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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
PERSPECTIVAS GLOBAIS PARA A ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
FORTALEZA, CE, BRASIL, 13 A 16 DE OUTUBRO DE 2015.
ESTUDO DE CASO PARA ENTENDER E
ANALISAR A ESTRUTURA E GESTÃO DE
TIMES AUTO GERENCIÁVEIS
Gabriela Maretti (FACAMP)
Melissa Mesquita (FACAMP)
O presente trabalho consiste em um estudo de caso para entender e
analisar a estrutura e gestão de times auto gerenciáveis, além de
apresentar conceitos relacionados ao tema central como,
implementação e desenvolvimento de ações de melhoria contínua nas
organizações, o papel dos times de trabalho nesse processo, os tipos de
time de melhoria, sua estrutura e organização, ferramentas e métodos
de gestão da rotina, entre outros. O estudo de caso propõe uma análise
em três empresas com histórico de trabalho em equipe para melhoria.
Portanto, foi elaborado um roteiro de pesquisa usado como guia para
as visitas e entrevistas. Nessas empresas foram tratados pontos como a
implementação, desenvolvimento e gestão de times de melhoria,
inclusive os auto gerenciáveis, dentro de seus processos de negócio.
Com a fundamentação teórica elaborada, realizou-se uma análise da
estrutura e gestão desse tipo de time nas empresas. Pôde-se concluir
que as empresas estão evoluindo os trabalhos desenvolvidos pelos
times com foco em melhoria, principalmente, dentro das operações da
fábrica, porém existe muita dificuldade ainda em se estabelecer
mudanças na cultura e no comportamento das organizações para se
implementar os modelos de trabalhos autônomos. O tipo de time de
melhoria mais estruturado e consolidado nessas empresas são os times
de Seis Sigma, que costumam apresentar ganhos mais a curto prazo e
em geral não necessitam de um rearranjo estrutural nas relações de
trabalho como se aconselha que se tenha para os times auto
gerenciáveis.
Palavras-Chave: times de melhoria; times auto gerenciáveis; estrutura
organizacional para trabalho em equipe; gestão de times auto
gerenciáveis.
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PERSPECTIVAS GLOBAIS PARA A ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
FORTALEZA, CE, BRASIL, 13 A 16 DE OUTUBRO DE 2015.
1. Introdução
Segundo Schermerhorn et al (1999), as organizações estão buscando novas formas de operar seus modelos
de negócio de forma enxuta, com objetivo de tornar seus processos mais competitivos, rentáveis e qualificados.
Uma saída ou forma para se trabalhar com melhoria de processo é utilizando o trabalho em equipe, pois, em
geral, valoriza a multifuncionalidade, a iniciativa e a criatividade dos funcionários, e a capacidade de gerenciar
suas próprias atividades, o que gera resultados positivos para as organizações.
Campos (2004) define que o trabalho em equipe para a solução de problemas é uma concepção original de
Maslow (GODOY, 2009) para atender as necessidades básicas sociais do ego e de autorrealização. É neste
contexto que Harrington & Harrington (1995) enfatizam a importância e o legado deixado por Ishikawa (1986),
considerado o “pai da qualidade japonesa”, que apresentou os trabalhos dos grupos de Círculo de Controle da
Qualidade (CCQ), considerados a primeira experiência de trabalho em time focado em melhoria de processos na
indústria manufatureira, que mais tarde evoluiu e hoje pode ser comparada aos times auto gerenciáveis.
O CCQ visava à educação, treinamento e o desenvolvimento das pessoas que faziam os processos
acontecerem, assim como das áreas mais técnicas e também das pessoas envolvidas com a gestão. De acordo
com Ishikawa (1986), as pessoas que trabalham diariamente com os processos são as que detêm as informações,
fatos e circunstâncias e toda a gerência é quem detém o poder de decidir as diretrizes e a direção das estratégias
da organização. Desta forma, a junção dessas duas classes dentro do CCQ delineava uma nova forma de
estrutura organizacional e funcional, pois se esperava que todos os envolvidos, sendo eles da alta diretoria ou
baixa gerência, buscassem um mesmo objetivo, isto é, a redução de desperdícios e o controle da qualidade das
operações, por meio do desenvolvimento de atividades para melhoria.
