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II Seminário
Estudos de Oriente Médio a
partir do Brasil
Dias 9 e 10 de abril – 09:30 às 18:00
Centro Cultural da Justiça Federal,
Av. Rio Branco, 241 - Centro
Rio de Janeiro - RJ
Apoio:
Quinta feira – 09 de Abril Manhã, 10:00 – 11:00
Palestra de abertura:
O desenvolvimento dos Estudos sobre o Oriente Médio na Argentina Paulo Botta (Universidade de La Plata)
Resumo Nesse artigo, nós focaremos no desenvolvimento dos Estudos sobre o Oriente
Médio na Argentina durante os séculos XX e XXI. Do ponto de vista acadêmico,
argumentamos que essa é uma área de especialização pouco desenvolvida se
considerado o número de instituições, programas universitários e publicações
relacionadas a esses estudos.
De acordo com nossa pesquisa, podem-se identificar dois importantes fatores
que explicam esse nível de baixo desenvolvimento. O primeiro está relacionado com a
estrutura das Universidades na Argentina. Caracterizado por um alto nível de
centralização, a ênfase em estudos gerais e a falta de incentivo (econômico e
institucional) para gerar uma concorrência leal que atraia estudantes. Em decorrência
disso, nós não podemos identificar nem mesmo um programa de graduação em
Estudos do Oriente Médio. Existem apenas dois programa nesse tópico, no nível de
mestrado.
O Segundo motivo é a falta de interesse nas línguas da região (principalmente,
árabe, hebraico, persa e turco). Sem um conhecimento adequado dessas línguas torna-
se praticamente impossível desenvolver um estudo sério da região.
Existem ainda dois outros fatores que merecem atenção. Eles não são
diretamente relacionados com o desenvolvimento acadêmico desses estudos, mas
certamente possuem um impacto negativo em relação a eles. Historicamente na
Argentina, há um nível crônico de ausência de colaboração entre academia, governo e
setor privado. Baseado nisso é fácil compreender que a demanda por especialistas
treinados em assunto relativos ao Oriente Médio é quase inexistente. Essa situação
elimina quase todos os incentivos para treinar esse tipo de especialistas.
Finalmente, o papel das comunidades migrantes do oriente médio (e seus
descendentes) na Argentina, sobretudo árabes e judeus, não colaborou no
desenvolvimento desse tipo de estudos de área.
Identificar a razão por trás do subdesenvolvimento dos estudos de Oriente Médio é o
primeiro passo para direção a solucionar esse problema. Seguindo esta ideia propõem-
se dois caminhos: focar no estudo de línguas e na colaboração entre universidades e
setores privados privados trabalhando em países do Oriente Médio.
The development of Middle Eastern studies in Argentina Abstract:
In this paper, we will focus on the development of Middle Eastern studies in
Argentina during the 20th and 21st century. From the academic point of view, we
argue that this is an undeveloped area of specialization if we consider the number of
institutions, university programs and publications related to those studies.
According to our research, we can identify two important reasons that can explain
this level of underdevelopment. The first one is related to the structure of the
Universities in Argentina. A high level of centralization, the emphasis on generalist
studies and the lack of incentives (economic and institutional) to generate a fair
competition in order to attract students characterize them. Because of that, we can
not identify even one undergraduate (BA) program on Middle Eastern studies. There
are only two programs on those issues at a graduate (MA) level.
The second reason is the lack of interest on the languages of the region (mainly,
Arabic, Hebrew, Persian and Turkish). Without a proper knowledge of regional
languages is almost impossible to develop a serious study of the region.
There are other two issued that deserve our attention. They are not directly related to
the academic development of those are studies but certainly they have a negative
impact on them. Historically in Argentina, there is a chronic lack of collaboration
between academia, government and private sector. Based on that it is easy to
understand that the need of trained specialists on Middle Eastern issues it is almost
non-existent. This situation eliminates almost all the incentives to train this kind of
specialists.
Finally, the role of Middle Eastern migrant (and their descendants) communities in
Argentina, mainly Arabs and Jews, did not collaborate, on the development of this
kind of area studies.
Mesa 1: Imigração e Diáspora Manhã, 11:00-13:00
Mediador: Paulo Gabriel Hilu (PPGA/UFF)
1. A imigração árabe no Brasil: balanço da produção historiográfica Samira Osman (UNIFESP)
Resumo:
O objetivo desta comunicação é apresentar e analisar preliminarmente a
produção acadêmica brasileira sobre a imigração árabe para o Brasil, a partir das
primeiras dissertações e teses produzidas até a produção mais recente, com a intenção
de realizar um balanço historiográfico dessa produção e suas contribuições para o
estudo da imigração, de modo geral, e da imigração árabe, de modo particular.
Interessa verificar como o fenômeno migratório árabe foi estudado desde a primeira
produção acadêmica até as produções mais recentes, do ponto de vista das relações
historiográficas com as demais produções sobre o fenômeno migratório de outros
grupos e com os trabalhos que tenham se debruçado sobre o grupo árabe
especificamente.
A partir de um recorte temporal que tem início com a publicação da primeira
tese sobre a temática da imigração árabe no Brasil, na década de 1970, até a produção
dos anos 2000, pretende-se verificar como os acontecimentos de 11 de Setembro de
2001 despertaram os mais variados interesses sobre a presença árabe no Brasil, com
destaque para o grupo imigratório e muçulmano, passando da condição do invisível
para o evidente, cuja análise tem centrado esforços em fazer prevalecer uma visão da
assimilação, adaptação e contribuição do grupo à sociedade brasileira. Verificar e
analisar essa problemática permitirá compreender os processos de engendramento de
certa visão do grupo migratório árabe no país.
