espumantes de terroir da serra gaúcha: como proteger...

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Maio de 2007 21 Espumantes de terroir da Serra Gaúcha: como proteger produtores e consumidores? Jorge Tonietto Dr., Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho em Zoneamento Vitivinícola/lndicações Geográficas Quando a elaboração de espumantes no Brasil teve início em Garibaldi - Serra Gaúcha, no início do século XX, não era possível prever que esta trajetória representaria a consagração de um verdadeiro produto de terroir. E não era previsível porque o terroir somente pode ser caracterizado após comprovada a qualidade e as características distintivas de um produto numa região específica, expressa por fatores naturais (clima e solo) e por fatores humanos, representados pelo saber-fazer local desenvolvido para um determinado produto de uma região específica. Por outro lado, é importante se ter clareza que, independentemente da qualidade intrínseca dos produtos, os espumantes produzidos no Brasil são vários, elaborados com diferentes variedades, com diferentes técnicas de produção vitícola e enológica, nas diferentes regiões. estilos de espumantes na própria Serra Gaúcha; pela elaboração de espumantes com variedades não tradicionais; por espumantes que passam a ser produzidos em outras regiões do Brasil, bem como pelo aumento da participação de espumantes importados no mercado brasileiro. Vinhos de terroir e, no caso, espumantes de terroir, são produtos com todos os requisitos para serem reconhecidos como indicações geográficas, com o qualificativo de denominação de origem. Tais produtos combinam a interação do "clima x solo x variedades x saber-fazer local", conferindo origem, diferenciação e identidade aos produtos. Atendem, portanto, às exigências definidas na legislação brasileira de propriedade industrial quanto aos produtos com denominação de origem, os quais utilizam um nome geográfico para identificar os produtos cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos os fatores naturais e humanos. No meu entender, a proteção do espumante de terroir da Serra espumante de terroir da Serra Gaúcha, tais indicações geográficas deverão estabelecer, dentre outros, a área delimitada, as variedades autorizadas, as normativas vitícolas e enológicas permitidas, as características químicas e sensoriais dos espumantes. Estas norrnativas deverão ser definidas de forma a assegurar que somente os espumantes de qualidade e com as características que expressem o terroir da Serra Gaúcha sejam protegidos na indicação geográfica. Por outro lado, o consumidor que quiser consumir este produto de terroir poderá encontrar no mercado os espumantes desta origem protegida e controlada, identificando os mesmos pelas informações específicas que constarão dos rótulos dos produtos: nome geográfico da indicação geográfica reconhecida pelo INPI - que é de uso exclusivo, seguido do qualificativo Denominação de Origem e do selo de rastreabilidade. Tal distinção dará condições para um verdadeiro programa de promoção destes produtos originais no mercado interno, bem como no mercado internacional. __ 1 _ •• _

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Maio de 2007 21

Espumantes de terroir da Serra Gaúcha:como proteger produtores e consumidores?Jorge ToniettoDr., Pesquisador da Embrapa Uvae Vinho em ZoneamentoVitivinícola/lndicações Geográficas

Quando a elaboração de espumantesno Brasil teve início em Garibaldi -Serra Gaúcha, no início do séculoXX, não era possível prever que estatrajetória representaria a consagraçãode um verdadeiro produto de terroir.E não era previsível porque o terroirsomente pode ser caracterizadoapós comprovada a qualidade e ascaracterísticas distintivas de umproduto numa região específica,expressa por fatores naturais (climae solo) e por fatores humanos,representados pelo saber-fazer localdesenvolvido para um determinadoproduto de uma região específica.

Por outro lado, é importante se terclareza que, independentemente daqualidade intrínseca dos produtos,os espumantes produzidos no Brasilsão vários, elaborados com diferentesvariedades, com diferentes técnicasde produção vitícola e enológica, nasdiferentes regiões.

estilos de espumantes na própriaSerra Gaúcha; pela elaboração deespumantes com variedades nãotradicionais; por espumantes quepassam a ser produzidos em outrasregiões do Brasil, bem como peloaumento da participação de espumantesimportados no mercado brasileiro.

Vinhos de terroir e, no caso,espumantes de terroir, são produtoscom todos os requisitos para seremreconhecidos como indicaçõesgeográficas, com o qualificativo dedenominação de origem. Tais produtoscombinam a interação do "clima xsolo x variedades x saber-fazer local",conferindo origem, diferenciação eidentidade aos produtos. Atendem,portanto, às exigências definidas nalegislação brasileira de propriedadeindustrial quanto aos produtoscom denominação de origem, osquais utilizam um nome geográficopara identificar os produtos cujasqualidades ou características sedevam exclusiva ou essencialmente aomeio geográfico, incluídos os fatoresnaturais e humanos.

