eterno/imediato, para orquestra de câmara desenvolvimento de linguagem composicional visando...

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Este trabalho trata dos princípios e técnicas composicionais empregados na peça ETERNO/IMEDIATO, para Orquestra de Câmara, constituída de dois movimentos ininterruptos, com duração total aproximada de 14min30s. A peça é resultado de uma pesquisa sobre linguagem composicional envolvendo questões acerca do tempo e temporalidade em música. A abordagem foi feita a partir de estudos musicológicos do Século XX, como os de Jonathan Kramer, Barbara Barry e James Drew. Com base nesses estudos e tomando como referência alguns princípios da Teoria da Informação, foram desenvolvidos e aplicados diversos procedimentos composicionais para que momentos representativos de um tempo linear e de um tempo não-linear fossem incorporados pela música de diversas maneiras. De forma simbólica, foi estabelecida uma conexão, num nível pré-composicional, entre determinadas características dessas temporalidades e materiais próprios do universo da música indígena brasileira.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA

    CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICA

    ETERNO/IMEDIATO, para Orquestra de Cmara Desenvolvimento de Linguagem Composicional

    Visando Representaes de Dualidades Temporais

    Ticiano Albuquerque de Carvalho Rocha

    Joo Pessoa - PB

    2007

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA

    CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICA

    ETERNO/IMEDIATO, para Orquestra de Cmara Desenvolvimento de Linguagem Composicional Visando

    Representaes de Dualidades Temporais

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Msica da UFPB (Mestrado), como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Msica Composio, linha de pesquisa Processos e Teorias Composicionais.

    TICIANO ALBUQUERQUE DE CARVALHO ROCHA

    Orientador: Prof. Dr. Eli-Eri Luiz de Moura

    Joo Pessoa - PB

    2007

  • R672e

    UFPB/BC

    Rocha, Ticiano Albuquerque de Carvalho, 1982-

    Eterno/Imediato, para orquestra de cmara desenvolvimento de linguagem composicional visando representaes de dualidades temporais / Ticiano Albuquerque de Carvalho Rocha. Joo Pessoa, PB, 2007. 102 p. : il.

    Orientador: Eli-Eri Luiz de Moura Dissertao (Mestrado) UFPB/CCHLA Inclui bibliografia e ndice onomstico. 1. Composio musical. 2. Msica Tempo. 3. Linguagem

    composicional. 4. Msica Temporalidade. I. Ttulo.

    CDU 781.5(043)

  • FOLHA DE APROVAO

    FALTA!

  • Aos meus pais, Laurita e Odilson, e ao meu tio Edlson.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus familiares que, mesmo sem fazer parte do mundo musical, me deram todo o apoio

    necessrio.

    Ao professor Dr. Eli-Eri Luiz de Moura, pelo altrusmo, pela tenacidade e pela inestimvel e

    constante orientao, sem o qual esta pesquisa teria sido deveras complicada, qui

    impossvel.

    Ao estimado professor Dr. Wilson Guerreiro Pinheiro, pela meticulosa reviso final

    deste trabalho.

    Aos demais professores do Departamento de Msica da UFPB, pelo conhecimento

    transmitido.

    Aos colegas de Curso, pela salutar convivncia e enriquecedora troca de experincias.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES, por patrocinar

    esta pesquisa atravs de bolsa de estudos.

  • RESUMO

    Este trabalho trata dos princpios e tcnicas composicionais empregados na pea

    ETERNO/IMEDIATO, para Orquestra de Cmara, constituda de dois movimentos

    ininterruptos, com durao total aproximada de 14min30s. A pea resultado de uma

    pesquisa sobre linguagem composicional envolvendo questes acerca do tempo e

    temporalidade em msica. A abordagem foi feita a partir de estudos musicolgicos do Sculo

    XX, como os de Jonathan Kramer, Barbara Barry e James Drew. Com base nesses estudos e

    tomando como referncia alguns princpios da Teoria da Informao, foram desenvolvidos e

    aplicados diversos procedimentos composicionais para que momentos representativos de um

    tempo linear e de um tempo no-linear fossem incorporados pela msica de diversas

    maneiras. De forma simblica, foi estabelecida uma conexo, num nvel pr-composicional,

    entre determinadas caractersticas dessas temporalidades e materiais prprios do universo da

    msica indgena brasileira.

    Palavras-chave: Composio musical, Msica Tempo, Linguagem composicional, Msica

    Temporalidade.

  • ABSTRACT

    In this essay the compositional issues and techniques employed in the piece

    ETERNO/IMEDIATO, para Orquestra de Cmara constituted of two connected

    movements, comprising approximately 14 minutes and 30 seconds are discussed. The piece

    was written as a result of research on compositional language involving time and temporality

    in music. The approach was based on 20th Century musicological studies, like those of

    Jonathan Kramer, Barbara Barry and James Drew. Considering these studies and taking some

    principles from the Information Theory as reference, diverse compositional procedures were

    developed and applied so that representative moments of both a linear and a non-linear time

    could be incorporated within the music in several ways. A symbolic connection, in a pre-

    compositional level, was established among certain characteristics of these temporalities and

    materials derived from Brazilian aboriginal music.

    Keywords: Musical composition, Music Time, Music Temporality.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Exemplo de sees adjacentes de duraes na proporo 2:1.........................

    78

    Figura 2 Exemplo de sees adjacentes de duraes na proporo 1:1.........................

    78

    Figura 3 Estrutura do primeiro movimento (com indicaes de compasso sobre os traos verticais...................................................................................................................

    81 Figura 4 Estrutura do primeiro movimento (com os valores de suas respectivas duraes entre parnteses ao lado das letras)....................................................................

    82

    Figura 5 Estrutura do segundo movimento (com indicaes de compasso sobre os traos verticais).................................................................................................................

    83

    Figura 6 a) Idia A Elemento I; b) Idia A Elemento II.........................................

    83

    Figura 7 Modos utilizados e seus padres intervalares.................................................

    85

    Figura 8 Exemplo de aplicao das Tabelas 1 e 2.........................................................

    .................................

    87 Figura 9 Modo 2 amplo transposto acima e abaixo.......................................................

    89

    Figura 10 Primeira Subtrao ocorrida, compassos 136 a 142......................................

    90

    Figura 11 a) Modo 2 amplo completo sendo utilizado; b) Modo 2 amplo reduzido ao modo original....................................................................................................................

    91 Figura 12 Exemplo de densidade rtmica regular no primeiro movimento, compassos 152 a 160...........................................................................................................................

    92

    Figura 13 Exemplo de densidade rtmica regular no segundo movimento, compassos 382 a 386...........................................................................................................................

    93

    Figura 14 Exemplo de alta densidade rtmica, compassos 36 a 44................................

    94

    Figura 15 a) Fim da seo A1; b) incio da seo A2....................................................

    95

    Figura 16 Exemplo de complexidade textural, compassos 1 a 22.................................

    96

  • LISTA DE TABELAS Tabela 1 Organizao dos modos em semitons.......................................................................

    85

    Tabela 2 Organizao dos modos em microtons.......................................................................

    86

    Tabela 3 Transposies do Modo 2........................................................................................

    88

  • LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

    c. compasso(s) CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    e.g.

    Abreviao da locuo latina exempli gratia [= por exemplo] f forte

    ff fortssimo Ibid. Abreviao do advrbio latino Ibidem [= no mesmo lugar; na mesma

    obra] il. ilustraes mf mezzo forte = meio forte min minuto(s) mp mezzo piano = meio suave n. nascido; nmero(s) NY New York p. pgina(s) PB Estado da Paraba pizz. Pizzicato pp pianssimo s segundo(s) ST Semitom T Tom Trad. Traduo UFPB Universidade Federal da Paraba USP Universidade de So Paulo vol. Volume

  • SUMRIO

    PARTITURA COMPLETA DE ETERNO/IMEDIATO .............................................12

    INTRODUO E CONTEXTUALIZAO ............................................................. 69

    PROCEDIMENTOS......................................................................................................73

    Identidade ...................................................................................................................76

    Andamento..................................................................................................................77

    Proporo....................................................................................................................78

    APLICAES ...............................................................................................................80

    Forma..........................................................................................................................80

    Alturas ........................................................................................................................84

    Ritmo ..........................................................................................................................92

    Textura........................................................................................................................96

    Timbre ........................................................................................................................97

    CONCLUSO................................................................................................................98

    REFERNCIAS........................................................................................................... 100

  • q = 114

    Ticiano Rocha

    Eterno/ImediatoI - Em fases

    Flauta

    Obo

    Clarinete em sib

    Fagote

    Trompa em f

    Trompete em d

    Trombone

    Tuba

    Percusso 1

    Percusso 2

    Piano

    Violino I

    Violino II

    Viola

    Violoncelo

    Contrabaixo

    Partitura em D

    pp

    mf

    ppp

    pp

    pp

    mf

    3

    pp

    mf 3

    pp

    mf

    pp

    mf

    pp

    mf

    p

    12

  • 6Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tbn.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    p

    ppp

    3 p

    pp

    non legato

    pp

    5

    pp

    3

    ppp

    3

    10

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Pno.