Arab immigration in Brazil: a review of the historiographical production
Abstract:
The objective of this communication is to initially present and analyse
Brazilian academic production on Arab immigration to Brazil. Our source of
investigation will be the first dissertations and thesis until more recent production,
aiming to formulate a historiographical review of this production and its contribution
to the study of immigration, in general, and particularly of Arab immigration. It’s in
our interest to verify how the Arab migratory phenomena was studied since the first
academic production until now, from the perspective of the historiographical
relations with other productions on migratory phenomena’s from other groups and
with works that are specifically concentrated on Arabic groups.
Having a time span that starts with the first published thesis on the theme of
Arab immigration in Brazil, at the 1970’s, until the works of the years 2000, we plan
to explore how the events of September 11th of 2001 motivated various interests about
the Arab presence in Brazil, specially the Muslim migratory group, passing from a
condition of invisibility to visibility, which analysis has concentrated efforts making a
vision of assimilation, adaptation and contribution of the group to Brazilian society
prevail. Verifying and analysing these problems allows us to comprehend the forging
of a certain vision of the Arab migratory group in Brazil.
2. Muçulmanos alauítas no Brasil: Relações religiosas e transnacionais no discurso da preservação de sua identidade Muna Omran ( PPG-Letras/UFF)
Resumo:
Os eventos políticos que envolvem o islã e o crescente número de convertidos
no Brasil elevou o interesse dos pesquisadores brasileiros acerca do tema nos últimos
10 anos. Essas pesquisas enveredam ou para as comunidades sunitas, no que
tange,principalmente, à questão dos convertidos, ou xiitas duodecimanos quando a
temática é a diáspora produzida pela Guerra Civil Libanesa. Porém, muitos grupos
religiosos ligados ao xiismo têm uma história no Brasil com uma maior tradição,
porém, ainda pouco estudada, como é o caso dos muçulmanos alauítas, cujo fluxo
migratório para o Brasil se inicia no final do século XIX. Originários das montanhas
da Síria aqui chegam e se inserem nas comunidades urbanas transmitindo para seus
descendentes sua tradição religiosa e sua religiosidade como também seu amor à
pátria síria.
Recorrendo às possibilidades de análise que a interdisciplinaridade permite,
basearei meus argumentos na Análise do Discurso e na Antropologia. Articulando as
análises discursivas de Patrick Charaudeau, que mostra a construção do Ethos e
Pathos, com a análise de Harvey Whitehouse para quem existem processos
diferenciados de codificação e transmissão da memória que organizam o
conhecimento religioso,
Apresentarei, brevemente, um histórico desta imigração, destacando como
constroem suas relações sociais com outros grupos do islã e com os nativos brasileiros
e, principalmente, em que circunstâncias ocorre a aquisição e transmissão do
conhecimento de suas práticas que articula a política e a religião no seu discurso
identitário. Sendo, assim, esta a tônica desta apresentação.
Alawite Muslims in Brazil: religious and transnational relations in the discourse of
preservation of their identity. Abstract:
The political events that involve Islam and the growing number of converted
Muslims in Brazil have increased the interest of Brazilian researchers on the theme in
the last ten years. These researches either focus on Sunnis communities, especially in
relation to the converted, or Shiites Duodecimans when the topic is the diaspora
produced by the Lebanese Civil war. But, many religious groups related to Shiitism
have a story in Brazil with more tradition, although are still less studied, as is the
case with the Alawite Muslims, which migratory move to Brazil began in the end of
the XIX century. Originally from the Syrian mountains they arrive in Brazil and
integrate urban communities passing to their descendents their religious tradition,
their religiosity and their love to their motherland Syria.
Employing the analytical possibilities of interdisciplinary methodology, my
arguments will be based on discourse analyses and anthropology. Crossing Patrick
Charadeau’s discursive analyses, that shows the construction of an Ethos and Pathos,
with Harvey Whitehouses’s analyses for whom there are differentiated processes of
memory codification and transmission that organise religious knowledge.
I will present a brief history of this immigration, emphasizing their social
relations with other Islamic groups and local Brazilians and, most importantly, in
what circumstances occurs acquisition and transmission of the experience of their
practices that articulates politics and religion in their identity discourse.
3. Brimos em Minas: a formação da comunidade árabe de Juiz de Fora (MG) e os seus processos de construção identitária
Rodrigo Ayupe (PPGA / UFF)
Resumo:
A presença árabe em Juiz de Fora tem sido marcada por processos sociais e
culturais complexos na sua relação com a sociedade local. Por um lado, os imigrantes
de fala e cultura árabe procuram se integrar a esta sociedade, sobretudo, ao negociar
seu espaço na identidade nacional brasileira; por outro, eles delimitam seus espaços
de diferenciação na medida em que constroem suas fronteiras simbólicas em relação
aos juiz-foranos.
O processo significativo de construção e afirmação da etnicidade árabe em
Juiz de Fora se deu inicialmente nos espaços de sociabilidade, familiares e religiosos
de sua comunidade, os quais se destacam a Igreja Melquita e o Clube Sírio e Libanês.
Naquele momento a etnicidade árabe, tinha pouco destaque na sociedade juiz-forana,
já que a população local ainda incorporava em seus discursos e práticas os
argumentos preconceituosos circulados na esfera nacional, sobretudo, através da
utilização do termo pejorativo “turco”. Entretanto, nos últimos anos, esta etnicidade
passou por uma grande transformação, onde o contexto de visibilidade que as
questões médio-orientais ganharam na mídia e outros canais de comunicação
resultaram em uma popularização dos produtos culturais árabes na cidade,
relacionados principalmente ao consumo de dança e comida árabe.
Brimos em Minas: Juiz de Fora’s (MG) Arab community formation and its identity
building process. Abstract:
The Arab presence in Juiz de Fora has been forged by a complex social and
cultural process in relation with the local society. On one side, the immigrants of
Arab language and culture seek to integrate into this society, specially, when
negotiating their space in the Brazilian national identity; on the other, they outline
their space of differentiation as they build their symbolic borders in relation with the
Juiz-foreanos.
