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  • 7/22/2019 ESTUDO SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DE DIREITOS AUTORAIS AO ECAD POR UTILIZAO DE MSICA EM FESTAS DE CASAMENTO

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    Universidade Federal De Juiz De ForaBacharelado Em Direito

    ESTUDO SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DEDIREITOS AUTORAIS AO ECAD POR UTILIZAO DE MSICA

    EM FESTAS DE CASAMENTO

    Rafael Gonalves

    Juiz de Fora - 2011

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    Universidade Federal De Juiz De ForaBacharelado Em Direito

    ESTUDO SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DEDIREITOS AUTORAIS AO ECAD POR UTILIZAO DE MSICA

    EM FESTAS DE CASAMENTO

    Rafael Gonalves

    Projeto apresentado Banca Examinadora docurso de graduao em Direito da UniversidadeFederal de Juiz de Fora como requisito parcialpara obteno do grau de bacharel em Direito.

    Orientador: Prof. Abdalla Daniel Curi.

    Banca de avaliao: Prof. Leonardo AlvesCorra

    Prof. Raquel BelliniSalles

    Juiz de Fora - 2011

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    Agradecimentos: toda a minha famlia, especialmente Iolanda (me),

    Antnio (paiem memria), Bruno (irmo) e Michelle, pelo amor e apoio

    incondicionais. Aos colegas e professores da faculdade pelo companheirismo,

    especialmente ao Atlio Dias Pitondo e Gabriel V. Attlio. Ao orientador Abdalla

    Daniel Curi. Aos amigos de profisso musical, com os quais vivi timos

    momentos nos ltimos anos. todos meu muito obrigado e um grande abrao.

    Do amigo Rafael Gonalves.

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    "Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lana toda

    a fora da sua alma, todo o universo conspira a seu favor

    (Johann Wolfgang Goethe, Os Sofr imentos do jovem Werther)

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    RESUMO

    Estudaremos nas linhas a seguir uma questo especfica relacionada aos

    direitos autoraisse devido o pagamento de direitos autorais pela execuode msicas em realizao de festas de casamento. Primeiramente,

    mostraremos o que direito autoral e qual seu tratamento no ordenamento

    jurdicosua proteo constitucional e legal. Esclareceremos alguns conceitos

    como direitos autorais e direitos conexos, e as caractersticas de direitos

    patrimoniais e morais de ambos. A seguir, faremos um breve comentrio sobre

    a evoluo histrica da legislao da matria no Brasil, observando a

    importncia da Lei n 5.988/73 e Lei n 9.610/98 para o tema. Ser mostrado a

    evoluo, junto com a legislao, do sistema de arrecadao de direitos

    autorais e conexos, e a importncia da criao do ECAD pela Lei n 5.988/73.

    Comentaremos, a partir da evoluo, como funciona atualmente este sistema

    de arrecadao e distribuio de direitos. parte esta introduo de conceitos

    prprios da matria autoral, apresentaremos o problema do pagamento dos

    direitos autorais e conexos na situao especfica abordada. Veremos que a

    questo no pacfica nos Tribunais Estaduais e no h posicionamento

    consolidado dos Tribunais Superiores. Apresentaremos argumentos contrrios

    e favor da cobrana, ao final concluindo pela tese favorvel, pela supremacia

    dos argumentos.

    Palavras-Chave: Direito Autoral, Ecad, Lei N 9.610/98, Festas De

    Casamentos, Direitos Conexos, Recesso Familiar, Local De Frequncia

    Coletiva, Lucro Indireto, Lucro Direto, Responsabilidade Solidria, Smula 63

    do STJ.

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    SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS: .............................................................................................. ..................... 6INTRODUO ........................................................................................................................................... 71. O DIREITO AUTORAL E SEU TRATAMENTO NO ORDENAMENTO JURDICOBRASILEIRO ........................................................... .............................................................. ..................... 82. O SISTEMA DE GESTO COLETIVA .......................................................................................... 10

    2.1. Breve evoluo histrica do sistema de gesto coletiva ( Lei 5.988/73 e lei 9.610/98 ) ........... 102.2. O sistema de gesto coletiva atual ............................................................. .............................. 11

    3. CONCEITOS DE DIREITOS DE AUTOR E DIREITOS CONEXOS; PROTEOCONSTITUCIONAL E LEGAL DESTES DIREITOS .......................................................... ................... 144. EXECUO DE MSICA EM FESTAS PARTICULARES .......................................................... 18

    4.1. Apresentao do problema........................................................................................................ 184.2. Divergncias sobre a obrigatoriedade: ........................................................ .............................. 22

    5. POSICIONAMENTO CONTRRIO COBRANA: ........................................................... ........ 236. POSICIONAMENTO FAVORVEL COBRANA: ............................ ...................................... 26

    6.1. Analogia entre hotis, motis, clnicas de sade e sales de festas ....................... ................... 276.2. Responsabilidade solidria dos donos dos estabelecimentos em que se realizam as festas ...... 316.3. A existncia de lucro como fator descaracterizador da hiptese de recesso familiar............ 336.4. A inter-relao entre direitos autorais e conexos .............................................................. ........ 36

    CONCLUSO: ......................................................... .............................................................. ................... 39REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................................... 41

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    LISTA DE ABREVIATURAS:

    ECAD - Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio

    LDALei de Direitos Autorais, Lei n 9.610/98

    SBACEM - Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores

    de Msica

    SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais

    SADEMBRA Sociedade Administradora de Direitos de Execuo

    Musical

    UBCUnio Brasileira de Compositores

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    INTRODUO

    O presente trabalho tem a finalidade de oferecer um breve panorama do

    funcionamento dos mecanismos de arrecadao e distribuio de DireitosAutorais relacionados Msica. Mais especificamente, pretende discutir quais

    so os limites de atuao do ECAD rgo institudo por Lei Federal

    (inicialmente institudo pela Lei 5.988/73 e mantido pela Lei 9.610/98) em uma

    situao especfica.

    Este rgo, como determina a legislao, tem a autonomia para a

    arrecadao e distribuio destes direitos autorais mencionados. Nos ltimos

    anos ganharam espao no judicirio vrias aes de nubentes questionando aobrigatoriedade de pagar os valores cobrados pelo ECAD quando da promoo

    de suas festas de casamento. Por uma pesquisa jurisprudencial, observa-se

    que os Tribunais de Justia ptrios tm se manifestado de forma diversa sobre

    estas aes.

    O Tribunal de Justia de So Paulo, em maio de 2009, atravs do

    julgamento da Apelao Cvel nmero 542.012.4/2 Sorocaba - considerou

    indevida a cobrana pelo ECAD, de forma no unnime. De forma distinta

    posicionou-se o Tribunal de Justia de Minas Gerais, em deciso de setembro

    de 2009 no processo nmero 1.0024.07.481171-2/001, considerando que a

    cobrana devida.

    Diante do contexto apresentado e considerando que no h

    manifestao dos Tribunais Superiores a respeito do tema, h de se investigar

    na doutrina e jurisprudncia os argumentos a favor e contra esta cobrana.

    Portanto, pergunta-se se devida a cobrana de Direitos Autorais nas festas

    particulares, mais especificamente nas festas de casamento.

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    1. O DIREITO AUTORAL E SEU TRATAMENTO NO

    ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO

    O conceito de propriedade intelectual engloba os Direitos de autor e

    direitos de propriedade industrial .As criaes resguardadas por estes direitos

    nascem de uma inveno do intelecto do homem.. Entretanto, a regulao para

    cada categoria destes direitos distinta. Segundo Jos Carlos Costa Netto

    (COSTA NETTO, 2008, p. 29 ), so duas as diferenas fundamentais entre

    eles:

    1) O direito de propriedade industrial relaciona-se com as marcas

    identificadoras de empresas e empreendimentos, as patentes, os modelos de

    utilidade e desenhos industriais. Segundo conveno de Berna, ratificada pelo

    Brasil, os direitos de autor decorrem das obras intelectuais criadas no campo

    literrio (incluindo produes cientficas, acadmicas) e artsticas.

    2) O registro para as obras artsticas e literrias leva presuno de

    autoria da obra, sendo que a defesa dos direitos autorais no depende

    necessariamente da obra estar registrada. Para a propriedade Industrial, oregistro da obra requisito para que o direito da propriedade industrial se

    constitua.

    Este trabalho se relaciona vertente do direito autoral, notadamente s

    disposies que tratam das obras musicais, reguladas notadamente pela

    CF/88, LDA e Cdigo Civil de 2002, no que tange aos direitos de

    personalidade, inerente aos direitos autorais morais, e reparao de danos.

    A Constituio Federal de 1988 garante exclusivamente aos autores os

    direitos patrimoniais e morais de suas obras:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquernatureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas ainviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    (...)

    XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicaoou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei

    fixar;

    XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:

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    (...)

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obrasque criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes e srespectivas representaes sindicais e associativas; (Constituio Federal de

    1988).

    Seguindo a orientao da Carta Magna, determina a Lei n 9.610/98,

    da nova Lei dos Direitos Autorais:

    Art. 7 So obras intelectuais protegidas as criaes do esprito,expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ouintangvel, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

    (...)

    V - as composies musicais, tenham ou no letra;

    Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor daobra literria, artstica ou cientfica.

