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  • 8/14/2019 estado_sao_paulo_pag_3

    1/1

    Em2007, 280 adolescentesderam luz; no1. semestredeste ano, foram 176

    HospitaisdeCoari tratam

    gestantescomat9anos

    Leonencio Nossa

    ENVIADO ESPECIAL

    COARI (AM)

    Naverdade, j voucompletar13 anos em dezembro, diz ameninadocelular,aoserabor-dada peloEstado meia-noitee meia numa rua do centro deCoari.Elaseguiacomummoto-taxista, profissional que atuanoagenciamentodeadolescen-tes, para a casa de um amigodafirmacomoqualconversa-rapoucoantespormeiodeumtelefone mvel.

    Na cidade que passou de 38mil para 65 mil habitantes des-de o incio das obras de extra-odegs,nosanos1990,osmo-radores chamam de firma aPetrobrseasempreiteiras.Co-nhecidocomo farda,o unifor-

    me laranja dos funcionrios smbolo de status numa regioonde a maioria da populaono tem capacitao profissio-nal.noite,empregadosdafir-mausamafardalaranja,pa-recendo vaga-lumes nos barese prostbulos do municpio.

    Ameninadocelularnore-cebe por programa, mas porms.Meusamigosdafirmame

    dodinheiroquandorecebemosalrio,conta.Somoscincoir-

    mos. Meu pai largou minhame e foi para Manaus. MinhamerecebeBolsa-Famliaeodi-nheiroque eudou.Ela nogos-ta que eu atenda no celular asligaesdos meusamigos,masnoperguntade onde vemo di-nheiroequemsoosquevolem casadeixaro dinheiro.

    Essagarota,queabandonoua escola na 4 srie do ensinofundamental,diz que o padras-totentouviolent-laefoiexpul-so de casa pela me. Parte dodinheiro ganho atualmente naprostituio usada paracom-prar pasta de cocana e pagaroscolegasmototaxistas.Oami-go da firma, que mora em umhotel de Coari, deu-lhe R$ 100no ms passado; no ms ante-

    rior,foramR$50.

    POE CIRCO

    Quem chega cidade sem re-servadehoteldificilmentecon-seguevagaporqueaPetrobrscostuma reservar todos osquartos para alojar os funcio-nrios. Uma parte do dinheirodopetrleo tambmpaga o sa-lrio dos 8 mil funcionrios da

    prefeitura.umcabidedeem-prego,aformademanteropo-

    vo na mo, afirma o bispo deCoari,d.JorcioGonalvesPe-reira. Ele tambm critica aconstruo dos ginsios pelaadministrao municipal. Deque adianta ter essa estruturase no tem poltica educacio-nal e programas de esporte?

    Construram muitas qua-dras, mas dizem que pode serlavagemdedinheiro.Coarilem-

    braRoma,poecirco.Potempouco, mas circo tem muito,afirmad. Jorcio, queconside-ra a explorao de crianas nacidade sofisticada. Para ex-plicar, observa que no hpontos de encontro comono caso da menina do celu-lar, as crianas recebem tele-fonemasdo pessoalda firma

    para ir aoshotis.Nocomandodeumadiocesequeatende210comunidadesri-

    beirinhas,obispoconfirmaqueareatambmrotaparaadro-gaquesaidoPeruesegueparaManaus, a capitalamazonense.E h um elo entrea exploraodecrianaseotrfico.(Hoje)Acidade joga fora um momentoimportante (na rea social).

    COARI (AM)

    O Hospital Regional de Coaritemumaestruturadecausarin-

    veja aos demais municpios nabeiradoRioSolimes.Asinsta-laes e equipamentos so no-

    voseoscorredores,arejados.Amaternidade,no entanto,apre-sentanmerosqueassustamosprofissionais da sade. No anopassado, 280 gestantes de at17anosderam luznohospital.Esse nmero chegou a 176 noprimeirosemestredesteanoeduas das mes tinham 12 anos.Outras 20 adolescentes sofre-ram aborto e foram atendidasno mesmo perodo.

