estruturalismo

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ESTRUTURALISMO

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Page 1: ESTRUTURALISMO

ESTRUTURALISMO

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“Na sua novela Sarrasine, Balzac, falando de um castrado disfarçado de mulher, escreve esta frase: «Era a mulher, com os seus medos súbitos, os seus caprichos sem razão, as suas perturbações instintivas, as suas audácias sem causa, as sua bravatas e a sua deliciosa delicadeza de sentimentos. - Quem fala assim? Será o herói da novela, interessado em ignorar o castrado que se esconde sob a mulher? Será o individuo Balzac, provido pela sua experiência pessoal de uma filosofia da mulher? Será o autor Balzac, professando idéias «literárias» sobre a feminilidade? Será a sabedoria universal? A psicologia romântica? Será para sempre impossível sabê-lo, pela boa razão de que a escrita é destruição de toda a voz, de toda a origem. A escrita é esse neutro, esse compósito, esse obliquo para onde foge o nosso sujeito, o preto-e-branco aonde vem perder-se toda a identidade, a começar precisamente pela do corpo que escreve. Sem dúvida que foi sempre assim: desde o momento em que um fato é contado, para fins intransitivos, e não para agir diretamente sobre o real, quer dizer, finalmente fora de qualquer função que não seja o próprio exercício do símbolo, produz-se este desfasamento, a voz perde a sua origem, o autor entra na sua própria morte, a escrita começa.” (Roland Barthes. A morte do autor. Rumor da língua)

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“Peço emprestada a Beckett a formulação: ‘Que importa quem fala, disse alguém, que importa quem fala’ *...+ Pode dizer-se que a escrita de hoje se libertou do tema da expressão: só se refere a si própria [...] O que quer dizer que a escrita é um jogo ordenado de signos [...] a escrita desdobra-se como um jogo que vai infalivelmente para além de suas regras [...] Na escrita, não se trata de manifestação ou da exaltação do gesto de escrever, nem da fixação de um sujeito numa linguagem; é uma questão de abertura de um espaço onde o sujeito de escrita está sempre a desaparecer”. (FOUCAULT, Michel. O que é um autor?. Lisboa: Edições Veja, 1992, p.34)

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“O Autor, quando se acredita nele, é sempre concebido como o passado do seu próprio livro: o livro e o autor colocam-se a si próprios numa mesma linha, distribuída como um antes e um depois: supõe-se que o Autor alimenta o livro, quer dizer que existe antes dele, pensa, sofre, vive com ele; tem com ele a mesma relação de antecedência que um pai mantém com o seu filho. Exatamente ao contrário, o scriptor moderno nasce ao mesmo tempo que o seu texto; não está de modo algum provido de um ser que precederia ou excederia a sua escrita, não é de modo algum o sujeito de que o seu livro seria o predicado; não existe outro tempo para além do da enunciação, e todo o texto é escrito eternamente aqui e agora. É que (ou segue-se que) escrever já não pode designar uma operação de registro, de verificação, de «pintura» (como diziam os Clássicos), mas sim aquilo a que os linguistas [...] chamam um performativo, forma verbal rara (exclusivamente dada na primeira pessoa e no presente), na qual a enunciação não tem outro conteúdo (outro enunciado) para além do ato pelo qual é proferida” (p.x).

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“Apesar de o império do Autor ser ainda muito poderoso [...] é evidente que certos escritores já há muito tempo que tentaram abalá-lo. Na França, Mallarmé, sem dúvida o primeiro, viu e previu em toda a sua amplitude a necessidade de pôr a própria linguagem no lugar daquele que até então se supunha ser o seu proprietário; para ele, como para nós, é a linguagem que fala, não é o autor; escrever é, através de uma impessoalidade prévia [...], atingir aquele ponto em que só a linguagem atua, «performa», e não «eu»: toda a poética de Mallarmé consiste em suprimir o autor em proveito da escrita (o que é, como veremos, restituir o seu lugar ao leitor).” (p.x)

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“Sabemos agora que um texto não é feito de uma linha de palavras, libertando um sentido único, de certo modo teológico (que seria a ‘mensagem’ do Autor-Deus), mas um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escritas variadas, nenhuma das quais é original: o texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura [...] Sucedendo ao Autor, o scriptor não tem já em si paixões, humores, sentimentos, impressões, mas sim esse imenso dicionário onde vai buscar uma escrita que não pode conhecer nenhuma paragem: a vida nunca faz mais do que imitar o livro, e esse livro não é ele próprio senão um tecido de signos *...+”(p.x)

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“Uma vez o autor afastado, a pretensão de «decifrar» um texto torna-se totalmente inútil. Dar um Autor a um texto é impor a esse texto um mecanismo de segurança, é dotá-lo de um significado último, é fechar a escrita. Esta concepção convém perfeitamente à critica, que pretende então atribuir-se a tarefa importante de descobrir o Autor (ou as suas hipóstases: a sociedade, a história, a psique, a liberdade) sob a obra: encontrado o Autor, o texto é «explicado», o critico venceu; não há pois nada de espantoso no fato de, historicamente, o reino do Autor ter sido também o do Critico, nem no de a critica (ainda que nova) ser hoje abalada ao mesmo tempo que o Autor” (p.x).

