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Universidade Federal de Ouro Preto
Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
Estudo do comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol
RNL em sistemas aquosos bifásicos constituídos por polietilenoglicol/sal e
líquido iônico/sal
Juliana Maria de Alvarenga
Orientadora: Profª Drª Aparecida Barbosa Mageste
Ouro Preto, MG
2015
Universidade Federal de Ouro Preto
Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
Mestrado em Engenharia Ambiental
Juliana Maria de Alvarenga
Estudo do comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol
RNL em sistemas aquosos bifásicos constituídos por polietilenoglicol/sal e
líquido iônico/sal
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Engenharia Ambiental,
Universidade Federal de Ouro Preto, como
parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título Mestre em Engenharia
Ambiental – Área de Concentração:
Tecnologias Ambientais
Orientadora: Profª Drª Aparecida Barbosa Mageste
Ouro Preto, MG
2015
Agradecimentos
Primeiramente a Deus, por ter me dado forças e pela coragem.
Aos meus avós, Zita e Carlito, pelo amor incondicional, apoio e por fazerem
parte da minha história.
Aos meus pais, Sirley e Antônio que, com muito carinho e apoio, não mediram
esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.
A minha irmã Vanessa, minha amiga, pela preocupação, incentivo e por fazer
parte da minha vida.
A Professora Aparecida Barbosa Mageste pela orientação, auxílio e atenção
durante a realização deste trabalho. E também por ter acreditado em mim e me ajudado
a superar minhas limitações e dificuldades.
Aos colegas de trabalho pela ajuda, incentivo e apoio constantes.
Aos professores e chefe do departamento de Química pela compreensão e apoio.
Aos colegas do laboratório Jussara, Renata, Maíra, Julia e Gabriela pela amizade
e ajuda na realização desse trabalho.
Aos meus amigos pela paciência, incentivo e compreensão.
E a todos que de uma forma ou outra contribuíram com a realização deste
trabalho
Resumo
O comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol RNL (AR) foi
estudado em sistemas aquosos bifásicos (SABs) formados pela mistura de solução
aquosa de polietilenoglicol (massa molar 1500, 4000 ou 6000 g mol-1
) ou líquido iônico
([Bmin]BF4) com solução aquosa de sal (citrato de sódio, sulfato de amônio, sulfato de
lítio, sulfato de magnésio, sulfato de manganês, sulfato de sódio ou tartarato de sódio).
O diagrama de fases para o sistema polietilenoglicol (PEG 4000 g mol-1
) e sulfato de
amônio a 298 K foi obtido e utilizado nesses estudos. O coeficiente de partição do
corante (KAR) foi analisado em função do comprimento da linha de amarração (CLA),
natureza do eletrólito e massa molar do polímero, sendo encontrados valores de KAR
maiores que 1200. Em sistemas formados por polímero, o tipo de cátion formador do sal
influenciou o valor do coeficiente de partição, sendo o cátion Li + o que apresentou
maiores valores. A massa molecular do polímero e a natureza do ânion não
apresentaram efeito significativo sobre os valores de KAR. O comportamento de partição
do AR foi discutido com base no modelo de Haynes. A análise dos parâmetros KAR e
transGº indicaram que os fatores (entalpia e / ou entropia) que influenciam a
transferência do corante dependem da natureza do SAB e da diferença entre as
propriedades termodinâmicas intensivas das fases (CLA). O maior valor do KAR foi
obtido para o sistema composto por PEG1500 + sulfato de lítio + água, sendo esse
sistema aplicado na remoção do corante a partir de um efluente têxtil com uma
porcentagem de recuperação de cerca de 100%. Os valores elevados KAR na presença do
efluente demonstram o potencial e a robustez dos SAB para o tratamento de efluentes de
indústrias têxteis.
Abstract
The partitioning behavior of the remazol yellow gold RNL (YR) dye was studied in
aqueous two-phase systems (ATPS) formed by aqueous mixture of polyethylene glycol
(molecular weight 1500, 4000 or 6000 g mol-1
) or ionic liquid ([Bmin] BF4) with salt
aqueous solution (sodium citrate, ammonium sulfate, lithium sulfate, magnesium
sulfate, manganese sulfate, sodium sulfate or sodium tartrate). The phase diagram for
the system polyethylene glycol (PEG 4000 g mol-1) and ammonium sulphate at
298.15K was obtained and used in these studies. The dye partition coefficient (KYR) was
analyzed as a function of the tie line length (TLL), nature of the electrolyte and molar
mass of the polymer. KYR values greater than 1200 were found. At systems composed
by polymer, the type of the salt-forming cation influenced the value of KYR and the
cation Li + which showed the strongest effect. The mass molecular of the polymer and
the nature of the anion showed no significant effect on values of KYR. The YR
partitioning behavior was discussed based on Haynes model. The analysis of KYR and
trGº parameters indicated factors (enthalpy and / or entropy) that influence the transfer
of the dye depends on the nature of the ATPS and the difference between intensive
thermodynamic properties of the phases (TLL). The highest value for partition
coefficient was obtained for the system contents PEG1500 + lithium sulfate + water,
this system being applied to removal YR from a textile effluent with a recovery
percentage of about 100%. The highest values for KYR in presence of the effluent
demonstrate the ATPS potential and robustness for treatment of textile effluents.
Lista de Ilustrações
Capítulo 1
Figura 1 - Estrutura química característica de um grupo cromóforo de um azo corante
(Amarelo ouro remazol). ................................................................................................ 16
Figura 2 - Principais etapas do processo produtivo têxtil. .............................................. 19
Figura 3 - Disposição dos fios nos tecidos planos (a), malhas (b) e não tecidos (c). ..... 20
Figura 4 - Principais poluentes gerados nas diversas etapas da produção têxtil. ........... 24
Figura 5 - Diagrama de fases retangular de um SAB formado pelos componentes A e B.
........................................................................................................................................ 30
Figura 6 - Exemplos de cátions e ânions formadores de líquidos iônicos. ..................... 34
Capítulo 2
Figura 1 - Estrutura química do corante Amarelo Ouro Remazol RNL. ........................ 48
Figura 2 - Efeito do cátion nos valores do coeficiente de partição do corante amarelo
ouro remazol RNL a 298 K: (■) PEO1500 + Li2SO4 + H2O, (▲) PEO1500 + (NH4)2SO4
+ H2O, (●) PEO1500 + MgSO4 + H2O, (♦) PEO1500 + Na2SO4 + H2O. ...................... 56
Figura 3 - Efeito da massa molar do polímero nos valores do coeficiente de partição do
corante amarelo ouro remazol RNL a 298 K: (■) PEO1500 + Li2SO4 + H2O, (▼)
PEO4000 + Li2SO4 + H2O, (◄) PEO6000 + Li2SO4 + H2O ......................................... 61
Figura 4 - Efeito do ânion nos valores do coeficiente de partição do corante amarelo
ouro remazol RNL a 298 K: (♦) PEO1500 + Na2SO4 + H2O (►) PEO1500 +
NaH2C6H5O7 + H2O, () PEO1500 + Na2C4H4O6 + H2O ............................................. 62
Figura 5 - Efeito do cátion no comportamento de partição do corante amarelo ouro
remazol RNL a 298 K: ()[Bmin]BF4+(NH4)2SO4+H2O, () [Bmin]BF4+MnSO4+H2O
........................................................................................................................................ 63
Figura 6 - Eficiência de extração do corante AR utilizando o SAB formado por
PEG1500 + Li2SO4 + H2O. ............................................................................................. 65
Figura 7 - Comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol RNL na
presença do efluente. ...................................................................................................... 66
Lista de Tabelas
Capítulo 1
Tabela 1 - Classificação dos corantes em função das características e aplicações......... 16
Tabela 2 - Classificação das fibras têxteis. ..................................................................... 20
Tabela 3 - Exemplos de aplicação dos SABs na extração e/ou purificação de diversas
substâncias. ..................................................................................................................... 32
Tabela 4 - Exemplos de aplicação dos LI-SABs na extração e/ou purificação de diversas
substâncias. ..................................................................................................................... 36
Capítulo 2
Tabela 1 - Sistemas Aquosos Bifásicos utilizados nos estudos de partição do AR........ 51
Tabela 2 - Dados referentes às composições globais e de equilíbrio para os componentes
das fases do sistema PEG 4000 + MgSO4 + H2O, expressos em termos de porcentagem
em massa. ....................................................................................................................... 55
Tabela 3 - Variação da energia livre de Gibbs padrão de transferância, trGº, (kJ/mol)
para o AR nos SABs estudados, a 298,15K em diferentes valores de CLA. ................. 57
Tabela 4 - Diferença na concentração de água (% (m/m)) entre a fase superior (FS) e a
fase inferior (FI), a 298K. ............................................................................................... 58
Tabela 5 - Valores de recuperação do corante amarelo ouro remazol RNL no SAB
formado por PEG1500+ Li2SO4+H2O+efluente a 298 K. .............................................. 67
Lista de abreviaturas e siglas
Ac
AR
BF4
Br
Cl
CLA
ETEs
KAR
LI
MeSO4
NTf2
NO3
PEG
PEO
Pf2N
PF6
PPO
SAB
TfA
TfO
THF
TNT
Acetato
Amarelo ouro remazol RNL
Tetrafluorborato
Brometo
Cloreto
Comprimento da linha de amarração
Estações de tratamento de esgotos
Coeficiente de partição do corante amarelo ouro remazol RNL
Líquido iônico
Metilsulfato
bis(trifluormetilsulfonil)imida
Nitrato
Polietilenoglicol
Poli(óxido de etileno)
bis(trifluormetilsulfonil)imida
hexafluorfosfato
Poli(óxido de propileno)
Sistema Aquoso Bifásico
Trifluoracetato
Trifluormetilsulfonato
Tetrahidrofurano
Tecido não tecido
Lista de símbolos
AlCl4 –/Al2Cl7
–
BF4 –
[Bmin]BF4
[Bmin]Br
[Bmin]Cl
Br –
[C2mim][CF3SO3
[C4mim]Br
([C4mim][CF3SO3]
[C4mim]Cl
([C4mim][N(CN)2])
([C4mim][Tos]
[C6mim]Cl
[C7H7mim]Cl
CF3CO2 –
(CF3SO2)2N –
CF3SO3 –
(CF5SO2)2N –
CH3CO2 –
CH3SO4 –
Cl –
[CnOC2mim] Cl
transGº
[Hmin]Br
NO3 –
Cloroaluminato
Tetrafluorborato
Tetrafluorborato de 1-butil-3-metilimidazolio
Brometo de 1-butil-3-metilimidazolio
Cloreto de 1-butil-3-metilimidazolio
Brometo
Trifluormetilsulfonato de 1-etil-3-metilimidazolio
Brometo de 1-butil-3-metilimidazolio
Trifluormetilsulfonato de 1-butil-3-metilimidazolio
Cloreto de 1-butil-3-metilimidazolio
Dicianamida de 1-butil-3-metilimidazolio
Tosilato de 1-butil-3-metilimidazolio
Cloreto de 1-hexil-3-metilimidazolio
Cloreto de 1-benzil-3-metilimidazolio
Trifluoracetato
bis(trifluormetilsulfonil)imida
Trifluormetilsulfonato
bis(perfluormetilsulfonil)imida
Acetato
Metilsulfato
Cloreto
Cloreto de 1- (2-alcoxi-etil) -3-metilimidazio
Variação da energia livre de Gibbs padrão de transferência
Brometo de 1-hexil-3-metilimidazolio
Nitrato
[Omin]Br
([P4441][CH3SO4]
([P4444]Br
([P4444]Cl)
([Pi(444)1[Tos]
PF6 –
Brometo de 1-octil-3-metilimidazolio
Metilsulfato de tetrabutilfosfonio
Brometo de tetrabutilfosfonio
Cloreto de tetrabutilfosfonio
Tosilato de tri(isobutil)metilfosfonio
Hexafluorfosfato
Sumário
Capítulo 1 ...................................................................................................................... 13
1. Introdução ................................................................................................................... 13
2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 15
2.1 Corantes .................................................................................................................... 15
2.2 A indústria têxtil ....................................................................................................... 18
2.2.1 Efluentes têxteis ..................................................................................................... 23
2.2.2 Tratamento de efluentes têxteis ............................................................................. 26
2.3 Sistemas Aquosos Bifásicos ..................................................................................... 28
2.3.1 Comportamento de partição de solutos em SAB ................................................... 31
2.4 Líquidos iônicos ....................................................................................................... 33
3. Objetivos ..................................................................................................................... 38
3.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 38
3.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 38
4. Referências bibliográficas .......................................................................................... 39
Capítulo 2 ...................................................................................................................... 45
Artigo – Tradução do artigo: .......................................................................................... 45
Estudo de partição do corante têxtil Amarelo Ouro Remazol RNL em Sistemas Aquosos
Bifásicos ......................................................................................................................... 45
Resumo ........................................................................................................................... 46
1. Introdução ................................................................................................................... 47
2. Material e métodos ..................................................................................................... 49
2.1. Materiais .................................................................................................................. 49
2.2. Síntese e caracterização espectral do líquido iônico 1-butil-3-metilimidazólio
tetrafluorborato ............................................................................................................... 49
2.3. Determinação dos diagramas de fase ...................................................................... 50
2.4. Experimentos de partição ........................................................................................ 52
2.4.1. Preparo das soluções estoque ............................................................................... 52
2.4.2. Preparo dos sistemas aquosos bifásicos (SABs) .................................................. 52
2.4.3. Comportamento partição do Amarelo Ouro Remazol RNL ................................. 52
2.5. Experimentos de recuperação .................................................................................. 53
2.5.1. Preparo da solução de água residual e soluções estoque ...................................... 53
2.5.2. Recuperação do AR na presença de águas residuais ............................................ 53
2.6. Eficiência da extração de AR no SAB..................................................................... 54
2.7. Variação da energia padrão de Gibbs de transferência do AR (ΔtrGo) .................... 54
3. Resultados e discussão ............................................................................................... 55
3.1. Diagramas de fase .................................................................................................... 55
3.2. O efeito de comprimento linha de amarração no comportamento de partição do AR
........................................................................................................................................ 55
3.3. Efeito do eletrólito formador do SAB na extração do AR ...................................... 60
3.4. Efeito da massa molecular do polímero .................................................................. 60
3.5. Efeito do Ânion ....................................................................................................... 62
3.6. Comportamento partição do AR em sistemas aquosos bifásicos formados por
líquidos iônicos (LI-SAB) .............................................................................................. 63
3.7. Eficiência na extração do AR .................................................................................. 65
3.8. Recuperação do AR na presença de águas residuais ............................................... 66
Conclusão ....................................................................................................................... 67
Agradecimentos .............................................................................................................. 68
Referências ..................................................................................................................... 68
13
Capítulo 1
1. Introdução
Os corantes fazem parte do cotidiano das pessoas, estando presentes em
praticamente tudo ao nosso redor. São fundamentais nos processos industriais e
largamente utilizados em produtos como roupas, papéis, plásticos, móveis, alimentos,
produtos de higiene e limpeza, dentre outros 1; 2; 3; 4
. Esta ampla aplicabilidade pode ser
atribuída à relação feita entre a cor e a qualidade de diversos produtos. Brinquedos e
papéis coloridos são mais interessantes às crianças, o sabor de determinados alimentos é
associado às cores e roupas de maior padrão também podem ser associadas à qualidade
e durabilidade do seu tingimento5; 6
.
