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Estratégias de midiatização das ONG‘s 1 Jairo Ferreira 2 Introdução O objeto de pesquisa apresentado foi construído na investigação experimental “A emergência do campo de significação das ONG’s na Web: discurso e contexto de produção em dispositivos digitais” 3 . Nessa pesquisa, a análise da distinção de cada instituição (ONG`s) no mercado formado pelos discursos concorrentes na Web, refere- se não só às modalidades do dizer em texto, mas ao conjunto do dispositivo. Através dessa análise, pretendemos configurar o mercado discursivo composto pelas mídias digitais assinadas pelas ONG`s na Web. O procedimento de coleta para essa pes- quisa partiu da lista de ONG‘s da Abong (As- sociação Brasileira de ONGs). Essa lista foi ampliada pela pesquisa na Internet, atingindo cerca de 300 sites. Esses foram distribuídos por temas (análise de conteúdo). As maiores ocor- rências : ecologia, gênero, dst/aids, criança/ado- lescente, índios e movimentos ligados à globalização (Movimentos de Resistencia). Desse conjunto, foram escolhidos aleatoriamen- te 31 sites distribuídos entre os temas mais recorrentes. Em cada site, foi coletada uma amostra de até 35 textos, escolhidos em pro- porção aos tipos de materiais encontrados. Nos sites com um número de textos inferior à média, a amostra foi inferior, o que foi compensado pelos sites com maior número de textos. A média, como pode ser verificado no quadro abaixo, é de 33 textos por sites. Uma questão sempre reiterada é saber se essas instituições pertencem ao movimento social ou seriam de outra ordem. Nesse sentido, consultamos a Abong para verificar o vínculos das mesmas com o Fórum Social Mundial, o qual foi criado por instituições do movimentos social (entre os quais a CUT e MST). O quadro evolutivo das ONG’s que compõem o corpus da pesquisa é o seguinte (Tabela 2). Essas dados sobre a presença no Fórum serão utilizados posteriormente nas análises de correlações. Essa pesquisa utiliza um método de análise que é um encontro de diversos procedimentos visando formalizar um conjunto de hipóteses que respondam às dimensões da lógica, da explicação causal e da competência implicativa, em articulação com as questões teóricas do campo da comunicação. Procuramos sempre trabalhar com tríades conceituais, evitando análises com mais dimensões que dificultassem a formalização do pensamento. Na articulação entre as várias tríades, buscamos o pensa- mento relacional mais avançado, ou comple- xo. Essas formalizações foram construídas no âmbito da pesquisa, lentamente, com diver- sas idas e vinda, partindo de um conjunto categorial normalizado pela literatura do campo (numa verdadeira bricolagem de conceitos, esse momento foi de abertura, de uso diverso de categorias, procurando pertinência em relação a problema de pes- quisa em construção). Muitas das categorias originais foram abandonadas, outras reconstruídas, e articu- ladas com novas perspectivas. Nesse sentido, nossas categorias não são pré-construídas, e s e t i S s o t x e T a i g o l o c e a m e t : s e t i s 7 1 s o t x e t 0 0 6 o r e n ê g a m e t : s e t i s 7 s o t x e t 0 0 2 s d i a / t s d a m e t : s e t i s 7 s o t x e t 0 0 2 s e t i s 1 3 : l a t o T s o t x e t 0 0 0 1 Tabela 1 - Sites e número de textos analisados

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Page 1: Estratégias de midiatização das ONG‘s 1 Jairo Ferreira ... · Jairo Ferreira2 Introdução O objeto de pesquisa apresentado foi construído na investigação experimental “A

341NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS

Estratégias de midiatização das ONG‘s1

Jairo Ferreira2

Introdução

O objeto de pesquisa apresentado foiconstruído na investigação experimental “Aemergência do campo de significação dasONG’s na Web: discurso e contexto deprodução em dispositivos digitais”3. Nessapesquisa, a análise da distinção de cadainstituição (ONG`s) no mercado formadopelos discursos concorrentes na Web, refere-se não só às modalidades do dizer em texto,mas ao conjunto do dispositivo. Através dessaanálise, pretendemos configurar o mercadodiscursivo composto pelas mídias digitaisassinadas pelas ONG`s na Web.

