estudar no exterior

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Abril / 2011 - Nº 82 PLANO DE CARREIRA MESTRADO EM DIREITO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: CIRURGIA BARIÁTRICA versus PLANOS DE SAÚDE Cláudia Ribeiro explica como elaborar Rogério Dultra dos Santos fala do nível de dedicação nos estudos e do novo mestrado em Direito da UFF Podem fazer parte do rol de despesas da parte vencida? STJ é o maior aliado daqueles que necessitam realizar cirurgia de redução do estômago Conheça as vantagens e desvantagens de ESTUDAR NO EXTERIOR

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Revista MURAL fala das vantagens e desvantagens de estudar no exterior. Plano de carreira. Mestrado.

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Page 1: Estudar no Exterior

M U R A LDireito em Movimento

Abril / 2011 - Nº 82

PLANO DE CARREIRA

MESTRADO EM DIREITO

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS:

CIRURGIA BARIÁTRICA versus PLANOS DE SAÚDE

Cláudia Ribeiro explica como elaborar

Rogério Dultra dos Santos fala do nível de dedicação nos estudos e do novo mestrado em Direito da UFF

Podem fazer parte do rol de despesas da parte vencida?

STJ é o maior aliado daqueles que necessitam realizar cirurgia de redução do estômago

Conheça as vantagens e desvantagens de

ESTUDAR NO EXTERIOR

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Chacina de Realengo - Nunca mais!

ROSSANA FISCILETTICoordenadora

Conselho Editorial: Dr. Aurélio Wander BastosDra. Cláudia Ribeiro Pereira NunesDr. Ivan Simões GarciaDr. Ricardo Lodi Ribeiro

Jornalista Responsável: Carlos Wesley - MTb/RJ 17.454Coordenação Geral: Rossana FiscilettiCoordenação de Pesquisa: André CostaReportagem, Editoração eletrônica e Projeto gráfico: Mídia JurídicaDiagramação e capa: Jorge Raul de SouzaImagem de capa: Olly

Comercial: Paulo MoretzsohnDistribuição: Rosaria FiscilettiAtendimento ao leitor: Raphael Trigueiro

Para falar com a Redação: Tel.: (21) 2215-7291 Av. Almirante Barroso, 2, 18º andar, Cep: 20.031-000E-mail: [email protected] anunciar ligue: RJ: (21) 2215-7291 e 9956-7625Projeto de marketing e publicidade: Webcom Comunicação, Marketing e Publicidade Ltda.

M U R A L é uma publicação de CULTURA JURÍDICA da Réplica Publicações (Mídia Jurídica) dirigida a estudantes e operadores do Direito.

A Mídia Jurídica não se responsabiliza por informações e opiniões contidas nos artigos, entrevistas, depoimentos e teor dos anúncios pu-blicitários, que são de inteira responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a posição desta revista.

E a multidão que ia adiante, e a que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor.

Hosana nas alturas! Mat. 21:9

MURAL JURISPRUDÊNCIAAndré Costa analisa julgado do STJ sobre Cirurgia Bariátrica ................................................................. 17-19

Colunas

O episódio de ataque às crianças da Escola Tasso da Silveira em Re-alengo, já amplamente abordado pela imprensa, nos revela que há muito mais que se analisar, debater, compreender e resolver, independentemente da óbvia conclusão de que todo fanatismo de seita ou religioso termina em graves transtornos à mente e à sociedade.

Ocorrências como esta trazem à tona temas recorrentes para convi-dados especialistas opinarem nos programas de rádio e TV, ou pela web. Assim, esmiúçam as políticas de segurança pública; o acesso indiscriminado sem vigilância de crianças e adolescentes a conteúdos de programa e sites, sem qualquer critério de seleção, completamente à revelia dos pais e educadores; a questão do bullying, verdadeiro problema social, que causa humilhação, depressão, segregação; os aspectos do comércio ilegal de armas; a baixíssima remuneração de professores e demais profissionais da educação, além das péssimas condições de trabalho decorrentes da ausência de política eficiente de educação, em especial no Estado do Rio de Janeiro.

Todos estes assuntos vêm recebendo atenção da mídia. No entanto, há outro ponto que precisa urgentemente de uma séria e profunda aná-lise pelos políticos, psicólogos, sociólogos, juristas e, sobretudo, pelos educadores: a violência dentro da escola. Não são pontuais os casos de estudantes que vão com armas para as salas de aulas, que pressionam e consumam agressões contra professores, que os submetem a constran-gimentos e vexames, inclusive, atingindo o patrimônio e a família deles. Muitos abandonam o magistério por atividade mais segura. Os professores deveriam fazer jus ao adicional de periculosidade.

Os fatos acontecidos em Realengo, logo estarão esquecidos até por-que outros acontecimentos terão sua vez nas pautas editoriais. Mas não se pode “varrer o lixo para baixo do tapete”. É prioritário que haja uma revisão nos métodos e meios para uma reforma consciente da política educacional do nosso país.

O coordenador do novo mestrado da UFF, Dr. Rogério Dultra dos Santos, apresenta os objetivos da pós stricto sensu em Direito Constitucional ................................................................ 4-5

Entrevista

DROPS ........................................... 14-15

Matéria de capa Estudar no exterior: uma opção viável?Por André Luis Ferreira ................................................................ 6-9

ArtigoO que é um Plano de Carreira? Por Cláudia Ribeiro Pereira Nunes .......................................... 10-11

Mais Que Vencedores ............................................................... 16

Page 4: Estudar no Exterior

ENTREVISTA

UFF CONQUISTA SEU PRIMEIRO MESTRADO EM DIREITO

Rossana Fisciletti

Como foi o processo de criação do novo mestrado da UFF?

A Faculdade de Direito da UFF é mais antiga que a própria Universidade. Ela foi iniciada em 1912 e fará 100 anos no ano que vem. A UFF possui um histórico de renomados professores, destacaria, por exemplo, Rui Barbosa e Francisco José de Oliveira Vianna. Temos uma tradição de estudos de excelência e recebemos até hoje um alunado de excelente qualidade, uma vez que o processo seletivo sempre foi rigoroso e muito concorrido.

Há alguns anos atrás ainda não havia condições de criar um mestrado vinculado à área do Direito na CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), reguladora das atividades de pós-graduação stricto sensu, e por conta disso foi criado um mestrado interdisciplinar, junto com os professo-res de Ciências Sociais da UFF, intitulado como Sociologia e Direito.

Recentemente, a UFF realizou diversos concursos e aproximou professores doutores especializados em Direito e, com o acréscimo desses professores, conseguimos alcançar mais do que o número mínimo necessário para enviar-mos o projeto de Mestrado em Direito, o que foi essencial para obtermos aprovação.

Como elaborou o Programa?Entrei na UFF em 2008. Em meados de 2009

fui encarregado de gerir o projeto do curso de mestrado. Conversei com os professores e fiz uma pesquisa no Brasil todo para elaborar o projeto pedagógico. Minha formação acadêmica foi construída em diversas partes do Brasil, espe-cialmente em Salvador, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Sempre tive uma trajetória vinculada ao ensino jurídico e, por conta disso, fui escolhido para desempenhar a função de produzir esse projeto.

Na elaboração do Programa de Mestrado em Direito Constitucional objetivamos a formação de um profissional diferenciado no que diz respeito à responsabilidade por gerir, produzir e encami-nhar as políticas de Estado. São duas linhas de pesquisa: Instituições Políticas, Administração Pública e Jurisdição Constitucional e Teoria e

História do Direito Constitucional e Direito Constitucional Internacional e Comparado.

Quando e como é o processo se-letivo? Quais são os requisitos?

O primeiro processo seletivo iniciou em fevereiro e encerrou no início de abril. Os can-didatos tiveram acesso a todas as informações no site do programa (http://www.ppgdc.uff.br).

O processo seletivo é anual e envolve a produção de um projeto, uma carta de intenção e três etapas: prova escrita vincu-lada a uma bibliografia que será lançada a cada edital; prova de conhecimento em língua estrangeira e entrevista para avaliar o conhecimento geral e suas intenções. Todas as fases são eliminatórias. Cada linha de pesquisa oferece 10 vagas.

O diferencial do nosso Programa é a visão de formação intelectual, de formar pesquisadores com perfil que os qualifiquem como homens públicos, como pessoas prepa-radas para participar de órgãos governamen-tais, da política e da gestão pública voltada para a melhoria do Estado Democrático de Direito.

