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CIÊNCIA I Doratono, espera se aue )or tuna boca com tcntac ulos e upo de ui is trocas gasosas .diges io) c cia Dama a ar em aorii a re produção em tanques ue três das lo espécies ontradas nas águas rasas e quentes do Nordes Até o final do ano. de acordo com o cronogra Na ( losta dos ( .orais, a siiperfíc ic dos rei ifes ainda habi a por invertebrados marinhos varia de 5% a 25% de iro modo, três quartos da superfície das colinas de calca is primeiras colônias cie corais doras cios corais. A exnh r aigas, i radieaonais compeli ia da paisagem, porém, pode )ianiacias na região cie engai do coral es!rei ricos e Ira géis ; QO planeta, eme se e dos stellata), um globo de até iam ral de fogo galhado(MilL isileiro (Siderastrea ámetro, e as do co si, aue lembram ar s lardins snhi de mostarda, assim chamados por provoc as em quem ousa tocar seus ramos. Nas ágil, mais profundas, encontram se as o OCEANOGRAFIA tastrea cavernosa), a espécie m da na foto ao lado, cuia sup Oásis marinhos em perigo Biólogos planejam repovoamento dos recifes de corais, um dos mais ricos ambientes do mundo, ameaçado pela pesca excessiva estranho p Espécies únicas - Mesmo nos I res mais preservados como o B; dos AProlhos, rei ciue lica o de mesmo nome no sul corais nao passa de 35% em alguns poucos pontos níveis semelhantes aos das e a Austrália. I RICARDO ZORZETTO ), DE RECIFE cresçam no litoral brasileiro apenas 15 cias 650 espécies conhecidas cie corais, a taxa de espécies exclusivas do país é elevada: sete delas sc'> sao encontradas por aqui, concentradas em uma área restrita correspondente a 0,4% dos recifes do mundo, de acordo com uma pesquisa concluída recentemente por Rodrigo Leão de no, leque, g espécies no mundo, inferior apenas i Ambientes de extraordinária impoi ('aravelas, Bahia. Estudos publicados na revista > e mar Siivnceáe 15 de agosto de 2003 detalham a gravidade da si- O, os re Inação internacional dos recifes de corais, protegidos desde dade de 1975 pela Convenção sobre o Comércio Internacional de opicais. Espécies Ameaçadas da Flora e da Fauna Silvestres, da qual vida no o Brasil ésignatário. Em um dos artigos,o biólogo marinho cional most /ida no o israsil e signatário, l.m um dos artigos,o DlOlOgO marinho lerence I lughes, da Universidade james Cook, na Austrália, o esla- estima que 30% dos recifes estejam seriamente danifica os úni- dos e outros 60% devam se perder até 2030, por causa de tegidas s (lorais, uma longa seq idas por coc pesca excessiva, a pc no ultimo século com a ricultura, a devastação de asneira, ciue se e: metros, desde o buco, até Pari) colinas de calca íhaisque despertaram a de pesquisadores para ale de Alagoas. Os recifes sao çao dos corais foi as por milhões a bilhões de ani- Io, facilmenle idei mamente simples - os corais , Observado em rec chamado hranciuea esbotarem. loes distante 36 JANEIRO DE 2004 PESQUISA FAPESP 95

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CIÊNCIA

I Doratono, espera se aue )or tuna boca com tcntac ulos e upo de ui is trocas gasosas .diges

io) c cia Dama a ar em aorii a re produção em tanques ue três das lo espécies

ontradas nas águas rasas e quentes do Nordes Até o final do ano. de acordo com o cronogra

Na ( losta dos ( .orais, a siiperfíc ic dos rei ifes ainda habi a por invertebrados marinhos varia de 5% a 25% de iro modo, três quartos da superfície das colinas de calca

is primeiras colônias cie corais doras cios corais. A exnh r aigas, i radieaonais compeli ia da paisagem, porém, pode

