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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO NA LIGA Cu-Al-Mn COM MEMÓRIA DE FORMA DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA. ORIENTADOR: CEZAR HENRIQUE GONZALEZ EUCLIDES APOLINÁRIO CABRAL DE PINA RECIFE, Março de 2006.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO NA LIGA Cu-Al-Mn COM MEMÓRIA DE FORMA

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA.

ORIENTADOR: CEZAR HENRIQUE GONZALEZ

EUCLIDES APOLINÁRIO CABRAL DE PINA

RECIFE, Março de 2006.

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P645e Pina, Euclides Apolinário Cabral de. Estudo da estabilização na liga Cu-Al-Mn com memória de

forma. – Recife: O Autor, 2006. vii, 60 folhas. : il. ; fig., tabs., gráfs. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.

CTG. Engenharia mecânica, 2006. Inclui bibliografia.

1. Engenharia mecânica – Materiais e fabricação. 2. Ligas Cu-Al-Mn – Estudo da Estabilização. 3. Ligas Cu-Al-Mn – Memória de forma. 4. Estabilização MartensíticaI. Título.

UFPE 621 CDD (22.ed.) BCTG/2006-37

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AGRADECIMENTOS

A minha família pelo apoio dado durante a realização deste trabalho apesar da distância que nos separa.

Especial ao professor Cezar Gonzalez pela orientação, pelos valiosos ensinamentos

técnicos, incentivo, amizade e por toda ajuda, na realização deste trabalho. Aos colegas de mestrado em especial, Orlando, Carlos, Paulo, Henrique Mineiro,

Anastácia, Joelma, Iza Carvalho, pela colaboração, sugestões, idéias e ajuda durante todo esse tempo de trabalho.

Aos professores Ricardo Sanguinetti, Tiago Rolim, Severino Urtiga e Armando Shinohara

pelo incentivo e apoio dado a mim durante esta tarefa e a Oscar Araújo pelo apoio e ajuda na realização deste trabalho.

Aos alunos de iniciação científica Eduardo e Cidrack sempre prestativos e participativos

nas tarefas de laboratório. Ao Gerson pela colaboração nos trabalhos práticos da oficina. Especial a Tereza pela compreensão, paciência e benevolência de me suportar durante este

tempo de trabalho. A Débora e Adriana pela ajuda, incentivo e paciência que tiveram comigo. A D. Eliane e Deise pelo tratamento recebido nos assuntos acadêmicos e também pelo

incentivo. A António Alves, Fernando Viegas, Joaquim Varela, Lurdes Pires e Nélida Rodrigues

incentivadores e colaboradores de primeira grandeza. A bibliotecária Ceça Vieira e Arlinda Leite pelo ajuda prestada na busca de livros,

periódicos e outras publicações. O autor deste trabalho agradece a CAPES pelo apoio financeiro prestado para realizar este

trabalho. Agradece também aos projetos CT - INFRA – FINEP - 2003, PADCT – CNPq – 2004 e ao

CTEnerg – CNPq – 2004.

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo estudar alguns tratamentos térmicos para se eliminar ou inibir o processo de estabilização da martensita que é um fenômeno indesejado nas aplicações tecnológicas das ligas com memória de forma, provocando importantes alterações nos fenômenos de memória de forma, resultando em importantes modificações nos comportamentos físicos-mecânicos do material. A estabilização da martensita pode ser eliminada ou atenuada através do emprego de tratamentos térmicos específicos ou a utilização de novos elementos de ligas. O estudo do envelhecimento envolve também os comportamentos das interfaces martensita/martensita e austenita/martensita, e da tensão crítica de indução da transformação. Foi estudada uma liga de composição nominal Cu-10%Al-8,4%Mn, que tem temperaturas críticas das transformações martensíticas em torno da temperatura ambiente, obtida a partir da fusão dos elementos químicos num forno de indução de 24 KVa. Amostras foram preparadas para estudo da microestrutura (microscopia ótica), da estrutura cristalina (difração de raios-X), para caracterização das temperaturas de transformação de fase (resistividade elétrica e ensaio de flexão). As amostras foram submetidas aos seguintes tratamentos térmicos de betatização: Têmpera em água a 25°C (BT25), Têmpera em água a 100°C (BT100) e Têmpera ao Ar (BTAr). Em seguida a liga foi caracterizada microestruturalmente apresentando a fase martensítica β’1, que após aquecimento apresenta as características da transformação martensítica inversa, com a fase austenítica ou matriz com estrutura de super-rede DO3. Na difração de raios-X foram obtidas características da fase martensítica β’1, com planos característicos da estrutura ordenada ortorrômbica 18R (β’1). Na resistividade elétrica a baixa temperatura analisou-se o comportamento das curvas de resistividade elétrica versus temperatura, para os diferentes procedimentos de tratamentos térmicos, e a partir das curvas foram determinadas às temperaturas críticas de transformação (AS, AF, MS e MF), as amplitudes térmicas (AT) e as histereses térmicas (HT). Foram realizados ensaios de flexão do tipo viga engastada para simular o efeito memória de forma com uma carga de 13 MPa aplicada à amostra através de um sistema de polia sendo realizada a ciclagem térmica. As curvas da deformação versus temperatura após carregamento da amostra na fase martensítica apresenta uma deformação, em seguida é aquecida e depois resfriada. No aquecimento há um comportamento linear da deformação em função da temperatura. No resfriamento a amostra apresenta um aumento da deformação pseudoplástica. Na resistividade elétrica a alta temperatura verificou-se as modificações nas curvas de temperaturas elevadas onde ocorrem às reações de transição ordem-desordem e de precipitação de fases. Difrações de raios-X foram realizadas a fim de se observar as modificações estruturais da fase martensítica. Os resultados foram analisados em função dos fenômenos da estabilização martensítica tais como supersaturação de lacunas de têmpera e transições ordem-desordem. Os resultados indicam alguns parâmetros que devem ser utilizados para minimizar os problemas causados pelo envelhecimento das ligas Cu-Al-Mn com memória de forma.

Palavras chaves: Efeito memória de forma, ligas Cu-Al-Mn, estabilização martensítica.

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ABSTRACT

The aim of this work is to study some thermal treatments to eliminate or to inhibit the stabilization process of the martensite, which is an undesirable phenomenon in the technological applications of the shape memory effect, resulting in important modifications in the phenomena of shape memory, resulting in modifications important in the physical-mechanical behaviours of the material. The stabilization of the martensite can be eliminated or lessened through the employment of specific thermal treatments or the use of new element alloys (chemical). The study of the aging (stabilization process) also involves of the martensite/martensite and austenite/martensite interfaces displacement behaviour and critical stress induced transformation. There has been studied an alloy of nominal composition of Cu-10Al-8,4Mn (%wt), which has critical temperature of the martensitic transformations around the environmental temperature, has been obtained by the fusion of the chemical elements in an induction furnace of 24 KVa. Samples have been prepared to study the microstructure (optical microscopy), of the crystalline structure (X-rays diffraction), to the characterization of the temperatures of phase transformation (electric resistivity and flexions test). The samples have been submitted to the following thermal treatments of betatization: quenched in water at room temperature (Q25), quenched in water at 100°C (Q100) and quenched on air (QA). Then the alloy has been microstructurally characterized introducing the martensitic phase β’1 that after heating shows the features of the inverse martensítica transformation, with the austenite phase or matrix with super-net structure DO3. In the X-ray diffraction there has been obtained features of the martensitic phase β’1, with characteristic designs of the orthorhombic ordered structure 18R (β’1). Flexions test of the set stones beam type have been accomplished in order to simulate the shape memory effects with a load of 13 MPa applied to the sample through a system of pulley being accomplished the thermal cycling. The deformations curves versus temperature after the loading of the sample in the martensitic phase shows a deformation, and then it is heated and after cooled. In the heating there is a linear behaviour of the deformation due to temperature. In the cooling the sample shows an increase of the pseudoplastic deformation. In the electrical resistivity variation to elevated temperatures where occur the transition reactions order – disorder and of precipitation of phases. X-rays diffractions have been accomplished in the samples of each thermal treatment in the order to observe the structural modifications of the martensitic phase. The results have been analyzed according to the phenomena of martensitic stabilization such as supersaturation of the vacancies of quench, order – disorder transformations and others. The results show some parameters that should be used to minimize the problems caused by aging of alloys Cu-Al-Mn with shape memory effects.

Keywords: Shape memory alloys, Cu-Al-Mn alloys, martensitic stabilization.

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INDICE

1. INTRODUÇÃO 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2

2.1. HISTÓRICO 2 2.2. EFEITO MEMÓRIA DE FORMA 3 2.3. TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA 7

2.3.1. HISTERESE 8 2.4. CLASSIFICAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO MARTNSÍTICA 10

2.4.1. TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA EXPLOSIVA 10 2.4.2. TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA ATÉRMICA 10 2.4.3. TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA TERMOELÁSTICA 11

2.5. FENÔMENOS DE MEMÓRIA DE FORMA 12

2.5.1. EFEITO MEMÓRIA DE FORMA SIMPLES 12 2.5.2. EFEITO MEMÓRIA DE FORMA REVERSÍVEL 13 2.5.3. SUPERELASTICIDADE 14 2.5.4 COMPORTAMENTO TIPO BORRACHA 14

2.6. TIPOS DE LIGAS 15 2.7. AS LIGAS A BASE DE COBRE 16 2.8. ESTABILIZAÇÃO DA MARTENSITA 19 2.9. SISTEMA TERNÁRIO Cu-Al-Mn 20 2.10. FASE TRANSIÇÃO ORDEM – DESORDEM NA LIGA TERNÁRIA Cu3-XMn2Al 20 2.11 TIPOS DE MARTENSITA 22

3. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 24

3.1. ELABORAÇÃO DA LIGA 24

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3.2. TRATAMENTOS TÉRMICOS 24 3.3. MICROSCOPIA 25 3.4. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 25 3.5. DISPOSITIVO PARA MEDIÇÃO DA VARIAÇÃO DE RESISTIVIDADE EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA 26

3.5.1. RESISTIVIDADE ELÉTRICA A BAIXA TEMPERATURA 27 3.5.2. RESISTIVIDADE ELÉTRICA A ALTA TEMPERATURA 28

3.6. MÁQUINA DE FLEXÃO 29

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 32

4.1. CARACTERIZAÇÃO DA LIGA 32 4.2. COMPORTAMENTOS DAS TEMPERATURAS CRÍTICAS COM OS TRATAMENTOS TÉRMICOS 34 4.3. ENSAIO DE FLEXÃO 38 4.4. RESISTIVIDADE ELÉTRICA A ALTATEMPERATURA 45 4.5. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 47

5. CONCLUSÕES 53 6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 54 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 55 8. ANEXOS 61

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1. INTRODUÇÃO

As Ligas com Efeito Memória de Forma (LMF) são materiais funcionais não-

convencionais que apresentam uma larga faixa de aplicações potenciais baseadas em suas

propriedades termoelásticas. Estas propriedades são classificadas como: efeito memória de forma

simples (EMFS), efeito memória de forma reversível (EMFR), Pseudoelasticidade que engloba a

superelasticidade e o comportamento tipo borracha; e elevada capacidade de amortecimento

(Mellor et al, 1990). Estas propriedades são originadas da transformação martensítica

termoelástica que é caracterizada por uma transformação sem difusão (primeira ordem), com

deformação homogênea da rede cristalina, constituída principalmente por uma tensão de

cisalhamento (Cohen et al,1979).