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    3

    3

    sul pont. poco a poco sul tasto sul tasto

    5

    5

    5

    5

    5

    5

    5

    5

    5

    5

    5 5

    ppp

    3 f

    f

    13

  • 13

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    3

    pp

    3

    pp

    mf

    pp

    3

    pp

    3

    pp

    3

    ppp

    pp

    3

    p 5 5 5 5 5 5 5 5 5

    16

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Cb.

    ppp

    3

    3 3 3 3 3

    f

    mp

    3

    5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5

    ord.

    3 ff

    14

  • 19

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vc.

    Cb.

    mf

    pp

    3p

    ppp

    3

    3 3 3 3

    3

    33

    3

    3 3 3

    p

    pp

    mf

    3

    sfz

    3f

    p

    5 5 5 5 5 5

    sfz

    3f

    f

    15

  • 22

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    ppp

    mf

    33

    f

    3

    3

    3

    3

    p

    (tom toms) f

    f

    pp

    3

    p

    f

    mf

    mf

    f

    16

  • 26

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Cb.

    f

    36 6 3 6 6 6 6

    ppp

    f

    f

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    3 3 3 3

    p 3

    3

    3

    3

    3

    3

    f

    f

    Marimba

    p

    55 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5

    (tom toms)

    f

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    17

  • 30

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Cb.

    6 6 6

    3 3

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    3

    ff

    (marimba) 5 5 5 5 5 5 5 5 5

    (tom toms)

    3

    34

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Cb.

    (marimba)

    (tom toms)

    18

  • 39

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tba.

    Perc. 1

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mudar para flautim

    p

    p

    sfz

    ff

    ff

    ff

    p

    sfz

    ff

    ff

    ff

    (marimba)

    p

    sfz

    ff

    ff

    ff

    p

    sfz

    ff

    ff

    ff

    19

  • 44

    Cl. sib

    Tpa. f

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    (marimba) pp

    Marimba

    mf

    (vibrafone)

    mf

    Vibrafone

    pp

    mf

    mf

    pp

    pp

    pp

    mp

    51

    Fl.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vc.

    Cb.

    p

    flautim

    (marimba)

    f

    mp

    mp

    (vibrafone)

    f

    f

    mp

    f

    mp

    pp

    mf

    niente

    niente

    pp

    20

  • 58

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    mp

    f

    pp

    mp

    f

    mp

    f

    mp

    mp

    f

    mp

    mp

    f

    (marimba)

    f

    (vibrafone)

    f

    f

    f

    pp

    f

    f

    niente

    21

  • 65

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    mudar para flauta

    f

    mp

    ff

    niente

    pp

    mp

    p

    3 3

    (marimba)

    mf

    (vibrafone)

    mf

    ppp

    pizz.

    f

    p

    ff

    niente

    niente

    pizz.mf

    72

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mp

    mf

    mp

    pp

    f

    3 3

    3 3 3 3

    3

    p

    (marimba)

    (xilofone)

    f

    Xilofone

    3 3 3 3 3

    mf

    p

    3 3

    3 3 3 3 3 3 3

    pizz.mf

    mf

    pizz.

    22

  • 77

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mf

    3 3

    pp

    mf

    p 3 33 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    f

    (marimba)

    33

    3 3

    (xilofone)

    p

    Xilofone

    p

    p

    pizz.

    3 3

    3 3

    arco

    mf

    3

    mf

    3 33 3 3 3

    3

    pizz.

    mf

    ppp

    pizz.

    mf

    ppp

    23

  • 82

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpt. d

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    (xilofone)

    mf

    pizz. 3

    3 3

    3 3 3

    3

    3

    3 3

    3

    3 3

    3 3 3

    3

    pizz.

    f

    mf

    pizz.

    87

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    mf

    mf 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    3 mf 33 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    (marimba) Marimba

    mf

    mf

    (xilofone)

    mf

    3 3 3

    3 3

    3

    3 3

    3 3 3

    3

    3

    3 3

    3

    3

    24

  • 92

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mf

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    3 3 3 33

    3 3 3 3 3 3 3 3

    mf

    mf

    (marimba)

    mudar para pratos

    (xilofone)

    mf

    mf

    pizz.

    3 3

    3 3 3

    3

    3

    3 3

    3

    3 3

    3 3

    mf

    pizz.

    pizz.

    mf

    3

    3 3

    3

    25

  • 96

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    (pratos) pp

    Pratos ff

    mudar para marimba

    (xilofone)

    mudar para tom toms

    3 33

    3

    3 3

    3

    3 3

    3 3

    3

    3 3

    3 3 3

    3

    3

    3 3

    3

    26

  • 101

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    mf

    f

    p

    pp

    mf

    p

    mf

    p

    (marimba) p

    Marimba

    (tom toms)

    f

    Tom toms

    arco

    f

    sul tasto

    pp

    mf

    f

    pizz.

    pizz.

    f

    109

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    mp

    (marimba)

    Tom tomsp

    (vibrafone) mf

    Vibrafone

    f

    f

    p

    p

    27

  • 115

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 2

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mp

    pp

    ff

    pp

    ff

    pp

    ff

    pp

    ff

    (vibrafone)

    pp

    mp

    pp

    arco

    ff

    pp

    ord.

    ff

    pp

    arco

    ff

    mp

    pp

    arco

    ff

    121

    Fl.

    Perc. 2

    Vln. I

    Vc.

    f

    mudar para flautim

    (vibrafone)

    Vibrafone

    f

    f

    28

  • 127

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Perc. 2

    Pno.

    Cb.

    p

    niente

    p

    niente

    ff

    fff

    (vibrafone)

    f

    f

    p

    ff

    fff

    132

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Perc. 2

    Pno.

    Cb.

    f

    f

    f

    f

    29

  • 136

    Ob.

    Fgt.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Cb.

    f

    f

    fff

    (marimba)

    f

    (vibrafone)

    f

    f

    fff

    140

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    f

    f

    3

    3 33 3

    33 3

    f

    3 3 3

    f

    3

    3 3

    3

    Marimba

    f

    pp

    fff

    5

    5

    5

    Xilofone

    f

    fff

    f

    3

    3 33

    33

    3

    3

    pp

    f

    3 3 3 3

    f

    3 3 33

    30

  • 145

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    mf

    f

    f

    33 3

    3

    3

    3 33

    f

    mf

    33 3

    3

    3 33

    f

    3 3 3 3 3 3 3 3 3

    mf

    f

    3

    3 3

    3

    f

    33 3

    3

    (marimba)

    fff

    fff

    fff

    fff

    f

    (xilofone)

    fff

    fff

    fff

    fff

    f

    f

    f

    mf

    3 3 33

    3 3 3

    3

    31

  • 151

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    f

    mf

    f

    mf

    f

    mf f

    mf

    f

    mf

    f

    mf

    f

    (marimba)

    Vibrafone

    p

    (baqueta macia)

    (xilofone)

    f

    f

    mf

    f

    f

    mf mf

    f

    mf

    f

    f

    mf

    f

    mf

    f

    mf

    f

    32

  • 160

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    mf

    (xilofone)

    (vibrafone)

    f

    (voltar a usar as baquetas anteriores)

    mf

    p

    p

    mf

    33

  • 165

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    f

    pp

    p f

    p

    mf

    mf

    mf

    (marimba)

    ff

    Marimba

    p

    (vibrafone) ff

    Vibrafone

    ff

    34

  • 169

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    p

    f

    f

    f

    p

    f

    f

    mf

    ff

    (marimba) f

    Tom toms

    (vibrafone)

    p

    f

    Xilofone

    mf

    mf

    35

  • 173

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    f

    mf

    p

    f

    f

    ff

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    (tom toms)

    ff

    fff

    (xilofone)

    f

    p

    f

    36

  • 178

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    fff

    3

    f

    fff

    f fff

    3

    f

    fff

    3

    f

    fff

    f

    fff

    3

    fff

    fff

    3

    (tom toms)

    Tambor Tenor

    fff

    fff

    f

    fff

    f

    fff

    f

    fff

    f

    fff

    f

    fff

    37

  • 183

    q = 162

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    ppp

    pp

    pp

    pp

    (marimba)

    mf

    Marimba

    pp

    pp

    38

  • 191

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Pno.