)ianiacias na região cie engai do coral es!rei

ricos e Ira géis ; QO planeta, eme se e

dos stellata), um globo de até iam ral de fogo galhado(MilL

isileiro (Siderastrea ámetro, e as do co si, aue lembram ar

s lardins snhi de mostarda, assim chamados por provoc

as em quem ousa tocar seus ramos. Nas ágil, mais profundas, encontram se as o

OCEANOGRAFIA tastrea cavernosa), a espécie m da na foto ao lado, cuia sup

Oásis marinhos em perigo Biólogos planejam repovoamento dos recifes de corais, um dos mais ricos ambientes do mundo, ameaçado pela pesca excessiva

estranho p

Espécies únicas - Mesmo nos I res mais preservados como o B; dos AProlhos, rei ciue lica o

de mesmo nome no sul corais nao

passa de 35% em alguns poucos pontos níveis semelhantes aos das

■ e a Austrália. I

RICARDO ZORZETTO

), DE RECIFE

cresçam no litoral brasileiro apenas 15 cias 650 espécies conhecidas cie corais, a taxa de espécies exclusivas do país é elevada: sete delas sc'> sao encontradas por aqui, concentradas em uma área restrita correspondente a 0,4% dos recifes do mundo, de acordo com uma pesquisa concluída recentemente por Rodrigo Leão de

no, leque, g

espécies no mundo, inferior apenas i Ambientes de extraordinária impoi

('aravelas, Bahia. Estudos publicados na revista

> e mar Siivnceáe 15 de agosto de 2003 detalham a gravidade da si- O, os re Inação internacional dos recifes de corais, protegidos desde dade de 1975 pela Convenção sobre o Comércio Internacional de opicais. Espécies Ameaçadas da Flora e da Fauna Silvestres, da qual vida no o Brasil ésignatário. Em um dos artigos,o biólogo marinho

cional most

/ida no o israsil e signatário, l.m um dos artigos,o DlOlOgO marinho lerence I lughes, da Universidade james Cook, na Austrália,

o esla- estima que 30% dos recifes já estejam seriamente danifica os úni- dos e outros 60% devam se perder até 2030, por causa de

tegidas s (lorais, uma longa seq idas por coc pesca excessiva, a pc

no ultimo século com a ricultura, a devastação de

asneira, ciue se e: metros, desde o buco, até Pari) colinas de calca

íhaisque despertaram a de pesquisadores para

ale de Alagoas. Os recifes sao çao dos corais foi as por milhões a bilhões de ani- Io, facilmenle idei mamente simples - os corais , Observado em rec

chamado hranciuea

esbotarem. loes distante

36 • JANEIRO DE 2004 ■ PESQUISA FAPESP 95

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Entre uma faxina e outra: o peixe limpador góbio-néon passeia sobre o coral-estrela-grande

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lômetros umas das outras, como na costa da Austrália e no oceano Índico, o branqueamento é um indício da in- fluência das mudanças no clima e do aumento da temperatura dos oceanos sobre os corais. Há evidências de que, em alguns casos, a elevação de apenas 1 grau na temperatura da água já cause a morte ou a expulsão de algas micros- cópicas (zooxantelas) que vivem no interior dos corais num sistema de in- teração com benefícios recíprocos: os corais abrigam as zooxantelas e, em tro- ca, essa algas lhes fornecem nutrien- tes, oxigênio e auxiliam na formação do esqueleto calcário. Mas, quando o ambiente se altera além de um limite, as substâncias produzidas pelas zoo- xantelas parecem se tornar tóxicas para os corais, que então eliminam as algas

responsáveis por suas cores típicas. Em con- seqüência, des- botam e podem morrer, depen- dendo da quan- tidade de algas que perderem. Os especialistas alertam para o risco de os co-

rais desaparecerem nas próximas déca- das caso nada seja feito para conter o aumento da temperatura do planeta, decorrente, em boa parte, da emissão de gás carbônico e de outros poluentes na atmosfera.

