estudo setorial "gm de sjc: 51 anos que fazem a história do automobilismo brasileiro" 3

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Estudo setorial "GM de SJC: 51 anos que fazem a história do automobilismo brasileiro" 3

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sta cartilha tem o objetivo de facilitar a compreensão dos metalúrgicos da Gene-ral Motors e do conjunto da classe trabalhadora sobre os planos da montadora

no Brasil, onde ela obtém um dos seus maiores lucros em todo o mundo.

Editado e diagramado pelo departamento de Comunicação do Sindicato dosMetalúrgicos de São José dos Campos, o trabalho é fruto de uma minuciosa pesqui-sa feita pelo pesquisador do Ilaese (Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos) Nazareno Godeiro.

A saturação do mercado automobilístico nos centros ricos, a exploração de mão-de-obra cada vez mais precarizada nas chamadas nações emergentes e a escandalo-sa remessa de lucros à matriz norte-americana são questões que vamos abordar nes-ta cartilha, assim como as novas investidas da empresa, que, como em São José dosCampos, no começo de 2010, fez uma forte campanha para forçar os trabalhadoresa aceitarem a redução de salários e direitos.

Felizmente, a resistência dos metalúrgicos joseenses foi vitoriosa.Mas a luta não acabou.

O único caminho para garantir os empregos, direitos e salários dos trabalhadoresé a nacionalização da GMB. A construção da consciência dos operários sobre o temaé um grande desafio a todos nós.

Esperamos que você faça uma boa leitura e some-se à nossa luta!

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INTRODUÇÃO

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Pesquisa e redação: Nazareno Godeiro, pesquisador do IlaeseEdição: Rodrigo CorreiaSupervisão: Ana Cristina SilvaEditoração eletrônica: Diego PlenamenteCharges: Bruno GalvãoImpressão: GráficaTiragem: 6 mil exemplares

EXPEDIENTE

Material produzido e de responsabilidade da diretoria doSindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

Presidente: Vivaldo Moreira Araújo.Endereço: Rua Maurício Diamante, 65, Centro, São José dos Campos,

São Paulo. CEP: 12209-570. Telefones: (12) 3946-5312, 3946-5332.Site: www.sindmetalsjc.org.br.

Endereço eletrônico: [email protected].

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A chantagem da GM em São José dos Campospág. 05

Produção e venda de carros vão bombar até 2015pág. 06

Ritmo infernal de trabalho para aumentar lucrospág. 08

A produtividade da GM em São Josépág. 09

A exploração do trabalhador da GMBpág. 13

GM faz “lipoaspiração”pág. 14

No mundo, montadoras enfrentam sua maior crisepág. 16

Novo ciclo de crescimento da indústria do carro no Brasilpág. 18

Os donos da GMpág. 20

Brasil banca montadoras, que mandam lucros pra forapág. 21

Só com a nacionalização GM pode servir ao Brasilpág. 25

ÍNDICE

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A chantagem da GM em São José dos Campos

o início de 2010, os trabalhadoresda planta da GM de São José dos

Campos foram bombardeados pelasérie de chantagens feita pela empre-sa. Basicamente, o discurso era: ou osmetalúrgicos aceitam as propostas quereduzem salários e direitos ou a unida-de não receberá mais investimentos,um passo para fechar. É o popular “oudá ou desce”.

Nos materiais publicados pelaempresa ficou escancarada a posturaofensiva para tentar colocar os traba-lhadores contra a parede. Em marçode 2010, a publicação da empresachegou a dizer que a planta de SãoJosé não é indispensável para a GMmundial.

A postura da GM em 2010 foi umarepetição do que aconteceu em 2008,quando a empresa foi derrotada nasua proposta de impor a redução da

“A verdade é que a GM de

São José dos Campos tem o

custo estrutural mais alto

entre todas as montadoras

da GMB e se medidas não

forem tomadas agora para

nivelar esta situação, esta

unidade não vai sobreviver”.

”Trecho do “Informativo para liderança”, elaborado pelacomunicação interna da GM (23/01/2008).

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O presidente da GM, Jaime Ardila (dir.), e ovice-presidente da GMB, Pinheiro Neto (esq.)

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Produção e venda de carros vão bombar até 2015

grade salarial e o banco de horas.

Naquela oportunidade, prefeito,vereadores, empresários e imprensa seuniram para pressionar o Sindicato aaceitar a retirada dos direitos, fato quese repetiu em 2010.

A chantagem da GM utilizou odiscurso do medo como principal arma.Chegou a reunir um grupo de líderes esupervisores para aumentar a pressãoem toda a fábrica. Era um teatro:queriam fazer pensar que os trabalha-

dores concordavam com o que a GMqueria impor.

