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ESTADO EMOCIONAL DE ALUNOS DA PRIMEIRA SÉRIE DE UM GRUPO ESCOLAR GINÁSIO DA CIDADE DE SÃO PAULO, BRASL. PROBLEMÁTICA DE SAÚDE PÚBLICA?" Helena Savastano** RSPU-B/380 SAVASTANO, H. Estado emocional de alunos da primeira série de um Grupo Escolar-Ginásio da cidade de São Paulo, Brasil. Problemática de saúde pública? Rev. Saúde públ., S. Paulo, 11:480-95, 1977. RESUMO: Estudou-se uma amostra representativa de alunos da l. a série de um Grupo Escolar-Ginásio da rede estadual da cidade de São Paulo, com o objetivo de compreender a dinâmica emocional dessas crianças. Os alu- nos foram estratificados em fracos e não fracos quanto à aprendizagem e disci- plinamento. Utilizou-se o teste de apercepção temática de Bellak e Bellak e os resultados demonstraram, que 43% das crianças não estão emocionalmente ajustadas^ para enfrentar o ambiente escolar, onde a figura do adulto (pro- fessor) é visualizada como agressiva e os castigos são vistos, pelas crianças, como ameaçadores; os alunos fracos revelaram maior atraso no desenvolvimento psicossocial em relação aos não fracos. Estes dados, possivelmente, esclarecem parte das dificuldades de adaptação dessas crianças à situação escolar e suge- rem: 1°) maior atenção dos técnicos de educação, de saúde e áreas correlatas, para esses problemas; 2 Ç ) maiores conhecimentos pelos educadores, dos aspec- tos do desenvolvimento psicossocial da criança. UNITERMOS: Criança, psicologia. Distúrbios afetivos. Testes psicológicos. 1. INTRODUÇÃO Em um Grupo Escolar-Ginásio da rede estadual da cidade de São Paulo, Brasil os professores da 1 a série queixaram-se de muitos alunos com problemas de comporta- mento e aprendizagem que perturbavam o desenvolvimento normal das aulas. Com a finalidade de conhecer a situação existente foi feito um levantamento biblio- gráfico 2,3,4,10,12,14,20, 26,27,28,31,34,40,43. O es- tudos da criança problema na sala de aula estão relacionados, ou com o sistema edu- cacional, com problemas sociais, com a personalidade do professor ou com aspectos cognitivos. Todos esses enfoques são relevantes, mas, o fato de não ter encon- trado, entre nós, pesquisa sobre a dinâmica emocional relacionada com o comportamen- to na sala de aula, e incentivada pelas solici- * Trabalho apresentado no XVI Congresso Interamericano de Psicologia. Miami Beach, Florida, USA, Dezembro de 1976. Síntese da Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1976. ** Do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP Brasil.

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ESTADO EMOCIONAL DE ALUNOS DA PRIMEIRA SÉRIE DE UMGRUPO ESCOLAR — GINÁSIO DA CIDADE DE SÃO PAULO,

BRASL. PROBLEMÁTICA DE SAÚDE PÚBLICA?"

Helena Savastano**

RSPU-B/380

SAVASTANO, H. Estado emocional de alunos da primeira série de um GrupoEscolar-Ginásio da cidade de São Paulo, Brasil. Problemática de saúdepública? Rev. Saúde públ., S. Paulo, 11:480-95, 1977.

RESUMO: Estudou-se uma amostra representativa de alunos da l.a

série de um Grupo Escolar-Ginásio da rede estadual da cidade de São Paulo,com o objetivo de compreender a dinâmica emocional dessas crianças. Os alu-nos foram estratificados em fracos e não fracos quanto à aprendizagem e disci-plinamento. Utilizou-se o teste de apercepção temática de Bellak e Bellak eos resultados demonstraram, que 43% das crianças não estão emocionalmenteajustadas^ para enfrentar o ambiente escolar, onde a figura do adulto (pro-fessor) é visualizada como agressiva e os castigos são vistos, pelas crianças,como ameaçadores; os alunos fracos revelaram maior atraso no desenvolvimentopsicossocial em relação aos não fracos. Estes dados, possivelmente, esclarecemparte das dificuldades de adaptação dessas crianças à situação escolar e suge-rem: 1°) maior atenção dos técnicos de educação, de saúde e áreas correlatas,para esses problemas; 2Ç) maiores conhecimentos pelos educadores, dos aspec-tos do desenvolvimento psicossocial da criança.

UNITERMOS: Criança, psicologia. Distúrbios afetivos. Testes psicológicos.

1 . I N T R O D U Ç Ã O

Em um Grupo Escolar-Ginásio da redeestadual da cidade de São Paulo, Brasil osprofessores da 1a série queixaram-se demuitos alunos com problemas de comporta-mento e aprendizagem que perturbavam odesenvolvimento normal das aulas.

