estudo da viabilidade da sedaÇÃo consciente com … · fop unicamp pela amizade, e incansável...

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i LUIZ ALBERTO FERRAZ DE CALDAS, CD. ESTUDO DA VIABILIDADE DA SEDAÇÃO CONSCIENTE COM A MISTURA ÓXIDO NITROSO/OXIGÊNIO EM SERVIÇO ODONTOLÓGICO PÚBLICO. Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva Mestrado Profissional. PIRACICABA 2008 FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

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  • i

    LUIZ ALBERTO FERRAZ DE CALDAS, CD.

    ESTUDO DA VIABILIDADE DA SEDAO

    CONSCIENTE COM A MISTURA XIDO

    NITROSO/OXIGNIO EM SERVIO

    ODONTOLGICO PBLICO.

    Dissertao apresentada Faculdade de

    Odontologia de Piracicaba da

    Universidade Estadual de Campinas,

    UNICAMP como parte dos requisitos

    para obteno do Ttulo de Mestre em

    Odontologia em Sade Coletiva

    Mestrado Profissional.

    PIRACICABA 2008

    FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

  • i

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

    LUIZ ALBERTO FERRAZ DE CALDAS

    Cirurgio-Dentista

    ESTUDO DA VIABILIDADE DA SEDAO CONSCIENTE

    COM A MISTURA XIDO NITROSO/OXIGNIO EM

    SERVIO ODONTOLGICO PBLICO.

    Dissertao apresentada Faculdade de Odontologia de

    Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

    como parte dos requisitos para obteno do Ttulo de Mestre em

    Odontologia em Sade Coletiva Mestrado Profissional.

    Orientador: Prof. Doutor Francisco Carlos Groppo

    Co-Orientadora: Profa. Doutora Maria Cristina Volpato

    PIRACICABA 2008

  • ii

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

    Bibliotecrio: Sueli Ferreira Julio de Oliveira CRB-8a. / 2380

    C126e

    Caldas, Luiz Alberto Ferraz de. Estudo da viabilidade da sedao consciente com a mistura xido nitroso/ oxignio em servio odontolgico pblico. / Luiz Alberto Ferraz de Caldas . -- Piracicaba, SP : [s.n.], 2008. Orientadores: Francisco Carlos Groppo, Maria Cristina Volpato. Dissertao (Mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. 1. Ansiedade - Tratamento. 2. xido nitroso. 3. Emergncias odontolgicas. I. Groppo, Francisco Carlos. II. Volpato, Maria Cristina. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. IV. Ttulo.

    (sfjo/fop)

    Ttulo em Ingls: The feasibility of the conscious sedation with nitrous oxide/ oxygen in the public health service.

    Palavras-chave em Ingls (Keywords): 1. Anxiety - Treatment. 2. Nitrous oxide. 3. Dental

    emergencies.

    rea de Concentrao: Sade Coletiva

    Titulao: Mestre em Odontologia Banca Examinadora: Francisco Carlos Groppo, Vanessa Pardi, Eduardo Dias de Andrade.

    Data da Defesa: 27-06-2008 Programa de Mestrado Profissionalizante em Odontologia em Sade Coletiva.

  • iii

  • iv

    Aquele que leva a srio o fato histrico,

    deve suspeitar de que a cincia no tende ao

    ideal sugerido pela imagem que temos de seu

    carter cumulativo. As revolues cientficas

    determinam mudanas de paradigmas e

    quando mudam os paradigmas, muda com

    eles o prprio mundo

    KUHN

  • v

    Dedico este trabalho:

    Aos meus pais Horacio Otto Ferraz de Caldas Caldas e Giselle Kirk Amorim Ferraz

    de Caldas por terem me cercado de todo o carinho e dedicao em minha infncia

    e adolescncia, pocas onde se moldam o carter e a dignidade de um ser

    humano.

    A Carla minha mulher, cujo amor, dedicao, capacidade incentivadora, e

    tenacidade profissional, sobrepujam, o desnimo e o cansao, que s vezes tomam

    conta de mim.

    A minha filha Jenny, razo maior da minha existncia, me entendendo e me

    apoiando nas decises e nos rumos que tomo em minha vida.

  • vi

    AGRADECIMENTOS:

    A Faculdade de Odontologia de Piracicaba, por ter me acolhido nestes 3 anos e

    meio de curso, me concedendo a oportunidade do engrandecimento cientifico.

    Ao Diretor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba Prof. Francisco Haiter Neto.

    Ao Vice-diretor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba e professor do curso de

    mestrado em sade coletiva Prof. Marcelo de Castro Meneguin, pela oportunidade

    concedida e por ter aceitado o convite de participar como membro da banca de

    qualificao final.

    Ao coordenador do comit de tica e pesquisa da FOP UNICAMP Prof. Dr. Jacks

    Jorge Jnior.

    Ao professor orientador, presidente da banca de qualificao final e amigo

    Francisco Carlos Groppo da rea de Farmacologia, Anestesiologia e Teraputica da

    FOP UNICAMP pela amizade, e incansvel pacincia e disponibilidade para orientar,

    e dividir seus conhecimentos. Sem o que no teramos concludo esta pesquisa.

    A professora Maria Cristina Volpato da rea de Farmacologia, Anestesiologia e

    Teraputica da FOP UNICAMP um agradecimento especial, pela co-orientao

    deste trabalho e pela incansvel ateno dispensada sempre que solicitada.

    Ao professor Antonio Carlos Pereira Coordenador do Programa de Ps Graduao

    em Sade Coletiva da FOP UNICAMP, pela brilhante coordenao do curso e por

    ter acreditado em ns.

  • vii

    Ao professor Rogrio Heldio Lopes Motta por ter aceitado o convite de participar

    como membro da banca de qualificao final, com sugestes bastante pertinentes

    A professora Vanessa Pardi por ter aceitado o convite para compor a banca

    examinadora deste trabalho.

    Ao professor Eduardo Dias Andrade por ter aceitado o convite para compor a

    banca examinadora deste trabalho. Por sua valiosa colaborao e sugestes

    fundamentais para a correo final deste trabalho

    Aos professores do Programa de Ps Graduao em Sade Coletiva e Odontologia

    Social da FOP UNICAMP.

    A bibliotecria da FOP UNICAMP Suely Ferreira J. de Oliveira pela busca da

    bibliografia solicitada.

    A Eliana Aparecida Mnaco secretria do Departamento de Odontologia Social e

    Programa de Ps Graduao em Sade Coletiva por sua ateno e pronto

    atendimento a todas as nossas solicitaes.

    Maria Elisa dos Santos secretria da rea de Farmacologia, Anestesiologia e

    Teraputica da FOP UNICAMP por ter nos acolhido cordialmente neste setor

    Aos colegas do curso de mestrado, pelo convvio engrandecedor, proporcionando

    troca de informaes valiosas.

  • viii

    Ao Secretrio Municipal de Sade do Municpio de Vassouras Exmo Sr. Dr. Jos

    Carlos Vaz de Miranda Netto, por ter apoiado o projeto Vassouras Costurando a

    Sade do qual esta pesquisa cientfica um dos trabalhos integrantes.

    Ao Chefe de Clnica do CEO professor Dr. Misseno Alves Pereira JR. Pelo apoio e

    colaborao.

    Ao Chefe administrativo do CEO do HUSS Sr. Flavio Tavares de Almeida Pelo apoio

    e colaborao.

    A Profa. Maria Cristina Souza, Coordenadora do Curso de Odontologia da

    Universidade Severino Sombra pelo apoio na viabilizao do projeto Vassouras

    Costurando a Sade.

    Ao professor do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra Dr. Sileno

    Brum, por ter nos acolhido e por ter participado do projeto Vassouras Costurando

    a Sade, sem o que a execuo deste projeto no teria sido possvel .

    Aos cirurgies-dentistas integrantes e colaboradores desta pesquisa: Adriane

    Ferreira, Ccia Aparecida A. Mendes, Carla Cristina Neves Barbosa, Daniele de

    Arajo Pereira, Flvia Frana de Oliveira, Flvia de Carvalho Barbosa Brum, Janaina

    Franklin Sabino, Jennifer Schauperl Ferraz de Caldas, Joaquim Costa Rodrigues

    Filho, Maria Luiza de Souza Azevedo, Miriam Simone Pereira dos Santos, Roberto

    Penna Costa Baptista, Patricia Amorim, Rodrigo Flores Costa, Vernica Tancredo

    D.M. Massa, Sileno C. Brum..

  • ix

    A cirurgi-dentista endodontista Jennifer Schauperl Ferraz de Caldas, minha filha

    pelo auxlio, na organizao do protocolo endodontico de atendimento e na

    compilao e transcrio dos dados levantados no campo da pesquisa.

    A cirurgi-dentista, e colega do curso de mestrado Carla Gonalves Gamba, minha

    mulher, por estar sempre presente, pelo empenho em prol da captao dos

    voluntrios que compuseram a amostra, pela imprescindvel colaborao em todas

    as fases do curso de mestrado e desta pesquisa.

    A minha irm cirurgi-dentista Helena Cristina Caldas da Costa e marido cirurgio-

    dentista Joo Carlos da Costa, pelo empenho maior em nos levar em 2000, a

    Loyola University Medical School - Division of Oral and Maxillofacial Surgery and

    Dental Medicine Stritch School of Medicine, em Chicago, onde tivemos a

    oportunidade nica de participar do curso Conscious Sedation, ministrado por

    Mark Steinberg e Staff que nos deu o embasamento inicial necessrios ao

    desenvolvimento de nosso aprendizado.

    Ao mdico anestesista Dr. lvaro Aguiar Jr. Pelo idealismo e coragem, se

    contrapondo at as suas entidades de classe, sofrendo processos ticos injustos,

    por integrar a nossa equipe, para ensinar e divulgar com pioneirismo para a classe

    odontolgica a tcnica de sedao consciente por via inalatria, nos passando

    ensinamentos, fundamentais ao desenvolvimento do espectro de sedao em

    odontologia.

    Ao amigo e diretor da Mandala Odontomed, representante da Matrx no Brasil,

    Aurelius Almeida, por ter nos apoiado desde o incio de nossa trajetria em 2000,

    quando ainda voltado apenas para atendimento a rea mdica e hospitalar, decidiu

    enfrentar junto conosco a divulgao da tcnica, acreditando em nosso projeto,

  • x

    fornecendo todos os equipamentos necessrios para que atravs do Instituto de

    Odontologia da PUC do Rio de Janeiro pudssemos realizar com pioneirismo

    absoluto, o primeiro curso de habilitao na tcnica de sedao por via inalatria

    do Brasil, Nos apoiando ainda na divulgao desta tcnica por todo o Brasil. E

    finalmente por nos apoiar incondicionalmente na realizao deste projeto.

    Ao professor Ricardo Guimares Fischer, diretor do IOPUC PUC-Rio, por ter nos

    acolhido e nos mantido at hoje nesta casa.

    Ao Dr. Luciano Artioli Moreira, presidente da ABCD Nacional por sua decisiva

    participao em todo o processo de normatizao da tcnica junto ao CFO,

    Agencias Estaduais de Vigilncia Sanitria e Agencia Nacional de Vigilncia

    Sanitria sem a qual, muito provavelmente no poderamos estar utilizando e

    divulgando esta importante ferramenta de trabalho.

