estudo exploratório no setor da indústria de mineração e ... ·...
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o Uso Estratégico da Tecnologia da Informação: Um
Estudo Exploratório no Setor da Indústria de Mineração e
Exploração de Petróleo no Brasil.
Alcir Rosa Freire
Tese submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Se.).
Aprovada por
PRESIDENTE
.,.
Prof. ,AGItíC;:ÓLA DE SOUZA BETHLEM
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
MARÇO DE 1994
FREIRE. Alelr Rosa.
o Uso estratégico da Tecnologia da Informação:
Um Estudo Exploratório na Indústria de Mineração
e Exploração de Petróleo do Brasil. COPFEAD/UFRJ.
1994.
132 p" 29.7 em.
Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro. COPPEAD. Mestrado em Administração.
1. Tecnologia do Informaçc.o 2. Estratégia Empresarial
3. Tese (Mestr.- Coppead/UFRJ). I.Trtulo.
II
III
AGRADECIMENTOS
Ao longo do extenso percurso que vai desde o primeiro esboço de
tema até a apresentação do trabalho concluído à banca examinadora, a tarefa de
pesquisa para a defesa de tese é desgastante, muitas vezes entusiasmante e algumas
vezes desanimadora também. Sendo assim, é natural que esses altos e baixos de
emplogação sejam diretamente refletidos no estado de espírito do autor e, desta
forma, também repassados às pessoas que participam do seu convívio mais próximo.
Desta forma, minhas palavras de agradecimento são inicialmente
dirigidas a essas pessoas que, de uma forma ou de outra, suportaram uma parte da
carga de levar avante esta tese e tomá-la bem sucedida a despeito dos vários
percalços do caminho. Neste grupo estão os professores Donaldo de Souza Dias e
Denise Fleck - orientador e co-orientadora - que souberam, mais do que ler,
analisar, comentar e criticar o material gerado, fornecer-me o seu apOlO nos
momentos em que as coisas pareciam muito difíceis e o caminho apresentava-se
obscuro. Por outro lado e de uma forma muito especial, também incluo neste grupo
a minha família, que enfrentou estas idas e vindas de pesquisa, refletidas em altos e
baixos de humor e de dedicação, como oportunidades de demonstrar o seu carinho,
a sua compreensão e o seu apoio decidido e incondicional.
Aos professores e funcionários do COPPEAD, pela atenção,
compreensão e apoio técnico que sempre me dispensaram, meu reconhecimento
sincero.
Finalmente, meus agradecimentos à PETROBRAS por proporcionar as
condições necessárias para que o curso e este trabalho pudessem ser realizados com
o máximo empenho, dedicação e resultado.
N
Resumo da tese submetida ao corpo docente do Instituto de P6s
Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em
Ciências (M. Se.).
o Uso Estratégico da Tecnologia da Informação: Um
Estudo Exploratório no Setor da Indústria de Mineração e
Exploração de Petróleo no Brasil.
Aleir Rosa Freire
Março de 1994
Orientador: Prof. Donaldo de Souza Dias
Este trabalho se constitui num estudo exploratório do uso estratégico
da Tecnologia da Informação (TI) em empresas brasileiras de um determinado
segmento industrial, objetivando fornecer subsídios acerca da visão que estas
empresas têm sobre o assunto, das formas através das quais elas podem alavancar a
sua competitividade pelo uso da TI e das dificuldades que elas enfrentam neste
processo.
o trabalho apresenta um quadro de referência atualizado do que está
sendo pesquisado sobre o assunto, abrangendo um amplo espectro de abordagens
sobre o tema, incluindo conceitos sobre sustentabilidade da vantagem competitiva
gerada via uso da TI.
v
Os resultados do estudo se baseiam numa pesquisa realizada em
quatro empresas do setor de mineração/exploração de petróleo do Brasil, organizada
sob a forma de um estudo de casos.
A pesquisa aponta indícios interessantes sobre formas através das
quais a TI pode apoiar a competitividade das empresas e dos fatores que, no
ambiente estudado, são os mais relevantes no sentido de facilitar ou inibir o
desenvolvimento de aplicações estratégicas pelas empresas.
As principais conclusões do estudo indicam que empresas já estão
desenvolvendo aplicações estratégicas da TI, apesar de haver pouco estÚDulo do
ambiente competitivo neste sentido.
Da pesquisa também se conclui que existe campo para empresas de in
dústrias primárias, como a mineração, explorarem o potencial de inovação da TI,
principalmente no que tange a gerência de transações ao longo da cadeia de valor na
qual a empresa estrutura suas atividades.
Por fIm constatou-se que o grau de liderança/envolvimento da gerência
de topo a:liado aos fatores relativos à capacitação da função de TI da empresa, são
os fatores considerados mais relevantes para que as empresas, no ambiente
estudado, se qualifIquem para a utilização da TI como arma competitiva.
VI
Abstract of the thesis presented to the Instituto de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as part of
the requirements for the obtention of the Master Degree in Science (M.Sc.).
The Strategic Use of the Information Technology: An
Exploratory Study in the Mining and Petroleum Exploration
Industry in Brazil.
Alcir Rosa Freire
March, 1994
Chainnan: Prof. Donaldo de Souza Dias
This work: presents an exploratory study of the strategic use of the In
formation Technology (lT) in brazilian companies of an especific industry, intended
to collect elements of the vision that these companies have about the subject, to
study the ways companies can leverage their competitivity by the use of the IT and
to investigate the dificulties they face in the processo
The work: presents an up-to-date reference frame of the findings of
various researches that have recently being conducted about the subject, covering an
extensive collection of approachs, including concepts about the sustainability of the
competitive advantage generated by the use of the IT.
The results of the study are based on a research, organized as a cases
study, conducted in four companies of the· mining/petroleurn exploration industry in
Brazil.
VII
The researeh points out interesting clues about the ways through
whieh IT ean support the eompanies' eompetitivity and shows the faetors that, in the
envirorunent eonsidered, are the most relevant to faeilitate or inhibit the
development of strategic applieations.
The main eonclusions of this study indieate that eompanies are already
developing strategie applieations of IT, nevertheless the eompetitive envirorunent
being not very stimulant.
Another eonclusion is that there is room for eompanies of basie indus
tries, like mining, to explore the potencial of inovation that IT promotes, especia1ly
in relation to the management of interaetions along the value ehain in whieh the
eompany struetures its aetivities.
Fina1ly, the search eoncludes that the leveI of leadership/eommitrnent
of the top management together with the faetors related to the eapability of the IT
funetion of the eompany, are the faetors eonsidered the most relevant for the
eompanies, in the envirorunent studied, to qualify themselves to the utilization of
the IT as a eompetitive weapon.
vm
SUMÁRIO GERAL
1- INTRODUÇÃO
1.1- Motivação .......................................................................................... 1
1.2- Objetivo ............................................................................................ .3
2- REVISÃO BmLIOGRÁFIcA
2.1- Aplicações Estratégicas da TI
2.1.1- O conceito de TI ............................................................................. 5
2.1.2- Aplicações estratégicas ................... : ............................................... 6
2.1.3- O sucesso na aplicação estratégica da TI ......................................... 7
2.1.4- Alinhamento Estratégico ................................................................ 13
2.2- Vantagem Competitiva e TI
2.2.1- TI e a estrutura da indústria ............................................................ 18
2.2.2- Sustentabilidade da vantagem competitiva. ..................................... 21
2.3- Os Processos Organizacionais e a TI
2.3.1- Cadeia de valor e TI.. .................................................................... 25
2.3.2- Gerência de interações e TI... ......................................................... 28
2.3.3- Reengenharia de Processos de Negócio .......................................... 32
3-METODOLOGIA
3.1- Objetivos do estudo e pergunta da pesquisa ...................................... .40
3.2- O método de pesquisa utilizado e limitações do estudo ...................... 41
3.3- A coleta de dados .............................................................................. 42
3.4- A base teórica. ................................................................................... 43
3.5- O segmento industrial escolhido ........................................................ 48
4- DESCRIÇÃO DOS CASOS
4.1- Empresa A
4.1.1- Aplicações estratégicas ................................................................. .49
4.1.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas ................................................................... 53
4.2- Empresa B
4.2.1- Aplicações estratégicas .................................................................. 55
4.2.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas .................................................................. 56
4.1- Empresa C
4.3.1- Aplicações estratégicas .................................................................. 61
4.3.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas .................................................................. 63
4.1- Empresa D
4.4.1- Aplicações estratégicas .................................................................. 67
4.4.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
1· - , . 68 ap lcaçoes estrateglcas ................................................................. .
IX
x
5- INTERPRETAÇÃO DOS CASOS
5.1- Análise das Aplicações Estratégicas
5.1.1- O caráter estratégico das aplicações ................................................ 73
5.1.2- Vantagem Competitiva ................................................................... 75
5.1.3- Sustentabilidade da Vantagem Competitiva .................................... 76
5.1.4- Aspectos Relativos à Reengenharia de Processos ............................ 76
5.1.5- Considerações sobre as outras empresas estudadas ......................... 77
5.1.6- Resumo .......................................................................................... 79
5.2- Análise dos Fatores Facilitadores/lnibidores para o
desenvolvimento de Aplicações Estratégicas
5.2.1- Fatores Ambientais ........................................... . . . ........................... 82
5.2.2- Fatores referentes ao Alinhamento Estratégico ................................ 85
5.2.3- Fatores Organizacionais .................................................................. 88
5.2.4- Fatores relacionados à Capacitação da Função de TI... .................... 92
5.2.5- Resumo .......................................................................................... 96
6- CONCLUSÃO
6.1- A pesquisa ........................................................ '" ............................ 103
6.2- Resultados mais significativos ......................................................... 1 04
6.3- Implicações para a prática .............................................................. 109
6.4- Dificuldades encontradas ................................................................. 11 O
6.5- Sugestões para novas pesquisas ....................................................... 111
7- REFEIffiNCIAS BmUOGRÁFIcAS ................................................ 113
XI
LIST A DAS ILUSTRAÇÕES
Fig. 2.1.1- Modelo de alinhamento estratégico .......................................... 14
Fig. 2.1.2- bnpacto estratégico da TI... ...................................................... 16
Fig. 2.1.3- Gráfico tipo de alinhamento x fatores industriais ...................... 17
Fig. 2.2.1- Modelo das fontes de vantagem competitiva ............................. 20
Fig. 2.3.1- Cadeia de valor ........................................................................ 25
Fig. 2.3.2- Sistema de valor ................................•...................................... 27
Fig. 2.3.3- As três dimensões do processo de mudança .............................. 36
Fig. 2.3.4- Relação entre capacidades de TI e reprojeto de processos ........ 38
Fig. 3.3.1- Representação esquemática do grupamento de fatores ............. .46
Fig. 6.2.1- Posicionamento das empresas ................................................ 107
LISTA DAS TABELAS
Tab. 2.1.1- Lista dos fatores facilitadoresfinibidores .................................. l O
Tab. 2.1.2- Fatores importantes pl Mineração, Construção e Petróleo ........ 11
Tab. 2.3.1- O bnpacto da TI na inovação de processos ............................. .37
Tab. 5.1.1- Características das aplicações estudadas .................................. 79
Tab. 5.2.1- Análise dos fatores .................................................................. 97
Tab. 6.2.1- Fatores mais relevantes .......................................................... 108
XII
LISTA DOS ANEXOS
Anexo 1- Modelo de correspondência às empresas .............. ................... 116
Anexo 2- Roteiro de entrevistas ................ .............................................. 118
Anexo 3- Sumário executivo ................................................................... 123
l- INTRODl!CÃO
1.1 - MQtiya�ãQ
O uso da tecnologia da infonnação (TI) nas empresas é um tema que
desperta interesse, não só no sentido de se acompanhar a sua evolução, mas, princi
palmente, no de se gerar novas visões que conduzam a um uso mais efetivo do
potencial de mudança e alavancagem de negócios que a TI pode proporcionar.
Cash (1988, p.3) comenta que, apesar de muitos dos aspectos individuais
dos problemas da gerência de TI não serem particulares, muitas vezes a TI é vista
como um negócio dentro do negócio. A complexidade em se desenvolver sistemas
apoiados pela TI forçou a criação de departamentos especializados, resultando em
dificuldades de comunicação e integração da função com o resto da companhia. O
distanciamento existente entre a visão da.área de infonnática e a do pessoal ligado
às outras áreas da empresa foi sempre um grande desafio.
Mais recentemente tem sido enfatizada a necessidade de uma postura pró
ativa e empreendedora da gerência de TI no sentido de buscar oportunidades de uso
da mesma de forma eficaz (Johnson e Carrico, 1988), principalmente em negócios
em que a informação é um insumo importante. Então, aquela que era uma preocupa
ção de escopo mais limitado foi sendo ampliada à medida que a discussão acerca da
capacidade da TI de gerar resultados positivos e eficazes para as empresas foi sendo
mais explicitada. Schnitt (1993, p.lS), observou que esta preocupação é comum:
"Uma pesquisa recente mostrou que só 24% dos gerentes agora acreditam que a TI
tem um melhor retomo do que outros investimentos. Os orçamentos de TI têm sido
cortados em termos reais pela primeira vez numa década ... Gastos em capital de TI
foram menos eficazes em aumentar a produtividade que qualquer outro tipo de gasto
considerado" .
Por outro lado, o país nos últimos anos iniciou um processo mais intenso de
abertura de sua economia para o exterior e as empresas passaram a ter maior
,
2
necessidade de ganhar competitividade para concorrer com empresas estrangeiras no
Brasil e no exterior. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou, em
1990, uma pesquisa que revela que 97% dos mais de 500 dirigentes industriais de
grandes e médias empresas brasileiras consultados tinham disposição de aumentar,
nos três anos seguintes, seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento na busca
de ganhar competitividade (CNI, 1990).
Neste contexto, é fundamental especular-se acerca do papel que a TI
poderia representar no sentido de alavancar esta busca de competitividade das
empresas, explorando-se mais efetivamente o seu potencial estratégico através da
redução do distanciamento, já citado, entre as iniciativas da área de TI e as
iniciativas da área operacional das empresas.
Esta temática, ou seja, o uso da TI como arma estratégica para reforçar a
competitividade, está sendo explorada com bastante intensidade nos últimos anos na
literatura internacional, através de abordagens diversas, mas sempre com a visão da
necessidade de integração, ou alinhamento como preferem alguns autores, entre os
esforços da área de 11 e os esforços estratégicos da organização como um todo e da
busca do entendimento de que a 11 não se justifica por si mesma
A atualidade do tema é de grande importância para n6s, no contexto
brasileiro, porque a nível de aplicação prática, nos países mais desenvolvidos, as
empresas ainda estão, aparentemente, em busca de aprendizado de como implantar
estes conceitos. Como afIrma Schnitt (1993, p.14): "Apesar da tecnologia da
informação (TI) durante os anos 80 ter atingido um zênite na sua influência, nos
seus gastos e expectativas, seus benefícios tem sido ilus6rios mesmo para os seus
mais ardorosos apoiadores. N6s temos continuamente focalizado como a tecnologia
é usada e não para que ela é usada". As empresas brasileiras poderiam, então, se
benefIciar da possibilidade de queimar etapas do processo caso suficiente material
de pesquisa nesta linha fosse desenvolvido no país, avaliando e adaptando os novos
3
conceitos à realidade das empresas brasileiras que necessitam, rapidamente, ganhar
competitividade a nível internacional.
1.2- Objetivo
"Para as indústrias exportadoras predomina a preocupação com questões
tecnológicas. O exame dos resultados setoriais sugere que a tendência predominante
das empresas é de transitar em direção a fontes mais sofisticadas de vantagem
competitiva e níveis mais elevados de eficiência e produtividade" (CNI, 1991, p.8).
Esta afmnativa, retirada de uma outra pesquisa patrocinada pela CNI,
envolvendo 699 dirigentes de empresas líderes da indústria brasileira, mostra que
questões tecnológicas aplicadas à obtenção de vantagem competitiva já são uma
preocupação explicitada das empresas nacionais de ponta, principalmente das que se
vêem disputando o mercado internacional através da exportação.
O objetivo deste trabalho focaliza duas linhas de resultado complementares.
Por um lado, busca-se, através de pesquisa bibliográfica, propor um quadro de
referência do que se está pesquisando e aplicando no exterior em termos de uso
estratégico/competitivo da TI, vislumbrando somar esforços a outros trabalhos
nacionais de pesquisa nesta linha. Acreditamos que este trabalho é útil no sentido de
antecipar tendências e criar uma consciência sobre o assunto. Tal consciência pode
auxiliar o país a queimar etapas no processo de reduzir a defasagem tecnológica e
gerencial em relação ao quadro internacional.
Complementarmente a isso, este trabalho se propõe a um estudo explo
ratório de um setor econômico, com características de atuação no mercado
internacional e de grande peso na economia nacional, com vistas a investigar
tentativas de empresas do setor de utilizar a TI na busca de vantagens competitivas,
enfocando os seguintes pontos:
- As empresas do setor possuem ou pretendem desenvolver aplicações da TI
de caráter estratégico?
4
Quais os fatores facilitadores/inibidores para o sucesso no
desenvolvimento de aplicações estratégicas da TI, na percepção destas empresas?
- Como as aplicações estratégicas da TI podem adicionar valor às operações
da companhia?
Em termos de relevância, acreditamos que este trabalho possa contribuir
para se avaliar o estágio de entendimento e aplicação prática dos conceitos aqui
apresentados por empresas de um mesmo setor da economia, verificando os fatores
que, neste setor, são importantes para o sucesso na exploração de aplicações
estratégicas.
O estudo pode também servir como urna referência para que se desen
volvam estudos semelhantes para outros setores importantes da economia nacional.
5
2-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1- Ap!jeaeÕes Estraté�icas da TI
2.1.1- O conceito de TI:
Uma grande quantidade de livros e artigos já foram publicados onde o
potencial estratégico do uso da Tecnologia da Infonnação é explorado sob diversos
ângulos. Os enfoques sob os quais é apresentado o tenno Tecnologia da Informação
também são vários.
A maioria dos autores se utiliza do tenno Tecnologia da Informação
("Infonnation Technology") sob o enfoque tecnológico, se reportando a
equipamentos, serviços e software para usuário (Cash, 1988; Clemons, 1991;
Luftman, Lewis e Oldach, 1993; Benjamin, Rockart, Morton e Wyman, 1984).
Alguns autores adotam o enfoque sistêmico, se referindo a sistemas de
infonnação estratégicos (King e Sabherwal, 1992; Senn, 1992; K.im e Michelman,
1990).
Sob a nomenclatura de Recursos de Infonnação, King e Grover (1991,
pp.294) fazem uma distinção entre o recurso chamado Tecnologia de Infonnação -
"conjunto de recursos não-humanos dedicados ao processamento, armazenamento e
comunicação da informação e a fonna como esses recursos são organizados num
sistema capaz de realizar várias tarefas" - e o recurso chamado Infonnação - "dado
mais um modelo defInidor de contexto".
Porter e Millar (1985, pp.149) defmem Tecnologia da Infonnação de uma
fonna mais abrangente, englobando a informação que o negócio cria mais um largo
espectro de tecnologias convergentes e interligadas que processam infonnação
(equipamentos e serviços).
Para efeito deste estudo, estaremos sempre analisando aplicações da TI em
que a defmição do tenno Tecnologia da Infonnação (TI) será tomada de Porter e
6
Millar incluindo tanto o recurso Infonnação e seu uso, como a tecnologia usada para
processá-la.
Por outro lado, nos propomos a estudar aplicações da TI estratégicas. Qual
o sentido do tenno estratégico neste contexto?
2.1.2 - Aplicacões estratégicas:
Uma fonna de identificar o papel estratégico de uma aplicação da TI pode
ser derivado da classificação apresentada por Henderson, Thomas e Venkatrarnan
(1992, p.5) da existência de dois papéis para a aplicação de TI na organização: o
papel administrativo, que define o escopo da TI como a automação de funções espe
cíficas como contas-a-pagar, contas-a-receber, etc., e que focaliza o
desenvolvimento e gerência de uma platafonna de TI eficiente para planejamento e
controle; e o papel operacional, uma extensão do administrativo, que se distingue
pela criação e gerência de uma platafonna tecnológica que cria capacidade para
automatizar todo o conjunto de processos de negócios. Isto requer a gerência de
uma infraestrutura de TI que responda e suporte a estratégia de negócios escolhida
pela organização.
Senn (1992, pp.8) afinna: "A TI é estratégica se ela modifica a fonna cOlno
um negócio compete". Entretanto, ele alerta para o fato de que a classificação de
uma sistema como estratégico ou não-estratégico não tem sentido, porque
estratégico não se refere a um tipo de sistema. Qualquer tipo de sistema, seja ele
transacional, gerencial (MIS) ou executivo (suporte à decisão), pode ser estratégico
se for usado como uma arma competitiva. Mesmo sistemas de nível operacional
podem ter valor estratégico dependendo da fonna como são usados.
Bakos e Treacy (1986, p.112) comentam que sistemas de informação
voltados para a melhoria das operações, são o foco tradicional das aplicações de TL
Estes sistemas, segundo eles, podem suportar a posição competitiva da finna desde
7
que sejam aplicados a uma área funcional crítica da empresa e se, além disso, forem
um novo tipo de aplicação na indústria (inovação).
Aplicações estratégicas de sistemas de informação são definidas por King e
Sabherwal (1992, pp.218) como "aplicações que auxiliam uma organização a atingir
suas metas e objetivos. Uma aplicação estratégica é considerada como aquela que
tem um profundo efeito no sucesso e destino de uma companhia, quer seja influ
enciando, isto é, dando forma à estratégia da companhia ou exercendo papel direto
na implementação ou suporte à estratégia da companhia".
Kremar e Lucas (1991, p.137) definem sistemas de informação estratégicos
como sendo aplicações que permitem ao seu implementador ganhar vantagem
competitiva ou, pelo menos, manter-se em paridade com os seus competidores.
2.1.3 - O sucesso na aplicação estratégica da TI:
Muito do que existe na literatura acerca de aplicações estratégicas da TI
sugere ações muito bem planejadas visando obter transformações profundas na
forma de conduzir os negócios da empresa. Fernandes e Alves (1992, p.2) defendem
a idéia de que "a definição de oportunidades de uso da tecnologia da informação
para obter vantagens competitivas ... tem que ser consciente e planejada ao contrário
de oportunística e descoordenada como ocorre em muitas empresas". Lee e Adams
(1990) descrevem e comentam uma série de ferramentas para identificação e
exploração de oportunidades de uso estratégico da TI.
Em termos práticos, entretanto, o que se observa é que este processo é ainda
bastante calcado em ações de caráter evolutivo. Senn (1992) afirma que sistemas de
informação de caráter estratégico frequentemente não são resultado de planejamento
antecipado. Eles evoluem. Como exemplo ele cita que o sistema de reserva de
passagens da American Airlines (SABRE), estratégico por excelência, foi concebido
em 1959.
8
Em uma pesquisa realizada com empresas norte-americanas, King e Grover
(1991) reportam que quase 55% das empresas responderam que o processo para
identificar e selecionar oportunidades para uso de recursos de informação era ou
"irregular" ou não tinham nenhum "processo formal".
Krcmar e Lucas (1991, p.138-139), destacam seis fatores-chave para o
sucesso no desenvolvimento de sistemas de informação estratégicos: reconhecer e
aproveitar a oportunidade quando ela aparece; capacidade de lidar com a falta de
justificativa de custo na decisão de desenvolver um novo sistema (ao serem
concebidos tais sistemas, normalmente, não é possível ser previsto o retomo);
necessidade de se ter um patrocinador interno para o sistema; capacidade de
"vender" a aplicação; ter visão orientada ao consumidor; capacidade de construir
infraestrutura de suporte adequada.
Kim e Michelman (1990), através de pesqUISa na indústria de saúde
americana, desenvolveram um modelo que descreve os fatores com os quais as
empresas devem lidar para conseguir chegar ao ponto de usar a TI estrategicamente
nesta indústria. Numa primeira fase é necessário vencer as barreiras políticas que
dificultam a integração necessária entre os sistemas. A segunda fase seria de realizar
a integração entre os sistemas transacionais e gerenciais isolados, pois, "evidências
empíricas da importância da integração, podem ser encontradas em aplicações
estratégicas da TI bem sucedidas" (p.206). A última fase seria a de direcionar as
aplicações integradas às áreas das empresas que têm que lidar com forças
competitivas. Os autores argumentam, com base na pesquisa, que muitas das
aplicações estratégicas de sucesso não se originaram em sofisticados sistemas de su
porte à decisão, mas em sistemas de processamento de transações ou de informações
gerenciais já existentes.
O conceito de sucesso na aplicação estratégica de sistemas de informação
foi explorado por King e Sabherwal (1992) num trabalho que o apresenta como
sendo fundamentado em termos do tamanho da vantagem competitiva, ou da
9
contribuição percebida para a perfOlmance da companhia, e da sustentabilidade
desta vantagem, incluindo o período de tempo pelo qual é esperado que a vantagem
dure, e a dificuldade experimentada pelos competidores em copiá-la.
Os autores então desenvolveram, baseados na literatura, uma medida de
sucesso, consistindo de seis itens: (a) a contribuição da aplicação para o "market
share" da companhia, e (b) a sua contribuição para o retorno do investimento; (c) a
dificuldade percebida para um competidor copiar a aplicação; (d) a duração pela
qual a companhia esperava ter urna vantagem sobre os competidores, devido a esta
aplicação; (e) o grau de inovação da aplicação; e (t) o quanto pró-ativa era a
aplicação. Na pesquisa, realizada entre grandes empresas americanas, King e
Sabherwal constataram que aplicações estratégicas de TI se mostraram mais bem
sucedidas em companhias com departamentos de sistemas mais maduros, ou seja,
que tenham maior experiência com o projeto e desenvolvimento de sistemas de
informação importantes.
Em outro estudo King e Grover (1991) pesquisaram em 84 companhias
americanas, entre outros aspectos, os processos organizacionais que foram responsá
veis pela implementação do uso estratégico da TI em empresas de diversos setores.