The significant process of construction and affirmation of Arab ethnicity in
Juiz de Fora began in community spaces of sociability, family and religion, which the
Melquita church and Syrian Lebanese Club are most important. At the time, Arab
ethnicity had little importance in Juiz de Fora society, since the locals were still
influenced in their discourses by prejudicial arguments and practices that were
common on a national level, especially, by the use of the injurious term “turk”.
However, in the last years, this ethnicity lived through a great transformation, where
the context of visibility and Middle East issues have been present in media and other
communication channels resulting in a popularization of Arab cultural products in
the city, in particular the ones related with dance and food.
Almoço, de 14:00 as 15:00
Mesa 2: Gênero e Movimentos Sociais Tarde, 15:00-17:00
Mediadora: Gisele Fonseca Chagas (PPGA / UFF)
1. Associações civis e manutenção da identidade coletiva na diáspora armênia
Pedro Bogossian Porto (PPGA / UFF)
Resumo:
Com cerca de três milhões de habitantes, a República da Armênia tem uma
participação relativamente pequena no contingente de armênios em todo o mundo,
estimado em dez milhões de pessoas. A maior parte daqueles que se percebem
enquanto armênios compõe comunidades diaspóricas, seja no Oriente Médio, no
continente europeu ou no continente americano. Considerando a tamanha relevância
da sua população na diáspora, é interessante observar as estratégias estabelecidas
pelos armênios para se organizar e manter a sua identidade coletiva a despeito da
distância que os separa. Atuam com esse propósito diversas associações civis,
algumas delas voltadas para o esporte, outras para manifestações artísticas, outras
ainda diretamente vinculadas à preservação da identidade armênia. Pretendo com este
trabalho identificar as iniciativas que conferem coesão a essa diáspora, analisando a
sua participação na criação de laços entre as comunidades instaladas em diferentes
países. A partir daí, será possível compreender as redes de solidariedade e os fluxos
populacionais que se estabelecem dentro da diáspora armênia.
Civil associations and safeguarding collective identity in Armenian diaspora Abstract:
With around three millions inhabitants, the Republic of Armenia contributes
with a relatively small part in the contingent of Armenians in the world, which is
estimated in ten million people. Most of these, who perceive themselves as Armenians,
compose diasporic communities in the Middle East, Europe or in the American
continent. Considering the relevance of its population experience in a diaspora, it’s
interesting to observe the strategies established by Armenians to organize themselves
and maintain collective identity in despite of the distance that separates them. Manny
civil associations operate in this context, some focused on sports, others in art, and
other directly involved in the preservation of Armenian identity. The aim of this work
is to identify the initiatives’ that produce cohesion to this diaspora, analyzing their
participation in creating bonds between communities in different countries. From this
perspective, it will be possible to comprehend the network of solidarity and
population flux that occur within Armenian diaspora.
2. Diversidade, universalidade e orientalismo: O feminismo no Brasil e os imaginários sobre mulheres muçulmanas Ana Maria Gomes Raietparvar (PPGA / UFF)
Resumo:
A apresentação vai traçar um panorama da discussão sobre diversidade,
gênero e nos movimentos sociais no Brasil, tentando entender as referências e o
desenvolvimento sobre o tema nos últimos anos. A partir de um questionamento
crescente sobre a validade do entendimento do feminismo como um tema universal,
fortalecem-se demandas específicas de mulheres negras e indígenas, questionando a
validade de um “feminismo branco europeu”. Dentro disso, serão tratadas as visões
sobre as mulheres muçulmanas nesse contexto, entendendo que há uma invisibilidade
sobre o assunto, e, quando tratado, encontram-se opiniões divididas e confusas: Por
um lado, a defesa das mulheres muçulmanas, entendendo-as como “vítimas de um
colonialismo europeu”, e por outro, a reprodução do discurso orientalista,
classificando-as de antemão como “submissas e oprimidas”. A partir disso, faz-se
necessária a desconstrução de uma visão homogênea e estereotipada, dando lugar ao
entendimento das multiplicidades e possibilidades de vivências das mulheres
muçulmanas. Para isso, será utilizado como exemplo as diversidades encontradas
entre as mulheres iranianas no Brasil, fruto da minha pesquisa de Mestrado. As
múltiplas possibilidades de agência serão tipificadas em 4 mulheres: uma bahá’i,
praticante da Fé Bahá’i, religião surgida no Irã em 1844, onde os preceitos sobre
igualdade de gênero se diferenciam e muitas vezes buscam-se opor ao do pensamento
religioso xiita; uma mulher muçulmana xiita religiosa, que veio ao Brasil
acompanhando o marido, sheikh e funcionário do governo do Irã exercendo
atividades de relações entre os dois países; uma mulher xiita de origem muçulmana,
pós-graduanda, casada, cuja vivência se divide entre as relações dela e seu marido
com um grupo de amigos iranianos, permeado por valores relacionados à origem
religiosa familiar; uma iraniana vinda sozinha ao Brasil, casada com um brasileiro,
extremamente anti-religiosa e contrária ao regime islâmico, com fortes posições
políticas relativas à vivência na Revolução de 1979 quando jovem.