Com a finalidade de conhecer a situaçãoexistente foi feito um levantamento biblio-gráfico 2,3,4,10,12,14,20, 26,27,28,31,34,40,43. O es-

tudos da criança problema na sala de aulaestão relacionados, ou com o sistema edu-cacional, com problemas sociais, com apersonalidade do professor ou com aspectoscognitivos. Todos esses enfoques sãorelevantes, mas, o fato de não ter encon-trado, entre nós, pesquisa sobre a dinâmicaemocional relacionada com o comportamen-to na sala de aula, e incentivada pelas solici-

* Trabalho apresentado no XVI Congresso Interamericano de Psicologia. Miami Beach, Florida,USA, Dezembro de 1976. Síntese da Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade deSaúde Pública da Universidade de São Paulo, 1976.

** Do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP —Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil.

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tações de professores para que esclarecesseos problemas de seus alunos, foram fortesmotivos que me levaram a real izar o presenteestudo.

Os professores descreveram seus alunosda seguinte manei ra : alguns são fracosna aprendizagem e de dif íci l adaptação nasala de aula; outros adaptam-se perfeita-mente e aprendem normalmente. Aquelessão frutos de famíl ias desajustadas ou vêmde meio sócio-cultural fora da realidade desuas vivências infant i s ; são marcados pelaslimitações individuais e, não raramente,apresentam carência alimentar; não estãomotivados para aprendizagem escolar, pois,faltam-lhes apoio em casa e compreensãodos pais. A soma dessas condições, descritaspara o aluno fraco, constitui um todo com-plexo que denomino problema de aprendi-zagem e de comportamento na sala deaula.

O presente t rabalho focal iza esses pro-blemas no contexto da saúde públ ica atra-vés de comentários e conceitos de saúde,saúde mental, saúde pública e saúde esco-lar . A par t i r do que, apresenta o resultadode uma pesquisa levada a efeito entrecrianças da 1ª série de um Grupo Escolar--Ginásio da cidade de São Paulo.

Os enfoques aqui abordados, emboracalcados na literatura internacional, sãofixados na situação brasileira, mais especi-ficamente, na cidade de São Paulo, tendoem vista o refer ido Grupo Escolar-Ginásio(GEG).

2 . C O N C E I T O S

Os conceitos apresentados estão impreg-nados de uma f i losof ia humanística 29 e sãoaqueles que relacionam o ser humano totalcom o ambiente sócio-cultural.

2 . 1 . Saúde — A t radic ional def iniçãoproposta pela Organização Mundial daSaúde (OMS) 13,24 é bastante conhecida ,

simples, e hoje é analisada em seu aspectodinâmico. Garcia1 3 faz ver que o indiví-duo, sadio ou doente, não pode ser estu-dado com exclusão de um dos estados decompleto bem-estar, ao contrário, deve sercompreendido através de uma visão inte-gradora interagindo com o meio com oqual deve manter um perfei to "equil íbrioecológico".

Qualquer comunidade biótica existe uni-camente como parte de seu meio am-biente7 ,11 ,15 ,38; o "equil íbrio ecológico", desinuosidade contínua, indica ser o "com-pleto bem-estar" um "gradiente de sanida-de" todo individual ; uma escala de sani-dade seria estabelecida entre o menor e omaior desequilíbrio dos diferentes estadosde saúde; o equi l íbr io seria o ideal e éind iv idua l .

2 . 2 . Saúde mental — A saúde mental éa capacidade do ind iv íduo de viver emharmonia com o meio, que está em contínuamutação. Esta conceituação tem a mesmaconotação dada à saúde. O desequilíbrioconduz a uma escala de sanidade que vaidesde os leves problemas, que às vezes per-turbam as pessoas mais serenas e calmas,até as perturbações graves, característicasdos psicóticos.

A saúde mental, não constituindo priori-dade em saúde pública nos países em de-senvolvimento, tem, todavia, a atenção dosórgãos governamentais cuja atuação, prin-cipalmente, é a de auxil iar os serviçoscompetentes para que possam sensibilizar aopinião da comunidade quanto à mudançade sua atitude em relação à doença mental.Dentro de uma visão integral da realidademédico-sanitária pode-se perceber que re-solvendo problemas de saneamento, solu-ciona-se, indiretamente, alguns dos proble-mas de saúde mental.

Julga-se que a incidência da doençamental tem sido cada vez maior. Algunssupõem que, atualmente, as pessoas sãomais desajustadas do que antigamente. Naverdade, é d i f íc i l de se avaliar as estatís-ticas nesta área. Entre nós, a Discipl ina

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de Saúde Mental da Faculdade de SaúdePública vem realizando um estudo epidemio-lógico da doença; enquanto não temos da-dos publicados lançamos mãos de estudosamericanos. "Em I960, a Conferência daCasa Branca sobre a Proteção à Saúde daCriança, estimou em, aproximadamente, 2,5milhões (mais de 10%) o número decrianças americanas que apresentavam ní-tidos problemas de comportamento. Naárea do crime existe bem mais de meiomilhão de americanos maiores de 18 anosde idade que são sustentados nas cadeiascom dinheiro púb l i co" . . . "Segundo G r i f f i ne colaboradres, em 1940, entre cem criançasda escola primária sorteadas ao acaso, 4ou 5 passariam parte de sua vida em hos-pitais para doentes mentais; 3 ou 4 seriamdeficientes quanto ao desenvolvimentomental que teriam dificuldades em torna-rem-se cidadãos úteis e produtivos; umou dois cometeriam crimes graves e passa-riam algum tempo na cadeia ou na peniten-ciária; dentre os outros, calcula-se que de30 a 50 deixariam de atingir a eficiênciamáxima e a felicidade que lhes caberia,pois seriam prejudicados por hábitos emo-cionais e traços doentios de personalida-de".25

Podemos dizer que a situação, hoje, ésemelhante. Mesmo sem dispormos, atéentão, de dados estatísticos, tudo faz crerque não nos distanciamos da situação aci-ma descrita e para tanto basta que se leiao noticiário referente a crimes e delinqüên-cias publicado diariamente em nossos pe-riódicos.

