estudo da atividade de aldeído desidrogenase em cepas ... · liso; e a catalase nos peroxissomos...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Estudo da atividade de aldeído desidrogenase em cepas probióticas Breno Han Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Susana Marta Isay Saad São Paulo 2018

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Page 1: Estudo da atividade de aldeído desidrogenase em cepas ... · liso; e a catalase nos peroxissomos (Mello et al, 2001; Kachani et al., 2008). A principal via metabólica para essa

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

Estudo da atividade de aldeído desidrogenase em cepas probióticas

Breno Han

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientadora:

Profa. Dra. Susana Marta Isay Saad

São Paulo

2018

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SUMÁRIO

Pág.

Lista de Abreviaturas ......................................................................... 1

RESUMO ......................................................................................... 2

1. INTRODUÇÃO ...............................................................................

1.1. Consumo de Álcool

1.2. Ressaca

1.2.1. Ressaca como a primeira fase de abstinência alcoólica

1.2.2. Ressaca causada pelo acúmulo de acetaldeído

1.2.3. Ressaca induzida pelo próprio álcool

1.3. Metabolização do Etanol

1.4. Probióticos

3

2. OBJETIVOS .................................................................................. 8

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................... 8

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...............................................................

4.1. Cepas probióticas produtoras de ADH e ADLH

4.2. Benefício da suplementação probiótica na Doença Hepática Alcoólica (DHA)

9

6. CONCLUSÃO ................................................................................. 16

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 17

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADH

ALDH

ANVISA

DHA

FAO

Álcool Desidrogenase

Aldeído Desidrogenase

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Doença Hepática Alcoólica

Food and Agriculture Organization

FDA

IFN-gamma

IL-10

IL-12

NAD

NADPH

MEOS

REL

TGO

TGP

WHO

Food and Drug Administration

Interferon gamma

Interleucina 10

Interleucina 12

Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo

Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato Hidrogenado

Sistema Microssomal de Oxidação do Etanol

Retículo Endoplasmático Liso

Transaminase glutâmico-oxalacética

Transaminase glutâmico-piruvática

World Health Organization

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RESUMO HAN, B. Estudo da atividade de aldeído desidrogenase em cepas probióticas. 2018. no. 632-17. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, ano. Palavras-chave: [Álcool, Aldeído desidrogenase, Probióticos] INTRODUÇÃO: O consumo de bebidas alcoólicas está presente na sociedade há vários séculos e é de conhecimento popular que este gera muitas consequências na saúde. Dentre essas consequências, destacam-se o dano direto ao organismo causado pelo etanol e seus produtos de metabolização que são tóxicos e, também, os diversos sintomas negativos sentidos no dia seguinte ao seu consumo, cujo conjunto é conhecido popularmente como ressaca. O tratamento utilizado para melhorar os efeitos negativos causados pelo álcool muitas vezes não passa de um alívio sintomático, sendo necessários mais estudos e o desenvolvimento de novos métodos que possam eliminar de maneira mais adequada essa substância nociva da circulação. OBJETIVO: Realizar um estudo bibliográfico sobre cepas probióticas produtoras de aldeído desidrogenase e cepas que produzam enzimas que possam auxiliar na metabolização do álcool. Estudar os possíveis efeitos benéficos que o consumo de probióticos possa trazer para o organismo após o consumo de bebidas alcoólicas, no sentido de verificar a possibilidade de desenvolver um produto que auxilie na melhora dos sintomas consequentes ao consumo de álcool. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram feitas buscas por artigos científicos em bancos de dados como SciELO, Pubmed, Medline, LiLacs, Sibi e Web of Science, utilizando as seguintes palavras-chave para a pesquisa: aldehyde dehydrogenase, alcohol metabolism, hangover, alcohol dehydrogenase, probiotics, alcohol consumption. As referências bibliográficas encontradas dentro dos próprios artigos buscados também foram utilizadas para o estudo. RESULTADOS: Diversos estudos mostraram que várias cepas de lactobacilos e bifidobactérias possuem atividade ADH e ALDH in vitro, em especial as cepas de Lactobacillus GG AN ATCC 53103, Lactococcus chungangensis CAU 28T e Lactobacillus fermentum MG590, as quais foram capazes de metabolizar significativamente tanto o etanol quando o acetaldeído. Outro aspecto que vale ser ressaltado é que estudos demonstraram que o consumo contínuo de probióticos é capaz de alterar a microbiota intestinal, podendo restaurar a microbiota desequilibrada pelo consumo de bebidas alcoólicas. CONCLUSÃO: Foi possível observar que existem várias cepas probióticas com atividade ADH e ALDH, abrindo, dessa forma, uma nova alternativa para o tratamento dos sintomas da ressaca e diminuindo a sobrecarga do fígado. Porém, são necessários mais estudos in vivo demonstrando se ocorre realmente uma metabolização do etanol e seus subprodutos, além de ser necessário observar se essa suplementação causa um alívio sintomático e seu possível efeito na diminuição de lesões no fígado.