Diversity, universalism and orientalism: feminism in Brazil and the imaginary on
Muslim women Abstract:
This work will present a panorama of the discussion on diversity and gender
in Brazilian social movements, trying to understand references and the development
of the theme in the last years. The comprehension of the value of feminism as a
universal issue strengths specific demands of black and indigenous women, who
question the validity of a “white European feminism”. In this context, we will focus
on Muslim women, understanding that there is an invisibility on this issue, and,
whenever it is discussed, there are confusing and split opinions: on one side, a
defence of Muslim women that sees them as victims of “European colonialism”, and
on the other, a reproduction of an orientalist discourse, classifying them, beforehand,
as ”submissive and oppressed”. Based on this, it’s necessary deconstruct a
homogeneous and stereotyped vision, giving way to a understanding of the
multiplicities and possibilities of Muslim women’s experience. And to do so, I will
look on the diversity encountered in Brazilian Iranian women, which is part of
master’s research. The multiple possibilities of agencies will be typified in 4 women:
a Bahá’i, practiser of the Bahá’i faith, a religion that began in Iran in 1844, in which
the parameters about gender equality are very different and almost opposite the
religious Shiite practice; a Shiite Muslim woman who came to Brazil because of her
husband, Sheik and a an Iranian government staff; a Shiite woman of Muslim origin,
post-graduate, married, and who’s life is divided between her and her husbands
relation with a group of Iranian friends, fulfilled with values related to the family’s
religious origins; an Iranian who came alone to Brazil, married with a Brazilian,
extremely anti religion and contrary to the Islamic regime, with strong political
positions in relation to her experience of the 1979b revolution when she was young.
3. Mídia, Movimentos Sociais e Democratização no Oriente Médio: O Caso das Mídias Tradicionais, Independentes e Novas no Egito -- Antes, Durante e Depois das Revoltas Árabes
Nathan Thompson (Instituto Igarapé)
Resumo:
Como pode uma imprensa moderadamente livre existir em um regime
autoritário? Qual é o papel da mídia nas transições de regimes autoritários para
democracias? Essas perguntas norteiam uma análise da mídia e da sociedade civil no
Egito antes, durante e a partir das revoltas árabes. Elas também lançam luz sobre os
motivos para uma crescente abertura da mídia – e sua regressão subsequente após a
deposição do presidente Mohamed Morsi em julho de 2013. Uma combinação de
forças internas e externas ajudou a liberalizar a mídia do Egito antes das revoltas,
apesar da sociedade civil e do ambiente político ainda existirem, naquele momento,
num contexto autoritário. Esta apresentação examina o ambiente liberalizante da
mídia de meados da década de 2000 até o período que antecedeu as revoltas árabes
em 2011. Discute, também, como movimentos sociais se aproveitaram da
liberalização crescente da mídia. Por fim, apresenta quadros teóricos que podem
ajudar a explicar essas mudanças. A pesquisa considera hipóteses diferentes que
apresentam explicações “de cima para baixo” (regime autoritário), “de baixo para
cima” (sociedade civil, jornalistas cidadãos) e internacionais (políticos, mídia externa,
contextos econômicos) para a abertura da mídia que ocorreu no Egito. Ela também
sugere possíveis caminhos para desdobramentos da pesquisa sobre movimentos
sociais e mídia no Egito e no Oriente Médio.
Media, Social Movements and Democratization in the Middle East: The Case of Egypt's Independent, Traditional and New Media -- Before, During and after the Arab Uprisings Abstract:
How can a moderately free press exist in an authoritarian regime? What is the
role of media in a transition from authoritarian rule to democracy? These questions
help an analysis of media and civil society in Egypt before, during and since the Arab
uprisings. They also shed light on the reasons for an increase on media freedom – and
its subsequent retraction after the deposition of President Mohamed Morsi in July
2013. A combination of internal and external forces helped loosen Egypt's media
prior to the uprisings, despite the fact that the civil society and political environment
remained in an authoritarian context. This presentation examines Egypt’s liberalizing
media environment from the mid-2000’s to the period leading up to the 2011 Arab
uprisings. Also discusses how social movements took advantage of the increased
media freedom. And concludes presenting theoretical frameworks that may help
explain these changes. The research considers different hypotheses that present top-
down (authoritarian regime), bottom-up (civil society, citizen journalists), and
international explanations (external political, media, economic contexts) for the media
opening that occurred in Egypt. It also suggests potential routes for a continued
research agenda for studying social movements and media in Egypt and the Middle
East.
Palestra de Encerramento do primeiro dia Tarde, 17:00 – 18:00
Diplomacia e Academia e os Estudos do Oriente Médio Luís Cláudio Villafañe G. Santos (Ministério das Relações Exteriores
Chefe de Gabinete da Subsecretaria-Geral de Política III.)
Resumo:
No Brasil, tradicionalmente, o discurso sobre a política externa e as relações
internacionais esteve dominado pela “voz” dos diplomatas. No entanto, desde da
década de 1970, com a fundação do primeiro curso de relações internacionais no
Brasil, na Universidade de Brasília, o campo do estudo das relações internacionais
veio diferenciando-se claramente da prática e do discurso dos funcionários do Estado
dedicados à implementação da política externa brasileira. A equação tornou-se, na
realidade, mais complexa, pois inclusive o próprio pretenso monopólio do discurso
governamental sobre temas de política externa passou a ser erodido pela crescente
atuação internacional de outros ministérios e agências governamentais.
Por um lado, as vozes de diplomatas, inclusive no âmbito acadêmico, não se
calaram e a determinação da natureza do discurso, acadêmico, técnico, diplomático ou
político, dessas intervenções de diplomatas nos debates sobre as relações
internacionais tem sido fonte de debates e incompreensões. Por outro lado, a
comunidade acadêmica brasileira nas diversas especialidades das relações
internacionais conta uma produção já sólida e consolidada e, com razão, espera ter
seus aportes reconhecidos e aproveitados na elaboração de políticas públicas.
No campo dos estudos sobre o Oriente Médio esta realidade mostra-se
especialmente presente em vista da dinâmica das transformações políticas, sociais,
ideológicas e econômicas na região. O palestrante buscará analisar essas questões e
mostrar a evolução dos esforços do Itamaraty no sentido de ampliar seu diálogo com a
comunidade acadêmica brasileira.