Aplicações tecnológicas das LMF enfrentam dificuldades das quais podemos citar a

estabilização martensítica e a modelação matemática. Neste trabalho será focalizada a

estabilização martensítica que está relacionada ao envelhecimento após manutenção prolongada

abaixo da temperatura de transformação martensítica (MS), quando esta temperatura se situa

acima da temperatura ambiente. O processo de estabilização martensítica está ligado a vários

aspectos, tais como: tratamentos térmicos, composição das ligas, tempo de envelhecimento e

outras. O efeito da estabilização martensítica degrada as propriedades de memória de forma

(perda de memória/amnésia) e se manifesta de diversas maneiras:

• Deslocamentos das temperaturas da transformação inversa (As e AF), com aumento da

amplitude térmica;

• Diminuição da fração de martensita transformada, que pode chegar até mesmo à

supressão da transformação;

• Alterações e irregularidades durante a transformação medidas, por exemplo, através de:

calorimetria, resistividade, emissão acústica e outros;

• Diminuição do coeficiente de amortecimento e acréscimo do módulo em relação a

martensita não estabilizada.

Os principais mecanismos da estabilização são: bloqueios das interfaces pela lacuna

provenientes do tratamento térmico, modificação da estrutura martensítica e retenção do grau de

ordem da austenita depois do tratamento térmico.

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Neste trabalho o objetivo é estudar a estabilização da martensita numa liga de Cu-Al-Mn,

com temperatura de transformação acima da temperatura ambiente através de três tipos de

tratamentos térmicos, que são: Têmpera a 25°C, Têmpera a 100°C e Têmpera ao Ar.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. HISTÓRICO

No século XIX pesquisadores começaram a identificar microestruras e suas influencias no

comportamento mecânico das ligas ferrosas, empregando um microscópio ótico na superfície do

aço. Em 1895 Osmond sugeriu homenagear os pioneiros da arte metalográfica atribuindo as

seguintes nomenclaturas às novas microestruturas descobertas: troostista (Troost), sorbita

(Sorbis) e martensita (Martens), (Gonzalez, 1993).

Na década de 30 Kurdjumov utilizou o termo “martensita” para descrever estruturas

aciculares formadas em ligas de cobre resfriadas rapidamente. Atualmente, esta terminologia é

atribuída a qualquer liga que apresente transformação de fase com características das reações

martensíticas idênticas as que ocorrem nos aços.

As ligas com memória da forma são materiais metálicos que exibem propriedades

termoelástica muito originais: Efeito da Memória da Forma e Pseudoelasticidade

(superelasticidade e comportamento tipo borracha) . Arne Ölander, um metalurgista austríaco,

observou primeiramente estas propriedades incomuns em 1932, numa liga Au-Cd (Wayman and

Harrison, 1989). Dentre as ligas pesquisadas, as mais eficazes e extensamente usadas incluem o

Ti-Ni, Cu-Zn-Al e Cu-Al-Ni. Os primeiros estudos sobre o fenômeno do Efeito de Memória de

Forma (EMF) surgiram na década de 50 com as ligas Au-Cd e In-Tl. O emprego das ligas

susceptíveis ao Efeito Memória de Forma cresceu consideravelmente desde a sua primeira

utilização como conectores nas tubulações do submarino nuclear americano Nautillus como

substituto da solda nos tubos submetidos à alta pressão que haviam se rompido na zona afetada

pela solda quando este se encontrava sob a calota polar em 1957. A partir deste ano o U.S. Naval

Ordenance Laboratory (NOL) encomendou uma pesquisa a Buehler e colaboradores, os quais

desenvolveram a mais famosa das ligas com efeito memória de forma, o Nitinol (Ni + Ti + Nol),

com aproximadamente 50% de cada elemento (Wayman and Harrison, 1989), (Quadros e

Gonzalez, 1992).

Na década de 60 aconteceu um grande avanço com o surgimento da liga Ti-Ni e as ligas a

base de Cu. As ligas a base de Ferro com EMF foram descobertas apenas na década de 70. No

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Brasil há que ressaltar os esforços realizados desde a década de 70, na Universidade Federal de

Minas Gerais, liderado pelo Prof. Dr. Evandro Mirra de Paula e Silva e posteriormente pela Profª.

Margareth Spangler Andrade e colaboradores tendo realizado Dissertações de Mestrado,

relatórios de pesquisas para a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais e publicados vários

artigos (Quadros e Gonzalez, 1992).

Na UFPE foi deu-se início aos estudos das ligas com memória de forma nos finais da

década de 80 através do Prof. Dr. Ney Quadros. A área de Materiais do Departamento de

Engenharia Mecânica (DEMEC) realizou um intenso trabalho a partir de um projeto com a

FINEP (1987) que permitiu a montagem dos laboratórios básicos para a obtenção dessas ligas à

base de cobre e desde então foram estudadas as ligas CuZn, CuSn, CuZnAl e CuZnSn.(Quadros,

1997).

2.2. EFEITO MEMÓRIA DE FORMA (EMF)

Ligas com efeito memória de forma apresenta a capacidade de recuperar a sua forma

original após serem deformadas plasticamente abaixo da temperatura MF, (temperatura do final

da transformação martensítica), através de um aquecimento acima da temperatura AF

(temperatura do final da transformação austenítica). No efeito memória de forma a recuperação

de forma consiste na reversão da martensita induzida termicamente por resfriamento ou

mecanicamente. Os principais fatores que influenciam na recuperação de forma são: composição

química, estrutura inicial, treinamento, tamanho de grão e outros. Estas ligas apresentam

aplicações em muitos campos, tais como nas indústrias: aeroespacial, petrolífera e aplicações

biomédicas.

Nas ligas com efeito memória de forma a recuperação da geometria original do corpo ou o

desenvolvimento de consideráveis forças de restituição, após a imposição de um campo de

temperatura e/ou de tensões, é devida às transformações de fase induzidas no material.

Basicamente, as LMF apresentam duas fases cristalográficas distintas: austenita e martensita. O

modelo para abordar o EMF pode ser na escala microscópica e macroscópica.

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A primeira, que leva em consideração os aspectos da variação da estrutura cristalina da liga,

é mostrada na figura 2.1.

Figura 2.1 – Transformação de fase das ligas com memória de forma (www.

memry.com/nitinolfaq).

Inicialmente, a liga é resfriada da fase austenítica (A) para a fase martensítica (M), depois a

estrutura é deformada pseudoplasticamente (P). Em seguida, ela é aquecida para restituir sua

estrutura inicial e sem deformação (recuperação da forma).

Estudos experimentais revelam a ocorrência de uma deformação macroscópica quando um

único cristal austenítico de estrutura ordenada cúbica de corpo centrado dá origem a um cristal

martensítico cúbico de face centrada ou ortorrômbica. Este cristal martensítico possui a forma de

placa e, durante sua nucleação, é identificada uma interface ou plano de contato entre as duas

fases (austenita e martensita), conhecido como plano de hábito. No caso da formação de diversos

cristais simultaneamente aparecem problemas de acomodação entre os novos cristais

martensíticos e os cristais austeníticos pré-existentes. Se não houver direção preferencial para os

novos cristais, estes aproveitam à existência de diferentes planos de hábito possíveis, para formar

diversas variantes (cristais ou plaquetas com orientações cristalográficas diferentes). Existe a

possibilidade da formação de vinte e quatro variantes de martensita. Caso haja uma direção

preferencial, em geral quando a transformação é induzida por um estado de tensões, todos os

cristais obedecem a este plano de hábito favorável, constituindo assim, o processo de reorientação

das variantes da martensita. Um plano de hábito e uma direção de orientação da deformação

constituem uma variante, como ilustrado na figura 2.2. Estas vinte e quatro variantes ou

MEMÓRIA DE FORMA

Deformação

Tem

pera

tura

A

MP

Deformação

MEMÓRIA DE FORMA

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orientações cristalográficas são arranjadas em seis planos contendo quatro variantes cada. A

aplicação de um carregamento dá início a um processo de conversão (detwinning) de três das

quatro variantes de martensita obtidas inicialmente em uma única que obedece à direção

preferencial dada pelo alinhamento dos planos preferenciais com a direção principal do

carregamento (Funabuko, 1987).

Figura 2.2 - Desenvolvimento das 24 possibilidades de transformação da estrutura austenítica em

martensítica (Funabuko, 1987).

A segunda abordagem é a macroscópica, onde se apresenta uma preocupação com os

aspectos fenomenológicos associadas ao comportamento termomecânico das LMF, como ilustra

a figura 2.3..

Figura 2.3 - Abordagem macroscópica do efeito memória de forma (www.

memry.com/nitinol). Nesta situação, o efeito ocorre quando o material em seu estado martensítico (baixa temperatura)

(A) é deformado pseudoplasticamente através da aplicação de uma carga (B), quando do

descarregamento desta tensão o material permanece deformado devido à acomodação das placas

Memória de Forma

A

B

C

D

E

A

B

C

D

E

Memória de Forma

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de martensita nas direções preferenciais (C), até ser submetido ao aquecimento a temperaturas

superior a AF (D), revertendo o material a sua forma inicial sem deformação (E).

As ligas com memória de forma apresentam dois fenômenos fundamentais: efeito memória

de forma e a pseudoelasticidade. O efeito de memória de forma pode ser dividido em duas

modalidades: efeito de memória de forma simples, (one-way shape memory effect – OWSME ou

EMFS) e efeito memória de forma reversível (two-way shape memory effect – TWSME ou

EMFR). Este último tem sido largamente estudado nos últimos anos devido a sua grande

possibilidade de aplicações tecnológicas. A pseudoelasticidade é composta pelos fenômenos da

superelasticidade e pela elasticidade enantiomorfa ou comportamento tipo borracha.

Apesar de ser rígida, a fase austenítica pode ser mecanicamente transformada na fase

martensítica e tornar-se elástica, pela aplicação de uma tensão mecânica. Esta propriedade é a

superelasticidade, entretanto para que a superelasticidade ocorra é necessário que a amostra esteja

na fase austenítica, isto é, acima da temperatura final de transformação austenítica, AF (T>AF).

A figura (2.4) ilustra a superelasticidade da liga com memória de forma. O carregamento é

absorvido pela martensita, que é a forma mais macia. No entanto, se o carregamento for

diminuído a martensita começa a transformar-se em austenita desde que a temperatura do fio se

mantenha ainda acima de AF. Este fenômeno é explicado pelo fato da tensão externa promover a

formação de variantes resultando da transformação martensítica termoelástica induzida por

tensão (MIT).

Figura 2.4 – Variação das temperaturas de transformação com o carregamento.

Esta propriedade se origina do fato que para temperatura acima da AF a fase a matriz é a

fase estável. Quando aplicada uma carga o equilíbrio entre as fases diminuem fazendo com que o

T1 Temperatura

L Carga

T1 Temperatura

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MS aumente (Suzuki, 89) e (Gonzalez, 2002). Na figura 2.4, podemos verificar que as

temperaturas críticas variam linearmente com a carga. Assim para uma temperatura T1, a

martensita será induzida para uma carga L1.

A liga manterá a propriedade elástica apenas enquanto estiver sobre tensão nas condições

citadas, entretanto após a remoção da tensão a fase martensítica se transformará novamente em

fase austenítica e a liga retornará a condição não deformada. No descarregamento a

transformação reversa é processada, restaurando a estrutura cristalina da fase matriz em sua

configuração original.

O efeito tipo borracha acontece quando a liga é envelhecida na fase martensítica e depois é

deformada isotermicamente. Após a retirada da tensão externa a amostra retorna a sua forma

original podendo reter uma deformação residual que será recuperada se a amostra for aquecida

para temperatura acima de AF. O envelhecimento se dá quando se mantém uma amostra numa

temperatura apropriada durante um grande intervalo de tempo. A fase característica nesse caso

apresenta baixo modulo de elasticidade e o material metálico parece uma borracha. As principais

aplicações é a de amortecimento de vibrações.

