estudo epidemiolgico da poxvirose bovina no...

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1 1. INTRODUÇÃO As poxviroses são doenças causadas por vírus da família Poxviridae, que acometem o homem e os animais. Tipicamente ocorre nas poxviroses a presença de lesões difusas na pele e mucosas que progridem de máculas para pápulas, vesículas e pústulas antes de formar crostas e cicatrizar (ACHA e SZYFRES, 1986). Nos últimos cinco anos, inúmeros casos de doença pústulo-vesicular ocorreram em diversas fazendas nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais acometendo o gado bovino leiteiro e pessoas, principalmente retireiros e seus familiares, nos quais as características clínicas descritas favoreciam a possibilidade da doença ser causada por um vírus da família Poxviridae, posteriormente comprovada por diagnóstico laboratorial. Na ocasião, DAMASO et al. (2000) isolaram e caracterizaram molecularmente o vírus Cantagalo (CTGV) de espécimens clínicos de bovinos na cidade de Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro, TRINDADE et al. (2003), isolaram o vírus Araçatuba na cidade de Araçatuba no Estado de São Paulo e LEITE (2003), o vírus Passatempo em Passatempo no Estado de Minas Gerais. A partir de 2002, têm sido observado surtos de doença pústulo-vesicular no gado leiteiro e pessoas de fazendas leiteiras no Sul do Estado do Espírito Santo, com características clínicas semelhantes aos casos descritos nos Estados do Rio de

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1. INTRODUÇÃO

As poxviroses são doenças causadas por vírus da família Poxviridae, que

acometem o homem e os animais. Tipicamente ocorre nas poxviroses a presença de

lesões difusas na pele e mucosas que progridem de máculas para pápulas,

vesículas e pústulas antes de formar crostas e cicatrizar (ACHA e SZYFRES, 1986).

Nos últimos cinco anos, inúmeros casos de doença pústulo-vesicular

ocorreram em diversas fazendas nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas

Gerais acometendo o gado bovino leiteiro e pessoas, principalmente retireiros e seus

familiares, nos quais as características clínicas descritas favoreciam a possibilidade

da doença ser causada por um vírus da família Poxviridae, posteriormente

comprovada por diagnóstico laboratorial. Na ocasião, DAMASO et al. (2000)

isolaram e caracterizaram molecularmente o vírus Cantagalo (CTGV) de espécimens

clínicos de bovinos na cidade de Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro,

TRINDADE et al. (2003), isolaram o vírus Araçatuba na cidade de Araçatuba no

Estado de São Paulo e LEITE (2003), o vírus Passatempo em Passatempo no

Estado de Minas Gerais.

A partir de 2002, têm sido observado surtos de doença pústulo-vesicular no

gado leiteiro e pessoas de fazendas leiteiras no Sul do Estado do Espírito Santo,

com características clínicas semelhantes aos casos descritos nos Estados do Rio de

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Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Esses surtos vêm causando grandes prejuízos

econômicos na agropecuária da região, onde em algumas propriedades 100% dos

bovinos foram acometidos, bem como a importância na saúde pública, como uma

zoonose, com ocorrência de casos humanos que necessitaram de hospitalização,

justificando uma pesquisa de investigação mais detalhada do problema em pauta.

Objetivou-se, neste trabalho, realizar um estudo epidemiológico dos surtos

das poxviroses no gado leiteiro e casos humanos do Estado do Espírito Santo,

identificando molecularmente o agente causador, bem como a adoção e divulgação

das medidas de controle da doença junto aos órgãos responsáveis pela Sanidade

Animal, Saúde Pública e aos proprietários de gado leiteiro.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Família Poxviridae

Os vírus DNA classificados na família Poxviridae são os maiores e mais

complexos vírus conhecidos, os quais se replicam no citoplasma de células de

hospedeiros vertebrados e invertebrados. A família abrange um grande grupo de

patógenos de importância médica e veterinária (MOSS, 1996).

A doença pústulo-vesicular típica de poxvírus é conhecida como “varíola” e

se caracteriza clinicamente pelo aparecimento de lesões difusas na pele e mucosas,

que progridem de máculas para pápulas, vesículas e pústulas antes de formar

crostas e cicatrizar. A maioria das lesões contém células com múltiplas inclusões

intracitoplasmáticas denominadas “pocks” que representam o local de replicação

viral nas células infectadas (TRIPARTHY et al., 1981, ACHA e SZYFRES, 1986).

A historia dos poxvírus tem sido predominada pelo Variola virus (VARV), o

agente etiológico da varíola humana, que acompanhou o homem por muitos séculos

causando mortes e lesões graves e irreversíveis (GUIDO e ESPER, 2002).

Atualmente, o VARV vem tendo importância mundial, pelo temor do seu uso, como

arma biológica (SCHATZMAYR, 2001, SILVA, 2001).

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Um outro exemplo de poxvírus muito estudado é o Vaccinia virus, que vem

sendo objeto de estudo intensivo como vetor para introdução de genes imunizantes

ativos, como vacinas de vírus vivo para uma variedade de doenças em humanos e

animais domésticos (BROOKS et al., 2000).

2.1.1. Classificação

A família Poxviridae é subdividida em duas subfamílias, com base no

espectro dos hospedeiros vertebrados ou insetos: Chordopoxvirinae (poxviroses de

vertebrados) e Entomopoxvirinae (poxviroses de insetos) (Tabela 1).

A subfamília Chordopoxvirinae é subdividida em oito (08) gêneros

(Orthopoxvirus, Parapoxvirus, Avipoxvirus, Capripoxvirus, Leporipoxvirus,

Suipoxvirus, Molluscipoxvirus e Yatapoxvirus), e os membros de cada gênero

exibem uma morfologia e uma gama de hospedeiros semelhantes, bem como

alguma relação antigênica. As principais espécies de cada gênero, hospedeiro e

distribuição geográfica estão apresentadas nas Tabelas 2 a 6. Existem outros

poxvírus que ainda não estão bem classificados, incluindo os novos vírus que são

descobertos constantemente, como os isolados de lagartos, rãs, cervos, cangurus,

entre outros. (MURPHY et al., 1999).

Tabela 1. Estrutura Taxonômica da família Poxviridae.

Família Poxviridae Subfamília Chordopoxvirinae

Gênero Orthopoxvirus Gênero Parapoxvirus Gênero Avipoxvirus Gênero Capripoxvirus Gênero Leporipoxvirus Gênero Suipoxvirus Gênero Molluscipoxvirus Gênero Yatapoxvirus

Subfamília Entomopoxvirinae

Gênero Entomopoxvirus A Gênero Entomopoxvirus B Gênero Entomopoxvirus C

(ESPOSITO et al., 2005)

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Tabela 2. Gênero Orthopoxvirus: Vírus, abreviações, hospedeiros e distribuição geográfica.

Vírus Abreviação Principais Hospedeiros

Distribuição Geográfica

Camelpox virus

CMLV

Camelo

Ásia e África

Cowpox virus CPXV Bovino, humano, felino e roedor

Europa e Ásia

Ectromelia virus ECTV Camundongo Europa

Monkeypox virus MPXV Macaco, Roedor e Humano

África

Raccoonpox virus RCNV Guaxinim América do Norte

Taterapox virus GBLV Gerbilo África

Vaccinia virus VACV Humano, Bovino, Búfalo, suíno e Coelho

Mundial

Buffalopox virus BPXV Búfalo, Bovino e Humano Índia

Rabbitpox virus RPXV Coelho EUA e Holanda

Variola virus VARV Humano Erradicado

Volepox virus VPXV Camundongo da Califórnia Califórnia

Uasin Gishu virus UGV Cavalo África

(Adaptado de ESPOSITO et al., 2005)

Tabela 3. Gênero Parapoxvirus: Vírus, abreviações, hospedeiros e distribuição geográfica.

Vírus Abreviação Principais Hospedeiros

Distribuição Geográfica

Orf virus ORFV Ovino, Caprino, Humano Mundial

Pseudocowpox virus ou

Paravaccinia vírus

PCPV

Bovino e Humano

Mundial

Bovine papular stomatitis virus

BPSV Bovino e Humano Mundial

Parapoxvirus of red deer in New Zealand

PVNZ Cervo vermelho Nova Zelândia

Auzduk disease virus - Camelo África e Ásia

Sealpox virus - Foca e Humano Mundial

(Adaptado de ESPOSITO et al., 2005).

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Tabela 4. Gênero Avipoxvirus: vírus, abreviações, hospedeiros e distribuição geográfica.

Vírus Abreviação Principais Hospedeiros

Distribuição Geográfica

Canarypox virus CNPV Canário, aves Mundial

Fowlpox virus FWPV Aves Mundial

Juncopox virus JNPV Aves Mundial

Mynahpox virus MYPV Aves Mundial

Pigeonpox virus PGPV Pombo, aves Mundial

Psittacinepox virus PSPV Psitacídeos, aves Mundial

Quailpox virus QUPV Codornizes, aves Mundial

Sparrowpox virus SRPV Pardal, aves Mundial

Starlingpox virus SLPV Aves Mundial

Turkeypox virus TKPV Peru, aves Mundial

(Adaptado de ESPOSITO et al., 2005)

Tabela 5. Gênero Capripoxvirus: Vírus, Abreviações, hospedeiros e distribuição geográfica.

Vírus Abreviação Principais Hospedeiros

Distribuição Geográfica

Goatpox virus GTPV Cabra Ásia e África

Sheeppox virus SPPV Carneiro Ásia e África

Lumpy skin disease virus LSDV Bovino África

(Adaptado de ESPOSITO et al., 2005)

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Tabela 6. Gêneros Leporipoxvirus, Suipoxvirus, Molluscipoxvirus, Yatapoxvirus: Vírus, abreviações, hospedeiros e distribuição geográfica.

Gênero Vírus Abreviação Principais Hospedeiros

Distribuição Geográfica

Leporipoxvirus

Hare fibroma virus

FIBV

Lebre (Lepus

capensis)

Europa

Myxoma virus MYXV

Lebre e coelho

América do Sul e EUA

Fibroma virus -

Lebre e coelho

EUA

Squirrel fibroma

virus SFV

Esquilo (Sciurus sp)

EUA

Suipoxvirus

Swinepox virus

SWPV

Suíno

Mundial

Molluscipoxvirus

Molluscum

contagiosum virus MOCV

Humano

Mundial

Yatapoxvirus Tanapox virus TANV

Roedor e Humano

África Yaba monkey

tumor virus YMTV Macaco e Humano

África

(Adaptado de ESPOSITO et al., 2005)

Os gêneros Orthopoxvirus e Parapoxvirus destacam-se como os principais

causadores de poxviroses em humanos e animais domésticos, como demonstrado

nas Tabelas 2 e 3.

2.1.2. Estrutura e composição dos poxvírus

Os vírions dos poxvírus são os maiores, de importância médica e veterinária,

descritos pela microscopia. As aparências das partículas virais variam de acordo

com o método de preparação, mas a maioria dos poxvírus, quando observados por

microscopia eletrônica, se apresentam como partículas em forma retangular

medindo aproximadamente 250 X 200 X 200 nm. Em contraste, os vírus do gênero

Parapoxvirus, Entomopoxvirus A e Entomopoxvirus B são ovóides e medem

aproximadamente 260 X 160 nm (Tabela 7 e Figura 1). (MOSS, 2001)

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Tabela 7. Família Poxviridae: Morfologia e tamanho do genoma.

Subfamília Gênero Morfologia Tamanho aproximando

Genoma Chordopoxvirinae

Orthopoxvirus Retangular 200 Kbp

Parapoxvirus

Ovóide

140 Kbp

Avipoxvirus

Retangular

260 Kbp

Capripoxvirus

Retangular

150 Kbp

Leporipoxvirus

Retangular

160 Kbp

Suipoxvirus

Retangular

170 Kbp

Molluscipoxvirus

Retangular

180 Kbp

Yatapoxvirus

Retangular

145 Kbp

Entomopoxvirinae

Entomopoxvirus A

Ovóide

260 -370 Kbp

Entomopoxvirus B

Ovóide

236 Kbp

Entomopoxvirus C

Retangular

250 -380 Kbp

(Adaptado de MOSS, 2001)

Figura 1. Micrografia eletrônica do Orthopoxvirus e Parapoxvirus

A B

A – Orthopoxvirus

B – Parapoxvirus

(SCHATZMAYR et al., 2000)

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A estrutura dos poxvírus é complexa e carece de simetria icosaédrica ou

helicoidal exibida por outros vírus, sendo envelopado por uma dupla membrana

lipoprotéica. A maioria dos poxvírus é formada por uma camada externa de

estruturas protéicas tubulares, arranjadas irregularmente, conferido uma aparência

característica. Em contraste, os membros do gênero Parapoxvirus são cobertos por

longos e finos túbulos protéicos que, por causa da superposição desses túbulos,

parecem ser arranjados na forma cruzada, assemelhando-se a uma esfera de fios. A

parte interior inclui um cerne bicôncavo e dois corpúsculos laterais de natureza

desconhecida. O cerne contém o DNA viral e diversas proteínas virais (Figura 2).