Diplomacy and Academy and Middle East Studies
Abstract:
In Brazil, traditionally, the foreign policy discourse and international
relations has been dominated by the “voice” of diplomats. However, since 1970, with
the opening of the first graduation in international relations, at Universidade de
Brasília, the theoretical study of international relations has clearly differentiated
from the practice and the discourse of Estate staff dedicated to the functioning of
Brazilian foreign policy. The equation has become, in reality, more complex, as even
the alleged monopoly of government discourse on themes of foreign policy has eroded
by the rise of international acts by other ministries and government agencies.
On one side, the voice of diplomats, including in the academic context, haven’t
silenced and the determination of the nature of academic, technical, diplomatic or
political discourse of these diplomat’s interventions in debates on international
relations have been source of discussions and misinterpretations. On the other side,
the Brazilian academic community in the many international relations specialities has
a solid and consolidated production and, with reason, waits for acknowledgement and
employment of its assets in the structuring of public policies.
In the field of Middle East studies this reality is evidently present due to the
dynamics of political, social, ideological and economic transformations in the region.
The communication intends to analyse these questions and reveal the progress in
Itamaraty’s efforts in the sense of widening its dialogue with Brazilian academic
community.
Sexta-feira, 10 de Abril
Mesa 3 – Mídia e Representações Manhã, 09:30-12:00
Mediador: Fernando Resende (UFF)
1. Orientalismo à brasileira
Luís Antonio Araújo (PPGCOM / UFRGS)
Resumo:
O jornalismo brasileiro tem sido historicamente atravessado por dizeres
preexistentes, externos ao texto, a respeito do assim chamado Oriente, dos árabes, dos
muçulmanos e do Islã. Das crônicas de Machado de Assis ao jornalismo de revista, é
nítida a persistência de uma mirada orientalista sobre eventos e personagens,
conforme noção cunhada por Edward Said (1990). Entende-se por orientalista o
discurso que articula saberes relacionados ao Oriente produzidos e organizados no
Ocidente por distintas instâncias de poder (colonial e imperial, cultural, político,
simbólico). Dando prosseguimento a linha de investigação iniciada em outro trabalho
(ARAUJO, 2013), pretende-se nesta apresentação examinar alguns exemplos de como
o discurso orientalista se faz presente em textos jornalísticos brasileiros que têm por
objeto a atual realidade social, política, econômica e militar no Oriente Médio. Para
tanto, lança-se mão da bibliografia existente sobre o tema e da própria experiência do
autor como repórter enviado ao Paquistão, ao Egito e à Turquia.
Brazilian orientalism
Abstract:
Brazilian journalism has been crossed historically by pre-existing statements,
external to the text, concerning the so called Orient, Arabic, Muslim and Islamic.
From Machado de Assis’s chronics to magazine journalism, it’s clear a persistent
orientalist gaze on events and characters, very close to Edward Said’s (1990)
concept. It is know as Orientalism the discourse that articulates knowledge on the
orient produced on the west by different instances of power (colonial and imperial,
cultural, political, symbolic). Following the investigative line of another work
(ARAUJO, 2013), this talk will examine some examples of how orientalist discourse
makes itself present on Brazilian journalistic texts that have as an objective today’s
Middle East’s social, political, economical and military reality. This work will
concentrate on existent bibliography on the subject and on the authors experience as
a reporter sent to Pakistan, Egypt and Turkey.
2. Jornalismo e pensamento abissal: a representação do Irã como o Outro arquetípico a partir das negociações para a Declaração de Teerã em 2010 Ivan Bomfim (PPGCOM / UFRGS)
Resumo:
A partir do conceito de pensamento abissal, cunhado pelo sociólogo
Boaventura Santos, busca-se compreender as representações mobilizadas e
retrabalhadas pelo discurso jornalístico acerca do Irã. Nesse processo, o país persa
engendra uma miríade de sentidos que o conformam como um dos principais
arquétipos do Outro na contemporaneidade.
Journalism and abyssal thought: the representation of Iran as the archetypical
other in negotiations for the 2010 Declaration of Tehran Abstract:
Assuming the perspective of the concept of abyssal thought, conceived by the
sociologist Boaventura de Souza Santos, we aim to comprehend the representations
activated and refurnished by journalistic discourses about Iran. In this process, the
Persian country engenders a myriad of senses that conforms it as the main archetypal
of the Other in contemporaneity.
3. Do privado ao político: o cinema de David Perlov, Avi Mograbi e Elia Suleiman
Ilana Feldman (IEL / UNICAMP)
Resumo:
A produção cinematográfica marcadamente subjetiva, performativa ou
realizada em nome próprio, na primeira pessoa do singular, tem problematizado os
modos pelos quais a subjetividade contemporânea se constitui na imagem e por meio
da imagem. Assim, a imagem deixa de ser um lugar de “representação” e de evocação
de seu caráter “testemunhal” para se tornar, intensamente, um lugar de “performance”
e “autoficção”. Nesse panorama, a inflação ou hipertrofia da subjetividade
contemporânea, com o incremento da produção de diários cinematográficos, ensaios
audiovisuais, autobiografias fílmicas, testemunhos e confissões de todo tipo, pode ser
vista apenas como sintoma da cultura “testemunhal” atual, em uma sociedade
mediada pela imagem, mas pode também resistir a esse mundo, ao interrogar as
interseções entre as esferas pública e privada, a história e a memória, o privado e o
político.
Partindo dos campos teóricos do cinema e da autobiografia, da laicizarão da
prática da confissão às contemporâneas estratégias performativas de autoficção,
pretendemos examinar as relações críticas que o cinema vem estabelecendo com esses
domínios. Para tanto, analisaremos fragmentos de três obras escolhidas, duas
documentais e uma ficcional, que, de distintas formas, problematizam nosso
hipertrofiado “espaço biográfico”, reivindicando para o cinema uma dimensão
pública, interventiva e política. São elas: “Diário 1973-1983” (1985), do brasileiro
radicado em Israel, David Perlov; “Feliz aniversário, Mr. Mograbi” (1999), do
israelense Avi Mograbi; e “O que resta do tempo” (2009), do palestino Elia Suleiman.
