esquema avaliação

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Fasci-Tech Fasci-Tech Periódico Eletrônico da FATEC-São Caetano do Sul, São Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35. AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR: ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA Prof. Me. Claudemir Martins da Silva 1 RESUMO O artigo discute os pressupostos que envolvem a Avaliação Institucional realizada pelas Comissões Próprias de Autoavaliação(CPA) à luz das diretrizes do Sistema Nacional de Avaliação das Instituições de Ensino Superior SINAES/CONAES. Para tanto, buscou-se caracterizar o cenário da avaliação da Educação Superior brasileira e posteriormente, os pressupostos que sustentam a construção do processo avaliativo nas instituições de ensino superior (IES). O estudo fundamenta-se em referenciais bibliográficos, nos parâmetros legais e relatórios das comissões de autoavaliação disponibilizados publicamente pelas IES do ABC Paulista. Palavras chave: Avaliação Institucional. CPAUNIABC. SINAES. ABSTRACT This paper discusses the assumptions that involve institutional assessment carried out by the committees Own self-evaluation (CPA) in the light of the guidelines of the national system of Evaluation of higher education institutions SINAES/CONAES. For both attempted to characterize the landscape of the Brazilian higher education assessment and subsequently the assumptions underpinning the construction process let in HEIS. The study is based on bibliographic references in legal parameters and self-evaluation reports of the commissions provided publicly by the IES at ABC Paulista. Keywords: Institutional Assessment. CPA.SINAES. Introdução O estudo teve sua origem nas experiências práticas e estudos teóricos acumulado pelo autor nos últimos três anos frente à coordenação de uma Comissão Própria de Autoavaliação (CPA) da Universidade do Grande ABC, que está localizada na região do ABC paulista que compreende os municípios de Diadema, Mauá, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. 1 Professor na Universidade do Grande ABC (UniABC), Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC) São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.

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    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    AVALIAO DO ENSINO SUPERIOR: ENTRE A TEORIA E A PRTICA

    Prof. Me. Claudemir Martins da Silva1

    RESUMO

    O artigo discute os pressupostos que envolvem a Avaliao Institucional

    realizada pelas Comisses Prprias de Autoavaliao(CPA) luz das diretrizes

    do Sistema Nacional de Avaliao das Instituies de Ensino Superior SINAES/CONAES. Para tanto, buscou-se caracterizar o cenrio da avaliao da

    Educao Superior brasileira e posteriormente, os pressupostos que sustentam a

    construo do processo avaliativo nas instituies de ensino superior (IES). O

    estudo fundamenta-se em referenciais bibliogrficos, nos parmetros legais e

    relatrios das comisses de autoavaliao disponibilizados publicamente pelas

    IES do ABC Paulista.

    Palavras chave: Avaliao Institucional. CPAUNIABC. SINAES.

    ABSTRACT

    This paper discusses the assumptions that involve institutional assessment

    carried out by the committees Own self-evaluation (CPA) in the light of the

    guidelines of the national system of Evaluation of higher education institutions SINAES/CONAES. For both attempted to characterize the landscape of the

    Brazilian higher education assessment and subsequently the assumptions

    underpinning the construction process let in HEIS. The study is based on

    bibliographic references in legal parameters and self-evaluation reports of the

    commissions provided publicly by the IES at ABC Paulista.

    Keywords: Institutional Assessment. CPA.SINAES.

    Introduo

    O estudo teve sua origem nas experincias prticas e estudos tericos acumulado

    pelo autor nos ltimos trs anos frente coordenao de uma Comisso Prpria de

    Autoavaliao (CPA) da Universidade do Grande ABC, que est localizada na regio do

    ABC paulista que compreende os municpios de Diadema, Mau, Santo Andr, So

    Bernardo do Campo, So Caetano do Sul, Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra.

    1 Professor na Universidade do Grande ABC (UniABC), Faculdade de Tecnologia de So Paulo (FATEC) So Bernardo do Campo e So Caetano do Sul.

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    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    Construir um processo de avaliao institucional interna efetiva, envolvente,

    democrtica e legtima, abrangendo toda a comunidade acadmica, no uma tarefa

    fcil, pois demanda um olhar apurado das comisses de avaliao sobre a instituio e

    seus processos, para que possa contribuir efetivamente na melhoria dos aspectos

    acadmicos e administrativos da instituio.

