Ética deontológica vs Ética teleológica

20
Índice Introdução p.3 Desenvolvimento pp.4-11 Ética Deontológica pp.4-8 Ética Teleológica pp.8-11 Conclusão pp.12-14 Bibliografia pp.15 2

Upload: rita-andrade

Post on 03-Jul-2015

3.647 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Uma problematização ética de “Porque é que devemos agir moralmente?” e “Que exigências são necessárias cumprir para que as minhas acções sejam moralmente aceites?”, em que o objectivo é o conquistar da felicidade, numa tentativa de conciliar o querer pessoal com o querer social. Demonstrando a perspectiva de Kant e de John S.Mill

TRANSCRIPT

Page 1: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Índice

Introdução p.3Desenvolvimento pp.4-11

Ética Deontológica pp.4-8Ética Teleológica pp.8-11

Conclusão pp.12-14Bibliografia pp.15

2

Page 2: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Introdução

Cada um de nós é interpelado no dia-a-dia, pelo facto da nossa existência no mundo,

como Pessoa. Esta noção é-nos remetida e exigida pelos critérios da moralidade, por

aquilo que nos leva ao crescimento e construção permanente do ser pessoa, isto é, a

consciência moral, a liberdade e a responsabilidade, que justificam a necessidade da

moralidade.

Isto leva-nos a uma problematização ética de “Porque é que devemos agir moralmente?”

e “Que exigências são necessárias cumprir para que as minhas acções sejam moralmente

aceites?”, em que o objectivo é o conquistar da felicidade, numa tentativa de conciliar o

querer pessoal com o querer social.

Para Kant, a moralidade seria a fundamental exigência, rejeitando qualquer interferência

das inclinações empíricas (que nos levem a desejar algo), tendo em conta apenas uma

pura intenção agindo de uma determinada forma, porque impusemos a nós próprios

voluntariamente uma lei moral, em que o meu dever é praticar o bem, sem avaliar as

consequências nefastas ou adjuvantes da acção – Ética Deontológica ou formal

(intenção).

Para John Stuart Mill, a lei moral converte-se numa maximização da felicidade, em que

uma acção é moralmente aceite se agi de forma a obter um determinado fim, segundo os

meus interesses momentâneos, acarretando o máximo de felicidade possível, em que se

avaliam os efeitos e as consequências, e não a intenção e o motivo – Ética Teleológica

ou material.

No desenvolvimento irei fundamentar e problematizar ambas as perspectivas, de forma

imparcial, procurando analisar a questão: “Por que razão haveremos de ser morais?”.

Inicialmente vou abordar a ética deontológica e depois a ética teleológica. Após a

racionalização de ambas vou concluir com a tese do trabalho.

3

Page 3: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Desenvolvimento

A ética possui uma dimensão pessoal e social tendo em conta que visa à socialização, a

uma convivência harmoniosa, ou seja a ética pretende ser uma reflexão teórica que

tende para um progresso moral, para uma melhoria social, para isto, e enquanto seres

humanos e ser moral, temos características intrínsecas como: a liberdade, pois por ser

livre o Homem tem a capacidade de escolher e de optar como deve agir, ou seja de optar

entre o bem e o mal; a responsabilidade, como seres que se dizem livres, temos de

acarretar com as consequências dos nossos actos, ou seja responder pelos nossos actos

bons ou maus; a consciência moral, como faculdade inerente a todos nós permite-nos

avaliar os nossos comportamentos e os dos outros mediante critérios morais, como o

bem e o mal, como um juiz interior que nos elogia ou que nos censura.

Tendo em conta, estas características, é que avaliamos e interpretamos os nossos

comportamentos, inferindo-lhes ou não um valor moral. O valor moral, que permite-nos

conferir a uma determinada acção preferência em comparação a outra. Mas a

multiplicidade de valores morais fazem com que surjam diferentes teorias éticas: ética

deontológica e ética teleológica.

Ética Deontológica

No sentido etimológico da palavra “Ciência do dever” (do grego deon “dever,

obrigação” e logos “ciência”).

