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 Estado e Economia no Capitalismo Adam Przeworsky Livro: PRZEWORSK ! Adam" Estado e Economia no Capitalismo" Rio de #aneiro: Rel$me % &$mar'! ())*"

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Estado e Economia No Capitalismo

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Estado e Economia no Capitalismo

Adam Przeworsky

Livro: PRZEWORSK! Adam" Estado e Economia no Capitalismo" Rio de #aneiro: Rel$me % &$mar'! ())*"

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+ntrod$,-o

O capitalismo é um sistema em que recursos escassos sãoprivadamente apropriados. Entretanto, nesse sistema apropriedade é institucionalmente separada da autoridade. Em

decorrência disso, existem dois mecanismos mediante os quaisos recursos são alocados para usos diversos e distribuídos paraos consumidores: o mercado e o Estado. No mercado, recursosprodutivos (capital, terra e capacidade de trabalho são alocadospor seus propriet!rios e a distribui"ão do consumo resulta deintera"#es descentrali$adas. O Estado, porém também podealocar e distribuir, a%indo sobre aqueles mesmos recursos queconstituem a propriedade privada. Estados podem não somentetaxar e trans&erir, mas também re%ular os custos e bene&íciosrelativos, associados a decis#es privadas. 'ortanto, h! nocapitalismo uma tensão permanente entre o mercado e o Estado.

  democracia na es&era política exacerba essa tensão. Omercado é um mecanismo em que a%entes individuais decidemaloca"#es com os recursos que possuem, recursos esses quesão sempre desi%ualmente distribuídos. Na democracia aspessoas, como cidadãos, podem expressar pre&erências quanto) aloca"ão de recursos que elas não possuem, com direitosdistribuídos num contexto de maior i%ualdade. *+ por m!%ica osdois mecanismos podem levar a um mesmo resultado. ome&eito, distribui"#es do consumo %eradas pelo mercado devemser sistematicamente di&erentes daquelas coletivamente

pre&eridas pelos cidadãos, uma ve$ que a democracia o&ereceuma oportunidade de obter reparti"ão por meio do Estado)queles que são pobres, oprimidos ou miser!veis emconsequência da propriedade privada dos recursos produtivos.

O problema permanente da teoria política, e da políticapr!tica, di$ respeito ) competência desses dois mecanismos umem rela"ão ao outro. - possível aos %overnos controlar uma

economia capitalista Em particular, é possível condu$ir aeconomia contra interesses e re&erências dos que controlam arique$a produtiva

omo essas quest#es envolvem interesses e valores, osar%umentos l+%icos e empíricos estão intimamente entrela"ados

com quest#es normativas e políticas. O papel apropriado doEstado em rela"ão aos v!rios aspectos da vida social eecon/mica constitui o tema central das controvérsias políticascontempor0neas. 1everiam os %overnos intervir de al%um modona economia Os Estados suprem as &alhas de &uncionamentodo mercado, tomando a aloca"ão de recursos mais e&icienteEstariam os mercados operando 2mais suavemente2 apenasporque são continuamente or%ani$ados e re%ulados porEstados Ou a interven"ão estatal é sempre uma &onte deincerte$a e ine&iciência Em suma, a interven"ão bene&icia oupre3udica o bem4estar %eral Os Estados são or%ani$a"#es

universalisticamente orientadas ou apenas mais um dentre umamultiplicidade de atores particularistas, di&erenciado apenas pelomonop+lio da coer"ão

Essas quest#es decorrentes da tensa convivência entreEstados e mercados são tão %enéricas que se reprodu$em emcampos acadêmicos que não compartilham de quaisquerinteresses substantivos. Estudos das políticas p5blicas proli&erama tal ponto que atualmente são publicadas revistasespeciali$adas em !reas especí&icas de políticas de %overnocomo política habitacional, política cultural, política &iscal, políticade de&esa ou política industrial. E mesmo que cada uma dessas!reas contenha, indubitavelmente, al%uns aspectos técnicosespeciali$ados, os debates te+ricos apontam para os mesmosproblemas e são or%ani$ados em torno das mesmas posi"#es,independentemente da problem!tica substantiva.

*ão três as posi"#es te+ricas b!sicas: os Estados respondem)s pre&erências dos cidadãos, os Estados procuram reali$ar seus

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pr+prios ob3etivos, e, &inalmente, os Estados a%em se%undo ointeresse dos que possuem rique$a produtiva. Na primeira visão,o povo manda. 2O 'ovo2, no sin%ular do século de$oito, exercesua soberania por meio do processo democr!tico. Os políticos,lutando por ades#es, o&ertam aquelas políticas que sãocoletivamente pre&eridas pelos cidadãos e, uma ve$ nos car%os,

procuram implantar essas políticas. ssim, os %overnos sãoper&eitos a%entes do p5blico. Na se%unda visão, os Estados sãoinstitui"#es aut/nomas em rela"ão ) sociedade. Os Estados2%overnam2 em bene&ício pr+prio 4 os %overnos tra"am políticasque re&letem os valores e 4 os interesses dos administradoresestatais. Na terceira perspectiva, &inalmente os Estados são tãoconstran%idos pela economia, especi&icamente pelos interessesdos propriet!rios privados dos recursos produtivos, que os%overnos não podem empreender quaisquer a"#es contr!rias aesses interesses. ssim sendo, é o 2capital2 quem %overna.

Nenhuma dessas perspectivas te+ricas, bem como ospro%ramas políticos que inspiram, são novas. s quest#esrelacionadas com o método democr!tico dominaram os debatespolíticos ) época das 6evolu"#es mericana e 7rancesa. visãode que o processo democr!tico é intrinsecamente imper&eito ein&erior ao mercado como mecanismo de aloca"ão de recursosremonta a 8ur9e e a de aistre, ou se3a, ao &im do séculode$oito. O medo diante de quaisquer institui"#es políticasespeciali$adas, mesmo as representativas remonta a 6ousseaue tem uma complicada hist+ria ideol+%ica: ori%inalmente um temada esquerda, o anti4estatismo &oi empunhado pela direita apenas

recentemente, e apenas em seu aspecto econ/mico. 7inalmente,a cren"a de que a soberania popular é drasticamente redu$ida,em qualquer sociedade em que os recursos produtivos sãoprivadamente possuídos, vem sendo a característica tradicional,quase de&inidora, dos movimentos socialistas.

No entanto, o &ato de que todas as posi"#es correntes tenhamsuas raí$es no período em que as institui"#es políticas e

econ/micas modernas &oram &or3adas não si%ni&ica que nãotenhamos &eito qualquer pro%resso. s p!%inas se%uintesatestam que os ar%umentos tradicionais &oram bene&iciados pelosaparatos analíticos recentemente desenvolvidos. 'remissas&oram esclarecidas, ar%umentos &oram or%ani$ados em modelosdedutivos, hip+teses empíricas rivais &oram desenhadas.

 &irma"#es deram lu%ar a ar%umentos; padr#es normativospassaram a ser explícitos e bastante técnicos: evidênciasaned+ticas tornaram4se evidências sistem!ticas. - possível terposi"#es ideol+%icas di&erentes e ainda assim ar%umentar: essaé a trans&orma"ão possibilitada pela ado"ão de uma lin%ua%emtécnica padrão. - verdade, evidências empíricas continuamescassas e muitas quest#es não podem ser decididas pelorecurso as evidências. as os desacordos ideol+%icos &oramracionali$ados.

 s três maiores vis#es da rela"ão entre Estado e economiaconstituem o ob3eto desta mono%ra&ia.

  'arte < é dedicada a duas quest#es: se o processodemocr!tico o&erece uma 5nica leitura das pre&erênciasindividuais, e se a democracia leva a resultados econ/micose&icientes. Neste capítulo as premissas e a estrutura l+%ica dasteorias econ/micas da democracia são brevementeesquemati$adas, com &oco na rela"ão entre as teorias da escolhasocial e do Estado democr!tico. s teorias neoliberais, quesustentam que os %overnos inevitavelmente provocamine&iciência econ/mica, são reconstruídas e su3eitas a uma críticainterna. 7inalmente, críticas externas a esse en&oque são

sumari$adas, particularmente as que en&ati$am a or%ani$a"ãocorporativista de interesses. p+s al%umas preliminares metodol+%icas, a 'arte =

desenvolve quatro quest#es: com que &requência e em queextensão os Estados são aut/nomos >ue condi"#es promovema autonomia do Estado >uais são as consequências dedi&erentes &ormas de autonomia do Estado para as políticas

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%overnamentais omo os burocratas e os políticos se tornamaut/nomos em condi"#es democr!ticas visão marxistatradicional da autonomia do Estado como uma contin%ência dasrela"#es de classe é contrastada com o en&oque 2centrado noEstado2, que toma a autonomia do Estado como um postuladometodol+%ico. an!lise das consequências de &ormas di&erentes

de autonomia é baseada no en&oque neocl!ssico de hist+riaecon/mica. 7inalmente, modelos de +r%ãos %overnamentais ele%islativos aut/nomos em democracias são colocados dentro docontexto de constran%imentos econ/micos e institucionais.

  'arte ? é centrada nas duas quest#es colocadas pelasteorias marxistas do Estado: a sobrevivência do capitalismodeve4se a interven"#es do Estado 'or que os %overnos a%empara &omentar o capitalismo l+%ica das teorias marxistas&uncionalistas é reconstruída primeiramente, se%uida de duasimportantes vers#es dessa teoria. O en&oque como um todo é,então, su3eito a uma crítica que en&ati$a tanto os problemasl+%icos como empíricos por ele en&rentados. 7inalmente, modelosorientados pela teoria dos 3o%os, que colocam as políticas%overnamentais dentro do contexto do con&lito de classes, sãoexaminados como um en&oque alternativo para a problem!ticamarxista.

 s p!%inas de conclusão ('arte @ retomam )s quest#espolíticas.

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apítulo <

./t$lo : O 0overno do Povo

<. Antrodu"ão.

 s teorias econ/micas da democracia explicam as políticas%overnamentais pelos interesses dos cidadãos. estrutura %eraldessas teorias é a se%uinte. Existem indivíduos que, através decertos procedimentos, revelam suas pre&erências por políticas%overnamentais. Existem equipes de políticos reais e rivais quecompetem por apoio político. andidatos maximi$adores deapoio o&ertam políticas coletivamente pre&eridas pelos cidadãos eprocuram implantar essas políticas, uma ve$ nos car%os. Os

%overnos são, então, a%entes per&eitos do p5blico.O povo ao qual os %overnos respondem é tipicamenteidenti&icado apenas como os 2indivíduos2, isto é, todas aspre&erências são a priori  possíveis e todas as coali$#es entre elessão i%ualmente prov!veis. Os indivíduos são racionais, nosentido de que apoiam as propostas políticas e %overnos quemais se aproximam de seu m!ximo bem4estar. Os indivíduosrevelam suas pre&erências por uma variedade de mecanismos,desde o voto nas elei"#es até o suborno de burocratas. Os%overnantes B políticos eleitos, burocratas nomeados ou, maisabstratamente, 2o re%ulador2 B são por sua ve$ levados a &a$er

aquilo que o povo quer que &a"am no seu pr+prio interesse,porque competem por apoio popular. Essa &eli$ coincidênciaentre pre&erências coletivas e políticas p5blicas não se mantém,se: não houver uma escolha coletiva 5nica; os mecanismos querevelam pre&erências indu$irem os indivíduos a antecipar asa"#es dos outros de maneira coletivamente sub +tima; os%overnantes não competirem ou não puderem ser e&etivamente

supervisionados. as mesmo que os %overnos se3amper&eitamente responsivos )s escolhas coletivas, emer%e ase%uinte questão: as políticas que %o$am de maior apoio sãorealmente as melhores para os que o&erecem esse apoio Asto é,o Estado deve intervir na economia de &ormas que respondam )pre&erência coletiva

  rela"ão entre as políticas %overnamentais e as pre&erênciasdos indivíduos é o ob3eto da se"ão =. 'ara tornar claras aspremissas, come"amos a se"ão =.< com um exemplo em que oscidadãos são homo%êneos e não h! qualquer Estado sobre oqual &alar. En&ocaremos então, na se"ão =.=, o modelo desitua"#es em que cidadãos com pre&erências estruturadas de&orma similar votam em uma questão especí&ica pela re%ra damaioria: 2o modelo do eleitor mediano2. 'ara concluir essaan!lise, sumari$amos brevemente, na se"ão =.?, a principalra$ão pela qual os resultados otimistas do modelo do eleitormediano não se sustentam. o tema da se"ão ? é a questão de se

o Estado intervém na economia no melhor interesse dosindivíduos, mesmo quando é per&eitamente responsivo noatendimento das pre&erências por eles reveladas. se"ão ?.<apresenta a visão da escola da re%ula"ão (de hica%o; se%uida,na ?.=, de uma revisão crítica desse modelo. Cma breve revisãoconclui essa 'arte.

=. O %overno da maioria.

=.<. idadãos homo%êneos.

'ara entender a l+%ica dessas teorias e as quest#es que elascolocam, considere4se uma democracia ideal. Nesse sistema,todos os cidadãos têm i%ual renda e rique$a e todos votamsimultaneamente, escolhendo a partir de uma 5nica dimensão o

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nível de uma atividade %overnamental. *uponhamos que osmercadores de Dene$a en&rentam a questão de quantos naviosde escolta devem construir para prote%er a sua &rota mercantildos piratas. ada cidadão busca maximi$ar o bene&ício líquidoque extrai das atividades %overnamentais, isto é, cada um votapelo nível de atividade que maximi$a a di&eren"a entre custos e

bene&ícios. O nível de prote"ão e&iciente é o nível para o qual obene&ício mar%inal i%uala o custo mar%inal. 'ortanto, osmercadores de Dene$a votam a &avor de &inanciar um n5mero denavios tal que os custos do 5ltimo navio acrescentado ) &rota sãoequivalentes aos bene&ícios em prote"ão adicional que elepropicia. Não &aria sentido para eles não adicionar tal navio, 3!que o anterior ainda contribuía mais para a prote"ão que para ocusto: e não &aria sentido construir mais do que esse 5ltimo, 3!que o pr+ximo custaria mais do que contribuiria para a se%uran"ada &rota.

 ssim, cidadãos homo%êneos escolheriam um nível de

atividade que seria e&iciente para cada um e para todos. Elespr+prios se responsabili$ariam pelo custo  per capita  dessadecisão. Cma ve$ decidido o n5mero de navios, os cidadãosaceitam uma proposta competitiva para a constru"ão dos navios.  competi"ão tra$ o pre"o dos servi"os para o nível querepresenta o verdadeiro custo para o o&ertante: o custo 3!conhecido pelos cidadãos ao calcularem os custos e bene&íciosmar%inais. O Estado seria um a%ente per&eito nessas condi"#es:uma ve$ que o Estado nada mais é que os pr+prios cidadãos,não h! Estado sobre o qual &alar.

Note4se que uma ve$ que uma mesma política é +tima paracada cidadão, qualquer re%ra de vota"ão acabaria levando aomesmo resultado. lém do mais, a trans&orma"ão dessademocracia direta em um sistema representativo não mudarianada. *uponhamos que exista um +r%ão %overnamental p5blicodo contratante, que decide sobre o nível de atividade e acontrata. andidatos para esse +r%ão %overnamental

competiriam entre si; o candidato mais pr+ximo da políticapre&erida pelos cidadãos vence os oponentes; para maximi$ar oapoio, isto é, vencer as elei"#es, todos os candidatos conver%empara a pre&erência coletiva.

 ssim, quando os cidadãos são homo%êneos, o processopolítico %era um 5nico resultado. *e os candidatos para car%os

p5blicos competem entre si e os servi"os %overnamentais sãoprovidos competitivamente, o Estado &unciona e&icientementecomo um per&eito a%ente do p5blico.

=.=. odelos do eleitor mediano.

*urpreendentemente, as características b!sicas dessademocracia per&eita sobrevivam em um mundo em que osindivíduos di&erem em dota"#es, rendas e pre&erências, e as

decis#es são tomadas se%undo a re%ra da maioria. Esta é aconclusão central dos modelos do eleitor mediano.

*uponhamos a%ora que os cidadãos possuem certasdota"#es, como rique$a e trabalho, uma renda derivada de suautili$a"ão que é a elas adicionada e pre&erências relativas av!rias dimens#es, como consumo, la$er, bens p5blicos, bem4estar e outros. Essas pre&erências são tais que apenas umresultado é pre&erido sobre todos os demais e, como aumenta adist0ncia entre o resultado pre&erido e qualquer alternativa, autilidade de cada indivíduo não aumenta (2curva de pre&erências

unimodal2. 'ara a maior parte dessa se"ão, ser! proveitosopensar os indivíduos como ordenados de duas maneiras: do maispobre (em dota"#es ou em renda para o mais rico e do maisopositor ao mais &avor!vel a al%um resultado a ser decidido peloprocesso político.

Os indivíduos votam para decidir o nível das atividades%overnamentais, que podem incluir a previsão de um bem p5blico

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ou a reali$a"ão de uma trans&erência pura de renda. questão aser decidida é a escolha de um valor ou valores especí&icos apartir de uma dimensão. ssim, a questão pode di$er respeito aon5mero de navios a construir para prote"ão, ao or"amento de umdistrito escolar, a idade permitida para beber, ao n5mero de&eriados o&iciais, ao montante de indeni$a"#es aos

desempre%ados. ada indivíduo pode &a$er uma proposta para aquantidade a ser determinada; cada proposta é equiparada aostatus quo: a vota"ão é simult0nea, universal e sem custos.

 s decis#es são tomadas pela re%ra da maioria. propostavencedora, se existe uma, é aquela que nenhuma alternativapode derrotar em uma vota"ão que adota a re%ra da maioria paraa decisão sobre cada par de propostas (este é o equilíbrio porre%ra ma3orit!ria.

>uando essas e outras condi"#es adicionais são veri&icadas,são verdadeiras as três se%uintes conclus#es:

< Cma proposta política é a vencedora 5nica e essa é a

proposta pre&erida pelo eleitor com a pre&erência mediana.= >uando todos os eleitores votam ou quando a distribui"ão

de pre&erências no eleitorado é unimodal e simétrica, e se dois eapenas dois partidos competem para vencer elei"#es, ambos ospartidos conver%em para a posi"ão mais &avorecida pelo eleitorcom a pre&erência mediana.

? >uando são satis&eitas al%umas condi"#es adicionais Bque serão discutidas adiante, o eleitor com a pre&erênciamediana é aquele com a renda mediana.

Essas três proposi"#es constituem 3untas o 2modelo do eleitor

mediano.2 O primeiro teorema especi&ica o equilíbrio ma3orit!rio:o resultado do voto direto pela re%ra ma3orit!ria. O se%undoa&irma que se existe tal equilíbrio e se dois partidos competem, oequilíbrio ma3orit!rio ser! a plata&orma eleitoral vencedora, oterceiro teorema restrin%e o escopo da teoria aos temas em quea ordena"ão das pre&erências tem al%o a ver com a renda (oucom as dota"#es que determinam a renda. ssim, o primeiro

teorema di$ respeito ao modelo de vota"ão em uma comissão; asduas primeiras proposi"#es 3untas especi&icam o resultado dacompeti"ão partid!rio; por sua ve$, o primeiro e o terceiroteoremas combinados o&erecem um modelo de vota"ão emcomissão, sobre quest#es em que a distribui"ão de rendadesempenha al%um papel. O modelo completo, portanto,

especi&ica o resultado da competi"ão entre dois partidos emquest#es que envolvem renda. om e&eito, os dois primeirosteoremas são de import0ncia central para a teoria da escolhasocial, enquanto a teoria do papel %overnamental em cola"ão )economia resulta especi&icamente da inclusão do terceiroteorema. 1eixemos de lado todos os aspectos técnicosenvolvidos nos dois primeiros teoremas e en&ati$emos umaclasse especial de modelos que envolvem taxa"ão e distribui"ãode renda ou provisão de bens p5blicos.

Estamos tratando a%ora, portanto, apenas das se%uintessitua"#es. vota"ão di$ respeito )s alíquotas de imposto de

renda. >ualquer escala de taxa"ão pode ser proposta, desde querendas da mesma ma%nitude se3am i%ualmente taxadas e que aalíquota de imposto se3a (de maneira &raca monotonicamenterelacionada a renda. receita dos impostos é %asta em bensper&eitamente p5blicos, que se3am i%ualmente apreciados portodos os eleitores, ou é distribuída i%ualmente por todos oseleitores. ssim, o custo da proposta para cada indivíduodepende de sua renda antes da incidência de imposto, enquantoo bene&ício é o mesmo, independentemente da renda. Obene&ício ou o custo líquido é então associado a renda ori%inal.

*em impor quaisquer restri"#es adicionais, examinemos asitua"ão do ponto de vista de um eleitor individual, i, que temuma renda pré taxa"ão e pré trans&erência, (i. escala &iscal+tima para esse eleitor ser! aquela em que todos com rendasmenores ou i%uais a (i não pa%uem qualquer taxa, e todos comrendas maiores pa%uem toda sua renda em impostos FGramer e*Hnder, <IJ?K. Ama%inemos um eleitorado com três eleitores: o

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6ico, o ediano e o 'obre Fou (nL< eleitores, nM= o eleitor rico, oeleitor mediano, e nM= o eleitor pobreK, com as se%uintes rendasantes da vota"ão, (6 (K ('. Nota4se primeiramente, queo eleitor de renda mediana tem a pre&erência mediana no que di$respeito )s taxas de imposto: o 6ico %ostaria que a taxa &osse$ero para todos, o 'obre %ostaria que a taxa saltasse para um a

partir da &aixa de renda in&initesimalmente maior que a sua, e oeleitor ediano %ostaria que a taxa subisse a partir da &aixa lo%oacima de sua renda, que est! no meio. Demos também que oequilíbrio ma3orit!rio é a escala de alíquotas pre&erida pelo eleitormediano: tal escala %anharia os votos do 'obre e do edianocontra a proposta do 6ico. Cma escala que impusesse aeleva"ão da taxa"ão abaixo da renda do eleitor mediano nãoobteria seu apoio e, portanto, o apoio da maioria, enquanto queuma escala que não taxasse qualquer eleitor mais rico que omediano acumularia uma receita menor, sendo re3eitado portodos os eleitores com renda menor ou i%ual mediana. F menos

que as deadweight losses (perca de peso morto)  &ossemrealmente punitivas, ver 6omer, <IP, ou que os eleitorespudessem ser levados a acreditar que &ossem.K 7inalmente, sedois partidos competem para vencer as elei"#es (e as condi"#esdiscutidas acima são satis&eitas, eles conver%irão para apre&erência do eleitor mediano.

Cma ve$ que as decis#es são tomadas pela re%ra da maioria,uma questão que imediatamente sur%e é por que os pobres nãotomam tudo dos ricos. Asso é o que todos, Esquerda ou 1ireita,esperavam com esperan"a ou medo B que o su&r!%io universal&osse provocar. omo disse Ersnt Qi%&orss, o principal te+rico da*ocial 1emocracia *ueca e inistro das 7inan"as em <I=J, 2osu&r!%io universal é incompatível com uma sociedade dividida emuma pequena classe de propriet!rios e uma %rande classe dedespossuídosR. Ou bem os ricos e propriet!rios acabam com osu&r!%io universal, ou os pobres, por meio de seu direito de voto,tomam para eles uma parte das rique$as acumuladas.2 *e o

eleitorado consiste de n pessoas, os (nM= L < cidadãos maispobres poderiam passar uma proposta que expropriaria os ricos.om e&eito, vimos tal resultado na situa"ão analisada acima B ataxa de imposto para todas as rendas maiores que a mediana &oia unidade. 'or que a maioria, qualquer maioria, não expropriariaa minoria

 s ra$#es oncebíveis são v!rias, mas essa literatura centra4se nas deadweight losses (perca de peso morto) que resultam dataxa"ão. umann e Gur$ F<I: pp. <<?IK o&erecem a &ormula"ãomais %eral, quando simplesmente assumem que 2cada a%entepode, se quiser, destruir parte ou a totalidade de suas dota"#esR.*uponhamos que os indivíduos o&ertem suas dota"#es de &ormaa au&erir rendas (i, desde que a taxa dos impostos não se3amaior que al%um valor t(max, mas que &u3am para um mundonão tax!vel de economia subterr0nea de la$er, ou para umparaíso &iscal, quando a taxa de impostos exceder t(maxF6oruer. <IPK. %ora a escala &iscal +tima para o eleitor mediano

e, portanto, para o equilíbrio ma3orit!rio, ser! aquela em que astaxas de impostos &orem t(maxS<. Cma taxa maior &aria com quequalquer indivíduo su3eito a taxa"ão retirasse suas dota"#es deatividades tax!veis, sem %erar qualquer receita &iscal. Esta é ara$ão citada nessa literatura para explicar porque as maioriasdecidem por um ponto anterior a uma redistribui"ãocompletamente i%ualit!ria.

 s deadweight losses (perca de peso morto)  serão aindat+pico de discussão mais adiante, mas um coment!rio preliminaré necess!rio aqui. Deadweight losses (perca de peso morto)podem ocorrer porque o trabalho é desestimulado pela taxa"ãoou por causa de subsídios ao la$er. as também podem ocorrerporque os consumidores responderiam ) taxa"ão poupandomenos ou as &irmas investindo menos. Cma interessanteconsequência para os modelos do eleitor mediano é a introdu"ãoda interdependência nas decis#es privadas de poupan"a F8ush eacGaH, <IK. Os indivíduos alocariam sua renda em dois

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tempos: primeiro votariam nos pro%ramas %overnamentais (bensp5blicos ou trans&erências puras e depois decidiriam quantopoupar de sua renda remanescente. pre&erência do eleitormediano a respeito dos pro%ramas %overnamentais imp#e umarestri"ão or"ament!ria nas decis#es de poupan"a de qualquerum: todos devem pa%ar as taxas escolhidas pelo eleitor mediano,

antes de decidir o que &a$er com sua renda remanescentes.'oderíamos, então, esperar que o eleitor mediano anteciparia ose&eitos de suas decis#es sobre impostos baseado na taxa depoupan"a alheia e, portanto, baseado na renda a%re%ada ou nabase de taxa"ão. as os modelos do eleitor medianoinvariavelmente se &undam em deadweight losses (perca de pesomorto) na o&erta de trabalho e o status empírico dessa premissaé duvidoso Fver *aunders e Glau, <IJP: pp. <T@4<T, para umaresenha recente da evidênciaK. Na realidade, umann e Gur$F<I: pp. <<PK se vêem &or"ados a tomar uma via tortuosa: emseu modelo, deadweight losses (perca de peso morto) na o&erta

de trabalho constituem uma amea"a que indu$ a umcompromisso, nunca sendo, portanto, reali$adas; lo%o, asdeadweight losses (perca de peso morto) não ocorrem. *e isso éverdade, não existe, então, sequer uma base empírica sobre aqual estimar a ma%nitude dessas perdas.

Note4se que qualquer um que não se3a o eleitor mediano temra$#es para &icar in&eli$ com o resultado da re%ra ma3orit!ria: oseleitores pobres pre&eririam que as taxas &ossem maiores, oseleitores ricos %ostariam de vê4las menores. lém do mais, se oeleitor mediano opta por uma taxa positiva, como &a$ tipicamente.a renda a%re%ada é menor do que seria se as taxas etrans&erências &ossem $ero. as qualquer outra taxa &aria al%uémperder. Em particular, com uma taxa menor, a renda a%re%adaaumentaria (assumindo que h! deadUei%h$ losses, e os ricospa%ariam menos em taxas líquidas, mas os pobres receberiammenos em bene&ícios líquidos. ssim, o equilíbrio ma3orit!rio doeleitor mediano não seria derrotado pela re%ra de unanimidade: é

'areto e&iciente.>ue escalas de taxa"ão prevalecerão com as premissas dos

modelos do eleitor mediano resposta depende, entre outros&atores, das restri"#es impostas aos padr#es admissíveis detaxa"ão e das premissas especí&icas a respeito da &un"ão dasdeadweight losses (perca de peso morto). maioria dos modelos

baseia4se na premissa de que a escala de taxa"ão é linear, aspre&erências são quasi4c/ncavas e a receita &iscal é total ei%ualmente distribuída entre os indivíduos. No mais simplesmodelo desse tipo, os indivíduos escolhem a taxa que maximi$aa utilidade derivada de seu consumo e la$er p+s4taxa"ão. *e osimpostos não tivessem qualquer e&eito na renda a%re%ada oeleitor mediano escolheria um dos valores extremos admissíveispara a taxa de impostos: $ero se sua renda é i%ual ou maior quea renda média e cem por cento se a renda mediana é menor quea média. Cma ve$ que a distribui"ão de renda é tipicamentedistorcida em dire"ão )s rendas mais baixas, isto é, a mediana é

%eralmente menor que a média, o equilíbrio ma3orit!rio consistiriaem uma completa i%ualdade nas rendas p+s asco. as se ataxa"ão provoca deadweight losses o eleitor mediano vai pre&eriruma taxa de impostos menor que as unidades a conclusão %eraldos modelos baseados em escalas lineares de taxa"ão e que aescala de taxa"ão vencedora ir! (< trans&erir renda dos ricospara os pobres, (= prover um imposto ne%ativo para os pobres, e(? encontrar seu limite antes de atin%ir uma i%ualdade per&eita derendas p+s4taxa"ão.

Cma ve$ que na re%ra ma3orit!ria a pre&erência do eleitor comrenda mediana é decisiva, os modelos do eleitor medianovinculam proveitosamente, in&orma"#es sobre as condi"#escorrentes aos resultados da escolha política. omo 6omer e6osenthal observaram, 2a maior vanta%em do paradi%ma doeleitor mediano é que permite a an!lise de problemas sociaisatravés das pre&erências de um 5nico indivíduo, o crucial eleitormediano2. Dimos que a pre&erência4modal do eleitor mediano

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depende da rela"ão entre a sua renda e a renda média. *e adistribui"ão de renda &osse per&eitamente simétrica, isto é, se amediana &osse i%ual i média, a maioria votaria por nenhumimposto e nenhuma trans&erência (supondo que nenhumproblema especial é apresentado pelos bens p5blicos, comoessa literatura tende a assumir. medida em que a distribui"ão

de renda pré4&isco se torna mais desi%ual, isto é, a mediana caiem rela"ão ) média, a taxa de imposto pre&erida pelo eleitormediano aumenta. O resultado &oi usado por elt$er e 6ichardF<IJ<K para explicar o crescimento do %overno na EuropaOcidental: extens#es do direito de voto e a recente proli&era"ãode eleitores que recebem sua renda da se%uridade sociallevaram a renda mediana para baixo em rela"ão média,aumentando assim a taxa &iscal de equilíbrio ma3orit!rio. lém domais, elt$er e 6ichard notam que o modelo do eleitor medianoexplica o aumento da dívida p5blica, 3! que 2o eleitor decisivo temincentivo para taxar tanto os &uturos ricos quanto os atuais. Fpp.

I=PK.Os modelos do eleitor mediano &oram testados em rela"ão a

v!rias !reas de políticas p5blicas 'ommerehne F<IJKdescobriu que tal modelo &oi bastante bem4sucedido nasmunicipalidades suí"as com democracia direta. Vodavia, aspesquisas empíricas %eralmente levam a conclus#es céticas arespeito de sua validade. Vendo resenhado v!rios estudos sobre%astos de escolas municipais, que &ornecem as mais &avor!veisbases de teste para esse modelo, 6omer e 6osenthal F<II pp.<@@K concluíram que eles 2&alham em mostrar que os %astos reaiscorrespondem, em %eral, )queles dese3ados pelo eleitormediano.2 FDer também ueller, <II: pp. <WT4<WI.K 1adas asseveras restri"#es ) validade desse modelo, essa conclusão nãosurpreende.

=.?. instabilidade dos resultados democr!ticos

O modelo do eleitor mediano é intelectual e normativamenteatrativo. s políticas p5blicas são explicadas pelas pre&erênciasdos cidadãos e a teoria é poderosa o su&iciente para dar conta deuma variedade de &en/menos, incluindo os padr#es hist+ricos de

%astos estatais. Normativamente, o modelo do eleitor mediano 3usti&ica o ideal democr!tico: em uma comunidade democr!tica,os %overnos são sensíveis e respondem aos dese3os doscidadãos. as, in&eli$mente, toda essa constru"ão intelectual éexcessivamente &r!%il.

 s condi"#es nas quais o modelo do eleitor mediano seaplica, ou se3a, as condi"#es em que h! um equilíbrio da re%rama3orit!ria, são altamente restritivas. Xo3e est! bem estabelecidoque nenhum procedimento de vota"ão produ$iria, em %eral, umaordena"ão transitiva de pre&erências coletivas. *ão inst!veis asescolhas coletivas &eitas por indivíduos racionais em um

momento especí&ico, mediante qualquer procedimento devota"ão no sentido de que as mesmas pre&erências individuaispodem levar a di&erentes resultados coletivos.

Dimos acima que um equilíbrio ma3orit!rio existe apenas seh! uma proposta que não pode ser derrotada se%undo a re%rama3orit!ria. Val equilíbrio é est!vel se ele resulta do processo devota"ão, independentemente da ordem em que as propostas sãocomparadas. >uando as pre&erências individuais têm um 5nicopico e al%umas restri"#es adicionais se veri&icam, o equilíbrio dare%ra ma3orit!ria existe: este é o teorema central que &undamentaos modelos do eleitor mediano.

as 3! com escalas de taxa"ão não4lineares, as pre&erênciasdos eleitores podem ser tais que podem aparecer ciclos mesmoem vota"#es sobre quest#es unidimensionais F7oleH. <ITK. ommais dimens#es, é sempre possível que mesmo que todos oseleitores se3am racionais, no sentido de que suas pre&erênciasse3am transitivas se i pre&ere Y em ve$ de e em ve$ de Z, i

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pre&ere Y em ve$ de Z. s pre&erências coletivas se3amintransitivas, isto é, Y derrotaria pela re%ra ma3orit!ria, derrotaria Z e Z derrotaria Y. *uponha que os indivíduos votampara decidir quanto dinheiro obter com impostos, quanto %astarem bens p5blicos, quanto em trans&erências para cidadãoscomprovadamente carentes, quanto em bene&ícios universais.

Em %eral, não h! escolhas que não possam ser derrotadas poroutra(s proposta(s. O n5cleo est! va$io: o n5cleo sendo ocon3unto de propostas invencíveis. lém do mais, se as quest#essão su&icientemente multidimensionais qualquer resultado épossível mesmo resultados que deixem todos pior do queestavam sob o status quo, sem deixar nin%uém melhor.FcGelveH, <IT.K.

Esses resultados &or"am a uma %rande reinterpreta"ão doprocesso democr!tico. Numa democracia em que é permitido aoscidadãos pre&erir o que bem dese3arem, em que as pre&erênciasde cada um contam para os resultados e nenhuma pre&erência

individual é decisiva e em que os resultados são independentesda sequência em que as propostas aparecem, não ir! se %eraruma pre&erência coletiva que possa ser vista como um mandatopopular 5nico, expressão con&i!vel da vontade coletiva. Narealidade, resultados de vota"ão não se relacionam com aspre&erências de eleitores. ssim, pelo menos em umainterpreta"ão FDer em particular 6i9er, <IJ=K, o e&eito do teoremade rroU e seus desenvolvimentos subsequentes quebrou aconexão do século de$oito entre soberania popular eracionalidade coletiva entendida como transitividade daspre&erências coletivas.