Depois de toda essa novela, ostrabalhadores permaneceram firmes e,junto com o Sindicato, dizeram não àredução de direitos e salários e aobanco de horas mais uma vez.

Evidentemente, a luta não acabou.A GM não desistirá de rebaixar ossalários e direitos dos trabalhadoresaos níveis chineses. É o que veremosem detalhes mais adiante.

crise da indústria automobilísti-ca nos países ricos vai

permanecer nos próximos anos.Por isso, a produção e as vendas

de carros vão se deslocar para ospaíses pobres mais populosos, comoa China, Brasil, Índia e Rússia. Issodeve continuar, pelo menos, até2015.

As três plantas da GM no Brasilestão trabalhando com capacidademáxima e muitas horas extras. Mes-mo assim, na situação atual, as

A

m 10 de março de 2010, a GM São José completou 51anos. Do suor do trabalho de várias gerações de

operários joseenses saiu parte substancial da riqueza da GM.No ano de 2009, a GM Brasil foi o único setor da GM mundial,junto com a China, que foi lucrativo, coisa que vem serepetindo desde 2006. Por tudo isso, a direção da empresadeveria ter mais respeito com seus trabalhadores e com a nossacomunidade. Infelizmente, não é o que estamos vendo.V

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unidades não vão alcançar aprodução requerida nos próxi-mos anos, que seria próxima a 1milhão de unidades por ano.Para se ter uma ideia, a produ-ção anual hoje é de cerca de600 mil veículos.

Ora, se a empresa sabe que aprodução vai saltar de 600 milpara 1 milhão de veículos, é óbvioque será preciso contratar maistrabalhadores, abrir novos turnosde trabalho e expandir a capaci-dade produtiva das fábricas.

Acontece que a GM quer iraté o limite físico dos trabalha-dores. A companhia quer arre-bentar com o trabalhador, man-tendo os mesmos custos salariaise produzindo dobrado, isto é,quer ganhar fatias no mercadode automóveis arrancando ocouro do trabalhador.

““Acredito que a indústria atingirápatamar muito próximo a 4 milhõesde unidades, incluindo caminhões eônibus para 2012 e 2013. Como anossa participação de mercado é de,aproximadamente, 20% estamosfalando de 800 mil carros, alémdo que exportamos. Isso faz comque a meta de produzir e venderum milhão de unidades nãoesteja muito longe. Na verdade,nossa ideia é nos aproximar de ummilhão de unidades nessa data.”

”Jaime Ardila, presidente da GMB, em entrevistaà rede Globo, em 25 de novembro de 2009.

As perspectivas daempresa nas palavrasde seu presidente

Planta de São José dos Campos

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Ritmo infernal de trabalho para aumentar lucros

oda a expectativa dos patrõesé de que, em 2010, serão

vendidos 3,8 milhões de veículos,incluindo as exportações.

Para manter a sua fatia domercado brasileiro, que é de cercade 20%, a GM terá que produzir700 mil veículos e importar outros60 mil.

Com o número de funcionáriosque dispõe hoje, em jornadasnormais de 40 horas semanais,operando em dois turnos, o máximode produção que a empresaalcançaria seria de 600 mil veículos.

Acontece que a GM quer atingirsua meta sem contratar novostrabalhadores. Quer ampliar ajornada de trabalho para 45 horassemanais (por meio do banco dehoras e de horas extras) efuncionando dois sábados por mês.

Desta forma, Gravataí produziria260 mil carros, enquanto São Josédos Campos e São Caetanoproduziriam cada uma cerca de 230

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mil, somando um total de 720 milveículos no ano de 2010.

Tudo isso significará aumentarainda mais o ritmo infernal deprodução e colocar os trabalhadoresoperando acima da sua capacidadefísica. É bicho feio!

ara garantir a produção de 720 mil veículos em 2010com as atuais 40 horas semanais, a GM teria de

contratar 1.000 trabalhadores em Gravataí, 1.800 em SãoCaetano do Sul e 1.500 em São José dos Campos.

Como se vê, o ritmo de trabalho alucinante na produção daGMB está custando, pelo menos, 4.300 empregos. Uma eco-nomia de, aproximadamente, R$ 280 milhões. Tal soma repre-sentará uma boa parcela do lucro líquido da GMB em 2010.V

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A produtividade da GM em São José

os discursos para tentar imporsua proposta de redução de

salários e direitos, a direção da GMdescarregou toda a pressão sobre ostrabalhadores do complexo de SãoJosé dos Campos.

Em um dos muitos informativosque tocam na mesma tecla, aempresa disse que, enquanto emSão Caetano a produção subiu de154 mil, em 1997, para 189 milveículos, em 2009, em São Joséesta produção retrocedeu de 280mil para 179 mil carros, no mesmoperíodo.

