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Educao

Estado da

A Qualificao dos Portugueses

2011

Educao

Estado da

A Qualificao dos Portugueses

2011

Ttulo: Estado da Educao 2011. A Qualificao dos Portugueses Autor/Editor: Conselho Nacional de Educao Direco: Ana Maria Bettencourt (Presidente do Conselho Nacional de Educao) com o apoio dos Conselheiros membros da Comisso Coordenadora, Brtolo Paiva Campos, Joaquim Azevedo, Maria Emlia Brederode Santos, Maria Helena Nazar, Rosalia Vargas Coordenao: Manuel Miguns (Secretrio-Geral do Conselho Nacional de Educao) Organizao dos dados, produo do texto e apoio edio: Ana Canelas, Carmo Gregrio, Conceio Reis, Erclia Faria,Filomena Matos, Filomena Ramos, Manuel Gomes, Teresa Gaspar (Assessoria Tcnica do CNE) Esta publicao contou com a colaborao de: Ana Carita e Ins Peceguina (Parte II, captulo 1); Pedro Abrantes (Parte II, captulo 2); Joaquim Azevedo (orientao dos Estudos de Caso); Ana Nascimento, Angelina Carvalho, Manuela Rama, Maria Jos Arajo, Tiago Caeiro (Estudos de Caso) Agradecimentos: O Conselho Nacional de Educao agradece a todos quantos colaboraram na preparao do presente relatrio, a ttulo individual ou institucional, designadamente a Afonso Costa, Ana Cludia Valente, Carmo Gomes, Carmo Proena, Edmundo Gomes, Joo Duarte Silva, Joaquim Santos, Jos Alberto Leito, Lus Santos, Lusa Cerdeira, Pedro Abrantes, Pedro Lourtie, Teresa Fonseca e aos seguintes servios: Agncia de Acreditao do Ensino Superior; Agncia Nacional para a Qualificao; Comisso Nacional de Proteco das Crianas e Jovens em Risco; Direco Geral de Recursos Humanos da Educao; Direco Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular; Direco Geral de Ensino Superior; Direco Regional da Educao e Formao da Regio Autnoma dos Aores; Gabinete de Avaliao Educacional; Gabinete de Bibliotecas Escolares; Gabinete de Estatstica e Planeamento da Educao; Gabinete de Gesto Financeira do ME; Instituto do Emprego e Formao Profissional; Instituto Nacional de Estatstica; Instituto de Segurana Social; Jri Nacional de Exames; Secretaria Regional de Educao e Cultura da Regio Autnoma da Madeira; Secretaria Regional do Trabalho, Qualificao Profissional e Defesa do Consumidor da Regio Autnoma dos Aores; Servio de Estrangeiros e Fronteiras. Design grfico: Mack2 Impresso: Editorial do Ministrio da Educao e Cincia Tiragem: 1500 exemplares ISBN: 978-972-8360-68-9 ISSN: 1647-8541 Depsito Legal: 337 048/11

ndice

Introduo I. QUALIFICAO DOS PORTUGUESES: DADOS DE REFERNCIA 1. Caracterizao da Populao Portuguesa1.1. Composio etria 1.2. Imigrao 1.3. Qualificao da Populao PortuguesaEvoluo da qualificao de nvel secundrio: comparao internacional Evoluo da qualificao de nvel superior: comparao internacional

06

1314 14 16 20

1.4. Relao entre Qualificao e Emprego Destaques

26 28 30 30

2. Educao de Infncia2.1. Oferta e AcessoCuidados para a infncia (0 - 3 anos) Educao Pr-escolar (3 - 6 anos)

2.2. ApoiosInterveno Precoce na Infncia Comisses de Proteco de Crianas e Jovens

36

2.3. Educadores de Infncia 2.4. Recursos financeirosEducao de Infncia (0 - 3 anos) Educao Pr-Escolar (3 - 6 anos)

38 40 44 46

2.5. Processo educativoRelao adulto/crianas e tamanho dos grupos Orientaes curriculares

2.6. ResultadosTaxa de cobertura das respostas sociais para a primeira infncia (0 - 3 anos) Taxa de pr-escolarizao (3 - 6 anos) Taxa de pr-escolarizao: comparao internacional

Destaques

51

3. Ensinos Bsico e Secundrio3.1. OfertaOferta de nvel bsico - nveis de qualificao 1 e 2 Oferta de nvel secundrio - nveis de qualificao 3 e 4 Inscritos em modalidades de educao bsica - nveis de qualificao 1 e 2 Inscritos em modalidades de nvel secundrio - nveis de qualificao 3 e 4 Acesso a imigrantes Evoluo de inscritos e sua relao com a Iniciativa Novas Oportunidades

52 52 58

3.2. Acesso

3.3. ApoiosEducao Especial Escola a Tempo Inteiro AEC Territrios Educativos de Interveno Prioritria TEIP Programa Mais Sucesso Escolar Aco Social Escolar ASE Comisses de Proteco a Crianas e Jovens CPCJ

68

3.4. Professores 3.5. Recursos materiais e financeirosRecursos materiais Bibliotecas Modernizao tecnolgica Recursos financeiros Custo aluno/ano comparao em pases da UE27 Oramento do Ministrio da Educao por tipo de despesa Investimentos do Plano do Ministrio da Educao Componentes do Oramento do ME por aces Ensinos bsico e secundrio pblico Ensino Particular e Cooperativo Formao Profissional de Jovens e Educao de Adultos Educao Especial, Aco Social Escolar e Complementos Educativos Actividades de Enriquecimento Curricular

84 88

3.6. ResultadosFrequncia e abandono Taxa real de escolarizao e desvio etrio Desvio etrio por ciclo e sexo Desvio etrio por regio Sada escolar precoce: perspectiva internacional Concluso e certificao Taxas de concluso na modalidade de ensino regular Taxas de concluso nas modalidades de ensino profissional e CEF Populao dos 20 aos 40 anos com ensino secundrio: perspectiva internacional Resultados de aprendizagem em Portugus e Matemtica Provas nacionais 1 ciclo Provas nacionais 2 ciclo Exames nacionais 3 ciclo Provas nacionais ensino secundrio PISA Programme for International Student Assessment

100

Destaques

132 134 138

4. Reconhecimento e Certificao de Saberes Adquiridos ao Longo da Vida4.1. Caracterizao da actividadeInscritos Diagnstico e encaminhamento para formao Reconhecimento, validao e certificao de competncias Formao complementar e certificaes Rede de Centros Recursos humanos Recursos financeiros

4.2. Recursos investidos

148

4.3. Avaliao externa Destaques

154 155

5. Ensino Superior5.1. Ensino ps-secundrio: Cursos de Especializao Tecnolgica CETCET em instituies de formao de nvel secundrio CET em instituies de ensino superior Rede escolar Oferta educativa Processo de acreditao de cursos Formao de consrcios Relao entre a oferta e a procura de formao Instituies, cursos e estudantes inscritos Inscritos pela primeira vez Evoluo de inscritos Mobilidade de estudantes europeus Diplomados Previso do aumento de diplomados Contrato de Confiana Emprego de diplomados

156 158 164

5.2. Rede escolar e oferta educativa

5.3. Estudantes e diplomados

172

5.4. Docentes 5.5. Apoios sociais aos estudantes e financiamentoBolsas de estudo e emprstimos a estudantes Financiamento da Aco Social Escolar directa Financiamento do Ensino Superior pblico

192 196

Destaques

200 202 204 206 208 210

6. Formao Contnua6.1. Envolvimento das empresas na qualificao profissional dos seus trabalhadores 6.2. Acesso e durao da formao profissional promovida pelas empresas 6.3. Desenvolvimento de qualificaes para activos no mbito do POPH Destaques

II. ORIENTAO E FORMAO: RELATOS DE CASOS 1. Orientao Escolar e Profissional. Estudo de caso numa escola com percursos diversificados de formao 2. A Formao Profissional em Portugal: seis casos de inovao e sucesso III. RECOMENDAES DO CNE Referncias Bibliogrficas Glossrio Siglas

213214 248

269276 280 286

Introduo

A educao constitui uma aposta decisiva, mas difcil, para o futuro de Portugal, sendo essencial que toda a sociedade esteja empenhada na melhoria da qualidade e das condies de equidade que so oferecidas para elevar as qualificaes dos portugueses e seja possvel construir os consensos necessrios sustentabilidade das reformas a realizar. Pelo segundo ano consecutivo, o Conselho Nacional de Educao publica o relatrio sobre o Estado da Educao, aprovado no seu plenrio de 13 de Setembro de 2011, que se dirige a todos os portugueses, em particular, aos protagonistas da educao e aos parceiros educativos. Enquanto rgo independente e de concertao educativa, onde se encontram representadas diferentes sensibilidades, cabe ao Conselho Nacional de Educao apreciar o desenvolvimento e aplicao das polticas de educao e formao, produzindo pareceres e recomendaes suscitados nesse processo, por iniciativa prpria ou por solicitao do Governo e da Assembleia da Repblica. no cumprimento desta misso que o CNE tem acompanhado a evoluo do sistema educativo, propondo solues para os problemas identificados,

com o contributo essencial dos seus conselheiros e, sempre que possvel, sustentadas em estudos, audies e debates nas comisses especializadas e no plenrio, assim como no contacto directo com as situaes no terreno, designadamente atravs de visitas a escolas e autarquias. A publicao de relatrios sobre o estado da educao insere-se neste contexto e visa clarificar o funcionamento dos sistemas de educao e formao, sistematizando informao muitas vezes dispersa e de difcil acesso, mas essencial para que se possa compreender a situao nacional. Sabemos que a educao e formao so sectores decisivos na evoluo dos pases e factores importantes de coeso social, consideradas como fonte de renovao das pessoas e das comunidades. Da que face aos desafios colocados pela globalizao da economia, pela emergncia da sociedade da informao e pelo desenvolvimento acelerado do conhecimento cientfico e tecnolgico, a educao de todos e ao longo de toda a vida impe-se a cada indivduo como necessria ao seu aperfeioamento pessoal e profissional, sua adaptao ao mercado de trabalho e, em ltima anlise, sobrevivncia com qualidade num mundo em constante mudana, dominado pela incerteza quanto ao futuro.

6

Introduo

Nesta perspectiva, a problemtica da educao de todos e ao longo de toda a vida no deve ser equacionada unicamente como um desafio escolar, muito embora a existncia de processos de excluso, as desigualdades e injustias frequentemente reproduzidos nos percursos escolares, constituam uma preocupao central do CNE, pois so em si mesmos um obstculo ao desenvolvimento das pessoas e do pas. Trata-se de um importante repto que colocado a toda a sociedade portuguesa: escolas, empresas, associaes culturais, associaes empresariais e sindicais, sociedade civil e Estado. neste contexto que, depois de a primeira edio do relatrio sobre o Estado da Educao 2010 se ter centrado nos percursos educativos, o CNE decidiu dedicar o relatrio de 2011 Qualificao dos Portugueses, prosseguindo o seu propsito de destacar em cada Estado da Educao uma temtica especfica. Procurmos conhecer e questionar as ofertas de educao e formao existentes, na certeza de que ser atravs das oportunidades de realizao pessoal e social de cada indivduo que melhor se poder responder s necessidades de crescimento e desenvolvimento da sociedade.

O que se entende por Qualificao dos PortuguesesA qualificao dos portugueses abrange aqui a formao escolar e profissional, adquiridas nos diferentes nveis de ensino e em diferentes contextos, quer de formao inicial, quer de formao contnua, quer ainda de reconhecimento de saberes adquiridos ao longo da vida em ambientes formais, no formais ou informais. O Estado da Educao 2010, com uma focalizao privilegiada na vertente da educao, ressaltou de imediato a ligao indissocivel dos subsistemas de educao e de formao, nomeadamente pelos recursos que partilham nas escolas pblicas, seno mesmo pelas caractersticas de dupla certificao a que conduzem algumas das modalidades oferecidas. Por outro lado, o desenvolvimento recente dos ensinos secundrio e superior e, em parte, do ensino bsico tm sido marcados por preocupaes de formao qualificante e de abertura a novos pblicos. Da a escolha do tema deste ano, atravs do qual se procura retratar uma componente decisiva da educao.