Os times auto gerenciáveis como outros tipos de time de melhoria, que serão apresentados neste trabalho,
herdaram muitas das características desenvolvidas pelos grupos de CCQ com alguns atributos específicos como
a gestão autônoma das atividades realizadas em uma dada área de trabalho, criação de um time fixo, guiado por
um líder e auxiliado por um facilitador, que desenvolve ações de melhoria, sem a interferência da alta ou média
gerência (HARRINGTON & HARRINGTON, 1995).
1.1 Objetivos
O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo de caso em três empresas com histórico de
trabalho em equipe para melhoria para entender e analisar a estrutura e gestão de times auto gerenciáveis. Como
objetivos secundários, realizou-se:
Um levantamento bibliográfico a respeito de: trabalho em equipe, trabalho em equipe para
melhoria e times auto gerenciáveis;
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Uma análise da estrutura dos times auto gerenciáveis dessas organizações: formação,
desenvolvimento, forma de implementação, pessoas envolvidas, estrutura de reuniões e suporte
organizacional;
Uma análise da gestão desses times auto gerenciáveis (estabelecimento de objetivos, liderança,
treinamento e reconhecimento).
2. Metodologia de pesquisa
Com base em Yin (1993 apud Martins et al, 2014), verifica-se que ao longo do presente trabalho foram
analisados dados qualitativos, uma vez que as informações obtidas das empresas visitadas foram captadas por
meio de entrevistas por meio do uso de um roteiro como guia. Essa sistemática viabilizou a análise da estrutura,
implementação, desenvolvimento e gestão dos times auto gerenciáveis na rotina das operações dessas
organizações. Dessa forma, pode-se concluir que o presente trabalho trata-se de um estudo de caso exploratório.
3. Revisão bibliográfica
3.1 Estruturação e implementação dos times de melhoria
Segundo Harrington & Harrington (1995), o setor manufatureiro tem utilizado times de melhoria da
qualidade desde a década de 60, cenário bem diferente no setor de serviços que apresenta um lento progresso na
adoção desses times. Além disso, nas áreas administrativas é menos comum esse tipo de trabalho estruturado. Os
autores trazem definições de diferentes tipos de time, que podem ser vistos na Tabela 1.
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Tabela 1 - Tipos de times e suas características
Característica Grupo de trabalho Time de trabalhoTime de melhoria de
processo
Departamento de time
de melhoria
Círculo da
qualidade
Time de trabalho
autônomo
MembrosSeleciona-se com base
nas experiências
Seleciona-se com
base nas experiências
Membros envolvidos
com o processo
Membros do
departamento
Membros do
departamento
Membros do
departamento
Participação Mandatória Mandatória Mandatória Mandatória Voluntária Mandatória
Gestão da direção/
alta gerênciaAlta Moderada Moderada Moderada Baixa Baixa
Seleção de tarefas Gestores Gestores Gestores Time Time Time
Urgência Alta Moderada Moderada Moderada Baixa Moderada
Escopo das
atividadesOrganização Organização Processo Departamento Departamento Departamento
Tempo das
atividades
Reuniões longas/
curto período de
duração/ nenhuma
atribuição
Reuniões curtas/
longo período de
duração
Reuniões curtas/
período de duração
intermediário
Reuniões curtas/
período intermediário
Reuniões curtas/
período de
duração contínuo
Reuniões curtas/
período de duração
contínuo
Facilitador do
processoOpcional Opcional Recomendado Recomendado Recomendado Recomendado
Liderança do time Nomeado NomeadoDono do processo/
nomeadoSupervisor
Supervisor/
nomeado
Compartilhada/
rotativa
Implementação Outros Time/ outros Time/ outros Time Time Time
Fonte: Harrington & Harrington, 1995.
