estabilizaÇÃo de taludes com cortina atirantada

167
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA 1º TEN MARIO RITTER 1º TEN RODRIGO DOS SANTOS MORGADO ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA Rio de Janeiro 2017 Relatório de Projeto de Final de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a aprovação na referida disciplina. Orientadora: Profª. Maria Esther Soares Marques, D.Sc.

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Page 1: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

1º TEN MARIO RITTER

1º TEN RODRIGO DOS SANTOS MORGADO

ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

Rio de Janeiro

2017

Relatório de Projeto de Final de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a aprovação na referida disciplina. Orientadora: Profª. Maria Esther Soares Marques, D.Sc.

Page 2: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

2

c2017

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha

Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270

Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-

lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer

forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre

bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que

esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações,

desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica

completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e

do(s) orientador(es).

624.1

Ritter, Mario

R614e Estabilização de taludes com cortina atirantada / Mario Ritter e Rodrigo dos Santos Morgado; orientados por Maria Esther Soares Marques – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2017. 167p. : il. Projeto de Fim de Curso (PROFIC) – Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2017. 1. Curso de Engenharia de Fortificação e Construção – Projeto de Fim de Curso. 2. Contenção. I. Morgado, Rodrigo dos Santos. II. Marques, Maria Esther Soares. III. Título. IV. Instituto Militar de Engenharia.

Page 3: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA
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4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por toda a paciência nos momentos de dificuldades.

Às nossas famílias, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

À professora Esther, pela dedicação, orientação e ensino em todas as etapas

deste trabalho.

A todos os demais que direta ou indiretamente contribuíram para a construção

deste Projeto Final de Curso.

Page 5: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

5

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................................ 8

LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 12

LISTA DE SÍMBOLOS ............................................................................................. 13

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................... 16

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 19

2. MOVIMENTOS DE MASSA ................................................................................ 22

2.1. ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE TALUDES .................................................. 22

2.1.1. TIPOS DE RUPTURA …...... ................................................................. 22

2.1.2. MECANISMOS DE RUPTURA ............................................................. 23

2.1.3. ESCOLHA DO MÉTODO DE ANÁLISE ............................................... 23

2.2. CONTENÇÕES ................................................................................................. 28

2.2.1. FASES DO PROJETO .......................................................................... 28

2.2.2. ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO ........................................................ 29

3. CORTINAS ATIRANTADAS ............................................................................... 34

3.1. CONCEITUAÇÃO ............................................................................................. 34

3.2. ETAPAS DE DIMENSIONAMENTO ................................................................. 37

3.3. ETAPAS DE EXECUÇÃO ................................................................................ 38

3.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE ........................................................................... 51

3.4.1. MÉTODO DE COULOMB ADAPTADO ................................................ 53

3.4.2. MÉTODO DE RODIO ........................................................................... 56

Page 6: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

6

3.4.3. MÉTODO BRASILEIRO (NUNES; VELLOSO, 1963) ............................ 57

3.4.4. MÉTODO DE RAKE-OSTERMAYER ................................................... 61

3.5. TÉCNICAS DE DETALHAMENTO ................................................................... 64

3.5.1. PAINEL ................................................................................................. 64

3.5.1.1 AÇÕES SOLICITANTES .......................................................... 66

3.5.1.2 ARMAÇÃO ................................................................................ 70

3.5.1.3 VERIFICAÇÃO DE PUNÇÃO ................................................... 76

3.5.2. TIRANTE ............................................................................................... 78

3.5.2.1 ELEMENTOS CONSTITUINTES .............................................. 79

3.5.2.2 PERFURAÇÃO ......................................................................... 83

3.5.2.3 INSTALAÇÃO ........................................................................... 84

3.5.2.4 INJEÇÃO .................................................................................. 85

3.5.2.5 PROTENSÃO ........................................................................... 87

3.5.2.6 INCORPORAÇÃO .................................................................... 88

3.5.2.7 CORROSÃO ............................................................................. 88

3.5.3. CAPACIDADE DE CARGA ................................................................... 90

3.6. DRENAGEM ...................................................................................................... 91

3.6.1 DRENAGEM SUPERFICIAL ................................................................. 92

3.6.2 DRENAGEM SUBSUPERFICIAL .......................................................... 97

3.7. MANUTENÇÃO ................................................................................................ 99

4. DETALHAMENTO DO PROJETO .................................................................... 101

4.1. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO ......................................................... 101

4.2. AVALIAÇÃO TOPOGRÁFICA DO TERRENO ............................................... 106

4.3. AVALIAÇÃO GEOMÉTRICA DOS PAINÉIS .................................................. 109

4.4. PARÂMETROS ADOTADOS .......................................................................... 111

Page 7: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

7

4.5. MEMORIAL DE CÁLCULO .............................................................................. 112

4.5.1. MÉTODO BRASILEIRO DE ATIRANTAMENTO ................................ 112

4.5.2. ARMADURAS LONGITUDINAIS ........................................................ 117

4.5.2.1 VIGAS HORIZONTAIS CARREGADAS ................................. 122

4.5.2.2 VIGAS VERTICAIS CARREGADAS ....................................... 126

4.5.3. VERIFICAÇÃO DE PUNÇÃO ............................................................. 128

4.5.4. BULBO DE ANCORAGEM ................................................................. 132

4.5.5. CAPACIDADE DE CARGA DA BASE ................................................ 133

4.5.6. GEOMETRIA FINAL DE PROJETO ................................................... 138

4.5.7. DRENAGEM ....................................................................................... 142

4.6. ANÁLISE GLOBAL DO TALUDE ..................................................................... 146

5. CONCLUSÕES ................................................................................................. 154

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................ 157

7. ANEXOS .......................................................................................................... 162

7.1. ANCORAGEM ................................................................................................ 162

7.2. FRETAGEM/ ARMADURA DA BASE ............................................................. 163

7.3. JUNTAS DE CONCRETAGEM ...................................................................... 164

7.4. VISTA FRONTAL/ SEÇÃO AA (PAINÉIS CENTRAIS) .................................... 165

7.5. VISTA FRONTAL/ SEÇÃO AA (PAINÉIS LATERAIS) .................................... 166

7.6. ARMADURA DE PUNÇÃO .............................................................................. 167

Page 8: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIG.2.1 - Parâmetros de Pico, de Volume Constante e Residuais (Manual da

GeoRio, 2014) .......................................................................................................... 25

FIG.3.1 - Cortina Atirantada (Adaptado de EIP, 20?) ............................................... 35

FIG.3.2 - Cortina Atirantada (A), Estroncada (B) e em Balanço (C) (GERSCOVICH,

DANZINGER E SARAMAGO, 2016) ........................................................................ 36

FIG.3.3 - Cortina Atirantada em Seção Transversal (GERSCOVICH, DANZINGER E

SARAMAGO, 2016) .................................................................................................. 36

FIG.3.4 - Método Descendente (Hunt e Nunes, 1978) ............................................ 39

FIG.3.5 - Manuseio dos Tirantes (NARESI, 2009) .................................................... 42

FIG.3.6 - Inserção dos Tirantes (NARESI, 2009) ..................................................... 43

FIG.3.7 - Vista dos Tirantes no Furo (NARESI, 2009) .............................................. 43

FIG.3.8 - Tubo de Injeção (NARESI, 2009) .............................................................. 44

FIG.3.9 – Armação do Painel (NARESI, 2009) ......................................................... 46

FIG.3.10 – Dobras (NARESI, 2009) ........................................................................ 47

FIG.3.11 - Primeira Linha de Tirantes (NARESI, 2009) ............................................ 47

FIG.3.12 - Escoramento Tubular Metálico (NARESI, 2009) ..................................... 48

FIG.3.13 - Desforma do Primeiro Nível (NARESI, 2009) .......................................... 48

FIG.3.14 - Armação em Nicho Alternado (NARESI, 2009) ...................................... 49

FIG.3.15 - Macaco de Protensão de Cordoalhas (NARESI, 2009) ........................... 50

FIG.3.16 - Métodos de Ruptura de Cortinas Atirantadas (GERSCOVICH,

DANZINGER E SARAMAGO, 2016) ....................................................................... 51

FIG.3.17 - Método de Coulomb (GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO, 2016)

................................................................................................................................. 54

FIG.3.18 - Superfície de Ruptura no Pé do Talude (GERSCOVICH, DANZINGER E

SARAMAGO, 2016) .................................................................................................. 58

FIG.3.19 - Diagrama de Esforços (GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO,

2016) ........................................................................................................................ 59

Page 9: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

9

FIG.3.20 - Diagrama de Ângulos (GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO,

2016) ....................................................................................................................... 61

FIG.3.21 - Método de Ranke-Ostermayer (GERSCOVICH, DANZINGER E

SARAMAGO, 2016) .................................................................................................. 63

FIG.3.22 – Polígono de Forças do Método Ranke-Ostermayer (GERSCOVICH,

DANZINGER E SARAMAGO, 2016) ........................................................................ 63

FIG.3.23 - Junta Entre Painéis (GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO, 2016)

....................................................................................................................................65

FIG.3.24 - Vista Superior: Junta e Vértice (GERSCOVICH, DANZINGER E

SARAMAGO, 2016) ................................................................................................. 65

FIG.3.25 - Unidade Estrutural Modelada (THOMAZ, 19-) ......................................... 69

FIG.3.26 - Aplicação de Cargas e DMF .................................................................... 70

FIG.3.27 - Distribuição de Momentos por Faixas (NBR 6118 : 2014) ....................... 72

FIG.3.28 – Perímetro Crítico C’ (NBR 6118 : 2014) ................................................. 77

FIG.3.29 – Cabeça do Tirante (Adaptado da NBR 5629 : 1996) .............................. 80

FIG.3.30 – Componentes do Tirante (Téchne, 2007) ............................................... 83

FIG.3.31 – Válvulas Manchetes nos Tirantes .......................................................... 85

FIG.3.32 – Processo de Obtenção (NARESI, 2009) ................................................ 86

FIG.3.33 – Centralizador e Tubo Corrugado de Proteção (Manual GeoRio, 2014) 89

FIG.3.34 – Proteção Anticorrosiva (Dwidag, 20?) .................................................... 90

FIG.3.35 – Canaleta com Proteção Lateral (Manual GeoRio, 2014) ........................ 93

FIG.3.36 – Características Construtivas dos Degraus (Manual GeoRio, 2014)........ 94

FIG.3.37 – Caixa de Passagem (Manual GeoRio, 2014) ......................................... 96

FIG.3.38 – Bacia de Amortecimento (Manual GeoRio, 2014)................................... 97

FIG.3.39 – Canaletas e Diâmetro de Perfuração (Manual GeoRio, 2014) ............... 98

FIG.4.1 – Deslizamento do Talude (Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo) ..... 101

FIG.4.2 – Vista do Prédio (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017) ...................... 102

FIG.4.3 – Vista Superior da Cortina (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017) ..... 103

Page 10: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

10

FIG.4.4 – Vista Superior da Cortina (Visita à Obra) ............................................... 103

FIG.4.5 – Vista Frontal da Cortina (Visita à Obra) .................................................. 104

FIG.4.6 – Vista do talude (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017) ........................ 104

FIG.4.7 – Vista do Topo do Talude (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017) ........ 105

FIG.4.8 – Mapa Geológico Local (CPRM, 2004) .................................................... 106

FIG.4.9 – Levantamento Topográfico Fornecido ................................................... 107

FIG.4.10 – Aferição de Distâncias (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017) .......... 108

FIG.4.11 - Estimativa de Distâncias Superiores .................................................... 108

FIG.4.12 – Vista Frontal do Painel Central ............................................................ 109

FIG.4.13 – Vista Frontal do Painel Lateral Esquerdo ............................................ 110

FIG.4.14 – Vista Frontal do Painel Lateral Direito ................................................. 110

FIG.4.15 – Cunha de Solo para θ = θcr = 60° ......................................................... 112

FIG.4.16 – Cunha de Solo para θ = θcr = 35,3° ..................................................... 115

FIG.4.17 – Faixa Vertical ....................................................................................... 119

FIG.4.18 – Faixa Horizontal .................................................................................... 119

FIG.4.19 – Faixas Verticais (Expandidas) ............................................................. 121

FIG.4.20 – Faixas Horizontais (Expandidas) ......................................................... 121

FIG.4.21 – Viga Horizontal: Carregamento, DEN (kN) e DMF (kNm) ..................... 122

FIG.4.22 – Redistribuição dos Momentos na Viga Horizontal ................................ 123

FIG.4.23 – Viga Vertical: Carregamento, DEN (kN) e DMF (kNm) ........................ 126

FIG.4.24 – Redistribuição dos Momentos na Viga Vertical ................................... 128

FIG.4.25 – Armação Longitudinal ........................................................................... 129

FIG.4.26 – Verificação da Punção .......................................................................... 129

FIG.4.27 – Análise da Capacidade de Carga ......................................................... 134

FIG.4.28 – Solicitações na Base do Painel ............................................................ 136

FIG.4.29 – Esquema dos Tirantes ......................................................................... 138

Page 11: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

11

FIG.4.30 – Vista Superior do Talude ...................................................................... 140

FIG.4.31 – Vistas Lateral (esq.) e Superior (dir.) dos Painéis Centrais ................. 141

FIG.4.32 – Vistas Lateral (esq.) e Superior (dir.) dos Painéis Extremos ............... 141

FIG.4.33 – Vista Superior Proposta do Talude ...................................................... 142

FIG.4.34 – Barbacãs no Painel Central .................................................................. 143

FIG.4.35 – Barbacãs no Painel Lateral Esquerdo .................................................. 144

FIG.4.36 – Canaleta com Degrau no Estudo de Caso ........................................... 145

FIG.4.37 – Emprego de Drenos ............................................................................. 146

FIG.4.38 – Forças normais e de corte em uma fatia (FERRÁS, 2012) ................... 147

FIG.4.39 – Perfil do talude no SLIDE .................................................................... 148

FIG.4.40 – Pefil sem Tirante com Grid Automático para Janbu Simplificado ........ 149

FIG.4.41 – Pefil sem tirante com Grid Automático para Janbu Corrigido .............. 149

FIG.4.42 – Grid automático com ruptura circular e Janbu Simplificado .................. 150

FIG.4.43 – Grid automático com ruptura circular e Janbu Corrigido ....................... 150

FIG.4.44 – Grid manual e Janbu Simplificado ........................................................ 151

FIG.4.45 – Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Simplificado .......................... 152

FIG.4.46 – Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Corrigido .............................. 152

FIG.4.47 - Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Simplificado Otimizado ......... 153

FIG.4.48 – Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Corrigido Otimizado ............. 153

Page 12: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

12

LISTA DE TABELAS

TAB.2.1 - Fatores de Segurança Mínimos (Manual da GeoRio, 2014) .................. 26

TAB.2.2 - Escolha de Parâmetros (Manual da GeoRio, 2014) ............................... 26

TAB.2.3 - Parâmetros Analisados Para Cada Tipo de Solo (Manual da GeoRio,

2014) ....................................................................................................................... 27

TAB.2.4 - Soluções Comuns na Estabilização de Taludes (Manual da GeoRio, 2014)

.................................................................................................................................. 29

TAB.3.1 - Correlações Entre Kmd, Kx, Kz e As (Adaptado da NBR 6118: 2003) ........ 74

TAB.3.2 - Coeficientes de Ancoragem (NBR 5629 : 1996) ....................................... 81

TAB.3.3 - Cargas de Ancoragem (Manual da GeoRio, 2014)................................... 82

TAB.3.4 - Classificação de Agressividade (NBR 5629 : 1996) ................................. 88

TAB.3.5 - Dimensionamento de Canaleta Longitudinal (Manual da GeoRio, 2014) . 95

TAB.4.1 - Aplicação do Método Brasileiro de Atirantamento .................................. 114

TAB.4.2 - Extrato da Tabela TAB.3.3 (Adaptado do Manual da GeoRio, 2014) ..... 116

TAB.4.3 - Classes de Agressividade e do Concreto (NBR 6118 : 2014) ................ 118

TAB.4.4 - Cobrimentos Nominais para ∆c = 10mm (NBR 6118 : 2014) ................ 118

TAB.4.5 - Tipos de Armações Longitudinais Adotados .......................................... 128

TAB.4.6 - Tensões de Aderência Nata Maciço ....................................................... 133

TAB.4.7 - Pressões Básicas de Classes de Solo Distintas (NBR 6122 : 1996) ...... 135

TAB.4.8 - Especificação de Cores e Comprimentos ............................................... 140

TAB.4.9 - Características dos métodos (Adaptado de FERRÁS, 2012) ................ 147

Page 13: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

13

LISTA DE SÍMBOLOS

γnat - Peso Específico Natural;

γsat - Peso Específico Saturado;

c - Coesão do Solo;

C - Força de Coesão da Cunha de Solo;

- Ângulo de Atrito do Solo;

δ - Ângulo entre a Horizontal e a Superfície do Solo acima da Cortina Atirantada;

i - Ângulo entre a Horizontal e a Cortina Atirantada;

q - Sobrecarga;

α - Ângulo entre as Ancoragens;

θ - Ângulo entre a Horizontal e um Plano qualquer de Possível Deslizamento;

Nh - Quantidade de Camadas Horizontais de Tirantes por Painel;

Nv - Quantidade de Camadas Verticais de Tirantes por Painel;

Nt - Quantidade Total de Tirantes por Painel;

eh - Distância Horizontal entre Eixos Consecutivos de Tirantes;

ev - Distância Vertical entre Eixos Consecutivos de Tirantes;

θcr - Ângulo Crítico de Deslizamento;

β - Ângulo entre a Ancoragem e o Plano Crítico de Ruptura ;

La - Comprimento de Ancoragem dos Tirantes;

W - Peso;

Page 14: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

14

FS - Fator de Segurança;

θac - Ângulo do Plano de Ancoragem;

qs - Carga Superficial;

qh - Carga Horizontal Linear;

qv - Carga Vertical Linear;

Ea - Empuxo Ativo por Metro;

fck - Resistência Característica do Concreto à Compressão;

fcd - Resistência de Cálculo do Concreto;

fyk - Resistência Característica ao Escoamento do Aço;

fyd - Resistência de Cálculo do Aço;

M - Momento Fletor de Cálculo;

Md - Momento Fletor Solicitante de Cálculo;

kmd - Parâmetro de Dimensionamento de Armaduras Longitudinais em Vigas;

kz - Parâmetro de Dimensionamento de Armaduras Longitudinais em Vigas;

d - Altura Útil da Viga

b - Largura da Viga

- Diâmetro da Armadura;

C - Cobrimento de Viga;

uo - Perímetro do Contorno da Superfície de Análise;

- Força Concentrada de Cálculo;

αv2 - Parâmetro de Dimensionamento, Função da Resistência do Concreto;

Page 15: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

15

ρ - Taxa de Armadura;

γconc - Peso Específico do Concreto;

As - Área da Seção Transversal de Aço na Armadura Longitudinal;

rd2 - Tensão de Resistência à Compressão Diagonal;

- Tensão Cisalhante Solicitante de Cálculo na Superfície Crítica;

Asw - Área da Seção Transversal de Aço da Armadura Transversal; e

s - Espaçamento entre Estribos.

Page 16: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

16

LISTA DE SIGLAS

PMZS - Prefeitura Militar da Zona Sul;

CEDAE - Companhia Estadual de Águas e Esgotos;

CPRM - Serviço Geológico do Brasil;

CRO - Comissão Regional de Obras;

PNR - Próprio Nacional Residencial;

SOPE - Sociedade de Obras e Projetos de Engenharia;

GEORIO - Fundação Instituto de Geotécnica;

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

NBR - Norma Brasileira

EB - Exército Brasileiro

Page 17: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

17

RESUMO

O crescimento de cidades brasileiras em regiões de encostas suscetíveis a

deslizamentos tem contribuído de modo significativo para um crescimento do

mercado geotécnico. Isto torna o setor cada vez mais competitivo, em meio à

execução de obras com processos, variáveis e riscos de análise complexos.

Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo estudar o emprego de

cortinas atirantadas em projetos de estabilização de taludes para aplicação em um

projeto real, com ênfase na avaliação das especificidades técnicas de seus

elementos e do modo pelo qual eles interagem na estrutura para a garantia de

segurança e vida útil à obra de contenção.

Iniciou-se o estudo a partir de uma abordagem geral da avaliação dos

movimentos de massa, com destaque para os principais métodos de análise de

estabilidade de taludes e a conceituação dos principais tipos de estruturas de

contenções existentes. A seguir, procedeu-se à descrição detalhada do emprego de

cortinas atirantadas para fins de aplicação no redimensionamento de um projeto de

mesma modalidade, recentemente executado pela Comissão Regional de Obras –

CRO/1.

Tal obra consistiu no projeto de contenção de um talude em cujo topo se

encontra um conjunto de Próprios Nacionais Residenciais - PNRs, executado nos

fundos de um condomínio residencial no bairro de Copacabana/RJ. Esta região

havia sido afetada por um desmoronamento sem vítimas fatais ocorrido em 2010,

conforme noticiado na época, tendo sido este um fator decisivo para a construção.

Nesta abordagem, contou-se em especial com o auxílio do "Método Brasileiro

de Atirantamento para Análise de Estabilidade"; da NBR 5629:2006, intitulada

"Execução dos Tirantes Ancorados no Terreno"; e da NBR 6118:2014, intitulada

"Projeto de Estruturas de Concreto". Outras fontes relevantes de consulta estão

referenciadas ao fim do trabalho.

Palavras-chave: Cortinas Atirantadas, Contenção, Tirantes.

Page 18: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

18

ABSTRACT

The growth of Brazilian cities in landslide susceptible regions has

significantly contributed to the growth of the geotechnical market. It makes the sector

increasingly competitive, amid the execution of works with complex processes,

variables and risk analysis.

In this context, the present task had the desire to study the use of anchored

walls in slope stabilization projects for further application in a real project, with

emphasis on the specificities evaluation of its elements and the way they interact in

the structure in order to guarantee safety and maintain the construction lifespan.

The study began with a general evaluation of the soil mass movements, with

emphasis on the main methods of slope stability analysis and the conception of the

main types of existing containment structures. Afterwards, a detailed description was

given about the use of anchored walls for further application in the re-dimensioning

project concerning the same kind of project, which was recently executed by the

"Comissão Regional de Obras – CRO/1".

This work consisted in the containment project of a slope on whose top is a

set of Próprios Nacionais Residenciais - PNRs, executed in the back of a residential

condominium in the neighborhood of Copacabana/RJ. This region had been affected

by a collapse without fatalities occurred in 2010, as reported that time, which was a

decisive factor for the project construction.

In this approach, we especially counted with the aid of the "Brazilian Method

of Stability Analysis for Stability Analysis"; of the NBR 5629: 2006, entitled "Execution

of the anchored ties on the ground"; and the NBR 6118: 2014, entitled "Concrete

Structural Design". Other relevant sources of research are referenced at the end of

the work.

Keywords: Ground Anchored Walls, Containment, Rods.

Page 19: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

19

1. INTRODUÇÃO

As contenções são obras executadas com o objetivo de garantirem

estabilidade contra a ruptura de maciços, evitando-se escorregamentos devido ao

peso próprio ou a carregamentos externos.

Nesta categoria, a cortina atirantada é uma estrutura de contenção composta

de tirantes, elementos lineares resistentes à tração dispostos entre um talude e um

muro de concreto ou cortina. Em sua execução, introduzem-se armaduras ou

elementos estruturais compostos com valores de rigidezes distintos em relação ao

terreno de atuação. Isto gera uma interação entre os deslocamentos e os

carregamentos na estrutura, de modo a se consolidar um projeto condicionado por

cargas que dependem de deslocamentos.

Na sua fase de dimensionamento, alia-se o trabalho conjunto dos tirantes

protendidos com as propriedades de resistência do concreto armado, sob auxílio da

atuação do solo na função de base para a ancoragem dos tirantes. Adicionalmente,

consideram-se as propriedades geológicas do maciço, além de conceitos referentes

a fundações, concreto armado e estruturas protendidas.

