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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5867 ESTUDO DO MEIO: INTEGRAÇÃO DE GEOGRAFIA E DE HISTÓRIA NAS CLASSES SECUNDÁRIAS EXPERIMENTAIS (DÉCADA DE 1950) 1 Yomara F. C. Oliveira Fagionato 2 Norberto Dallabrida 3 O ensino secundário brasileiro começou ser renovado em 1951, quando o professor Luís Contier retornou de um estágio dedicado ao estudo das classes nouvelles ensaio inovador no ensino secundário francês colocado em prática desde 1945 no Centre International d`Études Pedagogiques (CIEP). À luz de sua estada na França e de forma pioneira, Contier realizou uma experiência pedagógica inédita no ensino secundário no Instituto Alberto Conte, localizado na cidade de São Paulo. Ela se fundamentou na metodologia ativa das classes nouvelles que se apropriavam-se dos estudos de Célestin Freinet, Édouard Claparède e John Dewey (CONTIER, 1981, Apud, VIEIRA, 2015, p.46)”, bem como da influência de “Jean Piaget e Maria Montessori.” (CONTIER: EXPERIMENTAL É...,1980, s.p., apud, VIEIRA, 2015, p. 78). Em meados dos anos 1950, esse ensaio foi prestigiado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e pelo Ministério da Educação (MEC). Sob a liderança do Diretor do Ensino Secundário do MEC, Gildásio Amado, em 1958 foi aprovada uma legislação que permitia a implantação de experiências renovadoras no ensino secundário, ganhando o nome de classes secundárias experimentais. Trata-se do documento “Instruções sobre a natureza e a organização das classes experimentais” (BRASIL, 1958), que prescrevia currículo integrado, estudo dirigido, estudo do meio, coordenação sistemática das atividades escolares, número reduzido de alunos por turma, maior permanência de alunos e professores na escola, estímulo à participação discente nas atividades extracurriculares, implantação restrita aos colégios com idoneidade moral, formas diferentes de avaliar e introdução obrigatória da orientação educacional (VIEIRA, 2015). 1 Pesquisa de doutorado vinculada ao Programa de História do Tempo Presente em andamento, financiada pela Capes. 2 Doutoranda em História do Tempo Presente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado do Tempo Presente. Mestre em História do Tempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Integrante do Grupo de Pesquisa “Culturas Escolares, História e Tempo Presente” da Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected] 3 Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, com estágios de pós-douturado concluídos na Universitè Rene Descartes Paris V (França) e na Universidad de Alcalá de Henares (Espanha). Professor de História da Educação e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Florianópolis (SC). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: [email protected]

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5867

ESTUDO DO MEIO: INTEGRAÇÃO DE GEOGRAFIA E DE HISTÓRIA NAS CLASSES SECUNDÁRIAS EXPERIMENTAIS (DÉCADA DE 1950)1

Yomara F. C. Oliveira Fagionato2

Norberto Dallabrida3

O ensino secundário brasileiro começou ser renovado em 1951, quando o professor Luís

Contier retornou de um estágio dedicado ao estudo das classes nouvelles – ensaio inovador

no ensino secundário francês colocado em prática desde 1945 – no Centre International

d`Études Pedagogiques (CIEP). À luz de sua estada na França e de forma pioneira, Contier

realizou uma experiência pedagógica inédita no ensino secundário no Instituto Alberto

Conte, localizado na cidade de São Paulo. Ela se fundamentou na metodologia ativa das

classes nouvelles que se “apropriavam-se dos estudos de Célestin Freinet, Édouard Claparède

e John Dewey (CONTIER, 1981, Apud, VIEIRA, 2015, p.46)”, bem como da influência de

“Jean Piaget e Maria Montessori.” (CONTIER: EXPERIMENTAL É...,1980, s.p., apud,

VIEIRA, 2015, p. 78). Em meados dos anos 1950, esse ensaio foi prestigiado pela Secretaria

da Educação do Estado de São Paulo e pelo Ministério da Educação (MEC). Sob a liderança

do Diretor do Ensino Secundário do MEC, Gildásio Amado, em 1958 foi aprovada uma

legislação que permitia a implantação de experiências renovadoras no ensino secundário,

ganhando o nome de classes secundárias experimentais. Trata-se do documento “Instruções

sobre a natureza e a organização das classes experimentais” (BRASIL, 1958), que prescrevia

currículo integrado, estudo dirigido, estudo do meio, coordenação sistemática das atividades

escolares, número reduzido de alunos por turma, maior permanência de alunos e professores

na escola, estímulo à participação discente nas atividades extracurriculares, implantação

restrita aos colégios com idoneidade moral, formas diferentes de avaliar e introdução

obrigatória da orientação educacional (VIEIRA, 2015).

1 Pesquisa de doutorado vinculada ao Programa de História do Tempo Presente em andamento, financiada pela Capes.

2 Doutoranda em História do Tempo Presente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado do Tempo Presente. Mestre em História do Tempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Integrante do Grupo de Pesquisa “Culturas Escolares, História e Tempo Presente” da Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected]

3 Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, com estágios de pós-douturado concluídos na Universitè Rene Descartes – Paris V (França) e na Universidad de Alcalá de Henares (Espanha). Professor de História da Educação e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Florianópolis (SC). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: [email protected]

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A partir do ano seguinte, foram implantadas classes secundárias experimentais em

várias unidades da federação brasileira,4 mas com destaque para os Estados de São Paulo e

do Rio de Janeiro. O Decreto n. 35.069, de 11 de junho de 1959, oficializou as classes

experimentais no estado de São Paulo, onde se desenvolveram de forma mais efetiva devido

ao fato de Luís Contier passar a ter cargo de direção na Secretaria de Educação de São Paulo.

Nesta direção, selecionamos analisar o estudo do meio através das primeiras classes

experimentais do Instituto Alberto Conte, no bairro de Santana da cidade de São Paulo, e as

classes secundárias experimentais (CSE) do Instituto Estadual Narciso Pieroni, da cidade de

Socorro (SP), estas últimas conhecidas pela liderança da professora Maria Nilde Mascellani

(MASCELLANI, 1999; NEVES, 2010; CHIOZZINI, 2014). O estudo do meio era considerado

a principal estratégia para integrar diferentes disciplinas-saber. Uma das formas sugeridas

seria aplicar os denominados “Centros de Interesse, método pensado por Ovide Decroly, e

eram definidas a partir da “noção de unidade de Ação Educadora”, [...] o que objetivava

demonstrar aos alunos que todas as matérias do currículo se relacionavam e completavam”

(CONTIER, 1956, p.6; apud, VIEIRA, 2015, p.78-79). E, nas duas experiências de classes

secundárias experimentais escolhidas, houve o uso do estudo do meio como estratégia

didática.

