estudo da cadeia de comercialização do caranguejo uçá do delta do parnaíba

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Estudo da Cadeia de Comercialização do Caranguejo-Uçá do Delta do Parnaíba Dezembro / 2003

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  • Estudo da Cadeia de Comercializao

    do Caranguejo-U do Delta do Parnaba

    Dezembro / 2003

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 2 de 57 pginas

    Unidade de Desenvolvimento Territorial (UDT)

    Antonio Paixo Garcs / Lder

    Jacqueline Fiquene Zeitoni / Lder-Adjunto

    Mrcia Maria Martins Ferreira / Gestora do Projeto Caranguejo

    Ana Paula Borges da Silva / Apoio Administrativo

    Elaborao

    Centro de Desenvolvimento e Apoio ao Ensino, Pesquisa e Eventos Empresariais Ltda.

    Augusto Bento Serra / Economista Responsvel e Redao Final. [email protected]

    Jorge Cunha / Engenheiro Agrnomo Analista e Pesquisador [email protected]

    Maria da Graa Vigas Serra / Assistente Social Apoio Logstico [email protected]

    Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas do Maranho

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    Apresentao O Estudo da Cadeia de Comercializao do Caranguejo-U do Delta do Parnaba foi determinado pela necessidade de aprofundar o conhecimento a respeito do Arranjo Produtivo Local (APL) do Caranguejo.

    O APL do Caranguejo, tambm inserido no Programa de Arranjos Produtivos Locais (PAPLs) do Governo do Estado, considerado uma das prioridades do SEBRAE no Maranho, pela sua representatividade no contexto das atividades agro-extrativistas, e por constituir uma das principais fontes de renda do Delta do Parnaba.

    A atividade deste arranjo sediada em Araioses, por ser o municpio com maior potencial para essa atividade extrativista. Das comunidades daquele municpio, saem em mdia, semanalmente, mais de cento e cinqenta mil caranguejos vivos, ocupando mais de 450 pessoas,

    Outros municpios maranhenses, localizados no Delta do Parnaba, como gua Doce do Maranho e Tutia, tambm tm grande potencial de produo desse crustceo que passando por rios canais e rodovias estaduais e federais, cruzando de norte para sul trs Estados comercializado principalmente em Fortaleza.

    Este estudo teve como focos, alm dos trs municpios produtores, as cidades de Parnaba e Fortaleza, maiores centros consumidores.

    Foram realizados estudos in loco, em vrias comunidades de catadores, com registros dos processos de catao (produo) e comercializao dos caranguejos vivos.

    Tambm foi efetuada a anlise do processo de beneficiamento sob a forma de patinhas e de carne, tambm de grande aceitao no mercado e com alto valor scio-econmico pela agregao de valor s comunidades envolvidas.

    Este trabalho se adiciona a outros trabalhos voltados para o APL do Caranguejo, desenvolvidos pelo SEBRAE, em parceria com o Governo do Estado, tendo como objetivo maior o desenvolvimento local integrado e sustentvel daquela Regio.

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    Sinopse A explorao extrativista de caranguejo U no Delta do Rio Parnaba constituiu ia at novembro do ano de 2003, exemplo muito caracterstico de um Arranjo Produtivo Local.

    Nos mangues dos municpios do Delta do Parnaba so anualmente capturados cerca de 13 milhes de caranguejos. Dos caranguejos capturados cerca de 10 milhes1 so enviados vivos para a cidade de Fortaleza.

    O caranguejo no Delta do Parnaba apresenta indcios de sobre-explorao e o consumo de Fortaleza tende a aumentar. Isso levou o principal operador a abrir uma nova fronteira 2 para complementar o abastecimento de Fortaleza.

    Espera-se que a presso sobre o estoque de caranguejo U do Delta, estimado indicativamente em 107 milhes de animais3 possa vir a diminuir e a taxa de desfrute anual4 possa cair, permitindo que se recupere a qualidade do produto5.

    No esforo extrativista do Delta esto engajados a tempo pleno cerca de 700 catadores e cerca de 50 comerciantes locais6 o que representa algo em torno de 4% dos homens com mais de 10 anos a residentes.

    Essa frao da fora ativa d trabalho internaliza na regio sob a forma de renda pessoal, cerca de 3,8 milhes de reais , correspondendo para cada um uma receita liquida equivalente a 1,8 salrio mnimo por ms.

    Estima-se que nos restaurantes e bares de Fortaleza sejam abatidos por ano seis milhes de caranguejos vivos que vendidos por 2,40 reais por unidade geram faturamento exclusivo7 de at 14,4 milhes de reais.

    Uma estimativa superficial indica que o montante global de receita fiscal gerada sobre o caranguejo vivo e sobre o prato derivado seja da ordem 2,9 milhes de reais por ano. O Estado do Cear, onde ocorre o consumo final o principal beneficiado. O Estado do Maranho no aufere qualquer receita fiscal.

    1 81% da captura 2 O nordeste do Maranho desde novembro de 2003 vem contribuindo com 20% do abastecimento de Fortaleza 3 caranguejos de um a seis anos 4 12% ao ano 5 o tamanho mdio do caranguejo capturado est menor 6 chefes de turma de catadores 7 sem adicionar o valor da bebida consumida

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    Sumrio

    ndice de Analtico APRESENTAO ....................................................................................................................3 SINOPSE....................................................................................................................................4 SUMRIO..................................................................................................................................5

    NDICE DE ANALTICO ...............................................................................................................5 NDICE DE TABELAS ..................................................................................................................7 NDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................7 NDICE DE FOTOS.......................................................................................................................7

    1 INTRODUO................................................................................................................8 2 O ENQUADRAMENTO HISTRICO GEOGRFICO .............................................9

    2.1 AS DIMENSES DO DELTA DO PARNABA......................................................................9 2.2 A OCUPAO NO DELTA DO PARNABA ........................................................................9 2.3 O NVEL DE DESENVOLVIMENTO DOS MUNICPIOS ......................................................15

    3 ANLISE DA CADEIA DE COMERCIALIZAO................................................17 3.1 OS INTERVENIENTES NA CADEIA DE COMERCIALIZAO ............................................17

    3.1.1 Catador................................................................................................................18 3.1.2 Comprador Local ................................................................................................19 3.1.3 Atacadista Concentrador Distribuidor ........................................................20 3.1.4 Retalhista.............................................................................................................22 3.1.5 Proprietrios de bar e restaurante......................................................................22 3.1.6 Consumidor domiciliar........................................................................................23 3.1.7 Consumidor Cliente de bar e restaurante ...........................................................23

    3.2 OS PROCESSOS PRODUTIVOS .......................................................................................23 3.2.1 A Captura ............................................................................................................23

    3.2.1.1 A captura autnoma para venda em leilo .....................................................................24 3.2.1.2 A captura pr-contratada por preo fixo ........................................................................25

    3.2.2 A Comercializao do caranguejo vivo ..........................................................25 3.2.2.1 Estgio da intermediao local ......................................................................................26 3.2.2.2 Estgio da concentrao do caranguejo .........................................................................26 3.2.2.3 Estgio da distribuio do caranguejo ...........................................................................26 3.2.2.4 Estgio da venda a retalho .............................................................................................26

    3.2.3 O beneficiamento.................................................................................................26 3.2.3.1 Eventual de sobras no comercializadas........................................................................27 3.2.3.2 Semi-industrial de conta prpria....................................................................................27 3.2.3.3 Prestao de servios de beneficiamento .......................................................................28

    3.2.4 A comercializao dos derivados ........................................................................28 3.2.4.1 A patinha de caranguejo ................................................................................................28 3.2.4.2 A carne de caranguejo ...................................................................................................28

    3.3 A TEMPORALIDADE DAS OPERAES ..........................................................................28 3.3.1 A sazonalidade ....................................................................................................28

    3.3.1.1 A sazonalidade e a qualidade da oferta..........................................................................28 3.3.1.2 A sazonalidade do consumo ..........................................................................................30

    3.3.2 A mudana cclica do horrio da mar ...............................................................30 3.3.3 A perecibilidade ..................................................................................................31

    3.3.3.1 A mortalidade do caranguejo vivo.................................................................................31 3.3.3.2 A vida til dos produtos beneficiados............................................................................31

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    3.3.4 Intensidade da operao em cada estao..........................................................31 3.3.4.1 A operao na Baixa Estao.........................................................................................31 3.3.4.2 A operao na Alta Estao ...........................................................................................32

    4 OS MDULOS PRODUTIVOS ELEMENTARES....................................................33 4.1 ANLISE DE CASOS ....................................................................................................33

    4.1.1 Caso A - Catadores Ilha Grande Consumo domiciliar Parnaba ....................33 4.1.1.1 Caso A 100 - Retalhista de 100 cordas dia ....................................................................34 4.1.1.2 Caso A 100 - Retalhista de 400 cordas dia ....................................................................37 4.1.1.3 Caso A 700 - Retalhista Beneficiador 700 cordas dia....................................................38

    4.1.2 Caso B - Catadores Ilha Grande Consumo Bar Parnaba ...............................39 4.1.3 Caso C - Catadores de Carnaubeiras Consumo em Bar Lus Correia ............40 4.1.4 Caso D Catadores Vrios Portos Consumo Domiciliar e Bar Fortaleza......41

    5 A QUANTIFICAO DA CADEIA DE COMERCIALIZAO ...........................42 5.1 A QUANTIFICAO DA PRODUO..............................................................................42

    5.1.1 A dimenso geral da regio de captura ..............................................................42 5.1.2 A distribuio espacial dos aglomerados de catadores ......................................42 5.1.3 A distribuio espacial do mangue .....................................................................44 5.1.4 A quantificao dos catadores ............................................................................48 5.1.5 A quantificao dos compradores locais.............................................................49 5.1.6 Uma estimativa da captura .................................................................................49 5.1.7 A contribuio por aglomerado de catadores .....................................................50

    5.2 A QUANTIFICAO DO TRANSPORTE...........................................................................51 5.3 A QUANTIFICAO DA COMERCIALIZAO.................................................................52