(MURPHY et al., 1999).

Figura 2. Diagrama da estrutura do vírion dos gêneros Orthopoxvirus e Parapoxvirus.

Membrana do cerne

)

Membrana Externa

Envelope

Corpúsculo Lateral

Superfície Tubular

Membr

Membrana Externa Envelope

Corpúsculo Lateral

Superfície Tubular

A – Gênero: Orthopoxvirus

(adaptado de FENNER, 1996)

A composição química d

principais componentes dos vírio

lipídeos e DNA, correspondendo

dos vírions. Algumas das proteí

constituem em colesterol e fosfoli

O cerne contém um gran

com tamanho variando de 130–

capacidade de codificar aproxi

enzimas envolvidas no process

Cerne (DNA e

proteínas virais)

ana do cerne

B – Gênero: Parapox

os poxvírus assemelha-se a de uma

ns do Vaccinia virus, por exemplo, sã

90%, 5%, 3,2%, respectivamente da

nas são glicosiladas ou fosforiladas,

pídios. (MOSS, 1996).

de genoma viral de DNA de filamento

380kbp, rico em bases de adenina e

madamente duzentas (200) proteína

o de síntese do ácido nucléico e c

Cerne (DNA e

proteínas virais

virus

bactéria. Os

o proteínas,

composição

e os lipídios

linear duplo

timina, com

s, incluindo

omponentes

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estruturais dos vírus. A seqüência completa do genoma é conhecida em vários

poxvírus como o VARV e o VACV (BROOKS et al., 2000).

2.1.3. Replicação dos poxvírus

Os poxvírus são peculiares entre os vírus DNA, visto que todo ciclo de

replicação ocorre no citoplasma das células infectadas. As células infectadas

apresentam muitas inclusões intracitoplasmática denominadas “pocks”, que

representam o local de replicação viral (TRIPARTHY et al., 1981).

O ciclo de replicação dos poxvírus está esquematizado na Figura 3 e

descrito abaixo nas alíneas a, b e c, sendo representado pelo Vaccinia virus, que é o

protótipo dos poxvírus em termos de estrutura e replicação.

Figura 3. Ciclo de replicação do Vaccinia virus.

Cerne

Envoltório mRNA intermediário

Desnudamento Penetração Replicação Adsorção

Fatores de transcrição

tardios

DNA-polimerase mRNA tardio

RNA-polimerase

Enzima de formação do capsídeo Poli(A)-polimerase

Fatores de transcrição intermediários mRNA inicial

Fator de transcrição

RNA-polimerase

Fatores nucleares ?

Envoltório de Golgi Maturação

(EEV)

(IMV) (IEV) Liberação

(adaptado de MOSS, 1996)

Enzimas tardias Fatores de transcrição

iniciais Proteínas estruturais

Organi- zação

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a) Etapas 1, 2, 3 e 4 - Fixação, penetração e desnudamento do vírus:

A partícula viral estabelece contato com a superfície celular e, a seguir,

funde-se com a membrana celular, liberando o cerne no citoplasma. No interior dos

poxvírus encontramos a RNA-polimerase viral que transcreve metade do genoma

viral em mRNA precoce. Esses mRNAs após serem transcritos no interior do cerne

do vírus são liberados no citoplasma da célula. A proteína de “desnudamento”

produzida após a infecção viral libera o DNA viral dos cernes, finalizando a primeira

parte do ciclo de replicação.

b) Etapas 5, 6 e 7 – Replicação do DNA viral e síntese de proteínas virais:

Entre as proteínas iniciais produzidas após a infecção pelo vírus, destacam-

se a DNA-polimerase e a Timidina-quinase que são enzimas envolvidas na

replicação viral. A replicação inicia-se logo após o processo de desnudamento,

ocorrendo em regiões distintas do citoplasma, que aparecem como “fábricas” ou

corpúsculos de inclusão em micrografias eletrônicas. Ocorre a transcrição de

mRNAs intermediários, que cuja expressão precede temporariamente a dos

mRNAs tardios. O mRNA viral tardio é traduzido em grandes quantidades de

proteínas estruturais e em pequenas quantidades de outras proteínas e enzimas

virais (BROOKS et al., 2000).

c) Etapas 8, 9, 10, 11 e 12 - Maturação e liberação:

As proteínas estruturais organizam-se para acondicionar o DNA, formando

as partículas virais, chamadas de vírions maduros intracelulares infectivos (IMV),

que são transportados pelos microtúbulos até o Complexo de Golgi, onde podem

adquirir as membranas do Complexo, formando os vírus envelopados intracelulares

(IEV); chegando à periferia da célula, fundem-se com a membrana citoplasmática

da célula, resultando na liberação dos vírus envelopados extracelulares (EEV)

(MOSS, 1996).

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2.1.4. Mecanismos de evasão dos poxvírus

Os poxvírus são especialmente adaptados para interferir na resposta imune

do hospedeiro. Em primeiro, por possuírem um genoma com capacidade de codificar

150 – 200 proteínas, facilitando a codificação de proteínas que interfere na resposta

imune do hospedeiro. E em segundo, por não dependerem dos mecanismos de

transcrição da célula, pois codificam as enzimas e fatores necessários para a sua

transcrição viral. Essas propriedades contribuem para a habilidade dos poxvírus de

interferir na expressão dos genes do hospedeiro sem afetar a expressão dos genes

virais (MOSS e SHISLER, 2001).

Recentemente, descobriu-se que vários genes dos poxvírus assemelham-se

a genes de mamíferos, que codificam proteínas semelhantes e/ou homólogas ao do

hospedeiro, tornando-se passíveis de inibir os mecanismos de defesa do

hospedeiro. Os exemplos incluem os homólogos com o receptor do fator de necrose

tumoral, o receptor do interferon gama e o receptor de interleucina-1, que funcionam

interrompendo as redes de complemento e outras citocinas importantes para

resposta imune do hospedeiro (BOWIE et al., 2000).

OIE e PICKUP (2001), descobriram que os poxvírus possuem a capacidade

de interferir na regulação da ativação do NF-kB (Fator Nuclear kB) do hospedeiro,

interferindo indiretamente na resposta imune inata e adquirida, pois o NF-kB abrange

uma série de fatores de transcrição que regulam a expressão de numerosos genes

que codificam proteínas que são elementos essenciais para resposta imune inata e

adquirida do hospedeiro.

2.2. Poxviroses Bovina As lesões associadas as poxviroses ocorrem principalmente nas tetas e

úbere de bovinos, apresentando-se principalmente nas formas proliferativas,

ulcerativas e crostosas, abrindo porta para infecções secundárias. Essas lesões são

dolorosas e geralmente não são diferenciadas de outras lesões nas tetas do bovino

(TIMMS et al., 1998).

O conhecimento sobre a epidemiologia e a história natural dos poxvírus e as

suas conseqüências clínicas em bovinos tem evoluído nos últimos anos, mas

continua sendo objeto de especulações. Roedores, felinos e bovinos são os

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prováveis reservatórios desses agentes, servindo de fonte de infecção para outros

animais e para o homem (WELBLEN, 2002).

A transmissão geralmente ocorre pelas mãos dos ordenhadores ou pelo

equipamento de ordenha, bem como pela inalação de partículas contaminadas. A

penetração do vírus ocorre em lesões pré-existentes na pele, principalmente nas

tetas e úbere (BLOOD e RADOSTITS, 1991).

Os poxvírus geralmente são resistentes as condições ambientais, ao calor,

dessecação, desinfetantes e são capazes de manter sua infectividade em restos

celulares por muitos anos (MURPHY et al., 1999).

As perdas econômicas resultam da inconveniência na hora da ordenha, por

causa da sensibilidade das tetas, infecções secundárias como mastite, gastos com

medicamentos e assistência veterinária (LIEBERMANN, 1999).

No Brasil, poxviroses em bovinos foram descritas no Rio de Janeiro (SILVA

e MORAES, 1960) e Minas Gerais (REIS et al.; 1970) e vários outros casos foram

descritos ao longo dos anos (WELBLEN, 2002). Os mais recentes foram o que

ocorreram no Estado do Rio de Janeiro acometendo o gado leiteiro e os

ordenhadores (DAMASO et al., 2000, SCHATZMAYR et al., 2000, FERNANDES,

2003), Mato Grosso do Sul (FAGLIARI et al., 1999), São Paulo (TRINDADE et al.,

2003) e Minas Gerais (LOBATO et al, 2004). 2.2.1. Varíola Bovina A varíola bovina ou varíola dos bovinos é uma doença de pele contagiosa e

benigna de bovinos causada pelo Cowpox virus (CPXV), caracterizada pelo

aparecimento de lesões pustulosas tipicamente nas tetas e úbere, raramente

generalizada (MURPHY et al., 1999).

A síndrome clínica ocorria de forma benigna e esporádica, restrita aos países

da Europa e Ásia, mas a incidência parece ter diminuído, a ponto de ser rara nessas

regiões. Em um rebanho atingido, a morbidade varia de acordo com as condições de

higiene, cuidados com saúde e imunidade dos animais, causando perdas

econômicas pela dificuldade no momento da ordenha, gasto com assistência

veterinária, casos de mastite e assistência médica com os ordenhadores que

geralmente são acometidos (WELBLEN, 2002).

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A transmissão ocorre principalmente através das mãos dos ordenhadores e

das ventosas das ordenhadeiras, sendo a transmissão por artrópodes uma opção

ainda não confirmada. É uma zoonose quase que restrita aos ordenhadores, que

são acometidos durante a ordenha e na manipulação com os animais doentes. A

disseminação de um rebanho para outro ocorre provavelmente pela introdução de

novos animais ou pelas mãos dos ordenhadores, onde os animais acometidos

geram uma imunidade protetora, que pode permanecer por vários anos (MURPHY et

al., 1999).

A porta de entrada dos vírus são as soluções de continuidade nas tetas e

úbere, onde após um período de incubação de 03 a 06 dias, há formação de um

eritema roseolar, seguido de pápulas firmes e em relevo de cor clara, com uma zona

de hiperemia em torno da base. Posteriormente ocorre a formação da vesícula e

pústula amarelada com uma dura crosta, vermelha e aderida, medindo 1 a 2 cm,

antes da cicatrização (BLOOD e RADOSTITS, 1991).

Na fase inicial do desenvolvimento da doença pode ser observado febre

prodrômica irregular e uma dor à pressão da teta e úbere, não permanecendo

durante a cicatrização da lesão (LIEBERMANN, 1999).

As lesões são principalmente observadas no período de vesícula, mas que

logo se rompem pela ação mecânica da ordenha, formando uma úlcera que progride

para o estágio de crosta, que geralmente são poucas por tetas, que podem não

permanecer em vacas que estão sendo ordenhadas, sendo substituídas por uma

ulceração profunda (MURPHY et al., 1999).

As lesões normalmente estão localizadas nas tetas e úbere, podendo em

casos mais graves, acometer partes interna da coxa e raramente o períneo, vulva e

boca, abrindo porta para uma infecção secundária. O desenvolvimento da dor

interfere na liberação do leite, dificultando a ordenha e facilitando o aparecimento de

mastite (BLOOD e RADOSTITS, 1991).

O prognóstico é bom, mas em geral as lesões permanecem de 3 a 10

semanas, de acordo com as medidas de controle das infecções secundárias

(LIEBERMANN, 1999). No diagnóstico diferencial da varíola bovina deve-se levar em consideração

as seguintes patologias: Pseudovaríola; Mamilite ulcerativa bovina; Impetigo do

úbere; Fibropapiloma da teta; lesões pelo Vaccinia virus; Febre aftosa; Lesões

traumáticas; Lesões químicas. (LIEBERMANN, 1999).

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O CPXV pode causar infecções em bovinos, humanos, animais de

zoológicos e animais domésticos, com distribuição dos casos nas regiões da Europa

e Ásia (FENNER, 1996). No Brasil, ainda não temos relato de isolamento do CPXV

de bovinos e humanos (TRINDADE et al., 2003).

