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ESTUDO DA ESTABILIDADE DE EMULSÕES DE ÁGUA EM PETRÓLEOS Raquel Campos Cauby Coutinho DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA QUÍMICA. Aprovada por: Prof. José Carlos Costa da Silva Pinto, D.Sc. Prof. Príamo Albuquerque Melo Júnior, D.Sc. Prof. Alexandre Ferreira Santos, D.Sc. Dr. Elizabeth Ferreira da Fonseca, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL DEZEMBRO DE 2005

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ESTUDO DA ESTABILIDADE DE EMULSÕES DE ÁGUA EM PETRÓLEOS

Raquel Campos Cauby Coutinho

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA QUÍMICA.

Aprovada por:

Prof. José Carlos Costa da Silva Pinto, D.Sc.

Prof. Príamo Albuquerque Melo Júnior, D.Sc.

Prof. Alexandre Ferreira Santos, D.Sc.

Dr. Elizabeth Ferreira da Fonseca, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

DEZEMBRO DE 2005

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ii

COUTINHO, RAQUEL CAMPOS CAUBY

Estudo da Estabilidade de Emulsões de

Água em Petróleo [Rio de Janeiro] 2005

XIV, 112 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,

M.Sc., Engenharia Química, 2005)

Dissertação - Universidade Federal do

Rio de Janeiro, COPPE

1. Estabilidade de Emulsões.

2. Emulsões de Água em Óleo

3. Petróleo

4. Modelagem

I. COPPE/UFRJ II. Título (série).

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iii

“É natural que eu tenha pelo petróleo do Brasil amor e

um carinho especial, seja-me permitido, pois, lançar desta

tribuna aos congressistas e governantes da minha terra

um fervoroso apelo em prol da sua defesa”.

(H. Barbosa)

“A Universidade deve ser flexível, pintar-se de negro, de

mulato, de operário, de camponês ou então ficar sem

portas, e o povo invadirá a Universidade e a pintará com

as cores que quiser”.

(E. Che Guevara)

Aos meus queridos pais e irmão.

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iv

Agradecimentos

Acho que esta é a hora que eu mais esperei. Agradecer a todos que me ajudaram ao

longo deste trabalho.

Ao meu orientador José Carlos, pelo incentivo, pela orientação, pela amizade e pelas

palavras e bom humor que acalmavam a minha ansiedade de resolver todos os

problemas e explicar o mundo no primeiro mês de mestrado.

A minha família, pelo carinho sempre. Aos meus pais, Ricardo e Eliane, por todo o

amor e compreensão, por serem o meu exemplo e por estarem sempre tão presentes. Ao

meu pai pelo companheirismo e a minha mãe pelos bilhetinhos carinhosos deixados de

surpresa na porta do armário.

Ao meu irmão Felipe, por ser meu maior companheiro, pela amizade, pelos conselhos e

por ser um dos maiores responsáveis pela minha feliz escolha profissional. E por ter

trazido pra família a Renata e a Anita.

Ao Márcio, pelo incentivo em todas as horas, pela paciência, pelo exemplo, pela

amizade e amor, pelos nossos anos futuros. A você, o meu amor, minha gratidão e

admiração.

Ao Antônio Mauricio, pela minha formação, por ser pra mim um exemplo de

profissional e por me apresentar e me fazer apaixonar pela PETROBRAS S.A.

A Joyce e ao Nilo, pelo carinho e por influenciarem decisivamente o meu

desenvolvimento profissional.

A Gabril, pela amizade por todos estes anos e por tornar a faculdade e o trabalho tão

melhores.

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Às amigas Beths, Fonseca, Marsiglia e Moreira, cuja amizade é a minha maior

conquista e foram responsáveis por momento inesquecíveis nos últimos anos.

Meu agradecimento especial a Beth Marsiglia por ser minha grande professora,

conselheira e companheira desde que me inseri na área em que agora me especializo.

A Patrícia e a Luciana, pelo dia-dia tão gratificante e alegre, por me ensinarem tanta

coisa e pelo carinho de sempre.

Ao Príamo e a Márcia pela orientação durante os seminários de tese.

Ao amigo Fabiano pela amizade e solidariedade nos momentos de aperto durante estes

anos de mestrado.

Aos amigos do CENPES, Flávio, Fátima, Roberto Carlos, aos amigos da Engenharia

Básica e da UNIT pelas inestimáveis contribuições a este trabalho e disponibilidade

para as longas e produtivas discussões técnicas.

Ao Reynaldo e a Solange, pela amizade, por acreditarem no meu trabalho e me

incentivarem tanto.

Aos amigos Pedro e Isabela por estarem sempre por perto e pela amizade.

Very special thanks to Johan Sjöblom, Andreas Hannisdal and Bodhild Øvrevoll for the

generous hosting, for the fruitful discussions and for the opportunity of working at the

Ugelstad Laboratory. My sincere gratitude for all my colleagues and for all the

invaluable memories from Trondheim.

Ao Chico Buarque por ter sido responsável pela trilha sonora da redação desta

dissertação.

Finalmente, à minha Petrobrás e ao meu país pelas oportunidades de estudar e trabalhar

em prol da construção de uma sociedade melhor.

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ESTUDO DA ESTABILIDADE DE EMULSÕES DE ÁGUA EM PETRÓLEO

Raquel Campos Cauby Coutinho

Dezembro/2005

Orientador: José Carlos Costa da Silva Pinto

Programa: Engenharia Química

A estabilidade de emulsões de água em petróleos tem se configurado como um

dos maiores problemas na indústria de petróleos. Os requisitos de qualidade são

desafiados pelo aumento de produção de petróleos cada vez mais pesados e pelos custos

de produção. Neste trabalho, sete petróleos nacionais foram caracterizados segundo

propriedades químicas, físicas e físico-químicas. Espectrofotometria no infravermelho

próximo (NIR) associada à análise de componentes principais (PCA) foi também usada

na caracterização dos petróleos. Estas propriedades foram correlacionadas com a

estabilidade de emulsões sob efeito de campo elétrico em laboratório (Ecritico). Foi

observada a dependência da estabilidade com a viscosidade e a densidade dos petróleos

analisados. A possibilidade de estender os resultados obtidos nesta escala foi também

investigada. Dados de literatura obtidos para o tratamento eletrostático de petróleos

nacionais, em planta piloto, foram analisados. Foi proposto novo modelo para o

processo em escala piloto, onde as propriedades do petróleo e variáveis de processo

foram correlacionadas com o teor de água no petróleo tratado. Em escala piloto foi

possível observar a influência do teor de asfaltenos na eficiência do processo e a

confirmação das conclusões obtidas em laboratório.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

CHARACTERIZATION OF THE STABILITY OF WATER IN CRUDE OIL

EMULSION

Raquel Campos Cauby Coutinho

December/2005

Advisor: José Carlos Costa da Silva Pinto

Department: Chemical Engineering

The stability of water-in-crude oil emulsions is becoming one of the major

problems in the petroleum industry, as the quality requirements are a central challenge

when facing the increasing heavy crude oil production and its high production costs. In

this work, seven Brazilian crude oils were thoroughly characterized in terms of

chemical, physical and physico-chemical properties. In addition, near infrared

spectroscopy (NIR) was used in conjunction with principal component analysis (PCA).

Emulsion stability under the influence of electric fields (Ecritical) was evaluated and

correlated with the remaining properties. It was found that emulsion stability depends

largely on the viscosity and density. Available experimental data collected for the

electrostatic treatment of different Brazilian crude oils at pilot plant were analyzed. A

model including the crude oil properties and process conditions was proposed for pilot

plant scale. The results showed the influence of asphaltene content over the process

efficiency but confirmed most of the partial conclusions obtained at the lab experiments.

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ÍNDICE

1 Introdução...............................................................................................................1

2 Revisão Bibliográfica .............................................................................................3 2.1 Composição do Petróleo.............................................................................15

2.1.1 Saturados e Aromáticos ....................................................................18

2.1.2 Resinas ..............................................................................................18

2.1.2.1 Ácidos Naftênicos...............................................................19

2.1.3 Asfaltenos .........................................................................................20

2.2 Fenômenos Envolvidos na Estabilização de Emulsões de Água em Petróleo.......................................................................................................23

2.2.1 Mecanismos Envolvidos na Estabilização de Emulsões...................25

2.2.1.1 Repulsão Eletrostática ........................................................25

2.2.1.2 Estabilização Estérica .........................................................26

2.2.1.3 Efeito de Gibbs-Marangoni ................................................26

2.2.1.4 Estabilização por Partículas................................................27

2.2.1.5 Estabilização por Multicamadas .........................................30

2.3 Metodologias para Caracterização de Emulsões de Água-óleo .................31

3 Materiais e Métodos.............................................................................................36 3.1 Determinação dos Teores de Água pelo Método de Titulação Coulométrica

de Karl Fisher .............................................................................................38

3.2 Determinação Gravimétrica dos Teores de Asfaltenos Insolúveis em n-hexano ........................................................................................................39

3.3 Determinação Gravimétrica dos Teores de Saturados, Aromáticos e Resinas (SAR) por Fracionamento de Maltenos ........................................39

3.4 Espectroscopia de Infravermelho Próximo (NIR) dos Petróleos Não Diluídos ......................................................................................................41

3.5 Determinação do Campo Elétrico Crítico de Emulsões Estáveis de Água em Petróleo.................................................................................................42

3.5.1 Avaliação de Erros Experimentais....................................................46

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3.5.2 Avaliação da Sensibilidade do Método para Análise de Estabilidade das Emulsões. .................................................................................47

3.5.3 Avaliação da Estabilidade de Emulsões dos Diferentes Óleos.........48

3.5.3.1 Determinação do Diâmetro de Gotas Médio da Emulsão ..50

4 Resultados e Discussões .......................................................................................51 4.1 Análise da Metodologia de Medição de Estabilidade por Ecritico ............51

4.1.1 Análise das Variâncias Envolvidas na Metodologia de Medição de Estabilidade por Ecritico ................................................................52

4.1.2 Análise da Sensibilidade da Medida da Estabilidade de Emulsões por Ecritico ...........................................................................................54

4.2 Correlação de Propriedades de Petróleos com Estabilidade de Emulsões de Água em Óleo.............................................................................................60

4.3 Análise de Dados e Modelagem do Processo de Dessalgação Eletrostática de Petróleos em Escala Piloto ....................................................................89

5 Conclusões e Sugestões ......................................................................................102

6 Bibliografia .........................................................................................................105

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Esquema de processo de dessalgação eletrostática em dois estágios................ 6

Figura 2: Combinações de tecnologias para tratamento de emulsões [12]....................... 8

Figura 3: Dessalgadora de alta velocidade com três eletrodos tipo grade horizontal....... 9

Figura 4: Dessalgadora de baixa velocidade com dois eletrodos. .................................. 10

Figura 5: Dessalgadora Dual Polarity® [19]. .................................................................. 11

Figura 6: Esquema de aplicação de campo elétrico para a tecnologia Dual Polarity®[20]......................................................................................................................... 11

Figura 7: Processos de separação de fases emulsionadas ou dispersas [21]. ................. 12

Figura 8: Esquema do fracionamento de petróleos para caracterização SARA usado por HANNISDAL et al. [32]................................................................................ 18

Figura 9: “Estrutura arquipélago” dos agregados de asfaltenos sendo solvatados por resinas na fase orgânica [37]. ......................................................................... 21

Figura 10: Agregados coloidais de resinas e asfaltenos formando um filme interfacial [21]. ................................................................................................................ 24

Figura 11: Efeito de Gibbs-Marangoni na gota de água [43]. ........................................ 27

Figura 12: Adsorção de agregados de resinas e asfaltenos a uma partícula hidrofílica [9]......................................................................................................................... 28

Figura 13: (a) Emulsões sem presença de partículas sólidas. (b, c) Emulsões com a presença de partículas sólidas e diferentes quantidades de agregados de asfaltenos: (b) emulsão de água-em-óleo e (c) emulsão de óleo-em-água [9]......................................................................................................................... 29

Figura 14:Comparação dos espectros de NIR de petróleo não diluído com e sem adição de desemulsificante [43]. ............................................................................... 35

Figura 15: Equipamento KF Coulometer 831 da Metrohm............................................ 38

Figura 16: HPLC da Shimadzu Inc. usado para fracionamento de Maltenos................. 40

Figura 17: Espectrômetro Bruker MPA FT-NIR (Bruker Optics). ................................ 41

Figura 18: Desenho do instrumento para espectroscopia NIR de petróleos não diluídos......................................................................................................................... 41

Figura 19: Ultra-Turrax Modelo T-18. ........................................................................... 42

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Figura 20: Seletor de velocidade do misturador Ultra-Turrax modelo T-18.................. 43

Figura 21: Desenho esquemático da célula para medição do Ecritico. .......................... 44

Figura 22: Fonte de energia – Corrente Contínua (Agilent Modelo 6634B) e célula para medição de Ecritico........................................................................................ 44

Figura 23: Análises de Ecritico (a) dados típicos [6] (b) ajuste de curva aos dados experimentais para determinação de Ecritico para o petróleo A com espaçamento entre placas de 0,1 mm. ............................................................ 45

Figura 24: Pá modelo S18N-10G com 10mm de diâmetro para Ultra-Turrax T-18. ..... 46

Figura 25: Estabilidade de emulsões preparadas a partir de diferentes procedimentos experimentais com petróleo C com intervalo de confiança de 95%. ............. 57

Figura 26: Comparação dos dados obtidos pelo modelo de predição de Ecritico em função do procedimento de preparo de emulsões. ......................................... 59

Figura 27: Predição dos valores de Ecritico em função do procedimento de preparo. .. 59

Figura 28: Análise de Ecritico com espaçamento de (a) 0,1 mm e (b) 0,25 mm para as emulsões dos sete petróleos nacionais. .......................................................... 62

Figura 29: Curva da análise de Ecritico para o petróleo D com espaçamento de 0,1 mm.......................................................................................................................... 66

Figura 30: Curva da análise de Ecritico para o petróleo A com espaçamento de 0,1 mm.......................................................................................................................... 66

Figura 31: Espectros de infravermelho próximo dos petróleos não diluídos (três réplicas por petróleo)................................................................................................... 68

Figura 32: Contribuição dos componentes principais na matriz de covariâncias dos espectros de NIR. ........................................................................................... 68

Figura 33: Médias e intervalos de confiança do primeiro componente principal dos espectros de NIR dos diversos petróleos........................................................ 69

Figura 34: Relação entre Ecritico 0,1mm e a densidade API......................................... 79

Figura 35: Predição do Ecritico 0,1mm como função da densidade API....................... 80

Figura 36: Relação entre Ecritico 0,1mm e logaritmo da viscosidade. .......................... 81

Figura 37: Predição do Ecritico 0,1mm como função do logaritmo da viscosidade. ..... 82

Figura 38: Relação entre o logaritmo da viscosidade calculada @ 25°C e densidade API do petróleo...................................................................................................... 82

Figura 39: Avaliação de correlação não-linear de Ecritico 0,1mm com o parâmetro C2......................................................................................................................... 83

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Figura 40: Predição de Ecritico como função do parâmetro C2..................................... 83

Figura 41: Avaliação de correlação não-linear do parâmetro C2 com a densidade API.84

Figura 42: Avaliação de correlação não-linear do parâmetro C2 com logaritmo da viscosidade. .................................................................................................... 84

Figura 43: Relação do Ecritico 0,1mm com (a) teor de asfaltenos insolúveis em n-hexano (b) teor de asfaltenos insolúveis em n-heptano (c) teor calculado de asfaltenos insolúveis em n-hexano, mas solúveis em n-heptano. .................. 85

Figura 44: Relação entre Ecritico 0,1mm e o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR............................................................ 86

Figura 45: Relação entre o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR e o teor de asfaltenos insolúveis em n-hexano............ 86

Figura 46: Relação entre o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR e logaritmo da viscosidade.......................................... 87

Figura 47: Predição do tratamento eletrostático de petróleos, com 133 dados, pelo modelo de FONSECA e COUTINHO [66]. .................................................. 94

Figura 48: Predição do tratamento eletrostático de petróleos, com 220 dados, pelo novo modelo proposto............................................................................................. 99

Figura 49: Predição do tratamento eletrostático de petróleos pelo novo modelo proposto....................................................................................................................... 100

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Composição elementar média do petróleo...................................................... 16

Tabela 2: Petróleos usados no estudo de estabilidade de emulsão – amostras de referência........................................................................................................ 36

Tabela 3: Caracterização das amostras de petróleo solicitadas ao CENPES-PETROBRAS S.A. . ...................................................................................... 37

Tabela 4: Indicador de velocidade para o misturador Ultra-Turrax T-18. ..................... 43

Tabela 5: Planejamento experimental para análise de sensibilidade de Ecritico com pá S18N-10G. ..................................................................................................... 47

Tabela 6: Planejamento experimental para análise de sensibilidade de Ecritico com pá S18N-19G. ..................................................................................................... 48

Tabela 7: Indicador de velocidade para o Ultra-Turrax T-25......................................... 49

Tabela 8: Condições padronizadas de preparo de emulsões para comparação da estabilidade das emulsões dos diferentes óleos.............................................. 49

Tabela 9: Resultados das análises de densidade e viscosidade dos petróleos. ............... 52

Tabela 10: Análise de variâncias envolvidas na medida de Ecritico.............................. 53

Tabela 11: Condições experimentais investigadas e resultados das análise de Ecritico com Ultra Turrax T-18 e impelidor S18N-10G. ............................................ 55

Tabela 12: Condições experimentais investigadas e resultados das análise de Ecritico com Ultra Turrax T-18 e impelidor S18N-19G. ............................................ 56

Tabela 13: Normalização de dados para proposição de modelo de previsão da estabilidade de emulsões em função do procedimento de preparo. ............... 57

Tabela 14: Modelo para previsão de estabilidade de emulsão do petróleo C em função do procedimento de preparo de emulsão........................................................ 58

Tabela 15: Ecritico e tempo médio de experimento para os diferentes petróleos com diferentes espaçamentos................................................................................. 63

Tabela 16: Análise de variâncias envolvidas na medida de Ecritico para o petróleo A. 64

Tabela 17: Coeficientes da equação de parametrização dos dados de Ecritico para os petróleos com espaçamento de 0,1 mm.. ....................................................... 67

Tabela 18: Teor de água inicial nas amostras de petróleos. ........................................... 70

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Tabela 19: Teores de compostos saturados (SAT), aromáticos (AR), resinas (RES) e asfaltenos insolúveis em n-hexano (ASF C6) das amostras de petróleo........ 71

Tabela 20: Erros experimentais envolvidos na análise de SARA. ................................. 72

Tabela 21: Dados da caracterização de petróleos e suas emulsões. ............................... 74

Tabela 22: Matriz da correlação linear das propriedades dos petróleos e emulsões (p<0,05).......................................................................................................... 76

Tabela 23: Matriz de correlação linear reduzida (8x8)................................................... 79

Tabela 24: Modelo de Ecritico 0,1mm em função de API e estimativa de parâmetros. 80

Tabela 25: Modelo de Ecritico 0,1mm em função do logaritmo da viscosidade e estimativa de parâmetros................................................................................ 81

Tabela 26: Resumo das características dos modelos propostos por ASKE et al. [7] para predição de Ecritico. ...................................................................................... 88

Tabela 27: Restimação de parâmetros do modelo de OLIVEIRA et al. [1-5]. .............. 92

Tabela 28: Análise dos parâmetros restimados para o modelo de OLIVEIRA et al. [1-5]......................................................................................................................... 93

Tabela 29: Parâmetros estimados para o modelo de FONSECA e COUTINHO [66]. .. 94

Tabela 30: Análise de variâncias dos dados da planta piloto. ........................................ 97

Tabela 31: Região experimental dos dados do novo modelo proposto. ......................... 98

Tabela 32: Resultados da estimação de parâmetros para o novo modelo (220 dados). . 99

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1

1 Introdução

Emulsões são encontradas em diversas indústrias desde a indústria de alimentos

até a produção e o refino de petróleos. A indústria de petróleos tem interesse específico

na desestabilização de emulsões de água em petróleos, com sua desejada separação de

fases, para evitar problemas associados a corrosão e custo de transporte de volumes

excessivos de água. Este estudo visa contribuir para o entendimento dos processos de

desestabilização de emulsões de água em petróleo, buscando a previsibilidade do

tratamento de petróleos, de forma a possibilitar o aumento da sua qualidade e

confiabilidade do processo.

Na revisão feita no Capítulo 2, são abordadas as caracterizações disponíveis para

petróleos e para emulsões. São discutidos também os fenômenos envolvidos na

estabilização das emulsões de água em petróleo e a desestabilização das emulsões pela

presença de campo elétrico, de especial interesse, já que os coalescedores eletrostáticos

estão presentes nos processos industriais mais largamente empregados em refinarias.

Neste trabalho avalia-se a metodologia de medição de estabilidade de emulsões

de água em óleo, em laboratório, pela análise de Campo Elétrico Crítico. Esta análise

pode indicar qual é o campo elétrico mínimo necessário para que haja coalescência, em

condições controladas. No entanto, ainda não está clara a relação existente entre o valor

medido no laboratório e o desempenho nos sistemas industriais. A avaliação de

variâncias envolvidas em cada etapa do procedimento experimental é feita, visando à

redução de incertezas da medida do Campo Elétrico Crítico. São investigados alguns

parâmetros físicos, químicos e físico-químicos que contribuem para a estabilidade da

emulsão de petróleos nacionais. A caracterização do estado de agregação dos asfaltenos

por espectrofotometria no infravermelho próximo (NIR – Near Infrared Spectroscopy)

na região de 1100-2200 nm, associada à análise de componentes principais (PCA –

Principal Component Analysis), também é conduzida. O Capítulo 3 apresenta as

metodologias experimentais utilizadas para a intensa caracterização de sete petróleos

nacionais e suas emulsões, enquanto no Capítulo 4, estes dados são discutidos e

correlacionados com a estabilidade das emulsões, medida pelo Campo Elétrico Crítico.

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2

Faz-se, por fim, a avaliação das conclusões obtidas com a metodologia

empregada em laboratório (sob condições bem diferentes das industriais) como

ferramenta para interpretar dados de planta industrial. Para tal, dados disponíveis na

literatura sobre o tratamento eletrostático de petróleos nacionais em planta piloto [1, 2,

3, 4, 5] foram reavaliados, com foco nestes novos entendimentos sobre a estabilidade de

emulsões.

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3

2 Revisão Bibliográfica

Na produção de petróleo, emulsões e dispersões de água em petróleo são

habitualmente formadas. O pré-tratamento do petróleo requer a remoção de água, sais e

sólidos, que quando presentes, podem causar problemas em toda a cadeia de produção.

O sal está, normalmente, dissolvido na fase aquosa, chamada de água de formação, mas

pode eventualmente apresentar-se também como pequenos cristais [6, 7].

Nas unidades de produção de petróleo, a remoção de parte da água salina

dispersa ocorre com auxílio de separadores trifásicos (petróleo / água salina / gás) de

grande volume, de forma que há tempo de residência suficiente para a remoção das

gotas maiores e de bolsões de água produzida juntamente com petróleo, freqüentemente

chamados de água livre. O óleo morto (apenas saturado com gás nas condições de

produção) é então encaminhado a desidratadores eletrostáticos. Estes vasos contam com

a presença de placas energizadas que provocam a coalescência das gotas menores e

aumentam a taxa de sedimentação das gotas de água dispersa. O petróleo tratado

(desidratado) é enviado às refinarias com teores limitados de água e sal, tais que sejam

reduzidos os problemas de transporte, como corrosão em dutos e custos operacionais [6,

8].

