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Estudo e Concepção de Molas em Y Rui Miguel Teodoro Calado Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Júri Presidente: Professor Luís Manuel Varejão Oliveira Faria Orientadora: Professora Virgínia Isabel Monteiro Nabais Infante Co-orientador: Professor António Manuel Relógio Ribeiro Vogal: Professor Mihail Fontul Novembro de 2011

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Estudo e Concepção de Molas em Y

Rui Miguel Teodoro Calado

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Júri Presidente: Professor Luís Manuel Varejão Oliveira Faria Orientadora: Professora Virgínia Isabel Monteiro Nabais Infante Co-orientador: Professor António Manuel Relógio Ribeiro Vogal: Professor Mihail Fontul

Novembro de 2011

i

"O único lugar onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."

Albert Einstein

ii

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer aos meus orientadores, Professor António Ribeiro e Professora

Virgínia Infante, pelo incansável apoio, disponibilidade demonstrada e orientação científica ao

longo das várias etapas do presente trabalho.

Ao Professor Luís Sousa pela troca de informações e ajuda dispendida no âmbito de

análises não lineares, com recurso a simulações numéricas.

Aos funcionários do Laboratório de Tecnologia Oficinal do Departamento de

Engenharia Mecânica, senhor Pedro Teixeira e em especial ao senhor Nelson Fernandes, pela

ajuda, disponibilidade e constante troca de conhecimentos práticos, vitais às etapas de

construção.

Ao senhor Carlos Faria pela ajuda demonstrada na resolução da avaria verificada no

motor eléctrico, da marca Siemens.

Agradeço ainda à minha família, amigos e colegas de curso, que me apoiaram

incondicionalmente ao longo dos anos, contribuindo para o finalizar desta importante etapa.

iii

RESUMO

A presente dissertação apresenta uma variante de molas de reacção constante,

designada Mola Y. Esta é constituída por duas lâminas uniformemente curvadas e um

mecanismo de aplicação de carga. A Mola Y foi pensada como uma alternativa viável aos

actuais mecanismos de reacção constante empregues na suspensão de tubagens aéreas.

Alguns protótipos foram construídos com o intuito de analisar e validar o seu comportamento.

O princípio de funcionamento da mola baseia-se nas hipóteses da teoria de viga de

Euler-Bernoulli: teoricamente, as lâminas exibem uma resposta quasi-estática constante em

toda a gama de trabalho.

Para a caracterização do comportamento estático dos modelos realizaram-se ensaios

de tracção uniaxiais. Uma resposta quasi-estática constante foi verificada num patamar limitado

da gama de trabalho. Os desvios comportamentais podem ser fundamentados por variações

das tensões residuais e/ou pela presença de efeitos de 2ª ordem. Assim, seleccionou-se o

protótipo de Mola Y que apresentou um patamar inicial de reacção constante. O mesmo foi

submetido a um estudo analítico, tendo por base o modelo de funcionamento.

Através do Método de Elementos Finitos, efeitos de 2ª ordem foram verificados na

presença de grandes deformações, justificando desvios comportamentais da mola a partir de

determinada gama de deslocamentos.

O mesmo Método de Elementos Finitos foi usado para modelar o comportamento à

fadiga da mola em concordância com o ensaio experimental. Como resultado desta análise

sugeriu-se uma união das lâminas por soldadura, em detrimento a uma ligação aparafusada.

Conclui-se quanto à aplicabilidade da Mola Y face aos actuais mecanismos de reacção

constante.

PALAVRAS-CHAVES: Mola Y, Viga de Euler-Bernoulli, Mecanismo de Reacção

Constante, Fadiga, Método de Elementos Finitos, Desvios Comportamentais.

iv

ABSTRACT

This dissertation presents a variety of constant force spring, called Y Spring. It consists

of two blades uniformly curved and an auxiliary mechanism. The Y Spring was thought as a

viable alternative to current constant force mechanisms used in the suspension of pipelines.

Some prototypes were built, in order to analyze and validate their behavior.

The working principle of the spring is based on the Euler-Bernoulli beam theory:

theoretically, the spring exhibits a constant quasi-static response across all the working range.

Uniaxial tensile tests were carried out to characterize the static behavior of the models.

The measured response was constant only within a limited subset of the desired working range.

The behavioral deviations may be a result of variations of the residual stresses and/or the

presence of second order effects. So, the Y Spring prototype which presented the more similar

response to that theoretically predicted was selected; and it was submitted to an analytical

study, based on the working principle.

Through the Finite Element Method (FEM), effects of second order in the presence of

large deformations were verified, explaining the observed discrepancies of the spring from the

theory.

The same FEM approach was used to model the fatigue behavior of the system in good

agreement with experience. As a result of this analysis a change in the blades union, from

screwed to welded, was made in the prototype.

Therefore, the Y Spring applicability as a functional alternative to current constant force

mechanisms, used in the suspension of pipelines, was assessed.

KEYWORDS: Y Spring, Euler-Bernoulli Beam, Constant Force Mechanism, Fatigue, Finite

Element Method, Behavioral Deviations.

v

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………………………… ii

RESUMO ………………………………………………………………………………………………... iii

ABSTRACT ……………………………………………………………………………………………... iv

LISTA DE FIGURAS …………………………………………………………………………………... vii

LISTA DE TABELAS …………………………………………………………………………………… x

LISTA DE ACRÓNIMOS ………………………………………………………………………............ x

LISTA DE SÍMBOLOS …………………………………………………………………………………. xi

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1

1.1. Objectivo ................................................................................................................... 2

1.2. Estrutura .................................................................................................................... 3

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ............................................................................................... 4

2.1. Molas ............................................................................................................................. 4

2.1.1. Tipos de Molas Existentes no Mercado .................................................................... 5

2.1.2. Materiais Usados em Molas ..................................................................................... 8

2.1.3. Tratamentos em Molas .......................................................................................... 10

2.2. Mola Y .......................................................................................................................... 10

2.2.1. Geometria das Lâminas da Mola Y ........................................................................ 11

2.2.2. Mecanismo de Aplicação de Carga da Mola Y ....................................................... 12

2.2.3. Princípio de Funcionamento da Mola Y .................................................................. 12

2.2.4. Desvios no Comportamento da Mola Y .................................................................. 17

2.3. Mecanismos de Força Constante.................................................................................. 18

2.3.1. Revisão Bibliográfica de Mecanismos de Força Constante..................................... 19

2.3.2. Suportes de Reacção Constante em Pipelines ....................................................... 21

2.4. Fadiga em Metais ......................................................................................................... 23

2.4.1. Breve Caracterização do Processo de Fadiga ........................................................ 23

2.4.2. Leis Fenomenológicas do Comportamento à Fadiga .............................................. 24

2.4.3. Ciclos de Tensão e Respectivos Parâmetros ......................................................... 24

2.4.4. Obtenção e Caracterização das Curvas S-N .......................................................... 25

2.5. Falhas em Apoios e Suportes de Tubagens .................................................................. 28

3. METODOLOGIAS DE CONSTRUÇÃO................................................................................ 30

3.1. Metodologia de Construção da Mola Y ......................................................................... 30

3.1.1. Lâminas ................................................................................................................. 31

vi

3.1.2. Mecanismo de Aplicação de Carga ........................................................................ 34

3.1.3. Suporte Superior Metálico das Lâminas ................................................................. 36

3.2. Etapas de Montagem dos Protótipos ............................................................................ 37

3.3. Metodologia de Construção dos Suportes da Máquina de Fadiga ................................. 38

3.3.1. Suporte Superior da Máquina de Fadiga ................................................................ 40

3.3.2. Suporte Inferior da Máquina de Fadiga .................................................................. 41

3.4. Etapas de Montagem dos Suportes da Máquina de Fadiga........................................... 41

4. VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA ..................................................................... 43

4.1. Validação Experimental dos Ensaios de Tracção .......................................................... 43

4.2. Validação Experimental do Ensaio de Fadiga ............................................................... 45

4.2.1. Problemas Verificados e Respectiva Solução ........................................................ 48

4.3. Validação Numérica ..................................................................................................... 50

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 52

5.1. Resultados dos Ensaios Experimentais de Tracção ...................................................... 52

5.2. Estudo Analítico do Protótipo de Mola Y Seleccionado ................................................. 54

5.2.1. Ensaio de Dureza Vickers e Selecção de Material.................................................. 54

5.2.2. Determinação Experimental do Raio de Curvatura ................................................. 56

5.2.3. Modelação Analítica do Patamar de Força Constante ............................................ 56

5.3. Ensaio Experimental de Fadiga .................................................................................... 62

5.3.1. Análise da Superfície de Rotura ............................................................................. 63

5.4. Método de Elementos Finitos ....................................................................................... 64

5.4.1. Efeitos de Segunda Ordem pelo Método de Elementos Finitos .............................. 65

5.4.2. Ensaios de Fadiga pelo Método de Elementos Finitos............................................ 68

5.5. Discussão do Comportamento dos Restantes Protótipos Desenvolvidos ...................... 73

6. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ........................................................................ 76

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 78

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Curva força-deslocamento de uma mola helicoidal e de uma mola de força constante

[2] ............................................................................................................................................. 1

Figura 2: Esquema de Mola Y [3] .............................................................................................. 2

Figura 3: Mecanismo de força de suspensão constante [4] ........................................................ 2

Figura 4: Deformação genérica de uma mola [5] ....................................................................... 4

Figura 5: Tipos de molas [6] ...................................................................................................... 5

Figura 6: Molas helicoidais de compressão a), tracção b) e torção c) [1] .................................... 5

Figura 7: Molas em voluta [7] .................................................................................................... 6

Figura 8: Mola Belleville genérica a), em paralelo b), em série c) e em série-paralelo [7] ........... 6

Figura 9: Alguns tipos de constituição de molas de lâmina [7] ................................................... 6

Figura 10: Mola de força constante [9]....................................................................................... 7

Figura 11: Montagem em cavidade a), em “back to back” b), em paralelo c) e em série d) [2] .... 7

Figura 12: Ciclo tensão-extensão para uma mola metálica helicoidal [10] .................................. 8

Figura 13: Mola Y [3] ............................................................................................................... 10

Figura 14: Geometria das lâminas da Mola Y [3] ..................................................................... 11

Figura 15: Componentes do mecanismo de aplicação de carga [3].......................................... 12

Figura 16: Viga sujeita a momentos flectores iguais e opostos ................................................ 13

Figura 17: Viga deformada [15] ............................................................................................... 13

Figura 18: Deformada com linha neutra [15] ............................................................................ 14

Figura 19: Distribuição genérica de tensões numa viga em flexão pura [15] ............................ 15

Figura 20: Relação linear entre o momento flector e o ângulo θ [19] ........................................ 16

Figura 21: Resposta teórica da Mola Y (modelo analítico válido na gama de trabalho acima de

∆풍) [2] ...................................................................................................................................... 17

Figura 22: Deformações numa secção transversal (na presença de grandes deformações) .... 18

Figura 23: Interacção do efeito de sela (à esquerda) com as forças de contacto [22] ............... 18

Figura 24: Curva força-deslocamento de mola linear a) e de mecanismo constante b) [25] ...... 19

Figura 25: Cadeia de mecanismos de força constante desenvolvida por Nathan [26]............... 19

Figura 26: Mecanismo proposto por Jenuwine e Midha [26]..................................................... 20

Figura 27: Configurações de um mecanismo flexível [27] ........................................................ 20

Figura 28: Mecanismo empregue na conexão de componentes electrónicos [28] .................... 21

Figura 29: Estrutura de reacção constante [31] ....................................................................... 22

Figura 30: Princípio de funcionamento de um mecanismo de reacção constante [32] .............. 22

Figura 31: Ciclo de tensão constante pulsante [34] .................................................................. 24

Figura 32: Curva S-N básica de WÖHLER (à esquerda) [34] ................................................... 25

Figura 33: Curva S-N de um metal ferroso [34] ........................................................................ 26

Figura 34: Influência da tensão média na tensão limite de fadiga [34] ...................................... 28

Figura 35: Rotura em apoio [39] .............................................................................................. 29

Figura 36: Oxidação em suporte de tubagem e consequente rotura [39] .................................. 29

viii

Figura 37: Rotura do mecanismo de suporte [39] .................................................................... 29

Figura 38: Projecto da Mola Y (SolidWorks [40])...................................................................... 30

Figura 39: Lâmina de aço temperada ...................................................................................... 31

Figura 40: Durómetro Mitutoyo ................................................................................................ 32

Figura 41: Lâminas de aço inoxidável de uma régua graduada de 30 mm a) e 25 mm b)......... 32

Figura 42: Mola de porta [42] .................................................................................................. 33

Figura 43: Mola de porta após desenrolamento ....................................................................... 33

Figura 44: Lâminas de aço carbono simétricas (par de lâminas do lado esquerdo apresenta

maior raio de curvatura) .......................................................................................................... 34

Figura 45: Roletes duplos revestidos [43] ................................................................................ 34

Figura 46: Eixo para rolete com anilhas ................................................................................... 35

Figura 47: Triângulos de aço carbono (lado esquerdo); triângulo com respectiva distância ao

centro entre furos (CAD) ......................................................................................................... 36

Figura 48: Elemento metálico para aplicação de carga ............................................................ 36

Figura 49: Suporte superior das lâminas ................................................................................. 37

Figura 50: Protótipo de lâminas após montagem ..................................................................... 37

Figura 51: Mecanismo de aplicação de carga .......................................................................... 38

Figura 52: Máquina de fadiga para compressão de molas helicoidais [49] ............................... 39

Figura 53: Projecto de suporte superior da máquina de fadiga ................................................ 39

Figura 54: Projecto do suporte inferior da máquina de fadiga .................................................. 40

Figura 55: Fixação do suporte superior da máquina de fadiga à Mola Y .................................. 41

Figura 56: Fixação do suporte inferior da máquina de fadiga à Mola Y .................................... 42

Figura 57: Mola Y e suportes da máquina de fadiga ................................................................ 42

Figura 58: Máquina de ensaios electromecânica ..................................................................... 43

Figura 59: Dispositivo experimental para ensaio de fadiga com o protótipo de Mola Y ............. 45

Figura 60: Interruptor e rolamento da máquina de fadiga ......................................................... 46

Figura 61: Máquina de fadiga apoiada com molas ................................................................... 47

Figura 62: Posicionamento dos roletes no início do ensaio de fadiga ....................................... 47

Figura 63: Guias de teflon ....................................................................................................... 48

Figura 64: União por soldadura ............................................................................................... 49

Figura 65: Novo cordão de soldadura ...................................................................................... 49

Figura 66: Resposta quasi-estática do protótipo com lâminas de régua graduada de 25 mm de

largura .................................................................................................................................... 52

Figura 67: Resposta quasi-estática do protótipo com lâminas de régua graduada de 30 mm de

largura .................................................................................................................................... 53

Figura 68: Resposta quasi-estática com lâminas de aço carbono de menor raio de curvatura . 53

Figura 69: Resposta quasi-estática com lâminas de aço carbono de maior raio de curvatura... 53

Figura 70: Protótipo de Mola Y seleccionado ........................................................................... 54

Figura 71: Obtenção do raio de curvatura das lâminas seleccionadas ..................................... 56

Figura 72: Patamar da resposta quasi-estática em estudo ....................................................... 57

ix

Figura 73: Comportamento elasto-plástico (ideal) [53] ............................................................. 57

Figura 74: Distribuições de tensões ......................................................................................... 59

Figura 75: Flexão de viga curva [33] ........................................................................................ 61

Figura 76: Lâmina de Mola Y após rotura por fadiga................................................................ 63

Figura 77: Zona da lâmina que sofreu rotura ........................................................................... 64

Figura 78: Superfície de rotura ................................................................................................ 64

Figura 79: Superfície de rotura detalhada ................................................................................ 64

Figura 80: Geometria desenhada no software CAD 3D Solidworks .......................................... 66

Figura 81: Geometria com condições impostas ....................................................................... 66

Figura 82: Deformada obtida e respectivos valores de tensões ............................................... 67

Figura 83: Deformada obtida e respectivos valores de deslocamento ...................................... 67

Figura 84: Geometria para análise de fadiga ........................................................................... 68

Figura 85: Geometria com cargas aplicadas, ligações e restrições .......................................... 69

Figura 86: Variação de tensões ao longo das lâminas ............................................................. 70

Figura 87: Concentração de tensões no furo das lâminas ........................................................ 70

Figura 88: Resultado numérico da vida à fadiga ...................................................................... 71

Figura 89: Resultado numérico da vida à fadiga na zona do furo das lâminas.......................... 72

Figura 90: Variação de tensões sem ligação aparafusada ....................................................... 73

Figura 91: Detalhe da resposta quasi-estática das lâminas de régua graduada com 25 mm de

largura .................................................................................................................................... 74

Figura 92: Detalhe da resposta das lâminas de aço carbono de menor raio de curvatura ........ 75

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Propriedades mecânicas dos materiais mais comuns em molas [10] .......................... 9 Tabela 2: Especificações e variáveis inseridas ........................................................................ 44 Tabela 3: Resultados de dureza Vickers ................................................................................. 55 Tabela 4: Algumas propriedades mecânicas do aço carbono AISI 1095 .................................. 55 Tabela 5: Resultados do ensaio de fadiga ............................................................................... 62

LISTA DE ACRÓNIMOS

AISI American Iron and Steel Institute

ASTM American Society for Testing and Materials

CAD Computer Aided Design

MEF Método de Elementos Finitos

xi

LISTA DE SÍMBOLOS

K Constante elástica da mola

∆y Variação de deslocamento entre as extremidades da mola

F Força aplicada na mola

σ Tensão de cedência do material

∆ Coeficiente de perda

∆U Variação de energia

2U Recuperação de energia elástica

σ Tensão aplicada

E Módulo de Elasticidade

ε Extensão do material

γ Distorção no plano xy

γ Distorção no plano xz

τ Tensão de corte no plano xy

τ Tensão de corte no plano xz

σ Tensão normal segundo o eixo dos y

σ Tensão normal segundo o eixo dos z

휏 Tensão de corte no plano yz

ν Coeficiente de Poisson

σ Tensão normal segundo o eixo dos x

L Comprimento da viga plana

ρ Raio de curvatura da viga

θ Ângulo ao centro do raio de curvatura

y Distância à linha neutra

L’ Comprimento de uma fibra deformada da viga a uma distância y

δ Alongamento de uma fibra da viga

ε Extensão segundo o eixo dos x

휀 Extensão segundo o eixo dos y

휀 Extensão segundo o eixo dos z

Mz Momento flector segundo o eixo dos z

Iz 2º momento de área segundo o eixo dos z

U Energia de deformação elástica

W Trabalho realizado pela mola

Nr Número de ciclos de rotura

Ni Número de ciclos de nucleação + iniciação da fenda

Np Número de ciclos de propagação

σ Tensão máxima

xii

σ Tensão mínima

σ Tensão média

σ Tensão alternada

∆σ Gama de tensões

R Razão de tensões

c Constante de ajuste da recta

C’ Constante de ajuste da recta

Se Tensão limite de fadiga real

S’e Tensão limite de fadiga do protótipo

k Factor de acabamento superficial

k Factor de escala

k Factor de carga

k Factor de temperatura

k Factor para outros efeitos

q Sensibilidade ao entalhe

Kf Factor de concentração de tensões de fadiga

Kt Factor de concentração de tensões estática

σ Tensão de rotura do material

HB Dureza Brinell

HV Dureza Vickers

훼 Constante experimental do material

Mc Momento elástico máximo

Mp Momento plástico

yced Parcela de espessura de cedência

MEP Momento elasto-plástico

ymáx Cota máxima à linha neutra

σ′ á Tensão máxima da fase de descarga linear

σ′ Tensão devido à espessura de cedência

σ Tensão residual 1

σ Tensão residual 2

R’ Distância à linha neutra de uma viga curva

ρ Menor distância do centro de curvatura à superfície da lâmina

ρ Maior distância do centro de curvatura à superfície da lâmina

Fi Pré-tensão requerida no parafuso

Fp Pré-tensão recomendada

At Área transversal do parafuso

Sp Tensão admissível do parafuso

1

INTRODUÇÃO

A mola é um elemento mecânico elástico flexível usado para armazenar energia

mecânica, isto é, o trabalho mecânico realizado é convertido em energia de deformação

elástica [1].

