estudo sobre as escrituras

49
INTRODUÇÃO Como bem sabemos o homem foi criado a fim de ter comunhão com o Criador. Contudo, devido ao seu estado atual em pecado, o homem necessita de que Deus se revele a ele, mostrando-lhe as verdades acerca de Si, do mundo, e do próprio homem, para que possa este voltar a ter comunhão novamente com o Criador. Para satisfazer esta necessidade Deus revelou-se ao homem de tal forma que este pudesse entender mais sobre Ele e Seus planos. Esta revelação está ao alcance do homem principalmente por meio do registro dela nas Escrituras Sagradas. Ora, o cristianismo está fundamentado na revelação de Deus, e sobre ela se apóia inteiramente. Toda doutrina cristã está baseada na revelação escrita que Deus produziu por meio de homens vocacionados para isto. De forma que conhecer a Bíblia é conhecer a vontade de Deus e Sua Pessoa. E ainda que este conhecimento não implique imediatamente em conhecimento experiencial, não há como ter comunhão com Deus fora desta revelação. Diante disto tudo, é preciso que os crentes aprendam cada vez mais acerca das Escrituras a fim de estarem cada vez mais dentro da vontade do Criador. Para tanto, apresentamos nesta revista dez estudos sobre as Escrituras, os quais tem como propósito fazer com que os leitores entendam mais a respeito da revelação entregue por Deus à humanidade. Certamente cada estudo desta obra não é exaustivo em seu conteúdo, mas tenta esclarecer o essencial sobre cada tema abordado. Quaisquer dúvidas que o leitor ainda possuir após a leitura dos textos, deverão ser retiradas mediante pesquisa em outros

Upload: alberto-simonton

Post on 16-Apr-2017

62 views

Category:

Spiritual


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Estudo sobre as Escrituras

INTRODUÇÃO

Como bem sabemos o homem foi criado a fim de ter comunhão com o Criador.

Contudo, devido ao seu estado atual em pecado, o homem necessita de que Deus se

revele a ele, mostrando-lhe as verdades acerca de Si, do mundo, e do próprio homem,

para que possa este voltar a ter comunhão novamente com o Criador. Para satisfazer

esta necessidade Deus revelou-se ao homem de tal forma que este pudesse entender

mais sobre Ele e Seus planos. Esta revelação está ao alcance do homem principalmente

por meio do registro dela nas Escrituras Sagradas.

Ora, o cristianismo está fundamentado na revelação de Deus, e sobre ela se

apóia inteiramente. Toda doutrina cristã está baseada na revelação escrita que Deus

produziu por meio de homens vocacionados para isto. De forma que conhecer a Bíblia é

conhecer a vontade de Deus e Sua Pessoa. E ainda que este conhecimento não implique

imediatamente em conhecimento experiencial, não há como ter comunhão com Deus

fora desta revelação.

Diante disto tudo, é preciso que os crentes aprendam cada vez mais acerca das

Escrituras a fim de estarem cada vez mais dentro da vontade do Criador. Para tanto,

apresentamos nesta revista dez estudos sobre as Escrituras, os quais tem como propósito

fazer com que os leitores entendam mais a respeito da revelação entregue por Deus à

humanidade.

Certamente cada estudo desta obra não é exaustivo em seu conteúdo, mas tenta

esclarecer o essencial sobre cada tema abordado. Quaisquer dúvidas que o leitor ainda

possuir após a leitura dos textos, deverão ser retiradas mediante pesquisa em outros

Page 2: Estudo sobre as Escrituras

2

materiais teológicos de linha reformada, ou por meio de pastores calvinistas com os

quais ele possa entrar em contato.

Deus abençoe seus estudos!

Pr. Alberto Simonton

Page 3: Estudo sobre as Escrituras

3

Estudos TÍTULOS páginas

Nº 1

REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL

04

Nº 2

INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

10

Nº 3

INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

14

Nº 4

A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

17

Nº 5

INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS

20

Nº 6

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

22

Nº 7

CÂNON DAS ESCRITURAS

30

Nº 8

ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS

39

Nº 9

A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS

41

Nº 10

A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS

44

Page 4: Estudo sobre as Escrituras

4

REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL

Introdução

Antes de estudarmos todas as doutrinas de acordo com seus vários temas, faz-

se necessário que iniciemos com a questão das fontes de onde extrairemos estas doutrinas. Cada religião tem a fonte (ou fontes) de onde procedem as suas crenças, e

com o cristianismo não poderia ser diferente. Portanto, devemos entender bem de onde

é que surgiu cada verdade da religião cristã.

No nosso caso, afirmamos que todas as verdades espirituais são provenientes

de revelações dadas pelo Ser Supremo do universo, o qual se mostrou, por meio delas, a

nós. Mas o que são estas revelações? O que significa ―Revelação‖ dentro do contexto da

teologia cristã? ―Revelação significa intrinsecamente a exposição daquilo que

anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado

primariamente para a comunicação da verdade divina de Deus para o homem ou seja: a

Sua manifestação de Si mesmo e da Sua vontade.‖ 1 Tradicionalmente, na teologia, a

revelação divina tem sido classificada comumente como sendo de dois tipos: Revelação Geral e Revelação Especial.

Revelação Geral

A Revelação Geral “é assim chamada porque chega a cada um de nós

simplesmente por vivermos no mundo de Deus. Deus tem se revelado desse modo desde o começo da história humana.‖2 Todo ser humano pode contemplar esta revelação, e

qualquer um tem acesso a ela, visto ela se dirigir a toda a humanidade. Ela tem em vista

―suprir a necessidade natural das criaturas quanto ao conhecimento do seu Deus‖.3 É

importante que entendamos que ―a revelação geral está radicada na criação e nas

relações gerais de Deus com o homem, é dirigida ao homem como a criatura portadora

da imagem de Deus, e visa a realização do fim para o qual o homem foi criado, o que

pode ser alcançado somente quando o homem conhecer a Deus e gozar comunhão com

Ele.‖4

Como a revelação geral se apresenta ao ser humano? De qual forma o ser

humano entra em contato com ela? Vejamos a seguinte explicação: ―A revelação geral

1 Carl F. H. Henry, Revelação Especial in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja

Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São Paulo,Vida Nova, 2009, p 299. 2 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica

do Brasil, 1999, p 626. 3 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 39. 4 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p

27.

Page 5: Estudo sobre as Escrituras

5

não vem ao homem diretamente por comunicações verbais... Deus fala ao homem

através de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza, na constituição da

mente humana, na voz da consciência, e no governo providencial do mundo em geral‖.5

Apesar de satisfatório para conhecer alguns aspectos do Criador, a Revelação

Geral não desempenha mais sua função de modo perfeito e suficiente devido às

seguintes razões:

1. O pecado maculou a Revelação Geral de tal forma que esta não mostra Deus

clara e perfeitamente como antes da entrada do pecado;

2. O homem já não consegue entender a Revelação Geral de forma correta devido à sua pecaminosidade. Assim, ele não tem capacidade espiritual para ver

claramente esta revelação deixada pelo Criador;

3. A Revelação Geral nada diz a respeito do perdão do pecado, ou sobre Cristo,

ou sobre a salvação. Portanto, ela é insuficiente para resgatar os pecadores e

consumar os planos divinos.6

Base Bíblica: Sl 19:1, 2; At 14:17; Rm 1:19, 20; Rm 2:14-15

Base Confessional:

Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada):

―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal

modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens

ficam inescusáveis...‖

Catecismo Maior (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖

Resposta: ―A própria luz da natureza no homem, e as obras de Deus,

claramente testificam que existe um Deus...‖7

Revelação Especial

Devido ao fato de a Revelação Geral ser insuficiente aos propósitos divinos,

aprouve a Deus apresentar a Revelação Especial a fim de levar adiante seu plano eterno

para o mundo. Podemos explicar a Revelação Especial nos seguintes termos: ―A

revelação especial está arraigada no plano de redenção de Deus, é dirigida ao homem na qualidade de pecador, pode ser adequadamente compreendida e assimilada somente pela

5 Ibid, p 29. 6 Ibid, p 30, 31. 7 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura Cristã,

1999, p 1.

Page 6: Estudo sobre as Escrituras

6

fé, e serve ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem foi criado a despeito de

toda a perturbação produzida pelo pecado.‖8

Os meios pelos quais a Revelação Especial se apresentou podem ser reduzidos,

de forma geral, a três tipos:

1. Teofanias ou manifestações de Deus :

a. Fogo e nuvens de fumaça (Gn 15:17; Ex 3:2; 19:9, 16, 17; 33:9; Sl

78:14; Sl 99:7);

b. Nos ventos tempestuosos (Jó 38:1; 40:6; Sl 18:10-16); c. Anjo do Senhor (distinto de Deus - Ex 23:20-23; Is 63:8, 9;

identificado com Deus - Gn 16:13; 31:11-13; 32:28);

d. Encarnação de Cristo (Cl 1:19; 2:9).9

2. Comunicações diretas:

a. Voz audível (Gn 2:16; 3:18, 19; 4:6-15; Ex 19:9; Dt 5:4; 1Sm 3:4);

b. A sorte e o Urim e Tumim (1Sm 10:20, 21; 1Cr 24: 5-31; Ne 11:1;

Nm 27:21; Dt 33:8);

c. Sonho (Nm 12:6; Dt 13:1-6; 1Sm 28:6; Jl 2:28);

d. Visão (Is 6; 21:1; Ez 1-3; 8-11; Dn 1:17; 2:19; 7-10; Am 7:1-9).10

3. Milagres:

―De acordo com a Escritura, Deus também Se revela pelos milagres. É

especialmente deste ponto de vista que os milagres da Escritura devem ser

estudados... Eles são, acima de tudo, manifestações de um poder especial

de Deus, sinais de Sua presença especial, e servem, com freqüência, para

simbolizar verdades espirituais. Como manifestações do reino vindouro de

Deus, tornam-se subservientes à grande obra da redenção... Eles

confirmam as palavras da profecia e apontam para uma nova ordem que

está sendo estabelecida por Deus.‖11

Como se pode observar, a Revelação Especial é diferente da Revelação Geral

na forma de se apresentar ao homem, e igualmente diferente em seu conteúdo:

―A revelação especial não serve, simplesmente, ao propósito de comunicar ao

homem algum conhecimento geral de Deus. Descobre ao homem o

8 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 39. 9 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 34. 10Ibid, p 34. 11 Ibid, p 35.