    Vln. II

    Vla.

    mf

    p

    pp

    196

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    p

    p

    p

    p

    p

    p

    p

    39

  • 202

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    f

    f

    f

    f

    (marimba) f

    Marimba

    (tom toms)

    Tom toms

    f

    f

    40

  • 207

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    pp

    pp

    pp

    pp

    mf

    mp

    pp

    (marimba) pp

    (tom toms) pp

    pp

    214

    Fl.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Pno.

    mp

    ff f

    mp

    ff f

    mf

    mp

    ff f

    mf

    mf

    mf

    (marimba) f

    41

  • 221

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Perc. 1

    Perc. 2

    pp

    mf

    mf

    3

    pp

    mf

    mf

    mf

    pp

    (marimba)

    (xilofone) ff

    Xilofone

    227

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    3

    (xilofone)

    mf

    mf

    mf

    mf

    42

  • 234

    Ob.

    Cl. sib

    Tpt. d

    Tbn.

    Vln. I

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    3

    p

    p

    p

    f

    p

    p

    242

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    ff

    p

    p

    (marimba)

    ff

    (xilofone)

    ff

    p

    p

    3

    p

    p

    p

    43

  • 249

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vc.

    Cb.

    p

    p

    p

    ff

    p

    ff

    p

    p

    p

    (marimba)

    (xilofone)

    p

    44

  • 256

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    p

    ff

    p

    p

    (marimba)

    p

    ff

    (xilofone)

    ff

    p

    ff

    p

    p

    p

    ff

    pizz.

    p

    arco

    p

    45

  • 262

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    p

    pp

    p

    (marimba)

    mp

    (xilofone)

    pp

    pp

    pp

    pp

    46

  • 269

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    mf

    3

    p

    p

    p

    3

    p

    p

    p

    3

    p

    niente

    niente

    niente

    sfz

    sfz

    sfz

    47

  • 278

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    niente

    mf

    niente

    mf

    niente

    mf

    niente

    f

    mf

    f f

    f

    niente

    f

    niente

    f

    niente

    48

  • q = 100II - Alternado

    287

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    mp

    f

    mp

    3

    mp

    f

    f

    f

    p

    mp

    mp

    f

    f

    49

  • 295

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    p

    p

    f

    mf

    f

    mf

    mf

    f

    f

    f

    mf

    f

    f

    f

    f

    ff

    50

  • 301

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    36 6

    f

    f

    f

    3 3 3 3 3 3

    non legato

    f

    36 6 3

    6 6

    non legato

    f

    36 6

    f

    ff

    ff

    ff

    ff

    51

  • 304

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    pp

    p

    pp

    f

    33 3 3 3

    f

    3 3 3 3

    mp

    ff

    Xilofone ff

    ff

    ff

    pp

    f

    f

    pp

    f

    36 6

    pp

    f

    pp

    52

  • 312

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Frull.

    f

    mf

    3

    3

    3 3 3

    3

    3 3 3 3 3

    3

    3 3 3

    mf

    53

  • 316

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    3

    pp

    pp

    mf

    3

    3 3 3

    ppp

    ff

    Frull.

    f

    ff

    Xilofone

    ff

    pp

    mf

    ff

    ppp

    ff

    pp

    pp

    mf

    f

    54

  • 325

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    non legato

    f

    f

    pp

    f

    ff

    mp

    f

    pp

    3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

    f

    f

    f

    ff

    55

  • 330

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    pp

    f

    ff

    p

    mp

    f

    f

    f

    f

    f

    mp

    f

    f

    f

    56

  • 337

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    ff

    f

    f

    ff

    f

    p

    f

    f

    f

    ff

    f

    p

    ff

    p

    fff

    mp

    ff

    ff

    p

    p

    p

    ff

    p

    fff

    f

    ff

    p

    fff

    57

  • 347

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Perc. 2

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    ff

    ff

    ff

    ff

    f

    ff

    f

    3

    f

    Vibraphone

    mf

    ppp

    mf

    ppp

    mf

    ppp

    ff

    pizz.

    58

  • 352

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    f

    f

    f

    f

    p

    f

    Marimba

    (vibrafone)

    f

    p

    3

    3 pizz.3

    p

    3

    3 3pizz.

    p

    3 3 pizz.

    3

    arco

    p

    3 3 3pizz.

    p

    3

    3

    pizz.3

    59

  • 357

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Cb.

    f

    3

    f

    f

    3

    3 3 3 3 3

    3

    3

    f

    Frull.

    f

    (xilofone)

    ppp

    ff

    Xilofone

    ff

    arco

    arco

    arco f

    60

  • 364

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vla.

    Cb.

    pp

    p

    p

    pp

    p

    3

    pp

    pp

    3 3 3 3

    3

    3 3 3

    (tambor tenor) Tambor tenor

    f

    (xilofone) Tom toms

    f

    f

    pp

    f

    pp

    371

    Fl.

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vln. I

    Vln. II

    Vc.

    p

    p

    p

    Frull.

    p

    Frull.

    p

    (tambor tenor)

    p

    (tom toms)

    p

    ff

    pizz.

    ff

    pizz.

    ff

    pizz.

    61

  • 376

    Ob.

    Fgt.

    Tpa. f

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vc.

    f

    (tambor tenor)

    ff

    (tom toms) ff

    p

    f

    f

    380

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Vla.

    Vc.

    f

    f

    f

    f

    mf

    f

    mp

    f

    f

    (tambor tenor) (tom toms)

    f

    non legato

    pizz.

    f

    62

  • 384

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Perc. 1

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    f

    mf

    f

    f

    pp

    mf

    (tambor tenor)

    sfz

    f

    f

    p

    arco

    f

    sfz

    f

    sfz

    arco

    63

  • 390

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    p

    f

    p

    f

    p

    f

    f

    p

    f

    (tambor tenor)

    sfz

    sfz

    (tom toms)

    f

    arco

    f

    f

    arco

    f

    arco

    sfz

    sfz

    sfz

    arco sfz

    arco

    64

  • 399

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    pp

    mf

    f

    mf

    pp

    f

    3

    3 3 3 3 3

    3

    f

    f

    mp

    (tambor tenor)

    (tom toms)

    ff

    Xilofone ff

    ff

    ff

    pp

    f

    pp

    f

    pp

    f

    pp

    65

  • 407

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    ff

    mf

    ff

    f

    ff

    3 3 3

    3

    3

    ff

    ff

    (marimba)

    Marimba

    ff

    f

    (xilofone)

    ff

    f

    ff

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    ff

    f

    ff

    66

  • 412

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Perc. 1

    Perc. 2

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    Frull.

    f

    Frull.

    ff

    p

    f

    Frull.ff

    f

    pp

    mp

    f

    Frull.

    Frull.

    f

    pp

    f

    (marimba)

    Tambor tenor

    ff

    (xilofone)

    ff

    ff

    ff

    ff

    f

    p

    f

    mp

    ff

    f

    mp

    ff

    p

    f

    ff

    p

    f

    67

  • 420

    Fl.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpa. f

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    mp

    f

    mp

    f

    f

    425

    Fl.

    Ob.

    Cl. sib

    Fgt.

    Tpt. d

    Tbn.

    Tba.

    Pno.

    Vln. I

    Vln. II

    Vla.

    Vc.

    Cb.

    f

    p

    mf

    f

    mf

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    f

    ff

    f

    68

  • 69

    INTRODUO E CONTEXTUALIZAO

    A msica tem no tempo o seu eixo predominante. Eventos musicais ocorrem na

    dimenso temporal. Sem a referncia dessa dimenso, a msica no pode sequer ser

    imaginada. Mas o tempo, como se pode notar a partir das coisas e eventos que nos cercam,

    no simplesmente um fluxo aritmtico, como os segundos de um relgio podem sugerir.

    Uma pessoa est constantemente experimentando diferentes sensaes temporais ao trabalhar,

    ao ler um livro, ao assistir a uma pea teatral, ao escutar msica, etc. Duas horas

    experienciadas de trabalho raramente correspondem a duas horas experienciadas de leitura ou

    a duas horas assistindo a uma pea teatral. O que causa essa discrepncia a nossa percepo

    do tempo, que varia conforme os eventos ocorridos nessas experincias e, dialeticamente,

    com as nossas reaes a esses eventos. Alm disso, o contexto cultural, os conhecimentos

    relativos a tais eventos temporais, o estado de esprito e o nvel de concentrao do receptor

    influenciam na percepo temporal.

    Mais do que em outras artes temporais, a msica (por conta de seu carter abstrato) a

    que mais depende de determinantes temporais para subsistir. Muitas vezes, ela at pensada

    por alguns autores como uma forma de tempo. A maneira como seus eventos so organizados

    ritmicamente, tonalmente, texturalmente, harmonicamente, etc. , determinando o contedo

    musical, incide sobre a nossa percepo no que tange a experincias diferentes de tempos

    musicais subjetivos. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma obra musical poder gerar

    diferentes sensaes temporais em seus ouvintes dependendo de seu contedo.

    Correlatamente, com a conscincia de que essas diferentes sensaes de tempo emergem do

    processo de apreenso dos eventos musicais, pode-se tambm afirmar que, ao escrever

    msica, o compositor, cnscio de suas intenes e das propriedades da msica quanto aos

    fatores temporais, poder programar determinados tipos de sensao temporal a serem

    experienciados pelo ouvinte.

