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ESTUDO DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS” ASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO [email protected] 1 O Livro dos Médiuns Allan Kardec Iniciamos com este número o estudo de “O Livro dos Médiuns”, segunda obra que integra o chamado Pentateuco Kardequiano, que Allan Kardec lançou em Paris no ano de 1861, a qual será aqui apresentada na forma de 175 questões objetivas. INTRODUÇÃO Depois de haver exposto em “O Livro dos Espíritos” a parte filosófica da ciência espírita, Allan Kardec cuidou em “O Livro dos Médiuns” da parte prática da referida ciência, com vistas aos que querem ocupar-se das manifestações, seja por si mesmos, seja para se darem conta dos fenômenos que foram chamados a observar. Na obra em apreço, ver-se-ão os escolhos que médiuns e experimentadores podem encontrar e o meio de evitá-los. As duas obras, conquanto seja continuação uma da outra, são até certo ponto independentes; mas, aos que quiserem ocupar-se seriamente do assunto, o Codificador recomenda ler primeiro O Livro dos Espíritos, porque contém os principais fundamentos, sem os quais algumas partes d´O Livro dos Médiuns serão talvez dificilmente compreendidas. (L.M., Introdução.) QUESTÕES OBJETIVAS 1. Os progressos do Espiritismo aconteceram a partir de que momento? O Espiritismo fez grandes progressos desde alguns anos, mas os fez sobretudo imensos logo que entrou no caminho filosófico, porque foi apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje ele não é mais um espetáculo; é uma doutrina da qual não se riem mais os que zombaram das mesas girantes. Ao esforçarmo-nos por conduzi-lo e mantê- lo neste terreno, temos a convicção de lhe conquistar mais partidários úteis do que provocando a torto e a direito manifestações das quais se poderiam abusar. Disso temos todos os dias a prova pelo número de adeptos conseguidos pela simples leitura do Livro dos Espíritos. (L.M, Introdução.) 2. Para falar a alguém sobre Espiritismo é preciso primeiro uma base. Que base é essa? Antes de entabularmos qualquer discussão espírita, importa-nos que averigüemos se o interlocutor admite a existência da alma e a de Deus. Essa é a base de todo o edifício. Se ele responde negativamente ou com evasivas ("Não sei; eu queria que fosse assim, mas não estou certo") às perguntas: Crês em Deus? Crês ter uma alma? Crês na sobrevivência da alma depois da morte?, seria totalmente inútil ir além, porque tal intento seria o mesmo que demonstrar as propriedades da luz a um cego. Ora, as manifestações espíritas não são outra coisa senão os efeitos da propriedades da alma. Se o indivíduo não admite a existência desta, estaremos perdendo tempo, a não ser que usemos uma outra ordem de idéias. (L.M., item 4.)

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ESTUDO DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS”

ASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO

[email protected] 1

O Livro dos Médiuns

Allan Kardec

Iniciamos com este número o estudo de “O Livro dos Médiuns”, segunda obra que integra o chamado Pentateuco Kardequiano, que Allan Kardec lançou em Paris no ano de 1861, a qual será aqui apresentada na forma de 175 questões objetivas.

INTRODUÇÃO

Depois de haver exposto em “O Livro dos Espíritos” a parte filosófica da ciência espírita, Allan Kardec cuidou em “O Livro dos Médiuns” da parte prática da referida ciência, com vistas aos que querem ocupar-se das manifestações, seja por si mesmos, seja para se darem conta dos fenômenos que foram chamados a observar.

Na obra em apreço, ver-se-ão os escolhos que médiuns e experimentadores podem encontrar e o meio de evitá-los.

As duas obras, conquanto seja continuação uma da outra, são até certo ponto independentes; mas, aos que quiserem ocupar-se seriamente do assunto, o Codificador recomenda ler primeiro O Livro dos Espíritos, porque contém os principais fundamentos, sem os quais algumas partes d´O Livro dos Médiuns serão talvez dificilmente compreendidas. (L.M., Introdução.)

QUESTÕES OBJETIVAS

1. Os progressos do Espiritismo aconteceram a partir de que momento?

O Espiritismo fez grandes progressos desde alguns anos, mas os fez sobretudo imensos logo que entrou no caminho filosófico, porque foi apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje ele não é mais um espetáculo; é uma doutrina da qual não se riem mais os que zombaram das mesas girantes. Ao esforçarmo-nos por conduzi-lo e mantê-lo neste terreno, temos a convicção de lhe conquistar mais partidários úteis do que provocando a torto e a direito manifestações das quais se poderiam abusar. Disso temos todos os dias a prova pelo número de adeptos conseguidos pela simples leitura do Livro dos Espíritos. (L.M, Introdução.)

2. Para falar a alguém sobre Espiritismo é preciso primeiro uma base. Que

base é essa?

Antes de entabularmos qualquer discussão espírita, importa-nos que averigüemos se o interlocutor admite a existência da alma e a de Deus. Essa é a base de todo o edifício. Se ele responde negativamente ou com evasivas ("Não sei; eu queria que fosse assim, mas não estou certo") às perguntas: Crês em Deus? Crês ter uma alma? Crês na sobrevivência da alma depois da morte?, seria totalmente inútil ir além, porque tal intento seria o mesmo que demonstrar as propriedades da luz a um cego. Ora, as manifestações espíritas não são outra coisa senão os efeitos da propriedades da alma. Se o indivíduo não admite a existência desta, estaremos perdendo tempo, a não ser que usemos uma outra ordem de idéias. (L.M., item 4.)

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3. Que diz o Espiritismo acerca do sobrenatural e do maravilhoso?

Aos olhos dos que vêem a matéria como a única potência da natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural. Para esses, maravilhoso é sinônimo de superstição e sobrenatural é o que é contrário às leis da natureza. O Espiritismo não aceita todos os fatos que são atribuídos ao maravilhoso e ao sobrenatural. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de certas crenças que são, propriamente falando, o efeito de uma superstição. Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações. Esses fenômenos, fundados numa lei da natureza, não têm nada de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras. Os fatos verídicos reputados sobrenaturais só o são porque quem assim os julga não lhes conhece a causa. Determinando-lhes a causa, o Espiritismo os faz penetrar novamente no domínio dos fenômenos naturais. (L.M., itens 10, 13 e 14.)

4. Quais e quantas são as classes de espíritas?

Existem quatro classes principais: 1a) os espíritas experimentadores, que crêem pura e simplesmente nas manifestações e

acham que o Espiritismo é uma simples ciência de observação; 2a) os espíritas imperfeitos, que também compreendem a parte filosófica da doutrina e

admiram a moral que dela decorre, mas não a praticam. A influência do Espiritismo sobre o caráter deles é insignificante ou nula; eles não mudam nada de seus hábitos e conservam a avareza, o orgulho, a inveja ou o ciúme que os caracterizavam antes;

3a) os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos, que não se contentam com admirar a moral espírita, mas a praticam, aceitando-lhes todas as conseqüências. Convencidos de que a existência terrestre é uma prova passageira, trabalham por tirar proveito destes curtos instantes para caminharem pela via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir seus maus pendores. A caridade é, em todas as coisas, a regra de sua conduta;

4a) os espíritas exaltados, que aceitam facilmente e sem reflexão tudo o que provém do plano espiritual. Exagerados em sua crença, revelam uma confiança cega e à vezes pueril nas coisas do mundo invisível. Eles são os menos indicados para convencer, porque são de muito boa fé enganados, seja por espíritos mistificadores, seja por pessoas que lhes exploram a credulidade. (L.M., item 28.)

5. Que papel incumbe ao espírita de verdade?

Ao espírita de verdade jamais faltará ocasião de fazer o bem; corações aflitos a aliviar, consolações a distribuir, desesperos a acalmar, reformas morais a operar – eis sua missão, na qual encontrará também sua verdadeira satisfação. (L.M., item 30.)

6. Para se ensinar Espiritismo, qual é o método melhor?

O melhor método do ensino espírita é dirigi-lo à razão antes de dirigi-lo à vista. É o que seguimos em nossas lições e com o qual estamos muito satisfeitos. O estudo preliminar da teoria tem uma outra vantagem que é a de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e do alcance desta ciência; aquele que começa por ver uma mesa girar ou bater é mais levado à zombaria, porque dificilmente se persuade de que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da Humanidade. Começar pela teoria nos permite passar todos os fenômenos em revista, explicá-los, compreender-lhes a possibilidade, as condições sob as quais podem produzir-se e os obstáculos que poderão ser encontrados.

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Qualquer que seja a ordem sob a qual ele aparecem depois, nada terão que possa

surpreender, poupando-se a quem quer trabalhar uma série de desenganos. (L.M., itens 31 e 32.)

7. Ao tempo da codificação do Espiritismo, surgiram vários sistemas de refutação à doutrina espírita. Quais são esses sistemas?

Ao todo, os sistemas criados para refutar o Espiritismo perfazem 13 títulos: sistemas de negação, isto é, os sistemas dos adversários do Espiritismo; sistema do charlatanismo, que atribuem os fenômenos a trapaças; sistemas de loucura; sistemas de alucinação; sistema do músculo que estala; sistema das causas físicas; sistema do reflexo; sistema da alma coletiva; sistema sonambúlico; sistema demoníaco; sistema otimista; sistema monospírita; e sistema da alma material. (L.M., itens 37 a 50.)

8. Quais são as conseqüências gerais do sistema polispírita ou multispírita?

Todos os 13 sistemas mencionados na questão precedente resultam de uma observação parcial dos fenômenos ou de sua má interpretação. Eis as conseqüências gerais que foram deduzidas de uma observação completa e que constituem o ensino da universidade dos Espíritos:

1o) Os fenômenos espíritas são produzidos por inteligências extracorpóreas (os Espíritos);

2o) Os Espíritos constituem o mundo invisível e estão em todos os lugares, inclusive ao nosso redor, em contato conosco;

3o) Os Espíritos reagem sem cessar sobre o mundo físico e sobre o mundo moral; 4o) Os Espíritos não são seres à parte na Criação: são as almas dos que viveram na Terra ou em outros mundos. As almas dos homens são Espíritos encarnados;

5o) Há Espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância; 6o) Estão todos submetidos à lei do progresso e podem chegar à perfeição, mas como eles têm livre arbítrio, alcançam-na num tempo mais ou menos longo, segundo seus esforços e sua vontade;

7o) Eles são felizes conforme o bem ou o mal que tenham feito durante a vida e o adiantamento a que chegaram. A felicidade perfeita e sem sombras é partilhada apenas pelos Espíritos que chegaram ao grau supremo de perfeição;

8o) Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens;

9o) Os Espíritos se comunicam por intermédio dos médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes;

10o) Reconhece-se o adiantamento dos Espíritos pela sua linguagem; os bons aconselham o bem e não dizem senão coisas boas; tudo neles atesta elevação. Os maus enganam e suas palavras trazem o selo da imperfeição e da ignorância. (Item 49)

9. Por que há Espíritos maus que não valem mais do que os chamados demônios?

O fato é verdadeiro e a razão é simples: é que há homens muito maus e que a morte não os torna imediatamente melhores. Não sendo os Espíritos mais do que as almas dos homens e não sendo estes perfeitos, resulta que há Espíritos igualmente iimperfeitos e cujo caráter se reflete em suas comunicações. (Item 46)

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10. Como prevenir os inconvenientes que apresenta a prática espírita?

O melhor meio de se prevenir contra os inconvenientes que pode apresentar a prática do Espiritismo não é proibi-lo, mas fazê-lo compreendido. Deus nos deu a razão e o discernimento para apreciar os Espíritos, tanto quanto os homens. Um temor imaginário não impressiona mais do que um instante e não afeta todo o mundo. A realidade claramente demonstrada é compreendida por todos. O conhecimento prévio da teoria e da Escala Espírita nos darão condições para compreender e controlar as manifestações. (Item 46)

11. Os bons Espíritos podem insuflar o azedume e a cizânia entre os homens?

Não; os bons Espíritos não insuflam jamais o azedume ou discórdia. Os que agem assim são Espíritos imperfeitos, que, devido à sua inferioridade, podem induzir os homens à desunião. Os bons Espíritos têm a prática do bem como meta e é isso que os caracteriza. (Item 50)

12. É possível ao homem esquadrinhar o princípio das coisas?

Não, porquanto o princípio das coisas, como é ensinado em O Livro dos Espíritos, está nos segredos de Deus. Pretender folhear com a ajuda do Espiritismo o que ainda não é da alçada da Humanidade é desviá-lo do seu verdadeiro fim. Que o homem aplique o Espiritismo em seu melhoramento moral, eis o essencial, porque o único meio de progredir é tornar-se melhor. (Item 51) 13. A forma humana é encontrada também em outros mundos?

A forma humana, excetuadas algumas minúcias, necessárias ao meio em que o Espírito é chamado a viver, encontra-se nos habitantes de todos os globos; pelo menos é o que dizem os Espíritos. É igualmente a forma de todos os Espíritos não encarnados e que possuem apenas o perispírito como envoltório; é ainda aquela sob a qual, em todos os tempos, representaram-se os anjos ou Espíritos puros. Podemos concluir, portanto, que a forma humana é o tipo de todos os seres humanos de qualquer grau a que pertençam. (Item 56) 14. Qual a causa da dúvida dos homens acerca das manifestações dos Espíritos?

Uma causa que contribuiu para fortificar a dúvida, numa época tão positiva como a nossa, em que se exige conta de tudo, em que se quer saber o porquê e o como de cada coisa, é a ignorância da natureza dos Espíritos e dos meios pelos quais podem manifestar-se. Adquirido esse conhecimento, o fato das manifestações nada tem de surpreendente e entra, assim, na ordem dos fatos naturais.

De fato, a idéia que fazemos dos Espíritos torna, à primeira vista, incompreensível o fenômeno das manifestações. Estas não podem produzir-se senão pela ação do Espírito sobre a matéria. Mas, se julgam que o Espírito é a ausência de toda matéria, perguntam, com relativa razão, como pode ele agir materialmente.

Ora, aí está o erro, porque o Espírito não é uma abstração, é um ser definido, limitado e circunscrito.

