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ESTUDOS NO APOCALIPSE DE JOÃO

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ESTUDOS NO APOCALIPSE

DE JOÃO

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ESTUDOS NO APOCALIPSE

DE JOÃO

Prof. Enéas do Nascimento Araújo João Pessoa – PB

2003

Copyright © 2003 por Enéas do Nascimento Araújo

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A Mensagem de Apocalipse é a culminação da Revelação Cristã como um todo. Olha a consumação da História. Da Humanidade. Para o cristão é um livro de esperança. Todo o mal deste mundo passará, pois a Nova Jerusalém, onde habitaremos com o Messias-Cristo, não haverá separação, nem morte, nem luto, nem lágrimas, nem dor, nem noite, nem maldição. Apenas a presença radiante de Cristo, o Sol da Justiça, nosso Redentor!

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SUMÁRIO 01 – Introdução ao Apocalipse 6 Introdução 7 I – A Revelação do Apocalipse 16 II – As Bem-aventuranças do Apocalipse 19 Conclusão 21 02 – A Primeira Visão: Jesus Cristo, o Senhor das Igrejas 22 Introdução 23 I – Preâmbulo da Primeira Visão na Ilha de Patmos 23 II – A Primeira Visão: O Arrebatamento 26 III – A Primeira Visão: Os Sete Candeeiros e o Filho do Homem 30 IV – A Primeira Visão: A Ordem para escrever e primeira explicação 32 Conclusão 34 03 – Cartas às Sete Igrejas da Ásia 36 Introdução 38 I - A Igreja em Éfeso: Fiel mas sem o primeiro amor 39 II – A Igreja em Esmirna: Espiritualmente rica 43 III – A Igreja em Pérgamo: Igreja Leal e Fiel 45 IV – A Igreja em Tiatira: Operosidade Crescente 48 V – A Igreja em Sardes: A Igreja Modorrenta 52 VI – A Igreja em Filadélfia: Uma Pequena Grande Igreja 55 VII – A Igreja em Laodicéia: A Igreja Auto-Suficiente 57 Conclusão 60 04 – A Visão do Trono de Deus e do Cristo Glorificado 62 Introdução 63 I – A Visão do Trono de Deus 64 II – A Esperança da Humanidade: O Cordeiro de Deus 67 Conclusão 72 05 – A Revelação dos Seis Primeiros Selos 74 Introdução 75 I – A Abertura dos Quatro Primeiros Selos: Os Cavalos e os Cavaleiros 76 II – A Abertura do Quinto Selo: Os Santos Martirizados 78 III – A Abertura do Sexto Selo: O Julgamento Final de Deus 79 IV – O Suprimento de Deus para os Redimidos 81 Conclusão 83 06 – Abertura do Sétimo Selo e as Sete Trombetas 85 Introdução 87 I – Abertura do Sétimo Selo 87 II – O Soar das Seis Primeiras Trombetas 89 III – A Visão do Livrinho Aberto 94 IV – As Duas Testemunhas 96 V – O Toque da Sétima Trombeta 99 Conclusão 100

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07 – A Visão da Luta entre o bem e o Mal 102 Introdução 103 I – A Visão da Mulher e do Dragão 104 II – As duas Bestas 106 III – Visões e Consolo 110 Conclusão 114 08 – A Visão das Taças e das Pragas 116 Introdução 117 I – A Preparação para o Derramamento das taças 118 II – O Juízo das Sete Taças 120 Conclusão 129 09 – O Fim de Babilônia 130 Introdução 132 I – A Visão da Grande Prostituta Montada na Besta 133 II – A Visão da Queda de Babilônia e as Lamentações sobre a Terra 140 III – Alegria e Triunfo no Céu pela queda de Babilônia 144 Conclusão 147 10 – A Vitória Final do Cordeiro e o Juízo Final 149 Introdução 151 I – A Vitória de Cristo sobre a Besta e o Falso Profeta 152 II – A Vitória Completa de Cristo sobre Satanás 155 III – O Juízo Final 161 Conclusão 163 11 – O Novo Céu, a Nova Terá e Admoestações Finais 165 Introdução 167 I – A Descrição do Novo Céu e da Nova Terra 168 II – Advertências e Promessas Finais 180 Conclusão 186 Bibliografia 188

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 01

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO APOCALIPSE Texto bíblico: Apocalipse 1 Texto áureo: “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem

as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apocalipse 1. 3).

INTRODUÇÃO 1. Título do livro – No original não constava, mas baseado no primeiro versículo, “Revelação de Jesus Cristo”, posteriormente colocou-se Apocalipse de João. Apocalipse significa literalmente, revelar, descerrar, tirar o véu. A revelação não é de João, é de Jesus Cristo. 2. Literatura Apocalíptica – Havia entre os judeus um tipo de literatura semelhante, a que os eruditos modernos passaram a chamar de literatura apocalíptica. Características deste tipo de literatura. Duas diferenças básicas com o Apocalipse de João: não eram proféticos; eram anônimas, usando nomes de vultos do passado, como o livro de Enoque, Assunção de Moisés, Os Segredos de Enoque, O livro de Baruque, O livro do quarto Esdras, etc. 3. Métodos de interpretação - Há diversos métodos de se interpretar o Apocalipse. Isto fez com que surgissem vários sistemas escatológicos. Em cada sistema há variações. Os principais podem ser resumidos em: Preterista, Histórico Progressista, Futurista (entre os quais encontramos os futuristas históricos e os dispensacionalistas) e o Idealista ou Simbólico. 4. Propósito do livro – Dar ânimo e fortalecer os crentes da Ásia Menor no meio das aflições e perseguições, desvendando o futuro e mostrando que o Reino de Cristo é vitorioso. Primariamente serviu para os cristãos da Ásia Menor e extensivamente a todos os cristãos de todos os séculos até a volta do Senhor. 5. Autoria – No livro é identificado como o servo João, companheiro dos leitores em suas aflições no reino e na perseverança em Jesus. Cremos é o apóstolo João, mas há correntes apresentando os diferentes “Joãos”. 6. Data – Apesar das diferentes datas sugeridas, a melhor data parece ser entre os anos 95 e 96 da nossa era. 7. Circunstâncias históricas em que o livro foi escrito – Na Ásia Menor havia perseguição localizada pelas autoridades romanas e início da perseguição de caráter geral. As religiões lícitas e ilícitas. A adoração dos imperadores a partir de Nero. A escolha entre o Senhor César e o Senhor Jesus. 8. Destinatários – Crentes e igrejas da Ásia Menor. 9. A estrutura do Apocalipse - O capítulo 1 é introdutório, com a revelação de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, enviando a Sua mensagem aos crentes da Ásia Menor. Cap. 2 e 3 – cartas às igrejas. Cap. 5 a 22 a revelação em si. 10. Uma palavra introdutória sobre os símbolos em geral e aos números em particular. 11. Nota final da introdução geral ao Apocalipse de João. I. A relevância do Apocalipse – Apocalipse 1. 1 - 2 1. A revelação é de Jesus Cristo – 1.1 a 2. O Apocalipse foi escrito para benefício de todos os cristãos – 1.1a 3. Esta revelação foi para mostrar as coisas que brevemente devem acontecer – 1.1b 4. Mensageiros desta relevante revelação – 1.1b - 2 II. As bem-aventuranças do Apocalipse – 1. 3 CONCLUSÃO

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ESTUDO N º 01 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO APOCALIPSE

Texto bíblico: Apocalipse 1 Texto áureo: “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem

as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apoc. 1. 3)

INTRODUÇÃO 1. Título do livro - Comecemos nossas observações pelo título dado ao livro. Como acontece com muitos outros livros da Bíblia, o título Apocalipse de João não é parte original do livro, mas foi colocado, já no começo de sua circulação, derivando de 1.1. “Apokalupsis Iesou Kristou...doulou autou Iwanne” ou seja “Revelação de Jesus Cristo ... ao seu servo João” . O termo grego apokalupsis tem diversos significados: revelar, retirar, remover completamente, descerrar, tirar fora, do mesmo modo que nas inaugurações de placas comemorativas, estátuas, retratos, removendo totalmente o pano em que estão envolvidos a fim de que se veja aquilo que estava oculto até então. A palavra grega Apokalupsis é composta de duas outras: a preposição apo com o sentido de afastado, distante e o substantivo kalupsis que significa remoção, retirada, revelação, descobrimento. O sentido mais simples da palavra é descobrir o que está encoberto, como usado em Lucas 12. 2: “Mas nada há encoberto (sunkalupto), que não haja de ser descoberto (apokalupto); nem oculto, que não haja de ser conhecido.” Estes termos ou seus correlatos aparecem em outros textos do Novo Testamento como em I Cor. 1.7; II Tes. 1.7. No Novo Testamento a palavra apokalupsis geralmente tem uma conotação religiosa, no sentido especial de revelação sobrenatural de verdades divinas desconhecidas aos homens e impossíveis de serem descobertas por eles mesmos (Romanos 16.25, Gálatas 1.12). Ainda que não estando no título original, nas primeiras versões da Bíblia constava Revelação de João e depois simplesmente a transliteração do termo grego: Apokalupsis. O título real, de acordo com as primeiras palavras do livro, deveria ser Revelação de Jesus Cristo ou Apocalipse de Jesus Cristo. 2. Literatura apocalíptica - Na literatura judaica havia também um tipo de literatura semelhante, chamadas pelos eruditos modernos de literatura apocalíptica. Este tipo de literatura era produzido, de um modo geral, em épocas de opressão e perseguição para encorajar aqueles que sofriam pela sua fé. As características principais desta literatura são: (1) Fervorosa esperança nas épocas de perseguição, em que se sente um intenso desespero com relação às circunstâncias do momento, mas fé profunda de que Deus, em futuro breve, intervirá, trazendo livramento e vitória. (2) O emprego de linguagem simbólica, sonhos e visões. O uso de figuras simbólicas era comum no Antigo Testamento, especialmente nos livros de Daniel, Ezequiel e Zacarias, ainda que estes símbolos muitas vezes não signifiquem as mesmas coisas. O uso de símbolos prevalece ainda nos dias de hoje. A cruz simboliza o Cristianismo, bem como a figura do peixe, simboliza os cristãos primitivos. A foice e o martelo simbolizam o comunismo. Os países são representados figuradamente por símbolos: a águia simboliza os Estados Unidos; o leão, o Império Britânico; o urso, a Rússia. O problema dos símbolos é que, nem sempre, as gerações posteriores sabem o significado destes símbolos. Os símbolos usados pelos escritores apocalípticos, de um modo geral, ficavam bem claros para os leitores amigos, mas enigmas para os perseguidores. No caso do livro do Apocalipse, cremos que os cristãos primitivos entendiam o significado dos símbolos usados, alguns dos quais nós também reconhecemos, mas de outros, o significado foi perdido com o passar dos tempos. Por isso a sua interpretação torna-se difícil ou mesmo incerta. Por esta razão devemos acautelar-nos para não sermos dogmáticos em nossas interpretações. (3) A introdução de potestades dos ares: celestes e demoníacas, como mensageiros e agentes das forças do bem ou do mal. Os agentes celestiais traziam a mensagem da garantia do reino de Deus. (4) Predição de um livramento

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sobrenatural para os fiéis e terrível castigo para os ímpios. (5) De um modo geral, os autores dos livros apocalípticos escondiam-se atrás de um pseudônimo, usando nomes de vultos relevantes da história bíblica, como Enoque, Moisés, Esdras. Neste último ponto, o livro de Apocalipse de João, não se esconde, mas apresenta o seu nome com clareza, dando a entender que era conhecido pelos seus leitores a quem se dirigia. Ainda há outras diferenças entre os livros apocalípticos judaicos e o de João: (1) Eles eram pseudo-profetas, isto é, eles se colocavam como fossem no passado e então, reescrevem a história, como se fosse profecia, pelo uso de símbolos. João não faz isto. Ele se coloca no tempo presente, no próprio dia em que está, e olha para o futuro, para a consumação do propósito redentor de Deus. (2) Os autores apocalípticos judaicos tendiam a ser pessimista no presente, perdendo a esperança na atuação de Deus na História, considerando-a sob a influência maligna de espíritos satânicos. Toda a esperança deles é direcionada para o futuro. João, ao contrário, não se mostra pessimista, pois crê que o futuro depende do que Deus fez na História em seus dias, a obra redentora de Cristo. Da obra redentora do Leão de Judá, que é o Cordeiro de Deus que foi morto, a vitória final será alcançada. A História é o palco da redenção. Somente Jesus Cristo, que foi crucificado, que morreu e venceu a morte, pode resolver o enigma da História. Assim, João reflete o caráter profético do livro, enquanto os autores apocalípticos judaicos não apresentam esse caráter profético. Outra observação interessante é que, apesar de o Apocalipse estar repleto de alusões verbais ao Antigo Testamento, não há uma só citação semelhante dos escritos apocalípticos judaicos. 3. Métodos de interpretação – Os diferentes métodos de interpretação do livro do Apocalipse fizeram surgir vários sistemas escatológicos. Cada autor sintetiza estes vários sistemas ou métodos de interpretação de um modo. Por exemplo, Ray Summers, em seu excelente livro: Digno é o Cordeiro, apresenta-os em cinco métodos: o Futurista, da Continuidade-História, da Filosofia da História, Preterista e Da Formação Histórica (págs. 52 – 74). Russel P. Shedd, em A Escatologia do Novo Testamento, agrupa-os em quatro escolas de interpretação: A Preterista, Histórica-contínua, Idealista ou Espiritual e Futurista (págs. 39 – 40). George Ladd, em Apocalipse, introdução e comentário, unifica todas as correntes de interpretações em quatro grupos: Método Preterista, Método Histórico, Método Idealista e Método Futurista (págs. 10 – 12). R. N. Champlin, em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 6, apresenta os métodos de interpretações do livro segundo cinco pontos de vista: Preterista, Histórico, Futurista, Simbólica ou Mística e Eclética (págs. 362 – 363). O autor de Pontos Salientes, do ano de 1983, agrupa as diversas correntes em três sistemas: o Sistema Preterista, o Sistema Histórico Progressita e o Sistema Futurista. Há outros autores que apresentam métodos semelhantes ou com pequenas modificações. Estamos citando esta diversificação dos métodos de interpretação apenas para que tenhamos idéia das dificuldades encontradas para a interpretação do Apocalipse. Sem distinguir os vários autores, vamos sintetizar o que se entende pelas várias escolas de interpretação. (1) Interpretação Preterista – De um modo geral, com pequenas variações, defende que quase todas as profecias escatológicas já foram cumpridas nos primeiros séculos da Era Cristã, no conflito entre o Império Romano pagão e o Cristianismo. Para os preteristas o Milênio começou quando Cristo, após sua missão terrena, subiu aos céus e assentou-se à direita de Deus Pai (“Foi me dada toda autoridade no céu e na terra” - Mat. 28. 18). Poucas profecias restam para ser cumpridas. Por esta interpretação os “mil anos” de Apoc. 20. 2 – 4 não são literais, mas simbolizam o período iniciado com a primeira vinda, quando Jesus Cristo fundou um reino espiritual neste mundo e que jamais pode ser destruído ( Daniel 2. 35, 44). As igrejas são agências promocionais deste reino até a segunda vinda de Cristo, quando se dará a consumação do mundo presente. Esta posição é expressa no chamado Credo Apostólico: “Subiu aos céus, está assentado à mão direita de Deus Pai, donde há de vir julgar os vivos e os mortos”. “Interpretado nesta linha, o Apocalipse expressa as esperanças dos cristãos primitivos da Ásia: que eles em breve seriam libertados dos seus sofrimentos sob o domínio dos romanos. Do ponto de vista preterista a Roma imperial era a besta do capítulo 13 e a classe sacerdotal asiática,

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que incentivava o culto a Roma, era o falso profeta. A igreja estaria ameaçada de extinção virtual, em face das perseguições que estavam às portas, e João escreveu para fortalecer a fé dos crentes, pois, mesmo com a perseguição iminente, Deus interviria, Cristo voltaria, Roma seria destruída e o Reino de Deus seria logo estabelecido. Claro que Cristo não veio, Roma não foi derrubada e o Reino de Deus não foi estabelecido. Mas predições proféticas não fazem parte da literatura apocalíptica. O livro cumpriu seu propósito de fortalecer e encorajar a igreja do primeiro século. Para os que querem defender o Apocalipse como um livro profético, este ponto de vista é inadequado” ( George Ladd, Apocalipse, pág.11). (2) – Interpretação Histórico Progressista – É o método de interpretação que atribui aos símbolos do Apocalipse fatos históricos relacionados com a história do mundo através dos séculos até a volta de Cristo. Deste modo o Apocalipse é a História pré-escrita. A base de toda a interpretação começa com o livro de Daniel, em que atribuem um ano a cada dia profético, como as 2.300 tardes e manhãs (Daniel 8. 14), os 1.290 e 1.335 dias (Daniel 12.11,12) ou “a um tempo, dois tempos e metade de um tempo” de Daniel 12.7 significando 1.260 anos. O cálculo correto desses anos proféticos assinala algum acontecimento notável na história do Cristianismo. As sete igrejas da Ásia Menor, dos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, representam estágios na história do Cristianismo A Igreja de Éfeso representaria as igrejas do período apostólico até o ano 100; a igreja de Esmirna, era de perseguições até 316; a igreja de Pérgamo, a era do favor imperial, de 316 – 500; a igreja de Tiatira , era negra da História, de 500 a 1500; a igreja de Sardes, o tempo da Reforma, 1500 a 1.700; a igreja de Filadélfia, era das missões modernas de 1.700 – 1900 e a igreja de Laodicéia, a era da igreja apóstata, a partir de 1900. Os sete selos, as sete trombetas, as sete taças e as sete condenações, seriam referências à queda do Império Romano pagão, depois a do Império Romano Ocidental, pela invasão das tribos bárbaras (godos, vândalos, etc), culminando na formação da Igreja Católica Romana – como a segunda besta, e o Papa como anticristo. Este sistema surgiu com a Reforma Protestante, tornando-se muito popular, atingindo o seu apogeu nos fins da primeira metade do século dezenove, quando Guilherme Miller, baseado nas 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8.14, marcou a volta de Cristo e o fim do mundo para 22 de outubro de 1844. Como este cálculo profético de Miller falhou, o sistema começou a declinar. O único grupo, que ainda defende com ardor este sistema, é o dos Adventistas do Sétimo dia, que explicam que o santuário a ser purificado, não era aqui na terra, mas nos céus e que na data assinalado acima.. Jesus iniciou o Juízo Investigativo, para voltar assim que este juízo estiver concluído. (3) Interpretação Futurista – Segundo este sistema tudo que está escrito a partir do capítulo 4 de Apocalipse está para se cumprir ainda, e a maioria das profecias há de se cumprir dentro de sete anos após o arrebatamento da igreja. Este sistema surgiu há pouco mais de um século e meio. Mesmo entre os futuristas encontramos dois grupos: os dispensacionalistas e os pré-milenistas clássicos. Os dispensacionalistas dividem a história bíblica em sete dispensações: 1ª O homem em inocência – Adão e Eva no Paraíso; 2ª O homem sob a consciência – da expulsão do Jardim do Éden até o dilúvio; 3ª O homem em autoridade sobre a terra: do dilúvio até a confusão de línguas; 4ª O homem sob a Lei da escravidão até a crucificação de Jesus Cristo; 6ª O homem sob a graça – da crucificação até a volta de Cristo e 7ª O homem sob o Reino Pessoal de Cristo – o milênio. Só após isto começaria o reino eterno, num novo céu e numa nova terra. As sete igrejas da Ásia representam para eles sete épocas sucessivas da história da igreja, expressas em símbolos.

Já, segundo os pré-milenistas clássicos, o interesse máximo de Deus não é mais com a Sua igreja, mas especialmente com o povo de Israel. Segundo eles ainda, Jesus veio para estabelecer o Seu reino, que seria um império político judaico. Este império deveria dominar o mundo inteiro, mas como os judeus rejeitaram a Cristo, o milênio foi adiado para a Sua segunda vinda, e a igreja introduzida como um parêntese para que Deus possa operar com o povo de Israel. Eles interpretam a profecia das setenta semanas de Daniel 9.24-27, como sendo 490 anos (70 x 7) e não 490 dias. As primeiras 69 semanas de anos terminaram com a crucificação de Jesus Cristo. Com a rejeição de Jesus Cristo, Deus fez o relógio escatológico parar a fim de estabelecer a igreja, realidade não prevista pelos profetas do Antigo Testamento – e que só no final o relógio escatológico será

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reativado, para completar a semana que falta. Dizem que a igreja é o “mistério” revelado a Paulo e aos demais escritores do Novo Testamento (Efésios 3, Col. 1, Romanos 16.25-27). Terminado período da graça, a igreja será arrebatada por Cristo. Virá, então a última semana, que serão os sete anos da grande tribulação. Segundo estes pré-milenistas, a partir daí, ocorrerá: “ (1) Israel, a nação judaica, estará no centro do plano divino para a humanidade. Restaurada para a terra (Palestina), Israel reconstruirá o templo e restabelecerá os sacrifícios levíticos exigidos pela lei Mosaica. (2) Poder político internacional será exercido pelo governador satânico (chamado o Anticristo, a Besta ou o Homem da Iniqüidade ( I João 4.3; Apoc. 13; II Tes. 2.3). (3) O cristianismo apóstata unindo o Catolicismo, a Igreja Ortodoxa, e o Modernismo protestante; chamada a Meretriz, se aliará com o Anticristo (Apoc. 17) e prosperará através da união adúltera durante um tempo. (4) O pecado aumentará entre os homens e chegará a uma profundidade e intensidade jamais vistas a não ser talvez na época do Dilúvio. (5) A ira de Deus será derramada sobre a terra numa série de julgamentos cataclísmicos. (6) Quando a besta (Anticristo) romper com a nação israelita, provocará uma crise internacional que atingirá seu auge na guerra de Armagedom” (citado por Russel P. Shedd, op. cit., pág. 13). No final destes sete anos de tribulação, ocorrerá a volta de Jesus Cristo com todos os salvos, a chamada parousia. Após a parousia o reino do Anticristo será destruído e Cristo passará a reinar sobre a terra, cumprindo todas as profecias do Antigo Testamento. Passados mil anos, segundo Apocalipse 20.1-6, Satanás será solto da sua prisão, iniciará uma breve revolta com os moradores da terra não regenerados, mas ele será esmagado. Virá então o julgamento final (Apoc. 20.11-15). Os mortos não salvos serão ressuscitados para serem julgados segundo suas obras. Os santos, judeus e cristãos, gozarão eternamente na nova terra. Nem todos os pré-milenistas concordam em todos os pormenores, havendo diferenças em alguns pontos.

(4) Interpretação Idealista – Os que interpretam segundo este método evitam o problema de ter de encontrar cumprimento histórico para os símbolos do Apocalipse, vendo no livro somente um quadro simbólico do conflito cósmico espiritual entre o reino de Deus e os poderes satânicos. A besta é o mal satânico em qualquer forma que ele tome para oprimir o povo de Deus. A interpretação idealista mantém que os símbolos não podem ser identificados como acontecimentos históricos no passado ou no futuro. Este método chama a atenção do leitor para a verdade ética e espiritual do Apocalipse em lugar dos aspectos discutíveis do seu símbolo. Assim tende a reduzir o valor desse simbolismo como veículo de profecia.

Como conclusão desta sucinta análise das correntes de interpretações escatológicas,

podemos ver em quase todas as teorias pontos positivos e negativos. A verdadeira chave da interpretação do Apocalipse não se encontra em qualquer uma destas teorias, por maiores que sejam os seus méritos. A verdadeira chave encontra-se na estrutura do próprio livro ao apresentar a pessoa de Jesus Cristo. As primeiras palavras do Apocalipse são: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer...” (Apoc. 1.1a). Este título indica que o tema central é a pessoa de Jesus Cristo ao revelar o futuro. A expressão: “Revelação de Jesus Cristo” gramaticalmente, no grego, pode receber duas interpretações diferentes: como genitivo objetivo ou subjetivo. Como genitivo objetivo o sentido é que João recebeu uma revelação de Jesus Cristo, que é o objeto e o conteúdo da revelação. Neste sentido o Apocalipse é um descortinar da pessoa de Jesus Cristo conforme relacionada com o futuro. Portanto, os acontecimentos revelados a João são devidos, unicamente, ao senhorio de Cristo no mundo. Se tomarmos como genitivo subjetivo, o objeto da revelação é “as coisas que em breve devem acontecer”, revelação esta dada por intermédio de Jesus Cristo. Neste sentido o tópico principal é o programa do futuro dado por intermédio de Cristo. As duas interpretações são gramaticalmente possíveis e ambas dão a Cristo o lugar central no livro.

Também precisamos ter em mente que qualquer interpretação correta do Apocalipse precisa tomar em consideração que o livro foi escrito, em primeira instância para os crentes contemporâneos de João, que viviam diante de um quadro hostil e enfrentavam perseguições. O seu mundo parecia sombrio e todo coberto de densas nuvens. Parecia que as forças contrárias estavam

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vencendo. O livro foi escrito como encorajamento e certeza da vitória final de Cristo. A mensagem do Apocalipse teria pouca importância para os primeiros leitores, se as profecias se referissem apenas ao que iria ocorrer muitos séculos mais tarde. Como acontece com outras mensagens do Novo Testamento, por exemplo, as epístolas, que foram escritas à luz de circunstâncias e problemas existentes naqueles dias, ainda hoje, são atuais, mesmo que as circunstâncias e os problemas sejam outros. O mesmo acontece com a mensagem do Apocalipse. O Apocalipse foi inspirado por Deus e escrito às sete igrejas da Ásia Menor, para prepará-las a enfrentarem os seus problemas, mas ainda, tem aplicação a nós, cristãos do século XXI. A mesma mensagem de encorajamento e otimismo serve para nós, com a certeza inabalável de que a vitória de Cristo e nossa é algo que acontecerá. O mundo pode ser coberto de nuvens para nós, mas, sabemos, pela revelação do Apocalipse, que as forças do mal não hão de triunfar. O Reino de Deus que começou a ser implantado com a primeira vinda de Cristo a este mundo, continuará a sua marcha vitoriosa, apesar das adversidades e das perseguições e finalmente todos os propósitos de Deus serão cumpridos. O Reino de Deus vencerá todas as forças do mal.

4. Propósito do livro de Apocalipse – No parágrafo anterior deixamos transparecer qual era

o propósito prático do autor. Apenas mais um pequeno reforço. O propósito de João era apresentar Jesus Cristo como eternamente vitorioso sobre as condições temporais. Com isto ele queria encorajar os cristãos, seus contemporâneos e de todos os séculos até a volta do Senhor. Ele desejava que as igrejas e os crentes se resguardassem da impureza do mundo e das heresias. Queria assegurar-lhes a vitória do Cristianismo, apesar das aflições e perseguições que tivessem de passar. O Cristo em quem eles criam, como foi morto, mas venceu, continuaria Sua marcha vitoriosa até o fim. “A visão do Cristo triunfante sobre a perseguição e a morte, reinando no céu, e olhando constantemente pelos seus santos e mártires é uma garantia certa do triunfo de todos os crentes na terra e no céu. O retrato do Cristo é majestoso. Ele é o Cordeiro que foi morto, o Leão da tribo de Judá, a Palavra de Deus, o vitorioso adorado no céu igualmente com o Pai. Ele é a luz e a vida do homem. O livro inspira gratidão, confiança e esperança nos perseguidos de todas as épocas” (A. R. Crabtree, Introdução ao Estudo do Novo Testamento, pág. 381).

Mesmo ele, João, estava no exílio, quando recebeu esta Revelação de Jesus Cristo, mas permanecia confiante na vitória do Senhor Jesus Cristo. Tendo recebido esta revelação, escreveu-a para fortalecer a fé no Salvador e preparar os seus leitores para suportar a perseguição e a morte, se necessário fosse, com coragem e heroísmo, por amor de Jesus.

5. Autoria – Ainda que o livro traga o nome de João como seu autor, ele apenas identifica-

se como “servo João” em 1.1. No v. 9, ele se identifica como “Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. Como no Apocalipse não há identificação de quem é este servo João, tem-se discutido muito quem seria ele. Alguns afirmam que foi obra de um presbítero João, outros que foi João Marcos e ainda outros que foi um dos discípulos de Jesus. A tradição afirma que foi o apóstolo João, filho de Zebedeu quem o escreveu. Nós também, sem reserva alguma, afirmamos que o seu autor deve ser o apóstolo João. Os que não aceitam esta autoria levantam duas questões principais: primeiro, se o livro foi escrito entre 95 e 96 D.C., o apóstolo já estaria bem idoso ou talvez tivesse falecido. Irineu declara que o apóstolo viveu até o tempo do imperador Trajano, vivendo pelo menos até o ano 98 da nossa era. A idade não é problema para que escrevesse o livro de Apocalipse, se homens como Bernard Shaw, que aos 92 anos, escreveu o seu drama Farfeched Fables; Albert Schweitzer, que aos 89 anos dirigia o seu hospital na África e Eamon de Valera, que aos 91 anos ainda era presidente da Irlanda. E por que então, João em sua velhice não poderia receber e registrar as visões contidas no livro do Apocalipse? Uma segunda objeção que fazem é quanto à diferença do grego usado no livro do Apocalipse e no Evangelho. O grego do Evangelho é mais refinado, enquanto que o do Apocalipse, não só é mais pobre, mas também contém incorreções gramaticais. Se tivermos em mente que,

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geralmente os apóstolos usavam copistas para escrever o que ditavam, podemos encontrar a diferença no escriturário, um mais culto do que o outro. Além disso, tem-se considerado a natureza diferente dos dois livros. João poderia ter usado intencionalmente solecismos1 a fim de expressar mais vigorosamente a sua idéia. Há quem defenda que os solecismos nem sempre denotam ignorância das regras gramaticais, mesmo porque, em partes do Apocalipse, o autor observa com exatidão as mesmas regras da linguagem e em outras partes não. Quanto à diferença de estilo apontado também por alguns, devemos observar que a diferença nas circunstâncias, assunto e motivo podem explicar esta diferença. Arrebatado pelas gloriosas visões não teve tanto cuidado com o estilo quanto nos escritos anteriores.

6. Data em que o livro foi escrito – Há também discussão quanto à data em que o

Apocalipse foi escrito. A data mais provável é que foi no período do imperador romano Domiciano, próximo ao final do seu reinado. Ele reinou de 81 a 96 d.C. Há os que querem datar o livro no período do reinado de Nero (54 a 68 d.C.), o que é muito pouco provável e outros, no reinado de Vespasiano (69–79 d.C.). Todas as circunstâncias apontam para o período de Domiciano, provavelmente no ano 95 ou 96 da era cristã.

7. Circunstância histórica em que o livro foi escrito – A perseguição aos cristãos, por

parte dos romanos, começou lentamente e em determinadas províncias. Só mais tarde torna-se generalizada. Em Éfeso, os cristãos, já no tempo de João, tiveram problemas por causa do decreto consular, proibindo a pregação e testemunho de Jesus. Muitos cristãos já tinham sido martirizados e havia ameaças de perseguição e prisões. João foi exilado na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus (Apoc. 1.9). Patmos é uma pequena ilha situada no mar Egeu, não muito distante das costas da Ásia Menor. É uma ilha rochosa e semi-árida. Os romanos usavam esta ilha para banir criminosos civis ou políticos daquela região. A tradição diz que o apóstolo João foi levado para lá no ano 95 e liberado 18 meses depois, voltando para Éfeso.

O livro de Apocalipse foi escrito num período em que havia perseguições localizadas e iminência de uma perseguição geral. Segundo Paulo Orósio, um historiador do quinto século, houve dez perseguições aos cristãos, de caráter quase universais em seu alcance, promovidas por: Nero (64 d.C.); Domiciano (95 d.C.); Trajano (112 d.C.); Marco Aurélio (117 d.C.); Sétimo Severo (fim do segundo século); Maximino (235 d.C.); Décio (250 d.C.); Valeriano (257 d.C.), Aureliano e Diocleciano (303 d.C.).

O Império Romano, até certo ponto, tinha tolerância religiosa para com os povos vencidos. Havia o que chamavam de religião lícita. Cada povo podia manter a sua religião. Concedia também, ao povo conquistado, o direito de colocar uma imagem do deus dele no Panteão dos Deuses, se o desejasse. O que não considerava legal era fazer prosélitos. O Cristianismo no princípio era considerado por Roma, como uma facção do Judaísmo e por isso era considerada religião lícita. Quando Roma percebeu que o Cristianismo não era a mesma coisa que o Judaísmo e que o objetivo do Cristianismo era conquistar outros para a sua religião, passou a considerá-lo religião ilícita. Ainda há um outro ponto que deve ser considerado. Os imperadores romanos, desde o governo de Nero, consideravam-se como deuses e exigiam adoração dos seus súditos. A causa principal da perseguição aos cristãos passa a ser por este motivo. Os romanos queriam obrigar os cristãos a dar ao César o lugar de Jesus Cristo. Nero e Domiciano foram os mais terríveis. Eles levaram ao martírio milhares de crentes fiéis. Eles queriam que os cristãos dissessem: “Kurios Kaiser”, mas os cristãos preferiam morrer a negar o verdadeiro Kurios Iesous” ou “Kurios Kristos”. Policarpo, discípulo de João, já com mais de oitenta anos, apesar da simpatia que despertou nos seus algozes, foi martirizado porque, quando lhe diziam que repetisse Kurios Kaeser, dizia: Kurios Iesous. Dizia ele: Como posso negar a Cristo que tem sido fiel durante toda a minha vida? Só Cristo é o Senhor! Outra causa da perseguição é que para os cristãos o principal

1 Mudança gramatical de uma língua para outra.

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era o Reino de Deus e para os romanos o Estado. Por outro lado considerava o Cristianismo uma religião exclusivista. Os cristãos recusavam-se a participar da vida social e dos costumes pagãos. Recusavam-se a freqüentar os templos de ídolos e de terem os seus deuses em casa. Que bela lição para nós hoje: não importa sermos considerados exclusivistas, pelo fato de não comungarmos com o mundo e seus costumes imorais. Nós não somos perseguidos por não aceitar e participar da vida social mundana, mas, muitas vezes para sermos agradáveis à sociedade, acabamos adotando usos e linguagem não condizentes com a fé cristã. Sem nos delongar muito mais neste aspecto, eles eram considerados pelos romanos na conta de indesejáveis fanáticos por causa do entusiasmo que tinham por sua religião. Por estas e algumas outras razões a sentença do governo imperial de Roma era que “esse grupo sedicioso de religiosos devia ser destruído para se poder salvaguardar a estabilidade e integridade do Império”.

Ao lado desta ameaça externa, havia outra forma de perigo, que surgia no seio das igrejas, na forma de perniciosas heresias. Havia a heresia dos gnósticos, unida às do judaísmo, e que se expressava praticamente pelo antinomianismo (ética religiosa que dispensa a consideração das leis morais). Tudo isso vinha produzindo confusão, controvérsias e dissensões, destruindo o companheirismo e ameaçava mesmo destruir a solidez da cristandade. “Para se compreender e bem apreciar o livro do Apocalipse, devemos ter isto sempre na lembrança. Haverá, no futuro, alguma esperança, quando os cristãos se vêem exilados, martirizados, destituídos de todas as suas propriedades, só pelo fato de não renegar a religião, e quando heresias internas ameaçam aplicar um golpe mortal na cristandade? O livro de Apocalipse é a resposta a esta pergunta” (Ray Summer, Digno é o Cordeiro, pág. 129).

8. Destinatários – Quando falamos em destinatários, estamos referindo-nos aos

destinatários originais. O livro, escrito por inspiração divina, foi reconhecido como canônico no concílio de Laodicéia, cerca de 360 e novamente reafirmado pelo terceiro concílio de Cartago em 397. O Apocalipse destina-se a todos os cristãos de todas as eras, mas os destinatários originais foram as sete igrejas da Ásia (Apoc. 1.4). Deixamos para falar nestas igrejas ao considerar as sete cartas que lhes são enviadas. No entanto, o livro na sua íntegra foi destinado primeiramente a todos os crentes da Ásia.

9. A estrutura do Apocalipse – Há vários modos de encarar a estrutura do Apocalipse.

Uma delas vê o livro dividido em duas partes principais: a primeira divisão indo dos capítulos 1 a 11 e a segunda dos capítulos 12 a 22. Há aqueles que pensam que esta segunda parte constitui um segundo livro e que apresenta a mensagem do “livro pequeno” que aparece no capítulo 10.1–11. Os que assim pensam, dizem que esta segunda parte é a mensagem que João devia anunciar a outros povos, nações, línguas e reis: “Então me disseram: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, nações, línguas e reis” (Apoc. 10.11). Notamos também que a partir do capítulo 12 há uma mudança no ritmo do livro. A ação torna-se muito mais rápida, crescendo de intensidade até chegar ao clímax da vitória nos últimos capítulos.

Outros autores pensam que o livro deve ser dividido em sete partes além da introdução e conclusão. Moulton apresenta a divisão em sete partes: o trono, os selos, as trombetas, o triunfo, as taças, a Palavra de Deus e a Nova Jerusalém, além do prólogo e epílogo. Já H. E. Dana, em seu estudo das Epístolas e Apocalipse de João, apresenta outra divisão em sete episódios referentes aos símbolos que sugerem, além do Prólogo e Epílogo, Majestade, Julgamento, Aviso, Conflito, Retribuição, Consumação e Destino. Depois divide os seis primeiros episódios em sete partes cada um e o último episódio em duas partes (os maus e os remidos).

George Ladd vê a estrutura do Apocalipse para uma análise com uma introdução (cap. 1), quatro séries de sete: sete cartas (2-3), sete selos (5.1–8.1), sete trombetas (6.2–11.19) e sete flagelos (15.1–16.21) e uma conclusão com o julgamento de Babilônia, a civilização apóstata, o triunfo e a consumação final do Reino de Deus e a descida da Jerusalém celestial (17 – 22). Nas quatro séries de sete estão intercalados diversos interlúdios que interrompem brevemente o fluxo da

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narrativa, mas que não pertencem a nenhuma série de setes. Ladd ainda apresenta a estrutura literária do Apocalipse formado de quatro visões, cada uma delas iniciada com o convite feito a João: “Vem e vê” o que Deus quer revelar: 1.9, 4.1, 17.1 e 21.9.

Ray Summers, em seu livro: Digno é o Cordeiro divide o Apocalipse tendo como figura central a pessoa de Jesus Cristo, o Cordeiro, que foi morto mas que ainda vive. A sua argumentação prende-se ao fato de que desde o início do Apocalipse, a ação é toda ocupada por Cristo, apresentado como o Cordeiro de Deus. Ele é o vulto central e através dEle é que o povo de Deus alcança a vitória. As divisões que apresenta são: 1. Introdução (1.1–8); 2. O Cordeiro (1.9–20); 3. O Cordeiro e as Igrejas (2.1–3.22). 4. O Cordeiro e o Livro Selado (4.1–5.14); 5. O Cordeiro Abre os Selos (6.1–11.19); 6. O Cordeiro e o Conflito (12.1–20.10); 7. O Cordeiro e o Destino Eterno (20.11–22.5) e 8. Conclusão (22.6–11). Em nosso estudo estaremos seguindo esta divisão como orientação geral para as nossas lições.

10. Uma palavra introdutória sobre o emprego de símbolos – Já falamos que uma das

características dos livros apocalípticos é o uso de símbolos. Antes de entrarmos no estudo propriamente dito do Apocalipse, desejamos dar mais alguns esclarecimentos sobre a matéria. Os escritores apocalípticos desenvolveram um elaborado sistema de símbolos secretos e de figuras de linguagem para expressarem suas idéias espirituais. O simbolismo é um sistema no qual as qualidades, as idéias, os princípios, aparecem representadas por coisas concretas. Para os iniciados neste sistema, tais símbolos têm um significado, mas para quem não conhece estes termos constitui-se um enigma. Ainda hoje, em várias classes e especialmente entre os marginais temos uma linguagem quase ininteligível para quem não conhece a terminologia deles. Os escritores apocalípticos, vivendo num meio que lhes era hostil, elaboraram um sistema de símbolos e códigos que passaram a usar para que suas mensagens não fossem compreendidas pelos inimigos. Eles empregavam este meio para comunicar seus pensamentos àqueles que estavam familiarizados com esse sistema. Há símbolos cujos significados são claros, mas há outros que dão lugar a interpretações variadas. Nessa interpretação não devemos ser dogmáticos. A interpretação dos símbolos deve obedecer a mesma regra da interpretação das parábolas: descobrir a verdade central e não querer achar um significado especial para cada pormenor.

No emprego dos símbolos, merece destaque especial, o simbolismo dos números, conforme nos sugere Wishart em seu livro The Book of Day. Os orientais sempre tiveram um fascínio muito grande pelo significado íntimo dos números. Na linguagem primitiva em que havia pobreza de vocabulário, os homens usavam os número da mesma forma que nós usamos as palavras hoje em dia. Números, muitas vezes, lembravam determinadas idéias. O número 1 dava idéia de unidade ou de existência independente. Este número não aparece simbolicamente no Apocalipse. O número 2 por associação de idéias veio a significar fortaleza, confirmação, coragem e energia dobrada, partindo da idéia de que o homem só, na vida primitiva, tendo outro ao seu lado ganhava coragem no companheirismo. Dois podem resistir e vencer melhor do que um sozinho (ver Eclesiastes 4. 9 – 12). Assim podemos ver o significado simbólico de Jesus enviar seus discípulos de dois em dois. Duas testemunhas confirmam a verdade. No livro do Apocalipse a verdade de Deus é confirmada por duas testemunhas (cap. 11) O número 3 pelo fato do homem encontrar em seu lar primitivo o amor paterno, o amor materno e amor filial, achou um reflexo de Deus na influência recíproca do amor, da bondade e do afeto dentro de sua família, e por isso começou a pensar no número 3 como um símbolo divino. O número 4 tornou-se um número cósmico pelo fato do homem ao olhar ao seu redor ver quatro confins: norte, sul, leste oeste. Para o homem antigo o mundo era uma vasta superfície rasa com os quatro confins citados. Por isso os ventos vinham dos quatro cantos da terra. Assim temos em Apoc. 7.1 os quatro anjos, nos quatro cantos da terra, segurando os quatro ventos. O número quatro aparece em vários outros lugares do Apocalipse: quatro seres viventes (4.6), os quatro cavaleiros (6.2–8). O mundo em que os homens vivem, trabalham e morrem era simbolizado pelo número 4. O simbolismo do número 5, deve ter vindo do fato do homem olhando para si mesmo, ao ver 5 dedos em cada mão e 5 em cada pé, pensar na perfeição humana. Naqueles

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tempos primitivos (como hoje acontece em alguns países da África) havia muita gente mutilada e aleijada por acidentes e guerras. Quem tinha todos os dedos era perfeito. Assim, o número 5, cujo dobro é 10, passou a ser o símbolo da perfeição humana. Vemos que os mandamentos se resumem em 10. No Apocalipse o poder absoluto de governo é simbolizado por um animal de 10 chifres (Apoc. 17.12). O dragão vermelho (Apoc. 12 3), a besta que subiu do mar (Apoc. 13.1), cada um tinha 10 chifres. O número 10, dobro de 5 (perfeição humana), aparece multiplicado por outros números: 70 significa um número muito sagrado, 1000 (10 elevado a terceira potência) simboliza a perfeição elevada à ultima potência ou “a última completo de tudo”. Depois, quando o homem começou a analisar e combinar os números, foi criando outros símbolos. O número 7 - Somando o número 4, número do mundo perfeito, com o 3, número da perfeição divina, obteve o 7, que passou a ser o número mais sagrados para os judeus. Assim o 7 significa a perfeição, ou completo, pela união da terra com o céu. Este número aparece inúmeras vezes no livro de Apocalipse; as sete igrejas, as sete cartas, as sete trombetas, os sete flagelos, os sete espíritos, os sete castiçais, as sete estrelas, etc. O número 6 não alcançando o 7, número sagrado da perfeição, significa falha, queda, derrota. Traz a idéia da ruína ou idéia do azar do 13 para os dias de hoje. O número 10 já vimos que, sendo dobro de 5, indica a perfeição humana também. O número 12 resulta da multiplicação do 4 por 3. Para o judeu tornou-se o símbolo da religião organizada no mundo. Doze eram as tribos de Israel, doze os apóstolos, doze as portas da Nova Jerusalém. O 12 ao quadrado multiplicado por 1000, dá 144.000. Este número aparece duas vezes no livro do Apocalipse. Este número indicava a certeza do número perfeito dos que foram selados, para que eles fossem livres do flagelo que atingiria a humanidade inteira (7.3–4) e de igual modo o número perfeito dos que foram remidos por Cristo (14.1). Considerando a divisão, como o número 7 indicava perfeição, se fosse divido pelo meio, passaria a indicar a imperfeição, alguma coisa incompleta. Este é o simbolismo de 3 e meio. Assim 3,5 simboliza anseios profundos ainda não satisfeitos, aspirações não realizadas. O três e meio aparece já no livro de Daniel e no livro do Apocalipse. Deste modo três anos e meio, quarenta e dois meses, mil duzentos e sessenta dias, simbolizam a mesma coisa. No Apocalipse as duas testemunhas pregaram três anos e meio (11.2,3), permaneceram mortos na praça por três dias e meio, quando são ressuscitados (11.11); a mulher perseguida pelo dragão e que deu à luz, ficou abrigada no deserto mil duzentos e sessenta dias (12.6). Este número três e meio, ou o seu equivalente, significa o indefinido, o incompleto, o não satisfeito, mas sempre com a idéia da esperança, da expectação de um dia melhor.

Com este breve sumário sobre a simbologia dos números podemos perceber que os números que aparecem no livro do Apocalipse não podem ser tomados em seu real valor numérico. São símbolos. Por isso não podemos querer marcar épocas, dispensações, tanto do passado, como do presente.

Além do simbolismo dos números, temos no Apocalipse um grande número de outras figuras de linguagem. Objetos, animais, aves, pessoas, cidades, armas, fenômenos da natureza, pedras preciosas, etc., são, muitas vezes, usadas simbolicamente. Temos que distinguir, em nossa interpretação, o que é usado no seu sentido literal e o que é usado simbolicamente.

Na interpretação dos símbolos devemos apreender a mensagem principal do autor e não querer encontrar um significado em cada detalhe. Precisamos ter em mente que uma das características dos escritores apocalípticos é o uso do elemento dramático. Um dos propósitos da literatura apocalíptica é deixar bem viva e convincente a verdade a ser apresentada. Por isso as figuras são apresentadas cheias de vivacidade para impressionar profundamente os leitores. Podemos notar esta característica em muitas visões e figuras apresentadas no Apocalipse. “Impressiona mais vividamente, e também mais dramaticamente, o leitor por meio de símbolos grotescos e terríficos. Rios de sangue; pedras de granizo que pesam cem libras; um dragão tão enorme que com uma só rabanada põe abaixo um terço das estrelas; a Morte cavalgando um cavalo, com o Túmulo que lhe vem atrás; uma mulher, vestida pela lua e tendo o sol por seu escabelo; animais com várias cabeças e chifres; um dragão que faz sair de sua boca um rio de águas para destruir uma mulher que voa pelo ar; um dragão, um animal, e um falso profeta, cada um deles

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vomitando uma rã que se agrega a um exército – tudo isto é simbólico; mas, são mais do que meros símbolos. São símbolos exagerados para efeito dramático. Discerne-se a significação da figura, encarando-a em sua larga perspectiva como um todo, e não buscando o significado de cada pormenor. Não nos devemos interessar tanto pelo ator a ponto de nos esquecermos do enredo e do seu significado”.

“Este escorço2 das características da literatura apocalíptica nos ajuda a ver logo que não estamos lidando com uma literatura comum e que não podemos por isso empregar os métodos comuns de interpretação. Esta literatura foi preparada para revelar uma mensagem. E tal mensagem só se aclarará para nós quando interpretarmos devidamente os símbolos em sua relação com a formação do livro, e quando estendermos a mensagem de tais símbolos para aqueles que primeiro receberam esse livro. O significado que têm para aqueles, é o mesmo para nós. Portanto, urge encontrar esse significado para tornar útil o livro para os nossos dias” (Ray Summers, op. cit. págs. 49, 50).

11. Nota final desta introdução geral ao Apocalipse de João – Algumas observações de

caráter geral. O Apocalipse é o único livro da Bíblia que, logo no seu início, traz a uma bem-aventurança para quem o lê ou ouve as palavras desta profecia e guarda as coisas que nela estão escritas. É uma graciosa promessa de bênção. O Apocalipse é também o único livro que no seu final traz uma séria advertência para os que fizerem subtrações ou acréscimos às palavras que nele estão escritas. Uma terceira observação é que a origem de toda a história da humanidade, a origem de todas as coisas, está no primeiro livro da Bíblia: Gênesis. Ali é o começo de tudo. No livro de Apocalipse, o último livro da Bíblia, temos o fim e o alvo de tudo. Gênesis fala da criação do sol, no Apocalipse fala de que no final não haverá necessidade do sol, pois Deus alumiará tudo. Gênesis fala da entrada do pecado no mundo, da proclamação da maldição por causa do pecado, da exclusão da árvore da vida. Apocalipse fala da vitória sobre o pecado, da sua inexistência no novo céu e na nova terra, da derrota completa de Satanás, da árvore da vida para a saúde das nações. Enfim, enquanto no livro de Gênesis temos o início da história da humanidade e a causa de todos os seus sofrimentos; no Apocalipse encontramos a consumação de toda a obra de Deus e Seu plano, o clímax e resultado de todas as suas dispensações e tratos com o homem. No Apocalipse temos o cumprimento final de todas as promessas divinas. Por todas estas razões a mensagem do livro de Apocalipse é de supremo valor. I. A RELEVÂNCIA DO APOCALIPSE (Apocalipse 1.1-2)

Logo nas primeiras palavras do Apocalipse encontramos o seu imensurável valor. “Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João” (Almeida). “Neste livro estão escritas as coisas que Jesus Cristo revelou. Deus lhe deu esta revelação para mostrar aos seus servos o que acontecerá logo. Cristo enviou o seu anjo para que o seu servo João soubesse destas coisas” (BLH). A relevância do livro aparece logo no primeiro versículo pelo fato da revelação de Jesus Cristo, ser revelação de Deus dada a Jesus Cristo para mostrar aos seus servos as coisas que logo acontecerão. A mensagem do Apocalipse é de suma importância porque vem de Deus para os seus servos. Deus contemplava (como contempla hoje) a situação vivida pelos seus servos. Ele vê não apenas os aspectos exteriores, mas também interiores. Ele sabe dos problemas e dificuldades enfrentadas pelos seus servos. Ele conhece tudo. Sabe do estado de ânimo de cada servo e dos servos em geral. A situação histórica vivida pelos servos na Ásia Menor no final do primeiro século era difícil, como difícil também foi também para cristãos nos anos e séculos seguintes durante as terríveis perseguições romanas, não Lhe era desconhecida.

2 Desenho representativo e proporções menores.

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A situação histórica nossa no Brasil, em que não há perseguição externa, mas ataques terríveis do inimigo para neutralizar nossa fé e entusiasmo, como também dos cristãos verdadeiros em outras partes do mundo atual, em que há perseguições terríveis, são do Seu conhecimento. Para isso trouxe a revelação, o descortinar sobre a pessoa de Jesus Cristo e o desvendamento do futuro vitorioso para fortalecer os ânimos e encorajar na fidelidade e luta contra o mal. Inicialmente aos cristãos do final do primeiro século e depois aos cristãos de todas as gerações até o final dos tempos.

1. A revelação é de Jesus Cristo – Como já observamos na introdução geral, o título que temos em nossas Bíblias, O Apocalipse de João, foi acrescentado depois. Apocalipse, como vimos, significa desvendamento, descerramento, revelação de algo que estava oculto. Esta revelação não é humana, é divina. João foi apenas o elemento humano usado por Deus para trazer a revelação ao conhecimento dos homens. A revelação parte de Deus Pai, usando o único Mediador, que há entre Ele e os homens, Jesus Cristo (I Tim. 2.5), é entregue por meio de um anjo a João, para que ele – João – a transmitisse aos homens. Usando uma linguagem moderna e não bíblica, diríamos que, João era o repórter a quem Jesus fez a revelação. João a escreveu, mas a revelação é de Jesus Cristo. O título deveria ser: Apocalipse de Jesus Cristo. Jesus Cristo é tanto o revelador, como o revelado nas páginas do livro do Apocalipse. Jesus Cristo é desvendado e descoberto aos olhos humanos. Como teremos ocasião de estudar, Ele é apresentado como o princípio e o fim de todas as coisas. Ele é a garantia da nossa vitória presente, futura e final. 2. O Apocalipse foi escrito para benefício de todos os cristãos – O livro não foi escrito apenas para os cristãos da Ásia Menor que viveram nos fins do primeiro século da era cristã. A dedicatória do livro vem no versículo quatro, mas já no primeiro versículo vemos que a mensagem do Apocalipse é “aos seus servos”. Não os condiciona ao tempo e espaço geográfico. A revelação do livro é “a revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer”. A mensagem do Apocalipse é para todos, assim como a mensagem de Lucas e Atos, que apesar de dedicados a Teófilo, é para todas as gerações. Todos os livros da Bíblia têm mensagens para cada um de nós, desde Gênesis até o Apocalipse. Devemos ler o livro do Apocalipse, sabendo que foi escrito para o nosso benefício, e mais ainda – como veremos logo a seguir – ele é o único livro do Novo Testamento que tem a promessa de bem-aventurança para quem ler, ouvir e guardar as cosias que nele estão escritos (v. 3). 3. Esta revelação de Jesus Cristo foi para mostrar as coisas que brevemente devem acontecer – Na introdução geral discutimos os diversos métodos de interpretação. De acordo com o método adotado, vem a interpretação “do brevemente devem acontecer”. A revelação que Jesus veio trazer por meio de João aos seus servos é o desvendamento das “coisas que devem acontecer muito em breve”. A natureza do Reino de Deus não pode conhecer o que é a derrota. A João, exilado na ilha de Patmos, bem como aos cristãos que passavam por momentos terríveis, poderia parecer que o Reino de Deus estava a ponto de ser quase destruído, se não houvesse uma intervenção divina em breve. A mensagem de Jesus é que Deus vem vindo para redimir o seu povo. Na expressão “brevemente devem acontecer” o verbo é impessoal, e assim denota que está implícita uma necessidade moral. As coisas reveladas devem acontecer dentro de pouco tempo. Ainda que saibamos que o tempo de Deus não é o nosso tempo, como Jesus mesmo disse a seus irmãos carnais (João 7.6). Para os cristãos daquele tempo havia necessidade da certeza de que algo deveria acontecer em breve. Muitas coisas preditas no Apocalipse já foram cumpridas e certamente ainda muitas outras vão se cumprir no futuro. Há uma observação importante a se fazer com relação à expressão “as coisas que em breve devem acontecer” comparadas com a revelação de Daniel. A revelação dada a Daniel era para o que haveria de acontecer “nos últimos dias” (Daniel 2.28). A revelação de Jesus Cristo a João é das “coisas que em breve devem acontecer”. Os crentes primitivos acreditavam que o início da era cristã era também o início dos “últimos dias” referidos no livro de Daniel. Isto nos leva a pensar que os eventos preditos para um futuro distante por

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Daniel, nos dias apostólicos, eram tidos como tendo um cumprimento breve. “Neste contexto podemos entender melhor a expressão “o tempo está próximo” (1.3 f). Tempo para quê?, poderíamos perguntar. Tempo para o início do fim e dos eventos relacionados? Tempo para o início de uma longa série de acontecimentos que eventualmente anunciarão o fim do mundo? Tempo para alguma tribulação imediata ou perseguição que será um tipo de presságio do fim? Não é dito a João, de imediato, a que a expressão se refere. “Mas, é digno de nota, o que Daniel tinha em mente quando falou dos eventos que haveriam de ocorrer nos últimos dias. A profecia de Daniel estava baseada em um sonho de Nabucodonozor no qual havia sido mostrado ao rei, em forma de uma grande estátua, a sucessão dos impérios mundiais, começando com o seu. De acordo com a profecia, nos dias do último daqueles impérios mundiais ‘o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído’ (Daniel 2.44). E João viu a chegada dos últimos dias. O estabelecimento do reino de Deus foi iniciado com a vinda de Cristo, e a promessa feita por Daniel de que ‘esse reino não passará para outro povo: esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre’ (Daniel 2.44), começou também a ser cumprida. O cumprimento de profecias é um processo e não algo que vem de imediato; é um processo muitas vezes prolongado, não súbito, como podemos observar apesar dos eventos, que levam ao clímax, moverem-se bastante rápido. O processo que leva ao clímax ocupa toda a era da pregação do Evangelho, indo da inauguração do reino ( Apoc. 12.10) até o seu triunfo final ( Apoc. 11.15). Se o que Daniel previu para os últimos dias é o que o anjo está trazendo para João, então o tempo está, de fato, próximo. Ao chegar a carta aos destinatários, nas igrejas da Ásia, eles poderão afirmar que ‘estas coisas estão, de fato, acontecendo agora’. É esta a característica imediata dos escritos de João que sempre cativou os leitores mais dedicados. Portanto, o Apocalipse pode revelar, hoje, no século XXI, a realidade presente do conflito existente entre o reino deste mundo e o reino do nosso Senhor.” (Michael Wilcock, A Mensagem de Apocalipse, págs. 12, 13). 4. Mensageiros desta relevante revelação – 1.1b-2 – A fonte da revelação é Deus Pai, que é o grande autenticador. Jesus Cristo é o Mediador de Deus junto aos homens, sendo também a segurança dos homens. O Seu anjo é o instrumento divino para trazer a revelação da João. O instrumento humano é Seu servo remido, João. João por sua vez deveria testificar da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, de tudo quanto lhe foi revelado através da visão que teve na ilha de Patmos. Frisamos, portanto, que a revelação não é de João. Ele é o repórter que a tudo viu, a quem tudo foi revelado, para que, com toda a fidelidade, narrasse aos servos de Jesus Cristo que estavam na terra naqueles dias e às gerações sucessivas até a volta de Cristo. Aqui João, identifica-se como agente humano, o servo. No v. 9 ele vai identificar-se melhor, como um contemporâneo dos seus leitores, companheiro das mesmas aflições e perseverante em Jesus, relatando naquela ocasião a causa do seu degredo3.

No v. 2 João confirma que ele testificou da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, enfim de tudo quanto viu. Concluímos com isso que a Revelação não é especulação humana; é, na verdade, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. Destacamos apenas como informação que a palavra testemunho usada no grego é marturian. O sentido primário da palavra é testemunho, mas como muitas testemunhas de Jesus Cristo acabaram sendo mortas por causa da sua fé, o termo acabou tendo a conotação atual de martírio (testemunha que é morta ou martirizada). No sentido primário o mártir é simplesmente aquele que dá o testemunho.

3 Exílio

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II. AS BEM-AVENTURANÇAS DO APOCALIPSE (Apocalipse 1.3)

Logo no início do Apocalipse encontramos a primeira promessa de bênção para o que lê, ouve e guarda as palavras que estão escritas neste livro. A palavra grega é makarios, a mesma usada por Jesus nas Beatitudes em Mateus 5 e corresponde à palavra hebraica usada no Salmo Primeiro, quando descreve a felicidade do homem justo. Basicamente a palavra significa felicidade física e da boa sorte, mas o Novo Testamento elevou o sentido da palavra para o bem-estar espiritual, dando-lhe uma conotação de felicidade pelo fato da pessoa estar bem em sua vida interior. É uma felicidade interior que não depende das circunstâncias externas.

É o que podíamos chamar de felicidade divina concedida aos remidos. É bom observar que na Bíblia temos dezenas de bem-aventuranças. Curioso é que, sendo o número sete, o número mais sagrado para os judeus, o número da perfeição (completo), o número de bem-aventuranças no livro do Apocalipse é sete: 1:3 – “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta

profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” 14:13 – “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito,

para que descansem dos seus trabalhos, pois a suas obras os acompanham.” 16:15 – “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se

veja a sua nudez.” 19:9 – “Bem-aventurados aqueles que são convidados à ceia das bodas do Cordeiro, e já a sua

noiva se preparou.” 20:6 – “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não

tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele durante mil anos.”

22:7 – “Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.” 22:14 – “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro para que

tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” O livro do Apocalipse promete bem-aventurança na sua abertura para aquele que lê, ouve e guarda as palavras de sua profecia. No decorrer de todo o livro há outras preciosas bem-aventuranças e termina com a bem-aventurança daquele que lava as suas vestiduras no sangue do Cordeiro e possa ter direito de entrar na cidade celestial pelas portas. Não vamos comentar cada uma das bem-aventuranças nesta lição, pois, cada uma delas será estudada no contexto em que aparece, mas chamamos a atenção para o fato de que há estas sete bem-aventuranças no livro do Apocalipse. Devemos observar que João ao escrever a bem-aventurança de 1.3 tinha diante dos seus olhos as igrejas da Ásia Menor. Naquela época os alfabetizados não eram em número tão grande quanto hoje e cada crente não teria uma cópia do Apocalipse para ler. No melhor das hipóteses podemos imaginar uma cópia para cada igreja. Muitas vezes uma cópia era levada de uma cidade para outra (ou de uma igreja para outra) a fim de ser lida. Daí a razão do apóstolo dizer: “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia...” Poucos tinham o privilégio de ler. De um modo geral o obreiro (pastor, missionário ou evangelista) lia e a congregação ouvia. Devemos lembrar também que, além da escassez de livros (que eram manuscritos), o Cânon do Novo Testamento ainda não estava formado. Quando os crentes da Ásia recebessem esta mensagem, eles seriam os primeiros a ouvirem esta Revelação que Jesus Cristo estava fazendo-lhes através do Seu servo João. Eles tiveram a bênção e o privilégio de receberem-na em primeira mão. Só depois as outras igrejas do final do primeiro século e igrejas dos séculos seguintes teriam acesso ao Apocalipse. Nós hoje temos a bênção de ter não apenas o livro do

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Apocalipse, mas toda a Bíblia, tanto o Antigo Testamento, como o Novo. Na maior parte dos nossos lares, cada crente tem um ou mais de um exemplar da Bíblia.

Lembramos, no entanto, que ainda hoje, há povos que não têm a Bíblia traduzida em sua própria língua. Noutros países há escassez de Bíblias pelos motivos mais diversos, entre eles pela proibição religiosa. Há missionários e pastores que arriscam a vida para distribuírem a Bíblia Sagrada.

A promessa de bênção é, portanto, para aquele que lê ou para aqueles que ouvem, mas o texto mostra que não basta ler ou ouvir. Para que sejamos alcançados pela bem-aventurança é necessário guardar as palavras desta profecia. O ler e ouvir dão o conhecimento intelectual, mas este conhecimento sem a observância do seu ensino tem pouco valor. Jesus Cristo no final do Sermão do Monte deixou isto muito claro: quem ouve e não pratica é como quem edifica a casa sobre a areia. Quem ouve e pratica é como aquele que edifica a casa sobre a Rocha (Mateus 7.24–27). Para ter a bem-aventurança prometida é preciso guardar os ensinamentos do Apocalipse. Jesus reforça esta idéia no final de cada carta enviada às sete igrejas da Ásia: “Quem tem ouvidos, ouça o que Espírito diz às igrejas”. De nada adianta ouvir e não atender. Ouvir neste contexto significa atender, obedecer, observar.

Além da bem-aventurança em si, havia uma razão especial para os crentes daqueles dias atenderem: “porque o tempo está próximo” A palavra grega traduzida por tempo é Kairós. Que significa um tempo fixo ou definido, um tempo favorável, também chamado por alguns “o tempo de Deus”. Com isto o apóstolo reafirma que a mensagem é um desvendamento dos acontecimentos que dentro em breve se desenrolariam. Com isto não queria dizer que todos os acontecimentos e pormenores haveriam de acontecer imediatamente. Muitas profecias do Apocalipse foram cumpridas e outras ainda serão. Deste modo, há a mesma necessidade de nós também lermos, ouvirmos e guardarmos as profecias do Apocalipse porque “o tempo está próximo”. Se tivermos em mente que “o tempo de Deus” não é o nosso “tempo cronológico”, e que “um ano para Deus é como mil anos e mil anos como um dia” (II Pedro 3.8), devemos cada vez mais ser dedicados e consagrados a Ele. Tudo pode acontecer em pouco tempo e repentinamente. Cabe a nós, servos de Cristo, estar vigilantes, tendo nossas vidas pautadas nos ensinamentos bíblicos e não nos amoldando de modo algum ao mundo presente. Se assim não vivermos, podemos ser apanhados de surpresa. A João não foi revelado o espaço de tempo que decorreria entre o início da libertação dos cristãos daquelas perseguições e a consumação final. Eles precisavam saber que logo teriam libertação e teriam a vitória completa em Cristo. A nós também, não é feita esta revelação. Nós não temos necessidade premente de saber. O que temos é a curiosidade natural, o desejo humano de saber tudo que for possível. Deus nos traz as revelações necessárias, mas o tempo de cada acontecimento não é de nossa competência. É por esta razão que Jesus disse aos seus apóstolos pouco antes de subir ao céu, quando eles estavam também ansiosos por saber quando o Reino de Deus seria estabelecido definitivamente: “A vós não compete saber os tempos ou épocas, que o Pai reservou à Sua própria autoridade” (Atos 1.7). Hoje, como em séculos passados, homens gastam tempo tentando desvendar os pormenores das profecias de Daniel, das que Jesus fez, dos ensinos de Paulo, do Apocalipse, fazendo cálculos, organogramas de cada época e período até o final, como se fosse possível ao homem saber os “tempos e épocas que o Pai tem reservado à Sua própria autoridade”. A nós compete estudar os ensinamentos claros da Palavra de Deus, meditar e integrar estes ensinamentos ao nosso viver diário. Compete-nos também ser suas testemunhas fiéis, pela nossa maneira de viver e agir e também pelo evangelismo pessoal. No “tempo de Deus” tudo se cumprirá, como Ele tem planejado. O mundo jaz no Maligno, o mundo cada vez mais se afasta das verdades do Evangelho, mas devemos ter em mente, que Deus está no governo, na direção da História da Humanidade. Ele usa tudo e todos os meios para o cumprimento de Suas promessas. Como tudo caminhou para a plenitude dos tempos, na primeira vinda de Jesus Cristo, assim também agora tudo está encaminhando para a volta gloriosa de Cristo Jesus a este mundo.

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CONCLUSÃO

O Apocalipse é um livro que desperta muita curiosidade nos seus leitores. Apesar de muitos

acharem que o Apocalipse é um livro fechado, impossível de ser entendido, esperam que alguém possa interpretá-lo em todos os seus pormenores. Em tudo isso há alguns equívocos. O próprio título Apocalipse, que significa revelação, tirar o véu ou descerrar, contradiz a idéia de que é um livro fechado. Há belas e oportunas mensagens para todos os tempos. A mensagem principal é o triunfo de Jesus Cristo sobre todas as forças do mal e do pecado. O livro é uma mensagem para todo o crente que se acha em lutas e dificuldades, anunciando a libertação da aflição e da dor no tempo determinado por Deus. Os crentes são convidados a erguerem a cabeça, olharam para o alto e verem que Deus continua no trono e que o mundo marcha para consumação final, em que a nossa vitória é certa e que por fim o reino de Deus será definitivamente vitorioso.

Devemos destacar também que no Apocalipse há muita coisa de fácil entendimento e de grande utilidade para a vida de todos os crentes. Logo no primeiro capítulo a certeza de Cristo está vivo e voltará triunfalmente do céu, ocasião em que todos os olhos O contemplarão, mesmo os que o traspassaram. Para os crentes será momento de júbilo, mas para os incrédulos, dia de lamentação profunda. Nos capítulos 3 e 4 temos a certeza de que Cristo está presente na vida das Suas igrejas, conhecendo não só as aparências, mas o interior de cada uma. Vale a pena servi-Lo, mesmo que não sejamos reconhecidos ou compreendidos pelos homens. Lição para as igrejas quanto à fidelidade e serviço, pois o Senhor traz o galardão e a censura. Nos capítulos 4 e 5 temos a linda cena da adoração a Deus e a Jesus Cristo, em que há o reconhecimento da santidade e onipotência de Deus e a dignidade do Cordeiro, que foi morto, mas ressuscitou, em receber honra, poder e glória. Enfim no decorrer do livro sentimos que a obra de Jesus Cristo não foi em vão. A Sua morte propiciou a vitória sobre o pecado e as forças satânicas. Podemos ver ainda nas páginas do Apocalipse, Jesus, como o grande capitão que comanda as hostes de Deus contra as hostes satânicas. O mal será vencido. Os reinos do mundo virão a ser do nosso Senhor e do Seu Cristo (Apoc. 11:5). O livro é encerrado com a visão gloriosa dos novos céus e da nova terra em que todo o plano de Deus para com a humanidade será concretizado, pois o mal e pecado não mais penetrarão ali. O mal será extirpado, uma vez que Satanás e seus anjos, bem como todos quantos não creram ou não vierem a crer em Cristo serão separados de uma vez para sempre e lançados na fornalha de fogo ardente.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 02 A PRIMEIRA VISÃO: JESUS CRISTO, O SENHOR DAS IGREJAS Texto bíblico: Apocalipse 1.4–20 Texto áureo: “E voltei-me para ver quem falava comigo. E, ao voltar-me, vi sete candeeiros de ouro, e no meio dos candeeiros um semelhante a Filho de Homem, vestido de uma roupa talar, e cingido à altura do peito com um cinto de ouro.” – (Apoc. 1:12-13) INTRODUÇÃO – O Apocalipse traz uma série de visões através das quais traz a revelação das coisas que em breve devem acontecer. Na primeira revelação descortinamos as sete estrelas, os sete candeeiros e a figura simbólica de Jesus Cristo. Na primeira visão descobrimos que Jesus está no meio das Suas igrejas e que é o Senhor delas. I. Preâmbulo da primeira visão – Apocalipse 1.4-8 1. Dedicatória – 1.4 a 2. Saudação – 1.4b–5b 3. Doxologia a Cristo – 1.5b-6 4. Jesus Cristo voltará – 1.7 5. O Alfa e o Ômega - 1.8 II. O arrebatamento – Apocalipse 1.9-11 1. O receptor e o transmissor da mensagem do Apocalipse – 1.9 1.1. Irmão vosso – 1.9a 1.2. Companheiro convosco – 1.9b 2. Local em que estava quando foi arrebatado em espírito – 1.9c 3. O arrebatamento foi no dia do Senhor – 1.10 4. A ordem para escrever o Apocalipse – 1.10b –11 5. Localização das igrejas III. Os sete candeeiros e o Filho do Homem – Apocalipse 1.12-18 1. Os sete candeeiros – 1.12b 2. No meio dos candeeiros: Jesus Cristo – 1.13-16 3. A reação de João diante desta visão – 1.17 4. O fortalecimento de João – 1.18 IV. A ordem para escrever e a primeira explicação dos símbolos – Apoc. 1.19-20 1. A ordem de escrever – 1.19 2. Desvendamento dos símbolos: estrelas e candeeiros – 1.20 3. Jesus Cristo é o Senhor das Igrejas CONCLUSÃO – Lições práticas para nossa vida.

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ESTUDO N° 2 – A PRIMEIRA VISÃO: JESUS CRISTO, O SENHOR DAS IGREJAS

Texto bíblico: Apocalipse 1.4–20 Texto áureo: “E voltei-me para ver quem falava comigo. E, ao voltar-me, vi sete candeeiros de ouro, e no meio dos candeeiros um semelhante a Filho de Homem, vestido de uma roupa talar, e cingido à altura do peito com um cinto de ouro.” – Apocalipse 1.12, 13 INTRODUÇÃO

Na primeira lição fizemos uma introdução geral ao estudo do Apocalipse. Vimos também o título e o assunto do livro. Na lição de hoje consideraremos a dedicatória, a chamada de João para ver, escrever num livro tudo isto e enviá-lo às sete igrejas da Ásia Menor. O livro do Apocalipse compõe-se de uma série de visões. Todas estas visões ocorreram no arrebatamento que o apóstolo João teve num dia de domingo, quando estava exilado na ilha de Patmos. Talvez lembrando com saudades dos cultos em sua igreja, estava meditando sobre as aflições por que ele e seus amados irmãos na Ásia Menor estavam passando, teve este arrebatamento espiritual. Neste arrebatamento recebeu a revelação que constitui o livro que chamamos: Apocalipse. A sua primeira visão é do Senhor Jesus Cristo glorificado. Nesta primeira visão ele vê as sete estrelas, os sete candeeiros e um semelhante a Filho de Homem. Ouve uma voz e ao ver a figura de Cristo, como ele descreve nos versículos 13 – 17 e recebe a primeira revelação com relação à visão das estrelas e dos candeeiros. O ponto central desta primeira visão de João e que será alvo do nosso estudo é: Jesus Cristo como o centro e Senhor de Suas igrejas I. PREÂMBULO DA PRIMEIRA VISÃO NA ILHA DE PATMOS (Apocalipse 1.4-8)

Os três primeiros versículos constituem o prefácio do Apocalipse, em que é apresentado o título, o assunto do livro e a bem-aventurança para quem ler, ouvir e guardar as palavras da profecia deste livro. Nos versículos 4 a 8 ainda continuamos na ante-sala das revelações que hão de seguir.

1. Dedicatória – 1.4a – Após relatar que Jesus Cristo, através de Seu anjo, trouxe-lhe a

revelação das “coisas que brevemente devem acontecer”, João dirige-se às sete igrejas que estão na Ásia antes de relatar as visões que teve e como as recebeu. Como já discutimos na primeira lição, a mensagem inicial era para estas igrejas, daí a dedicatória que o apóstolo faz. Já na dedicatória, vemos o caráter simbólico: dedicada às sete igrejas da Ásia. A Ásia do texto era a província romana, que hoje conhecemos como Ásia Menor, região da atual Turquia. O principal centro era Éfeso, mas havia muitas outras cidades importantes. Havia também muitas outras igrejas além das sete a quem João se dirige. Havia, por exemplo, a igreja de Colossos (Col. 1.2, 2.1), a igreja de Hierápolis (Col. 4.13) e Trôade (Atos 20.5) entre outras. Por que foram escolhidas sete igrejas para receberem o Apocalipse? João que trabalhou naquela região deveria conhecer outras igrejas, além das mencionadas. Deve ter havido alguma razão para que fossem escolhidas sete delas. Há certamente um sentido simbólico, a que nos reportaremos mais tarde, ainda nesta lição. Sete era o número usado para simbolizar aquilo que é completo, pleno. Mas é bom salientar que as sete igrejas eram reais, igrejas locais. Elas representam as igrejas de todos os tempos. As condições encontradas nessas igrejas, encontram-se também em outras igrejas de todos os tempos. Não há indício de que representem dispensações, ou seja sete períodos da história do Cristianismo, como já assinalamos na primeira lição. 2. Saudação – 1.4b–5b – A saudação usada por João é a usual daqueles dias: “Graça a vós e paz...”, com a diferença da parte de quem vem esta graça e paz: “ daquele que é, e que era e que há

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de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do trono; e da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra.” A ordem graça e paz é a ordem natural, porque só pode haver paz no coração do homem depois que a graça tenha realizado a sua obra. A graça é a operação redentora de Deus através de Jesus Cristo, é ato gracioso de Deus, que o homem não merece. A paz é o resultado e a condição permanente que se estabelecem no coração do remido após a operação da graça. A diferença na saudação de João no Apocalipse é por parte de quem a graça e paz são provenientes: “daquEle que é, e que era, e que há de vir”.

É o conceito de Deus típico do judeu. Na revelação de Deus a Moisés no Monte Sinai, Ele se apresenta como o Eu Sou (Êxodo 3.14). A palavra YAVEH tem em sua raiz o significado de: sou, fui e serei., aquele que vive eternamente. O desejo de graça e paz é também da parte “dos sete espíritos que estão diante do trono de Deus” É a representação característica do Espírito Santo no Apocalipse pelo fato de que sete é o número da perfeição, do que é pleno e completo. Mas o desejo é também “da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra...” Temos assim a apresentação da Trindade. Nesta declaração que é também de Jesus Cristo, João exalta a obra remidora dEle em favor do pecador: a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra”. Nesta afirmação de João podemos notar o contraste da declaração de ser Jesus o Príncipe ou Soberano dos reis da terra, com a pretensão e imposição dos imperadores romanos de receberem adoração. Os reis e imperadores temporais reivindicando o poder e a autoridade que legitimamente pertencem a Deus. A tendência de deificar e adorar os imperadores era forte. Os imperadores Júlio César, Augusto, Cláudio, Vespasiano e Tito foram declarados oficialmente como divinos pelo senado romano depois mortos e os três últimos usaram o termo divus (divino) em suas moedas. Domiciano, o imperador na época do Apocalipse, começou a exigir que o chamassem de Dominus et Deus (Senhor e Deus). Na Ásia a adoração do imperador era mais popular ainda, especialmente em Éfeso. Daí a importância da declaração de João sobre Jesus: “Príncipe dos reis da terra”. Era uma lembrança de que atrás de cada rei, imperador, presidente, há um de fato que governa, apesar de não ser visto ou reconhecido pela maioria dos homens. 3. Doxologia a Cristo – 1.5b–6 – Tendo falado da graça e paz da parte de Jesus Cristo, como a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra, o pensamento do apóstolo eleva-se num momento de adoração e louvor: “Àquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, Seu Pai, a Ele seja glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém.” João não se contém e em sua saudação faz uma doxologia a Cristo pelo amor que nos manifesta. O tempo do verbo está no presente. Ele não diz que nos amou no passado, mas que nos ama. Eles estavam sofrendo perseguições e ameaças de uma perseguição maior. Isto podia fazer parecer-lhes que o amor de Deus tinha-se obscurecido e só o mal dominava, mas o amor de Deus permanecia: Ele nos ama! Havia o acontecimento histórico, pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados. A libertação do peso do pecado, a graça e a paz que gozavam era fruto do amor de Deus. A tradução do grego poderia ser feita assim: “Ele nos libertou dos nossos pecados pelo preço do Seu sangue”. Pagar um preço tão elevado é prova de amor. Mas há mais motivos de darmos louvor, glória e reconhecermos o Seu domínio pelos séculos dos séculos: “Ele nos fez reino, sacerdotes para Deus, Seu Pai.” João deve ter pensado no que diz Êxodo 19. 6, quando Deus prometeu a Moisés após a extraordinária libertação de Israel do cativeiro egípcio, que eles seriam para Deus: “reino sacerdotal, nação santa”. Se neste versículo fica a dúvida se as igrejas ou os crentes são constituídos reino, sacerdotes para Deus, Apoc. 5. 10, deixa claro que Cristo constituiu homens para serem “reino e sacerdotes para o nosso Deus, e reinarão sobre a terra”. O povo de Deus é reino, não somente porque é formado de pessoas sobre as quais Deus reina, mas também porque estas pessoas serão participantes do reino messiânico de Cristo. Nós somos também sacerdotes. Agora não mais precisamos de um homem para nos levar a Deus, mas pelo sangue de Cristo, nós mesmos recebemos este privilégio de podermos ir diretamente a Deus. Antes eram os sacerdotes levíticos é que levavam os homens a Deus ao apresentar os sacrifícios tanto de expiação

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pelos pecados, como de ação de graças, adoração e louvor. Por este versículo podemos ver que os crentes e as igrejas cristãs é que são agora o novo Israel. Nós herdamos os privilégios espirituais que pertencia ao povo judeu, como povo de Deus no Antigo Testamento. Portanto, há razão para glorificarmos a Cristo, pois Ele nos ama, pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, fez-nos reino e sacerdotes para Deus, Seu Pai. Ele merece toda a nossa honra e domínio pelos séculos dos séculos. 4. Jesus Cristo voltará – 1.7 – Este versículo reforça o cumprimento de várias profecias, tanto do Antigo Testamento, como do Novo Testamento. Jesus mesmo predisse que isto deverá acontecer: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do Homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (Mateus 24.30). Reforça também aquilo que os anjos falaram quando Jesus subia ao céu, foi oculto pelas nuvens e os apóstolos estavam olhando: “Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (Atos 1.11). É a confirmação da visão de Daniel 7.13 combinado com Zacarias 12. 10: “Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem” “Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o espírito de graça e de súplicas. E olharão para aquele a quem traspassaram, e o pratearão como quem pranteia por seu filho único; e chorarão amargamente por ele, como quem chora pelo primogênito.” João após glorificar a Jesus Cristo afirma com toda a convicção : Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até mesmo aqueles que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentação sobre Ele. Sim. Amém” (Apoc. 1.7). Os leitores primários e nós leitores de hoje podemos ter esta convicção de que Ele vem. Não ocultamente, como alguns têm afirmado. Quando Ele vier, todos os olhos O verão, até mesmo os mortos que ressuscitados estarão de volta para o julgamento final. Até mesmo aqueles que O julgaram, condenaram e traspassaram. Para estes e para muitos outros será um dia de profunda lamentação, mas para os salvos, um dia de júbilo e de vitória. 5. O Alfa e o Ômega - 1. 8 – Antes de entrar propriamente na descrição de suas visões, João transmite a verdade que lhe foi revelada em suas visões: “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era e que há de vir, o Todo Poderoso.” Esta verdade que o Senhor é o Alfa e o Ômega aparece na visão que ele tem do novo céu e da nova terra em Apoc. 21.6. O apóstolo coloca esta verdade para reafirmar o senhorio soberano de Deus na história. Alfa e Ômega são a primeira e última letras do alfabeto grego, dizendo com isto que tudo mais se encontra entre estas letras. Deus é o começo e o fim absoluto, e por essa razão, Senhor de tudo que acontece na história da humanidade. Nada acontece sem o conhecimento e permissão de Deus. Jesus afirmou que nem mesmo um fio de cabelo cai da nossa cabeça, sem o consentimento de Deus. Ele está no comando da história. Esta afirmação não deve ser tomada como se todo o mal que ocorre na terra seja da vontade absoluta de Deus. Precisamos lembrar que há a vontade soberana de Deus e a vontade permissiva. Deus, ao criar o homem com o livre arbítrio, deu liberdade de ação ao homem (ainda que este seja responsável pelas suas ações e tenha que prestar contas). Por essa razão, quando o homem desobedeceu a Deus, foi dentro da vontade permissiva de Deus. Para ser coerente com o princípio da livre escolha dada ao homem, Deus abriu mão de obrigar o homem a fazer aquilo que Ele queria. Os homens, dominados e regidos pelo príncipe deste mundo agem contrariamente à Sua vontade soberana, mas estão dentro da vontade permissiva. Se assim não fosse, Deus não teria o controle de todas as coisas. Ele sabe perfeitamente tudo o que acontece e vai acontecer. Ele está no leme, e vai dirigindo o mundo, apesar do homem agir contrariamente a Ele, para o fim que Ele mesmo tem determinado. Ele é o Alfa e o Omega, aquele que é, era e há de vir, o Todo Poderoso. Mesmo que as nuvens sejam as mais negras possíveis na história da humanidade, podemos estar confiantes, porque Ele não é só Senhor do passado, O é do presente e da história que está por vir. Ele é o Governador de tudo. Esta poderia ser a tradução do Todo Poderoso neste versículo.

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II. A PRIMEIRA VISÃO: O ARREBATAMENTO (Apocalipse 1.9-11)

Após as partes introdutórias feitas pelo apóstolo João nos oito primeiros versículos, ele vai descrever o momento do seu arrebatamento e dar um relato da primeira visão, em que vê Jesus Cristo exaltado e glorificado, mostrando-lhe as “coisas que em breve devem acontecer”, pedindo-lhe que as escreva e as remeta às sete igrejas da Ásia. 1. O receptor e o transmissor da mensagem do Apocalipse – 1.9 – “Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.” No início do Apocalipse, João já dissera que recebeu a revelação de Jesus Cristo para transmiti-la aos outros servos. Agora vai apresentar-se e relatar as circunstâncias da sua chamada para esta tarefa especial. É digno de nota a humildade com que se apresenta. Ele evita exaltar-se a si mesmo, a despeito de suas grandes experiências místicas e da autoridade que recebeu de Jesus Cristo para ser Seu apóstolo. Também não se exalta, apesar da autoridade que Deus lhe dera na Ásia Menor. Ainda que não tenhamos relatos bíblicos, há testemunho do grande trabalho que desenvolveu ali alguns anos depois que Paulo se despediu daquela região. Ele se apresenta simplesmente como irmão vosso e companheiro vosso na aflição, no reino e na perseverança de Jesus Cristo.

2.1. Irmão vosso - Bem diferente da apresentação que muitos fazem hoje, exigindo o reconhecimento de títulos. Ele se apresenta simplesmente como irmão, Na realidade, na igreja de Jesus Cristo, todos somos irmãos, ainda que em nossas atividades seculares ou eclesiásticas exerçamos funções diferentes. Ninguém é maior ou menor diante de Deus pelo grau de cultura e pela sua posição sócio-econômica Paulo pregava que em Cristo todos somos um, em que não há maior ou menor. Ainda mais, Deus deseja que sejamos humildes em todo o nosso modo de ser e agir. João, ainda que privilegiado pelo fato de ter sido chamado para o apostolado, no apostolado fez parte do círculo de maior intimidade juntamente com Pedro e Tiago. Foi honrado por Jesus Cristo para receber a Maria, como mãe. Pôde trabalhar na Causa de Cristo por mais tempo do que todos os outros apóstolos, No entanto, mesmo sendo o último dos apóstolos ainda vivo, recebendo uma revelação extraordinária, como a que estamos estudando, apresenta-se simplesmente como irmão vosso. Esta designação irmão, era a maneira comum dos primeiros crentes, chamarem um ao outro. Os crentes de décadas passadas chamavam muito um ao outro, irmão. É bom usarmos esta terminologia porque lembra a nossa filiação comum em Cristo. Por outro lado, com este tratamento buscamos uma igualdade em Cristo. Os irmãos são iguais, não há acepção de pessoa, não há desejo de superioridade.