    Jonathan D. Kramer (1942-2004), professor, compositor e terico norte-americano que

    estudou extensivamente as relaes entre tempo e msica em seu livro The Time of Music,

    afirmou que a msica capaz de criar, alterar, distorcer e at destruir diferentes sensaes de

    tempo (KRAMER, 1988, p. 5, traduo nossa). Duas principais propriedades do tempo

    musical linearidade e no-linearidade so descritas por ele:

  • 70

    Identifiquemos [...] linearidade como a solidificao/materializao de alguma(s) caracterstica(s) da msica em conexo com implicaes que emergem de eventos anteriores da pea. Ento, linearidade progressiva. No-linearidade, por outro lado, no-progressiva. a solidificao/materializao de alguma(s) caracterstica(s) da msica em conexo com implicaes que emergem de princpios ou tendncias que governam uma pea inteira ou uma seo (KRAMER, 1988, p. 20, traduo nossa).

    Como Kramer argumenta, existem ainda as vrias possibilidades temporais

    intermedirias entre linearidade e no-linearidade. Alm do mais, segundo ele, virtualmente

    toda msica se utiliza de ambos os processos, em maior ou menor grau (Ibid., p. 19).

    Algumas obras da literatura musical do Sculo XX servem para exemplificar experimentos especficos relacionados manipulao temporal em msica. Uma delas HPSCHD (1969), de John Cage (1912-1992) e Lejaren Hiller (1924-1994). Essa pea, cujos eventos no dependem nem derivam uns dos outros, um expressivo exemplo de msica dominada pelo tempo no-linear. Escrita para 7 cravos e 52 fitas gravadas com sons gerados por computador, ela apresenta, do comeo ao fim, uma grande massa sonora. Essa massa sonora formada por trechos escolhidos ao acaso dentre obras musicais de compositores clssicos e dos prprios Cage e Hiller (tocados pelos cravos), sobrepostos aos diversos sons gerados por computador. Graas s propriedades aleatrias e superdimensionadas, e conseqentemente complexas, da massa sonora, o ouvinte torna-se indiferente ao comportamento dos eventos particulares da prpria massa sonora. Isso implica dizer que, apesar de reconhecer a existncia de alturas, ritmos e timbres prprios da msica, o ouvinte no capaz de reconhecer nenhum conflito, desenvolvimento ou resoluo, principalmente por causa da imensa complexidade do som gerado. Para apreender a msica, no importante para o ouvinte escutar o comeo ou o final da obra, j que esta no evolui. A obra acontece como um nico momento muito prolongado.

    Exemplos musicais com predominncia do tempo linear so facilmente encontrados na

    msica tonal. A prpria forma sonata um exemplo de um tempo direcionado que busca a

    resoluo de implicaes tonais apresentadas anteriormente em sua exposio. O desenrolar

    do seu processo musical recheado de desenvolvimentos temticos, recorrncias, preparaes

    e resolues, dando ao ouvinte pontos de referncia sonoros e tempo suficiente para processar

    as informaes que tornaro o procedimento auditivo coerente e concatenado. Nesse caso,

    ouvir toda a obra de suma importncia para a completa apreenso musical.

    O foco desta pesquisa de mestrado recai sobre a aplicao de determinados

    procedimentos composicionais que visa tornar possvel um discurso musical orientado a partir

  • 71

    da interao entre diferentes representaes temporais particularmente, aquelas referentes

    linearidade e no-linearidade, conforme os conceitos de Kramer (1988). No desdobramento

    da pesquisa (a escrita de uma pea musical), as decises composicionais estruturais

    refletidas na organizao de parmetros como altura, ritmo, forma, textura, etc. foram

    tomadas em funo dessas referncias temporais.

    Alm disso, entre os objetivos h o de envolver e associar a elaborao e pensamento

    composicionais certos elementos da msica tradicional e regional brasileira. evitada, no

    entanto, uma recontextualizao superficial e simples de melodias ou ritmos derivados da

    msica tradicional em um ambiente de msica de concerto. Nesta pesquisa, a associao

    pretendida partiu da msica indgena brasileira e desdobrou-se com respeito a dois aspectos:

    1) na utilizao de materiais escalares dos Xavantes grupo indgena que habita o leste de

    Mato Grosso como pontos de base e referncia para a elaborao de alguns dos materiais e

    procedimentos trabalhados em um nvel pr-composicional; 2) numa associao metafrica

    com caractersticas de temporalidades lineares e no-lineares que esto, de certo modo,

    presentes em algumas vises do tempo prprias de determinadas culturas indgenas

    brasileiras. Na tribo Kamayur, que habita o Parque Indgena do Xingu, na regio norte de

    Mato Grosso, por exemplo, o tempo relatado de dois modos distintos: um refere-se a um

    tempo histrico (com caractersticas lineares) e outro a um tempo mtico (com

    caractersticas no-lineares). Menezes Bastos faz referncia a essas duas linhas temporais da

    seguinte forma:

    Para o Kamayur h dois sistemas diferentes e complementares de morneta, explanao, das coisas do mundo, cada um deles estando colado num tempo de referncia prprio, a saber, no ng, tempo histrico, ou no mawe, tempo mtico (MENEZES BASTOS, 1978, p. 109, grifo do autor).

    O tempo histrico o tempo das duraes provveis, no qual os eventos tm comeo e

    fim. O tempo mtico o tempo da mitologia Kamayur, no qual est a origem para todas as

    definies. As duas temporalidades existem ao mesmo tempo, em todas as coisas, pois tudo

    pode ser explicado tanto no tempo mtico como no tempo histrico. Menezes Bastos

    conclui, afirmando:

    Se [...] o ng o tempo experimental, memorial e esgotavelmente atual, o mawe , definidamente, o tempo cosmolgico, imemorial e daquilo que sempre acontece de forma inesgotvel, de um lado, pois, se colocando o acontecido, o discreto, de outro, o que pode acontecer, o contnuo (Ibid., p. 110).

  • 72

    Esta pesquisa se concretizou atravs da composio da pea Eterno/Imediato, para

    orquestra de cmara. Com durao total de aproximadamente 14min30s e dividida em dois

    movimentos ininterruptos, a pea tem a seguinte configurao instrumental: uma flauta

    (dobrando flautim), um obo, um clarinete em Si bemol, um fagote, uma trompa em F, um

    trompete em D, um trombone, uma tuba, percusso (dois instrumentistas), um piano, um

    primeiro violino, um segundo violino, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo.

    Os procedimentos aqui referidos so explicados ao longo dos dois captulos seguintes. No captulo 2 so discutidos os princpios e as origens desses procedimentos. No captulo 3 explicado como se d a aplicao de tais procedimentos na elaborao da pea, incluindo alguns exemplos especficos da partitura.

  • 73

    PROCEDIMENTOS

    a partir de organizaes especficas de eventos musicais que o ouvinte estabelece

    relaes teis para apreender e processar msica. Essas relaes tambm dependem da

    velocidade com que os eventos musicais so expostos e do nvel de concentrao, do

    conhecimento e da memria do ouvinte. A conjuno desses fatores responsvel pelo

    surgimento de tenses intelectuais e emocionais que permeiam o processo de audio

    musical. Tal conjuno pode ocorrer durante o processo de escuta, no momento em que o

    receptor decodifica os eventos musicais, e/ou aps a escuta, quando o receptor compara,

    atravs da memria, os eventos musicais entre si.

    O fluxo do tempo musical depende dessas relaes. Considerando msica como um

    tipo de tempo virtual, Susanne K. Langer (18951985), filsofa e educadora norte-americana,

    defende que a experincia temporal musical est ligada diretamente ao

    processamento/entendimento das tenses intelectuais, emocionais, etc. proporcionadas

    pela msica (LANGER, 1953, p. 112-113).

    J Barbara Barry (1990), em seu livro Musical Time: The Sense of Order, distingue

    dois tipos de tempo musical: o transcendental e o estruturado. O tempo transcendental, no-

    mensurado, com ausncia de resolues e com acontecimentos inesperados, tem o seu

    conceito aproximado do tempo no-linear de Kramer (1988). O tempo estruturado, por outro

    lado, mensurado, direcionado e regular, e tem o seu conceito aproximado ao do tempo linear

    desse autor.

    Nota-se que Barry (1990), em sua abordagem, assume a postura de sempre associar

    elementos quantitativos, decorrentes da Teoria da Informao, a esses tipos de tempo. Em sua

    Teoria de Densidade/Velocidade, a emergncia dessas qualidades temporais explicada

    principalmente sob a luz da quantidade de elementos musicais presentes em uma obra. Para

    ela, o tempo estruturado alcanado por meio do que ela chama de propriedade de tempo

    moderadamente preenchido (BARRY, 1990) propriedade definida pela presena de uma

    densidade mdia de informaes, prxima da quantidade de informaes comumente presente

    na msica convencional, a qual as pessoas em geral esto mais acostumadas a escutar. O

    tempo transcendental, por sua vez, pode ser moldado atravs da densidade positiva e da

    densidade negativa de informaes respectivamente, densidades acima e abaixo do nvel

    mdio de informaes do tempo moderadamente preenchido.