As molas são classificadas quanto à sua geometria, à natureza dos esforços que as

solicitam e à sua consequente resposta (linearidade ou não entre acção e deformação). Entre

as várias possibilidades, o presente trabalho debruça-se sobre elementos mecânicos não

lineares de força constante. As molas de força constante baseiam-se numa lâmina enrolada

uniformemente em torno de si própria. A lâmina é fabricada de modo a obter um raio de

curvatura constante. Desta feita, exibe uma resistência ao desenrolamento praticamente

uniforme (força constante na gama de trabalho, logo constante de rigidez da mola nula). Na

figura 1 é visível a diferença de resposta a uma determinada solicitação existente entre o

género de mola apresentado e a típica mola helicoidal linear [2].

Figura 1: Curva força-deslocamento de uma mola helicoidal e de uma mola de força constante

[2]

Actualmente, o campo de aplicação das molas de força constante resume-se a pequenos

componentes eléctricos, brinquedos, componentes de móveis, contrapesos, entre outros.

Em 1996, A. Ribeiro, imaginou um elemento mecânico capaz de suspender tubagens

aéreas para a condução de combustíveis fósseis de tal modo que, este ao ser solicitado

mecanicamente pelas expansões e contracções de origem térmica não transmitisse um

acréscimo de esforço nos pipelines; também teria como efeito evitar fenómenos vibratórios

indesejáveis. A este componente mecânico constituído por duas lâminas de material curvadas

uniformemente (rigidamente ligadas numa extremidade) e por um mecanismo simples para

suspender a tubagem atribui-se a designação de Mola Y, enquadrando-se presentemente no

grupo de molas de força constante, figura 2 [3].

Deslocamento

Força constante

Extensão

helicoidal

Forç

a

∆x

2

Figura 2: Esquema de Mola Y [3]

A Mola Y nasce, então, da necessidade de criar uma alternativa viável aos actuais

mecanismos de reacção constante usados no suporte de zonas críticas de tubagens aéreas.

Estes consistem num conjunto de corpos rígidos e uma mola helicoidal (figura 3). Assim, com o

intuito de obter uma força de suspensão constante, presentemente, apenas existem no

mercado estruturas de relativa complexidade, o que representa um investimento significativo e

uma eventual perda de fiabilidade [4].

Figura 3: Mecanismo de força de suspensão constante [4]

1.1. Objectivo

O objectivo primordial do trabalho baseia-se em projectar e conceber protótipos de

Mola Y; analisar e validar o seu comportamento, com a finalidade de se desenvolver um

3

mecanismo viável e competitivo economicamente face aos actuais mecanismos de força

constante usados na suspensão de tubagens aéreas (selecção de um dos protótipos). O

estudo dos modelos consistiu numa análise estática, que englobou uma série de ensaios

experimentais de tracção uniaxial. Além do referido, ao protótipo seleccionado, é quantificada a

sua resistência à fadiga por meio de ensaios experimentais numa máquina rotativa e de

simulações numéricas; também foi realizado um estudo de não linearidade (por intermédio de

análises numéricas).

1.2. Estrutura

A presente dissertação de mestrado é constituída por 6 capítulos. No capítulo 1 é feita

uma breve introdução ao trabalho e apresentado o objectivo primordial. No capítulo 2 são

expostos os conceitos teóricos fulcrais para a percepção dos vários temas abordados e é

apresentada uma breve revisão bibliográfica dos mecanismos de força constante.

Posteriormente, no capítulo 3 é apresentada a metodologia de construção dos componentes

que englobam a Mola Y, bem como de um suporte adicional a aplicar na máquina de fadiga

rotativa. No capítulo 4 é descrito o procedimento dos ensaios de tracção uniaxial, do ensaio de

fadiga com apresentação de eventuais problemas e consequente resolução, sendo por último

exposto o método computacional adoptado para as simulações numéricas. No capítulo 5

apresentam-se os resultados experimentais dos ensaios com os protótipos de Mola Y, sendo

feita uma selecção destes consoante o seu comportamento. Expõe-se de forma crítica o estudo

analítico do protótipo seleccionado e apresentam-se os respectivos resultados experimentais

de resistência à fadiga, sendo por fim apresentadas e debatidas as simulações numéricas a

que foi sujeito. Nesse capítulo, existe ainda uma secção onde é feita uma análise crítica à

resposta estática apresentada pelos restantes modelos. Por fim, no capítulo 6 expõem-se as

principais conclusões e propostas sobre trabalhos futuros.

4

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Molas

As molas são componentes de um sistema mecânico em que se utilizada a sua

elasticidade, quando solicitadas por forças ou momentos, para armazenar energia de

deformação, sem que o material exceda o seu limite elástico [1].

Estes órgãos mecânicos são usados com vários propósitos, nomeadamente

condicionar a transmissão de força e armazenagem de energia, sendo comummente

constituídos por materiais metálicos com elevada tensão de cedência, apesar dos materiais

compósitos surgirem como uma alternativa viável em aplicações com pequenos esforços [1].

Quanto à sua classificação, as molas podem ser diferenciadas em lineares e não

lineares, conforme a sua resposta (deformação) a um determinado esforço. Deste modo,

refere-se que possuem um comportamento linear quando a sua deformação é directamente

proporcional à carga aplicada, isto é, obedece à lei de Hooke (expressão específica para a

deformação de molas) [5]:

F = K × ∆y (Eq.1)

em que K representa a constante elástica da mola ou rigidez da mesma, F a força aplicada e

∆y a variação de deslocamento entre as extremidades (deformação), como é exemplificado na

figura 4.

Figura 4: Deformação genérica de uma mola [5]

Por sua vez, uma mola é dita não linear quando desrespeita a lei mencionada, podendo

ser caracterizada em mola dura, na qual, à medida que aumenta a solicitação, a rigidez

também aumenta, e em mola macia, no caso inverso. Na figura 5 é apresentada graficamente

a diferença entre os diferentes tipos de molas [6].

∆퐲

5

Figura 5: Tipos de molas [6]

2.1.1. Tipos de Molas Existentes no Mercado

Actualmente existe uma enorme variedade de molas devido a constrangimentos

específicos de utilização, nomeadamente limitações de espaço da zona de trabalho, e à

necessidade resultante da especificação de certos parâmetros de projecto, em particular a

constante de rigidez. Assim, entre os vários tipos de molas de importância prática, destacam-se

[7]:

Molas helicoidais de tracção, compressão ou torção, as quais englobam o grupo com

maior taxa de aplicabilidade em situações mecânicas, devido ao baixo preço, fácil

dimensionamento e montagem pouco complexa. Fisicamente, são constituídas por um

enrolamento helicoidal de um arame (de secção circular, quadrada ou rectangular). Na

figura 6 expõem-se alguns exemplos;

a) b) c)

Figura 6: Molas helicoidais de compressão a), tracção b) e torção c) [1]

Molas em voluta, constituídas por uma lâmina enrolada em forma telescópica que

encaixa dentro da hélice exterior, quando comprimida, sendo usadas em aplicações

com limitações a nível de espaço (figura 7);

6

Figura 7: Molas em voluta [7]

Molas Belleville (figura 8), constituídas por discos cónicos (agrupados em série ou

paralelo), permitem elevados esforços com pequenos deslocamentos. É de salientar

que a sua constante de rigidez é variável, aumentando com a deformação;

a) b) c) d)

Figura 8: Mola Belleville genérica a), em paralelo b), em série c) e em série-paralelo [7]

Molas de lâminas, destinadas a suportar solicitações de flexão, como é visível na figura

9. Estas podem ser representadas somente por uma simples lâmina ou um conjunto de

lâminas, encastradas ou apoiadas nas extremidades, sendo o seu campo de aplicação

mais significativo a indústria automóvel;

Figura 9: Alguns tipos de constituição de molas de lâmina [7]

Molas de força constante (figura 10), constituídas por uma lâmina enrolada

uniformemente em torno de si própria, ou seja, fisicamente, apresentam-se na forma de

7

bobines de lâminas, de raio constante. Desta forma, exibem uma resistência

praticamente uniforme ao desenrolamento, resultando uma força aproximadamente

constante ao desenrolar a lâmina devido à homogeneidade do raio de curvatura, o que

a conduz a uma classificação de mola não linear, de rigidez nula para a gama de

trabalho (características que diferenciam este género de mola, das comummente

designadas molas de relógio) [2,8].

Figura 10: Mola de força constante [9]

Estas molas, embora não tenham um leque de aplicação tão vasto como as anteriores,

são aqui referidas pela relevância que têm para o presente trabalho.

Dentro deste género de molas, são apresentados alguns tipos de configurações (figura

11), nomeadamente a montagem em cavidade (enrolamento da lâmina em uma

cavidade), a qual é de fácil montagem e pouco dispendiosa, contudo introduz algum

atrito; montagem do tipo back to back com o intuito de aumentar a força disponível;

montagem de lâminas em paralelo, a fim de possibilitar um aumento de força em

espaços limitados (verifica-se algum atrito entre lâminas) e a montagem de lâminas em

série, onde se verifica um aumento de força num determinado ponto [2]. É de salientar

que as configurações para um aumento de força disponível apresentam o mesmo

modo de montagem (lâminas uniformemente enroladas em torno do seu eixo).

Figura 11: Montagem em cavidade a), em “back to back” b), em paralelo c) e em série d) [2]

8

2.1.2. Materiais Usados em Molas

Na selecção do tipo de material para uma determinada mola, há que ter em

consideração dois parâmetros de particular relevância. Um dos mais importantes é a

resistência mecânica, quantificada pela tensão de cedência (σ ) em metais e polímeros,

tensão de esmagamento em cerâmicos, resistência ao esmagamento em elastómeros e tensão

de ruptura para materiais compósitos. Em segundo lugar, surge o coeficiente de perda, loss

coefficient (∆y), o qual representa a fracção de energia dissipada num ciclo carga-descarga

[10]:

∆ = ∆ (Eq. 2)

em que ∆U representa a troca de energia num ciclo e 2U a recuperação de energia elástica

(figura 12).

Figura 12: Ciclo tensão-extensão para uma mola metálica helicoidal [10]

Assim, para aumentar a capacidade de armazenar energia num dado volume de

material é exigido um material que contenha um elevado valor de tensão de cedência (logo

uma grande resistência) e um factor de perda tão baixo quanto possível. Desta forma, os aços

de médio e elevado teor de carbono surgem como a opção apropriada, seguindo-se os aços

inoxidáveis para ambientes corrosivos, as ligas de níquel para elevadas temperaturas e as

ligas de fósforo-bronze e berílio-cobre para situações onde se pretende uma elevada

condutividade eléctrica. A tabela 1 fornece os valores típicos de determinadas propriedades

mecânicas dos materiais geralmente usados em molas [10].

9

Tabela 1: Propriedades mecânicas dos materiais mais comuns em molas [10]

Material Especificação Módulo de Elasticidade,

E, [GPa]

Módulo de Elasticidade transversal,

G, [GPa]

Densidade, ρ, [Kg/m3]

Temperatura máxima de

serviço, [ºC]

Principais características

Corda de

piano

ASTM A228

204

78.2

7833.4

121

Alta resistência;

boa resistência à

fadiga

Fio estirado

ASTM A227

136

78.2

7833.4

121

Uso geral; baixa

resistência à fadiga

Aço Inoxidável

Martensítico

AISI 410, 420

197

74.8

7750.4

260

Pouca

aplicabilidade

Aço Inoxidável

Austenítico

AISI 301, 302

190.5

68

7805.7

316

Boa resistência a

temperaturas

moderadas;

baixo nível de

relaxamento de

tensões

Liga

Fósforo-Bronze

ASTM B159

102

42.9

8857.6

93

Capacidade de

resistir a flexão

repetida; liga

popular

Liga Cobre-

Berílio

ASTM B197

129.3

44.2

8220.9

204

Força elástica e

resistência à

fadiga; endurecível

Liga Inconel

600

-

210.9

74.9

8497.7

316

Boa resistência;

elevada resistência

à corrosão

Liga Inconel

X-750

-

210.9

74.9

8248.6

593

Endurecimento por

precipitação, para

altas temperaturas

Liga Ni-Span C

-

183.7

65.3

8137.9

93

Módulo de

elasticidade

constante sobre

uma ampla faixa

de temperatura

10

2.1.3. Tratamentos em Molas

No processo de fabricação de molas mecânicas são geradas elevadas tensões

residuais, reduzindo-se consideravelmente a sua resistência mecânica, bem como a sua vida

útil. É possível remover estas tensões através de tratamentos térmicos ou acentuá-las por meio

de aplicação de pré-cargas.

No processo de fabrico das molas, o aço é trabalhado de tal forma que se constata um

decréscimo do valor da tensão de cedência, existindo, desde logo, a necessidade de realizar

tratamentos térmicos a baixas temperaturas (entre 175ºC e 510ºC) para restabelecer o mesmo

[11].

Por sua vez, tratamentos térmicos a altas temperaturas são utilizados para endurecer o

material recozido proveniente do fabrico da mola. Assim, aços de alto teor de carbono são

austenetizados a temperaturas entre 850ºC e 1000ºC, sendo rapidamente arrefecidos até à

temperatura ambiente por meio de imersão em água (têmpera). Por fim, são revenidos com o

objectivo de aumentar a tenacidade do material e diminuir as tensões residuais. É de referir

que, algumas ligas à base de níquel são endurecidas através de envelhecimento a alta

temperatura [12].

Ainda no campo dos tratamentos térmicos, quando as molas ou peças fabricadas a

partir de aços com alto teor de carbono são galvanizadas (revestimento de zinco ou cádmio,

para proteger da corrosão e de outros agentes abrasivos), ocorre o fenómeno de fragilização

por hidrogénio, isto é, forma-se uma camada de hidrogénio na superfície do componente que

pode causar a fractura do mesmo. É possível, então, minimizar a concentração de hidrogénio

através de tratamentos a temperaturas entre os 190ºC e os 230ºC, durante 0.5 e 3 horas. [11].

Relativamente à pré-carga, molas de tracção e compressão estão sujeitas a relaxação,

ou seja, perda de capacidade de carga em relação à carga inicial, a qual pode ser atenuada

por meio de deformação plástica (pré-carga) [13].

2.2. Mola Y

A Mola Y, figura 13, surgiu como uma ideia de estudo por parte do professor A. Ribeiro,

do Instituto Superior Técnico, tendo sido patenteada em 1996 [3].

Figura 13: Mola Y [3]

11

Esta emerge da necessidade de se desenvolver um componente mecânico alternativo para

aplicações em que as actuais molas não oferecem uma resposta adequada sem recurso a um

mecanismo, que prejudique a fiabilidade e aumente o custo. Um campo específico de aplicação

onde as molas clássicas, por si só, representam uma opção ineficiente, é a suspensão de

tubagens aéreas usadas na condução de combustíveis fósseis (pipelines). Estas exigem uma

força de suporte constante, independentemente dos deslocamentos sofridos. Por outras

palavras, estruturas muito longas e expostas a gradientes térmicos significativos, como os

pipelines, devem ser suportadas de forma a acomodar as variações dimensionais de origem

térmica, sem introduzir esforços adicionais expressivos na própria tubagem; bem como evitar

fenómenos vibratórios que facilmente conduziriam ao colapso do sistema. Inúmeras aplicações

poderiam ser citadas, contudo a Mola Y foi pensada como uma alternativa, viável e de baixo

custo, aos actuais mecanismos de força constante empregues na aplicação mencionada [3].

Presentemente, este género enquadra-se nas comercialmente designadas molas de

força constante, pois à semelhança destas, pretende exibir um comportamento tal que permita

uma gama de deslocamentos caracterizada por uma capacidade de suporte quasi-constante. A

Mola Y é uma mola de reacção constante concebida para a suspensão de tubagens aéreas.