O procedimento de coleta para essa pes-quisa partiu da lista de ONG‘s da Abong (As-sociação Brasileira de ONGs). Essa lista foiampliada pela pesquisa na Internet, atingindocerca de 300 sites. Esses foram distribuídos portemas (análise de conteúdo). As maiores ocor-rências : ecologia, gênero, dst/aids, criança/ado-lescente, índios e movimentos ligados àglobalização (Movimentos de Resistencia).Desse conjunto, foram escolhidos aleatoriamen-te 31 sites distribuídos entre os temas maisrecorrentes. Em cada site, foi coletada umaamostra de até 35 textos, escolhidos em pro-porção aos tipos de materiais encontrados. Nossites com um número de textos inferior à média,a amostra foi inferior, o que foi compensadopelos sites com maior número de textos. Amédia, como pode ser verificado no quadroabaixo, é de 33 textos por sites.

Uma questão sempre reiterada é saber seessas instituições pertencem ao movimento

social ou seriam de outra ordem. Nessesentido, consultamos a Abong para verificaro vínculos das mesmas com o Fórum SocialMundial, o qual foi criado por instituiçõesdo movimentos social (entre os quais a CUTe MST). O quadro evolutivo das ONG’s quecompõem o corpus da pesquisa é o seguinte(Tabela 2).

Essas dados sobre a presença no Fórumserão utilizados posteriormente nas análisesde correlações. Essa pesquisa utiliza ummétodo de análise que é um encontro dediversos procedimentos visando formalizarum conjunto de hipóteses que respondam àsdimensões da lógica, da explicação causal eda competência implicativa, em articulaçãocom as questões teóricas do campo dacomunicação. Procuramos sempre trabalharcom tríades conceituais, evitando análisescom mais dimensões que dificultassem aformalização do pensamento. Na articulaçãoentre as várias tríades, buscamos o pensa-mento relacional mais avançado, ou comple-xo. Essas formalizações foram construídas noâmbito da pesquisa, lentamente, com diver-sas idas e vinda, partindo de um conjuntocategorial normalizado pela literatura docampo (numa verdadeira bricolagem deconceitos, esse momento foi de abertura, deuso diverso de categorias, procurandopertinência em relação a problema de pes-quisa em construção).

Muitas das categorias originais foramabandonadas, outras reconstruídas, e articu-ladas com novas perspectivas. Nesse sentido,nossas categorias não são pré-construídas, e

setiS sotxeT

aigoloceamet:setis71 sotxet006

orenêgamet:setis7 sotxet002

sdia/tsdamet:setis7 sotxet002

setis13:latoT sotxet0001

Tabela 1 - Sites e número de textos analisados

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342 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

sim tomaram forma lentamente, ou seja, apesquisa não avançou sob o clássico proces-so de codificação conforme categorias pré-vias. A não utilização desse processo, carosob todos os aspectos, nos permitiu avançarem direção a um conjunto categorial novorelativamente às categorias e conceitos ori-ginalmente utilizados para a construção do

objeto de pesquisa. Cada uma das tríadesou díades foi inserida num processo deconstruções de hipóteses experimentais,que estão relacionadas entre si e cotejadascom as questões teóricas e epistemológicasno processo de análise. Este artigo se refereespecificamente a tríade informação, re-flexão e política4

Tabela 2 - Participação das ONGs investigadas nos fóruns mundiais.Fonte: organização do Fórum

sGNO1MURÓF)1002(

2MURÓF)2002(

3MURÓF)3002(

NRodopmaCodsedadinumoCsàoiopAedoãçaicossA(CCAA X X

)latneibmAoãçetorPedesnesobraBoãçaicossA(MAPABA

)sdiAedranilpicsidretnIarielisarBoãçaicossA(AIBA X

EDERanLUZARIGA

)aigoloceorgAedabitiuqeJoãçaicossA(AJA X

)aroFedzíuJedetneibmAoieMolepoãçaicossA(FJAMA

)sdiAàoãçneverPedoãçaicossA(ANOZAMA X X

)sarielisarBserehluMedoãçalucitrA(BMA X X

AZUZAC

)orenêGmeoãçamrofnIeoãçacudE,oãçacinumoC(ANIMEC X X

)airossessAesodutsEedatsinimeFortneC(AEMEFC X X

)oãçacinumoCeaigolocE(MOCE

)edadilauxeSmeoãçacinumoC(SOCE X

)sdiAàoãçneverPeoiopAedopurG(APAG X X

)aihaBadyaGopurG(BGG

)adiVàovitnecnIedoirátinamuHopurG(VIG X X

lanoitanretniECAEPNEERG X X

EDURG X

MEGIROOPURG X X

ADIVAMISOPURG

)ocinôzamAohlabarTedopurG(ATG X X

)lartsuAlatneibmaoicoSotutitsnI(LAAI

)adiVedortneCotutitsnI(VCI X

elatserolFoãçacifitreCeojenaMedotutitsnI(AROLFAMI)alocírgA

X

)latneibmaoicoSotutitsnI(ASI X X

ARRES-ARIM

)onamuHotnemivlovneseDededeR(HEDER X

DREHPEHSAES

)lisarBodaigolocEededadeicoS(BES

OPROCSOS X X

)azerutaNaaraplaidnuModnuF(FWW X

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343NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS

Informação, reflexão e política

Consideramos que a informação jornalís-tica está ancorada em cinco dimensões. Duassão temporais (inspiradas no conceito dediscurso relatado de Charaudeau, 1997): aproximidade em relação ao tempo de ocor-rência do acontecimento que referencia odiscurso; o acompanhamento temporal dodesenrolar do acontecimento. A terceira éformal (inspirada em Rodrigues, 1993): ainformação jornalística tem o seu valorcondicionado pela probabilidade menor doevento (como vai sugerir a teoria da infor-mação e os teóricos da comunicação). Even-to muito provável, sem acompanhamentotemporal e sem proximidade à ocorrência doacontecimento referencial pode ser informa-tivo, mas não é jornalístico. Por isso, emnosso sistema de classificação, um eventodesse tipo é informação fraca. No casoinverso, satisfeitas as três condições, temosa informação jornalística forte.

O valor social da informação jornalística,entretanto, não é absoluto. É relativo, istoé, depende de outras dimensões relacionais.Uma dessas dimensões (a quarta) se refereà forma jornal (Mouillaud). Um textojornalístico impresso em folhas de papelofício pode ter menos força social do queum texto de baixo valor jornalístico impres-so num dispositivo jornal (ancorado emeditorias, com títulos, seções, fotos, legendasetc.). A última dimensão é a inserção dodiscurso no âmbito de um conjunto de outrosdiscursos concorrentes sobre o mesmo tema,pelas distinções que opera, pelo reconheci-mento do mesmo como um discurso docampo midiático. O valor social do discursonum determinado mercado pode deslocar asua força para baixo ou para cima em termosde informação jornalística. Isto é, um dis-curso sobre um acontecimento atual, queacompanhe o desenrolar, e seja sobre umevento pouco provável, pode restar semreconhecimento no campo midiático (isto é,pode resultar num discurso com baixo poderde agendamento).

A reflexão jornalística tem característicasespeciais que a diferenciam do texto refle-xivo em geral. Em geral, o texto reflexivomais evidente é tratado como opinativo. Nemsempre o material “opinativo” das ONG’s em

mídias digitais é jornalístico, na medida emque a “opinião” não se desenvolve em tornodos eventos, nem dos acontecimentosreferenciais que compõem o quadro danotícia. As proposições e argumentos sereferem muitas vezes a temas eletivos quenão estão incluídos na agenda jornalística(embora possa compor a agenda de deter-minados campos específicos com as quais asONG’s trabalham: ecologia, mulheres, crian-ças etc.). Isto é, as problematizações,elucidações, avaliações etc. ocorrem, aparen-temente, sobre assuntos recolhidos numaagenda que pertence ao conjunto das ONGsque concorrem em torno de um determinadotema (ecologia, infância etc.), seus progra-mas, formas de acesso direto aos aconteci-mentos que irrompem no cenário midiático(e será necessário aqui verificar em quemedida essa irrupção agenda o subsistemamidiático fundado em fortes capitaiseconômicos e políticos, isto é, a chamadagrande imprensa). Sugerimos que os crité-rios de classificação da reflexão jornalísticapartam da informação jornalística.

A terceira dimensão que abordamos é ado discurso político. O discurso políticoencontra sua singularidade e legitimidadeancorada no campo político. O campo po-lítico é lugar de especialistas, como dizBourdieu, que requisita um monopólio dafala, decorrente de uma competência quesupõe uma formação especial, e de umapreparação de seus integrantes para partici-parem da concorrência pelo poder. Mesmonão se constituindo em partidos políticos, asONG‘s são instituições que disputam o espaçopúblico no âmbito deste campo, e, por issomesmo, nele se inserem como interlocutoresque disputam os leigos, legitimam as auto-ridades, creditam ou debitam popularidade atodos aqueles que compartilham sua temática,possuindo seus próprios capitais políticos(militantes, sedes, siglas, programas, congres-sos, funcionários, etc.). A dimensão políticado discurso das ONG‘s, portanto, expressasua condição de pertencimento na constitui-ção do campo político (inúmeros políticostem parcela de sua legitimidade autorizadapor movimentos como esses). Porém, nemsempre o discurso das ONGs é “francamen-te” político, ou seja, um discurso voltado parao questionamento, avaliação e programação

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344 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

das políticas públicas, de mobilização dos mi-litantes e da ação social para a execução deum programa, etc. As dimensões políticaspodem ser dissimuladas, decorrência de umadependência de recursos governamentais parao seu funcionamento (o que pode implicarem determinados pactos sobre o modo dedizer). As dimensões observáveis no discur-so são a tematização de objetos pertencentes(virtual ou realmente) à esfera pública, aincidência nas políticas públicas estatais, amobilização de simpatizantes, funcionários emilitantes à ação política, etc.