O Espírito encarnado no corpo humano constitui a alma; quando o deixa pela morte, não sai sem nenhum invólucro. Todos nos dizem que conservam a forma humana e é assim que eles nos aparecem. (Itens 52 e 53)

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15. Que ocorre ao homem logo após a morte física? No momento em que acabam de deixar a vida corpórea, os indivíduos estão num

estado de perturbação; tudo é confuso ao redor deles; vêem seu corpo perfeito ou mutilado segundo o gênero de morte; por outro lado, vêem e se sentem viver; alguma coisa lhes diz que este corpo era o deles, e não compreendem que estejam separados dele. Continuam a se ver sob sua forma primitiva, e esta vista produz em alguns, durante um certo tempo, uma singular ilusão: a de se julgarem ainda encarnados; falta-lhes a experiência de seu novo estado para se convencerem da realidade. Passado esse primeiro momento de perturbação, o corpo se torna para eles uma velha veste da qual se despojaram e da qual não guardam saudades; sentem-se mais leves e como que desembaraçados de um fardo; já não experimentam dores físicas e são muito felizes em poder elevar-se, transpor o espaço, assim como fizeram muitas vezes em seu sonhos. Entretanto, apesar da ausência do corpo, constatam sua personalidade; têm uma forma que não os embaraça; têm, enfim, a consciência do seu eu e de sua individualidade. (Item 53)

16. Que é o homem?

Numerosas observações e fatos irrecusáveis conduziram-nos à conclusão de que há no homem três coisas:

1a, a alma ou espírito, princípio inteligente no qual reside o senso moral; 2a, o corpo, invólucro grosseiro, material, que o reveste temporariamente para

que possa desempenhar certos encargos providenciais; 3a, o perispírito, invólucro fluídico, semimaterial, que serve de ligação entre a

alma e o corpo. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação do invólucro grosseiro, que a alma abandona. O outro se liberta e segue a alma, que, desta forma, percebe ter sempre um invólucro: o perispírito. (L.M., item 54)

17. Que é o perispírito? O perispírito é o invólucro material, fluídico, do espírito, que serve de ligação

entre este e o corpo durante a encarnação. Para os espíritos desencarnados é o agente pelo qual eles se comunicam com os homens e constitui para eles uma espécie de corpo sutil que tem a forma de sua última encarnação. (Item 51)

18. Qual a função do perispírito?

O perispírito é o intermediário de todas as sensações que o espírito percebe, e pelo qual ele transmite sua vontade ao exterior e age sobre os órgãos. Para servir-nos de uma comparação material, é o fio elétrico condutor que serve para a recepção e para a transmissão do pensamento. (Item 54)

19. Qual a forma do perispírito?

A forma do perispírito é a forma humana, e quando nos aparece é geralmente aquela sob a qual conhecíamos o espírito no tempo de sua última encarnação, embora este possa dar-lhe a aparência que desejar. (Item 56)

20. O perispírito pode se expandir?

A matéria sutil do perispírito não tem a resistência nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é flexível e expansível e submete-se à vontade do espírito, que pode dar-lhe tal ou qual aparência a seu gosto.

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Uma vez desembaraçado do corpo físico, que o comprimia, o perispírito se

estende ou se contrai, transforma-se, numa palavra: presta-se a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.

É graças a esta propriedade do perispírito que o espírito pode, quando se quer fazer reconhecer, tomar a exata aparência que tinha quando encarnado e, na verdade, até mesmo a dos defeitos corporais que podem ser sinais de reconhecimento. (Item 56)

21. Qual a natureza do perispírito?

Também chamado fluido nervoso, o perispírito se eteriza à medida que o espírito

se purifica e se eleva na hierarquia espiritual. Constituído do fluido peculiar à atmosfera do globo a que esteja vinculado, está no conhecimento desse invólucro a chave de uma porção de problemas até agora inexplicados. Sua natureza é fluídica, mas é também uma espécie de matéria, fato comprovado pelas aparições tangíveis de espíritos. Viram-se com efeito, sob a influência de certos médiuns, aparecer mãos tendo todas as propriedades das mãos vivas, que têm calor, que podem ser apalpadas, que oferecem a resistência de um corpo sólido, que nos seguram e que, de repente, se desfazem como uma sombra.

A ação inteligente dessas mãos, que obedecem evidentemente a uma vontade ao executarem certos movimentos, até a tocar árias num instrumento, prova que são a parte visível de um ser inteligente invisível. Sua tangibilidade, sua temperatura, a impressão que causam aos sentidos provam que são de uma matéria qualquer. Seu desaparecimento instantâneo prova, por outro lado, que essa matéria é eminentemente sutil e se comporta como certas substâncias que podem, alternadamente, passar do estado sólido ao estado fluídico e reciprocamente. (Item 57)

22. Como pode o espírito, que é imaterial, agir sobre a matéria?

A ação do espírito sobre a matéria se concebe facilmente quando se conhece a existência do perispírito. O espírito se vale de seu invólucro sutil, que é também de natureza material, como o homem se vale de seu corpo.

O instrumento direto da ação do espírito é, portanto, o seu perispírito. Ele tem, ainda, por agente intermediário, o fluido universal, espécie de veículo sobre o qual age como nós agimos sobre o ar para produzir alguns efeitos com a ajuda da dilatação, da compressão, da propulsão ou das vibrações. Os efeitos dessa ação, que antes pareciam sobrenaturais, entram na ordem dos fatos naturais, cuja causa reside inteiramente nas propriedades semimateriais do perispírito. (Item 58)

23. Como é o fenômeno designado pelo nome de "mesas girantes"?

Dá-se o nome de manifestações físicas àquelas que se traduzem por efeitos sensíveis, tais como os barulhos, o movimento e o deslocamento dos corpos sólidos. Alguns são espontâneos, isto é, independentes da vontade dos homens; outros são provocados. O efeito mais simples e um dos primeiros que foram observados consiste no movimento circular imprimido a uma mesa.

Este efeito se produz igualmente com qualquer objeto, mas sendo a mesa aquele sobre o qual foi mais exercido, porque era o mais cômodo, o nome de mesas girantes prevaleceu para a designação desta espécie de fenômenos. É preciso explicar, contudo, que tal fenômeno já se produzira antes do advento do Espiritismo. Tertuliano fala em termos explícitos das mesas girantes e falantes, o que demonstra a antiguidade do fato. (Item 60)

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24. Como se dá o fenômeno das mesas girantes? Antes de mais nada, é preciso que haja um ou mais médiuns dotados da aptidão

especial para produção de efeitos físicos. As pessoas se assentam ao redor de uma mesa e pousam a palma das mãos em cima, sem pressão e sem tensão muscular. É preciso que haja recolhimento, um silêncio absoluto e paciência se o efeito demorar a produzir-se. Pode acontecer que este se dê em poucos minutos, como pode demorar meia ou uma hora; isto dependerá da força mediúnica dos participantes.

Quando o efeito começa a se manifestar, ouve-se comumente um estalido na mesa; sente-se um estremecimento que é o prelúdio do movimento; a mesa parece fazer esforços para se desamarrar; o movimento de rotação se pronuncia e se acelera ao ponto de adquirir uma rapidez tal que o assistentes experimentam sérias dificuldades para acompanhá-lo. Uma vez o movimento estabelecido, pode-se mesmo se afastar da mesa, que continua a mover-se em diversos sentidos e sem contato.

Em outras circunstâncias, a mesa se ergue e firma ora num pé, ora no outro, depois volta docemente à sua posição natural. Outras vezes, balança-se imitando o movimento oscilatório de um navio.

De outras vezes, enfim, destaca-se inteiramente do solo e se mantém em equilíbrio no espaço, sem ponto de apoio; depois desce lentamente, balançando-se como o faria uma folha de papel, ou bem cai violentamente e se quebra, o que prova de um modo patente que não se é joguete de uma ilusão de ótica. (Itens 61 a 63)

25. Por que o fenômeno das mesas girantes não mais ocorre?

Duas causas contribuíram para o abandono das mesas girantes: a moda, para as pessoas frívolas, que dedicam raramente duas temporadas ao mesmo divertimento; todavia, nesse caso conseguiram dedicar-lhe três ou quatro!

Para as pessoas sérias e observadoras saiu alguma coisa de respeitável, que prevaleceu; desprezaram-se as mesas girantes porque se passou a ocupar das conseqüências que resultaram das manifestações: deixaram o alfabeto pela ciência. Eis todo o segredo desse abandono aparente, do qual fizeram tanto barulho os zombadores. (Item 60)

26. Quais são as manifestações espíritas mais simples? De todas as manifestações espíritas, as mais simples e as mais freqüentes são os

ruídos e as batidas, mas é preciso compreender que os ruídos espíritas têm um caráter particular e apresentam uma intensidade e timbres muito variados, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem confundi-los com o ranger da madeira, o crepitar do fogo ou o tic-tac monótono de um pêndulo.

São pancadas secas, às vezes surdas, fracas e leves, outras vezes claras, distintas, algumas vezes estrepitosas, que mudam de lugar e se repetem sem terem uma regularidade mecânica. De todos os meios de controle, para certificação de sua veracidade, o mais eficaz, aquele que não pode deixar dúvidas de sua origem, é a obediência do fenômeno à vontade.

Se as pancadas se fazem ouvir no lugar designado, se respondem ao pensamento por seu número ou sua intensidade, não se lhes pode negar uma causa inteligente, embora a falta de obediência não constitua sempre uma prova contrária. É preciso submeter o fenômeno a uma verificação minuciosa para se ter a certeza de que não é ele o resultado de causas comuns ou mesmo de brincadeiras de mau gosto. (Item 83)

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27. Que caracteriza uma manifestação como inteligente? Para que uma manifestação seja inteligente, não é preciso que seja eloqüente,

espiritual ou erudita; é suficiente que prove um ato livre e voluntário, que exprima uma intenção, ou responda a um pensamento. Vimos a mesa mover-se, erguer-se, dar pancadas, sob a influência de um ou de vários médiuns. O primeiro efeito inteligente que se observou foi de ver estes movimentos obedecerem a uma ordem. Assim, sem mudar de lugar, a mesa se erguia alternadamente sobre o pé designado; depois, caindo, batia um determinado numero de pancadas, respondendo a uma pergunta. Outras vezes, a mesa, sem o contato de ninguém, passeava sozinha pela sala, indo para a direita e para a esquerda, para trás e para diante, executando diversos movimentos conforme os assistentes mandavam. Eis o que dá ao fenômeno o caráter inteligente a que se refere a pergunta. (Itens 66 e 67)

28. Essa inteligência não é devida à ação do médium? A princípio, surgiu um sistema segundo o qual a inteligência da manifestação

seria proveniente do médium, do interrogador ou mesmo dos assistentes. A dificuldade era explicar como essa inteligência podia refletir-se na mesa e se traduzir por pancadas. Ora, como as pancadas não eram dadas fisicamente pelo médium, eram pelo pensamento. Eis aí, então, um fenômeno ainda mais prodigioso do que os até então observados: o pensamento desferindo pancadas!... A experiência não tardou em demonstrar o erro dessa opinião. Com efeito, as respostas estavam, muito freqüentemente, em oposição formal ao pensamento dos assistentes, fora do alcance intelectual do médium e mesmo em idiomas ignorados por ele, ou relatando fatos desconhecidos de todos. Os exemplos são tão numerosos, que é quase impossível que alguém que se ocupou de comunicações espíritas não tenha sido testemunha deles muitas vezes. (Item 69)

29. Qual é, então, o papel do médium nesse tipo de fenômeno espírita? Médium quer dizer intermediário. Nesses fenômenos, o fluido próprio do médium

se combina com o fluido universal acumulado pelo Espírito: é necessária a união desses dois fluidos, isto é, do fluido animalizado do médium com o fluido universal, para dar vida momentânea à mesa ou a qualquer outro objeto. Esta vida é, porém, passageira e se extingue com a ação e, muitas vezes, antes do fim da ação, logo que a quantidade de fluido não é suficiente para animá-la. (Item 74, pergunta 14)

30. O Espírito pode produzir o fenômeno sem o concurso de um médium?

Pode agir sem o médium saber, isto é, muitas pessoas servem de auxiliares aos Espíritos para certos fenômenos, sem o perceberem. O Espírito tira delas, como de uma fonte, o fluido animalizado do qual tem necessidade; é assim que o concurso de um médium nem sempre é voluntário, o que se dá principalmente nas manifestações espontâneas. A razão disso é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, é apanágio exclusivo do encarnado e do qual, por conseguinte, o Espírito operador é obrigado a se impregnar. (Item 74, parágrafo 15, e item 98)

31. Que é o chamado fluido universal e qual é seu estado mais simples?

Criado por Deus, o fluido universal é o princípio elementar de todas as coisas, excetuados os seres inteligentes da Criação. Para encontrá-lo em sua simplicidade absoluta, é preciso remontarmos até aos Espíritos puros.

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Na Terra ele está sempre mais ou menos modificado para formar a matéria

compacta que nos cerca, e aqui o estado que mais se aproxima dessa simplicidade é o do fluido que, em Espiritismo, chamamos de fluido magnético animal. (Item 74)

32. Como pode o Espírito, que é imaterial, agir sobre a matéria? Ele combina uma parte do fluido universal com o fluido animalizado que o

médium solta, próprio para esse efeito. Com esses elementos assim combinados o Espírito anima o objeto de uma vida artificial momentânea. O Espírito pode, então, atrair tal objeto e movê-lo sob a influência de seu próprio fluido, irradiado por sua vontade. Em virtude de sua natureza etérea, o Espírito propriamente dito não pode agir sobre a matéria grosseira sem um intermediário, isto é, sem um liame que o une à matéria; este o liame, que constitui o que se chama perispírito (corpo fluídico do Espírito), é que dá a chave de todos os fenômenos espíritas materiais. (Item 74)

33. Quando um piano toca sem contato de ninguém, é o Espírito que pressiona o teclado para obter os sons?

Mesmo quando aparecem mãos de Espíritos materializados sobre o piano que toca, o fenômeno se dá como explicado na resposta anterior. Quando o Espírito pousa os dedos nas teclas, pousa-os realmente e mesmo os mexe, mas não é a força muscular que pressiona as teclas. Ele anima as teclas com uma vida artificial, e elas obedecem à sua vontade, mexendo-se e tocando as cordas do piano. Para animar as teclas o Espírito se vale de parte do fluido universal combinado com o fluido animalizado do médium. (Item 74, parágrafo 24)

34. Como é que foram descobertos outros meios de comunicação com os Espíritos?

Em seguida aos primeiros fenômenos mediúnicos observados a partir de 1848 na América do Norte, conhecidos como "raps" (ruídos provocados pelos Espíritos comunicantes no piso, no teto, nas paredes e nos móveis), aperfeiçoou-se a arte da comunicação por pancadas alfabéticas, que era um meio muito moroso. Os Espíritos depois indicaram outros meios e é a eles que devemos o meio das comunicações escritas. As primeiras manifestações deste gênero tiveram lugar adaptando-se um lápis ao pé de uma mesa leve pousada numa folha de papel. Simplificou-se sucessivamente este meio, servindo-se de mesinhas do tamanho da mão, em seguida de cestinhas, de caixinhas de cartão e, por fim, de simples e pequeninas tábuas aboinhas. A escrita era tão corrente, tão rápida e tão fácil como com a mão. Mais tarde reconheceu-se que todos esses objetos poderiam ser dispensados e o médium passou a segurar diretamente o lápis. Eis aí a psicografia. (Item 71)

35. Como se explica o fenômeno da levitação?

Quando um objeto é posto em movimento, transportado ou lançado ao ar, não é o Espírito que o agarra, empurra e ergue, como fazemos com as mãos. Ele o impregna, por assim dizer, de um fluido combinado com o fluido do médium e o objeto, assim vivificado momentaneamente, age como faria um ser vivente, com a diferença de que, não tendo vontade própria, segue o impulso da vontade do Espírito. Se, pelo meio indicado, o Espírito pode erguer uma mesa, pode erguer qualquer coisa; uma poltrona, por exemplo. Se pode erguer uma poltrona, pode também, com uma força fluídica suficiente, erguer ao mesmo tempo uma pessoa sentada em cima.