2.2. Companheiro convosco – Em sua apresentação, João identifica-se com os seus leitores. Não só era irmão deles, como também companheiro ou participante das mesmas aflições pelas quais eles estavam passando. A mensagem de conforto tem sentido bem maior quando é dada por alguém que está passando pela mesma situação daqueles que estão sofrendo. É muito fácil encorajar alguém quando nós não estamos vivendo o mesmo drama ou situação. Por outro lado é difícil falar daquilo que não temos experiência. Deus escolheu João, para receber a revelação e transmiti-la aos Seus servos que estavam sofrendo, porque o próprio João viveu e vivia aquele mesmo drama. Deus sempre escolhe o homem certo para as tarefas certas. João não só havia passado por perseguições, como estava sofrendo o exílio por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. João não estava sendo convocado para uma tarefa, sem ter experiência do que fosse passar por aflições. Abrindo um pequeno parênteses, devemos lembrar que Jesus nos preveniu que no mundo teríamos aflições (João 16. 33). Paulo no final da primeira viagem missionária, ao confirmar a fé dos novos convertidos deixou bem claro que “Através de muitas tribulações nos importa entrar no reino dos céus” (Atos 14. 22). João passou com eles por algumas experiências de sofrimento até que foi exilado para a ilha de Patmos, pelo fato de ser fiel ao Seu Senhor. Algumas tradições dizem que

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João foi exilado porque se colocara ao lado de Cristo, recusando-se a deixar-se envolver em adoração idólatra ao imperador. Esta tradição deve ser certa, pois o texto bíblico afirma que estava ali por causa do testemunho de Jesus. As igrejas cristãs vinham sofrendo muitas indignidades, aprisionamentos, confisco de propriedades, torturas e martírios. Poucos anos depois, Plínio, o Moço, governador da Bitínia, em sua carta ao imperador Trajano (carta escrita entre 111 – 113 d.C.) descreve as tribulações impostas aos cristãos. Como as imagens dos deuses, inclusive as do imperador eram postas em muitos locais públicos e até mesmo nos tribunais. Aos suspeitos de serem cristãos ordenavam que prestassem adoração a essas imagens. Se alguém recusasse prostrar-se e adorar essas imagens e confessasse ser discípulo de Jesus sofria condenação, desde torturas, prisões, degredo e morte. Plínio relata também em sua História Natural que a ilha de Patmos era usada como lugar de banimento. No tempo do Apocalipse, provavelmente o imperador era Domiciano, que foi chamado de “segundo Nero”. Ele era homem altivo e severo e tomava a sério suas próprias reivindicações de divindade. Ele chegou a banir e assassinar a alguns de seus parentes , que não prestavam pronta obediência. Segundo Eusébio, a sobrinha de Domiciano, Domitila, foi banida para o Ponto, e o marido dela foi executado por demonstrar simpatia para com o cristianismo ou talvez por se ter tornado cristão. Hoje, no Brasil, pela graça de Deus gozamos de ampla liberdade em todos os sentidos. Podemos crer, testemunhar, pregar, distribuir folhetos e Bíblias livremente. É bom que saibamos que isto não acontece em todos os países. Há países, especialmente naqueles em que a religião islâmica é a religião oficial, há proibições e perseguições de toda a espécie. Há países em que ser cristão, é ser discriminado. Não se pode evangelizar e distribuir Bíblias. Há regiões da Índia em que até para ser batizado é preciso uma autorização prévia das autoridades públicas. No Turcomenistão, Ásia Central, o nosso missionário está impossibilitado de realizar o seu ministério, pois a polícia o vigia a cada dia. Ele não pode visitar os membros de sua igreja, pois estes são depois chamados a depor na polícia. O seu apartamento foi confiscado várias vezes. A JMM está impossibilitada de comunicar-se com ele, pois o telefone está “grampeado”. Enfim há muitos países em que os nossos irmãos estão passando por perseguições semelhantes aos dos crentes da Ásia Menor dos dias de João.

João, não era apenas companheiro na aflição, era também companheiro no reino e na perseverança em Jesus. Os leitores de João, assim como ele, pertenciam ao reino de Deus. O reino de Deus foi implantado por Jesus Cristo no coração daqueles que O recebem como Senhor e Salvador. O reino de Deus não é um reino político e nem temporal. É um reino espiritual. É o domínio, o governo de Deus no coração daqueles que se submetem a Deus e aceitam o Seu plano de salvação. O reino de Deus já é uma realidade na vida dos salvos. Por esta razão nós temos um novo código ético como apresentado por Jesus Cristo no Sermão do Monte (Mateus 5-7). Mas é possível que João tenha usado aqui o termo reino no sentido escatológico. Neste caso, companheiro no reino de Deus que em breve será implantado definitivamente com a parousia.

João era ainda companheiro dos seus leitores na perseverança em Jesus. A palavra grega é upomone que pode ser traduzido por paciência, resistência ou perseverança. A idéia que o texto nos transmite é que João era companheiro em permanecer com sua fé firme em Jesus, mesmo nas duras provações. Companheiro na fortaleza cristã em não ceder diante das lutas por mais difíceis que elas sejam. Em comunhão com Cristo recebemos a força para permanecer firme em quaisquer condições.

2. Local em que estava quando foi arrebatado em espírito – 1.9c – Na ilha de Patmos. Já vimos na primeira lição que Patmos era uma ilha rochosa, vulcânica, com elevações de até 300 metros.que ficava no mar Egeu, a uma distância de 67 km, de Mileto (costa da Ásia Menor). Era uma ilha de 194.000 km2. Registros antigos dizem ser Patmos uma ilha destinada a presos políticos. João deve ter sido exilado para lá pela sua importância e pela influência que exercia sobre a comunidade cristã, por ser o último dos apóstolos de Jesus Cristo. Sabemos também que desde a fundação das primeiras igrejas através das colônias do Império Romano, os cristãos eram falsamente acusados de subversão política (ver, por exemplo, Atos 17.7). No tempo de Nero os

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cristãos eram tidos como adeptos de uma religião nova e – do ponto de vista romano – perigosa em potencial. No caso de João, tudo indica que ele foi acusado de subversão pelo governador da colônia da Ásia por “causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. Há uma corrente de intérpretes que afirma que João estava na ilha de Patmos para pregar a palavra de Deus e dar o testemunho de Jesus. Ainda que a simples análise do texto possa dar margem a esta interpretação, isto é muito pouco provável pelo fato de a ilha ser um local destinado aos banidos políticos. A presença de João não foi para pregar a palavra e dar o testemunho de Jesus Cristo, mas por causa da sua pregação é que foi enviado para lá. Estando lá, como apóstolo e pregador, certamente testemunhou de sua fé em Cristo.

3. Arrebatamento em espírito no dia do Senhor – 1.10 – “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor...” No Antigo Testamento temos profetas que semelhantemente foram arrebatados em espírito para receberem revelações especiais, como por exemplo Ezequiel (8. 3ss; 11. 24) que foi levado em espírito para Jerusalém e ali foi-lhe dado contemplar as abominações feitas pelos judeus no santuário. Ele viu ali a glória de Deus, que aos poucos foi afastando-se até abandonar o templo. Paulo descreve também um arrebatamento que teve: II Cor. 12.2 – 4. Ele foi “arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”. Paulo teve este arrebatamento durante o seu retiro espiritual de três anos na Arábia. João da mesma forma afirma que foi arrebatado em espírito, e os eventos do fim lhe foram revelados em visões extáticas. Ele não foi transportado em corpo, mas em “espírito”. O exílio de João na ilha de Patmos, apesar dos sofrimentos que lhe causou, teve o seu lado positivo. Se de um lado, ele sentia-se privado de sua liberdade, com saudade dos irmãos e dos cultos de adoração, por outro lado, ele podia manter-se mais concentrado em oração e estar mais receptivo à voz de Deus. Assim num destes momentos, foi “arrebatado em espírito”.

Um outro ponto digno de observação é que este arrebatamento em espírito foi no dia do Senhor. Era o dia dedicado pelos cristãos para o seu culto de adoração a Deus. É possível que João estivesse lembrando dos seus irmãos na fé, ali na Ásia Menor, desejando estar com eles, especialmente sabendo das aflições pelas quais estavam passando. Foi neste momento de meditação que teve este arrebatamento em espírito. Os comentaristas são quase unânimes em afirmar que a referência ao dia do Senhor, é ao primeiro dia da semana, o dia que os cristãos dedicavam à adoração do Senhor. Os Adventistas do Sétimo Dia, querem dar uma interpretação escatológica ao dia do Senhor, dizendo que João foi transportado para o futuro, para o fim da história para presenciar os grandes acontecimentos daquele dia. Todas as considerações que temos feito sobre o “arrebatamento em espírito” nos levam a interpretar o dia do Senhor, como sendo o domingo. Devemos ter em mente que de todos os mandamentos, apenas o quarto – o referente ao sétimo dia – não foi repetido por Jesus Cristo. Todos os outros mandamentos são repetidos diversas vezes. Não há uma só passagem do Novo Testamento indicando que os cristãos devem guardar o sétimo dia. Além disto devemos lembrar que a palavra sábado significa descanso. O descanso no judaísmo era no sétimo dia e no cristianismo é primeiro dia. Este dia foi estabelecido porque nele Jesus Cristo ressuscitou dos mortos. Nesse mesmo dia, por várias semanas, apareceu aos seus discípulos. Temos várias referências no Novo Testamento de que os primeiros cristãos se reuniam nessa dia. Em Atos 20. 7 temos a descrição de Lucas mostrando que os crentes de Trôade reuniam-se no primeiro dia da semana para partir o pão e que Paulo ali estava. Paulo em I Cor. 16.2, pede que cada crente ponha de parte no primeiro dia da semana a sua oferta conforme a sua prosperidade. E aqui em Apoc. 1.9 a referência ao dia do Senhor é ao primeiro dia semana, ou seja ao domingo. No princípio do Cristianismo foi o dia dedicado ao Senhor que fez a sua separação com o judaísmo, que observava o sétimo dia.

Ray Summers, falando sobre o arrebatamento de João diz: “Esta experiência de João foi em ‘o dia do Senhor’ – o dia de culto para o povo cristão, o domingo. Assim, no dia do culto, quando o coração de João sentia saudades daqueles cristãos que dele tinham recebido, por muitos anos, conforto e direção espiritual, e enquanto meditava nas terríveis circunstâncias que rodeavam a ele e

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a seus irmãos, e no que resultaria daquilo tudo, eis que ouviu uma voz que, em resumo, como lhe dizia: “Não podes estar junto do teu povo, mas podes mandar a eles uma mensagem; sim, uma mensagem que Eu te darei” (op. cit. pág. 146).

4. A ordem para escrever o Apocalipse – 1. 10b-11 – “e ouvi por detrás de mim uma voz, como de trombeta” (10 b). João recebe uma ordem vinda com uma voz, como de trombeta”. O que ele ia ver era da mais alta relevância, e por isso a ordem veio com uma voz potente, ao mesmo tempo triunfal. A trombeta fala de “ruído” e “poder”, anunciando feitos prodigiosos que hão de acontecer. Lemos em Números 8, sobre as duas trombetas e os toques que deveriam dar, anunciando as várias ordens. Neemias, na reconstrução dos muros de Jerusalém, quando os seus inimigos ameaçavam atacá-los.ordenou ao povo que estivesse atento ao som da trombeta. Ao ouvirem o toque da trombeta, todos deveriam reunir-se naquele local (Neemias 4.19, 20). Entre os romanos a trombeta era usada para alertar os seus exércitos, colocando-os em estado de prontidão militar. A trombeta era para arrebatar as pessoas em sua condição normal, introduzindo-o numa nova circunstância e exigências. No Novo Testamento a função da trombeta é anunciar o advento, em poder, do Cristo glorificado (ver Mat. 24.31 e I Tes. 4.16). João ouve a voz, como de trombeta. Não era ainda para anunciar o advento de Cristo glorificado, mas evidenciava o impressionante poder da pessoa divina que estava falando. João não podia deixar de colocar-se em estado de alerta e pronto a ouvir a ordem.

A ordem era esta: “O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia” (1.11). Uma nota de curiosidade: a ordem de escrever repete-se por doze vezes no livro do Apocalipse: 1.11, 19; 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14; 14.13; 19.9 e 21.5. Notamos também que em 10.4, quando João ia escrever o que as vozes dos “sete trovões” disseram, foi-lhe ordenado que não escrevesse. Uma outra observação: os livros naquele tempo eram rolos, não eram no formato dos nossos livros de hoje. Eles eram manuscritos e não impressos. Mas os livros sempre tiveram grande valor, para apresentar e preservar verdades. Os livros foram e continuam sendo poderosos meios de comunicação, em favor do bem ou do mal. Quem lê bons livros, é instruído a ser melhor e quem lê maus livros é levado a ser pior. Temos que agradecer a Deus e aos Seus servos que escreveram os 69 livros da Bíblia Sagrada.

João deveria escrever o que via as sete determinadas igrejas. Na escolha das cidades em que estavam localizadas as sete igrejas, tínhamos cidades de pequenas dimensões e de pouca importância, como Tiatira e Filadélfia, ficando de fora cidades maiores daquela área como Colossos, Hierápolis e Trôade. Por que estas cidades mencionadas no v. 11? Por que em número de sete? Certamente o Senhor tinha razões para isto. Algumas sugestões dadas pelos comentaristas bíblicos: (1) O número sete é um número místico. Temos também sete selos, sete personagens, sete juízos de taças, sete visões dos adoradores do Cordeiro e da besta... (2) Sete na simbologia numérica, é número da perfeição, da completude. Assim as sete igrejas representam as condições espirituais das igrejas cristãs em qualquer época da história. (3) Jesus tinha mensagens específicas que estas sete igrejas precisavam ouvir. (4) As cidades em que estavam localizadas estas igrejas formavam um círculo. Na simbologia o círculo é também sinal de perfeição.

5. Localização das igrejas – Elas formavam um círculo: “As cidades foram numeradas partindo de Éfeso, na direção norte, para Esmirna (sessenta e quatro quilômetros); daí par Pérgamo (oitenta quilômetros ao norte de Esmirna). Então atravessando sessenta e quatro quilômetros para sudeste, até Tiatira; descendo, então, oitenta quilômetros para Sardes; daí para Filadélfia (a quarenta e oito quilômetros de Sardes); então para Laodicéia (sessenta e quatro quilômetros de Filadélfia” (R. N. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 378).

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III. A PRIMEIRA VISÃO: OS SETE CANDEEIROS E O FILHO DO HOMEM (Apocalipse 1.12-18)

Ouvindo aquela voz poderosa, como de trombeta, João volta-se para o lado donde a voz viera para ver quem falava com ele (v. 12). A primeira coisa que avista são sete candeeiros de ouro e logo depois no meio dos candeeiros de ouro vê uma figura extraordinária, um ser semelhante ao filho do homem. Vamos considerar primeiro os candeeiros e depois a figura do filho do homem.

1. Os sete candeeiros – 1.12b – A figura dos candeeiros vem do Antigo Testamento. No santo lugar do tabernáculo (Êxodo 25.31ss) havia um único candelabro com sete lâmpadas (v. 37). Na visão que Zacarias teve, havia também um castiçal todo de ouro com sete lâmpadas (Zacarias 4. 2). Aparentemente era a representação simbólica de Israel: sete lâmpadas, mas um só castiçal, indicando um povo unido externamente (como deveria ser internamente). Na visão de João havia sete candeeiros separados, representando as sete igrejas. No Novo Testamento as igrejas não eram, como o povo de Israel, um povo unido externamente. Isto retrata igrejas locais, autônomas. Por esta razão temos insistido em nossos comentários de que é errado dizermos: “A igreja de Cristo no Brasil ou A igreja de Cristo hoje.” No conceito do Novo Testamento as igrejas são agências do Reino de Deus, congregações locais, autônomas, independentes uma das outras. A igreja local é responsável pela sua própria pureza e uso da luz de Deus, a fim de iluminar a comunidade onde se encontra. Diz Alford: “Cada igreja local tem agora o seu próprio candeeiro, a ser retido ou removido de seu lugar, segundo suas próprias obras.” Nós podemos ter, numa mesma época, igrejas com maior ou menor fidelidade ao Senhor, como estava acontecendo na Ásia Menor, conforme podemos observar pelas cartas enviadas pelo Senhor. Embora as igrejas sejam locais e autônomas, todas elas são (ou deveriam ser) ligadas a Cristo, que é o centro e elo de união entre elas. A unidade das igrejas não está na organização, mas no relacionamento com Cristo. A unidade é espiritual e não de estrutura a nível de organização entre as igrejas de Cristo. Todas as igrejas de Jesus Cristo devem trabalhar com o mesmo propósito de estender o Reino de Deus aqui na terra. Cada qual em sua localidade e por meio de um trabalho cooperativo procurar levar ao mundo inteiro a mensagem de Jesus Cristo. No entanto, cada igreja individualmente é responsável diante do Senhor pela luz que reflete ao mundo. Cada uma deve procurar edificar os seus membros numa vida de santidade e fidelidade aos ensinos do Senhor. Cada uma é responsável pela evangelização de todos os seus contemporâneos, começando pela sua localidade e estendendo-se até os confins da terra.

Nesta primeira visão de João os candeeiros representavam as igrejas, que agora são a luz do mundo. As sete estrelas representavam no céu as sete igrejas, e os sete candeeiros eram símbolo das próprias igrejas. A função destas igrejas era dar luz ao mundo (Mat. 5.14). Se um candeeiro deixasse de proporcionar a luz, e não quisesse corrigir-se para ser luz ao mundo, ele deveria ser afastado (ver 2. 5).

2. No meio dos candeeiros: Jesus Cristo – 1.13-16 - O que primeiro chamou a atenção de João foi o círculo formado pelos sete candeeiros. Depois fitando os candeeiros, viu no meio deles “um semelhante a filho de homem, vestido de uma veste talar, e cingido à altura do peito com um cinto de ouro; e a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve; e os seus olhos como chamas de fogo. E os seus pés, semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa fornalha. E a sua voz como a voz de muitas águas” (1.13-15). Lembramos que Daniel, em sua visão da vinda do Reino de Deus, viu o próprio Deus sentado em Seu trono, viu vir com as nuvens do céu um como filho de homem, e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele (Daniel 7. 13). Esta semelhança de filho de homem, veio a identificar na linguagem messiânica o Salvador celestial, que haveria de vir ao mundo. A expressão Filho do Homem foi o título preferido por Jesus para Si e para Sua missão. A referência aqui a: um semelhante a filho de homem identifica-O com

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a pessoa de Jesus Cristo. Era a descrição simbólica do Cristo sublime e triunfante. Por esta descrição simbólica de Jesus temos uma idéia de como são as descrições simbólicas de outras visões do Apocalipse.

Ray Summers condensando o pensamento de Beckwith, Dana, Hengstenberg, Richardson e Smith, assim descreve o simbolismo da pessoa de Jesus conforme a primeira visão de João: “Achava-se vestido de uma roupagem comprida até os pés e cingido com um cinto de ouro – vestes de sacerdote e de rei. Os cabelos dEle eram ‘brancos como a alva lã...brancos como a neve’ – símbolo de Sua santidade. Os olhos, penetrantes como ‘chama de fogo’ – símbolo de acurada visão, o que significa onisciência. Os pés, como ‘latão reluzente’ – símbolo de fortaleza; o latão nos dias de João era conhecido como o mais resistente dos metais. A voz dEle era ‘a voz de muitas águas’ – símbolo de Sua autoridade sobre povos e nações. (Compare-se o uso disto noutras partes do livro.) O rosto dEle tinha o brilho ‘do sol, quando resplandece em toda a sua força’, isto é, ao meio dia – símbolo de Sua majestade. Em sua forte destra tinha ‘sete estrelas’ – símbolo da sorte das igrejas entregue a seus pastores. De sua boca ‘saía uma aguda espada de dois fios’ – símbolo de julgamento esmerado e penetrante dos feitos dos homens. Ele estava em pé no meio de ‘sete castiçais de ouro’ – que simbolizam as igrejas.

“É certo que não vamos pensar seja esta a aparência literal de Cristo hoje em dia, pois que seria isso um aspecto mui grotesco. É pela significação do simbolismo que percebemos o inteiro significado da visão e a gloriosa certeza outorgada a João e aos seus companheiros de sofrimento. Eis o significado da visão – O Cristo redivivo, santo, majestoso, onisciente, cheio de autoridade, e poderoso, está de pé no meio das igrejas, tem a sorte delas em sua mão, e diz – “Não temais! Eu morri, mas vivo para sempre. E, mais que isto, tenho em minhas mãos as chaves da morte e do túmulo. Não deveis temer de ir para o lugar do qual Eu tenho a chave. Podereis ser perseguidos até à morte, mas Eu sou ainda o vosso Rei” (Ray Summers, op. cit. pág. 148).

Com esta visão simbólica de Jesus, como explicado no parágrafo anterior, aprendemos que: (1) Jesus é o Filho do Homem (Deus Homem e Homem Deus através de Sua encarnação – 1.13). (2) Jesus é Rei e Sacerdote (1.13, 16, 16) – Ele estava vestido de roupa sacerdotal e com cinto de ouro. Como Rei é Senhor de todas as coisas e tem a soberania sobre tudo e como Sacerdote está diante de Deus intercedendo por nós. O fato de estar no meio dos candeeiros, ter em Sua destra sete estrelas e o fato de ter posto a mão direita sobre João, mostram o cuidado especial que Jesus tem pelas Suas igrejas e pelos Seus servos. Ele jamais os deixa sozinhos e desamparados. (3) Jesus Cristo é um com Deus Pai, é eterno (1.14, 17, 18). A Sua figura nesta visão simbólica, com cabelos brancos, como pura lã branca, como a neve, ser o primeiro e o último, que vive pelos séculos dos séculos, O identificam como sendo um com Deus Pai, bem como pelos atributos que são exclusivos de Deus: onisciência (1.14). Onipotência (1.15, 16, 18). (4) Jesus é Glorioso (1.16). O Seu rosto era como o sol quando brilha na sua força, indica a glória, a exaltação e a majestade de Jesus, que Ele conquistou com a Sua ressurreição. Por isso podia dizer: “Eu o que vivo, fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos.”

3. A reação de João diante desta visão – 1.17 – “Quando O vi, caí a seus pés como morto; e Ele pôs sobre mim a Sua destra.” A visão era tão impressionante que João caiu ao chão como morto. Reações como esta são comuns diante da manifestação da glória divina. Podemos ver as reações de Isaías (6.5), de Ezequiel (1.28) e de Daniel (8.17; 10.9, 11). A reação de temor, de cair com o rosto em terra, de perder as forças, foi comum a todos aqueles que tiveram visões majestosas da glória de Deus. Com estas reações, podemos lembrar da verdade bíblica básica, que tantas vezes esquecemos, que só os puros de coração podem ver a Deus e viver. João viu a glória majestosa de Cristo, ainda que numa visão simbólica. Ele caiu como morto, mas Jesus pôs a sua mão direita sobre o apóstolo, dando-lhe a certeza de que nada tinha a temer.

4. O fortalecimento de João – 1.18 – Como foi dito no parágrafo anterior, Jesus veio em socorro do Seu servo João. Com o seu inefável amor, Jesus toca com a sua mão direita em João e

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diz-lhe palavras que o levantaram e fortaleceram-no: “Não temas; Eu sou primeiro e o último, e o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do hades” (v. 18). Quando Daniel numa das visões sentiu-se fraco, caindo em profundo sono, com o rosto em terra, também sentiu uma mão tocando, fazendo-o levantar-se e ouviu também as palavras: “Não temas, Daniel,...” (Daniel 10.12) O anjo, na anunciação do nascimento de Jesus Cristo, disse as mesmas palavras de conforto aos pastores atemorizados no campo: “Não temais...” (Lucas 2.10). Essa ordem sempre vem da parte de Deus para tranqüilizar e consolar os seus servos em situação de angústia e de medo. No caso específico de João além do consolo, serviu para relembrar-lhe que o Seu Senhor o conhecia e se interessava profundamente por ele. João O conhecia por experiência pessoal. Ele tinha convivido com Jesus Cristo aqui na terra por pouco mais de três anos. Tinha tanta intimidade com o Senhor que podia reclinar-se sobre os Seus ombros. Certamente estas duas palavras fortaleceram e consolaram grandemente ao apóstolo: Não temas. Jesus relembra ao apóstolo amado que Ele é o primeiro e o último, isto é, que era o próprio Deus que se humanizou e que João conhecia tão bem. Ele tinha sido morto, mas vive, pois sendo a própria vida, a morte não pôde retê-Lo. Ele sendo o princípio da vida, vive eternamente, pelos séculos dos séculos. Ele têm as chaves da morte e do hades. Na maneira dos judeus pensarem, chaves eram um símbolo de autoridade. Foi neste sentido que Jesus usou a palavra aqui e em Mateus 16.19. Ele tem autoridade sobre a própria morte, podendo abrir os túmulos. Algumas traduções no lugar de hades trazem inferno. No entanto, a transliteração como temos em nossa versão Almeida hades é melhor do que inferno, pois, em nosso conceito inferno é o lugar preparado por Deus para o diabo e seus anjos e também para os que não recebem a Jesus como Salvador. A palavra grega hades é equivalente à hebraica sheol. O hades era o mundo interino dos espíritos, daqueles que morriam. O hades tinha dois lugares separados por um grande abismo. Um lado era o seio de Abraão, o paraíso e o outro, o lugar dos ímpios, lugar de sofrimento. Jesus usou este conceito na parábola do rico e Lázaro em Lucas 12.19-31. Aqui em Apoc. 1.18, Jesus está simbolicamente dizendo a João que Ele tem toda a autoridade tanto sobre a morte, como na vida após a morte. É como Ele disse aos seus discípulos, poucos momentos antes de subir ao céu: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra” (Mateus 28.18). IV. A PRIMEIRA VISÃO: A ORDEM PARA ESCREVER E PRIMEIRA EXPLICAÇÃO (Apocalipse 1.19-20)

João assim que foi arrebatado em espírito no dia do Senhor, ouviu uma voz que lhe dizia para escrever o que estava vendo às sete igrejas da Ásia Menor. Ao voltar-se para ver quem falava com ele, teve a primeira visão simbólica das igrejas (candeeiros) e de Jesus Cristo. Ao cair aos pés de Cristo como morto, foi levantado com o toque de Jesus e pelas Suas palavras de conforto. Logo a seguir vem o seu comissionamento para escrever e recebe a explicação do simbolismo das sete estrelas e dos sete candeeiros.

1. A ordem de escrever – 1.19 - “Escreve, pois, as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de suceder.” Agora, reconfortado por Jesus Cristo, João recebe dEle pessoalmente a ordem de escrever minuciosamente as coisas que já tinha visto, as que estava vendo e as que ainda haveria de ver. Temos assim a confirmação de que o Apocalipse foi revelado a João, para que ele a escrevesse a fim de que a sua mensagem fosse preservada para nossa instrução e advertência.

2. Desvendamento dos símbolos: Estrelas e Candeeiros – 1.20 – “Eis o mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete candeeiros de ouro; as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.” Esta explicação inicial de Jesus Cristo a João é uma prova de que o Apocalipse foi dado pelo Senhor para ser lido e compreendido pelos seus

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leitores e ouvintes. Não foi escrito para ser um livro misterioso, impossível de ser compreendido pelos crentes. Na introdução ao estudo do Apocalipse discutimos a razão das dificuldades que hoje encontramos para entender melhor o Apocalipse. Uma das razões é que não conhecemos o código dos símbolos, como certamente os leitores primitivos conheciam. Segundo, porque, de um modo geral, esperamos encontrar “uma história pré-escrita de todos os acontecimentos escatológicos”, quando, na realidade, o Senhor fez as revelações contidas neste livro para fortalecer em primeira instância os crentes dos fins do primeiro século e não apresentar minuciosamente tudo que haveria de acontecer até o final. Cada geração vai encontrar no Apocalipse a mensagem de conforto e a certeza de que o reino de Deus triunfará, apesar do avanço das hostes inimigas. Jesus Cristo, ressurreto, continua vivo e está no comando de toda a história. No tempo de Deus (kairós), na plenitude dos tempos, Jesus regressará e trará a consumação de todas as coisas. A prova de que Jesus desejava que João, seus leitores e ouvintes entendessem as visões e as suas mensagens é que Ele mesmo explica o mistério das sete estrelas e dos sete candeeiros de ouro. Ele deixa bem claro que as sete estrelas em Sua destra são sete anjos. Os sete candeeiros são sete igrejas, naturalmente das cidades mencionadas no versículo 11 e que a seguir receberão individualmente mensagens pelas cartas que o Senhor ordenará que João as escreva. A explicação do Senhor é clara, mas o entendimento, no que diz respeito a quem seriam os anjos, tem sido motivo de controvérsias. A palavra traduzida por anjos é aggelloi, que literalmente significa mensageiro. Tradicionalmente tem-se dito que os anjos são os pastores das igrejas. Há, inclusive, o hábito de referir-se aos pastores como os anjos das igrejas. No entanto, nada há no contexto que dê margem a esta interpretação. A referência aos anjos em todo o livro do Apocalipse não nos encoraja a afirmarmos que nestes primeiros capítulos os anjos das igrejas sejam os seus pastores. Uma das argumentações fortes, é que se Jesus quisesse referir-se aos pastores, teria usado diretamente a palavra pastores ao revelar a João o mistério das sete estrelas e dos sete candeeiros. Outra argumentação contra esta interpretação é que em nenhum texto do Antigo ou do Novo Testamento os pastores são simbolizados por estrelas. O Novo Comentário da Bíblia, editado em Português por Russell P. Shedd, vol. II, diz o seguinte sobre este assunto: “Parece estranho interpretar as sete estrelas como sendo sete anjos, no sentido comum do termo, nem que sejam anjos da guarda; pois seria supérfluo escrever-lhes por intermédio de João (ver 2.1) e, de qualquer forma, o conteúdo das cartas se relaciona inteiramente com as próprias igrejas. Muitos expositores, portanto, mantêm que os anjos representam alguns dos oficiais das igrejas, quer delegados, quer administradores. Ainda que seja uma interpretação possível, é muito excepcional, na literatura apocalíptica, que os anjos simbolizem homens. Talvez seja preferível entendê-los como personificações da vida celeste, ou sobrenatural, das igrejas vistas em Cristo, de sorte que os anjos exteriorizem o caráter que as igrejas deviam realizar, do mesmo modo como os castiçais representam a vida terrestre das igrejas vista pelos homens” (pág. 1453). Michael Wilcock é de opinião que o melhor é interpretar anjos neste texto no seu sentido básico, argumentando de que nas Escrituras – e não somente no Apocalipse – tanto indivíduos (Mateus 18.10; Atos 12.15), como nações (Daniel 10.13; 12.1), podem ter um anjo, um parceiro espiritual no nível celestial e que extensivamente o mesmo poderia acontecer em relação às igrejas (op. cit. pág. 20). No livro de Daniel aparecem anjos tutelares (10.13, 20, 21). Essa crença era comum entre os judeus antigos. Desta tradição judaica acabamos chegando à crença da Igreja Católica sobre o anjo da guarda de cada pessoa. Não temos tempo para discutir os prós e contras aqui, mas é um assunto que merece estudo.

3. Jesus Cristo é o Senhor das igrejas – 1.20 – Quando o Senhor Jesus Cristo explica ao Seu servo João o mistério das sete estrelas e dos sete candeeiros, mostrando que os candeeiros são as sete igrejas, e ainda o fato que vimos no v. 13, Jesus estando no meio dos candeeiros, chegamos à conclusão de que o verdadeiro Senhor das igrejas é Jesus Cristo. Ele estava no centro dos candeeiros e as sete estrelas estavam na sua destra. Ele nesta visão é simbolizado como Aquele que tem toda a autoridade e poder, Aquele que é o princípio e o fim. Pelas cartas que se seguem nos capítulos 2 e 3, vemos que Ele anda no meio das igrejas e conhece todas as obras das igrejas. Não

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podemos esquecer esta grande lição da primeira visão: Ele é centro e o Senhor das igrejas. A Ele deve ser dada toda a honra, glória e louvor. A vontade dEle deve ser buscada para realizá-la. Ele é que de fato deve governar as igrejas. Isto está de acordo com o que Ele ensinou aqui no seu ministério terreno. Ele disse que “edificava a Sua igreja e que as portas do hades não prevaleceriam contra ela “ (Mateus 16.18). Pouco antes de subir ao céu disse que Lhe era dada toda a autoridade no céu e na terra (Mateus 28. 18). Por esta razão os seus discípulos deviam cumprir a grande comissão (Mat. 28.19-20). Nesta primeira visão vemo-Lo revestido de majestade e poder elogiando, repreendendo e exortando as suas igrejas (cap. 2 e 3). Não podemos esquecer que as igrejas são as agências terrenas do Reino de Deus. O Senhor é quem deve mandar e não os líderes humanos. Ele está presente na vida das igrejas acompanhando cada uma de suas ações. Se Ele estiver ausente é porque essa igreja, diante da recusa de reconhecer e ouvir a voz do Senhor, teve o seu candeeiro removido do seu lugar (2.5). Tem o nome de igreja, mas já não é mais a assembléia do Senhor. Esta visão simbólica e grandiosa de Jesus Cristo no capítulo primeiro, que fez com que João caísse com o rosto em terra como morto, deve gravar, de um modo indelével, em nossas mentes que as igrejas de Jesus Cristo devem estar centradas tão somente nEle. Devem com todo o fervor perscrutar a vontade dEle pela Sua palavra e através da oração, para que sejam fiéis a Ele e recebam a plena aprovação. CONCLUSÃO

De tudo o que estudamos hoje no primeiro capítulo do Apocalipse, podemos destacar alguns pontos que devem servir como lições práticas para os dias presentes. 1. Companheiro convosco na aflição – Devemos ter em mente que nossa vida aqui na terra, mesmo como salvos por Cristo Jesus, não está isenta de dores, problemas e aflições. O sofrimento humano iniciou-se no Éden com a entrada do pecado na vida dos nossos primeiros pais. As conseqüências funestas da desobediência de Adão e Eva são anunciadas por Deus ainda no Éden (Gên. 3.14-19). Se não for a aflição por causa da perseguição religiosa, será a aflição por outros problemas decorrentes do pecado que ainda domina o mundo. Nós não somos do mundo, mas ainda estamos no mundo e sofremos todas as suas conseqüências. Ninguém deve ser iludido com a falsa teologia da prosperidade de que o crente não tem problemas, não sofre, não fica doente, alcança todas as coisas materiais. Nós somos do Reino de Deus, este reino está implantado em nós, mas este Reino ainda não foi implantado definitivamente. Ele só o será com a parousia. 2. Cristo vive e está no comando do mundo – Mesmo sendo verdade o que apresentamos na primeira lição prática, temos razão para exultar, mesmo em meio às aflições do mundo. É a certeza de que Jesus Cristo vive. Ele foi morto pelos nossos pecados, mas Ele ressuscitou e vive. Ele está acompanhando o nosso viver. Ele nunca nos abandonará. Ele prometeu quando subiu ao céu que “estarei convosco todos os dias até a consumação do séculos” (Mat. 28.20b). Ao abrirmos as páginas do Apocalipse, logo no primeiro capítulo podemos, através da descrição de João, ver que Jesus Cristo está vivo, que está atento às aflições do Seu povo. Ele está no centro de Sua igreja. Quando o Seu povo na Ásia Menor estava desalentado diante das densas nuvens que se avolumavam aos seus olhos, Jesus traz a revelação através do Seu servo. Mais de sessenta anos eram passados desde a Sua ascensão ao céu, mas pelas visões do apóstolo João vemo-Lo atento às necessidades do Seu povo e encorajando-os a permanecerem firmes. Quase dois mil anos são passados, mas a mesma certeza de que Ele continua velando pelas suas igrejas e seus servos, e permanece inabalável. Em breve este mundo será do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, com o cumprimento das profecias finais. 3. A responsabilidade das igrejas - A revelação feita a João traz consolo e alegria para os verdadeiros crentes. Além disto, sentimos nos três capítulos, a responsabilidade das igrejas diante

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do mundo. As igrejas são simbolizadas pelos candeeiros. Os candeeiros eram feitos para fornecer luz. Deviam iluminar o ambiente em que estavam. As igrejas como castiçais espirituais têm a grande responsabilidade de iluminar este mundo dominado pelas trevas do pecado. As trevas tornam-se cada vez mais densas à medida que os homens vão perdendo todo o sentido de moralidade. Os homens, em que pese todo o desenvolvimento cultural e científico, estão perdendo a noção de que são seres racionais. Eles devem ser superiores aos seres irracionais. Os seres irracionais são dirigidos pelos seus instintos. No final do segundo milênio e agora já no início do terceiro milênio os homens deviam ter alcançado um estágio moral e espiritual superior. Mas, exatamente como está profetizado, a ciência se multiplicou e o pecado aumentou de um modo terrível. Para o homem do mundo, tudo é natural. Tudo que causa prazer e felicidade, ainda que momentâneo, é bom. As trevas estão dominando tudo. As igrejas como luzeiros precisam iluminar este mundo em trevas. Pena que muitas igrejas estão buscando os modelos mundanos para os seus cultos e como modo de vida. Se a luz não iluminar para que serve? Jesus ameaçou remover o castiçal do seu lugar, se não cumprir a sua missão. Mostremos a salvação em Cristo pelas nossas vidas puras e pela nossa palavra de testemunho.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 03

CARTAS ÁS SETE IGREJAS DA ÁSIA

Texto bíblico: Apocalipse 2.1–17 Texto áureo: “Conheço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço, e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosos que as primeiras.” (Apocalipse 2. 19) INTRODUÇÃO

Logo após a visão inicial das estrelas, dos candeeiros e da figura simbólica de Jesus Cristo, João recebe a ordem de escrever e enviar cartas específicas às sete igrejas da Ásia Menor. Estas igrejas eram locais e reais. Formavam um círculo e através delas a mensagem do Apocalipse podia ser propagada às outras igrejas da Ásia Menor. A proximidade geográfica dessas igrejas e a existência das cartas apostólicas indicam que os cristãos dessa região tinham experiências e dificuldades comuns a todos eles na vivência e no testemunho da fé. Um dos grandes problemas era o culto e adoração ao imperador, a partir do reinado de Nero. Ainda que escritas para as sete igrejas das Ásia Menor do final do primeiro século da era cristã, as cartas têm ensinamentos preciosos para as igrejas de todos os séculos. Há elogios, exortações, advertências e promessas que são igualmente válidas para as nossas igrejas de hoje e para nós como membros dessas igrejas.

Éfeso recebeu elogio e repreensão. Esmirna, apenas elogio e encorajamento. Pérgamo, elogio e repreensão. Todas foram exortadas a se arrependerem e todas receberam promessas. Nas que estudaremos hoje: Tiatira e Sardes receberam elogio e repreensão. Filadélfia, apenas elogio e Laodicéia, só repreensão. Esta análise sucinta nos leva à conclusão que não podemos generalizar as igrejas de um período. Cada uma delas tem suas características peculiares. O Senhor as conhece e cada uma deve buscar a orientação do Senhor. I. A Igreja em Éfeso: fiel, mas sem o primeiro amor – Apocalipse 2.1-7 1. Fundação da Igreja em Éfeso 2. Identificação – 2.1 3. Louvor – 2.2 – 3 e 6 4. Censura – 2.4 5. Conselho: lembrar-se, arrepender-se e praticar – 2.5a 6. Advertência – 2.5b e 7a 7. A promessa – 7b II. A Igreja em Esmirna: espiritualmente rica – Apocalipse 2.8-11 1. Identificação – 2.8 2. Louvor e conforto – 2.9–10a 3. Promessa – 2.10b-11 III. A Igreja em Pérgamo: leal e fiel – Apocalipse 2. 12-17 1. Identificação - 2. 12 2. Louvor – 2. 13 3. Queixa – 2. 14 - 15 4. Advertência – 2. 16 – 17 a 5. Promessas – 2. 17 b

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VI. A igreja em Tiatira: operosidade crescente – Apocalipse 2.18-29 1. A cidade de Tiatira 2. A igreja em Tiatira 3. Identificação de Cristo – 2.12 4. Louvor – 2.13 5. Queixa e condenação – 2.20-23 6. A promessa – 2.24-29 V. A igreja em Sardes: a igreja modorrenta – Apocalipse 3.1-6 1. Identificação – 3.1a 2. Queixa ou censura – 3.1b 3. Conselho – 3.2 4. Aviso – 3.3 5. Reconhecimento – 3.4 6. A promessa – 3.5-6 VI. A Igreja em Filadélfia: uma pequena grande igreja – Apocalipse 3.7-13 1. A cidade de Filadélfia 2. Identificação – 3.7 3. Louvor – 3.8 4. As promessas – 3.9–10, 12 5. Aviso – 3.11, 13 VII. A igreja em Laodicéia: a igreja auto-suficiente – Apocalipse 3.14-22 1. A cidade de Laodicéia 2. A igreja em Laodicéia 3. Identificação – 3.14 4. Queixa – 3.15-17 5. O conselho do Senhor – 3.18 6. Admoestação – 3.19 7. O apelo – 3.20 8. A promessa – 3.21 Conclusão – lições práticas para a vida cristã.

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ESTUDO N º 3 – CARTAS ÁS SETE IGREJAS DA ÁSIA

Texto bíblico: Apocalipse 2.1–17 Texto áureo: “Conheço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço, e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosas que as primeiras.” (Apocalipse 2. 19) INTRODUÇÃO

O primeiro ato do Senhor depois da visão inicial das estrelas, dos candeeiros e da figura simbólica de Jesus Cristo é enviar mensagens específicas a cada uma das sete igrejas mencionadas em 1.11. Todas elas receberiam as revelações, mas havia uma mensagem especial para cada uma, de acordo com a situação de cada uma delas diante do Senhor. Lembramos que estas igrejas existiram de fato. Não são, como alguns interpretam representação dos sete estágios da apostasia da igreja no decorrer dos tempos. Elas estavam ali na Ásia (naquele tempo, os romanos chamavam a colônia romana da região de Ásia, que na nomenclatura de hoje é Ásia Menor). Como já observamos anteriormente havia outras igrejas na Ásia Menor além destas sete. Estas sete igrejas do Apocalipse estavam situadas em cidades que formavam um círculo, indo da região costeira (Pérgamo) até ao interior (Filadélfia). Estas cidades eram relativamente próximas uma das outras conforme descrevemos na lição n º 2. As igrejas poderiam ter sido escolhidas, além dos motivos já apontados, por serem, cada uma delas, o centro de um grupo de igrejas, ou porque cada cidade estava situada estrategicamente para espalhar a mensagem do Apocalipse para as outras localidades da Ásia Menor, a partir de uma rota circular que começava em Éfeso e passava pelas regiões de maior relevância da província.

Essas proximidades geográficas das sete igrejas e a existência das cartas apostólicas indicam que os cristãos dessa região tinham experiências comuns quanto às dificuldades que enfrentavam na vivência e no testemunho da fé cristã. Havia problemas de ordem interna com as heresias reinantes na época e de ordem externa com a perseguição que sofriam por parte das autoridades romanas sob o pretexto de não aderirem ao culto dos césares, tanto dos vivos quanto dos mortos.

Já vimos que os césares, a partir de Nero começaram a exigir que fossem cultuados. Vimos também que o Senado romano depois da morte dos imperadores Júlio César, Augusto, Cláudio, Vespasiano e Tito, declarou-os oficialmente como divinos. Domiciano, possivelmente o imperador na época em que o Apocalipse foi escrito, exigia ser reconhecido e tratado como Dominus et Deus (Senhor e Deus). O culto aos césares e ao Estado romano foi estabelecido como uma medida política visando inculcar na população heterogênea do Império Romano a lealdade ideológica. Aos povos mais diversos conquistados pelos romanos era concedida a liberdade de ter suas crenças particulares, desde que reconhecessem e servissem ao imperador como o Senhor Supremo. Os cristãos não podiam de forma alguma admitir que houvesse outro Senhor (com letra maiúscula, pois a referência é como o Senhor dos senhores, o Deus Supremo) além de Jesus Cristo. Esta era a razão maior das perseguições e sofrimentos dos cristãos daquela época, especialmente na região conhecida naquele tempo como Ásia. Os judeus, por sua vez, não perdiam oportunidade de acusar os cristãos perante as autoridades romanas, já desde os tempos de Paulo, como lemos em Atos 18. 12 – 13: “Sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a render culto a Deus de um modo contrário à lei.” Povos de outras nações, por outros interesses, também acusavam os cristãos de não reconhecerem César como Senhor. O mesmo acontecia com algumas autoridades das províncias romanas. Assim eles eram vítimas de todo tipo de represálias, inclusive prisão, degredo e morte. Para confirmá-los na fé, encorajá-los em sua esperança na intervenção divina, Jesus dá ordem a João que lhes envie as cartas que serão objeto do nosso estudo.

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Nesta introdução geral das cartas às sete igrejas da Ásia, é necessário salientar que as condições discutidas nelas não só caracterizavam as igrejas do final do primeiro século, como caracterizam muitas igrejas de todos os séculos, inclusive igrejas do nosso tempo. Ao analisarmos as condições daquelas sete igrejas, podemos verificar que muitas delas aplicam-se à nossa própria igreja local. Isto comprova que a mensagem destas cartas tem caráter universal. Em qualquer igreja em que existam as condições apontadas nestas cartas, elas devem ser profundamente consideradas. Se há os motivos de elogios, devemos continuar a fazer aquilo, se são de repreensão, devemos imediatamente corrigi-los. Uma outra observação importante é que compreendemos melhor as mensagens de cada igreja, quando conhecemos o fundo histórico daquelas cidades em que as sete igrejas estavam localizadas. As condições das cidades refletiam-se na igrejas. Nesta análise vemos o quanto o fator meio ou ambiente influencia as pessoas que ali vivem. Tem-se dito que nenhum homem é uma ilha, querendo deixar claro que “ninguém vive para si e morre para si.” O ambiente em que vivemos, as companhias que temos, podem exercer grande influência em nosso modo de pensar e em nosso viver. Isto pode ser facilmente visto, num relance histórico em nosso próprio país, na vida de nossas igrejas. É por esta razão que Jesus em Sua oração sacerdotal (João 17) preocupou-se com o nosso testemunho, pedindo em Sua intercessão por nós. Lembrou que “estamos no mundo, mas não somos do mundo”. Ele sabia das influências terríveis do mundo em que vivemos. Paulo, em sua carta aos Romanos, admoesta-nos: “Não vos amoldeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (12.2). João exorta-nos: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo...” (I João 2.15). Apesar de todas as admoestações, o mundo, o meio que nos cerca tem um poder de influência muito grande. Ao estudarmos as sete cartas podemos sentir esta influência na vida das igrejas e dos crentes. Por isso cabe às igrejas e aos irmãos que as compõem estar numa comunhão maior com o Senhor (através da leitura bíblica, meditação e oração) e com os irmãos (pois estes têm os mesmos ideais, a mesma filosofia de vida cristã, todos buscam o aprimoramento espiritual e viver como o Senhor deseja). As sete cartas apresentam uma estrutura básica comum. Em todas elas há três partes: 1. Introdução: o endereçamento e a apresentação do remetente com uma característica especial, de um modo geral tirada da Sua apresentação simbólica na visão do primeiro capítulo e adaptada a cada igreja. 2. Corpo da carta; com o elogio, reprovações, exortações, conselhos, ameaças e anúncio do seu breve regresso. 3. Conclusão: convite para dar ouvidos à voz do Espírito e promessa aos vencedores. Numa análise superficial verificamos que, com exceção de Laodicéia e Sardes (ainda que em Sardes, o Senhor reconheça que há alguns fiéis) todas as outras recebem palavras de elogio, como também todas elas, com exceção de Esmirna e Filadélfia, não recebem repreensões. I. A IGREJA EM ÉFESO: FIEL, MAS SEM O PRIMEIRO AMOR – Apocalipse 2.1-7

Ao chegarmos ao estudo do Apocalipse, já estudamos Atos 18.18–19.41 em que conhecemos os primórdios da história da fundação do trabalho em Éfeso. Estudamos a epístola de Paulo aos Efésios escrita cerca de cinco anos depois de sua despedida aos anciãos de Éfeso (Atos 20.17–38). Esta carta é uma das mais profundas de todas as que o apóstolo escreveu. Temos assim um conhecimento geral da cidade, dos habitantes e da igreja dos efésios. Apenas algumas palavras introdutórias para relembrar as circunstâncias históricas. Éfeso era a capital da província romana da Ásia. Estava situada na margem do rio Caistre, distante alguns quilômetros do mar e à margem da estrada real que ligava Roma com o Oriente. As tropas romanas, os governadores das províncias da

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Ásia Menor transitavam por Éfeso. Ali estava situado o templo de Diana, uma das sete maravilhas do mundo antigo. A cidade era chamada “A Luz da Ásia”. No tempo do Apocalipse, Éfeso era ainda uma grande cidade, rica e culta. Ali viviam representantes de todas as camadas sociais: ricos, letrados, pobres e analfabetos. Era também uma cidade depravada. Hoje o que resta da grande cidade de Éfeso é um monturo de escombros e vestígios de grandezas passadas.

1. Fundação da Igreja em Éfeso - Não sabemos exatamente quem levou as primeiras mensagens do Evangelho para Éfeso. Talvez os judeus do Ponto e da Ásia, que estiveram em Jerusalém no dia de Pentecostes, fossem os primeiros. Paulo passa por Éfeso no final de sua segunda viagem missionária, deixando ali o casal Priscila e Áquila (Atos 18.18-21). Enquanto Paulo está reiniciando a sua terceira viagem missionária, chega ali Apolo, pregador brilhante da mensagem de João Batista. Instruído pelo casal Priscila e Áquila, prega ousadamente e depois vai para Corinto antes da chegada de Paulo a Éfeso (Atos 18.24–28). Paulo chegando a Éfeso, inicia o seu trabalho missionário. Pelo que parece, mesmo havendo convertidos ao Cristianismo, ainda todos se reuniam na sinagoga judaica. Paulo prega por três meses na sinagoga judaica, mas diante da resistência dos judeus, que não aceitam o Caminho (nome usado para o Cristianismo), separa os discípulos e se reúne com eles na Escola de Tirano. A igreja de fato passa a existir. Paulo prega durante dois anos poderosamente, levando, como afirma Atos, o conhecimento do Evangelho praticamente a todos os que moravam na Ásia (Atos 19.10). Ele estava para partir, tendo já enviado Timóteo e Erasto para a Macedônia, quando surgiu o tumulto promovido por Demétrio. Paulo segue para a Macedônia e Acaia. No regresso para Jerusalém, talvez pelo ano 57 d.C., passando por Mileto, manda chamar os anciãos de Éfeso e faz a sua despedida comovente (Atos 20.17-38). Mais ou menos cinco anos depois escreve a sua epístola aos Efésios. Tempos depois, João passa ali os últimos anos de sua vida pastoreando aquele rebanho. Exilado na ilha de Patmos, João recebe a revelação do Apocalipse e a incumbência de escrever a primeira das sete cartas à Igreja em Éfeso. Diz uma tradição que ele foi liberto e voltou para Éfeso, onde teria morrido e sido sepultado. O Dr. J. L. Campbell falando sobre o ministério pastoral da Igreja de Éfeso diz: “Apolo preparou o terreno, Paulo plantou-o, Timóteo cultivou-o, João regou-o, e Deus deu-lhe o crescimento.” O Dr. Geo. W. MacDaniel comenta sobre esta afirmação do Dr. Campbell: “Quão bem servida foi esta igreja, por estes bons ministros de Deus! Nunca houve outra igreja tão bem servida de ministros” (Geo. E. MacDaniel, As Igrejas do Novo Testamento, pág. 251). 2. Identificação – 2.1 – “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Isto diz Aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro” “O Senhor se apresenta à igreja de Éfeso como o que tem em sua destra as sete estrelas, e como o que anda por entre os sete castiçais de ouro. Isto aclara tão bem sua posição que não deixa dúvida alguma quanto ao que vem a seguir sobre o conhecimento que Ele tem das igrejas – Ele está aí, e sabe o que acontece. Ele está cuidando de cada caso, tendo em sua forte destra a sorte dela que envolve o pastor. Anota cada uma de suas virtudes e falhas, e revela tudo em sua mensagem” (Ray Summers, op. cit. pág. 151).

3. Louvor – 2.2-3 e 6 - “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste” (2. 2 – 3). As primeiras palavras para a igreja são de reconhecimento pela fidelidade da igreja no dia a dia. Era uma igreja operosa, mesmo sob o sofrimento mantinha a sua fidelidade a Deus. Jesus reconhecia todas as obras que eles tinham produzido e estavam produzindo. Mesmo sob pressão continuavam firmes, pois a natureza, o caráter deles demonstrava isto. Eles perseveravam em sua fidelidade e serviço cristão. Não era apenas a vida de fidelidade na obra que merecia aprovação, mas também a fidelidade doutrinária: “a igreja não podia suportar os maus, e pôs à prova os falsos apóstolos e os achou mentirosos”. Com o excelente doutrinamento recebido através dos valorosos

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obreiros que por ali passaram: Apolo, Paulo, Timóteo e João receberam convicção das verdades do Evangelho. A Igreja já existia mais ou menos, por 40 a 45 anos na altura em que recebeu esta mensagem do Senhor. A igreja tinha sido edificada sobre uma sólida doutrina bíblica. Sabia reconhecer as verdades bíblicas e conseqüentemente os que pregavam e ensinavam a verdade. Ela, a igreja, não podia suportar os maus. Ela suportava as condições e testes difíceis no dia a dia impostos pelos inimigos, mas não podia suportar os que se dizendo crentes, viviam vidas imorais e ensinavam doutrinas falsas. Ela colocou à prova os que se diziam apóstolos ou enviados para pregar o Evangelho. Nesta prova achou-os mentirosos. Os gnósticos chegaram ali, proclamaram-se como verdadeiros apóstolos e missionários, mas a igreja de Éfeso desmascarou-os. A igreja perseverou na verdade. No v. 6, depois de repreender a igreja de Éfeso pela sua falta, Jesus volta a reconhecer os méritos dos crentes efésios: “Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, os quais eu também aborreço.” A fidelidade doutrinária e moral deles não os deixavam ter atitude complacente para com o mal de qualquer ordem que fosse. Eles aborreciam isto é odiavam toda a iniqüidade. Não se tem certeza quanto à identidade dos nicolaítas. Presume-se que os nicolaítas eram seguidores de um herético chamado Nicolau. Não há provas que nos levem a julgar que ele seja o mesmo Nicolau eleito como um dos sete que deveriam ajudar no atendimento às viúvas carentes (Atos 6). Diz uma tradição que ele se desviou da pureza cristã e se fez chefe de uma seita imoral. Dizem outros que ele usava de uma linguagem que, sendo em si mesma inocente, adaptava-se a maus fins, e deste modo, deu origem a uma seita imoral que ele mesmo reprovava. Existia uma seita de nocolaítas incorporada aos gnósticos que poderia bem ser o germe de corrupção da idade apostólica. Esta seita dos nocalaítas seria promotora de certa espécie de antinomianismo (crença de que os cristãos não precisavam mais guardar a lei moral, uma perversão monstruosa da doutrina bíblica da justificação pela fé). Mesmo sem podermos identificar exatamente os nicolaítas, o certo é que em suas heresias queriam levar os seus adeptos a uma vida de licenciosidade, sob a alegação que a salvação vem pela fé e não pelas obras. A matéria é má em si mesma e ficará aqui na terra. Os efésios tinham ódio às obras dos nicolaítas, no que recebem a aprovação de Jesus Cristo, que também se opõe a todo o tipo de erro. Podemos estar certos de que Cristo com esta revelação, mostra que Ele tem aversão ao mal e o reprova, seja de que ordem for.

4. Censura – 2.4 – “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.” – Pelo que

descrevemos no item anterior, a Igreja de Éfeso aparentemente era uma igreja perfeita, pois parecia não haver nela nada de errado. Exteriormente estava em boa ordem. Ela era incansável em seu trabalho, no seu esforço, paciente nas tribulações, não suportando os maus, rejeitando os falsos apóstolos e na sua perseverança, mesmo sofrendo por amor do nome de Jesus Cristo não desfalecia. Permanecia firme. Aborrecia as falsas doutrinas. Um visitante qualquer que passasse pela Igreja de Éfeso a louvaria. Qualquer igreja hoje que apresentasse as virtudes da Igreja de Éfeso seria louvado por todos. “O Mestre, porém, que tem em suas mãos as sete estrelas e anda no meio dos sete castiçais, descobre com o Seu olhar penetrante, uma falta grave nesta igreja. Tinha perdido a alegria que possuía no começo, o seu primitivo amor pela salvação dos pecadores estava extinto. O fogo do evangelismo se apagara. Aquilo que fez a igreja ativa e próspera, no começo, não existia mais” (Geo. W. MacDaniel, op. cit., pág. 251). A Igreja de Éfeso não conservava mais aquele amor fervoroso e caloroso que caracterizara suas primeiras experiências de vida cristã. Eles continuavam a levar avante um programa de atividades que mostrava ser uma igreja trabalhadora, mas tinham deixado de parte o verdadeiro motivo ou espírito cristão. O amor de Cristo deve ser o motivo principal da vida, do culto, das atividades e esforços de cada crente em Cristo Jesus. O amor de Cristo deve levar-nos a viver por Cristo e a proclamar a todos a salvação que há nEle.

5. Conselho – 2.5a – “Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras

obras.” - O conselho de Jesus Cristo à Igreja de Éfeso pode ser resumido em três verbos: lembrar-se, arrepender-se e praticar. A igreja deveria lembrar da alegria, do entusiasmo que tinha, no

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princípio, em seu amor por Cristo e sua obra. Devia lembrar-se da poderosa força do amor.. Lembrar-se daquele desejo incontido de ganhar outras vidas para Cristo. O lembrar-se era uma exortação para olharem como eram no início de sua vida cristã. A igreja deveria olhar para os tempos áureos, em que o amor dominava todas as suas ações.

“Lembra-te de onde caíste”: 1. Aqueles crentes tinham caído de sua primeira ardente devoção a Cristo. 2. Tinham caído de maiores elevações espirituais. 3. Tinham caído, apesar de sua ortodoxia. 4. Tinham caído, a despeito de continuarem a defender a verdade. 5. Tinham caído, apesar de seus labores prodigiosos. 7. Tinham caído, apesar de sua lealdade debaixo de perseguição. “Percebe-se, através de tais fatos, quão grandes coisas o Senhor espera de nós, e quão

profunda pode ser a nossa espiritualidade, embora, ainda assim, possamos ser descritos como quem caiu” (R. N. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 391).

“Lembra-te, pois donde caíste” - este ato de lembrar-se de onde caíram, deveria levá-los ao segundo passo: arrepender-se. Arrepender-se significa mudança de mente, mudança de atitude. Pelo arrependimento reconhecemos que a ação ou ações praticadas não estão corretas ou como deveriam ser e mudar de atitude ou propósito. Passar a agir de modo diferente. O terceiro passo que deveriam tomar: voltar a praticar as primeiras obras. O amor deveria ser novamente a motivação de todos os seus atos. O amor deveria levá-los a um fervor evangelístico muito grande. Eles deveriam voltar àquele primitivo espírito de serviço, que brota dum coração cheio de amor.

6. Advertência - 2.5b e 7a – “e se não te arrependeres, brevemente virei a ti, e removerei do

seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” - Logo após o conselho vem uma advertência muito séria: se não houvesse arrependimento, Jesus brevemente viria à igreja e removeria do seu lugar o candeeiro. Se a igreja não voltasse ao seu primeiro amor, perderia o direito de existir como igreja. Jesus removeria do seu lugar o candeeiro. Se a igreja deixa de satisfazer ao propósito e programa que Cristo tem para ela não há mais razão para a sua existência. O candeeiro será removido por Cristo do seu lugar. Este é um aviso solene para todas as igrejas cristãs. Podem continuar a existir, mas como agremiações humanas, e com o tempo desaparecerão.

Jesus, completa a sua advertência com a seguinte frase: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” O conselho é para aqueles que têm percepção espiritual, que ouçam, pois a mensagem não vem da parte de homens, mas do próprio Espírito Santo. Os ouvidos foram feitos para ouvir. A mensagem oral penetra através da audição. Poderíamos através de toda a Bíblia fazer um estudo sobre o “ouvido que ouve”. Aqui apenas algumas considerações. Depois de peregrinar com o povo durante quarenta anos no deserto, Moisés fala-lhes, recordando quantos prodígios eles viram Deus realizar, no entanto, eles não receberam um coração para entender, nem olhos para verem e nem ouvidos para ouvirem (Deut. 29.4). O apelo que mais ouvimos no livro de Deuteronômio é: “Ouve, ó Israel” (Deut. 6. 3,4; 9. 1; 27. 9) ou expressões semelhantes, se ouvires (28.1). Isaías fala dos ouvidos endurecidos (Isaías 6.10). Jeremias clama: “Ouvi, agora isto, ó povo insensato e sem entendimento, que tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis” (Jer. 5.21). Ezequiel fala também do povo que tem ouvidos para ouvir e não ouve (12.2). Ouvir sem a devida reação positiva produz ilusão fatal, pois não surtirá os efeitos esperados. Em todas as cartas é repetida a expressão: Quem tem ouvidos, ouça, o que o Espírito diz às igrejas. Ouvir significa atender, obedecer, observar o que está sendo dito.

Não temos registro bíblico se a Igreja de Éfeso deu ouvido ou não à mensagem do Apocalipse. Deu-se, a promessa foi cumprida para a igreja daqueles dias. Devemos lembrar que as igrejas vão sendo renovadas parcialmente pela morte de uns e a conversão de outros. Chega uma época em que os membros da igreja são inteiramente diferentes daqueles que a organizaram e mesmo das gerações passadas. No caso da Igreja de Éfeso, não sabemos se naquela geração ou em

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gerações posteriores, a primeira lâmpada do candeeiro foi removida. A cidade de Éfeso foi destruída, a igreja deixou de existir, ainda que não saibamos se por este ou por outros motivos. A única coisa que restou da cidade foi um lugar chamado Agasalute, e isso em memória de João não o de Éfeso.

7. A promessa – 7b - “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no

paraíso de Deus.” Vitória é uma das palavras chaves de todo o livro do Apocalipse. A expressão “Ao que vencer” é uma referência: (1) ao que permanecer fiel a Cristo, não aceitando as heresias; (2) ao que der ouvidos à admoestação de retornar ao primeiro amor e à prática das primeiras obras; (3) aos que repelissem as mensagens sem moral dos nocalaítas, mantendo a pureza doutrinária e de vida;(4) àqueles que permanecessem firmes, mesmo sob as perseguições. Enfim, o vencedor é aquele que vive uma vida de serviço para Deus, serviço esse prestado com o coração cheio de amor. Quem viver assim, Jesus promete os frutos do jardim de Deus simbolicamente. Com isto ele quer dizer que aquele que Lhe for fiel, receberá alimento e sustento em todas as suas necessidades. Deus nunca deixa de acudir ao seu povo nos tempos de sua necessidade, mas espera também da parte do seu povo uma vida vitoriosa. O comer da árvore da vida significa ter participação na vida eterna. II. A IGREJA EM ESMIRNA: ESPIRITUALMENTE RICA – Apocalipse 2.8–11

Não temos registro sobre a fundação da Igreja em Esmirna. Presume-se que tenha sido

fundada durante o período da permanência de Paulo em Éfeso (Atos 19.10). O fato é que ali floresceu uma boa igreja cristã como veremos daqui a pouco. O nome da cidade, Esmirna, significa mirra, substância extraída de uma planta por esmagamento. Essa substância era usada no fabrico de perfumes, mas também era usada para embalsamamentos. Os crentes dali foram, figuradamente, também esmagados, tornando-se um cheiro suave a Deus, mas, embora esmagados até à morte sem negarem a sua fé. A cidade de Esmirna fica situada na costa ocidental da Ásia Menor, um porto no fundo de um braço de mar que se introduzia 48 quilômetros terra adentro. Foi fundada cerca de 1000 a.C. por uma colônia grega. Esteve em poder dos gregos da Eólia e foi incluída pelos iônios gregos em sua confederação. Durante quatrocentos anos prosperou. Era uma das sete cidades que disputavam a honra de ter sido o berço de Homero. Alíates, rei da Lídia, destruiu-a e ficou assim durante quase três séculos até que Alexandre, o grande, concebeu o plano de reconstruí-la, mas só levada a efeito em 290 a.C. por um dos seus sucessores, Antígono. A cidade ressuscitou de suas ruínas. Chegou a ser uma cidade grande florescente, com forte movimento comercial. Fez parte da província romana da Ásia, organizada depois do ano 133 a.C. Esmirna , antes mesmo de ser província romana, já ajudava Roma e em 195 a.C. já tinha erigido um templo à deusa Roma. Sua riqueza e prosperidade fizeram com que ela disputasse com Éfeso a honra de ser a primeira cidade da Ásia. A cidade de Esmirna tornou-se um lugar de adoração ao imperador, e em 26 a.C., quando diversas cidades competiam pela honra de construir um templo ao imperador Tibério, somente ela obteve este privilégio. Isto aumentou a sua pretensão de ser a primeira cidade da Ásia. Podemos dizer, portanto, que a cidade de Esmirna nos dias de João, era uma cidade que havia ressuscitado. A ressurreição, que caracterizava a cidade, haveria de marcar também a igreja de Esmirna. A cidade de Esmirna sobreviveu até hoje. O nome da cidade hoje é Izmir e é a segunda cidade da Turquia asiática, enquanto que de Éfeso, só há ruínas. Pelo que podemos deduzir da carta à Igreja de Esmirna, a cidade contava com uma colônia muito grande de judeus, que eram muito hostis aos cristãos. Os judeus gozavam de grande influência junto às autoridades civis locais. Foi nesta cidade que Policarpo, discípulo de João, foi pastor durante muitos anos e foi aí que os judeus se ajuntaram aos pagãos para formar uma multidão e pedir a morte de Policarpo, que acabou sendo queimado numa fogueira pública por volta do ano 156 D. C. por não negar o Seu Mestre, insistindo que o Senhor é Jesus!

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1. Identificação – 2.8 – “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu.” – Jesus identifica-se à igreja de Esmirna como “o primeiro e o último, o que foi morto, mas vive”. Assim quer dizer-lhes que Ele é o Eterno. Ele está ciente de tudo quanto eles estão sofrendo e está habilitado não só para confortá-los, como também para fornecer-lhes o conhecimento certo e de primeira mão. Ninguém existiu antes dEle e nem existirá depois dEle. Alguns deles estavam ameaçados de perseguição e possível martírio, mas não deveriam temer, pois Jesus venceu a morte. Ele era aquele que foi morto, mas vivia; assim eles também com Jesus venceriam a morte.

2. Louvor e conforto – 2.9–10a – A Igreja em Esmirna recebe o reconhecimento pela

fidelidade dela em sua tribulação e até em sua aparente pobreza. O Senhor não tem nenhuma censura ou queixa da igreja. Jesus conhecia a tribulação pela qual ela estava passando. A palavra tribulação significa “pressão vinda de fora para dentro e que ameaça destruir.” A cidade conseguiu o privilégio de edificar um templo a Tibério e conseguiu o direito ao Neocorato Imperial (zelar pelo templo e culto ao imperador). Tornou-se assim um forte centro de culto ao imperador. A adoração ao imperador romano era obrigatória. Isto deixou os cristãos dali em circunstâncias desesperadoras. A perseguição e a morte foram resultados naturais desta imposição de adoração. Por isso a tribulação era grande. A pobreza não deles era decorrente simplesmente de sua situação econômica, mas pelo fato de terem os seus bens confiscados. Os judeus escaparam da perseguição e do confisco dos seus bens por terem cedido ao culto do imperador. A religião deles era considerada lícita ali, porque cediam ao culto do imperador. Os cristãos não podiam em hipótese alguma prestar culto a mais ninguém, senão ao Senhor. Jesus conhece a pobreza material a que tinham sido submetidos, mas Jesus os louva, dizendo que, apesar da falta de bens materiais, eles eram ricos, ricos espiritualmente. A fidelidade deles ao Senhor era uma riqueza que não pode ser comparada com nada nesta vida. Há um provérbio que diz: “Aos olhos de Deus existem homens ricos que são pobres e homens pobres que são ricos”. Diante de Deus a riqueza não se conta simplesmente pelas cifras bancárias, pelas propriedades e outras possessões materiais que alguém tenha, como é o padrão do mundo dominado pelo materialismo. A riqueza espiritual, proveniente da nossa fidelidade a Deus, é algo permanente, enquanto as riquezas terrenas podem ser perdidas e mesmo quando não são perdidas, elas não podem comprar os bens espirituais e muito menos a vida eterna.

Jesus conhecia também “a blasfêmia dos que se diziam judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás”. Os judeus, que não hesitavam em prestar culto ao imperador, e ainda caçoando e falando mal dos cristãos, na realidade não eram judeus, eram sinagoga de Satanás. A palavra blasfêmia geralmente é usada com relação a Deus, mas neste texto refere-se a acusações caluniosas contra os cristãos. Eles se aliavam aos pagãos para condenar os cristãos com as suas difamações e acusações infundadas. Eles eram judeus pela descendência humana, mas não judeus tementes a Deus. Eles se reuniam na sinagoga para a adoração do Deus verdadeiro, mas interiormente não havia sinceridade para com Deus. Todo o Antigo Testamento condena a adoração de outros deuses quer em forma humana, quer em forma de animais, quer astros celestes. Jesus aqui confirma as palavras de Paulo em Romanos 2.28,29: “Porque não é judeu o que o é exteriormente... Mas é judeu aquele que o é interiormente.” Apesar de serem descendência de Abraão, eles deixaram que Satanás se apoderasse deles e de sua sinagoga. Eles tinham a pretensão de “ser a congregação do Senhor” como Israel é chamado em Números 20. 4, quando na realidade estavam a serviço do Diabo ao perseguirem os cristãos. Ao invés de serem uma sinagoga judaica, eram uma Sinagoga de Satanás. Eles eram instrumentos de Satanás na perseguição aos seguidores de Jesus Cristo. E os judeus de um modo geral tinham muita influência junto às autoridades romanas.

Jesus reconhece a fidelidade dos crentes de Esmirna, não promete que eles seriam livres das tribulações e perseguições, mas traz-lhes palavras de conforto no meio do sofrimento pelo qual ainda vão passar: “Não temas o que hás de padecer”. O Senhor traz encorajamento aos crentes que

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haviam de padecer. Jesus anuncia-lhes que: “o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma aflição de dez dias.” Jesus previne que eles seriam postos a outras provas ainda. Todos os que se diziam discípulos de Jesus deviam estar dispostos a ir para a prisão e se necessário dar a sua vida pelo Senhor. Eles seriam solidificados em sua fé pela perseguição. A expressão: “tereis dez dias de tribulação” significa que o tempo da tribulação seria um tempo relativamente curto e de âmbito local e não universal, ainda que haja quem queira dar um significado simbólico.

3. Promessa – 10b–11 – A promessa tanto aqui, como nas outras cartas é condicional. Só que na carta à Igreja em Esmirna é uma promessa dupla: (1) “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida; (2) O que vencer, de modo algum sofrerá o dano da segunda morte”. Antes da primeira promessa a condição é que eles deviam ser fiéis até o ponto de morrer, quer dizer a fidelidade devia ser absoluta e em qualquer circunstância. Não seria diante de ameaças, de prisões, de torturas ou do martírio, se necessário fosse, que haveriam de negar o Mestre. Se fossem fiéis em qualquer circunstância o prêmio seria a coroa da vida. Certamente a “coroa da vida” é uma metáfora. A figura da coroa não vem da monarquia, mas dos jogos olímpicos em que os vencedores eram coroados com a hera. Os competidores lutavam, como diz Paulo, “para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a coroa incorruptível” (I Cor. 9.25). A coroa figuradamente diz respeito ao galardão, a recompensa que receberemos do Senhor. Os mártires, certamente, receberão uma coroa especial. Quanto ao uso de “coroa da vida” aqui, alguns acham que é contraste com a coroa que os sacerdotes superintendentes da falsa religião de Esmirna recebiam, após se retirarem, completado um ano de ofício. Isso servia de símbolo de suas realizações religiosas e de seu serviço leal. Jesus promete, então, aos crentes em Esmirna, que forem fiéis até o ponto de darem as suas vidas, uma coroa muito superior, a coroa da vida. A segunda promessa diz respeito a vida eterna que todo o vencedor (aquele que permanecer fiel a Cristo) terá. Os vencedores não experimentarão o dano da segunda morte. A primeira morte é a morte física que todo o ser humano tem que passar até a volta de Jesus Cristo. A segunda morte é a condenação eterna no inferno. O dano da segunda morte é o sofrimento eterno no inferno. A idéia de morte, é de separação. Na primeira morte, a física, há a separação entre o corpo e a alma ou espírito e na segunda morte, a separação eterna entre Deus e o homem. É neste sentido que a Bíblia fala que todos os homens sem Cristo estão mortos espiritualmente, isto é, estão separados de Deus. A segunda morte é terrível, porque é eterna. Os seus danos são irreparáveis, pois durarão por toda a eternidade. A promessa do Cristo ressurreto é “O que vencer, não sofrerá o dano da segunda morte.” No final desta carta, antes da segunda promessa, temos a advertência que aparece em todas as cartas: ”Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz ás igrejas.” Notemos que nestas advertências, ele não diz à igreja em Esmirna ou a cada uma das outras seis, mas sim às igrejas. Com isto há uma advertência para todas as igrejas de Jesus Cristo Logo, a advertência é também para nossa igreja. Ouçamos, isto é, atentemos e obedeçamos a tudo que o Espírito tem a nos dizer. III. A IGREJA EM PÉRGAMO: IGREJA LEAL E FIEL – Apocalipse 2. 12–17

Pérgamo estava edificada sobre um alto monte, na Mísia, local de onde Paulo pretendia ir para Bitínia, mas foi impedido de ir, quando o Espírito Santo o estava orientando para ir à Europa (Atos 16.7, 8). O nome da cidade deriva de “purgos” que significa torre ou castelo, dando idéia de fortificada. Era uma cidade pequena, nunca tendo chegado a mais de trinta mil habitantes e atualmente tem menos da metade deste número. Comercialmente também não tinha a importância de Éfeso ou Esmirna. Era, no entanto, um importante centro político e religioso. Começou a se destacar depois da morte de Alexandre, o Grande, em 333 a.C. O último rei de Pérgamo, Átalo III, em seu testamento passou o reino a Roma. Isto no ano 133 a.C. Foi também a primeira cidade da

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Ásia que incentivou abertamente o culto ao imperador. No ano 29 a.C. foi dedicado um templo “ao divino Augusto e à deusa Roma”, tornando-se um importante centro de adoração ao imperador na Ásia. Com o passar do tempo esta adoração ficou sendo uma prova de lealdade a Roma, pois o culto ao imperador tornou-se o ponto central da política do Império, e a recusa a tomar parte no culto oficial era considerada alta traição. Pérgamo era também o centro de culto a muitos outros deuses. A cidade tinha uma acrópole de uns 300 metros de altura com muitos templos a deuses pagãos. No alto havia um belo templo dedicado a Zeus, tendo ao seu lado outro templo dedicado à deusa Atenas. O padroeiro da cidade era Esculápio, o deus da medicina. Era adorado na forma de uma serpente, e o culto que lhe era prestado degenerou em corrupção. O Estado adotou esta religião pagã e castigava com a morte quem lhe recusasse prestar culto. Havia ali também templos de Júpiter, Minerva, Apolo, Vênus e Baco. Pérgamo era repleta de religiões pagãs e do culto ao imperador. A cidade tornou-se o quartel-general do culto ao imperador. Ali estava localizada a “concilia” que se encarregava dos assuntos da religião do Estado e das ofertas de incenso diante da imagem do imperador. Em Pérgamo nunca cessava a perseguição aos cristãos. Por esta razão era um ambiente muito difícil para uma igreja cristã. Talvez por todas estas coisas, a cidade é chamada pelo Senhor, como a cidade onde está o trono de Satanás. A sinagoga de Satanás era em Esmirna, mas o trono era em Pérgamo, onde ele dominava como o “príncipe deste mundo”. O trono de Satanás é poderoso e o seu domínio vasto, entretanto, o trono de Deus é mais elevado, o Seu domínio mais amplo e o Seu poder supremo. A cidade de Pérgamo gozava de preeminência política, arquitetural e educativa. O cônsul romano residia ali. A biblioteca de Pérgamo possuía duzentos mil volumes e rivalizava-se com a famosa biblioteca de Alexandria. A nossa palavra pergaminho vem do nome de Pérgamo, onde foi aperfeiçoado o uso de peles de carneiro para escrever, ao invés de papiro. Não há referência quem e como a igreja de Cristo foi fundada ali. É possível que fosse também fruto do extenso trabalho missionário de Paulo na cidade de Éfeso e de onde o Evangelho disseminou-se por toda a Ásia (Atos 19.10). 1. Identificação – 2.12 – “Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois gumes.” À igreja em Pérgamo Jesus identifica-se com alusão à Sua representação simbólica em 1.16. Nesta identificação pode haver um duplo simbolismo. Um primeiro simbolismo dAquele que tem a espada aguda de dois gumes pode significar a habilidade e o poder de Cristo para proteger os seus, mesmo no meio da perseguição e onde os mártires estiverem caindo. Portanto, identificando-se como protetor dos seus e inspirando-lhes confiança para continuarem firmes em sua fidelidade e lealdade. O segundo aspecto do simbolismo pode sugerir o poder de julgamento bem executado. Cristo vem com a espada de Sua boca, com o seu julgamento preciso e acurado do feito dos homens, para tratar diretamente com os falsos mestres e seus seguidores. A igreja, como veremos, era leal e fiel, mas, nos últimos tempos estava deixando de exercer a disciplina necessária, dando guarida aos que seguiam falsas doutrinas. 2. Louvor – 2.13 – “Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.” O Senhor tudo sabe e tudo conhece. Ele, como afirmou em 2.1, anda no meio de Suas igrejas. Nada lhe é oculto. Ele conhecia perfeitamente o lugar onde os crentes habitavam. Jesus conhecia muito bem a cidade de Pérgamo. Já vimos alguns traços da situação da cidade nos dias de João: o amplo domínio diabólico na cidade, obrigando todos a se curvarem ante os ídolos. Ali era o seu quartel-general. Jesus sabia de todas estas coisas e por isso elogia a lealdade e fidelidade dos seus discípulos. Eles retiveram o nome de Jesus Cristo mesmo diante de toda aquela pressão e perseguição. Não negaram o Seu nome e nem a sua fé em Cristo. Mesmo quando a perseguição chegou ao auge em que Antipas, fiel testemunha de Cristo entre os crentes de Pérgamo, onde Satanás habita. Não sabemos quem era esse Antipas, mas o seu martírio foi tão notável que mereceu este testemunho do Senhor. Há quem diga que talvez fosse o pastor da

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Igreja em Esmirna e morto em Pérgamo, mas isto é apenas sugestão. Também não sabemos se ele foi morto por um levante popular acusado de não adorar o imperador ou em decorrência de uma sentença judicial das autoridades locais. Pela carta a idéia é que teria sido morto por oficiais romanos por se recusar a cultuar o imperador. A fidelidade e lealdade deles, era até o ponto de morrer e isto merecia elogio do Senhor. 3. Queixa – 2.14–15 – Os verdadeiros discípulos eram leais e fiéis ao Senhor, no entanto, o Senhor tem uma queixa contra eles por tolerarem no seu meio alguns infiéis. Eles não estavam exercendo a disciplina que o Senhor exige de Suas igrejas. “Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, induzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem. Assim tens também alguns que, de igual modo, seguem a doutrina dos nicolaítas” (2.14-15). A Igreja em Pérgamo permanecia fiel mesmo diante das perseguições e das insinuações do Diabo para que negassem a sua fé, mas nem todos eram. A queixa de Jesus é que tinha algumas coisas contra eles. Que coisa terrível, sabermos que o Senhor tem algumas coisas contra nós. Antes de prosseguir, um momento de reflexão: Será que o Senhor aprova em tudo a nossa igreja? Será que Ele tem contra nós queixas por falhas em nossa vida como igreja? Meditemos nisto, pois, nós somos a igreja de Cristo. O Senhor conhece também todas as nossas obras. Será que a mensagem enviada à igreja em Pérgamo, é aplicável a nós, por admitirmos em nosso meio pessoas que seguem doutrinas falsas e têm vidas imorais? Temos exercido a disciplina eclesiástica como o Senhor deseja? A queixa básica refere-se a membros da igreja em Pérgamo que seguiam duas doutrinas heréticas: a de Balaão e a dos nicolaítas. Qual a doutrina de Balaão? Jesus mesmo esclarece em seus pontos principais. Era exatamente o modo de agir de Balaão no passado, como está descrito em Números 25 e Judas 11. A igreja em Pergamo, em sua maioria, era fiel à sua missão e aos ensinos de Cristo. Mas, infelizmente, alguns crentes aceitaram a doutrina de Balaão, que surgiu e foi propagada em proveito pessoal. A síntese e´: “O povo de Deus pode participar, comer e se casar com os infiéis, sem incorrer em condenação. Pode comungar com os pagãos, comer das coisas oferecidas aos ídolos, acomodar-se às circunstâncias, fazer em Roma como fazem os romanos; não devem ser fanáticos, devem saber levar a vida” Se recordarmos a história de Números, veremos que, Balaque, com medo dos israelitas, mandou chamar Balaão para que este amaldiçoasse a Israel de modo que eles fossem derrotados. Balaão queria ser fiel a Deus, mas a tentação das riquezas, acabou levando-o a aconselhar Balaque o meio de derrotar os israelitas. Era lançar tropeços diante deles. Assim através das midianistas, muitos israelitas foram levados ao adultério tanto no sentido real da palavra (sexual) quanto no sentido metafórico (adorar outros deuses). Balaão desejou tirar lucros materiais, ainda que perdendo espiritualmente. Na igreja em Pérgamo havia membros que estavam fazendo o mesmo. Cumpriam certos deveres espirituais com o fim de prosperar em seu bem-estar material. Aconselhava que valia a pena cultuar o imperador para escapar à perseguição, e ensinavam que se podia proceder de um modo imoral para se tornarem amigos e companheiros dos romanos, escapando assim à perseguição. A doutrina dos nicolaítas já vimos noutra parte desta lição. Apenas devemos observar que em Pérgamo houve fusão destas doutrinas heréticas. Era o sincretismo religioso que é tão comum hoje em dia. 4. Advertência – 2.16-17a - “Arrepende-te, pois, ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a minha boca” (2.16). A advertência do Senhor é para toda a igreja. Toda a igreja deveria arrepender-se pela atitude de indulgência e tolerância do pecado à vista. O arrependimento neste caso não era de más ações praticadas ou falta de amor. Era a tolerância do pecado. Era a falta do exercício da disciplina. Creio que esta advertência é muito oportuna para os dias de hoje, quando, de um modo geral, as igrejas não se preocupam muito com a disciplina. A necessidade da disciplina é para a pureza da igreja e para o bem do faltoso. Se a igreja não toma providências, outros são levados a praticar os mesmos pecados. Já que há quem os faça, por que eu

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não posso fazer também? E a ausência de disciplina é também falta de amor para com o que está em pecado, pois, se é tolerado, não sente necessidade de abandonar o pecado. Jesus advertiu a igreja que se arrependesse, o que significa que deveria tomar medidas disciplinares para com os seguidores das doutrinas de Balaão e dos nicolaítas. Se a igreja não tomasse as providências, em breve, o próprio Senhor viria à igreja e batalharia contra os faltosos com a espada de Sua boca. Não diz qual seria o juízo, mas o fato é que viria e darei o justo julgamento aos que não Lhe eram fiéis. Termina a Sua advertência com a exortação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” 5. Promessas – 2.17b – “Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra branca um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Jesus promete atender as necessidades dos seus fiéis. Ele lhes dará o maná escondido, o sustento espiritual que o mundo não conhece e não pode compreender. O vencedor vai participar do banquete no céu, que consiste na comunhão com o próprio Cristo. A referência ao maná escondido talvez seja pelo fato de Deus ter pedido a Moisés que colocasse uma porção do maná num vaso de ouro e colocasse diante do Senhor (Êxodo 16. 33). Assim como Deus alimentou o povo de Israel no deserto por quarenta anos, Cristo promete alimentar espiritualmente os vencedores. A segunda promessa, no que diz respeito a “pedrinha branca”, é mais difícil entender. Há muitas sugestões. No mundo antigo as pedras tinham muitas utilidades. Uma pedra branca significava absolvição por um júri e uma pedra preta condenação. Usava-se pedras brancas como bilhetes de entrada em festivais públicos. Talvez este seja o significado que melhor caiba no contexto. A pedrinha branca seria o símbolo da admissão à festa messiânica. Na pedrinha branca um novo nome, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe. Como vencedores, teremos um novo nome. Vale a pena ser leal e fiel a Cristo. Há quem diga também, que o simbolismo do novo nome pode ser a experiência cristã individual e íntima entre a alma e o Salvador, a qual na sua significação mais profunda, é incomunicável aos outros. IV. A IGREJA EM TIATIRA: OPEROSIDADE CRESCENTE – (Apocalipse 2.18–29)

Esta carta, em extensão, é a maior de todas as sete. A carta demonstra que é uma igreja aprovada pelo seu trabalho, pelo seu amor, pela sua fé, pela sua perseverança e ainda mais, as últimas obras eram melhores que as primeiras, mas tinha um sério problema: a tolerância de uma falsa profetiza que estava ensinando e seduzindo muitos crentes à prostituição tanto moral como espiritual.