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    2. O SISTEMA DE GESTO COLETIVA

    2.1. Breve evoluo histrica do sistema de gesto coletiva ( Lei

    5.988/73 e lei 9.610/98 )Antes da Lei n 5.988/73 no havia um rgo nico responsvel pela

    arrecadao e distribuio dos direitos autorais. No comeo do sculo XX

    (1917), comeam a surgir no Brasil associaes para a defesa dos direitos

    autorais de atores, compositores e intrpretes musicais, como a SBAT, UBC,

    SBACEM, SADEMBRA, algumas existentes at hoje. At a referida Lei, cada

    associao atuava de forma independente da outra e tinha de fiscalizar a

    totalidade dos usurios de msica pela utilizao das obras de seus titulares.Isso no se mostrou um sistema eficiente, uma vez que, mesmo os usurios

    adimplentes tinham dificuldades de pagar os valores devidos, pelo fato de

    existirem vrias associaes, cada uma cobrando valores e procedimentos

    diferentes. Ao longo dos anos, foram tentadas vrias alternativas, como a

    juno de associaes umas com as outras, mas nada pareceu satisfatrio do

    ponto de vista prtico.

    Uma grande tentativa de solucionar estes problemas foi atravs da Lein 5.988/73, que criou o ECAD Escritrio Central de Arrecadao e

    Distribuio dos Direitos Autorais, rgo privado atuante na defesa dos titulares

    destes direitos, e o CNDA Conselho Nacional de Direito Autoral rgo

    pblico com funes regulamentadoras do sistema de gesto coletiva. Essa

    unificao de cobrana foi muito importante para os titulares de direitos

    autorais, pois trouxe um sistema mais eficiente.

    Em 1998 foi editada a nova Lei de Direitos Autorais, Lei n 9.610/98.

    Esta atualizou a matria em vrios aspectos. Foram contemplados nesta nova

    lei as questes dos direitos autorais relativos aos programas de computadores,

    transmisso de msicas por quaisquer meios, como a internet. De forma mais

    relacionada a este trabalho, JOS CARLOS COSTA NETTO (COSTA NETTO,

    2008, p. 278) comenta que a Lei de 1973 continha as expresses lucro direto

    ou indireto, com participao de artistas que estejam sendo remunerados

    como requisitos para o pagamento de direitos autorais. Estas expresses foramsuprimidas, de forma louvvel, segundo o autor, na Lei de 1998. Estes termos

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    no esto mais presentes no novo diploma legal, e a jurisprudncia se mostra

    se mostra largamente no sentido de que estes no so mais requisitos para a

    cobrana.

    2.2. O sistema de gesto coletiva atual

    O ECAD, Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio uma

    sociedade civil sem fins lucrativos. Foi criado pela Lei n 5.988/73 e mantido

    pela Lei n 9.610/98. O Escritrio atua em mbito nacional e internacional na

    defesa dos direitos autorais e conexos dos seus representados.

    No Brasil, segundo os dados do ECAD1, existem efetivamente nove

    associaes de titulares de direitos autorais e conexos: ABRAMUS, AMAR,

    SBACEM, SICAM, SOCINPRO, UBC, ABRAC, ASSIM, SADEMBRA. Estas

    atuam juntamente com o Escritrio para a efetivao do recolhimento e

    pagamento dos direitos autorais e conexos. Os titulares associam-se apenas a

    uma das nove associaes. O ECAD o responsvel pela arrecadao dos

    direitos autorais diretamente dos usurios de msica. Estes so os locais ou

    agentes que utilizam as obras, e que devem pagar uma quantia aos titulares

    dos direitos autorais e conexos por esta utilizao. Como exemplo, sousurios de msica a Rede Globo de TV, uma rdio, um produtor de shows e

    um restaurante que utilize execues musicais. Estes usurios pagam ao

    ECAD o valor devido, varivel de acordo com cada situao, e este distribui o

    valor arrecadado para a associao da qual o titular faz parte. Segundo JOS

    CARLOS COSTA NETTO (COSTA NETTO, 2008, p. 291), o ECAD possui

    autonomia para fixar os critrios de cobrana e fixao de preos de Direitos

    Autorais, tendo como fundamentos o art. 5, XXVII, b da CF/88, e os arts. 28,29, 68, 97 e 99 da LDA.

    um sistema complexo. O ECAD e cada uma das associaes retm

    uma parte dos direitos autorais e conexos recolhidos para a operacionalizao

    desta mquina. Este sistema parece ser nico no mundo. Em grande parte dos

    pases, h apenas um rgo central que faz toda a arrecadao e distribuio

    dos direitos.

    1Dados obtidos atravs do websitewww.ecad.org.br

    http://www.ecad.org.br/http://www.ecad.org.br/http://www.ecad.org.br/
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    Muito se questiona a respeito da correta atuao do ECAD. Suspeita-

    se de m administrao, desvio de verbas e outros crimes ocorridos dentro do

    mesmo. Atualmente h duas CPIs em trnsito para investigar a lisura do

    ECAD, uma no mbito do Senado Federal e outra na Assemblia Legislativa do

    Estado do Rio de Janeiro, instauradas no segundo semestre deste ano de

    2011. Nas palavras de CLUDIO GOULART:

    Desde a aprovao da Lei n 5.988, hoje revogada, que o ECAD vematuando na defesa do artista brasileiro, sendo mantida sua competncia na Leivigente.

    Contudo, h crticas a esse processo de gesto. Muitos msicos tmreclamado de que no recebem nenhum dinheiro arrecadado e depositado em

    suas contas correntes junto s associaes a quem pertencem.

    O processo de arrecadao do ECAD efetuado por meio deplanilhas eletrnicas que so encaminhadas pelas empresas de radiodifuso,sendo feito, semanalmente, mensalmente ou trimestralmente, em boletosbancrios, emitidos em nome da empresa de rdio ou televiso.

    O que nos causa dvida quanto aos valores ali estabelecidos. Elescompem um documento que se chamam REGULAMENTO DEARRECADAO, que jamais publicado para questionamento de todo equalquer cidado. Da, a quantidade imensa de aes judiciais contra omesmo, geralmente, com vitria do ECAD.

    A lisura desses clculos que tem sido, portanto, questionvel.

    At CPIs no Congresso Nacional tm procurado uma forma de provaras falhas neste processo de gesto pblica. ( GOULART, Cludio., 2009, p.41/42)

    Segundo os dados publicados pelo ECAD2, sua arrecadao cresceu

    vertiginosamente nos ltimos anos, de R$ 268.368.828,00 em 2006, enquanto

    que em 2010 este valor chegou a R$ 432.953.853,00. Isso talvez se deva aos

    grandes investimentos que a instituio tem feito em vrios setores, como

    recursos humanos, marketing, orientao aos titulares de direitos autorais e

    conexos atravs de eventos e tecnologia da informao. Esto sendo

    desenvolvidos vrios dispositivos eletrnicos de reconhecimento automtico

    das msicas tocadas nas rdios e TVs, e grava-se atualmente todas as rdios

    das capitais de todos os Estados da Federao com estes novos sistemas

    (ECAD Tec Rdio, ECAD Tec TV). O Escritrio amplia seu nmero de agentes

    que atuam nas execues ao vivo realizadas em apresentaes musicaiso

    agente se faz presente no momento do show, grava a execuo musical,

    2Dados obtidos atravs do websitewww.ecad.org.br

    http://www.ecad.org.br/http://www.ecad.org.br/http://www.ecad.org.br/
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    verifica quais obras foram utilizadas e faz a cobrana dos valores devidos ao

    dono do estabelecimento. Isso tudo tem auxiliado, e muito, na fiscalizao dos

    usurios de msica inadimplentes, que so cada vez mais cobrados pela

    violao aos direitos autorais.

    A instituio adverte para a mentalidade de desrespeito e

    inadimplncia ao pagamento dos direitos autorais dos principais usurios de

    msica do Brasil. Grandes usurios, como redes de TV e empresas de rdio,

    possuem processos tramitando na justia h dcadas, e recusam-se ao

    pagamento dos direitos autorais.

    Aparentemente, a praxe do mercado de locao dos sales de festa,

    onde normalmente ocorrem as festas de casamento, j incluem em seus

    contratos com os clientes um valor para pagamento dos direitos autorais junto

    ao ECAD. Os critrios que o ECAD usa para definir o valor levam em conta

    caractersticas como o valor do aluguel do salo ou o nmero de pessoas a

    qual se destina o evento, e qual ser o tipo de execuo musical se sero

    intrpretes executando as msicas ao vivo ou se a sonorizao ser

    comandada por DJ (Geralmente cobrado 10% sobre execues ao vivo e

    15% sobre execues feitas por DJ).

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    3. CONCEITOS DE DIREITOS DE AUTOR E DIREITOS CONEXOS;

    PROTEO CONSTITUCIONAL E LEGAL DESTES DIREITOS

    O art. 1 da Lei 9.610/98 aduz duas categorias de direitos: Direitos de

    Autor e Direitos Conexos aos de autor: Esta Lei regula os direitos autorais,

    entendendo-se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so

    conexos.A primeira categoria refere-se aos direitos dos criadores das obras

    artsticas os artistas que compuseram as msicas. A segunda categoria

    refere-se aos direitos de demais envolvidos com a obra artstica, que auxiliam

    na criao, produo ou difuso da obra intelectual. Enquadram-se nela os

    intrpretes, msicos acompanhantes, produtores fonogrficos e empresas de

    difuso, por exemplo. Cada categoria possui direitos prprios, elucidados na

    referida Lei.