Dentre os vários setores que utilizam corantes em seus processos, um que se
destaca é a indústria têxtil, em que o processo de tingimento de fios e tecidos utiliza
grandes quantidades de corantes e produtos químicos7. O uso dessas substâncias
juntamente com a grande demanda de água requerida nesses processos acaba gerando
efluentes contendo matéria orgânica, sais dissolvidos, surfactantes, sólidos suspensos e
principalmente corantes que não se fixam na fibra durante o processo de tingimento8; 9
.
Devido à alta concentração de corantes e substâncias químicas, o tratamento dessas
águas residuais se torna um processo complexo, já que muitos corantes são resistentes à
exposição à luz, produtos químicos e processos de biodegradação10; 11
.
Além da dificuldade de tratamento desses efluentes, tais resíduos altamente
coloridos, se lançados diretamente na natureza, podem levar a problemas ambientais, ou
se forem transportados para estações de tratamento de água municipais, podem
contribuir para a contaminação dos mananciais de água distribuída à população2; 8
. A
presença de cor na água dificulta a penetração da luz e pode interferir nos processos de
fotossíntese, afetando a vida aquática12; 13; 14
. Com relação à água distribuída à
população, essa presença de cor, além de causar uma rejeição pela população, pois é
desagradável esteticamente, os corantes presentes nessa água podem até mesmo serem
tóxicos e cancerígenos para os seres humanos 1; 10; 14; 15
. Tendo em vista o potencial
nocivo dos corantes ao meio ambiente e à saúde humana, o ideal seria que as águas
residuais fossem tratadas antes do seu lançamento nos corpos d’água e que esses
compostos fossem totalmente removidos10; 14; 16
.
14
O aumento da poluição ambiental e da consciência sobre os riscos dessa
poluição na saúde humana tem motivado atitudes para a conservação dos recursos
hídricos11
. Essas atitudes incluem aumento no rigor das legislações, diminuindo a
quantidade e toxicidade das emissões de poluentes, reciclagem e reuso de resíduos,
adaptação e otimização de processos de produção e a substituição de matérias-primas
tóxicas2. Nesse sentido as empresas preocupadas em reduzir o impacto que seus rejeitos
podem causar ao meio ambiente têm conseguido agregar valor aos seus produtos, por
outro lado, aquelas que se importam mais com seus lucros, sem a preocupação com o
descarte e tratamento de seus efluentes, tendem a perder competitividade17
.
Os processos de tratamento de água mais utilizados são baseados em um pré-
tratamento por sistemas físico-químicos, como adsorção18
, precipitação19
,
nanofiltração20
, degradação química21
, eletroquímica11
e fotoquímica22
, seguido de
tratamento biológico23
. Porém, devido à resistência de alguns corantes frente a esses
processos convencionais de tratamento, muitos desses poluentes não são completamente
removidos nas estações de tratamento de esgotos (ETEs)24
. Assim, a pesquisa por
tratamentos melhores e mais eficazes para remover ou degradar corantes a partir de
grandes volumes de efluente, e consequentemente para diminuir seu impacto ambiental,
tem atraído cada vez mais o interesse dos pesquisadores11
.
Nesse contexto, os sistemas aquosos bifásicos (SABs) são uma alternativa que
apresenta uma perspectiva positiva. São sistemas constituídos principalmente por água,
sendo os seus demais componentes formadores (polímeros e sais) não tóxicos nem
inflamáveis, comercialmente acessíveis e de baixo custo. Portanto, tudo isso faz dos
SABs um sistema de extração atraente do ponto de vista ambiental25
.
15
2. Revisão Bibliográfica
2.1 Corantes
Há mais de 30.000 anos o homem começou a fazer uso de pigmentos e esse uso
é evidenciado nas inscrições rupestres encontradas nas paredes das cavernas. Minerais
finamente moídos e substâncias naturais coloridas obtidas a partir de folhas, ramos,
raízes, frutos ou flores, insetos, moluscos e minerais eram utilizados para dar cor a
materiais diversos5. Esses corantes naturais foram utilizados até a metade do século
XIX, quando em 1854, William Henry Perkin, um químico inglês, sintetizou a
mauveína, dando início à produção de corantes sintéticos em grande escala5; 8
.
Nem todas as substâncias são coloridas. O que permite que determinado
composto apresente cor é a capacidade dele em absorver a radiação eletromagnética na
faixa da luz visível26; 27
. Substâncias que possuem ligações duplas alternadas com
ligações simples possibilitam a ressonância eletrônica, o que permite que seus elétrons
possam absorver a energia, se rearranjar e refletir a luz.
Os corantes podem ser divididos em dois grandes grupos: corantes orgânicos e
inorgânicos, sendo que esses por sua vez são subdivididos em compostos sintéticos e
naturais. Os corantes inorgânicos em geral são formados por complexos de metais de
transição, possuem alta estabilidade e poder de tingimento, porém são limitados em
termos de tonalidades26
. Os corantes orgânicos são representados principalmente por
compostos policíclicos, que possuem anéis aromáticos condensados ou heterocíclicos, e
por substâncias que contêm o grupo azo, que se caracterizam por apresentarem um ou
mais grupamentos –N=N– ligados a sistemas aromáticos, sendo denominados
azocorantes (Figura 1). Os corantes empregados são, em sua maioria, sintéticos e os
azocorantes representam cerca de 60% dos corantes utilizados no mundo7. A indústria
têxtil absorve a maior parte da produção de corantes, mas outras indústrias como de
tintas, plásticos, papéis, cosméticos e alimentos também são importantes consumidores
dessas substâncias.
16
Figura 1 - Estrutura química característica de um grupo cromóforo de um azo corante
(Amarelo ouro remazol).
Do ponto de vista da tinturaria, os corantes utilizados na indústria têxtil são
classificados principalmente com base nas suas propriedades de tingimento. Baseado
em Alcântara e Daltin (1996) 28
, Bastian e Rocco (2009) 29
, Guaratini e Zanoni (2000) 8
e Sinclair (2014) 27
essa classificação é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 - Classificação dos corantes em função das características e aplicações.
Corantes Características Aplicação
Reativos
Corantes solúveis em água que possuem um
grupo eletrofílico, principalmente
clorotriazinila e sulfatoetilsulfonila, que reage
quimicamente com grupos hidroxila da
celulose, com grupos amino, hidroxila e tióis
das fibras protéicas e também com grupos
amino das poliamidas. Essa reação leva à
formação de ligação covalente entre o corante
e a fibra, o que confere maior resistência à
perda de cor.
Principalmente em
fibras celulósicas,
sendo usados
também em fibras
proteicas e
poliamídicas.
Diretos
Principalmente sais sódicos de compostos
azoicos contendo grupamentos sulfônicos.
São corantes solúveis em água e se fixam a
fibra através de interações de Van der Waals.
Basicamente em
fibras celulósicas.
Azoicos
São pigmentos insolúveis em água que
durante o processo de tingimento são
sintetizados dentro da fibra pela reação com
Principalmente
fibras celulósicas,
em segundo plano,
17
um agente de acoplamento solúvel na
presença de um sal de diazônio.
fibras proteicas.
Ácidos
Compostos aniônicos solúveis em água,
contendo de um a três grupos sulfônicos. O
processo de fixação do corante (na forma
neutralizada) se dá por troca iônica
envolvendo o par de elétrons livres dos
grupos amino e carboxilato das fibras
protéicas (na forma não protonada).
Fibras proteicas,
poliamídicas e
acrílicas.
À cuba
Corantes insolúveis em água, principalmente
compostos indigóides e antraquinônicos
contendo um grupo cetônico (–C=O). Durante
o processo de tingimento esses corantes são
solubilizados pela adição de um agente
redutor em solução alcalina. O grupo cetônico
é reduzido (–C–OH) e essa forma solúvel é
denominada leuco, apresentando afinidade
pela fibra celulósica. O corante original é
então recuperado por uma posterior oxidação
pelo ar, peróxido de hidrogênio, etc.
Principalmente
fibras celulósicas.
De enxofre
Corantes insolúveis em água, formados por
macromoléculas contendo pontes de
dissulfetos (–S–S–). Para serem usados são
inicialmente reduzidos a uma forma solúvel
que possui afinidade pelas fibras celulósicas,
sendo posteriormente oxidados à sua forma
original.
Fibras celulósicas.
Dispersivos
Corantes insolúveis em água, utilizados no
tingimento de fibras hidrofóbicas. São
aplicados a partir de uma fina dispersão
aquosa contendo agentes dispersantes. O
corante sofre hidrólise e lentamente é
Basicamente fibras
de poliéster.
Seguido por
acetato, triacetato,
poliamídicas e
18
precipitado sobre a fibra. poliacrilonitrilas
Pré-metalizados
Corantes que possuem grupos hidroxila ou
carbonila em posição orto com grupamentos
azo e que formam complexos com íons
metálicos. No processo de tingimento, esses
complexos interagem com grupos que
possuem elétrons livres presentes na fibra.
Fibras proteicas e
poliamidas
Branqueadores
São substâncias utilizadas com a intenção de
diminuir a tonalidade amarelada das fibras,
tornando-as mais brancas. Os processos mais
usados são: oxidação das fibras; uso de
corantes brancos (branqueadores ópticos) ou
por branqueadores fluorescentes, que levam à
fluorescência na região de 430 a 440 nm
quando excitados por luz ultravioleta.
Fibras têxteis no
estado bruto como
algodão, poliamida
e lã
Os corantes têm grande importância para a humanidade, estando presentes em
diversos produtos como alimentos, cosméticos, medicamentos, bens de consumo, etc.7
Estima-se que existam no comércio, mais de 10.000 corantes diferentes e que sua
produção anual seja de mais de 7x105 toneladas em todo o mundo. E dentre os setores
que utilizam essas substâncias nos seus processos produtivos, destaca-se a indústria
têxtil, setor que ocupa o primeiro lugar na utilização de corantes para coloração de
fibras30
.
2.2 A indústria têxtil
Em quase todas as etapas da cadeia produtiva têxtil, desde a fabricação de fibras
sintéticas e artificiais até o beneficiamento de tecidos, há utilização de produtos
químicos. Isso faz com que a indústria têxtil seja um dos setores que mais consomem
essas substâncias, destacando-se os corantes e os produtos auxiliares13; 28
.
O processo têxtil é dividido basicamente em fiação, tecelagem e beneficiamento.
Baseado em Alcântara e Daltin (1996) 28
e Bastian e Rocco (2009) 29
, essas etapas são
apresentadas na Figura 2.
19
Figura 2 - Principais etapas do processo produtivo têxtil.
Fiação
Fardos de fibras naturais, artificiais
ou sintéticas
Tecelagem ou
malharia
Beneficiamento
Produção de fios
Fabricação de tecidos planos,
malhas ou não tecidos
Abertura; limpeza;
estiramento; torção;
tingimento; etc.
Engomagem;
tecimento
(entrelaçamento dos
fios no tear)
Beneficiamento
primário
Desengomagem,
chamuscagem,
limpeza,
merceirização,
alvejamento
Beneficiamento
secundário
Beneficiamento
terciário
Tingimento,
estamparia
Calandragem,
felpagem,
amaciamento,
repelência à água,
acabamento
antirrugas,
acabamento
antichamas, etc.
Confecção Confecção de vestuário, acessórios, artigos para
o lar, artigos técnicos e indústriais, etc.
20
As fibras têxteis podem ser classificadas em naturais, artificiais ou sintéticas,
sendo que as fibras naturais podem ser de origem animal, vegetal ou mineral (Tabela 2).
As fibras artificiais são obtidas pela modificação química de lâminas de celulose e as
fibras sintéticas são produzidas a partir de derivados de petróleo8; 28; 29
.