O fato é que a GMguarda todas suasinformações a setechaves, porém é ágilpara divulgar dadossoltos para favorecerseu discurso e tentardividir ostrabalhadores.Manipulação pura!

Utilizando-se demá-fé, a direção daGMB nem informaque existem 1.700trabalhadores naplanta de São Joséque produzemmotores etransmissões queservem para os carrosda empresaproduzidos em todo opaís. Em 2009, foramproduzidos nadamenos que 686,5 milmotores, ao preço

unitário de R$ 2.726,00, quetotaliza R$ 1.871.399.000,00,(um bilhão, oitocentos e setenta eum milhões, trezentos e noventa enove mil reais) ou quase 10% dofaturamento total da GMB.

Porém, este valor nem entra naconta da GM, que buscadesqualificar a planta de São Josédos Campos, uma estratégia parapressionar os metalúrgicos e, aomesmo tempo, buscar jogar ostrabalhadores das três plantasbrasileiras uns contra os outros.

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Como se pode ver, os nú-meros apresentados pela em-presa são tendenciosos. A ta-bela acima mostra que o tra-balhador da planta de São Joséproduziu tão bem como os tra-balhadores das outras plantas.

Além disso, em São José seproduz motores para as ou-tras plantas do Brasil e da Ar-gentina, assim como garanteas exportações da empresa apartir da fábrica de CKD.

Portanto, já incorporadosestes fatores e descontados osgastos de design dos carros, re-alizados na planta de São Caetano, che-gamos a um resultado que demonstra aplanta de São José produzindo mais de40% do faturamento da GMB:

Planta 2008 2009

Faturamento % sobre o total Faturamento % sobre o total

São José dos Campos 10,650 46% 9,359 44%

São Caetano do Sul 7,816 34% 6,825 32%

Gravataí 4,493 20% 5,092 24%

Total GMB 22,959 100% 21,276 100%

Fonte: idem

Faturamento por planta (em bilhões de R$)

Nas tabelas seguintes, mostraremos que a planta de São José dos Campos é tãoprodutiva quanto às outras e que, em certo sentido, é até mais produtiva.

Planta 2008 2009

P r o d u ç ã o % sobre o total Produção % sobre o total

São José dos Campos 211.433 35% 190.647 32%

São Caetano do Sul 199.914 33% 193.030 32%

Gravataí 192.472 32% 215.096 36%

Total GMB 603.819 100% 598.773 100%

Fonte: estas tabelas foram montadas pelos economistas do ILAESE (Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos), comauxílio do Departamento Econômico do SindMetalSJC, a partir de dados de produção da ANFAVEA (www.anfavea.com.br), aplicadasobre uma tabela de preços médios de carros da GM. Os dados do faturamento e do número de operários são da revista Exame,Melhores e Maiores 2009 (disponível em www.exame.com.br).

Produção por planta

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Produção em São José rende mais à GMm dos elementos que favorecem o faturamento da empresa é que oscarros produzidos em São José dos Campos são mais caros, portanto,

rendem mais dinheiro à empresa. Em Gravataí, se produz mais veículos,mas com preços menores. Veja na tabela abaixo a média de preços quesai cada carro, dividido por planta:

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Planta 2008 2009

São José dos Campos 45.790,05 43.885,57

São Caetano do Sul 40.813,30 36.839,55

Gravataí 26.597,39 26.958,10

Média de preço carro GM 38.024,53 35.533,29

Fonte: idem

Faturamento por carro (em R$)

Planta 2008 2009

São José dos Campos 1.142.477,14 1.114.987,53

São Caetano do Sul 752.279,82 680.249,14

Gravataí 998.572,43 1.095.102,80

Média de preço carro GM 948.287,34 921.973,08

Fonte: idem

Valor produzido por trabalhador (em R$)

Cada trabalhador da GMB gerou aproximadamente R$ 1 milhão para aempresa nos anos de 2008 e 2009. São José, pelo preço mais alto dos seusprodutos, rendeu mais de R$ 1 milhão e 100 mil por trabalhador:

Os números não mentem. Quemmente é a GM, que utiliza tendencio-samente os dados de produção paraque seus trabalhadores sintam-se pres-sionados a aceitar a perda de direitos,o rebaixamento de salários e a exten-são da jornada de trabalho.

É uma conhecida estratégia ideoló-gica utilizada pelos patrões: fazer comque nós pensemos e nos preocupemoscom o lucro deles, mesmo que comnúmeros manipulados, mas receba-mos apenas como operários.

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ada trabalhador de São José rendeu para a GM em2009, R$ 1.114.987,53.