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses

7

Com a abordagem da qualificao dos portugueses pretende-se contribuir para o conhecimento e sistematizao da multiplicidade de iniciativas de educao escolar e profissional, da sua evoluo, resultados e problemas, sobretudo no decurso da ltima dcada. Pretende-se, ainda, divulgar os efeitos dos esforos de qualificao da populao portuguesa, recorrendo a dados de comparao internacional, importante fonte de enriquecimento da anlise. De referir, ainda, que as estatsticas sobre a escolarizao dos portugueses comeam a revelar efeitos positivos do esforo realizado. Se certo que a primeira gerao abrangida pelo alargamento da escolaridade de nove anos se concentra hoje no grupo etrio dos 25 aos 34 anos e que nessas idades que o nvel de escolarizao mais progrediu, tambm certo que persistem as baixas qualificaes dos adultos activos. Considerados globalmente, os portugueses possuem qualificaes muito baixas, mas se considerarmos as diferentes vias de formao de nvel secundrio o ritmo de concluso tem sido superior ao verificado noutros pases europeus. O EE 2011 adopta uma perspectiva de aprendizagem ao longo da vida e, bem assim, uma viso mais ampla e articulada das qualificaes obtidas no mbito dos subsistemas de educao e formao, no deixando de atribuir a devida relevncia ao processo de reconhecimento, validao e certificao de competncias e ao edifcio organizacional que lhe d corpo.

acesso, da garantia de equidade e da qualidade da educao dos portugueses. Recorde-se que a UNESCO considerou a Educao para Todos (EPT) - Declarao de Jomtien (1990) como sendo o cerne do progresso de todos os povos. Diversas organizaes internacionais e Estados consideraram a EPT como a principal prioridade poltica, tendo sido, igualmente, uma preocupao manifestada de forma recorrente pelos sucessivos governos, em Portugal. Neste domnio, o EE 2011 regista progressos importantes. Os jovens portugueses esto hoje muito mais qualificados do que estavam no incio da dcada de 2000. O acesso educao alargou-se de modo significativo em todos os nveis de ensino, inclusive na educao de infncia onde temos j nveis muito satisfatrios de frequncia. Os professores, que constituem o elemento decisivo numa educao para todos, tambm tm investido na melhoria das suas qualificaes. Houve uma diminuio aprecivel dos nveis de abandono da escola bsica e secundria, verificando-se que, no quadro da UE, Portugal foi o pas que mais progrediu no que concerne percentagem da populao de 20-24 anos que tem pelo menos o ensino secundrio. Os resultados obtidos no teste PISA apontam para uma melhor qualidade das aprendizagens e maior equidade nas condies em que decorre o processo educativo. Estes so progressos que importa consolidar, mas que no dispensam uma anlise aos obstculos que ainda se encontram nos percursos escolares. Uma boa escola tem de aliar a equidade e qualidade dos percursos escolares dos seus alunos com uma cultura de avaliao e de prestao de contas comunidade em que se insere. O estudo do desfasamento etrio existente nos ensinos bsico e secundrio revela que o insucesso marca, desde muito cedo, a histria escolar de um nmero significativo de alunos. Persiste a dificuldade em intervir aos primeiros sinais de dificuldade, evitando que os alunos acumulem problemas. O CNE tem recomendado, como alternativa repetio, o investimento em estratgias de preveno das dificuldades e a intensificao do trabalho na

O que nos diz o relatrio sobre a qualificao dos portuguesesA apreciao do desenvolvimento educativo no EE 2011 centra-se em quatro eixos dos quais se salientam, de seguida, alguns aspectos mais significativos dos progressos alcanados ou problemas identificados.

1. A Educao para Todos e o desafio do prolongamento da escolaridade obrigatriaNa anlise da poltica educativa, uma das prioridades do CNE o acompanhamento da evoluo do

8

Introduo

escola, como medidas essenciais melhoria das aprendizagens. Veja-se, por exemplo, que a percentagem de alunos com idade ideal tende a diminuir medida que se avana na escolaridade, o que indicia percursos marcados por mltiplas repetncias. Este fenmeno penaliza mais as populaes de alguns distritos e poder obstar ao cumprimento do ensino secundrio dentro da idade da escolaridade obrigatria (18 anos). Neste relatrio, identificam-se alguns recursos e estratgias importantes para se prosseguir na melhoria do sistema, de que ressaltam a renovao das instalaes e equipamentos, a expanso das bibliotecas escolares, os apoios diversificados a alunos e uma melhor insero das instituies educativas nos territrios em que se localizam. Os municpios assumem um papel insubstituvel na construo e concertao da educao para todos. Em matria de acesso e sucesso educativo, as autarquias vm-se afirmando, quer no que se prende com a construo de centros escolares modernos, quer no desenvolvimento de projectos educativos da comunidade e no apoio directo s escolas. Esta evoluo pde ser presenciada em visitas do CNE a diferentes municpios do pas. Trata-se de uma dimenso essencial da educao que tem merecido ao longo dos anos a nossa ateno e que, muito embora no seja desenvolvida neste EE, ser aprofundada em iniciativas futuras.

Verificou-se uma evoluo considervel ao nvel das qualificaes. Apesar da complexidade das situaes educativas, sobretudo em modalidades de educao e formao onde existiam grandes taxas de abandono, constata-se a expanso e diversificao da formao inicial de jovens, cuja frequncia registou um aumento significativo. A complexidade das vias e ofertas de formao existentes e o desconhecimento sobre o modo como feita a escolha das mesmas, levou-nos a analisar algumas prticas de orientao escolar e profissional e a propor neste EE recomendaes para a sua melhoria.

3. A educao de adultosOs dados do relatrio revelam, simultaneamente, um dfice de qualificao da populao activa, mas tambm uma evoluo recente muito positiva da formao de adultos. As polticas dedicadas ao sector da educao de adultos e da melhoria da sua empregabilidade, se bem que tendo ensaiado estratgias pertinentes, foram errantes e sem o impacto necessrio, atendendo s baixssimas qualificaes dos portugueses. Na ltima dcada, Portugal apostou na criao de um sistema nacional para a qualificao dos adultos, designadamente atravs dos processos de Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias (RVCC). A adeso da populao tem sido muito significativa e os progressos alcanados so expressivos o nmero de pessoas, no grupo etrio dos 25-64 anos, que concluiu o 3 ciclo, praticamente duplicou em dez anos e o nmero daqueles que concluram pelo menos o ensino secundrio passou, na ltima dcada, de 19,4% para 31,9%. Todavia, a mdia na UE27 era, em 2010, de 72,7%, encontrandose Portugal a grande distncia de todos os outros pases. Trata-se de uma rea onde a avaliao da qualidade dos processos essencial e deve ser aprofundada, mas onde importaria persistir no esforo de qualificao das populaes adultas menos escolarizadas. Para alm do significado que

2. Educao e formao qualificantesNeste eixo, o EE aborda as medidas implementadas no sistema de educao e formao que visam prevenir os abandonos precoces da escolaridade, motivar para novas aprendizagens, melhorar os nveis de qualificao dos jovens portugueses e contribuir para incentivar o acesso de novos pblicos ao ensino superior, de que so exemplo os cursos profissionais, os cursos de educao e formao (CEF), os cursos de especializao tecnolgica (CET), os cursos de aprendizagem, a formao em empresas e outras medidas de qualificao profissional, com o apoio de sucessivos Quadros Comunitrios de Apoio.

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses

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esta aposta pode ter como mais-valia na procura de emprego, apontam-se ainda efeitos positivos na reconciliao com a educao e a cultura e na aquisio de condies para uma melhor compreenso do mundo e para um melhor apoio escolar aos seus filhos.

sistema e das dificuldades existentes. Por outro lado, o envelhecimento do corpo docente, sobretudo no subsistema universitrio, coloca dificuldades renovao do corpo acadmico das instituies.

Sobre a organizao do textoO EE2011 estrutura-se em duas componentes de natureza complementar. A primeira faz uma leitura extensiva da informao disponvel sobre oferta, acesso, apoios, recursos e resultados obtidos relativamente a cada nvel de ensino ou grau de qualificao. A segunda procura aprofundar este olhar atravs de relatos de caso que ilustram algumas dimenses da temtica do ano. O relatrio inicia-se com um esboo global sobre as caractersticas da sociedade portuguesa, que, cumprindo o objectivo de fornecer informao prvia sobre as condicionantes do desempenho do sistema, simultaneamente prepara a observao subsequente, quanto aos efeitos da sua aco no desenvolvimento da estrutura de qualificaes e relao com o emprego. Prestando tributo ao papel crucial que os cuidados para a infncia e a educao pr-escolar podem desempenhar no caminho para a equidade, dedica-se um captulo anlise do desenvolvimento deste tipo de oferta, equacionada na perspectiva de alicerce da escolaridade posterior. Os captulos seguintes analisam, de forma integrada, a oferta educativa e formativa disponvel para jovens e adultos, de acordo com os graus de ensino que compem o sistema educativo e os correspondentes nveis de qualificao constantes do Quadro Nacional de Qualificaes (QNQ): educao bsica e secundria regular e formaes profissionais ou profissionalizantes, abrangidas nos nveis 1 a 4 do QNQ; reconhecimento e certificao de saberes adquiridos ao longo da vida; ensino ps-secundrio e superior correspodentes aos nveis 5 a 8 do QNQ. Esta parte termina com um captulo dedicado formao contnua de activos. Na segunda parte, relativa aos relatos de caso, foram seleccionadas para aprofundamento as dimenses da orientao escolar e vocacional, da

4. Desenvolvimento e construo de excelncia no ensino superiorNo ensino superior aumentaram de modo significativo as oportunidades de acesso ao longo da dcada. As taxas de escolarizao dos jovens com 20 anos so, actualmente, da ordem dos 36%, valor comparvel ao da mdia europeia, o que significa que um em cada trs jovens de 20 anos frequenta o ensino superior. Ampliou-se a base social de recrutamento e aumentou, de modo significativo, o acesso de novos pblicos, quer atravs do ingresso de maiores de 23 anos, quer atravs da frequncia de cursos de especializao tecnolgica (CET). Os diplomados com ensino superior no grupo etrio dos 30-34 anos passou de 11,3%, em 2000, para 23,5%, em 2010. Contudo, s com grande esforo se atingir a meta europeia que define que, em 2020, pelo menos 40% da populao deste grupo etrio possua diploma de ensino superior. Para alm da expanso muito significativa do ensino superior, verifica-se a sua afirmao internacional. Progrediu-se na criao de excelncia, atravs do aumento significativo das formaes psgraduadas, da melhoria da qualificao acadmica dos seus docentes e de parcerias com universidades estrangeiras de grande prestgio. H ainda a assinalar a criao de consrcios entre as instituies portuguesas, visando o desenvolvimento de formaes avanadas e de programas de investigao e desenvolvimento cientfico. Persistem, contudo, preocupaes com a racionalizao da rede de instituies do ensino superior e com a qualidade das formaes oferecidas, no tendo sido possvel obter dados sobre a durao dos percursos educativos nas instituies de ensino superior, problema da maior importncia para a compreenso da eficcia do

10 Introduo

autoria de Ana Carita e Ins Peceguina, e as prticas de educao e formao, sintetizadas por Pedro Abrantes, que contemplam o ensino profissional em escolas pblicas e privadas, os CEF, os cursos de Aprendizagem, a formao em empresas e os cursos de Especializao Tecnolgica. Estes relatos de caso permitiram uma abordagem qualitativa das situaes existentes e uma aproximao aos terrenos da formao profissional. No se pretende que os casos sejam encarados como exemplares, mas sim como respostas necessidade de prevenir os abandonos precoces da escolaridade, tornar mais pertinentes as ofertas formativas e aumentar os nveis de qualificao dos portugueses. So situaes que ajudam a conhecer a nossa realidade, mas no tm a ambio de constituir uma amostra significativa. Muitas outras situaes de formao poderiam ser includas e, em nome do CNE, desde j agradeo que nos faam chegar relatos de outras situaes. No final de cada captulo, apresenta-se a posio de Portugal relativamente aos compromissos assumidos no mbito do Quadro Estratgico de Cooperao Europeia em matria de Educao e Formao (Metas UE 2020), da Organizao de Estados Ibero-americanos (Metas OEI 2021) e s metas intermdias definidas por Portugal (Metas PT 2015). semelhana do EE 2010 mantm-se, no final de cada captulo, a identificao dos avanos e dos desafios colocados relativamente s situaes a caracterizadas, que servem de base s recomendaes que encerram o relatrio. Finalmente, uma referncia recolha dos dados utilizados no EE 2011, que resulta de uma pesquisa selectiva em publicaes idneas nacionais e internacionais e junto de instituies detentoras da informao. Embora se constate uma maior abertura dessas instituies para a disponibilizao dos dados, em tempo til, ainda h processos que devem ser agilizados na perspectiva da qualidade do retrato da situao. de sublinhar as dificuldades resultantes da grande disperso das estruturas detentoras da informao relativa educao, formao e ensino superior. De notar, ainda, que

a apresentao de dados de mbito nacional foi dificultada pela organizao das modalidades formativas existentes nas regies autnomas, sobretudo na Regio Autnoma dos Aores (RAA), onde as ofertas educativas e formativas assumem diferentes designaes e a base de dados usada para a sistematizao da informao nem sempre compatvel com o sistema adoptado no Continente. O presente relatrio analisa essencialmente os dados dos ltimos anos e, sempre que possvel, em comparao com os do incio da dcada.

