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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA EVANDRO SANTANA PEREIRA ESTUDO DE CASO EM HISTÓRIA DA AVIAÇÃO MILITAR: O CAÇA CHINÊS J-11B VITÓRIA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

EVANDRO SANTANA PEREIRA

ESTUDO DE CASO EM HISTÓRIA DA AVIAÇÃO MILITAR:

O CAÇA CHINÊS J-11B

VITÓRIA 2011

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A Deus, Causa Primeira e Fim Último de todas as coisas. A todos que contribuíram de uma forma ou de outra para a realização deste trabalho.

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RESUMO

O Su-27 é um caça supersônico projetado na URSS nos anos 1970 e 1980, e que

entrou em serviço em 1985. Foi a resposta soviética ao caça americano F-15, e sua

principal tarefa é a obtenção da superioridade aérea sobre o campo de batalha.

Após um longo e difícil desenvolvimento, o Su-27 se destacou como uma das

melhores aeronaves em sua função e conquistou admiradores mundo afora. O Su-

27 deu origem a uma família de aviões com especialidades diversas, tais como

caças multimissão e bombardeiros táticos. Foi também um grande sucesso

comercial, sendo adquirido por vários países, dentre eles a China. Na década de

1990, a China comprou algumas dúzias de Su-27 nas versões com um e dois

acentos, e na década seguinte comprou versões multimissão do caça, o Su-30MKK

e Su-30MK2. Em 1996, os chineses negociaram a produção licenciada do Su-27SK

pela Shenyang Aircraft Corporation, sob a designação local J-11 e a partir de kits de

montagem fornecidos pelos russos. A Shenyang produziu entre 1998 e 2004 em

torno de 100 J-11 com os kits, mas depois quebrou o contrato de produção

licenciada e começou a fabricar sua própria versão do caça, o J-11B. Trata-se de

uma aeronave com 100% de componentes chineses e que desagradou

profundamente à Rússia, que passou a acusar a China de plagiar o Su-27 com este

avião. O J-11B foi projetado desde o início dos anos 2000 e entrou em serviço em

2008, alcançando a completa nacionalização de seus componentes em 2010. Este

trabalho utilizou extensamente bibliografia e fontes digitais para fazer cronologias: do

Su-27 russo, com suas principais características e desenvolvimento; das compras

chinesas do Su-27 e de suas versões derivadas, bem como a introdução destes na

Força Aérea Chinesa; e de sua versão sínica, o J-11B, com os aspectos mais

importantes de seu projeto e de alguns pontos controvertidos de sua história.

Conclui reafirmando a importância do estudo do J-11B para o Brasil.

Palavras-chave: Avião de caça. Su-27. J-11B. China. História da aviação militar.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Su-27, caça russo de 4ª geração por excelência .............................. 24

Figura 2 – F-15 Eagle ........................................................................................ 27

Figura 3 – MiG-29, caça russo leve de 4ª geração ............................................ 28

Figura 4 – Su-27, caça russo pesado de 4ª geração ......................................... 28

Figura 5 – T-10-1, em voo.................................................................................. 29

Figura 6 – T-10-1, estático ................................................................................. 29

Figura 7 – T-10-1, três dimensões ..................................................................... 35

Figura 8 – T-10-17, três dimensões ................................................................... 36

Figura 9 – Treinador de combate Su-27UB ....................................................... 42

Figura 10 – P-42, pulverizador de recordes ....................................................... 44

Figura 11 – Su-27SKs sínicos em voo ............................................................... 48

Figura 12 – “Homem dos Tanques” ................................................................... 56

Figura 13 – Treinador de combate Su-27UBK ................................................... 59

Figura 14 – Míssil R-27R1.................................................................................. 61

Figura 15 – Míssil R-73E.................................................................................... 61

Figura 16 – F-16 taiwanês ................................................................................. 62

Figura 17 – Su-27SK com pesada carga ar-terra............................................... 64

Figura 18 – Su-27SK “08 Azul”/30008 ............................................................... 65

Figura 19 – Fuselagem do Su-27SK “08 Azul” sendo rebocada ........................ 65

Figura 20 – Su-30MKK e suas armas ar-terra.................................................... 67

Figura 21 – J-11, Su-27SK produzido sob licença na China.............................. 70

Figura 22 – Tomada inferior de um J-11B.......................................................... 72

Figura 23 – Maquete de uma versão de J-11 não identificada .......................... 75

Figura 24 – Protótipo de J-11B número 525 decolando..................................... 77

Figura 25 – Vista lateral do Su-27SKM.............................................................. 78

Figura 26 – Painel do Su-27SKM....................................................................... 78

Figura 27 – Protótipo estático do J-11B ............................................................. 79

Figura 28 – Uma das primeiras imagens do J-11B ............................................ 80

Figura 29 – Outra das primeiras imagens do J-11B........................................... 80

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Figura 30 – Popa de um protótipo de J-11B com motores AL-31F .................... 80

Figura 31 – Cartaz promocional de uma versão de J-11 no Zhuhai Air Show ... 81

Figura 32 – Vários J-11B operacionais lado a lado............................................ 86

Figura 33 – Vários pilotos de J-11B ................................................................... 86

Figura 34 – J-11B com motores WS-10 Taihang ............................................... 87

Figura 35 – Vários J-11B e J-11BS prontos na fábrica da Shenyang ................ 89

Figura 36 – Primeiro J-11B em exposição pública ............................................. 90

Figura 37 – Dois Su-27UBK sínicos em exercício com F-4 turco....................... 96

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Desempenho do Su-27 .................................................................... 47

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9

1.1 ASSUNTO ................................................................................................. 9

1.2 TEMA......................................................................................................... 10

1.3 JUSTIFICATIVA......................................................................................... 10

1.4 OBJETIVO................................................................................................. 13

1.5 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................. 14

1.6 TEORIA E METODOLOGIA ...................................................................... 18

2 CAPÍTULO I – CRONOLOGIA DO SU-27 ................................................ 24

2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 24

2.2 OS REQUERIMENTOS DE UM NOVO CAÇA.......................................... 26

2.3 DESCRIÇÃO DO T-10............................................................................... 29

2.4 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10.................... 32

2.5 UMA DIFÍCIL DECISÃO: REDESENHO COMPLETO, O T-10S ............... 33

2.6 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10S ................. 40

2.7 SU-27UB, TREINADOR DE COMBATE BIPLACE.................................... 41

2.8 SU-27: UMA GUINADA TECNOLÓGICA PARA A URSS ......................... 42

2.9 P-42, O PULVERIZADOR DE RECORDES .............................................. 43

2.10 SUCESSO DE EXPORTAÇÃO ................................................................. 45

2.11 FICHA TÉCNICA DO SU-27...................................................................... 46

3 CAPÍTULO II – O SU-27 NA CHINA ......................................................... 48

3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 48

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO.......................................................................... 51

3.2.1 A cooperação entre China e URSS na indústria aeronáutica .............. 51

3.2.2 O “Racha” Sino-Soviético ....................................................................... 52

3.2.3 A “Lua de Mel” entra a China e o Ocidente ........................................... 53

3.2.4 O Massacre de Tiananmen e o embargo contra a China .................... 55

3.2.5 Pequim se volta novamente para Moscou em busc a de armas .......... 56

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3.3 A CHINA COMPRA O SU-27..................................................................... 58

3.4 OS SU-27SK/UBK E SUA INTEGRAÇÃO NA PLA-AF ............................. 60

3.5 A CHINA COMPRA OS CAÇAS MULTIMISSÃO SU-30MKK/MK2 ........... 66

3.6 SU-27 PRODUZIDO SOB LICENÇA, O J-11 ............................................ 69

3.7 SINIZAÇÃO PROGRESSIVA: J-11A ......................................................... 71

4 CAPÍTULO III – SU-27 “MADE IN CHINA”, O J-11B ............................... 72

4.1 O INTERESSE CHINÊS EM UMA VERSÃO LOCAL DO SU-27............... 74

4.2 OS CHINESES QUEBRAM O CONTRATO DE PRODUÇÃO DO J-11 .... 75

4.3 DESENVOLVIMENTO DO J-11B .............................................................. 78

4.4 A POLÊMICA COM A RÚSSIA – “O J-11B É UMA CÓPIA DO SU-27SK” 81

4.5 CHINA E RÚSSIA ACORDAM SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL. 84

4.6 O J-11B ENTRA EM SERVIÇO NA PLA-AF ............................................. 85

4.7 A CONTROVÉRSIA SOBRE OS “PROBLEMAS DE VIBRAÇÃO”............ 88

4.8 O J-11B – UM SALTO PARA A CHINA..................................................... 91

4.9 O J-11B E OS ADVERSÁRIOS ................................................................. 93

4.10 MODERNIZAÇÃO DO TREINAMENTO DA PLA-AF................................. 94

4.10.1 Novo programa de treinamento para pilotos ...................................... 94

4.10.2 Treinamento dissimilar ......................................................................... 95

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 97

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 102

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1 INTRODUÇÃO

1.1 ASSUNTO

O assunto desta monografia é um estudo de caso em história da aviação. Por

“história da aviação” entendemos o relato do desenvolvimento do voo mecânico,

desde os primeiros balões de ar quente, até o voo propulsado mais pesado que o ar,

chegando por fim ao voo supersônico e espacial contemporâneo.

Fontes iconográficas demonstram que desde épocas pré-históricas o vôo

fascina o homem. Mas foi somente nos séculos XVII e XVIII, com a descoberta de

gases tais como o hidrogênio, que foi possível a invenção do balão de hidrogênio.

Algumas teorias de mecânica, formuladas concomitantemente, levaram à fundação

da aerodinâmica moderna. Balões de ar quente foram usados desde o final de

século XVIII, e tiveram muita utilidade durante as guerras europeias do século XIX,

onde atuavam principalmente como postos de observação elevados.

Os experimentos com planadores no século XIX proporcionaram a base para

as posteriores máquinas mais-pesadas-que-o-ar. No início do século XX, os avanços

na tecnologia de motores e na aerodinâmica tornaram o voo propulsado e controlado

possível, pela primeira vez na história da humanidade. Até hoje a paternidade da

invenção do avião é disputada.

No decorrer do século XX, o avião foi aumentando em complexidade e

importância, tanto no uso civil quanto principalmente no militar. De uma considerável

participação na Primeira Guerra Mundial, ele se torna imprescindível na Segunda

Guerra Mundial, e por fim chega mesmo a alcançar o protagonismo nos conflitos do

final daquele século. Não é possível falar da história do século XX, principalmente de

suas guerras, sem levar em conta a relevância do avião. Hoje ele integra continentes

com rapidez e segurança, sendo o meio de transporte mais rápido para cruzar os

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milhares de quilômetros que separam a economia global, integrando as pessoas

com uma rapidez e economia inéditas em toda a história.

1.2 TEMA

O tema deste estudo de caso é na área de história da aviação militar.

Pretendemos construir uma primeira cronologia da caça chinês J-11B, versão local

do caça soviético/russo Su-27 Grulla (Garça, em russo) / Flanker (Flanqueador, na

nomenclatura da OTAN)1, ainda em serviço ativo. Trata-se de um caça supersônico

cuja principal missão é obter superioridade aérea sobre o campo de batalha. Suas

origens remontam ao final da década de 1960, na antiga URSS. Ele entrou em

serviço nas Forças Armadas daquele país na década de 1980. Em 1989, durante o

Show Aéreo de Le Bourget, na França, ele deixou atônitos os espectadores com

suas incríveis acrobacias, conquistando uma legião de fãs internacional. Mais tarde,

na década de 1990 e após a dissolução do Estado comunista, ele foi vendido em

grande quantidade para vários países, incluindo a República Popular da China. Na

primeira década do século XXI, os chineses desenvolveram uma versão local não-

autorizada dele, o J-11B, fato que provocou mal-estar entre os dois países.

1.3 JUSTIFICATIVA

Desde a sua invenção, o avião tem revolucionado profundamente a história

da humanidade. De inúmeras aplicações civis, a aeronave alcança uma importância

tão grande quanto ou senão maior no uso militar. Sua carreira como máquina de

combate começa num ainda modesto papel na Primeira Guerra Mundial, ganha

1 A Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN (NATO, sigla em inglês) utiliza codinomes públicos para referir-se aos equipamentos militares do Bloco Leste (ex-URSS/Rússia, países do Leste Europeu e China). Eles proporcionam entendimento fácil e unívoco com palavras inglesas, em lugar das denominações originais.

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tremenda relevância na Segunda Guerra Mundial e no final do século XX é capaz de

vencer sozinho um conflito.

Falar da história do século passado, ou de geopolítica e geoestratégia no

tempo presente sem levar em conta o poder aéreo é algo intratável. Para os Estados

hoje em dia, essa invenção do início do século passado assume dimensões centrais

quando se trata de proteger a soberania nacional, projeção de poder, capacidade de

dissuasão e afirmação dos interesses pátrios. É um meio indispensável ao bem-

estar de um país, seja através de seus usos civis ou bélicos.

Dada toda a sua importância, é de impressionar o reduzido número de

trabalhos e pesquisas publicados sobre história da aviação no Brasil, levando em

conta ainda os feitos de Santos Dumont. Menor ainda a quantidade de especialistas

nacionais na área. Colocado tal cenário, faz-se urgentemente necessário expandir

esse nicho na academia brasileira.

O caso específico de nosso estudo, o Su-27 e sua versão chinesa, o J-11B, é

de especial interesse para o Brasil. Primeiro, porque uma versão russa altamente

modificada do Su-27, o Su-35, concorreu no primeiro FX, e outra versão ainda mais

sofisticada, o Su-35S, concorreu no FX-2 até ser descartada possivelmente por

razões políticas em 2009. Segundo, porque o projeto chinês J-11B pode ser

comparado com os programas de reaparelhagem de caças FX e FX-2 da FAB.2

Além disso, muitas das tecnologias empregadas no J-11B são justamente as que o

Brasil deseja obter com o Programa F-X2.3

O processo de compra de caças brasileiro se arrasta desde 1998, quando

foram abertas as negociações do Projeto FX, de reequipamento da Aeronáutica,

ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. Ele teve início oficialmente em 2001,

e pretendia adquirir de 12 a no máximo 24 caças por menos de RS$ 800 milhões,

num processo de licitação internacional. Mas a decisão final, devido a pressões

2 George Abud, no endereço Military Power Review, fornece uma excelente cronologia que resume os principais fatos ocorridos nos programas FX e FX-2 desde 2001. ABUD, George. Projeto FX BR - Força Aérea Brasileira. In: Military Power Review. Online, 2011. Disponível em: <http://www.militarypower.com.br/projeto%20fx.htm>. Acesso em: 26 out. 2011. 3 GALANTE, Alexandre. China produz cópia do Su-27 e fornecerá peças de reposição a clientes da Rússia. In: Poder Aéreo. Online, 27 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/11/27/china-produz-copia-do-su-27-e-fornecera-pecas-de-reposicao-a-clientes-da-russia/>. Acesso em: 22 out. 2011.

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políticas, foi passada para o governo Lula. Esta administração, por sua vez,

continuou procrastinando a escolha, pois a reaparelhagem da FAB definitivamente

não era sua prioridade. Isso obrigou a Força a implementar uma solução temporária,

comprando 12 caças usados Mirage 2000 da França em 2005.

O assunto só foi ganhar impulso novamente já no segundo mandato do

presidente Lula. A concorrência por licitação original FX foi considerada pouco

ambiciosa, e dessa forma cancelada, dando origem ao programa FX-2 em 2007.

Agora, os caças não seriam adquiridos por meio de licitação, mas sim por compra

direta do fabricante. Este novo programa era mais abrangente, pois visava um

número de maior de aeronaves (inicialmente de 24 a 36 unidades, podendo chegar a

até 120 no longo prazo) e a transferência de tecnologia total e irrestrita do candidato

escolhido. Após mais estudos técnicos da FAB, ofertas revisadas dos concorrentes e

adiamentos políticos, em 2010 pensou-se haver finalmente um escolhido, quando

nas comemorações do 7 de Setembro o presidente teria declarado informalmente

um dos caças como o vencedor. Tal notícia foi desmentida pela FAB, que tinha outro

avião como favorito. O processo continuou se arrastando, e Lula acabou passando a

decisão para o sucessor, assim como fizera Fernando Henrique. O novo governo

Dilma anunciou, devido a cortes orçamentais, o adiamento da escolha para 2012.

Comparando a trajetória do Su-27 e J-11B na China com os programas FX e

FX-2, pode-se medir o sucesso de cada um, constatando as semelhanças e,

principalmente, as diferenças entre os mesmos. Acreditamos que esta comparação

é pertinente devido às similaridades entre os dois: a) ambos se situam num recorte

temporal quase idêntico (final da década de 1990 e anos 2000); b) ambos ocorreram

em países pertencentes ao BRIC (China e Brasil, respectivamente)4; c) dizem

respeito a modernos caças supersônicos; d) estão inseridos nas e são reflexos das

políticas nacionais de defesa de cada um desses países. Não é nosso interesse aqui

fazer diretamente essa comparação por questão de escopo, mas ela pode ser feita a

partir deste trabalho. Queremos, com isso, contribuir com o debate nacional que se 4 Nos últimos anos, tem se popularizado na mídia a sigla BRIC, que se refere às economias relacionadas de Brasil, Rússia, Índia e China. O acrônimo foi cunhado pelo economista inglês Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, em 2001. Na ocasião, o GS previu que, dado o progresso material desses países, por volta de 2050 o tamanho da economia combinada dos quatro ultrapassaria o dos então países mais ricos do mundo. Hoje, os BRICs buscam uma efetiva articulação política entre seus membros em assuntos de interesse comum. THE BRICs – The trillion-dollar club. In: The Economist . Online, 15 abr. 2010. Disponível em: <http://www.economist.com/node/15912964?story_id=15912964>. Acesso em: 26 out. 2011.

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faz em torno da defesa, especificamente no que este concerne à FAB e ao governo

federal, fornecendo argumentos para essa discussão.

1.4 OBJETIVO

O nosso objetivo neste trabalho é produzir uma primeira cronologia sobre o J-

11B, o que o torna um estudo pioneiro. Existem várias obras sobre o caça Su-27

russo e, dada sua popularidade, ele e suas versões derivadas são matéria constante

nas revistas de aviação. Mas no que concerne à sua recente versão local chinesa, o

J-11B, há apenas informações básicas, fragmentadas, e de modo geral

profundamente enviesadas. São freqüentes as acusações de “plágio” chinês por

parte da imprensa russa, e em menor grau da imprensa internacional, sobre o caça

em questão. Nas palavras de agências noticiosas russas e de algumas outras

internacionais, a China teria feito uma “cópia-carbono” do caça russo da década de

1980, praticamente idêntico ao original, sem pagar os direitos autorais (royalties) à

Sukhoi (projetista e construtora russa do Su-27), detentora dos mesmos.

O desenvolvimento do J-11B, por parte da Shenyang Aircraft Corporation5,

começa no início da primeira década do século XXI, sendo uma versão atualizada

do caça russo original. O J-11B já foi breve assunto da imprensa comum e

especializada, e motivo de desentendimentos entre Rússia e China, em torno das já

citadas acusações de “plágio”. Analistas e comentadores internacionais

expressaram suas opiniões sobre o caça e suas implicações diversas, sejam elas

tecnológicas, militares ou geopolíticas. Cremos ser proveitoso e de grande valia, a

fins de conhecimento, emitir agora um parecer histórico sobre a aeronave. Temos

ciência de que nossa disciplina tem muito a contribuir no que tange ao caça e suas

dimensões diversas. Pretendemos unir informações, conhecimentos e métodos, sob

5 A Shenyang Aircraft Corporation (SAC) é um fabricante chinês de aeronaves civis e militares, localizado em Shenyang, China. Fundado em 1953, é um dos mais antigos e importantes fabricantes de aeronaves da República Popular da China. Outros fabricantes de aeronaves chineses, como o Chengdu Aircraft Industry Group ou o Guizhou Aircraft Industry Co., foram fundados com o auxílio da SAC. Esta concentra-se principalmente em projetar e construir aviões de caça. AVIC Shenyang Aircraft Corporation. Online, 2011. Disponível em: <http://www.sac.com.cn/eng/index.htm>. Acesso em: 26 out. 2011.

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o crivo de um método histórico, para formular uma primeira cronologia do J-11B.

Mas antes disso, estabeleceremos uma breve trajetória do Su-27, bem como uma

descrição sumária deste caça de origem soviética/russa para melhor entender sua

versão chinesa.

1.5 DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA

Em história da aviação, é muito comum encontrar na bibliografia do gênero

descrições factuais bem densas sobre os assuntos pesquisados, tais como uma

determinada aeronave, uma unidade de combate, pilotos famosos, operações de

campanha, etc. Outro ponto comum é a contemporaneidade de seus objetos. Se

excluirmos os balões de ar quente, teremos como início cronológico da história da

aviação as primeiras tentativas do voo mais pesado que o ar, no final do século XIX,

chegando à invenção do avião propriamente dito, no início do século XX, e daí em

diante. Ou seja, um período que abrange menos de cento e cinquenta anos, muito

recente quando comparado a outras áreas da história. Daí não ser raro um

pesquisador desse ramo estudar um objeto que, por vezes, lhe seja contemporâneo,

ou relativamente pouco afastado no tempo, em questão de décadas.

Dentre os autores estrangeiros da área, há alguns cujas especialidades em

determinados assuntos faz de seus livros referências obrigatórias. Podemos citar os

seguintes: William Green, Renee Francillon, Tony Buttler, Roy Braybrook, Doug

Slowiak, Jake Melampy, Lou Drendel, Gordon Swanborough, Bill Gunston, Bill

Sweetman e Henry Holden. Eles têm formações muito variadas: alguns, como Jake

Melampy, são fotógrafos profissionais; outros, como Roy Braybrook, são escritores

de aviação. Há os artistas que recriam imagens de aeronaves históricas, tais como

Lou Drendel, e os jornalistas, como Gordon Swanborough. Nessa área são poucos

os historiadores propriamente ditos, tais como Henry Holden. A maioria deles foca

seus trabalhos em áreas específicas: Renee Francillon, por exemplo, é uma

autoridade nas aeronaves do Front do Pacífico na 2ª Guerra Mundial, enquanto Jake

Melampy é leitura obrigatória sobre os caças F-16. Só alguns possuem obras mais

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abrangentes, como Gordon Swanborough e Bill Gunston. É deste último nossa

indicação de bibliografia sobre história da aviação militar em geral, com o livro

History of Military Aviation.6 Ele fornece um excelente resumo de mais de um século

de aviação militar, dos mais famosos aviões de guerra, das maiores forças aéreas e

das principais estratégias militares a partir do ar.

No Brasil, os escassos trabalhos em História da Aviação giram em torno de

Santos Dumont e da EMBRAER. Na área específica de História da Aviação Militar,

há pouquíssimas pesquisas nacionais a respeito. Elas estão basicamente

concentradas na atuação dos caças da FAB no teatro de operações italiano, durante

a Segunda Guerra Mundial.7 Os destaques são M. L. de Barros, P-47 Thunderbolt no

Brasil8; L. B. Monteiro, FAB na Segunda Guerra Mundial9; e Avestruzes no Céu da

Itália10, feito pelo Ministério da Aeronáutica. Não poderíamos deixar de citar, ainda,

os relatos escritos por pilotos de caça, os veteranos da participação da FAB na 2ª

Guerra Mundial. São eles: Missão de Guerra11, de Luís Felipe Perdigão Fonseca; A

Missão 6012, de Fernando Pereyron Mocellin; e Senta a Pua13, de Rui Moreira Lima.

As obras contam as memórias dos combates travados por eles no teatro de

operações da Itália.

Neste interesse, foi muito bem vinda a realização do I Simpósio de História da

Aviação Militar, promovido pelo Centro de Instrução de Aviação do Exército na

cidade de Taubaté-SP, sede da Aviação do Exército Brasileiro, em Setembro de

2009. Foram apresentados os seguintes trabalhos: Cap. Ricardo Kirk: pioneiro da

Aviação Militar Brasileira, pelo Tem. Cel. Da FAB Cláudio Calaza, da Academia da

Força Aérea; e Evolução da Aeronáutica Militar 1916-1927, pelo SO da FAB

Gustavo de Mello, do Museu Aeroespacial.

6 GUNSTON, Bill. History of Military Aviation. Londres: Hamlyn, 2003. 7 Sobre o assunto, conferir o sítio de Rudnei Dias da Cunha, “História da Força Aérea Brasileira”. Disponível em: <http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html>. Acesso em: 12 out. 2011. 8 BARROS, M. L. P-47 Thunderbolt no Brasil – in Brazil 1945-1957. Rio de Janeiro: Adler, 2005. 9 MONTEIRO, L. B. FAB na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Adler, [20--]. 10 BRASIL. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Avestruzes no Céu da Itália. [S.l.]: Centro de Relações Públicas, 1977. 11 FONSECA, Luís Felipe Perdigão. Missão de Guerra. [S.l.]: Civilização Brasileira, 1983. 12 MOCELLIN, Fernando Pereyron. A Missão 60. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1971. 13 LIMA, R. Moreira. Senta a pua. Rio de Janeiro: Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, 1989.