Os gestores públicos em geral não têm essa formação e precisam se assessorar de pessoas que enten-dam esse sistema. O mestrado da UFF objetiva construir essa formação?

Realmente, a maioria não compreende

como funciona o Estado brasileiro, não possui uma formação sobre o conhecimento dos fundamentos e processos históricos pelos quais a engenharia insti-tucional presente foi formada, gerida.

Queremos preparar professores de Direito com capacidade técnica e intelectual para participar da vida política brasileira, para colaborar em secretarias de governo, onde a carência é nítida. Só para ter ideia, temos professores que atuam no STJ e no STF. Existe uma forte demanda para atuação na área Constitucional e Política.

Nosso curso estimula as disciplinas que dão bases históricas e sustentação para que o mestrando entenda a formação constitucional brasileira, desde o Império até os dias de hoje. Contamos com professo-res com esse perfil, como por exemplo, os professores doutores Marcus Fabiano Gonçalves, Roberto Kant de Lima e Cláudio Pereira de Souza Neto. O curso contou com algum apoio?

Sim. Por ser um curso diferenciado, tivemos apoio de outras pós-graduações stricto sensu do Rio de Janeiro, como a Gama Filho, a UFRJ e a PUC, que foram essenciais no sentido de estarmos aptos a sediar o Encontro do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito no Brasil - CONPEDI, em 2012.

Conseguimos aprovação de emenda parlamen-tar junto à ALERJ para obtenção de verba para montar biblioteca, reformar auditório e salas de aula. A UFF foi muito vitoriosa nesse processo de angariar apoio político e institucional do Brasil inteiro.

Sobre o fomento em pesquisa, diversas instituições não conseguem incentivo

Iniciado em 2011, o Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UFF visa instituir um campo de produção de conhecimento avançado sobre as instituições político-jurídicas esta-tais e supraestatais, vinculando-as aos fundamentos teóricos e históricos originais de sua formação. Sobre esta conquista, que resulta em um verdadeiro acréscimo ao campo de pesquisas jurídicas no Rio de Janeiro e no Brasil, o Coordenador, elaborador do Programa, Professor e Doutor em Direito Rogério Dultra dos Santos, falou como foi criado o Programa e o que fazer para ingressar no novo Curso, instalado nas dependências do prédio histórico de Direito da UFF, em Niterói.

Trigueiro/MURAL

Quem é: Rogério Dultra dos Santos - Graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador, mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, IUPERJ. Na Universidade Federal Fluminense (UFF) é professor adjunto, coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Constitucional e sub-coordenador do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito da Administração Pública. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sociologia Política da UENF e avaliador ad hoc do MEC na área do Direito.

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e seus pesquisadores não conse-guem bolsas por causa da classifi-cação dada ao curso. Como será o financiamento em pesquisa voltado ao corpo discente do mestrado da UFF?

Os cursos de pós-graduação stricto sensu recebem uma classificação dentro da CAPES. Os cursos novos têm menos condições que os cursos mais antigos, que possuem maior classificação. Por exemplo, a PUC tem nota 5, a Federal de Santa Catarina, a USP e a Federal do Paraná nota 6. Recentemente a UERJ conseguiu nota 6. A UFF tem nota 3 porque está iniciando e, por essa razão, te-mos a possibilidade de bolsa de estudos para uma parte dos alunos aprovados. Uma parte dessas bolsas virá da CAPES e CNPQ e outra da FAPERJ.

Além das bolsas, diversos editais para pes-quisa poderão ser acessadas não somente por alunos, mas também pelo corpo docente. Edi-tais individuais e coletivos; auxílio publicação; instalação de professores-doutores; compra de acervo bibliográfico e financiamento de pesquisas. Então, se alunos ou professores elaborarem bons projetos, nos empenharemos em conseguir as verbas necessárias junto à FAPERJ, CAPES e CNPQ.

É muito importante o incentivo aos pesquisadores que necessitem via-jar para buscar material bibliográfi-co em outros estados e até países...

É verdade. Na UFF, durante este ano serão escolhidas várias fontes de pesquisa vinculadas à compra de acervo bibliográfico. Os alunos que tiverem o plano de pesquisa aprovado terão a possibilidade de realizar a pesquisa bibliográfica dentro da própria instituição. Após, o acervo utilizado nas pesquisas será direcionado à biblioteca.

Qual é o nível de dedicação que o aluno deve ter para realizar uma pós stricto sensu?

Ao cursar o nosso mestrado em Direito Constitucional, os mestrandos deverão estar dispostos a ler os clássicos do Direito Consti-tucional, Teoria Política e muitas outras obras. Precisarão ler muito durante o curso.

São três disciplinas por semestre, cada disciplina com quatro horas semanais, o que resulta na necessidade de ler um livro por disciplina toda semana. Os alunos precisam produzir textos e se envolver com o ambiente acadêmico. Os mestrados de primeira linha exigem grande volume de leitura.

O nível de dedicação é maior que o da

graduação. Na verdade, o próprio processo seletivo das Instituições é preocupado em selecionar aqueles que são aclimatados em volume e qualidade de leitura.

Alunos que passaram por monitoria, tive-ram bolsa de iniciação científica, publicaram artigos, participaram e elaboraram projetos, podem somar essas experiências ao processo seletivo. Aqueles que na graduação tiveram perfil de estagiários de órgãos públicos ou escritórios, sem nenhuma aproximação em pesquisa, precisarão ter um desempenho superior para se destacar no processo. Existe a pretensão de internacio-nalizar o novo Programa de Mes-trado?

Esse é um ponto importante. Estamos trabalhando para a internacionalização do Programa. Vários convênios internacionais estão sendo celebrados com universidades do exterior como, por exemplo, em Ottawa (Canadá) e Lisboa. Em breve começaremos o intercâmbio de alunos e professores e teremos a possibilidade de estimular a pesquisa em âmbito internacional. Nossos mestrandos terão condições de realizar diversos projetos vinculados à pesquisa de Direito Internacional Comparado.

Page 6: Estudar no Exterior

MATÉRIA DE CAPA

ESTUDAR NO ESTRANGEIRO: uma opção viavél?

André Luis Ferreira

Universidades mundialmente conceituadas oferecem pro-gramas cada vez mais voltados

para estudantes estrangeiros. O dou-torado em direito da Universidade de Harvard contava em 2010 com mais de 70% de fora dos EUA, da Índia ao Brasil (Fonte: www.law.harvard.edu)

Nos tempos de Brasil colônia, as famílias abastadas enviavam seus filhos para Portugal, então Metrópole, quase invariavelmente para Coimbra. Agora, as classes menos favorecidas veem suas possibilidades aumentando, com o desenvolvimento das universidades no MERCOSUL, a disseminação de bolsas de estudos, programas de coope-ração que, embora deficientes, estão muito mais acessíveis que outrora.

Porém, o estudante deve ficar atento para diferenciar bons e maus cursos, e não desperdiçar tempo e dinheiro. Há inúmeros problemas, desde incompati-bilidade dos cursos pela diferença cul-tural e legal, até mesmo pela ausência de fases consideradas imprescindíveis por aqui em cursos correlatos, como a defesa da tese. Em Portugal, por exemplo, não existe odontologia, mas medicina dentária, cujas diferenças impedem que nossos diplomas de odontologia sejam reconhecidos por lá, forçando profissionais brasileiros a trabalhar na ilegalidade. O curso de direito nos EUA tem apenas três anos em média. Há países, como a Espa-nha, que oferecem doutorado direto, sem necessidade de mestrado. Ocorre que, diferentemente do programa de doutorado da USP, que engloba carga

horária também do mestrado, estes doutorados no exterior têm a mesma duração de um mestrado no Brasil, pelo que não tem qualquer chance de revalidação. Noutro passo, o direito aprendido em faculdades de países que utilizam o sistema de Common Law, especialmente na graduação, não encontra guarida no Brasil, que aplica a Civil Law.

Alguns dos cursos mais atraentes es-tão nos países do MERCOSUL: Argenti-na, Uruguai, Paraguai e Brasil. Há cer-

to tempo, faculdades de direito destes países oferecem mestrado e doutorado a fim de captar o interesse de inúmeros brasileiros, tendo em vista a proximida-de geográfica e a facilidade da língua espanhola. Normalmente não há testes de admissão, apenas análise curricular. Nem mesmo conhecimento de outras línguas é fundamental, o que torna tais cursos extremamente convidativos para os que não têm tempo para se preparar para os exames incontornáveis para ascender às melhores universidades nacionais, nomeadamente as públi-cas. Além disso, divulgam a existência de um “decreto” do MERCOSUL que supostamente garantiria o reconheci-mento automático do título obtido, sem processo de revalidação. A principal escolha é a Argentina, até mesmo por certo preconceito nacional com a educação dos demais países.

