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ESTEVÃO DE EMAÚS EDITORA AVE-MARIA

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ESTEVÃO DE EMAÚS

EDITORAAVE-MARIA

Dedico este livro a Sonsoles e Fernando, amados filhos que consagraram a vida ao Santo Nome de Jesus.

Agradecemos especialmente à madre Hilda e a todos as monjas do Mosteiro Abba Pai pela oração contínua e

pelo apoio ao projeto Fraternidade.

Também agradecemos ao Frei Alberto Justo pelas orações e pela amizade.

Um agradecimento muito especial a Adriano, Branca, Sofia, irmã Margarida, Geraldo e a todos os leitores

do blog da oração de Jesus.

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Introdução

Os torrões são grandes. E vão se desintegrando à me-dida que rolam sob o arado do lavrador que, à moda antiga, cultiva a terra com as mãos.

A enfermeira prepara com delicadeza a medicação so-bre a bandeja impecável. Olha alternadamente as receitas e os frascos de onde extrai o material receitado para cada paciente.

O banco está abarrotado de pessoas inquietas que se quei-xam e se movimentam apressadas. O mensageiro entra numa longa fila no caixa 3, destinado ao pagamento de impostos.

Entre a cela e a capela, o claustro. Através dos vidros embaçados, o monge contempla pequenos botões de rosas rubis e o verde-esmeralda da folhagem úmida.

No recreio, as crianças gastam suas energias em jogos irreconhecíveis e deixam o ambiente barulhento com seus ruídos e gritos. A professora corrige os cadernos e põe os lápis no lugar ao passar pelas carteiras.

As cinco breves histórias descritas anteriormente são atuais, acontecem em nosso tempo, e seus protagonistas

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

praticam a oração de Jesus. São situações reais de amigos que encontram na oração do Nome de Jesus um espaço de calma em meio às tormentas. Essa forma de rezar tornou-se para eles um refúgio que os abriga das agitações do mundo contempo-râneo; que os protege dos vendavais que vêm de fora e dos que vêm da própria mente.

O mundo pode tornar-se hostil se deixarmos penetrar em nós a violência, a competitividade, a avarez e a cultura da aparência que parece impor-se ao próprio ser. Nossa mente é capaz de manipular os valores do meio em que vivemos e acaba virando uma inimiga, uma fonte de inquietude decor-rente de uma ansiedade interminável.

A oração de Jesus é um refúgio porque traz paz à alma; porém, não causa inércia. Ao contrário, promove a ação transformadora. O praticante assíduo sente-se fortalecido e, embora esteja no mundo, encontra em si mesmo a força suficiente para lidar com os estímulos e as reações. Esse es-paço interior, que antecede a resposta aos acontecimentos, possibilita ao ser humano atuar com deliberação, buscando coerência entre sua conduta e a mensagem do Evangelho.

A oração do Nome de Jesus, também conhecida como oração do coração, é uma vocação especial, um desejo de unificação profunda da alma, em geral, das “almas maduras” que viveram muito e intensamente e encontraram desventu-ra naquilo que os demais apreciam.

É um chamado convocando os arrependidos, aqueles que tomaram consciência de sua miséria, de suas motiva-ções mesquinhas, de seu ego e que, sem perder a esperança, desejam uma mudança radical. Não tem afinidade com o re-lativismo nem com o antropocentrismo; é acima de tudo um

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Introdução

alerta às pessoas que sabem e sentem que tudo nos foi dado e que nada acontece por acaso.

Implica uma ética centrada na virtude da humildade; esta, ao contrário do que a lógica poderia supor, não debi-lita nem reduz, mas fortalece aquela atitude espiritual que une firmeza e bondade de coração. O praticante firma-se no silêncio e transmite uma alegria serena; sabe como são inúteis os esforços despendidos sem que prestemos atenção à sagrada presença do divino.

Nascida já nas primeiras comunidades cristãs que busca-vam, na invocação do Nome de Jesus, reafirmar sua presença, essa oração faz parte da ascese individual de alguns padres do deserto antes do século V e sistematizou-se no oriente cristão, particularmente em Atos (Grécia), por volta do século XII. Ao se difundir em toda a região eslava e em alguns mosteiros russos até o século XIX, foi se incorporando à vida de alguns santos e monges do Ocidente que fazem menção a ela em seus escritos. Hoje, está arraigada na prática dos fiéis e dos religiosos nas igrejas do Oriente, mas também é muito difun-dida em nosso hemisfério.

