estrangeiro sim, turista nunca - a ponte

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C 12 Dezembro 2012

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Matéria produzida na disciplina de Impresso II da Universidade de Fortaleza para a revista laboratorial de jornalismo A Ponte.

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Diplomacia sempre foi algo que nos fascinou. Defender interesses nacionais com apenas argumentação, evitando usar a violência, parece atitude divina. Quando o tema da revista nos apareceu, não pudemos deixar de pensar no brasileiro mais estrangeiro de todos: o diplomata. Localizamos um ex-diplomata cearense, que vive em Fortaleza trabalhando para o governo e exercendo a atividade de professor de Direito Internacional. Nosso primeiro contato com foi por meio de uma rede social, por indicação dos seus alunos – o que foi uma surpresa, já que não sabíamos o que esperar, nem como proceder. Afinal, qual a imagem lhe vem quando você pensa em um diplomata? Seriedade, formalidade ou qualquer coisa parecida, menos ser um ativo navegante das redes sociais. Com um pouco de receio, foi o que fizemos. Para nossa maior surpresa, mesmo vestindo terno e gravata em um encontro com duas universitárias, Paulo Henrique Gonçalves Portela foi tão simpático e receptivo quanto qualquer brasileiro quando vê um estrangeiro pelas redondezas.

TEXTOS Isabelle Bedê e Thalyta Martins FOTOS Acervo Pessoal

Estrangeiro

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Marcamos a entrevista na cafeteria de uma livraria, afi nal, a livraria é um lugar diplomático: livros dos

mais diversos gêneros, posicionados em pra-teleiras, sem distinção de valor entre eles. E as pessoas que passam visitando esses conjuntos de páginas com conhecimento e emoções, respeitam cada um deles – a livra-ria é sagrada, é território internacional, não existe espaço para a briga. Paulo Henrique, o ex-diplomata, chegou super sorridente, já fazendo com que nos sentíssemos a vontade em sua presença – não havia o que temer, ele se mostrava de braços abertos. Quando se sentou, explicamos como funciona uma reportagem, sua diferença para a notícia co-mum de jornais diários e, antes de fazermos qualquer pergunta, ele encontrou sua posi-ção confortável na cadeira e nos perguntou por que o escolhemos. Ele mesmo responde: “Infelizmente só existe um ex-diplomata ce-arense na cidade, que sou eu. Os outros já morreram, o que é uma pena”, ele emenda logo, assim mesmo, enquanto explicamos nossa escolha.

inFluÊnciASUma característica marcante e impossível de não notar em Paulo é, defi nitivamente, que ele fala muito. Antes que pontuássemos per-guntas, ele, em modo de depoimento, já res-pondia várias delas. Falou com amor sobre seu intercâmbio na Dinamarca, aos 19 anos de idade, e sobre seu estágio de três meses na Argentina pelo Itamaraty - era fascinante a forma como ele esboçava um panorama apaixonado da vida de um internacionalista. Criado em família de classe média, o garoto que sonhava em ser piloto de avião e ouvia histórias de mundos distantes contadas pelo avô, sempre foi interessado por assuntos in-ternacionais - conforme a memória do entre-vistado, desde os 11 anos de idade. Porém, essa certeza só se consolidou quando fez um intercâmbio de um ano em terras nórdi-

cas, onde diz que se tornou uma espécie de embaixador do Brasil e da Santa Sé. “Lá eu acabei virando um diplomata, porque as pes-soas acabavam perguntando muito sobre o Brasil e também, como eu sou católico e lá as pessoas são luteranas ofi cialmente, sobre as coisas da Igreja Católica.” Foi ainda na ju-ventude que afi rma ter vivido a maior aula de cidadania da sua vida, quando uma crian-ça dinamarquesa passou pela porta de uma loja, deixando-a fechar na “cara” do ilustre

cearense que vinha logo atrás e, por isso, foi repreendido seriamente pela mãe. “Eu levei uma portada no meu lindo nariz, e aí vi o dis-curso que a mãe dele fez e o que me marcou foi: ‘É incrível, meu fi lho, como você não tem atenção pelas pessoas, atenção pelos ou-tros, atenção pelos demais’”, conta deixando transparecer que, desde sempre, é um ob-servador do cotidiano ao seu redor.