O historiador Danilo Eiji Lopes (2014) debruçou-se sobre a construção do conceito da

prática do estudo do meio, constatando a sua presença nas décadas de 1930 e 1940 como

uma prática considerada mais como estudo de campo, “ainda mais imbricado à disciplina de

Geografia do que a de História”, e, inseridas como uma das práticas complementares de

ensino (LOPES, 2014, p. 40-41). Todavia, o autor enuncia mudanças na concepção do estudo

do meio sob os mesmos olhares da Escola Nova, durante os anos de 1950 e 1960, quando

emerge a perda do “caráter complementar” do estudo do meio passando a integrar o “palco

principal” para formar os alunos/as “com o desenvolvimento e amplitude dos Estudos

Sociais”, isto através dos (...) “programas e currículos brasileiros, as propostas de trabalhos

de campo deixaram de serem excursões pontuais para se tornarem projetos educativos (...)”.

(LOPES, 2014, p. 49) Mesmo que a área de Estudos Sociais não tenha tomado à cena

principal como projeto educativo das classes secundárias experimentais durante os anos de

4 As experiências funcionaram em São Paulo, Estado da Guanabara, Rio de Janeiro, Rio grande do Sul, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo e Paraná. No estado do Ceará a experiência foi iniciada em 1959 e encerrada em 1960. Em São Paulo temos as seguintes Instituições: Colégio das Cônegas de Santo Agostinho, Colégio Santana, Colégio Mackenzie, Colégio Notre Dame de Sion, Colégio Pio XII, Colégio Santa Cruz, Colégio Santa Maria, Colégio São Miguel Arcanjo e Colégio Estadual Narciso Pieroni, Colégio Assunção, Colégio Estadual Macedo Soares, Colégio São Luís, Colégio Estadual de Jundiaí, Colégio Estadual Carlos Gomes, Colégio Sacré Coeur de Marie, Colégio Visconde de Porto Seguro, Colégio São José.

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1950, nestas foram realizadas experiências de integração das disciplinas-saber de história e

de geografia, através do estudo do meio, prática escolar amplamente valorizada no Instituto

Estadual Alberto Conte e no Instituto de Educação Narciso Pieroni de Socorro (VIEIRA,

2015), que envolvia pesquisa sobre dimensões geográficas e históricas do meio social e

planejamento minucioso da atividade do estudo do meio com os estudantes para locais

previamente definidos.

O estudo do meio que integra as disciplinas-saber história e geografia nas classes

secundárias experimentais parte da cultura escolar, considerada um conjunto de prescrições

que definem conhecimentos a ensinar e comportamentos a inculcar, que é apropriado na

tessitura do fazer educativo pela intervenção do professor, dirigentes e alunos. A cultura

escolar prescrita, formada por textos normativos que definem conhecimentos a ensinar e

comportamentos a inculcar, é apropriada pelas escolas na tessitura do fazer educativo (Julia,

2001). O conjunto de textos normativos como a legislação educacional, os regimentos

escolares, os projetos pedagógicos, os livros didáticos, entre outros, é ressignificado por meio

das operações de transmissão e avaliação das “disciplinas-saber”, podendo ser enriquecidos

ou vulgarizados, bem como pelo acréscimo de saberes e de atividades educativas

(CARVALHO, 2003). Para compreender essas “apropriações específicas” da cultura escolar

prescrita é imprescindível analisar a constituição e a atuação do corpo dirigente e docente das

instituições escolares, bem como considerar o perfil sociológico das suas clientelas.

A pesquisa sobre a prática do estudo do meio nas duas instituições educativas

renovadoras selecionadas é realizada com fontes históricas dos acervos pessoais de Luís

Contier e de Maria Nilde Mascellani pertencentes aos acervos do Centro de Memória da

Faculdade de Educação – CMFE, da Universidade de São Paulo (USP), bem como outra série

documental relativa à experiência de Socorro ligada ao sistema de ensino vocacional,

atualmente, constam do acervo do Centro de Documentação e Informação Científica

“Professor Casemiro dos Reis Filho” – CEDIC, da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC). Em ambos os acervos escolhemos e usamos relatórios escolares, planejamentos

anuais e semestrais, relatos dos estudos do meio, relatório de atividades realizadas, artigos de

revistas, matérias publicadas em jornais, depoimentos de ex-professores e ex-diretores, sobre

as classes secundárias experimentais. Enfim, o presente texto busca compreender a

integração dos saberes históricos e geográficos no estudo do meio nas classes secundárias

experimentais inicialmente do Instituto Alberto Conte e, em seguida, naquelas do Instituto

Estadual de Educação Narciso Pieroni.

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Dos estudos do meio nas classes experimentais do Instituto Alberto Conte (SP), com Luís Contier

As primeiras classes experimentais realizadas no Instituto Estadual de Educação

Professor Alberto Conte, ainda não totalmente legalizadas, se tornaram objeto de

investigação da pesquisadora Letícia Vieira (2015), que através de fontes do acervo pessoal de

Luís Contier, construiu uma narrativa historiográfica via olhar teórico das noções de

apropriação (CHARTIER, 1992), táticas e estratégicas (CERTEAU, 2012), quando ponderou

suas análises sobre o repertório das matrizes das renovações pedagógicas trazidas por Luís

Contier ao Brasil após sua estada na França. A partir desta pesquisa possibilitou-se notar a

tensão enfrentada pelo educador, que ao renovar o ensino via métodos ativos neste Instituto

deparou-se com uma série de questões quando “afirma ter arquitetado uma estrutura que

inovou pouco se comparada ao realizado nas classes francesas: adaptou-se a estrutura das

Classes Nouvelles às condições brasileiras (...)” (VIEIRA, 2015, p. 71).

Diante desse desafio educacional Contier buscou renovar pedagogicamente via

questões de ordem do funcionamento interno da escola. E, estas versariam, especialmente,

sobre mudanças no ambiente escolar, tais como: tempo integral para alunos e professores,

com tronco comum e disciplinas facultativas renovando o currículo, conselho de classe,

orientação pedagógica, e contava com planejamento de aulas com conteúdos advindos de

sugestões dos alunos, sendo, por fim pela inclusão dos métodos ativos. Em respeito às

prescrições dos princípios pedagógicos deste Instituto o referido planejamento escolar

construído na relação entre alunos (as) e professores buscava a finalidade da formação da

inteligência e do seu caráter. Nas classes experimentais deste Instituto o aluno toma um

lugar de protagonista, na perspectiva de que se deveria conhecer o perfil deste estudante, via

instituição do setor de Orientação Educacional que toma o espaço na cultura escolar, aliada a

prática do conselho de classe, bem como exemplificado pela redução do número de alunos, o

que geralmente no Brasil constavam-se 50 (cinquenta), no Instituto, tinham-se 40

(quarenta), mesmo que na França, a sugestão fosse de no máximo 25 (vinte e cinco) alunos.