    Aos autores so garantidos, referente s suas obras, os seus direitos

    patrimoniais e morais.

    Os direitos patrimoniais, tratados no art. 28 e seguintes da Lei n9.610/98, conferem ao autor da obra o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor

    de sua obra artstica, literria ou cientfica. Qualquer utilizao da obra

    depende da autorizao prvia e expressa do autor; e a Lei traz algumas

    situaes de utilizaes como exemplo: sonorizao ambiental, radiodifuso

    sonora ou televisiva, execuo musical, etc. De acordo com a doutrina, o direito

    patrimonial confere ao autor a garantia de explorar economicamente a sua

    obra. claro que os autores acabam por fazer contratos com editoras,empresas fonogrficas e demais envolvidos no mercado para que, juntos,

    explorem o produto artsticoso os contratos de cesso, edio, autorizao,

    tratados nos arts. 49 e 50 da Lei n 9.610/98. Os direitos patrimoniais so, de

    acordo com BRUNA REGO LINS (REGO LINS, 2009, p. 134), alienveis,

    penhorveis, temporrios (perde-se o direito de explorao aps 70 anos do

    falecimento do autor, de acordo com o art. 41 da Lei n 9.610/98)

    Os direitos morais dos autores tm um vis ligado aos direitos depersonalidade. So trazidos taxativamente no art. 24 da Lei n 9.610/98:

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    Art. 24. So direitos morais do autor:

    I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;

    II - o de ter seu nome, pseudnimo ou sinal convencional indicado ou

    anunciado, como sendo o do autor, na utilizao de sua obra;

    III - o de conservar a obra indita;

    IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquermodificaes ou prtica de atos que, de qualquer forma, possam prejudic-laou atingi-lo, como autor, em sua reputao ou honra;

    V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;

    VI - o de retirar de circulao a obra ou de suspender qualquer formade utilizao j autorizada, quando a circulao ou utilizao implicarem afronta sua reputao e imagem;

    VII - o de ter acesso a exemplar nico e raro da obra, quando seencontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio deprocesso fotogrfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memria,de forma que cause o menor inconveniente possvel a seu detentor, que, emtodo caso, ser indenizado de qualquer dano ou prejuzo que lhe seja causado.

    1 Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitosa que se referem os incisos I a IV.

    2 Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obracada em domnio pblico.

    3 Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prviasindenizaes a terceiros, quando couberem. (art. 24 da Lei n 9.610/98).

    Como se observa, estes direitos esto ligados no questo

    econmica das obras, mas ao seu aspecto moral. Neste sentido, garantido

    tambm ao autor, assim como nos direitos patrimoniais, a utilizao da obra

    como bem lhe aprouver. Pode o autor no publicar a obra. Pode public-la e

    depois querer que seja retirada de circulao, se esta circulao lhe ofender a

    honra. A ttulo de exemplo, assim ocorreu com o famoso cantor e compositorbrasileiro Tim Maia na gravao de seu discos Tim Maia Racional volumes 1 e

    2, discos bastante importantes para a msica popular brasileira. O artista os

    gravou em 1975, em meio a uma fase que aderiu a uma seita religiosa

    conhecida como cultura Racional. Pouco tempo depois de gravados os

    discos, que fizeram e fazem ainda enorme sucesso, o autor abandonou a

    religio, renegou os discos, que exaltavam a seita, e tomou as providncias

    para que fossem retirados de circulao. uma situao prtica quedemonstra o carter sobretudo moral e no patrimonial dos direitos do autor.

    Se Tim Maia tivesse permitido a continuidade de circulao da obra,

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    provavelmente teria ganho mais dinheiro com a venda dos discos, mas obra lhe

    ofendia de tal maneira que resolveu tomar estas providncias.

    O art. 89 da Lei n 9.610/98 regulamenta que as disposies relativas

    aos direitos de autor aplicam-se, no que couber, aos titulares de direitos

    conexos. Adiante, em seu art. 90 a referida Lei coloca de forma expressa a

    garantia dos direitos patrimoniais dos titulares de direitos conexos, e no art. 92,

    os seus direitos morais.

    Portanto, em uma apresentao musical, digamos uma festa de

    casamento em que haja uma banda ou DJ tocando, existem vrios tipos de

    remuneraes que esto sendo pagas, quando so pagos os direitos autorais

    por esta execuo musical:

    -Direitos aos compositores das msicas

    -Direitos ao letrista

    -Direitos aos artistas e intrpretes que gravaram as msicas

    executadas de forma eletrnica pelos DJs

    -Direitos ao produtor fonogrfico

    -Direitos gravadora

    Para esclarecer uma eventual dvida: quando um DJ executa em uma

    festa msicas conhecidas, no de sua autoria, h o pagamento de direitos

    autorais e conexos. O DJ recebe direito conexo, que o seu cach,

    equiparando-se a um intrprete musical. Por executar seu repertrio, os valores

    pagos dividem-se para os direitos autorais (2/3 do total) aos compositores das

    msicas e direitos conexos (1/3 do total) aos demais titulares, como intrpretes

    e msicos instrumentistas que gravaram as canes. Nas execues ao vivo,

    em que haja uma banda tocando, a totalidade dos valores recolhidos so

    revertidos para os titulares dos direitos autorais, pois a execuo da msica

    est sendo realizada no necessariamente pelos mesmos intrpretes que a

    gravaram, e os integrantes da banda j receberam seu cach pelo trabalho

    realizado.

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    Ou seja, toda uma grande cadeia de produo musical beneficiada

    pelo recolhimento dos direitos autorais e conexos.

    Como demonstrado, h um vis patrimonial e outro moral nos direitos

    autorais e conexos. parte as divergncias doutrinrias da natureza jurdica

    destes direitos, BRUNA REGO LINScomenta que incorpora-se na legislao

    brasileira a noo de direito autoral como direito dplice de carter real:

    pessoal-patrimonial:

    a doutrina predominante que aos poucos vai se incorporandona legislao nacional, uma vez que o direito de autor composto do direitomoral, que protege a obra e a personalidade do autor nela refletida, e do direitopatrimonial, que uma espcie de monoplio de utilizao econmicatemporria nela refletida e do direito patrimonial. (REGO LINS, 2009, p. 136)

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    4. EXECUO DE MSICA EM FESTAS PARTICULARES

    4.1. Apresentao do problema

    Finalmente adentramos no ncleo de nossa discusso. Iremos

    investigar nas prximas linhas se devido o pagamento de direitos autorais

    nas festas de casamento. Cientes agora de que o pagamento original"

    acarreta uma srie de pagamentos aos titulares de direitos autorais e conexos,

    no s dos interpretes e artistas que executam as msicas ao vivo, mas de

    todos que so beneficiados pela enorme cadeia da produo musical,

    conforme mostrado anteriormente.

    Imaginemos algumas situaes possveis. Se duas pessoas escolhem

    unir-se em matrimnio para constituir uma famlia, e fazem arranjos para uma

    festa para celebrar o momento feliz na vida do novo casal. Esta festa pode se

    dar em inmeras situaes diferentes:

    - Pode ocorrer do casal promover uma festa dentro de uma residncia;

    pode ser que promovam a festa em um salo de festas ou algum outro

    estabelecimento locado especificamente para tal fim.

    - Pode ser que convidem um nmero reduzido de pessoas, chamando

    apenas os familiares mais prximos; pode ser que convidem no s os

    familiares prximos, mas toda a famlia dos dois nubentes, e ainda convidem

    os amigos de ambos.

    - Pode ser que contratem vrios servios para auxiliar na festa de

    casamento, como buffet, valet, decorao e floricultura, publicidade nos jornaise colunas sociais.

    Independentemente da configurao da festa, que pode ter de dezenas

    de convidados a milhares, e que pode ter como oramento uma quantia

    modesta ou uma cifra voluptuosa, quase absoluta a certeza de que em todas

    elas haver a execuo de msica para que a festa seja mais prazerosa para

    todos. Esta execuo pode se dar por vrios meios, sendo o mais comum,atualmente, os nubentes contratarem o servio de um DJ (profissional

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    responsvel montagem de sonorizao e execuo de msicas por algum meio

    eletrnico, como CDs e atravs de computadores) ou contratando msicos,

    artistas e intrpretes que executaro ao vivo as msicas que embalaro a

    festa.

    Se h a execuo de msicas em uma festa, como regra ela enseja o

    pagamento de um valor ao ECAD pelos responsveis pela promoo do

    evento. Este valor ser retransmitido, de acordo com os critrios do ECAD e

    das Associaes que o integram aos titulares de direitos autorais e conexos.

    Conforme j visto anteriormente, cabe unicamente ao autor da obra musical

    permitir que suas msicas sejam executadas em quaisquer situaes, de

    acordo com os arts. 28 e 29 da LDA:

    Art. 28. Cabe ao autor o d ireito exclus ivo d e uti l izar, fruir edi sp or da ob ra lit erria, a rtst ica ou ci entfic a.