2.3. TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA

A transformação martensítica é um dos tipos de transformação, que podem ocorrer nos

materiais metálicos. O nome martensita foi dado à microestrutura resultante da transformação

durante o resfriamento rápido da austenita das ligas ferro-carbono (em homenagem ao

metalurgista alemão Adolf Martens). Por extensão, o termo transformação martensítica está

generalizado a uma grande quantidade de sistemas de ligas cuja transformação possui certas

características típicas da transformação martensítica dos aços (Pety, 1970), (Nishiyama, 1978) e

(Funabuko, 1987).

A transformação martensítica pode ser definida como uma transformação de fase no estado sólido

sem difusão, resultante de um movimento coordenado e/ou cooperativo entre os átomos da fase

matriz mantendo uma correspondência entre os reticulados da fase matriz e da fase resultante. A

transformação martensítica modifica as características físicas dos materiais. As principais

características da fase martensítica são:

• Pode ser tanto uma solução substitucional como intersticial;

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• A composição química da fase é a mesma da fase matriz austenítica (sem difusão);

• A transformação é acompanhada por uma pequena variação dimensional que pode ser

observada nas superfícies polidas, (efeito do relevo de superfície).

• Todo cristal de martensita possui um plano de hábito especifico (interface), porque a

interceptação de plaquetas da martensita com a superfície livre, provocada por tensões de

cisalhamento que ocorrem na interface entre a fase matriz e a fase produto caracteriza

uma mudança de forma;

• Existe uma relação de orientação cristalográfica particular entre a fase austenítica e a

martensítica (movimento cooperativo de átomos), (Funabuklo, 1987) e (Mota, 2002).

2.3.1 HISTERESE

Os metais e ligas que estão sujeitos às reações da transformação martensítica apresentam

uma histerese de temperatura de transformação que podem ser determinados por medidas de

resistividade elétrica, dilatometria, ultra-som, calorimetria e etc. A figura (3.1) representa uma

curva típica de resistividade elétrica versus temperatura onde são representados os parâmetros

característicos da transformação martensítica termoelástica. O método das tangentes é utilizado

para determinar as temperaturas de transformação de fase através dos pontos de inflexão da

curva. No resfriamento, as temperaturas MS e MF correspondem ao início e ao final da

transformação martensítica, respectivamente. Durante o aquecimento, ocorre à transformação

inversa, onde AS e AF são as temperaturas do início e do final da transformação austenítica,

respectivamente. As temperaturas A50 e M50 correspondem às temperaturas para 50% da fração

transformada da fase austenítica e 50% da fase martensítica, respectivamente. A histerese térmica

é a diferença entre as temperaturas A50 e M50. A amplitude térmica correspondente ao intervalo

de temperatura para o qual a transformação é completada. A amplitude térmica da transformação

direta (Austenita→Martensita) é indicada por eC e corresponde a diferença de temperatura entre

MF – MS, e no caso da transformação inversa é dada por AF – AS é indicada por eH (Gonzalez,

2002).

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Figura 2.5 - Representação dos parâmetros característicos da evolução da transformação

martensítica (Norma francesa,1991).

Os índices da figura 6 representam respectivamente:

α - fração da martensita transformada;

MS - temperatura do início da transformação martensítica;

MF - temperatura do fim da transformação martensítica;

M50 - temperatura a 50% da fração de martensita transformada;

AS - temperaturas do início da transformação austenítica;

AF - temperatura do fim da transformação austenítica;

A50 - temperatura a 50% da transformação austenítica;

HT - Histerese térmica de transformação (HT = A50 – M50);

eC – amplitude térmica de resfriamento (eC = MF - MS);

eH – amplitude térmica de aquecimento (eH = AF - AS) .

2.4. CARACTERISTICAS DE TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA

2.4.1. Transformação Martensítica Burst (Explosiva)

Verifica-se uma particularidade nas curvas de resfriamento em função da fração

volumétrica de martensita formada, para ligas Fe-Ni e Fe-Ni-C com MS<0 °C. A transformação

para estes aços inicia-se abruptamente, e uma quantidade considerável de martensita é formada

AF

0

100

α (%

)

T MSMF AS

HT50 A50M50

eC eH

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em um único evento. A este tipo de transformação martensítica dá-se o nome de transformação

martensítica explosiva, e a temperatura na qual a martensita se forma rapidamente, é denominada

Me. A figura 2.6 mostra as placas de martensita num formato em Zig-Zag, indicando um

movimento cooperativo. O campo de tensões em torno do pico das placas de martensita produz

grande concentração de tensões, sendo esta a principal causa da forma extrema de autocatálise,

ou seja, novas placas de martensita serão nucleadas a partir das placas existentes.

Figura 2. 6 − Morfologia das plaquetas de martensita de uma liga Fe−Ni−C (Petty, 1970).

2.4.2. Transformação Martensítica Atérmica

Durante o resfriamento, se a amostra for mantida em uma isoterma com temperatura abaixo

do MS e acima de MF, a reação cessará no momento em que toda a amostra estiver na presente

temperatura. Não haverá crescimento da fase até que a temperatura novamente volte a diminuir.

Logo, o processo de nucleação do cristal é ausente de ativação térmica e esta transformação será

denominada de transformação martensítica atérmica.

2.4.3. Transformação Martensítica Termoelástica

Neste tipo de transformação martensítica, o crescimento dos cristais de martensita é

governado pelo equilíbrio de energia livre entre as duas fases (matriz e martensita). A energia

livre é composta da energia química motriz (por exemplo: resfriamento) e das forças resistivas

(não - químicas) (Van Humbeeck, 1994). Esta ultima é resultado principalmente da resistência ao

deslocamento da interface austenita/martensita, como por exemplo, inclusões e bolhas,

supersaturação da concentração de lacunas de têmpera, discordâncias e outros. Estas

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transformações são caracterizadas por uma pequena histerese, mas podem apresentar

configurações diferentes. Existem dois tipos de transformação termoelástica: I (fraca exposição

AS>MS figura 2.8 b) e II (forte exposição AS<MS, figura 2.8 c) (Gonzalez, 2002).

Na transformação martensítica termoelástica, os cristais de martensita uma vez nucleados,

crescem com a velocidade proporcional à taxa de resfriamento. Da mesma forma, se o calor for

fornecido aos cristais eles decrescem (encolhem). Neste tipo de transformação, a energia livre

total associada à transformação é inferior à energia livre necessária para a nucleação da

martensita nos aços. A figura 2.7 traz uma comparação entre o ciclo de histerese associado à liga

Fe−30Ni e uma liga termoelástica do tipo Au-Cd.

Figura 2.7 − Comparação entre as histereses de transformação para as ligas Fe−Ni e Au−Cd (Funabuko, 1987).

Figura 2.8 - Classificação das transformações martensíticas: a) Transformação por burst, b) Transformação termoelástica do tipo I e c) Transformação termoelástica do tipo II (Gonzalez, 2002).

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As transformações martensíticas termoelásticas são cristalograficamente reversíveis, ao contrário

das transformações verificadas nos aços comerciais, no qual um reaquecimento a temperatura

logo acima de Mi não reverte na formação de austenita e sim, na formação de uma microestrutura

que, basicamente, se divide em ferrita e cementita. (Mota, 2002).

2.5. TIPOS DE EFEITO MEMÓRIA DE FORMA

2.5.1 EFEITO MEMÓRIA DE FORMA SIMPLES

Neste ponto, considere uma amostra de LMF com uma estrutura martensítica, obtida a

partir do resfriamento de uma amostra a uma temperatura inferior ao MF. A Figura 2.9 mostra a

curva tensão-deformação para esta amostra submetida a um carregamento termomecânico.

Durante a aplicação de um carregamento, tem-se uma resposta elástica até que uma tensão crítica

seja alcançada (ponto A), dando início ao processo de reorientação da martensita resultando em

uma única variante.

Figura 2.9 – Curva σ x ε representativa do efeito memória de forma (Paiva, Savi e Pacheco, 2003).

Durante este processo de reorientação, a tensão não se desenvolve muito em comparação

com a deformação alcançada (trecho AB). A partir do ponto B, a liga volta a apresentar

comportamentos elásticos, que corresponde à deformação elástica da monovariante de martensita

formada. No descarregamento da amostra, não há uma nova reconfiguração do monocristal da

martensita em diversas variantes, pois esta única variante resultante é termodinamicamente

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estável, havendo apenas uma recuperação elástica (trecho BC). A deformação residual resultante

(εr) pode, então, ser recuperada através do aquecimento da amostra acima de AF. Assim, o

material retorna à fase austenítica, assumindo a configuração geométrica original, configurando o

efeito de memória de forma.

2.5.2 EFEITO MEMÓRIA DE FORMA REVERSÍVEL

Algumas LMF quando submetidas a tratamentos termomecânicos passam a mudar sua

forma apenas pela variação térmica, sem interferência de tensões externas. Este procedimento é

conhecido como efeito memória de forma reversível.

O efeito de memória de forma reversível é obtido após submeter a liga a um processo de

“treinamento” ou educação que permite associar uma forma a cada fase, em função de um

determinado tratamento termomecânico (Perkins e Hodgson, 1990). O processo de ciclagem do

EMF é baseado no processo de plastificação da martensita após o processo de reorientação e

consiste na aplicação de um carregamento até que o limite de escoamento da fase produto seja

superado para temperatura constante e T<MF. Neste processo, as discordâncias são reorganizadas

de tal forma que formam um campo de tensões internas que induzem a formação de martensitas

com orientação cristalográfica específicas. Desta forma, as martensitas que são induzidas são as

mesmas e o material é educado para cada fase (austenita e martensita).

2.5.3 SUPERELASTICIDADE

Considere uma amostra com temperatura superior a AF. Nesta situação, a fase austenítica é

estável. A figura 2.10 mostra a curva tensão-deformação durante a aplicação de um

carregamento, o material se comporta elasticamente até que uma tensão crítica seja alcançada

(ponto A), quando inicia a transformação de fase Austenita → Martensita (trecho AB) induzindo

a formação de uma variante de martensita preferencial (+M). Esta variante cresce e coalesce no

ponto B. No descarregamento, o material experimenta uma transformação inversa +M ->A

(trecho CD), já que para temperatura acima de AF a austenita é a fase estável na ausência de

tensão externa.

É importante destacar, o aparecimento de um laço de histerese de tensão na região

compreendida entre os pontos A, B, C e D (Duerig e Zadno, 1990), (Paiva, 2004).

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Figura 2.10 – Curva σ x ε representativa da superelasticidade (Paiva, Savi e Pacheco, 2003).

2.5.4 COMPORTAMENTO TIPO BORRACHA

As ligas com memória de forma apresentam um coeficiente muito forte de amortecimento

de vibrações durante a transformação como na direção da fase martensítica. Estas características

são freqüentemente estudadas para as medidas de atrito interno. No caso das ligas memória de

forma estas características pode levar a valor muito diferente. O amortecimento das ligas é devido

ao movimento reversível das interfaces martensita - martensita e ao movimento das interfaces

martensita - austenita (Van Humbeeck et al,1995). O movimento das interfaces sob carregamento

cíclico provoca suas interações com as deslocações e outros defeitos assim como lacunas (Morin,

1985); (Baron, 1998). O atrito interno resultante é a origem de um forte amortecimento que

depende da temperatura, da freqüência de vibração e da tensão.

