estudo das diretrizes do plano diretor...

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ESTUDO DAS DIRETRIZES DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE CAMETÁ-PA: REFLEXÕES SOBRE A ÁREA CENTRAL DA CIDADE. Miguel Gonçalves Sepêda Filho (Graduado em Geografia, Universidade da Amazônia/UNAMA) Márcia Cristina Santos (Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade do Estado do Pará/UEPA) 1. INTRODUÇÃO Pensar o planejamento e a gestão urbana através da elaboração e implementação do plano diretor municipal em uma cidade ribeirinha amazônica é o nosso objeto de pesquisa. Deste modo, acreditamos que abordar este aspecto é um elemento importante para a concepção de modelos de ordenamento que visem o estabelecimento da função social da cidade. A cidade de Cametá pode ser compreendida enquanto uma cidade tradicional, devido ao seu processo pioneiro de formação e organização do território. Seu surgimento data do séc. XVII, juntamente com os primeiros momentos de colonização. Localiza-se a margem do rio Tocantins, sendo esta dimensão, reveladora, em grande medida, da dinâmica intra-urbana da cidade. Deste modo, confere-se à mesma o caráter de cidade ribeirinha. A referida cidade, portanto, estabelece importante função no espaço regional, devido seu processo de formação histórico-geográfica constituir um importante fator, no tocante a constituição de uma rede urbana no Baixo Tocantins. Tendo em vista o importante papel estabelecido pela cidade no contexto sub- regional e no processo formação do espaço amazônico, justifica-se a escolha da referida cidade para o estudo da organização intraurbana, por meio da análise do plano diretor municipal (PDM). Abordado o interesse em estudar Cametá, prosseguimos, neste momento pela delimitação do objeto de pesquisa, portanto, este estudo propõe uma análise das diretrizes contidas no PDM da cidade de Cametá, com foco na política de ordenamento

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ESTUDO DAS DIRETRIZES DO PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE

CAMETÁ-PA: REFLEXÕES SOBRE A ÁREA CENTRAL DA CIDADE.

Miguel Gonçalves Sepêda Filho

(Graduado em Geografia, Universidade da Amazônia/UNAMA)

Márcia Cristina Santos

(Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade do Estado do Pará/UEPA)

1. INTRODUÇÃO

Pensar o planejamento e a gestão urbana através da elaboração e implementação

do plano diretor municipal em uma cidade ribeirinha amazônica é o nosso objeto de

pesquisa. Deste modo, acreditamos que abordar este aspecto é um elemento importante

para a concepção de modelos de ordenamento que visem o estabelecimento da função

social da cidade.

A cidade de Cametá pode ser compreendida enquanto uma cidade tradicional,

devido ao seu processo pioneiro de formação e organização do território. Seu

surgimento data do séc. XVII, juntamente com os primeiros momentos de colonização.

Localiza-se a margem do rio Tocantins, sendo esta dimensão, reveladora, em grande

medida, da dinâmica intra-urbana da cidade. Deste modo, confere-se à mesma o caráter

de cidade ribeirinha.

A referida cidade, portanto, estabelece importante função no espaço regional,

devido seu processo de formação histórico-geográfica constituir um importante fator, no

tocante a constituição de uma rede urbana no Baixo Tocantins.

Tendo em vista o importante papel estabelecido pela cidade no contexto sub-

regional e no processo formação do espaço amazônico, justifica-se a escolha da referida

cidade para o estudo da organização intraurbana, por meio da análise do plano diretor

municipal (PDM).

Abordado o interesse em estudar Cametá, prosseguimos, neste momento pela

delimitação do objeto de pesquisa, portanto, este estudo propõe uma análise das

diretrizes contidas no PDM da cidade de Cametá, com foco na política de ordenamento

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territorial, busca-se, por meio disto, identificar como está ocorrendo a efetivação das

diretrizes contidas no plano, referente a zona central da cidade, verificando a

necessidade de incorporação de novas propostas para o desenvolvimento ordenado da

cidade

I. Preservação da paisagem urbana histórica;

II. Evitar a saturação do sistema viário e incentivar melhores; condições de

circulação, de forma a garantir acessibilidade a todos;

III. Incentivo ao uso habitacional de interesse social compatível com a

preservação, de forma a aproveitar a infra-estrutura disponível;

IV. Preservar a integridade dos espaços públicos, das áreas verdes e de lazer

existentes.