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16

Como nossa monografia versa sobre um caça russo, o Su-27, e sua versão

chinesa, o J-11B, a principal bibliografia utilizada são dois autores russos, sendo

Yefim Gordon o mais importante. Segundo o Amazon,

“Yefim Gordon is arguably the world's leading Russian aviation researcher. Born in 1950 in Vilnius, Lithuania, he graduated from the Kaunas Polytechnical Institute in 1972 as an engineer/electronics designer. He has been a resident of Moscow since 1973, when, as a hobby, he started collecting photographs and books on the history of Soviet aviation, which has developed into a major archive. Since the 1980s he has been a professional aviation journalist and writer, with over fifty books published on Soviet/Russian aviation in Russian, English, Polish, and Czech, as well as close to one hundred magazine features and photo reports. He is also an accomplished photographer, with countless photos published in the Western press; the current edition of Jane's All the World's Aircraft features more than fifty of his photographs.” 14

O outro autor russo é Andrei Fomin. Jornalista especializado em aviação

soviética e russa, Fomin tem dezenas de artigos publicados em conceituadas

revistas do gênero, e é autor de livros de referência sobre aviação russa. Trabalhou

durante muito tempo na revista russa Air Fleet, até deixá-la para fundar a sua

própria, a revista Vzlet (Take-off, em inglês). Faremos uso de algumas edições da

Take-off nesta monografia.

Além destes dois especialistas em aviação russa, recorremos também ao

auxílio de dois analistas de defesa famosos. O primeiro deles é Richard D. Junior

Fisher, analista militar de renome internacional especializado em assuntos militares

asiáticos e nas Forças Armadas Chinesas. Boa parte de suas publicações se

encontra disponível online no International Strategy and Assesment Center, um

think-tank15 americano focado em assuntos de segurança de médio a longo prazo e

no impacto destes na segurança dos EUA e de seus principais interesses e aliados.

14 “Yefim Gordon é indiscutivelmente o principal pesquisador em aviação russa. Nascido em 1950 em Vilnius, Lituânia, ele se graduou no Instituto Politécnico Kaunas em 1972, como um designer em engenharia/eletrônicos. Ele mora em Moscou desde 1973, quando, por hobby, começou a juntar fotografias e livros sobre a história da aviação soviética, o que acabou se tornando um grande arquivo. Desde os anos 1980 ele tem sido um jornalista e escritor profissional em aviação, com mais de cinqüenta livros publicados sobre a aviação soviética/russa em russo, inglês, polonês e tcheco, bem como quase cem reportagens fotográficas e artigos de revistas publicados. Ele é também um fotógrafo dedicado, com inumeráveis fotos publicadas na imprensa ocidental; a presente edição de Jane's All the World's Aircraft contém mais de cem de suas fotografias”

FAMOUS Russian Aircraft: MiG-15. In: amazon.com. Online, 2011. Disponível em: <http://www.amazon.com/Famous-Russian-Aircraft-MiG-15/dp/1857803337>. Acesso em: 30 out. 2011. 15 Um think tank (expressão inglesa que significa "depósito de idéias") é uma instituição, organização ou grupo de investigação que produz conhecimento e oferece idéias sobre assuntos relacionados à política, comércio, indústria, estratégia, ciência, tecnologia ou mesmo assuntos militares.

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Essa organização produz trabalhos tanto públicos quanto classificados. Segundo o

International Strategy and Assesment Center,

“Rick Fisher is a Senior Fellow on Asian Military Affairs. Fisher is a recognized authority on the PRC military and the Asian military balance and their implications for Asia and the United States. Fisher has worked on Asian security matters for over 20 years in a range of critical positions -- as Asian Studies Director at the Heritage Foundation, Senior Analyst for Chairman Chris Cox’s Policy Committee in support of the report of the Select Committee for US National Security and Military/Commercial Concerns with the People’s Republic of China, and a consultant on PLA issues for the Congressionally chartered US China Security & Economic Review Commission. The author of nearly 200 studies on challenges to American security, economic and foreign policy in Asia, Fisher is a frequent commentator on Asian issues for radio and television and has testified before the Senate Foreign Relations Committee, the House International Relations Committee, the House Armed Services Committee, and the U.S. China Security Commission, on the modernization of China’s military. Fisher has been Editor of the Jamestown Foundation’s China Brief, and a regular contributor to publications such as the Wall Street Journal, Far Eastern Economic Review, Jane’s Intelligence Review, National Interest, Air Forces Monthly, and World Airpower Journal. He has served as an election observer in Cambodia, the Philippines, South Korea and Taiwan, and performed field research in China, Taiwan, Russia, India and Pakistan. Fisher studied at Georgetown University and at Eisenhower College where he received his BA with honors. He is currently President of Pacific Strategies, Inc”.16

O outro analista de defesa que utilizamos é Carlo Kopp. Trata-se de um

famoso analista de defesa autônomo australiano, além de acadêmico com mais de

300 artigos publicados em periódicos de circulação internacional, tais como Defence

16 “Rick Fisher é um grande analista de assuntos militares asiáticos. Fisher é uma autoridade reconhecida sobre os militares da República Popular da China e sobre a balança militar asiática e suas implicações para os EUA. Fisher tem trabalhado em assuntos de segurança asiáticos por mais de vinte anos em várias posições importantes – como diretor dos estudos asiáticos da Heritage Foundation, como analista sênior para o presidente da Comissão Política de Chris Cox, em apoio ao relatório da Comissão Especial de Segurança Nacional dos EUA e Preocupações Militares/Políticas com a República Popular da China, e como consultor em assuntos das Forças Armadas Chinesas para a Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA–China, contratada pelo Congresso dos EUA. Como autor de quase 200 estudos sobre os desafios à segurança, economia e política externa americanas na Ásia, Fisher é um comentarista frequente em assuntos asiáticos no radio e na TV, e tem testemunhado perante o Comitê das Relações Exteriores do Senado, o Comitê da Casa de Relações Internacionais, o Comitê da Casa dos Serviços Armados, e a Comissão de Segurança EUA–China, sobre a modernização das Forças Armadas Chinesas. Fisher foi o editor do Jamestown Foundation’s China Brief, e um contribuinte frequente para publicações tais como o Wall Street Journal, Far Eastern Economic Review, Jane’s Intelligence Review, National Interest, Air Forces Monthly, e World Airpower Journal. Ele já serviu como observador de eleições no Camboja, nas Filipinas, na Coreia do Sul e em Taiwan, e fez pesquisa de campo em China, Taiwan, Rússia, Índia e Paquistão. Fisher estudou na Universidade Georgetown e no Eisenhower College, onde ele recebeu seu bacharéu com honras. Ele é atualmente presidente da Pacific Strategies, Inc”.

RICHARD Fisher, Jr. In: International Assessment and Strategy Center . Online, 2011. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/scholars/scholarID.4/scholar_detail.asp>. Acesso em: 30 out. 2011.

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Today, Air International, Journal of Electronic Defense, Jane’s Missiles and Rockets,

Australian Aviation e a Asia Pacific Defence Reporter, nos assuntos de tecnologia

aeroespacial, furtividade, guerra de informação e políticas de defesa australianas.

Ele é um reconhecido apologista do F-22, e tem publicado muitos artigos e papers

criticando a seleção do F-35 para Real Força Aérea Australiana, além de ser co-

fundador do think tank de estratégia e poder aéreo Air Power Australia.

1.6 TEORIA E METODOLOGIA

Consideramos importante ressaltar a principal inspiração desta monografia.

Fazemos coro a Marc Bloch em sua Apologia da história ou ofício do historiador.17 É-

nos de especial importância, em sua obra, a introdução e o capítulo I, onde se faz

uma breve discussão sobre a história-problema. Partindo do presente, a) constata-

se uma discussão (ou problemática) em torno de um objeto; depois b) regredi-se ao

passado para entender melhor esse mesmo objeto; e então c) alicerçados no

conhecimento adquirido do passado deste objeto, podemos efetivamente contribuir

para sua discussão no presente. Em outras palavras, pensamos o passado em vista

de um problema no presente, a fim de melhor discorrer sobre ele. Temos assim para

a história uma função eminentemente reflexiva, um ato de pensar e raciocinar que

pode dizer muito a respeito da vida concreta cotidiana e até mesmo auxiliá-la. É de

interesse que, após a leitura deste trabalho, isso fique claro.

Esta monografia recorrerá muito frequentemente a fontes e bibliografia

digitais. O uso destas possui particularidades interessantes, abordadas por Roger

Chartier em História ou a leitura do tempo.18 Para ele, a revolução digital e a era da

informação podem causar profundas mudanças no saber histórico, pois com elas

surgem novas modalidades de construção, publicação e recepção dos discursos

históricos.

17 BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador . Rio de Janeiro: J. Zahar, 2002. 18 CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo . Belo Horizonte: Autêntica, 2007, pp. 59-64.

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Segundo o autor, a textualidade eletrônica transforma tanto a maneira do

historiador organizar suas argumentações, quanto os critérios que o leitor pode usar

para aceitá-las ou rejeitá-las. O historiador pode desenvolver sua demonstração

para além de um texto numa página, e é capaz de uma articulação ampla,

fragmentada, relacional do raciocínio, graças à multiplicação das ligações

hipertextuais. Já o leitor pode validar ou rejeitar um argumento mediante a consulta

das fontes que são o próprio objeto de estudo, quando acessíveis digitalmente. O

leitor não é mais obrigado a acreditar no autor; se quiser, pode refazer total ou

parcialmente o percurso da pesquisa.

A textualidade eletrônica transforma os dispositivos clássicos da prova

histórica. O pacto de confiança entre o historiador e o leitor não é mais

imprescindível, pois este agora pode ler os livros que o historiador leu e consultar

diretamente os documentos analisados. Há uma mutação epistemológica

fundamental que transforma profundamente as técnicas da prova e as modalidades

de construção e validação dos discursos do saber. Assim se estabelece uma relação

nova, mais comprometida com os vestígios do passado e, possivelmente, mais

crítica com respeito à interpretação do historiador.

Sobre este assunto, a UFES19 tem mais a acrescentar (p. 14):

“É notório o crescimento da consulta a documentos publicados em formato eletrônico tanto pela sua importância quanto pela facilidade de acesso. Também é evidente a singularidade das características que tais documentos comportam. Ao mesmo tempo em que possibilitam ‘[...] a atualização das informações com rapidez, acesso sem fronteiras geográficas e de forma interativa [por outro lado, apresentam] problemas para segurança dos dados e não asseguram a permanência da informação no endereço eletrônico e nem a constância do seu conteúdo’ [...]

[...] Outros aspectos importantes na literatura sobre documentos eletrônicos são:

-possibilidade da inexistência de características físicas, presentes nos documentos convencionais;

-natureza dinâmica desses documentos que resulta em alterações e atualizações constantes;

-navegação não-linear, que permite que de um documento se passe para outro independente da área geográfica;

19 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central. Normalização de referências: NBR 6023:2002. Vitória: A Biblioteca, 2006, p.14.

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-modo de identificação e acesso;

-possibilidade de existência simultânea em vários suportes e modo de disseminação e recuperação”.

Feita esta breve explanação, trabalharemos com os seguintes meios nesta

monografia:

a) Bibliografia impressa e de renome internacional na área de história da aviação,

incluindo livros, revistas e monografias;

b) Notícias em sítios de agências noticiosas... b.1- em geral; b.2- de economia; b.3-

de aviação; b.4- de defesa;

c) Enciclopédias digitais;

d) Páginas de internet fixas, atualizáveis, de sítios de defesa, de análise e

inteligência militar, de think tanks, de construtores aeronáuticos, e de entusiastas da

aviação;

e) Blogs .

Temos ciência das dificuldades anteriormente expostas ao se trabalhar com

este tipo de documentação. As fontes e bibliografia por nós utilizadas apresentam

graus de confiabilidade muito diferentes, e levamos isso em conta na produção

deste trabalho. De um modo geral, quanto maior o ineditismo do capítulo em

questão, mais fomos forçados a recorrer a material não-ortodoxo ao elaborá-lo. Por

exemplo, o Capítulo I, uma cronologia do Su-27, está baseado em obras de renome

internacional sobre o referido caça, na forma de material impresso e publicado. Já o

Capítulo III, uma cronologia sobre a versão chinesa do Su-27, o J-11B, baseia-se em

material colhido principalmente de sítios de notícias, artigos de think tanks,

informações e fotos esporádicas em blogs, etc.

Dito isto, suspeitas com relação à confiabilidade de certas modalidades de

veiculação na internet são imediatas. Concordamos que elas possuem problemas

intrínsecos em sua utilização, mas afirmamos que estes não são absolutos,

tampouco definitivos em todos os casos, a ponto de inviabilizar qualquer tipo de

referência às mesmas. De fato, pudemos constatar casos em que a bibliografia de

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fontes de renome internacional estava equivocada, enquanto as revelações de

fontes não-convencionais sobre matérias confidenciais ou de difícil veiculação

estavam corretas. Chartier, em entrevista para a Nova Escola20, diz algo parecido:

“A leitura do texto eletrônico priva o leitor dos critérios de julgamento que existem no mundo impresso. Uma informação histórica publicada num livro de uma editora respeitada tem mais chance de estar correta do que uma que saiu numa revista ou num site. É claro que há erros nos livros e ótimos artigos em revistas e sites. Mas há um sistema de referências que hierarquiza as possibilidades de acerto no mundo impresso e que não existe no mundo digital. Isso permite que haja tantos plágios e informações falsas. Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir informações na internet, evitando que a máquina seja um veículo de falsificação.”

Para tanto, todos os dados em uso devem ser sempre ponderados, exigindo o

cruzamento constante de informações entre as diferentes fontes para separar as que

não apresentam credibilidade ou consistência das que têm verossimilhança.

Tudo isso tem por causa a especificidade de nosso o objeto, o J-11B. Por

vezes, a diferença entre fontes e bibliografia será sutil, na medida em que não temos

acesso a muita informação direta e original sobre o caça chinês, em mandarim e

emitida por fontes referendadas pelo governo chinês. Tomemos como exemplo a

página do sítio da Shenyang Aircraft Corporation (SAC), fabricante do caça em

questão, sobre as aeronaves militares por ela já produzidas ou em atual produção,

intitulada Military Range. Nela constam os seguintes modelos: F-8IIM fighter aircraft,

F-8II fighter aircraft, Fighter Aircraft F-8, Fighter Aircraft F-7, Fighter Aircraft F-6,

Fighter Aircraft F-5, Fighter/Trainer Aircraft FT-6 e Fighter/Trainer Aircraft FT-6. Não

há nenhum J-11B (ou F-11B; o “J” e o “F” aqui são intercambiáveis) nessa lista; é

como se ele não existisse, não obstante a constatação desse fato por meio da

imprensa internacional e local, e sua recente exibição para o público em geral. Isso

de modo algum nos surpreenderia. O governo e as forças armadas chinesas estão

longe da transparência. São amplamente conhecidos pela forma velada com que

conduzem seus assuntos internos, sem qualquer pudor de omitir ou esconder

matérias consideradas confidenciais ou de importância nacional. Enquanto nas

democracias ocidentais programas de defesa são amplamente debatidos e expostos

ao escrutínio público, não raro com expressivas repercussões midiáticas, na China 20 ZAHAR, Cristina. Roger Chartier: "Os livros resistirão às tecnologias digitais". In: Site Nova Escola . Online, 2011. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/roger-chartier-livros-resistirao-tecnologias-digitais-610077.shtml>. Acesso em: 30 out. 2011.

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isso é algo muito distante da realidade. No caso específico da aviação militar

chinesa, nós, no Ocidente, e o próprio chinês médio, geralmente só tomamos

conhecimento de [alguns] detalhes oficiais das novas aeronaves em serviço quando

estas já estão operacionais há um tempo considerável.

Somos forçados, deste modo, a recorrer a outras fontes não-convencionais. O

desenvolvimento do J-11B não é ricamente documentado em inglês, há poucas

fontes para traçar sua cronologia, e nas poucas disponíveis alguns dados variam.

Isso porque a governo chinês não permite a disseminação de informações em grau

adequado para acompanhar o progresso dele. A mídia e as notícias de internet

chinesas são muitas vezes incompletas e contraditórias. Os sítios de internet

divulgam comunicados de imprensa ou novos artigos, enquanto um grande número

de sítios de entusiastas militares chineses tem marcado interesse no

desenvolvimento da aviação sínica, provendo um fluxo constante de notícias

parciais, especulação e algumas vezes desinformação. Não há fonte pública ou

privada chinesa de referência sobre o caça em questão. Os oficiais da SAC e

militares chineses são muito relutantes em descrever o avião.

Mesmo diante de todos os problemas metodológicos expostos acima,

afirmamos nosso grande entusiasmo com o uso desse material, na medida em que

proporciona a única oportunidade possível de escrever sobre nosso objeto. Também

não estamos sós, já que parte de nossa bibliografia (em especial Fisher) usa dos

mesmos expedientes. De outra forma, realizar este estudo nos seria vetado ou

impraticável, dadas as dificuldades óbvias que este nos apresenta: temos

pouquíssimo acesso a publicações materiais diversas sobre o J-11B, tampouco

conhecemos o mandarim, idioma local, restringindo-nos apenas a traduções

limitadas deste, e ao que se escreveu em inglês sobre o caça em questão.

Deixamos claro que, sempre que possível, o material por nós utilizado estará

referenciado e disponível para conferência imediata por parte do leitor.

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2 CAPÍTULO I – CRONOLOGIA DO SU-27

2.1 INTRODUÇÃO

Figura 1: Su-27, o caça russo de quarta geração por excelência

(http://www.aerospaceweb.org/aircraft/fighter/su27/su27_01.jpg; acessado em 23 jun. 2011).

O Su-27 (Grulla, em russo; nomenclatura da OTAN: Flanker-B) é um caça russo

supersônico de quarta geração21, projetado e construído na antiga URSS, e

21 Os governos, escritores e entusiastas da aviação militar costumam classificar os caças a jato em gerações. Estas não são oficiais ou fixas, podendo variar de autor para autor. Todavia, de um modo geral, elas agrupam aeronaves com características, desempenho e temporalidades semelhantes em uma mesma geração, cujo período pode ser determinado com alguma margem. Apresentaremos a seguir um resumo de cada uma delas, com período e descrição de principais características, bem como seus representantes mais famosos: 1ª geração : vai da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1950. Inclui os primeiros caças a jato operacionais. A maioria dos aviões não tinha radar, eram subsônicos, usavam bombas de queda livre e metralhadoras e canhões com mira ótica. Exemplos: Me 262, Gloster Meteor, MiG-15, MiG-17, e F-86. 2ª geração : abrange caças desenvolvidos entre 1955 e 1960. Inclui desde os primeiros caças supersônicos até os capazes de atingir Mach 2. Começaram a ser equipados com radar próprio e os primeiros mísseis ar-ar. Exemplos: F-104, F-105, F-106, MiG-19, MiG-21, Mirage III (operado pela FAB até 2005), English Electric Lightning. 3ª geração : pertencem a ela os caças desenvolvidos de 1960 até meados da década de 1970. Foram introduzidos mais avanços em aerodinâmica e eletrônica. Seus principais representantes são o F-4 Phantom, o F-5 (operado pela FAB até hoje), MiG-23, MiG-25, Mirage F1, Saab Viggen. 4ª geração : nela se incluem caças de meados da década de 1970 até 1990. Marcada pela introdução da microeletrônica nas década de 1970 e 1980, os aviões de 4ª geração foram dotados de aviônica mais sofisticada, controles fly-by-wire (sistema de controle por cabo elétrico) e cockpit (cabine) tipo HOTAS (mãos no acelerador e manche): F-14, F-15, F-16, F-18, Su-27, MiG-29, MiG-31, Mirage 2000, Tornado, Saab Gripen. 4,5ª geração : Versões melhoradas de aeronaves de 4a geração, introduzidas da década de 1990 até meados dos anos 2000. São exemplos o F/A-18E Super Hornet (um dos finalistas do FX-2), o Sukhoi Su-35 (oferecido ao

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reconhecido no mundo todo como uma das melhores aeronaves de combate do

século XX (Fig. 1). Excelente desempenho, facilidade de pilotagem e de manutenção

tornaram o caça com razão muito popular entre seus pilotos e técnicos. As altas

capacidades de pilotagem do Su-27, demonstradas em shows aéreos pelo mundo

todo, não deixam de impressionar os espectadores, principalmente em manobras

acrobáticas como a “Cobra”. O caça bateu vários recordes da Federação

Aeronáutica Internacional, e é até hoje o detentor de muitos deles. O Su-27 foi o

primeiro de uma família de aeronaves de combate polivalente, incluindo o treinador

de combate Su-27UB, o caça naval embarcado Su-27K (Su-33), o interceptador

biposto Su-30, o caça multimissão biposto Su-30MK, o bombardeiro tático Su-34, o

sofisticado e recente caça de 4,5ª geração Su-35, dentre outros mais.

Para atingir esses resultados impressionantes, os desenvolvedores do Su-27

tiveram de trilhar um caminho longo e difícil. A criação do caça, em sua aparência

moderna e com seu atual desempenho, não teria sido possível sem os esforços

extenuantes e sacrifícios de muitos engenheiros, projetistas, cientistas,

pesquisadores, pilotos de testes e especialistas militares. As contribuições mais

importantes no desenvolvimento do Su-27 foram feitas pelos quadros do Escritório

de Projetos Sukhoi, da Fábrica Aeronáutica de Komsomolsk-on-Amur, e pelos

desenvolvedores do motor, radar, e sistemas de mísseis guiados, respectivamente a

Companhia Lyulka-Saturn, o Instituto de Pesquisa de Instrumentação Tikhomirov e o

Bureau de Projetos Vympel. Além das citadas organizações, o Su-27 foi

desenvolvido em parceria com muitas instituições científicas e de pesquisa por toda

a URSS, além de outros escritórios de projetos e institutos de pesquisa que

projetaram e fabricaram os vários sistemas do caça.

Antes de falarmos sobre sua versão chinesa, o J-11B, é importante conhecer

um mínimo sobre a aeronave original na qual esta se baseia, o Su-27. Veremos

Brasil no FX-2 e descartado), Eurofighter Typhoon (também oferecido ao Brasil no FX-2 e descartado). Eles são equipados com radares de varredura eletrônica e aviônica de ponta, dentre outras melhorias. 5ª geração : é o estado da arte, o que há de mais sofisticado atualmente em aviação de caça. Empregam formas e tecnologias que desviam e absorvem as ondas eletromagnéticas, tornando-os difíceis de serem detectados por radares (stealth, “furtividade” em inglês: são popularmente chamados de “aviões invisíveis”). Os armamentos são levados internamente. Além disso, em sua maioria são capazes de decolar em pequenas pistas, de voar a velocidades supersônicas sem usar pós-combustão (o chamado supercruise - supercruzeiro), possuem supermanobralidade e fusão de sensores. Nessa classe estão incluídos o F-22 Raptor (atualmente o melhor caça do mundo) e o F-35 americanos, o PAK-FA russo, o J-20 chinês, e futuramente o ATD-X japonês, o KF-X coreano e o AMCA indiano.

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agora alguns aspectos da história do desenvolvimento do caça, que começou a mais

de quarenta anos atrás. Este primeiro capítulo foi elaborado a partir da revisão de

bibliografia sobre ele, e é basicamente uma cronologia do mesmo. O texto-base que

utilizamos foi a página sobre o Su-27 no site do próprio fabricante, a Sukhoi

Company.22 Como se trata de um texto com a cronologia oficial do avião, cremos ser

interessante cotejar sua propaganda com outras informações de bibliografias.

Por alguns anos, o melhor texto de referência técnica e histórica sobre o avião

russo foi o livro Su-27 Flanker Story, de Andrei Fomin e publicado pela Intervestnik.23

Entretanto, essa obra foi eclipsada pelo livro Sukhoi Su-27 de Yefim Gordon, da

série Famous Russian Aircraft, publicado em 2007 pela Midland.24 É um verdadeiro

tratado sobre o caça em questão, muito completo e extenso. Descreve

minuciosamente todos os aspectos importantes do avião, incluindo história,

principais operadores, vendas no exterior, etc. Utilizaremos largamente a obra de

Gordon.

Para além dela, faremos uso da edição de 2004-2005 do Jane's All The

World's Aircraft25, obra de referência internacional sobre aviação, em especifico da

entrada sobre o Su-27.

Por último, usamos diversas imagens retiradas de sítios da internet, a fim de

ilustrar alguns pontos de interesse no texto. Os locais de coleta foram referenciados.

2.2 OS REQUERIMENTOS DE UM NOVO CAÇA

Segundo a Sukhoi Company, o projeto de um caça de quarta geração, que

mais tarde viria a se chamar Su-27, começou no escritório de projetos de Pavel O.

Sukhoi, sob a iniciativa deste projetista e a supervisão de O. S. Samoilovich, no final

22 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2010. Disponível em: <http://www.sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/history/>. Acesso em: 04 jun. 2011. 23 FOMIN, Andrei. Su-27 Flanker Story. Moscou: Intervestnik, 1999. 24 GORDON, Yefim. Su-27 Flanker. Hinckley: Midland, 2007. 25 JACKSON, Paul. Jane's All the World's Aircraft 2004-2005. Londres: Jane’s Information Group, 2005.

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de 1969.26 O novo avião seria a resposta soviética ao caça F-15 dos EUA (Fig. 2),

que já estava a ser desenvolvido sob o programa “FX” americano, desde 1966. O

aparelho soviético era projetado, tal qual o F-15, como uma aeronave de

superioridade aérea dedicada. Os caças soviéticos anteriores eram, de um modo

geral, inferiores aos ocidentais, e precisavam da vantagem numérica para se

equiparar aos mesmos. Em vez de repetir essas tentativas anteriores, cujos

resultados foram aeronaves fora do páreo, desta vez os projetistas aeronáuticos da

URSS tomaram um caminho diferente. Decidiram produzir um avião que estivesse

em pé de igualdade com o adversário, ou que fosse até mesmo superior a ele. Para

alcançar um objetivo tão ambicioso, o escritório de projetos se concentrou desde o

início em algumas ideias desafiadoras na configuração sob desenvolvimento, tais

como: uma fuselagem que gerasse sustentação adicional à das asas; uma junção

asa-fuselagem suave; o uso de dois inovadores motores turbofans (em

contraposição aos turbojatos de gerações de caças anteriores)27, postos largamente

espaçados em duas naceles na popa; e dois estabilizadores verticais, localizados

entre as asas e os profundores da cauda.