AgradecimentosNo final deste relatrio quero agradecer a todos quantos nele colaboraram. A todas as senhoras conselheiras e senhores conselheiros pelo contributo dado para o enriquecimento deste texto, resultante do trabalho realizado nas comisses especializadas e nos Plenrios em que foi apreciado. Comisso Coordenadora pelo permanente apoio concepo, pelas sugestes e pelo envolvimento na elaborao do texto. assessoria do CNE, pela organizao dos dados e produo do texto de base. Foi realizado um trabalho de grande exigncia e dificuldade num panorama em que o acesso a dados e a harmonizao das fontes , por vezes, muito difcil. A dedicao de todos foi inexcedvel. Cremos que este relatrio (que integra as recomendaes do CNE), aprovado no Plenrio de 13 de Setembro, poder proporcionar elementos teis para as decises sobre as polticas de educao e formao, contribuindo globalmente para uma cultura de maior iniciativa, responsabilidade e cidadania em toda a sociedade. Ana Maria BettencourtPresidente do Conselho Nacional de Educao

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 11

Qualificao dos Portugueses: dados de referncia

I

1.1. Composio etria* Os termos assinalados com asterisco encontram-se definidos no Glossrio.

1

Caracterizao da Populao Portuguesaregistando um aumento da percentagem da populao nos escales etrios mais elevados e uma diminuio nos escales mais baixos. Por sua vez, a pirmide etria da populao estrangeira residente (Figura 1.1.2.) mostra uma configurao com um peso superior dos grupos mais jovens da populao em idade de trabalho. Em 2009, a idade mdia da populao nacional era de 40,9 enquanto a da populao estrangeira era de 34 anos, o que contribui para tornar mais jovem a populao portuguesa. (EUROSTAT*, 2010).

Em 2011, a populao residente em Portugal de 10 555 853 indivduos (Censos de 2011), mais 199 736 que no censo de 2001, sendo a proporo de mulheres superior dos homens: 52,1% e 47,9%, respectivamente. O ndice de envelhecimento* aumentou significativamente na ltima dcada. O nmero de idosos para cada 100 jovens passou de 102 no ano 2000, para 120 em 2010. As pirmides etrias referentes a 2000 e 2010 (Figura 1.1.1.) confirmam o envelhecimento,

14 Caracterizao da Populao Portuguesa

Figura 1.1.1. Pirmides etrias da populao residente. Portugal (em milhares e %) (2000 e 2010) 20001,38% 0,46% 0,73% 1,00% 1,21% 1,98% 85 e + anos 80 a 84 anos 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 19 a 24 anos 13 a 18 anos 6 a 12 anos 0 a 5 anos

4,59%

2,99% 3,22% 3,45% 3,66% 3,66% 3,95% 3,84% 3,82% 400

2,36% 2,47% 2,60%

1,90%

2,49% 2,84% 2,85% 2,92% 3,22% 3,41% 3,58% 3,79% 3,69% 3,92% 3,67% 3,66% 400

4,48%

3,19% 300 200 100 0 100 200 300

3,04%

500

500

20101,65% 2,01% 2,27% 0,63% 1,02% 1,29% 1,70% 2,32% 2,54% 2,73% 3,05% 3,27% 3,48% 3,74% 3,70% 3,94% 3,82% 3,31% 3,33% 3,02% 3,54% 2,84% 300 400 500 85 e + anos 80 a 84 anos 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 19 a 24 anos 13 a 18 anos 6 a 12 anos 0 a 5 anos

2,70% 3,00% 3,30% 3,59% 3,65% 3,96% 3,88% 3,41% 3,46% 3,14% 3,73% 2,99% 500 400

300

200

100

0

100

200

Homens

Mulheres Fonte: Estimativas Anuais da Populao Residente. DES/Servio de Estatsticas Demogrficas - INE, Junho de 2011

Nota: escales entre os 0 e os 24 anos foram divididos de acordo com as idades correspondentes aos nveis de escolaridade.

Figura 1.1.2. Pirmide etria da populao imigrante residente. Portugal (em milhares e %) (2009)0,09% 0,14% 0,29% 0,51% 0,79% 1,08% 0,15% 0,19% 0,31% 0,50% 0,72% 1,04% 1,66% 85 e + anos 80 a 84 anos 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 69 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos 40

6,84% 7,42%

5,99% 5,61%

4,76%

3,40%

1,89%

2,72%

3,94%

5,05%

6,12% 6,34%

7,14%

4,12%

3,13% 2,41% 1,76% 1,41% 10 0

2,89% 2,32% 1,63% 1,28% 10 20

4,37%

40

30

20

30

Homens

Mulheres

Fonte: SEFSTAT - Portal de Estatstica. SEF, 2011. Dados de 31.12.2009

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 15

1.2. ImigraoPortugal tem vindo a alterar a sua condio de pas de emigrao e a evoluir no sentido de acolher nacionais de pases da Europa e de outros continentes, sobretudo de frica e da Amrica de expresso portuguesa. Apesar disso, a proporo da populao estrangeira em Portugal era de 4,2% do total, em 2009, correspondendo a um dos valores mais baixos dos pases da Unio Europeia, sendo mesmo inferior mdia da UE27* que, na mesma data, se situava nos 6,4% (Tabela 1.2.1.). No Estado da Educao de 2010, tnhamos j observado um crescimento das populaes de origem africana e europeia entre 2001 e 2008, tendo esta ltima ultrapassado a de origem africana em 2007, principalmente custa do fluxo migratrio dos pases de Leste. Mesmo assim, a proporo de estrangeiros oriundos de pases da Unio Europeia ainda minoritria, tanto em Portugal como nos restantes pases da UE27. De acordo com as fontes disponveis (SEF, 2009 e 2011), ao analisarmos a origem da populao estrangeira em Portugal, em 2009, verifica-se um predomnio da populao originria de pases de lngua portuguesa (50,5%), com um contingente de 25,59% de imigrantes brasileiros e de 24,91% de imigrantes dos PALOP. No entanto, tem-se registado uma tendncia de crescimento da populao originria do continente europeu que, em 2009, representava 38,87% do total da populao estrangeira com ttulo de residncia em Portugal (Figura 1.2.1.).

16 Caracterizao da Populao Portuguesa

Tabela 1.2.1. Populao estrangeira, por grupos de cidados, relativamente ao total da populao residente. UE27 (2009)Populao EstrangeiraTotal da populao (em milhares) Total em milhares UE 27 Alemanha Dinamarca Eslovquia Espanha Finlndia Frana Grcia Hungria Irlanda Itlia Polnia Portugal Reino Unido Romnia 499 433,1 s 82 002,4 5 511,5 5 412,3 45 828,2 5 326,3 64 366,9 11 260,4 10 031,0 4 450,0 60 045,1 37 867,9 p 10 627,3 61 596,0 21 498,6 31 860,3 s 7 185,9 320,0 52,5 5 651,0 142,3 3 737,5 929,5 186,4 504,1 3 891,3 35,9 p 443,1 31,4 % 6,4 s 8,8 5,8 1,0 12,3 2,7 5,8 8,3 1,9 11,3 6,5 0,1 p 4,2 0,1 Cidados e (outro) estado membros da UE em milhares 11 944,2 s 2 530,7 108,7 32,7 2 274,2 51,9 1 302,4 161,6 109,8 364,8 1 131,8 10,3 p 84,7 6,0 % 2,4 s 3,1 2,0 0,6 5,0 1,0 2,0 1,4 1,1 8,2 1,9 0,0 p 0,8 0,0 Cidados de pases fora da UE em milhares 19 916,2 s 4 655,2 211,4 19,8 3 376,8 90,4 2 435,2 767,9 76,6 139,2 2 759,5 25,6 p 358,4 25,3 % 4,0 s 5,7 3,8 0,4 7,4 1,7 3,8 6,8 0,8 3,1 4,6 0,1 p 3,4 0,1

Notas: s estimativa da Eurostat; p valor previsional; - no disponvel

Fonte: Population and social conditions [adaptao da Table 1], Eurostat, 2010

Figura 1.2.1. Principais nacionalidades com ttulo de residncia ou prorrogaes de VLD. Portugal (2009)Moambique 0,73% So Tom e Prncipe 2,53% Guin-Bissau 5,05% Angola 5,85% Restantes 0,08% sia 6,67%

Unio Europeia 20,73%

Cabo Verde 10,75% Outros Pases da Europa 18,14%

Outros Pases da frica 1,91% Outros Pases da Amrica 1,97% Brasil 25,59% Fonte: SEFSTAT - Portal de Estatstica. SEF, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 17

Quanto distribuio geogrfica (Figura 1.2.2.), em 2009, Lisboa, Faro, Setbal e Porto continuam a ser as unidades territoriais que acolhem maior percentagem da populao estrangeira residente em Portugal: 43,3%, 16,1%, 10,9% e 6,2%, respectivamente. No ser despiciendo referir que mais de metade da populao estrangeira se concentra nos distritos de Lisboa e Setbal, representando cerca de 54% do total. Em terceiro lugar surge Faro com 16,1%, a que no ser alheio o pendor turstico desta regio. O facto de a Madeira apresentar quase o dobro da populao estrangeira

dos Aores poder dever-se mesma razo. Refira-se ainda que a proporo da populao estrangeira relativamente populao residente nos quatro distritos de maior concentrao, em 2008, era a seguinte: 16,78% (Faro); 8,14% (Lisboa); 5,64% (Setbal) e 1,45% (Porto). (INE, 2009; SEFMAI,2009). Numa anlise por sexo, assinala-se uma ligeira predominncia do nmero de homens estrangeiros residentes em Portugal, com valores mais significativos nos distritos de Faro e Lisboa.

18 Caracterizao da Populao Portuguesa

Figura 1.2.2. Populao estrangeira residente por sexo, por distritos e regies autnomas (2009)Aveiro Beja Braga Bragana Castelo Branco Coimbra vora Faro Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto Santarm Setbal Viana do Castelo Vila Real Viseu R.A. Aores R.A. Madeira 0 10 000 Homens 20 000 30 000 40 000 50 000 60 000 70 000 80 000 90 000 100 000 n de estrangeiros residentes ou com VLD Fonte: SEFSTAT - Portal de Estatstica. SEF, 2011 HM = 10,9% HM = 6,2% HM = 43,3% HM = 16,1%

Mulheres

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 19

1.3. Qualificao da Populao PortuguesaA estrutura da qualificao* da populao portuguesa tem vindo a alterar-se durante a ltima dcada. Em 2000 era ainda elevada a proporo de indivduos com 15 e mais anos sem nenhuma qualificao (9,04% da populao), particularmente concentrada no escalo etrio dos 45-64 anos (47,3%). Apesar do seu decrscimo gradual, em 2010, este grupo registava ainda cerca de 4% de indivduos. No mesmo perodo igualmente se registou um decrscimo considervel da populao com apenas o 1 ou 2 ciclos do ensino bsico (-618,2 milhares), ao mesmo tempo que se verificou um crescimento dos detentores de 3 ciclo (+428,3 milhares), ensino secundrio (+ 390,6 milhares) e superior (+ 406,1 milhares). Esta evoluo teve como resultado que a populao com mais baixas qualificaes tivesse finalmente deixado de ser maioritria, mantendo embora um peso superior ao da qualificada com outros graus de ensino (Tabela 1.3.a., em anexo estatstico). De 2000 para 2010, o grupo que tem como habilitao mxima o 1 e 2 ciclo do ensino bsico decresceu de 55% para 40,6%, enquanto os detentores de 3 ciclo do ensino bsico evoluram de 14,5% para 22,2%. Nos diplomados com ensino secundrio ou pssecundrio e com ensino superior, o crescimento tambm foi assinalvel, tendo os primeiros passado de 12% para 18,3% e os segundos de 9,3% para 16%. Ao discriminar a qualificao da populao por regio (NUT* II) verifica-se que, na dcada em anlise, todas as regies registam um aumento percentual da populao com nveis mais elevados e uma diminuio dos que no detm qualquer qualificao. Neste ltimo nvel, as regies Norte e Centro e a Regio Autnoma da Madeira (RAM) so as que, apesar da reduo, continuam a ter maior percentagem de populao sem qualquer qualificao, com valores superiores aos do Continente e de Portugal. Nos nveis de qualificao mais elevados, a regio de Lisboa continua a ser a que apresenta percentagens superiores s restantes e a nica com valores superiores mdia nacional e do Continente (Figura 1.3.1.).