    5.3.1 A comercializao em Tutia e Araioses.............................................................52 5.3.2 A comercializao em Parnaba e Lus Correia .................................................52 5.3.3 A comercializao na cidade de Teresina ...........................................................52 5.3.4 A comercializao na Grande Fortaleza.............................................................53

    5.3.4.1 A quantidade comercializada.........................................................................................53 5.3.4.2 O preo praticado em Fortaleza .....................................................................................54

    6 CONCLUSO ................................................................................................................55 6.1 CONSTATAO DE INDCIOS DE SOBRE-EXPLORAO.................................................55 6.2 EXPECTATIVA DE AUMENTO DA DEMANDA.................................................................55 6.3 CONSOLIDAO DE NOVAS REAS PRODUTORAS........................................................55 6.4 PREVISO DE ESTABILIDADE DE PREO ......................................................................55

    AGRADECIMENTO ..............................................................................................................56 SITES CONSULTADOS.........................................................................................................57

    SOBRE MANGUE......................................................................................................................57 SOBRE CARANGUEJO-U ......................................................................................................57

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    ndice de Tabelas TABELA 1 INDICADORES DOS MUNICPIOS ................................................................................15 TABELA 2 CASO A 100 B BAIXA ESTAO.............................................................................34 TABELA 3 CASO A 100 B BAIXA ESTAO.............................................................................36 TABELA 4 CASO A 400 CORDAS DIA BAIXA ESTAO ............................................................37 TABELA 5 CASO A 700 CORDAS DIA BAIXA ESTAO ............................................................38 TABELA 6 - DISTRIBUIO DO MANGUE NOS MUNICPIOS .........................................................44 TABELA 7 QUANTIDADE DE CATADORES ATIVOS....................................................................48 TABELA 8 QUANTIDADE DE COMPRADORES LOCAIS ATIVOS ..................................................49 TABELA 9 ESTIMATIVA DA CAPTURA EM CORDAS DE CARANGUEJO..........................................50 TABELA 10 ABASTECIMENTO DE FORTALEZA EM 2004 .............................................................53

    ndice de Figuras FIGURA 1 IMAGEM SATLITE DO DELTA DO PARNABA (APENAS LADO DO MARANHO) .......10 FIGURA 2 REPRESENTAO PARCIAL DE CARTA TOPOGRFICA DA DSG TUTIA ...............11 FIGURA 3 REPRESENTAO PARCIAL DE CARTA TOPOGRFICA DA DSG GUA DOCE ........12 FIGURA 4 REPRESENTAO PARCIAL DE CARTA TOPOGRFICA DA DSG ARAIOSES............13 FIGURA 5 REPRESENTAO PARCIAL DE CARTA TOPOGRFICA DA DSG - TATUS..................14 FIGURA 6 DIAGRAMA DE INTERVENIENTES ............................................................................17 FIGURA 7 CATADORES DA ILHA GRANDE CONSUMO DOMICILIAR PARNABA......................33 FIGURA 8 CATADORES DA ILHA GRANDE CONSUMO EM BAR PARNABA ............................39 FIGURA 9 CATADORES DE CARNAUBEIRAS CONSUMO EM BAR LUS CORREIA....................40 FIGURA 10 CATADORES VRIOS PORTOS CONSUMO DOMICILIAR E BAR FORTALEZA ........41 FIGURA 11 REGIO DE CAPTURA E AGLOMERADOS HABITACIONAIS .....................................43 FIGURA 12 REA DA CAPTURA E REA DE MANGUE .............................................................45 FIGURA 13 SUB DISTRIBUIO TERRITORIAL POR AGLOMERADOS..........................................47 FIGURA 14 DISTRIBUIO DOS CATADORES PROFISSIONAIS POR MUNICPIO .........................48 FIGURA 15 CONTRIBUIO DOS AGLOMERADOS DE CATADORES............................................51

    ndice de Fotos FOTO 1 CANOA COM MOTOR NO PORTO DE CARNAUBEIRAS .................................................15 FOTO 2 DESLOCAMENTO EM GRUPO USANDO CANOA A REMOS ...............................................18 FOTO 3 CATADOR LEVANTANDO O CARANGUEJO DO FUNDO DA TOCA .................................19 FOTO 4 ENTREVISTA COM COMPRADOR LOCAL EM CARNAUBEIRAS......................................20 FOTO 5 PRINCIPAL ATACADISTA EM SEU RESTAURANTE, EM FORTALEZA..............................20 FOTO 6 CANOA UTILIZADA PARA CONCENTRAR A PRODUO NO PORTO DOS TATUS.............21 FOTO 7 PROPRIETRIO DE RESTAURANTE NA PRAIA DE LUS CORREIA ..................................22 FOTO 8 AMARRADO DE CARANGUEJOS DEPOIS DE LAVADO....................................................24 FOTO 9 CHEGADA DE CANOA COM QUATRO PARCEIROS E VENDA EM LEILO EM TATUS........24 FOTO 10 CANOA MOTORIZADA USADA PARA CONCENTRAR A PRODUO .............................25 FOTO 11 PREPARO DA PATINHA DE CARANGUEJO ...................................................................27 FOTO 12 EXEMPLARES DE CARANGUEJO GUAJ OBSERVADOS NA VAZANTE ........................46

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    1 Introduo O Ucides cordatus8 um crustceo de grande porte conhecido popularmente como caranguejo-u. uma espcie de grande importncia scio-econmica no Norte/Nordeste do Brasil, pois, alm de ser um recurso de subsistncia, sua captura constitui a nica fonte de renda de inmeras famlias.

    Seu habitat o manguezal, onde escava habitaes na lama proporcionando oxigenao e drenagem do sedimento. Estas so cobertas pela mar alta e ficam mostra na mar baixa. Na baixa-mar, saem procura de alimento. Suas tocas, que apresentam de 0,5 a 1,5 m de profundidade, so habitadas por um nico animal, sendo pronunciado o territorialismo da espcie.

    Sua dieta constituda principalmente por matria vegetal (folhas em decomposio, frutos e sementes das rvores do mangue), contribuindo para a acelerao da reciclagem dos nutrientes, mas alimenta-se tambm de outros invertebrados, como crustceos e moluscos.

    Quando chega o momento da reproduo, que se d nos meses mais quentes do ano, os animais deixam suas tocas em busca de parceiros para a cpula e/ou realizar a desova e desta forma se tornam presas fceis no s para os catadores, mas tambm para pessoas que usualmente no realizam a captura destes crustceos. Este fenmeno, ainda muito pouco investigado cientificamente, conhecido como "andada".

    A fmea do caranguejo, aps a cpula, pe dezenas de milhares de ovos muito pequenos e colorao avermelhada. Os ovos so carregados, aps a postura, nas patas do abdmen, que tem formato arredondado e pode ser observado na regio ventral (embaixo do corpo do animal). As fmeas ovadas migram em direo gua, onde ocorre o nascimento das larvas, que seguem para o mar e, aps passarem por uma fase de crescimento rpido e metamorfose, retornam para o mangue, onde continuaro crescendo e atingiro a maturidade sexual. A mortalidade na fase larval muito elevada.

    A captura predatria, associada falta de uma fiscalizao efetiva e degradao dos manguezais, e ao desrespeito das leis ambientais, so fatores que tm sido responsveis pela reduo acentuada das populaes do caranguejo-u nos ltimos anos. Hoje, a espcie encontra-se ameaada de extino.

    Visando proteger o u durante seu perodo reprodutivo, o IBAMA, em sua portaria no 124, de 25 de setembro de 2002, proibiu a captura, a manuteno em cativeiro e a comercializao de machos e fmeas nos Estados do Esprito Santo, Rio de Janeiro, So Paulo, Paran e Santa Catarina, de 1 de outubro a 1 de dezembro e a captura de fmeas de 1 a 31 de dezembro. A portaria probe, ainda, a captura de fmeas ovadas em qualquer poca do ano, assim como de animais com largura da carapaa inferior a seis centmetros.

    Estudos sobre o caranguejo-u, especialmente sobre sua reproduo, devem ser incentivados e acelerados, sobretudo no Norte e Nordeste do Brasil, onde o consumo em algumas capitais elevado e o volume de informaes sobre sua biologia escasso. Os resultados destes estudos, somados ao conhecimento emprico dos catadores, sero fundamentais para a criao de leis protecionistas para o u nestas regies.

    8 O texto da presente introduo da autoria de do Professor do Departamento de Cincias Biolgicas / UESC Alexandre Oliveira de Almeida http://www.iesb.org.br/publicacoes/Agora%20Meio%20Ambiente%2010/ficha.htm

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    2 O enquadramento histrico geogrfico O processo produtivo se inicia no Delta do Parnaba no Maranho e se conclui na cidade de Fortaleza no Cear.

    2.1 As dimenses do Delta do Parnaba O Delta do Parnaba citado9 como tendo quase 2.700 quilmetros quadrados10, com uma orla martima de 90 quilmetros e 30 quilmetros de largura. Nele se encontram igaraps, mangues e ilhas. Entre as ilhas mais importantes, referem-se, Grande do Paulino, Caju, Canrias e Santa Isabel.

    Outras citaes atribuem que 35% do Delta esto em territrio piauiense, enquanto que os outros 65% correspondem a territrio maranhense11 , constituindo os municpios de Tutia, gua Doce e Araioses.

    O Delta se comunica com o oceano por cinco grandes rios e canais configurando cinco barras que do sul para norte so designadas por Igarau12, Canrias, Caju, Melancieiras e Tutia,

    2.2 A ocupao no Delta do Parnaba Segundo alguns estudiosos13 as frotas dos fencios, teriam navegado nas costas brasileiras desde 1100 anos a.C., tendo esse povo estabelecido aqui numerosas estaes martimas, onde os navios podiam abastecer-se de vveres e gua doce.

    Em face de vestgios, um estudioso opina que Pedra do Sal poder ter sido uma dessas estaes e a cidade de Tutia poder ter sido uma feitoria fencia implantada entre 700 e 500 anos a.C.

    Muito mais tarde, na poca da sua descoberta por Nicolau de Resende, em 1571, a regio era povoada pelos ndios Tremembs.