Page 7: Estudo sobre as Escrituras

7

conhecimento específico do plano divino para a salvação dos pecadores; da

reconciliação de Deus e dos pecadores por meio de Jesus Cristo; do caminho

da salvação aberto por Sua obra redentora, da influência transformadora e

santificadora do Espírito Santo, e das exigências divinas para os que participam

da vida do Espírito.‖12

Como está claro, a Revelação Especial é indispensável ao ser humano a fim de

que este possa sair de seu estado de pecado e entrar em comunhão com o Criador. Ou

seja, a Revelação Especial tem importância imensurável por se tratar de verdades que

mudarão a situação eterna do homem. É por esta causa que Deus fez com que se registrasse esta revelação a fim de que fosse preservada pelos séculos durante a história

humana, sem os perigos de ser perdida com o passar do tempo, ou ser ―adulterada por

idéias humanas‖. Podemos então falar da relação entre a Escritura e a Revelação

Especial da seguinte forma:

―Em geral pode-se dizer que a revelação especial de Deus assumiu uma forma

permanente na Escritura, e foi assim preservada para a posteridade. Deus quis

que Sua revelação fosse o Seu falar perene para todas as gerações sucessivas

dos homens; e tinha, pois, de guardá-la contra a perda, corrupção e falsificação.

E Ele o fez provendo-lhe um registro infalível e vigiando-o com cuidado

providencial.‖13

Evidentemente nem tudo que fez parte da Revelação Especial está escrito nas

Escrituras (Jo 20:30-31), porém, tudo que foi escrito é suficiente para as necessidades

humanas, e suficiente para o homem cumprir os seus deveres para com Deus (2Tm 3:16,

17).

Base Bíblica: 2Rs 17:13; Sl 103:7; Jo 1:18; Hb 1:1, 2; 1Co 2:9, 10; 1:21

Base Confessional:

Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura

Sagrada):

―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal

modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os

homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele

conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por

isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-

se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor

12 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 36. 13 Ibid, p 38.

Page 8: Estudo sobre as Escrituras

8

preservação e propagação da verdade, para o mais seguro

estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e

malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever

toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles

antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖

Catecismo Maior: (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖

Resposta: ―... só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo

suficiente e eficaz, aos homens, para a sua salvação.‖14

Conclusão

Certamente Deus não revelou tudo acerca de Si mesmo, mas o que revelou é

suficiente para suprir nossas necessidades como criaturas espirituais que precisam de

comunhão com Ele. Mesmo porque, ainda que Ele viesse a revelar-Se plenamente a nós, não poderíamos compreendê-lo, pois somos finitos. ―Deus é O Incompreensível. O

homem não pode conhecê-lO como Ele é nas profundezas de Seu ser divino‖.15 O

Senhor está tão acima de nós que por mais que quiséssemos conhecer mais dEle, nunca

conseguiríamos chegar a um conhecimento completo:

―Não só é verdade que jamais poderemos compreender plenamente a Deus; é

verdade também que jamais poderemos compreender plenamente nem mesmo

uma só coisa acerca de Deus. Sua grandeza (Sl 145:3), seu entendimento (Sl

147:5), seu conhecimento (Sl 139:6) sua riqueza, sabedoria, juízos e caminhos

(Rm 11:33) estão todos além da nossa capacidade de compreensão plena.‖16

Todavia, o conhecimento que temos por meio da Revelação Geral e por meio

de Revelação Especial não somente podem dar a alegria de salvação àqueles que O

conhecem e O aceitam pela fé. O acesso a estas Revelações torna os pecadores ainda

mais culpados caso não se rendam a elas. Ou seja, quanto mais acesso ao conhecimento

de Deus, mais culpável o homem fica diante dEle ao recusá-lO.

Mas o que dizer daqueles que nunca tiveram acesso à Revelação Especial?

Como poderão ser condenados por não seguir a um Deus que nem chegaram a conhecer

devidamente? A questão é que somos condenados não por causa dos nossos pecados

presentes, mas pelo pecado em Adão. E em segundo lugar, a Revelação Geral já é

suficiente para tornar alguém culpado diante do Senhor. Vejamos a seguinte

explanação:

14 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 1. 15 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p

26. 16 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 102.

Page 9: Estudo sobre as Escrituras

9

―... Ele ativamente revela esses aspectos de si mesmo a todos, de modo que

deixar de agradecer e servir ao Criador é sempre um pecado contra o

conhecimento. No final, nenhuma negação de termos recebido esse

conhecimento será admitida. Paulo usa a revelação universal do poder e da

bondade de Deus como base para a sua acusação contra toda a raça humana

como pecadora e culpada diante de Deus, por causa do nosso fracasso em

servi-lo como devemos (Rm 1:18-3:19).‖17

17 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica

do Brasil, 1999, p 626.

Page 10: Estudo sobre as Escrituras

10

INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

Ainda que saibamos que Deus decidiu revelar-se ao homem de forma mais

eficiente por meio da Revelação Especial, precisamos entender que Ele ainda resolveu registrar esta Revelação a fim de que tivéssemos o seu conteúdo fiel. Para que o

conteúdo destes registros fosse realmente fiel à Revelação Especial, Deus fez os

escritores sagrados registrarem por meio de um processo que a teologia denomina de

Inspiração. É sobre isto que nós vamos aprender hoje.

Teorias sobre a Inspiração

1. Natural: Não há qualquer elemento sobrenatural envolvido. A Bíblia foi

escrita por homens de grande talento.

2. Mecânica (teoria da ditação): Os autores bíblicos foram apenas instrumentos

passivos nas mãos de Deus, como máquinas de escrever com as quais Ele teria

escrito.

3. Parcial: Somente o não conhecível foi inspirado (e.g., criação, conceitos

espirituais).

4. Conceitual: Os conceitos, não as palavras, foram inspirados.

5. Gradual: Os autores bíblicos foram mais inspirados que outros autores

humanos. 6. Neo-ortodoxa: Autores humanos só poderiam produzir um registro falível.18

Conceito de Inspiração: ―Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores

humanos da Bíblia de modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem

e registrarem sem erro as palavras de Sua revelação ao homem. A inspiração se aplica apenas aos manuscritos originais (chamados de autógrafos).‖19

Provas Bíblicas da Inspiração

Os escritores do Velho Testamento repetidas vezes receberam determinação para escrever o que o Senhor lhes ordenou (Ex 17:14;

34:27; Nm 33:2; Is 8:1; Jr 25:13; 30:2; Ez 24:1; Dn 12:4; Hb 2:2);

18 Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, p 1624. 19 Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, p 1624.

Page 11: Estudo sobre as Escrituras

11

Os profetas estavam conscientes de que eram portadores de uma

mensagem divina, e por isso a introduziram por tais fórmulas como:

―Assim diz o Senhor‖; ―A Palavra do Senhor veio a mim‖... Estas

fórmulas se referem freqüentemente à palavra falada, mas são também

usadas em relação com a palavra escrita (Jr 36:27; 32; Ez 26, 27, 31,

32, 39);

Os escritores do Novo Testamento freqüentemente citam palavras do

Velho Testamento como palavras de Deus ou do Espírito Santo (Mt

15:4; Hb 1:5; 3:7; 5:6; 7:21; etc);

Paulo fala de suas próprias como palavras ensinadas pelo Espírito

(1Co 2:13), e afirma que Cristo está falando nele (2Co 13:3). Sua

mensagem aos Tessalonicenses é a palavra de Deus (1Ts 2:13);20

A inspiração foi tanto verbal (se estende até a escolha das palavras -

tanto Jesus quanto Paulo utilizaram uma linha de argumentação onde

dependiam de uma só palavra do texto (Mt 22:43-45; Gl 3:16)21,

quanto plenária (diz respeito a todos os livros das Escrituras - 2Pe

1:20-21);

Paulo em (2Tm 3:16) afirma que toda Escritura é inspirada por Deus

(soprado por Deus);

Pedro afirma igualmente que nenhuma profecia foi dada por homens, mas foi produto da obra do Espírito Santo nos escritores (2Pe 1:20-

21).

Devemos esclarecer que apesar de toda a Escritura ser inspirada e ser a Palavra

de Deus para nós, isto não significa que tudo nela é de igual ―importância‖. Vejamos a

seguinte explanação:

―Creio que as narrativas e declarações de Gênesis e as genealogias em

Crônicas, foram tão verdadeiramente escritos por inspiração como os Atos dos

Apóstolos. Creio que a mensagem de Paulo sobre a capa e os pergaminhos foi

escrita sob direção divina tanto como o vigésimo capítulo de Êxodo, o décimo

sétimo de João ou o oitavo de Romanos. Seja lembrado que não estou dizendo que todas essas partes da Bíblia sejam de igual importância para nossas almas.

Nada disso! O que eu digo é que todas elas foram igualmente inspiradas.‖22

Base Confessional:

Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA

SAGRADA):

20 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 40. 21 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 45. 22 J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d, p 11.

Page 12: Estudo sobre as Escrituras

12

Seção II - Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita,

incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são

os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé

e prática: O VELHO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico,

Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis,

II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos,

Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias,

Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias,

Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João,

Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,

Colossenses, ITessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo,

Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III

João, Judas, Apocalipse.

Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.

Seção III - Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de

inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são,

portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser

aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

Seção IV - A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser

crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou

Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu

Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.

Seção V - Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a

um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do

seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a

harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus

toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa

perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela

a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua

infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do

Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso

coração.

Seção VIII - O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo

povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente

conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo

inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e

Page 13: Estudo sobre as Escrituras

13

providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso,

autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve

apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas

línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse

nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses

livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde

chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas

abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança

pela paciência e conforto das escrituras.

Page 14: Estudo sobre as Escrituras

14

INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

Introdução

Tendo aprendido que as Escrituras foram Inspiradas por Deus de forma verbal

e plenária, podemos estudar agora as demais características da Escrituras que são o resultado desta Inspiração, sendo a primeira delas a Inerrância.