  • 74

    Segundo Barry (1990), outro fator que influencia a percepo temporal a existncia

    ou no de pontos de referncia1 ao longo do discurso musical. Tanto a baixa densidade quanto

    a alta densidade de informaes dificultam a descoberta desses pontos de referncia pelo

    ouvinte. A baixa densidade requer um maior esforo mental para relacionar e processar os

    eventos musicais que esto distantes entre si. Por outro lado, a alta densidade requer um

    processamento de informaes mais complexo. Nesses contextos de baixa e alta densidades, o

    ouvinte no ir, em geral, perceber certos eventos musicas em maior destaque com relao a

    outros. Com essa equalizao de eventos, a mente do ouvinte interrompe a percepo linear

    dos acontecimentos musicais. De acordo com Barry (1990), isso resulta ainda na percepo de

    uma durao do presente (musical, experimentado) mais longa do que a durao medida pelo

    relgio. J no tempo moderadamente preenchido, os pontos de referncia usufruem de todas

    as condies para emergir em meio ao discurso musical, possibilitando uma escuta linear.

    O terico francs Abraham A. Moles (1920-1992), um dos pioneiros a aplicar a Teoria

    da Informao em msica, corrobora o pensamento de Barry (1990) ao estabelecer definies

    sobre como a quantidade de informaes (que ele chama de excitao fsica) afeta a

    percepo:

    [...] Com efeito, todo sistema sensorial reage s excitaes fsicas, segundo as modalidades seguintes: 1) Abaixo de um certo limite de excitao fsica, o sistema receptor torna-se insensvel, o limiar da sensibilidade; 2) Acima de um certo limite de excitao fsica, o sistema receptor saturado limiar de saturao e no percebe mais as variaes dessa excitao, devendo portanto ser considerado como sem resposta especfica (MOLES, 1969, p. 24).

    O compositor norte-americano James Drew (n. em 1929) ressalta as propriedades da

    alta densidade de informaes aplicadas a peas de massas sonoras, como as de Iannis

    Xenakis (1922- 2001) j introduzidas em 1954: Quanto maior a massa [sonora], menos

    importante cada componente individual; isso significa dizer que estamos lidando com

    identidade de massas em vez de referncias locais (DREW, 1968, p. 98, traduo e

    extrapolao nossas). Nas palavras de Xenakis (apud DREW, 1968, p. 98, traduo nossa):

    Mas outras vias conduzem tambm mesma encruzilhada estocstica. A princpio, eventos naturais tais como os choques do granizo ou da chuva sobre superfcies duras, ou ainda o canto das cigarras no campo em pleno vero. Esses eventos sonoros integrais so feitos de milhares de sons isolados, cuja multitude cria um evento sonoro novo sobre um plano de conjunto. Ora, esse evento de conjunto articulado e forma uma plstica temporal que segue, ela tambm, leis aleatrias,

    1 Pontos de referncia so aqui definidos como eventos musicais, de durao e intensidade variveis, que se destacam para o ouvinte em meio ao discurso.

  • 75

    estocsticas.

    A partir desses princpios, procurou-se estabelecer nesta Pesquisa alguns

    procedimentos manipuladores da densidade de informaes, em funo da criao de uma

    temporalidade no-linear (o detalhamento e a exemplificao de todos os procedimentos

    encontram-se no captulo 3):

    Alta densidade harmnica Aplicao de vrias organizaes escalares distintas, de

    acordo com as operaes do sistema de alturas descrito adiante, tendo em vista a criao de

    contedos harmnicos densos e heterogneos (cromticos e microtonais).

    Alta densidade rtmica Utilizao de ritmos complexos e sobreposio de mtricas

    distintas.

    Complexidade textural Criao de faixas texturais ricas e/ou simultneas, para

    funcionarem como unidades (de larga escala) de um discurso sem referncias bvias a eventos

    passados ou futuros.

    Para a criao do tempo linear, os seguintes procedimentos foram aplicados:

    Subtrao contextual Gradual subtrao de notas de um determinado agrupamento

    denso de alturas (vertical, horizontal ou diagonal), medida que esse agrupamento

    desdobrado ou recorrido no tempo, at a emergncia de materiais referenciais (unidades

    formais identificveis).

    Densidade rtmica mediana Utilizao de mtricas regulares e definidas.

    Simplicidade textural Uso de texturas simples e bem delineadas, que permitem a

    criao de unidades e eventos convencionais como guias do discurso musical.

    Alm de procedimentos relacionados diretamente densidade de informaes, buscou-

    se formalizar procedimentos associados a outros aspectos, tais como Identidade, Andamento e

    Proporo, abordados a seguir.

  • 76

    Identidade

    A identidade de um evento musical advm de um conjunto de caractersticas

    resultantes de organizaes e combinaes especficas dos vrios parmetros musicais que

    imprimem ao evento certo coeficiente de informaes (quantitativas e qualitativas) a ser

    apreendido pelo ouvinte. A manipulao das identidades dos diversos eventos presentes em

    uma composio contribui decisivamente para a representao das temporalidades musicais.

    Os procedimentos de manipulao so dependentes de princpios como recorrncia, variao,

    transformao e contraste. Aplicando algumas das idias da Teoria da Informao, vistas

    acima, pode-se considerar que, ao variar, transformar ou dar contraste, subseqentemente, a

    eventos que acabaram de ocorrer, se expe o ouvinte a um maior nmero de informaes a

    serem assimiladas. As novas informaes oscilam de um menor grau na variao a um

    maior no contraste. Pequenas variaes contribuem para a emergncia da sensao de

    direcionamento, uma vez que a conjuno de novas informaes com recorrncias de antigas

    pode sinalizar para o ouvinte mudanas graduais qualitativas (do contedo musical) que

    contextualmente sugerem processos de partidaprosseguimentochegada. A transformao

    vai alm da variao no que concerne ao aumento da taxa de novas informaes: mais

    elementos novos so apresentados e menos recorrncias ocorrem, implicando uma maior

    complexidade de informao e menor sensao de direcionamento. Com o contraste,

    possvel cortar relaes entre eventos anteriores e posteriores, e gerar a maior quantidade de

    novas informaes possvel, implicando at a criao de eventos musicais de certo modo

    opostos. J a recorrncia sistemtica, extensiva e sem nenhuma alterao oposta ao contraste

    nessa escala de informao cria um nvel de similaridade dos eventos que esgota os pontos

    de referncia temporais da pea.

    Um modo contextual de se referir aplicao desses princpios leva em considerao

    que tanto a recorrncia quanto o contraste, quando utilizados de maneira estratgica e

    comedida, podem facilitar a emergncia de pontos de referncia temporais com certa clareza.

    Quando aplicados em excesso, suprimem tais referncias, tornando as relaes entre os

    eventos musicais irrelevantes ou ambguas.

    Com base nessas idias, estabeleceram-se aqui os seguintes procedimentos:

    a) Para a criao de uma temporalidade linear:

    Variaes e transformaes num contexto de mdia incidncia de recorrncia e

  • 77

    contraste Uso mediano de recorrncias e contrastes envolvendo organizaes intervalares,

    rtmicas e texturais especficas, de tal modo que unidades formais identificveis possam ser

    reconhecidas e processadas.

    b) Para o contexto da representao de temporalidade no-linear:

    Ausncia de variaes e transformaes radicais em associao a uma elevada

    incidncia de recorrncia e contraste Uso estendido de recorrncias e contrastes

    envolvendo organizaes intervalares, rtmicas e texturais especficas, de tal modo que

    unidades identificveis no tenham funes formais, no caso da total ausncia de variaes,

    ou unidades formais identificveis no possam ser reconhecidas e processadas, no caso de

    transformaes radicais.

    Andamento

    Proximamente associado densidade de informaes, o andamento no sentido de

    velocidade das informaes apresentadas ao ouvinte fundamental questo temporal em

    msica. Segundo Kramer (1988, p. 349), o andamento afeta a nossa eficincia em codificar e

    processar, j que seqncias de notas que so apresentadas muito rapidamente ou muito

    lentamente so difceis de agrupar de forma efetiva. Verifica-se tambm que, em associao

    a esse princpio, o andamento tambm pode influir na estruturao hierrquica musical.