A oração de Jesus tornou-se conhecida no Ocidente graças à publicação de Relatos de uma peregrina russa e à difusão dos tratados da obra Filocalia. Entretanto, a revolu-ção da mídia na internet é o principal fator da significativa expansão dessa oração nos dias de hoje.

Constantemente formam-se grupos de leigos em algumas paróquias dedicados a estudá-la, praticá-la e ensi-ná-la. Existem retiros que são realizados com a finalidade de aprendê-la, e é possível encontrar projetos de vida monástica voltados para a oração de Jesus. Praticamente não há livraria

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

religiosa que não tenha alguma obra que faça referência a essa oração.

A “via”, conhecida como a oração de Jesus, transcen-de as diferenças de gerações e até de culturas. Utiliza outros métodos para tratar da repetição sistemática de uma frase ou de uma palavra que unifica a mente em torno de um centro. Utiliza o corpo como apoio para enraizar-se na vida cotidiana, recorrendo à respiração ou ao coração como elo de respiração.

Essa oração “hesicasta” por excelência conta sobretudo com a presença viva da pessoa divina que é invocada. De modo quase sacramental, a menção do Nome de Jesus com fé e devoção, ou pelo menos com atenção, torna presente o Senhor ressuscitado. Para quem faz silêncio em seu coração, a presença do sagrado manifesta-se de forma perceptível aos sentidos do espírito, que acabam influindo nos sentidos do corpo, trazendo doçura para a vida.

A repetição contínua do nome de Jesus ou da frase escolhida na qual se inclui seu Nome nos ilumina de modo que tenhamos melhor percepção do que ocorre ao redor de nós, ajuda-nos a perceber o “outro” com mais profundidade. É como se as outras pessoas cobrassem de nós uma presença mais concreta. Também faz crescer claramente a consciência de nosso mundo interior. Revela-nos um novo rosto; como em um espelho, ficam evidentes as motivações escondidas sob a aparência das boas ações. O livro citado anteriormen-te, Filocalia, nos adverte que é preciso não desanimar diante desse novo conhecimento de nós mesmos e nos encoraja a perseverar, polarizando a alma em torno da presença de Jesus.

As cartas cheias de doçura que serão mostradas a se-guir, bem como as anotações sobre diversos temas, nascem

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Introdução

da experiência pessoal de um eremita de nossos dias que consagrou a vida à via do Nome como um caminho espiri-tual. As cartas são uma síntese de testemunhos que buscam iniciar o leitor na prática concreta da repetição do Nome. Lidas com atenção e tomadas como referência de conduta, são um meio eficaz para introduzir a pessoa nessa ascese, até mesmo fazendo-a enraizar-se nela.

As anotações sobre vários temas surgem de consultas de amigos pedindo, por e-mail, esclarecimentos e orienta-ções sobre diversos assuntos que vão aparecendo quando se inicia esse caminho para o coração.

Estamos convencidos de que a experiência pessoal do irmão Estêvão de Emaús será de muita utilidade para os leitores que a acolherem de coração aberto. Seu testemunho nos mostra que a corrente de espiritualidade profunda que despontou nas primeiras comunidades apostólicas permane-ce viva e com força renovada.

O hesicasmo atual, sob o manto do Santo Nome, ad-quire novo impulso em nossos dias, tanto que já se fala de um hesicasmo católico, muito próximo daquele que continua em vigor na espiritualidade de nossa irmã, a Igreja Ortodoxa. É reconfortante constatar que o sopro vital do Espírito Santo continua alentando as pessoas neste mundo que parece estar perdendo a noção de continuidade.

Invoquemos ao Senhor Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, para que seu exemplo e sua graça tornem nossos corações aprazíveis.

Fraternidade do Santo Nome

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A mente errante

1a cartaEstimados amigos e amigas da oração de Jesus,

Começo minha relação epistolar com vocês tratando de uma situação que se caracteriza por um movimento in-cessante, um diálogo constante, uma oscilação permanente. É nossa mente errante que se move como pluma levada pelo vento.