Nesse estudo, eles concluem (p.303) que conhecimento e infraestrutura tecnológica
são grandes facilitadores do processo de aproveitamento do potencial estratégico da
TI, ainda que muita ênfase seja dada, na literatura, aos aspectos do negócio. Em
outra palavras, sistemas estratégicos podem ser concebidos a partir de uma
perspectiva do negócio da companhia mas, conhecimento técnico, infraestrutura de
rede e facilidades computacionais na empresa são cruciais para o seu êxito.
Os autores também afirmam que fatores facilitadores e inibi dores são
diferentes para sistemas estratégicos em relação a aplicações tradicionais.
Comprometimento da organização e da gerência senior, informação tecnológica e
pressão competitiva são fatores mais importantes para os sistemas orientados
externamente. A lista de fatores facilitadores/inibidores é apresentada na tab. 2.1.1.
10
Tabela 2.1.1 - Lista dos Facilitadores e Inibidores para as Aplicações Estratégicas
Fatores Facilitadores Fatores lnibidores
l.Posição forte da finna no mercado l .Ausência de planejamento apropriado
2.Posição de liderança em TI 2.Baixa importância percebida do con-
ceito
3.Forte capacidade de planejamento 3.Ausência de suporte técnico apropri-
ado na empresa
4.Facilidades computacionais extensi- 4.Restrições orçamentárias
vamente presentes na empresa
5.Forte apoio organizacional/gerência 5.Dificuldade em perceber
de topo contribuições tangíveis
6.Pressão do ambiente competitivo 6.Complexidade do conceito
7.Presença de forte suporte técnico na 7.Dificuldades potencialmente altas de
empresa iniciar o processo
8.Forte posição financeira 8.Ausência de apoio organizacional e
da alta gerência
9.Necessidade de diferenciação e 9.Poder e política na empresa
inovação
1O. Natureza do ambiente externo ou in-
dústria
11.Objetivos gerenciais mal definidos
12.Outras �rioridades mais importantes
fonte: King e Grover (1991)
11
Outra contribuição interessante deste mesmo estudo é a classificação dos
mais importantes fatores facilitadores e inibidores por linha de negócio. Uma das
linhas de negócio pesquisadas é a que agrega Mineração, Construção e Petróleo.
Para esta linha de negócios, a pesquisa chegou a conclusão que os fatores mais
importantes seriam, em ordem decrescente de importância:
Tabela 2.1.2 - Fatores mais importantes para Mineração, Construção e
Petróleo
Fatores Facilitadores Fatores Inibidores
1.Posição de liderança em TI 1.Baixa importância percebida do con-
ceito
2.Pressão Competitiva 2.Ausência de apOlO organizacional e
da alta gerência
3.Presença de forte suporte técnico na 3.Ausência de planejamento apropriado
empresa
4.Forte posição financeira 4.Dificuldade em perceber
contribuições tangívelli
fonte: King e Grover (1991)
Johnson e Carrico (1988) apresentam, a partir de pesquisa em onze em
presas de onze setores diferentes da economia norte-americana, as seguintes
avaliações: (a) fatores ambientalli influenciam a direção e velocidade do uso
estratégico da TI; (b) as companhias variam substancialmente no grau de integração
entre a TI e as estratégias das suas unidades de negócio; (c) diversas condições
internas estão consllitentemente presentes em organizações que são mais bem
sucedidas na utilização da TI.
12
Segundo eles, os principais fatores de sucesso para a aplicação estratégica
da TI seriam:
a) Ambientais:
- Conteúdo de infonnação nos relacionamentos-chave: negócios com alto
volume de transações na sua cadeia de valor (inclusive na ligação com outras
empresas).
- Produtos/serviços de vida curta (ex. passagens aéreas)
- crescimento da pressão competitiva na indústria
b) Grau de coerência entre as oportunidades oferecidas pelos fatores
ambientais e a integração entre TI e estratégia da companhia.
c) Internos:
- Liderança (visão e persistência para vencer barreiras).
- Integração funcional direta entre a área de TI e as áreas operacionais (a
área de TI não se reporta a outra área de "staff' ex: fmanças)
- Capacidade da função de TI: esta é fortemente alavancada quando parte do
pessoal alocado à área de sistemas tem forte percepção do negócio, baseada em
experiência de qualidade acumulada em funções operacionais. As companhias bem
sucedidas também tinham sistemas administrativos e de apoio a decisão fortes antes
de deslocar recursos para a busca de oportunidades para aplicações de cunho
estratégico.
- Existência de mecanismos de influência da área operacional na área de TI
(gerentes de áreas operacionais-chave exercitando controle sobre orçamento, esta
belecimento de prioridades e planejamento de alocação de recursos de TI).
13
2.1.4 - Alinhamento Estratégico:
"A necessidade de estabelecer relação entre as estratégias de negócio e as
estratégias de TI aparece frequentemente classificada entre os dois mais importantes
objetivos de executivos seniores da função de TI, conforme demonstram pesquisas
do mM Advanced Business Institute" (Luftman, Lewis e Oldach, 1993, p.205).
Dos diversos fatores que contribuem para que uma companhia tire proveito
das oportunidades de desenvolvimento de aplicações estratégicas, um dos mais
citados, é o grau de alinhamento existente entre a estratégia de negócios e a
estratégia da área de TI da empresa.
Johnson e Carrico (1988) propõem uma tipologia para classificar as
companhias quanto à extensão em que a TI está integrada à estratégia da empresa.
Os três tipos seriam:
- Tipo I ou tradicional: A TI suporta as operações mas não é relacionada à
estratégia. O foco são os sistemas administrativos e gerenciais e a ligação entre as
funções e entre os níveis corporativo e operacional. Há forte interesse dos profissi
onais de sistemas em encontrar oportunidades para criar vantagem, mas estes
esforços têm foco principalmente interno e largamente dirigidos pela função de
sistemas de informação.
- Tipo 11: Companhias em que, quando são desenvolvidas as estratégias no
nível corporativo e de Unidade de Negócio, não se leva em consideração explici
tamente o potencial competitivo da TI. Mas uma vez que as estratégias estão defini
das, os grupos de SI ativamente procuram por oportunidades de usar a TI para
apoiar as estratégias. O uso da abordagem dos Fatores Críticos de Sucesso (CSFs) é
comum entre empresas deste grupo para a definição de sistemas de informação
voltados a suportar a estratégia.
- Tipo m ou integradas: Têm uma orientação pró-ativa em relação à TI. Em
tais companhias o executivo-chefe (CEO) desafia persistentemente os executivos de
14
linha e o pessoal de SI para "encontrar meios de modificar as regras do nosso
negócio de forma que possamos usar os nossos recursos de TI para vencer".
O alinhamento entre as estratégias de negócios e de TI são exploradas por
Henderson, Thomas e Venkatraman (1992) ao apresentar um modelo chamado de
Alinhamento Estratégico, que é defmido em termos dos quatro domínios
fundamentais da escolha estratégica: estratégia de negócio, estratégia de TI,
processos e infraestrutura operacional e infraestrutura e processos de TI.
Fig 2.1.1 - Modelo de Alinhamento Estratégico
E X T E R N O
estratégia de neg6cio
escopo / de negócio 'J
competências
� direção
de negócio
I estratégia de TI escopo de / tecnologia
� �;
competências técnicas
� � direção
"
de TI
Ajuste estratégico
I N T E R N
/ processos
�
infraestrutun administrativ
habilidades
/ processos
� habilidades
O I"'J" 'M'M'""
IS
organizacionais """'==="'-----'
NEGÓCIO TI
�/ Integração funcional
fonte: Henderson, Thomas e Venkatraman (1992)
15
o modelo se baseia em duas características fundamentais da gerência estra
tégica: o ajuste estratégico (interrelações entre componentes externos e internos) e a
integração funcional (integração entre negócios e domínios funcionais). O modelo
(ver figo 2.1.1) defme que deve haver coerência entre a infraestrutura interna e a es
tratégia externa (tanto de negócios quanto de TI). Além disso, ele prega a ligação
entre as estratégias de negócios e de TI, assim como a ligação entre as
infraestruturas operacionais e de TI. Henderson e Venkatraman em outro artigo
(1993), argumentam que a inabilidade em acrescentar valor a partir dos investimen
tos em TI é, em parte, devida à falta de alinhamento entre estratégias de negócios e
de TI nas organizações.
O alinhamento estratégico maior ou menor de cada companhia, no entanto,
deve ser analisado com cuidado quando lidamos com companhias de diferentes
ramos industriais. McFarlan (1984) comenta que para algumas organizações as
atividades de TI representam urna área de importância estratégica, enquanto para
outras elas representam wn papel de suporte às atividades, apenas. A questão pode
ser vista a partir do "grid estratégico" que define quatro quadrantes (ver figo 2.1.2),
categorizando o cruzamento entre o impacto estratégico dos sistemas existentes e o
impacto estratégico do portfolio de desenvolvimento de aplicações.
Fig. 2.1.2- Impacto estratégico da TI
Baixo
IMPACTO ESTRATÉGICO DOS SISTEMAS EM OPERAÇAo
Alto
figo 2.2 -IMPACTO ESTRATÉGICO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Papel da TI : Papel da TI: APOIO TRANFORMAÇÃO (de suporte) (em reversão)
Papel da TI : Papel da TI:
MANUTENÇÃO ESTRATÉGICO
(fabris) (estratég icas)
Baixo IMPACTO ESTRATÉGICO DOS SISTEMAS Alto EM DESENVOLVIMENTO
fonte: McFarlan (1984)
16
McFarlan classifica. as companhias em "estratégicas" - nas quaIS o
funcionamento dos sistemas implantados é crítico e as futuras aplicações também,
"em reversão" ("turnaround") - alto impacto para as futuras aplicações, baixo para
os sistemas em operação, "fabris" - alta dependência dos sistemas em operação,
pouca importância para as futuras aplicações e "de suporte" - pouca dependência
estratégica da TI.
Johnston e Carrico ( 1988), entretanto, alertam que "executivos em indús
trias cujas condições externas não estimulam a inovação através da TI precisam
reconhecer que estas condições podem mudar de maneira súbita, como aconteceu
em outras indústrias". Eles apresentam um estudo, realizado em 1 1 grandes
empresas de 11 setores industriais onde são correlacionados fatores da indústria
(transações externas, vida útil dos produtos, pressões do ambiente) com o tipo de
integração entre negócios e TI verificada na companhia.
17
É apresentado então um gráfico (ver figo 2.1.3) em que é traçada urna linha
de grau de integração esperada para cada indústria (a partir do conjunto de fatores
industriais).
Fig. 2.1.3 - Gráfico alinhamento x fatores industriais
Tlpo espamm de integração TI x Estratégia a partir c:bs fat:oms industriais (extmnos)
Fatores da Indústria
Muito
Importa te
+ Petté'."
Ji1owre!= +DIatr. mun-cat1m
+1IIp.-
1iIpIp. 1Iloc:. + � Tipo esperado
Nilo Tllo
Import.
Tipo I
(tradic. )
Tipo 11 (Em evolução)
fonte: Johnston e Carrico (1988)
Tipo 111 (integrada)
É comentado então que algumas indústrias pesquisadas (hoteleira, petróleo
e equipamentos de escritório) não exploram todo o seu potencial de oportunidades
para desenvolvimento de aplicações estratégicas, sendo então vulneráveis a
movimentos da concorrência.
18
2.2- vantagem Competitiva e TI
2.2.1- TI e a estrutura da indústria:
"Criar vantagem estratégica e vantagem competitiva não são conceitos
novos. O uso da TI para criar estas vantagens de fonua rápida é que é novo"
(Luftrnan, Lewis e OIdach, 1993).
A estrutura de uma indústria, no modelo de Porter (1985), se baseia em
cinco forças competitivas que, coletivamente, determinam a sua rentabilidade: o
poder dos fornecedores, dos consumidores, a ameaça dos novos entrantes no
mercado, a ameaça de produtos substitutos e a rivalidade entre os competidores
existentes.
King (1992) advoga que a perspectiva mais antiga era basicamente de
terminística, com a estrutura da indústria determinando a perfonuance de uma
companhia. Mas Porter e Millar (1985) incorporam o efeito reverso: a influência da
estratégia da companhia na estrutura da indústria.
A TI pode alterar as regras da competição existente numa determinada
indústria de três formas: modificando a estrutura existente, alavancando o poder de
competição de uma detenninada companhia e, logo após, o dos seus competidores e,
por último, propiciando o aparecimento de novos negócios a partir dos já existentes
(Porter e Millar, 1985, p.149).
A TI pode, também, ter influência importante nas três estratégias genéricas
do modelo de Porter: redução de custo, incremento da diferenciação e mudança no
escopo competitivo (Porter e Millar, 1985).
King e Grover (1991) definem, a partir das cinco forças primárias e três
estratégias genéricas do modelo de Porter, seis áreas não-sobrepostas de aplicação
para a TI: serviços ao consumidor, relações com fornecedores, diferenciação de
produtos/serviços, competitividade em custos, planejamento de novos produtos e
19
segmentação de mercado. Vantagem competitiva poderia ser obtida em cada uma
das seis áreas pelo reforço do poder de barganha e eficiência relativa.
King e Sabherwal (1992, p.219) definem o que eles chamam de "cinco
diferentes formas de vantagem competitiva que resultam da aplicação estratégica de
sistemas de informação". Elas seriam: vantagem pela diferenciação (distinguindo os
produtos/serviços da companhia dos seus concorrentes, ou reduzindo a vantagem
dos produtos/serviços concorrentes), vantagem de custo (baixando os custos da
companhia, dos seus fornecedores, dos seus clientes, ou pelo incremento nos custos
da concorrência), vantagem da inovação (introduzindo uma mudança de produto ou
processo que resulta em transformação fundamental na indústria), vantagem de
crescimento (por expansão de volume ou geográfica, integração para frente ou para
trás, diversificação de linha de produtos) e vantagem de aliança (por acordos
comerciais, "joint-ventures" ou fazendo aquisições). As empresas, segundo os
autores, procurariam se tornar "monopólios" através da aplicação da TI, no sentido
de incrementar a dependência dos consumidores à sua oferta.
Bak:os e Treacy (1986, p.I33-114) apresentam um modelo causal de
vantagem competitiva (fig. 2.2.1), no qual o poder de barganha da firma com
relação a fornecedores e consumidores e a eficiência comparativa são apresentados
como as duas principais fontes de vantagem competitiva independentes.
20
Fig. 2.2.1 - Modelo das Fontes de Vantagem Competitiva
custo de � pl'OCUl'8
carac:terlstlcas _____ poder de
UDicas barganha
produto
custos de mudauça
vantagem competitiva
efIclencla interna r---
eflcl�ncla comparativa
eftcl�ncla V inter·
organizacional
fonte: Bakos e Treacy (1986)
A eficiência comparativa se refere à habilidade de urna fmna produzir um
produto a um preço menor relativamente a outros produtos percebidos como equi
valentes. O poder de barganha está relacionado à capacidade da fmna de levar
vantagem em situações de barganha que envolvam fornecedores ou clientes,
normalmente. Os autores argumentam que o poder de barganha e a eficiência
comparativa são conceitos importantes na disciplina de economia industrial, e
podem formar as bases de urna teoria de vantagem competitiva simplificada. King e
Grover (1991, p.295), citando Bakos e Treacy afirmam que as empresas deveriam
buscar se tomar um monopólio enfatizando a singularidade da sua oferta e criando
21
custos de mudança e procura para os seus clientes. Tal raciocínio se aplica
igualmente ao caso dos fornecedores.
2.2.2- Sustentabilidade da vantagem competitiva:
"A experiência com sistemas de informação estratégicos parece demonstrar
convincentemente que vantagem competitiva é difícil de ser conseguida e mais
difícil ainda de ser sustentada ao longo do tempo" (Clemons, 1991, p.24).
Os avanços da TI no campo dos equipamentos e serviços estão, em
princípio, disponíveis para todas as empresas que se dispõem a obtê-las (Senn,
1992); e as aplicações, muitas das vezes, podem ser duplicadas. Em alguns casos, o
fato de ser a inovadora pode até colocar urna companhia em posição desvantajosa,
já que a fmna imitadora se beneficia da experiência anterior acumulada, e pode
oferecer serviços comparáveis a um custo menor.
Com a imitação, pela concorrência, da inovação lançada, urna grande parte
do valor econômico por esta gerado - sob a forma de custos mais baixos, qualidade
superior ou criação de novos produtos/serviços - vai para o consumidor em vez de
ser capturado pela fmna pioneira Com o acirramento da concorrência, a empresa se
vê tendo que lançar novidades em ritmo cada vez mais intenso, unicamente para
manter a sua posição no mercado. Lee e Adams (1990) acreditam, em consequência,
que urna vantagem, para ser sustentada, deve ser defendida através da melhoria da
qualidade da inovação tecno16gica, mantendo-se o ambiente organizacional e os re
cursos da empresa flexíveis o suficiente para se adaptar à resposta da concorrência.
Ou seja, uma corrida em que vantagens competitivas s6 seriam válidas no curtíssimo
prazo.
Clemons (1991, p.25-26) argumenta que a estratégia competitiva não é um
jogo solitário, e que o fato de urna fmna melhorar o seu desempenho através do uso
agressivo de sistemas de informação para a redução de custos ou aumento de receita
acaba provocando urna reação dos concorrentes. A menos que hajam barreiras que
22
inibam esta reação, todas as fmnas, ao final, terão adotado os mesmos melhora
mentos, fazendo que os benefícios econômicos da inovação se dissolvam. As empre
sas percebem que é necessário andar cada vez mais rápido para não serem
deslocadas da sua posição. Ele, então, define o conceito de necessidade
estratégica, que se fundamenta nessa tendência de sistemas estratégicos se tomarem
uma parte essencial do custo de fazer negócio, mantendo a paridade da empresa
com os concorrentes mas raramente proporcionando vantagem. Muitas aplicações
do ramo bancário, de serviços financeiros e de distribuição, provaram ser
necessidades estratégicas (Clemons e Row, 1991).
"Vantagem competitiva é normalmente definida como a habilidade de
auferir retornos nos investimentos de forma continuada acima da média da indústria
... a habilidade de qualquer inovação de contribuir para atingir vantagem
competitiva, desta forma, depende do inovador receber uma parcela maior dos
benefícios econômicos da inovação que os competidores, ou incorrer em custos
menores na sua implantação" (Clemons e Row, 1991, p.277).
Por esta defmição, o caráter extremamente efêmero da vantagem conseguida
a partir da inovação pela TI, não permitiria a obtenção de uma real vantagem
competitiva. Seria, ao contrário, uma necessidade estratégica para a sobrevivência
em algumas indústrias, confirmando a visão de Senn (1992, p. l O) de que, em geral,
a habilidade das organizações em criar e sustentar vantagem competitiva seria um
mito.
o próprio Senn, entretanto, afirma que vantagem competitiva sustentada
pode ocorrer se características adicionais estiverem presentes. Clemons e Row
(1991) têm uma linha de pesquisa que é orientada no sentido de analisar vantagem
competitiva sustentável a partir das düerenças estruturais entre as empresas.
Segundos eles, em muitos casos, quanto mais semelhantes as firmas, mais rápido é o
processo de imitação de uma inovação lançada. Eles defendem que a TI pode levar a
uma vantagem competitiva sustentável se for usada para alavancar düerenças em
23
recursos estratégicos. Uma inovação tecnológica pode alterar o valor de recursos
estratégicos, aumentando o valor de alguns recursos e fazendo decrescer o valor de
outros. Esses deslocamentos nos valores dos recursos podem ter um amplo impacto
na divisão dos benefícios auferidos pela inovação.
Clemons e Row (199 1 , p.279) defmem recursos como "qualquer capacidade
produtiva de vida longa" e, mais especificamente, apontam como recurso estratégico
aquele que representa uma significante parte da base de investimentos da fIrma, e
que não está facilmente disponível no mercado. Segundo eles, lucratividade acima
da média é resultado de se ter adquirido, ou desenvolvido, os recursos necessários
para implementar uma estratégia particular, a um custo menor que o real valor
econômico desses recursos.
Williams ( 1992) se vale do termo mecanismos de isolamento para nomear
recursos ou capacidades básicas "escondidas" que a empresa possui, que serviriam
de barreiras para sustentar uma vantagem conseguida attavés de alguma inovação. O
grau de sustentabilidade dos produtos de uma empresa, p.ex., de acordo com as
pesquisas de Williams, pode ser previsto a partir dos efeitos de isolamento de
diferentes classes de recursos e capacidades, que estão na base da vantagem da
organização.
Ele cita alguns tipos de mecanismos que, embora não diretamente asso
ciados a produtos e serviços, sustentam as vantagens competitivas tais como:
"know-how" proprietário, geografia, relações complexas com · fornecedores e
compradores, equipamento especializado, reputação, marca reconhecida, padrões
"de facto" (ex. sistema operacional MS-DOS). Esses seriam recursos que
permitiriam a uma organização capturar os lucros oriundos do lançamento de uma
inovação.
Vantagem competitiva, então, não necessariamente nasce do uso inovativo
da mais nova tecnologia. ou de sistemas bem-feitos. Em vez disso, vantagem du
radoura vêm do uso da TI para suportar o que se sabe fazer bem, e da adição de
24
valor a recursos que se pOSSUi e que não estão prontamente disponíveis a
competidores (Clemons, 1991 , p.27).
Clemons e Row (1991) sugerem no seu trabalho, diversas formas pelas
quais a TI poderia desempenhar este papel de alavancar recursos críticos, principal
mente, na dimensão relativa à gerência da interação entre as diversas atividades
econômicas que compõem a cadeia de valor da companhia.
Um desses recursos que, segundo estudos de sustentabilidade na indústria
citados por Williams (1992), seria fundamental para manter por um prazo mais
longo o diferencial competitivo é o poder dos processos de aprendizado
organizacional. Onde um processo operacional complexo está envolvido, os
processos de aprendizado podem sustentar vantagens.
Davenport (1993, p.45-46) volta à questão do fracasso da TI em aumentar a
produtividade tanto ao nível das unidades de negócio quanto ao nível agregado,
comentando que isto ocorre, provavelmente, devido à falha em se aproveitar toda a
capacidade da TI de modificar a forma como o trabalho é executado. O autor
apresenta a mudança nos processos como o fator mediador entre as iniciativas de TI
e o retomo econômico, e afIrma que o papel da TI é viabilizar um novo projeto dos
prócessos. Se nada acontecer acerca da forma com que o trabalho é executado e do
papel de automatizar os processos existentes que a TI hoje desempenha, argumenta
ele, os benefícios econômicos provavelmente serão mínimos.
"Melhorar" antigos processos pela simples aplicação da TI ignora as
defIciências da infraestrutura organizacional, de processos e de performance.
Estrutura administrativa, processos e capacidades que foram criados num ambiente
competitivo muito diferente deveriam ser avaliados quanto às suas oportunidades de
redefmição, antes da tecnologia ser empregada. Tal ação implica em ir além de
meramente aumentar a performance dos processos existentes. A ênfase é na
transformação. (Luftman, Lewis e Oldach, 1993, p.209).
25
2.3- Os Processos Oreaoizaciooais e a TI
2.3. 1- Cadeia de valor e TI:
"Executivos das companhias bem sucedidas atribuíam seu sucesso às
capacidades desenvolvidas no processo de identificar e aproveitar oportunidades
para aumentar a perfonnance da sua cadeia de valor" (Johnson e Carrico, 1988,
p.47).
Um conceito importante que está associado ao uso da TI visando a
competitividade é o de cadeia de valor (fig. 2.3. 1).
Fi . 2.3 . 1 - Cadeia de Valor
Cadei a de Valor de ura fima
Margem
s Xnfraestrutura u �----------------------------�
Gerancia Recursos p �------------------------------�� O
Desenvolvimento de Tecnologia R � ____________________________ � ____ �, T
Aquisição de insumos K �----��----�r-----'------r----------
Logis tica Inter na
Operações
fonte: Porter (1985)
Logi
tica Ext .
Mktg
Este conceito divide as atividades de uma companhia numa determinada
indústria em atividades econômica e tecnologicamente distintas. Isto porque,
segundo Porter (1985), vantagem competitiva não pode ser entendida olhando uma
empresa como um todo. É necessário ter um meio sistemático de examinar todas as
atividades que a companhia desenvolve e como elas interagem entre si, para analisar
26
as fontes de vantagem competitiva. A cadeia de valor desagrega a companhia em
atividades de relevância estratégica, de forma a se obter compreensão sobre o
comportamento dos custos e possíveis fontes de diferenciação.
Toda atividade da cadeia de valor tem tanto um componente físico, quanto
um componente de processamento de informação. Segundo Porter e Millar (1985), a
TI pode alterar os custos de uma companhia em qualquer parte da cadeia de valor
(p. 156) e o foco devem ser as atividades que sejam responsáveis pela maior pro
porção do custo ou que sejam críticas na obtenção de diferenciação, particularmente
se elas têm um forte componente informacional. Também são críticas as atividades
com importantes ligações com outras atividades, dentro ou fora das fronteiras da
companhia
A cadeia de valor de uma empresa, ou de uma unidade de negócios, está
contida numa cadeia mais longa, de todo o setor em que ela opera e que Porter
denomina de sistema de valor (fig. 2.3.2). Assim a sua cadeia de valor está ligada à
cadeia de valor de fornecedores, canais de distribuição e consumidores. Usando o
poder da informação para incrementar estas ligações pode-se levar uma empresa a
atingir muitas das vantagens da integração vertical, sem as suas desvantagens
primárias (Iohnson e Carrico, 1989, p.48).
Apesar de companhias de uma mesma indústria terem cadeias de valor
similares, a maneira como uma companhia desenvolve individualmente as suas
atividades são reflexo da sua história, estratégia e da abordagem de implementação
da sua estratégia
Fi�. 23.2 - Sistema de Valor
Si.stara de valor
Qode; a de valor de ma lndústria
Fil':llla Canal.
dor
Qodeia de valor - fima diversificada
Unidad Neg6cio
Fornec . Neg6cio
Neg6cio
fonte: Porter (1985)
Canal. dor
27
Porter (1985) afirma que uma dessas diferenças que é fundamental para a
obtenção de vantagem competitiva é o escopo competitivo.