Ou seja, justamente por integrar amplas áreas da Engenharia Civil, tal tipo de

projeto de construção é em geral complexo e por isso pouco explorado em muitos

dos cursos de graduação. Este fato limita o número de profissionais realmente

capacitados para atuarem em projetos no ramo, sendo esta interdisciplinaridade o

motivo principal para a escolha do tema deste Projeto de Fim de Curso.

Dentre o leque de aplicações de cortinas atirantadas, mencionam-se seus

amplos empregos em obras rodoviárias e ferroviárias, constituindo um tipo de

solução recomendável frente à necessidade de grandes volumes de cortes com

erguimento de muros de alturas elevadas. Elas permitem ainda que o terreno inferior

seja melhor aproveitado, visto que se apresentam com ângulos de inclinação dos

taludes em geral próximos a 90º.

Neste contexto, destaca-se que muitos dos parâmetros importantes em obras

de reforço e contenção, como qualidade e atendimento às normas técnicas, estão

Page 20: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

20

sendo subvalorizados frente à busca pelo custo mais baixo das empresas. Ainda, os

obstáculos crescentes nas grandes cidades em meio às dificuldades encontradas ao

se escavar mais subsolos e executar contenções em espaços reduzidos têm gerado

aumento no custo geral das obras de contenção e na pressão atuante sobre os

construtores.

Deste modo, torna-se fundamental o estabelecimento das regras a serem

obedecidas para a execução destes projetos, capazes de regularem os estudos

prévios e o adequado monitoramento a ser executado durante e após os trabalhos

de execução. Para tal, no âmbito do dimensionamento de projetos de cortinas

atirantadas, orienta-se em especial a partir das seguintes normas:

ABNT NBR 5629:2006 - Requisitos de execução de tirantes ancorados no

terreno, podendo eles serem provisórios ou permanentes;

ABNT NBR 6118:2007 - Projeto de estruturas de concreto e requisitos de

fabricação, encomenda e fornecimento de barras e fios de aço com uso em

estruturas de concreto armado, usando-se ou não de revestimento superficial;

ABNT NBR 7482:2008 - Requisitos de fabricação, encomenda e

fornecimento de fios de aço com elevada resistência, em seção circular, encruados a

frio por trefilação, de superfície lisa ou entalhada, destinados a armaduras de

protensão;

ABNT NBR 7483:2008 - Requisitos de fabricação, encomenda e fornecimento

de cordoalhas de aço com elevada resistência, a três e sete fios, para armaduras de

protensão;

ABNT NBR 7681-1:2013 - Requisitos da calda e seus constituintes e técnicas

de preparação da calda para uso em ensaios; e

ABNT NBR 7681-2:2013 - Modo de determinação do índice de fluidez e da

vida útil da calda de cimento para fins de injeção através do funil de Marsh.

Page 21: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

21

Assim, esse relatório de pesquisa teve por função abordar aspectos

relevantes a serem verificados no projeto de dimensionamento de estruturas de

cortinas atirantadas, sob fins de aplicação em um projeto real.

Para se atingir tal objetivo geral, buscaram-se os seguintes objetivos

específicos:

Revisão bibliográfica;

Abordagem de técnicas de análise de estabilidade de taludes em solo, com

foco no levantamento dos tipos mais importantes de estruturas de contenção e dos

fatores determinantes para a escolha das possíveis soluções;

Estudo das cortinas atirantadas em termos da inter-relação entre seus

elementos constituintes, tendo por base a consulta às normas relevantes vigentes

com foco na produção de um roteiro de procedimentos a serem conduzidos nos

projetos de dimensionamento desta categoria;

Elaboração de guias de execução e projeto para a construção de cortinas

atirantadas;

Recepção e análise de dados referentes a um projeto real de cortina

atirantada executada pela CRO/1;

Projeto de dimensionamento e execução de uma cortina atirantada, tendo por

base os arquivos supracitados no item anterior; e

Prescrição de cuidados especiais relativos à execução da obra, à proteção

contra fatores destrutivos, drenagem e à manutenção da estrutura durante e após o

processo de execução da obra.

Page 22: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

22

2. MOVIMENTOS DE MASSA

2.1. ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE TALUDES

A execução inadequada de aterros e os processos de corte em maciços

podem ocasionar movimentos de massa com acréscimo de carga e escorregamento

de taludes, na situação em que as tensões cisalhantes venham a ultrapassar as

resistências de cisalhamento dos materiais ao longo de eventuais superfícies de

ruptura.

Nem sempre é possível prever a forma da superfície sobre a qual ocorrerá a

ruptura de uma massa de solo, mas muitas vezes seu movimento se dá sobre uma

superfície de geometria previsível e bem definida. Assim, as informações que devem

ser levantadas antes do início das análises de estabilidade de taludes são a

topografia, a geologia/estratigrafia local, os parâmetros de solo e rochas, as

condições de fluxo e infiltração e os carregamentos externos.

Neste contexto, usa-se o fator de segurança - FS como um método

determinístico que representa a razão entre as resistências disponível e mínima

necessária para manter o equilíbrio. Considera-se ainda superfície crítica aquela

com menor fator de segurança e superfície de ruptura aquela onde já houve

escorregamento.

2.1.1. TIPOS DE RUPTURA

A ruptura do talude pode ocorrer das formas: (Manual da GeoRio, 2014).

Planar – Mecanismo de escorregamento sobre uma superfície

aproximadamente plana, que ocorre em especial quando há finas camadas de solo

envolvendo materiais mais resistentes, ou camadas de solos anisotrópicos espessas

com planos de fraqueza reliquiares e orientações desfavoráveis à estabilidade.

Circular – Mecanismo de escorregamento sobre uma superfície de formato

aproximadamente em arco de circunferência, que ocorre em especial quando há

camadas de solo relativamente homogêneas. A respeito do pé do talude, sua

ocorrência pode ser a partir de uma ruptura passando abaixo dele, no geral em

taludes com inclinação menor que 53° e camada resistente profunda em

Page 23: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

23

comportamento não drenado; acima dele, no geral em taludes com inclinação menor

que 53° e camada resistente rasa em comportamento não drenado; ou passando por

ele, no comportamento drenado e nos demais casos de comportamento não

drenado.

Complexa – Mecanismo de escorregamento em parte circular e planar, que

ocorre por exemplo em casos de camadas de solo fraco em uma matriz mais

resistente.

2.1.2. MECANISMOS DE RUPTURA

Consideram-se os seguintes mecanismos de ruptura de blocos de solo:

Planar - Ruptura na qual uma descontinuidade principal mergulha na direção

do talude, estando a primeira sob um ângulo com a horizontal inferior ao do

segundo;

Em cunha - Ruptura na qual duas descontinuidades planares têm linhas de

interseção que mergulham na direção do talude, estando ambas sob um ângulo com

a horizontal inferior ao deste;

Por tombamento - Ruptura na qual lajes verticais ou colunas mergulham para

“dentro”, quase verticalmente e próximas à face do talude;

Circular - Ruptura com superfície de deslizamento em forma de concha,

semelhante à ruptura em solos, a ocorrer em massas muito fraturadas; e

Por queda de blocos soltos - Ruptura que consiste no deslizamento e/ou

tombamento de blocos que se projetam ou deslizam no talude.

2.1.3. ESCOLHA DO MÉTODO DE ANÁLISE

Considera-se para fins de escolha do método de análise de estabilidade que

o solo é um material rígido perfeitamente plástico submetido ao equilíbrio limite, a

escorregar sobre uma superfície de geometria desconhecida com a ausência de

deformações e comportamento de corpo rígido. Sendo esta análise determinística,

Page 24: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

24

despreza-se a variabilidade natural dos parâmetros pela adoção de valores médios e

os métodos de análise de estabilidade normalmente aplicados são:

Método das fatias - Abordagem recomendada para superfícies

aproximadamente circulares ou complexas. Consiste em dividir a massa em fatias

verticais, de modo que as tensões normais nas bases dependam principalmente dos

pesos próprios das partes em análise. Ainda que se determine as forças relativas a

cada fatia, o sistema é estaticamente indeterminado por ter mais incógnitas que

equações. O método da fatia resultante será considerado simplificado quando não

atender a todas as três condições de equilíbrio estático, com variação de até 60% a

favor da segurança; ou rigoroso, quando atender às três condições de equilíbrio,

com variação de até 6% neste sentido.

Método do talude infinito com fluxo paralelo - Abordagem normalmente

aplicada para camadas de solo sobre materiais mais resistentes em taludes de

alturas dez vezes maiores e inclinações supostas constantes. Nesse caso, o

comprimento do talude não influi na segurança. A superfície do terreno, a interface

entre os dois materiais e o fluxo de água normalmente são paralelos nestas análises.

Método de Mohr-Coulomb para ruptura planar - Tem por base o diagrama de

forças do corpo livre em casos de rupturas planares, nas quais um bloco de solo

escorrega sobre uma superfície plana.

Na análise de estabilidade de taludes, aplica-se em geral o método das fatias,

tanto para superfícies críticas aproximadamente circulares (com uma comparação

entre os métodos simplificado e rigoroso); quanto para as compostas (com o uso do

método rigoroso).

A análise de estabilidade pode ser feita em termos de tensões efetivas ou

tensões totais. No primeiro caso, sabe-se o valor da tensão normal efetiva atuante

na superfície crítica e os parâmetros de resistência efetivos, considerando conhecida

a poro pressão na superfície crítica. No segundo, sabe-se o valor da tensão normal

total na superfície crítica e os parâmetros de resistência totais, de tal modo que a

poro pressão não é explicitamente considerada.

Page 25: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

25

Assim, emprega-se em geral as análises em tensões efetivas quando é

possível prever a poro pressão na ruptura, e as análises em tensões totais ao se

assumir umidade constante no solo, como em casos de carregamentos rápidos em

solos argilosos e siltosos.

Vale ressaltar que por sucção os solos finos podem assumir valores

expressivos de coesão aparente com acréscimo na resistência, sendo tais valores

passíveis de redução a partir do aumento do teor de umidade do solo em situações

de chuva com escorregamentos. Para solos estratificados de camadas distintas, em

análises de curto prazo, é comum analisar em conjunto os solos grosseiros em

termos de tensões efetivas e os finos em termos de tensões totais. Para os efeitos a

longo prazo, avaliam-se em geral todos os tipos de solos por tensões efetivas.

Em relação ao nível de deformação a qual está submetido o solo, adotam-se

as tensões do pico da curva tensão ( ) x deformação (ɛ) ou mesmo o valor no

patamar de resistência após o pico, na situação de não haver mais variação de

volume no solo. A figura FIG.2.1 ilustra estas faixas.

FIG.2.1 Parâmetros de Pico, de Volume Constante e Residuais (Manual da GeoRio, 2014)

Paralelamente, em algumas situações, pode haver alinhamento das partículas

argilosas paralelamente à superfície de ruptura, o que leva a resistência a valores

inferiores aos do patamar de volume constante, configurando resistência residual.

Há também situações de ruptura progressiva seguida de perda apreciável de

resistência pós-pico, as quais levam a fatores de segurança superestimados.

Recomenda-se aplicar os procedimentos até então descritos de acordo com

as tabelas TAB.2.1, TAB.2.2, TAB.2.3, que relacionam os fatores de segurança

mínimos a serem adotados em projeto, os métodos de análise e as condições de

deformação da massa de solo.

Page 26: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

26

TAB.2.1 Fatores de Segurança Mínimos (Manual da GeoRio, 2014)

Fatores de Segurança

Mínimos - NBR 11682

Nível de segurança contra danos às vidas humanas

Alto Médio Baixo

Nível de

segurança

Alto 1,5 1,5 1,4

Médio 1,5 1,4 1,3

Baixo 1,4 1,3 1,2

Ressalta-se que os fatores de segurança da TAB.2.1 devem ser majorados

em 10% em casos de grande variabilidade dos resultados, enquanto que em casos

de estabilidade de placas e blocos rochosos pode-se usar fatores de segurança

parciais com um método de cálculo que considere fator de segurança mínimo de 1,1.

Os dados não se aplicam a casos de rastejo, voçorocas ou ravinas.

TAB.2.2 Escolha de Parâmetros (Manual da GeoRio, 2014)

Escolha de Parâmetros Pelas Condições de Deformação

Condição Parâmetros

Taludes sem escorregamento prévio, solos

sem perda considerável da resistência pós

pico

Parâmetros de pico

Taludes sem escorregamento prévio, solos

com perda considerável da resistência pós

pico

Parâmetros de pico para obras onde

se permitem deformações

significativas; caso contrário,

parâmetros pós-pico de volume

constante

Taludes rompidos em solos grosseiros ou

solos finos de precedência tropical

Parâmetros pós-pico de volume

constante

Taludes rompidos em solos argilosos de

origem sedimentar Parâmetros residuais

Page 27: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

27

TAB.2.3 Parâmetros Analisados Para Cada Tipo de Solo (Manual da GeoRio, 2014)

Tipo de Solo

Tipo de Problema Análise de Parâmetros

Sedimentar

Solos grosseiros sem fração argilosa significativa

Método das tensões efetivas

Parâmetros: c' e ' Condições

especiais de solos

argilosos saturados

À longo prazo

Em fluxo permanente, com carregamentos lentos sem excesso de poro pressão

Carregamentos rápidos, sob análise de curto prazo

Método das tensões totais Parâmetros:

c = Su, = 0°

Tropical residual,

coluvionar ou laterítico

Condições especiais de

solos tropicais

saturados

Em fluxo permanente, com carregamentos lentos sem excesso de poro pressão Método das tensões

efetivas Parâmetros: c' e '

De aspecto laterítico, com coeficiente de adensamento típico de material arenoso

Com coeficiente de adensamento típico de

material argiloso em fluxo transiente, ou carregamentos rápidos com excesso de poro

pressão

Método das tensões efetivas com estimativa de excessos de poro pressão

por ensaios triaxiais, ou tensões totais com

parâmetros c = Su e = 0° de ensaios não

drenados

Solos tropicais não saturados

Método das tensões efetivas para a análise de solos não saturados com curva umidade x sucção,

ou tensões totais com parâmetros totais de

ensaios não drenados sob umidade natural

Argiloso Compactado

Condições especiais de

solos argilosos compactados

À longo prazo, com fluxo em regime permanente

Método das tensões efetivas

Parâmetros: c' e '

À curto prazo, sem fluxo e sob carregamento rápido

Método das tensões totais com ensaios CU na

umidade de compactação, ou método das tensões

efetivas com excesso de poro pressão

Page 28: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

28

É também comum o uso de ábacos para a análise de estabilidade, os quais

podem ser adotados na análise de taludes homogêneos com inclinações superficiais

constantes. Neste emprego, estima-se o ângulo de atrito e a coesão em taludes

estratificados a partir da média ponderada entre os parâmetros dos solos

atravessados pela superfície crítica, usando como pesos os comprimentos de

contato com a mesma em cada camada de solo. Estima-se também o peso

específico por uma média ponderada, considerando-se a espessura de cada

camada acima da superfície crítica.

2.2. CONTENÇÕES

2.2.1. FASES DO PROJETO

Em suma, as etapas do projeto de estabilidade de encosta são vistoria,

diagnóstico, análise de estabilidade, escolha da solução, detalhamento do projeto,

implantação da obra, monitoramento e manutenção.

Ao longo da execução da obra, o engenheiro civil geotécnico ou geólogo deve

efetuar uma visita de inspeção detalhada, com emissão de laudo de vistoria e se

possível de um diagnóstico preliminar a ser confirmado por investigações mais

detalhadas. Tendo à disposição todas as informações para efetuar a análise de

estabilidade, ele decide pela melhor solução e passa então a acompanhar a

implantação da obra, a fim de verificar se a situação idealizada se confirma em

campo e realizar eventuais ajustes caso necessário.

No estágio de manutenção ao término da obra, o executor deve elaborar o

Manual do Usuário, encaminhado ao proprietário. Assim, recomenda-se a realização

de visitas periódicas para a verificação de situações anômalas, limpezas semestrais

no sistema de drenagem, medição de vazão dos drenos profundos sub-horizontais,

verificação de cargas em ancoragens e inspeção da integridade de cabeças de

ancoragens.

Destacam-se alguns fatores a serem considerados na escolha da solução, os

quais são economia, prazo, segurança, manutenção, aspectos ambientais,

interferências, acesso e meios de transporte, estabilidade durante a construção,

materiais disponíveis, vandalismo, degradação ambiental, impactos visuais,

Page 29: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

29

disposição de materiais removidos e impedimento da utilização da área subjacente

ao talude durante a obra.

O projeto deve ainda conter, de acordo com a NBR 11682, a descrição e a

caracterização do local, informações sobre a forma de obtenção dos dados usados

no projeto, análise de estabilidade, plano de monitoramento, especificações dos

materiais e procedimentos, desenhos, quantitativo de materiais e serviços e plano de

manutenção.

2.2.2. ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO

Aplicam-se as técnicas de contenção de taludes conforme a tabela TAB.2.4.

TAB.2.4 Soluções Comuns na Estabilização de Taludes (Manual da GeoRio, 2014)

Soluções de Estabilização de Taludes

Retaludamento

Drenagem e proteção superficial

Drenagem profunda

Estruturas de

contenção

Muro e talude de solo reforçado

Solo grampeado

Estruturas ancoradas ou

chumbadas

Cortinas, grelhas, placas e muros

chumbados

Muros de peso, em diversas

modalidades componentes

Gabião, sacos de solo cimento,

concreto ciclópico, concreto armado e

pedra

Taludes

rochosos,

blocos soltos

Remoção Remoção e desmonte de blocos,

reconformação

Contenção Chumbadores, ancoragens,

contrafortes (ancorados)

Proteção Barreiras de impacto, trincheira de

retenção, falso túnel

Page 30: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

30

Para esta análise, é importante mencionar que as soluções para estabilização

são divididas em três categorias: remoção, proteção e contenção. As técnicas de

proteção, por sua vez, não são métodos de estabilização propriamente ditos, pois

não evitam movimentação das massas rochosas. Destaca-se que as drenagens são

normalmente complementares às técnicas apresentadas, embora as drenagens

profundas aumentem a estabilidade.

Ao longo dos parágrafos a seguir, apresenta-se de modo superficial os tipos

de estruturas de contenção mais empregados, de acordo com a ordem em que

foram citados na tabela TAB.2.4. Afinal, sendo o objetivo desta pesquisa proceder

ao desenvolvimento de estruturas de cortinas atirantadas na contenção de taludes,

julga-se útil mencionar as diversas outras soluções, com a intenção de induzir

comparações a partir de um olhar crítico sobre a adequação de cada uma delas às

suas melhores situações de uso.

No retaludamento, estabiliza-se por corte ou aterro o talude originalmente

existente no local, sendo esta uma solução que depende da disponibilidade de área

livre para corte e exige a avaliação do eventual impacto gerado por remoção de

vegetação.

Ao se executar uma proteção superficial pela aplicação de concreto projetado,

é possível minimizar a infiltração de água no terreno para garantir a estabilidade do

talude. A drenagem superficial, por sua vez, minimiza a entrada de água de chuva

no terreno, mostrando-se indispensável em todas as obras e taludes de solo a

jusante de escarpas rochosas. Em sua execução em rocha, usam-se canaletas

chumbadas na rocha imediatamente acima do contato com o solo.

Paralelamente, há na drenagem profunda uma alteração da direção do fluxo

subterrâneo, com redução das poropressões atuantes no solo. Adota-se esta

solução na estabilização de solos coluvionares de grande comprimento.

Os muros ou taludes de solos reforçados constituem uma das soluções mais

baratas para aterros com alturas acima de 3 metros e extensões maiores que 20

metros (Manual da GeoRio, 2014), constituindo uma categoria de obras flexíveis

com boa tolerância às deformações da fundação. Entretanto, na implantação

solidária ao solo, podem apresentar problemas estéticos no faceamento quando

submetidas a recalques significativos.

Page 31: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

31

A técnica de execução de solos grampeados tem por base a aplicação de

revestimento, o qual representa uma solução mais cara e solicita a mobilização de

esforços muito maiores que os métodos convencionais de execução de túneis com

suporte rígido. Usam-se grampos, os quais se diferem das ancoragens por não

apresentarem trecho livre e por serem elementos passivos ou levemente pré-

tensionados, solicitados apenas quando o solo se deforma. Eles são projetados

considerando-se a resistência à tração e em algumas situações ao cisalhamento,

sendo normalmente constituídos por barras de aço instaladas em pré-furos

preenchidos por calda de cimento. As etapas deste tipo de execução são a

escavação, a instalação do grampo, a execução da face e a escavação final.

Os grampos possuem menor complexidade e comprimento que em obras com

estruturas ancoradas, apresentando-se como uma solução de menor custo,

normalmente aplicável a encostas naturais, escavações e taludes inclinados sem

cortes verticais, também usado para promover a estabilidade de rupturas pouco

profundas.

Por outro lado, as estruturas ancoradas são tradicionalmente aplicadas em

cortes e aterros conforme os métodos descendente e ascendente, respectivamente,

limitando-se os deslocamentos do terreno pela rigidez da estrutura. As ancoragens

são elementos de inclusões semirrígidas empregadas para resistência à tração, com

a contenção de uma massa de solo ou rocha. Seu principal elemento é o tirante,

transmissor dos esforços de tração, o qual deve ser introduzido num furo realizado

no terreno com posterior inserção de um material aglutinante, em geral calda de

cimento, a fim de garantir aderência. Seus elementos constituintes são basicamente:

a cabeça, extremidade exterior ao terreno; o trecho ancorado ou injetado,

extremidade oposta à cabeça transmissora da carga de tração ao terreno; e o trecho

livre, intermediário entre a cabeça e o trecho enterrado, o qual transmite as cargas

de tração entre a cabeça e o trecho ancorado.

Nesta categoria, ressaltam-se as cortinas ancoradas, formadas por paredes

de concreto armado normalmente verticais com tirantes ancorados no terreno; as

grelhas ancoradas, que atuam de modo semelhante, apesar de terem como

característica distinta o paramento da estrutura, constituído por peças estruturais em

Page 32: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

32

duas direções com conformação à superfície do terreno; as placas ancoradas, que

consistem em pequenas lajes ou blocos de concreto armado sobre o qual se apoia a

cabeça da ancoragem; os contrafortes ancorados ou chumbados, que servem de

apoio para a fixação de um bloco de rocha; e os ancoragens isoladas, casos nos

quais a cabeça do tirante é apoiada diretamente no bloco ou lasca de rocha.

Destaca-se que as grelhas e placas de concreto armado e telas metálicas

ancoradas adaptam-se bem a terrenos irregulares ou inclinados, sendo também

indicadas para reforço de estruturas de contenção.

Por sua vez, os chumbadores são elementos passivos por não serem pré-

tensionados, não apresentando trechos livres. Neste método, faz-se uma perfuração

no terreno, preenche-se o furo com calda de cimento e introduz-se uma barra de

aço. Em suma, os chumbadores podem contribuir com suas resistências à tração e

ao cisalhamento. As cargas são transmitidas por meio de todo o comprimento, de

modo que a mobilização dependa das deformações verificadas no material contido.

No conjunto dos muros de peso, encontram-se os muros de peso

propriamente ditos, os muros de flexão em concreto armado (com ou sem

contrafortes e chumbadores), os muros de alvenaria de pedras, os muros de

concreto ciclópico, os muros de gabião, os muros de sacos de solo-cimento, os

muros de solo reforçado e os muros de flexão em concreto armado. Alguns fatores

que influenciam na escolha deste grupo são a altura, o espaço disponível, as

deformações esperadas e tensões internas, as exigências estéticas e vandalismo, o

solo disponível para reaterro e os custos - sendo que cada um dos tipos de muros de

peso supracitados tem peculiaridades relativas a cada um desses aspectos.

Nesta categoria, destacam-se os muros de concreto armado ou ciclópico e os

de alvenaria de pedras. Eles possuem baixa tolerância a recalques e podem

apresentar rachaduras em terrenos compressíveis, exigindo fundações adequadas.