2.2.2. Pseudovaríola A pseudovaríola bovina em bovinos, varíola mamária bovina ou “nódulos dos

ordenhadores” em humanos é causada pelo Pseucowpox virus ou Paravaccinia virus

(Vírus da Pseudovaríola-PCPV), do gênero Parapoxvirus, apresentando

características morfológicas diferentes do gênero Orthopoxvirus (ESPOSITO et al,

2005).

A forma de transmissão e disseminação são as mesmas apresentadas na

Varíola bovina, diferindo no contexto de distribuição, na qual a Pseudovaríola tem

distribuição mundial. A morbidade varia de 60 a 100% no gado bovino leiteiro,

acometendo principalmente vacas recém paridas ou introduzidas no rebanho.

O PCPV ocorre como infecções endêmicas em bovinos em muitos paises do

mundo (MURPHY et al., 1999).

O período médio de incubação é de seis dias, tendo como principal porta de

entrada as soluções de continuidade na pele da teta e úbere. Inicialmente aparece

um ligeiro edema ou eritema, ao qual segue a formação de uma película de

exsudato brilhante que em 48 horas há formação de uma pápula. As pápulas

formam finas escaras que cicatrizam, sem haver a formação de vesículas

amareladas, como na varíola bovina. Os sintomas clínicos são variáveis,

caracterizado por lesões crônicas ou agudas, podendo existir até 10 (dez) lesões por

teta. (LIEBERMANN, 1999).

As lesões agudas iniciam-se como eritema no local de replicação do vírus,

progredindo para vesícula ou pústula que se rompem em 48h, formando finas

escaras, que cicatrizam dando origem as crostas, que medem 0,5 a 2,5 cm de

diâmetro. Após 10 dias elas se soltam deixando uma lesão anelada em forma de

ferradura. A doença desaparece em média de 20 dias após os primeiros sintomas.

As lesões crônicas também se iniciam como eritema, mas logo progridem para

crostas cinza-amareladas, moles e escamosas, que são desgastadas pela ordenha,

que podem persistir por meses. (BLOOD e RADOSTITS, 1991).

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No diagnóstico diferencial da Pseudovaríola bovina devem ser consideradas

as seguintes patologias: Varíola Bovina; Mamilite ulcerativa bovina; Impetigo do

úbere; Fibropapiloma da teta; lesões pelo Vaccinia virus; Febre aftosa; Lesões

traumáticas; Lesões químicas. (MURPHY et al., 1999).

2.2.3. Doença causada pelo Vaccinia virus

O Vaccinia virus (Vírus vaccínia-VACV) faz parte do gênero Orthopoxvirus, que

se originou provavelmente em isolado do vírus da varíola bovina. Sendo utilizado

inicialmente para produzir vacinas contra a varíola humana (GUIDO e ESPER,

2002).

Nas décadas de 60 e 70, época de intensa vacinação com VACV, eram

comuns os relatos de surtos do VACV em animais domésticos, como bovinos,

porcos e búfalos que eram contaminados pelas pessoas recém vacinadas que, por

sua vez, transmitiam o vírus às pessoas em contato com as lesões (LUM et al.,1967,

TOPCIU et al.,1976). Com a interrupção da vacinação, os surtos desapareceram,

confirmando a suposição consenso na literatura de que o VACV não teria um

reservatório animal, não permanecendo dessa forma na natureza (FENNER et al.,

1989). A exceção ocorreu na Índia, com aparecimento de surtos de Buffalopox virus

(BPXV), agente causal de uma zoonose de grande importância econômica,

detectada até os dias de hoje (KOLHAPURE et al., 1997).

Os primeiros relatos foram descritos nas décadas de vacinação antivariólica

no Egito e na Índia, onde criações de búfalos eram afetadas. As lesões nas tetas e

úberes dos búfalos eram transmitidas para vacas e para mãos e braços de

ordenhadores, de forma semelhante às lesões por CPXV e VACV. Nos anos 80

comprovou-se que o BPXV é uma cepa do VACV, derivada provavelmente de cepas

vacinais utilizadas na profilaxia da varíola naqueles países e que, de alguma forma,

o vírus se estabeleceu na natureza encontrando algum reservatório animal

(DUMBELL e RICHARDSON, 1993).

O BPXV era considerado apenas uma exceção à regra. Contudo, a

caracterização do vírus Cantagalo (DAMASO et al., 2000) e do vírus Araçatuba

(TRINDADE et al.,2003) no Brasil, como causadores de infecções em bovinos e

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ordenhadores, reforçaram a idéia de que o VACV pode realmente se estabelecer na

natureza.

Através de métodos moleculares, foi traçada a origem do vírus Cantagalo,

como uma cepa vacinal (VACV-IOC), produzida no Instituto Oswaldo Cruz-RJ e

utilizada na campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a erradicação

da varíola no Brasil nos anos 60 e 70 (DAMASO et al., 2000); e o vírus Araçatuba

como uma nova cepa do VACV ou um desdobramento do vírus Cantagalo

(TRINDADE et al.,2003) 2.2.4. Estomatite Papular dos Bovinos A estomatite papular dos bovinos ou estomatite papulosa dos bovinos é uma

doença viral infecciosa benigna, com distribuição mundial, caracterizada por lesões

ulcerativas ou erosivas da mucosa oral de bovinos. É causada pelo Bovine papular

stomatitis virus (Vírus da estomatite papular dos bovinos - BPSV), pertencente ao

gênero Parapoxvirus. A sua importância baseia-se no seu diagnóstico diferencial e

como abertura de porta para infecções secundárias. (MOSS, 1996).

O Bovine papular stomatitis virus tem distribuição mundial, acometendo

bovinos, mas também podem acometer o homem. A transmissão ocorre através de

contato direto ou através de alimentos contaminados, ocorrendo principalmente na

primavera e no verão, após ação de fatores estressantes para os animais (MURPHY

et al., 1999). A morbidade pode alcançar 100%, principalmente na faixa etária de duas

semanas a dois anos de idade, induzindo uma imunidade baixa e pouco duradoura,

podendo ocorrer recidivas da infecção (BLOOD e RADOSTITS, 1991)

As lesões iniciam-se como pequenas pápulas no local de penetração do vírus,

adquirem coloração vermelho escuro, expandindo-se para periferia, e com aspecto

arredondado. À medida que a lesão se expande, o centro fica cinza-acastanhado,

coberto por um tecido necrótico, que se apresentam em crostas quando as lesões

são externas (LIEBERMANN, 1999).

As lesões estão confinadas ao focinho, narinas, mucosa da boca e

ocasionalmente na mucosa do esôfago. Na boca as lesões acometem toda

superfície interna, sendo mais comum nos lábios e próximo aos dentes. As lesões

individuais cicatrizam de 04 (quatro) a 07 (sete) dias, podendo permanecer por

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várias semanas, além de favorecer a entrada para infecções secundárias. O animal

pode apresentar febre baixa (39,5 °C), anorexia transitória, ptialismo e perda de

peso (BLOOD e RADOSTITS, 1991).

2.2.5. Dermatose Nodular dos Bovinos A Dermatose Nodular dos Bovinos, Doença da Pele Granulosa ou “Lumpy

Skin Disease” é uma doença de evolução aguda, subaguda ou inaparente que afeta

os bovinos; caracterizada por febre e aparecimento de nódulos cutâneos

circunscritos que podem necrosar. A musculatura esquelética e mucosa do aparelho

digestivo e respiratório também podem ser acometidas (LIEBERMANN, 1999).

O agente etiológico da dermatose nodular dos bovinos é o Lumpy skin

disease virus (Vírus da dermatose nodular dos bovinos), pertencente ao gênero

Capripoxvirus, com características morfológicas semelhantes ao Vaccinia virus

(MURPHY et al.,1999).

O hospedeiro natural da Lumpy skin disease virus é o bovino e os

hospedeiros experimentais são os ovinos, caprinos, girafas e antílopes. A

distribuição geográfica da doença esta restrita na África, Egito e Israel, com

morbidade variando entre 5 a 85% e mortalidade entre 1 a 10% (MURPHY et

al.,1999).

A transmissão ainda é desconhecida, sendo os artrópodes os principais

suspeitos. O vírus tem sido encontrado na pele, lesões cutâneas, crostas, saliva,

secreção nasal, leite, sêmen, músculo e linfonodos de animais acometidos. O

período de incubação médio é de 12 dias, febre (40 - 41 °C) com duração de 4 a 14

dias, e surgimento de tumorações ou nódulos na pele medindo entre 1 a 5 cm,

generalizado em todo o corpo. (LIEBERMANN, 1999).

O animal apresenta abatimento, anorex salivação excessiva, secreção

oculonasal e agalaxia; nódulos na pele, no te

aumento significativo dos linfonodos, podendo

tamanho normal. Podem-se observar complicaçõ

aborto, infecção intra-uterina. As lesões podem

1999).

14ia,

13 cido subcutâneo e musculatura; o

atingir em até quatro vezes o

es como mastite, tendinite, artrite,

durar semanas. (LIEBERMANN,

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2.3. Diagnóstico O diagnóstico das poxviroses é realizado clínico e laboratorialmente. O

diagnóstico clínico geralmente não é suficiente, tornando-se necessário estabelecer

um diagnóstico laboratorial específico (IKETANI et al., 2002).

Os testes para o diagnóstico específico das poxviroses são geralmente de

três princípios:

1) Através da demonstração da partícula viral, antígeno viral ou ácido nucléico;

2) Através da demonstração do anticorpo viral;

3) Visualização das inclusões intracitoplasmaticas.(MURPHY et al.,1999).

2.3.1. Isolamento Viral As lesões cutâneas e o líquido vesicular constituem as amostras de escolha

para o isolamento do vírus. Os poxvírus são estáveis e permanecem viáveis em

amostras clínicas durante várias semanas, mesmo sem qualquer refrigeração

(BROOKS et al., 2000).

O isolamento do vírus é efetuado por inoculação do líquido vesicular ou

macerado de crostas na membrana corioalantóide de ovo embrionário (MCA) ou em

cultura de células de origem humana e de primatas, que são as mais susceptíveis

(WELBLEN, 2002). Fibroblastos de embrião de galinha (CEF), células epitelióides do

carcinoma laríngeo humano (HEp-2), células fibroblastóides de rim de hamster baby

(BHK-21), Células do glioma de rato (C6), células epitelióides do túbulo distal de rim

canino (MDCK), células fibroblastóides de rim de macaco verde africano (Vero),

células epitelióides de rim de macaco verde africano (BSC-40) e fibroblastos de

embrião de camundongos normais NIH/3T3 são as principais linhagens de células

utilizadas no isolamento dos poxvírus (DAMASO et al., 2000).

2.3.2. Microscopia Eletrônica A microscopia eletrônica é um instrumento utilizado na diferenciação dos

agentes, levando-se em conta o tamanho e a morfologia viral, a qual pode ser

realizada de material clínico direto ou de cultura celular (BROOKS et al., 2000).

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Os Orthopoxvivus possuem a forma retangular, medem 220-450nm de

comprimento por 140-260nm de largura, mas não podem ser distinguidos uns dos

outros à microscopia eletrônica, devido a seu tamanho e morfologia semelhantes.

Entretanto, podem ser facilmente diferenciados dos Parapoxvirus que são ovóides e

medem 250-300nm de comprimento por 150-190nm de largura (SCHATZMAYR et

al., 2000).

2.3.3. Sorologia O diagnóstico sorológico baseia-se na detecção de anticorpos através de

técnicas laboratoriais como: Ensaio imunoenzimático (ELISA), Inibição da

Hemaglutinação (HI), Imunofluorescência (IF) e Soroneutralização Viral (SN),

distinguindo entre os gêneros, mas nenhum desses testes distingue os vírus do

gênero Orthopoxvirus uns dos outros (FENNER, 1996, KURODA, et al., 1999).

2.3.4. Diagnóstico histopatológico

É realizada uma incisão tomando como amostra a escara e o tecido

subjacente, enviando ao laboratório em solução de formalina a 10%, onde após

preparo das amostras serão observadas as inclusões intracitoplasmaticas, que são

patognomônicas (MURPHY et al.,1999).

2.3.5. Técnicas Moleculares As técnicas de biologia molecular de diagnóstico são utilizadas para

caracterizar molecularmente o agente etiológico. A reação em cadeia da polimerase

(PCR), constitui uma das principais técnicas de diagnóstico molecular na

determinação dos agentes etiológicos das poxviroses (ROPP et al.,1995, MEYER et

al.,1997).