O escopo competitivo tem quatro dimensões-chave:
- Escopo de segmento: em que uma empresa que s6 atende a um segmento
de mercado específico, pode ajustar a sua cadeia de valor a ele de forma a obter
menores custos ou maior diferenciação do que seus concorrentes.
28
- Escopo de integração vertical: em que as interrelações podem fornecer
vantagem competitiva.
- Escopo geográfico
- Escopo industrial, ou abrangência de indústrias relacionadas em que a
companhia compete, ou ainda, escopo de integração horizontal segundo Clemons e
Row (1991).
Esta última fonte de vantagem competitiva é ressaltada por Clemons (1991),
que afmna existir um grande e sub-utilizado potencial para sistemas de informação
que se destinem a criar valor através de aplicações que coordenem e integrem
atividades através de unidades estratégicas de negócios (SBU's). É importante notar
que as companhias diferem nos seus portfolios de unidades de negócios e, assim, os
recursos que estas aplicações combinam, ao contrário da tecnologia utilizada para
combiná-los, não estão imediatamente ao alcance dos competidores. Empresas que
operam separadamente, com linhas de negócios potencialmente relacionadas, têm
uma oportunidade de criar valor através do uso de Sfs que combinem estes negócios
de forma inovativa, mantendo à distância competidores que não possuam estas
linhas de negócios.
2.3.2- Gerência de interações e TI:
Resumindo um pouco do que foi visto anteriormente, Clemons e Row
(1991), sugerem que um recurso crítico das empresas que poderia ser alavancado
para gerar vantagem competitiva duradoura seria a gerência da interação entre as
diversas atividades econômicas da cadeia de valor. Também foi visto que Porter e
Millar (1985) consideram que na aplicação da TI à cadeia de valor são críticas as
atividades com importantes ligações com outras atividades, dentro ou fora das
fronteiras da organização. Clemons (1991) e Porter (1985) ressaltam a importância
estratégica das integrações vertical e horizontal entre unidades de negócio
relacionadas.
29
Assim, um foco preferencial para análise do impacto do uso estratégico da
TI, é o que cuida do potencial de agregar valor que a TI possui, quando dirigida à
gerência das interações entre as atividades econômicas do sistema de valor.
Clemons e Row (199 1 , p.283) ressaltam que existem outros tipos de
aplicações da TI à cadeia de valor. Ela pode, por exemplo, ser parte do produto em
si, como é o caso de microprocessadores adicionados a automóveis, ou contribuir
para urna mudança tecnológica do processo produtivo, como é o caso das técnicas
de manufatura flexível. Contudo, sistemas voltados à gerência de interações
descreve urna classe significativa de aplicações estratégicas. Muitas aplicações,
inclusive, ainda que não sendo primariamente orientadas à gerência de interações,
influenciam interações. A própria manufatura flexível, para ser bem sucedida,
depende de uma reestruturação das interações na empresa.
Os mesmos autores definem (p.283) dois tipos básicos de interações que
podem ser afetados pela TI: interações verticais e interações horizontais. Interação
vertical envolve o fluxo de bens, serviços e informação ao longo de uma única ca
deia de valor, com a saída de um processo sendo a entrada do próximo, tanto dentro
de urna organização quanto entre empresas diferentes.
A interação vertical pode proporcionar redução de custos de transação entre
as várias atividades da cadeia de valor, pode alterar a alocação de custos entre o
fornecedor e o comprador e, até, alterar a estrutura da interação. Neste caso, a TI
tem o potencial de reduzir os custos de transação a tal ponto, que transações antes
executadas dentro das fronteiras de uma organização podem ser mais eficientemente
executadas no mercado. Isto levaria a um processo de desintegração vertical
(Clemons e Row, 1991 , p.283-284).
Cash e Konsynski (1985) se referem aos sistemas interorgaJÚzacionais -
sistemas de informação automatizados, compartilhados por duas ou mais
companhias - como um dos usos potencialmente mais poderosos da TI. Eles
30
ressaltam que exemplos existem de sistemas desse tipo que alteraram radicalmente o
equihôrio de poder nas relações comprador-fornecedor.
Johnson e Carrico (1988, p.46) lembram que uma vez que a maioria dos
sistemas estratégicos envolvem ao menos dois níveis da cadeia de valor, a procura
de oportunidades para o seu desenvolvimento deveria ser baseada na análise de toda
a cadeia de valor.
Quanto à interação horizontal, Clemons (1991, p.28) afirma que empresas
com linha de negócios potencialmente relacionadas, possuem uma oportunidade real
de criar valor para os seus consumidores através do uso de sistemas de informação
que combinem esses negócios de forma inovativa Clemons e Row (199 1, p.284)
comentam que apesar do significativo potencial destas aplicações, elas têm sido lar
gamente ignoradas na literatura. Além disso, eles constataram que muitas empresas
estão organizadas através de linhas de negócios, mas com poucos procedimentos
existentes orientados à identificação e exploração do potencial de interação entre
estas unidades.
Porter (1985, p.319-322) comenta o que ele chama de estratégia horizontal,
que se basearia na busca da exploração da sinergia que poderia haver entre unidades
de negócios potencialmente relacionadas. Esta visão de interação horizontal tem
sido mal explorada devido, entre outras causas, às dificuldades de sua implemen
tação. No entanto, sustenta ele, estratégia horizontal é algo que poucas fmnas
podem se dar ao luxo , hoje, de ignorar. As interrelações entre unidades de negócios
e a habilidade de explorá-las têm crescido ultimamente e uma série de forças estão
acelerando esta tendência, entre elas as mudanças tecnológicas.
Porter também advoga que a crescente sofisticação de sistemas de in
formação está abrindo possibilidades de interrelações. E, ao mesmo tempo que a
tecnologia está criando interrelações, ela está reduzindo o custo de explorá-las. As
facilidades de telecomunicações têm crescido tão fortemente quanto os seus custos
têm caído, reduzindo o custo de coordenar as atividades de unidades de negócio
31
diferentes. A TI tem permitido a criação de sistemas de informação gerenciais em
áreas como logística, inventário de materiais, planejamento da produção e
planejamento de vendas; permitindo um grande incremento na flexibilidade da
operação das empresas e do compartilhamento das suas atividades. A estratégia
horizontal, que corta as fronteiras divisionais, é provavelmente o item mais crítico
na agenda estratégica de uma fmna diversificada.
Aplicações de TI na interação horizontal podem explorar economias de
escala e escopo em diversos recursos estratégicos, comuns a diversos mercados ou
indústrias das quais a fmna participa As economias de escala inerentes a estes
recursos não são normalmente obtidos por causa dos custos de coordenação dos
recursos em diferentes mercados. A TI pode reduzir estes custos, proporcionando a
realização de economias de escala latentes. Apesar da economia de escala em
relação ao uso de recursos similares ser mais visível, existem situações em que
recursos complementares podem ser coordenados no sentido de incrementar o valor
de um benefício para o consumidor. Isto pode ser conseguido. por exemplo, através
da transferência de tecnologia entre linhas de negócios que exijam algumas
habilidades similares, ou através da combinação de recursos de forma inovativa, de
maneira a ampliar o produto/serviço fornecido ao consumidor (Clemons e Rów,
1991 , p.284).
Uma vez que estas diferenças de escopo de atuação (vertical, horizontal e
até geográfico) são recursos particulares e estruturais de cada empresa, a TI usada
para alavancar estes recursos pode prover diferenciais competitivos mais
resguardados de imitação e mais sustentáveis.
32
2.3.3- Reengenharia de Processos de Negócio:
Porter (1985) apresenta a cadeia de valor como sendo a ferramenta básica
para avaliar-se possíveis fontes de vantagem competitiva. A TI, como vimos, pode
ser aplicada tanto às atividades de valor quanto às ligações entre estas atividades na
cadeia de valor.
Foi apresentado, no item anterior, que as interações entre atividades do
sistema de valor têm um potencial enorme para a utilização estratégica da TI, mas
transcendem o escopo de uma empresa ou de uma unidade funcional. A busca de
vantagens competitivas, então, deve ser realizada ao longo de toda a cadeia de valor,
independentemente das fronteiras da organização.
Davenport e Short (1990, p.12-13) defmem um outro conceito chamado de
processo de negócio, que se constitui num conjunto de tarefas logicamente relacio
nadas, executadas para atingir um resultado fmal definido. Eles utilizam este
conceito para analisar o emprego da TI com o objetivo de gerar melhorias no
sentido em que o trabalho é executado nas empresas.
O conceito de processo de negócio proposto pelos autores, que também
transcende as fronteiras formais da organização, se diferencia da cadeia de valor
pelo enfoque que, no caso da cadeia de valor, é analítico e fragmentado em
atividades distintas, e, no caso do enfoque de processo de negócio, tem uma visão
sintética, considerando o processo como uma unidade que transforma um "input"
em um "output" e que precisa ser reprojetada como um todo.
StaIk (1992, p.62) também ressalta o importante papel dos processos
organizacionais na busca de vantagens competitivas. Para ele o ambiente de
negócios de hoje é muito mais dinâmico, e a essência da estratégia não é a estrutura
dos produtos e mercados da companhia, mas a dinâmica do seu comportamento. O
objetivo seria identificar e desenvolver capacidades organizacionais difíceis de
imitar, que distinguam uma companhia dos competidores aos olhos dos
33
consumidores. Ele defme capacidade como um conjunto de processos de negócio
estrategicamente considerados.
Como foi comentado no item relativo à sustentabilidade da vantagem
competitiva, Williams (1992) igualmente se refere aos processos organizacionais
dizendo que, quanto mais complexos, maior é a possibilidade desses processos
sustentarem uma vantagem competitiva. Isso é devido à dificuldade de se imitar os
mecanismos de aprendizado organizacional.
StaIk (1992) comenta: "Quanto mais longa e complexa a cadeia de
processos de negócio, mais difícil é tranformá-Ia em uma capacidade - mas maior
será o valor da capacidade uma vez desenvolvida, porque os competidores têm
maior dificuldade em imitá-la" (1992, p.62).
Os quatro princípios básicos da competição baseada nas capacidades,
segundo StaIk são:
- A estratégia corporativa não se baseia em produtos ou mercados, mas em pro
cessos de negócios.
- O sucesso competitivo depende da transformação de processos-chave da orga
nização em capacidades estratégicas, que forneçam valor superior ao consumidor.
- As companhias criam essas capacidades através de investimentos estratégicos em
infraestrutura de suporte que conecte e transcenda as unidades de negócios e
funções tradicionais.
- O CEO (executivo..çhefe) é o coordenador desta estratégia pois ela transcende
funções.
A abordagem de processo de negócio se tomou difundida nos anos recentes
devido ao movimento da qualidade. Os engenheiros industriais necessitavam, para
aumentar a qualidade das operações, de olhar para o processo completo, e não para
uma função ou tarefa particular (Davenport e Short, 1990, p.13).
34
Hanuner (1990, p.104-108) defende que se deveria executar uma
"reengenharia" dos negócios: usar o poder da TI para reprojetar radicahnente os pro
cessos de negócio, de forma a obter melhorias na sua performance.
O processo de mudança neste caso envolve a noção de pensamento des
contínuo. Não se consegue atingir outros patamares de performance através do
"corte de gorduras" ou da automação dos processos existentes. Nossos processos de
negócio não acompanharam as mudanças tecnológicas, demográficas e de objetivos
de negócio. O arranjo hoje existente remonta à Revolução Industrial, com o trabalho
desagregado em tarefas estreitamente definidas e com complexos mecanismos de
acompanhamento e controle.
Na visão de Harruner, alguns princípios seriam básicos para caracterizar um
trabalho de reengenharia: organizar-se em tomo de produtos ("outputs") e não de
tarefas, ter aqueles que dependem do produto de um processo realizando o processo,
deixar que o processamento da informação seja realizado como parte do próprio
trabalho que gerou a informação (descentralizar o processamento de dados), tratar
recursos geograficamente dispersos como se fossem centralizados, conectar
atividades paralelas em vez de integrar seus resultados, colocar o ponto de decisão
onde o trabalho é realizado e construir controles dentro dos processos, capturar a
informação uma só vez e na fonte.
Essa abordagem seria a que Davenport (1993) chama de inovação de
processo, na qual a forma de realizar o trabalho é radicahnente alterada. Ele ressalta
que é preciso fazer uma distinção entre inovação de processo e melhoria de
processo. Se inovação de processo significa alto conteúdo de mudança, melhoria de
processo envolve executar o mesmo processo de negócio com um pequeno
incremento na sua eficiência e eficácia. Programas de melhoria de processo,
incluindo os movimentos sob a bandeira da qualidade, são gerahnente aplicados às
estruturas organizacionais existentes, provocando mudanças restritas ao nível
35
funcionaI. Inovação de processo, ao contrário, define processos que cruzam as
fronteiras funcionais.
Engajamento e participação dos níveis hierárquicos inferiores é a marca
registrada dos programas de melhoria contínua da qualidade. Já para mudanças mais
radicais, com uma visão abrangente dos processos, uma abordagem "top down" é
típica, exigindo forte comprometimento da gerência senior. Os riscos são maiores
no caso de uma inovação, proporcionais às recompensas. A escolha de um processo
de mudança contínuo e incrementaI pode ser mais adequado em ambientes
relativamente não competitivos ou em que as práticas básicas de negócio não estão
em questão (Davenport, 1993, p.14- 15).
Um incremento da competitividade e da capacidade de resposta da empresa
a novas condições de mercado viria do reprojeto dos processos de negócio de forma
a atender às necessidades estratégicas da companhia Schnitt (1993, p.19-20) propõe
o que ele chama de reengenharia estratégica. Esta seria focalizada no projeto da
organização para competir. O primeiro passo seria entender os objetivos estratégicos
e, só a partir daí, definir os processos de negócio adequados a esses objetivos. Os
processos deveriam ser definidos de forma a adicionar valor ao produto/serviço a ser
obtido pelo consumidor e levando em consideração, neste processo de mudança, três
dimensões interdependentes: Projeto organizacional, políticas de recursos humanos
e TI (fig. 2.3.3).
Fi . 2.3.3 - As três dimensões do rocesso de mudan a
tansfi:u,,""'" cb
tIal:allD
fonte: Schnitt (1993)
OLOGIA
INFORMAÇÃO
36
As abordagens de desenvolvimento humano e organizacional, como o
fortalecimento do poder decisório dos empregados, organização através de equipes
autônomas e estruturas organizacionais achatadas são as questões-chave para a
viabilização da mudança nos processos. De fato, a inovação pela TI dificilmente é
eficaz sem uma simultânea inovação na dimensão humana do trabalho (Davenport
1993, p. 13). Obviamente uma mudança radical na forma de trabalhar de uma
organização exige, antes de qualquer coisa, uma percepção clara de como conduzir
o processo de mudança.
Na perspectiva que estamos expondo, ligada à reengenharia de processos de
negócios, a TI é empregada, não na automação de um processo existente, mas no
sentido de proporcionar a criação de um completamente novo. No passado o repro
jeto de processos era dirigido à "racionalização" dos processos. Não se levava em
consideração a visão do negócio ou do contexto e, muito menos, das capacidades da
37
TI, até porque muitos processos foram desenvolvidos antes que as facilidades de
computadores e comunicações de hoje existissem (Davenport e Short, 1990, p.13).
Davenport e Short (1990) apresentam uma série de capacidades da TI e seu
impacto nos processos organizacionais (tabela 2.3. 1). Um exemplo é a possibilidade
de algumas informações e até documentos completos estarem ao mesmo tempo em
lugares diversos, proporcionando paralelismo de tarefas que, no processo tradicio
nal, deveriam ser sequenciais.
Tabela 2.3. 1- O impacto da TI na inovação de processos
Capacidades da TI Impacto Or/(anizacional
Automacional Eliminar trabalho humano do processo
Informacional Capturar informação do processo para o propósito
de entendimento
Seqüencial Alteração da seqüência de tarefas ou possibilitar o
paralelismo
De monitoramento Monitorar o "status" do PlOcesso e os objetos
Analítica Melhorar a análise da informação e tomada de deci-
são
GeolV"áfica Coordenar processos à distância
Integradora Coordenação entre tarefas e processos
Intelectual Capturar e distribuir trabalho intelectual
Facilitadora Eliminar intermediários de um processo
fonte: Davenport e Short (1990)
Davenport e Short (1990) - que se baseiam em pesquisas conduzidas pelo
MIT, Harvard e firmas de consultoria em 19 empresas - defendem uma relação
38
recursiva entre o reprojeto dos processos de negócio e as capacidades da TI (fig.
2.3.4).
No seu modelo cinco passos deveriam ser obedecidos no reprojeto dos
processos, contemplando: identificação dos processos críticos para a inovação,
identificação de como as capacidades da TI podem permitir novas opções de
projeto, desenvolvimento de urna visão do negócio e dos objetivos dos processos,
estudo dos processos atuais e projeto e construção de um prot6tipo do processo.
Fig. 2.3.4 - Relação entre as capacidades de TI e o reprojeto dos processos
de neg6cio.
Q::az) a 2!I' poda 1p?'i 'r
05 pt C ti da negócio?
"
Cl::az) 08 l m 5etl " negócio p:;dm � tzaa -6 ,,.,.., '" usancb a T.I?
fonte: Davenport e Short (1990)
Do seu estudo, entretanto, Davenport e Short concluem que a maioria das
empresas pesquisadas que se utilizaram da TI para reprojetar processos de neg6cio
não possuem urna fIlosofia ou abordagem de reprojeto muito bem defInida. Mas,
gerenciar através de processos orientados ao consumidor, que cruzam fronteiras or-
39
ganizacionais, é wna idéia intuitiva de grande apelo e que funcionou bem nas
companhias que a experimentaram. Segundo eles, poucas empresas hoje
questionariam o fato de que a TI é uma poderosa ferramenta para dar nova forma a
processos de negócio (Davenport e Short, 1990, p.25).
40
3- METODOLOGIA
3.1- Objetivos do Estudo e Pergunta da Pesquisa.
Este estudo tem um enfoque exploratório que é condizente com o estágio de
evolução do conhecimento sobre o assunto no Brasil e no exterior.
Em relação à experiência internacional, notamos que os primeiros trabalhos
importantes de pesquisa sistemática acerca do uso estratégico da TI datam do final
da década de 80 (Johnson e Carrico, 1988; King e Grover, 1991 ; King e Sabherwal,
1992). Além disso, a maior parte do material acadêmico que se publicou sob a
forma de estudo de caso focaliza a utilização estratégica da TI na área de serviços
(bancos, seguradoras, distribuidores, transportes, etc.), havendo uma escassez de
material orientado à indústria.
A situação brasileira não é diferente, com muito pouco material de pesquisa
publicado. Além disso, notamos nos trabalhos brasileiros a ausência de uma
investigação mais dirigida e profunda sobre as dificuldades e oportunidades vis
lumbradas pelas companhias industriais, no sentido de se utilizar da TI de forma a
ganhar competitividade.
Este trabalho se propõe a este tipo de investigação, ou seja, dado um grupo
de empresas de um mesmo segmento industrial - no caso mineração - buscar infor
mações sobre a realidade destas empresas, de como elas vêem a TI como uma pos
sível arma competitiva no seu mercado, como estão se utilizando do potencial da TI
de agregar valor às suas atividades e quais as dificuldades que enfrentam neste
processo. Poderíamos então resumir as perguntas da pesquisa em:
• As empresas do setor de mineração pesquisadas possuem ou pretendem
desenvolver aplicações estratégicas da TI?
• Como aplicações estratégicas da TI podem gerar vantagens competitivas
para estas empresas?
41
• Quais os fatores facilitadores/inibidores para o sucesso no desenvolvi
mento de aplicações estratégicas di!. TI, na percepção das empresas estudadas?
3.2- O método de pesquisa utilizado e limitaçÕes do estudo.
O método de pesquisa escolhido foi o estudo de casos, que tem como uma
de suas funções descrever uma realidade encontrada e, se possível, o ambiente
envolvido. Além disso, o estudo de caso é o método a ser escolhido quando se quer
obter riqueza de detalhes acerca de algum assunto. Provavelmente está-se querendo
tais detalhes, quando não se conhece exatamente o que se está procurando. O estudo
de caso é, então, apropriado quando está-se tentando encontrar indícios e idéias para
pesquisas adicionais (Rêgo, citando Simon, 1992).
Já a falha do estudo de caso "reside na impossibilidade de afIrmar que o
caso escolhido seja um exemplo típico da realidade. nustra apenas como a empresa
escolhida procedeu e quais os resultados obtidos; as fontes de informações
disponíveis aos pesquisadores e a realidade retratada ao longo do estudo dependem
de sua decodificação dos dados coletados" (Rêgo, citando B1alock et al, 1 992).
Além das limitações intrínsecas ao método, esta pesquisa em particular so
freu uma restrição adicional importante. É que em função do tema escolhido, houve
a necessidade de se preservar a identidade das empresas entrevistadas e de algumas
de suas particularidades em termos de suas características organizacionais e de
atUação.
De qualquer forma, em que pese a perda de uma maior riqueza e clareza de
análise que o acesso a esses dados poderia proporcionar, é fato que essa limitação
não comprometeu os objetivos básicos do trabalho.
42
3.3- A Coleta de Dados.
Inicialmente, com base na revisão de literatura, procuramos identificar
elementos que nos proporcionassem padrões de referência para a análise dos casos.
Montamos, então, um modelo teórico do estudo calcado em modelos de análise das
fontes de vantagem competitiva e de fatores de sucesso do uso estratégico da TI (ver
descrição dos modelos no próximo item).
A pesquisa foi conduzida através de entrevistas pessoais com o gerente da
função de Tecnologia de húormação, ou equivalente, em um grupo de 4 empresas
do segmento industrial de mineração e extração de petróleo.
As empresas escolhidas detêm, em conjunto, um faturamento que representa
mais de 60% do mercado nacional de mineração e praticamente a totalidade do
mercado de exploração de petróleo.
A escolha do gerente da função de TI se ampara no fato de que a pesquisa
investiga, entre outros aspectos, a visão destes gerentes quanto: aos fatores facilita
dores/inibidores à exploração de iniciativas de emprego competitivo da TI, sua visão
quanto ao suporte que têm da direção da empresa, seu conhecimento das estratégias
da empresa e sua participação na viabilização destas estratégias.
Também contou para esta decisão a constatação de que a TI, aqui no nosso
ambiente, na grande maioria das empresas industriais, não é tratada como estraté
gica e, conseqüentemente, tem sua decisões muito delegadas para o gerente da
função.
Finalmente, nos baseamos na experiência internacional de pesquisas sobre
temas semelhantes, recentemente realizadas nos EUA, que privilegiaram a popula
ção de gerentes da função de TI, ou equivalente, no seu levantamento de dados
(King e Sabherwal, 1992; King e Grover, 1991; Johnson e Carrico, 1988).
As entrevistas tiveram urna duração de cerca de 2 horas, com perguntas do
tipo não-estruturado, a partir de um roteiro de entrevista orientado aos pontos
fundamentais da revisão bibliográfica e dos modelos utilizados (ver anex02).
43
Foi realizado, preliminarmente, um pré-teste do roteiro de entrevista através
da realização de uma entrevista com um profissional de perfil semelhante aos
futuros entrevistados. Esta simulação provocou alterações na seqüência das questões
abordadas no roteiro, e na condução das entrevistas, auxiliando a obtenção de um
melhor aproveitamento do tempo do entrevistado. O seu conteúdo, no entanto, não
foi considerado para o trabalho.
Em que pese a existência de um roteiro de entrevista, os entrevistados fo
ram motivados a acrescentar suas visões sobre outros aspectos relevantes não
previstos no roteiro. Procurou-se também, ao longo da entrevista, explorar aspectos
intangíveis tanto relativos à estratégia da empresa, quanto ao seu ambiente tecno
lógico, de forma a subsidiar a análise dos casos e a montagem das conclusões.
Todas as entrevistas realizadas foram gravadas. Em todas as entrevistas o
entrevistado recebeu um sumário executivo dos assuntos constantes da revisão
bibliográfica, como uma contribuição antecipada. Procurou-se com isso estabelecer
um clima de cooperação mútua, favorável à realização das entrevistas (ver anexo 3).
3.4- A base teÓrica.
Podemos dividir a coleta dos dados e a análise dos resultados da pesquisa
em duas partes. Na primeira foi feita a identificação de quais aplicações da TI (se
existissem) poderiam ser consideradas estratégicas. A partir daí foi escolhida uma
aplicação para ser analisada e feita a sua avaliação. Pontos constantes desta avalia
ção:
• Fontes de vantagem competitiva em que se apoia (modelo de Bak:os e
Treacy, 1986). Ver a figo 2.2. 1. , pág. 19.
• Grau de sucesso alcançado em termos de magnitude da vantagem
(benefícios gerados) e sustentabilidade da mesma (King e Sabherwal, 1992). Esse
item, apesar de previsto na pesquisa, não foi explorado devido ao fato de que as
44
aplicações estratégicas da TI encontradas estarem, na época das entrevistas, em fase
de desenvolvimento, não podendo portanto, ter o seu grau de sucesso avaliado.
• A característica evolucionária ou não da aplicação estratégica (O caráter
evolutivo destas aplicações foi constatado por diversos pesquisadores: K.im e
Michelman, 1990; Seno, 1992; etc.).
• Recursos críticos da empresa que a aplicação alavanca (Clemons, 1991).
• Aspectos de Reengenharia de Processos utilizados.
O objetivo desta primeira parte é dar um panorama sobre tendências de uso
de aplicações estratégicas e a contribuição que estas podem proporcionar a empresas
deste ramo industrial.
Na segunda parte foram investigados os fatores facilitadores e ini
bidores para o aproveitamento de oportunidades de desenvolvimento de aplicações
estratégicas. O objetivo aqui foi obter um grupo de fatores que poderiam ser
considerados significativos para futuros estudos na indústria de urna maneira geral
e, mais especificamente, na indústria de extração mineral.