As três obras são coproduções realizadas em Israel, país que, marcado por dissensos
políticos e conflitos milenares, tem fomentado uma das mais expressivas produções
cinematográficas da atualidade.
Enquanto na Tel Aviv de David Perlov, o privado é atravessado pelo público e
pelo político por meio uma potente montagem que, através das janelas, abre o espaço
doméstico da família a um fora (em um meticuloso trabalho de aproximação do que
lhe é estranho e de distanciamento do que lhe é extremamente próximo), no cinema de
Avi Mograbi, híbrido entre documentário e autoencenação, a ironia, a irreverência e o
confronto muitas vezes declarado (entre agentes do Estado e seu próprio personagem)
exigem do cinema uma postura de intervenção na cena pública. Já a obra de Elia
Suleiman, distanciando-se do documentário, opta por uma notável encenação em que
a presença autoficcional do cineasta, como uma espécie de espectro, dá testemunho
das transformações de sua cidade de origem (Nazareth, na então Palestina) à luz da
biografia de sua família. Nos três casos, embora de maneiras distintas, a identidade de
cada um dos realizadores se confunde com a alteridade de seus próprios personagens.
Tendo como desafio a investigação de modos políticos de enunciação e
subjetivação postos em cena por esses filmes, visamos problematizar as opções éticas
e estéticas que os atravessam. Assim, atenta às particularidades de cada uma das
obras, a apresentação terá como itinerário final a discussão acerca das passagens entre
o eu e o outro, o pessoal e o coletivo, a intimidade e a “extimidade”: aquele espaço
que, sendo tão próprio aos sujeitos, só poderia apresentar-se fora deles – no âmbito da
cultura, no âmbito da relação com a alteridade, no âmbito da exterioridade das
imagens.
From private to political: David Perlov, Avi Mograbi and Elia Suleiman’s cinema Abstract:
Cinematographic production distinctively subjective, performatic or made in
first person, have questioned the ways contemporary subjectivity constitutes itself in
the image and through the image. Therefore, image is no longer a space of
“representation” and of a “testimonial” evocative character, but an intense space of
“performance” and “auto-fiction”. In this context, contemporary subjectivity
inflation or hypertrophy, summing with the production of cinematographic diaries,
audiovisual essays, autobiographical films, testimonials and confessions of all sorts,
can be seen only as a symptom of present “testimonial” culture, in a society mediated
by images, but can also resist this world, when it interrogates the intersections
between public and private spheres, history and memory, the private and the political.
Considering cinema and autobiographical theoretic fields, the secularization
of the practice of confession to contemporary performative strategies of auto-fiction,
we intend to examine the critical relations that cinema has been establishing with
these domains. To do so, we will analyze fragments from three specific works, two
documentaries and one fiction, that, in particular forms, question our hypertrophied
“biographical space”, claiming for cinema a public, interactionist and political
dimension. The films are: “Diary 1973-1983” (1985), from David Perlov, a
Brazilian director living in Israel; “Happy birthday, Mr. Mograbi” (1999), from
Israeli director Avi Mograbi; and “The time that remains” (2009) from Palestine
director Elia Suleiman. The three films are co-productions filmed in Israel, country
that, marked by political dispute and milliner conflict, has encouraged one of the most
expressive cinematographic productions nowadays.
While in Davi Perlov’s Tel Aviv, the public and the political overtake the
private by a powerful montage that, through windows, opens the family’s domestic
space to an outside (in a meticulous work of making what is strange familiar and
what is familiar distant), in Avi Mograbi cinema, hybrid between documentary and
auto-fiction, the irony, irreverence and the evident confrontation (between agents of
the Estate and his own character) demand of cinema an attitude of intervention in the
public scene. Elia Suleiman’s work, moving away from documentary, chooses a
notable performance in which the auto-fictional presence of the filmmaker, like a kind
of spectre, gives a testimonial of the changes in his birth town (Nazareth, in former
Palestine) in relation to his family biography. In all three cases, although in different
manners, the identity of each director is entangled with the alterity of their own
character.
The challenge to research the political modes of enunciation and
subjectivization staged by these films, takes us to an investigation on the ethical and
esthetical options that are inherent to these works. Consequently, this communication,
aware of the specific characteristics of each film, will have as a last point of
discussion, the passages between the I and the Other, the personal and the collective,
the intimacy and “extimacy”: that space that, belonging so close to the subjects,
could only present itself outside them – in the arena of culture, in the arena of the
relations with alterity, in the arena of the exteriority of images.
Almoço, 12:00-14:00
Mesa 5: RI e Política Externa Tarde, 14:00-16:00
Mediador: Paula Sandrin – IRI-PUC-Rio
1. O Estado Islâmico e a possível dissolução das fronteiras do Acordo Sykes-Picot Andrew Traumann (UFPR)
Resumo:
O objetivo da comunicação é abordar o fenômeno Estado Islâmico que
alcançou notoriedade mundial ao avançar sobre consideráveis porções dos territórios
iraquiano e sírio. Nestes países, estabeleceu não só uma administração própria,
coletando impostos,limpando as ruas e fazendo a manutenção das estradas como
redesenhou o mapa da região estabelecido no Acordo Sykes-Picot e proclamando a
recriação do Califado,modelo de governo islâmico que data dos primórdios do Islã.