    O mdico paulista RicardoMatias,humanoeseismesesfrentedohospital,tiradesuafunoasntesedoqueaconte-ce na cidade. No falta dedinheiro na prefeitura. O quefalta uma poltica de educa-o continuada, de capacita-o de professores. O nvel es-colar das crianas extrema-mente baixo, faltam professo-resenohcentrosparaespor-te e cultura, diz. Matias aindafazumtrabalhopioneironare-

    gio, levantando nmeros quepodem revelar, de forma maisobjetiva, os dramas das crian-as. No dia da conversa com oEstado, o hospital atendeuuma adolescente de 14 anos,quesofreuumaborto,eumade

    15anos, que teveum filho.

    FAVELA RECENTE

    Outrapersonagemqueexempli-ficaa situao atual no munic-pioajovemqueareportagemsimplesmenteidentificoucomomenina ribeirinha, uma ado-lescentegrvidade 15 anosque

    vive em Urucu, favela surgidarecentemente. Ela s foi atra-da pelas enfermeiras do postode sade por causa do sorteiodeduascestasbsicas.Moravanuma comunidade ribeirinhadoAmazonascomospaiseseisirmos. H trs anos, a famliaabandonou o stio e se mudoupara Coari,no rastrodo desen-

    volvimentoproporcionadopelogs.Nacomunidadedela,prxi-ma de um terminal da Petro-

    brs,aquantidadedepeixesdi-minuiu,segundoosmoradores,com a intensa movimentaodas embarcaes.

    Na cidade, o pai, acostuma-do a pescar, plantar e caar,no conseguiu emprego e dei-xouamulhereosfilhos.Nalti-mavezemqueeleapareceuemcasa, levoua filhaao mdico. Amenina reclamava de dores decabea. Ela estava grvida. Omdicodissequeele(o pai)nopoderia fazer nada contramim, contou a garota, tmida,cabelosnegros,comcorpoeros-to de criana deformados pelagravidezde 6 meses.

    Mas no conta quem o pai

    do filho. Estava na 8 srie doensinofundamentalquandotu-doaconteceu.Aprofessoradis-sequeeuestavapassandomalememandouparacasa.Novol-tei mais. No posto mdico do

    bairro Urucu, 22 das 60 grvi-

    dasassistidasso adolescentesde at 17 anos. Quando as fir-mas(empresas)vm,ondicedegravidez aumenta, diz IzaniraLima de Oliveira, enfermeiraresponsvel pelo posto, queacompanhou o depoimento dameninaribeirinha.

    Geralmente, as meninasgrvidasomitem,porumaques-tocultural,que o paida crian-a era da firma, foi embora e homemcasado,revelaIzanira.Elas sentem vergonha, a pr-pria famlia discrimina. Saemdecasa,vomorarcomatia,semudamparaacasadaamiga.

    A situao igual no postode sade do centro de Coari.Das37 grvidasque esto sen-do acompanhadas pelo posto,12 so adolescentes. Quandochegamoshomensdasemprei-teiras do projeto do gs, o n-merodeadolescentesgrvidasaumenta, afirma BenegildaSouza,a enfermeira respons-

    vel,repetindoaconstataofei-ta por Izanira. Em 2007, duasmeninasde9anos,grvidas,fo-ramatendidasnocentromdi-co. L.N.

    SEMTERONDEFICAR Quem chega cidadedificilmenteconseguehotel;vagasso reservadaspor estatal

    JovemfazJovemfazprogramasprogramaserecebenoerecebenofimdomsfimdoms

    12ANOS A meninado celular,de Coari, levadinheiropara casas depoisque osclientes, funcionriosde empreiteirase daPetrobrs,recebem o salrio;sua meno perguntade ondevemo pagamento

    MENINARIBEIRINHA Elas foiatradaparaexameno posto desadepelosorteiode duascestas bsicas

    Servindo aos vaga-lumes da firma,meninas ainda convivem com o trfico

    CELSO JUNIOR/AE

    CELSO

    JUNIOR/AE

    CELSO JUNIOR/AE

    RETRATOSDOBRASIL q

    Quando chegamas

    empresas, o nmerode adolescentesgrvidasaumenta

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    C4 CIDADES/METRPOLE DOMINGO,7 DE SETEMBRODE 2008O ESTADO DE S.PAULO