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Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas Sara Cristina Gerardo Ramalho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química Orientadores: Professor Pedro Manuel Machado Teixeira Gomes (IST) Doutor Jorge Alberto Salgueiro Vigário Moniz dos Santos (Resiquímica) Júri Presidente: Professora Benilde de Jesus Vieira Saramago (IST) Orientador: Doutor Jorge Alberto Salgueiro Vigário Moniz dos Santos (Resiquímica) Vogal: Professora Maria do Rosário Gomes Ribeiro (IST) Junho de 2016

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Page 1: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões

aquosas

Sara Cristina Gerardo Ramalho

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Química

Orientadores: Professor Pedro Manuel Machado Teixeira Gomes (IST)

Doutor Jorge Alberto Salgueiro Vigário Moniz dos Santos (Resiquímica)

Júri

Presidente: Professora Benilde de Jesus Vieira Saramago (IST)

Orientador: Doutor Jorge Alberto Salgueiro Vigário Moniz dos Santos (Resiquímica)

Vogal: Professora Maria do Rosário Gomes Ribeiro (IST)

Junho de 2016

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Dr. Marcos Lagoa, Administrador da Resiquímica, e à

Eng.ª Susana Carvalho, Diretora Técnica, por me terem concedido a oportunidade de realizar o estágio

na Resiquímica.

Agradeço também ao Doutor Jorge Moniz, meu orientador, por todos os ensinamentos partilhados e

pela sua disponibilidade e dedicação durante todo este percurso.

Ao Professor Pedro Teixeira Gomes, pelo apoio demonstrado e pela dedicação e empenho que

permitiram a redação desta dissertação.

Aos meus colegas do Laboratório de Investigação e Desenvolvimento, Rui Maia, Jaime Silva, Ricardo

Rosa, Diogo Gouveia e Maria Godinho, pela ajuda e acompanhamento da primeira fase deste trabalho

e pela boa disposição diária. Gostava de agradecer principalmente ao Rui Maia pela amizade

demonstrada e por todos os ensinamentos e conselhos dados.

Aos meus colegas do Laboratório de Assistência Técnica e Aplicação, Artur Correia, Marta Santos e

Abílio Pereira, que me acompanharam e permitiram a conclusão da segunda parte do trabalho.

Agradeço especialmente por toda a ajuda indispensável, sem a qual não teria conseguido alcançar

todos os objetivos propostos, e pela boa disposição e simpatia diária.

Aos meus colegas do Laboratório de Controlo de Qualidade, Rui Noel, Anca Piu, Isabel Miranda e

Susana Veloso, pela simpatia e companheirismo.

À Doutora Catarina Ralheta, à Eng.ª Conceição Mouro, à Eng.ª Ana Mourão e à Eng.ª Maria España

pela ajuda demonstrada e pela boa disposição constante.

À Marta Carvalho, por todo companheirismo, amizade e apoio durante este processo.

Aos meus pais e à minha irmã, por todo o apoio e força que me deram e por me permitirem chegar

onde estou hoje.

Por fim, aos meus amigos Daniel Alves, Patrícia Amorim e Mónica Almeida, por estarem sempre

presentes na minha vida e por me acompanharem nesta fase.

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ii

Resumo

Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas

propriedades do produto final, sendo imperativo escolher o emulsionante que mais se adequa a cada

produto. O tamanho de partícula e a estabilidade são fortemente afetados pelo sistema emulsionante,

afetando as restantes propriedades. O objetivo deste trabalho consistiu na avaliação do impacto da

substituição de emulsionantes na polimerização de dispersões acrílicas e vinílicas, avaliando-se a

influência das estruturas dos emulsionantes nos resultados obtidos.

O trabalho prático foi realizado em duas etapas. Na primeira, procedeu-se à síntese e caracterização

de oito dispersões aquosas, das quais apenas seis foram selecionadas para prosseguir à etapa

seguinte. O critério de seleção teve por base a comparação entre os resultados obtidos na

caracterização das dispersões sintetizadas com os emulsionantes de referência e com os

emulsionantes testados como alternativas, nomeadamente quanto ao tamanho de partícula, resíduo ao

peneiro e absorção de água.

Na segunda etapa, testaram-se as dispersões aquosas previamente selecionadas quanto às respetivas

aplicações, nomeadamente como tintas mate, tintas interior exterior, tintas acetinadas, tintas

texturadas, esmaltes e ainda como adesivos sensíveis à pressão. Também estas aplicações foram

caracterizadas, sendo avaliadas as propriedades mais relevantes para cada tipo (e.g. mud-cracking,

resistência à esfrega, empilhamento e brilho).

Nem todos os emulsionantes testados conduziram às propriedades desejadas, sendo que as principais

diferenças nos resultados se devem essencialmente a pequenas desigualdades entre as estruturas dos

emulsionantes. Em contrapartida, alguns dos emulsionantes originaram propriedades bastante

razoáveis, mostrando-se boas alternativas aos emulsionantes atualmente usados pela empresa.

Palavras-chave: emulsionantes, dispersões aquosas, tintas, adesivos sensíveis à pressão.

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iii

Abstract

In aqueous dispersions for paints, surfactants have a major impact on the performance and properties

of final products, thus being imperative to choose the surfactant that best suits each product. Particle

size and stability are strongly influenced by the emulsifier system, which also affects the remaining

properties. The goal of this work was the evaluation of the impact of the replacement of surfactants on

the polymerization of acrylic and vinyl dispersions, and possible correlations between the surfactants

structure and the dispersions properties.

The practical work was performed in two stages. In a first stage, the synthesis and characterization of

eight aqueous dispersions was carried out, of which only six were selected to proceed to the next step.

The selection criteria were based on the comparison of the characterization of the dispersions

synthesized with reference surfactants and with alternative surfactants, namely their particle size, sieve

residue and water absorption.

In the second stage, the aqueous dispersions previously selected were tested in applications such as

matt, interior/exterior, gloss and textured paints, enamels, as well as in pressure-sensitive adhesives.

These applications were also characterized, the most relevant properties (e.g. mud-cracking, scrub

resistance, blocking and gloss) being evaluated for each of type of application.

Not all tested surfactants led to the desired properties, the main alterations being essentially due to

small differences in the molecular structure of the surfactants. In contrast, some of the surfactants

originated very reasonable results, proving to be good alternatives to the surfactants currently used in

the company.

Key-words: surfactants, aqueous dispersions, paints, pressure-sensitive adhesives.

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Índice

Agradecimentos .........................................................................................................................................i

Resumo .................................................................................................................................................... ii

Abstract.................................................................................................................................................... iii

Índice de Figuras .................................................................................................................................... vii

Índice de Tabelas .................................................................................................................................. viii

Lista de Abreviaturas ................................................................................................................................x

1. Enquadramento e objetivos ............................................................................................................. 1

2. Resiquímica ..................................................................................................................................... 2

3. Introdução ........................................................................................................................................ 3

3.1. Polímeros e reações de polimerização ................................................................................... 3

4. Dispersões aquosas ........................................................................................................................ 6

4.1. Matérias-Primas ...................................................................................................................... 6

4.1.1. Meio dispersante – Água ................................................................................................. 6

4.1.2. Monómeros ...................................................................................................................... 7

4.1.3. Emulsionantes ................................................................................................................. 8

4.1.4. Iniciadores ..................................................................................................................... 13

4.1.5. Aditivos .......................................................................................................................... 13

4.2. Polimerização em emulsão ................................................................................................... 14

4.2.1. Nucleação de partículas ................................................................................................ 15

5. Aplicações das dispersões aquosas ............................................................................................. 18

5.1. Tintas ..................................................................................................................................... 18

5.1.1. Matérias-primas ............................................................................................................. 18

5.1.1.1. Solvente ..................................................................................................................... 19

5.1.1.2. Ligante ....................................................................................................................... 19

5.1.1.3. Pigmentos e Cargas .................................................................................................. 19

5.1.1.4. Aditivos ...................................................................................................................... 20

5.1.2. Processo de filmificação ................................................................................................ 21

5.1.3. Tintas de exterior e texturadas ...................................................................................... 23

5.1.4. Tintas de interior ............................................................................................................ 23

5.1.5. Tintas acetinadas........................................................................................................... 23

5.2. Adesivos ................................................................................................................................ 24

6. Condições experimentais .............................................................................................................. 26

6.1. Processo de produção de dispersões aquosas .................................................................... 26

6.2. Caracterização de dispersões aquosas ................................................................................ 27

6.2.1. Aspeto do filme .............................................................................................................. 27

6.2.2. Resíduo sólido (RS) ...................................................................................................... 27

6.2.3. Tamanho Médio de Partícula (TMP) ............................................................................. 28

6.2.4. Temperatura Mínima de Formação de Filme (TMFF) ................................................... 28

6.2.5. Viscosidade de Brookfield ............................................................................................. 29

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6.2.6. pH .................................................................................................................................. 29

6.2.7. Resíduo de filtração ....................................................................................................... 29

6.2.8. Resíduo ao peneiro ....................................................................................................... 30

6.2.9. Resistência termomecânica (RTM) ............................................................................... 30

6.2.10. Absorção de água (AA) ................................................................................................. 30

6.2.11. Ângulo de contacto ........................................................................................................ 31

6.3. Preparação de tintas ............................................................................................................. 32

6.4. Caracterização de tintas ........................................................................................................ 32

6.4.1. Propriedades do Produto Tal Qual ................................................................................ 32

6.4.1.1. Resíduo Sólido (RS) .................................................................................................. 32

6.4.1.2. Viscosidade de Brookfield ......................................................................................... 33

6.4.1.3. Viscosidade de Stormer ............................................................................................ 33

6.4.1.4. Viscosidade de ICI Cone e Placa .............................................................................. 33

6.4.1.5. pH .............................................................................................................................. 33

6.4.1.6. Densidade .................................................................................................................. 33

6.4.2. Propriedade do produto aplicado .................................................................................. 34

6.4.2.1. Aspeto da aplicação .................................................................................................. 34

6.4.2.2. Lacagem .................................................................................................................... 34

6.4.2.3. Brilho especular ......................................................................................................... 35

6.4.2.4. Parâmetros CIELab ................................................................................................... 35

6.4.2.5. Razão de contraste ................................................................................................... 36

6.4.2.6. Fissuração a espessuras elevadas (mud-cracking) .................................................. 36

6.4.2.7. Resistência à esfrega húmida ................................................................................... 37

6.4.2.8. Empilhamento (blocking) ........................................................................................... 37

6.4.2.9. Dureza Pendular de König ........................................................................................ 38

6.4.2.10. Flexibilidade em cartolina ...................................................................................... 39

6.5. Caracterização de adesivos sensíveis à pressão (PSA) ...................................................... 39

6.5.1. Adesão “Peel” ................................................................................................................ 39

6.5.2. Aderência “Loop” ........................................................................................................... 40

6.5.3. Resistência ao cisalhamento ......................................................................................... 41

6.5.4. Gramagem ..................................................................................................................... 41

7. Análise e discussão de resultados ................................................................................................ 42

7.1. Dispersão Aquosa A ................................................................................................................... 44

7.2. Dispersão Aquosa B ................................................................................................................... 49

7.3. Dispersão Aquosa C................................................................................................................... 54

7.4. Dispersão Aquosa D................................................................................................................... 57

7.5. Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 nas propriedades das dispersões aquosas DA, DB,

DC e DD ............................................................................................................................................ 59

7.6. Dispersão Aquosa E ................................................................................................................... 66

7.7. Dispersão Aquosa F ................................................................................................................... 68

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7.8. Dispersão Aquosa G .................................................................................................................. 71

7.9. Dispersão Aquosa H................................................................................................................... 73

8. Conclusões .................................................................................................................................... 75

9. Referências bibliográficas ............................................................................................................. 78

ANEXOS ................................................................................................................................................ 80

Anexo A – Representação gráfica dos ângulos de contato .............................................................. 81

Anexo B – Aplicabilidade e aspeto da aplicação dos revestimentos ................................................ 83

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Índice de figuras

Figura 3.1 – Representação da reação de polimerização do poliestireno. ............................................. 3

Figura 3.2 - Representação das diferentes configurações de copolímeros: (a) copolímero aleatório, (b)

copolímero alternado, (c) copolímero de bloco e (d) copolímero de enxerto ......................................... 4

Figura 3.3 – Representação de polímero linear, ramificado e reticulado ............................................... 4

Figura 4.1 – Estrutura química do metacrilato de metilo, acrilato de butilo, acrilato de 2-etilexilo, estireno,

acetato de vinilo e versatato de vinilo. .................................................................................................... 7

Figura 4.2 - Representação de uma molécula de emulsionante............................................................. 8

Figura 4.3 – Sulfonato alifático. ............................................................................................................... 9

Figura 4.4 – Sulfonato aromático. ........................................................................................................... 9

Figura 4.5 – Alquil sulfato. ....................................................................................................................... 9

Figura 4.6 – Alquil éter sulfato. ................................................................................................................ 9

Figura 4.7 – Alquil aril éter sulfato. .......................................................................................................... 9

Figura 4.8 – Alquil éter fosfato. ............................................................................................................... 9

Figura 4.9 – Alquil amina fosfato. ............................................................................................................ 9

Figura 4.10 – Alquilfenol éter fosfato. ...................................................................................................... 9

Figura 4.11 – Sulfosuccinato. .................................................................................................................. 9

Figura 4.12 – Polietilenoglicol. .............................................................................................................. 10

Figura 4.13 – Copolímero de bloco. ...................................................................................................... 10

Figura 4.14 – Representação de alguns tipos de micelas. ................................................................... 10

Figura 4.15 – Representação de uma partícula de látex, estabilizada por emulsionantes e coloides

protetores............................................................................................................................................... 11

Figura 4.16 – Representação das espécies presentes na fase aquosa durante o processo de

polimerização. ....................................................................................................................................... 14

Figura 4.17 – Processo de nucleação de partículas. ............................................................................ 16

Figura 5.1 Processo de formação do filme ............................................................................................ 22

Figura 5.2 – Representação da falha estrutural do substrato e das falhas de adesão e coesão do

adesivo. ................................................................................................................................................. 24

Figura 6.1 – Esquema de montagem do equipamento necessário à produção das dispersões aquosas.

............................................................................................................................................................... 26

Figura 6.2 – Aparelho para a determinação da temperatura mínima de formação de filme. ............... 28

Figura 6.3 – Representação do ângulo de contacto,α, formado por uma gota de água, sobre uma uma

superfície ............................................................................................................................................... 31

Figura 6.4 – Sistema de coordenadas CIELab ..................................................................................... 35

Figura 6.5 – Esquematização do bloco metálico Meier Gauge e rasoisa ............................................. 36

Figura 6.6 – Pêndulo de König. ............................................................................................................. 38

Figura 6.7 – Processo de remoção do adesivo da placa de vidro, com um tensiómetro. .................... 40

Figura 6.8 – Procedimento do teste de aderência “loop”. ..................................................................... 40

Figura 6.9 – Teste de avaliação da resistência ao cisalhamento de um adesivo. ................................ 41

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viii

Índice de Tabelas

Tabela 4.1 – Valores indicativos relativos à difusão de partículas z-mero em gotas de monómero,

micelas e partículas de látex ................................................................................................................. 16

Tabela 7.1 – Principais características dos emulsionantes de referência e dos emulsionantes testados

como contratipos. .................................................................................................................................. 43

Tabela 7.2 – Formulação da dispersão aquosa A. ............................................................................... 44

Tabela 7.3 – Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DA1, DA2 e DA3. ........ 44

Tabela 7.4 – Formulação orientativa da tinta mate. .............................................................................. 45

Tabela 7.5 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DA1, DA2 e DA3. ....................... 46

Tabela 7.6 - Formulação orientativa da tinta interior exterior. ............................................................... 47

Tabela 7.7 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DA1, DA2 e DA3. ....... 47

Tabela 7.8 - Formulação orientativa da tinta acetinada. ....................................................................... 48

Tabela 7.9 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DA1, DA2 e DA3. .............. 48

Tabela 7.10 - Formulação da dispersão aquosa B. .............................................................................. 49

Tabela 7.11 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DB1, DB2 e DB3. ....... 50

Tabela 7.12 – Ângulo de contacto de uma gota de água sobre as dispersões aquosas DB1, DB2 e DB3.

............................................................................................................................................................... 51

Tabela 7.13 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DB1, DB2 e DB3. ..................... 51

Tabela 7.14 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DB1, DB2 e DB3. ..... 52

Tabela 7.15 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DB1, DB2 e DB3. ............ 53

Tabela 7.16 - Formulação da dispersão aquosa C. .............................................................................. 54

Tabela 7.17 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DC1, DC2 e DC3. ...... 54

Tabela 7.18 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DC1, DC2 e DC3. .................... 55

Tabela 7.19 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DC1, DC2 e DC3. .... 56

Tabela 7.20 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DC1, DC2 e DC3. ........... 57

Tabela 7.21 - Formulação da dispersão aquosa D. .............................................................................. 58

Tabela 7.22 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DD1, DD2 e DD3. ...... 58

Tabela 7.23 - Formulação da dispersão aquosa E. .............................................................................. 66

Tabela 7.24 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DE1 e DE2. ................ 66

Tabela 7.25 - Formulação orientativa da tinta texturada. ...................................................................... 67

Tabela 7.26 - Valores resultantes da caracterização das tintas texturadas DE1 e DE2. ..................... 68

Tabela 7.27 – Formulação da dispersão aquosa F. .............................................................................. 69

Tabela 7.28 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DF1 e DF2. ................ 69

Tabela 7.29 – Formulação orientativa do esmalte aquoso. .................................................................. 70

Tabela 7.30 - Valores resultantes da caracterização dos esmaltes aquosos DF1 e DF2. ................... 70

Tabela 7.31 - Ângulo de contacto de uma gota de água sobre os filmes formados pelas dispersões

aquosas DF1 e DF2. ............................................................................................................................. 71

Tabela 7.32 – Formulação da dispersão aquosa G. ............................................................................. 72

Tabela 7.33 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DG1 e DG2. ............... 72

Page 11: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

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Tabela 7.34 - Valores resultantes da caracterização dos PSA DG1 e DG2. ........................................ 72

Tabela 7.35 – Formulação da dispersão aquosa H. ............................................................................. 73

Tabela 7.36 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DH1 e DH2. ............... 74

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x

Lista de Abreviaturas

AA – Absorção de Água

CMC – Concentração Micelar Crítica

CPVC – Concentração de Pigmentos em Volume Crítica

CA – Conteúdo Ativo

DLS – Dynamic Light Scattering

f – Funcionalidade

GSD – Desvio Padrão Geométrico (Geometric Standard Deviation)

m – Massa

OE – Óxido de Etileno

OP – Óxido de Propileno

PSA – Adesivos Sensíveis à Pressão (Pressure Sensitive Adhesives)

PVC – Concentração de Pigmentos em Volume

RS – Resíduo Sólido

RTM – Resistência Termomecânica

R. Filtração – Resíduo de Filtração

R. Peneiro – Resíduo ao Peneiro

ta – Tinta Acetinada

TA – Transferência de Adesivo

Tg – Temperatura de Transição Vítrea

tie – Tinta Interior Exterior

tm – Tinta Mate

TMFF – Temperatura Mínima de Formação de Filme

TMP – Tamanho Médio de Partícula

u.b. – Unidades de Brilho

UV – Ultra Violeta

VAM – Acetato de Vinilo

VeoVa – Versatato de Vinilo

V. Brookfield – Viscosidade de Brookfield

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1. Enquadramento e objetivos

Atualmente, os polímeros estão constantemente presentes no quotidiano do Homem, com diversas

aplicações, nomeadamente na Indústria de tintas, adesivos e vernizes. Na produção de tintas, os

polímeros desempenham o papel de ligantes, sendo adicionados ao solvente em conjunto com os

pigmentos, as cargas e os aditivos. Especificamente, o ligante tem como finalidade promover a ligação

entre os vários constituintes, de modo a assegurar a coesão da tinta. Além de ligantes, os polímeros

podem contribuir para o aumento da resistência química, à intempérie, à abrasão e à lavagem.

Quando comparadas com soluções de polímeros, as dispersões aquosas não só apresentam

vantagens em termos ecológicos, como também permitem obter cadeias poliméricas de maior peso

molecular, maior controlo na dispersividade destas e viscosidades mais baixas. Nestas dispersões, os

emulsionantes desempenham um papel fundamental, pois não só permitem a estabilização e dispersão

das cadeias poliméricas na água, como têm grande influência nas propriedades finais da dispersão

aquosa e da tinta. Deste modo, os emulsionantes mais adequados a cada tipo de produto devem ser

escolhidos rigorosamente, de modo a otimizar-se as propriedades mais relevantes sem comprometer

as restantes.

Com este trabalho pretende-se testar diferentes emulsionantes (de diferentes fornecedores) na síntese

de dispersões aquosas, com a finalidade de se encontrar alternativas aos emulsionantes atualmente

utilizados pela empresa Resiquímica, Resinas Químicas, SA. Os principais motivos residem em

salvaguardar a produção dos produtos fabricados pela empresa, caso haja alguma falha no

fornecimento dos emulsionantes atualmente usados, e eventualmente em encontrar alternativas que

permitam melhorar os produtos a nível económico. É importante selecionar emulsionantes que

possuam características o mais próximas possíveis às dos emulsionantes que se pretende substituir,

de modo a manter a qualidade do produto. Após a preparação e caracterização das dispersões,

pretende-se testá-las sob a forma de produto final, ou seja, como tintas, adesivos sensíveis à pressão

(PSA) e primários. O trabalho tem como objetivos específicos:

Síntese de dispersões aquosas acrílicas, estireno-acrílicas e vinílicas, usando diferentes

emulsionantes;

Caraterização das dispersões aquosas sintetizadas e avaliação da influência dos emulsionantes

nas propriedades obtidas;

Preparação de tintas com as dispersões aquosas sintetizadas destinadas para esta aplicação;

Avaliação e caraterização das tintas preparadas;

Caracterização de adesivos e primários.

Todo o trabalho prático relativo à síntese e caracterização de dispersões aquosas, bem como a

preparação e caracterização das respetivas aplicações finais, foi realizado na empresa Resiquímica,

Resinas Químicas, SA. Quando necessário procedeu-se à medição de ângulos de contacto, sendo

estas medições realizadas no Laboratório de Interfaces do CQE, situado no Instituto Superior Técnico,

Universidade de Lisboa.

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2

2. Resiquímica

A Resiquímica - Resinas Químicas, SA, foi constituída em 1957, tomando na altura o nome de Resintela

– Resinas Químicas, Lda. O Grupo Socer, Sociedade Central de Resinas, detinha 25% do capital. O

restante capital pertencia à SARL, Sepulchre, Lda, Companhia Geral de Combustíveis e à Reichhold

Chemie AG.

Em 1961 adotou a atual designação de Resíquimica, Resinas Químicas, SA. O Grupo Socer passou a

deter 50% do capital da empresa e, com a ajuda de parceiros internacionais, impulsionou a empresa,

promovendo maior valor acrescentado ao seu produto base, a colofónia. É de salientar a parceria com

a Hoechst AG, que possibilitou o desenvolvimento de novos produtos, tornando a Resiquímica o maior

produtor de resinas sintéticas em Portugal.

Mais tarde, as quotas pertencentes ao grupo Hoechst AG passaram para a Clariant, sendo estas

compradas pelo Grupo Socer, em 2002, tornando-o no único detentor da empresa.