Porém, o gasto da empresa com este trabalhador alcan-çou somente R$ 87.843,14 em 2009.

Levando em conta que o salário médio na planta deSão José em 2009 foi de R$ 3.317,60, acrescente a isso85% de encargos, multiplique por 13 salários e someR$ 8.054,86 de PLR.

Isto significa que, de-pois de descontados osgastos com o operário, aGM de São José ganhouR$ 1.027.144,39 (ummilhão, vinte e sete mil,cento e quarenta e qua-tro reais e trinta e novecentavos) por cada tra-balhador em 2009. Ve-jam que loucura!

Dito de outra forma, emaproximadamente 12 horasde trabalho (um dia e meio),o operário da GM de SãoJosé paga seu custo salarialmensal. Trabalha, portanto,18 dias por mês de graçapara a empresa.

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SA

BIA?

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GM quer fazermágica com números

A empresa se nega aabrir os livros contábeis e,ao mesmo tempo, fica jo-gando números aleatórios,tirados da cartola, sem co-nexão entre eles. Tudo issopara confundir a mente dotrabalhador e esconderuma verdade muito sim-ples: o trabalhador da Ge-neral Motors do Brasil émuito produtivo, especial-mente os trabalhadores daplanta de São José.

Em um dia e meio, trabalhadorda GM paga seu salário mensal

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A exploração do trabalhador da GMB

Fonte: Anuário da Indústria Automobilística brasileira – 2009 – ANFAVEA e Revista Exame Maiores e Melhores 2009

General Motors do Brasil encer-rou o ano de 2009 como a filial

com maior lucratividade da GM mun-dial, ultrapassando até a filial chinesa.

Porém, nada sacia a disposição daempresa em rebaixar os salários e pro-longar a jornada de trabalho:

“O custo de fabricação [de um veí-culo no Brasil] é alto, uma vez que otrabalhador brasileiro recebe de 8 a 10dólares por hora, enquanto o chinêsrecebe até 2 dólares por hora”, disseo presidente da GM brasileira, JaimeArdila.

Fica claro, então, que o objetivo dacompanhia é rebaixar os custos até al-cançar os níveis de exploração dosoperários chineses, que são sujeitos ajornadas de trabalho com mais de 60

horas semanais e recebem apenas cer-ca de R$ 500 por mês. Além disso, nãotêm casa própria e muitos, vindos dazona rural, têm que dormir nas pró-prias empresas, no sistema de “camasquentes”, no qual vai se revezando aprodução e o dormitório, em turnosininterruptos de trabalho.

O presidente da empresa reclamaque paga cerca de 8 dólares por horaa um operário da GMB, porém, nãoinforma que este custo é muito maisbaixo que nos Estados Unidos, onde aempresa paga 65 dólares por hora aum operário.

Desde vários anos, os trabalhado-res da GMB vêm “custando” menos àempresa. O gráfico a seguir mostra essemovimento:

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GM faz “lipoaspiração”

O gráfico da página anterior de-monstra que tanto a produção quan-to as vendas cresceram mais que o nú-mero de trabalhadores. Significa quemenos trabalhadores estão produzin-do mais carros.

Toda a campanha feita pela empre-sa dizendo que os custos salariais são

muito altos, desta forma, não passa depropaganda enganosa. O custo da fo-lha salarial da GM Brasil é realmentemuito pequeno, já que a empresa gas-ta somente 8% do faturamento comseus funcionários, que são aqueles queproduzem a riqueza da companhia. Ogasto maior vem de máquinas, equi-pamentos e matérias-primas.

melhor forma de compreender-mos a obsessão dos empresários

em aumentar a exploração dos seusoperários é estudar o movimento queestá sendo feito pela matriz da GM,nos Estados Unidos.

A GM, que foi a maior empresa domundo durante décadas, teve quedecretar a concordata em 2009, sedeclarar impossibilitada de continuarseu funcionamento normal e de pa-gar seus credores e seus funcionários.Isto é, estava falida.

O objetivo da concordata foi defechar as fábricas menos rentáveis,encerrar a produção de carros grandesque consomem muita gasolina,

A

riqueza produzida pelo operário fica na maior parte(cerca de 90%) com os donos da GM, as

concessionárias, os banqueiros e o governo. Ano a ano, oarrocho salarial levou à queda do peso relativo dos saláriosno custo total da companhia.

Esta é a contradição da sociedade capitalista, baseadana propriedade privada: quem cria as riquezas na sociedadesão penalizados, enquanto aqueles que vivem à custa dotrabalho alheio são beneficiados.V

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esde 2006, cerca de 60 mil funcionários da GM per-deram seus empregos nos EUA.

A reestruturação da empresa já vinha acontecendo hábastante tempo. A crise mundial só acelerou a dinâmicaanterior.