Como existem ainda poucas pesquisas sobre o tema, mesmo a
nível internacional, e, conseqüentemente, poucos modelos testados, agrupamos os
fatores citados como mais importantes na revisão bibliográfica, de forma a facilitar
a organização das entrevistas e a análise dos resultados. Partiu-se inicialmente da
seguinte relação, que agrega os autores e os fatores que estes pesquisadores
referenciaram como os mais relevantes nos seus trabalhos:
a) Johnston e Carriro (988): Ambientais: conteúdo informacional da
atividade, vida útil do produto/serviço (não utilizado devido à constatação de que a
atividade de mineração lida com um produto de vida útil muito grande), crescimento
da pressão competitiva na indústria Internos: liderança da gerência superior,
"status" da área de TI na organização, capacitação da função de TI da empresa (em
termos do grau de percepção do negócio e da disseminação de sistema admi
nistrativos e de suporte à decisão), existência de mecanismos de influência da área
45
operacional nas decisões da área de TI. Alinhamento: grau de interação entre as
iniciativas de TI e a estratégia da empresa.
b) Kim e Michelman (1990): grau de integração de sistemas
c) King e Graver (1991>: Facilitadores para as áreas de Minera�ão.
Constru�ão e Petróleo: existência de posição de liderança em TI, pressão competi
tiva, forte suporte de conhecimento técnico na empresa. Para todas as áreas: (além
das citadas anteriormente) facilidades computacionais extensivas na empresa. Ini
bidores para as áreas citadas: baixa percepção da importância do conceito , falta de
suporte técnico na empresa, falta de planejamento apropriado. Para todas as áreas:
outras prioridades são mais importantes, dificuldade em perceber contribuição
tangível, falta de planejamento apropriado.
d) King e Sabherwal (1992): existência de um departamento de sistemas
mais maduro, em termos de: bom nível de alinhamento TI x estratégia empresa,
envolvimento da gerência de topo com o planejamento de sistemas, conhecimento
dos objetivos do negócio pelo gerente de TI.
e) Krcmar e Lucas (1991): capacidade de reconhecer e se aproveitar das
oportunidades de desenvolvimento de aplicações estratégicas, ausência da necessi
dade de justificativa de custo quando do desenvolvimento de sistemas, existência de
"patrono" para os projetos (apoio superior), existência de trabalho de "marketing"
interno e externo (à companhia) para a implantação dos sistemas, existência de boa
infraestrutura de sistemas implantados e visão orientada ao consumidor.
46
A partir desta lista de fatores, foi feita uma seleção dos mais importantes,
agrupados pelo seu escopo de abrangência, sendo tal grupamento explicado através
da figura apresentada a seguir.
Fig. 3.3. 1 - Representação esquemática do grupamento de fatores
Representação do Agrupamento dos Fatores Ambientais, Organizacionais, Referentes à Capacitação da Função de TI e Referentes ao Alinhamento
Estratégico.
Ambiente
Alinhame estratégico
,
Area funcional
..... -t-I�de TI
(tradicional) ---.,,L-"'-
o modelo dos fatores a serem analisados ficou assim configurado:
1 . Fatores Ambientais:
• Crescimento da pressão competitiva
• Conteúdo infonnacional da atividade
2. Fatores referentes ao alinhamento estratégico (estratégia x TI):
• Grau de alinhamento existente na empresa
47
• Nível de conhecimento dos objetivos e metas da empresa pelo gerente de TI
• Existência de mecanismos de influência da área operacional nas decisões
sobre o uso da TI
3. Fatores Organizacionais:
• Grau de liderança/envolvimento da gerência de topo com as iniciativas de TI
• Existência de percepção da importância do conceito e da sua contribuição
• Existência de um planejamento apropriado
4. Fatores relacionados à capacitação dafunção de TI na empresa:
• Nível de suporte de conhecimento técnico existente na empresa
• Grau de disseminação de sistemas e sua integração
• "Status" da função de TI na estrutura da empresa
48
3.5- O segmento industrial escolhido
A indústria de mineração foi escolhida como foco deste estudo por três ra
zões básicas.
A primeira se refere à importância deste segmento no contexto da economia
nacional, que agrega algumas empresas com grandes investimentos em tecnologia e
recursos humanos, com tendências à verticalização. Essas últimas duas
características, investimentos grandes em tecnologia/recursos humanos e tendências
à verticalização, são importantes fatores de favorecimento à utilização estratégica da
TI pelo que se pode apurar da revisão bibliográfica. Além disso, este setor industrial
responde por mais de 10% do total das exportações do país.
A característica de ser um setor exportador por excelência justifica a se
gunda razão: ser um setor que atua a nível internacional, característica que demanda
uma preocupação maior com competitividade.
A terceira razão se origina de um aparente paradoxo. Por que buscar uso
estratégico da Tecnologia da húormação num setor em que o produto dispõe de tão
baixo conteúdo informacional? A resposta está na conjugação das duas razões
apresentadas anteriormente, com o fato de que justamente por não ser ainda um
segmento de ponta no uso da TI a nível internacional, há muito ainda que explorar
com respeito a tendências, além da oportunidade existente para as empresas nacio
nais de, antecipando-se a tendências, se manterem competitivas quando a TI assumir
um papel mais significativo na atividade no futuro.
49
4- DESCRICÃO DOS CASOS
4. 1- Empresa A:
4. 1 . 1 - Aplicações estratégicas
O representante da área de Tecnologia da Informação da empresa apontou
dois sistemas que atenderiam à nossa classificação de aplicação estratégica. Ambos,
na sua opinião, procurariam "diferenciar a utilização da TI como vantagem
competitiva". O primeiro era um sistema de apoio à decisão (Executive Information
System) que teve o seu desenvolvimento iniciado há dois anos, a pedido da
presidência da empresa, e cujo objetivo era apresentar todas as informações da
empresa de forma integrada e consolidada, utilizando "o que havia de mais
moderno" em termos de tecnologia. O sistema se disseminou entre todos os
executivos das wtidades de negócio e está tendo um papel importante na visão de
empresa integrada que a cia. A procura disseminar.
A segunda aplicação considerada estratégica foi um sistema de gestão de
demanda e suprimentos, que está em desenvolvimento e que virá substituir um
sistema existente (sistema de gestão e venda), incluindo novas facilidades e
atualizando a sua plataforma tecno16gica. Escolhemos esta aplicação, descrita a
seguir, para ser analisada porque "essa aplicação é o retrato da cia. A, é a sua
espinha dorsal, integrando todas as suas atividades".
4. 1 . 1 . 1- Descrição da aplicação
Em 1972 foi implantado um sistema de vendas que fornecia contabilmente o
faturamento a cada despacho de produtos. A partir daí desenvolveu-se um sistema
para controle das atividades de extração e em 1978/79, iniciou-se o projeto de um
sistema de controle de operações de embarque. O analista encarregado do projeto,
numa visita a empresas no exterior, observou aplicações que integravam as
atividades desde a extração, passando pelo transporte do produto até o seu
50
despacho. Ele conseguiu que os responsáveis pelas atividades de transporte e de
extração alimentassem o sistema já existente (de despacho), ainda de forma manual.
Foi então iniciado um sistema maior para a atividade de extração que também
alimentaria diretamente o sistema geral. Em 1981/82 novos sistemas de vendas e
operações começaram a ser desenvolvidos e, finalmente, em 1985 houve a decisão
de que os sistemas comercial e operacional fossem considerados um sistema único.
O usuário descobriu vantagens na integração e o processo culminou com a decisão
da diretoria de desenvolver um novo sistema, único, integrando tudo e provendo
novas funções. Este novo sistema estava em fase final de desenvolvimento à época
das entrevistas.
Essa aplicação é totalmente integrada, abrangendo desde o cadastramento
do pedido do cliente até a emissão do faturamento, controlando a extração, o
transporte, o estoque antes do embarque e o carregamento, que é orientado de
acordo com as medições da qualidade do produto. Os objetivos da aplicação são:
integração das informações das várias operações, possibilitar o planejamento,
programação e controle dos fluxos de produto desde a extração até a chegada para o
cliente, e possibilitar um modo de operação "just-in-time", com a eliminação de
estoques intermediários.
A aplicação que está sendo desenvolvida integra diversos sistemas já
existentes (comercial, extração, transporte, processamento, despacho), além de ter
interface com o sistema integrado de contabilidade, orçamento e custo e com o
sistema de tributação. Essas interfaces são urna melhoria em relação ao sistema
antigo que não as contemplava. Além disso estão sendo realizadas melhorias em
alguns destes sistemas como o de despacho. A aplicação também implementa novas
funções como:
Planejamento integrado da produção: em função do que o cliente deseja
pode-se planejar com muita antecedência e fazer simulações do que se pode ou deve
produzir num detenninado período. A aplicação "começa a controlar o cliente lá de
5 1
trás. Além disso ela verifica o market-share da companhia, auxilia a análise dos
competidores, oferta e demanda do produto, e a área comercial começa a fazer a sua
estratégia, a promoção de vendas, com base nestas informações. O sistema dá uma
panorâmica à luz do que acontece lá fora, inclusive em relação aos estoques dos cli
entes (algumas informações vão passar a ser geradas por representantes que irão
portar "laptops" nas suas visitas a clientes), permitindo ao pessoal da área comercial
realizar estudos e simulações de previsão de demanda", segundo a visão dos
gerentes da área de TI da empresa.
Rastreamento: o cliente quer o produto com determinadas características.
Ele pode então ir acompanhando as análises ao longo do processo, sendo que todas
as informações ficam registradas no sistema. Quando um determinado
carregamento, apresenta problemas de qualidade em relação à análise, é necessário
fazer o rastreamento de todas as operações. Neste caso o sistema pode reduzir
significativamente o tempo de solução do problema e descobrir em que ponto, ao
longo do processo, a falha aconteceu.
4. 1 . 1 .2- Vantagem Competitiva
A aplicação estudada, na opinião do executivo entrevistado, se destina tanto
a "aumentar o poder de barganha junto aos clientes" quanto ao "aumento da eficiên
cia/eficácia da companhia".
No caso do poder de barganha, foi citado que a intenção é colocar no
escritório do cliente um terminal que possibilite o acesso ao sistema (o terminal já
está instalado em alguns clientes brasileiros mesmo antes do sistema estar funcio
nando). A comunicação é realizada através da linha telefônica e não é o que produz
a vantagem em si. A vantagem vem da disponibilização de informações que
permitirão ao cliente acompanhar o processo, os resultados das análises e das etapas
cumpridas pelo produto até o embarque (Há até uma preocupação de limitar as
informações às quais o cliente teria acesso). Haverá a criação de um custo de
mudança para o cliente, neste caso um custo intangível relacionado à contmbilidade
52
da empresa A como fornecedora. A expectativa da empresa é que mesmo com um
preço ligeiramente superior, a segurança e a qualidade do fornecimento podem
tornar um cliente cativo. Um exemplo citado em relação à confiabilidade é o caso
dos competidores de outros países que, por terem passado um período de greves
freqüentes, criaram necessidade nos seus clientes de manterem estoques
desnecessários.
Em relação à eficiência/eficácia, a busca é melhorar a integra
ção/coordenação entre as unidades de neg6cio, através de um planejamento inte
grado de todas as atividades, gerando inclusive um sistema de produção de
características "just-in-time". É importante mencionar que a atividade da empresa A
exige um planejamento maior que uma linha de montagem típica, por exemplo
automobilística, devido à logística envolvida entre o momento em que o cliente faz
o pedido e o recebimento da encomenda, gerando necessidade de coordenação das
atividades de extração com as de transporte, armazenagem e despacho.
Uma característica da empresa que foi observada é que, apesar de ser
diversificada e estar dividida, em termos de gestão, em unidades de neg6cio
relativamente autônomas, existe uma visão de empresa integrada. Através dos seus
sistemas corporativos, a empresa preserva essa noção forte de unidade. Um
indicativo desta orientação é que as duas aplicações apresentadas como estratégicas,
são baseadas na integração e controle de informações geradas por unidades de neg6-
cio diferentes.
O entrevistado afirmou que "se os concorrentes não dispõem de um sistema
idêntico, devem estar tentando desenvolvê-lo". O que diferenciaria a empresa A é
que ela possui um leque de operações verticalizadas, maior que a maioria das
concorrentes. A intenção é fazer com que todas essas operações se transformem
num processo único, passível de ter sua performance melhorada a partir do
momento em que se disponha das informações integradas.
53
4. 1 .2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas
4. 1 .2. 1- Contexto Ambiental
A concorrência influencia fortemente o desenvolvimento de novas apli
cações. A nível internacional, a gerência de TI da cia A tem pouca informação sobre
o estágio da concorrência, mas acredita que a sua empresa seja uma das líderes em
termos de inovação no uso da TI e luta para se manter na frente. "Temos que ter
coisa melhor quando chegarem perto". A nível nacional a liderança é absoluta.
Ao ser analisado o quadro da concorrência internacional, foi citado que em
algumas ái:eas em que a necessidade tecnológica é maior, como controle de pro
cessos, canadenses e americanos, principalmente, estariam à frente no uso
estratégico da TI, e que a razão para a empresa A não conseguir acompanhar o
avanço, foi basicamente a reserva de mercado que impediu o acesso a tecnologias
mais avançadas, ou encareceu-as enormemente. Soluções "caseiras" foram tentadas
na época, mas o resultado foi ruim . .
4. 1 .2.2- Contexto estratégico
Foi citado que a empresa A é uma empresa bastante verticalizada e di
versificada, que busca uma estratégia de explorar nichos de mercado para os quais
possa se valer de suas capacidades básicas no sentido de obter sinergia com o que já
faz.
Na companhia A, a área de TI não se envolve diretamente no planejamento
estratégico da empresa A defInição de objetivos e metas do negócio são passados
pelos responsáveis (superintendentes) das áreas de negócio por ocasião da
realização dos PEl's (Planejamento Estratégico de Informações).
Os PEI's se constituem num sistema de planejamento que é realizado em
cada unidade de negócio com o apoio do pessoal de TI. Foi comentado que os PDl's
(planos Diretores de Informática), que eram a tônica até há algum tempo atrás, são
estáticos e com uma visão bottom-up. Os PEI's têm orientação top-down, dentro de
54
wna unidade de negócio, e se iniciam pela seguinte pergunta: "Qual é o seu negó
cio?" . São usados os fatores críticos de sucesso (CSF's), como um passo
intermediário na definição das necessidades de informação. O horizonte dos planos
é de 3-5 anos e estes são oferecidos pelo setor de TI aos seus usuários, como parte
de uma estratégia de venda de novos sistemas.
Com relação à influência da área operacional nas diretrizes da área de TI,
existe um comitê de superintendentes que sugere estratégias gerais para a com
panhia (p.ex.: rightsizing). Não é prática da área de TI ter em seus quadros pessoal
com formação e/ou experiência técnica específica nas áreas de negócio da empresa,
sendo que o seu conhecimento do negócio vem do próprio trabalho junto aos
usuários. Evita-se a contratação externa, a não ser para a parte de especificação e
construção de programas.
4. 1.2.3- Contexto Organizacional
O apoio da gerência de topo aconteceu de forma intensa no desenvolvi
mento das duas aplicações estratégicas citadas. No sistema de apoio à decisão, a
presidência da empresa solicitou o seu desenvolvimento e colocou "o que havia de
mais moderno" à disposição da gerência de TI para a elaboração de um aplicativo
eficaz. No segundo sistema, o diretor da área solicitou diretamente a elaboração de
wna aplicação integrada (operacional+comercial), baseado nos sistemas
corporativos existentes, com a inclusão de novas funções.
De wna forma geral, entretanto, o trabalho desenvolvido pela superin
tendência de sistemas é atacar as áreas de negócio, separadamente, buscando o
apoio dos superintendentes. Foriun sendo atacadas as áreas mais problemáticas e
que eram mais carentes. Pode-se dizer que os PEfs se constituem num
procedimento razoavelmente estruturado de busca de oportunidades de emprego
estratégico da TI.
Quanto à disseminação na empresa da visão estratégica da TI, foi
comentado que esse processo começou com o trabalho da área de TI junto aos
55
superintendentes mas que já está atingindo a diretoria. O planejamento de sistemas
de infonnação, entretanto, não conta com a participação dos diretores, sendo
realizado no âmbito do orgão gerenciador da atividade de TI.
4.1 .2.4- Contexto da função de TI
Na empresa A a área de TI, como outras, se constitui numa unidade de
negócios que presta serviço às outras unidades e que controla receitas e lucro,
através de um sistema de gestão econômica montado com esta finalidade.
"A aplicação se tornou um sucesso porque nós temos por trás todo um
elenco de sistemas corporativos, onde você pode entrar com o dado desde a forma
mais elementar até a fonna consolidada".
Esta frase resume a situação, em tennos de base instalada de sistemas de
infonnação, da empresa A, e a importância deste fator, na visão do gerente da em
presa, para o sucesso da aplicação estratégica analisada.
A empresa A se considera numa posição de liderança tecnológica, citando
exemplos de outras empresas nacionais de grande porte, que não conseguiram uma
integração dos sistemas que são críticos para o seu negócio. Além disso, a quase
totalidade dos sistemas na empresa são' desenvolvidos com recursos próprios.
A superintendência de sistemas, que coordena a atividade de TI, é ligada
diretamente à diretoria da empresa.
4.2- Empresa B:
4.2. 1- Aplicações estratégicas
O representante da área de TI da empresa considerou que não existem, na
empresa B, aplicações da TI que possam ser consideradas estratégicas, a partir da
cóncepção de aplica9ão estratégica adotada neste trabalho.
A área de TI da empresa B tem procurado, nos últimos anos, ter uma
atuação mais voltada aos sistemas operacionais. Há uma área de tecnologia, usuária,
56
que é apoiada pela área de TI mas que desenvolve projetos próprios, principalmente
para a atividade de planejamento da exploração e de geologia. Entretanto, eles
trabalham com aplicações independentes, ou seja, pacotes específicos para estas
atividades, adquiridos externamente. Os próprios usuários mantêm estas aplicações
com o apoio dos fornecedores. A área de TI se preocupa basicamente com as macro
funções relativas às atividades de apoio operacional e administrativas da companhia
(materiais, manutenção, recursos humanos, etc.).
4.2.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplica",ões estratégicas
4.2.2.1 - Contexto Ambiental
Na entrevista foi comentado que no mercado de extração mineral, a
competição entre as empresas é menos acirrada que em mercados como o
financeiro, em que há uma grande necessidade de diferenciação.
A avaliação do gerente entrevistado é de que, no ramo de atividade da
empresa, não há urna grande flexibilidade de formas de atuação no mercado, os
produtos são muito pouco diferenciados e têm uma variedade muito pequena. A
ligação "on-line" dos clientes à rede da empresa, por exemplo, não é pretensão da
empresa, pois a falta de diferenciação dos produtos não conduz a isso.
Dos clientes internacionais parte urna exigência muito grande por qua
lidade, que a empresa busca atender tanto nas propriedades do produto quanto nos
prazos de atendimento. Este é um ponto crítico, pois o produto varia a sua qualidade
ao longo do percurso desde a saída do solo até a hora do embarque para o cliente.
Há uma grande necessidade de informações, internamente à organização, sobre este
acompanhamento das características do produto ao longo do seu processo.
O mercado interno não é tão relevante para a empresa B, é menos exigente
em termos de qualidade, além de trabalhar com planejamento de mais curto prazo.
57
A reserva de mercado não comprometeu a empresa B em termos de
atendimento às demandas de informática, mas de qualquer forma houve prejuízo em
termos do custo do equipamento nacional, que era muito alto, e da tecnologia utili
zada que já era ultrapassada e acarretou uma vida útil muito curta para estes equipa
mentos (em menos de 5 anos, equipamentos de US$ 800 mil a unidade, já estão
sucateados).
Os avanços tecnol6gicos na área de TI da empresa são muito influenciados
pelo mercado de informática. Há uma pressão da indústria de informática para a
evolução tecnol6gica da empresa B, muito maior que a pressão exercida pelo
mercado em que a empresa atua. No caso da empresa B, as áreas usuárias tomam
atitudes com relação à modernização e à implementação de. novas tecnologias,
impulsionadas não por iniciativas da área de TI da empresa, mas pelo assédio dos
fornecedores de equipamentos e serviços.
4.2.2.2- Contexto estratégico
A estratégia da empresa não é claramente posta, há apenas uma noção,
obtida informalmente, de para onde a empresa está caminhando. É uma carência
sentida pelo pessoal da gerência de TI, a de saber o que a empresa espera do futuro,
qual a estratégia que ela pretende adotar no mercado e como a área de TI deveria se
preparar tecnologicamente para as demandas futuras.
Há uma estratégia operacional, em termos de jazidas a explorar e de
alocação dos recursos necessários para esta exploração, por exemplo, mas essa
informação fica guardada com o grupo gerencial de topo e não chega às outras áreas
da companhia, pelo menos formalmente. Quanto às estratégias de curto prazo (1
ano), a área de TI toma conhecimento delas quando da elaboração do orçamento,
mas o tempo é curto para que a área se prepare para dar suporte às demandas daí
originadas.
Pouco alinhamento existe entre as estratégias de TI e de negócio pois a
atividade de TI é vista como apoio às atividades-fim da companhia, e o foco de
58
preocupações da função de TI na empresa são os sistemas cOIporativos, os sistemas
transacionais "bem-comportados". Melhorias no "modus operandi" da companhia
através do uso da TI acontecem a pedido dos usuários, e a área de TI dá apoio a eles
em vez de propor novas tecnologias (o que eventualmente ocorre, é claro). Muitos
desses pedidos derivam do usuário ter visto a novidade em um concorrente e pedir
para ter acesso ao mesmo recurso.
4.2.2.3- Contexto Organizacional
A área de TI da empresa procura auxiliar os usuários a planejar melhor o
uso dos recursos de informação para apoiar as suas estratégias, mas não há um sis
tema de planejamento para o uso da TI como um todo.
Houve uma preocupação muito grande, por volta de 1987/88, de se montar
uma coordenadoria de informática para todo o grupo, com o intuito de se obter o
domínio sobre a tecnologia Esta iniciativa não teve sucesso. Houve uma mudança,
então, na forma de conduzir os negócios do grupo. Cada companhia cuida do seu
negócio e da tecnologia necessária para manter a sua atividade-fIm. Não há muita
troca de informações entre as unidades de negócio e a exploração de sinergias não é .
prioritária A administração ficou extremamente descentralizada, inclusive no poder
de decisão.
Não se faz avaliação de custo-benefício na hora de desenvolver novas
aplicações. Às vezes acontece, mas não é regra.
O comprometimento da gerência de topo com as iniciativas de TI é fraco
porque são fracos os laços de agregação entre as diversas gerências. A autonomia é
muito preservada e assim o modelo tende mais para uma espécie de federação, em
que a gerência de topo interfere pouco no sentido de montar estratégias de agrega
ção.
A influência cultural é muito importante no sentido de contribuir para esta
visão da TI como área de apoio. A cultura, segundo o entrevistado, é de todo o
mercado de exploração mineral. Há uma visão de que o negócio é produzir o bem
59
mineral e não produzir infonnação. Ele acredita que esta visão é correta, mas que
em certos casos há uma radicalização excessiva deste ponto de vista, não se dando
importância, às vezes, a uma oportunidade de negócio que surja
4.2.2.4- Contexto da função de TI
A empresa se utiliza de redes de micro, com LAN manager e MS-mai!,
instaladas para implementar uma solicitação da alta administração da companhia de
que todos os gerentes se comunicassem via rede.
Esta solicitação demandou grandes esforços do pessoal de TI, porque não
derivou de um planejamento prévio. Houve a necessidade de que soluções de
urgência fossem implementadas como, por exemplo, a montagem de uma ligação
entre dois prédios na região de exploração, via cabo de fibra ótica, em 45 dias, sem
que houvesse conhecimento prévio da tecnologia.
São diversas redes de micro (na administração central da empresa, nas
locações de exploração, no exterior) e elas se comunicam graças aos servidores de
comunicação que existem em todas elas. A evolução, entretanto, foi repentina e feita
às pressas, para atender a uma demanda não prevista tanto em tennos técnicos
quanto orçamentários.
A comunicação entre as unidades operacionais dispersas geograficamente é
um recurso crítico para a empresa B, mas a estrutura de serviços de telecomunica
ções é precária, e a empresa pouco pode fazer mesmo dispondo de recursos
fmanceiros, uma vez que as empresas concessionárias não conseguem atender à
demanda. A intenção é, a partir da rede de micros instalada, passar a integrar
infonnações gerenciais. Os sistemas corporativos têm interfaces, mas essas não são
automáticas. Ainda existem interfaces que são manuais, via fax ou malote, o que
dificulta o fechamento dos resultados do mês.
No momento está sendo implantado um sistema de controle operacional de
exploração que vai melhorar as condições de gerar infonnações. Hoje o sistema é
desestruturado. Usa-se recursos de micros, planilhas, bancos de dados em
60
computadores de médio porte e trabalha-se muita informação manualmente.
Acompanha-se os processos críticos como o de qualidade do produto, mas, sob o
ponto de vista tecnológico, usa-se uma miscelânea de recursos.
A área de TI, não conseguindo dar total apoio às áreas usuárias, descen
tralizou bastante a política de informática, dando maior autonomia aos usuários para
escolha de tecnologia. O modelo seguido foi o de aproveitar especialistas no
negócio, por exemplo, geólogos, com boa bagagem de informática, para
implementar os recursos de TI necessários às atividades. Mas isso é feito de forma
descentralizada nos próprio órgãos usuários. A estrutura de TI é orientada para atuar
em torno de macro-funções (manutenção, materiais, controle operacional, recursos
humanos e controle fmanceiro) e existe suporte de informática para cada uma delas,
inclusive com um coordenador e uma pequena equipe (2-3 pessoas).
Em termos de pessoal a equipe é pequena (houve uma redução recente de
cerca de 50% no pessoal) e se faz uso da contratação de mão-de-obra. Os projetos
são sempre coordenados pelo pessoal próprio, mas utiliza-se mão-de-obra
contratada para evitar um investimento fixo maior em pessoal.
