor ou telespectador em mercado con-sumidor.

1.2.3. A homogeneização cultu-

ral

Um aspecto bastante marcante dosmeios de comunicação de massa éuma tentativa constante de homoge-neização da cultura através do quepode ser chamado de indústria cultu-ral. Pautando-se, exclusivamente, por interesses econômicos, os meios decomunicação tendem à difusão dedeterminados tipos de manifestaçãocultural em larga escala, quase sem-

pre de um estilo único e que podegerar uma idéia de que uma unifica-ção cultural seja aceitável.

Longe de expressar as diversidadesculturais de um país especialmentegrande como o Brasil, os meios decomunicação tendem a centrar forçasna ampliação de apenas um tipo demanifestação. Talvez não se possaafirmar com certeza que essa con-duta dos meios de comunicação seja

algo planejado com o intuito de es-magar as demais manifestações cul-turais. Mesmo porque, há sempre oespaço para as individualidades regi-onais e que, apesar de toda umamassificação dos meios de comuni-

cação, sempre encontra modos decontinuar se manifestando. O impor-tante nesse aspecto é que os meiosde comunicação não se tornem nive-ladores culturais. A cultura não pode

ser conduzida por um único senti-mento. Sempre se deve permitir quea diversidade se manifeste sob penade não poder o homem manifestar-selivremente. Por isso, nunca é demaissalientar que a formação de grandesgrupos de comunicação pode se tor-nar um entrave considerável à diver-sidade cultural, já que o domínio dosmeios de comunicação por algunspoucos grandes grupos reduz o con-trole da informação a um reduzido

número de pessoas.

Entretanto, nem todos concordamcom a afirmação de que é possívelcriar um mercado consumidor emmassa.Teixeira Coelho (1989), por exemplo, afirma que:

no Brasil, porém, a cultura formadapela indústria cultural está longe de ser homogênea ...as desigualdades gri-tantes na divisão da renda nacionalimpedem que se fale na existência, no

Brasil, de uma sociedade de consumo;há bolsões de consumo, em certas re-giões, ao lado de grupos voltados parao subconsumo e de outros entreguesao desespero da simples sobrevivên-cia. (p. 91).

Esse fato, sem dúvida nenhuma, éuma realidade dentro do Brasil. Acapacidade de consumo da popula-ção não corresponde às expectativasdos anunciantes de produtos e servi-ços, de modo geral. Sendo assim, a

própria pobreza será o fator de deli-mitação entre a diversidade cultural ea cultura massificada. Mas esse as-pecto restringe-se ao consumo deprodutos. Quanto a outros aspectosculturais, tais como a linguagem, a

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moda referente ao vestuário, tipos demúsica, literatura e mesmo a ideolo-gia podem ser perfeitamente inculca-das na população. Não é incomumvermos hábitos recém incorporados

ao nosso cotidiano e que tiveram suadifusão acelerada pelos meios decomunicação de massa. Pelo contrá-rio, cada vez mais rapidamente essesnovos modelos são apresentados anós como referências de comporta-mento. Ou seja, os próprios meios decomunicação de massa têm nos ofe-recidos novos modelos comporta-mentais, criando assim uma éticabaseada naquilo que lhes interessadiretamente. Sendo assim, tornam-se

criadores de códigos morais. Por issomesmo precisam ser melhor compre-endidos e questionados.

 Ainda quanto à questão da homoge-neização cultural, um aspecto mar-cante desta última década é exata-mente a massificação imposta pelosmeios de comunicação em determi-nados hábitos culturais. Música, ci-nema, esportes, gírias estão sendoapresentados cada vez mais como

um reflexo da própria organizaçãogeo-econômica do país, estruturadano modelo centro-periferia. Ou seja,estamos cada vez mais sendo impe-lidos a adotar hábitos e gostos des-envolvidos a partir dos grandes cen-tros urbanos, especialmente Rio deJaneiro e São Paulo. Decorre daíuma tendência imediata à redução dadiversidade nesses aspectos cultu-rais, sendo a homogeneização umfato inexorável, visto que essa cen-

tralização da questão cultural ficadefinida como melhor representadapelos hábitos culturais urbanos.