Conceito de Inerrância

1. ―Por inerrância das Escrituras entende-se que as Escrituras nos manuscritos originais não afirmam nada contrário aos fatos‖.23

2. ―A inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem

conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais e

corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo

quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências

sociais, físicas ou biológicas.‖24

Provas da Inerrância

Quando estudamos sobre a Inspiração das Escrituras nós vimos que todas as

palavras escritas pelos escritores bíblicos foram dirigidas e selecionadas pelo Espírito

Santo. Desta forma, a Revelação Especial foi guardada de erros humanos. É por isto que

nós cremos que as Escrituras são Inerrantes. Deus por meio da Inspiração, não permitiu

que os escritores cometessem algum erro, seja ele de natureza teológica, histórica,

científica... Além disto, a favor da doutrina da inerrância bíblica podemos afirmar que

sendo Deus um Ser que não mente, não usa de falsidade ou de engano (2Sm 7:28; Tt 1:2; Hb 6:18; Nm 23:19; Sl 119:160; Jo 14:6; 17:17), Suas palavras Inspiradas não

podem conter inverdades. Ainda podemos acrescentar o fato de que a própria Bíblia

afirma sua Inerrância em seus textos:

―Fora de dúvida, a Bíblia expressa possuir inerrância. De que outra maneira

poderíamos explicar o fato de Cristo ter reivindicado para as própria letras que

formam as palavras da Escritura um caráter permanente, irrevogável: ‗Porque

em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til

passará jamais da lei, até que tudo de cumpra‖ (Mt 5:18)?... Em outras

23 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 59. 24 P. D. Feinberg, Inerrância e infalibilidade da Bíblia, in Enciclopédia Histórico-

teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 180.

Page 15: Estudo sobre as Escrituras

15

palavras, o Senhor estava afirmando que cada letra, ou cada palavra é

importante, e que o Antigo Testamento seria cumprido exatamente como fora

soletrado, letra por letra, palavra por palavra.‖25 E igualmente faz argumentos

baseado em uma única palavra da Escritura (Mt 22:32; Mt 22:41-46; Jo 10:34),

como também o fez Paulo (Gl 3:16);

Esclarecimentos quanto ao Conceito de Inerrância Bíblica

1. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim empregar a linguagem comum

da fala cotidiana. Isso diz respeito principalmente às descrições ―científicas‖

ou ―históricas‖ de fatos ou eventos. A Bíblia pode falar que o sol nasce e a

chuva cai porque, pela ótica de quem fala, é exatamente isso que ocorre... Não

nos deve incomodar afirmar que a Bíblia é absolutamente fidedigna em tudo o

que diz e também que emprega linguagem corriqueira para descrever

fenômenos naturais ou para fornecer números aproximados ou redondos quando apropriados às circunstâncias... As declarações bíblicas podem ser

imprecisas e, ainda assim, totalmente verdadeiras. A inerrância diz respeito à

fidedignidade, não ao grau de precisão com que os fatos são relatados.26

2. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim conter citações vagas ou livres.

O jeito de uma pessoa citar as palavras de outra é um procedimento que, em

grande parte, varia de cultura para cultura. Na cultura ocidental

contemporânea, costumamos citar textualmente as palavras da pessoa quando

as colocamos entre aspas (chamamos a isso citação direta). Mas quando

empregamos a citação indireta (sem aspas), espera-se um relato preciso

limitado apenas à essência da declaração...O grego escrito da época do Novo Testamento não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma

citação exata de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação

correta do conteúdo dito por ela.27

3. O que não foi ainda explicado não significa que seja inexplicável. É um erro

presumir que, o que ainda não foi explicado, nunca o será um dia.28

4. Não se pode dizer que a Bíblia é falha quando na verdade a interpretação

é que está incorreta.29

25 Charles C. Ryrie, A Inspiração da Bíblia, in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo

Cristão, 1994, p 1647. 26 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 59, 60. 27 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 60. 28 Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da

Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p 18. 29 Ibid, p 19.

Page 16: Estudo sobre as Escrituras

16

5. Um relato parcial não é um relato falso. Ocasionalmente, a Bíblia expressa a

mesma coisa de diferentes modos, ou pelo menos de diferentes pontos de vista,

em tempos distintos. (Mt 16:16; Mc 8:29; Lc 9:20).30

6. Afirmar que a Bíblia erra quando existem diferenças entre narrações de

um fato é um equívoco que não pode ser levado adiante. Pelo simples fato

de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo acontecimento, isso

não significa que elas sejam mutuamente exclusivas (Mt 28:5; Jo 20:12).31

7. Na Bíblia encontramos diversos recursos literários. Portanto, não constitui

erro o autor bíblico fazer uso de uma figura de linguagem (metáforas – 2Co

3:2-3; Tg 3:6/comparações – Mt 20:1; Tg 1:6/figuras poéticas – Jó 41:1/ sátira – Mt 19:24; 23:24).32

30 Ibid, 24. 31 Ibid, 25. 32 Ibid, p 27.

Page 17: Estudo sobre as Escrituras

17

A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

Introdução

Em decorrência da doutrina da Inspiração das Escrituras segue-se que todo ser

humano deve dar ouvidos a elas, pois se constituem Palavras de Deus. No tempo de hoje, onde muita gente parece ―escolher o que vão ou não obedecer‖ das ordenanças

bíblicas, bem como ―decidem em quais doutrinas vão crer‖ simplesmente por vontade

própria, um estudo sobre a Autoridade das Escrituras se faz altamente necessário.

Conceito de Autoridade das Escrituras

Primeiramente devemos observar alguns conceitos sobre Autoridade da Bíblia

a fim de esclarecermos o assunto:

1. ―O princípio cristão da autoridade bíblica significa que Deus é o autor da

Bíblia e deu-a para dirigir a crença e o comportamento do seu povo. Nossas

idéias a respeito de Deus e da nossa conduta devem ser medidas, testadas e,

onde necessário, corrigidas e ampliadas de acordo com a Bíblia, como padrão

de referência. Autoridade é também o direito de ordenar. A Palavra escrita de

Deus, em sua verdade e sabedoria, é o meio que Deus escolheu para exercer o

seu governo sobre nós, e as Escrituras são o instrumento do senhorio de Cristo

sobre a Igreja.‖33

2. ―A autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são

palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou

desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a ele.‖34

Há uma frase muito conhecida entre os cristão evangélicos que diz: ―A Bíblia é

nossa única regra de fé e prática‖. Esta é uma frase por demais feliz, pois declara com

precisão a única autoridade sobre a vida espiritual do ser humano. A Igreja do Senhor se

afastou durante anos das Escrituras, e junto a elas acrescentou várias heresias e tradições

humanas e mundanas. Em chegando a Reforma, alguns retornaram ao verdadeiro

caminho deixado por Jesus e seus apóstolos. Desta forma, a Bíblia voltou a ser a única autoridade sobre suas vidas.

Não é que os reformadores deram autoridade à Bíblia, eles simplesmente

reconheceram sua autoridade por ser a Palavra divina a nós. ―Os reformadores

33 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica

do Brasil, 1999, p 1453. 34 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 44.

Page 18: Estudo sobre as Escrituras

18

acentuaram o fato de que a Escritura tem autoridade inerente em virtude de sua

inspiração pelo Espírito Santo. A Bíblia deve ser crida por causa de si mesma; É a

Palavra inspirada de Deus, e portanto dirige-se ao homem com autoridade.‖35 Não

precisa da aprovação humana para ter autoridade. Ela tem autoridade devido à sua fonte

- Deus.

Provas Bíblicas da Autoridade das Escrituras

Podemos confirmar que a Bíblia tem autoridade divina por diversas maneiras:

1. Os profetas afirmavam: ―Assim diz o Senhor‖: Is 1:2; 3:16; Jr 51:1; Ez

28:1,11,20; 47:13; Am 1:9; Jl 2:12; Ob 1:1; Mq 4:6; Na 1:12; Hc 2:2; Sf 3:8;

Ag 1:2; Zc 1:3; Ml 1:2;

2. Deus fala por ―intermédio‖ do profeta: 1Rs 14:18; 16:12,34; 2Rs 9:36; 14:25;

Jr 37:2; Zc 7:7, 12; Mt 4:4; Mt 1:22; Mt 19:5; Mc 7:9-13; At 1:16; At 2:16-17; 3. O Novo Testamento afirma que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus: 2Pe

1:20, 21; 2Tm 3:16,17;

4. O Novo Testamento é reconhecido como Palavra divina: 2Pe 3:16; 1Co

14:37;36

O Espírito Santo e a Autoridade das Escrituras

Apesar de a Bíblia afirmar sua própria autoridade, os seres humanos não

aceitarão sua autoridade a menos que o Espírito Santo os convença disto. Só Ele nos

abrirá os olhos espirituais para reconhecer que as Palavras da Bíblia são ―o próprio Deus

falando‖: ―Nossa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são palavras divinas

vem apenas quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por

intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são as palavras de nosso

Criador falando conosco.‖37 Veja o seguinte texto (1Co 2:13,14).

Durante a história da Igreja algumas pessoas quiseram comprovar a autoridade

de Bíblia apelando para argumentos diferentes daqueles que ela mesma oferece a respeito de si. Isto é um trabalho inútil, apesar de bem intencionado. Observe a

explicação abaixo:

―As palavras das Escrituras são autocorroborantes. Elas não podem ser

―comprovadas‖ como palavras de Deus apelando-se a alguma autoridade

superior. Pois caso se apelasse a uma autoridade superior (por exemplo,

exatidão histórica ou coerência lógica) como recurso para provar que a Bíblia é

35 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p

45. 36 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 44-47. 37 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 48.

Page 19: Estudo sobre as Escrituras

19

a Palavra de Deus, então a própria Bíblia deixaria de ser a nossa autoridade

mais alta ou absoluta e ficaria subordinada em matéria de autoridade àquilo a

que apelássemos a fim de provar que ela é a Palavra de Deus. Se no final das

contas apelamos à razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica, ou à

verdade científica como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras

são as palavras de Deus, então estamos pressupondo que a coisa para a qual

apelamos é uma autoridade superior às palavras de Deus e também mais

verdadeira ou mais confiável‖.38

Base Confessional (Confissão de Fé de Westminster)

CAPÍTULO I

DA ESCRITURA SAGRADA

Seção III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de

Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos

humanos.