    J no sculo XIX, o Delta do Parnaba, foi palco de lutas durante a revolta popular da Balaiada. A populao de Carnaubeiras teria sofrido represso por parte das foras imperiais.

    Atualmente no Delta do Parnaba existe um habitat pouco concentrado, consolidado no sculo XX para atender a economia do sal, do peixe seco, da carnaba e do jaborandi, todas elas se servindo da facilidade do transporte fluvial e ocenico.

    A precariedade das estradas e de ramais de acesso, construdas sobre areias no consolidadas, faz com que o barco continue a ser ainda o meio mais eficiente e econmico para o transporte de pessoas e cargas.

    9 Ministrio Pblico do Estado do Maranho 10 Correspondente a 270.000 hectares 11 Correspondente a 175.500 hectares 12 Situada no municpio de Lus Correia - PI 13 http://www.vidhya-virtual.com/Vidhya2/antigahistoria_cap1.htm

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    Figura 1 Imagem satlite do Delta do Parnaba (apenas lado do Maranho)

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    Figura 2 Representao parcial de carta Topogrfica da DSG Tutia

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    Figura 3 Representao parcial de carta Topogrfica da DSG gua Doce

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    Figura 4 Representao parcial de carta Topogrfica da DSG Araioses

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    Figura 5 Representao parcial de carta Topogrfica da DSG - Tatus

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    Das cartas editadas pela Direo Geral do Servio Geogrfico no ano de 1977, foram extrados fraes incluindo as sedes dos municpios maranhenses e o porto dos Tatus no Piau. importante referir que as reas tracejadas a azul, representam a superfcie coberta por mangue. As figuras 2 a 5 apresentam extratos dessas cartas.

    Nesse contexto identificaram-se locais nos quais existe um adensamento de moradias e infra-estrutura de embarque e desembarque fluvial que conferem a esses locais o status de Porto e nos quais, atualmente, os catadores constituem classe profissional dominante.

    Foto 1 Canoa com motor no porto de Carnaubeiras

    2.3 O nvel de desenvolvimento dos municpios O Maranho entre os Estados da federao o que apresenta os mais baixos ndices de Desenvolvimento Humano. Os municpios do Delta esto entre os pior classificados do Estado e do Brasil.

    Tabela 1 Indicadores dos Municpios Tutia gua Doce Araioses

    Pessoas Residentes 37.728 9.703 34.906 Homens residentes 19.302 5.080 18.122 Homens Residentes >/= 10 anos 8.596 2.312 7.410 Superfcie em km 1.489 442 1.782

    IDH 0,538 0,529 0,486 ordem nacional IDH 5.380 5.418 5.503 ordem estadual IDH 179 191 217

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    Tutia o mais antigo dos trs municpios, datando a sua instalao de 1890, tendo, portanto mais de um sculo de existncia.

    Araioses foi desmembrado do municpio de Tutia, foi instalado em 1938, tendo cerca de 66 anos de existncia.

    gua Doce do Maranho o municpio mais recente, tendo sido tambm deslembrado do municpio de Tutia. Sua instalao data de 1997, tendo apenas sete anos de existncia.

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    3 Anlise da cadeia de comercializao A anlise da cadeia de Comercializao pretende oferecer informaes bsicas sobre intervenientes, processos por eles efetuados e a temporalidade dos mesmos.

    3.1 Os Intervenientes na cadeia de comercializao Na cadeia de comercializao do caranguejo U no Delta do Parnaba participam diferentes agentes cujo inter-relacionamento est sintetizado na figura seguinte

    Figura 6 Diagrama de Intervenientes

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadores deBares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    ConsumidoresEm Bares

    ConsumidoresEm Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Intervenientes na cadeia Produtiva

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadores deBares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    ConsumidoresEm Bares

    ConsumidoresEm Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Intervenientes na cadeia Produtiva

    O catador o elemento inicial da cadeia de comercializao.

    O Comprador Local o primeiro intermedirio da cadeia de comercializao do caranguejo vivo e o elo que organiza o arranjo produtivo fazendo a interface entre muitos catadores e um grande comprador

    O Atacadista (Concentrador Distribuidor) o segundo intermedirio do processo de comercializao do caranguejo vivo e de fato o elo que comanda o arranjo produtivo, tendo poder econmico, como pela capacidade de decidir sobre preo e quantidade.

    Retalhistas de feiras e mercados, Ambulantes, e Proprietrios de bares e restaurantes so os elos que fazem interface entre o grande comprador e o pblico consumidor sendo repassadores da mercadoria e tendo de acompanhar os preos da concorrncia.

    Os consumidores em geral so um grupo heterogneo com poder econmico e hbitos de consumo muito diferenciados.

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    3.1.1 Catador Os catadores exercem a sua atividade extrativista de acordo com conceitos empricos, se dispersando nos mangues. Os mangues se dispersam pelas inmeras ilhas e pelas margens dos rios que adentram na terra firme.

    A condicionante principal para o seu trabalho a mar, quer no que respeita ao horrio da ocorrncia da baixa-mar, quer na altura que atinge.

    Outra condicionante para o seu trabalho a distancia e o tempo de deslocamento entre a moradia e o local de extrao.

    O Catador vai para a sua atividade extrativista sempre em grupos. Utiliza canoas a remos ou vela quando vai para perto e em canoa com motor quando vai para mais longe. No sai do porto muito cedo, esperando que o calor do sol diminua a quantidade de insetos ativos nos mangues.

    Foto 2 Deslocamento em grupo usando canoa a remos

    Se o deslocamento efetuado em canoa a motor o catador rateia o custo do servio de transporte, pagando ao operador da canoa em cordas de caranguejo. Quando trabalha engajado em um contrato, a maioria das vezes o comprador local d o transporte como forma de aumentar o controle sobre os catadores.

    A atividade dos catadores requer um saber adquirido na experincia do dia a dia e capacidade fsica para trabalhar em condies radicalmente adversas. Os equipamentos de proteo que utilizam so artefatos rudimentares fabricados por eles prprios.

    A opo pela atividade lhe traz um retorno material que em principio superior ao que conseguiria obter na regio mediante qualquer outro trabalho assalariado ao mesmo tempo em que lhe deixa ainda bastante tempo livre.14

    14 No lado maranhense do Delta do Parnaba tem sido referida a existncia de cerca de 4.000 catadores. Este nmero merece ser confirmado. Observaes pontuais efetuadas demonstram que a referencia foi superestimada.

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    Quando inquiridos sobre o seu nvel de satisfao15 com a atividade foram unnimes numa resposta positiva, quase sempre, seguida de espontnea rejeio opo de se engajarem em qualquer trabalho assalariado.

    Foto 3 Catador levantando o caranguejo do fundo da toca

    A maioria dos catadores vive em terra firme desfrutando de servios pblicos16. Porem cerca de 15 % dos catadores vive em ilhas em comunidades que mantm elevado grau de esprito comunitrio, mas que no desfrutam de servios pblicos.

    O catador aufere um receita de acordo com a sua produo. Se estiver engajado em uma turma, catando por pr-contrato, o valor da corda fixo antecipadamente. Se estiver trabalhando por conta prpria vai vender a corda pelo melhor preo que conseguir obter.

    3.1.2 Comprador Local O Comprador Local um trabalhador autnomo que como proposto de outro, organiza o processo extrativista e compra e embarca a produo de uma sub-regio. No mesmo Porto coexistem vrios compradores.

    O Comprador Local quase sempre foi catador e conhece bem o territrio. Algumas vezes fiel depositrio de uma ou duas embarcaes motorizadas, com as quais efetua o deslocamento dos catadores que contratam com ele a produo.

    Normalmente contrata um diarista para conduzir a embarcao at ao local que vai ser explorado. O consumo de leo diesel e a manuteno do motor so por sua conta. O Comprador Local, quase sempre, espera em terra o retorno dos catadores, e atento a uma comunicao com os transportes que vem buscar a produo.

    15 Satisfeito; conformado; insatisfeito. 16 Energia, gua potvel, telefone.

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    Foto 4 Entrevista com Comprador Local em Carnaubeiras

    3.1.3 Atacadista Concentrador Distribuidor O Atacadista (Concentrador Distribuidor) j pode ser qualificado como um empresrio porquanto j decide quanto vai e quando vai comprar e assume riscos, se valendo, no entanto dos respectivos Compradores Locais para concentrar a produo.

    Foto 5 Principal Atacadista em seu restaurante, em Fortaleza

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    O Atacadista compra a produo em diversos "Portos do Delta atravs de seus Compradores Locais17 e promove o transporte da mesma para o Porto dos Tatus, de modo que o caranguejo catado durante a manh, possa a chegar no final da tarde.

    Foto 6 Canoa utilizada para concentrar a produo no porto dos Tatus

    O transporte fluvial pode ser efetuado em embarcao prpria ou fretada, mas o Atacadista Concentrador sempre tem a bordo da mesma um apontador de sua confiana que faz o romaneio da carga e acerta transao com os Compradores Locais.

    Muitas vezes ele proprietrio dos bens de produo cedidos aos Compradores Locais, (as canoas a motor em que os catadores se deslocam para os mangues) devendo amortizar esse capital imobilizado com parte da sua margem bruta.

    O Atacadista concentra o caranguejo no porto dos Tatus no final da tarde. O caranguejo estivado dos barcos diretamente para o caminho que o vai transportar para Fortaleza.

    Para acompanhar a mercadoria o Atacadista emite uma nota fiscal e arrecada vista o ICMS devido18, em Posto Fiscal da SEFAZ do Estado do Piau.

    E, o caranguejo viajar durante a noite para Fortaleza, de forma a estar nessa cidade pelas seis horas da manh. Esse caranguejo na sua maioria vendido para bares e restaurantes da orla. A frao que excede ao consumo dos bares vendida para ambulantes que vendem a mercadoria na rua19.

    A conjugao desses dois tipos de clientela permite diminuir o risco com possveis ocorrncias climticas que reduzam o consumo nos bares.

    17 O atacadista mais importante designa os Compradores Locais seus agentes por Chefes de Turma. Atualmente opera com cerca 31 Turmas sendo dezoito no Delta e 11 em Cndido Mendes. 18 Valor unitrio R$ 0,08 por corda 19 Na avenida Bezerra de Morais, prximo ao mercado de So Sebastio.