A concentração e a composição dos sais presentes na água de formação variam

de acordo com os campos de produção. Mais freqüentemente são encontrados sais de

sódio, cálcio e magnésio, sobretudo sob forma de cloretos e em menor extensão, de

sulfatos. Concentrações baixas desde 30 000 mg/l até 150 000 mg/l são usualmente

encontradas [6, 8]. Normalmente costuma-se reportar a salinidade global com base em

cloreto de sódio.

O primeiro processo que ocorre na refinaria é chamado de dessalgação do

petróleo. Nele, tal como nas unidades de produção, objetiva-se a remoção de

contaminantes, mas neste caso os requisitos de qualidade do petróleo tratado são mais

rigorosos.

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4

A baixa eficiência deste tratamento causa sérios danos às unidades de processo

[6, 9, 10, 11, 12, 13] limitando o tempo de campanha e aumentando o custo do

processamento, sendo as principais conseqüências:

• Corrosão em equipamentos, especialmente na destilação, como os

condensadores e vaso de topo de torre, internos da região de topo, tubulações,

válvulas de controle e até mesmo o próprio costado da torre;

• Deposição de sais nos permutadores e fornos, já que para muitos sais a

solubilidade diminui com o aumento da temperatura e/ou pode ocorrer a

precipitação de cristais pela evaporação da água. Como conseqüência, pode

ocorrer o aumento na perda de pressão ao longo da bateria de pré-

aquecimento, redução da eficiência de troca térmica e o conseqüente aumento

do consumo de combustível nos fornos. Contribui também para deposição de

coque no interior dos tubos dos fornos e para limitação de carga da unidade;

• Presença de excesso de água na corrente de petróleo cru, causando aumento

de consumo de combustível para aquecimento e vaporização da carga, além

de instabilidade no processo devido à presença de bolsões de água;

• Aumento do consumo de produtos químicos para controle de pH e inibidores

de corrosão e a conseqüente piora do controle da adição destes produtos

químicos, devido à instabilidade do teor de cloretos, que gera adições ora

excessivas ora insuficientes de aditivos;

• Presença de sais, sedimentos e sólidos nas correntes de processo, causando

envenenamento de catalisadores e piorando a qualidade do óleo combustível e

do asfalto.

Essencialmente, como todo sal presente pode ser considerado como diluído na

fase aquosa, o decréscimo do teor deste contaminante está associado ao aumento da

eficiência de separação das fases aquosa e oleosa. A diluição da concentração dos sais

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5

presentes na fase aquosa é um recurso utilizado em refinarias para auxiliar a redução do

teor de sal final, para uma mesma eficiência de desidratação.

Uma emulsão pode ser definida como uma mistura de dois líquidos imiscíveis

ou parcialmente miscíveis, onde um dos líquidos está disperso no outro e mantém-se

estabilizado pela ação de agentes emulsificantes, formando gotículas de 0,1-10 µm de

diâmetro [14]. O tamanho típico das gotículas da fase dispersa em uma emulsão (ou

mais propriamente, dispersão) de água em petróleo nas refinarias está entre 1-30 µm [9].

O processo de desidratação de petróleo auxiliado pela eletrocoalescência é

empregado largamente, sendo considerado o melhor método para aumentar a eficiência

de separação de água e petróleo nas refinarias. A aplicação de campo elétrico para

resolução de emulsões só é eficiente nas situações em que a fase dispersa é condutora,

enquanto a fase contínua não o é. No entanto, apesar do amplo uso, os mecanismos

envolvidos neste processo ainda não são totalmente compreendidos [6, 8, 11, 12, 13].

A patente pioneira sobre equipamentos para eletrocoalescência foi depositada

em 1911 por COTTRELL [15] e por COTTRELL e SPEED [16]. Os estudos iniciais

usavam apenas corrente contínua para desidratação de diversos petróleos.

Posteriormente, o uso combinado com corrente alternada e o uso exclusivo deste tipo de

corrente foram caracterizados como mais eficientes, com menores custos de instalação e

operação. Nos anos seguintes, várias unidades foram instaladas na Califórnia, Texas e

Louisiana (estados maiores produtores e refinadores de petróleo nos EUA). Porém,

naquela época, a restrição de consumo de energia elétrica nas unidades de produção era

rigorosa, limitando sua aplicação às unidades de refino. Na década de 1960, devido à

produção de petróleos cada vez mais pesados e também às necessidades de exportação e

qualidade requerida para o petróleo tratado pelas instalações de produção, os tratadores

eletrostáticos foram amplamente instalados também nestas unidades. Os tratadores

eletrostáticos ou dessalgadoras são amplamente usados desde então [17].

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6

Na configuração mais freqüentemente encontrada (Figura 1), a dessalgação é

feita em dois estágios, em vasos com placas energizadas, visando promover a

coalescência das gotículas de água presentes no petróleo.

Figura 1: Esquema de processo de dessalgação eletrostática em dois estágios.

Na Figura 1, o óleo recebido pelas refinarias (A) tem o teor máximo de água de

1 %v/v (BSW – Bottom Sediments and Water) com 570 mg sal / l (óleo + água). O óleo

é bombeado e pré-aquecido em permutadores de calor por correntes de processo. Uma

corrente aquosa oriunda do segundo estágio de dessalgação (F) é adicionada e dilui a

concentração original de sais presentes. Alternativamente, uma corrente de água fresca

(E), com teores muito reduzidos de sais pode ser adicionada a esta corrente oleosa. Para

que a mistura seja efetiva, esta corrente passa por uma restrição, visando aumentar a

turbulência no escoamento. Usualmente esta restrição é uma válvula de controle,

chamada de válvula de mistura, devido à sua função. Pode-se fazer uso também de

misturadores estáticos para este fim. Esta corrente alimenta o vaso do primeiro estágio

de dessalgação, onde um campo elétrico é aplicado e a coalescência das gotas é

intensificada. O produto de topo é o óleo tratado (B) e o de fundo é a salmoura

separada, que segue para posterior tratamento com demais efluentes aquosos da

refinaria.

Este óleo tratado é novamente lavado, desta vez com água com teores muito

reduzidos de sais (D) e alimenta o segundo estágio de dessalgação. O óleo tratado (C)

deste vaso, agora com níveis ainda mais baixos de sais presentes, passa por outra bateria

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7

de aquecimento e segue para fracionamento. A salmoura (F) decantada deste vaso é

recirculada para o primeiro estágio. A água de diluição do segundo estágio (D) também

é freqüentemente efluente de outros processos, contendo baixos teores de cloretos, mas

podendo conter teores de hidróxido de sódio e de amônio consideráveis (pH entre 8 e

12). Este reuso das correntes aquosas confirma o esforço das refinarias para redução de

consumo (captação e descarte) de água fresca.

O uso de produtos químicos desemulsificantes é habitual. Eles podem ser

adicionados à corrente oleosa ou às correntes aquosas, dependendo de suas

características de solubilidade e funções ativas.

O petróleo dessalgado na refinaria tem especificação de 0,2-0,5 %v/v (BSW) e

teores de sal inferiores a 3 mg sal/l(água+óleo). Entretanto, as metas do tratamento são,

muitas vezes, definidas de acordo com o perfil de petróleo processado, já que há

dificuldades inerentes a cada blend de petróleos.

EOW e GHADIRI [12] publicaram uma extensa revisão sobre as tecnologias

disponíveis para separação e tratamento de emulsões de água em óleo. A conjugação de

tratamento químico, processos mecânicos e eletrocoalescência é explorada. As diversas

formas de aplicação de campo elétrico, como o uso de corrente alternada em diferentes

freqüências, o uso de campo elétrico pulsado com corrente contínua e as características

e geometrias das placas energizadas, chamadas de eletrodos, são também avaliados. A

Figura 2 apresenta um esquema sobre as possíveis combinações de tecnologias já

estudadas. As referências indicadas devem ser consultadas na publicação original.

O principal objetivo dos eletrocoalescedores é o aumento da taxa de

coalescência das gotas de água, de tal forma que atinjam tamanho suficientemente

grande para serem separadas pela sedimentação gravitacional. Diversos fatores afetam a

eficiência destes equipamentos para um dado sistema, como a intensidade e o tipo do

campo elétrico, a freqüência da corrente elétrica, as características e geometrias dos

eletrodos, da forma de alimentação da emulsão/dispersão a ser tratada, além do seu

tempo de residência sob ação do campo elétrico e também do tempo de residência na

região de sedimentação.

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8

Turbulência+

tratamento com campo

elétrico

Tecnologias de separação com campo elétrico

Centrifugação +

tratamento com campo

elétrico

Aquecimento +

tratamento com campo

elétrico

Tratamento com campo

elétrico somente

Produtos químicos

+ tratamento

com campo elétrico

Filtração+

tratamento com campo

elétrico

Pressão+

tratamento com campo

elétrico

Campo elétrico CC pulsado

[31, 33, 34]

[32, 35, 36]

Presença de gás

Separação gravitacional

[37, 38, 39]

Separação mecânica

[40, 69]

Placas paralelas

Eletrodos revestidos

Aglomeração +

tratamento secundário com campo

elétrico

Alta velocidade+

separação gravitacional

[4, 17, 24, 29, 59]

[28, 60, 61, 62, 63, 74]

[64, 65, 66]

Fluxo divergente/ convergente

[54, 55, 56, 57, 58]

Inversão de fases

Tratamento secundário com campo elétrico

[41]

[44]

Separação gravitacional

[42, 43]

[10, 45, 46]

Atomização

Vácuo

[47] [48]

Envolvendo fase gasosa e

campo elétrico CC pulsado

Modulação de campo elétrico

e campo elétrico CC

pulsado

Aglomeração

Sistema em spray

Vibração

[30]

[49]

[50]

[1, 51, 52]

[53]

Figura 2: Combinações de tecnologias para tratamento de emulsões [12].

A Figura 3 ilustra uma dessalgadora com alimentação de carga do tipo de alta

velocidade, devido a velocidade do escoamento nos distribuidores de emulsão. Os

eletrodos, neste modelo, são grades horizontais energizadas, onde cada nível é ligado a

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9

um transformador, que fornece corrente alternada (AC) com freqüência de 60 Hz. Dois

ou três níveis de grades podem ser usados. A distância entre os eletrodos varia entre

150-300 mm. O campo elétrico estabelecido entre as grades deve estar na faixa de 1,2-

2,0 kV/cm. A tensão aplicada pode ser alterada através de comutadores em que os

“taps” são selecionados. Valores entre 16 e 24 kV estão habitualmente disponíveis.

Entre o eletrodo inferior e a interface da salmoura (aterrada) é estabelecido um campo

elétrico fraco, prevalecendo nesta região, o fenômeno de decantação e coalescência das

gotas com a interface. O tempo de residência da fase oleosa nas dessalgadoras é

freqüentemente de 10-40 minutos, enquanto o da fase aquosa é de 40min-2h,

dependendo das características do sistema envolvido [8, 12, 18]. A temperatura de

operação é escolhida em função da viscosidade do petróleo e varia entre 80 e 165ºC. O

modelo comercial Bielectric® do fabricante Petreco®, o modelo EDGE® do fabricante

Howe-Baker® e o modelo TriVolt® do fabricante Natco®, seguem este arranjo. Entre

eles, as diferenças se concentram na forma de ligação dos eletrodos, nos tipos de

transformadores e em detalhes construtivos, como coletores e distribuidores.

Alimentação (óleo + água) Óleo dessalgado

Descarte de salmoura

Região de eletrocoalescência

Região de sedimentação

Alimentação (óleo + água) Óleo dessalgado

Descarte de salmoura

Região de eletrocoalescência

Região de sedimentação

Figura 3: Dessalgadora de alta velocidade com três eletrodos tipo grade horizontal.

Nos modelos com alimentação de baixa velocidade, a carga é introduzida nas

proximidades da interface salmoura-petróleo, longe da região de eletrodos, sob regime

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10

laminar, em uma região de campo elétrico fraco. Alimentando-se a carga nas

proximidades da linha de centro do vaso, a velocidade de ascensão das gotículas de

água será mínima. O modelo Silectric® do fabricante Petreco® segue este arranjo

(Figura 4).

Alimentação (óleo + água)

mm

mm

mm

mm

Óleo dessalgado

Salmoura

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O OOO o O O o

o oooo o o o o o oo o ooo O OO OO oo O O O O O OO OO OO O ooOoo

O O O O O O O OO O O O OO

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo

o O O O OOO o O O o o oooo o o o o oo oooo

OOO OO oo O O

O o o o oo Ooooo o o o o o o o O O OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O

OOO o O O o o oooo o o o o o oo oooo OOO OO oo O O

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O OOO

o O O o o oooo o o o o o oo o ooo O OO OO oo O O O O O OO O O OO O ooOoo O O O O

Alimentação (óleo + água)

mm

mm

mm

mm

mm

mm

mm

mm

mm

mm

Óleo dessalgado

Salmoura

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O OOO o O O o

o oooo o o o o o oo o ooo O OO OO oo O O O O O OO OO OO O ooOoo

O O O O O O O OO O O O OO

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo

o O O O OOO o O O o o oooo o o o o oo oooo

OOO OO oo O O

O o o o oo Ooooo o o o o o o o O O OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O

OOO o O O o o oooo o o o o o oo oooo OOO OO oo O O

O o o o oo Ooooo o o o o o o o OO OO OO O O oooo

o Ooo O oo oo O o o o O o O O O oo o O O O OOO

o O O o o oooo o o o o o oo o ooo O OO OO oo O O O O O OO O O OO O ooOoo O O O O

Figura 4: Dessalgadora de baixa velocidade com dois eletrodos.

Um outro arranjo de eletrodos é apresentado na Figura 5 [19]. Neste esquema, os

eletrodos são dispostos verticalmente, sendo energizados por corrente contínua (CC).

Dois diodos retificadores são responsáveis pela retificação da corrente alternada com

freqüência de 60 Hz, permitindo a passagem de apenas uma polaridade. Os eletrodos

são conectados alternadamente, de forma que um deles, ligado à corrente contínua

positiva, estabeleça um campo elétrico contínuo com o outro eletrodo ligado à corrente

contínua negativa. Neste modelo, a alimentação de carga é feita nas proximidades da

interface água-petróleo, tal como nos modelos de baixa velocidade. Porém, neste caso,

pelo tipo de campo elétrico estabelecido, é gerado um campo elétrico alternado forte

entre as placas e a interface água-petróleo, onde a carga é alimentada (Figura 6).

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11

Alimentação (óleo + água)

Salmoura

Óleo dessalgado+

-

Alimentação (óleo + água)

Salmoura

Óleo dessalgado

Alimentação (óleo + água)

Salmoura

Óleo dessalgado+

-

Figura 5: Dessalgadora Dual Polarity® [19].

O modelo Dual Polarity® do fabricante Natco® segue este arranjo. No trabalho

de SALLES [20] foram observadas características dos sistemas elétricos das

dessalgadoras eletrostáticas, com foco em equipamentos que conjugam diferentes tipos

de campo elétrico, como este apresentado, e outros com variação de freqüência

aplicada.

Figura 6: Esquema de aplicação de campo elétrico para a tecnologia Dual Polarity®[20].

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12

Sedimentação, espessamento, floculação e coalescência ocorrem durante a

separação das fases (Figura 7). Os três primeiros fenômenos são caracterizados pelo

empacotamento das gotas, sem perda da sua identidade. No entanto, para haver

coalescência, o filme interfacial deve ser rompido. A separação das fases usualmente

envolve três passos: (i) o crescimento das gotas de água por coalescência ou floculação,

(ii) a sedimentação e (iii) a coalescência com a interface aquosa [6, 11, 12, 17, 21].

espess

amento

floculação

sedimentação

coalescência

espess

amento

floculação

sedimentação

coalescência

Figura 7: Processos de separação de fases emulsionadas ou dispersas [21].

A velocidade de sedimentação nas dessalgadoras pode ser descrita pela equação

de Stokes (Eq. 1)

cT

grUη

ρ9

2 2 ∆= Eq. 1

onde UT é a velocidade terminal, r é o raio da gota, ∆ρ é a diferença de densidade entre

a fase aquosa e oleosa, g é a aceleração da gravidade e ηc é a viscosidade dinâmica da

fase contínua. Vê-se, portanto, que a taxa de sedimentação é fortemente dependente do

raio das gotas, da diferença de densidade entre as fases e da viscosidade da fase

contínua. Os últimos dois fatores podem ser manipulados através do controle de

temperatura, misturas com petróleos mais leves e a adição de diluentes, enquanto o

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13

diâmetro de gotas pode ser alterado com a aplicação de campo elétrico para que a

eficiência de remoção de água requerida seja atingida [8, 12].

A eficiência de coalescência é afetada também por outros fatores característicos

dos sistemas que não apenas as especificidades dos equipamentos, como citado

anteriormente. A viscosidade da fase contínua, o percentual da fase dispersa, as

propriedades dielétricas e a estabilidade intrínseca das emulsões afetam

primordialmente a eficiência do processo [6, 10, 13, 17]. Esta última característica é

influenciada pelo tipo e a concentração dos surfactantes, pela presença e características

de sólidos finamente dispersos, pela composição do filme interfacial e pela tensão

interfacial. Características da fase aquosa, como composição e pH também influenciam

a estabilidade das emulsões formadas e conseqüentemente a eficiência do processo.

WATERMAN [22] analisou o comportamento de uma gota e pares de gotas sob

efeito de campo elétrico. O mecanismo da separação das fases foi atribuído à interação

entre dipolos induzidos ou “electrofining”, englobando mecanismos de eletroforese,

atração dipolo-dipolo, colisão de gotas com cargas e sentidos opostos e colisão de gotas

de diferentes tamanhos em uma mesma direção, sob ação de campo unidirecional - CC.

O processo de coalescência das gotas pode ser descrito usualmente como

resultado de três etapas [6, 9, 11]:

i. Aproximação das gotas separadas pela fase contínua;

ii. Estreitamento e drenagem do filme interfacial;

iii. Ruptura do filme e coalescência.

Acredita-se que a segunda etapa seja a etapa limitante do processo, e que a

pressão capilar, a difusão dos surfactantes no filme interfacial (Efeito Gibbs-Marangoni)

e a interação dos surfactantes presentes nesta película influenciem a duração desta

etapa. Forças de van der Waals aceleram, enquanto a repulsão devida à dupla camada

elétrica retardam a conclusão desta etapa [6, 11, 21].

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14

Vários processos podem ocorrer durante a coalescência. A formação de cadeias

de gotas por floculação, chamadas de colar de pérolas, a atração dipolo-dipolo, a

eletroforese (movimento de uma partícula carregada em um fluido estacionário pela

ação de campo elétrico), a dieletroforese (quando o campo elétrico aplicado é não

uniforme, por exemplo pelo efeito das extremidades) e a colisão aleatória entre gotas

estão também envolvidos [11, 21]. A excelente revisão de EOW e GHADIRI [11]

aponta as principais características destes mecanismos e as formulações matemáticas

que descrevem cada um destes mecanismos. Neste trabalho também são referidos

alguns estudos que foram conduzidos para aprofundar o entendimento dos mecanismos

de coalescência, utilizando-se diversos sistemas.

Desemulsificantes comerciais são tipicamente misturas de diversos compostos,

com características e estruturas químicas diferentes. Ésteres, di-epóxidos, sulfonatos,

aminas poliésteres, fenóis oxialcoilados, poliamidas oxialcoiladas, alcanolaminas,

copolímeros de óxido de eteno e óxido de propeno (relação OP/OE) estão

freqüentemente presentes nestas formulações. Cada um destes componentes tem atuação

específica, conferindo aos desemulsificantes comerciais diversas propriedades.

Habilidade de desestabilização do filme interfacial, ação como agente de molhamento

de partículas sólidas, promoção de floculação e alteração das propriedades reológicas

dos filmes interfaciais, são características destes produtos [17, 21].

No processo de dessalgação de óleos pesados (<20°API), um dos principais

problemas encontrados é a formação de uma emulsão água-óleo bastante estável, de

difícil resolução. Os mecanismos envolvidos na formação destes sistemas emulsionados

estáveis não são plenamente conhecidos. Sabe-se que alguns componentes do óleo

contribuem para a formação de um filme visco-elástico na interface que permite a

estabilização da emulsão, sendo este fato mais ressaltado em óleos pesados. O conteúdo

e a interação entre agregados de asfaltenos e resinas são sabidamente responsáveis pela

estabilização destas emulsões, que pode ser ainda maior quando sólidos finamente

divididos e ácidos naftênicos estão presentes [6-9, 10, 23, 24].

Informações a respeito da tendência a formação de emulsões estáveis em

diferentes petróleos e sistemas são importantes para a otimização dos processos de

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15

tratamento de petróleo. Assim, pode ser possível reduzir os tempos de residência

requeridos para uma dada eficiência de desidratação, permitindo o aumento de

capacidade de produção, e/ou o aumento da qualidade do petróleo tratado para uma

mesma vazão, ou ainda a utilização de unidades menores com conseqüente redução de

custos.

A otimização do processo de dessalgação é feita freqüentemente considerando

apenas a experiência dos refinadores, dos fabricantes de equipamentos e de produtos

químicos. Alguns trabalhos publicados, indicam que a otimização do processo deve

estar baseada em um diagnóstico industrial amplo, de acordo com os sintomas e

ineficiências observadas [25, 26, 27, 28, 29]. Devem ser considerados: (i) a densidade e

viscosidade do petróleo, (ii) a vazão de petróleo, (iii) a temperatura do processo, (iv) a

vazão da água de diluição, seu ponto de injeção e a sua qualidade, (v) a intensidade de

mistura entre a água de diluição e o petróleo, (vi) a tensão e corrente entre eletrodos,

(vii) o nível da interface salmoura-petróleo nas dessalgadoras, (viii) a eficiência dos

dispositivos para remoção de sólidos e borra durante a operação, (ix) o reprocessamento

de resíduos pesados e ricos em água, sais e sólidos, (x) os procedimentos de preparação

de tanque para processamento, (xi) a incompatibilidade dos blends de petróleos.

Atualmente, a PETROBRAS S. A. não utiliza nenhum método para previsão ou

caracterização de estabilidade intrínseca de emulsões de água em óleo que possa

subsidiar o projeto das dessalgadoras ou a otimização do processo de dessalgação. A

otimização e o diagnóstico de problemas operacionais são feitos considerando

experiências anteriores.

2.1 Composição do Petróleo

Milhares de compostos e grupos funcionais diferentes compõem os petróleos. A

American Society for Testing and Materials (ASTM) define o petróleo como:

“Uma mistura de ocorrência natural, consistindo predominantemente de

hidrocarbonetos e derivados orgânicos sulfurados, nitrogenados e oxigenados, a qual é

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16

ou pode ser extraída em estado líquido. O petróleo bruto está comumente acompanhado

por quantidades variáveis de substâncias estranhas tais como água, matéria inorgânica e

gases. A remoção destas substâncias estranhas não modifica a condição de mistura do

petróleo cru. No entanto, se houver qualquer processo que altere apreciavelmente a

composição do óleo, o produto resultante não poderá mais ser considerado petróleo”.

Pequenas quantidades de nitrogênio, oxigênio, enxofre e metais são encontrados

nessa mistura coloidal. A Tabela 1 exibe a composição elementar média do petróleo.

Mesmo com uma faixa razoavelmente estreita de variação da composição, as diferenças

entre as propriedades físicas e químicas destes hidrocarbonetos são muito grandes [30,

31].

Tabela 1: Composição elementar média do petróleo.