    Acelerao de andamento em uma massa sonora, por exemplo, poder no afetar tanto sua

    organizao hierrquica ou sua temporalidade subjacente (em geral, a densidade intrnseca

    das massas sonoras j resultado de uma demasiada quantidade de informaes). Mas quando

    o andamento acelerado em um trecho formado por eventos independentes, menos densos e

    mais curtos, esses eventos podem-se agrupar em nossa percepo (por conta da taxa de

    informaes aumentada), formando unidades musicais de uma nova camada hierrquica

    afetando, conseqentemente, nossa percepo temporal. Em sintonia com a manipulao de

    densidades de informao, o andamento pode contribuir com a efetivao das representaes

    lineares e no-lineares, diminuindo-se a velocidade e, conseqentemente, a taxa de

    informaes para o primeiro caso, e aumentando-se a velocidade e, por conseguinte, a

    taxa de informaes no segundo.

  • 78

    Proporo

    Proporo refere-se razo entre as duraes absolutas das diversas sees de uma

    pea, podendo influir de certa forma na representao temporal. A idia, segundo Kramer

    (1988, p. 310), que sees adjacentes de duraes distintas, numa proporo de dois para

    um (2:1), por exemplo, podem proporcionar uma sensao de direcionamento, de impulso e

    apoio, na passagem da menor para a maior, por causa de um possvel acento aggico de

    grande escala, como sugere o grfico da figura 1.

    Figura 1 Exemplo de sees adjacentes de duraes na proporo 2:1.

    Em tese, se a diferena entre as duraes aumenta, gerando sees muito menores ou

    muito maiores em relao umas s outras, a sensao de direcionamento tambm aumenta

    quanto menor ou maior uma seo em relao sua vizinha, maior o direcionamento.

    Mas numa srie de sees apresentando duraes iguais (representada graficamente na

    figura 2), de razo um para um (1:1), a resultante previsibilidade, a ausncia de conflitos e o

    fluxo sem impulsos podero implicar na emergncia de um determinado grau de relaxamento

    para o ouvinte.

    Figura 2 Exemplo de sees adjacentes de duraes na proporo 1:1.

    importante ressaltar que essas consideraes se derivam, em parte, da suposio de

    que os efeitos de tais propores refletem aqueles que ocorrem entre eventos de pequena

  • 79

    escala (figuras rtmicas, como semicolcheia seguida de colcheia, por exemplo), em que

    acentos aggicos, de fato, imprimem impulso direcionado ao evolver musical. Nossos

    mecanismos de percepo, no entanto, no processam exatamente dessa forma quando as

    duraes so muito longas, pois durante a ocorrncia de eventos extensos (ou sees) somos

    envolvidos pelos acontecimentos de microescala e facilmente perdemos as referncias de

    durao total (unidades de durao contnua). Alm do mais, escutar a proporo entre duas

    sees s possvel ao trmino de suas ocorrncias no tempo, o que denuncia uma percepo

    temporal, em princpio no-linear. Mesmo assim, este Autor acredita que, ao menos, uma

    projeo parcial dessas qualidades de pequena escala seja encontrada em eventos de larga

    escala. Kramer sugere isso ao afirmar que dispomos de uma assimilao no-linear de

    propores, mesmo que sejamos levados a pensar que, ao trmino da segunda seo, ela foi

    mais longa ou mais curta (possivelmente criando um upbeat estrutural ou [...] um afterbeat

    estrutural) (KRAMER, 1988, p. 310, traduo nossa).

    No primeiro movimento de Eterno/Imediato, as propores entre sees de diferentes

    duraes visam reforar um determinado grau de direcionamento e linearidade a ser

    incorporado ao aspecto formal de macroescala da msica. As propores menos dspares entre

    as duraes das sees internas do segundo movimento foram pensadas em funo de uma

    temporalidade no-linear governando a macroestrutura da msica.

  • 80

    APLICAES

    A aplicao dos procedimentos citados acima, em associao a alguns dos parmetros

    musicais e forma, explicada abaixo.

    Forma

    A estrutura formal da pea foi pensada de modo a contribuir para a emergncia de dois

    tipos de percepo temporal (que devem interagir entre si): uma percepo momentnea

    (durante a audio da pea) e uma percepo posterior (aps a audio da pea).

    No primeiro movimento, pretende-se que a percepo momentnea seja voltada para

    sees com diferentes nfases. Ilustradas graficamente na figura 3, as sees A, B, A, A e E

    representam temporalidades musicais predominantemente no-lineares, enquanto C e D

    representam temporalidades predominantemente lineares. As primeiras decorrem

    principalmente da construo de blocos texturais com diversas densidades, erigidos levando-

    se em conta aqueles procedimentos que envolvem alta densidade (e.g., compassos 92-99) e

    baixa densidade (e.g., compassos 47-57). Em particular, verifica-se que em A e B os blocos se

    transformam lentamente criando momentos internos diferenciados (subsees) em A, indo

    de camadas de notas sustentadas e ostinatos superpostos (primeira subseo, at c. 24) a

    camadas densas de notas repetidas (segunda subseo, at c. 44), e em B, de camadas diludas

    de notas repetidas (primeira subseo, at c. 77) a uma textura granulada com componentes

    internos de uma, duas e trs notas (segunda subseo, at c. 99).

    J nas sees C e D, em funo de uma percepo momentnea linear, ocorrem

    variaes e transformaes com mdia de incidncia de recorrncia (compassos 140-160) e

    densidade mdia de informaes (compassos 165-175). A seo C iniciada com uma

    preparao que utiliza uma variao do material que vir em seguida. Aps a seo C, a

    recapitulao do material da seo A (do c. 189 ao c. 211) apresentada. A seo D continua

    o desenvolvimento do material que ocorreu em C. A seo E, ao mesmo tempo em que pode

    ser entendida como uma coda, serve tambm de ligao entre os movimentos.

  • 81

    Figura 3 Estrutura do primeiro movimento (com indicaes de compasso sobre os traos verticais).

    J a percepo posterior, referente macroestrutura do movimento, dever ser

    predominantemente linear, em parte, em funo das sensaes de recorrncia e de

    desenvolvimento a serem emanadas a partir das relaes de contedo entre as sees

    correspondentes no contguas (conforme a figura 3); e por conta de um sentido de

    continuidade entre as sees contguas, advindo de transies e intersees no nvel da

    superfcie musical.

    Pertencentes ao domnio da percepo posterior, as propores das sees s so

    inteiramente processadas ao trmino da pea, j que s com o auxlio da memria se podero

    comparar as diferentes duraes de longos trechos. Como representado na figura 3, as sees

    do primeiro movimento, com suas duraes dspares, buscam estabelecer grandes acentos

    aggicos atravs de momentos de larga escala no-acentuados e acentuados para dar

    direcionamento e impulso ao movimento como um todo, e assim ajudar na concretizao de

    uma percepo posterior predominantemente linear.

    As propores preconcebidas e utilizadas no primeiro movimento, representadas pelas

    relaes 3-4-6-1-1-4-1 (valores retirados das duraes das sees, em que cada unidade

    equivale a aproximadamente 30 segundos de durao), geram as de micropadres rtmicos e

    mtricos de alguns materiais internos desse movimento (abordados posteriormente no

    exemplo da figura 14), em que duas figuras contguas menores (tempos no-acentuados)

    impulsionam a chegada em uma maior (tempo acentuado), formando padres rtmicos

    denominados por Meyer (1973, p. 28) de grupos de acentuao no final (anapests). A

    diferena que, na aplicao de larga escala, devido mudana de andamento ocorrida, os

    quatro ltimos valores so reduzidos, sendo todos eles divididos por aproximadamente 1,43,

    como mostra a figura 4.

    A B C c. 45 c. 99

    A A D E

    c. 189 c. 200 c. 210 c. 269

    A A D E

    c. 189 c. 200 c. 210 c. 269

    B C c. 45 c. 99 A

  • 82

    Figura 4 Estrutura do primeiro movimento (com os valores de suas respectivas duraes entre

    parnteses ao lado das letras)

    O ltimo valor, aplicado seo E, excetuado do esquema de momentos de larga escala no-acentuados e acentuados. Essa seo subdividida em dois momentos, parcialmente superpostos: a) a passagem do compasso 270 ao 285 (executada pelas madeiras e metais) serve para fechar e concluir linearmente o movimento de forma contextual, atravs da dissipao sonora em termos de dinmica e densidade; b) a passagem do compasso 277 a 286 (executada pelas cordas) serve de transio para o segundo movimento, fazendo com que o fluxo da msica continue sem interrupo atravs da permanncia de uma dinmica forte e da nota Si, tocada pelo segundo violino.

    No segundo movimento, h a tentativa de contrapor uma percepo momentnea

    predominantemente linear a uma percepo posterior predominantemente no-linear.

    Conforme mostrado esquematicamente na figura 5 (com indicaes de compasso sobre os

    traos verticais), a estrutura formal do movimento delineada por sees que incorporam

    duas idias musicais distintas que se alternam (A e B).