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Segundo Harrington & Harrington (1995), as empresas que estão começando a implementar times focados
em ações/ esforços de melhoria, devem definir e aprovar cada tipo de time (mencionado na tabela 2) com base
nos objetivos e propósito de cada um, levando em conta os problemas e o escopo de trabalho que envolve cada
um. Outro ponto importante que os autores ressaltam é a necessidade de se estabelecer a missão dos times, ou
seja, definir o porquê eles existem, qual o seu objetivo dentro do contexto organizacional.
As organizações devem estabelecer uma equipe executiva de melhoria com o intuito definir e desenvolver
esses times, além de desenvolver, analisar e aprovar projetos e ajudar a atender as solicitações de recursos que os
projetos e a busca por solução dos problemas requerem. É uma forma de alinhar os projetos a estratégia
organizacional (HARRINGTON & HARRINGTON, 1995).
Sobre a liderança desses times, os autores comentam que o líder é definido conforme as necessidades do
time, normalmente os funcionários que tenham conhecimentos mais específicos a respeito dos problemas do
processo, mais experiência em solução de problemas, ou alguém que tenha bom convívio e habilidade de gerir os
membros do time, pode vir a ser um líder. Os membros dos times são parte fundamental de todo esse processo,
uma vez que é a partir do início da participação dos funcionários nas tomadas de decisões e gestão dos processos
que os resultados de melhorias e soluções de problemas são muito mais bem sucedidos comparando-se aos
modelos tradicionais de gestão.
Outro papel importante é o facilitador. Harrington & Harrington (1995) diferenciam três tipos de
facilitadores: coordenador; especialista de processo; e o líder de sessão. O primeiro tipo tem a função de um
assistente do líder do time, seus deveres estão ligados com a gestão da comunicação com os outros membros e
gestão da rotina dos processos de trabalho do time, é o secretário do time. Já o segundo trata-se do tipo de
facilitador tradicionalmente encontrado nas organizações em geral, esse membro não se dedica em tempo
integral ao time, desenvolvendo ações de coaching e dando suporte ao time quando solicitado. Por último, o líder
de sessão que se trata de uma pessoa fora do time, que lidera sessões de treinamentos e workshops. Em geral, são
experts em algum assunto específico e repassam seus conhecimentos em eventos para auxiliar na gestão dos
projetos de melhoria.
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3.2 Alguns tipos de times para melhoria
Nos CCQs, de acordo com Harrington & Harrington (1995), em essência, seus membros são voluntários,
trabalham em diversos departamentos da empresa e se reúnem periodicamente dedicando parte do seu tempo
para trabalhar em assuntos de qualidade. Para API (1998), esse tipo de time é chamado também de “Equipe de
Envolvimento dos Funcionários”. Atualmente nas organizações pode-se perceber características do CCQ em
programas de manutenção autônoma ou TPM (Total Productive Maintenance). De acordo com Kardec & Nascif
(2013), a metodologia do TPM utilizou a sistemática apresentada pelos grupos de CCQ para definir alguns de
seus principais fundamentos.
Também é comum que as organizações tehnham times de projeto, que segundo Harrington & Harrington
(1995), os envolvidos nos projetos geralmente tem suas experiências e conhecimentos compatíveis para
solucionar o assunto em questão. Os membros são alocados temporariamente para atuarem nos problemas, uma
vez solucionados e atingidos os objetivos do projeto, retomam a suas rotinas de trabalho.
Carpinetti (2010) nesse sentido comenta sobre o programa Seis Sigma, pois trata-se de um programa de
melhoria, cujo objetivo é reduzir os desperdícios nos processos organizacionais. Para os projetos desse tipo de
programa, geralmente existem equipes treinadas nas metodologias cabíveis. Na maioria dos casos, uma vez
finalizado o projeto, os membros retornam as suas atividades. Mas é flexível de acordo com cada organização,
dependendo do seu grau de maturidade e necessidade em conduzir projetos Seis Sigma.
