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Estado e classes dominantes no Brasil: a mobilização empresarial em torno da internacionalização da Petrobras durante a ditadura (1964-1988) 1 Julio Cesar Pereira de Carvalho 2 Introdução O tema que permeia a problemática deste trabalho concerne à atuação internacional da Petrobras durante a ditadura empresarial-militar brasileira. A partir de uma perspectiva ampliada do Estado, objetiva-se, sobretudo, averiguar a organização e atuação do empresariado frente à delineação das políticas energéticas do país, com enfoque específico na atuação das subsidiárias da Petrobras responsáveis por sua atuação além-fronteiras, quais sejam, a Braspetro e a Interbrás. Esta pesquisa está situada, portanto, na esfera de estudos sobre empresariado e política no Brasil, mais especificamente no escopo historiográfico de matriz marxista- gramsciana, que considera inerente e orgânica - tendo-se em consideração sua complexidade - a relação entre Estado e classes sociais. Como se pode perceber a partir dos pressupostos de Sonia Regina de Mendonça, por esse campo de pensamento o Estado é percebido: ...enquanto uma relação social, logo, fruto de conflitos entre sujeitos coletivos, organizados a partir da Sociedade Civil e que, para consolidarem sua própria hegemonia visam e necessitam no geral, fazerem-se presentes junto à Sociedade Política ou Estado em seu sentido estrito (MENDONÇA, 2007: 5). A hipótese que conduz o estudo consiste na afirmativa de que a atuação da Petrobras no exterior esteve atrelada aos ditames e interesses de parcelas da classe dominante atuantes no Brasil durante o regime. Nesse sentido, como hipótese secundária, argui-se que esse processo contribuiu para a ampliação econômica desses segmentos, provendo subsídios para a intensificação de sua acumulação em um contexto de acirramento das desigualdades sociais e perda de direitos políticos no país. O trabalho a ser apresentado no XIX Encontro de História da Anpuh-Rio faz parte de investigação inicial em andamento no doutorado em História. Assim, o texto elencará, na 1 Este projeto conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). 2 Mestre em Ciências Sociais (UFRRJ) e doutorando em História (UFF).

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Page 1: Estado e classes dominantes no Brasil: a mobilização ......1997:89). Resguardadas suas idiossincrasias, a perspectiva do autor, junto à de René Armand Dreifuss (1981) e seus asseclas,

Estado e classes dominantes no Brasil: a mobilização empresarial em torno da

internacionalização da Petrobras durante a ditadura (1964-1988)1

Julio Cesar Pereira de Carvalho2

Introdução

O tema que permeia a problemática deste trabalho concerne à atuação internacional

da Petrobras durante a ditadura empresarial-militar brasileira. A partir de uma perspectiva

ampliada do Estado, objetiva-se, sobretudo, averiguar a organização e atuação do

empresariado frente à delineação das políticas energéticas do país, com enfoque específico na

atuação das subsidiárias da Petrobras responsáveis por sua atuação além-fronteiras, quais

sejam, a Braspetro e a Interbrás.

Esta pesquisa está situada, portanto, na esfera de estudos sobre empresariado e

política no Brasil, mais especificamente no escopo historiográfico de matriz marxista-

gramsciana, que considera inerente e orgânica - tendo-se em consideração sua complexidade -

a relação entre Estado e classes sociais. Como se pode perceber a partir dos pressupostos de

Sonia Regina de Mendonça, por esse campo de pensamento o Estado é percebido:

...enquanto uma relação social, logo, fruto de conflitos entre sujeitos

coletivos, organizados a partir da Sociedade Civil e que, para

consolidarem sua própria hegemonia visam – e necessitam – no geral,

fazerem-se presentes junto à Sociedade Política ou Estado em seu

sentido estrito (MENDONÇA, 2007: 5).

A hipótese que conduz o estudo consiste na afirmativa de que a atuação da Petrobras

no exterior esteve atrelada aos ditames e interesses de parcelas da classe dominante atuantes

no Brasil durante o regime. Nesse sentido, como hipótese secundária, argui-se que esse

processo contribuiu para a ampliação econômica desses segmentos, provendo subsídios para a

intensificação de sua acumulação em um contexto de acirramento das desigualdades sociais e

perda de direitos políticos no país.