Figura 2: o F-15 Eagle, que já foi por muitas décadas considerado o melhor caça ocidental. Esse fora o

tremendo desafio dos projetistas do Su-27: desenvolver um avião que fosse superior ao melhor do melhor que a OTAN dispunha (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e6/F

15%2C_71st_Fighter_Squadron%2C_in_flight.JPG/800px-F-15%2C_71st_Fighter_Squadron%2C_in_flight.JPG; acessado em 23 jun. 2011).

No estágio inicial, o escritório de projetos experimentou um grande número de

maquetes com configurações diferentes. Por fim, optou-se por uma configuração de

26 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 27 Muito simplificadamente, esse motor permite desenvolver maior tração e menor consumo de combustível que seu predecessor, o turbojato. Com todas essas vantagens, o turbofan acabou substituindo este último, exceto em alguns casos.

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27

fuselagem integral28 baseada na do bombardeiro T-4MS, que nunca chegou a ser

construído.29 Outra característica importante do novo caça era o uso do conceito de

“instabilidade estática” (ou estabilidade eletrônica). Essa inovação permitiu uma

melhora dramática na manobralidade do avião quando em combate a curta

distância.

No período de 1971-72, o projeto conceitual do caça estava sendo

desenvolvido com base numa concorrência entre os escritórios de projetos MiG,

Sukhoi e Yakovlev. O projeto do Su-27 tinha sido completado em setembro de 1971,

e submetido à revisão da Força Aérea em fevereiro de 1972. Neste ano, após os

requerimentos do projeto conceitual do avião terem sido atualizados, optou-se por

dividir o projeto: haveria então duas versões paralelas do caça, uma “leve” (sigla em

russo: PLMI), a ser projetada pelo Escritório MiG (Fig. 3), e outra “pesada” (sigla em

russo: PFI), a cargo do Escritório Sukhoi (Fig. 4).30

Figuras 3 e 4: à esquerda: MiG-29, do Escritório de Projetos Mikoyan-Gurevich (MiG); à direita: Su-27, do

Escritório de Projetos Sukhoi. Requerimentos conflitantes para o novo caça de superioridade aérea soviético levaram à cisão do programa em dois: o de um caça leve, de linha de frente (que viria a resultar no MiG-29), e o

de um outro pesado (que viria a resultar no Su-27) (http://www.enciclopedia.com.pt/images/Su-27-2.jpg, http://airway.uol.com.br/wp-content/uploads/2010/01/mig-29_argel_960_720-605x453.jpg; acessado em 23 jun.

2011).

Baseado nas dicas dos militares, o Su-27 foi reprojetado em 1972-73 para

atingir todos os requerimentos, com a área alar, meta de empuxo do motor, e

capacidade interna de combustível do avião aumentadas. Isso resultou num alcance

excepcional apenas em combustível interno para um caça soviético.

28 Na configuração integral, as asas e a fuselagem formam uma única superfície geradora de sustentação; em outras palavras, a junção asa-fuselagem é bem suave, e não abrupta, como nos caças de gerações anteriores ou na configuração convencional. 29 JACKSON, Paul. Jane's All the World's Aircraft 2004-2005. Londres: Jane’s Information Group, 2005, p. 436. 30 GORDON, 2007, p. 06.

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28

Com o alto desempenho do novo motor turbofan AL-31F (código de fábrica: Artigo

99), desenvolvido pelo Escritório de Projetos Lyulka, produzido especialmente para o

Su-27, esperava-se dotar o avião com uma alta relação potência/peso, e então

superiores características de aceleração, taxa de ascensão e manobralidade.

Os componentes eletrônicos soviéticos da época tornavam os aviônicos31 dos

caças excessivamente pesados e espaçosos. Esse problema teria de ser

contornado pelo Bureau através de melhorias no projeto e na configuração, bem

como o uso de novas e promissoras tecnologias.32 Nesse sentido, o Su-27 foi um

avanço sobre projetos soviéticos anteriores, ao utilizar semicondutores no lugar de

tubos a vácuo.33

Em 1973-74, o escritório continuou seus estudos para identificar e projetar a

célula de fuselagem ideal, além da composição dos sistemas, equipamentos e

armas. As opções de configuração foram testadas com modelos em grande escala

em túneis de vento, nos institutos de pesquisa da URSS. O trabalho de projeto

detalhado do avião começou em 1975.

2.3 DESCRIÇÃO DO T-10

Figuras 5 e 6: à esquerda, excerto de um filme mostrando o T-10-1 (código da OTAN: Flanker-A), o primeiro protótipo de Su-27, durante seu bem-sucedido voo inaugural, em 20 de Maio de 1977; à direita, o mesmo avião em solo. Os números nas imagens enumeram características aerodinâmicas que serão listadas no parágrafo a seguir (http://vayu-sena.tripod.com/pix/su27-t10-1.jpg, http://www.airwar.ru/image/idop/fighter/su27/su27-1.jpg; acessado em 15 jun. 2011).

As principais características do T-10-1 (primeiro protótipo do Su-27) eram

(Fig. 5 e 6): uma configuração de asa ogival (1), extensões na raiz do bordo de

ataque (LERX, sigla em inglês; são estes que proporcionam uma junção asa-

31 “Aviônica” é o conjunto dos eletrônicos a bordo de um avião, incluindo os sistemas de navegação e comunicação, de controle de voo, piloto automático etc. 32 Sobre os aviônicos do Su-27, tornaremos a este ponto adiante. 33 Tal como o MiG-25, interceptador soviético de terceira geração cujo radar possuía enormes válvulas.

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29

fuselagem suave) – (2), profundores totalmente móveis montados em uma

continuação da raiz das asas (3), e dois estabilizadores verticais (4) montados em

cima das naceles dos motores (5), que ficavam largamente espaçados (6) na

traseira da fuselagem. As tomadas de ar variáveis (7) com freios aéreos horizontais

(8) ficavam em cada lado do eixo de rolagem do avião, e suspensas sob a seção

central da asa. A configuração das tomadas garantia fluxo de ar altamente estável

em altos ângulos de ataque, o que é de vital importância para uma aeronave

projetada para combate aéreo manobrado. As naceles do motores na cauda (9)

eram extensões das tomadas de ar (7). O trem de pouso frontal recolhia para trás

(10). Um grande problema foi achar um lugar para as baias do trem de pouso

traseiro sem aumentar a seção transversal do avião, o que causaria maior arrasto.34

Finalmente, encontrou-se um no “espaço morto” da seção central da asa (11), no

lado externo dos dutos das tomadas de ar, as pernas do trem retraindo com as

rodas viradas horizontalmente. O peso da fuselagem foi significantemente atenuado

através da configuração compacta e otimização da estrutura projetada, assim como

pelo uso de ligas de titânio no projeto.

Ao adotar a configuração aerodinâmica integral, os projetistas puderam

colocar uma grande quantidade de combustível no interior da fuselagem. Isso evitou

o expediente de recorrer a tanques externos, que causam à aeronave maior arrasto,

aumento na assinatura-radar e esterelizam pilones que poderiam estar equipados

com armas em vez deles.35 Inicialmente, estimou-se que o alcance requerido de

2.500 km podia ser atingido com apenas 5.350 kg de combustível, quando o máximo

possível era de 9.000 kg. Mas isso teve um preço: de acordo com os padrões de

resistência do avião, ele poderia puxar 8g em curvas com 80% de combustível nos

reservatórios, só que a resistência do avião foi ajustada para 5.350 kg de

combustível. Se o avião levasse a capacidade máxima, sua capacidade de manobra

ficaria severamente prejudicada, e não poderia puxar mais que 6g em curvas. Como

solução do problema, os construtores declararam que a capacidade dos tanques de

combustível era de 5.350 kg, enquanto que o resto dos 9.000 kg era tanque de

34 GORDON, 2007, p. 24. 35 GREEN, William e SWANBOROUGH, Gordon. An illustrated anatomy of the word’s fighters: the inside story of over 100 classics in the evolution of fighter aircraft. Saint Paul: MBI, 2001, p. 238.

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30

combustível adicional interno.36 Dessa forma, o alcance do avião com a capacidade

máxima dos tanques de combustível era estimada em 4.000 km, em vez dos 2.500

km planejados.

A questão seguinte era escolher o motor adequado para o novo avião. De

início, pensou-se em usar o AL-21F, mas este turbojato de terceira geração estava

aquém das metas de empuxo e economia lançadas para o Su-27. Dessa forma,

encomendou-se um novo motor ao Escritório de Projetos Lyulka, que anos mais

tarde viria a culminar no turbofan de quarta geração AL-31F. De acordo com as

metas traçadas, esse motor deveria ter impulso de 122,5 kN e consumo de

combustível menor do que 0,061 kg/Nh. Como o desenvolvimento da AL-31

demoraria muitos anos, os primeiros protótipos do Su-27 (T-10-1, T-10-2, além do

primeiro lote de pré-produção) estavam equipados com os turbojatos AL-21F3, de

geração inferior.

Uma das grandes dificuldades enfrentadas no desenvolvimento do Su-27

foram os aviônicos, especialmente o sistema de radar.37 O desenvolvimento do

N001 Myech (Espada, em russo) ficou a cargo do Instituto Tikhomirov NIIP, cujo

objetivo inicial era projetar um radar melhor que o APG-63 do F-15, e que tivesse

200 km de alcance de detecção. A princípio, o plano era usar uma antena de

desenho totalmente novo, com escaneamento eIetrônico na elevação e mecânico no

azimute. Isso proporcionaria excelente capacidade de engajamento multialvos, e o

uso do míssil R-33 do MiG-31 também foi planejado.

36 Na variante do Su-27 que entrou em produção, o T-10S (ver adiante), a quantidade normal de combustível é de 5.270 kg (segundo a Sukhoi Company). O restante dos 9.400 kg é classificado como tanque de combustível interno adicional: quando o avião utiliza sua capacidade máxima de combustível (9.400 kg), ele fica bem pouco manobrável, até que o combustível do reservatório adicional seja consumido, momento em que ele retorna à sua capacidade operacional padrão. SU-27SK. Aircraft Performance. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2011. Disponível em: < http://www.sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/lth/>. Acesso em: 04 jun. 2011. 37 O radar é um dispositivo que permite detectar objetos distantes a partir da reflexão de ondas eletro-magnéticas. Ele emite, através de uma antena, ondas de rádio que se propagam pelo espaço; quando elas encontram um objeto, este reflete as mesmas. Partes das ondas refletidas pelo objeto retorna para o radar e é captada por sua antena; este pode, então, a partir do processamento dos sinais recebidos, determinar características do objeto detectado, tais como localização, tamanho, velodidade, etc.

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31

2.4 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10

O desenvolvimento do Su-27 foi aprovado por um decreto do governo de 19

de janeiro 1976, como “um caça de superioridade aérea para a Força Aérea e

Forças de Defesa Aérea”.38 Em fevereiro de 1976, Mikhail Simonov foi indicado

como projetista-chefe do Su-27. Naquele época, o escritório de projetos já tinha

começado a construir os primeiros três protótipos T-10 (dois para testes em voo e

um para testes estruturais em solo), a fim de testar todos os principais sistemas da

futura aeronave já em progresso. Note-se que, para validar a aerodinâmica do Su-

27, seus motores, sistema de controle, armas e equipamentos de ataque e

navegação, o Escritório Sukhoi e o Instituto de Pesquisa de Voo montaram e

testaram dúzias de laboratórios voadores, conduzindo estudos numa escala sem

precedentes na prática soviética de projetar sistemas para um novo avião. A

documentação de engenharia produzida foi passada para a fábrica de Komsomolsk-

on-Amur, que foi indicada como o principal centro de produção do Su-27. Em 1977,

a fábrica começou a equipar-se para fabricação em massa. Em outubro de 1977, o

projeto conceitual do Escritório para o Su-27 passou por revisão crítica de projeto e

foi aprovado pelo comitê da Força Aérea. Os primeiros dois protótipos voadores do

Su-27 estavam equipados com os motores turbojatos AL-21F3, pois os novos

turbofans AL-31F ainda não estavam prontos.

A construção do primeiro protótipo T-10-1, iniciada em 1974, foi completada

em abril de 1977.39 Em 20 de maio de 1977, o piloto de testes chefe do bureau V. S.

Ilyushin conduziu o primeiro voo, a partir da pista do Instituto de Testes de Voo em

Zhukovski. Pouco tempo depois, esse avião foi fotografado pela primeira vez por um

satélite espião dos EUA, e recebeu entre estes o codinome RAM-K (“RAM” referente

ao local, erroneamente tido como Ramienskoje). Mais tarde, o avião também

recebeu um codinome da OTAN, Flanker-A. Em maio de 1978, o programa de testes

foi expandido para cobrir o segundo protótipo, T-10-2, e um ano depois, em 1979,

ele recebeu os protótipos T-10-3 e T-10-4, equipados com motores operacionais AL-

31F. Esses primeiros turbofans AL-31F possuíam caixa de marchas na parte de 38 SU-27SK. History background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 39 JACKSON, 2005, p. 436.

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32

baixo – por isso a “saliência” sob as naceles dos motores. Para acelerar os ensaios,

decidiu-se disponibilizar todo o primeiro lote de pré-produção do Su-27 feito pela

fábrica em 1980-81, cinco aeronaves no total (T-10-5, T-10-6, T-10-9, T-10-10 e T-

10-11) equipados ainda com motores turbojatos. Mais tarde, esses aviões foram

usados pelo escritório para testar os sistemas individuais do caça (radar, armas etc).

Em dezembro de 1979, o Su-27 foi oficialmente aceito pelos militares para início dos

testes de governo. Mas foi uma versão completamente diferente do avião a posta

em produção de série.

2.5 UMA DIFÍCIL DECISÃO: REDESENHO COMPLETO, O T-10S

A Sukhoi Company diz que, em 1977, o programa do Flanker enfrentou uma

grande dificuldade. Após análises do desempenho do Su-27 comparado aos

modelos ocidentais similares, simulações de combate semi-realistas, além de dados

reais obtidos durante os testes de voo dos protótipos, falhou-se em confirmar a

esperada superioridade aérea do Su-27.40 O protótipos demonstravam baixa

controlabilidade e estabilidade inadequada no eixos de rolagem e de guinada. Além

disso, os ângulos de ataque que eram capazes de alcançar eram insatisfatórios.41

Segundo Gordon, esse resultado teve várias causas, sendo a primeira delas o

excesso de peso do caça: os projetistas não conseguiram atingir as restrições de

peso dos sistemas e equipamentos principais.42 Em segundo lugar, veio o sub-

desempenho dos motores AL-31F, revelado nos testes de bancada: o consumo de

combustível deles ficou bem acima do planejado. Em terceiro, as asas com bordas

de ataque ogivais, além dos estabilizadores verticais posicionados logo acima dos

motores, falharam em demonstrar superioridade sobre as configurações adotadas

pelos caças ocidentais. Também as capacidades e desempenho reais do F-15 foram

40 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. 41 Para uma aeronave que pretenda entrar em combate aproximado contra outros caças (dogfight), no qual são necessárias manobras muito constantes e violentas, é essencial ser capaz de atingir bons ângulos de ataque. Do contrário, ela será menos manobrável que seu adversário, colocando-se em severa desvantagem. JACKSON, 2005, p. 437. 42 GORDON, 2007, pp. 50-51.

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33

subestimados: o novo caça de superioridade aérea dos EUA mostrava-se um

oponente formidável.

Deste ponto em diante, os projetistas e desenvolvedores do avião tinham

duas escolhas. A primeira era continuar com a configuração atual e seguir em frente,

aceitando os vícios inerentes ao projeto e as consequências disso. Não seria a

primeira vez: alguns dos caças soviéticos anteriores, após entrarem em serviço,

demonstraram fraco desempenho quando comparados aos rivais (o caso clássico é

o MiG-23, inferior na maioria dos aspectos ao F-4 Phantom dos EUA). A segunda

escolha era tomar drásticas medidas para reprojetá-lo, a fim de alcançar sua meta

inicial: um avião equivalente ou superior ao melhor de que o Ocidente dispunha, o F-

15.

A Sukhoi Company diz que, para alcançar esse objetivo, o escritório

desenvolveu um plano de ações, sobretudo pela iniciativa do projetista-chefe Mikhail

Simonov, que pressionou muito por mudanças estruturais no avião.43 Mais tarde, ele

foi apoiado pelo projetista-geral Ye. A. Ivanov. No plano estavam inclusos:

-Introduzir um firme controle de peso;

-Diminuir o arrasto;

-Aumentar as propriedades de sustentação da asa e adaptá-las aos diferentes

modos de voo:

-Melhorar o controle de rolagem do avião.

43 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.

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34

Figuras 7: representação em três dimensões do T-10-1 (Flanker-A), primeiro protótipo do Su-27. Os números na figura enumeram características aerodinâmicas que serão listadas nos parágrafos a seguir (http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/t10-1-a.jpg, http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/su27-t10-17-1982.jpg; acessado em 11 nov. 2011).

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35

Figuras 8: representação em três dimensões do T-10-17, protótipo do Su-27 com configuração de produção em série (Flanker-B). Os números na figura enumeram características aerodinâmicas que serão listadas nos parágrafos a seguir (http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/t10-1-a.jpg, http://www.mars.slupsk.pl/fort/sukhoi/big/su27-t10-17-1982.jpg; acessado em 11 nov. 2011).

Para conseguir isso, os aerodinamicistas e planejadores do escritório

concentraram seus esforços em desenvolver uma lista de recomendações

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36

específicas sobre como reprojetar a configuração original do Su-27 (Fig. 7 e 8), cujos

principais pontos eram:

-Substituição do bordo de ataque (1) ogival da asa por um do tipo reto. Os flaps e

ailerons separados e anteriores (2) foram substituídos por superfícies de controle

integradas do tipo flaperon (3). O novo bordo de ataque reto das asas permitiria a

instalação de um pilone adicional na ponta de cada uma destas (4), elevando o total

de mísseis carregados no caça de oito para dez.

-Diminuição em 15% da área de seção transversal do caça. Esse resultado seria

conseguido através: do redesenho das tomadas de ar (5); do redesenho do canopy

(toldo) do cockpit (cabine) – (6); da realocação da caixa de marchas do motor (7), de

debaixo deste para cima do mesmo; e da realocação dos estabilizadores verticais do

avião (8), que de cima das naceles dos motores seriam movidos para os lados

externos, nas mesmas continuações das raízes das asas em que os profundores

eram montados. Embaixo desses estabilizadores verticais foram adicionadas aletas

ventrais (9), para melhorar a estabilidade direcional e a resistência contra perda de

controle. Com estas mudanças, os dispositivos antivibração (10) seriam removidos;

-Adoção de um novo mecanismo para a retração do trem de pouso traseiro (11),

baseado num eixo articulado inclinável e uma trava, que tornou possível retraí-lo

dentro da seção central da asa. Os dois freios aéreos anteriores (12), montados

embaixo das raízes das asas e que serviam como as portas principais do trem de

pouso traseiro, foram substituídos por um único no dorso do avião, muito

semelhante ao usado no F-15. O trem de pouso frontal (13) seria movido para trás,

passando a retrair para frente. Somado a uma tela protetora para as tomadas de ar

(14), isso melhoria a manobralidade do avião em solo, bem como a resistência

contra a ingestão de detritos pelo motor;

Outra mudança importante pode ainda ser citada: a adição de um ferrão na

cauda entre os motores (15), para alojar o paraquedas de frenagem, contramedidas

e combustível adicional. O Sistema de Busca e Rastreio por Infravermelhos - IRST

(16) foi mantido.

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37

Tomadas juntas, todas as modificações foram incorporadas numa configuração que

se tornou conhecida como T-10S (“S” é a abreviação de “produção” em russo). De

um modo geral, essa nova configuração reduziu o arrasto em 18% e 20% nos

modos de voo subsônico e supersônico respectivamente.

Isso, combinado com o aumento tanto nas propriedades de sustentação da

fuselagem, quanto na controlabilidade e estabilidade lateral e direcional em todos os

três eixos, em qualquer modo de voo, deram ao avião uma manobralidade superior,

com ênfase especial nos altos ângulos de ataque. De fato, segundo Mikhail

Simonov, as únicas coisas que o T-10S herdou de seu antecessor foram as rodas do

trem de pouso principal e o assento ejetor. Apenas os princípios gerais do Su-27,

delineados pelo finado Pavel Sukhoi, foram mantidos: configuração de fuselagem

integral; projeto estaticamente instável com centro de gravidade deslocado para trás;

controles de voo fly-by-wire; e a montagem dos motores em naceles largamente

separadas, com tomadas de ar ventrais.

A Sukhoi Company enfatiza a situação delicada.44 Foi o projetista-geral Ye. A.

Ivanov que tomou a difícil decisão de reprojetar a aeronave. Mas para produzir a

configuração modificada, seria necessário suspender a produção em série do caça

já em andamento, e iniciar um outro grande processo, com o objetivo de pôr o nova

configuração na linha de montagem. Isso significaria admitir o fracasso em alcançar

as metas iniciais do programa, e prolongar o desenvolvimento do caça por diversos

anos. Esta era uma posição muito delicada de se tomar no setor de defesa soviético,

e tanto Ivanov quanto Simonov colocaram suas carreiras em risco ao fazê-lo.

A gestão do Ministério da Indústria de Aviação e a fábrica em Komsomolsk-

no-Amur se oporam firmemente à posição tomada pelo Bureau Sukhoi. Entretanto,

este último conseguiu o apoio necessário dentro da burocracia soviética para levar a

cabo seus planos, e venceu a disputa. Com a vitória dos reformistas, decisão

favorável ao escritório foi tomada em janeiro de 1978, e o mesmo começou os

trabalhos num projeto detalhado baseado na configuração do T-10S. Entre 1979 e

1981, o projeto do Su-27 no Escritório Sukhoi foi encabeçado por A. A. Kolchin, e

desde 1981, o projetista-chefe do avião tem sido A. I. Knyshev.

44 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.

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Quanto ao problema do consumo de combustível, o AL-31F do Escritório

Lyulka se revelou um excelente motor, mas infelizmente continuou “sedento”

demais. A questão não pôde ser resolvida, pois os soviéticos não foram capazes de

dominar à época as tecnologias de materiais e componentes necessários para criar

motores econômicos.45 Como resultado, a meta inicial de consumo para o turbofan

(inferior a 0,061 kg/NH) mostrou-se irreal, com o consumo ficando em 0,068 kg/NH.

O caça compensou o consumo extra de combustível com a enorme capacidade de

combustível interno, mas mesmo assim o alcance máximo do avião ficou em 3.530

km.

Também as metas do radar N001 Myech se mostraram ambiciosas demais:

dadas as condições da indústria de eletrônicos soviética nos anos 1970 e início dos

anos 1980, era simplesmente impossível produzir em massa um radar tão

sofisticado com aquele tamanho.46 Em maio de 1982, o NIIP chegou à conclusão

que sua antena de arranjo planar e computador digitais não eram viáveis naquele

momento, nem continuariam sendo no curto prazo. Uma tentativa similar, o radar

N019 do MiG-29 (desenvolvido pelo bureau Phazotron), teve de reverter para uma

versão melhorada do radar Sapfir-23ML com antena de arranjo parabólico giratório,

a fim de substituir sua problemática antena de arranjo planar em desenvolvimento.

Baseado nessa experiência, o NIIP decidiu então usar os principais componentes do

radar N019, incluindo uma cópia com área 50% maior da antena de arranjo

parabólico giratório e o processador TS100. Em Março de 1983, o redesenho foi

completado, mas o radar resultante não era nem de longe tão bom quanto o

imaginado. Em vez dos 200 km, o alcance de detecção chegava no máximo aos 140

km contra um alvo enorme como um bombardeiro. O peso do N001 ficou acima dos

600 kg, bem superior ao do APG-63 dos F-15.

45 GORDON, 2007, p. 51. 46 Por exemplo, o interceptador soviético MiG-31, contemporâneo do Su-27, foi o primeiro caça do mundo a ser equipado com um radar com arranjo de varredura eletrônica passiva (PESA, sigla em inglês), mais moderno que os planos iniciais para o N001, e ainda na década de 1980. Entretanto, esse radar era maior, assim como o próprio MiG-31 é maior que o Su-27, o que fornecia o espaço necessário para acomodar os volumosos componentes eletrônicos soviéticos por ele requeridos. FOMIN, Andrei. Take-off. Edição especial para o LIMA Air Show 2007, dez. 2007, p. 28. Online, 2011. Disponível em: <http://en.take-off.ru/arhiv/586>. Acesso em: 11 out. 2011.

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2.6 PROGRAMA DE TESTES E PRODUÇÃO INICIAL DO T-10S

O primeiro protótipo de Su-27 em configuração de produção, o T-10-7, foi

aceito para testes de voo na primavera de 1981, com seu primeiro voo performado

por V. S. Ilyushin em 20 de abril de 1981. Em 1982, a fábrica de Komsomolsk-no-

Amur começou a produção em massa. O primeiro Su-27 de série foi testado em voo

na fábrica em 01 de junho de 1982, o avião tendo decolado para seu primeiro voo

pelo piloto de testes do Escritório A. N. Isakov. Testes de integração governamentais

do Su-27 foram completados em dezembro de 1983.