6i9er F<IJ=K ar%umentou que os teoremas da impossibilidadeinvalidaram a interpreta"ão das elei"#es como uma expressão davontade popular, su%erindo que deveríamos pensar as elei"#escomo uma oportunidade ne%ativa de eliminar diri%entesindese3!veis. Cma ve$ que as elei"#es não são um mecanismosi%ni&icativo para a expressão da vontade popular, não podem ser

vistas como outor%ando aos %overnos um mandato paraperse%uir quaisquer políticas particulares. ssim, 6i9er de&endeuum %overno mínimo baseado em direitos ne%ativos, umademocracia 2liberal2 em lu%ar de uma democracia 2populista2.oleman e 7ere3ohn F<IJTK ar%umentaram, entretanto, que osteoremas da impossibilidade se aplicam com i%ual &or"a )

escolha de %overnos e ) escolha de políticas: nesses termos,não h! ra$#es para pre&erir a democracia liberal ) democraciapopulista. Eles também se uniram a *hepsle F<IIaK ao en&ati$arque muito da instabilidade da escolha coletiva pode ser removidapor constran%imentos institucionais consensuais.

 s quest#es normativas se concentraram tradicionalmente naidenti&ica"ão, &eita por rroU, de racionalidade coletiva etransitividade ou pelo menos não4ciclicidade das pre&erênciascoletivas Fver ueller, <IIK. l%uém poderia considerar quequalquer resultado alcan"ado com 3usti"a deveria ser aceit!vel,mesmo se pudesse ser derrotado por al%um outro resultado

 3usto, pela re%ra de maioria. lém disso, pode4se ar%umentar, noespírito de 1ahl F<IPTK, que maiorias est!veis são indese3!veis, 3! que podem oprimir minorias: iller F<IJ?K observou comast5cia que o paraíso perdido pelo te+rico da escolha social é oparaíso %anho pelo te+rico pluralista. 7inalmente, *cho&ieldF<IJ=, <IJPK atentou para o &ato de que o caos da políticaracional não deve ser contrastado com a racionalidade est!vel domercado: o edi&ício da teoria do equilíbrio %eral é vulner!vel )manipula"ão estraté%ica por a%entes individuais.

Veorias positivas da política p5blica também sãopro&undamente a&etadas pelos resultados da impossibilidade.iller F<IJ?K che%ou ao extremo de ar%umentar que a maioriadas &lutua"#es de vota"ão e mudan"as de %overno resultam maisda instabilidade inerente )s escolhas coletivas do que demudan"as nas pre&erências sub3acentes dos indivíduos. lémdisso, mesmo que os %overnos tentem manipular a economia demodo a maximi$ar seu apoio eleitoral não existe uma política

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5nica capa$ de consistentemente %anhar elei"#es contra todasas alternativas. ssim, *cho&ield F<IJP: pp. PK ar%umentou que seum %overno tentasse indu$ir ciclos econ/micos eleitorais 2nãoexistiria nenhum procedimento 5nico para &a$er isso de um modoque maximi$asse votos, ou %arantisse votos su&icientes para areelei"ão2. &or"a analítica das teorias econ/micas da

democracia é assim quase nula, se os teoremas daimpossibilidade se veri&icam no mundo real.Os teoremas da impossibilidade se apoiam em v!rias

premissas e cada uma delas 3! tem sido ob3eto de extensosdebates. premissa que não é sequer explicitamentemencionada é que as pre&erências individuais são dadas epermanecem imut!veis durante o processo político. Disto daperspectiva da ciência econ/mica o processo político consistiriaapenas na mani&esta"ão e a%re%a"ão de pre&erências individuais&ormadas exo%enamente. as é ra$o!vel que os indivíduosmudem suas pre&erências como resultado de sua m5tua

comunica"ão. An&eli$mente, não temos uma descri"ão ra$o!veldo modo como as pre&erências mudam. 6i9er F<IJJ: pp. <== epp. <=?K admitiu a possibilidade de que as intera"#es políticaspossam modi&icar as pre&erências dos eleitores, mas semespeci&icar as bases para tal e rele%ou essa possibilidade )squest#es sem import0ncia política. questão central é sepre&erências coletivas transitivas podem ser indu$idas por umprocesso político no qual os políticos deliberadamente busquemprodu$ir um mandato não ambí%uo e consistente. Nesse est!%io,nin%uém parece saber ao certo.

?. 1emocracia e e&iciência

?.<. crítica neoliberal

esmo se cidadãos racionais expressassem suaspre&erências de &orma est!vel e sem ambi%uidades e se os%overnos respondessem com a satis&a"ão dessa pre&erênciacoletiva, qualquer interven"ão política na economia seria inimi%ado bem4estar %eral. Este é o ponto central de um con3unto de

vis#es que combinam a crítica conservadora tradicional dademocracia com a perspectiva liberal da economia,especi&icamente a 2teoria da re%ula"ão2, inspirada por *ti%ler, e aum pouco distinta teoria da 2rent see9in% societH2 (sociedade embusca de renda, inspirada por Grue%er e Vulloc9.

  posi"ão central dessa perspectiva vou re&erir4me a ela como2neoliberal2, é que o mercado aloca recursos para todos os usosmais e&icientemente do que as institui"#es políticas. O processodemocr!tico é de&eituoso e o Estado é uma &onte de ine&iciência.o Estado sequer precisa &a$er qualquer coisa para que asine&iciências ocorram: basta a mera possibilidade de que possa

vir a &a$er qualquer coisa.Examinemos o ar%umento neoliberal na versão da 2teoria da

re%ula"ão2. 1e acordo com a economia neocl!ssica, um con3untode mercados completos e competitivos alocaria recursos parausos privados de um modo e&iciente, es%otaria todos os %anhospossíveis da troca e não seria alterado por um voto un0nime Bsendo as três a&irma"#es equivalentes. Esses mercados,entretanto, deixariam de &uncionar e&icientemente na presen"a dev!rias restri"#es, tais como externalidades, retornos crescentesde escala, custos de transa"ão etc. ais importante ainda, osmercados o&ertam ine&icientemente bens que são não rivais parao consumo, os chamados 2bens p5blicos. F*amuelson, <ITTK. teoria de Estado que emer%e da economia neocl!ssica implicaque se deve con&iar ao mercado a produ"ão de bens privadosenquanto o Estado deve prover bens p5blicos e corri%irdisparidades entre as taxas privadas e sociais de retorno, pelacobran"a de impostos pi%ovianos. omo a&irmou rroU F<I<:

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pp. <?K, 2quando o mercado &alha em alcan"ar uma situa"ão+tima, a sociedade vai, em al%uma extensão, reconhecer a &alha,e institui"#es sociais não mercantis sur%irão para tentar super!4la.2 FDer também us%rave, <I<.K.

Os neoliberais atacaram essa teoria de v!rias maneiras: (<demonstrando que, na ausência de custos de transa"ão, o

pr+prio mercado, com uma distribui"ão adequada de direitos depropriedade, pode lidar com as suas imper&ei"#es Foase. <ITWK;(= ar%umentando que a no"ão de imper&ei"#es de mercado,incluindo bens p5blicos, não é clara e que nenhuma teoria asespeci&ica ex ante  F*ti%ler, <IP: p. <<WK; (? observando quemesmo que o mercado &alhe em &uncionar e&icientemente, não h!%arantias de que o Estado &i$esse melhor F*ti%ler, <IP, cap. ;para uma classi&ica"ão das 2&alhas p5blicas2 ver Qol&, <IIK; e(@ reivindicando que os bens p5blicos são produ$idos nãoporque se3am bené&icos para o p5blico que os demanda, mas porserem lucrativos para os interesses privados que os &ornecem Fde

novo *ti%ler; *hepsle, <IIb; *hepsle e Qein%ast. <IJ@K. ra$ãopela qual o Estado &ornece bens p5blicos é a mesma ra$ão pelaqual &a$ qualquer outra coisa: o auto4interesse privado deal%uém. Esses ar%umentos servem aos te+ricos neoliberais para 3usti&icar a premissa de que os mercados competitivos sãoe&icientes sem maiores distin"#es e complica"#es.

ercados competitivos seriam e&icientes, mas a%ora temosum Estado que intervém ou pelo menos é capa$ de intervir naeconomia. O Estado é aqui tratado como 2o re%ulador2 e não éde&inido ou descrito mais apro&undadamente. Cma característicab!sica dessa perspectiva é que se d! pouca aten"ão )sinstitui"#es políticas. política é vista como basicamente amesma em qualquer lu%ar. 'elt$man proclama que 2não h!qualquer ra$ão para con&inar a an!lise as sociedadesdemocr!ticas. 1esde que a supressão do dissenso é custosapara um ditador, ele deve ser sensível ao apoio popular parasuas políticas.2 F<IJW: pp. ==<; também 8ec9er <IJ?: pp. ?P.K. O

re%ulador a%e auto interessadamente e, novamente pouco é ditoa respeito do que quer o re%ulador. *ti%ler mencionaenriquecimento como motivo; Xirschlei&er, em seu coment!riosobre 'elt$man F<ITK acha estranho assumir que os políticos sepreocupem com votos se é admitido que todos os outros sepreocupam com dinheiro: mas em %eral a hist+ria come"a um

passo l+%o adiante, com al%o chamado 2apoio político2. O quequer que os políticos e burocratas queiram para eles pr+prios,para alcan"ar isso eles precisam de apoio político; assim sendo,a premissa comum a essas teorias é que os %overnosmaximi$am apoio.

 poio é al%o que os políticos compram por meio detrans&erências de renda e al%o que os %rupos vendem de duas&ormas: apoio direto (votos, em uma democracia e outrosrecursos, [principalmente dinheiro, que produ$em apoio direto. trans&erência de renda é entendida amplamente. Vudo o que os%overnos &a$em resulta em uma trans&erência de renda. ssim,

*ti%ler F<IP: cap. JK inclui, além de subsídios monet!rios diretos,o controle de entrada em ind5strias e ocupa"#es, controles sobrebens substitutos e complementares, re%ula"ão de pre"os e tari&asetc. Grue%er F<I@K en&oca a competi"ão estran%eira, incluindotari&as, licen"as de importa"ão e restri"#es quantitativas e incluiexemplos tais como sal!rio mínimo e tetos sobre as taxas de 3uros. 8ec9er F<I?: pp. ??4?@K classi&ica os instrumentos detrans&erências em taxas, subsídios, re%ula"#es e outros. Em%eral, qualquer a"ão %overnamental que &a$ com que equilíbrioalcan"ado divir3a do equilíbrio competitivo constitui umatrans&erência de renda.

Vrans&erências de renda necessariamente causamine&iciências. questão envolvida nas trans&erências não éapenas a de que al%uém perde enquanto outro %anha, mas a deque a sociedade como um todo tem pre3uí$os líquidos. Oconceito central é o de 2deadweight losses2: os %anhosadicionados aos bene&ici!rios são sempre menores que os

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custos so&ridos pelos perdedores, pois as trans&erências de rendamodi&icam o comportamento.

Essas perdas são de três tipos. 'rimeiro, h! as deadweightlosses propriamente ditas. 2>ualquer imposto a&eta a base detaxa"ão2: esta é a m!xima F'elt$man, <IT: pp. =<TK. Ampostosredu$em a demanda por trabalho porque aumentam os custos do

empre%o; redu$em os investimentos porque aumentam os custosdo capital, e assim sucessivamente. *ubsídios são tambémine&icientes: o apoio a uma ind5stria toma seus bens maisbaratos do que deveriam ser em termos de custos deoportunidade e provoca uma m! aloca"ão de recursos.'articularmente perniciosas são as trans&erências dos ricos paraos pobres: a resposta dos ricos para a taxa"ão dos lucros époupar menos, a resposta dos pobres para as trans&erências étrabalhar menos, compondo, então, as deadweight losses. sestimativas 2empíricas2 das deadweight losses são astron/micas.Foloco 2empíricas2 entre aspas porque o procedimento é, )s

ve$es assumir certas elasticidades e &a$er simula"#es, ao invésde estimar. Der 8roUnin% e \ohnson, <IJ@; *tuart, <IJ@; 8allard,*hoven, e QhalleH, <IJPK.

 lém dessas ra$#es padr#es, duas outras &ontes deine&iciências são en&ati$adas pela teoria da 2rent see9in% societH2.*ão elas as rendas monop+licas %astas pelos %overnos e osrecursos desperdi"ados na tentativa de in&luenciar o %overnopara &ornecer rendas monop+licas. 6etomamos a essascate%orias abaixo.

1esde que a interven"ão %overnamental é sempre ine&icientecomo pode acontecer que os %overnos realmente existam,re%ulem, taxem, subsidiem, imponham barreiras ) entrada, etc'elo menos em uma democracia, presumivelmente, cidadãosracionais, auto interessados, votariam contra qualquer tipo deinterven"ão %overnamental. as essa não é a realidade. ra$ãoé que o processo democr!tico é necessariamente de&eituoso e oscidadãos são racionalmente i%norantes e manipul!veis. \! que

este é o centro da teoria vamos nos aproximar dos textos.O processo democr!tico é inerentemente ]bruto ou &iltrada ou

barulhentoR F*ti%ler, <IP: pp. <=TK. s vota"#es podem acometerapenas eventualmente; os votos devem decidir todos os tipos dequest#es simultaneamente; as alternativas com que se de&rontampodem ser &ormuladas apenas de &orma crua. lém disso, em

uma democracia qualquer um pode votar, 2não simplesmenteaqueles aos quais as decis#es di$em respeito2 diretamenteFibidem: pp. <=@K. Os votos a&etam decis#es sobre quest#es arespeito das quais o eleitor particular pode se preocupar pouco,ou nem isso. E 3! que os bene&ícios das interven"#es%overnamentais tendem a estar concentrados, enquanto seucusto é di&uso, os indivíduos têm poucos incentivos paraaprender sobre todas as quest#es sobre as quais votam. F1oUns.<IP; 8ec9er, <IPJ; *ti%ler, <IPK. Os indivíduos são i%norantesracionais, mas ainda assim i%norantes. 2O processo de decisãopolítica2 observa *ti%ler F<IP: pp. <=@K, 2não pode excluir o

eleitor desinteressado... ssim sendo, o processo político não%arante a participa"ão em propor"ão ao interesse ouconhecimento2. lém disso, esse equilíbrio entre os custos e osbene&ícios da in&orma"ão implica que os eleitores podem sermanipulados, por receberem in&orma"ão e por serempersuadidos por partidos interessados F'elt$man, <IT; 8ec9er,<IJ?K. - por isso que o apoio o&erecido por %rupos particularesem troca de rendas monop+licas inclui não apenas votos, masrecursos com os quais obter votos (dinheiro, or%ani$a"ão etc., eé por isso que os eleitores individuais não são, no &undo,soberanos. 8ec9er F<IJ?: pp. ?I=K acredita que as pre&erênciasdos eleitores não são uma &or"a independente crucial nocomportamento político.

ontrastemos o processo democr!tico com o mercado. Nomercado, nin%uém é levado a decidir sobre matérias de nenhuminteresse pessoal para si pr+prio. O exemplo de *ti%ler mereceaten"ão: 2Em um mercado privado, o não4via3ante nunca opta

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(vota entre &a$er via%ens de trem versus via%ens de avião,enquanto um %rande transportador opta (vota muitas ve$es acada diaR F<IP: pp. <=@K. No mercado, as decis#es são tomadasa todo momento e discriminam: se quero comprar a$eitonas,comparo o pre"o das a$eitonas e compro a$eitonas; não sou&or"ado a comprar qualquer outra coisa. No mercado, a

in&orma"ão é barata e &lui constantemente: a qualquer hora queeu &or ) lo3a, descubro qual é o pre"o das a$eitonas. ssim,8ec9er nota F<IJ?: pp. ?I=K que 2o cidadão médio sabe muitomais sobre o pre"o dos supermercados ou a per&ormance doscarros do que sobre cotas de importa"ão ou sal!rios p5blicos.Em consequência, *ti%ler F<IP: pp. <=TK conclui: 2s express#esde pre&erências em vota"#es serão menos precisas que asexpress#es de pre&erências no mercado, porque muitas pessoasnão in&ormadas estarão votando e a&etando a decisão.2.

O mercado é simplesmente um mecanismo superior para arevela"ão de pre&erências soberanas. ra$ão liberal tradicional é

en&ati$ada por Vollison F<IJ=: pp. PJIK: 2O mercado é uma arenade propriet!rios em que os indivíduos so&rem as consequênciasde suas a"#es sob &orma de mudan"as em sua rique$a líquida. arena política é uma arena de não propriet!rios em que a%entesindividuais não percebem sempre o pleno bene&ício ou custo desuas decis#esR. E a conclusão se%ue F<IJ=: pp. PI@K: 2O pontoem discussão é que a competi"ão política em condi"#es de umhomem um voto não leva a resultados e&icientes, nos mesmostermos em que tais resultados são produ$idos pela competi"ãoem mercados privados.2. Ou como 8ur9e escreveu a respeito dadistribui"ão de renda por meio da taxa"ão é 2melhor deixar todosos ne%+cios em que não ha3a nem &or"a nem &raude, colisão oucombina"ão, inteiramente para as pessoas )s quais a matériacontratada di$ respeito; ou colocar o contrato na mão daquelesque não têm nenhum ou um remotíssimo interesse na questão, epouco ou nenhum conhecimento da matériaR F<IJ@: pp. T=K. ome&eito de 8ur9e, escrito em <IP, pressa%ia muitos ar%umentos

acima discutidos, incluindo até mesmo as deadweight losses.

?.=. democracia é ine&iciente

1uas quest#es técnicas ^ uma empírica e outra conceitual Bsão importantes para avaliarmos os ar%umentos neoliberais. questão empírica di$ respeito )s deadweight losses: se elasrealmente prevalecem e se são inevit!veis. Essa questão nãoser! discutida aqui; retomamos a um aspecto crucial b!sico, nadiscussão da propriedade privada. questão conceitual di$respeito ao conceito de e&iciência entendida como a optimalidadede 'areto.

Na visão neoliberal a interven"ão %overnamental sempreintrodu$ ine&iciências. suposi"ão é de que a sociedade primeiroencontra al%um ponto e&iciente, isto é, que repousa sobre a

&ronteira de 'areto, e então entra o %overno, provocando oaparecimento de deadweight losses e empurrando a aloca"ão derecursos para um ponto in&erior ao ori%inal. as a tese %eral nãose sustenta.

'rimeiro, nem todas as aloca"#es de recursos podem sercomparadas com a lin%ua%em técnica da e&iciência. *uponhamosque o mercado aloca recursos de um modo , que é e&iciente.*uponhamos que o sistema democr!tico (em que cada um temum voto, mesmo os pobres aloca recursos de um modo '. -sempre verdadeiro que ' é menos e&iciente que resposta é2não2: al%umas possíveis aloca"#es e ' não podem sercomparadas em termos de e&iciência. O ponto pode selocali$ar em uma &ronteira de possibilidades que é superior ) doponto ', mas o movimento de ' para pre3udicaria al%uém:então não é 'areto superior a '. menos que ha3a umaalternativa que deixe cada um i%ual ou melhor que antes, umapolítica não é ine&iciente.

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*e%undo, di$er que uma política provoca deadweight losses éa&irmar que ela redu$ a renda nacional mas não que redu$necessariamente o bem4estar social. s a"#es %overnamentaistipicamente pre3udicam al%umas pessoas enquanto bene&iciamoutras. >ue as perdas a%re%adas de renda excedam os %anhosa%re%ados não é relevante, a menos que a utilidade se3a medida

em termos de dinheiro. ssim, mesmo que se3a verdade que asinterven"#es %overnamentais necessariamente diminuem arenda a%re%ada, as in&erências relativas a perdas de bem4estar, apartir de perdas de renda, não podem ser sustentadas.

7inalmente, o modelo proposto por 'elt$man F<ITK eelaborado por 8ec9er F<IT, <IJ?K implica de &ato que a aloca"ãopolítica precisa ser 'areto e&iciente. *uponhamos que não se3a.Então, por de&ini"ão, existiria al%uma alternativa de política(incluindo a não4interven"ão que &aria pelo menos al%umapessoa melhor e nenhuma pior. Na &i%ura <, cada ponto na&ronteira de possibilidades de utilidade entre p e p é 'areto

superior a ' produ$indo um apoio político maior que '. *equalquer ponto &osse economicamente possível, ' nunca seriaescolhido por um político maximi$ador de apoio. _o%o, qualquerque se3a a escolha do político maximi$ador de apoio, ela deverepousar sobre a &ronteira de possibilidades da utilidade.

'ara concluir, a lin%ua%em técnica não é corretamente usadapelos escritores neocl!ssicos, que precisam se basear napremissa apriorística implícita de que a aloca"ão de recursosresultante do processo democr!tico é in&erior a do mercado, embases outras que não a da e&iciência. proposi"ão de quequalquer interven"ão %overnamental e uma &onte de ine&iciêncianão pode se sustentar dentro da lin%ua%em da teoria econ/mica.

Enquanto as vis#es discutidas acima en&ati$am a ale%adaine&iciência dos resultados de políticas, outra perspectiva &ocali$aos desperdícios envolvidos no processo político. visãoneoliberal do processo político se toma mais mani&esta na teoriada ]rent4see9in% societHR FGrue%er, <I@ &ornece uma versão

ainda ra$o!vel dessa teoriaK. Nessa concep"ão, o %overno é uma&onte de rendas monop+licas. Cma ve$ que essas rendas estãol! para serem extraídas, os a%entes econ/micos competem paraobtê4las. 'or exemplo, se as rendas monop+licas são ori%in!riasde restri"#es quantitativas )s importa"#es e se as licen"as deimporta"ão são distribuídas de acordo com o tamanho das

companhias, as companhias aumentam seu tamanho paracompetir pelas licen"as. e&iciência so&re então por duas ra$#es:a ra$ão tradicional, isto é, a prote"ão, e uma ra$ão adicional, odesperdício envolvido nas companhias ine&icientemente %randes.

Essa hist+ria assume uma &orma %eral de 2teoria dasociedade2 nos escritos de 8uchanan, Vollison e Vulloc9 F<IJWK eseus colaboradores. interven"ão %overnamental %era rendasmonop+licas: isto é um desperdício de excedentes doconsumidor. *e os pr+prios %overnos se apropriarem dessasrendas monop+licas eles provavelmente as desperdi"arão ematividades improdutivas Fver em particular a resposta de Vulloc9 a

8ha%UatiK. lém de tudo isso, todos desperdi"am recursostentando in&luenciar o %overno. O 5ltimo ponto constitui o &ocoespecí&ico desse ar%umento. *uponhamos que duas ind5striasdispendem recursos com %entile$as a burocratas%overnamentais, uma &a$endo lobby  a &avor e outra contra umacerta tari&a, e que no &inal o %overno decide não introdu$ir essatari&a Foun%, <IJ=K. e&iciência não so&re pela interven"ão%overnamental: o %overno não interveio. as recursos &oramdesperdi"ados na tentativa de in&luenciar o %overno: a pr+priapossibilidade de interven"ão é uma causa de desperdício.esmo que o %overno eventualmente introdu$isse a tari&a,causando ine&iciência dessa maneira, poderiam ser poupadosrecursos se a decisão &osse tomada sem qualquer in&luênciaexterna. O que deveriam &a$er então os %overnos 6esposta:estaríamos melhor se eles simplesmente &i$essem sem seremin&luenciados o que &ariam sendo in&luenciados. E como poderiamsaber o que &a$er Eles deveriam ouvir os economistas.

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sublime l+%ica dessa teoria é capturada por 1ixit e `rossmanF<IJ@K, que ar%umentam que muitos recursos seriam poupadosse os lu%ares no paraíso &ossem concedidos deus ex machine,sem que nin%uém tivesse que passar por um processo desele"ão.

O processo político é exatamente o que constitui o

desperdício nessa perspectiva. Essa teoria leva a teorianeocl!ssica ) sua conclusão 5ltima: as pre&erências dosindivíduos são ex+%enas e &ixas, e o equilíbrio é alcan"adoinstantaneamente. *endo assim, não existe necessidade nemespa"o para qualquer tipo de processo: as pre&erências nãoserão alteradas e o resultado é conhecido diretamente a partirdas pre&erências e dos constran%imentos. 'elo menos na 2teoriada re%ula"ão2, versão de hica%o do neoliberalismo, o processopolítico é no &undo visto como in&erior ao mercado por causa desuas imper&ei"#es. Na teoria da 2rent4see9in% societH2, a 2versãode Dir%inia2, não h! espa"o para a política: a política é

simplesmente um desperdício. ssim, as conclus#es da perspectiva neoliberal são baseadas

em uma pre&erência apriorística pelo mercado e por umaparcialidade derivada do método de raciocínio. pre&erênciaideol+%ica pela propriedade privada normalmente expressa com&rases a respeito do 2interesse2 e da 2responsabilidade2 leva osescritores neoliberais não apenas a re3eitarem todas as no"#esde que uma aloca"ão de recursos possa ser avaliada se%undocritérios distributivos, mas também a &a$er uma a&irma"ão quenão pode ser totalmente sustentada pelos supostos da teoria, ade que todas as aloca"#es de recursos resultantes daspre&erências dos cidadãos e reveladas através do processodemocr!tico são necessariamente menos e&icientes que assolu"#es de mercado. inclina"ão metodol+%ica B de que aspre&erências são &ixas e que o a3uste ao equilíbrio é instant0neoB leva ) desconsidera"ão ou completa re3ei"ão do processodemocr!tico.

@. >uest#es em aberto.

>uatro premissas das teorias econ/micas da democraciaparecem particularmente question!veis: (< a de que as

pre&erências individuais são &ixas. (= a de que os políticoscompetem por apoio político. (? a de que os indivíduos sãodiretamente representados no processo político, e (@ a de que,uma ve$ eleitos, os %overnos são a%entes per&eitos de suasbases eleitorais.

@.<. 're&erências

  primeira questão é em que extensão e como as

pre&erências individuais são trans&ormadas ao lon%o do processopolítico. política é apenas uma arena em que atores cominteresses externamente dados lutam para promovê4los ou umaágora, em que os indivíduos descobrem por meio de intera"#esdiscursivas quais são suas identi&ica"#es coletivas e, portanto,seus interesses maior parte da sociolo%ia, de 1ur9heim a`ramsci até 'arsons, insistiu em que a &orma"ão das identidadesé um processo social contínuo: concep"#es dos interesses,assim como ima%ens da realidade que constran%e sãocontinuamente %eradas como resultado das intera"#es sociais.F'ara uma crítica recente das teorias econ/micas da democraciabaseada nessa posi"ão, ver 'i$$orno, <IJPK. as a questãorelevante é mais restrita: não se trata apenas de saber se aspre&erências individuais mudam de al%um modo como resultadode processos sociais, mas se elas mudam endo%enamente pormeio das intera"#es políticas. questão é se os eleitores sãopersuadidos a não %ostar da in&la"ão apenas por causa das

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promessas dos políticos de erradic!4la; se eles são ensinadospelos partidos políticos que os dé&icits p5blicos são a causa dain&la"ão, etc.

  resposta a essas quest#es é indubitavelmente positiva: aspre&erências dos indivíduos são alteradas ao lon%o do processopolítico. Dimos que a escola de hica%o sustenta que as

pre&erências individuais são manipuladas pelos %rupos que%astam dinheiro e recursos or%ani$acionais para in&ormar epersuadir os eleitores. 2s pre&erências2, 8ec9er coloca apalavra entre aspas, 2podem ser manipuladas pela in&orma"ão ea desin&orma"ão &ornecidas por %rupos de pressãointeressados... (... `rupos de pressão podem comprar votoscom lobbíes e outras atividades políticas...2 F<IJ?: pp. ?I=K. Nãoé preciso di$er que essa concep"ão a respeito das pre&erênciasindividuais é partilhada, com pequenas di&eren"as de lin%ua%em,por críticos (de esquerda das democracias capitalistas. Oscidadãos em uma democracia não são soberanos, são

dominados ideolo%icamente pela bur%uesia e manipulados pormeios de comunica"ão privadamente apropriados: este é umtema constante da esquerda Filiband, <ITI; nderson, <IK.

*e as pre&erências individuais são continuamentere&ormuladas ao lon%o do processo político, as teoriasecon/micas da democracia so&rem duas %randes consequências.odelos de competi"ão partid!ria não podem se basear napremissa de que a distribui"ão de pre&erências, 2a opiniãop5blica2 é al%o dado independentemente dos partidos emcompeti"ão. Essa distribui"ão é um e&eito, um resultadocontin%ente, entre outras vari!veis, da competi"ão entre ospartidos. F'ara uma elabora"ão te+rica desse processo, ver`ramsci, <I<. 'r$eUors9i e *pra%ue, <IJT, demonstraram queestraté%ias eleitorais dos partidos socialistas europeusdeterminam se os trabalhadores votam com base em umaidenti&ica"ão de classeK. ssim os modelos doUnsianos decompeti"ão partid!ria são &undamentalmente mal direcionados.

Os partidos políticos não simplesmente a3ustam suas propostas auma 2opinião p5blica2 pré4existente; eles &ormam essa opinião.*e as pre&erências dos cidadãos &ossem exo%enamente &ixadas,não haveria qualquer ra$ão para os partidos &a$erem outra coisasenão saltar instantaneamente para o equilíbrio B o paradoxo dateoria de 1oUns não é apenas que os indivíduos votam, mas

também que os partidos competem. Anvocar *chumpeter como opai intelectual da 2teoria econ/mica da democracia2 éequivocado. *chumpeter de &ato considera a democracia umacompeti"ão entre elites em busca do poder político, mas oprocesso político como um processo de persuasão: 2O quecon&rontamos na an!lise do processo político, insiste, 2é muitomenos uma vontade %enuína do que uma vontademanu&aturada.. a vontade do povo é o produto e não a &or"apropulsora do processo político.2 F<IP: pp. =T?. também =PJ,=W.K. O modelo doUnsiano simpli&ica essa concep"ão dacompeti"ão democr!tica e a deixa desprovida de poder

explicativo. s implica"#es da &orma"ão end+%ena de pre&erências para a

existência e estabilidade de um equilíbrio da re%ra ma3orit!ria 3!&oram aqui discutidas. premissa de pre&erências exo%enamente&ixadas pode ser ou não uma caracteri$a"ão acurada da políticacontempor0nea, mas ar%umentos derivados dessa concep"ãocertamente não bastam para uma crítica do conceito dedemocracia popular, tal como elaborado durante o século de$oitoe, posteriormente, usado para &ornecer os &undamentosideol+%icos das institui"#es representativas modemas. Vanto naconcep"ão de 6ousseau da vontade %eral FGeohane, <IJW, cap.<PK, quanto no pensamento revolucion!rio americano entre <Te <J FQood, <ITIK, pensava4se que as pre&erências individuaisseriam trans&ormadas na busca do interesse comum. E ointeresse comum não era a soma de quaisquer interesses que osindivíduos tenham perse%uido antes da intera"ão política, pois apolítica, como Qood coloca, 2era concebida não para conciliar,

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mas para transcender os di&erentes interesses da sociedade nabusca de um 5nico bem comum...2 F<ITI: pp. PT4PK. intransitividade das pre&erências coletivas &orneceria uma críticadevastadora das concep"#es 2populistas2 da democracia se&osse demonstrado que os cidadãos não são em verdade2virtuosos2, isto é, que eles não quereriam modi&icar suas

pre&erências diante do conhecimento das resultantesirracionalidades coletivas, ou se as intransitividadescontinuassem a ocorrer mesmo que os cidadãos &ossem plenosde virtude republicana. mbas as arma"#es podem serverdadeiras, mas até a%ora isso não &oi demonstrado. pesar de6i9er ter &echado prematuramente a questão F<IJ=K, não &oramainda exploradas todas as implica"#es do teorema de rroU paraas concep"#es de democracia.

@.=. ompeti"ão política.

O tratamento da competi"ão política é um aspectoparticularmente &raco das teorias econ/micas da democracia. premissa de que os políticos se preocupam apenas com o apoiopolítico, mais especi&icamente votos, em uma democracia, e queestão dispostos a assumir qualquer posi"ão e entrar em qualquercoali$ão para vencer elei"#es não é plausível. Existe al%oestranho em uma teoria que assume que as pessoas derivamutilidade do consumo e do la$er a menos, e apenas até omomento em que se tornam políticos B caso em que sua 5nica&onte de satis&a"ão são os votos. - certo que os políticospre&erem ser populares a não serem, mas a import0nciaaut/noma do poder nas suas &un"#es de utilidade é a %randequestão não resolvida da ciência política. nature$a paradoxaldessa premissa é demonstrada pela conclusão de que ospolíticos não são eleitores nessa teoria: os eleitores se

preocupam com as políticas, mas os políticos não têm essaspre&erências. O que seria uma evidência da motiva"ão dospolíticos não é &!cil de de&inir, pois a questão prévia é saber sobque constran%imentos os partidos maximi$am votos. distribui"ão das pre&erências dos cidadãos não é o 5nicoconstran%imento que os partidos en&rentam: os líderes partid!rios

também se preocupam com a mobili$a"ão de ativistas, com asatis&a"ão das burocracias partid!rias e )s ve$es em não o&enderor%ani$a"#es como sindicatos, i%re3as etc. evidênciaapresentada por Qittman F<IJ?K B de que os lideres partid!riosnão são orientados unicamente pelo voto B não é persuasivapois o que os políticos &a$em depende do contexto no qual ospartidos maximi$am votos. Existe uma questão real a respeito daextensão em que os partidos de &ato competem. rain F<IKar%umentou que em um sistema de distrito uninominal, ostitulares de mandatos não competem entre si: competem apenascontra desa&iadores FQittman. <IT. pensava que os partidos que

maximi$am votos competem.K. ssim, titulares de mandatos têmincentivos poderosos para restrin%ir a competi"ão. &inal decontas, a ind5stria mais prote%ida nos Estados Cnidos é apolítica eleitoral: de acordo com 6ae F<ITK, historicamente umpartido tinha que obter cerca de <W dos votos totais para%anhar sua primeira cadeira na 0mara dos 1eputados.

7inalmente, o modelo de Xotellin%41oUns produ$, na melhordas hip+teses, um equilíbrio ma3orit!rio para dois partidos.`reenber% e Qeber F<IJPK apenas recentemente conse%uiramcon&irmar a con3ectura de 1oUns de que, sob as mesmascondi"#es restritivas a respeito das pre&erências dos eleitores acompeti"ão por votos também resulta em um equilíbrio quandoh! mais partidos. as 3! que os vencedores em sistemasmultipartid!rios não precisam constituir uma maioria, énecess!ria adicionalmente uma teoria da coali$ão antes de que acompeti"ão eleitoral possa ser relacionada com resultados depolíticas. as as teorias de coali$#es existentes ainda são

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insatis&at+rias. teoria das coali$#es mínimas vencedoras de6i9er F<IT=K encontra ob3e"#es, por um lado, dos economistasque ar%umentam que os %anhos estão continuamenteassociados com o tamanho das coali$#es eleitorais F*ti%ler,<I=K, e de outro, dos cientistas políticos que insistem em que&atores ideol+%icos impedem os partidos de &ormar coali$#es.

as a base empírica das teorias da coali$ão, inclusive da2coali$ão vencedora de conexão mínima2, de xelrod F<IWK, é&raca FQri%ht e ̀ oldber%, <IJPK.

