estrela rubi2

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  • 7/29/2019 Estrela Rubi2

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    CAIM E A

    MARCA DA

    MORTEO NOvO AeONprOpiciAumNOvO

    eNteNdimeNtOsObreAmOrte, OsAcrifciOeAAliANAeNtre deuseO HOmem. pg. 6

    Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis

  • 7/29/2019 Estrela Rubi2

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    ndiceEditorial

    pg. 3

    Notciaspg. 3

    Metempsicose,Reencarnao sem

    Lgrimaspg. 4

    Morte, Sandmane o Novo Aeon

    pg. 10

    Estudos

    tica Thelmicapg. 13

    Biblioteca Thelmica

    Liber CVIpg. 15

    Hoorculo

    pg. 16

    Caim e a Marca

    da Morte

    escrevaparans!

    Alm de ajudar a melhorar nosso

    trabalho com sua opinio, apro-

    veite nosso espao de comunica-

    o para tirar dvidas, dar ideias e

    manter contato com os membrosda O.T.O. no Brasil.

    E-mails para:

    [email protected]

    6

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    Estrela

    Rubi

    3

    notciasNasce o Acampamento Sub Lege Libertas, em So Paulo

    com muita alegria que anunciamos que, no dia 3 de julho de 2012

    e.v., nasceu um novo Corpo Local da Ordo Templi Orientis em terras

    brasileiras: o Acampamento Sub Lege Libertas, atuando no estado

    de So Paulo. O Acampamento, sob maestria de Frater Baphomet

    888, j est em uncionamento, congregando Irmos, Irms e rea-

    lizando instrues.

    Residentes em So Paulo que tenham interesse em conhecer o tra-

    balho da O.T.O. podem entrar em contato com o Sub Lege Liber tas

    atravs do e-mail: [email protected]

    A Loja Quetzalcoatl deseja sucesso para todas as Irms, Irmos e

    thelemitas paulistas, que agora dispem deste oco de trabalho e

    inspirao!

    Equincio de Primavera

    Neste dia 22 de setembro estamos celebrando o Equincio de Pri-

    mavera, marcando o momento em que o Sol cruza o plano da Linha

    do Equador, iluminando a terra em sua exata metade, tendo dia e

    noite a mesma durao.

    Assim como R a cada manh se levanta trazendo-nos os beijos donascer do Sol, a vida volta a se maniestar com o raiar da Primavera.

    Que esta seja uma estao de ora e renascimento para todos!.

    Celebrao da primeira noite do Profeta e sua Noiva

    No dia 12 de agosto oi celebrada a Primeira noite do Proeta e sua

    Noiva: a celebrao das npcias de Crowley com Ouarda, a Vidente.

    Um brinde a Aleister Crowley e a Rose Edith Kelly, que propiciaram a

    revelao do Livro da Lei!

    Novos Minervais

    No dia 1 de setembro oram iniciados, na Loja Quetzalcoatl, os No-

    vos Minervais da Ordo Templi Orientis. Sejam bem-vindos! Que esse

    seja o incio de uma caminhada de Sucesso.

    A

    Suprema Festa a celebrao Thelemica da morte de um

    individuo. Sua designao como suprema deriva do enten-

    dimento que a Morte a Coroao da Conquista da Vida e

    a unio da maniestao do Thelemita com o corpo da Deusa, Nuit.

    (...) uma esta para a vida e uma esta ainda maior para a morte!

    Em Thelema, a vida considerada um continuum, sendo a Morte

    uma parte integral do todo. A vida mortal cessa para que a vida

    mortal possa continuar. O Sagrado Anjo Guardio no entanto

    imortal, tal como o Sol no se pe nem se eleva a cada manh; Ele

    est sempre brilhante, sempre irradiando luz e vida.

    A Morte a companheira do buscador que se perdeu em seu ca-

    minho.; a iniciadora dos mistrios da imortalidade. No deve ser

    temida, mas bem vinda como uma aliada e respeitada como uma

    proessora que um dia nos proporcionar a oportunidade de olhar-

    mos Nossa Senhora das Estrelas, cara a cara.

    Como poderia ser de outro modo, visto que nossa morte se inicia

    no mesmo momento de nossa maniestao no plano da matria?

    Que possa ser garantido o cumprimento de suas verdadeiras Von-

    tades para aqueles de cujos olhos o vu da vida caiu; quer isto seja

    a absoro no Innito ou a unio com seus escolhidos e preeridos,ou permanecer em contemplao, ou estar em paz, ou alcanar o

    trabalho e herosmo da encarnao neste planeta ou em outro, ou

    em qualquer Estrela, ou outro lugar, que lhes seja garantida a reali-

    zao das suas Vontades; sim, a realizao das suas Vontades.

    editorial

    Frater apolln Hekatos

    Mestreda Loja QuetzaLcoatL - riode janeiro

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    OrdoTempliOrientis

    LojaQuetzalcoatl

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    Artigo

    reencarnao

    sem

    lgrimas

    Frater Leon 777

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    Estrela

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    Artigo

    schopenhauerfoiumdospoucosquecompreendeuanooorientaldereencarnao, distanciando-adosentimentalismodo ocidente.

    humano, em sua trplice composio

    (essncia, mente e sentidos), s ca-

    paz de entender determinados concei-

    tos (sejam, religiosos, ilosicos, ticos

    ou morais) se viver estes conceitos. O

    Oriente, desde seu remotssimo surgi-

    mento, viveu a ideia de reencarnao,

    isto muito antes das siglas A.C institu-

    rem-se como calendrio oicial.

    Schopenhauer talvez tenha sido um dos

    poucos que captou a noo oriental de

    metempsicose e tenha escrito de maneira

    prounda e sem pieguice sobre o tema

    reencarnao.

    Para Schopenhauer, a vida comearia

    antes do nascimento e, portanto, no

    poderia acabar com a morte. A vida em

    um corpo sico seria, dentro de todo o

    espetculo que o universo, um meio

    atravs do qual a ora motriz se mani-

    esta e exterioriza, e essa ora estaria

    presente no ser humano e seria a sua

    vontade.

    A vontade seria, consequentemente,

    indestrutvel e nem a morte (um dos

    maiores, se no o maior temor do Oci-

    dente) poderia pr im a ela. So de

    Schopenhauer estas palavras: ... S a

    vontade, do qual o corpo a obra, ou an-

    tes a imagem, indestrutvel. Distino

    rigorosa entre vontade e conhecimento,

    com a supremacia da primeira: eis o car-

    ter undamental de minha ilosoia ... .

    O crebro e todo o corpo sico seriam

    uma maneira da vontade se maniestar,

    sendo o impulso sexual a maniestao

    mais latente da vontade, enquanto prin-

    cpio indestrutvel do ser humano. No

    seria coincidncia, portanto, que as re-

    Oapelo miditico a determina-

    das correntes de pensamento

    espiritual tem estado em voga

    ultimamente, seja em ilmes, livros ou

    seriados televisivos. A perspectiva da re-

    encarnao (sempre presente nos meios

    esotricos), tem sido lida, vista e pensada

    pelas massas da populao.

    A ideia de reencarnao evidentemen-

    te no nova, porm, no Ocidente, ela

    tomou contornos sentimentais um tanto

    quanto marcantes. A noo de pecado

    original e de expiao do pecado uma

    ideia sempre presente e, como toda

    ideologia, os conceitos e princpios pr-

    prios so sempre racionalmente bem

    articulados.

    O Hindusmo, assim como o Budismo,

    encaram a possibilidade de o ser huma-

    no ao longo do tempo viver e morrer

    vrias vezes com o seu esprito reencar-

    nando em todas essas experincias de

    vida sica e carnal.

    Neste ciclo de vidas, o dilema esprito e

    matria est sempre presente e muitas

    vezes ele se desenvolve de orma anta-

    gnica, sendo os sentidos e estmulos

    carnais balizas de que o esprito est ou

    no em atraso com a sua evoluo.

    O Ocidente, sempre pretensioso em

    compreender o Oriente, importou de

    l a ideia de reencarnao. Porm, o ser

    ligies de um modo geral mencionem,

    aberta ou veladamente, o sexo.

    Com a morte, o que se dissiparia seria

    apenas a individualidade aparente or-

    mulada pela limitao da atividade ra-

    cional produzida pelo crebro. Porm,

    a individualidade pr-nascimento iden-

    tiicada no ser humano com a vontade

    ou vontade de vida, cujo exemplo mais

    concreto e tangvel a todos seria a ora

    do impulso sexual, no deixaria de exis-

    tir com a morte.

    A vida, de carne e osso, seria apenas

    uma erramenta para este princpio eter-

    no (a vontade) se maniestar, indepen-

    dente de julgamentos morais (que por

    vezes so temporais). Assim, um homem

    ou uma mulher pode, por sua vontade

    (aquilo de principal no seu ser) viver e

    morrer como se vive e morre aos olhos

    mundanos, porm sua vontade seria

    sempre a mesma, tendo em vista que

    para ela pouco importa a vida e a mor te.