Desde as últimas décadas, a saúde e adoença mental tornaram-se temas de preo-cupação não só da saúde pública como dapopulação em geral 8,9,15,19,21,33,35,36,43. OsCentros Comunitários são as expressõesmais modernas desta preocupação. Para aprogramação destes Centros é necessária acooperação intensiva da comunidade. Se-gundo Heckthever16 e Lamb 19 eles repre-sentam os resultados da integração dosrecursos existentes. Como exemplo temos

a experiência levada a efeito em SanMateo, Califórnia, descrita por Lamb19.

2.3. Saúde Pública — Adotamos a con-ceituação de saúde pública dada pelo De-partamento de Prática de Saúde Publica daFaculdade de Saúde Pública da Universi-dade de São Paulo2 4 , que abrange umavisão integral da realidade médico-sanitáriae torna-se dinâmica através de três ativi-dades principais:

a) Participação da população nas ativida-des de saúde pública.

b) Participação de diferentes profissionaisna equipe de saúde pública.

c) Aplicação de técnica de planejamentopara assistência integral preventivo-curativa.

As medidas preventivas consideradasatividades de saúde pública estão destina-das a promover a saúde, prevenir os agra-vos que possam atingí-la, a reabilitar oorganismo para o exercício de sua funçãoe devem ser utilizadas nos vários períodosque constituem a história natural da doen-ça. Sendo assim, conforme a fase de suaaplicação consideram-se as seguintes cate-gorias de medidas, mesmo em uma progra-mação de saúde mental: primária, secun-dária e terciária 11,24,36,39.

Por prevenção primária entende-se oafastamento das condições capazes dedesencadear a moléstia; secundária, osprocessos terapêuticos capazes de impedirque a moléstia eclodida chegue à cronici-dade; terciária, a recuperação parcial dosenfermos crônicos. É evidente que a maisimportante, e não menos difícil, é a pre-venção primária.

No campo específico da saúde mental, osprimeiros sinais de desajustes podem surgirlogo nos primeiros anos de vida. Os paismais desavisados rotulam seus filhos deexcêntricos, muito ou pouco ativos, tímidos,não dando importância a esses comporta-mentos que passam despercebidos e muitasvezes podem ser início de uma patologia.

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É na escola de 1º grau, e possivelmente na1ª série, a época de suma importância paraprevenção primária, principalmente para acriança sem pré-escola. O professor emconvívio diário com os alunos tem maiorespossibilidades de evitar que a doença ini-ciada prossiga para as fases subseqüentes,quando o indivíduo poderá mergulhar nacronicidade ou na recuperação parcial. Oprofessor, sem ser terapeuta, deverá detec-tar a problemática emocional de seus alunose encaminhá-los aos responsáveis para pos-sível solução.

2 .4 . Saúde do escolar — Considerandoa saúde do escolar como sendo a capaci-dade de desenvolver as potencialidades fí-sicas, mentais e sociais nas inter-relaçõescom o meio, vemos o quanto é importante aeducação em saúde na escola, uma vez quea educação em saúde deve estar presenteem todos os aspectos da vida do escolar,contr ibuindo para a boa saúde mental doaluno. Compreendemos todos os aspectosda vida escolar um contexto que englobaserviços de saúde, ambiente escolar físicoe emocional, lar-escola-comunidade e ensi-no da saúde.

2.5. Distúrbios emocionais na sala deaula. Os problemas no campo da saúdemental são mais difíceis de serem detecta-dos; primeiro porque as doenças são ori-ginadas na mente do indivíduo, e segundopor serem apenas visíveis através do com-portamento.

Como sabemos, o comportamento — ex-pressão individual — é deveras complexoe muitas teorias tentam explicá-lo 5,17,22,

23,30,37. Em suma, é o resultado da intera-ção do indivíduo nos diferentes ambientesque ele enfrenta desde o nascimento até amorte: familiar, de brinquedos, vizinhança,escolar, profissional, da comunidade enfim.Para o desenvolvimento sadio, principal-mente da criança, é de fundamental impor-tância a capacidade de viver em harmoniacom estes grupos que estão em contínuamutação.

Kappelman 18, falando de comportamentoirr iquieto que surge na sala de aula, a f i rmaque o mesmo deve ser estudado atravésde exame clínico psicológico; Redl 3 2 citatrês fontes ou situações favoráveis a suaemergência:

a) Desenvolvimento psicossocial normal dacriança.

b) Alguma coisa no contexto da sala deaula rebaixando o tom emocional doambiente.

c) Potencial da criança para o comporta-mento irriquieto.