    Segundo Dias Sobrinho (2003), aautoavaliao institucional o processo que

    envolve a Universidade em conhecer-se e ser conhecida pela sua comunidade

    acadmica e que, articulada a gesto acadmica, tem grande potencial para contribuir

    com as estratgicas institucionais, na busca da melhoria contnua e nos direcionamentos

    da universidade, na formao de cidados crticos, detentores de saberes capazes de

    transformar sua realidade social e econmica.

    J para Comisso Nacional de Avaliao da Educao Superior CONAES, a

    avaliao institucional interna e externa tem como propsito promover o olhar global

    das instituies de ensino superior (IES), buscando identificar o grau de coerncia entre

    suas propostas educacionais e sua efetiva realizao (CONAES, 2004).

    Com a publicao da lei n. 10.861, de 14 de Abril de 2004, que criou o Sistema

    Nacional de Avaliao da Educao Superior SINAES , coordenada pelo Ministrio

    da Educao (MEC), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) e CONAES, que

    versa sobre as dez dimenses, a saber: 1. misso e desenvolvimento institucional; 2.

    polticas para o ensino, pesquisa e extenso; 3. responsabilidade social; 4.

    Comunicao; 5. polticas de carreira; 6. gesto institucional; 7. infraestrutura; 8.

    planejamento e avaliao; 9. atendimento e 10. sustentabilidade financeira, obrigando as

    IES a implantar a avaliao institucional interna (autoavaliao) que corroborasse os

    mecanismos avaliativos externos praticados pelos rgos reguladores (BRASIL, 2004).

    No obstante, a lei tambm fornece os parmetros para as IES, sobre como todos

    (avaliados e avaliadores) devem se portar diante dos processos avaliativos, visando a

    imprimir transparncia nas avaliaes e convergir para os demais mecanismos

    avaliativos que regulam as atividades e responsabilidades dessas no Brasil (BRASIL,

    2004).

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    Ainda, segundo a lei 10.861/04, especificamente, no Art. 11, as IES deveriam, a

    partir daquele momento, constituir sua Comisso Prpria de Avaliao (CPA) para

    proceder autoavaliao institucional, e sua composio deveria ter a representao de

    todos os segmentos da comunidade acadmica (professores, alunos, ex-alunos,

    colaboradores e comunidade externa), deixando a critrio das instituies a definio do

    modo de organizao e dinmica de funcionamento (BRASIL, 2004).

    Passados seis anos aps a publicao dos parmetros versados no SINAES e

    CONAES para a implantao da avaliao institucional nas IES, ainda se discute os

    mtodos, procedimentos e operacionalizao da avaliao institucional, propostos

    naquele momento pelo governo brasileiro s universidades. Diante desta incongruncia,

    as IES construram a avaliao institucional, cada qual a seu modo, optando pelos

    enfoques: burocrtico, consultivo ou participativo (CAVALIERI, MACEDO-SOARES

    E THIOLLENT, 2004).

    No entanto, conduzir um processo avaliativo contemplando os trs enfoques

    propostos por Cavalieri, Macedo-Soares e Thiollent (2004) alinhados com as dez

    dimenses propostas pelo CONAES, tem exigido muitos esforos das instituies em

    compreender a avaliao institucional em profundidade e adequar suas especificidades a

    esta nova realidade para as instituies de ensino superior brasileiras (SILVA, 2010).

    H que se considerar tambm que a apropriao do processo avaliativo necessita

    de tempo, envolvimento e entendimento das IES para ser introjetado e incorporado

    cultura da instituio, pois a avaliao ultrapassa o limite entre a conformidade e a

    inconformidade; entre o certo e o errado; entre o realizado e o no realizado;

    desempenhando um papel de mediadora entre o que a comunidade acadmica almeja e o

    que a IES avaliada pode oferecer. Assim sendo, considera-se que seus efeitos no

    atingem somente o sistema de educao superior, mas tm impactos diretos sobre a

    sociedade (DIAS SOBRINHO, 2004).

    Avaliao do ensino superior no Brasil: contextualizao histrica

    As discusses acerca da avaliao do ensino superior no Brasil tm sua origem

    em meados dos anos 70 com a consolidao do Estado Avaliador, expresso cunhada

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    por Guy Neave (apud Dias Sobrinho, 2004), ou seja, o governo passou a intervir em

    alguns setores da sociedade, visando a assegurar a eficincia, o controle e a qualidade

    dos bens tangveis e intangveis (DIAS SOBRINHO, 2004).