1.2.4. A Sensualidade e a eroti-zação nos meios de comunica-

ção

Segundo Erbolato (1992):

a presença da mulher, como ilustração

dos meios de comunicação social, temsido uma constante, nos últimos anos.Fotografias e filmes procuram mostrá-la sob várias formas e principalmentecomo apelos ao erotismo e à práticado sexo. Se maior ousadia não temhavido é porque há a barreira da lei,uma vez que as normas morais sem-pre são ultrapassadas. (p. 90).

Por que tanta gratuidade em associar sensualidade e consumo? Não seestá associando indevidamente pro-dutos e comportamentos apenas com

a finalidade de vendê-los? Parece ser uma tônica constante nos meios decomunicação a exploração do erotis-mo como forma de veiculação daidéia de consumo. E o que mais im-pressiona é que não há uma linhalimite para definir o que seria aceitá-vel ou não. Associa-se sensualidadea bebidas, cigarro, automóveis, rou-pas, turismo, produtos esportivos,alimentos, além de músicas, cinema,teatro, revistas e até mesmo brinque-

dos infantis.

 A sensualidade tem sido utilizadasem qualquer critério de dignidadepara o ser humano. Não tem sidoapresentada como algo natural daconstituição integral do ser, mascomo uma mercadoria a ser vendida,onde o ser humano é tratado comoalgo sem sentimento e meramenteinstintivo. Ou seja, uma dimensãoespecial do ser humano é agora tra-

tada como mercadoria barata e deuso sem qualquer responsabilidade. A grande preocupação nesse sentidoé que o ser humano deixa de se valo-rizar como pessoa, adotando formasde comportamento não autênticos,

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induzido pela propaganda maciça aque está sendo exposto. E as conse-qüências são ainda mais gravesquando se trata de crianças e jovensque ainda não desenvolveram sufici-

entemente padrões morais que osfaçam firmes em seus próprios pro-pósitos. Passam então a se nortear por padrões veiculados pela mídia.

Num exemplo claro de que a mídiamuitas vezes não tem assumido suaverdadeira posição de esclarecedoraDi Franco (1996) afirma:

alguns setores da mídia, influenciadospor uma visão ´politicamente correta´,têm omitido um dos traços que com-põem a verdadeira face da Aids: oaviltamento do sexo. A sensualidade,corretamente entendida, é uma dasdimensões profundas da personalida-de, algo que toda pessoa sadia sabe enão pode tratar com a mesma ligeirezacom que se fala do tempo. (p. 44).

O que Di Franco chama de´politicamente correto´ pode, na ver-dade, ser entendido como o patru-lhamento que há sobre os meios deinformação para que não divulguem

idéias contrárias à liberação sexual.Não se pode difundir idéias que con-trariem a tão propalada “liberdadesexual” e que sendo uma bandeirados tempos modernos torna-se panode fundo para a imposição de mu-danças de comportamento na vidasexual das pessoas. Graças a isso,os meios de comunicação tornam-sedivulgadores da falsa idéia de quesexo livre e seguro é a solução paraa questão da Aids. Ninguém tem co-

ragem de assumir a defesa da mode-ração sexual, da fidelidade conjugal edo sexo como complemento do amor.O patrulhamento sobre a informaçãoé violento. A pergunta que se faz ne-cessária neste momento é acerca de

quem deve decidir que tipo de con-duta deve-se adotar sobre assuntotão polêmico.

Na maior parte das vezes, o que se

está buscando é exatamente umcomportamento mais liberal no senti-do de forçar mudanças comporta-mentais com o intuito de ampliar oconsumo. Nota-se ai, não uma tenta-tiva de derrubar padrões morais por outros mais humanizadores. Entre-tanto, não se pode notar nenhumaproposta onde o ser humano estejasendo colocado como o elemento dedecisão e aquele que deve ser ouvi-do. Por isso nos perguntamos sem-

pre o porque de a sociedade não ser ouvida sobre esse assunto.