Tabela 2 - Classificação das fibras têxteis.
Fibras Naturais
Animais: Seda, lã
Vegetais: Algodão, linho, juta, sisal
Mineral: Amianto
Fibras Artificiais Acetato, viscose
Fibras Sintéticas Acrílico, elastano, poliamida, poliéster
A partir de fibras naturais, artificiais ou sintéticas são produzidos fios, esse
processo é chamado de fiação. Nessa etapa, as fibras são abertas, limpas e penteadas
para que fiquem paralelas, então sofrem um processo de estiramento e são torcidas para
que se prendam umas às outras por atrito. O produto final, o fio têxtil, possui como
principal característica a espessura, diretamente ligada à resistência do fio e determinada
pelo número de ciclos de estiramento/torção5; 27; 28
.
Na tecelagem ou malharia, os fios têxteis são utilizados na fabricação de tecidos
planos ou de malha nos teares. Os tecidos planos são caracterizados pelo entrelaçamento
de dois fios formando um ângulo reto, a malha é formada por um conjunto de laçadas de
fios atravessadas por outras laçadas (Figura 3). Podem ser produzidos também os
tecidos não tecidos (TNT), que são estruturas planas, flexíveis e porosas produzidas a
partir de mantas fibrosas estendidas e ligadas por processos mecânicos (pressão),
químicos (adesivos), térmicos ou uma combinação desses27; 28; 29
.
Figura 3 - Disposição dos fios nos tecidos planos (a), malhas (b) e não tecidos (c).
a b c
21
O beneficiamento é um conjunto de etapas cujo objetivo é melhorar as
características do substrato têxtil (fibras, fios, tecidos ou malhas) tais como, aspecto
físico, brilho, toque, resistência, etc, de forma a atrair o consumidor. Dentre essas etapas
estão: desengomagem, chamuscagem, limpeza, merceirização, alvejamento, tingimento,
estamparia e lavagem28; 29
.
O tingimento é a aplicação de cores aos substratos têxteis de forma homogênea e
com algum grau de solidez, sendo que os substratos podem ser as fibras soltas, antes da
conversão em fios, os fios ou os tecidos. Nesse processo, os corantes utilizados devem
apresentar algumas características que levem à qualidade do produto final colorido,
como: cor intensa, solubilidade em alguma etapa do processo, capacidade de ser
absorvido e retido pela fibra e resistência aos processos posteriores de manufatura e uso.
Muitos fatores podem influenciar na cor final, como as características da fibra, textura,
comprimento, brilho, seção transversal, etc., bem como o tipo de tecido. De um modo
geral, o objetivo final é a obtenção de um produto uniforme, resistente ao desbotamento
e economicamente viável5; 28
.
Durante a etapa de tingimento, o corante é adicionado, geralmente em solução
aquosa, se fixando na fibra têxtil. Esse processo pode ser divido em três etapas:
montagem, fixação e tratamento final.
A montagem é a fase em que o corante sai da solução aquosa e vai para a
superfície fibra, esse processo pode ser feito por exaustão ou impregnação. Na técnica
de exaustão todo o tecido está repetidamente em contato com a solução de tingimento e
as fibras absorvem gradualmente os corantes. Já na técnica de impregnação, o tecido
passa por um banho contendo a solução de corante e, em seguida, é prensado por dois
rolos que retiram o excesso de solução8; 28
.
O processo de fixação do corante à fibra envolve interações físicas e/ou
químicas sendo basicamente dos seguintes tipos:
Ligações covalentes: nesse tipo de ligação, dois átomos compartilham um ou
mais pares de elétrons de forma a atingir uma configuração eletrônica mais estável. Em
tal formação, os elétrons envolvidos são compartilhados pelos átomos e as
características individuais desses átomos são, de certa forma, perdidas. Embora as
ligações covalentes sejam fortes, elas se limitam às interações entre os átomos
envolvidos na formação molecular e reações químicas31; 32; 33
.
22
Esse tipo de ligação pode ser encontrado no tingimento da fibra de algodão. Um
grupo reativo (grupo eletrofílico) do corante reage quimicamente com um grupamento
nucleofílico da fibra formando uma ligação covalente8.
Ligações iônicas: são caracterizadas pela atração eletrostática entre íons. Um
átomo perde um ou mais elétrons para outro átomo ou átomos; então, os íons
produzidos se unem de forma a atingir uma disposição eletrônica mais estável numa
molécula. As ligações iônicas são, portanto, resultado dessa atração mútua de cátions e
ânions que leva à formação de compostos iônicos31; 32
.
Os tingimentos de seda, lã e poliamidas são exemplos de tinturas que envolvem
a formação de ligações iônicas. Nesse processo, os grupos amino e carboxilato,
presentes nessas fibras, estão carregados e ocorre uma atração eletrostática com a carga
iônica existente na molécula do corante8.
Interações de hidrogênio: são formadas se um átomo de hidrogênio (H) ligado
covalentemente a átomos eletronegativos, como oxigênio (O), nitrogênio (N), flúor (F)
ou cloro (Cl) entra em contato com um grupo fortemente eletronegativo presente em
outra molécula. Os grupamentos que possuem os átomos de H ligados covalentemente
podem ser -OH (em água, álcoois, ácidos carboxílicos), -NH (em aminas primárias e
secundárias, amidas), HF e HCl. Enquanto que os grupos fortemente eletronegativos da
outra molécula são os que apresentam átomos de oxigênio (em água, álcoois, ácidos
carboxílicos, cetonas, ésteres, éteres), de azoto, de flúor ou de cloro31
.
As tinturas de lã, seda e fibras sintéticas, como acetato de celulose, são exemplos
de interações de hidrogênio. Nessas tinturas os átomos de hidrogênio covalentemente
ligados a átomos eletronegativos, na molécula do corante, interagem com pares de
elétrons livres de átomos doadores em centros eletronegativos, como amino e
carboxilato, presentes na fibra8.
Interações de Van der Waals: são constituídas por três tipos de interações,
duas envolvendo dipolos permanentes e induzidos, relacionados com as forças
eletrostáticas, e a terceira é a chamada força de dispersão Londres, de natureza
mecânica quântica31; 33
.
Exemplos das interações de Van der Waals podem ser encontradas nos
tingimentos de lã e poliéster com corantes com alta afinidade por celulose. Nessas
interações não há formação de uma ligação, as moléculas do corante se fixam à fibra por
um processo de afinidade8.
23
O tratamento final do processo de tintura consiste na lavagem do material para
eliminação do excesso de corante não fixado à fibra. Os banhos recorrentes, necessários
nessa etapa, são responsáveis pela maior parte dos efluentes líquidos gerados na
indústria têxtil. Nesses efluentes estão presentes, além dos corantes, outras substâncias
químicas como surfactantes, sólidos suspensos, sais dissolvidos e matéria orgânica.
Devido à presença de cor e natureza de seus constituintes, essas águas residuais podem
ser tóxicas e afetar o ecossistema se lançados nos corpos d’água5; 8; 28; 29
.
2.2.1 Efluentes têxteis
As indústrias têxteis demandam quantidades significativas de água, energia e
produtos químicos potencialmente perigosos. Sendo assim, é de se esperar que esse
seguimento produza efluentes com características potencialmente prejudiciais ao meio
ambiente se não tratados corretamente7; 27; 34
.
A cadeia produtiva na indústria têxtil constitui-se de diferentes etapas que
podem ser causadoras de degradação ambiental. As características dos resíduos gerados
nessas etapas irão depender dos insumos e tecnologias utilizados. Baseando-se em
Alcântara e Daltin (1996) 28
, Bastian e Rocco (2009) 29
e Sinclair (2014) 27
, os
principais poluentes que podem ser gerados nas diversas etapas da produção têxtil são
apresentados na Figura 4.
24
Figura 4 - Principais poluentes gerados nas diversas etapas da produção têxtil.
Fiação
Tecelagem
ou malharia
Beneficiamento
Produção de fios
Fabricação de tecidos
(Engomagem;
tecimento)
- Emissão de material particulado
- Emissão de ruído e calor
- Geração de resíduos sólidos
(cascas, fibras, fios, cones, etc.)
- Geração de efluentes contendo
amido, tensoativos, etc.
Beneficiamento
primário
(Desengomagem,
chamuscagem,
limpeza,
merceirização,
alvejamento)
- Emissão de gases de queima
- Geração de resíduos sólidos
- Emissão de efluentes contendo
álcalis, tensoativos, agentes
complexantes, oxidantes,
enzimas, sais, etc.
Beneficiamento
secundário
(Tingimento,
estamparia)
Beneficiamento
terciário
(Calandragem,
felpagem,
amaciamento,
repelência à água,
acabamento
antirrugas,
acabamento
antichamas, etc.)
.)
- Emissão de calor
- Geração de efluentes contendo
corantes, sais, tensoativos, ureia,
álcalis, formaldeído, agentes
complexantes, oxidantes,
redutores, etc.
- Emissão de material particulado
- Emissão de calor
- Geração de efluentes contendo
amaciantes, fluorcarbonos,
resinas, amido, acetato de
polivinila, álcool polivinílico,
organofosforados, compostos à
base de bromo, etc.
Confecção - Geração de resíduos sólidos (retalhos e embalagens)
-Geração de efluentes resultantes da lavagem das peças
25
Dentre os poluentes que podem ser gerados nas diversas etapas da produção
têxtil, os efluentes líquidos merecem destaque devido a sua composição. Formados por
diversos produtos químicos potencialmente tóxicos, destacando-se os corantes, se
lançados diretamente na natureza, sem prévio tratamento, esses efluentes podem levar a
problemas ambientais.
A presença de corantes em corpos d’água provocam, além da poluição visual,
prejuízos à biota aquática, já que afetam principalmente processos de fotossíntese, pois
dificultam a penetração da luz7; 35; 36
. Além disso, os corantes são tóxicos para alguns
organismos e, portanto, prejudiciais para animais aquáticos. Algumas pesquisas também
determinaram que alguns corantes, precursores de corantes e seus produtos de
biotransformação são tóxicos, mutagênicos e cancerígenos na natureza1; 15
.
Com relação à saúde humana, a toxicidade dos corantes está relacionada ao
modo e tempo de exposição, sendo os trabalhadores das indústrias têxteis os mais
propensos a sofrer efeitos. As manifestações clínicas mais comuns são dermatites,
sintomas de asma e rinites alérgicas resultantes do contato principalmente com corantes
do tipo azo8; 15; 25
.
Sendo assim, as legislações ambientais estão se tornando cada vez mais
rigorosas com relação à natureza e concentração de poluentes permitidos nos
efluentes25
. Portanto, a indústria têxtil que deseja melhorar sua competitividade deve
levar em consideração alguns aspectos ambientais em seus processos produtivos. Esses
aspectos envolvem ações como uso racional de recursos energéticos e água, segurança
no ambiente de trabalho, qualidade do ar, água e terra nas imediações da operação,
reciclagem de materiais e tratamento adequado de resíduos e efluentes27; 34
.
O tratamento dos efluentes com o intuito de diminuir o impacto ambiental,
deveria ser feito antes mesmo da descarga dessas águas residuais no meio ambiente10
.
Porém, esse tratamento se torna um processo complexo, já que muitos corantes são
resistentes à exposição à luz, produtos químicos e processos de biodegradação10; 11
.
26
2.2.2 Tratamento de efluentes têxteis
Como demonstrado na Figura 4, os efluentes líquidos gerados nas indústrias
têxteis são complexos, constituídos por diferentes produtos químicos, sendo por isso de
difícil tratamento. Alguns corantes presentes nessas águas residuais podem apresentar
estabilidade à luz solar e temperatura e resistência ao ataque microbiano. Além disso, a
maioria desses compostos não é degradada nas estações convencionais de tratamento de
efluentes11
.
Os processos de tratamento de águas residuais mais utilizados são baseados em
tratamentos físico-químicos como adsorção, coagulação, precipitação, degradação
química, eletroquímica e fotoquímica, seguidos de tratamento biológico7; 8
. Esses
tratamentos são apresentados a seguir:
Adsorção: o termo adsorção refere-se à acumulação de uma substância na
interface entre duas fases (gás-líquido, gás-sólido ou líquido-sólido). A substância que
se acumula na interface é chamada de adsorbato e o sólido no qual a adsorção ocorre é o
adsorvente. Muitos fatores podem afetar a adsorção, tais como o pH da solução,
temperatura e a concentração inicial de corante. Diferentes materiais podem ser
utilizados como adsorventes para remoção de corantes, como sólidos industriais,
subprodutos agrícolas, biossorventes, óxidos inorgânicos e minerais de argila, sendo que
o carvão ativado é o mais utilizado37; 38; 39; 40
.
Os métodos de adsorção são efetivos principalmente para volumes de pequena
escala, porém, geralmente não são seletivos, os outros componentes da água residual
também podem ser adsorvidos pelo suporte e a competição entre os adsorbatos pode
influenciar a capacidade de remoção do corante. Além disso, esse processo remove os
corantes concentrando-os sobre a superfície do adsorvente mantendo a sua estrutura
praticamente inalterada. Quando o suporte é regenerado, o destino da solução
concentrada resultante representa um problema8; 38
.
Membranas especiais (nanofiltração e osmose reversa): geralmente são
utilizadas membranas sintéticas que formam uma barreira seletiva entre duas fases. O
uso de membranas se baseia em um processo de separação de compostos de acordo com
suas massas molares, formas específicas e nas interações entre os componentes e a
superfície da membrana. Permite o tratamento de grandes volumes de efluente de forma
rápida e a possibilidade de reaproveitamento da água no processo industrial. Porém, o
27
custo dessa técnica é alto e a limpeza das membranas juntamente com o descarte do
lodo concentrado formado, pode representar um problema7; 8; 20; 39; 40
.