Ocorreram vários desastres durante os voos de teste do Su-27, com três

aeronaves perdidas: o protótipo T-10-2 de configuração antiga, provavelmente por

causa de uma falha no software do fly-by-wire (o piloto Yevgenyi Soloviov morreu), e

os protótipos T-10S-1 e T-10S-2, de configuração de produção (o piloto Aleksander

Komarov também morreu). Mesmo assim, os resultados dos testes confirmaram as

altas expectativas sobre o novo avião. Quando postas juntas, as modificações

produziram um efeito sinergético no T-10S: o caça resultante demonstrou

desempenho de voo superior, se igualando aos rivais de sua classe e até mesmo

superando-os em alguns quesitos.

Os testes do Su-27 sob variados programas continuaram por muitos anos a

fio. O avião demoraria muito a entrar em serviço por causa da dificuldade em

manufaturar sua fuselagem, além do prolongado desenvolvimento dos aviônicos. O

Su-27 começou a voar nas unidades de linha de frente em 1985, mas só foi

oficialmente posto em serviço por um decreto do governo em 23 de agosto de 1990,

após todas as principais falhas identificadas durante os testes terem sido

remediadas. Nessa época, o Su-27 já estava em serviço por cinco anos.47 Os

primeiros pilotos em unidades de combate a receber os Su-27 em junho de 1985

foram os aviadores do 60º Regimento de Caças no Extremo Oriente da URSS,

baseados em Dzemghi. Em 1989, os Su-27 estavam em serviço em 16 unidades de

47 Temos então que: o Su-27 entrou em IOC (Initial Operational Capability, capacidade operacional inicial) em 1985; e só foi atingir FOC (Full Operational Capability, capacidade operacional total) em 1990.

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combate da Força Aérea (VVS) e das Forças de Defesa Aérea (V-PVO) da URSS.48

De acordo com o pessoal de comando e pilotos das unidades de transição, apesar

de, em termos de escopo e complexidade, os sistemas e armas do avião terem sido

muito superiores aos de todas as aeronaves de geração anterior, o treinamento de

transição para o Su-27 foi bem simples e livre de problemas, com o avião se

mostrando muito fácil de dominar por pilotos veteranos.

2.7 SU-27UB, TREINADOR DE COMBATE BIPLACE

O Escritório de Projetos Sukhoi começou a desenvolver uma versão treinador

de combate com dois assentos (biposto) do Su-27 em 1976, antes mesmo da

configuração definitiva do avião (o T-10S) ser concebida. Tanto a versão monoposta

quanto a biposta deveriam ter um alto grau de comunalidade, e esta última deveria

reter total capacidade de combate.49 O projeto conceitual do Su-27UB (Fig. 9; código

de fábrica: T-10U) passou por revisão crítica de projeto em 1978. O primeiro

protótipo do biplace foi feito pela fábrica em Komsomolsk-no-Amur de acordo com as

especificações do bureau, e enviado à Moscou para engenharia posterior na

Primavera de 1984. O primeiro voo de T-10U-1 aconteceu em 07 de março, nas

mãos do piloto de testes do bureau N. F. Sadovnikov. Os testes oficiais duraram de

1985 e 1987. A produção de um lote de desenvolvimento de Su-27UB teve lugar em

Komsomolsk-no-Amur, e em 1985 o Ministério das Indústrias de Aviação moveu a

produção do biposto para a fábrica de Irkutsk. O primeiro Su-27UB produzido em

massa foi testado nesta em 10 de setembro de 1986 por uma tripulação de pilotos

de testes G. Ye. Bulanov e N. N. Ivanov. No ano seguinte, os treinadores de

combate entraram em serviço em todas as unidades da Força Aérea e da Força de

Defesa Aérea equipadas com Su-27.

48 As Forças de Defesa Aérea Soviéticas (V-PVO, sigla em russo) eram o ramo de defesa aérea da Forças Armadas Soviéticas. Elas continuaram a existir como um ramo separado das Forças Armadas da Federação Russa de 1991 a 1998. Ao contrário das forças de defesa aérea ocidentais, a V-PVO eram uma arma militar independente, separadas da Força Aérea Soviética (VVS, sigla em russo) e das Tropas de Defesa Aérea das Forças Terrestres. 49 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.

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41

Figura 9: o treinador de combate Su-27UB. As diferenças mais notáveis entre este biposto e o Su-27 monoposto são o assento do segundo tripulante, que fica numa posição mais alta que a do primeiro, e dá ao avião uma aparência de “corcunda”. Também seus estabilizadores verticais são maiores que os da versão monoposto. (http://www.sukhoi.org/eng/img/gallery/military/su27ubk/27ub.jpg; acessado em 24 jun. 2011).

2.8 SU-27: UMA GUINADA TECNOLÓGICA PARA A URSS

A Sukhoi Company ressalta que o desenvolvimento do Su-27 como um avião

de nova geração, foi o maior programa de defesa nacional da URSS nos anos 1970

e 1980.50 Ele foi financiado em larga escala pelo Estado comunista, beneficiando

instalações de produção e introduzindo em larga escala novas tecnologias em todos

os sistemas do avião. Por exemplo:

-O motor turbofan AL-31F, desenvolvido pelo Escritório de Projetos Lyulka, em

termos de especificações e desempenho, tinha tecnologia de ponta para a época,

apesar de não ser econômico. Só foi possível alcançar isso com o uso de novas

tecnologias e materiais promissores: novas ligas de titânio, aços resistentes ao calor,

lâminas monocristais, revestimentos especiais, dentre outros. Ele deu origem a

outros com propósitos diversos, tais como turbinas civis para geração de energia;

50 SU-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.

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42

-Os aviônicos do Su-27 foram desenvolvidos com base na introdução em larga

escala de processamento digital e híbrido analógico-digital, com computadores de

bordo e o princípio de integração extensiva de vários sistemas por função. Por

exemplo, o sistema de controle de fogo incorporou, além do radar convencional, um

dispositivo de detecção independente, o sistema de busca e rastreio por

infravermelhos (IRST). Ainda assim, esses componentes estavam restritos às

limitações já citadas dos eletrônicos soviéticos da época;

-Como parte do programa de aperfeiçoamento, o Su-27 recebeu uma nova geração

especialmente desenvolvida de mísseis guiados de médio (R-27) e curto (R-73)

alcance, este último revolucionário e sem rival à altura quando de seu surgimento;51

Esses e outros fatores resultaram num avião excepcional, cujas caraterísticas

e desempenho permitiram às suas novas versões operar por muitas décadas ainda,

e enfrentar de igual para igual seus rivais ocidentais.

2.9 P-42, O PULVERIZADOR DE RECORDES

Figura 10: P-42, um protótipo de Su-27 de série (T-10-15) especialmente modificado para quebrar recordes mundiais. Ele teve até a pintura removida, a fim de cortar peso e poder alcançar os recordes. Sua relação potência-peso era de 1,93, algo impressionante mesmo hoje. (http://www.aviation.ru/Su/Su-P-42.jpg, acessado em 23 jun. 2011).

51 Estas armas serão descritas no capítulo seguinte.

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43

No final de 1986, a imprensa internacional relatou os novos recordes em taxa

de ascensão estabelecidos por um novo jato soviético – o P-42 (Fig. 10). Em 27 de

outubro de 1986, o piloto de testes Viktor G. Pugachyov subiu a uma altitude de

3.000 m em 25,4 segundos, enquanto em 15 nov. subiu a 6.000, 9.000 e 12.000 m

em 37,1, 47,0 e 58,1 segundos respectivamente, excedendo em menos de 2

segundos os recordes de mais de uma década estabelecidos pelo americano R.

Smith abordo de um F-15 especialmente preparado, o Streak Eagle. Os recordes

foram feitos em duas categorias simultaneamente – ambos na classe de aeronaves

a jato e na de aeronaves de serviço pesando de 12 a 16 toneladas. Esta última logo

chamou a atenção de especialistas, os quais imaginaram rapidamente que a

designação P-42 foi aplicada a um novo caça – o Su-27.

A questão é que um caça de 20 toneladas dificilmente poderia entrar na

categoria de aeronaves de 16 toneladas, e, como foi revelado depois, os protocolos

da IAF tinham o peso de decolagem do P-42 como sendo de 14.100 kg, o que são

duas toneladas mais leve que um Su-27 operacional vazio. Mas isso era simples:

para bater recordes, os dirigentes da Sukhoi tomaram a decisão de usar um dos

primeiros Su-27 de produção em série – o T-10-15, que àquela época já havia

completado seu programa de testes. De acordo com o projetista-geral Mikhail

Simonov, a designação exótica da aeronave foi usada para comemorar a hora da

virada na Batalha de Stalingrado, em Novembro de 1942. Do avião foram retirados

todos os sistemas de controle de armas e o radar; o “nariz” foi substituído por um

cone de metal mais leve. Foram removidos também o freio dorsal juntamente com

seu atuador hidráulico, o canhão interno, os pilones de mísseis, as aletas ventrais, o

para-lama do trem de pouso frontal, o ferrão da cauda junto de seu paraquedas de

frenagem, dentre outras, tudo para que o caça pudesse atingir as metas de peso.

Além disso, os flaps e flaperons móveis das asas foram substituídos por bordos de

ataque e de fuga fixos, restando apenas os estabilizadores para o controle de

rolagem.

Para alcançar os recordes, o avião tinha bem pouco combustível nos tanques,

apenas o necessário para decolar, atingir os objetivos e aterrissar. Os projetistas

conseguiram modificar os motores, aumentado o empuxo em cada um deles em

mais de 1.000 kg/f (os motores AL-31F com empuxo de 13.600 kg/f foram inclusos

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nos protocolos da IAF). Essas medidas permitiram atingir uma relação potência-peso

incrivelmente alta, beirando a 2. Dessa forma, o P-42 era capaz de acelerar e até

mesmo quebrar a barreira do som durante uma subida vertical. Entre 1986 e 1990, o

P-42 estabeleceu 41 recordes junto à FAI nas categorias de taxa de ascensão e

altitude de voo, alguns dos quais permanecem absolutos.

2.10 SUCESSO DE EXPORTAÇÃO

Em junho de 1989, um exemplar de Su-27 monoposto e outro de Su-27UB

biposto foram exibidos pela primeira vez no exterior, durante o famoso show aéreo

de Le Bourget, na França. Os pilotos Viktor Pugachyov e Ye. I. Frolov demonstraram

aos maravilhados espectadores a manobralidade superior dos aviões Flanker,

executando manobras como a Cobra, impossível de ser repetida por qualquer outro

caça ocidental em serviço na época. Desde então, os Su-27 tem participado nos

maiores eventos de aviação internacional, exibindo o melhor que a aviação russa

tem a oferecer.52

O Su-27 tem sido um sucesso no mercado estrangeiro. Desde 1991, as

fábricas de Komsomolsk-no-Amur e de Irkutsk (ambas são rivais e fabricam versões

diferentes do caça) tem produzido variantes de exportação do Su-27: o Su-27SK

monoposto (da KnAAPO) e o Su-27UBK biposto (da Irkutsk). Exemplares dessas

variantes tem sido exportados desde 1992 para China, Vietnam, Etiópia e Indonésia,

e os Su-27SKs têm sido fabricados sob licença na China desde 1998, sob a

designação local de J-11 (ou F-11) num acordo de co-produção.

O projeto modular do Su-27 garantia ao caça um alto potencial de

reconfiguração e atualização. Desde que entrou em serviço, ele deu origem a muitas

52 E inclusive com acidentes espetaculares, como o de Le Bourget em 1999. Os pilotos de um Su-30MKI (versão altamente modificada do Su-27) tiveram de ejetar após cometer um erro durante uma manobra, o que fez o avião tocar brevemente no solo. Há filmagens famosas desse fato. Outro acidente digno de nota foi o de Sknyliv, aliás, o maior da história dos shows aéreos. Um erro do piloto fez seu Su-27 se chocar contra a multidão que assistia as performances: 77 pessoas morreram, e mais de quinhentas ficaram feridas. O piloto da aeronave foi preso.

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versões diferentes para as mais variadas funções, incluindo as multimissão (como o

Su-30MKI e o Su-30MKK).

2.11 FICHA TÉCNICA DO SU-27

A tabela a seguir fornece o desempenho, principais características e armas do

Su-27. Foi compilada com dados do fabricante. Não retrata todos os aspectos do

caça, mas apenas os que selecionamos por serem mais relevantes, dados os

propósitos deste trabalho.

Tabela 1 - Desempenho do Su-2753

Peso de decolagem: - normal (incluindo 2 mísseis R-27R1 + 2 mísseis R-73E e 5270 kg de combustível) - máximo, kg

23.430 30.45054

Peso normal de aterrissagem, kg 21.000 Peso máximo de aterrissagem, kg 23.000 Combustível interno máximo, kg 9.400 Carga bélica máxima, kg 4.43055 Teto de operação (sem carga externa), km 18,5 Velocidade máxima ao nível do mar (sem carga externa), km/h 1.400 Mach máximo (sem carga externa) 2,35 Limite-G (operacional) 9 Alcance máximo de voo (com 2 mísseis R-27R1 e 2 mísseis R-73E disparados no meio da missão): - ao nível do mar, km - em altitude, km

1.340 3.530

Tempo máximo em voo, horas 4,5 Corrida de decolagem com peso normal de decolagem, m 450 Corrida de aterrissagem com peso normal de aterrissagem (com paraquedas de frenagem), m

620

Dimensões da aeronave: - comprimento, m - envergadura, m - altura, m

21,9 14,7 5,9

Tripulação 1

Motores Quantidade e tipo dos motores 2 x AL-31F

53 SU-27SK. Aircraft performance. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011. SU-27SK. Armaments. In: Sukhoi Company (JSC) . Airplanes. Military Aircraft. Online: Moscou, 2011. Disponível em: <http://sukhoi.org/eng/planes/military/su27sk/arms/>. Acesso em: 22 out. 2011. 54 O fabricante ressalta que o peso máximo de decolagem do Su-27SK pode ser aumentado a pedido do cliente. Veremos, no capítulo seguinte, que esse foi o caso dos chineses quando compraram a aeronave na década de 1990. 55 Nos caças vendidos aos chineses, essa tonelagem máxima de armas foi muito expandida.

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Empuxo: - em pós-combustão, kgf - em potência militar (a seco), kgf

2 x 12.500 -2 % 2 x 7.670 ± 2 %

Armamentos 1. Canhão Embarcado, de 30mm com 150 munições

2. Mísseis ar-ar R-27R1, R-27ER1, R-27T1, R-27ET1, R-73E

3. Foguetes não-guiados S-8KOM, S-8OM, S-8BM S-13T, S-13OF S-25OFM-PU

4. Bombas De 100, 250 e 500 kg

5. Bombas agrupadas RBK-500

6. Tanques de combustível externos Não disponíveis

7. Pontos de fixação de armas (pilones) 10, sendo 3 sob cada asa (6 ao todo) mais 4 sob a fuselagem

3 CAPÍTULO II – O SU-27 NA CHINA

3.1 INTRODUÇÃO

Figura 11: quatro Su-27SKs sínicos, números de série (da esquerda para direita): “09 Preto”/30009, “10 Preto”/ 30100, “15 Preto”/30105 e “30 Azul”/30300, fotografados enquanto voavam sobre uma cidade chinesa. O “Flanker” foi o primeiro caça de quarta geração a entrar em serviço na PLA-AF: com eles, a China adquiriu uma robusta capacidade de engajamento de alvos aéreos, e um meio para a modernização tanto de sua Força Aérea quanto de sua indústria aeronáutica (http://www.aereo.jor.br/wp-content/uploads/2009/11/J11-3.jpg, acessado em 25 jun. 2011).

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Como visto, o Sukhoi Su-27 é um caça de superioridade aérea, com dois

motores, projetado pelo Escritório de Projetos Sukhoi ao longo da década de 1970.

Ele foi a resposta soviética aos caças de quarta geração dos EUA, como o F-15 e o

F-16. A Força Aérea Chinesa (abreviada pela sigla em inglês PLA-AF) adquiriu três

lotes dele, totalizando 76 caças Su-27 (Fig. 11) comprados da Rússia desde 1992.

Duas variantes estão atualmente em serviço na força: o monoposto Su-27SK,

fabricado pela fábrica russa KnAAPO em Komsomolsk-na-Amur, e o biposto de

combate/treinador Su-27UBK, fabricado pela fábrica russa IAPO em Irkutsk. O Su-

27SK também foi construído sob licença na Shenyang Aircraft Corporation (SAC),

sob o codinome “J-11” a partir de 1998. Na década seguinte, a China também

adquiriu variantes multimissão desenvolvidas a partir dele, o Su-30MKK e o Su-

30MK2 da KnAAPO. Por fim, a SAC desenvolveu sua própria versão do caça, o J-

11B, objeto-base de estudo desta monografia.

Este capítulo foi elaborado a partir da revisão de bibliografia e de fontes sobre

o Su-27 na PLA-AF, com o objetivo de elaborar uma cronologia sobre o caça russo

em mãos chinesas. Foram utilizadas duas obras de referência básicas. A primeira

delas é o livro Chinese Aircraft – China’s Aviation Industry since 1951, de Yefim

Gordon e Dmitriy Komissarov, com 187 páginas e publicado pela Hikoki em 2008.56

Ele versa sobre a indústria de aviação chinesa desde 1951 até os dias presentes:

faz um breve histórico da aviação chinesa e descreve as principais empresas

nacionais do ramo, bem como as aeronaves militares chinesas históricas e

presentes.

A outra obra é uma matéria escrita por Andrei Fomin em sua revista Take-off,

no suplemento em inglês de Novembro/2006. Seu título é Sukhoi fighters in China –

Today and tomorrow.57 Ela descreve sucintamente a trajetória dos caças Su-27 na

China, desde as compras iniciais no início da década de 1990, até a o hiato no

contrato entre este país e a Rússia, que se seguiu após o cancelamento da

produção do J-11 por parte dos chineses.

56 GORDON, Yefim e KOMISSAROV, Dmitriy. Chinese aircraft: China’s aviation industry since 1951. Manchester: Hikoki, 2008. 57 FOMIN, Andrei. Sukhoi fighters in China – today and tomorrow. In: Take-off. Edição especial para o Air Show China 2006, nov. 2006. Online, 2011. Disponível em: <http://en.take-off.ru/arhiv/590>. Acesso em: 11 out. 2011.

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48

Para além dessas bibliografias básicas, nós usamos alguns sítios da internet

de reconhecida segurança e autoridade sobre o assunto, alguns dos quais inclusive

utilizados pelos autores citados. O primeiro deles é o GlobalSecurity, que existe

desde 2000. Trata-se de uma organização política pública focada nos campos de

defesa, exploração espacial, inteligência, armas de destruição em massa e

segurança pátria. O sítio na internet disponibiliza notícias e análises de sistemas de

armas e indústrias, bem como guias para programas militares e espaciais

relacionados, entidades e instalações. Do GlobalSecurity.org, a página que nos mais

interessa é a J-11 [Su-27 FLANKER]58, que informa sobre o Su-27 na China desde

seu momento inicial em 1991.

Outro sítio utilizado foi o SinoDefence.com. Trata-se de um endereço na

internet mantido por voluntários e baseado no Reino Unido. Ele oferece uma

abrangente visão geral sobre o desenvolvimento militar chinês, focada

principalmente nos detalhes técnicos dos sistemas de armas e estrutura

organizacional das forças armadas chinesas. Este sítio adquiriu a reputação de ser a

mais abrangente e confiável fonte online de informação sobre os assuntos militares

chineses, sendo visitado frequentemente por quem busca dados confiáveis e

atualizados sobre os tópicos referidos. Seu trabalho é muito citado pela mídia em

geral e acadêmicos militares por todo o mundo. Do SinoDefence.com, são três as

páginas de nosso interesse: Su-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft,59 que

versa sobre os primeiros caças Su-27 adquiridos pela PLA-AF; Jian-11 Multirole

Fighter Aircraft,60 a respeito das versões do Su-27 de produção chinesa; e Su-

30MKK Multirole Fighter,61 sobre os caças multimissão russos baseados no Su-27

adquiridos pela PLA-AF e PLA-NAF (abreviação em inglês da Força Aérea da

Marinha Chinesa).

58 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK / Su-30MKK/ Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. Online, 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/world/china/j-11.htm>. Acesso em: 24 abr. 2011. 59 SU-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 25 dez. 2008. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/su27.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011. 60 JIAN-11 Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 20 fev. 2009. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/j11.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011. 61 SU-30MKK Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. Air Forces. Aircraft. Online, 2011. Última atualização: 20 fev. 2009. Disponível em: <http://www.sinodefence.com/airforce/fighter/su30.asp>. Acesso em: 11 mai. 2011.

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O terceiro sítio de nossa lista é o Chinese Military Aviation, mantido por um

entusiasta chinês apelidado Hui Tong. É-nos de especial interesse por ser uma fonte

semanalmente atualizada sobre a PLA-AF, inclusive com correções sobre dados

anteriormente listados. O sítio é também citado por Richard Fisher em alguns de

seus trabalhos, e indexado pelos outros dois endereços listados acima. Dele, são-

nos de interesses várias páginas, sobretudo: Su-27SK/J-11/11A Flanker,62 Su-

30MKK/MK2 Flanker,63 e J-11B Flanker.64

Além destes sítios, recorremos a muitos outros de agências noticiosas das

mais variadas, especializadas ou não: RIA Novosti, Aviation Week, Aviation

International News, etc. Há sempre o cuidado de cruzar as informações com outras

fontes, e atenção àquelas que são particularmente enviesadas (principalmente as de

origem russa). Finalmente, para refazer a trajetória geopolítica da China Comunista,

baseamo-nos num manual de história de Vizentini,65 num artigo de Page publicado

no Wall Street Journal,66 e em alguns reports de Richard Fisher, que serão citados

conforme a conveniência.

3.2 CONTEXTO HISTÓRICO

Antes de falarmos das compras e dos caças em si, convém fazer uma breve

introdução sobre a situação geopolítica da China na segunda metade do século XX,

bem como os fatores que levaram a PLA-AF a adquirir o Su-27.

3.2.1 A cooperação entre China e URSS na indústria aeronáutica

62 SU-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation . Fighters (Cont.) Online, 2011. Última atualização: 12 mar. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 13 mai. 2011. 63 SU-30MKK/MK2 Flanker. In: Chinese Military Aviation. Attackers. Online, 2011. Última atualização: 12 mar. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/q-5_jh-7_h-6.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010. 64 J-11B Flanker. In: Chinese Military Aviation. Fighters (Cont.). Online, 2010. Última atualização: 30 ago. 2010. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 01 fev. 2011. 65 VIZENTINI, Paulo Fagundes. Manual do Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). Brasília: FUNAG, 2006. Online, 2011. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/57966140/47/A-Cisao-do-Bloco-Socialista-e-a-Alianca-Sino-Americana>. Acesso em: 10 jul. 2011. 66 PAGE, Jeremy. China Clones, Sells Russian Fighter Jets. In: The Wall Street Journal. Online, 04 dez. 2010. Disponível em: <http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704679204575646472655698844.html>. Acesso em: 02 jun. 2011.

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A PLA-AF foi fundada com ajuda soviética em novembro de 1949, pouco após

a criação da República Popular da China (RPC). A PLA-AF lutou a Guerra da Coréia

com caças Mikoyan MiG-15 Fagot (código da OTAN) fabricados na URSS; o

treinamento também era fornecido por este país. A guerra trouxe ainda o auxílio

soviético para a nascente indústria aeronáutica chinesa. A pioneira sínica na

montagem de caças foi justamente a então “Fábrica de Aeronaves Shenyang”, que

durante a guerra montou o treinador biposto MiG-15UTI sob a designação local “JJ-

2”, além de peças para os caças soviéticos.

A indústria aeronáutica chinesa se desenvolveu no final dos anos 1950,

através de um amplo auxílio prestado pela URSS.67 A partir do apoio dos técnicos e

consultores soviéticos, a China conseguiu rapidamente dominar a produção dos

caças MiG-17 Fresco, MiG-19 Farmer (códigos da OTAN), além do bombardeiro de

médio alcance Ilyushin Il-28 e outros aviões de guerra.68 Depois os chineses

adquiriram mais aeronaves de mesma procedência, como o bombardeiro subsônico

Tu-16, o interceptador MiG-21, o transporte médio Antonov An-12, dentre outros.

Ao cooperar estreitamente com a URSS, a China conseguiu criar uma força

aérea moderna em meados da década de 1960. Entretanto, este progresso foi

desperdiçado, e a indústria aeronáutica nacional começou a estagnar após o início

da Revolução Cultural na segunda metade da década.

3.2.2 O “Racha” Sino-Soviético

Na segunda metade da década de 1950, a cooperação militar e técnica entre

a China e a URSS entrara em crise. Isso foi causado pelo episódio que entrou para

história como o “Racha” Sino-Soviético. Os problemas começaram em 1956,

basicamente por causa de divergências ideológicas entre os líderes desses países,

67 FISHER, R. D. Jr. The Air Balance on the Taiwan Strait. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 21 fev. 2010. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.224/pub_detail.asp>. Acesso em: 20 abr. 2010. 68 KRAMNIK, Ilya. China copies obsolete Russian fighter. In: RIA Novosti . Online, 25 mar. 2008. Disponível em: <http://en.rian.ru/analysis/20080425/105928822.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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Mao Zedong e Nikita Khrushchev. O primeiro discordava das idéias de seu

congênere soviético a respeito da “coexistência pacífica” entre a URSS e o bloco

ocidental: Mao acreditava que os soviéticos deveriam manter a posição beligerante

dos tempos de Stálin contra o Ocidente, enquanto Khrushchev buscava uma

aproximação de menor confrontação direta com o mundo capitalista. Além disso,

havia a disputa interna no bloco socialista sobre qual país lideraria a revolução

comunista mundial, se seria a URSS ou a China. Como resultado, os desacordos

entre os dois países só cresceram, levando os comunistas chineses a denunciarem

formalmente seus pares da URSS em 1961 como sendo “o grupo traidor revisionista

da liderança soviética”. No ano seguinte, os dois países romperam relações; por

volta desta época, todos os consultores e técnicos soviéticos abandonaram o país.