Tendo identificado as diretrizes destinada à zona central de Cametá, pretende-se

verificar a implementação das mesmas, assim como conferir se há a necessidade em

propor novas diretrizes que vão ao encontro das necessidades da cidade.

É relevante que se entenda que sendo uma cidade que se caracteriza pela forte

relação com as águas, à dimensão ribeirinha de Cametá reflete em boa parte da

organização intraurbana. O rio e a floresta não são apenas fontes de sobrevivência e

espaços de circulação de sua população, mas compõem também boa parte das

representações da cidade a partir de práticas socioculturais de sua população

(TRINDADE JR, 2002), portanto, se faz necessário atentar a existência e

implementação de políticas que vão ao encontro desta realidade.

As características presentes na cidade de Cametá, expressas por práticas

sócioespaciais, a condicionam a estabelecer um importante papel na rede urbana na sub-

região em que se insere, assumindo, portanto, o caráter de intermediadora de relações,

diante das cidades do seu entorno (Baião, Limoeiro do Ajuru, Oeiras do Pará e

Mocajuba), caracterizando-se como importante centro neste espaço regional.

Faz-se necessário mencionar brevemente as dinâmicas históricas estabelecidas

por Cametá, à referida cidade pode ser compreendida como cidade tradicional, tendo em

vista que o seu surgimento data dos primeiros momentos da colonização da Amazônia

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(séc. XVII). Sendo uma cidade que se localiza á margem do rio Tocantins, Cametá se

relaciona fortemente com o rio, portanto, a sua formação enquanto núcleo urbano

ribeirinho acaba por caracterizá-la pelo seu:

Tempo lento e dinamizado por atividades econômicas tradicionais, praticadas

principalmente no seu entorno, mas que, internamente, imprime-lhes dinamismo e

particularidades, tal a relação entre as dimensões do rural e do urbano nelas

existentes (TRINDADE JÚNIOR, 2013, p. 15)

A cidade, desde sua fundação é marcada por uma forte relação com o rio, o que

garantiam a Cametá uma forte influência econômica do espaço regional imediato,

devido a sua boa localização. Nesse sentido para Corrêa (2006, p. 215) “a rede urbana

Amazônica funcionava, em realidade, como um conjunto dendritica mente articulado de

localizações, cujo papel mais significativo era o de viabilizar a extração de um excedente”.

Enquanto algumas cidades da Amazônia vivem certos períodos de aceleração

em sua economia - como é o caso de Marabá e Santarém -, devido a expansão do vetor

rodovia, Cametá, continua a ser uma cidade voltada principalmente pela relação com o

rio, o que faz com que algumas cidades ultrapassem Cametá, a exemplo disto temos

como afirma Corrêa (2006):

É a partir do final do século XIX que Santarém transforma-se na segunda cidade do

Pará, ultrapassando, também, a cidade de Cametá, pouco valorizada pela produção

da borracha e desvalorizada pela perda de importância da cultura de cacau

(CORRÊA, 2006, p. 209).

Mais recentemente, com a forte presença do Estado a partir de investimentos

infra-estruturais e com o discurso desenvolvimentista o espaço amazônico vem sofrendo

intensas transformações em seu processo de formação sócio-espacial. Novas dinâmicas

produzidas pelo capital irão reconfigurar a forma de produção do espaço urbano, pois é

a partir da década de 1960 que ocorre uma nova produção do espaço urbano amazônico,

trazendo transformações na rede urbana, alterando o padrão espacial baseado em

núcleos urbanos ribeirinhos para a criação de núcleos urbanos em terra-firme

(CORRÊA, 2006).

A grande importância antes empreendida por Cametá no cenário amazônico,

agora se limita ao seu espaço regional, onde se configura como pólo regional devido a

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sua importante função em uma rede urbana, desempenhando importantes funções na

região do Baixo Tocantins.