2.2.1. Geometria das Lâminas da Mola Y

A nível geométrico, as lâminas da Mola Y apresentam uma estrutura bastante simples,

pois consiste em 2 lâminas com secção de parede fina (material e dimensões específicas a

definir pelo projectista) curvadas uniformemente (raio de curvatura constante e

significativamente superior à espessura da lâmina) e de forma simétrica, sendo rigidamente

ligadas numa das extremidades (figura 14). A extremidade rigidamente ligada da Mola Y é

identificada pela letra A na figura 14.

Figura 14: Geometria das lâminas da Mola Y [3]

É esta geometria que, conjugada com a homogeneidade de propriedades mecânicas,

nomeadamente o módulo de elasticidade, permite o suporte de uma força de tracção (figura

13) constante ao longo de todo o curso das lâminas; no entanto o princípio de funcionamento

será explicitado no subcapítulo 2.2.3.

A

12

2.2.2. Mecanismo de Aplicação de Carga da Mola Y

Como já foi referido, pretende-se exercer uma carga, particularmente de tracção, ao

longo das lâminas, assim há necessidade de conceber um mecanismo para tal. Segundo a

patente, este pode ser constituído por dois roletes (identificados com a letra B na figura 15),

que irão rolar sobre as lâminas, quando traccionada a mola; dois triângulos metálicos (letra C

na figura 15) e um pino roscado em ambas as extremidades (letra D na figura 15), onde através

de um sistema de amarras (define a extremidade oposta da Mola Y) se suspende a carga. De

uma forma mais detalhada, os roletes são fixados por meio de eixos roscados e porcas nas

proximidades dos vértices dos triângulos, sendo o pino fixado por intermédio de porcas nas

redondezas do restante vértice. Também aqui, dimensões e materiais ficam ao critério do

projectista. Seguidamente, na figura 15 serão ilustrados, de uma forma bastante genérica, os

componentes do mecanismo de aplicação de carga, que com as lâminas constituem a

designada Mola Y (visível na figura 13) [3].

Figura 15: Componentes do mecanismo de aplicação de carga [3]

2.2.3. Princípio de Funcionamento da Mola Y

Tem sido referido que a Mola Y se comporta como uma mola de força constante,

contudo falta expor o modelo analítico que suporta tal fenómeno. Focando a análise somente

em uma lâmina, o princípio de funcionamento da mesma deriva de uma análise linear elástica a

uma viga fina de secção constante, feita de material homogéneo, isotrópico, sujeita a flexão

pura e que respeita a lei de Hooke [12]:

σ = Eε (Eq.3)

na qual 휎 exprime a tensão aplicada, E representa o módulo de elasticidade do material e 휀a

extensão sofrida pelo mesmo.

Recapitula-se aqui, para uma maior clareza do que se seguirá, a análise linear de uma

viga de Euller-Bernoulli.

B

C

D Amarra de

suspensão da

tubagem

13

Considere-se então a viga (dividida num grande número de pequenos elementos

cúbico com faces paralelas aos três planos coordenados), da figura 16, sujeita à acção de dois

binários iguais e opostos de valor M e admita-se que a viga é simétrica ao plano dos mesmos.

Figura 16: Viga sujeita a momentos flectores iguais e opostos

Sendo o momento flector, M, o mesmo em qualquer secção transversal, a viga flectirá

uniformemente, isto é, origina-se um arco de circunferência com raio de curvatura constante, ρ,

e centro C, como é visível na figura 17. Esta constatação é consequência do facto de qualquer

segmento da viga (tal como o segmento definido pelas secções rectas AA’ e BB’) se deformar

de igual modo, permitindo afirmar que todas as fibras longitudinais encurvam de tal modo que

se obtêm arcos de circunferência paralelos [14,15,16].

Figura 17: Viga deformada [15]

Admite-se que qualquer secção transversal plana e perpendicular ao eixo da viga

permanece plana, indeformável e ortogonal ao eixo, após a deformação (i). Esta condição,

conjugada a um deslocamento lateral (segundo o eixo dos z) nulo (ii) e a deslocamentos

verticais de todos os pontos de uma mesma secção transversal pequenos e iguais ao eixo da

viga (iii), definem as hipóteses da teoria de viga de Euler-Bernoulli [17]. Assim, as seguintes

distorções são nulas (pela hipótese (i) ):

γ = γ = 0 (Eq.4)

logo, as consequentes tensões de corte também o são:

τ = τ = 0 (Eq.5)

As três componentes da tensão que não foram abordadas, concretamenteσ , σ eτ , também

são nulas, pois, as deformações que ocorrem (desprezando o efeito de Poisson, apenas existe

y

x

14

deformação longitudinal) não requerem qualquer interacção entre os elementos de uma secção

transversal.

Por conseguinte, a única componente da tensão diferente de zero, que se exerce sobre

qualquer segmento da viga, é a componente normal 휎 , o que conduz a um estado de tensão

uniaxial:

[휎] = 휎 0 00 0 00 0 0

Outro aspecto relevante é a localização da superfície neutra, ou seja, o local onde

휎 푒휀 são nulas, a qual deriva da existência de tensões e extensões de compressão numa

superfície e tracção na oposta. No caso específico da figura 17, a parte superior da viga

encontra-se à compressão e a inferior à tracção, logo tem de existir uma superfície neutra.

Considere-se agora que, a origem do sistema de eixos coordenados passará a estar

localizada sobre essa superfície, de forma que a distância de qualquer ponto à mesma será

medida pela sua coordenada y, figura 18 [15].

Figura 18: Deformada com linha neutra [15]

Tal como mencionado anteriormente, ρ representa o raio do arco de circunferência (DE), sendo

θ o ângulo ao centro respectivo, e constatando que o comprimento de DE é idêntico ao da viga

na sua posição inicial, escreve-se:

L = ρ × θ (Eq.6)

Considerando que o arco JK está localizado a uma distância y acima da superfície neutra, tem-

se:

L = (ρ − y) × θ (Eq.7)

Porém, o comprimento inicial do arco JK era igual a L, logo o seu alongamento é:

δ = L − L (Eq.8)

Com as equações enunciadas, e sendo a extensão longitudinal, 휀 , ao longo da linha JK obtida

pela divisão de 훿 pelo comprimento inicial da mesma, obtém-se [15]:

ε = = = (Eq.9)

15

É de salientar que o sinal negativo deriva da consideração de um momento flector positivo e,

por isso, a concavidade da viga fica voltada para cima (fibra sofreu encruamento), figura 18.

Dada a exigência das secções transversais permanecerem planas e ortogonais ao eixo da

viga, a expressão obtida para a extensão longitudinal ao longo da linha JK é válida em

qualquer ponto (o erro cometido nesta aproximação é pequeno, desde que a deformação seja

também pequena) e, pode afirmar-se que a mesma varia linearmente com a distância y à

superfície neutra.

Apesar de uma geometria inicialmente curva, a Mola Y apresenta um raio de curvatura

bastante superior à sua espessura, logo assume-se que a posição da linha neutra coincide com

o plano de simetria (aproximação a uma viga inicialmente rectilínea). Assim, partindo da

equação de equilíbrio de momentos que define a igualdade entre o momento flector positivo, M,

e o momento criado pelas tensões internas na secção transversal (figura 19) [15,16]:

∫(yσ dA) = M (Eq.10)

Figura 19: Distribuição genérica de tensões numa viga em flexão pura [15]

Conjugando esta última com a equação 6 (os sinais negativos derivam da consideração

do momento positivo provocado pela tensão de compressão):

∫ y(−E )dA = ∫(y dA) = M (Eq.11)

na qual:

∫(y dA) = I (Eq.12)

esta representa o segundo momento de área da secção transversal em relação ao eixo

perpendicular ao plano do binário M, que passa no centróide. Constata-se, então, a equação

da viga de Euler-Bernoulli [14,15]:

( )= ( )

( ) ( ) (Eq.13)

na qual todos os termos são definidos ao longo do comprimento das lâminas.

É a presente equação que fundamenta o comportamento da Mola Y (formulação matemática

do princípio de funcionamento), pois, atribuindo-se uma curvatura uniforme à lâmina de

material, inicialmente plana (através de um processo de enformação plástica, nomeadamente

calandragem, seguido de um típico tratamento térmico de molas para reduzir e uniformizar as

tensões residuais) e, tendo em mente a homogeneidade e isotropia do material (módulo de

elasticidade e segundo momento de área da secção constantes), resulta um momento flector

16

constante ao longo da lâmina quando esta é forçada a assumir uma geometria plana pela

carga aplicada. Com um momento constante, verifica-se uma força também uniforme ao longo

do curso das lâminas, já que uma análise linear elástica verifica uma relação linear entre a

energia elástica armazenada e a deformação sofrida. Para constatar analiticamente o facto

mencionado, na figura 20 é demonstrada a relação linear entre o momento flector, M, e o

ângulo ao centro,θ.

Figura 20: Relação linear entre o momento flector e o ângulo θ [19]

Da figura observa-se que a lâmina ao ser solicitada por um determinado momento, realiza um

determinado trabalho, W, que conduz à armazenagem de uma determinada energia elástica de

deformação, U. A equação 14 exprime esse fenómeno:

W = U = (Eq.14)

onde representa a área do gráfico assinalada.

Tendo em consideração a equação genérica de trabalho:

W = ∫F dx (Eq.15)

e recordando a equação 6, a equação 14 pode ser expressa como:

푊 = ∫ F dx = ∫ dx (Eq.16)

Por fim, através da equação 13 e relembrando a existência de um momento flector constante

ao longo da lâmina, resulta:

∫F dx = ∫ ( )( )

dx => 퐹 = 푐표푛푠푡푎푛푡푒 (Eq.17)

A equação 17 demonstra a existência de uma reacção constante ao longo do curso da lâmina,

quando a aplicação de uma determinada carga a força a perder a curvatura, encostando-a à

outra lâmina. Deste modo, teoricamente a resposta da Mola Y a um determinado esforço é a

representada na figura 21, a qual conduz a uma classificação de elemento mecânico não linear

de rigidez nula na gama de trabalho [2].

17

Figura 21: Resposta teórica da Mola Y (modelo analítico válido na gama de trabalho acima de

∆풍) [2]

2.2.4. Desvios no Comportamento da Mola Y

No subcapítulo transacto foi exposto um modelo analítico que contempla uma análise

linear elástica de vigas finas (1ª ordem), uma vez que se adoptaram hipóteses simplificativas

na descrição do comportamento geométrico da estrutura e do comportamento físico do material

[20]:

Linearidade física, quando se implementa uma relação constitutiva linear elástica no

comportamento do material, a que corresponde uma relação de proporcionalidade

entre os tensores das tensões e das deformações;

Linearidade geométrica, onde se adopta a hipótese de vigas finas. No entanto, mesmo

nesta análise, não foi, nem poderia ser, considerada a linearidade geométrica no

sentido de ignorar as diferenças geométricas entre as configurações não-deformada e

deformada.

Numa análise desta natureza, ao traccionar a Mola Y é espectável duas lâminas perfeitamente

planas em contacto.

Todavia, uma análise linear elástica de vigas finas é bastante limitativa, pois despreza

parâmetros de natureza física e geométrica que, quase sempre, adquirem particular relevo na

presença de grandes deformações. No entanto, pretendendo-se que a Mola Y, ao ser

traccionada, não exceda o limite de cedência do material das lâminas, no presente trabalho

apenas é dado ênfase ao aparecimento do efeito de sela [21].

O modelo de viga fina exposto, no subcapítulo 2.2.3, despreza o efeito de deformação

transversal ou de Poisson, que consequentemente admite deformações, segundo os eixos y e

z, nulas. Contudo, na presença de grandes deformações, as hipóteses da viga de Euler-

Bernoulli não são válidas, logo o efeito de Poisson não é desprezável (o coeficiente de

Poisson, 푣, é a relação entre a deformação transversal e a deformação longitudinal; 휀 = 휀 × 푣

e 휀 = 휀 × 푣). Este efeito é representativo de deformações nas secções transversais das

lâminas (figura 22).

Força constante

Deslocamento

Forç

a

18

Figura 22: Deformações numa secção transversal (na presença de grandes deformações)

Como é visível na figura 22, segundo a largura da lâmina (eixo dos z) aparece uma deformação

em forma de sela (efeito de sela). Este efeito conjugado com as forças de contacto existentes

entre as lâminas planas, após deformação, constitui os designados efeitos de 2ª ordem (figura

23) e será responsável pela ausência de um valor de tensão constante ao longo das lâminas,

portanto uma variação na resposta teórica da Mola Y (figura 21).

Figura 23: Interacção do efeito de sela (à esquerda) com as forças de contacto [22]

Um outro possível factor responsável por desvios comportamentais da mola está

inerente ao modo de fabrico das lâminas (obtenção do raio de curvatura), nomeadamente a

uma variação de tensões residuais ao longo das lâminas, logo oscilações de disponibilidade

elástica de secção para secção.

2.3. Mecanismos de Força Constante

Os mecanismos de força constante são estruturas que integram corpos rígidos

(englobam molas helicoidais de tracção, compressão e/ou torção responsáveis por absorver a

energia de deformação) ou mecanismos flexíveis (contêm elementos flexíveis, deformáveis).

Regra geral, estes regem-se pelo princípio da alavanca para conseguir uma relação linear

entre a energia elástica armazenada e a deformação sofrida, com o intuito de produzir uma

força de saída quasi-constante num largo espectro de deformações impostas. Assim, à

semelhança da Mola Y, tais mecanismos não respeitam a lei de proporcionalidade entre a força

Forças de contacto genéricas

numa lâmina após deformação

Efeitos de 2ª Ordem

z

y

19

e a deformação do sistema [23,24]. Na figura 24 é visível esse fenómeno, através da

visualização dos gráficos força-deslocamento de uma mola linear e de um mecanismo de força

constante [25].

Figura 24: Curva força-deslocamento de mola linear a) e de mecanismo constante b) [25]

2.3.1. Revisão Bibliográfica de Mecanismos de Força Constante

Nathan (1995) propôs uma estrutura de corpos rígidos que gera uma força constante.

Esta fundamenta-se numa alavanca articulada que produz uma reacção constante

unidireccional para qualquer posição. Posteriormente o seu projecto foi estendido, tendo-se

originado uma cadeia de mecanismos em paralelo com a finalidade de suportar uma

determinada massa (figura 25) [26].

Figura 25: Cadeia de mecanismos de força constante desenvolvida por Nathan [26]

Este mecanismo pode ser visto em aplicações como o candeeiro de mesa.

Jenuwine e Midha (1994) propuseram um mecanismo composto por ligações rígidas e

molas lineares para conseguir uma força constante, tendo sido implementado com sucesso,

(figura 26) [26].

Corpo Suspenso

Molas helicoidais

20

Figura 26: Mecanismo proposto por Jenuwine e Midha [26]

Mecanismos flexíveis do tipo manivela deslizante de compressão foram sugeridos por

Murphy (1994), Howell (1995) e Midha (1995). Millar, em 1996, desenvolveu parâmetros não

dimensionáveis com a finalidade de facilitar a sua concepção e respectivo teste. Murphy, em

1996, usou uma síntese de tipo com o objectivo de obter possíveis configurações (alcançou

com sucesso 28), tendo Howell (1994) usado síntese dimensional num leque considerável das

mesmas [29]. Na figura 27 são apresentadas possíveis configurações deste mecanismo [27].

Figura 27: Configurações de um mecanismo flexível [27]

Parkinson (1997) usou uma abordagem de optimização paramétrica, tendo alcançado

com êxito um mecanismo de força uniforme [26].

Herder e Tuijtho (2000) desenvolveram sistemas com 4 a 6 graus de liberdade

espacial, semelhantes ao projecto de Nathan, no entanto, com uma maior amplitude de

movimentos [26].

Adicionalmente, Herder e Berg (2000) desenvolveram um mecanismo obediente

estaticamente equilibrado [26].

21

Entre os principais campos de aplicação, surge a conexão de componentes

electrónicos (figura 28), onde uma força elevada é indesejável e um reduzido valor de contacto

provoca elevada resistência [28].

Figura 28: Mecanismo empregue na conexão de componentes electrónicos [28]

No subcapítulo seguinte será analisado em detalhe o mecanismo de corpo rígido

empregue na suspensão de tubagens aéreas, visto que abrange o campo específico de

aplicação da Mola Y.

2.3.2. Suportes de Reacção Constante em Pipelines

Na presença de variações significativas de temperatura num sistema de tubagens

aéreas, ocorre uma expansão ou contracção do mesmo devido às deformações térmicas.

Quando estas provocam movimentos horizontais, os mesmos podem ser minimizados por meio

de barras horizontais oscilantes suficientemente compridas; contudo, na ocorrência de

movimentos verticais, verifica-se uma relevante elevação do sistema que exige a utilização de

um apoio de reacção variável ou de um apoio de reacção constante [29]. Tendo em

consideração o contexto do presente trabalho, será dado ênfase somente a este último.

Assim, um apoio vertical de reacção constante é concebido para suspender zonas

críticas da tubagem quando:

Deslocamentos verticais provenientes da operação exigem uma sustentação/suporte

flexível e de reacção constante;

Existe necessidade de minimizar tensões adicionais no sistema e no próprio suporte;

Os movimentos verticais são de uma amplitude tal que o uso de outro género de apoio

(reacção variável) introduziria tensões de valores indesejáveis.

Teoricamente, pode-se então afirmar que, este género de apoio transmite uma força ao

pipeline de tal modo que as condições enumeradas acima não impliquem qualquer esforço

adicional na tubagem. Contudo, devido à histerese da mola, ao atrito e tolerâncias de fabrico,

não é possível manter uma carga de suporte uniforme em toda a gama de trabalho [30].

22

Geometria

A geometria de suportes de reacção constante resume-se à estrutura de um

mecanismo de força constante de corpos rígidos. Na figura 29 é demonstrado um tipo, bem

como o seu modo de ligação à tubagem [31].