    Ar t. 29. Depend e de aut or izao p rvia e expr ess a do aut or auti lizao da ob ra, por qu aisq uer modalidad es, tais como:

    I - a reproduo parcial ou integral;

    II - a edio;

    III - a adaptao, o arranjo musical e quaisquer outrastransformaes;

    IV - a traduo para qualquer idioma;

    V - a incluso em fonograma ou produo audiovisual;

    VI - a distribuio, quando no intrnseca ao contrato firmado peloautor com terceiros para uso ou explorao da obra;

    VII - a distribuio para oferta de obras ou produes mediante cabo,

    fibra tica, satlite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuriorealizar a seleo da obra ou produo para perceb-la em um tempo e lugarpreviamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em queo acesso s obras ou produes se faa por qualquer sistema que importe empagamento pelo usurio;

    VIII - a ut il izao, d ir eta o u ind ir eta, da ob ra li terria, artst ic a ouci entfic a, med ian te:

    a) representao, recitao ou declamao;

    b) ex ecuo m us ic al;

    c) emprego de alto-falante ou de sistemas anlogos;

    d) radiodifuso sonora ou televisiva;

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    e) captao de transmisso de radiodifuso em locais de freqnciacoletiva;

    f) s on or izao ambi ent al;

    g) a exibio audiovisual, cinematogrfica ou por processoassemelhado;

    h) emprego de satlites artificiais;

    i) emprego de sistemas ticos, fios telefnicos ou no, cabos dequalquer tipo e meios de comunicao similares que venham a ser adotados;

    j) exposio de obras de artes plsticas e figurativas;

    IX - a incluso em base de dados, o armazenamento em computador,a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gnero;

    X - quaisquer outras modalidades de utilizao existentes ou quevenham a ser inventadas. (arts. 28 e 29 da Lei n 9.610/98). [negrito do autor].

    O que ocorre, portanto, que os autores permitem que suas msicas

    sejam executadas, mas em contrapartida recebem uma remunerao por esta

    concesso. Aqui surge o ECAD como rgo responsvel por esta cobrana,

    atuando como representante dos titulares de direitos autorais e conexos.

    A LDA diz em seu art. 68 que devido o pagamento dos direitos

    autorais quando for realizada uma execuo pblica de msica em local de

    frequncia coletiva:

    Art. 68. Sem prvia e expressa autorizao do autor ou titular, nopodero ser utilizadas obras teatrais, composies musicais ou ltero-musicaise fonogramas, em representaes e execues pblicas.

    1 Considera-se representao pblica a utilizao de obras teatraisno gnero drama, tragdia, comdia, pera, opereta, bal, pantomimas eassemelhadas, musicadas ou no, mediante a participao de artistas,remunerados ou no, em locais de freqncia coletiva ou pela radiodifuso,transmisso e exibio cinematogrfica.

    2 Considera-se execuo pbli ca a utilizao de composiesmusicais ou ltero-musicais, mediante a participao de artistas, remuneradosou no, ou a utilizao de fonogramas e obras audiovisuais, em locais defreqncia coletiva, por quaisquer processos, inclusive a radiodifuso outransmisso por qualquer modalidade, e a exibio cinematogrfica.

    3 Consideram-se loc ais d e freqnc ia co letiv a os teatros,cinemas, sales de baile ou concertos, boates, bares, clubes ou associaesde qualquer natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e industriais,estdios, circos, feiras, restaurantes, hotis, motis, clnicas, hospitais, rgospblicos da administrao direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de

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    transporte de passageiros terrestre, martimo, fluvial ou areo, ou onde querque se representem, executem ou transmitam obras literrias, artsticas oucientficas.(art. 68 da Lei n 9.610/98). [negrito do autor].

    Entretanto, de acordo com o art. 46, VI da LDA, esto isentas do

    pagamento dos direitos autorais as execues havidas na situao de recesso

    familiar:

    Art. 46. No constitui ofensa aos direitos autorais:

    (...)

    VI - a representao teatral e a execuo musical, quando realizadasno recesso famil iar ou, para fins exclusivamente didticos, nosestabelecimentos de ensino, no havendo em qualquer caso intuito delucro;(...)(art. 68 da Lei n 9.610/98). [negrito do autor].

    Voltando questo hipottica da festa, com essa rpida leitura da

    legislao acima e com base naquilo que j vimos a respeito. Se analisarmos

    situaes extremas, claro perceber que h situaes que no deveria haver a

    cobrana dos direitos autorais.

    Se pensarmos em uma festa realizada dentro de um apartamento, com

    a presena de poucos familiares do casal, e que haja a execuo de msica

    ambiente por um aparelho reprodutor de CD, sem profissional contratado para

    responsabilizar-se pelo som, h de se convir que esta execuo musical no

    enseja o pagamento de direitos autorais - pois claramente no foi uma

    execuo pblica, e ainda assim, foi realizada no recesso familiar. Entretanto,

    isso uma anlise superficial, mas que mostra a necessidade de se estudarestes termos a fundo, para sabermos quando devida a cobrana.

    O ECAD, no exerccio de suas funes de representante dos titulares

    de direitos autorais, obtm sucesso na maioria das vezes na cobrana deste

    pagamento, mas ocasionalmente alguns nubentes questionam a

    obrigatoriedade do mesmo atravs de aes cveis no Poder Judicirio. Por

    uma pesquisa na jurisprudncia, chegamos concluso que essa questo

    polmica. No h uma posio sedimentada por parte dos TribunaisSuperiores, STF e STJ, e os Tribunais Estaduais e juzos primeira instncia se

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    divergem em relao ao assuntose essa cobrana nas festas de casamento

    realizadas em estabelecimentos comerciais locados para tal fim devida.

    Analisaremos abaixo alguns argumentos dos principais processos

    encontrados na pesquisa e opinies dos doutrinadores a respeito deste tema

    especfico. Tomaremos como marco terico o posicionamento do

    desembargador NIO SANTARELLI ZULIANI, relator designado no julgamento

    da Apelao Cvel do Tribunal de Justia de So Paulo, n 542.012.4/2

    Comarca de Sorocaba, posicionando-nos a favor da cobrana pelo ECAD.

    4.2. Divergncias sobre a obrigatoriedade:

    Conforme observamos na pesquisa, as divergncias doutrinrias e

    jurisprudenciais se pautam basicamente no seguinte:

    1) As execues musicais realizadas em estabelecimentos locados

    especificamente para as festas de casamento seriam enquadradas como feitas

    em locais de freqncia coletiva e execuo pblica previsto com os

    pargrafos 2 e 3 do art. 68 da Lei n 9.610/98 ?

    2) Estas execues, realizadas nestes estabelecimentos locados, esto

    abarcadas pela exceo obrigatoriedade de pagamento de direitos autorais,

    por se caracterizarem como recesso familiar, termo constante no art. 46 da

    LDA ?

    As divergncias se encontram em qual significado atribuir aos termos

    legais citados. Essa interpretao levar possibilidade ou no de cobranapelo ECAD.

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    5. POSICIONAMENTO CONTRRIO COBRANA:

    O art. 68, 3 da LDA exemplificaos locais que so considerados de

    freqncia coletiva: os teatros, cinemas, sales de baileou concertos, boates,

    bares, clubes ou associaes de qualquer natureza, lojas,

    estabelecimentos comerciais e industriais, estdios, circos, feiras,

    restaurantes, hotis, motis, clnicas, hospitais, rgos pblicos da

    administrao direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de transporte

    de passageiros terrestre, martimo, fluvial ou areo, ou onde quer que se

    representem, executem ou transmitam obras literrias, artsticas ou cientficas.

    Os locais em negrito so os principais estabelecimentos onde ocorrem

    as festas particulares de casamento. Como regra geral, a execuo musical

    realizada nestes locais enseja o pagamento dos direitos autorais. Entretanto,

    para esta corrente, a festa de npcias caracteriza um momento ntimo do casal.

    E mesmo que o local de realizao da festa esteja previsto expressamente no

    artigo citado, a situao da festa se enquadraria na hiptese de exceo de

    obrigatoriedade de pagamento aos direitos, previsto no art. 46 da LDA:

    Art. 46. No c ons titui o fensa aos direitos autorais:

    (...)

    VI - a representao teatral e a execuo musical, quando realizadasno recesso famil iar ou, para fins exclusivamente didticos, nosestabelecimentos de ensino, no havendo em qualquer caso intuito delucro;(...)(art. 46 da Lei n 9.610/98). [negrito do autor].

    O fato da festa de realizar em um estabelecimento especialmente

    locado para tal fim, e no em um espao de propriedade dos nubentes,

    indiferente para a caracterizao da hiptese de recesso familiar. O

    estabelecimento locado seria uma extenso da residncia dos nubentes

    durante a realizao da festa. Isso porque os mesmos convidam para as festas

    apenas as pessoas que desejam que estejam presentes. Se a festa fosse

    realizada dentro de uma manso dos nubentes, que comportaria um nmero

    expressivo de convidados, com a presena de um grande nmero de pessoas

    na festa, no apenas da famlia, mas amigos e colegas de profisso dos

    nubentes, sendo provavelmente uma festa luxuosa, com vrios servios e

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    preparativos, msica ao vivo executada por profissionais remunerados, ainda

    assim estaria caracterizada a situao de recesso familiar.