Os contatos bilaterais esfriaram completamente durante a Revolução Cultural

Chinesa, entre 1966-1976. Com o passar dos anos, as tensões aumentaram,

culminando em 1969 com escaramuças na região de fronteira entre os dois gigantes

comunistas. Cogitou-se até mesmo uma guerra nuclear entre URSS e China.

3.2.3 A “Lua de Mel” entra a China e o Ocidente

Durante as décadas de 1960 e 1970, a China falhou em desenvolver

quaisquer novas aeronaves. O “Racha” Sino-Soviético e a Revolução Cultural nos

anos 1960 isolaram o país do exterior; em conseqüência, o setor aeroespacial

chinês permaneceu relativamente estático, devido ao caos político, ao

subfinanciamento e à falta de contato com novas tecnologias estrangeiras. Tudo isso

prejudicou muito o progresso técnico do setor, e o máximo que ele pôde conseguir

foi fabricar o avião de ataque Q-5 Fantan (código da OTAN) e prosseguir o

desenvolvimento do J-8 Finback (código da OTAN) – versões altamente modificadas

dos caças de segunda geração MiG-19 e MiG-21, respectivamente. Enquanto isso,

tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética estavam desenvolvendo os caças

de quarta geração por volta da mesma época. A China exportou a maioria de seus

aviões de guerra obsoletos para países pobres do Terceiro Mundo, tais como

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Albânia, Uganda e Bangladesh. Ela também exportou suas aeronaves para o

Paquistão – inimigo histórico da Índia – que se tornou seu aliado contra esta última.

Nesse meio tempo, após romper com a URSS e passando pela traumática

Revolução Cultural, em 1971 Mao chegara à conclusão de que a China estava se

isolando perigosamente no cenário internacional. Ela havia cortado relações com a

União Soviética, ficando praticamente só no bloco comunista, e permanecia hostil

aos países capitalistas. Com isso, não lhe restaram muitos amigos. Para contornar

essa situação, o premiê chinês decidiu buscar uma aproximação com os EUA, a fim

de livrar o país dessa condição de isolamento. O presidente americano à época,

Richard Nixon (1969-1974), e seu Secretário de Estado, Henry Kissinger, viram no

contato com a China Maoísta a oportunidade de inserir um novo ator no cenário

bipolar da Guerra Fria, criando uma espécie de “tripolaridade estratégica” que

deixava a URSS em severa desvantagem.69 As administrações posteriores Carter

(1977-1981) e Reagan (1981-1989) continuaram esta parceria estratégica com os

chineses.

A aproximação da China com o Ocidente logrou frutos. O país adquiriu, ao

longo dos anos 1970 e 1980, armas dos EUA e de seus aliados, como Israel,

França, Grã-Bretanha, Itália. Exemplos dessa fase de cooperação militar com o

Ocidente foram as compras chinesas de mísseis ar-ar Aspide italianos, mísseis ar-ar

Python-3 e o projeto do caça Lavi israelense, a fabricação sob licença do motor

turbofan inglês Spey Mk. 202, os helicópteros Super Frelon e Daulphin além dos

mísseis superfície-ar Crotale franceses, os helicópteros Black Hawk e o motor

turbofan CFM-56II americanos. Com essas compras, o país conseguiu adquirir boa

parte da tecnologia desses produtos, seja através de produção licenciada ou de

engenharia reversa.70

Apesar destes progressos, em meados da década de 1980 a indústria

aeronáutica chinesa ainda estava atrasada em relação aos EUA e URSS de 15 a 20

69 VIZENTINI, 2006, p. 264 70 A engenharia reversa é, de um modo geral, o processo de extrair tecnologia ou conhecimento de um artefato feito pelo homem. A prática da engenharia reversa começa com um produto ou processo acabado, e retroage nele de forma lógica para descobrir a sua tecnologia subjacente usada para construí-lo. Consiste em buscar, a partir de um produto acabado, a origem da idéia, de modo a permitir o entendimento de seu funcionamento, bem como do respectivo processo de elaboração. Seu principal objetivo é absorver a tecnologia utilizada na fabricação de um objeto.

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anos. Para minorar essa situação, o país importou muitas tecnologias ocidentais,

tais como o Desenho Assistido por Computador (CAD, sigla em inglês), que foi

largamente utilizado no projeto dos caças J-7E e J-8IIB/D. Outro exemplo digno de

nota foi a aquisição em 1988 do projeto cancelado do caça IAI Lavi israelense.

Assumido pelos chineses, décadas mais tarde ele viria a culminar no caça J-10, da

Chengdu Aircraft Corporation (CAC).

3.2.4 O Massacre de Tiananmen e o embargo contra a China

Esse período de “lua de mel” entre a China e o Ocidente chegou ao fim em

1989. Desde o final dos anos 1970, sob a influência de Deng Xiaoping, a China

vinha adotando um programa de reformas e abrindo sua economia aos

investimentos estrangeiros, criando um sistema misto que combinava a planificação

estatal e a economia de mercado com relativo sucesso. Essas reformas, porém,

ficaram restritas ao campo econômico, não sendo acompanhadas por distensões no

campo político: o Partido Comunista Chinês permaneceu centralizando rigidamente

o poder em suas mãos. Mas na metade final da década de 1980, os ecos da

Perestroika (abertura política na URSS iniciada pelo então líder do país, Mikhail

Gorbatchov) chegaram aos chineses, e muitos setores da população aderiram com

entusiasmo ao movimento reformista, notadamente os estudantes. Em 1989, estes

se concentraram na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), ponto de convergência

desse confronto, que premeditadamente ocorria durante as comemorações do

Movimento de 4 de maio de 1919 e a visita de Gorbachov, que deveria encerrar as

três décadas de divergência sino-soviética (que começou no “Racha”). Temerosos

de perder o controle da situação, pois até mesmo dirigentes políticos e militares

chineses simpatizavam com os reformistas, a linha dura do Partido mandou tropas

[pouco informadas] vindas da Manchúria para reprimir violentamente o movimento,

causando centenas de mortes entre os estudantes. O episódio passou à história

como o “Massacre na Praça da Paz Celestial” (Fig. 12), e gerou repercussões

imediatas mundo afora: ele foi condenado com grande ênfase pela mídia e governos

ocidentais. Quase imediatamente, os EUA e a União Europeia levantaram um

embargo na venda de armas contra a China, e a imagem desta, antes vista como

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um país reformista e valioso aliado contra a União Soviética, foi substituída pela de

um regime autoritário e repressivo. Como resultado, os chineses tiveram de buscar

outros fornecedores que não os ocidentais para proceder com a modernização de

suas forças armadas.

Figura 12: cena clássica do “Homem dos Tanques”, como ficou conhecido o misterioso homem que ganhou fama em todo o mundo como figura heróica após ser filmado e fotografado durante os protestos na Praça da Paz Celestial em Pequim, em 05 jun. 1989. Várias fotografias foram tiradas do homem, que ficou em pé em frente a uma coluna de tanques chineses Type 59, forçando-os a parar. (http://www.neverforever.net/wp-content/uploads/2009/06/imagetank.jpeg, acessado em 02 nov. 2011).

3.2.5 Pequim se volta novamente para Moscou em busc a de armas

Em 1982 os chineses haviam reatado relações diplomáticas com a URSS,

fruto de mudanças internas no Partido Comunista Chinês. Do ponto de vista político,

nos anos 1980, as políticas do premiê chinês Deng Xiaoping de “buscar a verdade

dos fatos” e enfatizar o “caminho chinês para o socialismo”, indicaram que o Partido

havia perdido o interesse em preocupações com ideologia, tais como a denúncia do

revisionismo soviético. Em 1985, com a ascensão ao poder de Gorbatchov na

URSS, as relações entre os dois países aumentaram, embora tenham permanecido

frias. Ponto digno de nota foi a já citada visita do líder soviético à China, em Maio de

1989. Neste ano, Moscou e Pequim assinaram uma série de acordos de cooperação

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militar-tecnológica que facilitaram muito a transferência de tecnologia da primeira

para a segunda.

O Massacre da Praça da Paz Celestial e o seguinte embargo de venda de

armas ocidental contra a China, em 1989, além da dissolução da URSS, em 1991,

convergiram para intensificar as relações comerciais e militares Moscou-Pequim.

Antes de 1991, os russos não fechavam um acordo bélico de grande porte com a

China desde o “Racha” Sino-Soviético na década de 1950, que levou inclusive ao

Conflito Fronteiriço Sino-Soviético em 1969. Mas um Kremlin falido e desesperado

por recursos financeiros precisava urgentemente de compradores para os únicos

produtos de alta tecnologia de que dispunham: armas.

Ao mesmo tempo, o fim da ameaça soviética fez a China mudar o foco de

seus gastos militares: sem mais temer uma possível invasão da URSS por terra, ela

passou a buscar defender áreas que considera seu território, como Taiwan (a

“Província Rebelde”), e partes do Mar do Leste da China e do Mar do Sul da China

(como as Ilhas Spratly, disputadas por China, Taiwan, Filipinas, Vietnã e Malásia).

Os chineses também ficaram profundamente impressionados com a exibição

do poder americano em 1991, durante a Guerra do Golfo. Os EUA e seus aliados

derrotaram o Iraque em pouca mais de um mês, sofrendo pouquíssimas baixas.

Para preocupação dos chineses, eles usavam em grande parte as mesmas táticas,

equipamentos e doutrina militar utilizados pelos iraquianos, os quais sofreram uma

derrota humilhante no conflito.

A nova orientação estratégica da China, voltada para a projeção de poder

aeronaval sobre ilhas, e a esmagadora superioridade militar americana, exigiam a

modernização de suas Forças Armadas. Entretanto, o embargo ocidental

prejudicava fortemente esse intento. Pequim então se voltou para quem poderia lhe

fornecer as novas armas de que tanto necessitava: Moscou. De 1991 aos 15 anos

seguintes, a Rússia se tornou o maior fornecedor de armas para a China, vendendo

entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões em caças, destróieres, submarinos, tanques

e mísseis. E o primeiro item nessa nova era de cooperação militar entre os dois

países foi justamente o Su-27.

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3.3 A CHINA COMPRA O SU-27

Durante a década de 1980, o Su-27 era a joia cuidadosamente guardada da

Força Aérea Soviética, sem qualquer expectativa de exportação. Ele continuaria

assim a tradição de alguns caças soviéticos anteriores, como o Tu-128 e o Su-15.

Mas os novos e difíceis tempos da década de 1990 forçaram os russos a

disponibilizar o caça para venda, no mercado estrangeiro.

Negociações de alto nível entre Pequim e Moscou sobre uma possível venda

de caças começaram em 1990.71 Os pilotos soviéticos demonstraram o Mikoyan-

Gurevich MiG-29 Fulcrum e o Sukhoi Su-27 Flanker em Pequim, em março de 1991.

Após gostarem do que viram e uma avaliação cuidadosa, a China assinou um

contrato, neste mesmo ano, para a compra de 26 caças Su-27 especialmente

desenvolvidos para o país, no valor de US$ 1 bilhão.72 Eram eles: 20 monopostos

Su-27SK (código da OTAN: Flanker-B) e seis bipostos Su-27UBK (Fig. 13; código da

OTAN: Flanker-C), além de duas fuselagens para instrução em solo.73 A entrega

dessas aeronaves foi concluída em 1992, tornando a China o primeiro país não-

membro da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) a adquirir o Su-27. Estes

aviões foram inicialmente operados pelo 9º Regimento de Caças da 3ª Divisão de

Aviação, destacado na Base Aérea de Wuhu, Província de Anhui, que se tornou a

primeira unidade da PLA-AF a operar caças de quarta geração. Posteriormente,

esses caças foram realocados para a Base Aérea de Liancheng.74

Depois de mostrar interesse, em 1993, na aquisição de um segundo lote de

Su-27, a República Popular da China comprou mais 22 caças (16 Su-27SKs e 6 Su-

27UBKs) em 1995, num acordo avaliado em cerca de 700~710 milhões de dólares.

O contrato continha uma cláusula estipulando que a Rússia deveria treinar 200

pilotos chineses para voar no Flanker; mas os sínicos rejeitaram a cláusula,

alegando que a PLA-AF tinha seus próprios instrutores qualificados, que já haviam

71 Su-27SK/UBK Air Superiority Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. , 2008. 72 Ou 24 caças; o número exato varia nas fontes. 73 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK/Su-30MKK/Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. , 2011. 74 GORDON, 2007, p. 560

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feito seu curso de treinamento de Su-27 na Rússia.75 Num relatório às Nações

Unidas, tanto a China quanto a Rússia confirmaram que a transferência de 22

aeronaves teve lugar em 1996. Uma fonte russa indicou que a China solicitou

modificações especiais em suas aeronaves, incluindo trem de pouso reforçado para

permitir aos caças transportar carga completa de combustível (superior às nove

toneladas), e dessa forma utilizar seu raio de combate máximo, ao redor dos 1.500

km. Essas aeronaves são operadas por um regimento de aviação orgânica à 2ª

Divisão de Aviação da PLAAF, destacada na Base Aérea de Suixi, Província de

Guangdong. As compras de 1991 e 1995 somaram ao todo US$ 1,7 bilhão de

dólares.

Figura 13: Su-27UBK número de série 11032, visto aqui desarmado. A maciça introdução dos caças Su-27 de quarta geração na PLA-AF não se fez sem dificuldades. O esforço de transição tecnológica recaiu principalmente sobre os treinadores de combate Su-27UBKs, de dois acentos (http://cnair.top81.cn/gallery/Su-27UBK_02a.jpg, acessado em 25 jun. 2011).

No final da década de 1990, ficou claro aos chineses que o número de Su-

27UBK adquirido era desproporcionalmente baixo: faltavam aviões de treinamento

suficientes para preparar os novos pilotos de Su-27 da PLA-AF. Isso levou a compra

de um terceiro lote de 28 caças em 1999, todos da variante biposta de

combate/treinamento Su-27UBK, da fábrica russa Irkutsk. Esses aviões foram

fabricados pelos russos “de graça”, como pagamento de parte da dívida que o

Estado russo tinha com a China. Os caças foram entregues de 2000 a 2002, e

destacados no Centro de Treinamento e Testes de Voo (FTTC, sigla em inglês), em

Cangzhou, Cangxian.

75 Ibid., p. 561.

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3.4 OS SU-27SK/UBK E SUA INTEGRAÇÃO NA PLA-AF

Apesar das numerosas customizações nas aeronaves vendidas, feitas pelos

russos a pedido dos chineses, os Su-27SK/UBK acordados eram muito semelhantes

aos Su-27/UB em uso na Força Aérea Russa. Como recebidos em 1992/1996, os

Su-27 sínicos estavam equipados com um radar NIIP Tikhomirov N001E Myech, do

tipo pulse–doppler e com arranjo parabólico giratório, com capacidade de “buscar

enquanto varre” e de “olhar e atirar para baixo”. O alcance máximo de busca é de

140 km, e o de engajamento de alvos em torno dos 80~100 km no hemisfério frontal

e 40 km no traseiro, para um objeto do tamanho de um caça. Ele pode rastrear

simultaneamente até 10 alvos; porém, quando engaja um deles, o N001 perde os

nove restantes, e tem de reiniciar um novo processo de rastreamento após o

engajamento. Usa um processador russo TS100 relativamente primitivo, vulnerável a

alarmes falsos e pontos cegos, difícil de manejar. Acredita-se que os Su-27UBKs do

terceiro lote (2000-2002) sejam equipados com o radar N001VE, capaz de engajar

até dois alvos simultaneamente com os mísseis R-27 semi-ativos e o R-77 com

guiagem por radar ativo, pois há fotos desses caças equipados com tais mísseis.76

Figuras 14 e 15: à esquerda, serventes da PLA-AF conduzindo um míssil de médio alcance guiado por radar semi-ativo R-27R1 para um Su-27; à direita, os mísseis de curto alcance guiados por infravermelhos R-73E, sobre um reboque de municiamento. Junto com os Su-27SK e Su-27UBK, a PLA-AF adquiriu os mísseis R-27, nas variantes R-27R1 (guiagem por radar semi-ativo) e R-27T1 (guiagem por infravermelho), além dos mísseis R-73E, de curto alcance e guiados por infravermelho. Estes últimos eram o estado da arte em mísseis de curto alcance, na década de 1990: quando operados junto com a mira montada no capacete (HMS) dos Su-27SK, eles formavam uma combinação letal para quaisquer oponentes, como os F-16 de Taiwan (http://www.sinodefence.com/airforce/weapon/images/r27_01.jpg; http://www.sinodefence.com/airforce/weapon/images/r73_01.jpg, acessado em 26 jun. 2011).

76 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011.

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Além do radar, as aeronaves contavam com um sistema eletro-ótico OEPS-

27, que consistia numa unidade de busca e rastreio por infravermelho (IRST, sigla

em inglês) OLS-27, colimado com um telêmetro laser. Ambos são alojados numa

pequena redoma, centralizada imediatamente a frente do cockpit (cabine). O sistema

adquire e rastreia alvos aéreos através da assinatura térmica destes. O alcance de

detecção do OLS-27 fica entre 15 e no máximo 50 km, dependendo do ângulo do

alvo e das condições atmosféricas. Para melhor desempenho no combate a curta

distância, o piloto é auxiliado por uma mira montada no capacete (HMS, sigla em

inglês) NTSt-27. O HMS e o telêmetro laser do IRST podem ser usados para adquirir

visualmente e determinar as coordenadas de alvos aéreos.

Os Su-27 dispunham ainda de um sistema de indicação integrado SEI-31, que

provê dados de voo, navegação e combate no visor a altura dos olhos (HUD, sigla

em inglês) ILS-31 e no único visor monocromático do painel. Contavam com um

sistema de guerra eletrônica para autodefesa, empregando tanto contramedidas

ativas quanto passivas. Eram eles o indicador aviso de ameaças SPO-15LM

Beryoza e o dispersador de iscas APP-50, além dos pods de guerra eletrônica

Gardenya/Sorbtsiya, montados nas pontas das asas.

Seu armamento consistia num canhão interno fixo GSh-301 de 30mm, com

150 tiros. Externamente, os aviões possuíam dez pontos duros para fixação de

munições (dois sob a fuselagem central, dois sob as tomadas de ar, quatro sob as

asas e mais dois nas pontas das asas). A estrutura dos Su-27SK chineses foi

reforçada, tornando-os capazes de transportar até 8.000 kg de armas (enquanto o

Su-27 original russo levava no máximo 4.000 kg). Para combate a curta distância

(dogfight, em inglês), o Su-27 era equipado com o então revolucionário missíl ar-ar

Vympel R-73E (Fig. 15; codinome na OTAN: AA-11 Archer), guiado por

infravermelho (IR, sigla em inglês) e com até 15 km de alcance. Operando em

conjunto com a mira montada no capacete NTSt-27, a combinação R-73 + NTSt-27

transformava o Su-27 numa séria ameaça para qualquer outro caça de quarta

geração em combates aproximados. Para o combate além do alcance visual, o

Flanker contava com o R-27 (Fig. 14; codinome na OTAN: AA-10 Alamo), nas

variantes R-27T1, guiada por IR, e R-27R1, guiada por radar semi-ativo, com

alcances máximos respectivos de 30 e 35 km, ambas versões de exportação

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degradadas. Em uma típica missão de interceptação, o caça era equipado com

quatro mísseis R-73 e seis mísseis R-27. Alternativamente, ele poderia ser equipado

com dois mísseis R-73, seis mísseis R-27, e dois pods (casulos) de guerra eletrônica

KNIRTI SPS-171/L005 Gardenya/Sorbtsiya, nas pontas das asas e para autodefesa.

Figura 16: um caça de quarta geração F-16, da força aérea taiwanesa, libera flares em Dezembro de 2008, durante um treinamento em Paolishan, sul de Taiwan. A aquisição dos Su-27SK/UBK por parte da PLA-AF forçou os EUA a venderem os caças F-16A para Taiwan, a fim de manter o equilíbrio aéreo militar entre as duas “Chinas”. (http://www.defensenews.com/pgf/stories56/052911_afp_taiwan_f16_315.JPG, acessado em 25 jun. 2011).

Essa combinação deu à PLA-AF uma inédita capacidade ofensiva, tanto nos

dogfights a curta distância quanto nos combates BVR (Beyond Visual Range, sigla

em inglês) de longo alcance.77 O Su-27 foi o primeiro caça de 4ª geração da PLA-

AF, ampliando consideravelmente o poder de combate da força. A PLA-AF agora

dispunha de uma aeronave de superioridade aérea pesada capaz de enfrentar seus

modernos congêneres ocidentais de quarta geração. A Força Aérea Taiwanesa foi

obrigada a acompanhar o passo, adquirindo os caças F-16 (Fig. 16) dos EUA.

Os Su-27 foram demonstrados ao público pela primeira vez durante os

exercícios conjuntos da PLA (Forças Armadas Chinesas, sigla em inglês) em março

de 1996, cujo objetivo era intimidar Taiwan. Na ocasião, a China Central Television

(CCTV) transmitiu imagens de Su-27s da PLA-AF voando em formações de quatro

caças, e atacando alvos em solo com bombas e foguetes “burros” (Fig. 17).78 Esses

exercícios demonstraram claramente a capacidade de bombardeio dos J-11,

sugerindo que talvez o radar e o software do computador de missão desses caças

tenham recebido aprimoramentos, a fim de disparar suas munições não guiadas

77 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011. 78 Isto é, sem guiagem.

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com alta precisão.79 Mais tarde, no verão de 1999, Su-27s baseados em Suixi

também voaram missões de ida e volta sobre o Estreito de Taiwan, durante outros

exercícios conjuntos da PLA. Vários Su-27s foram severamente danificados durante

um tufão em 1998, além de mais alguns outros perdidos durante voos de treino, ao

longo dos anos. Para repor essas perdas, os russos venderam Su-27SKs adicionais

aos chineses, provavelmente aeronaves usadas.

Figura 17: Su-27SK “49 azul”, carregando trinta bombas “burras” de 250 kg cada, totalizando quase oito toneladas de armas. Os Su-27SK sínicos foram vistos em diversas ocasiões disparando armamento ar-terra não guiado, como nos exercícios da PLA em 1996. Notar a pintura do “nariz” típica dos Su-27 chineses: uma semi-elipse que se inicia no radome e se prolonga na fuselagem (http://www.ausairpower.net/000-Su-27SK-MER-S.jpg, acessado em 25 jun. 2011).

A integração do Su-27 na PLA-AF foi difícil, particularmente no tocante ao

treinamento dos pilotos e custos de manutenção, além das táticas de combate e

conceitos operacionais. Tais problemas são compreensíveis: por décadas, a

estrutura básica da Força Aérea Chinesa esteve centrada em tecnologia dos anos

1950, na forma dos caças de 2ª geração J-6 e J-7 (desenvolvidos a partir de

engenharia reversa dos MiG-19 e MiG-21 soviéticos, respectivamente). O J-6 só deu

baixa na década de 2000; as versões mais recentes do J-7 continuam em operação.

O caça mais avançado de que dispunham era o J-8B (ou J-8II), que entrara em

serviço na década de 1990; mas este ainda era de 3ª geração, no mesmo nível

79 J-11 [Su-27 FLANKER] Su-27UBK/Su-30MKK/Su-30MK2. In: GlobalSecurity.org. , 2011.

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tecnológico básico do F-4E80 americano ou do Su-15 soviético, ambos da década de

1960. Para explicitar o atraso chinês, basta ter em mente que os caças de 4ª

geração começaram a ser desenvolvidos pelos EUA e URSS nos anos 1970,

entrando em serviço em massa na década de 1980; os F-4E deram baixa nesta

mesma década, enquanto os Su-15 na de 1990.

Para os chineses, ter em mãos um caça de 4ª geração como o Su-27 foi um

choque, e a transição para uma nova estrutura de força, centrada em aeronaves

topo de linha mundialmente, não seria feita sem problemas. Ela se deu de forma

lenta, à medida que a China integrava as novas tecnologias e capacidades

adquiridas. Na década de 1990, cada Su-27 sínico acumulou centenas de horas de

voo por ano, em especial os treinadores de combate Su-27UBK, nesse esforço de

transição tecnológica dos pilotos chineses. Esta fase de aprendizado prolongada

permitiu ao país se preparar para a introdução de grandes números de caças de 4ª

geração. Por volta de 2002, os novos Su-27 e Su-30 adquiridos foram integrados

muito mais rapidamente nas unidades operacionais. Enquanto isso, as táticas de

combate aéreo continuavam evoluindo, e o treinamento se tornou mais avançado.