Já as dimensões relacionadas a reflexãopartem de nossa perspectiva teórica de queo texto é, em sua constituição ontológicaresultante de uma ação social, necessariamen-te uma forma de reflexão. Desenvolvemosessa abordagem em vários artigos em quetratamos a produção de sentido advindas dalinguagem (Ferreira, 2002a, 2003a; Ferreirae Dayan, 2003c). Piaget afirma isso, ao dizerque a linguagem requisita um reflexionamentoperante o sentido da ação. Através da lin-guagem, afirmamos que o jornalistareconstitui ações de um acontecimento,coordena ações num tempo e espaço diver-sos do ontológico, categoriza os eventos, numprocesso de reflexão ascendente quereconstitui os observáveis sugeridos em seudiscurso. Isso indica as dificuldades doconceito de informação. Se a informação serefere ao relato, afirmamos que ela não existesem a opinião, na medida em que essa seconstitui em torno dos processos de reflexão,substrato da argumentação e avaliação. Seo texto já é reflexão, o relato já é opiniãoe comentário.

Isso não desfaz a possibilidade de umadiferenciação de textos mais ou menosargumentativos. É esse degradê que dificultaa análise categorial estática, e expõe os limitesda análise de conteúdo. As formas possíveisde reconstituição das ações, a coordenaçãoentre eventos no texto, a comparação entreacontecimento concorrentes (a guerra doIraque e o do Golfo, o governo Lula ou deFHC), as categorizações (indiciais ou explí-citas) das personagens e acontecimentos,podem estar mais ou menos subordinadas aosobserváveis relatados. Esses são processos deregulação, através dos quais o jornalismo seadapta à construção social dos objetos de

discurso, coordena suas perspectivas com seusconcorrentes, e integra olhares conformedeterminados perfis institucionais. Num jogosem fim entre conteúdos observados e for-mas possíveis de relatar, o corte se faz natemporalidade do campo jornalístico e nostempos de seus dispositivos específicos (rá-dio, televisão, etc.), nas agendas concorren-tes no espaço público, disputadas no campodas mídias.

Nesse processo, há um nível específicorelacionado ao dispositivo (Mouillaud, 1997,Ferreira, 2002b, 2002c). A informação jor-nalística é produzida em rotinas e objetivadaem textos estruturados em formas categoriais.A distribuição em editoriais, seções, capa,títulos, legendas, fotos, etc. se constitui numprocesso de diferenciação, distinção e clas-sificação incorporados às rotinas produtivas,que localizamos como um sistema sócio-técnico de produção discursiva e cognitivado mundo. E, nesse sentido, a forma jornalremete já a uma reflexão que atravessa aprodução, circulação e consumo de informa-ções jornalísticas. Aqui, quanto maior adiferenciação, distinção e classificação emformas, maior o nível de reflexão.

Das reflexões à construção de marcas

A partir dessas reflexões teóricas, inves-tigamos essa tríade na perspectiva de marcasdiscursivas. A forma jornal é observada numaorganização do espaço – signo na forma delead, editorias, seções, colunas, links, foto,legendas, títulos, assinaturas, citações, etc.(Mouillaud, 1997). A atualidade abrange apresença na esfera do enunciado nas marcasde localização do acontecimento em trêsmodalidades temporais (presente, passado efuturo), nas técnicas de lead, naprocessualidade operada através de títulosreferenciais e informacionais. No título, oacontecimento é presentificado; no artigo, asdiversas temporalidades são recuperadas. Oapagamento em relação a data do aconteci-mento pode ocorrer também pela omissão doverbo (o que significa omitir o tempo doacontecimento), fechando o título numaclassificação do acontecimento, sendo a clas-sificação um trânsito do título informacionalpara o título referencial. Nesse sentido, oefeito-presente do texto jornalístico relati-

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345NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS

vamente a data do acontecimento será bus-cado no texto do artigo, em oposição ao efeitode atualidade buscado no enunciado (dotítulo).

Apaga-se também atos diversos, distribu-ídos no discurso, que registrariam a presençade outros agentes do processo enunciativo.Nesse sentido, o acontecimento sai, atravésdas operações sobre os enunciados, da esferanarrativa (história que se conta num temposobre eventos distribuídos em tempos eespaços localizados, incluindo agentes doprocesso enunciativo) e “vai” para a esferada classificação (o que significa para nós,o ingresso no texto, ou do enunciado, naesfera da ordem argumentativa, ou reflexi-va).