Figura 29: Estrutura de reacção constante [31]

Princípio de Funcionamento

Relativamente às noções básicas de funcionamento responsáveis por manter uma

força de suspensão uniforme, estas regem-se por um simples equilíbrio de momentos. Os

deslocamentos verticais oriundos das expansões térmicas originam um certo esforço na

estrutura, o qual devido à existência de um pivot lever (eixo de rotação comum) provoca um

determinado momento (corresponde à expressão P × D na figura 30), que é equilibrado por um

momento equivalente de sinal contrário, proveniente da força de compressão/distensão da

mola helicoidal (corresponde à expressão F × d na figura 30). Visualmente, a figura 30

demonstra esta teoria [32].

Figura 30: Princípio de funcionamento de um mecanismo de reacção constante [32]

Força da

tubagem Eixo de

rotação

Força

da mola

23

Tal princípio reforça o conceito de gama de trabalho fora da qual não se verifica uma

força de suspensão uniforme, pois as molas helicoidais quando sujeitas a forças de elevada

intensidade deixam de apresentar um comportamento linear elástico.

2.4. Fadiga em Metais

Das solicitações possíveis de ocorrer em órgãos de máquinas e em grande número de

estruturas metálicas, as dinâmicas são claramente as mais frequentes. As solicitações

dinâmicas aplicadas numa peça podem originar um género de rotura designado como rotura

por fadiga, a qual é responsável por 80 a 90 % de todas as ruínas de elementos sujeitos a

esforços mecânicos. A fadiga de um metal define-se como “um fenómeno de enfraquecimento

progressivo de um metal quando este está submetido a cargas dinâmicas ou repetidas” [33].

Nas últimas décadas os estudos no âmbito deste género de rotura têm aumentado

substancialmente devido aos consideráveis danos materiais e humanos constatados,

nomeadamente em aviões, comboios, pontes, autocarros, etc [33].

2.4.1. Breve Caracterização do Processo de Fadiga

A rotura por fadiga é provocada pela nucleação e propagação, mais ou menos lenta, de

fenda(s) que surgem num componente/estrutura sujeito a tensões dinâmicas. Até à existência

de rotura, consideram-se 3 fases: nucleação da fenda, crescimento microscópico da(s) fenda(s)

e propagação da(s) fenda(s). Desta forma, pode afirmar-se que um processo de fadiga é

constituído por:

As duas primeiras fases englobam o período de iniciação da fenda, constituindo as duas

últimas, o período de propagação da mesma.

A duração de uma peça à fadiga é quantificada pelo número de ciclos de aplicação da

carga até à rotura. Deste modo, o número de ciclos de rotura, Nr, resulta do somatório do

número de ciclos de nucleação + iniciação da fenda, Ni, com o número de ciclos de

propagação, Np. Conforme a equação 18:

푁푟 = 푁푖 + 푁푝 (Eq.18)

No que diz respeito à morfologia da superfície de fractura, esta depende do nível das

tensões aplicadas e do modo de solicitação (tracção, torção, flexão, etc), contudo, todas as

superfícies possuem algumas características em comum:

Zona(s) de iniciação da fenda;

Nucleação da

fenda

Crescimento

microscópico

da(s) fenda(s)

Propagação

da(s) fenda(s)

Rotura final

24

Estrias ou bandas indicadoras da propagação da fenda (zona de propagação da

fenda);

Zona de rotura final.

2.4.2. Leis Fenomenológicas do Comportamento à Fadiga

Designam-se leis fenomenológicas as equações que descrevem o comportamento dos

materiais à fadiga, sendo usualmente obtidas experimentalmente. Estas equações relacionam

a amplitude de tensões ou extensões com o número de ciclos até à rotura.

Assim, nos subcapítulos seguintes serão apresentados os principais géneros de ciclos,

bem como os respectivos parâmetros, como base à obtenção das referidas leis [33].

2.4.3. Ciclos de Tensão e Respectivos Parâmetros

Tal como mencionado o fenómeno de fadiga só se manifesta se a tensão aplicada for

dinâmica, assim um ciclo de tensão traduz a sua variação com o tempo ou número de ciclos.

Este pode enquadrar-se em solicitações a amplitude de tensão constante (N ciclos com a

mesma onda) ou solicitações a amplitude de tensão variável (não se constata uma onda

uniforme). As solicitações a amplitude de tensão constante podem ainda ser classificadas em

alternadas, repetidas ou pulsantes, sendo as de amplitude variável diferenciadas em blocos e

irregulares ou aleatórias.

Na figura 31 é apresentado, a título ilustrativo, uma solicitação a amplitude de tensão

constante pulsante, onde no eixo das ordenadas está patente a tensão aplicada e no eixo das

abcissas o número de ciclos, N, ou tempo, t.

Figura 31: Ciclo de tensão constante pulsante [34]

Neste ciclo, como em qualquer outro de uma solicitação de fadiga, estão presentes valores

máximos e mínimos, σ á eσ respectivamente.

Em seguida, enumeram-se os principais parâmetros de um ciclo de tensão. Desta feita,

σ representa a tensão média, sendo definida como:

σ = á (Eq.19)

A amplitude da tensão ou tensão alternada do ciclo, σ , é:

σ = (σ á − σ )/2 (Eq.20)

25

Sendo, a gama de tensões o dobro da amplitude:

∆σ = 2σ (Eq.21)

Como variável importante, resta definir a razão de tensão, R:

R = í

á (Eq.22)

Esta última equação toma o valor de R = −1 num ciclo alternado (consequentemente σ = 0) e

푅 = 0 no pulsante (como apresentado na figura 31). Estes parâmetros são válidos em todos os

géneros de solicitações, excepto num ciclo de tensões irregular ou aleatório, onde não se

apresenta uma lei definida entre os esforços e o tempo, como a própria designação indica.

Sendo, então, o mais difícil de analisar e surgindo como o tipo mais frequente na rotura por

fadiga, regra geral, por simplificação, trata-se o mesmo como um ciclo a amplitude de tensão

constante (valor da amplitude é definido com uma determinada margem de segurança) [33].

2.4.4. Obtenção e Caracterização das Curvas S-N

As curvas de tensão aplicada em função do número de ciclos até à rotura representam

o método mais utilizado na análise dos resultados obtidos nos ensaios de fadiga (quantificam o

desempenho de determinado material ou peça em termos de resistência à fadiga). Estas

curvas são geralmente designadas por curvas S-N. Na obtenção das mesmas, o provete é

submetido a ciclos de tensão a amplitude de tensão constante até se verificar rotura ou até se

exceder um elevado número de ciclos (10 ou10 ). Para valores do número de ciclos

superiores a 10 , a representação gráfica do comportamento de um material à fadiga origina

uma linha recta numa escala bilogarítmica. A equação fenomenológica é:

푙표푔휎 = log퐶 − 푐푙표푔푁푟 (Eq.23)

em que c e C’ são constantes de ajuste da recta (dependem do material e das condições do

ensaio) [36].

As curvas S-N que se obtêm para um valor de tensão média nulo, ou seja, ciclo a

amplitude de tensão constante alternado, designando-se neste caso curva básica ou intrínseca.

Este género de curvas teve origem no trabalho iniciado por August WÖHLER (1860) e

designam-se por curvas WÖHLER (figura 32) [34].

Figura 32: Curva S-N básica de WÖHLER (à esquerda) [34]

26

Um aspecto a ter em consideração reside na classificação do tipo de fadiga consoante

a gama de valores onde ocorre rotura, isto é, a região em que Nr é inferior a 104 – 105 ciclos

denomina-se zona de fadiga oligocíclica ou low cycle (tensões e extensões na peça são

predominantemente plásticas; tendo leis comportamentais próprias), designando-se a zona

superior a 105 ciclos supra cíclica ou high cycle. Na figura 33 é visível uma curva S-N básica

para metais ferrosos definida pela equação 23 com as respectivas zonas [34].

Figura 33: Curva S-N de um metal ferroso [34]

Um parâmetro igualmente relevante e ainda não abordado, é a tensão limite de fadiga,

S . Para tensões abaixo desse limite considera-se tradicionalmente que o material suporta um

número infinito de ciclos [33].

É de esperar que a resistência à fadiga de uma peça real não seja exactamente a dos

provetes ensaiados. Desta forma, há que proceder à correcção da curva S-N teórica, através

de factores de correcção ao limite de fadiga, logo [36]:

S = k k k k k S′ (Eq.24)

onde:

푆 representa a tensão limite de fadiga da peça real;

푆′ representa a tensão limite de fadiga do protótipo;

푘 é o factor de acabamento superficial;

푘 é o factor de escala;

푘 é o factor de carga;

푘 é o factor de temperatura;

푘 é o factor para outros efeitos.

27

Os diversos factores são obtidos pelo meio de tabelas, figuras ou expressões existentes em

diversas referências (por exemplo a referência [36]).

Outro pormenor importante, reside no facto de em inúmeras peças/estruturas se

verificarem zonas de descontinuidade geométrica, o que implica uma concentração de tensões

na vizinhança da mesma. Na literatura (por exemplo na referência [36]) existe uma extensa

informação relativamente ao factor de concentração de tensões geométrico, Kt, o qual pode ser

relacionado com o factor de concentração de tensões de fadiga, Kf, pela sensibilidade ao

entalhe de cada material, q (consta de gráficos existentes na literatura, por exemplo na

referência [36]). A equação 25 exprime essa relação [39]:

q = (Eq. 25)

Efeito da Tensão Média

Em inúmeros casos práticos não se consegue verificar uma tensão média nula (basta

exercer-se uma carga estática em simultâneo com uma tensão alternada), o que conduz a uma

alteração das curvas S-N.

Goodman, em 1899, desencadeou as primeiras investigações sobre este tema, tendo

proposto a seguinte relação entre a tensão limite de fadiga e a tensão média [36]:

+ = (Eq.26)

Soderberg propôs um método mais conservador, ou seja, fornece a maior margem de

segurança no dimensionamento, visto que é definido somente até à tensão de cedência [36]:

+ = (Eq.27)

Gerber enunciou uma teoria menos conservadora [36]:

+ = (Eq.28)

Por último, temos o critério de cedência [36]:

= (Eq.29)

Nas equações S , S representam as tensões de cedência e de rotura do material,

respectivamente, sendo n o factor de segurança (de cedência na equação 29 e de fadiga nas

restantes).

Graficamente, as teorias mencionadas apresentam as curvas visíveis na figura 34.

28

Figura 34: Influência da tensão média na tensão limite de fadiga [34]

Os diagramas da figura 34 constituem, assim, um processo de prever se um

determinado ciclo de tensões, caracterizado por (σ , σ ),(σ á , σ ) ou (R, σ ) pode originar

rotura.

2.5. Falhas em Apoios e Suportes de Tubagens

Tendo em consideração o objectivo dos suportes utilizados na suspensão de tubagens,

estes são mecanismos sujeitos a cargas dinâmicas ao longo de todo o seu período de

funcionamento, por consequência, susceptíveis a uma eventual rotura por fadiga. É nesta

óptica que surgem as designadas Plants Walk Down, mapas de caminhos concebidos para

observações de rotina às linhas de tubagem e prevenção de eventuais falhas, bem como para

reparações no caso de ser detectada a sua necessidade [37]. Das análises efectuadas, pode

afirmar-se que os mecanismos de suporte e respectivos apoios são concebidos para suportar

os ciclos térmicos do sistema de tubagem [38]. Este aspecto salienta a necessidade de uma

correcta instalação dos suportes e um funcionamento que respeite os parâmetros de projecto,

já que um acréscimo de concentrações de tensões e/ou fenómenos vibratórios, conjugado com

as solicitações dinâmicas pode originar rotura.

Seguidamente, são apresentados os principais tipos de falhas ocorrentes em

mecanismos de suporte de tubagens e respectiva origem:

High-cycle fatigue - Origina rotura, particularmente em zonas de conexão. Esta rotura é

habitualmente desencadeada por uma má opção do mecanismo de suporte ou uma

vibração excessiva. Na figura 35 é visível rotura por fadiga num apoio [39];

29

Figura 35: Rotura em apoio [39]

Low-cycle fatigue - Origina rotura e deve-se tipicamente à existência de

descontinuidades geométricas na própria tubagem ou suporte [39];

Corrosão exterior – A oxidação na tubagem ou suporte facilita o aparecimento de rotura

por fadiga (external corrosion fatigue or internal corrosion fatigue), figura 36. [39];

Figura 36: Oxidação em suporte de tubagem e consequente rotura [39]

Falha na barra de apoio, induzida por uma vibração elevada e um deslocamento

anormal. Rotura do mecanismo, devido a um aumento de concentração de tensões

provenientes da referida anomalia, figura 37 [39].

Figura 37: Rotura do mecanismo de suporte [39]

30

3. METODOLOGIAS DE CONSTRUÇÃO

Neste capítulo são referidas as metodologias de construção de todos os componentes

que constituem a Mola Y, bem como das adaptações que foi necessário fazer na máquina de

ensaios de fadiga. É de salientar que todas as operações de construção foram efectuadas, pelo

autor, na oficina do Departamento de Engenharia Mecânica, do Instituto Superior Técnico.

3.1. Metodologia de Construção da Mola Y

Como em qualquer projecto, antes do fabrico, existe necessidade de desenhar os

diversos componentes, escolher o seu processo de fabrico e materiais a utilizar. Foi nesta

óptica que se realizou um esboço da mola com o auxílio do software de desenho, CAD 3D

SolidWorks® [40], com base na geometria proposta na patente (figura 38). Deste estudo,

constatou-se que era necessário construir lâminas; um mecanismo de aplicação de carga

constituído por 2 triângulos de metal, 2 roletes revestidos por polietileno, eixos para os mesmos

e um elemento metálico (mordente), no qual se exerce a carga de tracção; e um suporte

superior metálico que definisse a posição de repouso da mola e que servisse para uma

eventual fixação de toda estrutura (a uma máquina de ensaios, por exemplo).

Figura 38: Projecto da Mola Y (SolidWorks [40])

Por uma questão de estrutura da presente dissertação, dimensões e matérias são

apresentados nos subcapítulos em que se aborda cada componente detalhadamente.

31

3.1.1. Lâminas

Para construir as lâminas curvadas, numa primeira tentativa e numa perspectiva

económica analisaram-se as chapas de material (desperdícios) disponíveis na oficina. Assim,

seleccionou-se uma chapa de aço carbono (especificação desconhecida) e através de uma

guilhotina obtiveram-se lâminas planas com 450 mm de comprimento, 1 mm de espessura e 20

mm de largura.

Seguidamente, através de uma calandra de 3 rolos, realizou-se um processo de

enformação plástica (calandragem, operação de enformação plástica onde se impõe um

determinado raio de curvatura a chapas planas) com o intuito de obter lâminas uniformemente

curvadas.

Por fim, submeteram-se as lâminas curvadas a um típico tratamento térmico de um aço

mola, ou seja, realizou-se uma têmpera a 850º C durante 30 minutos num pequeno forno

existente no Laboratório de Mecânica Experimental do Departamento de Engenharia Mecânica,

do Instituto Superior Técnico, com subsequente arrefecimento em água. A figura 39 mostra

uma das lâminas conseguidas.

Figura 39: Lâmina de aço temperada

Para verificar o resultado do tratamento térmico recorreu-se a um ensaio de dureza

Vickers (HV). Este foi executado num durómetro existente no Laboratório de Materiolografia e

baseia-se na resistência que o material oferece à penetração por uma pirâmide quadrangular

de diamante (para garantir que este é mais duro que o material em teste, garantindo, portanto,

a indeformabilidade do penetrador) com um ângulo entre faces de 136º, sob uma determinada

carga [12]. A dureza Vickers é expressa automaticamente no visor do durómetro (figura 40)

tendo-se obtido com a aplicação de uma carga de 2 kgf, durante 15 segundos, um valor de 107

HV 2 para uma lâmina sem tratamento e 122 HV 2 com tratamento (por definição após o

símbolo de dureza HV, vem expresso a carga aplicada). Com este valores de dureza,

considerou-se um aumento de resistência mecânica insuficiente, logo foi necessário pensar

numa alternativa viável para o material da lâmina da Mola Y.

32

Figura 40: Durómetro Mitutoyo

Tendo em mente alguma contenção económica e a noção de que o material escolhido

deveria pertencer à categoria dos aços carbono com elevado teor de carbono ou à dos aços

inoxidáveis, e após alguma reflexão, considerou-se a hipótese (segunda tentativa) de obter as

lâminas a partir de réguas graduadas flexíveis de aço inoxidável.

Partindo de 2 réguas de 25 mm (graduação em ambas as faces) e 30 mm (graduação

em uma face apenas) de largura, respectivamente (ambas com 300 mm de comprimento),

através de um alicate de corte obtiveram-se pares de lâminas de 150 mm com 1 mm de

espessura. Seguidamente, pelo processo de calandragem já enunciado obteve-se uma

determinada curvatura.

Para finalizar, numa das extremidades dos pares de lâminas maquinou-se um furo de 8

mm de diâmetro, centrado (por meio de uma máquina de furar de coluna, estando a descrição

detalhada e funcionamento da mesma na referência [41]), para posterior fixação. Na figura 41 é

exposta a geometria obtida com ambas as réguas.

a) b)

Figura 41: Lâminas de aço inoxidável de uma régua graduada de 30 mm a) e 25 mm b)

Com o intuito de conseguir uma maior diversidade de protótipos, optou-se pela

utilização de um aço carbono com elevado teor de carbono para novos modelos de lâminas

(terceira tentativa/hipótese).

Após alguma pesquisa de mercado e fazendo uma apreciação objectivo final/preço, as

usuais molas de porta (lâminas de aço carbono enroladas uniformemente em torno de si

33

próprias, ou seja, mola de força constante) surgiram como uma boa opção (adquiriram-se dois

exemplares com 45 mm de largura e 1,2 mm de espessura), figura 42 [42].