2.7. TIPOS DE LIGAS

As ligas memória de forma são classificadas em famílias em função da composição

química: base de cobre, base de ferro, Au-Cd, Ag-Cd e Ti-Ni. As ligas a base de Ti-Ni

apresentam um grande potencial de aplicação em função de suas propriedades mecânicas, boa

estabilidade de suas propriedades de memória de forma, e também devido a sua bio-

compatibilidade. A figura 2.9 mostra algumas aplicações das ligas TiNi na medicina, como os

dispositivos auto-expansivos, também conhecidos como Stent (figura 2.9 a), aplicados em

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tratamentos cardiovasculares. Estes dispositivos são utilizados para sustentar o diâmetro interno

de vasos tubulares como vasos sanguíneos (Duerig et al 1999), esôfago e duto biliar (Devicelink,

2001). Filtro Simon (figura 2.9 b), primeiro dispositivo com memória de forma utilizada em

tratamento cardiovascular (Ryhänen, 1999), que tem como função filtrar os coágulos que

percorrem a corrente sanguínea. Os aparelhos ortodônticos com memória de forma (figura 2.9 c)

que exploram a pseudoelasticidade podendo fornecer uma força de restituição uniforme e

praticamente constante. As ligas memória de forma apresentam, durante os trechos de

transformação de fase, elevados índices de deformação para uma pequena variação de tensão.

Assim, o uso das ligas memória de forma em aparelhos ortodônticos elimina a necessidade de

repetidos apertos, acelerando o processo corretivo. Esses aparelhos, aparelhos proporcionam um

maior conforto aos pacientes durante a instalação e também ao processo corretivo (Mantovani,

2000). As ligas a base de cobre apresentam as boas performances em termos de propriedades

termoelásticas, possibilidade de ser utilizada num grande intervalo de temperatura e podem ser

utilizados em diversas aplicações tecnológicas. A principal vantagem das ligas à base de cobre é

econômica (Paiva, 2004).

Figura 2.11 – Dispositivos biomédicos: (a) Stent; (b) Filtro de Simon; (c) Arcos ortodônticos (Paiva, Savi e Pacheco, 2003).

Os materiais destas ligas, os processos de elaboração dos policristais e dos monocristais

têm menor custo em relação às ligas à base Ti-Ni. A relação custo/benefício confere a liga à base

de cobre maior competitividade para serem aplicadas industrialmente. Atualmente estas ligas são

objetos de inúmeros trabalhos nas áreas: aeroespacial, elétrico, mecânico, micro-eletrônica,

robótica e automação. A figura 2.10 apresenta uma mão robótica, onde a articulação

(movimentos) da mão é realizada através de fios com memória de forma que são aquecidos para

passagem de uma corrente elétrica (Efeito Joule).

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Figura 2.12 - Mão robótica articulada com fios com MF.

2.7. AS LIGAS A BASE DE COBRE

A tabela 1 apresenta a classificação das famílias das ligas à base de cobre em relação aos

sistemas binários. Na figura 2.13 estão representados os diagramas de equilíbrio binários destes 3

sistemas para um determinado domínio de composição. Estes sistemas apresentam uma fase β à

alta temperatura, cuja concentração de elétrons por átomo é de aproximadamente de 1,5. Uma

têmpera a partir desta fase permite obter a fase β metaestável a baixa temperatura. Um

subseqüente resfriamento resulta na transformação de fase martensítica. A temperatura de

transformação MS e o tipo de martensita dependem da composição química das ligas, como

mostra a figura 2.14 para as ligas do sistema Cu-Al. A temperatura de transformação martensítica

pode ser modificada com a adição de um terceiro elemento químico. Para o sistema Cu-Zn, esta

adição tem por objetivo aumentar a temperatura de transformação, como por exemplo, com a

adição de alumínio. No sistema Cu-Al as temperaturas de transformação são altas e podem ser

diminuídas com a adição de manganês.

Fios com memória de forma

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Tabela 1 - Classificação das famílias das ligas a base de cobre

Figura 2.13 a) Diagrama binário das fases de equilíbrio do sistema Cu-Zn (Gonzalez, 2002).

Sistemas de ligas memória de forma a base de cobre

Cu-Zn Cu-Al Cu-Sn

Cu-Zn-x

x = Al, Sn, Si, Mn, Ga

Cu-Al-x

x = Ni, Mn, Be

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Figura 2.13 b) Diagrama binário das fases de equilíbrio do sistema Cu-Al (Gonzalez, 2002).

Figura 2.13 c) Diagrama binário das fases de equilíbrio do sistema Cu-Sn (Gonzalez, 2002).

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Figura 2.14 – Diagrama metaestável superposto ao diagrama do sistema Cu-Al (Gonzalez, 2002).

2.8. ESTABILIZAÇÃO DA MARTENSITA

A estabilização martensítica constitui uma das principais barreiras para as aplicações das

ligas com memória de forma. O termo “estabilização” da martensita define todos os fenômenos

que conduzem as irregularidades durante a transformação martensítica. Esta estabilização

degrada as propriedades de memória de forma (perda de memória ou amnésia), e se manifesta das

seguintes maneiras:

• Aumento das temperaturas critica da transformação inversa (AS e AF), com o crescimento

da amplitude (eC);

• Diminuição da fração de martensítica transformada, que pode ir até o caso onde a

transformação é praticamente retraída;

• Diminuição do coeficiente de amortecimento e acréscimo do módulo em relação a

martensita não estabilizada.

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Diversos estudos experimentais da estabilização da martensita, por diferentes métodos, tais

como: medição da resistividade elétrica, emissão acústica, atrito interno, microscopia eletrônica,

difração de raios-X, nos permitem uma melhor compreensão da influência do tratamento térmico

sobre o fenômeno da estabilização e os processos físicos responsáveis por este efeito. A

estabilização da martensita é um fenômeno muito estudado nas ligas a base de cobre, do tipo Cu-

Zn-Al e Cu-Al-Mn. A origem desse fenômeno da estabilização pode ser a transição ordem -

desordem, bloqueio da interface, distorção ortorrômbica.

2.9. SISTEMA TERNÁRIO Cu-Al-Mn

Os principais elementos que podem ser adicionados ao sistema Cu-Al são: berílio, níquel e

manganês. As influências destes elementos químicos sobre a estrutura cristalográfica e sobre as

propriedades mecânicas são importantes.

A adição do manganês nas ligas Cu-Al aumenta o domínio da fase β estável á alta

temperatura. Durante um resfriamento lento da fase β (CCC), as ligas ternárias rica em cobre

formam os precipitados β-Mn, α, γ e Cu3 Mn2 Al dependendo da composição química das ligas.

2.10. FASE DE TRANSIÇÃO ORDEM-DESORDEM NA LIGA TERNÁRIA Cu3-XMn2Al

As ligas ternárias possuem normalmente uma estrutura de super-rede do tipo DO3 ou L21.

A diferença entre a estrutura DO3 e L21 está essencialmente na natureza dos átomos presentes

(Gonzalez, 2002). Quando os átomos podem ser distinguidos, a estrutura mais representativa é a

de Heusler (L21). Esta configuração é admissível, por exemplo, nas ligas: Cu-Zn-Al, Cu-Zn-Au,

Cu-Al-Mn e Cu-Al-Ni. A seqüência de transição ordem–desordem durante a têmpera das ligas de

cobre é a fase β com estrutura A2 (desordenada a alta temperatura CCC) → B2 (CuAl) →DO3

(Cu3Al) ou L21 (Cu2AlMn) como mostra a figura 2.15.

Pesquisas realizadas por vários autores na liga ternária Cu3-xMn2Al indicam que a adição de

Mn no sistema binário Cu-Al (CCC), aumenta o limite de composição da região em que a fase β

a alta temperatura está em equilíbrio termodinâmico (Soltys, 1981). A transição A2→B2 ocorre

sempre, ela é inevitável. Seguindo o resfriamento, a liga se ordena com fase DO3 ou L21. Em

temperaturas ainda mais baixas, (aproximadamente 350°C), a liga se decompõe no interior dos

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campos de miscibilidade em uma fase rica em Cu2MnAl (L21) e uma outra fase rica em Cu3Al

(DO3) (Bouchard and Thomas, 1975).

Esta separação de fases ocorre devido ao reordenamento dos átomos de Cu e Mn na estrutura da

rede. As figuras 2.15 e 2.16 mostram os resultados para as transições ordem–desordem para estas

ligas (Kainuma et al., 1998).

Figura 2.15 – Representação atômica das estruturas (Kainuma, 1998).

Figura 2.16 - Diagrama de fase das ligas Cu3-xMnxAl indicando a seqüência de colocação de

ordem (Bouchard and Thomas, 1975).

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Tratamentos termomecânicos, efeitos do envelhecimento e outros podem provocar

modificações nestas transições acarretando em conseqüências sobre a transformação, uma vez

que a martensita herda a ordem da fase austenítica (sem difusão e correspondência das redes

cristalinas, austenita ← → martensita).

2.1. TIPOS DE MARTENSITA

A fase martensítica das ligas a base de cobre pode se apresentar sob formas estruturais

variados conforme a composição química e o estado herdado da fase austenítica. Todas as

estruturas das martensitas das ligas a base de cobre e Ti-Ni podem ser representados por um

empilhamento de planos compactos do tipo cúbico de face centrada (cfc). O tipo de

empilhamento da martensita depende da concentração eletrônica por átomo (e/a), e o numero de

planos densos da malha depende da ordem herdada da fase austenítica.

Os diferentes tipos de martensitas são classificados em: α’, β’, e γ’. As representações

estruturais dos tipos de martensitas são representadas na figura 2.17, e suas principais

características são apresentadas na tabela 2. A nomenclatura de Ramsdell classifica as martensitas

em função da estrutura e da periodicidade dos planos compactos (exemplo: 3R, 9R). Quando a

martensita é transformada a partir da fase β ordenada DO3 ou L21, as periodicidades das falhas de

empilhmentos das diferentes martensitas são duplas (exemplo: 6R, 18R). As martensitas α’e γ’

apresentam uma estrutura maclada internamente. As estruturas β’ podem também apresentar uma

distorção ortorrômbica de qualquer grau (monoclínico), portanto eles são identificados por M9R

ou M18R.

Tabela 2 - Característica das martensitas das ligas à base cobre.

Estrutura Nomenclatura Tipo de Martensita

Composição (e/a)

Empilhamento

Fase Mãe Conv. Ramsdell

CFC B2 α’2 3R DO3 α’1 6R α’ < 1,42 ABC L21 α’3 6R

Ortorrômbica B2 β’2 9R DO3 β’1 18R β’ 1,42 > e/a < 1,50

ABCBCACAB L21 β’3 18R Hexagonal B2 γ’2 2H

DO3 γ’1 4H γ’ >1,50 AB L21 γ’3 4H

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Figura 2.17 - Malhas elementares das estruturas martensíticas: α1’ β1’ e γ1’ (Ramsdell: 6R, 18R e

2H – Zhdanov) (Funabuko, 1987).

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3. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

3.1. ELABORAÇÃO DA LIGA

A liga selecionada para esta pesquisa é a base de cobre e possui uma composição nominal

de Cu-10%Al-8,4%Mn, em massa percentual ou Cu-20,5at%Al-8,45at%Mn átomos percentual.

Esta composição foi escolhida por exibir temperaturas críticas de transformação (MS, MF, AS e

AF) no intervalo de temperatura entre 30°C e 120° C. A composição e a temperatura crítica do

início da transformação MS na liga Cu-Al-Mn foi pré - estabelecida a partir da seguinte relação

empírica (Lopez Del Castillo et al., 1987).

MS = 1710 – 127,4% Al - 43,6% Mn, (1).