    Aos funcionrios a Faculdade de Odontologia de Vassouras, do CEO e do Hospital

    Universitrio Severino Sombra, pela colaborao.

    Aos pacientes atendidos no HUSS, que se propondo a contribuir acreditaram na

    proposta e nos resultados desta pesquisa.

    Muitas foram as pessoas amigas que me ajudaram na realizao desta pesquisa.

    Relacion-las seria correr o risco da omisso involuntria, o que seria imperdovel.

    Desta maneira agradeo incondicionalmente a todos os que direta ou

    indiretamente nos apoiaram contribuindo com esta pesquisa cientfica agradeo,

    incondicionalmente a todos.

  • xi

    RESUMO

    Foi objetivo deste estudo, avaliar a eficcia e a viabilidade da tcnica de sedao

    por via inalatria com a mistura N2O/O2, no atendimento odontolgico pblico. O

    estudo foi aberto, com 100 voluntrios (54 homens e 46 mulheres), adultos, com

    idades compreendidas entre 18 e 50 anos, realizado no servio de urgncia do

    Hospital Universitrio Severino Sombra, no municpio de Vassouras. Todos

    apresentaram quadro de pulpite aguda irreversvel em dentes superiores. A dor

    (escala de 11 pontos em caixa - E11) e a ansiedade (auto-declarao) dos sujeitos

    foram quantificados previamente ao procedimento. Os sujeitos foram divididos em

    dois grupos: G1 - sedao por via inalatria e G2 (controle) - nenhuma forma de

    sedao. A anestesia local foi feita pela injeo infiltrativa de 1.8 ml de uma

    soluo de lidocana a 2% com epinefrina 1:100.000. A presso arterial sistlica e

    diastlica (PAS e PAD), a saturao de oxignio (SpO2), a freqncia cardaca (FC)

    e respiratria (FC) foram monitorados antes do atendimento, no momento em que

    o voluntrio se sentava cadeira odontolgica, logo aps a anestesia, 10 minutos

    aps a anestesia e aps encerrar os procedimentos. O tempo de atendimento (TA)

    foi medido a partir do posicionamento na cadeira odontolgica e do fim do

    procedimento clnico, quando uma nova E11, o conforto e a opinio sobre a

    tcnica (operador e voluntrio) foram avaliados. Nos pacientes do G1 foram

    aplicados trs testes de avaliao Trieger em trs momentos distintos: antes do

    incio da sedao, durante a sedao, e aps o trmino da sedao. O TA

    (mediana; 1- 3 quartis) foi menor (Mann-Whitney, p=0,0167) para o G1 (58;

    5091,3 min) do que para G2 (67; 55,3127,5 min). No houve diferenas (Mann-

    Whitney, p>0,05) em relao aos grupos ou aos gneros considerando o nvel de

    ansiedade e de dor. As concentraes de N2O no mostraram relao com o nvel

    de ansiedade (Kruskal-Wallis, p=0,2200), dor (Kruskal-Wallis, p=0,3185) e gnero

    (Mann-Whithney, p=0,8027). Tanto o tempo quanto o nmero de pontos errados

    para o teste de Trieger foram maiores (Friedman, p

  • xii

    G1, indicando estado alterado de conscincia nos voluntrios. A PAS dos

    voluntrios sedados diminuiu significativamente (Kruskal-Wallis, p

  • xiii

    ABSTRACT

    The aim of the present study was to evaluate the conscious sedation performed by

    nitrous oxide/oxygen (N2O/O2) at the dental public service. The study was open,

    with 100 subjects (54 male and 46 female), adults, from the dental emergency

    service of Severino Sombra University-Hospital, in the Vassouras city. All subjects

    presented irreversible-acute pulpitis in at least one maxillary tooth. The pain (11

    box scale E11) and the anxiety (auto-declaration scale) were both measured

    previously the treatment. The subjects were than divided into two groups: G1

    conscious sedation and G2 (control) no sedation. Local anesthesia (LA) was

    performed by infiltration of 1.8 ml 2% lidocaine with 1:100.000 epinephrine.

    Systolic and diastolic blood pressure (PAS e PAD), oxygen saturation (SpO2),

    cardiac (FC) and respiratory (FC) frequencies were monitored before the dental

    procedures, when the subject was sit on the chair, right after LA, 10 minutes after

    LA and after the end of the dental procedures. The time for dental procedures (TA)

    was measured from the moment when the subject was sit on the dental chair and

    at the end of the dental procedure. A new E11, the comfort and the opinion of the

    subjects and operators regarding the techniques were also evaluated at the end of

    procedures. G1 volunteers were submitted to three Triegers test: before, during

    and after sedation. TA (median; 1- 3 quartiles) was lower (Mann-Whitney,

    p=0.0167) for G1 (58; 5091.3 min) than G2 (67; 55.3127.5 min). There were no

    differences (Mann-Whitney, p>0.05) regarding the groups or genders considering

    anxiety and pain levels. Nitrous oxide concentration did not show relation with

    anxiety (Kruskal-Wallis, p=0.2200), pain (Kruskal-Wallis, p=0.3185) and gender

    (Mann-Whithney, p=0.8027). Both time and the number of wrong points of the

    Trieger test were higher (Friedman, p

  • xiv

    G2 significantly increased (Kruskal-Wallis, p

  • xv

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ASA Americam Society of Anesthesiology

    CEO Centro de Especialidades Odontolgicas

    CFO Conselho Federal de odontologia

    DOU Dirio Oficial da Unio

    DPOC Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica

    FC Freqncia Cardaca

    FR Freqncia Respiratria

    N2O xido Nitroso

    O2 Oxignio

    PAD Presso Arterial Diastlica

    PAS Presso Arterial Sistlica

    SNC Sistema Nervoso Central

    SpO2 Saturao da Hemoglobina Perifrica

  • xvi

    LISTA DE TABELAS

    Pg.

    Tabela 1. Distribuio dos 100 voluntrios dentro dos dois grupos em estudo. 31

    Tabela 2. Distribuio dos dentes com pulpite dentro dos dois grupos em

    estudo. 31

    Tabela 3. Nvel de ansiedade declarado e dor (escala de 11 pontos em caixa)

    de acordo com os grupos em estudo e com o gnero dos indivduos. 33

    Tabela 4. Mediana (primeiro e terceiro quartis) dos parmetros fisiolgicos

    observados durante os cinco momentos operatrios. 36

    Tabela 5. Proporo (em porcentagem) das respostas s questes dos

    questionrios preenchidos pelos sujeitos da pesquisa. 41

    Tabela 6. Proporo (em porcentagem) das respostas s questes dos

    questionrios preenchidos pelos operadores. 42

    Tabela 7. Proporo (em porcentagem) da opinio dos operadores s

    questes dos questionrios sobre a sedao. 43

    Tabela 8. Relao entre as opinies do operador e do voluntrio quanto ao

    nvel de ansiedade antes do tratamento. 44

    Tabela 9. Relao entre as opinies do operador e do voluntrio quanto ao

    nvel de ansiedade durante a anestesia. 45

    Tabela 10. Relao entre as opinies do operador e do voluntrio quanto ao

    nvel de ansiedade durante o tratamento. 46

    Tabela 11. Relao entre as opinies do operador e do voluntrio quanto ao

    nvel de ansiedade ao final do tratamento. 46

  • xvii

    LISTA DE FIGURAS

    Pg.

    Figura 1. Escala de onze pontos em caixa. 24

    Figura 2. Teste de Trieger. 25

    Figura 3. Tempo total gasto no procedimento clnico em ambos os grupos.

    A linha central representa a mediana, a caixa representa o 1 e 3 quartis e as

    suas representam os valores mximo e mnimo.

    32

    Figura 4. Distribuio dos sujeitos de acordo com a porcentagem de N2O

    na mistura com O2 necessria para sed-los. A linha vermelha

    representa a curva de tendncia.

    33

    Figura 5. Concentrao de N2O na mistura necessria para sedar os

    sujeitos de acordo com o nvel de sedao e de dor observados

    inicialmente.

    34

    Figura 6. Tempo necessrio ao preenchimento e nmero de pontos errados

    durante o teste de Trieger. A linha central representa a mediana, a caixa

    representa o 1 e 3 quartis e as suas representam os valores mximo e

    mnimo.

    35

    Figura 7. Presso arterial (mediana; 1 e 3 quartis) sistlica (linhas

    cheias) e diastlica (linhas pontilhadas) dos sujeitos dos grupos 1

    (linhas verdes) e 2 (linhas vermelhas) nos cinco tempos

    operatrios.

    38

    Figura 8. Freqncia cardaca (mediana; 1 e 3 quartis) dos sujeitos dos

    grupos 1 (linha verde) e 2 (linha vermelha) nos cinco tempos

    operatrios.

    38

    Figura 9. Freqncia respiratria (mediana; 1 e 3 quartis) dos sujeitos

    dos grupos 1 (linha verde) e 2 (linha vermelha) nos cinco tempos

    operatrios.

    39

    Figura 10. Presso parcial de oxignio (SpO2) no sangue (mediana; 1 e 3

    quartis) dos sujeitos dos grupos 1 (linha verde) e 2 (linha

    vermelha) nos cinco tempos operatrios.

    39

    Figura 11. Mostra o custo da sedao em funo do tempo pelo qual o

    sujeito permaneceu sedado. 40

  • xviii

    LISTA DE ANEXOS

    Pg.

    ANEXO 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme

    resoluo no 196/96 do CONEP/MS. 73

    ANEXO 2. Ficha endodontica. 77

    ANEXO 3. Ficha de anamese. 79

    ANEXO 4. Questionrio a ser respondido pelo voluntrio. 81

    ANEXO 5. Questionrio a ser respondido pelo operador 2. 82

    ANEXO 6. Teste de Trieger. 84

    ANEXO 7. Organograma 85

    ANEXO 8. Aprovao do comit de tica. 86

  • xix

    SUMRIO

    1. INTRODUO 1

    2. REVISO DA LITERATURA 3

    3. PROPOSIO 21

    4. MATERIAL E MTODOS 22

    5. RESULTADOS 31

    6. DISCUSSO 47

    7. CONCLUSO 55

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 56

    ANEXO 73

  • 1

    1 - INTRODUO

    Embora a dor seja um dos principais motivos de procura pelo

    tratamento odontolgico, o medo ao tratamento dentrio ainda a principal causa

    de averso procura pelos profissionais. Infelizmente, esta ainda uma realidade

    atual. Estudos sobre o assunto apontam que uma porcentagem significativa da

    populao relata sentimentos de averso ao tratamento dentrio (Milgron, 1988).

    Os efeitos multiplicativos da ansiedade e do estresse sobre a dor e os

    fenmenos fisiolgicos decorrentes tambm so bem conhecidos (Arora, 1999;

    Borsatti, 1999).

    Em alguns casos, o medo to intenso que se instala a fobia, levando

    ao paciente a evitar qualquer tipo de interveno odontolgica, mesmo na

    presena de sintomas significativos de doena (Berggren, 1984; Woolgrove, 1986).