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Eis aí a explicação do fenômeno produzido por Daniel Home e por Mirabelli, uma

centena de vezes, consigo e com outras pessoas. Home o reproduziu certa vez numa viagem a Londres e, para provar que seus espectadores não eram vítimas de uma ilusão, fez no teto uma marca com um lápis, enquanto as pessoas passaram sob ele levitado. (Itens 77 a 80)

36. A densidade do perispírito varia de pessoa para pessoa?

A densidade do perispírito varia segundo o estado dos mundos e varia também, num mesmo mundo, segundo os indivíduos. Entre os Espíritos adiantados moralmente, ele é mais sutil e se aproxima do perispírito dos Espíritos elevados. Entre os Espíritos inferiores, ao contrário, se aproxima da matéria grosseira, e é isto que faz com que esses Espíritos de baixa classe conservem por tanto tempo as ilusões da vida terrestre: pensam e agem como se estivessem ainda encarnados, têm os mesmos desejos e, podemos dizer, a mesma sensualidade. Esta materialidade do perispírito, dando-lhes mais afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais apropriados para as manifestações físicas. (Item 74, parágrafo 12)

37. Qual o objetivo das manifestações físicas? As manifestações físicas têm por objetivo chamar nossa atenção para alguma

coisa e de nos convencer da presença de uma força superior ao homem. Uma vez atingido o objetivo, a manifestação física cessa, porque não é mais necessária. (Item 85)

38. As manifestações físicas ajudam a convencer os homens?

Sim, as manifestações espontâneas são freqüentemente permitidas e mesmo provocadas com o fim de convencer, embora existam pessoas incrédulas que, mesmo vendo os Espíritos, persistem na descrença. Os ateus e os materialistas não são a cada instante testemunhas do poder de Deus e do Pensamento? Isto não os impede de negar Deus e a alma. (Item 94)

39. Para convencer as pessoas há outro meio mais apropriado?

É preciso compreender que os fenômenos espíritas não são feitos para serem dados em espetáculo e para divertir curiosos. Evidente é que eles são úteis para convencer os incrédulos, mas, se não existissem outros meios de convicção, não haveria hoje a centésima parte dos espíritas. Para fazer conversões sérias, é preciso falar ao coração; é por aí que teremos os melhores resultados quanto a esse objetivo. (Item 98)

40. Que fazer diante das manifestações espíritas espontâneas? Em geral, não há motivos para se amedrontar; a presença dos Espíritos pode ser

importuna, mas não perigosa. Se são Espíritos que se divertem , devemos rir-nos de suas peças, e não nos impacientar com elas: eles, então, acabarão por se cansar e se retirarão do local. È sempre útil saber, contudo, o que desejam. Se pedem alguma coisa, podemos estar certos de que cessarão suas visitas desde que seu desejo esteja satisfeito. A consulta nesses casos deverá ser feita através de um médium em boas condições de desenvolvimento. Se o autor das manifestações é um Espírito infeliz, a caridade manda seja tratado com as atenções que merece; se é um malvado, é preciso pedir a Deus que o torne melhor.

Em todos os casos, a prece pode ter sempre apenas um bom resultado. Mas a gravidade das fórmulas de exorcismo os faz rir e não as levam em nenhuma conta. (Item 90)

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41. Em que consiste o fenômeno de transporte? Este fenômeno difere das manifestações em que ocorra movimento de objetos

inertes apenas pela intenção benévola do Espírito que o executa, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira doce e freqüentemente delicada por que são trazidos. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no local onde se está; são com freqüência flores, algumas vezes frutos, bombons, jóias etc.

Para obter fenômenos dessa ordem, é preciso contar com médiuns sensitivos, isto é, dotados do mais alto grau das faculdades medianímicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar ao seu redor com profusão seu fluido animalizado.

Nem todos os Espíritos podem produzi-los, porque é preciso que entre o médium e eles exista uma certa afinidade, uma certa analogia, uma certa semelhança que permita à parte expansível do fluido perispirítico do encarnado se misturar, se unir, se combinar com o do Espírito que quer executar o transporte. Então este pode, por meio de certas propriedades do ambiente terrestre, por nós desconhecidas, isolar, tornar invisíveis e fazer moverem-se certos objetos materiais e os próprios encarnados. (Itens 96 a 98).

42. Um objeto pode ser transportado para um local fechado?

O Espírito pode tornar invisíveis os objetos a serem transportados, mas não fazê-los penetráveis, nem quebrar a agregação da matéria, o que seria a destruição do objeto. Tornando invisível o objeto, pode transportá-lo quando quer e não o desembrulhar senão no momento conveniente para fazê-lo aparecer. O caso é, porém, diferente quanto aos objetos compostos pelo Espírito.

Como este não introduz no recinto senão os elementos da matéria que são essencialmente penetráveis, pode introduzir um objeto num lugar, por mais fechado que esteja, mas é somente neste caso. Os Espíritos têm a faculdade de penetrar e atravessar os mais condensados corpos com a mesma facilidade com que os raios solares atravessam os vidros de uma vidraça. (Item 99, pergunta no 20)

(N.R.: André Luiz , em seu livro "Nos Domínios da Mediunidade", cap. 28, pp. 268 a 271, e Ernesto Bozzano, em "Fenômenos de Transporte", tratam do tema e afirmam, contrariamente ao que diz Erasto neste item de "O Livro dos Médiuns", que é possível, sim, introduzir um objeto num lugar hermeticamente fechado. Recomendamos ao leitor que leia sobre o assunto as obras citadas.)

43. Como o Espírito transporta o objeto?

Ele o envolve com um fluido haurido em parte no perispírito do médium e, em parte, dele mesmo e é nesta combinação que oculta e transporta o objeto sujeito do transporte. Uma vez introduzido o objeto no recinto, o Espírito o desembrulha, isto é, tira o elemento fluídico que o envolve, tornando-o novamente visível. (Item 99, perguntas nos 13 e 19)

44. Quais são as manifestações espíritas mais interessantes? De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes, sem contradição, são

aquelas pelas quais os Espíritos podem tornar-se visíveis. Aliás, este fenômeno não é mais sobrenatural do que os outros, visto que os

Espíritos podem tornar-se visíveis durante o sono e mesmo durante a vigília, o que é, contudo, mais raro. (Item 100)

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45. Há inconveniente em se ver os Espíritos a todo instante?

Haveria tanto inconveniente em nos vermos constantemente em presença dos Espíritos como em ver o ar que respiramos ou as miríades de animais microscópicos que pululam ao redor de nós e sobre nós. Estando a todo momento rodeado de Espíritos, o homem ficaria perturbado com sua visão incessante, que lhe embaraçaria as ações e lhe tiraria a iniciativa na maior parte dos casos, enquanto que, julgando-se só, age mais livremente. Deus sabe melhor do que nós o que nos convém e, se permite que vejamos os Espíritos em certos casos, é para dar uma prova de que tudo não morre com o corpo e de que a alma conserva sua individualidade depois da morte. (Item 100, perguntas nos 7 e 8)

46. Como podem os Espíritos tornar-se visíveis?

O princípio é o mesmo que o de todas as manifestações; reporta-se às propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, à vontade do Espírito. Em nosso mundo, os Espíritos só podem manifestar-se com a ajuda de seu invólucro semimaterial e é assim que aparecem algumas vezes com a forma humana ou outra diferente, seja nos sonhos, seja mesmo no estado de vigília. Pela combinação de fluidos do médium e dele mesmo, produz-se no perispírito do desencarnado uma disposição particular que não tem analogia para nós e que o torna perceptível. (Item 100, perguntas nos 21 a 23)

47. Por que não vemos os Espíritos que desejamos ver? Os Espíritos não têm sempre a possibilidade de se manifestarem à vista, mesmo

em sonhos, apesar do desejo dos encarnados de vê-los. Causas independentes da sua vontade podem impedi-lo. É muitas vezes também uma prova cujo mais ardente desejo não pode afastar.

48. Qual é o princípio das manifestações visuais? O perispírito, como já vimos, é o princípio de todas as manifestações; seu

conhecimento deu-nos a chave de uma porção de fenômenos e fez a ciência espírita dar um passo imenso, tirando-lhe todo o caráter maravilhoso. Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível e isto tem ele de comum com diversos fluidos que sabemos existirem e que entretanto jamais vimos; mas pode também, como certos fluidos, sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, seja por uma espécie de condensação, seja por uma mudança em sua disposição molecular; é então que nos aparece sob uma forma vaporosa.

A condensação (é preciso não tomar esta palavra ao pé da letra, visto que a empregamos apenas por faltar uma outra e a título de comparação) pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível, retomando instantaneamente seu estado etéreo e invisível. Podemos compreender tal mudança de estado pelo que se passa com o vapor, que pode passar da invisibilidade ao estado brumoso, depois líquido, depois sólido e vice-versa.

Esses diferentes estados do perispírito são o resultado da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior, como nos gases. Quando nos aparece, é porque coloca seu perispírito no estado necessário para tornar-se visível, mas para isso só sua vontade não é suficiente, porque a modificação perispirítica se opera por sua combinação com o fluido próprio do médium; ora, essa combinação nem sempre é possível, o que explica por que a visibilidade dos Espíritos não é geral.

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Assim, não é suficiente que o Espírito queira mostrar-se, e também não é

suficiente que uma pessoa queira vê-lo; é preciso que os dois fluidos possam combinar-se, que haja entre eles uma espécie de afinidade, que a emissão do fluido da pessoa seja suficiente para operar a transformação do perispírito, e, enfim, que o Espírito tenha permissão de se mostrar a uma determinada pessoa. (Itens 105 e 109)

49. A faculdade de vidência pode ser desenvolvida? Antes de outra coisa, é preciso compreender que a vidência depende do

organismo; ela guarda relação com a capacidade do fluido do vidente de se combinar com o fluido do Espírito. A faculdade pode, como todas as outras, desenvolver-se pelo exercício, mas é uma daquelas em que vale mais esperar o desenvolvimento natural do que provocá-lo, para prevenir a sobreexcitação da imaginação. (Item 100, perguntas nos 26 e 27)

50. Como se dão as alucinações? As imagens chegadas ao cérebro pelos olhos aí deixam uma marca, que faz com

que nos lembremos de um quadro como se tivéssemos diante de nós, mas isto é sempre uma função da memória, porque não o vemos. Num certo estado de emancipação, a alma vê no cérebro e aí encontra estas imagens, aquelas sobretudo que mais a impressionaram, segundo a natureza das preocupações ou as disposições do Espírito: é assim que aí encontra a marca de cenas religiosas, diabólicas, dramáticas, mundanas, figuras de animais bizarros, que viu em outras épocas em pinturas ou mesmo em narrações, porque as narrações deixam também suas marcas.

Assim a alma vê realmente, mas vê apenas uma imagem gravada no cérebro. No estado normal essas imagens são fugitivas e efêmeras, mas no estado de doença, com o cérebro mais ou menos enfraquecido, algumas imagens não se apagam como no estado normal, pelas preocupações exteriores. Aí está a verdadeira alucinação e a causa primária das idéias fixas. (Item 113)

51. Que é bicorporeidade? O Espírito de uma pessoa viva, isolado do corpo, pode aparecer noutro lugar,

como o de uma pessoa morta, e ter todas as aparências da realidade; além disso, ele pode adquirir uma tangibilidade momentânea.

Eis o fenômeno chamado bicorporeidade, que deu lugar às histórias de homens duplos, isto é, de indivíduos cuja presença simultânea foi verificada em dois lugares diferentes. É o que se deu com Santo Afonso de Liguori e Santo Antônio de Pádua, como nos relata a história eclesiástica.

O fenômeno da bicorporeidade é uma variedade das manifestações visuais e repousa nas propriedades do perispírito, que, em dadas circunstâncias, pode tornar-se visível e mesmo tangível. (Itens 114 e 119)

52. O sono é necessário para que a alma apareça em outros lugares?

Pode ocorrer o fenômeno sem que o corpo adormeça, conquanto isto seja muito

raro; nesse caso o corpo não está jamais num estado perfeitamente normal, mas num estado mais ou menos extático. A alma, então, abandona o corpo, seguida de uma parte de seu perispírito que, graças à outra parte, que permanece ligada ao corpo, constitui o laço de ligação entre a matéria e o Espírito. (Item 119, parágrafos 1 e 3)

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53. O corpo pode morrer na ausência da alma? Durante a vida corpórea, a alma não está jamais completamente desligada do

corpo. Os Espíritos e os videntes reconhecem o Espírito de uma pessoa encarnada por uma estria luminosa que acaba em seu corpo, fato que nunca ocorre quando o corpo está morto, porque então a separação é completa. É por este laço que o Espírito é avisado, instantaneamente, qualquer que seja a distância em que estiver, da necessidade que o corpo tem de sua presença, e então volta com a rapidez do relâmpago. Daí resulta que o corpo jamais pode morrer durante a ausência da alma e que jamais pode acontecer que esta, em sua volta, encontre a porta fechada, como certos romances fantasiosos relatam. (Item 118)

54. Que é transfiguração? A transfiguração consiste na mudança de aspecto de um corpo vivo. O fato pode

ter por causa, em certos casos, uma simples contração muscular que dá à fisionomia uma expressão diferente, a ponto de tornar a pessoa quase irreconhecível. Mas isso não explica tudo. O Espírito pode dar a seu perispírito, como já vimos, todas as aparências e, por efeito de uma modificação na disposição molecular, dar-lhe a visibilidade, a tangibilidade e, por conseqüência, a opacidade. Essa mudança de estado se opera pela combinação de fluidos. Figuremos o perispírito de uma pessoa viva, não isolado, mas irradiando-se em redor do corpo de modo a envolvê-lo como um vapor. Perdendo o perispírito a sua transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, como se estivesse mergulhado numa névoa. Poderá mudar de aspecto, tornar-se brilhante. Um outro Espírito, combinando seu fluido com o do primeiro, pode aí imprimir sua própria aparência, de tal sorte que o corpo físico desaparece sob um invólucro fluídico exterior cuja aparência varia segundo a vontade do Espírito. (Itens 122 e 123)

55. Que são os agêneres?

Trata-se de uma espécie de aparição tangível: é o estado de certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, a ponto de causar completa ilusão. Originário do grego, o vocábulo significa "aquele que não foi gerado", aplicando-se, portanto, aos chamados Espíritos materializados, denominação esta imprópria que designa os seres cujo perispírito tornou-se tangível, visível, fotografável, como se fosse uma pessoa viva. (Item 125)

56. Os Espíritos podem fabricar substâncias apropriadas a curar

pessoas? Sim, e esse fato é muito freqüente. (Item 128, parágrafos 12 e 13) 57. Como se obtém a água magnetizada? O Espírito pode operar sobre a matéria elementar, por sua vontade, dando-lhe

propriedades determinadas. Assim é que uma substância salutar pode tornar-se venenosa por uma simples

modificação; a química oferece-nos numerosos exemplos disso. Todo mundo sabe que duas proporções podem resultar numa que seja deletéria. Uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, todas as duas inofensivas, formam a água; ajuntem um átomo de oxigênio e terão um líquido corrosivo. Sem mudar as proporções, basta às vezes uma simples mudança no modo da agregação molecular para modificar as propriedades; é assim que um corpo opaco pode tornar-se transparente e vice-versa.