Esta é uma ética que tem em conta o princípio, a intenção que esteve na raiz da acção,

pondo de parte a priori as minhas tendências sensíveis, os meus interesses particulares e

momentâneos, rejeitando qualquer subjectivismo. Nesta perspectiva realça-se o esforço

pelo puro cumprimento do dever, independentemente de qualquer reconhecimento, ou

efeitos. Esta ética é defendida por Kant, filósofo do século XVIII, juntamente com

muitos outros filósofos.

Posição moral kantiana: “O valor moral da acção não reside, portanto, no efeito

que dela se espera;”1

1 Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.190

4

Page 4: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

A lei moral é o cumprimento puro do dever de uma forma totalmente desinteressada,

pois não estão em causa possíveis efeitos, consequências da minha acção, quer

sejam vantajosos ou prejudiciais, mas sim, o agir moralmente, porque é meu dever

agir assim, auto-determinando-me assim a realizar o dever. E como sou eu que

imponho a mim próprio a lei moral, esta realiza-se sem qualquer esforço ou

contradição, porque esta lei não me é imposta por uma fonte exterior, mas sim por

mim próprio, que somo ser livre, escolhe aplicar a si esta lei. Desta forma, obedeço

sem esforço, pois sou eu o legislador e súbdito simultaneamente.

De acordo com isto, todas as minhas acções são regidas pela lei moral, que se me

impõem pelo dever, na necessidade de praticar o bem, permitindo apenas um único

sentimento, o respeito.

A obediência à lei moral deve ter apenas como forma o cumprimento do dever, e

não qualquer outro objectivo e matéria que possamos alcançar. Porque na acção

fundada pela lei moral não está em causa a fortuna, mas sim uma lei foi auto-

imposta, determinando uma “boa-vontade”, portanto uma vontade autónoma que

obedece aos princípios que consideramos e reconhecemos como lei moral, por isso

bons em si mesmos, abstraindo qualquer interferência exterior, subjectiva e

condicionadora.

A racionalidade como fundamento da moralidade: “A representação de um

princípio objectivo, enquanto obrigante para uma vontade, chama-se um

mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se Imperativo.”2

Para Kant é a capacidade racional e única do Homem que o distingue como ser

moral, pois é a razão que nos exige e estipula a lei moral, e isto implica que

ajamos segundo os princípios definidos pela razão, desprendendo-nos de

qualquer outro interesse que não nos tenha sido designado pela razão, agindo

apenas de acordo com a razão, que se nos apresenta sob a forma de imperativo

categórico, incondicional e absoluto, válido em qualquer circunstância e para

qualquer pessoa (universal).

Com isto, podemos enfatizar três conceitos importantíssimos à moral kantiana:

2 Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.190

5

Page 5: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Lei moral: mandamento que o ser humano legisla, enquanto ser racional e livre a

si mesmo, cumprindo assim o dever por puro dever, e não pela vontade

constituída pelos sentidos, que nos leva a ter facilmente inclinações para os

efeitos da acção, fazendo logo uma imediata avaliação dos mesmos. Por isso

quando o ser humano respeita a lei moral, cumpria na sua integra, e cumpre o

dever por puro dever e não pelas consequências do mesmo, rejeitando qualquer

tendência empírica como móbil da acção, esta é uma lei que vem apenas do meu

interior, á qual eu auto-comprometo-me a cumprir, limpando-me assim da

imagem que revela um ser humano altamente corrompido, que perverte a prática

do bem.

Vontade Autónoma: o cumprimento da lei moral de forma pura é auto-

determinada por uma vontade autónoma (auto e nomos), sem as influências,

dependências e inclinações a que estamos constantemente sujeitos, mas sim,

guiada pela intenção de cumprir o dever moral, que de acordo com a minha

consciência é-me auto-imposto.

O cumprimento puro do dever implica a obediência à lei moral, que é

incondicional, pois não é nunca sujeita à existência de condições particulares.

Obedeço apenas às condições que são instituídas pela minha razão.

Ordem imperativo Categórico: que é a forma como a lei moral se nos apresenta.