1. A cidade Tiatira – Tiatira é das sete cidades mencionadas no Apocalipse a menos importante; não era nenhum centro político ou religioso, e tinha somente alguma importância comercial. Ficava a sudoeste de Pérgamo entre os rios Hermo e Caico. Estava situada numa planície e era junção importante no sistema rodoviário dos romanos, estando situada na estrada vinda de Pérgamo a Laodicéia e, daí para as províncias orientais. Comparado com as outras cidades citadas, tinha poucos templos, mas, mesmo assim, era uma cidade politeísta, dominada por forte idolatria, um ambiente onde as orgias sexuais sempre se ligavam às religiões. Havia o templo de Apolo, o de Tirimanios, o de Ártemis e um santuário a Sambate. Tiatira também era uma província romana, área hoje ocupada pela parte ocidental da moderna Turquia. A cidade foi fundada como guarnição fronteiriça por Selêuco I, da Síria, no século IV a.C. Mais tarde tornou-se uma guarnição da fronteira oriental do reinado de Pérgamo. Passou para as mãos dos romanos em 133 a.C. Comercialmente a cidade era próspera, mas politicamente era a menos importante das sete do Apocalipse. Havia indústria de tintas, fabrico de roupas, cerâmicas e objetos de bronze. Em Tiatira formaram-se corporações comerciais. Uma dessas corporações comerciava vestimentas de púrpura, e é possível que Lídia fosse uma representante desta corporação em Filipos (Atos 16.14). Difícil

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seria para alguém trabalhar em comércio ou indústria em Tiatira sem estar filiado à corporação corresponde. Estas corporações promoviam almoços, geralmente dedicados a algum deus pagão e estas festas muitas vezes terminavam em licenciosidade desenfreada. Isto trazia problemas para os cristãos. Alguns com a alegação de que os deuses pagãos, na realidade, não existem, achavam que o participar da refeição não comprometia o testemunho cristão. Cedendo um pouco mais, acabavam sendo envolvidos pelas orgias que se seguiam após as refeições. Problema semelhante havia em outras cidades. Em Éfeso, a igreja tinha-se declarado contra qualquer compromisso com as práticas pagãs. Em Pérgamo um pequeno grupo dentro da igreja tinha defendido a participação na vida social dos pagãos. Em Tiatira a questão assumiu uma forma nova e perigosa como iremos ver mais à frente. 2. A Igreja em Tiatira - Nada sabemos com certeza sobre quem fundou e como nasceu a igreja em Tiatira. Há várias suposições. Alguns pensam que Lídia, a primeira convertida na Europa pelo ministério de Paulo (Atos 16.14) em sua segunda viagem missionária, sendo natural da cidade de Tiatira, teria levado o Evangelho para a sua cidade. Sabemos do seu fervor e dedicação a Cristo logo após a sua conversão, pois, constrangeu a Paulo e a seus companheiros a entrarem em sua casa e ali ficarem. A igreja de Filipos começa em sua casa. Apesar disto, a Bíblia nada mais revela sobre Lídia, a vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira. A suposição vem pelo seu entusiasmo para com o Evangelho revelado em Atos 16, mas não há nada que possa comprovar este fato. Se não foi por instrumentalidade dela, há possibilidade de que, como resultado do longo ministério de Paulo e seus companheiros em Éfeso, durante sua terceira viagem missionária, o Evangelho chegou a Tiatira. 3. Identificação de Cristo - 2.18 – “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes a latão reluzente.” Podemos observar que o Senhor apresenta-se à igreja em Tiatira como o Filho de Deus. É o único lugar no livro do Apocalipse em que este título aparece, ainda que em outros lugares, Deus é chamado de Pai de Cristo, como em 1.6; 2.27; 3.5, 21 e 14.1. Quanto às qualificações da identificação que vem a seguir, são da representação simbólica de Jesus em 1.14 e 15. Com esta identificação podemos sentir que Ele é infalível (Filho de Deus), onisciente (olhos penetrantes como chama de fogo) e forte (pés como de latão reluzente). Com esta apresentação, a igreja devia prestar atenção às suas palavras. Ele conhece perfeitamente as condições da igreja e por isso está qualificado para julgá-los e adverti-los. 4. Louvor – 2.19 – “Conheço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço, e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosas que as primeiras.” Jesus reconhece as virtudes deles e os elogia. Uma igreja realmente digna de ser louvada: era operosa, possuindo o verdadeiro amor cristão, uma fé sincera. Era perseverante e que havia progredido espiritualmente. Geo. W. McDaniel sintetiza a boa igreja em Tiatira em três pontos: “ (1) Era uma igreja ativa. Não era um clube social, nem era uma sociedade de admiração mútua; não era um hospital para inválidos religiosos, mas era uma organização ativa, zelosa, incansável e agressiva, composta de santos. (2) Os seus motivos eram religiosos. As suas atividades eram o resultado do seu amor, fé, serviço e paciência. O amor era um hábito. A bondade sincera abundava. A luz prevalecia no seio desta igreja. (3) As suas obras aumentavam com o decorrer dos anos. A utilidade da igreja em Éfeso diminuía, porém, a de Tiatira aumentava. O tempo alargava e aprofundava as atividades daqueles irmãos. A idade não esfriava o seu ardor, nem diminuía os seus esforços. “Eu sei que tuas derradeiras obras são mais do que as primeiras” (op. cit. pág. 259). Seria de fato uma igreja notável se a carta findasse neste ponto. Eles realizavam a obra do Senhor com fidelidade, amor e paciência. Estavam “crescendo na graça” a ponto de poder-se fazer uma comparação do nível atual com o do início. As obras deles agora eram mais numerosas. Pena é que, ao lado deste aspecto positivo, houvesse um

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mal terrível que merecia uma repreensão muito severa. Jesus vê o que é bom nas suas igrejas, louva-as por isso, mas não pode calar-se diante do mal. Novamente a nossa atenção é chamada para a necessidade da disciplina. Uma igreja nunca alcançará o seu melhor estado espiritual negligenciando a parte disciplinar. Já notamos isto na carta à igreja em Pérgamo e aqui a severidade é muito maior. 5. Queixa e condenação – 2.20-23 – “Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos; e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem adultério com ela, se não se arrependerem das obras dela; e ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou Aquele que esquadrinha os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as suas obras.” A queixa do Senhor contra a igreja era a tolerância com uma mulher perversa, Jezabel, dando assim guarida a uma heresia e a sua divulgação. Notamos que a tolerância da igreja não salvou Jezabel. Tolerar o pecado e aqueles que insistem em viver no pecado, não é prova de amor. O amor verdadeiro deve levar à ação para tentar corrigir o erro. A tolerância pode trazer uma falsa segurança para o pecador. Possivelmente o nome Jezabel seja simbólico. Há várias tentativas de identificar a mulher Jezabel. A palavra grega traduzida por mulher é gunê que tanto pode significar mulher como esposa. Por isso Dr. Carroll sugere que ela fosse a esposa do pastor. No entanto, não há nada no texto que nos permita afirmar isso. O fato é que essa mulher representa o desprezo da moral, a contestação da hediondez do pecado, o enxerto da filosofia pagã no cristianismo e a destruição do culto cristão, pela mistura com as doutrinas e práticas pagãs, corrompendo assim o povo de Deus. Em passado recente temos exemplos de mulheres semelhantes que semearam as três grandes apostasias do século dezenove: As irmãs Fox, em relação ao espiritismo; a Sr. Blavatsky em relação ao teosofismo e a Sra. Eddy em relação à “Ciência Cristã”. No Velho Testamento temos a influência perniciosa de Jezabel, esposa do rei Acabe. Encontramos a sua história no primeiro livro de Reis, dos capítulo 16.31 a 21.39 e sua morte em II Reis 9.30–37. Era uma rainha idólatra e imoral, que lutou com o profeta Elias, desafiando a sua autoridade espiritual legítima. Ela era filha de Etbaal, rei de Sidom, que fora sacerdote de Astarte, tendo subido ao trono ao assassinar o seu antecessor, Feles. Acabe não hesitou em casar-se com essa princesa pagã. Esse casamento acabou levando o reino do norte, Israel ao início da derrocada moral. Ela nunca respeitou e nem procurou entender a religião hebraica do povo sobre quem obteve ascendência pelo seu casamento com Acabe. Ela mandou matar todos os profetas do Senhor (I Reis 16. 13). Ela instigava o seu esposo em todas as más ações. Ela usava de todos os meios imorais para atingir os seus propósitos como podemos ler no cap. 21 de I Reis quando ordena a morte de Nabote. O culto a Baal é instituído no reino do norte por sua influência. Um enorme templo a Baal é erguido em Samaria. Ela induziu o seu esposo e seus súditos ao culto idólatra. “Jezabel, a prostituta religiosa e ardorosa promotora da idolatria, tornou-se um símbolo apto para o surgimento do gnosticismo na igreja cristã, porque era um culto estrangeiro, essencialmente uma religião misteriosa oriental, mas que procurava apresentar-se como se fora a verdadeira fé cristã, mediante a mistura com o cristianismo, o que sucedeu em diversas localidades. Normalmente o gnosticismo promovia a imoralidade, supondo que assim ajudava na eventual destruição da matéria, através do abuso contra o corpo. Para os mestres gnósticos, o corpo não era algo ‘indiferente’ apenas, para ser usado como o indivíduo bem entendesse, mas também algo que tinha de ser ativamente corrompido, especialmente mediante vícios sexuais. Supõe-se que os nicolaítas e os seguidores de Baal, eram grupos que faziam parte do movimento gnóstico geral. Essa heresia, corrupta em suas crenças e em suas práticas, assediou as igrejas cristãs por nada menos de cento e cinqüenta anos” (R. N. Champlin, op. cit. vol 6, pág. 408). Jezabel possivelmente foi uma líder de um partido amoral dentro da igreja em Tiatira. Possivelmente este não era o seu verdadeiro nome, mas no caráter era uma verdadeira Jezabel.

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Talvez não hesitasse em opinar que não havia mal no culto ao imperador, chegando até mesmo a encorajar os crentes a participar desse tipo especial de idolatria. Ela se dizia profetisa. Pelo que o texto sugere, podemos admitir que ela dizia haver recebido de Deus alguma revelação mística especial Com isto ela ia seduzindo os crentes a se prostituírem e comerem das coisas sacrificadas aos ídolos. Jesus diz que lhe deu tempo para que se arrependesse da sua prostituição, mas ela não quis. Com a expressão “dei-lhe tempo para que se arrependesse” temos uma referência de que Deus raramente traz os julgamentos imediatamente. Em seu amor, Ele dá um tempo. Não sabemos exatamente de que maneira foi “esse tempo”, mas referem-se a algum incidente no passado desconhecido para nós, quando Deus usou alguma situação para repreender a falsa profetisa e levá-la ao arrependimento. Alguém sugere que talvez até o próprio João, servindo na igreja de Tiatira a repreendeu sem resultados.

A tolerância da igreja em Tiatira para com Jezabel fez mal a vários membros da igreja. A demora de Ló em sair de Sodoma pôs os seus em perigo de vida. Foi pela misericórdia de Deus, que o tirou dali, é que o salvou, bem como aos seus. A igreja de Tiatira fez mal a si mesma, aos seus membros, à sua fraternidade permitindo que Jezabel, como membro, propagasse “as coisas profundas de Satanás”. A paciência excessiva, a tolerância demasiada para com os pecados e pecadores é prejudicial a todos. Há necessidade imperiosa de se exercer a disciplina.

A condenação de Jezabel e seus seguidores é anunciada no v. 22 e 23: “Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem adultério com ela, se não se arrependerem das obras dela; e ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que sou aquele que esquadrinha os rins e os corações; e darei a cada um segundo a sua obra.” “O lançar no leito” pode ser a promessa de Deus em punir Jezabel afligindo-a com alguma doença física. Ela fizera da cama um lugar de concupiscência e vício, Deus prepararia para ela um leito de angústia e de tribulação. O prazer seria transmutado em dor. Este leito poderia simbolizar também pragas, tragédias. Os seus seguidores, no caso chamados filhos, receberiam também severos julgamentos de Deus. A condenação é que tanto Jezabel marchava para a ruína, como os seus seguidores pereceriam no pecado que praticavam. Isto seria para provar que Deus ainda domina todas as coisas e julga os homens segundo os seus feitos (2.23). Devemos lembrar que de Deus ninguém zomba nem escarnece. O que o homem semear, isto ceifará (ver. Gálatas 6.7–8). 6. Promessa – 2.24-29 - A primeira promessa de Jesus à igreja em Tiatira é seguida de uma advertência: “Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga não vos porei; mas o que tendes, retende-o até que Eu venha” (2.24-25). A promessa é para os que permaneciam fiéis. Jezabel e os que a ela aderiram seriam castigados. Os que não se deixaram arrastar pela imoralidade, que resistiram as pressões pagãs, opondo-se a todos os falsos ensinos e práticas das “chamadas profundezas de Satanás” não receberiam outra carga. Esta expressão “profundezas de Satanás” tem recebido várias interpretações. Uma delas é que uma declaração irônica. Aquilo que os gnósticos chamavam de “profundezas espirituais de Deus”, na realidade eram “as coisas profundas de Satanás”. As imoralidades deles não podiam ser consideradas parte integrante da ética cristã, que é de inspiração divina, mas ao contrário eram antes manifestações do reino das trevas. Há outros que querem ver aí a idéia de que gnósticos investigavam as profundezas de Satanás, a fim de entender a verdadeira natureza do mal, que eles julgavam laborar em favor deles, livrando-os, afinal, do mal, porque, de acordo com suas doutrinas, o livramento vem através do conhecimento. Há também que os vêem na expressão os reais adoradores de Satanás, com um veneração proposital ao arcanjo do mal. Os gnósticos ofitas adoravam à serpente e gnósticos de tempos posteriores, como os cainitas, os carpocracianos e os naassenos, jactavam-se do seu conhecimento de Satanás (a serpente). Alguns deles chegaram a inverter todos os ensinos da Bíblia, trocando o bem pelo mal. Mas talvez o melhor seja não esquecermos a interpretação simbólica e espiritual do versículo. Tudo que nos afasta da verdadeira fé em Cristo e de suas práticas, na realidade vem de Satanás, direta ou indiretamente. A lição prática que nos fica, é o cuidado que

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devemos ter com as “crenças fáceis”, com o “Evangelho barato”, que permite ao homem fazer tudo quanto quiser. Esta primeira promessa vem seguida da advertência: “mas o que tendes, retende-o até que Eu venha”. Os fiéis – os que não se deixaram levar pelos falsos ensinos de Jezabel e pela sua sedução - não receberiam nenhum fardo extra, não teriam opressão ou dificuldade maior, mas deveriam reter o que tinham, isto é conservar a fidelidade doutrinária e a vida de pureza (ortodoxia e ortopraxia). A recomendação vale para nós também. Vivemos dias tumultuados na esfera espiritual. Há tantos pregadores, com tantas novidades. Não temos em nosso país perseguição religiosa, mas temos tantos apelos para caminhos que não são bíblicos. Cabe a nós, que temos convicção doutrinária, reter os verdadeiros ensinos de Cristo, pois em breve Ele virá. Temos que reter até a parousia as verdades bíblicas para recebermos a recompensa divina. A segunda promessa feita à igreja em Tiatira foi: “Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até o fim, Eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com vara de ferro as regerá, quebrando-as do modo como são quebrados os vasos de oleiro, assim como Eu recebi autoridade de meu Pai; também darei a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2.26-29). A segunda promessa, na realidade envolve duas: autoridade sobre as nações e a estrela da manhã. A idéia transmitida é que os salvos junto com Cristo participarão do governo junto às nações. Jesus prometeu aos doze que no mundo vindouro eles estariam sentados em doze tronos julgando as doze tribos de Israel (Mateus 19.28) Paulo afirma que os santos julgarão o mundo (I Cor. 6.2). O estabelecimento efetivo do Reino de Deus só pode ocorrer com a destruição de todos os poderes hostis. Também há dificuldade na interpretação sobre a estrela da manhã. Pensa-se que há uma referência a Daniel 12.3, onde é prometido “àqueles que a muitos conduzirem à justiça brilharão como as estrelas sempre e eternamente”. A carta termina com a solene advertência: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” V. A IGREJA EM SARDES: A IGREJA MODORRENTA – Apocalipse 3. 1 – 6

Sardes, foi a capital da Lídia, ficava a sudeste de Tiatira e a nordeste de Esmirna. A sua glória estava no passado. No sexto século a.C. fora capital do antigo Império da Lídia. Creso, foi o último dos reis da Lídia e era considerado o homem mais rico da antigüidade. A corte de Creso era em Sardes. Grande parte da riqueza de Sardes se devia ao ouro abundante do rio Pactolo, que atravessava a cidade. Neste período a cidade tornou-se muito próspera. Foi em Sardes que moedas de ouro e prata foram cunhadas pela primeira vez. Era uma fortaleza poderosa até que Ciro, rei da Pérsia, em 549 a.C., derrotou Sardes e outras cidades das redondezas. Afirmam alguns historiadores que ele se apoderou de uma quantia aproximada do valor de 600.000 dólares e levou-a consigo. Mais tarde, em 214 a.C. foi tomada por Antíoco, o Grande, que também saqueou a cidade. A cidade depois foi conquistada pelos romanos, mas nunca recuperou a sua glória passada. No ano 16 d.C. foi destruída por um terremoto, mas com a ajuda de Tibério César a cidade foi reedificada. Com este ato levou a cidade à instauração do “culto ao imperador”. Disputou com Esmirna o privilégio de representar as cidades asiáticas como principal centro do culto imperial. Erigiu ali um templo a Tibério, mas Esmirna recebeu o privilégio. A arte de tingir a lã foi descoberta em Sardes, segundo Plínio. Ali se desenvolveu uma grande indústria de lanifícios. Vários metais também eram extraídos ali, aumentando as riquezas de Sardes. No local da cidade hoje há apenas ruínas que remontam à cidade, ao tempo do Novo Testamento. Próximo da antiga cidade de Sardes, há hoje uma pequena aldeia chamada Sarte.

1. Identificação – 3.1a – “Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas”. Com esta identificação também extraída da representação simbólica de Cristo, o Senhor apresenta-se como Aquele que tem a plenitude do poder e da

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sabedoria. Do mesmo modo tem em suas mãos o destino das igrejas. Por isso elas farão bem em atender o seu conselho.

2. Queixa ou censura – 3.1b – “Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto.” Até este ponto Jesus Cristo sempre apresentou uma palavra de louvor ou elogio, para depois censurar. Há pouca coisa para se louvar, uns poucos fiéis que não contaminaram as suas vestes (3.4) e muita coisa para censurar. Por isso após uma breve identificação, em poucas palavras, faz uma queixa terrível. Exteriormente a igreja revelava grande atividade, mas internamente não tinha nenhuma espiritualidade. Era uma igreja formal. Os seus cultos se realizavam regularmente como em todas as outras igrejas. A forma de culto mantinha-se em ordem. A organização era perfeita. Quem a olhasse por fora teria a impressão de ser a igreja ideal, mas não tinha vida real. Era uma igreja que tinha boa reputação, pois, os homens olhando-a, e talvez até mesmo suas co-irmãs, a chamariam de igreja viva. Aparentemente estava tudo bem: tens nome de que vives. Aos olhos dos homens poderia parecer tudo em ordem, mas o Senhor que conhece as obras de cada um conclui: “e estás morto.” O formalismo e ritualismo tomaram conta da igreja. Era uma igreja nominal, faltando qualidade de vida espiritual. Suas obras existiam, mas não eram perfeitas. Falhava em consolidar entre os seus membros a doutrina apostólica que havia recebido. “Todos a reputavam como igreja florescente, ativa e bem sucedida; todos, com exceção de Cristo. Suas obras não atingiam o padrão estabelecido por Cristo. Ninguém naquela igreja tinha atingido a integridade necessária (ver v. 2). Se Cristo ameaça não confessá-la diante de Deus a razão é que, apesar de todo o seu ativismo, ela não está de fato, confessando a Cristo (v. 5)” (Michael Wilcock, op. cit. pág. 30).

3. Conselho – 3.2 – “Sê vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus.” O conselho do Senhor à igreja é que seja vigilante e que confirme o restante, que estava para morrer. Poucos estavam ainda com vida, mas estavam à beira da morte. Ainda poderiam ser salvos mediante pronta intervenção. As aparências e formas estavam bem, mas precisavam ser tocadas pelo poder de Deus. As obras da igreja eram imperfeitas aos olhos do Senhor. Ainda que a igreja gozasse de bom conceito entre os homens, como igreja de boas obras, aos olhos de Deus não as eram. “Perante os olhos divinos, o melhor da igreja deixava de atingir o alvo. Pesada foi na balança e achada em falta. A igreja, qual ela se vê a si e como a vê o mundo, não é muitas vezes como Deus a vê. O juízo divino é infalível, e por Ele as igrejas e os indivíduos ou ficam em pé ou caem” (Geo. W. McDaniel, op. cit. pág. 263). Milligan escreve sobre a igreja de Sardes: “O mundo vinha sendo tolerado em Tiatira, a primeira das quatro últimas igrejas; em Sardes, a segunda delas, vinha sendo mais do que tolerada. Sardes substituíra o que é interno pelo que é externo. Mostrava-se orgulhosa de suas ordenanças externas, dando-lhe mais atenção do que a vida e o andar no Espírito... O mundo conseguiu firmar um fortim em Sardes.”

O conselho do Senhor é que a igreja devia estar vigilante e confirmar os que ainda podiam ser salvos. Ela conhecia a verdade do Evangelho, deveria ficar fiel e levar os que ainda não se tinham contaminado com o mundo a permanecerem firmes.

4. Aviso – 3.3. – “Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e

arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.” A igreja poderia evitar o desastre espiritual com duas ações: (1) Lembrar-se do que tinha recebido e ouvido. A igreja foi fundada sobre Cristo e Seus ensinamentos. Ela conhecia as verdades, pois as tinha recebido e ouvido. Naquele tempo o Novo Testamento ainda não estava completo. Havia cópias, ainda que em pequeno número dos Evangelhos e das epístolas de Paulo, Pedro e João. Eles receberam a mensagem via oral, mas o Evangelho ia perdendo o seu vigor em meio à paganização da igreja. Muitos adotavam padrões de vida mundana. O aviso do Senhor é que eles se lembrassem do que tinham recebido. A idéia de lembrar é reforçada pelo verbo guardar. Lembrar e observar.

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Lembrar e viver aqueles ensinos recebidos através dos pioneiros da obra de evangelização em Sardes. Se a igreja não fizesse isto, Jesus viria como ladrão, sobre ela com juízo e destruição. Para os crentes de Sardes esta advertência: para que vigiasse tem um sentido especial. A cidade de Sardes estava edificada sobre um monte, e três dos seus lados acabavam em descidas íngremes, verdadeiros precipícios. Assim era fácil vigiar do alto e defender a cidade de quaisquer inimigos. Eles deviam estar vigilantes, pois, eles não sabiam a que hora Cristo viria sobre eles. Esta vigilância significava que deviam voltar e praticar os ensinamentos recebidos. O ladrão vem exatamente quanto menos esperamos. Eles também não sabiam a hora da visita de julgamento do Senhor.

5. Reconhecimento – 3.4 – “Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não

contaminaram as suas vestes e comigo andarão vestidas de branco, porquanto são dignas.” Mas, nem tudo e nem todos estavam perdidos ou mortos. Havia um pequeno grupo: algumas pessoas, que não contaminaram os seus vestidos, que não compartilharam dos pecados comuns do povo, não tinham participado do culto pagão, nem do mundanismo e corrupção daquela cidade e daqueles dias. Tinham permanecido fiéis ao Senhor. “Notai as suas características. Eram: (1) Poucos entre muitos; (2) espirituais no meio de mundanos; (3) puros entre os impuros; (4) acordados entre os que dormiam; (5) vivos entre os mortos; (6) salvos entre os perdidos; (7) vitoriosos entre os derrotados” (Geo. W. McDaniel, op. cit. pág. 263).

Este grupo fiel tinha um galardão aguardando-os. Eles terão o privilégio de andar com Cristo vestidos de branco, símbolo da justiça e pureza. Isto significa que o caráter e as obras deles foram aprovados. As vestes brancas constituem o símbolo exterior da pureza do caráter, que é interior e invisível aos olhares humanos. Os que vivem sem corrupção terão caracteres imaculados. Por isso a representação de vestes brancas. O branco é o símbolo da pureza, alegria e vitória. No Apocalipse temos as vestes brancas, a nuvem branca, o trono branco, a pedra branca, o cavalo branco.

6. A promessa - 3.5–6 – “O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira

nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (v. 5). O vencedor, agora para todos e não apenas aos poucos fiéis, recebe três promessas: receberá vestes brancas, seu nome não será riscado do livro da vida e Jesus confessará o nome dele diante de Deus Pai e dos Seus anjos. As vestes brancas podem ser contrastadas com os tecidos coloridos produzidos nas cidade. Sardes orgulhava-se do comércio de tecidos coloridos, de que se confeccionavam as vestes coloridas para pessoas pagãs e mundanas. Os vencedores receberiam vestes brancas, símbolo da pureza de suas vidas, contrastadas com a impureza da vida dos pagãos e mundanos. A segunda bênção, os vencedores podem ter a certeza da salvação eterna: o nome deles está escrito no Livro da Vida, e seus nomes de maneira alguma serão riscados do Livro da Vida. Os nomes dos que se recusavam a cultuar o imperador, tinham os seus nomes banidos, riscados da memória da humanidade, mas os seus nomes tinham sido escritos no livro dos mártires do Cristianismo. E como eles não se envergonharam e não temeram confessar o nome de Jesus, mesmo diante das autoridades romanas, Jesus também, com alegria, confessará os nomes deles diante de Seu Pai e de Seus anjos. Notemos complementarmente, que todo o Novo Testamento ensina enfaticamente a segurança eterna do crente e que o fato de alguém vencer e permanecer fiel até o fim é a prova de que realmente ele era redimido desde o princípio.

Como todas as outras cartas, esta também termina com a solene advertência: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

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VI. A IGREJA EM FILADÉLFIA: UMA PEQUENA GRANDE IGREJA (Apocalipse 3.7–13)

Os expositores bíblicos têm dado vários nomes à igreja em Filadélfia. Ray Summers a chama de “A igreja com uma porta aberta”. McDaniel a chama de “A pequena igreja fazendo uma grande obra.” Nós preferimos dar-lhe um título paradoxal: Uma pequena grande igreja. Explicando, uma igreja pequena, aparentemente com pouca força, mas uma igreja forte e fiel ao Senhor, a ponto de somente ela e a igreja em Esmirna não receberem nenhuma repreensão. Por outro lado, é a única igreja à quem Jesus declara explicitamente que a ama (v. 9b). Certamente o Senhor ama a todas as suas igrejas, pois Ele é Fundador de Sua igreja aqui na terra e por ela deu a Sua vida. No entanto entre as sete igrejas, somente esta ouviu: “para que saibam que Eu te amo”.

1. A cidade de Filadélfia – Originalmente a cidade foi fundada por Eumenes, rei de Pérgamo no segundo século a.C., tendo recebido o nome de seu irmão, Átalo II, que por sua fidelidade a seu irmão Eumenes, recebeu e epíteto de Filadelfo, que significa “amigo do irmão”. Como filos é amor amizade, muitos traduzem como amor fraternal. Fica a sudeste de Sardes. A cidade foi fundada para ser um centro de disseminação da língua, da cultura e dos costumes gregos. Logo, fundada para promover por toda a região a fidelidade ao helenismo. O culto principal da cidade era a Dionísio. No ano 17 d.C. a cidade foi destruída por um terremoto, mas uma doação imperial de Roma ajudou a sua reconstrução. Já era uma cidade onde imperava a idolatria, aumentando ainda mais com o culto ao imperador romano. A cidade tinha muitos e grandes templos pagãos, com suas festividades religiosas. No entanto, o problema maior da igreja não eram tanto os pagãos, mas os judeus. Hoje o nome da cidade é Allah Shehr, nome que significa Cidade de Deus. Infelizmente não só esta cidade, como as demais localidades em que estavam as igrejas que receberam originalmente o Apocalipse não são, hoje, áreas cristãs. De todas as localidades, foi em Filadélfia que o Cristianismo sobreviveu por mais tempo. Allah Shehr é hoje uma cidade da Turquia, mas ainda podem ser vistos os muros da antiga cidade, que cercam vários outeiros com ruínas de um templo e de outras construções antigas. Vicent comenta: “A situação é pitoresca, pois a aldeia ocupa quatro ou cinco colinas, estando bem suprida de árvores, e o clima é saudável. Acredita-se que uma das mesquitas ali existentes era o lugar das reuniões da igreja endereçada no Apocalipse. Uma coluna solitária, de grande antigüidade, com freqüência tem sido notada, lembrando as pessoas sobre as palavras do Apocalipse 3.13: ‘Ao vencedor, fá-lo-ei coluna do santuário do meu Deus’”. 2. Identificação – 3.7 – “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre.” - A esta igreja o Senhor apresenta-se como Aquele que tem caráter de “santo e verdadeiro”; quanto à sua posição oficial, é “o que tem a chave de Davi” e quanto à administração ou governo, é “Aquele que abre e ninguém fecha. O que fecha e ninguém abre”. Jesus é o Rei. O seu caráter de santidade e verdade dão-Lhe o direito de reinar. Reinando exerce o seu ofício real e administra os negócios do reino. Ele tem toda a autoridade. Em Sua soberania, o que determina, aquilo tem de ser feito. A expressão “a chave de Davi” vem de Isaías 22.22. A chave de Davi, é a chave de sua casa, que simbolicamente é o Reino Messiânico. “O pano de fundo para esta frase era a afirmação dos judeus de Filadélfia de que eles eram o verdadeiro povo de Deus, que tinha em seu poder a chave do Reino de Deus. Jesus contradiz isto quando diz que a chave do reino, que havia pertencido a Israel, na verdade Lhe pertence, pois é o Messias davídico, porque Israel perdera o direito sobre ela rejeitando seu Messias. Somente Cristo pode abrir a porta do Reino messiânico aos homens. Israel não mais. Que abre e ninguém fecha, e que fecha e ninguém abre é um comentário à chave de Davi. Cristo recebeu poder absoluto e exclusivo para permitir e excluir do Reino de Deus” (George Ladd, op. cit. pág. 46).

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3. Louvor – 3.8 – “Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.” O Senhor conhece as obras deles. Não especifica quais, mas a igreja era tão rica em boas obras que ela agradava ao Senhor. Mesmo tendo pouca força, sendo pequena não recebeu nenhuma crítica do Senhor. É possível que tivesse uma membrezia pequena, com poucos recursos financeiros, baixo prestígio social e nenhuma influência política. No entanto, era forte no seu aspecto doutrinário e na firmeza do seu testemunho. Uma lição prática para nós: a força espiritual de uma igreja não reside tão somente no número de membros, na capacidade financeira, no prestígio diante da sociedade ou mesmo quanta influência política tenha. A fortaleza de uma igreja está na sua espiritualidade, na sua fidelidade doutrinária e no seu testemunho cristão diante dos homens. O Senhor não só conhece o trabalho dos crentes de Filadélfia, como tem posto diante dela uma porta aberta, isto é, tem dado uma oportunidade para que eles possam servir ao Senhor com o seu testemunho. Como Ele declarou na identificação, Ele é o Soberano que tem em Suas mãos a autoridade sobre todas as coisas. Ele colocou diante da igreja uma porta aberta e esta porta ninguém pode fechar. O poder não está nas mãos dos homens. Por mais poderosos que os seus adversários fossem e eles tivessem pouca força, a porta da oportunidade estava aberta pelo poder do Senhor. Ninguém poderia fechar. Cabia à igreja em Filadélfia aproveitá-la.

4. Promessas – 3.9–10.12 – “Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não o são, mas mentem, - eis que farei que venham, e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que Eu te amo” (v. 9). Pela fidelidade deles, mesmo tendo pouca força e não O negando, o Senhor humilharia os seus adversários. Numa linguagem figurada, eles viriam e se prostrariam aos pés dos crentes, para que soubessem que Jesus os ama. Os judeus perseguidores dos cristãos, na realidade eram a sinagoga de Satanás, pois não estavam a serviço de Deus, mas de Satanás. As várias idéias sobre “eis que farei que venham e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que Eu te amo”; “Aquela gente seria: (1) Humilhada, reduzida a nada, depois de ter-se mostrado tão altiva; (2) os maus resultados da hostilidade seriam revertidos; (3) a falsidade de suas pretensões seria desmascarada; (4) a verdade do Evangelho, revelada através da igreja, seria demonstrada; (5) o bem triunfaria sobre o mal; (6) o mal não deixaria de ser convencido como tal, mas colheria a sua própria semeadura; (7) o fato de que se prostrarão ante os crentes seria apenas subproduto do fato de que todos se prostrarão diante de Cristo, o que fatalmente sucederá em escala universal. (...) Porém, o principal significado, aqui frisado, é o sentido escatológico, quando o bem triunfará definitiva e finalmente sobre o mal” (R. W. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 424). A segunda promessa feita à igreja em Filadélfia é conseqüência da fidelidade da igreja: “Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra” (v. 10). Visto que os crentes tinham mostrado firmeza e perseveraram em seu testemunho ao enfrentarem as pressões, Jesus promete guardá-los da provação que há de vir sobre o mundo inteiro. A terceira promessa vem na forma usual das outras cartas: “Ao que vencer”. O vencedor terá várias recompensas especiais: “Eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá. e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome” ( 12). “Por sua fidelidade, Cristo fará deles um elemento importante do santuário – simbolizado aqui pela coluna que sustenta o templo. Filadélfia defendera a verdade e cumprira sua missão; então, experimentaria o cumprimento da promessa do Senhor. (...) ‘E escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus ... e também o meu novo nome’. Sim, haverá perfeita segurança para aquele que vencer. O nome de Deus é gravado nele; o nome da cidade de Deus é aí uma marca do seu lugar de moradia; o nome do Cristo triunfante também estará, nele. Muitas das religiões pagãs usavam gravações ou marcas para identificar seus adeptos. Jesus com suas palavras quer simbolizar a relação que há entre Ele e seus discípulos, ao referir ao seu novo nome gravado neles. Jamais foi

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feita promessa mais gloriosa a qualquer outra das sete igrejas que esta revelada por Cristo à igreja em Filadélfia” (Ray Summers, op. cit. pág.169). 5. Aviso – 3.11,13 – “Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” Eles teriam que passar por tribulações, mas a tribulação não os venceria, conforme o v. 10, mas eles teriam que guardar bem o que tinham: o nome de Jesus, a Sua palavra, a paciência, a promessa da volta, a oportunidade que lhes era oferecida para servir à Causa. Eles iam bem na fé e no testemunho, mas deviam conservar-se nesta fidelidade. Não podiam descuidar-se. Numa competição esportiva a autoconfiança pode fazer com que o melhor atleta perca a “coroa”. A coroa era símbolo da vitória. Não deviam deixar que ninguém tomasse a coroa que já tinham conquistado até então. O v. 13 encerra com o alerta de Jesus Cristo: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. VI. A IGREJA EM LAODICÉIA: A IGREJA AUTO-SUFICIENTE (Apocalipse 3.14–22)

Poderíamos apresentar várias denominações para a igreja em Laodicéia: a igreja reprovada; a igreja com uma porta fechada ou a igreja morna.

1. A cidade de Laodicéia – Estava localizada no entroncamento de três estradas importantes. Esta localização contribuiu para que se tornasse um centro bancário, comercial e industrial de destaque. A cidade foi fundada em 250 a.C. por Selêucida Antíoco II. O nome foi em homenagem à sua esposa: Laodice. Posteriormente passou para o poder dos romanos. Sob o poder dos romanos adquiriu ainda maior influência, riqueza e poder. Um príncipe negociante doou à cidade dois mil talentos para melhoramentos públicos. Cícero negociava nela os seus títulos públicos. Além de centro bancário e comercial, tornou-se um centro industrial. Ali surgiram várias indústrias, como a da lã, fabrico de roupas e tapetes (inclusive com um belo tecido negro, de lã) e a de tabletes medicinais. Contava também com uma escola de medicina, particularmente conhecida por sua pomada para tratamento dos ouvidos e pelo “pó frígio”, usado para fabricar colírio. Era também uma estância hidromineral de águas mornas que vinham de fontes próximas à cidade. A cidade possuía teatros (três dos quais a arqueologia descobriu, sendo que um deles tinha 136 metros de diâmetros e pistas de corridas).

Laodicéia tornou-se como cidade-mãe, vindo incorporar uma área onde havia nada menos de vinte e cinco aldeias, tornando-se uma metrópole. A sua prosperidade material já era grande nos dias apostólicos e depois aumentou mais ainda. Para termos idéia basta que saibamos que ela foi destruída em boa parte por um terremoto nos anos 60 da era cristã, e ela foi capaz de financiar a reconstrução com recursos próprios, sendo que os seus cidadãos recusaram o auxílio financeiro do governo e reedificaram a cidade à sua própria custa. Outras cidades que foram atingidas pelo terremoto, como Laodicéia tinha sido atingida, precisaram recorrer aos subsídios imperiais para a reconstrução. Por isso a cidade tornou-se afetada pelo amor às riquezas. A cidade estava freqüentemente sujeita a terremotos. Hoje o local da antiga cidade de Laodicéia está deserto, mas muitas de suas ruínas atestam a sua antiga grandeza.

2. A igreja em Laodicéia – Não temos também o registro no Novo Testamento sobre a fundação da igreja em Laodicéia. Presume-se que foi fundada durante o período do ministério de Paulo em Éfeso por um dos seus auxiliares ou por um convertido em Éfeso e que depois levou o Evangelho para a sua cidade. O que sabemos com certeza é que ela já existia nos dias de Paulo, pela referência em Col. 4. 15, 15: “Saudai aos irmãos que estão em Laodicéia, e a Ninfas e a igreja que está em sua casa. Depois que for lida esta carta entre vós, fazei que o seja também na igreja dos laocenses; e a de Laodicéia lede-a vós também”. Pelo que inferimos, a igreja na época de Paulo era

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fiel e leal. Não há indícios de nenhuma exortação de Paulo por quaisquer problemas ou dificuldades na igreja. Pela carta aos Colossenses ficamos sabendo que Laodicéia era uma das igrejas pastoreadas por Epafras, e na sua ausência por Arquipo. Igreja, portanto, bem servida por bons pastores, colaboradores de Paulo. É possível que Paulo, após a absolvição de sua primeira prisão em Roma, tenha estado ali. Só que com o passar do tempo a situação mudou. Deixou-se levar pelo espírito mundano, pelo amor às riquezas; não via as coisas pelo lado espiritual, estava cega espiritualmente, por isso Jesus diz-lhe: “... e não sabes que és um coitado, miserável, pobre, cego e nu” (v. 17b). O mal não estava nas riquezas, nos bens ou roupas que possuíam, mas no amor às riquezas e na distorção espiritual que o mundo lhes causou. 3. Identificação – 3.14 – “Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus.” Jesus identifica-se primeiro, como o Amém. Esta palavra foi transliterada do hebraico para o grego e do grego para o português. O seu significado original traz a idéia de cuidar de, ou de edificar. O sentido que chegou até nós traz a idéia de alguma coisa bem firmada, alguma coisa positiva. Neste texto indica estabilidade. Assim a Sua identificação dá idéia daquele que é o mesmo sempre, sem mudança. A continuação da identificação confirma isto: a testemunha fiel e verdadeira e começo e o fim de toda a criação. Jesus, portanto, apresenta-se como a verdade imutável de Deus, nada tendo havido antes dEle e nada haverá depois dEle. 4. Queixa – 3.15–17 - “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca. Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego e nu” Jesus conhece as obras da igreja. Ele está ciente de tudo, nada escapa do seu olhar penetrante. Havia uma letargia espiritual. Não era fria – indiferença completa e manifesta; e nem quente – de zelo fervoroso. É o que o Senhor chama de morna. A linguagem metafórica é tirada da própria região. Lindos mananciais de águas mornas. Um viajante vindo cansado e sedento, vendo a fonte quer saciar a sua sede. Ao tomar aquela água mineral cristalina, a cospe porque está morna. Se a engolir irá vomitá-la. Que frustração para este viajante! É o mesmo que o Senhor sente. É mais fácil lidar com uma igreja fria do que com uma morna. Os crentes não sentem nenhum entusiasmo, não sentem a urgência do trabalho, não têm nenhuma paixão. Vão aos cultos de adoração por hábito. Servem por servir. Não apresentam zelo e nem fervor. Por isso estão sendo reprovados pelo Senhor. A segunda parte da queixa é tirada da auto-suficiência característica da cidade, mas também mostra a mesma atitude altivez dos crentes: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” Como vimos na breve apresentação da cidade, ali era o grande centro bancário da região. Havia enormes fortunas na cidade. Isto fazia dos seus habitantes, pessoas orgulhosas, arrogantes e independentes. Como recusaram a ajuda financeira do Império para a reconstrução da cidade, achando que tinham tudo e podiam tudo. Assim os crentes dali, certamente abastados, mundanizados, participantes da vida social, de práticas não condizentes com a vida cristã, achavam que podiam fazer tudo. A igreja em Laodicéia julgava-se uma igreja auto-suficiente, julgando-se livre de dependência externa, inclusive até mesmo da parte de Deus! Por esta razão, Jesus faz uma censura dura: “E não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego e nu” (v. 17 b). Por que eram coitados? Porque tendo um rico comércio pensavam que tinham tudo. O comércio deles tinha três vertentes principais: centro bancário: riquezas; comércio de lã escura e terceiro o ungüento usado como bálsamo para os olhos: colírio. Pensavam que tinham tudo. Jesus mostra que lhes falta tudo. Não são as coisas materiais que são as essenciais, as prioritárias. Elas são necessárias, mas acima delas estão as espirituais. Pensavam ser ricos, mas não tinham riqueza de caráter, não tinham vida espiritual. Eram na realidade pobres e miseráveis espiritualmente. Pensavam que tinham as melhores vestes, mas estavam nus. As roupagens que eles usavam eram o orgulho, a auto-suficiência e independência. Mas isto não cobria os pecados e a negligência espiritual deles. Diante de Deus estavam nus, Deus via-os como eram no íntimo.

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Pensavam ter colírio para descongestionar a vista quando chegavam das estafantes caminhadas pelos areais, sob o inclemente sol do deserto. Pensavam que viam muito bem, com o colírio que fabricavam, mas Jesus diz que eram cegos espiritualmente. Não podiam ver as realidades espirituais. Não podiam ver a sua miséria espiritual. Não podiam ver o que é eterno e o que é temporal. George Ladd diz o seguinte sobre este versículo 17: “A igreja se orgulhava de ser saudável e próspera. Literalmente o texto diz: ‘Estou rico, e adquiri riquezas’. Além de se orgulhar do seu suposto bem-estar espiritual, a igreja se orgulhava de ter conseguido sua riqueza com esforço próprio. Acomodação espiritual estava acompanhada de orgulho espiritual. Sem dúvida, parte do problema da igreja era sua incapacidade de distinguir entre prosperidade material e espiritual. Uma igreja que está prosperando materialmente, externamente, facilmente pode cair no engano de que a prosperidade exterior é a medida de sua prosperidade espiritual” (op. cit. pág.51). 5. O Conselho do Senhor – 3.18 – “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.” Certamente todo o versículo está usando uma linguagem metafórica, pois sabemos que bênçãos espirituais não podem ser compradas com dinheiro. A mesma linguagem figurada é usada em Isaías 55. 1, quando ele chama os famintos e sedentos para comprar vinho e leite sem dinheiro e sem preço. Jesus havia comparado o reino de Deus como um tesouro escondido que um homem comprou e como uma pérola de grande preço (Mat. 13. 44 – 45). São figuras para indicar o imenso valor das coisas espirituais. Ao aconselhar que a igreja compre dEle ouro refinado no fogo, Jesus está exortando-os a procurar as verdadeiras riquezas. Ouro refinado no fogo não perde o brilho. As vestes brancas são símbolos de pureza e sinceridade. O colírio dos médicos podia ajudar na visão física, mas nunca na visão espiritual. Para a cura da cegueira espiritual, só Jesus pode valer. 6. Admoestação – 3.19 – “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo, sê pois zeloso e arrepende-te”. Antes de admoestar a igreja para ser zelosa e arrepender-se, Jesus mostra porque está censurando tão severamente a igreja: é porque a ama. Como temos dito várias vezes nestas lições: a disciplina é sinal de amor. Quando amamos, desejamos o melhor para a pessoa amada. Ao vê-la no erro, no caminho do precipício, tudo faremos para que ela não caia. Ver alguém caminhando para a perdição e nada fazer é falta de amor. Jesus repreende e disciplina porque nos ama. Jesus deixa bem claro que suas duras palavras para a igreja dos laodicenses não significam que Ele os ame menos do que às outras igrejas. Sua admoestação é que eles se arrependam. Ainda há esperança. Por isso, Ele termina com um convite repleto de amor. 7. O apelo – 3.20 – “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei e ele comigo.” O apelo agora é individual. Cada membro da igreja é convidado ao arrependimento. Os membros da igreja sem vida e complacente quanto à vida espiritual são convidados por Jesus Cristo. Mesmo que a igreja esteja num estado triste e deplorável, Jesus está à porta de cada coração procurando entrada. Jesus está do lado de fora, batendo e pedindo entrada. Jesus não força a porta. Deve haver desejo de abrir a porta para o Senhor entrar e fazer a Sua obra. Na famosa pintura de Holman Hunt, em que Jesus Cristo aparece diante da porta, a bater, não há maçaneta do lado de fora. É que a porta do coração só pode ser aberta pelo lado de dentro. Conta-se a história de um pai que levou seu filho pequeno para ver o quadro. O filho perguntou ao pai: Por que não abrem a porta? O pai respondeu que é porque não estavam ouvindo. Depois de alguns minutos a criança diz ao pai: Não, mas é que estão muito ocupados no quartinho dos fundos, fazendo outras coisas e não sabem que Jesus está batendo na porta. Os crentes de Laodicéia viviam muito atarefados com o seu comércio, com os seus banquetes, com as suas riquezas materiais, orgulhando-se da sua própria espiritualidade, não percebendo a sua condição espiritual miserável e com isso nem sabiam que Jesus estava do lado de fora da porta, procurando

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entrar. Se alguém estiver pronto a abrir a porta do seu coração, Jesus entrará e haverá perfeita comunhão naquela alma, entre Jesus e o pecador arrependido e vice-versa. 8. A promessa – 3.21 – “Ao que vencer, Eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como Eu venci e me assentei com meu Pai no Seu trono.” A promessa de Cristo para os vencedores na igreja em Laodiceia é da participação gloriosa no poder universal conquistado pela vitória dEle na cruz. Jesus promete glória e amizade ao que vencer o espírito de letargia e se entusiasmar pela obra de Cristo. Jesus venceu e assentou-se no trono com Deus Pai, os vencedores participarão com Ele desta glória. Carpenter comenta: “A promessa de que partilharemos do trono é o clímax de uma série ascendente de gloriosas promessas, que fazem subir o pensamento desde o jardim do Éden (ver Apoc. 2. 7), através do deserto (ver Apoc. 2. 17), do templo (ver Apoc. 3. 12), e daí até o trono. A promessa se reveste de notável semelhança com a linguagem do apóstolo Paulo aos crentes de Éfeso (ver Ef. 2. 6). Essa promessa coroadora foi feita à mais repelente das igrejas do Apocalipse. Mas é apropriado que o desânimo, que com freqüência se verifica após o súbito colapso das imaginações auto-satisfeitas, pudesse ser agraciado com tão brilhante possibilidade. Apesar da religiosidade deles ter sido exibida como uma coisa oca, transparece uma esperança que bem pode espantar o desespero. O lugar mais elevado está ao alcance do mais baixo; a mais débil fagulha da graça pode ser transformada na mais poderosa chama do amor divino” ( R. W. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 436).

CONCLUSÃO Tendo apreciado as cartas às sete igrejas da Ásia Menor temos algumas lições práticas a apreciar. O seu estudo não apenas traz esclarecimentos sobre cada igreja e as condições em que viviam, mas mostra-nos a situação das igrejas de todos os períodos da História, inclusive de nossa época. Devemos ter em mente, não simplesmente o elogio, as queixas, as advertências e as promessas para aquelas igrejas, mas para a nossa igreja em particular. Eis algumas destas lições:

1. Fica bem claro que Jesus Cristo está atento à vida de suas igrejas também nos dias de hoje. Ele não abandonou os seus servos e suas igrejas. Ele está no meio de suas igrejas. Ele exige santidade de vida, vida de operosidade na Sua Causa. Ele socorre as Suas igrejas na hora necessária, como também disciplina as igrejas, caso elas não queiram obedecer. 2. Com a igreja em Tiatira aprendemos que, para fazermos a vontade de Deus, não basta que nos aperfeiçoemos em nossas obras, mas é preciso não tolerar em nosso meio os falsos mestres e aqueles que os seguem. Há necessidade do exercício da disciplina. Jesus deixou bem claro nestas cartas que a Sua disciplina é porque ele ama as Suas igrejas. Lembramos mais uma vez que há três formas de disciplina. A primeira forma é a melhor de todas: a disciplina formativa. Este tipo de disciplina se exerce pela formação do caráter. Pela pregação séria da Palavra de Deus, pelo estudo da Bíblia nas classes da EBD, pela leitura, estudo e meditação das Escrituras Sagradas, nós vamos formando o nosso caráter cristão. Vamos aprendendo qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Deus pelo profeta Oséias diz: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento” (4.6). Pelo conhecimento da Palavra de Deus nós vamos sendo aperfeiçoados. Depois temos a disciplina exortativa. Depois que ensinamos o que é correto, depois que a pessoa sabe a vontade de Deus e desobedece aos seus ensinos, ela precisa ser exortada, para que ela veja o seu erro e possa se arrepender. É o que Jesus demonstrou em quase todas estas cartas. E o último tipo de disciplina é a cirúrgica. Jesus ameaçou exercer esta disciplina, dizendo que se não houvesse arrependimento, Ele removeria o candeeiro do seu lugar. A mesma disciplina é prometida a Jezabel e seus seguidores. Jesus deu tempo para o arrependimento, mas ela não quis. Se o crente é cientificado do seu pecado, se exortado a arrepender-se e mudar de vida, e não quiser, só resta o

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afastamento do rol de membros. Como dissemos no decorrer da lição, tanto para o bem do faltoso quanto da igreja. 3. Com a igreja em Sardes aprendemos que não basta ter uma boa organização, cultos realizados regularmente, tudo funcionando bem, com um ativismo muito grande, dando a impressão de grande espiritualidade. É bom ter organização, cultos em ordem, tudo funcionando bem, todos trabalhando, mas se não houver vida espiritual, verdadeira comunhão com o Senhor, nada disto valerá. Podemos ter o nome de estar vivos, mas na realidade estamos mortos e, às vezes, sem o perceber. Precisamos da comunhão íntima com o Senhor e o amor de Cristo deve estar presente em todos os nossos atos. 4. Com a igreja em Filadélfia aprendemos que mesmo tendo pouca força, mesmo sendo uma igreja pequena, podemos, pela graça e poder de Deus, realizar uma grande obra. Quem abre e fecha as portas é o nosso Senhor. Para fazermos a obra de Deus e sermos fiéis a Ele não é necessário que sejamos muitos. O que é preciso é fidelidade e dedicação. 5. Finalmente com a igreja em Laodicéia aprendemos que precisamos ser humildes e submissos a Deus. Não podemos permitir que as coisas deste mundo, sejam suas riquezas, seus prazeres, seus compromissos afastem Cristo do nosso meio e do nosso coração. Nunca devemos permitir que o espírito de auto-suficiência e orgulho tome conta tanto do nosso coração individualmente, quanto de nossa igreja. Nunca devemos pensar que nós somos capazes por nós mesmos. Só com Cristo é que nós podemos tudo. 6. “Cada igreja tinha características próprias. A igreja de Éfeso era ortodoxa, mas fria. A igreja de Esmirna era pobre nas coisas do mundo, mas rica para com Deus. Pérgamo era fiel à fé, mas fraca na disciplina. Tiatira crescia em serviço, mas era tolerante no erro. Sardes, na maioria estava morta, mas tinham alguns vivos para Deus. Filadélfia era ativa, mas estava para entrar em tribulações. Laodicéia era morna e repulsiva. Estas eram as sete igrejas contemporâneas, com uma diversidade tão distinta, como quaisquer sete igrejas, em qualquer Estado nos dias de hoje” (Geo. W. McDaniel, op. cit. pág. 272). 7. “Cada igreja tinha alguma coisa em comum com todas as outras. Tinham um trabalho comum. Foram constituídas e comissionadas para derramar luz. Receberam a sua luz de Cristo, brilhando como o sol, e eram as portadoras da Sua luz, no meio das trevas. Elas haviam de iluminar o mundo, por meio da evangelização. A falha, no funcionar, sujeitou a igreja à reprovação, castigo e pena. A igreja poderia perder até a sua existência. Fidelidade à missão foi recompensada com galardão. Embora uma igreja morresse, os membros convertidos não seriam perdidos. Vede o caso de Sardes” (Geo W. McDaniel, op. cit. pág. 273). 8. Vale a pena reler mais uma vez, com atenção, os capítulos 2 e 3 do Apocalipse, relembrando que, da mesma forma como Jesus estava ciente de tudo o que se passava naquelas igrejas e como eram e como agiam os seus membros, assim acontece ainda hoje. Ele sabe da vida de suas igrejas e de seus membros. Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. Por isso o Seu propósito para as suas igrejas e seus membros não mudou. As igrejas continuam sendo as únicas agências do Seu Reino aqui na terra. A difusão do Seu plano de salvação e redenção dos homens perdidos continua entregue às suas igrejas e aos seus membros. Como Jesus elogiou, censurou, admoestou ao arrependimento aquelas igrejas e fez promessas para os vencedores, Ele o faz hoje também. Aprendamos tudo o que Ele tem a nos ensinar através destas sete cartas enviadas às sete igrejas da Ásia Menor.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 04

A VISÃO DO TRONO DE DEUS E DO CRISTO GLORIFICADO Texto bíblico: Apocalipse 4 e 5 Texto áureo: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas.” (Apocalipse 4.11) INTRODUÇÃO – O capítulo 4 começa com as palavras: “Depois destas coisas” Vem a pergunta: Que coisas são estas? As coisas que João tinha visto em sua primeira visão relatada dos versículos 10 do primeiro capítulo até o final do capítulo 3. Depois dessa primeira visão, ele olha para cima e vê uma porta aberta no céu e novamente a voz, como trombeta, fala com ele, convidando-o a subir ao céu porque Jesus desejava mostrar-lhe as coisas que deveriam acontecer. Ele é imediatamente arrebatado em espírito e passa a ter a visão da sala do trono de Deus, conforme iremos estudar a seguir. I. A visão do trono de Deus – Apocalipse 4.2–11 – Deus através de uma visão simbólica é

mostrado entronizado no céu. Vemos nesse capítulo o Deus Todo Poderoso e como Criador de todas as coisas.

1. A visão do trono e de quem estava assentado nele – 4.2b-3 2. Os vinte e quatro tronos e os vinte e quatro anciãos – 4.4 3. O reconhecimento da majestade de Deus – 4.5-11 II. A esperança da humanidade: O Cordeiro de Deus – Apocalipse 5.1–14 – No capítulo cinco

vemos o amor de Deus como Redentor. Vai ser destacado a figura de Deus Filho como o Cordeiro de Deus.

1. O livro selado – 5.1 2. O choro copioso de João 5.2-4 3. A única esperança para abrir o livro e os seus selos – 5.5 4. A visão de Cristo como Cordeiro – 5.6–7 5. O Cordeiro é exaltado – 5.8–14 5.1. A atitude dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos – 5.8 5.2. Um cântico novo – 5.9–10 5.3. Apoteose na sala do trono – 5.11–14 CONCLUSÃO – lições práticas

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ESTUDO N º 4 – A VISÃO DO TRONO DE DEUS E DO CRISTO GLORIFICADO

Texto bíblico: Apocalipse 4 e 5 Texto áureo: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o”. poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade existiram e foram criadas.” (Apocalipse 4. 11) INTRODUÇÃO

O capítulo 4 do Apocalipse começa com as palavras: “Depois destas coisas”. Que coisas são estas? Certamente são as coisas da primeira visão relatada a partir do versículo 10 até o final do capítulo 3. João foi arrebatado em espírito no dia do Senhor e ouviu por detrás dele uma voz, como de trombeta, dizendo-lhe que escrevesse num livro o que ouvia e o enviasse às sete igrejas da Ásia. Quando ele se voltou para o lado que vinha a voz, teve a visão dos sete candeeiros, Jesus no meio deles tendo na sua destra sete estrelas. Vê Jesus numa visão simbólica e recebe dEle a ordem de escrever as coisas que tem visto, as que são e as que hão de acontecer depois. Na mesma visão recebe a ordem para escrever cartas a cada uma das sete igrejas, em que Jesus faz uma “radiografia” destas igrejas receptoras. Após estas coisas, João olha e vê uma porta aberta no céu. Ouve a mesma voz, voz como de trombeta, que ouvira no princípio da primeira visão, fazendo-lhe um convite especial para subir ao céu para ver as coisas que Jesus lhe mostraria e que deveriam acontecer depois. Agora João, que estava na ilha de Patmos, num ponto de observação em que só se podia ver tudo escuro e sem esperanças diante das perseguições já em andamento e as que viriam, é convidado a encaminhar-se para um lugar mais alto, no céu, de onde poderá ver as coisas do ponto de vista de Deus. As coisas agora mudam de cor. Mesmo que em baixo, aqui na terra haja densas nuvens, lá no alto, no céu, ele pode ver o trono de Deus, que não se abala diante das ameaças de Domiciano e de outros tantos semelhantes a ele. Dali João pode contemplar a história da humanidade sob um novo ângulo. Ele pode contemplar a glória do trono de Deus e à sua destra Jesus Cristo glorificado. Vendo as coisas do ponto de vista celestial, não restava dúvida sobre o resultado da batalha que todos os cristãos estão empenhados na terra. João pôde ver que Deus estava no trono, não simplesmente dum reino terreno, mas no céu, donde governa e dirige todas as coisas. Deus não abdicara o trono em favor de Domiciano ou a favor de qualquer outro soberano da terra. Bem no centro daquela visão estava o Soberano Deus assentado no Seu trono. Fazia-se necessária uma visão do trono de Deus e do Cristo triunfante, antes da apresentação de todas as outras visões, para que João pudesse ver o triunfo final e cabal de Cristo sobre todas as coisas. Neste capítulo quatro começa a parte principal do Apocalipse. Os três capítulos anteriores foram uma preparação para o que virá a partir de agora. Até aqui João, em seu arrebatamento espiritual, teve a visão sobre o Cristo ressurreto, revestido de poder, estando no meio de suas igrejas. A porta do céu vai ser aberta para revelar a João, aos cristãos do final do primeiro século e aos cristãos de todos os séculos a soberania de Deus na história, dando aos cristãos perseguidos no final do primeiro século e depois a todos os demais cristãos, a certeza de que a causa de Cristo não é uma causa perdida, mas sim vitoriosa. Depois da visão inicial e do recebimento das mensagens para as sete igrejas, João olha e vê uma porta aberta no céu. Jacó, ainda jovem, quando saiu de casa para ir morar por algum tempo com os familiares de sua mãe Rebeca, dorme no campo e sonha. No sonho ele vê uma escada posta entre a terra e o céu, na qual os anjos de Deus sobem e descem. No alto, por cima da escada estava o Senhor, que lhe faz promessas grandiosas. Quando acorda diz: “Realmente o Senhor está neste lugar, e eu não sabia. Ele temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta do céu.” Ele só viu a porta do céu num sonho. João em seu arrebatamento viu não somente a porta do céu, mas a viu aberta. A porta aberta no céu era sinal de

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que o acesso às revelações celestiais estava livre. Ao olhar e ver a porta aberta no céu, ouve a mesma voz, como de trombeta, que ouvira no início do seu arrebatamento em espírito, a fazer-lhe o convite: “Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer” (4. 1 b). As revelações, o desvendamento vai começar a partir deste momento. Na visão inicial, João viu o Cristo exaltado que cuida de Sua igrejas e as protege, no capítulo quatro, quando é convidado a subir ao céu, pela porta aberta que viu, vão ser-lhe revelados a grandiosidade e a majestade do trono de Deus. Numa visão simbólica ele vai contemplar o poder Criador de Deus, o Eterno Criador, protegendo o seu povo, visitando e retribuindo. Deus está no trono e isto é uma garantia para o Seu povo. Os poderes do mal, por maiores que sejam ou pareçam, serão vencidos. No capítulo 5 temos a apresentação do livro escrito por dentro e por fora, bem selado com os sete selos. Ali estão reveladas as coisas que em breve devem acontecer. No mesmo capítulo iremos ver que ninguém podia abrir os selos, a não ser o Cristo glorificado que foi morto, mas venceu a morte e tem todo o poder nas suas mãos. I. A VISÃO DO TRONO DE DEUS (Apocalipse 4.2–11)

Assim que João ouve a voz de Cristo convidando a subir ao céu, ele é imediatamente arrebatado em espírito para o céu pela porta que estava aberta. É bom notar que tanto em 2. 10, como aqui em 4.2 o apóstolo foi arrebatado em espírito. Não foi em corpo. O arrebatamento foi semelhante à de alguns profetas quando tiveram suas visões, como por exemplo Ezequiel quando foi levado em espírito da Babilônia para Jerusalém e teve a visão das abominações que se faziam no santuário (8.3).

1. A visão do trono e de quem estava assentado nele – 4.2b–3 – A primeira coisa que João vê ao ser arrebatado em espírito para o céu é “um trono posto no céu e um assentado sobre o trono” (4. 2b). João não identifica logo de início quem é que estava assentado no trono, mas desde o princípio da revelação não paira qualquer dúvida de que Deus é quem está ali assentado. No princípio, faz apenas a descrição daquilo que vê. Só nos vs. 8 e 10 que ele apresenta por nome quem está assentado no trono. É bom observar que o trono não está vazio. Havia alguém nele e que tinha a aparência de glória e de majestade. Alguém que tinha todo o poder. O mundo não está entregue à sua própria sorte. Há um Deus Todo Poderoso que está ali assentado e está reinando. João não descreve o trono nem a pessoa que está assentada nele. O que João viu, só pode ser descrito em termos de linguagem simbólica. Ele não usa a linguagem antropomórfica, como Daniel quando descreveu a visão de Deus como um ancião de dias com vestes brancas e com cabelos como de lã puríssima (Daniel 7. 9). João deve ter visto a glória de Deus, da mesma forma que Moisés a viu (Êxodo 33. 18 – 23). Também Ezequiel teve visões da glória de Deus. Mas o homem, como o próprio Deus diz, não pode contemplar a face do Deus santo e puro. Se não podemos contemplar o sol no seu brilho, como poderemos contemplar com os olhos físicos o Criador do Sol e de todas as estrelas? João não faz, como dissemos, uma descrição antropomórfica de Deus, mas assim descreve: “e aquele que estava assentado era, na aparência, semelhante a uma pedra de jaspe e sardônica; e havia ao redor do trono um arco-íris semelhante na aparência, à esmeralda” (v. 3). Assim João, de um modo sucinto descreve a glória de Deus como o brilho e as cores de pedras preciosas, que simbolizam a Sua santidade e Sua justiça. Ele ainda vê ao redor do trono um arco-íris semelhante na sua aparência à esmeralda. Este arco-íris simboliza a glória divina e a esperança ou graça. A cor predominante nesse arco-íris é o verde, duma cor viva. O arco-íris foi estabelecido por Deus como o sinal de Seu pacto com a terra, de que Deus não mais traria o dilúvio sobre a terra como julgamento sobre os homens por causa dos seus pecados e maldades (Gênesis 9. 8 – 17). Aqui no Apocalipse o arco-íris aparece para representar uma viva esperança no meio do julgamento; é a esperança baseada na fidelidade de Deus quanto ao pacto que fez com os homens. “Assim, o esplendor de Deus, esplendor que inspira medo ou temor, vem acompanhado aqui dos fortes tons de

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esperança e misericórdia. A retidão punitiva de Deus irá haver-se com aqueles que intentam destruir Sua causa, mas a Sua graça e misericórdia para sempre estarão com o Seu povo” (Ray Summers, op. cit. pág. 177). 2. Os vinte e quatro tronos e os vinte e quatro anciãos – 4.4 – “Havia também ao redor do trono vinte e quatro tronos; e sobre os tronos vi assentados vinte e quatro anciãos, vestidos de branco, que tinham nas suas cabeças coroas de ouro.” É difícil dizer quem são os vinte e quatro anciãos assentados em vinte e quatro tronos. As opiniões são as mais diversas possíveis. João não diz quem eles são, apenas menciona o que viu. Carrol pensa que representam o sacerdócio eterno do povo de Deus. Dana afirma que simbolizam o vitorioso destino dos santos martirizados na Ásia Menor. Um grande número de expositores da Bíblia é de opinião que eles representam os doze patriarcas de Israel e os doze apóstolos de Jesus Cristo, uma vez que no céu teremos reunido os remidos dos dois períodos bíblicos. R. N. Champlin, através de uma observação sugere uma outra interpretação: “Cumpre-nos relembrar que, na adoração e no culto do templo de Jerusalém, havia vinte e quatro ‘turnos’ de levitas, que se ocupavam alternadamente de seus deveres ( ver I Crônicas 24. 3 – 18). Apesar de que os judeus pensavam que o templo terreno é apenas uma cópia do celestial, poder-se-ia supor que esses vinte e quatro turnos de sacerdotes humanos fossem duplicados, no templo celestial, por vinte e quatro turnos de seres angelicais que serviriam a Deus. Neste caso, o vidente João estaria falando acerca de vinte e quatro ‘espíritos angelicais’, ou talvez, simbolicamente, de vinte e quatro grupos de espíritos angelicais ministrantes. Seja como for, esses vinte quatro espíritos ou grupo de espíritos, são dotados de imenso poder, porquanto se acham bem próximos do trono de Deus, ocupando tronos eles mesmos. Isso serviria para simbolizar vastíssimo poder, com o que se ocupam de missões elevadíssimas em importância. Talvez sejam os próprios mais elevados arcanjos. Ou então, sustentando o mesmo ponto de vista (que são espíritos angelicais) poderíamos supor que sua tarefa está estritamente confinada à presença de Deus, o que equivale a dizer que são seus auxiliares pessoais” (op. cit. vol. 6, pág. 442). Depois de várias outras considerações apresenta uma nova possibilidade de interpretação: “Assim sendo, é possível que, reunindo os vinte e quatro anciãos, os sete espíritos e as quatro criaturas vivas, o autor sagrado estivesse meramente afirmando a existência de muitas ordens de seres angelicais, as quais, embora diversas, seriam todas poderosas, servindo ao mesmo Deus a quem servimos. O restante (detalhes como números específicos etc.) seriam detalhes somente para tornar concreta a descrição” (pág. 442). Ainda que não podemos ser dogmáticos quanto a quem são ou representam os vinte e quatro anciãos, vestidos de branco (símbolo de pureza e santidade), com coroas de ouro na cabeça (símbolo de poder), eles formam, na visão, o concílio de Deus, a quem servem através da adoração, transmissão de informações ( ver. 5. 5) e da entrega das orações dos santos ao Cordeiro (ver. 5.8). 3. O reconhecimento da majestade de Deus – 4.5–11 - O poder divino está representado pelo trono de Deus, cercado de vinte e quatro outros tronos. A majestade e a glória da presença divina são realçadas por relâmpagos, vozes e trovões que deles saíam (4.5a). No Velho Testamento temos manifestações semelhantes quando Deus se faz presente, como por exemplo, por ocasião da doação da Lei no monte Sinai (Êxodo 19.16) ou na visão de Ezequiel da presença e glória de Deus (Ezequiel 1.13). Nesta revelação, os crentes poderiam sentir a majestade, o poder e a glória de Deus. Podiam, mesmo diante de inimigos, aparentemente poderosos, descansar. Deus é o Todo Poderoso, os seus inimigos podem esperar pela ira e castigo do Onipotente.

João continua a sua descrição da gloriosa visão: “e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus” (5b). Sete é o número perfeito. Sete Espíritos retratam Deus em Sua essência espiritual perfeita. Podemos ver simbolizadas nas sete lâmpadas, como um indício da soberania de Deus, a perfeita operação do Espírito Santo em Sua obra de iluminar e revelar aos homens as coisas divinas.

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Na continuação da visão ele vê: “também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal” (4.6a). O mar indica separação. O mar estava separando João, na Ilha de Patmos, de seus irmãos no continente asiático. O mar de vidro, semelhante ao cristal separa o Deus transcendental do povo. Logo o mar de cristal simboliza a transcendência de Deus. Agora o seu povo – os cristãos – estava separado de Deus e sendo perseguidos. Por enquanto o ser humano, estando neste corpo mortal, ainda não pode ver Deus. Pode contemplar a Sua glória. No futuro não será mais assim, pois no cap. 21.1 lemos que o “mar já não existe”. O povo de Deus não estará mais separado de Deus. Agora, ainda não podemos vê-lo face a face, mas no futuro verêmo-Lo; não mais haverá separação.

A descrição majestosa do trono de Deus continua: “e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes, cheios de olhos por diante e por detrás; e o primeiro ser era semelhante a um leão; o segundo ser, semelhante a um touro; tinha o terceiro ser o rosto como de homem; e o quarto ser era semelhante a uma águia voando. Os quatro seres viventes tinham, cada um seis asas, e ao redor e por dentro estavam cheios de olhos” (4.6b–8a). Os quatro seres viventes formam o símbolo da soberania de Deus. Eles estão ao redor do trono de Deus. Cheios de olhos, por diante e por detrás. Tinham feições diferentes: um semelhante a um leão; outro, semelhante a um touro; o terceiro tinha o rosto como de homem; e o quarto era semelhante a uma águia voando. Cada criatura tinha seis asas, e ao redor e por dentro estavam cheios de olhos. As interpretações aqui também são variadas. Uma delas diz que os seres viventes simbolizam os atributos de Deus, frisando sua eterna vigilância a favor do Seu povo. O leão representando a bravura; o touro representa a força; o homem representa a inteligência e a águia, a velocidade ou ligeireza. Juntas simbolizariam a eterna vigilância de Deus; Ele não esqueceu o Seu povo e é ligeiro e forte para vingá-lo. Mas uma outra corrente vê na aparência dos seres viventes a representação da totalidade da criação: o leão, os animais selvagens; o touro, os animais domesticados; o rosto como de homem, os homens; e a águia, os animais voadores. Nesta interpretação, toda a criação é devolvida ao seu destino pela redenção; é abençoada pelo retorno à sua santa e sublime unidade com a humanidade redimida, e louva ao Senhor. As seis asas podem ser interpretadas como as dos querubins da visão do profeta Isaías 6.2: em que um par mostra reverência (com duas cobriam o rosto); outro par humildade (com duas cobriam os pés) e a terceira pronta para obedecer à ordem de Deus (com duas voavam). Os olhos, por dentro e por fora, mostram que podem ver tudo. Os olhos representam a acuidade espiritual dessas criaturas. Tendo olhos na frente e por detrás, mostram que em qualquer lugar que estiverem ao redor do trono, estão sempre alertas e vigilantes para prestar louvor e adoração a Deus: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo Poderoso, Aquele que era, que é, e que há de vir” (4.8 b). É interessante notar que eles adoram a Deus não somente como o que existe, que era e que é, mas também como o que há de vir, transmitindo o anelo da criação por libertação das cadeias da decadência, para poder participar da libertação gloriosa dos filhos de Deus. Esta visão de Deus, em seu trono, é encerrada com um cântico de louvor: “ E sempre que os seres viventes davam glória e honra e ações de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam ao que vive pelos séculos dos séculos; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (4.9–11). A cena da visão do trono de Deus e de Sua majestade é concluída com o “Cântico da Criação” dirigido a Deus como louvor e adoração. Unidos neste louvor temos inicialmente os quatro seres viventes – simbolizando todas as criatura adorando o Deus eterno e não o efêmero Domiciano - dando glória, honra e ações de graça à eterna soberania de Deus e os vinte e quatro anciãos - simbolizando toda a humanidade redimida – prostrando-se, lançando suas coroas diante do trono e adorando a Deus pelo Seu grande poder criador. Com este simbolismo é mostrado que só Deus é moralmente digno de ser adorado, receber glória, honra e domínio, porque todas as coisas foram criadas por Ele e, legitimamente, pertencem a Ele. Portanto, o cântico afirma que por trás de toda a criação está a vontade ativa e soberana do Criador.

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“Resumindo, vemos que este capítulo, que dá início às visões, apresenta a verdade da soberania de Deus. Ele é eterno; é o Criador; protege seu povo; visita, com o castigo, ao desobediente. Ele está no Seu trono. Os inimigos da cruz podem ranger os dentes contra Ele, que Ele continuará inabalável. O invencível e soberano Deus, como o centro de todas as atividades, é a verdade que se sublinha neste capítulo. Este é o encorajamento que, de início, se proporciona aos massacrados cristãos da Ásia Menor – tanto àqueles do primeiro século como a todos os cristãos de qualquer século. O sofrimento e as provações são coisas temporais, dado que Deus é o nosso defensor” (Ray Summers, op. cit. pág. 181). II. A ESPERANÇA DA HUMANIDADE: O CORDEIRO DE DEUS (Apocalipse 5.1–14)

Como explica Ray Summers, no capítulo quatro vemos o poder de Deus como Criador e no capítulo cinco, o amor de Deus como Redentor. Como cristãos, cremos no Deus Criador, onisciente e onipotente, como é apresentado Deus no capítulo quatro. Mas igualmente cremos no Deus que ama as suas criaturas e prova o Seu amor, redimindo o homem do seu pecado. A cena simbólica do capítulo cinco mostra o amor de Deus trabalhando em favor do homem na pessoa do Cordeiro de Deus. O capítulo cinco demonstra que a única esperança de salvação da humanidade está depositada nEle. Ninguém, no céu, nem na terra ou embaixo da terra tinha poder ou capacidade para abrir o livro selado que estava na destra do que estava assentado sobre o trono e nem olhar para ele (5. 3). Só Jesus, o Cordeiro de Deus que foi morto, mas vive, que, com o Seu sangue comprou para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação, era capaz de abrir o livro (5. 9). O capítulo cinco, portanto, “mostra que Cristo, o Filho de Deus, é o único que tem o poder e a autoridade para os abrir os selos, porquanto todo o governo de Deus é levado a efeito por meio do Filho. Por conseguinte, aquilo que é bom, beneficente e que tende ao bem-estar, como igualmente aquilo que servirá para castigar, a fim de fazer os rebeldes tornarem-se leais a Deus, deverá ser mediado por intermédio do Filho. Em poucas palavras, esse é o propósito do quinto capítulo do Apocalipse, a saber, a ‘revelação’ desse fato. E isso concorda com o ensinamento do N. T., porquanto se trata de uma revelação que mostra que qualquer contato que Deus porventura tenha com o homem, qualquer coisa que Deus faça em favor do homem, e de qualquer modo como Deus julgue ao homem, tudo é feito por intermédio do Filho” (R. N. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 449). A visão do trono do quarto capítulo é mantida neste quinto capítulo. A cena continua diante do trono de Deus. A diferença é que o foco da atenção passa a ser Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, razão porque Jesus Cristo deve também ocupar o lugar central em nossas vidas. É Ele quem soluciona todos os nossos problemas. Tudo quanto Deus tem para revelar aos homens, tudo que Ele tem reservado para os homens, Ele os desvenda através do Filho. O destino de todas as vidas foi entregues nas mãos do Filho. Ele se tornou capaz e mostra-se digno disso mediante a vitória que obteve em Sua missão terrena, que incluía a Sua expiação, por ser Ele o Cordeiro que foi morto. Cristo associou-se aos homens, e essa associação visa o bem eterno do homem. Os seres celestiais que se prostraram diante de Deus no capítulo quatro, prestam idêntica reverência e adoração a Deus Filho, no quinto capítulo. Este fato dos seres celestiais se prostrarem e adorarem a Cristo, serve, incidentalmente, para demonstrar a divindade de Jesus Cristo. Neste capítulo temos o reconhecimento e a exaltação de Deus, na pessoa do Filho, que é visto como o Redentor, digno de todo o louvor e adoração. 1. O livro selado – 5.1 – “Vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, bem selado com sete selos.” Em sua visão agora os olhos do apóstolo são voltados para o trono e vê na destra do Todo Poderoso um livro. Este livro é em forma de rolo. Devemos lembrar que os livros antigamente eram feitos de papiro, em forma de rolo. Os pedaços de papiros, em média com vinte e cinco centímetros, eram colados até formarem uma faixa comprida. Nas extremidades eram presos por um pedaço de madeira e enrolados em volta de um

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deles. De modo geral escrevia-se apenas numa das faces. No entanto, nas visões de Ezequiel, ele também vê um rolo escrito por dentro e por fora, em que se achavam escritas lamentações, suspiros e ais. Foi-lhe ordenado que comesse o rolo (Ezequiel 2. 9-10 e 3. 1). A diferença é que aqui o rolo de livro estava bem selado com sete selos. A idéia que alguns levantam é que o livro foi escrito por dentro e por fora, porque era um livro de grande importância: os julgamentos nele contidos são tantos que quase não sobrou espaço! O livro estava bem selado com sete selos. A maior parte dos livros apocalípticos apresenta “predições seladas”, mas o Apocalipse é uma “predição aberta”. No capítulo cinco é apresentado o livro bem selado, mas, mesmo neste capítulo se nos mostra que há um que pode “abri-lo”, o próprio Cristo. Nos capítulos seguintes o Cordeiro abre os selos e isto mostra que essas revelações foram feitas a fim de serem dadas a público. Tão somente em Apoc. 10.4 há uma revelação que ficaria selada até o tempo do fim. Este livro ou rolo é-nos apresentado como um rolo selado ao longo se suas beiradas, com sete selos, dando a entender que estando tão fechado, somente um grande poder seria capaz de abri-lo. Alguns eruditos pensam que o próprio rolo compunha-se de sete porções, cada uma com seu selo. Há também uma série de interpretações a respeito desse livro. Há quem diga que é o livro da Justiça, outros que é o livro dos Eternos Conselhos de Deus, dos seus predeterminados propósitos. Há quem diga que é um livro semelhante ao que nos fala o profeta Ezequiel, que era um livro de lamentações, de tristezas, de ais. Há quem diga que se trata do livro dos Destinos. A idéia do destino (não no sentido fatalista de que aquilo que está determinado acontecerá independentemente da vontade e decisões do homem) e a justiça estão intimamente relacionados. O livro, parece conter o destino (ou a sorte) dos homens à vista das visitações da justa ira de Deus sobre os seus pecados. O destino dos homens está nas mãos de Deus. A identificação melhor do rolo é que ele contém a profecia dos acontecimentos finais, incluindo a salvação do povo de Deus e o julgamento dos maus. No livro está contido o plano redentor de Deus para o desfecho da história humana, a derrota do mal e a reunião do povo redimido para gozar da bênção do reino divino. Enfim, é o livro dos propósitos de Deus para a humanidade, para os seus servos. Nem tudo que foi revelado pôde ser escrito, pois, quando os sete trovões acabaram de soar, João ia escrever o que ouviu, mas uma voz lhe foi dirigida dizendo: “Sela o que os sete trovões falaram, e não o escrevas” (Apoc. 10.4). 2. O choro copioso de João – 5.2–4 – Ainda na cena da visão do livro selado na destra do que estava sentado no trono, João vê um anjo forte, clamando com grande voz: “Quem é digno de abrir o livro e de romper os seus selos?” (5.2). Para tristeza e desespero do apóstolo ele verifica que “ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele” (5.3). “Temos aqui uma verdade bíblica simples, mas profunda, que nunca pode ser suficientemente enfatizada: sem a pessoa de Jesus Cristo e sem sua obra de redenção a história é um enigma. Desde Agostinho e seu livro ‘Cidade de Deus’, durante séculos uma visão cristã da história influenciou o pensamento ocidental, vendo nela um objetivo divino inseparável da palavra redentora de Cristo. A partir do iluminismo, muitos filósofos rejeitaram a cosmovisão cristã, e a história se tornou para eles um problema. A visão evolucionista do progresso inevitável é pouco popular hoje em dia. Alguns dos maiores cérebros dos nossos dias se tornaram profetas do juízo, que só vêem trevas à frente. O problema do significado, do propósito e do fim da história é uma das questões mais perturbadoras e difíceis dos nossos tempos. Até no pensamento de teólogos cristãos penetra uma atitude pessimista e secularizada, e um deles escreveu: ‘Não podemos dizer que sabemos o fim e o objetivo da história. Por isso a questão do significado da história se tornou destituída do sentido. Considerando este dilema moderno, tem um significado muito grande o fato de o rolo estar tão bem fechado que nenhum olho humano pode ler o seu conteúdo. Cristo, somente Cristo tem a chave do significado da história humana. Por esta razão não é de surpreender que os pensadores modernos estejam pessimistas; sem a volta vitoriosa de Cristo, a história não vai a lugar nenhum” (George Ladd, op. cit. pág. 63). Também é significativo que o rolo está “na destra do que esta assentado no trono. Toda a história da humanidade está na mão de Deus. Isto é uma segurança e garantia para

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cada um de nós, crentes em Cristo Jesus. Não importa a força do mal, a fúria dos poderes satânicos, a história está nas mãos de Deus e nós estamos com Deus. João contemplando aquela cena, ouvindo a voz do anjo forte clamando para saber quem era digno de abrir o livro e romper os seus selos, percebeu que não havia ninguém, no céu, na terra ou debaixo da terra que pudesse abrir o livro e ainda mais, ninguém podia olhar para o livro. Isto o leva ao desespero. Começa a chorar copiosamente diante da realidade que via. Não havia ninguém que fosse digno de abrir ou olhar para o livro. Sem Cristo não há esperança. Sem Cristo não há solução. Como veremos, só Cristo é pode solucionar todos os problemas. 3. A única esperança – 5.5 – No momento em que João chorava copiosamente por não haver ninguém capaz de olhar para o livro ou tomá-lo e abri-lo, um dos anciãos, dirige-se a João e diz-lhe palavra consoladora: “ Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e romper os seus selos” (5.5). Quando parecia não haver mais esperança, João ouve que há um que pode não só olhar para o livro, mas tem poder para abri-lo. Estas duas expressões usadas pelo ancião: Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, são expressões extraídas do Antigo Testamento que caracterizam o Cristo vencedor e que resumem toda a esperança messiânica do Antigo Testamento. Leão de Judá faz referência a uma das primeiras profecias messiânicas da Bíblia, ali no livro de Gênesis 49.9–10: “Judá é um leãozinho. Subiste da presa, meu filho ... O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertence; e a ele obedecerão aos povos.” A figura do leão era usada para o Messias conquistador e vencedor. Neste texto temos a figura do Messias vencedor e não do servo sofredor. Aqui Ele tem o cetro de autoridade daquele que governa e a quem todos obedecem. (Lembramos que há duas linhas de profecias messiânicas, conforme já estudamos, uma como o Messias vencedor, implantando o Seu reino vitorioso e outra linha como o Messias sofredor, dando a Sua vida pelos pecadores). A segunda expressão; a raiz de Davi, vem da profecia messiânica de Isaías 11. 1 e 10: “Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das raízes um renovo frutificará. Naquele dia a raiz de Jessé será posta por estandarte dos povos, à qual recorrerão as nações; gloriosas Lhe serão as suas moradas.” A família real de Davi, filho de Jessé, é como uma árvore que caiu; mas das suas raízes brota nova árvore que restaurará o governo real. Jesus Cristo é assim identificado com o Messias prometido do Velho Testamento e que veio ao mundo na pessoa de Jesus Cristo e alcançou a vitória na cruz do Calvário. A João é assegurado pelo ancião que o seu poderoso Messias já conquistou o direito de abrir o livro e romper os seus sete selos. Os grandes inimigos do povo de Deus são Satanás, o pecado e a morte. Na cruz do Calvário, Jesus venceu-os. A vitória está assegurada, ainda que falte a consumação completa de todas as coisas.

4. A visão de Cristo, como Cordeiro – 5.6–7 – Ao ouvir a voz de um dos anciãos, João vê, “entre o trono e os quatro seres viventes, no meio dos anciãos, um Cordeiro em pe, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus, enviados por toda a terra” (v. 6). A metáfora do Cordeiro é usada aqui para a representação de Jesus Cristo. Podemos observar que esta metáfora do Cordeiro é o ponto central da profecia do servo sofredor em Isaías 53. Isaías viu um homem humilde e desprezado, injuriado e maltratado, que livraria o seu povo através do sofrimento vicário, isto é, tomando sobre si as transgressões e iniqüidades do seu povo: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca” (Isaías 53. 7). É interessante notar que tal como nos sonhos, na visão, as figuras rapidamente mudam de forma. João ao ouvir a voz do ancião dizendo que o Leão de Judá venceu para abrir o livro e romper os seus sete selos, olha para ver o Leão, mas ele viu um Cordeiro em pé. Um Leão rapidamente se torna um Cordeiro. Certamente há significado simbólico nesta mudança. O leão representa o poder absoluto e bravura; o cordeiro, símbolo religioso, representa a bondade absoluta. O cordeiro faz lembrar a páscoa judaica, rememorando a libertação dos primogênitos dos israelitas – através do sangue do cordeiro espargido sobre os umbrais das portas – e a morte de todos os

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primogênitos dos egípcios e a conseqüente libertação dos israelitas do cativeiro egípcio. Observemos as características do Cordeiro em pé. Ele aparece como “havendo sido morto”, mas é visto em pé, e não caído. Isto indica que Ele morreu, mas está vivo. Ele não foi vencido pela morte e pelos seus inimigos. “Havendo sido morto” indica os ferimentos recebidos quando se corta a garganta dum cordeiro sacrificado sobre o altar ou no matadouro. Com isto o apóstolo aponta para a morte vicária e sacrificial de Cristo, mas que Ele não está morto, mas ainda vive. A ênfase da visão é mostrar que somente em virtude do sacrifício de Jesus, como Cordeiro de Deus, Ele pode fazer o papel de Rei messiânico e levar a história da humanidade ao seu fim no Reino de Deus. Ainda na visão de João, o Cordeiro em pé, tinha sete chifres. Na literatura apocalíptica os chifres ou pontas simbolizam poder. O Cordeiro tinha sete chifres. Sete é o número perfeito. Isto indica que Ele tem todo o poder, o poder perfeito para destruir a oposição que fazem ao Seu reino. Jesus ao ressuscitar e antes de subir ao céu declarou aos seus discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). O Cordeiro tinha “sete olhos, que são os sete espíritos de Deus, enviados por toda a terra.” Isto simboliza a vigilância incessante e perfeita a favor do povo de Deus. Representa a perfeita essência espiritual de Deus sempre empenhada no bem-estar do homem. Na visão de João, após contemplar o Cordeiro em pé, ele o vê vindo até àquele que estava assentado sobre o trono e tomar o livro de Sua destra. A cena é dramática. Não havia ninguém no céu e na terra com dignidade e capacidade de tomar o livro e abrir os seus sete selos. É anunciado a João que o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir e romper os sete selos. João olha e já vê um Cordeiro em pé, ainda que com as marcas do ferimento, mas revestido de todo o poder, que sabe e vê todas as coisas, vindo e tomando o livro. O que era impossível a qualquer criatura no céu ou na terra, torna-se uma realidade diante dos olhos de João. Apareceu alguém com esta dignidade e capacidade. Ele aproximou-se do trono e tomou o livro selado. Somente o Cordeiro pode abrir o livro e executar os juízos de Deus sobre os ímpios. O destino de toda a humanidade está em Suas fortes mãos. Mas a cena gloriosa continua. 5. O Cordeiro é exaltado – 5.8–14 - O ato do Cordeiro tomar em suas mãos o livro selado produz uma explosão de alegria, um ato de reverência e adoração de todos os seres celestiais. Os cristãos perseguidos, ao lerem sobre esta cena do Cordeiro tendo em suas mãos o poder de executar o juízo sobre os seus perseguidores e ter em suas mãos o destino dos homens, sentir-se-iam grandemente confortados e encorajados em suas lutas. 5.1. A atitude dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos - 5.8 – Assim que o Cordeiro tomou o livro, os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante dEle. Agora os vinte e quatro anciãos prestam ao Cordeiro a mesma adoração que tinham prestado a Deus Pai (4.10, 11). Isso demonstra claramente a divindade de Jesus Cristo e não somente de é alguém que ocupa uma elevadíssima dignidade. Além de vermos neste ato de se prostrarem diante de Cristo, a Sua divindade, vemos o sinal de gratidão que precisa ser dado a Cristo por causa de Sua missão redentora. Cada ancião tinha uma “harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos” (5.9b). Quase todas as traduções dizem harpa, no entanto, a palavra grega usada é kithara, palavra esta que etimologicamente deu origem à guitarra. Naquele tempo referia-se à cítara. As harpas e cítaras eram instrumentos comumente usados para o culto e o canto dos Salmos. Cada um deles tinha também taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. O próprio simbolismo das taças de ouro cheias de incenso é revelado pelo apóstolo. É o símbolo das orações que os servos de Deus (os santos) levantam diariamente a Deus. As taças de ouro cheias de incenso levam-nos ao A.T. e ao culto no templo de Jerusalém. Diante do véu interior havia um altar de incenso. Diariamente se oferecia incenso a Deus. As orações dos crentes são aos olhos divinos como o incenso que era oferecido no Antigo Testamento. É possível que nestas orações os crentes perseguidos da Ásia Menor estivessem clamando para que o Reino de Deus viesse o mais breve possível. “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” (Mateus 6.10).