Em conclusão, não h! boas ra$#es para acreditar que, excetonas circunst0ncias excepcionais assumidas pelo teorema deXotellin%41oUns, a competi"ão entre políticos ir! lev!4los aoequilíbrio da re%ra ma3orit!ria, mesmo que exista al%um. Ospr+prios conceitos de competi"ão política e de apoio de mercadosão baseadas em uma analo%ia que não &ornece um modelo que&uncione.

@.?. 6epresenta"ão de interesses

  teoria econ/mica da democracia admite duas classes deatores: os indivíduos e (as equipes de políticos, uma das quaisse toma %overno. escola de hica%o introdu$, novamente,al%um realismo ao teori$ar sobre os %rupos de pressão, quecompram políticas %overnamentais e vendem apoio político.esmo aqui, contudo, os %rupos não são mais que coali$#ese&êmeras de indivíduos; qualquer coali$ão é prov!vel, e omercado de trocas consiste nesses %rupos e nos %overnos.omo 8ec9er F<IJ?: pp. ?JJK coloca, ]em todas as sociedades,um n5mero virtualmente ilimitado de %rupos de pressão pode&ormar um lobby   para a a3uda política de seus membros,classi&icados por ocupa"ão, ind5stria, renda, sexo, idade,estatura, consumo, e outras característicasR. *em che%ar até ooutro extremo B de que existem dois e apenas dois atores

políticos, as classes Fver o debate anleH41ahl4_indblom, <IJ?KB parece que as &ormas de representa"ão de interesse não sãolimitadas )quelas de e&êmeros %rupos de interesse, e que muitasdecis#es importantes, em países normalmente consideradoscomo democracias, simplesmente não passam pela políticaeleitoral.

om e&eito, mesmo nas sociedades democr!ticas, aschamadas 2associa"#es volunt!rias2 normalmente envolvem umelemento de coer"ão. omo *tepan F<IJ: pp. <PK observou,2para a maioria das sociedades, na maior parte da hist+ria, os%rupos de interesse não podiam se associar livremente2.*chmitter F<I@, <IK en&ati$ou a import0ncia do sistema 2neo4corporativista2 e representa"ão de interesses. Nesse sistema, umpunhado de or%ani$a"#es, principalmente associa"#esempresariais e sindicatos de trabalhadores, des&rutam de ummonop+lio virtual, e al%umas ve$es le%al, da representa"ão deinteresses &uncionalmente de&inidos. Esse monop+lio dota essas

associa"#es de poderes coercitivos sobre seus membros e lhescon&ere o status daquilo que *chmitter e *treec9 F<IJ<Kchamaram de 2%overno privado2. Cma enorme literatura,&undamentalmente descritiva, cresceu em torno desse tema. FDeraUson e 8allard, <IJ@, para a biblio%ra&iaK.

1uas quest#es centrais permanecem contudo, em aberto. primeira di$ respeito aos micro&undamentos do sistemacorporativista de representa"ão. Em seu arti%o ori%inal, *chmitterdeu uma explica"ão &uncionalista para as ori%ens docorporativismo: ele teria sido necess!rio para o desenvolvimentodo capitalismo Ftambém *trinati, <IIK. 6ecentemente, su%eriuque as ori%ens do corporativismo não podem ser buscadas nemnos requerimentos intencionais do capitalismo, nem nosinteresses dos membros individuais das associa"#escorporativas, mas no conluio entre líderes dessas associa"#es eburocratas %overnamentais F<IJTK. An&eli$mente essa teoria émuito esquem!tica para ser persuasiva. Qallerstein F<IJ@K

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desenvolveu um modelo que explica as varia"#es nacionais nacentrali$a"ão sindical, a característica central dos sistemascorporativos, mas come"a sua an!lise com sindicatos 3!existentes, e não com trabalhadores individuais. F'ara&ormula"#es alternativas dos problemas estraté%icos dostrabalhadores, ver *cheUerin. <IJ=, *toe9. <IJ@, O&&e, <IJP.K

8oUman F<IJ=, <IJPK estudou os micro &undamentos deassocia"#es de trabalhadores, com a conclusão %eral de que taisarran3os são altamente inst!veis. questão sobre quais são osinteresses servidos pelo sistema corporativo permanecealtamente controversa F'anitch, <IJW.K.

  se%unda questão di$ respeito ) rela"ão entre os sistemaseleitorais (2parlamentares2, na terminolo%ia Europeia e oscorporativos. Na visão de *chmitter F<IJ?K, *chUerin F<IJ=K, O&&eF<IJ@K e v!rios outros, o sistema corporativo substituiu arepresenta"ão por meio dos partidos políticos e parlamentos e,dado que o acesso ao sistema corporativo é limitado )s

associa"#es que exercem um poder monop+lico, ocorporativismo se desenvolve )s custas da democracia e comouma amea"a a ela. _embruch F<IJ=K e 'anitch F<IJ<K, contudo,ar%umentaram que o sistema corporativo complementa, e nãosubstitui as institui"#es parlamentares: os países com arran3oscorporativos &ortes são aqueles em que o escopo &uncional dasatividades estatais é mais extenso. Esta parece ser uma questãoempírica, mas de qualquer maneira não h! consenso.

  despeito das quest#es te+ricas que permanecem emaberto, as institui"#es neocorporativistas são obviamenteimportantes na vida de v!rios países europeus ocidentais,particularmente ustria, *uécia, Norue%a e *uí"a, e em menorextensão lemanha, 1inamarca, Xolanda, 8él%ica, e 7inl0ndia.Cm aspecto crucial das institui"#es corporativas é que elasinternali$am uma %rande parte do custo social de suas a"#es. ssim, uma &edera"ão sindical altamente centrali$ada devepreocupar4se mais com as consequências in&lacion!rias de suas

demandas salariais, enquanto se pode esperar que umdeterminado sindicato, dentro de um sistema &ra%mentado, arqueapenas com uma pequena parte desses custos. Numerososestudos empíricos demonstraram que o 2corporativismo2, medidode &ormas variadas, é um bom preditor do comportamento dossindicatos trabalhistas, da din0mica dos sal!rios, do desempenho

econ/mico e do %asto %overnamental F8runo e *achs, <IJP;ameron. <IJ@; astles, <IJ; rouch, <IJP; `arret e _an%e,<IJJ; Xic9s, <IJJ; _an%e, <IJ@b; _an%e e `arret, <IJP; ar9s,<IJT; callum, <IJ; *chmidt, <IJ=; *chott, <IJ@; Qilens9H,<IJ<K. pesar de nenhum estudo ter con&rontado diretamente,pelo que sei, as predi"#es que resultam do modelo do eleitormediano com aquelas postuladas pela teoria do corporativismo, a&or"a das institui"#es neocorporativas parece ser muito maisbem4sucedida na explica"ão das políticas %overnamentais e desuas consequências econ/micas.

@.@ autonomia do Estado.

7inalmente, não apenas as teorias econ/micas dademocracia, mas todas as teorias que vêem as decis#es%overnamentais como respostas a demandas externas, &alhamem considerar que os %overnos podem ter capacidadeinstitucional e que os diri%entes estatais podem ter vontade dea%ir independentemente de in&luências externas. Em ve$ deresponder a demandas, o Estado pode o&ertar políticasautonomamente, se3a no auto interesse dos pr+prios%overnantes, se3a no interesse p5blico, con&orme a interpreta"ãodos %overnantes. D!rias teorias B derivadas de di&erentespremissas te+ricas e aplicadas a di&erentes contextos hist+ricos^ sustentam que as políticas de Estado são melhor entendidaspela considera"ão dos &atores que determinam sua o&erta. Essasteorias são resenhadas a se%uir.

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apítulo =

./t$lo: O 1overno do Estado

<. Antrodu"ão

Cma questão deixada em aberto pelas teorias econ/micas dademocracia é por que os políticos se preocupariam em buscarapoio popular. 'or que, ao contr!rio, não tentariam se liberar dadependência do apoio de quem quer que se3a *e os%overnantes têm valores e interesses pr+prios, por que nãoprocurariam imp/4los ) sociedade Cm %rande corpo de te+ricosda ciência política sustenta que é precisamente isso que políticose burocratas tentam sempre &a$er, no que &requentemente sãobem sucedidos. Os %overnantes lutam continuamente paraescapar de controles externos e estabelecer seu pr+prio %overno.>uando são bem sucedidos, o resultado é a autonomia doEstado. 'ara usar a ima%em de arx, o Estado se torna o2senhor2 e não o 2servo2 da sociedade.

D!rias teorias explicam as políticas %overnamentais pelaspre&erências dos %overnantes e pelas características dasinstitui"#es estatais. 1e acordo com essas teorias, os diri%entesestatais têm ob3etivos pr+prios e, em certas condi"#esinstitucionais e políticas, são capa$es de implantar com sucessopolíticas orientadas para alcan"ar esses ob3etivos.

Os ob3etivos dos %overnantes podem re&letir seu interesse

individual dos interesses institucionais do Estado, ou entãoal%uma concep"ão do bem comum. s teorias dos 2direitos depropriedade2 sustentam que os %overnantes buscam seuspr+prios interesses. Veorias 2or%0nicas2, come"ando com rist+teles, veem o Estado como um ator moralmente motivado,procurando coordenar ob3etivos e a"#es individuais em nome deal%uns valores conceituados como o 2bem comum2, o 2interesse

p5blico2 ou al%o parecido. FDer *tepan. <IJ, para um sum!riodessas teorias.K Em qualquer desses casos. contudo, o Estado éaut/nomo, uma ve$ que os %overnantes B coletivamente, 2oEstado2 B não a%em no interesse de qualquer a%ente externo.

>uatro quest#es or%ani$am essa perspectiva: (< om que&requência e em que extensão os Estados são aut/nomos (=

>ue condi"#es promovem a autonomia (? >uais são asconsequências de di&erentes &ormas de Estado para as políticas%overnamentais (@ omo burocratas e políticos conse%uem setomar aut/nomos em condi"#es democr!ticas Cma ve$ que opr+prio conceito de autonomia permanece con&uso, al%umaspreliminares terminol+%icas devem ser esclarecidas antes que asquest#es substantivas possam ser discutidas. Asso é &eito nase"ão =. O tema da se"ão ? são teorias, principalmente deinspira"ão marxista, que explicam a ori%em da autonomia. se"ão @ o&erece uma an!lise, baseada na perspectiva dosdireitos de propriedade, das consequências de di&erentes &ormas

de Estado para as políticas p5blicas. possibilidade de que oEstado se3a aut/nomo na democracia é examinada na se"ão P,primeiro no que di$ respeito ) burocracia e depois de modo mais%eral.

=. 'reliminares terminol+%icas.

O Estado é aut/nomo quando os %overnantes têm acapacidade institucional de escolher seus pr+prios ob3etivos e dereali$!4los diante de interesses con&litantes. de&ini"ão de*9ocpol é representativa: 2os Estados, concebidos comoor%ani$a"#es que reivindicam controle sobre territ+rios epessoas, podem &ormular e perse%uir ob3etivos que não sãosimplesmente re&lexos das demandas e interesses dos %rupossociais, das classes, ou da sociedade. Asto é o que usualmentese entende como autonomia do Estado 2 F<IJP: p. IK

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 s di&iculdades terminol+%icas sur%em porque as proposi"#essobre autonomia respondem a duas per%untas di&erentes. Os%overnantes são capa$es de escolher os ob3etivos da atividadeestatal 'odem eles reali$ar seus ob3etivos, a despeito de comose3am escolhidos 'or exemplo, Grasner F<IJ@: p. ==@K coloca aquestão da autonomia per%untando se o Estado pode 2&ormular e

implementar suas pre&erências.2 as a capacidade de &ormular ede implementar não precisam vir 3untas, pelo menos por duasra$#es:

< Os %overnantes podem ter a capacidade institucional deescolher seus pr+prios ob3etivos, mas podem ser barrados nabusca de al%uns cursos de a"ão e, assim serem incapa$es de%erar cenos resultados.

Cma limita"ão advém da estrutura da economia. liberdadede a"ão %arantida aos a%entes econ/micos privados nocapitalismo, pode tomar al%umas &ormas de interven"ão estatalestruturalmente impossíveis. No capitalismo, a propriedade

privada da capacidade de trabalho e do capital imp#e limitesde&initivos )s &un"#es do Estado. propriedade privada do capitalimplica que o Estado não pode comandar o investimento; apropriedade privada da capacidade de trabalho impede o Estadode comandar o trabalho. (Note4se que os períodos excepcionaisem que os %overnos implementaram essas políticas são re&eridoscomo 2socialismo de %uerra.2 .

1adas essas limita"#es estruturais, os %overnos, nas suasinterven"#es econ/micas, se baseiam mais em incentivos do queem ordens. D!rios escritores usaram o conceito de2complementariedade: s+ podem ser e&etivas as interven"#esestatais compatíveis com os ob3etivos daqueles a&etados por umapolítica especí&ica. an!lise de O&&e é particularmente pertinente:2O sistema político pode apenas &a$er o&ertas a corpos externose aut/nomos, respons!veis pelas decis#es: ou essas o&ertas nãosão aceitas, tomando assim vãs as tentativas de dire"ão, ou paraque se3am aceitas, essas o&ertas precisam ser tão atrativas que a

dire"ão política por sua ve$, perde sua autonomia, pois precisainternali$ar as metas do sistema a ser diri%ido.2 F<I@: p. <PK.

7inalmente, uma importante limita"ão as a"#es estatais é deordem institucional. Os Estados constituem or%ani$a"#escomplexas F'ad%ett, <IJ<K. *ua estrutura or%ani$acionalpossibilita certas políticas e impede outras. coleta de impostos

de renda, por exemplo, exi%e um enorme sistema dein&orma"#es; os %overnantes não podem, simplesmente, decidirinstituir o imposto de renda. omo Evans e 6ueschemeHeren&ati$am, 2uma m!quina burocr!tica e&etiva é chave para acapacidade estatal de interven"ão. F<IJP: p. P<.K lém disso,&atores institucionais, como a independência das autoridadesmonet!rias centrais diante do executivo predisp#em os Estados aestilos políticos particulares. Em consequência como Xall F<IJ@Kdemonstrou, as políticas econ/micas di&erem mais entre paísesdo que entre %overnos em um mesmo país. FNa literaturamarxista, Xirsch, <IJ, en&ati$ou as limita"#es ao

intervencionismo estatal devidas a essa estrutura.K .= Cma ve$ que o Estado adquire a capacidade de intervir na

economia, os atores econ/micos têm motivos para buscarcontrolar o Estado. omo 6ueschemeHer e Evans F<IJP: p. TIKobservaram, ) penetra"ão crescente da sociedade civil peloEstado ativa rea"#es políticas e aumenta a probabilidade de queinteresses *ocietais procurem invadir e dividir o Estado.2 Oresultado e que, ) medida em que a capacidade estatal deimplementar suas pre&erências aumenta sua capacidade de&ormul!4las independentemente declina.

Essa é a hist+ria &requentemente contada do 9eHnesianismo.F*9idels9H, <I e <II.K om e&eito, pode4se &ornecer um relatodo papel do Estado em rela"ão ) economia com o qual *ti%lerF<IPK e Xabermas F<IPK concordariam. té a `rande1epressão, o Estado apenas %arantia a opera"ão do mercado,mas não intervinha. Não existia, naquela época, ra$ão para queinteresses privados buscassem controlar o Estado. Deio então a

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revolu"ão 9eHnesiana: o Estado adquiriu a capacidade deadministrar a economia. as como resultado de seus novospoderes adquiridos, rapidamente perdeu sua capacidade deresistir )s press#es de %rupos privados, que a%ora tinham boasra$#es para tentar in&luir no Estado. 'ermeado por interessesprivados, o Estado passou a %erar massivas ine&iciências )

medida em que respondia a press#es con&litantes, em particularpara a acumula"ão e a le%itima"ão. Nesse momento, osmarxistas concluíram que é possível um &racasso na reprodu"ãoB dia%n+stico partilhado pelos neoliberais, que responderamcom uma revolu"ão contra o Estado. curado ou não, esse relatohist+rico nos condu$ a se%uinte conclusão: os Estados tornaram4se vulner!veis a in&luências externas precisamente quando setornaram e&ica$es em trans&ormar a economia. *endo assim,pode ser que eles se3am aut/nomos na escolha de ob3etivos eimpotentes em sua reali$a"ão ou e&etivos em intervir, masvulner!veis a interesse privados. 'ara concluir, a habilidade dos

%overnantes para escolher seus ob3etivos deve ser distin%uida dacapacidade das institui"#es estatais para reali$ar esses ob3etivos.O Estado é 2aut/nomo2 quando &ormula suas pr+prias metas e asreali$a &ace ) oposi"ão. Ele é 2instrumental2 quando a%ee&etivamente como a%ente de al%uns interesses externos. Ele éirrelevante quando não pode &a$er muito, se3a em busca de seuspr+prios ob3etivos ou de ob3etivos alheios. - por isso que a no"ãode 2Estado &orte2 é uma &onte de con&usão quando 3ustap#e 2oEstado mais &raco... que é completamente permeado por %ruposde interesse2 a 2outro que é capa$ de re&a$er a sociedade e acultura em que se insere B isto é, de mudar as institui"#esecon/micas, valores e padr#es de intera"ão entre %ruposprivados2 FGrasner, <IJ: p. PTK. Cm Estado altamente permeadopor %rupos de pressão pode ser altamente e&etivo na mudan"adas institui"#es econ/micas, valores e padr#es de intera"ão: naverdade, o Estado 2mais &orte2 se tal palavra tem al%um valor éprovavelmente aquele que usa a violência or%ani$ada em nome

de interesses econ/micos dominantes e não um Estado que seaventura contra eles.

?. s ori%ens da autonomia do Estado.

?.<. aborda%em da 2autonomia relativa2.

1adas as di&iculdades terminol+%icas talve$ não se3a desurpreender que a&irma"#es empíricas radicalmente con&litantesse3am &eitas a respeito das rela"#es entre Estados e sociedades.'ara 8entleH F<IWJK, Vruman F<IP<K, Easton F<ITPK e seusse%uidores pluralistas, nunca um Estado pode ser independente.8entleH não temeu en&rentar o caso extremo: 2>uando tratamosde um +r%ão %overnamental como um comandante desp+tico,não nos é possível avan"ar no entendimento dele, exceto em

termos das atividades dos %rupos de sua sociedade que sãomais diretamente representados pelo +r%ão %overnamental.*empre e em qualquer lu%ar, nosso estudo deve ser um estudodos interesses que &uncionam através do %overno; de outra&orma, não che%aríamos até os &atos.2 Fp. =W4=<.K O Estado ésempre e em qualquer lu%ar uma expressão da sociedade: nadamais que um canal para o exercício de in&luência. Na verdade,para sermos &iéis ) terminolo%ia pluralista, deveríamos evitar otermo 2Estado2. Na visão de Easton, tudo que temos é umsistema que trans&orma in&luências externas em decis#esrevestidas de autoridade e sem qualquer e&eito pr+prio.

  reivindica"ão de 8entleH é recorrente, como muitas ve$esdemonstramos na busca intuitiva das bases sociais de ditadurasaparentemente aut/nomas. esmo que aceit!ssemos apremissa de que o Estado normalmente &unciona como a%entede al%uns %rupos a ele externos, podem existir al%umascondi"#es nas quais nenhum %rupo social possa ou queira

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estabelecer seu controle sobre o Estado. Nessas condi"#es, oEstado se torna 2aut/nomo2 .

O conceito de 2autonomia2 ori%ina4se de teorias,principalmente de inspira"ão marxista, que têm a se%uinteestrutura: se al%umas, condi"#es são veri&ic!veis na sociedadecivil, especi&icamente, se < classe economicamente dominante é

capa$ de se or%ani$ar politicamente e não encontra oponentesi%ualmente poderosos, então, a classe dominante conquista oEstado e manda diretamente. *e al%uma dessas condi"#es eviolada, o Estado se torna independente da sociedade. >uando oEstado é instrumental, interesses da classe economicamentedominante ditam o que o Estado &a$. >uando o Estado éaut/nomo, suas políticas não re&letem sistematicamente osinteresses da classe dominante. as a pr+pria rela"ão entre oEstado e a sociedade ^ se em condi"#es hist+ricas particulareso Estado é aut/nomo ou instrumental 4 é explicada pelasrela"#es de classe. ssim sendo, mesmo que as políticas do

Estado não possam ser redu$idas )s condi"#es sociais, aautonomia do Estado pode ser. F_aclau, <I, cap. =.K . omoElster F<IJP; pp. @WP4TK a&irma, a autonomia do Estado 2pode serexplicada pelo &ato de ser bené&ica para a classeeconomicamente dominante B ou ela pode ocorrer pelo &ato deque não h! uma 5nica classe dominante.2 autonomia é assimsempre 2relativa2, no sentido de que o Estado se torna aut/nomoapenas sob certas condi"#es da sociedade.

  subst0ncia dessas teorias é sumari$ada mais adiante; nestemomento, sua estrutura precisa de elabora"ão maisapro&undada. omo Elster F<IJP: p. @WPK nota, 2a autonomia éexplicada ne%ativamente como a ausência de explica"ão declasse.2 lin%ua%em ne%ativa domina verdadeiramente asde&ini"#es de autonomia: Vrimber%er, para citar mais umexemplo, vê o aparato de Estado como aut/nomo quando os%overnantes 2(< não são recrutados das classes dominantesa%r!ria, comercial ou industrial; (= não têm estreitos la"os

pessoais ou econ/micos com aquelas classes quando assumemaltos car%os p5blicos2 F<IJ: p. @K. as o conceito de autonomianão ne%a simplesmente que o Estado atue em nome de al%umprincípio externo. s teorias da autonomia do Estadonecessariamente tra$em a a&irma"ão contra&atual de que oEstado poderia ser um instrumento de al%um a%ente externo

especí&ico. a&irma"ão de que o Estado é aut/nomo em rela"ãoa um %rupo particular é de interesse apenas quando se a&irmatambém, plausivelmente, que esse %rupo em condi"#esespeci&icadas, poderia controlar o Estado. observa"ão de quenos Estados Cnidos de ho3e, as institui"#es estatais sãoaut/nomas em rela"ão as crian"as parece menos interessantedo que as que a&irmam que são aut/nomas em rela"ão aoeleitorado. O prolon%ado interesse dos marxistas pela autonomiado Estado deve4se ao &ato de que a teoria marxista toma comoexcepcionais períodos em que o Estado é aut/nomo: emcircunst0ncias capitalistas normais, espera4se que o Estado

&uncione se%undo o interesse da bur%uesia. s a&irma"#es deque os burocratas e políticos a%em se%undo seu auto interessederivam seu impacto da teoria que espera que &uncionem comoa%entes per&eitos do eleitorado. Em todos esses casos, haobserva"ão de que o Estado é aut/nomo constitui uma &onte deperplexidade em &un"ão de um modelo causal que predi$ que oEstado a%iria como um a%ente per&eito de al%um princípioexterno.

 lém disso, o conceito de autonomia é especí&ico a umre&erente. O Estado pode ser independente de um %rupo e serum a%ente per&eito de outro. Na interpreta"ão de handra F<IJWK,o Estado colonial era livre do controle da bur%uesia local, maspermanecia um instrumento do capital externo. O Estado9eHnesiano pode ter sido aut/nomo em rela"ão da bur%uesia,mas era sensível a uma coali$ão entre trabalhadores e empresasF'r$eUors9i e Qallerstein, <IJ=K. 'ossibilidades mais complexas&oram ainda levantadas: o Estado pode ser independente diante

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dos interesses particularistas das empresas e ainda assim a%ircomo um a%ente per&eito do interesse coletivo do capital. FEssa éa essência da teoria de 'oulant$as, <I?.K. ssim, a&irma"#es deque o Estado é aut/nomo tout ourt são equivalentes aproposi"ão de que é independente de todos os eventuaiscontroladores externos. Notem que *9ocpol, citada acima, é

&or"ada a &ornecer a lista completa: um Estado é aut/nomoquando suas metas e políticas 2não são simplesmente re&lexosdos (... %rupos sociais, das classes ou da sociedade2.

 ssim, o conceito de autonomia tem sentido apenas nocontexto de teorias que demonstrem que al%uns %rupos,or%ani$a"#es ou coali$#es especí&icas, em condi"#esdetermin!veis, poderiam controlar o Estado. 2utonomia2 é uminstrumento e&iciente de an!lise quando indica uma entredi&erentes situa"#es hist+ricas possíveis.

?.=. s ori%ens da autonomia.

*e%undo arx, o Estado seria um instrumento da classecapitalista sempre que essa classe pudesse se or%ani$arpoliticamente e sempre que ela não se de&rontasse com umoponente, i%ualmente poderoso, em outras classes. arx pareceter pensado que essas condi"#es iriam prevalecer normalmenteno capitalismo, e então tratou os momentos em que o Estadohavia se tornado aut/nomo como excepcionais. percep"ão doEstado aut/nomo como excepcional &oi partilhada por `ramsciF<I<K, assim como por v!rios intérpretes marxistas do &ascismo

FVhalheimer, <II(<I?W; ver dler, <IIK. No entanto, marxistasrecentes, de 'oulant$as F<I?K a Elster F<IJPK, veem aautonomia do Estado como a rela"ão prevalecente entreinstitui"#es políticas e economia capitalista. omo o Estado setoma aut/nomo omo &oi dito acima, as teorias marxistasprocuram uma resposta para essas quest#es nas rela"#es de

classe. maneira pela qual as rela"#es de classe promovem aautonomia do Estado &oi ob3eto de discussão de duas teoriasdi&erentes:

?.=.<. Veoria da abdica"ãoMabsten"ão.

Nessa teoria, a bur%uesia é capa$ de %overnar diretamente,mas acha melhor não &a$ê4lo. Na An%laterra e na 'r5ssia, abur%uesia 2se absteve2 de tomar o poder e permitiu que aaristocracia %overnasse. Na 7ran"a, onde a bur%uesia %overnoudiretamente até <J@J e onde continuou a lutar pelo poder até<JPW ela 2abdicou2 teoria da 2abdica"ão2 &oi explicitamentedesenvolvida por arx em seus escritos sobre a 7ran"a entre<J@J e <JP< F<I?4<, <IP=K. e *tepan F<IJP: p. ?<IK re&ere4se aela como a concep"ão marxista padrão da autonomia do Estado.  estrutura comum das explica"#es em termos de 2abdica"ão2 e2absten"ão2 &oi recentemente reconstruída por Elster F<IJPK.

  premissa, aqui, é que a bur%uesia tem a import0nciaecon/mica e a capacidade or%ani$acional necess!rias paraconquistar e exercer o poder de Estado. as, de um lado, ocusto da luta pelo poder político e, eventualmente, do seuexercício, é alto para os capitalistas individuais, que queremapenas 2explorar as outras classes e des&rutar sem perturba"ãoda propriedade, da &amília, da reli%ião e da ordem...2 Farx, <I?4<: p. PP.K . experiência do su&r!%io universal mostrou abur%uesia que 2a luta para manter seus interesses p5blicos, seuspr+prios interesses de lasse seu poder político, apenas apreocupava e chateava, e atrapalhava os seus ne%+cios

privados2 Fp. JIK.'or outro lado, os capitalistas esperam que se3a possível

tratar de seus ne%+cios privados com sucesso sob a prote"ão deuma ditadura. Então a bur%uesia abdica da luta pelo poderpolítico e o Estado se toma aut/nomo. Nas palavras de arx Fpp.I<K, a 2massa extraparlamentar da bur%uesia (... convidou

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Napoleão a suprimir e aniquilar seus porta^vo$es e escritores,seus políticos e seus literati, sua plata&orma e sua imprensa, demodo que pudesse, então, tratar de seus ne%+cios privados comtotal con&ian"a na prote"ão de um %overno &orte e irrestrito.2omo Elster ar%umenta F<IJP: p. @<<K, fexiste uma conexãoexplicativa: a bur%uesia abdica do poder (7ran"a ou se abstém

de tom!4lo (An%laterra, lemanha, porque percebe que seusinteresses são melhor servidos se permanecer &ora da política.Obviamente, a questão a ser &ormulada diante dessa teoria é seo bur%uês individual est! realmente &a$endo um bom ne%+cioquando opta pela prote"ão de um %overno &orte e autorit!rio.*eus interesses serão realmente melhor atendidos se ele desistirda luta pelo poder político arx parece ter tomado como certoque o re%ime bonapartista não &eriria a bur%uesia &rancesa, e osmarxistas, desde então, estiveram também prontos para assumirque nenhum Estado aut/nomo poderia ou iria &erir os interessesda bur%uesia, que abdicou ou se absteve. a&irma"ão,

explicitada por 'oulant$as F<I?K e 8loc9 F<IK, é que mesmoque o Estado não se3a %uiado pelos mesmos interesses eob3etivos da classe capitalista, em uma economia capitalistaqualquer Estado ainda é tão constran%ido pelos interessesbur%ueses que nenhum Estado pode amea"ar o capitalismo. OEstado depende do capital para a reali$a"ão de seus ob3etivos,quaisquer que se3am eles; sendo assim, a bur%uesia est!prote%ida, a despeito de quem mande. questão da dependênciaestrutural do Estado ao capital é o tem; da se"ão se%uinte. 'orenquanto, basta apontar que h! al%uns momentos hist+ricos emque Estados aut/nomos se voltaram contra a bur%uesia, se3a no

auto4interesse de %enerais, se3a por outras ra$#es. Vomandosomente os 5ltimos vinte anos na mérica _atina, temos aexperiência brasileira, em que um setor estatal criado pelosmilitares competiu com sucesso com &irmas privadas; a do hile,em que o Estado, sob 'inochet, 2&e$4se de surdo para abur%uesia nacional2 F*tepan, <IJP: p. ?=@K; a da r%entina sob

artine$ de Xo$, cu3as políticas &or"aram a &alência de quasemetade das empresas; a do 'eru e Equador, onde os tecnocratasdecidiram que sabiam mais do que os capitalistas locais sobre oque era melhor para seus países Fona%han, <IJPK. Valve$ adestrui"ão de &irmas locais ine&icientes por esses re%imesburocr!tico4autorit!rios tenha sido salutar para o

desenvolvimento do capitalismo, mas os capitalistas, quesupostamente abdicam do poder político em seu pr+prio auto4interesse, não se preocupam com o capitalismo em %eral, massim em permanecerem capitalistas eles mesmos. E por que umEstado aut/nomo promoveria ou até prote%eria os interesses dabur%uesia, mais especi&icamente daquelas empresas cu3ospropriet!rios ou administradores entre%am seus destinos nasmãos de %enerais teoria da abdica"ãoMabsten"ão não éconvincente, a menos que os capitalistas tenham boas ra$#espara con&iarem que o Estado aut/nomo prote%eria seusinteresses B e, como Elster lembrou, 2arx nunca teve êxito em

provar que o Estado em uma sociedade capitalista deve ser umEstado capitalista2 F<IJP: p. @=<K.

?.=.=. Veoria da bur%uesia &raca.

O relato padrão da autonomia do Estado em países menosdesenvolvidos, come"a com a observa"ão de que neles abur%uesia não tem as &aculdades que possui no 2caso cl!ssico2da Europa Ocidental. bur%uesia nos países menosdesenvolvidos é 2&raca2 porque a produ"ão or%ani$ada de &orma

capitalista é menos importante economicamente; porque édividida ao lon%o de ramos setoriais F'r$eUors9i, <IJ<K; porquedepende de li%a"#es com o capital estran%eiro F7ran9, <IIK;porque não tem os requisitos or%ani$acionais, os recursosideol+%icos ou outras habilidades Fardoso, <I<K. bur%uesia&raca é incapa$ de or%ani$ar ou conquistar o Estado. 1eixando

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assim um espa"o para a autonomia do Estado. O Estado se tomaaut/nomo pela ausência da bur%uesia.

 r%umentar que o Estado é aut/nomo porque a bur%uesia é&raca implica supor que ele não seria aut/nomo caso a bur%uesia&osse &orte: caso contr!rio, a teoria não teria poder causal. 'aravalidar tal premissa, escritores dessa tradi"ão estabelecem

contrastes entre O Verceiro undo e 2o caso cl!ssico da EuropaOcidental2, ar%umentando que (< na Europa, a bur%uesiaconstruiu o Estado e o diri%iu diretamente, enquanto na peri&eriao Estado &oi aut/nomo em rela"ão )s classes locais; e (= naEuropa, o Estado 3o%ou um papel mais limitado nodesenvolvimento econ/mico, enquanto no Verceiro undo seupapel é central. di&iculdade é que nenhuma dessas duas, eal%umas outras dentre as incont!veis proposi"#es similares sãover dadeiras em %eral, para quaisquer dos dois %rupos de países.O primeiro ar%umento é que o Estado na Europa Ocidental &oicriado pela bur%uesia ascendente. O1onnell F<IJW: p. <JK, por

exemplo vê a di&eren"a em rela"ão ! 2peri&eria2: 2o contr!rio dopadrão capitalista cl!ssico de desenvolvimento econ/mico umaclasse dominante emer%ente não moldou o poder políticoincorporado no Estado. lavi F<I=, p. T<K pensa que 2o problemaessencial no que di$ respeito ao Estado nas sociedades p+s4coloniais provém do &ato de que ele não &oi estabelecido por umabur%uesia ascendente nativa, mas, em ve$ disso, por umabur%uesia estran%eira imperialista.2 'oder4se4ia obviamentediscutir o si%ni&icado de palavras como 2moldar2 ou2estabelecer2, mas o &ato é que na Europa a bur%uesia nemconstruiu o Estado, nem %overnou. O Estado &oi construído

principalmente pelos burocratas, e as aristocracias ou osexércitos %overnaram a maior parte do tempo. *e a EuropaOcidental tivesse uma experiência com bur%uesias &ortes eEstados instrumentais, a contraposi"ão seria +bvia. as, mesmoque as bur%uesias in%lesa, &rancesa ou prussiana tenham sido&ortes, elas 3amais %overnaram diretamente, exceto (talve$ por

vinte anos na 7ran"a. O Estado &oi aut/nomo na maioria dos2casos cl!ssicos2, assim como é em al%uns países menosdesenvolvidos. e a ên&ase na bur%uesia &raca não tem poderexplicativo. O Estado no capitalismo parece ser mais&requentemente aut/nomo, independentemente de a bur%uesiaser &orte ou &raca.

O se%undo ar%umento é que o papel do Estado é mais centrale ativo no Verceiro undo do que no caso 2cl!ssico2. 1e acordocom lavi F<I=: p. T=K 2o aparato de Estado, além do mais,assume também um novo e relativamente aut/nomo papelecon/mico, não compar!vel ao Estado bur%uês cl!ssico. OEstado na sociedade p+s colonial *e apropria diretamente deuma %rande parte do excedente econ/mico e o utili$a ematividades econ/micas burocraticamente diri%idas, em nome dapromo"ão do desenvolvimento econ/mico. FVambém *aul, <II.K.