Podemos afirmar assim, que o resul-tado final desse processo é umaanarquia moral que debilita e escravi-za o ser humano. E não tem sidouma decisão de consenso com a so-ciedade. As decisões sobre os rumosa serem dados a temas tão polêmi-cos nunca levam em consideração aopinião da sociedade. Ou seja, se há

uma censura, ela é contra a própriaopinião da sociedade, a quem não épermitido sequer debater o tema. Emfunção disso, fica clara a necessida-de da existência de um código deética para os meios de comunicação,desde que seja baseado em orga-nismos sociais onde prevaleça a ple-na participação de todos os seg-mentos sociais possíveis.

1.3. Das preocupações acerca

dos efeitos dos meios de co-municação de massa sobre aeducação de crianças e jovens.

O governo brasileiro, através do Mi-nistério da Justiça, baixou a portaria

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nº 796 de 12 de setembro de 2000que regulamenta os horários de pro-gramação de televisão de acordocom faixas etárias e horários. Talportaria definiu-se a partir da pesqui-

sa “Valores sociais e meios de comu-nicação de massa”1, cujos levanta-mentos deram-se entre junho e julhode 1997, financiada pela Unesco.Imediatamente os meios de comuni-cação se apressaram em taxar aportaria, indevidamente, de censura.

Importante salientar que tal pesquisalevou em consideração aspectostanto quantitativos quanto qualitativospara melhor analisar o que as pesso-

as pensam sobre o papel dos meiosde comunicação, em especial a TV,têm sobre o processo educativo dosfilhos. Vejamos a seguir algumasconclusões da pesquisa.

Inicialmente, percebe-se uma grandepreocupação dos pais em estabele-cer uma diferença entre o modelo deeducação que tiveram no passado, eque caracterizam como repressora ea educação que pretendem dar aos

filhos. “A educação que desejam paraos filhos deverá ser mais liberal” (op.cit.) , mas com o cuidado necessáriopara criar cidadãos éticos Curiosa-mente ficou aqui demonstrada a claraimpressão de que, de um modo geral,os pais acreditam que a liberdadedeve ser dada aos filhos, mas que elanão pode levá-los a terem um con-duta não ética, pois isso não trans-formaria em bons cidadãos.

O grande volume de informações nasquais a “exacerbação do consumismopela mídia” (op. cit.) se mostra pre- 1

www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/

qtv051020001.htm

dominante, redunda, na visão dosadultos, na distorção dos valores fun-damentais que desejam para os fi-lhos, uma vez que normalmente seapregoa o desejo de posse como

valor fundamental, tanto que muitasvezes a postura ética é ignoradacomo um valor a ser observado.

Uma preocupação cada vez maior dos adultos de modo geral, decorredo fato de os filhos estarem convi-vendo com uma nova realidade que éa entrada das mulheres, muitas ve-zes mães de família, no mercado detrabalho. O fato em si é positivo, le-vando, entretanto, a uma redução do

tempo de convivência entre os adul-tos e as crianças da família e permi-tindo uma maior autonomia dos filhosem relação ao que escolhem ler, ou-vir e assistir nos meios de comunica-ção. Tudo isso associado ao fato deque, especialmente, a TV assume afunção denominada “babá eletrônica”(op. cit.).

 A disseminação dos meios de comu-nicação de massa em larga escala

esvaziaram largamente o controleeducacional dos filhos, reduzindo opapel da família à condição de “ape-nas mais um” (op. cit.), dentre os am-bientes onde a criança recebe infor-mações que levarão à formação deseus valores morais. Esse aspectogera bastante preocupação visto que,dentro de um quadro já traçado ante-riormente, a família tem cada vezmenos tempo de convivência coleti-va, dificultando a “ação preventiva e

até mesmo corretiva dos pais sobreas atividades dos filhos”. (op. cit.).Daí uma preocupação cada vez mai-or com a qualidade do que os filhosestão recebendo dos meios de co-municação de massa.

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Nem tudo o que é apresentado pelosmeios de comunicação é visto comode qualidade negativa. Mesmo ostemas considerados mais “pesados”são, em muitos casos, considerados

“importantes para o início do diálogoentre pais e filhos sobre assuntos dedifícil abordagem. Dentre os temas,destaca-se o uso de drogas, sensua-lidade, bebidas, comportamento, vio-lência etc”. (op. cit.). Mas o motivo demaior preocupação com esses temasrefere-se ao horário e à forma sensa-cionalista como são apresentados.Disso decorre uma opinião bastantecomum, favorável à classificação por horário e por faixa etária tornando-se

eficiente e desassociada da idéia decensura.