Encantado com as mais diferentes cultu-ras, Portela afi rma que a fé e o catolicismo

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é uma carreira muito difícil, exige muitos sacrifícios pessoais, embora tenha suas compensações, como a oportunidade ímpar de viver a história

fazendo com que nos sentíssemos a vontade em sua presença – não havia o que temer, ele se mostrava de braços abertos. Quando se sentou, explicamos como funciona uma reportagem, sua diferença para a notícia co-mum de jornais diários e, antes de fazermos qualquer pergunta, ele encontrou sua posi-ção confortável na cadeira e nos perguntou por que o escolhemos. Ele mesmo responde: “Infelizmente só existe um ex-diplomata ce-arense na cidade, que sou eu. Os outros já morreram, o que é uma pena”, ele emenda logo, assim mesmo, enquanto explicamos

Uma característica marcante e impossível de não notar em Paulo é, defi nitivamente, que ele fala muito. Antes que pontuássemos per-guntas, ele, em modo de depoimento, já res-pondia várias delas. Falou com amor sobre seu intercâmbio na Dinamarca, aos 19 anos

arcamos a entrevista na cafeteria de uma livraria, afi nal, a livraria é um lugar diplomático: livros dos

mais diversos gêneros, posicionados em pra-teleiras, sem distinção de valor entre eles. E as pessoas que passam visitando esses

é uma carreira muito difícil, exige muitos sacrifícios pessoais, embora tenha suas compensações, como a oportunidade ímpar de viver a

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sempre o acompanharam mesmo em luga-res onde a população é em sua maioria sem religião. “Quanto mais conheço o mundo, mais eu sou cristão”, nos revelou com orgu-lho.

“É muito importante que a gente se acos-tume com a ideia de que daqui pra frente nós não somos o umbigo do mundo. A fron-teira é bem ali no aeroporto, bem ali no por-to, a fronteira é o gringo que vai aparecer ali, a gente precisa aprender a tratar com essas pessoas, a gente precisa aprender a cultura

deles, a entender os gestos, as expectati-vas, a gente tem que se acostumar com

essa internacionalidade da vida”, diz Paulo sobre a importância de se en-volver em assuntos internacionais.

VidA dE diPlomAtANos perguntamos: Como alguém que nutre todo esse amor pelos mais diferentes povos largou a diplomacia? Uma profi ssão al-mejada por muitos que querem a oportunidade de represen-tar sua pátria. O Instituto Rio Branco tem um dos concursos mais difíceis do Brasil, e Pau-lo Henrique Portela, na épo-

ca recém-formado em Direito pela Universidade Federal do

Ceará (UFC), passou de primeira em 6º lugar no concurso – já havia

concluído o primeiro passo de um sonho, passou com êxito pela primeira etapa.

Ele fi ca desconfortável ao falar sobre o desligamento com o Itamaraty - é visível no-tar que é algo que o machuca. Tendo larga-do a diplomacia principalmente por motivos pessoais, ele também parece um pouco frus-trado com o que viveu. “É uma carreira mui-to difícil, exige muitos sacrifícios pessoais, embora tenha suas compensações, como a oportunidade ímpar de viver a História” ex-plica. Apresenta três motivos que o teriam

sempre o acompanharam mesmo em luga-res onde a população é em sua maioria sem religião. “Quanto mais conheço o mundo, mais eu sou cristão”, nos revelou com orgu-lho.

“É muito importante que a gente se acos-tume com a ideia de que daqui pra frente nós não somos o umbigo do mundo. A fron-teira é bem ali no aeroporto, bem ali no por-to, a fronteira é o gringo que vai aparecer ali, a gente precisa aprender a tratar com essas pessoas, a gente precisa aprender a cultura

deles, a entender os gestos, as expectati-vas, a gente tem que se acostumar com

essa internacionalidade da vida”, diz Paulo sobre a importância de se en-volver em assuntos internacionais.

VidA dE diPlomAtANos perguntamos: Como alguém que nutre todo esse amor pelos mais diferentes povos largou a diplomacia? Uma profi ssão al-mejada por muitos que querem a oportunidade de represen-tar sua pátria. O Instituto Rio Branco tem um dos concursos mais difíceis do Brasil, e Pau-lo Henrique Portela, na épo-

ca recém-formado em Direito pela Universidade Federal do

Ceará (UFC), passou de primeira em 6º lugar no concurso – já havia

concluído o primeiro passo de um sonho, passou com êxito pela primeira etapa.