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Como o Espírito tem, por sua única vontade, uma ação tão possante sobre a

matéria elementar, que dá origem a todos os corpos, concebe-se que ela possa não somente formar substâncias, mas ainda alterar suas propriedades, fazendo aí o efeito de um reativo.

Na magnetização da água, o Espírito que age é o do magnetizador, as mais das vezes assistido por um Espírito estranho. Ele opera na água uma transmutação com o auxílio do fluido magnético que, como já sabemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica ou elemento universal. Como pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode igualmente produzir um fenômeno análogo sobre os fluidos do organismo, e daí o efeito curativo da ação magnética convenientemente dirigida. (Itens 129 a 131)

58. Os objetos usados pelos Espíritos em suas aparições são reais? Sim. O Espírito tem sobre os elementos materiais espalhados por todo o espaço

um poder que o homem longe está de suspeitar. Ele pode, à sua vontade, concentrar esses elementos e lhes dar a forma aparente própria a seus objetos, imitando assim os objetos terrenos necessários à sua identificação ante os que o vêem. (Item 128, parágrafos 2 a 4)

59. As roupas usadas pelos Espíritos são cópias das terrestres?

Não é isto que acontece. As roupas e os objetos usados pelo Espírito são por ele mesmo produzidos, podendo ter ou não a aparência de peças usadas em sua última encarnação na Terra. O Espírito pode imprimir à matéria eterizada transformações à sua vontade e, assim, produzir os trajes, as jóias e quaisquer adornos de que necessite num dado momento, subordinado tal poder ao seu grau evolutivo. (Item 128, parágrafos 4 a 6)

60. Todos os Espíritos sabem como produzem os objetos que usam? Não. Freqüentemente concorrem para a formação de um objeto por um ato

instintivo que eles mesmos não compreendem, se não estiverem bem esclarecidos para isto. Embora os Espíritos inferiores possam ter esse poder, quanto mais o Espírito é elevado, mais facilmente o faz. (Item 128, parágrafos 14 a 16)

61. Em que consiste o fenômeno da voz direta? Os sons espíritas ou pneumatofônicos têm duas maneiras bem distintas de se

produzir: são algumas vezes uma voz íntima que ecoa na consciência, mas, ainda que as palavras sejam claras e distintas, ela não têm, contudo, nada de material; de outras vezes elas são exteriores e tão distintamente articuladas como se proviessem de uma pessoa colocada ao nosso lado. De qualquer forma que ele se produza, o fenômeno da voz direta, ou pneumatofonia, é quase sempre espontâneo e apenas raramente pode ser provocado.

Experiências posteriores à codificação demonstraram que, no fenômeno da voz

direta, o Espírito fala através de uma garganta ectoplásmica, podendo sua voz imitar a de sua precedente existência terrena. Os sons pneumatofônicos exprimem pensamentos, formam frases, e é por isso que podemos reconhecer que eles são devidos a uma causa inteligente e não acidental. (Itens 150 e 151)

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62. Em que consiste o fenômeno da escrita direta? A escrita direta, ou pneumatografia, é a que se produz espontaneamente sem o

concurso nem da mão do médium, nem do lápis. Basta tomar uma folha de papel branco, dobrá-la e colocá-la em algum lugar, em uma gaveta, ou simplesmente sobre um móvel, e se estivermos em condições favoráveis, ao fim de um tempo mais ou menos longo, acharemos no papel caracteres traçados, sinais diversos, palavras, frases e mesmo discursos, freqüentemente com uma substância cinzenta igual ao chumbo, outras vezes com lápis vermelho, tinta ordinária e mesmo tinta de impressão.

Nesse tipo de fenômeno, o Espírito não se serve nem de nossas substâncias,

nem de nossos instrumentos: ele mesmo faz a matéria e os instrumentos de que precisa, tirando seus materiais do elemento primitivo universal ao qual ele imprime, por sua vontade, as modificações necessárias ao efeito que quer produzir. Ele, assim, pode muito bem fabricar tinta vermelha, tinta de impressão e mesmo caracteres tipográficos bastante resistentes para dar relevo à impressão, de que temos visto exemplos. É desse modo que podemos explicar a aparição das três palavras na sala do festim de Baltazar, de que nos fala a Bíblia. (Itens 127 e 146 a 148)

63. A escrita direta fica registrada permanentemente ou desaparece com o tempo?

Os traços da escrita direta não desaparecem, porque são sinais que é útil conservar e por isso se conservam. (Item 128, parágrafos 17 e 18)

64. Existem lugares assombrados? Alguns Espíritos podem ser atraídos por coisas materiais; podem sê-lo por certos

lugares, aos quais parecem eleger por domicílio, até que cessem as circunstâncias que os levaram ali: a simpatia por algumas pessoas que ali comparecem ou o desejo de se comunicarem com elas. Suas intenções nem sempre são louváveis, porquanto podem querer exercer uma vingança sobre indivíduos dos quais têm motivos de queixas. A permanência num lugar determinado pode ser também, para alguns Espíritos, uma punição que lhes é infligida, sobretudo se eles cometeram algum crime ali, para que tenham constantemente esse crime diante dos olhos. Não se deve temer os lugares assombrados, porque os Espíritos que assombram certos lugares e neles fazem barulho procuram antes se divertir às custas da credulidade e do medo do que fazer mal. O melhor meio de afastá-los daí é atrair os bons Espíritos, o que se consegue fazendo muito o bem. Façamos sempre o bem e apenas teremos bons Espíritos ao nosso lado. (Item 132, parágrafos 5 a 14)

65. Os Espíritos voltam ao local onde foram enterrados? Geralmente, não. O corpo era apenas uma vestimenta e eles não se importam

com o invólucro que os fez sofrer mais do que o prisioneiro com suas cadeias. A lembrança das pessoas que lhes são queridas é a única coisa à qual ele dão valor. (Item 132, parágrafo 8)

66. Que é tiptologia? É a linguagem das pancadas. As primeiras manifestações inteligentes foram

obtidas por pancadas, que ofereciam recursos muito limitados à comunicação com os Espíritos. As pancadas eram obtidas de dois modos por médiuns especiais. O primeiro, a que se deu o nome de tiptologia pelo básculo, consistia no movimento da mesa que se levanta de um lado, depois cai batendo com o pé.

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Bastava para isso que o médium pousasse as mãos nos bordos da mesa. Uma

pancada significava sim e duas, não. O inconveniente estava na brevidade das respostas e na dificuldade de se formular perguntas de modo a conseguir-se um sim ou um não. Depois surgiu a tiptologia alfabética, em que cada letra do alfabeto era designada por um certo número de pancadas, isto é, uma pancada para o a, duas para o b, e assim por diante.

Esse método é também muito moroso e, por isso, surgiu um modo de uso mais

corrente, em que a pessoa tinha diante de si um alfabeto inteiramente escrito, bem como a série de números marcando as unidades. Enquanto o médium está na mesa, uma outra pessoa percorre sucessivamente as letras do alfabeto, se se trata de uma palavra, ou a dos números; ao chegar na letra necessária, a mesa bate por si mesma uma pancada e se escreve a letra, e por aí prosseguia a experimentação.

Mais tarde utilizou-se a chamada Mesa-Girardin, em lembrança ao uso que dela

fazia a senhora Emília de Girardin. Esse instrumento consiste em uma tampa de mesa móvel, de 30 a 40 centímetros de diâmetro, girando livre e facilmente sobre seu eixo, como uma roleta. Ao seu redor, na superfície, estão desenhados os números, as letras e as palavras sim e não. No centro havia uma agulha fixa. Ao pousar o médium seus dedos no bordo da mesinha, esta gira e pára quando a letra desejada está sob a agulha. (Itens 139 a 144)

67. Os Espíritos que se comunicam através de pancadas são chamados

Espíritos batedores?

Não; a tiptologia é um meio de comunicação como qualquer outro e não é menos digno dos Espíritos elevados do que a escrita ou a palavra. Os Espíritos que se valem de pancadas não são, por esse motivo, Espíritos batedores. Este nome deve ser reservado para aqueles que se podem chamar batedores de profissão e que, por esse meio gostam de fazer coisas para divertir um grupo. São Espíritos inferiores, a que se aplica muito bem a designação de charlatães ou saltimbancos do mundo espiritual. (Item 145)

68. As comunicações espíritas dividem-se em quantas categorias?

Tendo em vista a variedade infinita que existe entre os Espíritos, sob o duplo aspecto de inteligência e de moralidade, as comunicações por eles transmitidas podem agrupar-se em quatro categorias principais. Segundo suas características mais pronunciadas, elas são: grosseiras, frívolas, sérias ou instrutivas. (Item 133)

69. Que são comunicações instrutivas? Instrutivas são as comunicações sérias cujo principal objeto consiste num

ensinamento qualquer dado pelos Espíritos, sobre as ciências, a moral, filosofia etc. São mais ou menos profundas, conforme o grau de elevação e de desmaterialização do Espírito.

Qualificando de instrutivas as comunicações, supomo-las verdadeiras, pois o que não for verdadeiro não pode ser instrutivo, ainda que dito na mais imponente linguagem. Aí, nessa categoria, não podemos incluir certos ensinos que de sério apenas têm a forma, muitas vezes empolada e enfática, com que os Espíritos que os ditam, mais presunçosos do que instruídos, contam iludir os que os recebem. (Item 137)

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70. Deve-se criticar as comunicações espíritas?

Uma comunicação espírita pode ser séria, isto é, ponderosa quanto ao assunto e elevada quanto à forma, e no entanto ser falsa. Nem todos os Espíritos sérios são igualmente esclarecidos; há muita coisa que eles ignoram e sobre que podem enganar-se de boa fé. Por isso é que os Espíritos verdadeiramente superiores nos recomendam, de contínuo, que submetamos todas as comunicações ao crivo da razão e da mais rigorosa lógica. (Item 136)

71. O que é médium? Toda pessoa que sente num grau qualquer a influência dos Espíritos é médium,

isto é, intermediário entre aqueles e o mundo corpóreo. Essa faculdade é inerente ao homem e, por isso, não constitui um privilégio exclusivo. Poucas pessoas há que não revelem rudimentos da faculdade. Pode-se dizer, pois, que todos são médiuns.

Aplica-se, porém, o qualificativo de médium somente àqueles cuja faculdade medianímica é claramente caracterizada e se traduz por efeitos patentes e uma certa intensidade, o que requer um organismo mais ou menos sensitivo. É de notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira; os médiuns têm geralmente uma aptidão especial para esse ou aquele gênero de fenômenos, o que dá tantas variedades de médiuns quantas são as espécies de manifestações. (Item 159)

72. Que se deve fazer quando surja espontaneamente a faculdade mediúnica num indivíduo qualquer?

O correto neste caso é deixar o fenômeno seguir seu curso normal: a natureza é mais prudente do que os homens e a Providência é sábia, porquanto, tendo seus objetivos, o menor deles poderá ser o instrumento das maiores realizações. É sempre útil, por isso, procurar pôr-se em relação com o Espírito para saber-se dele o que ele deseja.

Os seres invisíveis que revelam sua presença por efeitos sensíveis são, em geral,

de categoria inferior e que podemos dominar pelo ascendente moral; é este ascendente moral que é preciso adquirir-se. Para obtê-lo, faz-se necessário passar o indivíduo do estado de médium natural ao de médium facultativo, que tem plena consciência de seu poder e produz os fenômenos espíritas pelo ato de sua vontade.

Desse modo, em lugar de entravar os fenômenos, o que se consegue raramente

e nem sempre sem perigo, é preciso levar o médium a produzi-los por sua vontade, impondo-se ao Espírito, ao invés de ser por ele dominado. Por este meio, o médium chega a controlar o Espírito e de um dominador às vezes tirânico ele poderá fazer um ser obediente e freqüentemente muito dócil.

A moralização do Espírito pelos conselhos de uma terceira pessoa influente e

experimentada, se o médium não reúne condições de fazê-lo, é também um meio muito eficaz. (Item 162)

73. Há um diagnóstico para saber se alguém é médium?

Não; os sinais físicos pelos quais algumas pessoas julgaram ver indícios não têm nada de certo. A faculdade mediúnica se encontra nas crianças e nos velhos, nos homens e nas mulheres, quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o grau de desenvolvimento intelectual e moral. Não há senão um meio de verificar se a faculdade existe: é experimentar. (Item 200)

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74. A mediunidade é uma missão? Sim; é uma missão de que o indivíduo é encarregado e da qual é feliz; afinal, o

médium é o intérprete dos Espíritos junto aos homens. Ocorre, no entanto, que essa tarefa não é privilégio dos homens de bem e que a faculdade é dada a pessoas falíveis, que até abusam do recurso que lhes foi concedido. A razão disso é simples: a mediunidade é concedida a tais indivíduos porque estes dela necessitam para sua própria melhoria, a fim de que estejam à vontade para receber bons ensinamentos; se eles não os aproveitam, sofrerão as conseqüências. (Item 220, parágrafos 12 e 14)

75. Qual o objetivo da faculdade mediúnica?

A faculdade mediúnica não é dada a uma criatura para corrigir somente uma ou duas pessoas; seu objetivo é maior: trata-se da Humanidade. Um médium é um instrumento pouquíssimo importante como indivíduo; eis por que, quando os Espíritos ditam suas instruções que devam aproveitar à generalidade das pessoas, eles se servem de médiuns que possuem as facilidades necessárias. Chegará um tempo, neste planeta, em que os médiuns serão muito comuns, possibilitando que os bons Espíritos dispensem o serviço dos maus instrumentos. (Item 226, parágrafo 5)

76. As crianças também podem desenvolver a mediunidade? Há grave inconveniente em desenvolver a mediunidade nas crianças. Seus

organismos delicados e ainda frágeis poderiam ser abalados e sua imaginação sobreexcitada. Por isso os pais prudentes as afastarão dessas idéias, ou pelo menos somente lhes falarão acerca delas sob o ponto de vista da conseqüências morais. (Item 221, parágrafo 6)

77. Os animais podem ser médiuns? Não; os fatos mediúnicos não podem produzir-se sem o concurso consciente ou

inconsciente dos médiuns, e não é senão entre os encarnados, Espíritos de natureza idêntica à dos seres invisíveis, que podemos encontrar os médiuns. (Item 236)

78. Quais as principais variedades em que se dividem os médiuns? As principais variedades são: médiuns de efeitos físicos; médiuns sensitivos ou

impressionáveis; auditivos; falantes; videntes; sonâmbulos; curadores; pneumatógrafos; escreventes ou psicógrafos. (Item 159)

79. Como são os médiuns imperfeitos?

Podem eles classificar-se em médiuns obsidiados, fascinados, subjugados, levianos, indiferentes, presunçosos, orgulhosos, susceptíveis, mercenários, ambiciosos, de má-fé, egoístas e invejosos. O orgulho e o egoísmo, as duas chagas da Humanidade, podem fazer com que se percam as faculdades mais preciosas, através da vaidade, da inveja, do melindre, da especulação e de todas as imperfeições que eles podem gerar na criatura humana. (Itens 195 e 196)

80. Como são os bons médiuns? Podem classificar-se em médiuns sérios, modestos, devotados e seguros. Os

médiuns sérios não se servem de sua faculdade senão para o bem e para as coisas verdadeiramente úteis. Os médiuns modestos não se atribuem nenhum mérito pelas comunicações que recebem e não se julgam ao abrigo das mistificações; longe de fugir dos avisos acerca de sua faculdade, eles o solicitam.