Seção IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e

obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende

somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida,

porque é a Palavra de Deus.

Seção V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e

reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo

do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de

salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa

perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de

Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina

autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a

Palavra, testifica em nosso coração.

Seção X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser

determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as

opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o

Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

38 Ibid, p 49.

Page 20: Estudo sobre as Escrituras

20

INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS

Introdução

Como temos visto, a doutrina da Inspiração traz como conseqüências várias

outras doutrinas a cerca das Escrituras. Vimos assim a doutrina da Inerrância, Autoridade, e agora a doutrina da Indispensabilidade. O raciocínio é o seguinte: Se a

Bíblia é Inspirada, como poderia conhecer as verdades de Deus a não ser nela? Qual

fonte seria confiável tanto quanto as Escrituras Inspiradas? Por isto elas se tornam

indispensáveis. Por isto mesmo Deus usou do processo da Inspiração, para evitar erros

quanto às verdades da Sua Revelação.

Conceito de Indispensabilidade:

―Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é

necessária para conhecer o evangelho, para conservar a vida espiritual e para

conhecer a vontade de Deus, mas não que seja necessária para saber que Deus

existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de Deus.‖39

Provas Bíblicas da Indispensabilidade

A doutrina da indispensabilidade conceituada acima pelo teólogo Wayne

Grudem, longe de ser uma doutrina humana, procede da revelação bíblica. Vejamos

como este teólogo prova biblicamente a veracidade deste assunto:

As Escrituras são necessárias para se conhecer o evangelho (Rm 10:13-17);

As Escrituras são necessárias para sustentar a fé espiritual (Mt 4:4; Dt 32:47; 1Pe 2:2);

As Escrituras são necessárias para o conhecimento seguro da vontade de Deus:

E ainda:

―... Todas as pessoas nascidas na terra têm algum conhecimento da vontade de

Deus por intermédio da sua consciência. Mas esse conhecimento é muitas

vezes indistinto e não pode proporcionar certeza. Na verdade, se não existisse a

Palavra escrita de Deus, não poderíamos alcançar a certeza da vontade de Deus

por nenhum outro meio, fosse consciência, conselhos de outras pessoas,

testemunho íntimo do Espírito Santo, mudanças das circunstâncias ou o uso da

razão e do bom senso santificados. Todos esses meios podem proporcionar uma

39 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 77.

Page 21: Estudo sobre as Escrituras

21

aproximação da vontade de Deus de modos mais ou menos confiáveis, mas por

meio deles seria simplesmente impossível obter a certeza acerca da vontade de

Deus, pelo menos num mundo caído onde o pecado distorce nossa percepção do

certo e do errado, introduz raciocínios falhos nos nossos processos mentais e

nos faz suprimir de tempos em tempos o testemunho da nossa consciência (cf.

Jr 17.9; Rm 2.14-15; 1Co 8.10; Hb 5.14; 10.22; também 1Tm 4.2; Tt 1.15).‖40

Ainda devemos compreender que a Revelação Geral se tornara ineficiente

quanto à sua função de manifestar a glória de Deus. E mesmo que ela ainda fosse

perfeita não poderia salvar o homem de seu estado de pecado. Por isto as Escrituras são indispensáveis para o homem.

Base Confessional:

Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):

Seção I – ―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da

providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de

Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para

dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a

salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes

modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois,

para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro

estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia

de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos

modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖

Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas

necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é

expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente

deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por

novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens;

reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito

de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e

que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser

ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras

gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖

40 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. p 79, 80.

Page 22: Estudo sobre as Escrituras

22

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

Introdução

Quando houve a Reforma Protestante nós demos um salto importantíssimo

para fora das heresias que existiam dentro da Igreja. Os reformadores gritaram sem hesitar ―Sola Scriptura‖ (somente a Escritura)! E foram muito criticados

por isto.

O tempo foi passando, e ao invés de os protestantes terem continuado unidos

nesta verdade, começaram a ingressar em um novo tipo de heresia (que na

verdade não é novo, pois já ocorreu na história da igreja em anos anteriores)

– a heresia das novas revelações.

Hoje nós vemos tantos absurdos ocorrerem por causa desta ―doutrina‖ que

tornou-se até motivo de piada o que profetizam muitas vezes nas reuniões

deles.

Apesar de triste, esta doutrina ainda se faz muito perigosa para nós reformados

devido à facilidade da aceitação da doutrina por parte dos membros de nossas

igrejas.

É por isto que se torna indispensável o estudo da Suficiência da Escritura a

fim de combater as ilusões destas heresias na vida de nossas ovelhas.

Em primeiro lugar devemos apresentar alguns conceitos que demonstrem o que

é a Suficiência das Escrituras segundo a teologia. E em seguida tentar

continuar o nosso estudo provando a doutrina biblicamente, observando a base confessional, e por último fazendo aplicações práticas desta verdade.

Conceito de Suficiência das Escrituras

Prestemos atenção nestes três conceitos de Suficiência das Escrituras a fim firmar em nossa mente a idéia que eles querem passar a respeito do assunto:

1. ―Os reformadores sustentaram a perfeição ou a suficiência da Escritura. Isto

não significa que tudo que foi falado ou escrito pelos profetas, por Cristo, e

pelos apóstolos está contido na Escritura, mas simplesmente que a palavra

escrita é suficiente para as necessidades morais e espirituais dos indivíduos e

Page 23: Estudo sobre as Escrituras

23

da Igreja. Esta posição envolve a negação de que haja ao lado da Escritura uma

palavra de Deus não escrita de autoridade igual, ou até mesmo superior.‖41

2. ―Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém

todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da

história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que

precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos

confiar e a ele obedecer.‖42

3. ―Por completitude das Escrituras se entende que elas contêm todas as revelações existentes de Deus, designadas a serem uma regra de fé e prática

para a Igreja... a Bíblia contém todas as revelações de Deus existentes, as quais

ele designou para serem a regra de fé e prática para sua Igreja; de modo que

nada pode ser legitimamente imposto à consciência dos homens como verdade

ou dever que não esteja diretamente ensinado ou obrigatoriamente implicado

nas Escrituras Sagradas.‖43

Base Bíblica

Para que possamos perceber a legitimidade da doutrina da Suficiência das

Escrituras vamos ver o que diz suas páginas a este respeito:

As Escrituras ordenam a nós que ―Nada seja acrescentado a ela‖: (Dt 4:2;

12:32; Pv 30:5, 6; Ap 22:18-19);

Há textos que afirmam que a Bíblia é suficiente para o povo de Deus: (2Tm 3:16, 17; Gl 1:8; Is 8:20);

Há textos que provam que ela é suficiente para levar a salvação ao pecador

perdido (Lc 16:27-31; 2Tm 3:15; Rm 10:14-17);

O testemunho bíblico mostra por diversas vezes que Jesus e os apóstolos

utilizavam a Bíblia para fundamentar várias conclusões teológicas, e

fundamentar suas pregações: (Paulo - At 17:2-3; At 18:28; At 26:22; Jesus -

Mt 4:4, 7, 10; Mt 15:1-9; Mt 16:4; Mt 19:4, 5; Mt 22:23-33; Mt 22:34-40;

Mt 22:41-46; Lc 10:25-26; Lc 24:27; Lc 24:44-46; Pedro – At 2:16-21, 25-28,

34,35; At 3:11-26);

41

Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p

47.

42 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, p 86. 43 Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 136, 137.

Page 24: Estudo sobre as Escrituras

24

Nem Jesus, nem os profetas do Antigo Testamento, e nem os apóstolos,

ensinaram que os crentes devem buscar a vontade de Deus, ou conhecer a Deus

buscando informações em outras fontes que não as Escrituras. Os crentes são

encorajados a ler as Escrituras e encontrar nelas o que precisam para sua vida

espiritual (1Co 10:1-13; Rm 15:4; 2Tm 3:15-17; Gl 1:6-9)

Base Confessional

A Confissão de Fé de Westminster Capítulo I, Seção VI, fala sobre a

Suficiência das Escrituras nos seguintes termos:

―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a

glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente

declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À

Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser

necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora

compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias,

quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades

humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência

cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖

(2Tm. 3:15-17; Gl. 1:8; 2Ts. 2:2; Jo 6:45; 1Cor. 2:9, 10, l2; 1Cor. 11:13-14)

Aplicações Práticas

1. Sobre a Confissão de Fé de Westminster capítulo I, Seção VI falando acerca

da Suficiência da Escritura:

―Duas questões estão por detrás desta afirmação: primeiro, a posição

de Roma em reclamar a autoridade da Igreja em matéria de fé e vida;

segundo, a tendência dos anabatistas de citar novas revelações do Espírito como algo normativo da fé e comportamento cristãos. A

implicação desta afirmação para o fenômeno carismático moderno

dificilmente poderia ser mais relevante. Reivindicações de revelações

diretas e imediatas do Espírito não têm lugar no pensamento dos

teólogos de Westminster.‖44

44 Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998, p

20.

Page 25: Estudo sobre as Escrituras

25

2. Não se deve esperar uma nova revelação:

―Porque, enquanto que o Velho Testamento prediz a nova

dispensação, o Novo Testamento não faz referência a alguma

revelação adicional a ser esperada antes do segundo advento de Cristo:

eles sempre se referem à ‗vinda‘ ou ‗aparecimento‘ de Cristo como o

próximo evento supernatural a ser antecipado.‖45

3. O que dizer das predições que se realizam?

―Nosso parâmetro e base de doutrina não é a experiência. É bom

lembrar, por exemplo, o que nos adverte Deuteronômio 13:1-5... Ou

seja, o milagre e a predição podem até acontecer, mas se a doutrina

não está de acordo com a Palavra de Deus não serve. Lembre-se que

Deus nos prova!‖46

4. E quanto a busca por direção divina? A doutrina da Suficiência não nos limita

demais?