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Consumo de Álcool

O uso abusivo de bebidas alcoólicas é um importante problema de saúde

pública em muitos países. No Brasil, dois inquéritos nacionais estimam que entre

9% e 12,3% da população é dependente do álcool, 74,6% já o consumiram em

algum tempo na vida (80,4% no Sudeste do Brasil), 29% são consumidores

ocasionais, não bebendo muito, e 24% bebem regularmente de forma excessiva

(Carlini et al., 2006). Inúmeros são os fatores que podem levar a um aumento do

consumo de álcool em uma dada população, como fácil acesso, baixo custo e

ampla divulgação (Caetano & Laranjeira, 2006). Além disso, o consumo de álcool

é visto como uma prática socialmente aceitável, sendo utilizada também em

quantidades consideradas abusivas, como uma forma de facilitar relações

interpessoais e estabelecer laços sociais (Neves, 2004).

O consumo abusivo ou inadequado do álcool pode levar a graves

consequências fisiológicas, psicológicas e sociais como acidentes ou violência que

desencadeiam em lesões externas. Estas estão descritas na "Política Nacional de

Redução da Morbi-mortalidade por Acidentes e Violência" como grupo de

ocorrências que causam morte ou problemas de saúde e requerem cuidados nos

serviços de saúde. O acidente é visto como um evento involuntário e evitável, que

causa lesões físicas e/ou emocionais, e a violência como sendo um evento

representado por ações realizadas por indivíduos, grupos, nações ou classes que

causam danos físicos, emocionais, morais e/ou espirituais que prejudicam a si

mesmo ou aos outros. Além de danos externos, o uso indiscriminado do álcool

está relacionado a mais de 60 doenças, como problemas coronários, cirrose

hepática e câncer (Martin, 2013).

1.2. Ressaca

Outra consequência negativa relatada após o consumo do álcool é o

fenômeno da ressaca, que consiste em um desconforto geral como dor de cabeça,

náusea, sonolência, problemas de concentração, tontura e distúrbios

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gastrointestinais, que aparecem horas após o consumo de bebidas alcoólicas

(Prat et al., 2009; Joris, 2008). As causas da ressaca não foram totalmente

elucidadas, sendo três as principais hipóteses possíveis, a ressaca como a

primeira fase de abstinência alcoólica; a ressaca causada pelo acúmulo de

acetaldeído; e a ressaca induzida pelo próprio álcool.

1.2.1. Ressaca como a primeira fase de abstinência alcoólica

Uma das hipóteses argumenta que a ressaca é a primeira fase de

abstinência de álcool aguda devido a sua semelhança sintomática com a

abstinência alcoólica (Wiese et al., 2000). Porém, as alterações hormonais e

hemodinâmicas, referentes a circulação sanguínea, são diferentes. Durante a

ressaca, ocorre uma diminuição da atividade cerebral, ao contrário da

hiperexcitabilidade do sistema nervoso central observada na abstinência alcoólica,

como também no quadro de síndrome de abstinência é necessário um consumo

prévio e contínuo de altas doses de álcool por um longo tempo (Fadda & Rosseti,

1998), enquanto os sintomas na ressaca ocorrem mesmo em um consumo

pontual.

1.2.2. Ressaca causada pelo acúmulo de acetaldeído

O álcool ingerido sofre, de maneira geral, duas transformações químicas,

sendo primeiramente metabolizado em acetaldeído pela álcool desidrogenase

(ADH) e em seguida para acetato pela aldeído desidrogenase (ALDH).

É de conhecimento que o alcetaldeído é um composto tóxico para o ser

humano e quando esse se encontra em altas concentrações, produz alguns

efeitos no organismo como taquicardia, sudorese, vermelhidão facial, náusea e

vômito (Swift & Davidson, 1998).