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Os médiuns devotados compreendem que o verdadeiro médium tem uma missão

a cumprir e deve, quando necessário, sacrificar seus gostos, seus hábitos, seus prazeres, seu tempo e mesmo seus interesses materiais, para o bem dos outros. Os médiuns seguros são os que, além de facilidade de execução, merecem maior confiança por seu caráter e pela natureza elevada dos Espíritos que os assistem, e são menos expostos a serem enganados. (Item 197)

81. Se um médium possui várias aptidões mediúnicas, qual deve

procurar cultivar? É raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita num só

gênero; o médium poderá ter, pois, várias aptidões, mas há sempre uma predominante e é esta que ele deve esforçar-se por cultivar, se ela é útil. Constitui grave erro querer forçar de qualquer forma o desenvolvimento de uma faculdade que não se possui; é preciso desenvolver aquelas das quais se reconhecem os germens, até que, evidenciando-se a faculdade predominante, deve o médium aplicar-se a ela de um modo especial. Limitando-se à sua especialidade, o médium pode tornar-se excelente intérprete e obter grandes e belas coisas, ao passo que, ocupando-se de tudo, não obterá nada de bom. (Item 198)

82. Que precauções deve o médium tomar para uma boa educação

mediúnica? É um ponto indiscutível: sem as devidas precauções pode perder-se o fruto das mais belas faculdades.

A primeira medida consiste em se colocar o médium, com uma fé sincera, sob a proteção de Deus, pedindo-lhe a assistência de um Espírito guardião. Este é sempre bom, enquanto que os Espíritos familiares podem ser levianos ou mesmo maus. A segunda precaução é aplicar-se em reconhecer, por todos os indícios que a experiência fornece, a natureza dos primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais é sempre prudente desconfiar.

Se estes indícios forem suspeitos, é preciso fazer um apelo fervoroso ao Espírito

guardião e repelir com todas as forças o mau Espírito, provando-lhe que não se é seu joguete, a fim de o desencorajar. O estudo prévio da teoria é indispensável, se se quer evitar os inconvenientes inseparáveis da inexperiência; a tal respeito, deve o médium examinar com redobrada atenção os capítulos sobre Obsessão e Identidade dos Espíritos de O Livro do Médiuns.

Além da linguagem, podemos tomar como provas infalíveis da inferioridade dos

Espíritos todos os sinais, figuras, emblemas inúteis ou pueris e toda escrita esquisita, irregular, torcida a propósito, de tamanho exagerado, ou afetando formas ridículas e inusitadas. Uma vez desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não a transforme em abuso; assim, é necessário servir-se dela apenas nos momentos oportunos e não a cada instante. Não estando os bons Espíritos constantemente às suas ordens, corre o médium o risco de ser iludido por Espíritos mistificadores. Deve-se, portanto, determinar para esse efeito dias e horas certas, porque então o médium terá disposições mais concentradas e os Espíritos que quiserem vir achar-se-ão prevenidos. (Itens 211 e 217)

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83. Que é psicografia? É o nome que se dá à comunicação espírita através da escrita, que pode se dar

direta ou indiretamente, mas sempre com a intervenção de um médium. De todos os meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. Além disso, é a faculdade mais suscetível de se desenvolver pelo exercício. (Itens 152 a 156, e 178)

84. Que vem a ser psicografia indireta? Chamamos psicografia indireta à escrita assim obtida, por oposição à psicografia

direta ou manual obtida pelo próprio médium. O fenômeno se passa da seguinte forma: o Espírito estranho que se comunica age sobre o médium; este, sob essa influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever; a mão age sobre a cestinha e a cestinha, sobre o lápis. Assim, não é a cestinha que se torna inteligente; ela é um instrumento dirigido por uma inteligência e não é mais, na verdade, do que um porta-lápis, um apêndice da mão, um intermediário entre a mão e o lápis. Neste processo, o meio mais cômodo imaginado pelos homens foi a chamada cestinha de bico, na qual um lápis era fixado. Mais tarde, suprimiu-se esse apêndice e o médium passou a escrever tomando o lápis diretamente à mão. Por ser o meio mais simples e o mais cômodo, dado que não exige nenhum preparo material anterior, a escrita manual, também chamada involuntária ou automática, é a forma usual adotada pelos médiuns psicógrafos dos tempos modernos. (Itens 154 e 157)

85. Quais são as diversas modalidades de médiuns psicógrafos? Sem considerar aqui a categoria dos médiuns inspirados, que é uma variedade

da mediunidade intuitiva, os médiuns psicógrafos podem ser mecânicos, intuitivos ou semimecânicos.

O que caracteriza o médium mecânico é o fato de o Espírito agir diretamente sobre sua mão, completamente independente da vontade do médium. A mão escreve sem interrupção e só pára quando o Espírito termina a comunicação. O médium mecânico não tem a menor consciência do que escreve: é isso que deu origem ao nome da faculdade – mediunidade mecânica ou passiva. Esta modalidade é preciosa, visto que não deixa dúvidas sobre a independência do pensamento de quem escreve.

O médium intuitivo recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transmite pela escrita. Nesta situação, o médium tem consciência do que escreve, conquanto não seja o seu próprio pensamento. O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o intuitivo, todavia, age como o faria um intermediário ou intérprete e sabe que as idéias não são preconcebidas e surgem à medida que são registradas no papel. Freqüentemente o pensamento formulado é contrário ao seu e pode estar fora dos seus conhecimentos e capacidade.

O médium semimecânico sente o impulso dado à sua mão sem que o queira, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve à medida que as palavras se formam. Participa, assim, um pouco das duas modalidades examinadas. Os médiuns semimecânicos formam o maior número da categoria dos psicógrafos. (Itens 179 a 181)

86. Qual é o verdadeiro ponto de partida para o entendimento do Espiritismo? Crê-se geralmente que para convencer alguém é bastante mostrar fatos; contudo a experiência demonstra que isto nem sempre é o melhor método, porque se vêem freqüentemente pessoas a quem os fatos mais patentes não convencem de modo algum.

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Ora, no Espiritismo a questão do Espírito é secundária e consecutiva; este não é

o ponto de partida e precisamente aí está o erro no qual se cai muitas vezes diante de certas pessoas. Não sendo os Espíritos outra coisa senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é, assim, a existência da alma.

De fato, como pode o materialista admitir que existam seres fora do mundo material, quando crê que ele mesmo não é mais que matéria? Como poderá crer em Espíritos fora dele, se não acreditar ter um em si? Em vão acumular-se-ão provas diante de seus olhos: ele contestará todas, porque não admite o princípio.

Todo ensino metódico deve partir do conhecido para o desconhecido. Para o materialista, o conhecido é a matéria; partamos, pois, da matéria e esforcemo-nos, antes de tudo, fazendo-o observar, em convencê-lo de que nele há alguma coisa que escapa às leis da matéria. Em uma palavra, antes de torná-lo espírita, cuidemos de torná-lo espiritualista. Antes, pois, de empreender convencer um incrédulo, mesmo pelos fatos, convém assegurar-se de sua opinião com relação à alma, isto é, se crê em sua existência, em sua sobrevivência ao corpo, em sua individualidade depois da morte. Se sua resposta for negativa, será trabalho perdido falar-lhe de Espíritos. (Itens 18 e 19)

87. Que dizer dos que atribuem ao diabo as manifestações espíritas? Ao tempo de Jesus o clero também dizia que as curas e os chamados milagres produzidos pelo Mestre eram "coisa" do demônio. Aqueles que espalham tais idéias não sabem a responsabilidade que assumem: elas podem matar! Com efeito, o perigo não é só para a pessoa, mas também para aqueles que a cercam e que podem ser aterrorizados pelo pensamento de que sua casa é um abrigo de demônios. Foi esta crença que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Conhecemos os acidentes que o medo pode causar e seríamos, certamente, menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que têm sua origem nos contos de lobisomem e bichos-papões. A Doutrina Espírita, esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos estes fenômenos, desfere a essa teoria o golpe de misericórdia. Não existem demônios: longe, pois, de cultivar tal pensamento sombrio, devemos, e é este um dever de moralidade e de humanidade, combatê-lo onde ele existir. (Item 162)

88. Quais são os Espíritos que produzem os fenômenos de efeitos físicos?

Os Espíritos que produzem estas espécies de manifestações são sempre Espíritos inferiores que não estão ainda inteiramente libertos da influência material. Contudo, tais fenômenos, embora executados por entidades inferiores, são freqüentemente provocados por Espíritos de uma ordem mais elevada, com o fito de convencer os homens da existência de seres incorpóreos e de uma potência superior a eles. (Itens 74 e 91)

89. Como saber se as pancadas são produzidas por Espíritos? É preciso primeiramente excluir todas as causas naturais que podem estar por

trás das manifestações: o vento, brincadeiras, ação de animais etc. O ruído espírita demonstra sinais de inteligência com sua obediência à vontade e ocorrência do fato no lugar designado pelo observador. Se o fenômeno é realmente produzido por Espírito, quer ele significar alguma coisa. Se responde até ao pensamento dos circunstantes, não se lhe pode negar uma causa inteligente. (Item 83)

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90. As comunicações não poderiam ser reflexo da mente do médium ou

dos assistentes? A experiência demonstrou o erro desta tese. Eis um exemplo da independência

do pensamento do Espírito comunicante em relação ao médium e às pessoas presentes. Num navio da marinha imperial francesa, em serviço nos mares da China, todos

se ocupavam em fazer as mesas falarem. Tiveram então a idéia de evocar o Espírito de um primeiro tenente do mesmo navio, morto havia dois anos. A entidade espiritual compareceu e, depois de diversas comunicações que provocaram o espanto em todos, disse o que se segue por meio de pancadas: "Eu lhes rogo insistentemente que paguem ao capitão a quantia de ... (indicava a quantia) que lhe devo e que sinto não ter podido reembolsá-lo antes de minha morte". Ninguém sabia do caso; o próprio capitão tinha esquecido essa dívida, aliás bem pequena, mas procurando em seus apontamentos encontrou a menção do débito do primeiro tenente, cujo valor conferia com a mensagem. As comunicações psicográficas recebidas pelo médium Chico Xavier, que dão informações pormenorizadas sobre nomes e endereços, especialmente por parte de jovens recém-desencarnados, são uma prova incontestável de que as comunicações autênticas nada têm a ver com o pensamento do médium ou dos assistentes. (Itens 69 e 70)

91. Nas sessões mediúnicas é preciso alternar-se os sexos, dar-se as mãos, ambiente sem claridade, locais e horas certas?

Não; a única prescrição que é rigorosamente obrigatória é o recolhimento, um silêncio absoluto e sobretudo a paciência, se o efeito tarda a produzir-se. A escolha de dias e horas certas favorece o comparecimento dos Espíritos, que têm também suas ocupações e não podem ficar à disposição das preferências dos encarnados. Um lugar consagrado à atividade mediúnica facilita a concentração, embora o momento mais propício à atividade mediúnica seja aquele em que os participantes da tarefa estejam mais calmos e menos distraídos por suas obrigações habituais. (Itens 62, 63 e 282)

92. Que é preciso para que uma comunicação mediúnica seja boa? Para que uma comunicação seja boa é preciso que ela proceda de um Espírito

bom; para que esse Espírito bom possa transmiti-la, necessita de um bom instrumento; para que ele queira transmiti-la, é preciso que o fim lhe convenha. (Item 186)

93. Em que consiste a mediunidade de cura? Este gênero de mediunidade consiste principalmente no dom que certas pessoas

possuem de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o recurso de nenhum medicamento. O fluido magnético desempenha aí um grande papel: o poder magnético reside no homem, mas é aumentado pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. O Espírito que se interessa pelo doente aumenta a força e a vontade do médium, dirige seu fluido e lhe dá as qualidades necessárias. (Itens 175 e 176)

94. Qual a importância da escala espírita e do quadro sinóptico dos médiuns? O quadro sinóptico das diferentes variedades de médiuns e a escala espírita deveriam estar sob os olhos de todos aqueles que se ocupam das manifestações espíritas. Esses dois quadros resumem todos os princípios da doutrina e contribuirão para reconduzir o Espiritismo ao seu verdadeiro caminho. (Item 197)

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95. Deve-se aceitar, sem exame, todas as comunicações espíritas? É preciso discernir as comunicações autênticas daquelas que não o são. "Na

dúvida, abstém-te", diz um provérbio conhecido. Não admitamos, portanto, senão o que for de uma evidência certa.

O que a razão e o bom-senso desaprovam, rejeitemos corajosamente. Mais vale repelir dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa. (Item 230)

96. Quais os defeitos que afastam de nós os bons Espíritos? As qualidades que atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a

simplicidade de coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se prende à matéria. (Item 227)

97. Qual é o maior escolho da mediunidade? Entre as dificuldades que apresenta a prática do Espiritismo é preciso pôr na

primeira linha a obsessão, isto é, o império que alguns Espíritos sabem exercer sobre certas pessoas. A obsessão não acontece senão pelo desejo dos Espíritos inferiores, que procuram dominar. Os bons Espíritos não usam de nenhum constrangimento; aconselham, combatem a influência dos maus e, se não são ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se ao que lhes oferece facilidades; se conseguem dominar alguém, identificam-se com seu Espírito e o conduzem como a uma verdadeira criança. (Item 237)

98. Quais são as principais variedades de obsessão?

São a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. A obsessão simples tem lugar quando um Espírito mau se impõe a um

médium, imiscui-se contra a vontade dele nas comunicações que recebe, impede-o de comunicar-se com outros Espíritos e substitui os que são evocados.