Ele fi ca desconfortável ao falar sobre o desligamento com o Itamaraty - é visível no-tar que é algo que o machuca. Tendo larga-do a diplomacia principalmente por motivos pessoais, ele também parece um pouco frus-trado com o que viveu. “É uma carreira mui-to difícil, exige muitos sacrifícios pessoais, embora tenha suas compensações, como a oportunidade ímpar de viver a História” ex-plica. Apresenta três motivos que o teriam

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Paulo em uma

de suas visitas à

Amazônia

levado a desligar-se da diplomacia. Um deles está relacionado às constantes mudanças na carreira, demostrando que tem um forte laço com a terra natal. Um outro foi o sistema de hierarquia do trabalho, que, segundo ele, pode ser comparado ao das Forças Armadas - “As pessoas precisam saber se se adaptam a ambientes hierárquicos”. Finalmente, a con-duta do diplomata é observada por seus co-legas, sendo necessário um comportamento irretocável já que representa a imagem de uma nação. “Um comportamento, digamos, inusitado, vai manchar a imagem do seu país no exterior. Você vai fazer uma festa, faz ba-rulho. É grave? É. Como diplomata é dez ve-zes mais. Tem que ter a consciência de que é uma pessoa pública”.

Paulo ri ao falar que a impressão que temos de um diplomata é a formalidade,

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A lista de diplomatas brasileiros envolvidos com as mais diversas formas de expressões artísticas, como literatura e música, é vasta. nomes como Guimarães rosa, João cabral de mello neto, rubem braga, Antônio houaiss e Vinicius de mo-raes estão no hall de brasileiros que escolheram essa carreira que acabou lhes oferecendo o mundo como mesa de trabalho, povos e culturas diferentes como parceiros de viagens, além de oportunidades de vivenciar conflitos políticos – mas, sobretudo, sociais - dentro ou fora de seu país. mas qual seria o motivo dessa galeria de celebridades no itamaraty? Provavelmente, a sensibilidade que une todos eles. A diplomacia agrega os valores que a arte tem em sua essência: liberdade, tolerância, capacidade de reflexão, humanidade - todo um conjunto de estímulos dos quais podem brotar produções inimagináveis, como muitas que existem no brasil. o nordestino Joaquim nabuco (1849-1910), humanista que se opôs veemente à escra-vidão e dono de uma rica obra histórica, foi o primeiro em-baixador brasileiro nos EuA, onde recebeu título de doutor na renomada universidade de Yale. mesmo não sendo um profis-sional do serviço exterior, o multi-funcional Euclides da cunha (1866-1909) também cumpriu missões diplomáticas. A partir de dois artigos intitulados A nossa Vendeia, ele foi convidado para ser correspondente na Guerra dos canudos pelo jornal Estado de São Paulo, em 1897. dessa experiência, surgiu um clássico da literatura brasileira: os Sertões.

Já o comportamento mais artista do que politicamente correto do “poetinha”, Vinicius de moraes, fez com que ele fos-se afastado do corpo diplomático brasileiro em 1968, após a instituição do Ai-5 pelo regime militar. Em 2010, a câmara dos deputados brasileira homenageou o artista, aprovando sua promoção póstuma a embaixador. Embaixador puramente e simplesmente da alma musical brasileira, que dizia nada mais ser que “um labirinto em busca de uma saída”.

A diplomacia e a arte

Talvez o mais prosaico da minha carreira foi não ter vivido esse glamour”

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os rituais, as viagens e o glamour de estar com personalidades importantes do cenário internacional: “O que eu vivi como diplomata foi a ralação” - muito diferente da imagem estereotipada de que um diplomata trabalha o tempo inteiro fora do país. “Você acaba morando muito tempo em Brasília também, metade da sua carreira mais ou menos vai ser lá, é o centro do Ministério, é a matriz, na matriz as coisas acontecem. É onde as coisas pegam fogo”, ele nos explica e trata logo de dizer que é mito essa história de rituais na diplomacia. “Até hoje ainda tem gente que pergunta se mulher pode entrar na carrei-ra diplomática! Não é uma carreira daque-les homens com os punhos de renda, com aquelas meinhas coladas, aquela coisa com peruca não. Não é!”. Ainda existem alguns protocolos tradicionais, como a cerimônia no

Vaticano com o corpo diplomático, em que os homens vão de fraque com suas conde-corações estampadas no peito e as mulheres com vestido longo de mangas compridas e véu, ou quando um embaixador chega em um país - mas isso é raro. O que prevalece mesmo é o trabalho que, muitas vezes, vai além do expediente. Os assuntos tratados durante o dia são reavaliados em jantares, coquetéis, e são nesses ambientes onde ocorrem grandes negociações. Segundo o ex-diplomata, “você é representante do seu país 24 horas por dia”.

