esporte e religião na grécia antiga

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOESCOLA DE EDUCAO FSICA E ESPORTE

    ESPORTE E RELIGIO NO IMAGINRIO DA GRCIA ANTIGA

    Raoni Perrucci Toledo Machado

    SO PAULO

    2006

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    ESPORTE E RELIGIO NO IMAGINRIO DA GRCIA ANTIGA

    RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO

    Dissertao apresentada Escola de Educao

    Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo,

    como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Educao Fsica.

    ORIENTADORA: PROFA.DRA. KATIA RUBIO

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiro aos meus pais, Paulo e Ana Catarina, pela oportunidade de uma

    boa educao.

    Depois Katia Rubio, minha orientadora, por iluminar minha jornada mesmo onde

    parecia no existir mais ningum.

    Aos meus colegas de laboratrio, que evitarei citar nomes para no cometernenhuma injustia, mas que me deram suporte, coragem e motivao para seguir sempre em

    frente.

    Ao meu irmo Uir, que mesmo sem saber, proporcionou um timo

    desenvolvimento para esta dissertao.

    A minha irm Amana, que tratou de me ajustar lngua portuguesa.

    Agradecer tambm a Cludia Guedes e ao Marcos Ferreira por contriburem

    demais neste texto, tanto nas aulas quanto na qualificao.Ao pessoal do departamento de Ps-graduao, Ilza, Lourdes e Marcio, por

    cuidarem da tranqilidade de meu percurso.

    Lucia, da biblioteca, por me ajudar a deixar tudo isso aqui bonitinho...

    A todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para esta caminhada, e

    que eventualmente me fugiram a memria.

    E por fim, agradeo ao glorioso Colorado, campeo da libertadores, por

    proporcionar alegrias em todos os momentos de tenso.

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    SUMRIO

    Pgina

    LISTA DE SIGLAS, ABREVIAES E SMBOLOS 5

    RESUMO 6

    ABSTRACT 7

    1 INTRODUO 8

    2 OBJETIVO 14

    3 METODO 14

    4 REVISO DA LITERATURA 15

    4.1 Cultura 15

    4.2 Princpios de Racionalidade 18

    4.3 Mitologia 28

    4.4 Mitologia Grega 44

    4.5 O Heri 54

    4.6 A Grcia 61

    4.7 As Guerras 71

    4.8 Religio Grega 76

    4.9 A Prtica Esportiva 80

    4.10 Os Jogos Pblicos 86

    5 CONSIDERAES FINAIS 97REFERNCIAS 101

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    LISTA DE SIGLAS, ABREVIAES E SMBOLOS

    Her. Hracles (Eurpides)

    Hist. Histria (Herdoto)

    Hist. Histria da Guerra do Peloponeso (Tucidides)

    Trab. O Trabalho e os Dias (Hesodo)

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    RESUMO

    ESPORTE E RELIGIO NO IMAGINRIO DA GRCIA ANTIGA

    Autor: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO

    Orientadora: Prof. Dr. KATIA RUBIO

    Na Grcia Antiga, a prtica esportiva, mesmo antes de ser vista como objeto

    pedaggico, era uma forma de transmisso cultural, tinha carter sagrado e buscava celebrar a

    honra dos deuses. Independentemente dos motivos da criao desses eventos os Jogos

    Pblicos, certo era que predominava seu cunho religioso, e como tal, impunham a seus

    participantes uma srie de normas a serem seguidas. Com o tempo, os Jogos de Olmpia

    passaram a ganhar maior importncia at chegar ao ponto de ser o acontecimento central de

    toda a cultura grega, interrompiam-se as guerras e uma multido se dirigia a Olmpia para

    apreciar os Jogos Olmpicos. Eram nestas ocasies que se conheciam os novos heris, o

    momento em que o homem chegava mais perto dos deuses, buscando sua transcendncia. Com

    o tempo, a condio religiosa foi sendo suplantada pelo espetculo propriamente dito,atingindo seu auge logo aps o incio do domnio romano, e quase imediato declnio. Com

    isso, este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexo sobre os motivos que direcionaram os

    antigos rituais a se tornarem os grandes Jogos, apoiado principalmente na mitologia que os

    sustentam. Buscar-se- discutir os motivos que levaram o povo grego a tamanha exaltao

    frente a essa que foi, talvez, a mais importante manifestao social de todos os tempos.

