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Brasil história .. República Velh2 - texto e contexto. Po r Me ndes Júnior, Antonio & Maranhão , Ri cardo. São Paulo, Brasi li en se, 1979. v. 3, 378 p. Cr$ 395,00. Com o surgimento do Bra sil his tória, texw e comexw , ago ra em se u volume t s dedicado à Re bl ica Ve lha, a edito ra Brasi - liense continuidade à publi- caçã o dessa obra in di spensável ao s estudant es da história na ci o- nal. Os dois volumes anteri or es fo - ram dedicados à Colônia ( 1 9761 e ao Império ( 1977) , se ndo que o presente conta do período cro- nologicamente situado en tre os anos de 1869 e 1922, ou seja, do fi- nal do Império ao surgimento do Tenentismo. As co nt estações ao regime que culminaram com a Re - volução de 30 ficarão para o quarto volu me (A Era de Vargas ), e o quinto e últi mo se intit ulará Contemporâneo . Mend es J r. e Maranhão, auxilia- dos por mais 13 au tores, escrevem 38 sintéticos ca pítulos da histó ria brasileira do período , acrescidos de detalhadas cronologias. indi- caçõ es bibliográficas, índices an alíticos e remissões do texto. Is- to faz com que a ob ra se constitua em eficiente instr umento didático, permitin do esclarecimentos ime- diatos sob re quaisquer dúvid as a respeito de nomes, datas e fatos compreendidos no es paço históri- co analisado. Acredito que o maior mérito deste volume didático, consa grado à memória do Prof. Duglas Teixei- ra Monteiro, concentra-se em rom- per com aquel a visão mecanicista da história , em que os fatos sociais e polític os acabam reduzindo-se a um mero reflexo da ação emp reen- dida por governantes e pelos heróis nac io nais. Ou sej a . enaltecem-se as ações isoladas e individuais em detrimento de mu- danças estruturais amplas , de complexidade coletiva. A grande maioria dos li vros didáticos de história adotados no primeiro e segundo graus delineia um qua- dro onde Solano Lopez e o povo paraguaio aparecem como uma horda de bárbaros, verdadeira excrescência humana que pre cisa - va ser purgada, segundo as pala - vras do es critor argentino Sa r- miento. Todavia , lendo o capítulo 53 , A guerra do Paraguai (p . 45- 64) , no início da parte 13 - O império sem bases - , é possível perceber que em 1 840 o regime pa- rag uaio promovia um desenvol- vimento autônomo onde o analfa- betismo havia si do erradicado e, tar:tbém, se fechava à penetração de manufaturas inglesas, dese n- volvendo uma vasta indústria arte- sanal. " No quadro de miséria, de- pendência econômica e poder lati- fundiário, característico da Amé- ri ca Latina . as potênci as não po - diam aceitar um Esta do ins ólito, que nacionalizava as terras e pro- movia o ensino obr igatório gratuito para todas as classes. Do ponto de vista dos políticos e Intelectuais ar- gentinos e brasileiro s, educados na Europa à custa do suor e do san- gue de es cravos e campone se s mi- seráveis, o Paragu ai era a barbárie . Era necessário integrá-lo à civilização, v aI e dizer, ao mercado mundial controlado pelas potên- c ias capiti:llistas. Consciente ou não disso, o governo brasileiro foi um dos executores dessa exigên- cia de imperialismo. Os esforços que o povo brasileiro te ve quedes - pender nessa luta, e as inúmeras e importantes conseqüências que ela teve para a nossa história, só po dem ser entendidos no quadro dessa hegemon ia do capital britâ- nico, que ao longo do culo XIX presidiu à próp ria forma de or gani- zação d as sociedades e dos Esta - dos do cont inente . O Pa rag uai ten- tou fi car de fora dessa hegemonia. E foi punido com o extermínio do seu povo." Este bem co ncatenado capítulo acompanha a ascensão de J osé Francia , o fun dador da nação com pode re s absolutos (era intitulado E/ Supremo) . bem como sua política de gu erra aos ricos e à lgre 1 d. re- sultando num país que cult:vava todas ou quase todas as culturas que se prestavam ao selo para- guaio, tornando- se auto-suficiente em seu abastecimento. Ao morrer, em 1840, não existia um só analfa- beto no país, caso único em toda a Amé rica Latina. Ca1· 1os Antonio Lopez. o su cessor, dá continuioa- de à sua obra, i nstituindo o ensino supe ri or, criando as primeiras indústrias de maior porte (fun- dição, fábrica de ar mas, pólvora, pa pel , tinta s), i nstalando o telégrafo e construindo, em 1861, duas fe rrovias. Seu filho, o sucessor Franc1sco Solano Lo- p ez, assume a presidência em 1862, mantendo o mesmo estilo do pai. "A altura o progresso do Pa raguc. :i era motivo de cobiça para as grandes potênc1as e países vizinhos. Desde 1861, su a ba lan ça de comér cio apresentava grandes sa ldos, ao con trário dos crônicos déficits das economias dependen- tes e agro-exportadoras da Améric c. ;_atina. "Sc:gundo o clás- sico trabalho de I eón Pomer, La Guerra de/ Paraguav/ gran nego- cio!, em 1860 as exportações gua- ranis chegaram ao dobro de suas importações. A re ferida visão estrutural do processo histórico, procurando in- terligar os acontecimentos econô- micos, sociais e políticos, pode ser observada em praticamente todo o pre sent e volume. Merecem desta- que alguns dos capítulos inseridos na pa rte 18 - Companheiros de boné - p ri ncipalmente os de número 75, 76 e 77, respectiva- mente Trabalho urbano e vida operária, Os socialistas brasileiros e a social-democracia, e Anarquis- tas e anarco-sindicalismo no Bra- sil. O mesmo pode ser dito com re- laç ão àqueles dedicados à indus: trialização e o intitulado Origens do proletaria do industrial do Brasil (70) . Acredito que nem todos os estudioso-s conc ordem com a ma· neira pela qual esses capítulos fo- ram desenvolvidos, mas eles são, juntamente com o dedicado à Guerra do Paraguai, os que con- R[ ·senha bibliogra}im 91