O grupo soube aproveitar não apenas a guerra civil, mas ânsia dos governos
conservadores do Golfo em derrubar o regime de Bashar Al Assad e amealharam
verdadeira fortuna que, juntamente com a renda de poços de petróleo ocupados
garantem a manutenção da organização A mensagem de resgatar a dignidade dos
muçulmanos humilhados pelo colonialismo, por invasões militares ocidentais, e pela
xenofobia na Europa calou fundo em corações e mentes em várias partes do
mundo,por meio de um eficiente uso da redes sociais. Os vídeos divulgados pelo
Estado Islâmico, mesmo que causem repulsa pelo barbarismo, são feitos com
surpreendente profissionalismo e acabam atraindo jovens frustrados e marginalizados
na Europa para cerrar fileiras com o grupo.
As chances do auto proclamado califa Abu Bakr Al Baghdadi ter sua liderança
reconhecida por todo o mundo islâmico são inexistentes, mas o fato de uma
organização chegar ao ponto de conclamar a criação de um território independente e
teoricamente ilimitado (já que o califa é o líder de todos os muçulmanos),desprezando
as fronteiras nacionais sírias e iraquianas,retrata muito bem até que ponto os estes
Estados encontram-se em processo de profunda desagregação,o primeiro por uma
guerra civil e o segundo por uma desastrada estratégia norte-americana de
desmantelar todo a estrutura burocrático-militar que existia no Iraque pré-invasão.
The Islamic Estate and the possible dissolution of the borders in the Sykes-Picot
agreement Abstract:
The aim of this communication is to discuss the phenomena of the Islamic
Estate that has gained world notoriety by advancing over a considerable portion of
Iraq and Syrian territories. In these countries, it didn’t just set up it’s own
administration, collecting taxes, cleaning streets and maintaining roads, but
redesigned the map of the region once established in the Sykes-Picot Agreement,
declaring the recreation of a Caliphate, a model of Islamic government that dates
back to the beginning of Islam.
The group took advantage not only from civil war, but also from the
conservative Golf governments in their desire to overthrow Bashar Al Assad regime
and seized true fortune that, with the profit from occupied oil wells, guarantees the
organization’s sustainability. The message of rescuing the dignity of Muslims
humiliated by colonialism, western military invasions and European xenophobia,
touched deeply hearts and minds all over the world through an efficient use of social
networks. The videos distributed by the Islamic Estate, although cause repulse for its
barbarism, are surprisingly professionally made and end up seducing frustrated and
marginalized European youngsters to join their fight.
The chances of the self proclaimed Chalifa Abu Bakr Al Baghdadi have his
leadership recognized by all Islamic world are null, but the fact that an organization
thinks it can claim the creation of an independent and theoretically unlimited territory
(since the Chalifa is the leader of all Muslims), ignoring Syrian and Iraq national
borders, is revealing of how much these Estates find themselves in a profound
dissolution process, triggered first by civil war and secondly by a disastrous North
American strategy of dismantling all of the burocratic-military structure that existed
before the invasion of Iraq.
2. Segurança no Oriente Médio: um teste para a política externa brasileira
Tanguy Baghdadi (Clio Internacional)
Resumo:
O trabalho tem por objetivo apresentar as particularidades do relacionamento
entre o Brasil e os países do Oriente Médio pelo viés da segurança internacional.
Argumento que a política externa brasileira interpreta uma eventual atuação destacada
em temas de política externa na região como um indício de maturidade do país em
temas de segurança. Tal atuação teria potencial para comprovar a capacidade da
diplomacia brasileira de assumir maiores responsabilidades e maior protagonismo
nesta seara.
A intenção brasileira de consolidar seu protagonismo na cena internacional
data do início do século XX. Os pleitos nacionais por vagas permanentes nos
principais foros decisórios internacionais, com destaque para o Conselho da Liga das
Nações e o Conselho de Segurança da ONU, são marcas da política externa brasileira.
O argumento nacional é o de que a estabilidade das relações internacionais latino-
americanas, em que o recurso a guerras é pouco usual, é um reflexo da liderança
brasileira, capaz de solucionar as contendas regionais com diálogo e diplomacia –
valores proclamados da política externa promovida pelo Ministério das Relações
Exteriores. No entanto, a falta de experiência em temas de segurança considerados
centrais tende a enfraquecer a candidatura brasileira. A estratégia empregada pelo
Brasil desde 2003 tem sido a de se engajar nos principais temas da segurança médio-
oriental – como as negociações de paz Israel-Palestina e os debates acerca do
programa nuclear iraniano – de modo a comprovar a aplicabilidade dos valores
brasileiros na solução das contendas regionais. Um eventual êxito teria como efeito
gabaritar a política externa brasileira a obter maior protagonismo no cenário
internacional, sem perder de vista a possibilidade de reaquecimento do debate acerca
da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas
Middle East security: a test for Brazil’s foreign policy
Abstract:
This work has the objective of introducing the particularities of the relation
between Brazil and Middle East countries through the perspective of international
security. My argument is that Brazilian foreign policy interprets an eventual
protagonist action in themes concerning the regions foreign policy as a sign of the
country’s maturity in themes of security. Such performance could potentially prove
the capacity of Brazilian diplomacy in assuming more responsibilities and important
roles in this area.
Brazilian intention in consolidating a key role in an international scene dates
from the beginning of the XX century. The national claims for permanent seats on the
main international forums, such as the Council of the League of Nations and the UN
Security Council, are marks of Brazilian foreign policy. The Brazilian argument is
that stable Latin American relations, in which the resource to war is rare, is a reflex
of Brazilian leadership, capable of solving regional disputes with dialogue and
diplomacy – values disseminated by the International Relation Ministry foreign
policy. However, the lack of experience in security themes considered crucial usually
weakens the Brazilian campaigns. The strategy applied by Brazil since 2003 has been
to embrace the main themes of Middle East security – such as Israel-Palestine peace
negotiations and the debate on Iran’s nuclear program – as a form of proving the
applicability of Brazilian values in the solution of regional dispute. An eventual
accomplishment could have the effect of qualifying Brazilian foreign policy for a
more important role in an international scenario, without loosing sight of the
possibility of reviving the discussions concerning the reformulation of the UN
Security Council.