    O acesso festa no permitido qualquer pessoa do povo, mas

    apenas aos convidados e profissionais envolvidos. O que leva esta corrente a

    concluir que, apesar dos locais referidos estarem expressos na lei como locais

    em que deve ser feita a cobrana dos direitos autorais, nestas festas no se

    caracterizam as situaes de freqncia coletiva e execuo pblica,

    condies necessrias para a cobrana, de acordo com as expresses do art.

    68, 2 e 3 da LDA.

    Neste sentido posicionou-se o desembargador MAURCIO VIDIGAL,

    do TJ/SP, no julgamento da Apelao Cvel, que versava sobre uma situao

    de questionamento se a cobrana seria devida:

    O apelado alugou o salo de festas de um clube para arealizao da festa de casamento de seu filho e contratou um DJ para aexecuo de msicas para seus convidados. bvio que se tratou de umafesta particular eno pode ser considerada uma execuo pblica comopretende o apelante.Como bem salientou o d. Magistrado, a interpretaopretendida pelo ECAD de que teria havido a execuo pblica das msicas

    contraria o bom senso e beira as raias do abuso do direito a ele conferido emdeterminadas situaes, dentre as quais no se enquadra o caso em tela. Nocaso, o clube uma espcie de prolongamento da casa do autor, no sepodendo considerar local pblico, nem sendo a execuo coletiva.

    (parte do voto do desembargador MAURCIO VIDIGAL, do TJ/SP, nojulgamento da Apelao Cvel n 994.04.069487-9 MV 13.508, DcimaCmara de Direito Privado, com julgamento em 04.05.2010) [negrito do autor].

    Neste sentido tambm posicionou-se o desembargador TEIXEIRA

    LEITE, em uma ao similar:

    Inegvel, at porque incontroverso, que houve restrio participao, permitindo-se apenas o comparecimento dos seus convidados, ecom isso no se pode argumentar com a definio do espao por elesescolhido como de freqncia coletiva (art. 68, pargrafo terceiro). Porocasio dessa festa, o que tambm decorre de contrato firmado com o clube, eno perodo determinado, tudo era privado....

    ( transcrio parcial de voto do desembargador TEIXEIRA LEITE, nojulgamento da Apelao Cvel do Tribunal de Justia de So Paulo, n

    542.012.4/2Comarca de Sorocaba )[grifo do autor].

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    O eminente Desembargador TEIXEIRA LEITEsustenta, adiante:

    Alm disso, o que mais importa para a hiptese dos autos, o que

    vem da definio de Walter Moraes para o ambienteem que tudo ocorreu. Nocaso, pblica a execuo acessvel a qualquer pessoa (cf. artigodisponibilizado no site www.djparacasamento.com.br/E-CAD o preco dosom.asp,em 04/05/2009) e, disso, definitivamente no se cogita.

    ( transcrio parcial de voto do desembargador TEIXEIRA LEITE, nojulgamento da Apelao Cvel do Tribunal de Justia de So Paulo, n542.012.4/2Comarca de Sorocaba )[grifo do autor].

    Ainda segundo este voto de TEIXEIRA LEITE, o fato de o DJ da festa

    em questo ter sido remunerado no caracteriza a ocorrncia do lucro

    indireto, o que impediria a cobrana do ECAD.Vejamos:

    E, a meu sentir, isso no se altera pela utilizao de DJ por elesremunerado para conduzir aqueles momentos. certo que a divulgao que sefez da festa poderia sugerir alguma publicidade desse profissional e da criarexpectativa de ganho futuro; porm, apenas deste, que estranho lide, atporque, com certeza, no h o menor indcio de que isso se traduziu embenefcio para os apelantes

    ( transcrio parcial de voto do desembargador TEIXEIRA LEITE, nojulgamento da Apelao Cvel do Tribunal de Justia de So Paulo, n

    542.012.4/2Comarca de Sorocaba )[grifo do autor].

    Em linhas gerais, estes so os argumentos usados por esta corrente.

    http://www.djparacasamento.com.br/E-CAD%20o%20preco%20do%20som.asphttp://www.djparacasamento.com.br/E-CAD%20o%20preco%20do%20som.asphttp://www.djparacasamento.com.br/E-CAD%20o%20preco%20do%20som.asphttp://www.djparacasamento.com.br/E-CAD%20o%20preco%20do%20som.asphttp://www.djparacasamento.com.br/E-CAD%20o%20preco%20do%20som.asp
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    6. POSICIONAMENTO FAVORVEL COBRANA:

    Pelo o que se pode perceber pelo contexto social ao longo dasmudanas legislativas e decises jurisprudenciais nas ltimas dcadas, amplia-

    se cada vez mais o campo de proteo aos direitos autorais. Isso se verifica no

    campo normativo pelo advento da Lei n 9.610/98, que, ao revogar grande

    parte da Lei n 5988/73, atualizou a matria em vrios aspectos, fazendo uma

    norma mais consoante com as necessidades do nosso tempo. Observa-se a

    maior efetividade alcanada pelo ECAD, com sua presena mais constante na

    defesa dos direitos dos seus representados com a ampliao do corpo de

    funcionrios da Instituio, desenvolvimento de novas tecnologias e outros

    investimentos.

    Por uma anlise doutrinria e jurisprudencial, constata-se que h cada

    vez mais o reconhecimento e efetivao destes direitos pelo Judicirio.

    Citaremos algumas observaes que mostram como esta proteo tem sido

    corroborada pelo Judicirio ao longo dos anos, inclusive com a edio de

    smulas pelo STJ, e faremos uma analogia destes casos com a situaoestudada no presente trabalho.

    Voltamos, portanto, s duas perguntas que levam respostas

    divergentes, e analisaremos agora sob a tica deste posicionamento:

    1) As execues musicais realizadas em estabelecimentos locados

    especificamente para as festas de casamento seriam enquadradas como feitas

    em locais de freqncia coletiva e execuo pblica previsto com os

    pargrafos 2 e 3 do art. 68 da Lei n 9.610/98 ?

    2) Estas execues, realizadas nestes estabelecimentos locados, esto

    abarcadas pela exceo obrigatoriedade de pagamento de direitos autorais,

    por se caracterizarem como recesso familiar, termo constante no art. 46 da

    LDA ?

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    Sabemos que a jurisprudncia, com base na nova LDA, no considera

    como requisito para a cobrana dos direitos autorais a obteno de lucro direto

    ou indireto, mas to somente que haja a freqncia coletivae execuo pblica

    musical. Neste sentido, podemos citar os seguintes julgados:

    DIREITOS AUTORAIS. Prevalece, na Egrgia Segunda Seo, oentendimento de que os direitos autorais so devidos ainda que a execuo deobras musicais seja promovida sem f ins lucrat ivos. Recurso especialconhecido e provido Ementa do acrdo de 20/03/2003 proferido pelo STJno recurso especial 471.110/DF, por votao unnime de sua Terceira Turma,relator o Ministro ARI PARGENDLER.

    3. Se afigu ra des infl uen te o fato de o Ru au ferir ou no l uc rodeforma a ensejar a aplicao da Lei 9.610/98, uma vez que a referida norma nofaz qualquer ressalva nesse sentido, bem como em razo do fato de estarevidente a obteno de lucro indireto por ocasio da execuo de obrasmusicais. 4. Desprovimento de ambos os recursos. Ementa (transcrioparcial) do acrdo de 27/03/2007 do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro,proferido na apelao cvel 2007.001.3257, Dcima Quinta Cmara Cvel,relator Desembarg ador BENEDICTO ABICAIR.

    Para esta corrente, se for caracterizada uma execuo pblica em local

    de freqncia coletiva, isso j exclui a hiptese de ter sido realizada emrecesso familiar.

    6.1. Analogia entre hotis, motis, clnicas de sade e sales de

    festas

    Na jurisprudncia pacificada ao longo dos ltimos anos, considera-seque so devidos os pagamentos de Direitos autorais nos quartos de hotis,

    motis e clnicas de sade. Neste sentido, ganhou grande veiculao na mdia

    uma deciso recente do STJ, com julgado em 27 de abril de 2011, em uma lide

    entre o ECAD e um hotel do Rio Grande do Sul. O STJ, confirmando seu

    entendimento j adotado em processos anteriores, se posicionou a favor da

    cobrana dos direitos autorais por execuo de msicas atravs de aparelhos

    de rdio localizados dentro dos quartos dos hspedes, e no obrigando opagamento apenas para os aparelhos situados em reas como recepo e

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    reas de atividades (academias, salas de conveno). Em seu voto, o

    eminente ministro relator SIDNEI BENETTIdo STJ confirmou a caracterizao

    do hotel como local de freqncia coletivae a execuo musical ocorrida como

    execuo pblica. Vejamos:

    (...)14. Com relao cobrana realizada j na vigncia da Lei n.9.610/98, entretanto, esta Corte passou orientao dominante no sentido deser devido o pagamento em razo dos hotis serem considerados locais defreqncia coletiva, conforme disposto no artigo 68, 3, da referida lei.