A técnica de PCR, desenvolvida nos anos 80 por Kary Mullis, consiste na

amplificação específica de um curto segmento definido de ácido desoxirribonucléico

(DNA) in vitro usando uma DNA polimerase, um molde de DNA genômico, desoxi-

nuclotídeos-trifosfatos (dNTP`s – adenina, guanina, citosina e timina) e iniciadores

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(primers) ou oligonucleotídeos flanqueando o segmento a ser amplificado (MEYER

et al.,1994).

A técnica de PCR possibilita a reprodução de milhares de cópias de um

determinado fragmento de DNA molde, a partir de amostras de diferentes materiais

como líquido vesicular, crostas, escaras das lesões e do isolado da cultura celular

(ROPP et al.,1995).

2.3.6. Caracterização Molecular de Orthopoxvirus A caracterização molecular de um Orthopoxvirus pode ocorrer a partir de

genes ou regiões subgenômicas conservadas do DNA viral, como os genes Timidina

Quinase (TK), Corpúsculo de Inclusão do Tipo Acidofílico (ATI), Hemaglutinina (HA)

(DA FONSECA, et al., 2002)

O gene da hemaglutinina (HA) é um gene não estrutural que codifica uma

glicoproteína do envelope viral na fase final da infecção por Orthopoxvirus.

(DAMASO et al., 2000).

A proteína do corpúsculo de inclusão citoplasmática do tipo acidofilíca é

codificada pelo gene ATI, molecularmente caracterizada em várias espécies de

Orthopoxvirus, porem alguns Orthopoxvirus podem não possuir esse gene

(ULAETO, et al., 1996).

O gene TK é um gene altamente conservado no genoma dos Orthopoxvirus,

sendo responsável em codificar a timidina-quinase, uma enzima participante do

metabolismo de ácidos nucléicos. Esse gene tem sido utilizado amplamente para

caracterização molecular de Orthopoxvirus (TRINDADE, et al 2003).

2.4. Prevenção e Controle O tratamento das poxviroses bovina é sintomático, com uso de

antibioticoterapia tópica ou sistêmica, e uso de soluções iodofórmicas para

prevenção das infecções secundárias e agravamento das lesões (BLOOD e

RADOSTITS, 1991).

A prevenção e o controle consistem basicamente nas medidas de higiene na

ordenha. Pois, não se dispõe de vacinas eficientes contra as poxviroses em bovinos

e pouco se sabe sobre o papel do colostro ou imunidade passiva neste grupo de

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enfermidades (ACHA e SZYFRES, 1986). A imunidade adquirida por uma infecção

prévia com o Vaccinia virus ou Cowpox virus não protege os animais do

Pseudocowpox virus (WELBLEN, 2002).

A prevenção da disseminação é difícil, pois o vírus é transmitido por contato

direto e indireto, entretanto para minimizar a disseminação deve-se:

1. Realizar a desinfecção correta das ordenhadeiras e antissepsia das mãos dos

ordenhadores;

2. Evitar o trabalho de ordenhadores de outras propriedades;

3. Lavar as tetas com água e sabão, bem como a imersão em solução de tintura

alcoólica de um desinfetante, antes da ordenha;

4. Ordenhar por último os animais com lesões, gerando uma linha de ordenha;

5. Examinar os tetos e o úbere antes da aquisição de animais de reposição;

6. Manter as tetas e úberes sadios;

7. Higienizar todas as instalações;

8. Não realizar o transporte dos animais doentes para outra propriedade;

9. Realizar a quarentena dos animais recém adquiridos;

(Adaptado BLOOD e RADOSTITS,1991).

2.5. Infecção zoonótica humana por poxvírus Os vírus da família Poxviridae são epiteliotrópicos e comumente produzem

lesões cutâneas no homem e animais. Dentre os oito (08) gêneros da família

Poxviridae os Orthopoxvirus, os Parapoxvirus e os Yatapoxvirus são os mais

conhecidos causadores de zoonoses humanas (Tabela 8). A maioria desses casos

tem caráter ocupacional, esporádico, baixa morbidade e com lesões cutâneas. A

exceção é o Monkeypox, com significante morbidade e mortalidade entre crianças.

(JONES, 2004).

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Tabela 8. Principais vírus da família Poxviridae causadores de infecção zooonótica.

Gênero Vírus Abreviação Doença Cowpox virus CPXV Cowpox ou Varíola Bovina

Monkeypox virus MPXV Monkeypox ou Varíola dos macacos

Buffalopox virus BPXV Buffalopox ou Varíola dos Búfalos

Vaccinia virus VACV Lesão localizada Cantagalo virus

(Similar ao Vaccinia virus)

- Lesão localizada

Araçatuba virus (Similar ao Vaccinia

virus)

- Lesão localizada

Orthopoxvirus

Passatempo virus (Similar ao Vaccinia

virus)

- Lesão localizada

Orf virus ORFV Dermatite pustular contagiosa

Pseudocowpox virus ou Paravaccinia

vírus

PCPV Pseudocowpox ou Nódulo dos ordenhadores

Bovine papular stomatitis virus

BPSV Estomatite papular dos bovinos

Parapoxvirus

Sealpox virus

- Sealpox

Yatapoxvirus Tanapox virus TANV Tanapox

Os casos de infecção zoonótica humana por poxvírus possuem em comum o

aparecimento de lesões cutâneas após um período de incubação variável, com

lesões que progridem de máculas para pápulas, podem desenvolver pústulas antes

de formar crostas e cicatrizar. Geralmente observam-se poucas lesões cutâneas,

usualmente associadas com febre, adenopatia e graus variáveis de prostração

(BAXBY e BENNETT, 1997).

2.5.1. Monkeypox

Monkeypox ou varíola dos macacos é causada pelo Monkeypox virus, uma

poxvirose caracterizada por lesões pústulo-vesiculares na pele e mucosa,

principalmente dos animais, podendo acometer os humanos, tendo como principais

reservatórios os esquilos e outros roedores. A monkeypox humana é uma zoonose

viral rara, endêmica na África Central e Ocidental, que recentemente emergiu nos

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Estados Unidos da América, caracterizando a primeira ocorrência da monkeypox

humana no hemisfério ocidental. (Di GIULIO e ECKBURG, 2004).

Após 1997, o monkeypox humano atraiu pouca atenção mundial. Entretanto

em maio de 2003, o CDC/Atlanta/EUA recebeu relatórios da região Central dos EUA,

sobre 81 casos de pacientes que desenvolveram febre e rash cutâneo após o

contato com cães da pradaria domesticados e outros mamíferos. Dos 81 casos, 32

foram confirmados laboratorialmente como Monkeypox humano, uma doença nunca

relatada previamente no hemisfério ocidental (Di GIULIO e ECKBURG, 2004).

As investigações identificaram uma remessa internacional de

aproximadamente 800 pequenos mamíferos, como esquilos (Funisciurus spp,

Heliosciurus spp), ratos gigantes da Gambia (Cricetomys spp), porcos-espinho

(Atherurus spp) e ratos (Graphiurus spp, Hybomys spp) de Ghana para o Texas,

como a fonte mais provável para a introdução de MPXV nos EUA, pois foram

encontrados 06 animais infectados por MPXV. (CDC, 2003)

2.5.2. Varíola Bovina A varíola bovina ou cowpox é causa pelo CPXV, que acometem os bovinos e

o homem, com característica zoonótica extremamente rara e restrita aos países da

Europa e Ásia. Embora originalmente descrita como infecção adquirida pelos

ordenhadores do gado bovino leiteiro, existem casos de infecção humana

resultantes do contato com roedores (WOLFS et al, 2002).

O período de incubação da varíola bovina no homem é de aproximadamente

07 (sete) dias. Inicialmente observa-se um abrupto aumento da temperatura, mal

estar generalizado, associado com cefaléia, adenopatia regional, mialgia e algumas

vezes náusea e vômito. As lesões cutâneas geralmente aparecem nas mãos e na

face, iniciando com pápulas vermelhas, frequentemente solitárias que se

transformam em pústulas com posterior formação de escaras enegrecidas, como

observadas nas lesões do Antraz. Ocasionalmente desenvolvem-se lesões oculares,

podendo causar cegueira, mas com baixa letalidade. (BAXBY et al, 1994).

A infecção pelo Cowpox virus confere uma imunidade contra a varíola

humana, fato explorado inicialmente por Edward Jenner em 1796 na Inglaterra,

quando vacinou com sucesso uma criança contra varíola humana, utilizando material

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da varíola bovina de um ordenhador. Contudo a imunidade decresce com o tempo, e

uma segunda infecção pelo Cowpox vírus pode ocorrer (JONES, 2004).

2.5.3. Buffalopox O Buffalopox ou varíola do búfalo é uma doença endêmica no rebanho

bufalino da Índia, ocasionada pelo BPXV, provavelmente uma subespécie do VACV.

A doença nos búfalos, e por vezes nos bovinos, é indistinguível clinicamente da

varíola bovina, podendo ser transmitida aos seres humanos, com aparecimento de

lesões localizadas, semelhantes ao cowpox, mas menos severa (KOLHAPURE et

al., 1997).

Recentes surtos sugerem a existência de infecção subclínica, em que

evidências sorológicas de anticorpos neutralizantes para BPXV têm sido

encontradas em crianças que nunca tiveram contato com animais infectados.

Algumas crianças têm desenvolvido lesões generalizadas quando em contato com

familiares com BPXV, sugerindo a transmissão pessoa a pessoa (KOLHAPURE et

al., 1997).

2.5.4. Cantagalo virus, Araçatuba virus e Passatempo virus Nos últimos cinco anos, inúmeros casos de doença pústulo-vesicular

ocorreram em diversas fazendas nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas

Gerais, acometendo o gado bovino leiteiro e pessoas, principalmente retireiros e

seus familiares, nos quais as características clínicas e o diagnóstico laboratorial

identificaram cepas de Vaccinia-like virus, da família Poxviridae como causador dos

surtos. Na ocasião DAMASO et al. (2000), isolaram e caracterizaram

molecularmente de lesões dos bovinos o Cantagalo virus (CTGV) na cidade de

Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro; TRINDADE et al. (2003), o Araçatuba virus

na cidade de Araçatuba no Estado de São Paulo; LEITE (2003), o Passatempo virus

em Passatempo no Estado de Minas Gerais e NAGASSE-SUGAHARA et al. (2004),

o Vaccinia-like virus como causador de surtos de poxvirose em humanos nos

Estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás.

Como descrito no item 2.2.3. a origem do Cantagalo virus, através de

métodos moleculares, foi traçada à cepa vacinal (VACV-IOC), produzida no Instituto

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Oswaldo Cruz-RJ e utilizada na campanha da Organização Mundial de Saúde

(OMS) para a erradicação da varíola no Brasil nos anos 60 e 70 (DAMASO et al.,

2000). Determinou-se que tanto o Araçatuba virus e o Passatempo virus seriam

novas cepa do VACV ou desdobramento do vírus Cantagalo (TRINDADE et al.,

2003, LEITE, 2003), reforçando a idéia de que o VACV pode realmente se

estabelecer na natureza, como observado com BPXV.

As lesões cutâneas em humanos causadas pelos Cantagalo virus,

Araçatuba virus, Passatempo virus e os outros Vaccinia-like virus são semelhantes

às causadas pelo CPXV. (TRINDADE et al., 2003, LEITE, 2003, NAGASSE-

SUGAHARA et al., 2004).

2.5.5. Dermatite pustular contagiosa, Nódulo dos Ordenhadores, Estomatite papular bovina A Dermatite pustular contagiosa é uma doença que acomete os ovinos e

caprinos e o Nódulo dos Ordenhadores e a Estomatite papular bovina acomete

principalmente os bovinos, mas o vírus pode ser transmitido ao homem através do

contato direto com os animais infectados. É considerada uma doença humana

ocupacional, onde a transmissão pessoa a pessoa ocorre raramente.