 %ora o caso 2cl!ssico2 é redu$ido ) An%laterra. esmo

assim. Val ar%umento é mais di&ícil de avaliar em parte porque oshistoriadores mudaram suas ideias tanto a respeito da An%laterracomo de outras experiências, e em parte porque o papelecon/mico do Estado não &oi nem uni&orme nem est!vel. visãocorrente do desenvolvimento do capitalismo na An%laterra en&ati$ao papel do Estado na destrui"ão dos anti%os direitos depropriedade e na %arantia dos novos, na cria"ão do mercado ena re%ula"ão da &or"a de trabalho. 1e acordo com umaautoridade em An%laterra, em Economic XistorH O& Europe deippola, 2historicamente, o mais importante modo pelo qual oEstado estimulou o desenvolvimento industrial em um contexto

capitalista &oi por meio de sua habilidade de reestrutura"ão dasinstitui"#es sociais B isto é de criar, em primeiro lu%ar, umcontexto capitalista2 F*upple, <I?: p. ?W.K Não é precisolembrar o papel central do Estado nos países europeustardiamente industriali$ados assim como no \apão. E, por outrolado, pelo menos a lu$ da historio%ra&ia ortodoxa, o Estado na

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 r%entina, éxico ou 'eru não desempenhou qualquer papelecon/mico durante a maior parte do século de$enove. ssumiuum papel ativo apenas depois da crise de <I=I e se tomou um%rande produtor apenas em al%uns países. e isto s+recentemente. 7ora do bloco socialista os países cu3os setoresp5blicos produ$em a maior parte do produto nacional bruto ho3e

incluem 8rasil, gndia, ustria e At!lia B uma lista que não di$muito sobre as contraposi"#es entre centro e peri&eria. Em %eral,contraste al%um pode ser sustentado nesse nível: nem o papelda bur%uesia na constru"ão do Estado, nem o papel do Estadono desenvolvimento econ/mico &oram os mesmos em toda aEuropa. 8em como não &oram uni&ormes em quaisquer outroslu%ares, não apenam no 2Verceiro undo2, mas também dentroda mérica _atina, &rica ou sia. om e&eito, a respeito doVerceiro undo. O1onnell F<IJW: p. = <K desenvolveucate%orias bastante a%u"adas para a di&erencia"ão de padr#esde &orma"ão do Estado. 1i&eren"as estruturais entre países B

di&eren"as resultantes dos modos e ritmos de suas particularesinser"#es no sistema econ/mico internacional BB &oramcruciais para a an!lise da dependência de ardoso e 7alletoF<II (<ITIK. 8ennt e *harpe F<IIWK mostraram que o Estadomexicano desempenhou um papel econ/mico decisivo quando osetor privado estava &raco e que redu$iu o escopo de suasatividades quando o setor privado se desenvolveu.

Evans F<IJPK colocou, recentemente, v!rias quest#es sutis arespeito dos e&eitos da internacionali$a"ão do capital sobre aautonomia do Estado no centro e na peri&eria.

  &ra%ilidade das %enerali$a"#es que di$em respeito ao 2caso

cl!ssico2 p#e em d5vida a explica"ão da autonomia do Estadopela &raque$a da bur%uesia: se na An%laterra, na 7ran"a e na'r5ssia as bur%uesias &ortes não assumiram o %overno, a&raque$a da bur%uesia não é uma condi"ão necess!ria para aautonomia do Estado. as ela nem é uma condi"ão su&iciente, 3!que tudo que a &raque$a da bur%uesia pode explicar é que existe

um espa"o de poder a ser preenchido, mas não como ele épreenchido ou mesmo se ser! preenchido. menos que abur%uesia &orte crie um Estado aut/nomo B uma possibilidadeque nem mesmo a teoria da abdica"ão aventou B, al%unselementos 2centrados no Estado2 devem ser tra$idos paraexplicar porque o Estado se toma aut/nomo e porque é

or%ani$ado de um modo particular. 6etornamos a este tema maisadiante (?.P, mas antes devemos introdu$ir um &ator a mais, atéaqui i%norado.

?.?. utonomia do Estado e equilíbrio de classes.

  &or"a da bur%uesia é relativa )s classes e %rupos cu3osinteresses con&litam com os dos capitalistas. luta pelo poder &oiexcessivamente custosa para a bur%uesia &rancesa da metade doséculo de$enove porque a classe trabalhadora nascente e outros

%rupos estavam também politicamente presentes, tanto nas ruasquanto nas elei"#es. habilidade da bur%uesia para conquistar eexercer o poder depende da &or"a de seus oponentes. ssim,mesmo que a bur%uesia se3a &orte em termos de sua posi"ãoecon/mica e de sua habilidade e recursos políticos, caso seusoponentes também se3am politicamente &ortes é deixado umespa"o para que o Estado se tome aut/nomo. autonomia declasses resulta do equilíbrio de classes: esta é a explica"ãomarxista ortodoxa da autonomia do Estado.

O equilíbrio de classes é uma condi"ão necess!ria para aautonomia do Estado: quando a bur%uesia é &orte, a &or"a de

seus oponentes explica porque os custos da luta pelo poder sãotão altos; quando a bur%uesia é &raca, a &raque$a de seusoponentes explica porque não são capa$es de conquistar opoder. D!rias no"#es de equilíbrio &oram utili$adas: (< arx, em<J< F<I<K re&eriu4se ao *e%undo império como fa 5nica &ormapossível de %overno quando a bur%uesia 3! perdeu, e a classe

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oper!ria ainda não adquiriu, a capacidade de diri%ir a na"ão.2 qui o equilíbrio é 2macro hist+rico2: O capitalismo 3! sedesenvolveu o su&iciente para que o proletariado ameace adomina"ão bur%uesa, mas não ainda o *u&iciente para aconquista do poder. Vendo em vista a concep"ão marxista linearda hist+ria, esse tipo de equilíbrio ocorre apenas uma ve$ no

desenvolvimento de uma na"ão, e nesse sentido constitui umasitua"ão excepcional. as não h! nada que impe"a isso deacontecer durante um lon%o período. (= `ramsci F<I<K bati$oude 2equilíbrio catastr+&ico2 a situa"ão em que ambas as classesdestruiriam uma ) outra caso qualquer uma delas tentasseestabelecer sua domina"ão. qui a autonomia do Estado é oequilíbrio da teoria dos 3o%os; nenhuma classe quer lutar pelopoder; dada a esperada retalia"ão de seu oponente, o resultadoé que o Estado domina ambas as classes. `ramsci nãoespeci&icou o que provoca tal situa"ão, mas presumivelmente elapoderia ser uma situa"ão recorrente e, ele mesmo observa,

poderia durar um lon%o período. (? En%els, em um texto de<JP=, atribuiu o equilíbrio de classes a exaustão causada porcon&litos passados. 'resumivelmente. tal situa"ão poderia repetir4se. (@ 7inalmente En%els no mesmo texto, assim como arx, em<J< e em outros textos &alou do equilíbrio de classes como ume&eito de a"#es do Estado. Nesse caso o equilíbrio de classesnão é a causa ori%inal da autonomia. mesmo que os Estadospossam perpetuar sua independência quando dividem paraconquistar.

O equilíbrio de classes pode ter assim di&erentes ori%ens;pode constituir um período 5nico na hist+ria de uma na"ão ou

uma situa"ão recorrente; pode resultar de condi"#es ob3etivas oude c!lculos estraté%icos. as qualquer que se3a sua ori%emexplica"#es da autonomia do Estado pelo equilíbrio de classestêm uma plausibilidade príma &acie.

  teoria completa é então a se%uinte: se em al%um momentouma classe (< é economicamente dominante; se (= pode se

or%ani$ar politicamente e se (? o poder dessa classe não éseriamente contestado. Então tal classe exerce o poder deEstado. *e al%uma dessas condi"#es é violada, um espa"o éaberto para a autonomia do Estado.

O problema dessa teoria não é que ela se3a &alsa, mas que étrivial, 3! que as três condi"#es requeridas, raramente são

satis&eitas pela hist+ria, se é que 3! o &oram. Vodavia, a teoriamarxista ortodoxa não para por aqui. Xip+teses adicionaisaparecem, distin%uindo o equilíbrio entre uma bur%uesia &orte eum proletariado &orte do equilíbrio entre uma bur%uesia &raca edividida con&rontada por 2setores populares2 &racos.

O equilíbrio &orte 4 &orte leva ao &ascismo; o equilíbrio &raco 4&raco leva a &ormas mais pací&icas de autonomia estatal taiscomo o 2bonapartismo2, o 2cesarismo2, o 2imperialismo2 ou o2populismo2. Cm exemplo típico dessa teoria, com todas as suasalus#es do%m!ticas &oi &ornecido por 6ein F<ITW: p. <K: 2ssimcomo o bonapartismo pertence a primeira &ase da revolu"ão

liberal 4 bur%uesa, o &ascismo associa4se a se%unda &ase, )revolu"ão social 4 prolet!ria.2 Xouve, na lemanha, uma intensadiscussão a respeito da interpreta"ão do &ascismo em termos deequilíbrio de classes F1ul&&er, <IT; `riepenbur% e \aden, <ITT;ason, <ITT e uma discussão a respeito, <ITJ; 6ein, <ITW;6ubel, <ITWK.

  lu$ dessa interpreta"ão, a di&eren"a entre o &ascismo e opopulismo é que no primeiro o Estado se er%ue sobre classes 3!&ormadas e or%ani$adas, enquanto no se%undo ele domina eor%ani$a sociedades em que a estrutura de classes é menosdesenvolvida. 'ara alcan"ar e manter sua independência quando

as classes 3! estão &ormadas, o Estado precisa destruir suaor%ani$a"ão, o que explica por que o pr+prio Estado precisa ser&orte ou pelo menos marcadamente repressor. >uando asclasses são &racas, o Estado pode se tomar aut/nomo sem muitaresistência e repressão. Esta é então a se%unda hip+tese sobre aautonomia do Estado a partir das premissas marxistas. Cma

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hip+tese que não é mais trivial e, se seus termos puderem serra$oavelmente de&inidos ela ser! empiricamente test!vel. Note4se que a distin"ão estabelecida por essa teoria não é entre aEuropa Ocidental e os países menos desenvolvidos, mas entrerela"#es de classe &inamente di&erenciadas, características desitua"#es hist+ricas especí&icas. qui, a 7ran"a da metade do

século de$enove situa4se do mesmo lado que a r%entina dametade do século vinte. Em ambos os casos, a bur%uesia e seusoponentes eram relativamente &racos; a bur%uesia era dividida(industrial vs. &inanceira, urbana vs. rural; a classe oper!ria era&racamente distin%uível do resto do povo trabalhador (les classeslabaurieuses, sectores populares. Em ambos os casos o Estadoaut/nomo sur%iu de uma rela"ão direta entre um líderpersonalista e uma massa de indivíduos menos &avorecidos,incapa$es de representar a si mesmos por meio de quaisqueror%ani$a"#es mediadoras. E ambos os casos são distintos,di%amos, do hile p+s4 <I?, onde a primeira tare&a da ditadura

&oi destruir poderosas or%ani$a"#es de classe implicitamente, ateoria até aqui reconstruída preenche três células de uma tabelade quatro células: (< uma bur%uesia &orte, con&rontandooponentes &racos, exerce o poder de Estado diretamente; (= oequilíbrio entre uma bur%uesia &orte en&rentando um proletariado&orte resulta em &ascismo; e (? a situa"ão em que todas asclasses são &racas resulta em &ormas mais pací&icas deautonomia do Estado. O caso deixado de &ora é aquele em que aclasse oper!ria é &orte e a bur%uesia é &raca. teoria marxistaortodoxa não nos di$ nada a esse respeito. 'resumivelmente, emtal caso uma revolu"ão seria o esperado. 'ode4se, contudo,

tra$er para o esquema a teoria de O1onnell F<I?K a respeito daascensão do autoritarismo burocr!tico. Na sua visão, os re%imesburocr!tico 4 autorit!rios apareceram no 8rasil e na r%entinaquando a bur%uesia nativa &oi incapa$ de cumprir a tare&a deinvestir na ind5stria de bens de capital e os setores popularesestavam altamente mobili$ados na busca de demandas

econ/micas. 'ode4se considerar tal situa"ão como um caso emque a bur%uesia é &raca e seus oponentes &ortes, completando,assim o esquema Fs principais discuss#es da teoria deO1onnell incluem ollier, or%.. <II; 6emmer e er9x, <IJ=.K .

?.@. Estado e sociedade. s rela"#es de classe &ornecem uma explica"ão da

autonomia do Estado. *e uma bur%uesia &orte não encontraoponentes sérios, o Estado é instrumental. aso contr!rio oEstado é aut/nomo e a &orma que essa autonomia assumedepende da &or"a relativi$adas classes. ssim &ormulada,contudo, essa explica"ão se sustenta em um salto &uncionalista.'ois o m!ximo que o equilíbrio de classes pode explicar é porque nenhuma &or"a social pode so$inha or%ani$ar e exercer opoder de Estado, por si e para si B o m!ximo que pode

especi&icar é que tipo de Estado aut/nomo é possível, dadas asrela"#es de classe. as o que %arante que quando umabur%uesia &orte é con&rontada por um proletariado revolucion!rioo Estado &ascista (ou outro &uncionalmente equivalente vai semateriali$ar para desempenhar suas &un"#es E o que impedeque um Estado que se pare"a muito com o Estado &ascista venhaa emer%ir, mesmo que todas as classes se3am &racas pr+priahip+tese de que as rela"#es de classe criam um espa"o para aautonomia do Estado implica que esse espa"o não se3apreenchido de um modo determinado por essas rela"#es. Oen&oque da autonomia relativa não pode precisar que institui"#es

de Estado especí&icas vão emer%ir e continuar a se desenvolver. ssim, precisamos retomar ao Estado.

omo O1onnell F<IaK observou, a bur%uesia é a 5nicaclasse economicamente dominante na hist+ria que não controlaos meios de violência. bur%uesia não pode recorrer ) &or"aor%ani$ada para se levantar em de&esa de seus interesses,

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sempre que ha3a necessidade; ela pode apenas ter a esperan"ade que o Estado si%a políticas que prote3am o capitalismo.`overnos militares de&endem &requentemente o status quo,reprimindo movimentos camponeses e oper!rios, mas )s ve$estambém inau%uram revolu"#es 2moderni$antes2 que atacaminteresses de propriet!rios de terra e de capitalistas, vide o E%ito

de Nasser ou o 'em de Delasco. ssim, se a probabilidade e a&ormada interven"ão militar na política dependem da din0micadas rela"#es de classe, ela também é moldada pelastrans&orma"#es das institui"#es militares. 'ara entender arela"ão entre o Estado e a sociedade, deve4se levar em conta adin0mica de ambos. FO1onnel, <IT; Qiart, <IJ.K.

No entanto, um retomo ao Estado não é &!cil.Note4se que odesenvolvimento independente do Estado não &oi i%norado porarx F<I?@: pp. <W@4<WPK: 2Esse poder executivo, com suaenorme or%ani$a"ão burocr!tica e militar, com sua vasta een%enhosa m!quina estatal, com sua multidão de &uncion!rios

che%ando a meio milhão, além de um exército de outro meiomilhão, esse pavoroso corpo parasita que enreda o corpo dasociedade &rancesa e su&oca todos os seus poros, brotou nosdias da monarquia absoluta...2 Esse aparato continuou a crescer2na mesma medida em que a divisão do trabalho na sociedadebur%uesa criou novos %rupos de interesse e, então, novo materialpara a administra"ão estatal. ada interesse comum &oiimediatamente apartado da sociedade, contraposto a ela por umsuperior interesse %eral, arrebatado da atividade dos pr+priosmembros da sociedade e tomado um ob3eto de atividade%overnamental; de uma ponte, uma escola ou a propriedade

omunal de um vilare3o até as &errovias, o tesouro nacional e auniversidade nacional da 7ran"a.2 E arx conclui: 2penas sob ose%undo 8onaparte o Estado parece ter4se tomadocompletamente independente.2. ito esse texto lon%amenteporque ele resume a di&iculdade. *e queremos entender por queo Estado se tomou aut/nomo na 7ran"a da metade do século

de$enove, esse relato 3! não é su&iciente por si pr+prio Notem alin%ua%em reveladora: 2o Estado parece ter se tomadoindependente.2 burocracia estabelecida sob _uis YAD continuou ase expandir, desenvolvendo novas atividades e absorvendovelhas, e cresceu o su&iciente para &a$er a si mesmoindependente. 'or que tra$er o completo e complexo aparato da

an!lise de classe se a independência do Estado pode serexplicada apenas pelas trans&orma"#es do seu aparato  di&iculdade se toma ainda mais mani&esta na literatura sobre

o Estado colonial e p+s4colonial. Flavi. <I=; handra, <IJW;*aul, <I@K. qui, o ar%umento é o se%uinte: nos paísesmetropolitanos, o Estado &oi criado pela bur%uesia nativa e serviua seus interesses.

Esse Estado ^ uma desenvolvida m!quina administrativa ecoercitiva B &oi transplantado pelos coloni$adores para associedades em que a bur%uesia era 2&raca2. *e%ue4se então ahip+tese central de lavi: 2*e uma col/nia tem uma bur%uesia

nativa &raca e pouco desenvolvida, ela não ser! capa$, nomomento da independência, de subordinar o relativamentehiperdesenvolvido aparato de Estado colonial com o qual o podermetropolitano exerceu seu domínio sobre ela.2 F<I=: p. <?.K.

O Estado p+s4colonial é independente porque a bur%uesia é&raca ou porque o aparato de Estado é &orte Note4se que umaresposta eclética não tra$ muitas vanta%ens: &alar que 2porambos os motivos2 pode exa%erar o papel de um deles. -instrutivo comparar a teoria do 2Estado hiperdesenvolvido2 com ateoria da dependência ^ produto de um continente em que aexperiência colonial retrocede mais &undo no passado. mbas as

teorias concordam em que o Estado tende a ser aut/nomo empaíses menos desenvolvidos. as a teoria da dependênciaexplica a autonomia sem reverter para qualquer desenvolvimentoaut/nomo das institui"#es estatais. Ela deriva a possibilidade deautonomia da desarticula"ão econ/mica: as atividadesecon/micas no territ+rio de um país particular não são inte%radas

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por meio dos mercados locais; os propriet!rios de terra sãoeconomicamente independentes uns dos outros F7urtado. <IT?K;a bur%uesia local é dividida de acordo com ramos setoriais e porseus la"os com o capital estran%eiro. *e a bur%uesia local éverdadeiramente &raca (e O1onnell F<IJW: p. =<K ar%umentaque ela não o era em toda mérica _atina e se outros %rupos

não têm presen"a política or%ani$ada, o Estado s+ pode seraut/nomo. ssim, a possibilidade de autonomia do Estado podeser dedu$ida das rela"#es de classe. Vomando4se, porém, o2Estado hiperdesenvolvido2 como ponto de partida, não h!necessidade de qualquer an!lise de classe. om e&eito, a no"ãode uma bur%uesia 2&raca2 é simplesmente redundante quando aexistência de um aparato administrativo independente ecoercitivo é dada, e particularmente quando a pr+pria bur%uesia,assim como as outras classes, é vista como uma criatura doEstado. ssim, o en&oque da autonomia relativa pode, na melhordas hip+teses, explicar porque a autonomia do Estado é possível

^ e que tipo de autonomia B, ao passo que introdu$ir o Estadoelimina qualquer necessidade de an!lise de classe. O en&oquecentrado no Estado é sedutor porque parece su&iciente por simesmo. as a promessa explicativa do en&oque centrado noEstado depende de uma premissa que parece d5bia. 'recisamosentão examinar mais sistematicamente o en&oque centrado noEstado.

?.P. aborda%em centrada no Estado.

 s vis#es da rela"ão entre Estado e sociedade tendem a serparadi%m!ticas. lin%ua%em em que as quest#es causais são&ormuladas, seu si%ni&icado e sua relev0ncia, dependem depostulados te+ricos b!sicos que or%ani$am um entendimentoparticular. Em contraste com o en&oque da 2autonomia relativa2, aperspectiva 2centrada no Estado2 assume a prima$ia da &or"a na

constitui"ão da sociedade. O Estado or%ani$a e exercita omonop+lio da &or"a &ísica sobre um territ+rio e é a utili$a"ão,aberta ou escondida, da violência que %arante sua e&ic!cia. sociedade B uma &orma particular de cultura, or%ani$a"ão sociale intera"ão econ/mica ^B4 é uma consequência. O papel da&or"a &oi considerado central por Qeber F<ITJ( <I==, vol. ?.caps.

<W4<?K e Xint$e F<IP(<JI4<I?=K. O papel causal do Estado &oirecentemente posto no centro da sociedade por 8irbaum e 8adieF<IJ?K, Grasner F<IJ, <IJ@K, Gat$enstein F<IJK e *9ocpolF<IJPK. teoria 2centrada no Estado2 com a estrutura dedutivamais explícita é a de _ane F<I@=, <IPJ, reunido em <II;também VillH,<IJPK.

_ane come"a distin%uindo dois tipos de empresas: (<aquelas que produ$em prote"ão e são chamadas %overno e (=aquelas que produ$em bens e outros servi"os e pa%am aos%overnos por prote"ão.2 F<II: p. =.K \! que a violência é uma&onte de retornos crescentes de escala, 2a produ"ão de prote"ão

é um monop+lio natural.2 Fp. =?.K onopoli$ando a violênciasobre um territ+rio os %overnos estabelecem direitos depropriedade e tornam possível o desenvolvimento da sociedade.  maneira pela qual o Estado extrai recursos da sociedadedetermina amplamente a utili$a"ão dos recursos escassos.

om e&eito, _ane conclui: os %overnos 2a&etam a extensão emque o monop+lio prevalece em outros ramos de produ"ão edesse modo a&etam as rela"#es humanas ao lon%o de toda aor%ani$a"ão econ/mica.2 F<IPJ: p. @<TK .

 s teorias centradas no Estado a&irmam que os Estadoscriam, or%ani$am e re%ulam as sociedades. Os Estados dominam

as outras or%ani$a"#es dentro de um territ+rio particular, moldama cultura e a economia. ssim, o problema da autonomia doEstado em rela"ão ) sociedade não &a$ sentido dentro dessaperspectiva. Ele não deveria sequer aparecer. O conceito de2autonomia2 é um instrumento de an!lise proveitoso apenas se adomina"ão do Estado sobre a sociedade &or uma situa"ão

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contin%ente, isto é, se o Estado deriva sua e&ic!cia dapropriedade privada, de valores *ocietais ou de outras &onteslocali$adas &ora dele. 1entro de um en&oque verdadeiramente2centrado no Estado2, esse conceito não tem nada a narealidade, os autores que tomam como característica central doEstado o seu monop+lio sobre os meios de violência evitam

qualquer conceito de 2autonomia2, 21omina"ão2 é o termo quedescreve a rela"ão entre o Estado e a sociedade, e não2autonomia2.

O problem!tico nessa perspectiva é a emancipa"ão dasociedade em rela"ão ao Estado. s 2liberdades2, nota _ane,apareceram ori%inalmente omo privilé%ios de não inter&erênciapelo Estado. moralidade e a reli%ião se tornaram quest#esprivadas a medida que a sociedade &oi se emancipando doEstado; a 2sociedade civil2 emer%iu como uma es&era aut/noma apartir do controle absolutista F'o%%i, <IJ, ap. @K. s ori%ens dademocracia são aqui explicadas pelos c!lculos de %overnantes

auto4interessados: a questão relevante é se os %overnantesmaximi$adores de receitas pre&erem se basear na taxa"ão comconsentimento e não na extra"ão pela amea"a da &or"a.

  resposta de _ane é que a democracia aparece 2quandomelhorias tecnol+%icas ^ inova"#es industriais B se tomarammais importantes que as rendas monop+licas de prote"ão como&onte de lucros2 F<IPJ: p. @<=K. North F<IJ@K e 8ates _ien F<IJPKdão respostas similares, que se apoiam, respectivamente, noscustos de transa"ão e nas deadUei%ht losses da extra"ão. ssim,no curso do desenvolvimento hist+rico a sociedade %anhaindependência do Estado: esta é a dire"ão de causalidade no

en&oque centrado no Estado.1e onde o Estado extrai o seu poder se%undo o en&oque

centrado no Estado Na versão 2militar2 alemã, assim como para_ane, a resposta é explícita e simples: da capacidade de usar eamea"ar com o uso da &or"a. - o monop+lio da violência queequipa o Estado de e&ic!cia especi&ica contra todas as outras

or%ani$a"#es sociais. omo ann notou F<IJ@; p. <JTK, nessaperspectiva 2o Estado não é nada em si mesmo: ele é apenas acorpori&ica"ão da &or"a &ísica na sociedade.2 O Estado é o centroda sociedade porque a &or"a &ísica é o centro do Estado.

Esse reducionismo não é em si mesmo motivo de ob3e"ão,particularmente nas vers#es mais moderadas desse en&oque, em

que al%uma &orma de consentimento ou le%itimidade encobre a&or"a &ísica, em circunst0ncias normais. as a tese de que oEstado deriva seu poder exclusiva ou &undamentalmente domonop+lio da &or"a &ísica não é convincente, por duas ra$#es.

O problema empírico para esse en&oque reside na pr+priaestrutura do Estado, especi&icamente na incidência do controlecivil sobre os militares: h! v!rias sociedades em que pessoas einstitui"#es outras que não os comandantes militares sãocapa$es de %overnar. 'ode4se tratar essas circunst0ncias comoepi &en/menos ar%umentando que a &or"a &ísica vaiinvariavelmente entrar em cena sempre que outros mecanismos

de domina"ão &alharem: `ramsci F<I<K, por exemplo, sustentouque a he%emonia é sempre prote%ida pela armadura da coer"ão.esmo então permaneceria a questão de por que ra$#esaqueles que detêm o monop+lio da violência haveriam de quererreverter para essa espécie de aparência. as, dado que emv!rias sociedades, por lon%os períodos de tempo as &or"asor%ani$adas de coer"ão desempenham um papel menor dentrodo Estado, a premissa de que o poder do Estado sempre e emqualquer lu%ar provém da &or"a &ísica perde credibilidade.

  se%unda ra$ão por que essa tese não é convincente residena estrutura da economia capitalista, na qual as decis#es sobre

aloca"ão de recursos são &eitas de um modo descentrali$ado eos propriet!rios de dota"#es, capital e trabalho, podem retir!4lasde usos produtivos.

Cm Estado baseado na &or"a pode talve$. ser capa$ decentrali$ar a economia, expropriar trabalho e capital, mas nãopode comandar a aloca"ão de recursos, uma ve$ que as

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decis#es de aloca"ão permanecem como prerro%ativas privadas.Em uma economia descentrali$ada a &or"a pode não sersu&iciente para %overnar e&etivamente.

O monop+lio da &or"a &ísica não é a 5nica &onte concebível depoder do Estado. Os Estados podem derivar seu poder danecessidade de que certas tare&as, se3am elas quais &orem

possam ser desempenhadas em base universalista. *e%uindoann F<IJ@K, isso pode ser chamado de 2poder in&ra4estrutural2,no sentido de que constitui o custo, para os membros dasociedade, dos servi"os estatais de&inidos amplamente comoin&ra estruturais, incluindo a prote"ão. Os Estados podemtambém derivar poder dos valores que levam as pessoas areconhecerem sua autoridade, le%itimidade etc., isto é, valoresque levam os indivíduos a cumprirem as decis#es estatais naausência de utilidade ou coer"ão &ísica FQeberK. Este é o 2podernormativo2. 7inalmente, e talve$ paradoxalmente, os Estadospodem derivar seu poder do &ato de constituir uma arena de

con&litos entre outras or%ani$a"#es F'oulant$as, <IJ; ann.<IJ@K. Dou chamar esse poder de 2universali$ador2 pois se apoiana 2capacidade do Estado de (<j invocar um interesse superiorque transcende o das demais partes envolvidas, e (=j de extrairas &ontes que tornarão possíveis suas tentativas de resolver asquest#es levantadas2 FOs$la9, <IJ<: p. <?K.

Notem que todos esses poderes são provavelmentecaracteri$ados por retornos crescentes de escala: lo%o como aviolência constituem monop+lios naturais. as apenas a &or"a&ísica pode %arantir que o Estado se3a internamente coeso eexternamente e&etivo em &ace de interesses con&litantes. menos

que o poder do Estado se apoie na &or"a &ísica, sua coesãointerna e e&ic!cia externa são B contin%entes de condi"#es*ocietais, se3a da economia, do sistema de valores ou decon&litos coletivos. *e o poder do Estado não é baseado na &or"a,os diri%entes estatais devem observar e obedecerconstran%imentos m5ltiplos que se ori%inam de dentro e de &ora

das institui"#es estatais. Então, a aborda%em centrada no Estadonão é coerente, a menos que o poder do Estado se3a derivado da&or"a &ísica. >uero di$er que uma aborda%em centrada noEstado, ou 2estatista2 FGrasner, <IJ@K, implica mais do que merasadvertências para levar em conta as institui"#es estatais nasan!lises políticas e mais do que ne%a"#es do tipo 2os resultados

políticos não podem ser adequadamente entendidos como umsimples re&lexo2 disso ou daquilo. >uando est! baseada napremissa da prima$ia da &or"a, a aborda%em estatista constituium verdadeiro paradi%ma: tem o e&eito de tomar outros &atoresirrelevantes ou de deixar redundante o en&oque da autonomiarelativa, se não mesmo desprovido de utilidade. >uando o poderdo Estado se &undamenta na &or"a, o pr+prio Estado é umainstitui"ão coesiva, capa$ de desempenhar um papel não apenascontra inimi%os externos, mas vis4a4vis a sociedade. as, se acoesão e a e&ic!cia do Estado são, pelo menos em parte,contin%entes de condi"#es locali$adas dentro da sociedade, o

en&oque centrado no Estado não pode se sustentar como umparadi%ma distinto.

?.T. utonomia do Estado como resultado contin%ente decon&litos.

  aloca"ão e o custo dos servi"os estatais entre %ruposparticulares os valores que levam seus membros a cumprirem oucontestarem as re%ula"#es estatais, assim como as pr+priasinstitui"#es estatais são ob3etos de con&litos permanentes. Esses

con&litos ocorrem em três dimens#es:< Cma linha de con&litos se d! entre as pr+prias institui"#es

estatais. omo or%ani$a"#es complexas, os Estados sempreen&rentam problemas de coesão resultantes da nature$anecessariamente &ra%mentada e sequencial do processodecis+rio. 1e acordo com 'ad%ett F<IJ<: p. J=K, essas

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or%ani$a"#es podem apenas ser su3eitas a um controle]ecol+%ico2, isto é, 2controle indireto sobre as premissassub3acentes ) escolha (... ao invés do controle direto sobre opr+prio processo de sele"ão2. coesão do Estado é minadaainda mais por duas circunst0ncias externas: a necessidade delidar, de uma maneira especiali$ada com trans&orma"#es

especi&icas da sociedade e as rela"#es de +r%ãos%overnamentais especiali$ados com %rupos externos ao Estadoque possuem interesses especiali$ados.

= Outra linha de con&litos concerne aos ob3etivos que devem%uiar as a"#es do Estado. questão permanente é: a queinteresses particularistas ser! con&erido status universalista porterem sido assumidos pelo Estado B interesses do Estado comoum todo, de seus +r%ãos, de al%uns atores externos especí&icosou de coali$#es entre al%uns +r%ãos estatais e al%umasor%ani$a"#es

? Essa luta tem vencedores e perdedores e é do interesse

dos %rupos que acabam tendo pouca in&luência sobre o Estadocontra estar, na medida do possível, as a"#es do Estado. ssim,a terceira linha de con&litos coloca os +r%ãos %overnamentais emcon&ronto com os atores sociais cu3os interesses sãoadversamente a&etados pela política p5blica. >uando o Estado ésimp!tico aos interesses de al%uns %rupos sociais, suas políticasen&rentam resistências de outros %rupos. No extremo, quando oEstado é coeso e os administradores estatais são autointeressados, o Estado pode con&rontar4se com a sociedadecomo um todo.

Esses con&litos op#em +r%ãos estatais, conselhos, +r%ãos

%overnamentais e comiss#es le%islativas, uns contra os outros econtra v!rias cate%orias e %rupos or%ani$ados de atoresexternos, como consumidores, &irmas, associa"#es volunt!rias,or%ani$a"#es compuls+rias e movimentos de massa. Osob3etivos e estraté%ias de cada um desses atores dependem dasa"#es dos demais e de condi"#es vari!veis. Os %overnantes

respondem a condi"#es *ocietais mut!veis. omo *ilbermanF<IJ=: p. =?=K a&irmou em rela"ão ao \apão: 2*e vemos aburocracia como uma or%ani$a"ão complexa buscando a&irmar4se e manter4se através do tempo como uma institui"ão revestidade autoridade as mudan"as aparentemente arbitr!rias naestrutura de autoridade podem ser vistas como consequências

das tentativas burocr!ticas de resolver, como todas asor%ani$a"#es procuram &a$er, as incerte$as de seu ambiente.omo resultado disso, a estrutura estatal muda em resposta a

trans&orma"#es econ/micas, culturais ou políticas FOs$la9, <IJ<:pp. <= 4 <?K. 'or exemplo, ) medida que di&erentes re%imestentaram controlar a classe trabalhadora ar%entina no p+s4%uerra,os +r%ãos %overnamentais respons!veis por quest#estrabalhistas &oram trans&eridas por 'eron, do inistério do 8em4Estar para um especí&ico inistério do Vrabalho; depois, &oramtrans&eridas para o inistério da Economia sob o %overno militarde On%anía FDer 8uchanan, <IJ?K. Na &eli$ &rase de O1onnell

F<IK, 2o mapa B a distribui"ão e a densidade B dasinstitui"#es estatais em cada caso hist+rico é o mapa de suturas2de con&litos sociais anteriores. *ão suturas, e não cicatri$es: sãoprodu$idas pelas respostas )s &eridas, não pelas &eridas. OEstado não precisa e, de &ato, não 2re&lete2, 2expressa2,2mani&esta2 ou mimeti$a quaisquer condi"#es 2*ub3acentes2. inda assim, pode mudar, como resposta a trans&orma"#esexternas se, na busca de seus pr+prios ob3etivos, osadministradores estatais se comportam como atores intencionaissob constran%imentos mut!veis. 1essa &orma, os e&eitos detrans&orma"#es econ/micas, culturais ou outras trans&orma"#es

sociais na coesão do Estado, nas suas &un"#es e na sua e&ic!ciadependem dos ob3etivos dos administradores estatais, dosinstrumentos ) sua disposi"ão e da estrutura dos +r%ãos%overnamentais. qui, não h! qualquer reducionismo. Oscon&litos a respeito da coesão das institui"#es estatais, de suas&un"#es e de sua e&ic!cia não apresentam qualquer resultado

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pré4determinado. O resultado pode ser 2centrado no Estado2 emcertas circunst0ncias hist+ricas e 2centrado na sociedade2 emoutras circunst0ncias: não &a$ sentido rotular perspectivas peloque deve ser o resultado de investi%a"#es concretas. No \apão,onde um Estado p+s4revolucion!rio de&rontou4se com oconstran%imento de um sistema de valores altamente i%ualit!rio,

os burocratas que buscaram adquirir e manter o monop+lio sobreo processo decis+rio solucionaram o problema da autoridadeintrodu$indo uma estrutura &ormali$ada de pro%ressão decarreiras, associada a um recrutamento universalista e )reivindica"ão de monop+lio do saber sobre quest#es p5blicas. Nabusca de le%itimidade, a burocracia &oi capa$ de cooptar alideran"a dos partidos políticos, de estender seu pr+prio princípiode or%ani$a"ão para or%ani$a"#es privadas em particular para as%randes &irmas, e de excluir os %rupos sociais, os trabalhadores eo setor de pequenas empresas, que ela era incapa$ deburocrati$ar. O resultado &oi um 2Estado burocr!tico2 que

percorreu um lon%o caminho na produ"ão de uma sociedadeburocr!tica. FEsse relato se%ue *ilberman, <IJ=.K. Em contraste,como *chmitter F<IJT: p. ?K observou, em v!rios países daEuropa Ocidental o Estado perdeu a sua coesão interna e suaespeci&icidade &uncional. om e&eito, até a 2superioridade relativado poder coercitivo dentro de um dado territ+rio e a autoridadele%ítima para usar tal poder (... são su3eitas a contesta"#es erestri"#es sem precedentes. qui não h! um centro de qualquertipo.

  conclusão é, então, a se%uinte. perspectiva 2centrada noEstado2 representa de &ato um paradi%ma distinto quando é

baseada na premissa da prima$ia da &or"a sobre outros +r%ãos%overnamentais e sobre a sociedade. *e a &or"a &ísica é a &onte5ltima de todo poder, tanto a estrutura do Estado como a dasociedade resultam dos atos de vontade daqueles que amonopoli$am, a utili$am ou amea"am sua utili$a"ão. as se opoder do Estado se &undamenta não apenas no monop+lio da

violência or%ani$ada, então, a estrutura das institui"#es estatais esua rela"ão com a sociedade são &ormadas através da intera"ãode uma ampla variedade de atores, sob constran%imentosecon/micos, culturais e políticos. autonomia do Estado é entãoum dentre os resultados possíveis dessa intera"ão.