A Resiquímica é responsável pela produção de resinas alquídicas, emulsões aquosas, poliésteres

insaturados e resinas acrílicas de base solvente, tendo como clientes indústrias nacionais e

internacionais que atuam na área de tintas, vernizes, adesivos e materiais compósitos.

Deste modo, a empresa é constituída por duas fábricas, sendo a fábrica 1 dedicada à produção de

produtos de base solvente e a fábrica 2 responsável pela produção de dispersões aquosas. Possui

ainda três laboratórios, onde se faz o controlo de qualidade das matérias-primas e produto acabado,

investigação e desenvolvimento de novos produtos, aplicação dos produtos formulados e assistência

ao cliente. É também constituída por uma ETAR que trata das águas residuais provenientes das várias

instalações.

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3

3. Introdução

Os polímeros estão presentes nas nossas vidas desde o início dos tempos, pois todos os organismos

vivos são compostos por polímeros. No entanto, a verdadeira compreensão destes materiais só

começou com o início do desenvolvimento de materiais plásticos.

A indústria de plásticos teve início em 1868, quando a escassez de marfim, usado na produção de

bolas de bilhar, conduziu ao desenvolvimento de um processo alternativo para a produção destas. Foi

então que John Wesley Hyatt plastificou a nitrocelulose (piroxilina), proveniente da nitração parcial da

celulose do algodão, através da sua mistura com cânfora, dando origem talvez ao primeiro plástico

comercial (celluloid).

Em 1909 começaram a aparecer os primeiros polímeros sintéticos, quando Leo Hendrick Baekeland

desenvolveu plásticos de fenol-formaldeído, usados em diversos materiais. A partir de 1920 surgiram

polímeros como o acetato de celulose, ureia-formaldeído, PVC e nylon 66. Durante a primeira metade

do século XX, os trabalhos de Hermann Staudinger e de W. T. Carothers conduziram aos primeiros

conceitos sobre a estrutura dos polímeros, definindo-os como longas cadeias de moléculas

covalentemente ligadas entre si [Ebewele, 2000].

3.1. Polímeros e reações de polimerização

Os polímeros são materiais de elevado peso molecular, formados através de unidades estruturais mais

pequenas, que se encontram ligadas covalentemente entre si. O número de unidades repetitivas

ligadas covalentemente na mesma macromolécula indica o grau de polimerização. O monómero define-

se como qualquer molécula suscetível de ser convertida em polímero, por combinação com outras

moléculas do mesmo tipo ou diferentes. A Figura 3.1 ilustra a reação entre n moléculas de estireno,

levando à formação do polímero poliestireno [Cowie e Arrighi, 2008][Ebewele, 2000].

Figura 3.1 – Representação da reação de polimerização do poliestireno.

Devido à grande variedade de materiais poliméricos existentes, torna-se necessário dividir os polímeros

em grupos, com características comuns, de modo a facilitar a sua compreensão. Estes podem

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classificar-se quanto à origem, estrutura, mecanismo de polimerização e técnica de preparação

[Ebewele, 2000].

Relativamente à origem, os polímeros podem derivar da Natureza, sendo denominados de polímeros

naturais (por exemplo: borracha natural e celulose), ou podem ser fabricados pelo Homem, sendo neste

caso polímeros sintéticos [Asua, 2007].

No que respeita à estrutura existem vários tipos de classificação. Quando se usa apenas um tipo de

monómero para formar uma cadeia polimérica, tem-se um homopolímero. Se a cadeia é formada por

duas ou mais unidades monoméricas, tem-se um copolímero. Os copolímeros permitem combinar as

propriedades de monómeros muito diferentes, com a finalidade de obter um produto com melhores

características. A Figura 3.2 apresenta as diferentes configurações possíveis de obter nos copolímeros

[Cowie e Arrighi, 2008].

Figura 3.2 - Representação das diferentes configurações de copolímeros: (a) copolímero aleatório, (b)

copolímero alternado, (c) copolímero de bloco e (d) copolímero de enxerto (adaptado de Cowie e Arrighi, 2008).

A capacidade que as moléculas têm para reagir entre si e formar um polímero não-vinílico está

relacionada com a sua funcionalidade. A funcionalidade de um monómero, f, consiste no número de

grupos funcionais que ele possui (por exemplo: -COOH, -OH), ou seja, no número de centros ativos

que podem conduzir a uma ligação com outra molécula, sob condições específicas. A reação entre

monómeros polifuncionais (f>2) pode resultar na formação de cadeias poliméricas ramificadas ou em

ligações cruzadas entre várias cadeias poliméricas, originando um polímero reticulado. Estas

configurações apresentam-se na Figura 3.3 [Cowie e Arrighi, 2008][Ebewele, 2000].

Figura 3.3 – Representação de polímero linear, ramificado e reticulado (adaptado de Ebewele, 2000).

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Quanto ao tipo de reação, considera-se a polimerização por condensação ou por adição. Por norma, a

polimerização por condensação dá-se por um mecanismo de etapas, em que o crescimento da cadeia

polimérica se deve à reação entre moléculas diferentes, podendo haver condensação de moléculas

mais pequenas (por exemplo: H2O, HCl). A polimerização por adição está associada a um mecanismo

em cadeia, em que o crescimento das cadeias de polímero ocorre através da junção do monómero a

cadeias com um centro ativo. A formação do centro ativo deve-se à quebra de ligações duplas com o

uso de um radical livre, um ião ou um complexo de coordenação. De acordo com o tipo de centro ativo,

a polimerização pode ser radicalar, aniónica, catiónica ou por coordenação (se o centro ativo está num

catalisador) [Cowie e Arrighi, 2008][Asua, 2007].

Relativamente ao processo de polimerização, este pode ser em massa, em solução, em suspensão e

em emulsão. Na polimerização em massa, a mistura reacional contém apenas monómero e iniciador,

permitindo a obtenção de um polímero ‘puro’. No entanto, a elevada viscosidade da mistura reacional,

associada à elevada concentração de polímero, leva a uma ineficiente remoção do calor da reação,

tornando-se difícil controlar a temperatura. A polimerização em massa é usada essencialmente na

produção de polietileno de baixa densidade, poliestireno, poli(metacrilato de metilo) e poli(cloreto de

vinilo).

Na polimerização em solução, o monómero encontra-se dissolvido no solvente que, por sua vez, reduz

a viscosidade do meio reacional e facilita a remoção do calor. A principal desvantagem deste processo

está relacionada com impacto do solvente no meio ambiente e na saúde humana. A polimerização em

solução é usada na produção de polietileno e poli(acetato de vinilo).

Um processo alternativo que evita o uso de solventes e permite uma boa remoção de calor é a

polimerização em suspensão. Neste processo as gotas de monómero, que contêm o iniciador, estão

suspensas em água e as cadeias poliméricas obtêm-se com agitação intensa da mistura. A

polimerização em suspensão tem como vantagens a obtenção de um polímero em suspensão (não

dissolvido) e de base aquosa, evitando os problemas associados ao uso de solventes.

A necessidade contínua de arranjar processos “amigos do ambiente” levou ao desenvolvimento da

técnica de polimerização em emulsão. Neste mecanismo, a incorporação do monómero no meio

aquoso deve-se à presença de emulsionantes, que são simultaneamente compatíveis com a fase

aquosa e a fase orgânica (monómeros e polímero), permitindo assim a obtenção de uma fase

termodinamicamente estável. Comparativamente à polimerização em suspensão, a polimerização em

emulsão permite obter partículas consideravelmente mais pequenas e o iniciador encontra-se na fase

aquosa. Esta técnica é muito usada na preparação de polímeros acrílicos, estireno-acrílicos e vinílicos,

e será abordada em maior detalhe no Capítulo 4 [Cowie e Arrighi, 2008][Asua, 2007].

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4. Dispersões aquosas

As dispersões (emulsões) aquosas poliméricas são hoje usadas em diversas áreas, tendo aplicações

na área de tintas, adesivos, cosmética, medicina, microeletrónica, etc. São obtidas por um processo de

polimerização em emulsão que, segundo a IUPAC, se define como um processo em que “monómeros,

iniciador, meio dispersante, e possivelmente coloides estabilizadores, constituem inicialmente um

sistema não homogéneo, resultando em partículas de dimensões coloidais, que contêm o polímero

formado” [IUPAC, 2011].

4.1. Matérias-Primas

Devido à grande variedade de aplicações das dispersões aquosas, é necessário que estas apresentem

um grande número de matérias-primas. Há, no entanto, quatro constituintes indispensáveis na

formulação de uma dispersão aquosa: água, monómeros, emulsionantes e iniciadores. Além destes

constituintes, existem ainda outros compostos que intervêm na formulação. Salientam-se os

reguladores de pH, coalescentes, plastificantes, conservantes e os agentes anti-espuma.

4.1.1. Meio dispersante – Água

A água é o constituinte presente em maior quantidade e, normalmente, representa 40 a 60% da

dispersão, sendo por isso considerada a fase contínua. Além de permitir a dissolução dos

emulsionantes, iniciadores e reguladores de pH, a água permite também a dissipação do calor libertado

pela reação exotérmica de polimerização.

Um fator muito importante a ter em conta é a qualidade da água, principalmente no que diz respeito ao

teor em sais. Os iões de cálcio e magnésio provocam uma diminuição da atividade dos emulsionantes

e, por isso, quanto maior a dureza da água, maior a quantidade de emulsionante que é necessário usar

na formulação das dispersões. Deste modo, é importante que a água usada nas formulações tenha

uma dureza muito baixa, com um máximo de 10 ppm de carbonato de cálcio [Carvalho e colaboradores,

1993].

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4.1.2. Monómeros

Tal como a água, também os monómeros estão presentes em grande quantidade nas dispersões

aquosas. Os monómeros mais usados na formulação de dispersões aquosas são o metacrilato de

metilo, o acrilato de butilo, o acrilato de 2-etilhexilo, o estireno, o acetato de vinilo (VAM) e o versatato

de vinilo (VeoVa), representados na Figura 4.1.

Metacrilato de metilo Acrilato de butilo Acrilato de 2-etilhexilo

Estireno Acetato de vinilo Versatato de vinilo

Figura 4.1 – Estrutura química do metacrilato de metilo, acrilato de butilo, acrilato de 2-etilhexilo, estireno, acetato

de vinilo e versatato de vinilo.

O tipo de monómeros e a quantidade em que estão presentes determinam as propriedades que irão

fornecer ao produto final. No caso de homopolímeros, as propriedades finais são determinadas pelo

monómero em questão. Nos copolímeros é possível controlar e otimizar as propriedades do produto,

pois tem-se uma combinação das propriedades de dois ou mais monómeros [Asua, 2007].

Dependendo da temperatura de transição vítrea, Tg, os monómeros podem classificar-se em

monómeros duros ou macios. Quanto mais alta for a Tg, mais duros são os monómeros. São exemplos

de monómeros duros o estireno, o metacrilato de metilo e o acetato de vinilo. Como monómeros macios

tem-se o acrilato de butilo, o acrilato de 2-etilhexilo e o versatato de vinilo.

Além dos monómeros principais, são também adicionados, em pequenas quantidades, monómeros

auxiliares com funções específicas. É o caso dos monómeros estabilizadores, que permitem a

estabilização do polímero (por exemplo: ácido acrílico, ácido metacrílico e acrilamida) e dos monómeros

reticulantes, que através da formação de reticulações, são responsáveis pela otimização de certas

propriedades mecânicas [Carvalho e colaboradores, 1993].

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4.1.3. Emulsionantes

Os emulsionantes são moléculas anfifílicas, que se definem por possuírem na sua composição química

uma parte hidrofílica (polar), que constitui a cabeça da molécula, e uma parte hidrofóbica (apolar), que

representa a cauda. Na Figura 4.2 encontra-se esquematizada uma molécula de emulsionante.

Figura 4.2 - Representação de uma molécula de emulsionante (adaptado de Kronberg e colaboradores, 2014).

Existem várias combinações possíveis para a cabeça e cauda de um emulsionante. A cauda apresenta

uma estrutura do tipo hidrocarboneto (linear, ramificada, anel, etc) e a cabeça pode ser do tipo aniónica,

catiónica, não iónica ou anfotérica. Os emulsionantes podem ainda conter na sua estrutura grupos de

óxido de etileno (OE) (unidades repetitivas etoxílicas) e óxido de propileno (OP) [Romsted, 2014].

Uma variante dos emulsionantes são os coloides protetores. Tal como os emulsionantes, os coloides

protetores são agentes tensioativos, no entanto, estes possuem uma estrutura polimérica com grupos

hidrofílicos, sendo por isso solúveis em água. Os coloides protetores formam agregados complexos

com o polímero, compatibilizando-o com a fase aquosa. Têm a função de proteger o polímero de ações

externas, conferindo-lhe resistência mecânica.

De seguida serão referidos alguns tipos e propriedades dos emulsionantes, bem como a sua função no

processo de polimerização em emulsão.

Tipos de emulsionantes

Na polimerização em emulsão são usados essencialmente os emulsionantes aniónicos e não iónicos,

sendo comum combinar os dois tipos para se obter as propriedades desejadas.

Os emulsionantes aniónicos podem ser classificados de acordo com o seu grupo polar. Destacam-se

os emulsionantes sulfonatos, sulfatos, fosfatos e sulfosuccinatos.

Quanto à estrutura orgânica, os emulsionantes sulfonatos podem ser alifáticos ou aromáticos,

conforme representado nas Figura 4.3 e 4.4.

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Figura 4.3 – Sulfonato alifático.

Figura 4.4 – Sulfonato aromático.

Relativamente aos emulsionantes com grupo sulfato, os três tipos mais comuns são os alquil, alquil

éter e alquil aril éter sulfatos, esquematizados nas Figuras 4.5, 4.6 e 4.7.

Figura 4.5 – Alquil sulfato.

Figura 4.6 – Alquil éter sulfato.

Figura 4.7 – Alquil aril éter sulfato.

Também os emulsionantes com grupo polar fosfato se incluem nos emulsionantes aniónicos, sendo

mais comuns as estruturas de alquil éter, alquilfenol éter e alquil amina, apresentadas nas Figuras 4.8,

4.9 e 4.10.

Figura 4.8 – Alquil éter fosfato.

Figura 4.9 – Alquil amina fosfato.

Figura 4.10 – Alquilfenol éter fosfato.

Por último, dentro dos emulsionantes aniónicos destacam-se ainda os sulfosuccinatos, cuja estrutura

de base está representada na Figura 4.11.

Figura 4.11 – Sulfosuccinato.

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A maioria dos emulsionantes aniónicos usados em emulsões são responsáveis pela formação de

espuma. Na indústria de detergentes, essa é uma propriedade muito importante, no entanto, na síntese

de dispersões aquosas isso torna-se um efeito secundário indesejável [Farn, 2006].

Quanto aos emulsionantes não iónicos, são inúmeras as estruturas existentes e comercializadas,

destacando-se no processo de polimerização em emulsão os polietilenoglicóis e os copolímeros de

bloco do tipo óxido de etileno e óxido de propileno. As estruturas destas espécies estão representadas

nas Figuras 4.12 e 4.13.

Figura 4.12 – Polietilenoglicol.

Figura 4.13 – Copolímero de bloco.

Formação de micelas

Os emulsionantes caraterizam-se pela sua capacidade de reduzir a energia livre das superfícies e

interfaces, o que se traduz na diminuição da tensão superficial e interfacial dos sistemas. A grande

variedade de estruturas moleculares conduz também a uma elevada variação nestas propriedades,

diferindo assim as aplicações práticas das mesmas. Esta habilidade dos emulsionantes deve-se à

capacidade que têm para se orientar numa direção específica para formar agregados, denominados de

micelas. A concentração micelar crítica, CMC, é a concentração mínima a partir da qual ocorre a

formação de micelas e é caraterística de cada emulsionante. As micelas podem apresentar diversas

formas, dependendo da estrutura das moléculas de emulsionante, da concentração e de outros fatores.

Na Figura 4.14 estão representadas algumas formas que as micelas podem tomar [Fugimato,

1985][Kronberg e colaboradores, 2014].

Figura 4.14 – Representação de alguns tipos de micelas (adaptado de Romsted, 2014).

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A CMC de um emulsionante depende da sua estrutura molecular, isto é, diminui com o aumento da

cadeia apolar, da natureza, quantidade e posição dos grupos polares, e da presença de ligações

insaturadas na molécula. Por norma, os emulsionantes não iónicos têm uma CMC superior aos

emulsionantes aniónicos com uma estrutura molecular semelhante [Eliseeva e colaboradores, 1981].

Estabilização das partículas de látex

Além da formação de micelas, na polimerização em emulsão, os emulsionantes têm como finalidade a

estabilização das partículas de polímero, durante e após a polimerização. Quando as partículas de

polímero se encontram numa dispersão coloidal, tomam a designação de partículas de látex.

Existem três tipos de interações predominantes entre as partículas: van der Waals, electroestática e

estereoquímica. Relativamente às forças de van der Waals, predominam as interações de London

(dipolo instantâneo-dipolo induzido) que provêm das flutuações da nuvem eletrónica. Na ausência de

forças de repulsão, as partículas podem agregar-se e ocorrer floculação. Os emulsionantes

desempenham um papel crucial na repulsão (estabilização) entre as partículas. A repulsão pode

dever-se a efeitos electroestáticos, que ocorrem devido à presença de emulsionantes aniónicos, ou a

efeitos estereoquímicos, relacionados com a presença das moléculas de emulsionantes não iónicos.

Na Figura 4.15 está representada a estrutura de uma partícula de látex, estabilizada por emulsionantes.

Figura 4.15 – Representação de uma partícula de látex, estabilizada por emulsionantes e coloides protetores

(adaptado de Clariant, 2014).

A repulsão electroestática deve-se à presença de partículas carregadas com o mesmo sinal, como é o

caso dos emulsionantes aniónicos que possuem carga negativa. Deste modo, partículas de polímero

que contenham emulsionantes aniónicos adsorvidos à superfície irão atrair iões de carga positiva que

se encontrem no meio, criando-se uma atmosfera difusa destes iões à volta da partícula – dupla

camada eletrónica. Quando partículas igualmente carregadas se aproximam, as respetivas duplas

camadas começam a sobrepor-se e aí ocorre a repulsão entre elas. Esta dupla camada eletrónica

funciona então como uma barreira física que impede a agregação das partículas [Tadros, 2009].

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Na estabilização estereoquímica, as moléculas de emulsionantes possuem alguma mobilidade

conformacional. Quando duas partículas de látex se aproximam, a camada de emulsionante não iónico

que se encontra adsorvida nas mesmas começa a comprimir, limitando assim a sua mobilidade. Isto

conduz a um aumento de energia livre que faz com que as partículas se repilam mutuamente [Anderson

e Daniels, 2003].

Influência do emulsionante no tipo de emulsão

A escolha dos emulsionantes mais adequados para cada tipo de produto depende de vários fatores. A

regra de Bancroft é muito útil na preparação de emulsões e na escolha dos emulsionantes. Segundo a

regra, para a preparação de emulsões de óleo em água deve optar-se por emulsionantes

essencialmente hidrofílicos, que sejam bastante solúveis em água. Analogamente, na preparação de

emulsões de água em óleo, os emulsionantes usados devem ter caráter maioritariamente hidrofóbico.

Ou seja, os emulsionantes selecionados devem ser preferencialmente solúveis na fase continua. A

solubilidade dos emulsionantes é indicada pelo balanço hidrofílico-lipofílico, HLB, que representa o

quociente entre as frações hidrofílicas e hidrofóbicas das moléculas de emulsionante [Farn, 2006].

Para emulsionantes não iónicos, o HLB pode ser obtido pelo método de Griffin, dado pela Equação 4.1.

𝐻𝐿𝐵 = 20 ×𝑀𝑀ℎ

𝑀𝑀ℎ+𝑀𝑀𝑙 (Equação 4.1)

Em que MMh é a massa molar da parte hidrofílica e MMl a massa molar do fragmento lipofílico

(hidrofóbico). O HLB tem uma escala de 0 a 20, em que os emulsionantes com valores próximos de 0

apresentam um caráter essencialmente hidrofóbico e os emulsionantes com tendência para valores

mais altos têm um perfil maioritariamente hidrofílico [Myers, 2006].

No caso de emulsionantes não iónicos com unidades repetitivas etoxílicas, a Equação 4.1 pode

resumir-se à Equação 4.2, pois neste caso são os grupos de óxido de etileno os responsáveis pelo

caráter hidrofílico da molécula.

𝐻𝐿𝐵 =𝐸

5 (Equação 4.2)

Sendo E a fração mássica correspondente aos grupos de óxido de etileno presentes na estrutura do

emulsionante. Pela Equação 4.2 verifica-se que quanto maior for a cadeia de unidades repetitivas

etoxílicas em relação à parte apolar da molécula, maior será o HLB e, portanto, mais adequado será o

emulsionante para emulsões do tipo óleo em água. Como regra, nestas emulsões o valor de HLB deve

situar-se no intervalo de 8 a 18 [Farn, 2006].

Para copolímeros de bloco com grupos de óxido de etileno e óxido de propileno, a parte hidrofóbica da

molécula é assegurada pelos grupos de óxido de propileno, devido à presença do grupo metilo na sua

estrutura.

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Influência dos emulsionantes nas propriedades das dispersões aquosas

O tamanho de partícula tem desempenhado um papel muito importante nas dispersões aquosas e nas

suas aplicações, afetando a reologia, brilho, resistência à água, porosidade, etc. Também propriedades

como a viscosidade, tensão superficial e estabilidade mecânica estão fortemente relacionadas com o

tamanho de partícula. Deste modo, é necessário ter em conta que o tamanho de partícula é ditado por

muitos fatores, como o tipo de monómeros, o procedimento de polimerização e também a natureza e

quantidade dos emulsionantes usados. Um aumento da concentração de emulsionante relativamente

à CMC resulta na formação de novas micelas ou no aumento das micelas já existentes, afetando deste

modo o tamanho de partícula. Também o próprio valor de CMC afeta esta propriedade, pois quanto

menor for, menor será o tamanho de partícula. De notar que esta relação é válida quando os

emulsionantes possuem estruturas semelhantes [Wett, 1992].

4.1.4. Iniciadores

Os iniciadores são as espécies responsáveis pela formação de radicais no processo de polimerização

radicalar em emulsão. Os iniciadores solúveis em água mais usados são os compostos azo, os

peróxidos e os sais de persulfato de potássio, sódio e amónia. Estes iniciadores formam radicais por

decomposição térmica, ou seja, decompõem-se com ação da temperatura e usam-se quando o

processo de polimerização ocorre a temperaturas elevadas.

Quando o processo de polimerização ocorre a uma temperatura inferior a 50 ºC, pode optar-se por um

sistema de pares redox. Os pares redox têm a vantagem de reagir muito rápido, traduzindo-se numa

elevada taxa de produção de radicais livres. Por este motivo, um ou os dois compostos envolvidos na

reação redox deverão ser adicionados ao reator continuamente durante o processo de polimerização.

Os pares redox são úteis no processo de polimerização em emulsão, pois caso ocorra uma reação

exotérmica violenta, esta pode ser controlada através da interrupção de iniciador ao processo. O

hidroperóxido de t-butil ((CH3)3COOH) e o metabissulfito de sódio (Na2S2O5) formam um par redox

muito comum nos processos de polimerização em emulsão. Agentes redutores como o Fe2+ também

podem ser usados, no entanto podem levar à descoloração ou provocar a coagulação das partículas

de látex [Herk, 2005].

4.1.5. Aditivos

Após o processo de polimerização podem ser adicionados alguns aditivos, com o intuito de melhorar o

desempenho e a estabilidade do produto acabado.