O trabalho a ser apresentado no XIX Encontro de História da Anpuh-Rio faz parte de

investigação inicial em andamento no doutorado em História. Assim, o texto elencará, na

1 Este projeto conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). 2 Mestre em Ciências Sociais (UFRRJ) e doutorando em História (UFF).

Page 2: Estado e classes dominantes no Brasil: a mobilização ......1997:89). Resguardadas suas idiossincrasias, a perspectiva do autor, junto à de René Armand Dreifuss (1981) e seus asseclas,

primeira parte, um breve balanço na bibliografia acerca da temática entre Estado e classes

dominantes na ditadura empresarial-militar brasileira. Em um segundo momento, será

efetuado uma breve apresentação sobre o processo de expansão vertical da Petrobras na

ditadura. Por fim, as considerações finais explanará a agenda prospectiva de tratamento

analítico e das fontes a ser trilhada na continuidade da pesquisa.

Ditadura e classes dominantes: breve balanço bibliográfico

No balanço historiográfico realizado por Pedro Campos acerca dos estudos sobre

empresariado e ditadura, o autor realça que, a princípio, esse objeto de análise não estava

centrado nos estudos da história, mas sim naqueles atinentes às ciências sociais (CAMPOS,

2018:341). É possível perceber, além disso, abordagens que tangenciem essa temática em

estudos efetuados por alguns economistas à época, embora tratem do empresariado de

maneira genérica, na tentativa de compreender, sobretudo, a conformação e impasses das

políticas econômicas do período autoritário.

Em relação aos estudos de viés econômico, uma das pesquisas centrais acerca das

políticas de desenvolvimento produtivo dos anos de 1970 é a tese de doutorado de Carlos

Lessa, de 1978, posteriormente publicada em livro em 1988 (LESSA, 1988). O estudo

averigua exaustivamente as diretivas centrais do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II

PND), sua implementação, a situação dos setores econômicos frente a tais critérios e as razões

de sua derrocada. Para o autor, ainda que o Plano obtivesse, em sua retórica, o intuito de

superar as consequências deletérias da crise do petróleo, sua execução, a princípio, buscou

demarcar uma estratégia para alçar a economia brasileira ao nível de potência, concentrando

esforços para aprimorar os setores industriais brasileiros (LESSA, 1988:91-93).

A principal razão que implicou no fracasso do Plano, para Lessa, consistiu na

incongruência entre sua estratégia e as articulações estruturais que a embasavam. Ou seja, o

regime supôs que a empresa estatal serviria como instrumento que erigiria a indústria de base

como setor proeminente, ignorando, ou não percebendo, que o plano, na verdade, era

subordinado e consentido pelo grande pacto estrutural que fundamentava as relações

econômicas no período (LESSA, 1988:115-116). Este pacto era composto, em linhas gerais,

por uma frente de interesses capitaneada pelos setores da engenharia e da indústria de

construção civil, concomitante aos investimentos de determinadas empresas estatais.

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Desse modo, tais segmentos se articulavam com as diversas frações da indústria

fornecedora de materiais, por um lado, e, por outro, o considerável nível de empregabilidade

dos setores da construção contribuíam para aquecer a demanda por bens de consumo duráveis

(LESSA, 1988:138-148). Para Lessa, as contradições desse descolamento entre estratégia e

base estrutural implicaram na derrocada do II PND já em 1976, sendo o expoente desse

fenômeno as diversas declarações e contraposições dos empresários industriais em relação à

política econômica e ao regime então vigente (LESSA, 1988:115-125).

Na seara de estudos sobre política econômica dos anos de 1970, o cientista político

Sebastião Velasco e Cruz (1997) talvez tenha sido o único autor da época a despender

esforços para instituir uma categorização do Estado. Perspectiva particularmente cara ao

estudo aqui proposto, o autor considera fundamental a conformação e os atritos entre os

segmentos sociais e a reprodução destes no âmago das políticas estatais.