Figuras 18 e 19: à esquerda, Su-27SK número de série “08 Azul”/30008, fotografado em serviço na década de 1990. Notar dois casulos de foquetes não-guiados montados na asa esquerda, para ataque ao solo. À direita, o mesmo exemplar, porém descomissionado no ano de 2009. Essa foto foi tirada por um entusiasta chinês enquanto era rebocada por um caminhão em via pública. Trata-se de um dos 24 (ou 26) Su-27 comprados no primeiro lote, em 1991, que permaneceram quase 20 anos em serviço. Na imagem, vê-se a célula do avião com a vida útil expirada; todos os acessórios e demais componentes do caça foram removidos, pois alguns ainda podem ser utilizados como peças sobressalentes nas demais aeronaves em operação. É o que costuma ser chamado de “canibalização” no meio aeronáutico (http://2.bp.blogspot.com/_3wZSwFvZzqM/SdkUJ68TmZI/AAAAAAAACEU/DYJT8EW3rus/s400/Su-27-081238479375_44401.jpg; http://3.bp.blogspot.com/_3wZSwFvZzqM/SdkUFtslGjI/AAAAAAAACEE/vqUb49owhEM/s400/Su-27-08-1238479375_68587.jpg, acessado em 26 jun. 2011).

80 Caça que já foi operado pelas Forças Armadas dos EUA, icônico da terceira geração, e discutivelmente o melhor representante desta.

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Para descobrir o quanto os pilotos sínicos desses caças voam por ano,

atentemos para o seguinte fato. Em 2009, os 24~26 Su-27 comprados pela China no

primeiro lote, em 1991, começaram a dar baixa no inventário da PLA-AF (Fig. 18 e

19).81 Levando em conta que a vida útil da célula do Su-27SK é de 5.000 horas de

voo, e assumindo ser a prática da PLA-AF destacar dois pilotos para cada aeronave,

esse fato revela que cada piloto chinês de Su-27 tem aproximadamente: 5.000/18/2

= aproximadamente 140 horas de voo por ano. Isso é menos do que os pilotos

ocidentais costumam voar, mas sem dúvida tempo considerável para uma

proficiência adequada no manejo desses caças.

As limitações do Su-27, porém, logo ficaram patentes à PLA-AF. De um modo

geral, eles gostaram do avião, mas não da tecnologia de fins da década de 1980

presente em seus aviônicos e sistemas. Algumas partes dele tinham uma vida útil

muito curta, o que causava um alto índice de acidentes técnicos. Problemas com o

sistema IRST do caça também eram muito freqüentes, restringindo o uso dele em

treinamentos regulares da PLA.82 Mais importante do que isso, os Su-27SK/UBK

foram projetados originalmente como caças de superioridade aérea e

interceptadores dedicados, e só poderiam realizar missões de ataque secundárias,

com o uso de armas não-guiadas (ou “burras”), incluindo várias bombas de queda

livre e foguetes não-guiados, tal como nos exercícios de 1996. Usar esse tipo de

munições em combate expõe o caça a um risco excessivo, pois ele tem de atacar à

baixa altitude, ficando à mercê dos sistemas de defesa antiaérea do inimigo. Esse

fator levou, no final dos anos 1990, os chineses a adquirir o caça multimissão Su-

30MKK.

81 CHINESE Su-27s Die Of Old Age. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 07 abr. 2009. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htatrit/20090407.aspx>. Acesso em: 04 jun. 2010. DECOMMISSION of PLAAF’s Su-27 has started. In: China Defense Blog. Online, 05 abr. 2009. Disponível em: <http://china-defense.blogspot.com/2009/04/decommission-of-plaafs-su-27-has.html>. Acesso em: 26 jun. 2011. Esta última entrada é particularmente interessante, pois as fotos nela contidas foram tiradas por populares que puderam presenciar fuselagens dos Su-27 canibalizados, enquanto eram rebocadas pela rua. 82 CHENG, Andrei. Analysis: China imitates Su-27SK. In: Space War: Your Word at War. Online: Hong Kong, 25 fev. 2008. Disponível em: <http://www.spacewar.com/reports/Analysis_China_imitates_Su-27SK_999.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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3.5 A CHINA COMPRA OS CAÇAS MULTIMISSÃO SU-30MKK/MK2

As negociações entre a China e a Rússia sobre a compra dos então Su-30MK

(Fig. 20) começaram ainda em 1996. O Escritório de Projetos da Sukhoi começou a

projetar, em 1997, um avião de ataque biposto especialmente para a PLA-AF. Este

avião seria baseado no Su-30MK, variante multimissão de exportação do

interceptador Su-30 (Su-27PU), e seu nome foi definido como Su-30MKK

(Modernizirovannyi Kommercheskiy Kitayski = Modernizado, Comercial, China). Pelo

acordo, a unidade de produção de Komsomolsk-on-Amur (KnAAPO) foi escolhida

como o contratante principal para construir o avião. O contrato de compra de 38

aviões Su-30MKK foi avaliado em US$ 1,85~2 bilhões, e assinado oficialmente em

agosto de 1999.83 Todas as aeronaves foram entregues entre 20 de dezembro de

2000 e o final de 2001.

Figura 20: Su-30MKK chinês expondo algumas de suas armas guiadas de precisão ar-superfície. Da esquerda para a direita: dois mísseis anti-radiação Kh-31P (código da OTAN: Krypton); um míssil de cruzeiro guiado por TV Kh-59ME Ovod; e uma bomba guiada por TV KAB-1500Kr. Além dessas armas, os Su-30MKK retêm toda a capacidade ar-ar do Su-27, com a adição de um radar melhorado N001VEP e mísseis guiados por radar ativo R-77 (http://www.ausairpower.net/KnAAPO-Su-30MKK-5.jpg, acessado em 26 jun. 2011).

83 Su-30MKK Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com , 2009. Su-30MKK/MK2 Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010.

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A PLA-AF ficou tão satisfeita com as aeronaves que adquiriu mais 38 Su-

30MKK adicionais em julho de 2001, por US$1,5 bilhões, totalizando 76 aviões do

modelo ao todo.84 Todos foram entregues à 18ª Divisão da PLA-AF, estacionada na

Base Aérea de Changsha. Seu desempenho na Força Aérea interessou a Aviação

da Marinha Chinesa (PLA-NAF), tanto que, em janeiro de 2003, ela adquiriu por no

mínimo 1 bilhão de dólares 24 caças Su-30MK2, uma versão mais avançada do

MKK original. Ele dispõe de um radar N001VEP melhorado, capaz de disparar os

mísseis anti-navio Kh-31A e Kh-59MK atacando dois alvos simultaneamente. Todos

foram entregues à China em agosto de 2004.

Mais avançados e poderosos do que os JH-7 de fabricação nacional operados

pela Marinha Chinesa, os Su-30MKK foram os primeiros caças-bombardeiros

operados pela PLA-AF capazes de transportar uma ampla gama de munições

guiadas de precisão ar-superfície russas, incluindo mísseis guiados por TV (Kh-29D

e Kh-59ME), mísseis anti-radiação (Kh-31P) e bombas guiadas por TV (KAB-500KR

e KAB-1500KR). Além disso, ele também podia transportar pods de guerra

eletrônica Gardenya/Sorbtsiya nas pontas das asas, bem como o pod eletro-ótico

Sapsan-E EO (que combina câmara de televisão e designador laser) e o pod de

datalink (troca de dados) APK-9, para uso conjunto com até dois mísseis Kh-59ME.

Sua carga bélica máxima é de 8.000 kg, e o alcance pode chegar a até 5.200 km

com reabastecimento em voo, embora a China ainda não disponha de um avião-

tanque apropriado (como p. ex. o Il-78 russo). A aeronave possui cockpit com

monitores de TRC (tubo de raios catódicos), um radar de controle de fogo N001VE

(100 km de alcance contra caças, capaz de engajar dois destes simultaneamente,

além de vários modos ar-superfície) que pode utilizar o míssil ar-ar guiado por radar

ativo R-77E. O Su-30MKK pode ser usado como um mini-posto de comando aéreo,

capaz de direcionar até 16 outras aeronaves do mesmo tipo via datalink (troca de

dados), a fim de engajar aviões inimigos. Ao contrário dos Su-30MKI indianos, os

“MKK” chineses não possuem canards (superfícies de controle) frontais, nem

motores com vetoração de empuxo ou radares com varredura eletrônica, mas

justamente por serem mais simples puderam ser entregues dois anos e meio mais

cedo, e completos. Essa aeronave deu à PLA-AF um poderoso caça-bombardeiro,

84 GORDON, 2007, p. 564.

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na mesma classe do F-15E dos EUA, e capaz de afetar o equilíbrio militar local.

Atualmente, os primeiros 19 Su-30MKKs estão baseados na Base Aérea de Wuhu,

no Sudeste da China e ao alcance de Taiwan e do Mar do Sul da China, enquanto

os outros 19 estão destacados no Centro de Treinamento e Testes de Voo da PLA-

AF.

Em maio de 2002, os pilotos de Su-30MKK da PLA-AF começaram a praticar

o lançamento de mísseis ar-superfície de médio alcance Kh-59ME Ovod. Em pouco

tempo eles dominaram o uso do míssil ar-superfície Kh-29TE, do míssil anti-radiação

Kh-31P, da bomba guiada de precisão KAB-500Kr, e do míssil ar-ar de médio

alcance guiado por radar ativo R-77E.

3.6 SU-27 PRODUZIDO SOB LICENÇA, O J-11

Em 1995, após receber 48 caças Su-27SK, a China expressou interesse em

adquirir a licença para co-produção desse monoposto. Em 06 de dezembro de 1996,

a então organização de vendas militares russa Rosvo'oruzheniye (hoje

Rosoboronexport) e a Shenyang Aircraft Corporation (SAC) assinaram um contrato

no valor de US$ 2,2~2,7 bilhões para a co-produção de 200 caças Su-27SK, sob a

designação local J-11 (Fig. 21).85 Sob os termos do acordo, a Rússia supriria

inicialmente 95 (ou 105 – as fontes variam sobre o número exato de kits do primeiro

e segundo lotes), e depois 105 kits de peças para a montagem local dos caças Su-

27, sendo 200 ao todo. Os chineses ficavam proibidos de reexportá-los para outros

países. A produção doméstica dos Su-27SKs deveria prosseguir com assistência do

lado russo, através de transferência tecnológica. O acordo especificava

85 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard . Online, 22 abr. 2008. Disponível em: <http://www.business-standard.com/india/storypage.php?tp=on&autono=36059>. Acesso em: 24 abr. 2011. AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24. International News. Online, 18 mai. 2008. Disponível em: <http://observers.france24.com/en/content/20080519-counterfeit-fighter-planes-russia-china>. Acesso em: 21 jul. 2010. BARRIE, Douglas. Chinese J-11B Presages Quiet Military Revolution. In: Aviation Week . Online, 5 nov. 2006. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/generic/story_generic.jsp?channel=awst&id=news/aw110606p2.xml>. Acesso em: 20 abr. 2010. GORDON e KOMISSAROV, 2008, p. 84.

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explicitamente as áreas específicas de transferência tecnológica, e o cronograma

correspondente.86 No decorrer da montagem dos 200 Su-27SKs planejados, todos

os componentes principais, incluindo motores, sistemas de radar, aviônicos e armas

seriam supridos por companhias russas, sem qualquer transferência tecnológica,

enquanto as demais partes do avião (como a fuselagem, sistema de força etc.)

seriam de responsabilidade chinesa e com repasse de tecnologia. Os kits para as

primeiras 60 aeronaves eram fechados, compostos unicamente por peças russas;

entretanto, o conteúdo sínico nos caças montados seria crescente durante toda a

produção, podendo chegar até aos 70% nas últimas aeronaves.87 A Rússia licenciou

a co-produção dos Su-27 para a SAC, que poderia produzir de quinze a vinte deles

por ano. Em junho de 1997 os chineses receberam o conjunto total dos esquemas

de fabricação e outros documentos associados à licença de produção.

Figura 21: um exemplar de J-11, Su-27SK fabricado sob licença na China (http://cnair.top81.cn/fighter/J-11-50.jpg, acessado em 28 jun. 2011).

Os dois primeiros caças construídos na fábrica da Shenyang ficaram prontos

no final de 1998, e o voo inaugural teve lugar em 16 de dezembro de 1998.88

Entretanto, a manufatura local se revelou sofrível, e os dois exemplares

apresentaram vários problemas de controle de qualidade, ao ponto de técnicos

86 CHENG, Andrei. Russia upset by China’s imitation fighter. In: UPI Asia . Online, 25 abr. 2008. Disponível em: <http://www.upiasia.com/Security/2008/04/25/russia_upset_by_chinas_imitation_fighter/5808/ >. Acesso em: 09 mar. 2011. 87 DONALD, David. Pair of Chinese fighter planes form PLAAF’s high-low mix. In: Aviation International News . Online: Cingapura, fev. 2008. Disponível em: <http://www.ainonline.com/airshow-convention-news/singapore-air-show/single-publication-story/article/pair-of-chinese-fighter-planes-form-plaafs-high-low-mix/?no_cache=1>. Acesso em: 09 mar. 2011. Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010. 88 Su-27SK. Historical background. In: Sukhoi Company (JSC) , 2011.

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russos terem de reconstruir estes dois aviões.89 Tais problemas de manufatura

atrasaram a produção em massa dos J-11 até o ano de 2000. De 1998 a 2004, os

chineses gastaram seis anos aperfeiçoando seus procedimentos na construção dos

caças.90 De 2000 em diante, a produção anual dos J-11 na fábrica da Shenyang

ficou em torno de 15 a 20 aeronaves. Ao final de 2004, a China já tinha recebido

todos os kits de componentes para as 95 aeronaves da primeira parte do acordo,

tendo montado e entregue à PLA-AF de 60 a 95 caças.91 A importância deste acordo

é que, através da produção licenciada do Su-27SK, a China adquiriu o conhecimento

da fabricação de caças de quarta geração.92 Entretanto, o contrato cobrindo a

entrega de mais 105 kits adicionais ainda estava pendente.

3.7 SINIZAÇÃO PROGRESSIVA: J-11A

Os J-11 produzidos em lotes subseqüentes receberam maior conteúdo

chinês, e foram melhorados com assistência russa. A nova variante foi designada J-

11A, e voou pela primeira vez em dezembro de 1999.93 O J-11A possui dois

mostradores multifunção coloridos no cockpit, substituindo o único mostrador

monocromático do J-11 original, que apresentava apenas informações de radar. Um

destes serve como visor de mapa móvel digital, combinado com GPS, enquanto o

outro é dedicado às informações de combate. Essas aeronaves também adquiriram

a capacidade de disparar novas armas, o míssil ar-ar guiado por radar semi-ativo R-

27RE1, com um alcance estendido de até 66 km, e o míssil guiado por radar ativo R-

77E. Isso sugere que ele seja equipado com um radar N001VE, o mesmo dos Su-

27UBK de terceiro lote.94

89 GORDON e KOMISSAROV, 2008, p. 105. 90 JANUARY 28, 2005. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 jan. 2005. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20050128.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. 91 DONALD, 2008. 92 BARRIE, 2006. 93 Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation, 2010. 94 Pois há fotos de R-77Es no arsenal do J-11A. Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2011.

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4 CAPÍTULO III – SU-27 “MADE IN CHINA”, O J-11B

Figura 22: tomada inferior de um J-11B de série. No pilone da asa esquerda há um míssil ar-ar de curto alcance guiado por IR, o PL-8. Os J-11B operacionais podem ser diferenciados dos demais Su-27SK/J-11 em serviço na PLA-AF por seu esquema de camuflagem particular: azul-acinzentado escuro na parte superior, cinza claro na parte inferior, e em especial o radome completamente negro (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-PLAAF-2S.jpg, acessado em 31 jul. 2011).

Neste capítulo, falaremos sobre o J-11B (Fig. 22), versão chinesa do caça de

superioridade aérea Su-27, comprado da Rússia e fabricado sob licença com a

designação local J-11, conforme visto no capítulo passado. Aqui, faremos uma das

primeiras cronologias sobre o J-11B. Como dito na introdução, não é raro encontrar

trabalhos em história da aviação cujos objetos são temporalmente muito próximos,

dadas as particularidades deste ramo da história. Tal é o nosso caso. O J-11B é

inédito na historiografia nacional e estrangeira, dada sua contemporaneidade (data

do início desta década, e a primeira compra chinesa de Su-27 foi a vinte anos atrás).

Estaremos, dessa forma, escrevendo uma das primeiras cronologias dessa moderna

máquina de combate e, como tal, expostos aos riscos próprios do pioneirismo na

historiografia.

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Além disso, o J-11B exigirá uma aproximação diferente no que tange à

discussão bibliográfica. Da parte de historiadores, ela inexiste; somos forçados,

assim, a procurar trabalhos de jornalistas, além dos de pesquisadores e de

especialistas em outras áreas nos quais nos basearemos. As referências de que

dispomos sobre o J-11B são de autoria de jornalistas e de analistas de defesa. O

principal sítio que usamos foi o Strategypage. Trata-se de um dos cinco melhores

sítios de informação militar da internet, que publica mais de 100.000 palavras de

comentários e análises a cada mês, assim como revisões, imagens e vídeos. É

famoso por deixar claro seu posicionamento em certos temas delicados, como a

Guerra ao Terror. Possui fontes referendadas, e versa sobre uma ampla gama de

assuntos, desde problemas em logística militar até os últimos movimentos da Al

Qaeda.

Utilizamos notícias de vários sítios de agências de informação internacionais,

tais como as já citadas RIA Novosti e Pravda (muito enviesadas), além de The

Observer, RT News, Business Standard, Bernama.com, Global Times, Chinadaily.

Utilizamos ainda os sítios especializados em notícias de defesa e aviação, tais como

Jane’s, Defence News e Aviation Week, de reconhecida credibilidade. Para estimar

o número de J-11B operacionais, foi essencial recorrer ao sítio Scramble on the

Web. É a página online de uma revista de aviação holandesa, referência

internacional que contém, dentre outras coisas, o inventário das diversas forças

aéreas mundo afora. Ela nos foi sobremaneira útil para determinar quais unidades

da PLA-AF e PLA-NAF utilizam o J-11B e suas variantes, e para estimar o número

de aeronaves já entregues para estas armas.

Foram importantes também alguns trabalhos de Kopp. O principal está em

seu sítio Air Power Australia. Ele possui uma página inteiramente dedicada ao avião

chinês, intitulada Shenyang J-11B Flanker B+.95 Trata-se de uma descrição bem

sumária do caça. Dele, outro material de interesse foi uma matéria originalmente

publicada na revista australiana Defence Today. Seu título é Chinese stealth and

95 KOPP, Carlo. Shenyang J-11B Flanker B+. In: Air Power Australia. Online, set. 2009. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/APA-SinoFlanker.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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other fighters; nela constam três parágrafos descrevendo trajetória e sistemas do J-

11B.96

Foram utilizados vários papers de Fisher, todos disponíveis no sítio

International Strategy and Assessment Center, nos quais aparecem informações

sobre o desenvolvimento do J-11B. Eles são convenientemente citados conforme a

ocasião

Por último, foi sobremaneira interessante ter acesso, em blogs, a materiais

publicados por entusiastas da PLA, alguns dos quais de circulação restrita à China,

como reportagens do canal de TV militar chinês CCTV.

4.1 O INTERESSE CHINÊS EM UMA VERSÃO LOCAL DO SU-27

Desde 2002 a SAC demonstrara publicamente seu interesse em construir

uma variante multimissão do J-11, ao revelar uma maquete (Fig. 23) do caça

equipada com mísseis ar-ar e anti-navio nacionais.97 Enquanto a produção do J-11

corria, a Shenyang começou os trabalhos nessa versão mais avançada, que viria

mais tarde a culminar no J-11B.98 No MAKS-200399, uma fonte russa confirmou a

Fisher que a SAC desejava uma variante multimissão do J-11 com grande

quantidade de componentes chineses, como radar, aviônicos e motor nacionais,

mas ela pensava que, apesar dos chineses serem capazes disso, estes levariam

dez anos para fabricar uma tal versão.100 Segundo a fonte, o principal objetivo do

programa era criar um caça polivalente, capaz de cumprir múltiplas tarefas, tais

como defesa aérea ou bombardeio de precisão – algo de que o Su-27SK não é

96 KOPP, Carlo. Chinese stealth and other fighters. In: Air Power Australia. Online, 2011. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/DT-PLA-Fighters-March-2011.pdf>. Acesso em: 24 out. 2011. 97 SUDAKOV, Dmitry. Russia infuriated with Chinese export copies of Su-27 jet fighters. In: Pravda RU . Online, 22 abr. 2008. Disponível em: <http://english.pravda.ru/russia/economics/22-04-2008/104975-russia_china-0>. Acesso em: 21 jul. 2010. 98 DONALD, 2008. 99 Salão aeronáutico internacional, realizado bienalmente na cidade de Moscou, em anos ímpares. 100 FISHER, Richard D. Jr. New developments in Russia-China military relations: a report on the August 19-23 2003 Moscow Aerospace Salon (MAKS). United States-China Economic and Security Review Comi ssion. Research and Reports. Online, 7 out. 2003. Disponível em: <http://www.uscc.gov/researchpapers/2000_2003/reports/mair1.htm>. Acesso em: 24 abr. 2010.

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capaz. A fonte também estimava que, findo esse prazo, os chineses começariam a

vender sua versão nacional do Su-27 no mercado externo. Entretanto, já no MAKS-

2005 ela teve de reduzir a estimativa para apenas cinco anos, dada a rapidez

chinesa em absorver a tecnologia do caça.101

Figura 23: acima, a maquete de uma então indeterminada e futura versão do J-11, exposto na sede da Shenyang Aircraft Corporation em 2002. Nela podem ser vistos mísseis ar-ar, anti-radiação e anti-navio chineses, indícios de que a SAC pretendia desenvolver uma variante multimissão nacional do J-11, que mais tarde culminaria no J-11B (http://www.strategycenter.net/imgLib/20060503_04.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

4.2 OS CHINESES QUEBRAM O CONTRATO DE PRODUÇÃO DO J-11

De acordo com Fisher, desde o ano 2000 alguns oficiais da SAC disseram

que nem todos os 200 J-11s seriam construídos.102 Em 2004, essas intenções

finalmente se cumpriram. Em Novembro desse ano, a mídia russa noticiou que a

linha de produção chinesa dos J-11 havia cessado, após a construção de apenas

95~105 exemplares, cerca de metade dos 200 J-11 originalmente acordados

segundo o contrato firmado por ambas as partes em dezembro de 1996. De acordo

com a notícia, a companhia chinesa havia pedido para que a Sukhoi parasse de 101 FISHER, Richard D. Jr. Chinese Dimensions of the 2005 Moscow Aerospace Show. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 12 set. 2005. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.78/pub_detail.asp>. Acesso em: 21 jul. 2010. 102 FISHER, 2010.

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entregar os kits de construção, sem muitas explicações. Cheng afirma que, mais ou

menos ao mesmo tempo, ocorreram uma série de incidentes envolvendo cidadãos

chineses tentando adquirir peças e diagramas de produção do Su-27SK

ilegalmente.103 Eles foram pegos no extremo leste da Rússia pelo serviço de contra-

espionagem, de acordo com uma fonte russa. Segundo uma fonte dentro da PLA-

AF, a variante básica do Su-27SK/J-11 não atendia mais os interesses da Força,

pois as capacidades de combate do caça eram muito limitadas; os chineses listaram

uma série de falhas no projeto.104 Nas palavras deles, o J-11 era tecnologia russa

“obsoleta”. Disseram também que ações futuras só seriam tomadas após a análise

da experiência de produção desses caças.105

Para Chang, desde o início do contrato de produção licenciada, os russos

notaram que as práticas chinesas eram muito diferentes daquelas da Índia, com a

qual eles também estavam conduzindo transferências de tecnologia militar (em

particular a do caça multimissão Su-30MKI, montado na Índia pela empresa

Hindustan Aeronautics Limited - HAL). Em primeiro lugar, os chineses eram muito

sensíveis no trato, e nutriam uma profunda desconfiança por seus parceiros russos.

Eles não permitiam que estes visitassem as linhas de montagem do J-11.106

103 CHANG, 2008a. 104 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24. International News. Online, 18 mai. 2008. Disponível em: <http://observers.france24.com/en/content/20080519-counterfeit-fighter-planes-russia-china>. Acesso em: 21 jul. 2010. CHINESE version of Russian jet endangers bilateral relations. In: RT – Latest News. Online, 20 abr. 2010. Disponível em: <http://rt.com/Top_News/2010-04-20/russian-arms-copycat-china.html>. Acesso em: 24 abr. 2010. 105 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard , 2008. 106 CHANG, ibid.

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Figura 24: acima, uma bela tomada inferior de um protótipo do J-11B decolando, provavelmente o número 525. Notar como o trem de pouso traseiro retrai para uma posição semi-alojada nas raízes das asas. Ele exibe dois mísseis ar-ar PL-12, com guiagem por radar ativo e fabricados pela companhia chinesa Luoyang, montados nos dois cabides do túnel central da fuselagem. O J-11B forneceu à PLA-AF uma plataforma indígena que ela poderia equipar com armamentos nacionais (como os referidos mísseis), livres de dependência russa (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-PLAAF-1S.jpg, acessado em 30 jul. 2011).

O SinoDefense afirma que várias razões podem ter contribuído para

interromper a produção do J-11.107 Primeiro, o acordo de co-produção não incluía a

transferência da tecnologia do motor e aviônicos, e os J-11 construídos na China

continuariam dependentes das peças fabricadas na Rússia para esses sistemas.