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5.2. Um cântico novo – 5.9-10 – Os quatro seres viventes e o vinte e quatro anciãos cantam um cântico novo, O Cântico da Redenção: “Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.” Este cântico é novo não em relação ao tempo (neste caso o grego usaria néos = novo, recente), mas novo quanto à qualidade (o termo grego usado é kainén = novo em qualidade). Neste cântico novo, Cristo é louvado porque é digno de abrir os selos. Ele é digno por causa da Sua obra redentora. No Cântico da Redenção a obra grandiosa de Cristo é descrita com suas quatro qualidades específicas: “Primeira – a obra é para Deus, primariamente, - ‘compraste para Deus’. Esta mesma idéia aprece em Efésios 1.1–14. A redenção do homem é antes de tudo para serem de Deus novamente. Os redimidos tornam-se propriedade de Deus, livres da escravidão do pecado.” “Segunda – é pelo sangue de Cristo – ‘foste morto. . . e com o Teu sangue compraste.’ A expressão idiomática grega dá idéia de “às custas do Teu sangue. Esta referência é direta, e somente, à morte sacrifical de Cristo na cruz. O preço da redenção foi a morte de Cristo. “ “Terceira – é ilimitada – ‘homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação’. A graça de Deus por Cristo não está limitada a esta ou àquela nação, mas é para todas as nações. É para todo o ser humano de todas as épocas. A obra redentora de Cristo vale para todo o ser humano.” “Quarta – faz dos remidos reino e sacerdotes - “E para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra.” Tornando-se os homens participantes da obra redentora de Cristo, tornam-se parte integrante do reino de Deus; tornam-se sacerdotes para servi-Lo aqui neste mundo” (Ray Summers, op. cit. pág. 185 com ligeira adaptação). 5.3. Apoteose na sala do trono – 5.11–14 – Após o Cântico da Redenção, João assiste a uma verdadeira apoteose no céu, ali na sala do trono. Apoteose essa em honra, louvor e adoração do Cordeiro de Deus. Ele olha e presencia a cena maravilhosa da primeira parte emocionante da apoteose, em que ele vê, juntarem-se aos quatro seres viventes e aos vinte e quatro anciãos, uma multidão incontável de anjos (miríades, literalmente número de dez mil unidades, uma quantidade indefinida, que não se pode contar), cantando a dignidade do Cordeiro em receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor. Tudo isso pela obra incalculável da redenção humana que Ele realizou aqui na terra com o derramamento do Seu sangue. Eis como ele descreve a cena deslumbrante: “ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos; e o número deles era miríades de miríades e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força e honra, e glória, e louvor.”

A grandiosidade da apoteose é aumentada com a junção de toda a criação que acompanha os anjos no louvor e na adoração: “Ouvi também a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, no mar, e a todas coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos.” Naturalmente tudo isto descrito em linguagem poética, mostrando a universalidade da redenção feita por Cristo. Não devemos pensar que todos os homens e todos os seres espirituais, incluindo as hostes malignas, participarão das bênçãos da salvação. Significa antes que é uma expressão do senhorio universal de Cristo. Tivemos no capítulo quatro o cântico da dignidade de Deus Pai em receber a glória, a honra e o poder. Em 5. 8 – 12 temos o cântico no reconhecimento da dignidade de Deus Filho. Agora no final do capítulo 5. 13 – 14 temos a exaltação tanto de Deus Pai como do Cordeiro, Deus-Filho: “Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos”.

A cena final da apoteose está descrita no v. 14: “E os quatro seres viventes diziam: Amém. E todos os anciãos prostraram-se e adoraram”. Nesta cena final os quatro seres viventes

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confirmam o reconhecimento e adoração que todos prestam a Deus Pai e a Deus Filho. Eles dizem Amém a tudo e prostram-se e adoram a Deus Pai e Deus Filho.

Assim a visão da sala do trono termina de um modo eletrizante: todos os santos, todos os seres celestiais e todo o universo adorando, cantando louvores e homenageando o Cristo triunfante. Estes dois capítulos, quatro e cinco devem ter dado um alento muito grande aos crentes sofredores da Ásia Menor do final do primeiro século, do mesmo modo que tem servido de encorajamento em todos os séculos, bem como serve a cada um de nós. Sabemos que o trono do universo, não está vazio e muito menos ocupado por alguém que seja indiferente ao destino da humanidade e particularmente ao nosso destino. Ele está ocupado por Deus Pai, tendo à sua destra Deus Filho, que já realizou a obra da nossa redenção. O mal pode crescer assustadoramente, mas o verdadeiro cristão não tem o que temer, pois Deus permanece no trono e não deixou o Seu cetro. E nós estamos do lado de Deus e Ele ao nosso lado: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Romanos 8. 31). Aparentemente podemos estar na situação do profeta Eliseu, cercado pelas tropas inimigas, mas temos ao nosso redor um exército mais poderoso. O moço de Eliseu não podia ver. Eliseu orou para que Deus abrisse os seus olhos e pudesse contemplar ( II Reis 6.15–17). A vitória final será de Cristo e de todos nós que fomos redimidos pelo Seu sangue e O servimos.

CONCLUSÃO Depois de termos estudado os capítulo quatro e cinco, ficamos extasiados com o poder e

majestade de Deus. No decorrer do estudo pudemos aprender muitas coisas úteis para a nossa vida cristã, tanto do ponto de vista teológico quanto prático. Queremos encerrar este estudo destacando alguns pontos importantes tanto para o nosso verdadeiro conceito de Deus, quanto de aplicação para a nossa vida no dia-a-dia.

1. Destaque de alguns atributos de Deus que aparecem nos capítulos 4 e 5 – Mesmo que

a visão do trono e do que se assenta no trono tenha sido através de símbolos, podemos ver alguns dos atributos de Deus.

1.1. Deus é Espírito - João não usa de linguagem antropomórfica para descrever Deus. Deus não foi revelado em formas, como aconteceu também na revelação a Moisés no Sinai. João apenas diz que viu, que aquele que está assentado no trono, na aparência era semelhante ao jaspe e à sardônica, sugerindo que o caráter divino é glorioso. Deus por esta razão deve ser adorado em espírito e em verdade (João 4.24).

1.2. Deus é eterno – Ele sempre existiu, existe e existirá – não teve princípio e nem terá fim (4.8–11).

1.3. Deus é Soberano – Tanto no Cântico da Criação, como no Cântico da Redenção podemos sentir a soberania de Deus. Os seres viventes, os vinte e quatro anciãos e todos os anjos adoraram-no pela Sua soberania. Ele é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.

1.4. Deus é Todo Poderoso – Diante dEle todos os seres celestiais se prostraram reconhecendo que Ele tem todo o poder. Os relâmpagos, as vozes, os trovões são manifestações do Seu grande poder. Ele criou todas as coisas e pela Sua vontade continuam existindo, pois Ele, a tudo sustenta.

1.5. Deus é transcendental - A visão do mar de vidro semelhante ao cristal, demonstra o quanto Deus é superior e majestoso. Para aproximar-se do trono de Deus, é necessário ter a mesma santidade que Ele tem. Pela mediação de Cristo nós podemos em oração chegar até ao Seu trono. Contemplar a Sua face somente quanto deixamos este corpo material, no qual ainda temos a velha natureza carnal.

1.6. Deus é o Criador – Através dos quatro seres viventes, dos vinte e quatro anciãos podemos ver a proclamação de que Deus é a fonte, a origem da vida e de tudo que há.

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2. Deus está na sala do trono comandando todo o universo – Caird em seu comentário faz

uma comparação interessante da sala do trono com a sala de controle de um quartel general, cheia de mapas em que são colocados bandeirinhas nos diversos pontos do campo de batalha. As bandeiras movimentadas mostram o avanço das tropas. João , segundo esta comparação, é chamado à sala do controle: “Sobe aqui e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer” (4.1b). João tem, então, a visão da sala do trono, da majestade, do poder de Deus e de como Ele tem o controle de todas as coisas.. Ainda que não vejamos com os olhos físicos, pela fé, podemos sentir e saber que Deus está do Seu trono vendo tudo, orientando tudo, dando ordens aos Seus servos, para que todas as coisas marchem para o fim que Ele tem planejado. O universo não cairá nas mãos do inimigo. Os males que aconteceram, estão acontecendo e acontecerão, estão dentro da vontade permissiva de Deus. Ele deu livre arbítrio ao homem e respeita as decisões do homem ainda que esta não seja a Sua vontade plena. Ele em Sua onisciência e presciência usa, inclusive os maus intentos dos homens, para levar este mundo à consumação. Não devemos ficar impressionados com a aparente vitória do reino das trevas em seu avanço, pois, Deus está no comando e a vitória final será do Seu Reino.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 05

A REVELAÇÃO DOS SEIS PRIMEIROS SELOS

Texto bíblico: Apocalipse 6.1–7.17 Texto áureo: “E um dos anciãos me perguntou: Estes que trajam as compridas vestes brancas, quem são eles, e donde vieram? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” - (Apocalipse 7.13-14) INTRODUÇÃO

No estudo passado, capítulos 4 e 5, João, em seu arrebatamento em espírito, viu uma porta aberta no céu e foi convidado a subir. Ali ele viu cenas impressionantes diante do trono de Deus Pai, o louvor e adoração que recebeu juntamente com Deus Filho, terminando numa grandiosa apoteose de louvor e adoração. Ele viu um livro bem selado na destra do Pai. Ninguém foi capaz de abri-lo a não ser o Cordeiro, que foi morto, Jesus Cristo. Ele toma o livro e no estudo de hoje vamos apreciar a abertura dos seis primeiros selos. I. A ABERTURA DOS QUATRO PRIMERIOS SELOS: os cavalos e os cavaleiros - Apocalipse 6.1-8 1. A abertura do primeiro selo: o cavalo branco e seu cavaleiro – 6.1-2 2. A abertura do segundo selo: o cavalo vermelho – 6.3-4 3. A abertura do terceiro selo: o cavalo preto – 6.5-6 4. A abertura do quarto selo: o cavalo amarelo – 6.7-8 II. A ABERTURA DO QUINTO SELO: os santos martirizados – Apocalipse 6.9–11 Visão do clamor dos que foram mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Recebem vestes brancas e devem esperar os outros mártires. III. A ABERTURA DO SEXTO SELO: o julgamento final de Deus – Apocalipse 6.12–17 Várias interpretações, mas a mais coerente é tratar-se do juízo final IV. O SUPRIMENTO DE DEUS PARA OS REMIDOS – Apocalipse 7.1-17 Parêntesis para responder a pergunta: Quem poderá subsistir? 1. A visão dos cinco anjos – 7.1-3 2. Os cento e quarenta e quatro mil selados – 7.3-8 3. A grande multidão de salvos – 7.9-17 CONCLUSÃO

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ESTUDO N º 5 – A REVELAÇÃO DOS SEIS PRIMEIROS SELOS

Texto bíblico: Apocalipse 6.1–7.17 Texto áureo: “E um dos anciãos me perguntou: Estes que trajam compridas vestes brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” (Apocalipse 7.13, 14) INTRODUÇÃO

O texto bíblico do estudo de hoje pertence ao mesmo bloco de textos que começou o capítulo 4. No início do capítulo 4, João, ao ver uma porta aberta no céu, foi convidado a subir para receber a revelação das coisas que depois destas devem acontecer. Logo após seu arrebatamento em espírito, ele viu um trono colocado no céu e Deus Todo Poderoso assentado no trono rodeado por vinte e quatro outros tronos, nos quais estavam assentados vinte e quatro anciãos. Ainda em volta do trono vê os quatro seres viventes. Deus era ali adorado e exaltado pela Sua santidade e Sua dignidade em receber glória, honra e poder pela Sua criação. No capítulo 5 temos ainda a cena do trono. Surge um novo elemento: um livro escrito por dentro e por fora, bem selado com sete selos. Só o Cordeiro de Deus era digno do tomar o livro e abrir os seus selos. Esta capacidade veio pela obra que Ele realizou com o Seu sangue. O Cordeiro entra em cena e toma o livro da destra do que estava assentado no trono. Antes da abertura dos sete selos, assistimos à cena emocionante de reconhecimento da dignidade do Cordeiro e da adoração que Lhe é prestada. Nos capítulos 6.1–8.5 temos a abertura dos selos e com isto a revelação que está contida no livro selado. Por esta razão o ato principal do livro começa a partir desta visão da abertura dos selos. Até aqui foi a preparação para a revelação. Neste livro temos selado o destino dos homens. “O livro em si contém duas coisas que se complementam: o estabelecimento do Reino de Deus e o agrupamento dos santos em Seu Reino; e o julgamento por Deus dos poderes demoníacos que oprimiram o seu povo. O livro do destino explica o ódio terrível e a violenta hostilidade das forças do mal em relação ao povo de Deus, e que o sofrimento deste durará até o dia final. Mas Deus julgará estes poderes maus e no fim os destruirá. Antes do julgamento final Deus derramará uma série de maldições sobre os que se deixarem seduzir por estes poderes maus. Estes julgamentos, além de manifestar a ira de Deus contra tudo que é mau e rebelde, terão o propósito misericordioso de levar os perversos aos joelhos em arrependimento, antes que venha o julgamento final e seja tarde demais” (George Ladd, op. cit. pág. 72).

Cristo, o Cordeiro de Deus tem nas mãos o livro bem selado com sete selos dos feitos de Deus em relação ao homem. Por detrás de toda a história está Deus em Cristo. O selo era um sinal de propriedade. Só alguém autorizado, um representante oficial poderia abrir um livro selado. No Apocalipse, o Cordeiro – Jesus Cristo – é o representante oficial de Deus e por isso apto para abrir os selos.

Chegamos assim ao início do desvendamento futuro. É a hora da abertura do livro que contém os termos do julgamento a ser executado contra os perversos poderes do mundo. à medida em que os sete selos vão sendo abertos, um após o outro, vão sendo reveladas as calamidades que se abaterão sobre a terra e os seus habitantes, preservando-se os cristãos fiéis. Os verdadeiros crentes são selados na fronte pelos anjos de Deus para poder haver distinção entre os fiéis e infiéis. Poderemos observar, no entanto, que mesmo na terrível manifestação cósmica da ira de Deus, não está excluído o amor e cuidado de Deus para com os crentes verdadeiros. Esta verdade pode ser constatada em todas as gerações, inclusive na nossa. Vivendo no meio de uma geração corrupta, os crentes estão sujeitos às conseqüências maléficas do pecado no mundo, mas podem contar com a

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ajuda e proteção divina. Isto está de acordo com o ensino de Jesus Cristo de que no mundo teremos tribulações (João 16. 33), mas que devemos ter bom ânimo, pois como Ele venceu, nós venceremos. Ele nunca abandona os seus. Jesus não prometeu que nós teríamos um “campo de força” em nossa volta impedindo que soframos as conseqüências gerais do afastamento da humanidade de Deus. Paulo afirma: “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Romanos 14. 7). Ou como diz o adágio popular: “Nenhum homem é uma ilha”. Se vivemos numa sociedade, recebemos os benefícios do progresso dessa sociedade e os seus males. Hoje gozamos de inúmeros benefícios do progresso da nossa civilização. Energia elétrica, que veio não só trazer a iluminação, mas com ele dezenas de aparelhos que facilitam a nossa vida. Os modernos meios de comunicação facilitam a nossa vida de interação com os nossos queridos e amigos. O avanço da medicina veio em nosso socorro na hora das enfermidades. Recebemos tudo isto com naturalidade, mas, muitas vezes nos queixamos dos efeitos negativos do pecado da sociedade atual. É o problema da violência, das drogas, da contaminação do meio ambiente e por vezes de alimentos, etc. Os julgamentos de Deus contra o pecado do homem se manifestam, mas no meio destes julgamentos, podemos estar certos de que Deus não está indiferente para com os seus santos. Ele vela por nós e nos dá a Sua proteção. A cena para a abertura dos selos está pronta. Deus Pai assentado no trono tendo ao seu lado Deus Filho – o Cordeiro –, que toma em suas mãos o livro bem selado. Antes da abertura há o reconhecimento da dignidade do Cordeiro, tanto pelo seu valor inerente, na qualidade de Logos divino, quanto pela Sua qualidade de Cordeiro que foi morto, mas vive. Após a cena apoteótica da adoração na sala do trono, as atenções voltam-se para a abertura dos selos. I. A ABERTURA DOS QUATRO PRIMEIROS SELOS: Os Cavalos e os Cavaleiros (Apocalipse 6.1–8)

O Cordeiro abre os sete selos um após o outro. A abertura dos quatro primeiros selos revela a existência de quatro cavalos e quatro cavaleiros, cuja entrada em cena representa alguns tipos específicos de males e calamidades. A abertura dos quatro primeiros selos é apresentada em cenas mais breves, sem maiores comentários ou revelações. São mais genéricas. Da quinta em diante as cenas vão se desenrolar um pouco mais lentamente.

1. A abertura do primeiro selo: o cavalo branco e seu cavaleiro - 6.1–2 – “E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes dizer numa voz como de trovão: Vem! Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vencendo e para vencer.” João presencia a cena da abertura dos selos. Assim que o primeiro selo é aberto pelo Cordeiro, como sempre, ele ouve a voz como de trovão, dando a entender que a voz era intensa, penetrante e que enche o universo inteiro. A mensagem é clara e dita em voz alta. A voz de trovão diz: Vem. Esta ordem, vem, é dada como sinal ao cavaleiro para entrar no palco onde se desenvolve a ação. Quando se ouviu a voz – Vem – entra um cavaleiro montado num cavalo branco. A descrição é simples; um cavalo branco, um homem montado tendo na sua mão um arco, recebe uma coroa e saiu vencendo e para vencer. Por esta descrição devemos identificá-lo. Há várias interpretações sobre o cavalo branco e seu cavaleiro, sendo as duas principais estas: (1) O homem montado no cavalo branco representaria a Cristo, a Sua Causa e o progresso do Evangelho. A cor branca sugeriria a pureza celestial; a coroa, a realeza; o arco representaria o seu modo de vencer os inimigos. Ele avança de vitória em vitória, em sua marcha a favor de Deus, até que o último inimigo seja vencido. Esta teoria é muito sugestiva e atraente, no entanto, há muitos argumentos contrários. O primeiro argumento é que esta versão ignora que o conteúdo dos selos é negativa, representando o desvendamento do juízo divino contra a terra, em sua forma punitiva. Há também o argumento de que Cristo retratado como o Cordeiro fazendo subir o pano, venha agora vestindo a farda de um soldado persa e cavalgando pelo palco. (2) Uma variação desta primeira interpretação, achando que seria difícil interpretar o cavaleiro

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como o próprio Cristo, afirma que o cavalo branco, com o cavaleiro com arco e que recebeu uma coroa e que saiu vencendo e para vencer, simboliza a pregação do Evangelho de Cristo em todo o mundo. (3) Robbins interpreta como sendo o anticristo. Diz ele que será dado poder de fazer guerra e de conquistar o mundo inteiro.. Haan também defende esta idéia dizendo: “O sexto capítulo fala sobre o falso cristo, o anticristo, que procura imitar o verdadeiro Cristo, e, portanto, vem sobre um cavalo branco.Ele virá prometendo paz. . . um período de falsa paz, estabelecendo um milênio simulado. E quando o anticristo, sobre o cavalo branco houver convencido ao mundo que chegou a era de ouro da paz, então desfechará sua fúria contra as nações que de nada suspeitam, mergulhando o mundo na guerra. Isso é revelado no segundo selo.” É pouco provável que esta seja a interpretação correta. (4) O melhor e mais coerente é ver o cavalo branco e o seu cavaleiro como símbolos da conquista que alguns povos inimigos de Roma iam levar a termo nos domínios do Império. Cavalos brancos sempre eram montados pelos conquistadores em suas marchas triunfais. Este cavalo simbolizava, com os outros mais, uma das forças que deveriam produzir a queda do Império Romano. Podemos afirmar que o cavaleiro não era romano, e sim persa. Os persas eram os maiores inimigos de Roma. Os guerreiros romanos não usavam o arco. O arco era a arma predileta dos partos. Os partos eram um povo guerreiro que vivia na Ásia Central. Seus cavaleiros eram conhecidos na guerra por sua rapidez de locomoção e sua habilidade no manejo do arco e flecha. Eles tinham sido subjugados pelos persas e mais tarde pelos reis gregos da Síria. Por volta de 250 A. C. eles se revoltaram contra os selêucidas, e durante o período do Novo Testamento eram o grande perigo para os romanos, ameaçadoramente estacionados na fronteira do Império Romano. Os governadores romanos não usavam coroa. Nas moedas persas antigas encontramos gravadas um cavaleiro com arco na mão e coroa na cabeça. Deste modo o cavalo branco, com o cavaleiro com arco na mão e coroa na cabeça, era símbolo de que a poderosa Roma não ficaria em pé. Deus tinha em suas mãos os meios para libertar o seu povo. A vitória dos cristãos estava perto. 2. A abertura do segundo selo: o cavalo vermelho - 6.3-4 – “Quando ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Vem” E saiu um cavalo vermelho; e ao que estava montado nele foi dado que tirasse a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.” O segundo selo não traz tanta divergência de interpretação quanto o primeiro. Há quase unanimidade em aceitar que o símbolo da cavalo vermelho seja a guerra com todos os horrores que lhe são típicos. Ao cavaleiro foi dado poder de tirar a paz da terra de modo que os homens se matassem uns aos outros. Ainda mais, foi-lhe dada uma grande espada. A guerra é o meio sanguinolento de levar avante as conquistas. O homem terá que conviver com as guerras até a volta de Jesus Cristo. A guerra pode ser compreendida, tanto dos homens contra eles mesmos, como a guerra contra a causa de Deus. “O tempo de João, fim do primeiro século, não estava tanto caracterizado por guerras. Os exércitos romanos tinham, isto sim, esmagado com seu poder qualquer resistência, de maneira que havia paz da Armênia à Espanha. A grande Pax Romana proporcionou ao mundo do Mediterrâneo alguns séculos de paz que o mundo ocidental nunca mais experimentou depois disto. Era, todavia, uma paz baseada na força. O0 poder de Roma estava representado em todos os lugares pelas suas legiões. Em princípio a guerra e a conquista era a política básica, e continuarão sendo até que o Senhor volte” (George Ladd, op. cit. pág. 76). 3. Abertura do terceiro selo: o cavalo preto – 6.5–6 – “Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Vem ! E olhei, e eis um cavalo preto; e o que estava montado nele tinha uma balança na mão. E ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, que dizia: Um queniz de trigo por um denário, e três quenizes de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.” Podemos observar que logo após a abertura de cada selo, um dos seres viventes chama o próximo cavaleiro: Vem. Ao entrar o cavalo preto, João vê que o cavaleiro tem em sua mão uma balança. A balança é para pesar a mercadoria. Agora se ouve como que uma voz do meio dos quatro seres viventes anunciando o preço do trigo e da cevada, alimentos básicos da população daquele tempo. O denário era o salário diário de um trabalhador ou de um soldado.Queniz (no grego

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choiniks) era uma medida usada pelos gregos que equivalia a cerca de 450 gramas ( e mais ou menos um litro de trigo ou cevada), que se julgava constituir o consumo diário de um homem. Algumas traduções trazem ‘medida’ indicando que é quantidade necessária para a alimentação de um homem. A cevada é o mais barato dos cereais, por isso poderia ser adquirido em maior quantidade. O preço anunciado é elevado, razão porque dá idéia de tempo de escassez, tanto do trigo como da cevada. Com este preço as famílias pobres e de poder médio de aquisição não poderiam sobreviver. Por isso o simbolismo do cavalo preto e seu cavaleiro é a fome. Com a guerra vem a escassez de alimentos e com isso a fome. Como se pede que não danifique o azeite e o vinho, que são artigos não essenciais à sobrevivência do homem, havia em maior abundância. Há uma referência histórica que nos tempos do imperador romano Domiciano houve uma imensa falta de cereais, embora houvesse abundância de vinho, o que o levou a baixar um decreto em 92 d.C., que proibia o plantio de novas vinhas na Itália e que ordenava que se arrancasse cerca da metade dos vinhedos existentes em outras províncias. No simbolismo do terceiro selo haveria um tempo em que haveria escassez dos alimentos básicos enquanto sobrariam os supérfluos. Isto traz indignação daqueles que mal podem ter alguns grãos de trigo e passam fome, enquanto poucos privilegiados usam artigos de luxo. Já houve e está havendo fome em muitas partes do mundo. Lemos da fome em vários países africanos em virtudes de guerras tribais e revoluções. Há previsão também de que ainda haverá fome generalizada no mundo inteiro. 4. Abertura do quarto selo: o cavalo amarelo – 6.7–8 – “Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizer: Vem! E olhei, eis um cavalo amarelo, e o que estava montado nele chamava-se Morte; e hades seguia com ele; e foi-lhe dada autoridade sobre a quarta parte da terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com as feras da terra.” O simbolismo revelado na abertura do quarto selo é bem claro. É a morte. O cavaleiro chamava-se morte e seguia com ele o hades. Segundo a concepção judaica o hades é o lugar dos mortos. Muitas vezes a palavra tem sido traduzida como inferno. Esta não é uma idéia correta, pois, no Hades, há dois lugares distintos, um dos ímpios (que é propriamente o inferno) e o lugar dos justos (paraíso ou céu). Assim a morte personificada vinha montado no cavalo amarelo e seguindo-o vinha o Hades para recolher os mortos (que a morte ia ceifando). A Morte recebe poder ou autoridade sobre uma quarta parte da terra para ceifar a vida de quatro maneiras diferentes: com a espada, com a fome, com a peste e com as feras da terra. É um julgamento parcial, pois, se estende apenas a “um quarto da terra”. Os quatro primeiros selos indicam tribulações sobre a humanidade inteira. Os crentes, como mostramos anteriormente, estão sujeitos a todas estas tribulações, mas contam com a proteção de Deus. Se tiverem de morrer, não há temor, porque a morte foi vencida por Cristo. Os crentes têm uma vida eterna com Cristo. Estes quatro selos retratam, em quadros simbólicos vívidos, as forças pelas quais Deus executará seus propósitos de redenção e julgamento no decorrer dos séculos. “A pregação do reino será executada com eficiência, mas em um ambiente hostil que apesar da presença do Evangelho do Reino, será caracterizado por guerra, sofrimento causado por necessidades materiais e econômicas, e morte” ( George Ladd, op. cit. pág. 77). Enfim, até a consumação dos séculos, o Reino de Deus será pregado e estará presente no mundo através dos crentes, mas haverá combate com as forças do mal. O Reino de Deus, em sua plenitude, só será implantado com a volta triunfante de Cristo Jesus. II. A ABERTURA DO QUINTO SELO: Os Santos Martirizados (Apocalipse 6.9–11)

Na abertura do quinto selo a cena muda completamente. Não são mais os julgamentos de Deus sobre a humanidade. Agora é a visão dos servos fiéis que deram a sua vida por causa do Evangelho de Jesus Cristo: “Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E

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clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (6.9, 10). Nesta cena vemos os mártires que tinham dado a sua vida por Causa do Evangelho de Cristo e também do testemunho que deram. Eles não negaram a sua fé. Já havia mártires das perseguições anteriores. Não era ainda uma perseguição generalizada. Eram perseguições localizadas. Mas ali estavam as almas deles clamando pela justiça de Deus. Eles perguntam a Deus: Até quando o Senhor estaria esperando para vingar o sangue que eles derramaram. Alguns perguntam se esta é uma atitude cristã. Mas precisamos saber que este parágrafo reflete a necessidade moral do julgamento. Os perseguidores precisam receber a retribuição dos seus atos maus. A resposta de Deus vem através da recompensa aos mártires e do pedido de paciência. No tempo certo Ele fará a retribuição: “E foram dadas a cada um deles compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda por um pouco de tempo, até que se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos, como também eles o foram” (6.10–11) . As vestes brancas são símbolo da vitória deles e de sua pureza. Eles deviam ter um pouco mais de paciência. O tempo de Deus ainda não era chegado para a retribuição. Os perfeitos planos de Deus realizam-se no momento exato. Eles deveriam descansar um pouco mais, pois, ainda outros seriam martirizados. Nesta cena temos várias lições. Uma delas é que devemos descansar em Deus, esperar pelo tempo próprio de Deus. Como homens, nós desejamos que tudo se faça imediatamente. Deus vê tudo, no seu todo. É preciso ter paciência, esperar e confiar em Deus. Este selo ajuda-nos a entender por que Deus ainda não interveio na história para trazê-la ao seu fim. Não devemos angustiar-nos quando vemos triunfar a injustiça e nada parece ser feito. É que há o tempo certo para Deus agir. Uma segunda lição: Deus sempre ouve as nossas orações. Deus atendeu o pedido dos mártires com a resposta de que deveriam esperar um pouco mais. Esta também é algumas vezes a resposta é que devemos esperar. Uma terceira lição, é com relação ao estado do crente após a morte. O crente está na presença de Deus e em estado de plena consciência, já desfrutando do gozo celestial. III. A ABERTURA DO SEXTO SELO: o Julgamento Final de Deus (Apocalipse 6.12-17)

“E vi quando abriu o sexto selo, e houve um grande terremoto; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua toda tornou-se como sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira sacudida por um vento forte, deixa cair os seus figos verdes. E o céu recolheu-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. E os reis da terra, e os grandes, e os chefes militares, e os ricos, e os poderosos, o todo escravo e todo livre, se esconderam nas cavernas, e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da ira deles; e quem poderá subsistir?” A revelação deste sexto selo tem recebido as mais diversas interpretações. A idéia mais coerente é que representa o juízo final. O sexto selo faz parte da resposta ao anseio dos que foram mortos por causa da palavra de Deus e do seu testemunho. Deus responde-lhes que aguardassem, mas aguardar não é deixar de saber o que Deus faria. A cena, então é deslocada para o período que antecede o fim de tudo, quando haverá o juízo de Deus, com a utilização dos fenômenos naturais. O sexto selo, portanto, é a catástrofe do fim, a revolta da natureza contra o pecado dos homens. Deus não os deixa impune.

O pano de fundo profético deste sexto selo encontra-se no Velho Testamento (Joel 2.31; 3.14, 15; Ageu 2.6; Isaías 13.10; 34.4 e Jeremias 4.23–28).e no sermão profético que Jesus Cristo fez no Monte das Oliveiras (Mat. 24.29). Em todos estes textos encontramos a mesma linguagem de catástrofe cósmica. É interessante observar que há uma harmonia entre Mateus 24 e os fatos narrados no capítulo 6 do Apocalipse. No Evangelho Jesus Cristo fala e aqui no Apocalipse é o Cordeiro quem abre os selos. Como o Cordeiro simboliza Jesus Cristo, é a mesma pessoa e daí a semelhança da narração dos acontecimentos futuros. Jesus Cristo é a testemunha fiel (Apoc. 1.5) e a verdade da qual Ele dá testemunho precisa ser coerente, e pela comparação verificamos a

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veracidade dos Seu testemunho. “À luz de Mateus 24, então, começamos a perceber o sentido maior de toda esta cena do drama. O que nos reserva o futuro? Conquistas e tensões, escassez e morte; ‘mas ainda não é o fim. . . porém, tudo isto é o princípio das dores (Mat. 24.6–8). Em vista do freqüente equívoco que se faz da expressão ‘guerras e rumores de guerras’ uma predição do fim, é importante frisar que Cristo afirma exatamente o oposto. Os terríveis eventos narrados na abertura dos quatro primeiros selos podem parecer, aos que viverão aqueles momentos, sinais da volta de Cristo e do fim do mundo (Mat. 24.3) mas são, de fato, lugar-comum na História. Os quatro cavaleiros têm cavalgado sobre a terra desde aquele dia até os dias de hoje, e continuarão a fazê-lo. (...) À medida que o Cordeiro quebra os selos do livro da História, a impressão imediata que temos é a de um mundo sofrido. Se Ele está no controle, será que a Sua igreja, vivendo no mundo está protegida desses males? Não tinha Ezequiel ameaçado o povo com os mesmos ‘quatro atos de julgamento’, como no v. 8, apesar disso prometendo que os fiéis seriam libertos? (Ezequiel 14. 21 – 22). A resposta do quinto selo (Mat. 24.9–12) a esta perguntas é não: a igreja não está isenta. Ataques internos e externos testarão até o limite todos aqueles que estão preparados para arriscar tudo, até a própria vida, pela Palavra e Testemunho de Deus. Mas quanto tempo isso durará? Nunca haverá descanso para este povo sofrido? Novamente a resposta é não. Enquanto este mundo for o que é, a resposta é não. Somente no fim do mundo, na consumação do número total dos que testemunham e sofrem por Cristo, é que virá o dia da vingança contra os perseguidores (Apoc. 6. 11). Em outras palavras, a maldade desmedida circulará amplamente, trazendo sofrimento ao mundo em geral e à igreja em particular, através de todas as épocas que vão desde os dias da visão de João até os dias da vinda de Cristo (sexto selo e Mat. 24. 14b, 29, 30). Os primeiros 5 selos retratam aspectos diferentes que prevalecerão na História; o sexto selo descreve o dia em que a História terminará” ( Michael Wilcock, pó. cit. pág. 52/53).

Após toda a perturbação cósmica o Filho do Homem aparecerá entre as nuvens para reunir os seus e fazer o julgamento final. Descrevendo a catástrofe cósmica no fim dos tempos, quando Deus visitar sua criação no Dia do Senhor, os escritores bíblicos apresentam de maneira pitoresca o julgamento divino que desaba sobre o mundo. Mas, mesmo usando linguagem simbólica das realidades espirituais, descrevem uma catástrofe cósmica de caráter quase inconcebível para nós. Das ruínas surgirá um sistema novo, redimido, que o apóstolo chama de novo céu e nova terra ( Apoc. 21. 1). Podemos ver ainda que todos os que experimentaram esta catástrofe, concluem que é o fim do mundo, “porque é vindo o dia da ira deles” (v. 17). Todas as pessoas, sem distinção de classe social: “reis da terra, e os grandes, e os chefes militares, e os ricos, e os poderosos, e todo escravo e todo o livre” (v. 15 a) sentem o peso do seu pecado, da sua maldade, da sua crueldade, e sentindo que o dia do julgamento de todas as suas más ações e ante a presença gloriosa do Santo de Deus desejam fugir e esconder-se da presença divina: “ se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face dAquele que está assentado sobre o trono, e a da ira do Cordeiro” (vs. 15b–16). Temos em Isaías 2.19 um texto apocalíptico semelhante: “Então os homens se meterão nas cavernas das rochas, e nas covas da terra, por causa da presença espantosa do Senhor, e da glória da Sua majestade, quando Ele se levantar para assombrar a terra.”

João, na sua visão, não continua descrevendo o fim e a vinda do Senhor, como era de se esperar. No capítulo sete ele continua descrevendo certos relatos que precederão imediatamente o fim, como que respondendo a interrogação do final do v. 17: “e quem poderá subsistir?” Para responder a esta pergunta é introduzido o parêntese do capítulo 7 para mostrar que Deus providenciou a proteção necessária para os seus servos fiéis. Por isso as forças destruidoras no capítulo sete são simbolizadas como reprimidas até que os santos sejam selados e tenham a garantia da proteção divina.

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IV. O SUPRIMENTO DE DEUS PARA OS REDIMIDOS (Apocalipse 7.1–17)

A abertura do sexto selo trouxe uma série de símbolos retratando a destruição dos inimigos de Cristo. A abertura do sétimo selo continua com idéia semelhante, mas o capítulo sete é uma interrupção na seqüência da abertura dos selos para responder à pergunta levantada no último versículo do capítulo seis: “E quem poderá subsistir?”. Nesta pergunta está também implícita uma outra: O que acontecerá com os redimidos por Cristo enquanto esta obra destruidora estiver em andamento? Escaparão ou serão também vitimados por ela? A resposta está na visão que João teve no capítulo sete. O capítulo 7 começa com estas palavras: “Depois disto vi...” A pergunta natural é esta: Depois do que? Depois da visão da abertura do sexto selo. Convém, no entanto, frisar que isto não significa que esta visão esteja descrevendo os acontecimento em sua ordem cronológica. Como dissemos, este capítulo é um interlúdio dos acontecimentos relatados entre a abertura do sexto e sétimo selos. É um parêntesis explicativo da proteção especial de Deus para os seus santos.

1. A visão dos cinco anjos – 7.1–3 – No primeiro versículo aparecem quatro anjos e no segundo um quinto clamando com grande voz aos quatro primeiros anjos.

“Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma.” Nesta visão, João viu quatro anjos que estavam nos quatro cantos da terra, segurando os seus quatro ventos. Segurar ou reter os quatro ventos simboliza segurar ou reter a retribuição ou o castigo divino. O julgamento divino é, muitas vezes, retratado no A. T. como um vento, como podemos constatar em Isaías 41.16; Jeremias 4.11–12; 18.17; 49.32, 36; Ezequiel 5.2; 12.14; Jó 38.24. Eles estão retendo simbolicamente os castigos divinos que virão sobre a terra, mar e árvores. Seriam castigos terríveis; por esta razão estão aguardando a ordem divina.

A ordem divina vem através do quinto anjo: “E vi outro anjo subir do sol nascente, tendo o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado que danificassem a terra e o mar, dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que selemos na fronte os servos do nosso Deus” (vs. 2 – 3). Este anjo trazia o selo do Deus vivo , ou seja o ferro de marcar do Deus vivo, símbolo da proteção divina. Isto nos faz lembrar a morte dos primogênitos do Egito. Os judeus deveriam matar um cordeiro e esparzir o seu sangue nos umbrais das portas, pois o anjo destruidor ao ver o sinal do sangue, passaria por cima sem matar o primogênito naquela casa. Aqui o trabalho de marcar seria feito pelo anjo que trazia o selo do Deus vivo. Todos os servos fiéis serão selados com o selo do Deus vivo em suas frontes, para que quando a ira de Deus for derramado sobre toda a terra no final dos tempos, os Seus servos sejam protegidos. Temos um paralelo a esta proteção, também em Ezequiel 9, quando os castigos de Deus iriam recair sobre os judeus por causa da sua infidelidade. Os fiéis recebem um sinal na testa antes que os destruidores começassem a sua obra: “E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela” (Ez. 9. 4). Neste ponto há concordância geral de interpretação: os assinalados estavam protegidos, de modo que os ventos destruidores não lhes fariam mal algum. A discordância vem quanto ao número e quem são os selados pela proteção divina.

2. Os 144.000 selados – 7.3–8 – João não viu a ação de selar o verdadeiro povo de Deus,

mas ouviu a proclamação do número deles: “E ouvi o número do que foram assinalados com o selo, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos de Israel” (7.3). Ouviu também que eram doze mil de cada tribo de Israel.

Há várias interpretações sobre o número 144 mil e quem seriam eles. Apesar de existirem várias teorias, há uma aceitação quase que geral de que é um número simbólico.

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O número 12 - número sagrado de significação religiosa – é primeiro multiplicado por si mesmo e depois por mil – número usado para significar completude. O resultado desta operação aritmética é 144.000, que é empregado para representar completude absoluta, para indicar que nenhum membro do verdadeiro corpo de Cristo será perdido ou esquecido. Assim o número dos servos de Deus assinalados com o selo na fronte que João ouviu – 1440.000 – é um número simbólico para indicar todos salvos por Cristo tanto de origem judaica quantia gentílica. Há aqueles que desejam que sejam só da nação israelita (descendência carnal de Abraão) e outros que dos israelitas espirituais (os membros das igrejas de Jesus Cristo). No entanto, devemos lembrar que no livro do Apocalipse não há nenhuma distinção entre os salvos por Jesus Cristo quanto à sua origem étnica. Por outro lado, todos os crentes precisarão da proteção divina contra os danos do castigo que recairá sobre os homens com a abertura do sétimo selo. E um terceiro ponto a ser considerado é que João ouviu o número “dos servos do nosso Deus”. Os servos do nosso Deus são aqueles que recebem Jesus Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas, independentemente de sua etnia. Quanto à questão da nomeação de 12 mil de cada uma das doze tribos de Israel, no mesmo simbolismo, salienta de modo mais enfático a inclusão de cada membro do povo de Deus. Ninguém seria esquecido ou ficaria de fora. Como eram doze patriarcas, doze tribos, doze apóstolos, simbolicamente é usado o número doze com o nome das tribos, mas que na realidade não correspondem às doze tribos de Israel. Este é outro fato para se crer que é o símbolo para indicar os salvos de todas as nações, tribos, línguas e povos. Numa ligeira observação quanto às tribos, notamos que não segue a ordem normal de citações das tribos israelitas. Segundo, a tribo de Dã é excluída. Quanto à razão há especulações. Irineu, escrevendo no perto do final do primeiro século da era cristã, afirma que havia uma tradição antiga que supunha que o anticristo viria da tribo de Dã. Há também um livro judeu apócrifo intitulado O Testamento de Daniel que parece ensinar a mesma coisa. Hoje há especulações de que o anticristo virá da Dinamarca. E há quem queira associar o nome do país em sua língua oficial Danmark como uma possível descendência da tribo dos danitas. Não há provas suficientes para estas afirmações. No lugar da tribo de Dã temos Levi que não foi contado entre as doze tribos de Israel, pois era a tribo sacerdotal. Outra observação a tribo de Efraim é substituída nesta lista das tribos por José (pai de Efraim), enquanto Manasses é mantido (o outro filho de José). Nossa conclusão: o número de 144.000 servos de Deus assinalados é o número simbólico de todos os servos de Deus que receberão o sinal da proteção divina durante os flagelos da grande tribulação. Servos estes de todos os povos, não ficando de fora nenhum dos que são verdadeiramente salvos. 3. A grande multidão de salvos – 7.9–17 – A visão do apóstolo após ver os quatro anjos retendo os quatro ventos da terra e um quinto pedindo-lhes que esperassem para soltar os quatro ventos da terra até que todos os remidos da terra fossem selados, volta-se agora para a “uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante do trono e em presença do Cordeiro, trajando compridas vestes brancas, e com palmas nas mãos” (v. 9). Esta visão agora é dos salvos no céu. A identidade deles será revelada a João a seguir e através dele a nós. Não há nada que indique que todos eles fossem mártires, como dá a entender o título comumente colocado em nossas Bíblias. Lembramos que estes títulos não constam nos originais. Os títulos são colocados pelos tradutores ou editores, segundo o entendimento que eles têm do texto que segue. Os mártires clamando pela justiça de Deus foram vistos debaixo do altar na abertura do quinto selo (6.9–11). Estes remidos constituem uma multidão inumerável e a procedência deles é de todas as nações, tribos, povos e línguas. Isto mostra a universalidade do Evangelho de Cristo e que alcançará todos os confins da terra. Eles estavam em pé diante do trono e em presença do Cordeiro, proclamando a grandeza da salvação de Deus. Eles trajavam vestes brancas, símbolo da pureza e santidade. Eles tinham palmas nas mãos, isto simboliza alegria e júbilo. Os conquistadores romanos usavam grinaldas de folhas de palmeira. Os atletas gregos, ao final de sua corrida vencedora, eram festejados com um ramo de palmeira. Aqui poderia também ser uma lembrança das palmas que se levavam na Festa dos Tabernáculos, que era uma festa de

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alegria – alegria pela libertação, pela preservação e pela segurança que gozavam agora. De qualquer forma simboliza a vitória e alegria por terem vencido as provações e estarem diante do trono e na presença do Cordeiro. Esta multidão de remidos, com compridas vestes brancas e palmas nas mãos clamava em grande voz uníssona: “Salvação ao nosso Deus, que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro” (v. 10). Diante desta adoração dos remidos, todos os anjos em pé ao redor do trono e dos anciãos e dos seres viventes, prostravam-se diante do trono sobre os seus rostos e adoravam a Deus (v. 11), dizendo: “Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ações de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém” (v. 12). Os anjos juntando-se à adoração da multidão de remidos, também adoram a Deus com esta doxologia. Esta doxologia, que começa e termina com Amém, envolve sete itens: louvor, glória, sabedoria, ações de graças, honra, poder e força. É o número completo. Tudo isto ao nosso Deus por toda a eternidade. É o reconhecimento de que as operações divinas relativas à redenção do homem, merecem louvor, adoração e serviço completos. Talvez João estivesse não apenas extasiado com aquela cena maravilhosa da multidão dos remidos, mas também meio perplexo. Um dos anciãos pergunta-lhe se ele sabia quem eram os componentes daquela grande multidão e de onde vieram: “Estes que trajam as compridas vestes brancas, quem são eles e de onde vieram? (v. 13) . João percebeu que aquela pergunta era para que lhe fosse explicado quem eram e de onde vieram. Por isso a resposta de João foi esta: “Meu Senhor, tu sabes”. E veio então o esclarecimento completo: “ Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no seu santuário e Aquele que está assentado sobre o trono estenderá o seu tabernáculo sobre eles. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum; porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (vs. 14–17). Esta multidão simboliza os salvos pelo sangue de Jesus Cristo, que venceram a grande tribulação e estão na presença do Senhor. O cenário agora é no céu. Os 144.000 simbolizam os remidos por Cristo que estarão na terra no período da grande tribulação que está para vir. A multidão simboliza os que estarão no céu naquele período e já terão vencido todas as provações e perseguições aqui da terra. Os dois grupos simbolizam os salvos, só que um ainda na terra, com o selo da proteção divina e outro no céu, tendo já passado pelo “mar de aflição”. Estes que já estão no céu apresentam o fato notável não tanto por virem da provação, mas virem com a fé e consciência impolutas, como diz Mofatt. Tendo passado pelas provações, estão agora na presença de Deus e do Cordeiro gozando paz, alegria e vitória. O Cordeiro que foi o Redentor, torna-se agora o Provedor. Agora vai apascentá-los. Estarão diante do trono de Deus servindo-O e nunca mais passarão por dificuldades e necessidades. Agora não mais terão fome, sede, calor, frio; não terão mais dores ou tristezas, porque serão supridos em todas as suas necessidades. As duas visões juntas dos remidos do capítulo 7 retratam do modo completo a segurança do povo de Deus ante os juízos retratados no capítulo 6 e que ainda serão apresentados no capítulo 8. É a resposta de Deus à pergunta: “Quem poderá subsistir?”. Os remidos por Cristo, com a proteção especial que receberão.

CONCLUSÃO Presenciamos a abertura dos seis primeiros selos. Nos quatro primeiros selos, só o primeiro é que apresenta divergência maior de interpretação. Uma corrente pensa que é o próprio Cristo, outra o Evangelho de Cristo, uma terceira que é o anticristo e a que optamos; são os inimigos de Roma que a destruirão. Os outros selos simbolizam respectivamente a guerra, a fome e a morte. Simbolizam, portanto, tribulações sobre a humanidade inteira, com a atenuante para os servos de Deus de que contam com Sua presença e proteção.

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O quinto selo também traz divergências na interpretação. Alguns acham que são os cataclismos ou as grandes catástrofes que têm abalado o mundo. Nós aceitamos a idéia de tratar-se do julgamento final. Como diante de todos aqueles acontecimentos os homens apavorados desejariam esconder-se daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro, exclamarão: Quem poderá subsistir? Na visão abre-se um parêntesis para mostrar que antecedendo a grande tribulação (que será relatada com a abertura do sétimo selo), os escolhidos de Deus serão selados na fronte para escaparem daqueles males. É mostrado também que enquanto os salvos da terra são preservados dos juízos da ira de Deus, há uma grande multidão de remidos que está no céu diante do trono de Deus. Alguns destaques como lições para a nossa vida no dia-a-dia. 1. Neste mundo, mesmo os crentes verdadeiros estão sujeitos à tribulações e aflições. Os males que afetam e afetarão o mundo antes dos dias da grande tribulação, podem alcança-los. Podemos ser perseguidos, passar fome, enfrentar guerras e morrer. A diferença com os não salvos é que nós temos a graça de Deus que nos dá força e alento para vencer todas as tribulações. Podemos a qualquer momento buscar a ajuda divina por meio da oração. 2. Antes que os males, que serão apresentados na abertura do sétimo selo, comecem a cair sobre a humanidade, os remidos serão selados por Deus para que haja livramento especial tal como aconteceu com os israelitas durante as pragas do Egito. Deus fez diferenciação entre o povo judeu e os egípcios. Deus fará distinção entre os seus servos e os incrédulos. 3. Por maiores que sejam nossas lutas, provações, até mesmo perseguições, devemos estar convictos de que vale a pena pregar a Palavra de Deus e dar testemunho de Cristo através de nossa vida, pois pelo sangue de Cristo fomos lavados e purificados, obtendo o direito de estar no céu diante do trono de Deus. O que é descrito com a multidão incontável trajando vestes compridas e brancas será uma realidade para nós também. Ali seremos apascentados pelo Cordeiro e nunca mais saberemos o que é ter fome, sede, passar calor, frio ou ter que derramar alguma lágrima. O céu está à espera dos servos de Deus que Lhe forem fiéis.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 06

A ABERTURA DO SÉTIMO SELO E AS SETE TROMBETAS

Texto bíblico: Apocalipse 8.1–11.19 Texto áureo: “E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos.” (Apocalipse 11.17) INTRODUÇÃO

Vimos na lição passada a abertura dos seis primeiros selos. Vimos também que, com a revelação do sexto selo, foi aberto um parêntesis para responder ao anseio geral de “E quem poderá subsistir?” Vimos também que, antes da aplicação dos castigos da ira divina por causa da maldade dos pecados dos homens, Deus selaria os Seus servos fiéis para que pudessem subsistir nos dias terríveis daquela tribulação. O capítulo 8 retoma a abertura dos selos. O juízo do sétimo selo está nas sete trombetas.

I. A abertura do sétimo selo – Apocalipse 8.1-6 1. O silêncio no céu – 8.1-2 2. O incenso e as orações de todos os santos – 8.3-5 3. As sete trombetas de prontidão – 8.6 II. O soar das seis primeiras trombetas – Apocalipse 8.7–9.21 1. O soar da primeira trombeta – 8.7 – calamidades sobre a terra 2. O soar da segunda trombeta – 8.8–9 – calamidades sobre o mar 3. O toque da terceira trombeta – 8.10–11 – efeitos sobre os rios e nascentes 4. O soar da quarta trombeta – 8.12 – efeitos sobre os corpos celestes 5. Advertências acercas das trombetas restantes – 8.13 – o presságio da águia: os 3ais 6. O toque da quinta trombeta – 9.1–12 – o primeiro ai – só tormentos, sem mortes 6.1 A estrela caída do céu – 9.1–2 – a abertura do poço do abismo 6.2. Os terríveis gafanhotos – 9.3, 7–11 6.3. A missão dos gafanhotos – 9.4-6 6.4. Simbolismo do tormento dos gafanhotos 6.5. Fim do primeiro ai – 9.12 7. O toque da sexta trombeta – 9.13–21 – o segundo ai, tormentos e mortes 7.1. A descrição do terrível exército destruidor – 9.15-19 7.2. Interpretação deste exército terrível 7.3. O endurecimento dos corações incrédulos – 9.20, 21 III. Visão do livrinho aberto – Apocalipse 10.1-11 1. O anjo e os sete trovões – 10.1-7 2. A voz do céu, o livrinho aberto e João – 10.8-11 IV. As duas testemunhas – Apocalipse 11.1-14 1. A medição do tempo – 11.1–2 – símbolo de proteção aos fiéis 2. As duas testemunhas – 11.3-13 2.1. Identificação das duas testemunhas – 11.3-4 2.2. A missão e o poder das duas testemunhas – 11.5-7 2.3. O júbilo do mundo pela morte das duas testemunhas – 11.8-10

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2.4. A ressurreição das testemunhas e o temor do mundo – 11.11–13 2.5. O término do segundo aí e o anúncio do terceiro – 11.14 V. O toque da quinta trombeta – Apocalipse 11.15–19 – Cristo brevemente reinará 1. A visão da vitória do reino de Deus – 11.15-18 2. A arca da aliança – 11.19 CONCLUSÃO - lições objetivas

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ESTUDO N º 6 – A ABERTURA DO SÉTIMO SELO E AS SETE TROMBETAS

Texto bíblico: Apocalipse 8.1–11.19 Texto áureo: “E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos.” (Apocalipse 11.15)

INTRODUÇÃO

Vimos na lição passada a abertura dos seis primeiros selos. Vimos também que, com a revelação do sexto selo, foi aberto um parêntesis para responder o anseio geral de “E quem poderá subsistir?”. O capítulo sete mostrou que, antes da aplicação dos castigos da ira divina por causa da maldade dos pecados dos homens, Deus selaria os Seus servos fiéis para que eles possam subsistir aos dias terríveis daquela tribulação. O capítulo 8 retoma a cena da abertura dos selos. Houve um interlúdio elucidativo. Agora voltamos à cena da abertura do sétimo e último dos selos. O sétimo selo consiste no juízo das sete trombetas. A impressão geral após a abertura do sexto selo é que o sétimo deveria mostrar imediatamente o que seguirá após a cena dos terríveis acontecimentos que assinalarão a vinda do juízo final de Deus e a parousia. No entanto, a revelação da abertura do sétimo selo, traz-nos através do toque das sete trombetas uma série nova de catástrofes, produzidas por juízos divinos, para no final, ao toque da sétima trombeta revelar a explosão de júbilo no céu pela vitória cabal de Cristo: “O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (11.15). I. A ABERTURA DO SÉTIMO SELO (Apocalipse 8.1–6)

Quando o sétimo selo foi aberto, cessaram os louvores e as ações de graças no céu, estabeleceu-se um período de silêncio por quase meia hora: “Quando abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu, quase por meia hora.” Por quê? 1. O silêncio no céu – 8. 1 – 2 - Há várias interpretações sobre o silêncio no céu quase por meia hora. Uma das idéias é de que é o símbolo do juízo retardado, virá no tempo determinado por Deus. Dizem que é a confirmação do retardamento do juízo já apresentado no simbolismo da retenção dos quatro ventos ( 7. 1 – 3). Outros dizem que se fez silêncio no céu, cessando os louvores e vozes, a fim de que as orações intercessórias dos santos na terra fossem ouvidas no céu. Cremos, no entanto, que a melhor interpretação é de que o silêncio no céu representa um tom dramático, suspense, pelo que há de vir, sem nenhuma significação profética ou doutrinária. O silêncio no céu, como efeito dramático, demonstra o anseio para saber o que virá agora com a presença dos sete anjos em pé recebendo sete trombetas. As hostes celestiais, os remidos, todos permanecem em silêncio por quase meia hora querendo ansiosamente ver o que vem agora. Todos contemplam, ao ser aberto o sétimo selo, os sete anjos em pé diante de Deus e a entrega de sete trombetas. As trombetas eram usadas para reunir os exércitos, dar ordens para as tropas e para anunciar coisas. O uso das trombetas no V. T., pelo povo israelita, era conforme a instrução dada pelo próprio Deus. Dependendo do número de toques, de tocar retinindo ou não, as ordem eram dadas: para reunir o povo, para dar sinal de partida, para convocação para a guerra, para anunciar a libertação no ano jubileu, etc. (ver Números 10). Logo, as trombetas eram usadas para transmissão de ordens e mensagens. Que coisas teriam os anjos a anunciar através do toque de suas trombetas? O silêncio retrata o suspense de expectativa que é criado com a abertura do último dos selos. Um

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silêncio de reverência, de expectação e de oração, em que todos os anjos, remidos e o próprio João aguardam com a respiração contida, a revelação que os sete anjos receberam para transmitir. 2. O incenso e as orações de todos os santos - 8.3–5 – O incenso é uma substância aromática usada em atos de culto entre os israelitas. O incenso ao ser queimado subia como aroma agradável a Deus e era símbolo da aceitação divina do ato de culto. Já na época dos salmistas, a oração era associada ao incenso: “Suba a minha oração, como incenso diante de Ti” (Salmos 141. 2 a). Na visão, João vê um oitavo anjo colocar-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro na mão e recebendo muito incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar que estava diante do trono (v. 3) Feita a mistura do incenso com as orações dos santos, a fumaça desta mistura subiu diante de Deus (v. 4). Este simbolismo mostra que as orações dos santos aqui da terra foram ouvidas e atendidas ali no céu. A seguir, no mesmo simbolismo, o anjo toma o incensário e enche-o do fogo do altar e lança-o sobre a terra. O clamor dos crentes por proteção e libertação foi atendido. Ao ser lançado sobre a terra o fogo do altar, houve vozes, relâmpagos e terremotos (v. 5). A reunião das orações de ‘todos os santos’ trouxe como conseqüência a retribuição de Deus aos opressores do seu povo. O pensamento fundamental aqui é o de que Deus ouvirá as ferventes orações do seu povo em luta e aflição, e exercitará o seu juízo contra os seus inimigos. 3. As sete trombetas de prontidão – 8.6 – “Então os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar”. Preparado o quadro da abertura do sétimo selo, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar. As trombetas são anúncios de que o juízo vem. São chamadas ao arrependimento. Quando elas se fizerem ouvir, as forças da vingança começarão a cair. Antes de considerarmos o soar de cada trombeta precisamos considerar se há um paralelismo significativo entre os sete selos e as sete trombetas. Deve-se notar que tanto os selos como as trombetas levam-nos ao fim dos tempos. Como vimos no estudo passado, o sexto selo, falou dos cataclismos cósmicos que identificarão a vinda do dia do Senhor ( 6. 17). De modo semelhante o soar da sétima trombeta anuncia a vinda do fim: “O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (11. 15). “Isto exige que nós reconheçamos que aqui há alguma recapitulação, quando a narrativa volta atrás e aborda alguns assuntos mais uma vez. A pergunta que surge é esta: os sete selos e as sete trombetas cobrem o mesmo período, ou seja, eles coincidem no todo ou só em parte? “Podemos achar uma chave para o problema no fato de o sétimo selo não conter nenhuma praga ou julgamento, como os outros seis. Pelo contrário, quando o sétimo selo foi quebrado os sete anjos se prepararam para tocar as suas trombetas. Isto dá a impressão que as sete trombetas na verdade constituem o sétimo selo; a recapitulação só é parcial. Os seis selos relatam as forças que trazem o fim, enquanto que as trombetas relatam o início dos acontecimentos do fim em si, em particular o tempo de grande tribulação que antecederá o fim. Outra semelhança de estrutura é que os selos e as trombetas são interrompidos por um interlúdio. Entre o sexto e o sétimo selos foi inserida a visão das duas multidões, que retratam o destino da igreja durante a tribulação. Entre a sexta e sétima trombeta foi inserida a visão do anjo com o pequeno livro e a medição do templo (caps. 10 e 11). Outro paralelismo, é que nem o sétimo selo, nem a sétima trombeta representam uma praga ou maldição, como os outros selos e trombetas. O sétimo selo não tem conteúdo; como já vimos, é provável que as sete trombetas sejam o conteúdo do sétimo selo. De maneira semelhante a sétima trombeta não traz nenhuma praga ou maldição como as outras seis, somente anunciando o fim, sendo então, seguida dos sete flagelos. Isto levanta a possibilidade de que na verdade, o conteúdo da sétima trombeta são os sete flagelos. Se este for o caso, então vemos nas sete trombetas e nos sete flagelos uma intensificação das maldições derramadas sobre a humanidade antes de o julgamento final sobrevir e ser muito tarde” (George Ladd, op. cit. pág. 90/91).

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II. O SOAR DAS SEIS PRIMEIRAS TROMBETAS (Apocalipse 8.7–9.21)

Antes de analisar ligeiramente o toque de cada trombeta, façamos algumas considerações gerais. As quatro primeiras trombetas ao tocarem, trazem efeito destrutivo limitado à natureza, portanto, indiretamente à humanidade (8. 7 – 12). Representam as forças que desencadearão sobre a natureza males terríveis, trazendo destruição parcial do mundo. Serão calamidades naturais que afetarão terrivelmente os elementos da natureza: a terra, o mar, as fontes das águas e os corpos celestes. Também não devemos tomar a expressão “terça parte” no seu sentido literal. “Um terço” é um meio convencional de expressar “uma grande parte”. Neste estágio, ainda que a intervenção

divina esteja julgando a humanidade, vemos a atuação da graça de Deus em querer levar os homens ao arrependimento. Os homens deveriam reconhecer o poder de Deus em trazer o castigo e voltar dos seus maus caminhos para glorificarem a Deus. Mesmo nestes flagelos terríveis, que atingirão “grande parte” da humanidade, ainda o propósito de Deus é dar avisos tão inteligíveis, aos que escaparem dos flagelos, que os tornarão inescusáveis, se não se arrependerem.

1. O soar da primeira trombeta – 8.7 – Efeito sobre a terra - “O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, que foram lançados na terra; e foi queimada a terça parte da terra; a terça parte das árvores; e toda a erva verde.” O soar da primeira trombeta desencadeou calamidades sobre a terra (planeta). Podemos imaginar a terribilidade da tormenta: saraiva misturada com enxofre em chamas e sangue que desciam do céu. Resultado uma terça parte da terra ficou arrasada e queimada pelo incêndio. 2. O soar da segunda trombeta - 8.8–9 – Efeito sobre o mar - “O segundo anjo tocou a sua trombeta, foi lançado no mar como que um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a terça parte do mar. E morreu a terça parte das criaturas viventes que havia no mar, e foi destruída a terça parte dos navios.” Quando a segunda trombeta toca um grande monte ardendo em fogo – pode ser um vulcão gigantesco – é lançado no mar que destrói a terça parte das criaturas marinhas e transforma o mar em sangue. Um terço das embarcações no mar acaba sendo destruído. 3. O toque da terceira trombeta – 8.10–11 – Efeito sobre os rios e fontes das águas – “O terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. O nome da estrela era Absinto; e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas.” Ao ser tocada a terceira trombeta, o flagelo é sobre as fontes de água doce: mananciais e rios. A estrela ardendo torna as águas venenosas. Muitos tomaram daquelas águas e morreram. 4. O soar da quarta trombeta – 8.12 – Efeito nos corpos celestes – “O quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse, e semelhantemente a da noite.” A quarta trombeta tocando, marca o escurecimento da terça parte do sol, da lua e das estrelas para que deixassem de brilhar durante uma terça parte do dia e da noite. Este julgamento ainda visava levar os homens ao arrependimento e incentivá-los a buscarem a Deus. Resumindo, as quatro primeiras trombetas mostram o dano terrível que é imposto à terra, à vegetação, ao mar, aos navios, às águas que servem para beber e à luz que permite o homem ver. O dano, no entanto, é parcial, a maioria dos homens sobrevive para ver a ira de Deus sendo derramada contra o pecado e recebe a oportunidade de se arrepender. Como afirmamos no início, por detrás da manifestação da ira de Deus contra o pecado, está o amor de Deus, oferecendo ao homem a

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oportunidade de arrependimento. O objetivo das trombetas é tanto anunciar destruição, como advertir contra o estado de rebeldia do homem contra Deus. Para os leitores primitivos de João, esta descrição das calamidades naturais era perfeitamente compreensível. Eles já tinham ouvido e presenciado muitos cataclismos terríveis. No ano 79 D. C., portanto, pouco mais de quinze anos antes, houve a erupção do Vesúvio, no mês de agosto. As ardentes lavas sepultaram as cidades de Herculano e Pompéia e muitos outros vilarejos. Larvas e cinzas foram lançadas muitos quilômetros à frente sobre o mar, caindo sobre navios que estavam no mar. Plínio, o moço, escrevendo a Tácito, narrou alguns episódios da destruição trazida pela erupção do Vesúvio, que tirou, inclusive a vida do seu ilustre tio, Plínio, o velho (o grande naturalista). Ele conta que houve primeiro um terremoto e depois a erupção do vulcão que enviou uma avalanche de fogo para dentro do mar. Muitos que escaparam das torrentes de lava, morreram sufocados pelos gazes sulfurosos que se estenderam por uma zona muito grande. Os céus se escureceram tanto que Plínio chegou a dizer que aquilo “ foi um dia, mas escureceu muito mais do que a noite mais escura.” Há notícias também de uma outra ocasião em que o vulcão da ilha Santorin entrando em erupção, parecia uma montanha em chamas. Os fugitivos que conseguiram escapar contaram que viram rajadas de fogo destruindo a vegetação, os vapores sulfurosos em contato com as águas, mataram muitos peixes e suas águas tornaram-se vermelhas. Os leitores poderiam lembrar-se e saber que coisas semelhantes ou mais terríveis estavam sendo anunciados pelas trombetas. 5. Advertência acerca das trombetas restantes – 8.13 – Com o soar da quarta trombeta está encerrada a primeira série de trombetas e as calamidades que as acompanham. É interessante notar que em cada uma das três séries de símbolos: selos, trombetas e taças, o plano do apóstolo é dividir as séries de símbolos em quatro, duas e uma, deixando sempre a última para atuar como agente de transição. Nesta série de sete: as sete trombetas, vemos que as quatro primeiras anunciam calamidades sobre a natureza; as duas seguintes anunciarão as calamidades que sobrevirão à humanidade. Assim que as quatro primeiras trombetas tocam, entra no cenário a figura de uma águia voando no céu. As quatro trombetas tinham trazido destruição à natureza, mas a figura da águia, trazia uma presságio de males maiores: “O pior estava por vir”. “E olhei, e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia com grande voz: Ai, ai, ai dos que habitam sobre a terra! Por causa dos outros toques de trombeta dos três anjos que ainda vão tocar” (8. 13). A águia, ave predadora, simboliza a destruição que virá. Havia uma superstição que a águia era ave de mau agouro. Logo, a simples aparição já não prenunciava coisas boas e a sua mensagem não é nada animadora: a sua tríplice lamentação de pesar (ai) sobre os habitantes da terra, traz um terror maior ainda. Os “ais” são por causa do conteúdo do toque das três últimas trombetas. Houve sofrimento causado indiretamente aos homens com as calamidades anunciadas pelas quatro primeiras trombetas. Agora seria pior, o sofrimento advindo do toque das últimas trombetas será direto sobre os homens. Com o clamor da águia, um suspense terrível é criado e a tragédia aumenta de intensidade. 6. O toque da quinta trombeta – 9.1–12 – A descrição dos terríveis acontecimentos que correrão após o toque da quinta trombeta é um pouco mais extensa e pormenorizada. A quinta trombeta é o primeiro aí e ocupa onze versículos. Esta quinta trombeta prediz os terríveis tormentos trazidos pelos demônios que visitarão a humanidade ímpia.

6.1. A estrela caída do céu – 9.1–2 - “O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caíra sobre a terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha; e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar.” Devemos lembrar que a linguagem é simbólica e não devemos querer buscar o significado de cada pormenor. Os pormenores completam a representação e dão um caráter

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mais dramático. A estrela que caiu do céu representa um ser angelical. Há intérpretes que dizem que é um anjo de Deus que vem abrir o poço donde sairão os demônios e outros que é um anjo mau ou o próprio Lúcifer. Podemos, pelo contexto bíblico, encontrar outros locais em que os seres angelicais são representados por estrelas, inclusive Lúcifer: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que prostravas as nações” (Isaías 14. 12). Jesus Cristo também diz: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu” ( Lucas 10. 18). Assim podemos interpretar como o próprio Satanás lançado à terra. O fato de “ser-lhe dada a chave do poço do abismo” pode demonstrar que o inimigo nada pode executar sem a vontade permissiva de Deus. Satanás tem poder, mas Ele nada pode fazer contra os planos de Deus e contra os seus escolhidos, sem que receba autorização para isto. Por vontade de Satanás ele estaria atormentando a humanidade toda, especialmente os escolhidos. Ele não pode tocar nos eleitos (I João 5. 18 b). Mesmo a sua interferência neste mundo está sujeito à autoridade de Deus. Um pequeno parêntesis para evitar um mal entendimento, é preciso frisar, que Deus, em Sua soberania, permite por causa da livre escolha que o homem faz em não querer submeter-se à vontade divina, e logicamente ficando sujeito à vontade do inimigo, sofra as conseqüências. Não dando lugar a Deus, vem o usurpador e toma conta. Fechando o parêntesis voltemos à quinta trombeta. No tempo determinado por Deus, uma estrela cairá do céu e com a chave do poço do abismo, abri-lo-á. A palavra chave serve de símbolo da autoridade para iniciar eventos e para exercer controle. “Poço do abismo” simboliza o lugar da prisão dos demônios. No simbolismo o poço seria como um túnel ou uma fenda na terra que conduziria até o local da prisão que está fechado. Aberto o poço, no mesmo simbolismo, como de uma grande fornalha, subiu uma fumaça preta que escureceu o sol e o ar.

6.2. Os terríveis gafanhotos - 9.3, 7–11 - Quando o poço do abismo é aberto, sai a fumaça

que tudo escurece e aos poucos dá para ver no meio da fumaça gafanhotos: “Da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra, e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra” (v. 3). Os gafanhotos eram uma praga comum naqueles dias. Ainda hoje, apesar dos modernos meios de combatê-los, constituem uma praga terrível, que em pouco tempo acaba com lavouras e toda e qualquer vegetação. Na saída do povo de Israel do Egito, Deus uma mandou também uma terrível praga de gafanhotos (Êxodo 10. 12 – 19). Há outros textos no V. T. em que lemos sobre a praga dos gafanhotos. Mas, os gafanhotos desta visão não eram gafanhotos comuns. A descrição dramática destes gafanhotos temos nos vs. 7 a 11: “A aparência dos gafanhotos era semelhante à de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia como que umas coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. Tinham cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como os de leões. Tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros de muitos cavalos que correm ao combate. Tinham caudas como ferrões, semelhantes às caudas dos escorpiões; e nas suas caudas estava o seu poder, para fazer dano aos homens por cinco meses. Tinham sobre si como rei o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom e em grego Apoliom.” Não precisamos comentar a terribilidade destes gafanhotos especiais. Se nos víssemos frente à frente com semelhantes gafanhotos, certamente, ficaríamos apavorados. Mais ainda, eles tinham como rei e comandante Abadom ou Apoliom. As duas palavras, uma hebraica e outra grega, significam em português Destruidor. Com isto, aumenta a descrição dramática da cena de dor e sofrimento. Se os gafanhotos são terríveis, comandados pelo rei da destruição, não se pode esperar clemência nenhuma. Como lemos, o poder destes gafanhotos estava na cauda, que era como de escorpião. A picada de um escorpião é terrível e muito doloroso. Pode levar à morte se não houver aplicação de um antídoto. O ciclo de vida dos gafanhotos é de cinco meses, um período relativamente curto, mas que traz muita destruição. Assim o simbolismo é de que seria um período relativamente curto, mas de intenso sofrimento.

6.3. A missão dos gafanhotos – 9.4–6 - Já vimos pela descrição que estes gafanhotos não eram gafanhotos comuns. O alvo do ataque deles não seria o reino vegetal, mas o reino animal ou melhor a humanidade. “Foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura

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alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm na fronte o selo de Deus. Foi-lhes permitido, não que matassem, mas que por cinco meses os atormentassem. E o seu tormento era semelhante ao tormento do escorpião, quando fere o homem. Naqueles dias os homens

buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles” (9. 4 – 6). A descrição não só é vívida, mas muito clara. A missão destes gafanhotos é de atormentar os homens. Mas, devemos notar que agora aparece uma distinção entre os homens. Nas calamidades anteriores, das quatro trombetas, como também nos primeiros quatro selos, todos os homens estavam sujeitos aos efeitos, com a distinção de que, com a graça e presença de Deus, os santos podiam enfrentar melhor as adversidades. Vimos também na abertura do sexto selo, que houve um interlúdio para que os santos fossem selados e pudessem subsistir diante das coisas terríveis que haveriam de acontecer. Aqui, já vemos os servos de Deus fiéis, já selados na fronte. A ordem para os gafanhotos foi de que os danos só deveriam ser para os homens que não tivessem as frontes seladas. Os crentes verdadeiros serão preservados dos males que eles efetuarão. As dores causadas pelos gafanhotos será semelhante às do escorpião. Os homens no meio daquelas dores terríveis buscarão a morte, mas não acharão. Terão que sofrer para sentir o peso do castigo divino devido à sua rebeldia. 6.4. Simbolismo do tormento dos gafanhotos – Ainda que haja interpretação diferente, a melhor é que a visão simboliza o espírito infernal que penetra na terra. O Dr. Russell P. Shedd diz: “A quinta trombeta prediz os terríveis tormentos que os demônios trarão ao visitar a humanidade ímpia (9.1-12). Parecem gafanhotos por causa do incalculável número deles, antes presos no abismo, mas depois de tocar esta trombeta, soltos para torturar cruelmente ao mundo incrédulo. O abismo é outro nome da prisão dos espíritos rebeldes, também chamada “Tártaro” (II Pedro 2. 4). Este mesmo abismo servirá para aprisionar Satanás durante o milênio (Apoc. 20.1-3). Os gafanhotos infernais causam dano ( sofrimento e angústia) comparável ao escorpião durante um tempo limitado de cinco meses, mas não lhes será permitido matar os homens. O nome do rei dos demônios-gafanhotos é Abadom em hebraico e Apoliom em grego, ambos significando ‘destruidor’. Claramente o objetivo das torturas que afligirão à humanidade, do lado satânico, é a desintegração psicológica e espiritual de suas vítimas. Como a ira de Deus, segundo Romanos 1. 18 – 32, separa o pecador do controle divino sobre sua vida, é natural que a crueldade demoníaca substituirá a manifestação do amor de Deus (cf. Mateus 5. 45)” (Russell P. Shedd, A Escatologia do Novo Testamento, pág. 44). Destacamos mais uma vez que, estes tormentos diabólicos só atingirão os incrédulos, aqueles que não são selados na fronte. Como crentes verdadeiros, podemos estar descansados, pois o inimigo não nos pode tocar e muito menos nos possuir. 6.5. Fim do primeiro ai – 9.12 – “Passado é já um ai; eis que depois disso vêm ainda dois ais.” – Antes da quinta trombeta tocar vimos uma águia voando e com grande voz dizer três vezes a palavra “ai” como que condoendo-se dos habitantes da terra por causa do toque das três últimas trombetas. Agora que foi anunciado os terríveis efeitos do toque da quinta trombeta, João conclui que o primeiro ai é passado, mas adverte que ainda haverá dois ais. É o prenúncio de que não haverá alívio, mas virão outros males sobre os habitantes incrédulos da terra. 7. O toque da sexta trombeta – 9.13–21 – Os cavaleiros da morte – Este é o título que alguns têm dado à revelação do toque da sexta trombeta. É o segundo ai sobre os homens. Se as conseqüências da quinta trombeta foram terríveis, podemos imaginar o desta sexta. A da quinta não causava a morte, esta causa a morte de uma terça parte da humanidade (quantidade muito grande simbolicamente) para que as outras duas terças partes vejam e se arrependam. Infelizmente vemos que não se arrependerão, mesmo sendo atormentados e mortos por estas pragas (v. 20). 7.1. A descrição do terrível exército destruidor - 9.15–19 - Assim que o sexto anjo toca sua trombeta, João ouve uma voz que sai, vinda do altar de ouro que estava diante de Deus. A voz dava ordem ao sexto anjo que soltasse os quatro anjos que estavam presos junto ao grande rio Eufrates. É

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bom lembrar aqui que o Eufrates era o limite oriental ideal da terra prometida (ver Gên. 15. 18, Deut. 1. 7 e Juízes 1. 4). Além do rio Eufrates encontravam-se os reinos pagãos com seus exércitos inimigos de Israel (como a Assíria, Babilônia). Assim o rio Eufrates tornou-se símbolo dos inimigos de Israel (Is. 7. 20; 8.7; Jer. 46. 10.). Por isso, simbolicamente, os quatro anjos estavam presos junto ao grande rio Eufrates. Estes quatro anjos tinham sido preparados de modo especial para aquela obra e no tempo certo de Deus (para aquela hora, dia e mês e ano – v. 15). A obra especial era matar a terça parte da humanidade. Eles comandavam um exército numeroso de cavaleiros: duas miríades de miríades, foi o número que João ouviu. Os comentaristas dizem 200 milhões de cavaleiros. Miríade é um número de dez mil unidades. (alguns tomam Salmos 68.17, dizendo que ali se refere a 20.000. Aqui este número é multiplicado por dez mil). O fato é que é um exército quase incalculável (mais do que toda a população brasileira hoje). Ray Summers calcula que uma tropa de cavalaria com este número ocuparia um espaço de uma milha de largura por oitenta e cinco milhas de comprimento! Os cavaleiros usavam couraças de fogo. Os seus cavalos tinham cabeças como de leão e de suas bocas saíam fogo, fumo e enxofre. Como caudas tinham serpentes por rabo, de modo que podiam picar e matar os homens. Portanto, o poder dos cavalos estava nas suas bocas e nas suas caudas. Esta descrição dos cavaleiros e cavalos é de aterrorizar qualquer pessoa. Uma terça parte da humanidade foi destruída por essa cavalaria. 7.2. Interpretação deste exército terrível – Concordamos com o Dr. Russell Shedd em que a descrição da sexta trombeta não oferece fundamento para dizer; se, se trata de um exército de soldados humanos, vindos do oriente e que destruirá uma terca parte da humanidade (neste caso seria igual à guerra de Armagedon?), ou se é uma outra praga deflagrada por forças satânicas. Pessoalmente creio que esta última hipótese é a mais provável. “Devemos perceber que estes terríveis sofrimentos são permitidos por Deus para levar os homens ao arrependimento. Por que não teriam a inteligência de reconhecer que Satanás e suas hostes são inimigos vorazes, totalmente destituídos de amor algum? Sofrer os ataques e terror dos demônios deveria forçar a humanidade a buscar com toda pressa uma aliança com Deus, porém, a dureza dos seus corações e o prazer no pecado não permite outra conseqüência senão continuar nas práticas da idolatria e dos pecados mais grosseiros – 9. 20, 21 – ” (Russell Shedd, op. cit. pág. 45). Os preteristas interpretam esta sexta trombeta como a invasão e derrota de Roma pelas tropas comandadas pelos partos, que moravam na parte oriental dos limites do Império Romano. Dizem que com a revelação do toque do sexto anjo, completam-se os três instrumentos que Deus usou para punir Roma: as calamidades naturais (enchentes, terremotos, erupções vulcânicas); a podridão interior (uma série de líderes corruptos) e a invasão por inimigos. É verdade que Deus usou todos estes meios para pôr fim a um império que se julgava eterno e imbatível e que durante séculos perseguiu os cristãos, até aliar-se à maior parte dos cristãos do quarto século. Mas, não podemos aceitar que este seja o simbolismo do toque da sexta trombeta. Lembramos que temos aplicações de quase todos os simbolismos no decorrer da História, mas o cumprimento final ainda virá. 7.3. O endurecimento dos corações incrédulos - 9.20, 21 – Inferimos pelos versículos 20 e 21 que, mesmo trazendo severo castigo sobre os homens, Deus sempre dá oportunidade de arrependimento aos que escapam das pragas: “Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras de suas mãos, para deixarem de adorar aos demônios, e aos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar. Também não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos.” Nem com todas as pragas e flagelos, os homens se voltam para o Deus verdadeiro. Isto que acontecerá nos dias da grande tribulação, é verdade também nos dias de hoje. É incrível a cegueira espiritual dos homens do nosso século, com todo o avanço da ciência e da tecnologia, ainda continuam adorando aos demônios, aos ídolos mudos (que não podem ver, nem ouvir e nem andar) e continuam nos seus homicídios, em suas feitiçarias, em suas

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prostituições e em toda a sorte de corrupção. Os flagelos de secas, fomes, inundações, terremotos, erupções vulcânicas. . . não os levam a buscar ao Deus verdadeiro e abandonar a vida de idolatria e de prazeres. III. A VISÃO DO LIVRINHO ABERTO (Apocalipse 10.1–11)

Nos capítulos 10 e 11. 1- 14 temos um novo interlúdio à semelhança do que tivemos entre a abertura do sexto e sétimo selos (cap. 7). Aqui também entre o toque da sexta e sétima trombetas temos outro interlúdio em que João tem uma visão de um outro anjo – aqui anjo forte - que descia do céu trazendo um livrinho aberto. Notemos que nas visões de João na ilha de Patmos, ora ele está na terra, ora no céu. Agora, ele, em seu êxtase, encontra-se novamente na terra, uma vez que um anjo desce do céu e depois ele recebe uma cana, semelhante a uma vara para medir o santuário. Este interlúdio contém o anúncio de uma pronta retribuição, apresentada em quatro atos.

1. O anjo e os sete trovões – 10.1–7 - É a primeira parte do interlúdio. João vê outro anjo forte. Os anjos exercem um papel importante na literatura apocalíptica. Vemos aqui a descrição de outro anjo, possivelmente para distinguir dos sete anjos que tocavam as trombetas. No cap. 5. 2 lemos também sobre um anjo forte. No cap. 18. 21 vai ser repetida a expressão “um anjo forte”. Pode ser o mesmo ou outro. Não temos como provar. Este anjo forte aqui é descrito vestido de uma nuvem, por cima da sua cabeça estava o arco-íris. O seu rosto era como o sol e seus pés como colunas de fogo (v. 1). Alguns querem identificá-lo com Cristo, mas isto parece pouco provável. Aqui o anjo é mensageiro, como em muitos outros lugares. Ele traz na mão um pequeno livro aberto. Ele põe um dos seus pés em terra firme e outro no mar, indicando assim que a sua mensagem é endereçada para todo o mundo. Ele clamou com voz muito forte, assim como ruge o leão. Este clamor como ruge o leão, por certo, é para atrair a atenção de todos para aquilo que vai dizer. Assim que clama, antes de anunciar a sua mensagem, sete trovões fizeram ouvir a sua voz. O trovão é símbolo de aviso. Em 8.5 ocorreram trovões, vozes, relâmpagos e terremoto antes dos sete anjos começarem a tocar. Os trovões são anúncios prévios de juízos da ira divina, como deve ter sido o caso aqui. Assim que ouviu o que os sete trovões acabaram de soar as suas vozes, João já ia escrever, mas ouviu uma voz do céu que dizia: “Sela o que os sete trovões falaram, e não o escrevas” (10. 4). O que falaram e o porquê da ordem de selar e não escrever tem trazido múltiplas interpretações, mas sem consistência alguma. O que se infere é que não haveria mais avisos ou admoestações.

O anjo forte, que fora interrompido pelas vozes dos trovões, levantou a mão direita ao céu e de modo muito solene jurou “ por Aquele que vive pelos séculos do séculos, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, jurou que não haveria mais

demora, mas que nos dias da voz do sétimo anjo, quando este estivesse para tocar a sua trombeta, se cumpriria o mistério de Deus, como anunciou aos seus servos, os profetas” (v. 6 – 7). Isto significa que os avisos dados pelas seis trombetas tinham sido suficientes. Os homens não quiseram se arrepender, então o castigo viria sem mais delongas.

Devemos dar uma explicação sobre esta parte do versículo: “nos dias da voz do sétimo anjo, quando este estivesse para tocar a sua trombeta, se cumpriria o mistério de Deus, como anunciou aos seus servos, os profetas” (v. 7b). Enquanto o sétimo anjo estiver tocando a sua trombeta, vai ser cumprido o mistério de Deus. É bom termos em mente que a palavra mistério no seu sentido original na Bíblia, não é algo secreto ou misterioso, mas um propósito divino revelado aos homens. Este é o sentido da palavra na tradução de Daniel 2.29–30, em que indica o propósito escatológico de Deus, revelado primeiro em sonho a Nabucodonosor e depois a Daniel em sua interpretação. Mistério na Bíblia é um plano, um propósito de Deus, que ainda não é revelado aos homens durante algum tempo.

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O “mistério de Deus” é todo o Seu plano de redenção, que inclui, não tão somente a salvação, mas também o julgamento do mal. Este mistério foi anunciado aos seus servos, os profetas. A palavra grega - “eveggelisen” - traduzida por anunciou é da mesma raiz da palavra Evangelho – “evaggelion” – Assim a idéia do “mistério de Deus” foi a apresentação das boas novas. Este propósito de Deus para a salvação fora anunciado pelos Seus servos, os profetas. Todo este propósito de Deus será cumprido nos dias em que a sétima trombeta estiver tocando. Todos saberão da perdição e salvação mediante a aceitação ou rejeição das boas novas de salvação em Cristo.

2. A voz do céu, o livrinho e João – 10.8–11 – A voz vinda do céu que proibiu João de escrever o que os sete trovões disseram, torna a falar com João, desta vez dando-lhe ordem para que fosse até o anjo que se achava com o pé sobre o mar e sobre a terra, tendo o livrinho aberto na mão e lhe pedisse o livrinho. João vai ter com o anjo e pede-lhe o livrinho. O anjo ao entregar-lhe o livrinho diz-lhe: “Toma-o, e come-o; ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel” (v. 9b). Obedientemente João toma o livro da mão do anjo e come-o. Na sua boca o livrinho é doce como mel, mas depois o seu ventre ficou amargo. Nisto lhe disseram: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas, e reis” (v. 11). Esta experiência de João é semelhante à do profeta Ezequiel narrada no final do capítulo 2 e começo do capítulo três, em que Deus pede que ele coma o rolo. Ao comer o rolo, ele era na sua boca doce como o mel. Comer o livrinho ou “rolo é o simbolismo natural que indica a assimilação total da mensagem profética. O profeta não é um mero autômato nas mãos de Deus – um anunciador insensível de acontecimentos que não o atingem. A palavra de Deus – mensagem de salvação e julgamento – tem de ser digerida e assimilada pessoalmente pelo profeta, como por todo servo de Deus que proclama a sua palavra. Do mesmo modo Ezequiel teve de comer o rolo com a palavra de Deus e encher com ele seu estômago (Ezequiel 3.3); Jeremias comeu as palavras de Deus, e elas lhe foram gozo e alegria para o coração (Jer. 15.16). É importante compreender isto, pois, apesar de a mensagem de Jeremias ser em grande parte de julgamento, a ponto de ele ser chamado popularmente de o profeta que chora, a palavra de Deus era Sua alegria. (...) O gosto reflete a reação dupla por parte do profeta ao digerir a mensagem e compreendê-la. É doce estar perto de Deus e receber a sua palavra. Isto é verdadeiro em relação a todos os crentes. A palavra de Deus é ‘mais doce do que o mel e o destilar dos favos’ (Salmos 19.10). Cada crente pode dizer: ‘Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca’ (Salmos 119.103). Isto é verdade particularmente a respeito da comissão profética. O rolo que Ezequiel comeu era doce como mel em sua boca (Ez. 3.3), apesar de ele ter de pregar sua mensagem, dada por Deus, a um povo insensível, teimoso e rebelde (Ez. 3.7–9); e a palavra de Deus foi uma alegria ao coração de Jeremias, apesar de ser uma mensagem de castigo (Jer. 15.16). Da mesma maneira João sentiu a palavra de Deus doce como mel em sua boca. Mas depois de digerir a mensagem, refletindo sobre as suas implicações, ela ficou amarga em seu estômago. Isto é algo novo, em que o Apocalipse vai além dos relatos de Ezequiel e Jeremias. Lembramo-nos das lágrimas amargas que Jesus chorou sobre Jerusalém, porque o povo tinha rejeitado a Ele e à Sua mensagem, trazendo sobre si mesmo a ira e o julgamento de Deus (Lucas 19.41 e Mateus 23.37–38)” (George Ladd, op. cit. pág. 111). Sintetizando, podemos dizer que o livrinho era doce na boca de João, simbolizando a doçura, a alegria de receber de Deus uma revelação e o prazer que sentia em ver que Deus lhe confiava a responsabilidade daquela mensagem, mas sentia amargura pelo peso daquela mensagem, que trazia terríveis conseqüências do desencadear da revelada ira divina sobre os pecadores impenitentes. O v. 11 determina o significado do livrinho aberto: é a reafirmação do ministério de João. O fim ainda não era chegado, ainda que o tempo estivesse próximo. A época final, os dias da sétima trombeta, estão ainda por começar. Até lá, a mensagem de salvação e advertência aos pecadores deve ser pregada. João ainda tinha uma missão a cumprir. João teve mais uma vez a sua missão confirmada. A lição prática para o nosso dia-a-dia é que enquanto o fim não chega, enquanto há

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oportunidade devemos continuar pregando e testemunhando da mensagem de Cristo: tanto a salvação que Ele oferece gratuitamente, quanto a condenação para aqueles que não a recebem. IV. AS DUAS TESTEMUNHAS (Apocalipse 11.1–14)

Temos diante de nós um dos textos mais difíceis na interpretação do Apocalipse. A divergência nas interpretações é muito grande. Alguns vêem todo o texto como simbólico, outros como totalmente literal e outros, uma combinação entre do fatos literais e fatos simbólicos.