Ocorre que tal reconhecimento au-tomático é uma falácia. Primeiramente, o Decreto nº 5.518/2005, que intro-duziu no ordenamento jurídico brasi-leiro o Acordo de Admissão de Títulos Graus Universitários para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do MERCOSUL garante apenas o reconhecimento para fins exclusivos de pesquisa e docência. Explica-se: caso uma universidade brasileira contrate um professor doutor argen-tino, este poderá ocupar a posição correspondente em território nacional, e constará do quadro docente como doutor. Porém, para ter o título válido nacionalmente, para fins de concurso público, por exemplo, terá que proce-der à revalidação.

O mesmo se aplica aos estudantes

André Luis Ferreira: Advogado. Membro da Ordem dos Advogados de Portugal desde 1999. Mestre em Direito Internacional pela Universidade de Lisboa. Professor de Direito Internacional da Unifeso-Teresópolis e UCAM.

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No mundo de hoje, as palavras de ordem são globalização e rapidez nas comunicações. Os deslocamentos estão mais fáceis e baratos, e as recentes revoluções nos países árabes do norte da África demonstraram que não há como qualquer regime, por mais ditatorial que seja, impedir que sua população tenha acesso à informação, por vezes oriundas de sistemas que se esforçam em combater. Neste mundo onde as culturas se comunicam e interagem, parece cada vez mais tentador graduar-se ou se pós-graduar no exterior, no intuito de aproveitar o que os outros países podem oferecer de melhor.

Page 7: Estudar no Exterior

“A revalidação é exigida até mesmo para os diplomas

obtidos em Universidades de Portugal”

NOVAS TURMAS PRESENCIAISCURSO REGULAR / NOITE (para Magistratura do Trabalho e MPT) - início em 04/04/2011MÓDULOS REGULARES DE DIREITO DO TRABALHO & PROCESSO DO TRABALHO / SÁBADOS - início em 09/04/2011CURSO AVANÇADO / SÁBADOS (para Magistratura do Trabalho e MPT) - início em 16/04/2011CURSO REGULAR / MANHÃ (para Magistratura do Trabalho e MPT) - início em 08/08/2011CURSO BÁSICO PARA CONCURSOS: Português, Raciocínio Lógico, Informática, Direito Administrativo e Direito Constitucional (aulas teóricas e exercícios) - início em 16/05/2011CURSOS VIRTUAIS (À DISTÂNCIA): ESPECÍFICO PARA O MPT; AVANÇADO DE DIREITO DO TRABALHO E OUTROS.

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de mestrado que venham cursar douto-rado no Brasil. Não há necessidade de se reconhecer previamente o diploma obtido no MERCOSUL para que seja deferida a matrícula no curso, desde que, é claro, se cumpram as demais exigências locais.

Iludidos, muitos brasileiros, alguns já professores, frequentam tais progra-mas, todos eles pagos, para ao final perceber que jamais terão reconheci-mento do título no país. É comum as universidades estrangeiras envolvidas não possuírem relevância na área mi-nistrada, além da presença nas aulas ser esporádica, por curto espaço de tempo, e o aluno desenvolver seus estudos no Brasil.

De acordo com o artigo 1° da Resolução n° 1, de 26 de fevereiro de 1997, do Conselho Nacional de Educação (CNE), não serão validados nem reconhecidos, para quaisquer fins legais, diplomas de graduação e pós-graduação em níveis de mestrado e doutorado obtidos através de cursos ministrados no Brasil, oferecidos por instituições estrangeiras, especialmente nas modalidades semi-presencial ou à distância.

Fato é que o CNE, com fulcro na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9394/96, também

conhecida como Lei Darcy Ribeiro), já determinou em inúmeros pleitos e consultas que é IMPRESCINDÍVEL a revalidação para qualquer diploma estrangeiro ter eficácia no país. Isso se dá, como se disse, para análise do conteúdo curricular, carga horária, tipo de pesquisa realizada, a fim de avaliar a compatibilidade do título estrangeiro com o grau equivalente no Brasil.

Algumas universidades públicas nacionais têm aplicado provas para avaliar o conhecimento dos alunos, como no campo da medicina. Por seu turno, o CNE reconhece a prerrogativa das faculdades no Brasil de avaliar cada diploma a ser revalidado. O art. 48 da LDB determina:

§ 2º Os diplomas de graduação ex-pedidos por universidades estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que tenham curso do mesmo

nível e área ou equivalente, respei-tando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação.

§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por univer-sidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equi-valente ou superior.

Embora a lei determine que, em relação ao Mestrado e Doutorado, qualquer faculdade possa proceder tal análise, na prática só algumas instituições públicas se prestam a fazê-lo, principalmente pela exigência de possuírem cursos equivalentes. Nesta epopéia, que se inicia ainda na origem, o candidato deve autenticar todos os documentos relativos ao curso no consulado brasileiro local, a fim

Page 8: Estudar no Exterior

MATÉRIA DE CAPA

de demonstrar sua veracidade. Isso vale para o histórico das disciplinas, trabalhos apresentados, atas de bancas e exames, bem como o próprio diplo-ma. Deve constar do rol documental a carga horária do curso, notas obtidas, e até mesmo o nome e grau dos com-ponentes das bancas examinadoras.

Uma vez no Brasil, é necessária a tradução por intérprete juramentado. Estes documentos, juntamente com a tese, se for o caso, serão protocolados e dirigidos à faculdade competente ou à pós-graduação. As exigências do processo podem resultar em comple-mentação de carga horária, obrigando o requerente a frequentar disciplinas no Brasil, e até mesmo uma nova defesa de tese, na eventualidade dos examina-dores assim entenderem. Este processo pode e normalmente dura anos. Não há qualquer lei, regulamento ou por-taria que especifique a forma do pro-cedimento. A citada Resolução CNE nº 1/97 estabelece o prazo de seis meses para que a Universidade se pronuncie sobre o pedido, que é constantemente ignorado. Por sua vez, as faculdades não revelam quaisquer outros casos que possam servir de precedente, reser-vando a prerrogativa de analisar caso a caso, conforme seu entendimento e conveniência. Pedidos idênticos podem tomar caminhos bem diferentes, con-forme a instituição envolvida. Após a aprovação do conteúdo cursado por uma banca da faculdade, o processo segue para a homologação junto à Reitoria. Nesta fase final o órgão ainda pode exigir quaisquer documentos que julgar pertinentes, como por exemplo, cópia integral do passaporte do reque-rente, que comprove sua presença no país durante todo o curso.

O reconhecimento consiste em uma página emitida e chancelada pelo Reitor, onde se concede o grau pre-tendido. Com isso o graduado ou pós graduado no exterior será reconhecido como tal em todo o país. Note que falhar em atender a qualquer requisito implicará na negativa pura e simples do reconhecimento. A justiça brasileira,

inclusive nos Tribunais Superiores, tem pacífico entendimento no sentido de não haver qualquer direito adquirido à revalidação, e que as faculdades podem exigir o que bem entenderem. Podemos citar julgado do STJ que es-pelha o entendimento da corte:

AgRg no REsp 1137209/RS. 2009/0079682-5. Ministro BENEDI-TO GONÇALVES. PRIMEIRA TURMA. DJe 29/06/2010. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGI-MENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ENSINO SUPERIOR. CURSO DE ME-DICINA. CONVENÇÃO REGIONAL SOBRE O RECONHECIMENTO DE ESTUDOS, TÍTULOS E DIPLOMAS DE ENSINO SUPERIOR NA AMÉRICA LATI-NA E NO CARIBE. NÃO REVOGAÇÃO DO DECRETO N. 80.419/77 PELO DECRETO N. 3.007/99. INEXISTÊN-CIA DE PREVISÃO LEGAL PARA VALI-DAÇÃO AUTOMÁTICA DE DIPLOMA OBTIDO NO EXTERIOR. NORMA DE CUNHO MERAMENTE PROGRAMÁ-TICO (...) 1. Caso em que se alega ocorrência de erro material na decisão recorrida, haja vista que o agravante foi graduado no ano de 1998, antes da vigência do Decreto n. 3.007/99, que teria revogado a Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Diploma de Ensino Superior na América Latina e no Caribe, aprovada pelo Decreto Legislativo n. 66/77 e promulgada pelo Decreto Presidencial n. 80.419/77, fazendo jus, portanto, à revalidação automática de seus títulos; bem como ocorrência do fato consumado, visto que exerce a atividade de médico des-de a concessão da tutela antecipada (...) 2. A jurisprudência de ambas as