    A morte , assim a perda de uma indivi-

    dualidade e a obteno de uma outra; ,

    ento, para o homem uma mudana de

    individualidade, operada sob a direo

    exclusiva de sua prpria vontade., Scho-

    penhauer, (Da Morte).

    Neste movimento de vontade pr-nasci-

    mento, nascimento, vida e morte, e (re)

    nascimento, todos sob a gide da von-

    tade, critrios como, pecado original, ou

    a carne como empecilho a evoluo

    espiritual, normas morais ou conven-

    es sociais, pouco importam diante do

    que existia antes da vida cerebral, por-

    que so produtos da raz o, da excreo

    cerebral.

    EuconfEssoaminhavidauna,individualEEtErna,

    quEfoi, , EsEr.

    - libEr Xv.

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    LojaQuetzalcoatl

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    Artigo

    Frater eros

    caim e a ma

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    Estrela

    Rubi

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    MatriadeCapa

    Seguindo essa linha de raciocnio, h uma passagem bblica que intriga

    pela vastido de interpretaes dentro do seu padro mitolgico, bem

    como pela quantidade de smbolos que oculta por trs de uma estria

    trivial. Este o mito de Caim e Abel. O assassinato de Abel pelas mos do

    irmo Caim teria todas as caractersticas de um sacricio que desenca-

    deia a prpria Criao ou o incio da era humana (como Marduk, que cria

    a humanidade com o sangue de Kingu, esposo de Tiamat). Mas, no texto

    do Antigo Testamento, esse evento sucede a era mitolgica, o que, tal-

    vez, j possa gerar suspeita de um recorte bblico mal empregado. Alm

    disso, a princpio, o conto parece apenas uma lio de moral sobre inve-

    ja e ratricdio. Mas, dissimulada por trs da aparente lio, pode-se en-

    contrar uma importante rmula inicitica que, assim como o Jardim do

    den, mais antiga e excede a Bblia, remontando a uma noo muito

    especial de sacricio e morte, conceitos tratados como tabus delicados

    no Aeon de Osris, mas que se redimensionam sob a luz do Novo Aeon.

    O mito gira em torno de que rmula seria eciente para estabelecer um

    contato e aliana entre o homem e Deus. Caim, o agricultor, oerece o

    ruto do trabalho do solo a Jeov. Por sua vez, Abel, o pastor de ovelhas,oereceu as primcias e a gordura de seu rebanho. Jeov preeriu as oe-

    rendas do irmo mais novo, Abel. Caim se tornou abatido e irritadio.

    Por m, como todos sabem, Caim mata o seu irmo. Aps isso, Jeov se

    maniesta: Que zeste? Ouo o sangue de teu irmo, do solo, clamar por

    mim. Ento Jeov o amaldioa: coloca uma marca nica sobre a ronte

    de Caim, que o distingue dos outros homens, tornando-o um ugitivo

    errante entre eles. Nenhum homem tambm poderia toc-lo ou eri-lo,

    para que assim ele pudesse viver sob a sombra dessa distino divina.

    Exila-se, ento, na terra de Nod (Errante), a leste do den.

    Vamos analisar alguns pontos interessantes. Do ponto de vista social e

    geogrco, o conto apenas um elogio do povo hebreu. Os hebreus

    eram pastores (Abel) e os antigos sumrios, agricultores (Caim), por mui-

    to tempo oram os preeridos dos deuses, inclusive da amorosa Ishtar,

    que chegava a despos-los. O mito traz ento uma guinada da ateno

    divina, vitimando o pastor hebreu contra o invejoso assassino agricultor.

    No entanto, analisando do ponto de vista esotrico, o mito se torna bem

    mais abrangente. Abel era o irmo que realizava hecatombes, isto , o

    sacricio de sangue. Era ele a quem Deus ouvia. Caim s oi ouvido por

    Deus no momento em que ele, tambm, ez um sacricio de sangue: o

    sacricio do prprio irmo. Ouo o sangue de teu irmo, do solo, clamarpor mim. O sangue oi o que atraiu a presena divina. E, se um irmo

    sangue do meu sangue, o assassinato do irmo , de certo modo,

    um assassinato de si mesmo, um derramamento do sangue do prprio

    Caim.

    OAntigo Testamento oi um hino de vitria da viso semita

    e do patriarcado sobre mundos mais antigos. Ainda assim,

    ecos presentes no prprio Gnesis no deixam dvidas que

    heranas simblicas e emocionais perduraram desde o mundo an-

    cestral, inltrando-se nos detalhes da mitologia hebraica para, estra-

    nhamente, preservar os traos de uma era de mitos idlicos, agrcolas

    e sensuais que caram na marginalidade.

    O pesquisador Joseph Campbell, em seu livro As Mscaras de Deus

    Mitologia Ocidental, estuda a proximidade entre o Jardim do den e o

    Jardim da rvore do Mundo sumria que, entre outras semelhanas,

    azia jorrar quatro rios para os cantos da terra: Reconhecemos o antigo

    jardim sumrio, mas agora com duas rvores (nota: rvore da Vida e do

    Conhecimento do Bem e do Mal) em vez de uma, cujo cuidado e cul-

    tivo caram sob responsabilidade do homem. E ainda: A cena idlica

    reminiscncia dos tempos de Enkidu entre os animais, antes de ter sido

    seduzido pela prostituta do templo, quando os animais ugiram dele, e a

    mulher, dando-lhe um pano para cobrir a nudez, levou-o para a cidade

    de Uruk onde, anal, ele morreu. Alm disso, a rvore do Jardim sum-rio tinha a qualidade de uma axis mundi (eixo do mundo), aquele lugar

    onde tudo se equilibra, onde os opostos se conciliam, e de cujos rutos

    o homem poderia obter a imortalidade. As semelhanas entre esta e a

    rvore da Vida hebraica no so coincidncia.

    Fica evidente um padro de semelhanas mitolgicas presente no An-

    tigo Testamento e tambm em outras estrias da criao do mundo,

    comuns tambm nas culturas dos trpicos, enumerando registros na

    rica, ndia, Sudeste Asitico, Peru e mesmo no Brasil indgena: h uma

    terra idlica; a presena de uma serpente; a importncia da mulher no

    enredo da estria; o assassinato da serpente, da mulher ou de ambas;

    o surgimento de plantas comestveis ou de uma rvore sagrada a partir

    do corpo da vtima e, por m, o surgimento da morte e da procriao

    nessa mesma poca, marcando o m da era mitolgica e o incio do

    tempo humano.

    O grande tempero hebraico presente no Gnesis, e que o dierencia

    de outros mitos, que ele se tornou carregado de uma concepo

    catastrca de Queda, enquanto as demais estrias no so crticas,

    mas simples armaes da vida. De todo modo, Campbell analisa: A

    origem ltima do den bblico, portanto, no pode ter sido uma mi-tologia do deserto isto , um mito hebraico primitivo mas sim a

    antiga mitologia agrcola dos povos da terra. Portanto, os mistrios do

    mito hebraico velam em suas razes uma viso de mundo anterior

    era judaica.

    ca da morteo antigomitode caime abelcontmumafrmulainicitica

    atemporalqueabrangetodosessesconceitos

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    LojaQuetzalcoatl

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    MatriadeCapa

    Pela rmula indicada no mito, atravs dessa dinmica de morte que

    se ganha a marca da distino de Deus. uma marca pesada, acilmente

    tida como uma maldio. A marca de Caim , na verdade, a marca da Ini-

    ciao. Esta marca, gravada sobre sua ronte, muito acilmente anloga

    serpente Uraeus na coroa do ara, smbolo de sua invencibilidade e

    imortalidade. Essa serpente a mesma Kundalini desperta que coroa o

    Iniciado. Essa tambm a marca da Besta, to anaticamente demoni-

    zada e pouco compreendida. A palavra hebraica Nechesch, que se re-

    ere a Serpente, pela Gematria tem o mesmo valor 358 de Messiah,

    indicando uma essncia nica para ambos os conceitos. O Messias tem

    seu poder na uno pela Serpente, que, anal, uma Besta. Voltando a

    Caim e sua jornada, vemos que ele se torna o Eremita. Por algum tempo

    ele caminha, intocvel, entre os homens. O Senhor, porm, disse-lhe:

    Portanto, qualquer que matar a Caim, sete vezes ser castigado. E ps o

    Senhor um sinal em Caim, para que o no erisse qualquer que o achas-

    se. (Gnesis 4:15). Ironicamente, partes do castigo divino parecem mui-

    to mais um prmio.

    Sobre o mesmo assunto, Crowley escreve no Liber 418 (A Viso e a Voz),

    Aethyr ARN:

    O derramamento de sangue necessrio, pois Deus no ouviu os -

    lhos de Eva at que o sangue osse derramado. E isto religio externa;

    mas Caim no alou a Deus nem recebeu a marca da iniciao sobre

    sua ronte, de modo que osse evitado por todos os homens, at que

    tivesse derramado sangue. E este sangue oi o sangue de seu irmo. Este

    um mistrio da sexta chave do Tar, que no deve ser chamada de Os

    Amantes, mas sim Os Irmos.

