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ESTUDO DE TEXTO DIFÍCIL (MODELO) Por Claiton André Kunz 1 PEDRO 3:19-20 1. Oração Obrigado Senhor Deus, pela Tua Palavra, que é viva e eficaz, e que opera em nossas vidas. Muitas vezes não compreendemos tudo o que nela está escrito, mas certamente Tu revelas aquilo que precisamos compreender. Dás-nos o entendimento necessário para compreendermos aquilo que Tu queres. No nome de Jesus, Amém”. 2. Texto VERSÃO TEXTO - 1 Pedro 3.19-20 Bíblia Viva ...e foi no Espírito que Ele visitou os espíritos em prisão, e pregou a eles — os espíritos daqueles que, muito tempo atrás, nos dias de Noé, tinham-se recusado a ouvir a Deus, embora Ele esperasse por eles com toda paciência enquanto que Noé estava construindo a arca. Entretanto, apenas oito pessoas foram salvas de afogar-se naquele terrível dilúvio. Jerusalém ...no qual foi também pregar aos espíritos em prisão, a saber os que foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando Deus, em sua longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da água. Almeida ...no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual  poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água. NVI  No qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que muito tempo haviam desobedecido, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas  pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água.

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ESTUDO DE TEXTO DIFÍCIL(MODELO) 

Por Claiton André Kunz

1 PEDRO 3:19-20

1. Oração

“Obrigado Senhor Deus, pela Tua Palavra, que é viva e eficaz, e que opera em nossasvidas. Muitas vezes não compreendemos tudo o que nela está escrito, mas certamente Tu revelasaquilo que precisamos compreender. Dás-nos o entendimento necessário para compreendermos aquilo

que Tu queres. No nome de Jesus, Amém”.

2. Texto

VERSÃO TEXTO - 1 Pedro 3.19-20

Bíblia Viva...e foi no Espírito que Ele visitou os espíritos em prisão, e pregou a

eles — os espíritos daqueles que, muito tempo atrás, nos dias de Noé,

tinham-se recusado a ouvir a Deus, embora Ele esperasse por eles com

toda paciência enquanto que Noé estava construindo a arca. Entretanto,apenas oito pessoas foram salvas de afogar-se naquele terrível dilúvio.

Jerusalém...no qual foi também pregar aos espíritos em prisão, a saber os que

foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando Deus, em sua

longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía aarca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da

água.

Almeida...no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutrotempo foram desobedientes quando a longanimidade de Deus

aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual

 poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água.

NVI No qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muitotempo haviam desobedecido, quando Deus esperava pacientemente nos

dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água.

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3. Descrição do Problema:

 — O que significa “pregar aos espíritos em prisão”?

 — Quem são estes espíritos em prisão?

4. Soluções Possíveis na Bíblia:

Para entendermos esta passagem precisamos ver primeiro o contexto em

que este versículo esta inserido. Na tradução NVI, a seção começa com o título

“Sofrendo por fazer o bem”. O versículo 17 confirma isto, quando lemos: “Se for esta

a vontade de Deus, é melhor sofrer por fazer o bem do que por fazer o mal ”.

Assim precisamos entender que o objetivo de Pedro nesta seção é mostrar

que o sofrimento não precisa significar derrota ou reprovação divina. Na morte e na

exaltação de Jesus, na salvação de Noé do Dilúvio, assim como na importância do

 batismo, há uma esperança certa de vitória.

 Não foi encontrada nenhuma passagem correlata, que também fale sobre

este assunto de “pregar aos espíritos em prisão”. Assim este texto é de difícil

compreensão.

Do grego podemos extrair algumas considerações:

 —

no qual. O pronome relativo pode se referir à palavra “espírito” ou

ao estado ou circunstâncias, isto é, “em cujo estado”, ou “sob tais circunstâncias”.1 

 —  = aoristo indicativo ativo de  = pregar, proclamar.2 

Quanto ao termo “pregar” ou “proclamar”, não podemos entendê-lo como

sendo pregação do evangelho com vistas a conversão destes espíritos, pois isto é

totalmente contrário a teologia bíblica, como por exemplo: Hebreus 9.27 “ E, como aos

homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo”, ou seja, nada mais

 pode ser feito após a morte; ou então, a partir da parábola do Rico e Lázaro.