Esses sintomas também são encontrados na ressaca após o consumo de

bebidas alcoólicas, levando alguns autores a teorizarem que o acúmulo de

acetaldeído no organismo seria um fator contribuinte para a ressaca (Swift &

Davidson, 1998; Wiese et al., 2000).

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Outro fator que reforça essa hipótese se baseia em um dos métodos de

tratamento do etilismo, que é o uso de medicamentos contendo dissulfiram, um

inibidor irreversível e inespecífico da enzima aldeído desidrogenase (Kiefer &

Mann, 2005), fazendo com que ocorra um acúmulo de acetaldeído, gerando os

efeitos negativos muito semelhantes à ressaca, levando o usuário a deixar de

fazer o consumo de bebidas alcoólicas para evitar esses efeitos.

1.2.3. Ressaca induzida pelo próprio álcool

Uma terceira hipótese argumenta que os efeitos encontrados durante a

ressaca são induzidos pelo próprio álcool, como o desbalanço eletrolítico, irritação

gástrica, hipoglicemia, vasodilatação, produção de diferentes citocinas e

alterações no sono (Prat et al., 2009). A enxaqueca, outro sintoma relatado após o

consumo agudo de álcool, pode ser explicada pelo efeito vasodilatador do álcool

como também pelo aumento da produção de serotonina, histamina e

prostaglandinas (Pattichis et al., 1995). O álcool também é responsável pelo

aumento da produção de tromboxano B2, que além de causar náusea, diarreia e

cansaço (Kangasaho et al., 1982), causa a elevação da produção de citocinas,

como a IL-10, IL-12 e IFN-gamma (Kim et al., 2003b) que além de colaborar com o

efeito de dor de cabeça, também podem estar relacionadas com a perda de

memória (Reinchenberg et al., 2001).

Portanto, evitar o consumo de bebidas alcoólicas em quantidades abusivas

e tentar controlar os efeitos causados pelo álcool é de grande importância. Em

muitos casos, quando o indivíduo passa pelos efeitos negativos causados pela

ingestão de álcool, como náusea, vômito, dor de cabeça, entre outros, o

tratamento que é feito baseia-se no alívio sintomático. Normalmente, utilizam-se

analgésicos e medicamentos que tratam de distúrbios metabólicos hepáticos, não

ajudando, portanto, na retirada do etanol e dos produtos de sua metabolização,

como o acetaldeído (Kitson et al., 1996) do sangue, mantendo, dessa forma, os

efeitos negativos que eles causam.

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1.3. Metabolização do Etanol

O etanol possui uma absorção relativamente lenta pelo estômago, sendo

mais rapidamente absorvido pelo intestino delgado (Paton, 2005). Devido à sua

solubilidade na água, ele é transportado pela circulação com facilidade, atingindo

a maioria dos órgãos, como o cérebro, fígado, coração, rins e músculos que são

os principais locais para onde o etanol é distribuído. Entretanto, a concentração no

fígado é muito maior, visto que sua metabolização ocorre principalmente por esse

órgão (Paton, 2005).

Cerca de 2 a 10% do álcool é eliminado através da urina, suor e respiração,

na qual ocorre a eliminação sem modificação da substância (Júnior et al., 1998). É

no fígado que ocorre a grande parte da metabolização do etanol em aldeído

acético, podendo acontecer através de três vias metabólicas nos hepatócitos: o

sistema da enzima álcool desidrogenase (ADH) na matriz citoplasmática; o

sistema microssomal de oxidação do etanol (MEOS) no reticulo endoplasmático

liso; e a catalase nos peroxissomos (Mello et al, 2001; Kachani et al., 2008).

A principal via metabólica para essa transformação é a do sistema de ADH,

na qual a enzima álcool desidrogenase em conjunto com a coenzima nicotinamida

adenina dinucleotídeo (NAD) convertem o etanol em acetaldeído, gerando a forma

reduzida da coenzima conforme a equação (1) (Júnior et al., 1998; Kachani et al.,

2008):

CH3CH2OH + NAD+ CH3CHO + NADH + H+ (1)

O NAD é de grande importância em inúmeras reações metabólicas do

organismo, sendo que o seu uso na metabolização do álcool acaba por perturbar

outras vias, uma vez que a capacidade que o fígado possui para produção e

regeneração desta enzima é limitada (Matos, 2006).