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    O Atacadista pode ser ou no ser proprietrio dos caminhes que transportam a produo. O atacadista no precisa de instalaes especializadas para operar em Fortaleza, visto que a mercadoria entregue aos compradores diretamente a partir dos caminhes.

    3.1.4 Retalhista Identificaram-se dois tipos de Retalhistas.

    Os Retalhistas dos Mercados Pblicos de Parnaba. Eles compram a mercadoria diretamente de catadores, no Porto dos Tatus, mediante leilo, transportam a mesma em nibus de linha at aos respectivos mercados, pagam taxas por ocupao dos seus lugares nos mercados, vendem a mesma, tendo lucro ou suportando prejuzos pelo fracasso das vendas ou pela perecibilidade do seu produto.

    Os Ambulantes que vendem a mercadoria na avenida Bezerra de Menezes, em Fortaleza. Eles recebem a mercadoria no caminho por um preo fixo e vendem a mesma para consumo domstico por preo ajustado hora hora s condies do mercado. A maioria das vezes so abastecidos com prazo para pagar na entrega seguinte. Compram a corda por R$ 2,30 e vendem por um valor entre R$ 6,00 e R$ 3,00 consoante os caranguejos sofreram menor ou maior mortalidade durante a viagem

    3.1.5 Proprietrios de bar e restaurante Os proprietrios de Bar e Restaurante recebem o caranguejo no caminho e vendem a mesma aps simples cozinhamento, por preo bem mais elevado, mas no qual se incorporam custo especifico dos seus pontos comerciais e dos servios de cozinha e balco.

    Foto 7 Proprietrio de restaurante na praia de Lus Correia

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    3.1.6 Consumidor domiciliar O consumidor domiciliar em cada cidade tem hbitos diferenciados.

    Em Parnaba parece que todas as classes sociais e tem hbito de consumo de caranguejo vivo. Assim o caranguejo procurado principalmente durante os fins de semana e na Estao Baixa tem preos acessveis. J na Estao Alta o preo pode subir, mas o consumo continua a ocorrer.

    A maioria da populao de Fortaleza tem suas razes em cidades do interior onde no existe hbito de consumo de caranguejo. O consumidor domiciliar em Fortaleza na sua maioria pertence classe mdia e adotou o habito de consumir o caranguejo aps a degustao em bares da orla da praia. Representa uma parcela restrita da populao.

    3.1.7 Consumidor Cliente de bar e restaurante O consumidor cliente de Bar e Restaurante heterogneo.

    No caso de Parnaba e Lus Correia os turistas so predominantemente nacionais, quase sempre nordestinos com predisposio ao consumo do caranguejo cozinhado inteiro.

    J em Fortaleza a predominncia de turistas internacionais os quais no apresentam apetncia pelo caranguejo cozinhado inteiro.

    Assim em Fortaleza o consumidor de caranguejo o autctone que adquiriu hbito de consumo no final de semana nas praias e s quintas feiras noite, em bares com msica ao vivo.

    3.2 Os processos produtivos Na cadeia de comercializao do caranguejo identificaram-se processos produtivos que so realizados por cada um dos intervenientes.

    3.2.1 A Captura Para a mesma poca do ano o esforo de captura idntico seja qual for o a destinao do caranguejo e a forma de venda da produo. Apenas a forma de deslocamento que poder variar em funo dos meios utilizados.

    Na sua atividade o catador desentoca os caranguejos, um por um, e amarra os mesmos, formando primeiro um par (dois caranguejos) e depois uma corda (quatro caranguejos).

    A corda a quantidade elementar de compra e venda. O preo do caranguejo estipulado para a corda

    O catador vai juntando vrias cordas at fazer um amarrado que agrega dez cordas (quarenta caranguejos). Um catador eficiente consegue produzir, cerca de 30 cordas (120 caranguejos) durante cerca de cinco horas de trabalho.

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    Foto 8 Amarrado de caranguejos depois de lavado

    3.2.1.1 A captura autnoma para venda em leilo O catador da regio Piauiense do Delta tem por objetivo atender a demanda domstica da a cidade de Parnaba e o abastecimento dos bares de Luis Correia.

    Foto 9 Chegada de canoa com quatro parceiros e venda em leilo em Tatus

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    Nesse caso os catadores quase sempre em grupos no superiores a quatro se deslocam em canoas a remo e no retorno oferecem em conjunto a sua produo, quase sempre inferior a 100 cordas para retalhistas, feirantes nos trs mercados da cidade, que vo procurar o caranguejo no porto dos Tatus.

    O preo alcanado por corda varia diariamente em funo das condies de oferta e da procura do mercado local

    3.2.1.2 A captura pr-contratada por preo fixo O catador da regio Maranhense do Delta do Parnaba, quase sempre tem por objetivo assegurar o abastecimento de comerciantes quer se trate de proprietrios de bares de Lus Correia, quer se tratem de Atacadistas que abasteam Fortaleza.

    Esses catadores se integram ao sistema organizacional orquestrado pelos compradores locais, sendo transportados nas canoas a motor at aos locais de catao e entregando para eles, a bordo da embarcao do atacadista os amarrados das cordas da sua produo diria.

    Neste caso os catadores trabalham apenas nos dias programados pelos atacadistas. Estes sincronizam os transportes para o produto e garantem um preo fixo, que mantm inalterado por longos perodos.

    Foto 10 Canoa motorizada usada para concentrar a produo

    3.2.2 A Comercializao do caranguejo vivo A forma tradicional de comercializao do Caranguejo U no estado vivo.

    Outras espcies de crustceos e outras famlias de caranguejos so usualmente comercializados pr-cozidos e congelados.

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    O caranguejo vivo um importante ex-lbris da culinria nordestina e imagina-se e deseja-se que a sua comercializao possa perdurar nos prximos sculos.

    3.2.2.1 Estgio da intermediao local O Comprador Local um interveniente caracterstico da regio maranhense do Delta do Parnaba. Quase sempre atuar com exclusividade atendendo a um nico atacadista.

    Apenas se identificou um Comprador Local que atendia a demanda de trs compradores os quais operavam com diferentes objetivos.20

    3.2.2.2 Estgio da concentrao do caranguejo O estgio da concentrao do caranguejo um elemento virtual da cadeia produtiva. Na realidade ele no existe, pois no se identificou nenhum interveniente que executasse exclusivamente essa funo. Entretanto a sua incluso metodolgica permite diferenciar com mais clareza os processos realizados.

    3.2.2.3 Estgio da distribuio do caranguejo O estgio da distribuio do caranguejo est perfeitamente caracterizado quando um Atacadista supre e vrios ambulantes e a vrios proprietrios de bares diariamente na cidade de Fortaleza.

    3.2.2.4 Estgio da venda a retalho O estgio da venda a retalho fica caracterizado quando ocorre venda em pequenas quantidades, menos de (dez cordas), um amarrado para consumo domstico. O consumo pulverizado determina um esforo de venda significativo que normalmente acompanhado pela prtica de margens mais elevadas e com muita variabilidade.

    3.2.3 O beneficiamento Existe demanda significativa por produto beneficiado.

    Os produtos relevantes so a patinha de caranguejo e a carne de Caranguejo.

    Estes produtos tm produo casada.

    20 Um um proprietrio de bar em Lus Correia que garante o seu auto-suprimento; outro um atacadista distribuidor em Fortaleza; outro um complexo ldico em Fortaleza que garante o suprimento do bar e restaurante do empreendimento.

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    Foto 11 Preparo da patinha de caranguejo

    Identificou-se a ocorrncia de operaes de beneficiamento visando objetivos diferenciados:

    3.2.3.1 Eventual de sobras no comercializadas Esta modalidade realizada freqentemente por retalhistas de Parnaba, os quais deslocam parte do suprimento na baixa estao para o processamento dirio.

    Note-se que o preo pago por corda aos catadores da ilha Grande na baixa estao da ordem de 50% do preo pago na mesma poca aos catadores de Carnaubeiras. Assim o preo da matria prima est compatvel com os preos alcanados pelos produtos beneficiados.

    3.2.3.2 Semi-industrial de conta prpria O beneficiamento de caranguejo uma atividade regularmente realizada por alguns agentes econmicos na regio maranhense do Delta. Uma restrio impeditiva da sua expanso a relao de preo matria prima / produtos derivados a qual no favorvel expanso da atividade.

    O preo atualmente oferecido pelos Compradores Locais da ordem de R$ 1,00 por corda. O Beneficiador atualmente no pode pagar mais do que R$ 0,65 por corda. A atividade subsiste porquanto na baixa estao os Compradores Locais compram caranguejo apenas dois dias na semana e s contratam com cerca de metade da fora de trabalho disponvel.

    Assim a fora de trabalho no contratada pelos Compradores Locais se v na contingncia de oferecer a sua produo para o Beneficiador pelo preo que ele pode pagar. importante referir que o Beneficiador embora pagando menos pela corda a nica opo para metade dos catadores durante a baixa estao.

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    3.2.3.3 Prestao de servios de beneficiamento Eventualmente alguns Beneficiadores podero cooperar com atacadistas e efetuar o beneficiamento de lotes de caranguejo que no puderam ser transportados ou que teriam que ser vendidos por preo menor desestabilizando o mercado.

    Neste caso o Beneficiador estar processando matria prima de terceiro, entregando ao proprietrio da mesma os derivados obtidos e recebendo deste um valor fixo por cada quilo de produto.

    3.2.4 A comercializao dos derivados O beneficiamento a maioria das vezes, uma atividade espordica, oportunista e informal. A atividade no tem sido objeto de fiscalizao de qualquer natureza. Os produtos derivados so comercializados sem formalidades fiscais e o que pior sem controle sanitrio.

    3.2.4.1 A patinha de caranguejo A patinha de caranguejo comercializada em sacolas contendo 12 unidades, por preos que variam entre R$ 2,00 e R$ 1,00 por dzia.21

    3.2.4.2 A carne de caranguejo A carne de caranguejo comercializada em sacolas contendo um quilograma, por preos que variam entre R$ 12,00 e R$ 15,00 por quilograma.