―A verdade da suficiência das Escrituras é de grande importância para

nossa vida cristã, pois nos permite concentrar a busca das palavras de Deus para nós somente na Bíblia, poupando-nos a infindável tarefa de

vasculhar todos os textos de cristãos ao longo da história, ou todos os

ensinamentos da igreja, ou todos os subjetivos sentimentos e

impressões que nos vêm à mente no dia-a-dia, para descobrir o que

Deus exige de nós.‖47

5. É dever cristão estudar a Bíblia para conhecer o que Deus nos revelou (Dt

29:29) ao invés de procurar noutras fontes de revelação:

―A suficiência das Escrituras deve-nos incentivar a tentar descobrir

aquilo que Deus quer que pensemos (sobre uma questão doutrinária específica) e façamos (numa dada situação). Devemos nos convencer

de que tudo o que Deus quer nos dizer sobre essa questão se encontra

nas Escrituras.‖48

45 A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo,

Os Puritanos. p 65. 46 Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?

São Paulo, Os Puritanos, 1998, p 49, 50. 47 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 87. 48 Ibid, p 89.

Page 26: Estudo sobre as Escrituras

26

6. Tudo que Deus requer de nós está nas Escrituras, portanto, nenhuma suposta

revelação pode nos obrigar a consciência a obedecer:

―Deus nada exige de nós que não esteja determinado explícita ou

implicitamente nas Escrituras. Isso nos lembra que nossa busca da

vontade de Deus deve-se concentrar nas Escrituras, ou seja, não

devemos buscar orientação pelas orações que peçam alteração das

circunstâncias ou dos sentimentos, ou ainda orientação direta do

Espírito Santo fora das Escrituras. Também significa que se alguém

alega ter recebido uma mensagem de Deus que nos diga o que devemos fazer, jamais precisamos supor que é pecado desobedecer a

essa mensagem a menos que possa ser confirmada pela aplicação da

própria Bíblia à nossa situação.‖49

7. O que dizer do direcionamento divino no interior do crente? Deus não nos

direciona desta forma?

―Deus pode usar e de fato usa impressões subjetivas da sua vontade

para nos lembrar e encorajar, e muitas vezes encaminha os nossos

pensamentos na direção correta nas muitas decisões rápidas que

tomamos ao logo do dia – e são as próprias Escrituras que nos falam sobre esses fatores subjetivos na orientação (ver At 16:6-7; Rm 8:9,

14, 16; Gl 5:16-18, 25). Todavia, esses versículos sobre a suficiência

das Escrituras nos ensinam que tais impressões subjetivas só podem

nos lembrar alguns parâmetros morais que já estão nas Escrituras, ou

trazer à mente fatos que (pelo menos em teoria) poderíamos ter

conhecido ou que até já conhecíamos; jamais poderão acrescentar

alguma coisa aos mandamentos das Escrituras, nem substituir a Bíblia

na determinação da vontade de Deus, tampouco se igualar às

Escrituras em termos de autoridade na nossa vida.‖50

8. Deus usou os profetas e os apóstolos para entregar a sua revelação ao seu povo. Não existindo mais o ofício profético, e tendo morrido os apóstolos, não existe

mais revelações que possamos afirmar que são ―a Palavra de Deus‖ para nossa

vida.

9. Muitos que receberam uma ―suposta nova revelação‖ do Espírito acabaram por

encaminhar-se em heresias absurdas. Vejamos os seguintes exemplos:

49 Ibid, p 92. 50 Ibid, p 93.

Page 27: Estudo sobre as Escrituras

27

―Benny Himm começou a ensinar que a trindade não eram três

pessoas distintas, e sim nove, porque recebeu isto por ―revelação‖.

Joseph Smith deixou sua Igreja e negou toda a sua fé iniciando o

mormonismo, também por uma revelação. O adventismo se envolveu

num emaranhado de confusão doutrinária por aceitar as revelações de

Hellen White como inspiradas.‖51

10. Devem-se ter critérios quantos às experiências pessoais. Elas devem servir para

o bem, e não para o mal. Conquanto possa ser geradora de um sentimento

grandioso de bem estar, ou alegria, ou edificação, ou paz... Ainda assim a experiência deve ser avaliada segundo as doutrinas da Bíblia. O único lugar

onde temos a certeza de termos a Palavra de Deus Inerrante são nas Escrituras,

e por isto, tudo deve ser avaliado por meio desta palavra confiável. Tudo o

mais é subjugado por sua Autoridade:

―As pessoas querem formar suas convicções a partir das experiências

que tiveram. Não estou negando que coisas extraordinárias acontecem,

mas não posso, de sã consciência, diante de Deus, firmar minha

doutrina em experiências, nem mesmo nas minhas próprias, quanto

mais nas dos outros‖.52

11. As ―novas revelações‖ podem se tornar um laço perigoso na vida espiritual do

cristão:

―Outros há que falam em revelações de um modo exagerado. Para eles

tudo é entendido da seguinte maneira: ―Deus me revela‖, ―eu não fui

revelado‖, ―estou aguardando uma revelação‖, etc. São pessoas que

acham que para tudo que se vai fazer ou deixar de fazer é preciso ‗ser

revelado‘.‖53

12. Quem vive à procura de pessoas que lhe revelem algo de Deus para ela, na

verdade não entende que se torna dependente de uma outra pessoa, e não da Palavra Sagrada. É como se Deus só se comunicasse por meio daquela pessoa

(um tipo de mediador):

―Há indivíduos fracos na fé que ficam à procura de pessoas que se

dizem estar recebendo revelações e fluídos divinos... Alguns partem

51

Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?,

p 27.

52 Ibid, p 29. 53 Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII.

Manhumirim, jan/96, p 13.

Page 28: Estudo sobre as Escrituras

28

para as consultas espirituais, o que mais se parece com agourice,

consulta a videntes e a ciganos‖.54

13. As ―novas revelações‖ na verdade podem ser simplesmente fruto de uma

mente problemática ou ingênua:

―Mas, outras experiências tidas como revelações extraordinárias, que

não passam de sonhos ou alucinações, não produzem benefícios

espirituais e nem podem auxiliar na santidade cristã, pois geram

confusões teológicas e doutrinárias.‖55

14. Ainda que Deus se comunique extrabíblia, não seria uma ―nova revelação‖

acrescentando ou modificando o que já está escrito canonicamente.Devemos

nos lembrar que este modo de revelação acontecia com os profetas e apóstolos,

e não há garantia de que aconteça conosco. Além disto, ainda que aconteça

com alguém hoje, não será o modo ordinário de comunicação divina a nós.

15. Podemos ver quatro possibilidades das origens das ―novas revelações‖

recebidas por pessoas da igreja:

Mentira – Há os que mentem de maneira consciente e deliberada, dizendo que ―o Senhor revelou‖, quando sabem que nada aconteceu.

Jeremias, o profeta, já expressou a reprovação divina aos que

procedem assim (Jr 23:25-26);

Problemas psicológicos – Há também os que, por falta de saúde

emocional e mental, têm experiências místicas, que são comunicadas

como sendo de origem divina. O pior é que quase sempre estas

pessoas, apesar dos problemas psicológicos, conseguem arrebanhar

muitos seguidores;

Fraude satânica – O diabo, que pode disfarçar-se até de anjo de luz

(2Co 11:14) engana os desavisados, dando-lhes revelações, que têm

aparência boa, mas conteúdo maligno.56

Deus – Deus pode até se comunicar com um filho dEle hoje em dia de

modo extrabíblico! Porém, devemos levar sempre em consideração:

1- Que este não é o modo comum de Deus se comunicar conosco nos dias

de hoje;

54 Ibid, p 14. 55 Ibid, p 15. 56 Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII.

Manhumirim, jan/96, p 29.

Page 29: Estudo sobre as Escrituras

29

2- Que não é prometido pelas Escrituras que este tipo de experiência vá

acontecer conosco;

3- Que a comunicação direta do Senhor é totalmente dispensável para

nossa vida em comunhão com Deus;

4- Que este tipo de comunicação nunca contrariará as verdades já

reveladas na Bíblia;

5- Que este tipo de comunicação com Deus não é incentivada por nenhum

escritor bíblico;

6- Que este tipo de comunicação não nos dá certeza exata da vontade de

Deus (ou do que Ele nos comunicou por meio desta comunicação direta. A

Bíblia é inspirada, mas estas comunicações?); E nem mesmo nos dá

certeza de que seja realmente Deus que está se comunicando conosco.

Conclusão

Uma verdade deve ser aprendida por todos os cristãos: A Revelação Especial

de Deus está encerrada nas Escrituras, não porque os homens, ou a Igreja, assim o

determina arbitrariamente, mas sim porque elas mesmas confirmam isto.

Page 30: Estudo sobre as Escrituras

30

CÂNON DAS ESCRITURAS

Introdução

Temos estudado que Deus resolveu dar-se a conhecer aos homens por meio da

revelação especial, e que esta se encontra principalmente nas Escritas Sagradas, onde ficaram registradas. Contudo, não adiantaria entregar aos homens a Sua revelação

especial, se no final das contas eles não pudessem saber quais são os registros

inspirados e quais não são!

Por isto Deus mesmo providencia, por meio dos homens, o ajuntamento destes

escritos inspirados em uma só coleção, a fim de que todos saibam quais os livros que

possui a revelação inspirada do Senhor.

Conceituação da expressão “cânon bíblico”

Às vezes muitos cristãos falam do cânon, mas não entendem muito bem o que

significa. Para que possamos compreender bem o assunto do Cânon das Escrituras é

preciso entender primeiro o que significa esta expressão, para depois prosseguirmos

com as demais questões relacionadas com este assunto. Abaixo nós damos três

explicações referentes à palavra cânon a fim esclarecer melhor o assunto do qual

estamos falando:

1. ―A palavra ―cânon‖ deriva do grego Kanon, que significa ―cana‖, portanto uma vara ou barra, que, por serem utilizadas em medições, passaram a significar

metaforicamente um padrão‖.57

2. ―O vocábulo grego kanõn, que é de origem semítica (cf o hebraico qãneh, em

Ez 40:3, etc.), originalmente significava instrumento de medir, para mais tarde

ser empregado no sentido metafórico de ‗regra de ação‘ semelhantemente...

Não foi senão nos meados do quarto século de nossa era que o termo parece ter

sido aplicado à Bíblia. No uso grego, a palavra ‗cânon‘ parece ter

primeiramente denotado apenas a lista de escritos sagrados, mas no latim,

também se tornou nome para as próprias Escrituras, o que indicava que as

Escrituras são a regra de ação investida com autoridade divina‖.58

57 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida

Nova, 1984, p 427. 58 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 246, 247.