Desse modo, a metabolização de grandes quantidades de etanol acaba

alterando a relação NADH/NAD inibindo, por consequência, a síntese de

proteínas, a metabolização de ácidos graxos, aumentando a peroxidação lipídica e

a formação de radicais livres (Matos, 2006).

ADH

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Quando o álcool é ingerido em excesso, é ativada uma via suplementar, a

MEOS, responsável por até 20% da metabolização do etanol quando ingerido em

grandes quantidades (Lieber, 1995).

Essa via ocorre no retículo endoplasmático liso (REL) dos hepatócitos,

utilizando como cofator a nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato hidrogenado

(NADPH), o citocromo P-450 (CYP3E1), a NADPH-citocromo redutase, além dos

fosfolipídeos (Mello et al, 2001; Kachani et al., 2008).

O citocromo P-450 tem o papel de ligar elétrons ao oxigênio e ao NADH,

tendo como consequência a formação de espécies reativas de oxigênio e radicais

hidroxila, que tem a capacidade de iniciar a peroxidação lipídica na membrana.

Consequentemente, são gerados produtos tóxicos que afetam o organismo e

interagem com várias proteínas celulares, formando complexos que atuam como

autoantígenos iniciando uma resposta imune (Júnior et al., 1998).

A terceira via de metabolização do etanol é a catalase que é capaz de

oxidar o etanol na presença de peróxido de hidrogênio. Porém em condições

fisiológicas a enzima não apresenta um papel relevante no metabolismo (Júnior et

al., 1998).

Em todas as três vias o etanol é convertido em acetaldeído que será

metabolizado em acetato. A oxidação do acetaldeído é feita principalmente

através da enzima aldeído desidrogenase (ALDH), de acordo com a equação

abaixo (2). O acetato é logo lançado na circulação sendo rapidamente

metabolizado nos tecidos extra-hepáticos em dióxido de carbono e água.

CH3CHO + NAD + H2O2 CH3COO- + NADH + 2H+ (2)

1.4. Probióticos

Probióticos são micro-organismos vivos que quando administrados em

quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do hospedeiro (Hill et al.,

2014). Para ser considerado um alimento funcional, o probiótico deve possuir

quantidades adequadas de micro-organismos em uma porção diária, sendo que

para garantir seus efeitos benéficos, eles devem ser consumidos diariamente. As

ALDH

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bactérias láticas e as bifidobactérias são as bactérias mais comumente utilizadas

como probióticos. Entre as bactérias láticas podemos destacar as do gênero

Lactobacillus (Ouwehand et al., 2002; Sanders & Marco, 2010). O potencial

probiótico de um determinado micro-organismo difere de uma cepa para outra por

possuírem mecanismos de aderência distintos, mecanismos de ação diferentes

sobre a mucosa, podendo ela estar saudável ou inflamada e, também, por efeitos

imunológicos específicos (Isolauri et al., 2004).

Os probióticos podem ser incorporados em vários alimentos, sendo

principalmente aplicados em produtos lácteos, como leites fermentados, queijos e

iogurtes (Granato et al 2010). Ampliar o leque de opções de tipos de alimentos

probióticos e com aplicações distintas relacionadas a seus efeitos na saúde

favorece o consumidor. Neste sentido, o que está sendo proposto neste trabalho é

o estudo bibliográfico visando o desenvolvimento de um produto probiótico que

atue na aceleração da metabolização do etanol e acetaldeído e,

consequentemente, a retirada do álcool do organismo (Konkit et al., 2015) e que

tenha boa aceitação por parte da população.

O estudo de revisão da literatura foi realizado, tendo como base o trabalho

de Maytiya Konkit, Jin Choi e Wonyoung Kim (Konkit et al., 2016) (Atividade da

aldeído desidrogenase em Lactococcus chungangensis: Aplicação em cream

cheese para redução de acetaldeído no metabolismo do álcool), visando estudar

as várias cepas de bactérias e assim encontrar a cepa com melhor produção de

ALDH.