    O objetivo maior do Estado, naquele momento, era imprimir maior controle e

    alcanar nveis de eficincia compatveis com as demandas de mercados, pretendendo

    aumentar a competitividade brasileira em reas que, at ento, o pas no demonstrava

    indicadores satisfatrios (DIAS SOBRINHO, 2003).

    A primeira iniciativa oficial do governo brasileiro em avaliar o ensino superior

    ocorreu em 1968 com o Programa de Avaliao da Reforma Universitria (PARU) que,

    basicamente, analisava as IES sob a tica da gesto, produo e disseminao de

    informaes. A partir da dcada de 80, com a evoluo do quadro social, poltico e

    econmico brasileiro, que culminou no processo de redemocratizao do Brasil, a

    discusso sobre a avaliao do ensino superior ganhou novo flego (SINAES, 2009).

    Em 1985, surge a primeira proposta de avaliao do ensino superior coordenada

    pela Comisso de Alto Nvel: Grupo Executivo para Reforma da Educao Superior

    (Geres). Este grupo tinha como proposta avaliar as IES (pblicas e privadas) nos

    aspectos essencialmente qualitativos, bem como sua produo no ensino, pesquisa e

    extenso (SINAES, 2009).

    Em 1993, o governo brasileiro criou o Programa de Avaliao Institucional das

    Universidades Brasileiras (PAIUB) que, apesar de ter durado pouco, cerca de 2 (dois)

    anos, lanou as bases da avaliao institucional como a conhecemos hoje, pois

    considerava a avaliao do ensino superior como um processo formativo, democrtico,

    legitimo, sistmico e contnuo (SINAES, 2009).

    Em 1995, com a promulgao da Lei 9.131, o Estado sinalizou para as IES a

    tendncia da convergncia dos mecanismos avaliativos, bem como seu o carter

    classificatrio e meritocrtico que adotaria doravante e seria baseado em desempenhos

    quantitativos e qualitativos das IES nos processos avaliativos (SINAES, 2009).

    Tal iniciativa surgiu em conseqncia da elevao do nmero de IES no Brasil,

    principalmente as instituies privadas, ocorrida nas duas ltimas dcadas, gerando a

    necessidade de implementar mecanismos avaliativos integrados nos nveis interno e

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    externo e constituindo-se para o Estado um imperativo para quantificar e qualificar o

    ensino superior no pas. Como observado por Kullok (apud Fernandes e Grillo, 2001,

    p.134):A dcada de 90 marcada por uma transformao na educao nacional que se

    faz sentir com a promulgao da atual LDB da Educao Nacional, Lei n 9.394/96, na

    qual o ensino superior brasileiro vem exigir um repensar da sua estrutura.

    conveniente considerar que os mecanismos avaliativos criados pelos rgos

    reguladores possuam motivaes distintas, pois cada um originou-se com propsitos e

    contextos diferentes, em face da mudana de cenrio, exigindo do Estado uma postura

    mais assertiva e regulamentadora nos mtodos e critrios de avaliao do ensino

    superior (SILVA, 2010).

    Maria Helena Castro que presidia o MEC/INEP na poca j sinalizava em seu

    discurso para a relevncia do acompanhamento das IES do Brasil, como se observa: a

    nfase em processos de avaliao hoje considerada estratgica como subsdio

    indispensvel no monitoramento das reformas e das polticas educacionais (CASTRO;

    apud DIAS SOBRINHO, 2000, p.45)

    Sendo assim, a partir da implantao do SINAES, o Estado buscou recuperar seu

    efetivo papel regulatrio, ao estabelecer regras claras na regulao do ensino superior

    no Brasil, tendo como base o rigor da qualidade, bem como as necessidades sociais

    resultantes da expanso das instituies de ensino superior, elevando-o a condio de

    pilar fundamental da Reforma da Educao Superior.

    Atualmente, a avaliao institucional a referncia bsica s atividades de

    superviso e regulao do Estado, e as informaes geradas no processo tornaram-se

    determinantes para verificar a sade acadmica e administrativa das instituies.

    Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior (SINAES)

    As avaliaes das IES sempre estiveram presentes no ensino superior seja em

    sala de aula ou institucionalmente, porm, nessa dcada ganhou profundidade nas IES,

    face sua obrigatoriedade e utilizao como ferramenta imprescindvel na reorientao

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    nas estratgias das universidades e conduo de melhorias nos aspectos como ensino,

    pesquisa e gesto (DIAS SOBRINHO e RISTOFF, 2000).

    Nesse sentido, em 14 de abril do ano de 2004, o Estado, buscando integrar os

    sistemas avaliativos instituiu o Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior

    (SINAES) por meio da Lei 10.861, com o propsito de avaliar o ensino superior e

    congregar os sistemas avaliativos praticados pelos demais rgos que regulamentam as

    atividades das IES no Brasil.

    O SINAES apresenta uma ampla viso de avaliao institucional, ao considerar

    o processo educativo, a misso institucional e, sobretudo, oferecer orientao detalhada

    sobre a aplicabilidade e execuo e extrapola a condio de medio de aspectos

    performticos das IES (CONAES, 2004; SINAES, 2009). A inteno do SINAES

    incluir a prpria IES como sujeito e agente da avaliao ao envolv-la em um processo

    de autoconhecimento com vistas a melhorar a qualidade do ensino ofertado.

    Nessa perspectiva, a avaliao institucional interna foi instituda com o objetivo

    de convergir os sistemas avaliativos (interno e externo) e garantir qualidade do ensino

    superior, tornando-se um sistema avaliativo global com a misso de incutir a cultura da

    avaliao paras as IES do Brasil. Segundo Chau (2001) entende-se por qualidade a

    competncia de uma instituio em atender as necessidades modernas do mercado sem

    abdicar de suas responsabilidades sociais e cientficas, corroborando os postulados de

    Pires (2002).

    Nos dizeres de Dias Sobrinho (2000, p.95), o SINAES em suas diretrizes

    prope-se a discutir o sentido e existncia das instituies de ensino superior como Bem

    pblico, reconhecendo suas funes mltiplas na formao de indivduos e espao

    gerador e disseminador de conhecimentos.

    Sendo assim, pode-se inferir que a lgica do SINAES vai alm da poltica de

    controle, de verificao e de regulao, caractersticas evidenciadas nas propostas

    anteriores, extrapola o prprio conceito de avaliao e alinha-se com princpios como

    emancipao, democracia, tica e identidade. Dias Sobrinho e Ristoff (2002, p.37), ao

    abordar o conceito de avaliao chama-nos a ateno para a multiplicidade de

    significados da avaliao e sua superao de abordagens tecnicistas, nas palavras dos

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    autores: [...] Ela produz sentidos, consolida valores, afirma interesses, provoca

    mudanas, transforma.[...].

    O SINAES, enquanto instrumento avaliativo voltado para a qualidade e a

    emancipao da IES mudou a forma de agir das instituies, pois seus parmetros se

    sustentam em dez dimenses que ultrapassam a viso pragmtica da avaliao

    quantitativa e converge com os valores instituintes e sistema institudo (ROUCHY;

    DESROCHE, 2005, p.24).

    Para cada dimenso so elencadas subcategorias, evidenciando a amplitude,

    complexidade e a pluralidade do processo, bem como sua capacidade de articular-se

    com as avaliaes externas a que as IES so sujeitas, pois o que se busca com esse

    modelo avaliativo entender em profundidade as IES de forma articulada, global e

    sistmica, visando a integrar os sistemas avaliativos do ensino superior (SANCHES,

    2009).

    As Comisses Prprias de Avaliao CPAs.

    Com intuito de legitimar o amplo espectro do processo avaliativo e na

    incapacidade do prprio Estado de dar cabo da demanda proposta no processo

    avaliativo, o SINAES em sua constituio previu, no Art. 11, da lei 10.861/04, a

    constituio das Comisses Prprias de Avaliao (CPA) para execuo da avaliao

    interna, que segundo as diretrizes do SINAES (2004) devem ser constitudas por

    representaes de todos os seguimentos da comunidade universitria (professores,

    alunos, funcionrios, parceiros, sociedade civil organizada, sociedade de classe e

    coordenadores) (DIAS SOBRINHO e BALZAN, 2008).