No meu entender, a proteçãodo espumante de terroir da Serra

espumante de terroir da Serra Gaúcha,tais indicações geográficas deverãoestabelecer, dentre outros, a áreadelimitada, as variedades autorizadas,as normativas vitícolas e enológicaspermitidas, as características químicase sensoriais dos espumantes. Estasnorrnativas deverão ser definidas deforma a assegurar que somente osespumantes de qualidade e com ascaracterísticas que expressem o terroirda Serra Gaúcha sejam protegidos naindicação geográfica.

Por outro lado, o consumidor quequiser consumir este produto deterroir poderá encontrar no mercadoos espumantes desta origem protegidae controlada, identificando os mesmospelas informações específicas queconstarão dos rótulos dos produtos:nome geográfico da indicaçãogeográfica reconhecida pelo INPI- que é de uso exclusivo, seguido doqualificativo Denominação de Origeme do selo de rastreabilidade.

Tal distinção dará condições paraum verdadeiro programa de promoçãodestes produtos originais no mercadointerno, bem como no mercadointernacional.

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Boa parte do espumante da SerraGaúcha, por ser um produto de terroir,se distingue dos demais do Brasile do mundo, constituindo-se numaverdadeira instituição a ser preservada,pois representa um patrimônio deprodutores e consumidores.

Mas, vejam que o espumante deterroir da Serra Gaúcha corre o risco deter sua imagem comprometida ao longodo tempo, com perda de identidade,qualidade e originalidade. Repito o quejá havia enfatizado em outra matéria -que existe uma ameaça ao espumantede terroir da Serra Gaúcha. Ela está seestabelecendo pela competição comoutros espumantes que não expressamo terroir da Serra Gaúcha como: porespumantes de menor qualidade epreço; por uma diversificação de

Gaúcha deve ser conquistada peloreconhecimento da propriedadeindustrial na forma de denominaçãode origem. Para que isto seja possível,será necessário que os produtores seorganizem para fazer reconhecer aomenos uma denominação de origemde espumantes para a região da SerraGaúcha junto ao Instituto Nacionalde Propriedade Industrial - INPI.As indicações de procedência noBrasil, como a do Vale dos Vinhedosou as diversas outras que estãoem desenvolvimento, se julgaremoportuno, poderão igualmente ajustarnormativas de produção que preservemo verdadeiro espumante de terroirem áreas delimitadas específicasde excelência produtiva no interiorda Serra Gaúcha. Para proteger o

A Serra Gaúcha tem tudo parase projetar de forma crescente nomundo do vinho. Afinal, quais são asregiões vitivinícolas do mundo queconseguem produtos de tal qualidadee tão identitários como é o espumantede terroir desta região? Uma delas foia região de produção do Champagne,na França.

Falando em indicações geográficas,você conhece o trabalho das diversasassociações de produtores que está emdesenvolvimento na Serra Gaúcha?

Pois esta força inovadora estáconcebendo uma nova forma deorganização da produção e devalorização de vinhos e espumantesde qualidade, com origem controlada.Este assunto, caro leitor, será tratadona próxima matéria desta série.

22 Maio de 2007

SÉRGIO DE PAULA SANTOSA bibliografia antiquária tem algumas

associações corporativas. Dessas, as maisrepresentativas possivelmente sejam a Inter-nacional Directory of Antiquarian Bookseller(IDAB) e a International League of .Anüqua-rian (ILAB), que reúnem as associações na-cionais e editam a relação de seus membros.Essas publicações relacionam seus membrospor localização, países, cidades e por especia-lidades no ramo.

Da edição de 1990/91 da IDAB constam26 entidades nacionais de livreiros antiquá-rios, cerca de 3000 livrarias e 500 espe-cialidades, de Aeronáutica à Zoologia. Degastronomia constam apenas 34 livrarias edas cerca de 3000 livrarias relacionadas, seteestão no Brasil. Em nosso meio tem crescidobastante o número de pontos de venda delivros usados, lembrando-se que vendedorde livro usado e livreiro antiquário não são amesma coisa. Naturalmente os bibliófilos, es-pecializados ou não, tem seus "fornecedores"e que os leilões de livros entre nós ocorrem,mas são raros.