Já os times auto gerenciáveis, de acordo com Harrington & Harrington (1995), cuida da sua própria gestão
sem a interferência da alta ou média gerência, são responsáveis pelo orçamento, recursos, e contratação e
desenvolvimento de funcionários do departamento onde atuam. Esses times são compostos por funcionários de
um departamento específico da organização que trabalham para a melhoria de seus processos e gerenciamento da
sua rotina.
Schermerhorn et al (1999) comentam que os times geralmente passam por diferentes estágios de
desenvolvimento, são eles: formação, tumulto, padronização, desempenho, dissolução (vide tabela 2).
Tabela 2 – Estágios de desenvolvimento dos times
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Estágios Características
Formação
- foco na seleção dos membros
- definição das habilidades e experiências desejadas para os
membros
- plano para distribuição das atividades entre os membros
- definição de metas
Tumulto
- muita tensão entre as pessoas envolvidas
- dificuldade em alcançar os objetivos
- ansiedade com relação a resultados e prováveis mudanças
- desmotivação
- papel da liderança formal e facilitador muito importante para
superar as barreiras e reorganizar ou redefinir o que for necessário
Padronização
- conflitos estabilizam
- time começa a se reunir de forma organizada e realmente trabalhar
em equipe
- tarefas já são realizadas de acordo com o planejado
- time já tem uma integração inicial
Desempenho
- equipe mais madura e organizada, integrada
- capacidade plena para solução de problemas
- metas são atingidas
- importante liderança reconhecer nesse momento
- desafio é manter o foco nos resultados e melhorar o desempenho
dos processos
Dissolução- aplica-se ao caso de times temporários: se desfazem após
concluído o projeto ou alncaçada as metas estabelecidas
Fonte: adaptado de Schermerhorn et al (1999)
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3.2.1 Conceituando times auto gerenciaveis
De acordo com Ulich & Weber (1996 apud Lannes, 1999), existem critérios que podem caracterizar
equipes auto gerenciáveis, são eles:
Funcionários que trabalham em uma unidade de produção ou administrativa limitada espacial e
organizacionalmente, compartilham tarefas comuns que são divididas em subtarefas e assumem
responsabilidade compartilhada ao longo do tempo;
Os participantes do time coletivamente definem (auto regulação coletiva), com relativamente alto
grau de autonomia, a coordenação da sequência do trabalho, alocação das atividades e tarefas
dentro da unidade de trabalho;
Toda a equipe é responsável por uma substancial, embora gerenciável, parcela do negócio;
A divisão do trabalho deve facilitar o relacionamento social que apoia a interação cooperativa;
Os membros devem ter a oportunidade de aprender todos os trabalhos existentes em sua área;
Cada membro pode executar uma variedade de subtarefas, ou seja, ser multifuncional, e o faz
dependendo da necessidade;
A equipe tem diferentes funções como planejamento da produção, e controle ou garantia da
qualidade, isto permite que cada membro execute tarefas desafiadoras;
A equipe deve ter autoridade, materiais (insumos) e equipamentos necessários e disponíveis para a
execução de suas tarefas.
Orsburn et al (1990) definiram e descreveram em sua obra 19 ferramentas e técnicas que ajudam as
organizações no processo de implementação de times auto gerenciáveis. Essas ferramentas e técnicas abordam
assuntos como: desenvolvimento dos funcionários para sua inclusão como membros de um time auto
gerenciável; desenvolvimento de um comitê de direção (Steering Commitee) para gestão e suporte estratégico;
estabelecimento da missão do time; plano de treinamento para os times; análise da área de trabalho para
conhecer seu desempenho através de seus indicadores; treinamento da gerência e supervisão; estabelecimento do
processo de solução de problemas; definição de reuniões padronizadas (horário, pauta, papéis definidos);
definição e gestão dos indicadores de desempenho; divulgação da estratégia organizacional para todos os
membros do time; desenvolvimento de sessões de coaching para os envolvidos; políticas de reconhecimento e
recompensa, entre outras. O objetivo é dar suporte para que os times façam seu papel: trazer melhorias para a
organização melhorando seu desempenho, seus resultados.