Na costa brasileira, já se identificou o branqueamento em pontos da costa distantes até 2 mil quilômetros um do outro. A situação mais grave ocorreu em Maracajaú, Rio Grande do Norte, onde 12% das colônias apresentavam manchas brancas, de acordo com esse primeiro levantamento nacional, coor- denado por Beatrice Padovani Ferreira, oceanógrafa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com financia- mento do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), do Minis- tério do Meio Ambiente. O desbota- mento dos corais também surgiu, em menor grau, em Abrolhos, no Atol das Rocas, em Fernando de Noronha e na Costa dos Corais - um forte indício de que seja realmente parte de um fenô- meno de escala mundial, segundo Bea- trice. Apesar dessa suspeita, ainda não

se conhece ao certo a causa do proble- ma no Brasil. "O branqueamento de corais observado em Abrolhos em 2003 pode estar ligado ao excesso de luz so- lar", cogita Clovis Barreira e Castro, es- pecialista em corais do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Ja- neiro (UFRJ) e um dos participantes desse estudo, apresentado em setembro ao Ministério do Meio Ambiente. Cas- tro levanta essa suspeita porque choveu pouco e as águas estavam muito claras a maior parte do tempo durante o ano em que se observou esse episódio de branqueamento dos corais.

Peixes desaparecidos - Os efeitos dos danos aos recifes não aparecem somente ao olhar dos especialistas. Surgem tam- bém no dia-a-dia, principalmente de quem vive no litoral ou aproveita as fé- rias à beira-mar. Mesmo nos mais refi- nados restaurantes da praia de Boa Vi- agem, a mais badalada do Recife, quase não se encontram mais as saborosas postas de garoupa (Epinephelus spp) ou de badejo (Mycteroperca spp). Tra- dicionais habitantes dos recifes bra- sileiros, esses peixes e também o mero (Epinephelus itajara) - um peixão cas- tanho com manchas negras, de até 3 me- tros e 400 quilos, cuja pesca está proi- bida no país - podem indicar como anda a saúde dos corais. Quando começaram a escassear esses peixes carnívoros co- mo a garoupa, os pescadores passaram a apanhar variedades menores e, mais recentemente, os herbívoros como os budiões (Scarus trispinosus), que não passam de 20 quilos. Vorazes comedo- res de algas, os budiões começam a substituir tanto a garoupa quanto o mero no cardápio de restaurantes bra- sileiros, além de serem exportados para a Europa e os Estados Unidos. Com a pesca dos budiões, as algas de que se alimentavam passaram a proliferar li- vremente sobre os recifes e a ocupar o espaço dos corais. "Essa mudança de espécies preferenciais de pesca come- çou há cinco anos no litoral baiano e vem se disseminando por todo o Nor- deste", afirma Beatrice, uma especialista em dinâmica de populações de peixes.

Ela conseguiu mobilizar dez pes- quisadores biólogos e oceanógrafos de quatro Estados - Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará - que ganharam tempo e fôlego por contarem com o trabalho voluntário de 30 pescadores e

mergulhadores, treinados para ajudar na coleta dos dados, seguindo a meto- dologia de análise do Reef Check, orga- nização internacional que monitora a saúde dos recifes em 150 países. Foi as- sim que, durante um tempo relativa- mente curto - de março de 2002 a mar- ço de 2003 -, avaliaram cinco das sete maiores formações de recifes brasileiras, todas na região Nordeste, a única do país com águas rasas e quentes, próprias para o crescimento dos corais. Em grupos de dois ou três mergulhadores, munidos de lápis e pranchetas para escrever embai- xo d'água, tomaram nota das espécies de corais, peixes e outros animais mari- nhos que vivem em 52 áreas amostrais de 400 metros quadrados em Abrolhos, na Bahia; na Costa dos Corais, entre Alagoas e Pernambuco; em Fernando de Noronha, Pernambuco; no Atol das Rocas e em Maracajaú, ambos no Rio Grande do Norte.