    Essa formao visa a congregar as representatividades da comunidade

    acadmica da IES e tem como propsito final gerar conhecimento e informaes

    coletivas sobre a realidade institucional nos aspectos acadmico, tcnico e

    administrativo, a partir de olhares mltiplos para a identificao dos valores instituintes

    (DIAS SOBRINHO, 2000).

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    Atualmente as Comisses Prprias de Avaliao gozam do status de ser o elo

    entre as IES e os rgos reguladores, valendo-se de diversos dispositivos legais para

    existir, conforme demonstrado na tabela abaixo.

    Tabela 1: Parmetros legais da Avaliao realizada pela CPA.

    PARAMETRO FINALIDADE

    Lei N 10.861, de 14 de abril

    de 2004.

    Institui o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior -

    SINAES e d outras providncias.

    Portaria MEC N 2.051, de 9

    de julho de 2004.

    Regulamenta os procedimentos de avaliao do Sistema Nacional de

    Avaliao da Educao Superior (SINAES), institudo na Lei no 10.861,

    de 14 de abril de 2004.

    SINAES da Concepo

    Regulamentao, setembro de

    2009.

    Esta a 5 Edio publicada em 2009 e compreende as anteriores e

    discorre sobre os mtodos, critrios e procedimentos das avaliaes

    internas e externas das IES.

    Diretrizes para a Avaliao

    das Instituies de Educao

    Superior.

    Estabelece diretrizes, critrios e estratgias para o processo de avaliao,

    em conformidade com suas atribuies legais de coordenao e

    superviso do processo de avaliao da educao superior.

    Portaria MEC n 563, de 21 de fevereiro de 2006.

    Aprova, em extrato, o Instrumento de Avaliao de Cursos de Graduao do Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior -

    SINAES.

    Portaria MEC n 1.026, de 12

    de maio de 2006.

    Dispe sobre o exerccio das funes de regulao, superviso e

    avaliao de instituies de educao superior e cursos superiores de

    graduao e seqenciais no sistema federal de ensino

    Portaria MEC n 1, de 10 de

    janeiro de 2007.

    Aprova o calendrio de avaliaes do Ciclo Avaliativo do Sistema

    Nacional de Avaliao da Educao Superior - SINAES para o trinio

    2007/2009.

    Portaria CONAES N106, de

    23 de julho de 2004.

    Apresenta a composio da Comisso Assessora de Avaliao

    Institucional e suas atribuies.

    Resoluo CONAES N 01,

    de 11 de janeiro de 2005.

    Estabelece prazos e calendrio para a avaliao das instituies de

    educao superior.

    Roteiro de Auto-avaliao. Destina-se s Comisses Prprias de Avaliao (CPAs) e comunidade

    de professores, estudantes e tcnico-administrativos das IES brasileiras.

    Regulamento geral da

    Comisso Prpria de

    Avaliao.

    Regulamenta a ao da Comisso de Avaliao Institucional no mbito

    acadmico e especfico de cada IES.

    Fonte: MEC/INEP/SINAES (2010)

    Alm dos parmetros legais e regulatrios, a Comisso Prpria de Avaliao

    interna segue as diretrizes propostas no documento intitulado Sistema Nacional de

    Avaliao da Educao Superior: Da Concepo a Regulao, ltima verso publicada

    em 2009 pelo SINAES e INEP. Esta apostila discorre sobre a evoluo do sistema de

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    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    avaliao do ensino superior no Brasil e sugere os princpios que as IES devem observar

    para conceber, planejar e executar a avaliao institucional interna, a saber: globalidade,

    comparabilidade, respeito identidade institucional, no premiao ou punio,

    legitimidade poltica, legitimidade tcnica e continuidade (SINAES, 2009, pp.94-103).

    Nas palavras de Sobrinho e Ristoff (2000, p.59), a avaliao deve ser um

    empreendimento coletivo que busque compreender os sentidos mltiplos e at mesmo

    contraditrios dos processos relacionais que produz. Para tanto, as comisses

    operacionalizam a avaliao institucional interna, tangenciando momentos como:

    planejamento, preparao, execuo das pesquisas, coleta de dados (quantitativo e

    qualitativo), sensibilizao e divulgao dos resultados.