Page 31: Estudo sobre as Escrituras

31

3. ―Kanõn também significa regra ou padrão: daí, um sentido secundário da

palavra ‗cânon‘ é a lista de livros que a Igreja reconhece como Escrituras

inspiradas, a norma da fé e da prática‖.59

Como podemos ver nestas explicações acima, o cânon é a coleção de livros que

a Igreja reconhece como revelação inspirada de Deus ao seu povo. E, portanto, quando

falamos em canonização de livros escritos, isto significa ―ser oficialmente reconhecido

como guia ou regra autorizada em matéria de fé ou de prática.‖60 Estes livros

canonizados portanto, são completamente diferentes dos demais livros que os homens

podem escrever.

A atitude da Igreja na formação do cânon

Bom, que Deus entregou uma revelação e fez homens escreveram de modo

inspirado nós já sabemos. Mas como foi que se deu o processo de canonização. Ou seja, como foram separados os livros inspirados daqueles que não procediam de inspiração

divina? Em primeiro lugar devemos entender que não foi a Igreja que escolheu os livros

que seriam inspirados ou não. A igreja não poderia ―determinar‖ a inspiração de um

livro:

―...nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade

ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em

que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceram certos livros como

Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram

colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.‖61

E ainda:

―A Igreja não determinou o cânon; reconheceu o cânon. No sentido mais

amplo, nenhum concílio eclesiástico poderia criar um cânon, se a inspiração é a

qualidade essencial da canonicidade, porque nenhum grupo ou concílio poderia

insuflar inspiração em obras já existentes. Tudo quanto os concílios podiam

fazer era dar a sua opinião acerca dos livros que eram canônicos e dos que o

não eram e, depois, deixar que a história justificasse ou invalidasse o seu

veredito.‖62

59 J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 255. 60 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83. 61 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, 1994, p 1651. 62 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida

Nova, 1984, p 432.

Page 32: Estudo sobre as Escrituras

32

Observemos também:

―Há diferença entre a canonicidade de um livro da Bíblia e sua autoridade. Um

livro deve conter autoridade divina, por causa de sua inspiração divina, antes

de ser qualificado para canonização. O livro não recebeu autoridade porque a

Igreja decidiu incluí-lo na lista sagrada, mas porque a mesma reconheceu os

livros que deram evidência de conter autoridade divina em virtude de sua

inspiração divina.‖63

E mesmo a respeito daqueles livros do Novo Testamento que ficaram algum tempo sob disputa entre as igrejas, no sentido de reconhecerem sua inspiração, no final,

não foi a Igreja, ou concílio, ou qualquer pessoa, que impôs neles a autoridade como

revelação divina:

―O cânon, portanto, não é produto do critério arbitrário de qualquer pessoa,

nem foi determinado por voto conciliar. Resultou do emprego dos vários

escritos que provavam o seu mérito e a sua unidade pelo seu dinamismo

interno. Alguns foram reconhecidos mais lentamente do que outros devido ao

seu pouco tamanho, ou devido ao caráter remoto ou particular do seu destino

ou à anonimidade de autoria, ou devido ainda a aparente falta de aplicabilidade

a necessidades eclesiásticas imediatas. Nenhum destes fatores milita contra a inspiração de qualquer destes livros ou contra o seu direito de ter um lugar na

palavra autorizada de Deus.‖64

Portanto, a Igreja simplesmente, foi guiada pelo Espírito em todo este processo.

Ou dizendo de outra forma, não foi trabalho do Espírito somente capacitar os escritores

a escreverem um material inspirado, mas foi seu trabalho também ―guiar os homens no

reconhecimento dos escritos inspirados.‖65 Caso contrário, como poderíamos ter a

convicção de que estes livros realmente são os que Deus inspirou? Assim como é seguro

afirmar que os livros são inspirados, podemos confiar que o Espírito da verdade guiou

os servos de Deus neste trabalho tão importante. Ora, quem mais estava interessado que

tivéssemos os livros genuinamente inspirados era o próprio Deus:

―Os livros do Antigo Testamento, tal como aqueles do Novo, foram inspirados

por Deus. Mas o Espírito Santo também operou nos corações do povo de Deus,

a tal ponto que vieram a aceitar esses livros como a Palavra de Deus e

submeteram-se à sua autoridade divina. A ‗providência singular‘ de Deus se

estendeu à origem dos livros separados, como também à sua coleção... Quando

63 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83. 64 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida

Nova, 1984, p 440. 65 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 84.

Page 33: Estudo sobre as Escrituras

33

Deus pôs o Cânon em existência, usou homens como Seus instrumentos; ações

humanas e reflexões humanas realizaram suas funções no processo inteiro.‖66

Resumindo, o processo de canonização não foi realizado por meio da

autoridade da Igreja determinando quais livros eram inspirados, pelo contrário, foi

realizado por meio da ação do Espírito Santo guiando a Igreja a reconhecer os livros que

possuíam autoridade sobre ela.

Regras utilizadas para o estabelecimento do cânon

Como todo processo de escolhas, a Igreja utilizou alguns ―requisitos‖ ou

―regras‖ a fim de comprovar a inspiração dos livros escritos. Dentre estes testes

utilizados podemos citar os seguintes:

1. Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em

Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria ter sido escrito ou

influenciado por um apóstolo para ser reconhecido.

2. Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter

peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se

demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro por

comunicar a revelação de Deus.

3. O veredicto das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era

importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as

primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados.

Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi

questionada por um número grande de igrejas veio a ser aceito

posteriormente como parte do cânon.67

Mais não foram somente estas regras que auxiliaram no processo de formação

do cânon. Há igualmente outras questões que ajudaram neste trabalho importante da

Igreja. Além destas ―regras‖ a Igreja pôde ainda utilizar as seguintes provas para

explicar o reconhecimento dos livros autorizados por Deus (inspirados), e

conseqüentemente fazer a delimitação canônica: O testemunho dos judeus, o

testemunho de Jesus, o testemunho dos apóstolos. Vejamos abaixo:

66 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 247. 67 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, 1994, p 1651.

Page 34: Estudo sobre as Escrituras

34

―Referências nos escritos de Flávio Josefo (95 A.D.) e em 2Esdras 14

(100 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testamento como

os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de

Jamnia (70-100 A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor

delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento

quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os

profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O

relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se

acha em 2Crônicas 24:20-21, que é o último livro na disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Para nós, é como se

Jesus tivesse dito: ―Sua culpa está registrada e toda a Bíblia – de

Gênesis a Malaquias‖. Ele não incluiu qualquer dos livros apócrifos

que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes de

outros mártires israelitas.‖68

―Os doze livros apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos

pelos judeus ou por nosso Senhor no mesmo nível de autoridade dos

livros canônicos. Eles eram respeitados, mas não foram considerados

como Escritura.‖69

―Sobre a autoridade do Novo Testamento, podemos assumir que durante o ministério do Senhor Jesus, e quando os livros do Novo

Testamento estavam surgindo, o Antigo Testamento já existia como

uma coleção completa, à qual era atribuída autoridade divina. O

Antigo Testamento é repetidas vezes referido como ‗as escrituras‘ (Mt

26:54; Jo 5:39; At 17:2; etc.), indicando que o Antigo Testamento era

uma coleção bem conhecida de escritos, formando uma unidade. Isto

se aplica igualmente à expressão ‗a Escritura‘ que algumas vezes

denota uma passagem definida (Lc 4:21; Jo 13:18, etc) mas que mais

de uma vez aponta para o Antigo Testamento como um todo (Jo 2:22;

At 8:32; etc.). Dificilmente se torna necessário provar que era

atribuída autoridade divina a ‗as Escrituras‘ ou a ‗a Escritura‘ (vd Mt 1:22; 5:18; Jo 10:35; At 1:16, etc.).‖70

68 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, 1994, p 1651. 69 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,

Mundo Cristão, 1994, p 1652. 70 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 251.

Page 35: Estudo sobre as Escrituras

35

Oficialização do cânon

Em relação ao cânon do Antigo Testamento nós não precisamos nos deter muito, pois que, tanto Jesus, quanto os apóstolos, não apoiavam livros diferentes

daqueles que hoje possuímos no cânon do Antigo Testamento. E, igualmente, os

reformadores se apegaram aos mesmos livros que eles:

―Por volta do século IV surgiu uma ruptura entre o costume popular nas igrejas

do Ocidente e a opinião dos estudiosos como Jerônimo. As igrejas

empregavam os livros apócrifos na versão do Antigo Testamento, tomados dos

códices da Septuaginta. Mesmo o concílio de Hipona em 393 d.C.,

influenciado por Agostinho, mais tarde bispo daquela cidade do norte da

África, não optou por fazer distinção entre escritos canônicos e eclesiásticos

(ou apócrifos) do Antigo Testamento. Por outro lado, as igrejas ocidentais da

Ásia Menor, Palestina e Egito tendiam a manter o cânon judaico mais limitado. Foi por esse cânon mais limitado que optaram os reformadores no século XVI,

enquanto a Igreja Católica Romana endossou a concepção mais abrangente do

cânon no Concílio de Trento em 1546.‖71

E também:

― O fato principal é que, seguindo Cristo e os apóstolos, a Igreja, desde o

próprio início, tem aceito como canônicos os mesmos trinta e nove livros do

Antigo Testamento contidos em nossa enumeração... Os reformadores

reverteram ao Cânon hebraico, ou, para expressar melhor a verdade, ao Cânon

de Cristo e dos apóstolos.‖72

No que diz respeito ao cânon do Novo Testamento, nós vemos que os livros

foram sendo escritos, e, depois, colecionados como material reconhecidamente

inspirado. Contudo, somente depois de alguns séculos é que podemos ver uma definição

oficial dos livros canônicos:

―O Terceiro Concílio de Cartago, em 397, emitiu um decreto semelhante ao do

Sínodo de Laodicéia, e apresentou uma lista de escritos idêntica à dos 27 livros

do atual Novo Testamento.‖73

71 William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo

Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 657. 72 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 253, 254. 73 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida

Nova, 1984, p 437.