    Comparemos, tambm, a cena protagonizada por Caim com algumas

    instrues do Liber Cheth vel Abiegnus: Agora, portanto, para que tu

    possas realizar este ritual do Santo Graal, livrate de todos os teus bens

    e Tu tens amor; arranca tua me do teu corao e cospe na ace de teu

    pai. Que teu p pisoteie a barriga de tua mulher, e que o beb no seio

    dela seja a presa de cachorros e abutres e (...) Assim, que tu consigas o

    Sacramento do Graal na Capela das Abominaes. No se poupa pai,

    me, lho ou irmo: a exigncia desse sacramento hecatombe abso-

    luta. Trata-se da entrega do prprio corao, de tudo que achvamos

    possuir e ser.

    Mas como, em Thelema, conviver com um conceito que oi to carrega-

    do de penitncia e cristandade como o sacricio? Uma pista disso est

    tanto na prpria etimologia da palavra sacricio que to somente

    tornar sagrado , como na contemplao thelmica de que nada, de

    ato, perdido atravs do sacricio. Toda dor resistncia criada pelo

    sentimento de posse. O sacricio, para essa nova viso, o gozo da liber-

    dade. No h realmente uma expiao, pois no h pecado, nem mes-

    mo uma redeno, anal no h nada para ser redimido. Tudo como

    sempre oi. Crowley, no Livro de Thoth, escreve, na descrio da carta O

    Pendurado: Redeno uma palavra ruim; ela implica num dbito. Aculpa advinda da sensao de um dbito ulminada pelo xtase da

    conscincia da natureza divina de cada um de ns.

    Da mesma orma, a morte nos um xtase, e morrer vrias vezes em

    vida um ato de amor: um ato de superao, de transcendncia e en-

    trega. Assim, redimensionamos aquele antigo peso da morte, outrora

    tratado como causa de dor, restrio e luto. A morte a coroa de tudo.

    Toda razo de viver que inventemos leva em conta o evento derradeiro

    da morte. A morte o que d sentido vida. Toda a vida desagua nela,

    como rios num grande mar. O psiclogo Carl G. Jung nos d mais al-

    gumas pistas sobre a natureza da morte e do sacricio, em seu livro O

    smbolo de transormao na missa:

    Torna-se um sacricio [a oerenda] quando se renuncia ao objetivo do

    do ut des (dou para que me ds). Se quisermos que aquilo que vamos dar

    seja um sacricio, preciso que tal coisa seja totalmente entregue, como

    se tivesse sido aniquilada. Somente a partir desse momento que existe a

    possibilidade da pretenso egostica ter sido eliminada. Se o po e o vinho

    ossem doados sem que houvesse conscincia de uma pretenso egos-

    tica, a inconscincia no constituiria uma desculpa mas, pelo contrrio,

    uma garantia de que existe uma pretenso secreta.

    (...) De ato, quando tomo conscincia e concordo que me dou, entrego-

    -me sem reservas e no quero receber nenhuma paga em troca; ento

    sacriquei, realmente, minha pretenso, isto , uma parte de mim mesmo.

    (...) O ato de dar sem que se tenha recebido qualquer retribuio visto e

    sentido como uma perda. (...) Mas como ele representa a minha pessoa,

    eu me aniquilarei nele, isto , entregarei-me sem nada esperar em troca.

    Por outro lado, vista sob um ngulo diverso, essa perda proposital no

    real, mas representa um lucro, pois a capacidade de autossacricio nos

    mostra que nos possumos a ns mesmos. Portanto, aquele que se sacri-

    ca, isto , que pode renunciar s suas pretenses, deve possu-las ou, ditoem outras palavras, deve ter conscincia de suas pretenses. Isto pressu-

    pe um autoconhecimento, sem o qual no se toma conscincia dessas

    pretenses. (...) Mediante o sacricio, mostramos que nos possumos a ns

    mesmos, pois o ato sacricial no um deixar-se assumir, mas uma re-

    nncia consciente e premeditada, com a qual provamos que somos capa-

    zes de dispor de ns mesmos, isto , do nosso eu. Isto az com que o meu

    eu se torne objeto do meu agir moral, pois eu decido, movido por uma

    instncia que est acima da minha individualidade e de meu ego.

    Assim, a morte se apresenta para cada um de ns como um parado-

    xo de entrega e conquista tambm da vida, entrega e conquista do

    Si Mesmo. Perdendo tudo, realizamos que no havia nada a perder.

    Logo, nos permitimos conquistar tudo.

    Alm disso, se o sacricante e o sacricado so o mesmo, temos mais

    um indcio para entender que Caim e Abel so um. Existem tambm

    outros dois rivais cujo duelo mortal, na verdade, apenas esconde a

    harmonia entre eles: so os egpcios Horus e Set. Joseph Campbell

    nos explica sobre o Segredo dos Dois Parceiros, em seu volume

    sobre Mitologia Oriental: (...) nas chancelas do stimo e ltimo ara

    dessa dinastia, Khasekhemui, os dois antagonistas, Horus, o heri, eSet, o vilo da histria, aparecem lado a lado, juntos em condio

    de igualdade, enquanto o prprio monarca denominado a mani-

    estao do poder dual no qual os deuses esto em paz. Ele ainda

    conclui: O nome do Testamento, o Segredo dos Dois Parceiros, era

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    MatriadeCapa

    ento uma reerncia ao entendimento secreto dos dois deuses que,

    embora paream inimigos implacveis, so uma nica mente atrs

    dos bastidores. (...) Horus e Set esto sempre em confito, enquanto

    na esera da eternidade, por trs do vu do tempo e do espao, onde

    no h dualidade, eles esto unidos; a morte e a vida so uma; tudo

    paz.

    Cada transormao desencadeada pela morte sempre ser sentida

    como um misto de agonia e libertao, putreao e renovao, m e

    recomeo. A morte o mtodo supremo de Iniciao, do retransor-

    mar de Si Mesmo ou, mais precisamente, de ver novas ases desse Si

    Mesmo que sempre oi, e ser. Tambm para a Alquimia medieval,

    o smbolo de Caim era um emblema da Putreactio, da ase saturnina

    da decomposio da matria, que desencadeia sua espiritualizao.

    A morte experimentada como uma crise, ou um trmino que um

    ponto de reviravolta. Ou seja, eito serpente que muda de escama,

    a morte pe a conscincia em movimento a partir de cada uma de

    suas crises, renovando-a e avanando no caminho da Iniciao. Todos

    que esto no caminho inicitico sabem que suas curvas so eitas de

    delcias e desiluses: Ento cada ganho ser um novo sacramento, e

    no te corromper; tu estejars com o libertino na praa de mercado,

    e virgens atiraro rosas sobre ti, e mercadores curvaro seus joelhos

    e te traro ouro e especiarias. Tambm jovens meninos derramaro

    vinhos maravilhosos para ti, e os cantores e danarinos cantaro e

    danaro para ti. Porm, no deves tu estar ali, pois tu deves ser es-

    quecido, p perdido no p. (Liber Cheth, vers. 14 15).

    Parte da sina de Caim tambm lembra exatamente a Viso da Dor,

    que a experincia espiritual reerente Sera Binah e ao grau inici-tico dela, o de Mestre do Templo. E essa consecuo no descreve

    apenas a experincia de morte, mas da Grande Morte, ou a conclu-

    so da travessia do Abismo. Dentre os ardos da experincia de Caim,

    Deus sentencia: Agora, s maldito e expulso do solo rtil que abriu a

    boca para receber o sangue de teu irmo. Ainda que cultives o solo,

    ele no te dar mais seu produto (Gnesis 4:1112). A chave aqui pa-

    rece ser que o solo rtil no dar mais seu produto especicamente

    a Caim, a pessoa que outrora o semeou. Anal, Caim entregou tudo

    nada mais pertence a ele. Isso lembra o postulado de Karma Yoga

    de no nos identicarmos com os rutos de nosso prprio trabalho.

    Diante disso, velada por trs da sensao de perda absoluta, encon-

    tra-se a liberdade do trabalho sem nsia de resultado. Esse o m-

    todo de trabalho aplicado no Jardim de Nemo, o jardim do Mestre

    do Templo, ou Ningum, o nenhum-homem que, por meio de sua

    Grande Morte, tou a ace de Deus. No Liber 418, Aethyr ZIM, lemos:

    Eu pergunto a ele: para que m este jardim preparado?

    E ele disse: Primeiramente pela beleza e deleite dele mesmo; depois, por-

    que est escrito, E Tetragrammaton Elohim plantou um jardim ao leste

    do den. E, nalmente, porque apesar de cada for originar uma dama,haver uma for que ir originar uma criana masculina. E seu nome ser

    NEMO, quando ele contemplar a ace de meu Pai. E aquele que cuida do

    jardim no busca pela planta singular que ser NEMO. Ele no az nada

    alm de cuidar do jardim.