A fascinação é uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que paralisa de alguma sorte seu julgamento a respeito das comunicações. O médium fascinado não se julga enganado: o Espírito tem a arte de lhe inspirar uma confiança cega que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo que escreve, ainda mesmo que salte aos olhos de todos; a ilusão pode mesmo fazê-lo ver o sublime na mais ridícula linguagem.

A subjugação é uma pressão que paralisa a vontade de quem a sofre e o faz agir contra sua vontade. A pessoa fica sob um verdadeiro jugo, que pode ser moral ou corporal, levando às vezes a pessoa obsidiada a praticar os mais ridículos atos. (Itens 238 a 240)

99. Como podemos reconhecer a ocorrência da obsessão?

A obsessão apresenta os característicos seguintes: 1o – Persistência de um Espírito em comunicar-se, quer o médium queira, quer

não, pela escrita, pela audição, pela tiptologia etc., impedindo que outros Espíritos possam fazê-lo;

2o – A ilusão que, não obstante a inteligência do médium, impede-o de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas;

3o – Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e veneráveis, dizem coisas falsas ou absurdas;

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4o – Confiança do médium nos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por ele;

5o – Disposição de se afastar das pessoas que lhe podem dar úteis avisos; 6o – Tomar por mal a crítica a respeito das comunicações que recebe; 7o – Desejo incessante e inoportuno de escrever; 8o – Sujeição física qualquer dominando a vontade e forçando o médium a agir

ou a falar, contra sua vontade; 9o – Barulhos e movimentos persistentes ao redor de si, e dos quais é a causa ou

o objeto. (Item 243)

100. Quais são as causas da obsessão? As causas da obsessão variam segundo o caráter do Espírito: é às vezes uma

vingança que ele exerce sobre um indivíduo do qual teve do que se queixar durante sua vida ou numa outra existência; freqüentemente o motivo é apenas o desejo de fazer o mal, porque, se ele sofre, experimenta uma espécie de gozo em fazer sofrer os outros, em atormentá-los, em vexá-los.

Assim, a impaciência que a vítima demonstra estimula-o, porquanto, irritando-o e demonstrando despeito, a vítima faz exatamente o que o Espírito quer. Outros agem por ódio e por inveja ao bem; eis por que dirigem seus olhares maléficos sobre as pessoas honradas. Há, por fim, os que assim agem movidos por um sentimento de covardia, que os leva a aproveitar-se da fraqueza moral de certos indivíduos que eles sabem incapazes de lhes resistir.

Deve-se acrescentar a essa lista os Espíritos obsessores sem maldade, que possuem mesmo algo de bom, mas que têm o orgulho do falso saber e, devido a isto, buscam médiuns bastante crédulos para aceitá-los de olhos fechados, a quem fascinam impedindo-os de discernirem o verdadeiro do falso. A vingança constitui, no entanto, a causa mais comum dos fenômenos obsessivos. (Itens 245 e 246)

101. Como ocorre a subjugação obsessional? Como se fosse um manto jogado sobre o indivíduo, a subjugação corporal tira

freqüentemente a energia do obsidiado, que é necessária para dominar os maus Espíritos; por isso, nesses casos, é preciso a intervenção de uma terceira pessoa, que aja pelo magnetismo ou pela força de sua vontade, para aliviar o enfermo.

Forma aguda do fenômeno obsessivo, a subjugação é uma pressão que paralisa

a vontade de quem a sofre e o faz agir contra suas próprias idéias. O jugo corporal significa que o Espírito desencarnado age sobre os órgãos materiais do obsidiado, levando-o a provocar movimentos involuntários, mesmo nos mais inoportunos momentos. (Itens 240 e 251)

102. A subjugação pode dar causa à loucura? Sim. Levada a um determinado grau, a subjugação corporal pode dar causa a

uma espécie de loucura cuja causa é ignorada no mundo, mas que não tem relação com a loucura comum. Entre os tratados por loucos há muitos que são apenas subjugados; precisariam de um tratamento moral, enquanto que ficam loucos de verdade com os tratamentos corporais. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer esta distinção e curarão mais doentes do que as duchas. (Item 254, parágrafo 6)

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103. Para se ter ascendência sobre os Espíritos inferiores, qual é a

condição necessária? Exerce-se o ascendente sobre os Espíritos inferiores pela superioridade moral,

unicamente. Os Espíritos perversos sentem seus superiores nos homens de bem. Em face de quem não lhes oponha senão a energia da vontade, espécie de força bruta, eles lutam e freqüentemente são mais fortes.

A quem não tenha autoridade moral, nem a invocação do nome de Deus exercerá aí qualquer influência. São Luís ensina que o nome de Deus tem influência sobre os Espíritos imperfeitos apenas na boca de quem pode dele se servir com autoridade, pelas suas virtudes. Na boca do homem que não tenha sobre o Espírito nenhuma ascendência moral, é tal nome uma palavra como qualquer outra. (Item 279)

104. Quais são os meios de se combater a obsessão? Os meios de se combater a obsessão variam conforme o caráter que apresenta.

Na obsessão simples, duas coisas essenciais devem ser feitas: 1a – provar ao Espírito que não somos seus joguetes e que lhe é impossível enganar-nos; 2a – cansar sua paciência, mostrando-nos mais pacientes do que ele; se ele estiver bem convencido de que perde seu tempo, acabará por retirar-se, como fazem os importunos a quem não damos ouvidos. O médium ou a vítima da obsessão deve, além disso, fazer um apelo fervoroso a seu protetor espiritual, assim como aos bons Espíritos que lhe são simpáticos e rogar-lhes que o assistam.

É conveniente também interromper toda comunicação, desde que reconheçamos que ela provém de um mau Espírito, a fim de não lhe dar o prazer de ser ouvido. Quanto ao Espírito obsessor, por pior que ele seja, é preciso tratá-lo com severidade, mas com benevolência, e vencê-lo pelos bons modos, orando por ele. Moralizando-se, acabará por se corrigir: é uma conversão a empreender, tarefa penosa, ingrata, desencorajadora mesmo, mas cujo mérito reside na dificuldade e na satisfação, se bem cumprida, de se ter trazido ao bom caminho uma alma perdida.

Na fascinação, é preciso convencer o médium ou o indivíduo obsidiado de que ele está iludido, transformando sua obsessão num caso de obsessão simples, o que nem sempre é tarefa fácil, se não for mesmo algumas vezes impossível. Não se pode, com efeito, curar um doente que se obstina em conservar sua doença e nisso se compraz. O fascinado recebe muito mal os conselhos; a crítica o ofende e irrita, e todos que não lhe partilham a admiração lhe caem em antipatia.

Na subjugação corporal, como já foi dito, é preciso a intervenção de uma terceira pessoa, que exercerá um predomínio sobre o obsessor. Mas como este predomínio não pode ser senão moral, é dado apenas a uma pessoa moralmente superior ao Espírito exercê-lo, e seu poder será tanto maior quanto maior seja sua superioridade moral. Nesse caso, a ação magnética de um bom magnetizador pode vir utilmente em auxílio do obsidiado. De resto, é sempre bom tomar, por um médium seguro, conselhos de um Espírito superior ou de seu protetor espiritual. Em suma, é preciso entender que não existe nenhum processo material, sobretudo nenhuma fórmula, nenhuma palavra sacramental que tenha o poder de expulsar os Espíritos obsessores. (Itens 249 a 251)

105. Qual o fator que mais dificulta a libertação do obsidiado? As imperfeições morais do obsidiado são, com freqüência, o obstáculo principal à

sua libertação. Se ele se melhora, seu protetor espiritual se reaproxima e somente a presença deste será suficiente para expulsar o Espírito mau.

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Isso porque as imperfeições morais atraem e favorecem os obsessores, e o mais

seguro meio de se desembaraçar deles é atrair os bons Espíritos pela prática do bem; estes só assistem os que os secundam pelos esforços que fazem para melhorar-se. (Item 252)

106. Podemos evocar os Espíritos? Sim, podemos evocar todos os Espíritos de qualquer grau da escala a que

pertençam, tanto os bons como os maus, tanto os que deixaram a vida há pouco tempo, como os que viveram em épocas mais recuadas, tanto os homens ilustres como os mais obscuros, os parentes, os amigos e também os que nos são indiferentes. Mas isso não significa que eles queiram ou possam responder ao nosso apelo; independentemente de sua vontade, ou da permissão que lhes pode ser negada por uma potência superior, podem eles estar impedidos por motivos que nem sempre conhecemos. (Itens 274 e 282)

107. Como é que os Espíritos sabem quando os evocamos?

Freqüentemente são eles prevenidos pelos Espíritos familiares que nos cercam e vão procurá-los. Passa-se então um fenômeno que é difícil explicar porque diz respeito ao modo de transmissão do pensamento entre os Espíritos.

O fluido universal, espalhado no Universo, é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença que o pensamento atinge o infinito. O Espírito, no espaço, é como o viajante no meio de uma vasta planície e que, ouvindo de repente pronunciarem seu nome, se dirige para o lado de onde é chamado.

Desse modo, o Espírito evocado, por mais longe que esteja, recebe, por assim dizer, o contragolpe do pensamento, como uma espécie de choque elétrico que chama sua atenção para o lado de onde vem o pensamento a ele dirigido. Ele ouve o pensamento, como na Terra ouvimos a voz. Se a evocação é premeditada, o Espírito é, às vezes, avisado de antemão e se encontra no recinto antes do momento em que é nominalmente chamado. (Item 282, parágrafos 5 e 6)

108. Por quais sinais se pode reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?

Pela sua linguagem, como vocês distinguem um estouvado de um homem

sensato. Os Espíritos superiores nunca se contradizem e apenas dizem coisas boas; desejam unicamente o bem: este é a sua preocupação. Os Espíritos inferiores estão ainda sob o império das idéias materiais; suas conversas ressentem-se de sua ignorância e de sua imperfeição. Apenas aos Espíritos superiores é dado conhecer todas as coisas e julgá-las sem paixão. (Itens 268 e 263)

109. A identidade dos Espíritos comunicantes é essencial à prática espírita?

A identidade absoluta dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão acessória e sem importância, o que não se dá com a distinção entre bons e maus Espíritos. A individualidade deles pode ser irrelevante, mas nunca a sua qualidade. Em todas as comunicações instrutivas esse é o ponto para o qual deve convergir toda a nossa atenção, porque unicamente essa distinção é que nos dará a medida de confiança que podemos atribuir ao Espírito que se manifesta, qualquer que seja o nome sob o qual se apresente. (Itens 262 e 267)

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110. Devemos então examinar as comunicações recebidas? Sim. Devemos submeter todas as comunicações a um exame escrupuloso,

analisando o pensamento e as expressões como fazemos quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando sem hesitar tudo o que peca contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito comunicante. Desse modo, desencorajaremos os Espíritos enganadores, que acabarão por retirar-se, uma vez convencidos de que não nos podem enganar.

Repetimos que este meio é o único, mas é infalível, visto que não existe uma comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. (Item 266)

111. Podemos fazer perguntas aos Espíritos?

Sim; as perguntas, longe de terem o menor inconveniente, são de grande utilidade do ponto de vista da instrução, quando sabemos formulá-las dentro dos limites desejados. Elas têm uma outra vantagem, que é ajudar a desmascarar os Espíritos enganadores que, sendo mais vãos do que sábios, suportam raramente a prova das perguntas de uma lógica cerrada que os levam a seus últimos redutos.

Os Espíritos sérios respondem com prazer às perguntas que têm por fim o bem e os meios de fazerem o homem progredir. Não ouvem, portanto, as perguntas fúteis, as que são inúteis e as que são feitas por curiosidade ociosa ou apenas para prová-los. (Itens 287 e 288)

112. Podemos obter conselhos dos Espíritos sobre assuntos do nosso interesse particular?

Algumas vezes sim, segundo o motivo. Mas depende daqueles aos quais o interessado se dirige. Os avisos concernentes à vida particular são dados com mais exatidão pelos Espíritos familiares, porque estes se ligam a uma pessoa e se interessam pelo que lhe diz respeito: é o amigo, o confidente de seus mais secretos pensamentos; todavia freqüentemente os homens os fatigam com questões tão absurdas, que eles se calam. Seria tão absurdo perguntar coisas íntimas aos Espíritos que nos são estranhos, como nos dirigirmos para isso ao primeiro indivíduo que encontrássemos na rua. (Item 291, parágrafos 17 e 18)

113. Como nossos protetores espirituais se comportam ante as vicissitudes que devemos enfrentar?

Os protetores podem ajudar-nos a suportá-las com mais resignação e mesmo mitigá-las por vezes; mas, no próprio interesse de nosso futuro, não lhes é permitido isentar-nos delas. É que um bom pai não concede a seu filho tudo o que ele deseja.

Os protetores espirituais em muitas circunstâncias podem indicar-nos o melhor caminho, sem contudo conduzir-nos pela mão; aconselham-nos pela inspiração e nos deixam assim todo o mérito do bem, como toda a responsabilidade pela má escolha. Se há infantilidade em interrogar os Espíritos para as coisas fúteis, não o há menos da parte dos Espíritos que se ocupam do que se pode chamar coisas caseiras; podem ser bons, mas certamente são ainda muito terrestres. (Item 291, parágrafo 19)

114. Os Espíritos podem ensinar-nos tudo o que desejarmos?

Não; há coisas sobre as quais os interrogaríamos em vão, seja porque lhes é proibido revelá-las, seja porque eles próprios as ignoram e sobre as quais apenas nos podem dar opiniões pessoais. (Item 300)

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ESTUDO DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS”

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115. Qual o objetivo essencial e exclusivo do Espiritismo?

O objetivo essencial, exclusivo, do Espiritismo é a melhoria dos homens, e é para atingi-lo que se permite aos Espíritos iniciá-los na vida futura, oferecendo-lhes exemplos que podemos aproveitar.

Quanto mais nos identificarmos com o mundo espiritual que nos espera, menos teremos pena de deixar aquele em que estamos no momento. Em resumo, este é o objetivo da revelação espírita. (Item 292, parágrafo 22)

116. Que é que o Espiritismo tem de mais belo e consolador?

São, sem contestação, as relações entre o mundo visível e o invisível, dos homens com os seres que lhes são caros e que se pensava estivessem perdidos para sempre. São estas relações que identificam o homem com seu futuro e o desligam do mundo material. Suprimir esse intercâmbio equivale a mergulhar outra vez a criatura humana na dúvida que faz o seu tomento e alimenta o seu egoísmo. (Item 301, parágrafo 7)

117. Qual é a finalidade das comunicações dos Espíritos?

Já sabemos que o objetivo do Espiritismo é a melhoria moral da humanidade. Nesse propósito é que se inscrevem as comunicações dos Espíritos: estes vêm instruir e guiar os homens no caminho do bem e não no caminho da honras e da fortuna. Deus não envia os Espíritos para lhes aplainar a estrada material da vida, mas para prepará-los para a vida futura. (Item 303, parágrafo 1o)

118. Todos os homens são médiuns?

Sim; todos os homens têm um Espírito que os dirige para o bem, quando o sabem ouvir. Pouco importa que alguns se comuniquem diretamente com ele por uma mediunidade particular, os outros o ouçam apenas pela voz do coração e da inteligência. O importante é que seu Espírito familiar os aconselha. Chamem-no Espírito, razão, inteligência, é ele sempre uma voz que responde à sua alma e lhes dita boas palavras. A voz íntima que fala ao coração do homem é a dos bons Espíritos, e é sob este ponto de vista que todos os homens são médiuns, embora nem todos apresentem sua faculdade de modo ostensivo. (Cap. XXXI, dissertação X, de Channing)

119. Quais as qualidades essenciais dos médiuns?

O desinteresse, a modéstia e o devotamento. Deus lhes deu esta faculdade a fim de que ajudem a propagar a verdade e não para fazer dela um tráfico, um instrumento das paixões mundanas. (Cap. XXXI, dissertação XIV, de Delfina de Girardin)

120. Quais as variedades comuns a todos os gêneros de mediunidade?

São os médiuns sensitivos, os médiuns naturais ou inconscientes e os médiuns facultativos ou voluntários.