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4. Análise do estudo de caso
Foram visitadas três empresas de diferentes setores: uma multinacional do setor de cosméticos (empresa
A); uma multinacional do setor de medicamentos/saúde animal (empresa B) e uma multinacional do setor de
bens de consumo (higiene e bem estar) (empresa C).
Conforme pode ser visto na tabela 3, basicamente foram analisados os seguintes pontos como resultado das
visitas as empresas:
a área responsável pelos times auto gerenciáveis;
como se deu o início da implementação desse tipo de time;
razões para se implementar times auto gerenciáveis;
tipos de time em uso e sua abrangência;
tipo de apoio aos times auto gerenciáveis;
estrutura e composição dos times auto gerenciáveis;
papel do facilitador;
atividades do time auto gerenciável;
liderança;
formação/treinamento da liderança;
plano de treinamento para os times;
reconhecimento dos times.
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Tabela 3 – Resultados das visitas as empresas
empresa A Empresa B Empresa C
Área responsável pelas
iniciativas e times de
melhoria
Melhoria Contínua Melhoria Contínua Melhoria Contínua
Ponto de partida para se
começar o trabalho com
times auto gerenciáveis
Implementação da Metodologia
Lean
Implementação da Metodologia
Lean
Implementação da Metodologia
Lean
Escopo de atuação dos
times auto gerenciáveis
fábrica (áreas administrativas não
envolvidas)
fábrica (áreas administrativas não
envolvidas)
fábrica (áreas administrativas não
envolvidas)
Razões para implementar
os times auto gerenciáveis
Suporte para implementação da
metodologia de Manutenção
Autônoma (associada ao TPM)
Implementação da Metodologia
Lean
Implementação da Metodologia
Lean
Tipos de time em uso /
abrangência
- times de Seis Sigma / usado em
nível global;
- times auto gerenciáveis / usado
apenas em um time piloto em uma
planta
- times de Seis Sigma / usado em
nível global;
- times auto gerenciáveis / usado
nível global
- times de Seis Sigma / usado em
nível global;
- times auto gerenciáveis / usado
nível global
Apoio aos times Local Alta direção e global Alta direção e global
Estrutura e composição dos
times auto gerenciáveis
todos os funcionários das áreas onde
os times estão implementados
todos os funcionários das áreas onde
os times estão implementados
todos os funcionários das áreas onde
os times estão implementados
Papel do facilitador
especialista - não se dedica em
tempo integral; coaching; suporte a
projetos mais técnicos; uso de
ferramentas de análise e solução de
problemas mais complexas
função não claramente definida -
gerentes exercem essa função
conforme demanda
especialista - não se dedica em
tempo integral; coaching; suporte a
projetos mais técnicos ; uso de
ferramentas de análise e solução de
problemas mais complexas
Atividades do time auto
gerenciável
- gestão de recursos, resultados e
desempenho;
- divisão de atividades entre os
membros;
- planejamento e implementação de
ações de melhoria;
- reuniões de turno
- gestão de recursos, resultados e
desempenho;
- divisão de atividades entre os
membros;
- planejamento e implementação de
ações de melhoria;
- reuniões de turno;
- estabelecimento de metas junto
com a gerência
- gestão de recursos, resultados e
desempenho;
- divisão de atividades entre os
membros;
- planejamento e implementação de
ações de melhoria;
- reuniões de turno;
- estabelecimento de metas junto
com a gerência
Liderança
exercida por um membro do time:
eleito pelos membros dos times
(existe uma rotação dessa função
periodicamente)
exercida por um membro do time:
eleito pelos membros dos times
(existe uma rotação dessa função
periodicamente)
exercida por um membro do time:
membros se voluntariam e gerência