A cidade de Cametá, portanto acaba por se estabelecer enquanto pólo regional,

devido sua importância na distribuição de mercadorias, pela sua posição estratégica no

acesso fluvial, o que constitui uma identidade regional na região do Baixo Tocantins.

Deste modo, “Cametá assuma um papel de cidade intermediadora de relações nos sistema de

cidades, quanto ao oferecimento de serviços e à distribuição de determinadas mercadorias”

(TRINDADE JÚNIOR, 2009).

Ao refletir sobre estes aspectos desenvolveu-se a seguinte questão norteadora, que

contribuirá para dar suporte ao problema de pesquisa, portanto, questiona-se sobre: como está

ocorrendo à efetivação das diretrizes contidas no plano, referente à zona central da

cidade, verificando se há a necessidade de incorporação de novas propostas para o

desenvolvimento sócio-espacial da cidade?

2. OBJETIVO

Tendo, o problema da pesquisa delimitado, podemos prosseguir, com os

objetivos que norteiam a elaboração do trabalho, primeiramente busca-se, enquanto

objetivo central da pesquisa, analisar o PDM - Cametá, com foco na política de

ordenamento territorial, a partir desta análise central, pretende-se analisar as diretrizes

de estruturação urbana e identificar implementação de tais diretrizes, assim como, os

impactos urbanos advindos da falta de implementação das mesmas.

3. METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos, lança-se mão de alguns procedimentos

metodológicos, a saber: a) revisão teórico-conceitual acerca do tema e do objeto de

pesquisa; b) levantamento bibliográfico de natureza histórico-geográfica sobre a cidade

de Cametá; c) pesquisa documental, com o propósito de realizar levantamentos do plano

e análise de dados;d) pesquisa in locus, com o fito de elaborar um relatório fotográfico

que comprove a aplicação ou não das referidas diretrizes.

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O levantamento e a análise documental consistem em etapas importantes na

elaboração do trabalho, pois procura-se reunir conhecimentos técnicos produzidos em

documentos para tratamento analítico de acordo com os objetivos da pesquisa.

Segundo Chizzoti (2006), a pesquisa documental é um método de tratamento e

análise de dados, parte integrante de qualquer pesquisa sistemática que pode preceder

ou acompanhar os trabalhos de campo. Podendo ser um aspecto predominante em

trabalhos que visam a mostrar a situação atual de um assunto.

4. RESULTADOS

4.1. O Processo de elaboração do Plano Diretor do município Cametá e sua

importância para o ordenamento, regulação e controle do espaço urbano.

Com mudanças socioespaciais na realidade urbana brasileira houve a

necessidade de construir instrumentos políticos que promovam o desenvolvimento

ordenado das cidades. Historicamente temos no ano de 1986 a Assembleia Nacional

Constituinte, que promoveu o estabelecimento da Emenda Popular com 130 mil

assinaturas pelo Fórum Nacional da Reforma Urbana. Posteriormente a isto, segue o

momento de formulação da Constituição federal de 1988, em que institui um capítulo

referente a Política Urbana, um dos grandes marcos para o desenvolvimento urbano

do Brasil. No ano de 1989 ocorreu a elaboração do projeto de lei intitulado “Estatuto

da Cidade” que traz consigo diretrizes fundamentais para a organização espacial das

cidades. Instituindo consigo o principal instrumento de planejamento e ordenamento

das cidades, o Plano Diretor Municipal (PDM).

O Plano Diretor para Silva et al. (2013) é um:

Instrumento do governo municipal para a execução da política de desenvolvimento

e de expansão urbana configura a projeção, nos curto, médio e longo prazos, das

mudanças desejáveis e desejadas a serem introduzidas no modelo espacial da

cidade, atendendo a essa política através do manejo de variáveis físicas e

locacionais pertinentes à organização do território, e através da utilização dos

instrumentos de política urbana disponíveis no quadro jurídico vigente (SILVA et

al., 2013, p.20)

Para a nossa inserção na discussão acerca da elaboração do plano diretor

municipal de Cametá, empreende-se um breve entendimento sobre a elaboração do

mesmo. O plano diretor tem em seu processo de construção as seguintes etapas:

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a) Fase preparatória, que se realiza a partir da construção de mapas temáticos e

o plano de ação;

b) Fase de execução do plano consiste na nas leituras técnicas e participativas

com reuniões na comunidade local, para a elaboração das diretrizes do plano;

c) Fase de execução do Projeto de Lei refere-se à consolidação das propostas,

para a construção da minuta e posteriormente, o encaminhamento para a assembleia

legislativa para a sua aprovação.