    A (0.7)

    A (0,7)

    D (2.8)

    E (0.7)

    c. 189 c. 200 c. 210 c. 269

    B (4) C (6) c. 45 c. 99 A (3)

  • 83

    Figura 5 Estrutura do segundo movimento (com indicaes de compasso sobre os traos verticais).

    Para promover a linearidade de pequena escala, os materiais referentes a essas idias

    sofrem variaes e transformaes num contexto de mdia incidncia de recorrncia e

    contraste. A idia A, formada pelos dois elementos mostrados na figura 6, variada por meio

    de mudanas de alturas, de timbre, da ordem dos elementos, bem como por adensamento e

    superposio dos elementos. Para efeito de verificao, podem-se comparar, por exemplo, os

    trechos baseados nessa idia localizados em A1, compassos 293 a 304, e em A3, compassos

    373 a 386.

    (a)

    (b)

    Figura 6 a) Idia A Elemento I; b) Idia A Elemento II.

    A 1 A 2 B 1 c. 304 c. 326 c. 348

    A 3 B 2 B 3 c. 369 c. 400

  • 84

    A idia B, incorporando um material mais esttico, menos direcionado, tambm

    alterna dois elementos agregados de notas sustentadas, como nos compassos 305-310, e

    ostinatos superpostos, como nos compassos 310-316. Essa idia tambm variada,

    principalmente por meio dos reposicionamentos dos seus elementos e por mudanas

    harmnicas, incluindo as de um espectro de semitons para um de microtons. Os trechos

    localizados em B1, compassos 305 a 322, e em B3, compassos 400 a 418, ilustram essa

    variao. Em B2, o primeiro elemento apresentado (notas repetidas) contrastante em relao

    aos elementos da idia B. Mas, logo em seguida, no decorrer de B2, esses elementos so

    retomados de forma literal.

    O segundo movimento apresenta sees com duraes bem aproximadas advindas

    mais de um processo intuitivo do que de um estabelecimento prvio de uma seqncia de

    propores, como no primeiro movimento. Evitando-se a criao de momentos de larga escala

    no-acentuados e acentuados, e incrementando certa constncia e estabilidade no campo das

    propores, foi buscada a efetivao de um menor direcionamento para reforar uma

    representao no-linear na percepo posterior. Outro fator importante a constante

    fragmentao de larga escala, nas mudanas entre sees, atravs de cortes abruptos das idias

    e eliminao de sentido de concluso.

    Para enfatizar essa representao, um sentido circular foi dado ao movimento, fazendo

    com que, ao final da sesso B3, a partir do compasso 418, o material tpico de B se

    transformasse numa passagem identificvel com o incio de A1, deixando, assim, o

    movimento em aberto, como se sua msica fosse comear novamente.

    Alturas

    O modelo de organizao de alturas de Eterno/Imediato no pensado para funcionar

    como um fim em si mesmo; ele no concebido de forma conceitual, mas, sim, como um

    meio prtico de gerar determinadas harmonias (num sentido amplo) e texturas, que ajudaro a

    reforar as idias propostas para a forma e para o discurso musical da pea.

    A organizao de alturas tem por base dois modos diferentes, dos quais so formadas

    trs tabelas de referncia: nas duas primeiras, levado em considerao o princpio de

    equivalncia de oitava (as alturas so classes-de-notas), e na terceira considera-se o princpio

    de registro fixo limitado (as alturas so notas dentro de mbitos predefinidos).

  • 85

    Para justificar a conexo simblica com o universo da msica indgena e considerando

    sua potencialidade para gerar determinado colorido harmnico, o primeiro modo foi extrado

    da msica dos Xavantes (AYTAI, 1985, p. 240). O segundo modo foi criado artificialmente

    aps o primeiro ter sido escolhido, buscando-se estabelecer uma nova organizao dos

    agrupamentos intervalares em relao ao primeiro modo. A figura 7 apresenta os padres

    intervalares de cada modo.

    modo 1 < 1 1 1 4 2 3 >

    modo 2 < 3 2 1 1 3 2 >

    Figura 7 Modos utilizados e seus padres intervalares.

    A primeira tabela, da qual so geradas as outras duas, formada pelo cruzamento

    desses dois modos. Suas alturas so originadas a partir de transposies do modo 2 (dispostas

    horizontalmente), determinadas pela organizao intervalar das alturas do modo 1 (dispostas

    verticalmente), como mostra a tabela 1).

    Tabela 1 Organizao dos modos em semitons. Os padres intervalares dos modos esto representados pelos nmeros situados entre as linhas e colunas de alturas.

  • 86

    A tabela 2 uma verso microtonal2 da tabela 1. Ela toma como referncia os mesmos

    intervalos da tabela 1, s que proporcionalmente divididos, de maneira a estabelecer modos

    microtonais cada intervalo de semitom equivale a um intervalo de quarto de tom, e cada

    intervalo de tom equivale a um intervalo de semitom.

    Tabela 2 Organizao dos modos em microtons. Os padres intervalares dos modos esto representados pelos nmeros situados entre as linhas e colunas de alturas.

    Os contedos (organizaes escalares horizontais e verticais de classes-de-notas)

    dessas duas tabelas so utilizados simultaneamente procedimento de alta densidade

    harmnica , estratificados nas diversas faixas texturais da pea. Essa organizao das alturas,

    ao buscar uma saturao de informao na dimenso harmnica e, dessa forma, a

    diminuio da quantidade de referenciais auditivos para o ouvinte , objetiva acentuar uma

    percepo no-linear do tempo musical. O exemplo da figura 8, compassos 92 a 95,

    demonstra como foram utilizadas as tabelas 3.1 e 3.2 no discurso musical durante a seo B

    do primeiro movimento. Nesse exemplo, alturas das duas tabelas especificamente tabela 1-

    a1 (T1-a1) e tabela 2-d5 (T2-d5) so utilizadas em todos os instrumentos ao mesmo tempo,

    em uma textura granulada com unidades de uma, duas e trs notas.

    2

  • 87

    Figura 8 Exemplo de aplicao das Tabelas 1 e 2.

  • 88

    Na tabela 3, os modos so aplicados levando-se em considerao registros fixos

    limitados (sem equivalncia de oitava) em determinadas faixas do espectro tonal. Duas

    transposies do modo 2, distantes uma stima maior, so dispostas de forma contgua,

    cobrindo a faixa de duas oitavas do espectro tonal, em registros fixos.

    Tabela 3 Transposies do Modo 2.

    A tabela 3 formada por vrias transposies da organizao escalar ampla (a parte de

    registros fixos da tabela), dispostas horizontalmente. Essas transposies so determinadas

    pela organizao intervalar das alturas do modo 1, dispostas verticalmente.

    Em sua aplicao prtica, essa organizao escalar ampla (modo 2 amplo) poder ser

    transposta para as duas faixas do espectro tonal acima e duas abaixo, de acordo com

    demandas das tessituras dos instrumentos, como mostrado na figura 9.

  • 89

    Figura 9 Modo 2 amplo transposto acima e abaixo.

    Verifica-se que, como resultado dessa organizao, ocorre repetio da terceira e

    quarta notas de cada transposio em todas as suas oitavas, conferindo-se a essas notas a

    qualidade de classes-de-notas. Verifica-se tambm que, nas quatro primeiras transposies, as

    seis primeiras notas de cada transposio se repetem uma oitava acima nas seis ltimas notas

    da transposio seguinte.

    A aplicao do contedo dessa tabela feita de maneira diferente das demais. Aqui, o

    procedimento de subtrao contextual aplicado s suas transposies horizontais, de tal

    forma que, no avano do discurso musical, o modo 2 amplo, de doze notas, se transmuta no

    modo 2 inicial, de seis notas. Atravs desse recurso, a tabela 3 no somente servir de

    sustentao harmnica, mas tambm facilitar a criao de pontos de referncia para o

    ouvinte (limitados em suas densidades de informao por causa do registro fixo do modo) em

    trechos de predominncia do tempo linear. O exemplo da figura 10, compassos 136 a 142,

    demonstra a primeira subtrao de nota (Lb4) 3 , protagonizada pela Marimba, numa

    passagem que se desdobra atravs de subtrao contextual.

    3 Considera-se aqui o D3 como o D central do piano.

  • 90

    Figura 10 Primeira Subtrao ocorrida, compassos 136 a 142.

    A figura 11 mostra a aplicao do modo no incio (compassos 126 a 129) e no final do

    processo de subtrao contextual (compassos 266 a 268) em uma passagem do segundo

    movimento. No exemplo da figura 11a, o vibrafone e o piano tocam o modo 2 amplo

    completo, enquanto os outros instrumentos se utilizam de partes menores desse modo. No

    exemplo da figura 11b, a marimba e o clarinete tocam em unssono o modo original,

    resultante do processo de subtrao contextual.

    Lb4

    Entrada e subtrao

  • 91

    (a)

    (b)

    Figura 11 a) Modo 2 amplo completo sendo utilizado; b) Modo 2 amplo reduzido ao modo original.