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo bibliográfico em busca de

cepas probióticas capazes de metabolizar o etanol e seus subprodutos,

principalmente o alcetaldeído, buscando informar os possíveis efeitos benéficos

dos probióticos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas. O estudo foi

focado em cepas produtoras de aldeído desidrogenase (ALDH), no sentido de

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verificar a possibilidade de desenvolver futuramente um produto que possa

complementar os tratamentos utilizados atualmente que visam diminuir os efeitos

negativos causados pelo etanol após o seu consumo.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram realizadas pesquisas em bancos de dados como SciELO, Pubmed,

Medline, Lilacs, Sibi e Web of Science em busca de artigos para auxiliar na

pesquisa das cepas que possuem atividade ALDH ou semelhante. Também foram

utilizados outros critérios de busca como, maior produção de ALDH, maior

estabilidade, potencial de aceleração da metabolização do álcool, além de

possíveis efeitos adversos que possam decorrer de seu consumo. Foram

pesquisadas cepas com capacidade de outras enzimas, como a álcool

desidrogenase (ADH) que possam auxiliar na metabolização do etanol e estudos

que demonstrem os benefícios que o consumo de probióticos possa trazer sobre a

microbiota intestinal quando é feita a ingestão pontual ou contínua de álcool.

As palavras chave utilizadas para fazer as buscas foram: aldehyde

dehydrogenase, hangover, alcohol metabolism, alcohol dehydrogenase, probiotics,

alcohol consumption. Também foram consultadas referências bibliográficas

presentes nos artigos encontrados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Cepas probióticas produtoras de ADH e ADLH

Alguns estudos mostraram uma possível existência de uma via de oxidação

do etanol por bactérias do cólon, na qual o etanol intracolônico seria inicialmente

oxidado a acetaldeído pela álcool desidrogenase (ADH) produzida por bactérias

(Jokelainen et al. 1996, Salaspuro, 1996).

Em seguida, o acetaldeído seria oxidado pelas células das mucosas do

cólon ou pela aldeído desidrogenase (ALDH) bacteriana (Matysiak-Budnik et al.,

1996). Portanto, para este estudo, buscou-se cepas probióticas que tenham essa

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atividade ADH ou ALDH para serem utilizadas como uma forma de tratamento dos

efeitos nocivos do etanol.

Foi demonstrado que o consumo de um produto fermentado de soja (natto,

BIOZYME) contendo cepas probióticas de Bacillus subtilis aumentou a taxa de

metabolização do etanol e acetaldeído, diminuindo a concentração de álcool no

hálito (redução de até 44%) e de aldeído (redução de até 45%) uma hora após o

consumo de whisky (Sumi et at., 1995).

Uma possível falha na pesquisa mencionada acima pode ter ocorrido

devido ao consumo do produto probiótico logo antes do consumo de álcool,

podendo ter ocorrido, portanto, interferências no esvaziamento intestinal. O

retardamento da passagem do álcool pelo trato gastrointestinal pode aumentar

sua absorção e submetê-lo a uma maior passagem pelo sistema porta hepático,

fazendo o álcool consumido passar por uma maior metabolização de primeira

passagem.

Apesar de ter ocorrido essa eventual interferência, foi verificada uma

diminuição significativa dos valores de concentração de álcool no bafo, o que

indica um resultado positivo em atenuar os efeitos negativos do consumo de

álcool.

Nosova et al. (1996) demonstraram a existência de diversas cepas de

bactérias anaeróbias facultativas e aeróbias gastrointestinais com atividade de

álcool desidrogenase in vitro, produzindo acetaldeído a partir de etanol sob

condições aeróbicas e microaerófilas (Salaspuro et at., 1999).

Em outro estudo, Nosova et al. (2000) verificaram a capacidade de cepas

de lactobacilos e bifidobactérias, encontradas no trato gastrointestinal humano, em

metabolizarem o etanol em acetaldeído sob condições que prevalecem no

intestino grosso após ingestão moderada de bebidas alcoólicas. Adicionalmente,

os autores verificaram a capacidade dessas cepas em metabolizarem o

acetaldeído tóxico em compostos não tóxicos como o acetato.

Como resultado, foi mostrado que determinadas cepas de lactobacilos

metabolizaram o etanol em acetaldeído fracamente, enquanto a maioria das cepas

de bifidobactérias testadas metabolizaram o etanol para acetaldeído mais

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ativamente. De todas as cepas testadas no referido estudo, a cepa que mostrou

maior atividade foi a de Lactobacillus GG AN ATCC 53103, demostrando uma

atividade de 80 nmol/109 CFU/h (Nosova et al., 2000), como pode ser observado na

Figura 1.