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Os eletrólitos são adicionados para controlar o pH, de modo a prevenir a hidrólise dos emulsionantes

e a manter a eficiência do iniciador. Os iniciadores de persulfato, ao decomporem-se, baixam o pH do

meio aquoso, o que provoca um aumento da velocidade de decomposição do iniciador, conduzindo a

um consumo prematuro deste composto. A adição de eletrólitos conduz à formação de partículas

monodispersas, mas também pode provocar a coagulação das partículas, pois afeta a estabilidade

coloidal das mesmas.

Os agentes anti-espuma, normalmente silicones ou hidrocarbonetos alifáticos, são adicionados às

dispersões aquosas para combater a espuma formada devido à utilização de emulsionantes. O uso

excessivo destes agentes pode originar incompatibilidades na formação do filme.

Os agentes de transferência de cadeia, como os tióis (ou mercaptanos) (R‒SH), são adicionados na

fase orgânica com a finalidade de abstrair os radicais das cadeias poliméricas em crescimento e, deste

modo, reduzir e controlar o peso molecular das mesmas.

Podem ainda ser adicionados coalescentes, que atuam como plastificantes na medida em que

diminuem a temperatura mínima de formação de filme (TMFF) e contribuem para a interdifusão das

partículas durante a formação do filme.

Devem também ser incorporados conservantes que previnam o ataque e crescimento microbiológico,

como bactérias e fungos [Herk, 2005][Anderson e Daniels, 2003].

4.2. Polimerização em emulsão

Atualmente a polimerização em emulsão é muito usada na produção de uma grande variedade de

polímeros, estando associada a um mecanismo de polimerização radicalar livre. Na fase aquosa estão

presentes as micelas, gotas de monómero, partículas de látex e iniciador, consoante esquematizado

na Figura 4.16.

Figura 4.16 – Representação das espécies presentes na fase aquosa durante o processo de polimerização

(adaptado de www.engr.utk.edu).

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Durante o processo de polimerização, podem destacar-se 3 intervalos. O intervalo 1 corresponde ao

estágio inicial do processo, onde ocorre o início da formação das partículas – nucleação de partículas.

Há medida que a polimerização prossegue, o monómero presente no interior das micelas é consumido

para a formação da partícula, sendo esta depleção compensada com a difusão do monómero presente

na fase aquosa. De modo a assegurar a estabilidade das partículas em crescimento, estas adsorvem

os emulsionantes das micelas vizinhas, até que, a cerca de 13-20% da conversão, a concentração de

micelas fica abaixo da CMC, levando à instabilidade e consequentemente, ao desaparecimento das

mesmas.

O intervalo 2 carateriza-se por um número constante de partículas e tem inicio quando cessa a

formação de novas partículas, devido à diminuição da concentração de emulsionante para valores

abaixo da CMC. Nesta fase ocorre a propagação das cadeias de polímero e a concentração de

monómero dentro das micelas mantém-se constante, devido à difusão do monómero presente nas

gotas. Deste modo, a velocidade de reação, neste intervalo, é constante.

O intervalo 3 tem início com o desaparecimento das gotas de monómero, restando apenas o

monómero que se encontra dentro das micelas. Deste modo, verifica-se uma diminuição da velocidade

de reação, há medida que o restante monómero vai reagindo e desaparecendo [Herk, 2005][Ebewele,

2000].

4.2.1. Nucleação de partículas

A nucleação de partículas na polimerização em emulsão é um tema que tem sido alvo de investigações

ao longo dos últimos anos. O desenvolvimento inicial desta ideia começa com a premissa de que seria

possível polimerizar em micelas, teoria estudada por Harkins (1947) e quantificada por Smith e Ewart

(1948). Priest (1952) e Fitch e colaboradores (1971) concluíram que na ausência de emulsionante seria

possível ocorrer nucleação homogénea, em que há crescimento da cadeia polimérica na fase aquosa,

resultando na precipitação da partícula [Herk, 2005].

Atualmente, a nucleação de partículas já é um tema bastante estudado, que pode ser explicado

recorrendo à Figura 4.17. No intervalo 1 estão presentes na fase aquosa as micelas, gotas de

monómero e partículas de látex. Ao adicionar-se um iniciador do tipo persulfato, este irá dissociar-se

por ação térmica na fase aquosa, originando dois radicais sulfato, conforme representado na Reação

4.1 [Herk, 2005][Ebewele, 2000].

𝑆2𝑂82−

∆ → 2𝑆𝑂4

−∙ (Reação 4.1)

Apesar de fracamente solúveis, os monómeros podem encontrar-se dissolvidos em baixas

concentrações na fase aquosa. Deste modo, o radical iniciador vai reagir com uma molécula de

monómero, M, ocorrendo a iniciação. Este, por seu turno, irá reagir com outra molécula de monómero,

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e assim sucessivamente, conduzindo à propagação da cadeia polimérica. Os passos de iniciação e

propagação são representados pelas Reações 4.2 (em conjunto com a Reação 4.1) e 4.3,

respetivamente.

𝑆𝑂4−∙ +𝑀

→ 𝑆𝑂4

−𝑀∙ (Reação 4.2)

𝑆𝑂4−𝑀∙ +𝑀

→ 𝑆𝑂4

−𝑀2∙ (Reação 4.3)

Após z adições de monómero, a molécula torna-se insolúvel na fase aquosa. Nesta fase, o oligómero

(z-mero) pode entrar numa micela (nucleação micelar ou heterogénea), numa partícula de látex já

formada, numa gota de monómero, propagar-se na fase aquosa (nucleação homogénea) ou ligar-se a

um radical e ocorrer terminação.

Figura 4.17 – Processo de nucleação de partículas (adaptado de Herk, 2005).

Cada um destes acontecimentos é controlado por difusão. Através dos dados presentes na Tabela 4.1

verifica-se que a molécula entra mais facilmente numa micela do que numa partícula de látex

pré-existente, sendo pouco provável que entre numa gota de monómero. Também a propagação na

fase aquosa torna-se insignificante quando há presença de micelas [Herk, 2005].

Tabela 4.1 – Valores indicativos relativos à difusão de partículas z-mero em gotas de monómero, micelas e partículas de látex (adaptado de Herk, 2005).

Gotas de monómero Micelas Partículas de látex

Diâmetro (nm) 105 101 102

Velocidade de entrada do radical z-mero (s-1)

101 108 106

Velocidade de propagação em fase aquosa do radical z-mero (s-1)

- 100 -

A terminação toma lugar no intervalo 3, quando deixa de haver moléculas de monómero por reagir, e

pode ocorrer de dois modos: recombinação ou dismutação.

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17

A recombinação consiste na junção de dois radicais de cadeias em crescimento, de modo a formar

uma só cadeia. A Reação 4.4 esquematiza a reação envolvida neste processo.

𝑆𝑂4−𝑀𝑖

∙ + 𝑆𝑂4−𝑀𝑗

∙ → 𝑆𝑂4−𝑀𝑖+𝑗𝑆𝑂4

− (Reação 4.4)

Na dismutação, um radical abstrai um protão de outra cadeia radicalar, originando uma cadeia saturada

e outra com uma ligação dupla, como esquematizado na Reação 4.5.

(Reação 4.5)

De modo a reduzir o teor de monómero livre residual, são adicionados pares redox após o processo de

polimerização.

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5. Aplicações das dispersões aquosas

De entre as várias aplicações das dispersões aquosas, destacam-se os revestimentos e os adesivos,

no entanto, são inúmeras as diferenças entre ambos. Um revestimento tem como função aderir ao

substrato e deve conferir-lhe propriedades decorativas e de proteção contra a abrasão, solventes, calor,

etc. Por seu turno, um adesivo deve aderir primeiramente a um substrato e de seguida a outro, de modo

a promover a adesão entre eles. Uma vez que se encontra entre dois substratos, o adesivo está de

certo modo protegido por eles e, portanto, não necessita de ter certas propriedades que os

revestimentos requerem. No entanto, é fundamental que tenha elevada resistência à fratura, tanto a

nível de adesão – entre o adesivo e cada um dos substratos - como a nível de coesão do próprio

adesivo [Tracton, 2007].

Dentro dos revestimentos, destacam-se as tintas, que serão abordadas juntamente com os adesivos

neste capítulo.

5.1. Tintas

Já há muitos séculos que as tintas são usadas como forma decorativa, principalmente pelas antigas

civilizações Grega, Romana e Egípcia. Hoje em dia, as tintas estão presentes em tudo o que nos rodeia,

em eletrodomésticos, material de desporto, automóveis, construção, etc. Além da função decorativa,

as tintas devem conferir proteção e durabilidade aos materiais. É por isso que as tintas têm um papel

primordial na sociedade e é de extrema importância a melhoria contínua dos processos e das suas

propriedades, quer por motivos de estética da tinta, quer por motivos de saúde e ambientais [Nogueria,

2009][Morgans, 1990].

Segundo a Norma Portuguesa NP 41, uma tinta é “uma composição pigmentada líquida, pastosa ou

sólida que, quando aplicada em camada fina sobre uma superfície apropriada, no estado que é

fornecida ou após diluição, dispersão em produtos voláteis ou fusão, é convertível ao fim de certo

tempo, numa pelicula sólida, continua, corada e opaca” [Norma Portuguesa, 1982].

5.1.1. Matérias-primas

Na formulação das tintas estão presentes diversos componentes, que interagem química e fisicamente

entre si, conferindo-lhe as características desejadas. Deste modo, a seleção dos componentes irá afetar

a estabilidade, caraterísticas de aplicação, o desempenho do produto sobre o qual a tinta é aplicada,

etc. Os principais constituintes das tintas são o solvente, os pigmentos, as cargas, o ligante e os aditivos

[Talbert, 2008][Morgans, 1990].

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5.1.1.1. Solvente

No caso de tintas formuladas à base de dispersões aquosas, o solvente utilizado é a água, como

consequência do próprio processo de polimerização em emulsão. As tintas apresentam na sua

formulação 60 a 70% de água.

As tintas de base aquosa são muito menos prejudiciais ao meio ambiente quando comparadas com as

de base solvente, sendo por isso cada vez mais usadas. No entanto, as tintas de base solvente

apresentam melhor desempenho, pois este atua como plastificante e facilita o processo de formação

do filme. As tintas de base aquosa podem alcançar um desempenho semelhante com a adição de

certos compostos à formulação das mesmas [Anderson e Daniels, 2003].

5.1.1.2. Ligante

O ligante (polímero) é o componente responsável por manter os constituintes da tinta unidos e promover

a adesão do filme ao substrato. É o ligante que confere à tinta as propriedades desejadas de acordo

com a sua aplicação, como a dureza e elasticidade necessárias para resistir ao impacto mecânico

(esfrega, abrasão, etc…), a estabilidade contra agentes químicos, a resistência à água, entre outras.

Os ligantes relativos às dispersões aquosas são copolímeros de estireno e ésteres acrílicos (dispersões

estireno-acrílicas), copolímeros de ésteres acrílicos e metacrílicos (dispersões acrílicas puras) e

homopolímeros e copolímeros de acetato de vinilo [Herk, 2005].

Apesar da grande variedade de polímeros disponíveis no mercado, nem todos servem para o mesmo

propósito. Para aplicações no exterior em substratos minerais, são aconselháveis as dispersões

estireno-acrílicas, devido à sua elevada resistência à saponificação quando aplicadas em substratos

extremamente alcalinos que não estejam completamente curados (por exemplo, em concreto). Além

disso, caracterizam-se pela baixa absorção de água, boa adesão ao substrato e pela capacidade de

incorporação dos pigmentos. Por sua vez, as dispersões acrílicas puras são adequadas para aplicações

com baixo teor de pigmentos, como esmaltes e vernizes, pois são mais resistentes às radiações UV.

As dispersões de acetato de vinilo são as que apresentam uma melhor relação qualidade-preço e, por

isso, são as mais usadas nas aplicações interiores [Herk, 2005].

5.1.1.3. Pigmentos e Cargas

Os pigmentos e cargas são responsáveis por muitas das propriedades das tintas, dependendo da sua

natureza, estrutura e características superficiais.

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Os pigmentos são partículas sólidas, finamente divididas, com tamanho compreendido entre 0,2 e

10 µm. São usadas na preparação das tintas com a finalidade de lhes conferir cor e opacidade. Os

pigmentos podem ter origem inorgânica, como o dióxido de titânio (pigmento branco) e o óxido de ferro,

ou podem ser materiais orgânicos, como o negro de fumo (carbon black) e a ftalocianina azul.

Tal como o dióxido de titânio, as cargas também são brancas, mas apresentam um índice de refração

muito inferior e, portanto, têm menor poder de cobertura. No entanto, por apresentarem menor valor

económico, as cargas são uma boa forma de aumentar o nível de sólidos da formulação e, deste modo,

preencher pequenos espaços que possam surgir na formação do filme. O carbonato de cálcio e o talco

(Mg3Si4O10(OH)2) são exemplos de cargas muito usadas industrialmente [Herk, 2005].

Concentração de pigmentos em volume (PVC)

A concentração de pigmentos em volume é um parâmetro que permite relacionar as quantidades (em

volume) de pigmentos/cargas e ligante presentes na formulação de tintas. O PVC é calculado de acordo

com a Equação 5.1. O rácio entre estas matérias-primas tem grande impacto nas caraterísticas do

produto final.

𝑃𝑉𝐶(%) =𝑉𝑝𝑖𝑔𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠+𝑉𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎𝑠

𝑉𝑝𝑖𝑔𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠+𝑉𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎𝑠+𝑉𝑙𝑖𝑔𝑎𝑛𝑡𝑒× 100 (Equação 5.1)

Em tintas com baixo PVC, as propriedades do produto final devem-se principalmente ao ligante,

formando-se um filme contínuo e liso com os pigmentos bem distribuídos no seu interior. Assim, tintas

com PVC inferior a 30% são adequadas para formulações de tintas acetinadas. Há medida que o PVC

aumenta, a quantidade de ligante diminui, deixando de ser possível incorporar a crescente área

superficial de pigmentos e cargas. Este ponto de viragem denomina-se PVC crítico (CPVC). O valor de

CPVC depende de vários fatores, como a formulação da tinta, mas por norma situa-se entre 45 e 60%.

Acima do CPVC, devido ao baixo teor de ligante e à grande presença de cargas e pigmentos, o filme

começa a adquirir espaços vazios (lacunas) no seu interior, aumentando portanto a porosidade do

mesmo. Como não estão uniformizados no ligante, os pigmentos começam a sobressair deste,

conduzindo à formação de um filme rugoso [Herk, 2005].

5.1.1.4. Aditivos

Tal como na formulação de dispersões aquosas, também na produção de tintas são usados certos

aditivos com a finalidade de melhorar o desempenho e estabilidade das mesmas. Além dos reguladores

de pH, agentes anti-espuma e conservantes, são adicionados dispersantes, espessantes e

coalescentes.

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Os dispersantes têm como função incorporar os pigmentos e cargas no polímero e promover a

separação entre as partículas, de modo a evitar floculação entre as mesmas. A introdução de agentes

dispersantes influencia o poder ligante, a estabilidade da tinta e o brilho. Os dispersantes podem ser

polielectrólitos solúveis em água, sais de homo ou copolímeros sintéticos ou polifosfatos.

O mecanismo de dispersão das partículas consiste na adsorção do dispersante à superfície das

mesmas, conduzindo à estabilização dos pigmentos e cargas através do fenómeno de repulsão

electroestática ou estérica.

Para tintas com um PVC inferior ao PVC crítico, as partículas já se encontram bem dispersas, portanto

a melhor forma promover a estabilidade entre elas é através da repulsão electroestática. Isto consegue-

se com a adsorção de partículas carregadas, que aumentem a repulsão de Coulomb entre elas.

Quando a formulação das tintas corresponde a um PVC superior ao PVC crítico, a melhor forma de

estabilizar os pigmentos e as cargas é através da repulsão estereoquímica, pois neste caso as

partículas já se encontram bastante próximas, sendo difícil evitar o contacto entre elas. Os agentes

dispersantes responsáveis pelo impedimento estereoquímico são simultaneamente compatíveis com

os pigmentos e cargas e com o ligante e, portanto, após a sua adsorção nas partículas forma-se um

filme de polímero em torno destas, evitando assim a floculação das mesmas [Herk, 2005][Nogueira,

2009].

Os espessantes têm a finalidade de dar a consistência desejada à tinta, uma vez que que as

dispersões aquosas apresentam um perfil reológico desfavorável à sua aplicação. A baixa viscosidade

das dispersões aquosas conduz à sedimentação dos pigmentos e cargas durante o processo de

armazenagem, sendo também responsável por eventuais salpicos e escorrimentos durante a aplicação.

A adição de agentes espessantes na quantidade adequada resulta na otimização da reologia da tinta,

favorecendo a estabilidade à armazenagem e as propriedades de aplicação. Os espessantes mais

comuns nas tintas de base aquosa são os espessantes celulósicos [Herk, 2005].

Como já foi referido, os coalescentes têm a função de baixar a temperatura mínima de formação de

filme (TMFF) do produto. Estes compostos infiltram-se dentro das partículas de polímero, quebrando o

empacotamento entre as cadeias e, deste modo, baixam a TMFF. Os coalescentes com carácter mais

hidrofóbico são mais compatíveis com o polímero e portanto, plastificam-no mais do que os solventes

de caráter hidrofílico. Os coalescentes têm a desvantagem de contribuir para o teor de compostos

orgânicos voláteis presentes na tinta, que serão emitidos após a aplicação da mesma [Herk, 2005].

5.1.2. Processo de filmificação

O processo de formação do filme de tinta consiste na conversão do produto líquido num filme sólido,

através da evaporação da água após a aplicação da tinta no substrato. Para que a tinta apresente boas

propriedades mecânicas é necessário que o processo de filmificação ocorra de forma satisfatória. Para

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que tal aconteça, os mecanismos de estabilização das partículas de látex - repulsão electroestática e

estérica - na dispersão devem ser ultrapassados, de forma a permitir a coalescência das partículas.

O processo de filmificação inicia-se com a evaporação da água, o que favorece a aproximação das

partículas. Há medida que se vão aproximando, formam-se canais semelhantes a tubos capilares. Nos

tubos capilares, a tensão superficial exerce uma força que provocará o colapso dos tubos, força essa

que aumenta há medida que o diâmetro do tubo vai diminuindo. Quando as partículas de látex estão

suficientemente próximas, esta força supera as forças repulsivas existentes entre as partículas. Um

fator muito importante a ter em conta para a coalescência das partículas é a capacidade de difusão

entre elas. A facilidade de difusão depende fortemente do tamanho das partículas e da temperatura a

que ocorre o processo de filmificação. Quanto menor o tamanho das partículas e quanto maior a

diferença entre temperatura a que ocorre a filmificação e a Tg do polímero (T – Tg), mais fácil será a

difusão das partículas e, consequentemente, mais rápida é a filmificação. Este processo encontra-se

esquematizado na Figura 5.1.

Figura 5.1 Processo de formação do filme (adaptado de Glass, 1997).

Quando a aplicação é feita a uma temperatura inferior à TMFF não é possível obter um filme coeso e,

portanto, não se consegue alcançar as propriedades desejadas. Adicionalmente, tem-se como

resultado um filme fissurado, com menos adesão e durabilidade. A solução poderia passar na

formulação de um filme mais macio, no entanto, isto poderia comprometer as propriedades mecânicas

e a resistência à nódoa do filme. Deste modo, a introdução de coalescentes torna-se necessária, pois

permitem a diminuição da TMFF do polímero, permitindo a obtenção de um filme uniforme. Os

coalescentes apresentam ainda a vantagem de tornar o processo de evaporação de água mais lento,

dando mais tempo às partículas para agregarem-se e difundirem, o que por sua vez permite a obtenção

de um filme mais regular e com melhores propriedades [Chern, 2008][Herk,2005].

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5.1.3. Tintas de exterior e texturadas

Além da função decorativa, é de extrema importância que as tintas de exterior confiram proteção ao

substrato, já que este vai estar constantemente exposto a fatores ambientes. Deste modo, as tintas de

exterior e texturadas devem possuir as seguintes características:

Elevada resistência contra os raios UV

Permeabilidade ao vapor de água

Baixa absorção de água

Boa adesão ao substrato

De modo a impedir a entrada de água, a tinta deve ser formulada para um PVC abaixo do PVC crítico,

para minimizar a presença de poros. A resistência às radiações UV consegue-se com o uso de

dispersões acrílicas puras e estireno-acrílicas. No entanto, para valores de PVC baixos, são

aconselháveis as acrílicas puras, pois são mais resistentes a este fenómeno [Herk, 2005].

5.1.4. Tintas de interior

Ao contrário das tintas de exterior, as tintas de interior não necessitam de proteção contra a radiação

UV, humidade e outros fatores ambientais. Assim, caraterizam-se por possuir um PVC superior ao PVC

crítico, apresentando uma estrutura porosa. As tintas de interior têm assim a vantagem de apresentar

um rácio preço/desempenho atrativo. No entanto, é importante que demonstrem:

Poder de cobertura

Fácil aplicação

Resistência à esfrega húmida

Baixo conteúdo em solventes

No entanto, apesar de baixa quantidade de ligante, este deve estar presente em quantidade suficiente

para cumprir a sua função de manter os pigmentos e cargas unidos. Deve ainda conferir hidrofobicidade

ao filme para permitir que a superfície seja limpa com detergentes aquosos sem que haja empolamento

e consequente desintegração da tinta [Herk, 2005].

5.1.5. Tintas acetinadas

As tintas acetinadas devem conferir à superfície um aspeto brilhante. Devem ter um elevado índice de

refração e devem conduzir à formação de um filme liso. Deste modo, as tintas acetinadas devem ser

formuladas com elevado teor de ligante (baixo PVC) e requerem elevada resistência ao empilhamento

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(blocking). Este último fator é muito importante, pois quando aplicada em portas e janelas, deve permitir

fechá-las e abri-las sem a adesão da tinta, após pouco tempo de secagem [Herk, 2005].

5.2. Adesivos

Os adesivos são materiais usados com a finalidade de unir outros materiais, ou seja, promovem a

junção de superfícies através de forças de adesão e coesão. Podem ocorrer três tipos de falhas quando

se tenta separar duas superfícies unidas por um adesivo, representadas na Figura 5.2.

Figura 5.2 – Representação da falha estrutural do substrato e das falhas de adesão e coesão do adesivo

(adaptado de www.theadhesivesexpert.com).

A falha estrutural corresponde a falhas presentes no material que está a ser colado, conduzindo à

rutura do mesmo. Relativamente às falhas que podem ocorrer no adesivo, estas podem ser de adesão

ou de coesão. A falha de adesão corresponde à falha entre uma das superfícies e o adesivo, ficando

o adesivo ligado apenas à superfície oposta. A falha de coesão ocorre quando o adesivo se separa,

ficando resíduo do mesmo nos dois substratos. Deste modo, na produção de dispersões aquosas para

adesivos deve ter-se em atenção o balanço entre as forças de coesão e adesão, cuja especificação

depende do tipo de aplicação desejada.

A força de adesão sentida após o contacto com o adesivo corresponde à pegajosidade do mesmo.

Quanto maior o nº de carbonos das cadeias laterais do polímero, maior é a pegajosidade máxima e

menor é a temperatura a que a pegajosidade máxima ocorre. Monómeros com uma temperatura de

transição vítrea mais baixa dão origem a polímeros mais macios e pegajosos.

Também a massa molar e as reticulações do polímero afetam a adesão e coesão do adesivo.

