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3.1. O LIBERALISMO PÁTRIO: NATUREZA E ESPECIFICIDADE O liberalismo veio como nova concepção de mundo, novos princípios ideias e interesses de cunho individualista, algo traduzido em regras e instituições visando a regulação da vida pessoa em sociedade. Foi em sua maior parte cultivada por segmentos da burguesia que buscavam sua emancipação contra o absolutismo monárquico, com traços centrados em três núcleos como observado por Roy C. Macridis: Ético-filosófico – Afirmação de valores e direitos básicos da natureza moral e racional do ser humano. Diretrizes: 1. Princípio de Liberdade 2. Princípio do Individualismo 3. Princípio da Tolerância 4. Princípio da Dignidade 5. Princípio da Crença na vida Econômico – Direcionado ao mercado, colocando condições para o estabelecimento da propriedade privada, a economia de mercado, ausência ou mínima intervenção estatal, livre empresa e iniciativa priva. Também entram nesse traço, os direitos econômicos: Como o de propriedade, herança, acúmulo de capital, liberdade de produzir, comprar e vender. Política - Princípios básicos: 1. Consentimento individual 2. Representação política 3. Divisão dos poderes 4. Descentralização administrativa 5. Soberania popular 6. Direitos e garantias individuais 7. Supremacia constitucional 8. Estado de Direito. O liberalismo no Brasil teve de conviver com uma estrutura político-administrativa patrimonalista e conservadora, e uma dominação econômica de elites agrárias escravagistas, elementos totalmente contraditórios com os ideias liberais. Viotti da Costa destaca que a importância do ideário liberal nos movimentos como Inconfidência Mineira, por causa da falta de alcance ideológico. As camadas populares continuava analfabeta e alienada para não haver consciência das concepções importadas.

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3.1. O LIBERALISMO PÁTRIO: NATUREZA E ESPECIFICIDADE

O liberalismo veio como nova concepção de mundo, novos princípios ideias e interesses de cunho individualista, algo traduzido em regras e instituições visando a regulação da vida pessoa em sociedade. Foi em sua maior parte cultivada por segmentos da burguesia que buscavam sua emancipação contra o absolutismo monárquico, com traços centrados em três núcleos como observado por Roy C. Macridis:

Ético-filosófico – Afirmação de valores e direitos básicos da natureza moral e racional do ser humano.

Diretrizes:

1. Princípio de Liberdade2. Princípio do Individualismo3. Princípio da Tolerância 4. Princípio da Dignidade5. Princípio da Crença na vida

Econômico – Direcionado ao mercado, colocando condições para o estabelecimento da propriedade privada, a economia de mercado, ausência ou mínima intervenção estatal, livre empresa e iniciativa priva. Também entram nesse traço, os direitos econômicos: Como o de propriedade, herança, acúmulo de capital, liberdade de produzir, comprar e vender.

Política - Princípios básicos:

1. Consentimento individual2. Representação política 3. Divisão dos poderes4. Descentralização administrativa5. Soberania popular6. Direitos e garantias individuais7. Supremacia constitucional8. Estado de Direito.

O liberalismo no Brasil teve de conviver com uma estrutura político-administrativa patrimonalista e conservadora, e uma dominação econômica de elites agrárias escravagistas, elementos totalmente contraditórios com os ideias liberais. Viotti da Costa destaca que a importância do ideário liberal nos movimentos como Inconfidência Mineira, por causa da falta de alcance ideológico. As camadas populares continuava analfabeta e alienada para não haver consciência das concepções importadas.

Enquanto o Liberalismo Europeu tinha uma ideologia revolucionária, o brasileiro fo canalizado para servir os interesses das oligarquias e da monarquia imperial. Não houve uma revolução burguesia de doutrina libertadora e sim uma reordenação do poder nacional e manutenção da dominação das elites. Uma das principais limitações do liberalismo no Brasil foi sua convivência com a escravidão institucionalizada: Liberalismo prega a liberdade e os direitos individuais do homem mas mantinha no Brasil uma convivência com a manutenção da escravidão.