    Esse trecho tambm coincide com a nossa estria. Primeiramente,

    Caim, como Nemo, apenas cuidar da terra sem se preocupar com

    o resultado de seu trabalho. uma atitude anloga ao taosta Wu-

    -Wei (possivelmente traduzido como ao sem ao), aquele azer

    sem atrito, sem esoro ou avidez, alinhado com a natureza fuida das

    coisas. Em segundo lugar, do mesmo modo que Tetragrammaton

    Elohim que o nome divino de Binah plantou um jardim ao leste

    do den, o exlio de Caim exatamente ao leste do den, na terra

    de Nod. Por ltimo, a aluso mais obscura est na criana masculina,

    uma espcie de varo primognito, que era o caso do prprio Caim.

    Pode-se encontrar uma pista do signicado dessa criana no Liber

    ABA (Livro 4), Cap. XII: Para os trabalhos espirituais mais elevados, a

    pessoa precisa escolher devidamente aquela vtima que contm a

    maior e mais pura ora. Uma criana masculina de pereita inocncia

    e inteligncia a vtima mais adequada e satisatria. Nas notas edito-

    riais, obtemos a seguinte anlise por Soror I.W.E.: o sacricio da pr-

    pria espiritualidade. E a inteligncia e inocncia da criana masculina

    so o pereito entendimento do Magista, sua prpria meta, sem nsia

    de resultado. E masculino ele precisa ser, porque o que ele sacrica

    no seu sangue material, mas seu poder criativo.

    Novamente em Liber 418 (A Viso e a Voz), Aethyr ARN, vemos o pro-

    cedimento dessa morteespiritualizao do poder criativo:

    No meio da carta est Caim; em sua mo direita est o martelo de

    Thor, com o qual ele assassinara seu irmo, e est todo tingido de

    seu sangue. Sua mo esquerda, ele mantm aberta como um sinal

    de inocncia.

    Caim est tingido de sangue ao modo de uma virgem que acabou de

    ser deforada ou, mais precisamente, ao modo de seu consorte, que

    a deforou. No toa, um dos signicados de Qayin, em hebraico,

    lana. A relao da criana masculina se torna ento mais clara. No

    seria esta a lana do Sacerdote, que o seu phallus, ou poder criativo?

    O derramamento de sangue o sacricio da virgindade arquetpica,

    que ele realiza, ainda assim, conservando o sinal de inocncia, isto ,

    sua pureza, seu reto propsito espiritual.

    Esse deforar parece tanto o penetrar do Adepto na Grande Noite,

    como tambm a penetrao de Pan o Todo no Iniciado, realizan-

    do as Bodas Finais e mortais entre o Universo e o Adepto. Como

    o phallus direcionado, o Iniciado, enquanto homem, penetra o Mis-

    trio. Assim atua a lana de Qayin. No instante seguinte, ele se torna,

    enquanto mulher, o prprio Mistrio. Aqui, parece importar pouco

    se Caim e Abel so Irmos, ou se so Amantes, ou se so o mesmo,

    ou se so Nenhum. Eles so a dualidade essencial, que se completa

    exatamente mediante essa morte que, sendo uma entrega e uma

    unio, uma orma de casamento. A morte, portanto, deixa de ser

    vista com luto e passa a ser uma celebrao de npcias: o encontroentre o mortal e o innito. E esse casamento, por m, espelha a rela-

    o entre Nuit e Hadit. Portanto, a Hadit e a Nuit seja a Glria no Fim

    e no Incio; sim, no Fim e no Incio. (Liber Cheth, vers. 22). Celebremos

    essa alegria.

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    MatriadeCapa

    reflexosde thelemanouniversopopdasriedequadrinhossandman, de neilgaiman

    Oque a mor te? Talvez a denio mais simples e direta de

    morte, independente de crenas ou dogmas religiosos,

    que seja ela o cessar da vida. Ponto.

    Desde seu surgimento no planeta, o ser humano se deparou com o

    acontecimento da morte. Porm ao contrrio do que o homem mo-

    derno costuma pensar, a morte e o cessar da vida nem sempre oram

    verdades absolutas. Alguns dizem que morte a nica certeza que se

    pode ter na vida, mas nem sempre oi assim. Estudos eitos com ca-

    dveres e mmias encontrados ao redor do planeta mostram que no

    passado o deunto no era visto como um morto, mas como um ser

    humano que por um acaso no est se mexendo mais.

    Acredita-se que oi por volta de 50 mil anos atrs que o ser humano

    passou a racionalizar a ideia da morte, e o seu conceito tomou orma.

    Alguns dos corpos datados dessa poca mostram uma disposio

    peculiar e cercada de restos de plen, como se envolto por fores nomomento de seu alecimento. Um uneral e no um mero abandonar

    do corpo.

    Sculos se passaram e a morte se personicou. Na antiga Grcia ela

    passou a ser vista sob um duplo aspecto, sendo a passagem personi-

    cada por Thanatos, e o estado por Hades. O grego antigo era descrente

    para com a vida aps ser levado por Thanatos. Os inernos eram lugares

    plidos e apenas os privilegiados pelos deuses poderiam aguardar algo

    de proveitoso, com uma chance de ps-vida nos Campos Elseos.

    Entre os povos nrdicos a esperana dos guerreiros era a de alecer em

    batalha e ser levado por Grimmir (um dos aspectos de Odin) e as Valk-

    rias para Valhalla. Os bretes contavam a histria de Ankou, o esqueleto

    que com seu manto protegia e velava pelos mortos, ajudando-os em

    sua caminhada rumo ao alm. Ambos os personagens deram origem

    e nomearam o Grim Reaper, o ceiador, cuja imagem caracterizou a

    morte durante muitos anos na Europa, sendo adotado por diversas

    culturas.

    s vezes a p, outras a cavalo. Sempre portando um manto negro com

    uma aada oice na mo, pronta para cortar o tnue o da vida, o GrimReaper rondou por sculos o imaginrio europeu e revelando uma

    ragilidade da crena crist na promessa da vida eterna aps a morte.

    No mundo literrio, a presena do ceiador oi marcante, at que os pri-

    Frater Kin-Fo

    mortesandmaneonovoaeon

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    Estrela

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    Artigo

    meiros questionamentos surgiram no sculo XIX sobre o quo terrvel

    era sua natureza. Pouco a pouco o medo da morte se esvaiu, at que

    o sculo XX, quando o ingls Neil Gaiman revolucionou a maneira de

    pensar a morte dentro no universo pop.

    Neil Gaiman comeou sua carreira no mundo do jornalismo, de onde

    pouco a pouco buscou seu caminho em meio aos ramos literrios, at

    chegar aos quadrinhos na dcada de 80. Foram diversos trabalhos at

    1988, quando Gaiman lanou uma srie que mudaria para sempre os

    ramos de como os Comics seriam vistos pelo pblico em geral. Essa

    srie se chamava Sandman.

    Sandman era um personagem antigo da editora DC Comics, que con-

    seguiu um sucesso relativo na dcada de 70. A histria era centrada

    no personagem Wesley Dodds, um milionrio que combatia o crime

    durante a noite em sua cidade, usando uma pistola que colocava os

    bandidos para dormir. Com o tempo o personagem acabou ouscado

    pelo enmeno Batman, indo direto para a gaveta.

    Ao ser contratado, Gaiman recebeu a dicil misso de resgatar e atu-

    alizar o personagem. Karen Berger, o editor da editora, chegou a dizer

    que o autor tinha liberdade artstica para eetuar as modicaes que

    achasse necessrias. Gaiman ento usou e abusou da liberdade artsti-

    ca para alar o personagem para nveis nunca antes pensados.

    De um milionrio vingador, Sandman se tornou o Sonho. No um

    deus, no uma ideia, mas uma representao antropomrca do ato

    de Sonhar. Sandman tambm ganhou uma amlia de representaes

    antropomrcas de grandes momentos da vida humana que se reco-nhecem como irmos.

    Destino, Morte, Sonho, Desejo, Desespero, Destruio e Delrio. Nes-

    sa ordem os Perptuos apareceram, mas no necessariamente nessa

    ordem eles se vo. Cada um deles possui sua misso e caracterstica.

    Destino uma criatura espectral que vive em seu jardim longe mesmo

    dos demais Perptuos. Sonho uma criatura plida, magra, introspec-

    tiva e com tendncia a grandes paixes e maiores desiluses. Desejo

    andrgino e seu reino seu corpo. Desespero pequena, silenciosa

    e acinzentada. Destruio orte e belo. Delrio era Deleite, at que a

    grande verdade a ez perder a sanidade e aceitar sua nova natureza.

    J a morte...

    Neil Gaiman jogou ora a imagem do ceiador e trouxe uma nova mor-

    te para as pginas de Sandman. A morte de Neil Gaiman eminina,

    jovial, com longos cabelos negros, uma cala jeans justa e uma camisa

    casual. Cada personagem dos perptuos possui bales de texto com

    ontes caractersticas, exceto a morte, cuja ala como a de qualquer

    outro mortal.