Figura 42: Mola de porta [42]

Com esta alternativa, aparentemente tinha-se o desejado, isto é, lâminas que, ao serem

traccionadas, exercem uma reacção de desenrolamento constante; contudo, para a estrutura

pretendida o raio de curvatura não era o ideal. Assim, com o auxílio de uma prensa manual

existente no Laboratório de Vibrações (Departamento de Engenharia Mecânica, do Instituto

Superior Técnico), fixou-se uma extremidade de cada mola e, com o auxílio de uma barra de

metal, desenrolou-se cada lâmina com o objectivo de aumentar o raio de curvatura (figura 43)

sem perder uma linearidade física do material, ou seja, uma distribuição de tensões residuais a

mais constante possível ao longo das lâminas e um raio de curvatura correspondente à

deformação limite do domínio elástico.

Figura 43: Mola de porta após desenrolamento

Por fim, obtiveram-se 2 pares de lâminas simétricas (com diferentes raios de curvatura)

por meio de uma ferramenta de corte (rebarbadora) e maquinaram-se os furos com um

diâmetro de 8 mm, centrados, para posterior união, pelo meio já enunciado (figura 44).

34

Figura 44: Lâminas de aço carbono simétricas (par de lâminas do lado esquerdo apresenta

maior raio de curvatura)

Um aspecto relevante e ainda não mencionado consiste na especificação detalhada do

material da lâmina, nomeadamente a microestrutura do aço inoxidável e o tipo de aço carbono.

No entanto, testes para averiguar o mesmo, bem como dimensões específicas (raio de

curvatura), apenas são efectuados no protótipo de Mola Y seleccionado, após resultados

experimentais, e expostos no capítulo 5 (referente aos estudos experimentais, analíticos e

numéricos).

3.1.2. Mecanismo de Aplicação de Carga

Na construção do mecanismo de aplicação de carga, comum a todos os protótipos de

lâminas de Mola Y, os primeiros componentes a obter foram os roletes revestidos. Tendo o

conhecimento prévio da largura dos vários pares de lâminas, e após alguma consulta aos

catálogos, optou-se por 2 roletes duplos 60 × 35 (60 mm de diâmetro, 35 mm de largura e furo

centrado com um diâmetro de 15 mm) revestidos com polietileno para minimizar o atrito com a

lâmina de metal (figura 45) [43].

Figura 45: Roletes duplos revestidos [43]

Adquiridos os roletes, foi necessário proceder à construção dos respectivos eixos.

Desta feita, partindo de uma barra de aço inoxidável com 20 mm de diâmetro, através de um

torno universal ou paralelo, obtiveram-se 2 eixos roscados em ambas as extremidades

35

(descrição pormenorizada dos princípios básicos de funcionamento do torno universal e

operações típicas de torneamento na referência [41]). Pretendendo-se um diâmetro final de 15

mm e um comprimento total de 83 mm (onde 14 mm de ambas as extremidades são dedicados

à zona roscada, logo a zona não roscada contempla 40 mm de superfície lisa e 15 mm de

anilhas M12) foi necessário realizar, num 1º aperto (fixação da barra de aço inoxidável à árvore

do torno), as seguintes etapas de torneamento [41]:

Operação de facejamento com uma pastilha quadrada e raio de bico elevado;

Operação de desbaste ao longe de 83 mm de comprimento com a mesma pastilha de

corte;

Operação de abertura de rosca exterior (diâmetro de 12 mm) em uma das

extremidades com uma pastilha de raio de bico inferior;

Operação de sangramento com uma pastilha para esse fim.

Por fim, num 2º aperto efectuou-se a abertura de rosca na outra extremidade (figura 46).

Figura 46: Eixo para rolete com anilhas

Os triângulos para a fixação dos eixos dos roletes e da peça para aplicação de carga

foram obtidos através de chapa existente na oficina. Tendo presente a finalidade dos mesmos,

o tipo de aço não era determinante. Desta forma, obtiveram-se triângulos equiláteros de 120

mm de lado (compatível com os 60 mm de diâmetro dos roletes) de uma chapa de aço

carbono, através da guilhotina. Seguidamente pela mesma máquina de furar, procedeu-se à

abertura de um furo de 12 mm perto de cada extremidade do triângulo, com os centros

distanciados de 62,4 mm (contempla o diâmetro dos roletes e a espessura máxima possível de

ambas as lâminas quando o mecanismo for sujeito a um esforço de tracção, pois pretende-se

uma folga mínima entre lâminas quando desenroladas). A figura 47 mostra os triângulos

construídos.

36

Figura 47: Triângulos de aço carbono (lado esquerdo); triângulo com respectiva distância ao

centro entre furos (CAD)

Por último, elaborou-se o elemento metálico para aplicação da carga (simula a amarra

de suspensão da tubagem, numa aplicação real). Este foi obtido por meio de um pino oco de

aço carbono com diâmetro interno de 12 mm e espessura 2 mm, onde, com um serrote

eléctrico, se obteve o comprimento desejado (55 mm). Em seguida, por aperto, enrolou-se (de

forma centrada) à volta do veio oco uma chapa de metal de 25 mm de largura com um

comprimento de 300 mm, tendo sido fixada por soldadura (soldadura por eléctrodo revestido,

com diâmetro de 2,5 mm), figura 48. Na parte inferior, maquinou-se um furo com 10 mm de

diâmetro, centrado, para eventuais fixações (a uma máquina de ensaios experimentais, por

exemplo).

Figura 48: Elemento metálico para aplicação de carga

3.1.3. Suporte Superior Metálico das Lâminas

Para definir a posição de repouso do protótipo de Mola Y, isto é, a zona de

deslocamento nulo quando ausente de esforços, foi necessário elaborar componentes

metálicos com uma altura total de 47 mm, comprimento total de 130 mm e espessura de 2mm

(figura 49).

37

Figura 49: Suporte superior das lâminas

Como é visível partiu-se de uma tira de aço carbono, tendo sido a geometria obtida por uma

quinadora, com um ângulo de quinagem de 90º (quinagem é o processo de deformação

plástica de chapa que permite o fabrico de superfícies planificáveis de geometria cilíndrica,

cónica ou prismática) [44]. Na parte superior definiu-se uma zona para eventuais fixações de

toda a estrutura com uma largura de 25 mm, através de um serrote manual, e maquinou-se um

furo de 12 mm de diâmetro.

3.2. Etapas de Montagem dos Protótipos

Tendo sido expostos detalhadamente todos os componentes que definem os protótipos

da Mola Y, neste subcapítulo são enumeradas as etapas de montagem; primeiramente a

montagem das lâminas:

Fixação de ambas as lâminas, bem como das mesmas ao suporte superior, por

intermédio de uma ligação aparafusada (parafuso de cabeça abaulada com sextavado

interior - M8×30 classe 10.9; porca hexagonal - M8 e anilha plana - M8);

Na figura 50 é exposto um exemplo.

Figura 50: Protótipo de lâminas após montagem

Por sua vez, no mecanismo de aplicação de carga:

Encaixe por pressão dos eixos de aço inoxidável nos respectivos roletes. Para tal com

o auxílio de um punção e martelo definem-se 2 zonas rugosas, distanciadas 35 mm

38

entre si e 2,5 mm de cada extremidade (tendo apenas em consideração os 40 mm de

superfície lisa, isto é, não contempla as anilhas de adição), com o objectivo de definir

os limites do rolete no eixo (permite um encaixe centrado);

Adição de anilhas M12;

Fixação dos eixos aos triângulos metálicos através de porcas hexagonais M12;

Fixação do componente para aplicação de esforços por intermédio de um parafuso de

cabeça hexagonal – M12×100 (classe 8.8) e porca hexagonal M12.

Na figura 51 é apresentado o mecanismo após montagem.

Figura 51: Mecanismo de aplicação de carga

É de evidenciar que a montagem do mecanismo apresentado na figura 51, num

protótipo de lâminas com respectivo suporte superior (figura 50), é realizada retirando um dos

triângulos e o componente de aplicação de carga; comprimindo as extremidades livres das

lâminas; encaixando a lâmina de forma simétrica no mecanismo e, por fim, recolocando e

fixando os elementos em falta. Após montagem, as lâminas ficam planas e em contacto nos 30

mm iniciais (relembre-se que os roletes apresentam 30 mm de raio).

3.3. Metodologia de Construção dos Suportes da Máquina de Fadiga

À semelhança da construção dos protótipos da Mola Y, antes de iniciar a concepção do

mecanismo de suporte para a máquina de ensaios rotativa, foi necessário um estudo prévio.

A máquina de ensaios de fadiga, existente no Laboratório de Ensaios Mecânicos do

Departamento de Engenharia Mecânica, foi inicialmente projectada para realizar ensaios de

flexão plana, apesar de ter sido posteriormente alterada para ensaios de compressão de molas

helicoidais, figura 52 (especificação detalhada é referida no capítulo 4, validação experimental

e numérica) [45].

39

Figura 52: Máquina de fadiga para compressão de molas helicoidais [49]

Ao analisar a máquina existente, constatou-se que os elementos identificados pela

numeração 10 e 11 (figura 52) teriam de ser substituídos por outros compatíveis com a

estrutura da Mola Y, onde se fixasse o suporte superior da mesma. Para além destas

alterações, foi necessário conceber um novo componente para fixar a parte inferior da mola ao

elemento 7. Assim, tendo em consideração as dimensões presentes, a altura do protótipo a

ensaiar (aproximadamente 223 mm) e a exigência de ensaios de fadiga numa zona da lâmina

ligeiramente afastada da posição de repouso, projectaram-se em SolidWorks® as seguintes

estruturas:

Suporte superior da máquina de fadiga, constituído por uma base semelhante ao

elemento 11 (E), uma coluna vertical (F) e 2 barras finas horizontais (G), figura 53.

Figura 53: Projecto de suporte superior da máquina de fadiga

Suporte inferior da máquina de fadiga, composto por 2 pequenas cantoneiras (figura

54).

E F

G

40

Figura 54: Projecto do suporte inferior da máquina de fadiga

Por uma questão de estrutura do presente trabalho, dimensões e materiais dos

elementos são detalhados em seguida.

3.3.1. Suporte Superior da Máquina de Fadiga

A elaboração do suporte superior da máquina de fadiga iniciou-se pela construção do

componente designado por base, identificado pela letra E na figura 53. Para tal, a partir de uma

chapa de aço galvanizado de 20 mm de espessura, com o auxílio do serrote eléctrico, cortou-

se um rectângulo com 160 mm de comprimento e 85 mm de largura. Relativamente aos 4 furos

para fixação do suporte à máquina e aos rasgos necessários para um correcto encaixe na

mesma, foi necessário recorrer a uma fresadora vertical em consola (princípio de

funcionamento e operações de fresagem explícitas na referência [41]). Deste modo, as etapas

realizadas nesta máquina de corte por arranque de apara foram:

Abertura de rasgos de 30 mm, centrados ao longo da largura, através de uma fresa de

topo de 15 mm. Devido a uma significativa espessura foi utilizado um valor de

velocidade de corte (velocidade de rotação da árvore) e de avanço da fresa

relativamente reduzido, sendo necessária adição de óleo de corte.

Abertura de 4 furos de 12 mm, por meio de uma broca-lâmina. Esta operação também

poderia ter sido realizada pelo já usado engenho de furar. Devido à elevada espessura

foi exigida uma constante adição de óleo de corte.

Por sua vez, o componente identificado com a letra F (figura 53), resultou de uma

cantoneira de aço carbono com 6 mm de espessura, a qual cortada por serrote eléctrico

originou 2 peças de 250 mm de comprimento. Estas foram unidas por soldadura por eléctrodo

revestido (diâmetro de 2,5 mm). Desta forma, obteve-se uma coluna de suporte rectangular

com 65 mm de comprimento e 60 mm de largura, tendo-se maquinado com a máquina de furar

4 furos de 8 mm de diâmetro na zona superior de cada lado do componente.

Por fim, o elemento da letra G, derivou de uma barra rectangular de aço carbono

galvanizado com 50 mm de largura e 5 mm de espessura. Com o serrote eléctrico obtiveram-se

2 barras com o comprimento desejado e por meio do engenho de furar realizaram-se os furos

para fixação à coluna e um furo de 12 mm para a ligação do suporte superior à Mola Y. A

41

justificação de 4 furos em cada lado é que, assim, se permite uma melhor distribuição dos

esforços, nomeadamente da tensão de corte, τ, nos parafusos.

3.3.2. Suporte Inferior da Máquina de Fadiga

Tendo sempre por base o aproveitamento do material existente na oficina, o

componente em causa derivou de uma cantoneira de abas iguais (30 mm), com 3 mm de

espessura onde, através do serrote eléctrico, se obtiveram 2 apoios inferiores com a largura

pretendida (25 mm). Seguidamente, realizou-se um furo de 6 mm, centrado, para fixação à

máquina e um outro de 10 mm, também centrado, para fixação ao protótipo a ensaiar.

3.4. Etapas de Montagem dos Suportes da Máquina de Fadiga

Construídos ambos os suportes, falta expor os modos de fixação entre componentes

para o suporte superior da máquina de fadiga:

Fixou-se a base à coluna vertical através de soldadura por eléctrodo revestido (2,5

mm de diâmetro), de forma centrada;

Fixou-se a coluna vertical às duas barras horizontais (G) com 8 parafusos de cabeça

hexagonal – M8×25; porca hexagonal M8 e anilhas planas M8;

Fixou-se a estrutura à máquina de fadiga através da aplicação de parafusos M12×50

nos furos existentes na base.

Relativamente ao suporte inferior da máquina de fadiga, foi fixado ao elemento

identificado com o número 7 (figura 52) por meio de parafusos M6×25 e porcas M6.

Por fim, a ligação do suporte superior da máquina de fadiga ao protótipo foi alcançada

por intermédio de um parafuso M12×100 e respectiva porca. Para prevenir variações de

posição provenientes de fenómenos vibratórios adicionou-se uma contra-porca (figura 55).

Figura 55: Fixação do suporte superior da máquina de fadiga à Mola Y

O suporte inferior da máquina de fadiga liga-se ao protótipo, por meio de uma junta

aparafusada (parafuso M10×45). Foram utilizadas 2 porcas e anilhas de pressão entre as

42

cantoneiras e a lâmina de metal, com o objectivo de minimizar variações posicionais

provenientes de fenómenos vibratórios (figura 56).

Figura 56: Fixação do suporte inferior da máquina de fadiga à Mola Y

A título ilustrativo, e numa óptica de consolidação do referido anteriormente, mostra-se

todo o conjunto (ligação da máquina de fadiga ao protótipo de Mola Y) na figura 57.

Figura 57: Mola Y e suportes da máquina de fadiga

43

4. VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA

O presente capítulo apresenta-se estruturado em 3 subcapítulos. Primeiramente,

expõe-se o dispositivo experimental e enumeram-se as etapas necessárias para a

caracterização do comportamento estático dos protótipos de Mola Y (subcapítulo de validação

experimental dos ensaios de tracção). Em seguida, explicita-se o equipamento experimental

empregue na quantificação da resistência à fadiga do protótipo seleccionado (selecção

resultante da resposta a cargas estáticas) e expõem-se os problemas oriundos deste ensaio e

consequente solução - subcapítulo de validação experimental do ensaio de fadiga. Por fim,

apresenta-se o software de elementos finitos usado para posteriores simulações numéricas

(subcapítulo de validação numérica).

4.1. Validação Experimental dos Ensaios de Tracção

A caracterização do comportamento estático dos diversos protótipos de Mola Y foi

alcançada através da execução de ensaios de tracção uniaxiais. Estes foram efectuados na

máquina de ensaios electromecânica (marca Instron), existente no Laboratório de Mecânica

Experimental já referenciado (figura 58).

Figura 58: Máquina de ensaios electromecânica

L

J

H

I

M

N

44

Resumidamente, esta é constituída por um travessão móvel (H na figura 58) que se desloca ao

longo de guias, um apoio inferior fixo (I na figura 58), um dispositivo de paragem de

emergência e um interruptor do tipo up/down (L na figura 58), sendo este último responsável

pelo deslocamento manual do travessão móvel. Acoplado à máquina de ensaios, há um

computador com o software que rege o ensaio (aquisição de dados/variáveis vitais à realização

do ensaio experimental), sendo a resposta estática do protótipo visível num típico gráfico de

tracção uniaxial: força versus deslocamento (letra J na figura 58).

A fixação dos protótipos à máquina de ensaios foi concretizada pelo meio de amarras

de 25 mm de largura: o suporte superior metálico da Mola Y (exposto no subcapítulo 3.1.3) foi

fixado pelo meio de amarras ao travessão móvel (M na figura 58); tendo sido o elemento

metálico do mecanismo de aplicação de carga (exposto no subcapítulo 3.1.2) fixado pelo

mesmo método ao apoio inferior imóvel (N na figura 58). Por último, procedeu-se à introdução

das variáveis necessárias ao ensaio, nomeadamente, velocidade de translação do travessão e

deslocamento máximo permitido. Seguidamente, são apresentadas na forma de tabela as

especificações de cada tipo de lâmina e as variáveis inseridas para cada protótipo de Mola Y

(tabela 2).

Tabela 2: Especificações e variáveis inseridas

Tipo de Lâmina

Material

Largura

[mm]

Espessura

total [mm]

Velocidade

de translação [mm/min]

Deslocamento

máximo [mm]

Lâminas de régua graduada de 25 mm

Aço Inoxidável

25

2

40

120

Lâminas de régua graduada de 30 mm

Aço Inoxidável

30

2

40

120

Lâminas de aço

carbono

Aço

Carbono

45

2,4

40

200

Nestas condições, realizaram-se ensaios de tracção, registando-se o comportamento

dos mesmos em gráficos de força versus deslocamento.

45

4.2. Validação Experimental do Ensaio de Fadiga

Para a quantificação da resistência à fadiga do protótipo seleccionado (protótipo em

que a resposta quasi-estática é a mais semelhante possível à prevista teoricamente,

encontrando-se uma descrição pormenorizada do critério de selecção no capítulo 5, registo e

discussão de resultados), foi utilizada a máquina de ensaios de fadiga do Laboratório de

Ensaios Mecânicos referida no subcapítulo 3.3, figura 52. Após as adaptações físicas expostas

no mesmo, resultou a estrutura apresentada na figura 59, já com o protótipo montado.