Coagulação/floculação: baseia-se na remoção do corante por sedimentação
utilizando-se polieletrólitos e/ou floculantes inorgânicos (sais de ferro e, alumínio). Essa
técnica apresenta elevada eficiência na remoção de material particulado, sendo ineficaz
para tratamento de corantes dissolvidos. Apresenta alto custo de tratamento das lamas e
aumento nas restrições à disposição do lodo, além disso, o excesso do coagulante ou
floculante adicionado pode se tornar mais um resíduo a ser tratado7; 8; 34
.
Degradação química: envolvem os processos de oxidação utilizando
principalmente ozônio, cloro e peróxido de hidrogênio. Em tais tratamentos, os corantes
presentes no efluente são decompostos a subprodutos de baixo peso molecular, tais
como aldeídos, carboxilatos, sulfatos e azoto, e ainda em dióxido de carbono e água.
São os processos de descoloração mais comumente usados já que eles requerem baixas
quantidades de oxidantes e tempos de reação curtos. No entanto, apresentam um alto
custo e existe a possibilidade de aumento da toxicidade de alguns intermediários de
reação7; 8; 34
.
Processos de eletrólise: são utilizados eletrodos para degradação eletroquímica
dos corantes. As vantagens apresentadas são: pouco ou nenhum consumo de produtos
químicos, uso de dispositivos pequenos, pequena área coberta, de fácil operação, maior
taxa de remoção de sólidos dissolvidos e demanda de oxigênio e bom efeito de
descoloração. No entanto, possuem alto custo de operação, podem gerar reações
paralelas indesejáveis e relativamente altas taxas de fluxo causam uma diminuição
direta na remoção de corante 8; 34; 39; 40
.
Degradação fotoquímica: nessa técnica, a aplicação de luz ultravioleta leva a
formação de radicais hidroxila que faz com que as moléculas de corante sejam oxidadas
até a completa mineralização. As desvantagens desse processo incluem a necessidade de
fontes artificiais de radiação, possibilidade de formação de subprodutos e dificuldades
na penetração da radiação no meio de reação e na implementação em larga escala7; 34; 39;
40.
Biodegradação: o uso de micro-organismos na biodegradação dos corantes
sintéticos é um método simples, porém, a maioria desses compostos é quimicamente
estável e resistente ao ataque microbiológico. O processo é relativamente de baixo custo
e os produtos finais da completa mineralização não são tóxicos. Entretanto, o tratamento
28
biológico convencional tem algumas desvantagens, tais como a produção de lamas, a
alta demanda de energia e a necessidade de manutenção frequente23; 38; 41
.
Tratamento enzimático: a utilização de enzimas apresenta vantagens sobre o
uso direto de micro-organismos. As preparações de enzimas comerciais podem ser
facilmente padronizadas, facilitando a dosagem exata, a aplicação é simples e podem ser
modificadas de acordo com o corante a ser removido, também podem atuar em
materiais recalcitrantes e no aumento da biodegradabilidade de um rejeito. No entanto, o
baixo rendimento e o alto custo de produção dessas biomoléculas ainda são fatores
limitantes21; 38; 42
.
Tendo em vista as limitações de cada método de tratamento, a complexidade dos
efluentes têxteis e a estabilidade química dos corantes, não há um processo único capaz
de uma remoção satisfatória de cor das águas residuais, sendo necessária uma
combinação dessas técnicas. Isso, aliado ao potencial tóxico dos corantes e ao aumento
no rigor da legislação, tem motivado estudos com o objetivo de se desenvolver
metodologias que sejam mais eficientes e de baixo custo para o tratamento desses
efluentes37; 38
.
Nesse sentido, a utilização de sistemas aquosos bifásicos (SABs) no tratamento
de efluentes se mostra uma alternativa promissora. Os SABs possuem diversas
vantagens como: o baixo custo e facilidade de acesso de seus componentes, baixa tensão
interfacial e possibilidade de reutilização. Além disso, por serem sistemas onde há um
predomínio do teor de água, sem a necessidade de solventes orgânicos e com os outros
constituintes sendo atóxicos e biodegradáveis, a utilização do SAB pode ser considerada
uma técnica ambientalmente segura43; 44
.
2.3 Sistemas Aquosos Bifásicos
Sistemas aquosos bifásicos (SABs) são sistemas em que duas fases aquosas se
encontram em equilíbrio termodinâmico. Sendo que cada fase é definida como uma
região homogênea que possui propriedades termodinâmicas, como densidade,
composição, índice de refração, etc., iguais em toda a sua extensão44; 45
.
A formação dessas fases se dá após a mistura de soluções aquosas de polímero e
sal (ou duas soluções de polímeros diferentes ou duas soluções de sais diferentes). Em
29
ambas as fases predomina a presença de água, sendo que cada uma é rica em um
determinado componente46; 47
.
Uma ferramenta simples que pode ser usada para interpretar o comportamento
global em um SAB, é o diagrama de fases, sendo geralmente construído na forma de
diagramas de fases retangulares (Figura 5). A partir do diagrama de fases podem ser
obtidas informações úteis como qual a concentração mínima de cada componente para
que haja formação de duas fases, a composição química das duas fases em equilíbrio,
quais composições globais podem aumentar a eficiência de extração, etc. Essa
representação é importante nos estudos de partição, pois pode ser utilizada como passo
inicial no desenvolvimento de um processo de extração ou purificação25; 48
.
A Figura 5 representa um diagrama de fases de um SAB formado pelos
componentes A, B e água. Se for um SAB contendo sal e polímero, na abscissa estará a
concentração de sal (Componente A) e na ordenada a concentração de polímero
(Componente B). Essas concentrações são expressas, geralmente, em termos de
porcentagem massa/massa. A curva XY é chamada curva binodal e delimita as regiões
onde as composições globais de um SAB levarão a formação de um sistema monofásico
ou bifásico. Essa curva é construída experimentalmente, geralmente feita por titulação
turbidimétrica ou análise da composição das fases. A posição da curva binodal pode
variar de acordo com as características do SAB, como massa molar do polímero, a
natureza do sal, pH do sistema, temperatura, etc. A linha XZY, na Figura 5, é chamada
de linha de amarração (tie line). Os pontos X e Y representam as concentrações dos
componentes A e B nas fases superior e inferior, respectivamente, após atingido o
equilíbrio termodinâmico. Os pontos Z, Z’ e Z” representam diferentes composições
globais dos componentes A e B que levam à formação de um SAB com as mesmas
composições de fases no equilíbrio (Pontos X e Y). Portanto, considerando-se pontos na
mesma linha de amarração, os SABs formados a partir dessas diferentes composições
globais (Z, Z’e Z”) exibirão fases em que as propriedades termodinâmicas intensivas
(concentração dos componentes, densidade, etc.) sejam iguais, sendo as propriedades
termodinâmicas extensivas (massa, volume, etc.) diferentes49
.
30
Figura 5 - Diagrama de fases retangular de um SAB formado pelos componentes A e
B.
Outra informação obtida a partir do diagrama de fases é o comprimento da linha
de amarração (CLA), parâmetro importante nos estudos de partição. O CLA é usado
para medir a diferença entre as propriedades termodinâmicas intensivas entre as fases
em equilíbrio e pode ser calculado utilizando-se a equação a seguir:
𝐶𝐿𝐴 = [(𝐶𝑃𝐹𝑆 − 𝐶𝑃
𝐹𝐼)2 + (𝐶𝑆𝐹𝑆 − 𝐶𝑆
𝐹𝐼)2]1
2 (1)
onde 𝐶𝑃𝐹𝑆 e 𝐶𝑃
𝐹𝐼 são as concentrações de polímero e 𝐶𝑆𝐹𝑆 e 𝐶𝑆
𝐹𝐼 são as
concentrações do sal (% (m/m)) nas fases superior e inferior, respectivamente.
Quanto maior o valor do CLA, maior será a diferença entre as propriedades
termodinâmicas intensivas entre fases superior e inferior. E esse aumento acarreta
melhora na extração e /ou purificação da substância de interesse. Por esse motivo se
torna importante o conhecimento dos valores do CLA no planejamento e execução de
estudos de partição49
.
Região monofásica
Região bifásica X
Z
Z’
Z”
Y
Con
cen
tra
ção
do
co
mp
on
ente
B (
% m
/m)
Concentração do componente A (% m/m)
Curva binodal
31
2.3.1 Comportamento de partição de solutos em SAB
Em geral, a distribuição de uma substância, em uma única forma definitiva, entre
duas fases em equilíbrio termodinâmico no SAB é representada por um parâmetro
denominado coeficiente de partição (K)50
, dado pela Equação 2:
𝐾 =𝑎𝐹𝑆
𝑎𝐹𝐼≈
𝐶𝐹𝑆
𝐶𝐹𝐼 (2)
onde, 𝑎𝐹𝑆 e 𝑎𝐹𝐼 são as atividades do analito na fase superior e inferior
respectivamente, 𝐶𝐹𝑆 e 𝐶𝐹𝐼 são as concentrações do soluto na fase superior e inferior
respectivamente. Nas equações relacionadas com sistemas aquosos / orgânicos, a
concentração da fase orgânica é por convenção o numerador e a concentração da fase
aquosa, o denominador. E em experimentos onde o soluto encontra-se muito diluído
pode-se considerar que os valores de concentração e atividade são iguais49; 50
.
Diferentes propriedades físico-químicas do sistema podem influenciar no valor
de K. Os principais fatores são: a presença de carga elétrica, hidrofobicidade,
composição e conformação do soluto, a natureza química dos componentes formadores
dos SAB, a concentração dos polímeros e sais, a massa molar da cadeia, a presença de
ligantes ao longo da cadeia, o pH e a temperatura49
.
Modificando-se a estrutura química, massa molar, ou hidrofobicidade do
polímero, bem como a natureza do eletrólito formador do SAB é possível melhorar a
eficiência e especificidade na separação de um determinado soluto de interesse. Além
disso, esse elevado teor de água, combinado com a baixa tensão interfacial do sistema,
permite o uso dos SABs na separação e purificação de biomateriais como proteínas,
enzimas, células, etc47
.
Devido a essas características, diferentes SABs vêm sendo estudados com o
objetivo de extrair e purificar diversas substâncias como proteínas, íons metálicos,
enzimas, corantes e outros (Tabela 3).
32
Tabela 3 - Exemplos de aplicação dos SABs na extração e/ou purificação de diversas
substâncias.
SAB Objetivo Referência
- Polietilenoglicol (PEG) 1000,
1450, 3350 ou 8000 + fosfato de
potássio
Extração da enzima fibrinolítica de
um extrato de Auricularia
polytricha
Ali et al. (2014) 51
- Copolímero tribloco L64 +
tartarato de sódio, sulfato de
magnésio ou sulfato de lítio
Extração e separação de cobre e
zinco De Lemos et al. (2013)
52
- Poli(óxido de etileno) (PEO) 1500
ou 4000 + tartarato de sódio
- PEO 1500 +succinato de sódio
- Poli(óxido de propileno) (PPO)
400 + tartarato de sódio
- Copolímero tribloco L35 +
tartarato de sódio
Extração da norbixina a partir do
extrato alcalino de urucum Mageste et al. (2012)
45
- PEG 25000~45000 + dextrana
450000~650000
Extração de vesículas extracelulares
a partir de mistura de vesículas
extracelulares e proteínas do soro.
Kim et al. (2015) 53
- PEG 3350 ou 6000 + dextrana
500000
A purificação de anticorpos
monoclonais a partir de uma cultura
de células
Silva et al. (2014) 54
- PEG 8000 + dextrana 69000 Extração de proteínas Ferreira et al. (2014) 55
- Tetrahidrofurano (THF) + solução
tampão de fosfato de potássio (pH7) Purificação de lipases Souza et al. (2015)
56
- Brometo de 1-Butil-3-
metilimidazolio ([C4mim]Br) +
fosfato de potássio
Extração dos corantes alimentícios
amaranto e azul brilhante de
amostras de bebidas e doces
Sha e Zhu (2015) 57
- Cloreto de 1-Butil-3-
metilimidazolio ([C4mim]Cl),
cloreto de 1-hexil-3-metilimidazolio
([C6mim]Cl), cloreto de 1-benzil-3-
metilimidazolio ([C7H7mim]Cl)
- Tartarato de potássio
Extração do antibiótico
cloranfenicol Han et al. (2014)
58
33
Nos últimos anos, um novo tipo de SAB vem sendo estudado. Nesse sistema são
utilizados líquidos iônicos (LI) e sais na formação das duas fases. Os LI têm sido uma
alternativa ambientalmente mais atrativa que os solventes orgânicos, devido
principalmente às suas propriedades, tais como: baixa pressão de vapor, não são
inflamáveis, elevada polaridade e estabilidade química e térmica59; 60; 61; 62
.
2.4 Líquidos iônicos
Em decorrência da crescente degradação do meio ambiente, a consciência
ambiental e a busca por um desenvolvimento sustentável têm ganhado cada vez mais
importância. Os processos que envolvem produtos químicos são considerados
potencialmente perigosos e poluidores, portanto, faz-se necessário o desenvolvimento
de alternativas que evitem ou minimizem a produção de resíduos, ao invés da
preocupação com tratamento do resíduo final. Esse é a ideia da química verde (green
chemistry), um conceito que envolve o planejamento, desenvolvimento e implantação
de alternativas com o objetivo de diminuir ou eliminar a geração de compostos
prejudiciais ao meio ambiente e aos seres humanos63
.