1. A medição do templo – símbolo de proteção - 11.1–2 – No v. 11 do capítulo 10 João

relata que lhe disseram que importava que profetizasse outra vez a muitos povos, nações, línguas e reis. Não diz quem. Os locutores estão ocultos. No primeiro versículo do cap. 11, continua relatando mas deixando o sujeito oculto: “Foi-me dada uma cana semelhante a uma vara; e foi-me

dito: Levanta-te, mede o santuário de Deus,e o altar, e os que nele adoram. Mas deixa o átrio que está fora do santuário, e não o meças; porque foi dado aos gentios; e eles pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses.” É quase unânime o entendimento de que a medição do santuário simboliza a proteção espiritual dos santos. Alguns tomam como texto paralelo à selagem dos santos no capítulo sete, dando proteção espiritual, mas não física aos verdadeiros cristãos. Logo, a medição do santuário é um símbolo de proteção do verdadeiro povo de Deus. O simbolismo é tomado da figura do templo de Jerusalém. A área do templo era um complexo que tinha no centro o santuário onde estavam o Santo Lugar e o Santo dos Santos. Ao redor havia três pátios: o dos sacerdotes (com o altar das ofertas queimadas, onde só os sacerdotes podiam entrar), ladeado, de dois outros pátios: pátio de Israel e pátio das mulheres. Estes dois últimos pátios eram o local de adoração dos israelitas. Logo após havia o pátio dos gentios, em que os gentios poderiam também estar e adorar a Deus. Na visão, João recebe ordem para medir o santuário, o altar e os que nele adoram. Não devia medir o átrio que está fora do santuário, pois seria pisado pelos gentios. A área de proteção, portanto, envolve apenas a do santuário, dando a entender que seria só para os fiéis. A área das nações foi entregue aos gentios, aos incrédulos, que a pisarão por quarenta e dois meses. O número quarenta e dois tem a sua origem na profecia de Daniel. Quarenta e dois meses equivalem a três anos e meio e a 1260 dias. O período dado aos gentios para pisarem a cidade santa corresponde exatamente ao período em que as duas testemunhas profetizarão vestidas de saco. Este período é uma referência ao tempo em que Satanás, na grande tribulação, exercerá o seu domínio. Daí a necessidade de haver uma proteção especial ao povo de Deus, particularmente no aspecto espiritual.

2. As duas testemunhas – 11.3–13 - Ainda que haja muitas interpretações sobre a

identificação das duas testemunhas, um fato é certo: Deus não abandonará o seu povo, mesmo permitindo que o átrio dos gentios e a cidade sejam pisados pelos gentios (inimigos dos verdadeiros cristãos) por quarenta e dois meses. Ele enviará duas testemunhas para que profetizem ao seu povo em apuros. A dificuldade na identificação das testemunhas é saber se estas duas testemunhas eram pessoas ou representavam a igreja testemunhando a Israel, uma vez que a linguagem de todo o capítulo é simbólica, ainda que a descrição das testemunhas e do seu ministério sejam relatadas com tantos pormenores que parece indicar que são pessoas realmente. Há possibilidade dos elementos simbólico e real estarem misturados.

2.1. Identificação das duas testemunhas – 11.3–4 – Usam vestimentas características de profetas; vestidas de saco ou cilício, que era uma fazenda grosseira, usualmente feita de pele de cabra, de cor negra. O pano de saco era usado comumente sobre a pele, para dar desconforto, pois simbolizava o descontentamento com as coisas como estavam. O v. 4 identifica-os como “as duas

oliveiras e os dois candeeiros que estão diante do Senhor”. Esta identificação é uma referência clara à visão de Zacarias que viu “um candeeiro de ouro , com sete lâmpadas, junto a duas

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oliveiras” (Zacarias 4. 2, 3) e “dois ramos de oliveira, que estão junto a dois tubos de ouro...” ( Zacarias 4. 12). Os dois ramos de oliveira em Zacarias representam “dois ungidos que assistem

junto ao Senhor de toda a terra” (Zac. 4.14). No caso de Zacarias, as duas testemunhas eram o sacerdote Josué e o governador Zorobabel (Zac. 3.1 e 4.6–7 respectivamente). O apóstolo usa este simbolismo da visão do profeta Zacarias para dizer que as duas testemunhas têm a autorização de Deus para falar, ou seja, as suas palavras proféticas vêm diretamente de Deus. Pela referência de 11.8b, “onde também o seu Senhor foi crucificado” leva-nos à conclusão de que as duas testemunhas ou os dois profetas são cristãos. Sabemos que o grande pecado de Israel foi ter rejeitado Jesus Cristo como seu Messias e Senhor. “A identidade das duas testemunhas permanece desconhecida. E toda a conjectura é inútil” (R. N. Champlin, op. cit. vol. 6 , pág. 520). Há os que afirmam que se trata de Moisés e Elias, por causa das características apontadas em seu ministério (que veremos logo a seguir), outros que é Enoque e Elias (porque não morreram, mas foram trasladados ao céu). A Bíblia é coerente e nela não existe a reencarnação. Alguns intérpretes, falando sobre Moisés e Elias contrariam a Bíblia, entre eles R. N. Champlin ao dizer “...Elias e Moisés, pois, haverão de ‘reencarnar-se’ para cumprir essa missão, trazendo consigo poderes espirituais que desenvolveram em sua inquirição espiritual e usando os mesmos, uma vez mais, para a glória de Cristo. Notemos aqui o drama sagrado da alma - A alma não é cativa à parte material, ao corpo físico; mas, em sua missão, transcende à matéria, podendo ser investida para mais de uma missão, terrena ou celestial. Tudo isto depende da vontade de Deus, porquanto Ele pode fazer o que melhor Lhe agradar, com aquelas almas que Lhe são leais” (R. N. Champlin, op. cit. vol. 6, pág. 520). Este parágrafo transcrito é contra o ensino geral da Bíblia e deve ser rejeitado. O que pode acontecer, é vir na missão, com as características que eles tiveram. Outros citam que Elias profetizado por Malaquias ainda não veio, pois segundo este texto ele deveria ser arauto do grande e terrível dia do Senhor (Mal. 4. 5,6), pois João Batista só anunciou a primeira vinda de Cristo e os julgamentos. Estes intérpretes esquecem ou ignoram que o próprio Jesus anunciou que em João Batista foi cumprida esta profecia (Mat. 11.14 e 17.11-13). Há os que dizem que as duas testemunhas representam o Velho e o Novo Testamento. Outros que simbolizam o espírito militante dos verdadeiros cristãos e o testemunho deles. Ray Summers interpreta as duas testemunhas como simbólicas, explicando que o número 2 no simbolismo oriental traz idéia de fortaleza – dois homens são mais fortes que um. Assim as duas testemunhas, para ele, surgem para simbolizar um testemunho ou testemunha, de grande poder. Ele interpreta o simbolismo, como que Deus estivesse dizendo: “Estai certos que, embora o mundo em que ora viveis esteja dominado por homens maus, vós sereis protegidos e o Evangelho será pregado; o testemunho cristão será mantido firme” (Op. cit. pág. 221). Nossa conclusão é que qualquer conjectura para identificar quem são essas testemunhas é inútil. No tempo certo Deus revelará quem são elas. 2.2. A missão e o poder das duas testemunhas – 11.5–7 – É por estes dois versículos é que muitos expositores bíblicos afirmam que as duas testemunhas serão Moisés e Elias ou que virão no espírito de Moisés e Elias. Elias mandou vir fogo do céu para devorar os dois pelotões de cinqüenta soldados e seus capitães quando vinham prendê-lo (II Reis 1.9.12). Elias orou também para que não chovesse durante anos senão segundo a sua palavra (I Reis 17.1). E durante três anos e seis meses não choveu sobre a terra (Tiago 5.17, 18). Moisés tornou as águas em sangue de modo que os egípcios não puderam beber as águas do rio e os peixes morreram (Êxodo 7.19-25). Moisés com a sua vara também fez vir pragas sobre os egípcios (Êxodo capítulos 8 a 12). Na verdade os símbolos são tomados destas figuras do Velho Testamento, mas isto não significa que sejam eles. As duas testemunhas viriam com a missão e o poder que esses servos de Deus tiveram no passado. Eles – Moisés e Elias - foram testemunhas do Deus vivo, no meio de povos idólatras. Logo, não precisamos pensar que as duas testemunhas sejam eles, retornando à terra. São dois profetas escatológicos personificando estas duas grandes figuras, assim como João Batista personificou Elias (Mateus 11.14 e 17.10–13). Deus dará poder às suas testemunhas contra todos aqueles que lhes

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quiserem fazer mal até que cumpram os dias do seu testemunho. O poder não será deles, mas de Deus. Eles serão os instrumentos de Deus diante da corrupção, da incredulidade e idolatria daquele tempo. Enquanto não tiverem cumprido a sua missão serão intocáveis.

O tempo de pregação e testemunho deles é apresentado no v. 3: mil duzentos e sessenta dias, que equivalem aos 42 meses em que o átrio dos gentios e a cidade santa será pisada pelos gentios (inimigos dos cristãos). Não vale a pena estar fazendo cálculos e previsões numéricas. O fato é que será um período da história não muito longo. Jesus mesmo disse que aqueles dias seriam abreviados, por amor dos santos (Mateus 24.22). Será um período terrível de perseguição aos servos fiéis de Cristo.

Terminada a sua tarefa, surgirá “do abismo a figura da besta, que lhes fará guerra e as vencerá e matará” (11.7). Pela primeira vez, no Apocalipse é feita menção à besta, sem maiores explicações. A figura da besta vai ser descrita no capítulo 13. Não havia necessidade de explicações porque a besta ou o anticristo era um conceito familiar judaico-cristão. A idéia da besta remonta a Daniel, que em sua visão viu quatro bestas ferozes simbolizando uma série de grandes impérios mundiais. Jesus, no sermão profético, apresentou a vinda de uma personagem escatológica, ao dizer : quando virdes estar no lugar santo a abominação da desolação, predita pelo profeta Daniel (quem lê, entenda)” – (Mat. 24.15, Marcos 13.14). A besta é esta figura que trará a abominação da desolação. Paulo fala no homem da iniqüidade, que é a figura da besta (II Tes. 2.3–4). A besta é a personagem central em quem se concentrará a hostilidade de séculos contra Deus, manifestada na história das nações pagãs. Esta hostilidade num plano secundário já foi antecipada em Antíoco Epifânio e nos imperadores de Roma, mas que ainda se cumprirá numa escala maior e universal nos dias da besta. Notemos também que a besta sobe do abismo, local de onde saíram as pragas demoníacas da quinta trombeta. Depois que as duas testemunhas tiverem acabado a missão que lhes foi dada, a besta recebe permissão para fazer guerra contra elas e matá-las. Mais uma vez observamos que Deus está no trono, como o Todo Poderoso, nada acontece sem a sua permissão. Podemos estar tranqüilos; o mundo e o seu governo estão sob o controle de Deus. Todos os males são permitidos por Deus por causa da rebeldia do homem e para o cumprimento final das profecias bíblicas. 2.3. O júbilo do mundo pela morte das duas testemunhas – 11.8–10 – A vitória aparente das testemunhas será motivo de júbilo dos judeus (que estarão aliados à besta) e para o mundo inteiro. A descrição dos corpos jazendo insepultos é para mostrar a vexação a que serão expostos. Deixar expostos os corpos, sem sepultá-los era a maior indignidade no mundo antigo. Os corpos das testemunhas ficarão expostos “na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado” (v. 8). “Sodoma e Egito” são símbolos da hostilidade contra Deus e o seu povo. Sodoma é o símbolo da perversão e o Egito símbolo da escravidão do povo de Deus. Aqui, simboliza Jerusalém. Com a morte das testemunhas o mundo incrédulo estará em júbilo. A alegria será tal que os homens mandarão presentes uns aos outros. Cantarão a vitória da besta. Os dois profetas com seus poderes miraculosos atormentavam os homens ímpios. Suas mortes eram alívio para eles. Podiam continuar livremente em seus pecados e transgressões. 2.4. A ressurreição das testemunhas e o temor do mundo – 11.11–13 – Depois de três dias e meio Deus manda-lhes o espírito de vida e eles ressuscitam, colando-se em pé. Cai grande temor sobre todos os que os viram. É ouvida uma voz do céu: “Subi para cá” e eles subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos a tudo contemplaram. Houve um grande terremoto, a décima parte da cidade caiu e foram mortos sete mil homens e os demais deram glória ao Deus do céu. Esta parte final tem levantado várias interpretações. Uns pensam que os homens deram glória a Deus, não como prova de arrependimento e fé em Cristo, mas como resultado do temor e obrigados a glorificarem a Deus. Outros pensam que após aqueles acontecimentos miraculosos, os judeus em massa converteram-se a Cristo. O Dr. Shedd laconicamente comenta: “Não devemos ficar surpresos

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que ao mesmo tempo encontramos uma indicação da conversão de alguns, indicada pela frase ‘deram glória a Deus’ ( 11. 13 b). Os que não morreram com o terremoto que destruiu a décima parte da Cidade (simbolizada por Roma, Jerusalém e Sodoma) ficaram aterrorizados, mas depois louvaram a Deus. Seriam os judeus que se converterão nessa altura? Não há certeza, mas podemos deixar em aberto essa possibilidade” (op. cit. pág. 46). 2.4. O término do segundo ai – 11.14 – Quando o tempo difícil, em que a abominação da desolação, predita por Daniel, tiver passado chega-se ao fim do segundo ai pronunciado pela águia voando no céu. Mas há uma advertência, cedo vem o terceiro ai. A tribulação ainda não terminou, logo chegará ao final. V. O TOQUE DA SÉTIMA TROMBETA – Cristo Breve Reinará (Apocalipse 11.15–19)

O tempo da sétima trombeta será o tempo do fim. Temos a continuação de 10. 7 : “mas nos dias da voz da sétima trombeta, quando ele estivesse para tocar a trombeta, se cumpriria o mistério de Deus, como anunciou aos seus servos, os profetas.” Neste versículo é anunciado que Deus concretizará os seus propósitos remidores. Em 11. 14 é anunciado que o segundo ai é passado, mas que cedo vem o terceiro ai. “Quando o sétimo anjo tocou sua trombeta o terceiro ai não veio imediatamente. Este terceiro ai, na verdade, são os sete flagelos (16. 1 – 21). Novamente temos de nos lembrar do paralelismo literário na estrutura do Apocalipse. Cada um dos seis selos (6. – 17) tem conteúdo específico; depois vem um interlúdio que mostra a segurança do povo de Deus nos últimos dias. O sétimo selo (8.1) não tem conteúdo em si; em seu lugar João passa a descrever as sete trombetas (8. 1 – 9. 20). Fomos forçados a concluir que as sete trombetas constituem o sétimo selo. Da mesma maneira a sétima trombeta, que é o terceiro ai, não contém praga ou maldição; temos de concluir que os sete flagelos continuem o ai da sétima trombeta” (George Ladd, op. cit. pág. 120).

1. A visão da vitória do reino de Deus – 11.15–18 - Logo após o anúncio de que o terceiro

ai cedo vem, assim que o sétimo anjo toca a sua trombeta há júbilo de fortes vozes no céu anunciando a vinda do fim. Um exército de vozes celestiais diziam: “O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (15b). Quando estas vozes ressoam, lemos que os vinte e quatro anciãos que estão assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: “Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que é, e que eras, porque tens tomado o Teu grande poder e começaste a reinar. Iraram-se, na verdade, as nações; então veio a tua ira, e o tempo de serem julgados os mortos, e o tempo de dares recompensa aos teus servos, os profetas, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra” ( v. 17–18). O anúncio antecipado das vozes celestes é repetido, em outras palavras, pelos vinte e quatro anciãos. “Toda a autoridade e poder pertencem a Deus, mas Ele, em Sua soberana sabedoria, permitiu que os poderes satânicos exercessem grande autoridade no mundo, e deixou que nações pagãs desafiassem a soberania divina em aparente impunidade. Agora, ao chegar ao fim do seu propósito de redenção, Deus, o Eterno, arrancou esta autoridade tanto dos demônios como dos homens, e está para assumir triunfalmente o seu reinado. A referência necessariamente é ao fim escatológico. É verdade que Jesus exaltado estava entronizado à direita de Deus como Senhor e Messias desde sua ressurreição-ascensão (Atos 2.34-36; Hebreus 1.3; Apoc. 3.21). Não é este reinado imediato que está sendo celebrado; este está oculto ao mundo e visível somente ao olho da fé. Os vinte e quatro anciãos estão celebrando aqui a instituição visível do reinado de Deus sobre todos os poderes hostis; isto é, por sua vez, somente é possível por causa do reinado celestial atual de Cristo” (George Ladd, op. cit. pág. 121). Os homens receberão a justa recompensa: o galardão, os servos fiéis; e o castigo merecido, os ímpios. O julgamento de Deus será justo.

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2. A arca da aliança – 11.19 – “Abriu-se o santuário de Deus que está no céu, e no seu

santuário foi vista a arca do pacto; e houve relâmpagos, vozes e trovões, e terremoto e grande saraivada.” Este versículo faz lembrar que Deus é o Deus da aliança e das promessas. No fim tudo aquilo que Ele prometeu, desde a aliança com Abraão até a aliança com Cristo, será cumprido. No Velho Testamento a arca da aliança estava no Santo dos Santos, onde só o sumo sacerdote entrava uma vez por ano. A arca simbolizava a presença de Deus. Esta arca da aliança foi perdida. Não se sabe quem a levou. Pode ter sido Sisaque, rei do Egito quando venceu Roboão e tomou os tesouros da casa do Senhor, da casa do rei e levou tudo para o Egito Não sabemos se a arca foi levada ou não por Sisaque.. Também é possível que, por ocasião da destruição de Jerusalém e do templo pelas tropas de Nabucodonor em 586 a.C. ( II Reis 25.9-17), a arca também fosse destruída e queimada juntamente com todas as outras coisas. Só o Senhor sabe da arca. Há uma lenda judaica que afirma que Jeremias salvou a arca e a escondeu numa caverna no monte Sinai e que seria preservada até a restauração final de Israel. Mas aqui a visão é simbólica para confirmar que a aliança de Deus é cumprida, porque o Reino de Deus é vindo.

Antes que o fim venha e do qual João terá mais detalhas, antes que apareça o Anticristo e seus esforços para destruir o verdadeiro povo de Deus, a visão mostra a vitória final do reino de Deus, o castigo dos ímpios, o galardão dos justos e a confirmação que a aliança de Deus com o seu povo permanece e é eterno.

CONCLUSÃO Depois de termos considerado na lição de hoje a abertura do sétimo selo, vimos que Deus

tem o controle do mundo e do universo em suas mãos. O povo de Deus não tem o que temer, nem no presente e nem no futuro. O mal e suas forças podem parecer que vão dominar tudo e vencer, no entanto, o Deus Todo-Poderoso continua no governo deste mundo. No decorrer do nosso estudo, destacamos algumas lições para a nossa vida diária, mas agora na conclusão enfatizemos mais algumas delas.

1. A soberania de Deus – Como decorrência do nosso estudo, percebemos que Deus continua sendo Soberano. Ele não abdicou e nem abdicará de Sua Soberania. Ele, voluntariamente, ao criar o homem com o livre arbítrio, permitiu que o homem fizesse sua livre escolha. Com a escolha da desobediência, o homem abriu as portas para o mal e suas forças dominarem não só a sua vida, mas toda a criação terrena. Deus, em Sua Soberania, tem permitido que a história transcorra, de acordo com as decisões do homem, porque Ele usa todos os meios para cumprir os seus propósitos eternos. Desde a eternidade Ele sabia que o homem pecaria, mas desde a eternidade Ele preparou o caminho de salvação. Ele foi dirigindo tudo para que esta salvação se tornasse uma realidade em Cristo Jesus. Da mesma forma, ainda que o mal e suas forças atuem, Ele está encaminhando tudo para a consumação final.

2. Proteção especial aos seus servos – Deus reitera através das revelações estudadas hoje de que há uma proteção especial para os seus servos. Isto não implica em que não tenhamos problemas e tribulações nesta vida, mas sabemos que nada acontece sem a sua permissão. Ainda mais, tudo que Ele permite tem um propósito benéfico para a nossa vida. “Todas concorrem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28).

3. Nossa responsabilidade - O simbolismo da visão do livrinho aberto que o apóstolo comeu, sendo doce na sua boca e amargo no seu ventre, traz-nos também a lição da nossa responsabilidade em proclamar o Evangelho de Jesus Cristo. Nós temos a doce experiência com o nosso Deus, em Cristo Jesus. Este privilégio traz uma responsabilidade: mostrar ao mundo pecador e idólatra a condenação que pesa sobre ele, se não ouvir a voz de Deus. O amargo deve ser o sentimento de pesar por saber que os homens caminham para a perdição eterna sem Jesus Cristo.

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4. O reino eterno de Cristo – João, no tempo do toque da sétima trombeta viu o júbilo no céu e a proclamação: “O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apoc. 11.15). Jesus já está entronizado à direita de Deus-Pai. Nós pela fé temos esta convicção. Ele está dirigindo a História para a sua consumação, mas ainda o reino das trevas domina este mundo. O Apocalipse, porém, nos revela esta visão antecipada de Jesus Cristo reinando sobre tudo e sobre todas as coisas. Se assim é, sejamos súditos obedientes e leais ao nosso rei Jesus Cristo.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 07

A VISÃO DA LUTA ENTRE O BEM O MAL

Texto bíblico: Apocalipse 12.1–14.20 Texto áureo: “Então ouvi uma grande voz no céu que dizia: Agora é chegada a salvação, e o poder, e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, o qual diante do nosso Deus os acusava dia e noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.” (Apocalipse 12.10-11) INTRODUÇÃO

Os capítulos 12 a 14 constituem mais um interlúdio entre os castigo divinos vindos com a abertura dos selos, toque das trombetas e o derramar das sete taças da ira de Deus pela rebeldia dos homens. A sugestão de Michael Wilcock para a leitura do Apocalipse. No capítulo 12 temos uma alegoria da mulher e o dragão. No capítulo 13 as duas bestas simbolizando o anticristo e o falso profeta. No capítulo 14 visões de consolo, mostrando o Cordeiro vitorioso com os redimidos, a mensagem triunfal do Evangelho e a proclamação do juízo divino. I. A visão da mulher e do dragão – Apocalipse 12 1. As personagens – 12.1-5 1.1. A mulher vestida do sol – 12.1-2 1.2. O grande dragão vermelho – 12.3–4 1.3. O filho varão – 12.5 2. O enredo – 5-16 II. As duas bestas – Apocalipse 13 1. A primeira besta – 13.1–3a 2. Período do seu domínio – 13.3b-10 3. A segunda besta – 13.11-17 4. O número da besta – 13.18 III. Visões de consolo – Apocalipse 14.1-20 1. O Cordeiro e os redimidos no Monte Sião – 14.1-5 1.1. O número 144.000 – 14.1 1.2. O cântico novo – 14.2-3 1.3. Identificação dos 144.000 – 14.4-5 2. As vozes de três anjos – 14.6-20 2.1. A proclamação do primeiro anjo – 14.6–7 – A proclamação do Evangelho 2.2. A proclamação do segundo anjo – 14.8 – A Babilônia julgada 2,3, A proclamação do terceiro anjo – 14.9–12 – O castigo dos idólatras 3. A voz de bem-aventurança vindo do céu – 14.13 4. A colheita – 14.14-16 5. A vindima – 14.17-20 CONCLUSÃO – lições práticas

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ESTUDO N º 7 – A VISÃO DA LUTA ENTRE O MAL E O BEM

Texto bíblico: Apocalipse 12, 13 Texto áureo: “Então ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e o poder, e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, o qual diante do nosso Deus os acusava dia e noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.” (Apocalipse 12.10, 11). INTRODUÇÃO

Com o capítulo 12 iniciamos uma nova divisão importante do livro do Apocalipse. Os capítulos 12 a 14 parecem constituir mais um interlúdio. Este interlúdio é para que, na sua visão, João nos informe sobre o motivo da manifestação da hostilidade de Satanás e seus seguidores contra os santos. Os capítulos doze e treze têm através dos séculos recebido as interpretações mais diversas. Entre os expositores bíblicos de hoje há também uma confusão muito grande nestas interpretações, ainda que concordes em alguns pontos. Michael Wilcock propõe que na leitura do Apocalipse devemos ter a atitude semelhante ao que possivelmente tiveram os leitores primitivos. Ele supõe, por exemplo, os crentes de uma das sete igrejas reunidos numa das casa e recebendo o livro. O dirigente começa a ler a visão do Apocalipse. Eles vão ouvindo atentamente. No final de cada uma das visões, ansiosos para saber o que vem depois perguntam: “O que João vê em seguida?” ou “O que ele vê depois disto?” Wilcock continua dizendo: “Quando nos dispomos a ler o Apocalipse com esta atitude, aparece um fato muito interessante. No palco da visão de João, inumeráveis atores vêm e vão; existe uma ação constante. Mas muitas vezes chegamos a um ponto onde não somente os atores mudam, como a própria cena muda; como se uma cortina tivesse descido, e fosse depois levantada para mostrar uma cena completamente nova, ou, como se João mesmo se movesse para diferentes palcos” (op, cit. pág. 85). Esta observação é interessante para compreendermos melhor o livro em seu todo. O cenário inicial foi a ilha de Patmos onde João começou a ter esta revelação. Ali teve o seu arrebatamento em espírito. Depois vem a cena em que ele vê uma porta aberta no céu e é convidado a subir (4.1). Neste cenário aparecem vários atos: a visão do trono de Deus, do livro selado, a figura do Cordeiro, que foi morto, mas vive, como o único capaz de abri-lo. Depois a abertura dos seis primeiros selos. Há depois o primeiro entreato para a selagem dos santos e a visão dos santos na glória (cap. 7). O ato seguinte é abertura do sétimo selo que revela os sete anjos com as sete trombetas. As seis primeiras trombetas tocam e trazem conseqüências trágicas para a humanidade. Vem novo entreato ou interlúdio para trazer o simbolismo do livrinho com a sua mensagem que João deveria proclamar, a proteção dos salvos e as duas testemunhas (cap. 10 e 11.1–14). Fechado o entreato, a sétima trombeta toca e é antevisto a vitória final, pois o tempo do fim é chegado (cap. 11.15–19). Mas ainda não é o fim. Faltam os sete flagelos trazidos pelo derramar das sete taças cheias da ira de Deus. Mas antes disto, muda-se mais uma vez o palco, que está preparado para a nova cena. Ou se quisermos usar a linguagem de muitos intérpretes bíblicos, abre-se um novo interlúdio. O domínio de Deus sobre o mundo, em Jesus Cristo já foi revelado na série de visões da abertura dos selos e os toques das trombetas. O apóstolo mostrou que a soberania de Deus é fato consumado. Com o toque da sétima trombeta, inicia-se o período do fim em que há um acirramento da luta das forças satânicas contra Deus, o Cordeiro e seus servos. O interlúdio vai mostrar a maneira pela qual o domínio de Deus se projetou no mundo. A batalha começa “nas potestades dos ares”, mas com a queda de Satanás e seus anjos, prossegue na terra. O sofrimento dos fiéis se intensificará. Enfim, antes da visão da chegada do tempo do fim, abre-se uma brecha para informar-

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nos sobre o motivo e a forma de manifestar a hostilidade de Satanás e seus seguidores contra os santos. Vem então a descrição do conflito entre o reino de Deus em Jesus Cristo e a pretensa soberania de Satanás, agindo através dos governos e poderes aqui da terra. Ou como diz George Ladd “este capítulo ( 12 ) apresenta um quadro surrealista do mundo que descreve a luta espiritual que se desenvolve por trás dos eventos históricos” (op. cit. pág. 124). I. A VISÃO DA MULHER E DO DRAGÃO (Apocalipse 12)

Como assinalamos na introdução, esta visão é entreato ou interlúdio no toque da sétima trombeta. Há necessidade de se saber a razão do conflito mundial e como surgiu. É o que este capítulo se propõe a fazer. João começa relatando: “Viu-se um grande sinal no céu...” (v. 1 a). A referência a “céu” aqui deve ser ao céu físico, o que chamamos firmamento e não à morada de Deus, pois João, na visão, estava agora na terra e seu relato dá idéia de alguém que observa aqui da terra. Analisemos agora o capítulo por partes.

1. As personagens – 12.1–5 – Vejamos primeiro qual são as personagens deste conflito.

1.1. A mulher vestida do sol - 12.1–2 - João relata: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estando grávida, gritava com as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz.” Devemos notar primeiro que a mulher, como também o dragão que virá logo a seguir são figuras simbólicas que vão além do valor das palavras. Isto pode ser notado pela caracterização como “um

grande sinal”. O apóstolo mesmo afirma que viu o fato como um sinal. Quando for descrever o dragão também dirá que se viu também outro “sinal”, mas ao descrever a terceira personagem, o filho varão (v. 5) não diz sinal, porque representa realmente um ser humano.

A mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo do seus pés e tendo na cabeça uma coroa de doze estrelas. Esta descrição simbólica é uma tentativa de descrever a glória e a majestade da sua aparência. O simbolismo melhor é que representa o povo de Deus: no V.T , Israel, o povo eleito de Deus e no N. T., a igreja de Cristo, o novo Israel de Deus. Podemos verificar que no V. T. Israel é chamado a esposa do Senhor. No N. T. vemos, várias vezes, a igreja recebendo título de noiva de Cristo. De Israel, nasceu o Messias. Depois da ascensão de Jesus, a mulher continua existindo, simbolizada na igreja de Jesus Cristo, pois diz que ela será sustentada por mil duzentos e sessenta dias. Diz Wilcock : “Ela (a mulher) é, de fato, a igreja: o velho Israel, dele descende o Cristo segundo a carne, e o novo Israel, que o senhor deixou aqui para retornar ao Pai” ( op. cit. pág. 92). Para finalizar esta seção, lembramos que a mulher não é, como querem alguns, Maria, mãe de Jesus, nem Eva, a ancestral de Maria, cujo descendente deveria esmagar a cabeça da serpente. 1.2. O grande dragão – 12.3–4 – “Viu-se também outro sinal no céu: eis um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas; a sua cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que estava para dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe devorasse o filho.” O grande dragão com sete cabeças e dez chifres, sem dúvida alguma, simboliza Satanás, a antiga serpente. As sete cabeças não simbolizam poder intelectual, pois no pensamento antigo a sabedoria vinha do coração, mas simbolizam autoridade. Suas coroas simbolizam coroas reais (isto é de reis). Sendo sete coroas, significam que ele tem autoridade real (ver Lucas 4. 6; João 14. 30) e os dez chifres, devem indicar que o dragão exercia autoridade real com grande poder. No v. 9, ele é identificado como “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, que engana todo o mundo.” 1.3. O filho varão – 12.5 – “E deu à luz um filho, um varão, que há de reger todas as nações com vara de ferro; e seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.” Não resta dúvida que

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é um referência clara a Jesus Cristo que regerá as nações com um cetro de ferro (Salmos 2. 9). Ainda segundo esta interpretação, devemos notar que neste simbolismo há referência tão somente à encarnação e ascensão de Cristo. Passa-se por cima do ministério terreno dEle. Alguns acham que a omissão se deve ao fato dos leitores estarem bem familiarizados com o ministério de Cristo, inclusive a sua morte e ressurreição. Outros pensam que a omissão é porque os fatos importantes estão resumidos no nascimento e ascensão. Há aqueles que chegam a identificar a tentativa do rei Herodes em matar Jesus Cristo, ao ordenar que fossem mortas todas as crianças de dois anos para baixo em Belém e arredores, com o dragão postado diante da mulher para tragar-lhe o filho assim que ia nascer 2. O enredo – 12.5–16 – A base da peleja no céu, está retratado nos vs. 5.b e 6 – O grande dragão vermelho esperava poder devorar o filho varão que a mulher daria à luz. Sendo frustrado em seu plano pelo fato do filho ter sido arrebatado para Deus e para o seu trono e pelo fato da mulher ter fugido para o deserto, onde Deus já tinha preparado lugar e alimentação por mil duzentos e sessenta dias, o dragão vai pelejar com o arcanjo Miguel. Na fuga da mulher para o deserto temos o simbolismo do cuidado de Deus para com os seus filhos (os fiéis, os santos). Satanás não podendo vencer a Cristo, volta-se contra a sua igreja (representada pela mulher), daí no simbolismo a necessidade de proteção (fuga e alimentação preparada) O versículo sete começa a narrar a batalha celestial: “Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam, mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele” ( vs. 7 – 9). “João emprega também aqui linguagem apocalíptica para descrever um evento espiritual. Se tentarmos localizar esta batalha em alguma data histórica, estaremos entendendo mal o caráter do pensamento de João. Alguns intérpretes acham que a batalha se refere àquela que precedeu a ‘queda de Satanás’; outros vêem nela um conflito escatológico que explica a razão por que o povo de Deus tem de sofrer tamanha perseguição. Teologicamente a chave para esta batalha está no v. 11: ‘Eles o venceram por causa do sangue de Cordeiro.’ Na história da redenção, Cristo obteve a vitória sobre Satanás derramando seu sangue na cruz. João, no entanto, não está preocupado com a maneira como esta vitória foi conseguida., somente com o fato de que Satanás foi derrotado. Na Escritura não encontramos apoio para a idéia de que anjos completaram a redenção, o que inclui a derrota final do mal. Tudo é obra de Cristo. “Miguel aparece poucas vezes na Escritura. Ele é o anjo que guarda Israel (Daniel 10.13, 21; 12.1), e luta contra os anjos que guardam as nações gentias (Daniel 10. 12). Na literatura intertestamentária ele é o protetor e intercessor de Israel ( Enoque 20. 5). Judas 9 diz que ele lutou com o diabo pelo corpo de Moisés. Na nossa passagem ele é o defensor do povo de Deus, como um todo, contra o poder maligno de Satanás. A única intenção da passagem é dar àqueles que enfrentam maldade satânica na terra a certeza de que na realidade este poder está derrotado, apesar de para nós, às vezes, parecer o contrário” (George Ladd, op. cit. pág. 127). Satanás, palavra hebraica que significa adversário, é visto muitas vez na Bíblia como o acusador dos homens diante de Deus. Em Zacarias 3. 1 – 2 vemo-lo diante de Deus acusando o sumo sacerdote Josué. Em Jó 1 e 2 ele também aparece diante de Deus e não aceita que Jó seja íntegro e temente a Deus por amor. As provações de Jó vêm como conseqüências da permissão de Deus para que se provasse ao inimigo a fidelidade dele. Aqui também no livro do Apocalipse, ele aparece como “o acusador dos nossos irmãos” diante de Deus dia e noite. Nesta batalha celestial diante do Arcanjo Miguel e seus anjos, ele e seus anjos foram derrotados e lançados na terra.. Não podendo vencer a Cristo ele persegue os cristãos, mas também estes o venceram por causa do sangue do Cordeiro e a palavra do seu testemunho (não negaram ao seu Senhor) e porque não amaram suas vidas até à morte (foram dispostos a morrer antes de ceder ás falsas reivindicações do diabo ( vs. 10 a 12). Com a vitória cabal de Cristo no tempo do fim (a vitória já está assegurada

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desde a Sua morte e ressurreição) mais uma vez ouvem-se as vozes de júbilo no céu: “Agora é chegada a salvação, o poder, e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, o qual diante do nosso Deus os acusava dia e noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte” (vs. 10, 11). A derrota de Satanás tem duas conseqüências: primeira: traz, como vimos há pouco, alegria aos anjos no céu, que cercam o trono de Deus e todos os que habitam no céu; segunda: desgraça aos que habitam a terra e viajam pelo mar (v. 12). Deste modo, enquanto os céus são conclamados a alegrar-se pela vitória já obtida, há lamentação sobre a terra porque o Diabo desceu com grande ira sabendo que lhe resta pouco tempo . Ele agora volta-se contra a igreja de Cristo. Não podendo vencer a Cristo, volta-se contra aqueles que são propriedade dEle e objetos do Seu amor (v. 13). Mas Deus não desampara os seus. Figuradamente temos a descrição do conflito das forças satânicas contra os servos de Deus nos versículos 14 – 17. Resumidamente isto já foi descrito em 12. 6, mas agora são dados detalhes. O dragão não alcança êxito em sua luta contra a mulher. Ela recebe asas duma águia (símbolo da proteção divina) para fugir ao deserto (para poder viver fora do alcance do dragão), durante o período de mil duzentos e sessenta dias (um tempo, tempos e metade de um tempo – um tempo relativamente não muito longo). O rio que o dragão arrojará contra a mulher significa tribulação, mas não conseguirá o seu alvo, pela proteção divina simbolizada pela ajuda da terra em abrir a boca e sorver as águas do rio lançadas pela boca do dragão. Não podendo vencer a mulher, que já tinha dado à luz ao Messias, que ele não conseguiu destruir (mas ao contrário foi derrotado por Ele), o dragão fica mais irado contra a mulher. Volta-se contra os demais filhos dela: os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus. “os demais filhos dela – da mulher – são os santos, os cristãos verdadeiros. Da descendência de Israel nasceu o Messias, assim na linguagem simbólica os filhos dela do v. 17, são os crentes. O cristianismo nasceu do judaísmo. O versículo 18 do capítulo 12 deveria estar como primeiro versículo do capítulo 13, baseado em diferenças de manuscritos gregos. E a melhor tradução seria: “E o dragão se pôs em pé sobre a areia do mar” em vez de: “E o dragão parou sobre a areia do mar.” A idéia transmitida seria esta: O dragão não conseguindo destruir o Messias e nem a mulher, volta-se agora contra a igreja na terra. Com este propósito ele fica de pé na praia para chamar das profundezas do mar a besta que será o principal instrumento da perseguição final. II. AS DUAS BESTAS (Apocalipse 13)

O capítulo 13 continua o entreato ou interlúdio entre a sétima trombeta e os sete flagelos. Como vimos a sétima trombeta nos trouxe aos últimos dias da nossa era, quando o mistério de Deus, de salvação e julgamento, será cumprido (10. 7). Agora estamos no tempo do fim. Antes de mostrar os flagelos (que são os julgamentos de Deus) sobre a civilização rebelde (simbolizada na Babilônia), o autor continua descrevendo a perseguição final da igreja. 1. A primeira besta – 13.1–3a – “então vi subir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmias. E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder e o seu trono e grande autoridade. Também de suas cabeças como se fora ferida de morte, mas sua ferida mortal foi curada.” Assim podemos notar a semelhança entre a besta e o dragão. Ambos têm sete cabeças e dez chifres. A diferença que notamos é que o dragão tinha sete diademas sobre as suas cabeças e a besta tem dez diademas sobre os seus chifres. As sete coroas do dragão representam seu poder total e os dez chifres coroados da besta representam dez reis (17.12). Há os que interpretam que o mar simboliza a humanidade não regenerada, em constante agitação (combinando Isaías 57.20 e Apoc. 17.15). Assim a besta emergindo do mar, simboliza o Anticristo, surgindo de uma das nações ímpias. Como

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o Messias de Deus se encarnou para revelar o Pai e salvar os homens, a besta, ou Anticristo, nascido entre os homens revela Satanás. A primeira besta ou o Anticristo seria um homem como foi o imperador Domiciano, que foi chamado Dominus et Deus noster (Nosso Senhor e Deus). Ainda que possamos tomar a visão aqui representada como tendo suas raízes no Império Romano, ela prevê o futuro período da Grande Tribulação (7. 14) no fim da história da humanidade. Este homem imbuído de poder satânico vai ter “Uma das cabeças que parecia ter sido ferida de morte, mas a ferida havia sarado” (13.3), conforme o texto pode ser traduzido também. Isto pode ser interpretado como desejando ter a aparência do Cordeiro que foi ferido de morte, mas vivia. O Anticristo vai querer em tudo imitar falsamente a Cristo para iludir melhor os homens.

2. Período do seu domínio – 13.3b–10 – Tendo uma das cabeças como que ferida de morte,

mas sua ferida mortal sendo curada, toda a terra (os não crentes em Cristo Jesus) ficarão muito maravilhados e seguirão a besta (o Anticristo). Passarão também a adorar o dragão porque deu a sua autoridade à besta. Adorarão também à besta dizendo: “Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? (v. 4). Vemos aí a resposta para a questão do caráter e do objetivo da besta. Ela não quer exercer meramente um poder político. Sua meta é conquistar a lealdade das pessoas e desviá-las da adoração a Deus.”

Vemos isto confirmado nos versículos 5 em diante. Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias. A besta abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu. Como foi-lhe dada esta boca, ela a recebeu da alguém e fica claro que o seu poder não provinha dela mesma, mas de uma autoridade superior a ela (a besta). A besta ou o Anticristo recebeu o poder do dragão. O anticristo vai se auto-deificar, vai lançar impropérios contra Deus, contra o nome de Deus e contra tudo e todos que pertencem a Deus, inclusive contra os que habitam no céu.

O seu poder vai durar quarenta e dois meses (v. 5) ou seja mil duzentos e sessenta dias. Neste período ele vai querer obrigar todos a adorá-lo. A besta vai lutar contra os santos, os quais também vencerá e receberá autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação (v.7). Em outras palavras vai apoderar-se do poder político sobre todas as nações e povos. Os que o adorarão são justamente os que não são salvos: “E adorá-la-ão todos os que habitam na terra, esses cujos nomes

não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (v. 8). Daí vem a séria advertência a todos: “Se alguém tem ouvidos ouça” (v.9). Os ouvidos foram feitos para ouvir. Mas o ouvir implica em atentar, em aceitar a admoestação. É a mesma advertência usada no final de cada uma das cartas às sete igrejas da Ásia Menor.

Além desta primeira exortação, o Senhor faz uma segunda: “Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a perseverança e a fé dos santos” (v. 10 ) Este versículo pode ser traduzido como Almeida o faz. Neste caso a interpretação seria que os perseguidores no fim sofrerão o mesmo castigo que estão infligindo aos outros. Mas o versículo pode ser traduzido como o faz a BLH: “Com toda a certeza, quem tem que ser preso será preso; com toda a certeza. quem tem de ser morto pela espada será morto pela espada. Isso exige perseverança e fidelidade do povo de Deus.” Esta tradução parece estar mais de acordo com o contexto. Neste caso ficamos sabendo que a perseguição pela besta está dentro da vontade permissiva de Deus e não cabe resistência violenta. Quem estiver destinado ao cativeiro, terá de estar disposto a ir, manso, como cristão. Mesmo sendo vítima de terrível perseguição, o Senhor exorta os sofridos cristãos, que de maneira alguma deverão recorrer à violência contra as forças do mal, porque como diz Paulo: “pois não é contra carne e sangue que temos de lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes” (Efésios 6. 12). A atitude requerida dos santos de Deus é a paciência e fidelidade. Devem revelar aquela confiança no Senhor que tem caracterizado os homens de Deus quando perseguidos através dos séculos. Deus há de retribuir, e o castigo dos que matam, no fim, será de acordo com o crime que cometeram. A última ação está com Deus e não com os perseguidores.

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3. A segunda besta – 13.11–17 – João viu depois subir da terra uma outra besta. Esta

segunda besta tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como dragão. Notamos que esta segunda besta também é chamada no Apocalipse de falso profeta (ver 16.13). Esta segunda besta tendo dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, era para enganar. Dava aparência de manso, como cordeiro, mas a sua voz traía a sua aparência, pois era como a voz do dragão. Alguns interpretam que é a religião a serviço da adoração da besta, porque a partir de 16.13 ela é chamada de falso profeta, como em 19.20; 20.10. Esta segunda besta é imitação de Cristo: a religião prostituída com finalidade maligna. O dragão, a primeira besta (o anticristo) e a segunda besta (o falso profeta) forma uma trindade satânica, tentando imitar a Trindade Divina, ou, como diz o Dr. Russel Shedd: “Pode ser uma possível tentativa por parte do diabo de duplicar a realidade da Santíssima Trindade original” (op. cit. pág. 47). A função desta segunda besta está descrita nos vs. 12 – 14: “Também exercia toda a autoridade da primeira besta na sua presença; e fazia que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. E operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo do céu à terra, à vista dos homens e por meio dos sinais que lhe foi permitido fazer na presença da besta, enganava os que habitavam na terra e lhes dizia que fizessem uma imagem á besta que recebera a ferida da espada e vivia.” O dragão entrega sua autoridade ao Anticristo (13. 4); o Anticristo dá do seu poder ao falso profeta. Com este seu poder ele fazia que a terra e seus habitantes adorassem o Anticristo. Vemos assim que a segunda besta não entra em competição com a primeira besta, mas está a seu serviço. A segunda besta não tem poder próprio, mas recebe poder por sua união com a besta. Seu único objetivo é conseguir a lealdade religiosa da humanidade para a primeira besta. Em tudo podemos ver o falso paralelismo com a Trindade Divina. Espírito Santo leva o pecador a Cristo, leva o homem a glorificar a Cristo (João 16. 14). A segunda besta fará tudo para levar os homens e a adorarem e glorificarem a primeira besta. Ela recebe poder sobrenatural para operar milagres e enganar a população pagã do mundo (vs. 13, 14). Devemos lembrar também que o nosso Senhor Jesus Cristo preveniu-nos do surgimento de falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os escolhidos (Marcos 13. 22). Devemos ter cuidado para não sermos enganados. Os homens – como hoje - sempre foram ávidos por sinais e milagres. Os judeus pediram insistentemente que Jesus operasse sinais e prodígios, Herodes esperava ver Jesus operando algum sinal (ver os seguintes textos: Mateus 12. 38 – 39; Lucas 23. 8 e João 4. 48). Infelizmente até muitos crentes estão correndo atrás de sinais, milagres e prodígios. Lembremo-nos do ensino de João em sua primeira epístola, sobre a necessidade de provar os espíritos. Há muitos sinais e milagres que não são de Deus. Eles aumentarão à medida em que os tempos do fim forem se aproximando. Nos dias do falso profeta serão tão extraordinários que a humanidade se prostrará diante do Anticristo.

Para estupefação dos homens a segunda besta (falso profeta) fará uma imagem à primeira besta. Receberá poder de dar vida à imagem da primeira besta, a ponto da imagem falar. A vivificação aparente da imagem da besta é a maior reivindicação do poder divino: ser capaz de criar a vida, como Deus. Este poder foi-lhe dado para que tivesse uma razão mais convincente pra reivindicar a adoração dos homens. Além desse poder foi-lhe dado outro: fazer morrer quantos não adorassem a imagem da besta (v. 15 b) . Foi-lhe dado poder de matar ou mandar matar quem não adorasse a imagem da besta. “Desta forma a humanidade ficará dividida entre os adoradores do Senhor Jesus Cristo e a besta por meio da sua imagem, que igualmente receberá culto satânico. Assim chegará a seu auge a guerra entre Deus e Satanás, que não fica satisfeito até tomar par si tudo que pertence ao Criador” ( Russel, Shedd, op. cit. pág. 48). Só que sabemos que ele nunca conseguirá isto. Satanás já está derrotado, apesar das tentativas que faz e fará para alcançar a vitória.

Para obrigar todos os homens a adorarem a primeira besta, o falso profeta fará que a todos os homens, “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes seja posto um sinal na mão direita, ou na fronte, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome” (vs. 16, 17).

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Para receber o sinal será necessário que a pessoa adore a besta; Pelo simples fato de alguém se submeter a receber o sinal da besta, implica a negação de Cristo e aceitar a autoridade da besta. Tanto no passado, como hoje usa-se fazer um sinal nos animais – a marca – para indicar posse. Cada criador de gado tem a sua marca para os seus animais. Os adoradores da besta também receberão o sinal ou a marca da besta. Na História temos protótipos do anticristo e do falso profeta. A adoração ao imperador intensificou-se a partir dos imperadores romanos Nero e Domiciano. Com o suicídio de Nero em 68 D.C. surgiu uma lenda de que ele não tinha morrido, mas escapado para o Oriente, e que voltaria em triunfo. Em 69 D.C. apareceu na Ásia um falso Nero, mas ninguém lhe deu importância. Depois em 88 apareceu outro também na Ásia dizendo ser Nero. Domiciano chamou a si os títulos de Deus. Ordenou que a ele se dirigissem como “o Supremo Deus e Senhor”. Chegou até a devolver cartas que não contivessem essa saudação e esse tratamento. Isto foi blasfêmia contra Deus. Foi cultuado por todos, exceto pelos verdadeiros cristãos. Até judeus chegaram a cultuá-lo. Quando Trajano assumiu o poder mandou fundir muitas imagens de Domiciano, enviando-as para as províncias, buscando facilitar o culto ao imperador. Quem não prestava culto a Domiciano não podia comprar e nem vender no mercado. Também os que cultuavam Domiciano, recebiam na mão, ou na testa um sinal para indicar, segundo o costume de algumas religiões pagãs, que o indivíduo era adepto ou fã deste ou daquele deus. O sinal era o nome do imperador (in Ray Summers, op. cit. pág. 233). Através da História podemos encontrar outros protótipos das bestas descritas, mas certamente esta visão ainda deverá cumprir-se na sua plenitude. Ainda que não possamos ser dogmáticos com relação às visões, mas podemos ver o mundo dando passos no sentido de ser cumprirem as profecias. Vemos nos vários continentes surgindo os “mercados de livre comércio” (Mercado Comum da Europa, Mercosul, Alça...). A médio e longo prazo isto significa a unificação das moedas. Vemos a disputa da supremacia de alguns governos. Também podemos verificar a tendência da unificação religiosa pagã através do sincretismo religioso que já se está manifestando: a nova era. Quanto à questão de receber um sinal na mão direita ou na testa, até isto parece ser perfeitamente possível através de pequenos chips implantados que podem ser lido eletronicamente. Livros em bibliotecas estão sendo marcados eletronicamente para que ninguém possa roubá-los, pois, ao passar pela porta, um aparelho dispara o alarme. Quanto ao chip já vimos experiências desta natureza na Europa. Assim a pessoa não precisaria de documentos e sua movimentação seria acompanhada pelos monitores dos computadores. Pode ser que não seja este o meio, mas isto mostra como os homens podem ser assinalados e impedidos de comprarem ou venderem. Devemos também observar que teremos a humanidade dividida em dois grupos: os assinalados por Deus, que terão a Sua proteção (especialmente espiritual, ainda que sujeitos às perseguições e morte), cujos nomes estão escritos no Livro da Vida, e os assinalados pela besta. 4. O número da besta – 13.18 - Este número simbólico tem gerado múltiplas interpretações. Muitos têm-se preocupado com isto e gasto tempo inutilmente fazendo contas e malabarismos matemáticos. Com estes cálculos tem sido apresentadas inúmeras bestas através da História. Muitas delas podem ser protótipos da verdadeira besta. Só para termos idéia destas múltiplas interpretações, iremos citar alguns exemplos. David Smith no Disciple’s Commentary, ele interpreta o número simbólico 666 a Nero, usando o nome hebraico “Nron Ksr” correspondente ao latino “Nero Caesar”, usando no hebraico o sistema.numérico equivalente. Assim temos: N = 50; R = 200; O = 6; N = 50; K = 100; S = 60 e R = 200. Fazendo-se a soma deste números chegamos a 666.

Já a teoria da escola da continuidade histórica, apresentada no princípio por Irineu, aplica o número da besta à Igreja Católica Romana. Segundo esta teoria, o primeiro chefe da Igreja chamou-se Latinus. Este nome no grego é Lateinos. No sistema grego de avaliação das letras, temos o seguinte: L = 30; A = 1; T = 300; E = 5; I = 10; N = 50; O = 70 e S = 200. Somando-se dá o número 666. Assim o sinal da besta seria a o sistema católico romano que se opõe ao verdadeiro

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cristianismo. Usando a mesma palavra – Lateinos - e o código, alguns opinam que a besta indicava o Império Latino, portanto, o Império Romano.

Uma outra interpretação usa o sistema numérico romano, em que, quando uma letra não com valor numérico, se dá o valor igual a zero. Na coroa papal usada na cerimônia de sua investidura há a expressão latina Vicarius Filii Dei, que significa “no lugar do Filho de Deus” ou “substituto do

Filho de Deus”. V = 5; I = 1; C = 100; A = 0; R = 0; I = 1; U = 5 (pois no latim o U é igual ao V); S = 0; F = 0; I = 1; L = 50; I = 1; I = 1; D = 500; E = 0 e I = 1. A soma destes números também dá 666.

Durante o período da segunda guerra mundial, em 1941, um aluno do prof. Ray Summers, numa das aulas de Novo Testamento apresentou a seguinte interpretação: tendo o alfabeto inglês como base para os número, tomando-se o A = 100, o B = 101, C = 103 e assim por diante, acaba-se chegando na soma final 666 com o nome de Hitler: H + 107; I = 108; T = 119; L = 111; E = 104 e R = 117. Chegamos à conclusão de que, com uma manipulação inteligente, pode-se fazer quase tudo com estes números.

Mostramos estes exemplo de cálculos (ainda há outros) só para deixar bem claro a inutilidade de se tentar à verdadeira interpretação por métodos tão infantis. Por este4 método, através dos séculos o número 666 tem sido aplicado a muitas pessoas diferentes. Devemos lembrar que o número é simbólico. Ele deveria ser conhecido pelo apóstolo e possivelmente pelo símbolos os seus leitores do final do primeiro século sabiam a quem se referia. Devemos lembrar ainda de que para os orientais daquela época o número 6 despertava um sentimento de temor no coração dos que se impressionavam com o significado dos números. O número 7 era a perfeição, o 6 quase chegava ali, mas como falhava nisso, era considerado número mau. Quando o número 6 aparecia só, eles viam nisso desgraça, ruína. Quando o número era repetido três vezes, significava um poder maligno muito forte, um destino tão calamitoso que não podia haver pior. Podemos ver assim no número 666 o mal elevado à ultima potência. A besta a que foi atribuído simbolicamente o número 666 indicava a combinação da operação maligna, corporificada no poder político, com a falsa religião. Nos Oráculos Sibilinos o número místico 888 é usado para simbolizar Jesus. Ele passa muito além do número perfeito 777. Assim o número 666, fica muito aquém da perfeição, representando a incapacidade de atingir a perfeição. Michael Wilcock na conclusão da discussão sobre o número 666 diz: “Vamos então parafrasear o versículo, como deve ter sido lido aos ouvintes originais. ‘Deixemos que aqueles que têm entendimento estabeleçam o número da besta – um número ‘de homem’, um código como os utilizados para simbolizar a igreja e a época da igreja. Que podemos nós sugerir? Que tal parece verdadeiro, mas que não é? ‘Um número mais próximo possível da perfeição, mas que não a alcance?’ ‘E se o símbolo da verdade básica é sete, que tal o número 6 para a falsa religião?’ ‘Seria muito apropriado. De fato, porque a besta em todas as suas atividades está constantemente errando o alvo, o número que João escreve aqui não é somente 6, mas 666’. Pode não ter sido exatamente desta forma. Mas esta abordagem parece ser mais coerente com o uso que o Apocalipse faz do símbolos em geral, do que os vôos fantásticos executados pelo nosso amigo lamparina e da biblioteca empoeirada” (op. cit. pág. 103). III. VISÕES DE CONSOLO (Apocalipse 14.1-20)

Depois da terríveis visões do dragão e das duas bestas em que há prenúncios de sofrimento, perseguição e morte, vem três visões de consolo para o povo de Deus. São visões prolépticas (isto é, visões que antecipam o que virá) porque elas só se concretizam nos capítulos 20 a 22. Esta é uma características de João no Apocalipse. Ele gosta de relatar a seus leitores visões antecipadoras do que virá no fim, para fortalecê-los para as experiências duras que estão à frente. Nas visões dos capítulos 12 e 13 temos revelações tão espantosas que deixavam poucas esperanças aos cristãos, ainda que tinha deixado certo de que o sucesso dos três elementos iníquos seria temporário: três anos e meio simbolicamnte. Mas só este encorajamento era pouco para dar-lhes maior ânimo. Por

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isso Deus traz bondosamente outro quadro, com visões consoladoras e encorajadoras no capítulo 14.

Lembramos que o dragão (o diabo) usou no capítulo 13 dois instrumentos para pôr em campo: as duas bestas (o anticristo e o falso profeta). No capítulo 15 Deus põe em ação também dois instrumentos seus: o Cordeiro (Jesus Cristo) e a foice (o juízo divino).

1. O Cordeiro e os redimidos no Monte Sião – 14.1–5 – “E olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, que traziam na fronte escrito o nome dEle o nome de Seu Pai” (v. 1). A visão pula para o futuro glorioso dos santos de Deus. Após a cena terrível e ameaçadora dos dois últimos capítulos, a figura vitoriosa do Cordeiro aparece em pé sobre o Monte Sião com todos os seus redimidos, trazendo o sinal na fronte identificando como pertencentes a Jesus, como se dava com o seguidores da besta que tinham o sinal dela. É a visão da proclamação da vitória dos verdadeiros crentes. 1.1. O número 144.000 – 14.1 – Este número 144.000 já apareceu no cap. 7. 4. No estudo feito ali mostramos que é um número simbólico. É número da perfeição em seu grau mais elevado: 12 X 12 X 1000 = 144.000. Este número simboliza a totalidade dos salvos. Por outro lado podemos observar que tanto os 144.000 do capítulo sete e os 144.000 aqui do capítulo catorze, representam os salvos por Cristo Jesus. Ali eles iram receber o selo na sua fronte para receberem a proteção especial de Deus durante aqueles dias difíceis de tribulação. Aqui eles já trazem nas suas frontes o nome do Cordeiro e de Seu Pai. Representam os salvos sem qualquer distinção étnica (judeu ou gentio). Esta cena certamente encheu de júbilo o coração dos cristãos do final do primeiro século, como deve encher de gozo o nosso coração. Finalmente Cristo triunfante reinará com os salvos. 1.2. O cântico novo – 14.2–3 – Ao lado da visão do Cordeiro com a grande multidão de redimidos, ouve-se do céu, como voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e a voz que João ouviu era como de harpistas, que tocavam as suas harpas. E cantavam um cântico novo diante do trono, e diante dos quatro seres viventes e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil, aqueles que foram comprados da terra. Após as vitórias militares ou mesmo esportivas há o cântico da vitória. Quando os israelitas acabaram de atravessar o mar Vermelho e ver a derrota dos egípcios mortos, vencendo a Faraó, temos o cântico da vitória de Moisés (Êxodo 15). Quando os israelitas sob o comando de Débora e Baraque, temos o cântico de vitória de Débora (Juízes 5). Assim após a esplendorosa vitória do Cordeiro, temos o Cântico novo, que é o cântico da vitória. Este cântico comunica a gloriosa vitória dos santos que permaneceram fiéis a Jesus Cristo. Esta multidão simbolicamente foi comprada da terra. Como Pedro diz em sua primeira epístola: “sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata e ouro que fostes comprados. . ., mas com o precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e

sem mancha, o sangue de Cristo” (1.18, 19). Só os redimidos por Cristo podiam aprender aquele cântico. Isto porque só estes sabiam o

que era viver no pecado e ser transformados pelo poder de Deus. Eles tinham experiência da vida de pecado e depois a vida de santidade. Eles tinha resistido a todas as tentações e provação e permaneceram firmes.

1.3. Identificação dos 144.000 – 14.4–5 – Estes versos reforçam a identificação que já

começou a ser dada no v. 3. Já vimos que são aqueles que foram comprados da terra. Mas nestes dois versículos enfatiza-se a vida de fidelidade e lealdade ao Cordeiro. O versículo quatro tem suscitado muitas discussões estéreis sobre a interpretação: “daqueles que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens”. Os celibatários defendem que a linguagem é literal. No entanto, antes mesmo de entrar na discussão da interpretação particular deste versículo, devemos lembrar as regras básicas de interpretação: primeiro todo o versículo deve ser interpretado á luz do contexto local e de todo o contexto bíblico; segundo, nenhuma interpretação dada a um versículo em

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particular, pode contradizer o ensino geral da Bíblia. Assim notamos que o versículo está inserido numa visão em que se usa linguagem simbólica, portanto, figurada. Logo não podemos tomar as palavras no sentido denotativo e sim conotativo. Aqueles que querem tomar as palavras no sentido denotativo acabam interpretando que “o estado ideal para o ser humano é o celibato.” Isto contraria todo o ensino geral da Bíblia a partir de Gênesis 1.28 e 2.18. A instituição do casamento é de origem divina. Ao criar o homem ordenou que se multiplicasse e enchesse a terra. Isto só é possível pelo casamento e relacionamento sexual. Depois o próprio Deus viu que não era bom que o homem estivesse só e criou-lhe a mulher. Além disto em toda a Bíblia vemos o casamento sendo exaltado. Se o texto não pode ser interpretado no sentido denotativo, deve sê-lo no sentido conotativo, o que está de acordo com o contexto do Apocalipse e de toda a Bíblia. “Estes são os que não se contaminaram com mulheres; porque são virgens,” está mostrando que eles são aqueles que não se contaminaram com o culto idólatra. No meio do mundo idólatra eles souberam conservar a pureza da sua fé em Cristo Jesus. Temos destacado no livro do Apocalipse não só o convite para o culto idólatra, mas também a opressão e perseguição para que todos cultuassem os desuses falsos: imperadores, besta, etc. Podemos notar tanto no A. T. como no N. T. o uso da linguagem figurada para mostrar tanto a fidelidade a Deus, como infidelidade, como o a fidelidade no casamento. No V. T. Deus aparece como o esposo e os filhos de Israel como a esposa. No livro de Oséias temos uma exemplificação viva disto, inclusive no casamento do profeta. Temos inúmeros textos dos no Novo Testamento em que a idolatria e infidelidade a Deus é tomada como adultério espiritual. Um texto correlato a este do Apocalipse é em II Cor. 11. 2: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; pois vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a Ele como virgem pura”.

2. As vozes de três anjos – 14.6–20 – Após descrever a visão do Cordeiro com os redimidos

no Monte Sião, João prossegue relatando as proclamações dos três anjos. A cena apresenta o juízo que deve eclodir a qualquer momento, como uma tempestade sobre a terra. As vozes antecipam eventos que devem ocorrer brevemente.

2.1. A proclamação do primeiro anjo – 14.6–7 – O Evangelho proclamado a todos os

habitantes da terra - O primeiro anjo aparece voando pelo meio de céu, tendo na mão o Evangelho eterno para ser proclamado a todos os habitantes da terra: toda nação, tribo, língua e povo (v. 6). A anunciação do Evangelho Eterno da vitória de Deus, vem acompanhada de um convite a todos os homens : “Temei a deus e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (v. 7). Tudo isto indica que a vitória do Cordeiro é tão certa que um anjo já anunciou o triunfo e a vitória, antes mesmo de se travar a batalha. Por outro lado podemos ver a misericórdia e longanimidade de Deus em deixar bem claro que o tempo da graça salvadora ainda não acabou. Acabará tão logo a mensagem da graça tenha sido proclamada a toda nação, a toda tribo, língua e povo. Vemos o desejo de Deus de que o homem se volte para Ele até no final do livro: “O Espírito e a noiva dizem Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida” (22. 17). Estes textos deixam claro o desejo de Deus em salvar todos os homens. Todos devem ouvir, todos devem ter oportunidade de fazer a sua escolha. O homem tem o livre arbítrio. Ele é responsável diante de Deus pela sua decisão. Antes que venha o fim, a oportunidade é oferecida a todos.

2.2. A proclamação do segundo anjo – 14.8 – A Babilônia julgada – 14.8 – O segundo anjo

anuncia a queda da terrível cidade, Babilônia. Sabemos que a linguagem é conotativa, pois a cidade de Babilônia já fora destruída há séculos. Mas ela é o símbolo da opressão, luxúria, corrupção e especialmente da cruel perseguição aos cristãos. Geralmente a Babilônia no Novo Testamento simboliza a cidade corrupta de Roma com os seus governantes, por causa da fornicação espiritual, do seu culto idólatra. A previsão da queda e destruição de Roma, não é tanto à cidade em si, quanto ao Império Romano: “Um segundo anjo o seguiu dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição” (v. 8). Em Jeremias 51. 7, é citado

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o nome de Babilônia, para falar do vinho dado por ela às nações da terra. No caso do texto aqui “do vinha da ira da prostituição de Babilônia que dava deve beber às nações” é o símbolo da idolatria disseminada pelo Império Romano em todos os seus domínios, através da obrigatoriedade do culto ao imperador. Agora, contudo, sua iniqüidade será trazida a juízo, que prefigura sua fragorosa queda diante do poder de Jesus Cristo.

2.3. A proclamação do terceiro anjo – 14.9-12 – O castigo eterno dos idólatras – A

proclamação do terceiro anjo foi da condenação eterna dos adoradores da besta e daqueles que receberem o sinal da besta. “Seguiu-os ainda um terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na fronte ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se acha preparado sem mistura, no cálice da sua ira. E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, nem aquele que recebe o sinal do seu nome” (vs. 9 –11). Apesar de ser uma palavra de condenação pronunciada contra os adoradores da besta, é também uma palavra de alerta que revela o amor de Deus pela humanidade. Adorar e servir á besta, deixando-se, inclusive, identificar como seu seguidor, é loucura, pois, esta atitude representa um desafio ao Deus Todo-Poderoso. Tanta a besta como seus adoradores sofrerão o castigo eterno no inferno. É bom lembrar aos que pensam que o castigo do inferno não é eterno, que aqui, como em outros textos, fica bem claro que o tormento é para todo o sempre. Não há o que os adventistas chamam de aniquilamento da alma. A alma é eterna, ela não pode ser destruída. Ela irá para o céu ou inferno de acordo com a decisão de cada ser humano em relação a Cristo. A voz do terceiro anjo é, portanto, uma advertência aos apóstatas que definitivamente rejeitaram a graça de Deus. Adoram a imagem da besta, conseguindo alívio na perseguição bestial, mas mil vezes pior será o tormento interminável do inferno, para onde serão enviados os que desprezam a graça de Deus para adorar o substituto satânico. O Anticristo deseja receber as honras que pertencem unicamente ao Senhor Jesus Cristo. Por isso pressionará a toda a humanidade para adorá-lo e decidir-se contra Deus Pai e Deus Filho. Ele usará do martírio para pressionar os homens. Mas, mesmo que custe a vida física, vale a pena ser fiel ao Senhor. Por isso o v. 12 serve de encorajamento e louvor àqueles que sofrerem as duras perseguições, ao mesmo tempo serve de exortação para se manter a fidelidade ao Senhor: Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”

3. A voz de bem-aventurança vinda do céu – 14.13 - “Então ouvi uma voz do céu, que dizia: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanha.” A quarta voz, vinda do céu, pronuncia a segunda bem-aventurança do Apocalipse. A primeira está no cap. 1. 3, que enfoca a bem-aventurança daqueles de lêem, ouvem e guardam a Palavra.. A segunda bem-aventurança oferece aos cristãos perseguidos a garantia que a morte não será qualquer motivo de pavor, mas por ela alcançarão o descanso das fadigas da terra. O serviço que prestarão ao Senhor “dia e noite” (7. 15) uma vez promovidos à presença de Deus, não cansa. Será uma experiência interminável de pura alegria. Esta bem-aventurança serve para todos os verdadeiros cristãos e não apenas para os mártires. Desde o momento da morte os crentes são abençoados com uma bênção dupla: (1) descansam dos seus trabalhos ou fadigas e (2) suas obras os seguem. A idéia de descansar dos seu trabalho, é a de que serão “refrescados”, revigorados. Qual trabalhador que no final do dia caminha para o seu lar e alcança o refrigério das duras lutas do dia, assim o cristão encontra na morte o portal que o leva ao lar celestial, onde o aguarda também o refrigério após as duras labutas desta vida terrena. A segunda bênção do crente é que ele, ao morrer no Senhor, tem um séqüito o acompanhando: as suas obras. Ele verá que o seu trabalho no Senhor, o seu esforço de uma vida de fidelidade, não foi em vão. Ele verá o resultado do seu trabalho cristão e receberá a recompensa devida.

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4. A colheita – 14.14–16 – A visão seguinte do apóstolo foi de uma nuvem branca e assentado sobre a nuvem um semelhante ao filho de homem, que tinha sobre a cabeça uma coroa de outro, e na mão uma foice afiada. É o símbolo da colheita. A colheita por sua vez representa o juízo divino. Representa a volta do Senhor para trazer o julgamento aos homens. A fim de todas as coisas é descrito em termos do tempo da colheita. A história da humanidade amadureceu, a medida dos seus pecados foi completada, os santos foram provados em sua fé e venceram. O tempo de Deus é chegado. Os homens passarão pelo julgamento final. 5. A vindima – 14.17–20 – É mais uma visão da consumação dos séculos. Agora a humanidade é comparada a uma vinha. As uvas estão maduras. A vindima deve ser feita. Esta segundo visão do juízo parece enfatizar o julgamento de Deus contra as nações rebeldes. Os homens que desprezarão a Deus agora serão pisados no lagar da ira de Deus. O lagar (tanque em que as uvas eras pisadas para extrair o seu suco) era fora da cidade e saiu sangue do lagar até os freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios (v. 20). Esta distância equivale a mais ou menos a 320 km. Isto prova a linguagem figurada. Em Israel não teríamos espaço para uma distância desta. O que a visão representa é o juízo de Deus. Neste aspecto todos estão de acordo. Há, porém, duas correntes de interpretação da ceifa e da vindima. A primeira corrente entende que a colheita é a do trigo – que simboliza os servos fiéis de Cristo – e representa o juízo dos santos; e a vindima, colheita das uvas para serem pisadas no lagar da ira de Deus, parece indicar o juízo sobre os incrédulos A segunda corrente opina que não há esta diferença e que tanto a ceifa quanto a vindima representam simplesmente o juízo final. Com estas visões do final dos tempos, chegamos ao término do interlúdio ou entre ato dos capítulos 12 a 14, que foi inserido para descrever a luta entre a Igreja e as forças satânicas. A atenção a partir do capítulo 15 será voltada às series de julgamentos apresentados nos selos, nas trombetas e agora virão as taças.

CONCLUSÃO 1. Os que interpretam o Apocalipse do ponto de vista preterista aplicam cada período da história passada às personagens estudadas hoje: o dragão e as duas bestas. É certo que podemos ver em instituições e pessoas protótipos das personagens estudadas, porém, temos que admitir que são apenas protótipos e não realmente as figuras simbólicas apresentadas. O anticristo e o falso profeta ainda deverão vir. Devemos também ter o cuidado de não sermos dogmáticos em textos apocalípticos. Devemos à luz da Palavra de Deus, sob orientação do Espírito Santo, estar atentos aos acontecimentos e personagens que vão surgindo no cenário da História. Precisamos estar convictos do que cremos e não estar ansiosos em busca de novidades, especialmente revestidos de sinais e prodígios. Precisamos pedir a sabedoria divina para saber discernir os espíritos. 2. Sabemos que este mundo jaz no maligno. Jesus deixou isto bem claro, os apóstolos confirmaram e o Apocalipse revela como este mundo está sendo usado nas suas mãos. O dragão, a antiga serpente, não podendo vencer a Cristo, tem sua ira voltada contra os filhos de Deus. Ele domina este mundo e quer sujeitar todos sob a sua influência. Ele usa de todos os meios: desde a perseguição até meios aparentemente inofensivos. Usa, inclusive, o subterfúgio da modernidade e da pretensa cultura, levar os homens a atitudes e ações que são contrárias à vontade de Deus. Novamente advertimos para a necessidade de cuidado para não sermos envolvidos. Cuidado no vocabulário usado, cuidado nas músicas que usamos e cuidado na aceitação das idéias mundanas camufladas com belas roupagens. O diabo é astuto. Diz Paulo que ele se reveste até como anjo de luz, para ver se pode enganar mais alguns ( II Cor. 11. 14). 3. O Evangelho de Jesus Cristo é eterno, enquanto os males deste mundo são passageiros. O mal finalmente será vencido. Vale a pena ser fiel ao Senhor em todas as circunstâncias. Há bem-aventurança eterna para aqueles que são fiéis. Mesmo na morte o crente sente a bem-aventurança de

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Deus, pois encontram o refrigério dos seus trabalhos e têm o seu galardão garantido por Deus. Por isso sejamos sempre firmes e constantes no trabalho do Senhor (I Cor. 15.58). 4. O juízo deste mundo virá no tempo certo. Deus é longânimo para com as suas criaturas, mas a Sua longanimidade tem um limite. Quando chegar ao seu fim, Ele dará ordem para que os campos do mundo já maduros sejam ceifados. O trigo (os santos) serão recolhidos para o celeiro celestial e as uvas de terra ( ímpios) sejam pisados no lagar da ira de Deus.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 08

A VISÃO DAS TAÇAS E DAS PRAGAS

Texto bíblico: Apocalipse 15.1–16.21 Texto áureo: “Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois Tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos.” (Apocalipse 15. 4) INTRODUÇÃO

Os quadros apresentados na lição passada (capítulos 12 a 14) deram-nos uma visão das forças opostas do bem e do mal já prontas para o combate final. Os quadros que serão apreciados na lição de hoje (capítulos 15 e 16) mostram as taças da ira de Deus como retribuição final contra os inimigos do Evangelho. Precisamos entender a expressão “ira de Deus”. É uma linguagem antropomórfica que indica o julgamento de Deus à atitude de rebeldia do homem pecador. Deus é amor, mas Deus é justiça. Deus deseja a salvação do homem e tudo faz para que isto aconteça, mas diante da rejeição não resta nenhuma outra alternativa a não ser a condenação. I. A preparação para o derramamento das taças – Apocalipse 15.1–8 – Neste capítulo as taças

ainda não serão derramadas. Isto só ocorrerá no próximo capítulo. 1. A visão de outro sinal, grande e admirável – 15. 1 2. Uma visão proléptica (i.é, antecipada) dos que venceram a besta – 15.2-4 2.1. O mar de vidro misturado com fogo – 15.2a 2.2. Os vencedores da besta, - 15.2b 2.3. A vitória dos santos mártires – 15.2c-4 3. A visão da abertura do santuário do tabernáculo do testemunho no céu – 15.5 4. Sete anjos recebem as sete taças da ira de Deus – 15.6–8 II. O juízo das sete taças – Apocalipse 16.1-21 1. A primeira taça – 16.2 – chagas ruins e malignas. 2. A segunda taça – 16.3 - mar torna-se em sangue. 3. A terceira taça – 16.4–7 – rios e fontes de águas tornam-se em sangue. 4. A quarta taça – 16.8–9 – superaquecimento do sol abrasa os homens. 5. A quinta praga – 16.10–11 – escurecimento do reino da besta e dor terrível nos seus súditos a

ponto de morderem as línguas 6. A sexta taça – 16.12–16 – seca o rio Eufrates – Trindade maligna expelindo três espíritos

imundos semelhantes as rãs e reunião no Armagedom. 6.1. A trindade demoníaca – 16.13 – o dragão, (Satanás), a besta (o anticristo) e o falso profeta 6.2. Os espírito demoníacos – 16.14 6.3. Solene advertência do Senhor Jesus Cristo – 16.15 6.4. Os aliados do Anticristo congregam-se no Armagedom – 16.16 7. A sétima trombeta – 16.17–21 – Está feito! CONCLUSÃO – lições práticas

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ESTUDO N º 8 - A VISÃO DA LUTA ENTRE O BEM O MAL

Texto bíblico: Apocalipse 15. 1 – 16. 21 Texto áureo: “Quem não temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só Tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos.” (Apocalipse 15. 3). INTRODUÇÃO

Ao iniciar o estudo de hoje lembramos que os capítulos 12 a 14 constituíram um entreato ou interlúdio entre as sete trombetas e os sete flagelos – que virão com o derramar das sete taças. A sétima trombeta, ao soar, anunciou o período do fim (ver 10.7 e 11. 15). Com o soar da sétima trombeta – que seria o terceiro ai – não veio nenhuma praga ou castigo. Veio uma visão mostrando antecipadamente a vinda do Reino de Deus. Foi o interlúdio ou entreato que estudamos na lição passada. A praga ou castigo vem agora neste bloco dos capítulos 15 e 16 Estas pragas serão derramadas “sobre os homens portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem” (16. 2). Estas pragas, bem como as sete trombetas, têm o propósito indireto de colocar as pessoas de joelhos diante de Deus, como última oportunidade de arrependimento, ainda que nem assim se arrependam (ver 16. 9 e 11). Os quadros apresentados na lição passada (capítulos 12 a 14) deram-nos uma visão das forças opostas do bem e do mal já prontas para o combate final. Os quadros que serão apreciados na lição de hoje (capítulos 15 e 16) tratam das taças da ira da retribuição final derramadas sobre os inimigos do Evangelho. Nos três capítulos seguintes teremos a visão da queda da Babilônia (símbolo). As taças são cálices cheios da ira de Deus São as últimas pragas, como as pragas que precederam a saída do povo de Deus do Egito. Como, no Egito, as pragas contra o povo egípcio acabaram coroando com êxito o propósito de Deus em libertar o povo israelita do seu cativeiro (Êxodo 11.8 e 12.30–33), assim o derramar das taças da ira de Deus cumprirá o propósito de Deus com a derrota do Anticristo e suas hostes (Apoc. 19.20–21). Antes de apreciarmos os capítulos 15 e 15 é bom fazer uma análise ligeira sobre a expressão “a ira de Deus.” Esta expressão, talvez seja estranha para muitos, com referência a Deus, que é descrito em muitas outras passagens bíblicas como o Deus de amor. “A ira de Deus é simplesmente a relação que liga o pecado ao sofrimento, que segue como conseqüência da impiedade. Deus bem que deseja livrar a humanidade e o indivíduo das conseqüências de seu procedimento impiedoso, mas só pode fazê-lo se houver nestes uma mudança de atitude positiva, que é o verdadeiro arrependimento. A atitude errada para com Deus determina também um atitude errada para com o seu próximo que é a imagem de Deus (I João 4.20, 21). Pecado é tudo aquilo que direta ou indiretamente prejudica o nosso próximo, e isto, porque Deus o ama, o afeta como se fosse feito contra Ele mesmo (Mateus 25.40, 45). É esse amor que O impele a eventualmente destruir ou banir os ímpios impenitentes para proteger e assegurar a felicidade aos justos. Por isso, como foi lícito aos israelitas se rejubilarem com a destruição do exército egípcio no Mar Vermelho, assim também é normal que os santos se rejubilem pela destruição de seus inimigos que são também inimigos de Deus” ( Pontos Salientes, ano 1983, pág. 224). Logo a ira de Deus, nada mais é do que a aplicação do juízo, baseado na justiça de Deus e do merecimento por parte daqueles que, mesmo diante de tantas oportunidades de arrependimento, ainda se recusavam a arrepender-se e continuavam em sua rebeldia contra Deus, não reconhecendo que precisavam de Deus. Não devemos pensar na “ira de Deus” como vingança – como humanamente a concebemos. A “ira de Deus” é uma linguagem antropomórfica para indicar a justa retribuição divina para a atitude de rebeldia do homem pecador. Deus é amor, santidade e justiça. Ele criou o homem para ser o louvor de Sua Glória. O pecado afastou o homem do Seu Criador. Em Seu amor, Deus tudo fez, como tudo está fazendo para que o

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homem volte a manter a comunhão inicial com Ele. Para isto é necessário a santidade de vida. Jesus veio para tirar os pecados dos homens. A rejeição voluntária do homem, faz com que a justiça de Deus se manifeste, aplicando o justo castigo ao homem. I. A PREPARAÇÃO PARA O DERRAMAMENTO DAS TAÇAS (Apocalipse 15.1–8)

Observemos que as taças cheias da ira de Deus não serão derramadas ainda neste capítulo. Ao iniciar a visão em que é anunciada a consumação da ira de Deus através do derramamento das taças cheias das últimas pragas, João vê os salvos entoando um cântico de vitória. Só depois é que se faz o preparativo para a efetivação do ato.

1. A visão de outro sinal, grande e admirável – 15.1 – “ Vi no céu ainda outro sinal, grande e admirável: sete anjos, que tinham as sete últimas trombetas; porque nelas é consumada a ira de Deus.” No capítulo 12.1 João afirma: “E viu-se um grande sinal no céu...” Por isso ele aqui diz: “Vi no céu outro sinal, grande e admirável...” A palavra traduzida por “sinal” - semeion -

significa “milagre ou aparição maravilhosa, prodígio”. Thayer diz que pode referir-se a “personagem por quem Deus adverte e indica aos homens o que devem fazer”. Com o simbolismo da visão das sete trombetas João retratou uma série de castigos divinos, na forma de pragas e tormentos, para acordar a humanidade para a verdadeira realidade de Deus. Com o simbolismo desta nova série – os flagelos das sete taças - chegamos ao clímax: Deus derramará totalmente a Sua ira, isto é, esses juízos cumprirão plenamente o propósito da “ira de Deus”, manifestada durante o período da grande tribulação. Ao se afirmar que nestes sete últimos flagelos a ira de Deus se consumou, não devemos pensar que o julgamento de Deus terminou. O que devemos ter em mente é que ainda não é o fim; é apenas a demonstração da ira divina, típica de sua ira final, quando do julgamento final e eterno. A besta, o anticristo e todos os que persistirem na maldade ainda serão lançados no lago de fogo, na manifestação derradeira da ira de Deus contra o pecado. Esta palavras devem ser tomadas em seu contexto escatológico particular:a ira de Deus durante a grande tribulação é a última tentativa de fazer com que os adoradores da besta se inclinem diante da soberania de Deus. 2. Uma visão proléptica dos que venceram a besta – 15.2–4 – No meio da visão do sinal grande e admirável, o apóstolo tem uma visão antecipada daqueles que vencerão a besta e o falso profeta. Antes de ver a consumação da visão dos sete anjos com as sete últimas pragas, João vê uma cena futura maravilhosa: “E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e

verdadeiros são os tues caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não Te temerá Senhor, e não

glorificará o teu nome? Pois só Tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de Ti, porque os teus juízos são manifestos” (vs. 2–4). É a visão dos santos mártires mortos pela besta por sua perseverança mesmo sob perseguição, sua obediência firme aos mandamentos divinos e sua fé em Jesus Cristo (ver 14. 12). É a visão antecipada dos vencedores durante o período da grande tribulação. Eles venceram a besta, pois nem na morte eles negaram o nome de Jesus. Recusaram-se a adorar a besta e a inclinar-se diante da sua imagem e a receber o número de besta em suas frontes ou mão direita. Apesar de terem morrido, foram eles que venceram a besta. Permanecendo fiéis a Jesus Cristo, frustraram o propósito da besta. Inferimos que a perseguição aos santos continua durante o período dos sete flagelos. 2.1. O mar de vidro misturado com fogo - 15.2a – “E vi como que um mar de vidro misturado com fogo”. No capítulo 4. 6, na sala do trono João viu “um mar de vidro, semelhante ao

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cristal”. Interpretamos ali, o mar de vidro, semelhante ao cristal, como símbolo da transcendência de Deus: o fato de homem algum poder aproximar-se de Deus. Aqui no capítulo 15, temos novamente o mar de vidro, indicando que Deus é ainda transcendente e que nenhum homem pode aproximar-se dEle. Mas, o mar já não constitui impedimento para aqueles que são de Deus e que já morreram e Dele se aproximaram, pois estão de pé junto ao mar em Sua gloriosa presença. No capítulo 21.1, iremos ver que o mar já não existe, ocasião em que todo o povo de Deus gozará de Sua gloriosa companhia e amizade. O pensamento central deste simbolismo no capítulo 15 é que estes vencedores da besta estão diante do trono, na presença de Deus. A besta pensou que os venceria matando-os, mas na sua morte somente os transportou da terra para o céu. A vitória final foi deles e não da besta. Quanto à frase: “como que um mar de vidro misturado com fogo”, ela tem recebido as mais diferentes interpretações. Alguns dizem que isto poderia ser na visão o resultado do reflexo dos raios solares numa planície de águas que as deixam num vermelhão de fogo. Davi Smith é de parecer que isto indica a avermelhada conflagração das perseguições que rugiam, enfurecidas, sobre a terra. Milligan é de parecer que o mar reflete ou o fogo do juízo divino, ou as provações com que Deus purifica o Seu povo. 2.2. Os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome – 15.2b – Aqui são identificados quem eram as pessoas desta visão proléptica: os mártires que venceram a besta. Notamos que eles encararam a besta não aceitando adorá-la, nem mesmo curvar-se ante a sua imagem e não permitindo serem marcados com o número de besta (666). Eram, portanto, os mártires vencedores da besta. É feita esta antevisão para conforto e encorajamento a fim de que os santos de Deus enfrentem tudo, permanecendo fiéis a Deus. 2.3. A vitória dos santos mártires – 15.2c–4 – A vitória é demonstrada em três aspectos: estavam em pé junto ao mar de vidro (símbolo de estarem diante do trono de Deus), tendo em suas mãos harpas de Deus (outro símbolo da vitória, pois, receberam as harpas expressam louvores e adoração a Deus) e cantavam o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro (estes cânticos sempre expressam a alegria e gratidão a Deus pelas vitórias alcançadas). “Os santos que venceram a besta já atravessaram o mar de cristal misturado com fogo da santidade e justiça de Deus ( 15. 2), tendo sido resgatados por Deus como foram os israelitas (Êxodo 14. 15 ss.). As harpas nos lembram dos 144.000 ( 14. 2) e o cântico de Moisés (Êxodo 15); as palavras são distintas mas a mensagem de vitória em síntese é a mesma.