Page 36: Estudo sobre as Escrituras

36

E ainda:

―O quarto século viu a fixação do Cânon dentro dos limites a que estamos

acostumados, tanto no setor Ocidental como no Oriental da Cristandade. No

Oriente o ponto definitivo é a Trigésima nona Carta Pascal de Atanásio, em

367 D.C. Aqui encontramos pela primeira vez um Novo Testamento de limites

exatos, conforme nós o conhecemos... No Ocidente o Cânon foi fixado por

decisão de concílio, em Cartago, no ano de 397 D.C.‖74

Base Confessional

Voltemo-nos agora pra o que declara a Confissão de Fé de Westminster a

respeito da questão do cânon. Em seu Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA, ela

declara o seguinte:

Seção II. ―Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita,

incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os

seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e

prática‖:

O VELHO TESTAMENTO: (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,

Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis,

I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó,Salmos, Provérbios,

Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel,

Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque,

Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos,

I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,

I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemon,

Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse.

Seção III - ―Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração

divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade

da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados

senão como escritos humanos.‖

Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas

necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido

dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas

74 J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 259.

Page 37: Estudo sobre as Escrituras

37

revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos,

entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a

salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas

circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às

ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza

e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem

ser observadas.‖

Seção VIII – ―O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo

povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados

imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados

puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as

controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo

tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus,

que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e

estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as

nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas

abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança

pela paciência e conforto das escrituras.‖

O cânon da Igreja Católica Apostólica Romana

A Igreja Católica Apostólica Romana possui um cânon diferente dos

protestantes. Ela aceita como canônicos alguns livros judeus, os quais são considerados

pelos protestantes como não inspirados. Abaixo citamos uma explicação acerca dos textos adicionais da Igreja Católica:

―... a Igreja Católica Romana finalmente decretou, em 1546, no concílio de

Trento, que os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2

Macabeus, também fossem aceitos como canônicos. Nesse ponto deve ser

notado que a Igreja Católica Romana também aceita como canônicas as

adições aos livros de Ester, Baruque (‗a carta de Jeremias‘), e Daniel (‗a

oração de Azarias‘, ‗o cântico dos três hebreus‘, ‗a história de Susana‘ e ‗ Bel e

o Dragão‖). Na edição oficial da Vulgata Latina, que havia sido decidida pelo

concílio de Trento, mas que não foi publicada senão em 1592, os livros de 1 e 2

Esdras, e a Oração de Manassés, também foram inseridos, mas após o Novo

Testamento.‖75

75 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.

Page 38: Estudo sobre as Escrituras

38

Todos estes textos não inspirados os protestantes rejeitam que sejam aceitos

como Palavra de Deus. E, ―aquilo que foi incluído na Vulgata, em adição aos livros do

Cânon hebraico, é o que os Protestantes usualmente chamam de ‗livros apócrifos‘.‖76

76 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.

Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.

Page 39: Estudo sobre as Escrituras

39

ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

Tendo aprendido que Deus revelou sua vontade ao homem por meio da

Revelação Especial, e garantiu o registro fiel desta revelação por meio da Inspiração, precisamos entender agora que de nada adiantaria a Revelação e a Inspiração se não

houvesse a obra de Iluminação. A obra de Iluminação fecha o ciclo da comunicação de

Deus com o homem. Ou seja, a obra de Revelação só consegue atingir seu alvo quando

ocorre a obra de Iluminação no coração do homem. Ela depende inteiramente da obra de

Iluminação.

Conceito de Iluminação

1. ―Iluminação é a atuação de Deus na mente e no coração do homem, através do

Espírito Santo, capacitando-o para compreender o ensino da Bíblia Sagrada.‖ 77

2. ―A doutrina da iluminação relaciona-se com aquele ministério do Espírito

Santo que ajuda o crente a compreender a verdade das Escrituras... a

iluminação refere-se ao ministério do Espírito mediante o qual o significado

das Escrituras é tornado claro ao crente. O homem não-regenerado não pode

experimentar este ministério de iluminação, porque está cego diante da verdade

de Deus (1Co2:14)... o Espírito é a conexão direta entre a mente de Deus, conforme revelada nas Escrituras, e a mente do crente que procura entender as

Escrituras.‖78

3. ―A obra do Espírito Santo em comunicar essa compreensão, é chamada de

―iluminação‖ ou esclarecimento. Não é uma nova revelação, mas uma obra

dentro de nós, que nos capacita a compreender e a afirmar a revelação da

Bíblia, quando é lida, pregada e ensinada. O pecado obscurece nossa mente

e vontade, de modo que perdemos e resistimos à força das Escrituras. O

Espírito, contudo, abre e desanuvia nossa mente e põe o nosso coração em

sintonia, de modo a podermos entender aquilo que Deus tem revelado (2Co

3:14-16; 4.6; Ef 1:17-18; 3:18-19). Iluminação é a aplicação da verdade

77 Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP,

2001, p 24. 78 C. C. Ryrie, “Iluminação” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã.

Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 305.

Page 40: Estudo sobre as Escrituras

40

revelada de Deus ao nosso coração, de modo que nós passamos a entender

como realidade para nós o que o texto sagrado revela.‖79

Quando falamos em Iluminação do Espírito para compreensão das Escrituras

não estamos afirmando que o crente ―entenderá a mensagem da Escritura sem que

necessite interpretar os textos‖. A Iluminação é absolutamente necessária para todos os

crentes entenderem a Bíblia - a Revelação de Deus. ―A iluminação, contudo, não

dispensa o esforço sério e piedoso para se compreender corretamente a palavra de Deus.

A Bíblia Sagrada deve ser lida e interpretada.‖80 Em outras palavras, para

compreendermos as verdades bíblicas necessitamos tanto de interpretação humana quanto de Iluminação divina.

Base Bíblica da doutrina da Iluminação

A doutrina da Iluminação pode ser facilmente encontrada nos seguintes textos bíblicos:

(Ef 1:17-19) Paulo deseja que os efésios entendam verdades

espirituais. E para isto, deveriam ser iluminados em seus corações;

(1Co 2:14) Paulo diz que o homem natural (o descrente) não aceita as

verdades vindas do Espírito Santo porque não entende. Diferente do

homem regenerado, que tem discernimento espiritual.

Base Confessional:

Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):

Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas

necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é

expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente

deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos,

entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a

salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas

circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às

ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da

natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que

sempre devem ser observadas.‖

79 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica

do Brasil, 1999, p 1348. 80 Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP,

2001, p 25.

Page 41: Estudo sobre as Escrituras

41

A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS

Introdução

É verdade que toda denominação possui o seu conjunto de doutrinas, e às vezes

ocorrem diferenças grandes entre umas e outras. Mas se a Bíblia é uma só, porque tantas diferenças? A razão que traz à tona tantas diferenças de doutrinas é a interpretação dos

textos da Escritura. Mas este fato não é novo, já desde os tempos de Jesus havia

diferentes interpretações das Escrituras (Lc 10:26; Mt 22:23; 5:21, 27, 33, 38, 43; At

23:6-8).

Hoje em dia temos a mesma situação, onde os grupos religiosos, ainda que

todos igualmente evangélicos, se dividem devido às interpretações. Mas como saber

qual a interpretação correta? Existe um modo de interpretação correta ou todos estão

corretos? Na verdade é impossível que tenhamos dois modos de interpretar os textos

bíblicos, e os dois estejam corretos no resultado. Forçosamente um estará errado!

Visto que a interpretação da Bíblia é um assunto de suma importância, pois é a

partir da interpretação que vamos obter nossas doutrinas, e visto que a Reforma protestante sempre afirmou o direito ao livre exame das Escrituras por parte de todo

cristão, devemos então aprender um pouco das regras de interpretação da Bíblia por

pelo menos duas razões: 1º- Podermos utilizar estas regras em nosso cotidiano quando

estudamos as Escrituras; 2º- Ao sermos ensinados acerca de algum ponto doutrinário

podermos confirmar sua veracidade.

Interpretação das Escrituras

A esta altura é preciso esclarecer que não veremos todas as regras de

interpretação que existe, porém, veremos algumas fundamentais. Aprenderemos

algumas ―regras gerais de interpretação‖, as quais devem ser consideradas e utilizadas

em qualquer texto bíblico. Ou seja, estas regras procuram abranger a interpretação de

todos os tipos de textos da Bíblia – do Antigo ou do Novo Testamento. São elas:

1. Em nossa Confissão de Fé de Westminster no Capítulo I - DA ESCRITURA

SAGRADA em sua Seção IX, temos uma declaração acerca da interpretação

das Escrituras. Vejamos o que ela afirma: “A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o

verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é

múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros

textos que falem mais claramente.” Este texto da Confissão de Fé nos aponta

dois princípios elementares de interpretação: 1- A interpretação das Escrituras

se deve a ela mesma. Ou seja, ninguém deve dizer o significado dos textos,

quem faz isto é a própria Escritura através de outros textos dela mesma. Sendo

Page 42: Estudo sobre as Escrituras

42

assim, o sentido de um texto está clarificado e explicado em outro texto; 2- Os

textos da Escritura não possuem vários sentidos, mas somente um sentido;

2. O sentido do texto deve ser sempre aquilo que o autor quis dizer. Como

pensava o reformador João Calvino: ―A primeira função de um intérprete é

deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que

ele deveria dizer.‖81

3. O texto deve ser lido em seu sentido literal, a não ser que demonstre suficiente

evidência, em si mesmo, de que deva ser interpretado de modo figurado ou

simbólico;

4. Todo texto deve ser interpretado de acordo com o assunto a ser tratado no seu contexto. Não devemos interpretar um texto falando de um assunto teológico

do qual o texto não fala;

5. Discernir bem o que é prescritivo e o que é descritivo nas Escrituras a fim de

saber o que é obrigatório a nós e o que não é obrigatório mas foi apenas

referido. Se um texto não é prescritivo, mas apenas descritivo, então não

podemos utilizá-lo com uma ordem, ou como uma norma;

6. ―As doutrinas não devem ser baseadas em um ou mesmo em poucos versos que

possuam sentidos obscuros.‖82

7. As doutrinas das Escrituras não podem contradizer-se. Sendo assim, se alguém

interpreta um texto de forma a confrontar outra doutrina, o intérprete deve

então procurar onde errou em sua interpretação; 8. O conteúdo da revelação bíblica veio de forma progressiva, portanto, devemos

respeitar o contexto revelacional de cada texto;

9. Na interpretação devemos diferir entre o que é contradição e o que é paradoxo.

Paradoxos existem nasa Escrituras, contradições não;

10. Deve o intérprete estar atento ao uso de símbolos e tipos nas Escrituras. Ao se

deparar com eles, o intérprete deve considerar a explicação que a própria

Escritura faz deles, e não, conceder sua própria explicação ou interpretação

particular;

11. Ao interpretar as parábolas devemos compreender que elas só intencionam

uma única lição. O intérprete deve levar em conta o público-alvo da parábola, a

cultura da época, o contexto histórico em que foi proferida a parábola, e as demais regras de interpretação citadas acima.