Nos EUA, a empresa também tem feito vários ataquesaos trabalhadores. Lá, a montadora conseguiu baixar o sa-lário-hora de US$ 73 dos atuais funcionários para US$ 27por hora aos novos admitidos. Nem precisa dizer que o fa-cão está comendo solto e são os trabalhadores antigos queestão sendo demitidos.

O acordo feito com o sindicato United AutomotiveWorkers (UAW) transformou o sindicato em patrão, queagora tem 17% das ações da empresa, em troca de se res-ponsabilizar pela assistência médica de 400 mil aposenta-dos e pelo pagamento de benefícios, sem contar a reduçãosalarial.

Infelizmente, o sindicato UAW se rendeu à patronal,entregando numa bandeja a cabeça dos trabalhadores. Emnome de supostamente garantir o nível de emprego, elesentregaram direitos, mas no final das contas compactua-ram para a redução da mão-de-obra.

D

Reestruturação sem dó

reduzir drasticamente o número deconcessionárias, demitir milhares detrabalhadores, rebaixar os salários a ní-veis asiáticos e passar o mico da dívi-da bilionária para o governo dos Esta-dos Unidos (isto é, para a populaçãodo país).

A empresa já saiu da “concordata”e, para isso, teve que passar o facãosem dó: foram fechados 18 comple-xos industriais, com perda de 34 milempregos nos Estados Unidos (mais 10mil fora do país) e foram fechadas2.400 concessionárias por lá.

Dentro de pouco tempo, os antigosdonos (os banqueiros americanos) re-ceberão de volta uma GM novinha emfolha, altamente lucrativa, com ape-nas 200 mil trabalhadores em todo omundo em 2010, depois de ter alcan-çado a impressionante marca de 1milhão de funcionários!

Quem perdeu foram os trabalhado-res da GM e a população mundial, jáque foram usados recursos públicos detodo o mundo para “lipoaspirar” aGeneral Motors.

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No mundo, montadoras enfrentam sua maior crise

unto com os bancos, a indústriaautomobilística é o símbolo do

capitalismo moderno. Uma indústriacom ramificações em todos os setorese responsável por cerca de 10% detoda a produção de mercadorias nomundo. Em 2008, os prejuízos dessaindústria atingiram 52 bilhões de dó-lares.

Esse colosso entrou no ano de2009 falido. Porém, foi salvo pela açãocoordenada dos governos do mundo,capitaneados pelos governos de paí-ses imperialistas, principais interessa-dos na salvação deste grande ramoeconômico.

Entramos em 2010 com uma indús-tria automobilística dominada por pou-cas grandes corporações: apenas 10empresas dominam 85% do mercado,com 580 plantas, em 55 países, queproduziram 55 milhões de veículos.

A produção em 2009 caiu em 15milhões de veículos. Foi a maior que-da de produção desde a SegundaGuerra Mundial, já que o mundo ha-via produzido 70 milhões veículos em2008.

Uma situação bastante complica-da e que vai se manter. Em 2010, seprevê um pequeno aumento das ven-das nos EUA e o declínio geral nomercado europeu. Esta queda seráparcialmente suprida pelo crescimen-to da China, Índia e Brasil, que alcan-çarão, juntos, vendas de quase 14milhões de veículos, nada menos que25% da produção mundial.

JLinha de produção da GM nos

Estados Unidos

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As multinacionaisautomobilísticas

estão no meio deum amplo

processo dereestruturação,

em todos osaspectos, desde

tecnologia,desenho e dotamanho dos

carros, atélocalização

geográfica daprodução.

Ao lado, veja asprincipais

medidas quedeverão ser

adotadas:

A reestruturação da indústriaautomobilística mundial

1Corte brutal de empregos e capacidadeprodutiva nos mercados saturadosnorte-americanos e europeus

2Rebaixamento dos custos de produção emtodas as partes do mundo a números próximosaos da China, perto dos baixíssimos 100 dólaresde custo salarial por veículo.

3O deslocamento da produção em grande escalapara os mercados “emergentes” e países ecidades com salários mais baixos.

4Fabricação de carros menores, que gastammenos combustíveis, e de baixo custo.

5Produção de vários veículos em umamesma plataforma, com utilização dasmesmas peças e economia na escala.

6 Introdução de novas tecnologias,como os carros elétricos.

7Tendência à associação entre os grandesgrupos do setor, terminando em três ouquatro corporações mundiais.