Elemento Porcentagem em peso

Carbono 83 – 87

Hidrogênio 11 – 14

Enxofre 0,06 – 8

Nitrogênio 0,11 – 1,7

Oxigênio 0,5

Metais (Fe, Ni, V, etc) 0,3

Devido à sua composição extremamente complexa, a caracterização individual

de cada componente não é possível. Usualmente, o petróleo é caracterizado segundo um

conjunto de propriedades de interesse. São comuns as seguintes classificações [31]:

• Segundo a família predominante dos hidrocarbonetos (parafínicos,

naftênicos e aromáticos);

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17

• Pelo rendimento em derivados (curva de ponto de ebulição verdadeiro -

PEV);

• Pela densidade em escala API (American Petroleum Industry), definida

como:

5,1315,141

60/60

−=°d

API

Onde d60/60 é a densidade relativa do petróleo a 60 ºF

Eq. 2

• Pelo ponto de fluidez (superiores ou inferiores à temperatura ambiente);

• Pelo valor da acidez naftênica (acima ou abaixo de 0,5 mg KOH/g

petróleo necessários para neutralização da acidez);

• Pelo teor de enxofre total (menores ou maiores que 1 % p/p);

• Pelo fator de caracterização de Watson (diagrama de Watson de

densidade versus ponto de ebulição);

• Pelo Índice de Huang (baseado no índice de refração);

• Pela análise de SARA (Saturados, Aromáticos, Resinas e Asfaltenos).

Esta última classificação é baseada na polaridade e solubilidade relativa de

grupos de hidrocarbonetos em diferentes solventes e diferentes condições.

Cromatografia líquida de alta performance (HPLC – High Performance Liquid

Chromatography) é normalmente usada para o fracionamento nestas famílias.

Diferentes proporções destes grupos causam propriedades diferentes dos petróleos. A

Figura 8 apresenta o esquema de separação em famílias usada por HANNISDAL et al.

[32].

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18

n-hexano

precipitado em solução

silica

n-hexanodiclorometano

Saturados

Maltenos

Petróleo

Asfaltenos Resinas

diclorometano n-hexano

Aromáticos

Figura 8: Esquema do fracionamento de petróleos para caracterização SARA usado por HANNISDAL et al. [32].

2.1.1 Saturados e Aromáticos

Saturados são compostos apolares que englobam os compostos parafínicos

(alcanos normais e ramificados), e os cicloalcanos ou naftênicos. Os compostos

aromáticos apresentam o anel benzênico em sua estrutura. Podem ser monoaromáticos

ou poliaromáticos (isolados ou condensados) e podem possuir ramificações parafínicas

e naftênicas [6, 30, 31].

2.1.2 Resinas

As resinas constituem um grupo de compostos com características aromáticas e

polares que podem conter heteroátomos em sua estrutura. São definidas como

compostos solúveis em alcanos leves como pentano, mas insolúveis em propano

liquefeito [6, 30, 31].

Resinas são estruturalmente semelhantes às moléculas de surfactantes. Uma

extremidade da molécula é hidrofílica, contendo grupos funcionais polares, enquanto a

outra é hidrofóbica, contendo cadeias saturadas [6, 9]. Dentro deste grupo situam-se os

ácidos naftênicos.

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2.1.2.1 Ácidos Naftênicos

Ácidos naftênicos são ácidos carboxílicos monofuncionais com fórmula geral

RCOOH, onde R é o segmento naftênico. Os ácidos naftênicos são compostos

predominantemente por ácidos carboxílicos cicloalifáticos substituídos com alquila,

com proporções menores de ácidos não cicloalifáticos. Presentes em menores

proporções estão os ácidos aromáticos, os ácidos olefínicos, compostos hidroxílicos e

ácidos bifuncionais. A massa molar dos ácidos naftênicos presentes em petróleos crus,

determinada por espectrometria de massas, varia na faixa entre 200-700 g/gmol [30,

31].

Diferentes técnicas analíticas têm sido usadas para caracterizar estes ácidos. De

um modo geral, os ácidos naftênicos são compostos C10-C50 com 0-6 anéis saturados

fundidos e com um grupamento ácido carboxílico no anel menos substituído. Cada

petróleo tem uma distribuição de ácidos por fração destilada característica. A

caracterização por Índice de Acidez Total – IAT (Total Acid Number – TAN ) tem sido

empregada para caracterizar petróleos e suas frações [6, 30].

As menores moléculas são solúveis em fase aquosa com pH em torno de 5. As

moléculas maiores são normalmente solúveis em fase oleosa, porém, em pH mais

elevado, também ganham solubilidade na fase aquosa. A presença de ácidos naftênicos

e seus sais, que são surfactantes e têm solubilidade em fase aquosa, tende a aumentar a

estabilidade das emulsões pelo seu acúmulo nas interfaces água-óleo [6, 33]. Nas

unidades industriais, não é raro que a água de diluição utilizada no processo de

dessalgação eletrostática tenha pH entre 8 e 12, contaminada por hidróxido de amônio e

sódio [34], causando a estabilização das emulsões de água em petróleos ricos em ácidos

naftênicos.

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20

2.1.3 Asfaltenos

Os asfaltenos constituem um grupo de moléculas polares, assim como as resinas,

mas de mais alto peso molecular, tipicamente na faixa de 500-1500 g/gmol. Acredita-se

que esta faixa seja característica de monômeros de asfaltenos e que valores mais altos

sejam relativos a agregados destes compostos [6]. Estas moléculas podem conter

heteroátomos como oxigênio, enxofre e nitrogênio e metais como níquel, vanádio e

ferro. De fato, a definição dos asfaltenos é baseada na insolubilidade do hidrocarboneto

em um solvente específico, usualmente alcanos leves. Freqüentemente os solventes

usados para provocar a precipitação completa dos asfaltenos são n-pentano, n-hexano e

n-heptano. Por outro lado, solventes aromáticos como tolueno e benzeno solubilizam

estes compostos [30].

Um modelo de estabilização estérica dos agregados de asfaltenos, com uma

estrutura coloidal na fase orgânica foi proposto por LEONTARITIS e MANSOORI

[35]. Nele, os colóides seriam mantidos suspensos pelos surfactantes presentes na fase

orgânica. Um outro modelo proposto explica a estabilização dos asfaltenos na fase

orgânica baseando-se na solvatação destes monômeros e agregados pelos surfactantes

existentes no meio orgânico [36]. Haveria então um equilíbrio termodinâmico, hipótese

que não é sustentada pelo modelo de LEONTARITIS e MANSOORI. A diferença

básica entre os modelos seria então se os asfaltenos coloidais estariam solvatados ou

apenas suspensos.

A “estrutura arquipélago” proposta para os agregados de asfaltenos, tem

características reticuladas e porosas. Os mecanismos de agregação de asfaltenos mais

plausíveis envolvem as ligações π-π entre os aromáticos, ligações do tipo pontes de

hidrogênio entre grupos funcionais e outras interações com transferência de carga [37].

Os núcleos polares dos asfaltenos interagem com a extremidade polar das resinas,

deixando a outra, não polar, livre para interação com o meio orgânico. Os núcleos

polares dos asfaltenos também podem interagir com outros núcleos de diferentes

moléculas de asfaltenos, formando os agregados solvatados pelas resinas. Estes

agregados já foram medidos por diferentes técnicas, como difração de Raio-X,

espalhamento de nêutrons com pequeno ângulo (small-angle neutron scattering) e

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espalhamento de Raio-X com pequeno ângulo (small-angle X-ray). Raios dos agregados

na ordem de 10-50 Å foram encontrados [9]. A extensão da agregação dos asfaltenos

depende da aromaticidade do petróleo, da quantidade e do tipo das resinas. A Figura 9

ilustra a estrutura proposta.

Figura 9: “Estrutura arquipélago” dos agregados de asfaltenos sendo solvatados por resinas na fase orgânica [37].

A solubilidade de monômeros de asfaltenos em fase orgânica, na presença de

dispersantes (usualmente as resinas) é governada pela presença de solventes, pressão e

temperatura. Qualquer desbalanceamento pode levar à agregação destes compostos ou

ao crescimento dos agregados existentes. A mistura de petróleos parafínicos com

petróleos pesados, ricos em asfaltenos, pode reduzir a solubilidade destes compostos na

fase orgânica. As resinas podem então ser dessorvidas dos asfaltenos pela maior

afinidade pelos outros compostos, provocando a agregação dos asfaltenos. Estes

agregados podem precipitar em grande escala (incompatibilidade de blends de

petróleos) e causar grandes estragos na produção, no transporte e no refino de petróleos

[6].

Os asfaltenos constituem uma classe ampla e pouco caracterizada de

hidrocarbonetos. É certo que, dentro desta faixa, compostos com características físicas e

químicas bem diversas estão presentes. SPIECKER e KILPATRICK [38] investigaram

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22

subfrações desta família e sua influência na estabilidade de emulsões em sistemas

modelo. Os asfaltenos (insolúveis em n-heptano) foram resolubilizados em uma mistura

de tolueno-n-heptano e o tamanho destes agregados nas duas diferentes fases foram

medidos. Os compostos ainda insolúveis tinham tamanho característico na faixa de 500

Å, enquanto os resolubilizados tinham tamanho característico entre 70-130 Å. Foi visto

que os compostos que estavam no limite da solubilidade sempre se apresentaram nas

emulsões mais estáveis. Então, o tamanho dos agregados de asfaltenos influenciaria na

estabilização de emulsões. É provável que exista um tamanho ótimo para estabilização

da emulsão, em função do tamanho das gotas de água, considerando-se a estabilização

estérica das gotas. A modificação do tamanho dos agregados pode portanto prevenir a

formação destas emulsões [6].

A reversibilidade da agregação de monômeros de asfaltenos ainda não é um

consenso em literatura. ASKE e colaboradores [39] estudaram o comportamento dos

agregados de asfaltenos por espectrofotometria NIR em alta pressão. Análise de

componentes principais (PCA – Principal Component Analisys) em tempo real dos

espectros foi usada para caracterizar o estado de agregação dos asfaltenos à medida que

a despressurização e a repressurização das amostras eram conduzidas. Petróleos e

emulsões modelos (n-pentano/tolueno/asfalteno) foram testados. Os sistemas foram

pressurizados até 100 bar ou até 300 bar, respectivamente, a temperaturas de 100ºC ou

150ºC. A despressurização em degraus. Em cada condição a análise de PCA dos

espectros foi feita e foi possível observar a mudança nos escores dos componentes

principais. Este comportamento pode ser explicado pelo fato que à medida que os

agregados cresciam, a densidade ótica aumentava devido ao espalhamento da luz. A

densidade ótica a 1600 nm também foi usada como parâmetro. Para sistemas modelo em

que os asfaltenos eram suprimidos estas mudanças não foram observadas. A

reversibilidade da agregação foi testada com a repressurização dos sistemas. Quando a

pressão original era atingida, o sistema era mantido até que chegasse ao equilíbrio, ou

seja, que não ocorressem mais alterações espectrais. Para o petróleo cru a redissolução

quase total foi atingida lentamente (72h), enquanto para os sistemas modelo o equilíbrio

foi atingido mais rapidamente (23h), mas a reversibilidade foi apenas parcial. A

carência de resinas ou substâncias que dispersam os asfaltenos nos sistemas modelo foi

apontada como motivo para a diferença observada entre as análises.

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23

A presença das resinas, mesmo sendo substâncias tensoativas, muitas vezes está

ligada à redução da estabilidade de emulsões. Este fato, observado em emulsões modelo

e em trabalhos com petróleos, é justificado pelo papel que as resinas desempenham no

equilíbrio da fase orgânica. A presença das resinas contribui para a solubilidade ou

solvatação dos asfaltenos e seus agregados, através da interação com a porção polar e

aromática de suas moléculas [37].

2.2 Fenômenos Envolvidos na Estabilização de Emulsões de Água em Petróleo

Quando uma nova interface água-óleo é criada, as relações de equilíbrio e a

estabilidade da fase orgânica podem mudar. As resinas, que têm afinidade pela fase

polar, são menores e difundem-se mais rapidamente para a interface formada. A

adsorção das resinas é o primeiro fenômeno a ocorrer, já que são os dispersantes com

maior capacidade de redução da tensão interfacial. No entanto, apenas a presença de

resinas não é suficiente para estabilizar uma emulsão evitando a coalescência de gotas

[6, 24].

Os agregados de asfaltenos podem se comportar como surfactantes, caso a

interação com a interface aquosa e repleta de resinas seja energeticamente favorável,

quando comparada com a interação destas moléculas com a fase orgânica. Porém, o

tamanho destes agregados deve ser tal que a interação com a ponte de hidrogênio da

água e a tensão interfacial sejam suficientes para mantê-los na interface.

Por difusão, os asfaltenos podem se depositar na interface e deslocar parte das

resinas para a fase orgânica (Figura 10). A forma como os asfaltenos e resinas

interagem neste filme interfacial é dominante para o grau de estabilização da emulsão.

Monômeros de asfaltenos formam emulsões menos estáveis em comparação com os

agregados destes compostos. Esta camada interfacial tem propriedades elásticas e

viscosas, sendo esta abordagem amplamente aceita [6, 7, 9, 21, 23, 24, 39, 40, 41, 42,

43, 44]. A presença de substâncias ativas proporciona elasticidade à interface além do

efeito de redução da tensão interfacial. No caso das gotas de água, quando esta interface

é perturbada, como, por exemplo, pelo alongamento das gotas na presença de campo

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24

elétrico, esta característica elástica dará ainda mais estabilidade à interface. A

resistência é característica do fato da interface conseguir suportar os gradientes de

tensão causados por estresse nas gotas.

fase aquosa

agregados de resinas e asfaltenos na fase oleosa

interface água-óleofase aquosa

agregados de resinas e asfaltenos na fase oleosa

interface água-óleo

Figura 10: Agregados coloidais de resinas e asfaltenos formando um filme interfacial [21].

A formação de uma película mecanicamente rígida, com propriedades

viscoelástica, ao redor das gotas de água configura uma barreira física para a

coalescência das gotas. Assim como a adsorção de resinas/agregados de asfaltenos e

partículas sólidas, sistemas formados por ácidos naftênicos/naftenatos/água também são

responsáveis pela formação de filmes interfaciais estáveis [6, 9, 14, 23, 24, 33, 35, 40,

44].

Alguns estudos demonstraram que a presença de resinas, sem os asfaltenos, não

seria capaz de estabilizar emulsões de água em óleo. Resinas adsorvem rapidamente a

interface das gotas, retardando a coalescência, mas não a ponto de deixá-las estáveis por

muito tempo ou sob ação de campo centrífugo [6, 24].

MIDTTUN e colaboradores [45], em um trabalho com emulsões modelo,

observaram que a estabilidade de emulsões com misturas de resinas e asfaltenos se

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situava, até os primeiros 50 minutos, entre a estabilidade de emulsões de sistemas

constituídos exclusivamente por resinas e exclusivamente por asfaltenos. No período de

50-300 minutos, a estabilidade aumentava, sendo atribuída à interação das resinas com

os asfaltenos. A mobilidade das resinas em busca da interface permite a adsorção dos

asfaltenos neste filme, com uma forte interação pelas resinas. Estas emulsões, em alguns

casos, tornaram-se mais estáveis do que aquelas constituídas por teores maiores de

asfaltenos, mas isentos de resinas. Foi observado também que, apesar de algumas

resinas serem apolares, o efeito da presença delas no aumento da estabilidade de

emulsões foi pronunciado. Isso demonstra que não é só a interação dos grupos polares

com asfaltenos que dominam os mecanismos de estabilização de emulsões, mas também

a forma com que as resinas dispersam e favorecem a interação intermolecular dos

agregados de asfaltenos.

O envelhecimento das emulsões também tem sido motivo de estudo recente em

literatura [45, 46]. O aumento da estabilidade é atribuído ao tempo necessário para a

migração dos surfactantes para a interface, até que seja atingido equilíbrio. Isso é

também função da composição do petróleo (quantidade e características das resinas e

asfaltenos).

2.2.1 Mecanismos Envolvidos na Estabilização de Emulsões

Emulsões são estáveis quando as gotas da fase dispersa não coalescem ou as

fases não se separam por um dado período de tempo sob efeito de algum campo de

interesse prático, como campo gravitacional, campo centrífugo ou campo eletrostático

[6, 14]. Considerando as três etapas envolvidas na coalescência, considera-se pelo

menos que alguns mecanismos possam estar envolvidos na estabilização das emulsões.

2.2.1.1 Repulsão Eletrostática

A primeira etapa da resolução das emulsões é a aproximação das gotas, que

podem sofrer repulsão eletrostática. De fato, para emulsões de água em óleo, como a

constante dielétrica da fase contínua é muito baixa, esta repulsão não deve ser

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26

dominante no processo. Estudos mostraram que, para emulsões de óleo em água (O/A),

a repulsão eletrostática afeta a floculação, mas não a coalescência, que é a etapa

dominante do processo da separação das fases. Ácidos naftênicos, que podem ser

parcialmente solúveis em água, e seus sais, quando ionizados, poderiam contribuir para

a formação das emulsões O/A, principalmente considerando-se o efeito do aumento do

pH da fase aquosa. Neste caso, este pode ser o fenômeno determinante para a definição

da estabilidade deste tipo de emulsões. Como para emulsões de água em óleo a etapa

dominante no processo de separação das fases é a coalescência, não se espera que esse

fenômeno seja determinante quando asfaltenos e partículas inorgânicas estão presentes

[6, 9, 40].

2.2.1.2 Estabilização Estérica

Este é o fenômeno determinante em emulsões estabilizadas pela adsorção de

asfaltenos, agregados de resinas/asfaltenos e partículas sólidas (orgânicas e inorgânicas)

na interface das gotas de água. A repulsão ocorre quando é energeticamente mais

favorável a interação das espécies adsorvidas com a fase contínua (forças de van der

Waals com a mistura de hidrocarbonetos saturados e aromáticos) do que com as

espécies adsorvidas em outras gotas. Desta forma, quando duas gotas se aproximam, há

uma barreira energética para que a camada de solvatação seja desprendida e substituída

pela interação entre espécies de diferentes gotas [6, 9, 11, 12].

2.2.1.3 Efeito de Gibbs-Marangoni

A coalescência envolve a redução do filme entre as gotas até uma espessura

crítica através da drenagem da fase contínua entre elas e seguida pela remoção de

surfactantes. Assim, são gerados gradientes de tensão interfacial à medida que as

espécies são removidas da interface. O conhecido efeito de Gibbs-Marangoni pode ser

interpretado como mecanismo adicional de estabilização. A tendência dos gradientes de

tensão, que foram criados pelo estresse na interface, seja por colisão das gotas, por

cisalhamento ou alongamento pela aplicação de um campo elétrico, é que se oponham a

este efeito e tentem restaurar o estado inicial uniforme da interface. O efeito de Gibbs-

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Marangoni descreve a difusão dos compostos na película do filme interfacial no sentido

oposto à drenagem do filme. No entanto, muitos pesquisadores rejeitam a importância

deste mecanismo em emulsões de água em petróleo. A presença/extensão deste

mecanismo é questionada porque pressupõe que haja transferência de massa

significativa neste sistema, enquanto, a estrutura do filme (viscoelátisco e rico em

asfaltenos) dificulta a movimentação dos compostos [9, 43]. A Figura 11 ilustra este

efeito.

água

óleo

surfactantes

baixa tensão interfacial

alta tensão interfacial

cisalhamento ou colisão reduzem a espessura do filme

interfacial

difusão dos surfactantes reduz o gradiente de tensão

interfacial

água

óleo

surfactantes

baixa tensão interfacial

alta tensão interfacial

cisalhamento ou colisão reduzem a espessura do filme

interfacial

difusão dos surfactantes reduz o gradiente de tensão

interfacial

Figura 11: Efeito de Gibbs-Marangoni na gota de água [43].

2.2.1.4 Estabilização por Partículas

Partículas sólidas, como parafinas de alto peso molecular, sílica, resíduos de

corrosão (como sulfeto de ferro), argilas, lamas de perfuração e outras partículas

inorgânicas são comumente encontradas dispersas em petróleo. Baixos teores, ao redor

de 10 mg/l petróleo, podem ser observados em petróleos mais leves, enquanto teores de

até 570 mg/l petróleo em petróleos mais pesados, podem ser encontrados [13, 17].

SULLIVAN e KILPATRICK [9], em um excelente estudo sobre a influência de

partículas sólidas inorgânicas sobre a estabilidade de emulsões, recapitula inclusive

alguns estudos pioneiros do início do século XX. Eles observaram que, quando estas

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partículas são parcialmente molháveis pela água e pelo óleo, elas podem interagir com

as fases orgânicas e aquosas gerando emulsões estáveis. Partículas hidrofóbicas tendem

a estabilizar emulsões de água em óleo, enquanto as hidrofílicas estabilizam emulsões

de óleo em água. Vários estudos sobre adsorção de asfaltenos e agregados de asfaltenos

em partículas sólidas e seu efeito sobre o ângulo de contato foram também revisitados

neste trabalho. O aumento da quantidade de asfaltenos adsorvidos afeta também o

ângulo de contato e, para partículas hidrofílicas, aumenta a molhabilidade pela fase

oleosa (Figura 12).

agregados de asfaltenos e

resinaspartícula sólida

agregados de asfaltenos e

resinaspartícula sólida

Figura 12: Adsorção de agregados de resinas e asfaltenos a uma partícula hidrofílica [9].

A Figura 13 ilustra emulsões estabilizadas por partículas quando comparadas

com emulsões isentas de partículas sólidas. Como apontado anteriormente, a quantidade

de compostos adsorvidos pode alterar o tipo de emulsão formada.

O acúmulo de partículas sólidas conjugadas aos compostos orgânicos do

petróleo, quando adsorvidos na interface água-óleo, aumenta ainda mais a estabilidade

das emulsões. Estas estruturas tornam a interface viscoelástica, rígida e resistente

mecanicamente à coalescência [6, 7, 9, 12].

SULLIVAN e KILPATRICK [9] estudaram também o efeito do tamanho de

partículas, da sua natureza e concentração sobre a estabilização de emulsões de água em

petróleo, medida pela quantidade de água resolvida na emulsão após centrifugação e

pelo campo elétrico mínimo requerido para quebrar a emulsão. Neste estudo, foram

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usados sistemas modelo e diferentes petróleos. Partículas menores e em maior

concentração aumentam a estabilidade deste tipo de emulsão. Em sistemas modelo, o

tipo de agregado de asfaltenos e sua interação com as partículas foram também

estudados. Agregados no limite de estabilidade promoveram maior interação com as

partículas e maior estabilidade nas emulsões.

A A

A A

A

a)

emulsão de água em óleo

emulsão de água em óleo estabilizada por

partículas

emulsão de óleo em água estabilizada por

partículas

b) c)A A

A A

A

a)

emulsão de água em óleo

emulsão de água em óleo estabilizada por

partículas

emulsão de óleo em água estabilizada por

partículas

b) c)

Figura 13: (a) Emulsões sem presença de partículas sólidas. (b, c) Emulsões com a presença de partículas sólidas e diferentes quantidades de agregados de asfaltenos: (b)

emulsão de água-em-óleo e (c) emulsão de óleo-em-água [9].

Na operação das dessalgadoras não é raro que o processamento de petróleos

pesados, particularmente com altos teores de sólidos, cause a formação de uma borra na

interface salmoura-petróleo. Esta borra causa sérios problemas operacionais, pois são

eletricamente condutivas e isolantes térmicas. Nessa condição, os instrumentos de

controle de nível, também perdem sua confiabilidade. No decorrer do tempo, se não for

drenada por algum dispositivo especificamente disponível para isso, esta camada vai se

tornando mais espessa e ocupando espaço, reduzindo assim o tempo de residência nos

vasos. Outra forma de remoção destes sólidos é o uso de produtos químicos

especificamente desenvolvidos para aumentar a molhabilidade das partículas pela água,

permitindo sua remoção com a salmoura efluente.