    Para complicar ainda mais o quadro clnico, sabido que a anestesia

    local agrava ainda mais a ansiedade e fobia dos pacientes, sendo motivo de

    apreenso at mesmo nos pacientes mais tranqilos. O efeito desse aumento da

    ansiedade ocasionado pelo procedimento pode ser devastador e , sem dvida,

    um dos grandes responsveis pelas urgncias mdicas ocorridas durante o

    tratamento odontolgico (Nicholson et al., em 2001).

    Uma das formas mais antigas e conhecidas de sedao em odontologia

    sedao consciente por via inalatria, utilizando a mistura xido nitroso e

    oxignio. Esta tcnica vem sendo amplamente empregada com expressiva

    efetividade em diversos tipos de servios (Kalach et al., 2002; Paterson &

    Tahmasseb, 2003; Malamed, 2003; Clark & Brunick, 2003; Foley, 2005) em vrios

    pases.

    O sucesso da tcnica de sedao por via inalatria em Odontologia

    devido, entre outros fatores, a sua eficcia, ao baixo risco para o paciente e a

    ausncia de efeitos colaterais, podendo ser indicada quando outras drogas esto

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Paterson+SA%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Tahmassebi+JF%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Foley+J%22%5BAuthor%5D

  • 2

    contra-indicadas. Alm disso, disponibiliza no mnimo 30% de oxignio, o que

    importante em vrias situaes emergenciais (Peterson et al., 2000).

    Embora no existam dados confiveis sobre o contexto do estresse no

    servio de atendimento odontolgico pblico no Brasil, ele tem sido apontado

    como o maior obstculo ao tratamento odontolgico em sade pblica nos EUA

    (Malamed, 2003), certamente contribuindo para o aumento dos ndices de doenas

    bucais e suas manifestaes.

    Em contrapartida, as Diretrizes de Poltica de Sade Bucal brasileiras

    orientam que sejam utilizados todos os recursos existentes para preveno,

    promoo e recuperao da sade bucal, particularmente nos casos de dor,

    infeco e sofrimento.

    A tcnica de sedao por via inalatria foi normatizada no Brasil

    recentemente (resoluo CFO 51/2004 publicada no D.O.U. em 12/05/2004). A

    partir desta data, a tcnica vem sendo utilizada regularmente por um nmero

    crescente de cirurgies-dentistas em clnica privada, embora no se tenham dados

    confiveis sobre o nmero de profissionais que a utilizam.

    Face s vantagens e benefcios que a sedao por via inalatria poderia

    trazer ao atendimento odontolgico, o propsito deste estudo foi avaliar a eficcia

    e viabilidade desta tcnica em servio pblico de atendimento a urgncias

    odontolgicas.

  • 3

    2 - REVISO DA LITERATURA

    ESTRESSE E DOR NA ODONTOLOGIA

    O estresse, o medo e a ansiedade ao tratamento dentrio acometem

    grande parte da populao estando normalmente relacionados a experincias

    traumticas anteriores, desinformao em relao aos procedimentos e,

    principalmente, dor instalada ou inesperada. Entretanto, a dor um dos

    principais motivos de procura pelo tratamento odontolgico (Vassend, 1993).

    Estudos indicam que cerca de 75% da populao relata sentir algum medo ou

    ansiedade associados ao tratamento dentrio (Seeman, 1976; Scott & Hirschmann,

    1982; Milgron, 1988).

    Nos EUA, 14 milhes de cidados americanos evitam voluntariamente a

    visita ao dentista e 45 milhes (cerca de 40% da populao) deles se consideram

    nervosos ou ansiosos quando necessitam ir ao dentista e, assim, no recebem

    cuidados odontolgicos de rotina, gerando significativo um aumento da prevalncia

    de doenas bucais, e suas conseqncias sistmicas (Dione et al., 1998; De Jonhg

    et al., 2005a, De Jonhg et al., 2005b).

    Poulton et al. (1998) investigaram a possvel causa do medo na

    odontologia, acompanhando um grupo de pessoas desde a infncia (3 anos) at a

    idade adulta (26 anos). O resultado desse estudo corrobora os anteriores,

    indicando que o medo do tratamento odontolgico em adultos est realmente

    relacionado a eventos aversivos condicionados. Esse estudo sugeriu tambm que

    nos casos de vulnerabilidade pessoal (origem endgena), o medo do tratamento

    odontolgico manifestado junto a outras fobias. Entretanto, a maior parte dos

    pacientes com medo ao tratamento dentrio relata tratar-se de um medo

    especfico, sendo a primeira experincia relevante no desenvolvimento desse tipo

    de medo.

    Uma das dificuldades encontradas pelo clnico durante o atendimento

    odontolgico o medo que alguns pacientes manifestam sentir em relao aos

  • 4

    procedimentos que tero curso durante a sesso. O comparecimento para

    tratamento odontolgico pode representar um grande problema para esses

    pacientes (Kanegane et al., 2003). Alm disso, a falta do controle da ansiedade

    seria um fator que dificulta o procedimento odontolgico, aumentando o risco de

    emergncias mdicas, alm de aumentar o tempo de trabalho e diminuir a auto-

    estima do paciente (Smyth, 1993).

    Schuurs et al. (1985), Hagglin et al. (1996) e Skaret et al. (1999)

    observaram que a ansiedade frente ao tratamento odontolgico foi a principal

    causa de desmarcaes das consultas e de faltas s mesmas, entre os pacientes

    adolescentes.

    O medo do dentista pode derivar de vrias fontes, como experincias

    traumticas passadas, preocupaes quanto possibilidade de mutilao; a

    observao da ansiedade, do medo e do evitamento, manifestados por outras

    pessoas, que esto se submetendo a tratamento odontolgico, ou que reportaram

    alguma experincia negativa durante algum tratamento realizado, o medo da

    "anestesia, da injeo e da caneta de alta rotao, so os mais comuns.

    Quando o paciente experimenta o medo ou a ansiedade, o estresse se instala,

    sendo o estresse um conjunto de adaptaes fisiolgicas que tendem a buscar o

    restabelecimento do equilbrio orgnico (Little et al., 2002).

    A ansiedade pode provocar uma reduo na tolerncia dor, a qual

    eleva ainda mais o nvel de estresse estabelecendo-se, ento, um crculo vicioso,

    onde os agentes anestsicos locais podem no atuar eficientemente (Meyer, 1987;

    Brand et al., 1995; Pereira et al., 1995; Arora, 1999; Borsatti, 1999).

    Em alguns casos, o medo to intenso que leva o paciente a evitar

    qualquer tipo de interveno odontolgica (Milgron et al., 1988; Rubin, 1988).

    Kaufman et al. (1984) definem a fobia como sendo um medo persistente e

    irracional que resulta na compulso para evitar um objeto ou uma situao

    especfica. A expectativa da dor, em odontologia, contribui significativamente para

  • 5

    o desenvolvimento do quadro de ansiedade de estresse, o que contribui para a

    diminuio da tolerncia a dor. Em certos casos, estmulos incuos, em pacientes

    ansiosos, podem ser interpretados como dor. A ansiedade de acordo ainda com os

    autores, pode ser a responsvel, por casos de falha no bloqueio anestsico tronco

    mandibular, reaes adversas, s vezes diagnosticadas erroneamente como

    reaes alrgicas ou txicas ao sal anestsico, ou ainda ao vasoconstritor, so

    devidas a ansiedade e ao estresse no controlada do paciente. Por esta razo,

    estes autores, recomendam um controle abrangente da dor, com tratamento do

    medo e da ansiedade.

    A fobia odontolgica classificada como uma fobia especfica no

    Manual de Diagnstico e Estatsticas das Desordens Mentais. A principal diferena

    entre o medo odontolgico severo e a fobia est relacionada ao impacto que estes

    tm no funcionamento fisiolgico do indivduo. Para ser classificada como fobia, a

    relutncia, a antecipao ansiosa ou o distress desenvolvido frente situao

    temida tem que interferir significantemente com a rotina normal deste indivduo,

    ou seja, com a funo ocupacional (ou acadmica), com as atividades sociais, com

    os relacionamentos interpessoais. O humor e o significativo aumento na secreo

    de substncias endgenas so as desordens mais freqentes que coexistem em

    pacientes portadores de desordens ansiosas (Kvale et al., 2002; Kvale et al.,

    2004).

    Embora o medo e a ansiedade moderada possam no ter um impacto

    importante sobre a sade bucal, a ocorrncia de fobia ou ansiedade intensa e

    generalizada, podem levar o paciente a evitar definitivamente o tratamento

    odontolgico, mesmo na presena de sintomas significativos de doena, e das

    conseqncias sade geral (Berggren, 1984; Woolgrove, 1986). Cerca de 40%

    da populao dos EUA no recebe ateno preventiva odontolgica devido

    apreenso, como causa mais comum (Ayer, 1983).

  • 6

    A expectativa de dor ou de procedimentos que causam dor, juntamente

    com a ansiedade, so apontados como sendo a maior barreira visita ao dentista.

    Altos nveis de ansiedade esto associados com histrias dolorosas em tratamentos

    passados ou a expectativa de procedimentos dolorosos no futuro (Vassend, 1993).

    A prtica clnica sugere que os nveis de ansiedade e medo em pacientes que

    procuram atendimento de urgncia so maiores do que na populao em geral

    (Kanegane et al., 2003).

    De acordo com Van Wijk & Hoogstraten (2003), a ansiedade ou o medo

    desenvolvidos pelo indivduo frente ao tratamento odontolgico, podem

    desencadear um aumento da dor, interferindo assim no estmulo doloroso ou nas

    sensaes de dor referida. Conseqentemente, situaes dolorosas, aversivas ou

    extremamente aterrorizantes servem como experincias condicionadoras e alm do

    mais desempenham um papel importante na aquisio de ansiedade ao tratamento

    odontolgico (De Jongh et al., 2005).

    Nicholson et al., em 2001, observaram que o estresse fsico e

    psicolgico relacionados anestesia local pode complicar o tratamento

    odontolgico. Relataram ainda que estudos de urgncias mdicas ocorridas

    durante o tratamento odontolgico indicam que 55% destas urgncias so devido

    ao estresse psicognico ou pela captao excessiva do anestsico pelo sistema

    cardiovascular, logo aps a anestesia.

    Poulton et al., em 1998, avaliaram um grupo de jovens em relao ao

    medo e a ansiedade desenvolvidos durante a injeo da anestesia local, a

    visualizao de sangue e a correlao entre estes fatores. Observaram que a

    ansiedade resultou de experincias pregressas ou, ainda, fazia parte de um quadro

    de ansiedade generalizada. Poulton assinala que os resultados obtidos foram

    indicativos de que a fobia frente ao atendimento odontolgico seria exacerbada

    pelo medo da injeo da anestesia local e tambm pela visualizao do sangue. A

    anestesia local foi, entretanto, a etapa que mais gerou desconforto medo e

  • 7

    ansiedade. Resultados similares aos de Poulton foram observados por Kaakko et al.

    (1998), os quais concluram que o medo a anestesia local foi um dos maiores

    fatores de medo e evitamento ao tratamento odontolgico, seguido pelos

    procedimentos de extrao dentria e tratamentos de canal. Alm disso, os

    autores observaram tambm que os indivduos que nunca receberam anestesia

    local, se mostraram mais ansiosos do que aqueles que j haviam sido anestesiados

    anteriormente.

    A dor um fenmeno subjetivo, definida usualmente como sendo uma

    experincia desagradvel, a qual primariamente est associada com dano tecidual.