Em geral, são feitos com alturas inferiores a 3m, mas em casos de grandes alturas

requerem elevadas tensões de tração nas armaduras e de compressão na seção de

concreto, com aumento significativo do custo. Todavia, esta não é a solução

preferida em locais com restrição de espaço, visto que em geral demanda larguras

de base relativamente grandes, e por vezes escavações para implantação da base.

Page 33: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

33

As técnicas de remoção e desmonte de blocos não fixam os blocos

individualmente junto ao maciço de rocha, mas conduzem à remoção, ao desmonte

ou ao uso de telas especiais limitadoras de seu deslocamento. Pode-se remover

blocos soltos de pequenos portes da superfície rochosa, fragmentar blocos maiores

antes da remoção por explosivos ou desmonte a frio ou pregar telas de aço em

taludes rochosos, com fins de orientação de queda ou contenção.

No âmbito dos taludes rochosos e blocos soltos, a técnica de proteção pela

execução de falsos túneis não impede a ocorrência dos movimentos de massa, mas

evita que os materiais atinjam a via. Tal estrutura suporta os esforços dinâmicos e

estáticos provocados pelo movimento de massa, atuando como uma estrutura de

impacto.

As barreiras de impacto objetivam conter ou desacelerar massas de solo ou

rochas em movimento, podendo ser classificadas dentre as modalidades de

barreiras flexíveis e barreiras rígidas ou semi-rígidas. Elas são indicadas em casos

de dificuldade de acesso na execução de obras convencionais de contenção, e

também quando a estabilização da massa potencialmente instável no seu próprio

local é economicamente inviável. A ruptura não é evitada, mas pode ser controlada

de modo a reduzir os riscos.

Recomenda-se o uso de falsos túneis ou barreiras de impacto quando em

função da grande extensão da massa instável avalia-se que estabilizar no local é

inviável. Afinal, é preciso prever espaço para a deposição do material deslizado.

Page 34: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

34

3. CORTINAS ATIRANTADAS

3.1. CONCEITUAÇÃO

Os muros de arrimo representam a solução estrutural mais antiga para a

contenção de taludes, em função de serem relativamente baratos e não exigirem

mão de obra especializada. Em geral, é empregado na contenção de desníveis de

dimensões pequenas ou médias. Contudo, o uso se torna limitado, uma vez que sua

estabilidade é basicamente garantida a partir do peso próprio.

Indo de encontro a esta restrição, as cortinas atirantadas constituem uma

categoria de obra de infraestrutura amplamente adotada na contenção de desníveis

superiores a 5m ou na eventual ausência de área para comportar toda a base do

muro. Sua execução é também recomendada para cortes em terrenos com elevada

quantidade de carga, além da contenção de aterros de solos que apresentem pouca

resistência à estabilidade.

Ao contrário dos muros de arrimo, as cortinas atirantadas constituem o

método mais seguro e de maior vida útil, apresentando como vantagem a

capacidade de serem projetadas independentemente da altura do talude. Em sua

maioria, não exigem fundações cravadas na parte inferior e podem por isso ser

construídas em qualquer altura, inclusive somente nas faixas mais instáveis do

terreno, concomitantemente com partes estáveis do talude sem proteção.

Em suma, esta técnica de contenção tem caráter provisório ou definitivo, com

a execução de uma “cortina” de contenção. Ela consiste em um muro delgado com

espessuras da ordem de 20 a 30 cm (Manual da GeoRio, 2014), cujo material

constitutivo pode ser concreto armado, projetado, parede diafragma, estacas-

pranchas, estacas-raiz e perfis metálicos intercalados por vigotas de madeira ou por

concreto armado pré-moldado. No processo de construção, executa-se

paralelamente as etapas de perfuração, aplicação, injeção e protensão de tirantes.

Eles se distribuem de modo aproximadamente uniforme, sob espaçamentos de

valores variáveis, em função dos esforços atuantes e da altura da contenção de

projeto.

Page 35: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

35

A figura FIG.3.1 exemplifica a aplicação de cortinas atirantadas pela vista

parcial do KM-83 da obra de duplicação da rodovia federal BR 040, que interliga

Brasília e Rio de Janeiro.

FIG.3.1 Cortina Atirantada (Adaptado de EIP, 20?)

Adicionalmente, as cortinas atirantadas diferem-se das estruturas

grampeadas por desempenharem um processo de estabilização com aplicação de

tensões induzidas no contato solo-face. Para isto, protendem-se os tirantes, tanto a

partir de seus trechos livres na parte externa do talude, quanto no trecho injetado,

via injeção de calda de cimento.

A face em solos grampeados, por outro lado, desempenha uma importância

secundária, sendo que o processo de estabilização é garantido pelo emprego de

grampos que conseguem associar pelo atrito as zonas potencialmente instáveis às

zonas resistentes. Os reforços, por sua vez, não são protendidos, de modo que a

mobilização é alcançada a partir de deslocamentos da massa de solo.

Contudo, a execução da técnica de cortinas atirantadas é um processo

normalmente caro e demorado, que requer mão de obra especializada,

Page 36: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

36

equipamentos sofisticados de perfuração, dispositivos específicos de fixação dos

cabos na cabeça da estrutura e cuidados especiais quanto à protensão apropriada

para cada tipo de tirante.

Questões legais e construções adjacentes também podem ser fatores

limitantes para o projeto, como restrições contra a invasão do subsolo de vizinhos ou

obstáculos estruturais intransponíveis, representados por túneis e metrôs.

Um ponto crítico das estruturas de cortina atirantada é a barra de aço, que

deve ser protegida com argamassa ou nata de cimento para que não sofra corrosão

com rompimento do tirante. A carga de protensão, por sua vez, aumenta de acordo

com a profundidade, sendo que cargas muito altas podem gerar rupturas, e ainda

que exijam menores cuidados, os tirantes devem ser avaliados. Precisa-se observar

também eventuais movimentações do maciço dadas as variações de temperatura e

infiltração de água pela parte traseira, o que pode vir a gerar fissuras no concreto

pela propagação de infiltrações e vazamentos.

A cortina atirantada pode então ser basicamente dividida em duas partes: os

painéis, normalmente constituídos de concreto armado e dispostos na vertical; e os

tirantes, ancorados em profundidades que garantam a estabilidade, sem que

possibilitem movimentações indesejadas ou rupturas. As figuras FIG.3.2 e FIG.3.3

retratam o exposto.

FIG.3.2 Cortina Atirantada (A), Estroncada (B) e em Balanço (C) (GERSCOVICH,

DANZINGER E SARAMAGO, 2016)

Page 37: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

37

FIG.3.3 Cortina Atirantada em Seção Transversal (GERSCOVICH, DANZINGER E

SARAMAGO, 2016)

3.2. ETAPAS DE DIMENSIONAMENTO

O dimensionamento de cortinas atirantadas em geral abrange estas etapas:

Avaliação dos parâmetros do solo: Tendo sido efetuadas as visitas ao local da

obra com a realização dos ensaios pertinentes, busca-se um conhecimento prévio

do perfil geológico-geotécnico local para adaptar o projeto às condições da geologia

local. Tem-se:

a) Levantamento topográfico com representação das curvas de nível e

aferição de parâmetros espaciais, como a extensão e a cota da elevação da crista

do talude em relação ao nível do mar. Dado o projeto arquitetônico, avalia-se a

garantia de viabilidade do empreendimento pelas condições de contorno do local da

contenção.

b) Verificação de boletins de sondagens à percussão realizadas no local, com

indicação dos locais dos furos de sondagem na planta topográfica. Aferem-se os

dados em trechos verticais, desde o topo do talude de deslizamento até as

proximidades do pé da encosta. Para tal, a norma NBR 6484 prescreve o método de

Page 38: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

38

execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos, trazendo em seu

anexo A uma classificação quanto aos estados de compacidade dos solos

granulares e a consistência de solos finos;

Definição da geometria da cortina em termos de parâmetros como dimensão,

altura, espessura, cota de assentamento, disposição espacial das estruturas

principais no terreno, disposição de balanços laterais e recursos auxiliares de

fechamento e apoio da estrutura principal;

Dimensionamento dos tirantes em termos de parâmetros como disposição

espacial, inclinações com a horizontal, cargas de trabalho, comprimentos de

ancoragem, tensões de escoamento, diâmetros, espaçamentos relativos;

Dimensionamento da armadura para a resistência aos momentos fletores

atuantes na cortina e verificação da resistência do concreto à punção pelos esforços

cortantes; e

Dimensionamento da fundação da cortina por estimativas da resistência do

solo e cargas aplicadas na fundação.

3.3. ETAPAS DE EXECUÇÃO

Orienta-se o processo executivo das cortinas atirantadas de modo

descendente, em casos de cortes, ou ascendentes, no caso de aterros. Por linhas

gerais, tem-se a seguinte sequência de atividades a serem efetuadas:

Execução de ancoragens;

Escavação ou reaterro, caso haja processo descendente ou ascendente;

Execução da parede em termos de forma, armadura e drenagem; e

Protensão para realização de ensaios e incorporação das cargas nas

ancoragens.

Na execução descendente, é possível escavar o talude a ser processado de

acordo com nichos alternados, sob o objetivo de aumentar a estabilidade provisória.

Page 39: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

39

Através desta técnica, a instalação e a protensão prévia dos tirantes ocorre com

minimização de deformações à medida que a escavação vai sendo realizada.

A figura FIG.3.4 ilustra a técnica descrita. De modo geral, define-se

iterativamente uma faixa longitudinal de corte, na qual os trabalhos da etapa

correspondente serão executados. O equipamento de terraplenagem remove a fatia

externa, sob a restrição de haver uma fatia de segurança interna a ser removida

manualmente. Esta última é processada de maneira a facilitar a execução de um

acerto manual de solo, com a formação de uma região vertical aproximadamente

retilínea na qual são efetuadas as perfurações com posterior inserção dos tirantes

correspondentes.

FIG.3.4 Método Descendente (Hunt e Nunes, 1978)

Page 40: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

40

Cada tirante, por sua vez, é chumbado no fundo do orifício e sofre uma

pintura com tinta epóxi anticorrosiva, sendo envolvido em tubo de borracha

individual. A seguir, o conjunto de tirantes é inserido em um tubo coletivo, dentro do

qual é revestido com calda de cimento, sendo também oportuno aprofundar os

tirantes até que os mesmos fiquem fora da zona de movimentação do terreno.

Por fim, executa-se a cortina de concreto e protende-se os tirantes.

Terminado o trabalho na faixa original, executa-se os mesmos procedimentos sob a

faixa inferior. Assim, manipula-se as faixa de solo do talude recursivamente até que

esta etapa de execução da obra se conclua.

Em perfis metálicos, a inserção de tirantes ocorre após as etapas de

cravamento e escoramento, sendo o atirantamento dividido em quatro etapas:

perfuração, instalação dos tirantes, injeção da nata de cimento e protensão.

Para fins ilustrativos, retrata-se em uma abordagem mais detalhada a

execução de projetos de cortinas atirantadas orientadas em sentido descendente,

tendo por referência um conjunto de imagens de uma obra desta modalidade

concluída pela empresa Progeo Engenharia Ltda e executada em Juíz de Fora (MG)

em 2010, estando a base do talude entre o hospital Monte Sinai e a Universidade

Federal de Juíz de Fora, no estado de Minas Gerais.

Destaca-se que o projeto consistiu na inserção de várias cordoalhas nos furos

tendo em vista o fato de ser provisório, porém a orientação geral é o uso de apenas

um tirante.

Em suma, as etapas constituem-se na ordem a seguir:

Estabelecimento de caminhos de acesso à obra para o início dos serviços:

Quando se elaboram caminhos de acesso em serviço de baixo para cima

para o início de um processo descendente de execução, é aconselhável a adoção

de rampas que sigam as curvas de nível, facilitando o acesso de escavadeiras e

equipamentos de perfuração ao topo do talude para o início da montagem de

andaimes.

Page 41: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

41

Preparo, roçada e limpeza:

Caso necessário, executa-se desmatamento com limpeza do lixo pré-

existente. Para tal, inicia-se a remoção da vegetação rasteira associada à

regularização do talude com o auxílio de enxadas, atentando-se para o reforço na

proteção dos operários em casos de trabalhos de rapel.

Início das escavações dos eixos e aplicação da primeira linha de tirantes:

Em geral, perfura-se o solo com sonda rotativa de revestimento contínuo, em

cuja ponta há uma coroa com pastilha de vídia ou haste contínua com tricone. Se

houver matacões, pode-se perfurar o material tanto por broca de vídea, cujas

dimensões giram solidárias ao tubo, sob desempenho especialmente eficaz em

matacões de rocha alterada; quanto por rotopercussão, processo este que usa ar

comprimido e é limitado por um valor máximo de diâmetro da perfuração, o qual

depende das características dos equipamentos disponíveis. Terminada a perfuração,

injeta-se água até limpar o furo.

Locação dos furos, montagem e inserção dos tirantes da primeira linha:

É possível que não haja espaço suficiente na obra para a montagem de

tirantes, pois eles em geral têm mais de 10m. Aconselha-se então o uso de rampas

de acesso para a montagem de cavaletes que permitam o início da manipulação.

Sobre a bancada improvisada, a cordoalha deve ser cortada conforme o

comprimento definido em projeto, para então se executar o tratamento anticorrosivo.

Caso haja pontos de ferrugem, eles devem ser lixados ou removidos com escovas

de aço, para aplicar-se então a pintura anticorrosiva capaz de preencher todo o

comprimento sem deixar pontos ralos, com pouca tinta, ou então escorridos, com

excesso de tinta. Aplica-se até duas demãos do material, sendo oportuno frisar que

o aço já possui uma pintura de fábrica anticorrosiva. Ele é então fixado na estrutura

por espaçadores definidos, ligados por arame.

Usa-se na estrutura do tirante um tubo de PVC, cujo trecho ancorado é

geralmente coberto por anéis de borracha ou válvulas a cada 0,50 m. Nele, injeta-se

calda de cimento para a formação de bulbos sob pressão controlada. Já no trecho

Page 42: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

42

livre, usa-se uma envoltória com graxa anticorrosiva a ser embutido em tubos

plásticos ou espaguetes para propiciar o deslocamento elástico na protensão.

Dentre as modalidades de aço normalmente usadas na execução dos

tirantes, estão: CA-50, CP-150 RB, CP-190 RB, ROCSOLO ST 75/85, Dywidag ST

85/105 e Gewi 50/55.

A instalação dos tirantes deve ser feita manualmente e de modo lento e

cauteloso, sob supervisão direta do encarregado da atividade para evitar danos

devidos a flexões excessivas ou atritos na interface entre as paredes do

revestimento e o furo. Nesta etapa, evita-se ferir a proteção anticorrosiva ou mesmo

deslocar as válvulas e os espaçadores, devendo-se atentar para o adequado

posicionamento da cabeça na posição prevista em projeto. Aplicado o tirante no furo

perfurado, deve haver um trecho livre de cerca de um metro para a posterior

protensão dos cabos.

FIG.3.5 Manuseio dos Tirantes (NARESI, 2009)

Page 43: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

43

FIG.3.6 Inserção dos Tirantes (NARESI, 2009)

FIG.3.7 Vista dos Tirantes no Furo (NARESI, 2009)

Page 44: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

44

Injeção da primeira fase de bainha, logo após a instalação dos tirantes:

Esta etapa consiste em descer o obturador até a primeira manchete,

localizada na parte mais inferior do furo. Através do aparelho, devidamente

conectado a uma central de injeção, insere-se a calda de cimento sem que haja

desenvolvimento considerável de pressão. A substância percorre então todo o furo,

desde a base até a boca, sendo útil para proteger o tirante e evitar afrouxamento de

tensões na superfície da parede interna. Ou seja, evita-se que o furo relaxe e se

feche, a fim de que não haja contaminações nas injeções posteriores.

Na prática, preenche-se o espaço anelar entre o corpo do tirante e a parede

do furo ao longo de todo o comprimento da barra, impedindo que a calda de cimento

correspondente às injeções consecutivas flua para a parte externa do maciço pelo

espaço anelar.

Contudo, o embainhamento pode ser necessário antes da retirada do

revestimento. Em outros casos, ele é recomendado ainda antes da instalação do

tirante no furo.

FIG.3.8 Tubo de Injeção (NARESI, 2009)

Page 45: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

45

Findada esta etapa, deve-se adotar um período de no mínimo dez a doze

horas após a primeira execução da bainha para a injeção de fases, conhecida como

injeção primária. Na prática, espera-se até o dia seguinte. Ao contrário da fase

anterior, a aplicação do material neste procedimento ocorre sob pressão controlada

e consiste na inserção de uma coluna de hastes dotadas de obturador duplo no

interior do tubo de injeção, com o início da injeção a ocorrer a partir da válvula mais

profunda.

Deve haver no processo uma ruptura inicial da bainha, a qual pode inclusive

requerer mais de uma fase de injeção de formação do bulbo em função das

pressões de injeção aferidas. Isto é, caso a pressão de injeção da primeira fase seja

insuficiente para fins de ancoramento do tirante, deve-se realizar preferencialmente

no dia consecutivo uma segunda fase, e assim por diante, desde que sejam

respeitadas a espera de dez a doze horas entre etapas consecutivas e a adequada

limpeza dos tubos de injeção dos tirantes ao fim de cada fase.

O processo ocorre até que as pressões finalmente sejam consideradas

adequadas para a ancoragem, valores estes previstos em projeto e obtidos em

função da resistência à compressão simples de cada bainha e da espessura

correspondente.

Quando o anel se rompe, há uma queda da pressão manométrica até

determinado valor, dependente da resistência ou compacidade do solo ao redor.

Assim, os volumes e pressões de injeção conseguem ancorar o trecho fixo do tirante

ao terreno.

Montagem da armação da cortina do primeiro nível de tirantes:

Colocam-se barras de aço conforme o projeto de armação, com a aplicação

de carga pelo conjunto macaco e bomba de protensão após a concretagem. O

tirante então estabiliza a carga, conforme ele empurra a estrutura de concreto

armado contra o talude e a parede de concreto reage ativamente contra o maciço.

Page 46: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

46

FIG.3.9 Armação do Painel (NARESI, 2009)

Inicia-se então a montagem das fôrmas metálicas planejadas e estruturadas,

tendo em vista a busca por alta eficiência, reutilização e manutenção da qualidade

do concreto armado aparente. Neste aspecto, recomenda-se a aplicação de fôrmas

plastificadas e adaptadas de madeira nos pontos de passagem dos tirantes, além da

instalação de tubos de PVC com folga para a garantia do funcionamento e da

trabalhabilidade dos trechos livres na futura protensão, evitando-se a entrada do

concreto a ser aplicado na fôrma.

Uma prática comum na execução de cortinas atirantadas segundo o método

descendente é o cuidado em relação às dobras necessárias, permitindo-se

aproveitar melhor as partes inferiores das barras até então executadas nas etapas

consecutivas. Para isso, executam-se dobras dos pés das barras no chão, de modo

que as próximas concretagens possam ser restituídas para a posição vertical inicial.

Isto evita a perda de aço e a utilização desnecessária do transpasse da barra,

conforme preconizado na NBR 6118.

A figura FIG.3.10 mostra o exposto no parágrafo anterior.

Page 47: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

47

FIG.3.10 Dobras (NARESI, 2009)

FIG.3.11 Primeira Linha de Tirantes (NARESI, 2009)

Page 48: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

48

Escoramento das fôrmas do primeiro nível dos tirantes:

Entre as etapas do fechamento das fôrmas metálicas e da concretagem,

escora-se a fôrma a favor da segurança, sem o risco dela se abrir dado o peso

próprio do concreto.

FIG.3.12 Escoramento Tubular Metálico (NARESI, 2009)

Concretagem da cortina no primeiro nível original de tirantes, com desforma

após 2 dias

FIG.3.13 Desforma do Primeiro Nível (NARESI, 2009)

Page 49: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

49

Início da perfuração dos tirantes na parte inferior:

Tendo em vista a necessidade de mudança do nível vertical para a

continuidade de execução do projeto, conduz-se a plataforma de trabalho a níveis

inferiores, a fim de tornar possível a entrada da perfuratriz sobre esteira. Ela é

normalmente usada nas obras cujos projetos adotam o método descendente.

Deste modo, pode-se dar início à perfuração com instalação dos tirantes e

assim repetir o ciclo na parte inferior. É oportuno lembrar que os locais de aplicação

dos tirantes devem receber um gabarito de PVC para montagem das formas, o que

pode ser feito de modo concomitante ou não com a etapa de montagem da

armação. Deste modo, o procedimento torna mais fácil alinhar os tirantes a serem

instalados na perfuração.

Instalação e injeção do tirante:

Repetem-se os passos anteriores com a execução de nichos alternados, os

quais devem ser armados. Ou seja, deve-se escavar manualmente o nicho, executar

a perfuração e por fim instalar e injetar o tirante.

FIG.3.14 Armação em Nicho Alternado (NARESI, 2009)

Page 50: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

50

Fechamento das formas, escoramento e concretagem do nicho alternado:

Como a concretagem ocorre no mesmo nível vertical da estrutura de contenção,

deve-se deixar uma janela de concretagem para a aplicação do concreto. Afinal,

após a concretagem e o início da cura, o vão é demolido para que a parede fique

posicionada a prumo.

Protensão da primeira linha de tirantes: A fim de que a escavação prossiga, é

preciso protender a primeira linha de tirantes para que a carga de trabalho colocada

contenha as paredes de concreto armado sem que haja o risco de rotação ou

recalque devido ao peso próprio do material.

Após as etapas de injeções e da cura do cimento, de três dias para o cimento

de alta resistência inicial e sete dias para o cimento comum, pode-se instalar as

cabeças das ancoragens acopladas junto aos paramentos de contenção para as

protensões.

Para fins de tensionamento e cravação dos tirantes, usam-se conjuntos de

protensão com bomba e macaco de acionamento hidráulico cujas capacidades

atingem com folga as cargas limites de ensaio. Assim, a protensão dos tirantes deve

respeitar um período mínimo de cura da última fase de injeção, com compatibilidade

entre as cargas de testes dos tirantes e suas composições estruturais.

FIG.3.15 Macaco de Protensão de Cordoalhas (NARESI, 2009)

Page 51: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

51

A NBR 5629 estabelece que todos os tirantes devem ser submetidos a

ensaios de protensão na obra, devendo seguir procedimentos específicos para as

etapas de protensão e aceitação no campo.

Havendo um tirante definitivo, protege-se sua cabeça com acabamento de

concreto, normalmente em formato de bloco trapezoidal. Outros cuidados especiais

devem ser observados em relação à manutenção do tirante, pois caso ele seja

submetido ininterruptamente a cargas de tração plenas sofrerá desgaste maior. Já

os tirantes provisórios, por sua vez, podem ser desativados após a conclusão dos

serviços da obra.

Ressalta-se que as regras mais importantes relativas a ensaios,

dimensionamentos e execuções estão preconizadas em norma e serão abordadas

de modo mais aprofundado adiante. Afinal, o objetivo deste item foi apenas

apresentar um panorama geral das etapas de execução de cortinas atirantadas.

Por último, mas não menos importante, o projeto também precisa contemplar

adequadamente a inserção de canaletas, não apenas na crista da cortina atirantada,

mas também na base. Senão, seria difícil esgotar os drenos sub-horizontais e

simples. Elas drenam as águas superficiais e evitam erosões nos terrenos

adjacentes. Deve haver também caixas de passagem, bueiros, escadas de

dissipação e outros elementos que conduzam as águas superficiais até a descarga.