O II PND é percebido por Velasco e Cruz pela perspectiva de seu amparo

empresarial. Avalizando o entendimento de Lessa de que o fracasso do Plano se deu pelas

incongruências entre a estratégia e suas articulações estruturais, o autor chama atenção para as

fricções entre as agências do próprio Estado, sendo estas, por sua vez, concebidas como

resultantes de processos de choque e ajustes entre interesses societais heterogêneos (CRUZ,

1997:89). Resguardadas suas idiossincrasias, a perspectiva do autor, junto à de René Armand

Dreifuss (1981) e seus asseclas, é a que mais se aproxima dos pressupostos teóricos que

embasam este trabalho.

No tocante aos estudos que trataram a relação entre empresariado e ditadura de forma

mais específica, o trabalho de René Armand Dreifuss (1981) foi pioneiro no sentido de

caracterizar a ditadura não apenas como militar, mas também de conceder ao caráter civil do

regime papel indispensável. Nesse ponto, é pertinente destacar que tal formulação tecida pelo

autor não consiste em arguir que houve amplo apoio popular à ditadura, como tem sido

argumentado por um segmento histórico-revisionista acerca desse fenômeno3. De modo

contrário, a obra de Dreifuss delineia com precisão que o status civil que qualificou o golpe e

o regime tem um recorte evidente de classe, ou seja, está relacionado, sobretudo, à feição

empresarial ou tecno-empresarial que amparou ativamente aquele processo (DREIFUSS,

1981:417).

3 Para uma refutação e análise apurada acerca de tais perspectivas, ver: MELO, 2012.

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Constituindo pesquisa seminal no campo de estudos sobre ditadura e classes

dominantes, a obra de René Dreifuss (1981) aborda a mobilização empresarial em torno do

Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), atrelado ao Instituto de Ação Democrática

(IBAD). Composto por militares da Escola Superior de Guerra (ESG) e pelas frações do

empresariado vinculadas aos segmentos multinacional e associado, o IPES teve papel

fundamental na desestabilização do governo João Goulart e no estímulo à candidatura de

Castelo Branco, fazendo campanha através de filmes e propagandas por todo o país.

Com a conflagração do golpe, muitos de seus membros ocuparam cargos-chave no

governo. Podem-se destacar os ministros da Fazenda e da Indústria e Comércio, Octávio de

Gouveia Bulhões e Paulo Egydio Martins, respectivamente. Roberto Campos, alocado na

pasta do Planejamento, e que era figura central na Companhia Sul-Americana de

Administração e Estudos Técnicos (CONSULTEC), entidade responsável pela elaboração do

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG). Ou, ainda, a criação do Conselho Consultivo

de Planejamento (CONSPLAN), em 1965, importante ambiente de estabelecimento de

diretrizes políticas, sendo grande parte de seus membros oriundos do IPES (DREFUSS, 1981:

419-455).

A partir dos anos 2000, a temática sobre empresariado e ditadura foi abordada com

maior intensidade nos estudos do campo da história, sendo muitas de suas produções

amparadas, direta ou indiretamente, no arcabouço teórico de Antonio Gramsci e na obra de

René Dreifuss. Podem-se destacar as pesquisas de Pedro Henrique Pedreira Campos (2014;

2018), que abordam as múltiplas relações e fortalecimento das empreiteiras com o regime. O

trabalho mais recente de Ary Minella (2018), que realça a participação dos banqueiros, dando

enfoque à concentração/centralização do setor, seu suporte à tortura, bem como a dinâmica de

suas entidades de representação de classe. O artigo de Rafael Moraes (2016), acerca da

importância da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) no delineamento e

sustentação das políticas econômicas de Castelo Branco. A pesquisa de Ana Carolina

Reginatto, que trata da atuação dos grandes grupos de mineração no período. A tese de

doutorado de Álvaro Bianchi (2004), que enfoca a atuação da FIESP e do CIESP no contexto

de crise da ditadura e participação dessas entidades na conformação do projeto neoliberal

brasileiro. Bem como a pesquisa de Sonia Regina de Mendonça (2006) sobre a mobilização

da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB) na

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conflagração do golpe de 1964 e na retirada do conteúdo reformista do Estatuto da Terra nos

anos iniciais da ditadura.