Há previsão de aquisição de recursos de tecnologia avançada, como
sistemas de digitalização de imagens, softwares avançados de apoio às atividades
operacionais, etc. Entretanto estas não poderiam ser classillcadas como tecnologias
de ponta, já que é política da empresa B investir em tecnologias já consolidadas no
mercado, sendo que o interesse maior é em comprar soluções tecnológicas prontas.
Em termos de parque de processamento, a empresa está num processo de
"downsizing", substituindo os "mainframes" por máquinas menores. A empresa
sempre se utilizou, nas áreas técnico-operacionais, de equipamentos específicos
para o processamento de dados técnicos e para a comunicação de dados.
A área de TI é subordinada à diretoria financeira e a função de gerência de
informática é acumulada pelo "controller" da empresa. A justillcativa para a TI não
61
ser uma área autônoma é a de que "ela não contribui para o resultado [mal da
companhia", visão que não é compartilhada pelos profissionais da área.
Uma prática que começa a ganhar corpo na área de TI da empresa é o
"benchmarking". Essa postura é coerente com a política tecnológica da companhia
que é a de não ser a primeira a lançar novidades, mas de se manter em dia com a
concorrência, procurando soluções que já foram testadas e aprovadas pelo mercado.
Através de visitas a várias empresas foi constatado, por exemplo, que em termos de
sistemas corporativos, a empresa B está bem situada no mercado.
4.3- Empresa C:
4.3. 1- Aplicações Estratégicas
A gerência de TI da empresa C está investindo na reengenharia dos pro
cessos da empresa como oportunidade para incrementar a sua competitividade. A
empresa atualmente está engajada num projeto de qualidade total e, ao mesmo
tempo, desenvolve os primeiros passos no sentido de reprojetar os seus processos
críticos. Estes esforços são considerados complementares, uma vez que o programa
de qualidade total parte de uma visão vertical, setorial, em que cada órgão
desenvolve o seu programa e, com o engajamento e participação de todos, busca
melhorias nas rotinas existentes. No caso da reengenharia dos processos a visão é
horizontal, buscando o reprojeto de processos que atravessam vários órgãos e que,
por isso, necessitam ser orientados de cima. Daí a iniciativa da gerência de TI da
empresa C de sensibilizar a direção da empresa da necessidade de patrocinar
esforços de mudança nos processos da empresa.
Foram apresentados durante a entrevista três iniciativas que têm um enfoque
de reengenharia e que são consideradas estratégicas para a companhia. A primeira
lida com o projeto de engenharia de equipamentos pesados para produção. Tal
processo se utilizaria das tecnologias de computação gráfica, processamento de ima-
62
gens e redes, para tomar o processo mais eficiente, conseguindo uma redução no
tempo de projeto. Considerando-se que normalmente há mais de um órgão da
empresa e outras empresas de engenharia envolvidas nesses projetos, a transmissão
eficiente de dados e imagens gráficas entre as entidades envolvidas poderá gerar
grande economia no tempo e custo dos projetos.
A origem da idéia está num estudo do fluxo de caixa de um projeto, levado
a cabo pela própria gerência de TI, que avaliou uma economia significativa pela
redução de um único dia no prazo de conclusão do mesmo. O estudo, no entanto,
enfrenta alguns problemas e ainda não teve o seu início formalizado. Há uma
perspectiva de que ele seja efetivamente iniciado agora.
Outro projeto que foi citado como possível fonte de vantagem competitiva
para a empresa trata da questão da gerência das suas reservas minerais, mas está
numa fase muito embrionária também. Ele é resultado da prospecção de oportu
nidades desenvolvida pelo grupo de analistas de negócio da empresa. Atualmente a
gerência de TI está tentando obter o comprometimento necessário dos órgãos
envolvidos.
O último projeto citado é o único que está efetivamente em desenvolvi
mento. Trata-se do chamado "Complexo de Vendas" , que envolve as atividades de
faturamento e cobrança da empresa. Ele também compartilha as características de
abordagem dos outros dois, ou seja, se vale de novas tecnologias para o reprojeto do
processo de forma a conseguir ganhos significativos em termos de eficiência, mas
tem o seu escopo muito limitado o que impede que se possa considerá-lo um
processo estratégico para o negócio da empresa. Até disso, a vantagem competitiva
por ele gerada não está, ainda, claramente configurada.
Dessa forma considerou-se que, apesar do esforço que vem sendo
desenvolvido pela empresa C com vistas a alcançar um alinhamento estratégico das
iniciativas de uso da TI, não existe nesta empresa uma aplicação, a nível
corporativo, que possa ser considerada estratégica dentro do enfoque deste trabalho.
63
4.3.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas
4.3.2. 1- Contexto Ambiental
A empresa C, apesar de atuar num ambiente pouco competitivo, sente
atualmente uma cobrança do ambiente empresarial e da sociedade no sentido de ter
seus custos reduzidos. Isso se faz sentir principalmente no momento em que é
necessário negociar os seus preços.
Outra cobrança que a empresa recebe do ambiente externo se refere à
qualidade dos seus produtos. Várias publicações já apresentaram reportagens criti
cando aspectos relativos a este problema e a direção da empresa está sensível ao
mesmo. No momento a empresa está engajada em um programa de qualidade total
que, entre outros aspectos, visa reforçar a imagem de qualidade dos seus produtos
no mercado.
Ainda que não existam concorrentes importantes no mercado nacional para
muitos produtos que a empresa oferece, a gerência de TI atribui às forças externas
um papel muito importante. A gerência de TI argumenta que movimentos de
mercado como o "downsizing" chegam à empresa por causa dessa influência.
Apesar disso, foi citado que as unidades de negócio do grupo que enfrentam
uma concorrência mais acirrada estão, no momento, reformulando as suas políticas
com a maior rapidez possível, de forma se ajustarem às novas regras de mercado.
Este fator - pressão do ambiente - foi o fator destacado pela gerência de TI
como o mais significativo. motivador para as iniciativas inovadoras na sua área.
Com relação aos fatores inibidores, pode ser citado neste item a Reserva de
Mercado de Wormática, que a gerência de TI, embora não julgando os seus méritos
e propósitos, considera ter atrasado o acesso da empresa a questões tecnológicas
importantes e a produtos melhores e mais avançados, que só agora estão chegando
ao ambiente da empresa.
64
4.3.2.2- Contexto estratégico
A empresa historicamente tem se comportado como uma empresa do tipo
tradicional, ou seja, em que a TI tem um papel de suporte, não chegando a ter uma
função estratégica
Este contexto está mudando. A empresa tem feito intensos esforços nos
últimos anos na área de planejamento estratégico, o fato da empresa possuir uma
estratégia de negócios bem definida é uma condição necessária para que possa haver
um enfoque estratégico da área de TI. Dessa forma, a gerência de TI está realizando
um trabalho para capacitá-la, nos próximos anos, a conseguir o aIinhamento da
estratégia de TI à estratégia de negócios da empresa.
Uma ferramenta importante para isso que está sendo desenvolvida
atualmente, é o projeto de arquitetura de informações da empresa. A partir da
aprovação do projeto pela diretoria executiva, grupos de trabalho estão atualmente
preparando o nível estratégico desta arquitetura para as área críticas da empresa. Foi
criado um setor para dar apoio a esta atividade e a intenção é, uma vez concluído o
nível estratégico da arquitetura de cada unidade de negócio, refmar o trabalho até
chegar ao nível de dados e de sistemas.
As metas e objetivos do negócio agora chegam à área de TI formalmente.
Antes o recurso era de criar comissões que auxiliavam a gerência de TI a ter uma
visão mais clara dos rumos do negócio da empresa. Esse também era o mecanismo
que existia para as áreas operacionais influenciarem as diretrizes de uso da TI. Nas
comissões eram definidas as prioridades de alocação de recursos, por exemplo. As
comissões entretanto desapareceram e, no momento, as prioridades são
estabelecidas em negociação com cada cliente.
Apesar da empresa possuir, nos seus vários órgãos, pessoal oriundo da área
operacional desenvolvendo aplicações de TI, os profIssionais à frente destas ini
ciativas de uso estratégico da TI não têm experiência de trabalho nas unidades
operacionais. A gerência de TI, entretanto, busca colocar nestas posições pessoas
65
com bastante vivência dos problemas das áreas operacionais. O profissional para
este trabalho deve ser alguém que, ou venha da área operacional e receba
treinamento em TI, ou, como está sendo feito, venha da área de TI e seja treinado
para ter uma visão do negócio da área em que vai atuar. A dificuldade em conseguir
disponibilidade do pessoal das áreas operacionais é o fator que dirige a empresa C
para este tipo de solução.
4.3.2.3- Contexto Organizacional
O mais importante fator inibidor das iniciativas de uso estratégico da TI na
empresa C é a questão da estanqueidade das várias áreas. Ela é uma empresa
integrada, tem que ser integrada, na opinião de seus dirigentes, mas �tem
questões organizacionais que dificultam o bom andamento das iniciativas. Um
exemplo é o estudo dos processos de negócio, que é dificultado por envolver na
maioria das vezes vários órgãos e necessitar de um nível de entrosamento, entre
eles, complicado e demorado de ser obtido na empresa.
O comprometimento da gerência de topo da empresa com as iniciativas da
área de TI é pequeno. Normalmente há interesse em um projeto específico mas não
com o plano como um todo. A gerência da área de TI tem buscado este compro
metimento municiando os dirigentes com informações e apresentando as suas idéias.
O critério de escolha de qual aplicação desenvolver não é sistemático. Há
várias variáveis envolvidas. Urna aplicação pode ter retomo mas o cliente não ter os
recursos necessários para desenvolvê-la, enquanto outros órgãos com disponibili
dade de recursos recebem prioridade. Muitas vezes as diretrizes da empresa definem
algumas prioridades, ainda que em termos de urna análise objetiva de custo x
benefício as prioridades pudessem ser outras.
Não há uma metodologia estruturada para se descobrir e avaliar oportuni
dades de emprego estratégico da TI. Há a iniciativa da área de TI de procurar o
cliente e verificar se surgem projetos que possam servir de "vitrine" para difundir,
66
dentro da empresa, essa nova abordagem de aplicação da TI, mostrando que a
mesma é viável em termos de prazos e resultados.
Esta iniciativa tomou corpo há um ano, quando foi criado um grupo de
analistas denominado "analistas de negócio". Eles foram encarregados pela gerência
de TI de sair a campo procurando oportunidades de melhorar os processos da em
presa. A idéia é de "bater de porta em porta" vendendo soluções e buscando
comprometimento.
Este trabalho é possível porque a gerência de TI avalia que já há uma visão
na empresa de que a informação é um insumo estratégico. Há um maior questi
onamento, inclusive, sobre qualidade e confiabilidade da informação. Já é comum
em reuniões com a gerência superior da empresa referências, por exemplo, à
capacidade de disseminação rápida de informação através do videotexto. Usar a TI
para agilizar os processos organizacionais é uma idéia que fica mais fácil de ser
entendida na medida em que o usuário já se utiliza, por exemplo, do correio
eletrônico para a sua comunicação rotineira, como acontece em diversos órgãos da
empresa.
4.3.2.4- Contexto da função de TI
Em relação à disseminação de sistemas de informação na empresa, o ge
rente da função de TI avaliou que a nível nacional, à exceção do ramo bancário, a
situação da empresa A é de vanguarda.
A nível internacional, entretanto, fazendo uma comparação com Úldices de
empresas de primeiro nível, a empresa C teria que investir mais para poder se situar
numa posição adequada.
Apesar dessa posição de liderança a nível nacional, a empresa carece de
uma maior integração entre os seus sistemas. Existem áreas em que essa situação é
melhor, mas no global a situação poderia ser considerada apenas "razoável",
existindo muitas soluções de interface precárias. A integração foi sendo feita ao
longo do tempo, sem coordenação. O investimento na arquitetura de informações é
67
visto, também, como uma fonna de prover um instrumento de apoio à esta
integração.
A gerência de TI é subordinada diretamente à diretoria da empresa.
Com relação a recursos, a empresa quando desenvolve projetos lança mão
de diversas alternativas. Algumas aplicações são desenvolvidas com recursos
próprios, do órgão central de TI ou dos próprios usuários, outras são contratadas a
empresas de consultoria, outras ainda, são parcialmente contratadas (apenas alguma
fase do projeto). Entretanto, existe uma diretriz da gerência de TI de que a
especificação do projeto deve ser feita com recursos próprios, e de que a etapa de
desenvolvimento da aplicação, que tem um caráter mais técnico, pode ser contratada
a terceiros.
4.4- Empresa D:
4.4. 1- Aplicações estratégicas
Existe hoje uma proposta da área de TI de modificar o sistema de in
fonnação da empresa, de fonna que os custos de produção pudessem ser apurados
mais acuradamente e de fonna divisionalizada, baseado em preço de transferência.
Assim, cada atividade teria um preço final para o seu "produto", que poderia ser
comparado com o preço de mercado para que houvesse uma avaliação da eficiência,
em tennos de agregação de valor, de cada atividade do processo.
O sistema de informação seria estratégico, então, no momento em que ele
permitisse que decisões estratégicas como, por exemplo, a terceirização de algum
setor da empresa, fossem tomadas com suficiente base de infonnações. Essa é a
visão da gerência de TI da empresa, na qual o conceito de sistemas estratégicos é
bem amplo, abrangendo toda aplicação que agregue valor.
Mas, de qualquer fonna, não existe na empresa D um sistema que se
pudesse chamar de estratégico de acordo com as defInições adotadas neste trabalho,
68
principalmente no que tange à característica de inovação que uma aplicação deste
tipo deve possuir, para que a empresa possa gozar de uma vantagem competitiva
real pelo seu uso.
4.4.2- Contexto da empresa no que se refere ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas
4.4.2.1- Contexto Ambiental
Há uma queda acentuada no preço do produto no mercado internacional
devido a um aumento grande na oferta. Isso está provocando um acirramento na
competição a nível internacional e a busca de redução no custo do produto é uma
prioridade na empresa. Existe hoje uma demanda na empresa por informação para
análise do custo da produção, que não era muito controlado pois a atividade era
bastante lucrativa.
Há uma pressão grande de uso de novas tecnologias de TI por parte do
mercado de informática, de forma indireta, já que a leitura de revistas especializadas
e participação em feiras faz com que os usuários estejam em dia com os avanços
tecnológicos da área e exijam a implantação destas novidades.
Quanto à Reserva de Mercado de Informática, a empresa D como todas as
empresas, teve seus custos onerados enquanto vigorou a política mais restritiva da
SEI, mas quanto ao contexto de aplicações estratégicas o impacto foi mínimo.
4.4.2.2- Contexto estratégico
A nível de estratégia, a empresa D tem outras questões a resolver. O seu
custo é muito onerado, por exemplo, por causa da dependência de fornecedores para
o transporte do seu produto. Neste caso, a estratégia da empresa esbarra nesta
dependência, não sendo assim uma prioridade para ela o uso da TI como arma
competitiva, uma vez que os ganhos gerados por uma aplicação de TI, muito
provavelmente não seriam suficientes para alavancar a sua posição no mercado, que
69
está atrelada à negociações com fornecedores que têm uma grande influência no
preço e volume de sua produção.
Na empresa D a TI apóia as operações, com base em sistemas tradicionais e
administrativos, sendo classificada como tradicional no alinhamento estratégia de TI
x estratégia de negócios. A gerência de TI considera que esta posição começa a
mudar com o estudo que está sendo feito para a implantação da tecnologia de EIS
(executive information systemsJ, que poderá proporcionar um maior apoio da TI à
estratégia da empresa.
Existe uma estratégia global de negócios da empresa D que, embora não
seja escrita, é passada aos gerentes através de reuniões periódicas com a diretoria.
Com base nisso a gerência de TI faz o seu planejamento anual, estabelecendo metas
determinadas a atingir.
A área técnico-operacional influencia a direção das iniciativas de TI no
sentido de definir que aplicativos devem ser desenvolvidos e participa de forma
ativa na sua concepção. Com relação à alocação de recursos, entretanto, a decisão é
tomada pela gerência de TI em acordo com a diretoria da empresa. No caso de
recursos orçamentários, a gerência de TI propõe à diretoria uma determinada
alocação de recursos com base nas necessidades das áreas operacionais.
Não há pessoal oriundo da área técnico-operacional da empresa atuando sob
a coordenação da gerência de TI, mas está prevista a criação de analistas de negócio
para atuar junto às áreas técnico-operacionais de forma a dar sugestões de como
melhorar os sistemas de apoio destas áreas. A idéia é aproveitar pessoas do
mercado, com formação técnica superior na área de atuação da empresa e que
estejam trabalhando na área de TI, para compor o quadro destes profIssionais.
4.4.2.3- Contexto Organizacional
A empresa tem um diretor-presidente ao qual se subordina a assessoria de
sistemas. Essa assessoria se responsabiliza pelos sistemas administrativos e
gerenciais, ou área de business, que é uma das três áreas nas quais a informática da
70
empresa está dividida. As outras são a de computação científica (geologia, prospec
ção, geoprocessamento, etc.) e a de automação industrial (CLP's - controles lógicos
e programáveis). Há urna assessoria técnica, subordinada à diretoria industrial, que
se responsabiliza pela área científica, tanto a nível de engenharia quanto a nível do
processamento de dados. Há um pensamento na empresa de que a parte científica da
TI tem que ficar sob a responsabilidade da área técnica da empresa, pensamento
esse que não é compartilhado pela área de sistemas, que é responsável pela política
de informática da empresa e pela alocação de recursos. Essa separação na estrutura
de TI é recente e a gerência de sistemas ainda estuda a situação com vistas a propor
uma volta à estrutura anterior, mais centralizada.
Já há uma percepção na direção da empresa de que a informação é um bem
indispensável à sua competitividade, sendo que o gerente da área foi trazido para a
empresa há pouco tempo como um agente de mudanças, com a função de moderni
zar a área de TI da empresa. Com a nova gerência foi criado um plano de
informática, que não é muito pretencioso porque a informática vem de urna fase em
que estava extremamente desacreditada.
A postura da direção da empresa tem sido de dar apoio à gerência de TI,
acatando as suas sugestões e divulgando-as entre os outros gerentes. Mas em relação
à mudanças mais radicais, em termos do emprego estratégico da TI, por exemplo,
ainda não há nada alinhavado, até porque ainda há urna visão de que a mineração
não seja uma área em que a TI tenha um papel fundamental em termos de inovação.
Há urna grande resistência na cultura da empresa às mudanças e embora a
gerência de TI esteja trabalhando no sentido de viabilizar estas mudanças, algumas
necessitam de impulso externo. Por exemplo, é intenção da diretoria ativar um
projeto de reengenharia de alguns processos, mas o estudo deve ser realizado por
urna consultorià contratada, já que é difícil para um setor da empresa questionar
outro na visão da gerência de TI.
71
Não há um procedimento estruturado para análise de prioridade no des
envolvimento de novas aplicações da TI. Os critérios são vários, dependendo do
caso. Também não existe um procedimento para a avaliação de oportunidades de
emprego estratégico da TI.
4.4.2.4- Contexto da função de TI
A empresa tem os sistemas administrativos básicos implantados e alguns
sistemas técnicos e de controle de processo também. Mas o sistema de custos da
empresa não é apurado o suficiente para permitir análises mais detalhadas de
desempenho. A empresa também se ressente de sistemas de informação mais
aprimorados em algumas áreas importantes como a de manutenção de equipamentos
e estoques, que são críticas em termos de custos. Muitos sistemas são considerados
ultrapassados e estão sendo substituídos por software comprado ou estão sendo
refeitos através do uso de metodologias estruturadas e do apoio de consultoria
externa.
Em relação à integração de sistemas, há uma certa facilidade de agru
pamento de dados pelo fato de a maioria dos sistemas importantes estar implantada
no mainframe, mas o nível de compartilhamento de dados é pequeno. Nas
localidades remotas há micros e terminais, todos ligados ao computador central.
A gerência de TI não só tem um status de ligação direta à diretoria da
empresa como tem uma atuação consultiva de forma geral, transcendendo à
aplicação da tecnologia em si, sugerindo inclusive modificações de ordem
organizacional e administrativa com base nas informações de que dispõe.
A empresa está adotando uma fIlosofia de adquirir software pronto no
mercado, deixando para o desenvolvimento interno aplicativos que sejam muito
específicos para a empresa.
Uma alternativa que também é adotada é a contratação do desenvolvimento.
Neste caso a empresa contratada recebe as especificações, desenvolve e treina o
72
pessoal da empresa D, sendo que a gerência de TI desloca um técnico seu para
acompanhar o projeto.
73
s- INTERPRETACÃO DOS CASOS
Neste capítulo analisaremos os quatro casos descritos, à luz de conceitos
retirados da revisão bibliográfica, com o intuito de obter respostas às questões
básicas da pesquisa e, também, de analisar aspectos referentes ao tema que foram
relevantes nos casos estudados.
S,l- AnáUse das AplicacÕes Estratél:icas
Nessa análise procuraremos, sem prejuízo de outras considerações que se
considere importantes, responder a duas das três perguntas básicas da nossa pesqui
sa, quais sejam:
• As empresas do setor de mineração pesquisadas possuem ou pretendem
desenvolver aplicações estratégicas?
• Como as aplicações estratégicas podem gerar vantagens competitivas
para estas empresas?
Na empresa A identificamos uma aplicação estratégica da TI: o Sistema de
Gestão de Demanda de Suprimentos, que estava, à época da entrevista, em fase de
desenvolvimento.
5 .1 . 1 - O caráter estratégico das aplicações
Analisando o sistema citado a partir das várias definições de aplicação
estratégica descritas no texto, observamos que ele atende à definição proposta por
Bak:os & Treacy, pois se aplica a uma área funcional crítica da companhia (indo
mais longe podemos dizer, com base nas informações obtidas na pesquisa, que ele
se aplica ao processo crítico da empresa), e pode ser considerado uma inovação na
indústria, se considerarmos que ele integra atividades numa extensão da cadeia de
valor que a maior parte das empresas não tem sob o seu domínio.
Além disso, ele suporta as duas faces da estratégia da companhia, citadas
como sendo, a primeira, explorar as várias atividades da cadeia de valor de forma
integrada, possibilitando a obtenção de ganhos de performance no processo e
permitindo a fixação de um preço mais baixo para o produto, e como segunda faceta
74
da estratégia, se diferenciar aos olhos dos consumidores por uma imagem de
qualidade e conflabilidade. A primeira é contemplada no objetivo básico da
aplicação que é o de possibilitar a integração e coordenação das atividades da cadeia
de valor, com o planejamento integrado da produção e um processo logístico
otimizado, permitindo um fluxo de processo ao estilo "just-in-time". O segundo
objetivo estratégico é atingido pelo incremento da percepção do cliente com relação
à qualidade do produto e à confiabilidade no fornecimento, através do acesso deste
a informações precisas e .ao acompanhamento passo-a-passo de todo o processo,
desde a extração do produto até o seu embarque para o cliente.
Outra definição de aplicação estratégica se relaciona à capacidade do
implementador de auferir vantagem competitiva pelo seu uso, ou pelo menos,
manter-se em paridade com os seus competidores. Aqui o importante é notar que a
aplicação, se bem sucedida, pode alavancar de forma decisiva uma vantagem
competitiva latente que a empresa A já possui, ou seja, o seu domínio sobre
praticamente toda a cadeia de valor da indústria. Este assunto, entretanto, será
aprofundado quando falarmos de sustentabilidade da vantagem competitiva.
Por último, lembramos a afIrmação de Stalk (1992), citada no texto, de que
o sucesso competitivo depende da transformação de processos-chave da organização
em capacidades estratégicas, que forneçam valor superior ao consumidor. No caso
deste aplicativo, já comentamos anteriormente que ele é dirigido à um processo
chave da companhia A, e que ele procura fornecer um maior valor ao produto pela
redução do seu custo fmal e pela ampliação da diferenciação dos serviços agregados
ao produto, que são prestados ao cliente (informações precisas, confIabilidade de
fornecimento, etc.).
75
5.1 .2- Vantagem Competitiva:
Confonne citação de Johnston e Carrico (1988) apresentada na revisão
bibliográfica, o sucesso de uma companhia está diretamente ligado à sua capacidade
de identificar e aproveitar oportunidades para aumentar a perfonnance da sua cadeia
de valor.
Porter (1985), por sua vez, apresenta o escopo competitivo da empresa
como um diferencial importante para a obtenção de vantagens competitivas. Estes
conceitos se aplicam de fonna direta à iniciativa da companhia A, que foi a de
desenvolver a aplicação em estudo para manipular infonnações sobre as
interrelações existentes entre atividades na dimensão vertical do seu negócio,
buscando uma melhor gerência de interações e a redução dos custos de transação
entre as várias atividades da sua cadeia de valor. A gerência de interações entre as
diversas atividades econômicas da cadeia de valor é apresentada por Clemons e
Row ( 1991), na revisão bibliográfica, como sendo um recurso crítico das empresas e
que pode ser alavancado pela TI de fonna a gerar vantagem competitiva duradoura
Uma observação importante que pode ser feita com relação à companhia A
é a de que ela se beneficiou do fato de ser quase totalmente verticalizada nesta ati
vidade. Este é um dado significativo se lembrarmos que, como Johnston e Carrico
comentam, ganhos de perfonnance pela gerência de interações entre as atividades
serão tanto maiores quanto mais longa e complexa for a cadeia de valor sob o foco
desta gerência
Com relação às fontes de vantagem competitiva, a partir do modelo causal
de Bakos e Treacy (1986), a aplicação abrange os dois ramos geradores de
vantagem competitiva: o poder de barganha da empresa junto aos consumidores (os
fornecedores nesta indústria têm pouca importância estratégica), e a eficiência
comparativa, no caso a eficiência interna da empresa, pois a eficiência
interorganizacional não é relevante para a empresa A, que é extremamente ver
ticalizada.