Consegue-se reduzir o grau de reticulação e a massa molar ao introduzir agentes de transferência de

cadeia. Quando introduzidos em excesso verifica-se que o polímero não tem boa coesão (teste de

cisalhamento) e quase não tem adesão (teste de peeling). Reduzindo a quantidade de agentes de

transferência de cadeia, verifica-se um pico onde a adesão é máxima, mas mantêm-se as falhas de

coesão. Ao diminuir-se ainda mais esta quantidade, a coesão do adesivo aumenta e a adesão deste

diminui. Deste modo, é necessário ter em atenção a quantidade de agentes de transferência de cadeia

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introduzidos na formulação para que se consiga um equilíbrio entre estas propriedades. As

propriedades de adesão e coesão são também melhoradas com o uso de monómeros funcionais.

Os adesivos sensíveis à pressão (PSA) são polímeros viscoelásticos que aderem a uma superfície

quando é aplicada uma pressão. Estes adesivos apresentam elevada pegajosidade e boas

propriedades de coesão. Podem ser usados em rótulos, post-its, fitas adesivas, etc [Herk, 2005].

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6. Condições experimentais

6.1. Processo de produção de dispersões aquosas

As dispersões aquosas foram sintetizadas no laboratório de Investigação e Desenvolvimento, segundo

um processo semi-batch. Neste processo o reator é carregado inicialmente com parte da formulação

(Flotte) e é aquecido para a temperatura de polimerização especificada, sendo a carga inicial

polimerizada em batch. Deve haver um tanque auxiliar onde se adicionam e misturam os componentes

que irão formar a pré-emulsão, e que serão adicionados em contínuo ao reator durante o processo de

polimerização. A pré-emulsão é constituída pela mistura monomérica, pela totalidade ou parte dos

emulsionantes e uma parte da água. Por norma, na carga que é inicialmente adicionada ao reator está

também incluída uma fração de iniciador e de pré-emulsão, denominados de iniciador semente e pré-

emulsão semente. Esta técnica de sementeira tem como objetivo controlar o tamanho de partícula e a

sua distribuição. Após esta etapa, a pré-emulsão e o iniciador são adicionados em contínuo ao reator,

durante um certo período de tempo, seguindo-se um período de digestão que assegura o consumo do

monómero que ficou por reagir. Após este período são então adicionados os pares redox e os aditivos

finais.

Após a preparação, a dispersão aquosa deve ser filtrada por uma rede de 160 µm, quantificando-se os

sólidos que ficam retidos na rede (resíduo de filtração).

O esquema de montagem do processo está representado na Figura 6.1.

Figura 6.1 – Esquema de montagem do equipamento necessário à produção das dispersões aquosas.

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O equipamento deve incluir:

Reator de vidro com camisa, que permita a circulação de água de aquecimento/arrefecimento;

Tanque auxiliar, para a preparação da pré-emulsão;

Agitadores;

Motor de agitação;

Termómetro, que deve estar mergulhado na mistura ao longo de todo o processo de

polimerização;

Condensador;

Bomba para circulação da água de aquecimento;

Ampolas, que permitam a introdução do iniciador e dos aditivos.

6.2. Caracterização de dispersões aquosas

Após a produção das dispersões aquosas, é necessário que as mesmas sejam caracterizadas, de

modo a avaliar as suas propriedades e a verificar se as mesmas estão dentro dos parâmetros

estabelecidos.

De seguida descrevem-se os métodos referentes às propriedades que se pretendem analisar nas

dispersões.

6.2.1. Aspeto do filme

O método consiste na avaliação visual do filme da dispersão aquosa, de 300 µm, após a secagem do

mesmo a uma temperatura superior à TMFF. Devem verificar-se características como a limpidez,

pegajosidade, brilho e a presença fissuras, ar e grumos no filme.

6.2.2. Resíduo sólido (RS)

O resíduo sólido é uma medida da quantidade de polímero formado na dispersão, correspondendo aos

constituintes não voláteis, que será a matéria ativa em termos de aplicação.

O método consiste em colocar uma amostra com 1-2 g numa estufa a 105 ºC, durante 1 hora. O

procedimento deve ser repetido 3 vezes e deve obter-se pelo menos dois ensaios concordantes. O

método é executado de acordo com a norma de referência NP EN ISO 3251:2009. O resíduo sólido é

dado pela Equação 6.1.

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𝑅𝑆 (%) =𝑚𝑐𝑟 − 𝑚𝑐𝑣

𝑚𝑎× 100 (Equação 6.1)

Sendo mcr a massa da cápsula com o resíduo, mcv a massa da cápsula vazia e ma a massa de amostra

colocada na cápsula.

6.2.3. Tamanho Médio de Partícula (TMP)

A obtenção da distribuição de tamanhos e tamanho médio das partículas de polímero é feita por DLS

(Dynamic Light Scattering), usando o aparelho BI 90 Plus – Particle Size Analyzer. O procedimento

consiste na diluição e homogeneização de uma gota de dispersão aquosa numa célula e na introdução

desta no aparelho, para leitura e obtenção dos resultados. O resultado deve incluir o tamanho médio

de partícula, em nm, e o desvio padrão geométrico (GSD).

6.2.4. Temperatura Mínima de Formação de Filme (TMFF)

A TMFF corresponde à temperatura acima da qual a dispersão aquosa produz um filme contínuo e

isento de fissuras. A TMFF depende da composição monomérica, ou seja, da relação entre monómeros

duros e macios, mas também da quantidade de coalescente e plastificante eventualmente presentes

na dispersão. O método consiste na aplicação de um filme de 150 µm no aparelho Rhopoint 60, que

possui uma superfície com um gradiente de temperatura, conforme esquematizado na Figura 6.2. Após

a secagem do filme, deve verificar-se qual a temperatura correspondente à zona onde o filme coalesceu

cerca de 90%. O método segue a norma de referência ISO 2115:2009.

Figura 6.2 – Aparelho para a determinação da temperatura mínima de formação de filme.

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6.2.5. Viscosidade de Brookfield

Este método permite a determinação da viscosidade dinâmica de líquidos, com recurso a um

viscosímetro de Brookfield. O procedimento consiste em selecionar a haste mais adequada ao líquido

e mergulhá-la na amostra a testar, até atingir a ranhura da haste. De seguida deve selecionar-se uma

velocidade de 20 rpm e ler o valor indicado no aparelho após 18 s. A amostra deve ser previamente

termostatizada a 23 oC. Este método é executado de acordo com a norma de referência EN ISO

2555:1999.

A viscosidade é um parâmetro que depende do sistema emulsionante usado e não depende

diretamente do tamanho de partícula. Esta última analogia pode fazer-se apenas quando se trata da

mesma dispersão e, nesse caso, a viscosidade é tanto maior quanto menor for o tamanho médio de

partícula.

6.2.6. pH

O pH das dispersões aquosas é medido com um aparelho de medição de pH. O procedimento consiste

em mergulhar o elétrodo do aparelho na dispersão e verificar o valor obtido. Este método segue a

norma de referência ISO 976:1996.

O controlo do pH é muito importante e deve ser feito sempre no fim da polimerização, para garantir a

estabilidade das dispersões aquosas. Muitas vezes também é necessário ajustar-se o pH no início do

processo. A adição de agentes reguladores de pH pode afetar a polimerização e a viscosidade da

dispersão.

6.2.7. Resíduo de filtração

Após a síntese das dispersões aquosas, estas são sujeitas a filtração, atravessando uma rede com

uma malha de 160 µm, previamente pesada. A rede deve secar durante alguns dias, sendo

posteriormente pesada, de modo a quantificar os sólidos presentes. O resíduo de filtração é dado pela

Equação 6.2.

𝑅𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑎çã𝑜 (%) =𝑚𝑟𝑓−𝑚𝑟𝑖

𝑚𝑑× 100 (Equação 6.2)

Em que mrf é a massa da rede final, mri a massa da rede inicial e md a massa de dispersão sujeita a

filtração.

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6.2.8. Resíduo ao peneiro

O método da determinação do resíduo ao peneiro tem como finalidade quantificar a fração de sólidos

(grumos) que se encontram na dispersão, com um tamanho superior ao da abertura de malha da rede

usada. A rede escolhida depende do tipo de dispersão aquosa a analisar, no entanto, usa-se

normalmente a rede de 40 µm. O método consiste na pesagem de aproximadamente 100 g de

dispersão, seguida de diluição com água destilada. Posteriormente deve pesar-se a rede, dobrá-la em

forma de cone, e fazer passar a dispersão diluída sobre a mesma. Coloca-se a rede a secar numa

estufa a 125 ºC, durante 15 minutos. Este método segue a norma de referência ISO 4576:1996.

O resíduo ao peneiro é calculado de acordo com a Equação 6.3.

𝑅𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑎𝑜 𝑝𝑒𝑛𝑒𝑖𝑟𝑜 (%) =𝑚𝑟𝑓−𝑚𝑟𝑖

𝑚𝑎× 100 (Equação 6.3)

Em que mrf é a massa da rede final, mri é a massa da rede inicial e ma é a massa da amostra de

dispersão aquosa.

6.2.9. Resistência termomecânica (RTM)

O método da resistência termomecânica tem como objetivo simular o comportamento das dispersões

aquosas quando estão sujeitas à força exercida pelo dispersor, sendo esse processo necessário na

produção de tintas. Para tal é necessário misturar 100 g de dispersão aquosa, a 50%, com 200 g de

carbonato de cálcio e homogeneizar a mistura num dispersor de alta velocidade. Este deve começar

com uma velocidade de rotação de 1000 rpm no primeiro minuto e de seguida deve ajustar-se a

agitação para 3000 rpm. A agitação interrompe-se assim que se verificar gelificação da mistura ou

assim que se atingir 30 minutos de agitação. O resultado final deve incluir o tempo decorrido e a

temperatura final da mistura.

6.2.10. Absorção de água (AA)

Este método consiste na determinação do teor de água absorvido por um filme de polímero, após

24 h de imersão em água. Para tal é necessário colocar aproximadamente 50 g de dispersão aquosa,

a 30%, numa caixa de Teflon com uma profundidade de 3 mm. O filme deverá secar numa sala de

temperatura e humidade controladas durante 48 h, após as quais deve ser destacado e virado

diariamente, até perfazer um total de 7 dias de secagem. Posteriormente devem ser cortados e

rigorosamente pesados 2 provetes com dimensões de 4 cm x 4 cm, que serão de seguida imersos em

água. Decorridas as 24 h retira-se o excesso de água e pesam-se novamente os provetes.

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31

O teor de água absorvido pelo filme de polímero é calculado com recurso à Equação 6.4.

𝐴𝐴 (%) =𝑚2−𝑚1

𝑚1× 100 (Equação 6.4)

Em que m2 é a massa do provete após a imersão em água e m1 a massa do provete antes da imersão

em água.

A absorção de água, entre outros fatores, está associada à migração das moléculas de emulsionante

para a superfície do filme, durante o processo de filmificação, que se dispõem de forma a que a parte

hidrofílica fique virada para o exterior. Deste modo, quando o filme aplicado entra em contacto com

água (por exemplo: chuva), esta será absorvida devido à presença dos emulsionantes.

6.2.11. Ângulo de contacto

Este método consiste na determinação do ângulo formado por uma gota de água destilada, quando

colocada em contacto com o filme de dispersão aquosa alvo da determinação. O ângulo de contacto

encontra-se esquematizado na Figura 6.3.

Figura 6.3 – Representação do ângulo de contacto,α, formado por uma gota de água, sobre uma superfície

(adaptado de Goldschmidt e Streitberger, 2007).

As medições foram efetuadas no Laboratório de Interfaces do CQE, do Instituto Superior Técnico,

Universidade de Lisboa, dirigido pela Prof. Benilde Saramago. Para a execução do método usou-se um

goniómetro, que inclui uma câmara, onde se introduz o substrato e a gota de água, e uma câmara de

vídeo montada num microscópio que captura imagens da gota ao longo do tempo. A introdução da gota

sobre a superfície do substrato é feita com o auxílio de uma micro seringa, sendo muito importante que

haja uma atmosfera saturada em água dentro da câmara, de modo a evitar a evaporação da gota de

água. O equipamento está ligado a um computador, sendo as imagens analisadas através do software

ADSA-P.

A determinação do ângulo de contacto é feita através da representação gráfica dos ângulos de contacto

ao longo do tempo. Dado que as gotas se mostram estáveis, o resultado de cada ensaio é dado pela

regressão linear dos dados, verificando-se o valor para tempo igual a zero. Deve obter-se pelo menos

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32

5 resultados concordantes, sendo o resultado final dado pela média dos vários ensaios. A

representação gráfica dos ensaios realizados encontra-se no Anexo A1.

6.3. Preparação de tintas

A produção de tintas é feita em três etapas principais. A primeira consiste na adição sequencial das

matérias-primas iniciais (água, espessantes, dispersantes, conservantes e agente anti-espuma) e

agitação contínua das mesmas. Posteriormente, a mistura é dispersa num dispersor de alta velocidade,

sendo adicionados nesta fase os pigmentos e as cargas. Esta etapa tem como objetivo assegurar a

separação das partículas, de modo a obter-se uma tinta homogénea e isenta de grumos. Na fase de

acabamento adiciona-se, sob agitação contínua, o regulador de pH, o ligante (dispersão polimérica

aquosa descrita no ponto 6.1), o agente anti-espuma e os coalescentes.

6.4. Caracterização de tintas

A avaliação das propriedades finais das tintas é um processo fundamental, pois permite verificar se as

mesmas apresentam boas propriedades para a sua aplicação. A utilização final de cada tipo de tinta

determina quais as propriedades que são relevantes para serem testadas.

As tintas são analisadas segundo as propriedades do produto tal qual, isto é, da tinta líquida, e segundo

as propriedades após a aplicação do produto.

6.4.1. Propriedades do Produto Tal Qual

6.4.1.1. Resíduo Sólido (RS)

O processo de determinação do resíduo sólido de tintas é idêntico ao referido para as dispersões

aquosas (ver 6.2.2.). A diferença reside na quantidade de amostra pesada, que deverá ser de 1,5 a

2 g, e no tempo de secagem na estufa, que passa a ser de 2 h.

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33

6.4.1.2. Viscosidade de Brookfield

O procedimento para a obtenção da viscosidade de Brookfield é análogo ao referido para as dispersões

aquosas (ver 6.2.5.).

6.4.1.3. Viscosidade de Stormer

O viscosímetro de Stormer mede a viscosidade de um líquido, através da medição da massa necessária

para manter uma haste imersa no produto, a uma velocidade constante de 200 rpm. O valor é dado em

unidades de Krebs (KU), que é uma unidade específica deste instrumento, derivada das variáveis em

causa. Este procedimento segue a norma de referência ISO NP EN 234:1995.

6.4.1.4. Viscosidade de ICI Cone e Placa

O viscosímetro de ICI Cone e Placa foi concebido considerando que as tintas são materiais

pseudoplásticos e que a sua aplicação com rolo, pincel ou spray envolve a aplicação de tensões de

corte elevadas, próximas de 10000 s-1. A medição consiste na aplicação de uma força de corte

tangencial à placa, que contém uma pequena amostra do produto a analisar. Esta força é aplicada para

uma tensão de corte constante de 9000 s-1, com o intuito de simular o comportamento do material

durante a aplicação. O resultado é expresso em Poises.

O método é executado de acordo com a norma de referência NP EN ISO 2884-1:2008.

6.4.1.5. pH

O método de medição de pH já foi referido nas propriedades das dispersões aquosas (ver 6.2.6.). É de

salientar que as tintas devem ser ajustadas para um valor de pH superior a 8.

6.4.1.6. Densidade

A densidade mede-se com o auxílio de um picnómetro de aço inoxidável, com um volume predefinido.

O método consiste em colocar o produto dentro do picnómetro, até perfazer todo o seu volume. De

seguida coloca-se a tampa e remove-se o produto em excesso. A densidade é dada pela Equação 6.5.

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𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝑔/𝑐𝑚3) =𝑚𝑐−𝑚𝑣

𝑉 (Equação 6.5)

Em que mc é a massa do picnómetro cheio, mv é a massa do picnómetro vazio e V é o volume do

picnómetro.

No caso de tintas texturadas, a densidade deve ser medida sem se colocar a tampa do picnómetro,

considerando-se o volume deste sem a tampa.

O método segue a norma de referência NP ISO 2811-1:1999.

6.4.2. Propriedade do produto aplicado

6.4.2.1. Aspeto da aplicação

Este método tem como objetivo avaliar o aspeto do revestimento após a sua aplicação. Verifica-se a

presença de fissuras, microespumas, ar, escorrimento e o poder de cobertura. No caso de tintas

texturadas, avalia-se também o relevo. A avaliação é feita com base numa escala de 0 a 5, em que 0

corresponde a um valor ótimo e 5 corresponde a um valor péssimo.

A facilidade de espalhamento da tinta no substrato mede-se pela aplicabilidade e é avaliada como boa

(B), razoável (R) ou má (M).

O método segue a norma de referência ISO 4628-1:1982.

6.4.2.2. Lacagem

A avaliação da lacagem consiste em verificar a capacidade de nivelamento do revestimento após a sua

aplicação, ou seja, a capacidade que este tem para revestir pequenas irregularidades na superfície. O

método consiste na aplicação de um filme do produto com um aplicador em espiral, com uma espessura

de 200 µm. Quando se trata de tintas acetinadas, esmaltes ou de primários, a aplicação deve ser feita

com um aplicador em espiral de 100 µm. Tal como no aspeto da aplicação, a avaliação é feita numa

escala de 0 a 5.

O procedimento é efetuado de acordo com a norma de referência ISO 4628-1:1982.

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35

6.4.2.3. Brilho especular

Este método tem como objetivo a determinação do brilho especular de tintas. A preparação do provete

consiste na aplicação de um filme de tinta de 300 µm sobre uma placa de vidro. Esta deve secar durante

24 h numa sala de temperatura e humidade controladas. A determinação do brilho é feita com recurso

ao medidor Elcometer 408. O brilho especular é medido sob três ângulos, 20o, 60o e 85o e os resultados

são expressos em unidades de brilho, u.b..

O método segue a norma de referência NP EN ISO 2813:2001.

6.4.2.4. Parâmetros CIELab

A cor observada num filme de tinta deve-se à capacidade que os pigmentos têm para absorver a luz,

refletindo as cores não absorvidas. As cores podem ser definidas através do sistema CIELab. Este

sistema consiste na definição das cores através de um sistema coordenadas tridimensionais,

esquematizado na Figura 6.4.

Figura 6.4 – Sistema de coordenadas CIELab (adaptado de www.azom.com).

Neste sistema, cada coordenada têm uma função:

L* mede a luminosidade da tinta e varia de 0 a 100, sendo que 0 corresponde a um preto perfeito

e 100 a um branco perfeito;

a* mede a tendência entre a tonalidade esverdeada e avermelhada. Valores negativos

correspondem a uma tonalidade esverdeada e valores positivos correspondem uma tonalidade

avermelhada;

b* mede a tendência entre a tonalidade azulada e amarelada. Um valor de b* negativo corresponde

a uma tinta azulada, enquanto um valor positivo corresponde a uma tinta amarelada.

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A medição da cor da tinta é feita com recurso a um espectrofotómetro, usando-se o mesmo provete

preparado para a medição do brilho. O método segue as normas de referência ISO 7724-1:1984, ISO

7724-2:1984 e ISO 7724-3:1984.

6.4.2.5. Razão de contraste

A medição da razão de contraste tem como objetivo a determinação do poder de cobertura de uma

tinta, ou seja, da sua capacidade de obliterar diferenças de cor no substrato ou a própria cor do mesmo.

Para a medição é necessária a sobreposição de um filme de tinta numa carta de contraste (com uma

parte preta e uma parte branca), medindo-se, com um espectrofotómetro, a luz refletida pela tinta em

cada uma das partes da carta. O valor obtido é dado pela Equação 6.6.

𝑅𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑠𝑡𝑒 (%) =𝑙𝑢𝑧 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑧𝑜𝑛𝑎 𝑝𝑟𝑒𝑡𝑎

𝑙𝑢𝑧 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑧𝑜𝑛𝑎 𝑏𝑟𝑎𝑛𝑐𝑎× 100 (Equação 6.6)

O método é executado de acordo com a norma de referência DIN 6174:1979.

6.4.2.6. Fissuração a espessuras elevadas (mud-cracking)

Este método visa à determinação da espessura mínima a que o filme de tinta começa a fissurar. É

aplicado um filme de tinta sob um bloco metálico Meier Gauge, esquematizado na Figura 6.5,

arrastando a rasoira desde a parte mais funda (maior espessura) até à zona mais rasa (menor

espessura). A espessura do bloco varia entre 0 e 2 mm.

Figura 6.5 – Esquematização do bloco metálico Meier Gauge e rasoisa (adaptado de www.dingerceramics.com).

Após a secagem do filme, numa sala de temperatura e humidade controladas, este é avaliado quanto

à presença de fissuras, com o auxílio de uma lupa de 8x. Deve verificar-se a espessura do filme húmido,

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através da escala presente no bloco, e a espessura do filme seco, com um aparelho de medição

adequado para o efeito, referentes à zona onde começam a aparecer as fissuras.

O método é executado segundo a norma de referência NP 4378:1999.

6.4.2.7. Resistência à esfrega húmida

Este método consiste na determinação da resistência à esfrega húmida, de modo a simular o desgaste

a que a tinta está sujeita durante o processo de esfrega e lavagem da mesma.

Para a execução do método é necessário aplicar um filme de tinta com uma espessura húmida de

300 µm, sobre uma folha Leneta, que deverá secar durante 7 dias numa sala de temperatura e

humidade controladas. A folha deve ser colocada e centrada no aparelho de esfrega, sendo sujeita à

passagem da escova numa frequência de 37±2 ciclos/minuto e, simultaneamente, ao gotejamento de

uma solução de dodecilbenzenosulfonato de sódio a 0,25%, com um caudal de 1 ml/minuto. Os

resultados são dados pelo nº de ciclos decorridos até ao aparecimento de duas listas pretas contínuas,

com aproximadamente 10 cm de comprimento e 2 a 3 mm de largura, provocadas pelo desgaste da

escova.

Caso não se verifique o desgaste indicado aos 5000 ciclos, interrompe-se a execução do método e

classifica-se o desgaste como nulo (N), médio (M) ou elevado (E).

Considera-se a tinta resistente à lavagem, se esta atingir os 1000 ciclos. Se atingir os 5000 ciclos

considera-se que a mesma é resistente à esfrega húmida.

O método é executado de acordo com a norma de referência NP EN 13300:2004.

6.4.2.8. Empilhamento (blocking)

O empilhamento é a capacidade que o filme de tinta tem para aderir a outro filme, da mesma tinta.

Trata-se de uma propriedade indesejável, avaliada principalmente nas tintas acetinadas.

O método consiste na aplicação da tinta sobre uma cartolina, com um aplicador em espiral de 60 µm.

A cartolina deve secar durante 24 h numa sala de temperatura e humidade controladas. De seguida

deve cortar e colar-se a cartolina com o filme de tinta em 8 lamelas, com o auxílio de uma fita adesiva

de duas faces. Procede-se então ao empilhamento das lamelas, colocando-se as faces revestidas em

contacto de modo a formar uma cruz, ou seja, são sobrepostas segundo um ângulo de 90º, o que

corresponde a uma área de contacto de 6,76 cm2. Coloca-se então um pistão de aço sobre os quatro

provetes (cada provete é formado por duas lamelas), durante 1 h. A medição do empilhamento consiste

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na determinação da massa necessária para separar as duas lamelas que formam o provete, sendo o

resultado final dado pela média dos valores obtidos em cada um dos provetes. O empilhamento é dado

pela Equação 6.7.

