estabilidade oxidativa do óleo da polpa de macaúba em função da idade dos frutos e do período...

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ESTABILIDADE OXIDATIVA DO ÓLEO DA POLPA DE MACAÚBA EM FUNÇÃO DA 1 IDADE DOS FRUTOS E DO PERÍODO DE ARMAZENAMENTO 2 3 SAMUEL DE MELO GOULART 1 ; JOSÉ ANTÔNIO SARAIVA GROSSI 2 ; ANDERSON 4 BARBOSA EVARISTO 3 ; OSDNEIA PEREIRA LOPES 3 ; WOGAYEHU WORKUT TILAHUN 3 ; 5 LEONARDO DUARTE PIMENTEL 4 ; . 6 INTRODUÇÃO 7 A criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, PNPB, que instituiu 8 aumentos graduais da razão de mistura biodiesel/diesel , resultou em aumento da demanda de óleo 9 vegetal tornando imprescindível a inserção de novas fontes de óleo no mercado para que as 10 premissas do programa sejam atendidas. Neste cenário, a macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) 11 Lodd. ex Mart] surge como uma espécie promissora, devido à sua ampla dispersão no território 12 brasileiro, rusticidade e alta produtividade. 13 Embora a espécie seja explorada há muito tempo, seguindo modelo extrativista, os estudos 14 sistemáticos envolvendo sistemas de produção são relativamente recentes e escassos (AZEVEDO 15 FILHO et. al., 2012). Em se tratando de pós-colheita, tais dados se tornam ainda mais escassos uma 16 vez que a exploração econômica da espécie é restrita ao extrativismo (MOTOIKE et al., 2013), que 17 não preconiza cuidados pré ou pós-colheita. O armazenamento dos frutos torna-se ainda mais 18 importante quando se leva em consideração a sazonalidade da produção da macaúba, o que reflete 19 em elevado período de ociosidade nas usinas processadoras. 20 Durante o armazenamento, observa-se rápido processo de degradação dos frutos que 21 culmina com a baixa qualidade do óleo (MOTA et al., 2011). Porém, não há registros de 22 metodologias práticas para avaliação destes processos bem como não se conhece o tempo de vida 23 pós-colheita de frutos colhidos na planta (qualidade inicial ótima) e armazenados por longo período. 24 A estabilidade oxidativa constitui um parâmetro global para avaliação da qualidade de óleos e 25 gorduras que não depende apenas da sua composição química e da qualidade da matéria-prima. 26 Reflete também as condições a que foi submetido durante o processamento e armazenamento até o 27 momento em que se realiza a determinação do período de indução (HILL, 1994; ROSALES,1989). 28 O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da idade dos frutos na colheita e do período de 29 armazenamento sobre a estabilidade oxidativa do óleo da polpa da macaúba. 30 31 1 Aluno de Mestrado – Universidade Federal de Viçosa * e-mail: [email protected] 2 Professor Adjunto - Universidade Federal de Viçosa 3 Aluno de Doutorado – Universidade Federal de Viçosa 4 Aluno de Pós-Doutorado – Universidade Federal de Viçosa

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Artigo publicado nos anais do Congresso Brasileiro de Macaúba, em 2013

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ESTABILIDADE OXIDATIVA DO ÓLEO DA POLPA DE MACAÚBA EM FUNÇÃO DA 1

IDADE DOS FRUTOS E DO PERÍODO DE ARMAZENAMENTO 2

3

SAMUEL DE MELO GOULART1; JOSÉ ANTÔNIO SARAIVA GROSSI2; ANDERSON 4

BARBOSA EVARISTO3; OSDNEIA PEREIRA LOPES3; WOGAYEHU WORKUT TILAHUN3; 5

LEONARDO DUARTE PIMENTEL4; . 6

INTRODUÇÃO 7

A criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, PNPB, que instituiu 8

aumentos graduais da razão de mistura biodiesel/diesel , resultou em aumento da demanda de óleo 9

vegetal tornando imprescindível a inserção de novas fontes de óleo no mercado para que as 10

premissas do programa sejam atendidas. Neste cenário, a macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) 11

Lodd. ex Mart] surge como uma espécie promissora, devido à sua ampla dispersão no território 12

brasileiro, rusticidade e alta produtividade. 13

Embora a espécie seja explorada há muito tempo, seguindo modelo extrativista, os estudos 14

sistemáticos envolvendo sistemas de produção são relativamente recentes e escassos (AZEVEDO 15