“O ‘cântico do Cordeiro’ louva Àquele que os resgatou, pois este canto tem como tema Jesus, que com seu próprio sangue tornou vermelho o mar que separava Deus dos pecadores. Assim abriu o caminho da reconciliação. Tão estupenda é Sua vitória que desafia toda linguagem humana para descrevê-la.”

“A declaração ‘Grandes e maravilhosos são os seus atos’, põe em cartaz toda intervenção divina na História desde a criação até o estabelecimento do Seu reino vitorioso ( cf. Salmos 92. 5; 111. 2). O título Senhor (Yavé) Deus, o Todo-Poderoso aparece em Amós 4. 13. A justiça do seu trato (caminhos) é reconhecida em Salmos 145. 17 como a Sua verdade (cf. Deuteronômio 32. 4). Rei das nações ou dos tempos segundo alguns bons manuscritos bons manuscritos (isto é, a eternidade), quem não temerá e glorificará o Seu nome? Um dia o politeísmo, o ateísmo e o agnosticismo desaparecerão por completo. Será impossível deixar de honrar a Deus (cf. Filipenses 2. 10, 11). Quando Ele se manifestar aos homens. Só Ele pode ser descrito como ‘santo’ (cf. I Samuel 2. 2), absolutamente perfeito e separado de toda a contaminação de injustiça. Os povos sem exceção virão para adorá-Lo porque Seus julgamentos têm sido revelados (v. 4)” (Dr. Russell P. Shedd, op. cit. pág. 50 e 51).

É interessante observar que os mártires não cantam a sua vitória, nem como venceram a besta. Eles estão ocupados em cantar a soberania de Deus, a Sua magnífica atuação em toda a história humana e a vitória final de Deus. Além disto não há nenhum vestígio de vingança pessoal

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contra os inimigos que são atingidos pelo castigo divino. Não há demonstração de vaidade pessoal pela vitória. Há um só que deve ser honrado e glorificado no seu cântico: O Deus Todo-Poderoso.

3. A visão da abertura do santuário do tabernáculo do testemunho no céu – 15.5 - Após a

visão antecipada dos santos mártires em pé diante do mar de vidro, tendo harpas em suas mãos e glorificando a Deus, a visão de João é deslocada para o santuário do tabernáculo do testemunho no céu. Ele vê o abrir do santuário. É um símbolo. Não é descrito como o templo de Salomão ou dos que foram erigidos em seu lugar posteriormente. É a semelhança do tabernáculo no deserto ou a “Tenda-do-Testemunho”. Em 11. 19 João viu abrir-se o santuário de Deus que está no céu. E viu nele a arca do Pacto. Aqui em 15. 5 ele não vê a arca do concerto (ou pacto) Ali em 11. 19 viu-se a arca da aliança ou do pacto para lembrar a fidelidade de Deus às promessas de Sua aliança. Aqui a fidelidade de Deus também exige o julgamento do mal. Por isso João vê o santuário do tabernáculo do testemunho no céu.

4. Sete anjos recebem as taças da ira de Deus – 15.6–8 - Após a abertura do santuário do

tabernáculo do testemunho, João vê saírem do santuário sete anjos vestidos de maneira apropriada para lembrar os sacerdotes que ocupam o santuário original no céu (Hebreus 9.24): linho puro e resplandecente, cingidos à altura do peito com cintas de ouro. Os sete anjos atuam como agentes de Deus, ao cumprirem as ordens divinas. Um dos quatro seres que estavam perto do trono de Deus (ver. 4. 6) deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da ira do Deus que vive pelos séculos dos séculos (v. 7). O número sete – número completo – simboliza a completação da ira que agora vai ser desencadeada sobre a terra. A ênfase dada no versículo à eternidade de Deus: “o Deus que vive pelos séculos dos séculos” lembra que, apesar de parecer que o mal domina os acontecimentos da História Humana, Deus é eterno e ninguém pode interpor-se aos Seus planos, nem mesmo a maldade diabólica. Deus é Eterno, Todo-Poderoso e Soberano. Deus tem o tempo próprio para tudo. O tempo de derramar “as taças da ira divina” era chegado.

Ao ser manifesta a “glória de Deus e o Seu poder” todo o santuário se encheu de fumaça e ninguém podia entrar no santuário, enquanto não se consumassem as sete pragas dos sete anjos (v. 8). Vemos, já no Velho Testamento, que quando Deus se manifestava aos homens, Eles costumava aparecer em uma glória tal que ninguém podia ficar de pé diante dEle (ver Êxodo 40. 35 ou I Reis 8. 10). Com o enchimento do santuário de fumaça pela glória de Deus e Seu poder e a ordem para os sete anjos derramarem as taças contendo as sete pragas, estava cumprido o tempo de espera que tinha sido pedido aos mártires do capítulo 6. 10 – 11. Naquela altura ainda havia um tempo de espera, agora o tempo terminara. Agora a retribuição divina aos pecadores perseguidores dos santos e da Causa de Deus era chegada. II. O JUÍZO DAS SETE TAÇAS – (Apocalipse 16.1–21)

As primeiras taças assemelham-se às primeiras quatro trombetas, como também a algumas

pragas mandadas sobre o Egito (Êxodo 7 – 10). A distinção aparente entre as duas séries no Apocalipse é que as trombetas terão o propósito de pressionar os habitantes na terra a se arrependerem. As taças, no entanto, terão a finalidade de aniquilação de todas as forças que lutam contra Deus, e remover a fonte de perseguição (especialmente as taças de número 5 a 7, versículos 10 a 21 do capítulo 16). Podemos ainda notar que os juízos das trombetas eram parciais, atingindo apenas uma terça parte da terra; os juízos das taças são totais e finais, pois atingem o mundo por inteiro. Os juízos das trombetas não atingem os homens até ao soar da quinta trombeta, porém, os juízos das taças atingem os homens desde o derramar da primeira taça. À medida em que as taças vão sendo derramadas, vai aumentando o juízo até vir a destruição final. As quatro primeiras taças derramadas sobre a terra, dirigidas contra a natureza, mas produziram seu efeito sobre os homens, causando doenças nos adoradores da besta, contaminação das águas do mar e dos rios e

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superaquecimento da temperatura. Atingidos por essas calamidades, os rebeldes nem por isso se arrependem. Ao contrário,não dão glória a Deus e ainda blasfemam contra Deus. As duas pragas seguintes (5 ª e 6 ª) são derramadas particularmente sobre os homens. A sétima taça da ira é derramada sobre a Babilônia (como vimos é símbolo, do qual falaremos mais tarde), capital do império do Anticristo.

O capítulo 15 representa a fase de preparação para a visão em si mesma, ao passo que o capítulo 16 descreve o aprofundamento da visão com a execução material do derramamento das taças. Os flagelos trazidos pelo derramamento das taças constitui o terceiro aí conforme descrito em 11. 14: “É passado o segundo ai; eis que cedo vem o terceiro.” O capítulo 17 inicia-se com João ouvindo a ordem vinda do santuário para que os anjos saíssem para o cumprimento de sua missão: “E ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide e derramai sobre a terra

as sete taças da ira de Deus” (v. 1). Esses julgamentos virão da parte de Deus e não como querem os deístas. Deus manuseia toda a Sua criação, fazendo intervenções, castigando ou galardoando aos homens. Os deístas ensinam que Deus abandonou a Sua criação, deixando-a entregue às leis naturais. Assim todas as catástrofes da natureza seriam decorrentes das leis naturais em si, sem o controle divino. As leis naturais existem e foram deixadas por Deus, mas Ele as usa ou as suspende de acordo com Sua vontade soberana, para beneficiar ou castigar os homens pela sua fidelidade ou rebeldia. Sabemos que o homem sofre as conseqüências ecológicas dos seus desatinos, mas não podemos esquecer que acima de tudo está Deus no controle do universo. Vemos por exemplo, o problema da fome, das enchentes, das secas, que vêm como conseqüências das atitudes agressivas ao meio ambiente, mas Deus as usa também para castigar a impiedade e idolatria dos homens. Outras vezes Deus castiga atingindo os elementos da natureza que venham a se refletir sobre a vida dos homens. Vimos isto nas pragas do Egito, nas visões das trombetas e veremos também aqui no derramar das taças. No versículo primeiro deste capítulo vemos que a ordem emana do santuário. É uma ordem vinda de Deus para castigar os adoradores da besta.

Façamos uma análise, ainda que ligeira de cada um dos flagelos causados pelo derramamento das sete taças da ira de Deus.

1. A primeira taça – 16.2 – “Então foi o primeiro e derramou a sua taça sobre a terra; e

apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.” Neste ponto começa o cumprimento da promessa feita no cap. 14. 9, 10: “Seguiu-se ainda um terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta e a sua imagem, e receber o sinal na fronte ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se acha preparado sem mistura, no cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro.”. A primeira taça foi derramada sobre a terra, mas ela não prejudicou a terra, mas ela caiu sobre os adoradores do anticristo e trouxe-lhes chagas fundas e malignas. Assim a praga da primeira taça provocará tremendo surto de úlceras entre os homens. Isto é uma repetição, em escala maior, da praga das úlceras, a sexta praga do Egito (Êxodo 9. 8 – 12). No caso das pragas do Egito, Moisés e Arão, por ordem divina, lançaram cinzas para o ar, diante dos olhos de Faraó. As cinzas tornaram-se em pó fino sobre toda a terra do Egito e como resultado apareceram tumores que arrebentaram em úlceras nos homens e nos animais. Aqui as úlceras brotarão como conseqüência do derramamento da primeira taça da ira divina. Com esta praga Deus fará que a corrupção no íntimo, a malignidade e a decadência do homem interior, aflorem até à pele, podendo ser vistas por todos. Deus fará que os adoradores da besta percebam como são, realmente, fazendo-os sofrer por isso.

Devemos notar que as pragas não atingem todos os homens, mas só aquelas que se deixaram enganar pelo besta (anticristo). O reino da besta será mundial. Só os que são leais a Cristo é que resistem às reivindicações satânicas. No tempo do fim a religião não será mais algo nominal; todos terão que declarar a sua lealdade ou a Cristo ou ao Anticristo. Os leais a Cristo sofrerão por causa

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do domínio do Anticristo e pela sua fidelidade a Cristo, mas quando os flagelos começarem, eles serão salvos dos seus efeitos maléficos, que só atingirão os que tiverem o sinal da besta.

2. A segunda taça – 16.3 – “O segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em

sangue como de um morto, e morreu todo ser vivente que estava no mar.” Podemos lembrar que a primeira praga do Egito foi a transformação das águas do rio Nilo em sangue (Êxodo 7. 17 – 21). Quando a segunda trombeta tocou, foi lançado ao mar como que um grande monte ardendo em fogo e a terça parte do mar tornou-se em sangue e morreu a terça parte das criaturas marinhas (8. 8 – 10). Agora com o derramar da segunda taça todas as criaturas do mar morrem. “O mar tornar-se-á como o ‘sangue de um morto’, imundo e coagulado, impossibilitando a vida no mesmo. Quantas indústrias e quanto da vida dos homens dependem do mar. Isso será um golpe severíssimo contra a humanidade, um prodígio de proporções capazes de levar os homens ao desespero mental. ‘O sangue é uma marca vívida e terrível da morte, o salário do pecado. Essa foi a primeira praga do Egito, o Nilo transformou-se em sangue... Mas agora será atingido o mar, que cobre a maior parte da superfície de nosso globo. Deus, que o criou, agora o transformará em sangue – ‘como um cadáver que jaz em seu próprio sangue coagulado’. – Portanto, bilhões, trilhões, cardumes de criaturas marinhas perecerão; e flutuarão à sua horrenda superfície, como testemunhas apodrecidas da iniqüidade dos homens!’ (Newell, in loc.). Basta esta praga para reduzir enormemente a população da terra, pois certamente ela provocará pragas horrorosas” (R. N. Champlin, op. cit. pág. 585).

3. A terceira taça – 16.4–7 – O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue. E ouvi o anjo das águas dizer: Justo és Tu, que és e que eras, o Santo; porque julgaste estas coisas; porque derramaram o sangue dos santos e de profetas, e Tu lhes tens dado sangue a beber; eles o merecem. E ouvi uma voz do altar, que dizia: Na verdade, ó

Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos.” - Esta praga tem alguma semelhança com a primeira praga do Egito, que atingiu não somente o rio Nilo, mas também as fontes, os poços e os ribeiros transformando-os em sangue. Ainda, podemos observar que quando a terceira trombeta tocou uma estrela chamada Absinto caiu na terça parte dos rios e sobre as fontes de água, tornando-as amargas. Muitos homens morreram em conseqüência da amargura das águas. Vemos que havia limitação: terça parte. Aqui para o flagelo causado pelo derramar da terceira taça não há limitação (a não ser para os que não têm o sinal da besta e não a adoraram). Podemos imaginar a terribilidade desta praga: para o judeu havia proibição de comer sangue, agora, imaginemos ter que beber sangue! Mas para qualquer pessoa quão terrível é não ter água para beber, em seu lugar encontrar apenas sangue! Um mundo sem água para beber é um mundo destinado à morte. As águas em vez de serem fontes de vida, com o derramar da terceira praga, tornam-se fontes de morte aos homens.. Essa punição poderia parecer pesada demais, mas o “anjo das águas” justifica a Deus no seu ato: “Justo és Tu, que és e que eras, o Santo; porque julgaste estas coisas: porque derramaram o sangue de santos e de profetas,e Tu lhes tens dado sangue a beber; eles o merecem.” E há a confirmação da justiça do ato de Deus através de uma voz do altar dizendo: “Na verdade, ó Senhor Deus Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos”. Sem poder interpretar o significado pleno desta praga, o fato concreto é: tudo o que o homem semear, ele o colherá. Deus castiga o homem de acordo com o seu pecado. Os juízos de Deus são retos. A voz do altar que proclama que, verdadeiros e justos são os juízos do Senhor Deus Todo-Poderoso, faz um contraste com o anticristo, o qual por algum tempo pretende ser todo-poderoso na terra usurpando a autoridade que não lhe pertence. O único Todo-Poderoso é Deus. Por isso Ele é o único Soberano a quem todos devem obediência e adoração. Uma observação sobre o uso da expressão “o anjo das águas.” Essa idéia é extraída da noção judaica helenista de que cada elemento da natureza é controlado pelos anjos. Assim teríamos os anjos dos quatro ventos, do calor, da geada, das águas, do fogo e assim por diante. Em Apocalipse 7. 1 vemos os quatro anjos retendo os quatro ventos da terra. No cap. 14. 18 lemos sobre

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o anjo que tinha o poder sobre o fogo. Os judeus chegaram a dar nomes para alguns desses anjos. O anjo Niconias seria o encarregado das fontes e valados: Admael seria o anjo da terra. João não discute o assunto; apenas toma por empréstimo estas expressões no livro do Apocalipse. O que João deixa claro é que Deus controla tudo, nada havendo fora da Sua influência: bênção ou maldição, dependendo de como os homens se portam em santidade ou impiedade. Os anjos são mensageiros de Deus e executam a Sua vontade.

4. A quarta taça – 16.8–9 – “O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo. E os homens foram abrasados com grande calor; e blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para Lhe darem glória.” Esta quarta praga não tem seu paralelo nas pragas do Egito.Na quarta trombeta o sol também foi afetado em sua terça parte, bem como a lua e as estrelas. Aqui só o sol é afetado, mas de modo diferente. Na trombeta foi para que escurecesse a terça parte do dia. No derramar da quarta taça, o poder de aquecimento do sol é aumentado imensamente. Os comentaristas divergem quanto ao modo que isto pode acontecer. Alguns pensam que pode ser a redução da atmosfera protetora da terra, de tal modo que os raios solares atinjam à superfície do planeta sem o crivo do escudo protetor da atmosfera. Outros, cremos que com maior razão, o próprio poder do sol será tremendamente aumentado, de tal modo que abrase os homens com fogo. Neste caso haveria uma perturbação solar, totalmente produzida pela vontade divina. É importante observar que o texto constata que as pessoas atingidas reconheceram tratar-se de uma ação divina; mas os seus corações estão tão endurecidos e teimosos pro terem escolhido seguir a besta que, em lugar de caírem de joelhos para confessar humildemente o reconhecimento do poder de Deus e de sua dependência dEle, “blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para Lhe darem glória” (v. 9b).

5. A quinta praga – 16.10–11 – “O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta,

e o seu reino se fez tenebroso; e os homens mordiam de dor as suas línguas. E por causa das suas dores, e por causa das suas chagas. Blasfemaram o Deus do céu; e não se arrependeram.” As quatro primeiras pragas são chamadas por alguns de “as pragas naturais”, uma vez que envolvem elementos da natureza. As três últimas são chamadas “pragas políticas”, pois afetarão o trono da besta, prepararão o caminho dos reis para a batalha final e atingirão a Babilônia e as cidades das nações (respectivamente, quinta, sexta e sétima taças).

A quinta praga atinge diretamente o centro do poder da besta. Isto demonstra mais uma vez que o flagelos causados pela ira de Deus, não representam a Sua ira contra os pecados dos homens de um modo geral, mas representam a Sua ira derramada sobre a civilização demoníaca dos últimos dias. Sabemos que os males que os homens sofrem em todas as gerações representam a ira de Deus contra os seus pecados, como Paulo afirma em Romanos 1. 18: “Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.” Porém no caso dos flagelos são por causa da rebeldia contra Deus e da aceitação e adoração da besta.

Podemos notar que as três últimas pragas (5 ª à 7 ª) têm semelhança com as três das pragas do Egito. O derramar da quinta taça sobre o trono da besta traz escuridão sobrenatural, semelhante à praga das trevas no Egito (ver Êxodo 10.21–23). Não se trata de três dias de escuridão, mas o trono e o reino da besta são castigados com trevas que produzem angustiantes dores e úlceras. A dor será tão intensa que os homens morderão suas línguas. O texto não fornece nenhuma pista da ansiedade e sofrimento que levavam as pessoas a remorderem as suas línguas. Michael Wilcock tece o seguinte comentário sobre este quinto flagelo: “O trono da besta é, de alguma forma, o maior golpe de Satanás. Ele invadiu toda a estrutura da sociedade humana, levando-a para longe do propósito inicial de Deus, pervertendo-a para satisfazer seus próprios fins. O resultado é o ‘mundo’, a organização da sociedade humana, alienada de Deus.(...) É o reino da besta em oposição ao reino de Cristo. E é sobre isto – sobre esta imponente estrutura, fruto do triunfo laborioso do dragão, sobre este reino coroado com o trono, e com o trono ocupado pela besta – que o quinto flagelo é

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derramado; e daí é a confusão. Quando uma sociedade alienada de Deus – que se levantou tão orgulhosamente contra Ele e contra a Sua igreja, e que declarou ser capaz de produzir uma alternativa viável – demonstra ser incapaz disso, fica então provado de maneira inexorável que Deus tinha razão” (op. cit. pág. 118). Nem mesmo com o flagelo da quinta taça, torcendo-se em dores, mordendo suas línguas, os seguidores da besta darão glória a Deus; ao contrário, por causa das suas dores e por causa das suas chagas, blasfemarão o Deus do céu e não se arrependerão de suas obras.

6. A sexta taça – 16.12–16 – “O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do oriente. E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi saírem três espírito imundos, semelhantes a rãs. Pois são espíritos de demônios, que operam sinais; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo, para os congregar para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso” ( 16. 12 – 14). “Este sexto flagelo é diferente dos outros, porque não inflige uma praga sobre a humanidade, mas serve de preparo para a batalha final. Ele é semelhante à sexta trombeta, quando quatro anjos foram soltos de além do rio Eufrates, para liderar uma invasão de exércitos praticamente incontáveis de cavalaria demoníaca, que matou a terça parte da raça humana ( 9. 13 – 19). Vimos que Antigo Testamento o rio Eufrates é o limite da terra prometida, e atrás dele hordas de pagãos aguardavam por uma oportunidade de invadir o povo de Deus. Os profetas, às vezes, viam o rio Eufrates secar como prelúdio para o momento em que Deus reunirá Seu povo disperso em seu próprio país (Isaías 11.15–16). No presente exemplo o rio seco representa simbolicamente a remoção da barreira que retinha as hordas pagãs” (George Ladd, op. cit. pág. 157). Logo o secar do rio Eufrates simboliza a remoção das barreiras como preparação do caminho dos reis que virão combater juntamente com todas as forças aliadas à besta contra o Cordeiro e Seus fiéis.

6.1. Trindade demoníaca – 16.13 - No v. 13 deixando de lado a figura dos reis que virão do oriente, João passa a descrever a ação da trindade demoníaca: dragão, primeira besta (o anticristo) e da segunda besta (o falso profeta). Da boca deles saem três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Estes três espírito imundos, com semelhança de rãs, são espírito de demônios enviados pelos três aliados malignos para enganar os reis do mundo, a fim de que se aliem ao seu lado na batalha final que se aproxima. Recordamos que ao soar a sexta trombeta veio do oriente um exército incontável de cavaleiros, cujos cavalos lançavam de suas bocas fogo fumaça e enxofre e tinham caudas semelhantes a serpentes. Terça parte dos homens morreram com esta praga. Aqui na sexta praga a situação é diferente. Eles não afligem as pessoas, mas as inspiram para que se aliem ao dragão, à besta e ao falso profeta. Simbolicamente este movimento não é meramente político ou militar, mas uma manifestação escatológica histórica da luta secular entre Deus e Satanás.

6.2. Os espíritos demoníacos – 16.14 - O v. 14 esclarece o v. 13, dizendo que estes espíritos

imundos são espíritos demoníacos que operam sinais com o propósito de os reis e povos de todo o mundo. Mais uma vez lembramos o que temos dito muitas vezes: cuidado em querer ver e crer em sinais. Quanto mais perto estivermos do final, mais sinais miraculosos aparecerão. Precisamos sabedoria divina para saber discernir o que não provém de Deus. Neste sentido notemos o parêntesis introduzido entre os versículos 14 e 15 para uma séria advertência quanto à precaução que devemos ter para não sermos enganados. Novamente a palavra grifada é cuidado. Provai os espíritos conforme tivemos oportunidade de estudar nas epístolas do apóstolo João. A trindade demoníaca vomitará espíritos imundos nesta terra, para que eles enganem os homens e torná-los seus aliados. Ele tentará iludir os próprios salvos. Por isso vejamos o parêntesis introduzido no derramar da sétima taças da ira de Deus.

6.3. Solene advertência do Senhor - 16.15 - “Eis que venho como ladrão. Bem-

aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua

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nudez.” O mundo estará caminhando para a sua consumação. As forças do mal estarão unindo-se ao anticristo. Os espíritos demoníacos estarão operando sinais. Diante deste quadro, os verdadeiros crentes devem estar vigilantes. Interrompendo a descrição da reunião das hostes malignas, o Senhor introduz um parágrafo de advertência. Os santos não devem e nem podem comprometer-se com o inimigo, mesmo que o testemunho venha a custar a própria vida. Sinal algum deve demover-nos da nossa fé e fidelidade ao Senhor. Quando, diante de um quadro como descrito, o perigo ameaça os verdadeiros crentes, o Senhor alerta-os para que estejam preparados espiritualmente. Não é a advertência para ficarem preparados para a invasão dos reis e tropas pagãs, mas quando a sua vida espiritual e o seu testemunho. Nós, os crentes, devemos saber que a última realidade não é a guerra dos reis aliados sob a liderança do Anticristo, mas é o fato da volta do Senhor. A nossa esperança para a vitória final e a solução de todos os problemas e males está na volta do Senhor. Com Sua volta todas as forças malignas serão vencidas, julgadas e lançadas no fogo eterno. Não podemos esquecer que o Senhor vem como ladrão. Como vem o ladrão? Ele sempre vem quando estamos menos apercebidos. Se soubéssemos a hora em que o ladrão viria, tomaríamos as providências necessárias para que ele não pudesse cumprir o seu intento. Jesus no sermão profético disse: “Mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos: porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá” (Mateus 24.43–44 ). Mesmo com todos os acontecimentos indicando que a volta do Senhor está próxima, não sabemos quando isto ocorrerá. Sabemos que pode ser a qualquer instante. Daí a bem-aventurança do Senhor (a terceira do livro do Apocalipse) para aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez. As vestes aqui estão no sentido conotativo ou figurado. Os crentes da igreja de Laodicéia foram também advertidos para a necessidade de buscarem vestiduras brancas para se vestirem, a fim de que não fosse manifesta a nudez deles (Apoc. 3. 18). A referência é as vestes espirituais e nudez espiritual. Os homens sem Cristo ainda que fisicamente estejam bem vestidos, mas diante dos olhos divinos estão nus espiritualmente. A vida de pecado e rebeldia só fornece trapos imundos para o seu espírito. Como crentes em Cristo Jesus, nós precisamos cultivar a nossa vida espiritual, crescer na nossa fé para com Deus e cultivar uma comunhão tal com Ele, que estejamos sintonizados com a Sua vontade. Deste modo estaremos preparados para não sermos enganados pelos homens e pelos espírito demoníacos. Não estaremos ansiosos por novidade, buscando sinais, milagres e prodígios. Teremos plena convicção daquilo em que temos crido e do alvo da nossa fé: Jesus Cristo. Confiaremos cada vez mais nos ensinos da Bíblia e permaneceremos firmes na fé que abraçamos quando recebemos Jesus Cristo como nosso Salvador e Senhor.

6.4. Os aliados do Anticristo congregam-se no Armagedom – 16.16 – “E eles os

congregaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom.” O derramar da sexta taça preparou o cenário da batalha de Armagedom. Este termo Armagedon é uma transliteração do hebraico: har

megiddo que literalmente significa monte ou colina de Megido. O problema de querer localizar o Monte Megido, é que Megido não é uma montanha, mas uma planície localizada entre o mar Mediterrâneo e o sul do lago da Galiléia – o vale ou planície entre os montes Carmelo e Tabor, fazendo parte do vale de Jezreel ou Esdraelon. No livro de Crônicas temos uma referência a Megido, mas como vale: “Todavia Josias não quis virar dele o seu rosto, mas disfarçou-se para pelejar contra ele e, não querendo ouvir as palavras de Neco, que saíram da boca de Deus, veio a pelejar no vale de Megido” (II Crônicas 35.22). Neste vale havia um cômodo com cerca de 112 metros de altura, nas vizinhanças da serra do Carmelo. Neste vale ou planície travaram-se muitas batalhas importantes do Velho Testamento: Gideão e seus trezentos homens derrotaram os midianitas; Débora e Baraque venceram as hostes do rei cananeu Jabin; o rei Acazias ali morreu pelas setas de Jeú e o rei Josias morreu diante das tropas do Faraó Neco. Megido também foi a cidade fortificada pelo rei Salomão. Este vale era o local em que os exércitos vindos da África para a Ásia tinham que passar e vice-versa. Era, portanto,um local estratégico. No livro do Apocalipse a palavra Armagedom aparece uma única vez no capítulo 16. 16, como local em que as forças

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lideradas pelo Anticristo e seus aliados se congregaram para a batalha final que será descrito no capítulo 19 a partir do versículo 11. Fica a indagação porque o apóstolo chama de Monte Megido, se não era realmente um monte. Uma das explicações é que ele, ao ver a batalha escatológica, tem em mente a profecia de Ezequiel sobre a restauração de Israel no últimos tempos. O profeta Ezequiel vê uma batalha escatológica sobre os montes de Israel ( Ezequiel 38. 8, 21; 39. 2, 4 e 17). Por esta razão ele teria ligado monte a Megido, pois esta batalha a ser travada será também a batalha final. Independentemente da origem do termo Armagedom, está claro que com este termo o apóstolo quer dizer o lugar da batalha final entre os poderes do mal e o Reino de Deus. Quanto à interpretação da batalha do Armagedom também há dificuldade. Uns querem tomar no sentido literal, em que tropas dos exércitos das nações coligadas ao Anticristo reunir-se-ão para batalhar contra Israel e seus aliados numa batalha final e decisiva. Antonio Gilberto, em seu livro Daniel e Apocalipse, dá entender que aceita que será uma batalha militar literal dizendo “Aí se concentrará o grosso das forças ao chegarem a Israel (...) Aqui, os reis da terra, instigados por demônios, concentrarão suas tropas e material, para destruírem Israel e lutarem contra Deus durante a Grande Tribulação serão destruídos sobrenaturalmente pelo poder de Cristo, na sua vinda com glória e majestade” ( pág. 164 e 165). Wim Malgo, escreve: “Quem são os reis que vêm do lado do nascimento do sal? Para reconhecer isso, precisamos estudar o mapa-múndi e estudar um pouco da História Mundial. Trata-se das gigantescas potências asiáticas como o Japão (que tem um sol nascente em sua bandeira), a China (a velha China tem como símbolo um dragão) e a Índia. Assim como Espírito Santo atrai pessoas de todas as nações a Jesus Cristo, esses espíritos demoníacos em Apocalipse 16 atraem os chefes das nações, e com isso os povos inteiros, para Israel. Não somente os reis que vêm do lado do nascimento do sol, mas todos os reis da terra serão ajuntados contra Israel (v. 14). Pois qual é o objetivo do futuro ataque, cuja preparação já notamos? Na minha opinião, o versículo 14 dá uma resposta. Lá é descrito o que fazem os espíritos imundos, que saem da boca do dragão, da besta e do falso profeta: ‘...são espírito de demônios, operadores de sinais, se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajunta-los para a peleja do grande dia do Deus Todo-Poderoso.” (v. 14). Essa é a última guerra, que de acordo com o versículo 16 acontecerá em Armagedom. O objetivo desse ajuntamento é, portanto, a grande peleja na qual, conforme Zacarias 14. 2, todas as nações da terra estarão reunidas contra Jerusalém. Essa é a última guerra mundial antes da vinda do Senhor” ( Apocalipse de Jesus Cristo, Um Comentário para a nossa Época, vol. III, de Wim Malgo, pág. 111). R. N. Champlin também aceita que será uma batalha o sentido literal, chegando a afirmar que será o fim da Quarta Guerra Mundial, que ocorrerá por volta de 2020, tendo como carro-chefe a China, que segundo ele iria conquistar largas fatias da Europa e União Soviética (op. cit. pág. 591). Devemos notar que ele previu uma Terceira Guerra Mundial que ocorreria por volta de 1999, em que uma federação de dez reinos, encabeçada pelo AntiCristo, e União Soviética, sendo que a Rússia ocuparia Israel e terra circunvizinhas. Ele disse que a União Soviética faria chover bombas atômicas sobre as cidades costeiras dos Estados Unidos. (op. cit. pág. 574). Estamos citando isto para mostrar o perigo do dogmatismo em matéria escatológica que não está claramente revelada na Bíblia e de fazer previsões com datas estabelecidas. A União Soviética desapareceu, com o desmembramento de várias nações daquele bloco e a dita guerra e bombardeio não aconteceram. Se não ocorreu a terceira guerra mundial, a quarta não poderá acontecer antes de vir uma terceira, se é que virá. Só o Senhor o sabe.

Há outros que pensam que é no sentido simbólico, como por exemplo faz Ray Summers: “Assim Megido simbolizava muito bem a angustiosa situação universal da retidão e do mal empenhados numa batalha de vida ou morte. Esta guerra não é travada com espadas ou lanças materiais, não. Esta batalha está ligada a todos os ensinos do Novo Testamento, aos ideais sustentados por Jesus, à sua morte na cruz, e a todos o divinos propósitos da graça. O caminho de Jesus nunca foi o da espada material. Sua espada é a espada do Espírito – A Palavra de Deus. Se alguém achar que aqui se trata de uma batalha literal ou material, devemos esperar que ele admita que o exército do mal seja comandado por um quartel-general, composto de três rãs! É claro que esta visão é simbólica, e nada aqui é literal. Não há motivo para se achar que uma destas figuras

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seja simbólica e a outra literal. Este lugar – Armagedom – de que nos fala o Apocalipse não se encontra no mapa de nenhuma nação da terra. É um lugar que se relaciona com o que vai decidir o resultado não são os armamentos materiais ou físicos; ela se trava entre a retidão e o mal, e da retidão certamente é a vitória” (op. cit. pág. 252 ). O autor de Pontos Salientes, do ano de 1992, Jonas Celestino Ribeiro concorda com esta idéia dizendo: “O local da batalha é o Armagedom, local não localizável nos mapas bíblicos, o qual é, possivelmente, Megido, a cidade fortificada por Salomão, em cujo vale travaram-se as mais decisivas e importantes batalhas do povo de Israel (Juízes 5. 19 – 21; II Reis 9. 27; 23. 29). Próximo a Megido, os exércitos vindos da África e da Ásia tinham que passar para a guerra. O Armagedom é um nome simbólico para designar a batalha final entre Cristo e o Anticristo e, portanto, não tem lugar definido no mapa do mundo” (pág. 208). O pr. Macéias Nunes, na revista Exposição, ao estudar este assunto diz: “João se apropria desse episódio para falar da vitória do Cordeiro contra os inimigos de Deus, na consumação da história. Triunfo espiritual, sem necessidade de uso de armas humanas para esse fim. A aproximação do terceiro milênio (ele escrevia no ano de 1999) tem levado muitas pessoas, cristãos fiéis entre elas, a esperar que o Apocalipse se cumpra literalmente, incluindo a batalha de Armagedom. Há quem esteja se preparando para estar em Jerusalém na virada do milênio para lutar contra as forças do mal. Esse tipo de iniciativa apenas confunde as coisas e reforça a pecha de fanáticos contra os cristãos. Na realidade, a guerra espiritual dos crentes contra Satanás e seus anjos se cumpre em qualquer lugar, a qualquer tempo e sob qualquer forma. Onde quer que haja poderes humanos que desejem usurpar o lugar, o poder e a glória de Deus, essa luta está presente e será finalizada no Armagedom que Deus estabelecerá, quando, onde e como quiser” (op. cit. pág. 88). O Dr. Russel P Shedd, deixa a questão em aberto, se é no sentido literal ou simbólico: “De maneira imprecisa entendemos que esta batalha ao pé do Monte Megido (ou seria o monte bem próximo chamado Carmelo lembrando como Elias travou luta contra as forças satânicas de Baal e as venceu), no norte da Palestina, será decisiva. Não fala necessariamente duma localidade em Israel moderno, mas pode ser símbolo da Igreja, resistindo ‘no dia mau’ (aqui é também o dia de Deus) à totalidade do poder de Satanás” ( 0p. cit. pág. 52). George Ladd conclui sua argumentação sobre Armagedom dizendo: “Seja qual for a origem do termo, está claro que com Armagedom João quer dizer o lugar da batalha final entre os poderes do mal e o Reino de Deus” (Op. cit. pág. 160).

Uma última citação: “O derramamento do quinto flagelo puniu a todos que não se arrependeram, com as tribulações de uma sociedade que perdeu as engrenagens. As coisas vão muito mal quando o reino da besta funciona de forma apropriada; porém, quando alguma engrenagem se perde ou pára, as coisas são infinitamente piores. O sexto flagelo é o próximo e último estágio da punição divina, e nele os propósitos de Deus e de Satanás convergem de forma macabra. Tendo visto que a sua tentativa de perverter a sociedade humana falhou, Satanás diz: ‘Se não posso mais perverter, destruireis’; e ele, e a besta, e o falso profeta inspiram os reis da terra, já incapazes de manter o inconstante balanço da paz, a um frenesi de destruição mútua. Os armamentos são multiplicados, os exércitos marcham e os homens morrem – não os seus parentes, mas eles mesmos; pois da mesma forma que a sexta trombeta foi a última advertência, trazendo morte ante seus olhos, o sexto flagelo é a última punição, trazendo morte para todos eles. Mas enquanto Satanás diz: ‘Destruirei’, Deus diz: ‘Você vai mesmo’. O propósito de Satanás é conquistar o poder; o propósito de Deus é executar a Sua justiça. O resultado é o mesmo: Armagedom. O Armagedom é, portanto, o fim. Quando ‘o grande dia do Deus Todo-Poderoso’ vier, os poderes deste mundo defrontar-se-ã0 de forma súbita com o Senhor que rejeitaram, vindo tão inesperadamente quanto a citação de suas palavras que aparecem neste capítulo, no versículo 15. Essa batalha será a última: o tormento no quinto flagelo será seguido pela destruição no sexto, assim como as trevas que caíram sobre o Egito foram seguidas pela morte, na noite da primeira Páscoa. Mas mesmo que o sexto flagelo se refira principalmente ao último dia, não podemos esquecer-nos de que a qualquer momento que a destruição venha sobre o pecador não arrependido, esse é para ele o ‘último dia’, o fim do seu mundo, e a confrontação final com Cristo, o qual vem

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sempre como um ladrão, quando é menos esperado pelos homens” (Michael Wilcock, op. cit. pág. 120 e 121). Uma palavra final sobre a discussão do Armagedom. Pelas citações destes autores e de outros que poderíamos apresentar, podemos sentir a dificuldade da interpretação do Armagedom. O que podemos dizer com certeza é que o nome Armagedom tornou-se o nome simbólico do campo de batalha decisiva na luta entre as forças do bem e do mal, e que coincidirá ou antecederá por pouco a volta de Cristo. Se esta guerra será no sentido real ou simbólico (batalha espiritual) é difícil dizer. Precisamos estar com os corações abertos em comunhão com Deus para no tempo próprio sabermos fazer o discernimento necessário. É por isso que no verso que antecede o local em que os reis se reunirão, o Senhor alerta: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez” (v. 15). Diante de tal dramático acontecimento, é necessário que o povo de Deus tenha em mente que Cristo voltará como um ladrão. Os verdadeiros cristãos não devem se comprometer com o inimigo mesmo quando bom testemunho pode custar o sacrifício de suas vidas. O perigo dos santos não é ficarem mal preparados para a invasão dos reis e tropas pagãs, mas o despreparo espiritual

7. A sétima taça - 16.17–21 – “O sétimo anjo derramou a sua taça no ar; e saiu uma voz do santuário, da parte do trono dizendo: Está feito. E houve relâmpagos e vozes e trovões; houve também um grande terremoto, qual nunca houvera desde que há homens sobre a terra, terremoto tão forte quão grande; e a grande cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram; e Deus lembrou-se da grande Babilônia, para lhe dar o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não mais se acharam. E sobre os homens caiu do céu um uma grande saraivada, pedra quase do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraivada; porque a sua praga era muito grande.” A sétima taça sinaliza o término da História da época presente ou seja a História do homem aqui nesta terra dominada pelo pecado. A civilização inteira é atingida, indicando catástrofe mundial, porque “a grande cidade fendeu-se em três partes” – indicando ruína total – e “caíram as cidades das nações” – todas as grande cidades são atingidas e ruem .O juízo de Deus é finalmente derramado sobre os iníquos em forma de saraiva, cada uma pesando cerca de um talento (talvez uns 20 quilos). Os homens blasfemarão de Deus e não se arrependerão. O mal havia endurecido tanto os seus corações que mesmo sofrendo e sabendo que era o juízo de Deus não se arrependerão. A sétima taça completa o juízo de Deus, as forças do mal não conseguem prevalecer sobre as forças da justiça. Uma grande voz saindo do santuário proclama: Está feito! O juízo de Deus estará concluído.

Este sétimo flagelo é um relato antecipado do julgamento de Deus sobre Babilônia, a sede do poder da besta. O relato detalhado e a queda de Babilônia virá nos próximos capítulos ( 17.1 – 19. 10). Aqui apenas é anunciada a derrota das forças do mal, para depois ser relatada, ainda que simbolicamente, em seus detalhes. No v. 19 lemos que Deus Lembrou-se da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor de sua ira. Estas palavras mostram que durante o curto período do reinado do Anticristo parecerá que Deus esqueceu-se do seu povo, deixando-o sofrer nas mãos da besta e seus aliados. O mal aparentemente estará triunfando, sem nenhum perspectiva de libertação. Mas Deus não esquece. Deus se lembra e Ele se lembrará do poderoso inimigo do seu povo, para retribuir-lhe com toda a justiça. Deus tem o seu tempo próprio. “A narrativa apocalíptica de João está agora se aproximando rapidamente do seu fim. Ele nos levou através do tempo de grande tribulação, com a terrível perseguição dos santos pelo Anticristo, e nos mostrou uma civilização rebelde e anticristã, que não se curva e não se arrepende sob a ira de Deus derramada sobre ela nas pragas das sete trombetas e das sete taças. O sétimo flagelo não foi uma praga, somente anunciou o fim, a destruição de Babilônia em particular, um acontecimento já anunciado ( 14.8). Agora só falta relatar a vinda do fim. João dá primeiro o lado negativo da vitória divina, ou seja, a destruição da civilização rebelde, anunciada pelo sétimo flagelo ( capítulos 17 e 18), e depois fala da volta de Cristo em triunfo, seu reinado vitorioso, e por fim o estabelecimento do novo sistema, com novo céu e nova terra (capítulos 21 – 22)” ( George Ladd, op. cit. pág. 162).

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CONCLUSÃO

Como conclusão deste estudo das sete taças queremos destacar algumas lições práticas, além

das que já foram apresentadas enquanto comentávamos cada uma das taças da ira divina. 1. O cântico celestial - A nossa lição começou com a aparição de um sinal notável, sete

anjos com as sete taças e o Coro Celestial dos remidos de todos os tempos entoando o Cântico de Moisés e o Cântico do Cordeiro em adoração a Deus. No estudo do Apocalipse temos visto muitas vezes os louvores celestiais. Pensando nos belos hinos de louvor, o nosso pensamento se volta para o que vemos na maioria das nossas igrejas. A propósito transcrevemos um parágrafo de R. N. Champlin: “ O poder da música. Quão trágico e ultrajante é que a música dos clubes noturnos seja trazido às igrejas evangélicas! Mas isso é o que está sucedendo em nossos próprios dias. A música inspira estados metafísicos, e não deveria ser manuseada superficialmente. No presente contexto, fica implícito o contraste entre a degradação dos adoradores do anticristo e os adoradores santos do Cordeiro. A música é um elemento que pode dizer-nos o que é o quê. Não poderá haver música elevada e inspiradora da alma, no culto ao anticristo. Quão terrível é introduzir nas igrejas locais a música que exalta os ideais ímpios, conferindo-lhes ‘palavras de cunho cristão’. A música ímpia jamais poderá tornar-se o veículo de verdadeiras conversões, e nem a verdade cristã pode ser expressa por seu intermédio. O cântico que figura neste contexto glorifica a vitória de Cristo sobre o mal. Como se poderia usar música má para celebrar tal vitória?” (op. cit. vol. 6, pág. 580).

2. Falso evangelho, uma arma para o diabo – Na revista da Juerp, Atitude, quarto trimestre de 2000 sob esse título o autor faz algumas considerações com o título deste parágrafo quando estuda o mesmo tema de nossa lição de hoje. Chama a atenção para o fato de em nosso dias estarem surgindo aqueles que “operam sinais” e arrebanham multidões que cegamente acreditam serem os “sinais” operação divina. Destaca ainda que devemos “estar atentos não apenas às operações mediúnicas realizadas pelos espíritas, nas quais os demônios incorporados em pessoas executam cirurgias sem nenhuma anestesia e as pessoas não sentem dor e nem sangram. Devemos estar em alerta para um ‘espiritismo evangélico’ que tem aparecido no meio do povo de Deus. Há tempos surgiu a onda do dente de ouro, depois o sopro, o paletó de fogo, agora o sapateado do ‘espírito’. Impõem ao povo um falso evangelho, com uma falsa propaganda. Baseiam-se exclusivamente em experiências, sem o crivo do Novo Testamento. Nosso Senhor, prevendo o aparecimento desses inescrupulosos falsos profetas, deixou-nos claro que o sinal de ser salvo não é a operação de milagres e maravilhas. Veja o alerta de Jesus: ‘Muitos me dirão naquele dias: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres?’ (Mat. 7. 22). A resposta de Jesus será ‘nunca vos conheci’” (Atitude, Juerp, 4 º Trimestre 2000, pág. 46).

3. Não se comprometer com o inimigo – No derramar da sexta taça, ao falar da reunião dos aliados do Anticristo, antes de assinalar o local em que se congregarão, o Senhor faz um advertência sobre sua volta inesperada (16. 15) e a necessidade de estarmos preparados observando todos os seus ensinos. A razão da advertência é porque há o perigo dos salvos comprometerem-se com o inimigo. Numa mundo como este em que estamos vivendo, recebendo tanta influência da sociedade ímpia dos nossos dias, se não estivermos em atitude de alerta, corremos o risco de aceitar pacificamente práticas que comprometem a nossa fé cristã. Muito cuidado com aquilo que aceitamos naturalmente, mas que são contra os princípios do verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 09

O FIM DE BABILÔNIA

Texto bíblico: Apocalipse 17.1–19.10 Texto áureo: “Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma imensa multidão, que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus; porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.” (Apocalipse 19. 1 e 2). INTRODUÇÃO

Do ponto de vista literário o livro de Apocalipse está divido em quatro visões: 1ª cap. 1 a 3; 2 ª cap. 4 a 16; 3ª cap. 17.1–21. 8 e a 4ª 21.9 – 22.21. No estudo de hoje consideraremos o fim de Babilônia. Sentidos de Babilônia: capital dos babilônios; depois a Roma antiga e a escatológica. Babilônia veio a personificar a maldade, a sociedade ou sistema alienado de Deus. Simboliza a ideologia do mal, que exalta o sistema do dragão em oposição à ideologia divina. I. A VISÃO DA GRANDE PROSTITUTA MONTADA NA BESTA – Apoc. 17 1. Um dos sete anjos chama João para ver a condenação de Babilônia – 17.1-2 1.1. Babilônia assentada sobre muitas águas – 17.1b 1.2. O vinho da prostituição de Babilônia – 17.2 2. A visão propriamente dita – 17.3-18 2.1. A visão da mulher montada na besta cor de escarlata – 17.3–6a 2.1.1. A descrição simbólica da grande prostituta - 17.4-5 2.1.2. A mulher embriagada com sangue – 17.6a 3. A admiração de João e a explicação do anjo – 17.6b-18 3.1. O porquê da admiração de João 3.2. A pergunta do anjo – 17.7 3.3. A explicação do mistério – 17.8-14 3.4. Explicação adicional – 17.15 3.5. A destruição da meretriz – 17.16-18 II. A VISÃO DA QUEDA DE BABILÕNIA E AS LAMENTAÇÕES SOBRE A TERRA – Apocalipse 18 1. A queda de Babilônia – 18.1-3 1.1. A visão do anjo de grande poder – 18.1 1.2. Anunciada a queda de Babilônia – 18.2 1.3. A causa da queda de Babilônia – 18.3 2. Aviso ao povo de Deus – 18.4–5 – “Sai dela povo meu” 3. O clamor por vingança – 18.6-8 4. O lamento dos reis da terra e dos mercadores – 18.9-16 5. O lamento dos pilotos e navegantes – 18.17-19 6. Voz de alegria e louvor – 18.20 7. Novo anúncio da destruição de Babilônia – 18.21-24

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III. ALEGRIA E TRIUNFO NO CÉU PELA QUEDA DE BABILÕNIA – Apoc. 19.1-10 1. Louvor a Deus pela execução de sua justiça – 19.1-2 2. Louvor e adoração dos vinte e quatro anciãos e dos quatro seres viventes – 19.4 3. Conclamação a que todos louvem a Deus – 19.5 4. Triunfo de Deus e as bodas do Cordeiro – 19.6-8 5. A bem-aventurança dos convidados à ceia das bodas do Cordeiro – 19.9–10 CONCLUSÃO

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ESTUDO N º 09 – O FIM DE BABILÔNIA

Texto bíblico: Apocalipse 17.1–19.10 Texto áureo: “Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma imensa multidão, que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus; porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.” (Apocalipse 19.1 e 2). INTRODUÇÃO

Antes de começarmos o estudo de hoje chamamos a atenção dos irmãos para o fato de que o Apocalipse do ponto de vista literário está divido em quatro visões. A primeira contém a visão do Cristo glorificado e suas cartas às sete igrejas (capítulos 1 a 3). A segunda a abertura dos selos, as sete trombetas e as sete taças ou os sete flagelos (capítulos 4 a 16). A terceira visão contém a revelação da consumação do plano de redenção divino (capítulos 17. 1 – 21. 8). A quarta e última visão, a Jerusalém Celestial (capítulos 21. 9 – 22. 21). A terceira divisão do ponto de vista literário começa com a visão do fim de Babilônia. As taças derramadas sobre a terra preparam o leitor do Apocalipse para ver as causas e os meios que provocam a queda de Babilônia. O nome Babilônia já havia sido mencionado em 14. 8 e em 16. 19, quando já se anunciava a queda e a ruína de Babilônia No decorrer de toda a lição estaremos falando na Babilônia. Por isso é bom que, logo de início, tenhamos uma idéia do que o autor tem em mente ao falar Babilônia. Todos sabemos que a antiga Babilônia foi a famosa capital dos caldeus; os babilônios. Era uma cidade muito antiga, mas tornou-se forte e poderosa no tempo de Nabucodonosor. A Enciclopédia Delta Universal diz que Babilônia significa portão de Deus (vol. 2, pág. 1033). A cidade ficava cerca de 97 km ao sul da atual Bagdá (capital do Iraque), nas margens do rio Eufrates. A cidade tinha o formato de um imenso quadrado divido ao meio pelo rio Eufrates. Era cercada de grandes muralhas enfeitadas com tijolos azuis esmaltados e pinturas de animais mitológicos. Os portões da cidade eram de bronze. Ali foram feitos os Jardins Suspensos de Babilônia, que eram considerados como uma das sete maravilhas do mundo antigo.O Reino do Sul a partir do ano 605 A. C. é levado cativo, em três levas, por Nabucodonosor para a Babilônia. Em 539 a cidade de Babilônia é tomada pelos persas e anos depois completamente destruída. Babilônia passa a ser sinônimo de depravação, idolatria. No próprio Dicionário da Língua Portuguesa o termo, babilônia, consta como “tudo o que é muito grande; confusão, balbúrdia”. Nos dias apostólicos o nome próprio, Babilônia, era usado pelos cristãos para referir-se à cidade de Roma. Ainda que o termo no livro de Apocalipse possa ser tomado como símbolo da cidade de Roma, vai muito além deste sentido. Babilônia veio a

personificar a maldade, a sociedade ou sistema alienado de Deus. Babilônia simboliza a

ideologia do mal, que exalta o sistema do dragão, alienado de Deus, a uma posição de autoridade, em oposição à ideologia divina. João emprestou ao termo o simbolismo do Velho Testamento, usando Babilônia para representar a manifestação final de rebeldia de toda a história das nações pagãs. Já naquela época Babilônia tornara-se símbolo da rebelião da humanidade que concretamente se manifestava em Roma e futuramente se concentrará no reino do Anticristo. Assim, historicamente no início representava Roma do primeiro século, mas o significado completo de Babilônia é escatológico. Como Roma conquistou muitos povos, exercendo sua força e soberania sobre eles, a Babilônia escatológica seduzirá o mundo todo para adorar o que não é Deus. Estará a serviço do dragão e da besta.

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Adeptos da escola futurista acham que as referências à Babilônia no Apocalipse é no sentido literal: a cidade será restaurada nos últimos dias. Ainda que vez por outra ouçamos em noticiários que a cidade de Babilônia está sendo reconstruída, não cremos que esta seja a interpretação correta, mesmo porque Babilônia nas profecias do Antigo Testamento foi condenada a nunca mais existir: “Nunca mais será habitada, nem nela morará alguém de geração em geração; nem o árabe armará ali a sua tenda; nem tampouco os pastores ali farão deitar os seus rebanhos” (Isaías 13. 20). Hoje só temos ruínas da antiga Babilônia. Já a escola da continuidade histórica diz que a referência é à Igreja Católica Romana. No entanto, podemos dizer, como afirma o Comentário Bíblico de Moody que a Babilônia representa “definidamente algum vasto sistema espiritual que persegue os santos de Deus, traindo aquilo para o que foi chamada. Ela entra em relações com os governos desta terra, e por algum tempo os governa. Eu acho que o mais perto que possamos chegar a uma identificação é compreender que esta prostituta é um símbolo de um grande poder espiritual que se levantará no fim dos tempos, o qual estabelecerá uma aliança com o mundo e assumirá compromissos com as forças do mundo. Em vez de ser espiritualmente verdadeira, ela é espiritualmente falsa, e assim exerce uma influência maligna em nome da religião” (op. cit. pág. 436). A Babilônia que se nos apresenta nos capítulos 17 e 18 aparece sob dois aspectos diferentes. No capítulo 17, ela é identificada como a grande prostituta, uma mulher que não aparece no capítulo 18. Ainda no capítulo 17 aparecem a besta com as sete cabeças e os dez chifres. No capítulo 18 a Babilônia parece ser uma cidade ao longo do grande rio, apinhado de navios mercantes de toda a terra. No decorrer do estudo daremos maiores explicações sobre os símbolos aqui apresentados. A figura representada pela Babilônia é tão importante que mereceu um destaque especial nos capítulos 171 – 19. 10, em que ela é descrita através de uma alegoria. I. A VISÃO DA GRANDE PROSTITUTA MONTADA NA BESTA (Apocalipse 17)

A Babilônia, apesar de ser descrita com uma figura de pomposo esplendor e exercer tanta fascinação, ela é simplesmente a grande prostituta. Deste modo a grande meretriz é a figura escolhida para representar a monstruosa iniqüidade da civilização que se rebela contra Deus.

1. Um dos sete anjos chama João para ver a condenação de Babilônia - 17.1–2 - As taças

derramadas sobre a terra preparam o leitor do Apocalipse para ver as causas e os meios que provocam a queda de Babilônia, já anunciada no cap. 14.8. O capítulo 17 começa com um dos sete anjos que tinham as sete taças indo a João e dizendo-lhe: “Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas; com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam sobre a terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição” (17.1–2). Como vimos em 14. 8 um anjo já havia anunciado a queda de Babilônia. Agora será mostrada a sua condenação e algumas explicações sobre que ela é.

1.1. Babilônia assentada sobre muitas águas - 17.1b - A figura vem do livro de Jeremias 51.13: “Ó tu, que habitas sobre muitas águas, rica de tesouros! É chegado o teu fim, a medida da tua ganância.” A referência de Jeremias é a antiga Babilônia que foi construída às margens de uma rede de canais. Ela se tornou poderosa, dominando povos, multidões, nações e línguas. Por isso, no sentido figurado, ela habitava sobre muitas águas (povos). Babilônia veio a personificar a maldade e no livro do Apocalipse toma-se o seu simbolismo para representar a manifestação final da maldade da história das nações em rebeldia contra Deus. Roma, não foi construída sobre muitas águas no sentido literal, apesar de ter o rio Tibre a atravessá-la; mas, figuradamente estava edificada sobre muitas águas no sentido de que sua força e soberania provinham dos muitos povos que conquistou. A descrição aplicar-se-á com maior razão à Babilônia escatológica, que seduzirá o mundo todo para adorar o que não é o Deus verdadeiro.

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1.2. O vinho da prostituição de Babilônia – 17.2 – “com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam sobre a terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição.” Pela descrição que está sendo feita podemos perceber que a linguagem usada é a conotativa. Desde o Velho Testamento a figura do adultério, da prostituição era usada para Israel, esposa infiel de Deus. A infidelidade do povo para com o seu Deus, adorando deuses falsos era considerada, figuradamente, como adultério. O Apocalipse toma este símbolo comum que designa o culto falso e idólatra do Velho Testamento para aplicá-la à infidelidade a Deus e adoração dos seguidores da besta e do falso profeta. Roma dava um exemplo desta adoração aos deuses falsos. Já vimos nas primeiras lições o culto exigido pelos imperadores romanos, como por exemplo Domiciano, que exigia adoração pessoal e à sua imagem. João vê o adultério espiritual em escala universal. No tempo do Império Romano, havia a sedução de Roma para os adoradores: vantagens mundanas aos que se submetiam à ordem do imperador. Os que se negavam a adorar desta forma blasfema, sofriam as penalidades de trabalhos forçados, prisão, exílio e até a própria morte. Nos tempos finais, na véspera da vinda do Senhor, este quadro deverá repetir-se. A maioria dos homens seguirá o caminho da prostituição espiritual.. Na linguagem figurada os reis e os que habitam na terá se embriagarão com o vinho da sua prostituição. Como diz Ladd: “ Os reis da terra se prostituíram com a grande meretriz; isto é, estabeleceram estreitos laços comerciais com ela, para participar da sua riqueza e prosperidade. O simbolismos de Jeremias 51.7, está por trás disto: ‘Babilônia era um copo de ouro na mão do Senhor, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações, por isso enlouqueceram.’ A forma de prostituição no caso é a sedução dos povos para que adorem a besta. O vinho de sua prostituição é o que ela usa para seduzir – a maneira de ela enganar as nações, para que se identifiquem com seu caráter pagão. Estas se juntaram a ela para pecar contra Deus. A sedução é eficiente; primeiro os governantes dos povos são convencidos, depois os que habitam na terra. Esta expressão João usa com freqüência para os ateus (3.10; 6.10; 8.13; 11.10; 13.8, 14)” (op. cit. pág. 164). A fornicação para a qual Babilônia seduz os habitantes da terra é a adoração ao dragão no lugar da adoração a Deus. A sedução e todas as formas deturpadas de adoração que não são do Deus verdadeiro, constituem o vinho da prostituição de Babilônia. 2. A visão propriamente dita – 17.3–18 - Nos dois primeiros versículos deste capítulo João é convidado por um dos sete anjos a ver a condenação da grande prostituta. Agora o apóstolo é levado em espírito a um deserto para contemplar com os seus próprios olhos a cena e receber as explicações necessárias. João foi levado a um deserto. No capítulo 12 lemos que a mulher grávida que deu à luz um filho foge para o deserto. Jesus foi levado ao deserto para ser tentado pelo diabo (Mateus 4.1). Hoje ao pensar em deserto, pensamos num lugar desolado, dominado apenas por areia, sem habitantes, local faminto e sedento; enfim um lugar inóspito. No entanto, no texto presente e em muitos outros textos bíblicos o deserto parece simplesmente indicar um lugar solitário. João foi levado ao deserto – um lugar isolado - para que pudesse ter esta visão. Michael Wilcock, citando Kiddle, vê um simbolismo interessante na palavra deserto: “o deserto ‘representa a perene condição de separação que deve existir entre o crente e o mundo... é do deserto que o cristão é capaz de ver a civilização como ela é na realidade’. Feliz é o servo de Deus que vê o mundanismo como ele realmente é, e aplica as palavras do sábio de Provérbios 5e 7 à mais libertina das mulheres libertinas, e aprende a respeitar e a odiar, a temer e a fugir de Babilônia, a prostituta” (op. cit. pág. 131).

2.1. A visão da mulher montada na besta cor de escarlata (17.3–6) Na visão de João, ele vê “uma mulher montada numa besta cor de escarlata, que esta cheia de nomes de blasfêmia, e que tinha sete cabeças e dez chifres”. No v. 1 o anjo diz que vai mostrar-lhe “a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas.” Mas, como já chamamos a atenção em lições anteriores, devemos ter em mente que numa visão a fluidez da linguagem permite o uso de figuras ou símbolos diferentes. È possível representar fatos diferentes usando idéias que pela lógica podem parecer contraditórios. No v.1, em que a mulher aparece assentada sobre muitas águas, devemos

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entender o seu relacionamento com as nações da terra e no v. 3 em que ela aparece montada numa besta escarlata, devemos ver o seu relacionamento com o Anticristo. A besta estava repleta de nomes de blasfêmia. Podemos observar que uma das características da besta é a blasfêmia. No capítulo 13 vimos que ela tinha nomes de blasfêmia sobre as cabeças (v. 1) e proferia blasfêmias contra Deus ( vs. 5 – 6). Aqui, em 17.3, é enfatizado que ela estava cheia de nomes blasfemos. Com isto chama-se a atenção a autodeificação do Anticristo e à sua exigência de que seus súditos o adorem. Suas blasfêmias consistem no rebaixamento da divindade, reivindicando para si a autoridade de ser deus.

2.1.1. A descrição simbólica da grande prostituta - Nos vs. 4 e 5 temos a descrição

simbólica da grande meretriz: “A mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas; e tinha na mão um cálice de ouro, cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição; e na sua fronte estava escrito um nome simbólico: A grande Babilônia, a mãe das prostituições e das abominações da terra.” Nestes versículos, além da descrição da forma como estava vestida, temos a identificação da mulher ou da grande prostituta com a Babilônia (símbolo). Com isto confirmamos o que dissemos na introdução: no capítulo 17 a Babilônia é simbolizada como sendo a grande prostituta e não como uma cidade. Alguns querem dar significados às cores da vestimenta, mas isto é duvidoso. O que se está enfatizando é o esplendor e o luxo das suas roupas. No mundo antigo as roupas de púrpura e escarlata só podiam ser usadas pelos ricos, por causa do seu alto custo. Na descrição podemos ainda ver o custo fabuloso dos seus adornos: “ela estava adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas.” A sua riqueza provêm de sua prostituição. Conforme nos é sugerido por seu simbolismo, João pode ter tido em mente o preço elevado das prostituas cultuais. A sua renda sustentava o culto e pagava os salários daqueles que cuidavam da adoração nos templos, além de financiar os reparos e construção de outros templos. Mesmo assim ainda sobrava muito para as próprias prostitutas. Corinto nos dias do Novo Testamento contava com pelo menos mil “prostitutas cultuais” pelo que a cidade tornou-se uma atração turística sexual. Em Roma também havia muitas luxuosas meretrizes cultuais. Daí o símbolo da prostituição espiritual.

A grande meretriz tinha em sua mão um cálice de ouro simbolizando que os seus súditos a serviam como se fora uma rainha. Isto é uma alusão direta a Jeremias 51.7, onde Babilônia aparece como um “cálice de ouro” nas mãos de Deus, cheia de vinho que deixava as nações alucinadas e bêbadas. Aqui em Apocalipse é a grande meretriz que tem o cálice de ouro. O cálice de ouro era bonito e prometia um vinho delicioso aos seus súditos; ao invés disto, estava cheio de corrupção repulsiva. A palavra usada para abominações significa tudo o que é repugnante e detestável. No Velho Testamento a palavra é quase sempre relacionada com idolatria. A idéia principal deste simbolismo é que prometendo riqueza e luxo, a mulher desvia as pessoas da adoração a Deus.

Na fronte da mulher estava escrito um nome simbólico: “Babilônia, a grande, a mãe das

meretrizes e das abominações da terra” (v. 5). Na tradução da Bíblia por Almeida nós temos no v. 5, escrito um nome simbólico. No grego encontramos a palavra mustérion (que literalmente significa mistério). Por esta razão algumas traduções trazem mistério. Outras, como a BLH, trazem: “Na sua testa estava escrito um nome que tem significado secreto (logo nome simbólico): A grande Babilônia, mãe de todas as prostitutas e de todas as pessoas imorais do mundo”. A Bíblia Viva diz: “ Na testa dela estava escrito um título misterioso: A grande Babilônia, mãe das prostitutas e da adoração aos ídolos em todos os lugares ao redor do mundo.” Com estas traduções diversas do mesmo termo original, percebemos claramente que a grande Babilônia, ou a Babilônia, a grande, não pode ser tomada no seu sentido literal. Por isso cremos que a tradução de Almeida interpreta bem o sentido original: um nome simbólico. No conceito neotestamentário, mistério, de um modo geral, significa “uma verdade antes oculta nos conselhos divinos, mas que agora foi revelada”. É um segredo desvendado, que não pode ser desvendado pela mera investigação humana, Só a revelação divina pode esclarecer estes mistérios. O presente contexto demonstra esta afirmação.O uso da palavra mistério neste texto, permite-nos entender que devemos buscar um significado

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espiritual oculto, na descrição que se segue. Babilônia, em primeira instância, refere-se a Roma e “compreender que sua idolatria é imoralidade espiritual, e que, considerada do ponto de vista espiritual, Roma é uma abominação diante de Deus, embora aos olhos do mundo pareça uma rainha adornada de jóias caríssimas” (R. N. Champlin, op. cit. pág. 598). Contudo o seu simbolismo não se esgota com a Roma antiga. Vai muito além, como já temos apresentado até aqui. É chamada de grande por abranger o mundo inteiro, levando todas as nações do globo terrestre a adorarem perante seus altares. Ela é chamada também de mãe das prostituições e abominações da terra. No sentido primeiro, Roma exerceu espiritualmente este papel levando nações e povos a se voltarem para a idolatria, com o seu culto ao imperador. Insistimos, no entanto, de que o simbolismo não está esgotado naquela adoração idólatra dos primeiros séculos. Há ainda o seu cumprimento profético, com a adoração ao dragão e à besta dos últimos dias, em que todos os homens terão que tomar uma decisão entre o Deus verdadeiro e deus falso, a besta – não aceitando ser marcados com o sinal da besta, e não se submetendo à sua adoração. Por isso, “Babilônia é a ‘mãe das meretrizes’. Ela não se satisfez com desviar os homens de Deus; insistiu que suas filhas imitassem em seus propósitos nefastos e blasfemos. Em sua prostituição ela deu à luz toda sorte de abominações que enchem a terra” (George Ladd, op. cit. pág. 166).

2.1.2. A mulher embriagada com sangue – 17.6a - “Então vi que a mulher estava

embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus” . A mulher tão esplendorosamente vestida estava embriagada, mas não com o vinho real, e sim com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus.. Estar “embriagado em sangue” é uma expressão usual na linguagem do Velho Testamento.. Lemos em Isaías 34.5, que a espada estava embriagada com sangue e Isaías 49.26 afirma que Deus fará com que os opressores se embriaguem com o próprio sangue. Jeremias 46.10, também fala que a espada se embriagará com o sangue dos seus inimigos. É uma figura de linguagem para mostrar o grande derramamento de sangue. A mulher de tanto derramar sangue, simbolicamente estava embriagada de sangue. Houve muito derramamento de sangue no passado por causa da fé em Jesus Cristo. No tempo de Nero houve uma perseguição por poucos anos, mas terrível. Tácito, historiador romano, assim a descreve: “Uma grande multidão foi condenada por incêndio culposo e ódio à raça humana. Foram mortos, e mortos com insulto, ou vestidos de peles de animais selvagens para serem devorados por cachorros, ou crucificados ou queimados. Quando caía a noite eles eram usados para iluminá-la” (Anais, 15.44). Mas esta perseguição aos cristãos nada tinha a ver com o culto do imperador, que realmente começa depois. No tempo de Domiciano houve perseguição por motivos religiosos. A partir daí houve várias outras perseguições por causa da fé em Cristo. Mas, não somente o Império Romano perseguiu os cristãos. Depois de oficializado o cristianismo por Constantino, formando-se então a Igreja Católica Apostólica Romana, na primeira metade do quarto século da era cristã, a perseguição começa a ser feita por essa igreja contra os cristãos verdadeiros que não aceitaram a união da Igreja com o Estado. A História está repleta do sangue derramado contra os santos e mártires de Jesus Cristo. No século XII os albigenses cristãos do sul da França, foram praticamente destruídos por uma cruzada promovida pelo papa Inocêncio III. Cidade após cidade eram destruídas, saqueadas e a população morta e violentada. Muitos valdenses, localizados em regiões quase inacessíveis nos Alpes e nos Apeninos, com a tolerância religiosa do Edito de Nantes, vieram para o sul da França, onde, quando foi revogado este edito, foram perseguidos e cerca de 15.000 foram mortos nas prisões de Pigmerol. Podemos lembrar também da terrível noite de S. Bartolomeu ( 24. 08. 1572) em que cerca de 8.000 huguenotes foram mortos em Paris. Quando a notícia chegou a Roma os sinos badalaram festivamente um Te Deum de ação de graças e foi cunhada uma medalha comemorativa. A chamada Santa Inquisição executou na Europa cerca de 150.000 pessoas pela espada ou pelo fogo. Mas não só a Igreja Católica Apostólica Romana tem perseguido os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo. Grupos protestantes que se rebelaram contra a igreja Católica e se separaram dela, apoiados e identificados com os poderes políticos estatais caíram na mesma armadilha satânica, e a título de zelo religioso também perseguiram e mataram tanto

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católicos como evangélicos que pregavam a liberdade de consciência e a separação entre Igreja e Estado. Ainda hoje temos a Igreja Ortodoxa perseguindo os crentes verdadeiros que não se submetem aos seus ensinos e exigências. Sempre que uma igreja é oficializada e subsidiada pelo Estado, ela se torna subserviente e prostitui-se espiritualmente. Apesar de todo o sangue derramado dos santos e mártires de Jesus ainda não cumpriu tudo que é descrito no livro do Apocalipse. João previu um dia em que a capital da besta será famosa pro perseguir os santos por razões religiosas: é a Babilônia escatológica.

3. A admiração de João e a explicação do anjo – 17.6b–18 – “Quando a vi, maravilhei-me com grande admiração. Ao que o anjo me disse: Por que te admiraste: Eu te direi o mistério da mulher e da besta que a leva, a qual tem sete cabeças e dez chifres” (vs. 6b–7 ). A parte final do v. 6 tem sido compreendida de formas bem diferentes.

3.1. O porquê da admiração de João - Há os que afirmam que não se deve pensar que a grande admiração de João fosse manifestação pela meretriz por causa dela, apesar de sua sedução e sim porque ficou surpreendido, e que a sua mente ficou atônita ante o espetáculo, não podendo entender o que ela significava ( R. N. Champlin). Outros que o espanto de João fosse causado pela notícia de que ele veria o julgamento da grande meretriz (v. 1), para depois ver na primeira parte da sua visão uma mulher que se apresenta em grande esplendor (George Ladd).Ainda há quem diga que o seu espanto foi porque ele, o discípulo de Jesus, vê a mulher que fora uma vez a noiva. Originalmente esta mulher foi um fiel noiva, submissa ao Senhor Jesus – mas ela se transformou em prostituta! Seria a igreja desviada do Senhor (Wim Malgo). Esta última explicação da grande admiração de João já é interpretativa de quem seria a Babilônia.

3.2. A pergunta do anjo – 17.7 – “Ao que o anjo me disse: Por que te admiraste? Eu te direi o mistério da mulher e da besta que a leva, a qual tem sete cabeças e dez chifres.” Diante do atitude de estar maravilhado com grande admiração de João, o anjo que veio convidá-lo para ver a condenação da grande prostituta, faz-lhe uma pergunta e ele mesmo a responde antes que o apóstolo pudesse dar qualquer resposta. Pela resposta do anjo podemos imaginar que a atitude de admiração e espanto do apóstolo fosse pelo fato de ser incapaz de compreender o que seria aquela visão. Logo após perguntar a razão da admiração de João, o anjo diz que revelaria o mistério da mulher e da besta que a leva, a qual tem sete cabeças e dez chifres. A sua explicação não seria restrita à mulher, mas também à besta. “Isto evidencia o relacionamento inseparável da mulher e da besta. O caráter do último centro da civilização será totalmente determinado por sua dependência da besta. Não há dois mistérios; o mistério inclui a mulher e a besta. O anjo promete revelar a João não somente o verdadeiro significado da besta e da meretriz, mas também das sete cabeças e dos dez chifres da besta” (George Ladd, op. cit. pág. 167). 3.3. A explicação do mistério – 17.8–14 – No início da explicação o anjo afirma em primeiro lugar que “a besta que viste era e já não é; todavia está para subir do abismo , e vai-se para a perdição;...” Antes de qualquer comentário transcreveremos mais duas versões para facilitar nossa compreensão: “ele esteve vivo, mas agora não está. E apesar disto, brevemente surgirá do abismo insondável, e irá para a destruição eterna” (A Bíblia Viva). “O monstro que você viu estava vivo, mas agora não vive mais. Ele sairá do abismo e será destruído” (BLH). Com esta descrição podemos ver que a besta faz tudo o que pode para imitar e substituir o verdadeiro Cristo. Aqui aparece como “era, não é, e ainda será” que é uma paródia do título divino: “Aquele que é, que era e que há de vir” (1.4). “Esta maneira de descrever a besta combina bem com a afirmação encontrada em 13.3. Teve uma ferida mortal que foi curada, quer dizer que foi morta e reviveu. A sua ressurreição será o oposto do Senhor, porque não será literal, mas apenas uma manifestação satânica, ascendendo do abismo, a prisão dos demônios” A besta portadora de sete cabeças e dez chifres (vs. 3, 7) demonstra características realmente apocalípticas (já vimos o dragão vermelho

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com sete cabeças e dez chifres, 12.3; a besta que emergiu do mar também teve dez chifres e sete cabeças e dez diademas sobre os chifres 13.1); deduzimos que o dragão se reencarna na besta. A besta (monstro, o Anticristo) se manifesta nas cabeças e nos chifres. Num sentido, a besta se manifesta repetidas vezes na História, mas sua última manifestação na pessoa do Anticristo, ‘o oitavo rei’ (v. 11) não será distinta das anteriores senão na sua intensidade. Como Jesus prediz, seu domínio será curto (para que todos os eleitos não sucumbam, Marcos 13.20–22); apenas durará pouco tempo (Apocalipse 17.10; ‘uma hora’ é a duração do poder dos dez reis aliados [chifres] no v. 12)” (Russel P. Shedd, op. cit. pág. 54). Logo a besta sobre a qual a grande meretriz está assentada é o próprio Anticristo. Os habitantes da terra que não são salvos (cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde a fundação do mundo) ficarão admirados vendo a besta que era e não é, mas ainda aparecerá. A razão da admiração será o reaparecimento da besta, que desaparece por algum tempo para depois ressurgir. É interessante notar que o texto é bem claro ao afirmar quem são os que se admirarão com o reaparecimento da besta: os que não são de Cristo. Os salvos não serão iludidos pela besta. A expressão usada por João no início do versículo 9: “Aqui está a mente que tem sabedoria” significa que isto exige sabedoria e entendimento, mas não simplesmente humana, mas uma sabedoria e entendimento possuído pelos que são espiritualmente iluminados. A seguir o anjo passa a explicar que: “As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada; são também sete reis: cinco já caíram; um existe; e o outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo” (vs. 9–10). O versículo 9 tem sido comumente interpretado como a cidade de Roma pelo fato de estar edificada sobre sete colinas. O que dificulta esta interpretação é o versículo seguinte que as “sete cabeças são também sete reis. Como diz George Ladd: “É difícil ver qualquer conexão entre os sete montes de Roma e sete dos seus imperadores. A Bíblia comumente simboliza poder ou governo com um monte ou montanha. Em Daniel 2.35 a pedra que se solta sem a intervenção de mãos humanas esmigalha as nações do mundo se transforma em uma grande montanha. Deus disse a Babilônia: ‘Eis que sou contra ti, ó monte que destróis ... toda a terra’ (Jeremias 51.25). ‘ Nos últimos dias acontecerá que o monte da casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes, e se elevará sobre os outeiro’ (Isaías 2.2). O servo do Senhor ‘trilhará e moerá os montes, e reduzirá os outeiros a palha’ (Isaías 41.15); veja também Salmos 68.15–16; Habacuque 3.6). Por esta razão é mais fácil entendermos sete montes

como sendo sete impérios e os seus sete governantes. Alguém pode objetar que João diz que os montes são também sete reis, não sete reinos;mas isto é linguagem bíblica. As quatro bestas de Daniel 7 representavam sete reis (Daniel 7.17) quando Daniel, mais precisamente, se referia aos reinos que eles lideravam. A grande meretriz está sentada sobre uma sucessão de impérios. Ela é corporificada pela antiga Babilônia, no primeiro século por Roma, e no fim dos tempos pela Babilônia escatológica. É bem possível que seja isto que João tinham em mente quando fala do ‘mistério da mulher’ (v. 7). Não é possível fazer qualquer identificação com alguma cidade histórica. A mulher formou ligações adúlteras em qualquer época com o poder existente no mundo” (op. cit. pág. 168). A meretriz seria uma figura para designar a oposição diabólica de governos e povos lutando contra Deus e seus filhos. Por isso a meretriz tem um nome de mistério (v. 5), que não se refere tão somente a Roma, mas a sucessivas civilizações ou sistemas político-ideológicos que se opõem contra Deus. O versículo dez continua dizendo: “cinco já caíram; um existe; e outro ainda não é vindo; e quando vier, deve permanecer pouco tempo.” Este é outro versículo de difícil interpretação. Os preteristas geralmente aplicam-no a uma seqüência de imperadores romanos dizendo que cinco já reinaram, que João escrevia durante o reinado do sexto e depois viria o sétimo e último, que seria o Anticristo na pessoa do Nero redivivus. O problema é alistar os sete imperadores. Eles fazem arranjos diversos para colocar dentro deste esquema. Este problema pode ser evitado se adotarmos a interpretação que transcrevemos acima de Ladd. Se aceitarmos os sete montes e os sete reis representam reinos, é mais fácil a interpretação. E como diz Russell Shedd: “Não é essencial criar uma lista de reinos históricos sobre os quais a meretriz tem se montado. João não sabe quando o fim

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virá. Haverá, como já vimos, um oitavo poder que já se manifestou entre os sete reis-montes, mas não aparecera em forma final quando João escreveu o Apocalipse. No seu último aparecimento, esta encarnação diabólica será o Anticristo. Assim a besta no sentido lato, é o poder que luta contra Deus através da história no mundo. No sentido particular se refere a um reino que já existia mas no fim reaparecerá com poder sobrenatural.” “Os dez chifres (reis) aparecerão no futuro (cf. Daniel 7.7, 24). Reinarão durante uma temporada bem curta. Receberão o poder para reinar e sustentarão o trono da besta bem como seus aliados (v. 13). Lutarão contra Jesus Cristo (talvez em união com seu corpo formado pelos salvos). Este conflito será descrito com maiores detalhes no capítulo 19.17–21. Inconcebível seria imaginar que o ‘Senhor dos Senhores e Rei dos Reis’ (v. 16) deixaria de conquistar os que desafiam sua autoridade no universo” (op. cit. pág. 55). Mais uma vez é reafirmada a vitória dos “eleitos, e fiéis”. A idéia destes dez reis vem do livro de Daniel (7.7, 24), onde a quarta besta tem dez chifres que são dez reis, dos quais surge um, no fim, que faz o papel do Anticristo. Ladd levanta a hipótese de que o número dez pode simbolizar a totalidade do poder do Anticristo, e não necessariamente dez reis no sentido literal. Deste modo os dez reis seriam figuras puramente escatológicas representando a totalidade dos poderes de todas as nações da terra, que se submeterão ao Anticristo. Todos estes estarão aliados à besta e não vão atrás dos seus próprios objetivos; todos eles são completamente dedicados à besta.. Unidos lutarão contra o Cordeiro numa batalha final, mas serão vencidos porque Jesus é o Senhor dos senhores e Rei dos reis e os que estiverem com Cristo – os santos, os salvos – vencerão com Ele. A descrição desta batalha não é apresentada neste capítulo. Aqui só é mencionada a luta e a vitória do Cordeiro. O relato está no capítulo 19.17–21, quando da volta de Cristo. 3.4. Explicação adicional – 17.15 – Nos últimos versículos do capítulo 17, o anjo fornece mais informações específicas sobre a grande meretriz. No verso 15 temos a explicação do v. 1: “As águas que viste, onde se assenta a prostituta são povos, multidões, nações e línguas” O anjo está interpretando aqui a visão sobre a meretriz que fora vista assentada sobre muitas águas, algo que Babilônia fizera literalmente, edificada juntos às águas do rio Eufrates e de seus muitos canais. Mas figuradamente também dominara sobre povos, multidões, nações e línguas. Roma, edificada sobre sete colinas, também estava assentada figuradamente sobre muitas águas: povos, multidões, nações e línguas. Roma com suas conquistas assentara-se sobre poderes políticos e sistemas sociais do mundo, exercendo sobre elas autoridade, mantendo-as debaixo de sua sujeição. O governo romano era praticamente universal. O governo do Anticristo também será universal. Os habitantes da terra ficaram embriagados com o vinho da fornicação da grande meretriz (v. 2)., tendo adorado a ela e à besta como se fossem divindades. A mulher procurou, impiamente, ser rival do próprio Deus e terá de ser julgada, com todos quantos lhe deram lealdade. Ela é a capital de uma civilização complexa, composta de muitas nações. Como vimos no princípio desta lição, ela personifica a manifestação final da maldade das nações pagãs: é a Babilônia escatológica, que seduzirá o mundo para adorar o que não é Deus. 3.5. A destruição da meretriz – 17.16-18 No verso 16 surge uma surpresa no texto. A besta torna-se inimiga da meretriz que representa sua capital (capital da besta). No começo da visão a mulher estava sentada sobre a besta escarlate (v. 3). Ela (a meretriz = Babilônia ) foi o cenário da perseguição promovida pela besta e do martírio dos santos (v. 6). Agora no v. 16 vemos o quadro mudar completamente. A besta junto com os dez aliados são tomados por um ódio patológico, resultando numa guerra civil.A cidade (meretriz) será completamente destruída: “E os dez chifres que viste, e a besta, estes odiarão a prostitua e tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo”. Os profeta, no passado, previram algumas vezes uma situação de caos entre os inimigos de Deus, quando a espada de cada um tornava-se contra a do seu companheiro (Ezequiel 38.21; Ageu 2. 22; Zacarias 14.13). A linguagem simbólica usada por João indica que a orgulhosa cidade ficará totalmente destruída, em ruínas. Ela será “devastada e despojada”, isto é,

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será despida dos seus lindos adornos A descrição mostra como será terrível a sua destruição dos homens entre si: “lhe comerão as carnes” – figura tirada da ferocidade de animais selvagens. O v. 17 mostra que este ódio da besta pela mulher é a maneira de Deus sentenciar a grande meretriz: “Pois Deus pôs nos seus corações o desejo de fazerem o que Ele quer, e de concordarem uns com os outros. E também o desejo de darem ao monstro o poder de governar que eles possuem, até que se cumpra o que Deus disse” (v. 17 na BLH). Vemos que Deus em Sua soberania fez com que os próprios inimigos em sua ação cumprissem o Seu plano. Deus está no governo do mundo. O inimigo pode fazer o que quer, usar as estratégias que quiser, mas Deus acabará cumprindo todos os Seus propósitos. Os próprios inimigos acabarão lutando um contra o outro e todos eles serão vencidos pelo Cordeiro. Quando a besta se volta em ódio contra a mulher, os seus aliados não resistem a esta mudança surpreendente dos acontecimentos, para defender a grande cidade que fora objeto da sua admiração. Eles unânimes dão seu apoio à besta e isto porque o plano de Deus neste mundo tem que ser cumprido. A visão da grande meretriz é encerrada com a explicação final sobre ela: “A mulher que você viu é a grande cidade que domina os reis da terra” (v. 18 na BLH). Como dissemos algumas vezes anteriormente esta grande cidade correspondia à cidade de Roma e no fim dos tempos corresponderá à Babilônia escatológica. II. A VISÃO DA QUEDA DE BABILÕNIA E AS LAMENTAÇÕES SOBRE A TERRA (Apocalipse 18.1–24)

No capítulo 17 a Babilônia é descrita como a grande meretriz que enganava todos os povos. Na visão do capítulo 17 também prediz a destruição de Babilônia pela besta e seus dez vassalos em termos vívidos, apesar de ser uma descrição sucinta. Agora no capítulo 18 temos um capítulo inteiro dedicado ao tema do julgamento da grande cidade. O pano de fundo deste capítulo é encontrado nos lamentos dos profetas sobre a queda de Tiro ( Ezequiel 26 – 28) e de Babilônia (Isaías 13–14, 21 e Jeremias 50 e 51). 1. A queda de Babilônia – 18.1–3 – Após a visão da grande meretriz montada sobre a besta, a visão transforma-se na queda de Babilônia. Como já dissemos anteriormente as imagens facilmente se transfiguram como num sonho. A mulher agora é apresentada na forma de uma cidade devassa e dominadora. O último versículo doa capítulo 17 preparou o cenário para a mudança esclarecendo que a mulher da visão “é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.” Temos agora o anúncio de sua queda e a reação que isto provoca em toda a face da terra.

1.1. A visão do anjo de grande poder - 18.1 - João, em sua visão está na terra, pois vê um

outro anjo descer do céu. O anjo que mostrou a João a grande meretriz montada na besta e explicou-lhe o mistério de Babilônia e predito a destruição da cidade pela besta era um dos sete anjos que tinham as taças. Agora é outro anjo que descendo do céu faz a proclamação da queda de Babilônia. Não sabemos quem é este outro anjo. Sabemos pelo texto que este outro anjo “tinha grande autoridade, e a terra foi iluminada com a sua glória” (v. 1). O texto não dá maiores explicações. Apenas afirma que o anjo tinha grande autoridade. Devemos lembrar que toda a autoridade é delegada, pois na realidade somente Deus possui autoridade. Ele é quem delega a todos os demais seres autoridade. Autoridade, especialmente no livro do Apocalipse é sinônimo de poder. Portanto, este anjo anunciador era detentor de grande poder. A terra toda foi iluminada com a glória deste anjo. Podemos dizer que era a glória de Deus que rebrilhava através do anjo. Ele vinha para fazer uma proclamação muito importante.

1.2. Anunciada a queda de Babilônia – 18.2 – “E ele clamou com voz forte dizendo: Caiu,

caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e guarida de todo o espírito imundo, e

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guarida de toda ave imunda e detestável” (v. 2). A queda de Babilônia já tinha sido anunciada por um anjo no cap. 14.8. Tanto em 14.8, como aqui em 18. 2, a queda da cidade é encarada como fato consumado, ainda que isto venha ocorrer no futuro. É interessante notar que estas duas passagens repetem as palavras iniciais de Isaías 21.9: “Caiu, Caiu Babilônia; e todas as imagens esculpidas de seus deuses são despedaçadas até o chão.” Mas estas duas passagens (14.8 e 18.2) apenas descrevem o fato como consumado. Só a curta profecia de 17.16 é que descreve mesmo a destruição da cidade. A orgulhosa cidade quando for destruída, ele não será mais a prostituta da civilização, e não mais será habitada por príncipes e comerciantes. Ela ficará desolada, pois ninguém desejará ficar ali. Ela se tornará “morada de demônios, guarida de todo espírito imundo e guarida de toda ave imunda.” Vemos descrição semelhante nas profecias do Velho Testamento sobre a destruição de Babilônia, Edom e Nínive (Isaías 34.11; Jeremias 50.39; 51.37; Sofonias 2.15).