𝐸𝑚𝑝𝑖𝑙ℎ𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (𝑔/𝑐𝑚2) =𝑚

𝐴 (Equação 6.7)

Em que m é a massa necessária para a separação dos provetes e A a área de contacto entre duas

lamelas.

O método é efetuado de acordo com a norma de referência NP EN ISO 4622:1995.

6.4.2.9. Dureza Pendular de König

A dureza de uma tinta manifesta-se pela resistência que esta apresenta contra ações mecânicas, como

fricção e arranhões.

A dureza é medida com recurso a um pêndulo de dureza König, representado na Figura 6.6. O aparelho

consiste num pêndulo suportado por duas bolas de ágata, sendo estas colocadas sobre o filme de tinta.

Para a medição da dureza deve mover-se o pêndulo, de modo a que ele fique suspenso, com a ajuda

de uma alavanca, a uma amplitude de 6º. De seguida remove-se a alavanca, o que conduz à oscilação

do pêndulo. É então contabilizado o número de oscilações até que o pêndulo atinja uma amplitude de

3º.

Figura 6.6 – Pêndulo de König (adaptado de Goldschmidt e Streitberger, 2007).

A preparação da amostra consiste na aplicação de um filme de tinta de 100 µm, sobre uma placa de

vidro, que deverá secar numa sala de temperatura e humidade controladas.

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O resultado é dado pelo tempo decorrido durante as oscilações medidas, em segundos, multiplicando-

se o nº de oscilações pelo tempo de cada uma delas, 1,4 s. São apresentados os resultados relativos

às medições efetuadas após 1, 3 e 14 dias.

O método é executado de acordo com a norma de referência ISO 1522:2006.

6.4.2.10. Flexibilidade em cartolina

Este método é executado apenas no caso de tintas texturadas. A sua execução consiste na aplicação

de um filme de tinta sobre uma folha de cartolina, que deverá secar durante sete dias numa sala de

temperatura e humidade controladas. Após esse tempo, dobra-se a cartolina segundo um ângulo de

180º, verificando-se se há ou não rutura da tinta.

O resultado é classificado como positivo, caso não haja rutura da tinta (tinta flexível), ou negativo, caso

se verifique a sua rutura (tinta não flexível).

6.5. Caracterização de adesivos sensíveis à pressão (PSA)

Uma vez que os PSA são aplicados sob a forma de dispersão aquosa, além da sua caracterização

efetuada enquanto dispersão (produto tal qual), os mesmos são analisados quanto à aplicação do

produto. Antes da realização dos testes é necessário preparar o adesivo. Para tal deve aplicar-se um

filme de produto numa folha de poliéster, com um aplicador em espiral de 50 µm, que deverá secar

durante 10 minutos numa estufa de 90 ºC. Decorrido este tempo, coloca-se um papel de silicone, de

uma face, sobre a parte da folha de poliéster que contém o filme de adesivo. Este conjunto deve

permanecer durante 24 h numa sala de temperatura e humidade controladas, podendo posteriormente

ser usado nos testes necessários à caracterização do adesivo. Para a aplicação do adesivo basta

destacar a folha de silicone.

As propriedades mais relevantes a avaliar são descritas de seguida.

6.5.1. Adesão “Peel”

O método de adesão “peel” consiste na medição da força necessária para remover, a 300 mm/min, o

adesivo de uma placa de vidro com largura de 2,5 cm, sendo o mesmo destacado sob um ângulo de

180o. Este teste é efetuado após 20 minutos e 24 horas da aplicação do adesivo na placa de vidro.

Para a execução do método usa-se um tensiómetro vertical, esquematizado na Figura 6.7.

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Figura 6.7 – Processo de remoção do adesivo da placa de vidro, com um tensiómetro.

Após a remoção do adesivo, verifica-se ainda o estado do vidro, no que diz respeito à transferência de

adesivo (TA) para o mesmo. A classificação é feita observando a percentagem de adesivo que ficou

agarrada ao vidro.

Esta propriedade é testada de acordo com o método FINAT-FTM1.

6.5.2. Aderência “Loop”

Com este método pretende-se testar a aderência do adesivo a uma superfície. O teste consiste em

medir a força necessária para separar, a uma velocidade específica, um laço de adesivo colocado com

uma determinada área sobre uma superfície padrão, como exemplificado na Figura 6.8.

Figura 6.8 – Procedimento do teste de aderência “loop” (adaptado de Benedek e Feldstein, 2009).

Este teste é realizado de acordo com o método FINAT-FTM9.

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6.5.3. Resistência ao cisalhamento

A resistência ao cisalhamento consiste na capacidade que um adesivo possui para suportar forças

estáticas, de acordo com o esquema apresentado na Figura 6.9. Deste modo, esta resistência é

definida pelo tempo necessário para que o adesivo deslize totalmente uma área de 6,25 cm2

(representada a amarelo na Figura 6.9), quando suporta uma massa de 1 kg.

Figura 6.9 – Teste de avaliação da resistência ao cisalhamento de um adesivo (adaptado de Benedek e Feldstein, 2009).

O procedimento é realizado de acordo com o método FINAT-FTM8.

6.5.4. Gramagem

A gramagem é determinada através da pesagem de três provetes de adesivo, com dimensões de

4 cm x 4 cm, sendo dada pela média dos resultados obtidos. Esta propriedade indica a quantidade de

adesivo a aplicar numa determinada área de substrato, sendo expressa em g/m2.

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7. Análise e discussão de resultados

Este capítulo é dedicado à apresentação e discussão dos resultados obtidos. Como referido

anteriormente, este trabalho foi realizado em duas etapas. A primeira corresponde à síntese de

dispersões aquosas, que decorreu no laboratório de Investigação e Desenvolvimento. Para cada tipo

de dispersão foi sintetizado o produto de referência e o mesmo produto com a substituição do

emulsionante que se pretende testar como contratipo. Após a caracterização e seleção das dispersões

sintetizadas, estas foram testadas quanto à sua aplicação, no laboratório de Assistência Técnica e

Aplicação, com o intuito de comparar os produtos em que foram substituídos os emulsionantes com as

respetivas referências, na sua aplicação final. No caso das tintas e esmaltes, estes tiveram de ser

produzidos, a partir das dispersões. Já no caso dos PSA, as dispersões foram aplicadas tal qual.

Para facilitar a análise dos resultados, este capítulo será dividido por tipos de dispersões aquosas

sintetizadas. Assim, em cada subcapítulo irão abordar-se os resultados referentes à caracterização das

respetivas dispersões, seguidos da análise referente à caraterização da respetiva aplicação.

Procurou-se, sempre que possível, substituir o emulsionante padrão por um emulsionante idêntico, com

as mesmas características. A substituição do mesmo foi feita em termos de massa de conteúdo ativo

(CA), ou seja, em termos de massa de emulsionantes efetivamente presente nos produtos

emulsionantes, visto estarem ainda presentes água e outros componentes. Na Tabela 7.1 apresentam-

se os emulsionantes padrão e os emulsionantes testados, bem como algumas propriedades

fundamentais para a sua caracterização. De notar que estes estão identificados por letras seguidas de

numeração sequencial, sendo que cada letra identifica emulsionantes semelhantes, que serão

comparados, sendo o emulsionante de referência o primeiro do grupo (por exemplo, o emulsionante A1

é a referência e os emulsionantes A2 e A3 são os emulsionantes a testar como contratipos do A1). Na

Tabela 7.1 está ainda indicado qual a dispersão aquosa em que os mesmos vão ser testados.

De notar que não serão apresentadas todas as propriedades analisadas nos resultados, de modo a

tornar a análise menos extensa. Apenas serão apresentados os resultados mais relevantes para cada

produto. Os resultados relativos à aplicabilidade e aspeto da aplicação das tintas encontram-se no

Anexo A2.

Visto que os emulsionantes A1, A2 e A3 são testados nas dispersões DA, DB, DC e DD, a influência

da estrutura destes emulsionantes nas propriedades obtidas são apresentadas no Capítulo 7.5, que

tem como objetivo verificar o comportamento de cada emulsionante nas várias dispersões em causa.

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Tabela 7.1 – Principais características dos emulsionantes de referência e dos emulsionantes testados como contratipos.

Emulsionante Dispersão

Aquosa Tipo

CA (%)

EO (mol)

EO/PO (%)

CMC (%)

HLB Estado Tipo estrutura Fórmula química

Emulsionante A1

A, B, C, D NI 70 28 - 0,19 17,5 Líquido Polietilenoglicol,

linear e saturado (C11)

Emulsionante A2

A, B, C, D NI 65 30 - <0,1 16,5 Líquido Mistura de

polietilenoglicóis

Emulsionante A3

A, B, C, D NI 70 30 - n.d. 17 Líquido Polietilenoglicol

Emulsionante B1

E NI 100 - 10 <0,1 2 Líquido Copolímero de bloco do tipo

EO/PO

Emulsionante B2

E NI 100 - 10 n.d. 3 Líquido Copolímero de bloco do tipo

EO/PO

Emulsionante C1

F A 28 7 - 0,09 n.d. Líquido Alquil éter

sulfato de sódio (C11)

Emulsionante C2

F A 27 7 - n.d. n.d. Líquido Alquil éter

sulfato de sódio

Emulsionante D1

G NI 80 11 - 0,04 15 Líquido Polietilenoglicol linear, saturado

(C11)

Emulsionante D2

G NI 80 10 - <0,1 13,5 Líquido Mistura de

polietilenoglicóis lineares

Emulsionante E1

H A 30 4 - 0,02 n.d. Líquido Alquil éter

sulfato de sódio, linear

Emulsionante E2

H A 30 4 - 0,02 32 Líquido Alquil éter

sulfato de sódio, linear, saturado

NI – emulsionante não iónico; A – emulsionante aniónico; n.d.- informação não disponível.

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7.1. Dispersão Aquosa A

A Dispersão Aquosa A é do tipo estireno-acrílica e é produzida de acordo com a formulação

apresentada na Tabela 7.2. Neste produto procurou-se substituir o emulsionante A1 pelos

emulsionantes A2 e A3, correspondentes às dispersões aquosas DA1, DA2 e DA3, respetivamente.

Tabela 7.2 – Formulação da dispersão aquosa A.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte

Água tratada 23,34

Emulsionante não iónico A 0,11

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 0,54

Pré-emulsão

Água tratada 17,52

Emulsionante não iónico A 0,56

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 2,15

Estireno 23,19

Acrilato de butilo 23,19

Outras matérias-primas 9,40

De notar que a quantidade de agente regulador de pH adicionada na preparação das dispersões

aquosas nem sempre é a indicada na formulação. Este agente vai sendo adicionado gradualmente até

se atingir um valor de pH que se encontre dentro dos limites especificados para cada produto.

Após a polimerização das três dispersões aquosas (DA1, DA2 e DA3), as mesmas foram

caracterizadas, tendo-se obtido os resultados apresentados na Tabela 7.3.

Tabela 7.3 – Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DA1, DA2 e DA3.

Especificação DA1 DA2 DA3

RS (%) 49,0 - 51,0 50,1 50,5 49,4

V. Brookfield (mPa.s) 6000 - 12000 31800 40900 38600

pH 7,5 - 9,0 7,9 8,2 8,1

Aspeto do filme Límpido e brilhante

Límpido, brilhante, com ar

Límpido, brilhante, com ar

Límpido, brilhante, com ar

TMP/GSD (nm) 100–200 91/1,5 102/1,6 94/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,073 0,006 0,039

TMFF (oC) 17–21 19 21 21

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,020 0 0,020

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/45 >30/42 >30/41

Absorção de água (%) n.e. 4,4 3,9 4,0 n.e. – não especificado

Ao analisar a Tabela 7.3 verifica-se de imediato a elevada viscosidade que as três dispersões

apresentam. É importante que a viscosidade não seja muito elevada, principalmente por uma questão

de transporte da dispersão de um reator industrial para os tanques de armazenagem, e destes para os

camiões cisterna que conduzirão o produto para os clientes. No entanto, verifica-se que mesmo a

dispersão de referência, DA1, apresenta um valor elevado para este parâmetro, apesar de não tanto

como as dispersões aquosas com os emulsionantes alternativos. Durante o processo de produção

destas dispersões verificou-se um aumento brusco da viscosidade quando se adicionou o agente

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regulador de pH. Como a dispersão aquosa DA2 é a que apresenta um maior valor de pH, portanto a

que levou maior quantidade de base, é normal que apresente maior viscosidade. Da mesma forma se

justifica a diferença de valores da viscosidade das dispersões DA1 e DA3.

Quanto ao TMP, verifica-se que as dispersões DA2 e DA3 apresentam valores superiores à referência,

apesar de apenas a DA2 se encontrar dentro de especificação. No entanto, é normal que este valor

apresente algumas variações entre diferentes fabricos, mesmo usando exatamente a mesma

formulação. De notar que os valores apresentados de TMP são grandezas médias, tendo associado

um desvio padrão (GSD).

Relativamente ao resíduo de filtração e ao peneiro, a dispersão DA2 é a que apresenta melhores

resultados, pois pretende-se que a formação de grumos seja mínima. É importante que o resíduo ao

peneiro seja baixo, pois após a produção as dispersões, estas apenas são filtradas por redes de

160 µm e os grumos de tamanho inferior seguirão no produto que irá para o cliente.

No geral, as dispersões DA2 e DA3 apresentaram bons resultados e, portanto, foram testadas quanto

às suas principais aplicações: tinta mate, tinta interior exterior e tinta acetinada.

Tinta mate

Na Tabela 7.4. apresenta-se a formulação orientativa de uma tinta mate.

Tabela 7.4 – Formulação orientativa da tinta mate.

Matéria-prima % (m/m)

Água 37,20

Aditivo (polifostato de sódio) 0,20

Espessante (hidroxietilcelulose) 0,55

Dispersante (copolímero acrílico) 0,35

Conservante 1 (mistura de isotiazolinona e dimetanol dioxietileno) 0,20

Conservante 2 (mistura de carbendazim, n-octilisotiazolinona e diuron) 0,70

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,15

Regulador de pH (amónia) 0,20

Pigmento branco (dióxido de titânio) 8,60

Carga 1 (caulino calcinado) 7,50

Carga 2 (carbonato de cálcio natural) 18,00

Carga 3 (carbonato de cálcio natural) 14,00

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,15

Ligante A a 50% 11,00

Coalescente 1 (2,2,4-trimetil-1,3-monoisobutirato de pentanodiol) 0,80

Coalescente 2 (mistura de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos) 0,40

As dispersões DA1, DA2 e DA3 foram usadas como ligantes na preparação de tintas mate, tendo-se

feito um acerto do resíduo sólido sempre que necessário. Além das propriedades do produto tal qual,

é importante caracterizar a tinta quanto às propriedades após a sua aplicação. Especificamente para a

tinta mate, é importante avaliar a razão de contraste, o mud-cracking e a resistência à esfrega húmida.

Os resultados obtidos para cada tinta são apresentados na Tabela 7.5.

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Tabela 7.5 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3 P

rod

uto

Tal

Qu

al

Resíduo sólido (%) 55,4 55,3 55,3

Viscosidade de Stormer (KU) 83,8 83,4 85,3

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 3850 3650 3800

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 1,2 1,3 1,3

pH 9,2 9,3 9,3

Densidade (g/cm3) 1,471 1,471 1,472

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,30 97,30 97,30

a* -0,63 -0,63 -0,63

b* 1,85 1,80 1,80

Razão de contraste (%) 93,04 93,14 94,27

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 1250 1150 1550

Espessura do filme seco (µm) 512 478 >600

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 1920 3000 2150

Começando por analisar as propriedades do produto tal e qual, verifica-se que todos os produtos

apresentam valores bastante semelhantes.

Relativamente às propriedades do produto aplicado, observa-se que os parâmetros CIELab são

idênticos, havendo apenas uma ligeira diferença no parâmetro b* nas tintas DA2 e DA3. Apesar de não

ser significativa, esta diferença indica uma menor tonalidade amarelada.

Na razão de contraste, a tinta DA3 é a que apresenta melhores resultados, o que se traduz num melhor

poder de cobertura. No mud-cracking, verifica-se que a tinta DA2 começa a fissurar a espessuras mais

baixas. Por sua vez, a DA3 apresenta melhores resultados que a DA1.

A esfrega húmida é um fator muito importante a ter em conta nas tintas, pois simula a esfrega que

muitas vezes as pessoas fazem para lavar as paredes interiores. Tendo em conta que a tinta mate tem

uma baixa percentagem de ligante na sua formulação, apresenta menor resistência à esfrega que as

tintas com mais ligante, pois é este o responsável por conferir resistência mecânica ao revestimento.

Verifica-se que a dispersão aquosa DA2 é a que melhor satisfaz este parâmetro, com uma diferença

significativa da referência. Todas as tintas classificam-se como resistentes à lavagem, pois aguentam

mais de 1000 ciclos sem sofrer desgaste.

Em termos de aplicação, a tinta DA3 é a que apresenta melhores resultados, mostrando que o

emulsionante A3 é um bom contratipo para a dispersões do tipo A, quando esta tem a finalidade de ser

aplicada como tinta mate. No entanto, a tinta DA2 também apresenta resultados muito satisfatórios,

ficando mesmo além das restantes em termos de esfrega húmida.

Tinta interior exterior

De seguida serão analisadas as dispersões aquosas do tipo A, quando utilizadas na formulação de

uma tinta interior exterior, apresentada na Tabela 7.6.

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Tabela 7.6 - Formulação orientativa da tinta interior exterior.

Matéria-prima % (m/m)

Água 28,35

Aditivo (polifostato de sódio) 0,10

Espessante (hidroxietilcelulose) 0,50

Dispersante (copolímero acrílico) 0,40

Conservante 1 (mistura de isotiazolinona e dimetanol dioxietileno) 0,20

Conservante 2 (mistura de carbendazim, n-octilisotiazolinona e diuron) 0,70

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,15

Regulador de pH (amónia) 0,20

Pigmento branco (dióxido de titânio) 11,00

Carga 1 (caulino calcinado) 6,00

Carga 2 (carbonato de cálcio natural) 16,55

Carga 3 (carbonato de cálcio natural) 17,00

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,15

Ligante A a 50% 17,00

Coalescente 1 (2,2,4-trimetil-1,3-monoisobutirato de pentanodiol) 1,20

Coalescente 2 (mistura de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos) 0,40

Neste tipo de tinta interessa analisar os mesmos parâmetros da tinta mate. Na Tabela 7.7

apresentam-se os principais resultados obtidos para as tintas interior exterior.

Tabela 7.7 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 61,1 61,0 61,0

Viscosidade de Stormer (KU) 109,8 108,8 112,4

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 17000 16500 17500

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 2,1 2,2 2,1

pH 9,1 9,1 9,1

Densidade (g/cm3) 1,521 1,520 1,521

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,06 97,07 97,13

a* -0,76 -0,75 -0,75

b* 1,70 1,73 1,72

Razão de contraste (%) 93,48 95,06 93,90

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 1220 1300 1400

Espessura do filme seco (µm) 550 >600 >600

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 5000/N 5000/N 5000/N

No geral, ambos os emulsionantes testados, A2 e A3, originam boas propriedades de aplicação, quando

comparados com o emulsionante de referência. O parâmetro onde se verifica maior diferença é o

mud-cracking, verificando-se que a tinta formulada com a dispersão DA3 é a que apresenta melhores

resultados, pois apenas fissura a espessuras mais elevadas. Por seu turno, a tinta DA2 é a que

apresenta melhor poder de cobertura, revelado pela razão de contraste.

Relativamente às propriedades do produto tal qual, as tintas DA2 e DA3 apresentam resultados

semelhantes à DA1.

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Tinta acetinada

A tinta acetinada deve apresentar brilho e, portanto, é formulada com maior percentagem de ligante,

em relação às anteriores. A formulação da tinta acetinada apresenta-se na Tabela 7.8.

Tabela 7.8 - Formulação orientativa da tinta acetinada.

Matéria-prima % (m/m)

Água 13,55

Espessante (hidroxietilcelulose) 0,40

Dispersante (copolímero acrílico) 0,70

Conservante 1 (mistura de isotiazolinona e dimetanol dioxietileno) 0,30

Conservante 2 (mistura de carbendazim, n-octilisotiazolinona e diuron) 0,20

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,20

Regulador de pH (amónia) 0,20

Pigmento branco (dióxido de titânio) 20,00

Carga (carbonato de cálcio natural) 10,00

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,25

Ligante A a 50% 50,00

Coalescente 1 (2,2,4-trimetil-1,3-monoisobutirato de pentanodiol) 2,60

Coalescente 2 (propano-1,2-diol) 1,60

Numa tinta acetinada é importante avaliar o brilho e a resistência ao empilhamento. Por outro lado, não

há grande interesse em avaliar a resistência à esfrega húmida, uma vez que esta apresenta na sua

formulação uma grande quantidade de ligante e, deste modo, é também bastante resistente à esfrega.

Na Tabela 7.9 apresentam-se os resultados obtidos, relativos às tintas preparadas com as dispersões

aquosas do tipo A.

Tabela 7.9 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 57,5 57,5 58,3

Viscosidade de Stormer (KU) 132,3 129,9 140,7

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 37250 34750 44000

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 2,3 2,3 2,5

pH 8,7 8,8 8,5

Densidade (g/cm3) 1,285 1,291 1,286

Pro

du

to a

plic

ad

o

Parâmetros CIELab

L* 97,86 97,90 98,02

a* -0,96 -0,94 -0,92

b* 1,09 1,13 1,18

Brilho (u.b.)

∡ 20º 5,8 5,5 4,7

∡ 60º 23,8 24,2 22,6

∡ 85º 45,9 46,4 44,4

Razão de contraste (%) 95,11 94,09 95,09

Blocking (g/cm2) 246 229 237

Ao analisarem-se as propriedades do produto tal qual, verifica-se uma certa discrepância relativa aos

valores da tinta DA3. Uma vez que a tinta é formulada com 50% de ligante, a elevada densidade

verificada neste tipo de tinta deve-se principalmente à alta densidade do mesmo. Deste modo, visto

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que a dispersão aquosa DA3 apresenta um maior teor de sólidos, pode ser esta a razão da diferença

nos valores de densidade verificada para este produto. No geral, não se quer uma viscosidade

demasiado elevada, pois pode dificultar a aplicação da tinta.

Em termos de aplicação, a tinta DA3 é a que mais se diferencia da referência, principalmente nos

parâmetros CIELab e brilho. Em termos de saturação (L*) apresenta melhores resultados, verificando-

se uma tonalidade mais esbranquiçada, exibindo ainda uma tonalidade mais amarelada (b*). No

entanto, a tinta DA3 apresenta menor brilho que as restantes, sendo a DA2 a mais brilhante,

principalmente quando é observada segundo um ângulo superior a 60o. No entanto, as variações de

brilho entre as tintas não são significantes nem facilmente detetáveis a olho nu.

Relativamente ao empilhamento, verifica-se, à primeira vista, que ambas as tintas produzidas a partir

das dispersões DA2 e DA3 mostram-se mais resistentes, quando comparadas com a tinta de referência,

DA1. No entanto, é importante referir que há um erro considerável associado a esta determinação e,

portanto, os resultados consideram-se até bastante semelhantes.