Dentro desse conceito de química verde, surgiu uma nova classe de compostos
com aplicações em diversas áreas como a eletroquímica, baterias, solventes para análise
espectroscópica de compostos metálicos, solventes e catalisadores para reações
orgânicas e processos de extração. São os chamados líquidos iônicos (LI)59; 64; 65
.
Os termos líquidos iônicos à temperatura ambiente (room temperature ionic
líquid), sal fundido (molten salt) ou sal orgânico líquido, costumam ser usados para
descrever sais em fase líquida. Esses compostos são sais orgânicos que são líquidos à
temperatura ambiente, apresentam ponto de fusão inferior a 100°C e permanecem
líquidos dentro de certa faixa de temperatura (< 300 °C). Ao contrário dos solventes
tradicionais, que podem ser descritos como líquidos moleculares, os LI são compostos
por íons, sendo um cátion orgânico conjugado com ânions orgânicos ou inorgânicos62;
66. Exemplos de algumas dessas estruturas que podem resultar em um líquido iônico são
apresentados na Figura 6.
34
Figura 6 - Exemplos de cátions e ânions formadores de líquidos iônicos.
Abreviação
Cl – (cloreto) Cl
Br – (brometo) Br
NO3 – (nitrato) NO3
BF4 – (tetrafluorborato) BF4
PF6 – (hexafluorfosfato) PF6
AlCl4 –/Al2Cl7
– (cloroaluminato) AlCl4 /Al2Cl7
CH3CO2 – (acetato) Ac
CF3CO2 – (trifluoracetato) TfA
CH3SO4 – (metilsulfato) MeSO4
CF3SO3 – (trifluormetilsulfonato) TfO
(CF3SO2)2N – bis(trifluormetilsulfonil)imida NTf2
(CF5SO2)2N – bis(perfluormetilsulfonil)imida Pf2N
Como os LI são formados por pelo menos dois componentes que podem ser
variados (ânions e cátions), essas substâncias podem ser projetadas para um
Alquilpiridínio 1,3-dialquilimidazólio
Tetralquilamônio 1,1-dialquilpirrolidínio
Cátions
Ânions
35
determinado uso específico, ou possuir um determinado conjunto de propriedades.
Considerando o tamanho, geometria e distribuição de carga, diferentes cátions e ânions
podem ser combinados para sintetizar LI de forma a se ajustar suas propriedades físico-
químicas de acordo com o interesse60
.
Os LI têm sido uma alternativa ambientalmente mais atrativa que os solventes
orgânicos, devido principalmente às suas propriedades únicas. Baseando-se em Calvar
et al. (2007) 59
, Earle e Seddon (2000) 60
, Welton (1999) 61
e Yang e Pan (2005) 62
,
algumas dessas propriedades responsáveis por fazer deles compostos atrativos são
apresentadas a seguir:
• Baixa pressão de vapor: comparados aos solventes orgânicos clássicos,
os LI apresentam uma pressão de vapor desprezível, abaixo de sua temperatura de
decomposição;
• Não são inflamáveis e possuem volatilidade desprezível, evitando a
dispersão pelo ar;
• Apresentam elevada polaridade e estabilidade química e térmica;
• Solubilidade: podem ser adaptados para serem miscíveis com água ou
com alguns solventes orgânicos. Além disso, muitos LI possuem a capacidade de
dissolver uma ampla gama de compostos inorgânicos e orgânicos;
Dentre os inúmeros LI, destacam-se aqueles derivados do cátion imidazólio
associado com ânions como BF4 –, PF6
–, TfO
– e NTf2
–. A aplicação destes líquidos
vem aumentando, e suas propriedades têm sido exploradas principalmente para
aplicações em tecnologias na área de eletroquímica, como solventes ou catalisadores
para sínteses, biocatálises e como suportes para os processos de extração líquido-
líquido, dentre outros67
.
A utilização de LI na formação de SAB (LI-SAB) vem sendo objeto de estudos
desde 2003, quando Rogers e colaboradores68
descreveram esse sistema pela primeira
vez. Os LI-SAB apresentam diversas vantagens tais como, rápida separação de fases,
alta eficiência de extração, baixa viscosidade, elevada diferença de polaridade entre as
fases e podem ser formados por produtos químicos de fácil acesso e recicláveis56
.
Devido a essas características diversos trabalhos, utilizando LI-SAB, tem sido feitos
com o objetivo de extrair e/ou purificar diversas substâncias como corantes, proteínas,
aminoácidos, enzimas, antibióticos, etc. (Tabela 4).
36
Tabela 4 - Exemplos de aplicação dos LI-SABs na extração e/ou purificação de
diversas substâncias.
SAB Objetivo Referência
- [Cntropina]pro (n = 2, 3, 4, 5, 6, 7,
8) + Fosfato de potássio,
hidrogenofosfato de potássio ou
carbonato de potássio
Separação enantiomérica de mistura
racêmica de fenilalanina Wu et al. (2015)
69
- Cloreto de 1- (2-alcoxi-etil) -3-
metilimidazio ([CnOC2mim] Cl (n =
2, 3, 4)) + fosfato de potássio ou
hidrogenofosfato de potássio
Separação de albumina de soro
bovino a partir de soluções aquosas
de sacarídeos
Wang et al. (2015) 70
- SAB contendo N, N, N-trioctil
propionato de amônio Extração do bisfenol A Qi et al. (2015)
71
- Brometo de 1-butil-3-
metilimidazólio ([Bmin]Br), brometo
de 1-hexil-3-metilimidazólio
([Hmim]Br), brometo de 1-octil-3-
metilimidazólio ([Omim]Br)
- Fosfato de potássio,
hidrogenofosfato de potássio
carbonato de potássio, fluoreto de
potássio, nitrato de amônio, sulfato
de amônio, carbonato de sódio,
citrato de sódio, cloreto de sódio,
sulfato de magnésio
Extração do ácido succínico Pratiwi et al. (2015) 72
- Brometo de n-etil piridínio +
sulfato de sódio
Extração e determinação do dibutil
ftalato a partir de amostras de cerveja
e vinho
Li et al. (2015) 73
- Tetrafluorborato de 1-butil-3-
metilimidazolio ([Bmim]BF4 +
dodecilbenzenosulfonato de sódio
Extração e purificação da esterase do
trigo Jiang et al. (2015)
74
- Cloreto de 1-butil-3-
metilimidazolio ([Bmin]Cl) +
hexafluorfosfato de sódio, fosfato de
potássio ou hidrogenofosfato de
potássio
Extração de quinina a partir do
plasma humano
Flieger e Czajkowska-
Zelazko (2015) 75
37
- Brometo de 1-butil-3-
metilimidazolio ([C4mim]Br) +
citrato de sódio, tartarato de sódio,
fumarato de sódio ou succinato de
sódio
Extração do antibiótico cefalexina
Abdolrahimi,
Nasernejad e Pazuki
(2015) 76
- Brometo de 1-butil-3-
metilimidazolio ([C4mim]Br),
hexaflourfosfato de 1-Butil-3-
metilimidazolio ([C4mim]PF6
- Fosfato de potássio
Estudo do comportamento de partição
dos corantes: vermelho reativo 120,
4-(2-piridilazo)-resorcinol e
metilorange
Sheikhian Sheikhian,
Akhond e Absalan
(2014) 77
- Cloreto de 1-butil-3-
metilimidazolio ([Bmin]Cl) + fosfato
de potássio ou hidrogenofosfato de
potássio
Extração de polissacarídeos e
proteínas do fungo Cordyceps
sinensis
Yan et al. (2014) 78
- Trifluormetilsulfonato de 1-etil-3-
metilimidazolio ([C2mim][CF3SO3],
trifluormetilsulfonato de 1-butil-3-
metilimidazolio ([C4mim][CF3SO3],
tosilato de 1-butil-3-metilimidazolio
([C4mim][Tos]), dicianamida de 1-
butil-3-metilimidazolio
([C4mim][N(CN)2]), brometo de
tetrabutilfosfonio ([P4444]Br),
metilsulfato de tetrabutilfosfonio
([P4441][CH3SO4]), tosilato de
tri(isobutil)metilfosfonio
([Pi(444)1[Tos]), cloreto de
tetrabutilfosfonio ([P4444]Cl)
- Sulfato de alumínio, citrato de
potássio
Remoção dos corantes: sudão III,
azul índigo e ácido cloranílico de
efluentes aquosos
Ferreira et al. (2014) 2
38
3. Objetivos
3.1 Objetivo geral
Estudar o comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol RNL
(AR) em sistemas aquosos bifásicos e investigar os fatores que determinam a sua
partição em diferentes SABs. Com isso, pretende-se avaliar o uso dos SABs na remoção
do AR de efluentes têxteis.
3.2 Objetivos específicos
1 – Calcular o coeficiente de partição do corante amarelo ouro remazol RNL nos
sistemas aquosos bifásicos (SABs) estudados;
2 – Estudar o efeito de diferentes cátions e ânions no comportamento de partição
do corante AR em SABs formados por citrato de sódio, sulfato de amônio, sulfato de
lítio, sulfato de magnésio, sulfato de sódio, tartarato de sódio e o líquido iônico 1-butil-
3-metil-imidazólio-tetrafluorborato ([Bmin]BF4).
3 – Avaliar o efeito da massa molar média do polímero polietilenoglicol (1500,
4000 e 6000g mol-1
) sobre o coeficiente de partição do AR.
4 – Estudar a relação do aumento do comprimento da linha de amarração (CLA)
na distribuição do corante entre as duas fases em equilíbrio.
5 – Determinar o parâmetro termodinâmico variação da energia livre de Gibbs
padrão (ΔtransGº), do processo de transferência do AR entre as fases dos SABs
estudados.
6 – Determinar a porcentagem de recuperação e a eficiência de extração do AR a
partir de um efluente real produzido por indústria têxtil da cidade de Itabirito, Minas
Gerais.
39
4. Referências bibliográficas
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45
Capítulo 2
Artigo – Tradução do artigo:
DE ALVARENGA, J. M. et al. Partition study of textile dye Remazol Yellow Gold
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Estudo de partição do corante têxtil Amarelo Ouro Remazol RNL em Sistemas
Aquosos Bifásicos
Juliana Maria de Alvarenga1, Renata Aparecida Fideles
1, Maira Vieira da Silva
1,
Gabriella Frade Murari1, Jason Guy Taylor
1, Leandro Rodrigues de Lemos
2, Guilherme
Dias Rodrigues3, Aparecida Barbosa Mageste1 *
1 Departamento de Química, ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus
Morro do Cruzeiro, CEP. 35400-000, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.
2 Departamento de Química, FACET, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri - Diamantina-MG - Brasil
3 Laboratório de Soluções Analíticas Verdes (LaSAV), Departamento de Química,
Instituto de Ciências Exatas (ICEx), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) -
Belo Horizonte-MG - Brasil
* Correspondência com o autor. Tel .: +55 31 3559 1707; fax: +55 31 3559 1707.
Endereço de e-mail: [email protected] (A. B. Mageste).
46
Resumo
A remoção de corantes orgânicos poluentes de águas residuais produzidas pela
indústria têxtil é um problema complexo que apresenta riscos potenciais para a saúde do
público em geral. O corante Amarelo Ouro Remazol RNL (AR) é usado para tingir
materiais de base de celulose e os métodos desenvolvidos para a sua remoção a partir de
sistemas aquosos ou são ineficientes ou caros demais para serem adotados por pequenas
fábricas têxteis. Nossa abordagem é baseada no sistema aquoso bifásico (SAB) usando
sais e polímeros ou líquidos iônicos para extrair o corante Amarelo Ouro Remazol RNL
de águas residuais. O coeficiente de partição do corante (KAR) foi avaliado em função
de parâmetros tais como a natureza do eletrólito, a massa molecular do polímero e o
comprimento da linha de amarração (CLA). Um diagrama de fases para o sistema
polietilenoglicol (PEG 4000 g mol-1) e sulfato de amônio a 298.15K foi obtido e
utilizado para estudar o comportamento de partição do AR. Os valores KAR demonstram
o potencial de ambos os sistemas para a remoção de corantes a partir de efluentes
industriais. O mecanismo de partição foi discutido com base no modelo Haynes e
usando a energia de Gibbs padrão de transferência (ΔtrGo). A força motriz (entalpia e /
ou entropia) que regula a partição do corante depende da natureza dos SAB. O melhor
sistema obtido, em condições otimizadas, foi aplicado com sucesso na remoção do AR
de águas residuais obtidas a partir de um fabricante têxtil local. Os valores elevados KAR
na presença do efluente demonstram o potencial e a robustez dos SAB para o tratamento
de efluentes de indústrias têxteis.
Palavras-chave: sistemas aquosos bifásicos; Amarelo Ouro Remazol RNL; líquidos
iónicos; partição; a química verde.
Destaques
São necessários métodos sustentáveis para a remoção de Amarelo Ouro Remazol
RNL.
Estudos de partição em sistemas aquosos bifásicos foram realizados.
Foram avaliados os sistemas bifásicos empregando sais com polímeros ou líquidos
iónicos.
47
O sistema otimizado apresentou coeficientes de partição do corante satisfatórios
(KAR).
A remoção do Amarelo Ouro Remazol RNL de águas residuais foi alcançada.