20 Caracterizao da Populao Portuguesa

Figura 1.3.1. Qualificaes da populao activa* (%), por NUT II2000 2010

100% 90 80 70 60 50 40 30 20 10

0 Portugal Portugal Algarve R.A. Aores Algarve Centro Centro Norte Norte R.A. Madeira R.A. Aores Continente Continente Alentejo Alentejo R.A. Madeira Lisboa Lisboa

Nenhum

1 e 2 ciclos

3 ciclo

Secundrio e Ps-Secundrio

Superior Fonte: Inqurito ao Emprego. INE. Actualizao de Fevereiro, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 21

Uma anlise da evoluo das qualificaes por sexo (Figura 1.3.2.) pe em evidncia habilitaes mais elevadas para as mulheres do que para os homens nos escales etrios mais jovens (dos 15 aos 44 anos), mas tambm mostra uma alterao no mesmo sentido no escalo etrio dos 45 aos 64 anos. Em 2000, as mulheres mais velhas (a partir dos 45 anos) ainda tinham menos qualificao do que os homens, sendo que a maioria do escalo de 65 e mais anos no tinha mesmo qualquer certificao* formal. Em dez anos, esta situao alterou-se, mantendo-se apenas no escalo etrio superior.

A Figura 1.3.2. permite tambm perceber que a inverso da tendncia de qualificao superior dos homens se opera com a gerao que em 2000 se situava no escalo etrio dos 35 a 44 anos e que iniciou a escolaridade entre 1962 e 1972, passando as mulheres a apresentar nveis de qualificao mais elevados e assim se mantendo at ao presente.

22 Caracterizao da Populao Portuguesa

Figura 1.3.2. Qualificaes da populao activa (%), por grupo etrio e sexo, em Portugal 2000100% 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 M H M H M H M H M H

65 e mais anos

45 a 64 anos

35 a 44 anos

25 a 34 anos

15 a 24 anos

2010100% 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 M H M H M H M H M H

65 e mais anos

45 a 64 anos

35 a 44 anos

25 a 34 anos

15 a 24 anos

Nenhum

1 e 2 ciclos

3 ciclo

Secundrio e Ps-Secundrio

Superior

Fonte: Inqurito ao Emprego. INE. Actualizao de Fevereiro, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 23

Evoluo da qualificao de nvel secundrio: comparao internacionalApesar do esforo de qualificao descrito, quando equacionados em termos internacionais, os valores referentes populao que atingiu pelo menos o nvel secundrio (CITE* 3) deixam entrever um longo caminho a vencer. Tomando agora por referncia o grupo etrio dos 25 aos 64 anos, verifica-se que em 2000 a percentagem de Portugal (19,4%), nos coloca 45 pontos percentuais abaixo da mdia da Unio Europeia (64,4%). Em 2010, embora a diferena seja menor (40,8pp) e tenha havido uma recuperao significativa de 12,5pp relativamente ao ponto de partida, isso no nos permite ainda descolar do patamar inferior deste elenco de pases (Tabela 1.3.1.). Uma anlise mais detalhada da evoluo dos vrios pases leva a concluir que Portugal dos que tm desenvolvido os esforos mais assinalveis no sentido da recuperao. Com efeito, de 2000 a 2005 registava j uma variao positiva de 7,1 pp contra 5 pp da mdia da UE27, colocando-se na stima posio dos pases de melhor desempenho, liderados pela Espanha (Tabela 1.3.b., em anexo estatstico). De 2006 a 2010 passa a partilhar os primeiros lugares com o Luxemburgo, Irlanda e Chipre, revelando uma variao positiva de 4,3 pontos percentuais, de novo acima dos 2,8 da UE27. Merece particular destaque a evoluo ocorrida, sobretudo nos ltimos trs anos deste perodo, que nos coloca em primeiro lugar na transio de 2009 para 2010 com uma variao positiva de 2pp, j antecedida de 1,7pp entre 2008 e 2009. Ao diferenciar os sexos, verifica-se que a percentagem de mulheres que atinge pelo menos o nvel secundrio no s foi sempre superior dos homens ao longo da dcada como tambm evoluiu a um ritmo superior.

Evoluo da qualificao de nvel superior: comparao internacionalNo que se refere populao com ensino superior, a comparao internacional mostra uma maior proximidade de Portugal mdia da Unio Europeia, registando-se uma diferena de cerca de 10pp., que se mantm estvel ao longo da dcada (Tabela 1.3.2.). Em 2000, Portugal apresentava 8,8% da populao entre os 25 e os 64 anos habilitada com ensino superior; em 2010 essa percentagem sobe para 15,4%, revelando uma recuperao de 6,6pp, que ultrapassa ligeiramente o crescimento de 6,4pp atingido na UE27. A variao observada neste perodo significativamente atribuda ao aumento da percentagem de mulheres com ensino superior, que sobe 8,5pp, enquanto a dos homens apenas cresce 4,7pp.

24 Caracterizao da Populao Portuguesa

Tabela 1.3.1. Populao (%) que atingiu pelo menos o nvel secundrio de educao (12. ano), no grupo de idade 25-64 anos, na UE27 e outros pasesHomens e Mulheres2000 UE 27 Alemanha Dinamarca Eslovquia Espanha Finlndia Frana Grcia Hungria Irlanda Itlia Polnia Portugal Reino Unido Romnia 64,4 81,3 78,5 83,8 38,6 73,2 62,2 51,6 69,4 57,6 45,2 79,8 19,4 64,4 69,3 ... 2005 69,4 83,1* 81,0 87,9 48,5 78,8 66,7 60,0 76,4 65,2 50,4 84,8 26,5 71,8 73,1 2006 69,9 83,2 81,6 88,8 49,4 79,6 67,3 59,0 78,1 66,6 51,3 85,8 27,6 72,7 74,2 2007 70,7 84,4 75,5 89,1 50,4 80,5 68,5 59,8 79,2 68,1 52,3 86,3 27,5 73,4 75,0 2008 71,4 85,3 74,6* 89,9 51,0 81,1 69,6 61,1 79,7 70,0 53,3 87,1 28,2 73,4 75,3 2009 72,0 85,5 76,3 90,9 51,5 82,0 70,3 61,2 80,6 71,5 54,3 88,0 29,9 74,6 74,7 2010 72,7 85,8 76,5 91,0 52,6 83,0 70,8 62,5 81,3 73,5 55,2 88,7 31,9 76,1 74,3 2000 67,6 85,8 81,0 88,9 39,8 71,6 65,2 53,6 74,2 55,3 45,9 81,6 18,6 72,0 75,8

Homens... 2009 73,1 88,1 77,8 93,2 50,6 79,6 71,3 59,8 83,8 68,4 53,5 88,4 27,3 77,7 79,1 2010 73,7 88,3 77,8 92,8 51,5 80,8 72,1 60,8 84,3 70,5 54,3 88,8 28,6 78,9 78,5 2000 61,3 76,7 76,1 78,9 37,3 74,9 59,4 49,7 64,9 59,9 44,5 78,2 20,1 56,6 63,0

Mulheres... 2009 70,9 82,8 74,8 88,7 52,4 84,4 69,3 62,7 77,5 74,7 55,1 87,6 32,4 71,5 70,3 2010 71,8 83,3 75,1 89,1 53,7 85,2 69,6 64,3 78,4 76,4 56,0 88,5 35,1 73,4 70,2

Outros Pases da Europa Noruega Turquia 85,4 n.d. 88,2 n.d. 78,5 26,1 78,7 26,6 80,0 27,4 80,5 28,2 80,9 28,4 85,9 n.d. 81,0 34,2 81,4 34,7 84,9 n.d. 80,1 22,1 80,5 22,0

Nota: * quebra de srie

Fonte: EUROSTAT (database) Actualizao de 05.10.2011

Tabela 1.3.2. Populao (%) com ensino superior no grupo de idade 25-64 anos, na UE27 e outros pasesHomens e Mulheres2000 UE 27 Alemanha Dinamarca Eslovquia Espanha Finlndia Frana Grcia Hungria Irlanda Itlia Polnia Portugal Reino Unido Romnia 19,5 23,8 26,2 10,3 22,7 32,3 21,6 17,0 14,1 22,0 9,7 11,4 8,8 28,5 9,3 ... 2005 22,5 24,6 33,5 14,0 28,2 34,6 25,4 20,6 17,1 29,6 12,2 16,8 12,8 29,9 11,1 2006 23,0 23,9 34,7 14,5 28,5 35,1 26,1 21,5 17,7 31,3 12,9 17,9 13,5 30,8 11,7 2007 23,5 24,3 32,2 14,4 29,0 36,4 26,6 22,0 18,0 32,8 13,6 18,7 13,7 32,0 12,0 2008 24,3 25,4 32,1 14,8 29,2 36,6 27,2 22,6 19,2 34,4 14,4 19,6 14,3 32,0 12,8 2009 25,2 26,4 34,3 15,8 29,7 37,3 28,6 22,8 19,9 35,9 14,5 21,2 14,7 33,4 13,2 2010 25,9 26,6 34,2 17,3 30,7 38,1 29,0 23,9 20,1 37,3 14,8 22,9 15,4 35,0 13,8 2000 20,6 28,9 25,1 10,9 23,5 29,2 21,1 18,6 13,8 21,7 9,8 10,3 7,6 29,9 10,4

Homens... 2009 24,5 29,7 31,0 14,9 28,7 31,4 26,7 22,7 17,5 33,0 13,0 17,7 11,9 33,1 13,1 2010 25,1 29,8 31,3 15,7 29,3 32,4 27,3 23,7 17,6 34,1 13,2 19,2 12,3 34,5 13,7 2000 18,5 18,6 27,3 9,8 21,9 35,5 22,0 15,5 14,5 22,2 9,5 12,5 10,0 27,0 8,3

Mulheres... 2009 25,8 23,1 37,7 16,6 30,7 43,3 30,5 22,9 22,1 38,7 16,0 24,4 17,3 33,7 13,4 2010 26,7 23,4 37,1 18,9 32,0 44,0 30,7 24,1 22,5 40,5 16,3 26,4 18,5 35,5 13,9

Outros Pases da Europa Noruega Turquia 31,6 n.d. 32,6 n.d. 33,1 9,6 34,4 10,2 35,5 10,9 35,9 11,5 36,9 11,9 30,8 n.d. 31,9 13,8 33,1 14,4 32,5 n.d. 40,1 9,3 41,0 9,5

Fonte: EUROSTAT (database) Actualizao de 08.06.2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 25