Segundo, o sistema de controle de fogo russo no J-11 não é compatível com os

mísseis chineses. Resultado: a PLA-AF teria de continuar importando da Rússia os

R-27 (AA-10) e R-73 (AA-11) para equipar seus J-11, em vez de usar armas

nacionais (como o míssil ar-ar PL-12 – Fig. 24). Terceiro, como um caça de

superioridade aérea dedicado, o Su-27SK/J-11 só poderia efetuar missões de

ataque secundárias usando bombas “burras”, incluindo bombas de queda livre e

foguetes não-guiados.

Mesmo antes da quebra de contrato, os russos já tinham conhecimento das

reclamações chinesas. Já se noticiou que a Sukhoi havia concordado com um

programa de atualização dos J-11 na frota chinesa, alegadamente em 2001, com

melhores radares e aviônicos; mas isso é difícil de confirmar.108 A Sukhoi Company

107 JIAN-11 Multirole Fighter Aircraft. In: SinoDefence.com. , 2011. 108 SUDAKOV, 2008.

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promoveu ativamente seu Su-27SKM (Fig. 25 e 26) para a China em 2003. O Su-

27SKM é uma variante multimissão modernizada do Su-27SK, com um radar de

controle de tiro Zhuk-27 melhorado (ou o N001VEP em sua última versão), e um

cockpit com visores multifuncionais semelhante ao do Su-30MK, e sairiam novos de

fábrica. Porém, a oferta foi rejeitada pela PLA-AF em favor de uma variante local do

J-11, o J-11B.

Figuras 25 e 26: à esquerda, um exemplar de Su-27SKM exibindo seu armamento multimissão, incluindo mísseis ar-terra e anti-radiação. À direita: o cockpit digital do SKM, com disposição simétrica, dominando por dois grandes visores multifunção nas laterais, e um terceiro menor no centro. Essa variante multitarefa do Su-27SK foi ativamente oferecida pela Sukhoi à China, como solução às reclamações deste país contra as deficiências do Su-27SK, principalmente a falta de munições guiadas de precisão (PGMs, sigla em inglês) para atacar alvos em solo. Essa proposta russa foi descartada pelos chineses em prol de uma solução nacional, justamente o J-11B (http://ndyteen.com/wp-content/uploads/2010/09/su27skm_1.jpg; http://www.knaapo.ru/media/rus/gallery/aircrafts/combat/su-27skm/su-27skm_08_small.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

4.3 DESENVOLVIMENTO DO J-11B

Há duas datas disponíveis para marcar o início do desenvolvimento do caça:

a primeira é 1998, ano do primeiro J-11 entregue à PLA-AF; e a segunda é o ano de

2000, no qual a SAC dissera que não construiria todas as 200 aeronaves acordadas.

Inclinamo-nos por esta última. O projeto do J-11B contou com quatro protótipos de

ensaios: três deles (de números #523, #524 e #525) voavam, enquanto o restante

(de número desconhecido) foi usado para testes estáticos em solo (Fig. 27). Eles

ficaram prontos em 2003, e o primeiro vôo de um deles ocorreu no mesmo ano,

Su-27SK/J-11/11A Flanker. In: Chinese Military Aviation , 2010.

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usando motores importados AL-31F.109 Na época, fontes russas tomaram

conhecimento disso.110

Figura 27: acima, o protótipo estático do J-11B, usado para testes estruturais em solo (http://cdn-www.airliners.net/aviation-photos/photos/6/5/9/1500956.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

Em 2005, começaram a surgir no Ocidente as primeiras notícias de que uma

versão local do J-11 estaria sendo desenvolvida.111 Em 2006, os três protótipos

voadores já haviam sido entregues ao CFTE (China Flight Test Establishment) para

testes e avaliações, cada um com configurações diferentes para testar subsistemas

individuais (radar, aviônicos, etc.) a fim de acelerar o desenvolvimento. Este ano foi

um período crítico de testes para o caça, com os sistemas de propulsão, radar e

armas sob integração; também começaram a circular as primeiras fotos (não muito

nítidas) dele na internet (Fig. 28 e 29).112

109 CHANG, 2008. 110 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2008. 111 JANUARY 28, 2005. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 jan. 2005. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20050128.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. 112 BARRIE, 2006.

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Figuras 28 e 29: acima, duas das primeiras imagens de protótipos do J-11B, que começaram a circular na internet chinesa em 2006. Apesar de pouco nítidas, nelas são claramente discrimináveis algumas características dos protótipos desse caça, como a cor amarelada do metal sem pintura, e o radome negro (http://www.china-defense.com/smf/index.php?action=dlattach;topic=18.0;attach=6992;image; http://img476.imageshack.us/img476/9067/6182kk4.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

Até aquele momento, todos os protótipos usavam motores russos AL-31F

(Fig. 30), pois o motor nacional, o WS-10 Taihang, ainda não estava pronto. Só a

partir de 2006 ele começou a ser integrado no caça, mas não entraria em operação

antes de 2010.

Figura 30: popa do protótipo número 524 sob testes de voo. Uma característica exclusiva dos J-11B chineses, dentre todas as variantes do Su-27, são os painéis dielétricos montados no ferrão da cauda entre os motores (discrimináveis por sua cor mais clara). Os turbofans russos AL-31F também podem ser discrimináveis na imagem, graças aos seus bocais escurecidos. Repetidos problemas técnicos na produção do motor chinês WS-10 Taihang atrasaram em três anos a entrada em operação deste na frota de J-11B. Até o início de 2010, essas caças ficaram dependentes dos motores estrangeiros (http://i988.photobucket.com/albums/af8/My-Military-Photos/PRC/Air/J-11B/J11B_Prototype_4.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

Na mesma época, durante o Zhuhai Air Show113 2006, um cartaz de uma

versão não-identificada do J-11 (Fig. 31) fora exposto no evento: nele constava que

o caça apresentava 80% de peças fabricadas nacionalmente. Em maio de 2007 o

governo chinês por fim reconheceu publicamente a existência do J-11B; imagens

promocionais de seus protótipos e pilotos circularam na internet.114

113 Salão aeronáutico internacional, realizado bienalmente na cidade chinesa de Zhuhai, em anos pares. 114 CHINA Creates Pirate Copy of Russia’s Su-33 Deck-Based Fighter Jet. In: Pravda.Ru: Russia news and analysis. Disponível em: <http://english.pravda.ru/world/asia/04-06-2010/113664-china_pirate-0>. Acesso em: 27 jul. 2010.

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Figura 31: cartaz promocional exposto no Zhuhai Air Show de 2006. Nele eram mostrados vários sistemas de uma variante do J-11 indeterminada que já haviam sido nacionalizados pelos chineses até então, como o sistema de radar e o cockpit (cabine) digital. Também podiam ser vistos os que ainda precisavam ser importados da Rússia, como as armas (os mísseis R-27 e R-73 suspensos nas asas e na fuselagem) e os motores (os turbofans AL-31F). Quatro anos depois, no início de 2010, todos os sistemas embarcados e armas deste avião, um ano mais tarde oficialmente reconhecido como “J-11B”, foram completamente nacionalizados, com destaque para o motor. Dessa forma, a China adquiriu completa independência na fabricação de sua versão local do Su-27 (http://www.ausairpower.net/J-11B-Flanker-B-Systems-1.jpg, acessado em 22 out. 2011).

4.4 A POLÊMICA COM A RÚSSIA – “O J-11B É UMA CÓPIA DO SU-27SK”

Segundo a Strategypage, da década de 1990 em diante os chineses

compraram bilhões em armas do complexo industrial-militar da Rússia.115 Mas estes

também começaram a replicar muita tecnologia russa, enquanto desenvolviam a sua

própria. Na época, as capacidades de produção chinesa eram tão atrasadas que a

Rússia pensava que sua liderança não seria ameaçada a curto ou médio prazo. Mas

com os investimentos militares russos escassos nas últimas duas décadas, e o

“milagre” econômico chinês a pleno vapor (com taxas de crescimento de mais de

10% ao ano), os russos infelizmente tiveram de admitir que seus “parceiros”

estavam-nos alcançando.

115 CHINA Masters Modern Weapons Technology. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 28 set. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htproc/articles/20100928.aspx>. Acesso em: 03 jan. 2011.

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Na década de 2000, a China se tornou rapidamente um grande fabricante e

desenvolvedor de armas modernas. A Rússia involuntariamente supriu grande parte

da tecnologia que os chineses precisavam para isso. Grande parte desta foi

apropriada por meios ilícitos, e agora a Rússia não vende muita coisa para a China.

Em resposta, a mídia russa controlada pelo Estado começou a liberar uma série de

matérias depreciando o baixo desempenho da indústria bélica chinesa, e o quão mal

eles haviam copiado a tecnologia militar russa.

No início de 2008, o barulho da imprensa russa sobre o J-11B foi grande.116

Em abril de 2008, a Rússia ameaçou processar a China por copiar seus caças Su-

27SK e fazer produção pirata para o Paquistão e outros países do Terceiro Mundo a

preços muitos mais baixos.117 Esse foi o item seguinte numa série de problemas

comerciais entre os dois países, logo após dificuldades sobre um acordo de compra

dos Il-76.118 Os russos disseram que a produção do J-11B viola os termos do

contrato original de co-produção, firmado por ambos os países em 1996. Era

discurso geral russo afirmar que o J-11B é basicamente um desenho deles com

eletrônicos chineses.119 Eles temiam que estes vendessem as “cópias” Made in

China mais baratas no mercado internacional, prejudicando os originais russos.

Há uma acirrada contenda internacional a respeito: o J-11B é uma

cópia do Su-27SK ou não? Existem três posicionamentos básicos sobre isso. O

primeiro é o dos russos, que consiste em detratar o caça chinês como sendo uma

réplica exata de seu original, simples “cópia carbono” do mesmo, ou no mínimo algo

bem próximo. Basta conferir o que o pessoal e as publicações de agências

noticiosas (notadamente as do RIA Novosti e do Pravda.ru) russas dizem sobre o J-

11B, constantes em nossa bibliografia. Alguns dos títulos são auto-explicativos:

“China copia caça russo obsoleto”120; “J-11B chinês é cópia do Su-27SK, dizem

116 KRAMNIK, 2008. 117 RUSSIA may sue China over pirated fighter. In: Business Standard , 2008. CHENG, 2008a. SUDAKOV, 2008. 118 CHENG, idem. 119 CHINESE version of Russian jet endangers bilateral relations. In: RT – Latest News, 2010. 120 KRAMNIK, 2010.

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oficiais russos”;121 “China rouba descaradamente tecnologia de caças a jato da

Rússia”.122

A segunda posição é mais moderada e defendida por alguns analistas de

defesa. Segundo Kopp, o J-11B tem sido constantemente descrito pela mídia russa

como uma “cópia carbono” do Su-27SK produzido sob licença pela China.123 Ele

concorda apenas em parte com essa afirmação, ao dizer que a fuselagem e o motor

do J-11B são virtualmente idênticos aos do Su-27SK; já os aviônicos e outros

sistemas do caça sínico seriam de autoria local chinesa, tornando a aeronave

superior em vários aspectos ao Su-27SK e bem próxima dos Su-27SKM russos

atualizados.124 Fisher diz algo parecido, ao afirmar que o J-11B usa vários

componentes do Su-27SK/J-11 junto com outras partes novas de fabricação

chinesa.125

A terceira posição é majoritariamente chinesa. Page assevera que, embora o

J-11B pareça ser quase idêntico ao Su-27SK, a China diz que 90% dele é feito com

conteúdo nacional, incluindo radar e aviônicos chineses mais avançados que os

originais.126 Apenas o motor (o turbofan AL-31F) continuava a ser importado da

Rússia. Entretanto, a partir do segundo lote de produção (janeiro de 2010), os J-11B

passaram a ser equipados com o motor chinês WS-10 Taihang, de acordo com

Zhang Xinguo, vice-presidente da AVIC, que inclui a Shenyang Aircraft Corporation.

Isso elevaria o grau de nacionalidade do avião para 100%. Segundo Zhang, não se

pode afirmar que o caça chinês é simplesmente uma cópia. Ele exemplifica a

situação comparando-a com a dos telefones celulares: apesar de serem todos

parecidos, o conteúdo de cada um deles não pode ser exatamente o mesmo.

Para avaliar qual destas três posições é a mais verossímil, seria necessário

descrever minuciosamente alguns dos sistemas do J-11B, a partir das fontes e

bibliografias disponíveis. Por questão de escopo, não poderemos esmiuçar todos

121 AEROINDIA 2009: Chinese J-11B a copy of the Su-27SK, say russian officials. In: domain-b.com. Online, 14 fev. 2009. Disponível em: <http://www.domain-b.com/defence/general/20090214_chinese_j_11b.html>. Acesso em: 24 out. 2011. 122 BALMASOV, 2010. 123 KOPP, 2011a. 124 Idem. Shenyang J-11B Flanker B+. In: Air Power Australia. Online, set. 2009. Disponível em: <http://www.ausairpower.net/APA-SinoFlanker.html>. Acesso em: 20 abr. 2010. 125 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2010. 126 PAGE, 2010.

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esses detalhes neste trabalho, embora o assunto certamente merecesse essa

apreciação. Concentrar-nos-emos apenas na cronologia de seu desenvolvimento e

sua entrada inicial em operação.

4.5 CHINA E RÚSSIA ACORDAM SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL

O ponto máximo da querela entre os dois países veio em 2009. Após muitos

anos adiando uma declaração oficial, devido às diversas negociações de

armamentos em jogo entre os dois países, a Rússia finalmente se pronunciou. O

diretor-geral da Sukhoi, Mikhail Pogosyan, admitiu publicamente, durante o

AeroIndia 2009, que a China estava a produzir uma versão “pirata” do Su-27SK, o J-

11B, violando acordos de propriedade intelectual.127 Na ocasião, ele revelou que o

assunto foi objeto de discussões de alto nível no final do ano anterior. Em dezembro

de 2008, Pogosyan e o Ministro de Defesa russo, Anatoly Serdyukov, pressionaram

as autoridades chinesas em Pequim, na décima terceira reunião da Comissão Sino-

Russa de Cooperação Técnica e Militar, e teriam conseguido que os chineses

concordassem em frear a cópia ilegal de equipamentos militares russos, de modo a

assegurar a proteção aos direitos autorais. O ponto principal, segundo Pogosyan, é

que esse assunto poderia ser tratado de forma mais precisa e transparente nas

próximas discussões.128 Para Konstantin Makiyenko, dificilmente esse acordo

impedirá que a China continue a copiar armas russas, mas com ele a Rússia terá

mais respaldo ao exigir que a China não exporte suas “cópias” para outros países.129

Naquele momento, esse acordo teria sido necessário para ambas as partes.

O maior receio da Rússia era que a China produzisse versões baratas de

exportação do J-11, desbancando os russos do mercado. Além disso, se o

127 AEROINDIA 2009: Chinese J-11B a copy of the Su-27SK, say russian officials. In: domain-b.com. , 2009. 128 MARTINI, Fernando de. Rússia declara: J-11B é cópia ilegal do Su-27SK. In: Poder Aéreo. Online, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/02/13/russia-declara-j-11b-chines-e-copia-ilegal-do-su-27sk/>. Acesso em: 21 jul. 2010. MINNICK, Wendell. Russia Admits China Illegally Copied Its Fighter. In: DefenseNews . Online, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://www.defensenews.com/story.php?i=3947599>. Acesso em: 21 jul. 2010. 129 ABDULLAEV, Nabi. Russia, China Sign Intellectual Property Agreement. In: DefenseNews . Online, 15 dec. 2009. Disponível em: <http://www.defensenews.com/story.php?i=3864641&c=EUR&s=POL>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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Paquistão comprasse os J-11B de exportação, isso desagradaria a Índia, um

parceiro de longa data da Rússia e que produz localmente outra versão da família

Sukhoi, o Su-30MKI. Já a China, por seu lado, temia que a Rússia cancelasse a

venda de produtos importantes, como os motores AL-31FN que equipam seus caças

J-10.

Segundo Chang, os chineses nunca concordariam com os russos em dizer

que o J-11B é uma cópia.130 Eles dizem que é um produto doméstico independente,

desenvolvido apenas por eles.

Para aumentar sua independência da Rússia na fabricação dos J-11B, a

China reforçara sua cooperação com as indústrias de aviação de Bielorússia e

Ucrânia, a fim de prover a manutenção adequada para seus caças. Uma melhora

nos aviônicos do Su-27SK foi auxiliada por tecnologia vinda da Fábrica No. 558 de

Minsk, enquanto a Fábrica Migremont ucraniana ajudou a China no conserto e

manutenção das fuselagens.

Também segundo Cheng, uma fonte da indústria de aviação chinesa disse

que a SAC sofria de baixa eficiência de produção, ao contrário da Chengdu Aircraft

Company, que recebeu uma série de prêmios nacionais. Essa informação sugere

que os primeiros J-11Bs de produção atenderão exclusivamente a alta demanda da

PLA-AF. A possibilidade de a China exportar essas aeronaves é baixíssima. É isso

que preocupa a Rússia.

4.6 O J-11B ENTRA EM SERVIÇO NA PLA-AF

Em 2007, começou a produção seriada do J-11B, na fábrica da Shenyang. A

partir de Dezembro deste mesmo ano, os primeiros J-11B de série (com turbofans

AL-31F) começaram a ser entregues à 1ª Divisão da PLA-AF, baseada na Prefeitura

de Anshan, na Província de Liaoning, e em entraram oficialmente em serviço em

janeiro de 2008. No Zhuhai Air Show de 2008, o índice de nacionalização dele havia

130 CHENG, 2008.

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subido para 90%; apenas os motores continuavam a ser importados da Rússia. Em

janeiro de 2009, uma reportagem de TV exibida no canal CCTV (Fig. 32 e 33)

mostraram caças J-11B operando em serviço ativo.131

Figuras 32 e 33: acima, excertos de uma reportagem exibida no canal chinês CCTV, sobre os J-11B em serviço na PLA-AF. A matéria em questão data de Janeiro de 2009 (http://sitelife.aviationweek.com/ver1.0/Content/images/store/3/12/a31c4bdf-95d8-4537-ac10-9c4c87bc0cdc.Large.jpg; http://sitelife.aviationweek.com/ver1.0/Content/images/store/14/2/1e116386-2661-4874-b2dc-17c69f8b67cd.Large.jpg, acessado em 28 jul. 2011).

A nacionalização do caça finalmente atingiu os 100% quando, no final de

dezembro de 2009 e janeiro de 2010, começaram a surgir na internet chinesa várias

fotos de J-11B em serviço ativo equipados com os turbofans nacionais WS-10

Taihang (Fig. 34). Estes motores haviam passado por um longo processo de

desenvolvimento (que durou mais de duas décadas), e uma vez prontos sofreram

ainda com problemas de qualidade e confiabilidade na produção. Mas naquela

ocasião, esses empecilhos foram finalmente sanados, e os J-11B do segundo lote

em diante, além de suas variantes, passaram a ser equipados com este motor.

Temos então que, desde os primeiros J-11 montados pela SAC em 1998, até a

completa nacionalização do J-11B em 2010, foram necessários 12 anos para os

chineses absorverem a tecnologia e desenvolverem sua versão doméstica do Su-27.

131 BARRIE, Douglas. Home-Grown Produce. In: Aviation Week . Online, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/blogs/defense/index.jsp?plckController=Blog&plckScript=blogScript&plckElementId=blogDest&plckBlogPage=BlogViewPost&plckPostId=Blog%3A27ec4a53-dcc8-42d0-bd3a-01329aef79a7Post%3Abd599c83-a275-4032-963d-b0a863bef37f>. Acesso em: 20 abr. 2010.

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Figura 34: Uma foto de J-11B, jan. 2010. A aeronave em questão está equipada com os motores nacionais WS-10 Taihang. Notar o acabamento dela, testemunha da qualidade na linha de produção da SAC (http://www.ausairpower.net/PLA-AF/Shenyang-J-11B+PL-12+PL-8-2010-1S.jpg, acessado em 31 jul. 2011).

Em julho de 2011, de acordo com dados fornecidos pelo sítio Scramble sobre

a ordem de batalha da PLA-AF132, há vários regimentos da força equipados com os

J-11B e J-11BS (variante biposta do J-11B). Dentre eles, está o já citado 1º

Regimento da 1ª Divisão, que recebeu o primeiro lote de produção de J-11B (ainda

equipados com os AL-31F). Depois dela, o 86º Regimento da 29ª Divisão da PLA-AF

também recebeu o J-11B. Na PLA-NAF, o 22º Regimento da 8ª Divisão recebeu

suas próprias versões do caça ligeiramente modificadas: o J-11BH monoposto e o J-

11BSH biposto. Até o momento, não é possível confirmar se as divisões foram

totalmente convertidas aos novos caças. A partir das últimas fotos de que dispomos,

também temos visto os J-11BS (bipostos) se juntando ao 111º Regimento da 37ª

Divisão e ao 56º Regimento da 19ª Divisão da PLA-AF. No caso da 37ª Divisão,

parece que o 111º Regimento terá seus J-7G substituídos por J-11B. No caso da 19ª

Divisão, os J-11BS parecem estar substituindo os J-11 em serviço por lá. Dessa

forma, nós temos quatro regimentos da PLA-AF e um da PLA-NAF que já foram

convertidos ou estão no meio do processo de conversão para os novos J-11B/BS.

Também temos os J-11BS se juntando a diferentes regimentos da PLA-AF na tarefa

132 ORBAT. Air Force. In: Scramble onf the Web . Online, 2011. Disponível em: <www.scramble.nl/mil/7/china/plaaf-orbat.htm>. Acesso em: 14 out. 2011. ORBAT. Naval Aviation. In: Scramble onf the Web . Online, 2011. Disponível em: <http://www.scramble.nl/mil/7/china/planaf-orbat.htm>. Acesso em: 02 nov. 2011.

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de treinador (em vez de apenas se adicionar a regimentos de J-11B). Levando em

conta que os regimentos de Su-27/J-11 da PLA-AF são tipicamente equipados com

24 aeronaves, dessa forma já temos algo entre 70 e 100 J-11B/BS em serviço após

quatro anos de produção seriada. Esta é uma grande conquista para a SAC, e

também indica que a PLA está muito satisfeita com o desempenho dos novos caças.

4.7 A CONTROVÉRSIA SOBRE OS “PROBLEMAS DE VIBRAÇÃO”

Em 17 de maio de 2010, o sítio Manufacturing.Net noticiou que a PLA-AF

havia recusado 16 caças J-11B devido a problemas técnicos, citando a revista

Kanwa Defense Review, que se baseou numa fonte de inteligência ocidental em

Pequim.133 A revista reproduziu uma afirmação de sua fonte, dizendo que os caças

apresentaram “vibração” excessiva após a decolagem, e por isso foram rejeitados

pela PLA-AF. Assim, ela sugeriu que a SAC havia falhado em empregar a tecnologia

russa (absorvida através de engenharia reversa) adequadamente. A notícia também

afirmou que o J-11B não havia sido escolhido para exibição nas comemorações de

outubro de 2009 por causa de problemas técnicos no caça.

Informações obtidas Global Military contrastam com isso.134 Este afirmou que,

naquele mesmo mês, um número semelhante de J-11BH e J-11BSH foram

entregues à PLA-NAF, que os aceitou e ficou muito satisfeita com os mesmos; isso

pode ser facilmente constatado por imagens disponíveis na internet (Fig. 35).

Além disso, segundo esta última fonte, a revista Aviation Word, pertencente

ao China Aviation industry Group, e o Liberation Army Daily, da China National

Defense News, disseram que os J-11B estavam presentes na comemoração de

Outubro, em número de quatro a nove, ao lado de duas aeronaves de guerra

eletrônica Y-8GX. A presença dos mesmos não teria sido confirmada pelos órgãos

133 CHINESE Military Won't Accept 'Made In China' Fighters. In: Manufacturing.Net . Online, 17 mai. 2010. Disponível em: <http://www.manufacturing.net/article.aspx?id=257074>. Acesso em: 02 jun. 2010. 134 FOREIGN media have concerns that the J-11B stronger overall performance than the F-10. In: Global Military – Global Military News and Reports. Online, 2010. Disponível em: <http://www.global-military.com/foreign-media-have-concerns-that-the-j-11b-stronger-overall-performance-than-the-f-10.html>. Acesso em: 22 jul. 2010.

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oficiais para não enfurecer ainda mais os russos, mas pode ser constatada pelos

observadores do evento.

O Global Military questiona a parcialidade da Kanwa Defense News. Segundo

ele, esta última já teria passado informações com erros grosseiros no passado, a fim

de difamar os chineses e seus produtos, como sendo meramente “cópias” de outros

russos. Conclui afirmando que a credibilidade desta fonte não é comparável à de

outras agências mais sérias, como a Jane’s Defence Weekly, e por isso suas

notícias devem ser encaradas com cautela.

Curiosamente, não pudemos encontrar a notícia original no Kanwa Defence

News; fica-se a imaginar de qual lugar o Manufacturing.net adquiriu esse informe.

Acrescentemos que o sítio em questão nem especializado em notícias militares ou

aeronáuticas é. Essa suposta rejeição da PLA-AF a 16 J-11Bs por causa de

“problemas de vibração” não foi repetida por quaisquer outras agências de

informação mais autorizadas, como a já citada Jane’s. Ela faz pensar que o

fabricante não testa seus produtos antes de entregá-los para seus clientes, algo

absurdo. Não há outras evidências que possam corroborar esse fato. E ainda que os

J-11B não tenham sido exibidos na parada de 2009, há outros motivos plausíveis

para explicar a ausência destes que não “problemas técnicos”: por exemplo, os

chineses talvez não quisessem irritar ainda mais os russos, expondo seu caça

“nacional” numa aparição tão pública.