    Na Grcia antiga, o deus Thanatos era irmo de Hipnos, o deus do sono

    assim como em Sandman Morte a irm mais prxima de Sonho. No

    arco de histrias chamado Estao das Brumas, Gaiman descreveu o

    Sonho da seguinte maneira:

    Sonho dos Prptuos... Ah, este um enigma. Sonho acumula nomes para

    si da mesma orma que outros azem amigos, mas so poucos os que ele

    considera amigos. Se h algum de quem mais prximo, de sua irm

    mais velha, que v apenas raramente. H muito tempo, ele escutou num

    sonho que a cada sculo Morte assume um corpo mortal por um dia, para

    compreender melhor as vidas que ceia e provar o sabor amargo da mor-

    talidade: este o preo por ser a divisora que separada os vivos de tudo o

    que lhes antecedeu e tudo o que vir depois deles. Sonho pensa muito nessa

    histria, mas nunca perguntou a verdade a sua irm. Talvez tema receber

    uma resposta.

    J a morte, Gaiman se limitou a descrever como: E h Morte.

    Em outra histria, dessa vez com o peculiar nome de Morte, o Alto

    Preo Da Vida, o jovem Sexton est prestes a se suicidar em um lixo,

    quando Morte aparece na ltima e o salva (sim, a morte salva o rapaz).

    Ele a questiona sobre o que ela estava azendo no lixo e ela responde

    um simples respirando. O jovem suicida no compreende o prazer

    que ela sente no ato de respirar. Pouco tempo depois surge um sin-

    gular dialogo:

    Morte comendo uma ma: No so deliciosas? Quer dizer, que sabor!

    E a textura... e quando a gente mastiga, meio crocante, e o suco enche a

    boca... no demais?

    Sexton intrigado: s uma ma. No tem nada demais nisso.

    Morte: Que nada. simplesmente demais!

    Mais do que o mortal, que se v amortecido pelo cotidiano da realida-

    de, Morte observa e se regozija com os mnimos prazeres da vida. Nessa

    histria, Morte se v encarnada como Didi, um aspecto temporrio que

    a ceiadora assume a cada sculo para que ela possa compreender a

    vida e os homens. Mesmo sendo o m da vida, Morte a celebra.Uma

    esta para a vida e uma esta ainda maior para a morte! (Liber AL II:41).

    Uma caracterstica marcante do Aeon de Osris era a morte no mor-

    rida. No antigo testamento, temos Elias e Enoc que oram arrebatados

    pelo divino. Cristo ressuscitou com seu corpo e ascendeu aos cus.

    Krishna ao nal da batalha de Kurukshetra sentou-se para meditar sob

    uma rvore e partiu conscientemente para Goloka. O mesmo ocorreu

    com Chaitanya Mahaprabhu.

    A Morte do universo de Gaiman no to seletiva.

    E o que alar sobre o suicdio? Antigos sbios, Scrates, Aristteles e

    Durkheim viam o suicdio como um problema, uma alha causada por

    diversos motivos, sendo os principais a causa social e depois patolo-

    gia ou psicolgica. Tal medo e ojeriza eram justicados por esses pela

    grande e terrvel agresso que o sujeito azia a si mesmo.

    Na histria Morte, o Grande Momento da Vida alguns personagens

    se veem de rente a Morte com um dilema que envolve uma morte e

    um renascer. Uma personagem, chamada Foxglove, se v ante a ter-

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    Artigo

    rvel situao de perder sua vida para que um ser querido possa con-

    tinuar com a sua. Outra personagem chamada Boris, completamente

    alheio ao envolvimento sentimental de Foxglove, pensa na questo e

    por uma escolha lcida e racional escolhe entregar sua vida para que

    ambos retornem. Seria um suicida? Ou apenas mais um simples morto?

    Ao nal Boris morre, deixando uma interessante questo: a invocao

    da Morte eita por Foxglove, que derrama seu prprio Sangue. Boris

    morre/se suicida, sem derramar uma nica gota de sangue.

    Ou seja, a escolha do morrer voluntariamente deixa de ser algo restrito

    s divindades e aos proetas e passa a ser um direito do ser comum.

    Da mesma maneira, o suicdio perde seus ares pecaminosos e se torna

    uma ao to lgica e pensada quanto qualquer outra.

    Como age a morte e o que acontece aps sua passagem? Isso um

    mistrio, ou az parte dele. Em Preldios & Noturnos um beb morre

    para ser carregado pela Morte e pergunta Mas... J? Eu s vou ter isso? e

    ela responde , parece que sim. Mais rente, um velho violinista judeu

    enxerga a Morte como o anjo da morte, e pronuncia seu Shma antes

    de ser levado.

    No arco Terra dos Sonhos um novo dilogo ocorre, revelando a na-

    tureza de Morte, quando uma pobre condenada olha para ela e per-

    gunta.

    Personagem: Quem voc?

    Morte: Voc no sabe?

    Personagem: Sim. Acho que sei. Voc veio por mim? Morte abenoada e

    misericordiosa. Veio acabar com tudo?

    Morte: No. No vim por sua causa, Rainie. Uma mulher no andar de cima

    estava trocando uma lmpada no quarto do lho. A escada escorregou...

    Como eu disse, estava passando e ouvi voc chorar e, bem, a porta estava

    aberta... mas no sou abenoada nem misericordiosa. Eu sou o que sou. Te-

    nho um trabalho a azer. E o ao! Escute: enquanto conversamos estou l

    ora buscando velhos e jovens, inocentes e culpados, os que morrem juntos

    e os que morrem sozinhos. Estou em carros, barcos e avies, hospitais, fores-

    tas e matadouros. Para alguns a morte um alvio. Para outros uma des-

    graa, uma coisa terrvel. Mas, no nal, eu chego para todos eles. Na rica

    Ocidental, uma aldeota est sendo massacrada por mercenrios pagos por

    seu prprio governo. Eu estou l. Nos limites mais distantes de uma galxia

    remota, um planeta est sendo estraalhado por tenses internas. Era o lar

    de muitas inteligncias cristalinas, calmas, belas e bondosas. Tambm estou

    l. Estou em todos esses lugares e tambm estou aqui, alando com voc.

    Mas... no sou a sua morte. Pelo menos ainda no. Quando surgiu o pri-

    meiro ser vivo eu estava l esperando. Quando o ltimo ser vivo morrer, meu

    trabalho estar concludo. Colocarei as cadeiras sobre as mesas, apagarei as

    luzes e trancarei o universo depois de bater a porta.

    A atriz Claire Danes escreveu o seguinte sobre a morte:

    A Morte tem corpo de modelo, roupa de poeta e o sorriso da sua melhor

    amiga. Ela usa uma cartola para se divertir, um colar com um ankh como

    pingente para ter ora e carrega um guarda-chuva preto enorme para via-

    jar s terras sem sol. Fico aqui imaginando: qual ser o cheiro dela? Tenho

    certeza de que resco e limpo e de que a risada deve ser tilintante, ou talvez

    seja calorosa e de menininha, mas seja l como or, o negcio que a Morte

    ri muito.

    Falamos sobre o milagre do nascimento, mas e o milagre da morte? J en-

    tendemos muita coisa sobre cincia da morte, mas a magia e a inevitabili-

    dade dela so temidas e ignoradas h muito tempo.

    E se a Morte or uma pessoa?

    Esta Morte simptica e que adora as pessoas, que eu conheci aqui, no

    amedrontadora nem distante. Ela est por aqui todos os dias e aproveita

    as coisas. Ela no est aqui para nos castigar nem para nos matar, mas sim

    para nos ajudar a descobrir como viver antes de precisarmos partir.

    Pensamos na Morte como algo ruim, mas aqui ela a melhor das compa-

    nheiras: deixa a escolha bem clara para ns e diz, usando seu exemplo, que

    car obcecado por coisas como violncia, cobia, preconceito e solido nos

    impede de estar perto dos outros, de nos divertir e de realizar nossa grande

    obra. Assim, s desperdiamos nosso tempo aqui.

    Gosto porque a Morte nunca diz s pessoas que esto com ela o que azer.

    Ela aceita todo mundo e compreende por que so daquele jeito. Ela gosta

    das pessoas (mesmo que estejam tristes ou sejam velhas ou jovens ou insu-

    portveis) de um jeito que elas comeam a acreditar e a gostar delas mes-

    mas tambm. E, quando isso acontece, em vez de acabar, elas podem darincio ao comeo.

    Thelema rejeita a ideia do pecado original, da mesma maneira rejeita

    o asceticismo do Aeon passado. O cerimonial da Ecclesia Gnostica Ca-

    tholica dedicado memria dos alecidos no um ritual de dor ou

    de pesar. Durante o rito, o Sacerdote e a Sacerdotisa clamam em honra

    do alecido para o conorto dos vivos. No a inteno dos ociais au-

    xiliar ou direcionar a alma no alm-mundo. Seu destino no alm cabe

    a ningum menos que a si prprio. Na cosmogonia thelmica, no h

    um paraso ou inerno onde a alma possa vir a gozar ou sorer durante

    sua morte.