Turmas que compõe a Primeira Seção firmou entendimento de que a Conven-ção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de En-sino Superior na América Latina e no Caribe, incorporada ao ordenamento jurídico nacional por meio do Decre-to n. 80.419/77, não foi, de forma alguma, revogada pelo Decreto n. 3.007, de 30 de março de 1999. Isso porque o aludido ato internacional foi recepcionado pelo Brasil com status de lei ordinária, sendo válido mencionar, acerca desse particular, a sua ratifica-ção pelo Decreto Legislativo n. 66/77 e a sua promulgação através do Decreto n. 80.419/77. Dessa forma, não há se falar na revogação do Decreto que promulgou a Convenção da América Latina e do Caribe em foco, pois o Decreto n. 3.007/99, exarado pelo Sr. Presidente da República, não tem essa propriedade. Precedente do STF: ADI 1.480 MC/DF, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ de 18/5/2001. 3. A Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Tí-tulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe não confere o direito à validação automática de diplomas obtidos no exterior. Essa é a exegese que se infere da leitura atenta do artigo 5º da indigitada Convenção. (...) 5. Ademais, a referida Convenção, em nenhum dos seus dispositivos, auto-riza o imediato reconhecimento de di-plomas estrangeiros sem prévio proce-dimento administrativo de revalidação. 6. Logo, é defeso o reconhecimento automático de diplomas obtidos no exterior sem o anterior procedimento administrativo de revalidação, con-

“É interessante pesquisar os protocolos de cooperação

firmados entre nossas faculdades e suas correlatas estrangeiras”

Page 9: Estudar no Exterior

soante determina a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 9.394/96), em seu art. 48, § 2º Precedente: REsp 939.880/RS, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, Agravo de regimental não provido (Nesse sentido AgRG no Resp 1180351, REsp 1126189, entre ou-tros).

Até mesmo no caso dos diplomas obtidos em Universidades de Portugal a revalidação é exigida. O Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado em Porto Seguro, em 22 de abril de 2001 foi promulgado pelo Decreto nº 3.927, de 19 de setembro de 2001. O art. 39, que versa sobre o reconheci-mento de graus, títulos acadêmicos e de especialização, reza que os graus e títulos acadêmicos de ensino superior concedidos por estabelecimentos para tal habilitados por uma das Partes Contratantes em favor de nacionais de qualquer delas serão reconhecidos pela outra Parte Contratante, desde que certificados por documentos devi-damente legalizados. Contudo, o art. 40 determina que a competência para conceder o reconhecimento de um

grau ou título acadêmico pertence, no Brasil às Universidades e em Portugal às Universidades e demais instituições de ensino superior, a quem couber atribuir o grau ou título acadêmico correspondente. Assim, remete a aná-lise e decisão final às instituições de ensino locais. Por fim, o art. 41 explica que o reconhecimento será sempre concedido, a menos que se demonstre, fundamentadamente, que há diferença substancial entre os conhecimentos e as aptidões atestados pelo grau ou título em questão, relativamente ao grau ou título correspondente no país em que o reconhecimento é requerido.

Desta forma, se pode argumentar que, uma vez que a faculdade perti-nente reconheça a paridade do título, a homologação deverá ser concedida. Inobstante, ainda é necessária a prévia fase de revalidação acadêmica. Claro está que isso tem gerado uma série de arbitrariedades.

A triste verdade é que nossas uni-versidades públicas tendem a repudiar os diplomas estrangeiros, encarados como uma maneira de brasileiros burlarem o rigor local ao procurarem modos mais fáceis de acesso à pós gra-

duação. Ainda que se admita que más intenções existam, temos o absurdo de ver diplomas de faculdades mundial-mente reconhecidas por sua excelência aguardarem por anos nos departamen-tos tupiniquins e por vezes amargar a recusa de qualquer reconhecimento. Para os realmente interessados em enriquecer sua experiência estudando no exterior, é importante que pesquisem bem a Universidade e o tipo de curso oferecido, avaliando seus antecedentes de reconhecimento no Brasil, sabendo que não existe qualquer mecanismo que assim proceda automaticamente. Uma boa opção são as pós graduações chamadas “sanduíche”, onde o aluno é admitido pela faculdade nacional e cumpre parte dos créditos fora do país, onde a validade do diploma é assegu-rada, até mesmo porque emitido aqui. Alternativa interessante é pesquisar os protocolos de cooperação firmados entre nossas faculdades e suas corre-latas estrangeiras, onde se determinam os cursos que podem ser facilmente reconhecidos.

Aos que optarem pelo exterior, boa sorte, e saibam que não existe caminho fácil.

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M U R A LDireito em Movimento

Page 10: Estudar no Exterior

ARTIGO

O QUE É UM PLANO DE CARREIRA?

Você já listou as suas poten-cialidades? E o que deseja realizar por você e para a

sociedade?As respostas para as duas per-

guntas são negativas... Isso ocorre pela falta de uma adequada infor-mação sobre o que é a carreira dentro de um contexto onde há a generalização das idéias da livre empresa, o acesso às tecnologias de informação e comunicação, a intensificação do comércio entre os países, a emergência de novos caminhos, o surgimento de novos atores econômicos no cenário in-ternacional, ao mesmo tempo que, os desafios do desenvolvimento sus-tentável e as incertezas da econo-mia mundial em função de fatores que podem ser considerados tanto ameaças como oportunidades para as empresas.

Este ambiente de negócios mundializado e turbulento traz a necessidade de desenvolvimento de novas carreiras e o desenvolvimento de novas competências e novos modelos. Inovação, conhecimento, meio ambiente, parcerias para o desenvolvimento e internacionali-zação, são fatores determinantes para a competitividade.

Diante destas preocupações, tornou-se essencial que o estudante elabore o seu PLANO DE CARREI-RA - PC.

Planejar uma carreira é estabele-cer um mapa que mostre não só os destinos como também os trajetos mais adequados para alcançá-los. Algumas carreiras possuem mapas claros e pré-estabelecidos: alguns anos de estudo entre graduação e pós-graduação e um emprego

aguardando na outra ponta são um começo bem interessante. Porém, PLANOS DE CARREIRAS de certas profissões dificilmente são simples assim.

A grande vantagem de planejar a carreira através deste instrumento é poder visualizar e clarear con-

Cláudia Ribeiro Pereira Nunes

ceitos e procedimentos, checando conhecimentos sobre mercado, car-reira e inclusive sobre você mesmo.

Um PLANO DE CARREIRA nor-malmente é rico e dinâmico e não deve ser visto como algo imutável, como se fosse escrito sobre pedra. Pelo contrário: o PC deve ter o

Cláudia Ribeiro é Doutora em Direito, Gestora do Projeto de Orientação Profissional – POP da FGV Direito Rio e palestrante convidada da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro - EMERJ.

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mesmo dinamismo e velocidade de sua carreira.

Para facilitar e tornar didático o processo de construção do PLANO DE CARREIRA precisa-se preencher os seguintes itens:

1. Auto-conhecimento – suas características pessoais. É o mo-mento em que se reflete valores, sonhos,desejos, habilidades, tendên-cias, crenças e traços de personali-dade. Não se engane!

2. Análise situacional – análise do seu contexto atual. É o momento em que se reflete o “estoque de recursos atual”, as competências percebidas, qualidades, potenciais, defeitos e limites com os quais convivemos. Como você se percebe?

3. Estabelecendo objetivos - des-creve metas específicas. É a síntese das competências desejáveis. É a des-crição do que desejamos no presente. O que pensamos que queremos?

4. Definição de metas e estraté-gias - esta etapa deve ser feita por meta ou por atividade. Ex: melhorar língua estrangeira – Quais são as possibilidades para que eu aprenda inglês, francês ou espanhol? Quan-to custa cada uma delas? Em quan-to tempo estarei falando? Item por item, sucessivamente. Tenha calma!

5. Gerenciamento do planeja-mento da carreira – esta etapa é a de avaliar o andamento de seus projetos e checar como vão seus esforços para atingir suas metas. Seja muito sincero!