    Entretanto, a avaliao institucional interna no prescinde apenas da coleta de

    dados ou de controle do processo, pois, quando realizada, exerce funes mltiplas, sua

    metodologia deve propiciar uma ampla reflexo sobre a IES, os objetivos, os resultados,

    e os efeitos esperados ou no dessa avaliao (DIAS SOBRINHO; RISTOFF, 2002,

    p.117).

    Sendo assim, as CPAs elaboram instrumentos avaliativos (quantitativos e

    qualitativos) com base na realidade da IES; nas polticas preconizadas pela instituio;

    nos objetivos do processo avaliativo e sempre com vistas a implantar uma cultura

    avaliativa transformadora, democrtica, emancipatria e esclarecedora de modo que

    envolva toda comunidade acadmica e corrobore com as dimenses versadas no

    SINAES (DIAS SOBRINHO, 2000).

    Ao final de cada ciclo avaliativo interno que tem a possibilidade de ser semestral

    ou anual, as comisses produzem relatrios com base em pesquisas e anlises de

    documentos institucionais e divulgam publicamente para sua comunidade,

    compartilhando as diversas percepes apuradas no levantamento ao evidenciar suas

    potencialidades e fragilidades e, quando possvel, sugerir aes de melhoria (SILVA,

    2010).

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    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    Objetivos da Avaliao Institucional Interna

    O INEP define avaliao institucional interna, em sua apostila Roteiro de

    Autoavaliao Institucional, disponvel no stio do rgo, como sendo um instrumento

    que auxilia as IES no direcionamento das aes futuras e contribui para a sistematizao

    das informaes que circulam o meio acadmico (INEP, 2004).

    A partir dessa proposio, infere-se que avaliao interna um elemento

    fundamental no processo de gesto universitria, porque possibilita conhecer a realidade

    da IES dentro de um propsito de mudana, entendida como necessria e constante,

    com vista melhoria contnua da qualidade dos seus processos de gesto acadmica.

    Como comenta Pires (2002, p.64):A avaliao configura-se portanto, como um

    pressuposto bsico para qualidade dos servios da instituio, quer no ensino, na

    pesquisa ou extenso e a partir da, sua melhor insero na sociedade.

    A avaliao implica em aes que se entrelaaram com vistas ampliao da

    compreenso da universidade sob a tica dos professores, alunos e funcionrios, sem

    perder de vista a diversidade da instituio (GADOTTI, 2009).

    Sendo assim, a avaliao no prescinde apenas da coleta emprica de dados e do

    controle de desempenho, a metodologia de avaliao, mas deve propiciar uma ampla

    reflexo sobre a IES, os objetivos, os resultados, e os efeitos esperados ou no dessa

    avaliao (DIAS SOBRINHO, 2002).

    A transversalidade dos objetivos justifica-se nas dimenses do SINAES que visa

    a levantar dados institucionais crveis e legtimos para produo dos relatrios capazes

    de gerar melhorias na instituio.

    Operacionalizao da Avaliao institucional interna

    Na prtica, as CPAs coordenam o processo de avaliao institucional interna das

    IES com vistas a produzir informaes que subsidiam a tomada de deciso dentro da

    instituio, embasando-se nos princpios da avaliao proposto por Pedro Demo (2005,

    p.120):avaliar o avaliador; avaliar para entender, avaliar para provocar, avaliar para

    formar e avaliar a avaliaoe obedecendo aos seguintes momentos:

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    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    Figura 1: Modelo de fluxograma ilustrativo da avaliao institucional interna

    Fonte: Orientaes gerais para o roteiro da das instituies autoavaliao. SINAES (2004)

    Alm dessas etapas, as CPAs incorporaram ainda outros princpios na conduo

    das atividades programadas para cada ciclo avaliativo, tais como:

    A. planejamento estratgico - A elaborao do projeto de avaliao

    compreendendo: objetivos, estratgias, metodologia, recursos e calendrio das

    aes avaliativas. O planejamento deve ser informado comunidade acadmica,

    e deve levar em conta as caractersticas da Instituio, seu porte e a existncia de

    experincias avaliativas anteriores, tais como: autoavaliao, avaliao externa,

    avaliao dos docentes, feita pelos estudantes, avaliao de desempenho do

    pessoal tcnico-administrativo, avaliao da ps-graduao, entre outras;