Figura 59: Dispositivo experimental para ensaio de fadiga com o protótipo de Mola Y

Na figura 59, é visível o motor eléctrico da marca Siemens (letra O) que imprime rotação a um

veio apoiado em duas chumaceiras, que está acoplado a um disco excêntrico regulável (letra

P) e um braço vertical (letra Q). É a este braço que está ligado o componente (letra R) que

incorpora o suporte inferior construído (exposto no subcapítulo 3.3.2). Por fim, identificado

pelas letras S e T encontram-se um contador de ciclos e um temporizador (o qual não foi

usado, pois pretendia-se quantificar a resistência à fadiga em número de ciclos até ocorrer

rotura e não o tempo decorrido), respectivamente. A letra U da figura diz respeito ao protótipo

de Mola Y montado nos respectivos suportes (modo de fixação exposto na secção 3.4).

A base de funcionamento da máquina de fadiga apresentada é bastante simples. Esta,

tal como mencionado, utiliza um motor eléctrico de 1,5 KW (velocidade de rotação de 1385

rpm), que imprime rotação a um veio, o qual, por intermédio de um sistema biela-manivela,

provoca um determinado deslocamento vertical ao braço, traccionando o protótipo. É de realçar

S

O

P

Q R

U

T

46

a existência de um rolamento no componente que incorpora o suporte inferior, com o objectivo

de acompanhar o movimento de translação do braço (desta forma consegue-se garantir

somente a existência de um esforço axial), bem como de um interruptor localizado na parte de

trás do braço vertical que interrompe automaticamente o ensaio na ocorrência de rotura (figura

60).

Figura 60: Interruptor e rolamento da máquina de fadiga

Relativamente ao modo de fixação da máquina de fadiga, esta foi concebida para se

fixar através de parafusos e buchas ao chão do laboratório (pelo meio de 4 sapatas), com uma

base de borracha entre a sapata e o mesmo. Contudo, o investigador, Pedro Costa, ao realizar

ensaios de fadiga em molas helicoidais, no âmbito da sua dissertação para obtenção do grau

de Mestre em Engenharia Mecânica (2010), constatara que esta forma de fixação originava

vibrações significativas no próprio dispositivo experimental, o que se reflectia em resultados

pouco fidedignos e mesmo na rotura dos parafusos e buchas ao fim de alguns ciclos. Para

solucionar o problema, colocou molas helicoidais entre as sapatas de fixação e o chão (figura

61), resolvendo, desta forma, o problema das vibrações excessivas e as consequências

indesejáveis acima referidas [50]. Deste modo, dada a finalidade do ensaio, optou-se por esta

alternativa de fixação.

Rolamento

Interruptor

47

Figura 61: Máquina de fadiga apoiada com molas

Tendo em consideração a alternativa de fixação mencionada e o conhecimento

detalhado do dispositivo experimental, bem como o seu princípio de funcionamento, iniciou-se

o ensaio de fadiga. Para tal, fixou-se a lâmina do elemento metálico (do mecanismo de

aplicação de carga) de tal modo que permitiu algum afastamento dos roletes da posição de

repouso do protótipo de Mola Y, ou seja, do suporte superior, com o intuito de evitar eventuais

interferências com o mesmo, e estabelecendo assim, em conjugação com a dimensão da

manivela, a gama de trabalho da Mola Y. Na figura 62 é visível a disposição geométrica do

conjunto no início do ensaio.

Figura 62: Posicionamento dos roletes no início do ensaio de fadiga

48

4.2.1. Problemas Verificados e Respectiva Solução

Durante a realização do ensaio de fadiga verificaram-se uma série de problemas de

natureza física em componentes do dispositivo experimental, no protótipo e na fixação do

suporte adicional concebido, que conduziram à interrupção temporária dos ensaios.

Por uma questão de organização do presente trabalho, neste subcapítulo apenas são

enumerados, e ilustrados quando necessário, os problemas verificados e a respectiva solução,

sendo feita a correspondência com o número de ciclos, isto é, ao fim de quantos ciclos ocorreu

determinada anomalia, no capítulo 5. Assim, verificaram-se as seguintes avarias/problemas

(enumeração por ordem de ocorrência):

Problema 1 - Devido à vibração inerente ao próprio ensaio, as lâminas tinham

tendência a encostar aos triângulos desgastando-os, o que acabaria por originar rotura

dos mesmos. A solução passou pela colocação de umas guias ao longo dos triângulos.

Deste modo, como as lâminas a ensaiar tinham 45 mm de largura e existindo um

espaçamento entre triângulos de 55 mm, fixaram-se na face interior de ambos os

triângulos, pelo meio de cola, pequenos rectângulos de teflon (elevada resistência

térmica e baixo coeficiente de atrito) com 5 mm de espessura e um comprimento

superior a 13 mm (figura 63);

Figura 63: Guias de teflon

Problema 2 – Avaria do motor eléctrico que deixou de fornecer rotação ao veio. Através

de um voltímetro, verificou-se uma ausência total de tensão eléctrica no mesmo.

Perante este cenário, a solução passou pela colocação de um novo motor com as

mesmas características (existente no laboratório);

Problema 3 - Observou-se rotura do protótipo, nomeadamente na zona de

descontinuidade geométrica das lâminas (furo para união das mesmas). Desta feita,

optou-se pela união das lâminas e destas ao suporte superior por soldadura (soldadura

por eléctrodo revestido, com diâmetro de 2 mm), figura 64 (solução);

49

Figura 64: União por soldadura

Problema 4 - Avaria no contador de ciclos, a solução passou pela sua substituição por

outro semelhante existente no laboratório;

Problema 5 - Rotura em componentes da máquina de fadiga, nomeadamente na zona

soldada (cordão de soldadura) que a une a biela ao braço vertical. O problema foi

solucionado através de uma nova união por soldadura (soldadura por eléctrodo

revestido com diâmetro de 2,5 mm), tendo o cuidado de realizar um cordão ao longo de

todo o perímetro da junta (figura 65);

Figura 65: Novo cordão de soldadura

Problema 6 - Rotura dos parafusos que unem o suporte inferior construído ao

componente da máquina de fadiga, identificado pela letra R na figura 59. Este

problema não foi solucionado, tendo-se dado os ensaios por concluídos ao fim de

aproximadamente 1 × 10 ciclos de fadiga.

50

4.3. Validação Numérica

Neste subcapítulo é apresentado de forma bastante sucinta o modelo computacional

adoptado, assim como os seus fundamentos base e o modo de operação típico numa análise

destas.

O método numérico utilizado foi o Método dos Elementos Finitos (MEF), para tal

recorreu-se ao software Solidworks® Simulation [40]. Em traços gerais este é um sistema de

análise de projectos totalmente integrado no Solidworks®, que permite realizar um leque

bastante interessante de análises por intermédio de solvers rápidos (directo ou iterativo), sendo

portanto uma ferramenta bastante usada por estudantes, projectistas, engenheiros e outros

profissionais para projectar peças eficientes e económicas.

Entre os vários tipos de análises possíveis, com o intuito de complementar os ensaios

estáticos e de resistência à fadiga do protótipo de Mola Y, é de salientar a análise estática não

linear e a análise de fadiga (a qual pressupõe uma prévia análise estática). Para tal, ambas

exigem a execução de um certo número de etapas, nomeadamente [40]:

Definição da geometria/peça através do software CAD 3D Solidworks® (Part);

Selecção do tipo de material (Edit Material);

Montagem dos vários componentes que constituem o modelo físico (Assembly).

As etapas mencionadas são referentes à modelação dos modelos físicos no próprio

Solidworks®. Em seguida, recorre-se ao software Simulation e, para uma análise linear ou não

linear há que percorrer as seguintes fases [40]:

Definição das condições de fronteira e interacções mecânicas (Fixtures);

Definição do tipo de carregamento (External Load);

Definição do tipo de contacto e elementos de ligação (Connections);

Definição e elaboração da malha (Mesh);

Definição das propriedades da análise (Properties);

Análise do modelo (Run);

Exposição dos resultados (Results).

Das etapas enumeradas, a definição da malha é um processo muito importante na análise de

um sistema físico através do MEF (pois, dependendo do seu tipo, da densidade e do elemento

utilizado, os resultados podem variar significativamente), sendo portanto relevante uma breve

nota sobre os tipos de elementos finitos usados e os principais parâmetros empregues na sua

definição. Assim, o software Simulation, na geração da malha, cria elementos sólidos

tetraédricos em 3D, elementos de casca triangulares em 2D e elementos de viga 1D, sendo o

tipo de malha definido automaticamente pelo programa e podendo a sua densidade ser

definida no acto de geração (Property Manager).

Por fim, relativamente à análise de fadiga (relembre-se que pressupõe uma análise

estática), as etapas a executar são [40]:

Definição do tipo de ciclo de fadiga, ou seja, do valor de razão de tensões e do número

de ciclos a realizar, no caso de vida finita (Add Event);

51

Selecção do tipo de curva S-N (Apply Fatigue Data to All Bodies);

Definição das propriedades do ensaio (Properties);

Análise do modelo (Run);

Apresentação dos resultados (Results).

52

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente capítulo, são primeiramente expostos os resultados obtidos no ensaio

experimental de tracção uniaxial a que cada protótipo de Mola Y foi sujeito, seleccionando-se o

protótipo de Mola Y que apresenta uma resposta quasi-estática o mais semelhante possível da

prevista teoricamente. Seguidamente, é apresentado um estudo analítico do protótipo

seleccionado, de acordo com o exposto no subcapítulo 2.2.3 (válido somente no patamar de

força constante), acompanhado de uma análise crítica. Posteriormente, mostra-se em forma de

tabela os resultados do ensaio experimental de fadiga, ou seja, é indicado o número de ciclos a

que se submeteu o protótipo até ocorrer cada problema enunciado no subcapítulo 4.2.1,

acompanhado de uma análise sucinta da superfície de rotura por fadiga das lâminas. Em

seguida, apresentam-se e debatem-se as simulações numéricas realizadas por meio do

software Solidworks® Simulation. Por fim, reserva-se um subcapítulo para a análise crítica aos

restantes resultados estáticos (experimentais) que reforça a selecção de protótipo de Mola Y

efectuada.

5.1. Resultados dos Ensaios Experimentais de Tracção

Tal como referido, através da metodologia exposta no subcapítulo 4.1 realizaram-se

ensaios de tracção na máquina electromecânica. Portanto, ao solicitar quasi-estaticamente os

protótipos de Mola Y, obtiveram-se os gráficos força versus deslocamento das figuras

seguintes.

Figura 66: Resposta quasi-estática do protótipo com lâminas de régua graduada de 25 mm de

largura

53

Figura 67: Resposta quasi-estática do protótipo com lâminas de régua graduada de 30 mm de

largura

Figura 68: Resposta quasi-estática com lâminas de aço carbono de menor raio de curvatura

Figura 69: Resposta quasi-estática com lâminas de aço carbono de maior raio de curvatura

54

Tendo em consideração o princípio de funcionamento da Mola Y, esperava-se uma

reacção constante ao longo de todo o curso das lâminas (resposta quasi-estática teoricamente

prevista, visível no gráfico da figura 21). Tal não se verifica em nenhum dos protótipos

ensaiados experimentalmente, uma vez que a base de funcionamento da mola rege-se por

uma análise linear elástica que despreza factores de natureza física e geométrica que

adquirem particular relevo na presença de grandes deformações (o que foi visível em todos os

ensaios experimentais).

Desta forma, elegeu-se o comportamento do protótipo com lâminas de aço carbono de

maior raio de curvatura (resposta estática da figura 69) como o mais semelhante ao

teoricamente previsto da Mola Y, visto que é visível um patamar de reacção constante até aos

40 mm iniciais de curso (patamar no qual se exibiria uma força de suspensão constante, numa

tubagem aérea). A partir dessa gama de deslocamentos a desejada linearidade entre acção-

deformação não é mais constatada, passa a não ser válida uma análise linear.

Na figura 70 encontra-se então o protótipo de Mola Y seleccionado para um estudo

mais detalhado (estudo analítico do patamar de reacção constante; simulações numéricas ao

comportamento estático; ensaio experimental de resistência à fadiga e consequente modelação

numérica), com o intuito do mesmo se poder afirmar como uma alternativa viável aos actuais

mecanismos de suporte de força constante empregues em tubagens aéreas.

Figura 70: Protótipo de Mola Y seleccionado

5.2. Estudo Analítico do Protótipo de Mola Y Seleccionado

Este subcapítulo destina-se a um estudo analítico do patamar de reacção constante do

protótipo escolhido, ou seja, do patamar que respeita o princípio de funcionamento da Mola Y.

Para a realização do referido estudo foi necessário desvendar o género de aço carbono

(por intermédio de um ensaio de dureza Vickers), tal como a curvatura das lâminas (através de

um processo interpolativo, com o auxílio de uma mesa de coordenadas). Assim, em seguida

expõem-se estes dois aspectos.

5.2.1. Ensaio de Dureza Vickers e Selecção de Material

Para proceder à classificação do género de aço carbono em estudo, realizou-se um

ensaio de dureza Vickers, através do durómetro já referido (figura 40). Dada a origem das

55

lâminas (adquiridas como molas de porta) e para prevenir eventuais variações de propriedades

mecânicas, ao longo do seu comprimento, foram realizados ensaios de dureza em pontos

distintos das lâminas. Desta feita, ao aplicar-se uma carga de 2 kgf, durante 15 segundos,

obtiveram-se os resultados de dureza Vickers visíveis na tabela 3.

Tabela 3: Resultados de dureza Vickers

Ensaio

Carga Aplicada

[kgf]

Dureza Vickers

Primeiro 2 391 Segundo 2 382 Terceiro 2 391 Quarto 2 378 Quinto 2 372 Sexto 2 374

Dos ensaios realizados não se constataram variações significativas de dureza, tendo-

se optado por um valor médio de dureza, como valor de referência, ou seja, 382 HV 2.

Sendo o objectivo destes ensaios identificar o aço em estudo, pelo meio de uma tabela

de conversão de dureza (existente em diversas referências, por exemplo a [47]), obteve-se o

valor de dureza de Brinell correspondente, nomeadamente 362 HB. Com esta referência e

tendo em consideração a correlação existente entre a mesma e a tensão de rotura de um aço

carbono [12]:

휎 = 훼 × 퐻퐵 (Eq. 30)

(na qual 휎 representa a tensão de rotura do material; 훼 uma constante experimental do

material, neste caso específico, aço carbono tratado termicamente, tem um valor de 3,4; e HB

refere-se ao valor de dureza Brinell); calculou-se um valor de tensão de rotura de 1230,8 MPa.

Tendo presente o valor de dureza e tensão de rotura, introduziram-se os mesmos

numa plataforma de materiais online (MatWeb) [52]. Desta, identificou-se o aço carbono AISI

1095, sujeito a tratamentos térmicos (têmpera a 480ºC e revenido em óleo a 800ºC) e

comummente usado em lâminas de molas. Na tabela 4 são apresentadas as propriedades

mecânicas necessárias em futuros cálculos analíticos.

Tabela 4: Algumas propriedades mecânicas do aço carbono AISI 1095

Tensão de

cedência, 흈풄풆풅 [MPa]

Tensão de rotura, 흈풓

[MPa]

Módulo de

Elasticidade, E [GPa]

Dureza Brinell,

HB

800

1270

205

362

56

Da tabela 4, constata-se um erro relativo mínimo entre os valores de tensão de rotura e

dureza Brinell obtidos experimentalmente e os característicos do aço carbono seleccionado, o

que reforça a opção tomada.

5.2.2. Determinação Experimental do Raio de Curvatura

Para a obtenção do raio de curvatura das lâminas do protótipo seleccionado (figura 70),

recorreu-se a um processo de interpolação e a uma mesa de coordenadas (existente no

Laboratório de Mecânica Experimental do Departamento de Engenharia Mecânica, do Instituto

Superior Técnico). Assim, colocou-se uma das lâminas na referida mesa e fez-se uma

aquisição de coordenadas pontuais ao longo da sua curvatura (figura 71).

Figura 71: Obtenção do raio de curvatura das lâminas seleccionadas

Com essa aquisição de dados o algoritmo associado ao equipamento forneceu as coordenadas

que definem a posição do centro e o raio de curvatura da lâmina. Para uma maior precisão do

resultado, realizaram-se 3 interpolações definidas por 10, 15 e 20 pontos, respectivamente,

tendo-se obtido na 1ª interpolação um raio de curvatura de 107,318 mm, na 2ª 105,377 mm e

na 3ª 106,366 mm. Desta feita, definiu-se um raio de curvatura (médio) das lâminas do

protótipo de Mola Y de 106,4 mm.

Determinados estes dois parâmetros (tipo de aço carbono em estudo e raio de

curvatura) fundamentais à análise linear elástica, procede-se à respectiva modelação analítica.

5.2.3. Modelação Analítica do Patamar de Força Constante

Conforme foi mencionado, pretende-se realizar um estudo analítico que tem por base o

princípio de funcionamento da Mola Y (exposto no subcapítulo 2.2.3). Relembre-se que

segundo o mesmo, a mola, ao ser sujeita a um esforço de tracção, reage com uma resposta

constante, isto é, tem reacção constante. A figura 72 mostra a zona da resposta quasi-estática

57

obtida experimentalmente (figura 69) em que tal se verifica, ou seja, em que se validam as

hipóteses da teoria de viga de Euler-Bernoulli.

Figura 72: Patamar da resposta quasi-estática em estudo

Dada a simetria física e geométrica existente entre as 2 lâminas, por questões de

simplicidade analítica, todos os cálculos são realizados para uma só, logo a reacção constante,

F, de 70 N (visível na figura 72) equivale a 35 N em cada lâmina.