A liga foi obtida num forno de indução de alta freqüência da marca INDUCTOTHERM de

24 KVa a partir de materiais de alta pureza. A composição nominal foi pesada com uma balança

eletrônica digital com precisão de 0,1g. A fusão foi realizada num tubo de quartzo colocada

dentro de um cadinho de carbeto de silício. A disposição da carga no tubo de quartzo teve a

seguinte seqüência de empilhamento: alumínio e cobre respectivamente. Após a fusão destes

elementos foi colocado o manganês em forma de cavaco a fim de facilitar a dissolução do

mesmo. A temperatura foi controlada por meio de um termopar do tipo K (cromel-alumel) ligado

a um indicador digital da marca ECIL disposto sobre a parede do tubo. Durante a fusão a

temperatura máxima atingida foi de 1350°C, a qual foi mantida por cinco minutos. O

resfriamento do lingote foi no interior do forno durante 12 horas. Após a solidificação o lingote

foi retirado de dentro do tubo de quartzo para tratamento térmico.

3.2. TRATAMENTOS TÉRMICOS

Para melhorar a dissolução dos elementos de liga no lingote, os materiais brutos de fusão

foram submetidos ao tratamento térmico de homogeneização. Este foi realizado num forno

elétrico tipo mufla monitorado por termopares tipo K a uma temperatura de 850°C durante 24

horas.

O efeito memória de forma é obtido nas amostras dos materiais homogeneizados através do

tratamento de betatização. Para realizar os estudos da estabilização martensítica na liga Cu-Al-

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Mn foram selecionados 3 procedimentos para o tratamento térmico de betatização que são

descritos abaixo:

• Bruta de Têmpera 25°C (BT25) – Após a manutenção da amostra à temperatura de 850°

C durante 15 minutos, num forno elétrico tipo mufla, a amostra é retirada e jogada

imediatamente num recipiente com água a temperatura ambiente (25°C).

• Bruta de Têmpera a 100°C (BT100) – A amostra é retirada do forno a 850°C depois de 15

minutos é jogada imediatamente num recipiente com água fervente a 100°C e resfriado ao

ar.

• Têmpera ao Ar (TAr) – Neste processo a amostra é retirada do forno a 850°C após 15

minutos e exposta ao ar para arrefecimento.

As amostras para estudo foram cortadas numa máquina de corte de baixa velocidade com

disco diamantado. As amostras foram cortadas em formatos prismáticos com as seguintes

dimensões: comprimento = 25 mm, largura = 5 mm e espessura = 1,5 mm.

3.3. MICROSCOPIA

Esse procedimento foi utilizado para preparar as amostras para análises por microscopia

ótica e difração de raios-X, através de embutimento em resina a frio para evitar mudanças de

fase, lixamento com lixas d’água com granulometria entre 180, 360, 400, 600 e 1000 granas. O

polimento metalográfico foi realizado com pano metalográfico utilizando pastas de diamante de 3

a ¼ µm. Em seguida, as amostras foram atacadas quimicamente em solução aquosa com ácido

nítrico a 25% (HNO3).

As microestruras das amostras metalográficas foram caracterizadas por microscopia ótica

com luz polarizada e interferência de contraste de Normanski num microscópio OLYMPUS

BX51.

3.4. DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X

As estruturas das fases presentes nas microestruturas foram identificadas por difração de

raios-x. Os difractogramas foram realizados num difractômetro da marca SHIMADZU modelo

XRD 600 utilizando radiação Cu-Kα com comprimento de onda de λ = 1,5406Å. Os picos dos

difratogramas foram identificados por comparação com a literatura (Rodriguez, 1989) dos

difratogramas publicados. Os parâmetros de rede foram, calculados a partir das identificações dos

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planos de fases, da expressão da lei de Bragg e dos espaçamentos interplanares das estruturas

CCC e ortorrômbicas.

nλ = 2 d senθ (2)

2

2

2

2

2

2

2

1al

ak

ah

d++= (3)

2

2

2

2

2

2

2

1cl

bk

ah

d++= (4),

onde λ é o comprimento de onda da radiação incidente, θ o ângulo de Bragg, d o espaçamento

interplanar, h, k, l os índices do plano e a, b, c os parâmetros de rede. (Cullity, 3º edição, 2001).

3.5. DISPOSITIVO PARA MEDIÇÃO DA VARIAÇÃO DE RESISTIVIDADE

ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

A medição da resistividade elétrica é utilizada para determinar as temperaturas de

transformação de fase, verificação do comportamento da transformação martensítica

(comportamento das interfaces), estudo da estabilização martensítica e processos de precipitação

de fases.

Dois dispositivos foram desenvolvidos neste trabalho para realizar estas medições. Estes

dispositivos são diferenciados pelo intervalo de temperatura. O primeiro chamado de Resistência

Elétrica de Baixa Temperatura (REBT) tem intervalo de temperatura entre 0 a 200°C. O segundo

chamado de Resistência Elétrica de Alta Temperatura (REAT) cujo intervalo de temperatura

varia entre 30 a 1200°C.

A técnica utilizada para a medição da variação da resistividade elétrica é o método dos

quatro pontos, que consiste em fixar quatro fios numa amostra através do processo de soldagem

por solda ponto. A corrente elétrica passa pelos dois fios externos através da amostra. A corrente

é fornecida por uma fonte estabilizadora de energia onde é possível fazer a regulagem adequada

da corrente necessária para o experimento. A tensão medida nos dois fios internos é proporcional

à resistência da amostra. O registro dos resultados é realizado através de um aparelho de

aquisição de dados, conectado a um computador ou através de um registrador gráfico. Os

resultados são retirados de um arquivo do aparelho de aquisição de dados ou do papel com os

dados do registrador e transferidos para um programa de elaboração de gráficos ORIGIN. A

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27

partir dos gráficos elaborados com esse programa foi utilizado o método das tangentes para

determinar as temperaturas críticas de transformação martensítica, às histereses de transformação

e a evolução das temperaturas de transformação com as ciclagens térmicas para os diversos

tratamentos térmicos efetuados nas amostras.

3.5.1. RESISTIVIDADE ELETRICA DE BAIXA TEMPERATURA

A figura 3.1 mostra o esquema do sistema de medição de resistividade a baixa temperatura.

O sistema permite o controle da temperatura de aquecimento de maneira constante e homogênea

e um resfriamento mais rápido. O sistema de aquecimento é composto de um reservatório de aço

inox envolvido por serpentinas de cobre, um aquecedor de imersão por resistência de 1000 Watts,

um agitador mecânico, óleo de silicone, termopar e sistema de controle da temperatura. Após o

aquecimento, o aquecedor é desligado e o sistema funciona como um refrigerador com a

passagem de água pela serpentina. A temperatura é controlada por meio de um termopar imerso

no banho, ligado a um controlador digital. A temperatura máxima é de 200°C, com uma taxa de

aquecimento de aproximadamente 5°C/min. Após atingir a temperatura máxima o aquecedor é

desligado e a torneira do reservatório é ligada, permitindo a passagem de água para a serpentina

resfriando a cuba e o óleo de silicone mais rapidamente a uma taxa de resfriamento de

aproximadamente 1°C/min.

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28

Figura 3.1. Representação do esquema de célula de medição de resistividade á baixa temperatura.

3.5.2. RESISTIVIDADE ELÉTRICA DE ALTA TEMPERATURA

Este sistema é apresentado na figura 3.2. Ele pode realizar a varredura de temperatura na

faixa de 30 a 1200°C. Este sistema é composto de (1) forno tubular com controlador de

temperatura, (2) suporte composto por uma placa de aço inox, (3) registrador gráfico, (4) fonte de

corrente estabilizada, (5) dois termopares e a amostra conectada pelos quatro pontos. Os fios são

isolados eletricamente da chapa (suporte) através de miçangas de material cerâmico (alumina). O

Fonte Estabilizadora

C

Mulíimetro

MVV

Registrador

Termopar

Amostra

Banho de Óleo

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29

resto do procedimento é semelhante ao anterior. Este teste foi desenvolvido para estudar as

transições ordem – desordem que ocorrem nas ligas à base de cobre. Desta maneira, a amostra é

aquecida à alta temperatura. Normalmente um material puro aumenta linearmente sua

resistividade com a temperatura. No entanto, se ocorre alguma variação da estrutura cristalina,

esta linearidade é perturbada, como, por exemplo, devido a uma transformação martensítica,

reações ordem - desordem, precipitação e outros (Mwamba - Ngoie, 1985), (Kainuma et al,

1998). A amostra é colocada sobre o suporte com os quatros pontos, onde os dois fios externos

estão conectados a fonte de corrente elétrica estabilizada e os outros dois fios internos conectados

ao registrador gráfico.

Figura 3.2 – Forno tubular: (1) forno tubular com controlador de temperatura, (2) suporte composto por uma placa de aço inox, (3) registrador gráfico, (4) fonte de corrente estabilizada, (5) dois termopares e a amostra conectada pelos quatro pontos.

3.6. MÁQUINA DE FLEXÃO

Este dispositivo foi desenvolvido no DEMEC e realiza a flexão de uma viga engastada para

simular o efeito memória de forma. A figura 3.3 mostra esquematicamente a máquina de ensaios

de flexão. A aplicação da carga para deformar a amostra é realizada através de um sistema de

polia. A recuperação da forma inicial da amostra é obtida pelo aquecimento do recipiente de

cobre através de uma resistência de coleira colocada ao redor do recipiente cuja variação da

temperatura é controlada pelo sistema de aquecimento. A temperatura e a deformação são

medidas por um termopar colocado próximo à amostra e um sensor LVDT (Linear Variation

Deslocation Transducer), respectivamente. Os dados são adquiridos por um sistema de aquisição

de dados acoplado a um computador. As amostras têm formatos prismáticos com as seguintes

1

3

2

45

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30

dimensões: comprimento = 25 mm, largura = 5 mm e espessura = 1,5 mm. Os ciclos térmicos

foram efetuados no intervalo de temperatura entre 25 e 200°C.

Figura 3.3 – Esquema da máquina de Flexão.

As tensões e deformações são determinadas pelas seguintes fórmulas:

Tensão de cisalhamento: τ = hb

F.

(5)

Tensão máxima de tensão - compressão: 2

..6bh

xFM =σ (6),

Máquina de Flexão

Peso

Resistência Elétrica

Sensor LVDT

Amostra

Termopar

Suporte

Polia

Haste Transmissão

Recipiente em latão

b

h

L

x

y z

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31

onde F é a força aplicada, b, h e L representam largura, espessura e comprimento,

respectivamente.

Flecha y da abscissa x: y = )3

.23

(323 LxLx

EIF

+− (7),

onde E é o modulo de Young e I é o momento de inércia dado por I = 12

3bh .

Deflexão para x = 0: EI

FLy3

3

0 = (8).

Deformação máxima (y = L): 02 .23 yLh

EM

M ==σ

ε (9).

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32

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Caracterização da liga

Inicialmente a liga Cu-10%Al-8,4%Mn foi caracterizada quanto aos seus aspectos

microestruturais através das micrografias obtidas por microscopia ótica e análise das fases

presentes através da técnica de difração de raios-x.

A figura 4.1 (a), mostra a micrografia da liga Cu-Al-Mn após tratamento térmico de

têmpera a 25°C, onde é possível observar a característica microestrutural da fase martensítica β’1

pela presença das plaquetas de martensita (agulhas) de auto acomodação. A amostra foi aquecida

in situ com auxílio de uma placa cerâmica com efeito Peltier. Durante o aquecimento as agulhas

da martensita desaparecem caracterizando a transformação martensita inversa (figura 4.1b). Esta

é a fase austenítica ou matriz (β) com estrutura de super-rede DO3.

a) 25°C b) 95°C

Figura 4.1 - Micrografia da amostra da liga Cu-Al-Mn: a) fase martensítica - luz polarizada - 25oC e b) fase austenítica - 95oC. Sem ataque químico

Na figura 4.2 é mostrada a difração de raios-X da amostra onde aparecem picos que

caracterizam a fase martensítica β’1, com planos de índices característicos da estrutura ordenada

ortorrômbica 18R (β’1) (carta de indexação no anexo 1, Rodriguez, 1989). Os parâmetros de rede

calculados são: a = 4,494Å, b = 5.194Å e c = 38,191Å.