Embora os estudos sobre empresariado e Estado no período autoritário tenham se

expandido a partir do século XXI, nota-se certa escassez de pesquisas que tratem de maneira

mais detalhada a atuação da classe dominante em torno da configuração da Petrobrás à época

e, mais especificamente, em sua atuação no exterior. Esse déficit está longe de ser

responsabilidade dos autores então mencionados, mas sim da complexidade e amplitude do

tema.

Em relação aos estudos concernentes à atuação externa da Petrobrás, pode-se

mencionar a pesquisa de Armando Dalla Costa e Huascár Pesalli (2009), de cunho mais

descritivo. O estudo de João Viégas (2009), que analisa o vínculo entre a empreiteira Mendes

Jr. e a Braspetro, mas marginaliza a dinâmica interna das políticas estatais que estiveram

embrenhadas aos interesses da indústria de construção pesada. Flávia Silva (2014) já efetua

um enfoque bastante pertinente ao analisar a internacionalização da estatal nos anos de 1970,

realçando o caráter subordinado em que o Brasil adentrou na esfera internacional de produção

e exploração de petróleo. Na recente dissertação de mestrado desta autora, ela aprofunda essa

análise e evidencia o acirramento da dependência externa brasileira a partir dos contratos de

risco instituídos entre a Petrobras e empresas multinacionais durante a ditadura (SILVA,

2018).

No intuito de suprir tal lacuna, o objetivo principal do projeto desta pesquisa é

perscrutar a interação entre frações do empresariado e o processo de internacionalização da

Petrobrás durante a ditadura empresarial-militar brasileira. Focando, com mais afinco, nas

diretrizes e atuação da Braspetro e Interbrás, o estudo busca conceder aportes a fim de

corroborar a hipótese de que a atuação da estatal no exterior esteve atrelada aos ditames e

interesses de parcelas da classe dominante atuantes no Brasil durante o regime, o que

contribuiu para a ampliação econômica desses segmentos.

Petrobras na ditadura

Com o advento da ditadura, o governo Castelo Branco, baseado no decreto-lei nº 200

de 1967, visou instituir uma descentralização administrativa das estatais. A partir disso, foi

firmado um regime jurídico próprio às empresas públicas, na tentativa de conferir um suposto

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contorno de tecnicidade ao seu funcionamento. Essa medida se deu, fundamentalmente, em

resposta à conformação política e social do governo João Goulart, na qual os trabalhadores

das estatais, em especial a Petrobras, tinham considerável ascendência nas decisões da

empresa através dos dirigentes da mesma (CONTRERAS, 1994:92-97; CARVALHO, 1977:

127-156).

O referido decreto-lei de 1967 implicou na liberalização de um número crescente de

divisas para investimento em equipamentos pela Petrobras, o que beneficiou as atividades de

maior lucratividade no momento, a saber, refino e petroquímica. Nesse sentido, a estatal

encetou um processo de centralização econômica, de modo a concentrar sua atuação no ramo

petroquímico, em 1967, a partir da criação da Petrobras Química SA (Petroquisa), sua

primeira subsidiária. Em seguida, em 1971, foi constituída a BR distribuidora. Essa

reorientação nas diretrizes da estatal, concomitante à ascensão de Ernesto Geisel à presidência

da empresa em 1969, implicou na retirada das atividades de exploração/produção interna do

patamar de prioridade da Petrobras. Essa mudança de ênfase estabeleceu uma diminuição

média em torno de 50% dos investimentos totais da Petrobras nesse ramo entre 1965 e 1969,

para uma média de 32% durante a gestão Geisel (1974-1979) (CONTRERAS, 1994:95).

Se em âmbito doméstico houve incremento nos segmentos de refino, transporte e

distribuição, as instabilidades nos preços internacionais do petróleo no início dos anos de

1970, conjugadas à dependência de importação do insumo cru, resgatou a importância dos

investimentos estatais em exploração, algo que foi estabelecido na seara internacional. Em

1972, então, a Petrobras criou sua terceira subsidiária, a Braspetro, instituída a fim de explorar

e produzir petróleo no exterior (DIAS; QUAGLINO:173-190).

É pertinente destacar a criação da Interbrás nesse contexto, trading company

concebida em 1976, atrelada à Braspetro, instituída a fim de fomentar as exportações de

produtos fabricados no Brasil nos acordos de compra e venda de petróleo com outros países.