seleciona (existe rotação dessa
função periodicamente)
Formação /treinamento da
liderançanão existe não existe
treinamentos técnicos e
comportamentais direcionados a
essa função de liderança
Plano de treinamento para
os times
cronograma relacionado as etapas
para implementação da manutenção
autônoma
treinamento nas ferramentas Lean
conforme necessidade do time
somente formação dos líderes que
serão os multiplicadores para os
demais membros conforme
necessidade
Reconhecimento dos timesnão tem programa estruturado para
reconhecimento
não tem programa estruturado para
reconhecimento
tem programas específicos para
reconhecer os times
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Fonte: Autor do presente trabalho
Importante ressaltar que para cada uma das três empresas, a implementação/filosofia do Lean
Manufacturing, apesar de não se tratar diretamente da temática de trabalho de times de melhoria, foi o ponto de
partida pois é uma cultura que valoriza o envolvimento dos funcionários nas ações do dia-a-dia, cria mecanismos
na rotina desses trabalhadores para que resolvam problemas em seus postos de trabalho, e ainda estabelecem
ferramentas e metodologias para solução de problemas. Assim como a metodologia do TPM traz consigo
características dos grupos de Círculo de Controle da Qualidade, principalmente as ligadas à gestão autônoma e
realização de atividades de melhoria nas máquinas e equipamentos pelo próprio operador.
Em contrapartida ao que as empresas demonstraram, todos os autores estudados na revisão bibliográfica
não vincularam dirtamente os trabalhos dos times de melhoria com a cultura do Lean Manufacturing, talvez
porque esse conceito de trabalho em equipe para melhoria seja algo que tenha vindo antes da própria
disseminação do Lean no ocidente. Esses autores apresentaram a necessidade da criação dessas equipes mais
relacionada a um amadurecimento da visão estratégica da organização em enxergar valor nas ações de melhoria
da qualidade dos processos e gerenciamento da rotina. Em nenhuma das obras houve uma ligação direta do
desenvolvimento dos times de trabalho para melhoria com uma metodologia ou filosofia específica de solução de
problemas. O que se sabe é que esses trabalhos de melhoria de processo nasceram no Japão dentro das indústrias
de manufatura com o trabalho dos CCQs.
Com relação aos tipos de time, vale destacar que no caso da empresa A, tem-se um exemplo claro da
dificuldade gerada na implementação dos times auto gerenciáveis. O entrevistado enfatizou que a implementação
do time trata-se de uma ação local e que não há incentivo, nem influência da organização a nível global
tampouco da alta direção local. Isto, de acordo com Harrington & Harrington (1995) e Schermerhorn et al
(1999), compromete os resultados da implementação, estruturação e desenvolvimento das equipes para melhoria.
O ideal seria que a alta direção esteja diretamente envolvida, patrocinando os trabalhos dos times através de
políticas, diretrizes e estratégias organizacionais.
Nas três empresas a figura do gerente ou supervisor tornou-se uma função de assistência e suporte aos
trabalhos desenvolvidos pela equipe, questão muito relevante dentro das principais características apresentadas
pelos autores quanto ao papel da gerência frente as necessidades dos membros desse tipo de equipe. Os gerentes,
em todos os casos, atuam em parceria e apoiam os times. Continuam a gerenciar questões estratégicas de suas
áreas específicas, mas as decisões operacionais e de melhorias não cabem mais a seu escopo de trabalho, agora
são os times que detêm a responsabilidade de gerenciar essas atividades.
Com relação as reuniões de turno, são as reuniões que acontecem diariamente e duram de 10 a 15 minutos.