3.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE

Para a análise de estabilidade, destacam-se os seguintes modos de ruptura

de cortinas atirantadas, os quais devem ser checados em projeto:

FIG.3.16 Métodos de Ruptura de Cortinas Atirantadas

Page 52: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

52

FIG.3.16 Métodos de Ruptura de Cortinas Atirantadas (cont.) (GERSCOVICH,

DANZIGER E SARAMAGO, 2016)

Os itens da figuras FIG.3.16 acima referem-se às seguintes situações:

a) Ruptura da fundação da estrutura: Modelo mais propenso a ocorrer abaixo

da fundação do painel para materiais de baixos valores de resistência, sendo

adotadas então fundações profundas como medida preventiva.

b) Ruptura entre o trecho ancorado e o painel: Modelo normalmente evitado

ao se atentar para as adequadas execuções da etapa de dimensionamento e das

ancoragens.

c) Ruptura na região após o trecho ancorado: Idem ao item anterior.

d) Deformação excessiva na implantação da estrutura: Apesar de não ser

comum pelo fato das cortinas atirantadas serem consideravelmente rígidas, pode

ocorrer em casos anteriores à incorporação das cargas no nível das ancoragens.

e) Ruptura dos tirantes: Ocorre em tirantes submetidos a cargas maiores ou

iguais à tensão de escoamento.

f) Ruptura do painel: Tende a ocorrer por problemas no dimensionamento

estrutural do painel, o qual deve ser projetado para ser capaz de resistir aos

momentos em ambas as direções e à punção junto à cabeça do tirante.

No projeto geotécnico, deve-se determinar, portanto:

A geometria e o tipo de fundação dos painéis;

As cargas, inclinações e espaçamentos dos tirantes; e

Os comprimentos dos trechos livres e ancorados.

Page 53: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

53

No dimensionamento, deve-se também calcular o valor do empuxo do solo e

o modo pelo qual ele se distribui por entre as ancoragens. Tal procedimento é

influenciado pela interação entre os elementos solo - ancoragens - cortina, uma vez

que as deformações das ancoragens e a distribuição do empuxo influenciam as

deformações da estrutura da cortina. Este fator, por sua vez, influencia o valor e a

distribuição do empuxo.

Dentre as diversas técnicas de dimensionamento de cortinas atirantadas, a

opção de análise mais simples considera os tirantes projetados apenas para se

oporem aos empuxos. Entretanto, esta abordagem é recomendada apenas para

cortinas verticais e solos homogêneos sem lençol freático, com ruptura passando

pelo pé do talude.

3.4.1. MÉTODO DE COULOMB ADAPTADO

O método de Coulomb considera o equilíbrio limite de uma cunha de solo com

seção triangular, delimitada pelo tardoz do muro e pelas superfícies de ruptura e

retro aterro. Com isso, ele assume as hipóteses das superfícies de desligamento

serem planas e passantes pela base da estrutura de suporte, além da existência de

liberdade de movimentação da estrutura de modo a poder mobilizar completamente

o atrito entre o solo arrimado e ela.

A técnica, entretanto, não restringe o ponto de aplicação do empuxo,

tampouco o modo pelo qual as tensões horizontais se distribuem sobre o muro.

Sendo conhecida a direção do empuxo, é possível determiná-lo por construções

gráficas, devendo as forças concorrerem para um mesmo ponto ou fornecerem um

polígono fechado pelas condições de equilíbrio.

De acordo com a ilustração do método na figura FIG.3.17, calcula-se o

empuxo Ea' em termos de pressões de água, devendo-se obter as inclinações θ de

diferentes cunhas com seus respectivos empuxos equilibrantes Eθ. Avalia-se então

para cada uma delas o polígono de forças associado ao equilíbrio, sob a

consideração dos parâmetros dos respectivos valores das resultantes de pressões

de água manter Uθ atuantes no trecho ab, do peso próprio da cunha Wθ e da

resultante das forças normal e de atrito no solo, mobilizadas na base.

Page 54: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

54

A solução analítica do método foi desenvolvida por Caquot e Kerisel (1948),

com obtenção do valor de Ka e da inclinação da cunha crítica θA. Na modelagem,

consideram-se as tanto as inclinações α e β do retro aterro quanto a inclinação δ do

empuxo de terra, todos com sentidos positivos em relação à horizontal.

FIG.3.17 Método de Coulomb (GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO, 2016)

Acha-se o valor de Uθ de acordo com as condições do fluxo da água do

terreno, sendo Ea correspondente à cunha crítica θa, que por definição requer maior

empuxo para a garantia da estabilização com Eθmax.

Equacionam-se então alguns dos parâmetros mencionados:

(EQ 3.1)

(EQ 3.2)

Na situação de análise de uma cortina atirantada vertical ou quase vertical

implantada sobre solo homogêneo, sem aquífero e com superfície de ruptura

Page 55: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

55

passando pelo pé do talude, pode-se usar o método de Coulomb adaptado para a

determinação das cargas das ancoragens.

Por sua vez, para ancoragens distribuídas em diferentes níveis horizontais, o

somatório das cargas para uma vertical qualquer é calculado pela fórmula a seguir.

Nela, Sh é o espaçamento horizontal entre ancoragens, T é o valor da carga

associada a cada uma delas e Ea é o empuxo ativo por metro:

(EQ 3.3)

O valor de Ea, por sua vez, pode ser determinado com base no procedimento

originalmente descrito, considerando-se no cálculo de Ka inclinações iguais para o

empuxo e as ancoragens. Ou seja, δ = ω, sendo ω o ângulo das ancoragens. Os

sentidos positivos de α, β e δ, por sua vez, seriam os indicados na mesma figura

FIG.3.17, tendo por referência à horizontal.

No dimensionamento das cortinas pelo método de Coulomb adaptado,

adotam-se sentidos iguais para δ e ω, com uma faixa de variação convencional de ω

variando entre -15° e -20°, associada a um sentido anti-horário positivo.

Nesta modelagem especial, adotam-se os valores de fatores de segurança

acima de 1,5 e calculam-se os valores de resistência e coesão mobilizados do solo,

respectivamente indicados por 'mob e c'mob:

(EQ 3.4)

(EQ 3.5)

Na hipótese da fundação estar assentada sobre rocha ou estaqueamento,

considera-se a não existência de deslocamento entre o painel e o solo. Isto é, toda a

Page 56: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

56

componente vertical das estacas seria suportada pelas fundações do painel, sendo o

empuxo paralelo à inclinação do terreno com δ = α.

As cargas nas ancoragens são então determinadas pela fórmula a seguir:

(EQ 3.6)

Nesta lógica, há uma significativa redução no valor das cargas das

ancoragens e um aumento na solicitação sobre a fundação da cortina. Adota-se

então uma distribuição constante das cargas incorporadas nas ancoragens em

função da profundidade.

Por fim, a partir da determinação do somatório dos valores de cargas, obtém-

se a carga de trabalho Ttrabalho em cada ancoragem e o número de tirantes N por

vertical.

(EQ 3.7)

Um aspecto a ser ressaltado é quanto ao espaçamento entre as ancoragens,

devendo o projeto priorizar a eliminação de interação entre os bulbos ancorados e

considerar adequadamente o dimensionamento estrutural da parede de concreto

armado. Valores de espaçamentos horizontais muito elevados ocasionam momentos

fletores elevados na cortina, sendo por isso recomendável o uso de Sb em torno de

3,0m.

3.4.2 MÉTODO DE RODIO

Apesar de ser aparentemente semelhante à abordagem anterior, este método

se diferencia por usar diagramas aparentes de empuxo (Terzaghi; Peck, 1967)

adaptados.

Page 57: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

57

Nesse contexto, sendo ka o coeficiente de empuxo ativo da teoria de Rankine,

γ o peso específico do solo, H a altura da contenção, c o valor de coesão e q a

sobrecarga, o empuxo ativo é dado por:

(EQ 3.8)

Por outro lado, sendo α a inclinação dos tirantes, o ângulo do empuxo ativo

com a horizontal, e o espaçamento horizontal entre os tirantes e Fadm a carga de

trabalho do tirante, a quantidade n de tirantes a ser usada é calculada por:

(EQ 3.9)

Para a correta aplicação do processo Rodio, deve-se considerar a influência

do fator de segurança nas fórmulas acima, o qual pode ser feito pelo conceito de

atrito mobilizado, analogamente ao método de Coulomb adaptado para cortinas

atirantadas. Ainda, para garantir que a estrutura esteja longe da situação de ruptura,

o fator de segurança empregado para o aço não deve ser confundido com os fatores

de segurança referentes às incertezas sobre os valores dos parâmetros do solo e os

modelos de cálculo, dentre outros parâmetros de incerteza eventuais.

3.4.3. MÉTODO BRASILEIRO (NUNES; VELLOSO, 1963)

Esta abordagem considera a superfície de ruptura como um plano que passa

pelo pé do talude, sendo restrita a taludes praticamente verticais e solos

homogêneos. Este é o método mais usado por projetistas brasileiros.

Por Taylor (1948 apud Craizer, 1981, p.17):

“Pode-se concluir que a suposição de rotura plana conduz a aproximações

geralmente aceitáveis se o talude é vertical, ou próximo da vertical, mas não dá

aproximação satisfatória para taludes pouco inclinados."

Page 58: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

58

No método brasileiro, são avaliadas as forças de protensão dos tirantes em

relação ao equilíbrio da cunha, devendo as cargas serem inseridas de forma a se

alcançar o fator de segurança preconizado pela norma, igual a 1,5.

Para fins de cálculos de dimensionamento, empregam-se os seguintes

parâmetros, ilustrados nas figuras FIG.3.18 e FIG.3.19 abaixo:

δ = inclinação da crista do talude com a horizontal;

i = inclinação do talude com a horizontal;

θ = ângulo entre a horizontal e um plano qualquer de possível deslizamento;

= ângulo de atrito;

H = altura da estrutura de arrimo;

P = peso da cunha mais provável de deslizamento com dimensão unitária,

devendo-se incluir a carga no valor de P para taludes sujeitos a sobrecarga;

R = reação do maciço terroso sobre a cunha;

c = coesão do material do solo;

l = comprimento da linha de maior declive do plano crítico de deslizamento;

c.l = força de coesão necessária para manter a cunha em equilíbrio; e

= peso específico da cunha de solo analisada.

FIG.3.18 Superfície de Ruptura no Pé do Talude (GERSCOVICH, DANZIGER E

SARAMAGO, 2016)

Das relações estabelecidas acima, chega-se ao triângulo de esforços:

Page 59: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

59

FIG.3.19 Diagrama de esforços (GERSCOVICH, DANZIGER E SARAMAGO, 2016)

Neste método, adota-se R como sendo o próprio ângulo de atrito, devendo o

fator de segurança estar totalmente considerado na coesão Cd. Para um número de

estabilidade

empregado em taludes homogêneos sem percolação, tem-se:

(EQ 3.10)

Na condição crítica, obtém-se o ângulo mais provável do plano de

deslizamento:

í

(EQ 3.11)

Para taludes verticais, i = 90°. Daí, as fórmulas acima podem ser

desenvolvidas pela seguinte sequência:

°

(EQ 3.12)

°

°

í

(EQ 3.13)

Page 60: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

60

° °

(EQ 3.14)

No caso geral com qualquer e i = 90°, o fator de segurança vale:

(EQ 3.15)

(EQ 3.16)

(EQ 3.17)

Analogamente, o FS relativo ao ângulo crítico de deslizamento é:

í

(EQ 3.18)

Deste modo, a ideia atrelada à aplicação do método consiste em atribuir uma

inclinação inicial α aos tirantes para se obter o ângulo β, igual à soma entre α e

í . O processo segue com a iteração do ângulo na equação anterior,

aumentado-se progressivamente seu valor até se obter um valor mínimo FSp > 1,5.

Assim:

(EQ 3.19)

Page 61: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

61

FIG.3.20 Diagrama de Ângulos (GERSCOVICH, DANZIGER E SARAMAGO, 2016)

Assim, relacionam-se os fatores de segurança obtidos, com obtenção do peso

da cunha referente ao plano passando por θ'. Sendo o ângulo formado pelos

tirantes com o plano crítico de deslizamento e um parâmetro intermediário, definido

em função dos valores de FS até então calculados, tem-se:

(EQ 3.20)

(EQ 3.21)

Por fim, a força solicitante pode ser calculada por:

(EQ 3.22)

3.2.4. MÉTODO DE RANKE-OSTERMAYER

O método foi a princípio desenvolvido para a aplicação em solos granulares.

Entretanto, Pacheco e Danziger (2001) apresentaram generalizações da versão

original com a premissa de que o modelo a ser adotado em solos granulares seria

válido para solos com coesão c e atrito .

Page 62: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

62

Com a consideração da participação das ancoragens no processo de ruptura,

dimensiona-se o comprimento livre com o intuito de atingir o fator de segurança

desejado. O método é então descrito para o caso de uma ancoragem, duas

ancoragens e ancoragens múltiplas.

Conforme Pacheco e Danziger (2001), representam-se o modelo de análise

de uma linha de ancoragem na figura 3.21 e o polígono de forças, considerando-se

um solo com coesão e ângulo de atrito, na figura 3.22.

Os parâmetros associados são:

G - Peso da cunha de solo abcd;

Ea - Reação contrária ao empuxo de terra;

E1 - Empuxo de terreno à direita da cunha;

Q - Reação do material de fundação sobre a cunha ao longo da superfície ab,

com a consideração de mobilização total do atrito;

δ - Ângulo de atrito entre a cortina e o solo;

C - Força de coesão, igual ao produto entre a coesão c e o comprimento ab;

Aposs - Esforço equilibrante da cunha representante do valor máximo de carga

no tirante, fator este desestabilizante para o equilíbrio da cunha de solo;

Ah,poss - Projeção horizontal da componente Aposs, igual a:

E1h - Projeção horizontal da componente E1;

Eah - Projeção horizontal da componente Ea;

Page 63: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

63

G - Peso da cunha;

α - Inclinação do tirante;

- Ângulo de atrito do solo; e

- Ângulo entre a horizontal e a reta entre a base e o centro do tirante.

FIG.3.21 Método de Ranke-Ostermayer (GERSCOVICH, DANZIGER E

SARAMAGO, 2016)

FIG.3.22 Polígono de Forças do Método Ranke-Ostermayer (GERSCOVICH,

DANZIGER E SARAMAGO, 2016)

O fator de segurança vem da divisão entre valor máximo de carga do tirante

Ahposs por Ahexistente, sendo este determinado pelos espaçamentos dos tirantes e o

empuxo Ea.

Page 64: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

64

No trabalho desenvolvido por Pacheco e Danziger (2001), destacou-se a

aplicabilidade do método para diversos níveis de tirantes com a aplicação dos

conceitos do intercepto de coesão. Entretanto, julga-se necessário checar a posição

de cada bulbo a ser posicionado, a fim de verificar se a locação projetada para os

mesmos não instabilizará a superfície potencial de ruptura. Os trechos livres

calculados por essa técnica, por sua vez, costumam a ser menores que os obtidos

por outras técnicas consagradas.

Além disso, usam-se outros métodos computacionais que adotam o equilíbrio-

limite para o dimensionamento das cortinas em casos mais complexos. Entretanto, o

engenheiro projetista deve conhecer as características básicas dos eventuais

softwares que venha a utilizar, a fim de realizar uma comparação inicial dos

resultados do programa com outras situações mais simples de cálculo mais fácil por

métodos tradicionais.

3.5 TÉCNICAS DE DETALHAMENTO

O foco deste item foi fornecer um embasamento técnico para o

dimensionamento dos painéis de cortinas atirantadas. Na intenção de detalhar a

técnica empregada como base para o projeto de redimensionamento de uma

construção de cortina atirantada ao final do presente trabalho, a técnica adotada

baseou-se no empenho pelo uso de alguns parâmetros geométricos afins em ambos

os itens.

3.5.1. PAINEL

Os painéis são em geral verticais e com espessuras entre 20cm e 40cm,

obtidas em função da análise de punção e dos momentos atuantes. Por sua vez,

cada um deles normalmente apresenta comprimento entre 5m e 15m, usualmente

10cm, além de juntas de dilatação entre as unidades, como mostra a figura 3.23.

(GERSCOVICH, DANZINGER E SARAMAGO, 2016)

Page 65: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

65

FIG.3.23 Junta Entre Painéis (GERSCOVICH, DANZIGER E SARAMAGO, 2016)

Nas bordas dos painéis, usam-se abas não atirantadas. Os comprimentos das

abas, em geral, variam até um valor máximo de aproximadamente dez vezes a

espessura do painel.

FIG.3.24 Vista Superior: Junta e Vértice (GERSCOVICH, DANZIGER E

SARAMAGO, 2016)

Os apoios dos painéis podem ser feitos por estacas ou fundações diretas.

Para a escolha do modo de apoio, deve-se basicamente analisar a resistência do

solo e a carga que chega às fundações da cortina. Esta última depende de alguns

fatores, sendo os principais o peso do painel e as componentes verticais devido aos

tirantes e ao empuxo.

Pode-se também implantar estacas até o nível do terreno para o apoio dos

painéis, caso eles sejam executados num material de baixa capacidade de carga.

Assim, outra medida a favor da segurança seria a colocação inicial de carga no

Page 66: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

66

tirante, mesmo que seja parcial, a fim de aumentar a segurança e diminuir as

deformações.

Já em termos de dimensionamento, um painel de cortina atirantada deve ser

estruturalmente dimensionado para resistir aos momentos e à punção na cabeça do

tirante. Nesta ênfase, um parâmetro a ser verificado de antemão é o valor da carga

solicitada nos tirantes, tal que o talude em análise esteja adequadamente

estabilizado. Para este fim, dentre as diversas técnicas de análise, optou-se pelo

emprego do método brasileiro de atirantamento. Ele busca obter o esforço dos

tirantes para impedir o deslizamento do maciço de terra, a partir de uma superfície

de ruptura crítica de fator de segurança admissível acima de 1,5, conforme exige a

NBR 5629:2006.

3.5.1.1 AÇÕES SOLICITANTES

Descreve-se a seguir a etapa completa de dimensionamento de projeto.

Sistematicamente, a partir da seção de projeto adotada, pode-se definir o

valor da altura total do talude Ht através da altura equivalente do solo ho. Deste

modo, sendo q o valor da carga distribuída na parte superior do talude e γ o peso

específico aparente do material do maciço, chega-se à altura total equivalente:

(EQ 3.23)

Ht = ho + h

(EQ 3.24)

A seguir, resume-se a sequência de projeto a ser executada na análise de

estabilidade, tendo por base o uso do método brasileiro descrito em 3.2.3:

a) Calcular :

(EQ 3.25)

Page 67: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

67

b) Calcular FS crítico:

(EQ 3.26)

c) Arbitrar a inclinação α dos tirantes e iterar até obter FS desejado ≥ 1,5:

β = α + θcr

(EQ 3.27)

(EQ 3.28)

d) Calcular λ e :

(EQ 3.29)

(EQ 3.30)

e) Calcular a força de ancoragem solicitante:

(EQ 3.31)

A seguir, distribui-se os tirantes no painel, sendo o cálculo do número N de

tirantes na vertical em função do espaçamento horizontal eh dado por:

(EQ 3.32)

O número Nt de camadas horizontais de tirantes é função da força F de

ancoragem aplicada, do espaçamento horizontal eh estabelecido e da força

admissível Fadm:

Page 68: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

68

(EQ 3.33)

Tendo sido definidos a altura total da cortina e a quantidade de níveis

horizontais de tirantes, obtém-se o espaçamento vertical entre eles e o número total

de tirantes, nesta sequência:

(EQ 3.34)

(EQ 3.35)

Destaca-se que os conceitos de concreto armado se relacionam à estrutura

do paramento de uma cortina atirantada, tendo correlação com a rigidez da parede

da cortina. Esta, por sua vez, se relaciona diretamente com a espessura da parede

de concreto e o espaço entre tirantes.

Assim, para facilitar o entendimento, é comum dividir a superfície do

paramento em faixas verticais e horizontais, representantes das áreas de influência

das linhas dos tirantes. Deste modo, pode-se fazer uma analogia do comportamento

da estrutura do paramento com o comportamento de vigas, seguindo um método de

análise convencional que divide os painéis em faixas de influências delimitadas pelo

semieixo da distância entre os eixos dos tirantes, conforme exibe a NBR 6118:2014.

Isto é, a estrutura pode ser observada como um conjunto de vigas verticais ou

horizontais com apoios nos tirantes, permitindo-se rotação nos pontos de apoio

modelados como de 2º gênero.

Para fins de dimensionamento das vigas dos tirantes em termos de

armaduras longitudinais e transversais, a etapa seguinte seria adotar uma

resistência característica à compressão e um tipo de tirante com força admissível

(Fadm) correspondente. Sendo então definidos a quantidade total de tirantes por

painel, a capacidade Fadm de carga de trabalho do tirante adotado, a área S do

painel e o ângulo α de instalação dos tirantes, obtém-se uma fórmula para o

Page 69: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

69

carregamento q distribuído atuante no painel, de acordo com a equação abaixo. Este

seria o valor de carga por unidade de área da laje devido aos tirantes:

(EQ. 3.36)

Dado q, os carregamentos qh` e qv’ das vigas horizontal e vertical valem:

(EQ. 3.37)

(EQ. 3.38)

Ilustra-se a distribuição dos tirantes no painel na figura FIG.3.25,

considerando para fins de exemplificação a adoção de corte vertical em talude, com

melhor aproveitamento da área. O caminho de modelagem empregado consistiria

em adotar um sistema de vigas e lajes, no qual associado a cada conjunto

retangular de quatro tirantes com espaçamentos consecutivos iguais haveria um

painel em formato de laje de concreto armado correspondente. Na modelagem, cada

painel seria considerado unilateral e conectado aos demais por juntas. E cada

camada vertical ou horizontal de tirantes, por sua vez, seria associada a um

paramento suporte.

FIG.3.25 Unidade Estrutural Modelada (Autoria Própria)

Page 70: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

70

Assim, especificamente para o exemplo citado, modelam-se vigas em balanço

nas duas direções, sendo elas biapoiadas, isostáticas e submetidas aos

carregamentos horizontais ou verticais correspondentes (conforme a figura

FIG.3.26). Mas veja que no caso geral o número escolhido de apoios seria igual à

quantidade de tirantes na direção respectiva da viga de análise considerada.

Nesta etapa de análise, anotam-se os valores dos momentos fletores

máximos positivos e negativos obtidos tanto nos apoios quanto nos vãos.

Os valores limites aplicados nos apoios representam as solicitações nos

tirantes, sendo empregados no cálculo das armaduras longitudinais pelos momentos

fletores e nas armaduras transversais pelos esforços cortantes. As solicitações nos

vãos, por sua vez, representam as armações correspondentes ao interior do painel.

FIG.3.26 Aplicação de Cargas e DMF (Autoria Própria)

Page 71: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

71

3.5.1.2 ARMAÇÃO

O extrato modificado do item 14.7.8 da ABNT 6118:2014 explica o próximo

passo a ser adotado, devendo-se adaptar a ideia original de “atuação de pilares”

para “atuação de tirantes”. A hipótese adotada é de cálculo como laje cogumelo:

14.7.8 Lajes lisas e lajes-cogumelo

Lajes-cogumelo são lajes apoiadas diretamente em pilares com capitéis, enquanto

lajes lisas são apoiadas nos pilares sem capitéis. A análise estrutural de lajes lisas e

cogumelo deve ser realizada mediante emprego de procedimento numérico adequado, por

exemplo, diferenças finitas, elementos finitos ou elementos de contorno.

Nos casos das lajes em concreto armado, em que os pilares estiverem dispostos

em filas ortogonais, de maneira regular e com vãos pouco diferentes, o cálculo dos esforços

pode ser realizado pelo processo elástico aproximado, com redistribuição, que consiste em

adotar, em cada direção, pórticos múltiplos, para obtenção dos esforços solicitantes.

Para cada pórtico deve ser considerada a carga total. A distribuição dos momentos, obtida

em cada direção, segundo as faixas indicadas na Figura 14.9 (FIG.3.27) , deve ser feita da

seguinte maneira:

a) 45 % dos momentos positivos para as duas faixas internas;

b) 27,5 % dos momentos positivos para cada uma das faixas externas;

c) 25 % dos momentos negativos para as duas faixas internas;

d) 37,5 % dos momentos negativos para cada uma das faixas externas.

Devem ser cuidadosamente estudadas as ligações das lajes com os pilares, com

especial atenção aos casos em que não haja simetria de forma ou de carregamento da laje

em relação ao apoio.

Obrigatoriamente, devem ser considerados os momentos de ligação entre laje e

pilares extremos.