Em um cenário de escassez de divisas, tal entidade teve papel fundamental, tanto no que tange

ao suprimento energético brasileiro - visto que parte do preço das importações de petróleo era

saneada com produtos brasileiros -, quanto para a alavancagem de certas parcelas

empresariais, que foram contempladas a partir dessas transações.

Entre 1964 e 1985, a Petrobras atuou em países como Madagascar, Colômbia, Egito,

Irã, Angola, dentre outros. Um dos casos mais emblemáticos que realçam o nexo entre a

estatal, empresários e a política externa brasileira foi sua atuação no Iraque, a partir de

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meados dos anos de 1970. Após os primeiros anos da política externa da ditadura, assinalada

pelo apoio incondicional4 aos Estados Unidos, a orientação diplomática de Ernesto Geisel5

intensificou o caráter da “Diplomacia do Interesse Nacional” do governo Médici de travar

acordos bilaterais. Estes, por sua vez, foram marcadamente direcionados de modo a

aprofundar relações com países do terceiro mundo, sobretudo os do Oriente Médio.

A necessidade petrolífera do Brasil, junto ao intento de Saddam Hussein de

modernizar seu país, implicou na inserção da Mendes Jr. e das empresas do ramo

automobilístico no país. Em 1978, por intermédio da Interbrás, de ministros e agentes da

diplomacia brasileira, a construtora se classificou para construir a ferrovia que liga Bagdá à

cidade de Akashat, contrato que lhe rendeu US$ 1,2 bilhão (ATTUCH, 2003:31-34). A

Volkswagen, por sua vez, travou o maior contrato internacional do ramo automotivo até então,

vendendo 170 mil Passats para o país entre 1983 e 1988, negócio que lhe rendeu US$ 1,7

bilhão (ATTUCH, 2003:71-81).

A pesquisa jornalística de Leonardo Attuch (2003) é bastante representativa no sentido

de elencar a parceria entre o Brasil e o Iraque durante a ditadura, evidenciando os negócios

bilionários em torno da cooperação energética, processo que envolveu empresas brasileiras

públicas e privadas. Seu trabalho foi amparado, principalmente, por entrevistas com atores-

chave que atuaram no processo, como o ex-ministro Delfim Netto, o empresário Murillo

Mendes da empreiteira Mendes Jr., o presidente da Volkswagen nas décadas de 1970 e 1980

Wolfgang Sauer, dentre outros. Entretanto, devido a proposta e diversidade de enfoques no

tocante a relação bilateral, o autor não estabeleceu uma sistematização documental que

evidencia os detalhes das negociações e interações entre empresários e agentes do Estado.

Esta pesquisa, ainda em estágio incipiente, buscará estabelecer estes esforços, não apenas no

que concerne à parceria entre Brasil e Iraque, mas em relação aos demais países que

receberam a atuação da Petrobras durante o período ditatorial.

A investigação da atuação externa da Petrobras e dos interesses privados que

circundaram esse processo, no entanto, não prescinde da análise da dinâmica interna das

4 Sobre o apoio dos Estados Unidos ao golpe de 1964, as relações orgânicas entre agentes do executivo norte-

americano e o governo Castelo Branco, bem como as feições subservientes da política externa brasileira aos

interesses estadunidenses, ver: FICO, 2008:127-183. 5 Em linhas gerais, a diplomacia do “Pragmatismo Ecumênico e Responsável” de Geisel, buscou firmar relações

a fim de suprir a deficiência material brasileira. A política externa desse período foi demarcada por uma maior

aproximação brasileira com os países árabes - lastreadas principalmente pelos acordos energéticos -, pela

reaproximação do país com os países socialistas em termos de incremento comercial e consequente afastamento

em relação aos Estados Unidos. Sobre essa temática, ver: VIZZENTINI, 2003:39-61.

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frações empresariais que compassaram sua dinâmica de acumulação aos negócios da estatal.