    A ansiedade aumenta a atividade simptica e, conseqentemente, a produo de

    epinefrina que contribui na ativao os nociceptores, aumentando a dor (Pereira et

    al., 1995). A atividade simptica aumentada pode se traduzir em aumento da

    freqncia de emergncias mdicas dentro do consultrio odontolgico. As mais

    freqentes (causadas pelo estresse agudo, aliado a dor odontognica) podem

    incluir: angina pectoris, infarto do miocrdio, broncoespasmo asmtico,

    insuficincia adrenal aguda, hipertenso grave, crise tireoideana, choque insulnico,

    lipotmia, choque cardiognico, hiperventilao e crise epiltica (Peterson et al.,

    2000). Assim, nos pacientes muito ansiosos e, principalmente naqueles com pouca

    capacidade adaptativa, como por exemplo, diabticos e hipertensos, o estresse

    pode levar ao aparecimento de quadros de perda sbita ou transitria da

    conscincia (lipotimia) ou, nos casos mais graves, ao choque cardiognico, com

    parada crdio-respiratria (Malamed, 2000).

    Malamed (1993) apresentou dois levantamentos epidemiolgicos

    realizados com 4309 dentistas americanos que relataram 30608 episdios de

    emergncias mdicas durante um perodo de 10 anos. Deste total, grande parte

    foram manifestaes freqentemente associadas falta de controle do estresse:

    15407 lipotmias, 1326 casos de hiperventilao e cerca de 3000 alteraes

  • 8

    cardiovasculares. Do total, 54,9% das emergncias ocorreram durante ou

    imediatamente aps a anestesia local.

    Anderson & Reagan (1993), observam que a liberao endgena de

    epinefrina/norepinefrina pode estar aumentada em at vrias vezes a sua liberao

    basal (0,17 a 0,54 g/min) em resposta ao estresse agudo oriundo dos

    procedimentos odontolgicos (epinefrina: aumenta de 1 a 3 vezes; norepinefrina:

    no se altera), na dor ps-operatria aguda (epinefrina: aumenta em at 1 vez;

    noepinefrina: aumenta de 1 a 2 vezes).

    A liberao de catecolaminas na corrente circulatria promove a

    diminuio da resistncia vascular perifrica e o aumento do fluxo sangneo de

    vrios tecidos e dos msculos esquelticos. Nas situaes em que a atividade

    muscular perifrica no ocorre, como no caso do paciente na cadeira do dentista, o

    sangue acumulado nas extremidades no retorna para o corao, acarretando um

    decrscimo no volume de sangue circulante. Ocorre queda da PA, diminuio do

    aporte de sangue no crebro, e conseqente diminuio da oxigenao, gerando a

    perda sbita da conscincia. Este quadro clnico denomina-se lipotimia, a qual

    uma emergncia mdica leve que, se no tratada, poder evoluir para uma

    depresso cardiovascular importante (Saueressig & Pagnoncelli, 2004). Assim,

    mesmo em pacientes sem complicaes sistmicas, o estresse odontolgico, pode

    desencadear quadros clnicos de emergncia mdica (Ranali, 2000; Malamed,

    2000; Little et al., 2000; Sonnis & Fang, 2000).

    Bergdahl & Bergdahl (2003) demonstraram que a maioria da populao

    desenvolve algum grau de ansiedade quando se submetem a procedimentos

    cirrgicos ou endodnticos. Observaram ainda que a etiologia da ansiedade severa

    ao tratamento odontolgico tem uma variedade de fatores, e que os pacientes no

    formam um grupo homogneo. Muitos indivduos relataram que seus problemas

    esto ligados a experincias traumticas adquiridas na infncia. Pacientes que

    desenvolvem ansiedade frente ao tratamento odontolgico geralmente faltam s

  • 9

    consultas odontolgicas e so aqueles que mais necessitam de atendimento

    odontolgico imediato. Em muitos casos, eles somente comparecem ao consultrio

    quando impelidos frente dor severa, o que resulta na dificuldade do

    atendimento, devido complexidade do condicionamento e do manejo deste

    paciente, aumentando o risco.

    De acordo com Raab et al., em 1998, a reduo do estresse e da

    ansiedade so importantes no manejo do paciente durante o tratamento

    odontolgico, isto porque muitos pacientes cardacos ou portadores de

    necessidades especiais, so geralmente submetidos a tratamentos de menor ou

    maior grau de invasividade, e estes procedimentos quando executados sob o

    controle da dor, do medo e da ansiedade, os submetero a cargas psicolgicas e

    fisiolgicas menores.

    A dor experimentada durante o tratamento odontolgico pode ser

    primariamente determinada pela ansiedade, embora outros fatores como idade,

    etnia e gnero possam estar envolvidos. Pessoas com culturas que praticam o

    autoflagelo, por exemplo, tendem a ser mais tolerantes dor queles com culturas

    que expressam suas emoes e, alm disso, os homens tendem a ser mais

    tolerantes dor do que as mulheres (Foreman, 1979). Em experimentos com

    estmulos agudos somticos, como na pele, as mulheres realmente apresentaram

    menor limiar e maior capacidade de discriminao e mensurao da dor e, ainda,

    menor capacidade de suportar estmulos nocivos que os homens. Estas diferenas

    existem para algumas formas de estmulos, como eltricos e de presso, mas so

    influenciados por diversas variveis como rotina diria, local do experimento,

    gnero do experimentador e estado nutritivo (Berkley, 1997). Taani, em 2001,

    constatou que as mulheres demonstraram maiores nveis de ansiedade ao

    tratamento odontolgico em relao aos homens, porm este aumento, embora

    significativo, foi sutil. O autor relata ainda que, entre os diferentes procedimentos

  • 10

    odontolgicos, a anestesia local e o motor de alta rotao foram os que mais

    comumente causaram medo.

    Schuller (2003) observou que os indivduos os quais a ltima visita

    odontolgica foi h trs anos atrs ou mais, podem ser considerados como

    indivduos com comportamento de averso ao tratamento odontolgico. Observou

    tambm que as mulheres desenvolvem nveis mais altos de medo ansiedade e

    comportamento aversivo ou de evitamento frente ao tratamento odontolgico do

    que os homens, de maneira similar a outros estudos semelhantes publicados sobre

    o assunto.

    A dor difcil de ser mensurada por respostas subjetivas. O mtodo de

    avaliao atravs da Escala Analgica Visual (EAV) um mtodo fidedigno e

    sensvel na avaliao de dor crnica (Joyce et al., 1975). A apurao correta da

    ansiedade ao tratamento odontolgico tambm tem se mostrado subjetiva. Dentre

    a variedade de questionrios de ansiedade ao tratamento odontolgico disponveis,

    provavelmente, o mais conhecido a Escala de Ansiedade Odontolgica de Corah

    (Dailey et al., 2001).

    Em um estudo sobre a imagem dos cirurgies-dentistas, Cruz et al.

    (1997) concluram que o medo (relacionado ao instrumental e ao tratamento) est

    fortemente associado imagem do cirurgio-dentista, aparecendo como resultado

    de experincias prprias ou de outrem. Alm disso, observaram que a dor est

    associada imagem do dentista com uma elevada freqncia, sendo que o CD

    referido como um mal necessrio, castigo, alm de ser associado a sensaes

    de estresse e ansiedade. Dentre caractersticas apontadas na definio de um

    cirurgio-dentista ideal, os autores encontraram: calma, pacincia e

    capacidade de informao e comunicao. Alm disso, um dos fatores

    determinantes na escolha do cirurgio-dentista pelo paciente o adequado

    controle da dor que este realiza (Arora, 1999).

  • 11

    A SEDAO CONSCIENTE PELA VIA INALATRIA

    A eficcia da sedao consciente por via inalatria, utilizando a mistura

    xido nitroso e oxignio, para o controle da dor do medo e da ansiedade foi

    comprovada por diversos autores, em vrios pases, nos quais a tcnica vem sendo

    amplamente empregada com expressiva efetividade, tanto em clnica privada,

    quanto em servios pblicos (Kalach et al., 2002; Paterson & Tahmasseb, 2003);

    no atendimento ambulatorial (Malamed, 2003; Clark & Brunick, 2003; Foley,

    2005).

    O xido nitroso um gs incolor, no-irritante e de cheiro adocicado.

    o nico composto inorgnico, alm do CO2, que tem propriedade de deprimir o

    SNC. tambm considerado o menos potente dos gases anestsicos sendo que a

    concentrao alveolar mnima para obter anestesia geral 104/105%, o que

    significa que o N2O incapaz de produzir anestesia adequada, exceto se

    administrado em condies hiperbricas ou quando associado s outras drogas

    (Miller, 2000; Manica, 2004).

    A tcnica de sedao por via inalatria utilizada dentro da Odontologia

    eficaz, no oferece riscos para o paciente e no apresenta efeitos colaterais

    importantes. Pode ser indicada quando outras drogas esto contra-indicadas. Por

    disponibilizar no mnimo 30% de O2 durante o procedimento, a tcnica indicada

    para pacientes que apresentam dficit de oxignio, como por exemplo, nos casos

    de coronariopatias (Eker et al., 1972; Thompson, 1976).

    Ruben (1972) constatou que 3700 cirurgies-dentistas da Dinamarca

    empregaram a sedao por via inalatria durante aproximadamente um milho de

    horas, correspondentes a aproximadamente 15 anos de utilizao da tcnica, sem

    que tivesse sido relatado nenhuma ocorrncia de morbidade importante em

    conseqncia dos procedimentos de sedao. De acordo ainda com os autores, a

    analgesia e a sedao produzidas pela mistura xido nitroso e oxignio, melhoram

    substancialmente qualquer desconforto durante o tratamento, aumentando o

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Paterson+SA%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Tahmassebi+JF%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=pubmed&cmd=Search&term=%22Foley+J%22%5BAuthor%5D

  • 12

    aporte de oxignio no crebro e no corao, e produzindo discreta diminuio nos

    nveis pressricos e da freqncia cardaca.

    De acordo com a ADA Survey em 1994, a tcnica bastante utilizada

    nos Estados Unidos, onde se originou, sendo empregada por 56% dos clnicos

    gerais, 85% dos cirurgies buco-maxilo-faciais e 88% dos odontopediatras. O

    xido nitroso tambm comumente empregado na Austrlia, Nova Zelndia,

    Israel, Japo, Polnia, frica do Sul, Koreia, Reino Unido e Escandinvia.

    A analgesia inalatria com N2O/O2 a nica tcnica de sedao que

    permite a completa recuperao do paciente em curto espao de tempo ps-

    sedao, entre 3 a 5 minutos. O paciente estar apto em 98% dos casos, a

    retornar as suas atividades, inclusive dirigindo ou operando mquinas. A quase

    totalidade (99%) do xido nitroso exalado do organismo atravs da respirao

    (MacCafery, 1989). Em concentraes variando entre 10% a 70% de N2O, na

    mistura ao O2, os reflexos protetores esto preservados. No necessita de

    acompanhante, sendo por isso a tcnica escolhida neste estudo contrapondo-se a

    via oral com benzodiazepnicos, pois estes no prescindiriam da presena do

    acompanhante. Vale ressaltar que em atendimento no eletivo a presena do

    acompanhante nem sempre possvel. Sendo assim, o efeito analgsico e

    ansioltico, fazem deste frmaco a droga de escolha no controle da ansiedade no

    tratamento emergencial dos pacientes portadores de pulpite. Desta forma os

    pacientes se submetem ao procedimento emergencial sem que haja as

    manifestaes de ansiedade anteriormente relatadas, diminuindo tambm as

    possibilidades de emergncias mdicas trans-operatrias vinculadas ansiedade.