Um modo mais resumido de explicar as regras de interpretação das igrejas

reformadas é dizer a designação deste método. Ele é chamado de método de

interpretação histórico-gramatical. Ou seja, é o modo de interpretação que leva em

consideração a história e a gramática. A- Com o termo histórico, queremos dizer que o

intérprete leva em consideração a cultura, contexto histórico dos ouvintes e do escritor,

81 Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p

26. 82 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 188.

Page 43: Estudo sobre as Escrituras

43

geografia, situação política, situação religiosa...; B- Com o termo gramatical, queremos

dizer que o intérprete leva em consideração o significado das palavras, contexto das

palavras, sintaxe, figuras de linguagem...

Este é o método correto de se interpretar as Escrituras segundo o pensamento

reformado. Todos os demais métodos de interpretação são falhos e redundarão em

doutrinas distorcidas.

Page 44: Estudo sobre as Escrituras

44

A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS

Introdução

Bom, em lição anterior já expomos a existência de um cânon sagrado, chega

agora o momento de demonstrar como estes livros estão relacionados uns com os outros. A Escritura possui um tema central, um assunto que abrange todos os sub-temas.

Nosso trabalho neste momento é aprender a compreender como esta mensagem central

está disposta em toda a revelação.

As Escrituras possuem uma coleção de sessenta e seis livros, dos quais 39

formam o Antigo Testamento e 27 formam o Novo Testamento. Apesar de se encontrar

nestes livros uma diversidade enorme de histórias e assuntos, é bem verdade também

que é possível tirar de todos eles um único tema central. Lembremos que as Escrituras

são a Revelação Especial de Deus que visa nos mostrar sua Pessoa e sua Vontade. A

Bíblia não traz informações soltas e sem sentido a cerca do Criador divino. Ela é

harmoniosa em seu conteúdo de tal forma que constitui uma ―rede interligada de

informações‖. O que isto quer dizer? Quer dizer que todos os assuntos tratados nos sessenta e seis livros estão de alguma forma conectados a um tema central. Podemos

comparar o conteúdo com uma árvore. Ainda que nem todas as informações constituam

o ―tronco desta árvore‖ (ou seja, a essência do tema central), elas são como os ―ramos

inseparáveis‖ deste tema.

Revelação Progressiva

Para que entendamos a estrutura das Escrituras precisamos estar a par de que

ela foi formada por meio de um progresso de revelação, e não por um ato de revelação.

Certamente as Escrituras trazem uma diversidade de assuntos interligados, contudo, não

implica que todos eles foram revelados em um único momento.

A Escritura foi escrita durante um período longo de tempo – cerca de 1.500

anos. Deus foi entregando sua Revelação Especial aos poucos, e não tudo de uma só

vez. Não revelou tudo definitivamente em um só momento, mas esclareceu muitas de

suas doutrinas lentamente, com o passar do tempo. É o que chamamos de

―progressividade da Revelação‖.

Deus só acabou de entregar a Revelação Especial com o último livro Inspirado que foi o Apocalipse. Isto quer dizer que ainda que certos assuntos fossem tratados

desde muito cedo na Revelação Especial, alguns deles só tiveram seu desfecho

revelacional no final do processo de Inspiração. Contudo, visto que já estamos com a

Revelação completa, podemos observar com clareza qual o tema central das Escrituras a

fim de compreendê-las melhor.

Page 45: Estudo sobre as Escrituras

45

Tema Central das Escrituras

Apesar de a Bíblia não ser um só livro, ela possui uma só mensagem. Mas que mensagem é esta? Para um leitor inexperiente, ela poderá estar falando de vários

assuntos, vários acontecimentos, várias personagens... E por fim ele não compreender

qual mensagem constitui o seu tema central. É bem verdade que na Bíblia encontramos

várias histórias e personagens. Vários assuntos e conceitos. Mas todos eles fazem parte

de uma única história denominada História da Salvação.

Todas as histórias, assuntos e conceitos dentro da Escritura têm sua função e

propósito dentro da História da Salvação. Bom, todos eles são parte da História da

Salvação, mas onde fica o tema central das Escrituras? É simples. Em resumo podemos

dizer que: A Bíblia contém vários personagens, várias histórias, vários conceitos,

vários assuntos; sendo que todos eles fazem parte de uma única história chamada

História da Salvação. Esta História da Salvação por sua vez é desenvolvida na Bíblia

por causa do tema central de que a Bíblia trata. O tema central da Bíblia é o da Aliança de Deus com um povo escolhido por ele.

O tema "Aliança" no Antigo Testamento pode ser resumido na seguinte frase

dita pelo próprio Deus: “Eu serei o seu Deus, e vós sereis o meu povo”. Toda a História

da Salvação vai ser conduzida tendo esta idéia como ‗pano de fundo‘. Não que

desprezemos os outros temas presentes, mas sim, que este tema da Aliança é o seu foco

principal. Os outros temas e assuntos encontrados na Bíblia são como ―galhos que

brotam deste tema central‖. Todos eles estão interligados. Tanto o ―tema central‖ só é

totalmente compreendido por meio dos ―temas secundários‖, como também os ―temas

secundários‖ só são compreendidos tendo o ―tema central‖ como pano de fundo.

Definido o tema central - ―Aliança de Deus com seu povo‖ - que abre nosso

entendimento sobre o conteúdo total das Escrituras, precisamos esclarecer melhor a idéia contida na palavra "Aliança". A Aliança na Bíblia é a escolha divina de um povo

para seguir seus mandamentos servindo-o (Gn 12:1-3; Ex 3:7-10; Dt 6:1-5). O amor é a

causa desta escolha (Dt 4:37; 10:14-15; 7:7-8; 9:4-6; 10:15; 23:5); e ―o propósito real da

Aliança consiste na intenção de Deus de formar um povo propriamente seu.‖83

As Duas Alianças Bíblicas Centrais

Os teólogos dividem o tema central da Aliança na Bíblia em duas alianças

principais (ou pactos): O Pacto das Obras (Aliança das Obras) e o Pacto da Graça

(Aliança da Graça).

O Pacto das Obras diz respeito ao tempo em que Adão viveu antes do pecado.

Neste Pacto o homem estava condicionado a ter vida eterna somente se obedecesse à

ordem do Criador de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:16,

17; 3:1-24).

83 O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997, p

44.

Page 46: Estudo sobre as Escrituras

46

O Pacto da Graça se refere ao tratamento de Deus com o homem depois da

entrada do pecado no mundo. Desde Gênesis capítulo 3 até Apocalipse 22, é o Pacto da

Graça que está em ação.

Administrações da Aliança da Graça

Podemos dividir a Aliança da Graça em dois ―períodos distintos‖; duas

―administrações” diferentes. Podemos diferenciar estas administrações do seguinte

modo: A administração do Pacto da Graça antes de Cristo é chamada de ‗Velha

Aliança‘; e a administração do Pacto da Graça depois da vinda de Cristo é chamada de

‗Nova Aliança‘*.84

Não é que Deus providenciou dois pactos de salvação depois da Queda de

Adão em pecado, sendo um deles a Velha Aliança e o outro a Nova Aliança. Deus

providenciou somente um pacto de salvação – o Pacto da Graça. Este foi iniciado depois

da entrada do pecado e continuará até a consumação de todas as coisas. Há, portanto, duas administrações diferentes para o mesmo Pacto da Graça. Na primeira

administração (Velha Aliança) o Cristo e sua salvação são prometidos; na segunda

administração (Nova Aliança) o Cristo já veio e cumpriu a salvação esperada.

Estilos literários da Revelação

Para finalizar este assunto da estrutura das Escrituras nós vamos nos deter na

―forma‖ como a Revelação Especial foi escrita durante estes vários séculos de sua

formação. Ora, sabemos que a mensagem das Escrituras procede de um mesmo autor –

o Espírito Santo. Porém, temos que nos lembrar que esta mensagem foi escrita por meio

de homens, e que cada mensagem registrada por eles foi escrita com o ―estilo literário‖

que Espírito Santo guiou que utilizassem. O resultado é que encontramos vários tipos

diferentes de literatura dentro das Escrituras. Para que possamos compreendê-los

melhor, abaixo está a divisão tradicional dos livros conforme seu estilo literário:

84 Ibid, p 53.

* Os termos Velha Aliança e Nova Aliança também são conhecidos como Antigo

Testamento e Novo Testamento.

Novo Testamento

Livros Tipo Literário

De Mateus até João Evangelhos

Atos Histórico

De Romanos até Filemom Cartas Doutrinárias

De Hebreus até Judas Cartas Doutrinárias

Apocalipse Profético

Page 47: Estudo sobre as Escrituras

47

Antigo Testamento

Livros Tipo Literário

De Gênesis até Deuteronômio

Lei

De Josué até Ester

Históricos

De Jó até Cântico dos Cânticos

Poéticos

De Isaías até Malaquias

Proféticos

Page 48: Estudo sobre as Escrituras

48

BIBLIOGRAFIA

— A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994.

— Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste,

SOCEP, 2001.

— Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade

Bíblica do Brasil, 1999.

— Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001.

— Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura

Cristã, 1999.

— Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo, Os Puritanos,

1999.

— Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998.

— Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São

Paulo,Vida Nova, 2009.

— J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d.

— Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?

São Paulo, Os Puritanos, 1998.

— Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985.

— ___________, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000.

— ___________, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990.

Page 49: Estudo sobre as Escrituras

49

— Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida

Nova, 1984.

— Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da

Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999.

— O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995.

— O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997.

— Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96.

— Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999.

— Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986.

— William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo

Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999.