É um facto que o homem se encontra em constante tensão e conflito com a razão

e os sentidos, entre o que a razão no impera, e o que os sentidos nos impelem, e

é por esta facilidade em nos desviarmos para uma preferência para o mal ao

invés do bem é que existe o dever, que se apresenta como imperativo categórico,

onde não há excepções que possam por em causa a realização de uma

determinada norma. “O imperativo categórico seria aquele que nos

representasse uma acção como objectivamente necessária por si mesma, sem

relação com qualquer outra finalidade.”3

Aqui há necessidade da conversão das máximas (princípios subjectivos do

querer, da vontade) na lei moral, para que esta se cumpra de forma universal,

abolindo qualquer subjectivismo, pois assume-se por objectiva. Porventura, as

minhas acções só podem ser concretizadas moralmente quando são

universalizadas. Isto é, apenas quando há um reconhecimento universal por

todos, do cumprimento de forma pura do dever, em todas as situações.

3 Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007, p.191

6

Page 6: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

O dever representa-se como objectivamente necessário, não propondo qualquer

fim exterior, mas é fundamental que a máxima se conforme à lei, edificando-se

como um princípio de onde derivam todos os princípios gerais e as respectivas

máximas.

Portanto uma acção é moralmente aceite como boa se apenas for realizada com a

intenção do cumprimento puro do dever em si mesmo. Caracterizando-se como:

incondicional, não estando sujeito a propensões empíricas; universal, pois

impera em todas as circunstâncias; necessária, pois é imprescindível a

conformidade das máximas à lei moral.

"No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa

tem um preço, pode pôr-se, em vez dela, qualquer outra coisa como equivalente;

mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite

equivalente, então ela tem dignidade"4

“Age de tal forma a que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de

outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um meio.”5

Uma vez que os Homens têm desejos, as meras coisas têm valor para nós em

relação a todos os nossos projectos. As «coisas» têm valor apenas como meios

para fins, sendo os fins humanos que lhes dão valor.

Os seres humanos têm «um valor intrínseco, isto é, dignidade», porque são

agentes racionais e uma vez que a lei moral é a lei da razão, nós, os seres

racionais somos a encarnação da lei moral em si, por isso a única forma de a

bondade moral poder existir é apreendermos o que devemos fazer e, agir a partir

de um sentido de dever, fazendo-o.

E como o valor do Homem está «acima de qualquer preço», os seres humanos

têm de ser tratados «sempre como um fim e nunca apenas como um meio». Isto

é, temos o dever estrito de beneficência relativamente às outras pessoas: temos

de lutar para promover o seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos,

evitar praticar o mal, e, em geral, «empenharmo-nos, tanto quanto possível, em

promover a realização dos fins dos outros».

Apreendido o facto de que uma acção é moralmente aceite se e só se não é feita

a partir de um fim, nem com a análise daquilo com que eu posso vir a alcançar

4 Kant, I. in Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785.5 Ibidem

7

Page 7: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

com determinada acção. A moralidade da acção não está no seu conteúdo, mas

no princípio racional que o determina. Devemos ter uma pura intenção, com uma

vontade autónoma, que não se prende a interesses perversos, mas que a apenas é

singela ao cumprimento do dever por puro dever – Acções Morais. E então é

importante fazermos a distinção entre o que é cumprido pelo singelo dever

(acções morais) e o que é cumprido por motivos exteriores de natureza empírica,

que são conformes ao dever mas em que exerço o dever, a lei, por motivos

sensíveis, ou para não ser penalizada, castigada, mal-vista, ou por pena,

esperança e tristeza – Acções Legais, o que não deixa de ser o cumprimento do

dever, mas que tem subjacente um efeito/fim.

Exemplos: A Joana, melhor amiga da Ana, descobre que o Francisco, que é

porventura o rapaz de quem a Rita gosta, namora com a Inês, e informa a Rita,

não pela lealdade que lhe poderá ser reconhecida, mas porque é seu dever

informar a Rita. – Acção Moral

A Joana cumpriu o puro dever de informar a amiga, pondo de parte qualquer

inclinação tanto de lhe ser leal, ou de a ir entristecer, tanto como de prejudicar o

Francisco.