O período de incubação varia de 03 a 07 dias, com aparecimento de pápulas

eritrematosas que progridem para formação de escaras, que cicatrizam após 06 a 08

semanas. As características clínicas são similares, com aparecimento de lesões

solitárias e em poucos casos generalizadas, usualmente na mão ou braço,

facilmente reconhecidas em trabalhadores de áreas endêmicas. Contudo, lesões

atípicas podem ser confundidas com antraz, cowpox, lesões herpéticas, granuloma

piogênico e carcinoma de células escamosas. A cegueira tem sido relatada como

complicação da Dermatite pustular contagiosa. (BOWMAN et al,1981; HANSEN et

al, 1997; YIRREL e VESTEY, 1994)

2.5.6. Sealpox Sealpox ou varíola das focas é uma poxvirose que acomete principalmente

as focas, podendo ser transmitidas ao homem, causando lesões semelhantes as da

Dermatite Pustular Contagiosa. Os casos humanos descritos na literatura são de

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tratadores de focas agredidos por animais infectados como as focas do porto (Phoca

vitulina) e as focas acinzentadas (Halichoerus grypus). Recentemente um técnico em

animais marinhos da costa da Escócia apresentou o desenvolvimento de lesões

semelhantes a da dermatite pustular contagiosa, após a mordida de uma foca

acinzentada. O diagnóstico laboratorial pelo PCR confirmou a presença do Sealpox

virus como o agente causador do sealpox, descartando o Orf virus (JONES, 2004)

2.5.7. Tanapox Tanapox é uma infecção cutânea muito comum em regiões da África,

sobretudo no Quênia e no Zaire, causada pelo Tanapox virus, um vírus que foi

isolado pela primeira vez em 1962 no Quênia. É uma doença febril e está associada

com uma ou duas lesões muito semelhante a do monkeypox, o que a torna

importante no diagnóstico diferencial. Ocorre em todas as idades, principalmente

entre os tratadores de animais, mas acredita-se que a transmissão por artrópodes

contaminados seja possível. (JEZEK et al, 1985)

O tanapox começa com um período febril de 3 a 4 dias, podendo incluir

cefaléia intensa, prostração e adenopatia regional. Em geral, as lesões iniciam-se

como pápulas que evoluem para uma necrose central, sem a formação de pústula,

que cicatrizam em 4 a 7 semanas. Um recente caso foi relatado na Europa em um

turista que retornara de uma viagem à África. (STICH et al, 2002)

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28

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Distribuição das amostras Os espécimens clínicos foram coletados em 28 propriedades de gado de

leite, com notificação de casos de doença pústulo-vesicular em bovinos e/ou

pessoas, distribuídas em oito (8) municípios (Alegre, Atílio Vivacgua, Cachoeiro do

Itapemirim, Castelo, Itapemirim, Piúma, Presidente Kennedy e Rio Novo do Sul)

todos localizados no Sul do Estado do Espírito Santo, no período de agosto de 2002

a maio de 2005.

Os dados referentes às propriedades, aos animais e aos humanos foram

anotados em planilhas de dados (em anexo).

3.2. Coleta dos espécimens clínicos Todas as amostras foram identificadas quanto à procedência, data, origem

animal ou humana, tipo e local da lesão, idade, sexo, raça, sadio ou doente. Após a

identificação, as amostras foram transportadas refrigeradas ao Laboratório de

Sanidade Animal (LSA)/CCTA/UENF, e armazenadas a –20 oC.

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29

3.2.1. Crostas das lesões

As crostas das lesões de animais e ordenhadores foram coletadas com

auxílio de uma pinça e acondicionadas em recipientes estéreis para posterior

transporte. Foram coletadas um total de 50 amostras de crostas, sendo 3 de

ordenhadores e 47 de bovinos de leite.

3.2.2. Sangue

As amostras de sangue de bovinos e ordenhadores (adultos e jovens),

doentes e sadios, foram coletadas em tubos vacuette (Greiner Bio-one) com ativador

de coágulo e gel separador para posterior obtenção do soro no Laboratório de

Virologia Veterinária LSA/CCTA/UENF. Foram coletadas um total de 200 amostras

de sangue de bovinos (100 bovinos clinicamente doentes e 100 clinicamente sadios)

e 91 amostras de sangue humana, sendo 89 de ordenhadores (67 clinicamente

doentes e 22 clinicamente sadios) e 2 doentes não ordenhadores

3.3. Isolamento viral O isolamento viral, a partir das crostas, foi realizado no Laboratório de Vírus

do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da

Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte/MG.

3.3.1. Suspensão de crostas Cada amostra de crosta foi macerada em Solução Salina Tamponada (PBS)

0,01M pH 7.2 acrescido com gentamicina (100mg/L), anfotericina B (5mg/L) e

penicilina potássica ou sódica (400.000 U/L). A maceração ocorreu com auxílio de

um gral e areia fina lavada e autoclavada. A suspensão obtida foi coletada e

centrifugada a 2790 x g a 4 °C por 5 minutos em Microcentrífuga EPPENDORF, para

coleta do sobrenadante e armazenamento em freezer -70 °C.

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30

3.3.2. Multiplicação viral em membrana corialantóide de ovos embrionados Um volume de 100 µL do sobrenadante obtido do macerado de cada crosta,

com auxílio de uma seringa de 1 mL e agulha 13 x 0,4 mm, foi inoculado na

membrana corialantóide de ovos embrionados de galinha (MCA) com 10 dias de

vida. Para a inoculação em membrana corialantóide realizou-se o deslocamento da

câmara de ar dos ovos com auxílio do ovoscópio; os ovos encontravam-se

previamente limpos e desinfectados com tintura de iodo 2%. Os ovos foram

acondicionados em estufa umedecida a 37 °C durante 72 horas e transferidos para

câmara fria a 4 °C por 12 horas. As MCA`s foram retiradas assepticamente dos ovos,

coletando-se a região com presença de lesões do tipo “pocks”, e armazenadas a -70

°C.

3.3.3. Multiplicação viral em células Vero Cada amostra de MCA com lesão do tipo “pocks” foi macerada em Solução

Salina Tamponada (PBS) 0,01M pH 7.2 acrescido com gentamicina (100mg/L),

anfotericina B (5mg/L) e penicilina potássica ou sódica (400.000 U/L). A maceração

ocorreu com auxílio de um gral e areia fina autoclavada. A suspensão obtida foi

coletada e centrifugada a 2790 x g a 4 °C por 5 minutos em Microcentrífuga

EPPENDORF para obter a suspensão viral.

Células Vero cultivadas em monocamada nas garrafas de cultivo celular de

50 mL (75 cm2)foram infectadas com 100 µL da suspensão viral diluída em 1 mL de

meio Auto-pow (MEM – Meio mínimo de Eagle autoclavável da GibcoBRL), acrescido

de gentamicina (50mg/L), anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica ou sódica

(200.000 U/L). Após o período de 1 hora de adsorção em estufa a 37 °C,

acrescentou-se 4 mL de meio Auto-pow (MEM – Meio mínimo de Eagle autoclavável

da GibcoBRL), suplementado com 1% de soro fetal bovino (SFB) e com antibióticos

gentamicina (50mg/L), anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica ou sódica

(200.000 U/L). A garrafa foi mantida em estufa 37 °C até o aparecimento de efeito

citopático (ECP) em forma de placa de lise.

Após o aparecimento do ECP, o meio foi descartado da garrafa e as células

desprendidas com auxilio de um raspador. As células desprendidas foram diluídas

em Solução Salina Tamponada (PBS) 0,01M pH 7.2 e centrifugadas a 251 x g a 4 °C

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por 5 minutos em Microcentrífuga EPPENDORF. O sobrenadante foi desprezado e o

sedimento (extrato celular) foi armazenado a -70 °C.

3.4. Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) para Orthopoxvirus

A técnica de PCR para Orthopoxvirus, a partir do DNA viral extraído do

extrato celular, foi realizada no Laboratório de Vírus do Departamento de

Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas

Gerais, em Belo Horizonte/MG.

3.4.1. Extração de DNA viral

As extrações de DNA viral foram realizadas através da técnica do

Fenol/Clorofórmio a partir dos extratos celulares (item 3.3.3) como descrito por

FONSECA (1998).

3.4.2. Amplificação dos genes ATI e TK As regiões codificadoras do gene ATI e TK foram amplificadas por meio da

reação de polimerase em cadeia (PCR), utilizando uma mistura padrão, contendo

30ng de DNA viral extraído, 20 pmoles de iniciadores específicos, 20 mM de

nucleotídeos (dATP, dCTP, dGTP, dTTP), 10 µL de tampão Taq polimerase 10X, 1,5

mM de MgCl2, 2,5 U de Taq polimerase (Promega, USA) e H2O Mili Q estéril, em um

total de 20 µL de reação. As amostras foram cobertas com óleo mineral estéril e o

processamento foi realizado em aparelho Perkin Elmer Cetus (Perkin, USA) modelo

N 801-150 conforme descrito por LEITE (2003).

Os oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a reação de PCR do

gene ATI foram desenhados por MEYER et al (1997), a partir da região codificadora

do gene ATI do Cowpox vírus:

• ATI up: 5’ AATACAAGGAGGATCT 3’

• ATI low: 5’ CTTAACTTTTTCTTTCT 3’

As reações de PCR do gene ATI foram programadas com base na

metodologia descrita por MEYER et al (1997):

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• 01 ciclo de 94 °C por 5 minutos, 43 °C por 1 minuto e 72 °C por 2 minutos;

• 30 ciclos de 94 °C por 1 minuto, 43 °C por 1 minuto e 72 °C por 2 minutos;

• 01 ciclo de 94 °C por 1 minuto, 43 °C por 1 minuto e 72 °C por 15 minutos.

Os oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a reação de PCR para

o gene TK foram desenhados por FONSECA et al (1998):

• TK up: 5’ GCGAGGATCCAACGGCGGACATATTCAG 3’

• TK low: 5’ GCAGAAGCTTTGAGTCGATGTAACAC 3’

As reações de PCR do gene TK foram programadas com base na

metodologia descrita por MARQUES et al (2001):

• 01 ciclo de 95 °C por 5 minutos, 45 °C por 1 minuto e 72 °C por 2 minutos;

• 30 ciclos de 95 °C por 1 minuto, 45 °C por 1 minuto e 72 °C por 2 minutos;

• 01 ciclo de 94 °C por 1 minuto, 45 °C por 1 minuto e 72 °C por 15 minutos.

Os fragmentos amplificados foram fracionados eletroforeticamente em gel de

agarose 1%, acrescido de 0,5 µg/mL de brometo de etídio, sob voltagem de 110 V.

Os fragmentos foram analisados e fotografados.

3.5. Soroneutralização para Orthopoxvirus

A neutralização utilizando os soros inativados a 56 °C por 1 hora dos

bovinos, ordenhadores e não ordenhadores clinicamente doentes e sadios foi

realizada em placas de 6 poços, sendo que para cada soro utilizou-se um poço com

500.000 células VERO implantadas. O vírus utilizado foi o Vaccinia virus WR, diluído

a 10-6 em meio Auto-pow (MEM – Meio mínimo de Eagle autoclavável da GibcoBRL),

acrescido de gentamicina (50mg/L), anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica

ou sódica (200.000 U/L). Os soros foram diluídos em meio Auto-pow, acrescido de

gentamicina (50mg/L), anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica ou sódica

(200.000 U/L), nas diluições de 1:20, 1:40, 1:80, 1:160, 1:320, 1:640.

Para cada diluição de soro utilizou-se 300 µL do soro e 300 µL do vírus

diluído a 10-6, preparando um mistura de 600 µl que foi mantida sob agitação a 37 °C

por 1 hora, para posterior inoculação em células.

As placas contendo células inoculadas, foram incubadas a 37 °C por 01 hora

para a adsorção viral, em seguida acrescentou-se meio Auto-pow (MEM – Meio

mínimo de Eagle autoclavável da GibcoBRL), suplementado com 1% SFB e

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acrescido de gentamicina (50mg/L), anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica

ou sódica (200.000 U/L), retornando a estufa a 37 °C até o aparecimento de ECP.

Após o aparecimento de ECP as placas foram retiradas da estufa, o meio foi

desprezado e as células foram fixadas em solução de formol 10% por 30 min e

corados com solução de cristal violeta por 15 min.

O titulo de cada soro foi obtido a partir da maior diluição onde houve redução

de 50% do número de placas de lise com relação as placas produzidas no controle

de vírus. O controle de vírus consistiu na utilização de uma placa inoculada com 300

µL do vírus diluído a 10-6 e 300 µL de meio Auto-pow (MEM – Meio mínimo de Eagle

autoclavável da GibcoBRL) com 1% de SFB e acrescido de gentamicina (50mg/L),

anfotericina B (2,5mg/L) e penicilina potássica ou sódica (200.000 U/L).