  • 92

    Em geral, no segundo movimento o contedo da tabela 3 aplicado de maneira

    semelhante ao aplicado no primeiro movimento, mas sem o processo de subtrao contextual.

    Ritmo

    Em Eterno/Imediato, nas passagens em que se busca a efetivao de uma

    representao temporal linear, o ritmo pensado para emergir da teia musical de forma

    relativamente simples e regular, com regularidade mtrica e com clareza de padres de

    durao, estabelecendo, assim, um nvel mediano de informaes densidade rtmica

    mediana e tornando o discurso musical mais acessvel para o ouvinte. Ritmos assim so

    encontrados no primeiro movimento, como nos compassos 152 a 160 da seo C (mostrados

    na figura 12), e no segundo movimento, como nos compassos 382 a 386 da seo A3

    (mostrados na figura 13).

    Figura 12 Exemplo de densidade rtmica regular no primeiro movimento, compassos 152 a

    160.

  • 93

    Figura 13 Exemplo de densidade rtmica regular no segundo movimento, compassos 382 a

    386.

    J para a representao temporal no-linear, ritmos complexos e irregulares

    (eliminando, s vezes, completamente o sentido de mtrica) so utilizados para estabelecer

    um nvel elevado de informaes alta densidade rtmica , e assim dissiparem elementos

    marcantes (pontos de referncia) que possam facilitar uma percepo linear do discurso. Esse

    procedimento pode ser observado no primeiro movimento (como ilustrado na figura 8), e

    tambm no segundo movimento (e.g., compassos 310 a 316).

    Em mais detalhe, verifica-se que, no primeiro movimento, as propores de durao

    entre as sees de larga escala, que correspondem aproximadamente representao numrica

    3-4-6-1-1-4-1, refletem nas duraes de subsees e as suas relaes rtmicas internas, de

    pequena escala. O exemplo da figura 14, extrado da seo A (compassos 36 a 44), mostra

    uma das aplicaes de parte dessa representao numrica em camadas sobrepostas, em

    funo de uma percepo momentnea no-linear. Tendo a semicolcheia como unidade, esse

    padro aplicado, de forma no sincronizada, s linhas da flauta, do obo e do piano atravs

    de acentos. Esses instrumentos, articulando a unidade de tempo atravs de uma cadeia de

    semicolcheias seguidas, utilizam-se dos acentos para expressar a diviso rtmica que reflete o

  • 94

    padro numrico citado. Dessa forma, geram um ritmo aditivo caracterizado por uma hemiola

    vertical determinada pela superposio de linhas com acentos no sincronizados.

    Simultaneamente, usada a colcheia pontuada como unidade do mesmo padro nas linhas do

    fagote, tuba, violoncelo e contrabaixo, desta vez num ritmo diviso e sincronizado.

    Figura 14 Exemplo de alta densidade rtmica, compassos 36 a 44.

    O segundo movimento, que no faz uso de propores predefinidas para a criao de

    padres rtmicos menores, conta, por sua vez, com a utilizao de alguns padres que so

    repetidos entre sees em que h relao de identidade (A e A; B e B). Com baixo nvel de

    variao, esses padres so apresentados no incio de sees correspondentes de modo a

    conectar idias musicais distantes. Apesar das conexes, busca-se aqui uma no-linearidade

    de larga escala, implementada pela grande fragmentao das idias contidas nessas sees,

    como mencionado acima. A figura 15a (compassos 303 a 304) e a figura 15b (compassos 327

    a 330) mostram o uso dos padres rtmicos na ligao entre as sees alternadas A1 e A2.

  • 95

    (a)

    (b)

    Figura 15 a) Fim da seo A1; b) incio da seo A2.

  • 96

    Textura

    Para que o parmetro textural contribusse com a criao de representaes temporais,

    buscou-se incrementar o tecido musical com mudanas especficas de enfoque e de disposio

    de eventos atravs de toda a pea. Para a criao dos momentos com referncias no-lineares,

    dois modos bsicos de organizao de textura, a partir do procedimento envolvendo

    complexidade textural, foram utilizados. O primeiro envolve uma nica camada textural,

    caracterizado por uma elevada taxa de movimento interno. Justamente devido ao excesso de

    movimento interno, a camada textural, considerada no todo, torna-se at certo ponto esttica,

    sem direcionamento e sem variaes percebveis. Um modelo desse procedimento mostrado

    na figura 10 (compassos 92 a 95).

    O segundo modo envolve a sobreposio de faixas texturais distintas, estratificadas (s

    vezes, superpondo altas e baixas densidades rtmicas) e caracterizadas por instrumentaes

    diversas e contedos harmnicos especficos determinados pelas transposies das tabelas

    de alturas referidas acima. Um exemplo encontra-se nos compassos 1 a 22 (mostrados

    parcialmente na figura 16).

    Figura 16 Exemplo de complexidade textural, compassos 1 a 22.

    Para a representao linear, atravs de simplicidade textural, o parmetro da textura

  • 97

    utilizado de maneira mais tradicional: faixas texturais so mais claramente definidas e, em

    alguns casos, se aproximam de abordagens bem tradicionais, como parafonia (e.g., compassos

    141 a 149) e tratamento cordal (e.g., compassos 150 a 160).

    Timbre

    Em termos de timbre, alm de uma abordagem intuitiva (no que diz respeito s

    escolhas das paletas de cores instrumentais), dois aspectos, que permeiam tanto contextos

    lineares quanto no-lineares (em toda a composio), foram considerados: a) consistncia

    timbrstica uso comedido de variaes timbrsticas, visando dar certa unidade a agentes de

    um mesmo nvel do discurso musical (e.g., compassos 47 a 71); b) modulaes timbrsticas

    uso de transformaes constantes de timbre (em termos de instrumentao e orquestrao),

    objetivando a acentuao de nuanas variadas de colorido instrumental, em especial dentro de

    unidades texturais (e.g., compassos 212 a 265). Dessa maneira, este parmetro no foi usado

    no sentido de mapear com preciso contextos especficos de linearidade e no-linearidade,

    mas como um agente independente que, de certa forma, perpassando as sees caracterizadas

    por temporalidades distintas, cria um nvel virtual de discurso musical.

  • 98

    CONCLUSO

    Seguindo alguns pontos de vista do campo da musicologia do sculo XX e.g., Drew

    (1968), Kramer (1988) e Barry (1990) e alguns princpios da Teoria da Informao e.g.,

    Moles (1969) e Barry (1990) , esta pesquisa composicional focou alguns aspectos do tempo e suas possveis representaes em msica, visando escrita da pea Eterno/Imediato, para

    orquestra de cmara.

    Tentou-se incorporar pea momentos (de pequena e larga escala) representativos de

    temporalidades lineares e no-lineares conforme definies de Kramer (1988) , visando

    moldar o discurso, o contedo e a forma musicais em funo de percepes momentneas e

    posteriores dessas temporalidades.

    Nesse respeito, o primeiro movimento da pea foi elaborado formalmente para

    representar predominantemente uma temporalidade linear em larga escala e uma mistura de

    temporalidades lineares e no-lineares em pequena escala. A estrutura do segundo movimento

    foi planejada para incorporar predominantemente uma temporalidade no-linear no aspecto

    global e uma temporalidade linear no aspecto local.

    Essas temporalidades ainda foram associadas simbolicamente aos tipos de tempo da

    tribo Kamayur a partir do relato de Menezes Bastos (1978): o tempo histrico ng (linear)

    e o tempo mtico mawe (no-linear).

    Vrios procedimentos foram desenvolvidos para efetuar as aplicaes dessas

    representaes temporais, entre os quais aqueles relacionados a:

    baixa ou alta densidade de informaes (alta densidade harmnica, alta

    densidade rtmica, complexidade textural, subtrao contextual, densidade

    rtmica mediana, simplicidade textural);

    identidade (variaes e transformaes num contexto de mdia incidncia de

    recorrncia e contraste, ausncia de variaes e transformaes radicais em

    associao a uma elevada incidncia de recorrncia e contraste);

    andamento (no sentido de velocidade das informaes apresentadas ao

    ouvinte);

  • 99

    proporo (momentos de larga escala no-acentuados e acentuados em

    associao a acentos aggicos em sees de duraes distintas versus efeitos

    decorrentes de sees apresentando duraes semelhantes ou aproximadas).

    Abordando especificamente alguns dos parmetros musicais (alturas, ritmo, textura e

    timbre), alm do aspecto formal da pea, foram apresentados alguns exemplos de aplicaes

    desses procedimentos. A aplicao no campo das alturas, em particular, envolveu uma outra

    associao com a msica indgena brasileira: a utilizao de uma escala tpica dos Xavantes

    como referncia para a elaborao de tabelas que organizam as alturas em duas dimenses,

    uma segmentada em semitons e outra, em microtons.

    Acredita-se ter sido