    O xido nitroso tem efeito analgsico e sedativo, potencializando o

    efeito do anestsico local, no induz a dependncia farmacolgica e, como no

    metabolizado pelo organismo, no tem efeito txico (Eger, 1990). Em termos de

    segurana, a tcnica considerada o procedimento mais seguro de sedao

    medicamentosa (Malamed, 2003).

  • 13

    Clark & Brunick (2003) e Malamed (2003), assinalam que o xido

    nitroso atravessa a barreira placentria, embora o mesmo no seja metabolizado

    pelo feto. De acordo com os autores, a gravidez no contra-indica o uso de

    sedao inalatria com N2O-O2. Entretanto recomendam como medida de

    segurana, que tanto o uso do xido nitroso quanto qualquer outro tratamento

    eletivo em Odontologia, deva ser evitado no primeiro trimestre da gravidez.

    Jastak (1989) sedou 960 pacientes, e concluiu que 64% deles foram

    sedados com percentagens de N2O entre 29% e 45%, 24% foram sedados entre

    43% e 50% de N2O, 11% com percentagens de N2O entre 10% e 25% e 4% entre

    51% e 80% de N2O. Segundo Malamed (1995), em 5000 procedimentos a

    resposta sedao com N2O/O2 foi varivel, sendo que 70% atingiram sedao

    clinicamente ideal com percentagens de N2O entre 30% e 40%, 27% com

    percentagens entre 50% e 70% e 3% no alcanaram nveis ideais de sedao.

    MECANISMO DE AO

    O xido nitroso atua deprimindo o SNC em nvel do crtex cerebral. O

    seu mecanismo de ao, ainda no totalmente conhecido. um potente e

    seletivo inibidor das correntes ativadas pelos receptores N-metil-D-aspartato

    (NMDA) do neurotransmissor excitatrio glutamato, sugerindo que possam causar

    sedao por meio de ao nestes receptores, que interferem a mdio prazo na

    modulao das sinapses (Menerick, 1998).

    No hipntico e pode ter ao hilariante. Pode produzir excitao

    atuando como depressor em reas do SNC que tem funo inibidora, liberando

    outras reas que tem funo excitatria, desencadeando uma reao tipicamente

    extrapiramidal (Costa & Saraiva, 2002). Estudos demonstram que o N2O tem

    propriedades analgsicas e ansiolticas, pois alm de interferir na transmisso da

    dor alterando a sntese, liberao ou metabolismo dos neurotransmissores, poderia

    estimular a liberao endgena de substncias analgsicas com propriedades

  • 14

    semelhantes aos opiceos, reduzindo a dor ocasional envolvida com os

    procedimentos operatrios rotineiros (Menerick, 1998; Berkowitz, 1977). HODGES

    (1994) e Cahhil (2000) observam que o xido nitroso capaz tambm de estimular

    a produo de opiides endgenos tais como as encefalinas e as dinorfinas

    (endorfinas), mas que, entretanto, no tem efeito neuronal na liberao das beta-

    endorfinas (Hodges, 1994).

    Quase todas as formas de percepo so deprimidas (viso, audio,

    toque e dor, sensao temporal). A memria, a capacidade de se concentrar e

    desempenhar atos que necessitem de raciocnio no so afetadas (Malamed,

    2003). Segundo Parbrook (1968), o xido nitroso atuaria tambm produzindo uma

    desativao em nvel de crtex cingular posterior e visual associativo, que

    explicaria a induo do dficit da funo cognitiva e nas alteraes visuais

    presentes nos indivduos sob sedao consciente com xido nitroso. De acordo

    ainda com o autor, o xido nitroso poderia inibir parcialmente a memria, atravs

    da depresso produzida sobre a zona do hipocampo e sobre o girus do hipocampo.

    Cavalcanti (2003) observou que o N2O promove ao acentuada nas

    estruturas corticais e que, em concentraes de 30, 50 e 60%, no desenvolve

    ao nas estruturas nervosas que possam inibir ou liberar neurotransmissores

    autonmicos capazes de promover alteraes cardiovasculares importantes e to

    pouco inibir o automatismo respiratrio causando hipoventilao alveolar.

    Embora o xido nitroso tenha propriedades depressoras do miocrdio,

    este efeito no tem nenhum significado na prtica clnica (Manica, 2004). Tem

    propriedades broncodilatadoras e no lesivo ao epitlio pulmonar (Malamed,

    2003; Clark & Brunick, 2003) e, por esta razo, pode ser administrado a pacientes

    com asma sem nenhum risco de broncoespasmo (Pasternack, 1993).

    O xido nitroso no produz aes clinicamente significativas sobre o

    tubo digestivo e seus anexos, sobre os rins e sobre a musculatura esqueltica. Na

    presena de disfuno heptica, xido nitroso pode ainda ser usado sem nenhum

  • 15

    risco de reaes adversas. Mesmo na gravidez no contra-indicado o uso de

    sedao inalatria com N2O-O2. Entretanto, como medida de segurana, seu uso

    deve ser evitado (Clark & Brunick, 2003).

    EFEITOS ADVERSOS

    O xido nitroso oxida o on cobalto da vitamina B12, inibindo assim a

    sntese da metionina sintetase, o que pode acarretar o mau funcionamento da

    medula ssea. Isto pode levar a um quadro similar ao da anemia perniciosa em

    animais de laboratrio expostos por perodos prolongados. Nos animais submetidos

    a exposies crnicas, a inibio da sntese da metionina sintetase, ocorre de

    maneira reversvel (Nunn, 1985).

    A exposio ao xido nitroso por longo prazo pode produzir inibio

    transitria da medula ssea. Todos os casos relatados na literatura, envolveram

    exposies por mais de 24 horas seguidas.

    Lacassie et al. (2006) apresentaram relato clnico sobre um paciente

    submetido exposio ao xido nitroso em dois perodos de 8 semanas e que

    conseqentemente apresentou um quadro de mielopatia difusa, doena que se

    caracteriza por parestesia das extremidades na parte superior do corpo, pequena

    paraplegia de membros inferiores e sintomas na bexiga. De acordo com o autor, os

    exames laboratoriais demonstraram o aumento de homocistena e nveis baixos de

    vitamina B12. Os autores analisaram tambm atravs de exames especficos, o DNA

    do paciente e verificaram a existncia de polimorfismo do gene MTHFR, que est

    associado isoforma termolbil do 5-10-metil-ene-tetrahidrofolato-redutase,

    enzima tambm responsvel pelo quadro de mielopatia desenvolvido pelo

    paciente. De acordo ainda com o autor, to logo foi iniciado o tratamento com o

    acido flico e vitamina B12, os sintomas neurolgicos cederam progressivamente,

    at a cura completa.

  • 16

    Szymanska (2001) concluiu que os potenciais efeitos deletrios

    atribudos a exposio crnica ao xido nitroso, administrado como agente nico,

    produzidos nos sistemas reprodutor, neurolgico e hematopoitico no so

    conclusivos e necessitam de maiores evidncias.

    Em 1995, Malamed fez uma ampla reviso da literatura, sobre os efeitos

    deletrios do xido nitroso. Nesta oportunidade, o autor revisou 850 artigos, dos

    quais 23 receberam o mrito cientfico. A concluso foi a de que no existem bases

    cientficas que estabeleam limites mximos de exposio ao xido nitroso, para

    consultrios odontolgicos e salas cirrgicas de hospitais. De acordo com o autor,

    devido a esta controvrsia, representantes da odontologia, governo e fabricantes,

    nos Estados Unidos da Amrica, reuniram-se em setembro de 1995, para um

    encontro que foi patrocinado pela American Dental Associations Council of

    Scientific Affairs and Council of Dental Practice e a posio formal dessas entidades

    foi a de que o limite mximo de exposio ao xido nitroso no est ainda

    comprovada. Malamed (2003).

    CONTRA-INDICAES

    De acordo com Malamed (2003) e Clark & Brunick (2004), as contra-

    indicaes ao emprego da tcnica so relativas e no absolutas. Assim, o uso da

    tcnica pode no estar indicada para pacientes com personalidade compulsiva,

    claustrofbicos, crianas com severos desvios de comportamento, pacientes com

    severas desordens de personalidade e portadores de doena pulmonar obstrutiva

    crnica (DPOC - enfisema pulmonar, fibrose cstica, bronquite crnica, embolia

    pulmonar ou pneumotrax).

    De acordo com Malamed, em 1995, estas patologias, no so

    evidenciadas na clnica odontolgica pois s ocorrem em pacientes classificados

    em Asa IV, portanto no aptos ao atendimento odontolgico ambulatorial.

  • 17

    Em pacientes idosos sob uso de sulfato de bleomicina (um agente

    antineoplsico) com histria pregressa de DPOC, o O2 em concentraes

    superiores a 30% pode contribuir para o aumento da incidncia de fibrose

    pulmonar, devendo a tcnica ser contra-indicada (Fleming et al., 1998; Yagiela,

    2000; Clark & Brunick, 2003). No deve ser administrada tambm, em pacientes

    com histria recente de cirrgias otolgicas do tipo tmpanoplastia, mastoidectomia

    fechada e etapedectomia (Katayama et al., 1992).

    A SEDAO CONSCIENTE NO CONTEXTO DA SADE PBLICA

    O impacto do medo, da ansiedade e da fobia frente ao tratamento

    odontolgico, tem sido objeto de estudos h vrias dcadas. Estes fatores tm sido

    apontados em pesquisas recentes em vrios pases, como causadores de um

    grande ndice de doenas bucais e manifestaes sistmicas, que se tornaram um

    problema de sade pblica, apesar de todo o avano tcnico-cientfico dentro da

    Odontologia (Touyz & Lamontagne, 2004; Barbera & Fernandz, 2004; Krueger et

    al., 2005; De Jongh el al., 2005).

    O estresse o maior obstculo ao tratamento odontolgico em sade

    pblica, dentro dos EUA, contribuindo sobremaneira para o aumento dos ndices

    de doenas bucais e suas manifestaes (Malamed, 2003).

    No Brasil, as Diretrizes de Poltica de Sade Bucal de 2004, orientam

    para que sejam utilizados todos os recursos existentes para preveno, promoo

    e recuperao da sade bucal. Prioridade absoluta deve ser dada aos casos de dor,

    infeco e sofrimento. Mas num curto prazo, muito ainda dever ser feito no que

    tange a sistematizao destes servios, focando a ateno nos cuidados que

    devero ser tomados, para que tenhamos o mximo de segurana durante este

    atendimento, particularmente naqueles pacientes com comprometimento

    fisiolgico. No Brasil, a tcnica de sedao por via inalatria foi normatizada

    somente no ano de 2004 pelo Conselho Federal de Odontologia atravs da

  • 18

    resoluo CFO 51/2004 publicada no D.O.U. em 12/05/2004, muito embora j

    fosse regulamentada atravs do decreto lei 5081, de 24 de agosto de 1961. A

    partir de 2004, a tcnica vem sendo utilizada regularmente por um nmero

    crescente de cirurgies-dentistas em clnica privada.