Mouly 25 af i rma que a higiene mental nasala de aula não é uma situação clínica,mas, é parte do processo de ensino. Lem-bra, também, quanto é nocivo o disciplina-mento utilizado, até então, por muitosprofessores, tais como gritos, castigos.

2 .6 . Dinâmica dos distúrbios emocio-nais. As duas últimas fontes acima citadas(alguma coisa no contexto da sala de aulae o potencial da criança) comportam in-terpretação dinâmica com base psicanalítica.Assim, a criança problema é conseqüênciade uma situação total: fantasias geradasem sua mente e pressões do meio. A dinâ-mica do comportamento evoca sempre ainteração entre estas duas forças com-plexas.

3. ESTADO EMOCIONAL DE ALUNOS DAlª SÉRIE DE UM GRUPO ESCOLAR-GINÁSIO DA CIDADE DE SÃO PAULO

Em 1975 o Grupo Escolar decidiu queos professores separassem, em classes di-ferentes, os alunos que eles consideravamfracos, para poderem obter melhor produ-ção 38. Com bases nessas informações enas solicitações dos professores para estu-dar os problemas dos alunos foram estabe-lecidos objetivos e hipóteses.

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3 . 1 . Objetivos

Imediatos

a) Compreender melhor a criança da 1ªsérie ident i f icando a d inâmica emocio-nal de seu comportamento.

h) Dimensionar o número de criançasemocionalmente ajustados para e n f r e n -tar o ambiente escolar.

c) Apresentar recomendações tendo emvista a situação constatada.

Mediato

Enfat izar a dinâmica emocional da crian-ça da 1a série e sua importância nos pro-blemas de aprendizagem e comportamentopara os técnicos de educação, de saúde ede áreas correlatas, assim como, para acomunidade e p r i nc ipa lmen te às f amí l i a s .

3 . 2 . Hipóteses

a) o critério empírico ut i l izado pela esco-la quando classifica os alunos em doisgrupos — fracos e não fracos, é vá-lido.

b) os alunos fracos demonstram atrasosmais evidentes no desenvolvimentopsicossocial que os não fracos.

3.3. Universo

Por ocasião do presente estudo, os 183alunos da 1ª série do Grupo Escolar foca-lizado (GEG) estavam distribuídos em 6classes A, B, C, D, E e F, sendo as duasú l t imas formadas por alunos frascos.

3 .4 . Amostra

Os 183 alunos que constituíram a nossapopulação de análise foram estratificadossegundo o critério de alunos fracos (F) enão fracos (NF) f icando assim distribuí-dos: F=44 e NF=139. Esta população foiordenada em lista nominal , de modo que os

alunos das classes fracas f igurassem comoos últimos. Aos 183 indivíduos assim orde-nados, aplicamos o método de amostragemsistemática com intervalo 6, resultando umaamostra de 31 alunos. Destes, abandona-mos um, devido à idade (13 anos e 9 meses)que consideramos discrepante.

3 .5 . Descrição da amostra

a) Alunos fracos — oito alunos ou 24%da amostra, de ambos os sexos, repe-tentes ou não, entre 7 anos e 5 mesesa 9 anos e 11 meses de idade.

b) Alunos não fracos — vinte e dois alu-nos ou 66% da amostra, de ambos ossexos, repetentes ou não, entre 7 anose 2 meses a 10 anos e 11 meses deidade.

3.6. Instrumentos — uti l izamos doisins t rumentos para o presente estudo:

a) Ficha de informações sobre a ident i f i -cação e saúde da criança e situaçãosócio-econômica da famíl ia , que é pre-enchida no início do ano letivo, pelaprópria escola. Os dados, analisadosno momento, referem-se somente aonível de instrução e profissão dos geni-tores e os relacionados à renda fa-miliar.

b.) Teste de apercepção infant i l (Children'sapperception test — CAT) de Bellake Bellak 6

3.7. Resultados e comentários

3 . 7 . 1 . Ficha de Informações

Quanto à instrução dos genitores, amaior incidência foi primária, tanto do pai(75%) como da mãe (92%). Os genitoresdos alunos fracos têm menos escolaridadeem relação aos dos não fracos.

Entre as profissões do pai predominamaquelas classificadas como ocupações ma-nua i s especializadas, segundo a c lass i f ica-

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ção de categorias ocupacionais de Hutchin-son apud Soares 42. Entre as mães, 23 sãodo lar, 3 empregadas domésticas, uma die-tista e 3 não responderam.

Quanto à situação econômica predominoua renda entre Cr$ 1.101,00 e Cr$ 2.000,00.Tendo a amostra, em média, cinco indiví-duos por família, é baixa a renda famil iar .Ganhos mais altos são daquelas cujos f i lhossão classificados como não fracos.

Quanto ao trabalho das mães, a menorpercentagem incidiu entre as mães quetrabalham fora do lar (15%); e justamen-te os f i lhos destas têm maior tendência aserem fracos na aprendizagem: (F = 43% eNF=5%). O caso se inverte para aquelescujas mães trabalham no lar: (F=49% eNF=19%).

3 . 7 . 2 . Teste de Apercepção Infantil(CAT)

3 . 7 . 2 . 1 . Variáveis estudada

As dez variáveis analisadas a seguir fo-ram aquelas que apresentaram f reqüênc iarelevante.