Page 72: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

72

FIG.3.27 Distribuição de Momentos por Faixas (NBR 6118 : 2014)

Deste modo, pode-se nas equações abaixo obter os momentos fletores de

dimensionamento por metro para ambas as vigas, a partir da divisão dos valores

anteriormente obtidos pelas larguras correspondentes das faixas. Verificam-se, para

isto, os momentos máximos obtidos nos apoios da anterior:

(EQ. 3.39)

(EQ. 3.40)

(EQ. 3.41)

(EQ. 3.42)

Dimensiona-se então as armaduras de flexão pelas fórmulas da NBR

6118:2014 abaixo, sendo:

Page 73: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

73

fcd: a resistência de cálculo do concreto, igual a fck/1,4;

fyd: a tensão de escoamento característica do aço, igual a a fyk/1,15;

Md: o momento solicitante, igual a 1,4M;

d: a altura útil da viga;

b: a largura da viga;

kz e kmd: parâmetros de projeto intermediários; e

As: a área do aço.

(EQ. 3.43)

(EQ. 3.44)

(EQ. 3.45)

Esquematicamente, segue-se o mesmo procedimento para os apoios de

ambas as orientações horizontal e vertical de viga do paramento, tanto para os

momentos máximos positivos quanto os negativos. Para o aço CA-50, calcula-se

dmin na EQ.3.43 ao se inserir o valor máximo de kmd, igual a 0,3199, conforme a

tabela TAB.3.1. Este valor corresponde à situação limite de transição entre os

domínios 3 e 4.

O domínio 3, por sua vez, corresponde à flexão simples e à flexão composta

com grande excentricidade. Considera-se que é esta a situação desejável para

projeto, uma vez que nela os materiais são aproveitados de forma econômica e a

ruína pode então ser avisada ao operador a partir do aparecimento de muitas

fissuras, na ocorrência de escoamento na armadura. Nestas condições, as peças de

concreto armado são então denominadas subarmadas.

Tendo sido obtido o valor mínimo de d, arbitra-se seu valor real adotado. Ele

geralmente tem dimensão inteira, múltipla de 5 ou 10cm, para fins de fácil execução.

Page 74: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

74

Assim, chega-se à seção transversal retangular da viga a ser considerada na

modelagem: uma das dimensões seria d e a outra também seria arbitrada, igual a 30

cm, por exemplo.

TAB.3.1 Correlações Entre Kmd, kx, kz e As (Adaptado da NBR 6118: 2003)

Adicionalmente, vale ressaltar que a espessura do painel é intrinsecamente

influenciada pelas propriedades do concreto. Por exemplo, a rigidez propriamente

Page 75: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

75

dita do material adotado é representada pelo módulo de elasticidade E. Porém,

convém citar o fck como referência, tendo em vista que este é um valor mais fácil de

ser mensurado e compreendido. Afinal, para se manter a rigidez de uma estrutura,

são necessários valores maiores de fck para menores espessuras.

Como observado anteriormente, a espessura é um parâmetro de entrada

aplicado na equação de momento fletor máximo resistido por determinada estrutura

de concreto armado. Sendo assim, ela influencia significativamente o momento fletor

de maneira proporcional: quanto maior a espessura da parede, maior é o momento

fletor. Ainda, como a área As de seção transversal de armadura de aço é obtida do

momento fletor, quanto maior ele for, mais armadura será requerida para a estrutura

de contenção.

De acordo com GURGEL (2012), sabe-se que a espessura da parede tem

baixa influência sobre os esforços internos da estrutura de contenção. Isto é, as

tensões horizontais de empuxos não sofrem grandes modificações conforme se

aumenta a espessura, do mesmo modo que este parâmetro não tem influência

considerável sobre os esforços cortantes, ligeiramente maiores para maiores

espessuras, acima de 100mm.

O deslocamento horizontal no topo da estrutura da parede, por sua vez, é

maior para espessuras maiores de painéis. Em determinadas ocasiões, quando se

aumenta o espaçamento horizontal entre os tirantes, os deslocamentos no topo

tendem a se igualarem para qualquer espessura de parede. A causa está no fato de

que com o aumento de eh, a carga de protensão por metro na parede diminui, e com

isso os tirantes desenvolvem uma capacidade inferior de movimentação da cortina.

Portanto, os deslocamentos se tornam muito parecidos para qualquer espessura.

Outro aspecto relevante é o fato da espessura da cortina influenciar na

verificação do puncionamento. A verificação do fenômeno é exigida e corresponde à

verificação do cisalhamento em duas superfícies críticas definidas no entorno da

força concentrada na região dos tirantes.

No caso da cortina não resistir aos esforços solicitantes na análise de punção,

pode-se então aumentar a espessura da mesma ou o fck do concreto utilizado nos

Page 76: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

76

cálculos, no intuito de evitar a necessidade do uso desta armadura. Contudo, caso

isto não seja possível devido às restrições do projeto, os cálculos previstos para o

dimensionamento da armadura da punção a ser usada devem ser feitos mediante

prescrições da NBR 6118:2014, podendo ser encontrados facilmente em livros

clássicos de concreto armado.

Ressalta-se que as armaduras longitudinais de reforço nas proximidades dos

pontos de ligação dos tirantes com a laje, atuam apenas na resistência aos esforços

longitudinais de flexão, não combatendo as solicitações cortantes devidas ao efeito

de punção.

Eventuais armaduras circulares de fretagem, por sua vez, podem auxiliar no

confinamento do concreto do painel ao ponto de ligação com o tirante. Nas

ancoragens de barras de aço protendidas com aderência posterior, é necessário o

emprego de armadura de fretagem para evitar a abertura de fissuras frente à tração

transversal no concreto em função do carregamento parcial do concreto junto à

ancoragem (CARVALHO, 2012).

3.5.1.3 VERIFICAÇÃO DE PUNÇÃO

A punção ele consiste na geração de grandes tensões cisalhantes

concentradas devido à atuação das ações fletoras e verticais de apoio dos pilares,

sendo relevante nas estruturas de concreto devido ao seu potencial para afetar a

integridade das estruturas atingidas.

Deste modo, a punção tem relação com a solicitação de cargas concentradas

em determinada área consideravelmente pequena de concreto, da mesma forma

que a transferência de cargas atuantes dos tirantes para o painel. Por este motivo,

deve-se verificar a resistência das cortinas atirantadas ao efeito de punção.

Conforme a ABNT NBR: 6118, o modelo de cálculo de verificação de

puncionamento corresponde à verificação do cisalhamento em duas ou mais

superfícies críticas concebidas no entorno de forças concentradas. A adaptação do

método aplicado a cortinas consiste na análise de superfícies críticas no entorno da

placa de apoio, denotadas abaixo por C e C’.

Page 77: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

77

FIG.3.28 Perímetro Crítico C’ (NBR 6118 : 2014)

Na figura FIG.3.28, a distância d equivale à espessura útil da cortina. Isto é, a

distância entre a face externa em contato direto com o meio externo e o centro da

armadura de puncionamento existente na face interior do painel. As duas superfícies

críticas C e C' são, respectivamente, o contorno do pilar ou da carga concentrada e

o contorno da superfície crítica afastada de 2d do pilar ou da carga concentrada.

Sendo ԏsd a tensão de cisalhamento solicitante de cálculo devido ao

puncionamento, Fsd a força concentrada de cálculo e u o perímetro do contorno

crítico em análise, o carregamento associado é calculado pela equação abaixo.

Nela, a força de cálculo inserida deveria ter sido previamente multiplicada pelo fator

de segurança 1,4, frente à situação do concreto submetido a combinações normais

de carga.

(EQ 3.46)

Na verificação da tensão resistente de compressão diagonal do concreto na

superfície crítica C, calcula-se a tensão solicitante em relação à área da placa de

apoio, associada para fins de comparação com um valor limite. A ABNT 6118

recomenda aplicar a equação abaixo para verificação da tensão resistente na

superfície:

(EQ 3.47)

Page 78: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

78

Acima, é um coeficiente igual a 1 – fck/250, é a tensão cisalhante de

cálculo e fcd é a resistência de cálculo à compressão do concreto. Assim, para

, não haveria ruptura por compressão diagonal do concreto na região.

Na verificação da tensão resistente na superfície crítica C', a NBR 6118

recomenda o uso da fórmula abaixo para fins de cálculo do valor da tensão

resistente em elementos sem armadura de punção:

ԏ

( ρ

(EQ 3.48)

Acima, ԏ é a tensão de cisalhamento resistente em C', ρ é a taxa

geométrica de armadura de flexão aderente e cp é a tensão inicial do concreto ao

nível do baricentro da armadura de protensão. Assim, para , não haveria

ruptura por compressão diagonal do concreto na região.

A NBR 6118 também preconiza que caso a estabilidade global da estrutura

dependa da resistência da laje à punção, deve-se prever armadura de punção para

equilibrar no mínimo 50% de Fsd, ainda que ԏ . Nestas condições, a

armadura de flexão prevista deve ser considerada suficiente para o equilíbrio do

valor de Fsd.

(EQ 3.49)

3.5.2 TIRANTE

Os tirantes apresentam diversas aplicações em obras geotécnicas, com

fundamentos inicialmente previstos na “ NBR – 5627/77: Estruturas Ancoradas no

Terreno” e posteriormente em sua revisão, a “ NBR - 5627/96: Estruturas de Tirantes

Ancorados no Terreno”.

Primeiramente, os tirantes devem ser definidos quanto ao tempo de uso

desejado. Neste contexto, a NBR 5627 define os tipos provisório e permanente,

sendo eles respectivamente empregados para tempos inferiores e superiores a dois

Page 79: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

79

anos. De acordo com tal classificação, a norma preconiza diferentes coeficientes de

segurança, proteções anticorrosivas e testes de protensão. Para a cortina atirantada,

por ser uma estrutura definitiva, classifica-se o emprego respectivo como

permanente.

Na aplicação de tirantes como solução geotécnica, outra etapa importante do

projeto é a verificação de construções e suas fundações, além de tubulações das

concessionárias públicas nas áreas de implantação e efeitos dos tirantes. A NBR

5627 ressalta em seus itens 5.4.1.4 e 5.4.3.1 a importância de não se prejudicar o

comportamento das estruturas vizinhas e da responsabilidade do proprietário pela

autorização para poder perfurar em terrenos de terceiros, localizar interferências e

definir a distância mínima de perfuração dos obstáculos.

3.5.2.1 ELEMENTOS CONSTITUINTES

A NBR 5627, em sua seção 4.3.1, determina a seção de aço do tirante a partir

do esforço máximo ao qual ele é submetido, considerando-se a tensão admissível

para tirantes permanentes igual a:

(EQ. 3.50)

Em norma, salienta-se que o coeficiente de segurança vale 1,5 para tirantes

provisórios. Caso eles não sejam constituídos de aço, a tensão admissível é 0,9 da

resistência característica a tração. Porém, esses conceitos não são utilizados, uma

vez que as cortinas são estruturas permanentes e, segundo o manual da GeoRio

(2014), emprega-se apenas tirantes de monobarras de aço. Isto é, exclui-se as

ancoragens constituídas de fios e as de cordoalha.

O tirante é dividido nas partes principais: cabeça e trechos livre e ancorado.

A cabeça é o elemento que transpassa o painel e tem a finalidade de

transmitir a carga do tirante à estrutura a ser ancorada. Duas regiões da cabeça

devem ser ressaltadas: a cunha de grau, cujo objetivo é alinhar os tirantes e a

Page 80: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

80

cabeça para evitar flexão, e a placa de apoio, responsável pela transmissão da

tensão para a estrutura e constituída por placas metálicas. Portanto, deve-se atentar

a área desta última, devido à possibilidade de punção.

A proteção contra a corrosão é um aspecto importante da cabeça do tirante,

pois a ineficiência da proteção é um erro comum em cortina atirantada. Por isso,

deve-se ao final da protensão realizar uma injeção para o total preenchimento dos

vazios, evitando-se assim possíveis infiltrações que alcancem o elemento resistente

à tração.

Outro fato relevante sobre a cabeça é que a ponta do tirante deve ser cortada

com serra e ficar com aproximadamente 5cm além da porca, a fim de permitir a

reprotensão e a realização posterior de ensaios.

FIG.3.29 Cabeça do Tirante (Adaptado da NBR 5629 : 1996)

Por sua vez, o trecho livre é a região intermediária entre a cabeça e o trecho

ancorado e o trecho ancorado é responsável por transmitir a carga de tração para

o terreno.

A NBR 5629 - seção 4.4 exibe formulações para estimativas preliminares do

comprimento de ancoragem de acordo com o solo em análise. Assim, a resistência à

tração de uma ancoragem pode ser estimada em solos arenosos pela EQ.3.51:

(EQ. 3.51)

Page 81: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

81

Dentre os parâmetros impostos, é a tensão efetiva no ponto médio da

ancoragem, U é o perímetro médio da seção transversal da ancoragem e é o

coeficiente de ancoragem, indicado na tabela TAB.3.2.

TAB.3.2 Coeficientes de Ancoragem (NBR 5629 : 1996)

Solo Compacidade

Fofa Compacta Muito compacta

Silte 0,1 0,4 1,0

Areia fina 0,2 0,6 1,5

Areia média 0,5 1,2 2,0

Areia grossa e pedregulho 1,0 2,0 3,0

Para solos argilosos, emprega-se a equação EQ.3.55 abaixo, sendo:

α

(EQ. 3.52)

- Coeficiente redutor da resistência ao cisalhamento;

- Resistência ao cisalhamento não drenado do solo argiloso;

O valor de varia de acordo com o . Ou seja, para , o valor

assumido é = 0,75, e para , o valor assumido é = 0,35. Em valores

intermediários, adotam-se interpolações lineares.

E por último, no caso de rochas, o trecho ancorado é estimado a partir da

tensão de aderência rocha-argamassa, que deve ser o menor destes dois valores:

da resistência à compressão simples da rocha ou da resistência à

compressão simples da argamassa.

Além disso, a norma estabelece classificações de solos em que o trecho

ancorado do tirante não pode ser empregado. São elas: solos orgânicos moles,

aterros e os solos coesivos, com do ensaio SPT e aterros sanitários.

A tabela TAB.3.3 relaciona cargas de ancoragem e os diâmetros de tirante.

Page 82: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

82

TAB.3.3 Cargas de Ancoragem (Manual da GeoRio, 2014)

Tipo de aço

Tipo de seção

Dnom da barra (mm)

Dmín por furo adequado

(mm)

Carga máxima de trabalho provisório

(kN)

Carga máx de trabalho

permanente (kN)

Rocsolo ST 75/85

Plena 41 125 524 450

Incotep 22D

Reduzida com rosca

30 100 230 200

Incotep 22D

Reduzida com rosca

40 125 410 350

Incotep 22D

Reduzida com rosca

47 150 530 450

Incotep 22D

Reduzida com rosca

50 150 600 510

Dywidag Plena 15 75 90 80

Dywidag* Plena 32 100 460 390

Dywidag Plena 36 125 580 500

Dywidag Plena 47 150 990 850

Gewi Plena 25 100 160 140

Gewi Plena 32 100 240 210

Gewi - Plus Plena 32 100 330 280

Gewi Plena 50 150 590 500

CA 50 A Plena 25 100 150 130

CA 50 A Plena 32 100 240 200

CA 50 A Reduzida com rosca

25 100 95 81

CA 50 A Reduzida com rosca

32 100 187 160

Rocsolo ST 75/85

Plena 22 100 146 125

Rocsolo ST 75/85

Plena 25 100 191 165

Rocsolo ST 75/85

Plena 28 100 240 200

Rocsolo ST 75/85

Plena 38 125 440 375

A figura FIG.3.30 ilustra os elementos componentes do tirante, acima

descritos:

Page 83: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

83

FIG.3.30 Componentes do Tirante (Téchne, 2007)

3.5.2.2 PERFURAÇÃO

A norma não restringe o método de perfuração, apenas preconiza que

qualquer técnica pode ser adotada, desde que o furo seja retilíneo e tenha inclinação

e comprimentos previstos. A única ressalva é quanto ao diâmetro, o qual deve ser

grande o suficiente para garantir as proteções anticorrosivas necessárias.

Vale ressaltar que a forma mais comum de perfuração é através da perfuratriz

rotativa ou da rotopercurssão. Enquanto a primeira usa água para o transporte dos

detritos, essa mesma função é desempenhada pelo ar comprimido na segunda, o

qual também é empregado para a utilização do martelo.

A norma pode não ser muito restrita, mas preconiza alguns aspectos que

devem ser considerados antes da perfuração do furo, citados nos parágrafos a

seguir.

A estabilidade do furo deve ser garantida pelo método de perfuração até que

ocorra a injeção de aglutinante, sendo tolerado o uso de revestimento de perfuração

e/ou de fluido estabilizante. Porém, esses não podem conter produtos agressivos

aos elementos dos tirantes, tampouco que interfiram na cura e/ou pega do

aglutinante.

Outro aspecto é que o sistema de perfuração não pode deteriorar a

resistência do terreno, devendo-se ressaltar os encharcamentos em solos coesivos

ao se executar a limpeza dos furos através de fluxo de água.

Page 84: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

84

A locação do furo também deve ser escolhida cuidadosamente, visando a

atender os requisitos de projeto com observação da interferência de terceiros na

localidade.

Além de atentar a esses aspectos, dados importantes da perfuração devem

ser registrados, sendo o conteúdo mínimo previsto em norma por esse boletim

composto por:

a) Tipo de equipamento e sistema de perfuração;

b) Identificação, diâmetro e inclinação do furo;

c) Diâmetro e comprimento do revestimento (quando usado);

d) Tipo de fluido de estabilização (quando usado);

e) Espessura e tipo de solo das camadas atravessadas;

f) Datas de início e término do furo; e

g) Outras observações (perda de água e/ou ar, obstáculos encontrados, etc.).

Após os aspectos anteriores, deve-se realizar a limpeza do furo para a

retirada dos detritos, a fim de finalizar o processo de perfuração.

3.5.2.3 INSTALAÇÃO

A instalação consiste em inserir o tirante na perfuração. O procedimento é

feito manualmente e deve seguir a seção 5.5 da norma NBR 5629, que preza pela

verificação de alguns requisitos abaixo:

a) O comprimento de perfuração deve atender no mínimo ao indicado no

projeto; em nenhum caso, entretanto, o início do bulbo deve distar menos de 3m da

superfície do terreno de início de perfuração;

b) Os comprimentos livre e do bulbo devem estar de acordo com os de

projeto;

c) A proteção anticorrosiva não deve apresentar falhas no instante da

instalação do tirante no furo, particularmente nos locais de emendas, os quais

devem ser inspecionados e corrigidos se necessário;

d) A locação deve atender aos valores das tolerâncias indicadas no projeto;

Page 85: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

85

e) Os dispositivos de fixação da cabeça devem corresponder às necessidades

estruturais, além de estarem de acordo com a inclinação do tirante em relação à

estrutura a ser ancorada.

3.3.2.4 INJEÇÃO

A injeção pode ser feita com calda de cimento ou outro aglutinante, conforme

a seção 5.6.1 da norma 5629. Entretanto, emprega-se em geral a primeira opção,

devendo ela respeitar a NBR 7681. Esta norma prevê a dosagem em massa de

água/ cimento para a execução da bainha igual a 0,5 ou outro valor, desde que seja

comprovado em ensaio que a resistência aos 28 dias tenha superado 25MPa. Além

disso, para a execução da reinjeção, esta relação pode ser de 0,5 a 0,7.

Ressalta-se que a calda deve ser preparada alguns minutos antes em uma

central de preparo e bombeamento, e a norma 5629 preconiza que a calda pode ser

aplicada em uma única injeção ou em fases múltiplas. Assim, justamente por ser

mais usual para a situação de cortinas atirantadas, explicou-se o procedimento em

fase múltipla a seguir.

O tirante tem um sistema auxiliar de injeção, constituído de um tubo de PVC

através do qual é feita a injeção. O PVC apresenta em geral diâmetro entre 32 a

40mm e, estando com a válvula manchete espaçada a cada 0,5m, depende do

obturador duplo.

A válvula manchete, por sua vez, é constituída por borracha envolvendo os

furos para a injeção da calda pressurizada, conforme a figura FIG.3.31.

FIG.3.31 Válvulas Manchetes nos Tirantes

Page 86: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

86

A injeção em múltiplas etapas pode ser definida por dois estágios

característicos. A primeira é a formação da camada de calda entre o corpo do tirante

e a parede do furo, denominada de bainha. Ela é formada através da injeção de

calda de cimento sem uso de pressão, até que a mesma verta pela boca do furo.

A segunda etapa é denominada de fase primária e ocorre entre dez e doze

horas após a aplicação da bainha, tempo este relativo à pega. Nesta etapa, utiliza-se

o obturador duplo para aplicar calda de cimento com pressão e volume definidos em

projeto, desde a manchete mais afastada até a mais próxima. A pressão faz então a

válvula abrir, ou seja, levanta a borracha, de tal modo que ela desça ao fim da

aplicação.

A figura FIG.3.32 ilustra o procedimento para a formação de estacas, o qual é

análogo para tirantes paralelos ao PVC.

FIG.3.32 Processo de Obtenção (NARESI, 2009)

Em suma, são necessários pressão e volume para ancorar o trecho fixo do

tirante. Caso a pressão não seja alcançada, repete-se a segunda etapa com

intervalos de 10 a 12 horas, até que a meta seja atingida.

Deve-se ressaltar que aplicação da calda depende da inclinação da

perfuração. Assim, o ideal seria dispor o tirante totalmente na horizontal. Contudo,

ângulos elevados do eixo com a horizontal fariam os tirantes perderem eficiência por

estarem associados a elevadas componentes verticais de tração, enquanto ângulos

menores que 10° com a horizontal gerariam problemas de inserção da calda.

Portanto, no Brasil, o ângulo máximo é 30°, sendo incentivada a adoção de valores

acima de 10°.

Page 87: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

87

3.5.2.5 PROTENSÃO

Durante a protensão, usam-se bomba e macacos hidráulicos. Esta fase é

iniciada após o prazo de cura da última injeção e o tempo mínimo, informado pela

norma 5629, é igual a 7 dias para cimento comum Portland e 3 dias para cimento

ARI (alta resistência inicial).

Além disso, deve-se ressaltar que a NBR 5629 preconiza alguns ensaios para

verificação dos tirantes recebidos, os quais são: recebimento, qualificação, básico e

fluência. Nesse trabalho, foram mencionadas as finalidades dos ensaios conforme

preconizado no manual da GeoRio (2014), mas deve-se consultar a 5.7.2 da norma

supracitada para maiores aprofundamentos quanto à execução.

O ensaio de recebimento tem a finalidade de analisar a capacidade de carga

e comportamento de todos os tirantes. Realiza-se em 10% dos tirantes da obra,

carregados até a carga máxima de 175% da carga de trabalho, e nos 90% restantes,

com cargas até 140% do valor de trabalho.

O ensaio de qualificação tem o objetivo de verificar o comportamento dos

elementos constituintes do tirante num determinado terreno. Realiza-se em 1% do

total da obra ou, minimamente, em 2 tirantes por tipo de tirante e terreno.

O ensaio básico verifica a correta execução do tirante, observando-se

principalmente a conformação do bulbo de ancoragem, a centralização do tirante no

bulbo, a qualidade da injeção e a definição do comprimento livre do tirante.

Realizam-se escavações após o ensaio de qualificação, com verificação dos

aspectos citados anteriormente.

O ensaio de fluência avalia o desempenho sob cargas de longa duração.

3.5.2.6 INCORPORAÇÃO

A incorporação só pode ser feita após a obtenção de desempenhos

satisfatórios nos ensaios acima propostos, devendo obedecer a desigualdade:

çã

(EQ 3.53)

Page 88: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

88

A carga de incorporação é definida na norma como sendo aquela carga

aplicada ao tirante durante a sua incorporação à estrutura. Por sua vez, a carga de

trabalho é aquela que pode ser aplicada ao tirante, de modo que apresente

segurança necessária contra o escoamento do elemento resistente à tração, contra

o arrancamento do bulbo e contra deformações por fluência.