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Page 1: Este bem concatenado capítulo -texto e contexto. Antonio-texto e contexto. Por Mendes Júnior, Antonio & Maranhão, Ri cardo. São Paulo, Brasi liense, 1979. v. 3, 378 p. Cr$ 395,00

Brasil história .. República Velh2 - texto e contexto.

Por Mendes Júnio r, Antonio & Maranhão , Ri cardo. São Paulo , Brasi li ense, 1979. v. 3, 378 p . Cr$ 395,00.

Com o surgimento do Brasil história, texw e comexw, agora em seu vol ume três dedicado à Repúbl ica Velha, a editora Brasi ­liense dá co ntinuidade à pub li­cação dessa obra indi spensável aos estudantes da história nacio­nal. Os dois volumes anteriores fo ­ram dedicados à Colônia ( 19761 e ao Império (1977) , sendo que o presente dá conta do período cro ­nologicamen te situado en tre os anos de 1869 e 1922, ou seja , do fi­nal do Império ao surgimento do Tenentismo. As contestações ao regi me que culminaram com a Re­volução de 30 ficarão para o quarto volu me (A Era de Vargas), e o qu into e último se intitulará Contemporâneo .

Mendes Jr. e Maranhão, auxilia­dos por mais 13 autores, escrevem 38 sintéticos ca pítu los da história brasilei ra do período , acrescidos de detalhadas cronologias. indi­cações bibl iog ráfi cas, índices analít icos e remissões do texto . Is­to faz com que a ob ra se constitua em eficiente instrumento didático, permitindo esclarecimentos ime­diatos sobre quaisquer dúvidas a respeito de nomes, datas e fatos com preendidos no espaço históri­co analisado.

Acredito que o maior mérito deste volume didático, consagrado à memória do Prof. Duglas Teixei-