Em um país em que o jargão “tudo acaba em pizza” é bem conhecido, somos surpre-endidas com a narrativa de uma negociação que Paulo Henrique presenciou e que, varan-do a madrugada, os diplomatas, enquanto negociavam paz pelo Equador (Peru e Equa-

dor passaram quase 150 anos em guerra por conflitos territoriais na fronteira entre os países), decidiram pedir uma pizza em plena uma hora da manhã. “O pessoal pensa que diplomacia é só ‘charlar’. Eu saí do Itamaraty mais de uma vez de madrugada por conta de negociações. Às vezes, uma pessoa do exterior tem que negociar ali.” Acrescentou, ainda: “Diplomata dá plantão. Sim, plantão! Acreditem. Eu já tive que procurar colchão para quem ia passar a noite no Itamaraty”.

Ainda sobre a falta de glamour na ativida-de diplomática vivida em diversas situações, Paulo relata: “O que eu vivi foi ir muito para a Amazônia, às vezes viajando em condi-ções precárias para me reunir com aldeias indígenas, atravessando o rio de voadeira, decolando de pista de terra, aviões da FAB [Força Aérea Brasileira] que os motores não pegavam, etc. Talvez o mais prosaico da mi-nha carreira foi não ter vivido esse glamour, mas sim uma carreira mais profunda, mais rústica. E muitos são assim.”

Apesar de ter saído do Itamaraty, Porte-la não deixou de ser um internacionalista, afinal, hoje leciona Direito Internacional em uma faculdade de Fortaleza. Ele fala que mesmo que tenha passado por maus bo-cados enquanto morou em Brasília, a sua carreira como diplomata lhe ensinou muitas coisas e o proporcionou viver experiências que enriqueceram bastante a sua visão de mundo e sua profissão.

AméricA do Sul Com relação às experiências memoráveis du-rante os dez anos em que esteve no Itamara-ty, ele relata que como sempre esteve rela-cionado a temas sul-americanos (trabalhava na divisão da América Meridional 2, com foco em assuntos de teor político), acompanhou a ascensão do ex-presidente venezuelano Hugo Chavez, o apogeu e queda do ex-presi-dente peruano Alberto Fujimori e a ascensão do atual presidente da Bolívia, Evo Morales,

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mesmo de longe, quando ele acenava como um “cocaleiro” nos anos 1990. “Foi uma ex-periência profissional muito interessante”, garante.

Paulo Henrique pontua a importância da política de boa vizinhança que o Brasil con-segue manter, mas que mesmo assim ainda é visto como imperialista por alguns desses vizinhos, mesmo que sequer tenhamos po-derio militar. “Bom, no Tratado de Tordesi-lhas nós íamos só de Belém à Laguna, hoje nós chegamos quase ao Pacífico. Então isso não é bem visto em alguns países”, explica citando o exemplo da Bolívia, que perdeu o território do Acre para o Brasil, e da Argenti-na que nos considera “El gigante” pela força econômica.

JEitinho brASilEiroDas vivências em outros lugares, ficou a cer-teza de que na ausência do seu país você acaba por valorizar mais algumas caracte-rísticas da sua cultura que, provavelmente, passavam despercebidas. O famoso jeiti-nho brasileiro, considerado pela maioria um ponto negativo na personalidade do povo verde-amarelo, para o nosso entrevistado, esse jeito também pode ter lá suas vanta-gens. Antes de ficarmos confusas, ele logo tratou de explicar: “Mostra que o brasileiro tem uma capacidade tremenda de improvi-sação, de sair das saias justas, de adapta-ção. Algumas pessoas no exterior são muito metódicas, é só naquele momento, só ali, só agora”. O que nos diferencia dos europeus, por exemplo, que seguem os procedimentos à risca, beirando a frieza nas relações, é uma das coisas que faz com que o entrevistado valorize mais sua terra e seu povo. “Não é à toa que nós fomos o país da hiperinflação nos anos 1980, mas como é que o Brasil não quebrou? Porque o brasileiro tem essa capa-cidade de se livrar das situações mais ‘enca-lacradas’ [difíceis] possíveis”, ele diz com um sorriso gigante de quem matou a charada.