    3.3 A temporalidade das operaes A captura e comercializao do caranguejo so influenciadas por mltiplos fatores que determinam variaes sazonais de produo e obrigam a organizar o fluxo de transporte de forma a minimizar o tempo gasto para atingir o consumidor.

    Obrigatoriamente o fluxo de transporte rodovirio para Fortaleza tem de ocorrer durante a noite e todas as atividades que antecedem precisam ser coordenadas em funo o horrio limite para a partida do caminho.

    3.3.1 A sazonalidade O ciclo biolgico do animal e os picos de demanda determinados pela periodicidade das frias escolares e laborais determinam dois tipos de sazonalidade

    3.3.1.1 A sazonalidade e a qualidade da oferta No ciclo biolgico do Caranguejo so definidos quatro perodos

    A andada22 um evento de reproduo do caranguejo Ucides cordatus que ocorre com freqncia entre os meses de janeiro a maio, quando machos e fmeas saem de

    21 Preos de dezembro de 2003

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    suas tocas para acasalamento e liberao das larvas. Durante a vazante da mar, milhares de fmeas migram para as margens dos canais para liberar as suas larvas.

    Normalmente, a liberao ocorre no incio da manh. Em poucas horas a mar vai secar e a maior parte das larvas sero levadas para a regio costeira. Nesse perodo, a grande maioria ser predada por pequenos organismos aquticos. As poucas larvas que sobreviveram, quando retornam para o manguezal, j esto em outro estgio larval, conhecido como magalopa, que iro se transformar em pequenos caranguejos e perpetuar a espcie.

    Logo aps a andada os caranguejos comeam a se enterrar. Eles cavam buracos mais fundos, armazenam folhas seu principal alimento e tapam os buracos com montes de lama. Abrem somente um pequeno respiro. Quando as folhas armazenadas acabam, ele destapa o buraco, carrega mais folhas para dentro de sua toca e volta a tap-la.

    Nessa poca23 necessrio conhecer muito bem o comportamento do caranguejo para poder captur-lo. O caranguejo comea a se enterrar em maio e permanece nessa fase at o momento em que troca de casco. Durante esse perodo, quase no se locomove e acumula energia em forma de gordura, que posteriormente ser utilizada no processo de ecdise ou muda.

    No ms de setembro os caranguejos comeam a ficar de leite. O leite uma substncia branca leitosa, produzido pelo organismo do caranguejo no perodo que antecede a troca de casco (ecdise). Esse lquido formado por uma sustncia qumica composta por hormnios, protenas, lipdios, fsforo, sdio, potssio, clcio, nitrognio, magnsio, cobre, zinco, cromo e mangans, que formar a nova carapaa (exoesqueleto).

    Segundo o saber popular dos caranguejeiros, o caranguejo de leite no deve ser comido, pois poder causar diarrias e, no caso de mulheres grvidas, seqelas ao beb. Nos meses de outubro e novembro acontece a troca de casco.

    O caranguejo fica no fundo do buraco, abre-se uma fenda na parte posterior da carapaa e, lentamente o caranguejo comea a sair. Nesse momento, o caranguejo est totalmente mole, coberto por uma fina membrana, como se fosse uma gelatina. O seu corpo absorve gua e "incha.

    O casco novo comea a endurecer e, aps 12 a 18 horas, o animal est com a nova carapaa endurecida. Na fase juvenil a troca do exoesqueleto ocorre mais de uma vez ao ano. A partir de 03 centmetros de comprimento da carapaa a ecdise s acontece uma vez no ano e o aumento do tamanho de aproximadamente 01 cm.

    No perodo que antecede a andada e tambm durante mesma, os machos liberam uma espuma branca que sai da boca e recobre todo o seu corpo. H hipteses de que a substncia ativa presente nesta espuma seja provavelmente um feromnio com a funo de estimular o incio do perodo reprodutivo. As substncias exaladas neste perodo promovem um dor caracterstico no manguezal, que lembra e cheiro de caranguejos cozidos.

    Entretanto os perodos em que o caranguejo se enterra tem uma interdependncia com a micro-topografia e a natureza do solo do habitat e numa mesma regio o caranguejo da parte mais elevada se enterra primeiro e o caranguejo do siribal se enterra por ltimo.

    22 Conhecida no Delta como radiao ocorre durante trs dias. Nesse perodo o caranguejo no come e fica fraco. Seria o perodo apropriado para instituir o defeso 23 Conhecida no Delta como renova do casco o caranguejo procura os pontos mais elevados para se enterrar a partir de setembro outubro e permanece enterrado at dezembro janeiro

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    O caranguejo mais fundo e o caranguejo das bordas novas das ilhas do mais trabalho a desenterrar e o catador obtm menor produo em uma jornada. Por outro lado esse caranguejo quase sempre tem maior tamanho e mais valorizado compensando o maior esforo do catador.24

    O caranguejo do mangue baixinho e ralo do interior das ilhas alm de se enterrar mais cedo sempre menor que o caranguejo do siribal e por isso tem menos valor, mas tambm mais fcil de pegar.

    Face ao exposto fcil perceber que em alguns meses do ano fica mais fcil capturar caranguejo do que em outras. Mas o saber feito da experincia leva o catador a decidir, dia aps dia, onde lhe mais conveniente ir pegar caranguejo.

    3.3.1.2 A sazonalidade do consumo O caranguejo u um animal do litoral cujo consumo est fortemente correlacionado com o fluxo de turistas durante as frias. Esse fluxo marcado por dois piques correspondentes aos meses de janeiro e julho e s semanas do carnaval, pscoa, e a datas de comemorao regional.

    Esses perodos so a Alta Estao e neles o consumo de caranguejo dirio. A demanda por caranguejo explode. Nos restantes perodos do ano a demanda se restringe ao consumo de dois dias da semana sbado e domingo. a Baixa Estao.

    O consumo semanal na Alta Estao pode ser mais do que o triplo do que ocorre durante a Baixa Estao. Entretanto a quantidade de catadores profissionais a mesma nas duas estaes e os grandes compradores precisam garantir o abastecimento durante todo o ano.

    Para isso nos seus contratos instituem um mecanismo de dosagem mediante o qual fixa o nmero de cordas contratadas para a Baixa Estao sendo rigoroso com a qualidade25 e aumenta esse nmero na Alta Estao aliviando as exigncias de qualidade.

    Os catadores se organizam deixando o caranguejo menor do areado26 , enterrado mais perto da superfcie, para pegar na Alta estao e pegando o caranguejo do siribal, enterrado mais profundamente, na Baixa Estao.

    3.3.2 A mudana cclica do horrio da mar A atividade de catao tem de ocorrer de acordo com a mar, sempre durante a baixa-mar, tendo que terminar a quando a gua comea a subir. E, a cada dia, a baixa-mar durante o perodo de sol, acontece uma hora e vinte minutos mais tarde que no dia anterior.

    Assim a cada 10,5 dias o comportamento das mars volta a ser similar, quanto ao horrio da baixa-mar. Nesse dez dias, pelos menos durante trs, vai ocorrer baixa-mar, em horrio que j no possibilita capturar a quantidade de caranguejo necessria para atender o contrato.

    Nestes dias o catador tem de catar parte do caranguejo na vspera e estocar o mesmo dentro das canoas, coberto por folhagem de mangue.

    24 designado no Delta por caranguejo pantanal 25 Entenda-se por tamanho 26 Interior das ilhas

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    3.3.3 A perecibilidade A mortalidade do caranguejo um complicador para a comercializao do mesmo vivo. Os produtos derivados patinha e carne face ao carter artesanal do beneficiamento tm perodos de conservao reduzidos.

    Assim a elevada perecibilidade um fator que tende a restringir a comercializao do caranguejo vivo e dos seus derivados, nas praias e cidades prximas s regies produtoras.

    3.3.3.1 A mortalidade do caranguejo vivo O caranguejo precisa manter as brnquias umedecidas para sobreviver fora de gua.Por isso, quando retirado do seu habitat, a exposio ao sol e ao vento restringe o perodo de vida. Por outro lado o jejum prolongado tambm contribui para reduzir a vitalidade do animal.

    A conjugao da desidratao, com a fome e com o stress do encordoamento, j determinam mortalidade significativa que pode atingir mais de 3 % em 12 horas.

    Quando transportado a longa distancia em caminho "carga seca" ou em "caminho ba" em camadas sobrepostas o peso das camadas superiores e o sacolejar contnuo do veiculo ampliam o stress, elevando a mortalidade para at 30% em doze horas.27

    3.3.3.2 A vida til dos produtos beneficiados Os produtos beneficiados encontrados no mercado quase sempre so produzidos em instalaes improvisadas com baixo grau de assepsia. A forma como os produtos so congelados dentro de sacolas plsticas sobrepostas dentro de um freezer comercial28 comum fazem com que o ncleo da sacola demore muito tempo para congelar.

    Por outro lado, a temperatura final de congelamento tambm fica muito aqum da preceituado, o que no favorece a conservao do produto.

    3.3.4 Intensidade da operao em cada estao O perodo da Alta Estao corresponde a dois meses de frias e s semanas do Carnaval, Pscoa e da Ptria, tendo a durao total de 18 semanas o que representa cerca de 30% do ano.

    Ao perodo da Baixa Estao correspondem cerca de 33 semanas o que representa cerca de 70% do ano.

    Durante todo o ano um catador, em mdia produzir 4.680 cordas a que correspondem 18.720 caranguejos.

    3.3.4.1 A operao na Baixa Estao Na Baixa Estao o caranguejo transportado apenas trs vezes na semana, quarta e sexta e sbado. Para atender a demanda o catador trabalha trs dias por semana.

    27 A introduo de inovaes criteriosas nas condies de transporte rodovirio certamente poder trazer uma diminuio na mortalidade 28 Temperatura mnima inferior a 180 C e capacidade diria inferior a 10 kg

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    Na baixa estao a exigncia de qualidade maior e em conseqncia o atribui-se a cada catador uma produo mdia de 20 cordas por dia.