(VIEIRA, 2015)

Os princípios pedagógicos do Instituto foram citados no documento produzido pelo

educador Luís Contier, na ocasião da sua apresentação na Jornada de Diretores do ensino

secundário de São Paulo, ocorrida de 15 a 20 de outubro de 1956, sob o patrocínio da

seccional do MEC via coordenação de sua delegada a Sra. Marina Cintra. Este foi intitulado

de “Sugestão sobre renovação dos métodos e processos de ensino” (CONTIER, 1956). Vale a

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citação de pontos chaves sobre as novas prescrições das propostas de um início de mudanças

na forma escolar vistas através dos seguintes princípios:

Com toda a liberdade pedagógica ditada pelo bom senso, e sem que os exercícios do ensino tradicional sejam sistematicamente abolidos, a princípio pelos menos, o professor deverá utilizar os diferentes métodos ativos da pedagógica moderna para levar o aluno a uma aquisição de conhecimentos de conjunto à base da experiência pessoal com o fim de prepará-lo para as lutas da vida moderna. Emprego dos métodos ativos: a) Para aprender, é preciso fazer e não somente ouvir e decorar, a exemplo das crianças que preferem fazer os próprios brinquedos; b) os alunos deverão deixar de ser um número para ser um nome na classe; c) os alunos deverão ter seu papel na classe como o indivíduo na sociedade; d) os alunos deverão sentir a sensação da descoberta pessoal; e) os alunos deverão servir-se, principalmente das cadeiras de Desenho e Trabalhos Manuais para ilustrações e demonstrações de seu aproveitamento; f) divisão da classe pelos professores em Equipe de Trabalho; g) Estudo do Meio Humano e Natural; h) instituição, na classe, de Centros de Interesses para melhor entrosamento das diversas cadeiras do Curriculum. (CONTIER, 1956, p. 4, grifo nosso)

Em 1956, no Instituto coabitavam no mesmo espaço escolar métodos ditos tradicionais

com outros renovadores, empreendendo o educador uma forma de renovação do ensino

mesmo sem “condições materiais, Luís Contier desenvolveu um sistema que restringia a

busca pela promoção da iniciativa dos alunos, a partir de trabalhos com pesquisa, trabalhos

em grupo e estudo do meio” (VIEIRA, 2015, p. 70).

Deste movimento de ensaio da prática do estudo do meio, no documento supracitado

temos dois tipos prescritos de estudos do meio. Havia o estudo do meio Humano, e estudo do

ambiente Natural, o que se sugere uma prévia separação entre os meios estudados. Desta

situação, chama a atenção, a prescrição sobre como se poderiam ocorrer os tipos de estudos

do meio. De qualquer forma, para tanto, como preparação prévia de ambos os estudos

indicou-se: “a) leitura de jornais; b) visitas: museus, jardins, laboratório; c) frequência a:

cinemas, teatros, concertos, conferências”, somado aos saberes das atualidades, que

ganhariam o status de conteúdos a serem lecionados, em outras palavras, os assuntos do

presente seriam o mote para instigar os adolescentes, a partir da forma escolar via “debates

sobre assuntos palpitantes do momento” (CONTIER, 1956, p. 5). Nesta palestra o educador,

atribuiu aos denominados “Centros de Interesses”, usou o termo visita ao “Estudo do Meio”

associada ao “Trabalho por equipes” a função de um tipo de tripé metodológico, com a

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finalidade de articularem as várias disciplinas do currículo. Portanto, justificou-se a noção

chave de “unidade de ação educadora”, filiada aos métodos da Escola Nova, no qual se

colocou a tarefa neste aspecto escolar como integrador dos saberes da história e da geografia.

Ainda no mesmo documento de 1956, Contier conceitua a noção de “unidade de ação

educadora” no seu Instituto com a seguinte narrativa:

[...] representa esse processo maior unidade de conhecimento de outras cadeiras, demonstrando aos alunos que todas as matérias do curriculum se relacionam e se completam. Assim, por exemplo, o estudo da água, do Petróleo ou do Ferro poderia constituir motivo para as aulas de Português, Geografia, História, Química ou Física ou ainda para qualquer Cadeira. (CONTIER, 1956, p. 6).

As unidades funcionariam como motes de integração dos diferentes campos de saberes,

diluindo fronteiras entre as “Cadeiras”, neste sentido entendidas a partir da tradição das

disciplinas escolares 5 previstas no currículo, e, portanto, a preocupação do educador em

respeitar a legislação vigente dos anos de 1950. Os temas da água, ou petróleo e o ferro,

citados como exemplos sugerem uma articulação entre as diferentes “Cadeiras”. Diante desse

desafio em motivar os alunos através de temáticas recortados da atualidade o trabalho em

equipe mostrou-se uma forma eficiente nestes momentos em que exigiam pesquisas e

leituras prévias, pois segundo Letícia Vieira, (2015, p. 73) esclareceu que foram amplamente

realizadas no Instituto Estadual Alberto Conte a forma de trabalho por equipe, sendo este

“organizando a partir da divisão da classe em grupos de alunos, sendo escolhido um chefe um

subchefe por equipe” (VIEIRA, 2015, p. 73). E, deste trabalho por equipes frequentemente

usado no Instituto resultou do “aproveitamento mais eficiente, embora lento, a abolição do

sistema tradicional de competição de notas entre alunos [...]” (VIEIRA, 2015, p. 75), como se

pode analisar a partir do relato da aula de geografia realizada no Instituto Alberto Conte,

publicada em matéria do Jornal “A tribuna”, de Santo Amaro, descrevendo a visita ao

Instituto Alberto Conte realizada pelo Movimento de Arregimentação Feminina, no ano de

1957. Neste fragmento, tem-se a utilização ampla da metodologia por equipes de trabalho

durante as aulas.

Entramos para assistir aula de Geografia Geral no 1° ano Científico. A professora d. Judith Rodrigues Pontes estava sentada num carteira ouvindo a equipe ‘Copérnico’ composta dos alunos Décio Reina, Terezinha Lassalvia, e Ludmila Redko. Estes alunos desenhavam, escreviam o quadro negro e explicavam ‘o sol’ [...] De vez em quando D. Judith interferia ‘mostre no

5 Segundo Dominique Julia (2001), não se pode confundir saber histórico com a noção de disciplina escolar. Em suma, adverte que não se pode pensar que um saber não é ensinado só porque este não aparece nos programas oficiais, ou porque não existem cátedras oficialmente com seu nome.