O texto tem as marcas do desenrolaratravés de três operações marcadas noenunciado. Primeira, através de outros dis-cursos dos agentes do processo enunciativo,há o título anafórico (Mouillaud, p. 105).Nesse caso, aparecem o recurso aos artigosdefinidos (o, a, os, as) a partir dos quais otexto lembra “os acontecimentos antes donúmero e dos quais a duração excede aduração quotidiana. O título anafórico con-fere ao jornal uma temporalidade específica”(p. 105). Nesse tipo de título, há uma atu-alização do acontecimento através de diver-sos níveis de categorizações. Num primeironível, o acontecimento remete a classes eparadigmas gerais (tipo “ a caso Zé Dirceu...”,“A crise do Oriente...”). Esse nível, chama-mos de condensação. Num segundo nível,ocorre a ressemantizações através de outrosníveis de tematizações (exemplo: no caso daplataforma da Petrobrás que afundou, issoaparece na ressemantização do acontecimen-to como acidente, escândalo, problema sin-dical, drama familiar...).

A baixa probabilidade foi pensada emtermos relacionais. Um acontecimento poucoprovável é um acontecimento que tem umvalor discursivo forte relativamente a outrosdiscursos. A presença discursiva das ONGsvisa preencher lacunas discursivas no campodas mídias, procurando gerar um novo fluxo,em torno de falas sobre acontecimentos poucoprováveis de serem ditos pelas mídiashegemônicas. Aqui, o importante é a fala digaalgo de novo (não porque é atual, mas porquenão foi dito) do tipo: nunca ocorreu este tipo

de evento; há muito tempo não ocorre; mashá também o que ocorre normalmente, o quesignifica acontecimento de rotina (habitual);média probabilidade, acontecimento ocorrediversas vezes com o transcorrer do tempo.

O agendamento é o inverso do anterior.Aqui, o importante é se falar sobre algo queé falado pelos outros, que pertence ao fluxode interações entre várias campos sociais, queatravés de suas instituições, estabelece estra-tégias de atualização informacional. Oagendamento deixa marcas em processosenunciativos, onde agentes de enunciaçãoaparecem com outros enunciadores (de ou-tras instituições e/ou campos sociais) eagentes de enunciados (de outras instituiçõese/ou campos sociais), ancorados em temposdiversos (fala-se em alguém num determi-nado tempo e espaço).

A partir dessas marcas construías foramconfigurados os seguintes dados agregados(Tabela 3).

A dimensão reflexão inicia-se com acategorização, ou tematização. Muitas vezes,inicia com a ONG classificando a sim mesma.Depois, classificando os outros, e assim pordiante, criando um sistema classificatório. Asmarcas da categorização são verbos queindicam pertencimento de um indivíduo (oucoleção) a outra coleção, ou exclusão dosmesmos de outra coleção, através de umadeterminada ação. Ou seja, é quase impos-sível falar sem categorizar (através de con-junções – soma, disjunção – subtração, res-trições, oposições, causalidade, etc.). Esseprocessos aparecem como confrontação en-tre discursos – confrontar discursos é umaforma de reflexão. Assim, no campo dasmídias, podemos confrontar Rigotto comOlivio, Lula com FHC, etc., ou comparaçãodois discursos, ou dois acontecimento sobreos quais a mídia fala. Exemplo: a guerra doVietnã com a Guerra do Iraque – uma guerracom ideologia, uma guerra sem princípios;ou, as duas guerras são decorrentes de in-teresses econômicos; etc. A diferenciaçãonasce da comparação (falar das diferençassobre um determinado acontecimento): Guer-ra do Vietnã (conjuntura de confronto entreex-União Soviética e EEUAA); guerras noOriente (conjuntura de acirramento culturalentre ocidente e oriente; entre sociedade demercados e sociedades pré-mercantis; entre

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346 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

Tabela 3 - As colunas abaixo agregam dados relativos às dimensões construídas (res-pectivamente, informação, atualidade, desenrolar, baixa probabilidde e agendamento).Assim, é interessante verificar que a ausência de desenrolar indica uma fragilidade deinserção da informação no fluxo da produção jornalística industrializada. A forma jornale a probabilidade são médias, indicando também formatos em que os textos, mesmoquando informativos, estão integrados a dispositivos não jornalísticos e uma tendênciaa produzir acontecimentos de rotinas (mesmo que essas sejam do escopo das ONGs).Os pontos fortes estão na atualidade (de suas atividades) e no agendamento (que apareceforte, como vimos no item campo de pertencimento dos agentes do processo enunciativo,como agentes do enunciados diferenciados).