    A morte no cessou de existir, apenas deixou de ser o m para ser uma

    etapa, assim como deixou de ser terrvel para ser um deleite de um

    novo processo. Enxergar isso no exclusividade do thelemita. Neil

    Gaiman nunca se declarou thelemita, assim como a equipe de dese-

    nhistas que sempre o acompanhou. Ainda assim, eles souberam trans-

    mitir a ideia da morte do Novo Aeon para o universo pop com uma in-

    crvel maestria, auxiliando na divulgao do esprito dos novos tempos.

    Jovem: E a, gata, tipo... h... Quer um reri? A gente pode se ver de novo?

    Morte: Claro, Franklin, voc vai me ver logo.

    Jovem: Ceerto! Ei, como sabe que o meu nome ... Franklin?

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    Estrela

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    Estudos

    Um modo dierente de entender o indivduo acarreta num

    modo dierente de entendermos suas relaes com o outro e

    com o mundo. A proposta thelmica, ao declarar que todo

    homem e toda mulher uma estrela, reala tanto a importncia indi-

    vidual como redimensiona a ecologia das interaes. A clula unda-

    mental da sociedade, anal, no mais a amlia ou a comunidade, mas

    sim o indivduo. Ao mesmo tempo, devidamente inserido no mundo, a

    noo deste sujeito tambm oi renovada: a prpria coletividade passa

    a no ser um entulho de indivduos, mas um panorama de estrelas.

    Vivemos num tempo onde uma nova tica est sendo pensada e

    experimentada. Novas ormas de compreender a existncia necessa-

    riamente produzem mudanas comportamentais, loscas, morais,

    trabalhistas, religiosas, sexuais etc. Experimentamos exatamente esse

    vcuo das demolies do passado: um presente cuja identidade in-

    tensamente debatida, mas onde tudo que slido desmancha no ar

    e as certezas, cientcas ou religiosas, no nos conortam. Precisamos,

    assim, entender o sistema de pensamento do passado de onde vie-

    mos para entender onde queremos ir e o que desejamos ser a partirde agora.

    A refexo sobre a moral imprescindvel para esse processo. Primeira-

    mente, devemos perceber como a moral tem sido vivida: tanto como

    resultado de condutas prticas, como pela noo de que sem esse

    tipo de condutas no poderia existir a sociedade. Para Nietzsche, a

    moral alseia o mundo, uma vez que organiza sua selvageria. Inde-

    pendente deste ponto de vista ontolgico sobre as coisas, a moral

    como princpio regulador da vida surge como resultado espontneo

    das relaes, embora sua orma monstruosa que Nietzsche tambm

    se dedicou a criticar resida na cristalizao de seus valores, no raro

    mantidos de orma anacrnica por grupos interessados em se manter

    no poder, ou simplesmente pela inconscincia da tradio em seu as-

    pecto mais dbil e ignorante. Por outro lado, temos nos deparado com

    o enmeno de que a desconstruo dos valores que antes tnhamos

    nos tira o cho. A tica surge para pensar essas questes: o que esta-

    mos destruindo e o que estamos criando?

    H algum tempo, a tica esteve vinculada teologia. A vontade hu-

    mana no poderia ser concebida como legtima se estivesse ora da

    verso do que seria a vontade de Deus. Agostinho, autor escolstico,

    pensou a tica atravs da ideia de um Bem (Deus). O mal, sendo sim-

    ples ausncia do bem, era necessariamente consequncia antropo-lgica. interessante reparar que h em Agostinho uma interessante

    relao entre o homem, sua vontade e Deus, porm no podemos ig-

    norar o antasma do pecado e o sentimento de culpa sob as costas do

    ser humano, sempre presentes na mentalidade crist. Nietzsche, mais

    umadiscussodecomoacondutaearelaocomooutropodemserentendidas

    no

    novo

    aeon

    .

    ticathelmica

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    OrdoTempliOrientis

    LojaQuetzalcoatl

    14

    Estudos uma vez, condenaria as consequncias des-

    se pensamento como sendo uma moral de

    auto-renncia, cujo resultado seria a rejeio

    da prpria vida. J outros autores, como Kant,

    concentraram-se na dignidade humana e

    no seu valor inato. Porm, como poderia o

    imperativo categrico kantiano se adequar

    aos tempos atuais, quando ele arma: age

    apenas segundo aquela mxima que possas

    ao mesmo tempo desejar que se torne lei

    universal? Embora isso estabelea uma con-

    duta reta, como conciliar uma lei universal

    toda diversidade humana?

    O sculo XX trouxe questes interessantes.

    A essncia delas, de um modo ou de outro,

    est contemplada em Liber AL vel Legis.

    Mesmo o mais ctico observador no pode-

    ria ignorar que o esprito de uma poca est

    maniestado no Livro da Lei. Para os thelemi-

    tas, vemos o valor da liberdade ser elevado

    ao mximo como Kant descreveu, uma lei

    universal mas junto a ela tambm arma-

    do o valor do Dever. Esse um interessante

    tema para refexo: ao mesmo tempo que, na

    proposta thelmica, cada um deve encontrar

    sua rmula pessoal de relacionamento com

    o universo e nenhum comportamento seja

    essencialmente errado, a liberdade de atono est em azer o que se deseja, mas azer

    o que se deve. A relao entre a Verdadeira

    Vontade e o Dever problematizam o livre

    arbtrio, orando-nos a pensar a respeito do

    que liberdade.

    Em A Mensagem de Mestre Therion dito:

    Faze o que tu queres ento no aas nada

    mais. No permitas que nada desvie a ti desta

    austera e sagrada tarea. A Liberdade abso-

    luta para azer tua vontade; mas procure a-

    zer outra coisa qualquer e instantaneamente

    obstculos devero surgir. Vemos, portanto,

    o gozo da liberdade ser descrito em termos

    de austeridade, e seu caminho ser uma via

    de concentrao, no raro experimentada

    como uma orma de renncia. A tica the-

    lmica, assim, estrutura-se entre a vigilncia

    sobre si mesmo e o intenso respeito s esco-

    lhas do outro. Faze o que tu queres, alm da

    exaltao divindade da prpria Vontade,assume um teor relacional.

    Em Dever, na seo sobre Seu dever para

    com outros indivduos, homens e mulheres,

    Crowley atesta: Uni a ti mesmo apaixona-

    damente com todas as outras ormas de

    conscincia, assim destruindo a sensao de

    separao do Todo. Alm disso, outro trecho

    diz: (O amor e a guerra nas injunes prvias

    so da natureza do esporte, onde se respei-

    ta e se aprende do oponente, mas nunca se

    interere nele ora do prprio jogo). Buscar

    dominar ou infuenciar outra pessoa buscar

    deorm-la ou destru-la; e ela uma parte

    necessria do prprio Universo do indivduo,

    isto , do ser do indivduo.

    A individualidade em Thelema enatiza-

    da no como isolamento, mas como parte

    integrada ao Todo. Destruindo a sensao

    de separao, realizamos o outro indivduo

    como parte de ns mesmos. Buscar inter-

    erir em seu caminho no resultaria apenas

    numa mutilao do outro, mas de si mesmo.

    A prpria pretenso de intererncia j dese-

    quilibra o prprio indivduo que age por essa

    premissa.

    Como armao da sacralidade do cami-

    nho de cada um, nasceu o Liber Oz. Sendo

    uma declarao dos Direitos Humanos, sua

    dimenso tica emblemtica. O direito

    do indivduo aqui expresso , naturalmente,o direito de toda a humanidade. A violao

    desses direitos expressa simultaneamente

    um atentado liberdade do outro e prpria

    liberdade da pessoa, anal, como constatou

    Crowley: Se voc nega os direitos de outra

    pessoa, voc negou a prpria existncia

    desses direitos; e eles esto perdidos para

    voc. Consequentemente, o nico modo de

    deender a liberdade assegurando-a para

    toda a humanidade.

    O homem ter direito de viver, trabalhar, brin-

    car, descansar, pensar, alar, esculpir etc. e,

    inclusive, morrer como quiser, o torna rbi-

    tro nico de como conduzir sua estadia na

    Terra. Vamos nos concentrar sobre o ponto

    polmico da morte, que se tornou um gran-

    de tabu. Desse modo, tambm o tabu do

    suicdio liquidado: o homem senhor do

    seu descanso mesmo na hora de morrer. O

    suicdio ser um estigma indiscutvel, comouma vergonha patolgica e religiosa, he-

    rana de uma mentalidade para a qual a vida

    no pertence ao homem, mas a uma ideia

    distante de Deus. A vida era vista como um

    dbito para com a divindade. O homem de-

    sejar decidir o seu destino seria uma heresia.

    No estamos dizendo com isso que eleger a

    hora da prpria morte seja necessariamen-

    te uma escolha lcida e consciente mas a

    nica maneira de assegurarmos a liberdade

    no se portar como se ns soubssemos

    o que , anal, melhor ou pior para o outro.