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mapa; repita a frase em português correto’. Os alunos ouvintes inquiriam a equipe que tudo respondia com desembaraço. (INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ALBERTO CONTE, 1957, s/p. Apud, VIEIRA, 2015, 76)

No mesmo ano da visita ao Instituto Estadual Alberto Conte realizado pelo grupo

pertencente ao Movimento de Arregimentação Feminina se viu o esforço do educador em

explicitar para a comunidade de pais e mestres sobre o que se estava realizando no referido

Instituto. Para tanto, no documento localizado no acervo pessoal de Luís Contier, escritos

datilografados da palestra realizada em 1957, pelo educador sobre “Fundamentos da

Metodologia Didática” 6, promovida por ocasião da 3° sessão do Simpósio de Pais e Mestres

promovido pelo Movimento de Arregimentação Feminina, em que o educador listou aos pais

e mestres os métodos ativos defendidos e praticados por ele no Instituto, “tais como: trabalho

livre, trabalho dirigido, trabalho individualizado, trabalho por equipe, enquetes, pesquisas

pessoais, confecção de fichários, livros de recortes, exposição verbais pelos alunos, ilustração

concreta, etc.” (CONTIER, 1957, p. 4). Diante do leque de formas escolares novas de ensino

destinou um tópico sobre a prática do estudo do meio natural e humano, quando novamente

o educador forneceu pistas sobre a cultura escolar de integração dos saberes históricos e

geográficos realizados no Instituto Estadual Alberto Conte:

Esses estudos, fora do ambiente escolar e dentro do horário comum, consistem de visitas a museus, laboratórios, instituições as mais diversas, passeios a jardins e exposições, bem como de entrevistas, pesquisas, conferências, sessões de teatros, concertos e cinemas, tec., proporcionando aos alunos uma tomada de consciência do mundo em que vivem. Essas saídas semanais da escola, em companhia de professores, representam um contacto mais estreito entre a escola e a vida, em proveito da formação

cultural dos alunos (CONTIER, 1957, p. 5).

Contier ao operar, novamente, a partir do termo “visita” para designar o estudo do

meio forneceu o espaço para atuação de outras metodologias amplamente valorizadas nas

práticas educativas deste Instituto. Sobretudo, o educador para realizar um ensino

significativo para vida dos seus educandos deveria lançar mão do conjunto de todas as novas

metodologias, e não tão somente visitas prévias como foco do estudo do meio humano e

natural como ponto de maior relevância de sua renovação metodológica. Segundo Danilo Eiji

Lopes (2014, p. 49) “(...) a atividade do estudo do meio, mesmo sendo citado pelas instruções

metodológicas oficiais de ensino, ele foi apresentado de forma descompassada em relação ao

currículo e aos objetivos do ensino de História da época”. Ademais, segundo o pesquisador o

estudo do meio tinha o caráter de “passeio complementar de formação” (LOPES, 2014, p.

6 Contier produziu esta palestra na ocasião da 3° sessão do Simpósio de Pais e Mestres promovido pelo Movimento de Arregimentação Feminina, a cerca da temática ampla da Reforma do Ensino Secundário.

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49). O termo visita para o estudo do meio aponta, ainda a partir das fontes analisadas neste

artigo, o vestígio de que se encontra o estudo do meio em uma fase metodológica

complementar como prática integradora. Considerada como mais uma entre tantas outras

renovações pedagógicas em curso ainda a serem implantadas no ambiente escolar em

meados dos anos de 1950, sob as orientações da Escola Nova.

É importante mencionar, que Luís Contier ao repetir em documentos distintos o museu

como local elegido de aprendizagem, denotou sua aliança aos preceitos escolanovistas

motivador da ligação entre escolas e museus, todavia, com a proposta de auxiliar a educação

dos alunos como forma de superar a passividade do ensino, mas, sobretudo, o museu se

apresenta como um espaço oficial, “responsável pela memória e história de um lugar, de um

povo, de uma sociedade” (LOPES, 2014, p. 44). Das visitas aos museus temos pistas dos

possíveis saberes históricos em nível dos programas prescritos e apropriados pelos alunos e

professores no Instituto Estadual Alberto Conte.

Diante disso, com outra série documental relativa à fase seguinte da legalização da

experiência, agora denominadas de classes secundárias experimentais do Instituto Estadual

de Educação Professor Alberto Conte7 tem-se citadas neste sob o intitulo: “Plano para

organização das classes Experimentais” o referido Instituto. Mesmo sem constar datação no

documento consultado, inferimos pelo fato de ter sido produzido pela secretaria de educação

do estado de São Paulo com a finalidade de atender a Portaria Ministerial do MEC das

“Instruções sobre a Natureza e organização das classes experimentais”, de 1958 (BRASIL,

1958), consideramos uma data provável a partir de 1959. Luís Contier ocupava o cargo de

diretor Geral do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, no ano de implantação

das classes experimentais na rede estadual de ensino, o que poderia facilitar a oficialização da

experiência em toda rede estadual de ensino paulista (VIEIRA, 2015). Vale ressaltar, que o

referido “Plano de organização das classes Experimentais” prescreveu a necessidade da

parceria entre esta secretaria de educação e o Centro Regional de Pesquisas Educacionais

(CRPEs) com a tarefa de “preparo de professores, orientadores e diretores dos planos das

Classes experimentais” [...] o que chamou a atenção na introdução do plano ainda as críticas

devidas às “limitações impostas pela organização do atual sistema de ensino secundário – os

mesmos períodos letivos, horas de trabalho, instalações materiais, recursos didáticos,

7 Documento, produzido pelo Serviço de Medidas e Pesquisas Educacionais, pertencente ao Departamento de Educação do Estado de São Paulo, em seu sumário, listou os estabelecimentos em que estariam funcionando as classes, a seguir: C.E.E.N. “Antonio Firmino de Proença, na cidade de São Paulo; I.E. “Alberto Conte, Bairro de Santo Amaro; I.E. “Carlos Gomes”, em Campinas (SP); I.E. “Conselheiro Rodrigues Alves”, em Guaratinguetá (SP); I.E. “Dr. Alvaro Guião” – São Carlos (SP); I.E. “Fernão Dias Paes”, capital; I.E. “Júlio Prestes”, Sorocaba (SP); I.E. “Jundiaí”, em Jundiaí (SP); I.E. “de Socorro”, em Socorro (SP).

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professores, etc.” Tem a prescrição de funcionarem as classes secundárias experimentais com

no “máximo de 30 alunos selecionados por sorteio entre candidatos aprovados e classificados

em exame de admissão.” (SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA EDUCAÇÃO, s.d, p. 1).