Também se recomenda avaliar a protensão dos tirantes a cada 5 anos, com

verificação da integridade da cabeça e suas proteções. Em algumas situações,

pode-se inclusive monitorar permanentemente a carga atuante nas ancoragens pelo

uso de células de carga. Contudo, isto não é feito na prática normalmente.

3.5.2.7 CORROSÃO

A proteção contra a corrosão almeja evitar o comprometimento da segurança

durante o período da vida útil do tirante. Existem três classes de proteção: 1, 2 e 3.

Para enquadrar o tirante em uma delas, deve-se analisar as consequências da

ruptura e as agressividades do terreno e da água freática. Assim, mostra-se na

TAB.3.4 a tabela presente no anexo B da NBR 5929, a qual classifica os meios

quanto a agressividade.

TAB.3.4 Classificação de Agressividade (NBR 5629 : 1996)

Unidade: mg/L

Tipos de águas freáticas

Grau de agressividade do meio

Não agressivo

Medianamente agressivo

Muito agressivo

Águas puras(A) Resíduo filtrável >150 150 a 50 < 50

Águas ácidas pH > 6 pH 5,5 a pH 6 pH < 5,5

Águas ácidas com CO2 dissolvido < 30 30 a 45 > 45

Águas selenitosas Teor de < 150 150 a 500 > 500

Águas magnesianas Teor de Mg++ < 100 100 a 200 > 200

Águas amoniacais Teor de NH4+ < 100 100 a 150 > 150

Águas com cloro Teor de Cl- < 200 200 a 500 > 500

(A) São as águas de montanhas, de fontes, com ação lixiviante, que dissolvem a cal livre e hidrolisam os silicatos e aluminatos do cimento.

Page 89: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

89

A norma especifica as classes de proteção para cada região do tirante.

Abaixo, foram detalhados os procedimentos mais comuns adotados, os quais mais

se aproximam de uma proteção classe 1. Esta é empregada para tirantes

permanentes em meios muito agressivos e medianamente agressivos, além de

tirantes provisórios em meios muito agressivos.

A proteção de classe 1 exige que existam duas barreiras de proteção para

todo o tirante. Para a região ancorada, deve-se inicialmente realizar a limpeza e

aplicar a pintura anticorrosiva. As barreiras empregadas são o cimento e um tubo, o

qual pode ser corrugado ou metálico com espessura mínima de 4mm. Deve-se

ressaltar que todo o espaço existente entre o tirante, o tubo e o solo deve ser

preenchido com no mínimo 3cm da nata de cimento (regiões interna e externa).

FIG.3.33 Centralizador e Tubo Corrugado de Proteção (Manual da GeoRio, 2014)

Para o trecho livre, realizam-se também a limpeza e a proteção anticorrosiva.

Pela NBR 5629, há duas maneiras possíveis de proteção, conforme os extratos da

norma abaixo:

a) Cada elemento é envolvido por graxa anticorrosiva e por duto plástico,

devendo o conjunto ser envolvido por outro duto plástico e injetado com calda de

cimento após a protensão. A transição do trecho livre à cabeça de ancoragem deve

possuir dispositivos que assegurem a continuidade da proteção;

b) O conjunto de elementos tracionados deve ser envolvido por um único duto

plástico e graxa anticorrosiva, devendo o conjunto ser envolvido por outro duto

plástico e o vazio entre os dois dutos ser preenchido com argamassa.

Page 90: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

90

FIG.3.34 Proteção Anticorrosiva (Dywidag, 20?)

Vale salientar que a carga devido a protensão deve ser transmitida para o

bulbo sem a interferência do trecho livre. Para isso, aplica-se a injeção do trecho

livre após à injeção do bulbo.

A proteção para a cabeça do tirante é especificada na seção 5.9 da NBR

5629, referente aos serviços finais. Também se aplica à graxa anticorrosiva com

revestimento de concreto ou argamassa, sob uma espessura mínima de 2,0cm.

3.5.3 CAPACIDADE DE CARGA

No projeto da cortina atirantada, deve ser verificada a capacidade de carga do

solo. A partir disso, pode-se empregar uma fundação direta ou usar estacas.

Para um projeto, a carga nas fundações por metro linear é determinada

através da equação EQ.3.57:

ω

δ ó

(EQ. 3.54)

Acima, é o ângulo dos tirantes com a horizontal, é o espaçamento

horizontal entre as ancoragens e é o ângulo do empuxo com a horizontal,

considerado em função de e do tipo de solo.

Deve-se ressaltar que a decomposição da resultante é feita para verificar o

efeito de seu componente vertical nas fundações.

Caso o solo não apresente capacidade para suportar a força acima, será

necessária a aplicação de estacas. O manual da GeoRio (2014) discorre sobre a

utilização de estacas com pequenos diâmetros, sendo por especificação da NBR

6122 os comprimentos calculados considerando-se apenas o atrito lateral com o

solo.

Page 91: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

91

Sendo o diâmetro da estaca, o comprimento da estaca e o atrito lateral,

a capacidade de carga para uma estaca isolada pode ser determinada por:

(EQ. 3.55)

O atrito lateral pode ser obtido da relação com o SPT na equação EQ.3.56,

com representando o valor médio do índice de resistência à penetração SPT

através do comprimento da estaca:

(EQ. 3.56)

Nas fórmulas acima, deve-se reduzir em pelo menos 2 o resultado de para

a obtenção da capacidade de carga admissível.

O número de estacas é então obtido através da divisão da carga total

exercido pelo solo pela capacidade resistiva de cada estaca.

3.6. DRENAGEM

O processo de drenagem merece destaque na análise das cortinas

atirantadas, pois a atuação da água influência fortemente no processo de

estabilidade do talude. Segundo Ranzini e Negro Junior (1998, p. 505), a água pode

atuar de maneira direta ou indireta. A direta consiste no acúmulo de água junto ao

tardoz interno e do encharcamento do terrapleno, elevando o efeito da poro pressão.

Já a indireta é baseada na redução da resistência ao cisalhamento do maciço devido

ao acréscimo de pressões intersticiais. O efeito direto é mais preocupante por ter

uma intensidade maior, porém através de um dispositivo eficiente de drenagem pode

ser diminuído consideravelmente.

A drenagem pode ser dividida em duas partes: superficial e subsuperficial. A

superficial tem o objetivo de diminuir os processos erosivos e infiltração da água no

terreno, enquanto a subsuperficial visa a redução da poro pressão através do

redirecionamento do fluxo d’água. Ambas serão analisados a seguir

Page 92: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

92

3.6.1 DRENAGEM SUPERFICIAL

A drenagem superficial visa redirecionar a água incidente sob a bacia de

contribuição para os canais fluviais. Diversos dispositivos podem ser adotados para

cumprir tal finalidade, variando de acordo com as condições geométricas e do tipo

de material constituinte.

O dimensionamento do dispositivo de drenagem é feito através da

comparação da velocidade admissível com a velocidade de escoamento calculada.

Os parâmetros bacia de contribuição, características geométricas, precipitação de

projeto e cobertura são preponderantes para o dimensionamento hidráulico.

Enumeraram-se a seguir os principais dispositivos e seus objetivos

específicos, dando-se maior atenção para a construção de canaletas longitudinais,

pelo fato deste tipo de solução ter sido empregada no estudo de caso adiante.

Contudo, deve-se ressaltar que muitas vezes na construção de um sistema de

drenagem eficiente é preciso associar dispositivos de drenagem distintos, sendo

alguns deles relacionados abaixo:

Canaleta transversal

Inicialmente para se determinar uma canaleta transversal, fixa-se o seu tipo e

a sua geometria, sendo ela sempre aberta e capaz de assumir formas retangulares,

trapezoidais, meia cana ou em forma de U. São revestidas de concreto, podendo ser

simples ou armado, ou metálicas. A altura H será consequência de seu

dimensionamento hidráulico. Abaixo, mostra-se uma canaleta extraída do manual da

GEORIO (2014).

Page 93: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

93

FIG.3.35 - Canaleta com Proteção Lateral. (Manual da GeoRio, 2014)

Dissipadores contínuos de energia podem ser usados como alternativa às

escadas quando o acompanhamento da declividade natural do terreno acarretar

velocidades de escoamento superiores à admissível.

Canaletas longitudinais

Para as canaletas longitudinais, deve-se atentar para o controle da velocidade

de escoamento. As canaletas poderão ser do tipo rápida ou de degraus, os quais

tem a finalidade de diminuir a velocidade através do impacto, sendo empregados

quando a velocidade for superior à admissível ou quando houver uma declividade

superior a 5%. Apesar de ser muito adotada na prática, os degraus não são

considerados muito eficientes na dissipação de energia.

É recomendado que as canaletas longitudinais sejam feitas in loco através de

formas de madeira, pois empregar módulos pode gerar descalçamento e separação

dos módulos devido ao fluxo da água. Além disso, sua forma será aberta e

retangular, revestida de concreto armado ou metálico.

É interessante que as alturas e bases das canaletas sejam iguais, porém não

é obrigatório. Além disso, devido ao efeito da água e o revestimento ser feito de

concreto, elas muitas vezes podem apresentar velocidades maiores a jusante que o

permite para o terreno, portanto, deverá apresentar bacias de amortecimento.

Deve-se ressaltar que inclinação das canaletas é de 0,5% e as dimensões

dos patamares e degraus são invariantes.

Page 94: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

94

FIG.3.36 - Características Construtivas dos Degraus (Manual da GeoRio, 2014)

FIG.3.36 - Características construtivas dos degraus(cont.) (Manual da GeoRio, 2014)

Para dimensionar a forma retangular, emprega-se a seguinte fórmula:

(EQ. 3.57)

Sendo:

Q: Descarga a ser conduzida em m3/s;

B: Base em m; e

H: Altura em m.

Page 95: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

95

Porém, já existem valores tabelados de base e altura em função da vazão,

conforme mostrado abaixo nas tabelas TAB.3.5 de dimensionamento de canaleta

longitudinal.

TAB.3.5 - Dimensionamento de Caneleta Longitudinal (Manual da GeoRio, 2014)

Page 96: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

96

Caixas de passagem

As caixas de passagem têm a finalidade de mudar dimensões e geometrias

dos diferentes dispositivos de drenagem, portanto seus dimensionamentos

dependerão desses elementos. Além desta finalidade, também podem ser

empregadas para reterem materiais sólidos e, consequentemente, evitarem

entupimentos, sendo necessário apresentar um anteparo gradeado para isso.

FIG.3.37 - Caixa de Passagem (Manual da GeoRio, 2014)

As caixas são feitas com concreto armado e podem ser abertas ou fechadas,

com tampas removíveis. As caixas com tampa são empregadas em locais que a

água coletada contenha sólidos que possam obstruí-la.

Bacias de amortecimento

As bacias de amortecimento se localizam ao final de canaletas longitudinais,

tendo a finalidade de reduzir a velocidade na passagem para outro dispositivo de

drenagem. Portanto, são dissipadores de energia e executadas em concreto

armado.

Page 97: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

97

FIG.3.38 - Bacia de amortecimento (Manual da GeoRio, 2014)

3.6.2. DRENAGEM SUB-SUPERFICIAL

A maior causa da instabilidade em um talude é em função da poro pressão.

Baseado nisso, a drenagem subsuperficial mostra a sua importância, pois melhora

as condições de estabilidade através do controle da poro pressão.

Inicialmente, ressalta-se a importância do monitoramento para a drenagem

subsuperficial visando dois aspectos. Primeiramente, deve-se atentar para a

capacidade drenada do material, a qual pode ser prejudicada devido ao fenômeno

da colmatação ou quebra de dutos. A colmatação ocorre devido à obstrução do

sistema drenante por partículas arrastadas pelas forças de percolação, ou

substâncias químicas ou microbiológicas que ser formam. O outro aspecto

importante quanto ao monitoramento é averiguar se os DHPs fornecem cargas

piezométricas para um fator de segurança apropriado para o talude.

Os DHPs são tubos de PVC ou geotubos, com diâmetro de 50 ou 65 mm e

ranhuras ou orifícios envoltos por um filtro de tela de nylon.

Page 98: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

98

Deve-se atentar para a descarga da água captada pelos DHPs, uma vez que

não deve provocar uma nova instabilização ou erosão. Portanto, deve-se direcionar

as águas para um sistema de canaletas.

FIG.3.39 - Canaletas e Diâmetro de Perfuração (Manual da GeoRio, 2014)

O DHPs também podem ser usados como medida emergencial para taludes

que apresentem sinais de escorregamento devido a altas poro pressões, por causa

de suas rápidas execuções. Tal solução é muito usada pelos geotécnicos nas

encostas, uma vez que as capas de solos são geralmente espessas em climas

tropicais.

Como já foi dito, é necessário atentar-se para a manutenção periódica para a

garantia da capacidade drenante dos mesmos. Portanto, observações visuais são

essenciais para se averiguar a colmatação e crescimento de vegetação dentro do

tubo. As medidas preventivas para o combate de tais efeitos são a remoção da

vegetação no interior do tubo e a introdução de mangueiras de jateamento de água

sob pressão para a remoção de substancias aderidas nas paredes e orifícios do

tubo. Contudo, estas técnicas são raramente realizadas.

Aconselha-se também a limpeza da formação de ocre causado pela presença

de ferro nos solos tropicais brasileiros.

Page 99: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

99

3.4 MANUTENÇÃO

As cortinas atirantadas requerem inspeção periódica, sobretudo para fins de

verificação das condições do concreto, da drenagem e das cabeças dos tirantes.

Afinal, conforme o maciço se movimenta e a temperatura oscila, há infiltração de

água na parte posterior do conjunto. Por consequência, pode haver oxidação dos

tirantes e fissuração do concreto, gerando-se infiltrações e vazamentos.

Pode-se plotar por inspeção visual as principais patologias existentes:

Corrosão na cabeça:

Este fenômeno ocorre caso o capacete de concreto esteja trincado ou fissurado,

sendo facilmente possível observar as marcas de corrosão nesta situação.

Percolação de água através da estrutura ou das juntas:

Enquanto os sistemas de drenagem superficiais requerem o desentupimento de

canaletas e caixas de passagem, os sistemas de drenagem profunda demandam a

lavagem dos drenos. Estando esta condição verificada, a obra tem maiores

condições de apresentar um desempenho adequado e duradouro, sobretudo ao se

evitar erosões que venham a causar danos aos terrenos vizinhos.

Uma vez que a água deve fluir necessariamente pelos drenos, se houver

observação de algum caso de percolação através da estrutura de concreto, pela

cabeça ou pelas juntas, o ocorrido será indicativo de que há um grave problema em

andamento.

Cabos rompidos:

A presença de água em solos arenosos e argilosos pode vir a exigir ajustes

extras de tensão de protensão nos tirantes e recomposição das camadas de cimento

protetoras dos cabos de aço. Isto é, ela pode vir a requer reprotensão e reinjeção na

manutenção.

Os casos de rompimento de armações compostas por feixes de fios de aço são

facilmente identificados, sendo indicadores de que o capacete de concreto já caiu.

Page 100: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

100

Como uma medida corretiva para o problema, salienta-se que há um tubo central

para a injeção de calda de cimento em tirantes de fios e de cordoalha.

Paralelamente, os tirantes de monobarra têm este mesmo tubo situado em posição

lateral à monobarra de aço, com diversos furos de cerca de 8mm de diâmetro e

espaçamentos entre 50 e 100cm. Eles atuam na função de válvula e podem ser

lavados após a injeção, de modo que possam ser feitas outras injeções sequenciais

após o tempo de pega da calda ter sido adequadamente transcorrido. Assim,

permite-se a formação de um bulbo capaz de resistir aos esforços de protensão

originalmente estipulados em projeto.

Pode-se então dar início a algumas verificações básicas para identificar

patologias, descritas a seguir. Elas podem ser conduzidas até mesmo pelo detentor

da cortina, o qual não precisa necessariamente ser um especialista ou o projetista:

Checar obstruções nas canaletas, as quais devem ser limpas se for o caso;

Procurar por eventuais trincas nas canaletas, fissuras ou trincas na estrutura

ou cabeça do tirante, fontes de percolação de água pelos tirantes, afundamentos ou

trincas nas áreas adjacentes à construção, devendo-se consultar o engenheiro

geotécnico se for o caso; e

Checar o funcionamento das drenagens de paramento e profundas e

alinhamento da estrutura, devendo-se consultar o engenheiro geotécnico se algo

fora do padrão de projeto for plotado.

Page 101: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

101

4. DETALHAMENTO DO PROJETO

4.1. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO

Nesta etapa, remeteu-se à descrição detalhada do emprego de cortinas

atirantadas desenvolvida nos itens anteriores para fins de aplicação no

dimensionamento de um projeto de mesma modalidade, recentemente executado

pela CRO/1.

A obra consistiu no projeto de contenção de um talude em cujo topo há um

conjunto de PNRs sob responsabilidade da PMZS e do EB, situado na rua Coelho

Cintra (Copacabana - RJ). Este conjunto de construções compõe a Vila Militar de

Copacabana, nas proximidades do parque estadual da Chacrinha - Comando Militar

do Leste.

No extremo inferior do talude, junto à base, executou-se uma solução de

cortina atirantada na divisa da área do EB com os fundos do prédio residencial

Senador Leite e Oiticica, localizado no número 90 da rua Barata Ribeiro

(Copacabana - RJ).

A motivação para a criação deste projeto de contenção pela CRO/1 foi o fato

da região ter sido afetada por um desmoronamento de encosta sem vítimas fatais no

dia 5 de dezembro de 2010, pelos registros da Defesa Civil. Noticiado na época, o

deslizamento atingiu algumas regiões do prédio, conforme a figura FIG.4.1.

FIG.4.1 Deslizamento do Talude (Hudson Pontes / Agência O Globo)

Page 102: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

102

Contudo, não se verificou a necessidade de interdição após a inspeção. A

Defesa Civil, os Bombeiros e o Exército colocaram na época uma lona ao longo da

encosta para evitar novos deslizamentos e impediram o acesso aos apartamentos

atingidos.

A causa do ocorrido foi atribuída a um vazamento de água. A Companhia

Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) informou que não havia adutora no local e

que o vazamento veio da vila pertencente ao Exército, que mantinha sistema de

abastecimento próprio.

As referências comparativas entre as imagens de satélite e as obtidas em

visita ao local da obra permitem uma melhor referência dos entornos do local de

projeto. Nesta lógica, mostra-se entre as figuras FIG.4.2 e FIG.4.6 o prédio

supracitado, as construções que encimam o talude e a própria solução de contenção

assentada no terreno.

FIG.4.2 Vista do Prédio (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017)

Page 103: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

103

FIG.4.3 Vista Superior da Cortina (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017)

FIG.4.4 Vista Superior da Cortina (Visita à Obra)

Page 104: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

104

FIG.4.5 Vista Frontal da Cortina (Visita à Obra)

FIG.4.6 Vista do talude (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017)

Page 105: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

105

FIG.4.7 Vista do Topo do Talude (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017)

Conforme relatos de especialistas, o problema foi intensificado com a

ocupação indevida de áreas na parte superior do talude. Ainda que o terreno na

parte traseira ao edifício seja majoritariamente de propriedade original do Exército

Brasileiro, pessoas ocupavam as residências durante anos e alegaram usocapião da

área. Assim, estabeleceram-se definitivamente na região.

A ocupação má orientada do talude levava a frequentes reclamações dos

moradores da região da base, nas proximidades do condomínio. Eles

contextualizavam o problema citado com o constante despejo de esgotos ladeira

abaixo, alegando que algum dia haveria alguma catástrofe local, caso não houvesse

uma correção do que foi exposto.

Para solucionar o ocorrido, a CRO/1 fez uma licitação com base na

divulgação de um projeto básico, sendo que em 2010 a obra foi concluída. Ela

contemplou, além da técnica de cortina atirantada, a execução do grampeamento do

solo com aplicação auxiliar de telas para segurar eventuais quedas de pedras na

região inferior à cortina.

Page 106: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

106

Na avaliação da geologia local, obteve-se a carta geológica do Rio de Janeiro

através do site do CPRM, na coordenada SF-23. Através da comparação com outros

mapas, localizou-se a região aproximada de onde ocorreu o deslizamento para se

obter a sua geologia característica.

A região vermelha de numeração 153 é para granitoide foliado peraluminoso

tipo S. Deste modo, a foliação pode ser definida como uma estrutura planar bem

definida. O tipo S é devido à fusão parcial de rochas de origem metassedimentar e

normalmente caráter peraluminoso.

FIG.4.8 Mapa Geológico Local (CPRM, 2004)

4.2 AVALIAÇÃO TOPOGRÁFICA LOCAL

Iniciou-se a seguir a aplicação dos estudos executados neste Projeto de Fim

de Curso, tendo por finalidade o desenvolvimento de um projeto de cortina

atirantada que tenha por base o local descrito no item 4.1.

Tendo em vista as imagens originais obtidas no anteprojeto da CRO/1, exibe-

se na figura FIG.4.9 a configuração topográfica local da base do talude aos fundos

do edifício em análise:

Page 107: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

107

FIG.4.9 - Levantamento Topográfico Fornecido

Inicialmente, destaca-se que alguns dados empregados foram estimados com

base na observação do local, tendo em vista a falta de documentações que

poderiam fornecer mais dados a respeito do talude. Por exemplo, eventuais

sondagens à percussão e dados topográficos mais consistentes poderiam propiciar

maior precisão de resultados.

Certamente, para fins de análise global do local, faltariam dados de distâncias

e angulações das superfícies em estudo em regiões superiores às desenhadas no

terreno. Entretanto, conforme observado nos registros da visita no nível da cobertura

do prédio na Rua Barata Ribeiro, 90, Copacabana, RJ, a altura do talude se mostrou

inferior à altura do prédio. Este foi o ponto de partida para a análise global.

Imagens obtidas pelo Google Earth forneceram uma estimativa da distância

horizontal entre a parte central das cortinas e o início da parte planar, onde estão

situados os PNRs ao topo da encosta. Com base na escala gráfica indicada abaixo,

adotou-se a distância de projeto igual a 50m.

Page 108: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

108

FIG. 4.10 - Aferição de Distâncias (Google Earth, acesso em 19 jun. 2017)

O próximo passo foi lançar o valor no AutoCAD. Sob a consideração do

prolongamento superior da superfície limítrofe do solo com a manutenção

aproximada das mesmas inclinações das camadas de rocha e da areia argilosa,

chegou-se à seguinte configuração geométrica:

FIG.4.11 - Estimativa de Distâncias Superiores

Page 109: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

109

4.3. AVALIAÇÃO GEOMÉTRICA DOS PAINÉIS

Nas figuras FIG.4.12 e FIG.4.13, eventuais cotas aparentemente ausentes

devem ser supostas simétricas em relação às demais referenciadas, ou obtidas por

proporções diretas a olho nu.

Outra observação relevante é que as estruturas e os entornos de seus locais

de assentamento foram avaliadas para efeito de especificações de drenagem

apenas ao final do dimensionamento.

Sendo assim, destacam-se também algumas características de projeto:

Abas laterais nas funções de valetas superiores e inferiores;

Uso de camada inferior de concreto magro com espessura 5cm; e

Extremidades dos tirantes centradas com as placas das respectivas cabeças.

FIG.4.12 - Vista Frontal do Painel Central

Page 110: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

110

FIG.4.13 - Vista Frontal do Painel Lateral Esquerdo

FIG.4.14 - Vista Frontal do Painel Lateral Direito

Page 111: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

111

4.4 PARÂMETROS ADOTADOS

Os dados foram arbitrados, a maioria deles extraída do projeto real (CRO/1).