o estado do ceará também tem o seu espaço para os que desejam ser futuros diplomatas ou tem grande interesse em assuntos internacionais. A Simulação da organização das nações unidas (Sonu) é o primeiro modelo a simular organismos internacionais no ceará. instituída em 2005, a Sonu começou como um trabalho acadêmico do curso de direito da universidade Federal do ceará (uFc). o interesse e o fascínio fizeram com que os alunos dessem continuidade ao projeto. realizada em parceria com a universidade de Fortaleza (uniFor), o evento visa reproduzir fidedignamente o ambiente das discussões internacionais – a vestimenta é formal e um dos comitês é simulado totalmente em inglês – a fim de debater soluções, treinar oratória e aprofundar-se em assuntos importantes no âmbito internacional. A Sonu acontece todos os anos, durante quatro dias, na uFc e na uniFor, e traz para o evento profissionais da área de relações internacionais e direito internacional com o intuito de explicar a pratica dessa áreas de atuação e falar sobre as perspectivas de mercado. A prática de simulações teve seu início da universidade de harvard, nos Estados unidos, em 1927. desde então, países do mundo inteiro, em suas mais diversas cidades, realizam esse tipo de evento.

Simulação da onu no ceará

ViSão dE mundo“O bom cosmopolita tem que conhecer bem sua aldeia. Nessa aldeia global, se valoriza muito as identidades, por isso ser cosmopo-lita não impede de você gostar da sua al-deia. Nesse mundo, onde você vai de Nova York para Paris e come BigMac, ficou inte-ressante comer um BigMac com tempero francês”, continua a falar sob o seu ponto de vista e sua admiração pela globalização.

Perguntamos se ele se sentia um cida-dão do mundo, ou um estrangeiro em seu país, depois dessas experiências. Ele nos surpreende com sua resposta: “Por mais que você já tenha lido sobre, alguma coi-sa sempre vai ser estranha! Como a minha perplexidade na Turquia diante daquela

língua. Ou o tratamento do italiano com a gente em Roma. Mesmo a gente tendo um pouquinho de desenvoltura, ainda somos estrangeiros. Mas acho que ser estrangei-ro é bom porque nos faz manter os olhos abertos. O ‘não ser dali’ acaba sendo gos-toso. Afinal, você se identificar muito com aquilo perde a graça”. Paulo Henrique Por-tela mostra uma personalidade bastante diplomática: a capacidade de reconhecer as diferenças e, em vez de condená-las, admirá-las. “Conhecer outras culturas é sempre bom para ampliar nossa visão de mundo. É sempre bom para ampliar nos-so conhecimento acadêmico, sempre bom para a gente ampliar o sentimento do outro e a tolerância. Mas, seria muita pretensão

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minha dizer que eu sou uma pessoa mais inteligente que a média ou mais tolerante que a média, porque ter conhecido o que eu conheci é só o começo. O universo das relações internacionais é muito vasto. São 193 países! No mundo atual, as coisas mu-dam muito rápido. Então se você naquele momento teve um contato com o exterior e um aumento no nível da tolerância, se eu quiser manter esse nível de entendimento, eu tenho que me manter antenado, senão eu me perco. Porque as relações interna-cionais são complexas! Ainda hoje, mesmo

Para quem tem interesse em seguir carreira no itamara-ty, existem alguns requisitos, tais como:- ser brasileiro nato;- ter mais de 21 anos de idade;- estar em dia com o serviço militar e com as obrigações de eleitor;- ter concluído, antes da inscrição, curso superior reconhecido pelo mEc;- perfil mínimo em outras línguas como francês e espanhol é importante para os exames classificatórios;Sem restrições de gênero ou idade máxima, o concurso é realizado pelo instituto rio branco anualmente desde 1946, e as vagas dependem da necessidade do ministério das relações Exteriores. detalhado em edital, o conteúdo das provas elimi-natórias são sobre língua Portuguesa, inglês, história Geral e do brasil, Geografia, direito, Economia e Política internacional. Após ser aprovado, realiza-se um estágio de dois anos, orga-nizado nos moldes de um curso de mestrado, e entra-se para a carreira diplomática como terceiro Secretário. os cargos seguintes são os de Segundo Secretário, Primeiro Secretário, conselheiro, ministro de Segunda classe e ministro de Primeira classe (Embaixador).