1 RIENECKER, F. & ROGER, C. Chave Lingüística do NT Grego. p.563.

2 Ibidem, Idem.

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Precisa-se recorrer, portanto, ao termo “pregar” no sentido de “proclamar,

anunciar”. Assim, tendo em vista o objetivo de Pedro em sua seção — sobre o

sofrimento, de que há uma esperança certa de vitória —, pode-se considerar que o

termo “proclamar” denote o anúncio que Cristo faz da sua vitória sobre a Morte.

5. Tentativa de Conclusão:

Pode-se considerar até aqui que a pregação que Jesus faz aos espíritos em

 prisão, não se refere a “evangelização”, ou seja, pregar com vistas ao arrependimento,

mas simplesmente um anúncio de sua vitória sobre a morte.

6. Comentários Bíblicos:

Para A. B. Rudd, em seu livro “Las Epístolas Generales”,

 Estes versículos apresentam uma das passagens mais difíceis deinterpretação do Novo Testamento. Alguns dos mais eruditosestudantes bíblicos admitem sem medo que não sabem o quequer dizer o apóstolo aqui; entretanto outros, diferindo em suasinterpretações, apresentam dogmaticamente suas opiniões

quanto a idéia do apóstolo. Sem confundir o leitor com as váriasinterpretações que se tem dado a passagem, basta apresentar aque parece a mais acertada, por estar mais de acordo com osensinos gerais das Escrituras, e também, por estar emconformidade com a construção gramatical do original: Cristo,na pessoa de um de seus servos da antigüidade, provavelmente

 Noé, proclamava aos incrédulos daqueles tempos, cujosespíritos estão agora (no tempo em que Pedro escreve)encarcerados por causa de sua desobediência; havendo-seefetuado dita proclamação durante os 120 anos em que se estava

construindo a arca, tempo em que Deus esperava com paciênciao resultado do chamamento ao arrependimento.[...] Até o tempo da Reforma — séc. XVI — a interpretação geral

 foi que Cristo, durante o tempo que seu corpo esteve no sepulcro, ou seja, desde a sua morte até a ressurreição, foi aolugar dos espíritos encarcerados , a fim de dar-lhes outraoportunidade de aceitar a mensagem de salvação. Tal é o pontodo chamado Credo dos Apóstolos: “...que desceu ao inferno...etc”. Porém desde a Reforma, esta interpretação tem perdido

 partidários. É certo que, a primeira vista, a afirmação se presta

a esta interpretação; porém, olhando abaixo de sua superfície, se vê que tal interpretação está em oposição aos ensinos geraisdas Escrituras com respeito ao assunto referente a “Segunda

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Chance” depois da morte (Veja-se Lc 16:23-31; Hb 9:27). [...] O Dr. Nathaniel Marshman Williams, diz o seguinte a respeitodestes versículos: “Traduza-se o resto deste versículo e a

 primeira parte do 20: «Ele foi e pregou aos espíritosencarcerados quando anteriormente foram desobedientes».

 Aqueles que ouviram a pregação, a ouviram quando estavamvivendo na desobediência. Eles rejeitaram a pregação, se

 perderam (v.20b; 2 Pe 2:5), e agora, escreve Pedro, estão nocárcere, separados do corpo e, portanto, representados comoespíritos”.Outra consideração que milita contra a interpretação da descidade Cristo ao inferno, etc., é a seguinte: Se Ele o fez assim, porque favoreceria aos que, na história bíblica, sobrepujaram atodos os de qualquer outra época em sua maldade? A descriçãodesta maldade que consta em Gn 6:5-7, é quase sem igual nahistória da raça humana. Ainda supondo que Cristo hajadescido ao inferno, é inconcebível que houvera manifestadotanta parcialidade aos espíritos dos homens mais corrompidosque jamais haviam vivido sobre a terra.3 

Shedd, em seu livro “Nos Passos de Jesus”, no qual comenta esta epístola,

observa que,

 Antes de sua ressurreição (durante o intervalo entre a morte e omomento em que foi vivificado), ou depois, em seu corporessurreto, ele desceu à prisão dos espíritos ( tartarus , 2 Pe 2.4;

 Jd 6) para anunciar sua vitória sobre a morte e o julgamentoque foi autorizado a pronunciar sobre eles. Tais espíritosaprisionados não eram totalmente humanos, mas provavelmenteanjos que pecaram (Gn 6.1-7; outros textos referem-se aos anjoscomo «espíritos», 1 Rs 22.21; Lc 10.20; Hb 1.14). Possuindocorpos humanos, eles coabitaram com mulheres e produziram a

 geração pré-diluviana (nephilim). Não devemos pensar que a «pregação» (Ekeruyxen, «anunciar»,«proclamar») se refere ao evangelho proclamado com aintenção de que os «espíritos» cressem e fossem salvos. O NovoTestamento afirma que os poderosos seres espirituais inimigos,chamados de “principados e potestades”, não entendiam aimportância da morte de Cristo. Se tivessem compreendido,“jamais teriam crucificado o Senhor da Glória” (1 Co 2.8; Cl2.15). Contudo é importantíssimo que esses poderes elementaresconheçam que Jesus Cristo é vitorioso e juiz (1 Co 15.24-25; Ef1.21; 2.7; 3.10).4 