Em consonância com a abordagem de Rodrigo Passos (2017), a perspectiva aqui adotada

sobre as relações internacionais não estabelece uma relação estanque entre a seara mundial e

doméstica. De forma distinta, as relações internas entre as classes sociais, que entravam suas

lutas de forma a transpassar a ossatura material do Estado6, é um fator elementar para

compreender a performance dos atores atuantes para além das fronteiras nacionais. A última

parte deste trabalho irá delinear algumas diretrizes que podem compor a agenda que dará

continuidade à pesquisa aqui apresentada, elencando alguns traços que podem ser percrutados

em relação à interface entre Petrobras e classes dominantes na ditadura.

Considerações finais: breves notas sobre a agenda de pesquisa entre Petrobras e classes

dominantes

O texto apresentado neste Encontro da Anpuh-RJ buscou apresentar, de forma

sucinta, pesquisa de doutorado ainda incipiente acerca da relação entre classes dominantes e a

Petrobras na ditadura, com enfoque em sua internacionalização. Como ainda não foi possível

se debruçar de forma mais detida na análise das fontes primárias, optei por compartilhar,

nestas considerações finais, algumas notas e impressões acerca da agenda a ser perscrutada

nas próximas etapas do estudo.

Dada a ampla dimensão e escopo de atuação da Petrobras, suas atividades

movimentam de forma elementar uma miríade de setores econômicos e, por sua vez, uma

gama expressiva de interesses de distintas frações do empresariado. Tendo em vista o

entendimento de Estado ampliado, de Antonio Gramsci (2000), pode-se pressupor que esses

diversos segmentos entram em fricção com outras frações de classe, se mobilizam e se

articulam para universalizar seus valores na sociedade, assim como para obter seus intentos

materiais particulares assegurados pelas políticas do Estado. Portanto, a reprodutibilidade dos

capitais não se ampara em critérios estritamente econômicos, uma vez que a política é um

locus elementar para o seu desenvolvimento.

6 O termo é de Nicos Poulantzas (1980), que confere centralidade ao caráter relacional do Estado, o concedendo

como uma condensação produzida formalmente a partir do equilíbrio de forças na disputa política (p. 47-48). A

ossatura material seria, em linhas gerais, as instituições formais do Estado.

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Seria tarefa hercúlea especificar os diversos ramos da economia que engendraram

sua acumulação, de forma direta ou indireta, junto às atividades da Petrobras na ditadura.

Ainda mais árdua se torna a tarefa quando temos em vista a mobilização e organização

política dos diferentes segmentos empresariais durante o regime, com o adendo igualmente

importante da vinculação entre diversos nichos produtivos instaurados pelas políticas do

Estado.

Apenas para elencar alguns desses setores, podemos destacar todo o complexo

petroquímico, que foi alavancado pela Petrobras, sobretudo após a criação da Petroquisa em

dezembro de 1967 (POÇAS, 2013). Carmen Alveal (1994:97-105) ressalta de forma bastante

oportuna casos em que a estatal salvou empresas privadas desse ramo e, inclusive, passou a

ser acionista de um número expressivo delas, cotas estas que seriam privatizadas na década de

1990.

Outro setor privado que, historicamente, se beneficia dos negócios da Petrobras é a

indústria de bens de capitais. Já nos seus primeiros anos, na década de 1950, a estatal foi

proibida de atuar nesse setor, tendo, inclusive, patrocinado, em 1955, a criação da Associação

Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias de Base (ABDIB). Em toda ampliação

horizontal ou vertical da Petrobras na ditadura as empresas de máquinas e equipamentos

locais se beneficiava, sobretudo após a implementação de políticas mais direcionadas ao

conteúdo local.

Podemos elencar diversos outros segmentos, como a indústria da construção pesada e

o setor automobilística, que, como posto anteriormente, estiveram atrelados à

internacionalização da estatal; todo o complexo sucroalcooleiro, cujo Proálcool, criado em

1975 por forte influência do capital monopolista da família Ometto (MOREIRA, 2013: 35-

86), movimentou a capacidade ociosa do segmento e também incrementou o setor

automotivo; as petrolíferas dos países centrais, que foram beneficiadas, dentre outras medidas,

com a internalização dos contratos de risco na prospecção de petróleo efetuada no governo

Geisel (SILVA, 2018); dentre outros.