1. Introdução
Corantes são compostos orgânicos que dão cor aos materiais e são amplamente
utilizados em diversas indústrias, tais como têxteis, cosméticos, papel e indústrias de
plástico1. Apesar da ampla aplicação de corantes, sua disposição no meio ambiente e
contaminação da água são um grande problema que tem despertado preocupação devido
aos seus efeitos adversos à saúde humana, à fauna e à flora2; 3
. Tendo em vista a
toxicidade e os efeitos indesejáveis para ambientes aquáticos, os regulamentos
ambientais têm se tornado cada vez mais rigorosos4 estimulando a demanda por
metodologias eficientes para a remoção de resíduos tóxicos.
A remoção de corantes a partir de águas residuais é um problema complexo e
diferentes processos físico-químicos, tais como5; adsorção
6, coagulação eletrocinética
7,
troca iônica8, oxidação eletroquímica
9 e degradação fotocatalítica
10 têm sido
rotineiramente estudados a fim de se encontrar soluções para este problema ambiental5.
No entanto, estas metodologias têm suas desvantagens, entre as quais, a geração de
resíduos perigosos ou intermediários secundários, taxas de degradação lentas e os custos
elevados são limitações que se destacam. Neste sentido, métodos novos e mais
eficientes, mais limpos, mais seguros e economicamente viáveis são necessários para a
remoção de corantes de efluentes industriais antes de liberá-los em corpos d'água.
Sistemas aquosos bifásicos (SABs) podem ser formados pela mistura de
soluções aquosas de um eletrólito e um polímero. Alternativamente, as soluções aquosas
de dois polímeros quimicamente diferentes podem ser misturadas para se preparar um
SAB ou eles podem ser formados a partir de dois tipos de sais misturados sob certas
condições termodinâmicas, por exemplo: temperatura, pressão e composição11
. Nos
últimos anos, um novo tipo de SAB contendo sais e líquido iônico (LI) (LI-SAB) tem
sido investigado12
. O sistema resultante é constituído por duas fases imiscíveis, com o
componente principal destes sistemas sendo essencialmente a água. SABs são
ambientalmente seguros, recicláveis, econômicos, viáveis, rápidos e escaláveis para
aplicação em processos industriais13
.
48
Mageste et.al 14; 15
avaliaram o comportamento de partição do corante natural
carmim e da norbixina em diferentes SABs formados a partir de polímeros e sais. Uma
significativa transferência de corantes para a fase superior do SAB foi observada,
demonstrando assim o potencial destes sistemas para aplicações de purificação.
Sistemas formados por sais de potássio e de polietilenoglicol (PEG), utilizando líquidos
iônicos como coadjuvante também foram relatados por Souza et.al.16
para o
particionamento de corantes ácidos cloranílico e rodamina 6G. Recentemente, Ferreira
et. al.4 alcançaram eficiências de extração de 100% quando se emprega LI-SAB para a
extração de corantes de ácido cloranílico, azul índigo e sudão III. Em relação a esses
sistemas, pouco se sabe sobre a força motriz que determina como estes corantes
particionam entre as fases. Entender esses parâmetros é de fundamental importância
para permitir o uso potencial do SAB em larga escala.
Não foram encontrados relatos na literatura sobre o uso de SABs para a remoção
do corante Amarelo Ouro Remazol (RNL ou AR), também conhecido como amarelo
dourado Remazol (Figura 1), a partir de águas residuais. Este corante é comumente
utilizado na indústria têxtil para o tingimento de fibras de celulose. A remoção do
Amarelo Ouro Remazol RNL de soluções aquosas foi feita por adsorção17
, a degradação
anaeróbica18
e abordagens fotocatalícas19
.
Figura 1 - Estrutura química do corante Amarelo Ouro Remazol RNL.
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar as forças motrizes que determinam
o comportamento de partição do AR em SABs constituídos por polímero + sal ou sal +
líquido iônico. Neste artigo, relatam-se os efeitos da natureza do eletrólito, da massa
molar média do polímero e da composição do sistema sobre o rendimento de extração
do corante. Além disso, um diagrama de fases para o PEG 4000 + sulfato de magnésio
sal + água a 298,15 K foi determinado para estudar o efeito da massa molar do
polímero. De forma a demonstrar a robustez do SAB, experimentos de partição foram
realizados usando amostras industriais (efluentes) obtidas a partir de um fabricante têxtil
local da cidade de Itabirito, Minas Gerais, Brasil.
49
2. Material e métodos
2.1. Materiais
Polímeros de polietilenoglicol (PEG) com peso molecular médio de 1500, 4000
e 6000 g.mol-1
foram usados. Sulfato de amônio ((NH4)2SO4), sulfato de lítio mono-
hidratado (Li2SO4.H2O), sulfato de magnésio hepta-hidratado (MgSO4.7H2O), citrato de
sódio (NaH2C6H5O7), sulfato de sódio (Na2SO4) e tartarato de sódio di-hidratado
(Na2C4H4O6.2H2O) foram adquiridos a partir de Synth (SP, Brasil). n-bromobutano,
metilimidazolio, tetrafluorborato de sódio e diclorometano foram adquiridos a partir de
Sigma Aldrich (St. Louis, MO, EUA). Águas residuais e o corante AR,
C16H18N4O10S3.Na2, foram gentilmente fornecidos por um fabricante têxtil localizado na
cidade de Itabirito, MG, Brasil. A estrutura química do AR é mostrada na Figura 1.
Água destilada foi usada em todos os experimentos. Todos os reagentes utilizados neste
estudo foram de grau analítico e usados sem purificação adicional. O líquido iônico
tetrafluorborato de 1-butil-3-metilimidazólio ([Bmim]BF4) foi sintetizado no nosso
laboratório e purificado de acordo com os métodos descritos na literatura20
.
2.2. Síntese e caracterização espectral do líquido iônico 1-butil-3-metilimidazólio
tetrafluorborato
O método descrito por Burrell e colaboradores20
foi adotado com pequenas
modificações. n-bromobutano (30 g) foi adicionado lentamente por um funil de adição
em balão de fundo redondo de 250 mL equipado com um condensador de refluxo
contendo metilimidazolio recentemente destilado (25 g). Um banho de água gelada foi
usado para evitar que a temperatura da solução aumentasse acima de 40 ° C. Esta
mistura foi mantida em agitação com um agitador magnético à temperatura ambiente
durante 30 horas. O líquido iônico foi então dissolvido em água deionizada (300 ml) e
carvão vegetal descorante (10 g) foi adicionado à solução, a qual foi aquecida a 60 °C
durante 2 h. A mistura foi então resfriada até à temperatura ambiente e filtrada. A
solução incolor de brometo de 1-butil-3-metilimidazólio, em seguida, foi vertida para
uma solução de tetrafluorborato de sódio (34 g) em 250 mL de água deionizada e
50
mantida sob agitação à temperatura ambiente durante 3 h. A solução foi transferida para
funil de separação para extração com diclorometano (3 x 70 mL). As fases orgânicas
foram combinadas e filtradas através de um filtro de sílica (100 g) para remover o
brometo de sódio. A solução de diclorometano foi seca sob vácuo para se obter o
tetrafluorborato de 1-butil-3-metilimidazólio puro, um líquido viscoso transparente
(74% de rendimento). δH (250 MHz, CDCl3): 8.85 (1H, s), 7.33–7.42 (2H, m), 4.19 (2H,
t, J 7.5), 3.96 (3H, s), 1.79–1.92 (2H, m), 1.30–1.41 (2H, m), 0.96 (3H, t, J 7.3); δC
(62.5 MHz, CDCl3): 136.6, 123.5, 121.9, 49.9, 36.3, 31.9, 19.4, 13.3. O espectro de
Ressonância Magnética Nuclear (RMN) foi medido a 250 MHz (1H), em um
espectrômetro Bruker 250. Todos os espectros de RMN foram registrados em CDCl3,
com referência a tetrametilsilano. Os dados de RMN estão de acordo com os valores da
literatura [20]. O grau de pureza (> 98%) do líquido iônico foi determinado por
integração dos sinais de RMN de 1H.
2.3. Determinação dos diagramas de fase
Os sistemas utilizados para avaliar o comportamento de partição do corante
foram resumidos na Tabela 1. A maioria dos diagramas de fase necessários a este estudo
foram anteriormente descritos na literatura21-27
. O diagrama de fase para o sistema PEG
4000 + sulfato de magnésio + água a 298,15K foi obtido e utilizado nos estudos de
partição do AR. As soluções de polímero e de sal foram preparadas pesando-se
quantidades conhecidas dos reagentes numa balança analítica (Shimadzu, AG 220, com
um grau de incerteza ± 0,0001 g). Estas soluções estoque de polímero, sal e água foram
depois misturadas em tubos de vidro. Os tubos foram vigorosamente agitados e
mantidos num banho termostatizado (Marconi, MA 184, com um grau de incerteza ±
0,1 K) a 298,15 K, durante pelo menos 48 horas para se garantir que, após a completa
separação das fases, o equilíbrio termodinâmico seja atingido. Em seguida, as duas fases
foram recolhidas separadamente para análise.
A composição de cada uma das fases foi determinada em duas etapas: i) as fases
foram recolhidas em separado e diluídas para determinar a concentração de sal por
condutividade a 298,15 K (CG853 Schott, Alemanha). ii) O teor de água foi
determinado por gravimetria num forno a 343,15K até se atingir um peso constante. A
concentração de polímero (𝐶𝑃𝐸𝐺) nas fases foi determinada pela diferença de massa para
cada componente, 𝐶𝑃𝐸𝐺 = 𝐶𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝐶𝐻2𝑂 − 𝐶𝑠𝑎𝑙 onde 𝐶𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 1,00.
51
O comprimento da linha de amarração (CLA) foi calculado de acordo com a
equação 1.
𝐶𝐿𝐴 = [(𝐶𝑃𝐹𝑆 − 𝐶𝑃
𝐹𝐼)2 + (𝐶𝑆𝐹𝑆 − 𝐶𝑆
𝐹𝐼)2]1
2 (1)
onde 𝐶𝑃𝐹𝑆 e 𝐶𝑃
𝐹𝐼 são as concentrações de polímero e 𝐶𝑆𝐹𝑆 e 𝐶𝑆
𝐹𝐼 são as
concentrações do sal (% (m/m)) nas fases superior e inferior, respectivamente.
Tabela 1 - Sistemas Aquosos Bifásicos utilizados nos estudos de partição do AR.
Sistema Aquoso Bifásico
PEG 1500 + Li2SO4 + água* 23
PEG 1500 + NaH2C6H5O7 + água* 25
PEG 1500 +Na2C4H4O6.2H2O+ água* 25
PEG 1500 +Na2SO4 + água* 23
PEG 1500 + (NH4)2SO4 + água* 27
PEG 1500 +MgSO4 + água* 23
PEG 4000 +MgSO4 + água
PEG 6000 +MgSO4 + água* 24
PEG 4000 + Li2SO4 + água* 22
PEG 6000 + Li2SO4 + água* 24
([Bmim]BF4 + (NH4)2SO4 + água* 26
([Bmim]BF4 +MnSO4 + água* 21
* Diagramas de fase encontrados na literatura referência
52
2.4. Experimentos de partição
2.4.1. Preparo das soluções estoque
Todas as concentrações de PEG e de sal nas soluções estoque estão
representadas como porcentagem em massa. Quantidades apropriadas de PEG e sal
foram dissolvidas em água destilada para preparar as soluções estoque. A solução de
corante foi obtida pela dissolução de 0,4 g de AR em aproximadamente 2,25 g de água.
A concentração resultante foi de 3,13 mmol kg-1
.
2.4.2. Preparo dos sistemas aquosos bifásicos (SABs)
De forma a se obter a composição global desejada para cada SAB21-26
,
quantidades apropriadas de [Bmim]BF4 ou solução de PEG, soluções de sais e água
foram adicionados a tubos de centrífuga graduadas. Os tubos foram agitados e deixados
em repouso num banho termostatizado a 298,15 K, durante um mínimo de 48 horas
(Marconi, MA 184, com um grau de incerteza ± 0,1 K). Uma vez que o sistema tinha
atingido o equilíbrio termodinâmico, as duas fases foram recolhidos separadamente para
os experimentos de partição.
2.4.3. Comportamento partição do Amarelo Ouro Remazol RNL
Nos estudos de partição nos SABs contendo polímero + sal + água, as amostras
foram preparadas pela mistura de 3,0 g de ambas as fases superior e inferior do SAB e
adição de 100 mg de solução de corante. No caso dos SABs formados por LI, 0,033 g
da solução do AR foi adicionado ao sistema que continha 1,0 g de cada fase. Para cada
CLA e cada SAB, foram preparados três sistemas: o primeiro sendo o branco, sem a
adição do corante, uma amostra e uma réplica. As misturas foram agitadas manualmente
durante 3 minutos até as soluções tornarem-se turvas e então foram mantidas em
temperatura controlada num banho termostatizado a 298,15 K. Depois de um período de
48 horas, ocorreu a separação de fases e o equilíbrio termodinâmico foi atingido. Ambas
as fases foram recolhidos separadamente e diluídas, a fim de se determinar a
concentração de corante. O corante foi quantificado em cada fase utilizando um
53
espectrofotômetro de UV-VIS (Hewlett Packard 8453) em um comprimento de onda de
256 nm.
O coeficiente de partição do corante (KAR) entre as fases é determinada pela
proporção da concentração da substância a analisar em cada fase do SAB tal como
descrito na equação 2.