Os médiuns sensitivos são pessoas susceptíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão geral ou local, vaga ou material. A maior parte distingue os Espíritos bons ou maus, segundo a natureza da impressão.

Os médiuns naturais ou inconscientes são os que produzem os fenômenos espontaneamente, sem nenhuma participação de sua vontade e o mais das vezes sem o saberem.

Os médiuns facultativos ou voluntários são os que têm o poder de provocar os fenômenos por ato de sua vontade; todavia, nada poderão se os Espíritos a isto se recusarem, o que prova a intervenção de uma potência estranha. (Item 188)

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ESTUDO DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS”

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121. Como se classificam os médiuns de efeitos físicos?

Especialmente aptos a produzir fenômenos materiais, tais como os movimentos dos corpos inertes, os barulhos etc., os médiuns de efeitos físicos dividem-se em médiuns facultativos e médiuns involuntários. Os facultativos têm consciência de seu poder e agem por sua própria vontade. Os involuntários não têm consciência de seu poder e recebem a influência dos Espíritos sem que o saibam ou queiram. (Itens 160 e 161)

122. Que são médiuns auditivos?

Eles ouvem a voz dos Espíritos e podem assim entrar em conversação com eles. Algumas vezes o que ouvem é uma voz íntima que se faz ouvir na consciência; de outras vezes é uma voz exterior, clara e distinta como a de uma pessoa encarnada. Tal faculdade é muito agradável quando o médium ouve somente bons Espíritos ou apenas os que ele chama; mas o mesmo não acontece quando um mau Espírito se encarniça ao pé dele e lhe faz ouvir a cada minuto as mais desagradáveis coisas. (Item 165)

123. Que são médiuns falantes?

Nesta variedade de médiuns, também chamados médiuns psicofônicos, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra. O médium falante se exprime geralmente sem ter consciência do que diz, e com freqüência diz coisas completamente fora de suas idéias habituais, de seus conhecimentos e mesmo da alçada de sua inteligência.

Conquanto esteja perfeitamente desperto e no estado normal, raramente conserva a lembrança do que disse. A passividade do médium falante ou psicofônico não é sempre tão completa; deles há os que têm a intuição do que dizem no mesmo instante em que pronunciam as palavras; outros fazem as vezes de uma espécie de intérprete, ou seja, recebem o pensamento do Espírito comunicante e o expressam com suas próprias palavras. (Item 166)

124. Que são médiuns sonâmbulos?

O sonambulismo pode ser considerado uma variedade da faculdade mediúnica, ou melhor dizendo, são duas ordens de fenômenos que se encontram freqüentemente reunidas. O sonâmbulo age sob a influência de seu próprio Espírito:

- é sua alma que, no momento de emancipação, vê, ouve e percebe fora dos limites dos sentidos;

- é, portanto, um fenômeno anímico. O médium, ao contrário, é o instrumento de uma inteligência estranha; é

instrumento passivo, e o que ele diz não provém dele. Mas o Espírito que se comunica por um médium comum pode muito bem fazê-lo por um sonâmbulo. O estado de emancipação da alma, durante o sonambulismo, torna essa comunicação mais fácil, e aí então podemos considerá-lo um médium sonâmbulo ou um sonâmbulo-médium. (Itens 172 a 174)

125. Os médiuns videntes podem ver os Espíritos regularmente?

Depende; há os que gozam da faculdade de vidência no estado normal, quando estão perfeitamente acordados, e dela conservam uma lembrança exata; outros não a têm senão em estado sonambúlico, ou vizinho do sonambulismo. Esta faculdade raramente é permanente; quase sempre é o efeito de uma crise momentânea e passageira.

Pode-se incluir na categoria de médiuns videntes todas as pessoas dotadas da segunda vista. Entre os médiuns videntes há os que vêem apenas os Espíritos que evocamos e dos quais eles podem fazer a descrição com minuciosa exatidão.

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Descrevem seus gestos, a expressão de sua fisionomia, os traços do rosto, a

roupa e até os sentimentos de que parecem animados. Há outros nos quais a faculdade é ainda mais geral; eles vêem toda a população espiritual ambiente ir e vir. (Itens 167 a 169)

126. A mediunidade pode ser explorada com fins especulativos?

Não; a mediunidade é uma faculdade concedida para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem quer que pretenda fazer dela um degrau para alcançar o que não corresponda aos desígnios da Providência. (Itens 305 e 306)

127. Qual é a melhor garantia contra o charlatanismo?

A faculdade mediúnica, mesmo circunscrita aos limites das manifestações físicas, não foi concedida para expor-se nos teatros, e quem quer que pretenda ter sob suas ordens Espíritos para exibi-los em público, pode perfeitamente ser suspeito de charlatanismo ou de prestidigitação mais ou menos hábil. À vista disso, concluímos que o desinteresse absoluto é a melhor garantia contra o charlatanismo. Se esse desprendimento não assegura sempre a boa qualidade das comunicações inteligentes, priva pelo menos os maus Espíritos de um poderoso meio de ação e fecha a boca de certos detratores. (Item 308)

144. Que confiança se pode depositar nas descrições que os Espíritos fazem dos diferentes mundos?

Depende do grau de adiantamento real dos Espíritos que dão essas descrições,

pois devemos compreender que Espíritos vulgares são tão capazes de nos informar a esse respeito quanto o é, entre nós, um ignorante de descrever todos os países da Terra. Os bons Espíritos se comprazem em descrever-nos os mundos que eles habitam, como ensino tendente a nos melhorar, induzindo-nos a seguir o caminho que nos pode conduzir a esses mundos. Para verificar a exatidão dessas descrições, o melhor meio reside na concordância que haja entre elas.

Deve-se ter em vista, porém, que semelhantes descrições têm por fim o nosso melhoramento moral e que é, por conseguinte, sobre o estado moral dos habitantes dos outros mundos que poderemos ser mais bem informados, e não sobre o estado físico ou geológico de tais esferas. (Item 296)

145. De que nos serve o ensino dos Espíritos, se ele não nos oferece mais certeza do que o ensino humano?

A resposta é fácil. Não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os

homens e, entre duas doutrinas preferimos aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos acessível às paixões. Do mesmo modo se deve proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima da Humanidade, muitos há que a ultrapassaram e estes nos podem dar ensinamentos que em vão buscaríamos com os homens mais instruídos. Distinguir uns e outros, eis a tarefa daqueles que desejam esclarecer-se, e o Espiritismo fornece os meios para isso.

Mas esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é dado saber tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos homens. Há coisas, portanto, sobre que será inútil interrogar os Espíritos, seja porque lhes é vedado revelá-las, seja porque eles próprios as ignoram e a cujo respeito apenas podem expender opiniões pessoais.

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Por último, deve-se compreender que, mesmo nas comunicações de Espíritos

vulgares, podemos colher ensinamentos valiosos, visto que tais Espíritos nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades cuja teoria nos ensinam os Espíritos superiores. O estado feliz ou infeliz do ser desencarnado, suas condições na vida espiritual, a conservação de sua individualidade, eis situações que o Espiritismo nos revelou e que nos esclarecem sobre o futuro que nos aguarda a todos no além-túmulo. (Item 300)

146. Como devemos tratar o médium que é vítima de fascinação?

A única coisa a fazer com o médium é procurar convencê-lo de que está iludido e transformar sua obsessão num caso de "obsessão simples". Mas isto não é sempre fácil, se não for mesmo algumas vezes impossível.

O predomínio do Espírito pode ser tal que torna o fascinado surdo a qualquer espécie de raciocínio e pode ir até fazê-lo duvidar, quando o Espírito comete uma grossa heresia científica, se não é a ciência que está enganada. Como já dissemos, o fascinado acolhe geralmente muito mal os conselhos; a crítica o ofende, irrita-o e lhe caem em antipatia aqueles que não lhe partilham a admiração. Suspeitar de seu Espírito é quase uma profanação a seus olhos e é tudo o que quer o Espírito. Como não há pior cego do que aquele que não quer ver, quando reconhecemos a inutilidade de toda tentativa para abrir os olhos do fascinado, o que há de melhor a fazer é deixá-lo com suas ilusões. Não podemos curar um doente que se obstina em conservar sua doença e nisso se compraz. (Item 250)

147. Por que o passe magnético deve ser usado no tratamento dos obsidiados?

O que falta às vezes no obsidiado é uma força fluídica suficiente; neste caso a ação magnética de um bom magnetizador pode vir utilmente em seu auxílio, para lhe permitir a energia necessária para dominar os maus Espíritos. (Item 251)

148. Na moralização dos maus Espíritos, qual pode ser a influência dos

homens?

O homem não tem certamente mais poder do que os Espíritos superiores, mas sua linguagem se identifica melhor com a natureza dos Espíritos imperfeitos, sendo certo, porém, que os ascendentes que o homem pode exercer sobre eles estão na razão de sua superioridade moral. Por meio de sábios conselhos o homem poderá levá-los ao arrependimento e apressar o seu adiantamento. (Item 254, parágrafo 5)

149. Qual é, depois da obsessão, a maior dificuldade do Espiritismo prático?

É a questão da identidade dos Espíritos, visto que estes não nos trazem um cunho de identificação e sabemos com qual facilidade alguns dentre eles tomam nomes emprestados; assim, depois da obsessão, é esta uma das maiores dificuldades da prática espírita. Deve-se entender, contudo, que em muitos casos a identidade absoluta é uma questão secundária e sem importância real. (Item 255)

150. Quando a identidade do Espírito se torna mais fácil?

A identidade é muito mais fácil de averiguar quando se trata de Espíritos contemporâneos, dos quais conhecemos o caráter e os hábitos, porque são precisamente esses hábitos, dos quais ainda não tiveram tempo de se libertar, que permitem seu reconhecimento e constituem mesmo um dos sinais mais certos da identidade.

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O Espírito pode, sem dúvida, fornecer provas quando lhe pedimos, mas não o faz

sempre, a não ser que lhe convenha, e geralmente este pedido o magoa; eis por que devemos evitá-lo.

Ao deixar seu corpo, o Espírito não perde a susceptibilidade e, assim, se ofende com toda pergunta que tenha por fim pô-lo à prova. As provas de identidade surgem, aliás, de uma porção de circunstâncias imprevistas que não se apresentam sempre à primeira vista, mas no prosseguimento dos trabalhos.

É conveniente, portanto, esperá-las sem provocá-las, observando com cuidado todas as que podem decorrer da natureza das comunicações. (Item 257)

151. É importante fazer a distinção entre bons e maus Espíritos?

Sim. Se a identidade absoluta dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão acessória e sem importância, não acontece o mesmo com a distinção entre bons e maus Espíritos.

A individualidade deles nos pode ser indiferente, mas não a sua qualidade. Em todas as comunicações instrutivas, eis o ponto para o qual deve convergir toda a nossa atenção, porque unicamente esta distinção é que nos pode dar a medida da confiança que podemos atribuir ao Espírito que se manifesta, qualquer que seja o nome sob o qual se apresente.

Julgamos os Espíritos como julgamos os homens: pela sua linguagem. Suponhamos que um homem receba vinte cartas de pessoas desconhecidas. Pelo

estilo, pelos pensamentos, por inumeráveis sinais, enfim, julgará as pessoas que são instruídas ou ignorantes, polidas ou mal-educadas, superficiais, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais etc.

Ocorre o mesmo com os Espíritos; devemos considerá-los como correspondentes que jamais vimos e perguntar-nos o que pensaríamos da sabedoria e do caráter de um homem que dissesse ou escrevesse tais coisas.

Podemos ter como regra invariável e sem exceção que a linguagem dos Espíritos está sempre em relação com o grau de sua elevação. (Itens 262 e 263)

152. Qual é, segundo Kardec, o único e infalível meio de se saber a natureza do Espírito comunicante?

Submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, escrutando e analisando o pensamento e as expressões como fazemos quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando sem hesitar tudo o que peca contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito comunicante, desencorajamos os Espíritos enganadores, que acabam por retirar-se, uma vez convencidos de que não podem enganar. Este meio é único, porém infalível, porque não existe uma comunicação má que possa resistir a uma crítica rigorosa. (Item 266)

153. Kardec enumera 26 princípios que devem ser levados em conta para se reconhecer a qualidade dos Espíritos. Como podemos resumi-los?

Julgam-se os Espíritos pela sua linguagem e por suas ações. As ações dos Espíritos são os sentimentos que inspiram e os conselhos que dão. Admitindo-se que os bons Espíritos dizem e praticam somente o bem, tudo o que for mau não pode provir de um bom Espírito. Os Espíritos superiores têm uma linguagem sempre digna, nobre, elevada, sem mescla de nenhuma trivialidade; falam tudo com simplicidade e modéstia, não se gabam jamais, nunca ostentam seu saber nem sua posição entre os outros.

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A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares tem sempre algum reflexo das

paixões humanas; qualquer expressão que demonstre baixeza, presunção, arrogância, charlatanismo, acrimônia, é um indício característico de inferioridade ou de velhacaria se o Espírito se apresenta sob um nome respeitável e venerado.

Os bons Espíritos dizem apenas o que sabem; exprimem-se simplesmente, sem prolixidade, jamais dão ordens; não se impõem, mas aconselham e, se não são ouvidos, retiram-se; não elogiam, aprovam-nos quando fazemos o bem, mas sempre com reservas; são muito escrupulosos nos atos que aconselham; em todos os casos visam apenas a um fim sério e eminentemente útil; procuram corrigir os erros e pregam a indulgência, e jamais semeiam a cizânia por insinuações pérfidas; da parte dos Espíritos superiores o gracejo é freqüentemente fino espirituoso, jamais vulgar; prescrevem apenas o bem e seus conselhos são perfeitamente racionais. (Item 267)

154. Que pensar dos Espíritos que se valem, às vezes, de nomes de

santos ou personagens conhecidas?