Primeiramente, existe necessidade de clarificar a existência de uma linearidade física

do material constitutivo das lâminas, pois, relembre-se que o raio de curvatura das lâminas em

estudo foi alcançado por um processo de desenrolamento. Neste, aplicou-se uma determinada

carga que excedeu o patamar de cedência do material, mas que não atingiu (nem poderia

atingir) o valor necessário para plastificar toda a secção transversal (existiu uma plastificação

em redor de uma zona central que permaneceu elástica). Assim, ao diminuir-se o esforço

aplicado novamente até zero verificou-a uma zona de descarga, caracterizada por uma relação

linear entre tensão, σ , e extensão ε . A figura 73 reflecte graficamente estas duas fases

(aplicação de um esforço superior ao patamar de cedência e consequente recuperação linear

elástica).

Figura 73: Comportamento elasto-plástico (ideal) [53]

58

Dada esta fase de descarga linear, quando se obteve o raio de curvatura, aplicou-se um

esforço o mais constante possível (velocidade de deformação constante), com o intuito de se

obter uma parcela de plasticidade muito semelhante em cada secção transversal (valores das

tensões residuais muito idênticos em cada secção), logo, uma recuperação linear elástica

idêntica em todo o curso da lâmina, sendo neste patamar que a mola trabalha em futuras

solicitações (em futuros carregamentos quasi-estáticos a curva σ푣푒푟푠푢푠ε coincide com a curva

de descarga linear, constante em todas as secções transversais do curso em análise; ignora-se

aqui o fenómeno de histerese do material).

Em seguida, apresenta-se a validação analítica do comportamento físico das lâminas

(teoricamente apresentado). Para tal, determinou-se o momento elástico máximo ou momento

de cedência da lâmina de aço carbono AISI 1095 (desenvolvimento da equação 10):

M = σ (Eq.31)

em que o segundo momento de área da secção transversal, I , tem o valor de (pela equação

12):

I = × b × h = 6 × 10 mm (Eq.32)

na qual b representa a largura da lâmina (45 mm) e h a sua espessura (1,2 mm).

Por sua vez, y, representa a distância à linha neutra da secção transversal rectangular

(coincidente com o seu plano de simetria; sendo esta aproximação plausível, pois o raio de

curvatura das lâminas é suficientemente grande comparativamente à sua espessura), logo com

uma espessura de 1,2 mm, para o referido cálculo tem o valor de 0,6 mm. O valor da tensão de

cedência, 휎 , encontra-se expresso na tabela 4. Dadas estas informações verifica-se um

momento elástico máximo de:

M = 8N. m (Eq.33) Por outro lado, pode determinar-se o momento plástico (momento em que toda a secção está

submetida a deformações plásticas, assumindo um comportamento rígido-plástico) do aço

carbono em estudo (dedução na referência [15]):

M = M = 12N. m (Eq.34)

É de salientar que a mesma só é válida para um elemento estrutural com secção transversal

rectangular e constituído por um material elasto-plástico.

Tendo em mente o valor de momento máximo para um comportamento elástico do

material e o valor de momento a partir do qual toda uma secção transversal do patamar em

estudo está submetida a deformações plásticas, um suposto comportamento elasto-plástico

das lâminas de aço carbono AISI 1095 tem de estar compreendido entre 8 N.m e 12 N.m.

Desta forma, para constatar tal facto, desenvolveu-se a equação que rege o princípio de

funcionamento da Mola Y (equação 13) com o valor de raio de curvatura médio obtido

experimentalmente (휌(푥)= 106,4 mm):

59

( )= ( )

( ) (Eq.35)

assim,

,= ( )

× × × (Eq.36)

logo,

M (x) = 11,6N. m (Eq.37)

Resultando um momento de 11,6 N, comprova-se analiticamente que o material das lâminas

fica sujeito à tensão de cedência numa parte do seu volume. Por uma questão de clareza do aspecto mencionado, na figura 74 mostram-se as

distribuições de tensões (resultantes da obtenção do raio de curvatura das lâminas de aço

carbono) que regem o comportamento físico das lâminas do patamar da resposta quasi-

estática em estudo.

Figura 74: Distribuições de tensões

Na figura 74, o somatório representa as distribuições de tensões provenientes do

desenrolamento das lâminas e consequente descarga, respectivamente; por sua vez, a

igualdade representa a distribuição de tensões residuais resultante (constantes nos 40 mm

iniciais de curso). Portanto, a distribuição de tensões verificada em cada uma das lâminas,

quando solicitada a Mola Y, é a representada no primeiro elemento do somatório (tensão

máxima e constante nas lâminas, após deformação, de 800 MPa).

Explicado como se mantém uma disponibilidade elástica idêntica em cada secção

transversal, é interessante determinar a parcela de espessura, yced, que permaneceu elástica

em cada secção. Relembre-se que este estudo apenas é realizado na zona em que se verifica

o princípio de funcionamento da Mola Y (patamar de reacção constante, figura 72). Assim,

primeiramente determinou-se o momento corresponde à reacção experimental, F, de 35 N em

cada lâmina, através da equação 17:

F(x) = ( ) (Eq.38)

−훔퐜퐞퐝 훔퐜퐞퐝

퐲퐜퐞퐝

퐲퐦á퐱 퐲퐦á퐱

퐲퐜퐞퐝

훔′퐜퐞퐝 훔′퐦á퐱 훔퐫퐞퐬ퟏ −훔퐫퐞퐬ퟐ

퐌 = 퐌퐚퐩퐥퐢퐜퐚퐝퐨 퐌 = −퐌퐚퐩퐥퐢퐜퐚퐝퐨 퐌 = ퟎ

퐲퐦á퐱

퐲퐜퐞퐝

60

logo,

M (x)=9,3 N.m (Eq.39)

Este resultado representa o momento do patamar em estudo (na figura 74 é o Maplicado).

Desta forma, recorrendo à expressão que relaciona o mesmo com a respectiva espessura no

domínio linear elástico, yced, (dedução na referência [15]):

M = M 1 − á

(Eq.40)

na qual MEP representa o momento do patamar em estudo e ymáx representa a cota máxima da

secção em relação à linha neutra da secção (0.6 mm).

Conhecido o momento elasto-plástico, M , e o momento de cedência, Mc, resulta que

a zona da secção transversal onde a tensão atinge o valor de cedência é:

y = 0,5mm (Eq.41)

Em seguida, apresenta-se a tensão máxima, σ′ á na figura 74, da fase de descarga linear

(distribuição de tensões lineares em que trabalha a lâmina em futuras solicitações estáticas); a

tensão, σ′ced na figura 74, verificada nessa mesma distribuição devido à espessura do domínio

linear elástico (y ); bem com o valor de tensões residuais (σ e σ na figura 74).

Através do desenvolvimento da equação 10:

σ′ á = , × ,×

= 930MPa (Eq.42)

σ′ = , × ,×

= 775MPa (Eq.43)

Sobrepondo as duas distribuições de tensões do somatório: σ = 130MPa

σ = −25MPa

Um pormenor não mencionado é que merece um comentário, refere-se à discrepância

existente entre o valor de momento (M (x) = 11,6N. m) para o raio de curvatura médio

(ρ=106,4 mm) das lâminas em estudo e o obtido pela força de suspensão constante

determinada experimentalmente, 35 N (M (x) = 9,3 N). Este último é característico de um raio

de curvatura de:

( )= ,

× × × (Eq.44)

logo,

ρ(x) = 132,3mm (Eq.45) Em primeira análise, a diferença de raios de curvatura poderia ser justificada pela aproximação

da lâmina inicialmente curva a uma lâmina rectilínea (assumiu-se a posição da linha neutra

coincidente com o plano de simetria). Para fundamentar a aproximação adoptada, determinou-

se a distância R’ do centro de curvatura à superfície neutra de uma viga curva de secção

transversal rectangular (dedução na referência [15]):

61

R′ =

(Eq.46)

em que h representa a espessura da lâmina, ρ a menor distância do centro de curvatura à

superfície da lâmina, ρ a maior distância do centro de curvatura à superfície da lâmina. Na

figura 75 são visíveis estes parâmetros e a distância, ρ, à linha coincidente com o centróide.

Figura 75: Flexão de viga curva [33]

Assim, da equação 46 resulta:

R′ = ,( ,

, )≈ ρ (Eq.47)

(para um ρ suficientemente grande quando comparado com a espessura, h, da lâmina)

Com este resultado valida-se a aproximação adoptada ao longo do presente trabalho, ou seja,

apesar da geometria inicial das lâminas, dado o seu valor de espessura, a linha neutra coincide

com o plano de simetria da secção transversal rectangular. Desta forma, a diferença de raios

de curvatura e consequentes momentos flectores não é fundamentada pela variação da

posição da linha neutra (existente entre uma viga rectilínea e viga curva, ambas de secção

rectangular).

Uma possível explicação deve-se a variações do raio de curvatura ao longo das

lâminas (tem intrínseco variações de tensões residuais). Assim, o valor de 106,4 mm (obtido

experimentalmente) representa o raio de curvatura médio das lâminas, por seu lado, o valor de

132,3 mm (obtido com a força de suspensão de 35 N) representa o raio de curvatura do

patamar em estudo (raio de curvatura local). É de referir que esta constatação apenas indica

uma variação de tensões residuais ao longo das lâminas do protótipo de Mola Y seleccionado,

ou seja, não permite afirmar que tal sucede a partir dos 40 mm iniciais de curso.

ρ ρ

ρ R’

62

5.3. Ensaio Experimental de Fadiga

Tal como mencionado, para a quantificação da resistência à fadiga do protótipo de

Mola Y escolhido, adoptou-se a metodologia apresentada no subcapítulo 4.2. Além dos

pressupostos expostos, é de reforçar que o ensaio laboratorial foi controlado em deslocamento

(relembre-se, através do disco excêntrico regulável, impôs-se o deslocamento máximo, ou seja,

13 mm) sem qualquer pré-tensão. Por conseguinte, recorrendo à equação 22, o valor de razão

de tensões, R, é nulo obtendo-se assim um ciclo pulsante. É de salientar também que, o

afastamento inicial dos roletes relativamente ao suporte superior da mola (figura 62), significa

que o deslocamento foi imposto no curso das lâminas onde se verificou uma resposta quasi-

estática constante (patamar dos 40 mm iniciais, figura 72).

Relativamente aos principais parâmetros do ciclo pulsante a que se submeteu o

protótipo de Mola Y, a força mínima é nula, logo σ = 0, sendo a força máxima os 70 N (visível

na figura 72), logo σ á = 800 MPa (ver secção 5.2.3). Assim resulta:

Da equação 19, σ = 400MPa;

Da equação 20, σ = 400MPa;

Da equação 21, ∆σ = 800MPa.

Em seguida, expõe-se na tabela 5 o número de ciclos de fadiga constatados

experimentalmente até ocorrer cada um dos problemas enunciados na secção 4.2.1.

Tabela 5: Resultados do ensaio de fadiga

Número de ciclos, N [N×105]

Observações

Aproximadamente 2×105

Ocorrência do problema 2 (avaria do motor

eléctrico da marca Siemens)

Aproximadamente 4×105

Ocorrência do problema 3 (rotura das lâminas

na zona de descontinuidade geométrica)

Aproximadamente 4×105

Ao reiniciar o ensaio de fadiga observou-se o

problema 4 (avaria do contador de ciclos)

Aproximadamente 6×105

Ocorrência do problema 5 (rotura em componente da máquina de fadiga)

Aproximadamente 1×106

Ocorrência do problema 6 (rotura dos

parafusos do suporte inferior da máquina de fadiga)

63

Da tabela 5 constatam-se sensivelmente 4×105 ciclos de fadiga (da equação 18, Nr = 4×105)

até ocorrer rotura no protótipo de Mola Y, particularmente na zona de descontinuidade

geométrica das lâminas (furos para fixação), figura 76.

Figura 76: Lâmina de Mola Y após rotura por fadiga

Da referida tabela também se constata que após rotura por fadiga dos parafusos

(rotura ao fim de aproximadamente 1×106 ciclos), que unem o suporte inferior da máquina de

fadiga ao dispositivo experimental, deu-se por finalizado o ensaio. Tal facto advém da

finalidade do mesmo (quantificar a resistência à fadiga do protótipo e não dos componentes

que incorporam os suportes inferior e superior da máquina de fadiga ou da própria máquina).

Desta feita, a solução passaria por projectar e conceber novos suportes (opção pouco viável,

dada a variável tempo de construção) ou recorrer a um estudo de fadiga por intermédio de um

Método de Elementos Finitos, MEF, (opção tomada e apresentada no subcapítulo 5.4.2).

5.3.1. Análise da Superfície de Rotura

Com o objectivo de clarificar os mecanismos actuantes durante a rotura das lâminas

(iniciação da fenda, estrias e zona de fractura final [33]), mostra-se nesta secção a análise

fractográfica resultante da observação microscópica ao longo de uma parte da zona de rotura.

Esta observação foi efectuada por intermédio do microscópio incorporado na mesa de

coordenadas já referida (figura 71), tendo sido registadas as respectivas imagens com o auxílio

de um software de imagem existente num computador (acoplado à referida mesa). Na figura 77

é visível a zona de rotura de uma das lâminas.

64

Figura 77: Zona da lâmina que sofreu rotura

De seguida apresentam-se as imagens recolhidas durante a visualização da superfície

de rotura (identificada na figura 78 e figura 79 com diferentes detalhes).

Figura 78: Superfície de rotura

Figura 79: Superfície de rotura detalhada

Na figura 78 é visível em traços gerais a morfologia da superfície de rotura. Por sua vez, na

figura 79 é observável na mesma superfície a zona de iniciação da fenda (identificada com o

número 1), a zona de propagação da fenda (identificada com o número 2) e a consequente

rotura (identificada com o número 3).

5.4. Método de Elementos Finitos

Com o objectivo de modelar o comportamento estático do protótipo de Mola Y,

nomeadamente da zona onde se constatam oscilações da reacção ao longo do curso, bem

Zona em Análise

1

2

3

65

como o resultado experimental de resistência à fadiga, neste subcapítulo expõe-se uma análise

não-linear elástica e análises de fadiga por intermédio de simulações numéricas pelo Método

de Elementos Finitos (MEF), através do programa computacional apresentado na secção 4.3.

5.4.1. Efeitos de Segunda Ordem pelo Método de Elementos Finitos

O princípio de funcionamento da Mola Y rege-se por uma análise linear elástica de

vigas finas. Porém, em todos os ensaios experimentais de tracção constatou-se que em

determinada região do curso das lâminas a resposta quasi-estática deixa de ser constante.

Relembre-se, na resposta do protótipo em análise (figura 69) observou-se que nos 40 mm

iniciais de curso os pressupostos de uma análise linear elástica foram verificados, no entanto, a

partir desse valor, uma variação de tensões residuais e/ou efeitos de 2ª ordem são possíveis

responsáveis por desvios na resposta teórica da Mola Y. Não sendo o objectivo do trabalho

determinar a causa específica dessas variações a partir do valor do deslocamento mencionado,

isto é, determinar a causa que primeiramente teve na sua origem (a partir dos 40 mm

aparecimento de efeitos de 2ª ordem ou variação de tensões residuais e só numa gama de

deslocamentos mais elevada surgem os referidos efeitos); passa, então, pelo presente trabalho

verificar por simulações numéricas que no protótipo em estudo e em futuros modelos reais

empregues na suspensão de tubagens aéreas, uma força de suspensão constante só é

possível até determinado patamar.

Seguindo a metodologia exposta no subcapítulo 4.3 para uma análise não-linear no

software Simulation, definiu-se uma das lâminas de aço carbono AISI 1095 do protótipo em

estudo, com o valor de raio de curvatura médio de 106,4 mm (obtido experimentalmente) e

ângulo ao centro,θ, de 60º, logo com um comprimento na posição deformada de (pela equação

6):

L = 111,4mm A segunda lâmina foi definida na sua posição deformada, ou seja, plana com um comprimento,

L, de 112 mm. Esta geometria foi adoptada no sentido de facilitar a análise, flectindo somente

uma lâmina (numa secção transversal localizada, aproximadamente, a 112 mm da extremidade

rigidamente fixa). A outra foi definida como um corpo rígido para simular o contacto existente

entre ambas quando a Mola Y é sujeita a um determinado esforço. Esta opção foi tomada no

sentido de reduzir consideravelmente o tempo de execução numérica, face a duas lâminas

uniformemente curvadas e sujeitas a um momento flector. Na figura 80 é visível a geometria a

analisar.

66

Figura 80: Geometria desenhada no software CAD 3D Solidworks

Quanto às condições de fronteira, fixaram-se os topos da extremidade onde se exige

uma ligação rígida (fixed; número 1 na figura 81). Aplicou-se uma força de 400 N na aresta da

extremidade oposta da lâmina (número 2 na figura 81); e definiu-se um contacto do tipo no

penetration entre as lâminas. É de salientar que a força aplicada foi praticamente a maior

possível, sem exceder a tensão de rotura do material. Na figura 81 expõe-se a geometria com

as respectivas condições de fronteira e aplicação de carga.

Figura 81: Geometria com condições impostas

Legenda da figura 81:

1 – Topos das lâminas rigidamente ligados;

2 – Carga aplicada de 400 N.

Relativamente ao tipo de malha, utilizou-se uma malha de elementos sólidos para os

corpos e 2D para as condições de contacto e definiu-se uma densidade caracterizada por

elementos de 4 mm; contudo, para a finalidade em causa, constatou-se que um maior ou

menor refinamento da malha era irrelevante.

1

2

67

Por último, nas propriedades da análise estática, accionou-se a opção dos grandes

deslocamentos para uma análise não-linear (large displacement).

Definidos os parâmetros realizou-se a análise e utilizou-se um solver do tipo directo

(direct sparse). Na figura 82 e 83 é visível a deformada obtida com as tensões de Von Mises e

deslocamentos totais ao longo da lâmina, respectivamente.

Figura 82: Deformada obtida e respectivos valores de tensões

Figura 83: Deformada obtida e respectivos valores de deslocamento

Na figura 83 é visível a interacção do efeito de sela/efeito de Poisson (devido a grandes

deformações que inviabilizam os pressupostos da viga de Euler-Bernoulli) com as forças de

contacto existentes entre as lâminas. Assim, verificam-se efeitos de 2ª ordem que conduzem a

desvios no teoricamente previsto comportamento da Mola Y. Recorde-se que na presença de

efeitos de 2ª ordem a tensão longitudinal, 휎 , deixa de ser constante ao longo das lâminas

(variação do momento flector, M).