@. onsequências da autonomia do Estado.

'aradoxalmente, se debates intensos cercaram as ori%ens daautonomia do Estado, seus e&eitos &oram tomados como dados.Entretanto, os Estados podem ser aut/nomos de diversasmaneiras, com consequências di&erentes para as políticasp5blicas e o bem4estar social.

'ode ser demonstrado especi&icamente que aqueles Estadosque têm direito de propriedade sobre o resíduo &iscal deveriama%ir di&erentemente daqueles Estados que têm autoridade para

decidir políticas mas não possuem tal direito de propriedade.omo a autonomia do Estado a&eta os resultados depolíticas 'ara prover instrumentos analíticos, considere4se umateoria %eral de tipos puros de Estados. teoria proposta ébaseada nos escritos de historiadores econ/micos inspirados nasteorias neocl!ssicas, em particular _ane Fensaios reunidos em<II; ver também mes e 6app, <I; 1avis, <IJW; _evi, <IJ<;North, <IJ<; e VillH, <IJP, que &ormula ob3e"#es ao esquemaneocl!ssicoK e al%uns elementos da teoria da &irma de QilliamsonF<IT@; ver também 7urubotn e 'e3ovich, <I=K.

Os Estados di&erem em três características: (< o direito de

propriedade *obre o resíduo &iscal, (= o locus das decis#esconcernentes ) variedade e ) quantidade de atividades%overnamentais e (? a or%ani$a"ão da produ"ão de servi"os. Oresíduo &iscal é a di&eren"a entre os bene&ícios e os custos dasatividades estatais, quaisquer que se3am elas. Esse resíduo podeser le%almente considerado propriedade dos administradores

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estatais, se3am eles quem &orem, ou da coletividade em %eral. autoridade para decidir sobre o tipo e a quantidade dos bens eservi"os a serem &ornecidos pelo Estado pode residir no pr+prioaparato de Estado, em representantes eleitos, ou diretamentenos cidadãos. 7inalmente, os bens e servi"os podem serprodu$idos pelos pr+prios aparatos estatais, com os %overnantes

au&erindo os lucros da produ"ão, ou contratados de terceiros e,assim, produ$idos com um custo para o Estado.ombina"#es particulares dessas características de&inem três

tipos de Estado que são de interesse aqui. onsideremos queem uma 26ep5blica2, os cidadãos têm o direito de propriedadesobre o resíduo &iscal, eles pr+prios ou seus a%entes per&eitos&ormulam as decis#es concernentes ) variedade e ) quantidadedas atividades estatais, e a produ"ão dos servi"os implica custopara o Estado. hamaremos de 2'rincipado2 um Estado em queos %overnantes têm direito sobre o resíduo &iscal, decidem sobrea variedade e a quantidade das atividades estatais e, em troca,

arcam com os custos do desempenho dessas atividades.hamaremos de 28urocr!tico2 um Estado em que o direito depropriedade sobre o resíduo &iscal pertence aos cidadãos, asdecis#es sobre as atividades %overnamentais são tomadas pelos%overnantes que não são e&etivamente supervisionados, e osservi"os são produ$idos pelo pr+prio aparato de Estado cu3osmembros au&erem os lucros de tal produ"ão. s característicasdos três tipos de Estado são sumari$adas na Vabela <.

Os Estados &ornecem servi"os que elevam as receitas daeconomia privada acima da taxa (2competitiva2 que na ausênciadesses servi"os, somaria ao estoque de capital disponível. O

exemplo cl!ssico é o da prote"ão. O Estado &ornece naviosarmados que acompanham os barcos comerciais. O n5mero debarcos que atravessariam mares in&estados por piratas, semqualquer prote"ão, de&ine a taxa competitiva de retorno. prote"ão aumenta o n5mero de navios que completariam avia%em, e ) medida que Dene$a prote%e melhor seus barcos que

`ênova, os mercadores vene$ianos se bene&iciam de uma rendamonop+lica di&erencial. ssim o retorno total sobre o capital é asoma da taxa competitiva e da taxa di&erencial, calculadas sobreo estoque de capital. 1eve4se considerar que a renda monop+licadi&erencial B e, portanto, o bene&ício total derivado dasatividades %overnamentais B aumenta com a quantidade dessas

atividades.Os Estados extraem pa%amentos. Eles devem &a$er issoporque a produ"ão de servi"os é custosa. hamaremos de2impostos2 todas as receitas recebidas pelo Estado. >ualquerexcesso de pa%amentos extraídos sobre os custos constitui um2tributo2, uma renda monop+lica extraída pelo Estado. O limiteextremo do tributo é quando o Estado retira das pessoas tudoque têm: isso é 2pilha%em2.

Os Estados desempenham atividades e extraem pa%amentos. s pessoas se bene&iciam dessas atividades e as pa%am. omestas premissas podemos a%ora responder a se%uinte questão:

que nível de atividade estatal e que quantidade e &orma depa%amento pelas pessoas, são característicos de cada tipo deEstado 'er%untaremos em particular se a quantidade deservi"os é e&iciente e se o pa%amento é excessivo.

onsidere4se primeiro uma 26epublica2 em que todos oscidadãos votam, simultaneamente, para escolher entre asalternativas concebíveis, a quantidade de servi"os%overnamentais e o seu pa%amento. Os cidadãos queremmaximi$ar seu bene&ício líquido derivado das atividades%overnamentais, isto é, escolher o nível de atividades quemaximi$a a di&eren"a entre bene&ícios e custos. Dimos acima

F'arte <, *e"ão =.<K que eles escolhem o nível de atividadesestatais mais e&iciente de seu ponto de vista, isto é, o nível emque o bene&ício mar%inal se i%uala ao custo mar%inal. Vendoescolhido o nível e&iciente de atividades %overnamentais, oscidadãos da 6ep5blica votarão para pa%ar o custo da produ"ãode servi"os, mas não para pa%ar a renda de monop+lio para o

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Estado. Esta é, então, a primeira conclusão: O %overno seriae&iciente e os impostos seriam limitados aos custos em umEstado no qual o direito de propriedade sobre o resíduo &iscalpertence aos cidadãos, as decis#es são tomadas pelos cidadãosou seus a%entes per&eitos e a produ"ão de servi"os é custosapara o Estado.

'ara en&ati$ar os contrastes, considere4se brevemente osoutros tipos de Estado. O principado é um Estado que tem odireito le%al sobre o resíduo &iscal. Esse Estado busca maximi$arsuas receitas líquidas, isto é, a di&eren"a entre as receitas deimpostos e os custos das atividades. *e o 'rincipado não éconstran%ido, se3a pelo poder político, se3a pelas decis#esecon/micas dos a%entes taxados esse Estado escolhe o nívele&iciente de atividades e então saqueia. *e, por al%uma ra$ão, o'rincipado tiver que se deter antes da pilha%em, o Estado o&ertamenos que o nível e&iciente de atividades. ssim, sob essa &ormade autonomia do Estado, o tamanho do %overno ser!

provavelmente, pequeno demais. O Estado 8urocr!tico nãopossui direito le%al sobre o resíduo &iscal, mas tem autoridadepara tomar decis#es sobre as atividades %overnamentais e sebene&icia de tais atividades, independentemente de serem 5teis aquem quer que se3a. Valve$ 2nomen9larura2 &osse um termomelhor, 3! que tal descri"ão se adequ! bem ao modelo soviético.  burocracia escolhe um nível ine&iciente de atividades e extraiatravés de impostos o custo dessas atividades.

 qui estão as principais hip+teses derivadas dessa teoria: (<*empre que o direito de propriedade sobre o resíduo &iscalpertencer ao povo B que decide diretamente ou através de

a%entes per&eitos sobre as atividades %overnamentais,produ$idas com um custo para o Estado B o nível de atividade%overnamental ser! e&iciente e os pa%amentos extraídos do povoserão limitados ao custo real de tais atividades; (= sempre que odireito de propriedade sobre o resíduo &iscal pertencer ao Estado,que decide sobre suas atividades e as produ$ a um certo custo, o

nível de atividade ser! e&iciente ou menor, e os pa%amentosextraídos vão incluir uma renda de monop+lio; (? sempre que odireito de propriedade sobre o resíduo &iscal residir no povo, masa decis#es sobre as atividades &orem tomadas pelos %overnantesque se bene&iciam das atividades %overnamentais, o nível deatividade ser! excessivo e os pa%amentos extraídos do povo

serão capa$es de cobrir tal nível B porém, estarão limitados aele. Essas hip+teses são dedu$idas das premissas sumari$adasna Vabela da pa%ina ?.

  questão principal que deve ser colocada a respeito dessas&ormas puras de Estado é: em que extensão suas políticasdi&eririam se os %overnantes levassem em considera"ãoconstran%imentos derivados da economia Essesconstran%imentos tendem a ser i%norados nos escritos queen&ati$am a autonomia do Estado. Asso vale tanto para a literaturade hist+ria econ/mica quanto para as an!lises sobre burocratasmaximi$adores de seus or"amentos. No modelo de _ane F<IIK,

apenas os e&eitos positivos da prote"ão sobre a economia sãoconsiderados, enquanto que na teoria de Nortli F<IJ<K, osconstran%imentos são limitados quase que exclusivamente)queles que se ori%inam da di&iculdade de coletar impostos. 'orsua ve$, modelos de %overno aut/nomo, em democracias,tendem a i%norar os e&eitos da o&erta ine&iciente de servi"osestatais sobre a economia, na suposi"ão de que +r%ãos%overnamentais e comiss#es especí&icas internali$am,presumivelmente, apenas uma parte desses e&eitos e, portanto,não precisam lev!4los em conta. *e assumirmos que o Estadoopera em uma economia que inclui a%entes, individuais e

coletivos, que possuem direitos de propriedade sobre sua pr+priacapacidade de trabalho e sobre recursos produtivos alien!veis, eque se comportam estrate%icamente de acordo com seu pr+prioauto interesse, parece que qualquer %overno é, de diversasmaneiras, constran%ido por respostas, e até por antecipa"#es,desses a%entes ) política %overnamental. omo *chumpeter

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ar%umentou em <I<J F<IP@: p. =<K, qualquer %overno auto4interessado deve moderar sua tenta"ão de predar a economia. questão é se os constran%imentos econ/micos são tão &ortes aponto de anularem as di&eren"as entre as &ormas de Estadolistadas acima, ou su&icientemente &rouxos a ponto depossibilitarem di&eren"as institucionalmente causadas nosresultados das políticas.

P. autonomia do Estado em democracias.

P.<. kr%ãos %overnamentais aut/nomos.

O Estado é aut/nomo quando os %overnantes têm ob3etivospr+prios e a capacidade institucional de tomar decis#es e deexecut!4las. l%uns dos tipos puros de Estado discutidos acimasão aut/nomos nesse sentido. 1e acordo com v!rias teorias,

entretanto, o Estado é de maneira variada, e em variados %raus,aut/nomo B em rela"ão aos eleitores, %rupos ou classes ^mesmo com institui"#es democr!ticas FGrasner, <IJ; Nordlin%er,<IJ<; 'oulant$as, <I?; *9ocpol, <IJPK. esmo em umademocracia, os ocupantes de car%os no Estado B políticoseleitos ou burocratas nomeados ^ não são a%entes per&eitos dop5blico em nome do qual assumem responsabilidades: eles nãoa%em de acordo com o melhor interesse dos cidadãos.

  questão da autonomia do Estado na democracia sur%eporque os a%entes %overnamentais têm o direito le%al de tomarcertas decis#es, mas não possuem o direito de propriedade

sobre o resíduo &iscal que pode resultar das atividades%overnamentais. hist+ria de um +r%ão pode ser contada comsimplicidade: (< Os burocratas querem v!rias coisas para sipr+prios e se preocupam em al%uma extensão (mas não muitocom sua contribui"ão ao bem estar p5blico. *ão indi&erentesentre diversas combina"#es de compensa"#es privadas e

bene&ícios p5blicos. (= Os burocratas podem obter al%umascompensa"#es se desempenharem e&icientemente &un"#esp5blicas: lo%o, o bene&ício p5blico aumenta por al%um períodocom a compensa"ão privada dos burocratas. as ) medida queas compensa"#es privadas aumentam, elas come"am a tomarespa"o dos bene&ícios do p5blico. (? Os burocratas tomamdecis#es sem serem per&eitamente supervisionados e dessa&orma podem escolher alternativas que maximi$em suasatis&a"ão. (@ Essa escolha não é a escolha +tima para op5blico, que então so&re com a autonomia estatal. No %r!&ico =, obene&ício ao p5blico (2resíduo &iscal2, 8 é medido sobre o eixovertical. O eixo hori$ontal mede o nível de atividade%overnamental (>, para 2quantidade2, uma ve$ que se assumeque as compensa"#es privadas dos burocratas aumentam )medida que o %overno exerce mais atividades. Os burocratas&icam i%ualmente satis&eitos com todas as combina"#es decompensa"#es privadas e bene&ícios p5blicos que incidam sobre

a mesma curva de indi&eren"a, mas %ostariam de ter o m!ximopossível de ambas. &un"ão 8(> (2&ronteira de possibilidade2descreve a rela"ão entre o nível de atividade %overnamental e obene&ício p5blico. O bene&ício p5blico aumenta inicialmente )medida que as compensa"#es burocr!ticas (n5mero deempre%ados, sal!rios, mordomias, adicionais salariais, etc.aumentam. Ele alcan"a um m!ximo e a partir de então declina,enquanto o nível de atividade %overnamental continua a crescer.No nível m!ximo, a sociedade bene&icia4se o mais possível dasatividades %overnamentais: esse é o +timo social ou a solu"ãoe&iciente. No entanto, se os burocratas não &orem per&eitamente

monitorados, eles escolhem um nível de atividade que maximi$asua satis&a"ão pr+pria e esse nível excede o nível socialmente+timo. sociedade so&re com o resultado disso. O que osburocratas querem para si pr+prios não é exatamente claro. 1eacordo com Nis9anen F<I<K, quase tudo que queiram B sal!rio,%rati&ica"#es, poder, patrona%em e re%ula"ão, exceto a &acilidade

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para administrar e &a$er mudan"as B aumenta com o tamanhodo or"amento; é por isso que Nis9anen &ala de burocratasmaximi$adores de or"amentos. 1e acordo com QilliamsonF<IT@K, administradores em %eral %ostam de v!rias %rati&ica"#esque aumentam o tamanho do pessoal, ideia aplicada no estudodos +r%ãos %overnamentais p5blicos &eitos por i%ué e 8élan%erF<I@K. 'ar9inson F<IPK pensou nos burocratas empre%andomais trabalhadores; 1e lessi F<ITIK tomou4os como de&ensoresde mais capital. O ponto é que, o quer que queiram, eles oconse%uem produ$indo demais ou muito custosamente, ou comum viés diri%ido a um &ator.

 pesar da literatura ser enorme, esta não é uma teoriacomplicada. Nis9anen F<I<K a&irmou que os burocratasmaximi$avam or"amentos até o limite de aloca"#es &eitas pelascomiss#es le%islativas e descobriu que os +r%ãos%overnamentais produ$iam servi"os além do ponto de e&iciência.i%ué e 8élan%er F<I@K assumiram que o pessoal a empre%ar

não é incluído como um custo quando as decis#es são tomadase concluíram que os +r%ãos %overnamentais vão super empre%arpessoal e então, produ$ir demais ou com muitos custos.Or$echoUs9i F<IK assumiu que os burocratas têm um viés paraempre%ar e descobriu sabe4se bem o quê. Estudos empíricoscomparando a e&iciência, o custo e o empre%o em or%ani$a"#esp5blicas e privarias que produ$em o mesmo servi"o tendem a sermetodolo%icamente pobre uma ve$ que a dire"ão da causalidadeé di&ícil de determinar: as companhias privadas são maise&icientes porque são privadas ou são privadas porque são maise&icientes s ve$es se tem a impressão de que estão

desesperados para provar a questão como, por exemplo, em umestudo que mostra que por unidade de capital as universidadesp5blica nos Estados Cnidos empre%am @W mais trabalhadoresque as institui"#es privadas B sem controlarem pelo n5mero deestudantes FOr$echoUs9i, <I, p. =PK.

P.=. onstran%imentos.

Esses modelos de +r%ãos aut/nomos não colocam quasenenhum limite ) a"ão dos burocratas. questão que se coloca ésaber quanto de autonomia subsistiria se al%unsconstran%imentos realistas &ossem incorporados na an!lise )sdecis#es burocr!ticas. Esses constran%imentos têm trêsdimens#es: (< &atores decorrentes da o&erta, isto é, os custos daprodu"ão de servi"os %overnamentais e da coleta de impostos,(= supervisão por parte de representantes eleitos ou diretamentepor cidadãos, e (? considera"#es provenientes do sistemaecon/mico.

P.=.<. onstran%imentos decorrentes da o&erto.

Os constran%imentos decorrentes da o&erta são numerosos.

Eles receberam aten"ão sistem!tica de North, em particularF<IJ<K. Esses constran%imentos se expressam como custos daprodu"ão de servi"os e da coleta de impostos. Esses custosre&letem di&iculdades na mensura"ão da produ"ão, nomonitoramento de transa"#es, na extra"ão de rendas etc. Oexemplo hist+rico cl!ssico re&ere4se ) mudan"a nos custosmilitares que resultaram da introdu"ão do canhão e daconsequente import0ncia da in&antaria F'o%%i, <IJ; *chumpeter,<IP@; VillH, <IJPK. eterís paríbus, um aumento no custo dosservi"os ou na coleta de impostos &or"ar! os burocratas adiminuírem seu nível de atividades. Qard F<IJ=K elaborou uma

teoria do crescimento do %overno apoiada exclusivamente em&atores decorrentes da o&erta: os %astos %overnamentaiscresceram porque, com o tempo, &oi se tornando mais baratocoletar impostos.

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P.=.=. onstran%imentos institucionais.

Os constran%imentos ori%in!rios da supervisão derepresentantes eleitos receberam uma ampla aten"ão. 1uasquest#es devem ser tratadas separadamente: se os burocrataspodem ser e&etivamente supervisionados por al%um outro corpo,tipicamente o le%islativo, e se os pr+prios supervisores realmentetêm pre&erências por políticas e&icientes. No que di$ respeito )rela"ão entre a burocracia e o le%islativo, a conclusão %eral deiller e oe F<IJ?: p. ?=<K é convincente: 2odelos &ormais deburocracia (... deram uma ên&ase in3usti&icada ) suaindependência, &lexibilidade e controle decis+rio e, nesseprocesso, i%noraram e subestimaram a capacidade do le%islativo,especi&icamente de suas comiss#es, de a%ir deliberada ecoercitivamente em busca de ob3etivos que podem ser bemdi&erentes daqueles dos +r%ãos %overnamentais.2 *i%amos illere oe em suas an!lises e depois %enerali$emos a questão para

além do contexto institucional dos Estados Cnidos.  crítica de iller e oe é diri%ida a Nis9anen F<I<K, mas étambém v!lida em rela"ão teses dos +r%ãos %overnamentaisaut/nomas em %eral. 'ois a questão relevante é saber como os+r%ãos %overnamentais escapam ) supervisão dosrepresentantes eleitos. No modelo de Nis9anen, os +r%ãosdes&rutam de autonomia porque (< eles detêm o monop+liosobre a o&erta de um determinado servi"o, (= somente elessabem os custos de &ornecimento de tais servi"os, e (? eles sede&rontam com as comiss#es le%islativas que os supervisionamcom uma postura de 2tudo4ou4nada2. O relato de Nis9anen sobre

o processo or"ament!rio é o se%uinte: uma comissão le%islativasupervisora revela o quanto est! disposta a pa%ar por cadaquantidade de servi"os; o +r%ão executivo observa sua planilhade custos, encontra o m!ximo que é capa$ de produ$ir, dada adisposi"ão da comissão para pa%ar, e comunica tal quantidade )comissão, que então toma a 2decisão2 &inal. Na verdade, a 5nica

decisão que a comissão le%islativa toma di$ respeito ) sua&un"ão de demanda. Cma ve$ que a decisão se torna p5blica, é o+r%ão %overnamental que decide o quanto ser! produ$ido, e 3!sabemos que produ$ira tanto quanto possível. além do nívelsocialmente e&iciente. iller e oe observam que tal modelo ébaseado em premissas peculiares e que não corresponde )realidade, especi&icamente ) realidade do on%resso norte4americano. Estranhamente, no modelo de Nis9anen apenas osburocratas são atores racionais, enquanto os le%isladores não secomportam estrate%icamente. lém do mais, são de &ato ascomiss#es le%islativas, e não os +r%ãos executivos. que tomamas decis#es &inais B e não são &or"ados a escolher entre o nívelproposto pelos +r%ãos ou nada. iller e oe contrastam oprocedimento descrito por Nis9anen (2supervisão que revela ademanda2 com outra possibilidade (2supervisão que esconde ademanda2: a comissão le%islativa ordena que o +r%ão%overnamental a in&orme sobre os custos de produ"ão de

quantidades particulares de servi"os e então escolhe aquantidade que maximi$a a sua pr+pria satis&a"ão Fver também8reton e Qintrobe, <IPK. iller e oe mantêm a premissa deNis9anen de que o +r%ão pode mentir sobre seus verdadeiroscustos e ainda assim obtêm um resultado verdadeiramentepoderoso: se o +r%ão %overnamental é &or"ado a &ornecer umaescala de custos sem conhecer a escala de demanda dacomissão le%islativa, o +r%ão vai achar de seu melhor interesse arevela"ão de seus verdadeiros custos. Antuitivamente, a ra$ão é ase%uinte: se o +r%ão mentisse ) comissão, &ornecendo um customar%inal acima do nível verdadeiro, estaria escolhendo um nível

de atividade mais baixo do que sob a verdadeira escala decustos: al%o que eles %ostariam de evitar. *e revelasse um customar%inal abaixo do nível verdadeiro, a comissão poderia escolherum nível de atividade que o +r%ão %overnamental nãoconse%uiria de &ato &ornecer. *endo assim, a estraté%ia*tac9elber%, por parte do +r%ão %overnamental, é revelar seus

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verdadeiros custos. ssim, se a comissão supervisora &or uma%ente per&eito do p5blico, o resultado ser! um nível socialmente+timo de atividades %overnamentais. Vradu$ido para o contexto%eral de nossa discussão, o resultado é de %rande amplitude:mesmo que a burocracia possa esconder seus custos reais, ésu&iciente que se3a &or"ada a revelar qualquer escala de o&erta aop5blico ou a seus representantes per&eitos para que o nível deatividades %overnamentais se3a e&iciente. Note4se que tanto*chumpeter F<IP@K quanto 'o%%i F<IJ: cap. ?K acreditam que o*tndestaat B uma &orma de Estado no qual, entre outrosaspectos, o príncipe tinha que recorrer aos estamentos pararequisitar &undos vinculados a ob3etivos especí&icos B &oie&iciente. ssim, a autonomia dos +r%ãos %overnamentais não éinevit!vel.

  questão que permanece em aberto é se as comiss#esle%islativas são a%entes per&eitos do p5blico. Os burocrataspodem ser e&icientemente supervisionados, mas os le%isladores

que monitoram seu comportamento podem também estarinteressados em pro%ramas que levem as atividades%overnamentais a um nível ine&icientemente excessivo. Cmasérie de an!lises do on%resso norte4americano demonstrouque, na or%ani$a"ão institucional particular do sistema eleitoralamericano e das re%ras or"ament!rias do on%resso,le%isladores em busca de reelei"ão têm bons motivos paraparticipar de trocas de votos que resultam em %astos%overnamentais excessivos. F7ere3ohn, <I@; 7iorina, <I;*hepslee Qein%ast. <IJ<;Qein%ast, <II.K om e&eito, muito dadiscussão americana é se são os burocratas ou os le%isladores

que devem ser culpados pela o&erta ale%adamente excessiva deservi"os pelo %overno FQein%ast e oran, <IJ?, é uma ilustra"ãorecenteK. 'ara iler e oe é importante estabelecer as se%uintesdi&eren"as: se a supervisão le%islativa revela ou esconde ademanda; se o servi"o é o&erecido por um +r%ão %overnamentalou por uma &irma privada; se o o&ertante é monopolista ou se h!

competi"ão entre o&ertantes; se a comissão supervisora tem umademanda alta pelo servi"o especí&ico; e se a le%islatura como umtodo tem uma alta demanda por servi"os %overnamentais. *uasconclus#es mostram que enquanto o resultado de Nis9anen épossível sob certas condi"#es extremas, sob outras condi"#es aburocracia pode ser &or"ada a &ornecer ao menos al%uns servi"ossocialmente bené&icos e, ainda, em outros arran3os, o&ertar!servi"os exatamente no nível socialmente +timo. ssim, saber seos burocratas são e&etivamente supervisionados e se asupervisão por representantes eleitos toma o resultado &inale&iciente, depende de &atores institucionais especí&icos dossistemas eleitorais, da or%ani$a"ão das le%islaturas e dospoderes das comiss#es le%islativas no que di$ respeito aos+r%ãos %overnamentais estatais.

P.=.?. onstran%imentos econ/micos.

 té Estados aut/nomos são constran%idos pela estrutura dapropriedade. O tema dos constran%imentos econ/micos édiscutido na pr+xima se"ão.

P.?. >uest#es não resolvidas.

'ara analisar a possibilidade e os e&eitos da autonomia doEstado em democracias precisamos então do se%uinte modelo:existem eleitores, partidos, políticos eleitos e burocratas, cada

cate%oria com ob3etivos pr+prios especí&icos, todos inseridos eminstitui"#es particulares. Vodos se comportam estrate%icamenteuns em rela"ão aos outros.

 s institui"#es têm um papel crucial uma ve$ que elasdelimitam e tomam possíveis determinados cursos de a"ão: porexemplo, se os representantes vão de&ender seus distritos os

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seus partidos, se os representantes serão capa$es de decidircada item de %asto separadamente, se uma comissão le%islativater! poder para &or"ar a burocracia a revelar sua &un"ão deo&erta, se e quem ser! capa$ de controlar a a%enda, etc. FDer7iorina e Noll, <IJ.K. Eventualmente, arran3os institucionaisespecí&icos determinam o tipo de resultado mais prov!vel, desdeque tais resultados possam ser distin%uidos nos termos %erais dateoria dos 3o%os. Em certos arran3os, os +r%ãos %overnamentais eas comiss#es le%islativas podem ser capa$es de che%ar asolu"#es cooperativas; em outros arran3os o resultado não4cooperativo, em que cada ator escolhe seu curso de a"ãosimultaneamente aos demais (Nash, pode ser mais prov!vel.FNa &ormula"ão %eral de iller, <I, tal solu"ão é *ocialmentesub4+timaK. Em outras institui"#es, um partido, le%isladores outalve$ até eleitores podem ser capa$es de &or"ar os burocratas arevelar primeiramente suas eventuais rea"#es (solu"#es de*tac9elber%. ada uma dessas solu"#es implica um nível

di&erente de atividade %overnamental e uma distribui"ão di&erentede seus custos e bene&ícios. An&eli$mente, são quase inexistentescompara"#es empíricas entre casos nacionais de acordo comessa perspectiva. O t+pico da autonomia do Estado so&re de umaassimetria (particularmente %rande entre teoria e evidênciaempírica. omo &oi demonstrado acima, a perspectiva da escolhap5blica %erou um amplo corpo te+rico, que é altamente sensívelao contexto institucional e implica predi"#es concernentes apadr#es de atividades %overnamentais. as o exame empíricosistem!tico dessas teorias é restrito aos Estados Cnidos,enquanto as pesquisas comparativas entre na"#es continuam a

ser desprovidas de teorias. *e%uindo o arti%o seminal de NettlF<ITJK, existe a%ora um corpo enorme de literatura concernente aEstados 2&racos2 e 2&ortes2 e a 2%raus de autonomia.2 F'araresenhas recentes da literatura, ver 8imbaum, <IJP; *9ocpol,<IJP.K. as tal literatura desconhece completamente a teoria daescolha p5blica. 7undamenta4se, ao contr!rio, em

%enerali$a"#es indutivas a partir dos chamados 2estudos decaso2 a &im de mostrar a import0ncia das institui"#es estatais na&orma"ão de políticas. as v!rias hist+rias não &ormam umateoria, e não aprendemos com esses estudos que aspectosespecí&icos das institui"#es estatais contam para a suaautonomia. Então, tudo o que pode ser dito a%ora é que aautonomia do Estado não é inevit!vel em condi"#esdemocr!ticas, mas arran3os institucionais particulares podem&acilitar a autonomia de burocratas ou de le%isladores ou deambos.

Essa situa"ão é lament!vel porque a validade empírica dosmodelos que derivam das premissas da teoria da escolha p5blicaest! lon%e de ser evidente. té mesmo o pr+prio n5cleo da teoriaB a proposi"ão de que os %astos %overnamentais serão maisaltos onde os bene&ícios estão concentrados e os custos di&usosB se comporta mal em uma simples con&ronta"ão comevidências comparativas nacionais. 'or exemplo, a teoria da

escolha p5blica implica F7iorina e Noll, <IJ: pp. =P= 4 =P?K que,eteris pribus, os %overnos deveriam crescer mais nos sistemaspluralistasMma3orit!rios do que nos sistemas representativosproporcionais. Cm breve c!lculo mostra que entreaproximadamente <ITW e <II os %astos %overnamentais totaisaumentaram em média J,P em cinco sistemaspluralistasMma3orit!rios e em <J,? em de$ sistemasrepresentativos proporcionais; entre <I4I, o nível médio de%astos totais %overnamentais era de ?J,J do 'N8 no primeiro%rupo de países e @I,< no se%undo. Fs in&orma"#es sobre os%astos são de *chott. <IJ@: Vabela ?.T; as in&orma"#es sobre

sistemas eleitorais são derivadas de 6ae, <I<: Vabela =.<.K lémdo mais. o %asto %overnamental tende a ser superior a sete porcento em países que têm um sistema unit!rio em ve$ de &ederalF*aunders e Glau, <IJP: p. <<K. >uando se lê a literatura norte4americana sobre 2%asto %overnamental excessivo2, tende4se aesquecer que durante os anos sessenta e setenta os %astos

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%overnamentais totais cresceram menos nos Estados Cnidos queem qualquer outro país industriali$ado e que entre os países daO1E apenas o \apão e a ustr!lia apresentam a%ora %astos%overnamentais menores.

T. onclusão.

  impressão &undamental que emer%e das analises dasrela"#es entre as institui"#es estatais não é que o Estado se3anecessariamente aut/nomo, mas que &alta a essas institui"#esuma racionalidade universalista 5nica que tanto as distin%aquanto as separe de atores privados e, lo%o particularistas. heran"a he%eliana e de maneira di&erente, a Ueberiana, le%aramuma visão de Estado como ator coeso imbuído de umaracionalidade sui %eneris, universalista e respons!vel por &un"#esdiversas. Em v!rias an!lises marxistas, particularmente na de

'oulant$as F<I?K e na da escola l+%ica do capital alemãFXolloUaH e 'icciotto. <IJK. o Estado &oi tratado como um atoruni&icado que asse%urava a coesão do sistema social como umtodo. tradi"ão Ueberiana &oi recentemente redescoberta poral%uns soci+lo%os que decidiram que o Estado é o 2centro2 dasociedade. Essa visão do Estado &oi desa&iada por v!rias vers#esda teoria da captura, observando que o Estado não era coeso porser permeado por atores privados em seus interesseparticularistas. s implica"#es da perspectiva da escolha p5blicavão ainda mais além. coesão do Estado é sempreproblemati$ada por ra$#es puramente institucionais: o Estado é

um sistema complexo sem um centro &ixo de coesão. O problemaem ver o Estado como centro de qualquer coisa é que o Estadonão tem nele pr+prio um centro. om e&eito, como *chmitterar%umentou F<I?T: p. ?K, o Estado capitalista contempor0neoconstitui um complexo amor&o de +r%ãos %overnamentais com&ronteiras muito mal de&inidas, desempenhando uma %rande

variedade de &un"#es não muito di&erenciadas

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apítulo ?

./t$lo : O 0overno do capital

<. Antrodu"ão.

  reivindica"ão central da teoria política marxista B a 5nicaque a distin%ue B é que, no capitalismo, todos os %overnosdevem respeitar e prote%er as demandas essenciais daquelesque possuem a rique$a produtiva da sociedade. Os capitalistassão dotados de poder p5blico, poder que não pode ser sub3u%adopor nenhuma institui"ão &ormal. F_uxembur%, <IW; 'ashu9anis,<IP<.K O povo pode ter direitos políticos, pode votar, e os%overnos podem a%ir se%undo mandatos populares. Os%overnantes podem ter interesses e concep"#es pr+prias. as acapacidade e&etiva de qualquer %overno para atin%ir qualquerob3etivo é circunscrita pelo poder p5blico do capital. nature$a

das &or"as políticas que controlam as institui"#es do Estado nãoaltera essa situa"ão porque ela é estrutural: uma característicado sistema, e não dos ocupantes das posi"#es %overnamentaisou dos vencedores das elei"#es.