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30

2.2.1.5 Estabilização por Multicamadas

Petróleos ricos em ácidos naftênicos tendem a formar emulsões estáveis,

principalmente quando a fase aquosa apresenta considerável alcalinidade. Moléculas

menores destes ácidos são solúveis em pH ao redor de 5, enquanto as moléculas maiores

ganham solubilidade na fase aquosa, em pH ao redor de 10-11. Tanto os ácidos

naftênicos quanto seus sais (alguns insolúveis em água) têm atividade interfacial,

tendendo a acumular na interface água-petróleo. Sistemas formados por ácidos

naftênicos/naftenatos/água podem formar a chamada fase-D, composta por agregados

coloidais com empacotamento alto. Estes agregados, conhecidos como líquidos

cristalinos (lyotropic liquid crystals) aumentam a estabilidade das emulsões de forma

desproporcional ao aumento do teor de surfactantes. Nesta fase-D, os agregados formam

uma microestrutura de multicamadas com surfactantes e água intercalados. Assim, a

interface tende a se tornar ainda mais estável [6, 40].

GOLDSZAL e colaboradores [33] estudaram o efeito do pH da fase aquosa e

também da concentração de sais de sódio e cálcio sobre a estabilidade de emulsões de

água em petróleos com elevada acidez naftênica. Foi observado que o aumento da

estabilidade das emulsões era acompanhado pela redução da tensão interfacial da

salmoura separada e pela neutralização (em diferentes extensões) dos ácidos naftênicos

presentes. O aumento do pH das soluções aquosas causou aumento da estabilidade das

emulsões e, em alguns petróleos estudados, isso ocorreu repentinamente e próximo ao

pKa dos ácidos naftênicos. A formação de naftenatos de sódio e cálcio a partir de ácidos

naftênicos de diferentes estruturas e pesos moleculares foi também investigada. A

correlação entre o tipo de ácido naftênico/naftenato formado e suas propriedades

surfactantes foi interpretada em termos de seu coeficiente de partição entre as fases

aquosas e oleosas.

SJÖBLOM e colaboradores [6], fizeram uma revisão sobre a química dos ácidos

naftênicos e sua relação com estabilidade de emulsões. Eles apontaram que a redução

significativa dos valores de tensão interfacial, observada anteriormente por

GOLDSZAL e colaboradores [33], ocorre no mesmo pH em que os ácidos naftênicos

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passam de solúveis em óleo para solúveis em água, devido à dissociação iônica. São

também avaliados os coeficientes de partição, a atividade interfacial, a concentração

micelar crítica (CMC) como função do pH e diagrama ternário de equilíbrio de fases.

Acredita-se que as emulsões de água em óleo, na maioria das vezes, sejam

estabilizadas pela conjugação dos mecanismos de estabilização estérica e por partículas.

Exceções ocorrem em sistemas com elevado teor de ácidos naftênicos, onde a formação

de multicamadas na interface das gotas aumenta sobremaneira a estabilidade das

emulsões.

2.3 Metodologias para Caracterização de Emulsões de Água-óleo

As emulsões são sistemas termodinamicamente instáveis (a menos das

microemulsões), porém a separação das fases pode demorar muito tempo. Uma emulsão

é considerada intrinsecamente estável caso ela seja incapaz de ser resolvida, num tempo

determinado, sem a ação de algum agente externo, como tratamento químico ou

mecânico [6, 14].

Sabe-se que apenas a caracterização química do petróleo, como disponível hoje

em dia, não é suficiente para explicar o comportamento em respeito à estabilidade de

suas emulsões água-óleo ou a precipitação de asfaltenos. Informações sobre como

componentes do petróleo interagem e sobre como são afetados por fatores externos são

decisivos para o entendimento do seu comportamento.

Nos últimos anos, diversos grupos como os coordenados pelo Professor Peter

Kilpatrick, na Carolina do Norte – EUA, o do Professor Merv Fingas, em Ottawa –

Canadá, e do Professor Johan Sjöblom, em Trondheim – Noruega, avaliaram a

estabilidade de emulsões por diferentes métodos. Os métodos centrífugos e

gravitacionais (bottle test) avaliam a estabilidade através da percentagem de água

resolvida. Métodos reológicos avaliam estas características em conjunto com as

medidas de elasticidade, comparando o petróleo às emulsões recentemente formadas e

àquelas submetidas à ação de campo gravitacional, após determinado tempo. Métodos

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com campo elétrico avaliam a estabilidade pelo comportamento das emulsões sob

tensão elétrica crescente. Todos os métodos tentam correlacionar propriedades dos

petróleos e emulsões com os dados de estabilidade.

Em todos os trabalhos estudados, as emulsões são preparadas em laboratório,

sob agitação vigorosa do petróleo e da fase aquosa. Atenção especial deveria ser dada

aos procedimentos de preparação, devido à grande influência da distribuição de

diâmetros de gotas sobre a eletrocoalescência e à sedimentação das gotas. Apenas

alguns trabalhos publicados avaliam os diâmetros de gotas obtidos. Diversos métodos

podem ser usados para medição destes diâmetros. Técnicas visuais (microscopia e

fotografia), de difração de luz, de ressonância magnética nuclear e técnicas acústicas

estão disponíveis para este fim. Alguns métodos fazem a medição direta dos tamanhos,

enquanto outros usam funções de distribuição para ajuste do sinal medido. De fato, a

própria medida do diâmetro das gotas como função do tempo, pode ser usada como

medida da estabilidade das emulsões. SJOBLÖM e colaboradores [6] fizeram uma

revisão extensa dos métodos disponíveis para caracterização de tamanhos de gotas,

reportando seus pontos fortes e deficiências.

Medidas de tensão interfacial podem ser usadas para avaliar a afinidade de

componentes do petróleo pela interface água-óleo. EIKEN [41] realizou medições desta

propriedade para dois sistemas: (i) água destilada e petróleo, (ii) asfaltenos e resinas

dissolvidas em ciclohexano. Com sistema modelo, valores menores de tensão interfacial

foram atingidos na presença de resinas (15 mNm-1), enquanto na presença de asfaltenos

este valor permaneceu na faixa de 25 mNm-1. Para o sistema água destilada/petróleo a

tensão interfacial atingiu valores de 30 mNm-1, o que indica que outros componentes

característicos dos petróleos influenciam esta propriedade ou que a interação existente

entre os componentes presentes no petróleo (sabidamente importante para estabilidade

das emulsões) não pôde ser reproduzida nos sistemas modelo.

As propriedades elásticas e viscosas da interface são importantes para

caracterização das emulsões. Enquanto a viscosidade caracteriza a resistência ao fluxo,

a elasticidade caracteriza como o material reage a tensões. As emulsões de água em óleo

apresentam ambas as características. Estas propriedades dão informações sobre como os

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gradientes de tensão se desenvolvem na interface submetida a tensões e como elas serão

anuladas. Quanto mais elástica é a interface, maior é a sua estabilidade. As

contribuições elásticas e viscosas podem ser medidas separadamente se a interface é

submetida a pequenas oscilações periódicas numa dada freqüência (ω ) que causarão

uma pequena deformação na área. A resistência total medida é uma soma das

contribuições individuais das componentes elásticas e viscosas [6, 46]. O módulo de

dilatação interfacial (ε ) pode ser definido como:

dd iAd

d ηϖεγε +==ln

Eq. 3

Onde γ é a tensão interfacial, A é a área especifica da gota, εd e ηd são a dilatação

interfacial elástica e viscosa respectivamente.

Parece óbvia a necessidade de avaliação do efeito do campo elétrico sobre a

estabilidade de emulsões água-óleo, já que o processo industrial, ora em estudo, conta

com este fator. O campo elétrico mínimo necessário para causar coalescência pode ser

usado como uma medida da estabilidade da emulsão frente à aplicação de campo

elétrico. Na metodologia proposta por KALLEVIK et al. [42], uma célula foi

desenvolvida e posteriormente adaptada por ASKE et al. [7] para caracterização do

campo elétrico crítico. Segundo essa metodologia, o campo elétrico crescente é aplicado

em taxa constante. Sob este efeito os filmes interfaciais das gotas de água são rompidos

e fecha-se o circuito entre as placas energizadas (CC), formando uma ligação entre os

eletrodos que causa aumento repentino da corrente elétrica pela condutividade do meio.

Sob ação de um campo fraco, apenas as gotas cercadas por um filme interfacial pouco

resistente podem coalescer. O valor do campo elétrico em que ocorre o aumento abrupto

da condutividade do meio, atribuída a coalescência das gotas de água salina, é

denominado Campo Elétrico Crítico (Ecritico).

A espectrofotometria no infravermelho próximo (Near Infrared Spectroscopy –

NIR) tem sido amplamente utilizada na caracterização de petróleos. Dentre as inúmeras

vantagens desta técnica pode-se ressaltar a possibilidade de caracterização de

propriedades físicas e características químicas em meios opacos. A região do espectro

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eletromagnético entre 780-2426 nm é definida pela ASTM como a do infravermelho

próximo. As técnicas de análise multivariável como Análise de Componentes Principais

(PCA) são ferramentas normalmente usadas para extrair informações essenciais de

extensas fontes de dados [47], por isso são quase sempre empregadas para interpretar

espectros de NIR.

SANTOS e colaboradores [48] utilizaram a técnica de NIR para o

monitoramento e controle de tamanho de partícula em sistemas de polimerização em

suspensão de estireno. Eles demonstraram a viabilidade da utilização da técnica no

acompanhamento, em linha, de tamanhos de partículas (faixa de 1 – 600 µm), mesmo na

presença de reação química e com variação das condições reacionais.

Como o NIR é uma técnica de medição indireta de propriedades, efeitos, como a

presença de desemulsificante, podem ser notados, quando afetam o tamanho dos

agregados de asfaltenos. AUFLEN e colaboradores [49] propuseram o uso da técnica de

NIR num estudo para avaliação da influência de produtos químicos (concentração, tipo

e tempo de contato) como dispersantes dos agregados de asfaltenos. O NIR foi usado

para monitoramento da mudança do tamanho destes agregados, utilizando-se a

densidade ótica a 1600 nm como parâmetro. Nestes trabalhos a densidade ótica é

definida como a soma da extinção da luz transmitida devido à absorção e difração. Em

outro trabalho, ASKE [43] mostrou a diferença detectada nos espectros de NIR quando

10-15 ppm de desemulsificante era adicionado a certo petróleo (Figura 14). A diferença

nos espectros é atribuída ao tamanho dos agregados de asfaltenos. A medida de

estabilidade das emulsões (por Ecritico) mostrou valores duas vezes maiores quando

não havia desemulsificante. As medidas de elasticidade de filme também mostraram as

mesmas tendências (15,3 mN/m vs. 11,8 mN/m). Este estudo mostrou uma relação entre

o estado de agregação dos asfaltenos, a elasticidade do filme e a estabilidade das

emulsões água-óleo destes petróleos.

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Comprimento de onda (nm)

Den

sida

de ó

tica

Sem adição de desemulsificante

Com adição de desemulsificante

Comprimento de onda (nm)

Den

sida

de ó

tica

Sem adição de desemulsificante

Com adição de desemulsificante

Figura 14:Comparação dos espectros de NIR de petróleo não diluído com e sem adição de desemulsificante [43].

ASKE e colaboradores [7] caracterizaram um conjunto de propriedades de 21

petróleos e condensados e avaliaram a correlação entre estas propriedades e a

estabilidade de emulsões, medida por campo elétrico crítico. Das análises feitas (SARA,

elasticidade do filme, índice de acidez total, densidade, viscosidade, tensão interfacial,

peso molecular e os espectros de NIR do petróleo cru), a análise dos espectros de NIR

foi avaliada como a mais informativa e mostrando excelente correlação com a

estabilidade, mesmo quando usada de forma independente das demais.

Ainda não há técnicas ou fundamentos teóricos que permitam a caracterização

inequívoca da estabilidade das emulsões água-óleo como discutido nessa revisão.

Alguns pesquisadores caracterizam um conjunto de propriedades físicas, químicas e

interfaciais e seus efeitos sobre as emulsões e as correlacionam com as medidas de

estabilidade, segundo diversas metodologias. A caracterização do estado de agregação

dos asfaltenos tem se mostrado uma ferramenta importante para a compreensão desses

sistemas, como esperado pelos mecanismos de estabilização discutidos anteriormente.

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3 Materiais e Métodos

Sete óleos nacionais foram escolhidos para os estudos de estabilidade de

emulsão. Estes óleos representam um retrato da produção e refino atual da

PETROBRAS S.A. e alguns dos futuros desafios da companhia. Não foram escolhidos

óleos em produção avançada, já que suas propriedades seriam significativamente

diferentes daquelas quando em produção plena futura. Os óleos escolhidos estão listados

na Tabela 2 e foram ordenados em função da densidade API das amostras de referência.

As amostras destes petróleos usadas neste trabalho foram reanalisadas.

Tabela 2: Petróleos usados no estudo de estabilidade de emulsão – amostras de referência.

Amostra ºAPI ¹ Nome referência do petróleo

A 13,2 Fazenda Alegre

B 17,1 Jubarte

C 19,6 Marlim P-32

D 22,8 Marlim Sul P-38

E 22,9 Marlim P-37

F 25,5 Blend Cabiúnas

G 28,3 Blend Albacora

¹ - Densidade API, segundo Banco de Dados de Avaliação de Petróleos da PETROBRAS S.A (BDAP) da amostra de referência para estes óleos.

Algumas propriedades foram escolhidas para caracterizar os petróleos e suas

emulsões. Estas propriedades estão listadas a seguir. Assim como em alguns trabalhos

anteriores [7, 32, 42, 50], os espectros de infravermelho próximo (NIR) dos petróleos

foram também obtidos.

i. Teor de água e sal no petróleo;

ii. Viscosidade;

iii. Densidade API;

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iv. SARA;

v. Metais (Ni, V);

vi. Enxofre total;

vii. Nitrogênio total;

viii. IAT (índice de acidez total);

ix. Espectro de NIR;

x. Ecritico.

Neste capítulo, serão descritos apenas os procedimentos experimentais que não

seguiram nenhuma norma publicada e bem estabelecida. A Tabela 3 mostra as análises

que foram realizadas no CENPES-PETROBRAS S.A e as respectivas normas.

Tabela 3: Caracterização das amostras de petróleo solicitadas ao CENPES-PETROBRAS S.A. .

Análise Norma padronizada

Teor de sal no petróleo ASTM D-6470 [51]

Teor de asfaltenos ASTM D-6560 1 [52]

Viscosidade ASTM D-445 [53]

Densidade ASTM D-4052 [54]

Metais ASTM D-4927 [55]

Enxofre total ASTM D-1552 [56]

Nitrogênio total ASTM D-4629 [57]

IAT ASTM D-664 [58]

1 Determinação de asfaltenos insolúveis em n-heptano

As demais caracterizações foram conduzidas no NTNU (Norges Teknisk-

Naturvitenskapelige Universitet / Norwegian University of Science and Technology),

em Trondheim, Noruega. As atividades foram realizadas no Ugelstad Laboratory no

Departamento de Engenharia Química desta universidade.

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3.1 Determinação dos Teores de Água pelo Método de Titulação Coulométrica

de Karl Fisher

Todos os petróleos tiveram seus teores de água dispersa medidos pelo método de

titulação de Karl Fisher em um equipamento KF Coulometer 831 – Metrohm (Figura

15). Nenhuma das amostras apresentou água livre.

Os óleos foram aquecidos em banho térmico até 60ºC para garantir

homogeneidade das amostras. Não foi feita nenhuma diluição e alíquotas entre 0,1-0,2 g

foram pesadas e inseridas no titulador com auxílio de seringas plásticas e agulhas

descartáveis.

A titulação coulométrica pode ser resumida na reação abaixo (Eq. 4):

IRNHCHSORNHRNCHSORNHIOH ][2][2][ 343322 + →←+++ Eq. 4

O ponto final da titulação é indicado automaticamente pelos eletrodos de platina,

na presença de iodeto livre. No início da análise, a massa da amostra é informada e o

teor de água na amostra é calculado automaticamente. Pelo menos três réplicas foram

feitas para cada petróleo.

Figura 15: Equipamento KF Coulometer 831 da Metrohm

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3.2 Determinação Gravimétrica dos Teores de Asfaltenos Insolúveis em n-

hexano

Sabe-se que a precipitação de asfaltenos em petróleo é dependente da

turbulência, da razão da diluição com o solvente, do tipo de solvente e do tempo de

contato [6, 14, 30]. Os petróleos foram aquecidos em banho térmico até 60ºC, para

garantir homogeneidade das amostras. Amostras de petróleo foram pesadas (em torno

de quatro gramas), diluídas em 160 mL de n-hexano e deixadas sob agitação por pelo

menos 20 h. Foi feita, então, filtração em papel de filtro com 0,45µm (Millipore HVLP).

Os asfaltenos precipitados e retidos, foram lavados com n-hexano para remoção de

outros componentes que pudessem ter ficado retidos. A amostra foi mantida em

atmosfera de nitrogênio para evaporação do solvente e, então, pesada. A determinação

gravimétrica do teor de asfaltenos foi feita com três réplicas. O teor de asfaltenos foi

calculado pela relação entre as massas de asfaltenos e as massas iniciais das amostras de

petróleos pesadas.

3.3 Determinação Gravimétrica dos Teores de Saturados, Aromáticos e Resinas

(SAR) por Fracionamento de Maltenos

O filtrado, livre de asfaltenos, obtido após a determinação de asfaltenos

insolúveis em n-hexano, foi reduzido a 100 ml de amostra pela evaporação de solvente

com roto-evaporador.

No estudo de HANNISDAL e colaboradores [32], alguns trabalhos e

metodologias de fracionamento de maltenos foram revisadas. A metodologia proposta

por eles e os mesmos equipamentos foram utilizados nos estudos desta dissertação.

O cru, sem asfaltenos e diluído em n-hexano, foi fracionado por cromatografia

líquida (HPLC) em equipamento da Shimadzu Inc. (Figura 16). Foram usadas colunas

cromatográficas de amina e sílica modificada (Phenomenex). Diclorometano (99,8%) e

n-hexano (95%) foram usados como fases móveis.

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Figura 16: HPLC da Shimadzu Inc. usado para fracionamento de Maltenos.

A amostra foi injetada com n-hexano, degaseificado e filtrado, como fase móvel.

Os componentes da amostra passam pelas colunas ou são retidos conforme sua

polaridade. Saturados, sem afinidade pelo material das colunas, são recolhidos até 5

minutos de análise. Após 15 minutos de análise os aromáticos são coletados, mas alguns

deles ainda ficam retidos na coluna de sílica. Uma retro-lavagem com diclorometano

recupera todos os aromáticos em até 23 minutos. As resinas também são dessorvidas

com diclorometano e são recolhidas após a fração aromática, em até 26 min de

experimento.

O solvente das três amostras recolhidas foi evaporado em atmosfera de

nitrogênio. As determinações dos teores de saturados, aromáticos e resinas (SAR) foram

então feitas gravimetricamente. Sabe-se que as perdas de massa devido à evaporação

dos hidrocarbonetos são mais comuns nas frações de saturados e aromáticos. Apenas

estas foram normalizadas para que o total atingisse 100%. Duas réplicas foram feitas

para cada petróleo. A determinação dos teores de maltenos foi feita como mostram as

equações a seguir (Eq. 5 - Eq. 7).

)().100(

medidomedido

medido

ARSATSATASFRESSAT

+−−= Eq. 5

)().100(

medidomedido

medido

ARSATARASFRESAR

+−−= Eq. 6

petróleo

medido

mRESRES = Eq. 7

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3.4 Espectroscopia de Infravermelho Próximo (NIR) dos Petróleos Não Diluídos

Espectros de infravermelho próximo na faixa de 10000-4000 cm-1 (1000-2500

nm) foram obtidos para amostras dos petróleos não diluídos. Espectrômetro Bruker

MPA FT-NIR (Fourier Transform – Near Infrared Spectroscopy) da Bruker Optics foi

usado (Figura 17).

Figura 17: Espectrômetro Bruker MPA FT-NIR (Bruker Optics).

A mesma célula desenvolvida por HANNISDAL e colaboradores [32] foi usada

neste trabalho, com caminho ótico aparente de 0,32 mm (Figura 18). Entre duas

lamínulas de vidro foi inserido um filme polimérico com 0,16 mm de espessura com um

orifício de 10 mm de diâmetro. Antes de cada análise, um branco dos espectros

(background) foi obtido. Três replicas de cada análise foram feitas.

Figura 18: Desenho do instrumento para espectroscopia NIR de petróleos não diluídos.

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3.5 Determinação do Campo Elétrico Crítico de Emulsões Estáveis de Água em

Petróleo

Emulsões estáveis de água em petróleo foram formadas com o uso dos

agitadores Ultra Turrax T-18 (Figura 19) e T-25 com 30 %p/p de água deionizada

contendo NaCl (3,5 %p/p). O tempo de agitação e a velocidade foram escolhidos

conforme o objetivo do experimento, mas sempre com a meta de formar emulsões com

aspecto uniforme e sem a presença de água livre ao final da agitação. Sabe-se que o

procedimento de preparação de emulsões afeta a estabilidade de emulsões, pela

alteração da distribuição de diâmetros de gotas e da composição do filme interfacial [6].

Foram preparados 20 ml de emulsão para todos os experimentos, em frasco de

vidro com diâmetro interno de 36 mm e 106 mm de altura. Todos os experimentos se

iniciaram a temperatura ambiente (20-24ºC).

Figura 19: Ultra-Turrax Modelo T-18.

Somente emulsões com as concentrações da fase dispersa e de sal especificadas

anteriormente foram avaliadas. Estas características são comuns em estudos de

estabilidade de emulsões, principalmente os desenvolvidos no Ugelstad Laboratory [6].

Há limitações de tensão na metodologia de medição de estabilidade de emulsões, que

foram estabelecidas visando a segurança do laboratório e proteção pessoal. Elas também

foram consideradas na escolha do percentual da fase dispersa e concentração de sal.

Valores inferiores a 30 %p/p não permitiriam que a coalescência fosse atingida nas

emulsões mais estáveis, com os níveis de tensão possíveis neste instrumento. Como não

havia disponível um contador de rotação em nenhum dos dois modelos de misturador

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43

utilizados, a velocidade empregada na mistura era estimada e controlada apenas pelo

seletor de velocidade (Figura 20).

Figura 20: Seletor de velocidade do misturador Ultra-Turrax modelo T-18.

A Tabela 4 exibe a correspondência entre os níveis indicados no seletor de

velocidade e a velocidade de rotação sugerida pelo fabricante.

Tabela 4: Indicador de velocidade para o misturador Ultra-Turrax T-18.

Indicador do seletor de velocidade Velocidade (rpm)

1 6 000

2 10 000

3 14 000

4 18 000

5 22 000

6 24 000

A célula usada para medição do Campo Elétrico Crítico – Ecritico – consiste em

duas placas energizadas por uma fonte de energia que fornece corrente contínua até no

máximo 100 V (Agilent Modelo 6634B). Esta mesma célula foi usada em outros

estudos [7, 21, 40, 41, 42, 43, 45]. As placas foram separadas por um filme polimérico,

considerado não condutor, com um orifício de 10 mm de diâmetro que limita a área

energizada entre eletrodos. O filme pode ter espessura variável, sendo escolhido em

função do experimento a ser realizado. Espessuras de 0,1 mm e 0,25 mm foram usadas,

correspondendo a um campo elétrico máximo de 10 kV/cm e 4 kV/cm, respectivamente.