É preciso ter consciência do estado de nossa mente, do modo como ela nos manipula, e perceber quão escravos somos de seus vaivéns.

O fato é que nela se reflete o movimento dos hu-mores do corpo. Cada processo digestivo, cada ritmo respiratório, cada movimento dos órgãos, cada tensão muscular, é reflexo imediato, sem que percebamos, de uma agitação mental. É o que costumamos chamar de “diva-gação”, porque o pensamento é algo ordenado e fruto de uma intenção.

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

Se observarmos atentamente, perceberemos que são escas-sos os pensamentos criteriosos e que, geralmente, eles se formam baseados na ansiedade que nos aprisiona a diversos desejos.

A oração é um caminho amplo e profundo que sem dúvida não tarda em mostrar seus efeitos. No entanto, para isso é preciso ter claro o primeiro objetivo: substituir a diva-gação pelo ato de rezar.

Ainda que não pareça, esse permanente rumor profun-do que constitui os diálogos internos pode ser silenciado em pouco tempo, mediante a repetição do Santo Nome de Jesus Cristo. Assim que a oração tornar-se um hábito mental, será o momento de novas etapas de aprofundamento, adoração, silêncio e contemplação.

Entretanto, para adquirir esse santo costume, é preciso rea-lizar uma ação interior de renúncia à divagação mental. O silêncio dos lábios sempre é útil quando resulta do silêncio mental. Por outro lado, quem cala por fora pode estar gritando por dentro.

Há quem acredite que a oração de Jesus, também chamada de oração do coração, é um método concebido como “caminho”; e não é errado pensar assim. No entanto, aqueles que a praticam com assiduidade e por muito tempo estão convencidos de que é muito mais. É uma forma de viver na presença do Senhor e chega a mudar radicalmente a vida do praticante.

Quem se aprofunda nessa oração não volta mais atrás. É necessário refletir antes de adotá-la. Ela aumenta a própria consciência de tal maneira que a pessoa se sente pequena, necessitada ao extremo da ajuda divina, e a presença de inú-meras debilidades fica evidente.

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A mente errante

Do ponto de vista da psique, quem abraça esta oração tem de ir se despedindo dos pensamentos. A principal di-ficuldade não está em acostumar-se com a oração, mas em renegar os pensamentos. Isso acontece porque costumamos nos identificar com o discurso da mente.

Mas não é bem assim. Não somos aquilo que falamos a cada instante, não sou a pessoa que pensa isso ou aquilo; não sou essa opinião nem o juízo ou crença sobre isso ou outras coisas mais. Demoramos, porém, a descobrir isso.

Por experiência própria, não pelo que demoramos, porém, o descobrir isso foi dito ou lido, chega-se a descobrir que Cristo habita no coração como luz contínua. A luz desse formoso fulgor vai revelar o rosto daquele que busca sincera-mente e que escolheu o Nome do Senhor como ferramenta, bandeira e objeto de devoção.

Quem é muito apegado aos próprios pensamentos não deveria iniciar este caminho. Nem quem está conformado com sua vida espiritual. Este caminho é para aqueles que ainda não encontraram Deus, para os que não se sentem satisfeitos com seus progressos, para os que, às vezes, sentem que fracassam continuamente em seus empreendimentos. E é útil para estes não necessariamente porque as coisas vão mal, mas porque não se sentem realizados em nenhuma atividade.

O Senhor nos chama por diversos caminhos, e todos são adequados para cada pessoa. Para essa via, também há um chamado. Frequentemente manifesta-se como uma inclinação do coração para a simplicidade. Como um desejo de silêncio e de evitar complicações. E também como um crescente amor a Cristo Jesus e uma admiração profunda por Ele. Por isso, como primeiro passo, é preciso acostumar a mente à oração.

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

Há os que pegam papel e lápis e anotam os passos, como se costumava fazer antigamente nos colégios repetin-do a escrita de uma frase. Há os que saem caminhando, e seus passos seguem como se estivessem acompanhando o ritmo. Outros pronunciam a oração com os lábios sempre que podem ou a cantam. Também tenho visto os que, senta-dos e quietos, buscam a lenta inspiração do Nome.

