esquema comissão responsabilidade civil

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Responsabilidade Civil Esquema de comissão (artigos 500º e 503º CC) 1. Existência de uma relação de comissão – artigo 500.º/1 (Definição de comissão) Comissão Por comissão entende-se no sentido amplo, o serviço ou atividade realizada por conta e sobre direção de outrem. Pressupõe, sempre uma relação de dependência entre o comitente e o comissário que autorize o primeiro a emitir ordens ou instruções para com o segundo. Situação em que uma pessoa (comitente) encarrega outrem (comissário) de realizar uma determinada tarefa, exercer uma determinada atividade ou cumprir uma determinada função. 2. Artigo 503.º/3 CC- Há ou não comissão? a. Não – Artigo 503.º/1 – Responsabilidade Objetiva: i. Direção Efetiva – compreende toas as situações (proprietário, usufrutuário, comodatário) em que, com ou sem domínio jurídico, se impõe a responsabilidade objetiva a quem usa o veículo ou dele dispõe. No fundo, trata-se das pessoas que, em virtude de utilizarem, de facto, o veículo, têm a especial obrigação de garantir que ele funcione devidamente e que, portanto, não seja causador de danos a terceiros (por exemplo, é fundamental que qualquer pessoa que usufrui do veículo tenha a devida precaução de cuidar dele, de verificar a pressão dos pneus, de tratar de questão mecânica, de o levar atempadamente às revisões periódicas, etc.). A direção efetiva de um veículo é, necessariamente, o poder de facto sobre o mesmo, embora, tal não signifique “ter o volante nas mãos” na altura em que ocorre o acidente, ou seja, tem a direção efetiva de um veículo aquele que, na verdade, goza ou usufrui das vantagens dele, e a quem, por essa razão cabe controlar o seu funcionamento; ii. Utilizar o veículo no seu próprio interesse (pode ser um interesse moral – exemplo da mãe que empresta o carro à filha ou de um irmão que empresta um carro ao outro – interesse em ficar bem visto pela sociedade, económico, patrimonial); iii. Danos provenientes dos riscos próprios do veículo – riscos que têm que ver com o funcionamento do veículo enquanto máquina (travões) + riscos próprios da utilização do veículo (diminuição da visibilidade por encadeamento dos raios solares) mesmo que este não se encontre em circulação.

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Page 1: Esquema Comissão Responsabilidade Civil

Responsabilidade Civil

Esquema de comissão (artigos 500º e 503º CC)

1. Existência de uma relação de comissão – artigo 500.º/1 (Definição

de comissão) Comissão

Por comissão entende-se no sentido amplo, o serviço ou atividade realizada por conta

e sobre direção de outrem. Pressupõe, sempre uma relação de dependência entre o

comitente e o comissário que autorize o primeiro a emitir ordens ou instruções para

com o segundo.

Situação em que uma pessoa (comitente) encarrega outrem (comissário) de realizar

uma determinada tarefa, exercer uma determinada atividade ou cumprir uma

determinada função.

2. Artigo 503.º/3 CC- Há ou não comissão?

a. Não – Artigo 503.º/1 – Responsabilidade Objetiva:

i. Direção Efetiva – compreende toas as situações (proprietário,

usufrutuário, comodatário) em que, com ou sem domínio jurídico, se

impõe a responsabilidade objetiva a quem usa o veículo ou dele dispõe.

No fundo, trata-se das pessoas que, em virtude de utilizarem, de facto,

o veículo, têm a especial obrigação de garantir que ele funcione

devidamente e que, portanto, não seja causador de danos a terceiros

(por exemplo, é fundamental que qualquer pessoa que usufrui do

veículo tenha a devida precaução de cuidar dele, de verificar a pressão

dos pneus, de tratar de questão mecânica, de o levar atempadamente

às revisões periódicas, etc.). A direção efetiva de um veículo é,

necessariamente, o poder de facto sobre o mesmo, embora, tal não

signifique “ter o volante nas mãos” na altura em que ocorre o acidente,

ou seja, tem a direção efetiva de um veículo aquele que, na verdade,

goza ou usufrui das vantagens dele, e a quem, por essa razão cabe

controlar o seu funcionamento;

ii. Utilizar o veículo no seu próprio interesse (pode ser um interesse moral

– exemplo da mãe que empresta o carro à filha ou de um irmão que

empresta um carro ao outro – interesse em ficar bem visto pela

sociedade, económico, patrimonial);

iii. Danos provenientes dos riscos próprios do veículo – riscos que têm que

ver com o funcionamento do veículo enquanto máquina (travões) +

riscos próprios da utilização do veículo (diminuição da visibilidade por

encadeamento dos raios solares) mesmo que este não se encontre em

circulação.