7.2. Dispersão Aquosa B

Tal como no caso anterior, foram sintetizadas três dispersões aquosas do tipo B, uma referência (DB1)

e as outras duas com substituição do emulsionante A1 pelos emulsionantes A2 (DB2) e A3 (DB3). As

dispersões são vinílicas e a sua formulação encontra-se na Tabela 7.10.

Tabela 7.10 - Formulação da dispersão aquosa B.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte

Água tratada 24,46

Colóide protetor (hidroxietilcelulose) 0,58

Emulsionante aniónico (sulfosuccinato) 0,28

Pré-emulsão

Água tratada 15,50

Emulsionante não iónico A 1,43

Emulsionante aniónico (sulfonato) 0,41

Acetato de vinilo 45,41

Versatato de vinilo 7,99

Outras matérias-primas 3,94

Após a caracterização das três dispersões aquosas, obtiveram-se os resultados apresentados na

Tabela 7.11.

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Tabela 7.11 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DB1, DB2 e DB3.

Especificação DB1 DB2 DB3

RS (%) 54,0 – 56,0 56,5 56,2 56,4

V. Brookfield (mPa.s) 1500 – 3500 2335 2215 1535

pH 4,0 – 5,0 4,3 4,6 4,6

Aspeto do filme Límpido e isento de fissuras

Límpido, sem fissuras, com ar e grumos

Límpido, sem fissuras, com ar e grumos

Límpido, sem fissuras, com ar e grumos

TMP/GSD (nm) 270–470 249/1,6 310/1,6 302/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,090 0,020 0,011

TMFF (oC) 13–17 16 17 17

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,049 0,020 0,044

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/37 >30/31 >30/31

Absorção de água (%) n.e. 32,8 26,0 27,4 n.e. – não especificado

Ao analisar a Tabela 7.11, verifica-se que os valores relativos ao resíduo sólido estão ligeiramente

acima de especificação, mas muito próximos desta. Neste caso o ideal seria fazer o acerto deste

parâmetro com a adição de uma certa quantidade de água. No entanto, como este acerto afeta a

viscosidade, provavelmente a dispersão DB3 ficaria com a viscosidade ligeiramente abaixo do

especificado, visto já estar muito próxima do limite mínimo.

Relativamente ao aspeto do filme, todas as dispersões apresentam um filme idêntico. Apesar da

presença de ar e grumos não ser desejável, também a dispersão de referência apresenta estas

características e, portanto, não é um fator eliminatório na escolha dos emulsionantes.

Relativamente ao tamanho médio de partícula, ambas as dispersões em que foi substituído o

emulsionante, DB2 e DB3, estão dentro dos parâmetros estipulados. A dispersão de referência

apresenta um valor um pouco mais baixo, mas tal como referido anteriormente, é normal haver algumas

diferenças nos valores de TMP, sendo o intervalo de especificação tão alargado já com o propósito de

cobrir estas variações.

Na temperatura mínima de formação de filme verifica-se que as dispersões DB2 e DB3 se encontram

no limite superior da especificação, com a diferença de 1 ºC em relação à referência.

Tal como no caso da dispersão aquosa A, também nesta dispersão o emulsionante A2 está relacionado

com a minimização dos grumos obtidos no resíduo ao peneiro, apresentando menos de metade dos

grumos verificados nas outras duas dispersões.

Nos valores de resistência termomecânica verifica-se que as dispersões DB2 e DB3 são mais

resistentes ao aumento da temperatura quando colocadas no dispersor, verificando-se uma diferença

de 6 ºC em relação à dispersão DB1.

Por fim, relativamente à absorção de água os emulsionantes testados permitem obter resultados

consideravelmente melhores que o emulsionante de referência. Em termos práticos este parâmetro é

muito importante, pois deseja-se sempre minimizar a absorção de água por parte do filme de tinta.

Dada a diferença verificada, optou-se por medir o ângulo formado por uma gota de água em contacto

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com superfície do filme resultante das dispersões aquosas, de modo a verificar a afinidade entre ambos.

Os resultados encontram-se na Tabela 7.12.

Tabela 7.12 – Ângulo de contacto de uma gota de água sobre as dispersões aquosas DB1, DB2 e DB3.

DB1 DB2 DB3

Ângulo de contacto (o) 14,4 ± 1,1 15,6 ± 0,9 15,4 ± 1,4

Dada a proximidade dos resultados, presentes na Tabela 7.12, e o erro associado aos mesmos, os

valores de ângulos de contacto obtidos não deverão ser indicativos das diferenças verificadas nos

resultados relativos à absorção de água. De notar que, além do ângulo de contacto, a absorção de

água depende fortemente da porosidade do filme.

Como se obteve valores satisfatórios na substituição do emulsionante A1 na dispersão B, estes

produtos foram testados em termos de aplicação, que, tal como na dispersão A, corresponde à

produção de tintas mate, tintas interior exterior e tintas acetinadas.

Tinta mate

A formulação orientativa usada para a produção de tintas mate com a dispersão B é a mesma usada

na dispersão A, apresentada na Tabela 7.4. Os valores obtidos após a caracterização das tintas tal e

qual e no produto aplicado encontram-se na Tabela 7.13.

Tabela 7.13 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 55,3 55,3 55,4

Viscosidade de Stormer (KU) 76,8 77,5 77,0

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 2100 2125 2100

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 1,2 1,1 1,0

pH 9,3 9,3 9,4

Densidade (g/cm3) 1,479 1,477 1,479

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,53 97,49 97,54

a* -0,59 -0,59 -0,59

b* 1,80 1,79 1,80

Razão de contraste (%) 93,80 94,31 94,12

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 850 1400 1300

Espessura do filme seco (µm) 432 >600 >600

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 590 740 670

Relativamente às propriedades do produto tal e qual verifica-se que os valores obtidos para as três

dispersões são bastante idênticos. Também nos parâmetros CIELab se verifica esta semelhança entre

os valores.

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Na razão de contraste nota-se uma ligeira melhoria nas tintas produzidas com os emulsionantes em

estudo, DB2 e DB3, o que se traduz num melhor poder de cobertura.

É no mud-cracking que se verifica uma diferença abrupta nos resultados. As tintas produzidas com as

dispersões DB2 e DB3 podem ser aplicadas com uma espessura de 1300 µm, sem fissurar, enquanto

a tinta produzida com a dispersão de referência irá apresentar fissuras quando for aplicada com mais

de 850 µm.

Em relação à esfrega húmida, observa-se também melhores resultados nas tintas DB2 e DB3, quando

comparadas com a referência, sendo que a tinta DB2 é a que aguenta mais ciclos de esfrega. No

entanto, nenhuma das tintas é considerada resistente à lavagem, pois não suportam 1000 ciclos de

esfrega.

Tinta interior exterior

As tintas interior exterior produzidas com as dispersões B apresentam a formulação indicada na Tabela

7.6. Os resultados obtidos após a caraterização das mesmas encontram-se na Tabela 7.14.

Tabela 7.14 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 61,1 61,2 61,2

Viscosidade de Stormer (KU) 97,2 96,6 97,2

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 6125 5900 6000

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 1,8 2,1 2,2

pH 9,2 9,3 9,2

Densidade (g/cm3) 1,534 1,533 1,535

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,37 97,11 97,38

a* -0,70 -0,68 -0,69

b* 1,82 1,74 1,80

Razão de contraste (%) 94,06 94,13 93,96

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 1580 1350 1500

Espessura do filme seco (µm) >600 530 >600

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 4500 5000/E 5000/E

Observando a Tabela 7.14, verifica-se que ao nível das propriedades do produto tal qual, não há

diferenças significativas entre as tintas.

Em relação aos parâmetros CIELab, verifica-se que a tinta DB2 apresenta as tonalidades branca (L*)

e amarela (b*) um pouco menos acentuadas. Também no mud-cracking, esta tinta apresenta piores

resultados, fissurando a espessuras de filme, húmido e seco, mais baixas. Neste campo é a tinta de

referência, DB1, que apresenta melhores resultados.

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53

Quando sujeitas à esfrega, as tintas DB2 e DB3 mostram-se mais resistentes, tolerando mais

passagens de escova. Apesar dos resultados obtidos, é de notar que a diferença verificada na tinta

DB1 não é muito significativa, dada a gama de valores dos resultados.

Tinta acetinada

A formulação da tinta acetinada encontra-se na Tabela 7.8. Após a produção das tintas acetinadas com

a dispersão B, as mesmas foram caracterizadas, tendo-se obtido os resultados presentes na Tabela

7.15.

Tabela 7.15 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 57,7 57,8 58,1

Viscosidade de Stormer (KU) 98,6 100,0 99,0

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 9860 10700 9960

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 1,5 1,5 1,6

pH 8,5 8,5 8,7

Densidade (g/cm3) 1,335 1,328 1,330

Pro

du

to a

plic

ad

o

Parâmetros CIELab

L* 98,02 97,92 97,80

a* -0,88 -0,89 -0,88

b* 1,20 1,19 1,14

Brilho (u.b.)

∡ 20º 7,1 8,0 7,1

∡ 60º 29,9 31,0 30,7

∡ 85º 56,4 58,8 58,6

Razão de contraste (%) 95,56 95,28 95,21

Blocking (g/cm2) 131 208 156

De imediato se verifica que não há grandes variações nas propriedades das tintas tal qual. De notar

que apesar da baixa viscosidade verificada na dispersão aquosa DB3 enquanto polímero (apresentada

na Tabela 7.11), esta mostra uma viscosidade semelhante à tinta de referência quando usada na sua

aplicação (tintas mate, interior exterior e acetinada).

Em termos de produto aplicado verifica-se uma ligeira diferença nos parâmetros CIELab da tinta DB3.

Esta apresenta um tom um pouco menos esbranquiçado e amarelado. No entanto esta diferença não

é facilmente observável a olho nu.

Relativamente ao brilho, a tinta DB2 é a que apresenta maior brilho, sendo que para ângulos superiores

a 60º, a tinta DB3 exibe valores idênticos. Idealmente estas tintas deviam possuir um brilho idêntico à

tinta de referência, pois pretende-se que apresentem o mesmo aspeto após a sua aplicação no

substrato. No entanto, não se pode considerar que a diferença entre os resultados seja abrupta, sendo

que uma diferença de 2 u.b. não afetará muito o aspeto da mesma.

A tinta DB1 apresenta melhor desempenho em relação ao poder de cobertura, visto pela razão de

contraste, e à resistência ao empilhamento, blocking, sendo a diferença mais evidente neste último

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54

parâmetro. A tinta DB2 é a que apresenta piores resultados quando sujeita a empilhamento, sendo

necessário maior força para separar dois filmes desta tinta quando estão em contacto.

7.3. Dispersão Aquosa C

A dispersão aquosa C (DC) é uma dispersão vinílica e apresenta a formulação indicada na Tabela 7.16.

Tabela 7.16 - Formulação da dispersão aquosa C.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte

Água tratada 22,60

Emulsionante não iónico A 0,14

Emulsionante aniónico (sulfonato) 0,53

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 0,06

Pré-emulsão

Água tratada 16,79

Emulsionante não iónico A 0,73

Emulsionante aniónico (sulfonato) 0,58

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 1,38

Acetato de vinilo 40,84

Versatato de vinilo 7,26

Outras matérias-primas 9,09

Foram sintetizadas três dispersões aquosas do tipo C, uma de referência, DC1, e as outras duas, DC2

e DC3, com substituição de emulsionante A1 pelos emulsionantes A2 e A3, respetivamente. Após a

caracterização das mesmas, obtiveram-se os resultados apresentados na Tabela 7.17.

Tabela 7.17 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DC1, DC2 e DC3.

Especificação DC1 DC2 DC3

RS (%) 50,0-52,0 51,4 51,1 51,5

V. Brookfield (mPa.s) 20-160 78 111 108

pH 5,5-6,5 6,2 6,6 6,0

Aspeto do filme Límpido, com

fissuras Límpido, com

fissuras e grumos Límpido, sem

fissuras Límpido, com

fissuras e grumos

TMP/GSD (nm) 150-300 208/1,6 161/1,7 181/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,012 0,003 0,005

TMFF (oC) 14-18 17 17 17

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,026 0,006 0,028

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/37 >30/35 >30/38

Absorção de água (%) n.e. 17,4 19,9 19,9 n.e. – não especificado

Por observação da Tabela 7.17. verifica-se que os resultados obtidos para as várias dispersões

aquosas encontram-se dentro dos valores especificados, à exceção do aspeto do filme da DC2 e do

resíduo ao peneiro das dispersões DC1 e DC3.

O filme formado pela dispersão aquosa DC2 não apresenta fissuras, fugindo à especificação das

dispersões deste tipo. A presença de fissuras num filme está relacionada com a Tg dos monómeros

principais utilizados e com o rácio entre eles. Deste modo, a presença de fissuras não devia depender

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55

do emulsionante utilizado. De notar que é muito difícil manter exatamente as mesmas condições

operatórias em todas as polimerizações do mesmo produto, pois é difícil manter sempre a mesma

variação de temperatura, a mesma agitação e até mesmo o caudal de entrada das diferentes

substâncias. Todos estes fatores conduzem a diferenças nas propriedades finais obtidas e, portanto,

nem sempre as diferenças verificadas entre os produtos se devem à substituição dos emulsionantes.

Neste caso não é possível decifrar se esta alteração se deve à mudança dos emulsionantes ou a algum

outro fator externo. No entanto, este não é um fator de descriminação do emulsionante A2 como

alternativa ao A1, visto que esta especificação se deve ao facto de ser isso o expectável para as

dispersões deste tipo, não sendo necessariamente uma característica indesejável em termos de

aplicação das mesmas.

Na absorção de água, os produtos DC2 e DC3 não apresentam resultados tão bons como a dispersão

aquosa de referência, verificando-se que estes absorvem mais água.

Este tipo de dispersão é usado na produção de tintas mate, interior exterior e acetinadas, cujos

resultados serão apresentados de seguida.

Tinta mate

A formulação orientativa usada para a produção da tinta mate está indicada na Tabela 7.4. Os

resultados relativos à caracterização da mesma encontram-se na Tabela 7.18.

Tabela 7.18 - Valores resultantes da caracterização das tintas mate DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 55,4 55,3 55,3

Viscosidade de Stormer (KU) 73,4 72,9 74,2

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 1850 1800 1875

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 0,9 0,9 1,0

pH 9,1 9,1 9,2

Densidade (g/cm3) 1,480 1,480 1,480

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,61 97,50 97,52

a* -0,59 -0,61 -0,61

b* 1,86 1,78 1,80

Razão de contraste (%) 93,45 94,42 94,39

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 1400 1200 1350

Espessura do filme seco (µm) >600 450 567

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 870 690 550

Analisando as propriedades do produto tal e qual, verifica-se que os valores obtidos para as diferentes

tintas são bastante semelhantes.

Em relação aos parâmetros CIELab, ambas as tintas DC2 e DC3 apresentam um ligeiro decréscimo da

tonalidade branca (L*) e amarela (b*), quando comparadas com a dispersão de referência.

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56

As dispersões DC2 e DC3 também apresentam piores resultados no mud-cracking e na resistência à

esfrega húmida. A tinta DC3 fissura a uma espessura próxima da tinta DC1, no entanto, a tinta DC2

fica aquém do expectável, começando a fissurar em filmes com menor espessura. De notar que para o

mesmo produto, a variação da espessura do filme seco e do filme húmido é normalmente linear, ou

seja, um filme com maior espessura de filme húmido irá também apresentar maior espessura de filme

seco. Na resistência à esfrega, a diferença entre os resultados é notável e, portanto, os emulsionantes

alternativos não são uma boa opção para esta tinta.

Tinta interior exterior

A produção da tinta interior exterior tem por base a formulação apresentada na Tabela 7.6. Os

resultados obtidos após a caracterização das tintas produzidas encontram-se na Tabela 7.19.

Tabela 7.19 - Valores resultantes da caracterização das tintas interior exterior DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 61,1 61,0 61,2

Viscosidade de Stormer (KU) 95,4 94,6 95,8

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 5500 5550 5750

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 2,1 1,9 1,7

pH 9,0 9,1 9,1

Densidade (g/cm3) 1,536 1,535 1,535

Pro

du

to a

plic

ad

o Parâmetros CIELab

L* 97,61 97,34 97,38

a* -0,72 -0,71 -0,71

b* 1,80 1,79 1,83

Razão de contraste (%) 94,92 93,91 94,01

Mud-cracking

Espessura do filme húmido (µm) 1510 1320 1400

Espessura do filme seco (µm) >600 582 >600

Resistência à esfrega húmida (nº ciclos) 2900 3900 4000

Relativamente às propriedades do produto tal qual, verifica-se pela Tabela 7.19. que estas não variam

muito entre as três tintas analisadas.

Quanto às propriedades do produto aplicado, verifica-se que as tintas DC2 e DC3 ficam prejudicadas

em termos de mud-cracking, ou seja, começam a fissurar a espessuras de filme mais baixas,

comparativamente com a tinta de referência. No entanto, na avaliação da resistência à esfrega húmida

estas apresentam resultados bem mais satisfatórios, com uma vantagem notória. Todas as tintas são

classificadas como resistentes à lavagem.

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57

Tinta acetinada

A formulação orientativa usada para a produção das tintas acetinadas, com base nas dispersões

aquosas DC1, DC2 e DC3, apresenta-se na Tabela 7.8. Os resultados obtidos na caracterização das

mesmas encontram-se na Tabela 7.20.

Tabela 7.20 - Valores resultantes da caracterização das tintas acetinadas DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 55,7 57,6 58,0

Viscosidade de Stormer (KU) 92,9 91,8 94,1

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 7240 7050 7800

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 1,6 1,5 2,0

pH 8,4 8,5 8,5

Densidade (g/cm3) 1,324 1,334 1,334

Pro

du

to a

plic

ad

o

Parâmetros CIELab

L* 98,13 98,14 98,12

a* -0,92 -0,93 -0,93

b* 1,48 1,33 1,42

Brilho (u.b.)

∡ 20º 6,4 6,5 6,8

∡ 60º 28,2 27,9 27,3

∡ 85º 56,3 55,9 54,9

Razão de contraste (%) 94,92 94,91 95,38

Blocking (g/cm2) 71 67 78

Ao analisar a Tabela 7.20, é possível verificar que a tinta DC3 apresenta um valor de ICI Cone&Placa

mais elevado que a tinta de referência.

Relativamente ao brilho especular, os resultados não apresentam diferenças significantes entre eles.

Para ângulos de incidência superiores a 60º, nota-se que as tintas DC2 e DC3 são menos brilhantes,

mas como referido previamente, esta diferença não provoca uma grande variação no aspeto final das

tintas.

Em termos de empilhamento, não há diferenças significativas entre os resultados e, no geral, os valores

são satisfatórios, pois este método tem uma grande incerteza associada.

7.4. Dispersão Aquosa D

A dispersão aquosa D é uma emulsão estireno acrílica, cuja formulação está presente na Tabela 7.21.

Os emulsionantes A2 e A3 foram testados como contratipos do emulsionante A1, nas dispersões

aquosas DD2 e DD3, respetivamente.

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58

Tabela 7.21 - Formulação da dispersão aquosa D.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte

Água tratada 18,11

Coloide protetor (carboximetil celulose de sódio) 0,03

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 0,02

Pré-emulsão

Água tratada 19,68

Coloide protetor (carboximetil celulose de sódio) 0,11

Emulsionante aniónico (éter sulfato) 0,74

Emulsionante não iónico A 0,10

Acrilato de butilo 37,73

Estireno 16,10

Outras matérias-primas 7,38

Os resultados obtidos na caracterização das dispersões apresentam-se na Tabela 7.22.

Tabela 7.22 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DD1, DD2 e DD3.

Especificação DD1 DD2 DD3

RS (%) 54,0-56,0 54,6 55,2 54,9

V. Brookfield (mPa.s) 1000-2000 625 4550 4000

pH 7,5-9,0 8,5 7,6 8,0

Aspeto do filme Límpido, com pegajosidade

Límpido, com pegajosidade, ar e grumos

Límpido, com pegajosidade, ar e grumos

Límpido, com pegajosidade, ar e grumos

TMP/GSD (nm) 180-280 198/1,6 213/1,7 212/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,040 0,033 0,013

TMFF (oC) 0 0 0 0

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,014 0,030 0,028

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/40 10/30 >30/39

Absorção de água (%) n.e. 10,2 9,7 8,1 n.e. – não especificado

Por análise da Tabela 7.22 verifica-se que existe discordância nos valores obtidos em algumas

propriedades. Esta diferença reside principalmente na viscosidade de Brookfield, sendo possível

observar que nenhum dos produtos apresenta este valor dentro do intervalo especificado. Para o caso

da dispersão DD1, a viscosidade está abaixo do estipulado, enquanto nas dispersões DD2 e DD3 o

valor é muito superior ao requerido.

Também a resistência termomecânica foi fortemente afetada no produto DD2, que gelifica após

10 minutos sob agitação do dispersor. Como referido, é conveniente ter uma boa resistência

termomecânica para que se consiga produzir tintas, pois este método simula o comportamento da

emulsão no processo de dispersão da tinta.

Em termos de resíduo ao peneiro, observa-se que as dispersões aquosas DD2 e DD3 apresentam

maior quantidade de grumos com dimensões superiores a 40 µm, quando comparadas com a DD1.

Como as dispersões aquosas testadas não apresentam resultados satisfatórios, não se procedeu à

produção e caracterização da respetiva aplicação. Conclui-se assim que, na formulação de dispersões

do tipo D, os emulsionantes A2 e A3 não são alternativas viáveis ao emulsionante A1.

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59

7.5. Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 nas propriedades das

dispersões aquosas DA, DB, DC e DD

De modo a avaliar a influência dos emulsionantes usados nas dispersões apresentadas anteriormente,

procedeu-se à representação gráfica das propriedades mais relevantes das dispersões aquosas DA,

DB, DC, DD e das respetivas aplicações.

Quanto às propriedades das dispersões aquosas, são apresentados os Gráficos 7.1, 7.2 e 7.3 relativos

aos resultados obtidos no tamanho médio de partícula, no resíduo ao peneiro e na absorção de água,

respetivamente.

Gráfico 7.1 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 no tamanho médio de partícula das dispersões aquosas DA, DB, DC e DD.

Por análise do Gráfico 7.1, visualiza-se que a troca de emulsionantes teve mais impacto nas dispersões

aquosas DB e DC.

Como referido no Capítulo 4, com a diminuição da CMC de um emulsionante há, normalmente, uma

diminuição do TMP. Visto que a CMC é uma medida da quantidade de emulsionante necessária à

formação de micelas, uma CMC mais baixa significa que será necessária uma menor quantidade de

emulsionante para a formação das mesmas, podendo obter-se uma maior quantidade de micelas, mas

de menores dimensões. Esta situação está de acordo com os resultados relativos à dispersão aquosa

DC, visto que o emulsionante A2 possui uma CMC inferior ao A1. Apesar de não ser conhecida a CMC

do emulsionante A3, será expectável que esta seja inferior à CMC do emulsionante A1, pois a CMC

diminui com o aumento do tamanho da cadeia de apolar da molécula, assumindo-se portanto que

possui um valor mais próximo do A2.