3.6. Divulgação e controle do surto

Estabeleceu-se uma parceria técnica entre a Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES),

Instituto de Defesa Agropecuário e Florestal do ES (IDAF-ES) e Secretaria de Estado

da Saúde, possibilitando, desta forma, a distribuição das informações sobre o surto e

a identificação dos casos, envolvendo os produtores, a comunidade rural, os Postos

de Saúde e os órgãos de Defesa Sanitária e Sanidade Animal do Estado do Espírito

Santo.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos a partir do estudo do surto de poxvirose bovina e

humana no Estado do Espírito Santo estão sendo apresentados e discutidos em

tópicos.

4.1. Distribuição geográfica dos casos de poxvirose bovina e humana

Os casos de poxvirose bovina e humanas notificados e estudados no Estado

do Espírito Santo ocorreram no período de agosto de 2002 a maio de 2005 em 28

propriedades de gado de leite de oito municípios (Alegre, Atílio Vivacqua, Cachoeiro

do Itapemirim, Castelo, Itapemirim, Piúma, Presidente Kennedy e Rio Novo do Sul),

localizados no Sul do Estado, como mostra a Tabela 9 e a Figura 4.

Todos os oito (8) municípios encontram-se localizados na região Sul do

Estado, próximos aos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde foram

notificados surtos de poxviroses bovina e humana, como descrito por DAMASO et al

(2000) e LOBATO et al (2004). Essa proximidade favorece o acometimento, nos

outros 29 municípios do Sul do Espírito Santo, principalmente os 17 municípios que

se encontram sob risco iminente da doença, por terem divisas com os municípios já

acometidos, uma vez que a principal forma de disseminação da doença baseia-se na

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comercialização informal de bovinos sem o acompanhamento dos órgãos

fiscalizadores, como o IDAF-ES, prática essa comum entre as propriedades

visitadas. Além disso, a utilização da mesma mão-de-obra (ordenhador) entre

propriedades vizinhas, certamente contribuiu na disseminação da doença, tornado-

se necessário à aplicação imediata de ações de controle e profilaxia da doença,

restringindo-se ao máximo a sua disseminação.

Figura 4. Distribuição geográfica dos casos de poxvirose bovina e humana nos municípios do Estado do Espírito Santo, no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

BA

Casos de Poxvirose Bovina e Humana

Municípios

A. Alegre B. Atílio Vivacqua C. Cachoeiro de Itapemirim D. Castelo E. Itapemirim F. Piúma G. Presidente Kennedy H. Rio Novo do Sul

MG

RJ

Oceano Atlântico

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Tabela 9. Localização geográfica dos municípios do Estado do Espírito Santo com casos de poxvirose bovina e humana, no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Coordenadas

Município Latitude Longitude

Altura

Alegre -20:45:49 Sul -41:31:59 Oeste 254

Atílio Vivacqua -20:54:51 Sul -41:11:54 Oeste 85

Cachoeiro de Itapemirim -20:50:56 Sul -41:06:46 Oeste 36

Castelo -20:36:13 Sul -41:11:05 Oeste 100

Itapemirim -21:00:40 Sul -40:50:02 Oeste 20

Piúma -20:50:16 Sul -40:43:19 Oeste 2

Presidente Kennedy -21:05:56 Sul -41:02:48 Oeste 55

Rio Novo do Sul -20:51:45 Sul -41:56:11 Oeste 70

Fonte: IBGE Ao comparamos a Tabela 10 com os dados do IBGE (2000) sobre produção

de leite nos municípios e no Estado do ES, observamos que umas das principais

regiões produtoras de leite do Espírito Santo, responsável por mais de 42% da

produção de leite do Estado, já se encontra acometida pela doença, principalmente

os municípios de Alegre, Cachoeiro de Itapemirim e Presidente Kennedy, que foram

os mais acometidos, e que juntos representam mais de 33% da produção de leite do

Sul do Espírito Santo.

4.2. Características epidemiológicas da poxvirose bovina

Observa-se, na Tabela 10, que 28 propriedades de 08 dos 78 municípios

localizados no Estado do Espírito Santo foram acometidas com a poxvirose bovina,

onde as porcentagens da incidência clínica da poxvirose no gado leiteiro, variaram

entre 10,2 e 100% com média de 52,7%, demonstrando a alta morbidade do vírus e

o caráter epidêmico da doença, mesmo em propriedades com diferentes sistemas de

manejos, como na fazenda G04, possuidora de um grande rebanho leiteiro.

Os municípios mais acometidos foram Alegre, Cachoeiro de Itapemirim e

Presidente Kennedy, possuindo 78,6% (n=22) das 28 propriedades acometidas no

Estado do Espírito Santo.

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Tabela 10. Incidência clínica da poxvirose no gado leiteiro em propriedades localizadas no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Município Propriedade Leiteira

N° Bovino de leite

N° bovinos clinicamente doentes

*Incidência Clínica - %

A01 58 44 75,9 A02 40 35 87,5 A03 45 35 77,8 A04 30 28 93,3 A05 13 12 92,3 A06 34 23 67,6 A07 12 12 100 A08 50 30 60 A09 60 50 83,3 A10 40 30 75

Alegre

A11 25 10 40 Atílio

Vivacqua

B01

08

04

50

C01

212

80

37,7

C02 70 35 50 C03 60 20 33,3 C04 30 27 90 C05 40 36 90 C06 26 03 11,5

Cachoeiro de Itapemirim

C07 60 10 16,6

Castelo

D01

30

30

100

Itapemirim

E01

32

28

87,5

Piúma

F01

30

06

20

G01

48

30

62,5

G02 80 40 50 G03 256 103 40,2

Presidente Kennedy

G04 170 80 47

H01

49

05

10,2

Rio Novo do

Sul H02 12 08 66,7

Total

28

1620

854

52,7 * Os cálculos das incidências foram realizadas no momento da visita em cada propriedade. An°:Propriedades localizadas em Alegre; Bn°:Propriedade localizada em Atílio Vivacqua, Cn°:Propriedades localizadas em Cachoeiro de Itapemirim, Dn°:Propriedade localizada em Castelo, En°:Propriedade localizada em Itapemirim, Fn°:Propriedade localizada em Piúma, Gn°:Propriedades localizadas em Presidente Kennedy, Hn°:Propriedades localizadas em Rio Novo do Sul.

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Tabela 11. Incidência clínica x sistema de higienização e antissepsia das tetas e das mãos dos ordenhadores nas propriedades com poxvirose no gado leiteiro no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005. Propriedade *Sistema de Higienização

e Antissepsia das tetas *Sistema de Higienização e Antissepsia das mãos

dos ordenhadores

Incidência Clínica - %

A01 não não 75,9 A02 não não 87,5 A03 não sim 77,8 A04 não não 93,3 A05 não não 92,3 A06 não não 67,6 A07 não não 100 A08 não não 60 A09 não não 83,3 A10 não não 75 A11 sim sim 40 B01 não não 50 C01 sim sim 37,7 C02 sim sim 50 C03 sim sim 33,3 C04 não não 90 C05 não não 90 C06 sim sim 11,5 C07 sim sim 16,6 D01 não não 100 E01 não não 87,5 F01 não não 20 G01 não não 62,5 G02 não não 50 G03 não sim 40,2 G04 não não 47 H01 sim sim 10,2 H02 não não 66,7

* Informações obtidas a partir dos responsáveis pelas propriedades. An°:Propriedades localizadas em Alegre; Bn°:Propriedade localizada em Atílio Vivacqua, Cn°:Propriedades localizadas em Cachoeiro de Itapemirim, Dn°:Propriedade localizada em Castelo, En°:Propriedade localizada em Itapemirim, Fn°:Propriedade localizada em Piúma, Gn°:Propriedades localizadas em Presidente Kennedy, Hn°:Propriedades localizadas em Rio Novo do Sul.

Essa variação dos valores de incidência clínica observada em nosso estudo

entre as propriedades, pode estar diretamente relacionada às medidas de higiene

durante a ordenha. As propriedades que possuíam um sistema de higienização,

antissepsia das tetas e das mãos dos ordenhadores, antes e após a ordenha, como

na fazenda H01, tiveram uma das menores taxas de incidência, como mostrado na

Tabela 11. Esses dados corroboram com a descrição de WELBLEN (2002), sobre a

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transmissão das poxviroses bovinas, ocorrer principalmente por contato direto com

as mãos do ordenhador e os equipamentos de ordenha.

Tabela 12. Distribuição mensal do início da poxvirose no gado leiteiro nas propriedades no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Município Propriedade Mês Ano A01 maio 2003 A02 abril 2003 A03 maio 2003 A04 maio 2003 A05 maio 2003 A06 maio 2003 A07 maio 2003 A08 setembro 2002 A09 setembro 2002 A10 dezembro 2002

Alegre

A11 janeiro 2003 Atílio Vivacqua B01 maio 2005

C01 agosto 2002 C02 agosto 2002 C03 agosto 2002 C04 setembro 2002 C05 agosto 2002 C06 outubro 2002

Cachoeiro de Itapemirim

C07 setembro 2002 Castelo D01 outubro 2003

Itapemirim E01 setembro 2002 Piúma F01 outubro 2002

G01 agosto 2002 G02 setembro 2002 G03 agosto 2002

Presidente Kennedy

G04 agosto 2002 H01 setembro 2002

Rio Novo do Sul H02 outubro 2002 An°:Propriedades localizadas em Alegre; Bn°:Propriedade localizada em Atílio Vivacqua, Cn°:Propriedades localizadas em Cachoeiro de Itapemirim, Dn°:Propriedade localizada em Castelo, En°:Propriedade localizada em Itapemirim, Fn°:Propriedade localizada em Piúma, Gn°:Propriedades localizadas em Presidente Kennedy, Hn°:Propriedades localizadas em Rio Novo do Sul.

Ao analisarmos a Tabela 12, detectamos que as primeiras propriedades

acometidas pela poxvirose foram as localizadas em Presidente Kennedy e

Cachoeiro de Itapemirim, e que a maioria dos casos de poxvirose bovina no gado

leiteiro no Sul do Espírito Santo teve início entre os meses de maio e setembro,

sugerindo um caráter sazonal da doença, principalmente no período seco no Estado.

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40

A rápida disseminação da doença dentro da propriedade e para outras

propriedades, os altos valores de incidência clínica e o possível caráter sazonal da

doença no gado leiteiro do Espírito Santo, estão de acordo com o que fora relatado

por LOBATO et al (2004), no gado leiteiro de Minas Gerais.

4.3. Quadro clínico da poxvirose no gado leiteiro.

O quadro clínico da poxvirose no gado leiteiro do Sul do Espírito Santo

consistiu-se basicamente de lesões pústulo-vesiculares cutâneas dolorosas,

geralmente múltiplas, localizadas principalmente nas tetas, com 94,85% dos animais

apresentando lesões restritas nas tetas, como mostra a Tabela 13.

Tabela 13. Distribuição dos casos de poxviroses segundo localização das lesões no gado leiteiro nas propriedades localizadas no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Localização da lesão N° de bovinos % Teta 810 94,85

Úbere e Teta 43 5,03 Face 01 0,12 Total 854 100

Na fase inicial do desenvolvimento da doença, observou-se uma febre

prodrômica irregular e uma dor à pressão da teta e úbere, as vesículas eram

facilmente observadas, mas logo se rompiam, provavelmente pela ação mecânica da

ordenha, formando uma ulceração que progredia para crosta, que cicatrizava em

média de 20 dias após os primeiros sinais.

As Figuras 5.A., 5.B., 5.C, 5.D. e 5.E., demonstram as etapas de

desenvolvimento das lesões da poxvirose bovina, em que as lesões progrediam de

pápula para pústula-vesicular, e rapidamente se transformavam em ulceração de

borda irregular, com contornos eritemato-edematoso, formando crostas antes de

cicatrizar. O quadro clínico da poxvirose bovina do gado leiteiro no Espírito Santo é

compatível com outras poxviroses bovinas, como descrito por TIMMS et al. (1998) e

MURPHY et al. (1999), mas com rápida disseminação.

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41

For Figura 5. Lesões pústulo-vesiculares ulcerativaspoxvirose no Sul do Espírito Santo. 5.A. Formavesícula; 5.C. Múltiplas úlceras irregulares nas teLesão em processo de cicatrização.

Figura 5.C. ltiplas Úlceras

Figura 5.A. Pápula

FiguraCic

nas tetas do gadção de pápula; 5.B.tas; 5.D. Formação d

Figura 5.B. Vesícula

5.E. Lesão atrizando

Figura 5.D.

mação de crosta

o leiteiro com Formação de e crosta; 5.E.