    Na medicina, vrios estudos demonstram que a sedao consciente por

    via inalatria vem sendo utilizada em diversos procedimentos clnico-cirrgico-

    ambulatoriais seja pela induo com mistura pr-fixada (por ex: o Etanox, o

    Kalinox), seja por meio da mistura titulada, como droga alternativa ou substituta

    na maioria dos casos, aos benzodiazepnicos, derivados sintticos da morfina e a

    outros frmacos depressores do SNC (Waters, 1995; Michaud, 2000; McIntyre,

    2003; Abdelkefi, 2004; Ujhelyi, 2004; Akrofi 2005). Vem sendo utilizada em

    ambulncias UTIs mveis, em pacientes com infarto agudo do miocrdio e nas

    manobras de cardioverso, em funo da disponibilizao de O2 e das

    propriedades analgsicas e sedativas do N2O (Basket, 1970; Foley, 1986; Clark &

    Brunick, 2003; Malamed, 2003).

    tambm considerada como uma alternativa a anestesia geral, no

    atendimento a pacientes fbicos ou portadores de necessidades especiais,

    diminuindo assim os riscos inerentes ao procedimento a ser realizado, seus custos

    e a complexidade do tratamento (Paterson & Tahmassebi, 2003).

    O atendimento emergencial dos pacientes com pulpite se constitui em

    odontologia, em um dos procedimentos no eletivos sujeitos a maior incidncia de

    emergncias mdicas, em funo da dor, da ansiedade, do desgaste fsico e

    emocional, e da alimentao deficiente, por vezes envolvendo noite de sono

    descontinuado. Nestes pacientes via de regra os parmetros hemodinmicos e

    respiratrios estaro significativamente alterados.

    Saito et al.(1990) atenderam 160 pacientes com necessidades especiais

    sob sedao por via inalatria. Estes pacientes em sua maioria, eram portadores

    de doenas cardiovasculares, com idades iguais ou superiores a 65 anos,

  • 19

    portadores de hipertenso ou de algum grau de doena cardaca isqumica. Os

    pacientes foram atendidos em procedimentos cirrgicos de emergncia, sendo que

    a utilizao da sedao por via inalatria se mostrou um procedimento seguro,

    eficaz e indicado. Wynne et al., (1980) estudou um grupo de 24 pacientes com

    histria de doena coronria obstrutiva, apresentando dor no peito. Os autores

    demonstraram que a administrao de xido nitroso em pacientes submetidos a

    cateterismo cardaco, com angiocoronarioplastia, diminui o consumo de oxignio

    no miocrdio e atua favoravelmente no balano entre a necessidade de oxignio

    do miocrdio e a sua demanda, alm de diminuir a freqncia cardaca e a presso

    arterial, atravs de inibio da modulao simptica.

    Outros autores observaram recomendaes similares. Muzyka (1999)

    recomendou a utilizao de xido nitroso para os pacientes portadores de

    fibrilao atrial, que necessitam ser submetidos a tratamento dentrio. Zhang et al.

    (2002) observou que a administrao de 50% de xido nitroso mantm a

    estabilidade do sistema cardiovascular e seria o mtodo de sedao mais indicado

    para pacientes portadores de hipertenso e outras alteraes dos parmetros

    cardiovasculares durante as extraes dentrias. Kerr (1972), Thompson et al.

    (1976), Amey et al. (1981) e OLeary et al. (1987) indicaram a sedao consciente

    com xido nitroso, no pr atendimento hospitalar nos pacientes com infarto agudo

    do miocrdio, pois alm do efeito analgsico, a mistura O2/N2O propiciaria

    oxigenao para o miocrdio e a reduo da ansiedade que acompanha este

    quadro.

    Na Inglaterra, um estudo retrospectivo demonstra que a sedao

    consciente com a mistura N2O/O2 vem sendo utilizada com sucesso em sade

    pblica, nas clnicas de atendimento comunitrio, no manejo de crianas fbicas.

    Em sade coletiva, cada vez maior o interesse em se manter os pacientes em

    atendimento em postos de atendimento de baixa complexidade, diminuindo-se na

  • 20

    medida do possvel o encaminhamento e a demanda para os atendimentos de alta

    complexidade (Bryan, 2002).

  • 21

    3 - PROPOSIO

    Este trabalho tem por objetivo avaliar a eficcia e a viabilidade da

    tcnica de sedao com xido nitroso e oxignio por via inalatria no pronto

    atendimento de urgncia em servio odontolgico pblico.

  • 22

    4 - MATERIAL E MTODOS

    Seleo dos voluntrios

    O estudo s foi iniciado aps aprovao pelo Comit de tica em Pesquisa

    da FOP/UNICAMP e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    (ANEXO 1), conforme resoluo no 196/96 do CONEP/MS. O Protocolo foi aprovado

    sob nmero 100/2006 (ANEXO 8).

    Participaram do estudo, 100 voluntrios, de ambos os sexos, com faixa

    etria entre 18 e 50 anos, do servio odontolgico encaminhados pela rede pblica

    tanto do municpio de Vassouras, quanto dos municpios vizinhos, 20 cirurgies-

    dentistas, 5 Auxiliares de Consultrio Dentrio que atendem no CEO do Hospital da

    Universidade Severino Sombra, na cidade do Rio de Janeiro.

    O estudo foi aberto, dividido em 2 grupos de 50 voluntrios, os quais, aps

    preencherem formulrio prprio com os dados para a pesquisa, foram

    aleatoriamente (atravs de sorteio prvio) submetidos ou no ao procedimento de

    sedao.

    Foram considerados os seguintes critrios de excluso:

    1. portadores de personalidade compulsiva;

    2. portadores de claustrofobia;

    3. portadores de desordens de personalidade severas (manacos, depressivos,

    etc);

    4. portadores de doenas pulmonares obstrutivas crnicas, tais como enfisema

    pulmonar, fibrose cstica, bronquite crnica, embolia pulmonar ou

    pneumotrax;

    5. idosos sob uso de sulfato de Bleomicina ou usurios do frmaco por um

    perodo superior a um ano;

    6. histria recente de cirurgias otolgicas do tipo timpanoplastia,

    mastoidectomia fechada e etapedectomia;

  • 23

    7. usurios de quaisquer outras drogas depressoras do Sistema Nervoso

    Central;

    8. usurios que tiverem utilizado qualquer tipo de analgsico ou

    antiinflamatrio no perodo de 1 semana antes do procedimento

    odontolgico;

    9. ex-adictos (ex-cocainomanos, ex-alcolatras, etc);

    10. gestantes.

    Os voluntrios foram avaliados por meio da anamnese prvia e apresentaram

    bom estado geral de sade, porm apresentavam quadro de pulpite irreversvel,

    em um ou mais dentes superiores.

    Os seguintes equipamentos e material foram utilizados:

    1- Monitor para a verificao de parmetros hemodinmicos, marca Emai

    modelo PX 200, composto de Oxmetro de pulso, dotado de sensor digital com

    luz vermelha e infravermelha para monitorao da saturao de O2 da

    oxihemoglobina perifrica, e da freqncia cardaca, com sistema de verificao

    da presso arterial no invasiva (PANI), e mdia das presses sistlicas e

    diastlicas. Dotado de esfigmomanmetro digital, manguito e bomba de

    insuflar eletromecnica automtica. Registro ANVISA NO 80052640013, aferido

    de acordo com a portaria INMETRO N0 24, 22/02/1996 que estabelece as

    normas de fabricao e calibrao dos esfigmomanmetros;

    2- Aparelho de sedao consciente marca MATRX modelo MDM, composto de

    dois fluxmetros, sendo um de oxignio e o outro de xido nitroso, sistema de

    segurana anti-hipxia, dispensao mxima de 70% de xido nitroso e vlvula

    de liberao de oxignio com a vazo de 30L/min. Registro ANVISA No.

    80040730008.

    Procedimentos Pr-Consulta

  • 24

    Previamente ao atendimento clnico e ainda na sala de espera, ao paciente

    era informado sobre a pesquisa e, se de acordo, assinava o TCLE, sendo ento

    considerado como voluntrio. Logo a seguir o mesmo preenchia uma escala de 11

    pontos em caixa (E11), quantificando sua dor, como mostra a Figura 1. Esta escala

    constituda de 11 caixas contendo nmeros de 0 a 10, na qual o zero (0) significa

    nenhuma dor e o dez (10) a pior dor possvel.

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    Figura 1. Escala de onze pontos em caixa.

    Neste momento, o voluntrio declarava a sua condio de ansiedade frente

    ao tratamento odontolgico dentre uma das seguintes opes:

    1. Absolutamente tranqilo;

    2. Ligeiramente nervoso;

    3. Nervoso;

    4. Extremamente nervoso.

    Em seguida, era solicitado ao voluntrio que preenchesse o teste de

    Triegger inicial (Figura 2, ANEXO 6). Este teste visa identificar o grau de

    recuperao psicomotora do paciente, atravs de observao comparativa entre o

    teste inicial, feito antes do procedimento de sedao, o intermedirio realizado

    aps o paciente ter atingido o nvel ideal de sedao e o final, aplicado logo aps

    o trmino da sedao. A preciso (nmero de pontos errados) e o tempo gasto

    com o preenchimento do pontilhado do teste inicial foram comparados ao do teste

    intermedirio e ao do teste final. Se o tempo e a preciso foram aproximadamente

    iguais entre os testes inicial e final, significa que o voluntrio apresenta

    recuperao psicomotora, o que compatvel com a sua pronta liberao. Caso os

  • 25

    Nome: ______________________________________________

    Data: ___/___/____ Teste no ___________

    no pontos _________ tempo ________

    Instrues: Por favor, conecte os pontos da figura abaixo.

    Nome: ______________________________________________

    Data: ___/___/____ Teste no ___________

    no pontos _________ tempo ________

    Instrues: Por favor, conecte os pontos da figura abaixo.

    testes apresentem diferenas, o voluntrio ainda apresenta algum nvel de sedao

    e dever permanecer por mais cinco minutos sob oxignio a 100%.

    Figura 2. Teste de Trieger.

    Grupos de Estudo

    Previamente ao atendimento, o voluntrio era submetido a uma anamnese

    bsica direcionada ao procedimento de sedao, preenchido pelo voluntrio e pelo

    pesquisador (operador 1) simultaneamente, isto na forma de pergunta e

    resposta, (ANEXO 2). A seguir, era instalado e monitorado sempre pelo

    pesquisador o oxmetro de pulso com esfigmomanmetro (modelo PX200

    registrado na ANVISA sob o NO 80052640013) no polegar e no brao do voluntrio.

    Atravs do oxmetro com PANI model PX 200, o voluntrio foi submetido

    verificao/monitorao simultnea dos seguintes parmetros: freqncia cardaca

    saturao perifrica da hemoglobina ( SpO2), presso arterial sistlica e presso

    arterial diastlica.