Na dispersão aquosa DB verificou-se o comportamento contrário, ou seja, obteve-se um TMP superior

para as dispersões formuladas com os emulsionantes em estudo. Apesar de não ser este o

0

50

100

150

200

250

300

350

DA DB DC DD

Tam

anh

o m

édio

de

par

tícu

la (

nm

)

EA1 EA2 EA3

Page 72: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

60

comportamento esperado, é importante referir que, além de fatores intrínsecos à dispersão aquosa,

como a formulação e os modos de adição das matérias-primas, o TMP pode ser fortemente afetado

por fatores externos, relacionados com a velocidade de agitação e o controlo dos caudais de iniciador

e pré-emulsão. Apesar de se conseguir uma adição mais controlada de pré-emulsão, pois esta é feita

através de uma bomba, a adição de iniciador é feita manualmente com uma ampola, sendo necessário

ajustar constantemente o caudal de adição, de modo a cumprir-se o tempo estipulado para as adições

contínuas.

É importante referir que a CMC de cada emulsionante não corresponde à CMC efetiva associada à

formação de micelas no seio da fase aquosa, pois são adicionadas mais do que uma espécie de

emulsionantes. No entanto, dado que em cada dispersão se procedeu só à troca de um único

emulsionante, admite-se que a variação real deste parâmetro se relaciona diretamente com a diferença

da CMC de cada emulsionante.

Gráfico 7.2 – Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 no resíduo ao peneiro das dispersões aquosas DA, DB, DC e DD.

Por observação do Gráfico 7.2, verifica-se que a substituição do emulsionante A1 pelo emulsionante

A2 conduziu a uma diminuição considerável dos grumos presentes na dispersão, sendo que no produto

DA estes são praticamente inexistentes. Como exceção tem-se a dispersão DD, no entanto, como

verificado anteriormente, os ensaios relativos a esta dispersão não apresentaram bons resultados, que

poderão estar relacionados com outros fatores.

Por seu turno, a substituição do emulsionante de referência pelo A3 conduziu a resultados idênticos

neste parâmetro, em todas as dispersões aquosas.

Dado que os emulsionantes têm um papel fundamental na estabilização das partículas de látex, os

resultados obtidos podem estar associados à estrutura química dos emulsionantes em estudo. É a

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

DA DB DC DD

Res

ídu

o a

o p

enei

ro (

%)

EA1 EA2 EA3

Page 73: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

61

estabilização entre as partículas que previne a agregação entre as mesmas e, posteriormente, a sua

sedimentação.

Através da Tabela 7.1. é possível verificar as diferenças entre as estruturas dos emulsionantes A1, A2

e A3. Desde logo se observa que o emulsionante A1 possui menos átomos de carbono na cadeia

hidrofóbica, sendo a sua estrutura linear. Relativamente ao emulsionante A2 verifica-se que se trata de

uma mistura de moléculas com a cadeia hidrofóbica a variar entre os 12 e 14 átomos de carbono, no

entanto não se sabe o rácio destas moléculas na mistura. Este emulsionante possui ainda mais duas

unidades etoxílicas que o A1. Como referido no Capítulo 4, para moléculas idênticas, o aumento da

cadeia de hidrocarbonetos origina valores mais baixos de CMC. Deste modo, supondo que a estrutura

do emulsionante A2 é linear, ou que possui muito poucas ramificações, este terá moléculas mais

compridas que, quando adsorvidas à volta das partículas, irão originar maior impedimento

estereoquímico entre elas.

De acordo com o raciocínio descrito anteriormente, o emulsionante A3 devia originar resultados

semelhantes ao A2. No entanto, tal como no caso do emulsionante A2 não se sabe se a estrutura

química da cadeia hidrofóbica apresenta ramificações ou não. Estas variações nas estruturas podem

conduzir a resultados muito diferentes nas propriedades finais do produto. Ao considerar-se que a

cadeia hidrofóbica apresenta mais ramificações ou ramificações mais compridas, estes resultados

seriam facilmente justificados, pois as moléculas do emulsionante A3 teriam um comprimento mais

semelhante ao das moléculas do emulsionante A1, ou seja, as partículas de látex teriam um raio total

inferior, conduzindo a um pior impedimento estereoquímico entre as partículas de látex.

De notar que estas propriedades não estão só associadas ao comprimento das cadeias, no entanto,

considerou-se este raciocínio uma vez que todos os emulsionantes apresentam o mesmo grupo

hidrofílico, sendo portanto o grau de interação entre as partículas semelhante.

Gráfico 7.3 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 na absorção de água das dispersões aquosas DA, DB, DC e DD.

0

5

10

15

20

25

30

35

DA DB DC DD

Ab

sorç

ão d

e ág

ua

(%)

EA1 EA2 EA3

Page 74: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

62

A absorção de água é outro fator fortemente influenciado pelos emulsionantes. Durante o processo de

formação do filme, pode haver migração dos emulsionantes para a superfície. Devido ao caráter

anfifílico das moléculas de emulsionante, estas tendem a ficar com a parte hidrofóbica virada na direção

do polímero e com a parte hidrofílica direcionada para o ar. Deste modo, se o filme entrar em contacto

com água, este irá absorvê-la, o que é indesejável, pois pode conduzir ao empolamento das tintas,

principalmente quando se trata de um filme pouco poroso.

Através do Gráfico 7.3, verifica-se que neste campo não houve muita discrepância entre os resultados.

Nas dispersões aquosas DA e DD, a substituição do emulsionante A1 conduziu a resultados

satisfatórios, semelhantes aos valores de referência. Por seu turno, na emulsão DB notou-se uma

melhoria considerável nas dispersões testadas com os emulsionantes A2 e A3, enquanto na dispersão

DC o emulsionante A1 originou melhores resultados.

É importante ter em atenção que os emulsionantes em estudo foram substituídos com base na sua

concentração mássica. Apesar de num primeiro ensaio este ser o melhor método para a substituição,

esta conversão mássica pode originar um excesso ou défice de emulsionante, pois para que os

produtos tenham as propriedades desejadas é necessário que tenham uma quantidade otimizada desta

espécie. Tanto a quantidade como o caráter hidrofóbico dos emulsionantes afetam a absorção de água.

A diferença verificada nas dispersões aquosas B foi previamente justificada, no subcapítulo dedicado

à análise dos resultados destas (capítulo 7.2).

As propriedades mais relevantes da tinta mate e da tinta interior exterior são o mud-cracking e a

resistência à esfrega húmida, representadas nos Gráficos 7.4 e 7.5, respetivamente.

Gráfico 7.4 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 no mud-cracking (espessura do filme húmido) das tintas DA, DB e DC.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

DA tm DA tie DB tm DB tie DC tm DC tie

Mud-cracking

(µm

)

EA1 EA2 EA3

Page 75: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

63

A análise do mud-cracking é muito importante, pois permite verificar a espessura a que o filme de tinta

começa a fissurar. Deste modo, é desejável que a fissuração ocorra a espessuras mais elevadas. De

notar que no Gráfico 7.4 está representada a fissuração com base na espessura do filme húmido, visto

que para o filme seco não é possível determinar o valor de espessura exato quando este é superior a

600 µm.

Analisando o Gráfico 7.4, verifica-se que as tintas formuladas com o emulsionante A2 fissuram quase

sempre a espessuras mais baixas que as tintas de referência, que contêm o emulsionante A1. Como

exceção tem-se a tinta interior exterior DA e a tinta mate DB, sendo que nesta última a diferença é

notável.

Os resultados do mud-cracking estão fortemente relacionados com processo de filmificação da tinta e

com a coalescência entre as partículas durante este processo. Este é fortemente afetado pelos

compostos presentes na formulação do produto. Especificamente, os emulsionantes podem interferir

na coalescência e, visto que o emulsionante A2 conduz a uma melhor estabilização entre as partículas,

pode também dificultar a sua interação durante este processo, conduzindo à formação de fissuras a

espessuras mais baixas. Como se tem verificado, o emulsionante A3 tem apresentado um

comportamento intermédio entre o A1 e o A2, o que se verifica também neste caso, com exceção das

tintas DA, em que este apresenta melhores resultados que as restantes.

Gráfico 7.5 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 na resistência à esfrega húmida das tintas DA, DB e DC..

O Gráfico 7.5 mostra os resultados obtidos no método de avaliação da resistência à esfrega húmida.

De imediato se verifica que os valores obtidos para as tintas mate e interior exterior se encontram em

intervalos bem distintos. Por apresentarem maior teor de ligante na sua formulação, as tintas interior

exterior exibem maior resistência mecânica que as tintas mate, sendo portanto mais resistentes à

esfrega.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

DA tm DA tie DB tm DB tie DC tm DC tie

Res

istê

nci

a à

esfr

ega

mid

a (n

º d

e ci

clo

s)

EA1 EA2 EA3

Page 76: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

64

Observa-se ainda que os produtos formulados com a dispersão A apresentam maior resistência à

esfrega que os produtos relativos às emulsões B e C. Esta diferença reside na origem do ligante, pois

os polímeros acrílicos apresentam melhor resistência, sendo o caso da tinta DA.

No geral, as tintas relativas às dispersões que contêm o emulsionante A2 conduzem a valores mais

satisfatórios. No entanto, no caso das tintas DC interior exterior, os melhores resultados estão

associados à tinta formulada com a dispersão DC3.

As tintas acetinadas caracterizam-se pelo seu brilho, sendo fundamental avaliar este parâmetro. O

ângulo de incidência com maior relevância na determinação do brilho é o de 85o. Estas tintas possuem

ainda uma certa pegajosidade, que conduz ao empilhamento entre filmes de tinta, avaliada pelo método

de blocking. Os resultados relativos à influência da substituição dos emulsionantes no brilho e no

empilhamento encontram-se nos Gráficos 7.6 e 7.7, respetivamente.

Gráfico 7.6 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 no brilho obtido segundo um ângulo de 85º, das tintas DA, DB e DC.

O brilho apresentado nas tintas acetinadas deve-se à elevada fração de ligante presente na formulação,

sendo esta de 50%, e à baixa quantidade de pigmentos e cargas usados, responsáveis pela opacidade

da tinta. Nas tintas de base aquosa é necessária a presença de emulsionantes que permitam a

estabilização e emulsão das partículas na água, como referido nos capítulos anteriores. No entanto,

após aplicação do filme de tinta, estas espécies permanecem dispersas no seu interior, podendo

mesmo migrar para a superfície, sendo este fenómeno indesejável, não só porque contribuem para o

aumento da absorção de água, mas também porque podem influenciar de certo modo o brilho. Ao

permanecerem por cima do ligante, os emulsionantes podem afetar a reflecção da luz na superfície e,

deste modo, diminuir o brilho da mesma.

0

10

20

30

40

50

60

70

DA ta DB ta DC ta

Bri

lho

(u

.b.)

EA1 EA2 EA3

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65

Ao analisar o Gráfico 7.6. conclui-se que a substituição do emulsionante A1 pelos emulsionantes A2 e

A3 não provoca alterações significativas no brilho das tintas acetinadas produzidas com as dispersões

aquosas DA, DB e DC.

Gráfico 7.7 - Influência dos emulsionantes A1, A2 e A3 no empilhamento das tintas DA, DB e DC.

De acordo com o Gráfico 7.7, o empilhamento verificado nas tintas DA e DC não sofre grandes

variações com a substituição dos emulsionantes.

Nas tintas DB a diferença já é relevante, sendo que a tinta DB1, produzida com o emulsionante A1,

mostra-se mais resistente ao empilhamento. Por seu turno, o produto que possui o emulsionante A2

mostra um empilhamento entre filmes significativo. Esta diferença provavelmente deve-se às diferentes

estruturas dos emulsionantes A1, A2 e A3.

Em primeiro lugar é necessário perceber a diferença nos resultados das tintas formuladas com as

dispersões aquosas B. Através das Tabelas 7.2, 7.10 e 7.16 verifica-se que na formulação das

dispersões A, B e C os emulsionantes trocados correspondem a 20, 53 e 25% da quantidade total de

emulsionantes, respetivamente. Visto ser a dispersão B a que apresenta maior percentagem de

emulsionantes trocados em relação à quantidade total de emulsionantes na formulação, seria

expectável que houvesse maior variação nas propriedades deste produto.

O empilhamento entre filmes de tinta deve-se essencialmente às interações entre as partículas de

ambos. Como parte dos emulsionantes migram para a superfície durante o processo de filmificação,

estes terão um grande impacto nessas interações. Neste caso, as interações resultantes entre as

moléculas destes emulsionantes serão essencialmente do tipo dipolo permanente – dipolo permanente

(forças de Keesom), devido à polaridade das unidades repetitivas etoxílicas em torno dos oxigénios

correspondentes, do tipo dipolo instantâneo – dipolo induzido (forças de London), que originam

deformações na nuvem eletrónica, e também de ligações de hidrogénio entre os grupos -OH dos

emulsionantes que se encontram mais segregados à superfície, devido à migração acima referida.

0

50

100

150

200

250

300

DA ta DB ta DC ta

Emp

ilham

ento

(g/

cm2 )

EA1 EA2 EA3

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66

Assim, visto que o emulsionante A2 conduz a interações de Keesom (e também de London) mais fortes

que o emulsionante A1, pois possui mais unidades repetitivas etoxílicas (e também cadeias alifáticas

mais longas), este irá originar maior aderência entre os filmes de tinta, aumentando assim o

empilhamento entre eles. Por seu turno, o emulsionante A3 origina uma tinta com menor empilhamento

que o A2, o que potencia a ideia de que tem mais ramificações na estrutura apolar (como referido na

discussão dos resultados do resíduo ao peneiro), que por sua vez irão tornar as interações entre as

moléculas mais fracas, devido ao impedimento estereoquímico.

7.6. Dispersão Aquosa E

A dispersão aquosa E é uma emulsão vinílica e a sua formulação está presente na Tabela 7.23. Foram

sintetizadas duas dispersões deste tipo, uma corresponde à referência, DE1, e outra com substituição

do emulsionante B1 pelo emulsionante B2, DE2.

Tabela 7.23 - Formulação da dispersão aquosa E.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte

Água tratada 41,34

Colóide protetor (polivinilpirrolidona) 0,85

Emulsionante não iónico (polietilenoglicol) 2,69

Emulsionante não iónico B 0,94

Emulsionante aniónico (sulfonato) 0,29

Mistura monomérica

Acetato de vinilo 37,90

Versatato de vinilo 9,48

Outras matérias-primas 6,51

A caracterização das dispersões aquosas conduziu aos resultados apresentados na Tabela 7.24.

Tabela 7.24 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DE1 e DE2.

Especificação DE1 DE2

RS (%) 49,0-51,0 52,0 52,9

V. Brookfield (mPa.s) 9000-15000 11500 10400

pH 3,5-4,5 4,5 4,6

Aspeto do filme Límpido Límpido, com ar e

grumos Límpido, com ar e

grumos

TMP/GSD (nm) 100-1000 522/1,5 714/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,019 0,006

TMFF (oC) 8-12 11 11

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,136 0,101

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/39 >30/39

Absorção de água (%) n.e. 30,1 30,7 n.e. – não especificado

Analisando os valores da Tabela 7.24, observa-se que os resultados obtidos para ambas as dispersões

são muito semelhantes. Há apenas uma diferença notória no tamanho médio de partícula, no entanto,

ambos os valores encontram-se dentro das especificações e, portanto, este não é um fator eliminatório.

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67

Segundo os dados presentes na Tabela 7.1, os emulsionantes em questão apresentam estruturas

semelhantes, com uma proporção mássica entre os grupos de óxido de etileno e óxidos de propileno

semelhante, variando muito pouco o HLB. Sabe-se ainda que a massa molar dos emulsionantes B1 e

B2 é de aproximadamente 1900 e 2000 g/mol, respetivamente, o que pode originar a diferença nos

valores de HLB. Assim, conclui-se que também o tamanho das cadeias moleculares é semelhante para

as duas espécies, sendo que o emulsionante B2 pode apresentar mais dois grupos na sua estrutura,

que justificam a diferença na massa molar. Com estes dados pode deduzir-se que estes dois grupos

no emulsionante B2 podem ser unidades de óxido de etileno, justificando-se assim o aumento do HLB,

ou uma de óxido de etileno e uma de óxido de propileno, o que explicaria a semelhança nas frações

mássicas EO/PO. De notar que os dados fornecidos para as frações EO/PO e HLB são valores

aproximados e não absolutos. A conformidade dos resultados obtidos deve-se essencialmente à

semelhança entre os emulsionantes B1 e B2.

No entanto, uma vez que nas dispersões DE1 e DE2 foi adicionada a mesma massa de emulsionante

e visto que a espécie B2 apresenta uma maior massa molar, significa que no sistema se terá menos

moléculas deste emulsionante. Dado ainda que as espécies apresentam uma estrutura semelhante,

pode considerar-se que a CMC de ambas é semelhante, apesar de não haver dados relativos ao

emulsionante B2. Assim, pode constatar-se que no sistema relativo à dispersão DE2 haverá menos

quantidade de micelas, o que permite que estas se encontrem mais dispersas na fase aquosa e,

portanto, sejam menos influenciadas pela repulsão entre partículas, justificando-se assim o aumento

de TMP verificado nesta dispersão.

Devido aos resultados obtidos na caracterização da dispersão aquosa B, esta foi testada quanto à sua

aplicação principal: tinta texturada.

Tinta texturada

A formulação orientativa usada na produção de uma tinta texturada apresenta-se na Tabela 7.25.

Tabela 7.25 - Formulação orientativa da tinta texturada.

Matéria-prima % (m/m)

Água 12,05

Espessante 1 (argila hectorite) 0,10

Espessante 2 (hidroxietilcelulose) 0,35

Dispersante (copolímero acrílico) 0,20

Conservante 1 (mistura de isotiazolinona e dimetanol dioxietileno) 0,30

Conservante 2 (mistura de carbendazim, n-octilisotiazolinona e diuron) 0,15

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,30

Regulador de pH (amónia) 0,20

Pigmento branco (dióxido de titânio) 8,00

Carga 1 (caulino calcinado) 2,50

Carga 2 (carbonato de cálcio natural) 15,00

Ligante E a 50,0% 20,00

Coalescente 1 (2,2,4-trimetil-1,3-monoisobutirato de pentanodiol) 1,20

Coalescente 2 (mistura de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos) 0,40

Areia 1 25,00

Areia 2 15,00

Anti-espuma (óleo mineral isento de silicone) 0,20

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68

Os resultados obtidos na caracterização da tinta encontram-se na Tabela 7.26.

Tabela 7.26 - Valores resultantes da caracterização das tintas texturadas DE1 e DE2.

Propriedades DE1 DE2 P

rod

uto

Tal Q

ual Resíduo sólido (%) 76,9 76,7

Viscosidade de Stormer (KU) >150 >150

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 39625 39125

pH 8,9 8,9

Densidade (g/cm3) 1,687 1,674

Pro

du

to

ap

licad

o

Aspeto da aplicação

Relevo 0 0

Flexibilidade em cartolina Negativo Negativo

Analisando as propriedades do produto tal qual, verifica-se que os resultados obtidos para as duas

tintas são bastante concordantes. Apenas na densidade se verifica alguma diferença, sendo normal,

visto que estas tintas são formuladas com uma grande quantidade de areias, que podem não estar

igualmente dispersas em todo o produto.

Em termos de aplicação de produto, a tinta texturada não requer uma caracterização tão extensa como

as anteriores, verificando-se principalmente o relevo formado após a sua aplicação e a flexibilidade que

as mesmas apresentam, sendo este último parâmetro avaliado com a aplicação em cartolina.

Relativamente ao relevo, verifica-se que estas originam um bom desenho, verificado pela textura

formada após a sua aplicação. É importante relembrar que a escala varia de 0 a 5, sendo 0 um valor

ótimo, neste caso em particular, um relevo bom, e 5 um valor péssimo.

Já a flexibilidade que estas apresentam não é assim tão boa, visto que se obteve um resultado negativo

neste parâmetro, no entanto, a classificação é a mesma para as duas tintas, ou seja, mesmo a tinta de

referência DE1 não apresenta flexibilidade. Ainda assim, é sempre preferível que as tintas texturadas

apresentem boa flexibilidade.

7.7. Dispersão Aquosa F

Na dispersão aquosa F testou-se o emulsionante C2 como alternativa ao C1. Foram portanto

produzidas duas dispersões, DF1 e DF2, com os emulsionantes C1 e C2, respetivamente. Esta

emulsão apenas contém monómeros acrílicos, sendo portanto uma acrílica pura. A sua formulação está

indicada na Tabela 7.27.

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69

Tabela 7.27 – Formulação da dispersão aquosa F.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte Água tratada 23,28

Emulsionante aniónico C 0,86

Pré-emulsão

Água tratada 22,47

Emulsionante aniónico C 1,72

Acrilato de butilo 21,66

Metacrilato de metilo 23,07

Outras matérias-primas 6,94

Os valores resultantes da análise das propriedades dos produtos apresentam-se na Tabela 7.28.

Tabela 7.28 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DF1 e DF2.

Especificação DF1 DF2

RS (%) 45,0-47,0 47,4 46,5

V. Brookfield (mPa.s) 80-280 145 120

pH 7,5-9,0 8,2 8,0

Aspeto do filme Límpido, com

fissuras Límpido, com fissuras e ar

Límpido, com fissuras e ar

TMP/GSD (nm) 50-200 85/1,5 72/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,270 0,009

TMFF (oC) 11-15 16 14

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,024 0,019

RTM (min./oC) >30/n.e. >30/38 >30/34

Absorção de água (%) n.e. 5,9 5,8 n.e. – não especificado

É possível verificar que os resultados obtidos na caracterização das dispersões aquosas DF1 e DF2,

presentes na Tabela 7.28, são idênticos, verificando-se ainda que no caso da dispersão DF2, todos os

valores estão dentro dos parâmetros especificados.

A diferença entre os valores da viscosidade deve-se à pequena variação verificada entre os resultados

do resíduo sólido das dispersões aquosas.

Relativamente à estrutura dos emulsionantes, presentes na Tabela 7.1, observa-se que ambas

possuem o mesmo número de unidades etoxílicas e o mesmo grupo terminal (sulfato). No entanto, não

é conhecida a estrutura relativa à parte apolar do emulsionante C2, o que torna mais difícil a

compreensão dos resultados obtidos. Verifica-se que este último diminui o resíduo obtido na filtração

da dispersão, facto este que provavelmente se relaciona com pequenas diferenças na estrutura da sua

cadeia apolar, relativamente à cadeia do emulsionante C1.

Uma vez que o emulsionante C2 conduziu a resultados satisfatórios, as emulsões foram testadas

quanto à sua aplicação, que no caso do produto DF se trata da produção de esmaltes aquosos.

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70

Esmalte aquoso

O esmalte aquoso é um produto de elevado desempenho que é adequado para aplicações em paredes

e madeira. A formulação orientativa para a sua produção encontra-se na Tabela 7.29.

Tabela 7.29 – Formulação orientativa do esmalte aquoso.

Matéria-prima % (m/m)

Água 3,64

Dispersante (copolímero acrílico) 0,90

Regulador de pH 1 (2-amino-2-metil propanol) 0,10

Anti-espuma (siloxano modificado) 0,03

Conservante (mistura de carbendazim, n-octilisotiazolinona e diuron) 0,70

Coalescente 1 (propano-1,2-diol) 2,50

Pigmento branco (dióxido de titânio) 20,50

Ligante F a 47% 59,51

Anti-espuma (siloxano modificado) 0,02

Regulador de pH 2 (hidróxido de sódio a 10%) 1,00

Espessante (polímero acrílico aniónico) 1,80

Água 1,30

Coalescente 2 (2,2,4-trimetil-1,3-monoisobutirato de pentanodiol) 2,50

Coalescente 1 (propano-1,2-diol) 5,0

Agente nivelante (fluorocarboneto poliacrílico) 0,50

Tal como na tinta acetinada, no esmalte é avaliado o brilho e o empilhamento. Além destas duas

propriedades é ainda avaliada a dureza pendular. A Tabela 7.30 mostra os resultados obtidos na

caracterização dos esmaltes referentes às dispersões aquosas DF1 e DF2.