O documento apresenta nos seus tópicos: objetivos e os meios para atingi-los, subdividido

em: currículo e legitimação do currículo; em seguida, métodos, orientação educacional,

processo de avaliação. Demais, este documento permite localizar alguns vestígios sobre novos

elementos de integração das disciplinas de geografia e história, via inclusão curricular dos

Estudos Sociais, cito-o:

a) - 1- Currículo (curso de estudos) Acreditando fundamentadas as críticas que apontam como falhas do ensino secundário “o grande número de disciplinas ministradas no ano escolar”, o currículo a ser ensaiado contará o mínimo possível de área de estudo. Será o seguinte o número de horas atribuídas às atividades: 5 horas para Português 3 horas para Inglês 4 horas para Matemática 3 horas para Ciências Naturais 4 horas para Estudos Sociais 3 horas para Artes Plásticas e Música 2 horas para Esportes Total de 24 horas semanais, ou seja, 4 horas diárias de trabalho numa semana letiva de 6 dias, assegurada a flexibilidade de horário e do número de horas das atividades escolares e que atende, tanto quanto possível, as necessidades do planejamento do trabalho educativo. [...] A execução do programa a ser atribuído aos Estudos Sociais, deverá responder mais proximamente ao alvo de eficiência social. Sendo única, integra, a experiência vivida pelas comunidades humanas e artificial a divisão abstrata das Ciências que a consideram nos seus diferentes aspetos, e mais, considerando as dificuldades que o adolescente tem para sintetizar os conhecimentos, parece de todo conveniente dar aos alunos notícias daquela experiência e proporcionar oportunidades para praticar as técnicas e os padrões relativos à cultura de sua comunidade, também de um modo unificado e integrado. Assim, os conhecimentos atualmente desenvolvidos em Geografia e História Geral e do Brasil, serão integrados na disciplina Estudos Sociais, que ainda cuidará de Educação Social, Moral e Cívica. Deverá especificamente o planejamento desta área de estudo promover o ensino por unidades didáticas que discutam realidades significativas para o educando e às quais o aluno esteja vinculado. Terão assim os adolescentes mais oportunidades para situarem-se no curso de História e para compreenderem os problemas do mundo moderno (SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA EDUCAÇÃO, s.d, p. 2 e 3).

Todavia, a perspectiva da integração das disciplinas saber de história e geografia

recebeu mais um elemento de mudança, advindo da crítica aos programas brasileiros

considerados enciclopedistas, como analisado a partir deste documento, quando temos citada

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a carga horária curricular da área de Estudos Sociais como espaço de integração destes

saberes tanto históricos quanto geográficos. Ressalto que no Instituto Alberto Conte quanto

no Instituto de Educação de Socorro foram listados neste plano estadual. Beatriz Boclin

Marques dos Santos (2012, p. 10) ao abordar parte da historiografia da proposta dos Estudos

Sociais utilizou da leitura de Delgado de Carvalho (1953), que defendia a inclusão dos

Estudos Sociais durante a década de 1950 com orientação da Escola Nova, no sentido de que

“[...] os objetivos da disciplina Estudos Sociais visavam proporcionar ao aluno uma visão

mais complexa da realidade social em que vive, [...]” e, para destacar o seu caráter integrador

esclareceu sobre os programas praticados na cultura escolar do secundário vigente dos anos

de 1950, que sob a “influência francesa remontam à Grécia antiga, onde os estudantes

preparavam-se para a vida pública. Valorizava-se a formação erudita e rejeitava-se

completamente as questões funcionais, sendo a aprendizagem vista como “prática ocasional””

(SANTOS, 2012, p. 10)

No jornal A Gazeta, datado de 02 de dezembro de 1958, pertencente ao acervo pessoal

de Luís Contier registra uma matéria, intitulada “Classes experimentais na escola secundárias

paulista”, ocupando quase uma página deste impresso. Neste tem-se diversos subtemas,

destacamos um denominado de “Execução do Programa de Estudos Sociais”, que fornece

indícios sobre as mudanças empreendidas para se realização da integração das disciplinas-

saber de história e geografia, via área de Estudos Sociais, segue o fragmento:

Execução do programa a ser atribuído aos Estudos Sociais, deverá responder mais proximamente ao alvo de eficiência social. Sendo única, inteira, a experiência vivida pelas comunidades humanas e artificial, a divisão abstrata das ciências que a consideram nos seus diferentes aspectos, e mais, considerando as dificuldades que o adolescente tem para sintetizar os conhecimentos, parece de todo conveniente dar aos alunos noticias daquela experiência e proporcionar oportunidades para praticar as técnicas e os padrões realtivos a cultura de sua comunidade também de um modo unificado e integrado. Assim, os conhecimentos atualmente desenvolvidos em Geografia e História – Geral e do Brasil serão integrados na disciplina Estudos Sociais, que ainda cuidará de Educação Social, Moral e Cívica. Deverá especificamente o planejamento desta área de estudo promover o ensino por unidades didáticas que discutam realidades significativas para o educando e as quais o aluno esteja vinculado. (CLASSES ...,1958)

As referidas prescrições deixaram vestígios sobre quais caminhos possíveis à área de

Estudos Sociais promoveria como integração dos saberes de história e geografia na cultura

escolar do Instituto Alberto Conte. Segundo Sandra Júlia Gonçalves Albergaria (2004, p.13),

que investigou os valores formativos e informativos do estudo do meio, sugere observar “qual

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concepção de ensino abarca a necessidade de tal prática na sua potencialidade”. Somo sobre

este potencial da concepção de educação e de qual estudante se propõe em construir, a partir

do que se tem na pesquisa de Letícia Vieira (2015) que os estudos do meio no Instituto

Alberto Conte ocorriam com os alunos e alunas quando eram levados pelos seus pais aos

locais previamente planejados, e tendo como um papel fomentador e organizador, o próprio

Luís Contier, ao providenciar os fundos para a realização das diversas atividades que

envolviam esta prática de estudo. As bases educativas renovadas estavam sendo lançadas e

desenvolvidas para que se tivessem sobre as práticas da integração, sobretudo, das

disciplinas de geografia e história, aliada ao estudo do meio no Instituto de Educação de

Socorro gerado os “esforços para aproximar o ensino da realidade do educando e o ensino

ativo via atividades práticas e voltadas para o trabalho.” (VIEIRA, 2015, p. 125).