A situ A situação mais grave é a dos recifes situados a menos de

1 quilômetro da costa, co- mo na região de Porto de Galinhas, no sul de Per-

nambuco. "Ali, o estado dos corais nos recifes mais próximos à praia é péssi- mo", observa o oceanógrafo Jacques La- borei, da Universidade de Marselha, na França, autor de uma das mais comple- tas descrições dos recifes brasileiros, feita no fim dos anos 1960. Em outubro de 2002, Laborei retornou ao Brasil para participar da comemoração do cinqüen- tenário do Departamento de Oceano- grafia, que ajudou a criar na UFPE. Não resistiu e, aos 68 anos, mergulhou novamente no mar que percorrera qua- se quatro décadas atrás. Laborei estimou que próximo às praias ocorreu uma re- dução de 80% na cobertura de coral dos recifes em relação ao que havia obser- vado 40 anos antes.

"Quando os danos são graves, os recifes não são capazes de se recuperar sem ajuda", comenta Castro. É ele quem coordena o projeto de repovoa- mento dos recifes de corais, em par- ceria com Débora Pires, também do Museu Nacional, Mauro Maida e Bea- trice Ferreira, ambos da UFPE, além de integrantes do Projeto Amiga Tar- taruga e do Tamar, destinados à pre- servação da tartaruga e de ambientes marinhos brasileiros. Na etapa inicial desse projeto, que conta com um fi-

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Branqueamento do estrela-grande: com águas mais quentes, coral expulsa algas, desbota e morre

De predador a presa: um piraúna, que começa a

desaparecer dos recifes

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Recuperação de peixes é rápida em áreas sem pesca

nanciamento de R$ 350 mil do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), os pesquisadores trabalharão com as principais espécies responsáveis pela formação dos recifes, como os corais- cérebro do gênero Mussismilia, encon- trados apenas no Brasil, o coral-estre- la-grande e o coral-cérebro-pequeno (Favia grávida), um globo de cerca de 10 centímetros cuja aparência lembra um cérebro humano. Tanto os corais cérebro quanto o estrela-grande são de fecundação externa: em uma deter- minada época do ano, liberam game- tas masculinos e femininos na água, onde ocorre a fecundação. Os ovos se desenvolvem em larvas microscópicas - as plânulas - que nadam por algum tempo antes de se fixarem nas rochas do fundo do mar e originarem novas

colônias. Já o cérebro-peque- no é uma espé- cie com fecun- dação interna. Uma vez por mês, os machos lançam na água suas células re- produtivas, que penetram no corpo das fê-

meas e as fertilizam. Em seguida, os corais fêmeas liberam as larvas, que nadam por dois ou três dias antes de se fixarem em rochas e formarem no- vas colônias.

Recrutas ao mar - Ao mesmo tempo, Castro e Débora, que desde 1996 publi- cam juntos artigos científicos descre- vendo a reprodução das espécies da costa brasileira, pretendem desenvolver em um laboratório em Porto Seguro, Bahia, uma técnica de fertilização arti- ficial, destinada a reproduzir em cati- veiro corais de fecundação externa, a exemplo do Mussismilia braziliensis, formador de colônias com aspecto de cogumelo gigante, de até 1 metro, en- contradas apenas em Abrolhos. "Em um ano, pretendemos levar os primei- ros recrutas, os indivíduos formadores das colônias, para os recifes de Porto Seguro", calcula Débora. Se der certo em Porto Seguro, onde os recifes estão mais preservados, os pesquisadores de- vem partir para o repovoamento de recifes mais danificados, como os da Costa dos Corais. "Cuidar da saúde dos

corais é uma tarefa dos governos, como prevê a Convenção da Biodiversidade, assinada na Rio-92", comenta Castro. "Como sabemos que o governo tem li- mitações, tentaremos suprir parte des- sa necessidade de outra forma."