    Palavras-chave: Esporte, Histria, Mitologia

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    ABSTRACT

    SPORT AND RELIGION IN THE IMAGINARY OF ANCIENT GREECE

    Author: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO

    Adviser: Prof. Dr. KATIA RUBIO

    In the Ancient Greece, the sportive practice, before being seen as pedagogical object,

    was a form of cultural transmission, had sacred character and looked for to celebrate the honor

    of the gods. Independently of the reasons of the creation of these events - the Public Games,

    certain were that predominated its religious way, and as such, for the participants a series of

    norms was imposed. With the time, the Games of Olympia had started to gain greater

    importance until arriving at the point of being the central event of all the Greek culture, the

    wars were interrupted and a lot of people went directed to Olympia to appreciate the Olympics

    Games. They were in these occasions that the new heroes were known, the moment where the

    man arrived more close to gods, searching his transcendence. With the time, the religious

    condition was being supplanted for the spectacle properly said, reaching its peak soon after thebeginning of the Roman domain, and almost immediate decline. This work has as objective to

    make a reflection of the reasons that made the olds rituals to become the great Games,

    supported mainly in the mythology. We will search to argue the reasons that had taken the

    Greek people the so great dither front to that it was, perhaps, the most important social

    manifestation of all the times.

    Keywords: Sport, History, Mithology

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    1 INTRODUO

    Na Antigidade, o esporte era um meio de formao do indivduo

    frente s regras sociais e podia ser tratado sob cunho militar, pedaggico e

    medicinal. Acreditava-se que a educao do fsico levava o homem a explorar

    seu potencial na relao corpo-alma e em relao natureza (QUEVAL, 2004).

    Segundo esse autor, os grandes jogos, inseridos em um contexto

    guerreiro, revelavam o indivduo em sua totalidade, tanto em relao forafsica quanto em sua grandeza moral. Aqueles eventos eram grandes festivais

    religiosos que movimentavam todo o territrio grego, a partir dessa tica que

    se justificava a glria da recompensa, assim como a violncia vista nos

    combates.

    Depois de seu apogeu e declnio, os Jogos foram proibidos por serem

    considerados uma festa pag. Durante toda a Idade Mdia, o esporte foi pouco

    praticado e era extremamente controlado, j que estava restrito apenas a

    membros de famlias nobres, no encontrando muitas possibilidades de

    desenvolvimento. Nesta poca, a prtica esportiva era simbolizada pela presena

    do heri guerreiro, j que frequentemente se associava s funes do combate.

    ANDRIEU (2004) afirma que, muitas vezes, a histria descarta os

    mitos por entender que se tratam de crenas ou histrias populares de dimenses

    esotricas, ao mesmo tempo em que se busca um conhecimento dos

    acontecimentos, freqentemente baseados justamente nessas histrias. Uma

    dessas buscas, em fins do sculo XVIII, culminou com as primeiras descobertas

    das runas do Santurio Sagrado de Olmpia, revelando, segundo CABRAL

    (2004) a primeira data histrica da Grcia atestada com preciso 776a.C. ano

    que comearam a ser registrados os vencedores dos Jogos em Olmpia, fazendo

    com que as primeiras personalidades histricas conhecidas fossem os atletas

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    vencedores destes Jogos, mostrando o quanto histria helnica estava

    intimamente ligada a histria do esporte.Com isso, em princpios do sculo XIX vieram tona grandes

    discusses sobre princpios da antiga Hlade. A (re)criao dos encontros

    esportivos independentes de festivais tradicionais ou eventos festivos se deu

    durante este mesmo sculo e foi bastante facilitado pela proximidade entre os

    vilarejos e pela pequena extenso geogrfica da Inglaterra, o que proporcionava

    um maior intercmbio entre as vilas e criando as primeiras rivalidades entreequipes. Foi neste pas que o esporte criou seu espao nico e separado da vida

    cotidiana. Assim, a durao espao-temporal especfica a essa prtica comeou a

    ser vista como uma boa alternativa pedaggica (VIGARELLO, 2002).