Considerando o final da década de 1950, como um período onde se tem prescrições

destinando carga horária à área de Estudos Sociais, este ainda contava na cultura escolar,

pouca amplitude, e um caminho histórico ainda a percorrer para se consolidar como área

integradora dos saberes históricos e geográficos. Vale esclarecer por disciplinas-saber de

história e geografia o entendimento de que são saberes recortados e elaborados

didaticamente para serem transmissíveis, e assimiláveis pelos estudantes de acordo com o

seu desenvolvimento psicossocial, estes passaram a demandar um singular trabalho em

equipe, neste ambiente escolar do Instituto Estadual Alberto Conte e também do Instituto de

Educação Narciso Pieroni, no Estado de São Paulo, aos quais investigamos no tópico a seguir.

Protagonismo da disciplina-saber de história nas classes secundárias experimentais do Instituto de Educação Narciso Pieroni

Luís Contier na função de Diretor Geral Departamento de Educação em São Paulo, em

outubro de 1958, convidou alguns diretores8 com objetivo de realização do Primeiro Encontro

dos Diretores, sendo possível a instalação das classes experimentais do Instituto de Educação

de Socorro, autorizadas em 24 de janeiro de 1959. O educador figurou como orientador

externo a partir de 04 de abril de 1959. Desta ligação estreita de Contier com a renovação

pedagógica, via-se o estudo do meio como uma prática emergente do cenário de mudanças da

escola secundária pública presentes no “1° Relatório da Instalação e das atividades da classe

experimental (1° ciclo) do Instituto de Educação de Socorro”, documento datado de 06 de

8 Os diretores convidados, além da presença de Luís Contier, foram Helário Cesar Gonçalves Antunha, chefe do Ensino Secundário e Normal, Hassib Cury, Diretor do Instituto de Educação de Jundiaí, Ary Xavier de Oliveira, diretor substituto do Instituto de Educação Alberto Conte, Lygia Furquim Sim, diretora do Instituto de Educação Narciso Pieroni de Socorro, entre outros quatro diretores de instituições interessadas em criar a classes experimentais. (VIEIRA, 2015)

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agosto de 1959 e assinado por Maria Nilde Mascellani (orientadora pedagógica) e Lygia

Furquin Sim (diretora desta Instituição) enuncia a concepção de formação do aluno através

da experiência em busca de uma atuação social, para tanto, cito-as.

Inspirados na observação de “Classes Nouvelles” trazidas da França, procuramos elaborar o planejamento de nosso trabalho neste Instituto de Educação de Socorro, levando e consideração às condições ambientais que, naturalmente, determinariam algumas transvariações no desenvolvimento de nossa atividade. (INSTITUTO..., 1959, s/p).

A influência da renovação pedagógica advinda das classes nouvelles neste discurso

emitido pelas educadoras denuncia o uso do prescrito e lança esta narrativa para o campo da

apropriação, sob o olhar de Roger Chartier (1992). O fragmento acima permite analisar um

dos pontos de vista dos usuários, e estes consideram o ambiente escolar no qual estão

inseridos como condicionante do que será realizado em termos de atividade prática de

renovação, em outras palavras, determina qual prática do estudo do meio e quais serão os

temas históricos levantados em cada localidade ou comunidade. O termo comunidade torna-

se amplamente usado nesta experiência. Neste sentido dado pela apropriação dos usuários a

prática do estudo do meio operava a partir das singularidades de cada localidade.

Maria Nilde Mascellani realizou juntamente com o grupo de professores e

orientadores pedagógicos uma experiência, apoiada por Lygia Furquim Sim (diretora e ex-

estagiária de Sèvres) no qual se iniciou em 1959 duas classes nesta Instituição da cidade de

Socorro. Letícia Vieira (2015, p. 128) informa que o currículo das classes secundárias

experimentais de Socorro funcionou a partir de “dois centros de coordenação de matérias: o

de estudo do homem, que se dedicava ao estudo das ciências sociais e visava o domínio destas

ciências; e o de estudo da natureza, que visava aprofundar a cultura especializada”. Diante

disso, conta do “1° Relatório da Instalação e das atividades da classe experimental (1° ciclo)

do Instituto de Educação de Socorro” esclarecimentos sobre a coordenação das matérias

foram sugeridos a partir de dois centros de integração, a saber:

O estudo do homem, visando o domínio das Ciências Sociais, (aquisição de cultura humanísticas) é lançado pela História através do encadeamento lógico do programa elaborado, onde, damos noções gerais de Cronologia, História e Pré-história, Primeiras civilizações, valorizando particularmente os Hebreus. Como planejamento do 2° semestre apresentamos Grécia e Roma. O estudo da natureza e do meio físico constitui o segundo centro de coordenação, visando a cultura especializada. As disciplinas todas que compõem o curriculum localizam-se neste esquema como disciplinas de conhecimento (História, Ciências, Geografia, Matemática, religião), disciplinas instrumentos (línguas) e disciplinas de

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formação e expressão (desenho, Educação Musical, Atividades Manuais, Educação Física e Jogos). 1- Coordenação para o Estudo do Homem

Desenvolvimento particular os Hebreus como marco divisório na história, lançamos material de coordenação como: [...] Geografia – observando noções gerais sobre o Universo, a Terra. [...]

2- Coordenação para o Estudo do meio Natural Tomamos como ponto de partida o problema do plano Diretor da Cidade, elaborado pela equipe especializada de arquitetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo. Trata-se de dotar Socorro das condições necessárias para expansão de sua riqueza natural: a água radioativa. [...] História - Histórico do Município e estudo da atual conjuntura sócio-política. Geografia – Topografia das cidades de Socorro e de Lindóia (estudo comparativo) [...] A coordenação assim estabelecida, não implica em abandono de noções fundamentais, previstas nos programas das várias matérias. (INSTITUTO..., 1959, s.p)

Nesta fonte localizada no acervo pessoal de Maria Nilde Mascellani, ao explicitar a

experiência da coordenação das matérias via divisão do estudo do meio humano e natural,

tem-se apropriações dos programas oficiais em relação às novas orientações escolanovistas,

sendo ainda neste momento da sua prática, nomeado o estudo do meio como um tipo de

trabalho dirigido visando “a coordenação de atividades novas que surgem no decorrer do

trabalho planejado, como oportunidades que facilitam maiores conhecimentos. São, por

assim dizer atividades extra-planejamento”. (INSTITUTO..., 1959, s.p) Este desenho gráfico

manuscrito pertence ao acervo pessoal de Luís Contier (s.d), com a função material de

fornecer indícios do mapa mental via desenho de como a coordenação entre as matérias

poderiam ocorrer nesta primeira experiência do estudo do meio ocorrida em Socorro. Mesmo

que a figura esteja sem datação, pode-se analisar a partir do conteúdo citados a relação com o

que acabamos de descrever acerca do 1° relatório do Instituto de Socorro. Neste, gráfico no

centro nota-se o protagonismo da disciplina saber de história aliada as ciências. Veja abaixo:

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Figura 1 – Gráfico de Coordenação Horizontal relativo ao 1° semestre do Instituto de Educação de Socorro. Acervo pessoal de Luís Contier (s.d), São Paulo, CMFEUSP.