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Novo ciclo de crescimentoda indústria do carro no Brasil

Pa í s 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 % 1 9 9 9 - 2 0 0 8

EUA 16.959 17.402 17.472 17.139 16.967 17.299 17.444 17.047 16.460 13.493 - 20%China 1.832 2.089 2.365 3.243 4.302 5.061 5.762 7.184 8.792 9.380 +412%Japão 5.861 5.963 5.906 5.792 5.828 5.853 5.852 5.740 5.354 5.082 - 13%Alemanha 4.127 3.693 3.638 3.523 3.502 3.550 3.615 3.772 3.482 3.425 - 17%Brasil 1.257 1.489 1.601 1.479 1.429 1.579 1.715 1.928 2.463 2.820 + 124%Índia 858 859 887 879 1.076 1.344 1.440 1.754 1.989 1.980 + 131%

Fonte: ACEA, ADEFA, ANFAVEA, ANFIA, AUTOMOTIVE NEWS, FCAI, FOURIN, KAMA, OICA, OSD, SMMT

Vendas de automóveis em países selecionados / 1999-2008 (em milhares de unidades)

Diferente de outros setores como a mineração, a indústria automobilística nãopossibilita ganhar os mercados somente com exportações: elas têm de produzir ondevendem. Por isso, se abriu um novo ciclo de investimentos da indústria automobilís-tica mundial e uma reestruturação estratégica nos próximos anos.

O Brasil vai se tornar o 4º maior mercado de vendas de carro em 2010. Fica atrássomente da China, com vendas em torno de 13 milhões de veículos, os EstadosUnidos que vendem cerca de 11 milhões e o Japão com cerca de 4 milhões de uni-dades vendidas. O Brasil vai ultrapassar a Alemanha neste ano.

estouro da crise nosetor automobilístico

mundial, que se combinoucom a maior crise econômi-ca mundial desde a gran-de depressão de 1929,acelerou o deslocamentoda indústria automobilísti-ca para os países pobres,ditos “emergentes”.

Este movimento já vi-nha de antes, desde o iní-cio do século, porém porvolta do ano 2005, as mul-tinacionais passam a ven-der e produzir mais carrosfora do seu país de origem, de suas matrizes.

A tabela a seguir mostra, em 10 anos, a estagnação e a queda dos mercados dospaíses ricos, enquanto cresce a ritmo alucinante o mercado dos países ditos “emer-gentes”, principalmente China, Índia e Brasil:

O

Frota de carros da GM em pátio da montadora

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Emergentes são razão do crescimento mundialegundo a PriceWaterhouse Company, os quatro principais países“emergentes”, os chamados BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e

China), serão responsáveis por 75% do crescimento da indústria auto-mobilística até 2015. Estes países têm uma demanda de aproximadamente70 milhões de veículos a ser atendida, até 2019 (35 milhões na China e10 milhões no Brasil).

As multinacionais estão de olho neste mercado, pois a população des-tes países (onde se concentram 42% da população mundial) é mais jo-vem e a proporção é um carro para sete habitantes ou mais, enquantoque nos Estados Unidos existe um carro para cada habitante.

Os anos de 2008 e 2009, nos quais a indústria automobilística mundial entrouem crise, foram anos de produção e vendas recordes no mercado brasileiro.

O gráfico a seguir mostra o desempenho da indústria automobilística no Brasil de1995 a 2009:

S

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Os donos da GM

GM hoje é dos Estados Unidos(representados pelo governo

Obama, que é dono de 60% da em-presa), do sindicato dos trabalhadoresUnited Automotive Workers (17,5%das ações), do governo canadense(12,5%) e de fundos de investimen-tos norte-americanos (10%).

Apesar de injetar US$ 60 bilhõesna empresa e saneá-la, o governo dosEstados Unidos diz não querer ser odono da GM. Pretende devolver aempresa aos seus antigos donos omais rápido possível.

A história é a seguinte: cortam mi-lhares de postos de trabalho, fechamdezenas de fábricas, reduzem direitosdos trabalhadores e aposentados e...a empresa está saneada e apta a vol-tar “ao mercado”.

Na concordata, os antigos donos

da GM ficaram com 10% das açõesda empresa, e tem a preferência paracomprar do governo ou do UAW mais15%, chegando a 25%.

Nunca a célebre frase de KarlMarx, no Manifesto Comunista, semostrou tão correta: “O governomoderno não é senão um comitê paragerir o conjunto dos negócios da clas-se burguesa”.

Alguém pode perguntar: que dife-rença faz quem é o dono da empresa?

Faz muita diferença: estes fundosde investimentos não estão preocupa-dos com o país nem com a empresado ponto de vista operacional. Eles sepreocupam se suas ações estão valo-rizando na bolsa e se o investimentoestá rendendo lucros rápidos. Não es-tão preocupados no longo prazo.Querem “money” (dinheiro) e rápido!