O iniciante deve encontrar a própria porta de ingresso. O Pai do Céu nos fez diferentes.

Em geral, há algo comum que pode servir a todos:

z Ao se despertar, no momento em que tomar cons-ciência de um novo dia, pronuncie a oração de Jesus uma ou várias vezes com tranquilidade, com os lá-bios ou mentalmente, quando se veste e se prepara para a jornada.

z Repita-a em cada momento de solidão ou de pausa no agito cotidiano, em um elevador, enquanto es-pera a condução ou vai ao banheiro.

z Recorra a ela cada vez que se encontrar inquieto, angustiado ou disperso. Então, diga com sentimen-to profundo a frase escolhida para fazer seu pedido.

z Ao se deitar, ao se trocar, ao se cobrir, ao entrar num sono reparador, pronuncie o Nome confiando na misericórdia daquele que invoca.

Seguem alguns pontos referentes às frases ditas quan-do fazemos a oração de Jesus:

z A jaculatória, “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”, além de ser uma

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A mente errante

forma tradicional, oferece vantagens que serão abordadas em outro momento. Há quem substitua a palavra “piedade” por “misericórdia”, acreditando que, assim, ao invocar o Senhor, aproxima-o mais do próprio coração.

z A oração escolhida pode ser encurtada sem pro-blemas, de acordo com a sensação do suplicante no momento. Em adoração contínua, muitos chegam até a pronunciar somente Jesus Cristo!... Jesus Cristo!

z Estejamos atentos em pronunciar a oração com sen-timento, enfatizando com emoção as palavras, mental ou oralmente. No entanto, não devemos desanimar se porventura a rezarmos sem perceber e, em algumas vezes, inconscientemente.

O importante é que, por si só, ela esteja sendo escul-pida em nosso templo interior, ainda que não nos demos conta. É melhor repetir seu Nome mesmo sem perceber do que divagar inconscientemente ao vento.

Em outro momento, trataremos do mistério que se revela quando o mesmo Nome torna presente aquele que se invoca.

Invocando a Jesus Cristo, fonte de toda a misericórdia, eu vos saúdo.

Leituras bíblicas recomendadas: Rm 7,12-25; 8,5-17.

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A tirania do corpo

2a cartaEstimadas amigas e amigos da oração de Jesus,

Continuando a nossa correspondência, comento hoje com vocês sobre o poder que o corpo mal-acostumado pode chegar a exercer sobre o nosso ser.

As leituras bíblicas recomendadas na carta anterior apon-taram a necessidade de nos prepararmos para o tema da tirania, algo difícil de aceitar em razão da forte influência da cultura atual, que caminha em sentido contrário.

Nosso corpo é templo do Espírito Santo. Seu fun-cionamento não pode explicar-se pelo movimento de suas partes, tampouco pela relação dele com os órgãos, mas por uma força que anima, sustenta e transforma a carne em um ser humano vivo.

Também podemos dizer que nosso corpo é um caminho para a experiência terrena. Através dele e de seus sentimentos chegam até nós as várias informações que, depois de organiza-das, constituem o que chamamos de experiência.

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

Dessa forma, esse organismo se converte em um instru-mento para comunicar nossas intenções ao mundo dos homens e ao mundo da natureza. Transforma-se em ferramenta.

A oração de Jesus, depois de praticada intensamente, possibilita-nos a experiência pessoal do Espírito Santo. Faz-nos experimentar o transcendente no cotidiano e coloca nosso instrumento corporal a serviço dos outros.

O corpo é algo que causa maravilha; seu desenho e suas reações deslumbram quem contempla atentamente seu funcionamento. Entretanto é preciso ajustá-lo para a função que lhe foi designada desde o princípio: a de servir a alma para a busca de Deus.

Se, em vez de instrumento para a elevação espiritual de si mesmo e do próximo, ele passa a dominar nossa vida, a infelicidade crescente e a dor progressiva mostrarão a incon-veniência de deixá-lo no comando.