Nos últimos anos a mais prática e efetivafonte de pesquisa e compra de livros é a inter-net, deslocando-se então o problema da buscapara o da verba.

o primeiro livro de vinhosEm se tratando de obras antigas, cabem al-

gumas considerações. "Livro" é tão somenteo texto impresso pelo processo desenvolvidopor Johannes Gutemberg, o inventor dostipos móveis, de uma liga de chumbo, anti-mônio e estanho (denominada metal-tipo), àqual se adaptou uma prensa de vinificação.Portanto, o livro é contemporâneo e posteriora Gutemberg, sendo os impressos no séculoXV denominados "incunábulos".

Um caso interessante a esse respeito é odo manuscrito conhecido como o Livro deCozinha, da Infanta D. Maria de Portugal,do final do século XV ou início do seguinte,que se encontra na Biblioteca Nacional deNápoles (códice I-E-33), o primeiro texto decozinha em português. Esse códice só foi in-tegralmente impresso em 1967, editado pelaUniversidade de Coimbra, após quase cincoséculos, em edição paradoxalmente esgotada.Em 1987 a Imprensa Nacional - Casa daMoeda, de Lisboa o reeditou em primorosaedição.

Como informação, o primeiro livro decozinha em português é o Arte de Cozinha,de Domingos Rodrigues, do qual já tratamosalgumas vezes, de 1680, com mais de umavintena de edições. Com relação ao vinho, aprimazia da edição sobre o' mesmo é dispu-tada por 2 candidatos, um de Roma e outrode Veneza. A disputa entre edições princepsé bastante comum no mundo editorial. Nossomais importante livro, Os Lusíadas tem esseproblema, não se sabe ao certo qual é a pri-meira edição entre as duas de 1572.

Provável e possivelmente o mais antigo

FOTO/DIVULGAÇÃO

livro sobre vinhos seja Tractatus de Vino etEius Proprietate, Roma, editado por JohannBesicker e Sigmundus Meyer, ao redor de14851, O autor, segundo o livreiro G.Graesse, seria um tal Galfridus de Vino-salvo, inglês do século XIII, nome latinode Geoffrey de Vinsauf, mais conhecidocomo o poeta Angelicus, do qual sabe-serelativamente pouco - que foi súditode Richard I, que conheceu a França ea Itália, onde chegou na visitar o papaInocêncio III (1160-1216), um dos papasmais brilhantes da história. O livro, emlatim, tem 21 pequenos capítulos, que tra-tam da confecção dos tonéis, da vindima,do mosto, da vinificação, do paladar dovinho, de seu envelhecimento e de seu usomedicamentoso, encerrando-se com umcapítulo sobre o vinagre. O livro apareceuno leilão da Loudmer (no Hotel Drouotem Paris em 20.02.1993), mas não foi

mais brilhante de seu tempo. Ligadoa Escola de Salerno, escreveu mais desessenta obras, algumas condenadas pelaInquisição e depois reabilitadas quandopassou a ser médico do papa Clemente V,1264-1314.

Seu livro De Vinis et aquis mediei-nalibus, Veneza, 15064, é sem dúvida oprimeiro sobre a destilação do vinho. Citavários vinhos e seu uso medicamentoso,para a melancolia e para diferentes do-enças. Seus livros mereceram um grandenúmero de reedições e traduções em vá-rias línguas.

Assim, independentemente da questãode primazia, bizantina e acadêmica, ahipótese do livro romano é a mais funda-mentada.

Pode-se concluir também que a biblio-filia e a enofilia são prazeres paralelos,que se comp1ementarri, não apenas como

Os italianosjá se declararam para

o Salton Classic. E você?Salton Classic.

Mais de 24 prêmiosrecebidos na Europa.

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arrematado na ocasião.Para alguns bibliófilos, o primeiro livro

sobre vinhos seria o Tractatus de Vinis, deArnaldo de Vilanova (1238-1311), Paris,Felix Bigault, Claude Jaumar e ThomasJulian, ao redor de 15002, Oberlé cita adata de 1478, baseando-se na BibliothecaGastronômica de André Simon (n0493),autor este que em suas duas relações (Bi-bliotheca Bacchica e Bibliotheca Vinaria),a localiza na ralidade ao redor de 1500. J

Vilanova, ao contrério do autor dolivro romano, tem sua vida e obra bemdivulgados. Foi médico, cirurgião, físico,botânico, alquimista e filósofo, o homem

prazeres, mas como paixões.Como bem diz nosso amigo e parceiro

de vício José Mindlin, que não gostaria deviver em um mundo sem livros, podemosacrescentar, sem vinhos também não.