Figura 1: Produção de acetaldeído por diferentes cepas de lactobacilos e bifidobactérias.

Adaptada: Nosova et al., 2000.

No mesmo estudo, foi demostrado que todas as cepas de lactobacilos e

bifidobactérias foram capazes de metabolizar 50 µM e 500 µM de acetaldeído,

sendo a cepa Lactobacillus GG AN ATCC 53103 a que apresentou a maior

capacidade de metabolização de acetaldeído em acetato (228 nmol/109 CFU/h e

359 nmol/109 CFU/h respectivamente) como mostram as Figuras 2 e 3 (Nosova et

al., 2000).

Por fim, foi testada a capacidade de metabolização de acetaldeído em

acetato na presença de 22 mM de etanol, na qual a cepa Lactobacillus GG AN

ATCC 53103 novamente mostrou a melhor capacidade de metabolização (130

nmol/109 CFU/h). Observou-se, no entanto, que a adição de etanol no meio de

acetaldeído diminuiu a capacidade de consumo do acetaldeído para todas as

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cepas, chegando a bloquear totalmente o metabolismo de acetaldeído das cepas

de Lactobacillus brevis AHP 6281 e de Bifidobacterium bifidum ATCC 15696.

Figura 2: Consumo de acetaldeído (50 µM) por diferentes cepas de lactobacilos e bifidobactérias.

Adaptada: Nosova et al, 2000.

Figura 3: Consumo de acetaldeído (500 µM) por diferentes cepas de lactobacilos e bifidobactérias.

Adaptada: Nosova et al., 2000.

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É possível observar que a cepa que apresentou melhor resultado possui

uma capacidade considerável de metabolizar o acetaldeído tóxico em acetato.

Essa constatação revela a possibilidade dessa cepa ser aplicada como uma cepa

probiótica usada na prevenção de possíveis efeitos negativos como a disbiose

entérica relacionada ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

Kim et al. (2003a) estudaram o efeito da cepa de Lactobacillus fermentum

MG590 no metabolismo do álcool e nas funções hepáticas em ratos. Em seu

estudo, demonstraram que a cepa estudada possuía atividade ADH e ALDH.

Adicionalmente, em testes in vivo conduzidos com ratos, as concentrações de

álcool no sangue, de transaminase glutâmico-oxalacética (TGO) e transaminase

glutâmico-piruvática (TGP) em ratos alimentados com a cepa bacteriana estavam

abaixo, quando comparado aos ratos alimentados apenas com álcool. TGO e TGP

são produzidas pelo fígado e podem ser encontradas em grandes quantidades

quando células do fígado sofrem lesões (Lieber, 1985), indicando que além de

ajudar na metabolização do álcool a cepa de Lactobacillus fermentum MG590 atua

melhorando as funções hepáticas.

Um estudo de Konkit et al. (2015) demonstrou que as cepas de

Lactococcus chungangensis CAU 28T e mais 11 cepas do gênero Lactococcus

possuem a capacidade de produzir álcool desidrogenase (ADH). O estudo utilizou

culturas starter para a produção de queijo cremoso, popularmente conhecido

como cream cheese, comparando a atividade da enzima ADH em culturas de

células e no queijo cremoso. Foi demostrado que as cepas que tinham o queijo

como um meio de cultura produziram mais ADH, implicando que a atividade de

ADH foi induzida no queijo. Os testes in vivo demostraram que os níveis máximo

de álcool sanguíneo dos camundongos alimentados com o queijo cremoso

produzido com a cepa Lactococcus chungangensis CAU 28T diminuíram cerca de

54,5%, quando comparado ao grupo controle.

Em outra pesquisa de Konkit et al. (2016), foram produzidas amostras de

queijo cremoso utilizando diversas cepas de Lactococcus, para observar sua

capacidade de produzir ALDH e metabolizar o acetaldeído tanto in vitro como in

vivo, sendo a cepa de L. chungangensis CAU 28T a que apresentou melhor

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atividade (74,2 nmol/min por grama). Camundongos foram alimentados com queijo

cremoso por uma semana e com 22% de etanol no último dia. As concentrações

de acetaldeído no sangue diminuíram para 494,3 nmol/mL no caso da cepa L.

chungangensis CAU 28T (Konkit et al., 2016). Esses estudos demonstram o

potencial de se utilizar essa cepa para a produção de um possível alimento

funcional que possa ser consumido frequentemente, que aumentaria a atividade

de ADH e ALDH, diminuindo os níveis de etanol e acetaldeído no sangue e, como

consequência, diminuiria os efeitos colaterais da ingestão de bebidas alcoólicas

como, por exemplo, a ressaca.