    Por isso, a exibio de obras artsticas em tais locais caracterizou-secomo execuo pblica (artigo 68, 2), fazendo jus o ECAD, ao recolhimentodas contribuies relativas aos direitos autorais nele explorados.( transcrioparcial do voto do relator SIDNEI BENETTI no REsp 1.117/391 / RS)

    Neste mesmo sentido, destacamos a jurisprudncia citada pelo

    eminente relator, que assim como no caso dos hotis, considera devida a

    cobrana de direitos autorais s clinicas de sade:

    Direito civil. ECAD. Instalao de televisores dentro de apartamentosprivativos em clnicas de sade. Necessidade de remunerao pelos direitosautorais.

    - A Segunda Seco deste Tribunal j decidiu serem devidos direitosautorais pela instalao de televisores dentro de quartos de hotis ou motis(REsp n 556.340/MG).

    - O que motivou esse julgamento foi o fato de que a Lei n 9.610/98no considera mais relevante aferir lucro direto ou indireto pela exibio deobra, mas to somente a circunstncia de se ter promovido sua exec uopblic a em lo cal d e freqnc ia co letiv a.

    (...)

    (REsp 791.630/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRATURMA, DJ 04/09/2006).

    Estes julgados tem como fundamento adicional as smulas 63 e 261 do

    STJ. Estas consolidaram na jurisprudncia o entendimento de que os

    estabelecimentos comerciais devem pagar direitos autorais quando realizarem

    retransmisso radiofnica. E neste sentido h vrios julgados no STJ, como os

    citados acima, considerando devida a cobrana pela execuo musicalrealizada por rdio em hotis, motis, clnicas de sade, hospitais e

    restaurantes. Vejamos as smulas:

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    Smula 63 do STJ: So devidos direitos autorais pela retransmissoradiofnica de msicas em estabelecimentos comerciais

    Smula 261 do STJ: A cobrana de direitos autorais pelaretransmisso radiofnica de msicas, em estabelecimentos hoteleiros, deveser feita conforme a taxa mdia de utilizao do equipamento, apurada emliquidao.

    Ora, estes locais foram considerados por inmeros julgados como

    locais de freqncia coletivaonde acontece execuo pblica. Estes espaos

    so privados (hotis, motis e muitas clnicas). Nestes, no permitida aentrada de qualquer pessoa do povo, mas to somente a presena de pessoas

    selecionadas: geralmente os amigos e familiares dos enfermos, e , no caso dos

    hotis e motis, amigos e pessoas ntimas ou familiares. Em geral, as pessoas

    se estabelecem nestes aposentos de forma temporria e no com animusde

    residir uma grande temporada. Nestes locais, h grande rotatividade de

    pessoas. Os enfermos das clnicas e hspedes dos hotis e motis passam

    alguns dias, utilizam do servio e depois vo embora.Essas mesmas caractersticas explicitadas acima - que levaram a

    jurisprudncia a considerar os referidos locais como locais de freqncia

    coletiva e de execuo pblicaesto presentes nos locais de realizao das

    festas particulares, como sales de baile, clubes e etc. Nestes, tambm no

    permitida a entrada de qualquer pessoa mas somente a entrada dos

    convidados e profissionais que trabalham na festa. Como se observa na

    prtica, na maioria das vezes mesmo os noivos no conhecem todos osconvidados de suas festas. O que acontece que a noiva pode no conhecer

    todos os familiares do noivo, pois so pessoas que moram em outras cidades,

    estados ou pases. A noiva pode no conhecer todos os amigos e convidados

    do noivo.

    Ora, certo que a realizao da festa de casamento um evento

    mpar na vida dos nubentes, no se caracterizando como situao do cotidiano,

    e muito menos realizada em um lugar que freqentam normalmente. Seolharmos para o estabelecimento comercial que o salo de festas, este um

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    local em que todas as semanas circulam centenas de pessoas diferentes e

    que no tm nenhuma relao a no ser contratual com o dono do

    estabelecimento. Portanto, isso descaracteriza o evento da festa de casamento

    como situao de recesso familiar. Nesta toada, esclarece ELISNGELA

    DIAS MENEZES em Curso de Direito Autoral, Ed. Del Rey, p. 105: Entende-

    se como recesso familiar o meio de convivncia privada e restrita do indivduo

    em seu dia-a-dia, ou seja, o conjunto de pessoas e lugares que representam o

    seu habitat

    certo que aqui o termo pblica, de execuo pblica, no tem a

    mesma conotao quando se faz referncia a espaos pblicos, por exemplo.

    Estes, sim, nos levam ao entendimento que seriam espaos acessveis a

    qualquer pessoa irrestritamente, a qualquer momento. Entretanto, mesmo os

    espaos pblicos podem, de certa forma, restringir o acesso algumas

    pessoas ao, por exemplo, se cobrar um valor de entrada no estabelecimento

    como um museu. O que importa analisar que a LDA criou uma definio ou

    termo prprio, chamado execuo pblica, que possui o seguinte

    significado:

    Art. 68, 2 da LDA: Cons idera-se execuo pblic aa utilizaode composies musicais ou ltero-musicais, mediante a participao deartistas, remunerados ou no, ou a utilizao de fonogramas e obrasaudiovisuais, em loc ais d e freqnc ia co letiv a, por quaisquer processos,inclusive a radiodifuso ou transmisso por qualquer modalidade, e a exibiocinematogrfica.[negrito do autor].

    Ou seja, o conceito de execuo pblica depende do outro conceito, o

    de local de freqncia coletiva. Estes locais esto exemplificados nopargrafo seguinte pela LDA:

    Art. 68, 3 da LDA: Con sideram-se locais de freqncia colet ivaos teatros, cinemas, sales de baile ou concertos, boates, bares, clubes ouassociaes de qualquer natureza, lojas, estabelecimentos comerciais eindustriais, estdios, circos, feiras, restaurantes, hotis, motis, clnicas,hospitais, rgos pblicos da administrao direta ou indireta, fundacionais eestatais, meios de transporte de passageiros terrestre, martimo, fluvial ouareo, ou onde quer que se representem, executem ou transmitam obrasliterrias, artsticas ou cientficas.

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    Portanto, o legislador redigiu expressamente na lei os locais de

    freqncia coletiva. E, dentre estes locais, esto presentes os locais em que os

    nubentes promovem suas festas. Desta forma, no h razo para, segundo a

    anlise deste aspecto, no considerar estes locais como estabelecimentos em

    que devida a cobrana. E chegamos essa concluso no apenas pela

    anlise da legislao, mas tambm pelo fato da jurisprudncia acima

    mencionada em relao aos hotis, motis e clnicas de sade, confirmar

    aquilo que est expresso na lei, sem ressalvas. Portanto, no h razo para

    que isso fosse feito de forma diversa nos locais aqui discutidos, se o caso fosse

    enfrentado pelos Tribunais Superiores.

    6.2. Responsabilidade solidria dos donos dos

    estabelecimentos em que se realizam as festas

    Essa cobrana devida, e isso fica ainda mais claro se considerarmos

    que, pela regra do artigo 86 da Lei n 9.610/98, os proprietrios, gerentes eempresrios dos locais que se referem o artigo 68, 3 da LDA so os

    responsveis pelo pagamento dos diretos autorais:

    Art. 86. Os direitos autorais de execuo musical relativos a obrasmusicais, ltero-musicais e fonogramas includos em obras audiovisuais serodevidos aos seus titulares pelos responsveis dos locais ou estabelecimentos aque alude o 3o do art. 68 desta Lei, que as exibirem, ou pelas emissoras deteleviso que as transmitirem.(art. 68,3 da Lei n 9.610/98)

    Entretanto, conforme j citado, o que ocorre na praxe que os donos

    destes estabelecimentos, ao celebrarem com os nubentes os contratos para

    uso do espao locado, estipulam no acordo que os noivos que se

    responsabilizam pelo pagamento ao ECAD. Mesmo assim, de acordo com o

    art. 110 da LDA, os donos so solidariamente responsveis pela violao dos

    direitos autorais:

    Art. 110. Pela violao de direitos autorais nos espetculos eaudies pblicas, realizados nos locais ou estabelecimentos a que alude o art.

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    68, seus proprietrios, diretores, gerentes, empresrios e arrendatriosrespondem solidariamente com os organizadores dos espetculos. (art. 110 daLei n 9.610/98)

    Como explica CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA, o conceito de

    responsabilidade solidria definida sucintamente:

    Pode-se dizer que h solidariedade quando, na mesma obrigao,concorre pluralidade de credores, cada um com direito dvida toda, oupluralidade de devedores, cada um obrigado a ela por inteiro (Cdigo Civil de2002, arts. 264 e 265).(MRIO DA SILVA PEREIRA, 2008, p.91)

    Portanto, o ECAD, representante dos titulares dos direitos autorais e

    conexos, pode cobrar o pagamento destes direitos tanto dos organizadores dos

    eventos quanto dos donos dos estabelecimentos em que se realizam. Por esta

    razo, a maioria destes locais j inclui em seus contratos com os clientes

    (nubentes) que os locam o valor referente ao pagamento dos Direitos Autorais.

    Naturalmente, os contratos desta natureza exigem de praxe um pagamento

    antecipado de pelo menos uma parcela do montante total devido pela locao.