como se tornar um diplomata?

com a velocidade da informação e as re-des sociais, tudo ainda muda muito rápido. Em janeiro, eu estava hospedado em um hotel na Turquia na praça onde ocorreram os protestos que geraram e inspiraram os protestos aqui! Em 20 minutos tudo pode mudar”.

As mesas ao nosso redor foram se esva-ziando enquanto o nosso longo bate papo parecia não ter hora para acabar. Até o mo-mento em que Paulo Henrique Portela per-cebe o adiantado da hora e começa os pre-parativos para a nossa despedida, já que ele

tinha um compromisso familiar ainda na-quela noite de sexta-feira. Pedimos a conta ao garçom e, ao ensaiarmos querer pagar o que havíamos consumido, ele abraçou o porta conta e foi gentil, fazendo questão de realizar o pagamento. Nos despedimos com planos de manter grupos de discussão sobre assuntos de todas as ordens, dessa vez sem gravadores e títulos entrevista-do/entrevistador. A entrevista chegara ao fim, mas não o interesse em debater o âmbito internacional e ouvir causos da vida de Portela.

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Brasil em números• 288 postos pelo mundo;• 1557 diplomatas no País;• 25 cearenses na ativa;

*dados de 2008-2012

Oswaldo Aranha (1894-1960)Em um mundo pós-guerra, foi o primeiro a presidir uma As-sembleia Geral da ONU, e, como chefe da delegação brasileira, defendeu a criação do Estado de Israel na Palestina.

Brasil em números

*dados de 2008-2012

Oswaldo Aranha (1894-1960)Em um mundo pós-guerra, foi o primeiro a presidir uma As-sembleia Geral da ONU, e, como chefe da delegação brasileira, defendeu a criação do Estado de Israel na Palestina.

Alexandre Gusmão (1695-1753)Pioneiro na área no País e teve papel fundamental no Tratado de Madrid, para substituir o Tratado de Tordesilhas. Quando se defi -

Barão do Rio Branco (1845-1912)Considerado patrono da democracia no Brasil, ganhou o Instituto em sua homenagem. Foi responsável pelo Tratado de Petrópolis que anexou o Acre em 1903.

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Oswaldo Aranha (1894-1960)Em um mundo pós-guerra, foi o primeiro a presidir uma As-sembleia Geral da ONU, e, como chefe da delegação brasileira, defendeu a criação do Estado de Israel na Palestina.

Guimarães Rosa (1908-1967) e Souza Dantas (1876-1954)Na Segunda Guerra Mundial, mesmo proibidos pelo então presi-dente Getúlio Vargas, eles concederam vistos para o Brasil a judeus e minorias perseguidas pelos nazistas. Guimarães Rosa trabalhava como Cônsul-adjunto na embaixada brasileira em Hamburgo na Alemanha, enquanto Souza Dantas era embaixador na França.

San Tiago Dantas (1911-1964)Foi um dos precursores da política internacional brasileira. Criou a ideia de que “o Brasil pode andar com as próprias pernas”. Segundo o diplomata Campestrin Bettarello, é um marco na

Oswaldo Aranha (1894-1960)Em um mundo pós-guerra, foi o primeiro a presidir uma As-sembleia Geral da ONU, e, como chefe da delegação brasileira, defendeu a criação do Estado de Israel na Palestina.

Guimarães Rosa (1908-1967) e Souza Dantas (1876-1954)Na Segunda Guerra Mundial, mesmo proibidos pelo então presi-dente Getúlio Vargas, eles concederam vistos para o Brasil a judeus e minorias perseguidas pelos nazistas. Guimarães Rosa trabalhava como Cônsul-adjunto na embaixada brasileira em Hamburgo na Alemanha, enquanto Souza Dantas era embaixador na França.

San Tiago Dantas (1911-1964)Foi um dos precursores da política internacional brasileira. Criou a ideia de que “o Brasil pode andar com as próprias pernas”. Segundo o diplomata Campestrin Bettarello, é um marco na