FILHO et. al., 2012). Em se tratando de pós-colheita, tais dados se tornam ainda mais escassos uma 16

vez que a exploração econômica da espécie é restrita ao extrativismo (MOTOIKE et al., 2013), que 17

não preconiza cuidados pré ou pós-colheita. O armazenamento dos frutos torna-se ainda mais 18

importante quando se leva em consideração a sazonalidade da produção da macaúba, o que reflete 19

em elevado período de ociosidade nas usinas processadoras. 20

Durante o armazenamento, observa-se rápido processo de degradação dos frutos que 21

culmina com a baixa qualidade do óleo (MOTA et al., 2011). Porém, não há registros de 22

metodologias práticas para avaliação destes processos bem como não se conhece o tempo de vida 23

pós-colheita de frutos colhidos na planta (qualidade inicial ótima) e armazenados por longo período. 24

A estabilidade oxidativa constitui um parâmetro global para avaliação da qualidade de óleos e 25

gorduras que não depende apenas da sua composição química e da qualidade da matéria-prima. 26

Reflete também as condições a que foi submetido durante o processamento e armazenamento até o 27

momento em que se realiza a determinação do período de indução (HILL, 1994; ROSALES,1989). 28

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da idade dos frutos na colheita e do período de 29

armazenamento sobre a estabilidade oxidativa do óleo da polpa da macaúba. 30

31

1 Aluno de Mestrado – Universidade Federal de Viçosa * e-mail: [email protected] 2 Professor Adjunto - Universidade Federal de Viçosa 3 Aluno de Doutorado – Universidade Federal de Viçosa 4 Aluno de Pós-Doutorado – Universidade Federal de Viçosa

MATERIAIS E MÉTODOS 32

As colheitas foram realizadas na fazenda São Miguel, município de Piranga-MG. Plantas 33

previamente selecionadas tiveram seus cachos identificados no momento da antese, entre outubro 34

de 2011 e janeiro de 2012. Os frutos foram colhidos nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, aos 35

403, 418, 433 dias após a antese (DAA) e transportados para o Laboratório de Pós-Colheita de 36

Macaúba, no setor de Fruticultura da Universidade Federal de Viçosa, onde foram armazenados a 37

temperatura de 22 ºC por 0, 10, 20 e 30 dias. Em cada intervalo, os frutos foram despolpados e o 38

óleo da polpa extraído em prensa hidráulica. Para avaliação da estabilidade à oxidação, a amostra 39

foi submetida ao teste de oxidação acelerada, sob condições padronizadas, onde há elevação de 40

temperatura e adição de ar segundo metodologia proposta pela American Oil Chemistry Society 41

(AOCS, 1997), utilizando se o equipamento 873 Biodiesel Rancimat ® - Metrhom. 42

43

RESULTADOS E DISCUSSÃO 44

O período de indução do óleo da polpa de frutos colhidos aos 403 DAA foi sempre inferior 45

ao melhor tratamento em todos os períodos de armazenamento (Gráfico 1). Possivelmente o maior 46

teor de umidade existente em frutos mais jovens (DUARTE et al., 2012) influi negativamente na 47

estabilidade do óleo, uma vez que a água é um dos principais fatores a contribuir na redução da 48

estabilidade oxidativa de óleos (PORTELA et al., 2009). Frutos colhidos aos 418 DAA e aos 433 49

DAA apresentaram maior período de indução (maior estabilidade à oxidação forçada), 50

respectivamente, aos 10 e 20 dias de armazenamento. A maior umidade nos frutos que não foram 51

armazenados (0 dias de armazenamento) provavelmente contribuiu para a redução da estabilidade 52

oxidativa do óleo. A vantagem apresentada pelos frutos colhidos aos 433 DAA pode ser atribuída 53

ao menor teor de umidade, uma vez que estes se apresentavam em estádio de maturação mais 54

avançado. Porém, após 30 dias de armazenamento houve queda significativa no período de indução 55

para todas as idades. 56

Embora a umidade dos frutos tenha sido significativamente reduzida após os 30 dias, a 57

intensa proliferação de microrganismos, alterações fisiológicas, a desestruturação da parede celular 58

e a perda da compartimentalização celular, promovem o contato do óleo com substâncias 59

prejudiciais à sua estabilidade, levando à redução do período de indução. 60

61

62

CONCLUSÕES 63

A idade dos frutos de macaúba influi na estabilidade oxidativa do óleo da polpa. Frutos mais 64

maduros apresentam maior período de indução que frutos mais jovens. 65

O armazenamento contribuiu com a conservação da estabilidade oxidativa do óleo da polpa 66

em frutos mais maduros, porém o prolongamento do armazenamento leva à sua redução. 67