    B. sensibilizao - No processo de autoavaliao, busca-se o envolvimento da

    comunidade acadmica da melhor forma e, quando possvel, na construo da

    proposta avaliativa por meio da realizao de reunies, palestras, seminrios,

    entre outros;

    C. gerenciamento de projetos - No desenvolvimento, a autoavaliao

    fundamental para assegurar a coerncia entre as aes planejadas e as

    metodologias adotadas, a articulao entre os participantes e a observncia aos

    prazos;

    D. comunicao: Nesse momento, o objetivo da CPA o de articular mecanismos

    para que todos os envolvidos avaliadores e avaliados possam acessar e

    incorporar os resultados tangenciados na autoavaliao e buscar, por meio deles,

    a melhoria da qualidade na Instituio.

    1 PREPARAO PLANEJAMENTO REALIZADO PELA CPA;

    CONSTRUO E REVISO DOS INSTRUMENTOS.

    2 DESENVOLVIMENTO SENSIBILIZAO DA COMUNIDADE ACADMICA;

    INICO COLETA DE DADOS; TABULAO DOS DADOS; ANLISE DOS RESULTADOS.

    3 CONSOLIDAO

    RELATRIOS PARCIAIS E FINAIS; DIVULGAO.

    Fonte: Universidade do Grande ABC, 2010.

  • Fasci-Tech

    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    Convm salientar que os instrumentos avaliativos (quantitativos ou qualitativos)

    so voltados aos objetivos, pois a pluralidade das vises pode enviesar o prprio

    processo avaliativo (CAVALIERI, MACEDO-SOARES E THIOLLENT, 2004).

    Figura 2: Fluxo do processo de autoavaliao

    Com a finalizao dos trabalhos de construo e reformulao dos instrumentos,

    que teoricamente conta com a participao da comunidade acadmica, a comisso

    elabora o cronograma de atividades a serem executadas em determinado perodo.

    O SINAES (2004) e CONAES (2009) orientam as IES que ao final de cada ciclo

    avaliativo interno, que tem a possibilidade de ser semestral ou anual, as comisses

    SINAES

    AVALIAO INSTITUCIONAL 10 DIMENSES PROPOSTAS NO SINAES

    Discentes

    docentes

    coordenador

    qualidade do ensino

    Docentes

    discente

    coordenador

    qualidade do ensino

    Coordenador

    gesto acadmica

    discentes

    tcnico administrativo

    Tcnico administrativo

    condies de trabalho

    qualidade

    gesto acadmicaPs-graduao

    docentes

    coordenador

    Egressos

    mercado de trabalho

    qualidade do ensino

    Fonte: Universidade do Grande ABC, 2010.

  • Fasci-Tech

    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    devem produzir relatrios com base em pesquisas e analises de documentos

    institucionais (PDI, PPI, PPC entre outros) e divulgar publicamente as informaes

    pertinentes realidade da IES, apontando suas potencialidades e fragilidades e, se

    possvel, sugerindo aes de melhoria para que a comunidade acadmica sinta-se

    pertencente no processo.

    Consideraes Finais

    Embora o estudo no seja conclusivo, com sua leitura possvel desenvolver

    uma viso panormica acerca dos mecanismos avaliativos que norteiam o ensino

    superior brasileiro e suas relaes com os processos avaliativos executados pelas

    Comisses Prprias de Avaliao da IES.

    Permite tambm observar que a avaliao institucional se sustenta no

    envolvimento da comunidade acadmica e deve subsidiar os avaliados e os avaliadores,

    com informaes pertinentes e fidedignas, para provocar a mobilizao da comunidade

    acadmica na busca da melhoria continua, alm de convergir com os pressupostos do

    SINAES, que apregoa que a avaliao institucional deve ser acima de tudo, uma ao

    transformadora.

    Outro aspecto importante tangenciado no estudo que o compartilhamento dos

    resultados apurados na avaliao institucional por meio dos canais de comunicao

    pode contribuir com a consolidao na cultura avaliativa, obrigando as comisses a

    debruar-se sobre as possibilidades comunicativas existentes na IES para us-las em

    prol do processo, para transpor ou minimizar as resistncias que, naturalmente, surgem

    na execuo da avaliao institucional.