M as essa nao e a única maneira de evitar o desaparecimento dos recifes. Medidas aparentemente mais

simples, como a criação de zonas de proibição de pesca, turismo e extração de outros seres vivos, contribuem, ain- da que de modo indireto, para a recu- peração dos recifes. É o que revelam estudos do Projeto Recifes Costeiros, programa de preservação dos recifes da Costa dos Corais, coordenado por Mauro Maida, da UFPE. No ramo ex- perimental desse projeto, que conta com a participação do Ibama, dos órgãos estaduais do meio ambiente de Per- nambuco e Alagoas, e financiamento de US$ 1,75 milhão do Banco Intera- mericano de Desenvolvimento (BID), a equipe de Maida avalia a evolução de duas áreas de 5 quilômetros quadrados cada - uma em Tamandaré e outra em Paripueira -, classificadas por uma por- taria do Ibama como zonas de interdi- ção de turismo e pesca.

Ao longo de um ano, os pesquisa- doras realizaram 43 contagens das es-

OS PROJETOS

Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil

COORDENADORA BEATRICE PADOVANI FERREIRA - UFPE

INVESTIMENTO R$ 99.907,00 (Probio)

Projeto Coral Vivo

COORDENADOR CLOVIS BARREIRA E CASTRO - UFRJ

INVESTIMENTO R$348.167,00 (FNMA)

Projeto Recifes Costeiros

COORDENADOR MAURO MAIDA- UFPE

INVESTIMENTO

US$1,75 milhão (BID)

pécies de animais marinhos e do nú- mero de indivíduos encontrados nas áreas de acesso restrito e compararam com o resultado de 52 levantamentos feitos em duas áreas de recifes nas quais a pesca era permitida. A densidade de peixes, polvos e lagostas no setor de- marcado tornou-se quatro vezes supe- rior à observada na área aberta, revela a análise feita por Maida, Beatrice e a ocenógrafa Fabiana Cava. A concentra- ção de peixes, por exemplo, foi de um indivíduo por metro quadrado nas re- giões interditadas, enquanto nas zonas abertas havia um peixe em cada 4 me- tros quadrados. Até espécies raramente vistas em Tamandaré, como os meros, passaram a freqüentar a área sem pes- cadores. "Notamos ainda uma modifi- cação no comportamento dos peixes, que nesse setor se tornaram menos arredios à nossa presença", diz Fabiana. Os pes- quisadores brasileiros não são os úni- cos a defender essa alternativa para evi- tar a destruição dos corais.

A necessidade de estabelecer zonas de proibição de pesca e extração de se- res vivos próximas aos recifes parece ser um consenso internacional, já que a pesca em níveis superiores aos suporta- dos pela natureza é a principal causa da perda dos recifes - estima-se que são extraídas 3,5 toneladas de pescado por quilômetro quadrado de recife por ano no Brasil. "Apesar da severidade da crescente ameaça de poluição, de doen- ças e de branqueamento dos corais", comenta John Pandolfi, na Science de agosto, "nossos resultados mostram que os ecossistemas dos recifes de corais não sobreviverão mais que umas poucas dé- cadas se não forem imediatamente pro- tegidos da exploração humana."

Na mesma edição da revista, Teren- ce Hughes, da Austrália, fez uma proje- ção para os próximos 50 anos do au- mento da temperatura dos oceanos e da elevação da taxa de gás carbônico dissolvido na água do mar, que torna frágil o esqueleto dos corais. Ele con- cluiu que, se esses problemas continua- rem a progredir na taxa atual, os recifes de corais enfrentarão nas próximas cin- co décadas uma mudança no ambiente marinho tão rápida quanto a por que passaram nos últimos 500 mil anos. Assim, podem até mesmo desaparecer, caso a taxa de mudança ambiental su- pere a capacidade de os corais se adap- tarem ao novo ambiente. •

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Estudo pioneiro: mergulhadores voluntários avaliam a saúde dos recifes

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0 mero, peixe de até 400 quilos, e o coral-cérebro Mussismilia, abaixo, a ser criado em laboratório

Beleza ardente: exemplares do coral-de-fogo-galhado, com ramos

que provocam queimaduras

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