AGRADECIMENTOS 68

À PETROBRAS, CNPq e FAPEMIG pelo financiamento dos trabalhos de pesquisa com 69

Macaúba na Universidade Federal de Viçosa. Aos colaboradores da REMAPE. Aos estagiários e 70

técnicos do Laboratório de Pós-Colheita de Macaúba da UFV. 71

REFERÊNCIAS 72

AMERICAN OIL CHEMISTS’ SOCIETY (AOCS). Official methods and recommended practices 73

of the American Oil Chemists’ Society. Champaign., 5th ed, 1997, 197 p. 74

75

APARÍCIO, R.; HARWOOD, J. Manual del aceite de oliva. Ediciones Mundi-Prensa, 76

Madri, 2003, 614 p. 77

78

AZEVEDO FILHO, J.A.; COLOMBO, C.A.; BERTON, L.H.C. Macaúba: Palmeira nativa como 79

opção bioenergética. Pesquisa & Tecnologia, Campinas, vol. 9, n. 2, 2012. 80

81

DUARTE, I. D.; ROGÉRIO, J. B.; LICURGO, F. M. da S.; BACK, G. R.; SANTOS, M. C. S.; 82

ANTONIASSI, R.; FARIA-MACHADO, A. F.; BIZZO, H. R.; JUNQUEIRA, N. T. V. Efeito da 83

maturação de frutos de macaúba no rendimento de óleo e na composição em ácidos graxos. 84

CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE BIODIESEL, 5.; CONGRESSO 85

BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL, 8., 2012, 86

Salvador. Biodiesel, inovação e desenvolvimento regional: anais... trabalhos científicos. Lavras: 87

UFLA, 2012., p. 253-254. 88

89

HILL, S.E. A comparison of modern instruments for the analysis of the oxidation stability of fats, 90

oils and foods. Inform, v.5, n.1, p.104-109, 1994. 91

92

93

94

MOTA, C. S; CORRÊA, T. R.; GROSSI, J. A. S.; et al. Exploração sustentável da macaúba para 95

produção de biodiesel: colheita, pós-colheita e qualidade dos frutos. Informe Agropecuário, v. 32, 96

n. 265, p. 41-50, 2011. 97

98

MOTOIKE, S. Y.; CARVALHO, M; PIMENTEL, L. D.; KUKI, K. N.; PAES, J. M. V.; DIAS, H. 99

C. T.; SATO, A. Y. A cultura da macaúba: implantação e manejo de cultivos racionais. Viçosa: 100

Editora UFV. 61p. 2013. 101

102

PORTELA, F. M.; SANTOS, D. Q.; HERNÁNDEZ-TERRONES, M. G. Estudo da estabilidade 103

oxidativa de óleos vegetais para a produção de Biodiesel. CONGRESSO BRASILEIRO DE 104

QUÍMICA, 49, 2009, Porto Alegre. A química e a sustentabilidade: anais... trabalhos científicos. 105

Disponível em: http://www.abq.org.br/cbq/2009/trabalhos/1/1-538-6781.htm. Acesso em: 26 set. 2013. 106

107

ROSALES, G. Determinación de la estabilidad oxidativa de aceite de oliva vírgenes: comparación 108

entre el método del oxígeno activo (A.O.M.) y el método Rancimat. Grasas y Aceites, v. 40, n.1, 109

p.1-5, 1989. 110

111

Gráfico 1 – Período de indução em função da idade e tempo de armazenamento dos frutos. 112

113 Barras seguidas da mesma letra (maiúscula) no mesmo período de armazenamento e da mesma letra (minúscula) em 114 períodos de armazenamento diferentes, não diferem entre si a 5 % de probabilidade. DAA: Dias após antese. 115