4.2. Benefício da suplementação probiótica na Doença Hepática Alcoólica (DHA)

O consumo contínuo de álcool também é responsável por causar lesões no

fígado, causando a doença hepática alcoólica (DHA). As principais causas diretas

dessa doença são o acúmulo de gordura e a inflamação, podendo causar a

formação de cicatrizes que, a longo prazo, podem acabar formando cirroses. A

ingestão contínua de álcool causa alterações na microbiota intestinal, já tendo sido

mostrado que em pacientes com cirrose há um aumento de Escherichia coli e de

espécies de Staphylococcus nas fezes, quando comparado a pessoas saudáveis

(Liu et al., 2004). Outra mudança é o aumento significativo de espécies de

Enterococcus, Enterobacter e Clostridium, com uma diminuição de espécies de

Bifidobacterium e de Lactobacillus (Zhao et al., 2004; Kirpich et al., 2000).

Kirpich et al. (2008) estudaram a influência da suplementação com cepas

probióticas de Bifidobaterium bifidum e Lactobacillus plantarum 8PA3, como uma

possível terapia para DHA em pacientes alcoólatras. Foi comprovado que a

microbiota intestinal nesses pacientes estava alterada, ocorrendo uma diminuição

na quantidade de bifidobactérias, lactobacilos e enterococos, em conjunto com um

aumento de E. coli, como mostra a Tabela 1, comprovando as pesquisas

anteriores. A suplementação durante uma semana mostrou-se capaz de restaurar

a população de B. bifidum e L. plantarum 8PA3 a um perfil semelhante ao de

pessoas saudáveis, conforme mostrado na Tabela 2.

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Tabela 1: Informações demográficas, resultados da microbiota intestinal e atividade enzimática

hepática de pacientes controle e alcoólicos no dia 1. Fonte: Kirpich et al., 2008

Controle saudável (n=24) Pacientes alcoólicos (n=66)

Idade (anos) 42,7 ± 1,2 42,3 ± 1.1

Duração do alcoolismo (anos) - 16,4 ± 3,2

Percentual de fumantes 68 77

Escherichia coli, log CFU/g 6,70 ± 0,34 7,36 ± 0,28

Bifidobactérias, log CFU/g 7,5 ± 0,32 6,30 ± 0,17ª

Lactobacilos, log CFU/g 4,59 ± 0,34 3,15 ± 0,19ª

Enterococos, log CFU/g 5,5 ± 0,30 4,43 ± 0,20ª

TGP, U/L 22,96 ± 2,4 50,49 ± 5,9ª

TGO, U/L 29,15 ± 2,03 104,1 ± 9,5ª

GGT, U/L 51,88 ± 6,24 161,5 ± 13,51ª

LDH, U/L 326,31 ± 10,6 574,2 ± 22,04ª

Bilirrubina total, µmol/L 16,78 ± 0,79 22,56 ± 1,17ª aP < ,05 vs grupo controle saudável

Tabela 2: Informações demográficas e resultados da microbiota intestinal de pacientes sobre

terapia padrão e terapia probiótica no dia 1 e após tratamento (dia 7) comparada com grupo

controle saudável. Fonte: Kirpich et al., 2008.

Controle (n=24) Terapia padrão (n=34) Terapia probiótica (n=32)

Idade (anos) 42,7 ± 1,2 42,06 ± 2,18 42,16 ± 1,89

Duração do alcoolismo (anos) - 17,2 ± 2,8 15,9 ± 1,4

Percentual de fumantes 68 75 78

Dia 1 Dia 7 Dia 1 Dia 7

Escherichia coli, log CFU/g 6,70 ± 0,34 7,25 ± 0,47 6,4 ± 0,37 7,49 ± 0,30 7,44 ± 0,24

Bifidobactérias, log CFU/g 7,5 ± 0,32 6,12 ± 0,21ª 6,81 ± 0,27 6,5 ± 0,28ª 7,9 ± 0,39b, c

Lactobacilos, log CFU/g 4,59 ± 0,34 3,0 ± 0,26ª 3,2 ± 0,27ª 3,3 ± 0,26ª 4,2 ± 0,27b, c

Enterococos, log CFU/g 5,5 ± 0,30 4,12 ± 0,29ª 4,3 ± 0,30ª 4,65 ± 0,27ª 5,3 ± 0,31c aP < ,05 vs grupo controle saudável. bP < ,05 Dia 1 vs Dia 7. cP < ,05 Terapia padrão vs terapia probiótica.