111 211 311 411 511

001 0 1 1 4 9

002 0 0 0 0 0

004 1 3 2 1 3

005 45 05 91 13 54

006 0 4 1 0 2

007 0 0 0 0 0

008 0 1 0 0 0

009 91 72 6 8 62

0001 42 22 2 21 72

0011 0 61 1 11 62

0021 42 22 1 21 53

0031 12 42 1 7 33

0041 0 2 0 2 01

0051 12 71 3 61 12

0061 6 51 1 5 22

0071 01 21 3 11 91

0081 8 8 1 1 9

0091 0 91 1 4 32

0002 4 8 0 0 01

0012 52 12 4 6 62

0022 13 32 0 31 92

0032 1 02 0 6 61

0042 96 99 6 03 311

0052 5 4 0 3 4

0062 62 32 1 01 81

0072 92 23 0 02 82

0082 02 53 4 42 62

0092 2 13 0 11 42

0003 0 6 1 1 7

0013 0 32 0 51 91

0023 0 32 0 4 3

28 771 6 88 921

muçulmanos e cultura judaico-crista). E, final-mente, a integração nasce também da compa-ração entre eventos e discursos diferentes, mas,na integração, não se busca a diferença. Se buscaum lugar de identidade entre acontecimentodiversos, recorrendo a um patamar em que as

duas guerras são compreendidas como um pro-cesso único, do tipo: ambas se fazem contraos EUA, portanto, são conflitos vinculados ahegemonia desse Estado-Nação, contra cultu-ras alternativas (ideológicas, religiosas, políti-cas e culturais - Tabela 4).

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347NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS

Consideramos que o discurso pela açãopolítica tem como objeto questões da esferapública. Mas quais são essas questões? Elasvariam. Exemplo: A Revolução dos Cravosfoi feita tendo como temas as grandes ques-tões da esfera pública (a democracia, apropriedade da terra, os direitos dos traba-lhadores, e assim por diante). Mas, hoje, na

manifestação do 25 de Abril, data da Revo-lução dos Cravos, havia quem pedisse inves-timento público em calçamentos e esgotos.Portanto, podemos alargar o conceito deobjetos da esfera pública: são todos aquelestratados pelo Estado (do calçamento a violên-cia), e também todos aqueles que, mesmo semtrato pelo estado, as ONGs pretendem transfor-

Tabela 4 - Os dados agregados indicam a fragilidade em termos de processos reflexivosno discurso das ONGs. Essa fragilidade indica a alta de presença de marcas de umdiscurso opinativo. A opinião é um embrião do processo reflexivo, que só através dediferenciações atinge os níveis do discurso teórico e as grandes condensações simbólicas.Aqui encontra-se uma contradição entre o esforço de institucionalização e os níveis delegitimação (Berger e Luckmann, 1985, p. 129). Essa contradição reduz o potencial dasestratégias de institucionalização observadas nas mediações construídas através dasrepresentações sociais, do legislar, moralizar e ordenar o “bom caminho” social.

121 221 321 421 521

001 61 0 2 0 0

002 1 0 0 0 0

004 31 0 4 0 3

005 71 72 12 5 61

006 01 3 7 1 1

007 2 0 0 0 0

008 3 0 1 0 0

009 21 5 41 2 0

0001 12 0 8 0 0

0011 82 0 4 0 0

0021 23 3 9 4 0

0031 32 0 01 0 0

0041 01 0 2 0 0

0051 91 9 41 3 3

0061 03 1 3 0 0

0071 91 0 1 0 0

0081 7 0 0 0 0

0091 4 0 3 0 0

0002 71 0 3 0 0

0012 12 1 3 1 0

0022 13 7 8 1 2

0032 51 1 1 0 0

0042 59 9 81 2 2

0052 5 0 0 0 0

0062 43 6 2 0 2

0072 62 6 3 2 1

0082 43 1 2 0 0

0092 52 1 0 0 1

0003 9 0 0 0 0

0013 91 0 0 0 0

0023 91 0 0 0 0

171 41 7 2 4

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348 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

mar numa questão de políticas de Estado, ou temade debate na “praça pública”, envolvendo agentessociais localizados em vários campos sociais.