Os métodos estatísticos usados foram osdescritivos, tabelas, distr ibuição de f reqüên-cia, média e desvio padrão4 1 .

As respostas das dez variáveis, tabuladaspelas suas f reqüências segundo os alunosfracos (F) e não fracos (NF) , quandopossível, foram classificados em "adequa-das" e "inadequadas" conforme expressamou não características evolutivas esperadaspara a idade cronológica, segundo a teoriade Erickson apud Maie r ² ² . Em seguidaanalisou-se a média dos alunos fracos enão fracos, por variável nas dez pranchas,segundo o número de histórias adequada-mente interpretadas. Finalmente, a estima-tiva da proporção dos alunos ajustados.Estes são aqueles que relataram, no mínimo,seis histórias adequadas. O diagnóstico dogrupo constitui a síntese do estudo.

Tema (Tabela 1).

Quatro pranchas fo ram rejei tadas; duasou 2,5% por alunos fracos e 2 ou 0,9%por alunos não fracos, totalizando 296 te-mas para nosso estudo.

Na análise das tendências dos dois gru-pos de alunos existe um decréscnimo daexpressão "agressividade" a medida que hámelhor produt ividade escolar; F=17,94% ;NF=12,84%. Parece que as crianças f ra-cas tornam-se mais agressivas por nãopoderem competir com as não f racas ; suasfrustrações e fracassos contínuos impedem-nas de a t ingi r a satisfação de suas neces-sidades. Se voltarmos aos resultados dasfichas de informações vemos que nos laresmenos favorecidos predominam alunosfracos e estes demonstram ser os maisagressivos. Isto pode sugerir uma relaçãoentre lares desfavorecidos e agressividade.Esta agressividade pode indicar, também,d i f i c u l d a d e s de e n f r e n t a r uma sala de aula.

Da mesma fo rma , respostas que revelam"medo" mostram tendência a maior percen-tagem entre as crianças f racas (F=10,25%)do que entre as não fracas (NF=7,79%).O medo predominante entre as primeiraspode estar mostrando que estas criançastiveram maior d i f icu ldade para superar afase de confiança básica do desenvolvimen-to psicossocial (Erickson apud Maie r 2 2 ) eapresentam uma percepção temerosa doambiente.

Quanto a "abandono" encontramos re-sultados bem semelhantes entre os doisgrupos (F=7,69% e NF=7,79%). A fimde esclarecer a situação, procuramos desdo-brar o grupo NF estudando os resultadosdos alunos reprovados e encontramos o se-guinte: alunos não fracos não repetentesabandono=4,7%; não fracos repetente=10,3%. Estes resultados parecem mostrarmaior ansiedade entre os alunos repro-vados.

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Somando os dois i tens "a l imentaçãofrus t ração" e "frustração" temos o seguin-te: F=ll,53% e NF=8,71%. Os alunosfracos parecem mostrar maior sentimentode inadequação.

Temas relacionados com a "curiosidadesexual" já aparecem com menor contagementre as crianças fracas (F=1,28%) doque entre as não fracas (NF=16,51%). Apercentagem do pr imeiro grupo (1,28),quase sem manifestação, mostra um menor

desl igamento da real idade ou maior repres-são ou mesmo, maior imatur idade no de-senvolvimento psicossocial. Estes resulta-dos podem ser corroborados pela resposta"medo".

No total dos temas inadequados, ascrianças f racas cont inuam sendo aquelasque tendem a expressar ansiedade em per-centagem maior. Assim F "inadequado" éigual a 61,53% e de NF a 52,75%. Entreas situações ansiógenas se colocam temas

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tais como "abandono", "frustração" e"medo". O caso inverte-se quando observao total dos temas adequados: F "adequa-do" = 38,46% e NF=47,24%, mostrandoque, possivelmente, os alunos não fracostendem a maior adequação que os fracosou estão em um período do desenvolvimen-to psicossocial mais de acordo com suaidade cronológica.

Em relação ao total geral dos temas(296), houve o predomínio de respostas desituação ansiógenas (inadequado=55,06%)quando comparadas com as não ansiógenas(adequado=44,93%).

Necessidades psicológicas

Quanto às necessidades psicológicas doherói as percentagens tendem, também, aser mais baixas nas inadequadas. Assim"inadequada" . F= 13,33% ; NF= 12,55%Total=12,75%. "Adequada": F=86,66%NF=87,44%; Total=87,24%. Pode-se su-por que estes resultados representam umbom prognóstico para o grupo.

A inadequação expressará tendência aum estado cada vez mais patogênico sehouver persistência das condições desenca-deadoras de traumas. A adequação parecedemonstrar uma transição natural, de umperíodo a outro, da fase de desenvolvimen-to. Tal fato parece ser comprovado pelaincidência dos seguintes itens: "dependên-cia" 29,65% e "afeto" = 21,37%, demons-trando que as crianças da amostra estãonaturalmente na passagem da idade pré-escolar para a escolar.

Necessidades biológicas

Os alunos fracos apresentam maioresnecessidade de "sono": F=6,02% e NF=2,58%; a de "alimentação" predomina nogrupo com 33,65%, expressão maior, talvez,por ser esta característica própria da idade.