76
5.1 .3- Sustentabilidade da Vantagem Competitiva
Clemons e Row (1991), citados no texto, defendem que a TI pode levar à
geração de urna vantagem competitiva sustentável se for usada para alavancar
diferenças em recursos estratégicos, ou seja, um recurso que seja significativo para
o negócio e que não está prontamente disponível para os competidores.
Considerando-se que o escopo de atuação vertical da companhia A é um
recurso estratégico, o que parece bastante claro a partir das informações referentes
ao caso, pode-se concluir que há um potencial de geração de vantagem competitiva
real e duradoura, caso a aplicação em estudo seja adequadamente desenvolvida e
possa ser usada de forma eficaz para os fins a que se propõe.
Observar que, no caso, a origem de vantagem competitiva não é a Tecno
logia da Informação em si. A vantagem competitiva é gerada pelo escopo competi
tivo. Como Clemons e Porter defendem , empresas de amplo escopo competitivo,
seja ele vertical ou horizontal (e a companhia A explora ambos), podem se valer da
TI para integrar/coordenar as diversas unidades de negócio, buscando sinergias, e
criando um diferencial competitivo difícil de copiar, pois não é gerado pela TI em si
mas pelo portfolio de unidades de negócio que a empresa possui.
5 .1 .4- Aspectos Relativos à Reengenharia de Processos
O projeto Sistema de Gestão de Demanda de Suprimentos não é de
reengenharia. Ele não envolve reestruturação da forma como o trabalho é realizado
e não toca na estrutura de divisão de responsabilidades e funções da empresa. É uma
aplicação estratégica da TI baseada na exploração de um recurso crítico, em termos
de competitividade para a empresa, que é o portfolio de unidades de negócio
verticalizado que a empresa possui.
Entretanto, o projeto embute alguns conceitos e pode ser urna ferramenta
útil num futuro trabalho de reengenharia. A partir dos princípios de Hammer (1990)
para caracterizar um trabalho como de reengenharia, vemos que no projeto estão
contemplados a descentralização do processamento da informação e o tratamento de
77
recursos geograficamente dispersos como se fossem centralizados (só alguns
recursos). Mais fundamental do que isso, esta aplicação visa integrar as atividades
da empresa, como um processo único. A idéia é justamente poder tratar todas as
atividades, desde a geração do pedido até a entrega do produto ao cliente, na
quantidade e especificações requeridas, como um processo único de forma a poder
ser gerenciado e coordenado de forma integrada, possibilitando até um ajuste de
produção e demanda ao estilo "just-in-time". Esta visão de processo nos parece a
coisa mais importante do sistema, e um pré-requisito para um trabalho futuro de
reengenharia na empresa. Na empresa A, já havia um trabalho antigo de integração
das diversas áreas funcionais que permitiu que o processo estudado, que envolve
diversas áreas da empresa, pudesse ser tratado de forma integrada.
5.1.5- Considerações sobre as outras Empresas Estudadas
Na empresa B não foi identificada nenhuma aplicação da TI que se pudesse
considerar como estratégica, a partir das definições que foram selecionadas da
revisão bibliográfica.
Isso porque, em primeiro lugar, as aplicações consideradas corporativas são
desenvolvidas pelo pessoal de TI (área de informática), que não têm acesso às
estratégias da empresa, pelo menos formalmente. Daí as mesmas não serem desen
volvidas buscando apoiar essas estratégias. A função da área de TI é exclusivamente
de suporte às operações corporativas e apoio aos usuários das áreas operacionais.
Com relação à defmição de aplicação estratégica a partir do seu caráter de
inovação e aplicação a áreas críticas da companhia, percebemos que os usuários dos
setores técnico-operacionais se valem de produtos de TI prontos ("pacotes"), até
porque a política da empresa é a da "maçã mordida", ou seja, acompanhar as
tendências do mercado mas não ser a inovadora. Desta forma não são geradas
vantagens competitivas, já que estes pacotes são facilmente adquiridos pela
concorrência, o que descaracteriza qualquer aspecto de geração de vantagem
78
econômica da empresa B sobre a as outras empresas do mercado, pela sua
utilização.
A empresa C está, aparentemente, num estágio bastante evoluído no sentido
de desenvolver aplicações estratégicas. A empresa ocupa uma posição de vanguarda
tecnológica a nível nacional e está se capacitando para investir na reengenharia dos
seus processos de negócio, já tendo criado um grupo de analistas de negócio com
essa missão. Já possui também algumas aplicações em estudo, mas o
desenvolvimento dessas aplicações depende de uma maior integração entre as áreas
de negócio da companhia, o que é um ponto crítico para que ela alcance seus
objetivos.
A empresa D está passando por uma reformulação organizacional em que,
ao mesmo tempo em que liberou as áreas técnico-operacionais para, tal como na
empresa B, terem maior autonomia na gerência de seus recursos de TI, está abrindo
espaço para o gerente da área de TI ampliar sua participação nas discussões sobre
desempenho organizacional. Isso pode favorecer a sua percepção de oportunidades
de desenvolvimento de aplicações estratégicas no futuro. Inclusive, já há estudos
para um possível trabalho de reengenharia de processos na empresa, o que
demonstra o interesse da gerência de topo no assunto.
Em que pese essa recente busca de modernização, não foi identificado
qualquer aplicativo de características estratégicas, sendo que a empresa também se
vale de produtos de TI comprados diretamente ao mercado como principal fonte de
implantação de novas tecnologias na área de TI. Também foi constatado haver difi
culdades, por parte da empresa D, em perceber contribuições tangíveis do conceito,
dado o tipo de atividade que a empresa exerce.
79
5. 1.6- Resumo
Sumarizando o que foi visto temos:
Tabela 5.1 .1- Características da Aplicação Estudada
APLICAÇÃO Sistema de Gestão de Demanda de Suprimentos
(empresa A)
Por quê é estratégica? Inovação em área funcional crítica
Gera Vantagem Competitiva Duradoura
Apóia estratégia da empresa
Fonte de Vantagem Eficiência Comparativa (Interna)
Competitiva Poder de barganha junto aos consumidores
Recurso Estratégico que ex- Escopo competitivo (verticalização)
pIora
Grau de Sustentabilidade da ALTO
Vantagem Competitiva
Principais Conceitos de Reen- Visão de processo
genharia de Processos Atravessa fronteiras funcionais
Empregados Tratamento de recursos geograficamente dispersos
como centralizados
Costuma-se considerar as indústrias primárias, como a de extração mineral
aqui enfocada, como pouco propícias ao desenvolvimento de aplicações estratégicas
da TI, devido ao baixo conteúdo informacional do seu produto e da pouca
sofisticação tecnológica do seu processo produtivo.
Partindo desta premissa não era esperado encontrar nesta pesquisa, inves
timentos em aplicações estratégicas da TI. A expectativa era de que as empresas
estivessem concentradas em desenvolver aplicações de cunho tradicional, ou seja,
de apoio às suas funções internas.
80
No entanto, temos no nosso grupo de quatro empresas pesquisadas, uma em
que este tipo de aplicação da TI está sendo desenvolvido. No caso da empresa A
observamos uma aplicação estratégica que preenche todos os três principais
requisitos classificatórios selecionados da revisão bibliográfica, e que abrange as
duas fontes básicas de vantagem competitiva do modelo de Bakos e Treacy (1986),
como está destacado na tabela acima
Além disso, a vantagem competitiva que ela virá a produzir possui um alto
grau de sustentabilidade (é de difícil imitação), pois se apóia num recurso crítico
que a empresa possui que é o seu escopo competitivo altamente verticalizado. Esta
constatação está totalmente de acordo com os estudos de Clemons e Williams sobre
o tema , apresentados na revisão bibliográfica.
Se não bastasse isso, também em relação aos conceitos relacionados à
reengenharia de processos, tanto a empresa A quanto a empresa C estão
acompanhando as tendências atuais, sendo no caso da companhia A de forma
intuitiva e já de algum tempo, e no caso da empresa C, mais recentemente, de forma
objetiva com uma abordagem mais sistemática através de um programa que envolve
entre outras iniciativas a criação do cargo de analistas de negócio.
Por tudo isso podemos concluir que aquela visão de que em empresas
atuando em atividades industriais primárias a aplicação da TI está restrita à função
tradicional de suporte, visão essa compartilhada inclusive por alguns dos gerentes
das empresas pesquisadas, é, no mínimo, limitada. Essa limitação decorre do fato de
não se levar em consideração as diferenças individuais entre as empresas na sua
forma de atuação, nos recursos de que dispõem e nas suas competências básicas.
Tomemos a empresa A como exemplo. Sob qualquer critério, como foi
explicado anteriormente, a aplicação que está sendo desenvolvida pode ser conside
rada estratégica; gerando uma vantagem competitiva real e duradoura. Isso sugere
que o impacto estratégico da TI depende de diversos fatores dos quais o conteúdo
8 1
informacional do produto é apenas um deles, apesar de se reconhecer a sua
importância.
Ao buscar resposta para uma das perguntas básicas da nossa pesquisa,
"Como as aplicações estratégicas podem gerar vantagens competitivas para as
empresas pesquisadas", nos deparamos com um outro fator, o conteúdo
informacional embutido na gerência de transações ao longo da cadeia de valor da
empresa, que é tão importante quanto o conteúdo informacional do produto, mas
que não é dependente do produto em si mas da forma de atuação da empresa.
Isso explica por que em uma mesma indústria, duas empresas estão de
senvolvendo ou se capacitando para desenvolver aplicações estratégicas,
reconhecendo a importância do conceito, enquanto as outras duas empresas
pesquisadas ainda vêem a TI como uma função tradicional de suporte às operações.
Também deve ser notado que tanto na empresa A quanto na empresa C, um grande
enfoque está sendo dado à revisão de seus processos de negócio, o que pode de
monstrar uma percepção de que as suas maiores oportunidades de emprego
estratégico da TI estão ligadas à gerência de transações ao longo da sua cadeia
produtiva
82
5.2· Análise dos Fatores Facilitadoresanjbidores para o Desenyolvi-
menta de AplicaçÕes Estratégicas:
Neste item vão ser analisadas as informações coletadas nas empresas sobre
os fatores ligados ao desenvolvimento de aplicações estratégicas, à luz do modelo
de análise apresentado no capítulo de metodologia.
Nessa análise procuraremos, sem prejuízo de outras considerações que se
considere relevantes, responder à seguinte pergunta básica da nossa pesquisa:
• Quais os fatores facilitadores/inibidores para o sucesso no desenvol
vimento de aplicações estratégicas, na percepção das empresas estudadas?
Segue o resultado da análise fator a fator:
5.2. 1 - Fatores Ambientais
5.2. 1 . 1- Crescimento da Pressão Competitiva:
De uma forma geral a pressão competitiva é um fator importante para as
empresas entrevistadas mas que, pelas características desta indústria no Brasil
(baixo conteúdo informacional no produto e ambiente competitivo menos acirrado) ,
não tem a mesma importância que lhe é atribuída na literatura internacional. A
competição no mercado nacional é mínima e o acirramento da competição
internacional parece ser recente, apesar de já estar provocando uma busca de maior
eficiência, o que pode passar por um investimento mais pesado em soluções usando
a TI.
Um exemplo típico disso é a empresa D. A empresa passa por um momento
de reformulação e busca de eficiência, devido ao acirramento da competição
internacional com a acentuada queda no preço do produto. Esta reformulação
atingiu fortemente a área de TI, cujo novo gerente foi empossado com a missão de
ser um agente de mudanças. Há diversos estudos em andamento: implantação de um
sistema de controle de custos e de um sistema de informação executivo (EIS),
desenvolvimento de um projeto de reengenharia dos seus processos críticos,
83
implantação da função de analista de negócio, além do aprimoramento de diversos
sistemas importantes.
Na empresa A, a concorrência influencia de forma indireta o desenvol
vimento de aplicações estratégicas. Indiretamente porque há uma suposição da área
de TI da empresa A de que a empresa ocupa uma posição de liderança em inovação
via uso da TI, mas não há muita informação sobre os concorrentes internacionais.
Desta forma, a empresa não desenvolve inovações por perceber diretamente o
movimento dos concorrentes, mas por uma iniciativa sua de se qualificar como uma
empresa de ponta no uso inovativo da TI e procurar, através disso, se tornar mais
competitiva.
No caso da empresa B, existe o reconhecimento de que a demanda do
mercado internacional pela manutenção de um alto padrão no seu processo de
produção (qualidade do produto ao longo do processo, prazos de atendimento, etc.)
provoca uma grande necessidade de informação no sentido de coordenar este
processo. Mas sendo as possibilidades de diferenciação do produto neste mercado
extremamente reduzidas, não há uma maior disposição da empresa B de investir na
inovação e na exploração do potencial estratégico da TI.
A empresa C considera pequenas as pressões competitivas diretas que sofre,
mas recebe forte pressão do ambiente empresarial e da sociedade para manter
baixos os seus custos e aprimorar a qualidade dos seus produtos. Apesar da pequena
pressão competitiva que sofre no mercado nacional para a maioria dos seus
produtos, o ambiente externo é um fator importante na orientação da empresa para a
busca de oportunidades de aplicação estratégica da TI.
5.2. 1 .2- Conteúdo Informacional da Atividade
O pequeno conteúdo informacional embutido no produto faz com que haja
uma visão, na maioria das empresas pesquisadas, de que a atividade de mineração
não se presta ao uso estratégico da TI. Essa visão tem o poder de inibir soluções
84
criativas de uso da TI, que é vista como uma commodity, não servindo como
elemento diferenciador para a estratégia da empresa.
Na empresa A a coisa é diferente, pois, apesar de haver pouca informação
agregada ao produto, suas atividades altamente verticalizadas geram uma grande
necessidade de manipulação de informação no processo de coordenação destas
atividades, criando oportunidade para o uso estratégico da TI na gerência das intera
ções ao longo do processo.
Baseados nestas observações advogamos que o fator "conteúdo infor
macional da atividade", neste caso, é um fator inibidor do desenvolvimento de
aplicações estratégicas, não só pelo baixo conteúdo informacional agregado ao
produto da atividade em si, mas principalmente pela visão que as empresas têm
dele. Ou seja, determinadas empresas, cujo produto tenha um baixo conteúdo infor
macional, podem ter uma tendência a não investir em desenvolver oportunidades de
uso inovativo da TI que possam existir, por uma espécie de "miopia" do potencial
de transformação da TI.
A empresa B é um bom exemplo desta linha de visão. Na medida em que o
uso estratégico da TI é visto na empresa como um conceito válido basicamente para
indústrias/serviços que lidem diretamente com o produto "informação", caso de
bancos, corretoras, seguradoras, etc., a TI passa a ter uma postura de suporte e de
implantação de soluções "prontas", abrindo mão do seu potencial transformador.
5.2.1.3- Reserva de Mercado de Informática
Uma contribuição importante que é possível obter a partir do estudo nas
empresas, é a identificação de um novo fator externo, não citado na revisão biblio
gráfica, que no nosso ambiente pode ter tido influência no desenvolvimento da TI
como arma competitiva nos últimos anos, e que pode vir a ser acrescentado ao mo
delo. O fator identificado é a reserva de mercado da informática, que inibiu o desen
volvimento de aplicações na área de controle de processos.
85
Essa área que faz uso de tecnologias avançadas de monitoramento e
controle, tecnologias essas que a empresa A, por exemplo, na época, não tinha
acesso ou que chegavam ao país a um custo desestimulante. Esse fator fez com que,
ao que tudo indica, a empresa A não tenha hoje uma posição internacional de ponta
em aplicações de TI ligadas ao controle de processos.
A Reserva de Mercado não teve uma maior influência no não desenvol
vimento de aplicações estratégicas por parte nas empresas B, C e D, porque outros
fatores aparentemente foram mais decisivos. A perda sentida foi no custo do seu
processo de informatização. No caso da empresa C, este fator foi considerado um
inibidor importante do desenvolvimento tecnológico da área de TI da empresa, por
ter dificultado o acesso da mesma à novas tecnologias.
5.2.2- Fatores Referentes ao Alinhamento Estratégico
5.2.2. 1 - Tipo de alinhamento existente na empresa:
Este fator mostrou-se bem relacionado aos resultados atingidos, mas não foi
possível definir, no caso da empresa A (que tem o maior grau de alinhamento), se
ele foi causa ou conseqüência do desenvolvimento da aplicação estratégica.
Pelo que se pode extrair das entrevistas, a cultura existente neste segmento
industrial é a de que a TI tem um papel de apoio às operações da empresa, não
tendo um papel pró-ativo de gerar negócios ou alavancar as operações.
Para a maioria das empresas visitadas isto é acertado, uma vez que das
quatro empresas pesquisadas, três foram c1assillcadas como pertencendo ao tipo I na
tipologia de Johnston e Carrico (1988), isto é, empresas em que a TI apóia as
operações mas não é relacionada à estratégia A exceção ficou por conta da empresa
A
Nessa empresa, a TI apóia a estratégia da companhia, ou seja, pode ser
c1assillcada como do tipo II, em evolução, na tipologia criada por Johnston e
Carrico. O uso dos Fatores Críticos de Sucesso (CSFs) na companhia A também é
86
coerente com o trabalho daqueles pesquisadores, que reportaram na sua pesquisa
que muitas empresas em evolução se utilizavam dos Fatores Críticos de Sucesso
como modelo para a defmição de sistemas de informação destinados a suportar a
estratégia. Foi constatada a iniciativa do grupo responsável pela função de TI na
empresa A de procurar oportunidades de utilizar a TI para apoiar as estratégias, que
os mesmos autores citaram como postura típica de empresas do tipo 11.
O fator alinhamento estratégico é um dos mais mencionados na literatura
como fundamental para capacitar a empresa a explorar convenientemente as opor
tunidades de desenvolvimento de aplicações da TI de cunho estratégico.
Na empresa B a TI apóia as operações mas não é relacionada à estratégia,
exatamente como o tipo I na classificação de empresas segundo o seu alinhamento
estratégico, proposta por Johnston e Carrico. Tal como na descrição daqueles
autores, na empresa B a área de TI tem como prioridade os sistemas administrativos
e seu foco é prioritariamente interno. Os profissionais de TI têm interesse em
encontrar novas formas de a TI apoiar a empresa, mas esbarram na falta de clareza
quanto à estratégia da companhia e suas metas.
A empresa C, como vimos na descrição do caso, tem adotado historica
mente urna postura em que a TI tem um papel não-estratégico de suporte às opera
ções. Percebe-se, entretanto, que já há um forte movimento da empresa no sentido
de enfocar estrategicamente a TI. Tal movimento se ampara por um lado na criação
de um planejamento estratégico de longo prazo para e empresa como um todo e, por
outro, na iniciativa da função de TI de levantar e especificar a arquitetura de
informações da companhia. Estes seriam os pilares para embasar a intenção da
gerência de TI de conseguir alinhar a sua estratégia à estratégia de negócios da
empresa.
Quanto à empresa D, também percebemos que o alinhamento estratégico é
urna meta da gerência de TI. Na prática, entretanto, este alinhamento está longe de
ser conseguido. Há a intenção da gerência de TI de, num primeiro estágio,
87
proporcionar à TI um papel de apoio à fase de concepção e acompanhamento da
estratégia da empresa através do uso de sistemas tipo EIS (executive information
systems).
5.2.2.2- Nível de conhecimento dos objetivos e metas da empresa pelo
gerente de TI:
A partir das informações obtidas na pesquisa, não percebemos relação entre
o nível de conhecimento dos objetivos/metas da empresa pela gerência de TI e o
desenvolvimento de aplicações estratégicas nas empresas entrevistadas.
Na empresa A, que está desenvolvendo a aplicação de maior potencial
estratégico, não há um procedimento formal através do qual o gerente da área seja
informado dos objetivos/metas de negócio. O que existe é o levantamento de dados
para a elaboração do Planejamento Estratégico de Informações (PEI) nas várias uni
dades de negócio da empresa, momento em que essas informações são obtidas
diretamente dos superintendentes das áreas. Mas a aplicação estratégica em
desenvolvimento não é produto deste planejamento e sim de uma iniciativa direta da
diretoria da empresa, que percebeu a necessidade e solicitou o seu desenvolvimento.
No caso da empresa C (a outra empresa em que se identificou intenção de
desenvolver aplicações estratégicas), apesar de já haver um planejamento estratégico
de negócios formal, ao qual a gerência de TI tem acesso, as dificuldades em levar
adiante iniciativas de desenvolvimento de aplicações estratégicas indica que este
não é um fator decisivo.
Enquanto isso nas empresas B e D, que não vislumbram no momento o
desenvolvimento de aplicações estratégicas, não se identificou qualquer semelhança
no seu posicionamento com relação à este fator. A empresa D possui um procedi
mento formal de comunicação de objetivos/metas da empresa às gerências, via
reuniões periódicas com a diretoria, enquanto a empresa B se configura no caso
crítico, entre as empresas pesquisadas, de falta de comunicação à área de TI dos
objetivos de negócio. Até no nível operacional a gerência de TI da empresa B se
88
ressente de um maior planejamento para que possa se capacitar às novas demandas
com a antecedência necessária.
5.2.2.3- Existência de mecanismos de influência da área operacional nas
decisões sobre o uso da TI:
Esses mecanismos, apontados por Johnston e Carrico (1988) como im
portantes para o sucesso no desenvolvimento de aplicações estratégicas, não foram
observados nos casos estudados, na mesma magnitude proposta por aqueles autores
(controle pelo pessoal operacional sobre o orçamento, prioridades e alocação de
recursos da área de TI).
No caso da empresa A, por exemplo, o que se constatou foi a existência de
Comitês que elaboram estratégias genéricas para orientar a atividade de TI, e não o
planejamento específico de alocação de recursos ou o controle sobre o orçamento.
Na empresa C também existiam esses comitês, ou comissões, que no seu caso
auxiliavam a área de TI na hora de se estabelecer prioridades para a alocação de
recursos. Mas elas não existem mais e as prioridades voltaram a ser decididas em
negociações diretas com os usuários.
No caso das empresas B e D, como ambas adotam uma política de "compra"
de soluções no mercado, a interferência das áreas operacionais nas decisões da
gerência de TI são menos relevantes a não ser no que tange à distribuição de
recursos orçamentários. Na empresa B os usuários contam com uma grande autono
mia na gestão destes recursos, enquanto na empresa D o processo é conduzido de
forma mais centralizada pela gerência de TI, que decide em conjunto com a diretoria
a alocação de recursos com base nas necessidades percebidas dos diversos setores
da companhia.
5.2.3- Fatores Organizacionais:
5.2.3. 1- Grau de liderança/envolvimento da gerência de topo com as
iniciativas de TI:
89
A análise dos resultados da pesquisa para este fator, indicam no sentido de
haver uma forte relação entre a existência de uma forte liderança e interesse por
parte da gerência de topo com projetos de TI envolvendo questões estratégicas e o
sucesso destes projetos.
Uma primeira constatação pode ser feita ao comparar-se as informações
obtidas nas empresas A e C. Muito arniude aplicações estratégicas cruzam fronteiras
organizacionais e isso em muitas empresas é problemático. Kim e Michelman
( 1990, p.204) afirmam que um sistema integrado pode modificar o equiliôrio de
poder entre as unidades de uma mesma organização. Nestes casos, a existência de
um "patrono" na gerência superior que se interesse diretamente pelo
desenvolvimento da nova aplicação é fundamental.
Vejamos o caso da empresa A. O Sistema de Gestão de Demanda de
Suprimentos foi solicitado por um diretor da empresa que acompanhou todo o
projeto e agiu como facilitador do processo. Isso foi fundamental na opinião da
gerência de TI, mesmo considerando que a busca de uma maior integração entre
aplicativos havia sido iniciada há mais tempo. Todo o caráter estratégico do sistema
está calcado exatamente na forma como ele integra as diversas etapas operacionais
num processo único, e o apoio da gerência superior facilitou a harmonização das
ações entre as partes envolvidas.
Já no caso da empresa C, a gerência de TI tem investido na reengenharia
dos seus processos de negócio mas considera que o fator que mais tem inibido o
desenvolvimento destes projetos é exatamente a integração dos diversos órgãos, que
costuma ser uma tarefa complicada e demorada. Sendo pequeno o
comprometimento da gerência de topo com estas iniciativas, as dificuldades são
enormes.
Na empresa B o comprometimento da gerência superior com as iniciativas
de utilização da TI é pequeno, até porque as diversas gerências preservam uma
autonomia muito grande. Há uma grande descentralização que, de uma certa
90
maneira, dificulta a consolidação de uma visão integrada. A área de TI segue esta
orientação, ou seja, foco nas operações e autonomia para as iniciativas isoladas.
Em contraste, na empresa D, que também adota uma política de tratar a TI
como apoio às operações e que procura também "enxugar" a sua estrutura, contra
tando produtos/serviços externamente, o interesse com que o diretor-presidente trata
as questões relativas à implantação de soluções de melhoria operacional via
emprego da TI faz com que a gerência de TI tenha apoio para propor avanços
significativos, como um projeto de reengenharia de processos e uma proposta de
adoção de sistemas tipo EIS (executive information systems), ambos sendo
analisados atualmente.
5.2.3.2- Existência de percepção da importância do conceito e da sua
contribuição:
Em todas as empresas pesquisadas esta percepção é muito pequena. A
gerência de TI de algumas delas acredita na contribuição que a TI pode ter no apoio
às estratégias da companhia, mas há dificuldade em difundir esta percepção junto à
direção da empresa e aos seus pares.
Assim, de uma forma geral, não há uma visão de que a TI possa desem
penhar um papel estratégico na atividade de mineração e este, certamente, é um
fator inibidor importante na identificação e aproveitamento de oportunidades de
diferenciação via TI.
A gerência de TI da empresa B foi a que mais explicitamente colocou o
problema, afirmando que a cultura da empresa não vislumbra uma importância
estratégica da TI para as suas atividades, por se tratar de um mercado no qual os
produtos são pouco diferenciados, têm pouca variedade e as possibilidades de dife
renciação nas formas de atuação no mercado também são muito restritas. A postura
adotada (com a qual a gerência de TI não concorda) é a de que a TI não contribui
para o resultado fInal da companhia
91
Esta postura da empresa B está coerente com o resultado da pesquisa de
King e Grover. Na Tab. 2.2 da revisão bibliográfica constatamos que para as indús
trias de mineração, construção e petróleo, os fatores "baixa importância percebida
do conceito" e "dificuldade em perceber contribuições tangíveis" são dois entre os
quàtro fatores inibidores do desenvolvimento de aplicações estratégicas mais
importantes para empresas destas linhas de negócio.