A persecução da abordagem exposta na parte final da seção anterior, que recusa o

apartamento estanque entre as relações sociais em nível doméstico e aquelas atinentes à seara

internacional, ao mesmo tempo em que incrementa a análise, complexifica sua elaboração.

Esse ponto consiste em um primeiro desafio metodológico mais geral.

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O segundo deles está relacionado ao conceito de Estado ampliado como ferramental

metodológico. Por se tratar de uma entidade do Estado restrito, a busca e o tratamento das

fontes da pesquisa tendem a implicar na inversão da lógica do método proposto por Sonia

Regina de Mendonça (2014). Ou seja, ao invés de conferir precedência analítica aos

Aparelhos Privados de Hegemonia (APH’s) para, posteriormente, analisar o recorte de classe

de determinado conjunto de políticas, a abordagem se inclina a inverter o caminho

metodológico a ser percorrido. Desse modo, pelo menos em um primeiro momento, a

pesquisa enveredará por duas frentes.

Tendo essas duas prerrogativas em mente, é pertinente relembrar que tanto as escala

nacional e internacional, quanto a sociedade política e a sociedade civil são embrenhadas de

forma orgânica, complexa e contraditória, sendo sua separação efetuada apenas em termos

metódicos.

A primeira das frentes consiste em encetar a avaliação da atuação das empresas aqui

já identificadas e que estiveram embrenhadas na saga internacional da Petrobras já nos anos

de 1970. O episódio da parceria entre Brasil e Iraque nesta década, por exemplo, pôs em cena

empresas muito bem consolidadas no país naquele momento, como a empreiteira Mendes Jr. e

aquelas atuantes no setor automobilístico, com destaque para a Volkswagen. Desse modo, a

documentação sobre a Braspetro do Serviço Nacional de Informação, presente no SIAN do

Arquivo Nacional, parece ser um bom passo inicial para analisar de forma mais detalhada a

articulação dessas frações de caso frente à Petrobras.

A segunda frente consiste nos interesses norte-americanos no setor petrolífero

brasileiro. A muito bem qualificada dissertação de mestrado de Flávia Silva (2008), por

exemplo, realça de forma detalhada uma fase importante para o desenvolvimento petrolífero

brasileiro, qual seja, a prospecção de petróleo em alto-mar (offshore). A autora percebeu que

as primeiras experiências desse tipo ocorrida de forma mais bem sistematizada no Brasil se

deu via contratos de risco. A partir dessa forma contratual, implementada a partir do governo

de Ernesto Geisel, foi estabelecida, de forma deliberada, a atração dos grandes capitais

estrangeiros nessa empreitada, o que realçou o caráter subserviente do Brasil na área de

exploração, ainda que as atividades estrangeiras não tenham vingado. A autora corroborou

suas hipóteses utilizando, dentre outros documento, alguns dos próprios contratos de risco

estabelecidos vis Lei de Acesso à Informação. Uma diretriz que parece oportuna perseguir

para averiguar tanto a perspectiva dos EUA frente aos contratos de risco, quanto em relação a

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outras temáticas energéticas brasileiras, parece ser os documentos da embaixada

estadunidense sobre o período disponibilizado pela Wikileaks.

A Embaixada norte-americana criou uma etiqueta para identificar os telegramas

atrelados ao Ministro de Minas e Energia do governo Geisel, Shigeaki Ueki7. São 52

telegramas, sendo que parte expressiva deles versa sobre questões atinentes ao setor

petrolífero e, principalmente, à energia nuclear brasileira. A Interbrás e a Braspetro também

contam com etiquetas na embaixada, com relatórios que versam, dentre outras coisas, sobre a

atuação da subsidiária no Oriente Médio, como aquele que relata a missão econômica

iraquiana ao Brasil que se encontrou com representantes da Braspetro8.

Desse modo, pretende-se traçar os primeiros passos, em termos de análise

documental, do estudo sobre a relação da teia de interesses em torno da internacionalização da

Petrobras. Visa-se conferir aportes para aferir a hipótese de que esse processo foi ditado e

favoreceu, em grande medida, segmentos da classe dominante atuante no Brasil à época,

contribuindo para a concentração desses capitais específicos em um contexto de acirramento

das desigualdades sociais e perda de direitos políticos no país.

Referências Bibliográficas

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