ra Monteiro, concentra-se em rom ­per com aquela visão mecani cista da história , em que os fatos sociais e políticos acabam reduzindo-se a um mero reflexo da ação empreen­dida por governantes e pelos heró is nacionais. Ou sej a . enaltecem-se as ações isoladas e individuais em detrimento de mu­danças estruturais amplas , de complexidade coletiva. A grande maioria dos li vros didáticos de história adotados no primeiro e segundo graus delineia um qua­dro onde Solano Lopez e o povo paraguaio aparecem como uma horda de bárbaros, verdadeira excrescência humana que precisa­va ser purgada, segundo as pala ­vras do escritor argentino Sar­miento. Todavia , lendo o capítulo 53 , A guerra do Paraguai (p . 45-64) , no início da parte 13 - O império sem bases - , é possível perceber que em 1840 o regime pa­rag uaio já prom ovia um desenvol­vimento autônomo onde o analfa­betismo havia sido erradicado e, tar:tbém, se fechava à penetração de manufaturas inglesas, desen­volvendo uma vasta indúst ria arte­sanal. " No quadro de miséria, de­pendência econômica e poder lati­fundiário, característico da A mé­ri ca Latina . as potências não po ­diam acei ta r um Esta do insólito , que nacionalizava as terras e pro­movia o ensino obrigatório gratui to para todas as classes. Do ponto de v ista dos polí ticos e Intelectuais ar­gentinos e brasileiros, educados na Europa à custa do suor e do san­gue de escravos e camponeses mi­seráveis, o Paraguai era a barbárie . Era necessário integrá-lo à civilização, v a I e dizer , a o mercado mundial controlado pelas potên­c ias capiti:llistas. Conscien te ou não disso, o governo brasilei ro foi um dos executores dessa exigên­cia de imperialismo . Os esforços que o povo brasileiro teve quedes­pender nessa luta, e as inúmeras e importan tes conseqüências que ela teve para a nossa história, só podem ser entendidos no quadro dessa hegemonia do capita l bri tâ­nico, que ao longo do século XIX presidiu à própria forma de organi­zação das sociedades e dos Esta ­dos do cont inente . O Pa rag uai ten­tou fi car de fora dessa hegemonia. E foi punido com o extermínio do seu povo."

Este bem concatenado capítulo acompanha a ascensão de José Francia , o fun dador da nação com poderes absolutos (era intitulado E/ Supremo) . bem co mo sua polít ica de guerra aos ricos e à lgre1d. re­sultando num país que cult:vava todas ou quase todas as culturas que se prestavam ao selo para­guaio , tornando-se auto-suficiente em seu abastecimento. Ao morrer , em 1840, não existia um só analfa ­beto no país, caso único em toda a América Latina. Ca1·1os Antonio Lopez. o su cessor, dá continuioa­de à sua obra, instituindo o ensino superior, criando as primeiras indúst rias de maior porte (fun­dição , fábrica de armas, pólvora, papel , tintas), instalando o telégrafo e construindo, já em 1861, duas ferrovias. Seu filho, o sucessor Franc1sco Solano Lo­pez, assume a presid ência em 1862, man tendo o mesmo estilo do pai . "A ( ~ssa altura o progresso do Paraguc.:i 1á era motivo de cobiça para as grandes potênc1as e países vizinhos. Desde 1861, sua ba lança de comércio apresentava grandes sa ldos, ao con trár io dos crônicos déficit s das economias dependen­tes e agro-exportadoras da Américc. ;_atina . "Sc:gundo o clás­sico trabalho de I eón Pomer, La Guerra de/ Paraguav/ gran nego­cio!, em 1860 as exportações gua­ranis chegaram ao dobro de suas importações .

A re ferida visão estrutural do processo histórico, procurando in­terl igar os acontecimentos econô­micos , sociais e políticos, pode ser observada em praticamente todo o presente vol ume. Merecem desta­que alguns dos capítulos inseridos na pa rte 18 - Companheiros de boné - pri ncipalmente os de número 75, 76 e 77, respectiva­mente Trabalho urbano e vida operária, Os socialistas brasileiros e a social -democracia, e Anarquis­tas e anarco -sindicalismo no Bra­sil. O mesmo pode ser dito com re­lação àqueles dedicados à indus: trialização e o inti tulado Origens do proletariado industrial do Brasil (70) . Acredito que nem todos os estudioso-s concordem com a ma· neira pela qua l esses capítu los fo­ram desenvolvidos, mas eles são, juntamente com o dedicado à Guerra do Paraguai, os que co n-

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Page 2: Este bem concatenado capítulo -texto e contexto. Antonio-texto e contexto. Por Mendes Júnior, Antonio & Maranhão, Ri cardo. São Paulo, Brasi liense, 1979. v. 3, 378 p. Cr$ 395,00

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têm as análises ma1s argutas sobre O -. período estudado . O comp!e · menta Manifestações culturais no fim do Império e na Primeira República, bem como o capítulo f-ormação do Partido Comunista Brasileiro acabam decepcionando o leitor, pois são sumários demais, contendo um mín imo de interpre­tação, talvez em virtude de pouco espaço editorial concedido aos co labor a dores .