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33

Figure 4.2 – Difratograma da liga Cu-Al-Mn (fase martensítica).

A temperatura do início e do final da transformação martensítica direta e inversa e a

histerese da liga Cu-Al-Mn foram determinadas de acordo com o esquema da figura 2.5 (ver

seção 2) tendo sido encontrados os pontos de AS, AF, MS e MF com os respectivos valores

conforme mostra a figura 4.3 (ver secção 1.7). As temperaturas obtidas para a liga com

tratamento de tempera a 25°C foram: AS = 78, AF = 144, MS = 114, MF = 45°C. Uma

característica desta liga é apresenta uma histerese térmica, neste caso de 31,5°C.

Figura 4.3 – Curva resistividade elétrica versus Temperatura da liga Cu-Al-Mn .

20 40 60 80 100 120 140 160 1804,0

4,5

5,0

5,5

MF

MS

AF

AS

BT25

ΔR/R

(Uni

dade

s A

rbitr

ária

s)

Temperatura (°C)

20 40 60 80 1001000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

(3-2

-16)

(121

6)

(121

0)(1

2-8)

e (2

08)

(001

8)(1

2-2)

Inte

nsid

ade

(Uni

dade

s Ar

bitrá

rias)

2 θ

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34

4.2 Comportamento das temperaturas críticas com os Tratamentos Térmicos

A figura 4.4 mostra o comportamento das curvas de resistividade elétrica versus

temperatura da liga Cu-Al-Mn para os diferentes tipos de tratamento térmicos: BT25, BT100 e

TAr. A partir destas curvas foram determinadas as temperaturas críticas, as amplitudes e as

histereses térmicas. As temperaturas críticas de transformação para cada tratamento em °C foram:

BT25 - AS = 78, AF = 144, MS = 114, MF = 45, AT = 66 e HT = 31,5; BT100 - AS = 72, AF = 104,

MS = 95, MF = 48, AT = 32 e HT = 16,5 e para TAr - AS = 52, AF = 91, MS = 76, MF = 38, AT = 39

e HT = 14,5. Verificamos que a amostra T25 apresenta temperaturas críticas das transformações

direta e inversa, a histerese e a amplitude térmica com valores bem maiores quando comparadas

com aquelas das amostras dos demais tratamentos térmicos. A amostra TAr possui as menores

temperaturas de transformação e de histerese térmica.

Figura 4.4 – Curvas ΔR/R versus temperatura resistividade elétrica das amostras liga Cu-10Al-

8,4Mn (massa %) homogeneizada a 850°C e resfriado à 25°C, a 100°C, e ao Ar, respectivamente.

As curvas da figura 4.4 foram imediatamente traçadas após o tratamento de betatização,

constituindo assim o 1º ciclo da amostra. Em seguida, as amostras foram cicladas termicamente

no intervalo de 20 a 160°C.

A figura 4.5 mostra as curvas da variação da resistividade elétrica versus temperatura dos

três ciclos térmicos das amostras de cada tratamento. A curva revela evoluções significativas dos

20 40 60 80 100 120 140 160 180

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0MF

MS

AF

AS

MF

MS

AF

AS

BT100

BT 25

TArΔR/R

(Uni

dade

s A

rbitr

ária

s)

Temperatura (°C)

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35

parâmetros medidos durante os ciclos térmicos. De uma maneira geral, os resultados indicam que

durante os ciclos as temperaturas AS e MF diminuíram e o AF e MS aumentaram, resultando numa

diminuição da histerese de transformação. Os dados experimentais obtidos na figura 4.5 são

sumarizados na figura 4.6 através de gráficos das temperaturas de transformação versus número

de ciclos térmicos.

Figura 4.5 a - Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-10Al-8,4Mn

submetido ao tratamento térmico BT25.

Figura 4.5 b - Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-Al-Mn

submetido ao tratamento térmico BT100.

20 40 60 80 100 120 140 160 180

2

3

4

5

6

7

Bruta de Têmpera a 100°C

MF

MS

AF

AS

I ciclo

III ciclo

II ciclo

ΔR/R

(U

nida

des

Arbi

trária

s)

Temperatura (°C)

20 40 60 80 100 120 140 160 180

2

3

4

5

6

7

MF MS

AF

AS

Bruta de Têmpera a 25°C

III ciclo

I ciclo

II ciclo

ΔR/R

(Uni

dade

s ar

bitrá

rias)

Temperatura (°C)

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36

Figura 4.5 c - Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-Al-Mn

submetido ao tratamento térmico TAr.

Durante o aquecimento, a amostra bruta de tempera a 25°C apresenta uma grande

amplitude de transformação térmica grande (AS – AF) de 66° C, onde ocorre a transformação

martensítica inversa. Para a amostra BT100 a amplitude térmica é na ordem de 32°C indicando

que há menos bloqueio das interfaces martensita/austenita pelas lacunas de têmpera para este

tratamento térmico. As amostras temperadas em água (BT25 e BT100) têm apresentado uma

tendência durante a ciclagem de diminuir as temperaturas de transformação e a histerese térmica.

Durante a ciclagem térmica, as variações dos parâmetros medidos para a amostra temperada ao ar

são menores em relação às amostras submetidas aos demais tratamentos térmicos. Este fato pode

estar ligado a menor influência do choque térmico neste tratamento térmico em comparação aos

demais.

Figura 4.6 a - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra Cu-10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico BT25.

0 1 2 3 430405060708090

100110120130140150 Bruta de Têmpera 25°C

AS

MS

AF

MF

Tem

pera

tura

(°C

)

Nº de Ciclos

20 40 60 80 100 120 140 160 180

2

3

4

5

6

7

MF

MS

AF

AS

Têmpera ao Ar

III ciclo

II ciclo

I ciclo

ΔR/R

(Uni

dade

s A

rbitr

ária

s)

Temperatura (°C)

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37

Figura 4.6 b - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra

Cu-10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico BT100.

Figura 4.6 c - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra

Cu-10%Al-8,4%Mn submetida ao tratamento térmico T Ar.

As ligas com memória de forma Cu-Zn-Al apresentam uma amplitude térmica entre 10 e

15°C. Em contraste, a liga memória de forma Cu-Al-Mn apresenta uma amplitude térmica grande

(aproximadamente 40°C) independentemente do tipo de tratamento térmico. Estas características

das ligas Cu-Al-Mn podem aumentar o uso do EMF em aplicações tecnológicas que necessitam

de uma grande diferença entre o início e o fim da temperatura de transformação direta e

transformação inversa.

A partir dos resultados acima, podemos afirmar que na amostra BT25, as placas

martensíticas (interfaces) foram bloqueadas devido à alta concentração de lacunas não permitindo

0 1 2 3 4 520

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120Têmpera Ar

AF

MS

AS

MF

Tem

pera

tura

(°C

)

Nº Ciclos

0 1 2 3 420

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120 Bruta de Têmpera 100°C

MS

AF

AS

MF

Tem

pera

tura

(°C

)

Nº de Ciclos

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38

um movimento regular das mesmas durante o processo da transformação inversa (Gonzalez, et al.

2003). Este efeito é devido à supersaturação das lacunas na têmpera que bloqueiam a interface

martensita/austenita (Gonzalez et al. 2003). Assim a transformação inversa necessita de uma

maior energia, resultando num aumento da temperatura AF.

No caso do tratamento BT100 a amostra permanece na fase austenítica, ou seja, ocorrem

transições ordem-desordem, durante a têmpera, mas a amostra não se transforma para a fase

martensítica durante o revenido a 100°C.

Nas ligas com efeito memória de forma a base de cobre a mobilidade das lacunas na fase

austenitíca é mais alta do que na fase martensítica (Benchiheub et al., 2000; Van Humbeeck et

al., 1989). Esta manutenção do material a 100°C também aumenta o grau de ordem da fase

austenitíca (DO3 ou L21) (Ahlers, 1986). Assim verificamos que as evoluções dos parâmetros

medidos são menos influenciadas pelo mecanismo de eliminação de lacunas, processo de

reordenamento de fase.

No caso do tratamento TAr, a amostra deve ter uma concentração de lacunas reduzida, mas

o ordenamento configuracional das fases (austenítica e martensítica) pode estar desordenado

(transição ordem-desordem incompleta). O aumento da temperatura MS e a diminuição da

temperatura AS são indicativos do processo de reordenamento, uma vez que nos demais

tratamentos esta evolução é inversa.

4.3. ENSAIO DE FLEXÃO

O ensaio de flexão realizado é do tipo viga engastada onde se aplicou uma carga constante

de 13 MPa (100g) através de um sistema de polia (seção 3.6, figura 3.3). Durante a aplicação da

carga, o material se deforma apresentando um deslocamento no LVDT, em seguida o recipiente

que contém a amostra é aquecido. Neste teste a amostra foi ciclada termicamente 20 vezes.

A figura 4.7 apresenta as curvas da deformação versus temperatura do ensaio de flexão

realizados na liga de Cu-Al-Mn para a amostra submetida ao tratamento de têmpera a 25°C. Após

o carregamento, a amostra na fase martensítica apresenta uma deformação de 1,67 mm na fase

martensítica a 25°C, em seguida a amostra foi aquecida até 200°C e subseqüentemente resfriada

até 20°C. Durante o aquecimento inicial verifica-se um comportamento linear da deformação em

função da temperatura, ou seja, a amostra não apresenta nenhuma recuperação de forma. Durante

o resfriamento, a amostra apresenta um aumento da deformação que chega a 4,26 mm. Nesta

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39

curva podem ser determinadas as temperaturas do MS e MF sob carga (MSσ = 95°C e MFσ =

60°C), através do método das tangentes (ver seção 2.3, figura 2.5).

No primeiro ciclo do ensaio de flexão, não há formação de um laço de histerese. A partir do

segundo ciclo temos a formação do laço de histerese, onde é possível determinar as temperaturas

do início e do final das transformações direta e inversa (AS, AF, MS e MF), como mostra a figura

4.7. A deformação imposta à amostra não é completamente recuperada porque provavelmente

existem martensitas estabilizadas. Durante a ciclagem térmica ocorrem alterações nas

temperaturas críticas e as histereses diminuem sua amplitude, pois elas não fecham no mesmo

ponto.

Na figura 4.8 é apresentada às curvas da ciclagem térmica para a amostra BT100.

Verificamos que a imposição da carga provocou uma deformação de 2,06 mm, que é superior ao

da amostra BT25. A curva do primeiro ciclo da amostra T100 apresentou as mesmas

características da amostra anterior, apenas apresentando maior deformação e temperaturas críticas

da transformação diretas menores (MSσ = 110°C e MFσ = 58°C). A evolução das curvas da

deformação versus temperatura, também são semelhantes ao da amostra anterior, apenas

apresentam laços de histereses maiores (maior deformação da amostra).

A figura 4.9 mostra a ciclagem térmica do teste realizado para a amostra TAr. Podemos

verificar que no carregamento esta amostra apresenta uma grande deformação (7,15 mm) quando

comparada às amostras dos tratamentos anteriores. Também é possível verificar que no

aquecimento do primeiro ciclo, a amostra tem inicialmente o comportamento similar aos demais,

aumento da deformação com a temperatura, mas a partir de 85°C esta deformação é praticamente

recuperada durante o restante do aquecimento. Para os demais ciclos ocorre uma evolução dos

laços de histerese, com a temperatura MSσ = 115°C e MFσ = 70°C no 1º resfriamento. Na tabela 3 são apresentados os valores que foram determinados para o deslocamento

(deformação) da amostra engastada com aplicação de carga a temperatura de 25°C e para a

amplitude que é a deformação máxima alcançada após 1º ciclo térmico, para cada tipo de

tratamento térmico.