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44

O sistema é mantido acomodado entre duas placas de acrílico e encaixado sob pressão

de um parafuso. O desenho esquemático é apresentado na Figura 21.

Teflon

AcrílicoPlacas Energizadas

<100V

Figura 21: Desenho esquemático da célula para medição do Ecritico.

A Figura 22 apresenta a fonte de energia e a célula utilizada. O experimento

consiste em aumentar a tensão entre os eletrodos, numa taxa constante, e medir a

corrente que passa através da emulsão. Neste estudo a taxa foi fixada em 0,1 V/s. À

medida que a tensão é aumentada, as gotas na emulsão tendem a se alinhar e constituir

uma ponte entre as placas de eletrodos. Com o aumento da tensão é observado o

crescimento da corrente. O crescimento súbito da corrente, com posterior queda e

impossibilidade de manutenção do nível de tensão, indica o momento em que é fechado

o circuito. Este valor de tensão é reportado como o menor campo elétrico requerido para

quebrar a emulsão - Ecritico.

Figura 22: Fonte de energia – Corrente Contínua (Agilent Modelo 6634B) e célula para medição de Ecritico.

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Todos os experimentos foram conduzidos em temperatura ambiente (20-24ºC).

A aquisição de dados foi feita por computador, através de uma interface desenvolvida

especificamente para o equipamento usado [7]. Os arquivos de dados gerados foram

importados para o Matlab R13 [59], onde o Ecritico foi determinado a partir de ajuste de

curva aos pontos registrados. A Figura 23 mostra o resultado de uma análise típica de

Ecritico.

a)

b) Curva Ecritico (Petróleo A) I=(0,119e-8)*exp(0,30058*V)+(0,067336)

0 10 20 30 40 50 60 70

V(Volt)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

I(m

A)

66,107

Figura 23: Análises de Ecritico (a) dados típicos [6] (b) ajuste de curva aos dados experimentais para determinação de Ecritico para o petróleo A com espaçamento entre

placas de 0,1 mm.

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46

3.5.1 Avaliação de Erros Experimentais

Foi feita uma avaliação dos erros experimentais envolvidos neste método para

determinação de estabilidade de emulsões. Foi escolhido o petróleo C para esta

avaliação já que este óleo possui características intermediárias em relação aos demais

óleos.

Diversas emulsões água-óleo foram preparadas utilizando-se o misturador Ultra

Turrax T-18 com velocidade de 18 000 rpm (nível 4 no seletor de velocidade) por 10

min. Utilizou-se como elemento de mistura a pá modelo S18 N - 10G, que tem 10 mm

de diâmetro (Figura 24).

Figura 24: Pá modelo S18N-10G com 10mm de diâmetro para Ultra-Turrax T-18.

As determinações do Ecritico foram feitas com taxa de acréscimo de tensão de

0,1 V/s e filme polimérico de 0,1 mm de espessura. Primeiramente, os erros

provenientes apenas do instrumento foram avaliados. Para tal, foram feitas análises a

partir de uma única emulsão preparada e uma única coleta de amostra com pipeta. Na

segunda etapa, os erros oriundos da amostragem foram analisados a partir de

experimentos realizados com uma única emulsão, mas utilizando diversas amostragens

com pipeta. O objetivo era também testar a homogeneidade da emulsão. Na terceira

etapa, para avaliar os erros procedentes de todo o experimento, diversas emulsões foram

preparadas utilizando-se o mesmo procedimento de preparação. Para cada avaliação, 5

análises de Ecritico foram feitas.

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3.5.2 Avaliação da Sensibilidade do Método para Análise de Estabilidade das Emulsões.

Diferentes procedimentos de preparação das emulsões água-óleo foram

avaliados, tendo o Ecritico como variável de resposta. Novamente, o óleo C foi

escolhido para esta análise. Espera-se que diferentes procedimentos resultem em

distribuições de diâmetro de gotas diferentes. Além disso, a obtenção de áreas

específicas diferentes pode resultar na obtenção de características diferentes do filme,

refletindo na estabilidade das emulsões avaliadas.

Inicialmente utilizou-se o misturador UltraTurrax T-18 com a pá modelo S18 N

- 10G. Um plano de experimentos fatorial completo com duas variáveis a dois níveis foi

implementado (Tabela 5), visando analisar os efeitos da velocidade de rotação e do

tempo de agitação. Nove réplicas foram feitas para todas as condições. Como observado

anteriormente na Tabela 4, a velocidade de 14 000 rpm e 22 000 rpm são representadas

respectivamente no nível 3 e nível 5 do seletor de velocidades.

Tabela 5: Planejamento experimental para análise de sensibilidade de Ecritico com pá S18N-10G.

Experimento Tempo (min)

velocidade de agitação (rpm)

2.1 10 14 000

2.2 30 14 000

2.3 10 22 000

2.4 30 22 000

A influência do diâmetro do impelidor sobre o Ecritico foi avaliada utilizando-se

a pá modelo S18N-19G, que tem 19 mm de diâmetro, no mesmo misturador. O plano de

experimentos fatorial completo a dois níveis implementado é apresentado na Tabela 6.

Nestes experimentos, a velocidade de rotação de 18 000 rpm foi escolhida e buscou-se

observar a influência do tempo de agitação e do resfriamento das amostras com banho

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48

de água, durante o procedimento de preparação de emulsão, sobre o Ecritico. Foram

feitas entre doze e quinze réplicas de cada condição de experimentação.

Tabela 6: Planejamento experimental para análise de sensibilidade de Ecritico com pá S18N-19G.

Experimento tempo (min) banho

3.1 2 Não

3.2 4 Não

3.3 2 Sim

3.4 4 Sim

Durante os experimentos, foi observado aquecimento elevado do conjunto

motor/impelidor e também das amostras. Foi observada, também, oscilação do ruído do

rotor que possivelmente indica oscilação da rotação. A operação se mostrou instável

quando outros níveis de velocidade foram tentados (maiores que 18 000 rpm), não

sendo considerados estes dados neste trabalho. Não foi possível manter a agitação

estável por mais de cinco minutos com esta pá.

3.5.3 Avaliação da Estabilidade de Emulsões dos Diferentes Óleos

A partir da análise de sensibilidade e variâncias dos dados, foram padronizadas

as condições de preparação de emulsões dos diferentes petróleos. Pelos problemas

apresentados durante o uso do misturador Ultra-Turrax T-18, o uso de outro

equipamento se mostrou obrigatório.

Para os diferentes óleos, o misturador Ultra-Turrax T-25 foi usado. A Tabela 7

mostra a correspondência entre os níveis indicados no seletor de velocidade e a

velocidade estimada de rotação, sugerida pelo fabricante, para este modelo. A pá

escolhida tinha diâmetro de 18 mm (modelo S25N-18G).

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49

Tabela 7: Indicador de velocidade para o Ultra-Turrax T-25.

Indicador do seletor de velocidade Velocidade (rpm)

1 6 500

2 9 500

3 13 500

4 17 500

5 21 500

6 25 500

O procedimento padrão de preparo das amostras, para posterior comparação da

estabilidade das emulsões dos diferentes óleos, é resumido na Tabela 8. Foram feitas

entre sete a onze réplicas de cada uma das condições experimentais.

Tabela 8: Condições padronizadas de preparo de emulsões para comparação da estabilidade das emulsões dos diferentes óleos.

Misturador Ultra-Turrax T-25

Modelo da pá S25N-18G

Volume de emulsão 20 ml

Concentração da fase dispersa 30 %

Concentração de sal (NaCl) na água 3,5 %p/p

Tempo 4 min

Rotação 17 500 rpm (nível 4 no seletor)

Banho Não

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50

3.5.3.1 Determinação do Diâmetro de Gotas Médio da Emulsão

As amostras usadas para comparação da estabilidade de emulsão dos diferentes

óleos foram caracterizadas quanto ao diâmetro médio de gotas de água. Foi feita

diluição de uma gota de amostra de emulsão em aproximadamente 40 mL de óleo

mineral (Acros Organics, viscosidade de 31,3 cP) com homogenização em misturador

magnético em baixa rotação. Em alguns casos o volume de óleo mineral foi aumentado

até que amostra se apresentasse translúcida.

A técnica de espalhamento dinâmico de luz (Dinamic Light Scattering – DLS)

foi aplicada para medir os diâmetros médios das gotas na emulsão diluída. As medidas

foram feitas utilizando-se ALV DLS/SLS-5022F (goniômetro compacto) com ALV-

5000/E para correlação do sinal (ALV, Langen, Alemanha). A fonte de luz (laser) foi de

22 mW de He-Ne (Uniphase, Witney Oxon, UK). As análises foram conduzidas a 24ºC

com ângulo de incidência de luz de 30º. Com objetivo de comparar qualitativamente os

resultados, algumas amostras foram observadas em microscópio eletrônico e analisadas

por difração de luz no equipamento Malvern Zetasizer 3000HS. Pelos princípios da

técnica disponível, não foi possível obter informação da distribuição completa do

diâmetro de gotas, apenas do seu valor médio.

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51

4 Resultados e Discussões

Este capítulo está dividido em três partes. Na primeira parte são discutidos os

resultados da avaliação das variâncias envolvidas na metodologia de avaliação da

estabilidade de emulsões pela medida de Ecritico. Na segunda parte são abordadas as

análises de caracterização do petróleo e sua correlação com a estabilidade de emulsões.

Finalmente, na terceira parte, são observados os resultados disponíveis na literatura

sobre o tratamento eletrostático em planta piloto. Nesta etapa do trabalho são discutidas

a modelagem do processo e a possibilidade de estender as conclusões obtidas sobre

estabilidade de emulsões em laboratório à escala piloto. Todas as análises estatísticas

foram feitas com o programa computacional Statistica 6.1 [60].

4.1 Análise da Metodologia de Medição de Estabilidade por Ecritico

Quase todos os estudos com emulsões de água em petróleo passam pela etapa de

preparação das emulsões em condições controladas em laboratório. Sabe-se que o

diâmetro das gotas nas emulsões formadas influencia de forma decisiva nos processos

de coalescência [11, 12]. Usualmente em cada estudo apresentado em literatura, o

procedimento de preparo é mantido constante, embora sejam diferentes nos diferentes

trabalhos. Desta forma é possível comparar os diferentes petróleos em um mesmo

trabalho, mas não os dados obtidos nos diferentes trabalhos. Além disso, a escolha deste

procedimento de preparo nem sempre segue um objetivo claro. SULLIVAN e

KILPATRICK [9] definiram as condições de emulsificação de forma que, na etapa de

avaliação da estabilidade, a resolução das emulsões estivesse bem distribuída no

intervalo de 0-100% da água inicialmente emulsionada. A condição definida

proporcionou diâmetros de gotas (medido por microscópio de luz polarizada) em uma

faixa ampla, da mesma ordem de grandeza das encontradas em refinarias (1-30 µm).

ASKE e colaboradores [7] definiram o procedimento de preparo de forma que as

emulsões dos petróleos e condensados fosse sempre estável (sem presença de água

livre), no entanto os diâmetros das gotas não foram medidos. Na etapa de medição de

estabilidade, algumas emulsões foram tão estáveis que não puderam ser resolvidas,

sendo atribuído a elas um valor limite de estabilidade.

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52

Em nenhum dos trabalhos encontrados na literatura foi realizado um tratamento

estatístico avaliando as variâncias envolvidas nas diversas etapas da medida de

estabilidade. As réplicas, quando realizadas, avaliaram apenas a última etapa de medida

da estabilidade com o instrumento definido.

4.1.1 Análise das Variâncias Envolvidas na Metodologia de Medição de Estabilidade por Ecritico

Para esta etapa, o petróleo C foi escolhido por ter característica de densidade

intermediária em relação aos demais avaliados em outras etapas deste trabalho. A

Tabela 9 apresenta os resultados das análises de densidade e viscosidade dos crus

escolhidos. Nota-se que a amostra do petróleo D é mais leve do que a amostra de

referência (anteriormente apresentada na Tabela 2), enquanto a do petróleo E é mais

pesada, alterando a ordenação que anteriormente era seguida.

Tabela 9: Resultados das análises de densidade e viscosidade dos petróleos.

Amostra Nome referência do petróleo ºAPI Densidade (20ºC/4ºC)

Viscosidade calculada @25ºC

(mm²/s)

A Fazenda Alegre 13,4 0,9725 34636,4

B Jubarte 17,8 0,9442 1132,4

C Marlim P-32 19,0 0,9336 484,7

D Marlim Sul P-38 23,7 0,9081 93,8

E Marlim P-37 22,4 0,9158 129,9

F Blend Cabiúnas 25,4 0,8983 69,5

G Blend Albacora 27,7 0,8851 44,3

Na preparação de emulsões desta etapa, foi usado o misturador Ultra Turrax T-

18 com o impelidor S18N-10G, a 18 000 rpm por 10 min. As variâncias envolvidas em

três etapas foram avaliadas:

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53

Etapa 1.1. Avaliação das variâncias apenas do instrumento de medição de

estabilidade (célula). Apenas uma emulsão preparada, uma amostra

coletada;

Etapa 1.2. Avaliação das variâncias envolvidas no procedimento de amostragem.

Apenas uma emulsão preparada, diferentes amostras coletadas em

diferentes locais do frasco;

Etapa 1.3. Avaliação das variâncias envolvidas no experimento completo.

Diversas emulsões preparadas, uma amostra retirada de cada uma.

Em todas as situações, cinco réplicas da medição do Ecritico foram feitas.

A Tabela 10 apresenta os valores médios do Ecritico e as variâncias obtidas em

cada etapa de avaliação de variâncias.

Tabela 10: Análise de variâncias envolvidas na medida de Ecritico.

Etapa Ecritico médio

(kV/cm)

Confiança -95%

Confiança +95% Variância

1.1 2,4974 2,4033 2,5916 0,0057

1.2 2,4393 2,3399 2,5388 0,0064

1.3 2,4934 2,1731 2,8137 0,0665

Na Tabela 10 fica claro que a maior fonte de variâncias é o preparo das

emulsões. Pelo teste F para as variâncias das etapas 1.2 e 1.3, observa-se que:

39,10)2.1(variância)3.1(variância ==

etapaetapaF

Pode-se dizer que com 4 graus de liberdade, se F>9,60 , as variâncias não são

equivalentes com mais de 95% de confiança. Portanto, o procedimento de preparo das

emulsões é crucial para uma medida confiável da estabilidade.

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54

Entendendo-se onde estão concentradas as variâncias, é possível que a precisão

da análise possa ser melhorada. No caso particular avaliado o procedimento de preparo

da emulsão precisa ser aperfeiçoado para que o método se torne mais reprodutível. Isso

também mostra que as medidas de Ecritico precisam ser feitas com réplicas genuínas,

para que sejam estatisticamente confiáveis.

4.1.2 Análise da Sensibilidade da Medida da Estabilidade de Emulsões por Ecritico

Diante dos mecanismos propostos para interpretação da separação de emulsões

sob ação de campo elétrico, sabe-se que a influência da distribuição dos diâmetros das

gotas é importante em todos eles. Por exemplo, na etapa de floculação, primordial para

o processo de coalescência, a força de atração dipolo-dipolo (Fa), para duas gotas

esféricas pode ser descrita como se segue (Eq. 8):

4

2610

a )2(Er24F

rd += εεπ

Eq. 8

Onde ε0 é a permissividade do vácuo, ε1 é a constante dielétrica da fase contínua, d é a

distância entre as duas gotas, E é o campo elétrico e r é o raio das gotas.

Nesta Equação 5, a deformação das gotas é ignorada, hipótese aceitável se as

gotas são consideradas muito pequenas. É admitido também que as gotas têm tamanhos

iguais e não são carregadas eletricamente. Quando duas gotas estão suficientemente

próximas para haver coalescência, as forças de atração de van der Waals se tornam

importantes no balanço de forças.

A distribuição de gotas pode ser consideravelmente influenciada durante a

preparação da emulsão, considerando-se os seguintes fatores: (i) quantidade de energia

aplicada ao sistema; (ii) mecanismos de transferência de energia ao sistema; (iii)

propriedades interfaciais; (iv) retenção da água incorporada.

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55

Diferentes procedimentos de emulsificação foram usados para avaliar os efeitos

da velocidade de agitação, do tempo de agitação e da geometria do impelidor sobre a

estabilidade das emulsões. Foram observadas também as variâncias das medidas,

buscando-se obter um procedimento de preparo mais reprodutivo.

Para esta análise, o mesmo petróleo da etapa anterior foi usado (petróleo C). Um

planejamento de experimentos fatorial completo foi usado para avaliar a influência do

tempo de agitação e da velocidade do misturador sobre a estabilidade das emulsões,

conforme apresentado previamente na Tabela 5. O misturador Ultra Turrax T-18 foi

usado com o impelidor S18N-10G. A Tabela 11 apresenta as condições experimentais,

os resultados obtidos e o número de réplicas de cada condição. Dados foram removidos,

segundo comparação das variâncias dos conjuntos com e sem o dado suspeito, usando o

teste F para julgamento.

Tabela 11: Condições experimentais investigadas e resultados das análise de Ecritico com Ultra Turrax T-18 e impelidor S18N-10G.

Teste Tempo de agitação

(min)

Velocidade de agitação

(rpm)

Ecritico médio

(kV/cm)

Confiança -95%

Confiança +95% Variância Número de

réplicas

2.1 10 14 000 2,5455 2,4306 2,6604 0,0223 8

2.2 30 14 000 2,8132 2,7281 2,8983 0,0123 9

2.3 10 22 000 3,3365 3,2301 3,4428 0,0191 9

2.4 30 22 000 3,9699 3,7799 4,1598 0,0611 9

É possível observar que as medidas de estabilidade por Ecritico são

estatisticamente diferentes e, portanto, sensíveis aos procedimentos de preparo das

emulsões.

No teste 2.4, foi percebido aquecimento da amostra durante o preparo das

emulsões, possivelmente devido ao longo tempo de exposição e à agitação elevada. Não

se pode descartar a hipótese de que este aquecimento tenha afetado os fenômenos de

quebra e coalescência das gotas de forma não controlada.

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56

Para testar o efeito da geometria do impelidor sobre a medida de Ecritico, outro

planejamento de experimentos fatorial completo foi usado. Neste planejamento, a

presença de um banho externo de água para resfriamento da amostra durante o preparo

das emulsões foi avaliada, como previamente apresentado na Tabela 6. O misturador

Ultra Turrax T-18 foi usado, mas desta vez com o impelidor S18N-19G. A velocidade

de rotação foi fixada em 18 000 rpm. A Tabela 12 apresenta as condições ensaiadas, os

resultados obtidos e o número de réplicas conservadas após a detecção de outliers.

Tabela 12: Condições experimentais investigadas e resultados das análise de Ecritico com Ultra Turrax T-18 e impelidor S18N-19G.

Teste Tempo sob agitação

(min)

Presença de banho externo

Ecritico médio

(kV/cm)

Confiança -95%

Confiança +95% Variância Número de

réplicas

3.1 2 Não 3,9550 3,7788 4,1312 0,0769 12

3.2 4 Não 4,2925 4,1773 4,4077 0,0329 12

3.3 2 Sim 4,4331 4,3103 4,5559 0,0373 12

3.4 4 Sim 4,8967 4,6813 5,1122 0,1513 15

É possível observar que a medida é sensível à presença do banho externo que

causa aumento na estabilidade das emulsões, quando presente no preparo. Este fato

pode estar relacionado ao efeito de aumento da viscosidade, que poderia causar a

redução dos processos de coalescência das gotas e o aumento das tensões de

cisalhamento durante o processo de mistura, como estudado por TESCH et al. [61]. A

influência das propriedades do petróleo nos processos de emulsificação não é foco do

estudo atual, mas é sugerido que esforços sejam feitos em futuros trabalhos para melhor

entendimento dos fenômenos de quebra e coalescência de gotas em emulsões de água

em óleo.

Os experimentos descritos são mostrados juntos na Figura 25.

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57

2,00

2,60

3,20

3,80

4,40

5,00

2.1 2.2 2.3 2.4 3.1 3.2 3.3 3.4

Condição experimental

Ecr

itico

Figura 25: Estabilidade de emulsões preparadas a partir de diferentes procedimentos experimentais com petróleo C com intervalo de confiança de 95%.

É interessante notar que as condições 2.4 (30 min, 22 000 rpm, impelidor S18N-

10G) e 3.1 (2 min, 18 000 rpm, impelidor S18N-19G) têm estabilidades equivalentes,

apesar da condição 3.1 ter muito menor tempo de exposição e velocidade de agitação. A

partir desta comparação, conclui-se que o efeito da geometria do impelidor sobre a

estabilidade é acentuado. Para proposição de modelo, a normalização dos dados foi

conduzida e às variáveis discretas (presença de banho e tipo de impelidor) foram

atribuídos valores, como mostra a Tabela 13.

Tabela 13: Normalização de dados para proposição de modelo de previsão da estabilidade de emulsões em função do procedimento de preparo.

Condição Ecritico médio (kV/cm) Tempo Velocidade Banho Impelidor

2.1 2,545 -0,43 -1 -1 -1

2.2 2,813 1 -1 -1 -1

2.3 3,336 -0,43 1 -1 -1

2.4 3,970 1 1 -1 -1

3.1 3,955 -1 0 -1 1

3.2 4,293 -0,86 0 -1 1

3.3 4,433 -1 0 1 1

3.4 4,897 -0,86 0 1 1

1.3 2,493 -0,43 0 -1 -1

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58

O modelo proposto para previsão da estabilidade das emulsões para este

petróleo, fração e composição da fase dispersa, em função do procedimento de preparo

é mostrado na Tabela 14.

Tabela 14: Modelo para previsão de estabilidade de emulsão do petróleo C em função do procedimento de preparo de emulsão.

Ecritico=a0+a1*tempo+a2*velocidade+a3*banho+a4*impelidor

Número de experimentos: 86

R² = 0,881

Estimativa Desvio padrão p Confiança -

95% Confiança

+95%

a0 4,039 0,041 0,000E+00 3,956 4,121

a1 0,368 0,066 3,437E-07 0,236 0,500

a2 0,500 0,048 0,000E+00 0,405 0,594

a3 0,282 0,040 3,622E-10 0,203 0,361

a4 0,708 0,055 0,000E+00 0,598 0,819

Pelos parâmetros estimados, observa-se a maior importância relativa do tipo do

impelidor, seguido pela velocidade de agitação, pelo tempo de mistura e finalmente pela

presença do banho para resfriamento da amostra. A comparação dos valores preditos e a

banda de predição com intervalo de confiança de 95% são exibidas na Figura 26.

A partir do modelo proposto, foi comparada a predição do Ecritico para a

condição 1.3 que não fez parte do conjunto de dados usado para estimação de

parâmetros. A Figura 27 apresenta as predições do modelo e todos os dados

experimentais usados com seus respectivos intervalos de 95% de confiança. Pode-se

dizer que o modelo é bastante satisfatório. Uma conclusão relevante é que o método de

determinação de estabilidade de emulsões por Ecritico é significativamente dependente

da forma de preparo das emulsões, não sendo possível atribuir de forma inequívoca um

valor de Ecritico para um determinado petróleo.

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59

2.1

2.2

2.3

2.43.1 3.2

3.3 3.4

2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0Ecritico predito

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

Ecr

itico

obs

erva

do

Figura 26: Comparação dos dados obtidos pelo modelo de predição de Ecritico em função do procedimento de preparo de emulsões.