Propriedades do solo

a) Peso específico natural (γnat) = 18,5 kN/m³

b) Peso específico saturado (γsat) = 19 kN/m³

c) Coesão (c) = 5 kN/m²

d) Ângulo de atrito ( ) = 30°

* Preenchimento da cunha triangular entre o painel e o solo original com

camada de areia argilosa e os mesmos valores dos parâmetros apresentados

Propriedades do talude

a) Ângulo δ = 12°

b) Ângulo i = 90° (painel solidário ao talude)

c) Sobrecarga (q) = 10 kN/m² (em especial por eventuais lançamentos de lixo)

Propriedades da ancoragem

a) Ângulo da horizontal com a ancoragem (α) = 13°

b) Distância horizontal entre eixos consecutivos de tirantes (eh)= 2m

c) Distância vertical entre eixos consecutivos de tirantes (ev)= 2m

Propriedades do painel

a) Altura do painel (H) = 4m

b) Largura do painel (L) = 4m

c) Área do painel (A) = 16m²

Page 112: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

112

4.5 MEMORIAL DE CÁLCULO

4.5.1 MÉTODO BRASILEIRO DE ATIRANTAMENTO

* Observação: Os parâmetros foram calculados com auxílio de uma planilha

alternativa. Eventuais discrepâncias na comparação entre os valores inseridos nas

fórmulas abaixo e os resultados dos cálculos podem ser atribuídas ao fato destes

terem sido obtidos sem arredondamentos, conforme a formatação usada no Excel

para fins de redução da propagação de erros.

Ângulo crítico (θcr) = 60°:

θcr i

2 0° 30°

2 0°

(EQ.4.1)

Ângulo entre a ancoragem e o plano crítico de ruptura (β) = 73°:

β α θcr 13° 0° 73°

(EQ.4.2)

Na análise da seção transversal da cunha para θ = θcr = 60°, tem-se:

FIG.4.15 - Cunha de Solo para θ = θcr = 60°

Page 113: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

113

Comprimento da superfície superior da cunha de ruptura (l1) = 2,691m

Comprimento da superfície inferior da cunha de ruptura (l2) = 5,265

Peso linear da cunha (caso θ = θcr) = 124,752 kN/m:

a) Trecho acima do NA (Wsup) = 59,424 kN/m

b) Trecho abaixo do NA (Winf) = 39,003 kN/m

c) Efeito da sobrecarga (Wsc) = 26,325 kN/m

d) Wsup + Winf + Wsc = 124,752 kN/m

(EQ.4.3)

Fator de segurança mínimo (FSmin) = 0,365:

(EQ.4.4)

Fator de segurança mínimo necessário (NBR 5629) = 1,5

Ângulo do plano de ancoragem (θac) = 35° (método brasileiro)

FS 2c

γH

sen i cos

sen i θac sen θac

2 5

1

sen 0° cos30°

sen 0° θac sen θac 30°

(EQ.4.5)

Page 114: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

114

MÉTODO BRASILEIRO DE ATIRANTAMENTO

A partir de = 30°, anotou-se o maior com FS > 1,5, igual a 35°

Ângulo FS

Ângulo FS

Ângulo FS

Ângulo FS

1 -0,235

11 -0,357

21 -0,780

31 7,617

2 -0,243

12 -0,377

22 -0,883

32 3,850

3 -0,251

13 -0,400

23 -1,016

33 2,596

4 -0,261

14 -0,426

24 -1,193

34 1,970

5 -0,271

15 -0,456

25 -1,443

35 1,596

6 -0,282

16 -0,490

26 -1,817

36 1,347

7 -0,294

17 -0,530

27 -2,444

37 1,171

8 -0,307

18 -0,576

28 -3,698

38 1,039

9 -0,322

19 -0,632

29 -7,465

39 0,937

10 -0,338

20 -0,698

30 #DIV/0!

40 0,816

Ângulo FS

35 1,596

35,1 1,56679

35,2 1,53863

35,3 1,51154

35,4 1,48547

35,5 1,46035

TAB.4.1 - Aplicação do Método Brasileiro de Atirantamento

Lambda (λ)= ,136:

(EQ.4.6)

Na análise da seção transversal da cunha para θ = θcr = 35,3°, tem-se:

Page 115: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

115

FIG.4.16 - Cunha de Solo para θ = 35,3°

Comprimento da superfície superior da cunha de ruptura (l1) = 8,253m

Comprimento da superfície inferior da cunha de ruptura (l2) = 9,892m

Peso linear da cunha (caso θ = θcr) = 381,939 kN/m:

a) Trecho acima do NA (Wsup) = 205,797 kN/m

b) Trecho abaixo do NA (Winf) = 95,412 kN/m

c) Efeito da sobrecarga (Wsc) = 80,729 kN/m

d) Wsup + Winf + Wsc = 381,939 kN/m

(EQ. 4.7)

Força de ancoragem necessária (F) = 197,98 kN/m:

F λ 1

λ P

sen θcr

cos β 13 1

13 3 1 3

sen 0° 30°

cos 73° 30° 1 7 N m

(EQ. 4.8)

Page 116: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

116

Tipo de tirante adotado:

TIPO DE

AÇO

TIPO

DE

SEÇÃO

DIÂMETRO

NOMINAL

DA BARRA

(mm)

DIÂMETRO

MÍNIMO

RECOMENDADO

POR FURO (mm)

CARGA

MÁXIMA DE

TRABALHO

PROVISÓRIO

(TTRABALHO) (kN)

CARGA MÁXIMA

DE TRABALHO

PERMANENTE

(TTRABALHO) (kN)

Dywidag Plena 32 100 460 390

TAB.4.2 - Extrato da Tabela 3.3 (Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

Quantidade mínima de camadas horizontais de tirantes (Nh) = 1,02 (adotar 2):

Nh F eh

F adm 1 7 2

3 0 1 03

(EQ. 4.9)

Como o dimensionamento desenvolvido neste Projeto de Fim de Curso parte

de algumas aproximações, a incerteza em alguns dos dados de entrada inseridos

poderia conduzir o projetista a arredondar 1,03 para 1,00. Afinal, reduzir pela metade

a quantidade de tirantes adotados tornaria a obra muito mais barata.

Contudo, o resultado foi arredondado para 2 por alguns motivos: o objetivo da

proximidade com a geometria inicialmente prevista, que já contava com duas

camadas horizontais de tirantes conforme realmente executado no projeto, as

experiências obtidas na prática, nas quais é comum evitar-se colocar somente uma

linha de tirantes, e também o fato de que 1,03 e 1,00 são números bem distintos

quando se calcula uma quantidade mínima inteira de tirantes de sustentação de uma

estrutura.

Afinal, se nesta análise local a cortina fosse executada de acordo com os

cálculos deste trabalho e viesse a desmoronar com a consequente ruptura do talude,

parte da culpa poderia ser atribuída ao projetista.

Page 117: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

117

Quantidade de camadas verticais de tirantes por painel (Nv) = 2 (adotar 2):

Nv H

ev

2

(EQ. 4.10)

Quantidade total de tirantes por painel (Nt) = 4

Carga superficial (qs) = 95,00 kN/m²

q N Fadmcosα

S

3 0 cos 13°

1 5 00 N m

(EQ. 4.11)

Carga horizontal linear (qh) = 190,00 kN/m

qh q ev 5 00 2 1 0 00 N m

(EQ. 4.12)

Carga vertical linear (qv) = 190,00 kN/m

qv q eh 5 00 2 1 0 00 N m

(EQ. 4.13)

4.5.2 ARMADURAS LONGITUDINAIS

O painel tipo a dimensionar foi planejado com altura de 4m, comprimento de

4m e espessura de 0,30m. Em função da classe de agressividade ambiental II

(moderada) atuante em laje, considerada no problema tipo, normalmente seriam

descontados cobrimentos de 2,5cm em cada lado.

Contudo, verifica-se na parte inferior da tabela 4.4 que o cobrimento deve ser

no mínimo 4,5cm para lajes em contato com o solo, sendo uma prática comum de

projeto a opção por 5cm de cobrimento em cortinas atirantadas, conforme se adotou

neste projeto. Assim, descontando-se 5 cm de cada lado, a espessura útil da laje do

painel passou a ser de 20cm.

Page 118: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

118

TAB.4.3 - Classes de Agressividade do Concreto (NBR 6118 : 2014)

TAB.4.4 - Cobrimentos Nominais para ∆c = 10mm (NBR 6118 : 2014)

Para fins de cálculo das armaduras longitudinais, a cortina ancorada foi

dividida em vigas horizontais e verticais. Em cada uma delas, considerou-se as

linhas de tirantes dimensionados como apoios de 2º gênero, gerando-se assim vigas

biapoiadas em balanço, dada a geometria do painel. A seguir, dimensionou-se as

armaduras longitudinais conforme laje cogumelo a partir das vigas horizontais e

verticais modeladas conforme as figuras FIG.4.17 e FIG.4.18, nas zonas externas e

internas às linhas de tirantes preconizadas pela ABNT NBR 6118.

Page 119: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

119

FIG.4.17 - Faixa Vertical

FIG.4.18 - Faixa Horizontal

Analisou-se então o esquema de carregamento adotado com a posterior

construção dos diagramas de momento fletor e esforço cortante, tendo por base o

software Ftool. Adotaram-se então fck = 30MPa, fcd = 30/1,4 = 21,43MPa, fyk =

50kN/cm² e fyd = 50/1,4 = 43,48/14 kN/cm².

Neste ponto, ressaltam-se duas curiosidades sobre a modelagem adotada:

Page 120: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

120

a) O painel adotado é simétrico na vertical e na horizontal, tanto em relação

aos comprimentos de seus lados, quanto também às distâncias entre seus tirantes

sucessivos nas duas direções. Isto faz com que as cargas distribuídas calculadas e

o dimensionamento de algumas das armaduras a serem verificadas sejam as

mesmas para ambas as direções. Afinal, observe que já foram obtidos qh = qv =

190,00 kN/m, por exemplo.

b) A modelagem efetuada consistiu na adoção de vigas em balanço

uniformemente carregadas com dois apoios de segundo gênero, tais que suas

respectivas distâncias centrais fossem iguais ao dobro dos valores dos balanços

respectivos. Isto fez com que não houvesse momentos positivos, apenas negativos e

nulos.

A aplicação do FTool evidencia o exposto acima. Os valores obtidos no

programa foram redimensionados a fim de se tornarem mais legíveis.

A próxima etapa consiste na análise de cada uma das vigas desta

modelagem. Contudo, uma restrição que deveria ser especificada de imediato

consiste nas dimensões a serem usadas nestes elementos, a fim de se evitar

dúvidas a respeito dos cálculos a serem efetuados a seguir. Observe que para

cortinas maiores e com mais camadas de tirantes, a suposta uniformidade de

carregamento da estrutura leva a uma discretização análoga dos momentos fletores

ao longo de cada malha quadrangular consecutiva de 4 tirantes.

Assim, pode-se expandir o desenho inicialmente feito para contemplar toda a

armadura a ser efetuada no painel, com a obtenção de regiões simétricas nas quais

cores iguais indicam momentos redistribuídos iguais nas figuras FIG.4.19 e FIG.4.20.

Page 121: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

121

FIG.4.19 - Faixas Verticais (Expandidas)

FIG.4.20 - Faixas Horizontais (Expandidas)

Page 122: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

122

4.5.2.1 VIGAS HORIZONTAIS CARREGADAS

Para as vigas horizontais carregadas, obteve-se

FIG.4.21 - Viga Horizontal: Carregamento, DEN (kN) e DMF (kNm)

Momento fletor máximo negativo = - 95,00 kNm

Momento fletor máximo negativo (projeto) = - 95,00 . 1,4 = - 133,00 kNm

Momento fletor máximo positivo = momento fletor máximo positivo = 0 kNm

Esforço cortante máximo = 190,00 kN

Esforço cortante máximo (projeto) = 190,00 . 1,4 = 266,00 kNm

Redistribuição de momentos, Md-,e = - 99,75kNm, Md-,i = - 33,25kN e Md+,e

= Md+,i = 0:

d e 37 5

ev 0 375 133 00

2 75 Nm

(EQ.4.14)

d i 25

ev 2 0 25 133 00

2 2 33 25 Nm

(EQ.4.15)

Page 123: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

123

d e 27 5

ev 0 Nm

(EQ.4.16)

d i 5

ev 2 0 Nm

(EQ.4.17)

FIG.4.22 - Redistribuição dos Momentos na Viga Horizontal

a) Viga horizontal, armadura negativa, faixa dos apoios

kmd = 0,1164:

(EQ.4.18)

Dadas as correspondências kmd = 0,1150 - kz = 0,9270 e kmd = 0,1200 - kz =

0,9236, conclui-se por interpolação que para kmd = 0,1164, tem-se kz = 0,9260. E

ainda, kmd < kmd,max = 0,272 (fck = 30MPa), daí se usa armadura simples.

Área mínima de armadura (As) = 5,19cm²

í

(EQ.4.19)

Page 124: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

124

Área de armadura calculada = 12,38 cm²/m:

(EQ.4.20)

Adotando-se aço CA-50 com = 12,5mm, sua área de seção transversal vale

1,23cm². Daí, tem-se o número de barras de aço necessárias n = 11, com

espaçamento adotado e = 8 cm:

(EQ.4.21)

(EQ.4.22)

No dimensionamento, os diâmetros das barras foram majorados pelo fator

1,04 para fins de distribuição dos espaçamentos.

A ABNT 6118 : 2014 enuncia que o espaçamento mínimo livre horizontal

entre as faces das barras deve ser o maior dos 3 valores: 20mm; 1,2. máx, agregado; e

o máximo dentre { barra, feixe, luva}. Na prática, com os dados deste item, o

espaçamento mínimo deve ser 20mm = 2cm, daí o espaçamento 8mm é aceitável.

Solução adotada: 11 12,5mm c 8 cm

b) Viga horizontal, armadura negativa, faixa interna

kmd = 0,0388

(EQ.4.23)

Page 125: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

125

Dadas as correspondências kmd = 0,0350 - kz = 0,9790 e kmd = 0,0400 - kz =

0,9759, conclui-se por interpolação que para kmd = 0,0388, tem-se kz = 0,9766. E

ainda, kmd < kmd,max = 0,272 (fck = 30MPa), daí usa-se armadura simples.

Área mínima de armadura (As) = 5,19 cm² (análogo)

Área de armadura calculada = 3,92 cm²/m:

(EQ.4.24)

Para o aço CA-50 com = 12,5mm, sua área de seção transversal vale

1,23cm². Daí, tem-se o número de barras de aço necessárias n = 5, com

espaçamento e = 22,5 cm:

(EQ.4.25)

(EQ.4.26)

Solução adotada: 5 12,5mm c 22,5cm

c) Viga horizontal, armadura positiva, faixa dos apoios

Através do diagrama de momento fletor da figura FIG.4.21, foi possível

observar que os momentos obtidos para a viga são todos negativos. Logo, adota-se

a armadura mínima para a armação positiva.

Área mínima de armadura (As) = 5,19 cm² (análogo)

Para o aço CA-50 com =10mm, a área de seção transversal vale 0,79 cm².

Daí, o número n de barras de aço necessárias é 7, com espaçamento e=15 cm:

Page 126: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

126

n cm

0 7 cm Adotar barras

(EQ.4.27)

e 100 1 0 1 0

1 5 cm Adotar 15 cm

(EQ.4.28)

Solução adotada: 7 10mm c 15,0cm

d) Viga horizontal, armadura positiva, faixa interior

Para os mesmos parâmetros geométricos, também foi considerada a

armadura mínima para a armação positiva.

Solução adotada: 7 10mm c 15,0cm (análogo)

4.5.2.2. VIGAS VERTICAIS CARREGADAS

Para as vigas verticais carregadas:

FIG.4.23 - Viga Vertical: Carregamento, DEN (kN) e DMF (kNm)

Page 127: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

127

Foram obtidos:

Momento fletor máximo negativo = - 95,00 kNm

Momento fletor máximo negativo (projeto) = - 95,00 . 1,4 = - 133,00 kNm

Momento fletor máximo positivo = momento fletor máximo positivo = 0 kNm

Esforço cortante máximo = 190,00 kN

Esforço cortante máximo (projeto) = 190,00 . 1,4 = 266,00 kNm

Pela redistribuição de momentos, Md-,e = - 99,75kNm, Md-,i = - 33,25kN e

Md+,e = Md+,i = 0:

d e 37 5

ev 0 375 133 00

2 75 Nm

(EQ.4.29)

d i 25

ev 2 0 25 133 00

2 2 33 25 Nm

(EQ.4.30)

d e 27 5

ev 0 Nm

(EQ.4.31)

d i 5

ev 2 0 Nm

(EQ.4.32)

De modo semelhante ao dimensionamento das vigas horizontais, verificou-se

que nas vigas verticais tem-se os mesmos valores de parâmetros geométricos e

distribuições de momentos fletores de projeto, como se fosse a mesma estrutura

antes verificada rotacionada de 90°. Deste modo, as soluções na horizontal e na

vertical são análogas.

Assim, a figura FIG.4.24 e a tabela TAB.4.5 exibem as faixas obtidas e os

tipos de armaduras longitudinais adotadas, respectivamente:

Page 128: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

128

FIG.4.24 - Redistribuição dos Momentos na Viga Vertical

TAB.4.5 - Tipos de Armações Longitudinais Adotados

DISTRIBUIÇÃO DE ARMADURAS

Viga horizontal, Armadura negativa, Faixa dos apoios 11 12,5mm c 8 cm

Viga horizontal, Armadura negativa, Faixa interna 5 12,5mm c 22,5 cm

Viga horizontal, Armadura positiva, Faixa dos apoios 7 10,0mm c 15 cm

Viga horizontal, Armadura positiva, Faixa interior 7 10,0mm c 15 cm

Viga vertical, Armadura negativa, Faixa dos apoios 11 12,5mm c 8 cm

Viga vertical, Armadura negativa, Faixa interna 5 12,5mm c 22,5 cm

Viga vertical, Armadura positiva, Faixa dos apoios 7 10,0mm c 15 cm

Viga vertical, Armadura positiva, Faixa interior 7 10,0mm c 15 cm

As armações apresentadas na tabela TAB.4.5 foram expressas na figura

FIG.4.25 a seguir:

Page 129: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

129

FIG.4.25 - Armação Longitudinal (Autoria Própria)

4.5.3. VERIFICAÇÃO DE PUNÇÃO

Verifica-se a geometria da punção na cortina conforme a figura FIG.4.25,

conforme os itens a e b a seguir:

FIG.4.26 - Verificação da Punção (Autoria Própria)

a) Verificação da tensão resistente de compressão diagonal do concreto na

superfície crítica C:

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130

Neste item, verificou-se a hipótese sdc < rd2:

Espessura da laje de concreto (h) = 30cm

Cobrimento nominal (c) = 5,0cm, de cada lado

Espessura útil da laje de concreto (d) = 20cm

Perímetro do contorno C (uo) = 80cm

uo d cm

(EQ. 4.34)

Força concentrada de cálculo ( = 532,01 kN

Fsd 1 Fanc cosα 1 3 0 cos 13° 532 01 N

(EQ. 4.35)

Tensão cisalhante solicitante de cálculo na superfície crítica C (

3325,06 kN/m²

sdc Fsd

uo d

532 01 N

cm cm N m

(EQ. 4.36)

αv2 = 0,88:

αv2 1 fc

250 1

30

250 0

(EQ. 4.37)

rd2 = 5091,43 kN/m²:

rd2 0 27 0 30 Pa

1 50 1 3 N m2

(EQ.4.38)

Veja que < (OK)

b) Verificação da tensão resistente na superfície crítica C’:

Neste item, verificou-se a hipótese sdc < rd1, com fck = 30MPa:

Raio do Contorno da superfície C' (R) = 0,500m

Page 131: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

131

(EQ.4.39)

Perímetro do contorno da superfície C' (u) = 3,1416m

uo 2 R m

(EQ.4.40)

sdc = 846,718 kN/m²

sdc Fsd

uo d

532 01 N

m 0 m

N

m

(EQ.4.41)

ρ → 0,025 (armadura mínima)

ρ ρx ρ 0 025

(EQ.4.42)

= 1096,462 MPa

rd1 0 13 1 20

d 100 ρ fc 1 3 0 13 1

20

100

25

1000 3

13

Pa

(EQ.4.43)

Veja que sdc < rd1 (OK), logo não houve a necessidade de armação da

seção do painel em estudo frente à atuação dos esforços de punção dos tirantes.

Entretanto, a NBR 6118 afirma que na situação da estabilidade global da

estrutura depender da resistência da laje ao efeito de punção, deve-se considerar o

emprego de uma armadura de colapso progressivo capaz de equilibrar um mínimo

de 50% de Fsd, independentemente da comparação realizada entre sdc e rd1.

Exibe-se o dimensionamento da armadura de colapso a seguir:

Page 132: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

132

(EQ.4.44)

(EQ.4.45)

Detalhou-se nos anexos a configuração de armadura para resistir a esta

solicitação.

4.5.4 BULBO DE ANCORAGEM

Pelos aspectos geométricos da seção do talude anteriormente apresentado,

já era de se esperar que o trecho ancorado estivesse na região rochosa.

Nesta situação, foi empregada a técnica de análise da ruptura do contato

entre nata e maciço (COATES, 1970; LITTLEJOHN E BRUCE, 1975; HANNA, 1982;

BALLIVY E MARTIN, 1983 E XANTHAKOS, 1991). Através dela, tem-se:

ç

(EQ.4.46)

Conforme anteriormente exposto, o tirante DYWIDAG adotado tem diâmetro

nominal de 32mm, diâmetro mínimo recomendado por furo de 100mm e carga

máxima de trabalho permanente de 390kN. Daí, seguem as propriedades usadas na

aplicação da fórmula:

Carga de arrancamento (P): 390 kN

Diâmetro do furo de sondagem (D): 100mm

Tensão de aderência nata-maciço ( : 0,35 (adoção de "rocha fraca" na tabela

TAB.4.6).

Para este último parâmetro, verificou-se abaixo o material no entorno da

ancoragem de acordo com a situação de rocha mais desfavorável, a qual ofereceria

menor tensão de aderência na interface. Isto consequentemente exigiria um maior

Page 133: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

133

comprimento de ancoragem a ser requerido, tendo-se em vista o não conhecimento

das propriedades da rocha no interior do talude.

TAB.4.6 - Tensões de Aderência Nata Maciço

Comprimento de ancoragem (La) = 6,20m:

P D La 3 0 N 1 75 0 1m La 0 35 Pa La 20 m

(EQ.4.47)

Acima, adotou-se fator de segurança igual a 1,75 (tirante permanente),

conforme recomenda a norma NBR 5629. Obteve-se então comprimento de

ancoragem necessário para ambos os tirantes igual a 6,20m.

4.5.5. CAPACIDADE DE CARGA DA BASE

Este item teve por objetivo avaliar a eventual ruptura do solo imediatamente

abaixo da cortina em função do cálculo de suas solicitações verticais, com a

Page 134: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

134

constatação de eventuais reforços na base ou alteração da geometria inicialmente

prevista para o pé da cortina.

A figura FIG.4.27 descreve a avaliação efetuada, com dimensões em cm:

FIG.4.27 - Análise da Capacidade de Carga

Área da seção transversal do painel (Ap) = 1,53m² (obtido via AutoCAD)

Peso específico do concreto (γconc) = 25 kN/m³

Ângulo das ancoragens com a horizontal (α) = 13°

Espaçamento entre camadas verticais consecutivas de tirantes (ev) = 2m

Componente vertical linear do peso do conjunto (Pvl): 38,25

(EQ.4.48)

Componente vertical linear das forças de ancoragem (Avl): 87,73

(EQ.4.49)

Page 135: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

135

Componente vertical linear do empuxo (Evl) → não considerado

Componente vertical linear total (Evt) = 125,98

(EQ.4.50)

Nos casos de recalques desprezíveis das fundações, é comum considerar o

empuxo paralelo ao terrapleno superior.

Usou-se a tabela TAB.4.7 para a verificação da tensão admissível pelo solo.

TAB.4.7 - Pressões Básicas de Classes de Solo Distintas (NBR 6122 : 1996)

O painel está em sua maior parte assentado diretamente sobre uma camada

de solo de areia argilosa, estando esta depositada sobre uma camada de rocha.

Tendo em vista o fato da região de areia intermediária entre a cortina e a rocha ser

desprezível na faixa vertical delimitada pelos limites laterais da seção transversal da

cortina, considerou-se apenas a rocha na análise dos dados da tabela TAB.4.7.