Você deve perguntar-se hones-tamente: o que eu pretendo com um emprego público ou privado? Ser Delegado de Polícia Federal é o meu sonho? Nasci para trabalhar na Polícia? Você já conversou com algum dos Delegados de Polícia para saber o que a carreira ofere-ce? Serei um ótimo empregado pú-

blico? Farei uma carreira brilhante?Seja qual for a resposta, ótimo,

parabéns! Lembre-se de usar toda a ener-

gia, toda a sua vontade para estu-dar muito e investir em sua carreira! Seja um grande e requisitado pro-fissional! Aprenda Finanças, Esta-tística, Contabilidade, Marketing, Estratégia e todas as disciplinas correlatas que farão com que se destaque na carreira privada ou pública que escolheu.

Escolha trabalhar em alguma coisa que lhe dê satisfação (mesmo que ela não seja plena), porque o trabalho ocupa a maior parte do meu dia e da sua vida. Faça suas próprias escolhas para sentir bem contigo. Trabalhe em alguma coisa que o re-alize, porque só assim terá felicidade para si e para sua família. Entendeu agora porque é tão importante ter um PLANO DE CARREIRA?

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ARTIGO

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOSQuem vai pagar a conta?

Leonardo Augusto Iracema Ribeiro*

A Constituição Federal de 1988, inspirada em ideais democráticos, trouxe como premissa básica o

Princípio do Contraditório. Segundo esse valor “enraizado” na nossa lei maior, analisado de forma bastante super-ficial, todo cidadão deve conhecer a acusação que lhe está sendo imputa-da, bem como ter a oportunidade de confrontá-la.

Seguindo esse raciocínio, fácil con-cluir que para que haja uma perfeita aplicação do referido conceito, este deve, obrigatoriamente, estar atrelado à ideia de uma defesa técnica capaz de proporcionar à parte uma discussão jurídica satisfatória.

No mesmo sentido, em claríssima explanação, Fernando Tourinho adver-te que “se o acusado quiser defender-se a si mesmo, não poderá fazê-lo se não tiver habilitação técnica, se não for advogado devidamente inscrito na OAB. O defensor técnico produz a garantia da contestação e do contra-ditório. O acusador tem habilitação técnica, e, assim, se o acusado não a tivesse, haveria uma luta desigual entre ambos.” (TOURINHO FILHO, Fer-nando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2009, vol.01, p.49)

Deste modo, a Constituição Fede-ral assegura que todo cidadão tem o direito de procurar profissionais de sua confiança, devidamente habilitados, a fim de que bons serviços lhe sejam prestados.

Todavia, esta contratação gera um ônus, uma diminuição de seu patrimô-nio, uma vez que, como todo presta-dor de serviços, o advogado tem que cobrar seus honorários profissionais pelos serviços realizados.

Em outras palavras, aquele que se defende em procedimento administra-tivo ou em um processo judicial, no qual assume posição de acusado ou acusador, e requer o acompanhamen-to de um advogado de sua confiança, em regra, deve despender parte do

seu patrimônio, com o pagamento dos honorários advocatícios.

Contudo, o Código Civil estabelece em seu artigo 389 que “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais re-gularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”

Outrossim, preceitua ainda o refe-rido diploma legal que “salvo as exce-ções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamen-te perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar” (art.402 do Código Civil).

Desta forma, diante da hipótese da parte, que propõe ou que é alvo de uma demanda, e que ao final desta, é con-templada com uma decisão favorável, deve ser ressarcida de todos os danos sofridos oriundos dos atos provocados pela parte contrária.

Sendo assim, os valores gastos com a contratação de advogados, também devem ser ressarcidos ao vencedor, à título de danos materiais, uma vez que representou uma efetiva perda em seu patrimônio.

Imperioso ressaltar que o referido dano não se confunde com os valores arbitrados pelo juiz a título de honorá-rios de sucumbência.

Trata-se de um verdadeiro dano emergente, que deve ser valorado de acordo com a despesa adquirida pela parte vencedora com a contratação de seu patrono.

Cumpre ressaltar que o Código de

Processo Civil, ao introduzir a figura dos honorários de sucumbência de-termina que “a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as des-pesas que antecipou e os honorários advocatícios (...) os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação” (art. 20 e parágrafos do CPC).

Assim, diferentemente dos hono-rários sucumbenciais, arbitrados em benefício do patrono da parte ven-cedora, o referido valor pertence a própria parte que teve seu patrimônio diminuído.

Da mesma forma que um enge-nheiro responsável por determinada avaliação técnica é remunerado pela parte sucumbente, a parte vencedora não deve arcar com a contratação dos serviços profissionais realizados por seu mandatário.

Diga-se de passagem, não é à toa que a Constituição Federal prevê que o advogado é indispensável à admi-nistração da justiça e que seus atos e manifestações no exercício da profissão são considerados invioláveis nos limites da lei.

Nas “mãos” desses profissionais são diariamente depositadas esperan-ças, e o empenho em seu trabalho é a via crucis para realização de sonho, como no caso de uma aprovação em concurso público, da obtenção de um medicamento essencial para garantir a vida de um enfermo a espera do amparo Estatal, ou a realização de

“Atribuir a responsabilidade de arcar com o pagamento dos valores gastos àquele que realmente deu causa ao

conflito, amplia a oportunidade dos menos favorecidos de procurar outras formas

de assistência jurídica”

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ARTIGO

um tratamento que o plano de saúde se recusou a autorizar.

Certo é que procurar um bom advo-gado, no qual a parte possa depositar a sua confiança, não representa algo desnecessário, mas sim um direito de todos.

Ter a convicção de estar sendo bem representado é extremamente importan-te para que a consciência repouse de forma serena.

Atribuir a responsabilidade de arcar com o pagamento dos valores gastos com a referida contratação, a título de dano material emergente, àquele que realmente deu causa ao conflito, amplia a oportunidade dos menos favorecidos de procurar outras formas de assistência jurídica para orientação jurídica e defe-sa, em todos os graus, dos necessitados.

Questão pertinente e o fato de o Estado oferecer, por intermédio da Defensoria Pública, assistência jurídica gratuita.

A referida instituição foi criada a partir de um processo evolutivo com o objetivo de solucionar a problemática do chamado Acesso à Justiça.

O Constituinte Originário, a fim de instrumentalizar o Direito Fundamental constante no art. 5º, LXXIV, estabeleceu que a Defensoria Pública é instituição

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados (art.134 da CRFB/88).

Nas sábias palavras de Pedro Lenza “os necessitados fazem jus agora a dis-pensa de pagamentos e à prestação de serviços não apenas na esfera judicial, mas em todo o campo dos atos jurídi-cos. Incluem-se também na franquia: a instauração e movimentação de proces-sos administrativos, perante quaisquer órgãos públicos, em todos os níveis; os atos notariais e quaisquer outros de natureza jurídica, praticados extrajudi-cialmente; a prestação de serviços de consultoria, ou seja, de informação e aconselhamento em assuntos jurídicos.” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2010, p.692)

Em muitos Estados, a Defensoria Pública ainda não foi efetivamente im-plementada, apesar de o Poder Público, por meio dos seus representantes, não dar descanso à população no momento de cobrar seus tributos.

Nos estados em que já foi instituída, apesar de contar com excelentes profis-sionais, a referida instituição nitidamente carece de investimentos e infraestrutura.

Em alguns locais, aqueles que neces-

sitam da Defensoria precisam chegar no início da manhã, para adquirir senha e serem alocados em grandes filas para serem atendidos.

A questão aqui é diferente. Não dis-cutimos sobre a capacidade financeira daqueles que procuram advogados particulares. O ponto chave é o empo-brecimento, o dano material de quem, ao procurar um profissional de sua con-fiança para se defender de acusações sem fundamentos ou de fatos originados por única e exclusiva culpa de terceiros, arca com as despesas em prol da sua própria defesa.

Isto posto, a parte vencida deve arcar, ao final da demanda, com os danos morais (se existentes), com os danos materiais (incluindo aqui o valor das despesas despendidas com a contratação de qualquer profissio-nal, inclusive do advogado), e ainda no pagamento dos honorários de sucumbência, este devidos ao próprio patrono contratado.

*Advogado, Delegado de prerrogativas da OAB/RJ, Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Especialista em Direito Penal e Processo Penal, Especialista em Direito e Gestão da Segu-rança Pública, Especialista em Direito Privado e Civil, Especialista em Processo Civil, Especialista em Direito Empresarial.

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2º CONGRESSO JURÍDICO DE NITERÓ I “DESAFIOS DO DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO” 6 E 7 DE MAIO

Niterói é a sede de um dos eventos forenses mais esperados. Trata-se do 2º Congresso Jurídico de

Niterói, que promete repetir o sucesso da primeira edição, voltada para o Direito Processual Civil.