Visualização da f i g u r a paterna

A Tabela 2, mostra que nos alunos fracosa f igura do pai incide com maior percenta-

gem em "inadequada" (79,54%) do que osnão fracos (70,29%); provavelmente elesconstituem um grupo cujo relacionamentocom a f igura paterna é mais deficiente. Nototal esta f igura é evidenciada, para amaioria das crianças, com característicasnegativas do ponto de vista do desenvolvi-mento psicológico: "inadequada" = 73,10%e "adequada" = 26,89%. Este é um acha-do importante que objetiva bem a necessi-dade de educação familiar .

Visualização da figura materna

A figura materna (Tabela 3) emboraainda conserve a maior incidência na ina-dequação, já se faz em menor percenta-gem que a demonstrada na Tabela 2: F=77,50% e NF=54,91%.

Os alunos fracos parecem, deste modo,sentir a f i gu ra materna e paterna mais ina-dequadamente que os não fracos. Nestesse bem que as impressões parentais sãomais adequadas, há, também, maior ten-dência à inadequação. Tais resultadoselevam o total geral e evidenciam relacio-namento não satisfatório, do grupo todo,com a f igura do adulto. Estes resultadosparecem demonstrar muita ansiedade, porparte dos alunos, que dif icul ta , possivel-mente, um melhor contato professor-alunona sala de aula. Tal fato pode ser decor-rente de uma política familiar não satis-fatória.

Identificação do herói

Tanto nos alunos fracos como nos nãofracos, a maior incidência foi a de identi-ficar-se com "filho" (Total=57,77%) ecom "criança" (Total = 16,55%). A pri-meira, possivelmente, evidencia estreitaligação com o lar e provável dif iculdadede adaptação à situação escolar.

As outras identificações nos fracos atin-giram percentagens abaixo de 7,69% (outrapessoa, amigo, irmão, adulto e outros);nos não fracos, abaixo de 8,71% (adulto,irmão, amigo e outros).

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Familiares e outras figuras introduzidas

Apesar das "f iguras famil iares" (24,64%)e "outras in t roduzidas" (28,43%) seremvisualizadas como "boas" num total de52,07%, em percentagem ligeiramente maiorque as "más", estas e as "indiferentes"somam um total demasiadamente elevado(46,91%).

Estes resultados indicam que em grandeparte (quase 50%) as relações sociais dosalunos são inadequadas e frustradoras ,conf i rmando e expandindo os resultados dasvariáveis 4ª e 5a ("visualização das f iguraspaterna" e "materna", respectivamente).

É interessante notar que há uma l igeiratendência para visualização da f igura "boa"nas "não familiares" ( fami l ia res boas =24,64% e não famil iares boas — 28,43%)

o que pode suger i r a importância do papelsocializante da escola pela introdução deinter-relações adequadas no campo psico-lógico da criança.

Natureza das ansiedades

Frente às situações anteriores, o resulta-do da natureza das ansiedades está bemcongruente . No total geral, o "medo deser abandonado" (23,70%) expressandosentimento de rejeição muito forte, pode serresultante das inter-relações inadequadas.Ansiedades em relação a "dano físico/cas-tigo" (19,25%), somadas com as de "serdevorado" (8,14%), perfazendo 27,39%,evidenciam relação agressiva do adulto coma criança. "Punição" (18,98% e "falta decarinho" (14,44%) expressam, da mesmamaneira, o abandono sentido. A percenta-

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gem em "dano físico", "privação" e "medode ser abandanado" é bem maior entre osalunos fracos que entre os não fracos.

Castigo por uma falta

O "castigo justo", devido a uma fa l ta éexpresso muito raramente tendendo a me-nor percentagem entre as criança fracas(9,37%) do que nas não fracas (10,59%)parecendo sugerir tendência a melhor orien-tação de disciplina entre as famí l ias destasúltimas. Estas famíl ias são, segundo assituações encontradas, as mais favorecidasquanto à "instrução dos pais", à "rendafami l ia r" e ao ' ' trabalho da mãe no lar",fatores relevantes para melhor compreensãodos aspectos educativos.

O "castigo imediato", medida educativamais adequada, é visto com muito menosintensidade entre as crianças f racas (6,25%)do que nas não fracas (35,29%) parecendo,novamente, que estas recebem educaçãomais condizente com suas necessidades.

As crianças f racas referem mais a "cas-tigo severo" (87,37%) mas, não imediato(imediato=6,26%), enquanto que as nãofracas assinalam o "severo" muito menosintensamente (54,11%) mas, com intensi-dade no "imediato" (35,29%). No totalgeral, as crianças aludem mais ao "castigosevero" (62,39%) parecendo demonstrarque a maioria sente o castigo como injusto.

Achamos estes resultados de suma im-portância para a orientação dos educado-res. Infelizmente, muitos deles atuam,

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ainda, na sala de aula através de gritos,castigos e desvalorização da criança peran-te seus colegas, ao invés de procuraremcompreender o problema infant i l e efetuaruma disciplina com amor, conducente àsaúde mental.