Page 2: Esquema Comissão Responsabilidade Civil

Artigo 505º CC - Exclusão da aplicação deste artigo quando o acidente:

- É uma causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo;

- É imputável ao terceiro, ou;

- É imputável ao lesado;

:-: Se o lesado tem culpa - artigo 570.º CC (Culpa do lesado), a

menos que o lesado seja inimputável - Para que este regime seja

aplicável é necessário que a atuação do lesado seja

subjetivamente censurável nos termos do artigo 487.º/2 – não

bastando a causalidade da conduta em relação aos danos.

1.º - (n.º2) – Se a responsabilidade (do devedor) se

basear numa simples presunção de culpa do lesado,

excluímos o dever de indemnizar por parte do devedor.

(n.º1) – Quando o facto culposo do lesado tiver

concorrido para a produção ou agravamento dos danos,

o Tribunal determinará com base na culpa de ambas as

partes e das consequências que dela resultaram, se a

indemnização deverá ser totalmente concedida,

reduzida ou até excluída.

:-: Se não tem culpa – exclui-se a responsabilidade do condutor

por aplicação direta do artigo 505º.

b. Sim – Artigo 503.º/3 - Comissário:

:-: (1.ª Parte) Responsabilidade Subjetiva

Quem conduzir veículo por conta de outrem: Presunção de culpa ilidível sobre

os danos que causar

- Havendo culpa: aplica-se os artigos relativos à responsabilidade

subjetiva em relação ao comissário (artigos 483.º e seguintes). O

comitente nunca irá responder pelo artigo 503.º/1, uma vez que

havendo culpa o comitente nunca poderá responder pelos riscos

próprios do veículo. Pode, no entanto, ser responsabilizado nos termos

do artigo 500.º:

o Tem de haver relação de comissão em que o comitente

tem o poder de direção em relação ao comissário-

n.º1/1.ª parte;

o O comissário tem de causar danos a terceiro no

exercício da função que lhe foi confiada ainda que

intencionalmente ou contra as instruções do comitente-

n.º2;

o Terá de recair sobre o comissário a obrigação de

indemnizar – n.º1/ 2.ª Parte.

Page 3: Esquema Comissão Responsabilidade Civil

Nota: O comitente tem direito de exigir reembolso ao

comissário- artigo 500.º/3. Se o comitente também tiver culpa

responderá nos termos do artigo 497.º/2 CC.

- Não havendo culpa: ilide-se a presunção de culpa do comissário não

sendo este responsabilizado. Vamos, de seguida verificar se há

responsabilidade objetiva quanto ao comitente, aplicando-se o 503º/1

CC. Repetindo, terá de haver:

o Direção Efetiva;

o Utilizar o veículo no seu próprio interesse;

o Danos provenientes dos riscos próprios do veículo – riscos que

têm que ver com o funcionamento do veículo (travões) + riscos

próprios da utilização do veículo (diminuição da visibilidade por

encadeamento dos raios solares) mesmo que este não se

encontre em circulação.

:-: (2º Parte) Artigo 503.º/3

Se o comissário conduzir fora do exercício das suas funções, responderá nos

termos do n.º1 do artigo 503.º CC:

o Exclui-se o requisito da direção efetiva;

o O comissário tem que estar a utilizar o veículo no seu próprio interesse;

o Os danos terão de ser provenientes dos riscos próprios do veículo, ainda que

este não se encontre em circulação.

O comitente, neste caso, não poderá ser responsabilizado nos termos pelo

artigo 503.º/1 porque o veículo não está a ser utilizado no seu próprio interesse.

O comitente não poderá ser responsabilizado nos termos do artigo 500.º uma

vez que falta o requisito de o facto danoso ter sido praticado no exercício da

função que lhe foi confiada ainda que intencionalmente ou contra as instruções

do comitente.