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

5,50

2.1 2.2 2.3 2.4 3.1 3.2 3.3 3.4 1.3Condição experimental

Ecrit

ico

(kV

/cm

)

Ecritico medido Ecritico predito

Figura 27: Predição dos valores de Ecritico em função do procedimento de preparo.

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60

4.2 Correlação de Propriedades de Petróleos com Estabilidade de Emulsões de

Água em Óleo

Diversos estudos apresentados na literatura investigam a previsão de estabilidade

de emulsões a partir da caracterização da emulsão e do petróleo. Estes estudos indicam

a necessidade de avaliar de um amplo conjunto de propriedades para que se obtenham

correlações representativas e confiáveis dos dados. Por isso, neste trabalho, são

caracterizados intensivamente sete petróleos nacionais.

Sabe-se que diversas características dos petróleos, como densidade, teores de

surfactantes e viscosidade influenciam os processos de quebra de gotas. Pode-se

apontar, então, que mesmo que os procedimentos experimentais de preparo de emulsões

sejam os mesmos, diferentes petróleos podem proporcionar emulsões com diferentes

diâmetros de gotas. Isso pode levar a conclusões inapropriadas sobre as análises de

estabilidade de emulsões. Além de forças de atração diferenciadas, áreas interfaciais

distintas podem afetar a migração dos surfactantes e as características dos filmes

interfaciais.

Desta consideração, fica clara a necessidade de determinação dos diâmetros de

gotas, quando emulsões de diferentes petróleos são comparadas, independentemente do

processo de emulsificação ter sido o mesmo. PETELA [62] comenta que o diâmetro de

gotas da fase dispersa decresce rapidamente, quando se aumenta a intensidade de

mistura. No entanto, este decréscimo é assintótico quando a energia transferida para o

sistema atinge valores elevados. No seu estudo, valores ao redor de 1 µm foram

atingidos como limite assintótico.

O procedimento de preparo de emulsões usado para comparar os sete petróleos

foi especificado a partir dos resultados das análises de variância e estabilidade do estudo

prévio. Como apontado por PETELA [62], é esperado que maiores intensidades de

mistura levem o diâmetro de gotas para um valor assintótico. Desta forma é possível

comparar emulsões de diferentes petróleos, sem que este efeito esteja presente. Para

eliminar a influência do diâmetro das gotas nos resultados de Ecritico, um procedimento

semelhante ao 3.2 (estabilidade mais elevada, provavelmente devido a menores

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61

diâmetros de gotas e menor variância) foi empregado. Outro misturador, com maior

potência, foi usado para evitar aquecimento e flutuações de velocidade de agitação.

Medidas de diâmetro de gotas por DLS (Dinamic Light Scattering) foram feitas

nas sete emulsões formadas. A análise de dados foi feita pelo método CONTIN [63]

disponível no programa de aquisição de dados do instrumento de medição. Distribuições

estreitas foram obtidas e não foi notada diferença significativa entre os resultados das

diferentes emulsões. O diâmetro médio obtido foi de 0,2 µm para todas as emulsões.

Mais detalhes sobre a técnica podem ser encontrados na literatura [64, 65]. Algumas

amostras foram observadas por microscópio eletrônico e analisadas por difração de luz

no equipamento Malvern Zetasizer 3000HS. Os valores obtidos foram concordantes.

SULLIVAN e KILPATRICK [9] encontraram diâmetros em uma faixa relativamente

ampla (entre 1-30 µm, semelhantes aos encontrados em refinarias) nas emulsões

preparadas com um procedimento diferente. No entanto, no estudo desta dissertação, foi

priorizada a eliminação da influência de fatores de difícil controle em detrimento a se

aproximar das condições das unidades industriais, já que a própria metodologia

empregada para medição de estabilidade guarda diferenças significativas em relação a

esta escala.

A estabilidade das emulsões foi medida por Ecritico com espaçamento de

eletrodos de 0,1 mm e 0,25 mm. Pelo menos 7 réplicas foram feitas para cada análise. A

Figura 28 apresenta os dados de Ecritico médio, com o intervalo de confiança de 95%, e

também a variância das análises de cada emulsão.

É possível notar que as emulsões com diferentes petróleos e diâmetros de gotas

equivalentes apresentam estabilidades distintas, para ambos espaçamentos. Pode-se

observar também que, para o menor espaçamento, a variância da medida com o petróleo

C com o novo procedimento (0,0309) foi reduzida em relação à análise feita

previamente (0,0665), demonstrando que a melhoria no processo de preparação foi

responsável pela redução de variâncias da metodologia como um todo. A Tabela 15

apresenta os dados de Ecritico e a duração média dos experimentos.

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62

(a)

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

A B C D E F G

Ecrit

ico

0,1m

m (k

V/c

m)

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40V

ariância

Variância Ecritico médio

(b)

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

A B C D E F G

Petróleo

Ecrit

ico

0,25

mm

(kV

/cm

)

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

Variância

Figura 28: Análise de Ecritico com espaçamento de (a) 0,1 mm e (b) 0,25 mm para as

emulsões dos sete petróleos nacionais.

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63

Tabela 15: Ecritico e tempo médio de experimento para os diferentes petróleos com diferentes espaçamentos.

Espaçamento

entre eletrodos

Ecritico médio

(kV/cm)

Confiança -95%

Confiança +95% Variância Desvio

Padrão

Tempo médio de

experimento (s)

A 6,6936 6,3147 7,0724 0,2805 0,5296 669

B 3,1193 2,9645 3,2741 0,0406 0,2014 312

C 2,8371 2,7190 2,9553 0,0309 0,1759 284

D 1,9325 1,8947 1,9704 0,0017 0,0409 193

E 2,2835 2,2063 2,3606 0,0101 0,1003 228

F 2,0729 1,9862 2,1595 0,0127 0,1127 207

G

0,1

mm

1,8883 1,8205 1,9562 0,0090 0,0949 189

A 3,9201 3,6790 4,1613 0,0589 0,0971 980

B 2,1378 2,0618 2,2138 0,0611 0,0988 534

C 2,0930 2,0189 2,1671 0,0939 0,1226 523

D 1,2996 1,2323 1,3669 0,0849 0,1165 325

E 1,6750 1,6279 1,7222 0,0235 0,0613 419

F 1,5521 1,4930 1,6112 0,0484 0,0880 388

G

0,25

mm

1,3350 1,2733 1,3966 0,0713 0,1068 334

Nota-se que os valores de Ecritico para o maior espaçamento foram

sistematicamente menores. Alguns fatores podem ter contribuído para esta diferença, a

começar pelo procedimento de teste. Apesar da taxa de acréscimo de tensão ter sido

fixada em 0,1 V/s para os dois casos, isto representa 0,01 kV/cm.s para o espaçamento

de 0,10 mm e 0,004 kV/cm.s para espaçamento de 0,25 mm. A etapa de movimentação

das gotas e floculação, primeira a ocorrer no processo de coalescência, é

primordialmente afetada pelo tempo dos experimentos. Maiores tempos sob efeito do

campo elétrico facilitam a movimentação das gotas.

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64

Novamente, fica claro que o Ecritico não caracteriza de forma inequívoca o

petróleo, sendo muito dependente das condições de análise.

ASKE et al. [7] prepararam emulsões utilizando o misturador Ultra Turrax T-25,

com rotação de 20 000 rpm (não há informações sobre o dispositivo de mistura usado).

Entre três e oito medidas foram feitas em cada emulsão. O espaçamento entre eletrodos

usado na célula foi de 0,5 mm, permitindo tensão máxima de 2 kV/cm. Foi apontado

que o desvio padrão do Ecritico variou na faixa de 0-0,1 kV/cm. O desvio padrão médio

foi de 0,03 kV/cm. No entanto, as réplicas cobriram apenas a avaliação da

homogeneidade das amostras, já que todas elas foram coletadas de apenas uma única

emulsão preparada.

A análise da Figura 28 também mostra que, com o espaçamento maior, os

valores de Ecritico medidos ficaram muito próximos do limite de tensão permitido pela

célula para este espaçamento (4 kV/cm). Apenas três réplicas foram concluídas. Em

outras análises, a coalescência não foi atingida. Desta forma, as conclusões referentes à

análise com o petróleo A ficaram prejudicadas.

Na Figura 28 também pode ser observado que as variâncias foram em geral

muito pequenas, indicando uma boa reprodutibilidade da medida. O petróleo A é um

petróleo ultra-pesado, com elevada viscosidade na temperatura de análise. Para este

caso, a homogeneidade das amostras foi investigada. Quatro diferentes amostras foram

retiradas da mesma emulsão, mas em diferentes pontos do frasco. O Ecritico foi

determinado com espaçamento de 0,1 mm. A Tabela 16 mostra o valor determinado das

variâncias.

Tabela 16: Análise de variâncias envolvidas na medida de Ecritico para o petróleo A.

Amostra Ecritico médio (kV/cm) Variância Número de

réplicas

A-1 6,5547 0,1261 4

A (réplicas completas) 6,6936 0,2805 10

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65

Pelo teste F para as variâncias das amostras A-1 e A, observa-se que:

22,2)1(variância

)(variância =−

=Aamostra

AamostraF

Para os graus de liberdade das amostras, pode-se dizer, com 95% de confiança,

que as variâncias são equivalentes, já que F<14,47. Portanto, conclui-se que a

homogeneidade das emulsões também era deficiente.

Para obter mais informações sobre a análise de estabilidade, os dados obtidos de

tensão como função da corrente foram observados em toda a faixa de tensão e não

somente no valor do Ecritico. Não foi encontrado na literatura qualquer estudo

semelhante. Os dados obtidos a partir da análise de Ecritico foram parametrizados

segundo a Equação 6. Esta equação propõe que a corrente cresce exponencialmente com

a tensão, a partir de um valor mínimo observado para tensões baixas.

3).2(.1 CVCExpCI += Eq. 9

Esta análise foi feita apenas nos experimentos com 0,1 mm de espaçamento,

considerando as limitações das conclusões com o espaçamento maior. A Figura 29

ilustra o ajuste feito para o petróleo D, enquanto a Figura 30 ilustra o ajuste obtido para

o petróleo A, ambos com espaçamento de 0,1 mm (melhor e pior ajuste

respectivamente).

A baixas tensões, a pequena corrente medida é correspondente à condutividade

da fase contínua, onde as gotas ainda não foram propriamente polarizadas e alinhadas

[9]. Este valor pode ser obtido a partir da equação de parametrização, quando a tensão

tende a zero (C1+C3). Na Tabela 17, os parâmetros obtidos para os sete petróleos, com

espaçamento de 0,1 mm e o número de réplicas feitas são apresentados. Todos os

parâmetros foram estatisticamente significativos.

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66

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

V(Volt)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

I(m

A)

Figura 29: Curva da análise de Ecritico para o petróleo D com espaçamento de 0,1 mm..

( )

0 10 20 30 40 50 60 70 80

V(Volt)

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

I(m

A)

Figura 30: Curva da análise de Ecritico para o petróleo A com espaçamento de 0,1 mm..

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67

Tabela 17: Coeficientes da equação de parametrização dos dados de Ecritico para os petróleos com espaçamento de 0,1 mm..

C1 C2 C3 C1+C3 R² Número de réplicas

A 2,1967E-03 0,0698 5,4535E-02 5,6732E-02 0,6946 10

B 1,8405E-03 0,1713 5,5537E-02 5,7377E-02 0,8496 9

C 8,9715E-03 0,1334 3,5879E-02 4,4850E-02 0,8611 11

D 1,3613E-04 0,4348 6,3638E-02 6,3774E-02 0,9550 7

E 8,9446E-04 0,2740 5,4015E-02 5,4909E-02 0,8610 9

F 2,0594E-04 0,3715 5,8413E-02 5,8619E-02 0,7654 9

G 4,3170E-04 0,3723 6,0266E-02 6,0698E-02 0,7626 10

Nota-se que os ajustes, considerando todas as réplicas, são apenas razoáveis (a

não ser pelo petróleo D). No entanto, os maiores desvios ocorrem em tensões mais altas,

obtendo-se dados aceitáveis a baixas tensões. Os resultados obtidos mostram que o

processo de medição de Ecritico está sujeito a muitas flutuações.

As análises de espectrofotometria NIR contêm informações sobre propriedades

do petróleo e sobre o estado de agregação dos asfaltenos. Os espectros dos petróleos não

diluídos (três réplicas de cada petróleo) são apresentados na Figura 31. Para incluir estas

informações na matriz de dados principal, foi feita análise de PCA dos espectros em

toda faixa de comprimento de onda (considerando as três réplicas de cada petróleo).

Não foi feito pré-tratamento dos espectros, já que a sua diferenciação reduziria a

contribuição das informações sobre o estado de agregação dos asfaltenos na densidade

ótica (contribuição da difração). Esta mesma consideração foi feita em trabalhos prévios

e o pré-tratamento somente foi feito quando a correlação dos espectros com os teores de

saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos era buscado [7, 21, 42, 43]. Apenas o

primeiro componente principal (t1 NIR) foi necessário para extração das informações

dos espectros e responsável por 99,19% da variância (Figura 32).

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68

1200 1400 1600 1800 2000 2200

0,0

0,5

1,0

1,5 A B C D E F G

Den

sida

de Ó

tica

Comprimento de onda (nm)

Figura 31: Espectros de infravermelho próximo dos petróleos não diluídos (três réplicas por petróleo).

99,19%

,72% ,04% ,02% ,01% ,01% ,00%

0 1 2 3 4 5 6 7Componente principal

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Aut

oval

or

Figura 32: Contribuição dos componentes principais na matriz de covariâncias dos espectros de NIR.

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69

A Figura 33 apresenta a média do autovalor do primeiro componente principal

(t1 NIR) e seus respectivos intervalos de confiança (3 réplicas) de cada petróleo. Fica

claro que os espectros de NIR são capazes de caracterizar e diferenciar os sete petróleos

utilizados, se mostrando também uma medida com boa repetibilidade.

A B C D E F G

Petróleos

-0,5

-0,45

-0,4

-0,35

-0,3

-0,25

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

t1 N

IR

Média 95% Confiança

Figura 33: Médias e intervalos de confiança do primeiro componente principal dos espectros de NIR dos diversos petróleos.

Das análises de PCA, fica claro que o NIR não consegue identificar muitas

diferenças entre os diversos espectros, já que uma única fonte de variâncias espectrais é

identificada.

A densidade ótica a 1600 nm (OD 1600nm) também foi incluída na avaliação de

correlações com Ecritico. Este dado está comumente relacionado a tamanhos de

partículas e agregados de asfaltenos [6, 7, 21].

O teor de água inicial presente nas amostras de petróleo foi determinado pelo

método Coulométrico de Karl Fisher. Pelo menos três réplicas foram feitas para cada

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70

petróleo. A Tabela 18 mostra os valores médios e o intervalo de confiança de 95% e

também o número de réplicas feitas.

Tabela 18: Teor de água inicial nas amostras de petróleos.

Número de

réplicas Teor de água médio (ppm)

Confiança -95%

Confiança +95%

A 5 1020,4 946,6 1094,2

B 3 22488,8 21670,6 23306,9

C 5 1325,5 849,3 1801,7

D 3 907,7 671,3 1144,2

E 3 389,8 383,4 396,2

F 4 314,9 288,8 341,0

G 3 192,3 167,0 217,6

A determinação dos teores de saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos seguiu

a metodologia empregada por HANNISDAL et al. [32]. Para todos os petróleos, três

réplicas foram feitas para a determinação de asfaltenos insolúveis em n-hexano,

enquanto duas réplicas foram feitas para o fracionamento de maltenos. A Tabela 19

mostra os teores médios das frações, suas variâncias, seus intervalos de 95% de

confiança e seus desvios padrão. A Tabela 20 apresenta a variância global (sp2 – pooled

variance) e o desvio padrão global (DVp – pooled average) dos experimentos para

determinação de SARA por fração determinada. Foram considerados a distribuição

normal de probabilidade e o intervalo de 95% de confiança para determinação dos erros

experimentais envolvidos nestas análises (Eexp=1,96 . DVp).

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71

Tabela 19: Teores de compostos saturados (SAT), aromáticos (AR), resinas (RES) e asfaltenos insolúveis em n-hexano (ASF C6) das amostras de petróleo.

Teor médio (%m/m)

Confiança -95%

Confiança +95% Variância

A SAT 34,14 33,16 35,13 0,0120

A AR 37,35 36,72 37,98 0,0050

A RES 16,28 15,93 16,63 0,0015

A ASF C6 12,23 11,24 13,21 0,1577

B SAT 37,46 35,51 39,41 0,0472

B AR 43,05 36,66 49,45 0,5070

B RES 16,76 12,32 21,21 0,2448

B ASF C6 2,72 2,58 2,87 0,0033

C SAT 33,46 32,93 34,00 0,0035

C AR 43,30 36,09 50,51 0,6432

C RES 16,98 10,30 23,65 0,5513

C ASF C6 6,26 6,02 6,50 0,0095

D SAT 35,81 27,39 44,24 0,8799

D AR 45,14 32,90 57,38 1,8556

D RES 15,05 11,24 18,86 0,1800

D ASF C6 4,00 3,83 4,17 0,0046

E SAT 34,31 29,02 39,60 0,3472

E AR 40,11 39,38 40,84 0,0066

E RES 21,43 15,41 27,45 0,4494

E ASF C6 4,15 4,12 4,19 0,0002

F SAT 41,83 37,22 46,44 0,2629

F AR 38,55 34,68 42,42 0,1852

F RES 16,19 15,45 16,93 0,0068

F ASF C6 3,44 3,23 3,64 0,0069

G SAT 48,01 37,46 58,56 1,3784

G AR 37,60 30,54 44,66 0,6175

G RES 12,14 8,65 15,63 0,1507

G ASF C6 2,25 2,21 2,28 0,0002

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72

Tabela 20: Erros experimentais envolvidos na análise de SARA.

Fração sp2 DVp 1,96.DVp

Saturados 0,4187 0,6471 1,2683

Aromáticos 0,5457 0,7387 1,4479

Resinas 0,2264 0,4758 0,9325

Asfaltenos C6 0,0261 0,1614 0,3164

A Tabela 21 mostra os dados compilados, incluindo-se as análises realizadas no

CENPES/PETROBRAS S.A.

A Tabela 22 apresenta os coeficientes de correlação linear entre as 24

características medidas, que tiveram significância estatística (p<0,05). Quando a

correlação não apresentou este nível de significância o valor foi substituído pelo

símbolo (-). Nesta tabela, foram excluídos os teores de saturados, aromáticos e resinas,

já que não apresentaram este nível de significância estatística em nenhuma das

correlações. Desta observação, conclui-se que o teor de resinas nas emulsões estudadas

não parece ter influenciado as medidas de estabilidade dos óleos.

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74

Tabela 21: Dados da caracterização de petróleos e suas emulsões.

SAT (%m/m)

AR (%m/m)

RES (%m/m)

ASF C6 (%m/m)

ASF C7 (%m/m)

DELTA (asf) t1 NIR OD 1600nm VISC @25C

calc (mm2/s) log visc IAT API S (%m/m)

A 34,14 37,35 16,28 12,23 7,25 4,98 -0,4727 0,2427 34636,4 4,54 0,80 13,4 0,312

B 37,46 43,05 16,76 2,72 0,93 1,79 -0,1130 0,1797 1132,4 3,05 2,73 17,8 0,494

C 33,46 43,30 16,98 6,26 3,10 3,16 -0,2016 0,0803 484,7 2,69 0,95 19,0 0,702

D 35,81 45,14 15,05 4,00 2,58 1,42 -0,1356 0,0403 93,8 1,97 0,59 23,7 0,584

E 34,31 40,11 21,43 4,15 2,07 2,08 -0,1317 0,0243 129,9 2,11 0,60 22,4 0,640

F 41,83 38,55 16,19 3,44 1,50 1,94 -0,1235 0,0190 69,5 1,84 0,51 25,4 0,453

G 48,01 37,60 12,14 2,25 0,99 1,26 -0,0739 -0,0207 44,3 1,65 0,15 27,7 0,373

N (%m/m)

Ni (mg/kg)

V (mg/kg)

Cl (mg/kg)

Sal (ppm)

Água (mg/kg)

Água total (mg/kg)

Ecritico 0,1mm C1 C2 C3 C1+C3 Ecritico

0,25mm

A 0,366 42 5 34 0,0054 1020,4 301020,4 6,694 2,197E-03 0,0698 5,454E-02 5,673E-02 3,9201

B 0,346 6 11 883 0,1900 22488,8 322488,8 3,119 1,841E-03 0,1713 5,554E-02 5,738E-02 2,1378

C 0,477 21 28 92 0,0280 1325,5 301325,5 2,837 8,972E-03 0,1334 3,588E-02 4,485E-02 2,0930

D 0,410 14 22 40 0,0460 907,7 300907,7 1,933 1,361E-04 0,4348 6,364E-02 6,377E-02 1,2996

E 0,437 15 23 30 0,0130 389,8 300389,8 2,283 8,945E-04 0,2740 5,401E-02 5,491E-02 1,6750

F 0,353 10 13 37 0,0050 314,9 300314,9 2,073 2,059E-04 0,3715 5,841E-02 5,862E-02 1,5521

G 0,350 5 10 20 0,0340 192,3 300192,3 1,888 4,317E-04 0,3723 6,027E-02 6,070E-02 1,3350

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75

Onde:

SAT (%m/m) Teor de compostos saturados no petróleo AR (%m/m) Teor de compostos aromáticos no petróleo RES (%m/m) Teor de resinas no petróleo ASF C6 (%m/m) Teor de asfaltenos insolúveis em n-hexano no petróleo ASF C7 (%m/m) Teor de asfaltenos insolúveis em n-heptano no petróleo

DELTA (asf) Teor calculado de asfaltenos insolúveis em n-hexano, mas solúveis em n-heptano (ASF C7 – ASF C6)

t1 NIR Primeiro componente principal da análise de PCA da espectrofotometria NIR do petróleo

OD 1600nm Densidade ótica no comprimento de onda de 1600nm (NIR)

VISC @25C calc (mm2/s) Viscosidade do petróleo calculada @ 25ºC log visc Logaritmo da viscosidade @ 25ºC IAT Indice de acidez total (mgKOH/g) do petróleo API Densidade API do petróleo S (%m/m) Teor de Enxofre total no petróleo N (%m/m) Teor de Nitrogênio total no petróleo Ni (mg/kg) Teor de Níquel no petróleo V (mg/kg) Teor de Vanádio no petróleo Cl (mg/kg) Teor de Cloro na amostra original de petróleo

Sal (ppm) Teor de sal (expresso em base de NaCl) na amostra original de petróleo (mg NaCl/kg)

Água (mg/kg) Teor de água presente na amostra original de petróleo Água total (mg/kg) Teor de água total calculada presente na emulsão

Ecritico 0,1 mm Campo elétrico crítico médio com espaçamento de 0,1mm entre as placas na célula de medição

C1 Parâmetro da equação que descreve o efeito da tensão na corrente medida

C2 Parâmetro da equação que descreve o efeito da tensão na corrente medida

C3 Parâmetro da equação que descreve o efeito da tensão na corrente medida

C1+C3 Parâmetro da equação que descreve o efeito da tensão na corrente medida

Ecritico 0,25 mm Campo elétrico crítico médio com espaçamento de 0,25mm entre as placas na célula de medição

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76

Tabela 22: Matriz da correlação linear das propriedades dos petróleos e emulsões (p<0,05).