    E, como se sabe, como regra os valores de direitos autorais devem ser pagos

    antecipadamente realizao dos eventos com msica, de acordo com a regra

    do art. 68 4 da Lei 9.610/98. uma forma que os donos de estabelecimentos

    encontram para no serem acionados na justia pelo ECAD pelo caso do no

    pagamento dos direitos autorais pelos nubentes.

    Da mesma forma regulamenta a LDA em relao exibio de obras

    audiovisuais, que contm obras musicais, nos locais de frequncia coletiva. Os

    donos destes locais que so os responsveis pelo recolhimento dos direitos

    autorais, de acordo com o art. 86:

    Art. 86. Os direitos autorais de execuo musical relativos a obrasmusicais, ltero-musicais e fonogramas includos em obras audiovisuais serodevidos aos seus titulares pelos responsveis dos locais ou estabelecimentos aque alude o 3o do art. 68 desta Lei, que as exibirem, ou pelas emissoras deteleviso que as transmitirem.(art. 86 da Lei n 9.610/98)

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    Observa-se novamente a semelhana entre as situaes, por exemplo

    uma sala de cinema e um salo de festas. E o critrio legal anlogo.

    Ou seja, os donos destes estabelecimentos de festas que so os

    verdadeiros responsveis pelo pagamento dos direitos autorais. E em relao a

    estes fica ainda mais claro visualizar que na verdade ocorre uma execuo

    pblica e em local de freqncia coletiva. Estes donos no diferem em nada

    dos donos de estabelecimentos como hotis, motis e clnicas de sade. Em

    todas estas situaes, os responsveis recebem seus clientes e prestam seus

    servios.

    6.3. A existncia de lucro como fator descaracterizador da

    hiptese de recesso familiar

    No obstante, mesmo que j tenha sido excluda a hiptese de

    recesso familiar pela caracterizao da execuo pblica em local de

    freqncia coletiva, ainda no pode ter havido lucro, pelo disposto no art. 46, VI

    da LDA. A ocorrncia deste lucro, direto ou indireto, descaracteriza de vez aocorrncia do recesso familiar.

    Como se observa atualmente, h todo um mercado de trabalho

    estruturado em torno dos casamentos. Vrios profissionais subsistem e se

    especializam em trabalhar com este tipo de eventos. Dentre estes profissionais

    incluem-se: fotgrafos, profissionais de cerimoniais e buffets, msicos, artistas,

    DJs, profissionais de sonorizao e iluminao, empresas de decorao,

    empresrios que locam seus estabelecimentos. Estes so os relacionados

    mais diretamente festa, mas existem uma srie de outros, como hotis que

    hospedam os convidados, servios de transporte, sales de beleza. Porque o

    titular de direitos autorais e conexos no estaria presente nesta lista?

    A msica, como se sabe, parte essencial para a ocorrncia da festa,

    e sem ela, o festejo no tem o mesmo conforto e sucesso. E os demais

    profissionais no obteriam tanto lucro se no houvesse msica no evento.

    Imaginemos uma situao hipottica, de um salo de festas que se

    localiza prximo a uma clnica ou hospital. Desta forma, as festas realizadas

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    neste estabelecimento no poderiam contar com a presena de msica, ou

    teriam que trabalhar com um nvel de rudo baixssimo, para no incomodar os

    enfermos. Este estabelecimento seria praticamente invivel, teria que investir

    em isolamento acstico para limitar a propagao das ondas sonoras. E,

    parte este investimento, este estabelecimento (salo), teria que cobrar pelo

    aluguel do seu espao um valor menor pelo fato da msica no poder ser

    utilizada a contento. Este exemplo, difcil de se verificar na prtica, serve

    apenas para mostrar como a msica influi no lucro dos estabelecimentos de

    festas. E, como mostrado acima, os donos destes estabelecimentos so

    solidariamente responsveis pelo pagamento dos direitos autorais e conexos

    (art. 110 da LDA).

    Alm destas situaes de lucro direto e indireto mostrados acima, h

    de observar que os nubentes tambm obtm lucro indireto ao celebrar

    suas festas. A divulgao que muitas vezes se faz na mdia em colunas

    sociais e todo o requinte dos eventos permite verificar um aumento de prestgio

    do novo casal perante a sociedade. Isso sem considerar os demais proveitos

    oblquos recebidos pelos noivos como os presentes de casamento no

    obrigatoriamente doados, mas tradicionalmente recebidos. Neste sentido se

    posicionou o Juiz VICTOR EMANUEL ALCURI JNIOR, no recurso inominado

    n 17.606.09 do Colgio Recursal dos Juizados Especiais do Esprito Santo,

    com base em jurisprudncia do TJ/ES, considerando que a existncia de lucro

    indireto descaracteriza a hiptese de recesso familiar, e afirmando que o

    aumento de prestgio pelos nubentes caracteriza uma forma de lucro indireto:

    Assim, emerge das circunstncias que o evento no se constituimeramente familiar, pois presente o lucro indireto, sobre o qual se sujeita opagamento dos direitos autorais, como tem decidido o Egrgio Tribunal doEsprito Santo:

    APELAO CVEL COBRANA ECAD DIREITOS AUTORAIS CLUBE RECREATIVO LUCRO INDIRETO RESPONSABILIDADE DOUSURIO PELO PAGAMENTO DO VALOR DEVIDO PELA EXECUO DEOBRA LTERO-MUSICAL PRELIMINAR REJEITADA RECURSOIMPROVIDO

    (.....)

    2. A execuo d e ob ras lter o -mus ic ais em espao fsi co queextrapola o ambiente famil iar, como n o caso de club e recreativo, traduz-

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    se em luc ro ind ireto, suje i to ao pagamento d e dire i tos autorais, ensejandoao de cobrana, tendo o ECAD legitimidade ativa para ajuiz-la, cabendo aeste a fixao dos preos e ao usurio a utilizao da obra e o pagamento(TJES AC 048970055652 2 C. Cv. Rel Des. Jorge Gos Coutinho Julg. 18.06.2002).

    Ora, o salo de festas de equipara ao clube recreativo, pois extrapolao ambiente familiar. Conquanto os convidados para uma festa de casamento seconstituam majoritariamente de parentes dos nubentes, concorrem para alitambm os amigos e a sociedade prxima ao casal, auferindo estes avantagem da div ulgao da im agem, o que c ons titui lucro indireto. No sediscute que a execuo musical abrilhanta o evento, tornando-o mais atrativo eaconchegante, fruindo vantagens diretas da execuo todos aqueles que delaparticipam. De igual modo, j decidiu a Corte Capixaba que qualquerbenefcio, vantagem ou uti l idade tirada d e uma coisa o u o aumento deprestgio por aquele que realizou o evento constitui lucro indireto.Portanto, passvel do pagamento de direitos autorais.

    REMESSA EX-OFFICIO APELAO VOLUNTRIA AO DECOBRANA ECAD DIREITOS AUTORAIS VALORES DEVIDOSINDEPENDENTE DE VANTAGEM FINANCEIRA APELO IMPROVIDO PEDIDO PROCEDENTE 1. So devidos os valores relativos aos direitosautorais ainda que no tenha sido auferida vantagem financeira. 2. Em setratando d e lucro indireto pod e ser este qualquer b enefcio, vantagem o uut i l idade t irada de uma coisa ou ainda pode ser con siderado com o taltambm o aumento de p restgio po r aqu ele que realizou o evento .Apeloimprovido. Pedido procedente. (TJESREO 012950027313Rel. Des. SrgioBizzoto Pessoa de Mendona Julg. 26.08.1997) (posicionamento do JuizVICTOR EMANUEL ALCURI JNIOR, no recurso inominado n 17.606.09 do

    Colgio Recursal dos Juizados Especiais do Esprito Santo, publicado em26/05/2009) [negrito do autor].

    Embora este ltimo caso citado tenha sido julgado em 1997, portanto

    antes da vigncia da Lei n 9.610/98, isso no altera o fato de existir de lucro

    indireto pelos nubentes pela promoo de sua imagem, mesmo que no haja

    vantagem financeira. E como se sabe, a nova LDA ainda retirou a existncia de

    lucro como requisito ao pagamento dos direitos autorais. A existncia de lucroindireto aqui est sendo argumentada como excludente da hiptese de recesso

    familiar.

    Os artistas, executantes de msica ao vivo, auferem lucro

    indireto nas apresentaes. Em Apelao Cvel com julgamento em

    13/04/2010 no TJ/SP, o eminente relator desembargador JOS ROBERTO

    BEDRAM, citando julgamento anterior da mesma cmara, considerou que em

    evento promovido em conjunto com a municipalidade, em que este cedeu oespao pbico e ajudou na montagem da infra-estrutura de um evento de

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    shows, embora o municpio no tenha auferido lucro direto, houve no evento a

    obteno de lucro indireto obtido pelos muncipes, pelos artistas

    remunerados e pela promoo da imagem do municpio (estes dois ltimos

    tambm presentes nas festas de casamento):

    Mas, apesar do entendimento esposado no venerando acrdo,citado na respeitvel sentena (RJTJESP, Ed. Lex, vol. 110/97), houve lucroindireto, entendido como qualquer forma de proveito. Em primeiro lugar, houveproveito dos artistas contratados, que usando composies suas e de outros,foram remunerados. Houve proveito dos muncipes, com o lazer. E por certo aPrefeitura, como se diz vulgarmente faturou seno economicamente, por certo,politicamente, como realizao da Administrao Local. (Posicionamento doeminente relator desembargador JOS ROBERTO BEDRAM na ApelaoCvel 994020756550 SP, com julgamento em 13/04/2010 perante a 2 Cmara

    de Direito Privado do TJ/SP) [grifo do autor].