A

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos

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Brasil banca montadoras, que mandam lucros pra foras multinacionais do ramoautomobilístico instaladas no

Brasil sempre tiveram regalias.Ganharam terrenos para sua instalação,receberam isenção de impostos federais,estaduais e municipais por vários anos

A

Sede da GM, nosEstados Unidos

s investidores privados responsáveis pela quebra daGM, antes de sua concordata, são as velhas figuri-

nhas carimbadas de Wall Street: Citigroup, muito citadana crise econômica mundial: J. P. Morgan, Fidelity Invest-ments e Franklin Templeton Investments, todos com car-teiras bilionárias. Curiosamente, o J.P. Morgan, o Fidelity eo Templeton são também donos da Embraer.

VO

SAB

IA?

O

e, agora, na crise, foram beneficiadascom a isenção de IPI (Imposto sobreProdutos Industrializados) e receberamR$ 4 bilhões do governo Lula e outrosR$ 4 bilhões do governo do estado deSão Paulo (José Serra).

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Foi tão grande a remessa de lucrosdurante a crise econômica internacio-nal, que segundo o Banco Central, oBrasil é o 13º no ranking dos paísesque mais geram lucro aos investimen-tos americanos no mundo. É o primei-ro dentre os grandes países “emergen-

tes”. O Brasil envia US$ 1 bilhão amais que a China e três vezes mais queÍndia e Rússia.

Em resumo, os trabalhadores sãoexplorados, demitidos, submetidos aum ritmo de trabalho infernal, tudopara que os lucros obtidos sejam en-viados para o exterior, entregues aosgrandes banqueiros de Nova York.

A GM foi uma das empresas que maisremeteu lucros para os Estados Unidos.Esta informação é a mais confidencialda companhia. Os trabalhadores brasi-leiros, que produzem estas riquezas, nãotêm acesso a esta informação.

Montada a partir de dados ofici-ais do BNDES, do Banco Central eda Anfavea, a tabela a seguir de-monstra que, em uma década, asmultinacionais investiram menos nopaís (US$ 13,8 bilhões) do que en-viaram para o exterior (US$ 15,9 bi-lhões). Também se demonstrou queestas empresas sobrevivem da con-tribuição do governo federal e das

isenções de impostos municipais eestaduais.

Notem que quando se acentua acrise nas matrizes, a partir de 2008,aumenta drasticamente as remessas delucros para salvá-las da falência, en-quanto aumentou a contribuição e o“pacote de bondades” do governo fe-deral para estas empresas:

Ano Investimentos das Desembolsos Remessas de

montadoras do BNDES lucros

2001 1.750 1.129 4152002 976 878 9172003 673 2.654 4362004 739 2.575 2742005 1.050 2.022 4982006 1.451 2.386 1.3402007 1.965 1.604 2.7002008 2.913 2.491 5.6002009 2.305 3.166 3.800

TOTAL 13.822 18.905 15.980

INVESTIMENTOS E REMESSA DE LUCROS DA INDÚSTRIAAUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA DE 2001 A 2009

Fonte: BNDES. BACEN e Guia Automotivo brasileiro - 2009 - ANFAVEAInvestimentos 2009: estimativa de Goldenstein & Cassoti

(em milhões de US$)

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ale lembrar ainda que, além deserem financiadas pelo governo

federal, as empresas são favorecidas porisenções de impostos os mais diversos.

Por exemplo, para instalar a filial emGravataí, foram gastos US$ 554 mi-lhões. A metade deste capital foi em-prestado pelo governo do Rio Gran-de do Sul, além de um pacote de in-centivos, que incluiu a postergaçãodo recolhimento do ICMS.

A nova expansão da planta de Gra-vataí, com a qual ela passará a produ-zir de 230 mil para 380 mil carros anu-almente, atinge investimentos na or-

Subsídios e isenções fiscais

dem de R$ 2 bilhões, segundo infor-mou a empresa. Destes 2 bilhões, ametade virá de empréstimos doBNDES e de bancos estaduais, comoo BRDE e o Banrisul.

Além disso, o governo do Rio Gran-de do Sul concedeu benefícios fiscaisà expansão da fábrica da GM em Gra-vataí, no valor de R$ 1,4 bilhão. Poreste benefício, a GM vai financiar opagamento de ICMS em 22 anos, semjuros nem correção monetária.

Desta forma, agem todos os gover-nos, seja federal, estadual ou municipal,como no caso de São José dos Campos.

V

Trabalhadores da GM, em São José dosCampos, durante assembleia

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General Motors do Brasil é a sétima maior empresa em operação noBrasil. As duas maiores, a Petrobras e a Vale, prestam informações

detalhadas de suas operações. Porém, as grandes empresas multinacio-nais, como a GMB, se negam a prestar informações.