    Durante a Baixa Estao um catador produz em mdia 60 cordas por semana e nas 33 semanas 1.980 cordas.

    3.3.4.2 A operao na Alta Estao Na Alta Estao o caranguejo transportado no mnimo trs vezes por semana s quartas, sextas e sbados. Sempre que a demanda se intensifica o caranguejo tambm transportado segundas feiras e mesmo ao domingo. Para atender a demanda o catador trabalha cinco dias por semana.

    Na Alta Estao o comprador abre mo do critrio de qualidade liberando o sistema de dosagem e em conseqncia a produo mdia do catador sobe para 30 cordas por dia.

    Durante a Alta Estao um catador produz em mdia 150 cordas por semana e nas 18 semanas 2.700 cordas.

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    4 Os mdulos produtivos elementares

    4.1 Anlise de Casos

    4.1.1 Caso A - Catadores Ilha Grande Consumo domiciliar Parnaba

    Este caso considera a oferta de caranguejo originada em catadores autnomos da Ilha Grande que fazem leilo da produo no Porto dos Tatus, sendo esta arrematada por Feirantes Retalhistas que transportam os amarrados em nibus urbanos at aos mercados municipais de Parnaba29, onde adquirida para consumo domiciliar.

    Figura 7 Catadores da Ilha Grande Consumo domiciliar Parnaba

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadores deBares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresEm Bares

    ConsumidoresEm Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso A Catadores Ilha Grande

    Consumo Domstico Parnaba

    ConsumidoresDomsticos

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadores deBares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresEm Bares

    ConsumidoresEm Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso A Catadores Ilha Grande

    Consumo Domstico Parnaba

    ConsumidoresDomsticos

    29 Mercados do Quarenta, do Caramuru e do Bairro de Ftima.

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    4.1.1.1 Caso A 100 - Retalhista de 100 cordas dia Tabela 2 Caso A 100 B Baixa Estao

    individuo parceiros4 Intermedirio

    1 canoa primeiroRetalhista

    CONSUMIDORDomiciliar

    Concentra a Produo de X Catadores 1 4 4Distribui para Y Consumidores 97 97Cordas Por consumidor 1

    Cordas Adquiridas 25 100 100 1Preo Compra R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,86 R$ 1,33Valor do Produto Comprado R$ 86,00

    Vesturio e alimentao R$ 4,00 R$ 16,00Servios de Pilotagem e EstivaManuteno de embarcao R$ 2,00 R$ 8,00Transporte Rodo Local R$ 8,00Transporte Rodo Inter EstadualImpostos e taxasLocao de pedra no mercado R$ 10,00

    Porcentual de Perda 3%Perda em Cordas 3

    Cordas Vendidas 25 100 97Preo de Venda R$ 0,86 R$ 0,86 R$ 1,33Valor do Produto Vendido R$ 21,50 R$ 86,00 R$ 129,01

    Margem Bruta R$ 15,50 R$ 62,00 R$ 25,0172% 72% 19%

    CATADORES

    Delta

    Mercado

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    individuo parceiros4 Intermedirio

    1 canoa primeiroRetalhista

    CONSUMIDORDomiciliar

    Concentra a Produo de X Catadores 1 4 4Distribui para Y Consumidores 97 97Cordas Por consumidor 1

    Cordas Adquiridas 25 100 100 1Preo Compra R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 1,25 R$ 1,69Valor do Produto Comprado R$ 124,50

    Vesturio e alimentao R$ 4,00 R$ 16,00Servios de Pilotagem e EstivaManuteno de embarcao R$ 2,00 R$ 8,00Transporte Rodo Local R$ 8,00Transporte Rodo Inter EstadualImpostos e taxasLocao de pedra no mercado R$ 10,00

    Porcentual de Perda 3%Perda em Cordas 3

    Cordas Vendidas 25 100 97Preo de Venda R$ 1,25 R$ 1,25 R$ 1,69Valor do Produto Vendido R$ 31,13 R$ 124,50 R$ 163,93

    Margem Bruta R$ 25,13 R$ 100,50 R$ 21,4381% 81% 13%

    CATADORES

    Delta

    Mercado

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 36 de 57 pginas

    Tabela 3 Caso A 100 B Baixa Estao

    individuo parceiros4 Intermedirio

    1 canoa primeiroRetalhista

    CONSUMIDORDomiciliar

    Concentra a Produo de X Catadores 1 4 4Distribui para Y Consumidores 97 97Cordas Por consumidor 1

    Cordas Adquiridas 25 100 100 1Preo Compra R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 1,25 R$ 1,69Valor do Produto Comprado R$ 124,50

    Vesturio e alimentao R$ 4,00 R$ 16,00Servios de Pilotagem e EstivaManuteno de embarcao R$ 2,00 R$ 8,00Transporte Rodo Local R$ 8,00Transporte Rodo Inter EstadualImpostos e taxasLocao de pedra no mercado R$ 10,00

    Porcentual de Perda 3%Perda em Cordas 3

    Cordas Vendidas 25 100 97Preo de Venda R$ 1,25 R$ 1,25 R$ 1,69Valor do Produto Vendido R$ 31,13 R$ 124,50 R$ 163,93

    Margem Bruta R$ 25,13 R$ 100,50 R$ 21,4381% 81% 13%

    CATADORES

    Delta

    Mercado

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 37 de 57 pginas

    4.1.1.2 Caso A 100 - Retalhista de 400 cordas dia

    Tabela 4 Caso A 400 cordas dia Baixa Estao

    individuo parce iros4 Intermedirio

    1 canoa primeiroRetalhista

    CONSUM IDORDomiciliar

    Concentra a Produo de X Catadores 1 4 16Distribui para Y Consumidores 388 388Cordas Por consumidor 1

    Cordas Adquiridas 25 100 400 1Preo Compra R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,76 R$ 1,11Valor do Produto Comprado R$ 304,00

    Vesturio e alimentao R$ 4,00 R$ 16,00Servios de Pilotagem e EstivaManuteno de embarcao R$ 2,00 R$ 8,00Transporte Rodo Local R$ 23,00Transporte Rodo Inter EstadualImpostos e taxasLocao de pedra no mercado R$ 10,00

    Porcentual de Perda 3%Perda em Cordas 12

    Cordas Vendidas 25 100 388Preo de Venda R$ 0,76 R$ 0,76 R$ 1,11Valor do Produto Vendido R$ 19,00 R$ 76,00 R$ 430,68

    M argem Bruta R$ 13,00 R$ 52,00 R$ 93,6868% 68% 22%

    CATADORES

    Delta

    Mercado

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 38 de 57 pginas

    4.1.1.3 Caso A 700 - Retalhista Beneficiador 700 cordas dia Tabela 5 Caso A 700 cordas dia Baixa Estao

    individuo parce iros4 Intermedirio Benef iciador

    1 canoa primeiro ExcedenteRetalhista Domiciliar

    CONSUM IDOR CONSUM IDORDomiciliar Domiciliar

    Concentra a Produo de X Catadores 1 4 28 28Distribui para Y Consumidores 340 340 0 0Cordas Por consumidor 1 1

    Cordas Adquiridas 25 100 350 1 350 1Preo Compra R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,55 R$ 1,00 R$ 0,55 R$ 0,00Valor do Produto Comprado R$ 192,50 R$ 192,50

    Vesturio e alimentao R$ 4,00 R$ 16,00Servios de Pilotagem e EstivaManuteno de embarcao R$ 2,00 R$ 8,00Transporte Rodo Local R$ 15,00 R$ 15,00Transporte Rodo Inter EstadualImpostos e taxasLocao de pedra no mercado R$ 10,00

    mo obra benef iciamento R$ 49,00insumos benef iciamento R$ 28,00

    Produto Patinha em duzia 112pro Patinha R$ 1,50 1,50Valor Patinha R$ 168,00Produta Carne em kg 28Preo Carne R$ 12,00 12,00Valor Carne R$ 336,00

    Porcentual de Perda 3% 3%Perda em Cordas 11 11

    Cordas Vendidas 25 100 340Preo de Venda R$ 0,55 R$ 0,55 R$ 1,00Valor do Produto Vendido R$ 13,75 R$ 55,00 R$ 339,50 R$ 504,00

    M argem Bruta R$ 7,75 R$ 31,00 R$ 122,00 R$ 219,5056% 56% 36% 44%

    M argem Bruta Conjunta R$ 341,5040%

    CATADORES

    Delta

    Mercado

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 39 de 57 pginas

    4.1.2 Caso B - Catadores Ilha Grande Consumo Bar Parnaba Este caso considera a oferta de caranguejo originada em catadores autnomos da Ilha Grande que fazem leilo da produo no Porto dos Tatus, sendo esta arrematada por Operadores de Bar que transportam os amarrados por qualquer meio at seus estabelecimentos em Parnaba e Lus Correia onde os caranguejos so consumidos.

    Figura 8 Catadores da Ilha Grande Consumo em Bar Parnaba

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadoresde Bares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem BaresConsumidores

    em Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso B Catadores Ilha Grande

    Consumo Bares e Restaurantes

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadoresde Bares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem BaresConsumidores

    em Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso B Catadores Ilha Grande

    Consumo Bares e Restaurantes

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 40 de 57 pginas

    4.1.3 Caso C - Catadores de Carnaubeiras Consumo em Bar Lus Correia

    Este caso considera a oferta de caranguejo originada em catadores pr-contratados em Carnaubeiras que entregam a produo para Comprador Local que a embarca para o Porto dos Tatus onde o contratante, caracterizado como um grande consumidor, operador de bar, recebe e faz transportar a mesma, para o seu bar em Lus Correia, onde prepara e vende a consumidores.