Contudo, na tabela TAB.4.7 há 3 tipos de rochas. Tendo por base a análise

geológica desenvolvida no item 4.1 e a comparação das possíveis opções

Page 136: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

136

disponíveis na tabela com o padrão observado na visita ao terreno, o mesmo foi

enquadrado como classe de solo 1. Neste contexto, adotou-se para o local de

estudo a presença de rocha de matriz constituída de granito, com expectativa de

uma pequena faixa de alterações de rocha formada pelo solo residual logo acima do

granito, na superfície. Sendo assim, considerou-se uma tensão de cálculo admissível

igual a um terço do valor exibido na tabela, isto é, 1000 kN/m².

Sob a consideração dos parâmetros das excentricidades resultantes da

tensão no solo (qs) e da solicitação vertical de cálculo (Fv), calculou-se o momento

das resultantes destas forças (M) em relação à linha vertical no extremo direito do

conjunto, tendo sido efetuado também um equilíbrio vertical de forças.

Na situação de equilíbrio, pode-se assumir que a resultante da cargas

distribuídas no solo se localiza no terço central da base da sapata, conforme a ilustra

a representação abaixo (dimensões em metros).

FIG.4.28 - Solicitações na Base do Painel

Na situação limite de equilíbrio, a carga solicitada é a máxima possível e o

sistema requer uma largura mínima necessária correspondente de base (B). Assim:

Page 137: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

137

Fv qs

2B qs B 2Fv qs B Fv

(EQ.4.51)

Fv .0,150= qsB

2

B

3 qs B 0 Fv

(EQ.4.52)

Carga vertical máxima mobilizável pelas forças verticais calculadas (qs) =

560,61 kN/m:

qs Fv 12 N m

(EQ.4.53)

Base máxima necessária dadas as forças verticais calculadas (B) = 0,45m:

(EQ.4.54)

Verifique que pelo fato da base ter sido dimensionada com comprimento igual

a 90cm, esta dimensão está a favor da segurança.

Por outro lado, como 560,61 kN/m < 1000,00 kN/m, então o solo possui

capacidade de carga necessária para conseguir equilibrar a cortina. Logo, não se

aconselharia a execução de estacas, tanto pelo resultado acima, quanto pelo fato de

haver rocha nas proximidades da aresta inferior do painel, o que encareceria demais

o projeto.

4.5.6. GEOMETRIA FINAL DE PROJETO

Especificou-se a seguir a configuração espacial do projeto, com destaque

especial para o cálculo das dimensões dos tirantes e a visão superior da construção,

indicadora da distribuição dos painéis ao longo do terreno.

O esquema apresentado na figura FIG.4.29 ilustra a técnica empregada para

obtenção dos comprimentos dos tirantes, de acordo com suas divisões em trechos

Page 138: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

138

cujas colorações indicam motivações distintas para fins de atendimento de

características do dimensionamento adotado ou de recomendações usuais de

projeto.

FIG.4.29 - Esquema dos Tirantes

Inicialmente, tendo sido obtido um ângulo de ancoragem igual a 35,3°, seria

intuitivo colocar os bulbos logo após a linha amarela correspondente a θac na seção

transversal da região de assentamento do painel. Ou seja, considerar os trechos não

ancorados como sendo apenas aqueles referenciados nas linhas em rosa.

Contudo, a NBR 5629 preconiza que a posição do começo do bulbo esteja a

uma distância de no mínimo 3 metros da superfície do começo da perfuração. O

comprimento em rosa do trecho superior tem 3,28m, mas o trecho de cor equivalente

no tirante inferior tem apenas 1,09m. Logo, tal recomendação não foi inicialmente

satisfeita, devendo-se preferencialmente considerar um trecho de continuação da

região não ancorada deste tirante, cujo comprimento seja igual a 1,91m. Ou seja,

totalizando-se 3m.

Tendo-se à disposição uma camada de rocha imediatamente abaixo de uma

camada de baixa espessura, considerada areia argilosa por hipótese, é intuitivo

Page 139: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

139

inserir o bulbo na região rochosa, no intuito de se obter maior resistência de

ancoragem. Sendo assim, prolongou-se a linha do trecho não ancorado do tirante

superior ao longo do trecho de cor laranja, a fim de que se atingisse ao menos

interface entre as superfícies. Tal procedimento não precisou ser efetuado para o

tirante inferior, pois seus trechos de cores rosa e azul, juntos, já haviam atingido a

superfície limítrofe entre os dois materiais.

Outra recomendação corrente é posicionar o bulbo de modo que ele diste da

superfície crítica ao menos 0,15 vezes a altura da contenção, distância esta igual a

0,6m, dada a altura de 4m da cortina. Veja que os trechos laranja de 2,06m e azul

de 1,90 aplicados aos tirantes superior e inferior, respectivamente, já atendem

naturalmente a esta recomendação.

Contudo, a verificação dos traçados dos trechos não ancorados, de acordo

com a NBR 5629 (ABNT 2006) indica que o recobrimento de terra, em geral, deve

ser de no mínimo 5 metros sobre o centro do trecho de ancoragem.

Para a implementação deste procedimento no projeto, verificou-se que caso o

bulbo fosse inserido imediatamente após as linhas laranja e azul nos tirantes

respectivos superior e inferior, apenas no segundo caso ele teria seu centro distando

mais de 5m da superfície, sob uma faixa de altura de valor igual a 5,52m.

Portanto, a linha do tirante superior precisou ser aumentada outra vez, com o

desenho do trecho linear vermelho para que o bulbo pudesse ser inserido logo após

o mesmo. Verifique no desenho que dada a configuração "roxo + laranja + vermelho"

no trecho não ancorado, a inserção de um bulbo de 6,20m faz exatamente com que

seu centro diste 5m do topo da faixa de solo. Afinal, a linha vermelha foi feita para

garantir isto.

Chegou-se assim na configuração final da geometria de projeto da seção

transversal, sendo seus trechos compostos por linhas de colorações distintas

discriminadas a seguir:

Tirante superior: região não ancorada (roxo + laranja + vermelho) + bulbo

Tirante inferior: região não ancorada (roxo + azul) + bulbo

Page 140: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

140

TAB.4.8 - Especificação de Cores e Comprimentos

Comprimentos dos tirantes

Cor Tirante Superior Tirante Inferior

Roxo 3,28 1,09

Laranja 2,07 0,00

Azul 0,00 1,91

Vermelho 0,67 0,00

Bulbo 6,20 6,20

Total 12,22 9,20

Anteriormente, foi comentado que o projeto seria constituído de cinco painéis

com dimensões previamente detalhadas no início desta seção. Tendo sido todos os

seus parâmetros aprovados em função das restrições de projeto e dimensionamento

verificadas ao longo deste relatório, adotou-se de fato as configurações previstas.

Verificou-se a vista superior dos fundos dos edifícios da rua Barata Ribeiro,

exibida no arquivo fornecido pela CRO/1 e contendo os detalhes dos entornos do

local de assentamento dos painéis da cortina. Na figura FIG.4.30, destacam-se a tela

de alta resistência a ser executada na base do talude e os mecanismos de

drenagem nos entornos da estrutura em azul, representante da cortina inicialmente

prevista pelo projetista da Comissão.

FIG.4.30 - Vista Superior do Talude

Page 141: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

141

A estrutura originalmente planejada foi redesenhada para conter os paineis

previstos no relatório. Primeiro, foi feito um reconhecimento da vista superior dos

paineis tipo da cortinanas figuras FIG.4.31 e FIG.4.32.

FIG.4.31 - Vistas Lateral (esq.) e Superior (dir.) dos Painéis Centrais

FIG.4.32 - Vistas Lateral (esq.) e Superior (dir.) dos Painéis Extremos

Page 142: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

142

Os desenhos das figuras FIG.4.31 e FIG.4.32 foram então dispostos pela

região, de modo a se propor uma nova conformação para os painéis dimensionados.

Verifique que as linhas de painéis das FIG.4.33 e FIG.4.30 são distintas. .

FIG.4.33 - Vista Superior Proposta do Talude

4.5.7. DRENAGEM

Os desenhos geométricos originais dos painéis foram todos refeitos, dando

origem à figura FIG.4.33 abaixo. Verifique que os trechos de valetas superiores

agregados aos painéis se mostraram praticamente coincidentes com a valeta

originalmente planejada pela Comissão. Afinal, a dimensão de 40 cm de espessura

do trecho livre de escoamento da água foi estrategicamente arbitrada em função da

largura da valeta do desenho anterior. Assim, seria possível interligar todos os

subtrechos de valeta superior dos painéis propostos nesta pesquisa, a fim de criar

uma estrutura única de escoamento na parte superior adjacente da cortina.

Destaca-se ainda a necessidade de "encurvamento" adequado das regiões

extremantes da valeta, a fim de facilitar o escoamento da água na interface das

mesmas com os trechos em descida via escadaria. Um eventual refinamento deste

desenho poderia justificar através de cálculos de drenagem como proceder em

Page 143: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

143

termos de melhoria nas condições de dissipação da energia de escoamento da água

nestes trechos de mudança de inclinação horizontal e declividade.

Neste sistema, a valeta de pé conduziria o escoamento para longe da cortina,

afastando a água da estrutura e encaminhando-a para o sistema de águas pluviais

da região.

No projeto, obedeceu-se as recomendações do manual da GEORIO (2014)

para a contenção executada em concreto armado, na qual se diz que os furos de

drenagem (barbacãs) devem ser feitos na face do muro. Além disso, os furos devem

apresentar diâmetros de 7,5cm e estar espaçados de 1,5m na horizontal e 1,0m na

vertical, estando a linha inferior com aproximados 30cm acima da base do muro.

Nas figuras FIG.4.34 e FIG.4.35 abaixo, mostram-se os espaçamentos

baseados nos distanciamentos descritos, de tal forma a se evitar tanto eventuais

coincidências dos furos com as regiões de cabeças de tirantes, quanto

interceptações das geratrizes inferiores dos furos de baixo, próximos da superfície

de escoamento da valeta. Neste caso, adotou-se distanciamento vertical de 10 cm

entre as duas superfícies: geratrizes inferiores e superfície de escoamento.

FIG.4.34 - Barbacãs no Painel Central

Page 144: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

144

FIG.4.35 - Barbacãs no Painel Lateral Esquerdo

A análise para o painel lateral direito é análoga ao ilustrado no painel

esquerdo. Logo seu desenho não foi necessário, sendo apenas uma estrutura

simétrica em relação ao seu eixo central vertical.

No projeto, colocou-se os furos apenas na vista frontal das cortinas, pois o

dimensionamento não costuma ser simples devido à heterogeneidade do solo. Por

exemplo, em solos heterogêneos com rochas, os drenos devem ser projetados de

modo a interceptarem a maior quantidade de veios permeáveis possíveis,

demonstrando-se assim a importância de verificar as características hidrogeológicas

do maciço.

Tendo em vista a limitação de informações a respeito do talude, as

especificações de drenagem foram apenas até esta etapa de especificação dos

painéis, tendo a análise global dos caminhos de percurso dos escoamentos ao redor

da cortina atirantada já tendo sido efetuada neste relatório.

Por fim, verificações posteriores seriam úteis para avaliação dos painéis

extremos com vistas frontais de seções reduzidas (esquerda e direita). Uma vez que

Page 145: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

145

os mesmos não foram o foco da análise, seus processos de dimensionamento não

foram detalhados neste relatório.

Contudo, já é necessário frisar que como as geometrias dos mesmos são

diferentes das seções dimensionadas, não basta apenas reproduzir as mesmas

soluções para estes painéis extremantes.

Por outro lado, comparativamente à solução já implementada pela CRO/1,

evidencia-se que a aplicação da canaleta longitudinal pode ser verificada no estudo

de caso.

FIG.4.36 - Canaleta com Degrau no Estudo de Caso

Em uma região urbana, o processo de infiltração não será apenas devido as

chuvas, pode ocorrer a ruptura/vazamento de encanamentos/tubulações e

consequentemente acarretar infiltrações como supostamente ocorreu na região da

Rua Barata Ribeiro, 90, Copacabana, RJ. Portanto, ao realizar um projeto, deve-se

levar em consideração a existência desses dispositivos hidráulicos.

O presente trabalho não aprofunda no estudo de trincheiras drenantes. O

principal alvo serão os drenos horizontais profundos, pois foram aplicados ao estudo

de caso como se pode verificar na figura FIG.4.37 abaixo.

Page 146: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

146

FIG.4.37 - Emprego de Drenos

4.6. ANÁLISE GLOBAL DO TALUDE

Analisar taludes é um processo complexo e de grande responsabilidade, uma

vez que se trata de um procedimento envolvendo grandes massas, as quais podem

gerar muitas vítimas. Corroborando com tal afirmativa, costuma-se ser necessário

vários ensaios para caracterizar os solos de maneira apropriada e a sua

heterogeneidade dificulta obtenção de modelos apropriados.

Deve-se ressaltar que uma série de fatores podem deflagrar o rompimento de

taludes, sendo os principais: alteração da geometria do talude, variação do nível

freático, agentes erosivos deteriorando as características do solo, ocupação urbana

e sismos. Tais fatores podem conduzir a casos de instabilidade e,

consequentemente, deslizamentos devido ao aumento das solicitações e diminuição

da resistência do solo.

Ao implementar um projeto, o fator de segurança deve ser 1,5 para ser

classificado como estável. Sendo a análise dos fatores de segurança feitas por

métodos de equilíbrio limite ou por métodos de elementos finitos. A partir do conceito

do equilíbrio limite, desenvolveram-se diversos métodos de analises, dentre os quais

citam-se: Fellenius, Bishop simplificado. Jambu simplificado, Spencer, Morgenstein-

Price e Jambu Simplificado.

Page 147: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

147

Segundo Krahn (2003), a diferença em tais métodos baseia-se nas equações

estáticas satisfeitas, nas forças entre fatias consideradas para o cálculo (normais e

de corte), e na distribuição das forças de interação.

Abaixo, mostra-se as forças existentes em uma fatia e as obedecidas pelos

métodos:

FIG.4.38 - Forças normais e de corte em uma fatia (FERRÁS, 2012)

TAB.4.9 - Características dos métodos (Adaptado de FERRÁS, 2012)

A classificação de rigoroso é dada para os métodos que obedecem todas as

equações da estática. Portanto, dos métodos acima, apenas Morgenstern-Price e

Janbu Rigoroso podem ter essa classificação.

Inicialmente, analisou-se a estabilidade local dos tirantes através da utilização

do método brasileiro. Agora, analisa-se a global através do Janbu Simplificado e o

Rigoroso, tais métodos foram selecionados por se adequarem a uma superfície

qualquer e possibilitarem a comparação entre os fatores de segurança obtido por um

método não rigoroso e um rigoroso.

Page 148: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

148

O software Slide da RocScience foi utilizado para determinar o fator de

segurança pelos métodos mencionados anteriormente. A partir dos desenhos feitos

no AutoCAD, obteve-se as coordenadas de todos os pontos e aplicou-se ao Slide.

FIG.4.39 - Perfil do talude no SLIDE

Para o solo coluvionar indicado em amarelo, adotaram-se as seguintes

características:

Peso específico natural (γnat) = 18,5 kN/m³;

Peso específico saturado (γsat) = 19 kN/m³;

Coesão (c) = 5 kN/m²; e

Ângulo de atrito ( ) = 30°.

A rocha foi indicada em marrom e adotou-se as seguintes características:

Peso específico natural (γnat) = 26 kN/m³;

Coesão (c) = 340 kN/m²; e

Ângulo de atrito ( ) = 0°.

A sobrecarga de 10KN/m2 foi inserida para simular os efeitos de lixos ou

outros resíduos que possam ser acumulados no decorrem do tempo. Enquanto que

as cargas de 15KN/m2 representam as edificações acima do talude. A partir da figura

FIG.4.39, determinou-se a malha automaticamente através do programa com uma

malha de 200x200 e obteve-se o fator de segurança para o rompimento circular.

Page 149: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

149

FIG.4.40 - Pefil sem Tirante com Grid Automático para Janbu Simplificado

FIG.4.41 - Perfil sem Tirante com Grid Automático para Janbu Rigoroso

Como o esperado o FS de segurança apresentado foi abaixo de 1 e, portanto,

o talude já estaria rompido caso fosse executado um aterro vertical sem cortina.

Porém, tal situação era esperada, devido à existência de um trecho vertical no talude

Page 150: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

150

na região onde entrarão os tirantes. O solo não apresenta coesão e ângulo de atrito

para sustentar um trecho a 90°.

Verificou-se que o fator de segurança ficava menor conforme descia o

desenho do grid. Portanto, mostrou-se a necessidade de verificar através de grids

manuais o resultado obtido através do grid automático.

Com a implementação de um tirante de 390KN, verificou-se, inicialmente, o

fator de segurança para uma ruptura circular.

FIG.4.42 - Grid Automático com Ruptura Circular e Janbu Simplificado

FIG.4.43 - Grid automático com ruptura circular e Janbu Corrigido

Além do grid gerado automaticamente, também se verificou o comportamento

para o grid manual. Porém, tal procedimento foi feito apenas para o Janbu

Simplificado, pois o comportamento do FS no Janbu Corrigido já ficou claro através

do grid automático.

Page 151: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

151

FIG.4.44 - Grid manual e Janbu Simplificado

Constatou-se que não ocorreu variação no FS encontrado anteriormente.

Porém, deve-se analisar a possibilidade de uma superfície não circular, além

disso, é importante analisar a possível ruptura na interface entre o solo coluvionar e

a rocha.

Na etapa anterior, verifica-se a ruptura com uma superfície circular, porém,

torna-se necessário averiguar a ruptura na interface entre solo coluvionar e rocha.

Tal possibilidade existe devido aos escorregamentos por translação ocorrerem,

geralmente, em situações em que existe pouca profundidade e um paralelismo a um

estrato mais resistente. A superfície de deslizamento desenvolvida terá a forma

plana ou poligonal. Baseado nisso, redefiniu-se a ruptura para a interface do solo e

rocha como pode-se observar na figura FIG.4.49

Page 152: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

152

FIG.4.45 - Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Simplificado

FIG.4.46 - Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Corrigido

Verifica-se que a ruptura entre o solo e rocha fornece um FS maior.

Entretanto, ainda resta verificar a possibilidade da ruptura não circular no solo

coluvionar. Tal resultado pode-se ser gerado através da otimização com o limite

definido acima.

Page 153: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

153

FIG.4.47 - Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Simplificado Otimizado

FIG.4.48 - Ruptura entre o solo e rocha com Janbu Corrigido Otimizado

Portanto, gerou-se FS menores que a superfície de ruptura circular e em

locais bem próximos. Além disso, com os resultados obtidos, pode-se falar que o

Janbu Simplificado apresentou valores mais conservadores quando comparado ao

corrigido.

Page 154: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

154

5. CONCLUSÕES

Este trabalho teve a função de atuar como um guia de dimensionamento e

execução de cortinas atirantadas, a fim de preparar o leitor para o entendimento do

desenvolvimento de um projeto de aplicação real desta estrutura de contenção.

Algumas dificuldades surgiram ao longo de seu desenvolvimento, a partir do

momento em que a parte teórica havia sido concluída e sua aplicação prática havia

se iniciado. Sobre a frase anterior, entende-se que a obtenção dos dados do local da

obra foi difícil de ser conseguida, tendo em vista a demora para que os devidos

documentos descritivos do local pudessem ser encontrados, e também ao fato de

alguns ensaios que normalmente são importantes, como sondagens à percussão

executadas no terreno, não terem sido fornecidos.

Ainda assim, com base tanto em uma análise profunda de todos os

parâmetros disponibilizados e relacionados ao local, quanto no bom senso para

suposições de propriedades desconhecidas, buscou-se executar um projeto

completo e com todos os detalhamentos relevantes possíveis. Afinal, sabe-se que o

presente projeto não vai ser de fato executado. Contudo, este trabalho teve apenas

fins didáticos, para propiciar o entendimento do processo e da complexidade deste

tipo de projeto.

O ponto de partida para o dimensionamento do painel teve por base uma

planilha Excel desenvolvida pelos autores, a fim de facilitar a automatização das

informações pela técnica de referenciação de dados, conforme se alteravam

parâmetros como diâmetros de bitolas, tipos de tirantes adotados, ângulos do projeto

geométrico ou parâmetros do solo. Sabe-se que pelo fato do projeto ser todo

integrado, uma modificação qualquer poderia influenciar no cálculo de muitas outras

propriedades, de tal forma que um erro de dimensionamento, ao ser revisto e

corrigido, levaria ao dispêndio de um tempo elevado para a compatibilização dos

cálculos subsequentes de projeto.

Portanto, uma sugestão para trabalhos futuros em projetos de fim de curso

sobre o tema de cortinas atirantadas seria o aperfeiçoamento da planilha de cálculo.

De fato, ter à disposição uma planilha automatizada, que calcule todo o possível em

Page 155: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

155

um projeto desta categoria e seja elaborada sem que o operador tenha dúvidas a

respeito de eventuais erros de formatação, facilitaria o trabalho e encurtaria em

grande parte o tempo despendido para o desenvolvimento do projeto. Entretanto,

deve-se ressaltar que o uso de tal tabela não isentaria os possíveis operadores da

responsabilidade ao executá-la.

Outra sugestão desafiadora seria um estudo mais aprofundado a respeito da

implementação de planilhas de custos descritivas dos diversos materiais,

ressaltando a importância da parte orçamentária, e procedimentos a serem

efetuados na implementação de uma cortina atirantada. Afinal, não basta apenas

dimensionar um conjunto de painéis e tirantes, ou mesmo avaliar parâmetros de

resistência de solo, caso não haja um estudo de viabilidade econômica de execução

do que foi previsto com uma referenciação detalhada de custos para cada item

previsto em projeto. Através deste, pode-se inclusive avaliar diversas solicitações

adotadas por projetistas com base em seus custos previstos, comparando-as com

eventuais propostas de empenho de gastos de uma empresa qualquer com

orçamento limitado.

No mais, a cortina empregada tinha dimensões individuais relativamente

pequenas, tendo em vista sua execução conforme painéis mais simples capazes de

representarem como um todo tal tipo de contenção adotada na obra. Sendo assim,

no dimensionamento associado, lidou-se em geral com solicitações mais simples e

armaduras não tão robustas - comparadas com as soluções normalmente adotadas

em cortinas de elevadas dimensões.

Destaca-se neste trabalho a verificação da estabilidade local dos taludes

executada através do método brasileiro, além da análise da estabilidade global com

o uso do software Slide da RocScience. Calcularam-se os fatores de segurança

através dos métodos de Janbu Simplificado e Corrigido para superfícies de ruptura

circular e não circular para o talude antes da instalação dos tirantes e após a

construção da contenção. Assim, obteve-se o menor fator de segurança para uma

ruptura não circular e em todas os casos propostos, o Janbu Simplificado se mostrou

mais conservador que o Janbu Corrigido.

Page 156: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

156

Relativamente ao dimensionamento estrutural, uma alternativa interessante e

capaz de fornecer maior precisão frente aos cálculos dos painéis como lajes

cogumelos seria um estudo mais aprofundado de diversos softwares de cálculo. Por

exemplo, o software CYPECAD atua em cálculos e projetos estruturais em concreto

armado, pré-moldado, protendido e misto de concreto-aço. O software de

engenharia estrutural SAFE, por sua vez, também faz avaliações parecidas.

Page 157: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

157

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Page 162: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

162

7. ANEXOS

ANEXO 01: ANCORAGEM

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

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ANEXO 02: FRETAGEM/ ARMADURA DA BASE

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

Page 164: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

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ANEXO 03. JUNTAS DE CONCRETAGEM

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

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ANEXO 04: VISTA FRONTAL/ SEÇÃO AA (PAINÉIS CENTRAIS)

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

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ANEXO 05: VISTA FRONTAL/ SEÇÃO AA (PAINÉIS LATERAIS)

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)

Page 167: ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES COM CORTINA ATIRANTADA

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ANEXO 06. ARMADURA DE PUNÇÃO

(Adaptado do Manual da GeoRio, 2014)