    S respeitamos a liberdade do outro quan-

    do respeitamos a possibilidade de que o erro

    para ns possa ser a sua medicina.

    A questo sobre a morte envolve mais a

    quebra de um tabu. Na verdade, o temor s

    desencadeia incompreenso e sorimento a

    respeito dela, do mesmo modo que o tabu

    sexual alimenta neuroses e expresses vio-

    lentas da sexualidade. Quo mais neguemos

    a morte inclusive a nossa prpria , mais

    ela ir nos assombrar, ou at mesmo nos a-

    zer vtimas de emboscadas que poderamos

    evitar se meditssemos sobre ela sem medo

    ou averso.

    Outro ponto interessante no Liber Oz

    quando ele, aps elencar todos os direitos da

    humanidade, nos diz que O Homem tem o

    direito de matar esses que quereriam contra-

    riar estes direitos. Podemos, sim, pensar nis-so como uma garantia de ao contra a tira-

    nia. Por outro lado, cabe a seguinte refexo:

    quem, realmente, pode nos privar de nossa

    prpria liberdade? Algum nos tira do nosso

    prprio eixo sem que permitamos que isso

    acontea? Quem realmente responsvel

    por isso? Quem est constantemente retiran-

    do os nossos direitos? Somos vtimas da infu-

    ncia do outro, ou de nossa prpria permis-

    sividade? A nica pessoa a quem realmente

    temos direito de matar, qui todos os dias

    um pouco, somos a ns mesmos: os nicos

    responsveis por nossa prpria escravido,

    e por nossa prpria liberdade. Matar aquilo

    que nos escraviza dentro de ns mesmos:

    isso sim o que pode nos libertar.

    Posto isso, podemos comear a compreender

    a tica thelmica como uma perptua consi-

    derao sobre como podemos assegurar a

    nossa prpria liberdade, atrelada, como nopoderia ser dierente, liberdade de todos.

    No que realmente acarreta essa liberdade e

    de que maneira p-la em prtica: estamos

    aqui para descobrir exatamente isso.

  • 7/29/2019 Estrela Rubi2

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    Estrela

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    BibliotecaTelmica

    UMA EPSTOLA DE BAPHOMET para a ilustre Dama Anna Wri-

    ght, Companheira do Santo Graal, brilhante como a Lua,

    concernente Morte, para que ela e suas irms possam tra-

    zer conorto a todos aqueles que esto prximos morte, e queles

    que os amam.

    Amada Filha e Irm,

    Faze o que tu queres ser o todo da Lei.

    Que seja a tua vontade e a vontade de todos aqueles que se inclinam sobre

    os doentes conort-los e ortic-los com as seguintes palavras.

    I

    EST ESCRITO no Livro da Lei: Todo homem e toda mulher uma Estrela.

    Nossa Senhora das Estrelas que ala a voc, tu, que s uma estrela, um

    membro do Corpo de Nuith! Escuta, pois tuas orelhas se tornaram ensur-

    decidas aos barulhos maus da terra; o innito silncio das Estrelas corteja a ti

    com msicka sutil. Observai a ela se curvando sobre ti, uma chama de azul,

    tudo tocando, tudo penetrando, suas adorveis mos sobre a terra negra,& seu corpo fexvel arqueado por amor, e seus ps macios no erindo as

    pequenas fores, e pense que toda tua grosseria deve nesse momento cair

    de ti, quando tu te lanas ao abrao dela, pego no seu amor como uma

    gota de orvalho nos beijos do nascer do Sol. No o xtase de Nuit a cons-

    cincia da continuidade da existncia, a onipresena de seu corpo? Tudo o

    que eria a ti era que tu no conhecias a isto, e medida que tal condio

    desaparece de voc, tu sabers como nunca, no entanto, como tudo um.

    Novamente Ela disse: Eu dou alegrias inimaginveis na terra; certeza, no ,

    enquanto em vida, sobre a morte. Isso tens tu sabido. O tempo, que devora

    suas crianas, no tem poder sobre aqueles que no seriam crianas do Tem-

    po. Para aqueles que pensam a si mesmo imortais, que habitam sempre na

    eternidade, conscientes de Nuit, entronados sobre a carruagem do Sol, no

    h morte como a que os homens chamam de morte. Em todo o universo,

    a escurido s encontrada na sombra de um planeta opaco e grosseiro,

    como se osse por um momento; o universo em si uma enchente de luz

    eterna. Ento, tambm a morte apenas por acidente; tu te escondeste a ti

    mesmo na sombra de teu corpo grosseiro e, tomando-o como realidade, tu

    tremeste. Mas o globo logo girou; a sombra passou longe de ti. H a dissolu-

    o, e o xtase eterno nos beijos de Nu! Pois medida que tu zeste tua a Lei

    da Liberdade, como tu viveste em Luz e Liberdade e Amor, tu te tornaste um

    Homem-Livre da Cidade das Estrelas.

    II

    ESCUTAI NOVAMENTE a tua prpria voz dentro de voc. No Hadit a chama

    que queima em todo corao humano, e no mago de cada estrela?

    No Ele Vida, e o doador da Vida? E no , portanto, o conhecimento

    Dele o conhecimento da Morte? Pois te oi mostrado em muitos outros

    lugares como a Morte e o Amor so gmeos. Agora tu s o caador e

    a Morte galopa ao teu lado com seu cavalo e lana, enquanto tu per-

    segues tua Vontade atravs das forestas da Eternidade, cujas rvores

    so os cabelos de Nuit, tua senhora! Vibres com a alegria da vida e da

    morte! Saibas, caador poderoso e veloz, a caa est cercada! Tu deves

    apenas dar um golpe aado, e tu ters vencido. A Virgem da Eternidade

    jaz deitada de costas tua merc, e tu s Pan! Tua morte ser o selo da

    promessa de nosso amor de eras. No tens tu lutado no mais ntimo de

    ti? A Morte a coroa de tudo. Mais rme! Sustenta a ti mesmo! Levanta

    tua cabea! no respires to undo morre!

    III

    OU AINDA ESTS TU EMARANHADO com as espinhosas tranas de ro-

    seiras selvagens que tu teceste na tua mgicka dana sobre a terra? No

    so teus olhos ortes o bastante para suportar a luz das estrelas? Preci-

    sas tu protelar ainda mais um pouco no vale? Precisas tu brincar com as

    sombras no crepsculo? Ento, se esta Tua Vontade, tu no tens direito

    seno azer a Tua Vontade! Continue amando a esses antasmas da terra;

    tu zeste a ti mesmo um Rei; se te apraz brincar com os brinquedos da

    matria, no so eles eitos para servir o teu prazer? Ento siga em tua

    mente a palavra maravilhosa da prpria Estela da Revelao. Retorne, se

    tu queres, da morada das Estrelas; habite com a mortalidade e regozija-

    -te com isso. Pois tu s, neste dia, Senhor do Cu e da Terra.

    O homem morto Ankh--na-KhonshuDisse, com sua voz verdadeira e calma,

    tu, que tens um nico brao!

    tu, que resplandeceste na lua!

    Eu teo a ti no encantamento rodopiante

    Eu seduzo a ti com a melodia revolta.

    O homem morto Ankh--na-Khonsu

    Tem se separado das negras multides

    Tem unido os habitantes da luz,

    Aberto Duant, as moradas das estrelas,

    Suas chaves recebendo.

    O homem morto Ankh--na-Khonsu

    Tem eito sua passagem noite adentro

    Para realizar seu prazer sobre a terra

    Entre os vivos.

    Amor a lei, amor sob vontade.

    Que a Bno do Todo-Progenitor, Todo-Devorador esteja sobre ti.

    Baphomet X O.T.O.

    Dado sob Nossa mo e selo neste dia do Anno XII, o Sol nosso Pai estan-

    do em Leo, e a Lua em Pisces, do Trono da Irlanda, Iona e toda a Bretanha

    que est no Santurio da Gnose.

    baphomet xilibercviconcernentemorte

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    OrdoTempliOrientis

    LojaQuetzalcoatl

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    BibliotecaTelmica HOORCULOHOOR

    Thelema tem uma viso oficial sobre re-

    encarnao e sobre por que reencarna-mos?

    Em seu texto intitulado Reencarnao Magick Without Tears

    Crowley arma acreditar em reencarnao por trs motivos:

    1 Por que eu me lembro de pelo menos uma dzia de encarnaes

    prvias minhas na Terra.

    2 Por que nenhuma outra teoria satisaz meu sentimento por justi-

    a, por equilbrio e pela Terceira Lei do Movimento de Newton.

    3 Por que toda religio arma, ou pelo menos traz implcita, a reen-

    carnao de um modo ou de outro.

    Portanto, o undador de Thelema inundiu tanto em nossa losoa,

    quanto em nossa religio a ideia da reencarnao, mas advertiu que

    este era um assunto bastante dicil de comprovar racionalmente e

    que havia muita tolice escrita a respeito. Segundo Crowley no so

    todos os seres humanos que esto aptos a reencarnar, a grande maio-

    ria est incapacitada para este eito.

