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8/14/2019 estado_sao_paulo_pag_3
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Em2007, 280 adolescentesderam luz; no1. semestredeste ano, foram 176
HospitaisdeCoari tratam
gestantescomat9anos
Leonencio Nossa
ENVIADO ESPECIAL
COARI (AM)
Naverdade, j voucompletar13 anos em dezembro, diz ameninadocelular,aoserabor-dada peloEstado meia-noitee meia numa rua do centro deCoari.Elaseguiacomummoto-taxista, profissional que atuanoagenciamentodeadolescen-tes, para a casa de um amigodafirmacomoqualconversa-rapoucoantespormeiodeumtelefone mvel.
Na cidade que passou de 38mil para 65 mil habitantes des-de o incio das obras de extra-odegs,nosanos1990,osmo-radores chamam de firma aPetrobrseasempreiteiras.Co-nhecidocomo farda,o unifor-
me laranja dos funcionrios smbolo de status numa regioonde a maioria da populaono tem capacitao profissio-nal.noite,empregadosdafir-mausamafardalaranja,pa-recendo vaga-lumes nos barese prostbulos do municpio.
Ameninadocelularnore-cebe por programa, mas porms.Meusamigosdafirmame
dodinheiroquandorecebemosalrio,conta.Somoscincoir-
mos. Meu pai largou minhame e foi para Manaus. MinhamerecebeBolsa-Famliaeodi-nheiroque eudou.Ela nogos-ta que eu atenda no celular asligaesdos meusamigos,masnoperguntade onde vemo di-nheiroequemsoosquevolem casadeixaro dinheiro.
Essagarota,queabandonoua escola na 4 srie do ensinofundamental,diz que o padras-totentouviolent-laefoiexpul-so de casa pela me. Parte dodinheiro ganho atualmente naprostituio usada paracom-prar pasta de cocana e pagaroscolegasmototaxistas.Oami-go da firma, que mora em umhotel de Coari, deu-lhe R$ 100no ms passado; no ms ante-
rior,foramR$50.
POE CIRCO
Quem chega cidade sem re-servadehoteldificilmentecon-seguevagaporqueaPetrobrscostuma reservar todos osquartos para alojar os funcio-nrios. Uma parte do dinheirodopetrleo tambmpaga o sa-lrio dos 8 mil funcionrios da
prefeitura.umcabidedeem-prego,aformademanteropo-
vo na mo, afirma o bispo deCoari,d.JorcioGonalvesPe-reira. Ele tambm critica aconstruo dos ginsios pelaadministrao municipal. Deque adianta ter essa estruturase no tem poltica educacio-nal e programas de esporte?
Construram muitas qua-dras, mas dizem que pode serlavagemdedinheiro.Coarilem-
braRoma,poecirco.Potempouco, mas circo tem muito,afirmad. Jorcio, queconside-ra a explorao de crianas nacidade sofisticada. Para ex-plicar, observa que no hpontos de encontro comono caso da menina do celu-lar, as crianas recebem tele-fonemasdo pessoalda firma
para ir aoshotis.Nocomandodeumadiocesequeatende210comunidadesri-
beirinhas,obispoconfirmaqueareatambmrotaparaadro-gaquesaidoPeruesegueparaManaus, a capitalamazonense.E h um elo entrea exploraodecrianaseotrfico.(Hoje)Acidade joga fora um momentoimportante (na rea social).
COARI (AM)
O Hospital Regional de Coaritemumaestruturadecausarin-
veja aos demais municpios nabeiradoRioSolimes.Asinsta-laes e equipamentos so no-
voseoscorredores,arejados.Amaternidade,no entanto,apre-sentanmerosqueassustamosprofissionais da sade. No anopassado, 280 gestantes de at17anosderam luznohospital.Esse nmero chegou a 176 noprimeirosemestredesteanoeduas das mes tinham 12 anos.Outras 20 adolescentes sofre-ram aborto e foram atendidasno mesmo perodo.