O Congresso é uma realização do Ideia Concursos. Nesta edição, o evento trará temas como “A responsabilidade do Poder Público em relação aos débi-tos trabalhistas e fiscais das empresas contratadas”; “A transferência do atleta profissional de futebol” e “A prova diabó-lica na Justiça do Trabalho”, entre outros, que serão debatidos por verdadeiros expoentes da área trabalhista. Para saber como estão os preparativos do evento, nossa equipe conversou com dois de seus organizadores, os professores Antônio Carlos Barragan e Paulo Nasser (foto).

Como surgiu a idéia de Con-gressos em Niterói?

Paulo Nasser: Há muito tempo não se fazia um evento desse porte em Ni-terói. A ideia básica é a de aproveitar a qualidade de vida de Niterói e resgatar uma cultura de projetos e congressos ju-rídicos na cidade, que conta com muitos profissionais da área.

Fazer de Niterói um pólo para esses eventos?

Nasser: Sim, especificamente na área jurídica. Niterói tem hoje, sete Universi-dades de Direito, o que justifica haver congressos e seminários. Além disso, precisamos interagir com os estudantes do Rio e do país. Estudantes de Belo Ho-rizonte e Salvador estão fazendo grupos para vir ao evento.

Participar de um congresso como esses é uma boa oportu-nidade de networking?

Nasser: Esse é um dos muitos atrati-vos. Os participantes terão proximidade com os palestrantes, com os próprios participantes: diversos profissionais, advogados e estudantes de Direito. É difícil encontrar uma oportunidade de

reunir as pessoas para falar sobre temas muito novos. O foco do Congresso é o debate de novidades, basta conferir a programação. Temos, por exemplo, o Juiz Marcelo Moura que falará sobre a polêmica “prova diabólica no processo do trabalho”.

Então, também é uma boa oportunidade para aqueles que estão se preparando para con-cursos públicos?

Antônio Carlos Barragan: Nesse Congresso o participante poderá focar sua preparação para o Ministério Público do Trabalho e para a Magistratura do Trabalho. Acho de fundamental impor-tância a participação dos concurseiros em virtude da participação de Magistra-dos, Promotores, pessoas ligadas à área do Trabalho, não só dentro do serviço público, mas até mesmo atuando como advogados. As questões controvertidas estão presentes em todas as fases dos concursos, principalmente na prova oral.

DROPS

Informações e Inscrições na sede do Curso Ideia em Niterói: R. Cel. Gomes Machado 99, 3° andar, Centro Niterói. Tels: 2620-7215, 27061690. No Centro do Rio, os interessados poderão se inscrever na Travessa do Paço, 23, sala 905, Centro, Rio de Janeiro, RJ - Tel. 2210-2819; 2215-4810 (ao lado do prédio do Tribunal de Justiça). www.ideiaconcursos.com.br.

E para o graduando? Barragan: O aluno de Direito precisa

respirar ares de eventos jurídicos, como congressos e seminários. São ambientes muito enriquecedores. Outro ponto po-sitivo é o de assistir palestras de diversos autores de livros que são usados na graduação e ter contato com os juristas pessoalmente. Além disso, os graduan-dos terão acesso a um conhecimento que não é típico de salas de aula, pois, em regra, não fazem parte do programa curricular. O evento concederá horas de estágio, pois tem o apoio das subseções da OAB Niterói e São Gonçalo.

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O ex-presidente da OAB Niterói, Maurício Helayel, receberá homenagem póstuma, no dia

25 de maio, pela instituição da cidade. Seu nome será perpetuado na Central de Peticionamento Eletrônico e Pesqui-sa, localizada no 11° andar da Ordem. Para o presidente em exercício, Antonio José Barbosa da Silva, “Maurício foi um grande defensor das causas dos advogados, tendo exercido o mandato com muita eficiência”. Com essa home-nagem, segundo Antonio José, “a OAB de Niterói fará justiça”.

OAB NITERÓIHomenagem ao

Ex-presidente da OAB de Niterói

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William Douglas*

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resDIREITO: a melhor de todas as carreiras

*William Douglas é juiz federal/RJ, mestre em Direito, especialista em políticas públicas e governo.

Estas rápidas e curtas palavras são di-rigidas a você, meu colega de profissão, meu colega de área jurídica. Não sei se você acabou de se formar, se talvez ainda nem tenha passado no Exame da OAB, se está sonhando com uma pós ou MBA, ou um concurso, ou se está “ralando” no começo de sua história na advocacia. Qualquer que seja o seu caso, colega, saiba que você está na melhor de todas as carreiras. Nenhuma outra carreira oferece tantas chances de sucesso, crescimento, remuneração e rea-lização pessoal.

Tenho 42 anos e estou há 25 no “mundo jurídico”, onde ingressei ao começar o curso de Direito na UFF, em Niterói. Já passei por tudo, já advoguei, fiz concursos, dei aula, fui Defensor, Delegado, militante de ONG, es-critor, palestrante, fiz júris. Errei mais vezes do que acertei ou, se muito, empatei nesse quesito. Cometi todos os erros, tive todas as dúvidas, levei muito tempo para aprender a me “virar” e a achar meu “lugar ao sol”. Mas, por insistência, fé e esforço, cheguei onde queria. E você também pode chegar.

Por isso, escrevo aqui, para você que talvez esteja se perguntando se escolheu a carreira certa, talvez por estar passando por dificuldades e angústias profissionais, por dúvidas e perplexidades. Se for o seu caso, acredite em mim, seu colega de anos e anos de operador jurídico: você está na melhor de todas as carreiras.

Esteja absolutamente certo de que nenhuma carreira oferece tantas oportu-nidades, tantas portas abertas e tantas possibilidades profissionais. E, embora não seja o mais importante (quando muito o que parece mais urgente), excelente remunera-ção. Além, é claro, do status e da certeza de poder ajudar a melhorar a vida, nossa, da nossa família e do país.

Vou contar algo que pode parecer es-quisito para você, e foi por isso mesmo que decidi escrever: estão sobrando vagas! Está faltando gente no mercado! Estão faltando advogados, professores, concurseiros. SIM! É isto mesmo. O mercado não está, como muitos pensam, saturado. Então, se você está achando que tem gente demais, enten-da: o mercado não precisa de gente, mas de ... “gente qualificada”. Sou juiz e converso

com muitos juízes, pelo que posso afirmar para você, sem medo de errar: há falta de bons advogados. A gente vê poucos advogados realmente capazes no dia-a-dia - para estes não falta trabalho. E está faltando gente que saiba fazer concursos. Sobram vagas nas carreiras de elite. Há muita gente inscrita nas provas, mas pouca gente preparada. E se você fez faculdade ou algum curso preparatório já sabe: há muita carência de professores excelentes.

Então, anime-se: se você se dispuser a buscar a excelência, se você se dedicar e obtiver conhecimento e habilidade para qualquer desses ramos, certamente terá muitas portas abertas e vai poder escolher o que fazer, onde, como... e quanto vai ganhar por isso.

O mercado tem muita gente, mas pou-cos são os que se diferenciam por sua ca-pacidade profissional e técnica. Se você se diferenciar, mesmo que leve algum tempo, haverá muitas ofertas de trabalho. Pague seu preço para ser bom, competente, que seu espaço estará garantido. Seja leal, educado, honesto, trabalhador e com-petente... e as pessoas procurarão você para ser advogado, professor, sócio, con-selheiro, consultor. E se você quiser, fará concursos e será bem sucedido também. Quando a pessoa é competente, pode escolher se estará na carreira pública, na privada, ou em ambas. Se vai advogar sozinho, em grupo, para empresas, der aula, escrever, servir ao público, qualquer coisa. Literalmente.

Se ainda não sabe como fazer isso, não se preocupe. Isso é possível aprender. O “caminho das pedras” não é difícil para quem tem curiosidade e sede de conhe-cimento. Quando o aluno está pronto... o mestre surge. Como diz o Evangelho, “aquele que busca, encontra; o que pro-cura, acha”. Basta semear e cuidar das sementes certas que a colheita será boa.

O mundo pertence a quem fez Direito... direito. Se ainda não é seu caso, é possí-vel recuperar o tempo perdido e ser um profissional diferenciado. O mundo, então, vai ser seu. Como eu disse, você está na melhor carreira que existe.