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42

Tabela 14. Produção de leite x Incidência clínica da poxvirose no gado leiteiro em propriedades localizadas no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Município Propriedade Leiteira

Incidência Clínica %

* Queda na Produção de Leite - %

A01

75,9

50

A02 87,5 40 A03 77,8 40 A04 93,3 50 A05 92,3 50 A06 67,6 30 A07 100 60 A08 60 50 A09 83,3 50 A10 75 30

Alegre

A11 40 30 Atílio

Vivacqua

B01

50

40

C01

37,7

20

C02 50 30 C03 33,3 20 C04 90 60 C05 90 60 C06 11,5 5

Cachoeiro de

Itapemirim

C07 16,6 20

Castelo

D01

100

60

Itapemirim

E01

87,5

60

Piúma

F01

20

10

G01

62,5

30

G02 50 30 G03 40,2 30

Presidente Kennedy

G04 47 30

H01

10,2

5

Rio Novo do

Sul H02 66,7 30

Total 28 52,7 36,4 *: A porcentagem de queda na produção de leite foi obtida a partir das informações dos responsáveis pelas propriedades. An°:Propriedades localizadas em Alegre; Bn°:Propriedade localizada em Atílio Vivacqua, Cn°:Propriedades localizadas em Cachoeiro de Itapemirim, Dn°:Propriedade localizada em Castelo, En°:Propriedade localizada em Itapemirim, Fn°:Propriedade localizada em Piúma, Gn°:Propriedades localizadas em Presidente Kennedy, Hn°:Propriedades localizadas em Rio Novo do Sul.

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43

Os dados apresentados na Tabela 14, baseiam-se nas informações da

queda da produção leiteira fornecidas pelos responsáveis pelas propriedades, os

quais mostram a queda na produção de leite das propriedades leiteiras acometidas

com a poxvirose bovina, gerando grandes perdas econômicas, uma vez que as

mesmas vivem da produção e comercialização do leite. Além da perda econômica

com a queda na produção de leite, as propriedades tiveram prejuízos econômicos

com gastos com medicamentos, honorários de médicos veterinários e dificuldade na

contratação de ordenhadores, pois os mesmos estavam receosos com a doença ou

já estavam acometidos pela mesma.

Tabela 15. Distribuição dos casos de poxviroses do gado leiteiro, segundo idade e raça, em propriedades localizadas no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Faixa Etária em anos 02-04 05-07 08-10 11-14 Total

Raça n° % n° % n° % n° % n° %

Mestiça 139 100 343 94,23 215 83,98 59 62,10 756 88,52 Holandesa - - 10 2,75 24 9,38 22 23,16 56 6,56

Girolanda - - 05 1,37 17 6,64 10 10,53 32 3,75

Parda Suíça - - 06 1,65 - - - - 06 0,70

Patuá - - - - - 04 4,21 04 0,47

Total 139 16,28 364 42,62 256 29,98 95 11,12 854 100

Considerando os dados da Tabela 15, 42,62% dos animais acometidos

estavam dentro da faixa etária de 05 a 07 anos de idade, e 88,52% dos animais

eram animais mestiços, mas com acometimentos nas várias faixas etárias e raças

de bovino de leite. Esses dados estão de acordo com o padrão zootécnico do gado

leiteiro do Sul do Espírito Santo, que segundo o IBGE (2000) e o IDAF-ES (Instituto

Estadual de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo) a faixa etária

predominante é a de 05 a 10 anos, predominando animais mestiços e da raça

holandesa. Com isso não podemos afirmar que exista diferenças de acometimento

da doença entre as raças leiteiras e as faixas etárias acometidas, e sim com relação

ao seu tipo de exploração, em que todos os animais eram bovinos leiteiros,

destinados à produção de leite.

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44

4.4. Características epidemiológicas da poxvirose humana Foram notificados e estudados 69 casos de poxvirose humana no Estado do

Espírito Santo, onde todos ocorreram no mesmo período e nas mesmas

propriedades dos casos de poxvirose bovina, como descritas no item 4.2. Dos 69

casos, 97,1% (67 indivíduos) exerciam trabalho pecuário e rural, com a função

principal de ordenhador do gado bovino leiteiro, como mostrado na Tabela 16.

Os outros dois casos foram de familiares dos ordenhadores. No primeiro

caso, a de uma senhora de 34 anos, do lar e esposa de ordenhador. Relatou que

não teve contato com os animais doentes e que contraiu a doença durante a

lavagem das roupas do marido que estava clinicamente doente. No segundo caso,

uma menina de 05 anos, filha de ordenhador doente, contraiu a doença ao perfurar a

mão com a agulha utilizada pelo pai para romper a vesícula da sua mão, segundo

relato dos pais.

Esses dados demonstram que essa poxvirose é uma doença ocupacional

com caráter zoonótico, como em outras infecções zoonóticas humanas por poxvírus

descritas por JONES (2004).

Tabela 16. Distribuição dos casos de poxvirose humana, segundo ocupação, nas propriedades leiteiras localizadas no Sul do Estado do Espírito Santo, visitadas no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Principal Ocupação N° %

Ordenhador do gado bovino leiteiro 67 97,10

Do lar e esposa de ordenhador 01 1,45

Filha de ordenhador 01 1,45

Total 69 100

Quando se observa a Tabela 17, verifica-se que os valores de incidência

clínica da poxvirose entre os ordenhadores variaram de 0 a 100% com média de

75,28%, valores que demonstram a alta morbidade do vírus e o caráter epidêmico da

doença entre ordenhadores, com valores maiores que nos bovinos, justificado pelo

caráter ocupacional da doença, levando o homem a um contato maior e em mais

vezes com os animais doentes, aumentando as possibilidades de transmissão.

Observa-se também que somente as propriedades A03 e G03, das 28 propriedades

com casos de poxvirose bovina, não apresentaram casos humanos, isso pode ser

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45

explicado em parte pelo uso de luvas pelos ordenhadores no momento da ordenha

dos animais doentes, e pela sistematização de antissepsia e assepsia durante e

após a ordenha, como demonstrado na Tabela 11. Tabela 17. Incidência clínica da poxvirose nos ordenhadores de gado leiteiro no Sul do Estado do Espírito Santo, no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Município Propriedade Leiteira

N° ordenhadores

N° ordenhadores clinicamente doentes

Incidência Clínica - %

A01

03

03

100

A02 04 02 50 A03 03 0 0 A04 02 02 100 A05 02 02 100 A06 01 01 100 A07 04 04 100 A08 06 03 50 A09 03 03 100 A10 01 01 100

Alegre

A11 02 01 50 Atílio

Vivacqua

B01

03

03

100

C01

04

04

100

C02 05 04 80 C03 04 02 50 C04 04 04 100 C05 03 01 33,3 C06 02 02 100

Cachoeiro de Itapemirim

C07 05 05 100

Castelo

D01

04

04

100

Itapemirim

E01

02

02

100

Piúma

F01

06

04

66,6

G01

02

02

100

G02 02 01 100 G03 02 0 0

Presidente Kennedy

G04 02 02 100

H01

04

01

25

Rio Novo do

Sul H02 04 04 100

Total

28

89

67

75,28 * Os cálculos das incidências foram realizadas no momento da visita em cada propriedade. An°:Propriedades localizadas em Alegre; Bn°:Propriedade localizada em Atílio Vivacqua, Cn°:Propriedades localizadas em Cachoeiro de Itapemirim, Dn°:Propriedade localizada em Castelo, En°:Propriedade localizada em Itapemirim, Fn°:Propriedade localizada em Piúma, Gn°:Propriedades localizadas em Presidente Kennedy, Hn°:Propriedades localizadas em Rio Novo do Sul.

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46

4.5. Quadro clínico da poxvirose em humanos

Lesões na pele, febre (igual ou superior 39°C), linfoadenomegalia

regionalizado e mialgia foram os sinais e sintomas apresentados em 100% dos

doentes. Com relação às lesões na pele, 100% dos indivíduos referiram ter tido

vesículas com posterior formação de crostas.

Segundo relato dos doentes, a fase inicial do desenvolvimento da doença

apresentava-se uma febre prodrômica irregular igual ou superior 39°C, que durava

de 03 a 07 dias, com mialgia, fraqueza muscular e linfoadenomegalia regional. As

lesões iniciavam-se com prurido, dor e formações pústulo-vesiculares principalmente

nas mãos, como demonstra a Tabela 18 e as Figuras 6.A., 6.B., 6.C., 6.D., 6.E., 6.F.

Formavam crostas e cicatrizavam 15 a 30 dias após o seu aparecimento. Alguns

casos necessitaram de hospitalização, mas todos evoluíram para cura, em torno de

20 a 30 dias.

O quadro clínico dessa poxvirose é compatível com o quadro clínico do

Cowpox virus em humanos, descrito por BAXBY et al (1994), mas com maior

virulência, como os ocasionados por Vaccinia-like virus, em surtos de poxviroses,

descritos por (DAMASO et al., 2000, TRINDADE et al., 2003, LEITE, 2003 e

NAGASSE-SUGAHARA et al., 2004).

Tabela 18. Distribuição dos casos de poxviroses, segundo localização das lesões nos ordenhadores do Sul do Estado do Espírito Santo, no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Localização da lesão N° de ordenhadores % Mão 57 85,01

Mão e Braço 06 8,95 Mão e Perna 02 3,02 Mão e Boca 01 1,51

Mão e Escroto 01 1,51 Total 67 100

Na Tabela 18 verifica-se, que 100% apresentaram lesões nas mãos. Dentre

esses, 85,01% apresentaram lesões somente na mão. O restante apresentava além

das lesões nas mãos, lesões no braço, na perna, boca e escroto; indicando a mão

como local inicial e disseminador do vírus para as outras partes do corpo.

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47

L

L

L L

L

Figura 6. Lesões pústulo-vesiculares ulcerativas nas mãpoxvirose no Sul do Espírito Santo. 6.A. Lesão com 10 diavesícula; 6.C. Lesão com 20 dias; 6.D. Lesão com 20 dias6.F. Lesão com 20 dias

Figura 6.B. esão 15 dias

Figura 6.A. esão 10 dias

Figura 6.C. esão 20 dias

L

Figura 6.E.

esões 20 dias

Figura 6.D. esão 20 dias

os;

Figura 5.F. esão 20 dias

s de ordenhadores com ; 6.B. Lesão com 15 dias 6.E. Lesões com 20 dias;

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48

Comparando as Tabelas 13 e 18, pode-se observar que a região mais

acometida dos animais é a teta e dos ordenhadores as mãos, evidenciando que

essa seria a principal forma de disseminação do bovino ao homem e do homem aos

animais, uma vez que o ordenhador trabalha em contato direto com a teta. Esses

dados corroboram com os dados de TIMMS et al. (1998) e WELBLEN (2002), para

as outras poxviroses bovinas do gado leiteiro e zoonoticas para homem.

Tabela 19. Distribuição dos casos de poxviroses, segundo idade e sexo dos ordenhadores do Sul do Estado do Espírito Santo, no período agosto de 2002 a maio de 2005. Sexo Masculino Feminino Total Faixa etária n° % n° % n° % % acumulada

10 - 14

07

10,94

00

-

7

10,45

10,45

15 - 19 07 10,94 01 33,33 8 11,94 22,39 20 - 24 09 14,06 01 33,33 10 14,92 37,31 25 - 29 12 18,75 00 - 12 17,91 55,22 30 - 34 06 9,38 00 - 6 8,96 64,18 35 - 39 13 20,32 01 33,33 14 20,89 85,07 40 - 44 05 7,81 00 - 5 7,46 92,53 45 - 49 01 1,56 00 - 1 1,49 94,02 50 - 54 01 1,56 00 - 1 1,49 95,51 55 - 59 01 1,56 00 - 1 1,49 97 60 - 64

02 3,12 00 - 2 3,00 100

Total 64 95,52 03 4,48 67 100 100 Quando se observa a Tabela 19, verifica-se que os casos ocorreram em

indivíduos de 10 a 64 anos, sendo que 92,53% concentraram-se em indivíduos com

menos de 44 anos, principalmente na faixa etária de 35 a 39 anos correspondente a

20,89% dos casos. Quanto ao sexo, 95,52% se deram em indivíduos do sexo

masculino. Esses dados refletem e estão de acordo com o perfil do trabalhador

pecuarista do Espírito Santo, que em sua maioria são homens na faixa etária de 25

a 39 anos, segundo censo demográfico do IBGE em 2000.