Tabela 3 Tratamento Térmico Deformação inicial após

aplicação da carga (mm) Deformação após 1 ciclo

térmico (η1) BT 25 1,67 4,26

BT 100 2,06 7,14 T Ar 2,84 5,31

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40

Podemos afirmar que a deformação inicial após aplicação da carga e a deformação após o

1º ciclo térmico variam um em relação ao outro dependendo do tipo de tratamento térmico

realizado nas amostras da liga Cu-Al-Mn. As amostras reagem de maneira diferente quanto à

aplicação do carregamento e a evolução dos parâmetros medidos, isso se deve ao bloqueio das

interfaces, ao ordenamento das fases e a distribuição das placas de martensita segundo o

tratamento térmico.

Figura 4.7 – Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-10%Al-8,4%Mn

submetido ao tratamento térmico BT25. Amostra sob carga constante de 13 MPa.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2004

6

8

10

12

14

BT 25

Def

orm

ação

(mm

)

Temperatura

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41

Figura 4.8 – Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-10%Al-8,4%Mn submetido o tratamento térmico BT100. Amostra sob carga constante de 13 MPa.

Figura 4.9 – Efeito da ciclagem térmica de transformação da amostra da liga Cu-10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico TAr. Amostra sob carga constante de 13 MPa.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

6

8

10

12

14

16BT100

Def

orm

ação

(mm

)

Temperatura °C

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

2

4

6

8

10

BT Ar

Def

orm

ação

(mm

)

Temperatura (°C)

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42

As figuras 4.10, 4.11 e 4.12 apresentam as evoluções das temperaturas criticas com o

número de ciclos para as amostras BT25, BT100 e TAr. Podemos verificar que a amostra T25

apresentou variações das temperaturas críticas sem alcançar uma estabilização. No caso da

amostra T100, as temperaturas críticas começam a ser repetitiva a partir do 11º ciclo, indicando

que a amostra ficou treinada (educada), ou seja, a amostra apresenta o EMFR (efeito memória de

forma reversível). A histerese térmica (MS – MF) de ± 30°C torna-se regular. Para a amostra TAr

é possível verificar que as temperaturas críticas apresentam menor variação (intervalo entre MF e

AF ≈ 55°C, para BT25 esta variação é de 85°C e para BT100 ≈ 100°C. após os 20 ciclos, a

amostra não apresenta temperaturas críticas repetidas, ou seja, a amostra não está completamente

treinada.

Figura 4.10 - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra Cu-10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico BT25.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 2030

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130 BT 25

MF

MS

AF

AS

Tem

pera

tura

(°C

)

Número de Ciclos

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43

Figura 4.11 - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra Cu-10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico BT100.

Figura 4.12 - Temperatura de transformação versus número de ciclos térmicos para a amostra Cu-

10%Al-8,4%Mn submetido ao tratamento térmico T Ar.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20405060708090

100110120130140150

BT Ar

MF

MS

AF

AS

Tem

pera

tura

(°C

)

Número de Ciclos

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20405060708090

100110120130140150

BT 100

MF

MS

AF

ASTem

pera

tura

(°C

)

Número de Ciclos

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44

Após ensaio de flexão, foi calculado o rendimento do EMF das amostras da liga Cu-Al-Mn

durante a ciclagem térmica.

Os valores da deformação após o 1° ciclo térmico foram utilizados como referência para

determinar o rendimento do EMF, através da fórmula η% = ηn/η1* 100, onde ηn é a deformação

para o n – ésimo ciclo.

A figura 4.12 apresenta as curvas do rendimento do EMF versus número de ciclos do

ensaio de flexão para as amostras BT25, BT100 e T Ar. As curvas revelam evoluções

significativas dos rendimentos das amostras.

Para a amostra T25, o rendimento diminui com o aumento do número de ciclos. A amostra

T25 tem um rendimento baixo, em torno de 42%. Isto está relacionado com a diminuição da

amplitude durante a ciclagem e acontece porque provavelmente existe uma grande quantidade de

plaquetas de martensitas estabilizadas (bloqueio pelas lacunas de têmpera).

A amostra BT100 apresenta o melhor rendimento do EMF em relação às demais amostras

atingindo 50%. Isto pode significar que a amostra possui fases com melhor ordenamento e baixa

concentração de lacunas de têmpera. O rendimento desta amostra fica praticamente estável após o

11º ciclo.

Figura 4.13 – Gráfico do rendimento versus número de ciclos para a amostra Cu-Al-Mn

submetido aos tratamentos térmicos BT25, BT100 e TAr.

A amostra TAr apresentou um rendimento de aproximadamente 25%. Assim a amostra

TAr tem rendimento menor do que a amostra BT25 e a amostra BT100. O rendimento EMF

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200

102030405060708090

100

BT 25 BT 100 T Ar

η (%

)

Número de Ciclos

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45

diminui com uma taxa muito grande. Este fato pode estar relacionado a uma grande desordem da

fase matriz, pois as transições ordem – desordem (B2 → DO3 e DO3 → L21) pode estar

incompleta.

Devido à dificuldade de estabelecer a origem dos processos de estabilização nas ligas de

cobre foram realizados dois testes suplementares para as amostras submetidas ao tratamento

térmico BT25, BT100 e TAr. No primeiro estamos interessados nas modificações da fase

austenítica, uma vez que estas modificações influenciam diretamente a fase martensítica, pois

esta herda o ordenamento da fase matriz. Este teste foi realizado pela medição das variações da

resistividade elétrica a alta temperatura, na qual, durante o aquecimento ocorre à transformação

martensítica e as subseqüentes variações da inclinação da curva indicam reações de transição e

precipitação. O segundo teste analisará modificações diretas da estrutura martensítica através da

difratometria de raios-x. Neste teste será estudada a amostra imediatamente após o tratamento,

depois a amostra aquecida a 200°C e em seguida após um aquecimento a 320°C. Estes testes

tentaram evidenciar os principais fatores que afetam as fases austeníticas /martensíticas durante a

ciclagem térmica, sem e com carga para as amostras de cada tratamento térmico.

4.4. RESISTIVIDADE ELÉTRICA A ALTA TEMPERATURA

Foram realizados ensaios com amostras da liga Cu-Al-Mn, para os tratamentos térmicos:

BT25, BT100 e BTAr, utilizando um dispositivo de medição da resistividade elétrica com

varredura de temperatura na faixa de 30 a 800°C. O objetivo deste ensaio foi verificar as

modificações nas curvas da variação de resistividade elétrica para temperaturas elevadas onde

ocorrem as reações de transição ordem – desordem e de precipitação. Para melhor análise, as

curvas foram divididas em segmentos (letras A, B, C, D, E, F e G).

A figura 4.13 apresenta as medidas registradas com o dispositivo da resistividade elétrica

nas amostras de Cu-Al-Mn com tratamento térmico BT25, BT100 e BTAr.

Verificamos no intervalo AB do aquecimento (ponto B ≈ 130°C) não se consegue distinguir

bem os pontos de inflexão da transformação martensítica. No intervalo de temperatura BC (até

220°C) a curva da resistividade elétrica varia linearmente com a temperatura. No segmento CD,

tem uma região onde acontece variação da inclinação da curva de resistividade elétrica. Esta liga

apresenta uma miscibilidade das estruturas DO3 (Cu3Al) e L21 (Cu2AlMn) na fase austenítica, ou

seja, elas coexistem nesta fase (DO3 + L21), (Kainuma et al, 1998) e (Bouchard e Thomas, 1975).

Neste intervalo de temperatura ocorre uma transição de ordenamento, onde a fase austenítica

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46

torna-se completamente DO3 ou L21. Esta transição DO3 + L21 → DO3 ou L21 ocorre através de

uma decomposição spinoidal (ver figura 2.14, seção 2.11); (Kribs, 1989) e (Bouchard e Thomas,

1975). Esta mudança de ordenamento deve continuar a ocorrer até o ponto E. A partir de 420°C,

a curva novamente varia linearmente com a temperatura até 540°C (intervalo EF). No ponto F

novamente a curva perde sua linearidade. Esta temperatura corresponde a transição ordem-

desordem DO3→B2. A partir de aproximadamente 600°C, a curva volta a variar a inclinação

novamente. Esta nova variação corresponde a transição ordem-desordem B2 → A2. Esta última

tem estrutura CCC desordenada e corresponde a fase β de alta temperatura no diagrama de fase.

Segundo a literatura, as ligas Cu-Al-Mn durante o aquecimento da fase austenítica (β1) não é

decomposta em precipitados α e /ou γ. (Kribs,1989); (Soltys,1992) e (Kainuma et al, 1998).

Para a curva da amostra BT100 (figura 4.13 - preta) verificamos no intervalo AB

claramente a transformação martensítica inversa. Os demais intervalos são semelhantes ao da

curva BT25, com as seguintes diferenças: no intervalo CD nesta curva possui menor amplitude e

a curva como um todo, apresenta uma inclinação bem menor em comparação com a curva da

amostra BT25.

A amostra BTAr apresenta uma curva muito semelhante à curva da amostra BT100, com os

seguintes remarques: transformação inversa com maior amplitude e no intervalo BC uma

variação de linearidade com a temperatura. Isto pode indicar um reordenamento dentro da zona

de miscibilidade das estruturas DO3 + L21. Isto pode ocorrer devido ao reposicionamento do Mn

dentro da rede, fazendo com que o percentual de cada estrutura mude na fase austenítica

(Kainuma, 1998). Durante as ciclagens térmicas das amostras BTAr pode-se verificar a falta de

uma tendência da estabilização das temperaturas críticas. Este reposicionamento do Mn pode ser

a origem da dificuldade para estabilizar as temperaturas, uma vez que os ciclos térmicos foram

realizados no intervalo de 0 a 180°C.

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Figura 4.14 - Gráfico da variação da resistividade elétrica versus temperatura para as amostras da

liga Cu-Al-Mn submetidas aos tratamentos térmicos BT25 (linha azul), BT100 (linha preta) e TAr (linha verde).

4.5. DIFRATOMETRIA DE RAIOS – X

A difratometria de raios-x foi aplicada nas amostras para verificar as variações ou

modificações dos espectros para os diversos tratamentos térmicos utilizados neste trabalho. Neste

teste, cada amostra foi inicialmente tratada termicamente, e logo após foi realizado o

difratograma. Depois a amostra foi aquecida a 200°C e 320°C num banho de silicone. Após o

resfriamento, a amostra foi submetida à outra difração de raios-X, para os dois processos de

aquecimento.

As análises dos difratogramas foram realizadas considerando as seguintes observações das

raias de difração: deslocamento, intensidade, estreitamento ou alargamento e assimetria. Os

deslocamentos que são observados nas raias de difração são causados pela tensão a que o cristal

foi submetido, (Moreau 2002), (Cullity e Stock, 3ª edição). No caso de uma tensão de tração, os

planos atômicos perpendiculares são separados na direção de solicitação, isto é, à distância

interplanar d é ligeiramente aumentada. A lei de Bragg diz que sen θ = nλ/2d, assim o valor de θ

0 100 200 300 400 500 600 700 8000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

TAr

BT100

BT25

Varia

ção

de R

E (U

nida

des

Arbi

trár

ias)

T (°C ) A B C D E F G

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48

diminui. O ângulo θ das raias de difração associados ao plano diminui e as raias são deslocadas

para a esquerda como mostra a figura abaixo.