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MURAL JURISPRUDÊNCIA

Cirurgia Bariátrica e ComplementarA cirurgia bariátrica é uma intervenção cirúrgica em pessoas que possuem obesidade mórbida. De acordo com o noticiário do STJ, na última década essa espécie de cirurgia cresceu mais de 500%, o Brasil ocupa o 2º lugar no ranking de realização desse procedimento e acredita-se que somente no ano de 2011 aproxima-damente 70 mil cirurgias serão realizadas em todo o país.

André Costa

Sérios problemas são enfrentados no momento em que consumidores desejam utilizar planos de saúde,

pois a maioria das operadoras se nega a dar cobertura à intervenção cirúrgica, recusando-se a custear as despesas do cliente, alegando, por exemplo, que a cirurgia bariátrica possui finalidade es-tética; que a obesidade é uma doença pré-existente e, ainda, o não cumprimento do prazo de carência do plano de serviços contratado.

O STJ tem sido o maior aliado dos consumidores na apreciação de suas de-mandas e criação de jurisprudências que dão respaldo aos que necessitam realizar a cirurgia para melhorar a qualidade e expectativa de vida.

Nesse sentido, o STJ, em novembro de 2010, aprovou a súmula 469, no seguinte teor: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos planos de saúde”. A razão da súmula se dá pelo fato desta espécie contratual ser considerada como cativa e de longa duração.

É cediço que o princípio da boa-fé objetiva abarcar um conjunto de padrões éticos de comportamento que devem ser seguidos pelos contratantes durante o cumprimento dos contratos, e desses, decorrem deveres anexos, como o de proteção ao consumidor, impondo aos fornecedores de serviços a conduta de proteger a integridade física e psíquica do consumidor. Desta forma, não poderá o fornecedor oferecer serviços médicos e depois não querer realizá-los, sendo pas-sível de caracterização de danos morais.

É interessante vislumbrar a possibilida-de da aplicação da “Teoria da perda de uma chance” (perte d’une chance) no caso da negativa de realização de intervenção cirúrgica posterior àqueles que realiza-ram a cirurgia bariátrica e necessitam de operação complementar, para retirada da pele excedente. O que se busca é evitar um prejuízo maior para o paciente que comprove o risco de agravamento pela não retirada do excesso da pele que se dobra sobre si mesma, mantendo-se

úmida e abrindo caminho para diversas infecções. O fornecedor deve minorar o sofrimento do consumidor e oportunizar uma vida melhor, ou seja, dar chances reais de cura e pronto restabelecimento. Da análise do julgado a seguir, de nada adiantará a submissão à cirurgia bariátri-ca se o paciente não realizar a segunda intervenção, evitando futuras infecções, ou seja, perderá a chance de convalescer plenamente.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.136.475 - RS (2009/0076243-9). RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA. RECOR-RENTE: PRÓ SALUTE SERVIÇOS PARA A SAÚDE LTDA. RECORRIDO: ELISÂNGELA BATASSINI LIMA. REL. MINISTRO MASSA-MI UYEDA

RELATÓRIO: “Cuida-se de recurso especial interposto por PRÓ SALUTE SERVI-ÇOS PARA A SAÚDE LTDA, fundamentado no artigo 105, III, “a” e “c”, da Constitui-ção Federal, em que se alega a violação dos artigos 132 do Código de Processo Civil; 10, II, IV, da Lei n. 9.656/98, além de dissenso jurisprudencial.

Os elementos dos autos dão conta de que ELISÂNGELA BATASSINI LIMA, ora recorrida, ajuizou ação ordinária em face de PRÓ SALUTE SERVIÇOS PARA A SAÚDE LTDA, ora recorrente, objetivando o fornecimento e o custeio dos procedi-mentos cirúrgicos destinados à redução de excesso de tecido epitelial (retirada do avental abdominal, mamoplastia redutora e a dermolipoctomia braçal), ocasionado pela drástica e significativa perda de peso (aproximadamente 90 kg - noventa quilos) decorrente de anterior e exitosa cirurgia bariátrica (coberta pelo plano de saúde contratado), a que a paciente-segurada submeteu-se. Pretensão que, nos termos da petição inicial, fora administrativamente recusada. A antecipação da tutela restou deferida nos termos pleiteados.

Citada, PRÓ SALUTE SERVIÇOS PARA A SAÚDE LTDA contestou integralmente a pretensão, ao argumento, em suma, de que o plano de saúde contratado expressa-mente exclui da cobertura o procedimento

de cirurgia reparadora-estética, inexistin-do, por conseqüência, emergência e/ou urgência, em sua efetivação.

(...)Finda a instrução e julgamento, o

processo restou sentenciado por outra magistrada, já que a d. Juíza que até então presidira o feito assumiu a Jurisdição de outra Vara. Ao final, o r. Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul/RS, após afastar a alegação de finalidade estética das cirurgias requeridas, com ex-ceção da cirurgia atinente à implantação de próteses mamárias, que constituiu, inclusive, inovação da causa, julgou a demanda procedente para determinar “ao réu a realização de cirurgia de retirada do avental abdominal; mamoplastia redutora e a dermolipoctomia braçal, sucessiva-mente, confirmando a tutela antecipada concedida, com exceção da deferida (cirurgia e disponibilização de próteses mamárias), a qual fica revogada.

Interposto recurso de apelação pela PRÓ SALUTE, o egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, negou-lhe provimento em acórdão assim ementado: “seguro de saúde. preliminar de nulidade da sentença re-jeitada. obesidade. tratamento cirúrgico não-estético. plástica para a remoção de tecido epitelial e reconstrução mamária. cobertura devida. 1. o afastamento do magistrado responsável pela instrução por motivos como promoção e permuta, ou simplesmente para assumir a jurisdição em outra Vara, não fere o princípio da identidade física do juiz. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 2. Quando a sentença revoga a tutela concedida an-tecipadamente, não há interesse recursal que justifique o conhecimento de agravo retido. 3. A cirurgia plástica de remoção de tecidos adiposos e epiteliais, assim como a mamoplastia necessária para dar continuidade ao tratamento de obesidade mórbida, não se confunde com tratamento estético, de embelezamento, não sendo admissível a negativa de cobertura com base em cláusula contratual que prevê

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MURAL JURISPRUDÊNCIA

a exclusão de cirurgias e tratamentos de emagrecimento com finalidade estética. AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. APELO DESPROVIDO.”

Busca a recorrente, PRÓ SALUTE SER-VIÇOS PARA A SAÚDE LTDA, a reforma do r. decisum, sustentando, preliminarmente, a nulidade da sentença ante o malferimento do princípio da identidade física do juiz, na medida em que o feito restou sentenciado por magistrado que não findou a instrução e julgamento, conforme determina a lei adjeti-va civil. No mérito, afirma que o contrato de prestação de serviços de assistência médica e hospitalar é bastante claro, ao excluir, de forma expressa, o procedimento de cirur-gia reparadora estética, o que, inclusive, coaduna-se com a legislação correlatada que, ao disciplinar a cobertura mínima dos planos de saúde, exclui da cobertura cirur-gias de finalidades estéticas. Por fim, aponta a existência de dissenso jurisprudencial acerca da matéria suscitada. É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.136.475 - RS (2009/0076243-9) EMENTA: RECUR-SO ESPECIAL - AÇÃO ORDINÁRIA - PLA-NO DE SAÚDE - PRELIMINAR - INFRIN-GÊNCIA AO PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ - NÃO VERIFICAÇÃO, NA ESPÉCIE - MÉRITO - CIRURGIA DE RE-