    Exemplifica-se em outro julgado do Tribunal de Justia de So Paulo a

    obteno de lucro indireto pelo municpio que promoveu o evento:

    Espetculo pblico promovido pela municipalidade local Desnecessria a configurao do escopo lucrativo para a cobrana de direitosautorais Exegese do art. 68 da Lei 9.610/98 Ademais, ente pblico queaufere lucro s in diretos com a promoo d o event o. (Ementa - transcrioparcial - do acrdo de 01/03/2008, proferido na apelao com reviso1.983.254.900/Conchas )[grifo nosso]

    6.4. A inter-relao entre direitos autorais e conexos

    Conforme demonstrado, a cadeia da produo musical toda

    interligada. Os autores ou compositores compem as msicas para que sejam

    executadas. Os intrpretes, titulares de direitos conexos, tm seu sustento

    econmico aferido principalmente por meio de suas execues musicais

    realizadas ao vivo. Os intrpretes, em sua grande maioria, no so os

    prprios compositores das msicas executadas. E certamente isso que

    ocorre praticamente na totalidade dos casos aqui discutidos neste trabalho.

    Desta forma, os intrpretes tm seu cach recebido por executar msicas de

    autoria de outrem. Esto obtendo vantagem econmica sobre essasexecues.

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    Segundo o voto do Sr. Desembargador JOS FLVIO DE ALMEIDA,

    do Tribunal de Justia de Minas Gerais, na apelao cvel n

    1.0024.07.481171-2/001, citando os ensinamentos de ELISNGELA DIAS

    MENEZESem Curso de Direito Autoral, Del Rey, 2007:

    Com efeito, os cantores, os atores, os msicos instrumentistas e osbailarinos no so autores, na medida em que baseiam seu trabalho em umaobra artstica pr-concebida, mas, por sua vez, possuem participao essencial prpria configurao da obra, j que so os responsveis pela animao damesma, ou seja, pela sua expresso esttica e artstica.

    (...)

    Tal categoria possui o chamado Direito Conexo, previsto na Lei

    Autoral nos artigos 89 a 100.

    (...)

    Como se v, a LDA reconheceu expressamente os direitos da classeartstica, relacionando-a diretamente com a dos autores, vez que os trabalhosde ambos se complementam na realizao das obras estticas dotadas deexpresso e movimento. A palavra conexo (de direitos conexos) sugere a idiade conexo, ou seja, de afinidade, ligao, co-relao entre dois elementos.Assim, os Direitos Conexos estariam diretamente conectados aos DireitosAutorais, sendo-lhes extenso ou complemento. Sua principal funo a degarantir, sempre que cabvel, aos chamados titulares de direitos conexos, todasas prerrogativas conferidas aos autores. (o. 111/112)

    Um argumento muito utilizado pelo ECAD em suas aes judiciais e

    palestras justamente este: Porque se remunera todos os profissionais

    envolvidos nestes tipos de eventos, inclusive os msicos e DJs, e no se

    remunera os titulares de direitos autorais e conexos (dos direitos conexos por

    execues de gravaes por DJs)? Estes ltimos so profissionais como

    outros quaisquer, e precisam receber pelo seu trabalho. No seria corretoutilizar-se da obra destes titulares mas no se pagar a devida contrapartida.

    Neste sentido tambm se posiciona NIO SANTARELLI ZULIANI,

    desembargador do TJ/SP:

    A interpretao no alcana somente tal modalidade deaproveitamento sub-repticio da obra e que j est definitivamente sancionadapela jurisprudncia, porque deve se estender a outros casos em que aatividade profissional lucrativa desenvolvida com o emprego das msicas,como uma banda, um grupo musical ou um DJ, contratados para servio desom de uma festa particular. Isso porque os direitos conexos garantem opagamento desses artistas (art. 90, II, da Lei n 9.610/98) e a leg is lao noser ia in co eren te de garan tir r etri bu io aos in trp retes e execu tan tes e

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    ali jar os titulares dos direitos autorais das msicas executadas ouretransmit idas. Portanto e respondendo ao questionamento do dignodesembargador TEIXEIRA LEITE, no sentido de que caberia recolher direitosautorais se o casamento fosse realizado na fazenda deles, com msicacomandada por DJ?, no tenho dvida da afirmativa da resposta...

    (posicionamento do relator designado, NIO SANTARELLI ZULIANI, nojulgamento da Apelao Cvel do Tribunal de Justia de So Paulo, n542.012.4/2Comarca de Sorocaba)[negrito nosso].

    Diante de todo este raciocnio sobre o lucro, conclumos que, mesmo

    que se considere as festas particulares em estabelecimentos locados, como a

    hiptese de recesso familiar em relao aos convidados no se

    considerando como execues pblicas emlocal de freqncia coletiva, vrios

    sujeitos de direito esto auferindo lucro com a execuo das msicas. Ou seja,

    o lucro deixou de ser requisito para a cobrana dos direitos autorais, de acordo

    com a LDA. Entretanto, conforme j mostrado, quando houver lucro na

    hiptese de recesso familiar, a cobrana devida, de acordo com o

    mandamento do art. 46, VI da LDA:

    Art. 46. No constitui ofensa aos direitos autorais:

    (...)

    VI - a representao teatral e a execuo musical, quando realizadasno recesso famil iar ou, para fins exclusivamente didticos, nosestabelecimentos de ensino, no h avendo em q ualquer c aso in tuito delucro;

    (...) (art. 68 da Lei n 9.610/98). [negrito do autor].

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    CONCLUSO:

    parte todas as questes legais, minuciosas, que ensejam

    divergncias, preciso olhar o ordenamento jurdico como um todo. E este

    protege os direitos autorais e conexos de forma ampla, conforme previsto na

    CF/88 (citar artigo 5, inciso tal), norma suprema de todo o ordenamento jurdico

    brasileiro, de qual todas as outras retiram sua validade.

    O legislador infraconstitucional estabeleceu os limites de proteo

    destes direitos, e estabeleceu hipteses bastante restritas em que o

    pagamento destes direitos autorais no seria devido. E parece que no seria

    devido porque no seria necessrio. Ou seja, no h prejuzo ao autor se suas

    msicas forem executadas em uma situao real de recesso familiar. Isso

    porque ao se comprar um CD original, adquire-se o direito se realizar sua

    execuo em local privativo, para o deleite daquele que o comprou. Mas,

    conforme observado, no o que ocorre nas festas de casamento, pois ocorre

    a execuo pblicaem local de freqncia coletiva.

    Nesta toada, foi argumentado que a existncia do lucro nestas festastambm um fator que descaracteriza a hiptese de recesso familiar, que

    excetuaria a cobrana dos valores pelo ECAD. E, como observado, vrios

    profissionais obtm lucro com a ocorrncia das festas de casamento, inclusive

    os noivos obtm lucro indireto. E no seria justo, correto e legal, se todos estes

    obtivessem lucro com base na obra dos titulares dos direitos autorais e

    conexos, e estes titulares ficarem sem sua remunerao devida.

    E podem ser feitas ainda algumas observaes de ordem prtica: comoargumentado pelo ECAD em alguns processos, h msicas que so tocadas

    apenas em determinados tipos de eventos, como festas juninas, aniversrios e

    casamentos. Muitas escolas ao promover suas festas juninas, abertas ao

    pblico, tentam se esquivar do pagamento, indevidamente. Certamente os

    titulares de direitos da msica Parabns voc seriam muito prejudicados se

    considerssemos que no devido o pagamento nas situaes de festas

    particulares aqui discutidas.

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    Entretanto, este estudo um apontamento de argumentos de dois

    posicionamentos contrrios. Mas o que realmente se demonstra a

    necessidade de enfrentamento da questo de forma definitiva pelos Tribunais

    Superiores ou pelo Legislador, de forma a harmonizar os direitos de autor com

    os interesses particulares dos que promovem os festejos. Somente esta

    posio poder pacificar a questo. Conforme demonstrado, acreditamos que a

    jurisprudncia dos Tribunais Superiores se posicionaria de forma favorvel

    cobrana, pela analogia com os demais casos decididos em relao aos outros

    locais previstos no art. 68, 3 da LDA, hotis, motis e clnicas de sade.

    Como se sabe, o ECAD, atuando de acordo com a competncia

    delegada a si pela LDA, tem legitimidade para definir os critrios de quando

    devem ser cobrados os valores devidos em nome dos titulares de direitos

    autorais e conexos. Nos parece que tem ocorrido a maior efetivao da

    proteo destes direitos, como comentado, pelo crescimento da arrecadao,

    possibilitado pelos avanos, em vrios segmentos, do Escritrio. E este avano

    leva a questionamentos no Poder Judicirio, que vem confirmando a proteo

    destes direitos, conforme estabelecido em Lei.

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