 Abordando aspectos consideradosnegativos pelos adultos frente aostemas, deve-se destacar: a progra-mação é considerada inadequada, aoveicular, sem qualquer critério, temá-ticas polêmicas, sendo responsávelpor “distorção” da realidade. Anteci-pação de temas e problemas (ho-mossexualismo, drogas, traições,

subornos) colocando crianças frentea temas considerados além de suacapacidade de compreensão e emhorários típicos para jovens. De ummodo geral, pode-se afirmar que boaparte da preocupação dos pais équanto à “gratuidade dos atos mos-trados dentro dos programas”. (op.cit.). Confirmando essa característica,há uma grande rejeição de filmes eprogramas que apresentam sexo,sensualismo, uso de drogas e violên-

cia, além, de programas que debatamtemas dessa mesma ordem em horá-rios diurnos, momento onde muitascrianças e jovens assistem desacom-panhados de adultos. Finalmente, aTV em especial, é vista como “usur-

padora do convívio social”. (op. cit.).

Quanto à questão do erotismo que ésempre um tema complexo por en-volver tabus de ordem moral e religi-

osa, a preocupação é que “as crian-ças ficam expostas à erotização des-de muito cedo e perdem a inocência”(op. cit.) de forma muito violenta le-vadas tanto por programas de TV,quanto por músicas que exploramdanças sensuais, letras com conteú-do erótico e roupas que insinuam oumesmo mostram partes íntimas docorpo.

 A violência é vista como um capítulo

à parte neste assunto. “Quando apre-sentada de forma ficcional é plena-mente aceita, desde que contextuali-zada numa história onde esteja niti-damente clara a intenção de diverti-mento”. (op. cit.). Entretanto, quandoapresentada de forma realista, envol-vendo especialmente gangues de

 jovens, violência gratuita, “desvalori-zando o corpo e os valores moraise/ou demonstrando desrespeito pelasautoridades” (op. cit.). e outros casos

mais do mesmo gênero, a exibiçãodesse tipo de cenas é amplamenterejeitada sendo que, de modo geral,acredita-se que pode deteriorar ocaráter e comprometer o futuro dos

 jovens.

Diante desses aspectos abordados, éinteressante verificar que “os paisacreditam que os valores que trans-mitem aos filhos são bastante sólidose que de um modo geral são mais

influentes sobre os filhos que os mei-os de comunicação”. (op. cit.). Por isso mesmo, há uma forte tendênciaa se acreditar que uma simples clas-sificação dos programas por horáriose por faixa etárias seria suficiente

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para que os pais tivessem maior controle sobre a qualidade daquiloque os filhos menores assistem.

Por isso mesmo, duas propostas para

controle da programação foram colhi-das durante a execução da pesquisa.

Uma primeira refere-se à “auto-regulamentação pelos próprios meiosde comunicação”. (op. cit.). Seriameles os próprios responsáveis pelaclassificação dos programas quanto ahorários e faixas etárias adequados.Entretanto, há uma grande descrençana capacidade da manutenção daretidão dos meios de comunicação

buscando linhas de conduta voltadasà satisfação de sua missão de infor-mação e entretenimento de qualida-de, visto que a guerra pela audiênciatem dado exemplos grotescos de atéque ponto se pode flexionar a pro-gramação em busca de telespectado-res. Por isso, a pesquisa demonstrouque o controle não pode ficar exclusi-vamente com os próprios meios decomunicação.

 A segunda proposta de forma decontrole decorre exatamente da des-crença na incorruptibilidade dos mei-os de comunicação frente à competi-ção pela audiência. Dessa formachegou-se a uma proposta de criaçãode “um órgão misto, controlado pelasociedade civil, cujo funcionamento,por intermédio do sistema de colegi-ado, reunisse representantes de di-versos segmentos sociais” (op. cit.).que teria como tarefa exclusiva a

“classificação dos programas atravésde selos ou certificados em acordocom as diversas faixas etárias(op.cit.). Claro é que também aqui sepode estar criando mais um “cabidede empregos” ou mesmo um aparato

de controle suscetível às pressõespolíticas e econômicas inerentes aosmeios de comunicação. Porém nãose pode negar que o controle exerci-do por entidade externa terá mais

isenção para avaliar os possíveisexcessos cometidos.