Nas empresas A e C a gerência de TI tem procurado estabelecer esta
conscientização. No caso da empresa A, a participação dos gerentes das diversas
áreas nos PEfs (Planejamento Estratégico de Informações) fez com que no nível de
gerência de órgão esta conscientização seja mais forte. Na empresa C foi citado que
a adoção de novas tecnologias no ambiente de trabàlho, como, por exemplo, o
correio eletrônico, serve de "vitrine" do potencial estratégico da TI.
5.2.3.3- Existência de um planejamento apropriado:
Não se percebeu nesta pesquisa qualquer relação que indicasse um papel
importante deste fator na capacitação das empresas em desenvolver aplicações es
tratégicas. A única aplicação estudada teve sua origem em uma iniciativa individual.
No caso do Sistema de Gestão de Demanda de Suprimentos há um caráter evolutivo
também, já que esta aplicação se baseia numa aplicação já existente. Estas
conclusões estão perfeitamente coerentes com a revisão bibliográfica. No item
relativo ao sucesso na aplicação estratégica da TI consta, por exemplo, a afirmação
de Senn (1992) de que sistemas de informação de caráter estratégico frequentemente
não são resultado de planejamento antecipado, são evoluções de concepções an
teriores.
Na empresa A, apesar de haver um procedimento estruturado de plane
jamento para o desenvolvimento de sistemas de informação, a partir de uma visão
estratégica de cada unidade de negócio, os Planejamentos Estratégicos de
Informação (PEI's), não foi possível relacionar diretamente a sua existência com a
iniciativa de desenvolvimento do sistema considerado.
92
Nas outras empresas não há procedimentos estruturados de planejamento
com este enfoque. Há na empresa C um grupo de analistas de negócio que fazem
este papel de tentar identificar oportunidades de uso estratégico da TI, mais
especificamente orientados à reengenharia de processos, mas que não se pode
considerar como uma atividade estruturada de planejamento.
No caso da empresa B, há uma dificuldade grande com relação à atividade
de planejamento de TI de um modo geral. A gerência de TI não dispõe de um
planejamento antecipado das estratégias e planos da companhia, faltando então o
instrumento necessário para que ela possa se antecipar às demandas, capacitando-se
e criando uma infraestrutura que seja capaz de suportar uma estratégia de mé
dio/longo prazo. A gerência de TI também não possui um planejamento global para
o uso da TI na empresa, atuando junto aos usuários no sentido de apoiá-los a
elaborar o seu planejamento de utilização de recursos de TI dentro das suas
estratégias setoriais e desenvolvendo o seu próprio planejamento. Mas mesmo aqui
a falta de planejamento não pode ser considerada um fator inibidor importante, pois
na descrição do caso é citada uma implantação em tempo recorde, de um sistema de
comunicação empresarial relativamente complexo, para o qual houve um grande
apoio da direção da empresa.
A empresa D possui um planejamento de TI razoavelmente estruturado, mas
que não tem este enfoque pois é voltado ao planejamento tradicional de alocação de
recursos.
5.2.4- Fatores relacionados à capacitação da função de TI
5.2.4. 1 - Nível de suporte de conhecimento técnico existente na empresa:
Confrnnou-se neste grupo de empresas o resultado de pesquisas feitas no
exterior, que apontam para o expertise técnico como um dos fatores cruciais ao su
cesso das aplicações estratégicas de TI (King e Grover, 1991 , p.303).
93
King e Sabherwal (1992, p.222) comentam que "à medida em que a função
de Sistemas de Infonnação ganha experiência com o projeto e o desenvolvimento de
sistemas de informação importantes e à medida em que a gerência de topo e os
usuários reconhecem o potencial estratégico da TI, uma mudança de aplicações
orientadas internamente e que visem a redução de custo para aplicações que diferen
ciem a companhia dos competidores é esperada . . . ".
No caso das empresas A e C (únicas em que o conceito de uso estratégico
da TI é efetivamente aplicado), há uma forte base de conhecimento técnico
acumulado pelo seu pessoal. Na empresa A, a quase totalidade dos sistemas de
informação foram desenvolvidos pelos seus próprios analistas, acontecendo algo
semelhante com a empresa C que, apesar de contratar o desenvolvimento de alguns
sistemas de outras empresas, dispõe de pessoal extremamente experiente no projeto
de sistemas de infonnação, até porque existe uma diretriz que a especificação dos
projetos deve ser realizada com recursos próprios.
As empresa B e D adotam uma ftlosofia de compra de software e des
envolvem intemarnente apenas o essencial. A empresa D é de mais difícil avaliação,
já que o gerente de TI à época da entrevista tinha poucos meses no cargo e a área
estava sendo totalmente refonnulada. No caso da empresa B, a equipe de
especialistas em TI é pequena, tendo havido, recentemente, uma redução de pessoal
e uma maior descentralização da gerência e operação dos recursos de TI para os
usuários. Este aporte de conhecimento, entretanto, é coerente com a política da
empresa para a área de TI, que é a de comprar soluções tecnológicas prontas.
Johnston e Carrico (1988, p.43) apontam também que a capacitação da
função de TI é bastante alavancada quando alguns profissionais de sistemas têm um
forte conhecimento do negócio da empresa, adquirido em funções nas áreas-flm da
companhia Em nenhuma das empresas entrevistadas esta situação se configurou,
apesar de nas empresa C e D estejam sendo criadas funções de analistas de negócio.
Entretanto, no caso da empresa C (onde a função já existe) os profissionais são
94
oriundos da própria área de sistemas. Na empresa A, a gerência de TI acredita que a
experiência acumulada pelos analistas de sistemas supre esta carência.
5.2.4.2- Grau de disseminação de sistemas e sua integração
Também para este fator os resultados da pesquisa confirmam as expec
tativas geradas a partir de estudos anteriores. A empresa A, que é a única a
desenvolver uma aplicação de característica estratégica, é também a mellior
posicionada neste item.
. Para começar esta análise, é conveniente ressaltar que o caráter evolutivo
das aplicações estratégicas é citado como sendo uma característica marcante neste
tipo de aplicação. O modelo de Kim e Michelman, aliás, nos parece bem adequado
para descrever o caso da empresa A neste particular. Na primeira e segunda fases do
modelo, a empresa possuindo alguns sistemas transacionais e gerenciais bem-feitos
e isolados, procura superar as barreiras políticas à integração, para que esta possa
acontecer. Esta fase, no caso da empresa A, nos parece ter acontecido quando da
implementação do primeiro sistema integrador que, apesar de não ser o mais
adequado tecnicamente, serviu para criar esta primeira experiência de integração.
Observando o histórico da aplicação na descrição do caso, vemos claramente o
traballio de integração sendo paulatinamente desenvolvido até que em 1985 , há a
decisão de considerar os sistemas comercial e operacional como um sistema único.
A última fase no modelo de Kim e Michelman, nos parece estar mate
rializada, no caso, no desenvolvimento do novo Sistema de Gestão de Demanda de
Suprimentos que, se valendo da experiência de integração já sedimentada, reformula
o que existe no sentido de dar uma orientação estratégica à integração conseguida.
Johnson e Carrico são citados na revisão bibliográfica comentando um
resultado extraído da sua pesquisa, que aponta as companhias mais bem sucedidas
como tendo desenvolvido sistemas administrativos e de apoio à decisão fortes antes
de deslocarem recursos para a busca de oportunidades para aplicações estratégicas.
95
Este não só é o caso da empresa A como é o caso da empresa C, que dispõe
de uma excelente infraestrutura de sistemas de informação. O problema é que o
nível de integração dos sistemas da empresa C não é bom, o que faz com que ela
esteja ainda na fase de resolver as barreiras políticas à integração. Este fator, ao que
tudo indica. é que está dificultando as iniciativas da área de TI de deslanchar as
aplicações de cunho estratégico em estudo. Assim. coerente com o estágio em que
se encontra a empresa C. de acordo com o modelo de K.im e Michelman, das três
aplicações apresentadas pela gerência de TI para classificação. a única que está em
desenvolvimento não possui características estratégicas e não é do tipo cross
functional. ou seja. que atravessa as fronteiras funcionais da organização. Por outro
lado. a excelente infraestrutura interna de Sistemas de Informação de que dispõe
permite que a gerência de TI concentre recursos na busca desta integração e do
desenvolvimento de sistemas orientados ao mercado (estratégicos).
O caso das empresas B e D é totalmente diferente. Ambas estão numa fase
de desenvolver e aprimorar os seus sistemas básicos. No caso da empresa B. a
estruturação dos aplicativos e interfaces é precária e há sérias dificuldades de trans
missão de dados. A empresa D ainda não dispõe de sistemas de controle operacional
apurados que permitam o apoio ao programa de melhoria da eficiência. que é uma
meta básica da companhia A gerência de TI está empenhada em refazer sistemas
ultrapassados. sendo que estas prioridades básicas mostram que o foco da área de TI
ainda é interno.
5.2.4.3- "Status" da função de TI na estrutura da empresa
Este fator pode ser considerado tão importante como facilitador. quanto
como inibidor do desenvolvimento de aplicações estratégicas para o caso das
empresas estudadas.
Das quatro empresas analisadas. três possuem uma área de TI subordinada
diretamente à direção da empresa O caso de exceção é a empresa B. Nessa empresa
a gerência de TI é exercida pelo controller que acumula as duas funções e se reporta
96
à área de fmanças. Johnston e earrico ( 1988, p.43) defendem que a subordinação da
área de TI à outra área funcional impede uma ligação estreita entre o pessoal de TI e
o pessoal de linha (operacional).
Na empresa B o efeito inibidor parece acontecer pois de todas as empresas
pesquisadas esta foi a que a gerência de TI se mostrou mais distante de uma coorde
nação efetiva do uso da TI nos órgãos técnico-operacionais e pode-se notar, pela
descrição do caso, que a gerência de TI se ressente de maior autonomia e
capacidade de planejamento para propor inovações no uso da TI na empresa.
Nas outras empresas percebe-se a importância da integração de informações
e de uma postura pró-ativa da área de TI como requisitos importantes ao
desenvolvimento de aplicações estratégicas. Também pode-se observar que nas duas
empresas que estão na vanguarda do desenvolvimento de aplicações estratégicas, há
um questionamento do papel de mero apoio às outras atividades por parte da área de
TI, através da proposta de inovações que se antecipam às necessidades das áreas
técnico operacionais. Esse questionamento a gerência de TI da empresa D já começa
também a desenvolver, com base no seu contato estreito com a direção da empresa
e, conseqüentemente, com as suas estratégias e diretrizes.
5.2.5- Resumo:
Para facilitar a compreensão dos resultados segue o seguinte quadro-resu-
mo:
97
Tabela 5 2 1 - Análise dos fatores . .
Fatores Empresa A Empresa B Empresa C Empresa O
I.Ambientais
1.1. Cresci- Facilitador. Pouco IInpor- Fraca Pressão Facilitador.
mento da Preocupação tante. A TI do mercado. Competição
Pressão c/concorrentes não é vista Pressão social internacional
Competitiva internacionais. como anna e do ambiente força redução
competitiva. elIlI'resarial. de custos
1.2.Conteúdo Facilitador em Inibidor 1In- Pouco IInpor- Inibidor im-
Informacional relação à portante tante portante
da Atividade complexidade
do processo
1.3.Reserva Inibidor 1In- Pouco · lInpor- Inibidor im- Pouco 1Inpor-
de Mercado portante tante portante tante
de Informática
2.A!jnhamen-
to Estratév:ico
2.l.Tipo de Tipo 11 Tipo I Tipo I Tipo I
Alinhamento
2.2.Nível de Bom e infor- Pequeno. Bom e formal. Bom e formal.
conhecimento mal.
dos objetivos/
metas do ne-
gócio pela
gerência de TI
98
2.3.Existência Escassos. Ações isola- Escassos. Escassos.
mecanismos Comitês defi- das dos usuá-
de influência nem estratégi- rios que detêm
da área opera
cional nas
decisões de TI
3.0rganjza-
cioQais
as genéricas boa
para a área. mia.
3. 1. Grau de Alto, pnncI- Baixo.
liderança/en- palmente no
volvimento da caso da apli
gerência de cação estuda-
topo com ini- da.
ciativas de TI
autono-
Baixo. Difícil avaliar
em função de
mudanças de
orientação re-
centes.
3.2.Existência Começando a Muito Peque- Começando a Muito pe-
percepção da ser desenvol- na.
importância
do conceito e
da sua contri
buição
vida.
ser desenvol- quena.
vida.
3.3.Existência Existe um pIa- Não há um Há um grupo Não há um
planejamento
apropriado
nejamento planejamento
setorial cha- adequado.
mado Plane-
jamento Estra-
tégico de In-
formação.
responsável planejamento
por identificar para avaliação
oportunidades de oportunida
mas não existe des de empre
procedimento go estratégico
estruturado. da TI.
99
4.Capacjta-
ção da (unção
4.l.Nível de Bom. Pequena equi- Bom. Depende
suporte de co- Capacitação pe de especia- Capacitação muito da con
nhecimento para desenvol- listas. para desenvol- tratação de
técnico
emoresa
na ver aplicações
internamente.
ver aplicações servIços.
internamente.
Sistemas ope- Sistemas ope- Sistemas ope- Sistemas ope-
4.2. Grau de racionais
disseminação gerenciais
e racionais
gerenciais
e racionais
gerenciais
e racionais
gerenciais
e
de sistemas e desenvolvidos pouco estrutu- desenvolvidos pouco aprimo-
sua integração e com alto rados. Baixo nível de rados.
4.3. "Status "
grau de inte- Integração di- integração em Integração
gração entre fíci! ( teleco- tennos relati- pouco explo-
eles. municações). vos. rada.
Subordinação Subordinação Subordinação Subordinação
da função de direta à dire- à outra área direta à dire- direta à dire-
TI na estrutura ção da empre- funcional
da emoresa. sa. (financas)
ção da empre- ção da empre-
sa. sa.
A partir da análise das infonnações obtidas, conclui-se que para a empresa
A, os fatores ligados à capacitação da função de TI na empresa, aliados ao apoio e
liderança da gerência superior, foram os fatores mais destacados no sentido de criar
um ambiente propício ao desenvolvimento da aplicação estratégica citada. Não nos
parece estranho tal constatação já que nesta empresa, como na maioria das
100
empresas, a função de TI lidera o processo decisório relativo ao planejamento,
concepção e implementação de sistemas de informação.
O representante da área de TI da empresa também mostrou uma grande
preocupação com o ambiente externo à empresa e esta é a visão que, fundamental
mente, diferencia uma empresa em que há alinhamento entre as estratégias de
negócio e as estratégias de aplicação da TI, das empresas em que a TI é assumida
como uma função de apoio.
No caso da empresa C, os fatores ligados à capacitação da função de TI
também se constituem em fatores importantes no sentido de favorecer o
desenvolvimento de aplicações estratégicas. Apesar de atuar em um ambiente em
que o nível de competição é restrito, existe também uma demanda do ambiente
externo, sob a forma de pressão da sociedade e do meio empresarial, que foi
considerado muito importante pela gerência de TI como fator impulsionador de
iniciativas de uso inovativo da TI.
O principal inibidor ao desenvolvimento de aplicações estratégicas no caso
da empresa C, está ligado ao baixo grau de integração existente entre os seus
sistemas de informação, circunstância agravada pelo pequeno envolvimento da ge
rência de topo com as iniciativas da área de TI da empresa. Esses fatores colocam a
empresa num estágio, pelo modelo de Kim e Michelman (1990), anterior ao estágio
de efetivamente se lançar ao desenvolvimento de aplicações estratégicas.
Em contraposição a esses dois casos, a análise da empresa B nos mostra que
quase todos os fatores constantes no nosso modelo surgem, no seu caso, com carac
terísticas inibidoras do processo de aproveitamento de oportunidades de uso estraté
gico da TI.
Um fator, no entanto, se destaca, inclusive influenciando outros fatores.
Este fator é a "falta de percepção da importância do conceito e da sua contribuição",
que ajuda a construir uma visão de que a TI deve atuar num papel de apoio às outras
atividades, não tendo um apelo de recurso estratégico. Em relação aos fatores exter-
101
nos, o baixo conteúdo infonnacional do produto, aliado a wn mercado menos
dinâmico (pressão competitiva não muito forte), atuam como justificativas para esta
visão, que foi apresentada pela gerência de TI como sendo a cultura prevalescente
em todo o mercado.
O alinhamento estratégico TI x estratégia da empresa não se configura, pois
é assumida wna postura de que a TI tem o papel de apoio às outra atividades e não à
estratégia global da empresa No plano organizacional, "o grau de envolvimento da
gerência de topo com as iniciativas de TI" é extremamente dependente da visão
desta gerência quanto ao grau de importância estratégica da TI. Já a "falta de wn
planejamento apropriado" pode ser considerado um fator independente, wna vez que
mesmo se o recurso infonnação fosse considerado wn inswno estratégico, a falta de
uma sistemática de planejamento mais fonnal dificultaria o direcionamento
estratégico dos esforços da função de TI.
Quanto à capacitação da função de TI, "o nível de conhecimento técnico
existente na empresa" e o "status da função de TI" são dependentes, também, da
percepção da importância estratégica da TI para o negócio da empresa. Com relação
ao "grau de disseminação de sistemas e sua integração" , a empresa se considera bem
servida de sistemas corporativos de apoio às suas atividades (o que é coerente com a
sua função de apoio às outras atividades), mas carece de urna melhor integração
destes aplicativos, o que é crítico se recordannos o modelo de Kim e Michelman
(1990) que postula a integração dos recursos de TI da empresa como requisito ao
seu uso estratégico.
Resumindo, considerou-se a empresa B como adotando uma postura
tradicional, de que a TI não é wn recurso estratégico no sentido de gerar vantagens
competitivas duradouras à empresa, postura essa baseada na sua visão do ambiente
competitivo e na característica de baixo conteúdo infonnacional do seu produto. É
interesse da empresa se manter bem posicionada no mercado em tennos
tecnológicos, mas não há a preocupação de adotar uma posição de liderança na área
102
de TI. A área de TI da empresa também não dispõe de capacitação, em tennos de
recursos e "status", para liderar uma mudança nesta visão dentro da empresa.
Na empresa D o estudo foi um pouco prejudicado pelo fato de a área de TI
estar sendo refonnulada, com uma nova gerência no cargo, à época da entrevista, há
apenas 6 meses. Aparentemente a nova gerência conta com forte apoio superior para
fazer modificações importantes nos processos organizacionais.
De qualquer fonna algumas informações são relevantes. A empresa ainda
não dispõe de uma capacitação da função de TI adequada ao desenvolvimento de
aplicações estratégicas, já que ainda está num estágio de aprimorar os seus sistemas
operacionais e gerenciais. A percepção da importância do conceito e sua contri
buição é pequena, inclusive porque o conteúdo infonnacional da atividade é per
cebido como um inibidor importante.
Em contraposição há uma percepção do crescimento da pressão competitiva
e intenção da gerência de TI de participar ativamente do processo de capacitação da
empresa para se tomar mais competitiva. intenção essa apoiada pelo bom nível de
conhecimento das metas da empresa pela gerência de TI.
Por fim, constata-se que os resultados aqui apresentados corroboram as
pesquisas de King e Sabherwal (1992), que concluem que aplicações estratégicas de
TI se mostraram mais bem sucedidas em companhias com departamentos de
sistemas mais maduros.
6· CONCLUSÃO
6.1· A Pesquisa
103
A motivação básica deste estudo foi contribuir para um entendimento do
papel que a TI pode representar na busca de um mellior posicionamento competitivo
para as empresas brasileiras, num momento em que o país procura se inserir de
forma mais aberta no cenário econômico mundial.
Para isso foi montada esta pesquisa, com quatro empresas atuantes num
setor econômico de grande importância para a economia nacional e com caracte·
rística de atuação internacional, na qual se procurou, entre outros objetivos
responder às seguintes perguntas básicas:
• As empresas do setor de mineração pesquisadas possuem ou pretendem
desenvolver aplicações estratégicas da TI?
• Como aplicações estratégicas da TI podem gerar vantagens competitivas
para estas empresas?
• Quais os fatores facilitadores/inibidores para o sucesso no desenvolvi
mento de aplicações estratégicas da TI, na percepção das empresas estudadas?
Apresentou-se uma revisão bibliográfica com informações atualizadas sobre
as maneiras pelas quais a TI pode contribuir no sentido de alavancar a
competitividade das empresas e os fatores que influenciam o sucesso no
desenvolvimento do potencial estratégico da TI nas empresas.
Além das informações sobre fontes de vantagem competitiva e fatores de
sucesso, foram apresentados conceitos sobre recentes pesquisas no campo da sus
tentabilidade da vantagem competitiva via alavancagem de recursos estratégicos das
empresas pelo emprego da TI e da partillia dos benefícios econômicos oriundos da
inovação. Também foram abordados conceitos ligados à estratégias para tirar
benefício da capacidade de apoio à gerência de interações da TI, bem como sobre o
papel da TI na reengenharia de processos de negócio.
104
Após a elaboração -deste quadro de referência, montou-se um estudo de ca
sos no qual as empresas selecionadas foram investigadas quanto aos tópicos mais
importantes relacionados às perguntas da pesquisa
A partir das entrevistas foram feitas análises confrontando as informações
recebidas com os modelos teóricos obtidos na revisão bibliográfica e algumas
conclusões foram estabelecidas quanto ao uso da TI nas empresas e quanto à visão
destas empresas acerca do potencial estratégico da TI e do seu aproveitamento na
prática empresarial.
6.2- Resultados mais significativos
Conforme foi comentado no capítulo anterior, a expectativa anterior à rea
lização da pesquisa era de que neste tipo de atividade - extrativismo mineral - as
empresas não estariam desenvolvendo aplicações estratégicas. Dessa forma procu
raria-se identificar a visão das empresas sobre o assunto e alguns fatores que seriam
mais significativos para explicar o foco das empresas pesquisadas em aplicações tra
dicionais de suporte (back-office applications).
O primeiro resultado da pesquisa é de que há pelo menos uma empresa
desenvolvendo aplicações estratégicas da TI visando aumentar o seu potencial
competitivo. Mais do que isso, identificamos uma clara tendência em algumas das
empresas pesquisadas de buscar um alinhamento entre as suas estratégias de uso da
TI e as suas estratégias de atuação no mercado (alinhamento estratégico), sendo o
caso mais expressivo o da empresa A, que foi classificada como uma empresa do
tipo n (em evolução) pela classificação de Johnston e Carrico (1988). Outro
exemplo desta tendência é o trabalho que as empresas C e D estão realizando (em
estágios diferentes) visando a criação do cargo de analista de negócio.
Outra constatação importante é a de que estes esforços de buscar o ali
nhamento estratégico estão sendo dirigidos pela própria gerência de TI, pois a ge
rência de topo nestas empresas tem uma baixa percepção da importância estratégica
105
da TI para o seu negócio. Isso também pode ser explicado pelo baixo nível de
pressão competitiva existente neste mercado se comparado a indústrias mais di
nâmicas e à área de serviços. Confirmando esta observação, Johnston e Carrico
( 1988) afirmam, como resultado da sua pesquisa, que empresas do ramo petrolífero,
entre outras, não exploram todo o potencial estratégico que a TI poderia oferecer
por esses mesmos motivos.
Com relação à aplicação estratégica encontrada, pode-se dizer que a aplica
ção denominada Sistema de Gestão de Demanda de Suprimentos, da empresa A, é
uma aplicação interessante sob todos os aspectos.
Primeiro porque além dela se basear na eficiência comparativa como fonte
de vantagem competitiva, ela também se propõe a aumentar a diferenciação da
oferta da empresa perante o consumidor (aumento do poder de barganha), o que vai
contra diversas opiniões emitidas durante a pesquisa, de que neste negócio as possi
bilidades de diferenciação abertas às empresas são muito reduzidas para gerar opor
tunidades de uso estratégico da TI.
Além disso, o uso pela empresa A dessa aplicação para reforçar o seu po
sicionamento estratégico de domúrio quase completo da sua cadeia de valor, tem um
potencial enorme de geração de vantagem competitiva sustentável (dificílima de ser
copiada), talvez s6 comparável aos casos mais famosos citados na literatura (que em
sua maioria se referem a empresas do ramo de serviços), urna vez que a empresa
seja bem sucedida em implantar a aplicação de acordo com o projeto.
Desta forma, com base na análise das entrevistas e do material colhido na
revisão bibliográfica, podemos concluir que existe potencial para empresas de in
dústrias primárias como a mineração, cujo produto básico não possui muita infor
mação agregada, explorarem o potencial de inovação da TI através do apoio que
esta pode proporcionar à gerência de interações ao longo da sua cadeia de valor. A
TI pode desempenhar um papel importante de apoio à estratégia da empresa, prin
cipalmente com relação a estratégias de verticalização, de diversificação de neg6ci-
106
os ou de ampliação de atuação geográfica A importância da TI no apoio a estas
estratégias vai ser tão maior quanto mais complexas forem as interações geradas e
maior for o interesse da empresa em se diferenciar através da exploração destes
recursos.
É natural que empresas de alto valor informacional agregado ao seu produto
e ao seu processo, como bancos, seguradoras, etc., estejam na vanguarda do uso
estratégico da TI. Acreditamos, entretanto, a partir dos resultados deste estudo, que ·
generalizações sobre o tema podem mascarar reais oportunidades para o emprego
estratégico da TI em organizações industriais de uma maneira geral. Muitas
oportunidades não estão, conforme comentamos anteriormente, no tipo de negócio
em que a empresa está, mas na forma como ela, individualmente, pretende explorar
este negócio. É importante que os dirigentes de empresas de uma maneira geral
percebam isso, pois de acordo com Jonhston e Carrico ( 1988), conforme citação
constante da revisão bibliográfica, "executivos em indústrias cujas condições ex
ternas não estimulam a inovação através da TI precisam reconhecer que estas con
dições podem mudar de maneira súbita, como aconteceu em outras indústrias".