Figura 35: vários J-11B da PLA-AF, além dos J-11BH e J-11BSH da PLA-NAF, aguardando no pátio da fábrica da SAC, antes de serem entregues para suas respectivas forças. As variantes da PLA-NAF podem ser facilmente distinguíveis por sua tonalidade mais clara (cinza claro na parte superior), ao contrário das da PLA-AF, mais escuras. Essa foto de Maio de 2010 não prova outra coisa senão a satisfação da PLA com suas novas aeronaves. (http://www.china-defense.com/smf/index.php?action=dlattach;topic=18.0;attach=45339;image, acessado em 28 jul. 2011).

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Demonstrando justamente o contrário, no início de maio de 2010, o mês da

“notícia”, a PLA-NAF começou a receber seus primeiros J-11BH e J-11BSH (Fig.

35), prova de que longe de rejeitá-los, as forças armadas chinesas estavam muito

satisfeitas com os mesmos.135 As fotos de Su-27SK sendo retirados de serviço

depois de apenas 18 anos na ativa (Fig. 18 e 19) também sugerem a satisfação

chinesa com seu produto doméstico: em vez de reformar os exemplares de Su-27

importados, eles querem é substituí-los por exemplares da versão nacional.

Fatos recentes apenas corroboram isso. Em agosto de 2011, pela primeira

vez a PLA-AF colocou oficialmente um J-11B em exposição pública (Fig. 36). Trata-

se de um dos exemplares do primeiro lote de produção a entrar em serviço, com o 1º

Regimento de Caças da 1ª Divisão Aérea.136

Figura 36: o primeiro exemplar de J-11B da PLA-AF colocado em exposição pública. Novamente, notar o padrão de camuflagem dos J-11B em serviço na Força: azul-acinzentado escuro na parte superior, cinza claro na parte inferior, e o “nariz” completamente negro. Nos pilones das pontas das asas podem ser vistos os mísseis chineses PL-8, de curto alcance e guiados por infravermelho (http://cnair.top81.cn/gallery/J-11B_30.jpg, acessado em 02 nov. 2011).

135 CHINESE Navy Obtains Illegal Aircraft. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 16 mai. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htnavai/articles/20100516.aspx>. Acesso em: 10 mar. 2011. PARSONS, Ted. Chinese naval J-11s spotted in the open. In: Jane's Defence Weekly . Online, 10 mai. 2010. Disponível em: <http://www.janes.com/news/defence/jdw/jdw100510_2_n.shtml>. Acesso em: 02 jun. 2010. OVERSEAS media: Chinese naval J-11s spotted in the open. In: Global Times . Online, 12 mai. 2010. Disponível em: <http://military.globaltimes.cn/china/2010-05/531084.html>. Acesso em: 02 jun. 2010. 136 J-11B on public display. In: China Defense Blog. Online, 28 ago. 2011. Disponível em: <http://china-defense.blogspot.com/2011/08/ws-10a-taihang-turbofan-powered-j-11b.html>. Acesso em: 26 out. 2011.

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4.8 O J-11B – UM SALTO PARA A CHINA

Segundo Barrie, o J-11B é um símbolo do esforço da China em remodelar

suas capacidades para o século XXI, promovendo uma verdadeira revolução em

seus setores de defesa e aeroespacial.137 Ele afirma que o desenvolvimento do caça

marca uma notável mudança em capacidade – não apenas para elementos-chave

na base da indústria de defesa do país, mas também para a PLA-AF. Os militares

chineses estão mudando o foco da quantidade para a qualidade de seus meios, a

fim de garantir o domínio militar decisivo e a habilidade de projetar poder

regionalmente. Enquanto isso, a natureza da relação entre Pequim e Moscou mudou

subitamente, refletindo a crescente confiança chinesa em suas próprias

capacidades: eles deixaram de ser meros importadores de produtos russos; agora

desenvolvem suas próprias versões locais baseados nos mesmos e vão além.

Para Donald, a PLA-AF está emulando o modelo das Forças Aéreas Russa e

Americana, ao adotar uma combinação de aeronaves de alto e baixo desempenho.

O J-11B e o J-10, respectivamente, dão à PLA-AF essa mistura high-low (caças de

alto e baixo desempenho), semelhante a dos EUA com seus F-15/F-16 e Rússia

com seus Su-27/MiG-29. Isso indica o desejo chinês de transformar sua Força Aérea

de uma Arma baseada em números brutos para uma outra na qual um número muito

menor de aviões pode manter a eficiência através da tecnologia.138

Isso ocorre porque a defesa nacional da China e a modernização de suas

forças armadas são confrontadas por novas situações e tarefas. Dado o novo

cenário geopolítico, que requer operações tanto defensivas quanto ofensivas, a PLA-

AF é incentivada a fortalecer o desenvolvimento de sistemas militares. Na própria

SAC, o J-11B faz parte desse esforço mais amplo, continuando uma tradição do J-8

no projeto de caças nacionais a partir de tecnologia estrangeira. Construindo o J-

11B, os chineses ganharam a capacidade de produzir uma avançada plataforma de

4,5ª geração, superior ao Su-27SK em vários aspectos.

137 BARRIE, 2006. 138 DONALD, 2008.

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Hoje, o domínio chinês da tecnologia de seus Flankers é tão grande, que até

o governo da Malásia, outro operador de Su-30, solicitou o apoio logístico sínico

para realizar a manutenção de seus caças.139 A Indonésia, que também possui Su-

30s em seu inventário, juntou-se ao coro, e solicitou ajuda da China para treinar

seus pilotos desse caça, a fim de economizar dinheiro.140

O investimento total chinês no programa do Su-27 e seus derivados (incluindo

compras de Su-27SK, Su-30MKK/MK2, produção licenciada do J-11, e a

nacionalização do caça com o projeto e aquisição do J-11B e suas variantes) soma

vários bilhões de dólares, gastos desde 1991 até Julho de 2011.

O J-11B serviu ainda para testar alguns dos sistemas (como o HUD) que vão

a bordo do J-20, o caça de 5ª geração chinês.141

4.9 O J-11B E OS ADVERSÁRIOS

Como um caça de superioridade aérea, o J-11B está presentemente

configurado para levar seis PL-12 (míssil ar-ar de médio alcance guiado por radar

ativo) mais quatro PL-8 (míssil ar-ar de curto alcance guiado por infravermelho). A

combinação J-11B + PL-12/PL-8 dá à PLA-AF um plataforma altamente capaz no

combate ar-ar, oferecendo alcance, persistência, e uma substancial carga bélica.

Como presentemente configurado, ele é um adversário considerável para seus rivais

locais, e quando receber as atualizações programadas no curto/médio prazo (tais

como radar no estado da arte, mísseis de 5ª geração, motores com maior empuxo

139 LOW, Vincent. RMAF Seeks China's Logistic Support For Sukhoi Fighters. In: Bernama.com . Online, 06 nov. 2009. Disponível em: <http://www.bernama.com/bernama/v5/newsindex.php?id=452966>. Acesso em: 20 abr. 2010. 140 CHASING Cheap Chinese Imitations. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 29 mai. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20100529.aspx>. Acesso em: 02 jun. 2010. INDONESIA Replaces Its Cold War Antiques. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 02 nov. 2010. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htlead/articles/20101102.aspx>. Acesso em: 03 jan. 2011. CHINA to train Indonesian pilots for Su-family fighters. In: RIA Novosti. Online, 21 mai. 2010. Disponível em: <http://en.rian.ru/mlitary_news/20100521/159101860.html>. Acesso em: 30 jul. 2011. 141 CHINA Promises New, Advanced Fighter. In: Aviation Week . Online, 24 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aviationweek.com/aw/generic/story.jsp?id=news/CHFIGHT112409.xml&headline=China%20Promises%20New,%20Advanced%20Fighter&channel=defense>. Acesso em: 22 jul. 2010.

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etc.), ele poderá enfrentar de igual para igual (chegando até mesmo a superar, em

alguns casos) quase todos os contendentes. Atualmente, ele é páreo para os F-16 e

AIDC Ching Kuo de Taiwan; os F-15J e F-2 do Japão; os F-15K da Coreia do Sul; os

Su-30MK do Vietnã; os Su-27 e MiG-29 da Rússia; e a maioria dos F-15C e F-16C

da USAF. Quando receber boa parte de suas atualizações (ao redor de 2014), ele

será páreo também para os Su-30MKI da Índia; os F-15SG de Singapura; e os F/A-

18E/F da US Navy.142 Todas os caças citados são de 4ª e 4,5ª geração, e estão

mais ou menos no mesmo nível do J-11B. Este só fica em severa desvantagem se

enfrentar os caças stealth (furtivos) de 5ª geração, principalmente o F-22 dos EUA e

o PAK-FA da Rússia. Mesmo assim, há quem diga que muitos caça chineses de 4,5ª

geração podem superar poucos caças de 5ª geração americanos, num hipotético

conflito sobre Taiwan.143

4.10 MODERNIZAÇÃO DO TREINAMENTO DA PLA-AF

Os progressos que a PLA-AF tem feito nas duas últimas décadas não se

restringiram à aquisição de novos vetores e tecnologias, como o J-11B. A Força

também tem desenvolvido novas doutrinas ofensivas e de forças aéreas

combinadas, além de acréscimos no tempo de treinamento e na sofisticação deste,

tudo isso para utilizar com plena capacidade o novo equipamento. A liderança

chinesa também está disposta a usar suas forças aéreas para intimidar o Japão e

Taiwan.144 Veremos a seguir duas inovações no que concerne ao treinamento dos

cadetes: elas apenas exemplificam as mudanças muito profundas que ocorrem na

142 PARSONS, 2010. J-11B. In: China Air and Naval Power. Online, 28 jul. 2008. Disponível em: <http://china-pla.blogspot.com/2008/07/j-11b.html>. Acesso em: 20 abr. 2010. 143 STILLION, John e PERDUE, Scott. Air Combat Past, Present and Future. In: Defence Industry Daily. Online, ago. 2008. Disponível em: <http://www.defenseindustrydaily.com/files/2008_RAND_Pacific_View_Air_Combat_Briefing.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2011. 144 FISHER, Richard D. Jr. China’s Emerging 5th Generation Air-to-Air Missiles. In: International Assessment and Strategy Center. Online, 2 fev. 2008. Disponível em: <http://www.strategycenter.net/research/pubID.181/pub_detail.asp>. Acessado em: 20 abr. 2010. THE AIR War Over Pacific Islands. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 10 mai. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20110510.aspx>. Acesso em: 27 jul. 2011.

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PLA-AF, havendo outras ainda (Fig. 37), e todas no sentido de torná-la mais

competitiva como força de combate do século XXI.

4.10.1 Novo programa de treinamento para pilotos

A China está revendo seu programa para treinamento de pilotos de combate.

O atual sistema se arrasta por dez anos de preparo acadêmico e de voo, enquanto o

novo programa corta esse período para algo entre cinco e sete anos, com um

acréscimo nas horas de voo da ordem de 40%, segundo Wang Yingzhong.145 Isso é

mais parecido com as práticas ocidentais, enquanto o sistema atual é mais próximo

daquele que os russos desenvolveram durante a Guerra Fria.146 Esse novo sistema

põe mais ênfase nos aspirantes a piloto demonstrarem suas habilidades de combate

em voo antes deles se graduarem.

O novo programa surge da necessidade de atualizar os métodos de

treinamento, a fim de preparar os pilotos para dominar aeronaves mais modernas. O

treinamento para estes novos caças tem sido mais intenso do que para os aviões de

gerações anteriores. Além disso, a China também está mantendo exercícios de

treinamento direcionados para combater outros caças modernos, como os operados

por Taiwan, Japão e os EUA. O Strategypage diz que os chineses não fazem disso

segredo, e parecem estar enviando um recado para seus possíveis adversários.

4.10.2 Treinamento dissimilar

Há mais novidades. Desde o início de 2011 se tem notícia de que a PLA-AF

estabeleceu uma unidade de treinamento para simular, com a maior precisão

possível, aeronaves e táticas de combate inimigas, especialmente as americanas e

145 AIR Force trains 3rd-generation pilots. In: Chinadaily. Online, 13 jul. 2011. Disponível em: <http://www.chinadaily.com.cn/china/2011-07/13/content_12897211.htm>. Acesso em: 27 jul. 2011. 146 CHINA Combat Pilot Training Upgraded. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 24 jul. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htairfo/articles/20110724.aspx>. Acesso em: 27 jul. 2011.

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indianas.147 Esse tipo de treinamento se diferencia por enfatizar o modo como os

pilotos e aeronaves inimigos operam, e por isso se chama “dissimilar”. Os chineses

estão seguindo o exemplo americano, que o utiliza há décadas. A Marinha dos EUA

(US Navy) tem o programa Top Gun desde 1969, enquanto a Força Aérea deste

mesmo país possui a Red Flag desde a década seguinte. Os russos seguiram a

tendência e criaram seu treinamento dissimilar na década de 1980, e os chineses

fizeram o mesmo em 1987.

A novidade agora é que a China estabeleceu unidades de caças

especificamente para essa tarefa. Com este fim, há três esquadrões agressores de

bandeira azul (na China, a cor azul representa as forças inimigas, enquanto a

vermelha são as forças amigas). O primeiro está equipado com Su-30s, para simular

os F-15 americanos ou os Su-30 indianos. O segundo está equipado com o J-10,

semelhante ao F-16. E o terceiro esquadrão possui J-7s, que simulam ameaças

menores, como os vários MiG-21 que a Índia possui.

Essa ação chinesa é muito importante, porque ela demonstra que eles estão

realmente preparando seus pilotos para lutar e derrotar os pilotos Taiwaneses e

possivelmente os americanos também. É com o treinamento dissimilar que isso

pode ser feito, é através dele que se vence a guerra aérea contemporânea.

147 CHINESE Blue-Army Aggressor Squadrons. In: Military News Humor Photos – Strategy Page. Online, 03 fev. 2011. Disponível em: <http://www.strategypage.com/htmw/htcbtsp/articles/20110203.aspx>. Acesso em: 14 fev. 2011.

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Figura 37: dois Su-27UBK chineses voam em formação com um F-4 turco (plano posterior), durante exercícios conjuntos realizados na Turquia. Este é apenas um fato que demonstra o desejo chinês de melhorar o treinamento de seus pilotos de caça (http://www.scramble.nl/mil/7/china/gfx/photos/main-su-27ubk.jpg, acessado em 26 out. 2011).

5 CONCLUSÃO

Esperamos ter conseguido, neste trabalho, traçar uma cronologia do caça

chinês J-11B. Para tanto, no Capítulo I começamos por uma sumária descrição do

avião no qual ele se baseia, o caça russo Su-27, apresentando os principais

aspectos de seu desenvolvimento e características. Adiante, no Capítulo II,

detivemo-nos nas compras sínicas deste caça russo e de suas versões derivadas,

bem como a introdução destes na Força Aérea Chinesa. E por último, alicerçados

nas informações anteriores, fomos capazes de elencar os principais fatos e

acontecimentos que marcaram o projeto, o desenvolvimento e a entrada em

operação do J-11B.

Entretanto, este trabalho definivamente está longe de esgotar o tema. Há

muitos pontos e assuntos sobre o objeto de estudo que podem ser discutidos, os

quais renderiam pesquisas futuras muito relevantes e de interesse nacional. O

primeiro aspecto que não pudemos abordar foi uma resposta às acusações de

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plágio dos russos contra os chineses e seu J-11B. Para tanto, seria necessário

primeiro fazer considerações de cunho jurídico sobre direitos autorais, propriedade

intelectual, plágio e algumas jurisprudências internacionais aplicadas aos

respectivos casos. Teríamos de analisar o histórico das partes envolvidas e discorrer

sobre transferência de tecnologia e produção licenciada. Depois, haveríamos de

descrever em pormenores os sistemas mais importantes de ambos os caças, tais

como fuselagem, motor, radar etc. e então compará-los, para medir o grau de

originalidade ou não do caça sínico. E temos certeza que isso é plenamente

possível, a partir do material levantado em nossa pesquisa. Com este, somos

capazes de descrever, com um grau de detalhes variável, diversos sistema do avião

chinês, incluindo os já citados e outros como controles de voo, equipamentos de

contramedidas, aviônicos, cabine, gerador de oxigênio embarcado, etc.

Alguns sistemas do J-11B mereciam uma atenção muitíssimo maior do que

fomos capazes de dar. O primeiro exemplo é o motor do avião, o WS-10 Taihang.

Conhecendo melhor este turbofan militar de alta potência, o leitor entenderia com

maior profundidade os desafios envolvidos na pesquisa e fabricação dessa

tecnologia de ponta, incluindo os gigantescos esforços e persistência necessários

para alcançar o sucesso – após muitos fracassos – em tal área. Para os chineses,

desenvolver caças de 4ª geração como o J-11B foi, sem sombra de dúvida, tarefa

muito complexa. Mas o desenvolvimento do motor para impulsioná-lo, o WS-10, foi

um desafio tão árduo quanto, ou até mesmo maior que o caça em si.148 A

importância do WS-10 vai muito além de um simples mecanismo. De fato, há mais

países capazes de produzir armas nucleares do que modernos turbofans militares,

tamanha a tecnologia e grau de esforço que demandam seu projeto e fabricação. O

nascimento do WS-10 é um marco chinês, ocupando um espaço em branco latente

na tecnologia de caças nacional, tão importante quanto a explosão de sua primeira

bomba atômica em 1966. A partir dele, os chineses podem, por exemplo, produzir

turbinas modificadas para uso civil.

Outros sistemas do J-11B dignos de maior atenção são suas armas. Segundo

Barrie, o desenvolvimento desse caça marca uma notável mudança em capacidade

– não apenas para a PLA-AF, mas também para elementos-chave da indústria 148 AFTER counterfeit Levi's, counterfeit fighter jets. In: The Observers – France 24, 2008.

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bélica do país.149 Como já dito, os chineses querem levar adiante um amplo

programa de modernização, que envolve aeronaves, pessoal, doutrinas e armas.

Eles querem alterar sua ênfase histórica de “quantidade” e “guerra prolongada”, para

“qualidade” e “guerra-relâmpago”. Os objetivos incluem o poder de efetuar ataques

de precisão em quaisquer condições atmosféricas, e alcançar superioridade aérea.

Ao mesmo tempo, a China quer diminuir sua dependência de sistemas russos

fabricando armas locais com capacidades similares.

Nos últimos anos, os chineses tem imitado as tendências internacionais na

fabricação de armas de precisão. Eles observaram detidamente o sucesso dos EUA

na Guerra do Golfo de 1991, e os conflitos posteriores em Kosovo, no Iraque e no

Afeganistão, e absorveram muito da doutrina e tecnologia empregada nesse tipo de

arma. Os Zhuhai Air Show são particularmente prolíficos em revelar os novos

desenvolvimentos chineses nessa área. A cada edição do evento, aumenta o

número de classes e modelos de armas ofertados, alguns dos quais concorrentes

entre si, como as séries FT e LS de bombas guiadas de precisão, e mísseis ar-ar

como o PL-12 usado pelo J-11B. O Brasil começou recentemente a exportar armas

destes dois gêneros, como o míssil anti-radiação MAR-1 para o Paquistão.150 É de

interesse nacional comparar esses desenvolvimentos locais com os da China, pelas

razões já expostas.

O J-11B é a primeira plataforma chinesa completamente nacional dessa

família de caças de origem soviética e, tal como o Su-27 dá década de 1980, está

dando origem a outras versões derivadas. Como o J-11B foi o nosso foco de estudo,

a única variante dele citada em nosso trabalho foi o treinador de combate J-11BS,

versão biposta do J-11B monoposto, pois tem poucas diferenças em relação ao

primeiro; os modelos J-11BH e J-11BSH da PLA-NAF não possuem discrepâncias

suficientes para serem considerados variantes distintas. Mas há outras versões.

Uma delas é o J-16, caça multimissão biposto com as mesmas capacidades do Su- 149 BARRIE, 2006. 150 MAR-1 da Mectron para o Paquistão. In: Áreamilitar . Online, 13 dez. 2008. Disponível em: <http://www.areamilitar.net/noticias/noticias.aspx?nrnot=708>. Acesso em: 05 nov. 2011. MARTINI, Fernando de. Segundo a Folha, Paquistão quer comprar mísseis MAA-1B da Mectron. In: Poder Aéreo. Online, 09 nov. 2009. Disponível em: <http://www.aereo.jor.br/2009/11/09/segundo-a-folha-paquistao-comprara-maa-1b-da-mectron/>. Acesso em: 05 nov. 2011. MAR-1 Anti-Radiation Missile (Brazil), Air-to-surface missiles - Direct attack. In: Jane’s Air Launched Weapons. Online, 19 jan. 2009. Disponível em: <http://articles.janes.com/articles/Janes-Air-Launched-Weapons/MAR-1-Anti-Radiation-Missile-Brazil.html>. Acesso em: 05 nov. 2011.

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30MKK comprado da Rússia e atualmente sendo desenvolvido a partir do J-11BS.

Espera-se que entre em serviço até 2014. Há rumores de que uma futura variante do

J-16 multimissão também esteja sendo desenvolvida. Ela possuiria inclusive

características stealth (furtividade ao radar) e não entraria em serviço antes de 2016;

mas é difícil confirmar sua existência. Para além destas três versões, o primeiro

caça embarcado chinês, o J-15, possui radar, aviônicos e motores derivados dos em

uso no J-11B.151 Até out. 2011 ele estava em estado de teste, já tendo efetuado

dezenas de pousos e decolagens; sua entrada em serviço é esperada para até

2015, a bordo do primeiro porta-aviões chinês.

Seria muito válido estudar como os chineses foram capazes de, tal como os

desenvolvedores originais, criar toda uma família de aeronaves, com funções e

caraterísticas diferenciadas, a partir de um caça, o J-11B. Certamente devemos

lembrar dos grandes méritos do Escritório de Projetos Sukhoi que, ao projetar o

protótipo T-10S, dotou-o com uma fuselagem espaçosa e altamente modular, capaz

de suportar atualizações e modificações muito profundas, inclusive para dar origem

a aeronaves especializadas, que vão desde caças embarcados, como o Su-27K (Su-

33), até ao bombardeiro tático Su-34, passando pelos caças multimissão Su-30MK.

Isso proporciona à família do Sukhoi Su-27 e seus derivados uma longevidade que é

testemunha de suas excelentes capacidades aeronáuticas. É bem provável que

haverá versões do caça em serviço ativo até 2040 ou mais, dando uma vida

operacional de no mínimo 55 anos, feito invejável na história da aviação.

Outro ponto pendente foi uma comparação mais detida do J-11B com outros

caças rivais pertecentes aos vizinhos da China, tais como os de Taiwan, da Coreia

do Sul e dos EUA. A que fizemos no Capítulo III foi muito genérica, pois não aborda

os detalhes de cada um dos contendentes. Com o material disponível, podem ser

confeccionadas, por exemplo, tabelas comparativas com as principais características

dos aviões em questão, tal como a que fizemos sobre o Su-27 no Capítulo I. Os

primeiros candidatos seriam os F-16 e Mirage 2000, operados por Taiwan, frente

aos J-11B chineses. As comparações seriam fortuitas porque permitem cotejar o

151 J-15 Flying Shark. In: Chinese Military Aviation. Fighters (Cont.). Online, 2011. Última atualização: 14 out. 2011. Disponível em: <http://cnair.top81.cn/J-10_J-11_FC-1.htm>. Acesso em: 05 nov. 2011.

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desempenho de cada um deles frente aos rivais. E poderiam ser extrapoladas

também para comparar o avião sínico com os contendentes do FX-2.

Agora, retornemos à justificativa no início de nosso trabalho. Colocando o

programa FX-2 brasileiro em perspectiva, tiremos lições da experiência chinesa.

Muito resumidamente, se o Brasil souber aproveitar a necessária transferência

tecnológica embutida nele, o país seria capaz, quem sabe, de auferir lucros similares

aos que os chineses puderam alcançar com o programa do Su-27/J-11. É claro que

isso demandaria uma aproximação muito mais séria do governo com os assuntos da

FAB. Bem mais do que isso: para se chegar aos mesmos resultados da China, seria

imprescindível uma política de defesa de Estado, construída em torno de um

consenso nacional, com investimentos a longo prazo e compromentendo vários

mandatos consecutivos. Não se trata de uma simples aquisição de caças: a

quantidade de tecnologia que pode ser absorvida num programa como esses teria

impacto profundo em várias outras áreas de pesquisa e desenvolvimentos nacionais,

inclusive as civis. Para ficarmos apenas em breves exemplos: a tecnologia do

sistema de radar da aeronave vencedora poderia ser absorvida e aplicada em

futuros radares do SIVAM; se desenvolvéssemos em conjunto a fuselagem do avião

(ou ajudássemos a modificá-la), poderíamos aplicar o know-how adquirido em

futuros aviões comerciais da EMBRAER, como de fato aconteceu no programa

AMX.152 Trata-se de um assunto muito vasto e de uma relevância tremenda, a qual

mal pincelamos.

Dessa forma, encerramos este trabalho. Estamos convictos de que, a partir

das cronologias traçadas sobre os caças Su-27 russo e sua versão chinesa, o J-

11B, contribuímos para expandir a história da aviação no Brasil. Cremos ter

auxiliado também, em algum grau, as discussões a respeito de defesa, pesquisa e

desenvolvimento tecnológicos nacionais.

152 O AMX é um avião de ataque leve que foi desenvolvido em conjunto pelo Brasil e pela Itália. Resumidamente, sua principal importância foi permitir à EMBRAER alcançar um novo patamar tecnológico e industrial. Militarmente, teve um sucesso bem modesto.

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