Se permitirmos que os desejos do corpo regulem nossas atividades, nossa conduta vai se aproximar aos poucos da dos animais. Ela passará a constituir nossa natureza se não dominarmos a alma com a influência benfazeja do espírito.

É como se um sono reparador se transformasse na inércia profunda que nos mantém vegetando em sonolência. A sexualidade casta e amorosa, que pode espelhar o amor divino, termina em devassidão, ansiedade constante e ani-quilamento da vida. A alimentação saudável, que, graças às provisões da natureza deveria fortalecer o ser humano, ter-mina minando nossa razão, levando-nos a uma situação de moléstias e múltiplas disfunções.

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A tirania do corpo

Toda a sociedade e a cultura atual estão preocupadas com a satisfação do efêmero, buscando prolongar as coisas essencialmente fugazes. Não é de estranhar o crescimento da depressão, o tédio existencial, as inúmeras manias e as mais diversas formas de violência.

A simplicidade da vida evangélica, ao contrário, aponta para a experiência paradisíaca, para aquela condição sagrada em que fomos criados e para a qual podemos retornar quan-do a graça do Espírito Santo assume o controle de nossa vida. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem” (Sl 127[128],1).

Qual seria então nossa tarefa? Devemos fazer nos-sa parte, pôr ordem em nossa vida corporal e material enquanto vamos centralizando a mente e o coração na oração de Jesus.

Essa é uma tarefa possível, necessária, imprescindível. O resto é graça.

A essa ascese dos pensamentos de que falamos e ao trabalho de centralizá-los, unificando-os em torno do Santo Nome, há de corresponder uma ascese do corpo, uma estrutu-ra de moderação mínima que pelo menos não seja contrária à que queremos realizar no nível superior.

Seguem algumas sugestões gerais de acordo com cada caso:

z Nas coisas materiais e corporais, limite-se ao ne-cessário, evitando o supérfluo. Assim, o descanso, a alimentação, o trabalho e o lazer têm uma medida que a consciência guiada pelo Evangelho consegue rapidamente determinar.

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A oração do Nome de Jesus: orar no coração

z Os antigos monges chamavam essas medidas de nepsis (sobriedade), que nada mais era que uma escola para aprender a ser moderado: pensar só o necessário, falar só o necessário em cada circunstância da vida. Isso nos permite rezar o ne-cessário, isto é, sem cessar, como se lê em Lc 18,11 e 1Ts 5,17.

z Pode ser útil realizar individualmente uma revisão das próprias condutas a fim de detectar aqueles aspectos da vida em que se manifesta a falta de mo-deração, as coisas que estão fora do centro e as que não se adaptam à forma de agir de Cristo. Trata-se de um trabalho de reflexão pessoal; porém, pode ser muito útil conversar em grupos para promover o aprendizado uns com os outros.

Assim como na carta anterior fazíamos referência à necessidade de estar disposto a renunciar aos próprios pensamentos que levam à divagação, hoje enfatizamos a necessidade de se dispor a assumir o controle do próprio corpo e a convertê-lo em instrumento eficaz de crescimen-to espiritual. Isso pode levar tempo e não será fácil; porém não será conseguido sem uma forte determinação de levar a tarefa adiante.

É muito conveniente que essas coisas sejam compreen-didas com tranquilidade e profundidade. Não se iniciará adequadamente uma ascese e menos ainda será possível sus-tentá-la se não houver previamente uma compreensão plena de sua necessidade espiritual.

Quem se sente chamado a esse tipo de oração deve saber que, para progredir, deverá ter por norma conceder ao

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A tirania do corpo

corpo só o necessário, e nada mais, e à mente nada mais além da oração de Jesus.

Pouco a pouco a oração começa a nos transformar e se torna contínua e ininterrupta. Desponta no olhar, na respiração, nos sentidos, revela-se como uma aura de bem-aventurança que atualiza em nós o Evangelho.

À medida que esse caminho vai se modelando, a pessoa começa a encontrar o seu coração interior, morada carnal e espiritual onde habitam Cristo e a plenitude da graça.

Invocando a Jesus Cristo, fonte da paz verdadeira, eu vos saúdo.

Além das leituras antes mencionadas, recomendamos o texto de 1Cor 6,19.