Maria Nilde Mascellani (1960) explicita uma das tarefas atribuídas à coordenação

pedagógica seria a confecção de um gráfico de extensão didática do Estudo do Meio, sendo

este produzido com a finalidade de se visualizar a coordenação das Matérias após serem

realizadas e coletadas as sugestões dos diferentes professores na ocasião do conselho de

classe. O gráfico acima mesmo não sendo atribuída sua autoria e datação o documento

remete ao desenho de integração com a articulação de um centro de interesse comum, via

temática da água radioativa. Diante disso, os dilemas locais do instituto de Educação de

Socorro por ter sido considerado como um local com água radioativo não equipado emergiu-

se assim, a proposta em unir o estudo específico desta cidade através de uma abordagem via

cultura geral, tento a disciplina-saber de história como protagonista [...] “procuravam-se

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identificar as soluções de sobrevivência dadas pelos homens em diferentes épocas.”

(OLIVEIRA, 1986, p. 46) Sobretudo, a renovação do ensino no Instituto de Socorro residiria

na singular união entre o estudo da cidade e da cultura geral, tendo a disciplina-saber de

história como protagonista.

Após esta primeira experiência realizada no Instituto de Socorro, no ano final do

segundo ano da experiência, Maria Nilde Mascellani (1961, p. 28) narrou alguns objetivos do

estudo do meio, quando este implicaria de diagnóstico inicial, no sentido de “sondagem sobre

uma realidade qualquer que tenha despertado natural interesse”. Desta citação, atribui-se aos

estudantes a sondagem via orientação pedagógica o levantamento de quais temas interessaria

ser abordado, para o estudo do meio, tanto natural quanto humano. Acrescenta a educadora

sobre o estudo do meio que além da observação, deve-se comparar, concluir sobre o meio e a

sobre si mesmo, a partir da problemática: como desenvolver um “plano de cultura

humanística”? E, ao mesmo tempo, proporcionar o “contato com a vida”? Para responder a

primeira problemática, a sugestão: “fornecer ao educando a “visão do mundo” e o

conhecimento de suas responsabilidades e possibilidades sem desenvolver um programa

racional de História Geral e História Pátria” (MASCELLANI, 1961, p. 30).

Vale ressaltar que coube a Maria Nilde Mascellani (1961, p. 28) a defesa do lugar de

protagonista para a disciplina-saber de história, através dos diversos temas históricos, os

quais funcionariam como “polo coordenador que visa à cultura humanística”, e, lançando

mão da metodologia do estudo do meio, que faria a função de coordenar das demais matérias

ocupando “a posição de polo coordenador para a cultura especializada”, sobretudo foi deste

quadro desenhado pela educadora Maria Nilde Mascellani (1961, p. 29) a defesa de que o

educando passaria a compreender “que a História é o denominador comum da Literatura, da

Ciência, da Arte, da política e que nada mais significa do que ação do homem sobre o meio,

sobre a comunidade, sobre as instituições.” Ademais, o plano em conciliar a educação

humanística com a educação pela experiência via estudo do meio nas classes secundárias

experimentais de Socorro se daria através da “constante atualização do ensino, muitas vezes

desencadeada pela constatação de um fato físico, meteorológico, político ou artístico”

(MASCELLANI, 1961, p. 29).

Diante disso, vale singularizar o quadro de realidade elegido do ambiente que

circundava o Instituto de Educação de Socorro. O entorno escolar foi escolhido pela própria

equipe de trabalho das classes secundárias experimentais do Instituto que forneceu a pauta

de problemas, com os quais se iniciaram as praticas do estudo do meio. Local onde os seus

professores e educandos diante da cultura escolar, visualizaram na cidade temáticas muito

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específicas, quais sejam: água radioativa na cidade de Socorro; e, contribuição da zona rural

(bairro dos Machados) do Município à economia do Estado (versava sobre o plano do atual

Governo). Estes dois estudos dos meio foram realizados pelas 1° e 2° série das classes

experimentais do Instituto de Educação de Socorro, sempre com tom de intervenção na

comunidade, durante os anos de 1959 e depois em 1960. No contexto da cidade com restrita

extensão territorial, “onde prevalecia o nepotismo, a religião exercia forte influência, e grande

parte da população dedicava-se ao artesanato” (VIEIRA, 2015, p. 119)

No documento produzido diante da ocasião da apresentação de Maria Nilde Mascellani

no Encontro de Educadores, Mestres e Inspetores na Jornada de Diretores, promovida pelo

Centro Regional da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino secundário

(CADES), de Campinas, em novembro de 1960, cito o seguinte fragmento:

O estudo do meio sobre um museu histórico, uma apresentação teatral ou mesmo circence pode favorecer um amplo aproveitamento didático para História, Literatura e Geografia. Assim, o Orientador Pedagógico analisando os objetivos do trabalho e fazendo um levantamento de seu conteúdo predominante atribuirá tarefa às diversa Cadeiras (MASCELLANI, 1960, p. 7).

Os operadores das prescrições legais vigentes no secundário dos anos de 1950 também

no Instituto de Educação de Socorro continuam elegendo o museu como lugar de estudo do

meio, da mesma forma que ocorria no Instituto Alberto Conte, todavia não como visita, mas

sim como uma chave para ampliar a integração. Diferentes desafios enfrentados nas classes

secundárias experimentais do Instituto de Socorro podem ser notados pela escrita

historiográfica de Maria Nilde Mascellani (2010), quando se investiu em relembrar um tipo

de currículo realizado no instituto de Socorro, este denominado de integrado. Cito a

educadora:

[...] Formulamos objetivos, elaboramos o currículo dentro de um desenho que se aproximava dos conhecidos tópicos da cultura geral (na História e na Geografia) e aqueles que suscitavam o estudo da realidade social, econômica, política e cultural do município. O trabalho em grupo, as aulas debatidas e problematizadas, a integração curricular, a opção ensino-aprendizagem por conceitos, a seleção de conteúdos significativos do ponto de vista da inserção crítica do educando em seu meio social, a avaliação diagnóstica e o estimulo permanente a intervenção social na comunidade se tornariam características do projeto das Classes Experimentais do Instituto Narciso Pieroni (MASCELLANI, 1999, p. 84 e 85).