Outro resultado importante obtido na pesquisa foi a validação do modelo de
Kirn e Michelman ( 1990) para o caso das empresas pesquisadas. A utilização deste
modelo na pesquisa não havia sido prevista a priori, até porque ele foi desenvolvido
para a área de saúde, mas os resultados obtidos na pesquisa foram tão coerentes com
as proposições deste modelo que ele foi utilizado para auxiliar a análise dos casos.
Da análise feita pode-se sugerir um posicionamento para as empresas estudadas
quanto ao seu estágio de capacitação para o desenvolvimento de aplicações es
tratégicas, de acordo com o modelo dos autores, ilustrado na figura 6.2. 1 . , a seguir.
Fig. 6.2. 1- Posicionamento das empresas
empresas B e O
empresa C
Sistemas Isolados
Barreiras Pol fticas à Integração
,
Integração dos sistemas isolados
fonte: Kim e Michelman (1990)
empresa A
Uso estratégico do sistema integrado
107
A empresa A após se utilizar de um sistema já bastante integrado o está
refazendo, orientando-o estrategicamente. A empresa C após resolver algumas bar
reiras políticas está atualmente integrando os seus sistemas e já tem algumas
aplicações estratégicas em estudo. As empresas B e D estão numa fase de aprimorar
os seus sistemas isolados, ainda não vislumbrando o desenvolvimento de aplicações
estratégicas.
Com relação aos fatores facilitadores/inibidores do uso estratégico da TI,
resumiu-se as principais conclusões da pesquisa na tabela que se segue, em que são
apresentados os fatores facilitadores e inibidores que foram percebidos como os
mais relevantes no caso das empresas estudadas.
1 08
Tabela 6.2. 1- Fatores mais relevantes
FACILITADORES INffiIDORES
• Grau de envolvimento/liderança da • Conteúdo iniormacional da atividade.
gerência de topo com as iniciativas de
TI.
• Nível de conhecimento de suporte téc- • Percepção da importância do conceito
nico existente na empresa. e da sua contribuição.
• Grau de disseminação de sistemas e • "Status" da função de TI na estrutura
sua integração. da empresa.
• "Status" da função de TI na estrutura • Reserva de Mercado de Informática.
da empresa.
• Crescimento da pressão competitiva.
Esses fatores facilitadores foram os que se percebeu como tendo maIS
diretamente contribuído para que a empresa A desenvolvesse a sua aplicação. Tam
bém para a empresa C os fatores relacionados à capacitação da função de TI foram
os mais relevantes. Este resultado confirma a conclusão das pesquisas de King e
Grover (1991) e King e Sabherwal (1992) entre grandes empresas norte-americanas,
que constataram que aplicações estratégicas da TI foram mais bem sucedidas em
empresas com departamentos de sistemas mais experientes, e que conhecimento e
infraestrutura tecnológica são grandes facilitadores do aproveitamento do potencial
estratégico da TI.
Com relação aos fatores inibidores, os fatores tabelados foram (além da
ausência dos fatores facilitadores mais importantes, é claro) os que mais explicita
mente se pode relacionar com a ausência de maiores iniciativas de uso inovativo da
TI neste grupo de empresas. O "status" da função de TI na estrutura da empresa B,
109
por exemplo, aparentemente a impede de ter urna postura mais pró-ativa, o que é
essencial a obtenção do alinhamento estratégico.
A Reserva de Mercado de Informática foi citada como um fator inibidor
importante para as empresas A e C.
A última conclusão importante acerca dos resultados obtidos é que na lite
ratura o fator "crescimento da pressão competitiva" é citado como um dos principais
fatores impulsionadores da geração de aplicações estratégicas. Isso não foi com
provado para as empresas pesquisadas neste mesmo grau de importância. Esse resul
tado deve estar relacionado ao ambiente competitivo brasileiro, já que na pesquisa
apresentada por King e Grover (1991), este fator aparece, junto com fatores relacio
nados à capacitação da função de TI, como um dos três mais importantes
facilitadores para a indústria de mineração/construção/petróleo americanas. Na
pesquisa os outros fatores facilitadores constantes da tabela 6.2. 1 foram percebidos
com um grau de influência muito maior do que este, valendo ressaltar que a gerên
cia da TI da empresa A mostrou grande preocupação em relação à aplicação da TI
por parte dos seus concorrentes internacionais, atribuindo a isso a motivação mais
importante para manter-se na vanguarda destes movimentos ligados ao uso estra
tégico da TI.
6.3- Implicacões para a prática
Uma primeira contribuição prática importante da pesquisa é a geração de
um quadro que contribui para o conhecimento da forma como a TI está sendo utili
zada nas empresas brasileiras. Para isso o método de estudo de caso se presta bem,
já que ele permite urna análise mais profunda da situação particular de cada em
presa.
Uma implicação mais importante diz respeito ao quadro econômico nacio
nal de abertura para o exterior e estÚTIulo às empresas para que se tomem mais
competitivas. A TI é atualmente uma ferramenta fundamental de apoio à competi
tividade e esta pesquisa foi elaborada tendo em vista a necessidade de se proporci-
1 10
onar, aos gerentes das empresas brasileiras, urna visão prática de como as empresas
podem se diferenciar através do uso da TI.
Em particular no caso do setor de extração mineral, que representa um dos
segmentos mais importantes da economia nacional, foram levantadas questões es
pecíficas, como a pouca importância dada ao conceito e as formas através da qual a
TI pode contribuir para a geração e a sustentação de vantagem competitiva Além
disso, realizou-se urna análise dos principais fatores que podem contribuir para um
melhor posicionamento das empresas deste setor no que diz respeito ao uso estra
tégico da TI.
Uma questão importante se refere ao cenário empresarial brasileiro. O setor
de extração mineral, como diversos outros, ainda é bastante regulamentado e
protegido. Esta regulamentação pode ser considerada um "mecanismo de isola
mento" tal como Williams (1992) conceitua, que permite que urna empresa, tal
como a empresa A estudada, desenvolva urna aplicação estratégica em condições
bastante favoráveis, erguendo inclusive barreiras contra O desenvolvimento de apli
cações sinúlares por empresas que venham se estabelecer no país mais tarde.
Acreditamos que outras empresas nacionais, operando em mercados "protegidos",
poderiam também explorar as fontes de vantagem competitiva para consolidar uma
posição estratégica confortável frente à urna possível abertura de mercado mais
ampla no futuro.
6.4- Dificuldades encontradas
A primeira grande dificuldade encontrada neste estudo foi a diferença de
porte entre as empresas. No setor de extração mineral se encontram algumas poucas
empresas de grande porte e urna maioria de empresas bem menores, não havendo
uma gradação de porte que permita urna amostra razoavelmente homogênea de
empresas. Isso torna difícil estabelecer-se algumas conclusões de forma clara, já que
algumas questões são tratadas de forma diferente por empresas de porte desigual.
1 1 1
De qualquer fonna a seleção das empresas a serem entrevistadas procurou
ser criteriosa e foi realizada de tal forma que se tivesse no grupo de empresas estu
dadas um panorama bastante representativo do setor.
Outra dificuldade que se observa ao ler os resultados da pesquisa é o fato de
se ter aqui no Brasil um ambiente competitivo ainda muito pouco desenvolvido
comparado com outros países em que estudos sobre o assunto foram realizados. Em
especial o setor de extração mineral é bastante regulamentado, desfavorecendo uma
competição mais efetiva entre as empresas. Isso teve como conseqüência a pouca
importância dada na pesquisa ao fator "crescimento da pressão competitiva" pelas
empresas entrevistadas, comparativamente a estudos semelhantes realizados no
exterior.
Finalmente sentiu-se dificuldade em estabelecer algumas relações de causa
e efeito entre alguns dos fatores facilitadores/inibidores estudados e situações pe
culiares das empresas. Um caso típico foi o fator "tipo de alinhamento estratégico",
que no caso da empresa A, por exemplo, é bem desenvolvido mas não se pode de
terminar se o investimento em desenvolver aplicações estratégicas foi causa ou
conseqüência deste alinhamento.
6.5- Sugestões para novas pesquisas
Um primeiro estudo que poderá ser realizado no futuro é o retomo às em
presas estudadas para verificar se a aplicação analisada teve o impacto estratégico
esperado confirmado. Um estudo deste tipo também permitiria estabelecer mais
objetivamente relações de causa e efeito entre os fatores facilitadores/inibidores
percebidos no estudo atual e o desenvolvimento de novas aplicações estratégicas
bem como a evolução do alinhamento estratégico nas diferentes empresas.
Outro estudo interessante seria realizar pesquisas semelhantes em outros
segmentos industriais e até em grupamentos de empresas líderes da economia nacio
nal, de forma a se ter um quadro do estágio de entendimento e aplicação do conceito
a nível Brasil.
1 12
Outra contribuição dirigida à pesquisadores da área, diz respeito à consta
tação de que o modelo de Kim e Michelman (1990) se prestou bem, no caso das
empresas estudadas, à avaliação do seu estágio de maturidade quanto ao uso estra
tégico da TI. Talvez o modelo possa ser analisado para se avaliar a possibilidade de
ser usado com esta fmalidade em outras situações práticas e de pesquisa.
1 13
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1992.
30-WARNER T.N. Information Technology as a Competitive Burden. Sloan Mana
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31-WllLIAMS, J.R. How Sustainable is Your Competitive Advantage? Sloan Ma
nagement Review, v.34, n.3, p. 29-49, spring/1992.
1 16
ANEXO 1
1 17
COPPEAD/UFRJ
Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Adminstração
À Empresa
Estamos realizando uma pesquisa sobre o uso estratégico da Tecnologia da
Informação nas empresas brasileiras, com o objetivo de melhor compreender os
fatores que, no nosso ambiente, contribuem para que uma empresa tire proveito das
oportunidades de uso da TI para reforçar a sua posição competitiva
Sua empresa foi uma das selecionadas para compor este trabalho. Sua
colaboração, ao conceder-nos uma entrevista pessoal, é essencial para atingirmos os
objetivos de nosso estudo.
As informações colhidas serão analisadas pela COPPEAD, instituição de
ensino de pós-graduação que vem desenvolvendo pesquisas pioneiras a nível Brasil
sobre este tema Os resultados da pesquisa serão apresentados sob a forma de
"Estudo de Caso", omitindo-se o nome da empresa e quaisquer dados quantitativos
que possam facilitar a sua identificação. As informações buscadas se referem às
políticas de uso da Tecnologia de Informação nas empresas.
Os resultados desta pesquisa estarão à disposição da sua empresa.
Agradecemos antecipadamente a sua atenção e colaboração.
Atenciosamente,
Alcir Rosa Freire
Aluno de Mestrado
Donaldo de Souza Dias, D.Sc.
Professor-orientador
1 18
ANEXO 2
1 19
ROTEIRO PARA ENTREVISTA - 3a. versão
la. PARTE
Este estudo visa pesquisar, no setor da indústria de mineração e petróleo,
iniciativas das empresas do setor no sentido de se utilizar da Tecnologia da Informa
ção (TI) como reforço da sua posição competitiva. Assim, procuramos levantar
aplicações que se possa considerar como estratégicas, avaliando o seu enfoque e os
fatores que influenciaram no seu desenvolvimento.
1- Uma aplicação é considerada estratégica quando tem efeito no sucesso e
destino da companhia, seja influenciando, isto é, dando forma à estratégia da
companhia, ou exercendo papel direto na implementação ou suporte à estratégia.
Mesmo um sistema tradicional, de apoio às operações internas da em
presa, pode ser considerado um Sistema de Informação Estratégico (SIE), se ele for
aplicado a uma área funcional crítica da empresa e se, além disso, ele for um novo
tipo de aplicação na indústria (inovação).
Uma aplicação estratégica também pode ser vista como aquela que per
mite à empresa ganhar vantagem competitiva ou, pelo menos, se manter em
paridade com os seus competidores.
Dada esta classificação de aplicação estratégica da TI, você classificaria
algum sistema atualmente em uso, ou em desenvolvimento, na sua empresa como
estratégico?
2- A aplicação foi concebida como arma competitiva?
3- Uma aplicação estratégica da TI pode gerar dois tipos básicos de van
tagem competitiva à empresa: aumento do seu poder de barganha junto a
fornecedores e/ou clientes, ou incrementar a sua eficiência/eficácia comparativa, ou
seja, a habilidade de produzir um produto a um custo mais baixo, relativamente a
outros produtos percebidos como equivalentes.
120
Em relação a esses dois tipos básicos de vantagem competitiva, a qual dos
dois a aplicação em estudo se destina?
• aumentar o poder de barganha junto a fornecedores/clientes
• aumentar a eficiência da companhia
4- O poder de barganha visado se destina aos fornecedores ou aos consu
midores?
5- Qual dos enfoques abaixo mellior defme os objetivos da aplicação quanto
ao aumento do poder de barganha da empresa?
• incorporação de características únicas ao produto
• aumentar os custos do cliente para mudar de fornecedor
• reduzir a dependência da empresa em relação aos seus fornecedores
6- Qual dos enfoques abaixo mellior define os objetivos da aplicação quanto
ao aumento de eficiência comparativa?
• tornar mais eficientes as operações internas
• melliorar a integração/coordenação entre as unidades de negócio
• integrar os sistemas da empresa aos de seus fornecedores/clientes
(integração vertical de informações).
gem)?
7- Há alguma previsão/levantamento de benefícios gerados? (magnitude)
8- Por quanto tempo espera-se que dure tal vantagem? (extensão da vanta-
9- Que mecanismos poderiam ser responsáveis pela sustentação da vanta
gem competitiva gerada?
2a. PARTE
O objetivo desta parte da entrevista é investigar os fatores facilitado
res/inibidores para o desenvolvimento de aplicações estratégicas da TI.
121
10- Que fatores, na sua opinião, favoreceram a concepção e
desenvolvimento desta aplicação? ou razões para não se ter desenvolvido tais
aplicações?
Faremos agora uma avaliação de outros fatores que colhemos em estudos
diversos, cuja relevância gostaríamos identificar neste caso:
Fator Ambiental:
1 1- A concorrência influencia a busca de novas aplicações de TI? Como?
Fatores referentes ao alinhamento estratégico (estratégia x TI)
12- Qual o grau de alinhamento existente entre as estratégias de negócio e
as estratégias de TI da empresa? Qual das três afirmações melhor enquadra a relação
estratégia de TI x estratégia de negócio?:
o A TI apóia as operações mas não é relacionada à estratégia. O foco
(interno) são os sistemas administrativos e gerenciais, a ligação entre as funções
(fInanças, vendas, RH, etc), e a ligação entre os níveis corporativo e operacional. Os
esforços são basicamente dirigidos pela área de TI.
o Quando são desenvolvidas as estratégias no nível corporativo e de Uni
dade de negócio, não se leva em consideração explicitamente o potencial
competitivo da TI. Mas uma vez que as estratégias estão definidas, os grupos de SI
ativamente procuram por oportunidades de usar a TI para apoiar as estratégias. O
uso da metodologia dos Fatores Críticos de Sucesso (CSF), é um possível modelo
para a defInição de sistemas que apoiem as estratégias.
o Existe orientação pró-ativa em relação à TI. O objetivo é buscar meios de
modificar as regras do negócio (novos produtos/serviços, ligações com clien
tes/fornecedores, padrões de performance), através da aplicação dos recursos de TI.
A estratégia de TI é integrada à estratégia de negócios da empresa O foco é externo,
orientado para o mercado.
13- Como chega à gerência de TI a defInição de objetivos/metas do ne-
g6cio?
122
14- Quais os mecanismos de influência da área operacional nas diretrizes de
TI? (defrnição de prioridades e alocação de recursos orçamentários, inclusive)
15- Existe pessoal lotado na área de TI que tenha experiência/formação na
área operacional da empresa (que conheça bem o negócio da empresa)?
Fatores Organizacionais
16- Qual o grau de comprometimento da gerência de topo com as iniciativas
da área de TI? e o seu envolvimento no planejamento de sistemas de informação?
17- Como é estabelecido o critério de escolha de qual sistema desenvolver?
Leva-se em conta o retorno esperado?
19- Há um procedimento estruturado para se descobrir e avaliar oportuni
dades de emprego estratégico da TI?
18- Como é vista, na sua empresa, a capacidade da TI de contribuir para a
estratégia de negócios?
Fatores relacionados à capacitação da função de TI
20- Como você avalia o grau de disseminação de sistemas de informação na
empresa?
21- E o nível de integração de sistemas?
22- Qual o "status" da função de TI na empresa: ela responde a alguma área
de "staff' (p.ex. : contab., fmanças), ou é ligada diretamente à direção da empresa ?
23- Como está estruturada a atividade de TI na empresa em termos de re
cursos? Os sistemas são desenvolvidos com recursos próprios?
3a. PARTE
Breve descrição da aplicação de TI. Histórico de seu desenvolvimento.
Documentação dos aspectos de mudança nos processos da empresa (reengenharia)
utilizados.
123
ANEXO 3
COPPEADjUFRJ
Tese de Mestrado - Sumário
124
Tema: " O uso estratégico da Tecnologia da Informação: Um estudo
exploratório no setor da indústria de mineração e exploração de pe
tróleo no Brasil".
SUMARIO
1- OBJETIVO
2- O QUE SÃO APLICAÇÕES ESTRATÉGICAS
3- A IMPORTÂNCIA DO ALINHAMENTO ESTRATÉGICO
4- V ANTAGEM COMPETITIVA E TI
5- INTEGRAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL
6- REENGENHARlA DE PROCESSOS DE NEGÓCIO
Alcir Rosa Freire
Orientador: Donaldo de Souza Dias / Denise Fleck
125
1- objetivo
Investigar em empresas do setor de mineração/petróleo, o uso da Tecnologia
da Informação (TI) na busca de um melhor posicionamento competitivo.
Questões Básicas:
• As empresas do setor possuem ou pretendem desenvolver aplicações
de cunho estratégico?
• Quais os fatores facilitadores/inibidores, para o sucesso na exploração
de oportunidades de uso da TI como arma competitiva?
• Como as aplicações estratégicas podem adicionar valor àS operações
da companhia?
2- O que são aplicações estratégicas
Uma aplicação é considerada estratégica quando tem efeito no sucesso e
destino da companhia, seja influenciando, isto é, dando forma à estratégia da
companhia, ou exercendo papel direto na implementação ou suporte à estratégia da
companhia. Mesmo um sistema tradicional, de apoio às operações internas da
empresa, pode ser considerado um Sistema de Informação Estratégico, se ele for
aplicado à uma área funcional crítica da empresa e se, além disso, ele for um novo
tipo de aplicação na indústria (inovação). São, assim, aplicações que permitem à
empresa ganhar vantagem competitiva ou, pelo menos, manter-se em paridade com
seus competidores.
126
3- A Importância do alinhamento estratégico
estratégia de negócios <==> estratégia de TI
Diversos fatores contribuem para que uma companhia tire proveito das
oportunidades de desenvolvimento de aplicações estratégicas. Dentre estes, um dos
mais citados é o grau de alinhamento existente entre a estratégia de negócios e a
estratégia da área de TI da empresa.
em:
Genericamente, as empresas podem ser classificadas, quanto a este aspecto,
Tipo I (tradicional) a TI :
• apoia as operações
• não é relacionada à estratégia
• foco: interno (sistemas administrativos, ligação
entre funções e ligação entre
operacional e corporativo)
Tipo 11 (em evolução) a TI :
• apoia as estratégias corporativas/de unidade de negócio
• uso dos fatores críticos de sucesso (CSF)
Tipo li (integrada) a TI :
• orientação pró-ativa
• faz parte da estratégia do negócio
os níveis
Uma forma bastante abrangente de se analisar este fator é proporci
onada pelo seguinte esquema:
Fi 1 - MODELO DE ALINHAMENTO ESTRATÉGICO:
E X T E R N O
estratégia de negócio
escopo i / de negócio
competências
� direção
de negócio
I estratégia de TI escopo de � / tecnologia
.·
competências técnicas
� direção
·
de TI
Ajuste estratégico a�ção
I N T E R N O
r-----------� �----------� infraestrutur
/ administrati
/ processos processos
� � habilidades habilidades
s o anizacionais
NEGÓCIO TI
�/ Integração funcional
4- Vantagem competitiva e TI
4.1- Para onde direcionar esforços?
127
A vantagem competitiva pelo uso da TI é baseada na busca, pela organiza
ção, de tomar-se um monopólio:
• diferenciando a oferta
• criando vínculos do consumidor à empresa
Estes objetivos podem ser atingidos, direcionando-se a aplicação de
TI para as seguintes fontes de vantagens competitivas:
128
fig 2 - MODELO DAS FONTES DE VANTAGEM COMPETITIVA
custo de � procura
poracterlstlcas � poder
de
unlcas barganha
produto
custos de mudança
vantagem competitiva
ef\clencla Interna -
eficiência comparativa
eficU\ncla / Inter-
organizacional
4.2- Por quanto tempo se sustenta a vantagem?
Com relação à duração da vantagem competitiva, é importante dife-
renciar:
Necessidade estratégica: Vantagem competitiva pelo emprego da
mais nova tecnologia é efêmera, já que a experiência tem demonstrado que as novas
tecnologias têm uma difusão muito rápida no mercado. Urna aplicação estratégica
ao ser copiada e difundida se torna uma necessidade estratégica , ou seja, ela se
torna parte do custo de fazer negócio naquele determinado ramo (ex: tecnologia
bancária).
129
Vantagem Competitiva Sustentável (duradoura): Utilização da TI para
alavancar recursos estratégicos, ou seja, adicionar valor a recursos que se possui e
que não estejam prontamente disponíveis aos competidores.
Alguns tipos de recursos estratégicos:
• Know-how" proprietário.
• Relações complexas com fornecedores/compradores.
• Equipamento especializado.
• Reputação / marca reconhecida.
• Padrões "de facto" (ex: sistema operacional MS-DOS).
• Portfolio de Unidades de Negócio (abrangência de atuação).
• Processos de aprendizado organizacional.
A tese dá ênfase à aplicação da TI ao escopo competitivo (vertical, hori
zontal e geográfico), explorando o portfolio de Unidades de Negócio da empresa, e
à transfonnação dos processos de negócios, explorando o recurso do aprendizado
organizacional. Isso por dois motivos: primeiro porque a aplicação da TI à esses
dois recursos, apesar de ser de difícil implementação, tem potencial de sustentar di
ferenciais competitivos por mais longo tempo.
Segundo, porque as empresas às quais a pesquisa da tese se dirige têm, na
sua maioria, um escopo de atuação (geográfico, vertical e/ou horizontal) amplo, e
um grande investimento em Recursos Humanos e Tecnologia, dois aspectos
fundamentais para a implementação de transfonnações nos processos organizacio
nais (reengenharia de processos).
5- Integração vertical e horizontal
A TI tem um grande potencial de agregar valor quando dirigida à gerência
das interações entre as atividades econômicas em que a empresa atua. Empresas
com longa cadeia de valor, diversificadas ou com atuação geograficamente dispersa,
130
têm grandes oportunidades de emprêgo estratégico da TI
Integra�ão vertical: A TI pode proporcionar à empresa as vantagens
de uma integração vertical com fornecedores/distribuidores/consumidores, sem as
desvantagens primárias de uma estratégia de verticalização de negócios. Em em
presas verticalizadas, a TI pode reduzir drasticamente os custos de coordenação de
transações ao longo de toda a sua cadeia de valor.
Integração horizontal: Oportunidade de utilização da TI para explorar de
forma inovativa o portfolio de Unidades de Negócio que a empresa possui (recurso
estratégico crítico). Procura-se, no caso, apropriar-se da sinergia existente entre
atividades semelhantes ou complementares.
A Estratégia Horizontal, no entender de alguns autores, é urna tendência
crescente, e que só agora começa a ser explorada, devido ao poder de apoio à
gerência de interações que a TI está proporcionando. Aplicações da TI na interação
horizontal, podem explorar economias de escala e escopo no uso de recursos
estratégicos comuns a diversos mercados nos quais a empresa atua.
6- Reengenharia de processos de negócio
Processo de negócio (Business Process): Conjunto de tarefas logicamente
relacionadas, executadas para atingir um resultado final definido.
Pressupostos:
- A estratégia corporativa não se baseia em produtos ou mercados, mas em
processos de negócio.
- Sucesso Competitivo: transformação de processos-chave da organização
em capacidades estratégicas, que forneçam valor superior ao consumidor.
A reengenharia de processos de negócio origina-se na constatação de que
não se consegue atingir outros patamares de performance através do "corte de
gorduras" ou da automação de processos existentes. Nossos processos de negócio
possuem um arranjo que remonta à Revolução Industrial, não fazendo uso das
131
mudanças tecnológicas, demográficas e de objetivos de negócio ocorridas nas
últimas décadas.
o processo de reprojeto dos processos de negócio deve se basear na se
guinte relação recursiva:
fi . 3
C1:;m:) a :lI' poc:ts ",,;.r os .PiO es.,. di nsgóo::i.o?
p ,
0::aD os I :5 SI" S da nagá:io px:Ism aar tzanstn um s usanci:> a :rI?
Princípios básicos para caracterizar um trabalho de reengenharia:
• Organizar-se em tomo dos produtos ("outputs"), e não das tarefas
• Ter aqueles que dependem do produto de um processo, realizando o
processo
• Deixar que o processamento da informação seja realizado como parte
do processo
• Tratar recursos geograficamente dispersos como se fossem
centralizados
• Conectar atividades paralelas, em vez de integrar os seus resultados
• Colocar o ponto de decisão onde o trabalho é realizado
• Embutir contoles nos processos
• Capturar a informação de uma só vez e na fonte
132
Para se reprojetar processos de forma eficaz, três dimensões precisam estar
atendidas:
figA
PROJETO ORGANI����/--_
OLOGIA INFORMAçAO