4.6. Isolamento viral em MCA e células Vero Coletou-se um total de 50 amostras de crostas, nos diferentes municípios

acometidos, sendo 03 de ordenhadores e 47 de bovinos de leite. Todas as 50

amostras foram maceradas e inoculadas na membrana corialantóide de ovos

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49

embrionados de galinha (MCA) com 10 dias de vida (MCA`s), onde, após 72 horas,

todas as MCA`s apresentaram lesões brancas e opacas, não hemorrágicas,

característica de infecção por Orthopoxvirus, como descrito por FENNER et al,

(1989) e observados por TRINDADE et al, (2003) e FERNANDES (2003), conforme

ilustrado na Figura 7. A visualização deste efeito característico não só nos permitiu a

confirmação da presença de um agente viral no material obtido, como também a

identificação inicial deste agente como um membro do gênero Orthopoxvirus, como

responsável do surto de poxvirose bovina e humana no Sul do Estado do Espírito.

Figura 7. Membranas Corioalantódes de embriões de galinha (MCA) com múltiplas lesões brancas e opacas, não hemorrágicas, com 72h de incubação após inoculação com macerados de crostas dos bovinos e humanos com poxvirose.

As 50 suspensões virais obtidas em MCA foram utilizadas para infecção em

células Vero em monocamada, sendo que 15 amostras dos diferentes municípios

(03 humanas e 12 do gado leiteiro) demonstraram ECP característico de vírus da

Família Poxviridae.

4.7. Amplificação por PCR dos genes ATI e TK

Realizou-se a extração de DNA viral das 15 amostras que demonstraram

ECP na monocamada das células Vero, para realização da técnica de PCR dos

genes ATI e TK. Todas as amostras foram amplificadas para ambos os genes, como

mostra a Tabela 20 e visualizado com o gene TK na Figura 08. Esses resultados

confirmando que o agente etiológico da poxvirose bovina e humana do Sul do

Estado do Espírito Santo é do gênero Orthopoxvirus, provavelmente um Vaccinia-

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50

like virus, como o vírus Cantagalo (CTGV) isolado por DAMASO et al.(2000), das

lesões de bovinos na cidade de Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro, o vírus

Araçatuba isolado por TRINDADE et al. (2003), na cidade de Araçatuba no Estado

de São Paulo, o vírus Passatempo por LEITE (2003), em Passatempo no Estado de

Minas Gerais e o Vaccinia-like virus em humanos em Minas Gerais, São Paulo e

Goiás por NAGASSE-SUGAHARA et al. (2004).

Tabela 20. Dados sobre a caracterização molecular das amostras virais isoladas a partir do surto de poxvirose bovina e humana no Sul do Espírito Santo

Amplificação por PCR *Amostra Gene TK Gene ATI

Humana 01 + + Humana 02 + + Humana 03 + + Bovina 01 + + Bovina 02 + + Bovina 03 + + Bovina 04 + + Bovina 05 + + Bovina 06 + + Bovina 07 + + Bovina 08 + + Bovina 09 + + Bovina 10 + + Bovina 11 + + Bovina 12 + +

* amostras de DNA viral extraídos dos extratos celulares infectados

Essa confirmação de mais um Estado do Brasil, esta sendo acometido por

surto de Orthopoxvirus, com disseminação entre animais e humanos, sustenta a

necessidade de mais pesquisas sobre o assunto, principalmente na identificação de

possíveis reservatórios animais e da Filogenética desses vírus.

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51

1 9 1 2 3 4 5 6 7

500 pb

Figura 8. AmpliDNA viral extrafracionados eleetídeo.

M: Marcador d(1): Controle n(2): Extrato cel(3): Extrato cel(4): Extrato cel(5): Extrato cel(6): Extrato cel(7): Extrato cel(8): Extrato cel(9): Extrato cel(10): Extrato ce(11): Extrato ce(12): Extrato ce(13): Extrato ce(14): Extrato ce(15): Extrato ce(16): Extrato ce(17): Extrato ce 4.8. Soroneutra Os resu

anticorpos neu

humanos, estão

Na Tab

testados não a

gênero Orthopo

M

ficaídotro

e pegaulaulaulaulaulaulaulaulalulululululululu

liz

lta

tral

ap

ela

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xvi

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esotivr inr inr inr inr inr inr inr in

lar lar lar lar lar lar lar lar

dos

iza

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21

se

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2

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mo;fefefefefefefefe

infinfinfinfinfinfinfinf

ão

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3

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ol ctactactactactactactactaectectectectectectectect

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10

nto de DNAs infectadoe agarose

tas:

ra VV WR; a humanaa humanaa humanaa bovina; a bovina; a bovina; a bovina; tra bovina;tra bovina;tra bovina;tra bovina;tra bovina;tra bovina;tra bovina;tra bovina;

s

utralização

virus, no s

19 e 20. nte 5% dos

icorpos ne

1

1 1 1

do genes. Os pr1% cora

; ; ;

, para d

angue d

animais

utralizant

1

1 1

530 pb

TK das amostras de odutos obtidos foram do com brometo de

etectar a presença de

e 200 bovinos e 91

clinicamente doentes

es contra o vírus do

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52

Esse resultado, provavelmente ocorreu, devido a coleta do sangue ter sido

realizada no inicio da infecção. Observa-se que 50% dos animais clinicamente

sadios no momento da coleta e sem historia de sintomatologia clínica, apresentaram

títulos de anticorpos neutralizantes, demonstrando a alta ocorrência de animais

assintomáticos. Isso certamente, diminuirá os efeitos esperados das ações de

medidas de controle, tornando-se necessário a implementação de um controle

sorológico para detectar esses animais, testes esses ainda não disponíveis

comercialmente.

Tabela 21. Porcentagem dos títulos de anticorpos neutralizantes para Orthopoxvirus, das amostras de soros bovinos de leite, coletados nas propriedades com surto de poxvirose no Sul do Estado do Espírito Santo, no período agosto de 2002 a maio de 2005.

**Estado Clínico *Titulo do Soro Doente Sadio

negativo 05% (n= 5) 50% (n=50) 1:20 02% (n= 2) 05% (n= 5) 1:40 17% (n=17) 10% (n=10) 1:80 27% (n=27) 35% (n=35) 1:160 25% (n=25) - 1:320 20% (n=20) - ≥ 1:640 04% (n= 4) -

Total 100% (n=100) 100% (n=100) * O titulo de cada soro foi obtido a partir do inverso da maior diluição na qual houve redução de 50% do número de placas de lise com relação as placas produzidas no controle de vírus ** Estado clínico: Doente (presença de lesões pustulo-vesicular); Sadio (ausência de lesões pustulo-vesicular) Quando se observa a Tabela 22, verificamos que mais de 90% dos

ordenhadores clinicamente doentes apresentaram títulos altos de anticorpos

neutralizantes para Orthopoxvirus, e somente dois ordenhadores foram negativos,

fato esse devido, provavelmente, aos baixos níveis de anticorpos neutralizantes no

momento da coleta do sangue. Ao analisar os clinicamente sadios, observa-se que

50% apresentaram anticorpos neutralizantes, isso pode ser explicado em parte por

uma infecção subclínica nesses indivíduos. Outra possibilidade seria a memória

imunológica induzida pela vacina contra Varíola humana, em alguns desses

indivíduos. A vacina deixou de ser aplicada após a sua erradicação em 1980,

segundo Organização Mundial da Saúde.

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53

Realizou-se a soroneutralização dos 02 casos humanos clinicamente

doentes, mas não ordenhadores relatados no item 4.4. Tanto a esposa de

ordenhador quanto a filha de ordenhador, foram positivas na soroneutralização, com

títulos de 1:320 e 1:80, respectivamente.

Tabela 22. Porcentagem dos títulos de anticorpos neutralizantes para Orthopoxvirus das amostras de soros dos ordenhadores, coletados nas propriedades com surto de poxvirose no Sul do Estado do Espírito Santo, no período agosto de 2002 a maio de 2005.

**Estado Clínico *Titulo do Soro Doente Sadio

negativo 2,98% (n= 2) 50,00% (n=11) 1:20 2,98% (n= 2) 18,18% (n=04) 1:40 1,49% (n= 1) 4,54% (n= 1) 1:80 28,36% (n=19) 9,09% (n= 2) 1:160 23,88% (n=16) 4,54% (n= 1) ≥ 1:320 40,31% (n=27) 13,65% (n= 3)

Total 100% (n=67) 100% (n=22) * O titulo de cada soro foi obtido a partir do inverso da maior diluição na qual houve redução de 50% do número de placas de lise com relação as placas produzidas no controle de vírus ** Estado clínico: Doente (presença de lesões pustulo-vesicular); Sadio (ausência de lesões pustulo-vesicular) A soroneutralização confirma que o Orthopoxvirus foi o agente etiológico do

surto de poxvirose bovina e humana no Espírito Santo.

4.9. Fluxograma de notificação, identificação e controle do surto

Estabeleceu-se uma parceria técnica entre a Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro, Universidade Federal do Espírito Santo, o Instituto de

Defesa Agropecuário e Florestal do Espírito Santo (IDAF-ES) e Secretaria de Estado

da Saúde, em que os casos suspeitos de poxvirose bovina e/ou humana fossem

notificados e encaminhados ao Laboratório de Sanidade Animal/CCTA/UENF para

visita e constatação do caso, conforme Fluxograma 01. .

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Fluxograma 01. Fluxo das notificações de casos suspeitos de poxvirose bovina e/ou humana no Estado do Espírito Santo, no período de agosto de 2002 a maio de 2005.

Casos humanos suspeitos de poxvirose

Casos bovinos suspeitos de poxvirose

Unidade Municipal de Saúde

CCA/UFES

IDAF-ES

Médicos Veterinários

Secretaria Municipal de Saúde

LSA/CCTA/UENF Secretaria Estadual de Saúde

CCA/UFES: Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. IDAF-ES: Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo. LSA/CCTA/UENF: Laboratório de Sanidade Animal do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Essa parceria possibilitou uma maior abrangência, na notificação e detecção

dos novos casos de poxvirose humana e bovina no Estado do Espírito Santo,

facilitando e melhorando a distribuição das informações e do controle da

disseminação da doença. Contamos com o envolvimento dos Produtores, da

Comunidade Rural, dos Postos de Saúde, das Secretarias Municipais e Estadual de

Saúde, bem como os órgãos de Defesa Sanitária e Sanidade Animal do Estado do

Espírito Santo.

A parceria contribuiu para a divulgação das informações sobre a doença e a

implantação das ações de controle, que se basearam nos seguintes itens:

1. Implementação da linha de ordenha nas fazendas, bem como a realização da

desinfecção das ordenhadeiras e antissepsia das tetas e das mãos dos

ordenhadores;

2. Lavagem das tetas com água e sabão, e a imersão em solução de tintura

alcoólica iodada a 2%, após a ordenha;

3. Evitar o trânsito na propriedade de pessoas, principalmente trabalhadores de

outras propriedades;

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55

4. Examinar as tetas e o úbere antes da aquisição de animais de reposição;

5. Proibição da comercialização dos animais das propriedades positivas;

6. Implementação da quarentena dos animais recém adquiridos

7. Manter as tetas e úberes sadios;

8. Promover a higiene de todas as instalações;

9. Orientação aos funcionários e proprietários das propriedades sobre a doença

e as suas medidas de controle;

10. Divulgação da doença e do fluxograma de notificações, via comunicado

através da Secretaria de Estado da Saúde e as Secretarias Municipais de

Saúde.

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5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O surto de poxvirose bovina e humana foi causado por um Orthopoxvirus,

provavelmente um Vaccinia-like virus, com alta morbidade;

A poxvirose bovina causada pelo Orthopoxvirus no Espírito Santo

apresentou caráter epidêmico e com tendência a sazonalidade nos períodos

mais secos, entre maio e setembro;

A poxvirose humana causada pelo Orthopoxvirus no Espírito Santo é uma

doença ocupacional e com caráter zoonótico;

As propriedades de gado de leite dos municípios localizados na região Sul

do Espírito Santo encontram-se sob risco iminente do surto de

Orthopoxvirus;

Essa poxvirose humana e bovina representa uma doença de importância

econômica e de saúde pública.

Medidas de controle devem ser implementadas pelos órgãos responsáveis

pela Sanidade Animal e Humana, visando o controle da doença, impedindo

sua disseminação para outras regiões.

Estudos devem ser implementados, no intuito de descobrir possíveis

reservatórios animais, e no estudo Filogenético desses vírus;

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7. APÊNDICE