1.3. A causa da queda de Babilônia – 18.3 – “Porque todas as nações têm bebido do vinho

da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.” – A Bíblia Viva diz: “Porque todas as nações beberam do vinho mortal da tremenda imoralidade dela. Os governantes da terra se deleitaram com ela, e os negociantes do mundo todo se tornaram ricos com toda a sua vida luxuosa,” A BLH: “Porque ela deu do seu vinho a todos os povos e os obrigou a beber o vinho forte do seu desejo imoral. Os reis da terra cometeram imoralidade com ela, e os homens de negócio se enriqueceram à custa da sua corrupção.” Percebemos que a razão de Babilônia ser julgada e condenada à destruição é que ela corrompeu toda a terra. Pelas três versões apresentadas verificamos que o pecado de Babilônia não foi somente a luxúria e imoralidade, mas também a sedução com que enganou os homens para seguirem a besta. Esta sedução afetou principalmente os líderes políticos e econômicos e através destes todos os que não tinham os seus nomes escritos no livro da vida. A grande meretriz prometeu poder e atraiu com riqueza e luxúria os que a seguissem. Esta sedução deve colocar-nos de sobreaviso. Não podemos subestimar a capacidade de persuasão da mulher. Ao lermos este texto podemos pensar que baixeza e mau gosto. No entanto, na prática, na vida diária, as pérolas, a púrpura e o cálice de ouro exercem poderosa fascinação. O mundo é poderoso, sua mensagem é atraente, e nós podemos ser iludidos por ele. Devemos ter cuidado nas práticas que vamos adotando no nosso dia-a-dia seguindo a filosofia deste mundo e cuidado para que em nome da modernidade não introduzirmos em nossos cultos, práticas que podem ser camuflagem de práticas mundanas. Devemos ter em mente que mundo, no seu sentido espiritual, representa a sociedade humana organizada independente de Deus. Este mundo é influente, atraente. Precisamos estar alerta com uma idéia muito divulgada hoje: “Os tempos são outros. Precisamos adaptar-nos aos novos tempos.” O cuidado é de que nesta adaptação não estejamos sendo iludidos pelo mundo. Lembremo-nos de que o Evangelho de Cristo é imutável, como o próprio Cristo. A mensagem do primeiro século é a mensagem do século vinte e um e de qualquer tempo.

2. Aviso ao povo de Deus – 18.4–5 – Logo depois de anunciada a queda de Babilônia, o apóstolo ouve outra voz do céu alertando agora o povo de Deus: “Sai dela, povo meu, para que não

sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque os seus pecados se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela” (vs. 4 e 5). As advertências que fizemos no parágrafo anterior recebem agora um reforço na outra voz que se ouve do céu. O apóstolo Paulo advertiu aos crentes de Coríntios para que não se deixassem enganar, pois até o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz (II Cor. 11.14). As sutilezas do inimigo são terríveis. Quem conhece a Bíblia e tem firmeza doutrinária, pode verificar quanto engodo há no mundo em que vivemos. Engodo fora do meio evangélico e mesmo no meio evangélico. Os homens estão sendo iludidos com o evangelho barato que é apresentado por muitas denominações e seitas. Líderes por medo de perderem adeptos e no desejo de encherem templos vão aceitando inovações que não tem nada a ver com as doutrinas e práticas bíblicas. A voz vinda do céu alerta ao povo que é realmente de Deus: “Saí dela”, isto é desta sociedade organizada em rebeldia contra Deus (o

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mundo). Sair não quer dizer retirarmo-nos para desertos ou locais em que não haja homens. O sentido é de que não devemos ser participantes dos seus pecados, como o versículo mais adiante esclarece. O inimigo usa muito a aparente cordialidade, espírito de concordância, para que deixemos de falar e praticar as verdades fundamentais da Palavra de Deus. Todos querem ser agradáveis, amorosos para serem aceitos e queridos pela sociedade. Não podemos esquecer que Jesus em Sua oração intercessória disse: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do

Maligno. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (João 17.15–17). O apelo da voz vinda do céu para que o povo saia dela é porque “há uma sociedade que ouve a voz de Cristo que fala de Deus na terceira pessoa e chama a igreja de ‘meu povo’ , instruindo-a a se retirar da civilização corrupta para não participar dos seus pecados nem sofrer seus castigos (comparar a retirada de Ló e sua família de Sodoma). A ira de Deus agüentou durante décadas e séculos com infinita paciência, transborda nesta cena (16.19; cf. Romanos 2.5). Com a longanimidade Deus segurou a mão punitiva durante a preparação da arca de Noé, mas depois, num dia inesperado, lançou destruição aquática sobre toda a terra. Assim também, sem anúncio prévio, virá o fim de Babilônia (cf. Mateus 24.36–44, II Pedro 3.5–7). A súbita destruição ‘em um só dia’ (v. 8) sugere este quadro que descreve a aniquilação da capital da besta coincide com a vinda do Senhor, descrita no capítulo seguinte” (Russell Shedd, op. cit.. pág. 56).

Deus reconhece que no meio da sociedade corrupta, existe um povo seu, que não participa dos seus pecados. Nós crentes genuínos fazemos parte deste povo que não se compromete com a sociedade corrupta. Devemos zelar para não sermos seduzidos e acabamos sendo participantes da sociedade corrupta. O fato de haver a advertência: “Sai dela, povo meu,” deixa transparecer que o martírio da igreja pela besta não será total. Jesus também previu que na grande tribulação haveria salvos na terra e disse que aqueles dias seriam abreviados por causa dos salvos (Mateus 24. 22). Os dias da grande tribulação serão terríveis, por isso há o apelo para que diante da pressão imensa nenhum crente seja encontrado como cúmplice ou participante dos seus pecados e conseqüentemente sofrer os castigos das pragas. A voz do céu lembra que os pecados de Babilônia (símbolo) são tantos como se fossem empilhados fariam uma pilha tão alta que alcançaria o céu. Deus tem em mente os pecados deles, por isso o castigo é inevitável. O povo de Deus não pode ser participante dos seus pecados.

3. O clamor por vingança – 18.6–8 – Após a outra voz do céu clamar para que o povo de Deus não seja cúmplice dos pecados de Babilônia o tema da voz celestial muda. Há um clamor para que Babilônia receba a justa retribuição de toda a sua maldade: “Tornai a dar-lhe como também ela vos tem dado, e retribui-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber dai-lhe a ela em dobro” (v. 6). No julgamento de Babilônia, Deus invocará a lex talionis em que a retribuição será “olho por olho”. O Novo Testamento ensina-nos que não nos devemos vingar daqueles que nos fazem mal ou nos perseguem. Nós devemos nutrir o espírito de perdão e amor. A retribuição ou vingança pertence ao nosso Deus. Babilônia tem perseguido e perseguirá ainda de uma forma mais feroz os seguidores de Jesus Cristo. No entanto, nós devemos ter o mesmo espírito demonstrado pro Cristo na cruz: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lucas 23. 34 a) ou como fez Estevão diante daqueles que o apedrejavam: “Senhor, não lhes imputes este pecado” ( Atos 8. 60 a ). A retribuição pertence a Deus. A justiça de Deus há de ser manifesta no final da História. Paulo ensina: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira (de Deus); porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuireis, diz o Senhor” (Romanos 12.19). Somente Deus pode julgar com justiça, pois somente Ele conhece as motivações do coração. A grande meretriz aliou-se à besta para destruir os santos e o seu castigo justo será a destruição completa (a retribuição em dobro indica que o castigo será completo). Babilônia tem como pecado a auto-exaltação e a vida licenciosa : “Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, tanto lhe daí de tormento e de pranto, pois que ela diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e de modo algum verei o pranto” (v. 7)

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.Babilônia julgava-se eterna e levou as nações a pensar que não precisam de Deus; que segurança, bem-estar e prosperidade sempre acompanhariam a sua luxúria, a sua corrupção e sua riqueza. Mas o dia do castigo, do julgamento, é chegado: “Por isso, num mesmo dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a fome; e será consumida no fogo; porque forte é o Senhor que a julga” (v. 8). Carpenter diz: “Ela se julgava forte, esqueceu-se da força do Todo-Poderoso. Suas pragas acompanham quatro aspectos, como se viessem de cada quadrante: morte, ante a sua zombaria à possibilidade de viuvez; lamentação, para suas dissoluções desordenadas; fome, ante sua anterior abundância; e fogo e castigo contra suas fornicações.” 4. O lamento dos reis da terra e dos mercadores – 18.9–16 – “E os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em delícias, sobre ela chorarão e prantearão, quando virem a fumaça do seu incêndio; e, estando de longe por medo do tormento dela, dirão: Ai, ai da grande cidade, Babilônia, a cidade forte! Pois numa só hora veio o teu julgamento” (vs. 9–10). Os políticos e as autoridades econômicas farão a sua lamentação. Eles estavam intimamente comprometidos com a besta, dispostos a ceder-lhe a sua autoridade para que ela cumprisse os seus propósito demoníacos. Eles verão como as aparências demonstraram-se enganosas. Babilônia demonstrava ser um grande e poderosa cidade, imbatível. Na sua vaidade chegara a desafiar a Deus e destruir todos os Seus seguidores, mas agora numa só hora veio o seu julgamento e castigo eterno. Junto com os reis da terra, as autoridade das nações, também os mercadores da terra choram e pranteiam (v. 11) não tanto por causa da cidade em si, mas porque já ninguém compra as suas mercadorias. O motivo maior de tristeza e lamentação é de caráter egoísta. Eles perderam o mercado e não tinham para quem vender as suas mercadorias. Nos versículos 12 e 13 enumeram cerca de trinta produtos que eram comercializados. Podemos agrupá-los em várias categorias: 1) jóias: mercadorias de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas; 2) Roupas finas: de linho fino, de púrpura, de seda, de escarlata; 3) Artigos decorativos: toda a espécie de madeira odorífera, todo objeto de marfim, de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro, de mármore; 4) Perfumes: canela, especiarias, perfume, mirra, incenso; 5) Bebidas e alimentos: vinho, azeite, flor de farinha, trigo; 6) Animais: gado, ovelhas, cavalos e carros; e 7) Escravos e até almas de homens. Com isto vemos o luxo e a opulência dos homens ricos não só da Roma antiga, como também daqueles que habitarão na capital da besta. Para conseguir comercializar seus produtos, os mercadores tomaram parte nos malefícios da grande meretriz. Com a queda de Babilônia toda a sua atividade comercial cai e daí a sua lamentação. Os versículos 14 a 16 mostram como todas estas coisas que os comerciantes e homens ricos buscavam se foram para sempre e repentinamente: “Também os frutos que a tua alma cobiçava foram-se de ti; e todas as coisas delicadas e suntuosas se foram de ti, e nunca mais se acharão. Os mercadores destas coisas, que por ela se enriqueceram, ficarão de longe por medo do tormento dela, chorando e lamentando, dizendo: Ai! Ai da grande cidade, da que estava vestida de linho fino, de púrpura, de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas! Porque numa só hora foram assoladas tantas riquezas.” Um dia todas as vaidades humanas terão fim. Os homens apegam-se ao luxo e opulência, mas tudo isto terá fim. Os ricos e comerciantes da Roma antiga perderam tudo. Quando a grande meretriz for castigada, tudo o que é material e pelo qual os homens lutam e se apegam, perecerá. 5. O lamento dos pilotos e navegantes – 18.17–19 – Nos tempos apostólicos as viagens eram feitas por terra – à pé, em animais e carros puxados por animais – e por água: pelas embarcações – à vela ou por meio de remos. Aos reis, às autoridades, aos mercadores juntam-se também os pilotos e todo o que navega para qualquer porto, todos os marinheiros e todos os que trabalham no mar para fazerem a sua lamentação sobre a queda da grande cidade. Eles também se puseram de longe, contemplando a fumaça do incêndio da grande Babilônia, lançando pós sobre as suas cabeças, clamando, chorando e lamentando a sua derrocada final. Novamente vemos a tristeza pelo fato de que a fonte de toda a riqueza e opulência ter desaparecido repentinamente.

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6. Voz de alegria e louvor - 18.20 – Logo após narrar toda a lamentação dos homens ímpios, há irrupção de louvor pelo fato de Deus ter trazido a justa retribuição sobre a grande meretriz: “Exulta sobre ela, ó céu, e vós, santos e apóstolos e profetas, porque Deus vindicou a vossa causa contra ela” (v. 20). Esta alegria não é um cântico de vingança pessoal, mas do anúncio da justiça de Deus. Os santos exultarão porque a Palavra de Deus é verdadeira. Ele disse que o mal não pode triunfar e com a destruição de Babilônia escatológica todos verão que o mal não pode triunfar. Chegará o dia em que os salvos verão como todos os planos de Deus serão cumpridos. Há motivo de louvor a Deus porque Ele não só nos recompensará pela nossa fidelidade, como também retribuirá de forma justa aos que são infiéis. Não devemos esquecer que o pano de fundo das visões dos capítulos 17 e 18 é o período da grande tribulação. Em toda a História do Cristianismo tem havido perseguições e mártires. Alguns mais terríveis que os outros, mas a grande tribulação não terá paralelo na História. Será a última tentativa do inimigo para aliciar todos os homens que não têm os seus nomes escritos no livro da vida. 7. Novo anúncio da destruição de Babilônia – 18.21–24 – No início do capítulo 18 já foi anunciada a queda de Babilônia (v. 2). Agora sua queda é anunciada de um modo simbólico: como uma grande mó lançada no mar: “Um forte anjo levantou uma pedra qual uma grande mó, e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançade Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será achada. E em ti não se ouvirá mais o som de harpistas, de músicos, de flautistas e de trombeteiros; e nenhum artífice de arte alguma se achará mais em ti, e em ti não mais se ouvirá ruído de mós; e luz de candeia não mais brilhará em ti, e voz de noivo e de noiva não mais em ti se ouvirá; porque os teus mercadores eram os grandes da terra, porque todas as nações foram enganadas pelas tuas feitiçarias. E nela se achou o sangue os profetas, e dos santos e de todos os que foram mortos na terra” (vs. 21–24). Aqui a descrição de Babilônia é descrita de tal maneira como o desaparecimento de uma pedra de moinho lançada ao mar. Nenhum vestígio de sua existência ou glória sobreviverá. Nenhuma atividade dum povo civilizado tornará a aparecer nas ruas e casas das destruída cidade. Nem mais festa de tipo algum ali haverá. O sangue dos mártires que clamava por justiça foi ouvido. A destruição da grande cidade será completa e para sempre. III. ALEGRIA E TRIUNFO NO CÉU PELA QUEDA DE BABILÕNIA (Apocalipse 19.1–10)

No capítulo 18 tivemos as lamentações e tristezas dos reis, das autoridades, dos mercadores, dos marinheiros, enfim de todos os participantes dos benefícios e pecados da grande meretriz. Contrastando com estas lamentações, e tristezas, temos, nos dez primeiros versículos do capítulo 19, as manifestações de louvor e ação de graças pelo julgamento de Babilônia.

1. Louvor a Deus pela execução de Sua justiça – 19.1–2 Após os episódios narrados com

relação à queda de Babilônia e as lamentações sobre a terra, João ouve “no céu como que uma

grande voz de uma imensa multidão, que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e o poder

pertencem ao nosso Deus; porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande

prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue

dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia. E a fumaça dela sobe pelos séculos dos séculos.

Então os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus que está assentado no trono, dizendo: Amém. Aleluia!” (v. 1–4). Com a consumação da queda de Babilônia uma imensa multidão no céu faz ecoar um hino de louvor e exaltação a Deus. Esta exaltação começa com Aleluia. Aleluia é uma palavra da liturgia hebraica cujo significado é: “Louvem a Yahveh”. Esta é uma palavra que hoje está transliterada a quase todas as línguas.Talvez a maioria dos crentes que a repetem não sabem o seu significado. Podemos dizer que é a mais breve de todas as doxologias. Apesar de hoje ser muito usada nos cultos, esta palavra só aparece quatro vezes no Novo Testamento. As quatro vezes no capítulo 19 (vs. 1, 3, 4 e 6). No v. 5 temos não a

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transliteração, mas a tradução grega da palavra Aleluia: “Louvai o nosso Deus”. A palavra Aleluia é muito usada no livro de Salmos. Algumas vezes é usada como uma introdução aos pensamentos a serem expostos, como acontece nos Salmos 111 e 112. Outras vezes para confirmar e ornar os pensamentos já expressos, como nos Salmos 106, 113, 117, 135 e 146 – 150. Quinze dos Salmos começam ou terminam com a palavra Aleluia. A maioria desses Salmos apresenta o poder e a majestade de Deus, como é o caso também aqui em Apocalipse. Com a esplendorosa vitória final de Deus a imensa multidão irrompe nesta curta doxologia: “Louvem a Yahweh – Aleluia”. Nós podemos atribuir pessoalmente Aleluias a Deus, mas o triunfo final que provocará Aleluias universais está no futuro, quando Satanás e todas as suas hostes forem vencidas de uma vez para sempre. Ao ouvir-se o Aleluia da imensa multidão, ouve-se também a razão deste louvor a Deus: “A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus; porque verdadeiros e justos são os

seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.” A salvação, neste contexto, significa segurança, o triunfo integral da Causa do Reino de Deus com todas as suas bênção. Não é simplesmente a libertação dos santos do ódio da besta e grande prostituta. Será a vitória final, removendo tudo que está no caminho impedindo que o Reino de Deus possa triunfar, governando absolutamente em tudo. Enquanto Babilônia existir, o Reino de Deus não pode ser estabelecido em sua íntegra, porque a sua influência corrompe toda a terra. A destruição d e Babilônia fez-se necessária, para que o Reino de Deus venha em sua plenitude. A queda de Babilônia será também resposta às orações dos mártires que clamam a Deus dia e noite por justiça pelo seu sangue derramado. Novamente no v. 3 ouvimos que as vozes disseram: “Aleluia. E a fumaça dela sobe pelos séculos dos séculos”. O louvor a Deus continua porque a justiça que precisava ser feita, foi realizada. Babilônia fora destruída. Numa figura de linguagem (e a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos) mostra-se que o julgamento de Babilônia é eterno. O juízo de Deus fora dado conforme a culpa . 2. Louvor e adoração dos vinte e quatro anciãos e dos quatro seres viventes – 19.4 – Com as ações de graça da imensa multidão, os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes também se prostram diante de Deus e O adoram dizendo: “Amém. Aleluia!”. É a concordância no céu pelo justo louvor que as multidões celestiais estavam prestando a Deus.

3. Conclamação a que todos louvem a Deus – 19.5 - Possivelmente um dos quatro seres viventes proclamam a todos os servos de Deus na terra para se juntarem ao coro no céu no louvor a Deus que louvem a Deus: “Louvai o nosso Deus, vós todos os seus servos, e vós que O temeis, assim pequenos e grandes”. “Louvai a Deus” é a tradução do Aleluia hebraico.

4. Triunfo de Deus e as bodas do Cordeiro – 19.6–8 - Logo após a proclamação do louvor a

Deus João ouve “uma voz como a de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, e como a voz de fortes trovões, que dizia: Aleluia! Porque já reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso. Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-Lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se preparou, e foi-lhe permitido vestir-se de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos” ( vs. 6–8). Nesta altura do livro de Apocalipse o reino de Deus não foi completamente estabelecido: Jesus Cristo tem de voltar primeiro, tem de haver o julgamento... Mas o apóstolo João, com a queda de Babilônia, narra antecipadamente o estabelecimento definitivo do Reino de Deus. Antes que o Reino de Deus se estabeleça em sua plenitude os adversários humanos e demoníacos têm de ser afastados. Isto ainda será narrado, mas o apóstolo já antecipa da alegria que ocorrerá no céu e a realização das bodas do Cordeiro. Já no Velho Testamento temos o uso da figura do casamento para expressar a união do povo de Deus com o próprio Deus. No Novo Testamento a figura continua sendo usada com relação à igreja e a Jesus Cristo. A igreja é tanto chamada de noiva como de esposa. Num sentido figurado as bodas do Cordeiro (Cristo) com a Sua igreja ocorrerá com a Sua volta e consumação de todas as coisas. No

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versículo 8 vemos a responsabilidade das igrejas de Jesus Cristo. Elas devem estar preparadas: “porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a Sua noiva se preparou”. Podemos pensar numa noiva que não se prepare para o dia das suas núpcias? Não se asseando, não se perfumando, não indo ao cabeleireiro, não se maquiando, não usando vestes especiais? Como igrejas de Jesus Cristo precisamos estar preparados para as bodas do Cordeiro. Esta preparação significa uma vida santificada, piedosa e operosa em prol do Reino de Deus. Não podemos ser seduzidos por este mundo e pelas heresias reinantes. Precisamos manter a nossa fidelidade tanto doutrinária quanto na vida de santidade.

Podemos ainda notar que, segundo o v. 8: “foi-lhe permitido vestir-se de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos”. O linho fino resplandecente e puro contrasta com a roupa brilhante da meretriz. “O linho fino diz o texto que são as obras justas dos santos”, segundo a nossa tradução. A BLH diz que “são os atos puros do povo de Deus ”. O linho, portanto, significa a retidão, que pode ser entendida como nossas obras de bondade, mas também pode ser a nossa retidão em Cristo. O linho fino, resplandecente e puro, por haver sido lavado no sangue do Cordeiro (5.9). Precisamos ter em mente que a Bíblia insiste que sem a santidade de vida ninguém verá a Deus. Não podemos esquecer em nosso viver a necessidade da santidade. A salvação é outorgada gratuitamente, mas compete aos salvos buscar uma vida de pureza.

5. A bem-aventurança dos convidados à ceia das bodas do Cordeiro – 19.9–10 – Um anjo

fala a João que escrevesse. Para quê? A fim de que esta mensagem se tornasse permanente e transmissível a outros. O que deveria escrever? “Bem-aventurados aqueles que são chamados à

ceia das bodas do Cordeiro. Disse-me ainda: Estas são as verdadeiras palavras de Deus” (v.9). Esta é a quarta bem-aventurança do Apocalipse. Felizes são aqueles que recebem a chamada para participar da ceia das bodas do Cordeiro. Ninguém terá acesso à ceia das bodas do Cordeiro por méritos próprios. Só os chamados ou convidados. Todos têm de receber um convite de Deus. Isto revela que a iniciativa da salvação é sempre a chamada de Deus. Este é um dos grandes temas prediletos de Paulo: a eleição ou vocação dos santos. Simbolicamente a vitória sobre todo o mal, estando consumada completamente, é tempo de festa. A união de Cristo e sua igreja é celebrada de um modo majestoso. Felizes todos aqueles que receberam a chamada divina e arrependidos dos seus pecados receberam a Cristo Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas. Eles participaram da festa celestial.

O anjo diz ainda a João: “Estas são as verdadeiras palavras de Deus”. Estas palavras não só constituem um consolo para os perseguidos, martirizados, todos os que sofrem por verem o mal prosperar na face da terra, mas também constituem uma certeza de que todo o mal será vencido. A palavra de Deus é infalível e imutável. Os servos de Cristo sofrem, são perseguidos na terra, mas tudo isto é transitória. A vitória final virá para os que são de Cristo e nEle confiam.

Diante de tudo isto João lança-se aos pés do anjo para adorá-lo, mas ele é repreendido gentilmente: “Olha, não faças tal: sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (v. 10). Há quem diga que João lançou-se aos pés do anjo, confundindo a voz com a de Cristo, pelo fato de que houve na igreja primitiva a tendência de adorar anjos (ver Col. 2.18), mas que foi combatido pelos apóstolos. Assim, João, não se prostraria diante do anjo para adorá-lo conscientemente. De qualquer forma ele se lançou aos pés do anjo e foi gentilmente repreendido a não fazer isto, mas a adorar só a Deus. Os anjos são também nossos conservos, isto é, servem a Deus juntamente conosco. Temos aqui mais uma vez no Novo Testamento o ensino que só Deus deve ser adorado. Nem anjos, santos ou quaisquer outros seres devem ser adorados.

“Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia. Isto também pode ser um genitivo subjetivo ou objetivo. Pode significar que o testemunho do plano de redenção divino, que Jesus dá aos homens, somente pode alcançar o seu objetivo através do espírito da profecia. (...) Por outro lado pode significar que todo verdadeiro testemunho da pessoa e obra redentora de Jesus tem de ter

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sua fonte no espírito da profecia. Em qualquer caso, as duas idéias estão corretas; no presente contexto o genitivo objetivo é a solução mais fácil” ( George Ladd, op. cit. pág. 186).

CONCLUSÃO Além de termos aprendido muito sobre o significado de Babilônia, a grande meretriz, no

decorrer o estudo apresentamos várias lições que servem de alerta diante das heresias que avassalam inclusive o meio chamado evangélico.

1. Alerta para a nossa fidelidade a Cristo – Está previsto no Novo Testamento um tempo de

apostasia geral. Em nosso estudo percebemos que, simbolicamente, o centro da apostasia é a Babilônia, a grande meretriz. A pergunta que fica é: quem é a grande meretriz? Quase todos os intérpretes concordam que a grande meretriz historicamente foi a Roma antiga, mas que profeticamente discordam entre si. A maioria dos intérpretes dito protestantes dizem que é a Igreja Católica Romana., da qual a besta se utilizará e depois, repentinamente, a destruirá. Outros pensam que se trata de união de cristãos apóstatas (de todos os segmentos do cristianismo) que prestarão lealdade ao anticristo e promoverão o seu culto, os quais depois de algum tempo serão destruídos por ele. Tendo em vista que a ação e influência do anticristo será universal, outros pensam que esse cristianismo apóstata se unirá a muitas outras religiões pagãs, representando a grande meretriz. Depois de certo tempo de união e cooperação com a besta, cairá em seu desagrado, sendo destruída.

Mesmo que não possamos precisar quem é ou será a grande meretriz, fica a lição de estarmos alertas. Se formos fiéis aos ensinos da Palavra de Deus, não corremos perigo de sermos aliciados por ela. Busquemos a maturidade cristã para que não necessitemos de sinais, prodígios e milagres para tentar validar a nossa fé. O nosso conhecimento da Bíblia, a nossa experiência pessoal com Cristo e a nossa comunhão com Deus mediante a atuação do Espírito Santo em nossas vidas devem ser suficientes para não estarmos correndo atrás de novidades. Precisamos ter a convicção de Paulo: “porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o

meu depósito até aquele dia... Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” (II Tim. 1.12b e 3.14).

2. A necessidade de não nos comprometermos com o presente século - Deve causar

profunda impressão em nossas mentes as palavras de Apocalipse 18.4: “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.” Este versículo leva-nos ao passado: Ló e a destruição de Sodoma. A descrição em Gênesis 13 deve levar-nos à meditação. Depois de ter escolhido toda a planície do Jordão, que era a mais bela e fértil, vemos que após a separação de Abraão e Ló, Moisés descreve assim a vida de cada um deles: “Habitou Abrão na terra de Canaã, e Ló habitou nas cidades da planície, e foi armando as suas

tendas até chegar a Sodoma. Ora, os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o Senhor” (vs. 12 e 13). Após escolher egoisticamente, Ló foi, pouco a pouco, aproximando-se da cidade de Sodoma, que era constituída de homens maus e grandes pecadores contra o Senhor. Ainda que Ló, fosse fiel a Deus, escolheu habitar com os grandes pecadores. Só foi salvo pela misericórdia de Deus, que foi tirá-lo de Sodoma pelos seus anjos para que ele não perecesse com as cidades pecadoras. Ele foi salvo, mas perdeu a sua esposa, que em desobediência à ordem de Deus olhou para trás.

Este versículo 4 de Apocalipse 18 faz apelo semelhante ao povo de Deus. O sair de Babilônia não quer dizer isolar-se do mundo. Nós temos uma missão a cumprir neste mundo: ser o sal da terra e a luz do mundo (Mateus 5.13). O sair dela significa não ser participante dos seus atos e de sua filosofia. Os modernos meios de comunicação, inclusive Internet, servem como instrumentos do mundo para aliciar os homens a seguirem a filosofia e padrões do mundo. A massificação vai sendo feita e se nós não estivermos atentos, nós acabaremos sendo engodados

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pelas belas roupagens com que revestem todo o pecado e mal. Devemos tomar cuidado com a influência do mal sobre nós. Não nos esqueçamos de que o inimigo é astuto. Precisamos orar e vigiar.

3. A lamentação sobre a destruição da grande cidade: Babilônia – Ao lermos as

lamentações que os reis, governantes, mercadores, pilotos, navegantes e povos fazem diante das ruínas da cidade destruída, devem reforçar em nosso íntimo de que os tesouros verdadeiros e as riquezas mais preciosas não são as terrenas. Não devemos ser seduzidos pelo que estas coisas podem proporcionar aqui na terra. Tudo isto passará. Um dia tudo perecerá, mas apenas as espirituais são eternas. Precisamos de coisas materiais para viver, mas elas não podem nos escravizar e fazer-nos viver em torno delas. Cristo deve ser o alvo supremo de nossas vidas. Precisamos ter em mente de que somos peregrinos e forasteiros aqui nesta terra. No entanto, não somente nós passaremos para a eternidade, como também este mundo terreno um dia terá a sua consumação com a volta do nosso Senhor Jesus Cristo.

4. O louvor e alegria no céu - No capítulo 19 temos uma antevisão do regozijo que haverá

no céu quando, com a volta de Cristo, todo o mundo será subjugado ao poder de Deus. Dois fatos devem ser lembrados: Primeiro: A vitória de Cristo é absoluta e segura. O mal crescerá, mas a vitória é de Cristo. Aparentemente a causa de Cristo pode parecer perdida diante do crescimento das hostes malignas e da apostasia, mas a verdade é que no final o Reino de Cristo triunfará. Segundo: Não podemos dizer com precisão quando isto ocorrerá. Os tempos, as épocas estão reservadas à autoridade de Deus-Pai (Atos 1. 7). A garantia que Jesus nos dá é que o mundo chegará a uma consumação, com a Sua vitória sobre todo o mal e pecado. O livro de Apocalipse não revela o tempo em que todas estas coisas vão acontecer. Ele revela que acontecerão. Há muitos sinais de que os tempos estão sendo cumpridos. A redenção final pode acontecer a qualquer momento. E isto é tão certo que foi revelado ao apóstolo o louvor e regozijo celestial nos primeiros versículos do capítulo 19.

5. Bem-aventurados os que são chamados para as bodas do Cordeiro – A lição de hoje

apresenta também a quarta bem-aventurança do Apocalipse. A maior felicidade que um homem pode ter é exatamente a de ser chamado por Deus para tomar parte na ceia das bodas do Cordeiro. Isto significa que a maior bênção que alguém pode alcançar nesta vida é a salvação de sua alma. Deus é quem chama e quem salva o pecador.

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SUMÁRIO DO CAPÍTULO 10

A VITÓRIA FINAL DO CORDEIRO E O JUÍZO FINAL

TEXTO BÍBLICO: Apocalipse 19.11–20.10 TEXTO ÁUREO: “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição;

sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo; e reinarão com Ele durante mil anos.” (Apocalipse 20.6)

INTRODUÇÃO – Nos capítulos 17 e 18 vimos à queda de Babilônia, a grande meretriz. Ela estava aliada com a besta, que por sua vez recebera o apoio dos reis da terra. Depois de algum tempo de aliança, a besta e os reis voltaram-se contra a prostituta odiando-a e destruindo-a. Mas os aliados ainda precisavam ser vencidos. João numa visão antecipada nos primeiros dez versículos do capítulo 19 ouve as Aleluias dadas a Deus pela sua vitória. Ouve o regozijo de que o Senhor começa a reinar, mas ainda faltava vencer a besta, o falso profeta e Satanás (o dragão). No capítulo 19.11-20 ele tem a visão da derrota da besta e do falso profeta com seus aliados. Agora só falta ser vencido Satanás. Isto é narrado no capítulo 20 nos dez primeiros versículos, bem como o reinado dos “mil anos” de Cristo com os santos. Nos versículos 11 a 15 do capítulo 20 temos uma breve visão do julgamento final. No decorrer do capítulo analisaremos o tema do milênio. É um dos pontos mais controvertidos de toda a teologia. A doutrina do milênio com a designação de “mil anos” só é encontrada nos sete primeiros versículos de Apocalipse 20. Há várias posições: os chamados amilenistas (que acham que o milênio deve ficar fora da teologia), os pré-milenistas (que têm vários sub-grupos, e crêem que Cristo voltará antes do milênio, estabelecendo o seu reino na terra ou nos ares, dependendo do grupo) e os pós-milenistas (também com vários sub-grupos e que crêem que Cristo voltará após o milênio, trazendo a consumação de todas as coisas). I. A vitória de Cristo sobre a besta e o falso profeta – Apocalipse 19.11-21 1. O simbolismo do céu aberto – 19.11a 2. O Guerreiro vencedor – símbolo de Cristo – 19.11-16 3. A batalha entre Cristo e o Anticristo (a besta) – 19.17.21

Convite às aves que voam no meio do céu – 19.17-18 As forças inimigas alinhadas para a batalha final – 19.19 A fragorosa derrota da besta – 19.20 Breve resumo da destruição do exército do Anticristo – 19.21

II. A vitória completa de Cristo sobre Satanás – Apocalipse 20.1-10 1. A dificuldade da interpretação do milênio – 20.1-6

1.1. O termo milênio – A palavra não aparece no Apocalipse, mas “mil anos 1.2. O pensamento de W. C. Taylor 1.3. Perguntas sem resposta

2. Interpretações literais do milênio - 20.1-6 2.1. Os pré-milenistas 2.2. Os pós-milenistas 2.3. Os amilenistas

3. Interpretação simbólica do milênio – 20.1-6 4. Nossa conclusão pessoal – 20.1-6

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5. Satanás será vencido para sempre – 20.7-10 III. O Juízo Final – Apocalipse 20.11–15 1. Visão panorâmica do tribunal – 20.11 2. Toda a humanidade será submetida ao juízo final – 20.12-13

2.1. Todos os homens terão que presta contas dos seus atos – 20.12-13 2.2. Os dois livros diante do trono – 20.12 2.3. O julgamento dos crentes

CONCLUSÃO

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CAPÍTULO 10 – A VITÓRIA FINAL DO CORDEIRO E O JUÍZO FINAL

TEXTO BÍBLICO: Apocalipse 19.11–20.10 TEXTO ÁUREO: “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição;

sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo; e reinarão com Ele durante mil anos.” (Apocalipse 20.6)

INTRODUÇÃO – Vimos nos capítulos 17 e 18 a queda de Babilônia, a grande meretriz. Ela estava aliada com a besta, que por sua vez recebera o apoio dos reis da terra. Depois de certo tempo da aliança, os reis e a besta voltaram-se contra a prostituta odiando-a e posteriormente destruindo-a. Mas ainda a besta e seus aliados precisavam ser vencidos. Na visão de João, logo após a destruição de Babilônia, ele antecipadamente vê o regozijo no céu por parte da imensa multidão, dando louvores a Deus (Aleluias). Ele ouve também vozes de regozijo anunciando que o Senhor começara a reinar. No entanto, a besta e o dragão (Satanás) ainda não tinham sido vencidos. Para que esta visão antecipada fosse cumprida era necessário vencer todos os inimigos: o dragão, a besta, o falso profeta e os seus aliados. É a visão que o apóstolo vai ter agora, segundo Apocalipse 19.11-20.10. Os inimigos precisavam ser vencidos e processar-se o julgamento final. Simbolicamente João vê a vitória final de Cristo contra a besta e o falso profeta. Nesta mesma visão temos a seguir um dos textos mais difíceis de interpretação: a questão do milênio. A discussão deste tema (milênio) tem sido extensa. Este texto relativo ao milênio é um dos mais simbólicos do livro do Apocalipse. Em torno da interpretação do milênio surgiram as várias correntes escatológicas, tais como os amilenistas, os dispensacionalistas, os pré-milenistas históricos e os pós-milenistas. Cada um tem o direito de achar melhor qualquer uma destas correntes, mas há um fato certo: ninguém pode ser dogmático nesta questão. Em todas as correntes há pontos que temos dificuldade em explicar biblicamente. É difícil armar um esquema escatológico que deixe bem claro todos os textos que falam dos tempos finais: os ensinos de Jesus, de Paulo, Pedro e de João. Há ensinos claros e indiscutíveis como a volta do Senhor Jesus Cristo, a ressurreição de todos os mortos e transformação num “abrir e fechar de olhos” dos que estiverem vivos, o julgamento final e o céu e inferno eternos. Diz o Pr. Wilson Franklin no comentário sobre o milênio: “Aqui, mais do que nunca, é preciso manter-se firme aos princípios da boa exegese bíblica, não deixando que as lindas idéias venham entrar em choque com os demais livros do Novo Testamento. Por mais belas que sejam essas idéias, precisamos ser fiéis à Palavra” (Revista da JUERP, Atitude, 4 º Trimestre de 2000, pág. 51). Aqui apenas citamos a dificuldade do texto que vamos estudar concordando com C. J. Vaughan quando diz: “Jamais precisamos mais da ajuda de Deus do que ao penetrarmos na interpretação deste capítulo que ora se nos apresenta (capítulo 20)”, deixando a discussão para o momento próprio. Ainda que nossa curiosidade em conhecer profundamente a questão do milênio, o ponto mais importante do texto é a vitória final de Cristo e a Sua vitória significa também a nossa vitória. Isto significa que não temos crido e trabalhado em vão. Podemos ser incompreendidos, desprezados, ridicularizados ou mesmo perseguidos por causa de nossa fé, mas a vitória será nossa pela vitória que Cristo já alcançou na Cruz e pela que alcançará ao esmagar todas as forças do mal na consumação deste mundo. Podemos nos juntar ao coro da imensa multidão celestial: “Aleluia! A

salvação e a glória pertencem ao nosso Deus; porque verdadeiros e justos são os seus juízos.” (Apoc. 19.1b-2a).

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I. A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A BESTA E O FALSO PROFETA (Apoc. 19.11–21)

João inicia a narrativa desta visão dizendo que viu o céu aberto e “eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça...” e continua fazendo a descrição simbólica de Cristo como um guerreiro valente com roupas salpicadas de sangue, destruindo todos os poderes hostis e que se opõe a Ele. Esta descrição de Cristo é bem diferente do Cristo bondoso e amoroso que encontramos no restante do Novo Testamento. Mas devemos ter em mente que em todo o Novo Testamento está presente a idéia de que o amor não exclui a justiça. Cristo veio para salvar os homens, libertá-los dos seus pecados, mas, se o homem rejeitar sofrerá as conseqüências do seu ato de rebeldia. O homem será julgado e condenado pelos seus próprios atos pecaminosos. E precisamos notar também que nesta visão de João só é enfatizada um aspecto da volta de Cristo: sua vitória sobre os poderes malignos. No Antigo testamento temos profecias em que o próprio Yahweh conduz uma guerra vitoriosa para estabelecer o Seu reino sobre os inimigos (Isaías 13.4; 31.4; Ezequiel 38 e 39; Joel 3; Zacarias 14.3). No quadro profético mais comum é o conquistador sem nome que avança com roupas de cores vivas para fazer justiça, que pisou as uvas da ira de Deus e salpicou suas vestes com o sangue dos seus inimigos, que pisou os povos hostis em sua ira e estabeleceu o dia da vingança (ver Isaías 63.1-6). De modo semelhante, João vê Jesus Cristo voltando como guerreiro com roupas salpicadas de sangue, lutando e destruindo com sua espada os seus inimigos poderosos e seus aliados. Não podemos esquecer que o livro de “Apocalipse usa símbolos para descrever eventos da redenção, e este parágrafo também está repleto de simbolismo. Mas é violação da natureza da linguagem apocalíptica espiritualizar esta passagem a ponto de usá-la para escrever os atos de justiça de Deus nos acontecimentos históricos corriqueiros. Simbolismo apocalíptico, em uma passagem como esta, e como 6.12-17, representa o que o escritor sentiu que seriam acontecimento reais e objetivos na história – atos de Deus que vão além de todas as experiências históricas normais. A segunda vinda de Cristo é um tema absolutamente essencial na teologia do Novo Testamento. Por meio da cruz e da ressurreição Jesus obteve uma vitória incontestável sobre os poderes do mal; em Sua segunda vinda Ele tornará concreta esta vitória. Sem Seu retorno para purificar a criação de todo mal a redenção é incompleta. Hanns Lilje escreveu: “Os que crêem na realidade da ressurreição de Cristo também têm de esperar Sua volta” (George Ladd, op. cit. pág. 187). 1. O simbolismo do céu aberto – 19.11a – Se olharmos para os capítulos anteriores veremos uma progressão nas visões de João. Inicialmente ele viu uma porta aberta no céu. Naquele momento ele foi convidado a subir ao reino celeste para ver as coisas que em breve deveriam acontecer (4.1). No transcorrer de suas visões ele viu abrir-se o santuário no céu, revelando a arca da aliança para os homens (11.19). Agora em 19.11, ele vê o céu aberto, simbolizando que as visões das coisas que haviam de acontecer estavam tornando-se realidade. O céu foi aberto para abrir caminho para o Messias vir a esta terra completar a Sua obra triunfalmente. Aquilo que tinha sido revelado agora está se concretizando. 2. Guerreiro vencedor – símbolo de Cristo – 19.11-16 – João vê o céu aberto e surge a figura de um cavalo branco (branco é símbolo de vitória e em todo o livro de Apocalipse o branco está relacionado às coisas de Deus e à Sua vitória) com um cavaleiro montado nele. O cavalo branco e seu cavaleiro constituem o simbolismo de Cristo em sua vitória final. O nome de Cristo não é mencionado, mas a identificação torna-se clara por vários aspectos: seu nome: Fiel e

Verdadeiro (v. 11); chama-se o Verbo de Deus (v. 13) e no seu manto, sobre a sua coxa, tem escrito o nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores (v. 16). Fiel e Verdadeiro são adjetivos que foram atribuídos a Jesus Cristo em 3.14 com pequena diferença de palavras: “Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio e o fim da criação.” Fiel e verdadeiro são duas palavras

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praticamente sinônimas, porque a idéia judaica de verdade é de confiabilidade, ao passo que a idéia helenística é basicamente de realidade. No pensamento judaico Verdadeiro e fiel dão idéia de confiabilidade. Esta é uma das características divina. Logo a seguir notamos outro aspecto da divindade do cavaleiro: chama-se Verbo de Deus designação usada somente em relação a Jesus Cristo. Por outro lado também a expressão Rei dos reis e Senhor dos senhores também é aplicada à pessoa de Jesus Cristo. Por isso o cavaleiro guerreiro valente é o símbolo de Cristo. Podemos ver ainda algumas características que mostram ser a figura de Cristo: “julga e peleja com justiça” (v. 11); “tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão Ele mesmo” (v. 12); e “Ele regerá as

nações com vara de ferro” (v. 15). A volta de Jesus Cristo, vencendo os inimigos, não será um ato de vingança pessoal, nem de manifestação arbitrária do Seu poder. Será um ato de justiça, mostrando a fidelidade de Deus. Há necessidade do mal ser exterminado para que o Reino de Deus seja implantado em sua plenitude. “Os seus olhos são chama de fogo” (v. 12) descrição semelhante é feita em 1.14. Isto simboliza que o olhar de Cristo perscruta tudo, nada Lhe é oculto. Ele vê tudo na vida de cada homem e da humanidade toda. “Na Sua cabeça há muitos diademas de outro” (v. 12) – O uso de diademas é dos reis e soberanos da terra. Ele como se descreve neste mesmo texto é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. A volta de Cristo será uma manifestação pública e uma concretização universal da soberania já conquistada por Cristo por Sua morte e ressurreição. Podemos notar além de algumas semelhanças com a descrição simbólica feita no primeiro capítulo do Apocalipse, que há semelhança também à visão de Isaías 63, em que o conquistador pisa o lagar da ira de Deus e que tem suas vestes manchadas com o sangue dos seus inimigos. Jesus Cristo aqui simbolizado é o guerreiro e dominador do mal, e não o redentor. Por isso a maioria dos comentadores modernos interpreta que o “manto salpicado de sangue” é uma referência às roupas sujas de conflitos e batalhas. Naturalmente é linguagem simbólica. Jesus Cristo não precisará usar de armas físicas. A batalha é e será espiritual. Cristo na Sua volta será seguido dos exércitos que estão no céu, podendo exércitos ser representação tanto os santos quanto dos anjos. Zacarias profetizou: “Virá o Senhor meu Deus, e todos os santos com Ele” (Zac. 14.5). O Novo Testamento, por sua vez, deixa bem claro que anjos acompanharão o Filho do Homem quando Ele vier (Marcos 8.38; Lucas 9.26; I Tes. 3.13; II Tes. 1.7). O fato de estarem vestidos do linho fino, branco e puro, em cavalos brancos, indica que eles participam da vitória do Messias. Nada, no entanto, é citado sobre a sua participação no conflito. O conflito pertence ao Messias. Eles não usam armadura nem têm armas. A única arma é usada pelo Cordeiro, o Guerreiro no texto, e esta arma é a palavra de Cristo: “Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações” (v. 15). Em Isaías 11.4 lemos: “Ele ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o perverso.” É a representação simbólica de vitória de Cristo pela Palavra. Ele não precisa e não precisará usar armas materiais como nós seres humanos. Basta a força, o poder da palavra como aconteceu no ato da criação narrado no livro de Gênesis. Deus criou o universo por meio da Sua Palavra. O julgamento final sobre toda a humanidade será por meio da palavra de Cristo. Não devemos pensar numa batalha literal, com armas militares. Em Hebreus 4.12 já temos a figura da espada como Palavra de Deus. 3. A batalha entre Cristo e o Anticristo (a besta) – 19.17-21 – Nestes últimos versículos do capítulo 19 temos a descrição do triunfo de Jesus Cristo sobre o Anticristo e seus aliados, em termos de uma grande batalha, a batalha de Armagedom, que já tinha sido anunciada em 16.12-16 – quando soou a sexta trombeta e os demônios reuniram os reis da terra em aliança com Anticristo. A batalha com o Anticristo não é descrita, apenas é anunciada a vitória.

3.1. Convite às aves que voam no meio do céu – 19.17-18 – Antes mesmo de mencionar a guerra, João descreve simbolicamente as conseqüências funestas da batalha para o Anticristo e seus aliados. Ele narra: “E vi um anjo em pé no sol; e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves do que voavam pelo meio do céu: Vinde, ajuntai-vos para a grande ceia de Deus, para comerdes carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e dos que neles

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montavam, sim, carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes” (vs. 17–18). O texto diz “carnes de todos os homens, livres e escravos, pequenos e grandes”, mas isto não inclui os santos. Todos, indica aqueles que aceitaram a marca da besta e decidiram aliar-se ao Anticristo ao invés de aceitarem a Cristo. Os termos desta figura são extraídos de Ezequiel 39.17-20 em que é descrita a vitória final de Deus sobre as nações pagãs, particularmente sobre Gogue, Meseque e Tubal. Nessa passagem de Ezequiel as aves e animais são convidados a virem a comerem a carne e beberem o sangue dos poderosos, dos príncipes, dos cavalos, cavaleiros e guerreiros em geral. Aqui no Apocalipse há figura semelhante.

3.2. As forças inimigas alinhadas para a batalha final – 19.19 – “E vi a besta, e os reis da

terra, e os seus exércitos reunidos para fazerem guerra aquele que estava montado no cavalo, e ao seu exército.” Na visão de João volta-se um pouco para antes da batalha. As forças inimigas estão alinhadas prontas para entrar em combate. À frente desta forças está a besta, isto é o próprio Anticristo. Com ele estão os reis da terra para batalharem ao seu lado.

3.3. A fragorosa derrota da besta – 19.20 – A batalha não é descrita. Depois de vermos as

tropas inimigas formadas para a luta, vem logo a narração dos inimigos presos e seus seguidores mortos: “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que fizera diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e os que adoraram a sua imagem. Estes foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre.” A derrota dos reis é secundária. A importância está na derrota do Anticristo e do falso profeta. A besta (Anticristo) e o falso profeta (a segunda besta) são lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre – figura usada para o inferno. O falso profeta (a segunda besta, a que saiu da terra) que com os sinais miraculosos induziu os homens a receberem o sinal da besta e a adorarem a sua imagem, receberá a mesma sentença de condenação. Chamamos a atenção para o fato de o falso profeta realizar sinais miraculosos, como uma advertência aos que ainda hoje estão correndo atrás de sinais. Lembramos que tão somente os sinais e milagres não querem dizer que eles são oriundos de Deus. A besta, o falso profeta receberão poder do dragão (Satanás) para realizar coisas espantosas. Nossa fé não precisa de sinais e milagres. Não precisamos ver para crer. Jesus disse que: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20.29). Nós temos a Palavra de Deus. Tivemos a nossa experiência pessoal de regeneração quando recebemos a Jesus Cristo em nosso coração. Temos o selo do Espírito Santo em nós. Por que buscar e correr atrás de sinais, milagres e prodígios? Uma fé madura não necessita destas coisas para se fortalecer. No mundo sempre houve sinais e milagres oriundos de outras fontes que não as divinas. Basta que nos lembremos dos magos do Egito, que fizeram muitos sinais, para iludir a Faraó e tentar confundir os sinais verdadeiros feitos por Moisés e Arão em nome de Deus. Em toda a História da humanidade podemos ver milagres e curas, sem que sejam de Deus. Nos últimos tempos estes sinais aumentarão e tornar-se-ão cada vez mais impressionantes. Cuidado! 3.4. Breve resumo da destruição do exército do Anticristo – 19.21 – “E os demais foram mortos pela espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo; e todas as aves se fartaram das carnes deles.” Agora há um breve relato da destruição do exército que seguia o Anticristo e o falso profeta. Os reis da terra e os que foram seduzidos pelo falso profeta são mortos pela espada que saía da boca de Cristo. Não resta dúvida de que a vitória final é de Cristo. As forças do mal podem crescer e arregimentar-se, mostrar um poderio indestrutível, mas serão vencidos no tempo final por Cristo. É a certeza de toda a Bíblia e particularmente do livro de Apocalipse. Vimos assim, a derrota do Anticristo (a besta), do falso profeta (a segunda besta) e dos seus poderosos aliados. Mas, ainda falta a derrota do senhor e mestre da besta: o dragão, Satanás. É o assunto do capítulo 20.1-10. Para o julgamento final e consumação de todas as coisas só falta esta vitória final, que também é certa.

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II. A VITÓRIA COMPLETA DE CRISTO SOBRE SATANÁS (Apoc. 20.1-10)

A seguir João diz: “E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos. Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações até que os mil anos se completassem. Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo” (vs. 1-3).

Logo de saída é interessante notar que na visão de João a anjo que tinha a chave do abismo é descrito simplesmente com um anjo comum. No decorrer do livro já vimos algumas descrições sobre os anjos executando as tarefas designadas por Deus. A atuação dos anjos no livro de Apocalipse é grande. Eles são os ministros do Senhor que executam a Sua vontade. Lemos, por exemplo, de alguns anjos com características que mostram força e poder: “E vi outro anjo forte que descia do céu...” (10.1a) e “Depois destas coisas vi descer do céu outro anjo que tinha grande autoridade, e a terra foi iluminada com a sua glória.” (18.1). O que notamos na descrição do anjo que veio prender o dragão? Simplesmente um anjo, que tinha na mão a chave do abismo e uma grande cadeia na mão. Não era um anjo forte, ou de grande autoridade, simplesmente um anjo que vinha exercer as funções de um carcereiro. Por outro lado não vemos o poderoso dragão esboçar a mínima reação. O quadro aqui pode ser comparado com um terrível bandido ou cangaceiro sendo algemado pelo carcereiro e lançado na cela da prisão. Ele já não esboça qualquer reação porque sabe que está vencido. Qualquer tentativa de reação seria inútil. Assim na visão do apóstolo, ele vê Satanás sendo algemado e lançado no abismo. A porta do abismo é fechada, como a porta de uma cela, e ao mesmo tempo selada (ou lacrada) para que não seja aberta por ninguém. Enfatizamos que a força e o poder não estavam no anjo, pois é descrito simplesmente como um anjo, mas o Cordeiro já o havia vencido, ainda que não haja a descrição desta batalha espiritual. A derrota de Satanás foi selada na cruz do Calvário e com a ressurreição de Jesus Cristo. Satanás sabe que já está vencido, mas ele sabe também, que tem pouco tempo para continuar em sua nefasta obra de enganar os homens e as nações e ele nunca desiste. Só se dará por vencido quando for algemado, preso e lançado no abismo. Notemos que o abismo é o mesmo de onde saíram os gafanhotos demoníacos que torturaram os homens (9.1-6). Naquela visão um anjo tinha a chave do abismo, que ele usou para abrir o abismo e soltar os gafanhotos. Podemos notar também que o abismo é também o lugar onde mora a besta. Ela surge do abismo (11.7). Aqui nos vs. 1 a 3 Satanás e amarrado ou algemado e preso no abismo. Certamente a linguagem aqui é simbólica, descrevendo a anulação do poder e atividade de Satanás. Ele está amarrado e preso. Abrindo um pequeno parêntesis, advertimos os irmãos para as aberrações usadas por pessoas de tendências neo-pentecostais que vivem sempre “amarrando Satanás” e ele continua com as suas atividades e poder sobre os homens que não têm Cristo no seu coração. Este poder de amarrar Satanás é de Deus. No tempo certo a sua atuação e poder sobre os homens serão tirado. Quando Jesus, numa parábola, falou que para dominar a casa de um valente, era preciso que aparecesse outro mais valente, Ele se referia a Si próprio. Só Ele tinha, como tem, o poder para vencer Satanás. A nossa vitória sobre o inimigo vem por meio de Cristo. Esta vitória potencialmente foi alcançada na Cruz, mas até a parousia o inimigo continuará solto e fazendo sua obra maligna. À medida que o tempo final se aproxima mais furioso ele se encontrará e quererá aumentar a sua atividade. Nós vencemos o inimigo pela fé em Jesus Cristo. Satanás não pode possuir a vida de nenhum salvo por Cristo. Ele pode rondar, rugir e tentar o crente, mas não pode tocá-lo (I João 5.18b). Não é nossa tarefa sair e tentar “amarrar Satanás”, mas viver e pregar o Evangelho de Cristo. Podermos, confiados no poder de Jesus Cristo, orar pedindo a libertação daqueles que são oprimidos e possuídos por Satanás. Mas isto não é amarrar Satanás. É, pelo poder de Cristo, libertar aqueles que estão sob as garras do inimigo.

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1. A dificuldade da interpretação do milênio – A grande dificuldade de interpretação surge exatamente com a menção de que Satanás será preso por mil anos, para que não enganasse mais as nações, sendo solto por um breve período após os mil anos (vs. 2b–3). Nessa mesma visão João vê uns tronos e aos que estavam assentados nos tronos foi dado poder de julgar. Ele vê também as almas dos que foram martirizados por causa do testemunho da Palavra de Deus e que não adoraram e nem receberam o selo da besta, revivendo e reinando com Cristo por mil anos (v. 4). Neste período os outros mortos – presume-se que dos ímpios que adoraram e serviram a besta – não reviveram. O quadro da primeira parte da visão do capítulo 20 completa-se com a bem-aventurança dos que tem parte na primeira ressurreição, pois sobre eles a segunda morte não tem poder; serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com Ele durante os mil anos (v. 6). A interpretação destes versículos de 2 a 6 têm sido motivo de muitos debates e até de discórdias. Os sistemas escatológicos são identificados como eles abordam a questão do milênio.

1.1. O termo milênio - A palavra milênio não aparece no Apocalipse. Este termo vem do latim mile + annus = mil anos. No Apocalipse temos o grego Kília éte. Mesmo traduzindo do grego sempre teríamos mil anos e não milênio (que é o adjetivo correspondente). Estamos chamando a atenção para estas terminologias (mil anos e milênio) pelo menos por duas razões:

Primeira – Usando a expressão mil anos mantemos o número mil bem claramente. Isto nos traz à mente a simbologia dos números no livro de Apocalipse, bem como o simbolismo do número mil em toda a Bíblia. Se estudarmos atentamente as várias passagens em que aparece o número mil, verificaremos que o número não é suado literalmente, mas simbolicamente para indicar uma quantidade indefinida. Por exemplo, em Deuteronômio 1.11 lemos: “O Senhor Deus de vossos pais, vos faça mil vezes mais numerosos do que sois.” Em Deuteronômio 7.9: “Saberás pois que o Senhor teu Deus... fiel, guarda... a misericórdia até mil gerações aos que o amam...”. Em Deuteronômio 32.30: “Como poderia um só perseguir mil e dois fazer fugir dez mil?” Em Josué 23.10: “Um só homem dentre vós persegue a mil, pois o Senhor vosso Deus é quem peleja por vós, como já vos disse. No Salmo 90.4 e II Pedro 3.8: “Mas vós amados, não ignoreis uma coisas: que um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos como um dia”.

Com a citação de apenas estes poucos textos, podemos perceber que em nenhum dos casos a número mil é tomado literalmente. Sempre tem um significado simbólico: “grande quantidade indefinida”. Assim dificilmente os mil anos hão de querer dizer literalmente um período correspondente a mil anos. O que o texto estaria dizendo é que haverá um período de tempo indefinido, ainda que grande. Os chamados impropriamente de amilenistas crêem que os “mil anos” do capítulo 20 de Apocalipse simbolizam o tempo indefinido entre a primeira e segunda vinda de Cristo. Dissemos impropriamente chamados de amilenistas porque o prefixo a significa negação e os amilenistas não negam que exista este período, apenas pensam que é um período indefinido que já começou com a ressurreição de Cristo e a Sua segunda vinda.

Segunda – Embora o significado de milenista e quilialista seja igual, havendo apenas a diferença quanto à origem: o primeiro de origem latina e o segundo de origem grega, teologicamente há diferença. Os milenistas crêem que virá uma idade de ouro para toda a humanidade sob o reinado de Cristo aqui na terra e os quilialistas, também crêem nessa idade de ouro, mas pensam que será com a restauração do antigo judaísmo, com um reino davídico, tendo como rei o próprio rei Davi, com seus sacrifícios etc., crendo assim que as profecias do Antigo Testamento seriam cumpridas literalmente naquilo que diz respeito ao milênio. Sem maiores comentários, pessoalmente achamos que a volta ao sistema de sacrifícios é um absurdo uma vez que Cristo já morreu pelos pecados e não resta mais nenhum sacrifício a ser feito pela expiação dos pecados.

1.2. O pensamento de W. C. Taylor – “Existe a doutrina do milênio na revelação? O termo milênio nunca se acha na Bíblia. Mas tem embarcado sistemas inteiros de teologia, tem dado origem a muitas seitas, tem manchado as páginas da história eclesiástica com período de loucura,

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pela desobediência a Cristo, que consistem em o dia da vinda de Jesus. Que os mil anos do Capítulo 20 sejam uma ilha de literalismo, no meio do mar de linguagem figurada em todos este livro de metáforas, acho sumamente improvável. Benjamin Warfield nota que se trata das “ALMAS” dos mártires, reinando com Cristo. Portanto, insiste que se indica aqui a associação dos redimidos no céu com Jesus, na sua autoridade providencial na terra, no intervalo entre a ascensão de Cristo e Sua segunda vinda. Não tenho a menor idéia se significa isso ou não. Nunca foi revelado o sentido desse mil anos metafóricos; portanto recuso dar-lhes sentido literal, ou dizer o sentido figurado, pois Deus não o revelou Verdades evidentes são a existência do diabo e suas limitações na providência permissível de Deus. A depravação humana é estimulada pelo Maligno, mas existe nos homens sem o diabo. Mesmo no fim desses “mil anos” a humanidade é tão facilmente enganada como antes. Lembremo-nos de que Jesus, informado da ânsia dos gregos em vê-lo, vislumbrou o êxito missionário de Seu reino, e exclamou que viu Satanás cair do céu. Sei que não cabe às hostes do mal operar milagres hoje em dia, como cabia nos dias de Moisés, na redenção de Israel, ou nos dias de Jesus, na redenção do Novo Israel. Mas o que significa a linguagem cujo sentido Deus não tenha revelado, não sei, e não me faz falta não saber. Nem curiosidade tenho a respeito. Aguardo reverentemente os eventos e me ocupo de evangelizar, como Cristo mandou: Atos 1.7, 8. Eu sei evangelizar, que é a ordem do dia, mas não sei o que Deus não tenha revelado. 1.3. Perguntas sem respostas – Quando analisamos as várias correntes de interpretação do milênio, em todas elas encontramos perguntas que ficam sem resposta ou o que é pior há afirmações com as quais não podemos concordar, pois, a nosso ver, são contra os ensinos gerais da Bíblia. Por exemplo, entre os que tomam a posição pré-milenistas, temos algumas afirmações como: “Possivelmente passarão para o milênio algumas pessoas, que mesmo não sendo salvas, foram simpatizantes do Evangelho. Talvez dessem apoio aos cristãos perseguidos sem se converter. Tais homens poderiam formar os súditos dos cristãos que compartilham o reino com Cristo. A ressurreição outorgará aos crentes corpos espirituais (I Cor. 15.38-49), mas os não-cristãos viverão em seus corpos naturais. Entre os transformados cristãos (ressurretos e vivos, portadores de corpos incorruptíveis) e os habitantes do mundo, haverá comunicação tal qual houve entre Jesus e seus discípulos após Sua ressurreição (cf. Mat. 28, Marcos 16, Lucas 24, João 20, 21 e Atos 1.1-11). Porém a Bíblia não dá motivos para esperar que os incrédulos que quiserem poderão receber a salvação ou vida eterna durante o milênio. Não há qualquer trecho bíblico que claramente estende o dia da graça além da vinda gloriosa de nosso Senhor (cf. II Cor. 6.1-2). Pensamos que obedecerão forçosamente a cristo e aos que reinam com Ele, unicamente porque não têm outra opção (veja I Cor. 6.3 – onde cristãos também julgarão os anjos que pecaram, provavelmente no milênio) (Russell Shedd, op. cit. pág. 60). Neste pequeno trecho transcrito há vários pontos que, dificilmente, podemos provar pela Bíblia. Logo de início a afirmação de que no milênio, estarão juntas salvos e não salvos, uns como senhores e outros como súditos. Depois conviverem juntos pessoas que foram ressuscitadas e vivos com corpos transformados (incorruptíveis) e pessoas ainda com os corpos corruptíveis, como todos nós os temos hoje. Também parece difícil aceitar que pessoas que tenham o livre arbítrio dado por Deus, tenham que obedecer forçosamente a Cristo e aos que reinam com Ele, por falta de outra opção. Depois do Dr. Shedd expor o que transcrevemos, ele mesmo diz: “Por que o milênio? Não seria suficiente conquistar as forças rebeldes humanas e demoníacas e passar imediatamente para o abençoado estado eterno? Muitos acham que sim. Grande número de estudiosos não encontram na Bíblia nenhuma possibilidade dum milênio depois de meditar em passagens como I Cor. 15.24-28; II Pedro 3.10-13. Outros encontram obstáculos intransponíveis na permanência de pecadores durante o reino milenar de Cristo (cf. II Tes. 1.8-10; Mateus 25.31-46). Não temos suficiente informação na Bíblia para responder a todas as perguntas levantadas” (Op. cit. pág. 61). Ainda mais há divergências quanto ao local do milênio. Há os que afirmam que será um reinado literal de Cristo aqui na terra, para cumprir as profecias do Antigo Testamento com relação ao reinado messiânico de Cristo que não foi cumprido literalmente na Sua primeira vinda. Dizem que, do mesmo modo como a besta terá o domínio sobre a terra, obrigando todos a adorá-lo, haverá

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um período de domínio global de Jesus Cristo, obrigando todos a servi-Lo, juntamente com os redimidos de todas as épocas. Após este período, os males voltarão a proliferar na terra entre as nações que se rebelarão contra o reinado de Cristo. Estas nações reunir-se-iam na batalha final contra Cristo e o Seus. Há uma outra corrente que afirma que o reino milenar não será na terra. Afirmam estes que os salvos serão arrebatados para estarem com Cristo, enquanto o mundo continuará a sua história durante este período. É o chamado de “rapto”, no sentido de que os crentes serão como raptados da terra para o encontro com o Senhor e reinar com Ele por mil anos. Também é difícil conciliar isto com o ensino geral do Novo Testamento. 2. Interpretações literais do milênio – Síntese das correntes principais - Historicamente eram duas as posições dos intérpretes com relação ao milênio, com várias subdivisões: pré-milenistas e pós-milenistas. Os pré-milenistas são os que defendem que Cristo virá antes do milênio e pós-

milenistas os que defendem que Cristo virá depois do milênio. Nestes dois sistemas de interpretação a idéia de milênio desempenha o papel principal. “Há hoje, contudo um número crescente de teólogos que crêem que a idéia integral de um milênio está fora de lugar na teologia. Isto não é na hipótese de que neguem a autoridade do Novo Testamento como fé, mas na hipótese de que a idéia integral de um milênio é tão obscura que não se tornaria determinativa em relação à teologia, como um todo. Apenas em uma passagem é mencionado o milênio. Esta passagem é de um livro altamente figurativo no Novo Testamento. Todos os esquemas do milênio, até onde foram experimentados na história, têm-se mostrado falsos. Estes não raro têm sido relacionados com um método de interpretar a profecia que considera a profecia (em particular o Apocalipse) como destinada a habilitar a pessoa a prever de um modo mais ou menos definido o curso da história. Este é o ponto em que falham todos os esquemas até onde foram experimentados pelo curso dos acontecimento. Há um número crescente de intérpretes conservadores que preferem chamar-se amilenares (ou aminelistas), isto é, acreditam que a idéia integral do milênio deve ser deixada fora da teologia. O autor confessa-se cada vez mais convicto de que esta é a posição correta. Ele concorda, contudo, com o pós-milenismo no ponto em que afirma que a segunda vinda de Cristo significa o fim da história, a consumação do reino de Deus em relação ao tempo e à história e a introdução do reino eterno de Deus” (W. T. Conner, o Evangelho da Redenção, págs. 282 e 283). 2.1. Os pré-milenistas – Ainda que haja várias correntes dentro do pré-milenismo, eles concordam nos seguintes pontos:

a) Cristo virá antes do milênio e ressuscitará os justos; b) A sua segunda vinda visa à introdução do milênio; c) Cristo estabelecerá um reino visível sobre a terra e reinará por mil anos; d) Após o milênio haverá o ressurgimento da iniqüidade sobre a terra, que Cristo depois de

poucos tempo suprimirá; e) Virá depois a ressurreição e julgamento dos ímpios. Mas, nem todos os pré-milenistas concordam que o reino seja visível. Há os que pensam que

este reino será estabelecido num local nos ares, com a volta de Cristo com os salvos que já morreram, e o “rapto” dos crentes da terra ao encontro de Cristo. Os não crentes apenas perceberão a ausência dos que foram arrebatados. Muitos dos pré-milenistas crêem que será a grande época de salvação para o mundo, enquanto outros crêem que neste período não haverá salvação de ninguém. Há inclusive os que afirmam que com o arrebatamento da igreja de Cristo (no sentido de invisível e universal) o Espírito Santo sairá de Sua ação na terra e que mesmo assim haverá salvação (isto biblicamente é impossível, pois quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo e é também Ele quem opera a regeneração). Ouvimos numa pregação escatológica de que com o estabelecimento do milênio, a salvação pela graça cessará e será pela misericórdia de Deus. Segundo esta teoria, a salvação que hoje é oferecida graciosamente a qualquer ser humano, cessará. Será salvo qualquer homem que Deus em sua misericórdia queira salvar, independente de sua fé ou vontade. Esta idéia também é contrária ao ensino da Bíblia que mostra claramente que a

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salvação é oferecida por Deus, mas é necessário que o homem voluntariamente a queira receber. Por outro lado, no livro de Hebreus aprendemos que o novo pacto, com a morte e ressurreição de Cristo, como único meio de expiação dos pecados dos homens é um pacto eterno. 2.2. Os pós-milenistas – Entre os que adotam esta posição não tem havido concordância em tantos pontos quanto entre os pré-milenistas. Há muitas variações quanto ao que será o milênio e o tempo de duração do milênio. Eles concordam em que:

a) O milênio acontecerá antes da segunda vinda visível de Cristo a este mundo; b) Com a segunda vinda de Cristo haverá a ressurreição geral dos justos e dos ímpios. c) Seguir-se-á o juízo, com a condenação eterna dos ímpios. Há entre os pós-milenistas os que afirmam que o milênio é um grande tempo indeterminado

e que começou com a ascensão de Cristo e durará até a seu volta visível a este mundo. Há aqueles que crêem que o milênio será um tempo áureo na história da humanidade. O mundo alcançará o seu apogeu em prosperidade e desenvolvimento, depois do que virá o final dos tempos. 2.3. Os amilenistas – Como vimos o termo etimologicamente é inadequado, pois a idéia que devia transmitir seria a negação do milênio. Mas, como vimos na opinião de W.T. Conner, o

amilenismo não nega a existência do milênio. O amilenismo reconhece a dificuldade da interpretação do milênio e que o milênio deve ser deixado fora da teologia. Só neste capítulo 20, nos seis primeiros versos temos a referência ao período de mil anos e esta expressão aparece cinco vezes. Como o livro é altamente simbólico fica difícil dogmatizar sobre o assunto. Há fatos escatológicos revelados claramente e que devem ser aceitos por todos: a volta visível de Cristo a este mundo; a ressurreição dos justos e ímpios; o julgamento final e o destino final dos homens no céu ou inferno eternos, de acordo com a aceitação ou rejeição de Jesus Cristo. 3. Interpretação simbólica do milênio – Há vários intérpretes que defendem a idéia de que os mil

anos devem ser tomados no sentido simbólico. Ray Summers é um defensor desta idéia. Ele afirma que o tema principal dos dez primeiros versículos do capítulo 20 é a derrota de Satanás e não o reinado de mil anos (pág. 269). Discute que João registrou estas cenas não para nos dar uma série de acontecimentos que visassem satisfazer nossa curiosidade acerca do futuro. Ele fez o registro para anunciar a promessa do triunfo certo e final da Causa de Cristo para servir de conforto aos crentes que estavam sofrendo uma diabólica perseguição. Ele argumenta perguntando que conforto e encorajamento trariam para os cristãos primitivos saber que haveria um Armagedom mais que sangrento e a vitória final da causa do Cordeiro e de sua gente (o pré-milenismo). Também pergunta que conforto representaria para aqueles crentes saber que depois de uns poucos milênios de pregação do Evangelho as condições e os negócios humanos seriam tão bons e o governo da humanidade tão perfeito que o diabo já não mais conseguiria enganar os homens ? (pós-milenismo). Conclui estas considerações dizendo que tais pensamentos não os ajudariam em quase nada. E, no entanto, o livro do Apocalipse foi primeiro dirigido a eles. Pergunta ainda: “Que conforto, que animação e encorajamento encontrariam eles nessa mensagem?”. A seguir dá a sua interpretação simbólica do texto: “A verdade é que os cristãos daquela época estavam enfrentando um adversário duro e inclemente – o diabo – e agora, nesta visão, o vêem finalmente acorrentado, já não podendo mais seduzir as nações para encaminhá-las ao culto ao imperador. Essa obra sedutora vinha o diabo realizando desde o capítulo 13. Agora está preso e lançado ao abismo sem fundo, para que não seduza ninguém pelo espaço de mil anos. Lembremos que esta expressão ‘enganar as nações’ não se aplica a toda a obra de Satã. Aqui se usa tal expressão visando particularmente a sua obra de enganar as nações fazendo-as crer na divindade do imperador e que, por isso, todos devem adorá-lo. As correntes aqui não devem ser tomadas literalmente, pois não se admite que cadeias materiais prendam um ser espiritual. E os mil anos também não são mais literais que essas cadeias. No Apocalipse os números são simbólicos. Assim, o número 10 é um número completo, e mil é alto múltiplo de 10. Deve-se entender aqui o número mil como trazendo a idéia de completude mui

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certa. Não representa um período de tempo que venha antes ou depois da segunda vinda de Cristo. Isto quer dizer que se estava afirmando aos leitores de João que o diabo ia ser completamente cerceado na sua obra de enganar as nações e levá-las à adoração do imperador. Na verdade, quando ele surge inteiramente livre, logo reinicia esta obra de sedução (20.3, 7-10), mas afinal seu poder é completamente esmagado” (Ray Summers, pó. cit. págs. 271, 272). Prosseguindo em sua interpretação simbólica Ray Summers dizendo que não se deve tomar literalmente o período de mil anos. Os mártires já não estão debaixo do altar clamando por vingança, mas estão glorificados e reinando com Cristo. Os mártires são apresentados como bem-aventurados porque passaram pela primeira morte (a morte física) e porque a segunda morte (a alienação de Deus) não os alcança. A causa deles triunfou juntamente com eles. Eles são vitoriosos com Cristo, por quem deram a vida. “Não há base alguma aqui no simbolismo para se afirmar a existência de um reinado literal dos santos com Cristo por mil anos na terra, seja antes, seja depois da segunda vinda. Também não há base para múltiplas ressurreições e julgamentos. Os sistemas teológicos que se têm apegado à interpretação literal destes versículos e hão interpretado os claros ensinamentos do Novo Testamento á luz de obscuras teorias, encontram aqui lugar para várias ressurreições e vários julgamentos. (...) Quando, porém, estudamos o Novo Testamento como um todo harmônico e coerente, vemos que ele nos ensina haver uma única reunião geral (de bons e maus) e um único julgamento geral (de bons e maus), ambos diretamente relacionados com a segunda vinda de Cristo que dará fim à presente ordem mundial, ou terreal, e inaugurará a eterna ordem celestial” (Ray Summers, op. cit. págs. 273 e 274). 4. Nossa conclusão – Depois de lermos e relermos os dez primeiros versículos do capítulo 20 do Apocalipse, lermos e analisarmos as diversas teorias sobre o milênio, chegamos à conclusão já anunciada de que não podemos ser dogmáticos quando a Bíblia não fornece elementos necessários para uma interpretação precisa. Pessoalmente creio que a questão do milênio não deve perturbar-nos. Se recebemos a Cristo como Senhor e Salvador temos a vida eterna a partir do momento em que cremos e estaremos com Cristo pessoalmente com a nossa morte ou com o arrebatamento ao Seu encontro (o que primeiro ocorrer em nossa vida) Há pontos tanto no pré-milenismo como no pós-milenismo que não se encaixam com todo o ensino escatológico de Cristo nos Evangelhos e Atos e dos apóstolos em suas epístolas..

O Apocalipse fala apenas num período de “mil anos” em que Satanás será amarrado, durante os quais “as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos que reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos” e que depois destes “mil anos” Satanás será solto e sairá para, por um pouco tempo, enganar as nações novamente. Depois disto, reunindo um exército numeroso como a areia do mar, saíra para a batalha final cercando ao arraial dos santos e a cidade querida (Jerusalém), mas descerá fogo do céu e devorará todo o seu exército (vs. 7-10). Nenhum outro esclarecimento é dado. Daí a dificuldade em construírem-se teorias em torno do assunto, tendo em vista a linguagem simbólica que permeia todo o livro de Apocalipse.

Seja literal ou simbólica a interpretação do milênio, creio que com a volta de Cristo chegaremos ao final da história do homem na terra. Seguir-se-á a ressurreição geral e o julgamento final. Depois os homens estarão eternamente ou no céu ou no inferno, de acordo com a escolha que fizeram aqui na terra, aceitando ou rejeitando a Cristo. Na minha compreensão, quando Cristo voltar nos ares, será de uma forma visível, em que todos os homens O contemplarão (Marcos 13.26, 27; Lucas 21.25-27; Atos 1.11). Os crentes que já tiverem morrido, ressuscitarão e voltarão com Cristo (I Tes. 4.16) nos ares. Os crentes que estiverem vivos, terão, num abrir e fechar de olhos, os seus corpos transformados (I Cor. 15.51-52) e serão arrebatados ao encontro de Cristo nas nuvens (I Tes. 4.17). Reunidos nos ares, Cristo e os salvos ressurretos e os salvos com corpos transformados, descerão num cortejo glorioso a terra para o julgamento final. Na hora da ressurreição os ímpios também serão ressuscitados, os ímpios vivos terão seus corpos transformados. Estabelecer-se-á

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então o julgamento final, conforme apreciaremos daqui a pouco. Quando Paulo fala da ressurreição dos santos e a transformação e arrebatamento dos crentes, não diz que eles reinarão por um período de tempo (seja mil anos ou qualquer outro período), mas que “estaremos para sempre com Cristo” (I Tes. 4.17b). Estes fatos escatológicos são definidos e certos. Nestas coisas devemos crer e aguardar os acontecimentos, mesmo que tenhamos dificuldade em entender ou interpretar a questão do milênio.

5. Satanás será vencido para sempre – 20.7-10 – Nestes quatro versículos temos a narração sucinta de que após o período em que Satanás teve sua ação limitada, pelo fato de estar amarrado, será solto e voltará com todo o ímpeto para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra. Gogue e Magogue são nomes bíblicos para as nações que se rebelam contra Deus e são hostis ao Seu povo. Estes nomes aparecem no Antigo Testamento. Em Ezequiel 38.2, Gogue é o nome do príncipe da terra de Magogue, vindo do norte nos últimos dias para lutar contra o povo de Deus. Aqui no livro de Apocalipse estes dois nomes representam as nações hostis a Deus. Os exércitos do mal marcham contra o arraial dos santos, mas antes que a batalha seja iniciada desce fogo do céu e os consome. Agora o diabo é vencido definitivamente e lançado no lago de fogo e enxofre, onde já estão à besta e o falso profeta. O texto destaca que o sofrimento ali será eterno, ao contrário do que afirmam os Adventista e as Testemunhas de Jeová: “e de dia e de noite serão atormentados pelos séculos dos séculos” (v. 20). III. O JUÍZO FINAL (Apocalipse 20.11–15)

O juízo final também é descrito em poucas linhas. Jesus no Evangelho de Mateus dá mais alguns pormenores deste julgamento: 25.31-46. Esta doutrina é clara e precisa ser aceita integralmente.

1. Visão panorâmica do tribunal – 20.11 – João declara que viu “um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não foi achado lugar para eles.” Não há descrição de antecedentes, volta de Cristo, ressurreição, convocação e separação da humanidade em dois grandes grupos como em Mateus 25. Apenas uma visão panorâmica em que ele vê um grande trono branco e quem estava assentado sobre o trono. Ele não menciona quem era, apenas mostra, simbolicamente, que diante dEle “fugiram a terra e o céu, e não foi achado lugar para eles.” Mas, mesmo sendo linguagem poética, traz uma verdade teológica importante. A terra foi criada para ser o habitat do homem e de todos os seres vivos do planeta. Com o pecado do homem toda a terra sofreu as conseqüências funestas. A terra toda tornou-se maldita. Como vimos na abertura do sexto selo (6.12 ss) há uma revolução cósmica. Antes do juízo final a terra passará por profunda transformação, para dar lugar à nova terra e novo céu. O juiz, ainda que não mencionado, sabemos pelo contexto de todo o Novo Testamento, que será o nosso Senhor Jesus Cristo. 2. Toda a humanidade será submetida ao juízo final – 20.12–13 – João também antevê toda a humanidade diante do tribunal: “E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. O mar entregou os mortos que nele havia; e a morte e o hades entregaram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.”

2.1. Todos os homens terão que prestar contas dos seus atos – vs. 12, 13 - O primeiro destaque que desejamos dar é de que com a linguagem usada por João, vemos que toda a humanidade desde Adão até o último homem que viver na face da terra, todos comparecerão diante

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do tribunal de Deus para o juízo final. Vai haver uma prestação de contas. Deus criou o homem com o livre arbítrio. O homem usa a sua liberdade como quer, mas sendo um ser livre é também um ser responsável. Ele precisará prestar contas ao seu Criador. Lembramos que Deus é o Criador, Sustentador do Universo e de todos os seres vivos. Ele tem o direito de exigir contas de todos. Além disto, Deus, ao enviar o Seu Filho para morrer pelos pecados dos homens, tornou-se também o Redentor. Como crentes, fomos comprados pelo precioso sangue de Cristo.

João ao dizer que viu os mortos, grandes e pequenos, o mar, a morte e o hades (lugar dos mortos) entregando os seus mortos, está reforçando a idéia de que todos os seres humanos comparecerão diante do trono do julgamento.

2.2. Os dois livros diante do trono do juízo – v. 12 – Observamos pelo texto que há dois

livros que foram abertos para o julgamento dos homens. A primeira menção é que se abriram uns

livros, que descobrimos ser o denominado livro das obras ou usando o plural os livros das obras dos homens. A vida de todos os homens está registrado nos livros das obras. Todas as ações dos homens, boas e más são registradas. Isto mostra que haverá justiça no julgamento final, no qual não haverá arbitrariedade e nem caprichos. Os homens serão condenados de acordo com as suas obras. Também é impressionante que nenhum homem será salvo pelas suas obras, conforme Paulo ensina em suas epístolas. Isto é confirmado pelo versículo 15 que afirma “E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo.” Esta doutrina da salvação pelas obras tem sido muito generalizada em nossos dias pelos católicos e pelas várias ramificações do espiritismo, bem como pelas religiões orientais que ensinam a reencarnação. Mas o texto não diz que alguém foi salvo pelas obras; ao contrário, se não tiver o seu nome inscrito no livro da vida, foi condenado (lançado no lago de fogo).

Os versículos 6 e 14 falam na segunda morte. É bom esclarecer que a segunda morte é a condenação eterna no inferno. A primeira morte é a morte física. A idéia da palavra morte é de separação. A morte física é a separação entre a alma e o corpo. A segunda morte é a separação entre o homem e Deus eternamente. É neste sentido que a palavra morte é usada quando o apóstolo Paulo diz que todos nós estávamos mortos nos nossos delitos e pecados, isto é, estávamos separados de Deus. É neste mesmo sentido que quando alguém recebe a Cristo, ele é ressuscitado em Cristo: estava separado por causa dos pecados, e foi revivificado para manter comunhão com Deus.

Depois de terem sido abertos os livros em que estavam registrados as obras dos homens, diz João que se abriu o outro livro, que é o da vida. No versículo 15 que já transcrevemos, ele afirma categoricamente que se alguém não teve o seu nome inscrito no livro da vida foi condenado. É por isso que Jesus diz aos seus discípulos após a volta da missão evangelística registrada em Lucas 10, quando eles estavam eufóricos pelo fato de terem notado que até os demônios eram expulsos: “Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os

vossos nomes escritos nos céus” (Lucas 10.20). É a referência de que a alegria maior do crente deve ser por ter o seu nome inscrito no livro da vida. Esta é a garantia da salvação eterna. Quem não tem o seu nome escrito no livro da vida será julgado pelas suas obras e logicamente condenado.

2.3. O julgamento dos crentes – O texto de Apocalipse apenas registra que os ímpios serão

julgados pelas suas obras e condenados, pois não aceitaram o plano de salvação em Cristo. Todos os que aceitam, tem os seus nomes escritos no livro da vida. É a garantia de que não serão condenados. No entanto, Paulo, em II Cor. 5.10, deixa bem claro de que todos nós teremos que comparecer diante do tribunal de Cristo, não para julgar o mérito da salvação. A salvação não entra no julgamento. É a dádiva de Deus aos que crendo recebem Jesus Cristo, como Senhor e Salvador de suas vidas. Mas o julgamento é para mostrar o que fizemos “por meio do corpo, segundo o que praticamos: o bem ou o mal. Jesus também deixou claro de que nós prestaremos contas até das palavras ociosas que proferirmos (Mateus 12.36). Paulo em I Cor. 4.1-5 fala-nos de que não devemos julgar ninguém antes do tempo, antes que venha o Senhor, porque Ele trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações, fazendo então um julgamento justo. O

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julgamento dos crentes não visa à salvação, pois esta é uma garantia eterna. O julgamento visa o galardão, a recompensa pela vida cristã que levamos e o que fazemos na Causa de Cristo.

CONCLUSÃO Confirmamos aqui a vitória final de Cristo e a certeza do julgamento final. O ponto mais

controvertido do texto foi à questão do milênio. Como deixamos claro em nosso estudo, não podemos ser dogmáticos pelo fato de somente nos seis versículos de Apocalipse 20 encontrarmos os “mil anos”, que pode ser número simbólico ou não dependendo da interpretação que venhamos a dar. De acordo com isto, o texto pode admitir diversas interpretações. Chamamos a atenção também para o fato de que não é uma doutrina básica da nossa fé. A nossa salvação não depende dela. Cada um, de acordo com sua consciência pode escolher a interpretação que acha casar-se melhor com o seu modo de entender o texto e contexto. Pessoalmente adotamos o ponto de vista geral dos batistas, implícito na Declaração de Fé das Igrejas Batistas do Brasil: “Cremos que se aproxima o fim do mundo; que no último dia, Cristo descerá do céu e levantará os mortos do túmulo para a recompensa final; que ocorrerá então uma solene separação; que os ímpios serão entregues à punição sem fim e os justos à bem-aventurança para sempre.” Depois desta declaração há 47 referências bíblicas justificando esta posição.

Depois do estudo feito, queremos destacar algumas lições para o nosso viver diário:

1. Confiança plena – A primeira grande lição é que devemos e podemos ter confiança absoluta em Cristo. Não importam as lutas, dificuldades, problemas desta vida, enfermidades, perseguições e até mesmo a morte, se temos Cristo conosco. Ele tem vencido tudo e vencerá todos os inimigos. Em seu ministério terreno demonstrou o seu poder sobre os fenômenos da natureza, sobre as enfermidades, inclusive sobre a própria morte, sobre os seus adversários terrenos e sobre as hostes do mal. Ele prometeu estar conosco e isto é certeza de vitória. No livro de Apocalipse, especialmente nos capítulos 19 e 20, vemos a sua vitória completa sobre todos os inimigos: a besta, o falso profeta e o próprio Satanás vencidos, subjugados e lançados definitivamente no inferno. A vitória é de Cristo e dos seus fiéis seguidores. 2. Nós somos bem-aventurados – Temos neste estudo, em 20.6 a quinta bem-aventurança do livro de Apocalipse. Os verdadeiramente salvos por Cristo tem assegurado a sua participação na primeira ressurreição. A segunda morte (separação eterna de Deus e lançamento no inferno) não tem mais poder sobre nós. Nós fomos ressuscitados por Cristo, passamos da morte para a vida. Agora não resta nenhuma condenação eterna sobre nós. Esta deve ser o motivo de maior felicidade dos santos (e nós somos santos, ainda que não perfeitos). Independente das diferentes interpretações do que seja a primeira ressurreição, nós já não estamos mortos espiritualmente, fomos ressuscitados e vivemos em pleno comunhão com Cristo. Este fato é a garantia da nossa participação na primeira ressurreição. 3. Necessidade de convicção doutrinária - Esta é uma das lições que mais temos repetido em nossa apostila. O livro de Apocalipse mostra como Satanás tem tentado e tentará enganar os homens, começando com os reis, príncipes e voltando-se para todas as nações. Através dos séculos temos visto como as doutrinas bíblicas têm sido distorcidas e completamente afastadas da verdade. Hoje vemos tudo isto em escala bem maior. Heresias no seio das várias ramificações do Cristianismo, inclusive entre os chamados evangélicos. As religiões orientais estão conseguindo adeptos em todas as partes do mundo. O papel do diabo é enganar os homens e as nações. Ao invés da preocupação infantil de tantos em ficarem “amarrando Satanás”, a preocupação maior deve ser uma atitude de vigilância para não sermos enganados por ele em sua astúcia. Enquanto pensam que conseguem

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“amarrar” Satanás, ele continua solto fazendo a sua obra nefanda. Ele só será “amarrado” definitivamente no tempo certo determinado por Deus. Não nos esqueçamos das advertências de Cristo sobre a necessidade de “orar e vigiar” para que não sejamos enganados por ele. Pedro deixa bem claro que ele anda solto, ao redor de cada um de nós rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar (I Pedro 5.8), ao qual devemos resistir firmes na fé (v. 9b). E o apóstolo João mostra com clareza que o Maligno não toca naqueles que são verdadeiramente de Cristo (I João 5.18). 4. Cuidado na identificação dos acontecimentos que identificam o fim - Outro cuidado que devemos ter é a precipitação de afirmarmos que este ou aquele acontecimento é o indício de que o fim é chegado. Em passado não distante tivemos dois fatos muito comentados como o indício da consumação dos séculos: em 1982 o famoso “Alinhamento dos Planetas” e depois a “Guerra do Golfo Pérsico”. No primeiro fato muitos pregadores diziam que era o cumprimento das profecias e com o alinhamento viria o fim. Veio? No segundo fato de que seria a guerra final, trazendo a consumação. A guerra acabou e a consumação não veio. Só o Senhor sabe dos acontecimentos finais. Com fé em Cristo aguardemos a consumação dos tempos fazendo a Sua vontade enquanto esperamos.