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O Estado Liberal no Brasil nasce como expressão da vontade do governo e das elites dominante como mostra Trindade. Viotti de Costa destaca também seu caráter multifacetado, com o heroico, o antidemocrático o moderado, o radical e o que foi importo, o conservador praticado por minorias hegemônica. Fundava-se uma ideia de representatividade sem representatividade da vontade popular, o jogo democrático se tornava um clube aristocrático.

3.2 O LIBERALISMO E A CULTURA JURÍDICA NO SÉUCLO XXI

A convivência entre liberalismo e patrimonialismo no Brasil desencadeou numa permissão de existência de um clientelismo junto com uma cultura jurídica-institucional formalista, retórica e ornamental assumidamente com aspectos conservadores, individualismo, antipopulares e não democráticos, com profundo traço juridicista moldando-se no principal perfil da cultura jurídica brasileira: O bacharelismo liberal. A vertente juridicista do liberalismo brasileiro tem papel determinante na ordem político-jurídico nacional.

Fatores da edificação da cultura jurídica nacional: 1) Criação de curso jurídicos e formação de uma elite jurídica própria 2) O arcabouço jurídico brasileiro.

A criação dos cursos de Olinda e de São Paulo concretizavam a independência político cultural, para recompor a estrutura de poder com uma nova camada burocrático administrativo. Esses centros de reprodução da legalidade oficial positiva respondiam os interesses do estado e da elite. Com função de ser polo de sistematização e irradiação do liberalismo enquanto nova ideologia político-jurídica e segunda, efetivação institucional do liberalismo no contexto de criação do quadro administrativo profissional.

A Faculdade Pernambucana expressaria uma tendência erudita, de ilustração, acolhendo influências estrangeiras vinculada ao liberalismo, tratando fenômeno jurídico a partir da pluralidade temática, a partir de leituras naturalistas, biologistas, cientificistas , históricas e sociológicas resultando num evolucionismo e monismo contrariando o jursnaturalismo e o espiritualismo. Apegou-se a doutrinas deterministas e uma ética cientifica.

A Faculdade Paulista expressa uma tendência a reflexão da militância política, no jornalismo e na literatura. Fica marcada o uso do periodismo acadêmico onde se tem a confrontação entre liberalismos e democracia assim como dos liberais moderados ou radicais e causa abolicionista. Vivenciou um ecletismo autodidata a cultura jurídica não era o limite para seus estudantes. Tornou-se um centro da criação de intelectuais cooptados pela burocracia estatal.

São Paulo torna-se um centro de formação de políticos e burocratas enquanto Recife se encontra como um centro intelectual e de produção de ideias, de teorias e novos modelos. São Paulo: Liberalismo de fachada/ Recife: Determinismo. Recife: Gritos de descontentamento pela clara mudança do eixo político-econômico. São Paulo: Defensor e responsável pela fala oficial.

Para as camadas marginazadasO liberalismo representava abolição do preconceito, efetivação da igualdade econômica e mudança na ordem social

Estratos sociais hegemônicosFim dos vincúlos coloniais com manutenção da estrutura social e de produção

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Segundo aspecto consolidador da cultura jurídica brasileira é o processo de elaboração de uma legislação para o Público e para o Privado.

1. Constituição Imperial de 1824: Ideias e instituições liberais de cunho da Revolução Francesa e constitucionalismo francês. Outorgada e impregnada por individualismo econômico e centralismo político com fachada liberal ocultando as mazelas sociais. Como Sérgio Adorono, ela deixa claro o compromisso entre a burocracia patrimonial, os conservadores e liberais moderados.

2. Código Criminal de 1830: Um avanço se comparado as ordenação e orientava-se pelo princípio da legalidade e da pessoalidade das penas.