MOÇÃO DE TECIDO EPITELIAL APÓS A SUBMISSÃO DA PACIENTE-SEGURADA À CIRURGIA BARIÁTRICA - PROCEDIMEN-TO NECESSÁRIO E COMPLEMENTAR AO TRATAMENTO DA OBESIDADE, ESTE INCONTROVERSAMENTE ABRANGIDO PELO PLANO DE SAÚDE CONTRATADO, INCLUSIVE, POR DETERMINAÇÃO LEGAL - ALEGAÇÃO DE FINALIDADE ESTÉTICA DE TAL PROCEDIMENTO - AFASTAMEN-TO - NECESSIDADE - COBERTURA AO TRATAMENTO INTEGRAL DA OBESIDADE - PRESERVAÇÃO DA FINALIDADE CON-TRATUAL - NECESSIDADE - RECURSO ES-PECIAL IMPROVIDO. I - No caso dos au-tos, a magistrada que concluiu a audiência de instrução e julgamento afastou-se do feito para assumir a titularidade de outra Vara e exercer a jurisdição em outra Co-marca, hipótese que se enquadra na cláu-sula genérica pré-citada: “afastamento por qualquer motivo”, na esteira da jurispru-dência desta Corte; II - Encontrando-se o tratamento da obesidade mórbida coberto pelo plano de saúde entabulado entre as partes, a seguradora deve arcar com todos os tratamentos destinados à cura de tal patologia, o principal - cirurgia bariátrica (ou outra que se fizer pertinente) - e os subsequentes ou consequentes - cirurgias

destinas à retirada de excesso de tecido epitelial, que, nos termos assentados, na hipótese dos autos, não possuem natureza estética; III - As cirurgias de remoção de excesso de pele (retirada do avental abdo-minal, mamoplastia redutora e a dermo-lipoctomia braçal) consiste no tratamento indicado contra infecções e manifestações propensas a ocorrer nas regiões onde a pele dobra sobre si mesma, o que afasta, inequivocamente, a tese sufragada pela parte ora recorrente no sentido de que tais cirurgias possuem finalidade estética; IV - Considera-se, assim, ilegítima a recu-sa de cobertura das cirurgias destinadas à remoção de tecido epitelial, quando estas se revelarem necessárias ao pleno restabelecimento do paciente-segurado, acometido de obesidade mórbida, doença expressamente acobertado pelo plano de saúde contratado, sob pena de frustrar a finalidade precípua de tais contrato; V - Recurso Especial improvido.VOTO. O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator): A pretensão recursal não merece prosperar.

Com efeito. Preliminarmente, anota-se que a pretensão de acoimar de nulidade a sentença sob o argumento de que fora prolatada por magistrado que não concluiu

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Page 19: Estudar no Exterior

MURAL JURISPRUDÊNCIA

a instrução probatória carece, in casu, de respaldo legal. Isso porque o princípio da Identidade Física do Juiz, vertente do prin-cípio maior da Oralidade e que postula a vinculação do magistrado à causa, desde tenha presidido integralmente a audiência de instrução e julgamento, com colheita de prova oral, comporta, nos termos do artigo 132 da lei adjetiva civil contemporização, nos casos de convocação, licença, afasta-mento por qualquer motivo, promoção ou aposentadoria do magistrado. É certo, ainda, que o parágrafo único do referido preceito legal confere, nesses casos, ao magistrado que proferirá a sentença a possibilidade de reproduzir as provas. No caso dos autos, nos termos relatados, a magistrada que con-cluiu a audiência de instrução e julgamento afastou-se do feito para assumir a titularida-de de outra Vara e exercer a jurisdição em outra Comarca, hipótese que se enquadra na cláusula genérica pré-citada: “afastamento por qualquer motivo”, na esteira da jurispru-dência desta Corte. (...)

É certo, ainda, que, possível nulidade, exigiria, no caso dos autos, a demonstra-ção de inequívoca violação aos princí-pios do contraditório e da ampla defesa (ut Resp 780.775/CE, Relator Ministra Nancy Andrighi, DJ. 4.9.2006), o que, na espécie, não restou configurado. Aliás, no ponto, assinala-se que o magistrado sentenciante, de acordo com as pretensões da ora recorrente, restringiu a antecipação de tutela deferida pela magistrada que pre-sidiu a instrução, para determinar o reem-bolso da cirurgia destinada à implantação das próteses mamárias, já que esta, além de constituir inovação de pedido, tinha inequivocamente natureza e finalidade estética. Assim, não há falar em prejuízo à defesa da ora recorrente em razão da desvinculação da magistrada à causa. No mérito, a controvérsia cinge-se em saber se o plano de saúde contratado, no qual, por determinação legal, prevê a cobertura ao tratamento da obesidade mórbida, deve ou não prover o fornecimento e o custeio dos procedimentos cirúrgicos destinados à redução de excesso de tecido epitelial (re-tirada do avental abdominal, mamoplastia redutora e a dermolipoctomia braçal), ocasionado pela drástica e significativa perda de peso decorrente de anterior cirur-gia bariátrica (esta, coberta pelo plano de saúde contratado). Discute-se, outrossim, a natureza das referidas cirurgias, se estéti-cas, ou se necessárias ao restabelecimento

da saúde da paciente-segurada. De plano, impende deixar assente que esta Relatoria, em casos nos quais se discute a obrigação da Seguradora de arcar com determinadas despesas médicas, de forma reiterada, tem deixado assente a necessidade de se observar a natureza dos contratos de plano de saúde, pautada, essencialmente, na mutualidade das obrigações. É dizer, os riscos (estes subentendidos como as futuras e eventuais patologias a serem cobertas) devem estar claramente especificados, pois o custeio, representado pelo prêmio a ser pago pelo segurado, há de corresponder ao benefício. No caso dos autos, tem-se que a cobertura pleiteada pela parte recorrida, consistente no fornecimento e custeio dos procedimentos cirúrgicos destinados à redução de excesso de tecido epitelial, de fato, encontra-se abarcada pelo tratamento da obesidade mórbida, previsto contratualmente.Na espécie, é de se assinalar que o contrato entabulado entre as partes, posterior à entrada em vigor da Lei n 9.656/98 e, portanto, por ela regido, necessariamente compreende a cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar para o tratamento da obesi-dade mórbida (doença listada na Classifi-cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados com a saúde, da Organização Mundial da Saúde), nos termos do artigo 10 da supracitada Lei. Não por outra razão, a cirurgia bariátrica, a qual a paciente-segurada, ora recorrida, submeteu-se, obteve imediata cobertura pela empresa-seguradora. Nos termos relatados, em virtude desta exitosa cirurgia bariátrica, a segurada perdeu, de forma drástica, significativa massa corporal (aproximadamente 90 kg - noventa quilos), o que ensejou a necessidade de remoção de excesso de tecido epitelial. Veja-se, nesse ínterim, que as Instâncias ordiná-rias, com base em depoimentos e laudos médicos, confirmaram que as cirurgias de retirada de excesso de pele (retirada do avental abdominal, mamoplastia redutora e a dermolipoctomia braçal) consiste no tratamento indicado contra infecções e manifestações propensas a ocorrer nas regiões onde a pele dobra sobre si mesma (decorrentes, repisa-se, da cirurgia bariá-trica), o que afasta, inequivocamente, a tese sufragada pela parte ora recorrente no sentido de que tais cirurgias possuem finalidade estética.

Nesses termos, de forma uníssona, res-

tou consignado pelas Instâncias ordinárias:“O Dr. Arielsons Milani assim atestou:

‘a Sra. Elisângela Batassini Lima, como conseqüência da grande perda de peso, apresenta grande sobra de pele nas regiões abdominais anteriores e laterais, bem como na região posterior do tronco na área ilíaco-sacral. Esta deformidade provoca alterações patológicas na pele que dobrada sobre si mesma mantém-se úmida e propensa a infecções a a infes-tações repetidas. O tratamento para as condições referidas deverá ser cirúrgico com remoção dos tecidos redundantes” “Efetivamente, o médico Guilherme da Silva Oliveira, ao testemunhar em juízo, esclareceu que as cirurgias requeridas na inicial têm finalidade corretiva, e ‘são consequentes, consequência do primeiro procedimento, então são complicações ou situações que exijam reparo posterior à cirurgia principal, que era a cirurgia de obesidade. O que acontece é que o excesso pode causar alguns problemas, e é feita então a retirada desse excesso de pele’.

(...)Dessa forma, tem-se que, encontran-

do-se o tratamento da obesidade mórbida coberto pelo plano de saúde entabulado entre as partes, a seguradora deve arcar com todos os tratamentos destinados à cura de tal patologia, o principal - cirurgia bariátrica (ou outra que se fizer pertinen-te) - e os subsequentes ou conseqüentes - cirurgias destinas à retirada de excesso de tecido epitelial, que, nos termos as-sentados, na hipótese dos autos, não possuem natureza estética. Considera-se, assim, ilegítima a recusa de cobertura das cirurgias destinadas à remoção de tecido epitelial, quando estas se revelarem necessárias ao pleno restabelecimento do paciente-segurado, acometido de obesidade mórbida, doença, ressalte-se, expressamente acobertada pelo plano de saúde contratado, sob pena de frustrar a finalidade precípua de tal contrato. (...) Assim, nega-se provimento ao presente recurso especial.

É o voto. MINISTRO MASSAMI UYEDA.

Ju lgados no mesmo sen t ido REsp. 993.876-DF, DJ 18/12/2007; REsp. 663.196-PR, DJ 21/03/2005; REsp. 1.054.856-RJ ; Resp 1.175.616 ; Resp 1.106.789; MC 14.134; Resp 1.054.856.

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