Mouly 25 mostra através dos achados deSlobetz que as médias de disciplina na salade aula, ainda que predominantemente posi-tivas há as negativas, psicologicamentedestrutivas. Assim, Slobetz assinala 11%de censura (repreender, envergonhar, adver-tir, ser sarcástico com palavras duras) e10% de privação (retirar tempo de recreio,isolar, afastar da classe, mudar de lugar) .

Vemos, pelos resultados encontrados, quea criança da lª série está longe de alcançaro porquê do castigo. As admoestaçõesdirigidas, geralmente, mais às crianças queapresentam dificuldades de ajustamento, sóservirão para agravar suas dificuldades.Assim, a atitude do professor e sua faltade compreensão para com os problemaspodem agravar esta situação.

Os resultados de um questionário queaplicamos em uma Escola Municipal de SãoPaulo podem contribuir para esses fatos:44% dos professores das quatro primeirasséries do 1º grau rejeitam as classes quelecionam por preferirem outras; 39% dosprofessores da lª série rejeitam as suasclasses, pelos mesmos motivos. Não terãoesses professores um mau relacionamentocom seus alunos? É interessante notar apredileção dos professores pela idade dacriança e pela série escolar. Infelizmenteos mestres, em geral, são obrigados a lecio-nar em classes que lhes são determinadasno início do ano letivo.

Como diz Ajur iaguer ra 1 a criança aoingressar na escola entra para um mundonovo: seja do ponto de vista da psicologiageral, onde há grandes mudanças no siste-ma de transmissão do conhecimento, sejado ponto de vista afetivo. A escola implicaseparação do meio familiar e de novasformas de adaptação social devido a neces-

sidade da integração em um grupo hetero-gêneo, distinto do meio parental e fratenal .

A adaptação escolar dependerá da inte-gração da criança no grupo e este, segundoFau apud Ajuriaguerra1 , em parte é favo-rável porque: o grupo etário é semelhante,as atividades são congêneres e o términodas tarefas é igual para todos. Mas, con-tinua Ajur iaguerra 1, "o elemento unificadorno grupo é o professor que é adulto noseio desta sociedade na qual ele representao conhecimento e autoridade." SegundoMauco apud Ajuriaguerra1 a pedagogia de-via procurar se articular com a expressãosimbólica do aluno: todo aluno chega comseus desejos, sua história, suas insatisfa-ções e expressa o seu próprio simbolismo.

Histórias adequadas

A Tabela 4 mostra-nos as médias dealunos fracos e não fracos, por variável epor prancha, segundo o número de históriasadequadamente relatadas.

Comparando os dois grupos de alunosvemos que a tendência é dos alunos fracosserem menos adaptados que os não fracos,pois suas médias tendem a ser inferiores:a distribuição dos primeiros situa-se naparte mais superior do quadro, ou seja, hámaior número desses alunos com menornúmero de pranchas adequadamente inter-pretadas.

Os alunos fracos mostram maior inade-quação quanto ao "temas das histórias"(x = 3,5% e x = 4,5%, respectivamentefracos e não fracos). O que chama aatenção é o item "herói" cuja média dosfracos é 3,8% e dos alunos não fracos8,4%, colocando este grupo em um nívelde maior adaptação em relação ao meioambiente; são crianças mais capazes deenfrentar qualquer circunstância de maneiramais adequada na sociedade a que perten-cem. Estes resultados corroboram os doitem "desenlace" quando a média dos tra-ços (x = 5,2) tende a ser menor que odos não fracos (x = 6,8%).

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Em relação ao item "pai", a média foiigual para os dois grupos de alunos (x= 1,4%), que consideramos baixa emrelação ao número médio de pranchas aserem interpretadas. No entanto, o item"mãe" foi projetada de maneira mais satis-fatória entre os alunos não fracos (x =1,1 e x = 2,3, respectivamente fracos enão fracos). As outras variáveis tiverammédia abaixo de 1,1%.

3 .7 .2 .2 . Estimativa da proporção deproblemáticos.

Para estimar a proporção de alunosajustados, analisamos a reação de cada umno conjunto das dez pranchas.

Dos 30 alunos da amostra, 17 ou 57%foram tidos como ajustados, considerando-se no mínimo seis histórias adequadamenteinterpretadas; 13 alunos ou 43% estão emrisco de saúde mental vindo de encontro

aos dados de G r i f f i n e col. apud Mouly25

quando prognosticaram 30 a 50% dascrianças, por eles examinadas, "deixariamde atingir a eficiência máxima por estaremprejudicadas por hábitos emocionais etraços doentios de personalidade."

Reafirmamos que a inadequação expres-sará tendências a um estado cada vez maispatogênico se houver persistência das con-dições desencadeadoras de traumas.

Os resultados fazem-nos pensar que deve-mos congregar todos os esforços para queo aluno, ao iniciar a vida escolar, trans-ponha adaptado este mundo novo que selhe apresenta. A escola deverá proporcio-nar mudanças adequadas e gradativas nacriança para que ela permaneça sempreajustada, com possibilidades de enquadrar-se em todos os graus acadêmicos presentese futuros; deverá ser um veículo importanteque contribua para a plena realização dofuturo ser em formação — homem dignono lar e membro de sua comunidade.