    Figura 9 Catadores de Carnaubeiras Consumo em Bar Lus Correia

    Catadores

    AgenteLocal

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadorde Bar

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem Bar

    Consumidoresem Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso C Catadores Carnaubeiras

    Consumo Bar e Restaurante Luis Correia

    Catadores

    AgenteLocal

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadorde Bar

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem Bar

    Consumidoresem Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso C Catadores Carnaubeiras

    Consumo Bar e Restaurante Luis Correia

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 41 de 57 pginas

    4.1.4 Caso D Catadores Vrios Portos Consumo Domiciliar e Bar Fortaleza

    Este caso considera a oferta de caranguejo originada em catadores pr-contratados em vrios Portos do Delta que entregam a produo para Compradores Locais que a embarcam as mesmas para o Porto dos Tatus, onde o contratante concentra a oferta, fazendo o seu envio em caminho para Fortaleza, com despacho fiscal para o prprio contratante, que vai em seguida proceder sua venda no atacado pata Feirantes Retalhistas que a revendem a consumidores domiciliares e a operadores de Bares que preparam e vendem a consumidores.

    Figura 10 Catadores Vrios Portos Consumo Domiciliar e Bar Fortaleza

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadoresde Bares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem BaresConsumidores

    em Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso D Catadores vrios Portos regio maranhenseConsumo Bares e Domstico em Fortaleza

    Atacad

    ista

    Catadores

    AgentesLocais

    AtacadistasConcentradores

    AtacadistasDistribuidores

    FeirantesRetalhistas

    Operadoresde Bares

    Operadores deRestaurantes

    Operadores de Beneficiamento

    ConsumidoresDomsticos

    Consumidoresem BaresConsumidores

    em Restaurantes

    Outros Interv.Acessrios

    Caso D Catadores vrios Portos regio maranhenseConsumo Bares e Domstico em Fortaleza

    Atacad

    ista

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 42 de 57 pginas

    5 A quantificao da cadeia de comercializao A cadeia de comercializao pode ser analisado quanto aos segmentos de produo, transporte e consumo.

    5.1 A quantificao da produo Para quantificar o processo de captura e compra local efetuou-se uma pesquisa de campo30 por amostragem que possibilita com confiabilidade satisfatria estimar os Catadores Profissionais e os Compradores Locais ativos na segunda quinzena de Dezembro de 2003 e a produo que obtinham nesse perodo.

    5.1.1 A dimenso geral da regio de captura A atividade extrativista exercida no referencial geogrfico do Delta sobre as reas cobertas por mangue entrecortadas por igaraps, rios e canais que possibilitam o transporte de catadores e da sua produo.

    Estabeleceu-se uma linha permetral envolvente do mangue, dunas e tesos nela inclusas a qual est representada na figura 11. A superfcie interna a essa envolvente foi calculada em cerca de 75.200 hectares.

    5.1.2 A distribuio espacial dos aglomerados de catadores Dentro dessa envolvente foram identificados 17 aglomerados populacionais de porte e caractersticas muito diferenciados nos quais os catadores tm suas residncias e nos quais atuam Compradores Locais por conta de grandes Atacadistas. Esses aglomerados tambm esto representados na figura 11.

    Importante referir que tais aglomerados ocorrem principalmente na sub regio de contato do mangue com a terra firme.

    30 A qual ofereceu informaes com elevada confiabilidade para o Municpio de Araioses e de menor confiabilidade para os restantes municpios.

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 43 de 57 pginas

    Figura 11 Regio de Captura e Aglomerados habitacionais

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 44 de 57 pginas

    5.1.3 A distribuio espacial do mangue Dentro da regio de captura foram identificados cerca de 29.300 hectares de mangue.

    A figura 12, apresentada na pgina seguinte, mostra uma linha amarela envolvente da regio onde capturado o caranguejo u. No interior dessa envolvente foram mapeadas manchas de mangue, situadas em ilhas e em bordas de terra firme.

    Tabela 6 - Distribuio do Mangue nos Municpios

    Piau

    Tutia gua Doce Araioses

    Ilha Grande Total

    25% 5% 67% 4% 100%

    Mangue Total 7.235 1.320 19.723 1.028 29.306

    23% 0% 72% 5% 100%

    Mangue em Ilhas 5.100 - 16.121 1.028 22.249 Grande de Paulino 3.482 3.482 16%

    Caj 2.843 2.843 13%

    Canrias 2.465 2.465 11%

    Ilha Grande 1.028 1.028 5%

    em outras 1.618 10.813 12.431 56%

    30% 19% 51% 0% 100%

    Mangue em continente 2.135 1.320 3.602 7.057

    Maranho

    Na realidade cerca de 96% do mangue est em territrio maranhense. O caranguejo do Delta deve ser considerado como um produto maranhense.31

    O gerenciamento ambiental da regio efetuado pelo IBAMA no mbito da RESEX Marinha do Delta do Parnaba32 que cobre cerca de 70% da regio de captura. Os limites da RESEX no incluem os municpios de gua Doce e Tutia. Na rea destes dois municpios que representa 30% da regio de captura a responsabilidade de fiscalizao ambiental da responsabilidade do rgo estadual.

    Importa referir que o mangue no uma cobertura com caractersticas homogneas33.

    Na34 costa brasileira so encontradas espcies de rvores pertencentes a quatro gneros: Rhizophora, Avicennia, Laguncularia, Conocarpus.

    - Mangue Vermelho - possui uma grande profuso de razes. Tem folha mais comprida e o mais frtil para o caranguejo. Seu fruto se desenvolve at ficar no formato de uma 'caneta', quando se desprende para germinar. Fica prximo s margens do rio.(Nome cientfico - Rhizophora mangle)

    - Mangue Negro ou Siriuba - cresce na lama mais firme e com menos oxignio, por isso suas razes saem da terra para encontrar ar atravs de pequenos orifcios chamados pneumatforos. Adaptam-se tambm a solos com alta salinidade. A madeira usada para fazer uma fumaa que espanta mosquitos durante a pesca do caranguejo. (Avicennia schaueriana)

    31 Na realidade a emisso de notas fiscais para acompanhar mercadoria em transito efetuada pela receito Estadual do Piau 32 O estudo de implantao da RESEX Marinha do Delta do Parnaba abrangendo os Estados do PI / MA e os municpios da lha Grande (PI) / Araioses (MA) considerou a rea de 27.560 hectares onde foi estimada a presena de 3600 famlias 33 sntese transcrita de http://www.bahiasol.com/ecologia/mangue005.htm

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 45 de 57 pginas

    Figura 12 rea da Captura e rea de Mangue

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    - Mangue-Preto (Avicennia germinans)

    - Mangue Branco - cresce em terrenos arenosos, longe da margem do rio, onde h menor variao no volume de guas. Respira atravs de pneumatforos. (Laguncularia racemosa)

    - Mangue Manso - cresce em terrenos mais arenosos, geralmente prximos a dunas. Uma de suas variaes o Mangue de Boto, que possui sementes neste formato. (Conocarpus erecta)

    O caranguejo se alimenta da folha das rvores de mangue, quando esta est madura e cai na lama. Quanto maiores e mais adensadas esto as rvores, maior a quantidade de alimento disponvel para o caranguejo.

    Foto 12 Exemplares de Caranguejo Guaj observados na vazante

    Supondo que no ocorresse explorao de caranguejo (antropismo) a quantidade e o tamanho dos caranguejos seria proporcional quantidade de folhas que caem das arvores.

    Assim na pratica, o interior das ilhas menos produtivo do que as margens e o mangue em crescimento mais produtivo que o mangue em clmax. Tambm o tamanho do caranguejo maior no mangue siriba do que no mangue branco.

    No existe na regio de captura uma atribuio de direitos de propriedade ou posse sobre a captura do caranguejo. Cada um cata onde quer. Porm na prtica a catao, a maioria das vezes, ocorre o mais prximo possvel do local onde o catador reside.

    Assim o mangue da regio de captura acaba sendo explorado por catadores residentes nos aglomerados que lhe ficam mais prximos como se mostra na figura 13 que mostra a distribuio territorial do mangue em funo dos aglomerados.

    Os catadores residentes em carnaubeiras so os que mais se distanciam da sua residncia.

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    Figura 13 Sub distribuio territorial por aglomerados

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 48 de 57 pginas

    5.1.4 A quantificao dos catadores A pesquisa efetuada obteve dados que permitem estimar a quantidade de catadores profissionais ativos em cerca de 700.

    A este nmero poderamos adicionar catadores furtivos (envolvendo pessoas no profissionais que na Alta Estao aderem a catadores para somar produo e pessoas que esporadicamente pegam caranguejo para autoconsumo prximo s suas residncias) que estimamos no dever ser superior a 50% dos catadores profissionais.

    Tabela 7 Quantidade de Catadores Ativos

    Porto AtivosCarnaubeiras 179 25%Porto dos Tatus 100 14%Barreirinha 74 10%Sede 55 8%Torto 52 7%Porto da Areia 35 5%Pedrinhas 30 4%Morro do Meio 25 4%Barra 25 4%Cajazeiras 25 4%Ilha Grande 21 3%Conceio 20 3%Caiara 18 3%Passarinho 12 2%Santa Rosa 12 2%Flecheira 10 1%Bolacha 8 1%Coqueiro 6 1%Cajueiro -

    707

    Catadores Profissionais

    Figura 14 Distribuio dos Catadores Profissionais por Municpio

    Face quantificao acima achamos difcil que o total global de catadores profissionais ativos e de catadores furtivos, existentes no Delta, seja superior a 1.050.

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 49 de 57 pginas

    5.1.5 A quantificao dos compradores locais O segundo elo da cadeia de comercializao o comprador local. A pesquisa efetuada detectou a existncia de at 50 compradores locais, ativos no Delta, vinculados a atacadistas que abastecem Fortaleza.

    Cada comprador trabalha com a mdia de 11,8 catadores que sobre sua coordenao se mobilizam e capturam o caranguejo de acordo com a demanda. A quantidade de catadores agregados a cada comprador Local variou desde apenas quatro at o mximo de oitenta.