ASF C6 (%m/m)

ASF C7 (%m/m)

DELTA (asf) t1 NIR OD

1600nm

VISC @25C calc

(mm2/s) log visc TAN API S

(%m/m)N

(%m/m)Ni

(mg/kg) V

(mg/kg)Cl

(mg/kg)Sal

(ppm)Água

(mg/kg)Água total

Ecritico 0,1 mm C1 C2 C3 C1+C3

ASF C6 (%m/m) 1

ASF C7 (%m/m) 0,990 1

DELTA (asf) 0,973 0,931 1 t1 NIR -0,993 -0,983 -0,965 1 OD 1600nm - - - -0,768 1 VISC @25C calc (mm2/s) 0,927 0,928 0,884 -0,961 0,765 1

log visc 0,866 0,829 0,890 -0,901 0,962 0,885 1 TAN - - - - - - - 1 API -0,785 - -0,832 0,804 -0,953 - -0,956 - 1 S (%m/m) - - - - - - - - - 1 N (%m/m) - - - - - - - - - 0,860 1 Ni (mg/kg) 0,994 0,992 0,955 -0,978 - 0,898 0,826 - -0,758 - - 1 V (mg/kg) - - - - - - - - - 0,970 0,908 - 1 Cl (mg/kg) - - - - - - - 0,969 - - - - - 1 Sal (ppm) - - - - - - - 0,913 - - - - - 0,972 1 Água (mg/kg) - - - - - - - 0,967 - - - - - 0,999 0,973 1 Água total - - - - - - - 0,967 - - - - - 0,999 0,973 1,000 1 Ecritico 0,1mm 0,923 0,899 0,923 -0,957 0,883 0,969 0,970 - -0,866 - - 0,885 - - - - - 1

C1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1 C2 - - -0,819 - -0,823 - -0,868 - 0,907 - - - - - - - - -0,786 - 1 C3 - - - - - - - - - - - - - - - - - - -0,966 - 1 C1+C3 - - - - - - - - - - - - - - - - - - -0,923 - 0,991 1 Ecritico 0,25mm 0,918 0,880 0,943 -0,948 0,894 0,940 0,979 - -0,896 - - 0,879 - - - - - 0,993 - -0,846 - -

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77

Observa-se na Tabela 22 que algumas propriedades medidas estão extremamente

correlacionadas e não agregam informações novas para avaliação da estabilidade de

emulsão (assinaladas por sublinhado). Nota-se que o teor de cloro presente no petróleo

está correlacionado com o teor de NaCl medido na amostra inicial de petróleo (o

método de análise prevê extração da fase aquosa e então a titulação potenciométrica dos

íons cloreto com nitrato de prata), confirmando que a quantidade significativa de sal

presente no petróleo está mesmo diluído na fase aquosa dispersa. Ratificando esta

observação, estas medidas também estão correlacionadas com o teor de água inicial nas

amostras de petróleo e com o teor de água na emulsão. Nenhuma destas quatro análises

se mostrou correlacionada com a estabilidade de emulsão (Ecritico), e foram

descartadas das próximas tabelas.

Os resultados de acidez total (TAN) apenas se correlacionam com os teores de

sal e água presentes. É interessante observar que eles não se correlacionam com a

estabilidade das emulsões medidas e nem com o teor de resinas. Pode-se ponderar que,

como a fase aquosa não teve o seu pH alcalinizado, possíveis mecanismos de

estabilização por ácidos naftênicos/naftenatos (formação da fase D) não se fizeram

presentes. Hoje em dia, não há método padronizado para determinação de acidez

naftênica, sendo inferido apenas pela análise de acidez total. Sabe-se que o método para

determinação da acidez total tem como interferentes os teores de água e sal, porém,

teores de água de até 3% de água são aceitáveis. Pela avaliação dos dados deste

trabalho, recomenda-se que outros estudos sejam feitos para melhor compreensão e

avaliação da necessidade de adequação das análises de acidez total. Estes dados foram

excluídos das avaliações vindouras.

Os teores de enxofre total, nitrogênio total e vanádio apenas estão

correlacionados entre si e não afetam significativamente os valores de Ecritico.

O teor de níquel se mostrou fortemente correlacionado com os teores de

asfaltenos e também com o primeiro componente principal obtido dos espectros de NIR.

É sabido que as moléculas de asfaltenos contêm heteroátomos em sua estrutura, dentre

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78

eles o níquel. Considerou-se que a correlação com a estabilidade estaria na verdade,

sendo confundida com o efeito principal da presença de asfaltenos.

Como era esperado, o primeiro componente principal extraído da análise de

PCA mostrou melhor correlação com os dados de estabilidade do que a densidade ótica

no comprimento de 1600 nm. Como comentado anteriormente, a análise de PCA

consegue extrair informação de todo o espectro e não somente de um comprimento de

onda. Apenas este dado foi mantido para avaliação das correlações com Ecritico. Esta

informação é de grande interesse prático, dado que os espectros de NIR podem ser

medidos em linha e em tempo real, inclusive em condições industriais. É interessante

observar também que a correlação do primeiro componente principal com o teor de

água do petróleo foi muito fraca (0,187) e não atingiu o nível de significância (p<0,05).

A dispersão dos dados de viscosidade a 25 ºC, neste conjunto de petróleos

escolhido, não foi uniforme. Apenas o petróleo A, ultraviscoso, apresentou valor muito

distinto dos demais, distorcendo e tornando pouco claras as interpretações das

correlações com as demais propriedades. Optou-se por utilizar estes dados

transformados pelo logaritmo, para melhor compreensão das informações.

Apenas o parâmetro C2 obtido para a curva de tensão como função da corrente

medida, na determinação do Ecritico, mostrou forte correlação linear com a densidade,

com o logaritmo da viscosidade e com o Ecritico.

O Ecritico 0,25mm se mostrou fortemente correlacionado com o Ecritico 0,1mm

e qualitativamente, as mesmas correlações com as demais propriedades. Diante da

maior confiabilidade dos dados obtidos com menor espaçamento, o outro será relegado

das discussões a seguir.

A Tabela 23 mostra a matriz reduzida de correlação, considerando apenas as

propriedades consideradas importantes para as próximas análises.

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79

Avaliando a dispersão dos dados, partiu-se também para a investigação de

correlações não-lineares e estimação de parâmetros.

Tabela 23: Matriz de correlação linear reduzida (8x8).

ASF C6 (%m/m)

ASF C7 (%m/m)

delta (asf) t1 NIR log visc API Ecritico

0,1 mm C2

ASF C6 (%m/m) 1,000

ASF C7 (%m/m) 0,990 1,000

delta (asf) 0,973 0,931 1,000

t1 NIR -0,993 -0,983 -0,965 1,000

log visc 0,866 0,829 0,890 -0,901 1,000

API -0,785 - -0,832 0,804 -0,956 1,000

Ecritico 0,1mm 0,923 0,899 0,923 -0,957 0,970 -0,866 1,000

C2 - - -0,819 - -0,868 0,907 -0,786 1,000

A Figura 34 apresenta a relação entre Ecritico 0,1mm e a densidade API. A

Tabela 24 mostra o modelo e os parâmetros estimados, seus intervalos de 95% de

confiança, a significância estatística e o coeficiente de correlação.

A

BC

DE F G

12 14 16 18 20 22 24 26 28 30API

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Ecr

itico

0,1

mm

Figura 34: Relação entre Ecritico 0,1mm e a densidade API.

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80

Tabela 24: Modelo de Ecritico 0,1mm em função de API e estimativa de parâmetros.

Modelo: Ecritico 0,1mm = A + B . API C

R² = 0,9975

Estimativa Desvio

padrão t-value p Confiança

-95% Confiança

+95%

A 1,66 0,12 13,8800 0,000156 1,33 2,00

B 344318,1 310929,7 1,1074 0,330235 -518961 1207597

C -4,29 0,35 -12,1123 0,000267 -5,27 -3,31

Apesar da baixa significância estatística e dos amplos intervalos de confiança do

parâmetro estimado B, quando ele é retirado do modelo, o coeficiente de correlação

decresce significativamente.

É importante observar a Figura 35 que oferece uma comparação entre o valor do

Ecritico 0,1mm observado e o predito pelo modelo proposto e também o intervalo de

confiança de 95% da predição. Apesar das ponderações anteriores, pode-se afirmar que

o modelo é bom.

A

BC

D

EF

G

1 2 3 4 5 6 7

Ecritico 0,1mm predito

1

2

3

4

5

6

7

Ecr

itico

0,1

mm

obs

erva

do

Figura 35: Predição do Ecritico 0,1mm como função da densidade API.

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81

A relação entre Ecritico 0,1mm e logaritmo da viscosidade é mostrada na Figura

36. A Tabela 25 mostra o modelo proposto, com sua análise estatística.

A

BC

DE

FG

1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0log visc

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Ecrit

ico

0,1m

m

Figura 36: Relação entre Ecritico 0,1mm e logaritmo da viscosidade.

Tabela 25: Modelo de Ecritico 0,1mm em função do logaritmo da viscosidade e estimativa de parâmetros.

Modelo: Ecritico 0,1mm = A + B . log visc C

R² = 0,9965

Estimativa Desvio

padrão t-value p Confiança

-95% Confiança

+95%

A 1,666 0,147 11,33810 0,000345 1,258 2,073

B 0,057 0,027 2,09581 0,104145 -0,018 0,131

C 2,966 0,301 9,84728 0,000596 2,130 3,802

Neste caso, a correlação também se mostrou alta. Além disso, as variâncias dos

parâmetros são menores e a capacidade de predição também é muito boa (Figura 37).

No entanto, as observações feitas a respeito da significância do parâmetro B no modelo

anterior se mantêm.

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82

A

BC

D

EF

G

1 2 3 4 5 6 7

Ecritico 0,1mm predito

1

2

3

4

5

6

7

Ecr

itico

0,1

mm

obs

erva

do

Figura 37: Predição do Ecritico 0,1mm como função do logaritmo da viscosidade.

Não é possível dizer, com os dados disponíveis, qual dos efeitos predomina

sobre o Ecritico 0,1mm, já que a densidade e a viscosidade estão confundidas. Pela

Figura 38 observa-se a alta correlação existente entre estes dados. Sugere-se que estudos

complementares sejam desenvolvidos. Uma possibilidade é avaliar o Ecritico em

diferentes temperaturas, que afetaria a viscosidade e densidade de formas diferentes. É

certo que outras propriedades também seriam afetadas, como difusão dos surfactantes

para a interface e as propriedades do filme, sendo, então, necessária a caracterização

completa do sistema em estudo.

log visc = 12,1565 - 0,75089*API + 0,013482*API^2R² = 0,9976

A

B

C

DE

FG

12 14 16 18 20 22 24 26 28

API

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

log

visc

Figura 38: Relação entre o logaritmo da viscosidade calculada @ 25°C e densidade API do petróleo.

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83

No entanto, em qualquer dos casos, fica claro que o Ecritico pode ser

parametrizado por medidas mais simples e usuais dos óleos processados. O resultado

obtido também parece confirmar que o Ecritico depende fundamentalmente da fase

contínua, o que pode sugerir que a limitação à coalescência é a movimentação das gotas

através da fase viscosa.

A Figura 39 e a Figura 40 mostram, respectivamente, a dispersão dos dados

referentes ao parâmetro C2 e uma estimativa de sua correlação não-linear com Ecritico

0,1mm.

Ecritico 0,1mm = 1,87901 + 0,023399*C2 ^ -1,9995R²=0,9791

A

BCDE FG

0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45C2

0

2

4

6

8

10

12

Ecr

itico

0,1

mm

Figura 39: Avaliação de correlação não-linear de Ecritico 0,1mm com o parâmetro C2.

A

BC

DE

FG

1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5Ecritico 0,1mm predito

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

7,5

Ecr

itico

0,1

mm

obs

erva

do

Figura 40: Predição de Ecritico como função do parâmetro C2.

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84

Neste caso, a correlação é boa (ponderada pelo valor de R²), porém, observando

a faixa de predição de Ecritico, nota-se que a dispersão dos dados não é adequada.

Observando também a Figura 41 e a Figura 42, não é possível dizer se o efeito do

parâmetro C2 está confundido com o efeito do API e do logaritmo da viscosidade sobre

os dados de Ecritico, apesar da boa correlação. Sugere-se que estas avaliações da curva

em questão sejam mais profundamente estudadas, possivelmente comparadas a dados de

propriedades dielétricas. Esta é uma importante observação porque o parâmetro C2 pode

fornecer uma medida independente para caracterizar as emulsões e os petróleos.

C2 = -0,46729 + 0,076493 * API ^ 0,737794R² = 0,8241

A

BC

D

E

F G

12 14 16 18 20 22 24 26 28 30API

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

C2

Figura 41: Avaliação de correlação não-linear do parâmetro C2 com a densidade API.

C2 = -0,18376 + 0,949495 * log visc ^ -0,90863R² = 0,8328

A

BC

D

E

FG

1 2 3 4 5

log visc

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

C2

Figura 42: Avaliação de correlação não-linear do parâmetro C2 com logaritmo da viscosidade.

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85

Os teores de asfaltenos se mostraram com mediana correlação (ponderado pelo

valor de R²) com o Ecritico 0,1mm, como pode ser visto na Figura 43. Porém, é

importante observar a dispersão dos dados nestas figuras. A presença do petróleo A

distorce a relação dos demais, levando a valores de R² artificialmente elevados, mas que

de fato, não representam um bom modelo. O modelo se comporta como se houvesse

dois conjuntos de dados, mas um deles é composto por apenas um petróleo.

a) Ecritico 0,1mm = 0,681878 + 0,457998 * ASF C6 (%m/m)R² = 0,8516

A

BC

DE

FG

0 2 4 6 8 10 12 14ASF C6 (%m/m)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Ecr

itico

0,1

mm

b) Ecritico 0,1mm = 1,13384 + 0,699797 * ASF C7 (%m/m)

R² = 0,8076A

BC

DE

FG

0 1 2 3 4 5 6 7 8ASF C7 (%m/m)

0

1

2

3

4

5

6

7

Ecr

itico

0,1

mm

c) Ecritico 0,1mm = 0,103291 + 1,20872 * DELTA (asf)

R² = 0,8526A

BC

DE

FG

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5DELTA (asf)

1

2

3

4

5

6

7

Ecr

itico

0,1

mm

Figura 43: Relação do Ecritico 0,1mm com (a) teor de asfaltenos insolúveis em n-

hexano (b) teor de asfaltenos insolúveis em n-heptano (c) teor calculado de asfaltenos insolúveis em n-hexano, mas solúveis em n-heptano.

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86

A observação da relação entre o Ecritico 0,1mm e o primeiro componente

principal, extraído da análise de PCA dos espectros de NIR (t1 NIR) na Figura 44, induz

à mesma conclusão anterior.

Ecritico 0,1mm = 0,8141 - 12,0834 * t1 NIRR² = 0,9165

A

BC

DE

FG

-0,5 -0,45 -0,4 -0,35 -0,3 -0,25 -0,2 -0,15 -0,1 -0,05t1 NIR

1

2

3

4

5

6

7

8E

criti

co 0

,1m

m

Figura 44: Relação entre Ecritico 0,1mm e o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR.

Para que alguma conclusão a respeito destas correlações fosse possível, seria

necessário que outros petróleos fossem testados.

Uma análise mais cuidadosa das duas figuras anteriores revela a correlação entre

o ‘t1 NIR’ e os teores de asfaltenos. A Figura 45 apresenta esta relação para o teor de

asfaltenos insolúveis em n-hexano.

t1 NIR = 0,01658 - 0,03903 * ASF C6 (%m/m)R² = 0,9851

A

B

C

DEF

G

0 2 4 6 8 10 12 14ASF C6 (%m/m)

-0,6

-0,5

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0,0

0,1

t1 N

IR

Figura 45: Relação entre o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR e o teor de asfaltenos insolúveis em n-hexano.

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87

É interessante observar que as informações trazidas pelos espectros de NIR se

mostraram fracamente correlacionadas com a viscosidade, como mostra a Figura 46.

Esse fato indica que os espectros de NIR podem fornecer importantes informações a

respeito do petróleo, de forma independente dos ensaios de densidade e viscosidade e

ressalta ainda mais a qualidade da correlação de Ecritico obtida anteriormente, quando

as propriedades da fase contínua são usadas para fins de parametrização.

t1 NIR = 0,129462 - 0,12089 * log visc R² = 0,8114

A

B

C

D EF

G

1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0log visc

-0,5

-0,45

-0,4

-0,35

-0,3

-0,25

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

0

t1 N

IR

Figura 46: Relação entre o primeiro componente principal extraído da análise de PCA dos espectros de NIR e logaritmo da viscosidade.

Diante de todos esses resultados, pode-se dizer que os dados obtidos com NIR

trazem informações claras sobre o teor de asfaltenos, não confundidas com viscosidade,

mas não trazem informações relacionadas com estabilidade das emulsões avaliadas.

Pelo conjunto de informações mais fortemente correlacionadas com Ecritico

(viscosidade e densidade), pode-se interpretar que a etapa dominante nesta análise, com

este conjunto de petróleos, é a de movimentação das gotas e não a de eletrocoalescência.

Poder-se-ia ainda explicar que a eletrocoalescência, nas condições empregadas (corrente

contínua, espaçamento reduzido entre eletrodos e temperatura ambiente) é governada

pela viscosidade ou densidade do óleo. Em ambos os casos, a utilidade e relevância das

medidas de Ecritico (como propostas atualmente) podem ser questionadas.

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88

ASKE e colaboradores [7] avaliaram de forma semelhante dezoito petróleos

(excluindo-se os condensados) na faixa de 17,7-36,2 ºAPI e 5,4-386,6 mm²/s (admitindo

que os dados publicados sejam de viscosidade cinemática), buscando a predição de

valores de Ecritico. Os dados de Ecritico foram obtidos com espaçamento de 0,5 mm,

mas em duas concentrações de fase dispersa (20% e 30%). As informações das

propriedades foram correlacionadas, inoportunamente, com o valor da média de Ecritico

(nas duas concentrações) transformado pelo logaritmo natural. Foi usada regressão com

técnica de PLS (Partial Least Squares) e foram propostos cinco modelos. O primeiro

modelo (R²=0,93) foi obtido utilizando todas as 14 propriedades dos 18 petróleos. Um

modelo reduzido, considerando apenas os dados das análises de SARA e da elasticidade

do filme interfacial (5 variáveis), também foi proposto (R²=0,82). Neste modelo, foi

observada a influência dominante do teor de asfaltenos e da elasticidade. Um terceiro

modelo proposto incluiu no anterior os dados de densidade ótica no comprimento de

onda de 1600 nm, melhorando o coeficiente de correlação R² para 0,87. O quarto

modelo utilizou apenas os dados do NIR, sendo obtida boa correlação (R²=0,88). Após

remoção dos dados de um dos petróleos, a correlação foi ainda melhor (R²=0,95), não

sendo necessários dados sobre a elasticidade do filme interfacial, nem das análises de

SARA. A Tabela 26 resume as características dos modelos propostos por ASKE et al.

[7].

Tabela 26: Resumo das características dos modelos propostos por ASKE et al. [7] para predição de Ecritico.

Modelo Número de petróleos

Propriedades envolvidas

Número de variáveis latentes R²

#1 18 14 [7] 3 0,93

#2 18 SARA, elasticidade do filme (5 variáveis) 2 0,82

#3 18 SARA, elasticidade do filme, OD 1600 nm 2 0,87

#4 18 NIR 2 0,88

#5 17 NIR 2 0,95

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89

As conclusões obtidas no trabalho atual diferem das obtidas por ASKE e

colaboradores [7]. Possivelmente, para o conjunto atual, sendo de petróleos mais

viscosos e densos, a etapa dominante da medida do Ecritico foi distinta daquela

observada no trabalho referenciado. Pode-se até especular, no caso em estudo e se

considerando acurados os modelos de estabilização propostos, se realmente a

eletrocoalescência estaria sendo avaliada pelo Ecritico. Por outro lado, assim como em

trabalhos anteriores, foi observado também o poder de predição do teor de asfaltenos

pela técnica de NIR [7, 32, 41, 42].

Sabe-se que, em escala industrial, diferentes petróleos são tratados com

aproximadamente a mesma viscosidade (temperaturas distintas para atingi-la) e

respondem de forma diferente [8, 10, 13, 17, 18, 25, 28]. Com viscosidades reduzidas e

alta turbulência (em relação às condições empregadas em laboratório), a etapa crítica da

separação é a eletrocoalescência, que provavelmente passa a ser governada pelo teor de

sólidos, de asfaltenos e seu estado de agregação. Destas observações surge uma questão

fundamental: será possível prever o comportamento de petróleos pesados, em escala

industrial, pela medida do Ecritico como proposto originalmente (corrente contínua,

espaçamento reduzido entre eletrodos e temperatura ambiente)? Para avaliar a

extrapolação das conclusões obtidas em laboratório à escala industrial, certamente são

necessárias uma base de dados maior e a comprovação experimental. Buscando

informações sobre esta questão, foram avaliados dados em escala piloto.

4.3 Análise de Dados e Modelagem do Processo de Dessalgação Eletrostática de

Petróleos em Escala Piloto

Os primeiros estudos realizados sobre o processo de desidratação eletrostática

consideravam que a viscosidade e a massa específica das fases envolvidas eram as duas

únicas propriedades importantes para o desenvolvimento de um modelo matemático

capaz de relacionar o teor de água do petróleo tratado com as variáveis do processo de

tratamento eletrostático. Nestes estudos, diversas condições de processo foram testadas,

levando à proposição de diferentes modelos.

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90

Em estudos já realizados na PETROBRAS S.A, entre 1994 e 2000 [1, 2, 3, 4, 5],

foram levantados dados em uma unidade piloto de desidratação eletrostática (UPDEP)

para emulsões artificialmente geradas a partir de petróleos com densidade entre 15,7 a

28,7 ºAPI. Foi feita também a proposição de um modelo matemático para cada petróleo

testado, que considerou apenas propriedades físicas dos óleos e da fase aquosa e as

variáveis de processo. Outras características, segundo os autores, apareceriam

indiretamente como parâmetros do modelo de cada um destes óleos estudados. Como

proposto, o modelo matemático do tratamento eletrostático de um determinado petróleo

não poderia ser utilizado para descrever o comportamento de outros petróleos não

ensaiados.

Segundo os autores, os resultados obtidos mostraram que outros fatores, mais

importantes que a viscosidade e a massa específica do petróleo, poderiam estar sendo

erroneamente desprezados. Como apresentado anteriormente, o grau de dificuldade de

tratamento de um dado petróleo estaria relacionado, por exemplo, com os teores de

asfaltenos, resinas, ácidos naftênicos e sólidos. A informação da forma como estes

compostos estão dispersos também seria de extrema importância para a compreensão do

processo de tratamento eletrostático de petróleos.

Por outro lado, os estudos conduzidos nesta dissertação mostraram que, para o

conjunto de petróleos examinados, apenas densidade e viscosidade estão

correlacionadas com a estabilidade de emulsões e a explicam quando medida pelo

Ecritico.

As variáveis livres, ensaiadas por OLIVEIRA et al.[1-5], foram vazão de carga,

temperatura de tratamento e gradiente de tensão entre eletrodos. Para todos os óleos,

estas variáveis livres foram consideradas, no mínimo, em três níveis diferentes,

mantendo-se constante as demais condições de processo. Como variável de resposta, foi

medido o teor de água no petróleo tratado pelo método de Karl Fisher – BSWF (mg/kg).

O nível de corrente entre eletrodos foi usado apenas como indicativo da estabilidade

operacional.