Eemplos: A Soraia caminhava na rua quando viu uma criança subnutrida, por

isso resolveu dar-lhe alguma comida, com a subjacente esperança de a criança

melhorasse. - Acção Legal

A Soraia cumpriu o dever mas com motivações sensíveis que se lhe desbotaram,

tal como tristeza, e por isso cumpriu o dever, mas sujeita a inclinações

empíricas, não deixando de ser uma acção reconhecida como boa.

Ética Teleológica ou material:

No sentido etimológico da palavra “estudo da finalidade” (do grego telos “fim” e logos

“estudo”).

Esta é uma ética que valoriza a acção segundo a finalidade com esta se dá. Ou seja o

valor de uma acção reside na sua capacidade de contribuir, como um meio para a

realização de um fim (telos), que para o Homem é a felicidade, pois este é o fim último,

pelo qual todas as nossas acções se regem, e em que os fins justificam, claramente, os

meios.

8

Page 8: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Perspectiva ética de Stuart Mill (utilitarismo): esta perspectiva irrompe da crítica

à moral formal: “Tenho de voltar a repetir que os adversários do utilitarismo

raramente fizeram justiça de reconhecer: a felicidade que os utilitaristas

adoptaram como critério de moralidade de conduta não é a felicidade pessoal

do agente, mas a de todos os envolvidos na acção e nas suas consequências. O

fim dos actos humanos é também necessariamente o critério da sua

moralidade”6

Portanto esta ética tem um resultado bem mais prático, com a tomada de acções

sujeita à análise dos seus efeitos e resultados. Em que o Homem como ser

racional e livre, de tomar de decisões e escolher, delibera e analisa,

anteriormente, todas as suas decisões, de forma a agir, de acordo com os seus

interesses momentâneos, desejos e objectivos, que têm sempre como finalidade a

conquista da felicidade, ainda que seja uma incessante procura, com breves

picos, mas que é o topo para qual todas as acções estão direccionadas -

hedonismo. Por isso a corrente utilitarista procura a maximização da felicidade

como o objectivo, por isso aqui todos os meios, acções justificam o fim (a

felicidade). A felicidade deve ser a maior possível, não só para o sujeito que

pratica a acção, mas também para os que estão envolvidos nesta. Sendo

necessário por isso, uma imparcialidade por parte do indivíduo que irá pratica a

acção, isto porque o que é útil é não apenas a minha felicidade, mas sim a

felicidade geral, a maior felicidade para todos os outros, demonstrando altruísmo

pois evita o interesse próprio. É importante referir que: “Com efeito, a utilidade

inclui não só a busca da felicidade, mas também a prevenção ou mitigação da

infelicidade”7Isto porque ambas estão minimamente relacionadas, como que

grandezas proporcionais, pois se por um lado queremos atingir a maior

felicidade possível, à maior quantidade de pessoas possíveis, e durante o maior

tempo possível, é necessário fugir à dor, à infelicidade durante os mesmos

prazos.

A ética utilitarista vê apenas como sustento à acção moral a utilidade máxima,

ou seja a maior ou menor utilidade de uma acção é que a pode provar acção

moral ou reprovar, de acordo com a inclinação que ela possua para atingir a

felicidade.

6 Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.7 Ibidem

9

Page 9: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Nesta corrente a lei moral deixa de ser reconhecida como cumprimento

absoluto/categórico de um conjunto de leis inflexíveis, mas atribuindo-lhe

relatividade, em que a felicidade ideal é como um ideal político. Substituindo a

noção de “cumpro o dever porque é meu dever cumpri-lo” por “seja o que for

que trouxer mais felicidade global”, resignando “a importância moral da

intenção dos agentes morais…”8 que é o mesmo que afirmar que ignoramos a

moralidade dos meios, a intenção que nos está subjacente, desde que os

resultados (a felicidade suprema) sejam conseguidos, pois só no fim é que se

concretiza o valor moral das acções.