Figura 4.15 – Efeito dum afastamento dos planos sobre a posição da raia (Moreau, 2002).

Uma tensão de compressão reaproxima os planos atômicos perpendiculares à direção da

solicitação e desloca as raiais para a direita.

Figura 4.16 – Efeito duma reaproximação dos planos sobre a posição da raia (Moreau, 2002).

Os defeitos da rede cristalina criam um campo de deformação e, portanto uma modificação

das distâncias interplanares com as raias de difração apresentando variações de forma

(intensidade e assimetria e alargamento). A tabela 4 resume os principais efeitos dos defeitos

cristalinos sobre as raias difratadas (Moreau, 2002).

Compressão

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49

Tabela 4

Classe Primeira Segunda

Natureza do defeito Lacunas, átomos

substitucionais e intersticiais,

arranjos de discordâncias.

Discordâncias e falhas de

empilhamento

Tipo de defeito Pontual Linear e Planar

Influência sobre o pico de

difração

Atenuação da intensidade do

pico e difração difusa.

Modificação da forma e da

posição do pico (alargamento,

dessimetria) e difração difusa.

Os difratogramas de raios-x da figura 4.16 apresentam os resultados para a amostra BT25.

Os picos da martensita β’1 (12-2), (1-2-8), (208), (320) e (3216) estão ligeiramente deslocados

para a direta em relação ao difratograma da amostra imediatamente após tratamento térmico

(verde) indicando que a amostra estava sob tensão de compressão devido a têmpera em água a

temperatura ambiente (choque térmico). O pico (320) apresenta um aumento de intensidade e um

alargamento da base indicando que durante o aquecimento a 200oC houve diminuição de defeitos

pontuais (eliminação de lacunas após aquecimento a fase austenítica). Para o aquecimento a

320oC, verificou-se a presença de raias indexadas para a fase alfa, indicando que a esta

temperatura ocorre precipitação de fase. No entanto, a maioria das raias corresponde à fase

martensítica.

Para a amostra BT100 verifica-se que o aquecimento a 200oC não apresentou modificação

significativa com relação ao difratograma imediatamente após o tratamento térmico

(difratograma verde), como mostra a figura 4.17. As raias apresentaram um pequeno

deslocamento para a direita e alguns picos aparecem ou desaparecem. Este fato está relacionado

as variantes da martensita que possuem 24 posições cristalográficas, assim alguns planos podem

ou não aparecer no difratograma devido às características de auto-acomodação das variantes de

martensita. Em relação ao aquecimento a 320°C, o difratograma apresenta uma diminuição de

intensidade e a indicação da presença por precipitação partículas da fase alfa.

Para a amostra BTAr o aquecimento a 200°C apresentou modificações significativas com

relação ao difratograma da amostra imediatamente após tratamento térmico (difratograma verde),

como mostra a figura 4.18. As raias praticamente não apresentam deslocamentos e alguns picos

diminuem de intensidade e outros desaparecem. Para o aquecimento a 320°C, verificaram-se

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aparecimentos de novos picos (320), diminuição da intensidade dos picos entre 38 e 50°, e

presença de raias indexadas para a fase alfa, indicando que a esta temperatura ocorre

precipitação.

20 30 40 50 60 70 80 90 1000

3000

6000

9000

12000

15000

18000

21000

24000

27000

30000

β 1'(12

16)

β 1'(1-

214)

β 1'(12

22)

α(2

10)

1o Teste - Verde

2o Teste - Após Aquec. 200oC - Preto

3o Teste - Após Aquec. 320oC -Vermelho

β 1'(00

18)

α(2

20)

β 1'(1-

2-8)

+(20

8)

β 1'(3-

2-16

)

β 1'(32

0)

β 1'(12

-2)

CAM BT25

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

Figura 4.17 – Difratograma da liga Cu-Al-Mn, 1)BT25 imediatamente após tratamento térmico, 2) após aquecimento e 3) após aquecimento a 320°C.

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Figura 4.18 – Difratograma da liga Cu-Al-Mn, 1) BT100 imediatamente após tratamento térmico, 2) após aquecimento e 3) após aquecimento a 320°C.

Figura 4.19 – Difratograma da liga Cu-Al-Mn, 1) TAr imediatamente após tratamento térmico, 2) após aquecimento e 3) após aquecimento a 320°C.

20 30 40 50 60 70 80 90 1000

3000

6000

9000

12000

15000

18000

21000

24000

27000

30000

α(2

20)

β 1'(1-

2-22

)

β 1'(32

0)

β 1'(3-

218)

β 1'(3-

2-16

)

β 1'(12

22)

β 1'(04

0)

β 1'(20

10)

β 1'(12

10)

β 1'(12

4)+(

208)

β 1'(12

-8)

β 1'(00

18)

1o Teste - Verde

2o Teste - Após Aquec. 200oC - Preto

3o Teste - Após Aquec. 320oC -Vermelho

β 1'(12

-2)

CAM BTAr

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

20 30 40 50 60 70 80 90 1000

3000

6000

9000

12000

15000

18000

21000

24000

27000

30000

β 1'(12

4)

β 1'(12

4)β 1'(

12-8

)

β 1'(20

8)β 1'(

1210

)

β 1'(12

16)

β 1'(12

22)

β 1'(04

0)

β 1'(20

14)

β 1'(32

0)

β 1'(3-

2-16

)

β 1'(20

10)

β 1'(12

-2)

1o Teste - Verde

2o Teste - Após Aquec. 200oC - Preto

3o Teste - Após Aquec. 320oC -Vermelho

β 1'(00

18)

α(2

20)

CAM BT100 In

tens

idad

e (u

.a.)

2 θ

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52

Estes testes mostraram que os difractogramas da fase martensítica apresentam modificações

que estão relacionadas aos tratamentos térmicos das amostras.

A partir dos resultados da REAT e dos difractogramas de raios–x podemos resumir as

seguintes observações para cada tratamento térmico:

BT25 → Alta densidade de lacunas retida durante a têmpera.

Estrutura da austenita apresenta baixo grau de ordenamento.

A estrutura da martensita está deformada por compressão.

Não há estabilização das temperaturas críticas e grandes histereses térmicas.

Baixo rendimento do efeito memória de forma.

BT100→ Baixa concentração de lacunas de têmpera.

Estrutura da fase matriz apresenta alto grau de ordenamento (manutenção da

amostra a 100°C (fase austenítica) promove o ordenamento).

Não há grandes modificações da estrutura martensítica (difração de raios-x), pois

ela herda um alto grau de ordenamento da fase matriz.

Apresenta temperaturas térmicas bem definidas com poucos ciclos térmicos (11º

ciclo ensaio de flexão).

Bom rendimento de efeito memória de forma.

BTAr→ Baixa concentração de lacunas de têmpera.

Estrutura matriz deve reter certo grau de desordenamento dentro da região de

miscibilidade (DO3 + L21), que pode ser verificado nos testes de REAT.

Embora a fase martensítica apresente uma difração característica, após a ciclagem

térmica ocorre uma diminuição dos picos e alargamento da base. Esta modificação

deve ter sido originada pela desordem na fase matriz.

As temperaturas críticas não chegam a uma estabilização, mas apresentam histerese

e amplitudes pequenas.

Baixo rendimento do efeito memória de forma.

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53

5. CONCLUSÕES

• Verificou-se que a liga Cu-12%Al-8,4%Mn apresenta o efeito memória de forma através das

caracterizações de microscopia ótica, resistividade elétrica e ensaio de flexão.

• O manganês mostrou-se eficiente como elemento de liga, pois baixou as temperaturas de

transformação da ligas Cu-10%Al-8,4%Mn.

• Foram determinadas as temperaturas de transformação de fase para a liga sem carga

(resistividade elétrica) e com carga (ensaio de flexão). Ficou evidenciado que ocorre uma

mudança das temperaturas devido à aplicação de um carregamento externo.

• O efeito memória de forma reversível, também ficou evidenciado nas ligas Cu-10%Al-

8,4%Mn. O efeito reversível foi obtido após manter a liga entre ciclos termomecânicos,

também chamada de treinamento termomecânico.

• A BT100 a transformação ocorre de maneira muito mais rápida devido ao tipo de tratamento,

ou seja, a liga se transforma acima da temperatura ambiente. Então nessas condições temos

uma fase austenítica (β1) com estrutura ordenada DO3 o que favorece a eliminação de lacunas

e o reordenamento da fase β. Na BTAr, temos uma estrutura um pouco mais ordenada do que

na BT25, mas ela é diferente da BT100, mas permitindo uma melhor movimentação das

placas martensíticas durante a transformação. Com isso temos uma estrutura DO3 um tanto ou

quanto diferente da estrutura DO3 da BT100.

• A tabela 5 abaixo, apresenta as conclusões gerais deste trabalho, abrangendo tratamentos

térmicos, densidade de lacunas, estrutura da austenita, estrutura da martensita, estabilização

das temperaturas e o rendimento (η).

Tabela 5

T.T. Densidade Estrutura da Austenita Estrutura da Martensita Estabilização das Temperaturas ηde Lacunas

BT 25 Alta, retida Baixo Grau de Ordenamento Deformada por compressão Não há; grandes histereses térmicas Baixodurante

a têmpera

Não há modificação na estrutura;BT 100 Baixa Alto Grau de Ordenamento Adquire um alto grau de ordenamento Temperaturas bem definidas Bom

da fase matriz com poucos ciclos térmicos;

TAR Baixa Retém certo grau de Difração característica após ciclagem térmica; Temperaturas não chegam a estabilização, Baixodesordenamento na região Ocorre diminuição dos picos e alargamento da base; mas têm histerese e amplitude pequenas.de miscibilidade (DO3+L21) Modificação originada pela desordem na fase matriz.

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6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

1. Estudar o tratamento térmico com revenido a temperaturas específicas (100°C e 150°C)

para verificar o comportamento termomecânico da liga.

2. Realizar estudo nas ligas com variação de cargas, neste caso aumentando a carga.

3. Análise de microscopia eletrônica para verificar a formação de precipitados e disposição

das discordâncias após ciclagem termomecânica.

4. Realizar estudos comparativos da liga Cu-Al-Mn com outras ligas tais como Cu-Zn-Al e

Cu-Al-Be, quanto ao comportamento das temperaturas de transformação, rendimento e

raios-x.

5. Modificar a composição da liga principal, aumentando o teor de Mn para fazer uma

comparação com os estudos da liga Cu-10%Al-8%Mn apresentados neste trabalho e

também verificar a influência das transições ordem – desordem nas temperaturas criticas e

no rendimento.

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55

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHLERS, M. Matensite and and equilibrium phases in Cu-Zn and Cu-Zn-Al alloys, Progress in

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ANEXOS Tabela adquirida através de tratamento informático das estruturas da martensita que permite

definir as famílias de planos que difratam e o fator da estrutura correspondente.

Martensita β’1

h,k,l dh,k,l V 1,2,-2 1,-2,-2

2,27 6,96

1,2,4 1,-2,4

2,222 4,46

2,0,2 2,177 6,7 2,0,-4 2,135 4,31 0,0,18 2,111 14,58 1,-2,-8 1,2,-8

2,059 12,05

2,0,8 1,99 11,69 1,2,10 1,-2,10

1,958 11,52

2,0,-10 1,898 11,21 1,-2,14 1,743 3,61 2,0,14 1,703 3,53 1,2,16 1,647 5,24 2,0,-16 1,607 5,11 2,0,20 1,435 4,55 1,2,22

1,-2,-22 1,378 2,85

0,4,0 1,339 9,44 3,2,0 1,2 9

3,-2,18 1,096 7,57