1.4. Relao entre Qualificao e EmpregoUm olhar sobre os nveis de qualificao e a insero no mercado de trabalho em Portugal e na UE27, no perodo entre 2000 e 2010, revela uma relao positiva entre qualificao e emprego, manifesta no facto de a taxa de emprego* ser sempre mais elevada para os detentores de ensino superior do que para os diplomados dos outros nveis de ensino, diminuindo medida que se desce na escala de graduao acadmica (Figura 1.4.1.). Focalizando o grupo etrio dos 25 aos 64 anos, em Portugal, verifica-se que em 2010 a taxa de emprego da populao portuguesa com ensino superior era de 85,4%, enquanto a dos diplomados com ensino secundrio e ps secundrio era de 79,9% e a dos de ensino bsico de 68,2% (Tabela 1.4.a., em anexo estatstico). Comparando com a mdia da UE27, verifica-se tambm que as taxas de emprego so mais elevadas em Portugal que na mdia da Europa em todos os nveis de qualificao, excepto no grupo dos jovens mais qualificados de 15 a 24 anos. A quebra de emprego que se registou neste perodo no alterou esta situao, mas revelou em termos gerais que o nvel de qualificao menos afectado o secundrio, chegando mesmo a apresentar um saldo positivo de 0,2pp na mdia da UE27 (no grupo dos 25 - 64 anos), e que o grupo etrio mais atingido o dos jovens de 15 a 24 anos. Neste quadro de restrio das oportunidades de emprego, Portugal manifesta algumas especificidades que vale a pena registar: (i) os diplomados com ensino superior sofrem a maior quebra das taxas de emprego, em detrimento dos que apresentam as mais baixas qualificaes, mais atingidos na maior parte dos pases da UE27; (ii) os jovens de 15 a 24 anos que saem mais lesados so os mais qualificados, ao contrrio da Europa que penaliza mais os de mais baixas qualificaes; (iii) na faixa etria mais prxima da idade da reforma, evolumos em sentido contrrio ao da tendncia europeia: enquanto na UE27 as taxas de emprego crescem para todas as qualificaes, em Portugal decrescem no perodo em anlise. Cotejando os dados de emprego com os de desemprego, verifica-se que, apesar das evolues mais recentes, as taxas de desemprego continuam mais baixas em Portugal do que na mdia da UE27, excepto nos diplomados com ensino superior e nas mulheres mais qualificadas (com secundrio e superior). Este facto no impede que mesmo assim se continuem a confirmar as vantagens de uma qualificao de nvel superior, tanto no acesso ao emprego como nas probabilidades de o manter. Desagregando estes dados por sexo, verifica-se que tanto na Europa como em Portugal so manifestas as diferenas de gnero com prejuzo para as mulheres, quer no acesso ao emprego, quer nas probabilidades de desemprego, excepto no grupo das jovens diplomadas com ensino superior que entre os 15 e os 24 apresentam taxas de emprego mais elevadas. de assinalar, no entanto, que as diferenas de gnero so em geral mais atenuadas nos diplomados com o ensino superior e que se foram reduzindo no decorrer da dcada. Em Portugal estas diferenas so menos expressivas que as da Europa no acesso ao emprego, mas mais evidentes no que toca ao desemprego. Na UE27, embora seja mais difcil s mulheres ultrapassarem a barreira do acesso ao emprego, elas tm vindo a conquistar cada vez mais terreno nas probabilidades de o manterem. A maior parte dos pases da UE27 vem evoluindo no sentido de uma maior paridade perante o desemprego, com as diferenas de gnero a tornarem-se progressivamente mais tnues, atingindo em 2010 os valores pouco significativos de 0,3pp para baixas qualificaes e 0,5pp para as restantes.

26 Caracterizao da Populao Portuguesa

100% 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Figura 1.4.1. Taxa de emprego (%) por grupo etrio, sexo e nvel de escolaridade completo. Portugal e UE2786,3 80,1 75,5 62,6 93,0 89,2 83,6 76,3 78,1 76,6 85,9 85,1

83,3

61,4

60,5 54,6

63,4 58,3 57,7 55,7 51,2 43,0 36,4 31,0 31,3 29,3 40,1 53,6

49,0 41,2 34,5 29,4 21,9 42,4

n.d. H M H M H M H M H M H M H M H M H M 55-64 anos H M H M H M

n.d. H M H M H M H M H M H M 55-64 anos

15-24 25-54 55-64 anos anos anos 2000

15-24 25-54 55-64 anos anos anos 2010

15-24 25-54 anos anos 2000

15-24 25-54 55-64 anos anos anos 2010

15-24 25-54 55-64 15-24 25-54 anos anos anos anos anos 2000 2010

At ao bsico - 3 cicloPortugal Homens Nota: n.d. - no disponvel Portugal Mulheres

Secundrio e ps-secundrioUE27

Superior

Fonte: EUROSTAT (database). Actualizao de 09.08.2011

Figura 1.4.2. Taxa de desemprego (%) no grupo 25-64 anos, por sexo e nvel de escolaridade completo. UE27 e Portugal16% 14,1 14 12 10,6 10 8 6,9 6 4 2 n.d. H M 2000 H M 2010 H M 2000 H M n.d. H n.d. M 2000 H M 2010 4,0 3,0 3,8 5,3 9,5 9,8 7,6 7,6 8,1 6,8 5,5 5,3 4,7 5,2 12,5 14,4 13,2 11,8

0

2010

At ao bsico - 3 cicloPortugal Homens Nota: n.d. - no disponvel Portugal Mulheres

Secundrio e ps-secundrioUE27

Superior

Fonte: EUROSTAT (database). Actualizao de : 12.05.2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 27

DESTAQUES

Entre 2000 e 2010, cresce o ndice de envelhecimento da populao portuguesa (120 idosos para 100 jovens, em 2010), apesar de rejuvenescida pela populao estrangeira residente, cuja idade mdia de 34 anos, enquanto a da nacional de 40,9. A proporo da populao estrangeira em Portugal inferior da mdia da UE27 (4,2% para 6,4%), mas a sua concentrao maioritria nos distritos de Faro, Lisboa e Setbal coloca desafios acrescidos a estas regies. A maior parte da populao estrangeira oriunda de pases lusfonos (25,59% do Brasil e 24,91% dos PALOP), embora tenda a acentuar-se o crescimento da que provm do continente europeu (38,87%).

A estrutura de qualificaes da populao portuguesa tem vindo a alterar-se, reduzindo-se a proporo de indivduos sem qualquer qualificao e a dos que possuem apenas os 1 ou 2 ciclos de escolaridade como habilitao mxima. Aumentou, por outro lado, o contingente de pessoas com certificao de nvel bsico (3 ciclo), secundrio e superior. No cmputo global, o grupo etrio de mais elevadas qualificaes o dos 2544 anos, sendo nos escales etrios a partir dos 45 anos que persistem as qualificaes de nvel mais baixo. Embora a percentagem da populao portuguesa (entre os 25 e os 64 anos) que atingiu pelo menos o nvel secundrio (12 ano) tenha aumentado 12,5pp na ltima dcada, Portugal est ainda a 40,8 pp da mdia da UE (31,9% para 72,7%). Situao diferente a que se observa na populao com ensino superior onde se regista uma diferena de 10,5 pp relativamente mdia europeia (15,4% para 25,9%). A partir da gerao que iniciou a escolarizao na dcada de sessenta, iniciou-se um processo de inverso da tendncia de qualificao mais elevada dos homens, passando as mulheres a apresentar nveis superiores de qualificao.

28 Caracterizao da Populao Portuguesa

H uma relao positiva entre nvel de escolaridade e emprego, pois a taxa de emprego mais elevada para os detentores de ensino superior, decrescendo medida que baixa a graduao acadmica. As vantagens que as qualificaes mais elevadas oferecem no acesso ao emprego so confirmadas nas probabilidades de o manterem, reflectidas na evoluo das taxas de desemprego. As taxas de emprego so mais elevadas em Portugal do que na mdia da UE27 para todas as qualificaes e grupos etrios, excepto no grupo dos jovens mais qualificados de 15 a 24 anos; e as de desemprego continuam mais baixas em Portugal do que na mdia da UE27, excepto nos grupos dos diplomados com ensino superior e das mulheres mais qualificadas. Em contexto de quebra das taxas de emprego como a que se verificou na ltima dcada, os menos afectados foram os diplomados com ensino secundrio (12 ano), em Portugal e tambm na mdia da UE27, onde chegou a registar-se um ligeiro crescimento neste nvel de qualificao. Por outro lado, o grupo etrio mais lesado foi o dos jovens de 15 a 24 anos, com os mais qualificados a serem os mais atingidos em Portugal, enquanto na mdia europeia foram os de mais baixas qualificaes. As taxas de emprego so mais elevadas para os homens do que para as mulheres em todos os escales etrios e nveis de qualificao, excepto no grupo das jovens diplomadas com ensino superior entre os 15 e os 24 anos, que superam os homens nas probabilidades de acesso ao emprego. Esta situao comum a Portugal e mdia da UE27, assim como a tendncia para se atenuarem as diferenas de gnero medida que se progride na escala de qualificao. As mulheres portuguesas tm melhores perspectivas de acesso ao emprego do que as da mdia da UE27, mas menos probabilidades de o manterem. Em matria de taxas de desemprego, a maior parte dos pases da Unio Europeia progride no sentido de uma maior paridade de gnero, porquanto, passada a barreira do acesso, as mulheres europeias tm vindo a conquistar cada vez mais terreno nas probabilidades de manuteno do emprego, atingindo em 2010 valores muito prximos dos homens, com diferenas de 0,3pp nas qualificaes mais baixas e 0,5 nas mais elevadas.

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 29

2.1. Oferta e AcessoCuidados para a infncia (0 - 3 anos)Para a primeira infncia existem, no mbito da Segurana Social, a rede privada e a rede solidria, consoante a natureza jurdica das entidades proprietrias. O esforo de desenvolvimento da rede de oferta de cuidados para a infncia ter resultado num aumento significativo da resposta social Creche, no perodo entre 1998 e 2009, quer em termos de equipamentos quer de capacidade instalada, registando esta neste perodo um crescimento de 69% (GEP, 2010). Entre 2009 e 2010, surgiram mais 127 creches e a capacidade total de acolhimento, no Continente, cresceu 7,8% (+6 960 lugares) (Tabela 2.1.a., em anexo estatstico e Figura 2.1.1.). Com caractersticas prprias, a resposta social Ama* distingue-se das restantes valncias de apoio primeira infncia, sendo a sua implantao diferenciada nos dezoito distritos do Continente, como mostra a Figura 2.1.2.. Estes dados apenas contemplam a oferta formal deste tipo de resposta.

2

Educao de Infncia

30 Educao de Infncia

Figura 2.1.1. Crescimento (%) da capacidade instalada de Creche, por distrito. Continente (2009 - 2010)Aveiro Beja Braga Bragana Cast. Branco Coimbra vora Faro Guarda Leiria Lisboa Portalegre Porto Santarm Setbal Vian. Castelo Vila Real Viseu Continente 0 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 7,2% 7,8% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15% 16% 17% 18% 10,9% 11,2% 4,3% 8,1% 14,8% 14,4% 6,7% 2,6% 10,0% 6,7% 17,6% 1,5% 2,4% 9,0% 3,5% 4,5% 4,2%

Fonte: Carta Social - http://www.cartasocial.pt. GEP, 2011

350

Figura 2.1.2. Resposta Social: Ama, por distrito. Continente (2009)313

300 254 220 200 157 143

250

150

100 74 50 45 13 0 Aveiro 0 Portalegre Beja Porto Cast. Branco Santarm Bragana Braga Faro Coimbra Guarda Leiria vora V. Castelo Lisboa Setbal 32 14

24

16

14

18

21 0 Vila Real

20 Viseu

Fonte: GEP. Dezembro, 2010

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 31

Educao Pr-escolar (3 - 6 anos)Oferta A rede de educao de infncia contempla uma componente pblica e uma componente privada (particular, cooperativa e social), complementares entre si, com duas tutelas a da Educao e a da Solidariedade e Segurana Social consoante a natureza jurdica das entidades proprietrias. A Tabela 2.1.1. e a Figura 2.1.3. apresentam a evoluo do nmero de estabelecimentos de educao de infncia no perodo compreendido entre 1999/00 e 2009/10 e confirmam um padro de crescimento com alguma complementaridade, com a rede privada a compensar as perdas que ultimamente se vm verificando na rede pblica. patente na referida tabela um crescimento global nos primeiros anos, seguido de uma quebra persistente na rede pblica, com maior intensidade na regio Centro e nas regies autnomas dos Aores e da Madeira. Durante perodo em anlise, estas trs regies sofreram uma diminuio de 118, 75 e 11 estabelecimentos pblicos, respectivamente, compensada na Madeira pelo sector privado e apenas em parte nas restantes, o que determinou um saldo negativo de 105 para a regio Centro e 19 para os Aores. Mesmo assim, preciso notar que no cmputo global h um saldo positivo de 405 estabelecimentos (56 pblicos e 349 privados), que corresponde a um aumento de 6%, em relao a 1999/2000, tendo os sectores pblico e privado contribudo com um crescimento de 1% e 17% das respectivas redes (Tabela 2.1.b., em anexo estatstico). As regies do Algarve e Lisboa registam o maior crescimento neste perodo, com 26,7% e 23%, respectivamente, encontrando-se a Madeira ainda em fase de expanso, sobretudo com o contributo da rede privada. Quanto distribuio geogrfica da rede pblica e privada, destacam-se Lisboa, com quase o dobro de estabelecimentos privados, e a RAA, no plo oposto, praticamente satisfazendo a procura atravs de estabelecimentos pblicos (Figura 2.1.3.). O Algarve tambm sobressai neste contexto por ter quase atingido a paridade entre as duas redes no ano de 2009/10. Nas restantes unidades territoriais do Continente e na Regio Autnoma da Madeira (RAM) prevalece sempre a oferta pblica sobre a privada, em termos de nmero de estabelecimentos.