O currículo integrado é entendido a partir da superação de uma singular organização

curricular por disciplinas, vista como uma disposição peculiar dos saberes, como um

dispositivo que gera homogeneidade no espaço social. Nas classes experimentais do Instituto

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Estadual Narciso Pieroni, iniciadas em 1959 praticava-se esta integração, através, sobretudo

do protagonismo da disciplina-saber de história, operando através de variadas práticas

educativas como: “os conselhos de classe, o trabalho dirigido, o estudo do meio e a

priorização de métodos ativos.” (VIEIRA, 2015, p. 125) O currículo integrado formou parte do

discurso da renovação do ensino secundário que se alinhou a emergente cultura escolar das

classes secundárias experimentais de Socorro, defendendo-se que lá “incluiu a definição clara

de objetivos, o desenho de um currículo que incorpora as grandes noções da cultura geral, as

práticas de reconhecimento da realidade local no seu cotidiano, a seleção de conteúdos com

destaque de conceitos” (MASCELLANI, 1999, p. 85).

As classes secundárias experimentais de Socorro, desde a década de 1980, foram

marcadas pela historiografia por sua apropriação realizada pelo sistema de ensino

vocacional, no qual o estudo do meio tornou-se corrente nesta cultura escolar. No estudo de

Mariangela de Paiva Oliveira (1986) via inventário geral sobre a documentação do Serviço de

Ensino Vocacional (SEV), 9 informa que o grupo de educadores do Instituto de Socorro

contou com certa cooperação da comunidade de pais, mesmo assim, deste fato assevera que

não foi bem compreendida a experiência pela cidade. Ademais, o educador Luís Contier,

integrou a comissão que criou o denominado de Serviço de Ensino Vocacional (SEV). 10 A

educadora de Maria Nilde Mascellani figurou como orientadora educacional das classes

experimentais do Instituto Estadual Narciso Pieroni, em funcionamento de 1959 até 1962,

ainda atuou como membro da Comissão de Planejamento dos Cursos Vocacionais de São

Paulo, sendo em 1961 empossada pelo Secretário de Educação de São Paulo como

coordenadora do órgão SEV, tendo seus Ginásios usados dos estudos do meio através da

liderança da área de Estudos Sociais como cultura escolar integrada.

Considerações Finais

Luís Contier realizou de forma pioneira as renovações pedagógicas gradativamente

implantadas no Instituto Alberto Conte durante os anos de 1950, contribuiu sobremaneira,

para iluminar o objeto de pesquisa deste artigo, qual seja: a integração das disciplinas-saber

9 A autora realizada uma reunião de documentos relativos ao ensino vocacional em posse de ex-integrantes, bem como estudou a organização do Serviço de Ensino Vocacional (SEV) e cada Ginásio para estabelecer grupos e subgrupos, denotando uma vasta organização física desta documentação, sendo listada este arranjo contendo cerca de 42 (quarenta e duas) caixas, sendo o acervo do SEV composto por 19 (dezenove) caixas.

10 Como atribuição do SEV e do secretário de educação, em conjunto autorizarem a implantação de novas unidades, através do Decreto n. 38.643, de 27 de junho de 1961, regulamente a Lei do Ensino Industrial, artigos 301 e 302. Sendo atribuída a função de implementar e administrar os Ginásios Vocacionais (1961-1969) (CHIOZZINI, 2014).

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de história e geografia via estudo do meio, trazendo este para o campo das apropriações das

normativas, regimento e prescritos diversos, notou-se que foram ressignificados por meio das

operações de transmissão e avaliação das duas disciplinas-saber. No instituto Alberto Conte

localizamos renovação pedagógica quando realizadas as aulas de geografia, com o enfoque ao

trabalho de equipe e protagonismo dos estudantes; quanto no Instituto de Socorro o

protagonismo da disciplina-saber de história ocorreu via o acréscimo e prescrição da

orientação pedagógica com vista aos estudos da comunidade como unidade integradora. Em

ambas as experiências tem-se o acréscimo de saberes – o fato de inclusão dos temas

“palpitantes” da atualidade; e, de novas atividades educativas. Os primeiros passos

renovadores de ambas as experiências citam o Museu como espaço de aprendizagem e fonte

de informação da cultura humanística, como localizado nas fontes destas experiências.

No Instituto Alberto Conte as apropriações dos preceitos renovadores escolanovistas

coabitaram no mesmo espaço escolar métodos ditos tradicionais, assim trabalhos com

pesquisa, trabalhos em equipe e estudo do meio humano e natural foram permeados por usos

de aulas expositivas ou de temas de pesquisa abstratos sem relação com a vida moderna.

Ocorreram nas classes experimentais do Instituto Alberto Conte e nas classes secundárias

experimentais de Socorro dois tipos prescritos para o estudo do meio. Assim, tanto estudo do

meio Humano, quanto o estudo do ambiente Natural foram realizados o que se prévia uma

separação entre os meios investigados. Em ambos os Institutos de Educação contavam-se

com uma preparação prévia dos estudos com leitura de jornais somados aos saberes das

atualidades, sendo estes assuntos do presente o viés de investigação para despertar o

interesse dos adolescentes. Luís Contier apropriou-se do denominados centros de interesses,

usou o termo visita ao estudo do meio com a utilização ampla do trabalho por equipes,

criando uma forma de renovação metodológica destinada em articular as várias disciplinas

do currículo, apesar da rigidez dos prescritos quanto a renovação nos anos de 1950.

Sobretudo, coube à primeira análise da integração das disciplinas-saber via estudo das fontes

relativas ao Instituto Alberto Conte, tanto pelo pioneirismo deste educador, quanto pelo uso

criativo do prescrito possibilitando, posteriormente, a incorporação destas renovações pela

legislação vigente (VIEIRA e DALLABRIDA, 2016).

Diante disso, a experiência as classes secundárias experimentais do Instituto Estadual

de Socorro, em 1959, após conhecerem as experiências realizadas por Luís Contier, passou-se

a implantar os métodos renovadores. Todavia, uma vez estes métodos renovadores sendo

apropriados por outros agentes escolares e profissionais da educação, através do seu uso

criativo, como se observa a supressão do termo visita para o estudo do meio nesta

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experiência, ou ainda a elaboração do estudo da comunidade como mote para despertar o

interesse dos adolescentes, o campo educacional ganha mais um elemento na sua rede de

renovação iniciada via pioneirismo de Luís Contier. Sobretudo, tem-se na historiografia o

Instituto de Educação de Socorro tomando gradativamente a prática do estudo do meio com

características integradoras passando de coadjuvante para tornar-se prática principal do

projeto educativo do secundário renovador das classes secundárias experimentais, no início

da década de 1960.

Referências

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5886

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