Nesses encontros, os membros do time discutem os resultados diários de desempenho dos processos e a evolução
da implementação das ações de melhoria. Com base nos relatos dos entrevistados, esses resultados são
apresentados em painéis/ quadros de gestão a vista na forma de indicadores presentes na linha de produção. O
gerenciamento desses quadros é de responsabilidade do líder do time ou algum membro previamente definido. O
papel dos líderes nessa reunião é fundamental para que a torne produtiva e rápida. Em todos os casos estudados
essa atividade mostra-se bastante consolidada na rotina de trabalho das equipes. Segundo os responsáveis, os
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indicadores que os operadores monitoram são de fácil compreensão e visualização, o que tornam ainda mais
produtivas as discussões. De acordo com Orsburn et al (1990), é fundamental para o clima organizacional e o
envolvimento dos membros do time realizar essas reuniões durante um parte do dia, uma vez que é nesse
momento que todos os operadores juntos irão refletir a respeito dos resultados de seus trabalhos. O líder nesse
momento é quem coordena as reuniões, prepara uma ata e anota as questões tratadas durante o encontro. No caso
das empresas visitadas, é o líder do time que realmente desempenha essas tarefas.
Quanto à formação da liderança dos times auto gerenciáveis, na literatura nada se fala sobre qual processo
de definição dos líderes é mais eficaz, os autores apenas enfatizam a importância da definição desse papel nas
equipes e das características que eles devem apresentar. Por exemplo, Schermhorn et al (1999), define o líder
como: uma pessoa que motive as pessoas, que conheça os processos de trabalho, que os membros confiem e que
tenha foco em resultados.
Sobre os treinamento aos times, vale lembrar que de acordo com Orsburn et al (1990), os treinamentos
fazem parte do plano de implementação dos times auto gerenciáveis nas organizações, são muito importantes
para o desdobramento do modelo de trabalho e conscientização dos funcionários que integram as equipes. Dar
continuidade ao desenvolvimento dessas pessoas é fundamental para o sucesso dos projetos. E nehuma das três
empresas apresentou uma plano de educação continuada estruturado para dar suporte aos times conforme vão
avançando em seus estágios de maturidade.
Sobre reconhecimento, vale finalizar abordando Schermerhorn et al (1999), pois enfatizam que os times de
trabalho são organismos vivos que precisam ser “alimentados” (recompensados), o simples ato de elogiar ou de
dar feedbacks aos membros dessas equipes gera entusiasmo nas pessoas, que vêem seus trabalhos serem
percebidos pela organização. Isto requer uma mudança de postura das empresas, de enxergarem seus
funcionários como simplesmente executantes de tarefas e não parte integrante do desempenho e sucesso das
operações para atuantes e co-participantes em todo esse processo.
5. Conclusão e considerações finais
Com base no estudo de caso e na revisão bibliográfica, pode-se concluir que mais que um modelo de
trabalho, a implementação e gestão dos times auto gerenciáveis envolve questões culturais e requer mudanças de
comportamento nas organizações que objetivam implementá-los.
Os fatores de sucesso e insucesso da criação desses times dependem muito mais da postura e da
transformação da visão da organização, do que de ferramentas e técnicas. Observando as empresas estudadas,
percebe-se que aquela que mais avançou no desenvolvimento e na maturidade de suas equipes (empresa C) foi a
que se dispôs a mudar seu modelo mental e comportamento, principalmente quanto as relações de trabalho e
hierarquias. A alta gerência, por exemplo, superou a resistência gerada pelo sentimento de perda de poder e
assumiu uma postura mais madura quanto ao novo papel dos funcionários e a contribuição de seus trabalhos para
a organização.
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Trabalhar com times significa lidar com o comportamento humano que não é programável de modo
simplista e teórico, as variáveis envolvidas nesse processo de mudança envolvem questões complexas como
atitudes, valores, sentimentos, experiências, motivações, entre outros. Com base nos autores estudados, verifica-
se que pouco se fala no processo que antecede a implementação desses times nas organizações, ou seja, a
preparação do ambiente. As questões de mudança e transformação de comportamento são fundamentais para
minimizar os impactos gerados com a implementação dos times auto gerenciáveis.