W. W. Welch, faz o seguinte comentário sobre este versículo:

“...Pregou aos espíritos em prisão”.  Isto não significa queCristo pregou o evangelho àqueles que viveram e morreram

3 RUDD, A. B. Las Epístolas Generales. pp.138-140.

4 SHEDD, R. P. Nos Passos de Jesus. pp.69-70.

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antes, dando-lhes assim uma segunda oportunidade de salvação. Foi uma proclamação de Sua vitória sobre o inimigo que tinha planos de frustrar o plano divino da salvação desde o princípio. Foi também uma proclamação de Sua vitória sobre a morte e a sepultura, de modo que agora Ele tinha suas chaves na mão. Esses “espíritos em prisão” parece referir-se aos seres humanosdesobedientes de toda a história da humanidade, eespecificamente aos que precederam o período de Noé, fazendoreferência particular a essa gente por causa da intensidade de

 sua maldade e medida revoltante da sua desobediência. Noé sofreu muito como pregador da justiça. Deus esperouansiosamente uma reação positiva, mas ninguém reagiu dessemodo. O inimigo que pensava destruir completamente os planosdivinos para uma família espiritual, corrompendo toda a raçahumana, foi desapontado em seu plano, e faz-se a proclamaçãode seu fracasso.5 

E. F. Harrison, citado na Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,

faz as seguintes observações:

 Alguns têm sustentado que a referência diz respeito às pessoasdo tempo de Noé que ouviram a pregação do Espírito mediante

 seus lábios, mas a rejeitaram e, agora, na época em que Pedroestá escrevendo, são espíritos desincorporados, aprisionados,que aguardam o juízo final.Contra essa idéia há a corrente de pensamento que parececolocar esta pregação depois da morte de Cristo e de Sua voltaà vida, mas antes de Sua ressurreição. Além disso, a palavra“espírito” é raramente usada no tocante aos mortos, muitomenos na forma absoluta de declaração.

 Algumas pessoas vêem nesta passagem uma pregação feita porCristo aos mortos entre a Sua morte e Sua ressurreição, quer

 simplesmente para anunciar aos santos do Antigo Testamento aSua vitória, quer para dar uma oportunidade adicional às

 pessoas que morreram sem arrepender-se. É altamenteimprovável que uma doutrina tão importante como a “benditaesperança” fosse exposta em linguagem tão enigmática,especialmente quando é tacitamente contrariada pordeclarações das Escrituras (e.g. Hb 9.27).

 É muito recomendável o ponto de vista de que os espíritos sãoanjos que pecaram nos tempos de Noé (Gn 6.1-5). Não somenteos anjos bons são chamados de espíritos (Hb 1.14), mas tambémos demônios (Lc 10.20).

 Embora a palavra “prisão” seja dificilmente um termo naturalaplicável ao estado dos seres humanos mortos, é apropriada

 para os espíritos malignos (2 Pe 2.4; Jd 6). A estes Cristo proclamou o Seu triunfo. O contexto parece apoiar esta

5 WELCH, W. W. Primeira Epístola de Pedro. p.68.

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interpretação (1 Pe 3.22).6 

7. Conclusão Final:

Pode-se concluir, com base no que foi visto até aqui, que é impossível que

Cristo tenha pregado aos espíritos em prisão com vistas ao seu arrependimento,

conforme passagens que contradizem esta possibilidade, como por exemplo Hb 9:27 e

Lc 16.19-31. O que pode-se concluir então, é que Cristo anunciou (“proclamou”, e não

“evangelizou”) a sua vitória sobre o inimigo e a morte, para estes espíritos em prisão.

Quanto a estes espíritos em prisão, a probabilidade maior é de que sejam

anjos caídos dos quais fala também em 2 Pe 2.4 e em Jd 6. Havendo, porém, a

 possibilidade de ser ampliada esta abrangência para todos aqueles que estavam no

Hades.

6 HARRISON, E. F. In: ELWELL, W. A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. p.60.