    Crowley explica que no ato de reencarnar a Trade Superna, com-

    posta por Jechidah, Chiah e Neschamah que veste o Hadit original

    ou Ponto-de-Vista original com todo o Ruach que a Conscincia Hu-

    mana, Tiphareth, oi capaz de arrecadar durante a prvia encarnao

    atravs de Aspirao contnua e persistente. Se no h Ruach sucien-

    te para assegurar uma quantidade adequada de Memrias, a pessoa

    pode nunca se tornar consciente da continuidade da existncia.

    Se por um lado, Crowley inundiu em nossa losoa a possibilidade

    de reencarnao, ele tambm nos presenteou com um combate

    quase que obsessivo aos dogmas que restringem a maniestao in-dividual em qualquer de seus aspectos, inundindo em cada um dos

    Thelemitas um esprito livre e subversivo que mantm nossos pensa-

    mentos e ideias desapegados at mesmo dos pensamentos e ideias

    do Mestre.

    O constructo de crenas do Thelemita, embora tome como orienta-

    o as palavras de Mestre Therion, baseada na experincia individu-

    al e aquilo que no pode ser comprovado pela prtica espiritual pode

    e deve gerar novas correntes de pensamento. Sendo assim, temos

    em nossa comunidade espiritual as mais diversas teorias a respeito da

    reencarnao, algumas teorias a comprovam, outras a reutam.

    A O.T.O., enquanto Ordem Telmica, respeita e deende ardentemen-

    te a liberdade de cada indivduo da sua comunidade. A construo de

    um sistema de crenas pessoal baseado em suas prprias prticas e

    observaes undamental para todos ns.

    Crowley nos deixou como legado vrios exerccios prticos em que o

    objetivo o reavivamento das memrias de vidas passadas, ele con-

    siderava esse ponto de grande valia para a descoberta do Si-Mesmo

    e um mtodo para trazer luz da conscincia a essncia da Verdadei-

    ra Vontade com a nalidade da realizao da Grande Obra. Existem

    ainda mtodos prticos que nos deixou para o desenvolvimento de

    um corpo eterno que nos permitisse manter as memrias e conheci-

    mentos de todas as encarnaes prvias intactos e imperturbveis no

    percurso para a eternidade.

    Como dito em nossa Missa Gnstica na sesso sobre o FIM:

    Que possa ser garantidoo cumprimento de suas Verdadeiras Vonta-

    des para aqueles de cujos olhos o vu da vida caiu; quer isto seja a

    absoro no Innito ou a unio com seus escolhidos e preeridos, ou

    permanecer em contemplao, ou estar em paz, ou alcanar o tra-

    balho e herosmoda encarnao neste planeta ou em outro, ou emqualquer Estrela, ou outro lugar, que lhes seja garantida a realizao

    de suas Vontades; sim, a realizao de suas Vontades. AUMGN, AU-

    MGN, AUMGN.

    At a prxima, amigos!

    O Hoorculo a resposta a uma pergunta. A cada edio, a pergunta de

    um leitor da Estrela Rubi ser selecionada e a resposta a ela ser dada

    por um ou mais membros da Loja Quetzalcoatl. Caso queira submeter

    sua pergunta de cunho mgicko ou thelmico ao Hoorculo, a envie

    para [email protected]. Nossa equipe editorial vai ava-liar a pergunta mais inteligente e instigante e, se selecionada, vamos

    estud-la, respond-la e public-la na prxima edio. O Hoorculo s

    ter olhos ou melhor, Olho s perguntas mais desaadoras e que

    possam ser de interesse geral.

  • 7/29/2019 Estrela Rubi2

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    Estrela

    Rubi

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    OrdO Templi OrienTis inTernaciOnal

    Frater Superior: Hymenaeus Beta

    JAF Box 7666

    New York, NY 10116 USA

    Grande Secretrio Geral: Frater Aion

    PO Box 33 20 12

    D-14180 Berlin, Germany

    Grande Tesoureiro Geral: Frater S.L.Q.

    24881 Alicia Parkway #E-529

    Laguna Hills, CA 92653 USA

    Secret. Internac. Iniciaes: Frater D.S.W.

    P.O. Box 4188

    Sunnyside, NY 11104 USA

    OrdO Templi OrienTis Brasil

    Site: www.otobr.com

    Rep. Fra. Superior: Sor. Tara Shambhala

    [email protected]

    lOjaQueTzalcOaTl

    Site: www.quetzalcoatl-oto.org

    Maestria: Fra. Apolln Hekatos

    [email protected]

    Secretaria: Fra. Eros

    [email protected]

    Tesouraria: Fra. Leon 777

    [email protected]

    Correios:

    Caixa Postal 55525 CEP 22790970

    Avenida das Amricas

    Recreio dos Bandeirantes

    Rio de Janeiro, RJ Brasil

    a lojaquetzalcoatl

    ALoja Quetzalcoatl um corpo o-

    cial daOrdo Templi Orientis Inter-

    nacional, undado em 23 de maio

    de 2000 e.v. na cidade do Rio de Janeiro.

    Somos uma comunidade de homens e mu-

    lheres livres que se dedicam ao processo

    do auto-conhecimento e sua consequente

    expanso de conscincia atravs dos prin-

    cpios de Vida, Luz, Amor e Liberdade, pila-

    res essenciais da Lei de Thelema.

    Temos como um de nossos principais ob-

    jetivos auxiliar no desenvolvimento de

    uma sociedade verdadeiramente livre da

    superstio, tirania e opresso onde o ser

    humano possa expressar a sua Verdadeira

    Vontade em plena harmonia com a essn-

    cia divina que nele habita.

    Acreditamos que cada ser humano uma

    estrela individual e eterna que possui sua

    prpria rbita e que o objetivo primordialdesua encarnao no outro seno descobrir

    as coordenadas dessa rbita e cumprir a sua

    Verdadeira Vontade, realizando a Grande

    Obra e alcanando a Felicidade Pereita.

    Nossos objetivos so alcanados atravs de

    um conjunto de Ritos Iniciticos que visam

    despertar e ativar os chakras, propiciando a

    asceno da kundalinie o acesso a estados

    mais elevados de conscincia. Realizamos

    tambm o estudo terico e prtico da Filo-

    soa de Thelema, Magia, Alquimia, Cabala,

    Tarot, Tantra, e demais cincias hermticas

    que possam colaborar com o caminho de

    auto-iluminao dos nossos iniciados.

    Caso deseje inormaes sobre nossas ativi-

    dades ou sobre a aliao O.T.O., consulte

    nosso site noendereo www.quetzalcoatl-

    oto.org ou entre emcontato conosco.

    saibamais sobre...

    a ordo templi orientis

    AOrdo Templi Orientis oi undada

    em 1904, na Alemanha, por Karl

    Kellner e Theodore Reuss seu

    primeiro lder , que buscavam estabelecer

    um Academia para maons de altos Graus

    onde estes pudessem ter contato com as

    revelaes iniciticas descobertas por Kell-

    ner em suas viagens ao Oriente. A entrada

    de Aleister Crowley, em 1912, veio a alterar

    proundamente a Ordem, at que, naquele

    mesmo ano, a O.T.O. rompe seus laos com

    a Maonaria e assumese como uma orga-

    nizao independente e soberana.

    A principal mudana trazida por Crowley

    para a ordem oi a implantao da Lei de

    Thelema, conorme denida no Livro da

    Lei Liber AL vel Legis, e o alinhamento da

    O.T.O. com as energias no Novo Eon, tor-

    nando esta Ordem a primeira nascida no

    Velho Eon a migrar para o novo.

    Em 1922 Crowley, com a morte de Reuss,

    assumiu a liderana da O.T.O.. Seu suces-sor indicado oi o alemo Karl Germer, que

    governou a Ordem de 1947 a 1962. Como

    Germer no indicou um sucessor, aps sua

    morte vrios membros e no membros

    da Ordem tentaram assumir o controle da

    O.T.O. o que colocou a Ordem em srio

    risco de extino. Assim, Grady McMurtry

    lanou mo de um documento expedido

    por Crowley que o autorizava a tomar o po -

    der da O.T.O. caso esta se visse ameaada.

    Assim, McMurtry tornou-se lder da Ordem

    em 1969, posio onde permaneceu at

    sua morte, em 1985. Aps isso, por meio de

    um processo eleitoral levado a cabo pelos

    altos Graus da Ordem, oi empossado o

    atual Frater Superior, Hymenaeus Beta.

    Atualmente a O.T.O. est presente em mais

    de 70 pases. No Brasil, a O.T.O. encontrase

    desde 1995, com o antigo Acampamento

    Sol no Sul, substitudo em 2000 pelo OsisQuetzalcoatl, atual Loja Quetzalcoatl. Dan-

    do continuidade ao trabalho, em evereiso

    de 2010 ev oi aberto em Minas Gerais o

    Acampamento Opus Solis.

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