Outro aspecto importante, e que deve ser considerado pelas empresas ao optaram pela implementação de
times de melhoria em geral, é que cada uma deve entender claramente qual é sua estratégia e objetivos globais,
qual é sua cultura, como as pessoas se comportam nas relações de trabalho, quais são seus pontos fortes e suas
deficiências, principalmente dentro dos processos de trabalho. Ou seja, é importante que as organizações
conheçam suas operações e que saibam identificar quais são suas necessidades para depois definir qual time ou
quais tipos de time se adequam melhor a sua realidade atual e futura. Não existe um tipo de time de melhoria
ideal que se estabeleça perfeitamente na estrutura de trabalho de uma empresa e também não existe um time que
forneça resultados efetivos e garantidos, a empresa deve optar por um ou vários e se preparar para as mudanças
que sua implementação implica na forma de se trabalhar.
Por último, vale destacar que ao se observar os tipos de times de melhoria implementados nas empresas
visitadas, é possível identificar que os times de Seis Sigma apresentam uma estrutura de trabalho mais madura e
consolidada comparando-se aos times auto gerenciáveis. Uma justificativa poderia estar nas próprias
características que cada tipo apresenta, ou seja, nos times de Seis Sigma, muitas vezes, não existe a necessidade
de se alterar o escopo de trabalho do dia a dia dos membros da equipe (ou acontecem poucas alterações), eles
dedicam parte de seu tempo para um projeto de escopo bem definido e prazo estipulado (quando não há a
dedicação em tempo integral em alguns casos). Outra característica está relacionada à autonomia na gestão dos
processos de trabalho, os times de Seis Sigma, ao contrário dos auto gerenciáveis, não tem a responsabilidade
pelas melhorias de suas atividades de rotina do dia a dia, o trabalho do time está limitado ao escopo do projeto,
no caso de um processo específico e existe, em geral, um alto interesse organizacional para o alcance das metas,
pois a maioria desses projetos tem um alinhamento direto com a estratégia organizacional.
Possivelmente, as empresas têm garantido ganhos mais significativos e mais rápidos com os times de Seis
Sigma, uma vez que para implementar este tipo de time não são necessárias grandes mobilizações e mudanças
comportamentais, principalmente na estrutura organizacional, em geral, a parte mais importante da
implementação desses times são os treinamentos e desígnio de projetos específicos, além de envolverem apenas
parte dos funcionários. Quando se fala de auto gerenciamento e de sua essência que vem do CCQ, deve-se
pensar no envolvimento e engajamento de todas as pessoas e não somente de uma parte. A mudança cultural é
mais necessária, profunda e inevitável.
A questão é que as empresas esperam e buscam resultados e ganhos rápidos com a implementação de times
de melhoria. Porém, no caso dos times auto gerenciáveis, esses ganhos não são imediatos e requerem um
dispêndio e dedicação da liderança formal para estabelecer uma estrutura sólida e que funcione. Essa pode ser
uma das grandes razões das empresas não implementarem equipes auto gerenciáveis e as que tentam apresentam
muita dificuldade. Quando se fala de uma mobilização a nível organizacional, é sempre mais difícil, por isso é
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PERSPECTIVAS GLOBAIS PARA A ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
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importante para as organizações que decidem implementar esse tipo de iniciativa partir da estratégia
organizacional e existir um time responsável por esse trabalho e um planejamento em etapas acompanhado
periodicamente com objetivos bem definidos e resultados mensuráveis.
Segundo Caffyn & Bessant (1996 apud Mesquita, 2001), apesar da melhoria contínua ser o foco de muita
atenção das organizações, existe uma carência de clareza a respeito de como sustentá-la no longo prazo. As
empresas tem demonstrado muita dificuldade em sustentar seus programas de melhoria contínua após o período
inicial de sua implementação, visto que, algumas pesquisas apontam que, as empresas tentam formar uma
capacidade e habilidade em melhoria contínua, porém falham ao estruturarem uma base para esse processo.
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