Nessas duas primeiras lesgialções, estarão esquecidos o direito dos indíos e dos negros escravos. O formalismo oficial ocultava a postura autoritária e etnocêntrico e na lei criminal, ao se referir aos negros, direciona a norma a proteção da propriedade do senhor.

3. Código de Processo Criminal: Reforçava-se as instituições liberais existentes como o juiz de paz que tinham atribuição policial e criminal. Ele marcava a vitória do espirito liberal e houve a inovação do harbeas corupus e do sistema de jurado. Extingue-se a estrutura jurídica. Uma reforma reforçou o traço patrimonialista desse código.

4. Código Comercial de 1850 configurou-se como modelo normativo de lesgilações latino-americanas. Com inspirações romanas, italiana e napoleônicas reproduzia convivência do mercantilismo os interesses das elites locais.

5. O Código Civil apesar de seu rigor metodológico, técnico-formalismo, avanços quanto a legislação portuguesa ainda refletia a mentalidade patriarcal, individualista e machista da época.

3.3 Magistrados e Judiciário no tempo imperial

Segmentos sociais e mecanismos funcionais que tinha função de interpretação e aplicação da legalidade estatal, garantido segurança do sistema e a defesa dos interesses dominantes. No entanto, o pós-independência não integrou todos os magistrados que alguns se mantiveram aliados a monarquia lusitana.

Fatores que singularizam a postura do magistrado: Corporativismo elitista, burocracia e corrupção oficializada. Thomas Flory assinala a presença acentuada de uma exclusivismo educacional e espirito corporativista, o primeiro levando a uma separação dos juristas com a população levando a eles servirem aos interesses da elites com tradições que não se identificavam com a tradição do país, mas por identificação com as tarefas do governo, foram os principais agentes da consolidação do país como nação.

O poder judiciário estava identificação do o político, como exemplifica a nomeação dos juzies para administrar conforme seus interesses, em uma justiça partidária. Os juízes deixava de apreciar conflitos de sua competência e entrava numa prática anti-judiciária. Com reformas na segunda metade do século XIX, os magistrados tiveram maior autonomia para a função jurisdicional frente ao poder público. Com a Reforma de 1871, que foi a tênue estratégia legal de transição do escravismo para produção laboral livre. O Tribunal de Juri consistiu também um ataque frontal a elite judicial.

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Ascenção em nível nacional de outros grupos profissionais, diversificados e dinâmicos durante a monarquia, sendo os magistrados e advogados para o domínio de profissionais liberais. Os advogados viam como porta-vozes tanto da oposição quanto do poder público.

3.4. O PERFIL IDEOLOGICO DOS ATORES DOS ATORES JURÍDICOS: O BACHARELISMO LIBERAL

No contexto histórico mostrado, projeta-se um agente profissional imcubido de compor os quadros político-burocrático do Estado, tanto do Império como boa parte da República. O aparecimento do bacharel em Direito impõe-se como uma constante na vida política brasileira, representava valores de possibilidade de segurança profissional e ascensão. O bacharel-jurista representa o resguardo dos intentos locais das elites agrária. O sucesso do bacharelismo vincula-se mais uma carreira política e favorecia uma formação libera-conservadora que primava pela autonomia da ação individual sobre ação coletiva. As academias permitiam uma identidade cultural apto aos vários exercício.

Traços:

Palavreado pomposo sofisticado e ritualístico

Afastamento das camadas populares

Proselitismo acrítico

Conhecimento ornamental.

Alfonso Arinos descreve que a herança de Portugal favoreceu o juridicismo, associado as posturas teóricas, abstração filosófica e cientifica, inadequação a política militante. Apego as normas. Os bacharéis liberais tinha uma postura composta de ideários liberais mas desvinculados de práticas democráticas e solidárias, afastavam-se da efetividade social, da participação e da experiências concretas. Na construção de sua identidade, conjugavam ideias liberais e conservadoras.