1e acordo com as teorias marxistas do Estado que&loresceram durante as décadas de <ITW e W, a sobrevivênciado capitalismo tomou4se possível apenas em ra$ão do papel 3o%ado pelo Estado. 1ado o crescimento dos oli%op+lios, a taxadecrescente de lucros, a escala crescente dos investimentos, asrecorrentes crises de demanda, as crescentes di&iculdades dele%itima"ão e a milit0ncia da classe trabalhadora, o capitalismonão poderia ter sobrevivido sem que políticas de Estadopromovessem a acumula"ão e a le%itima"ão. Anversamente, tudoo que os Estados &a$em, as políticas p5blicas em qualquer es&erae de qualquer &orma, pode ser compreendido e predito a partir dapremissa de que as institui"#es do Estado &uncionam parareprodu$ir o capitalismo. estrutura b!sica dessas teorias e duas

de suas mais importantes vers#es são o ob3eto da se"ão =.'ara dar conta da interven"ão do Estado, tais teorias devem

explicar porque todos os %overnos, em sociedades capitalistas,devem a%ir de acordo com o interesse do capital, do capitalismoou dos capitalistas. Cma das explica"#es sustenta que osadministradores de Estado internali$am os ob3etivos doscapitalistas e usam o Estado como instrumento em nome dessesob3etivos. Outra explica"ão en&ati$a as limita"#es institucionais:no capitalismo, o Estado não pode or%ani$ar a produ"ão, nãopode ordenar o investimento e não pode comandar o consumoporque tais prerro%ativas são reservadas aos propriet!rios. as amais ousada das teorias, por ser a menos contin%ente,ar%umenta que não importa quem são os %overnantes, o quequerem e quem representam. Vampouco importa como o Estadoé or%ani$ado e o que ele é le%almente capa$ ou incapa$ de &a$er.Os capitalistas não precisam sequer se or%ani$ar e a%ircoletivamente: é su&iciente que busquem ce%amente seus

estreitos interesses privados para levar qualquer %overno arespeitar os limites impostos pelas consequências p5blicas desuas decis#es privadas. Essa é teoria da 2dependência estruturaldo Estado ao capital2, discutida na se"ão ?.

O relato &uncionalista da sobrevivência do capitalismomostra4se insatis&at+rio de variadas maneiras. di&iculdadecentral é que tal perspectiva não deixa qualquer papel paracon&litos, para intera"#es estraté%icas entre as &or"as sociais.Nesse en&oque, os trabalhadores aparecem apenas comovitimados pela repressão, en%anados pela domina"ão ideol+%icaou traídos por lideres. as em muitos países os trabalhadores se

or%ani$aram em sindicatos e partidos, e suas or%ani$a"#esperse%uiram estraté%ias consistentes com a manuten"ão docapitalismo. *endo assim, para entender a lon%evidade docapitalismo é necess!rio analis!4la como produto de intera"#esestraté%icas entre &or"as sociais or%ani$adas coletivamente. se"ão @ resenha essas an!lises.

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=. O Estado e a reprodu"ão do capitalismo.

1e acordo com a teoria de arx sobre o capitalismodesenvolvida em O capital, tal sistema de produ"ão e troca sereprodu$ espontaneamente, como e&eito autom!tico de seu&uncionamento. O Estado pode ter sido necess!rio para criar ocapitalismo durante o período da 2acumula"ão primitiva2 mas,uma ve$ estabelecido, o capitalismo reprodu$ as condi"#es desua pr+pria existência. Em contraste, independentemente do tomque assumem a respeito de arx, de ostensivamente exe%ético aabertamente crítico, todas as recentes teorias marxistas doEstado come"am a&irmando que al%umas das condi"#esnecess!rias ) reprodu"ão estão ausentes nas sociedadescapitalistas contempor0neas. Ou arx se equivocou, ou ocapitalismo mudou. Cma ve$ que al%umas das condi"#es

necess!rias para a reprodu"ão espont0nea do capitalismosumiram h! pelo menos al%umas décadas e, por outro lado, ocapitalismo continua por aí, a conclusão inevit!vel é que al%umasinstitui"#es externas ao sistema de produ"ão e troca devem estar&a$endo o que quer que se3a necess!rio para a manuten"ão dosistema capitalista. Vais institui"#es são identi&icadas como oEstado. ssim, a explica"ão para a persistência do capitalismo&ace a v!rias amea"as é encontrada nas atividades dasinstitui"#es do Estado. lternativamente, todas as políticasp5blicas podem ser compreendidas e previstas em re&erência aospré4requisitos de preserva"ão da produ"ão capitalista. &un"ão

do Estado é reprodu$ir o capitalismo e esse é o ob3etivo daspolíticas p5blicas.

'or que deveria o Estado &a$er qualquer coisa para reprodu$iras rela"#es capitalistas 'or que o capitalismo não poderiasobreviver sem a interven"ão estatal Num nível %eral, osanalistas marxistas do capitalismo conver%em para a visão de

que a sobrevivência, manuten"ão, viabilidade ou reprodu"ão dosistema necessitam de continuada acumula"ão e le%itima"ão. Ocapitalismo pode passar por crises peri+dicas em que aprodu"ão, o empre%o ou o consumo declinem temporariamente,mas ele não pode esta%nar permanentemente; como arxen&ati$ou, o capitalismo deve se desenvolver incessantemente,apenas para sobreviver. cumula"ão continuada é assim aprimeira condi"ão necess!ria, o requerimento &uncional centralpara a reprodu"ão do capitalismo. _e%itimidade é a se%undacondi"ão necess!ria, se3a porque o apoio popular é exi%ido pelasre%ras da democracia ou pelo menos porque o consentimento énecess!rio para desarmar a onipresente amea"a revolucion!ria. cumula"ão e le%itima"ão são assim os pré4requisitos &uncionaispara a sobrevivência do capitalismo e, por v!rias ra$#es, aacumula"ão e a le%itima"ão não são (ou não são mais %eradasespontaneamente pelas economias capitalistas.

*eis amea"as principais ) acumula"ão e ) le%itima"ão são

en&ati$adas por v!rios autores: (l a competi"ão entre as &irmas éincapa$ de asse%urar que todas as atividades necess!rias para aprodu"ão capitalista continuada se3am espontaneamentereali$adas; (= a taxa de lucro declinou, pelas ra$#es antecipadaspor arx ou por press#es salariais; (? a economia capitalistanão &ornece bens p5blicos su&icientes e sua escala se elevouacima das capacidades de provisão privada; (@ a popula"ãoexcedente não &unciona su&icientemente como um exércitoindustrial de reserva; os sal!rios excedem o nível de subsistênciae amea"am a lucratividade; (P o sistema capitalista é amea"adopela or%ani$a"ão política de todos aqueles que explora ou

oprime; (T as condi"#es não4econ/micas necess!rias para acontinuada produ"ão e troca capitalista B como educa"ão,padr#es &amiliares, motiva"#es etc, 4 não são espontaneamente%eradas, pelo simples &ato de que o sistema econ/mico éor%ani$ado como um sistema econ/mico capitalista.

*e o sistema capitalista de produ"ão e troca sobreviveu a

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todas essas amea"as, al%umas institui"#es não4econ/micasdevem ter %erado as condi"#es necess!rias para a acumula"ão ea le%itima"ão. 'or v!rias ra$#es, o Estado é a 5nica institui"ãocapa$ de &ornecer as condi"#es ausentes para a preserva"ão daprodu"ão capitalista. ssim, o capitalismo contempor0neo é deuma &orma ou de outra um 2capitalismo de Estado2: o papel ativodo Estado é a chave para sua sobrevivência. Cma a&irma"ãoprecoce típica dessa visão &oi &eita por urraH F<I<: p. JK, quear%umentou que 2ao contr!rio dos modelos liberais, o capitalismonão pode ser analisado como sistema sem que se leve em contao papel do Estado e, mais especi&icamente, que no processo deprodu"ão e reprodu"ão capitalistas, o Estado tem certas &un"#esecon/micas que ir! sempre desempenhar, mesmo que emdi&erentes &ormas e %raus.2.

O que o Estado precisa &a$er para manter o capitalismo Numnível mais %eral, a resposta é retirada diretamente dos dois pré4requisitos &uncionais centrais para a reprodu"ão capitalista: ele

deve &ornecer as condi"#es necess!rias para a acumula"ão e ale%itima"ão. Voda política p5blica constitui uma tentativa deimplementar esses dois ob3etivos. O ob3etivo das institui"#esestatais, em todas as sociedades capitalistas, é promover aacumula"ão e a le%itima"ão ou, ) medida que tais ob3etivos sãomutuamente contradit+rios, maximi$ar a acumula"ão sob oconstran%imento da pa$ social.

Em condi"#es hist+ricas concretas, esses ob3etivos sãoimplementados por um n5mero de ]&un"#esR que os Estadosdevem desempenhar. 1e acordo com tal esquema, as políticasde Estado constituem 2&un"#es2: atividades de uma parte (o

Estado que têm um e&eito estabili$ador sobre o sistema(capitalista como um todo. esmo que as &ormula"#esparticulares se di&erenciem levemente, a lista de &un"#eso&erecida por di&erentes autores é surpreendentemente uni&orme. s &un"#es em urraH F<I<K incluem a %arantia dos direitos depropriedade, a liberali$a"ão econ/mica, a interven"ão para o

consenso social e o %erenciamento das rela"#es externas. Essaé mais ou menos a dieta padrão. Outros che%aram a maioresdetalhes, en&ati$ando a necessidade estatal de treinar a &or"a detrabalho, sociali$ar os %astos em pesquisa e desenvolvimento,&acilitar as comunica"#es etc. enumera"ão de XabermasF<IPKlista mais ou menos W &un"#es especí&icas, tratadas comoilustra"#es de uma série, supostamente maior e ainda em aberto.

Essa é então a estrutura comum de v!rias teorias marxistasdo Estado: quando al%umas condi"#es para a acumula"ão e ale%itima"ão estão ausentes e a reprodu"ão capitalista éamea"ada, o Estado desempenha as &un"#es necess!rias para&ornecer tais condi"#es. sobrevivência do capitalismo deve4seas atividades do Estado. lnversamente, todas as políticasp5blicas constituem um es&or"o para criar as condi"#esnecess!rias para asse%urar tal sobrevivência.

1entro dessa estrutura comum, as teorias particulares di&erema respeito de al%umas premissas &undamentais e de al%umas

conclus#es. discussão marxista a respeito do Estado &oiexcepcionalmente prolixa por aproximadamente vinte anos. ap+sTJ, e um bom n5mero de posi"#es sobre quest#es &undamentais&oram apresentadas.

Na verdade, muitos escritos do período &oram polêmicos eal%uns t+picos estiveram su3eitos a debates apaixonados. Entreas teorias sistem!ticas, as de O&&e e Xabermas, de um lado, e ade 'oulant$as, de outro, o&erecem o mais &orte contraste.*e%uindo um sum!rio da visão de arx sobre a reprodu"ão nase"ão =.=, tais teorias são discutidas separadamente nas se"#es=.? e =.@. Outras vis#es são introdu$idas quando a teoria é

avaliada criticamente na se"ão =.P.

=. <. teoria de arx sobre a reprodu"ão do capitalismo.

O Estado não desempenhava qualquer papel na an!lise de

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arx sobre a economia capitalista. pesar de ter plane3adocontinuar O apital com um volume dedicado ao Estado, não h!nada que pudesse ter escrito. 1e acordo com a teoria presentenos três volumes realmente publicados, o capitalismo sereprodu$ e se desenvolve 2por si pr+prio2 Cma ve$ que todas asteorias marxistas contempor0neas do Estado iniciam com are3ei"ão dessa a&irma"ão, precisamos primeiramente examinar avisão de arx sobre o capitalismo.

O capitalismo, de acordo com arx, é uma &orma deor%ani$a"ão da produ"ão na qual (< a rique$a produtiva, osinstrumentos de produ"ão, são privadamente possuídos ealocados para usos por seus propriet!rios; (= o mesmo éverdadeiro para a capacidade de trabalhar, que arx chamou de2&or"a de trabalho2; (? al%uns propriet!rios da &or"a de trabalhonão possuem os instrumentos de produ"ão que lhespossibilitariam satis&a$er suas pr+prias necessidades. *endoassim, no capitalismo h! um mercado de capital, onde os donos

da rique$a produtiva alocam seus recursos na procura de lucros,e um mercado de trabalho, onde os propriet!rios de &or"a detrabalho são &or"ados a vender seus servi"os para sobreviver. produ"ão ocorre quando os trabalhadores trocam suacapacidade de trabalhar por um sal!rio e quando os capitalistasou seus dele%ados, como or%ani$adores do processo deprodu"ão, extraem trabalho concreto da &or"a de trabalho. Osal!rio não é um direito sobre o produto especí&ico na produ"ãodo qual os indivíduos particulares participam, mas umaquantidade de um meio abstrato intercambi!vel por bens eservi"os.

*uponhamos que tal sistema este3a em &uncionamento emuma sociedade particular. X! certas pessoas que precisamvender sua &or"a de trabalho se quiserem sobreviver. X! outrosque possuem os instrumentos de produ"ão e insumosnecess!rios. Os trabalhadores aparecem nos port#es das&!bricas e se o&erecem para executar servi"os. ompetindo por

empre%o, eles leiloam seus sal!rios até o nível de subsistência.Eles são empre%ados e, sob supervisão, executam os servi"os.O resultado &inal dessa atividade é al%um produto, depropriedade do capitalista. Os trabalhadores recebem seussal!rios e os consomem. Os capitalistas vendem o produto erep#em os instrumentos de produ"ão. ssim, ao &inal do ciclo, ostrabalhadores são deixados, como antes, com os sal!rios queconsomem e com sua capacidade de trabalhar, enquanto oscapitalistas são deixados, como antes, com os instrumentos deprodu"ão. omo os trabalhadores precisam vender sua &or"a detrabalho para sobreviver, eles reaparecem nos port#es, o&ertamseu trabalho em troca de baixos sal!rios, executam o trabalho,consomem os sal!rios e retomam ao mercado de trabalho. Oscapitalistas, por sua ve$, se apropriam do produto, reali$am seuvalor, rep#em os instrumentos de produ"ão e contratamtrabalhadores. Esse processo se repete 2por si pr+prio2, comouma troca de mercado. 2 produ"ão capitalista2 arx observou,

2reprodu$ por si pr+pria a separa"ão entre a &or"a de trabalho eos meios de trabalho. Ela, assim, reprodu$ e perpetua ascondi"#es para a explora"ão do trabalhador2 F<IT, voA. <: p.P.K.

 ssim, as rela"#es sociais sob as quais a produ"ão capitalistaacontece se renovam sempre que qualquer coisa é produ$idasob tais rela"#es. or%ani$a"ão econ/mica é produ$idacon3untamente com qualquer que se3a o produto dessaor%ani$a"ão. Nas palavras de arx, 2a produ"ão capitalista,portanto, sob o aspecto de um processo contínuo e articulado, deum processo de reprodu"ão, produ$ não apenas mercadorias,

não apenas mais4valia, mas também produ$ e reprodu$ a rela"ãocapitalista: de um lado o capitalista, de outro o trabalhadorassalariado2 Fvol. <: PJ.K.

Cma ve$ que mercadorias especí&icas são produ$idas, ose%undo est!%io da reprodu"ão se inicia. No relato de arx, 2ascondi"#es da explora"ão direta e as condi"#es de sua reali$a"ão

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Fmais4valiaK não são idênticas. Elas diver%em não apenas notempo e no espa"o, mas também lo%icamente.2 Fvol. ?: p. =@@.K s &irmas reali$am o valor das mercadorias trocando entre si evendendo aos trabalhadores. Elas competem entre si e alocamrecursos para maximi$ar seus lucros. omo resultado disso, ataxa de lucro tende a ser a mesma em todos os setores e, maisimportante, todas as atividades que são produtivas (no sentido deque rendam uma taxa positiva de retorno ao nível do sal!rio desubsistência; ver orishima, <I? são reali$adas. *endo assim,a competi"ão é su&iciente para &a$er com que a economia sereprodu$a como um complexo sistema de divisão do trabalho.

7inalmente, de acordo com arx, as condi"#es le%ais,institucionais e ideol+%icas necess!rias para o &uncionamentocontinuado de qualquer sistema econ/mico também se repetemespontaneamente, de novo 2por si pr+prias2. 2- além disso claroque aqui, como sempre, é do interesse da parcela dominante dasociedade que se sancione a ordem existente como lei e que se

&ixem le%almente seus limites, dados pelo uso e pela tradi"ão. parte todo o resto, isso, ali!s, sur%e por si mesmo lo%o que areprodu"ão constante da base da ordem existente e de suasrela"#es &undamentais assume uma &orma re%ulada e ordenadacom o decorrer do tempo.2 Fvol. ?: p. I?.K.

*inteti$ando, arx acreditava que, uma ve$ estabelecido, ocapitalismo reprodu$ir4se4ia automaticamente, como e&eitoespont0neo de decis#es descentrali$adas de trabalhadores ecapitalistas. s rela"#es capitalistas se reprodu$em no nívelmicro, uma ve$ que as rela"#es de classe são produ$idasrenovadamente 3unto com as mercadorias. competi"ão %arante

que a economia capitalista se reprodu$a como um sistemacomplexo de divisão do trabalho. s condi"#es ideol+%icas ele%ais necess!rias ) produ"ão capitalista são criadas, elaspr+prias, como e&eito das rela"#es econ/micas que elasinstitucionali$am. E, novamente, como um subproduto não4deliberado, o sistema capitalista reprodu$ entre os indivíduos o

tipo (2&etichi$ado2 de conhecimento que lhes é necess!rio para&uncionarem e&etivamente dentro desse sistema.

 ssim, enquanto arx e En%els escreveram, em al%unsmomentos, que a economia capitalista necessitava de 2condi"#esexternas2 especí&icas, na teoria de arx o capitalismo sereprodu$ia endo%enamente. O Estado não era necess!rio paranada, nem mesmo para repelir a amea"a revolucion!ria dostrabalhadores. 1ada a devo"ão que os marxistas &requentementerendem ) 2luta de classes2 tal observa"ão pode surpreendercomo improv!vel. as a luta de classes não 3o%a qualquer papelsistem!tico na teoria de arx sobre o capitalismo. O capitalismose reprodu$ e se desenvolve em virtude de sua pr+priaor%ani$a"ão. O papel do con&lito de classes é no m!ximo o deacelerar ou retardar desenvolvimentos que têm &or"a de lei. Ocon&lito de classes, em O capital, é no m!ximo uma &onte dedesvios de leis, e as teorias são sobre leis, não sobre desvios.Na teoria de arx, os trabalhadores competem entre si como

indivíduos. Val competi"ão é su&iciente para preservar os sal!riosno nível de subsistência e repelir qualquer amea"a que possaresultar de a"#es coletivas.

'ode4se pensar que tal capacidade de auto reprodu"ão éinerente a qualquer sistema de or%ani$a"ão econ/mica. as navisão de arx o capitalismo é o 5nico sistema que apresenta talcaracterística. onsidere4se o &eudalismo, por contraste. í, umcamponês come"a com tri%o crescendo em seu campo; ele podecolher o tri%o, alimentar a si e ) sua &amília e usar o resto dos%rãos como semente; e pode se%uir repetindo o ciclo. *e ocamponês pa%a uma renda ao senhor &eudal, é em ra$ão de

al%um &ator de nature$a extra4econ/mica: amea"a de &or"a,convic"#es reli%iosas, al%uma outra &or"a normativa oucostumeira. O sistema econ/mico &eudal é reprodu$ido apenasporque tal elemento não4econ/mico aparece em cada ciclo deprodu"ão; sem ele, os camponeses reteriam toda a sa&ra, osenhor &eudal passaria &ome e o &eudalismo &indaria.

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1escrevendo a transi"ão do &eudalismo para o capitalismo,arx notou num certo ponto que o 2provérbio medieval nulle terresans seí%neur &oi substituído por aquele outro provérbio, Aar%entn a pas de maitre. reprodu"ão do capitalismo não requerinterven"#es do Estado nos ciclos particulares de produ"ão. Ocapitalismo é um sistema que se auto4reprodu$.

=.=. O&&e e Xabermas

Vanto O&&e quanto Xabermas parecem concordar com aan!lise de arx sobre o capitalismo competitivo. Eles partem dasuposi"ão de que se as rela"#es mercantis &ossem universais ecompetitivas, o capitalismo &uncionaria sem percal"os, isto é, (<a acumula"ão prosse%uiria estavelmente, (= haveria su&icientele%itimidade e (? não &altariam ao Estado nem recursos materiaisnem apoio popular FO&&e e 6on%e, <IPK. 1e acordo com O&&e

F<IP: pp. T4K, quando 2a &orma mercadoria de &ato %overna asrela"#es sociais permanentemente, não h! nem um problema deacumula"ão (que não é mais que um subproduto da troca 3ustade equivalentes entre capital e trabalho, nem um problema dele%itima"ão (a qual seria %arantida pela 3usti"a do mercado, istoé, a troca de equivalentes.2 Vudo isso era verdadeiro para o2capitalismo liberal2 FXabermas, <IP: pp. =W4??K. O Estado&ornecia condi"#es externas de produ"ão e, uma ve$ que2operava a lei do valor2 tudo o mais vinha automaticamente. acumula"ão se processava suavemente. O mercadodesempenhava sua dupla &un"ão cibernética: ele alocava

trabalho e reprodu$ia as classes. 7inalmente, o mercado se auto4le%itimava.O que aconteceu ao capitalismo liberal não é &!cil deci&rar. Ele

desapareceu: Xabermas a&irma que sabemos o por quê e como.1e início, apareceram oli%op+lios e monop+lios: ]a di&usão deestruturas de mercado oli%opolistas certamente si%ni&ica o &im do

capitalismo competitivo2 F<IP: p. ??K. as o mercado aindadiri%ia os investimentos, até desenvolver ]hiatos &uncionais2.Então, o Estado &oi entrando e, por meio do plane3amento %lobal,substituiu o mercado. partir desse momento a lei do valordeixou de operar. O mercado perdeu a capacidade de diri%ir aeconomia. Os recursos passaram a ser alocados por decis#esadministrativas. estrutura salarial tornou4se 2quase4política2: ossal!rios passaram a ser determinados pelo con&lito entreor%ani$a"#es e não pelo valor da &or"a de trabalho. 7inalmente,assim como perdera sua &un"ão diretiva, o mercado perdeu suacapacidade de le%itima"ão. o &inal do processo, o capitalismo2tardio2, 2or%ani$ado2 ou 2re%ulado pelo Estado2 nada tem emcomum com a era liberal, competitiva. esmo que arxestivesse certo sobre sua época 4 e as re&erências ) 2lei do valor2indicariam que ele estava 4, sua teoria não é mais relevante parao capitalismo contempor0neo, pois ele não é mais or%ani$adopelo mercado, mas pelo Estado.

O dia%n+stico de O&&e a respeito do que en&raquece ocapitalismo tardio é mais a%u"ado. 1e acordo com ele, ocapitalismo apresenta uma tendência permanente em dire"ão )2desmercantili$a"ão2: a &or"a de trabalho e os recursos alien!veistendem a ser retirados do mercado ou então trocados por meiode mecanismos não4mercantis. ssim, o escopo das rela"#es demercado &oi se redu$indo como consequência normal do&uncionamento do mercado. omo Xabermas, O&&e nãoapresenta uma resposta clara a respeito da ori%em dessadesmercantili$a"ão. Os monop+lios são um possível culpado, osbens p5blicos são outro, mas h! outros candidatos. O &ato é que

essa tendência ) desmercantili$a"ão cria problemas para ocapitalismo: quando o capital e o trabalho se retiram das trocasmercantis, a acumula"ão não é mais autom!tica, a le%itima"ão éamea"ada e o Estado &ica desprovido de recursos e apoiopopular. Nasce então 2o problema do Estado capitalista2 FO&&e e6on%e, <IPK.

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'ara entender por que e como os %overnos respondem aessa inadequa"ão do mercado, precisamos en&ati$ar quatrocaracterísticas do Estado em qualquer sociedade capitalista: (<o Estado normalmente não se en%a3a diretamente na produ"ão(e, quando o &a$, a%e como os atores privados; (= o Estadoextrai seus recursos de uma economia cu3as decis#es se%uemuma racionalidade privada; (? o Estado é obri%ado a sepreocupar com a acumula"ão, uma ve$ que ela é a &onte de seuspr+prios recursos; (@ não possuindo &ontes de poder por sipr+prios, os %overnos devem se preocupar com a %arantia dale%itimidade e, num re%ime democr!tico, devem buscar apoiopopular, expresso eleitoralmente. acumula"ão e a le%itima"ãosão os problemas &uncionais centrais de qualquer Estado emuma sociedade capitalista. _o%o e aqui temos as primeirasconsequências de tais premissas 4 todas as políticas p5blicas sãoentendidas como uma resposta )s necessidades da acumula"ãoe da le%itima"ão. Note4se que tais exi%ências não são

necessariamente concili!veis: a le%itima"ão é cara e seu custose expressa na acumula"ão Fessa &oi a contribui"ão especí&ica deOonnor, <I?K. omo disse Xabermas, 2uma ve$ que umcompromisso de classes &oi constituído como o &undamento dareprodu"ão, o Estado precisa desempenhar suas tare&as nosistema econ/mico sob as condi"#es restritivas de que alealdade de massa se3a simultaneamente asse%urada no interiordo arcabou"o da democracia &ormal e de acordo com um sistemade valor universalista.2 F<IP: p. PJ.K Eis o ob3etivo do Estado nocapitalismo tardio: maximi$ar a acumula"ão sem pre3udicar apreserva"ão da le%itimidade.

O problema espinhoso que todas as teorias com estruturasimilar encontram nesse momento 4 problema que ser! discutidoseparadamente mais adiante 4 é o de explicar porque osindivíduos particulares que, em circunst0ncias concretas, ocupamcar%os no interior das institui"#es estatais tomam iniciativasorientadas para resolver as necessidades da reprodu"ão

capitalista. resposta de O&&e apela para dois mecanismos: (<os %overnantes são compelidos a promover a acumula"ão e aasse%urar a le%itima"ão no seu pr+prio 2interesse institucional2 e(= no capitalismo, o Estado é or%ani$ado institucionalmente deum modo que o impede de tomar iniciativas que trans&ormariam anature$a da economia. O primeiro ar%umento é repetido com&requência, mas a cadeia causal est! lon%e de ser clara, se3a naversão de O&&e, se3a em qualquer outra, como em _indblomF<IK ou 8loc9 F<I, <IJWK. O se%undo ponto &oi ob3eto de umarti%o separado F<I@K. Valve$ o sum!rio mais claro de ambosse3a esta passa%em: 2O sistema político pode apenas &a$ero&ertas aos corpos externos e aut/nomos respons!veis pelasdecis#es privadas: ou tais o&ertas não são aceitas, tomando vãsas tentativas de dire"ão, ou, para serem aceitas, têm que ser tãoatrativas que a dire"ão política, por sua ve$, perde suaautonomia, uma ve$ que internali$ou os ob3etivos do sistema aser diri%ido2. O Estado é dependente da satis&a"ão dos

interesses de decisores privados porque não produ$ por sipr+prio e necessita da produ"ão para reali$ar todos os seusob3etivos.

O que &a$ o Estado para promover a acumula"ão e asse%urara le%itima"ão Xabermas F<IP:p. P<K o&erece uma lista completadas &un"#es do Estado. O Estado come"a constituindo ecomplementando o mercado. >uando necess!rio, ele assume aresponsabilidade de %erenciar a economia e de compensar osque são adversamente a&etados por essa economia. ada umadessas &un"#es se tradu$ em um %rande n5mero de tare&as. lista de &un"#es é lon%a: quase tudo que os %overnos &a$em

representa uma 2&un"ão2 do Estado no capitalismo tardio.  contribui"ão de O&&e é novamente mais precisa: os Estadosprecisam reali$ar políticas de 2remercantili$a"ão administrativa2,isto é, medidas orientadas a &ortalecer o mercado e expandir oreino das rela"#es de mercado. 2 hip+tese b!sica derivada detais considera"#es2, escreve, 2é que as políticas do Estado

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consistem em uma série de medidas orientadas para &acilitar amercantili$a"ão dos &atores de produ"ão... F<IPb: p. IK.7ormulada em meados da década de setenta, tal hip+tese podenão ter sido muito persuasiva, mas se mostrou pro&ética: oprincipal impulso de mudan"a política na 5ltima década &oi o decomprometer os %overnos, se3a na Europa, se3a nos EstadosCnidos, com uma 2remercantili$a"ão administrativa2 FDer O1E,<IJ?a.K O ar%umento %eral de O&&e é exempli&icado por umn5mero de 2&un"#es especí&icas do Estado2 mas elas são menosinteressantes.

Esta é então, a teoria O&&e4Xabemias do Estado nocapitalismo tardio: como o mercado não é uma institui"ão que seauto4reprodu$a perpetuamente, em ra$ão de sua vulnerabilidade) monopoli$a"ão e ) desmercantili$a"ão, o Estado devesubstituir o mercado na &un"ão de alocar recursos para usosprodutivos e de distribuir renda. &un"ão do Estado é promover aacumula"ão enquanto mantém a le%itima"ão e toda política

p5blica deve ser vista como um es&or"o para implementar taisob3etivos.  contribui"ão distintiva de Xabermas e O&&e est! nas

conclus#es que derivam de suas teorias na busca das limita"#ese contradi"#es das políticas p5blicas. tese &undamental quecompartilham é a de que as tentativas de resolu"ão deproblemas correntes acabam criando novos problemas, )s ve$esaté mais pro&undos. O modelo %eral se desenvolve como sese%ue: (< uma ve$ que o mercado %era ]hiatos &uncionais2 oEstado precisa intervir; (= ao intervir, ele politi$a as rela"#esecon/micas: rela"#es de poder acabam substituindo as rela"#es

de troca; (? a politi$a"ão das rela"#es econ/micas leva a novascrises, podendo resultar em &racassos. Na visão de Xabermas, ocapitalismo pode &uncionar apenas se dispuser das 2quantidadesnecess!rias2 de valores de uso, decis#es racionais, motiva"ão%enerali$ada e sentidos motivadores das a"#es. Enquanto o%erenciamento estatal da economia se &a$ necess!rio pela

incapacidade do mercado em %arantir a acumula"ão, apoliti$a"ão das rela"#es econ/micas cria problemas novos deracionalidade, le%itimidade e motiva"ão. possibilidade de&racasso est! permanentemente aberta: se3a porque o Estado éincompetente ou incapa$ de resolver o problema existente, se3aporque ao en&renta4lo pode vir a criar um novo e insuper!velproblema.

Os problemas %erados pela politi$a"ão das rela"#esecon/micas incluem a irracionalidade das decis#esadministrativas devido ) captura do Estado por interessesprivados, a &ra%ilidade do ]Estado do bem4estar2 e adesle%itima"ão. rises &iscais, &alhas de plane3amento e a erosãoda motiva"ão dos a%entes econ/micos completam a lista, massuas analises pouco di&erem de outros dia%n+sticos similares.

>uando o Estado assume a tare&a de %erenciamento daeconomia, &ica permeado por interesses externos. o invés deuma institui"ão aut/noma devotada a valores universalistas, ele

se toma uma arena para os con&litos entre os mais diversosinteresses. Xabermas observa que 2contradi"#es entre osinteresses de capitalistas individuais, entre os interessesindividuais e o interesse capitalista coletivo e, &inalmente, entreinteresses especí&icos ao sistema e interesses %enerali$!veis,todas elas são deslocadas para o interior do aparato estatal.2F<IP: p. TW.K lém disso, em condi"#es democr!ticas o Estadoprovavelmente a%ir! na busca de apoio político e não nointeresse da acumula"ão. Na visão de O&&e, 2h! umapossibilidade real de que na tentativa de reter sua pr+priacapacidade de controle (derivada do poder político e da

le%itimidade, os +r%ãos %overnamentais se sintam compelidas abloquear o pr+prio prop+sito de produ"ão de valores de usoestritamente complementar ) acumula"ão capitalista, ao atenderdemandas advindas meramente da competi"ão partid!ria e docon&lito político, mas de maneira al%uma diretamente resultantesdas necessidades reais da acumula"ão de capital. ssim, a

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consequência seria não a complementariedade simbi+tica mas aauto4su&iciêcia parasita e a autonomia da produ"ãoin&raestrutural do Estado. F<I?, A: p. <<P.K O Estado que substituio mercado para or%ani$ar a acumula"ão não ser!necessariamente melhor sucedido nessa tare&a.

  mais ori%inal das contribui"#es de O&&e talve$ se3a a suacompreensão da &ra%ilidade do 2Estado do bem4estar2 que resultade sua teoria da 2desmercantili$a"ão2 Fa primeira apresenta"ão é<I=c.K O&&e sustenta que os servi"os que passara, &inalmente, aser or%ani$ados pelo 2Estado do bem4estar2 eram, na verdade,uma pré4condi"ão para o sur%imento do mercado de trabalho:apenas quando certas atividades (domésticas, educativas etc.são reali$adas &ora dos mercados de trabalho, isto é, &ora doreino das trocas baseadas no valor, os indivíduos podem vendersua &or"a de trabalho. existência de es&eras sociais nãobaseadas em trocas mercantis é portanto pré4condi"ão para aexistência dos mercados, em particular do mercado de trabalho.

No curso da hist+ria, a provisão do bem4estar &oi politi$ada eestendida primeiramente pelos parlamentos e elei"#es e,posteriormente, pelas institui"#es corporativas. as, se ocrescimento de sistemas não4mercantis é necess!rio para aexistência e o &uncionamento dos mercados, essedesenvolvimento imobili$a recursos e diminui a e&iciência: nesse5ltimo ponto, O&&e compartilha outra conclusão das an!lisesconservadoras. O Estado est! então permanentemente presoentre a necessidade de remercantili$ar e a de retirar recursos dasrela"#es de mercado e tomar decis#es se%undo critérios não4mercantis. Vais &un"#es contradit+rias do Estado do bem4estar

explicam sua &ra%ilidade política F<IJ@K.  an!lise de O&&e dos problemas de le%itima"ão é similar ) deXabermas. O mercado é uma institui"ão que se auto4le%itimaporque os indivíduos se con&rontam uns com os outros e com ummecanismo impessoal: eles podem ver seus sucessos e&racassos apenas em termos de seu pr+prio desempenho ou, no

m!ximo, de sua sorte. as uma ve$ que o Estado come"a adiri%ir a economia, as rela"#es econ/micas tornam4sepoliti$adas. Os resultados econ/micos passam a depender dasdecis#es especí&icas de certas institui"#es, partidos ou atéindivíduos. O povo pode encontrar culpados para sua miséria ea%ir politicamente contra eles. O mercado não é mais capa$ dele%itimar, ao passo que as rela"#es políticas são transparentes.Voda crise econ/mica torna4se ao mesmo tempo uma crisepolítica (apesar de, obviamente, existirem outras &ontes de crisespolíticas. _o%o, os Estados que interveem na economia criamproblemas de le%itima"ão. X! tens#es entre a promo"ão daacumula"ão e a %arantia da le%itima"ão, porque os Estadosprecisam retirar recursos da acumula"ão para compensaraqueles indivíduos que perdem no 3o%o econ/mico. s crises&iscais são uma mani&esta"ão dessa tare&a contradit+riaen&rentada pelo Estado.

 pesar de darem uma %rande aten"ão ) questão da

le%itima"ão, um aspecto da problem!tica da le%itimidadepermanece ambí%uo, tanto em Xabermas quanto em O&&e: arela"ão entre le%itimidade e democracia. Xabermas ar%umentaque a le%itimidade não é %erada apenas pela le%alidade:presumivelmente, a democracia liberal não é su&iciente para%arantir a le%itimidade. as por que os Estados, no capitalismo,deveriam necessariamente preocupar4se com a le%itimidade 1e&ato, tanto Xabermas quanto O&&e parecem limitar suas an!lisesao capitalismo democr!tico, e ambos i%noram o papel darepressão como alternativa ) le%itimidade. as, mesmo no quetan%e )s condi"#es democr!ticas, eles não di&erenciam %overnos

buscando apoio popular para %anhar reelei"#es, Estadosbuscando apoio popular para o sistema político, e Estadosbuscando le%itimidade para o capitalismo. obra de Xabermassobre o capitalismo tem o título de rise de le%itima"ão nocapitalismo tardio, mas no &inal não &ica claro qual seria ore&erente dessa crise.