Cabe evidenciar, que para a elaboração do PDM é necessário que a cidade

cumpra os seguintes requisitos: possuir acima de 20 mil habitantes ou fazer parte de

uma Região Metropolitana; estar em uma área de interesse turístico; sendo

influenciado por empreendimentos com significativo impacto ambiental.

Sendo esclarecidos os seguintes pontos sobre PDM, partiremos para a

discussão sobre o processo de elaboração do plano diretor do município de Cametá.

Para elaboração do mesmo a prefeitura de Cametá, afirmou um convenio com a

Universidade Federal do Pará (UFPA), para ajuda técnica necessária na construção

do referido plano.

Estes pesquisadores produziram no ano de 2006 o diagnostico do Plano Diretor

de Cametá, sendo que a lei referente a consolidação deste (LEI Nº 086) foi aprovada

em 19 de Junho de 2007. As principais diretrizes norteadoras do PDM de Cametá

são:

Art. 1º. Constituem-se em Princípios Fundamentais do Plano Diretor do

Município de Cametá, destinados a formar a base norteadora das ações de gestão

democrática municipal integrada regionalmente:

I. Fazer com que a cidade e a propriedade dentro do município cumpram sua

função social, proporcionando aos cidadãos acesso a direitos e a políticas públicas

voltadas para a promoção de consolidação de uma sociedade mais justa;

II. Incentivar a promoção de associações entre municípios para o

enfrentamento de problemas comuns;

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III. Promover o desenvolvimento sustentável, como forma de garantir o

aperfeiçoamento da gestão;

IV. Potencializar o capital social, promovendo a participação popular no

planejamento e na gestão do município.

A partir da leitura das diretrizes norteadoras do Plano diretor municipal, pode-se

evidenciar a preocupação com a perspectiva social, com vistas ao planejamento e gestão

participativo e o desenvolvimento sustentável.

5.2. RESULTADO PRELIMINARES

A referente pesquisa encontra-se em processo de construção, portanto, esta

versão preliminar do trabalho vem abordar alguns aspectos de resultados já

sistematizados através da pesquisa de campo realizada na cidade de Cametá.

O foco deste estudo, consiste na analise do da subseção I do PDM do capitulo

três (Estruturação Urbana) do Plano Diretor, referindo-se a analise da zona central

(Mapa 1), com o fito de identificar se as seguintes diretrizes, contidas no Art. 15, estão

sendo efetivados na realidade urbana de Cametá.

Segundo Art. 15:

I. Preservação da paisagem urbana histórica;

II. Evitar a saturação do sistema viário e incentivar melhores condições de circulação,

de forma a garantir acessibilidade a todos;

III. Incentivo ao uso habitacional de interesse social compatível com a preservação, de

forma a aproveitar a infra-estrutura disponível;

IV. Preservar a integridade dos espaços públicos, das áreas verdes e de lazer existentes.

(Lei Nº 086, De 19 De Junho De 2007; Dispõe Sobre O Plano Diretor Do Município De

Cametá. Prefeitura Municipal De Cametá, Poder Executivo, Gabinete Do Prefeito).

Abordaremos neste momento, a partir de registros fotográficos a efetivação ou

não de tais diretrizes.

Antes de abordar as diretrizes, se faz necessário ilustrar o recorte espacial que

trabalhamos na cidade, referente a zona central, como é mostrado no mapa 1:

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Mapa 1 – Mapa Zoneamento Urbano Distrito Sede de Cametá

Fonte: Plano Diretor do Município de Cametá (2007). Adaptado pelo autor.

A partir do mapa, podemos verificar o zoneamento urbano do distrito sede de

Cametá, sendo que o foco de nossa pesquisa são as diretrizes voltadas à zona central,

destacada no mapa.