3. As relações entre Brasil e Líbia nos governos Lula e Dilma
Aline Rizzo (IRI-PUC-Rio)
Resumo:
Esta comunicação tem por objetivo apresentar uma análise das relações entre
Brasil e Líbia a partir da perspectiva das Relações Internacionais. Embora a
aproximação entre os dois países tenha sido fortemente impulsionada no governo
Lula, é importante destacar que desde o final da década de 1960 observa-se o
estreitamento dos laços entre ambos. Nesse sentido, inicialmente será apresentado um
breve panorama histórico das relações Brasil e Líbia, entre o período de 1969 e 2002,
e posteriormente a análise dessas relações nos governos Lula e Dilma.
A Crise do Petróleo em 1973 foi o pano de fundo no qual se estabeleceu uma
importante aproximação entre Brasil e Líbia. Essa relação se modificou ao longo do
tempo caracterizando-se por encontros e desencontros. Esse movimento será
brevemente esplanado á luz da condução da política externa brasileira para os países
do Oriente Médio e Norte da África.
Após um período de retração nas décadas de 1980 e 1990 houve um
significativo impulso e aprofundamento das relações entre os dois países com o
governo Lula iniciado em 2003. Esse incremento será analisado á luz das recentes
discussões no campo das Relações Internacionais a cerca da Cooperação Sul-Sul para
o desenvolvimento. Em 2011, diante dos desdobramentos da Primavera Árabe na
Líbia e da mudança de governo no Brasil, assumindo assim a presidência Dilma
Rousseff, novos questionamentos concernentes ás relações Brasil-Líbia são colocadas
especialmente no tocante á segurança.
The relations between Brazil and Libya during Lula and Dilma’s government
Abstract:
This communication aims to present an analysis of the Brazil-Libya relations
from the perspective of International Relations. Although the ties between the two
countries have been strongly stimulated in Lula’s government, it is important to stress
the straitening of relations since the end of the 60’s. Initially it will be presented a
brief historical panorama of Brazil-Libya relations from 1969 to 2002, and then an
analysis of these relations during Lula and Dilma’s government.
The 1973 oil crisis was the background in which the ties between Brazil and
Libya strengthened. This relation changed through the years and was constituted by
confluences and divergences. This trajectory will be briefly explained by a view on
the Brazilian foreign policy towards Middle East and North African countries.
After a period of retraction during the 80’s and the 90’s there was a
significant improvement and tightening of relations between both countries with
Lula’s government that begun in 2003. This boost will be analyzed in the perspective
of recent International Relations discussions on the South-South Cooperation for
development. In 2011, due to the Arabic Spring in Libya and the government change
in Brazil, with Dilma Roussef’s presidency, new issues on the Brazil-Libya relations
are brought up specially ones concerning security.
The NATO intervention in Libya and the Brazilian critical position regarding
the principle of Responsibility to Protect in this intervention, illustrates important
aspects of Brazilian foreign policy for the Middle East and North Africa. The object of
this communication is to present these issues comparing the conduction of Brazilian
foreign policy during the two governments focusing on the articulation between
Development and Security.
Palestra de Encerramento 16:30-18:00
Reflexões sobre o trabalho de reportar o Oriente Médio Zahera Harb (City University of London)
Resumo:
O Oriente Médio e Norte da África (OMNA) têm sido ao longo dos séculos
XX e XI sinônimos de conflito. Do conflito Árabe-Israelense às revoltas árabes, do
crescimento de grupos religiosos fundamentalistas como os da Al Qaeda e ISIS e o
autodeclarado Estado Islâmico (EI), a cobertura da região pela mídia ocidental tem
sido majoritariamente dominada por notícias de conflitos. A cobertura da região do
OMNA, principalmente em relação aos países árabes, tem sido profundamente
marcada por Orientalismo que reforça estereótipos e conotações negativas a respeito
dos povos do Oriente, na maior parte árabes e muçulmanos. Isso dá lugar a
sentimentos Islamofóbicos nos discursos da mídia, os quais geram ódio e medo contra
os árabes em geral e especificamente os muçulmanos. Esse artigo explorará a
cobertura da região do OMNA pós-revoltas árabes, com ênfase no ISIS, o chamado
Estado Islâmico e o mais recente conflito na Síria. O artigo se baseia em casos da
cobertura midiática da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.
Thoughts on Reporting the Middle East Abstract:
The Middle East and North Africa (MENA) has been synonymous to conflict
throughout the 20th century and into the 21st century. From the Arab Israeli conflict
to the Arab revolts, to the rise of fundamental religious groups the like of Al Qaeda
and ISIS and the self-declared Islamic State (IS), the Western media coverage of the
region has been mostly dominated by news of conflict. The coverage of the MENA
region, in relation mainly to Arab countries, has been deeply tainted with Orientalism
that re-enforces negative stereotypes and connotations about the people of the East,
mainly Arabs and Muslims. It gives way to Islamophopic sentiments in news discourse
that engenders hate and fear against Arabs in general and Muslims specifically. This
paper will explore the coverage of the MENA region post Arab revolts, with emphasis
on ISIS, the so called Islamic State and the latest Syrian conflict. The paper will draw
on cases from the broadcast media news coverage both in Britain and the United
States.
Organização:
Professor pós-Dr. Fernando Resende - Departamento de Estudos Culturais e Mídia e
do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Mestrado e Doutorado) da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
Professora Dra. Monique Sochaczewski Goldfeld pesquisadora e professora do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (ECEME).
Professor Dr. Murilo Sebe Bon Meihy professor Adjunto de História Contemporânea
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Assistentes de organização:
Aline Cirino Gonçalves
Aline Martello
Bernardo Fajoses Barbosa
Frederico Ganz Resende
Kayo Moura
Letícia Rossignoli
Natascha Enrich de Castro