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 pesar de sabermos que a interven"ão estatal é necess!riapara reprodu$ir o capitalismo e que tal interven"ão, por si pr+pria,cria problemas, não sabemos, e não podemos saber a priori, se equando a interven"ão estatal vai mesmo &racassar. *abemos queo Estado comete erros crassos de tempos em tempos: 2*uporque a in&raestrutura estatal se mostrar! capa$ de discernir esuperar os hiatos &uncionais no processo de acumula"ão, emtermos de quantidade, qualidade e timin%,2 escreve O&&e, 2seriasuperestimar as capacidades de dia%n+stico e pro%n+stico doEstado, assim como as mar%ens políticas e &inanceiras demanobra de que disp#e2 F<I?, A: p. <<P.K &inal, não sabemossequer se a interven"ão estatal &a$ mais bem que mal aocapitalismo: 2 questão que permanece sem resposta, deixada)s contin%ências, é se a interven"ão de qualquer setor isoladodo Estado para solucionar os hiatos &uncionais que emer%em noprocesso de acumula"ão capitalista controlado pelo mercado vaia lon%o pra$o servir para estabili$ar ou para p/r em peri%o o

processo de acumula"ão2 F<I?, A: p. <<<.K 'ara uma teoria quebusca explicar a reprodu"ão do capitalismo, essa é umaconclusão que di$ muito pouco. Esperaríamos que tal teoriaespeci&icasse, pelo menos, as condi"#es em que se poderiaesperar que o Estado &racassasse em sua &un"ão de reprodu$ir ocapitalismo, em ve$ de deixar tal possibilidade completamentedependente de contin%ências residuais. Val di&iculdade, noentanto, não é exclusiva da teoria do Estado de Xabermas eO&&e.

=.?. 'oulant$as.

Enquanto Xabermas e O&&e não &a$em qualquer re&erênciaexplícita a arx, apesar de estarem de &ato assumindo que arxestava correto em sua an!lise da reprodu"ão social nocapitalismo liberal. 'oulant$as, ao contr!rio, apresenta sua visão

como uma interpreta"ão de arx, mas na realidade re3eita doisaspectos centrais da an!lise marxista da reprodu"ão. Asto é,enquanto Xabermas e O&&e admitem que o capitalismocompetitivo poderia reprodu$ir4se por si mesmo. 'oulant$asar%umenta que o capitalismo 3amais poderia reprodu$ir4se sem oEstado. primeira ra$ão é que as condi"#es não4econ/micaspara a produ"ão e distribui"ão capitalista não são %eradasespontaneamente pela opera"ão do sistema econ/mico. Nalin%ua%em de 'oulant$as, 2a unidade de uma &orma"ão não é 3amais %arantida pelo econ/mico apenas2 Fp. @P.K se%undara$ão é que o capitalismo sempre en&renta a amea"a potencialda classe trabalhadora. Enquanto para O&&e e Xabermas ale%itimidade se toma um problema apenas quando o mercado&racassa em asse%urar a acumula"ão, para 'oulant$as ocapitalismo nunca é le%ítimo.

omo vimos, arx pensava que as institui"#es 3urídicas eideol+%icas &uncionais a cada sistema econ/mico emer%iriam

espontaneamente assim que um dado modo de produ"ão e detroca se tornasse rotineiro. Essa observa"ão e uma a&irma"ãopro%ram!tica ainda muito mais &orte do mesmo princípio, &eita narítica da economia política 4 de acordo com a qual até mesmo alin%ua%em e a consciência mudariam rapidamente com amudan"a do sistema de produ"ão 4, tomaram4se do%mas domarxismo ortodoxo, na condi"ão de 2lei da correspondêncianecess!ria entre a base e a super4estrutura2. Essa 2lei2 tomou4seo &oco da crítica de lthusser F<IW, <I<K ao stalinismo. 1eacordo com lthusser e seus se%uidores, 'oulant$as entre eles,a maneira como di&erentes atividades sociais (isto é,

di&erenciadas mas interdependentes são or%ani$adas nãoimplica que se re&orcem mutuamente, e isso inclui o sistema deprodu"ão. 'oulant$as F<IT@K aplicou essa ideia ) an!lise dodireito. O sistema 3urídico, 'oulant$as ar%umenta, constitui umsistema coerente, que s+ pode mudar se%undo as leis para nãoperder sua coerência. *e%uem duas consequências. Em primeiro

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lu%ar, em oposi"ão ) teoria stalinista, a bur%uesia não pode usarleis especí&icas como instrumentos seus sem que todo o sistemale%al se3a quebrado e, portanto, tornado ine&ica$. Em se%undolu%ar, o sistema le%al se trans&orma não s+ em resposta acondi"#es externas, mas também de acordo com sua pr+prial+%ica. 'ortanto, o sistema 3udici!rio é uma 2inst0nciarelativamente aut/noma2 e as di&erentes inst0ncias se2desenvolvem desi%ualmente2. 1ada a 2autonomia relativa entreas inst0ncias2 e o seu 2desenvolvimento desi%ual2, não existequalquer ra$ão prévia para que 2condi"#es externas2 daeconomia capitalista devam existir apenas porque a economia écapitalista. 7amílias extensas, escolas técnicas e normas moraisque condenam o sexo durante o dia podem ser necess!rias paraa produ"ão e troca capitalista, mas uma determinada sociedadecapitalista pode desenvolver &amílias nucleares, uma educa"ãoliberal e sexo espont0neo.

Cma ve$ que a produ"ão e a troca capitalistas podem

continuar apenas se as demais atividades sociais sãoor%ani$adas de uma certa maneira, depende do Estadoasse%urar a &uncionalidade das demais atividades em rela"ão )economia capitalista. 21entro da estrutura de v!rios níveisseparados pelo desenvolvimento desi%ual2, escreve 'oulant$as,2o Estado tem a &un"ão particular de ser o &ator de coesão...2 Fp.@?.K *e as diversas atividades socialmente or%ani$adas em umasociedade capitalista são coerentes, isso acontece apenas emra$ão do Estado. O Estado é 2o &ator de ordena"ão o princípiode or%ani$a"ão de uma &orma"ão, não apenas no sentidocomum de %arantia da ordem política, mas no sentido de coesão

de níveis de uma unidade complexa e como &ator de re%ula"ãode seu equilíbrio %lobal como sistema2 Fp. @@.K O Estado é 2aor%ani$a"ão para a preserva"ão das condi"#es de produ"ão e,como tal, das condi"#es de existência e &uncionamento daunidade de um modo de produ"ão e de uma &orma"ão2 Fp. P<.K.

O que &a$ o Estado para re%ular a coesão das sociedades

capitalistas Ele 2intervém2 lém de al%umas trivialidades,sobretudo re&erências ad hoc ) tendência de queda da taxa delucro, 'oulant$as, que tinha uma enorme aversão ) ciênciaecon/mica, não procura sequer especi&icar o que o Estadopoderia ser chamado a &a$er no campo econ/mico parapreservar o capitalismo. *eus in5meros se%uidores seespeciali$aram em estudos de caso de políticas p5blicas, quemostravam invariavelmente que o Estado &a$ia o que eranecess!rio, e o necess!rio era aquilo que o Estado havia &eito.

O interessante da teoria de 'oulant$as é sua an!lise das&un"#es políticas do Estado, em particular em rela"ão )bur%uesia, e sua tentativa de explicar por que a classe oper!rianão derruba o capitalismo.

1e acordo com 'oulant$as, os interesses econ/micosdividem a bur%uesia. Os capitalistas competem entre si: essa érela"ão econ/mica deles. Eles são incapa$es de superarso$inhos essa competi"ão e, portanto, são incapa$es de a%ir

coletivamente. reprodu"ão do capitalismo e do interesse dabur%uesia, mas não dos capitalistas individuais: sem recorrer aoarcabou"o da escolha racional, 'oulant$as compreendeu que oscapitalistas se de&rontam com o problema do carona naor%ani$a"ão de suas a"#es coletivas. lém disso, a reprodu"ãodo capitalismo, particularmente em &ace ) amea"a política daclasse trabalhadora, requer sacri&ícios econ/micos por parte doscapitalistas e, novamente, não é do interesse de capitalistasindividuais &a$er esses sacri&ícios. _o%o, a tare&a de %arantir areprodu"ão do capitalismo não pode ser assumida pelabur%uesia; ela s+ pode ser reali$ada pelo Estado que a%e contra

as ob3e"#es de &irmas individuais. 'ara manter o capitalismo, oEstado precisa ser independente da in&luência dos capitalistas 4essa é a teoria da autonomia relativa do Estado, de 'ottlant$as.

1e novo, a questão é: porque o Estado, que é aut/nomo emrela"ão aos capitalistas. a%iria invariavelmente para reprodu$ir oapitalismo 'oulant$as est! convencido de que o Estado

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aut/nomo deve realmente desempenhar a &un"ão de reprodu$ir ocapitalismo: é por essa ra$ão que a autonomia do Estado é2relativa2. Ele se ap+ia em uma série de explica"#es. s ve$es,cita limita"#es estruturais )s institui"#es estatais no capitalismo;outras ve$es, ar%umenta que a reprodu"ão do capitalismo é dopr+prio interesse do aparato de Estado. &inal, parece concluirque o Estado reprodu$ o capitalismo porque nenhuma &or"apolítica capa$ de se or%ani$ar coletivamente nesse sistema%ostaria que o Estado &i$esse outra coisa, ou, ao contr!rio,porque apenas aquelas &or"as políticas que %ostariam que oEstado reprodu$isse o capitalismo são capa$es de se or%ani$arnesse sistema: não estou certo acerca de qual das duas op"#esé a mais correta.

1e acordo com 'oulant$as, a maneira como as classes seor%ani$am politicamente é um e&eito das a"#es do Estado. Emparticular, os trabalhadores não aparecem or%ani$adospoliticamente como uma classe apenas por compartilharem a

mesma posi"ão no sistema de produ"ão. O tratamento que'oulant$as dispensa ) classe trabalhadora é realmentecomplicado: o potencial de amea"a revolucion!ria da classetrabalhadora é o que orienta as a"#es estatais, mas ela nuncaaparece como um ator amea"ando o capitalismo. 'oulant$asconsidera como axioma que os trabalhadores sãorevolucion!rios, e procura explicar porque não aparecem comotais na hist+ria. Não é preciso di$er que não é &!cil determinar asconsequências empíricas dessa teoria: tudo acontece em &un"ãodo potencial revolucion!rio da classe trabalhadora, mas o Estadoa impede de reali$ar seu potencial. Na realidade, o Estado

impede que a classe trabalhadora se or%ani$e coletivamentecomo &or"a revolucion!ria.Os trabalhadores são, primeiramente, uma cate%oria de&inida

dentro do sistema de produ"ão. as o capitalismo individuali$aas rela"#es de classe. O capitalismo é um sistema em que asrela"#es entre as pessoas e as coisas (2propriedade2 são

di&erenciadas das rela"#es das pessoas entre si (2contrato2. mbas as rela"#es são universais e i%ualit!rias. *ob ocapitalismo, o 1ireito e a ideolo%ia tratam toda propriedade damesma maneira, obscurecendo a distin"ão entre recursosprodutivos e arti%os de consumo que de&ine as classes sociais.*ob o capitalismo, o 1ireito e a ideolo%ia tratam as partes docontrato da mesma maneira, como 2indivíduos2 omitindo o &ato deque os trabalhadores, que não podem sobreviver sem vender suacapacidade de trabalho, são obri%ados a entrar em contratos deempre%o F8alibar, <IWK. 7inalmente, se%undo 'oulant$as, asinstitui"#es políticas capitalistas tratam a todos como 2cidadãos2em abstrato 4 sem identi&ic!4los pela posi"ão que ocupam nasrela"#es de classe 4 como capitalistas e trabalhadores. Nessesentido, o capitalismo desor%ani$a os trabalhadores como classe:enquanto seus interesses comuns de classe os op#em, comotrabalhadores, ao capitalismo, no 0mbito do 1ireito, da ideolo%iae da política capitalistas eles aparecem como 2cidadãos

individuais2 e não como trabalhadores.as, mesmo que os trabalhadores apare"am no campo dapolítica como cidadãos individuais, não poderiam ainda assimor%ani$ar4se politicamente contra o capitalismo resposta de'oulant$as, que se%ue muito de perto a de `ramsci F<I<K, é queno capitalismo contempor0neo o Estado %arante que ostrabalhadores não tornem dispostos a a%ir contra o capitalismo. qui, a &un"ão do Estado é or%ani$ar o compromisso de classe: oEstado capitalista contempor0neo é um 2Estado popular declasse2. O Estado &or"a a bur%uesia a pa%ar o custo econ/micode seu interesse político de preservar o capitalismo. omo

`ramsci, 'oulant$as não deixa claro se o mecanismo pelo qual aclasse trabalhadora é cooptada para o capitalismo consiste emconcess#es ou em competi"ão livre dentro de limitesinstitucionalmente de&inidos. Em principio, o 2Estado popular declasse2 pode ser uma ditadura, que mede as concess#esnecess!rias para mobili$ar o consentimento da classe

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trabalhadora, ou uma democracia, na qual os partidos da classetrabalhadora competem para melhorar as condi"#es materiaisdos trabalhadores.

'or &im, a questão central permanece sem resposta: por queo Estado &uncionaria para re%ular o capitalismo, por quereprodu$iria o capitalismo contra os capitalistas, por quedesor%ani$aria a amea"a revolucionaria da classe trabalhadora

'ara 'oulant$as, o capitalismo não pode durar a menos que oEstado asse%ure que as di&erentes atividades socialmenteor%ani$adas se3am &uncionais a produ"ão capitalista; a menosque o Estado obri%ue a bur%uesia particularista ) de&esa de seupr+prio interesse coletivo; e a menos que ele impe"a aor%ani$a"ão da classe trabalhadora como ator revolucion!rio. E oEstado invariavelmente reali$a tudo isso. Enquanto a versãoO&&e4Xabermas ao menos abre espa"o para que o Estado &alheem suas &un"#es, o capitalismo de 'oulant$as é invulner!vel, anão ser que al%uém, de al%um modo, destrua totalmente o

Estado.

=.@. Veorias da reprodu"ão: uma crítica.

  estrutura %eral das teorias marxistas do Estado é ase%uinte: certas condi"#es precisam ser satis&eitas para que ocapitalismo se reprodu$a. 'or uma ra$ão ou outra, essascondi"#es não são criadas espontaneamente pelo sistemacapitalista de produ"ão e troca. 'ortanto, se o capitalismosobrevive, deve ser porque o Estado provê tais condi"#es ao

desempenhar certas &un"#es.  acumula"ão e a pa$ social são as duas condi"#es %eraispara a reprodu"ão do capitalismo, e cada uma delas, por suave$, requer outras condi"#es especí&icas. acumula"ão ocorrer!apenas se o investimento privado &or lucrativo; se a competi"ão&or su&icientemente vi%orosa para asse%urar que a taxa de lucro

se3a positiva em todos os setores; se os investimentos, que sãomuito elevados ou pouco lucrativos para as &irmas particulares 4mas necess!rios para o con3unto delas 4 &orem reali$ados peloEstado; e se as mercadorias &orem transacionadas pelo mercadoao invés de distribuídas de acordo com outros critérios. lémdisso, a acumula"ão depende de al%umas condi"#es não4econ/micas para reali$ar4se. pa$ social e a le%itima"ão, por

sua ve$, requerem condi"#es especí&icas.O sistema capitalista de produ"ão e troca pode não %erar

todas as condi"#es necess!rias ) sua reprodu"ão por uma sériede ra$#es:

(< ra$ão mais citada é a queda da taxa de lucratividade. l%uns autores, incluindo 'oulant$as F<I?K, &undamentam4se nalei da tendência ) queda da taxa de lucro, de arx. Outros,principalmente Xirsch F<IJK, vêem nas press#es salariais aamea"a aos lucros. >uaisquer que se3am as ra$#es, e a despeitode problemas de conceito e de medida, parece que as taxas de

lucros prévias ) taxa"ão vêm apresentando uma seculartendência ) queda em todos os países capitalistas. insu&icientelucratividade é uma amea"a, lo%icamente +bvia e empiricamenterobusta, ) reprodu"ão do capitalismo.

(= retirada de mercadorias do campo da circula"ão 4considerada por O&&e como uma pré4condi"ão para a produ"ãocapitalista 4 e, em particular, o crescimento da educa"ãocompuls+ria, dos sistemas previdenci!rios, de exércitos demassa, de abonos &amiliares e outras barreiras ) entrada nosmercados de trabalho redu$em a o&erta de trabalhadores,permitindo que os sal!rios excedam o nível de subsistência.

2popula"ão excedente2, mesmo que disponível em umaquantidade superior ) demanda por trabalho, não mais &uncionacomo um 2exército industrial de reserva2.

(? trans&orma"ão do capitalismo competitivo, in%ressandoem uma &ase 2corporativa2, 2or%ani$ada2, 2monop+lica2, 2tardia2ou de al%um modo não4competitivo 4 a pedra de toque de v!rias

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teorias 4 teria sido capa$ de destruir a capacidade do mercado dese autoreprodu$ir. Xabermas nos di$ que sob o 2capitalismotardio a lei do valor não mais opera2, mas não nos di$ por quê,nem com quais consequências. E h! boas ra$#es para acreditarque toda a ên&ase é mal colocada: mesmo que se3a verdade queo capital tenha se concentrado, isso não nos permite di$er que ocapitalismo tenha se tomado menos competitivo. Na realidade,

como ar%umentou li&ton F<IJK, as %i%antescas corpora"#esmodemas podem mover o capital e contestar posi"#es demercado estabelecidas a uma escala impossível para as &irmas&amiliares dos tempos de arx. 7inalmente, um estudo empíricoreali$ado por *emmler F<IJPK mostrou4se incapa$ de apresentarevidências da extensão dos processos não4competitivos de&orma"ão de pre"os. s ve$es, a obsessão com a periodi$a"ãoserve para mascarar uma certa pre%ui"a te+rica: em ve$ deespeci&icar as condi"#es para a reprodu"ão 4 que desapareceramao lon%o da hist+ria do capitalismo 4, tudo o que temos são

r+tulos.(@ l%uns autores até ar%umentam que nem mesmo al%umascondi"#es econ/micas para a reprodu"ão do capitalismo sãorecriadas pelo mercado. 1e acordo com Oonnor F<I?K, emconsequência da crescente sociali$a"ão da produ"ão a escalados investimentos em in&ra4estrutura requeridos para a produ"ãocapitalista continuada ultrapassa a capacidade de investimentode &irmas individuais. ltvater F<IJ: p. @<K observou que omercado não é capa$ de %erar quantidades su&icientes de bensp5blicos: 2Nem todas as &un"#es sociais podem ser or%ani$adasde um modo capitalista, se3a porque a produ"ão da in&ra4

estrutura material não promete lucros, se3a porque as condi"#esrequeridas são tão %erais e abran%entes que não podem serexecutadas por unidades individuais de capital, (... O capital nãopode produ$ir por si pr+prio, por sua pr+pria iniciativa, as pré4condi"#es de sua existência.2.

(P 5ltima senten"a de ltvater vai muito além das

condi"#es econ/micas. Na &ormula"ão de Xirsch F<IJ: p. TTK, 2oprocesso capitalista de reprodu"ão pressup#e estruturalmentecertas &un"#es sociais que não podem ser executadas porcapitais individuais.2 omo vimos, 'oulant$as concordava comisso. lista de tais &un"#es seria lon%a.

(T 7inalmente, o capitalismo é amea"ado pela classetrabalhadora. Vodos os escritores marxistas tomam como axioma

que os interesses dos trabalhadores e dos capitalistas sãoirrevo%avelmente opostos: na realidade, não &alam nada sobre osinteresses dos trabalhadores, tratando4os como nada mais queum complemento de soma4$ero dos interesses dos capitalistas.Cma ve$ que os capitalistas querem preservar o capitalismo, ostrabalhadores devem querer aboli4lo.

Vendo que en&rentar esses problemas &uncionais, o sistemacapitalista de produ"ão e troca não seria capa$ de recriar ascondi"#es de sua pr+pria existência. 'ortanto, se o capitalismoainda existe, deve ser porque tais condi"#es são produ$idas pelo

Estado. Nesse momento, é necess!rio re&letir sobre a estruturadessas teorias. Elas invocam o papel do Estado para explicarporque o capitalismo conse%uiu sobreviver a tantas amea"as )sua existência. Nessa medida, são 2teorias estatais dareprodu"ão do capitalismo2 e não teorias do Estado. Narealidade, tudo o que essas teorias têm a di$er a respeito doEstado e de suas a"#es é derivado de in&erências a respeito dascondi"#es que precisavam ser preenchidas e das a"#esnecess!rias para preenchê4las, dado que o capitalismosobreviveu a uma amea"a particular. Os Estados &a$em tudo oque é necess!rio ) reprodu"ão capitalista e s+ o que é

necess!rio a essa reprodu"ão. _o%o, essas teorias implicamhip+teses do se%uinte tipo: dado que essas condi"#esespecí&icas precisam ser preenchidas para que o capitalismosobreviva a um dist5rbio &uncional especí&ico, e dado quequalquer das políticas que se se%uem preenche essas condi"#es4 uma ve$ que o capitalismo sobreviveu a esse dist5rbio 4, o

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Estado deve ter reali$ado uma dessas políticas. 1eve4se esperar,portanto, uma rela"ão direta entre determinadas amea"as aocapitalismo e políticas p5blicas especí&icas.

O trabalho estatístico baseado em tais teorias é muitolimitado. O método predileto dos acadêmicos dessa tradi"ão &oi ode ilustrar as teorias com estudos de caso que esclarecem poucosobre sua validade empírica. evidência estatística existente

con&irma &ortemente a hip+tese central. 'or exemplo, `ri&&in etalli. F<IJ=: p. ?P@K terminaram uma de suas cuidadosas an!liseseconométricas dos Estados Cnidos com a se%uinte conclusão:2creditamos que os resultados apresentados neste arti%odemonstram que os %astos da política de bem4estar são umveículo usado pelos %overnantes nos Estados Cnidos paraasse%urar a acumula"ão de capital, aplacar ou encora3ar %ruposde classes competidoras a aceitar ou repelir demandas advindasda rebeldia popular, tudo dentro do contexto de institui"#eseleitorais pouco le%itimadas2.

An&eli$mente, mesmo esse tipo de conclusão não seriasu&iciente para %arantir a valida"ão empírica de tais teorias. steorias marxistas do Estado relacionam amea"as especí&icas )snecessidades da reprodu"ão capitalista 4 2hiatos &uncionaisf 4 ainterven"#es especí&icas do Estado. as esse pro%rama te+ricoencontra um obst!culo insuper!vel: como o debate sobre aderiva"ão l+%ica do capital mostrou, nin%uém sabe determinar, exante, o que e necess!rio para o capitalismo, em lu%ares etempos especí&icos. Vome4se a lucratividade: todos concordariamque os investimentos precisam ser lucrativos para que aacumula"ão ocorra. as por que os investimentos são

insu&icientemente lucrativos, di%amos, na 7ran"a atual *er!porque os sal!rios são muito altos s contribui"#es sobre a&olha de pa%amento são muito elevadas &or"a de trabalho éinsu&icientemente quali&icada tecnolo%ia é obsoleta ener%iaé muito cara O risco é muito elevado, pela competi"ãoestran%eira X! re%ula"#es em demasia s pessoas não estão

mais dispostas a trabalhar Outras ra$#eslnversamente, qualquer política que conse%uisse baixar os

sal!rios, redu$ir as contribui"#es sociais, melhorar a educa"ãotécnica, ampliar as pesquisas, elevar a prote"ão contra aconcorrência estran%eira, diminuir os custos da ener%ia, redu$iros custos re%ulat+rios e aumentar a 3ornada de trabalho poderia&a$er o truque de aumentar a lucratividade e, assim, talve$

estimular a acumula"ão. O simples &ato de que toda necessidade&uncional do capitalismo pode, sob qualquer circunst0nciaconcreta, ser preenchida por uma variedade de a"#es estatais,deixa as teorias marxistas do Estado incapa$es de &a$erpredi"#es. Na realidade, um aspecto intri%ante dessas teorias éque, a despeito de se di&erenciarem quanto ao dia%n+stico daamea"a ) reprodu"ão, elas acabam tendo listas quase idênticasdas &un"#es que o Estado precisa desempenhar. Essas &un"#esparecem ser identi&icadas ex4post: tudo o que os Estados &a$emdeve ser sua &un"ão.

- por isso que as conclus#es como as de `ri&&in et aAAi, nãoreabilitam a teoria: mesmo que se3a verdade que os %astos embem4estar nos Estados Cnidos tenham sido usados pelosdiri%entes estatais para reprodu$ir o capitalismo, por que &oramusados %astos com bem4estar social 4 e não outras políticas 4para reprodu$ir o capitalismo *eria ilus+rio acreditar que nocapitalismo em %eral, ou nos Estados Cnidos, em particular, os%overnantes devam responder )s demandas populares, nocumprimento das &un"#es do Estado, por meio da expansão doEstado do bem4estar social. &é otimista de que os Estadoscapitalistas conse%uem a pa$ social apenas com a le%itima"ão

deixou a esquerda transtornada com a revolu"ão neoliberal.Não se pode dedu$ir as políticas estatais das necessidadesda reprodu"ão capitalista.

7inalmente, as teorias marxistas do Estado &racassaram emsua hip+tese entral, a de que o capitalismo ainda existe apenasporque é apoiado pelas a"#es das institui"#es estatais

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F`ernsteber%er, <IJK. 'elo que se sabe, o sistema capitalistapode ser resistente o su&iciente para tolerar todos os hiatos&uncionais. ertamente, não vimos ainda um caso em que ocapitalismo tenha ruído porque o Estado tenha &racassado emdesempenhar suas &un"#es, e a maioria das pessoas concordariaque 3! vimos Estados &racassarem. vit+ria de 6ea%an %olpeou&ortemente as teorias estatais da reprodu"ão. Os neoliberais se

mobili$aram para redu$ir a interven"ão estatal, para desre%ular,redu$ir a prote"ão, suprimir sindicatos, desmantelar o Estado dobem4estar social; em suma, deixar o mercado &uncionar por si. Eos te+ricos marxistas continuaram asse%urando que oscapitalistas não conse%uem entender as necessidades &uncionaisda reprodu"ão do capitalismo; que o capitalismo não pode existirsem o plane3amento, sem a interven"ão estatal sistem!ticaFQol&e, <IJ<K. O capitalismo 2não pode voltar atr!s2: esta é acon&ortante conclusão das teorias marxistas do Estado.Entretanto, a repressão sindical, a redu"ão do sistema de bem4estar, a privati$a"ão do setor p5blico e a diminui"ão dasre%ula"#es aparecem crescentemente como uma alternativacrível e amea"adora para o &uturo do capitalismo F'r$eUors9i eQallerstein, <IJ=bK.

Cma ve$ que essa &raque$a é &atal, seria in5til entrar emcríticas mais detalhadas. Entretanto, duas di&iculdades adicionaisen&rentadas por essas teorias merecem aten"ão, pois de&inemquest#es de um interesse mais amplo. 'rimeira: como o Estadoadquire sua capacidade de &uncionar *e%unda: qual o papel daluta de classes na &orma"ão das políticas p5blicas

O primeiro ponto &oi ob3eto de aten"ão de v!rios críticos,

notadamente *9ocpol F<IJW, <IJPK. omo é obvio, para sercapa$ de executar as tare&as necess!rias ) reprodu"ão docapitalismo em condi"#es hist+ricas particulares as institui"#esestatais devem possuir certas capacidades técnicas. Os%overnantes devem saber o que é necess!rio para a reprodu"ãoe a le%itimidade FQirth, <IPK: o Estado deve possuir uma

extensa burocracia capa$ de coletar in&orma"#es; os %overnantesdevem ter uma teoria técnica que %uie as interven"#es estatais.'ara recolher impostos, é necess!ria uma imensa burocraciacom prédios, mesas, m!quinas: um %overno não podesimplesmente decidir de um dia para outro recolher impostos 4ainda que isso se3a vital para a reprodu"ão do capitalismo. Naan!lise de *9ocpol, as institui"#es estatais, nos Estados Cnidos

de <I=I, eram simplesmente incapa$es de implementar aspolíticas que salvariam o capitalismo. Na realidade, a teoria de'oulant$as é mesmo lo%icamente inconsistente: se as inst0nciassão relativamente aut/nomas e desenvolvem4se de uma maneiradesi%ual, o que pode %arantir que o Estado este3a sempredesenvolvido para executar apropriadamente suas &un"#es

1e &ato, o Estado como institui"ão nunca est! presente nasan!lises &uncionalistas. omo o Estado, por de&ini"ão, respondeinvariavelmente )s necessidades &uncionais da reprodu"ão docapitalismo e como suas políticas, por de&ini"ão, têm a &un"ão deresponder a essas necessidades, pode4se partir dasnecessidades da reprodu"ão sem se preocupar, sequer, com oEstado. O pr+prio conceito de Estado é baseado em umarei&ica"ão. O Estado est! pronto para o uso: est! sempre comseu uni&orme &uncional antes que qualquer coisa venha amea"aras rela"#es capitalistas.

7inalmente, a di&iculdade permanente de qualquer perspectiva&uncionalista é explicar por que ra$ão os con&litos entre %ruposespecí&icos, em circunst0ncias hist+ricas concretas, acabariamresultando sempre 4 ou pelo menos 2re%ularmente2,2normalmente2 2na maioria das ve$esR 4 em Estados

desempenhando suas &un"#es. - verdade que, uma ve$ que amaneira pela qual uma sociedade responde )s varia"#es dascondi"#es hist+ricas tenha institucionali$ado, %rande parte dessaresposta é autom!tica. inda assim, as atividades dasinstitui"#es, e as pr+prias institui"#es, são os resultadospermanentes de con&litos. Em condi"#es concretas, %rupos

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particulares entram em con&lito sobre certas quest#es e oresultado desses con&litos é uma &orma particular de or%ani$a"ãoe um con3unto determinado de políticas. O que não est! claro é ara$ão pela qual tais políticas teriam, previsivelmente, a &un"ão dereprodu$ir as rela"#es capitalistas. omo é +bvio, a resposta nãopode ser: o Estado reprodu$ o capitalismo porque esta 2é2 a sua&un"ão. resposta pode ter duas &aces: ou o sistema capitalista

se or%ani$a de tal modo que se reprodu$ a despeito dos con&litose então tais con&litos, inclusive os con&litos de classe, adquirem ostatus de um ritual supér&luo, ou o resultado dos con&litosdetermina, de &ato, as políticas que o Estado implementa. Nessecaso, a explica"ão passa a ser buscada nesses con&litos e, aí,qualquer conceito de &un"ão torna4se redundante.

?. on&lito de classes e o Estado

'or que, então, os Estados &a$em o que &a$em 'or quea%em, especi&icamente, no interesse do capitalismo ou doscapitalistas Vrês respostas emer%iram nos debates marxistas:(< a teoria da 2elite no poder2 ar%umenta que os %overnos a%emem bene&ício do capitalismo porque os diri%entes estatais têm osmesmos interesses e valores dos capitalistas; (= a teoria da2seletividade2 ar%umenta que existe al%o na estruturaor%ani$acional de todas as institui"#es estatais, sob ocapitalismo, que toma os %overnos incapa$es de tomar certostipos de decis#es; (? a teoria da 2dependência estrutural2ar%umenta que a propriedade privada dos recursos produtivos

imp#e restri"#es que nenhum %overno e nenhuma política podemsuperar.1entre essas respostas, a teoria da seletividade é a menos

desenvolvida e convincente. *ua principal reivindica"ão te+rica éa de que certas quest#es, em particular as cruciais para osinteresses de classes, não se tornam matéria de discussão

política e da atividade %overnamental nas sociedades capitalistasF8achrach e 8arat$, <IWK. chave para o car!ter de classe dosEstados capitalistas deve então ser achada nas 2não4decis#es2 ea explica"ão para essa ina"o, em rela"ão a certos temas, deveser encontrada na estrutura or%ani$acional dos Estados. Osproblemas empíricos com os quais essa teoria se de&ronta são&ormid!veis FO&&e, <I@K e, talve$ como consequência disso, o

pro%resso &oi pequeno nessa dire"ão. 'or isso não ireiconsiderar, essa teoria. teoria da elite no poder, ao contr!rio, ématéria da se"ão ?.<, enquanto a teoria da dependênciaestrutural é discutida na se"ão ?.=.

?.<. teoria da elite no poder.

 pesar de existirem v!rias vers#es dessa teoria Fills, PT.1omho&&, <IWK, a versão de iliband é a mais completa esistem!tica. iliband ar%umenta que os %overnos a%em nointeresse do capitalismo porque os capitalistas controlam asinstitui"#es estatais e as utili$am como instrumentos para areali$a"ão de seus interesses.

iliband observa, primeiramente, que as sociedadescapitalistas são caracteri$adas pela desi%ualdade. Em todas associedades capitalistas um pequeno %rupo controla uma enormeparcela da rique$a e deriva v!rios privilé%ios dessa propriedade.'assa então a demonstrar que essas mesmas pessoas 4 que sãoricas, estudam nas mesmas escolas de elite e compartilham dosmesmos valores 4 &a$em parte do aparelho de Estado como

&uncion!rios nomeados, 3uí$es ou políticos eleitos. _o%o, associedades capitalistas são %overnadas por uma 2classediri%ente2: as elites econ/micas &ormam uma 2classe dominante2e a classe dominante é a mesma que a 2elite estatal2 2O que aevidência su%ere2 a&irma iliband, 2é que em termos de ori%emsocial; educa"ão e posi"ão de classe, os homens que ocupam

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todas as posi"#es de mando no sistema estatal vieram, em sua%rande maioria, do mundo dos ne%+cios e da propriedade ou dasclasses médias pro&issionais2 F<ITI: p. TT.K.

 pesar desse ar%umento ser sustentado por uma sérieimpressionante de &atos. iliband reconhece que suscita v!riosproblemas. *e os Estados são quase invariavelmentecontrolados pelos capitalistas, qual é o papel da competi"ão

política e, particularmente, das elei"#es iliband responde comdois ar%umentos, de certo modo contradit+rios, para mostrar quea competi"ão política é sempre desi%ual no re%ime capitalista.