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SUMÁRIO DO ESTUDO Nº 11

O NOVO CÉU, A NOVA TERRA E ADMOESTAÇÕES FINAIS Texto bíblico: Apocalipse 21 e 22 Texto áureo: “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve. porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida. Aquele que vencer herdará estas coisas; e Eu serei seu Deus, e ele será Meu filho.” (Apocalipse 21. 5-7). INTRODUÇÃO – Nesta última lição de Apocalipse analisaremos os capítulos 21 e 22. Estudaremos a revelação do novo céu e da nova terra e as admoestações finais. I. A descrição do novo céu e da nova terra – Apocalipse 21. 1 – 22.5 1. O céu como um tabernáculo – Símbolo da comunhão perfeita – 21.1-8 1.1. O tabernáculo de Deus com os homens – 21.2–3a 1.2. A bênção desta comunhão com Deus – 21.3b-4 1.3. A razão de todas as bênçãos – 21.5 1.4. A garantia da concretização de todas estas coisas – 21.6a – Deus é eterno 1.5. Deus ainda convida todos a participarem da bênção da plena comunhão – 21.6b 1.6. Quem terá direito a habitar no novo céu e na nova terra – 21.7 1.7. Quem não poderá herdar os céus – 21.8 2. O céu como uma cidade – Símbolo da proteção de Deus - 21.9-27 2.1. A descrição da cidade santa – 21.10b-21 2.1.1. A muralha e as portas da cidade – 21.12-13 2.1.2. Os fundamentos do muro da cidade – 21.14 2.1.3. As dimensões da cidade e da muralha – 21.15-17 2.1.4. Descrição simbólica detalhada dos fundamentos e das portas da cidade – 21. 18-21 2.2. O que não haverá na nova Jerusalém – 21.22-26 2.2.1. Nela não haverá templos – 21.22 2.2.2. Não mais haverá necessidade do sol e da lua – 21.23-24 2.2.3. Não haverá noite. As portas da cidade não se fecharão – 21.25-26 2.3.. Quem entrará e quem não poderá entrar na cidade – 21.27 2.3.1. Não poderão entrar – 21.27a 2.3.2. Só entrarão os que tiverem seus nomes inscritos no Livro da Vida – 21.27b 3. O céu como jardim – Símbolo das provisões de Deus – Apocalipse 22.1-5 3.1. Rio da água da vida – 22.1 3.2. A árvore da vida – 22.2

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3.3. Ali não haverá maldição – 22.3 3.4. Os moradores da nova Jerusalém contemplarão a face de Deus – 22.4 3.5. No céu os remidos reinarão pelos séculos dos séculos – 22.5 II. Advertências e promessas finais – Apocalipse 22.6-22 1. Autoridade divina da mensagem – 22.6 2. Estado de prontidão – 22.7 3. Só Deus deve ser adorado – 22.8-9 4. O tempo do fim está próximo – 22.10 5. Exortações tendo em vista que o tempo está próximo – 22.11–23 6. O último convite – 22.17 7. A última advertência séria – 22.18-19 8. As três últimas palavras – 22.20-21 CONCLUSÃO

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ESTUDO N º 11 – O NOVO CÉU, A NOVA TERRA E ADMOESTAÇÕES FINAIS

Texto bíblico: Apocalipse 21 e 22 Texto áureo: “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida. Aquele que vencer herdará estas coisas; e Eu serei o seu Deus, e ele será Meu filho.” – (Apocalipse 21. 5–7). INTRODUÇÃO

Terminamos o estudo passado contemplando a vitória final de Cristo sobre os últimos inimigos. Vimos, ainda que resumidamente o juízo final. Na visão há uma descrição da morada dos remidos na eternidade e admoestações para os santos e um último apelo para que todos venham a receber a bênção da salvação. Jesus, na revelação dada através do apóstolo não mostrou a morada dos ímpios, apenas é feita uma descrição muito rápida de que os que não têm os seus nomes escritos no livro da vida serão lançados no lago de fogo, onde viverão e sofrerão eternamente. Ele faz questão de revelar a bem-aventurança dos fiéis no seu novo lar. Deus chama os homens a si pelo amor e não pelo medo. Prefere mostrar o “novo céu e a nova terra” com toda a sua felicidade, em vez de pintar os horrores do inferno. Deus deseja que o homem O sirva não movido pelo medo do castigo, mas reconhecendo o Seu amor e a Sua bondade e que de fato Ele é o Único Deus a quem o homem deve obediência. Esta última lição do estudo de Apocalipse apresenta dois temas centrais: o novo céu e a nova terra (20.1 – 22.5) e as admoestações e promessas finais ( 22.6 – 21). Podemos sentir que no cap. 22.5 as visões estão encerradas. É como no teatro, ao findar a representação, as cortinas do palco em que as cenas se desenrolaram são fechadas. As revelações de Apocalipse estão encerradas, mas, como no teatro, por trás da cortina pode surgir alguém para dizer as últimas palavras, assim no Apocalipse 22.6 – 21 surge a figura do Senhor Jesus Cristo para dizer as últimas palavras sobre a revelação que acabava de ser feita, exortando, dando as últimas promessas e fazendo o último convite à salvação. O estudo de hoje começa com as palavras: “E vi novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe” (21.1). No capítulo 20.11 nós lemos que, quando o Senhor Jesus assentou-se para julgar a humanidade, “da sua presença fugiram a terra e o céu e não se achou lugar para eles.” Não há a descrição da destruição da terra. Pedro fala-nos de que os “céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas” (II Pedro 3. 10). Esta velha criação afetada pelo efeito do pecado deverá desaparecer para dar lugar à nova criação de Deus. Se, no passado muitos duvidavam sobre a possibilidade da terra que é constituída por dois terços de água, ser destruída pelo fogo; hoje poucos duvidam desta possibilidade. Cientificamente sabemos que a matéria que compõe a terra poderia ser reduzida a mera energia mediante o mesmo processo que causa as explosões atômicas. Em 20.11 afirma-se que a terra e o céu fugiram diante da presença do Senhor e aqui a última visão do Apocalipse é iniciada com a visão do novo céu e da nova terra. Há duas palavras gregas para o termo traduzido por novo: néos ( que diz respeito ao tempo, por isso aplica-se ao que recentemente veio à existência) e kainos (que diz respeito à qualidade, que se aplica para demonstrar que possui características novas). O termo usado neste texto é kainos indicando há uma nova qualidade nesta nova criação.

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I. A DESCRIÇÃO DO NOVO CÉU E DA NOVA TERRA (Apocalipse 21.1 - 22.5)

Inicialmente chamamos a atenção para o fato de que a descrição é feita numa linguagem antropomórfica e simbólica. Não podemos pensar no céu em termos literais como está descrito. Como as cidades naquele tempo eram muradas por questão de segurança, a nova Jerusalém é descrita como uma fortaleza murada. Ainda que pensemos no céu em termos humanos, na realidade pouco sabemos de como será verdadeiramente o céu, pois a Bíblia revela pouco do céu, como ele é e como seremos e viveremos ali eternamente com Deus. O falecido pastor Alberto Augusto dizia que Deus revelou só um pouquinho do céu, porque se nós soubéssemos como o céu é na realidade, não quereríamos mais viver aqui na terra. Temos apenas vislumbres do céu e da vida que ali levaremos. Também é possível que, com a nossa mente finita, não pudéssemos compreender perfeitamente todas as realidades celestiais. O que o Novo Testamento descreve do céu, é como um lugar de comunhão com Deus (reafirmado aqui em Apoc. 21.1–8); um lugar em que contaremos com a proteção direta de Deus (também descrito em Apoc. 21.8–26) e um lugar em que haverá felicidade perfeita, pois não haverá mais pecado e suas conseqüências para nos separarem de Deus e trazerem os males em nossas vidas e pelo fato de Deus ali dar-nos todas as provisões necessárias (Apoc. 21.8 e 22.1–5). Jesus apresenta o céu como um lugar de gozo eterno e um lugar em que Deus recompensará o trabalho e a fidelidade de cada um (Mat. 5.12; 19.21; 25.21 – 24, 34-40; Lucas 12.31-33). O apóstolo Paulo fala do céu como um lugar maravilhoso onde viu coisas tão inefáveis que olho humano não pode ver e ouvido humano não pode ouvir (II Cor. 12.2–4 ). Paulo fala-nos também de que quando o nosso tabernáculo terrestre se desfizer (pela morte), temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna nos céus (II Cor. 5.1). Ele mesmo mais tarde escrevendo aos Filipenses afirma que a nossa cidade está nos céus (3.20) e aos Colossenses afirma que pelo Evangelho nos está reservada uma viva esperança no céu (1.5). Apesar de todo o Novo Testamento falar do céu, a maior revelação que temos do céu encontra-se nestes dois capítulos finais de Apocalipse. Os crentes que passavam por terríveis perseguições, como os crentes de todas as épocas, queriam saber o destino dos remidos na eternidade. O destino dos remidos é apresentado aqui no Apocalipse por meio de três símbolos, para mostrar o estado de perfeição dos santos. O céu nos é revelado de três ângulos diferentes, conforme, com pequenas variações apresentam Ray Summeres, Richardson, Dana, D. Smith, Beekwith e Suete. 1. O céu como um tabernáculo – 21.1–8 – Símbolo da comunhão perfeita – João vê, como já dissemos um novo céu e uma nova terra pelo fato do primeiro céu e primeira terra terem passado. Ele diz que o mar já não existe. Ainda que haja muitas interpretações quanto ao símbolo do mar não mais existir, pessoalmente temos pensado no mar como separação. Os mares separam os continentes, portanto, separam os homens. No novo céu e na nova terra não teremos separação, seja pela distância, seja pela morte ou por qualquer outra razão. Ali teremos comunhão íntima com Deus e com o nosso semelhante. O próprio apóstolo João exilado na ilha de Patmos, tinha o mar separando-o dos seus queridos irmãos da Ásia Menor. No capítulo 4 o apóstolo teve a visão de um mar de vidro, semelhante ao cristal, símbolo da transcendência de Deus. Mesmo remidos por Cristo ainda há um mar transcendente separando de Deus o seu povo. Naturalmente esta limitação deve-se ao fato de ainda estarmos neste corpo corruptível. Ali não mais haverá separação. Os remidos gozarão para sempre de íntima comunhão com Deus. “A velha terra e o velho céu não mais existem! Eles eram o palco da fome, da miséria, da doença física e mental. As forças da natureza, prejudicadas pelo homem, voltaram contra ele mesmo para destruí-lo, mas isso não mais existe. A corrupção, o desemprego, a inflação, as dívidas interna e externa que caracterizam a economia do Terceiro Mundo, ficaram para trás. A hipocrisia, a exploração, a superstição, a magia, o nominalismo, não são mais as características da religião. Os conflitos, as guerras, as mortes, as intervenções, os bloqueios etc., não serão termos para descrever as relações entre os países, porque eles não mais existem, pois “o mar já não existe” (21.1), para

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separar os continentes. O divórcio, as separações, o abandono do lar por parte de seus integrantes, a falta de amor, a deslealdade, a solidão, não mais são problemas enfrentados pelas famílias. A prostituição, a violência, o roubo, os assassinatos, os seqüestros, a Aids etc., não estarão mais presentes, porque o homem encontrou seu verdadeiro ser, o ser com Deus em plena comunhão. A cidade do homem, marcada pelo pecado e pela rebeldia contra Deus, dá lugar à Jerusalém celestial, a cidade de Deus. Quando a Bíblia fala de “novos céus e nova terra”, não significa que aquilo que Deus tinha criado era mau. Não, o que Deus criou é bom, mas foi manchado pelo pecado. O homem conseguiu manchar não só seus relacionamentos, mas também todas as coisas existentes no mundo, vivendo como um depredador implacável, ávido pelo lucro e sem respeito pela natureza que lhe dá o sustento. A velha terra será dissolvida para dar lugar a uma nova criação de Deus ( Is. 65.17; Mateus 19.28; II Cor. 5.17; Gal. 6.15; Efésios 2.15, 4.24; II Pedro 3.10, 13). Na nova criação não haverá separação, pois o “mar já não existe” (2.11); não haverá lugar para infortúnio, pois “morte, pranto, lamento, dor” (21.4), não mais existirão; o mal não terá acesso, pois “maldição” (22.3) nenhuma haverá ali.” (Pontos Salientes, JUERP, ano 1992, pág. 218).

1.1. O tabernáculo de Deus com os homens – 21.2–3 - Após a visão panorâmica do novo céu e da nova terra, ele vê “a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo” (21.2). Aqui João simplesmente apresenta a descida da cidade santa, que será descrita com muitos detalhes a partir do versículo 9 até 22.5. Em várias outras partes do Novo Testamento a nova Jerusalém é apresentada como a morada de Deus, a verdadeira pátria dos santos (Gálatas 4.26; Filipenses 3.20 e Hebreus 12.22, 23).

Na linguagem simbólica usada aqui no v. 2 por João, a santa cidade, o lugar dos redimidos no novo céu e na nova terra, é descrito como adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. Diante disto George Ladd diz: “Surge a pergunta se João quer dizer que o povo redimido de Deus e a Jerusalém celestial são a mesma coisa, assim como a igreja e o templo de Deus no Novo Testamento ( I Cor. 3. 16; Efésios 2. 21). Se for este o caso, então todos os detalhes da descrição da cidade santa são termos simbólicos que retratam a igreja redimida. Em qualquer caso é esta a ocasião em que a ceia das bodas do Cordeiro se realiza, como mostra o próximo versículo” (op. cit. pág. 205).

Logo após a visão da descida da nova Jerusalém do céu da parte de Deus, o apóstolo João ouve uma grande voz, vinda do trono que dizia: “Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com ele habitará, e eles serão o Seu povo, e Deus mesmo estará com eles” (21.3). A primeira idéia da habitação de Deus com os homens temos através do tabernáculo no deserto durante o Êxodo. Feito o tabernáculo, conforme mandado do Senhor, a nuvem que acompanhava os filhos de Israel cobriu a tenda da revelação e glória do Senhor encheu o tabernáculo (Êxodo 40.34). A presença de Deus era manifestada através da Sua glória (shekinah). Mais tarde o tabernáculo foi substituído pelo templo edificado por Salomão. Com a vinda de Cristo, Deus passou a morar temporariamente entre os homens; “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (João 1.14). Agora no período da graça, tempo da Igreja de Cristo, Deus mora em Sua Igreja (nós os crentes verdadeiros, ver Efésios 2.22). Nós somos o santuário do Espírito Santo. Mas isto só pode ser constatado pela fé, e não pela vista. Nós sentimos a atuação do Espírito em nós. Os olhos físicos não podem ver. João, nesta visão simbólica, pôde contemplar a realidade da morada de Deus com os homens redimidos, estando com os homens, pois “com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e Deus mesmo estará com eles”. É a gloriosa promessa da comunhão constante dos remidos com Deus. Todas as barreiras da comunicação e da plena comunhão dos santos com Deus terão sido removidas. Todas as promessas da aliança de Deus com os homens, feitas primeiramente através de Abraão, depois renovado através de Moisés e concretizadas em Cristo, serão finalmente realizadas plenamente.

1.2. A bênção desta comunhão com Deus – 21.3b-4 – “...pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda a lágrima; e não

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haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” A bênção essencial desta comunhão com Deus é a união íntima e direta com Deus, pois o pecado que é a causa do impedimento desta comunhão não mais existirá. Nada mais separará os santos do seu Deus. Como conseqüência outras bênção virão: a) as lágrimas desaparecerão: Deus mesmo enxugará de seus olhos as lágrimas. As lágrimas representam no texto toda a tristeza humana, todas as misérias, todas as tragédias, todos os males. Será uma vida onde as tristezas e os males da existência do velho mundo não mais existirão. A causa maior de lágrima é a realidade da morte, mas no novo céu e na nova terra, na presença e comunhão íntima com Deus, ela não mais existirá. Lemos no capítulo 20.14 que a morte foi lançada no lago de fogo, por isso não mais haverá pranto, lamento e nem dor. Todos estes males deixarão de existir,. Mas, é bom destacar que este triunfo sobre a morte, não é um fim em si mesmo; é uma bênção que flui da união com Deus. O velho sistema em que todos estes males estavam presentes, era por causa do pecado, separando o homem e Deus. Todos os males que pesam sobre a existência humana fugirão da presença de Deus, porque as primeiras coisas são passadas. Será o raiar do dia glorioso para todos os santos.

1.3. A razão de todas as bênçãos – 21.5 – O realizador das grandes transformações que hão de ocorrer é Deus, que fará nova todas as coisas. Atrás da criação está o Criador. Aquele que faz todas as coisas novas. Sem Ele não haveria transformação e muito menos as bênçãos conseqüentes. A primeira criação ou terra contaminada pelo pecado será destruída com todos os seus males, e Deus Criador, fará todas as coisas novas e incontaminadas: “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis

e verdadeiras” (Ap. 21.5). Deus já começou esta obra na vida dos homens: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Cor. 5.17). Mas a obra ainda precisa ser completada. Tudo se fará novo só com a volta do nosso Senhor, para acabar de consumar as coisas velhas e fazer tudo novo, livre da contaminação do pecado. Este processo da renovação no fim incluirá também este mundo físico, segundo Paulo> “. . . apropria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rom. 8. 21). Deus mesmo garante que fará novas todas as coisas. E para confirmar a fidelidade destes fatos, João recebe a ordem: “Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” Pode-se confiar nelas, pois elas acontecerão. 1.4. A garantia da concretização de todas estas coisas – 21.6a – Deus é eterno – “Disse-me ainda: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim.” A voz que João estava ouvindo vinha do trono. Era a voz do próprio Deus. A voz de Deus garante: Está cumprido ou Tudo está feito. No grego o verbo está no plural, indicando com isto que todas as coisas prometidas e reveladas a João estavam cumpridas. Os propósitos de Deus na redenção dos homens, diante de Deus são tão certos como se já estivessem cumpridos. Para nós a consumação de tudo ainda está no futuro, mas para Deus é tão certo como se já tivesse acontecido. Por isso Ele afirma: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.” Por isso o futuro não é incerto para aquele que confiam em Deus. 1.5. Deus ainda convida a todos a participarem destas bênçãos da plena comunhão com Ele – 21.6b – “A quem tiver sede, de graça Lhe darei a beber da fonte da água da vida.” - O decreto final da redenção não é arbitrário: o caminho está aberto para todos os homens que sentirem necessidade de Deus e se voltarem para Ele. Deus promete satisfazer a todos os que sentirem a sua necessidade espiritual: Ele dará a beber da fonte da água da vida. João prometeu à mulher samaritana dar-Lhe de beber da água da vida. A sede física nunca pode ser saciada de uma vez para sempre. Sempre precisamos beber novamente para saciar a sede que torna a surgir. Deus satisfaz nossas almas em todas as necessidades, sem precisarmos buscar qualquer outra fonte.

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1.6. Quem terá direito a habitar no novo céu e nova terra – 21.7 – Os vencedores –

“Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus e ele será Meu filho.” O convite é feito a todos os homens, mas para que possamos morar com Deus em comunhão eterna é preciso que sejamos vencedores. Podemos recordar quem são os vencedores relendo as cartas às sete igrejas da Ásia Menor. Todas elas terminam com promessas “ao que vencer”. O único pré-requisito para sermos vencedores é sermos totalmente leais a Jesus Cristo. Quando aceitamos a Cristo Jesus como Senhor e Salvador prometemos lealdade a Ele. A vitória, como a Bíblia nos ensina, não é nossa. É de Deus. Ele dá todas as coisas necessárias para a vitória se nós formos leais a Ele. Lembremo-nos de que o Senhor ensinou que não “podemos servir a Deus e a Mamom” ou mesmo que não podemos servir a dois senhores, porque ou agradaremos a um ou ao outro. Não podemos mar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo (I João 2.15). Para sermos vencedores não podemos contar com os nossos recursos humanos (a carne). Precisamos dos recursos espirituais que são colocados à nossa disposição. Temos a armadura de Deus (Efésios 6.13–18). Temos habitando em nós o Espírito Santo de Deus. Para sermos vencedores basta que nos submetamos à Sua orientação e contemos com o Seu poder. A promessa de Deus ao vencedor é que herdará estas coisas e terá o Todo Poderoso como seu Deus e será filho de Deus. Estas coisas prometidas podem ser resumidas na vida eterna, morada eterna com Deus, mantendo com Ele comunhão íntima e tendo todas as suas necessidades satisfeitas por Ele. O próprio Deus promete ser o Deus dos vencedores e de que serão seus filhos.Pode haver promessa mais gloriosa? 1.7. Quem não poderá herdar os céus – 21.8 - “Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis,e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.” Temos a lista daqueles que não terão acesso à água da vida, a quem Deus não chamará de filhos. A lista começa com covardes – deilós – também traduzido por tímidos e medrosos, mas a melhor idéia é mesmo covardes. A referência inicial era para aqueles que por covardia diante da perseguição abandonaram a sua fé e a Cristo a fim de salvarem a sua vida física. Não foram fiéis até o ponto de morrer. Naqueles dias difíceis em que o culto aos imperadores era obrigatório; o crente não podia acovardar-se por causa de sua fé em Cristo. O crente verdadeiro não pode negar a sua fé em Cristo seja qual for o motivo. Isto nos faz lembrar da quarta estrofe do hino “Castelo Forte” escrito por Martinho Lutero: “Sim, a palavra ficará, Sabemos com certeza, E nada nos assustará Com Cristo por defesa, Se temos de perder os filhos, bens, mulher, Embora a vida vá, Por nós Jesus está, E dar-nos-á o Seu reino”. A nossa fidelidade a Cristo deve estar acima de qualquer coisa nesta vida. Não podemos acovardar-nos. Felizmente moramos num país em que estamos vivendo no momento, tempo em que ninguém é perseguido por causa de sua fé em Cristo, como está acontecendo em algumas partes do mundo. Mas a perseguição pode chegar. Nos dias do Anticristo os verdadeiros crentes terão que mostrar coragem para não negarem a fé em Cristo. No entanto, lembramos que mesmo nas circunstâncias em que vivemos há aqueles que por vergonha, por causa de popularidade ou mesmo de interesses financeiros, acovardam-se. Confessar a fé em Cristo pode significar a perda de amizades, de posição social e às vezes até mesmo emprego. Lembremo-nos de que na lista dos que não terão lugar no tabernáculo de Deus estão os covardes. O lugar destes é no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte, isto é, a separação eterna de Deus. O segundo item da lista dos que não terão acesso ao tabernáculo de Deus com os homens estão os incrédulos - ápistos – são os que recusavam e ainda hoje se recusam a crer na missão de Cristo e aceitá-la. Naquele tempo crendo e adorando um homem (o imperador). Hoje muitos recusam-se a crer em Cristo e colocam a sua fé em tantas outras coisas que não podem resolver os seus problemas e muito menos salvá-los. Pode ser também uma referência àqueles que não permaneceram firmes na fé em Jesus, os traidores (segundo a BLH) e mesmo os sem fé. O terceiro grupo condenado é dos abomináveis ou viciados (conforme BLH). O termo grego usado é ebdelugménois, termo que indica todas as formas de impureza cerimonial, sobretudo o que

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se relaciona a qualquer contato com os ritos idólatras. O termo indica, em primeira instância, qualquer coisa detestável, algo digno de repúdio e desdém. A forma verbal do termo bdelusso significa fazer cheirar mau ou ser repelente. Logo o termo aqui se refere àqueles que praticavam a idolatria e seus vícios acompanhantes; isto é, todos aqueles que eram maculados e contaminados pelas práticas do culto pagão. Como crentes em Cristo Jesus não podemos macular-nos com nenhuma espécie de prática dos cultos idólatras de hoje e no futuro com os que o Anticristo vier trazer e impor ao mundo. Não devemos também ser maculados por qualquer forma de vício. O quarto grupo que não terá direito à habitação com Deus será dos homicidas ou assassinos

– foneusin. Como o termo está dizendo são os homicidas ou assassinos. Aqueles que matavam os cristãos por ordem e em cooperação com as autoridades civis. Ainda que a aplicação em primeiro lugar fosse aos que matavam os cristãos, aos que ainda hoje estão matando e no futuro matarão, podemos tomar o sentido do termo um pouco além, todos aqueles que são homicidas. Naturalmente, se algum assassino se converter, o seu pecado será perdoado.. Certamente a inclusão dos algozes dos cristãos entre aqueles que seriam lançados no lago ardente de fogo e enxofre servia de conforto e fortalecimento para eles, sabendo que o sangue deles seria vingado por Deus. O grupo seguinte dos excluídos da habitação de Deus com os homens são os adúlteros ou

imorais – pornois - . O termo refere-se a qualquer tipo de impureza sexual. Os cultos pagãos faziam da prostituição um meio de financiar os templos e seus sacerdotes. Vimos que entre as heresias combatidas por Jesus entre as sete igrejas da Ásia Menor estava o dos nicolaítas e de Jezabel que ensinavam que a alma não era maculada pela imoralidade. A cultura pagã estava permeada de vícios sexuais de toda a espécie. Será que a cultura do mundo de hoje é muito diferente? Outro grupo era dos feiticeiros ou dos que praticam a feitiçaria – farmakois – literalmente os feiticeiros. A palavra farmakon, da qual vem farmácia vem do radical que significa droga ou erva. O termo farmakon era a droga nociva especialmente quando usada na feitiçaria, encantamento. As drogas desempenhavam papel importante na feitiçaria. O culto ao imperador era cercado pelas artes de magia negra. A idéia no texto relaciona-se com os que praticavam a feitiçaria seduzidos pela grande meretriz. O penúltimo grupo dos que serão condenados é dos idólatras – eidololatrais – e são os que adoram deuses falsos, no tempo de João especialmente os que adoravam ao imperador e outros deuses; no presente todos os que adoram os chamados santos e quaisquer outros ídolos e no futuro além destes os que adorarem a besta. É impressionante a tendência humana para a idolatria. Já no livro de Gênesis 31.19 já lemos sobre os ídolos. Em quase todos os livros da Bíblia temos referência aos ídolos que os homens fabricavam e adoravam. Entre o povo judeus a tendência idólatra começou cedo. Ainda no período do Êxodo, enquanto Moisés estava no Monte Sinai recebendo as tábuas da lei, lemos que o povo impaciente pediu a Arão que fizesse “deuses” que fossem adiante deles. Arão fez então o bezerro de ouro (Êxodo 32.1, 4). O pecado que sempre acompanhou a história de Israel no Velho Testamento era o da idolatria. O povo judeu só foi curado definitivamente da idolatria após o período do cativeiro babilônico. No exílio o povo reconheceu que só o Senhor é Deus e a partir daí não lemos mais sobre a idolatria israelita. Tanto é verdade que Jesus não precisou combater a idolatria, pois o povo estava curado deste mal. Mas, lembramos que a idolatria não consiste apenas em adorar imagens de escultura, mas o ídolo pode estar em nossa coração: tudo aquilo que toma o lugar de Deus em nossos corações. O último pecado apontado daqueles que serão lançados no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte, é o da mentira – pseudesin – que vem de um radical grego que significa falso, mentiroso – No contexto do Apocalipse a referência é àqueles que negam a verdade que há em Cristo. Paulo em II Tess. 2.9–11 falando sobre a vinda do homem da iniqüidade diz: “a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios da mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos. E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira.” O apóstolo João em sua primeira epístola capítulo 2.22 diz: “E quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o

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Filho.” Em primeira instância os mentirosos do tempo do Apocalipse eram os que prestavam culto ao imperador, que foi uma mentira satânica. No futuro será a adoração ao anticristo, que será uma forte ilusão e a grande mentira. Crer numa mentira, repelindo-se a verdade que há em Cristo. Este pecado tem sido praticado através dos séculos e é praticado muito em nossos dias. No futuro certamente esta mentira crescerá. No mundo atual podemos ver como a grande maioria do povo crê numa mentira qualquer em vez de crer na verdade que há em Cristo Jesus. Para todos estes o destino eterno é no lago ardente de fogo e enxofre. Apesar do contexto de Apocalipse apontar a mentira no seu sentido religioso, não podemos esquecer o sentido completo da palavra. Pela etimologia da palavra indica toda a falsidade, engano e mentira. Devemos lembrar que Deus exige a sinceridade. Deus repele toda a falsidade. Infelizmente vivemos num mundo em que a mentira e falsidade predominam em todos os relacionamentos humanos. Até mesmo no seio das igrejas de Cristo encontramos a mentira e a falsidade. Devemos ter cuidado porque isto não é de Deus. Tiago diz: “...seja, porém, o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em tentação” (5.12 b). E Jesus no sermão do Monte afirma: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno” (Mateus 5.37). A falsidade e a mentira estão arraigadas no coração do homem natural. O novo homem deve excluir todo o ato de falsidade. A mentira é uma ato de falsidade. Temos ficado surpresos com aqueles que “pareciam ser colunas” (plagiando Paulo em Gálatas 2. 6 e 9) em nosso meio batista, mas que, com freqüência temos flagrado dizendo mentiras. Mentiras para justificar o que nem precisavam justificar ou para parecerem muito ocupados. Há também as mentiras ditas “inocentes”. No entanto nenhuma mentira convém ao crente verdadeiro. A mentira não é de Deus. Lutemos contra este vício que tão de perto nos cerca. 2. O céu como uma cidade: Símbolo da proteção de Deus – Apocalipse 21.9–27 – Depois de ver o novo céu e a nova terra como o tabernáculo de Deus com os homens, simbolizando a

perfeita comunhão com Ele, o apóstolo vê o novo céu e a nova terra como uma cidade fortificada, simbolizando a proteção divina perfeita a todos os remidos. O novo céu e a nova terra devem ter uma capital de acordo com o seu esplendor.

Após a visão da comunhão perfeita com Deus, um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das sete últimas pragas,, fala com João, convidando-o a conhecer a noiva, a esposa do Cordeiro (Ap. 21.9). A noiva de Cristo é agora representada na visão como a Nova Jerusalém , tendo sobre si a luz da divina graça. Lembramos que, em nosso linguajar diário, chamamos cidade tanto os habitantes quanto os edifícios e sua topografia. Este mesmo significado duplo deve ser entendido nesta porção de Apocalipse. Ao falar sobre a Nova Jerusalém, o autor está referindo-se tanto aos edifícios, como aos seus habitantes. Devemos ter também em mente que a descrição é feita simbolicamente mostrando o caráter do estado de bem-aventurança dos justos e em alguns pontos o caráter dos próprios justos.

A descrição da cidade segue os moldes das cidades do tempo do Novo Testamento. O apóstolo é levando em espírito a um grande e alto monte para ver a santa cidade de Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus (v. 10). Antigamente havia preferência para edificar-se cidades sobre os montes por questão de segurança. De um monte facilmente avistava-se quaisquer inimigos. Era mais fácil atirar-se flechas, pedras, etc. do alto para baixo. Mas havia uma outra razão: As cidades edificadas sobre os montes eram mais difíceis de serem cercadas. A altitude juntamente com as muralhas ajudava a defesa da cidade. Edificada sobre um monte dava idéia de segurança.

2.1. A descrição da cidade santa – 21.10b–21 – João é levado a um grande e alto monte

para contemplar a Nova Jerusalém. Esta cidade descia do céu da parte de Deus, tendo “a glória de Deus; e o seu brilho era semelhante a uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino” (v. 11). A característica mais impressionante é que a cidade trazia a glória de Deus (shekinah). Glória ou esplendor é um termo bíblico muito comum para identificar a presença de Deus. Só isto bastaria para tornar a nova Jerusalém como a melhor de todas as cidades: a presença de Deus. Onde Deus está presente tudo é perfeito. Não há males e nem problemas. Deus supre todas as necessidades.

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Logo a maior bem-aventurança do novo céu e da nova terra será a presença de Deus, que é sinônimo não só de segurança, mas do suprimento de todas as carências humanas. João compara a glória de Deus e o seu brilho a “semelhança de uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino.” A palavra usada para jaspe não se limitava na Antigüidade à pedra que hoje conhecemos com este nome, mas englobava todas as pedras preciosas transparentes. Talvez este jaspe fosse como um diamante.

2.1.1. A muralha e as portas da cidade – 21.12–13 – A descrição da cidade é nos moldes antigos com muralhas e portas A cidade tinha doze portas e nas doze portas doze anjos. Os anjos eram os guardiões das doze portas, simbolizando a segurança eterna da cidade. Em Isaías 62.6 lemos: “Ó Jerusalém, sobre os teus muros pus atalaias, que não se calarão nem de dia, nem de noite; ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não descanseis.” Em Isaías a idéia de que sobre a cidade haveria guardas sobre os muros para interceder por Israel e orar pela vinda do reino messiânico. Aqui em Apocalipse são anjos que se postam diante de cada porta. E sobre cada porta estava o nome de uma das doze tribos de Israel. Esta idéia já encontramos em Ezequiel 48.31–34, em que há três portas de cada lado do muro da cidade com os nomes das doze tribos de Israel. A cidade é quadrangular, tendo três portas para cada ponto cardeal: norte, sul, leste e oeste.

2.1.2. Os fundamentos do muro da cidade – 21.14 – A muralha da cidade estava edificada sobre doze fundamentos e nos fundamentos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Em Efésios 2. 20, o apóstolo Paulo ensina: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra de esquina.” A igreja de Cristo, tendo o próprio Senhor como principal pedra de esquina, foi edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profeta. João ao dizer os doze apóstolos talvez esteja pensando mais na instituição do apostolado. Sabemos que dos doze apóstolos originais, Judas Iscariotes foi substituído por Matias. Com o duplo simbolismo, das doze portas com os nomes das doze tribos e dos doze fundamentos com os nomes dos doze apóstolos, está indicando que a cidade engloba as duas dispensações, mostrando que o Israel do Velho Testamento e a igreja de Jesus Cristo do Novo Testamento têm seu lugar na morada celestial com Deus.

2.1.3. As dimensões da cidade e da muralha – 21.15–17 – O anjo que falava com João tinha na mão uma cana de ouro para fazer as medições da cidade, de suas portas e do seu muro (v. 15). Recebemos a informação que a cidade era quadrangular, um quadrado perfeito (largura e comprimentos iguais). Cada lado da cidade (portanto do quadrado) era de doze mil estádios. Se convertemos os estádios em metros ou quilômetros, teremos um comprimento fantásticos 2.160 km ( um estádio equivale a 180 metros, segundo Thompson. Há quem calcule com um valor um pouco superior). A BLH traduz em 2.200 km. Esta cidade não caberia no Israel dos tempos de Davi e nem em toda a região da palestina de hoje. Para termos uma idéia da distância, de Jerusalém até Roma em linha reta são 2.250 km. De Jerusalém para Babilônia 885 km. De Jerusalém para Antioquia da Síria 480 km. Uma cidade desta caberia no centro do Brasil. Esta cidade teria só em um lado uma distância mais ou menos equivalente de S. Paulo a Salvador. Estamos chamando a atenção para a distância no sentido literal apenas para concordar com Ray Summers que diz: “Reduzir isto a um número literal destrói inteiramente o simbolismo. Doze mil estádios equivalem a 1.500 milhas em nossas medidas atuais, e isto não teria sentido. Os esforços despendidos por alguns, para determinar o número de gente que poderia viver numa cidade desse tamanho e quantos metros caberia em cada habitante, não passam de futilidade. O número 12.000 é múltiplo de dois números perfeitos – o 12 e o 1.000. Emprega-se aqui para dar idéia de perfeição e completude. Quer dizer que haverá perfeita acomodação para todos os remidos. Poderá alguém determinar a população do céu e que porção do espaço terá cada um para sua perfeita acomodação, dividindo isso pelo cubo de 1.500 milhas reduzidas a metros cúbicos?” (op. cit. pág. 284, 285). O v. 16 no final afirma que tanto a largura, comprimento e altura eram iguais. Hoje nós não medimos a altura da cidade, mesmo porque a altura

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das casas e prédios variam. A descrição da nova Jerusalém é apresentada em forma de um cubo. Tem 2.200 km de largura, 2.200 km de comprimento e 2.200 km de altura. George Ladd também conclui que estes números representam a simetria, a perfeição, a vastidão e a totalidade ideais da nova Jerusalém. Ele conclui o seu pensamento com uma sugestão: “Talvez esta estrutura de cubo, desta cidade que agora se tornou a habitação de Deus, queira indicar a forma do Santo dos Santos - I Reis 6. 20” (op. cit. pág. 210). O muro tinha 144 côvados, segundo a medida de um homem, que conforme o texto indica é a medida de um anjo. Um côvado equivale a 45 centímetros. De igual forma se fôssemos tomar no sentido literal teríamos conforme a BLH uma muralha com 64 metros de largura ou de altura (pois o texto não diz se a referência é em relação à largura ou altura). De qualquer forma seria uma largura ou altura fora do comum para uma muralha, pois isto equivaleria a um prédio atual de 20 a 21 andares. A verdade do simbolismo destes números é para dar uma idéia duma cidade forte, espaçosa, perfeita e linda, em que os homens remidos de Deus habitarão com Ele em comunhão perfeita. 2.1.4. Descrição simbólica detalhada dos fundamentos e das portas da cidade – 21.18–21 - O material descrito como usado na construção da cidade não tem parâmetro algum em nenhuma cidade da terra: “O muro era construído de jaspe, e a cidade era de ouro puro, semelhante a vidro límpido. Os fundamentos do muro estavam adornados de toda espécie de pedras preciosas. O primeiro fundamento era de jaspe; o segundo, de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda; o quinto, de sardônica; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o oitavo, de berilo; o nono, de topásio; o décimo, de crisópraso; o undécimo, de jacinto; o duodécimo, de ametista” (v.20). O ouro da cidade é descrito como transparente e isto não é um elemento da nossa terra. A idéia é para indicar a transparência da cidade. Ela refletirá a glória de Deus, que a linguagem humana não é capaz de descrever. Os fundamentos de uma muralha ficam no subsolo, no entanto, na descrição da nova Jerusalém os fundamentos que sustentam a muralha da cidade, onde estão escritos os nomes dos doze apóstolos, não ficavam debaixo do solo. Eram visíveis a todos. Eram todos das pedras mais preciosas, das quais nem todas conhecemos. Não só os fundamentos da cidade eram de jóias valiosas, mas as portas da cidade eram de pérolas: “As doze portas eram doze pérolas: cada uma das portas era de uma só pérola” (v.21a). No conhecimento humano não há pérolas tão grandes como as das portas da nova Jerusalém. Uma pérola tão grande seria de um valor incalculável. A pérola já vem pronta. Ela não é aprimorada pela arte humana. Instrumentos e polimentos podem dar lustro às pedras preciosas. Mas a perfeição da pérola é algo original e inerente a ela mesma. As bênçãos mais profundas de Deus na nova Jerusalém, não poderão ser melhoradas. Por outro lado a porta fala de ‘acesso’. As portas, cada uma das quais feita de uma pérola gigantesca, fala do supremo acesso da noiva à herança celestial, à verdade celestial e ao bem-estar celestial. E tudo isso se manifestará por intermédio de Jesus Cristo, o qual é e sempre será o Caminho, por meio do qual os homens podem buscar a Deus e aos seus benefícios.

João continua descrevendo a beleza da cidade, dizendo que; “a praça da cidade era de ouro puro, transparente como o vidro” (v.21b). O grego diz literalmente: “a avenida principal.” O texto poderia ser traduzido por rua principal, a praça da cidade ou talvez o mercado.

2.2. O que não haverá na nova Jerusalém – 21.22–26 – Muitas coisas na nova Jerusalém

serão diferentes das coisas da terra. João não faz uma descrição (como talvez gostaríamos que fizesse) da vida no céu, como seremos, o que teremos, o que faremos, etc. Em sua visão ele vê alguns contrates.

2.2.1. Nela não haverá templos – 21.22 – Como crentes em Cristo Jesus, ao chegarmos

numa nova cidade, logo procuramos saber se há alguma igreja batista ou mesmo evangélica. Ficamos observando se passamos por algum templo. Israel no princípio pensava que Deus morava

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no Santo dos Santos do tabernáculo. Mais tarde de que sua morada era no templo de Salomão. O templo era o centro do culto judaico, tanto antes, como depois do exílio. No Novo Testamento vamos ver o desenvolvimento da teologia da igreja como verdadeiro templo de Deus (I Cor. 3.16; Efésios 2.21). Cada crente é o templo do Espírito Santo (I Cor.6.19). Aqui na terra nós precisamos de templos, de santuários, como locais especiais para a adoração de Deus. Na nova Jerusalém diz o apóstolo: “Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor Deus Todo-Poderosos, e o Cordeiro” (v.22). Ali não mais haverá templos, pois o próprio Deus habitará no meio do Seu povo e haverá comunhão direta com Ele. Vicente diz: “A cidade inteira será então um só santo templo de Deus.” Robertson afirma: “Aqui somos o santuário de Deus; mas então Deus se tornará o nosso santuário, o que também sucederá ao Cordeiro, conforme se vê nos capítulos quatro e cinco deste livro.”. Há uma nota interessante no Comentário Bíblico de Moody: “Ali n]ao haverá mais templo pelo simples motivo de que não é necessário. Aquilo que agora precisa ser separado do mundo e reservado para Deus – sim, e mantido com determinação e força de vontade contra as hostes invasoras – expandiu-se ali até cobrir todos os setores da experiência e atividade humanas. A presença de Deus já não precisa ser buscada; é conhecida; é sentida, universal e impregnando tudo como a luz do dia” ( op. cit. vol. 5, pág. 445).

2.2.2. Não mais haverá necessidade do sol e da lua para dar luz – 21.23, 24 – “A cidade

não necessita nem do sol, nem da luz, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão à sua luz, e os reis da terra trarão para ela a sua glória.” Será o cumprimento da profecia de Isaías 60. 19: “Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória.” A nova Jerusalém brilhará desde o seu interior, não precisando de qualquer iluminação externa. A presença de Deus Pai e do Cordeiro iluminarão tudo. Deus é a real fonte de luz, em todas as dimensões. A glória de Deus iluminará a nova Jerusalém. Russell Shedd comenta: “ Os luminários de nosso mundo presente não farão falta (cf. v. 11). A luminosidade de Deus dará luz a toda cidade, de modo que não existirá mais escuridão ( cf. a glória Shekinah, isto é da presença de Deus, na coluna de fogo que se movimentou na frente dos israelitas no deserto e no tabernáculo” ( op. cit. pág. 65). O Comentário Bíblico de Moody observa: “Nosso texto não diz que não haverá sol ou luz na eternidade, mas que não precisaremos da luz do sol e da luz, pois a própria glória de Deus vai iluminar a cidade. Assim como precisamos de uma vela de noite, mas não ao meio dia, quando o sol está brilhando, assim precisamos do sol e da luz em nosso estado atual de existência, mas não precisaremos mais deles na presença de Deus, que é a verdadeira luz” (op. cit. vol. 5, pág. 445).

“As nações andarão à luz de Deus e os reis da terra trarão para ela a sua glória” (v. 24). Ninguém entrará na nova Jerusalém a não ser que tenha o seu nome inscrito no livro da Vida, logo, conclui-se que estas nações e estes reis têm os seus nomes inscritos no livro da Vida. Sobre a interpretação literal deste versículo surgem muitas interpretações e controvérsias que não vamos discutir, pois a Bíblia pouco revela sobre isto. Talvez o melhor entendimento seja simbólico, mostrando como todos no novo céu e na nova terra andarão na luz de Deus e O servirão.

2.2.3. As portas da nova Jerusalém não serão fechadas – Não haverá também noite - 21.25–26 – Elas estarão abertas indefinidamente durante o dia. Ali não haverá também noite, só dia. Noite é símbolo de trevas e com a presença de Deus ali não haverá trevas. O apóstolo já havia dito que a cidade não precisará do sol, porque Deus mesmo será a sua luz. A presença de Deus expulsará todas as trevas e a noite. As trevas, na Bíblia, são uma figura-padrão para a existência longe da presença de Deus. As trevas simbolizam também o pecado. A presença radiante de Deus e do Cordeiro acabará com toda a escuridão.

As portas da cidade não sendo jamais fechadas simbolizam que ela oferece segurança permanente. A proteção divina jamais se afastará dela. Já Isaías havia profetizado sobre a restauração de Jerusalém, dizendo que as suas portas permaneceriam continuadamente abertas: “E

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estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão ... As tuas portas estarão abertas continuamente; nem de dia nem de noite se fecharão; para que te sejam trazidas as riquezas das nações, e conduzidos com elas os seus reis” ( Is. 60. 10 – 11).

2.3. Quem entrará e quem não entrará na nova Jerusalém – 21.27– No v. 8 é revelado ao

apóstolo João o destino dos covardes (medrosos), incrédulos, abomináveis, homicidas, adúlteros, feiticeiros, idólatras e todos os mentirosos: no lago ardente de fogo e enxofre. Neste v. 27 declara-se quem não terá direito de entrar na Nova Jerusalém e quem são os que terão direito a este acesso.

2.3.1. Não poderão entrar – 21.27a – “E não entrará nela coisas alguma impura, nem o que

pratica a abominação ou mentira”. Apesar das portas estarem abertas permanentemente há coisas e pessoas que não poderão entrar na nova Jerusalém. Isto se constitui numa garantia e proteção a todos os que ali habitarão. Há duas razões porque ali não entrará nada que a contamine e nem o que pratica abominação ou mentira: primeiro, porque todos os males já terão sido exterminados. Satanás e suas hostes infernais e todos aqueles que não aceitaram o plano de Deus para a salvação terão sido lançados no lago ardente de fogo e enxofre. O corruptor do mundo e seus anjos já estarão vencidos, julgados e condenados ao castigo eterno. Os que praticavam as obras abomináveis a Deus também já estarão julgados e condenados. E a segunda razão: Deus será o protetor eterno da cidade. Nada que a contamine ou corrompa poderá penetrar ali.

2.3.2. Só entrarão os que tiverem seus nomes inscritos no livro da vida – 21.27b – “mas

somente entrarão os que estão inscritos no livro da Vida do Cordeiro.” Chamamos a atenção para o fato de que ninguém entrará ali por mérito próprio ou por qualquer outro meio a não ser pelo sangue do Cordeiro. Para ter o nome inscrito no livro da Vida, é necessário receber Jesus Cristo no coração. E para receber a Jesus é preciso reconhecer o pecado e a incapacidade pessoal de nos livrarmos do pecado sem Cristo. Crer que Ele, com Sua morte na Cruz do Calvário, resgatou todos os nossos pecados e pode nos transformar em novas criaturas. No ato da conversão ou regeneração, o Espírito Santo nos transforma e os nossos nomes são inscritos no livro da Vida. É por esta razão que Jesus disse aos seus discípulos que deviam alegrar-se antes por terem os seus nomes inscritos no livro da Vida, do que pelo fato de verem demônios sendo expulsos ou milagres operados em Seu nome (Lucas 10. 20). 3. O céu como jardim – Símbolo das provisões de Deus – Apocalipse 22.1 –5 – A história da humanidade começou num jardim (no Éden) e terminará noutro jardim (do paraíso). O jardim do Éden lembra como Deus supria todas as necessidades do homem. Havia perfeita harmonia entre o homem e toda a criação e toda a criatura. O homem tinha a presença constante de Deus. Deus supria as suas necessidades sem que ele precisasse suar o seu rosto e sem que a terra lhe fosse adversa produzindo espinhos e cardos. Deus supria todas as carências do homem, tanto que observou que não era bom que o homem estivesse só (Gên. 2.18) e fez-se a adjutora que lhe fosse idônea (Gên. 3.21–24). Pela história bíblica sabemos que tudo foi destruído pelo pecado. O pecado entrou por uma tentação externa, da serpente (Satanás). Agora no céu, como jardim será diferente. Lemos no último versículo do capítulo 21 de que no céu não entrará nada que o contamine e nem quem pratica abominação ou mentira. Ali não mais haverá tentação e nem inclinação para o mal. O céu como jardim simboliza, portanto o perfeito gozo e suprimento de todas as necessidades humanas. Há três coisas básicas necessárias para o sustento da vida: água, alimento e saúde. João na visão viu o suprimento destas necessidades. 3.1. Rio da água da vida – 22.1 – “E mostrou-me o rio da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.” Esta é uma maneira simbólica d3 descrever o reinado da vida eterna no futuro. O rio, de um modo geral é símbolo de vida e na Bíblia de um modo especial este é o simbolismo. Encontramos o salmista dizendo: “Há um rio cujas correntes

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alegram a cidade de Deus” (Salmos 46.4) Ezequiel em sua visão da Jerusalém restaurada vê um rio fluindo de debaixo do templo e que trazia a cura e vida às águas do mar Morto e conseqüentemente aos seus habitantes (Ezequiel 47.1–12). Zacarias fala em sua profecia de rios que correrão de Jerusalém para o Oriente e Ocidente com suas águas vivas (Zacarias 14.8). Jesus fala da água da vida à mulher samaritana (João 4.10, 14). Depois ensinando no templo fala: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (João 7.38). O rio da água da vida é um símbolo que na nova Jerusalém a morte será abolida com todo o mal que proporcionava e a vida reina eternamente. O rio, cujas águas eram claras como cristal, procediam do trono de Deus e do Cordeiro porque Deus é a origem de toda a vida. 3.2. A árvore da vida – 22.2 – “No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu furto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.” A linguagem simbólica continua. O rio cortando a praça e a avenida principal, tendo a árvore da vida de ambos os lados, produzindo doze frutos (número perfeito) de mês em mês. Símbolo de que Deus dará alimentação necessária e mais do que isto a árvore da vida garantia a saúde permanentemente, portanto, a vida eterna. No jardim do Éden havia a árvore da vida (Gên. 2.9), mas que Deus, em Seu amor para com o homem, não permitiu que ele comesse, pois se a tivesse comido e cometido pecado viveria nesse estado eternamente (Gên. 3.22).

Agora remido no céu, o homem terá direito à árvore da vida. Jesus com a sua vida, morte e ressurreição trouxe a vida eterna aos homens. A apresentação da árvore da vida no jardim da nova Jerusalém significa a consumação do que Cristo conquistou em Sua missão terrena. Em seu aspecto escatológico, isto inclui a transformação completa de tudo que é mortal pra o imortal (II Cor. 5.4). A descrição da árvore da vida produzindo doze frutos, de mês em mês, e as suas folhas servindo para a cura das nações é bastante semelhante á descrição do profeta Ezequiel: “E junto do rio, à sua margem, de uma e de outra banda, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer. Não murchará a sua folha, nem faltará o seu fruto. Nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário. O seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio” (Ezequiel 47.12). Tanto a descrição de Ezequiel como a de João mostram uma árvore diferente das que temos na terra. Toda árvore apresenta um ciclo normal de fertilização, floração, crescimento do fruto e colheita. Isto se dá um ou duas vezes por ano. Mas ali haverá fruto de mês em mês em qualquer época do ano. Isto simboliza o triunfo da vida sobre a morte. Quando o apóstolo fala que será para a cura das nações, não devemos pensar que ali haverá doença, mas é uma comparação com a nossa época em que há dor, doente e morte. Os que tiverem acesso à nova Jerusalém estarão livres de todos estes males.

3.3. Ali não haverá maldição – 22.3 – “Ali não haverá jamais maldição. Nela estará o

trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos O servirão.” João continua contrastando a vida do presente século com a da vindoura. O presente século é caracterizado pela maldição. A maldição que penetrou no jardim do Éden e permeia toda a história do homem (Gên. 3.17). Jesus veio exatamente para acabar com a maldição trazida pelo pecado. Na nova Jerusalém não mais haverá qualquer tipo de maldição. Ali estará o trono de Deus e do Cordeiro. Onde Deus está, não há maldição e pecado. Todos ali serão servos de Deus e todos O servirão.

3.4. Os moradores da Nova Jerusalém contemplarão a face de Deus – 22.4 – “e verão a

sua face; e na suas frontes estará o seu nome”. Na ‘era antiga’ ninguém podia olhar a face de Deus e viver (ver Êxodo 33.20). “Esta é a esperança e a meta da salvação individual em toda a Escritura: a visão de Deus. Em toda a história da redenção a presença de Deus se manifesta aos homens de diversas maneiras. No Antigo Testamento, era através da palavra profética, de teofanias, sonhos, anjos e o culto. Ver o Senhor face a face significava morte (Êxodo 33.20). Jesus, encarnando-se, trouxe a presença de Deus aos homens em Sua pessoa (Mateus 1.13); ver e conhecer a Cristo era ver e conhece ro Pai (João 14.7, 9; 17.3). Esta visão de Deus ainda era por intermédio

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de alguém, realizada somente pela fé. Na era vindoura a fé dará lugar à vista (Salmos 17.15; Mateus 5.8; I João 3.2)” (George Ladd, op. cit. pág. 214). “Outro belo pensamento encontramos na expressão – ‘e verão o seu rosto’ - De contínuo aqui na terra os que servem a Cristo sentem e expressam este grande desejo. Expressam-no em poemas, em seus cânticos e hinos religiosos, e não poucas vezes em ânsias profundas e incontidas do coração que aspira e sonha ver Cristo face à face. Agora, passado e vencido o mundo, o cristão remido vê-se duma vez para sempre na eterna presença de Deus e – que maravilha e que bênção! – pode agora ver o rosto de seu Deus-Redentor, o Cristo bem-amado, e servi-Lo para sempre. Poderá alguém desejar alegria e prazer maiores que estes?” (Ray Summers, op. cit. pág. 286). Os remidos não só contemplarão a face de Deus, mas terão nas suas frontes o nome de Deus gravado. Isto simboliza segurança, proteção e identidade com o ser divino. Estará assim simbolizada que pertencemos realmente a Deus.

3.5. No céu os remidos reinarão pelos séculos dos séculos – 22.5 – Temos a repetição do

que foi dito em 21.23, 25 com o acréscimo de que os remidos reinarão eternamente. Em 21.23 temos a declaração de Cristo é a lâmpada que substitui todas as formas de iluminação. Ali a luz é descrita como a ‘glória de Deus’, o resplendor de Sua presença e graça. Aqui apenas se declara que não haverá mais noite, e que não necessitarão de luz de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor os alumiará. A glória divina iluminará aos remidos ali na eternidade proporcionando-lhes a transformação e crescimento espiritual por toda a eternidade. O texto acresce que os remidos reinarão pelos séculos dos séculos. É uma alusão ao reinado eterno dos santos.

Finalizando nosso comentário sobre a revelação do novo céu e nova terra, concluímos que Deus simbolicamente diz que tudo quanto Ele quer revelar da vida futura e que os homens precisam saber é que “O céu é um lugar de comunhão perfeita, de perfeita proteção, de perfeita provisão das necessidades, de serviço perfeito para Deus.” Ali estaremos para sempre com Deus, livres de todo pecado, tentações , dores ou dificuldades que enfrentamos nesta vida. Ali gozaremos de perfeita e permanente comunhão com Deus e conseqüentemente com todos os demais santos e seres celestiais. Ali teremos a proteção permanente de Deus. Ele também suprirá todas as nossas necessidades. Certamente há muitas outras coisas que gostaríamos de saber, mas que não aprouve a Deus revelar. Ali não será um lugar de ócio, de descanso (ali não haverá nada que nos faça ficar fatigados). Ali cumpriremos a finalidade para a qual Deus nos criou: para o Seu louvor. Mas, por outro lado, é bom lembrar de que louvor não significa apenas cantar. No céu continuaremos a crescer espiritualmente. Ainda que não saibamos exatamente como será a vida ali, um coisa é certa ali também haverá variedade de atividades. Ninguém ficará “bocejando” de tédio, como deixam a entender certas frases ditas a respeito da eternidade. Se a vida aqui na terra é bela, apesar dos “estragos” feitos pelo pecado tanto na vida do homem, como de toda a criação, podemos imaginar a beleza da vida celestial em que todos os males que conhecemos será abolido. Aqui em Apocalipse 21 e 22, nada se fala sobre nossas lembranças da vida terrena, mas outros trechos de Apocalipse (como na visão dos mártires clamando por justiça contra os que lhes tiraram a vida) e outros textos do Novo Testamento levam-nos a induzir que ali teremos plena consciência de quem fomos na terra, do que fomos. Lembraremos de todas as mazelas da terra e haverá em cada coração remido alegria e gratidão eterna ao Cordeiro porque nos resgatou deste mundo vil pelo Seu precioso sangue e levou-nos ao gozo celestial. Se não houvesse lembrança da vida terrena, de quem fomos, seríamos como outras criaturas e onde o motivo de gratidão e reconhecimento de tudo o que Deus fez por nós? Reafirmamos o que apóstolo João diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é, O veremos. E todo aquele que nEle tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como Ele é puro” ( I João 3. 2,3). No tempo certo, teremos a revelação perfeita de como é a vida no céu. Hoje, ainda que quiséssemos, não poderíamos descrever plenamente o céu. Não há linguagem humana capaz de fazê-la. O Apocalipse revela que este mundo de sofrimento cederá lugar ao novo estágio de vida em felicidade plena. Mas isto só para os que têm os seus nomes inscritos no Livro da Vida. Os demais estarão no lago ardente de fogo e enxofre. Ao mesmo

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tempo que é consolo, encorajamento para os remidos do Cordeiro, o livro de Apocalipse é também uma advertência para aqueles que ainda não crêem em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador. Ao mesmo tempo que o Apocalipse garante a vitória final dos santos, mostra a dura realidade final dos incrédulos. Isto deve servir de incentivo não só para uma vida de maior santidade, mas também de anunciarmos o Evangelho de Cristo, pois todos aqueles que não tiverem os seus nomes inscritos no Livro da Vida serão lançados no lago ardente de fogo e enxofre. Ali estarão condenados eternamente ao sofrimento. Ali não haverá esperança, mas somente tristezas e dores. Tenhamos piedade dos que ainda não têm fé em Jesus, como apela Judas: “Apiedai-vos de alguns que estão na dúvida, e salvai-os, arrebatando-os do fogo; e de outros tende misericórdia com temor, abominando até a túnica manchada pela carne” (Judas 22, 23). II. ADVERTÊNCIAS E PROMESSAS FINAIS – (Apocalipse 22.6–22)

Com a visão da nova Jerusalém estava terminada a revelação feita a João. As cortinas do

palco da revelação foram fechadas. Jesus havia revelado a João o quadro do cuidado que Deus dispensa aos seus santos nos conflitos e perseguições, revelara a certeza do Seu triunfo sobre as condições hostis dos tempos difíceis que os crentes da Ásia Menor estavam vivendo e da glória além-túmulo que lhes oferecia. A mesma revelação continua valendo para nós e podemos saber que, apesar do aumento do pecado e do crescimento das forças inimigas, que a vitória do Cordeiro é certa. Nós que somos dEle, venceremos com Ele. Resta agora gravar no espírito dos primeiros leitores e em nosso espírito a importância da mensagem desta revelação feita. Por isso, agora o próprio Senhor, surge diante do pano das cortinas, para transmitir as últimas palavras tanto de advertências como de promessas. “Como epílogo ressonante dum culto solene, a Revelação de Jesus Cristo aproxima-se de seu término. A primeira visão veio no domingo (1. 10), dia de culto, no qual os crentes reunidos rogavam a presença do Senhor ressurreto para participar junto com eles da Ceia do Senhor. Mesmo que os leitores não entendam claramente as figuras do Apocalipse, ou se a imaginação dum intérprete errar o significado por completo, ninguém deve perder de vista a exigência básica que

deve governar a leitura do livro, a de obedecer (22.7). A escatologia não tem a missão principal de responder às perguntas suscitadas pela nossa curiosidade, mas sim de incentivar nossa responsabilidade para ouvir os imperativos e ‘guardar as palavras da profecia’ . Cristo vem sem demora (v. 7, 12). Não cabe a nós, homens, saber quando, mas apenas agir como bons servos que aguardam a chegada próxima do seu mestre” ( Russell Shedd, op. cit., pág. 67).

1. Autoridade divina da mensagem – 22.6 – “Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o Deus dos espíritos do profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.” Deve ficar bem patente em nossas mentes de que o Apocalipse é de autoria divina. As palavras da profecia não foram produzidas por mente humana, mas constituem a revelação direta de Deus, por meio de Jesus Cristo. Isto faz os nossos pensamentos se voltarem para o primeiro versículo do livro de Apocalipse: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus sevos, as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João.” O mesmo Espírito que inspirou os profetas ao escreverem suas profecias, também inspirou o apóstolo João a escrever o livro de Apocalipse.

2. Estado de prontidão – 22.7 – Reforçando a idéia da inspiração divina em toda a

Revelação das coisas que em breve devem acontecer, vem a palavra direta de Jesus Cristo: “Eis que

cedo venho; bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.” A expressão ‘cedo venho’ é repetida três vezes neste epílogo: vs. 7, 12 e 20. Com esta advertência: “Eis que cedo venho”, o Senhor está nos alertando para a necessidade de permanecermos em estado de prontidão permanente. Durante o Seu ministério terreno, Jesus Cristo já deixou bem claro a

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necessidade de estarmos vigilantes: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor; sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixariam minar a sua casa. Por isso ficai também vós, apercebidos; porque numa hora em que não penseis virá o Filho do homem” (Mateus 24.42–44). “Olhai por vós mesmos; não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha de improviso como um laço. Porque há de vir sobre todos os que habitam na face da terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e estar em pé na presença do Filho do homem” (Lucas 21.34–36). É preciso que tenhamos sempre em mente que o Senhor pode vir a qualquer momento. Por isso ele insiste: “Eis que cedo venho.” Bem-aventurado, ou feliz em toda a sua plenitude, é aquele que guarda as palavras da profecia deste livro. Guardar significa observar, cumprir, obedecer todas as palavras deste livro.

3. Só Deus deve ser adorado – 22.8–9 – João mais uma vez lança-se aos pés do anjo que lhe

falava para adorá-lo. Encontramos cena semelhante em 19.10. A reação e resposta do anjo é a mesma: “Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (v. 9). João sabia que devia adorar apenas a Deus, mas deslumbrado com toda a cena maravilhosa que lhe fora revelado, ele foi tão dominado pela admiração e temor que sua reação natural foi cair de joelhos e adorar o anjo. O anjo repete o que dissera na vez anterior. João não devia adorar a um anjo, porque um anjo não é Deus, é somente um mediador da revelação divina e por isso um conservo dele, dos profetas, dos irmãos dele e também de todos os que guardam as palavras da profecia deste livro. Somente Deus é digno de adoração e mais ninguém. Anjos, arcanjos, querubins, serafins, servos de Deus do passado, líderes de hoje, grandes cristãos, são todos servos de Deus. A relação entre todos é de conservos, isto é, todos são servos de um mesmo Deus. E só Deus deve receber nosso louvor e adoração. Não podemos e nem devemos idolatrar ninguém. Como o livro de Apocalipse apresenta só Deus Pai, o Cordeiro de Deus e o Espírito Santo são dignos de receber adoração dos homens e de todos os seres viventes.

4. O tempo do fim está próximo – 22.10 – “Disse-me ainda: Não seles as palavras da

profecia deste livro; porque próximo está o tempo” (v. 10). Quando João teve a primeira visão da sala do trono celestial (cap. 5), ele viu um rolo de papiro, selado com sete selos, indicando que o conteúdo do livro era inacessível aos homens. Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, foi o único que podia olhar, tomar e abrir o livro, desatando os seus selos. A revelação seria feita primeiro aos crentes do final do primeiro século e depois às demais gerações. Como a revelação era para aqueles crentes, ele deveria deixar o livro aberto, isto é, não o selar (22.10). O tempo está próximo. A revelação feita a Daniel sobre o futuro devia ser selado porque se referia a dias mui distantes (Daniel 8.26). Mas as revelações dadas por intermédio de João têm duas perspectivas. O conteúdo da profecia enfoca, por um lado, a luta entre Cristo e o Anticristo, que terá o seu clímax terrível no fim dos tempos. Por outro lado, a profecia expressava também as lutas entre o Estado Romano e as igrejas dos primeiros séculos da era cristã, especialmente na questão da divindade dos imperadores e na exigência romana de que todos os seus cidadãos reconhecessem esta suposta divindade e adorassem formalmente os imperadores. A mesma luta se manifesta onde quer que o Estado faça exigência totalitárias, querendo forçar os seus cidadãos a adorar e servir aqueles que não são deuses. A profecia do Apocalipse esboça a luta espiritual entre Deus e Satanás. O Estado tem o seu papel ordenado por Deus como mantenedor da lei e da ordem (Romanos 13.1–7). O Apocalipse fala em primeiro plano do clímax da luta, com o surgimento do Anticristo, mas ele é também importante para os santos (crentes em Cristo Jesus) em qualquer tempo e lugar onde o princípio anticristão do totalitarismo se manifeste querendo levá-los a adorar àqueles que não são deuses. Como a mensagem era para os cristãos do final do primeiro século, para todas as gerações seguintes e para nós também, as palavras do livro não deveriam ser seladas.

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As palavras da profecia do Apocalipse não foram seladas, mas precisamos observar que não se estabelece datas. Todos aqueles que querem estabelecer datas acabam caindo no erro. Tivemos o erro no final do século 19, quando os primeiros adventistas esperaram a volta do Senhor, num monte, vestidos de branco. No ano de 1888. Depois de refeitos os cálculos apresentaram 1889. Para cobrir o erro inventaram uma história de que Cristo tinha entrado no santuário celestial. Temos vários livros apresentando datas para o surgimento do Anticristo, da guerra final, etc. Devemos ter em mente que Jesus deixou bem claro que ninguém, na terra ou no céu, sabe desta data a não ser o próprio Deus (Mateus 24.36). O tempo está próximo, mas não sabemos se hoje, amanhã, depois, no mês vindouro, etc. A qualquer momento precisamos estar preparados.

5. Exortações tendo em vista que o tempo está próximo – 22.11–13 – Diante da realidade de que o tempo está próximo e que o Senhor cedo vem, Ele nos faz algumas advertências.

5.1. Cuidado com o tempo do fim em que haverá tendência na fixação do caráter – 22.11 – “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem é sujo, suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se ainda.” O Senhor transporta-nos para o final dos tempos em que não haverá mais esperança de arrependimento, quando o arrependimento será impossível, quando a posição que a pessoa tomou a favor de Cristo ou do Anticristo será determinante, final e irrevogável. Por esta razão é para todos hoje uma advertência séria e solene. A verdade apresentada neste versículo é chamada muitas vezes de “permanência de caráter” outras vezes de “fixação de caráter.” H. B. Swete afirma: “Além de ser verdade que as perturbações dos últimos dias terão a

tendência de fixar o caráter de cada indivíduo segundo os hábitos que ele já tenha formado,

haverá um tempo em que uma mudança será impossível – quando não haverá mais oportunidade de arrependimento de um lado ou de apostasia do outro.” Cuidado para tomarmos decisões corretas ao lado de Cristo, pois chegará o tempo em que não haverá mais oportunidade de mudanças. Ainda que soe duro, sem dar oportunidade ao arrependimento, esta é uma verdade que um dia se cristalizará na vida dos homens: “Quem pratica o mal, que o continue fazendo, que o sujo continue sujo, enquanto o justo e o santo se ocupem da prática do bem.” Deus respeita o livre arbítrio do homem. Se ele não quer ouvir a voz de Deus, os seus convites, os seus apelos, que continue na prática que está fazendo. Da mesma forma os fiéis devem cada vez mais se dedicar a Deus e servi-Lo cada vez melhor. A ação do tempo tende a solidificar o nosso caráter ou para o bem ou para o mal. Chegará o tempo em que cada um dos homens estará de um lado ou de outro, sem possibilidade de mudança. Ainda que soe de forma dura, é uma advertência enquanto há tempo e uma preparação para o convite ao arrependimento que virá logo a seguir no versículo 17, antes que chegue o tempo ou o ponto em que o coração não mais poderá mudar de posição.

Alguns têm chamado este versículo o ultimato de Deus aos homens. Não um ultimato destituído de esperança, mas um ultimato que adverte haver um ponto na vida de pecado, do qual o homem não pode retornar, senão com as mais ingentes dificuldades, ou mesmo em que a volta é praticamente impossível. Por outro lado podemos ver séria advertência tanto aos incrédulos como aos crentes neste ultimato de Deus. Ninguém poderá chegar diante de Deus alegando desconhecimento de que Deus avisou do risco de continuar no pecado. Se o homem quer continuar no pecado, que continue, mas corre sério risco por causa desta sua atitude. Pode partir em seu pecado e receber a condenação eterna. O seu continuar no pecado pode levar a solidificar o seu caráter pecaminoso, sem esperança de poder depois mudar. Tudo na sua vida pode caminhar para aliar-se definitivamente às hostes do inimigo. Da mesma forma há uma advertência para os crentes em Cristo Jesus de não participarem dos pecados dos ímpios e a corrigirem comportamentos distorcidos dentro das igrejas, como nos apresentaram as sete cartas escritas que espelham bem a situação de cada igreja. Num tempo como o que vivemos, em que sofremos tantas influências do mundo (inclusive em nossa filosofia de vida), em que somos tentados a imitar os ‘modismos’ vindos inclusive de igrejas ditas evangélicas, somos advertidos a aprimorar cada vez mais a nossa vida cristã: “quem é justo, faça justiça ainda; e quem é Santo, santifique-se ainda.” Lembremo-nos

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de que o nosso modelo é Cristo. A nossa fé deve estar baseada tão somente nos ensinos da Bíblia sem as deturpações feitas através dos tempos, inclusive as deturpações feitas nas últimas décadas. Cuidado com o apelo da contextualização e do pensamento infundido de que o Evangelho de hoje não pode seguir os mesmos moldes de 50 anos atrás. O Evangelho de Cristo é imutável, pois, Ele também é imutável.

5.2. Cuidado com as nossas obras – 22.12 – “Eis que cedo venho e está comigo minha recompensa, para retribuir a cada um segundo a sua obra.” A salvação é pela graça. Não há nada que o homem possa fazer para conseguir a salvação de sua alma. Este é o ensino do Apocalipse e de todo o Novo Testamento. Só entrarão no reino de Deus os que têm os seus nomes inscritos no Livro da Vida. Para ter o nome inscrito no Livro da Vida precisamos “lavar as nossas vestes no sangue do Cordeiro”. Talvez pela convicção de que nossas obras não salvam, muitas vezes negligenciamos as obras que devemos produzir pela nossa vida e as que devemos praticar. Neste epílogo o Senhor lembrar que cedo vem e que está com Ele a Sua recompensa, a fim de retribuir a cada um segundo a sua obra.” O salvo deve produzir frutos como conseqüência natural de sua salvação. Paulo argumentando de que a salvação é tão somente pela graça de Deus através de nossa fé, mostra que ela (a salvação) não vem de nós, mas é dádiva de Deus, não vem das obras para que ninguém se glorie (Efésios 2. 8 e 9), mas conclui dizendo: “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus

para boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10). Se somos salvos precisamos produzir os frutos desta salvação. Não podemos ficar tão somente embevecidos pela salvação graciosa que recebemos, sem produzir os frutos desta salvação. A nossa vida deve ser uma vida operante. Uma vida que produza obras para a honra e glória de Deus. O crente precisa mirar-se no exemplo de Jesus Cristo que “veio para servir e não para ser servido” ( Mateus 20. 28). Por meio de várias parábolas Jesus mostrou que nós precisamos produzir frutos. Paulo ensinou que as nossas obras serão provadas pelo fogo. Se elas não forem destruídas, receberemos o galardão. Caso o fogo as destrua, seremos salvos, todavia, como pelo fogo (I Cor. 3.12–15 ). O mesmo apóstolo também diz que todos nós compareceremos perante o tribunal de Cristo no qual nossas obras serão manifestas e então cada um receberá a recompensa pelo que fez por meio do corpo, pelo bem ou o mal que praticou (II Cor. 5.10). O Senhor lembra neste final de Apocalipse que cedo vem, trazendo consigo a recompensa, a fim de retribuir a cada um segundo a sua obra. Não sejamos negligentes em nosso serviço cristão. Lembremos que não fazemos estas obras para os homens, mas para Deus.

5.3. Jesus é eterno – 22.13 – “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, o princípio e o fim.” Mais uma vez o Senhor lembra que Ele é o Deus eterno. Só Deus é eterno. Ele não teve princípio e não terá fim. Deus é um só em três pessoas distintas. Só Ele deve ser ouvido,obedecido, servido e adorado. Jesus Cristo pode ser o juiz da humanidade porque Ele transcende toda a experiência humana, compartilhando da natureza eterna de Deus.

5.4. Os bem-aventurados e os desaventurados - 22.14–15 - Jesus após revelar que, em breve, virá para julgar os homens, de acordo com as suas obras, Ele contrasta o destino dos verdadeiros crentes e dos incrédulos. Os verdadeiros crentes são aqueles que lavaram as suas vestiduras no sangue do Cordeiro. Esta idéia de vestes limpas para indicar uma vida de pureza, de fidelidade, já apareceu em 3.4 (em que Jesus testifica que tem em Sardes aqueles que não contaminaram as suas vestes) e em 7.14 (em que os que foram martirizados aparecem como vestes lavadas e branqueadas no sangue do Cordeiro). Toda a purificação de pecado, seja no ato da conversão, como no decorrer da vida cristã, só é obtida pelo sangue de Cristo. Aliás o mesmo apóstolo ensina em sua primeira epístola 1.7b : “e o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado.” É por isso que Jesus proclama felizes aqueles que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro, por meio da sétima e última bem-aventurança do livro de Apocalipse: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro para que tenham direito à arvore da vida,

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e possam entrar na cidade pelas portas.” A estes assiste o direito à arvore da vida e de entrar na cidade pelas portas. Somente os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro é que têm direito à árvore da vida. Nenhum impuro, pecador, tem este acesso. E só entrarão os que puderem entrar pelas portas. Todos os demais ficarão de fora. Por isso no versículo 15 mais uma vez são enumerados os que ficarão fora e logicamente serão lançados no lago ardente de fogo e enxofre: “Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira.” Com exceção de cães todos os outros itens referindo-se aos pecadores, já foram apresentados anteriormente. Cães “era um termo de reprimenda no vocabulário judaico, referindo-se aos gentios, a quem consideravam ‘imundos’. De acordo com as leis judaicas, o cão era um animal imundo, não se podendo consumir sua carne. Um cão não tem moral e nem se importa com isso, pelo que é aqui usado como símbolo de devassidão moral e da adoração pagã imunda.. “Como termo de vitupério nos lábios dos judeus, isso significa, principalmente impureza; nos lábios dos gregos descaramento. As matilhas de cães que invadem as cidades orientais, sem lar e sem dono, alimentando-se do lixo que abunda nas ruas, entre suas brigas e atacando aos passantes, explicam ambas as aplicações desse simbolismo” (Lightfoot – R. N. Champlin, op. cit., vol. 5, pág. 662). A referência aos feiticeiros no contexto da época de João tinha muito a ver com o culto ao imperador que era promovido por artes mágicas e isto deverá acontecer no tempo do Anticristo. No entanto, o termo pode ter sentido mais amplo, referindo-se a todo o tipo de feitiçaria. Os adúlteros, no grego pornéia, refere-se a todo o tipo de imoralidade, particularmente no que diz respeito ao sexo. Simbolicamente refere-se à fornicação espiritual. Homicidas os assassinos em geral e em particular os que matavam os cristãos. Idólatras no contexto inicial os que prestavam culto ao imperador, adorando o imperador como um ser divino. No contexto mais amplo todos os que servem e adoram imagens e outros deuses. No futuro todos aqueles que aceitarem curvar-se e adorar à besta. E finalmente o último item da lista: “todo o que ama e pratica a mentira.” Em primeira instância aqueles que aceitavam a ‘mentira’ representada pelo culto ao imperador e profeticamente falando, há alusão à forte ilusão que Satanás promoverá por meio do falso cristo, a besta. Já houve referências aos que praticam à mentira, mas aqui é adicionado mais um verbo: ao que ama. Não somente pratica, mas ama a mentira. É que os seguidores de Satanás serão iludidos e praticarão a mentira na sua aceitação, mas com entusiástica cooperação, de modo a virem a amar a falsidade que lhes for apresentada. É como os adoradores dos chamados santos, particularmente das diversas “nossas senhoras”. Esses adoradores não somente são iludidos, praticando a mentira, como o fazem entusiasticamente, amando esta mentira sobre os ditos santos e nossas senhoras. Além disto o termo pode ser tomado no seu sentido mais amplo: toda a espécie de mentira. A mentira está campeando por toda a parte, infelizmente até no meio evangélico. A Bíblia insiste que, como salvos pro Cristo, nós precisamos amar e praticar a verdade em todas as ocasiões e circunstâncias.

5.5. A confirmação estas revelações são do próprio Senhor – 22.16 – “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã.” Jesus mais uma vez chama a atenção de que a mensagem do Apocalipse não é dos homens, é a revelação que Ele mesmo enviou através do Seu anjo para testificar estas coisas para o fortalecimento das igrejas. Ao dizer: “Eu, Jesus,” Ele está identificando-se com o nome que era muito conhecido dos discípulos. Eles o conheceram pessoalmente. João, o último dos apóstolos, ainda vivo na ocasião da revelação conheceu intimamente a Jesus, a ponto de poder reclinar a sua cabeça sobre o peito de Jesus. Era o apóstolo amado. Assim ficava perfeitamente identificado que a revelação vinha do Jesus histórico que eles conheceram. Mas, não era simplesmente um homem que João conheceu. Ele era o próprio Deus encarnado, o Logos divino. Ele era também a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. Com isto Ele pode ser identificado com o Messias prometido desde o livro de Gênesis (Gênesis 49.10, Números 24.17) e depois relacionando com a descendência de Davi (Isaías 11.1). O Revelador era o próprio Senhor Jesus Cristo, Deus-Filho, através do Seu anjo. A finalidade era para testificar a favor das igrejas. As igrejas estavam passando por momentos difíceis. Nuvens negras

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cobriam os horizontes. Elas precisavam de ânimo e encorajamento. O Senhor tudo via e tudo sabia. Para fortalecer as suas igrejas envia o Seu anjo para testificar de todas as coisas que foram reveladas ao apóstolo João. Como temos afirmado desde o início do estudo do Apocalipse, o livro foi escrito primeiro para fortalecer e encorajar as igrejas da Ásia Menor dos fins do primeiro século, mas sua aplicação e conteúdo são para todas as gerações. Nem tudo ainda foi cumprido, mas o será no tempo certo de Deus.

6. O último convite – 22.17 – O epílogo está chegando ao seu final. O Senhor que se apresenta no final da revelação diante das cortinas já fechadas, lança através do Espírito, da noiva (a igreja de Cristo) e dos salvos, o último convite, dando uma última oportunidade àqueles que ainda sentem sede espiritual para que venham receber de graça a água da vida: “E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida.” É o último convite feito ao mundo, antes que o Senhor venha. Quando o Senhor vier, será tarde demais. Virá a hora em que será tarde demais para o arrependimento. Mas esta hora ainda não chegou e enquanto não chega, o Espírito e as igrejas convidam: Vem! Os que ouvem e aceitam o convite entram também no estribilho: Vem! É o que está acontecendo no tempo atual. O coro continua: E quem tem sede venha; quem quiser, receba de graça a água da vida! Fica claro que o convite foi particularmente enviado: a) àqueles que têm sede e b) aqueles que querem. O convite vem sendo feito desde aquele tempo até hoje. Nem todos aceitaram e nem todos aceitam hoje ou porque não sentem sede (pelo fato de buscarem fontes enganosas e terem sido iludidos) ou porque não quiseram e nem querem. O homem é livre em suas escolhas, ainda que isto traga conseqüências inevitáveis, conforme lemos no v. 11. Ninguém é obrigado a receber a Jesus como Senhor e Salvador, mas cada um arcará com a responsabilidade de sua decisão.

7. A última advertência severa – 22.18-19 – “Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará

as pragas que estão escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro

desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste livro.” Estes dois versículos exortam severamente a qualquer pessoa que queira fazer qualquer modificação na revelação que acabava de ser feita. Os livros apocalípticos eram nos dias de João tratados com excessiva liberdade. Se alguém achava que devesse acrescentar algumas coisas, fazia-o com toda a naturalidade. Caso discordava de algo, tirava-o. No entanto, o livro de Apocalipse, não é um livro como os demais apocalípticos. Por esta razão Deus adverte que nada poderia ser acrescido ou tirado. O livro deve ser preservado tal como revelado. A palavra revelada de Deus não pode ser alterada. Já no livro de Deuteronômio 4. 2 encontramos: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” No mesmo livro, capítulo 12.32 temos: “Tudo o que eu te ordeno, observarás, nada lhe acrescentarás nem diminuirás.” No livro de Provérbios 30.5 e 6 temos: “Toda a palavra de Deus é pura; Ele é um escudo para os que nEle confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que Ele não te repreenda e tu sejas achado mentiroso.” Ainda que os vs. 18 e 19 tenham em primeira instância aplicação com relação ao livro de Apocalipse, o seu ensino aplica-se a toda a Bíblia. Nada pode ser acrescido e tirado, como lemos nos textos citados. Por essa razão concordamos com o comentário feito pro Lang sobre estes versículos: “A revelação da verdade está completa, pois nada pode estar além do estado eterno. Enquanto na letra estrita, a ameaça desta terrível advertência se aplica ao Apocalipse, visto no entanto, que esta porção do Livro de Deus está enraizada em, interligada com, e é o final de toda a Palavra de Deus, torna-se impossível falsificar este livro final, sem maltratar o que Deus concedeu antes.” Ou simplificando, ainda que seja uma advertência específica do livro de Apocalipse, sendo este o último livro da Bíblia, da qual ele faz parte e à qual ele encerra, a advertência aplica-se a toda a Bíblia.

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8. As três últimas palavras – 22.20-21 – Nestes dois versículos finais temos as últimas palavras de Jesus Cristo, da Igreja e de João. As últimas palavras sempre devem merecer atenção especial. Estas três últimas palavras são breves, mas são muito importantes.

8.1. As últimas palavras de Jesus Cristo no Apocalipse e na Bíblia – 22.20a -“Aquele que

testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho.” Tudo que era necessário fora revelado. Jesus testificara das coisas que aconteceriam em breve confortando e encorajando os crentes. A sua última palavra é reafirmando a promessa de que cedo Ele estava voltando. Com a Sua vinda há a certeza da vitória final. A nossa esperança estará concretizada completamente. A vinda do Senhor é a nossa vitória. Com sua vinda todos os males serão vencidos. Entraremos no gozo eterno com Ele. Não esqueçamos: cedo Ele virá!

8.2. As palavras da Igreja - 22.20b – “Amém. Vem, Senhor Jesus”. É como se a igreja ou igrejas de Cristo em coro ouvindo que cedo Ele vem, em uníssono clamassem: Assim seja, venha Senhor Jesus. É verdade que podemos atribuir estas palavras ao apóstolo João, mas pelo contexto do versículo 17 podemos tomar como se as igrejas de Cristo ouvindo que cedo Ele vem, em coro manifestassem o seu anseio para que o Senhor venha o mais breve possível.

8.3. As últimas palavras de João – 22.21 – “A graça do Senhor Jesus seja com todos.” Ainda que esta fórmula de despedida seja semelhante às que encontramos com freqüência na conclusão das epístolas, ela não é exatamente igual à encontrada aqui. A medida em que os tempos vão chegando mais próximos da consumação de todas as coisas é realmente necessário que a graça do Senhor esteja conosco para que possamos permanecer firmes e não sermos iludidos e nem derrotados pelo inimigo. Somente a graça de Deus nos faz vitoriosos em todas as circunstâncias.

CONCLUSÃO Chegamos ao final do nosso estudo sobre o livro de Apocalipse. Certamente muitos de nós esperávamos que o livro viesse a desvendar o futuro próximo. Mas este não foi o propósito de Deus ao trazer esta revelação. Ele desejava encorajar o Seu povo durante os dias difíceis que atravessava, deixando claro que Ele, como Soberano está no trono e dirige toda a História humana. Os males, os adversários, incluindo o principal, Satanás, todos serão cabalmente vencidos. A vitória já foi alcançada por Cristo na cruz do Calvário, mas ainda a consumação não veio porque Deus deseja alcançar com a Sua graça milhares de pessoas. Deus está acompanhando todos os sofrimentos e perseguições, e no tempo certo Ele eliminará todos os inimigos, lançando-os no sofrimento eterno. “Após todo este trimestre de estudos no livro de Apocalipse, esperamos que cada um de nós possa estar mais próximo de Deus, ganhando uma nova consciência do que nos espera no futuro. Não há lugar para desespero, para desânimo, para o abandono. Só há lugar para esperança, para o exercício do amor em todas as suas dimensões. O interesse de João ao escrever esse livro era tornar grandes conceitos doutrinários aos quais o povo de Deus estava acostumado, como o senhorio de Jesus Cristo, a soberania de Deus, a eternidade da salvação, o conforto do Espírito, a vitória sobre o mal, etc., uma realidade viva e não apenas conceitos teóricos.” “Além de nos aproximar de Deus, o Apocalipse deve levar-nos a um maior compromisso com a nossa fé. Esse compromisso envolve ação, não só evangelizadora, como também mitigadora dos grandes males. Não é porque Cristo vencerá o mal que devemos deixar que o mal estabeleça o seu domínio sem limites. Nós somos ‘luz do mundo’ e ‘sal da terra’ e não devemos esquecer isso, mas não é só lembrar, é agir como tal. Não podemos escapar de nossa responsabilidade como filhos de Deus e é exatamente por nosso causa que o fim ainda não chegou antes. Deus quer que muitos que ainda não pertencem ao seu aprisco venham a entrar nele, pela porta que é Jesus.”

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“Próximos e compromissados com Deus, devemos tomar cuidado com as muitas

especulações sobre o fim dos tempos. Toda interpretação que surgir deve ser testada pelo prisma

da Bíblia, e não motivada por qualquer momento histórico. Que a nossa oração seja a de que

Jesus cumpra seus propósitos e nos ajude, dando-nos sabedoria para entender os ‘sinais dos

tempos’ e a perseverança necessária para passarmos todas as provações. VEM, SENHOR

JESUS!” (Jonas Celestino Ribeiro, Pontos Salientes, 1992, pág.224).

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