O mdico paulista RicardoMatias,humanoeseismesesfrentedohospital,tiradesuafunoasntesedoqueaconte-ce na cidade. No falta dedinheiro na prefeitura. O quefalta uma poltica de educa-o continuada, de capacita-o de professores. O nvel es-colar das crianas extrema-mente baixo, faltam professo-resenohcentrosparaespor-te e cultura, diz. Matias aindafazumtrabalhopioneironare-
gio, levantando nmeros quepodem revelar, de forma maisobjetiva, os dramas das crian-as. No dia da conversa com oEstado, o hospital atendeuuma adolescente de 14 anos,quesofreuumaborto,eumade
15anos, que teveum filho.
FAVELA RECENTE
Outrapersonagemqueexempli-ficaa situao atual no munic-pioajovemqueareportagemsimplesmenteidentificoucomomenina ribeirinha, uma ado-lescentegrvidade 15 anosque
vive em Urucu, favela surgidarecentemente. Ela s foi atra-da pelas enfermeiras do postode sade por causa do sorteiodeduascestasbsicas.Moravanuma comunidade ribeirinhadoAmazonascomospaiseseisirmos. H trs anos, a famliaabandonou o stio e se mudoupara Coari,no rastrodo desen-
volvimentoproporcionadopelogs.Nacomunidadedela,prxi-ma de um terminal da Petro-
brs,aquantidadedepeixesdi-minuiu,segundoosmoradores,com a intensa movimentaodas embarcaes.
Na cidade, o pai, acostuma-do a pescar, plantar e caar,no conseguiu emprego e dei-xouamulhereosfilhos.Nalti-mavezemqueeleapareceuemcasa, levoua filhaao mdico. Amenina reclamava de dores decabea. Ela estava grvida. Omdicodissequeele(o pai)nopoderia fazer nada contramim, contou a garota, tmida,cabelosnegros,comcorpoeros-to de criana deformados pelagravidezde 6 meses.
Mas no conta quem o pai
do filho. Estava na 8 srie doensinofundamentalquandotu-doaconteceu.Aprofessoradis-sequeeuestavapassandomalememandouparacasa.Novol-tei mais. No posto mdico do
bairro Urucu, 22 das 60 grvi-
dasassistidasso adolescentesde at 17 anos. Quando as fir-mas(empresas)vm,ondicedegravidez aumenta, diz IzaniraLima de Oliveira, enfermeiraresponsvel pelo posto, queacompanhou o depoimento dameninaribeirinha.
Geralmente, as meninasgrvidasomitem,porumaques-tocultural,que o paida crian-a era da firma, foi embora e homemcasado,revelaIzanira.Elas sentem vergonha, a pr-pria famlia discrimina. Saemdecasa,vomorarcomatia,semudamparaacasadaamiga.
A situao igual no postode sade do centro de Coari.Das37 grvidasque esto sen-do acompanhadas pelo posto,12 so adolescentes. Quandochegamoshomensdasemprei-teiras do projeto do gs, o n-merodeadolescentesgrvidasaumenta, afirma BenegildaSouza,a enfermeira respons-
vel,repetindoaconstataofei-ta por Izanira. Em 2007, duasmeninasde9anos,grvidas,fo-ramatendidasnocentromdi-co. L.N.
SEMTERONDEFICAR Quem chega cidadedificilmenteconseguehotel;vagasso reservadaspor estatal
JovemfazJovemfazprogramasprogramaserecebenoerecebenofimdomsfimdoms
12ANOS A meninado celular,de Coari, levadinheiropara casas depoisque osclientes, funcionriosde empreiteirase daPetrobrs,recebem o salrio;sua meno perguntade ondevemo pagamento
MENINARIBEIRINHA Elas foiatradaparaexameno posto desadepelosorteiode duascestas bsicas
Servindo aos vaga-lumes da firma,meninas ainda convivem com o trfico
CELSO JUNIOR/AE
CELSO
JUNIOR/AE
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Quando chegamas
empresas, o nmerode adolescentesgrvidasaumenta
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C4 CIDADES/METRPOLE DOMINGO,7 DE SETEMBRODE 2008O ESTADO DE S.PAULO