Todos os nomes dos santos e das personagens conhecidas não bastariam para fornecer um protetor a cada homem da Terra. Entre os Espíritos há poucos que tenham um nome conhecido na Terra; eis por que muito freqüentemente eles se abstêm de dar seu nome. Mas como a maior parte das criaturas encarnadas lhes pede o nome, para satisfazê-las tomam o nome de alguém que as pessoas conheçam ou respeitem. Quando é para o bem, Deus permite que assim se faça entre Espíritos da mesma categoria, porque entre eles há solidariedade e semelhança de pensamentos. (Item 268, parágrafo 3)

155. Pode-se reconhecer os Espíritos pelas impressões que nos causam

à sua aproximação?

Sim. Muitos médiuns reconhecem os bons e os maus Espíritos pela impressão agradável ou penosa que experimentam à sua aproximação. O médium experimenta as sensações do estado em que se acha o Espírito que chega próximo dele.

Quando o Espírito é feliz, seu estado é tranqüilo, leve, calmo; quando é infeliz, é agitado, febril e esta agitação passa naturalmente para o sistema nervoso do médium. (Item 268, parágrafo 28)

156. Por que a reencarnação não era, ao tempo de Kardec, ensinada por todos os Espíritos comunicantes?

Duas foram as razões: de um lado a ignorância dos Espíritos comunicantes, cujas idéias estavam ainda muito limitadas ao presente. Para eles, o presente deve durar sempre; nada enxergam além do círculo de suas percepções e não se inquietam em saber donde vêm e para onde irão. A reencarnação é para eles uma necessidade na qual não pensam senão quando ela chega; sabem que o Espírito progride, mas não sabem como. Isto é para eles um problema. Em segundo lugar, é preciso entender a prudência que em geral usam os Espíritos na disseminação da verdade: uma luz muito viva e súbita ofusca e não aclara.

Podem, então, em certos casos, julgar útil não divulgá-la senão gradualmente, de acordo com os tempos, os lugares e as pessoas. Moisés não ensinou tudo o que ensinou o Cristo e o próprio Cristo não disse muitas coisas cuja compreensão estava reservada às gerações futuras. Num país onde o preconceito da cor reina soberano, onde a escravidão está enraizada nos costumes, teriam repelido o Espiritismo simplesmente porque proclama a reencarnação, visto que a idéia de que o senhor possa tornar-se escravo, e reciprocamente, lhes pareceria monstruosa.

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Não era melhor fazer aceitar primeiro o princípio geral, para daí tirar mais tarde as conseqüências? (Item 301, parágrafos 8 e 9)

157. Quais as causas das contradições que se apresentam nas comunicações espíritas?

As contradições que se apresentam nas comunicações espíritas podem ser devidas às causas seguintes:

- à ignorância de certos Espíritos; à velhacaria dos Espíritos inferiores que, por malícia ou malvadeza, dizem o contrário do que, em outra parte, disse o Espírito cujo nome usurpam;

- à vontade do mesmo Espírito que fala segundo os tempos, os lugares e as pessoas, e pode julgar útil não dizer tudo a todo mundo;

- à insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo; à insuficiência dos meios de comunicações que nem sempre permitem ao Espírito transmitir todo o seu pensamento;

- enfim, à interpretação que cada um pode dar de uma palavra ou de uma explicação, segundo suas idéias, seus preconceitos ou o ponto de vista sob o qual vê as coisas. (Item 302)

158. Por que Deus permite que ocorram as mistificações?

Deus permite as mistificações para provar a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que fazem do Espiritismo um objeto de divertimento. Se isto lhes abala a crença, é porque sua fé não é muito sólida. Quem renuncia ao Espiritismo por causa de um simples desapontamento prova que não o compreende e não o toma em sua parte séria. (Item 303, parágrafo 2)

159. Qual o meio de evitar as mistificações na prática mediúnica?

Este é um dos inconvenientes mais fáceis de evitar. O meio de obtê-lo é não exigir do Espiritismo senão o que ele pode e deve dar. Seu fim é a melhoria moral da Humanidade: se os homens não se afastarem daí, não serão jamais enganados, porque não há duas maneiras de compreender a verdadeira moral, aquela que pode ser admitida por todo homem de bom-senso.

Os Espíritos não vêm para guiar os homens no caminho das honras e da fortuna, ou para servirem a suas mesquinhas paixões. Eles vêm instruir a Humanidade e guiá-la no caminho do bem.

Se não lhes pedissem nada de fútil ou fora de suas atribuições, não dariam oportunidade alguma aos Espíritos enganadores, donde se conclui que quem é mistificado tem apenas o que merece. (Item 303, parágrafo 1)

160. Como podemos prevenir a ocorrência de fraude nas manifestações?

A melhor garantia contra a fraude está na moralidade notória dos médiuns e na ausência de todas as causas de interesse material ou de amor-próprio que lhes poderiam estimular o exercício das faculdades mediúnicas que possuem, porque estas mesmas causas podem levá-los a simular as faculdades que não possuem. (Item 323)

161. Como podem se apresentar as reuniões espíritas?

As reuniões espíritas requerem condições especiais, e nós erraríamos se as comparássemos às sociedades comuns. Segundo a natureza, podem ser frívolas, experimentais ou instrutivas.

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Reuniões frívolas são as que se compõem de pessoas que vêem apenas o lado

divertido das manifestações, que se divertem com as facécias dos Espíritos levianos, e em que se perguntam toda sorte de banalidades, se faz ler a "buena dicha" e mil outras coisas desse gênero.

Reuniões experimentais são as que têm por objetivo a produção das manifestações físicas. Este gênero de experiências tem uma utilidade inegável, porque foram elas que fizeram descobrir as leis que regem o mundo invisível. Se forem dirigidas com método e prudência, obter-se-ão bem melhores resultados.

Reuniões instrutivas são aquelas das quais podemos tirar o verdadeiro ensinamento e, para isso, devem ser sérias, ou seja, ocupar-se com coisas úteis, excluídas todas as outras. (Itens 324 a 327)

162. Qual a utilidade das reuniões de estudo?

As reuniões de estudo são de imensa utilidade para os médiuns e para as pessoas que têm um desejo sério de se aperfeiçoar. A instrução espírita não compreende somente o ensinamento moral dado pelos Espíritos, mas também o estudo dos fatos: é a ela que incumbe a teoria de todos os fenômenos, a pesquisa das causas e, como conseqüência, a verificação do que é possível e do que não o é; numa palavra, a observação de tudo que pode fazer progredir a ciência. (Itens 328 e 329)

163. Que condições são necessárias a uma reunião espírita?

Uma reunião é um ser coletivo cujas qualidades e propriedades são a resultante de todas aquelas de seus membros e formam uma espécie de feixe; ora, este feixe terá tanto mais força quanto mais homogêneo for.

Toda reunião espírita deve, portanto, tender à homogeneidade maior possível. É preciso ainda o recolhimento e a comunhão de pensamentos, sendo fato

provado pela experiência que os pequenos círculos íntimos são sempre mais favoráveis às boas condições que a reunião deve reunir.

Outros fatores importantes são a regularidade das reuniões e as disposições morais dos seus componentes. (Itens 331 a 333)

164. Qual o melhor antídoto contra a perturbação nos grupos?

Os causadores de perturbações não estão somente no seio das sociedades, grandes ou pequenas; estão igualmente no mundo invisível. Do mesmo modo que há Espíritos protetores para as sociedades, as cidades e os povos, Espíritos malfeitores se apegam aos grupos como aos indivíduos. Apegam-se primeiro aos mais fracos, aos mais acessíveis, e procuram fazer deles instrumentos para depois tentar envolver o conjunto.

Todas as vezes então que num grupo uma pessoa caia no laço, é preciso confessar que há um inimigo no campo, um lobo no aprisco e que deve manter-se em guarda, porque é mais do que provável que ele multiplicará suas tentativas. Se não o desencorajarem por uma resistência enérgica, a obsessão se torna então como um mal contagioso, que se manifesta nos médiuns pela perturbação da mediunidade e nos outros pela hostilidade dos sentimentos, a perversão do senso moral e perturbação da harmonia.

Como o mais possante antídoto deste veneno é a caridade, é a caridade que eles procuram sufocar. Não se deve então esperar que o mal se torne incurável para trazer-lhe o remédio; é preciso mesmo não esperar os primeiros sintomas, mas sobretudo é preciso trabalhar por preveni-lo. Para isso há dois meios eficazes, se forem bem empregados: a prece de coração e o estudo atento dos primeiros sinais que revelam a presença dos Espíritos enganadores.

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Se um dos membros sente a influência da obsessão, todos os esforços devem

tender, desde os primeiros indícios, a lhe abrir os olhos, de medo que o mal se agrave, a fim de trazer-lhe a convicção de que está enganado e o desejo de secundar aqueles que o querem livrar. (Item 340)

165. A prece deve ser usada nas reuniões espíritas?

Sim. As reuniões devem começar pela prece, por uma espécie de oração que

facilita a concentração; mas não basta pronunciar algumas palavras para afastar os maus Espíritos. A eficácia da oração está na sinceridade do sentimento que a dita; está sobretudo na unanimidade da intenção, porque nenhum daqueles que a ela não se associar de coração não se poderá beneficiar, nem beneficiar os outros. (Cap. XXXI, item XVI)

166. A eficácia da prece está na sua fórmula?

Não. Inexiste uma fórmula absoluta para a prece. Deus é muito grande para atribuir mais importância às palavras do que ao pensamento. Guardem-se, sobretudo, de fazer para isso uma dessas fórmulas banais que se recitam para aquietar a consciência. O sentimento é tudo; a fórmula nada vale. (Cap. XXXI, item XVI)

167. A que o Espiritismo deverá a sua mais potente propagação?

É às reuniões verdadeiramente sérias que o Espiritismo deverá a sua mais potente propagação. Ligando os homens honestos e conscienciosos, essas reuniões imporão silêncio à crítica e, quanto mais suas intenções forem puras, mais serão respeitadas mesmo por seus adversários, porque quando a zombaria ataca o bem deixa de provocar o riso: ela se torna desprezível. (Item 341)

168. Devemos criticar o mal quando ele ocorra em nosso meio?

Sem dúvida nenhuma, esse é um direito e mesmo um dever. Porém, se a intenção do crítico é realmente boa, deve emitir sua opinião com decência e benevolência, abertamente e não às ocultas.

O fato se aplica às reuniões, quando entram no mau caminho. Se a opinião das pessoas sensatas e bem-intencionadas não é seguida, elas devem retirar-se, porque não se concebe que quem não tem nenhuma segunda intenção permaneça numa sociedade onde se fazem coisas que não lhe convêm. (Item 337)

169. Qual é a melhor garantia para saber-se se um princípio é a expressão da verdade?

A melhor garantia de que um princípio é a expressão da verdade é quando ele é ensinado e revelado por diferentes Espíritos, por médiuns estranhos uns aos outros e em diferentes lugares e, além do mais, é confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número.

Somente a verdade pode dar raízes a uma doutrina; um sistema errôneo bem pode recrutar alguns aderentes, mas, como lhe falta a primeira condição de vitalidade, não tem mais que uma existência efêmera; eis por que não há do que se inquietar dele: ele se mata por seus próprios erros e cairá inevitavelmente diante da arma possante da lógica. (Cap. XXXI, item XXVIII)

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ESTUDO DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS”

ASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO

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170. Qual é a missão dos Espíritos?

A missão dos Espíritos não é resolver as questões de ciência, nem poupar aos homens o trabalho das pesquisas, mas sim torná-los melhores, porque é desse modo que a Humanidade se adiantará realmente. (Cap. XXXI, item XVII)

171. Qual é o objetivo da vida?

Deus quis que os Espíritos se voltassem para os interesses da alma. O aperfeiçoamento moral do homem, eis aí o fim e o objetivo da vida. O Espírito humano segue uma marcha necessária, imagem da gradação sentida por tudo o que povoa o Universo visível e invisível. Todo progresso chega em sua hora: a da elevação moral chegou para a Humanidade; ela não terá o seu ápice nos dias em que vivemos, mas assistimos, contudo, à sua aurora. (Cap. XXXI, item XI)

172. Qual é a tarefa principal dos Espíritos em relação aos homens?

Os Espíritos têm objetivo principal fazer-nos progredir. Para isso eles nos ajudam quanto possam. A Providência traçou limites à revelações que eles podem fazer aos homens.

Assim, os Espíritos sérios guardam silêncio sobre tudo o que lhes é proibido anunciar. Quem pedir aos Espíritos superiores a sabedoria, jamais será enganado; mas não se deve pensar com isso que eles perderiam seu tempo em ouvir todas as nossas tolices e em nos predizer a sorte. Essa tarefa fica por conta dos Espíritos levianos, que se divertem com isso, da mesma forma que os meninos traquinas. (Item 289, parágrafo 11)

173. Que é que o espiritualismo, se ressuscitado pelo Espiritismo, pode

dar à sociedade?

É do Espírito de Rousseau a seguinte proposição: Se o Espiritismo ressuscitar o espiritualismo, dará à sociedade o impulso que dá a uns a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevaram ao Ser supremo, esquecido e desconhecido por suas ingratas criaturas. (Cap. XXXI, item III)

174. Qual o caminho no qual Kardec trabalhava por fazer entrar o

Espiritismo?

Eis o pensamento textual de Kardec: "A bandeira que arvoramos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, ao redor do qual somos felizes de ver já tantos homens se unirem em todos os pontos do globo, porque compreendem que nela está a âncora da salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma era nova para a Humanidade. Convidamos todas as sociedades espíritas a concorrerem para esta grande obra; que de um extremo a outro do mundo estendam-se mãos fraternas e colherão o mal em redes inextricáveis". (Item 350)

175. Como o Espiritismo poderá trazer, como predito, a transformação

da Humanidade? Essa meta somente poderá ser alcançada com o melhoramento das massas, o

que pode acontecer gradualmente e pouco a pouco apenas pelo melhoramento dos indivíduos.

Com efeito, de que vale acreditar na existência dos Espíritos, se esta crença não torna melhor, mais benevolente e a mais indulgente o indivíduo e se não o faz mais humilde e mais paciente na adversidade?

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De que serve ao avarento ser espírita se ele permanece avaro; ao orgulhoso, se

está sempre cheio de si mesmo; ao invejoso, se está sempre com inveja? Todos os homens poderiam então crer nas manifestações e a Humanidade permanecer estacionária. Mas, tais não são os desígnios de Deus.

É para o fim providencial que devem tender todas as sociedades espíritas sérias, agrupando ao seu redor todos os que possuem os mesmos sentimentos; então haverá entre elas união, simpatia, fraternidade e não um vão e pueril antagonismo de amor-próprio, de palavras antes que de fatos; então elas serão fortes e poderosas, porque se apoiarão num base indestrutível: o bem para todos; então serão respeitadas e imporão silêncio à tola zombaria, porque falarão em nome da moral evangélica respeitada por todos. (Item 350)