Inicialmente, trabalharemos a diretriz I “Preservação da paisagem urbana

histórica”. Para abordar esta diretriz, traremos uma imagem bastante representativa da

"preservação" da paisagem histórica, como é evidenciado na figura 1:

Figura 1: Casarão antigo.

Foto: Miguel Gonçalves Sepêda Filho, trabalho de campo, maio de 2015.

A imagem retratada remete a um casarão antigo, próximo a orla de Cametá, esta foto é

bastante representativa para mostrar a preocupação da gestão municipal com a

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conservação do patrimônio histórico da cidade e, portanto, percebe-se a ausência de

implementação da diretriz I, neste espaço.

Tratando agora da diretriz II, tomaremos por base a figura 2:

Figura 2: Via obstruída.

Foto: Miguel Gonçalves Sepêda Filho, Trabalho de campo, maio de 2015

Esta imagem reflete sérios problemas de acessibilidade, como pode ser mostrado na

calçada do lado direito da foto, sendo difícil o acesso de pessoas com deficiência física

(especialmente cadeirantes) e de idosos neste espaço. Além disso pode-se evidenciar a

dificuldade na circulação de veículos nesta área.

Este transtorno se deve ao fato de que a gestão municipal efetuou uma obra de

reparo na rua, logo adiante, entretanto logo após de finalizada a referida obra, um

veículo de grande porte passou por este espaço e fez a obra ceder, sendo que a forma

encontrada para interditar o espaço, foi dificultando a circulação no local. Cabe ressaltar

que o registro da foto foi tirado com aproximadamente 10 dias do ocorrido,

Percebemos, portanto, o transtorno causado por problemas de planejamento da gestão

municipal.

No que compete a diretriz III, analisaremos a figura 3:

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Figura 3: Espaço sem função social.

Foto: Miguel Gonçalves Sepêda Filho, Trabalho de campo, maio de 2015

A figura 3 refere-se a uma área próxima a orla de Cametá, como pode ser

evidenciado, a área esta sem função social, portanto, cabe ao município, como

instrumento de desenvolvimento social, caso o espaço seja de domínio privado, a

indenização da área e construção de espaço residencial para a população.

No que confere a diretriz 4 (Preservar a integridade dos espaços públicos, das

áreas verdes e de lazer existentes), a figura 4, pode mostrar a relação do desuso de

espaços públicos que deveriam servir à sociedade.

Figura 4: Centro de Cultura de Cametá.

Foto: Miguel Gonçalves Sepêda Filho, Trabalho de campo, maio de 2015

A imagem, reflete a preocupação com espaço que deveria servir a sociedade e

promover o direito a cidadania para a população (SANTOS, 2007)

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Finalizando, trabalharemos 2 imagens que refletem a necessidade de construção

de diretrizes voltadas a orla da cidade, haja em vista a grande importância da dimensão

ribeirinha para Cametá:

Figuras 5: Orla de Cametá. Figura 6: Trapiches da orla de Cametá.

Foto: Miguel Gonçalves Sepêda Filho,

Trabalho de campo, maio de 2015

Na figura 4, podemos evidenciar o estado da orla (construída) da cidade, com

sério problemas infra-estruturais, sendo que este espaço é impróprio para a circulação.

A figura 5, refere-se a um incêndio ocorrido em dois trapiches de Cametá no ano de

2014, sendo que até a realização da pesquisa de campo na cidade, não se verificou a

mobilização do gestor público para organização deste espaço, de forma infra-

estruturalmente adequada para a população, haja em vista que os trapiches mais

representativos da cidade não apresentam boas condições para a circulação e

principalmente a segurança dos que se relacionam fortemente com o rio.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise das diretrizes aplicáveis ao plano diretor municipal,

consideramos, que estas foram concebidas de forma adequada e que seguem interesses

internos a cidade, contudo verifica-se a existência de alguns problemas, no que confere

a implementação destas diretrizes em espaços precários, percebemos, portanto, a

necessidade da gestão municipal em seguir as diretrizes contidas no referidos plano.

Além disso propomos aqui, a elaboração de diretrizes preocupadas com o espaços de

vivências ribeirinhas, que visem um encontro com as particularidades urbano regionais

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Referências

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