Com esses dados, pode-se observar que o uso de probióticos pode auxiliar

na redução dos danos causados pelo consumo de álcool, restaurando a

microbiota intestinal, diminuindo a permeabilidade intestinal e, também, reduzindo

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a produção de toxinas por outras bactérias e a produção de citocinas pró-

inflamatórias (Kirpich et al., 2008), além da possibilidade de metabolizar o álcool

consumido através da produção de enzimas como o ADH e ADLH. No entanto,

ainda são necessários estudos mais aprofundados para reforçar esses dados,

utilizando técnicas mais recentes de biologia molecular, envolvendo a extração de

DNA.

O consumo regular de probióticos e prebióticos pode ajudar no reparo do

equilíbrio das bactérias intestinais, já tendo sido comprovado que a

suplementação probiótica de 8 semanas com Lactobacillus acidophilus (NCFM®) e

Bifidobacterium lactis (Bi-07) foi capaz de modificar a microbiota encontrada nas

fezes. Essa suplementação, apesar de apresentar atividade ADH e ALDH in vitro,

não foi capaz de aumentar significativamente o metabolismo do álcool no

consumo pontual de álcool em participantes saudáveis (Irwin et at., 2017).

É de conhecimento que o consumo regular e contínuo de álcool acaba por

desregular a microbiota intestinal causando uma disbiose (Engen et al., 2015),

além de induzir lesões no fígado. Portanto, vale ressaltar que a suplementação

probiótica mostrou-se importante em sua função de restauração da microbiota,

podendo ser, também, uma forma de prevenir novas lesões no fígado.

6. CONCLUSÕES

Diversos estudos demonstraram a atividade bacteriana de álcool

desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH), tendo sido as cepas

Lactococcus chungangensis CAU 28T (Konkit et al., 2015; Konkit et al., 2016),

Lactobacillus GG AN ATCC 53103 (Nosova et al., 2000) e Lactobacillus

fermentum MG590 (Kim et al., 2003a) as que apresentaram melhor desempenho.

Neste sentido, verifica-se que essas cepas sejam as melhores opções para um

estudo mais aprofundado para o desenvolvimento de um produto visando a

aceleração da metabolização do álcool após o seu consumo.

Outro aspecto observado foi a modificação da microbiota intestinal e das

fezes após o consumo de probióticos em longo prazo. Esse tipo de intervenção

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pode ser uma nova forma de abordagem para a diminuição preventiva dos efeitos

tóxicos do consumo de bebidas alcoólicas. Uma colonização prévia de cepas com

atividade ADH e ALDH pode ser feita para auxiliar na metabolização do etanol.

Adicionalmente, esses dados mostram que é possível fazer uma restauração da

microbiota intestinal para pacientes com doença hepática alcoólica, os quais

geralmente apresentam sua microbiota gastrointestinal alterada como

consequência do consumo alcoólico. Dessa forma, essa seria uma proposta de

tratamento para evitar que ocorram maiores problemas como lesões hepáticas.

A partir dessa revisão, foi possível observar que o consumo de bebidas

alcoólicas, já muito presente na cultura da sociedade, é responsável por grandes

danos no organismo tanto a curto quanto a longo prazo. Apesar das pesquisas já

existentes sobre o tema, verifica-se que são necessários novos estudos mais

específicos a respeito de sua eficácia in vivo, sobre seus possíveis efeitos

adversos e, também, um estudo a respeito da duração de seu tratamento para

observar se seus efeitos ocorrem apenas em longo prazo ou se são observados

pontualmente também.

Apesar da relevância dessa problemática, o tratamento por meio de

probióticos ainda não foi muito estudado, sendo esta uma forma interessante para

o desenvolvimento de um produto que possa auxiliar na metabolização do etanol

para produtos não tóxicos.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São Paulo, 18 de abril de 2018

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Breno Han (aluno) Profa. Susana M.I. Saad (orientadora)