Diante do resultado das pesquisas,torna-se claro que a sociedade, deum modo geral, gostaria de participar do controle do que é oferecido pelosmeios de comunicação, em especiala televisão. Este aspecto reforça ain-da mais a tese de que o controle doque é oferecido à sociedade pelosmeios de comunicação não pode ficar 

a cargo apenas das próprias empre-sas. A sociedade deseja ter uma par-ticipação mais efetiva. Talvez sejaeste o sinal mais claro de que a totalliberdade pleiteada pelas empresasde comunicação não é comungadacomo ideal pela própria sociedadeque é por elas influenciada.

Conclusão

Finalizando este trabalho de pesqui-

sa, acreditamos estar suficientementeembasados para estabelecermosalgumas conclusões acerca do tema.É importante que deixemos claro quenão estamos imaginando termosabordado definitivamente todos osaspectos do tema proposto. Até por-que seria necessário um aprofunda-mento maior e uma abordagem maisampla dos diversos aspectos relacio-nados, para que o trabalho tivesseuma proposta definitiva acerca do

assunto. Passaremos então a umasérie de conclusões sobre o trabalhodesenvolvido.

Primeiramente acreditamos que otema não pode se restringir a uma

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abordagem superficial e rápida. Issonão permitiria uma conclusão maisefetiva sobre um tema tão sério esignificativo que é a comunicaçãopara o homem e para a sociedade

como um todo. Mesmo porque esta-mos tratando de um aspecto que éfundamental para definir o homemcomo ser que tem a capacidade deproduzir conhecimentos e distribuí-los. E esse conhecimento tem grandecapacidade de transformação sobre aprópria humanidade. Por isso tudo,qualquer abordagem muito simplifi-cada e pouco subsidiada torna-seincompleta. Sendo assim, o temacontinua aberto a novas abordagens.

Quanto à questão da importância dacomunicação para a humanidade nãohá grande dificuldade para se perce-ber sua dimensão. É a comunicaçãoque torna o homem um ser diferenci-ado. A comunicação lhe permitetransformar em cultura aquilo que lheé dado conhecer em particular. Coma possibilidade de desenvolver o pro-cesso de comunicação nas diversasáreas de atividade humana e com

uma velocidade cada vez maior, ohomem tem se aproximado cada vezmais do seu semelhante e, principal-mente, tem tido a oportunidade deconhecer com maior propriedade,realidades que lhe eram muito dis-tantes em um passado bem recente.Sendo assim, este contato mais rápi-do e mais amplo tem proporcionadoao ser humano um conhecimento darealidade a partir de um prisma antesinconcebível do mundo. Aquilo que

era distante e demorado torna-secada vez mais próximo e mais rápido.E essa proximidade traz uma implica-ção na forma como o homem passa ase relacionar com o mundo, adquirin-do assim uma vertente ética. Ou seja,

aquilo que o homem comunica, comocomunica e a quem comunica torna-se também vertente de formação deopinião e de parâmetros de condutae, por isso mesmo passa a ser objeto

de investigação ética.

Do ponto de vista da importância doque é comunicado ao homem, o temapode adquirir conotações diversas.

 Ancorando-se no aspecto econômico,a comunicação adquire um status demeio de veiculação de propagandade consumo. Aí o homem é vistocomo mero consumidor de produtos ede novas idéias. Tudo é para ser vendido, não se questionando muitas

vezes nem mesmo a excessiva ex-ploração de conceitos subliminares ea associação direta de consumo esensualismo gratuitos Não se consi-dera assim que ao ser humano devaser apresentada uma comunicaçãocomprometida com uma formaçãohumana visando progresso e felicida-de. O que se quer é torná-lo um con-sumidor a mais.