As marcas de mobilização vão se carac-terizar pela chamada a ação estrito senso. Umapasseata, uma caminhada, um ato coletivo e/ou individual, uma ocupação, um convite paraenvio de e-mails, cartas, utilização de adesi-vos, camisetas, etc. Isso pode ter como público-alvo militantes, simpatizantes ou população em

geral. As de organização se refere às agendas,datas, espaços materiais de atividade (prédios,cidadas, estados, nações), cronograma de de-senvolvimento das atividades, quadros comresponsabilidades diferentes, etc. (saldo).Marcas de um projeto pedagógico implica emcursos, cartilhas, bibliografia, textos, discur-sos de formação, tempo para formação, qua-dros preparados, com capacidade de agir e dis-cursas sobre o tema da ONG, etc. (Tabela 5)

Tabela 5 - Agir, organizar e formar. Essas três dimensões se destacam como marcasde um discurso que responde às rotinas das ONGs. Relacionadas às outras dimensões,elas indicam enunciados vinculados ao campo político herdado da modernidade (emespecial, do movimento social-democrata e socialista).

131 231 331 431 531

001 11 5 3 2 0

002 0 0 0 0 0

004 02 11 6 61 0

005 54 91 92 41 8

006 7 2 9 6 3

007 1 0 4 3 0

008 3 1 2 1 1

009 82 01 31 41 4

0001 62 3 21 21 0

0011 01 01 03 22 2

0021 53 1 91 01 1

0031 23 4 61 02 0

0041 31 1 11 01 9

0051 42 51 22 1 11

0061 22 01 82 5 4

0071 32 7 02 41 1

0081 31 2 5 8 0

0091 51 7 13 22 1

0002 9 4 71 41 0

0012 32 5 22 32 6

0022 03 21 02 61 3

0032 42 6 71 71 3

0042 411 63 211 001 31

0052 5 0 3 2 0

0062 32 6 32 81 3

0072 92 5 61 5 4

0082 33 2 02 9 0

0092 52 3 31 41 2

0003 6 3 9 6 2

0013 22 1 61 6 2

0023 91 0 9 11 5

261 02 901 17 81

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349NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS

Algumas observações finais

Se considerarmos as dimensões acimapara caracterizar o que chamamos de infor-mação jornalística, podemos afirmar que amaioria dos sites de ONGs que categorizamosencontra-se num nível inferior e médio in-ferior de informação jornalística. Os limitessão: uma grande quantidade de informaçãonão jornalística acompanhada de alguns casosde informação estritamente jornalística (nasquais encontramos as dimensões: aconteci-mento próximo no tempo, com acompanha-mento do desenrolar e eventos poucos prová-veis). As primeiras evidências dos dadoscoletados indicam que o valor jornalístico dainformação é promovido nos sites conformeos capitais econômicos, políticos e culturaisdas ONGs.

Assim, os sites das ONG’s Grenpeeacee ISA oferecem discursos do tipo jornalístico.Porém, essa oferta está condicionada. NoGreenpeace, parte dos textos jornalísticosinformativos é apropriada na perspectivaopinativa, sendo a informação jornalística enão jornalística oferecida através de linksexternos a outros jornais e instituições (o queremete, às vezes, a um espaço público entreinstituições que não passa pela “grandeimprensa”). Já o ISA produz, através decolaboradores e funcionários, textosjornalísticos vinculados aos seus objetos dediscurso. Por sua vez, o Greenpeace tambémreproduz e edita textos produzidos por suasagências com um formato reflexivo elabo-rado (seus Breafings). A correlação entreocorrência do discurso jornalístico e capitaisincorporados (Greenpeace, Agirazul e Isa) éum indício de que não há jornalismo semcapitais (sendo o capital econômico somen-te uma condição do trabalho especializadorequisitado a sua produção).

A interpretação desse valor creditado aodiscurso jornalístico pelos sites das ONGsé de vários tipos. Em termos endógenos, odiscurso perde valor se ele não circula; ainformação jornalística é o ponto dinâmicodos discursos dos sites; em termos exógenos,o valor do discurso é indissociável de ummercado para o qual ele se dirige, mercadoesse demarcado pela agenda do espaçopúblico. Esse processo gesta um elo funda-mental da hegemonia no campo midiático,

proporcional ao grau de dependência e su-bordinação (por partes dos sites assinadospelas ONGs) à produção de informaçãojornalística realizado pelo subsistemamidiático fundado sobre fortes capitaiseconômicos e políticos (ou seja, à “grandeimprensa”). Ou seja, parte das informaçõesjornalísticas das ONG’s é gerada na “grandeimprensa”, ou em agências de notícias (comoa Agência Brasil).