    Destarte, fazer essa transposio no uma tarefa simples, mais do que isto,

    uma transformao de mentalidade e postura profissional de todos os envolvidos, pois

    significa assumir publicamente suas intenes, reafirmar valores e fazer eco dos anseios

    da comunidade acadmica para qualificar os servios prestados por qualquer instituio

    de ensino superior seja ela pblica ou privada.

  • Fasci-Tech

    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    Referncias de livros

    CAVALIERI, Adriane; MACEDO-SOARES, T. Diana L. V. A; THIOLLENT, Michel.

    Avaliando o Desempenho da Universidade. So Paulo: Loyola, 2004.

    CHAU, Marilena. Escritos sobre a universidade. So Paulo: Ed. Unesp, 2001.

    DEMO, Pedro. Universidade, Aprendizagem e Avaliao: Horizontes

    Reconstrutivos. Porto Alegre: Ed. Mediao, 2005.

    DIAS SOBRINHO; Jos; BALZAN, Newton Cesar (orgs.). Avaliao Institucional:

    teoria e experincias. - 4 ed. - So Paulo: Cortez, 2008.

    DIAS SOBRINHO, Jos; RISTOFF, Dilvo. (org.). Universidade Desconstruda:

    Avaliao Institucional e Resistncia. Florianpolis: Insular, 2000.

    ________________________________________. Avaliao Democrtica: Para uma

    Universidade Cidad. Florianpolis: Insular, 2002.

    DIAS SOBRINHO, Jos. Avaliao da Educao Superior. Petrpolis: Vozes, 2000.

    ____________________. Universidade e Avaliao: entre a tica e o mercado.

    Florianpolis: Insular, 2002.

    ____________________. Avaliao: Polticas Educacionais e Reformas da

    Educao Superior. So Paulo: Cortez, 2003.

    FERNANDES, Cleoni Maria Barboza; GRILLO, Marlene. Educao Superior:

    Travessias e Atravessamentos. Canoas: Ulbra, 2001.

    ROUCHY, Jean Claude; DESROCHE, Monique Soula: Instituio e Mudana:

    Processo Psquico e organizao. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2005.

    SANCHES. Raquel Cristina Ferraroni. Avaliao Institucional. Curitiba: IESDE Brasil

    S.A., 2009.

    Referncias eletrnicas

    BRASIL, Comisso Especial de Avaliao (CEA). Sistema nacional de avaliao da

    educao superior: Bases para uma nova proposta de avaliao da educao

    superior. 2003. Disponvel em:

    Acesso em 20 Agosto 2009.

    ______, MEC / Inep. Lei n. 10.861, de 14/04/2004, DOU N 72, 15/4/2004, SEO 1,

    P.3 -4. Disponvel em: . Acesso em: 20 Maro 2009.

    CONAES. Diretrizes para a Avaliao das Instituies de Educao Superior.

    2004. Disponvel em: . Acesso em: 20 maio

    2010.

    DIAS SOBRINHO, Jos.. Avaliao tica e poltica em funo da educao como

    direito pblico ou como mercadoria?.Educao & Sociedade. Campinas, v. 25, n. 88,

  • Fasci-Tech

    Fasci-Tech Peridico Eletrnico da FATEC-So Caetano do Sul, So Caetano do Sul, v.1, n. 4, Mar./Set. 2011, p. 21 a 35.

    p. 703-725, 2004. disponvel em: .

    Acesso: 23 maio 2010.

    GADOTTI, Moacir. Avaliao institucional: Necessidade e condies para a sua

    realizao. So Paulo, 2009: Disponvel em:

    . Acesso em: 10 outubro 2010.

    SILVA, Claudemir Martins. Panorama Comunicational da Avaliao Institucional

    nas IES do ABC Paulista.So Caetano do Sul: Universidade Municipal de So

    Caetano do Sul USCS, 2010. 131p.

    SOUSA, Clarilza Prado de ;MARCONDES, Anamrica Prado ; ACOSTA, Sandra

    Ferreira. Auto-avaliao Institucional : Uma Discusso em Processo. Estudos em

    Avaliao Educacional, So Paulo: v. 19, n. 39, p. 29-48, jan./abr., 2008. Disponvel

    em: . acesso em: 01 Abril 2010.

    UNIVERSIDADE DO GRANDE ABC. Relatrio final da Avaliao

    InstitucionalUNIABC 2009. Santo Andr, SP, 2010. Disponvel em:

    . acesso em: 20

    maro 2010.