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91

O vaso pressurizado da planta piloto é um vaso vertical e conta com placas

horizontais que são energizadas por corrente alternada. O espaçamento entre eletrodos

pode ser alterado conforme requerido. A alimentação da carga (emulsão) aquecida é

feita pela parte inferior do vaso, semelhante à configuração industrial de baixa

velocidade, como descrito no Capítulo 2 desta dissertação. A descrição detalhada da

planta piloto e dos procedimentos experimentais podem ser observados nos trabalhos

originais [1-5].

Nos estudos anteriores de OLIVEIRA et al. [1-5], foram propostos alguns

parâmetros, pelo agrupamento de variáveis, como mostram as equações a seguir (Eq.

10, Eq. 11, Eq. 12). A tensão, Ve (Volts) e o espaçamento entre eletrodos, Le (mm)

foram agrupados no parâmetro gradiente de tensão, GT (V/mm). A vazão volumétrica

do petróleo, QP (mm³/h), a área da seção transversal do vaso tratador, AT (mm²) e o

espaçamento entre os eletrodos, Le (mm) foram agrupados no parâmetro tempo de

residência do petróleo entre os eletrodos, TRP (s). As propriedades físicas viscosidade

dinâmica do petróleo, µP (g/cm s), densidade da fase aquosa, ρa (g/cm³) e densidade do

petróleo, ρP (g/cm³) foram agrupadas no parâmetro KP(mm²/s), que estaria relacionado

à velocidade de sedimentação das gotas, conforme descrito pela equação de Stokes (Eq.

1) .

e

e

LV

GT = Eq. 10

P

eTRP Q

LAT = Eq. 11

pa

pKPρ−ρ

µ= Eq. 12

O modelo desenvolvido por OLIVEIRA et al. [1-5] é apresentado na equação a

seguir (Eq. 13) e foi capaz de estimar de forma satisfatória a eficiência do processo de

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92

desidratação eletrostática para os dados selecionados. Os parâmetros foram restimados a

partir dos dados originais.

cGTTRPKPBABSWF

+= Eq. 13

Os petróleos estudados por OLIVEIRA et al. [1-5] e suas características de

densidade e viscosidade, bem como os parâmetros estimados e o coeficiente de

correlação dos modelos são apresentados na Tabela 27. Os parâmetros foram restimados

a partir dos dados originais.

Tabela 27: Restimação de parâmetros do modelo de OLIVEIRA et al. [1-5].

Constantes do Modelo Petróleo API

Viscosidade @25ºC (mm2/s) A B C

Coeficiente de

correlação (R²)

Número de dados

Marlim Sul 15,7 1917,1 81,2140 34,7536 -0,9256 0,9470 39

Blend Marlim 19,8 323,8 42,6434 24,4565 -0,8225 0,9103 26

Blend Albacora 27,6 32,1 3,6887 21,5796 -0,6138 0,9463 27

Blend Cabiúnas 28,1 26,2 7,0624 8,6405 -0,5709 0,9423 16

Árabe Leve +22%RAT 28,7 20,3 3,1908 4,8516 -0,4960 0,8926 25

Total de dados 133

A Tabela 28 mostra a significância estatística dos parâmetros restimados e seus

intervalos de 95% de confiança.

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93

Tabela 28: Análise dos parâmetros restimados para o modelo de OLIVEIRA et al. [1-5].

Petróleo Parâmetros Desvio padrão t-value p Confiança

-95% Confiança

+95%

Marlim Sul A 31,1910 2,6038 1,33E-02 17,9557 144,4723

B 13,3962 2,5943 1,36E-02 7,5848 61,9224

C 0,0783 -11,8273 5,84E-14 -1,0843 -0,7669

Blend Marlim A 12,6906 3,3602 2,71E-03 16,3909 68,8958

B 7,6702 3,1885 4,09E-03 8,5895 40,3235

C 0,0613 -13,4165 2,31E-12 -0,9493 -0,6957

Blend Albacora A 1,0501 3,5129 1,78E-03 1,5215 5,8559

B 6,6566 3,2418 3,47E-03 7,8410 35,3182

C 0,0608 -10,0897 4,13E-10 -0,7393 -0,4882

Blend Cabiúnas A 1,6496 4,2812 8,94E-04 3,4986 10,6262

B 2,1627 3,9952 1,53E-03 3,9682 13,3128

C 0,0481 -11,8600 2,41E-08 -0,6749 -0,4669

Árabe Leve +22% RAT A 0,7452 4,2817 3,03E-04 1,6453 4,7362

B 1,2399 3,9129 7,46E-04 2,2802 7,4230

C 0,0482 -10,2884 7,18E-10 -0,5960 -0,3960

FONSECA e COUTINHO [66] revisitaram estes dados, buscando a proposição

de um modelo que pudesse ser usado para petróleos não ensaiados na planta piloto. Eles

propuseram um modelo único para os cinco petróleos (Eq. 14). Restimando os

parâmetros, seus limites de 95% de confiança e o coeficiente de correlação (R²), obtém-

se as informações exibidas na Tabela 29.

APIDGTTRPKPBABSWF c .+

+= Eq. 14

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94

Tabela 29: Parâmetros estimados para o modelo de FONSECA e COUTINHO [66].

Número de experimentos = 133

R² = 0,8855

Estimativa Desvio padrão

t-value p Confiança -95%

Confiança +95%

A 8,1684 1,1278 7,2430 3,54E-11 5,9371 10,3997

B 2,9670 0,5563 5,3338 4,18E-07 1,8664 4,0675

C -0,3724 0,0318 -11,7070 0,00E+00 -0,4354 -0,3095

D -0,0341 0,0037 -9,3107 4,44E-16 -0,0413 -0,0269

A Figura 47 mostra a predição dos dados e o intervalo de 95% da predição.

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

BSWF predito

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

BS

WF

obse

rvad

o

Figura 47: Predição do tratamento eletrostático de petróleos, com 133 dados, pelo modelo de FONSECA e COUTINHO [66].

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95

Reanalisando os estudos de OLIVEIRA et al. [1-5], observa-se que os efeitos da

fração de água dispersa na emulsão a ser tratada, do tipo e dosagem do produto

desemulsificante, da qualidade da água de diluição, do procedimento de preparo das

emulsões, do espaçamento e do número (2 ou 3) de eletrodos só foram observados em

alguns dos petróleos testados. No total foram ensaiados 256 experimentos. No entanto,

os dados em que estes efeitos foram avaliados foram excluídos da matriz de dados usada

originalmente para estimação de parâmetros. Outros, considerados suspeitos por

apresentarem não-conformidades nos procedimentos experimentais, também foram

descartados. A base de dados ficou, ao final, constituída por 133 pontos. Foi objetivo do

trabalho atual a expansão da matriz de dados, reanalisando os dados rejeitados.

Dentre os pontos ensaiados, cabe observar que foram utilizadas, água destilada,

salmoura preparada com 50 g/l NaCl e água recebida de duas refinarias diferentes da

PETROBRAS S.A, para a formação das emulsões. No entanto, estas águas industriais

não foram analisadas quimicamente, nem determinado o seu teor de sólidos, apenas

sendo reportados os valores de pH. Como foi apontando anteriormente, a presença de

sólidos influencia a estabilidade das emulsões. Sabe-se também que, principalmente

para petróleos com elevado teor de ácidos naftênicos, fases aquosas com pH alcalino

podem estabilizar ainda mais as emulsões formadas.

O efeito do espaçamento entre eletrodos foi avaliado em apenas um petróleo. Foi

observado que o parâmetro GT não era capaz de explicar o efeito de aumento de

espaçamento, com proporcional aumento da tensão aplicada. A melhoria reportada no

desempenho do processo, com o aumento do espaçamento entre os eletrodos (pelo

rebaixamento do eletrodo inferior), pode estar associada ao estabelecimento de um

campo elétrico adicional entre o eletrodo inferior energizado e a interface óleo-água.

Para apenas um petróleo, foi avaliado o efeito de inclusão de mais um eletrodo,

passando a três, aumentando a região de eletrocoalescência. No trabalho de OLIVEIRA

et al. [5] estes dados foram modelados em separado, não sendo proposto o agrupamento

aos demais dados do mesmo petróleo.

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96

Inicialmente, foi conduzida uma detecção de pontos suspeitos ou outliers nos

dados de cada petróleo separadamente. Foi observado que a utilização de água oriunda

das refinarias perturbava sobremaneira os resultados obtidos. Estes dados (17) foram

então removidos. Uma das amostras de petróleo foi colocada sob suspeita de

contaminação e também teve seus dados removidos (12). Após este tratamento, foi

obtido um conjunto de dados com 227 pontos.

A partir de todos esses resultados juntos, foram testadas várias formas de

modelos empíricos. O melhor modelo encontrado é apresentado na Eq. 15.

[ ] ).10()log(.)log(. AsfaltenosCCVTRPDKPBABSWF +++= Eq. 15

Onde Asfaltenos representa o teor de asfaltenos insolúveis em n-heptano dos petróleos

testados.

A partir deste modelo, foi conduzida nova detecção de outliers, considerando os

limites da banda de 95% de confiança da predição e também ponderando os erros

experimentais envolvidos. Do conjunto de dados original, apenas descartando os

experimentos com água industrial e petróleo contaminado, foram selecionadas as

réplicas puras e então calculada a variância global (sp2 – pooled variance) e o desvio

padrão global (DVp – pooled average) dos experimentos. A Tabela 30 mostra as

análises dos dados por conjunto de réplicas e também a variância global e o desvio

padrão global.

Considerando distribuição normal de probabilidade, os erros experimentais

envolvidos na variável de resposta, com 95% de confiança, seriam de ± 0,077 %p/p

(BSWF). Foram considerados suspeitos os dados que, considerados estes erros

experimentais, não recaíram dentro da banda de 95% de predição, considerando o

modelo proposto. A confirmação da exclusão destes dados foi feita analisando-se as

condições experimentais. Só em caso de (i) existência de réplica que comprovasse o

desvio excessivo ou (ii) não-conformidade(por exemplo, teor de água inicial muito

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97

distinto ou dosagem de desemulsificante muito elevada), o ponto era excluído. A base

de dados foi composta por 220 dados. A região experimental é resumida na Tabela 31.

Tabela 30: Análise de variâncias dos dados da planta piloto.

Conjunto de réplicas Número de amostras BSWF médio Confiança

-95% Confiança

+95% Variância

MARLIM R1 2 1,12 0,74 1,50 0,0018

MARLIM R2 2 1,45 0,87 2,02 0,0041

MARLIM R3 2 1,65 1,27 2,03 0,0018

MARLIM R4 3 1,35 1,28 1,42 0,0007

MARLIM R5 2 1,90 1,70 2,09 0,0005

ALBACORA 4 0,68 0,61 0,76 0,0023

CABIUNAS R1 2 0,66 0,64 0,68 0,0000

CABIUNAS R2 2 0,52 -0,04 1,09 0,0040

ARABE LEVE R1 3 0,51 0,45 0,56 0,0004

ARABE LEVE R2 2 0,63 -0,01 1,27 0,0050

ARABE LEVE R3 2 0,51 0,19 0,82 0,0013

ARABE LEVE R4 2 0,35 0,28 0,41 0,0001

ARABE LEVE R5 2 0,48 0,28 0,67 0,0005

ARABE LEVE R6 2 0,72 0,40 1,03 0,0013

ARABE LEVE R7 2 0,55 0,10 0,99 0,0025

ARABE LEVE R8 2 0,35 0,28 0,41 0,0001

ARABE LEVE R9 2 0,44 0,24 0,63 0,0005

sp2 0,0015

DVP 0,039

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98

Tabela 31: Região experimental dos dados do novo modelo proposto.

Variável Unidade Faixa de valores

Mínimo Máximo

Densidade API ºAPI 15,7 28,7

Viscosidade do petróleo¹ mm²/s 1,72 26,22

Massa especifica do petróleo¹ g/cm³ 0,796 0,902

Massa especifica da fase aquosa¹ g/cm³ 0,922 0,990

DELTA massa especifica (fase aquosa – petróleo) g/cm³ 0,075 0,133

Teor de asfaltenos (insolúveis em n-heptano) %m/m 0,7 5,9

fator KP mm²/s 11,0 270,7

Fração de água dispersa na emulsão carga %m/m 4,6 20,0

Temperatura ºC 80,0 144,0

Vazão mássica g/h 834 4979

Tempo de residência entre eletrodos s 43 479

Tensão aplicada aos eletrodos V 1653,5 8348,8

Gradiente de tensão entre eletrodos V/mm 59,1 182,3

Espaçamento entre eletrodos mm 28 47

Dosagem de desemulsificante ppm 0 85

¹ Dados calculados para a temperatura do experimento

A Tabela 32 apresenta os parâmetros estimados para o novo modelo, seus

intervalos de 95% de confiança, seus graus de significância (p) e o coeficiente de

correlação (R²).

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99

Tabela 32: Resultados da estimação de parâmetros para o novo modelo (220 dados).

Número de dados = 220

R² = 0,9075

Estimativa Desvio padrão

t-value p Confiança -95%

Confiança +95%

A 538,0623 153,7653 3,4992 5,67E-04 234,9818 841,1427

B 405,2115 106,2492 3,8138 1,79E-04 195,7881 614,6348

C0 -0,7749 0,0306 -25,3018 0,00E+00 -0,8352 -0,7145

C1 -0,0034 0,0008 -4,5430 9,24E-06 -0,0049 -0,0019

D -284,0061 74,9126 -3,7912 1,95E-04 -431,6633 -136,3489

A Figura 48 exibe a satisfatória correlação dos dados experimentais e preditos.

Nela estão apresentadas as bandas de confiança e predição do modelo e também os erros

experimentais considerando-se o intervalo de 95% de confiança.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4BSWF predito

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

BS

WF

obse

rvad

o

Figura 48: Predição do tratamento eletrostático de petróleos, com 220 dados, pelo novo modelo proposto.

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100

Em uma outra forma de observação dos resultados previstos pelo modelo (Figura

49) é possível notar a boa representatividade, em toda faixa experimental.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

1 21 41 61 81 101 121 141 161 181 201

Condição experimental BSWF observadoBSWF predito

Figura 49: Predição do tratamento eletrostático de petróleos pelo novo modelo proposto.

Neste novo modelo, foram mantidos os parâmetros KP e TRP, porém os efeitos

no BSWF foram identificados distintamente. Também não houve motivação para

agrupá-los sob o mesmo parâmetro do modelo, já que não foi observada relação

proporcional entre KP e TRP. O efeito não-linear do modelo confirma as observações

experimentais da existência de uma assíntota do BSWF para valores máximos de KP e

TRP. É verdade que tempos infinitos não ajudarão a remover as menores gotículas de

água, já que quanto menores, mais distantes entre si e em menor quantidade, menor será

a forca de atração e a possibilidade de choque e coalescência. Valores altos de KP são

governados pelos baixos valores de viscosidade. Para atingi-las são requeridas elevadas

temperaturas, que também causam aumento da solubilidade da água em petróleo,

impossibilitando a remoção completa da mesma. OLIVEIRA et al. [1-5] comentam a

existência de valores limites de viscosidade para os quais abaixo deles não há melhoria

na qualidade do petróleo tratado.

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101

A tensão aplicada aos eletrodos foi considerada, em lugar do gradiente de tensão

e explicou melhor os dados experimentais obtidos. Possivelmente, a consideração de

que o campo elétrico só seria efetivo na região entre eletrodos não era adequada, para

vaso e placas tão pequenos. O efeito não-linear observado pode ser interpretado como a

força motriz para a coalescência, mas que tem limite de eficácia, evidenciado pela

assíntota. A coalescência promovida pela tensão aplicada se mostrou significativamente

dependente do teor de asfaltenos. A exclusão deste parâmetro do modelo leva a piora

moderada da correlação obtida (R²=0,8990).

Com o modelo proposto foi possível abrigar os dados das diferentes

configurações de eletrodos (2 e 3 eletrodos), simplesmente pela consideração do

aumento do tempo de residência na região de eletrocoalescência.

Assim como na análise de OLIVEIRA et al. [1-5] e de FONSECA e

COUTINHO [66] não foi possível observar a influência do teor de água inicialmente

dispersa na emulsão a ser tratada. De fato, a pouca investigação experimental da

influência desta variável no tratamento eletrostático impede que seja concluída a

insensibilidade do tratamento a ela. As influências da dosagem e do tipo de

desemulsificante também não foram observadas no conjunto de dados tratados.

O modelo proposto pode ser considerado muito satisfatório, já que conserva as

observações experimentais e tem boa predição em toda faixa experimental. A

dependência do tratamento eletrostático, primordialmente, das propriedades físicas dos

petróleos, confirma as observações feitas a partir do campo elétrico critico. É possível

manter a interpretação de que estas propriedades governam o tratamento dos petróleos

analisados, porém, como apontado anteriormente, com viscosidades reduzidas e

turbulência, o tratamento (etapa de eletrocoalescência) foi influenciado pelo teor de

asfaltenos. Portanto, parece que para os fins práticos, é possível fazer um bom

monitoramento e boa previsão da estabilidade dos óleos e da operação dos

eletrocoalescedores com as medidas da densidade e da viscosidade dos óleos e uma

medida do teor de asfaltenos, possivelmente obtida em linha pelos espectros de NIR.

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102

5 Conclusões e Sugestões

Um dos maiores problemas encontrados na produção e refino de petróleos

pesados e ultra-pesados é a eficiência do processo de desidratação e dessalgação. A

formação de uma emulsão água-petróleo bastante estável é a etapa que controla os

processos de tratamento eletrostáticos de petróleo. Sabe-se que apenas as

caracterizações físicas e químicas do óleo cru não são suficientes para explicar o

comportamento em respeito à estabilidade destas emulsões de água em petróleo.

Foi objetivo deste estudo, rever os modelos físicos e mecanismos propostos para

a estabilização de emulsões de água em petróleo, bem como as metodologias propostas

para caracterização desta estabilidade. Neste trabalho foram avaliados sete petróleos

nacionais, sendo eles representativos do refino atual e futuro da PETROBRAS S.A. O

campo elétrico mínimo necessário para causar coalescência das gotas foi usado como

uma medida da estabilidade das emulsões de água em óleo destes petróleos frente à

aplicação de campo elétrico (Ecritico). Foi conduzida uma análise de variâncias na

metodologia empregada, sendo proposto um procedimento de preparo de emulsões que

reduziu os erros envolvidos na determinação da estabilidade das emulsões. Foi possível

observar que o Ecritico não caracteriza inequivocamente o petróleo, sendo fundamental

o controle das condições de preparo das emulsões. A avaliação da correlação da

estabilidade com propriedades físicas e químicas do petróleo, e com propriedades físico-

químicas do sistema foi conduzida. Técnicas de análise multivariável foram usadas

como auxiliar nestas análises. Foi avaliado o uso de espectrofotometria NIR (Near

Infrared Spectroscopy) na região de 1100-2200 nm, na caracterização de petróleos,

neste contexto.

Foram propostos modelos para o Ecritico em escala de laboratório, sendo

possível observar os efeitos preponderantes da densidade e viscosidade dos petróleos.

No conjunto de dados presente, devido à confusão dos efeitos, não foi possível

determinar qual destas duas características controlaria o processo. De qualquer forma,

foi observado que o Ecritico é função fundamentalmente da fase contínua. A

espectrofotometria NIR se mostrou uma importante e confiável ferramenta para

predição dos teores de asfaltenos nos petróleos estudados. No entanto, nesta escala, não

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103

foi possível observar a influência dos teores de asfaltenos e suas formas de agregação

sobre a estabilidade de emulsões, como prevêem os modelos físicos e mecanismos

propostos em literatura. Pode-se concluir que a medida do Ecritico, no conjunto de

petróleos ensaiados, apresentou a etapa de movimentação das gotas e floculação como

limitante no processo de desestabilização das emulsões. Isto foi evidenciado pela

influência da viscosidade e pelas diferenças observadas nestas medidas com diferentes

espaçamentos entre as placas energizadas.

Foram avaliados dados de literatura do tratamento eletrostático de cinco

petróleos nacionais. Estes trabalhos foram revisitados e um banco de dados mais

completo (220 dados) foi analisado. Foi possível a proposição de um modelo muito

satisfatório, numa faixa mais ampla de validade, tendo o teor de água no petróleo

tratado como variável de resposta. Nele foram consideradas propriedades do petróleo

como densidade, viscosidade e teor de asfaltenos e a densidade da fase aquosa (sempre

nas condições operacionais). Variáveis operacionais como temperatura, vazão de

emulsão e tensão aplicada, além do diâmetro e espaçamento de eletrodos também foram

consideradas. Nesta escala, os efeitos de viscosidade foram diminuídos e foi possível

observar a influência do teor de asfaltenos na eficiência de tratamento, interpretada

como concordante com os mecanismos de desestabilização propostos em literatura.

Diante destes dados, é possível propor que o monitoramento e otimização dos tratadores

eletrostáticos possam ser feitos através de medidas simples e usuais de propriedades dos

óleos processados associadas às análises de NIR.

É fato que a análise de Ecritico como conduzida neste e em trabalhos anteriores

carece de aperfeiçoamento para espelhar a estabilidade de emulsões em condições

industriais. É fundamental que esforços sejam feitos para se minimizar a influência da

viscosidade permitindo a observação de quais os reais efeitos comandados pela química

e pela físico-química no processo de desestabilização de emulsões. O efeito da

temperatura, da presença de sólidos finamente dispersos, dos diâmetros das gotas, do

espaçamento entre placas energizadas, do efeito de campo com corrente alternada (AC)

e do pH da fase aquosa devem ser melhor investigados. Como variável de resposta não

apenas o dado do Ecritico, mas o comportamento da emulsão durante todo o

experimento reflete o processo de desestabilização. Neste trabalho, as curvas

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104

parametrizadas e o tempo total de experimento foram objeto de estudo e indicaram ser

fonte de importantes informações. Seria importante que outra metodologia fosse

desenvolvida, considerando-se volumes maiores de amostra e onde os efeitos de parede

na movimentação das gotas não existissem. Em uma escala maior, a amostra de emulsão

após o experimento deveria ser reanalisada. Desta forma os efeitos do campo elétrico

poderiam ser correlacionados com outras variáveis de resposta, como volume de fase

dispersa separada, distribuição de diâmetro de gotas na emulsão tratada e modificações

nas características dos filmes interfaciais. Estudos cinéticos poderiam ser também

conduzidos. Seria interessante que outros tipos de campo elétrico tivessem seus efeitos

avaliados, como em freqüências variáveis e com modulação do campo contínuo.

Tanto nas análises de Ecritico como nas avaliações em escala piloto, um

conjunto de petróleos reduzido foi avaliado. Seria importante que outros petróleos e

blends de petróleos fossem estudados. As observações deste trabalho só podem ser

conclusivas e extrapoladas caso uma ampla base de dados seja investigada.

É também essencial, para os interesses da indústria, que investigações em escala

industrial sejam feitas. É claro que as extrapolações das observações feitas em escala de

laboratório e piloto para este processo precisam ser cuidadosamente conduzidas.

Inclusive deve-se considerar a fluidodinâmica do processo, já que os processos de

quebra e coalescência de gotas são fortemente influenciados por estes efeitos. Para tal,

seria importante até mesmo que instrumentos capazes de uso in situ fossem

desenvolvidos. A grande capacidade de extração de informações pelo monitoramento

on-line do processo é indiscutível, porém instrumentos confiáveis e a decodificação da

abundante quantidade de informações são cruciais e requerem grandes esforços. Os

resultados promissores do uso da análise de NIR obtidos neste e em outros trabalhos

encontrados na literatura, parecem encorajar os esforços necessários.

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