O primeiro ar%umento retorna a arx e &oi utili$ado por _eninpara quali&icar a democracia capitalista como uma 2ditadura dabur%uesia2: a 2i%ualdade &ormal2 não é capa$ de superar a2desi%ualdade real2 *uponhamos que a competi"ão política se3acompletamente universalista, i%ualit!ria e honesta: as mesmasre%ras são v!lidas para todos, de i%ual modo, e sãoimplementadas com impessoalidade. esmo assim, adesi%ualdade da rique$a &ornece um certo n5mero de recursosaos capitalistas, dando4lhes vanta%ens nas elei"#es. O dinheiroconta, pois as campanhas eleitorais são custosas. s pessoasricas disp#em de mais tempo para investir na política. 'essoasque controlam a produ"ão estão de posse de amplos recursosor%ani$acionais que podem aplicar na política. 1esse modo, osrecursos com que as classes entram na política são desi%uais, equando partidos desi%uais se con&rontam em uma competi"ão&ormalmente i%ualit!ria os que entram com maiores recursosvencem invariavelmente. 'ense em um 3o%o de &utebolamericano per&eitamente arbitrado em que os 3o%adores de um

time pesem, cada um, =W quilos a mais que os do outro time... spessoas abastadas %anham elei"#es honestas e usam suasvit+rias para perpetuar sua rique$a.

1ado o primeiro ar%umento, o se%undo é supér&luo e, umave$ introdu$ido, acaba tendo um e&eito subversivo. ra$ãoadicional por que a classe dominante %anha as elei"#es é que as

re%ras &ormais de competi"ão são diri%idas a seu &avor. asiliband não nota que, se as institui"#es não são merosepi&en/menos e se têm um poder causal aut/nomo, poderiamentão ser utili$adas para superar a desi%ualdade econ/mica enão apenas para re&or"!4la. s institui"#es políticas poderiam seror%ani$adas de modo a compensar a carência de recursos: ascampanhas podem ser &inanciadas publicamente, o acesso )

mídia pode ser %ratuitamente concedido etc.1e acordo com iliband, a competi"ão política leva

repetidamente a classe diri%ente de volta aos car%os. as h!al%umas exce"#es: )s ve$es, a esquerda %anha elei"#es e &orma%overnos. 'ara iliband, o &ato de partidos socialistas ocuparemposi"#es de %overno não destr+i a tese da classe diri%ente. *uaexplica"ão para isso se sustenta em ar%umentos tradicionais arespeito da coopta"ão dos líderes da classe trabalhadora,presentes 3! em seu primeiro livro, 'arliamentarH *ocialism F<I=(<IT<K. iliband vê tais líderes diante de uma escolha radical: oudedicam es&or"os para abolir o capitalismo, ou sucumbem aopoder do capital F<ITI: p. <P=K. 1iante de tais alternativas, elesinvariavelmente desistem da luta.

 ssim, mesmo quando a competi"ão eleitoral não leva osmembros da classe diri%ente aos car%os, os %overnos aindacontinuam a a%ir no interesse dessa classe, o que, para iliband.implica que estão a%indo contra os interesses das massassubordinadas. O problema &inal é saber por que aqueles queperdem constantemente pelo &ato de a classe diri%ente controlaro Estado continuam consentindo com o seu %overno respostade iliband se sustenta na ideia de 2domina"ão ideol+%ica2

propriedade dos meios de produ"ão se estende até os meios deprodu"ão intelectual, que são usados para persuadir as pessoasa terem cren"as contr!rias a seus interesses. classe diri%entecoloca vendas sobre os olhos das massas subordinadas.

O ar%umento completo é tão el!stico que, a despeito do ricoapoio documental, a tese central de iliband não é convincente.

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 lém do mais, o ponto mais &raco da ar%umenta"ão não &oiantecipado por iliband, mas por 'oulant$as F<I=K. Oar%umento de iliband sup#e que os capitalistas são capa$es decoordenar seus interesses de tal modo que o Estado poderia a%irem bene&ício de um 5nico, coerente e consistente 2interesse daclasse capitalista2 omo tantos outros, iliband F<ITI: p. PKendossa a a&irma"ão de arx no ani&esto comunista de que 2o

executivo do Estado moderno não é mais que um comitê paradiri%ir os ne%+cios comuns de toda a bur%uesia2 as quais sãoos ne%+cios comuns de toda a bur%uesia Não é possível quese3am os ne%+cios que colocam os capitalistas em competi"ãouns com os outros. 'oderiam representar aqueles interesses quea%re%am a bur%uesia como uma classe contra outras classes, ouos interesses relativos a viabilidade do capitalismo como sistema.as, mesmo esses interesses, como interesses coletivos, dãoori%em a problemas de caronas e de con&litos intra4classecapitalista. ais especi&icamente, a sobrevivência do capitalismopode ter como custo a sobrevivência de capitalistas particulares,isso pode não ser do interesse de capitalistas individuais. Ointeresse do 2apitalismo2 e dos 2capitalistas2 não é o mesmo: asobrevivência do capitalismo não é do interesse dos capitalistasindividuais. _o%o, para citar O&&e F<I@: p. ?@K, 2não podemostomar uma consciência de classe coerente e consistente como oponto de partida para a reconstru"ão do car!ter de classe daatividade estatal 4 mesmo se assumíssemos que a ar%umenta"ãoda teoria in&luência é correta empiricamente2.

?.=. teoria da dependência estrutural.

Enquanto a teoria das elites sup#e que os %overnantesadotam os mesmos ob3etivos dos capitalistas, a teoria dadependência estrutural ar%umenta que a propriedade privada dosrecursos produtivos imp#e restri"#es tão &ortes que nenhum

%overno, independentemente de seus ob3etivos, podeimplementar políticas adversas aos interesses dos capitalistas.Cm sum!rio dessa teoria &oi adiantado por O&&e: 2Em umprocesso decis+rio em que o Estado soluciona os seus pr+priosproblemas, (... al%uns %rupos estão tão estrate%icamenteposicionados que são capa$es de obstruir as políticas estatais.Nas rela"#es capitalistas de produ"ão, essa é a classe dos

propriet!rios de dinheiro, de capital. O que essa classe &a$basicamente é decidir o lu%ar, o volume, o tempo e o tipo deprocesso de troca que vai acontecer. Disto assim, o poder políticoda classe capitalista não reside naquilo que seus membros &a$empoliticamente (exercer poder e in&luência no processo dedecisão política etc., mas naquilo que seus membros podem serecusar a &a$er economicamente (mais precisamente, iniciarprocessos de troca pela compra de &or"a de trabalho e capital&ixo, ou se3a, investir.R F<IPb: p. IK.

Essa teoria come"a com a hip+tese de que toda a sociedadedepende da aloca"ão de recursos escolhida pelos propriet!riosde capital. s decis#es de investimento têm consequênciasp5blicas e duradouras: elas determinam, para todos, aspossibilidades &uturas de produ"ão, empre%o e consumo. indaassim, são decis#es privadas.

omo cada indivíduo ou %rupo deve considerar seu &uturo,como as possibilidades &uturas de consumo dependem dosinvestimentos correntes, e como as decis#es de investimento sãoprivadas, todos os %rupos sociais são constran%idos, na busca deseus interesses materiais, pelo e&eito de suas a"#es sobre avontade de investir dos propriet!rios de capital, o que, por sua

ve$, depende da lucratividade dos investimentos. Em umasociedade capitalista, a dis3untiva entre o consumo presente e oconsumo &uturo de todos os %rupos da sociedade passa por umadis3untiva entre o consumo dos que não possuem capital e oslucros.

onsideremos essa dependência do ponto de vista de um

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%rupo, os assalariados. Em qualquer momento, sal!rios e lucrossão inversamente relacionados, como arx ar%umentou emVrabalho assalariado e capital F<IP=aK. Em um mundo sem&uturo, os trabalhadores estariam melhor consumindo todo oproduto 4 na realidade, con&iscando o estoque de capital. as osassalariados se preocupam com o seu &uturo, assim como comsua renda corrente, e os sal!rios &uturos dependem dos

investimentos privados. *e as &irmas responderem aos aumentosde sal!rios com menores investimentos, os assalariados estariammelhor se moderassem suas demandas salariais. renda &uturados trabalhadores depende da reali$a"ão dos interessespresentes dos capitalistas.

 pesar dessa teoria ser normalmente apresentada emrela"ão as demandas dos assalariados 4 na medida em quemeios materiais são necess!rios para a melhoria de seu bem4estar 4 a teoria da dependência estrutural abarca todos os%rupos: minorias que lutam contra a desi%ualdade econ/mica,mulheres que procuram trans&ormar a divisão do trabalho emsuas casas, idosos em busca de se%uran"a material,trabalhadores que reivindicam condi"#es de trabalho maisse%uras ou militares querendo construir bombas. - nesse sentidoque a sociedade capitalista é uma sociedade de classes. Assonão si%ni&ica que ha3a sempre duas classes or%ani$adas, masque a estrutura da propriedade característica do capitalismo tornaa condi"ão material de qualquer um dependente das decis#esprivadas dos propriet!rios da rique$a.

Cma ve$ que a sociedade inteira depende dos propriet!riosde capital, a teoria da dependência estrutural continua com a

in&erência de que o Estado também deve depender. *e os%overnos têm interesses e ob3etivos pr+prios, ou se a%em embene&ício de uma coali$ão de %rupos ou de uma classe, areali$a"ão de quaisquer ob3etivos que necessitem de recursosmateriais coloca os %overnos em uma situa"ão de dependênciaestrutural. 'olíticos procurando se reele%er precisam antecipar o

impacto de suas políticas nas decis#es das &irmas, porque taisdecis#es a&etam o empre%o, a in&la"ão e a renda pessoal doseleitores: políticos em busca de votos são dependentes dospropriet!rios de capital, porque os eleitores o são. esmo um%overno que &osse o representante per&eito dos assalariados nãoa%iria muito di&erentemente de um %overno que representasse oscapitalistas. *e os trabalhadores vão estar melhor com uma boa

dose de modera"ão salarial, um %overno &avor!vel aostrabalhadores também vai evitar políticas que alteremdramaticamente a distribui"ão da renda e da rique$a. O escopodas a"#es que os %overnos consideram melhores para osinteresses que representam é estreitamente circunscrito, se3amquais &orem esses interesses.

  ra$ão pela qual o Estado é estruturalmente dependente éque nenhum %overno pode simultaneamente redu$ir lucros eelevar o investimento. s &irmas investem em &un"ão dos retornosesperados; políticas que trans&erem renda dos propriet!rios decapital redu$em a taxa de lucro e portanto a de investimento. Os%overnos se de&rontam com uma dis3untiva entre distribui"ão ecrescimento, entre i%ualdade e e&iciência. 'odem trocar umadistribui"ão de renda mais (ou menos i%ualit!ria por menos (oumais investimento, mas não podem alterar os termos dessadis3untiva: esta é a tese central da teoria da dependênciaestrutural. Os %overnos podem e, na realidade, escolhem entrecrescimento e distribui"ão de renda, mas na medida em que obem4estar material de suas bases eleitorais depende docrescimento econ/mico, assim como de sua participa"ão narenda %lobal, e na medida em que a distribui"ão s+ pode ser

alcan"ada as custas do crescimento, todos os %overnos acabambuscando políticas com e&eitos redistributivos limitados.  cren"a de que no capitalismo os %overnos são

estruturalmente dependentes do capital é amplamente di&undida.iliband F<ITI: p. <P=K retratou essa dependência do se%uintemodo: 21ado o nível de poder econ/mico que reside na

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comunidade de ne%+cios e a import0ncia decisiva de suas a"#es(e ina"#es sobre os principais aspectos da política econ/mica,qualquer %overno com pretens#es sérias ) re&orma radical devebuscar apropriar4se desse poder, ou então vai encontrar seuespa"o para a"ão radical estreitamente circunscrito pelosrequerimentos da con&ian"a empresarialR 8loc9 F<I: p. <PKsustentou que 2em uma economia capitalista, o nível da atividade

econ/mica é amplamente determinado pelas decis#es deinvestimento privado dos capitalistas. Asso si%ni&ica que oscapitalistas em seu papel coletivo de investidores têm poder deveto sobre as políticas estatais, na medida em que o &ato de nãoinvestirem nos níveis adequados pode criar %randes problemaspolíticos para os diri%entes estatais.2 _indblom F<I: p. <= e<PK observou que 2como as &un"#es p5blicas, em um sistema demercado, estão nas mãos de empres!rios, os empre%os, ospre"os, a produ"ão, o crescimento, o padrão de vida e ase%uran"a econ/mica de todos os demais est! em suas mãos.(... 1esse modo, do ponto de vista dos diri%entes%overnamentais, os empres!rios não aparecem simplesmentecomo representantes de interesses particulares. (... Elesaparecem como &uncion!rios desempenhando &un"#es que osdiri%entes %overnamentais veem como indispens!veis.2.

'r$eUors9i e Qallerstein F<IJJK examinaram a validade dessateoria procurando veri&icar se os %overnos podem distribuir rendaaos assalariados sem provocar uma redu"ão dos investimentos.'ara tanto, assumiram uma &un"ão linear de produ"ão em que as&irmas escolhem a taxa de investimento que maximi$e o valorpresente da utilidade que seus acionistas derivam do consumo,

enquanto os sindicatos, quando podem, &a$em o mesmo paraseus membros, escolhendo a participa"ão do trabalho no valora%re%ado (ou a taxa de sal!rios, dado que o empre%o édeterminado pelo estoque de capital. ostraram que sem o%overno, os assalariados são estruturalmente dependentes docapital, no sentido de que todos os aumentos salariais acorrem,

d+lar a d+lar, )s custas do investimento. O mesmo é verdadeiroquando o %overno distribui renda aos assalariados, impondo umimposto sobre as rendas da propriedade. as o resultado não severi&ica mais se o %overno taxar apenas os lucros não4investidose trans&erir essa receita aos assalariados. 6ealmente, com umataxa"ão sobre os lucros não4investidos e com um sindicatopoderoso disposto a trocar sal!rios privados por trans&erências e

servi"os %overnamentais, um %overno &avor!vel aostrabalhadores pode &a$er qualquer distribui"ão de renda quedese3e e aumentar os investimentos. lém do mais, ao contr!riode cren"as amplamente di&undidas, na medida em que os%overnos são administrativamente capa$es da taxar as saídas decapital, a mobilidade internacional de capitais não a&eta esseresultado, mesmo quando os %overnos competem porinvestimentos FQallerstein, <IJJK. conclusão, então, é que, nocapitalismo, os %overnos têm op"#es quanto a políticasecon/micas e essas políticas têm consequências: a teoria dadependência estrutural é &alsa.

Não é demais repetir que a dependência estrutural se re&ereaos constran%imentos impostos aos %overnos por a"#esdescentrali$adas e estritamente econ/micas das &irmasparticulares. O que esses resultados ne%am, portanto, é apenasa hip+tese, para usar a clara &ormula"ão de 8loc9 F<I: p. <IK2de que conspira"#es para desestabili$ar o re%ime sãobasicamente supér&luas, uma ve$ que as decis#es tomadas porcapitalistas individuais se%undo sua estrita racionalidadeecon/mica são su&icientes para paralisar o re%ime, criando umasitua"ão em que sua queda é a 5nica possibilidade2.

esmo esse resultado restrito est! su3eito a al%umasadvertências. pesar dessa conclusão de &alseamento da teoriada dependência estrutural não depender de uma &un"ão deprodu"ão linear, ela é sensível ) &un"ão de utilidade doscapitalistas. Em particular, se os capitalistas se preocupam comseus níveis absolutos de consumo, independentemente dos

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lucros presentes e &uturos, o resultado pode não valer mais. aisimportante ainda, se o capital &or internacionalmente m+vel,antecipa"#es de que os %overnos introdu$iriam tais políticasredistributivas podem causar uma redu"ão dos investimentos e,assim, impor custos aos assalariados. _o%o, o Estado pode serestruturalmente dependente no sentido din0mico de que, dado ocusto das antecipa"#es, %overnos de esquerda podem promover

melhor os interesses de seu eleitorado asse%urando aoscapitalistas que não vão implementar tais políticas.

 pesar desses resultados não serem conclusivos, elesrealmente colocam em d5vida a validade da teoria dadependência estrutural. *u%erem que as dis3untivas econ/micaspodem não ser tão limitadoras quanto os te+ricos marxistas e ospolíticos esquerdistas parecem acreditar. o mesmo tempo, elesdirecionam nossa aten"ão para os constran%imentos não4econ/micos, institucionais e políticos.

 @. onclus#es.

 l%uns &atos b!sicos são em %eral aceitos. O papel do Estadona economia cresceu dramaticamente desde a < `uerraundial, pelo menos até a década de setenta, e pelo menosentre os países da O1E. Cm certo n5mero de re&ormasmelhorou as condi"#es de trabalho e de vida dos trabalhadores eoutros assalariados. bur%uesia, ou ao menos al%unsimportantes %rupos de capitalistas, se opuseram )s re&ormas eassumiram em %eral posi"#es antiestatistas. as persistem duas

vis#es con&litantes da rela"ão entre Estados e economiascapitalistas. ntecipada desde <I<W pela no"ão de Xi&eldin% de

2capitalismo or%ani$ado2, o marxismo &uncionalista encontrou achave da lon%evidade do capitalismo nas interven"#es doEstado. onvencida de que os mercados são inevitavelmente

ca+ticos, essa perspectiva descobriu no Estado o arquiteto daordem econ/mica. Essas duas cren"as pro&undas 4 a d5vida deque a"#es descentrali$adas poderiam &ornecer o &undamento daordem social e a &é na capacidade do Estado como o 2demiur%o2da sociedade 4 delimitaram a problem!tica do marxismo&uncionalista.

Vendo experimentado um período de intensa produtividade,

esse paradi%ma saiu de moda por ter &racassado repetidamenteem sustentar sua hip+tese central, qual se3a, a de que ocapitalismo sobrevive apenas devido ) interven"ão estatal.7racassou também na resolu"ão de um certo n5mero deproblemas l+%icos e políticos que a&etaram a credibilidade dateoria. O principal embara"o para esse en&oque é o con&lito declasses.

  existência de movimentos sindicais e políticos maci"os dostrabalhadores as re&ormas &or3adas por tais movimentosromperam constantemente a costura l+%ica dessa teoria. solu"ão, su%erida anteriormente por 'oulant$as F<I?K eproposta explicitamente por uller e Neussus F<IPK e por 8loc9F<IK, é tortuosa. 8loc9 admitiu o con&lito de classes entre aclasse capitalista e os diri%entes do aparato de Estado e a classetrabalhadora. Entretanto, o resultado &inal desse con&lito é apenasracionali$ar o capitalismo: 2s press#es dos trabalhadorescontribuíram para a expansão do papel do Estado na re%ula"ãodo capitalismo e na provisão de servi"os. (... capacidade doEstado de impor uma maior racionalidade ao capitalismo &oiestendida ) novas !reas, %ra"as )s press#es da classetrabalhadora2 F<I: p. ==K. 'ortanto, no &inal, a classe

trabalhadora acaba se tornando c5mplice da reprodu"ão docapitalismo, e sempre um c5mplice involunt!rio. Nesse esquema,os trabalhadores nunca aparecem como su3eitos: são vítimas darepressão, iludidos pela domina"ão ideol+%ica ou lesados pelatrai"ão de seus líderes.

1e outro lado, o en&oque &uncionalista também não conse%ue

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en&rentar com &acilidade as repetidas situa"#es em que abur%uesia, ou pelo menos importantes %rupos dela, aparecemcomo antiestatistas. *e o Estado sempre &ortalece o capitalismoe se a viabilidade do capitalismo é do interesse dos capitalistas,então por que qualquer bur%uesia seria em al%um momento anti4estatista Obviamente, uma resposta seria que o capitalismo éum bem p5blico; lo%o, não é do interesse dos capitalistas

individuais pa%arem o custo de sua reprodu"ão. Cma t!tica&requentemente assumida é &alar de 2&ra"#es2 que apresentaminteresses con&litantes. as a 5nica possibilidade que tal en&oquenão pode admitir é que os capitalistas individuais ou suasor%ani$a"#es se tornem antiestatistas simplesmente porque oEstado amea"a seus interesses, independentemente do &atodesses interesses terem ou não al%o a ver com a reprodu"ão docapitalismo. *e o Estado é diri%ido pela classe dominante, apr+pria possibilidade de que os %overnantes implementempolíticas que tiram os interesses dos capitalistas é excluída.

 ssim, a despeito de seus v!rios problemas 4 um relato poucoplausível sobre o capitalismo, a incapacidade de explicar por queos %overnos reali$am certas políticas e a rei&ica"ão do Estado 4, aperspectiva &uncionalista torna4se necess!ria porque parte de ummodelo incorreto do con&lito de classes nas sociedadescapitalistas democr!ticas. O pr+prio problema da reprodu"ãoaparece como um problema &uncional por causa do modelo decon&lito de classes irreconcili!vel, que leva ) conclusão de que ocapitalismo não poderia ter sobrevivido como resultado deintera"#es estraté%icas espont0neas entre assalariados, &irmas e%overnos.

Cma ve$ que os a%entes e suas a"#es são levados a sério, ano"ão de que o Estado desempenha qualquer tipo de 2&un"ão2nas sociedades capitalistas se torna insustent!vel. s políticas de%overnos particulares, seus diversos e&eitos econ/micos epolíticos e suas consequências para a viabilidade do capitalismosão vistos como resultado contin%ente de intera"#es estraté%icas

entre m5ltiplas &or"as políticas, cu3os interesses envolvemmisturas vari!veis de con&lito e coopera"ão.

 pesar de os con&litos de classe terem sido introdu$idos nasteorias marxistas do Estado por 'oulant$as em <IJ, osmarxistas resistem ) ado"ão de uma lin%ua%em técnica para aan!lise de intera"#es estraté%icas. Anversamente, oseconomistas neocl!ssicos, particularmente nos Estados Cnidos,

até recentemente se recusavam a admitir os %overnos e ossindicatos como atores estraté%icos que a&etam os resultadosecon/micos. 'or conse%uinte, apenas recentemente as an!lisesestraté%icas do con&lito de classes superaram essas resistências.1e qualquer modo, 3! h! v!rios corpos de literatura que analisamos con&litos de classe em v!rios níveis de a%re%a"ão:

< odelos de sal!rios e&icientes F*hapiro e *ti%lit$, <IJ@;8oUles, <IJPK explicam porque os mercados de trabalho nãoche%am ao equilíbrio, &ocali$ando os con&litos inerentes aoprocesso de trabalho.

= odelos de bar%anha coletiva que &ocam no nível das&irmas Frecentes resenhas em OsUald, <IJP; alcolmson, <IJKexplicam que sindicatos e &irmas irão cooperar se os acordossobre o empre%o (em particular aqueles relativos ) ra$ãocapitalMtrabalho puderam ser implementados.

? odelos de sindicali$a"ão com resistência empresarial eor%ani$a"ão custosa F_a$ear, <IJ?, Qallerstein, <IJJK explicamporque a densidade de sindicali$a"ão varia de acordo comind5strias e países.

@ odelos que en&ati$am a estrutura sindical FOsUald, <II;Qallerstein e 'r$eUors9i, <IJJK levam ) conclusão de que

sindicatos %randes e centrali$ados são mais capa$es de o&erecermodera"ão salarial se or%ani$arem trabalhadores que se3amcomplementares na produ"ão.

P 7inalmente, se%uindo o arti%o seminal de _ancaster F<I?K,v!rias an!lises de 3o%o din0mico entre um sindicato centrali$ado,escolhendo a taxa de sal!rios ou a propor"ão da participa"ão dos

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assalariados na renda, e v!rias &irmas homo%êneas, escolhendoo investimento, apontam para v!rias &ontes de ine&iciênciaassociadas a solu"#es no cooperativas F8asar, Xaurie e 6icci,<IJP; Xoel, <IJ; ehrlin%, <IJT; van der 'loe%, <IJ; 'oh3ola,<IJ?, <IJ@; 'r$eUors9i e Qallerstein, <IJ=; *chott, <IJ@K.

1e qualquer modo, modelos que envolvem intera"#esestraté%icas entre &irmas, sindicatos e %overnos são

relativamente escassos. Cm desses modelos, discutido acima,em que os %overnos escolhem suas a"#es antecipando asrea"#es estraté%icas de sindicatos e &irmas, &oi utili$ado por'r$eUors9i e Qallerstein F<IJJK para estudar a dependênciaestrutural do Estado. Outra classe de modelos analisa aintera"ão entre %randes sindicatos, &irmas descentrali$adas e%overnos no que di$ respeito ao empre%o Falm&ors e Xron,<IJP; 1ri&&il, <IJP; *oederstroern, <IJP; *charp&, <IJJK. Ossindicatos, antecipando que as &irmas contratarão para maximi$arlucros (na curva de demanda por trabalho e que os %overnosvão tentar impedir o desempre%o, puxam os sal!rios para cima,para além do nível que escolheriam na ausência de %overnostransi%entes. Os %overnos se acham em uma situa"ão em que aestraté%ia +tima não é consistente: a estraté%ia +tima é nãotransi%ir, a estraté%ia consistente é expandir a demanda quandoos sal!rios reivindicados pelos sindicatos amea"am %erardesempre%o no setor privado. 'ara che%ar ao resultado de quesindicatos &ortes causam in&la"ão ou problemas de balan"a depa%amentos, esses modelos devem se basear em al%umaspremissas menos %erais: que o sindicato não internali$a oscustos da in&la"ão que %era, que o sindicato é míope, que ele tem

al%umas metas de empre%o no setor p5blico di&erentes das do%overno, ou al%um outro estrata%ema.  aborda%em do con&lito de classes so&re ainda uma série de

limita"#es. s &irmas aparecem apenas como atores individuaise, quase sempre, em sua melhor resposta no que tan%e aoempre%o ou ao investimento. Os ob3etivos do %overno parecem

di&íceis de modelar. 6esultados que condu$am ao equilíbrio%eral, onde existem m5ltiplos sindicatos e capitaisinternacionalmente m+veis, são muito indeterminados. 1equalquer maneira, o en&oque da teoria dos 3o%os para o con&litode classes ainda est! em sua in&0ncia.

 s quest#es centrais re&erentes ) rela"ão entre Estado eeconomia na perspectiva marxista ainda estão em aberto. inda

não sabemos a maneira e o %rau em que a propriedade privadada rique$a produtiva constran%e os %overnos. Esta é a questãocentral, uma ve$ que tem duas consequências de import0nciapolítica. 'rimeiro, se a propriedade privada dos meios deprodu"ão é tão constran%edora que nenhum %overno 4 a despeitode seu mandato eleitoral 4 pode reali$ar políticas contra osinteresses dos capitalistas, então as institui"#es democr!ticassão impotentes. *e%undo, se todos os %overnos sãoestruturalmente constran%idos, inclusive as ditaduras militares,então a bur%uesia nada tem a temer se abdicar da participa"ãopolítica direta e con&iar seus interesses )s institui"#es estataisaut/nomas. as se o poder aut/nomo das &irmas individuais nãoé su&icientemente limitador a ponto de constran%er todos os%overnos, os resultados do processo democr!tico realmentecontam para o bem4estar de %rupos particulares e a bur%uesiatem ra$ão em descon&iar do Estado e temer sua autonomia.

*e os constran%imentos econ/micos não são tão limitadoresquanto os te+ricos marxistas tradicionalmente acreditaram, torna4se ainda mais intri%ante a ra$ão pela qual %overnos de esquerda&a$em relativamente pouca di&eren"a quando assumem o poder,ou &alham melancolicamente quando tentam &a$er mais que

al%uma di&eren"a. Cma explica"ão para isso retornaria )or%ani$a"ão política dos capitalistas: pelo menos quandoamea"ados pelos %overnos de esquerda, os capitalistas sãocapa$es de se or%ani$ar coletivamente para de&ender seusinteresses, por meio de a"#es políticas. Outra explica"ãoretomaria )s considera"#es institucionais: os %overnos operam

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não apenas sob o constran%imento da economia privada, mastambém 4 al%o que tendemos a esquecer 4 sob oconstran%imento de Estados, entendidos como estruturasor%ani$acionais. omo resultado disso, Estados, enquantoinstitui"#es, não respondem )s express#es das pre&erênciaspopulares nas elei"#es. Na realidade, o dilema da esquerda éque qualquer melhoria do bem4estar dos assalariados requer a

interven"ão do Estado, mas os Estados são instrumentosprec!rios de interven"ão. 7inalmente, mesmo ao discutir aeconomia, não podemos ne%li%enciar os &atores ideol+%icos.`overnos de esquerda che%am %eralmente ao poderdeterminados a mostrara seus oponentes que eles tambémpodem administrar responsavelmente as economias capitalistas. s explica"#es econ/mica, política, institucional e ideol+%ica dainvulnerabilidade do capitalismo constituem hip+teses rivais. inda não sabemos o su&iciente para eliminar qualquer umadelas.

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apítulo @

Concl$s2es 

Nenhum dos ar%umentos aqui resenhados é conclusivo. steorias que sustentam que os %overnos respondem )spre&erências dos cidadãos, como são expressas pelas elei"#es,são verossímeis apenas sob as mais restritivas condi"#es. prova de que as mesmas pre&erências individuais podem em%eral ser a%re%adas em &orma de di&erentes resultados coletivosretira dessas teorias qualquer poder preditivo. s teorias quesustentam que os Estados &a$em o que seus diri%entes querem,se3a na versão ]centrada no EstadoR, se3a nos modelos de+r%ãos %overnamentais aut/nomos, &racassam em sustentar quea autonomia do Estado é inevit!vel. No nível macro4hist+rico, aautonomia do Estado parece depender de con&litos de %rupos,enquanto a autonomia dos +r%ãos %overnamentais em

democracias é altamente sensível a detalhados arran3osinstitucionais. 7inalmente, as teorias que ar%umentam que apropriedade privada da rique$a produtiva restrin%e todos os%overnos, de uma maneira tal que nenhum %overno pode a%ircontra os interesses do capital, encontra di&iculdades emespeci&icar os mecanismos que tornam e&etivos essesconstran%imentos.

Cma ve$ que cada uma dessas teorias contém um %rão deverdade, é tentador assumir uma postura eclética. as o papeldas teorias é o de eliminar ar%umentos que tenham plausibilidade) primeira vista, por meio de an!lise empírica e l+%ica.

An&eli$mente, é di&ícil determinar a validade relativa dessesen&oques, especialmente porque poucos estudos testamexplicitamente hip+teses rivais. Cma característica intri%antedessa literatura é a escasse$ de estudos estatísticos que possamavaliar a contribui"ão relativa das pre&erências individuais, daautonomia do Estado e dos constran%imentos da propriedade.

  discussão sobre o Estado e a economia, porém, não éapenas acadêmica. O papel apropriado do Estado em rela"ão )economia constitui a questão central dos debates políticoscontempor0neos. questão sobre se é o Estado ou apropriedade privada a &onte primordial de irracionalidade ein3usti"a continua a receber respostas con&litantes.

D!rias teorias aqui discutidas são usadas como ar%umentos

em debates políticos. as nenhuma é su&icientementepersuasiva. O processo democr!tico certamente so&re muitasimper&ei"#es, mas a conclusão neoliberal 4 de que o mercado ésuperior enquanto institui"ão qual as pessoas expressam suasoberania 4 é teoricamente de&iciente. O medo do Estadoaut/nomo 4 o militar ou o burocr!tico 4 é bem &undamentado naexperiência contempor0nea. as tanto a aborda%em do Estadoaut/nomo quanto a ên&ase na burocracia são tão pro%ram!ticasque pre&erem nos horrori$ar com dem/nios onipresentes do quenos &ornecer um aparato analítico para distin%uir situa"#esconcretas.

7inalmente, h! boas bases hist+ricas para a presun"ão deque a propriedade privada dos instrumentos de produ"ão limitaseveramente a liberdade das sociedades na aloca"ão derecursos. as os marxistas não são capa$es de contar umahist+ria que deixe pelo menos al%um espa"o para que ademocracia a&ete os resultados, dentro desses limites.

Os con&litos políticos envolvem interesses e não sãoresolvidos por ar%umentos te+ricos. No entanto, a resenha aqui&eira aponta al%umas armadilhas políticas que devem serevitadas.

Valve$ uma armadilha +bvia se3a supor que por ser onerosauma limita"ão ) democracia, outras devem ser consideradasmais leves. esmo que a propriedade privada se3a oconstran%imento mais limitador ) democracia no capitalismo, asamea"as que têm ori%em na autonomia do Estado e naslimita"#es ao processo eleitoral são, de qualquer modo, reais. s

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7/18/2019 Estado e Economia No Capitalismo - Adam Przeworsky

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imper&ei"#es do processo político, a autonomia das institui"#esestatais e a propriedade privada dos recursos produtivosconstituem, todos, amea"as potenciais ) democracia. Cmaarmadilha é sair em de&esa da interven"ão estatal na economia aqualquer custo, isto é, mesmo que acabe ori%inando institui"#esestatais aut/nomas e ine&icientes.

Outra armadilha é desconsiderar as limita"#es ori%in!rias da

propriedade privada. O ar%umento padrão é o se%uinte: (< a]nature$a de classe2 do Estado capitalista não é um dado, (= aesquerda tem tradicionalmente subestimado, senão i%norado, aimport0ncia da democracia, portanto (? as reais limita"#es dasoberania popular estão locali$adas nas imper&ei"#es doprocesso democr!tico. Cma ve$ que a import0ncia dademocracia é descoberta, retornamos, sem limites, ao séculode$oito. conclusão sobre a qual haveria pouca controvérsia éque 2é improv!vel que um Estado não4liberal se3a capa$ deasse%urar o correto &uncionamento da democracia e, de outrolado, é improv!vel que um Estado não4democr!tico possa%arantir as liberdades &undamentais2 F8obbio, <IJ@: p. K. panacéia é a 2participa"ão democr!tica2.

as essa posi"ão é demasiadamente &!cil, pois uma questãocentral que %eralmente se i%nora é se é prov!vel que oscidadãos possam ter se%uran"a material b!sica no Estadoliberal4democr!tico. Nossa experiência cotidiana mostra que aliberdade e a participa"ão podem conviver, e de &ato convivem,com a pobre$a e a opressão. 1iscutir democracia sem considerara economia onde essa democracia vai &uncionar é uma a"ãodi%na de um avestru$. O dilema tradicional que as esquerdas

en&rentam teve sua ori%em na eventualidade de que, mesmo umademocracia processualmente per&eita pode ser insu&iciente paraliquidar a pobre$a e a opressão em &ace das amea"as ori%in!riasda propriedade privada. O dilema é tão a%udo ho3e quanto &oianteriormente.

ada sociedade se de&ronta com três di&erentes problemas

políticos: como tomar mani&estas e a%re%ar as pre&erênciasindividuais, corno manter as institui"#es políticas especiali$adasresponsivas )s demandas democr!ticas e como satis&a$er osob3etivos democraticamente escolhidos, re&erentes ) aloca"ão derecursos escassos. Esses problemas são irredutíveis uns aosoutros: urna democracia processualmente per&eita no campopolítico não resolve os problemas derivados da desi%ualdade

econ/mica. sociali$a"ão dos recursos produtivos torna aindamais ur%ente a tare&a de a%re%ar as pre&erências e desupervisionar o aparato estatal. Cma democracia madura exi%einstitui"#es eleitorais que se3am representativas, institui"#esestatais responsivas ) democracia e mecanismos de aloca"ão derecursos que obede"am ao processo democr!tico. Nada menosque isto.