O modelo deontológico não aceitava a vontade heterónoma, mas sim uma

vontade autónoma, em que o dever fazia prevalecer a racionalidade frente ao

sensível. No entanto o Homem é um ser com sentidos e racionalidade, que são

conciliados na vontade heterónoma, pois pratico uma acção influenciada pelos

meus interesses momentâneos, em busca do prazer ligado quer à inteligência,

conhecimento, consciência (prazeres espirituais) quer ligado ao corpo e sentidos

(prazeres sensoriais).

Isto leva-nos ao imperativo hipotético, em que uma acção é moralmente boa se

os resultados previsíveis da acção acarretaram a maior felicidade para o maior

número de pessoas, ou seja porque é um meio para alcançar o que eu desejo

obter, o meu fim. Por isso caracteriza-se por: condicional, pois está dependente

de inclinações sensíveis, e admite condições e excepções; particular, pois é

subjectiva, varia de pessoa para pessoa, pois cada um possui uma personalidade

própria, que determina interesses diferentes e por isso os meus desejos são

diferentes de os de outros; contingente, porque dá-nos a possibilidade de agir de

outra maneira, pois posso agir sempre de outro modo.

O princípio da utilidade ou o princípio da maior felicidade, procura, vai à

descoberta do prazer, ao invés da dor, ao qual foge. Por isso é o princípio de

felicidade que todo e qualquer ser humano tem como objectivo que serve de

ponto de partida para a análise de se é moralmente aceite ou não, portanto se

uma acção é moralmente válida, é porque a acção que lhe é anterior trouxe a

maior felicidade possível. O que aqui está em causa é a análise dos efeitos e das

consequências, da matéria, e não dos motivos e intenção que lhe presidem.

8 R., Cabral, in Logos, Ed.Verbo, Lisboa

10

Page 10: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Segundo, John Stuart Mill a felicidade “é o brilhante esplendor momentâneo do

gozo, mas não a sua firme e permanente chama”9. Isto só vem reforçar a ideia

de que o homem está projectado para um futuro que busca a procura incessante

da felicidade que é um constante “estar-a-caminho”10e não é um passear, mas

sim é uma permanente tomada de decisões, que tem como fim e direcção o

atingir da felicidade, mas que apenas pode ser concretizado em breves

momentos/instantes, porque logo irrompem novos problemas e desafios, por isso

as acções tomadas de forma útil para conquistar a felicidade visam apenas a

“Um estado de prazer intenso”.11

“…nenhum sistema moral exige que único motivo de todos os nossos actos seja

o sofrimento do dever.” 12E é aqui que podemos encontrar a grande crítica

apontada à moral formal, pois a moral que rege e pauta a nossa sociedade,

reconhece actos morais, em que se cumpre o dever, e em que se realizam por

outro motivos que não só o cumprimento do dever, porque é impossível pedir ao

homem que renuncie às suas ambições e sentimentos, e no entanto isto não pode

influenciar o ser a acção moralmente aceitável.

Conclusão

9 Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.10 Jaspers, K., in Filosofia Activa11 Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.12 Ibidem

11

Page 11: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

“Porque devemos agir moralmente?” Com a problematização anterior, pude encontrar

diversas lacunas em ambas as perspectivas:

Quanto à perspectiva ética kantiana fará sentido defender um cumprimento do dever

incondicional e categórico?

Exemplo: Imaginemos que entrei num hipermercado, e de repente, reparo num pequeno

rapaz sozinho, subnutrido, e claramente pobre, a roubar cuidadosamente comida. Uns

instantes depois saiu a correr, tocando o alarme, mas conseguiu fugir, um pouco depois

um segurança interpelou-me e perguntou-me se vi o miúdo, e se o poderia descrever!

Colocam-se duas possibilidades. Uma é dizer a verdade, uma vez que é o meu dever,

sendo que as consequências poderão ser prejudiciais ao rapaz. A outra é mentir, o que

segundo Kant é inaceitável, nem que o acto de roubar seja para manter a sobrevivência.

Neste caso não seria moralmente correcto respeitar a lei moral da minha consciência.

E quando somos colocados perante um conflito de valores?

Exemplo: “(…) Uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento descoberto

recentemente por um farmacêutico (…) podia salvar-lhe a vida. (…) O farmacêutico,

que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Henrique

(Heinz), o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas

conhecidas para lhe emprestarem  dinheiro e, assim, poder comprar o medicamento.