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“Regressemos à frase de Balzac. Ninguém (isto é, nenhuma «pessoa») a disse: a sua origem, a sua voz não é o verdadeiro lugar da escrita, é a leitura. Um exemplo, bastante preciso, pode fazê-lo compreender: investigações recentes (J.-P. Vernant) trouxeram à luz a natureza constitutivamente ambígua da tragédia grega; o texto é nela tecido com palavras de duplo sentido, que cada personagem compreende unilateralmente (este perpétuo mal-entendido é precisamente o «trágico»); há contudo alguém que entende cada palavra na sua duplicidade, e entende, além disso, se assim podemos dizer, a própria surdez das personagens que falam diante dele: esse alguém é precisamente o leitor (ou, aqui, o ouvinte).

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Assim se revela o ser total da escrita: um texto é feito de escritas múltiplas, saídas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar em que essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se tem dito até aqui, é o leitor: o leitor é o espaço exato em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que uma escrita é feita; a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino, mas este destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; é apenas esse alguém que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito” (p.x)

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Estruturalismo

Primazia da linguagem

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Paul Valéry

“A literatura é, e não pode ser outra coisa, senão uma espécie de extensão e de aplicação de certas propriedades da Linguagem” (L’enseignement de la poétique au Collège de France. In: Oeuvres. Paris: Gallimard, 1957, p.1440)

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LÍNGUA/LANGUE

Palavra/Parole

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“A produção literária é uma parole, no sentido sausurriano, uma série de atos individuais parcialmente autônomos e imprevisíveis; mas o ‘consumo’ da literatura pela sociedade é uma langue, isto é, um conjunto cujos elementos, quais sejam seu número e sua natureza, tendem a se organizar em um sistema coerente” (Genette, Gérard. Structuralisme et critique littéraire. In: Figures I, p.165-166)”

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“Trata-se, pois, tomando-se a língua como sistema, de analisar sua estrutura. Cada sistema, composto por unidades que se condicionam mutualmente, distingue-se dos outros sistemas pelo agenciamento interno destas unidades, agenciamento que constitui sua estrutura. Algumas combinações são frequentes, outras menos usuais, outras enfim, teoricamente possíveis, não se realizam nunca. Adotar a perspectiva que entende a língua (ou cada parte da língua, fonética, morfológica, etc) como um sistema organizado por uma estrutura a ser revelada e descrita, é adotar o ponto de vista estruturalista [...] (Structure en linguistique. Problèmes de linguistique générale 1. Paris: Gallimard, 1966, p.95-96 ; 98)

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O princípio fundamental é: a língua constitui um sistema, no qual todas as suas partes estão unidas por uma relação de solidariedade e de dependência [...] A doutrina estruturalista aponta para a predominância do sistema sobre os elementos, visa sublinhar a estrutura do sistema a partir das relações dos elementos” (Structure en linguistique. Problèmes de linguistique générale 1. Paris: Gallimard, 1966, p.95-96 ; 98)

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Definição basilar

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“É preciso acrescentar imediatamente que, na prática, a análise estrutural visará também a obras reais: o melhor caminho para a teoria passa pelo conhecimento empírico preciso. Mas essa análise descobrirá em cada obra o que esta tem de comum com as outras (estudo dos gêneros, dos períodos, etc.), ou mesmo com todas as outras (teoria da literatura); ela não saberia dizer a especificidade individual de cada uma. Na prática, trata-se sempre de um movimento contínuo de ida e volta, das propriedades literárias abstratas às obras individuais e inversamente. A poética e a descrição são, de fato, duas atividades complementares” (Todorov. Análise estrutural da narrativa. In: As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1970, p.81).

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Parênteses

Estruturalismo e recuperação da Retórica

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“A dificuldade da qual se ocupa a retórica é aquela do discurso e não aquela do texto; ela é visível a partir de exemplos, ela diz respeito aos funcionamentos linguísticos e discursivos [...] Se o texto é difícil, pois, para o retórico, é porque ele é uma operação de linguagem, e é esta operação que é preciso compreender e descrever” (L’Arbre et la Source. Paris: Seuil, 1985, p.25)]

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“A análise estrutural terá sempre um caráter essencialmente teórico e não descritivo; por outras palavras, o objeto de tal estudo nunca será a descrição de uma obra concreta. A obra será sempre considerada como a manifestação de uma estrutura abstrata; o conhecimento desta estrutura será o verdadeiro objetivo da análise estrutural” (Todorov. Análise estrutural da narrativa. In: As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1970, p.80).

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Vertente narratológica

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“A estrutura não é já sinônimo de categorias e regras invariantes, mas designa a organização específica de cada texto narrativo, o conjunto dos elementos funcionalmente necessários e textualmente pertinentes. Há um certo consenso relativamente aos subdomínios que devem ser tidos em conta quando se analisa a estrutura de uma narrativa concreta: no plano da história, consideram-se as ações, as personagens, os espaços, nas suas relações de interdependência e atendendo ao seu peso estrutural específico (ações decisivas para o desenrolar da intriga, ações subsidiárias de natureza indicial, distinção entre personagem principal, personagens secundárias e meros figurantes e respectivas funções no investimento semântico do texto, conexões entre personagens e espaços, etc) [...] ” (Carlos REIS. Estrutura. Dicionário de narratologia. Coimbra: Almedina, 1987).

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No plano do discurso, a descrição é também um elemento importante, quer ao nível do retrato das personagens, quer a nível da representação do espaço social e geográfico. Por vezes, as descrições assumem mesmo funções diegéticas de relevo, na medida em que contribuem para uma melhor compreensão das próprias ações das personagens. A perspectiva narrativa e a voz, nas suas diferentes modalidades, são estratégias discursivas de importância decisiva na configuração do modo narrativo, pelo que podem igualmente considerar-se unidades estruturais a ter em conta na análise de cada texto concreto” (idem, ibidem).

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