Já o discurso político de caráterjornalístico, num só movimento, articuladiscurso político, opinião e acontecimento,num feixe em que o jornal (mídia) é o partido(portanto, instituição do campo político), quechama seus militantes, funcionários e públi-cos à ação. Essa é uma das modalidades.Poucas ONGs conseguem fazê-lo. Esse é ocaso das ONG’s com fortes capitais cultu-rais, econômicos e políticos (como o ISA).Nesse caso, se inserem as agências temáticas(como a Ecoagência de Notícias e a ECOM– Ecologia e Comunicação) como produto-ras de mídias e notícias. Por essas vias, ocorreo agendamento da “grande imprensa” pelasmídias das ONGs, inclusive gerando os“textos informativos” dos jornais localizadosem posições de concentração de capitaiseconômicos e políticos.

Portanto, as disposições discursivas dasONGs em mídias digitais nos indicam con-dutas diversas. Por um lado, há apropriaçãodos discursos jornalísticos como um dosfatores dinâmicos dos fluxos midiatizados emsites. Essa apropriação de discursos ocorre,em grande medida, através de um jornalismo“opinativo”, em que proposições, avaliaçõese críticas são feitas conforme os aconteci-mentos relatados na grande imprensa. Assim,o subsistema “grande imprensa” é legitima-do e, ao mesmo tempo, criticado. Por outrolado, as ONGs criam uma agenda própria,vinculada a sua ação político temática, emque constituem uma singular associação entreinformação jornalística da própria ação (aces-so direto e disruptivo à atualidade, desen-rolar e improbabilidade) e discurso político(em que militantes, funcionários e simpati-zantes são chamados à ação). A legitimaçãodo discurso das ONG’s também ocorrequando o subsistema “grande imprensa”aceita os temas propostos pela ação política,e incorpora os mesmos em sua agenda. Esse

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350 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume I

é o caso do Sea Shepherd. Sua ação políticaagenda a mídia e, além disso, os textos rela-tivos aos acontecimentos que cria têm elevadograu de aproveitamento nas mídias digitais,sempre reproduzidos muitas vezes na íntegra.

Porém, as classificações possíveis dostextos conforme apresentados anteriormentenão esgotam a problemática da distinção entremídias digitais assinadas pelas ONG‘s emdeterminados mercados temáticos. A diferen-ciação ocorre em vários níveis. O primeirodeles é do acesso aos meios de produção.Muitas ONG‘s utilizam servidoresdisponibilizados por outras instituições, ten-do uma vida instável. Isso pode estar vin-culado aos capitais econômicos, políticos eculturais, mas é necessário investigar em quemedida as dimensões especificamentecomunicacionais se articulam os processossociais macroestruturais. O uso do blog comorecurso foi observado como uma alternativasem sucesso (no sentido da produção ecirculação da informação jornalística).

Uma grande quantidade dos sites que semantêm estáveis na rede são de informaçõese artigos opinativos com baixo valorjornalístico (isso é, não preenchem os requi-sitos anteriores). Essa estrutura está presenteinclusive nos sites que apresentam textosjornalísticos renovados com uma certatemporalidade. Ou seja, os sites das ONGsnão são jornalísticos, nem portais, mas simfortemente institucionais, e a notícia aíencontra-se portanto numa outra forma, emque o conjunto localiza o discurso jornalísticonuma totalidade diferente do jornal. Em geral,a notícia é vinculada a linques “notícia”, osquais não são diferenciados em editorias, ea única forma de organização é temporal (datade edição). Isso indica dois processos con-traditórios: se a ocorrência do textojornalístico indica anuência à forma jornal,a indiferenciação da forma jornal indica umaestratégia que a subordina a outras estraté-gias comunicacionais (do tipo comunicaçãoinstitucional).

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_______________________________1 Os fundamentos teóricos das reflexões aqui

desenvolvidas estão em vários artigos do autor.2 Universidade do Vale do Rio dos Sinos –

Unisinos.

3 A pesquisa é desenvolvida no Programa dePós Graduação em Ciências da Comunicação –PPGCC da Universidade do Vale do Rio dos Sinos- Unisinos, Rio Grande do Sul, Brasil, com apoioda Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grandedo Sul - Fapergs. Abrange uma parceria com apesquisa Teoría y práctica de la investigación y laintervención en comunidades y organizacionessociales. Implementación de un método y disposi-tivos innovadores en comunicación comunitaria, co-ordenada pelo professor Eduardo Vizer, na Univer-sidade de Buenos Aires. Bolsistas de IniciaçãoCientífica: Claucia Ferreira da Silva e SoraiaZimmermann. O universo estudado é de 35 ONG‘s(2/3 das quais no tema ecologia) e cerca de 1200textos.

4 Essa tríade retoma, com algumas modifica-ções, as clássicas funções do jornal político dasocial-democracia d’ O que fazer, de Lenin (in-formar, conscientizar e organizar).