Na figura 83 os referidos efeitos foram reflectidos através da ligeira concavidade

verificada após deformação. Relembre-se que na ausência de efeitos de 2ª ordem, era

espectável uma geometria após deformação que apresentasse duas lâminas perfeitamente

planas em contacto.

Em suma, com recurso a uma análise estática por intermédio de elementos finitos,

provou-se que qualquer protótipo ou modelo real de Mola Y, ao ser traccionado, mostra em

determinado ponto do curso das lâminas a existência de efeitos de 2ª ordem, isto é, a partir de

certa gama de deslocamentos, as lâminas sofrem efeitos que invalidam o modelo de

funcionamento da Mola Y.

Efeitos de 2ª Ordem

68

5.4.2. Ensaios de Fadiga pelo Método de Elementos Finitos

Com o objectivo de modelar o resultado experimental de resistência à fadiga do

protótipo de Mola Y, através da metodologia apresentada na secção 4.3 para análises de

fadiga por intermédio do software Simulation definiu-se a geometria da figura 84.

Figura 84: Geometria para análise de fadiga

Na figura 84 é exposta a geometria concebida no Solidworks® e detalhada no capítulo 3,

referente ao protótipo de lâminas seleccionado com o respectivo suporte superior. Para efeitos

simplificativos, omitiu-se o mecanismo de aplicação de carga e definiram-se lâminas com um

raio de curvatura de 132,3 mm (raio de curvatura do patamar em estudo) que na posição

deformada apresentassem, aproximadamente, 50 mm de comprimento. Este comprimento

contempla a gama de trabalho ensaiada experimentalmente.

Relembre-se que para uma análise de fadiga no presente software, primeiramente há

que sujeitar o modelo a uma análise estática linear. Desta forma, como condições de fronteira

fixou-se a face superior do suporte (simula a fixação da Mola Y ao suporte superior da máquina

de fadiga; número 1 na figura 85) e aplicou-se uma força vertical e horizontal nas extremidades

das lâminas (representam as componentes da reacção constante dos roletes ao rolarem sobre

as lâminas nos 40 mm iniciais de curso). A componente vertical tem o valor de 35 N (obtido

experimentalmente; número 4 na figura 85) e a componente horizontal de 235 N (valor

necessário para obter duas lâminas planas e em contacto, tendo sido alcançado pela

metodologia da secção 5.4.1; número 3 na figura 85). Relativamente ao parafuso para fixação

das lâminas e destas ao suporte definiu-se um parafuso M8 (número 2 na figura 85) e um valor

de pré-tensão requerida, Fi de (experimentalmente usou-se um parafuso M8 de classe 10.9)

[39]:

Fi = 0,90Fp (Eq.48)

onde Fp representa a pré-tensão recomendada, sendo a presente equação válida somente

para ligações permanentes (como se pretende na Mola Y) [39]:

69

Fp = A S (Eq.49)

na qual A engloba a área do parafuso que trabalha à tracção e S a tensão admissível do

parafuso.

Recorrendo a tabelas da referência [39] para um parafuso com um diâmetro de 8 mm,

A exibe o valor de 36,6 mm2, valendo S 830 MPa para parafusos de classe 10.9. Assim, a

pré-tensão recomendada é:

Fp = 830 × 10 × 36,6 × 10 = 30378N (Eq.50) Desta forma, para a união em causa definiu-se um parafuso com uma pré-tensão de:

Fi = 0,90 × 30378 = 27340,2N (Eq.51) Na figura 85 é exposta a geometria em estudo com as condições enumeradas.

Figura 85: Geometria com cargas aplicadas, ligações e restrições

Legenda da figura 85:

1 – Face do suporte superior fixada;

2 – Ligação aparafusada;

3 – Componente horizontal da reacção do rolete (235 N);

4 – Componente vertical da reacção do rolete (35N).

Em relação à malha, utilizou-se uma malha constituída por elementos sólidos

tetraédricos em 3D, tendo-se definido elementos com 4 mm de aresta para a mola em geral e

na zona de descontinuidade geométrica (furo das lâminas) elementos com 2 mm. Um

refinamento da malha revelou um tempo de execução numérica bastante elevado.

Após a definição da malha, executou-se a análise estática através de um solver do tipo

iterativo. Na figura 86 mostra-se a distribuição de tensões de Von Mises obtida.

1

2

3

4

70

Figura 86: Variação de tensões ao longo das lâminas

Do resultado apresentado, verifica-se uma distribuição de tensões que supera o limite de

cedência do material, ou seja, um valor máximo de tensão nas lâminas superior ao

efectivamente existente no protótipo. Este facto advém da impossibilidade de reproduzir no

software o estado de tensões residuais existente nas lâminas do protótipo (valor máximo e

constante de tensão nas lâminas experimentais de 800 MPa - ver secção 5.2.3). Contudo, na

ausência de tensões residuais, e com um domínio elástico para tal capacidade, o protótipo

verificaria um valor de tensão máximo nas lâminas de 930 MPa (equação 42, ver secção 5.2.3),

sendo, então, o resultado obtido pelo MEF (figura 86) uma boa aproximação do mesmo.

Da figura 86 também é visível uma concentração de tensões na zona do furo das

lâminas (figura 87).

Figura 87: Concentração de tensões no furo das lâminas

Seguindo a metodologia do subcapítulo 4.3, no ambiente característico de uma análise

de fadiga definiu-se um ciclo de fadiga do tipo pulsante, uma curva S-N típica de um aço

carbono e optou-se pelo critério de Goodman para relacionar a tensão limite de fadiga com a

71

tensão média (seleccionaram-se previamente os valores de tensão de Von Mises para efeitos

de cálculo numérico). Relativamente ao método adoptado para relacionar a tensão limite de

fadiga com a tensão média verificaram-se diferenças mínimas entre o critério de Goodman e

Gerber. Ainda nas propriedades da análise definiu-se um factor de sensibilidade ao entalhe de

0,90, q=0,90 (obtido por consulta gráfica na referência [39]).

Ao executar a análise de fadiga obteve-se o resultado de vida à fadiga representado na

figura 88.

Figura 88: Resultado numérico da vida à fadiga

O resultado apresentado é relativamente diferente do obtido experimentalmente. Relembre-se

que no ensaio experimental verificou-se rotura na zona do furo das lâminas, aproximadamente,

ao fim de 4×105 ciclos, tendo sido as lâminas sujeitas a 106 ciclos de fadiga sem ocorrer

qualquer rotura. Contudo, numericamente as lâminas apresentam uma vida à fadiga entre 104 a

105 ciclos. Este número de ciclos é característico de fadiga oligocíclica e deve-se a uma

solicitação a amplitude de tensão constante, onde a tensão a que as lâminas, do modelo

numérico, estão submetidas é superior à tensão de cedência (figura 86).

Esta discrepância na quantificação da resistência à fadiga deve-se, tal como já referido,

à impossibilidade de reproduzir o comportamento físico do protótipo de Mola Y, o qual é

caracterizado pela presença de tensões residuais. Experimentalmente, a existência de um

estado de tensões residuais origina um valor de tensão máximo e constante na gama de

trabalho de 800 MPa (limite de cedência do material), logo um consequente aumento da vida à

fadiga das lâminas. Assim, pode afirmar-se que a existência de um estado favorável de

tensões residuais, no protótipo, aumenta a resistência à fadiga, justificando a divergência entre

72

os resultados experimentais e numéricos na quantificação da resistência à fadiga ao longo das

lâminas.

Por sua vez, na zona de descontinuidade geométrica das lâminas, numericamente,

verifica-se uma viga à fadiga de aproximadamente 6,5×105 ciclos. A figura 89 mostra, em

pormenor, a zona do furo das lâminas e respectivo resultado de vida à fadiga.

Figura 89: Resultado numérico da vida à fadiga na zona do furo das lâminas

O resultado numérico apresenta uma boa concordância com o resultado experimental de

fadiga, referente à rotura na zona do furo das lâminas (Nr=4×105, aproximadamente), podendo

a ligeira variação ser justificada pela existência de um diferente valor de pré-tensão no

parafuso (experimentalmente, o aperto foi realizado manualmente) e por eventuais fenómenos

vibratórios intrínsecos à máquina de ensaios.

Como ilações principais, pode afirmar-se que na simulação numérica de fadiga

primeiramente ocorre rotura nas lâminas, pois, o software não tem a capacidade de reproduzir

o estado de tensões residuais existente no protótipo real; no entanto, numericamente verifica-

se uma boa concordância com o número de ciclos de rotura, verificados experimentalmente, na

zona do furo das lâminas.

Dadas as conclusões do estudo numérico com as lâminas unidas por uma ligação

aparafusada, inviabiliza-se uma quantificação de resistência à fadiga com uma ligação por

soldadura. Por outras palavras, não sendo possível reproduzir o comportamento físico real do

protótipo, as lâminas estão sempre sujeitas a uma tensão superior à tensão de cedência,

originando rotura por fadiga oligocíclica. Na figura 90 é visível a distribuição das tensões ao

longo da gama de trabalho com as lâminas rigidamente ligadas por soldadura (dada as

condicionantes do software no âmbito de ligações por soldadura, simularam-se as duas

lâminas rigidamente ligadas ao suporte superior; as restantes condições permaneceram

inalteradas).

73

Figura 90: Variação de tensões sem ligação aparafusada

5.5. Discussão do Comportamento dos Restantes Protótipos Desenvolvidos

Nos subcapítulos transactos foi exposto um estudo detalhado do protótipo de Mola Y

seleccionado. Desta feita, esta secção destina-se aos restantes modelos, sendo feita uma

sucinta análise ao seu comportamento estático.

Recorde-se a resposta estática obtida experimentalmente pelo modelo de Mola Y

constituído por lâminas de régua graduada com 25 mm de largura (figura 66), na qual são

visíveis oscilações da reacção, F, ao longo de todo o curso. Tal facto, pode ser justificado por

uma variação de tensões residuais e/ou efeitos de 2ª ordem.

Como verificado no subcapítulo 5.4.1, em determinada gama de deslocamentos

surgem efeitos de 2ª ordem que invalidam o modelo de funcionamento da Mola Y, os quais são

responsáveis por uma variação do valor de tensão ao longo das lâminas. Como consequência,

não se verifica um momento flector uniforme, logo não se obtém uma reacção quasi-estática

constante quando solicitada a Mola Y. Além do referido, neste modelo, a existência de uma

ligeira folga (aproximadamente 0,4 mm) entre as lâminas planas, após deformação, favoreceu

o aparecimento dos referidos efeitos (verificado experimentalmente). Reforçado o motivo pelo

qual, a partir de um determinado valor de deslocamento, se verifica uma reacção não uniforme,

há que explicitar a razão das oscilações na resposta quasi-estática no espectro inicial de

deslocamentos. Tal fenómeno, pode ser proveniente do fabrico das lâminas, isto é, dado que a

curvatura das mesmas foi alcançada por um processo de calandragem, variações de tensões

residuais ao longo das lâminas conduzem a secções transversais com uma diferente

disponibilidade elástica (variação do domínio linear elástico yced).

É de salientar que no patamar em que surgem os efeitos de 2ª ordem, estes não

implicam uma uniformidade de tensões residuais, ou seja, na zona de grandes deformações

74

uma força de suspensão não uniforme pode ser justificada por uma conjugação de efeitos de 2ª

ordem e variações do limite máximo de elasticidade de secção para secção.

A resposta das lâminas de régua graduada com 25 mm de largura apresenta uma

curiosidade que também contribui para a não linearidade da resposta, por esta razão, merece

ser salientada. Para uma melhor compreensão da mesma, na figura 91 é visível um detalhe da

resposta das lâminas nos seus 50 mm iniciais.

Figura 91: Detalhe da resposta quasi-estática das lâminas de régua graduada com 25 mm de

largura

Como é visível, constata-se uma periodicidade de 5 em 5 mm, isto é, dada a saliência de

graduação de 5 em 5 mm típica das réguas (em ambas as faces) os roletes ao percorrerem as

lâminas denotam essas irregularidades originando o efeito demonstrado (ligeiras parábolas de

5 em 5 mm). Relativamente às marcações de menores dimensões, características da

identificação de cada mm, estas são reflectidas no gráfico força versus deslocamento através

dos pequenos picos.

Em suma, nas lâminas de régua graduada de 25 mm de largura, as oscilações na

resposta quasi-estática ao longo de todo o curso das lâminas, devem-se a uma variação do

limite máximo de elasticidade (de secção para secção), conjugada a irregularidades

provenientes da graduação das faces da régua (num patamar inicial de deslocamentos); e

devido a efeitos de 2ª ordem na presença de grandes deformações, em que variações de

tensões residuais são também plausíveis de existir.

No que diz respeito à resposta quasi-estática da figura 67 (lâminas de régua graduada

com 30 mm de largura), também se constata a ausência de uma resposta constante em todo o

seu curso. À semelhança dos restantes modelos, a partir de uma certa gama de

deslocamentos, essa ausência é fundamentada pelos efeitos de 2ª ordem (neste modelo

também existiu uma folga de 0.4 mm entre lâminas). Por sua vez, na gama inicial de

deslocamentos, desvios na resposta são justificados por uma não uniformidade de tensões

residuais ao longo das lâminas. É de reforçar que, neste caso, não se observa a periodicidade

mencionada (variações acentuadas de tensões residuais e/ou ausência de graduação em

ambas as faces das lâminas são causas possíveis), porém verificam-se os pequenos picos

referentes à graduação de cada mm.

Extension (mm)

Load

(N)

75

Por fim, relativamente às lâminas de aço carbono AISI 1095 com menor raio de

curvatura (figura 68), nos 45 mm iniciais uma resposta não constante é justificada por

variações de plasticidade (dada a geometria inicial, as lâminas de aço carbono de menor raio

de curvatura, necessitaram de um maior esforço de desenrolamento, ficando mais susceptíveis

a variações do raio de curvatura). A partir desse valor de deslocamento e até, sensivelmente,

aos 85 mm de curso é constatada uma resposta praticamente uniforme, a qual é justificada por

uma idêntica disponibilidade elástica e uma ausência de efeitos de 2ª ordem. Para elucidar de

forma gráfica estas duas fases, a figura 92, mostra um detalhe da figura 68 que contempla os

85 mm iniciais.

Figura 92: Detalhe da resposta das lâminas de aço carbono de menor raio de curvatura

A partir desse valor de deslocamento (85 mm), constata-se novamente, uma resposta

quasi-estática não uniforme devido aos efeitos de 2ª ordem visíveis em todos os modelos na

presença de grandes deformações. É de referir que, apesar da existência de um aparente

patamar de reacção constante não se optou por o protótipo de Mola Y com estas lâminas,

porque este apenas se verifica a partir dos 45 mm.

45 Extension (mm)

Load

(N)

76

6. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Como conclusão primordial pode-se referir que o objectivo inicialmente proposto foi

alcançado de forma satisfatória.

Após a elaboração de vários modelos executaram-se ensaios experimentais de tracção

para revelar o seu comportamento a nível quasi-estático, tendo-se seleccionado um dos

protótipos devido a exibir um patamar inicial de reacção constante, o qual aplicado a uma

tubagem aérea (campo de aplicação de futuros modelos reais de Mola Y) reflectiria uma força

de suspensão uniforme. O referido protótipo foi submetido a um estudo exaustivo, podendo

concluir-se que futuros modelos de Mola Y apenas exibirão uma força de suspensão constante

numa gama de deslocamentos em que seja válida uma análise linear elástica de vigas finas. A

partir da referida gama, começam a ser visíveis efeitos de 2ª ordem devido à interacção do

efeito de sela com as forças de contacto, originado variações da força de suspensão. Além do

referido efeito, variabilidades de tensões residuais ao longo das lâminas justificam desvios na

resposta, teoricamente esperada, da Mola Y.

Com o intuito de quantificar a resistência da Mola Y aos ciclos de carga que,

naturalmente, estará submetida numa futura aplicação, submeteu-se o protótipo seleccionado a

um ensaio experimental de fadiga. Deste constatou-se que a fixação das lâminas por meio de

uma ligação aparafusada não foi adequada, sugerindo que a solução seja uma união por

soldadura. Na simulação numérica da resistência à fadiga, a impossibilidade de reproduzir um

estado favorável de tensões residuais originou rotura por fadiga oligocíclica nas lâminas,

contudo, na zona de descontinuidade geométrica das lâminas verificou-se uma boa

concordância com o resultado experimental.

Com os fundamentos apresentados reforça-se o conceito de Mola Y como uma

alternativa funcional face aos actuais mecanismos de força constante empregues na

suspensão de tubagens aérea, visto que, os presentes mecanismos também são incapazes de

exibir uma força de suspensão uniforme numa gama ilimitada de deslocamentos (sendo

definidos no patamar de força não constante com uma tolerância de 6% relativamente à carga

constante [50]).

Como propostas a realizar em futuros protótipos de Mola Y, bem como em futuros

modelos reais, enumeram-se os seguintes conteúdos:

Obter chapa plana de Aço Carbono AISI 1095, efectuar o processo de enformação

específico e respectivos tratamentos térmicos para a obtenção de lâminas;

Conceber novos suportes de fadiga, para uma quantificação experimental da

resistência à fadiga de protótipos de Molas Y, cujas lâminas são rigidamente ligadas

por soldadura;

Através de um estudo analítico de maior complexidade conhecer o valor de

deslocamento limite de validade do modelo;

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Conceber modelos reais de Mola Y para suporte de uma determinada tubagem aérea,

onde se exige uma determinada força de suspensão uniforme (tendo por base todo o

conhecimento prévio adquirido no estudo dos protótipos);

Registar e analisar o comportamento estático e quantificação da resistência aos ciclos

de carga do modelo real;

Concluir quanto a uma alternativa (funcional e económica) de suporte de pipelines por

intermédio de modelos reais de Mola Y.

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