32 Educao de Infncia

Tabela 2.1.1. Estabelecimentos de Educao Pr-escolar(n.), por natureza institucional, e NUT I e II1999/00NUT I e II Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Continente R.A. Aores R.A. Madeira Portugal Pbl. 1 725 1 518 384 391 74 4 092 246 131 4 469 Priv. 644 463 726 144 91 2 068 3 34 2 105 Total 2 369 1 981 1 110 535 165 6 160 249 165 6 574 Pbl. 1 934 1 494 458 406 93 4 385 179 120 4 684

2006/07Priv. 614 464 748 143 94 2 063 59 50 2 172 Total 2 548 1 958 1 206 549 187 6 448 238 170 6 856

2007/08Pbl. 1 918 1 483 470 409 97 4 377 179 119 4 675 Priv. 608 459 756 143 94 2 060 59 53 2 172 Total 2 526 1 942 1 226 552 191 6 437 238 172 6 847

2008/09Pbl. 1 873 1 455 474 407 98 4 307 164 120 4 591 Priv. 680 473 863 158 102 2 276 59 55 2 390 Total 2 553 1 928 1 337 565 200 6 583 223 175 6 981

2009/10Pb. 1 822 1 400 497 411 104 4 234 171 120 4 525 Priv. 727 476 872 157 105 2 337 59 58 2 454 Total 2 549 1 876 1 369 568 209 6 571 230 178 6 979

Fonte: GEPE, 2011

Figura 2.1.3. Evoluo das redes pblica e privada de Educao Pr-Escolar, por NUT I e II 1999/002 000 1 800 1 600 1 400 1 200 1 000 800 600 400 200 0 Algarve Centro Norte Aores Alentejo Madeira Lisboa 2 000 1 800 1 600 1 400 1 200 1 000 800 600 400 200 0 Algarve Centro Norte Alentejo Aores Madeira Lisboa

2009/10

Pblico

Privado

Fonte: GEPE, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 33

Acesso Em termos nacionais, verifica-se que, ao aumento de 6% de estabelecimentos de educao pr-escolar, correspondeu um aumento de 20% de crianas inscritas (Tabela 2.1.c., em anexo estatstico). A Figura 2.1.4. mostra a evoluo do nmero de crianas inscritas entre 1999/00 e 2009/10, nas redes pblica e privada, por idade. Procurando concretizar objectivos de universalizao da oferta para as crianas de cinco anos, tanto no Continente como nos Aores e Madeira, os estabelecimentos pblicos do acesso prioritrio a crianas com esta idade, seguindo-se as de quatro e trs anos pela mesma ordem de preferncia. O mesmo no se verifica na rede privada, onde h uma distribuio etria mais equitativa, embora com manifestaes de alguma complementaridade em relao rede pblica, presentes numa evoluo de sentido inverso, com uma diminuio de crianas inscritas com cinco anos e uma ocupao maioritria de crianas mais novas. Uma vez que a pr-escolarizao das crianas de cinco anos esteve sempre mais prxima de atingir a universalidade, no nesta idade que se regista o maior crescimento do nmero de inscritos entre 1999/00 e 2009/10, mas antes nos trs e quatro anos, por esta ordem: de 68% nos Aores a 24% no Continente, para os trs anos, de 30% nos Aores a 24% no Continente e Madeira, para os quatro anos (Tabela 2.1.c., em anexo estatstico). Mesmo assim, no ano lectivo de 2009/10, os cinco anos mantm a posio de privilgio que vm ocupando na distribuio etria das crianas inscritas na educao pr-escolar (Figura 2.1.5.). No contexto de expanso que ainda se verifica nesta dcada, no mereceria ateno particular o decrscimo de inscritos que se regista nos ltimos anos, no fora a sua especial concentrao na regio Centro, patente na Figura 2.1.6.. De facto, enquanto no Continente apenas se registou uma diminuio de 334 inscritos entre 2008/09 e 2009/10, na regio Centro este decrscimo atingiu 2176 (Tabela 2.1.d., em anexo estatstico). Acresce que na transio para 2008/09 j esta regio havia sofrido um decrscimo de 509 inscritos, quando todas as restantes regies do Continente ainda se encontravam em fase de crescimento. Apesar da reduo de unidades da rede pblica nos ltimos tempos, sabe-se atravs de informao provinda da IGE (vide publicaes anuais sobre a organizao do ano lectivo) que em todas as regies os jardins de infncia continuam a no admitir crianas por falta de vaga. Nestas circunstncias, haveria que verificar at que ponto, em situao de sobrelotao, os mais carenciados encontram resposta na oferta existente, o que aconselha uma monitorizao prxima das situaes de desfasamento entre a oferta e a procura e uma interveno concertada a nvel local, que concretize a equidade no acesso de toda a populao abrangida. Com os mesmos objectivos de compatibilizao com as necessidades da procura, continua a verificar-se o alargamento do horrio de funcionamento das instituies de acolhimento de crianas dos 0 aos 6 anos (MTSS. Carta Social, 2002, 2008, 2009). Do ponto de vista da oferta, esta situao afigurase como um apoio importante famlia, embora o nmero de horas dirias de permanncia das crianas em meio institucional deva tambm ser tido em considerao. Isto porque, de acordo com a Tabela 2.1.e. do anexo estatstico, Portugal surge como um dos pases em que superior a percentagem de crianas que passa 30 ou mais horas semanais em instituies de guarda formal.

34 Educao de Infncia

Figura 2.1.4. Crianas inscritas, por natureza institucional e por idade. Continente, Aores e Madeira60 000 50 000 40 000 30 000 20 000 10 000 0 Pblico Privado 1999/2000 3 anos 4 anos Pblico Privado 2009/2010 5 anos 6 anos

Continente

3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 500 0

Aores

3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 5000

Madeira

Pblico Privado 1999/2000

Pblico Privado 2009/2010

Pblico Privado 1999/2000

Pblico Privado 2009/2010 Fonte: GEPE, 2011

Figura 2.1.5. Distribuio etria das crianas inscritas na educao de infncia. Portugal (2009/2010)1% 28% 37%

34%

3 anos

4 anos

5 anos

6 anos

Fonte: GEPE, 2011

9 000 8 000 7 000 6 000 5 000 4 000 3 000 2 000 1 000 4 000 0 -1 000 -2 000

Figura 2.1.6. Variao do nmero de inscritos por NUT I e II

Variao 2007/08 - 2008/09

Variao 2008/09 - 2009/10

Fonte: Educao em nmeros. GEPE, 2009 e 2010; Estatsticas da Educao 2009/2010. GEPE, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 35

Portugal

Algarve

Centro

Norte

Alentejo

Aores

Madeira

Lisboa

-3 000

2.2. ApoiosInterveno Precoce na InfnciaEm 2004, a Segurana Social celebrou com as IPSS um Protocolo que fixou os valores das comparticipaes para a celebrao de acordos de cooperao com creches (novos acordos a celebrar ou reviso dos anteriormente celebrados), introduzindo progressivamente o princpio de diferenciao positiva*, em sintonia com a possibilidade de as IPSS poderem ser diferenciadas positivamente nos apoios a conceder, em funo das prioridades da poltica social e da qualidade comprovada do seu desempenho (n. 2 do artigo 87. da Lei de Bases da Segurana Social). Com o mesmo fim de promoo da equidade no acesso educao de infncia, esto tambm disponveis servios de interveno precoce destinados a crianas dos 0 aos 6 anos de idade que estejam em risco de atraso de desenvolvimento ou que manifestem deficincia ou necessidades educativas especiais, a carecer de uma interveno integrada e multidisciplinar. Concorrem para este tipo de interveno os servios de educao, sade, aco social e outros parceiros, aos quais compete a identificao de necessidades, a definio de prioridades e a subsequente elaborao e avaliao sistemtica de um plano de interveno individual. Para responder a este desafio e garantir a cobertura nacional da oferta de servios de Interveno Precoce na Infncia (IPI), o Ministrio da Educao criou em 2008 uma rede de agrupamentos de escolas de referncia (Decreto-Lei n. 3/2008, de 7 de Janeiro) que atravs dos educadores a colocados presta apoios de IPI em articulao com os servios de sade e de segurana social. Posteriormente, j em 2009, foi criado um Sistema Nacional de Interveno Precoce na Infncia (SNIPI) que apela a uma actuao coordenada dos Ministrios do Trabalho e da Solidariedade Social, da Sade e da Educao e ao envolvimento das famlias e da comunidade. Em resultado destas opes organizacionais, em 2010/2011 funcionam no Continente 132 agrupamentos de escolas de referncia e 97 equipamentos (Interveno Precoce na Infncia) integrados na Rede de Servios e Equipamentos Sociais do MTSS, destinados a crianas e jovens com deficincia. (Figura 2.2.1.). Compete aos agrupamentos assegurar a articulao com os servios de sade e da segurana social; reforar as equipas tcnicas financiadas pela segurana social; e assegurar, no mbito do Ministrio da Educao, a prestao de servios de interveno precoce na infncia. Segundo informao estatstica disponibilizada pela DGIDC no relatrio que apresenta os resultados do Plano de Aco 2005-2009 relativo Educao Inclusiva, em 2009 havia 144 agrupamentos de referncia, abrangendo 4335 crianas em programas de Interveno Precoce, apoiadas por 500 educadores, o que representa uma mdia de oito crianas por educador.

Comisses de Proteco de Crianas e JovensAs Comisses de Proteco de Crianas e Jovens (CPCJ) tm desempenhado um papel importante no apoio a crianas em risco em idade de frequentar a educao pr-escolar. Dada a dificuldade de tratar separadamente os dados disponveis, a interveno das CPCJ ser desenvolvida no captulo 3 Ensinos Bsico e Secundrio - Apoios.