Apenas conseguiu juntar metade do dinheiro pedido pelo farmacêutico . Foi, ter, então,

com ele, contou-lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para lhe vender o

medicamento mais barato. O farmacêutico respondeu que não (…)13. Aqui encontramo-

nos numa situação-limite em que estão em causa dois valores, em que ambas as

possibilidades são erradas, segundo Kant, uma vez que não se deve roubar e nem se

deve pôr em causa uma vida humana, sendo nosso, o dever de salvaguardá-la.

Porventura, a perspectiva kantiana não consegue responder a esta possível situação.

Rejeitar sentimentos como motivo a uma acção, sem excepções, também é uma crítica a

apontar já que é impossível ao Homem, agir sem a intervenção de qualquer tipo de

sentimentos, porque não somos passivos, tudo nos afecta, e a nossa interacção com o

mundo não pode ser apenas de cumprimento do puro dever, porque tudo nos chama a

13 Kohlbherg, L.

12

Page 12: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

atenção, e tudo é facilmente alvo de julgamentos. Por isso se vemos um idoso no fundo

da sala, é normal isto revelar em nós um sentimento de compaixão e nostalgia. Será

possível não termos sentimentos paralelos a uma acção?

Kant, defende uma “utopia” e mesmo que o exercimento do puro dever possibilitasse

uma sociedade, porventura muito mais civilizada, é impossível imaginar uma sociedade

que se regesse por acções de obrigação moral, seria imaginar um mundo passivo, sem

qualquer relevo, e aliás faz, exactamente, parte do ser humano, o viver, o agir, o estar

insatisfeito, a felicidade, a dor, … e é tudo isto que faz de nós exclusivamente

Humanos. Renunciar aos nossos sentimentos, como motivos e como intenção para

realizar os nossos interesses, seria fazer de nós autênticos robots, com uma reacção

programada para o cumprimento do dever por puro dever.

Quanto à perspectiva teleológica, também não faz sentido aceitar qualquer acção, como

“roubar”, “matar” e “mentir” como acções morais, só porque as consequências da

mesma foram a felicidade máxima. Isto vai contra as regras morais básicas que são

reconhecidas unanimemente, e que não poderão justificar um mero fim. Neste caso o

utilitarismo justificaria a prática de acções imorais. O que tornaria o mundo uma

completa selva, na qual todos responderiam aos seus actos como moralmente aceites,

retirando, para mim, de certa forma a responsabilidade, porque se todos temos como

objectivo último a felicidade, então todos iríamos agir de acordo com tal, não

necessitando de acarretar com as consequências do próprio acto em si, podendo

responder apenas “estou feliz” e por isso qualquer incumprimento de regras morais

básicas seria apagado.

A noção de felicidade é também falível, incerta em diversas situações, pois cada um de

nós poderá sentir a felicidade de forma diferente, podendo ter expectativas menores ou

maiores para o seu conceito de felicidade, por isso o sujeito da acção não pode prever ao

certo se o resultado da sua acção traz o máximo de felicidade para o maior grupo de

pessoas.

Não faz sentido afirmar-mos “todos e qualquer meios justificam os fins”.

Após esta problematização tenho como tese: O homem deve cumprir o dever segundo

as normas morais que pautam na sociedade, e deve no seu dia-a-dia, procurar agir

13

Page 13: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

direccionado para o seu futuro, segundo as suas ambições, nunca pondo em causa a de

outrem, devendo praticar sempre o bem, fazendo uso dos direitos humanos ao qual todo

nós temos direito, mas corresponder sempre com o dever que lhes são inerentes.

Bibliografia

Fontoura, A., Afonso, M., Este Amor pelo Saber, A folha Cultural ed., Aveiro, 2007;

14

Page 14: Ética Deontológica vs Ética Teleológica

Kant, I. in Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785;

Mill, J.S, O Utilitarismo, Lisboa Ed.;

R., Cabral, in Logos, Ed.Verbo, Lisboa;

Jaspers, K., in Filosofia Activa

Kohlbherg, L.

15