    Procedimentos do estudo

  • 26

    Todos os voluntrios que fizeram parte da amostra foram submetidos a

    uma sistemtica rotina de atendimento que era composta dos seguintes

    procedimentos:

    1- Os pacientes chegavam ao servio de emergncia, encaminhados pela rede por

    um formulrio prprio (ANEXO 2), com a queixa de odontalgia. Preenchiam,

    ento, um questionrio de orientao diagnstica (ANEXO 3) de acordo com

    Lopes & Siqueira (2004) com a finalidade de uniformizar a busca e o

    diagnstico da patologia objeto do estudo (pulpite);

    2- Posteriormente os voluntrios eram examinados por um dos 20 dentistas, para

    a concluso do diagnstico. Os dentistas eram treinados previamente dentro da

    metodologia para que os procedimentos de acesso endodntico e de

    biomecnica fossem executados de maneira padronizada, estabelecendo-se que

    a instrumentao intra radicular (biomecnica) em seo nica seria concluda.

    A tcnica anestsica, buscando tambm a uniformidade, estabeleceu o tempo

    de 2 minutos para a injeo de todo o contedo do tubete conforme

    preconizado Malamed (2005). Os pacientes que preenchiam os quesitos desta

    pesquisa foram ento selecionados e convidados a participarem. Todos os

    pacientes convidados concordaram em participar;

    3- Quando de acordo, os voluntrios assinavam o TCLE sendo ento considerados

    sujeitos da pesquisa;

    4- Iniciando a pesquisa, o sujeito preenchia uma escala de 11 pontos em caixa e

    declarava tambm a seu grau de ansiedade frente ao tratamento odontolgico

    dentre as seguintes opes j descritas;

    5- Os voluntrios eram avaliados por meio da anamnese pelo questionrio de

    sade (ANEXO 3), preenchido pelo pesquisador (operador 1);

    6- Em seguida, independente do grupo a que o voluntrio pertencia, o

    esfigmomanmetro era posicionado na posio proximal do membro superior

    esquerdo para a obteno dos valores das presses sistlica e diastlica. O

  • 27

    sensor digital do oxmetro de pulso era posicionado no dedo polegar direito

    para a verificao da freqncia cardaca e da saturao da hemoglobina

    perifrica (SpO2), a freqncia respiratria FR era quantificada indiretamente,

    atravs do movimento torcico do voluntrio. Todos os parmetros

    hemodinmicos e respiratrios de todos os voluntrios foram colhidos,sempre

    pelo pesquisador em quatro momentos distintos - M1, M2, M3 e M4, sendo M1

    antes do incio do procedimento; M2 logo aps a aplicao do anestsico local;

    M3 10 min aps a aplicao do anestsico local e M4 aps o trmino do

    procedimento.

    7- A seguir, os voluntrios eram sorteados em uma das seguintes alternativas de

    tratamento:

    Grupo 1 Consistiu da explicao ao voluntrio acerca da patologia e dos

    procedimentos a serem realizados. Atendimento sob sedao consciente com a

    administrao da mistura gasosa de xido Nitroso (N2O) e Oxignio (O2). A

    sedao foi iniciada pela administrao de N2O em doses incrementais

    (titulao) a partir de 0% (100% de O2) e no mximo de 70% (30% de O2),

    at que as respostas clnicas quanto ao nvel ideal de sedao fossem

    alcanados. Foram observados os seguintes sinais e sintomas para orientar a

    sedao ideal do voluntrio:

    a) O voluntrio tende a manter silncio;

    b) O voluntrio relata estar relaxado e confortvel;

    c) Reduo dos movimentos palpebrais;

    d) Reduo dos movimentos espontneos;

    e) Anestesia/analgesia dos tecidos moles intra-orais;

    f) Sensao de calor;

    g) Parestesia e/ou formigamento de ps e/ou mos;

    h) Audio alterada;

    i) Sensao de leve euforia.

  • 28

    Foram considerados como sinais e sintomas da sobre-sedao:

    a) Nusea, seguida ou no de vmitos;

    b) Movimentos descoordenados;

    c) Frases incoerentes e desconexas;

    d) Paciente no cooperador;

    e) Perda progressiva da conscincia.

    Quando o voluntrio exibia um ou mais destes sinais, o tratamento era

    interrompido. No entanto, no houve nenhum caso que pudesse ser

    identificado como sobre-sedao;

    Grupo 2 Consistiu da explicao ao voluntrio acerca da patologia e dos

    procedimentos a serem realizados (iatrosedao) e o tratamento foi executado

    com o voluntrio sob idntica monitorao empregada nos voluntrios do grupo

    1, porem sem a administrao da sedao consciente;

    8- A anestesia local foi realizada em todos os voluntrios de ambos os grupos,

    empregando-se a tcnica de injeo infiltrativa subperistica, sendo injetado

    lentamente, durante dois minutos, um tubete de 1,8 mL de lidocana a 2% com

    epinefrina 1:100.000 (DFL Ind. e Com., Rio de Janeiro, RJ).

    9- A sedao dos voluntrios do grupo 1 foi feita sempre pelo pesquisador

    (operador 1), atravs de um equipamento de sedao marca Matrx, modelo

    MDM, importado dos EUA por Mandala Odontomed LTDA. A verificao da

    freqncia cardaca (FC) da presso arterial sistlica diastlica e da taxa de

    saturao da hemoglobina perifrica (SpO2), foram realizadas em ambos os

    grupos, sempre por um nico monitor EMAI, PX2000. Durante toda a fase de

    coleta de dados para a pesquisa, foram sempre utilizados os mesmos aparelhos

    e instrumentos. O operador 1 foi um cirurgio-dentista que concluiu o mdulo

    de sedao consciente pela Universidade de Loyola, habilitado em sedao por

    via inalatria pelo Conselho Federal de Odontologia, com experincia clnica e

    no ensino da tcnica desde o ano de 2000 e, portanto, capaz de induzir e

  • 29

    manter os nveis ideais de sedao de cada voluntrio, alm de saber

    reconhecer e identificar os sinais e sintomas do nvel ideal de sedao e o

    nvel de sobre-sedao;

    10- Aps a aplicao do anestsico local em ambos os grupos, o operador 2

    realizou o procedimento indicado no paciente;

    11- Previamente anestesia local dos sujeitos sorteados para se submeterem ao

    tratamento sob sedao (Grupo 1) e com o paciente j sob monitorao, o

    operador 1 verificou e anotou os parmetros cardiovasculares e respiratrios

    em M1, sendo solicitado ao sujeito que preenchesse o teste de Trieger inicial. O

    pesquisador (operador 1) colocou e ajustou a mscara nasal, iniciando a

    sedao. Aps ser constatado, atravs das respostas clnicas do voluntrio, que

    este estava no estgio ideal de sedao, foi solicitado ao voluntrio que

    preenchesse o segundo teste de Trieger;

    12- Atingido o nvel ideal de sedao, a anestesia local foi aplicada;

    13- Terminado o procedimento clnico de pulpectomia e biomec6anica dos canais

    radiculares, o voluntrio do grupo 1 recebeu 5 minutos de oxigenao extra

    (100% de O2). Aps este perodo, o teste Trieger final tambm foi preenchido

    pelo voluntrio do grupo 1.

    Parmetros de efetividade, economia e performance do operador

    Assim que o voluntrio entrou no consultrio odontolgico um cronmetro

    foi acionado, sendo outro cronmetro acionado logo aps a anestesia. O primeiro e

    o segundo cronmetro eram desligados, respectivamente, assim que o voluntrio

    deixava o consultrio e quando o voluntrio sorteado para o grupo 1 terminava de

    receber a oxigenao final. O tempo marcado pelo primeiro cronmetro foi

    considerado como perodo total de consulta e aquele marcado pelo segundo

    cronmetro foi considerado como perodo total de sedao. Foi anotado, ainda, o

    volume/minuto administrado dos gases utilizados durante o procedimento.

  • 30

    O custo da sedao foi computado atravs do perodo total de sedao

    multiplicado pelo volume/minuto individual, o qual foi multiplicado pelo custo do

    metro cbico dos gases utilizados. Para este estudo, os valores considerados foram

    R$ 12,00 por metro-cbico (1000 litros) de oxignio e R$ 30,00 por quilo (1 kg =

    540 litros de gs) de xido nitroso.

    O perodo total de consulta foi registrado, para se estimar a performance

    do operador 2 em termos de tempo gasto durante o atendimento. A eficcia do

    tratamento foi analisada pelas respostas obtidas no questionrio (ANEXO 4) do

    voluntrio e pelo questionrio respondido pelo operador 2 (ANEXO 5).

    O ANEXO 7 mostra o fluxograma proposto para a pesquisa.

    Forma de anlise dos resultados

    Os dados foram submetidos ao teste de Kruskal-Wallis e comparaes

    mltiplas (teste de Dunn), Friedman e de Mann-Whitney. O nvel de significncia

    foi fixado em 5%.

    Foram comparados os resultados referentes aos dois grupos considerando

    individualmente os parmetros E11 inicial, E11 final, condio de ansiedade, PAS,

    PAD, FC, FR, SpO2 e teste de Trieger inicial e final. Estes foram submetidos ao de

    Mann-Whitney ( =0,05).

    Os parmetros de efetividade, economia e performance do operador foram

    analisados pelo teste de Mann-Whitney ( =0,05). Os dados demogrficos dos

    voluntrios foram computados em tabelas descritivas.

  • 31

    5 - RESULTADOS

    A Tabela 1 mostra as caractersticas dos dois grupos. Os voluntrios de

    ambos os grupos eram na sua maioria ASA I, sendo que 4 e 5 voluntrios foram

    classificados como ASA II nos grupos 1 e 2, respectivamente.

    Tabela 1. Distribuio dos 100 voluntrios dentro dos dois grupos em

    estudo.

    Grupo Mulheres Homens

    N Sedados 19 31

    No sedados 27 23

    Idade (anos) Sedados 37,2 (10,6) 39,5 (8,7)

    No sedados 40 (8,2) 38,2 (9,4)

    IMC (kg/m) Sedados 23,8 (3,9) 25 (3,9)

    No sedados 25,5 (2,7) 27,2 (3,4)

    O grau de instruo dos voluntrios foi o mesmo dentro de cada grupo

    em estudo (32 voluntrios com primeiro grau, 15 com segundo grau e 3 com

    terceiro grau).

    A Tabela 2 mostra o nmero de dentes superiores que apresentavam

    pulpite irreversvel durante o atendimento inicial aos voluntrios.

    Tabela 2. Distribuio dos dentes com pulpite irreversvel dentro dos

    dois grupos em estudo.

    Dentes afetados Sedados No sedados

    Caninos 8 7

    Incisivos 9 12

    Molares 13 14

    Pr-molares 20 17

  • 32

    Sedados No sedados0

    25

    50

    75

    100

    125

    150

    175

    Te

    mp

    o (

    em

    min

    )

    Todos os voluntrios foram submetidos ao mesmo procedimento clnico,

    sendo que o tempo total (mediana 1 e 3 quartis) de atendimento quando os

    voluntrios foram sedados (grupo 1) foi 58 (50 91,25) minutos e 67 (55,25

    127,5) minutos quando no foram sedados (grupo 2). Estes valores mostraram

    diferenas estatisticamente significantes (Mann-Whitney, p=0,0167) entre si e so

    demonstrados na Figura 3.