1_ Oberlé, G - Une Bibliotheque Bac-chique, Loudmer, Paris, 1992, p.43

2_ Simon, A - Bibliotheca Bacchica,Holland Press, Londres, 1927, p.215.

3_ Simon, A - Bibliotheca Vinaria,Holland Press, Londres, 1979, p.233.

4_ ibidem, p.181.

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Maio de 2007 23

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GODOFREDO SAMPAIO

o glamour que envolve a arte dedegustar charutos é impar no mundoda elegância e do bom gosto, nãoexistindo outros momentos que seigualem a compiexidade que estaocasião produz. Atento a estesconceitos, as marcas de charutosdisponibilizam os mais variadosprodutos, que dividem as prateleirasdos locais destinados a este comércio.São bebidas, peças do vestuáriomasculino, presentes finos, e muitosoutros. A todo momento surgemnovos itens ligados a este mundopeculiar, fruto da exigência de ummercado atento as vertentes dasofisticação. Dentre estes produtos,certamente os perfumes estão entreos itens mais elegantes da coleçãode um aficionado. Com vista nestemercado, as marcas cubanas lançamperfumes de qualidade superior,produzidos por casas famosas domundo das fragrâncias, que nãodevem ser confundidas com aquelesperfumes vendidos nas farmáciasbrasileiras em frascos com a formade charuto. Como exemplo destenovo perfil, recentemente, a marca

Vegueros:frag râ ncia do

h ru, .ropic d canc r

FOTO/DIVULGA ÃO

Pinar dei Rio em Cuba, onde é cultivado o tabaco paracharuto considerado como o melhor do mundo.

aromático, e que mantém umaconstrução impecável, o Vegueros éencontrado em quatro bitolas, todaslong filler hand-made: Especiales N°1 (Laguito N° 1 - panatela longo, com192 x 15,08 mm); Especiales N° 2(Laguito N° 2 - panatela, com 152 x

.' .Vegueros disponibilizou seu maisnovo produto, um perfume fino erico em detalhes.

A palavra vega foi originalmentedefinida como sendo as planíciesférteis e semiáridas das provínciasmeridionais da Espanha, como asexistentes na localidade de PinardeI Rio em Cuba, onde é cultivado otabaco para charuto considerado comoo melhor do mundo. Por esta razão, otermo vegueros foi logo associado aoagricultor das plantações de tabacodesta localidade, estendendo-semais tarde para todos os agricultoresdas plantações de tabaco da ilha.Produzidos a partir de 1960 nafábrica Francisco Donatién pelasmãos dos mestres tabaqueiros SanJuan e Martinez, Vegueros era umamarca popular, destinada apenas aosconsumidores cubanos, sendo maistarde oferecidos a visitantes comouma forma representativa de amizade.Em 1996 a marca foi incluída novitolário dos puros e passou a sercomercializada internacionalmente.

O Vegueros é um charuto quemantém a tradição dos antigosmestres, sendo produzido portorcedores experientes, com matériaprima originária de Pinar deIRío. Considerado de força média,

- -15,08 mm); Mareva (Mareva - petitcorona, com 129 x 16,67 mm); Seoane(Seoane - cigarrilha, com 125 x 14,29mm). Inicialmente considerado comoum charuto difícil de ser encontrado,até mesmo em Cuba, o Veguerostem chegado ao Brasil com relativafreqüência, podendo ser encontradonas melhores casas do ramo.

O perfume da marca Veguerosé uma fragrância masculina, queagrega os conceitos originais damarca, como sendo um produtoviril, sedutor e aventureiro,disponibilizado em invólucro comestilo moderno, proveniente dareleitura de embalagens de tabacodos anos 30 e 40 do século passado.O frasco de vidro lembra uma petacade puros, como forma de enfatizaro mundo que envolve esta marca. Afragrância é muito rica, e surpreendecom um toque inicial cítrico, quelogo se difunde numa riqueza dearomas de madeiras, com um coraçãoinspirado no cedro, cravo e patchouli,culminando com um olor de tabaco,couro e âmbar. São fragrâncias quenos revertem à atmosfera que envolvea ilha de Cuba, com seu ambienteromântico e acolhedor. Esta é, averdadeira fragrância do trópico deCâncer.

VINHO MOSCAlEl ESPUMANte

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