Nos EUA, como é obrigatória a apresentação das informações contá-beis e produtivas, existem relatórios anuais, especificando lucros e pro-dução no próprio site da empresa. Porém, essas informações não sãodetalhadas por país, nem por planta de produção.

Isto é um desrespeito da empresa à comunidade onde atua e paracom seus trabalhadores, pois a estes interessa saber qual é a verdadeirasituação da empresa, já que seus destinos estão entrelaçados com o dela.

Desde 2008, as grandes empresas no Brasil são obrigadas a prestar in-formações sobre suas atividades empresariais ao público. A lei 11.638,promulgada em dezembro de 2007 e ratificada pela Presidência da Repú-blica, obriga as grandes empresas a apresentarem o balanço patrimonial, ademonstração dos lucros ou prejuízos acumulados e vários outros itens.

A apresentação destes números vai revelar quanto a empresa investeno Brasil e quanto envia de remessas de lucros aos Estados Unidos. Vairevelar a produtividade da empresa e os salários baixíssimos pagos aqui.

Os trabalhadores das três plantas da GM no Brasil devem exigir a aber-tura dos livros contábeis da montadora.

Como empresa instalada aqui,GM deveria respeitar nossas leis

A

O vice-presidenteda GMB, José

Carlos PinheiroNeto, em evento

da montadora

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Estado brasileiro sempre ajudouas multinacionais do setor auto-

mobilístico, desde a sua implantaçãono Brasil.

Favorecimentos que nenhum traba-lhador brasileiro tem direito. Nós nãoganhamos terreno para construir nos-sas casas, nem deixamos de pagarIPTU, água, luz ou telefone. Os em-préstimos que contraímos são realiza-dos com os juros mais altos do mun-do e somos obrigados a pagar todos

os impostos, que vêm incorporados,inclusive, no preço das mercadorias.

Então, por que esse favorecimentoàs grandes multinacionais? Por que atransferência de bilhões de dólares doscofres públicos brasileiro, que termi-nam indo para os Estados Unidos?

É uma ironia da história: um dospaíses com maior desigualdade socialno mundo dando dinheiro aos bancose empresas mais ricas do mundo!

O

Só com a nacionalização,GM pode servir ao Brasil

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Apesar de gostar de posar de naci-onalista, o presidente Luiz Inácio Lulada Silva, em seus dois mandatos, go-vernou para favorecer estas grandesempresas multinacionais, que domi-nam a economia brasileira. Na crise,por exemplo, deu dinheiro para asmontadoras, que demitiram e aumen-taram o ritmo de trabalho. Já os traba-lhadores ficaram com o desemprego.

Lula, com toda a sua “dita” popu-laridade, tinha e tem todas as condi-ções para inverter esse quadro. É algoque está em suas mãos, mas, infeliz-mente, o lado do governo é dos ban-queiros e patrões.

O único caminho que garantiria odesenvolvimento da indústria brasilei-ra, os empregos, direitos e salários dostrabalhadores é a estatização destas

empresas, diante das quais ficamos re-féns de chantagens e ameaças de irembora, não investir, etc.

Alguns podem argumentar que asmultinacionais têm a tecnologia e nósnão temos. Esse raciocínio é totalmenteequivocado: nós temos um corpo deprofissionais plenamente capazes de

De acordo com dados doBanco Central, a médiaanual de remessa de lu-cros ao exterior cresceuem 277% no governoLula. Saiu de uma médiade US$ 1,29 bilhão, nadécada de 90, para US$4,8 bilhões, atualmente.

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desenhar qualquer máquina. Umexemplo é o próprio motor flex,desenhado no Brasil e que hoje ganhao mundo.

Os trabalhadores da GM do Brasilprecisam exigir o fim da exploração eda sangria de recursos brasileiros quevão para os Estados Unidos.

Precisamos exigir do governo Lulaque nacionalize e estatize a GM doBrasil, junto com a Volks, a Ford, aFiat, para que estas empresas, sob adireção dos trabalhadores, possamser uma alavanca para o desenvol-vimento industrial brasileiro e nãopara a sanha de lucros dos banquei-

ros americanos, alemães, japoneses,franceses, etc.

Não defendemos a falsa nacionali-zação de Obama, que está saneandoa GM para devolver aos banqueirosamericanos. Defendemos uma estati-zação sob controle dos trabalhadorese da comunidade.

Enquanto a GM for dirigida porbanqueiros nos EUA (que conseguiramlevar à falência a maior empresa domundo), sempre estaremos à beira doabismo, sempre teremos que estarprontos para lutar em defesa dos em-pregos, salários e da dignidade da clas-se trabalhadora!

Só a luta muda a vida!

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