    Os voluntrios do grupo 1 permaneceram durante, em mdia, 53,3

    (29,2) minutos sedados sem que houvesse quaisquer efeitos adversos, sendo

    necessrio em mdia 6,0 (1,5) minutos para ocorrer a induo da sedao e, em

    mdia, 6,3 (1,5) minutos para oxigenar os voluntrios aps o procedimento.

    Comparando-se apenas o tempo de sedao, ou seja, o perodo de tempo em que

    os voluntrios do grupo 1 foram efetivamente tratados, e comparando-o com o

    tempo total gasto para o tratamento dos voluntrios do grupo 2 foi possvel

    observar uma diferena ainda maior e altamente significante (Mann-Whithney,

    p

  • 33

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    25 40 45 50 60 65 70

    Porcentagem de N2O na mistura

    N

    mero

    de in

    div

    du

    os

    A Tabela 3 mostra o nvel de ansiedade e de dor que os indivduos

    apresentavam antes do procedimento clnico.

    Tabela 3. Nvel de ansiedade declarado e dor (escala de 11 pontos em

    caixa) de acordo com os grupos em estudo e com o gnero dos indivduos.

    Declarao de ansiedade

    Mediana (1 - 3 quartis)

    p

    (Mann-Whitney)

    Escala 11 pontos

    Mediana (1 - 3 quartis)

    p

    (Mann-Whitney)

    Sedados 2,5 (2 - 3) 0,9313

    6 (5 - 7) 0,3610

    No sedados 2,5 (2 - 3) 6 (6 - 7)

    Mulheres 3 (2 - 3) 0,8356

    6 (6 - 7) 0,2132

    Homens 2 (2 - 3) 6 (5 - 7)

    Como pode ser observado na Tabela 3, no houve diferenas

    estatisticamente significantes em relao aos grupos ou aos gneros considerando

    o nvel de ansiedade e de dor.

    A Figura 4 mostra a distribuio dos voluntrios do Grupo 1 de acordo

    com a concentrao de N2O necessria para sedar os voluntrios.

    Figura 4. Distribuio dos sujeitos de acordo com a porcentagem de

    N2O na mistura com O2 necessria para sed-los. A linha vermelha representa a

    curva de tendncia.

  • 34

    Absoluta/e tranqilo

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    Concentr

    ao d

    e N

    2O

    na m

    istu

    ra

    Ligeira/e nervoso

    Nervoso Extrema/e nervoso

    4 a 5 6 a 7 8 a 9

    Nvel de sedao declarada Nvel de dor

    A curva observada na Figura 4 mostra que houve uma tendncia em se

    utilizar concentraes maiores do que 30% de N2O na mistura nos voluntrios do

    estudo.

    A Figura 5 mostra a distribuio das porcentagens de N2O necessrias

    para sedar os voluntrios do Grupo 1 de acordo com o nvel inicial de ansiedade e

    com o nvel de dor medido pela escala de 11 pontos em caixa.

    Figura 5. Concentrao de N2O na mistura necessria para sedar os

    sujeitos de acordo com o nvel de sedao e de dor observados inicialmente.

    A anlise dos dados revelou que no houve diferenas estatisticamente

    significantes entre as concentraes de N2O necessrias para sedar os sujeitos em

    relao ao nvel de ansiedade (Kruskal-Wallis, p=0,2200) ou de dor (Kruskal-

    Wallis, p=0,3185) que apresentavam inicialmente. O gnero dos sujeitos tambm

    no afetou (Mann-Whithney, p=0,8027) as concentraes de N2O necessrias

    para sed-los, sendo que a mediana (1 e 3 quartis) foi de 62% (50 66) para as

    mulheres e de 58% (48 66) para os homens.

  • 35

    A Figura 6 representa o tempo necessrio para o preenchimento e o

    nmero de pontos que os sujeitos do Grupo 1 erraram durante o teste de Trieger,

    avaliado em trs perodos operatrios (pr, trans e ps).

    Figura 6. Tempo necessrio ao preenchimento e nmero de pontos

    errados durante o teste de Trieger. A linha central representa a mediana, a caixa

    representa o 1 e 3 quartis e as suas representam os valores mximo e mnimo.

    A anlise estatstica revelou que, tanto o tempo quanto o nmero de

    pontos errados, foram maiores (Friedman, p

  • 36

    Tabela 4. Mediana (primeiro e terceiro quartis) dos parmetros

    fisiolgicos observados durante os cinco momentos operatrios.

    Parmetros fisiolgicos

    Grupos Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia 10 min ps-anestesia

    Final

    Presso sistlica

    (mmHg)

    Sedados 137.5

    (130 - 150)

    130

    (120 - 140)

    120

    (120 - 130)

    125

    (120 - 130)

    130

    (120 - 130)

    No

    sedados 140

    (130 - 143.7)

    140

    (140 - 145)

    150

    (145 - 150)

    145

    (140 - 150)

    130

    (130 - 140)

    Presso

    diastlica (mmHg)

    Sedados 80

    (80 - 90) 80

    (80 - 85) 80

    (80 - 85) 80

    (80 - 85) 80

    (80 - 80)

    No sedados

    80 (72.5 - 83.7)

    80 (80 - 83.7)

    80 (80 - 85)

    80 (80 - 85)

    80 (80 - 83.7)

    Freqncia cardaca

    Sedados 107

    (100 - 113) 97.5

    (85 - 100) 80

    (75 - 80.7) 65

    (62 - 68) 78

    (70 - 80)

    No

    sedados 110

    (101 - 114.7) 100

    (98 - 102) 123

    (120 - 126) 110

    (100 - 117.2) 90

    (80 - 97.7)

    Freqncia

    respiratria

    Sedados 18

    (17 - 19)

    16.5

    (15 - 18)

    14

    (13 - 15)

    13

    (12 - 14)

    15

    (14 - 17.7)

    No

    sedados 18

    (16.2 - 19)

    17

    (15 - 18)

    20

    (18.2 - 22)

    18

    (17 - 19)

    17

    (15.2 - 18)

    Presso parcial de oxignio

    (SpO2)

    Sedados 95

    (94 - 96) 100

    (100 - 100) 100

    (100 - 100) 100

    (100 - 100) 96.5

    (96 - 98)

    No

    sedados 95

    (93.2 - 96)

    94

    (92.2 - 95)

    91

    (90 - 92)

    91.5

    (90 - 93)

    95

    (95 - 96)

    A anlise estatstica mostrou que a presso sistlica dos voluntrios

    sedados diminuiu significativamente (Kruskal-Wallis, p

  • 37

    observados partir da segunda aferio entre os dois grupos, considerando cada

    perodo estudado.

    No houve diferenas estatisticamente significantes (Kruskal-Wallis,

    p=0,6899) entre os grupos, nem entre os diferentes perodos, com relao s

    presses diastlicas.

    As freqncias cardacas e respiratrias seguiram aproximadamente o

    mesmo padro observado para a presso sistlica, observando-se uma diminuio

    significativa (Kruskal-Wallis, p

  • 38

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final

    Sedados No sedados

    Pre

    sso

    art

    eri

    al (

    mm

    Hg

    )

    50

    70

    90

    110

    130

    150

    Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final

    Sedados No sedados

    Fre

    q

    n

    cia

    card

    aca (

    bat/

    min

    )

    Figura 7. Presso arterial (mediana; 1 e 3 quartis) sistlica (linhas

    cheias) e diastlica (linhas pontilhadas) dos sujeitos dos grupos 1 (linhas verdes) e

    2 (linhas vermelhas) nos cinco tempos operatrios.

    Figura 8. Freqncia cardaca (mediana; 1 e 3 quartis) dos sujeitos

    dos grupos 1 (linha verde) e 2 (linha vermelha) nos cinco tempos operatrios.

  • 39

    85

    90

    95

    100

    Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final

    Sedados No sedados

    Sp

    O2

    (%)

    10

    15

    20

    25

    Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final Inicial Cadeira Ps-

    Anestesia

    10 min ps-

    anestesia

    Final

    Sedados No sedados

    Fre

    q

    n

    cia

    re

    sp

    ira

    tri

    a (

    mo

    v/m

    in)

    Figura 9. Freqncia respiratria (mediana; 1 e 3 quartis) dos sujeitos

    dos grupos 1 (linha verde) e 2 (linha vermelha) nos cinco tempos operatrios.

    Figura 10. Presso parcial de oxignio (SpO2) no sangue (mediana; 1 e

    3 quartis) dos sujeitos dos grupos 1 (linha verde) e 2 (linha vermelha) nos cinco

    tempos operatrios.

  • 40

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    0 30 60 90 120 150

    Tempo de sedao (minutos)

    Custo

    (R

    $)

    Para observar a relao custo por hora trabalhada, foram computados

    os gastos e o tempo total de atendimento aos voluntrios, de maneira individual. A

    Figura 11 mostra o custo da sedao em funo do tempo pelo qual o sujeito

    permaneceu sedado.

    Figura 11. Custo da sedao em funo do tempo da mesma. A reta

    azul mostra a curva de tendncia.

    Os resultados expressos na Figura 11, quando analisados pela

    correlao de Pearson, mostraram uma correlao alta (r=0,9236) e significante

    (p

  • 41

    Tabela 5. Proporo (em porcentagem) das respostas s questes dos

    questionrios preenchidos pelos sujeitos da pesquisa.

    Pergunta Grupo Absolutamente

    tranqilo Ligeiramente

    nervoso Nervoso

    Extremamente nervoso

    Antes do tratamento,

    voc se sentiu:

    Sedados 10 23 11 6

    No

    sedados 11 18 17 4

    Durante a anestesia, voc se sentiu:

    Sedados 38 12 0 0

    No sedados

    0 20 30 0

    Durante o tratamento,

    voc se sentiu:

    Sedados 50 0 0 0

    No sedados

    40 10 0 0

    Quando o tratamento

    terminou, voc se sentiu:

    Sedados 50 0 0 0

    No sedados

    40 10 0 0

    No houve diferena estatisticamente significante (Mann-Whithney,

    p=0,7029) entre os grupos em relao pergunta Antes do tratamento, voc se

    sentiu. Entretanto, foram observadas diferenas estatsticas significantes em

    relao s perguntas Quando o tratamento terminou, voc se sentiu (exato de

    Fisher, p=0,012), Durante a anestesia, voc se sentiu (Mann-Whithney,

    p

  • 42

    Tabela 6. Proporo (em porcentagem) das respostas s questes dos

    questionrios preenchidos pelos operadores.

    Pergunta Grupo Absolutamente

    tranqilo Ligeiramente

    nervoso Nervoso

    Extremamente nervoso

    Antes do

    tratamento, voc acha que o

    paciente estava:

    Sedados 1 30 17 2

    No sedados

    1 27 21 1

    Durante a

    anestesia, voc acha que o

    paciente estava:

    Sedados 38 12 0 0

    No sedados

    1 30 19 0

    Durante o tratamento,

    voc acha que o

    paciente estava:

    Sedados 50 0 0 0

    No sedados

    7 43 0 0

    Quando o tratamento

    terminou voc acha que o paciente estava:

    Sedados 50 0 0 0

    No

    sedados 40 10 0 0

    No houve diferena estatisticamente significante (Mann-Whithney,

    p=0,6741) entre os grupos em relao pergunta Antes do tratamento, voc

    acha que o paciente estava?. Entretanto, foram observadas diferenas estatsticas

    significantes em relao s perguntas Quando o