36 Educao de Infncia

Figura 2.2.1. Mapa de referncia dos equipamentos de Interveno Precoce na Infncia. Continente (2010/11)

escala 1 : 1 400 000

Agrupamentos de referncia para a interveno precoce na infncia

Respostas da Segurana Social

Fonte:DGIDC http://www.dgidc.min-edu.pt/educacaoespecial/

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 37

2.3. Educadores de InfnciaEm 2009/10 existiam 18 380 educadores de infncia em Portugal, sendo 10 368 da rede pblica e 8012 da reda privada. A Figura 2.3.1. retrata a evoluo da percentagem de educadores de infncia em exerccio nas redes pblica e privada de educao pr-escolar, no ano de 1999/00 e entre 2008/09 e 2009/10. Nos anos em anlise, verifica-se que a percentagem de educadores da rede pblica superior da rede privada, embora o nmero de inscritos na rede pblica s tenha superado o da privada a partir de 2001/02. A regio de Lisboa demarca-se desta distribuio, apresentando em 2009/10 uma percentagem de 67% de educadores na rede privada (Tabela 2.3.a., em anexo estatstico), consentnea com a relao percentual que existe entre ambas as redes, no que se refere a crianas inscritas: 67,96% das crianas esto inscritas em estabelecimentos da rede privada (Tabela 2.3.b., em anexo estatstico). A Figura 2.3.2. mostra a evoluo da habilitao dos educadores de infncia, na ltima dcada, com um incremento considervel do grau de licenciatura ou equiparado, que passou a ser a habilitao de acesso carreira a partir de 1997. As alteraes em 2007 introduzidas no enquadramento jurdico da formao de professores, que estabelecem o grau de mestrado como habilitao mnima, ainda no produziram efeitos no sistema. Se analisarmos o nmero de educadores em exerccio por grupo etrio verifica-se, na ltima dcada, um aumento nos escales etrios dos 40-49 anos e mais de 50 anos e uma diminuio dos educadores com menos de 30 anos e entre os 30-39 anos (Tabela 2.3.c., em anexo estatstico). A tendncia de envelhecimento dos docentes*, em Portugal, tem-se acentuado tambm nos educadores de infncia, conforme est patente na Figura 2.3.3.. Da anlise da evoluo do nmero de educadores com menos de 30 anos e com 50 ou mais anos, nota-se em 2006/07 o encontro das linhas de progresso, passando os ltimos, a partir da, a apresentar o nmero mais elevado, ao contrrio do que sucedia no incio da srie. A taxa de feminidade* continua a ser muito alta na educao pr-escolar e claramente a mais elevada se a compararmos com os nveis de ensino subsequentes. Na educao pr-escolar, apesar de alguma oscilao nos anos em anlise, a taxa de feminidade mantm-se acima dos 95%. Esta percentagem est em sintonia com a mdia da UE19* que era de 96,7%, em 2008, e com a da OCDE, que era de 96,9% no mesmo ano (OECD, 2010) (Tabela 2.3.d., em anexo estatstico). Se considerarmos o vnculo laboral dos educadores de infncia da rede pblica, em Portugal, em 2009/10, a proporo de educadores do quadro e de contratados situava-se em 84% e 16%, respectivamente.

38 Educao de Infncia

Figura 2.3.1. Educadores de infncia em exerccio (%), segundo a natureza institucional, em Portugal60% 50% 40% 30% 20% 10% 0 Pblico 1999/00 Privado ... 2008/09 2009/10 Fonte: GEPE, 2011 55,3 44,7 57,3 56,4 42,7 43,6

Figura 2.3.2. Nmero de educadores de infncia por grau acadmico. Continente14 000 12 000 10 000 8 000 6 000 4 000 2 000 0 43 1999/00 Doutoramento / Mestrado ... Licenciatura ou Equiparado 227 2007/08 Bacharelato / Outras 261 2008/09 2 798 2 754 2 555 302 2009/10 Fonte: GEPE, 2011 11 311 12 991 13 671 14 292

1 887

Figura 2.3.3. Educadores de infncia, em exerccio, com menos de 30 e com 50 e mais anos, no Continente3 500 3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 500 0 1999/00 2000/01 2001/02 > 50 anos 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10

< 30 anos

Fonte:GEPE, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 39

2.4. Recursos financeirosEducao de Infncia (0-3 anos)O apoio aco social para a primeira infncia pode ser desenvolvido atravs de subvenes, programas de cooperao e protocolos com as instituies particulares de solidariedade social (IPSS) ou por financiamento directo s famlias beneficirias. Assim, modalidades Creche e Creche Familiar verifica-se que, em 2009, foram celebrados mais 13 acordos de cooperao que em 2008, embora com decrscimo da valncia Creche Familiar. Em concordncia, a despesa com estas respostas cresce no caso das Creches e decresce nas Creches Familiares. Apesar disso, o nmero de crianas acolhidas aumenta nas duas modalidades - creche e creche familiar - representando conjuntamente +2640 crianas (Tabela 2.4.1.). A modalidade Ama aparece pela primeira vez na Conta da Segurana Social 2009, no mbito dos acordos de cooperao, com um total de despesa de 2 661 859,18 (Tabela 2.4.1.). No entanto, continua a ser contemplada em Despesas da rea da Infncia e Juventude do captulo Programas e Outras Despesas, no valor de 8 257,80 milhares de euro, apresentando uma variao percentual de -2,4% em relao ao ano precedente. A evoluo desta despesa, entre 2005 e 2009, est patente na Tabela 2.4.2.. investimento elegveis (art. 12. do Regulamento), nem ultrapassar 74 819,68. O prazo mximo para a realizao da totalidade das despesas de investimento era de 18 meses. Tendo tido incio em 2001, com uma execuo de 752,8 milhares de euro, este Programa teve oscilaes de execuo significativas, apresentando um valor mais elevado em 2006. Em 2009, a execuo foi de 363,2 milhares de euro, ligeiramente superior a 2008. A despesa acumulada de 2001 a 2009 foi de 10 965,00 milhares de euro (Tabela 2.4.3.).

Educao Pr-Escolar (3-6 anos)Em 2009, na valncia educao pr-escolar, a Segurana Social celebrou 1 484 acordos de cooperao com estabelecimentos de educao pr-escolar da rede privada solidria, abrangendo 88 239 crianas. Comparando com 2008, houve um acrscimo de 18 acordos e +964 crianas abrangidas. A despesa com os acordos reflecte um crescimento de 550 milhares de euro, entre 2008 e 2009, ou seja +0,29% (Tabela 2.4.4.). Atravs dos acordos de cooperao celebrados em 2009, a Segurana Social abrangeu com servios de aco social 20,1% do total de crianas em estabelecimentos da rede privada solidria.

Tambm no captulo Programas e Outras Despesas, encontra-se o Programa de Apoio Primeira Infncia (PAPI), que visava o aumento e a melhoria das respostas de acolhimento primeira infncia em estabelecimentos privados. O apoio financeiro tinha carcter de subsdio a fundo perdido, no podendo ultrapassar 80% das despesas de

40 Educao de Infncia

Tabela 2.4.1. Despesas com Acordos de Cooperao: dados financeiros e fsicos em 31 de Dezembro, por valncia. Continente2008Valncias (*) Nmero de Acordos de Cooperao 105 1 655 1 760 Nmero de Utentes 3 048 58 579 61 627 Despesas (Euro) 8 892 548,02 157 473 707,91 166 366 255,93 Nmero de Acordos de Cooperao 99 1 674 1 773

2009Nmero de Utentes 3 115 61 152 64 267 Despesas (Euro) 2 661 859,18 7 867 847,74 169 257 361,91 179 787 068,83

Amas Creches Familiares Creches (**) Total

Notas: (*) No inclui o Programa PARES; (**) A despesa inclui complemento por horrios superiores a 11 horas

Fonte: Conta da Segurana Social 2009 Parte II. IGFSS, I.P,2010, pg. 497.

Tabela 2.4.2. Despesas com Amas2005Funcionamento 7 084,30

(milhares de euro)

20067 664,00

20078 193,30

20088 464,80

20098 257,80

Fonte: Conta da Segurana Social 2009 Parte II. IGFSS, I.P, 2010, pg. 500.

Tabela 2.4.3. Execuo do Programa de Apoio Primeira Infncia (PAPI)2005Despesa anual Despesa acumulada Peso do ano no Total 1 448,70 7 576,00 13,70%

(milhares de euro)

20061 534,70 9 110,70 14,50%

20071 152,00 10 262,70 10,90%

2008339,00 10 601,70 3,20%

2009363,20 10 965,00 3,30%

Fonte: Conta da Segurana Social 2009 Parte II. IGFSS, I.P, 2010, pg. 502.

Tabela 2.4.4. Acordos de Cooperao, Educao Pr-Escolar da Rede Privada Solidria. Segurana SocialAnos2008 2009

Nmero de Acordos1 466 1 484

Nmero de Crianas87 275 88 239

Despesas (milhares de euro)188 601,60 189 151,60 Fonte: Conta da Segurana Social 2008 e 2009. IGFSS, I.P

Nota: Dados fsicos em 31 Dezembro

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 41

O oramento executado pelo Ministrio da Educao para a educao pr-escolar (Figura 2.4.1.) reflecte um crescimento global de 7,47%, entre 2009 e 2010 e de 110,84%, quando o ano de 2010 comparado com 2000. Em 2010, o peso de despesas com a rede pblica de 76,29%. Os restantes 23,71% repartem-se entre a rede privada solidria (atravs de acordos de cooperao celebrados pela Segurana Social, suportando o Ministrio da Educao as despesas da componente educativa) e a rede privada particular e cooperativa (atravs de contratos de desenvolvimento da educao pr-escolar apoio aos pais / encarregados de educao para comparticipao nas despesas de frequncia, tendo por base o rendimento familiar per capita). O Investimento do Plano do ME (Financiamento do Cap. 50 do OE) na Educao Pr-Escolar era da responsabilidade da Administrao Central entre 2003 e 2006, e totalizou nesse perodo o montante

de 3 819 127, sendo 2003 o ano de maior investimento, no valor de 2 167 706 (Tabela 2.4.a., em anexo estatstico) (GGF - Ministrio da Educao, 2010). A partir de 2007, passou a ser assegurado na sua totalidade pela Administrao Local, atravs dos Programas Operacionais Regionais na vertente relativa requalificao da rede escolar do 1 ciclo do ensino bsico e da educao pr-escolar, no mbito do QREN 2007-2013. Entre 2000 e 2010, as despesas de funcionamento com a educao pr-escolar na Regio Autnoma da Madeira tiveram um crescimento de 80,73%, enquanto o nmero de crianas teve um acrscimo de 20,2% equivalente a +886 crianas neste nvel de educao. De 2009 para 2010, observa-se um ligeiro decrscimo no nmero de crianas (Figura 2.4.2.)

42 Educao de Infncia

Tabela 2.4.5. Transferncias entre a Segurana Social e o Ministrio da Educao, para a Educao Pr-EscolarTransferncias do IGFSS para a componente social do pr-escolar da rede pblicaGGF do Ministrio da Educao

(milhares de euro)

200544 440,0

200645 640,0

200742 789,7

200843 663,5

200949 921,1

Transferncias do GGF para a componente educativa do pr-escolar da rede privada solidriaIGFSS

2005118 640,0

2006117 200,0

2007120 150,0

2008123 897,5

2009128 734,6

Fonte: Relatrios da Conta da Segurana Social 2008 e 2009. IGFSS, I.P.; Informao GGF 2011

450 000 000 400 000 000 350 000 000 300 000 000 250 000 000 Euros 200 000 000 150 000 000 100 000 000 50 000 000 0 Rede Pblica

Figura 2.4.1. Oramento do Ministrio da Educao: Educao Pr-Escolar, por rede. Continente

2000 201 113 187 64 884 813 9 234 769

....

2009 399 522 217 130 559 925 9 883 396

2010 442 731 177 130 250 000 7 326 916

Rede Privada Solidria Rede Privada Particular e Cooperativa

Fonte: Relatrios de Execuo Oramental. GGF, 2008 e 2009; GGF 2011

25 000 000,00 22 500 000,00 20 000 000,00 17 500 000,00 Euros 15 000 000,00 12 500 000,00 10 000 000,00 7 500 000,00 5000 000,00 2 500 000,000

Figura 2.4.2. Educao Pr-Escolar: despesas e nmero de crianas. RAM6 000 5 000 4 000 3 000 2 000 1 0000

2000 12 609 344,29 4 386

....