𝐾𝐴𝑅 =[𝐴𝑅]𝐹𝑆
[𝐴𝑅]𝐹𝐼 (2)
Onde [𝐴𝑅]𝐹𝑆 e [𝐴𝑅]𝐹𝐼 representam a concentração de corante nas fases superior
e inferior, respectivamente. De acordo com a lei de Beer-Lambert, a absorbância da
solução em um comprimento de onda específico é diretamente proporcional à
concentração de analito. Assim, o coeficiente de partição (KAR) pode ser determinado
como descrito na equação 3.
𝐾𝐴𝑅 =𝐴𝑏𝑠𝐹𝑆𝑓𝑑𝐹𝑆
𝐴𝑏𝑠𝐹𝐼𝑓𝑑𝐹𝐼 (3)
Onde 𝐴𝑏𝑠𝐹𝑆 e 𝐴𝑏𝑠𝐹𝐼 são a absorbância das fases superior e inferior,
respectivamente, no comprimento de onda especificado. E os termos 𝑓𝑑𝐹𝑆 e
𝑓𝑑𝐹𝐼 expressam os fatores de diluição para cada fase.
2.5. Experimentos de recuperação
2.5.1. Preparo da solução de água residual e soluções estoque
A água residual foi filtrada e em seguida diluída dez vezes. Esta solução estoque
de água residual foi, então, mantida sob refrigeração. Soluções de corante, PEG 1500 e
sulfato de lítio foram preparadas utilizando a solução de água residual como solvente da
mesma maneira como descrito anteriormente.
2.5.2. Recuperação do AR na presença de águas residuais
Para investigar a recuperação do AR, foi utilizado um sistema contendo PEG
1500 + Li2SO4 + H2O e adicionado o AR. O procedimento de partição foi realizado
como descrito anteriormente. Após a separação das duas fases, o corante foi
54
quantificado em cada fase utilizando um espectrofotômetro de UV-VIS em um
comprimento de onda ajustado a 256 nm. A concentração do corante AR em cada fase
foi determinada a partir de uma curva de calibração linear.
A porcentagem de recuperação (R%) do AR foi calculada pela equação 4.
%𝑅 =𝑛𝐹𝑆
𝑛𝑇𝑜𝑡 × 100 (4)
em que 𝑛𝐹𝑆 representa a quantidade de corante presente na fase de superior e
𝑛𝑇𝑜𝑡 é a quantidade total de corante adicionado ao sistema.
2.6. Eficiência da extração de AR no SAB
A eficiência da extração do AR em cada SAB é expressa pela relação entre a
quantidade de corante presente na fase superior e a quantidade total de corante no SAB
em equilíbrio termodinâmico. Este parâmetro é obtido tal como descrito pela equação
54.
%𝐸𝐴𝑅 =𝐴𝑏𝑠𝐹𝑆 𝑓𝑑𝐹𝑆×𝑚𝐹𝑆
(𝐴𝑏𝑠𝐹𝑆 𝑓𝑑𝐹𝑆×𝑚𝐹𝑆)+ (𝐴𝑏𝑠𝐹𝐼 𝑓𝑑𝐹𝐼×𝑚𝐹𝐼) × 100 (5)
Onde 𝐴𝑏𝑠𝐹𝑆 𝑓𝑑𝐹𝑆 e 𝐴𝑏𝑠𝐹𝐼 𝑓𝑑𝐹𝐼 × 𝑚𝐹𝐼 são as absorbâncias do AR nas fases
superior e inferior e 𝑚𝐹𝑆 e 𝑚𝐹𝐼 representam as massas das fases superior e inferior,
respectivamente.
2.7. Variação da energia padrão de Gibbs de transferência do AR (ΔtrGo)
Para todos os SABs estudados, a variação da energia padrão de Gibbs (ΔtrGo) foi
obtida a partir da relação termodinâmica:
∆𝑡𝑟𝐺° = 𝑅𝑇𝑙𝑛𝐾𝐴𝑅 (6)
Onde R é a constante universal dos gases, T é a temperatura absoluta e KAR é o
coeficiente de partição corante.
O parâmetro termodinâmico ΔtrGo representa a variação da energia de Gibbs do
sistema quando um mol do corante, sob infinita diluição, é transferido da fase inferior
para a superior.
55
3. Resultados e discussão
3.1. Diagramas de fase
As composições de fases para o SAB formado por PEG 4000 e sulfato de
magnésio são mostradas na Tabela 2. Todas as concentrações são expressas em
percentagem por peso. Esses dados são de fundamental importância para o estudo de
partição e extração de solutos em sistemas aquosos bifásicos. A água é o componente
principal em ambas as fases. A fase superior é rica com polímero enquanto que a fase
inferior é rica em sal. Este comportamento está de acordo com outras observações feitas
em sistemas polímero / sal22-25
.
Tabela 2 - Dados referentes às composições globais e de equilíbrio para os
componentes das fases do sistema PEG 4000 + MgSO4 + H2O, expressos em termos de
porcentagem em massa (% m/m).
CLA
Composição Global Fase superior Fase inferior
PEG Sal H2O PEG Sal H2O PEG Sal H2O
43,85 21,63 10,19 41,44 0,81 57,75 1,81 19,57 78,62 43,85
48,12 23,13 10,56 45,00 0,53 54,47 1,26 20,58 78,16 48,12
50,53 23,91 11,58 46,59 0,44 52,97 1,23 22,71 76,06 50,53
53,31 25,92 12,00 49,87 0,31 49,82 1,96 23,69 74,35 53,31
55,28 26,81 12,95 51,33 0,19 48,48 2,29 25,70 72,01 55,28
3.2. O efeito de comprimento linha de amarração no comportamento de partição
do AR
O comprimento da linha de amarração (CLA) é uma linha que liga os pontos no
diagrama de fases que representam a composição das duas fases em equilíbrio
termodinâmico. O CLA é um importante parâmetro termodinâmico, pois indica o quão
diferentes são as propriedades termodinâmicas intensivas das fases que estão em
equilíbrio14
.
56
A Figura 2 mostra os valores dos coeficientes de partição do AR a 298 K, em
função do comprimento da linha de amarração nos SABs formados por PEG 1500 + sais
de sulfato + H2O. Ao analisar o comportamento de partição do AR, pode ser visto que
um aumento no valor do CLA aumenta significativamente a transferência do corante
para a fase superior do SAB. Além disso, é importante notar que o AR particiona
preferencialmente para a fase superior. Todos os sistemas formados por polímero + sal
apresentaram valores de KAR maior do que a unidade, indicando a afinidade do corante
para a fase superior do sistema e o potencial de SAB para a extração deste corante.
Figura 2 - Efeito do cátion nos valores do coeficiente de partição do corante amarelo
ouro remazol RNL a 298 K: (■) PEO1500 + Li2SO4 + H2O, (▲) PEO1500 + (NH4)2SO4 +
H2O, (●) PEO1500 + MgSO4 + H2O, (♦) PEO1500 + Na2SO4 + H2O.
30 40 50 60
0
400
800
1200
CLA (% m/m)
KA
R
Para uma melhor compreensão do mecanismo de partição do AR nestes SABs, o
parâmetro termodinâmico ΔtrGo foi determinado. Os valores para a variação da energia
livre de Gibbs padrão de transferência (ΔtrGo) a 298,15 K, em função do CLA para
todos os SABs estudados são apresentados abaixo (Tabela 3).
57
Tabela 3 - Variação da energia livre de Gibbs padrão de transferância, trGº, (kJ/mol)
para o AR nos SABs estudados, a 298,15K em diferentes valores de CLA.
SAB CLA1 CLA2 CLA3 CLA4 CLA5
PEG 1500 + Li2SO4 -12,12 -13,91 -15,95 -17,61
PEG 1500 + NaH2C6H5O7 -8,90 -10,11 -11,87 -13,43 -14,89
PEG1500 + Na2C4H4O6.2H2O -7,82 -10,11 -12,03 -12,93 -13,35
PEG 1500 +Na2SO4 -10,08 -10,89 -12,32 -13,75 -14,33
PEG 1500 + (NH4)2SO4 -9,74 -13,44 -14,97 -16,89
PEG 1500 + MgSO4 -11,03 -12,29 -12,91 -13,56 -14,33
PEG 4000 + MgSO4 -13,09 -13,36 -14,19 -14,83 -15,28
PEG 6000 + MgSO4 -9,88 -10,68 -11,48 -12,46 -13,16
PEG 4000 + Li2SO4 -13,91 -15,20 -16,63 -17,38
PEG 6000 + Li2SO4 -14,16 -14,67 -15,97 -17,12
LI + (NH4)2SO4 8,50 6,39 5,89
LI +MnSO4 4,139 4,413 4,99 5,03 5,82
Os valores negativos de ΔtrGo indicam que a partição do AR nos SABs formados
por PEG + sais + H2O é espontânea. A partição do AR ocorre com a diminuição na
energia livre de Gibbs do sistema. Podemos entender porque esse corante prefere a fase
superior do SAB avaliando os fatores que contribuem para a ΔtrGo, ou seja, a
contribuição de ΔtrHo e ΔtrS
o. Em geral, os resultados mostram uma redução no valor da
ΔtrG com o aumento da CLA, exceto para os casos que envolvem SAB contendo
líquidos iônicos ([Bmim]BF4 + MgSO4 + H2O). Para os SABs com polímero, sal e água,
os valores são negativos e demonstram a transferência espontânea do corante para a fase
superior do sistema. Como mostrado na Tabela 3, para os SABs formados a partir de LI,
esses valores são positivos devido à inversão na tendência do AR em se transferir para a
fase superior.
As forças que direcionam o comportamento de partição do soluto no SAB
podem ser avaliadas qualitativamente por um modelo simples desenvolvido por
Johansson et al., derivado da teoria de Flory-Huggins28
. Este modelo relaciona o
coeficiente de partição do soluto com contribuições entálpicas e entrópicas.
58
A contribuição entrópica para a partição do soluto é descrita pela equação 7.
𝑙𝑛𝐾𝐴𝑅 =𝑀𝐴𝑅
𝜌(
𝑛𝐹𝑆
𝑉𝐹𝑆−
𝑛𝐹𝐼
𝑉𝐹𝐼) (7)
onde, 𝑀𝐴𝑅 é a massa molar do soluto particionado (corante AR), 𝑛𝐹𝑆 e 𝑛𝐹𝐼 são o
número total de moléculas nas fases superior e inferior respectivamente, 𝑉𝐹𝑆 e 𝑉𝐹𝐼 são
os volumes das fases superior e inferior, a razão 𝑛
𝑉 é a densidade numérica e 𝜌 é a
densidade numérica total do sistema
Essa equação mostra que, na ausência de uma contribuição entálpica, a
distribuição heterogênea de um soluto entre as fases ocorrerá se houver uma diferença
de densidade numérica entre as fases. Na fase mais densa, há um maior número de
configurações diferentes para distribuir as moléculas que constituem o SAB e o soluto28
.
No SAB formado por PEG + sais + H2O, a densidade numérica na fase inferior é maior
do que a fase superior, devido ao maior teor de água da fase rica em sal (Tabela 4). De
acordo com a equação 7, existe uma forte contribuição entrópica para a partição do
soluto para a fase inferior. No entanto, os resultados experimentais demonstram que,
quando o corante é introduzido dentro deste sistema, ele move-se para a fase superior e,
assim, diminui a entropia do sistema.
Tabela 4 - Diferença na concentração de água (% (m/m)) entre a fase superior (FS) e a
fase inferior (FI), a 298K.
SAB
[H2O]=[H2O]FI[H2O]FS (%m/m)
CLA
1 2 3 4 5
PEG1500+ NaH2C6H5O7 10,9 13,95 15,02 16,08 16,93
PEG1500+ Na2C4H4O6 13,4 15,19 16,95 18,25 18,54
PEG1500+(NH4)2SO4 12,95 17,05 17,35 20,51 20,98
PEG1500+Na2SO4 17,1 16,78 18,58 22,13 23,32
PEG1500+MgSO4 15,97 19,88 21,87 22,13 25,09
PEG1500+Li2SO4 17,35 19,88 22,42 24,65 27,69
PEG4000+Li2SO4 22,16 24,43 26,27 28,64 30,66
PEG6000+Li2SO4 22,29 23,94 25,36 26,91 29,32
PEG6000+MgSO4 17,35 18,28 18,99 20,03 21,25
59
LI+(NH4)2SO4 37,45 33,48 28,93
LI+MnSO4 -39,92 -42,39 46,31 47,98 51,1
Uma vez que o processo de transferência de corante para a fase superior se torna
desfavorável entropicamente, a entalpia deve ser a força motriz que governa a partição
do corante para a fase rica em polímero. A contribuição entálpica é expressa no modelo
de Johansson et al.28
, por
lnKAR = −MAR
RT[Σi=1(i≠AR
m (ϕiFS − ϕi
FI)wiAR − Σi=1(i≠AR)m−1 Σj=i+1(j≠AR)
m (ϕiFSϕj
FS − ϕiFIϕj
FI)wij]
(8)
onde 𝜙𝑖𝐹𝑆 e ϕ𝑖
𝐹𝐼 são a fração volumétrica dos componentes formadores do SAB
nas fases superior e inferior, respectivamente, 𝑤𝑖𝑗 é a energia envolvida na formação do
par potencial efetivo definido como: 𝑤𝑖𝑗 = 𝑧[𝜀𝑖𝑗 − (1
2) (𝜀𝑖𝑗 + 𝜀𝑗𝑗)], z é o número de
vizinhos próximos, 𝜀𝑖𝑗 é a energia potencial do par i-j.