Vista pelo lado dos interesses políti-

cos, a comunicação pode, e costuma,ser utilizada para difundir idéias nor-malmente ligadas a interesses políti-cos diversos. Tanto podem estar aserviço da ordem vigente, quantopodem servir à divulgação de idéiasdivergentes do poder estabelecido.Muitas vezes ignora-se o direito hu-mano de decidir por si só, dentro deuma amplitude de idéias a que pode-ria conhecer. Nesse aspecto o ho-mem é manipulado na sua vontade

política que é uma de suas dimen-sões de ser social. Ou seja, o homemindividual acaba sendo engolido pelaideologia divulgada pela mídia, tantode um ponto de vista quando do seuoposto. Nos dois casos, tanto no seu

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aspecto econômico quanto no políti-co, ao homem não é dado o direito detornar-se cada vez mais autônomo eindependente.

Quanto às implicações da ação damídia sobre o processo educacionaldas crianças e jovens, a situação éainda mais preocupante. Com a au-sência cada vez maior da estruturafamiliar tradicional, seja em função dadesagregação familiar, seja por cau-sa da expansão do trabalho femininoextradoméstico, ou mesmo por fato-res de outra ordem, os meios de co-municação, em especial a televisão,assumem uma nova função na for-

mação da personalidade e do caráter moral de crianças e jovens. Tornan-do-se a “babá eletrônica”, a televisãotorna-se tão ou mais importante quea família e que a própria escola noprocesso educacional. Esta novarealidade faz com que, mais do quenunca, tenhamos que decidir que tipode comunicação queremos para nósmesmos. Claro que não é qualquer tipo de comunicação que nos servirá.

 A própria sociedade precisa opinar e

decidir sobre o tema.

 A comunicação deverá sempre levar ao homem aquilo que lhe permitatornar-se melhor do que é. A comuni-cação precisa ser favorável ao ho-mem no sentido de conhecer, de ter consciência, de ser sempre o centrodo interesse e não apenas a ponta dosistema, a quem não é permitido es-colher nada. Não pode negar-lhe afaculdade de decidir por si aquilo que

mais lhe interessa. Não podem osmeios de comunicação apegarem-seà falsa idéia de que deve ser “proibi-do proibir”, utilizando-se do argu-mento de que qualquer debate sobreo temas seja uma tentativa gratuita

de censura. A realidade torna-se pre-ocupante à medida que aqueles aquem interessa a comunicação énegada a participação na decisão doque é certo ou errado. Quem está

sendo censurada neste caso é a pró-pria sociedade, ou seja, a maior inte-ressada no assunto do ponto de vistaético.

Finalmente, acreditamos que apóstudo o que foi anteriormente firmado,não há como negar a necessidade deum amplo debate sobre o tema. Asociedade precisa e deve ser ouvidasobre o assunto. Não podemos nosbalizar neste campo apenas susten-

tados pela opinião da própria mídiaou da justiça como órgão regulador da mídia. A sociedade civil precisaorganizar-se melhor, propor formasde debate, fazer-se ouvir sobre o quedeseja. Se nos contentarmos com asformas de controle propostas pelospróprios meios de comunicação, es-taremos nos sujeitando a uma comu-nicação pautada pelos interesseseconômicos que acabam por nortear a ação da mídia. Se, por outro lado,

esperarmos sempre uma ação da justiça, estaremos correndo o riscode termos uma máquina burocráticadecidindo o que é melhor ou pior paraa sociedade, tornando-se perigosa-mente poderosa nesse campo. Pos-sivelmente nesse caso, a censuratornar-se-ia insuportável.

Enfim, parece que a única situaçãoaceitável é uma forma de controleque leve em consideração os três

lados interessados no assunto: aprópria mídia, o governo e a própriasociedade. E, ainda mais importante,que a sociedade precisa organizar-sede forma amplamente representadade modo que não ocorram desvios

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nos objetivos reais do acompanha-mento dos rumos da comunicação,culminando com algum tipo de censu-ra meramente moralista. O objetivo

primordial deve ser a dignidade hu-mana. E que a comunicação semprecontribua de forma decisiva nesseaspecto.

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www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/qtv051020001.htm