2009 22 310 159,36 5 290

2010 22 788 449,42 5 272

Despesas Crianas

Nota: Inclui os Estabelecimentos de Educao Pr-Escolar e o Pr-Escolar das EB1/PE

Fonte:GGF da Secretaria Regional de Educao e Cultura da RAM, 2011

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 43

2.5. Processo educativoRelao adulto/crianas e tamanho dos grupos Um dos indicadores determinantes da qualidade na educao de infncia o rcio educador/crianas e o tamanho dos grupos, uma vez que contribuem para influenciar a natureza das actividades a organizar e as interaces educador/crianas e das crianas entre si. Nesta seco apresentada a situao de Portugal face aos outros pases da UE27 e a trs pases da rea Econmica Europeia, no que se refere aos parmetros estabelecidos a este propsito, com base no relatrio Eurydice* (2009). Na oferta de cuidados para a infncia, a Tabela 2.5.1. indicava para Portugal um nmero mximo de 15 crianas por grupo para o escalo etrio dos 0 aos 3, embora apenas se aplicasse a crianas dos 24 aos 36 meses. Mais recentemente, a Portaria n. 262/2011, de 31 de Agosto, vem alterar a situao, passando de 8 para 10 o nmero mximo de crianas na sala de beros; de 10 para 14 o dos grupos de idades compreendidas entre a aquisio da marcha e os 24 meses; e de 15 para 18, o nmero de crianas de 24 a 36 meses. Na educao pr-escolar adoptada uma relao de um educador para 25 crianas, o que faz com que Portugal se situe entre os que definem um nmero mximo mais elevado, apenas ultrapassado pela Itlia, Eslovquia e Reino Unido (Eurydice, 2009). Apesar de a legislao prever um auxiliar para cada trs grupos, compete s autarquias complementar este tipo de pessoal para que as actividades decorram com a qualidade necessria. Esta orientao tem implicado que na prtica, cada grupo funcione com um auxiliar, alm do educador, o que nos coloca em posio relativamente favorvel, em termos internacionais. O diploma recentemente publicado determina dois tcnicos na rea do desenvolvimento infantil ou ajudantes de aco educativa por cada grupo at aquisio da marcha e um educador de infncia e um ajudante de aco educativa por cada grupo a partir da aquisio da marcha. Acresce que Portugal tambm se encontra entre os poucos pases que definem regras diferenciadas para crianas em risco, mais consentneas com modalidades de acompanhamento mais intensivo exigidas nestas situaes. Orientaes curriculares Tal como na maioria dos pases da Europa, a oferta de cuidados para a infncia em Portugal adopta, em geral, objectivos de bem-estar das crianas e de satisfao das necessidades das famlias, na sua relao com as respectivas actividades profissionais. A elaborao de linhas pedaggicas orientadoras para o trabalho com crianas dos 0 aos 3 anos tem vindo a ser recomendada. J a educao pr-escolar contempla uma dimenso educativa relacionada com o desenvolvimento cognitivo e social e com a aprendizagem de fundamentos de literacia da leitura, da escrita e da numeracia. Verifica-se no relatrio da Eurydice (2009) que todos os pases dispem de orientaes curriculares para a educao das crianas dos 3 aos 6 anos de idade, tendo a maioria como enfoque prioritrio o desenvolvimento pessoal e social das crianas. Alguns pases em que Portugal se inclui, complementam estes objectivos com propsitos de desenvolvimento da literacia e numeracia junto das crianas mais velhas, como forma de as preparar para a escolaridade subsequente.

44 Educao de Infncia

Tabela 2.5.1. Rcio adulto/criana e nmero de crianas por grupo em servios subsidiados e acreditados. UE/AEE. (2006/07)Tamanho dos grupos Mnimo Alemanha ustria Blgica (De) Blgica (Fr) Blgica (Nl) Bulgria Chipre Dinamarca Eslovquia Eslovnia Espanha Estnia Finlndia a) Finlndia b) Frana Grcia Holanda c) Hungria Irlanda Islndia Itlia Letnia Listenstaine Litunia Luxemburgo Malta Noruega Polnia Portugal Reino Unido Repblica Checa Romnia RU - Esccia Sucia 12 15 15 10 8 15 20 13 - 18 25 25 22 25 22 - 28 22 25 20 13 - 20 25 20 - 25 24 28 24 20 20 25 20 25 25 26 24 20 -

3 a 6 anos

Mximo

(*)

Rcio adulto/criana crianas em geral em risco 1+1/25 1/19; 2/32 1/19; 2/39 1/25 1/20 1+1/15 -

Tamanho dos grupos Mximo 15 18 20 12 14 10 - 12 10 - 16 10 - 15 15 10 - 15 -

0 a 3 anosRcio adulto/criana 1+2/15 3/18 1/7; 1/9 1/7; 1/10 1/6 - 12 2/8 - 14; 3/14 - 20 1+0,5/12 1/7 1/4; 2/8 1/5; 1/8 1/ 4 - 8 1/6 1/5 - 10 1+1/G 1/3 - 6 1/7 - 9 2+2/35 1+1/15 1/4 - 6 -

(*)

1/G 1+0,5/22 1/25 1+1/20 1/7 - 13 1/13; 2/20 1+1/G 1/25 1+1/G 1/25 1/8 - 10 1/5 - 10 1/25-28 1/8 1+1/G 1+1/G 1/G 1+2/14 - 18 1/G 1+1/25 1/24 1/20 1/8

(*)

(*)

Notas: a) dispositivos unitrios; b) Pr-primria; c) tem recomendao, mas s define normas para actividades recreativas a nvel municipal (*) sem recomendaes definidas a nvel central

Fonte: Early Childhood Education and Care in Europe: Tackling Social and Cultural Inequalities. Eurydice, 2009

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 45

2.6. ResultadosTaxa de cobertura das respostas sociais para a primeira infncia (0-3 anos) A taxa de cobertura das respostas sociais para a primeira infncia (Creche e Ama) reflecte os progressos que tm sido realizados no sentido da aproximao s metas definidas pelos pases da UE. Em 2009, as respostas sociais em funcionamento cobriam j 32,6% desta populao-alvo, enquanto a mdia era de 30,2% em 20081. No que respeita apenas modalidade de creche, a taxa de cobertura foi de 26,3% em 2009 (80 330 crianas), sendo de 27,5% em 2010 (83 738 crianas)2. das taxas de pr-escolarizao est reflectida em todas as NUT III da regio, com excepo da Serra da Estrela e Beira Interior Sul, que, tendo atingido valores prximos dos 100%, revelam agora uma ligeira quebra nas taxas de pr-escolarizao do sexo feminino (Tabela 2.6.a, em anexo estatstico). Apesar disso, as taxas de pr-escolarizao nesta regio apresentam o segundo valor mais elevado do pas. As regies de Lisboa e Algarve continuam a apresentar as taxas de pr-escolarizao mais baixas, com valores ligeiramente superiores no sexo masculino. Numa anlise por idades, verifica-se que as crianas de 3 e 4 anos so as que mais contribuem para o crescimento das taxas de pr-escolarizao, num movimento de aproximao aos nveis j anteriormente atingidos pelos 5 anos (Tabela 2.6.1.). Em termos de durao mdia da pr-escolarizao tem havido uma evoluo tambm positiva na ltima dcada, com progressos mais assinalveis na RAA (Figura 2.6.1.), embora a RAM apresente a mdia mais elevada durante todo o perodo em anlise. A nvel nacional passou-se de uma mdia de 2,2 anos de frequncia em 1999/00, para 2,5 em 2009/10.

Taxa de Pr-escolarizao (3-6 anos) A anlise da oferta e acesso educao prescolar demonstrou ter-se mantido na ltima dcada a expanso que se iniciou em finais dos anos 70. Comea, no entanto, a verificar-se mais recentemente uma tendncia de retraco da rede pblica, com uma quebra global de apenas 159 estabelecimentos (de 2006/07 a 2009/10). A situao descrita repercute-se, por um lado, numa evoluo positiva das taxas de pr-escolarizao (+12,3pp) em termos nacionais e, por outro lado, num ligeiro decrscimo (-1,2pp) na regio Centro, onde a uma mais elevada retraco da rede pblica se aliou o menor crescimento da rede privada na ltima dcada. Curiosamente, esta diminuio

1 Carta Social 2008 e Carta Social 2009, no se constituindo como instrumentos de divulgao estatstica nem de anlise qualitativa, mas apresentando as principais tendncias de evoluo da Rede. 2 Tendo em conta as Estimativas da Populao Residente para 2009 e 2010 do INE, para o grupo etrio dos 0 aos 2 anos.

46 Educao de Infncia

Tabela 2.6.1. Taxa de pr-escolarizao (%) por idade e sexo, em Portugal1999/00HM 3 anos 4 anos 5 anos 3 a 5 anos (meta 2021) 4 a 5 anos (meta 2020) 58,6 72,3 84,1 71,6 78,2 H 57,6 71,2 82,8 70,5 77,0 M 59,7 73,5 85,5 72,8 79,5

...HM 70,8 83,6 92,2 82,3 88,0

2008/09H 70,6 84,1 92,3 82,4 88,2 M 70,9 83,1 92,2 82,1 87,7 HM 73,4 85,4 92,7 83,9 89,0

2009/10H 73,9 85,8 93,5 84,5 89,7 M 73,0 85,0 91,8 83,3 88,4

Fonte: GEPE, 2011

Tabela 2.6.2. Taxa de pr-escolarizao (3, 4 e 5 anos) (%) por sexo e por NUT I e IINUTS I,II,IIIHM Continente Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve R.A. Aores R.A. Madeira Portugal 82,2 83,2 91,7 73,2 93,9 74,2 80,7 86,6 82,3

2008/09H 82,3 83,2 91,4 73,4 94,5 75,8 80,6 86,4 82,4 M 82,0 83,2 91,9 73,0 93,3 72,5 80,7 86,7 82,1 HM 83,8 86,6 90,5 75,0 95,3 75,0 84,5 89,0 83,9

2009/10H 84,4 87,6 90,7 75,6 95,9 75,2 84,9 89,0 84,5 M 83,1 85,7 90,3 74,3 94,6 74,7 84,0 89,0 83,3 Fonte: GEPE, 2011

Figura 2.6.1. Evoluo da durao mdia da pr-escolarizao por sexo e NUT I. Portugal2,8 2,7 2,6 Durao Mdia 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 0 HM H 1999/00 Portugal Continente M ... R.A. Madeira R.A. Aores HM H 2008/09 M HM H 2009/10 Fonte: GEPE, 2011 M

Estado da Educao 2011 A Qualificao dos Portugueses 47

Taxa de pr-escolarizao: perspectiva internacional Em termos internacionais, d-se aqui conta da posio relativa de Portugal em diferentes contextos e relativamente a diferentes projectos de coordenao ou avaliao com incidncia na educao pr-escolar. O primeiro destes contextos o da Unio Europeia e tem como referente o Quadro Estratgico de Cooperao Europeia em matria de Educao e Formao (EF 2020), adoptado pelo Conselho em Maio de 2009; o segundo o da Organizao de Estados Ibero-Americanos (OEI) e pauta-se pelas Metas Educativas definidas pela OEI para 2021; e o terceiro o PISA da OCDE, que em 2009 analisa a relao entre a participao na educao prescolar e os resultados de aprendizagem obtidos pelos alunos de 15 anos que participaram nesse ciclo de avaliao. A Figura 2.6.2. apresenta a evoluo de Portugal no contexto da Unio Europeia, revelando uma aproximao aos valores atingidos pela mdia da UE 27 e bem assim das metas estabelecidas para 2020 no que se refere pr-escolarizao de crianas com idades compreendidas entre os 4 anos e a entrada no ensino obrigatrio. Os dados de 2009 apresentam Portugal com uma taxa de pr-escolarizao de 88,2%, j ultrapassada no ano lectivo de 2009/10 em 0,8 pp (Tabela 2.6.1.), situando-nos em 89% e, portanto, a 6 p.p. da meta definida para 2020 (95%). O segundo contexto (OEI) focaliza o grupo etrio entre os 3 anos e o incio da escolaridade obrigatria e estabelece como horizonte o ano de 2021, em que se espera alcanar 100% de taxa prescolarizao. A Figura 2.6.3. retrata a evoluo dos pases abrangidos pela OEI, com dados obtidos da UNESCO para os perodos de 2000, 2008 e 2009, apresentando Portugal num dos lugares cimeiros, apenas precedido de Cuba, Espanha e, mais recentemente, Mxico. Quanto ao PISA, o destaque sobre a educao pr-escolar publicado na revista PISA in focus, de Fevereiro de 2011, analisa os seus efeitos no desempenho dos alunos de 15 anos que participaram na edio de 2009. Na apresentao dos resultados desta anlise, em termos globais, verifica-se que: a) os alunos de 15 anos que frequentaram a educao pr-escolar revelam melhor desempenho; b) os mais desfavorecidos so os que tm menos acesso educao pr-escolar, particularmente nos pases onde est menos difundida; c) o modo como se processa a educao pr-escolar condiciona os benefcios individuais de frequncia deste nvel educativo. Revela, tambm, que os sistemas educativos em que mais estreita a relao entre participao na educao pr-escolar e os melhores resultados dos alunos so aqueles que aliam uma maior abrangncia de crianas neste nvel educativo e uma durao mdia superior a mais baixos rcios adulto/crianas e maior investimento por criana neste nvel. No que respeita aos participantes portugueses, o PISA mostra que os alunos mais desfavorecidos so os que tm menos acesso a este tipo de oferta adi