A contribuição entálpica para a partição do soluto é composta de dois termos. O
primeiro, Σi=1(i≠ARm (ϕi
FS − ϕiFI)wiAR , é a soma da energia envolvida na interação entre o
AR e cada componente presente em cada fase do SAB. O segundo,
Σi=1(i≠AR)m−1 Σj=i+1(j≠AR)
m (ϕiFSϕj
FS − ϕiFIϕj
FI)𝑤𝑖𝑗, representa a auto energia da fase e equivale
à soma da energia de interação entre todos os possíveis pares formados por combinação
dos componentes em cada fase, na ausência de soluto. A transferência de moléculas de
soluto a partir de uma fase para outra muda a auto energia da fase quebrando interações
entre os componentes e ao mesmo tempo formando novas interações soluto-
componente. Em outras palavras, a partição do corante requer a quebra de interações
entre os componentes originais para criar uma cavidade na qual o corante possa se
alojar. A Equação 8, prevê que o soluto irá se transferir da fase em que os componentes
interagem mais fortemente e irá particionar para a fase em que há menos gasto de
energia para formar a cavidade na qual ele será alojado.
O fato de o corante apresentar uma afinidade maior para a fase superior (valores
de KAR maiores do que um) é explicado por uma interação específica entre o polímero e
as moléculas de AR e a menor energia necessária para formar uma cavidade que
acomoda o corante na fase superior. Conforme claramente observado na Figura 2, um
aumento no CLA leva a um aumento significativo nos valores de KAR. Dado que o CLA
aumenta como uma função da concentração de polímero e de sal, parece razoável
60
sugerir que a migração preferencial para a fase superior é devido às interações com a
macromolécula do polímero e, por conseguinte, à formação de complexos de polímero-
corante na fase superior.
3.3. Efeito do eletrólito formador do SAB na extração do AR
Vários investigadores têm estudado a influência do tipo de sal, formador do
SAB, na extração de um soluto14,15,29
. SABs formados por PEG 1500 e sais de sulfato
foram usados para investigar o efeito de diferentes cátions no comportamento de
partição do AR. Os resultados encontram-se resumidos na Figura 2 e indicam que o
SAB formado por sal de lítio é o mais eficiente na transferência do AR para a fase
superior.
Este efeito de cátions pode ser explicado pelo modelo de da Silva e Loh30
, que
sugere que, quando se mistura polímero e sal, o cátion do sal e as macromoléculas
interagem liberando as moléculas de água que anteriormente estavam solvatando os
referidos componentes e, dessa forma, levam a um aumento da entropia do sistema. À
medida que a concentração dos eletrólitos aumenta, o processo continua até que se
atinja uma saturação energética. Isto é devido ao efeito das forças repulsivas entre os
complexos de polímeros e cátions e os sais adicionados. Uma vez que o ponto de
saturação é atingido, a adição de mais eletrólitos faz com que esses se agrupem numa
região mais distante do complexo macromolécula-íon. A adição de mais eletrólitos
então, leva à formação de duas fases e reduz a energia livre de Gibbs do sistema.
Quando comparado com outros cátions, o modelo indica que uma concentração mais
elevada de Li + é necessária para saturar energicamente a cadeia de polímero. Assim, a
estrutura macromolecular do polímero é carregada mais positivamente nos SABs
compostos por Li2SO4 e isto permite uma forte interação eletrostática entre o polímero-
cátion e AR em sistemas com Li2SO4.
3.4. Efeito da massa molecular do polímero
A Figura 3 mostra o comportamento de partição do AR nos sistemas aquosos
bifásicos formados por sais de sulfato e PEG com diferentes massas moleculares. Se o
peso molecular do polímero aumenta, a entropia da mistura de polímero e de soluto vai
ser reduzida na fase contendo polímero. Sendo assim, haverá uma redução no número
61
de configurações possíveis para as moléculas de corante na fase superior, portanto, isso
aumenta a partição do soluto para a fase inferior31
. Além disso, o polímero torna-se mais
hidrofóbico com o aumento do peso molecular e isso aumenta a hidrofobicidade da fase
superior do SAB. O AR é uma espécie altamente hidrofílica, de modo que o KAR tende a
diminuir com o aumento da massa molar da macromolécula. No entanto, como pode ser
observado na Figura 3, não há nenhum efeito significativo do tamanho da
macromolécula no comportamento de partição do AR. Este comportamento reforça a
ideia de que o processo de transferência do AR para a fase superior dos SABs é
entalpicamente dirigido.
Figura 3 - Efeito da massa molar do polímero nos valores do coeficiente de partição do
corante amarelo ouro remazol RNL a 298 K: (■) PEO1500 + Li2SO4 + H2O, (▼) PEO4000
+ Li2SO4 + H2O, (◄) PEO6000 + Li2SO4 + H2O
30 40 500
500
1000
KA
R
KA
R
CLA (% m/m)
62
3.5. Efeito do Ânion
O efeito do ânion sobre a partição do AR no SAB formado por PEG 1500 e sais
de sódio é mostrado na Figura 4.
Os resultados sugerem que a alteração do ânion do sal não altera
significativamente o comportamento de partição do corante no SAB. Este fato confirma
a hipótese inicial de que a partição do corante ocorre preferencialmente para a fase
superior devido a uma interação específica entre este soluto e a macromolécula do
polímero.
Figura 4 - Efeito do ânion nos valores do coeficiente de partição do corante amarelo
ouro remazol RNL a 298 K: (♦) PEO1500 + Na2SO4 + H2O (►) PEO1500 + NaH2C6H5O7 +
H2O, () PEO1500 + Na2C4H4O6 + H2O
30 40 500
200
400
KA
R
CLA (% m/m)
63
3.6. Comportamento partição do AR em sistemas aquosos bifásicos formados por
líquidos iônicos (LI-SAB)
Após a sua aplicação em 200312
, o sistema LI-SAB tem despertado muito
interesse na comunidade científica. Eles têm sido utilizados com sucesso para separar
vários solutos, tais como: as sulfonamidas em leite32
, citocromo C33
, albumina de soro
bovino34
, antibióticos no mel35
, corantes têxteis4, entre outros.
A Figura 5 mostra o comportamento de partição do AR em LI-SAB em que o
líquido iônico utilizado foi o [Bmim]BF4 e os sais o (NH4)2SO4 e o MnSO4. Ao
contrário dos SABs formados por polímeros anteriormente mencionados, o AR
particiona preferencialmente para a fase inferior no LI-SAB.
Figura 5 - Efeito do cátion no comportamento de partição do corante amarelo ouro
remazol RNL a 298 K: ()[Bmin]BF4+(NH4)2SO4+H2O, () [Bmin]BF4+MnSO4+H2O
40 50 60
0,05
0,10
0,15
CLA/% (m/m)
KR
Para compreender a variação dos valores de KAR com relação ao CLA, é
necessário avaliar ambas as contribuições, entrópica e entálpica. Com o aumento do
CLA, a concentração dos componentes em cada fase também aumenta e, portanto,
existe um maior número de interações entre o AR e o principal componente em cada
64
fase. Portanto, isso irá modificar o primeiro termo da equação 6, através do aumento da
contribuição entálpica no valor do KAR.
Por outro lado, a diferença na quantidade de água entre as fases superior e
inferior é alterada (Tabela 4); consequentemente, o termo (𝑛𝐹𝑆
𝑉𝐹𝑆 −𝑛𝐹𝐼
𝑉𝐹𝐼) 𝑑a equação 7
torna-se menos negativo ou mais positivo, mudando contribuição entrópica de
transferência do AR entre fases no SAB.
No sistema [Bmim]BF4 + (NH4)2SO4 + água, a fase superior é rica em LI, a fase
inferior rica em sal e a água é o componente predominante em ambas as fases. O
comportamento de partição do AR nesse sistema é atribuído a uma contribuição
entrópica resultando num aumento do coeficiente de partição do corante com o aumento
da CLA.
No entanto, em [Bmim]BF4 + MnSO4 + água, o valor do KAR diminui com o
aumento do CLA. Este surpreendente comportamento de partição pode ser entendido
considerando que esse sistema exibe uma inversão de fases. Portanto, a fase rica em LI,
que é a fase superior menos densa, torna-se a fase inferior nos CLAs 3 a 521
.
Em valores do CLA menores, a partição do AR é entalpicamente conduzida e
por esta razão, o corante tende a migrar preferencialmente para a fase inferior devido a
interações com o LI. Curiosamente, quando o CLA aumenta, a densidade numérica da
fase rica em sal é maior do que a da fase rica em LI (Tabela 4), devido ao maior teor de
água na fase inferior. Assim, a contribuição entrópica predomina em relação à
contribuição entálpica, resultando numa diminuição dos valores do KAR.
Estudos anteriores por Ferreira et. al.4 demonstraram que corantes têxteis como
ácido cloranílico, azul índigo e Sudan III migram para a fase superior do LI-SAB
formado a partir de uma combinação de diferentes LIs e eletrólitos. Ventura e
colaboradores36
também observaram valores de coeficiente de partição maiores do que a
unidade para corantes vermelhos naturais isolados a partir de caldo fermentado. Estes
resultados mostram o grande potencial de LIs para a remoção de corantes a partir de
efluentes industriais.
65
3.7. Eficiência na extração do AR
A eficiência na extração (% EAR) do AR é um importante parâmetro utilizado
para avaliar a capacidade do SAB em extrair o corante para a fase superior a partir de
matrizes aquosas. Para todos os sistemas compostos por polímero e sal, a %EAR obtida
foi igual ou superior a 97%, destacando, o potencial deste método. A única exceção foi
a CLA1 para o sistema PEG 1500 + tartarato de sódio + água, no qual a eficiência de
extração foi de 87%. A %EAR em função do CLA para o sistema PEG 1500 + Li2SO4 +
H2O é mostrada na Figura 6.
Figura 6 - Eficiência de extração do corante AR utilizando o SAB formado por
PEG1500 + Li2SO4 + H2O.
30 40 50
99,3
99,6
99,9
CLA/% (m/m)
% E
AR
Para este sistema, os valores da %EAR são superiores a 99% e mostram
claramente a grande capacidade dos SABs para remover e extrair o AR. Notavelmente,
no primeiro CLA, a %EAR é de 99,2%. Este é um resultado muito positivo quando
consideramos futuras aplicações em escala industrial, dado que no primeiro CLA, a
concentração dos componentes que formam o SAB são mais baixas, contribuindo para
um melhor custo benefício do processo no tratamento de efluentes.
66
Por outro lado, no caso do LI-SAB, quando o CLA aumentada, a % EAR também
aumentou de 7,07 para 9,12 em [Bmim]BF4 + (NH4)2SO4 + água e diminuiu de 15,8
para 8,65 em [Bmim]BF4 + MnSO4 + água, demonstrando o potencial na remoção do
AR para a fase inferior de LI-SAB a partir de matrizes aquosas.
3.8. Recuperação do AR na presença de águas residuais
Para determinar a concentração do AR na presença do efluente têxtil sem efeitos
de matriz, realizou-se o método de adição de padrão. A solução estoque de águas
residuais foi usada como solvente para preparar os SAB. Os coeficientes de partição
revelaram que o corante foi transferido para a fase superior dos SAB, como mostrado na
Figura 7.
Figura 7 - Comportamento de partição do corante amarelo ouro remazol RNL na
presença do efluente.
30 40 500
300
600
900
KR
CLA/% (m/m)
A Tabela 5 mostra os resultados para os nossos estudos de recuperação em
amostras de águas residuais. Os resultados indicaram que no caso da amostra de
efluente, a despeito da presença de outros componentes (isto é, metais, agentes
67
tensoativos e outros corantes), o SAB é capaz de remover o corante com uma eficiência
de extração próxima de 100% para todas as CLAs avaliadas.
Tabela 5 - Valores de recuperação do corante amarelo ouro remazol RNL no SAB
formado por PEG1500+ Li2SO4+H2O+efluente a 298 K.
CLA (% m/m) % de Recuperação
29,43 100,5 + 0,5
34,97 103,2 + 0,9
41,71 94,7 + 0,7
46,36 99,7 + 0,3
51,67 98,2 + 0,7
Conclusão
Este trabalho demonstra a possibilidade de utilização do SAB como um método
para a remoção do corante sintético AR a partir de águas residuais. Vários parâmetros
foram avaliados, a fim de compreender o comportamento de partição do AR nos SABs.
Parâmetros termodinâmicos, tais como ΔtrGo foram determinados e utilizados em
conjunto com o modelo de Johansson et al. para explicar os comportamentos de
partição. Esse modelo mostra que a maior concentração do AR na fase superior em
sistemas poliméricos é entalpicamente dirigido. Pelo contrário, nos SABs que contêm
LI, o corante passa para a fase inferior. Portanto, a força motriz que regula esse processo
depende do sal que é utilizado nesse sistema e a diferença entre as propriedades
termodinâmicas intensivas da fases (CLA).
Foram observados valores máximos para o KAR no SAB formado por PEG 1500
+ Li2SO4 + H2O e para este sistema, um forte efeito do cátion Li + foi observado. A
massa molecular do polímero e a natureza do ânion não mostraram nenhum efeito
significativo sobre o comportamento de partição do AR. Esse sistema foi aplicado com
sucesso na remoção do AR de água residual. Os valores elevados do KAR na presença do
efluente demonstram o potencial dos SABs no tratamento de efluentes de indústrias
têxteis.
68
Agradecimentos
Os autores agradecem à Rede Mineira de Química (RQ-MG) / Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro. Os autores
agradecem reconhecidamente o generoso apoio financeiro da Universidade Federal de
Ouro Preto e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) para pesquisas de pós-graduação e bolsas de estudo.
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