    Tabela 8 Quantidade de Compradores Locais Ativos

    MunicpioPorto contrato consumo

    Fortaleza LocalTotal 50 14

    - - Ilha Grande 3 9

    Porto dos Tatus 3 9 Araioses 33 2

    Conceio 2 2 Torto 4 Morro do Meio 1 Passarinho 1 Caiara 3 Cajueiro - Carnaubeiras 9 Bolacha 1 Barreirinha 9 Pedrinhas 3 Coqueiro 1

    gua Doce 3 - Sede 3

    Tutia 11 3 Barra 1 1 Porto da Areia 3 2 Santa Rosa 1 Cajazeiras 2 Flecheira 1 Ilha Grande 2

    Compradores Locais

    5.1.6 Uma estimativa da captura A pesquisa efetuada permitiu estimar que os cerca de 700 catadores ativos entregam por ano aos compradores cerca de 3,2 milhes de cordas de caranguejo. Esse clculo foi efetuado tomado estimativas de produo por catador que esto explcitas no cabealho da tabela 9.

    A contribuio por municpio ser idntica do grfico da figura 14.

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 50 de 57 pginas

    Tabela 9 Estimativa da captura em cordas de caranguejo

    captura em cordas Baixa Alta no Anoproduo do catador em cordas por dia 20 30 25 trabalho durante uma semana em dias 3 5 189 produo do catador em cordas por semana 60 150 92 durao da Estao em semanas 33 18 51 produo do catador em cordas por Estao 1.980 2.700 4.680

    Municpio CatadoresPorto Ativos

    Total 707 1.360.260 1.854.900 3.215.160 100%

    Ilha Grande 100 198.000 270.000 468.000 15%Porto dos Tatus 100 198.000 270.000 468.000 15%

    Araioses 424 799.920 1.090.800 1.890.720 59%Conceio 20 39.600 54.000 93.600 3%Torto 52 102.960 140.400 243.360 8%Morro do Meio 25 49.500 67.500 117.000 4%Passarinho 12 23.760 32.400 56.160 2%Caiara 18 35.640 48.600 84.240 3%Cajueiro - - - - Carnaubeiras 179 354.420 483.300 837.720 26%Bolacha 8 15.840 21.600 37.440 1%Barreirinha 74 146.520 199.800 346.320 11%Pedrinhas 30 59.400 81.000 140.400 4%Coqueiro 6 11.880 16.200 28.080 1%

    gua Doce 55 108.900 148.500 257.400 8%Sede 55 108.900 148.500 257.400 8%

    Tutia 128 253.440 345.600 599.040 19%Barra 25 49.500 67.500 117.000 4%Porto da Areia 35 69.300 94.500 163.800 5%Santa Rosa 12 23.760 32.400 56.160 2%Cajazeiras 25 49.500 67.500 117.000 4%Flecheira 10 19.800 27.000 46.800 1%Ilha Grande 21 41.580 56.700 98.280 3%

    5.1.7 A contribuio por aglomerado de catadores Carnaubeiras o aglomerado de catadores que oferece maior contribuio para a produo de caranguejo no Delta do Parnaba.

    Porto dos Tatus, local onde o processo de abastecimento para Fortaleza foi iniciado mais duas dcadas, continua a ter um expressivo segundo lugar na produo de caranguejo, porm destinado, agora, ao abastecimento local.

    A figura 15 mostra a contribuio de cada um dos aglomerados para a produo do Delta.

  • verso divulgada em 09/01/2006 pgina 51 de 57 pginas

    Figura 15 Contribuio dos aglomerados de catadores

    5.2 A quantificao do transporte O transporte da produo do local da captura para o porto de Tatus corre por conta do atacadista. Os amarrados so empilhados nos barcos motorizados com cobertas para proteger a carga do sol.

    Identificaram-se trs rotas principais

    Carnaubeiras Tatus com um perodo de navegao de duas horas e meia;

    gua Doce Tatus35 com vrios pontos de carga e tempo de navegao de trs horas e meia.

    35 Esta rota recebe a produo dos aglomerados do Torto e Morro do Meio. Na baixa Estao essa produo transportada pela embarcao que vem de carnaubeiras

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    Morro do Meio Igarap do Torto com tempo de navegao de 30 minutos

    5.3 A quantificao da comercializao A comercializao do Caranguejo capturado no Delta visa atender o consumo local em Tutia e Araioses Parnaba e Luis Correia e, sobretudo o consumo de Fortaleza e Teresina.

    5.3.1 A comercializao em Tutia e Araioses Nos municpios de Tutia e Araioses quase se pode opinar que est ocorrendo um desabastecimento de caranguejo. Isso se deve ao fato de a populao ter menor poder aquisitivo que os consumidores de Fortaleza e o Atacadista pagar melhor preo do que o consumidor local pode pagar.36

    A comercializao de caranguejo em Tutia foi estimada em cerca de 93.600 cordas por ano. O consumo local em Tutia poder ser superior talvez em cerca de 10% porquanto parte do suprimento originado por captura para autoconsumo.

    A comercializao de caranguejo em Araioses foi estimada em cerca de 93.600 cordas por ano. O consumo local em Araioses sem dvida ser superior talvez em cerca de 20% porquanto parte do suprimento originado por captura para autoconsumo.

    Nos Municpios Maranhenses seriam comercializadas cerca de 187.200 cordas o que representa cerca de 6% do caranguejo comercializado anualmente no Delta

    5.3.2 A comercializao em Parnaba e Lus Correia O caranguejo capturado pelos catadores com base no Porto dos Tatus est na sua quase totalidade direcionado para o abastecimento de Parnaba e de Lus Correia. A quantidade de caranguejo comercializado da ordem de 234.000 cordas por ano.

    O suprimento para esses municpios complementado por caranguejo vindo de Tutia e de Carnaubeiras. Parte do transporte feito por barco e parte feito em nibus de linha. Foi estimado que o fluxo complementar comercializado seja da ordem de 117.000 cordas por ano.

    Assim nestes municpios Piauienses seriam comercializados cerca de 351.000 cordas o que representa 11% do caranguejo comercializado anualmente no Delta

    5.3.3 A comercializao na cidade de Teresina A cidade de Teresina abastecida por um fluxo oriundo de Parnaba que foi estimado em cerca 74.400 cordas por ano o que representa 2 % do caranguejo comercializado anualmente no Delta

    36 O mesmo acontece com o pescado mais qualificado que comprado por intermedirios e enviado para Fortaleza.

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    5.3.4 A comercializao na Grande Fortaleza O caranguejo passou a ter um espao de primeira grandeza na programao social da cidade de Fortaleza. Nas noites de quinta feira os bares da orla da praia realizam shows ao vivo sob o lema noite do caranguejo.

    Esse fenmeno favorece o modelo produtivo porquanto garante a ocupao para os catadores durante a semana. Atualmente a preocupao dos atacadistas suprir sem falhas o abastecimento das noites de quinta feira.

    Esse fenmeno contribuiu tambm para aumentar o consumo. Esse aumento provocou o aumento da explorao e j notria a diminuio do tamanho modal dos caranguejos capturados no Delta.

    Isso induziu iniciativa de explorar uma origem alternativa e o atacadista principal montou um sistema de abastecimento no municpio de Cndido Mendes no Nordeste do Maranho o qual dever contribuir com cerca de 20% da oferta em 2004.

    O aumento da distancia de transporte ocasiona um incremento na mortalidade do caranguejo. O principal atacadista afirmou estar operando com uma mortalidade prxima a 50%. 37

    5.3.4.1 A quantidade comercializada As informaes obtidas em campo permitiram elaborar um prognstico do abastecimento de Fortaleza para o ano de 2004 considerando os principais operadores e a origem do caranguejo.

    Tabela 10 Abastecimento de Fortaleza em 2004

    Abastecimento de FortalezaExpectativa para o ano de 2004

    Estao Baixa Alta no AnoOrigem

    Atacadista

    Parnaba 1.032.768 1.408.320 2.441.088 81%

    Xico 594.000 810.000 1.404.000 47%Paulo 312.840 426.600 739.440 25%Outros 125.928 171.720 297.648 10%

    Godofredo Viana 237.600 324.000 561.600 19%

    Xico 237.600 324.000 561.600 19%

    TOTAL 1.270.368 1.732.320 3.002.688 100%

    quantidade de cordas

    relevante a dominncia do principal Atacadista que contribui com cerca de 65% da oferta. O segundo Atacadista contribui com apenas 25% da oferta.

    O caranguejo que chega a Fortaleza preferencialmente vendido para Bares e restaurantes e em segundo plano para vendedores ambulantes que junto ao mercado de

    37 Revelou que iniciativas para reduzir a mortalidade no apresentaram, no seu modus operandi, justificativa econmica significante.

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    So Sebastio, comercializam na avenida, o produto que lhes repassado pelos atacadistas.

    Estima-se que os consumidores intermedirios do tipo bares e restaurantes da orla da praia sejam cerca de 150 e em mdia abatam na Baixa Estao cerca de 150 cordas por semana. Na Alta Estao abatam em mdia cerca de 400 cordas por semana.

    5.3.4.2 O preo praticado em Fortaleza O caranguejo vivo vendido em Fortaleza pelos Atacadistas mediante duas modalidades.

    Por amarrado com dez cordas, contendo indiscriminadamente caranguejos vivos e mortos, pelo preo de R$ 23,00, o que equivale a R$ 0,60 por unidade.

    Alternativamente, o amarrado com dez cordas, com todos os caranguejos vivos, vendido por R$ 40,00, o que equivale a R$ 1,00 por unidade.

    A tendncia de que o mercado continue abastecido com preo estvel e espera-se que da advenha uma tendncia firme ao incremento de consumo.

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    6 Concluso

    6.1 Constatao de indcios de sobre-explorao A sobre explorao do caranguejo u no Delta do Parnaba no pode mais ser ignorada. Ela j ocorre. No se vislumbra, contudo, que possa vir a ocorrer, um cenrio paranico de que o caranguejo possa vir a extinguir-se como conseqncia do atual nvel de captura.

    Um indcio de que ocorre sobre-explorao a diminuio de tamanho modal dos exemplares capturados. Essa informao pode ser obtida, quer junto aos catadores quer junto aos atacadistas.

    Outro indcio de que a sobre-explorao j ocorre ou pelo menos de que a capacidade de desfrute atingiu o limite o fato de o principal atacadista que abastece Fortaleza ter j procurado uma nova fronteira para suprir a demanda da cidade.

    6.2 Expectativa de aumento da demanda A estabilidade da economia em sentido geral e a consolidao da industria turstica em Fortaleza permitem