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Mas, os pais também necessitam conhe-cer os aspectos evolutivos da criança desdea concepção, a fim de prover as necessida-des psicossociais do ser em formação esaber que filhos estão entregando à escolae ao professor.

3.7.2.3. Conclusões

a) O grupo estudado manifesta melhorpotencial educacional às expensas dos alu-nos não fracos, pois, as dificuldades deenfrentar as situações estão bem acentuadasnos alunos fracos. Estes tendem a expres-sar ansiedades em percentagem maior queaqueles ("inadequados" = 61,53% e "ade-quados" — 52,75%). Entre as situaçõesansiógenas ou inadequadas se colocam te-mas tais como "abandono", "frustração" e"medo".

b) Em média, 43% dos alunos demons-tram atraso no desenvolvimento psicosso-cial e estão longe de compreender o porquedos castigos recebidos. As suas ansieda-des relacionadas ao "medo de ser aban-donado" e ao "castigo físico", parecempedir maior compreensão por parte dosadultos (pais e professores) para asnecessidades infantis.

c) O grupo apresenta problemáticarelacionada com a dinâmica familiar evi-denciando relacionamento não satisfatóriocom a figura do adulto ("Pais" =74,10%;"Mãe" = 60,50%) dificultando melhorcontato aluno-professor na sala de aula.

d) Os resultados das "necessidadespsicológicas" com maior percentagem noitem "adequadas" (87,24%) e os de "bomdesenlace" (64,77%) fazem supor que re-presentam um bom prognóstico para ogrupo evidenciando a capacidade latente deum ego sadio, dos alunos, para enfrentaruma situação dif íc i l .

e) A tendência de uma percentagemmais elevada de "outras figuras não fami-liares introduzidas" sugere a importânciado papel socializante da escola pela intro-

dução de inter-relações adequadas no cam-po psicológico da criança.

f) Na situação atual, o grupo estudadoé constituído de crianças em risco de saúdemental (43% foram tidos como alunosproblemáticos) e conseqüentemente apre-sentaram dificuldades para um melhorajustamento se houver persistência dascondições desencadeadoras de traumas.

g) De acordo com o presente resultado,os professores são capazes de detectarcondutas anômalas dos seus alunos e fazeros devidos encaminhamentos, pois seus cri-térios de alunos fracos e não fracos secoadunam com os da presente pesquisa.

4. RECOMENDAÇÕES

4 .1 . Dar ênfase às atividades de pre-venção primária através da política educa-cional que leve pais e educadores a:

a) promoção da vida familiar e escolaradequada;

b) sensibilização para as necessidadesdas crianças;

c) compreensão dos seus próprios papéisfrente à criança;

d) boa orientação na área do crescimentosocial da criança o que refletirá emoutros aspectos do desenvolvimento,inclusive o mental.

e) conscientização dos problemas que ascrianças possam trazer em relação asua vivência com as figuras do adulto.

4 .2 . Instalação da pré-escola, a fim deque crianças não sintam uma transiçãobrusca entre os padrões de comportamentodo lar e os da escola.

4.3. Necessidades de formação de clas-ses menores a fim de possibilitar ao pro-fessor melhor atenção a seus alunos. Assim,os alunos não se sentirão perdidos em umgrupo demasiadamente competidor e assus-tador. As séries subseqüentes, possivel-mente, poderão comportar normalmente 35

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alunos estipulados pela lei em vigor, umavez que a criança da segunda série já en-f ren tou , anteriormente, o impacto da escola,propr iamente di ta , com maior segurança.

4 .4 . Necessidade de psicólogo no siste-ma escolar para diagnóstico das criançascom problemas de aprendizagem e compor-tamento, para orientação de pais e mestres,evitando assim, sobrecarregar as clínicas deorientação in fan t i l com problemas solúveisna própria escola.

4.5. Necessidade de enfat izar a dinâmi-ca emocional e sua importância no processo

de aprendizagem e comportamento na salade aula para os técnicos de educação, desaúde e áreas correlatas.

AGRADECIMENTOS

A todos que colaboraram neste trabalho,em especial à Dra. Yvone Khouri , Chefeda Secção de Psicologia Clínica do Depar-tamento de Assistência Escolar da Secre-taria da Educação da Prefei tura de SãoPaulo, que serviu de j u i z na interpretaçãodos dados do CAT.

RSPU-B/380

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ABSTRACT : Psychological and epidemiological aspects of emotional dynamicsof children enroled in the first grade of a state school of the city of São Paulo,Brazil, were studied based on results of Children's Tematic Test (CAT), ofBellak and Bellak. The mentioned test showed that the group is made up ofemotionally immature children, lacking affection, especially those considered oflow learning capacity. The figure of the adult, as seen by the students, isinadequate, punitive, indiferent and agressive. The results suggest that teachersshould have a greater understanding reference to such problems and should giveattention to these students, thus leading to the conclusion that first gradeclasses should not have so many students. The results also suggest that parentsshould have more knowledge and understanding as regards child development fromconception, as well as better family struture as to more adequate discipline.Finally, results suggest more attention on behalf of Public Health workersregarding such problems.

U N I T E R M S : Child psychology. Affective disturbances. Psychological tests.

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