F-inalizando, Brasil história: República Velha texto e contexto. bem como os dois ou­tros volumes dedicados respect i­vamente à Colônia e ao Império são obras de ângulo pedagógico, indispensáveis . Entretanto, em conversas com professores de história de ensino secundário ofi­cial , percebi que os esforços de Mendes Jr. e Maranhão seriam melhor recompensados se os volu­mes não fossem vendidos a quase CrS 400,00 cada . Se o preço fosse pouco acima da metade do atual - - o que só se conseguiria com ti­ragens superiores a 20 mil exem­plares - -, pelo menos um número maior de professores poderia adquiri-lo e transmitir aos inician­tes uma visão da história brasileira que fugisse às grandiloqüências das ações individuais, bem como ao puro e simples relato minucioso dos acontecimentos - especiali­dade que a maioria dos livros didáticos que ainda hoje se edita consagrou fartamente. O

Afrân io Mendes Catani

Revista de Administração de Empresas

Brasil 1990 - caminhos alter­nativos do desenvolvimento.

Por Rattner, Henrique, org . São Paulo, Brasiliense, 1979. 233 p .

Brasil 7990 é uma coletânea de en­saios organizada pelo Pro f. Henri­que Rattner com o objetivo de apre­sentar um balanço das questões mais prementes que o País tem possibilidade de enfrentar nos próximos anos . Entretanto. não se trata simplesmente de um in­ventário dos problemas a serem enfrentados, mas sim de uma ten­tativa de trazer à baila os desafios que tendem a surgir no cenário da vida econômica, política e social brasileira.

Um fundo cinzento representan­dq um corpo apertado por um cin­to preto cuja fivela está abotoada em seu último furo é o que está fo­tografado na capa do livro - capa tão interessante, quão pouco su­gestiva de épocas promissoras - e esta representação é confirmada pelas análises e prognósticos dos autores cujos trabalhos compõem a obra . Esta contém 1 O ensaios ela- : borados por 11 autores, dos quais : apenas três serão aqui brevemente descritos: Alternativas do futuro brasileiro, de Paul I. Singer; Pre­servar o meio ambiente, de Pierre J . Erlich ; e Ciência e tecnologia, de Henriquete Rattner. As análises desses autores apresentam farto material que permite evidenciar a veracidade do que se afirma como objetivo do livro .

O artigo de Paul I. Singer - A l­ternativas do futuro brasileiro -:raz em sua introdução a Justificati ­va para um trabalho de especula­ção acerca do futuro do País. "Qualquer grupo ou orgar 11 2acão política. que pretenda intervir de forma significativa na vida da nação, precisa ter uma idéia do que poderá vir a acontecer tanto em virtude de sua própria ação co­mo em conseqüência das atitudes e posições assumidas pelas demais forças po líticas" (p. 1 5). O autor procura ao longo de seu artigo examinar o que denomina "três cenários alternativos do futuro bra­sileiro", ou seja, três possibilidades diversas de organização da estru­tura do poder. sistema de domi­nação, relações entre as classes sociais, repartição de renda, de­senvolvimento regional e urbano, etc . V1ostra -nos assim, err primei-

. ro lugar , as possíveis conseqüên ­c1as da continuação do esquema militar-tecnocrático com a perma­nência no poder das mesmas fo­rças que atuaram nos últimos anos. A segui'. examina . um ce­nário no qual predominam as for­ças da atual oposição que :Jta por um desenvolvimento capitalista em moldes democrát icos e nacio­nal istas . E a terceira possibilidade é descrita em torno da eventual ex­tensão da democracia partici­patória a todos os quadrantes da vida social - possibilidade por ele denominada socialista - concre­t izável, caso as forças que se opõem ao capitalismo. em nome dos interesses históricos da classe trabalhadora , alcancem o poder e possam nele realizar seu progra­ma .

Integrando o panorama no qual surgem preocupações cada vez mais intensas com a deterioração das condições de vida, o trabalho de Pierre J . Erlich - PreseNar o meio-ambiente - chama a aten­ção para a maneira segundo a qual o problema tem sido encarado entre nós. " Se não tomamos me­didas para proteger o meio ambiente, não é por incompetên­cia -- é por convicção ... A pro­blemática nacional, em termos prioritários, foi definida como a de acumulação de capital para o au­mento da capacidade produtiva e a criação de empregos; outras face-