Tabela 7.30 - Valores resultantes da caracterização dos esmaltes aquosos DF1 e DF2.

Propriedades DF1 DF2

Pro

du

to T

al

Qu

al

Resíduo sólido (%) 51,7 51,1

Viscosidade de Stormer (KU) 77,19 74,52

Viscosidade de Brookfield (mPa.s) 1148 1020

Viscosidade ICI Cone&Placa (P) 2,0 1,8

pH 7,9 8,3

Densidade (g/cm3) 1,245 1,245

Pro

du

to a

plic

ad

o

Lacagem 0 0

Parâmetros CIELab

L* 96,99 97,17

a* -0,98 -0,94

b* 1,52 1,54

Brilho (u.b.)

∡ 20º 52,9 55,9

∡ 60º 75,8 76,5

∡ 85º 96,2 96,5

Razão de contraste (%) 94,44 94,62

Blocking (g/cm2) 172 154

Dureza Pendular de König (s)

1 dia 23 27

3 dias 32 35

14 dias 36 37

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71

Analisando a Tabela 7.30, verifica-se que não há grandes discrepâncias entre os dois esmaltes nas

propriedades do produto tal e qual.

Relativamente ao empilhamento, o esmalte DF2 aparenta ser mais resistente, no entanto, pode

considerar-se que os resultados obtidos não são muito distintos, devido ao erro associado a esta

determinação.

Em termos de dureza pendular, o esmalte DF2 está novamente em vantagem, sendo este mais duro

que o esmalte DF1, o que significa que este último está mais sujeito a ficar marcado quando é realizada

uma pressão ou fricção sobre ele.

Também o esmalte DF2 apresenta mais brilho quando visualizado sob um ângulo de 20º,

verificando-se uma aproximação dos resultados para ângulos de incidência superiores a 60º. Devido à

diferença verificada no ângulo de 20º, foram medidos os ângulos formados pelo contacto de uma gota

de água com o filme obtido das dispersões aquosas DF1 e DF2. Os valores obtidos são apresentados

na Tabela 7.31.

Tabela 7.31 - Ângulo de contacto de uma gota de água sobre os filmes formados pelas dispersões aquosas DF1 e DF2.

DF1 DF2

Ângulo de contacto (o) 55,9 ± 1,3 53,2 ± 1,5

Os resultados obtidos na determinação do ângulo de contacto vão de encontro à diferença verificada

no brilho das tintas DF1 e DF2. Uma vez que é o polímero que confere o brilho à tinta, através da

formação de um filme liso e sem rugosidade, os emulsionantes que migram para a superfície durante

a formação do filme podem conduzir a alterações nesta propriedade. Pela Tabela 7.31 verifica-se que

o filme formado pela dispersão aquosa DF2 é menos hidrofóbico, pois conduz a um menor ângulo de

contacto. Deste modo, os resultados sugerem que o emulsionante C2 será menos hidrofóbico que o

C1 e, portanto, pode deduzir-se que possui uma cadeia apolar menor, já que a parte hidrofílica é igual.

Isto vai de encontro aos resultados obtidos, pois tendo uma cadeia apolar menor, o emulsionante C2

conduzirá a menores interferências na reflexão da luz, permitindo obter um esmalte mais brilhante. No

entanto, é necessário notar que o erro associado a cada medição é relevante.

7.8. Dispersão Aquosa G

Contrariamente aos produtos analisados anteriormente, a dispersão aquosa G não tem como finalidade

a produção de tintas, sendo aplicada como adesivo, mais concretamente, tem aplicação em adesivos

sensíveis à pressão (PSA). A sua formulação está apresentada na Tabela 7.32.

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72

Tabela 7.32 – Formulação da dispersão aquosa G.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte Água tratada 14,71

Pré-emulsão

Água tratada 14,52

Emulsionante aniónico (sulfonato) 1,82

Emulsionante não iónico D 1,69

Acrilato de 2-etilhexilo 24,97

Acrilato de butilo 28,85

Estireno 3,04

Outras matérias-primas 10,40

Foram produzidas duas dispersões aquosas, DG1 e DG2, com os emulsionantes D1 e D2,

respetivamente. Estas foram caracterizadas, tendo-se obtido os resultados presentes na Tabela 7.33.

Tabela 7.33 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DG1 e DG2.

Especificação DG1 DG2

RS (%) 58,0-60,0 61,2 60,9

V. Brookfield (mPa.s) 200-1000 398 500

pH 7,0-8,0 7,4 7,3

Densidade (g/cm3) n.e. 1,018 1,019

Aspeto do filme Límpido, com pegajosidade

Límpido, com pegajosidade

Límpido, com pegajosidade

TMP/GSD (nm) 200-300 208/1,7 190/1,7

R. Filtração (%) n.e. 0,035 0,016

TMFF (oC) 0 0 0

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,010 0,008 n.e. – não especificado

Os resultados relativos à análise da dispersão aquosa DG2 são bons e encontram-se dentro de

especificação, com exceção do tamanho médio de partícula, que é um pouco baixo. No entanto, este

parâmetro não foge muito ao pretendido e, portanto, a dispersão foi caracterizada quanto à sua

aplicação. De notar que o produto é aplicado tal e qual, não sofrendo mais nenhum processamento

nem adição de outras matérias-primas.

A caracterização das dispersões aquosas DG1 e DG2 como PSA conduziu aos resultados indicados

na Tabela 7.34.

Tabela 7.34 - Valores resultantes da caracterização dos PSA DG1 e DG2.

DG1 DG2

Adesão “Peel” 180º

20 min. (N/25 mm) 26,8 (50% TA) 25,1 (30% TA)

24 h (N/25 mm) 28,1 (90% TA) 25,1 (90% TA)

Resistência ao cisalhamento (min.) 60 55

Aderência “Loop” (N) 12,1 10,4

Gramagem do filme (g/cm2) 22,1 21,5

Através da Tabela 7.34 verifica-se que há diferenças nos resultados obtidos na caracterização dos dois

PSA, sendo que o DG2 apresenta piores resultados no geral.

Page 85: Estudo e avaliação de emulsionantes para dispersões aquosas · ii Resumo Nas dispersões aquosas para tintas, os emulsionantes têm um grande impacto no desempenho e nas propriedades

73

Relativamente à adesão “peel” verifica-se que é necessária menor força para destacar o PSA DG2 da

superfície, tanto após 20 minutos como após 24h, verificando-se ainda menor transferência de adesivo

deste para a superfície.

Também na resistência ao cisalhamento se verificam piores resultados para o PSA DG2,

observando-se que este apresenta uma diferença de 5 minutos do DG1. Ou seja, para o mesmo peso

aplicado, este mostra-se menos resistente ao cisalhamento que o PSA DG1.

Tal como nos parâmetros anteriores, também na aderência em “loop” é necessária uma menor força

para descolar o PSA DG2.

Relativamente à gramagem, observa-se que para o adesivo de referência é necessário aplicar uma

maior quantidade de produto para a mesma área de superfície, comparativamente ao adesivo DG2.

Estas diferenças relacionam-se com a substituição do emulsionante D1. Em primeiro lugar, através da

Tabela 7.1, verifica-se que o emulsionante testado como alternativa, D2, apresenta menos uma unidade

etoxílica e uma cadeia apolar mais comprida. Isto irá conduzir a diferenças na interação entre o adesivo

e o substrato, neste caso, o uso do emulsionante D2 prejudica esta interação (menores forças de

Keesom e ligações de hidrogénio com a superfície do substrato), originando então resultados menos

satisfatórios.

7.9. Dispersão Aquosa H

A dispersão aquosa H é formulada com o propósito de ser aplicada como primário. Os primários são

aplicados antes da tinta e têm a finalidade de garantir a aderência da tinta à superfície ou de atuar

como selante no caso de se usar tintas porosas. A formulação usada na preparação desta dispersão

aquosa encontra-se na Tabela 7.35.

Tabela 7.35 – Formulação da dispersão aquosa H.

Fase Matéria-prima % (m/m)

Flotte Água tratada 63,07

Emulsionante aniónico E 4,95

Mistura monomérica

Água tratada 0,99

Metacrilato de metilo 12,40

Acrilato de butilo 15,67

Outras matérias-primas 2,92

Foram produzidas duas dispersões deste tipo, a DH1, onde se usou o emulsionante padrão E1, e a

DH2, formulada com o emulsionante E2. Os resultados obtidos após a caracterização das dispersões

encontram-se na Tabela 7.36.

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74

Tabela 7.36 - Valores resultantes da caracterização das dispersões aquosas DH1 e DH2.

Especificação DH1 DH2

RS (%) 29,0-31,0 30,9 30,9

V. Brookfield (mPa.s) 20-100 46 35,5

pH 7,0-9,0 7,7 7,6

Aspeto do filme Texturado e

ligeiramente opaco Texturado e

ligeiramente opaco Texturado e

ligeiramente opaco

TMP/GSD (nm) 0-90 42/1,6 62/1,6

R. Filtração (%) n.e. 0,005 0,010

TMFF (oC) 0-4 4 3

R. Peneiro (%) ≤0,020 0,002 0,002

RTM (min./oC) >30/n.e. 11/27 11/26 n.e. – não especificado

Analisando a Tabela 7.36, observa-se que os resultados obtidos para ambas as dispersões aquosas

são bastante idênticos, o que seria de esperar pois, segundo a Tabela 7.1, os emulsionantes E1 e E2

apresentam também uma estrutura semelhante. Estas estruturas podiam mesmo ser consideradas

iguais, não fosse a falta de informação relativamente às insaturações do emulsionante E1.

No entanto, apesar dos bons resultados verificados na caracterização das dispersões aquosas,

verificou-se que a dispersão DH2 não é tão estável como a referência. Os resultados relacionados com

a estabilidade das dispersões não são apresentados nesta dissertação, pois torná-la-iam muito extensa

e, no geral, as dispersões mencionadas anteriormente mostraram-se estáveis ao longo do tempo. A

estabilidade é avaliada tanto à temperatura ambiente, como a uma temperatura de 50 ºC, sendo que

com esta última se pretende avaliar a estabilidade acelerada, ou seja, o comportamento que a

dispersão irá apresentar a longo prazo, num espaço de tempo muito mais reduzido. Verificou-se então

que a dispersão aquosa DH2 apresenta maior tendência para amarelecer ao longo do tempo. Visto a

troca de emulsionante ser a única alteração na formulação e uma vez que fatores associados ao próprio

processo de fabrico não devem alterar desta forma a estabilidade, a causa mais provável deste

comportamento por parte do produto DH2 relaciona-se com o próprio emulsionante E2. O

amarelecimento deve-se principalmente a reações secundárias que provoquem a degradação de

moléculas. Através da Tabela 7.1 verifica-se que apenas 30% do emulsionante E2 corresponde a

conteúdo ativo do mesmo, observando-se ainda que a sua estrutura apolar é saturada. Dadas as

semelhanças entre os emulsionantes E1 e E2, a principal causa deste comportamento deve estar

associada à presença de impurezas neste produto, suscetíveis de reagir com outros compostos e

provocar o amarelecimento da dispersão DH2.

Como o emulsionante E2 não revela ser uma boa alternativa ao emulsionante E1, as respetivas

dispersões aquosas não foram testadas quanto à sua aplicação como primários.

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75

8. Conclusões

Com este trabalho pretendeu-se testar novos emulsionantes em algumas das dispersões aquosas

produzidas na Resiquímica, emulsionantes esses que apresentassem uma estrutura parecida com os

emulsionantes usados. De modo a verificar o desempenho destes emulsionantes, procedeu-se à

síntese e caracterização das referidas dispersões, bem como à preparação e análise das respetivas

aplicações, cumprindo-se assim os objetivos propostos.

É importante referir que nem todas as alterações verificadas nos resultados se devem à substituição

dos emulsionantes, podendo ter origem em fatores externos, como os caudais de adição, a variação

da temperatura, a agitação, entre outros. No entanto, durante a produção das dispersões procurou-se

minimizar estas diferenças.

A substituição do emulsionante A1 pelo emulsionante A2, na dispersão aquosa A, conduziu a resultados

satisfatórios, melhorando bastante o resíduo de filtração e o resíduo ao peneiro. Este emulsionante

manteve também o poder de cobertura da tinta mate, melhorando ainda, de forma significativa, a sua

resistência à lavagem. Nesta tinta, apenas não se conseguiu atingir o resultado de mud-cracking

pretendido, no entanto, para aplicações em paredes interiores, o valor mínimo imposto pela norma de

referência NP 4378:1999 é de 200 µm. Na tinta interior exterior, também se conseguiu resultados

satisfatórios para o poder de cobertura e resistência à esfrega, sendo que neste caso também no

mud-cracking se obtiveram bons resultados. Na tinta acetinada o poder de cobertura não foi tão bom,

no entanto, o emulsionante A2 aparenta conferir à tinta maior resistência ao empilhamento. Assim, o

emulsionante A2 mostra-se um bom contratipo do emulsionante A1, quando substituído na formulação

da dispersão aquosa A. Como é normal, não se consegue que todas as propriedades sejam idênticas

ou melhores às do produto de referência, havendo no entanto um equilíbrio entre elas.

Na dispersão aquosa B, também se conseguiu melhores resultados no resíduo de filtração e resíduo

ao peneiro, havendo ainda uma melhoria na absorção de água, com a substituição do emulsionante A1

pelo A2. Na tinta mate, conseguiu-se melhorar bastante o mud-cracking e a resistência à esfrega

húmida, mantendo-se o poder de cobertura. Na tinta interior exterior, verificou-se uma grande

penalização no mud-cracking, conseguindo-se obter uma espessura máxima de 530 µm de tinta. Deste

modo, não se cumpre o requisito mínimo imposto pela norma de referência NP 4505:2011, de 600 µm

de espessura de filme seco para tintas de exterior. No entanto, também nem sempre se verificou valores

superiores ao requerido nas tintas de padrão, sendo exemplo a tinta interior exterior DA1. A substituição

pelo emulsionante A2 na tinta acetinada conduziu também a uma menor resistência ao empilhamento.

Assim, apesar de o uso do emulsionante A2 se mostrar vantajoso na tinta mate, não permite obter as

propriedades desejadas para as restantes, não sendo um bom contratipo para o emulsionante A1 na

formulação da dispersão aquosa B.

Também na dispersão aquosa C, o uso do emulsionante A2 conduziu a uma diminuição do resíduo de

filtração e ao peneiro, verificando-se no entanto um incremento na absorção de água. Na tinta mate há

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uma melhoria no poder de cobertura, mas os resultados relativos à fissuração do filme e à resistência

à esfrega húmida ficam aquém do expectável. Também a tinta interior exterior apresenta fissuras a

uma espessura mais baixa, quando comparada com a tinta de referência, estando os valores de

espessura do filme seco abaixo do estipulado pela norma de referência NP 4505:2011. Nesta tinta,

notou-se ainda uma redução da razão de contraste. Por seu turno, os resultados da resistência à

esfrega húmida foram bastante satisfatórios. Na tinta acetinada consegue-se boas propriedades gerais,

no entanto, devido às desvantagens referidas, o emulsionante A2 não mostra ser uma boa alternativa

para o A1, na dispersão aquosa C.

A alteração do emulsionante A1 pelo emulsionante A3 permite obter boas propriedades na dispersão

aquosa A, notando-se principalmente uma menor absorção de água por parte do filme de tinta. Na tinta

mate conseguiu-se melhorar a razão de contraste, a fissuração do filme e a resistência à esfrega

húmida. Também na tinta interior exterior se notou uma melhoria nestas propriedades. Relativamente

à tinta acetinada, conseguiu-se manter a razão de contraste e melhorar a resistência ao empilhamento.

Deste modo, o emulsionante A3 é uma boa alternativa ao emulsionante A1.

Na dispersão aquosa B, o emulsionante A3 permite obter valores satisfatórios, verificando-se

novamente uma diminuição da absorção de água por parte do filme. Na tinta mate conseguiu-se manter

o poder de cobertura, melhorando-se a presença de fissuras no filme de tinta (mud-cracking) e a

resistência à esfrega húmida. Também na tinta interior exterior se obtiveram resultados satisfatórios,

verificando-se apenas uma redução insignificante na espessura de filme húmido referente à presença

de fissuras (mud-cracking). A tinta acetinada produzida com este emulsionante mostrou uma ligeira

redução da resistência ao empilhamento, quando comparada com a tinta acetinada de referência, DB1.

Posto isto, pode considerar-se o emulsionante A3 como opção ao A1, na dispersão aquosa B.

Por seu turno, a troca pelo emulsionante A3 na dispersão aquosa C não conduziu a resultados tão bons

como nas dispersões anteriores em termos de resíduo ao peneiro e absorção de água, no entanto, as

diferenças entre os resultados não são absurdas, tendo-se obtido valores bastante próximos do produto

de referência. Na tinta mate, apesar da melhoria no poder de cobertura, houve um pior desempenho

no mud-cracking, verificando-se que o filme apresenta fissuras a uma espessura ligeiramente inferior,

e na resistência à esfrega húmida, onde a diferença foi mais notória. Também na tinta interior exterior

os resultados não foram tão bons como na tinta de referência, no entanto, verifica-se a presença de

fissuras numa espessura superior a 600 µm, cumprindo-se assim os requisitos mínimos para tintas de

exterior, estipulados pela norma de referência NP 4505:2011. Como vantagem, esta tinta mostrou-se

bem mais resistente à esfrega húmida. Por fim, na tinta acetinada os resultados foram mais

equilibrados, pois o produto em teste mostra resultados semelhantes relativos à razão de contraste e à

resistência ao empilhamento. No entanto, dado que os resultados verificados na tinta mate não foram

os esperados, o emulsionante A3 não se mostra uma boa alternativa ao A1, na dispersão aquosa C.

Comparando o desempenho geral dos emulsionantes A2 e A3, conclui-se que este último é o que se

mostra mais adequado para contratipo do A1, verificando-se maior semelhança entre os resultados

obtidos. O emulsionante A2 de facto mostrou vantagens significativas na minimização da formação de

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grumos, no entanto, apesar de se conseguir boas propriedades em algumas das tintas, os resultados

gerais foram piores, relativamente ao produto de referência. No entanto, é de salientar que nenhum

dos dois emulsionantes em estudo conseguiu originar bons resultados na dispersão aquosa D.

Relativamente ao uso do emulsionante B2 na dispersão aquosa E e na sua aplicação posterior como

tinta texturada, conseguiu-se bons resultados, semelhantes aos obtidos nos produtos de referência. A

maior diferença verificada reside no tamanho médio de partícula que, mesmo assim, se encontra dentro

do intervalo especificado para o produto em questão. Deste modo, este emulsionante é uma boa

alternativa ao emulsionante B1.

Também o emulsionante C2 provou ser uma boa opção na dispersão aquosa F, conduzindo a uma

TMFF mais baixa e a uma menor formação de grumos, observada pelo resíduo de filtração, quando

comparada com o emulsionante atualmente usado, C1. Relativamente à aplicação desta dispersão,

visto tratar-se de um produto de elevado desempenho, é importante obter boas propriedades. Neste

campo verifica-se que a troca de emulsionante torna o esmalte mais brilhante, com maior resistência

ao empilhamento e confere maior dureza e proteção contra ações exteriores.

Na dispersão aquosa G, os resultados derivados da substituição do emulsionante D1 pelo D2 não foram

tão satisfatórios. Embora se tenha conseguido boas propriedades na dispersão, o desempenho desta

enquanto aplicação não foi tão bom, verificando-se que todas as propriedades avaliadas foram afetadas

negativamente. Assim, o emulsionante D2 não será a opção ideal neste produto.

Por fim, observou-se que o emulsionante E2 conduziu a resultados muito semelhantes aos observados

para o emulsionante E1 na dispersão aquosa H, no entanto, verificou-se um amarelecimento acelerado

da dispersão, revelando a sua instabilidade. Deste modo, o emulsionante E2 não é uma boa alternativa

ao emulsionante E1.

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ANEXOS

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81

Anexo A – Representação gráfica dos ângulos de contacto

Gráfico A1 – Representação das várias medições do ângulo de contacto da dispersão aquosa DB1.

Gráfico A2 – Representação das várias medições do ângulo de contacto da dispersão aquosa DB2.

Gráfico A3 – Representação das várias medições do ângulo de contacto da dispersão aquosa DB3.

12

13

14

15

16

17

0 3 6 9 12 15

Ângulo

de c

onta

cto

(º)

Tempo (s)

13

14

15

16

17

18

0 3 6 9 12 15

Ângulo

de c

onta

cto

(º)

Tempo (s)

12

13

14

15

16

17

18

19

0 3 6 9 12 15

Ângulo

de c

onta

cto

(º)

Tempo (s)

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Gráfico A4 – Representação das várias medições do ângulo de contacto da dispersão aquosa DF1.

Gráfico A5 – Representação das várias medições do ângulo de contacto da dispersão aquosa DF2.

52

53

54

55

56

57

58

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300

Ângulo

de c

onta

cto

(º)

Tempo (s)

50

51

52

53

54

55

56

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300

Ângulo

de c

onta

cto

(º)

Tempo (s)

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Anexo B – Aplicabilidade e aspeto da aplicação dos revestimentos

Tabela B1 – Propriedades de aplicação das tintas mate DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0 0-1

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0-1 0-1 0-1

Tabela B2 – Propriedades de aplicação das tintas interior exterior DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0-1 0-1

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0 0-1 0-1

Tabela B3 – Propriedades de aplicação das tintas acetinadas DA1, DA2 e DA3.

Propriedades DA1 DA2 DA3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0-1 0-1

Bolhas de ar 0-1 0-1 0

Cobertura 1-2 1-2 1-2

Tabela B4 – Propriedades de aplicação das tintas mate DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0 0 0

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0-1 0-1 0-1

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Tabela B5 – Propriedades de aplicação das tintas interior exterior DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0-1 0-1

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0 0 0

Tabela B6 – Propriedades de aplicação das tintas acetinadas DB1, DB2 e DB3.

Propriedades DB1 DB2 DB3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 1-2 1 0-1

Bolhas de ar 0-1 1 3

Cobertura 1-2 1-2 1-2

Tabela B7 – Propriedades de aplicação das tintas mate DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0-1 0-1

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0 0-1 0-1

Tabela B8 – Propriedades de aplicação das tintas interior exterior DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 1 1

Bolhas de ar 2-3 2-3 1

Cobertura 1-2 1-2 1-2

Tabela B9 – Propriedades de aplicação das tintas acetinadas DC1, DC2 e DC3.

Propriedades DC1 DC2 DC3

Aplicabilidade B B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0 0

Escorrimento 0 0 0

Microespumas 0-1 0-1 0-1

Bolhas de ar 0 0 0

Cobertura 0 0 0

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Tabela B10 – Propriedades de aplicação das tintas texturadas DE1 e DE2.

Propriedades DE1 DE2

Aplicabilidade B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0

Escorrimento 0 0

Microespumas 1 1-2

Bolhas de ar 2 2-3

Cobertura 0 0

Tabela B11 – Propriedades de aplicação dos esmaltes aquosos DE1 e DE2.

Propriedades DC1 DC2

Aplicabilidade B B

Aspeto da aplicação

Fissuração 0 0

Microespumas 0 0

Bolhas de ar 0 0

Corpo 0 0-1

Lacagem 1 0-1