    A associao da insero da prtica esportiva pedaggica com a

    descoberta das runas helnicas resultou no surgimento de um princpio que

    tratava o esporte como um elemento educativo, o qual mais tarde seria conhecido

    como Olimpismo (MLLER, 2004). No final do sculo XIX e incio do XX, um

    educador francs chamado Pierre de Coubertin, desenvolveu a idia de que o

    esporte melhorava a formao intelectual e moral dos jovens. Alm disso,

    pensava que a incluso do esporte na escola, independente da tutela oficial do

    estado, levava as pessoas a terem maior autonomia, iniciativa e honra, com

    melhor capacidade para governar. Em meio a esse ambiente, Coubertin teve a

    idia de recriar os Jogos Olmpicos. Com isso, ele desejava um evento onde se

    elevaria o estado de esprito, o ideal de pureza e moral, que iria alm das

    competies esportivas, ofereceria um espetculo com dimenses materiais e

    espirituais. De forma geral, o Olimpismo representa valores espirituais para

    vitrias materiais (ANDRIEU, 2004).

    Semelhante ao desejo de Coubertin, as competies na Antigidade

    eram exclusivas para homens livres, onde imperava o amadorismo. No entanto,

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    com o passar do tempo, iniciaram-se conflitos entre o amadorismo e o

    profissionalismo e a simples prtica contra o espetculo, quase o mesmo cenriovisto na atualidade (BAILLETTE & BROHM 1995). Os eventos

    contemporneos foram ento se transformando at que o antigo culto

    aristocrtico do heri acabou substitudo pelo do campeo, levando QUEVAL

    (2004) a denomin-lo como o culto da performance. O autor ainda completa,

    dizendo que o mito do heri esportivo definido como um campeo simblico

    em que aquela sociedade se projeta como um espelho em sua ideologia. Essaidia corroborada por RUBIO (2001), que entende que esses feitos so

    interpretados e incorporados ao imaginrio de sua poca e de cada grupo social

    particular. O carter agonstico do esporte, presente desde sua origem, contribui

    para o reforo desse imaginrio.

    Sustentando esse quadro temos o mito, entendendo-o como uma forma

    espontnea de compreender o mundo, facilitando a insero do homem na

    realidade.

    Em qual realidade?

    Os grandes festivais, em geral, no eram simples comemoraes, mas

    sim uma re-atualizao. Eram a busca do espao e do tempo sagrado original.

    BAILLETTE e BROHM (1995) e ANDRIEU (2004) entendem que o esporte

    como uma viso mtica do mundo, assim como a religio, propicia a entrada em

    um outro mundo, que longe dos problemas da realidade, reconforta o homem de

    possveis frustraes, uma satisfao originada pela imaginao.

    Independentemente de qualquer perodo histrico, as caractersticas

    fundamentais do esporte so as mesmas, por mais distintas que sejam as

    manifestaes socioculturais de seu tempo. Ele no faz parte de um tempo

    histrico, mas sim da multiplicidade das histrias regionais, de forma que a

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    transio dos valores esportivos est muito mais associada forma como a

    sociedade v o mundo do que com as prprias mudanas de suas caractersticas.Analisando a histria do esporte e, conseqentemente, da prpria

    formao da sociedade, podemos entender que a prtica esportiva uma

    necessidade de todas as culturas, cada qual sua forma, por se tratar de um

    confronto simblico mal disfarado (SAGAN, 1988). Encontramos smbolos

    de grande riqueza, tais como a bola, o tempo e o espao, dando sentido especial

    ao esporte (COSTA, 1991). Associado a isso, temos a figura do heri, h muitotempo identificado como um indivduo que se sobressaa em sua sociedade,

    capaz de realizar grandes feitos que ultrapassavam suas condies de simples

    mortal, se aproximando dos deuses. Era visto pelos habitantes de sua regio

    como um semelhante, isto , em condies iguais de existncia, fazendo com que

    o tornasse um exemplo, uma referncia aos mais jovens, conseguindo, desde os

    tempos mais antigos, seu espao no imaginrio coletivo.

    Baseado na caracterstica mtica do esporte e do heri, o francs Pierre

    de Freddy, Baro de Coubertin, desenvolveu o conceito de Olimpismo presente

    na Carta Olmpica (COI, 2001, p. 2), utilizado para a recriao dos Jogos

    Olmpicos, se referindo a uma:

    Filosofia de vida que exalta e combina em equilbrio as

    qualidades do corpo, esprito e mente. Ao associar esportecom cultura e educao, o Olimpismo se prope a criar umestilo de vida baseado na alegria do esforo, o valoreducativo do bom exemplo e o respeito pelos princpiosticos fundamentais universais.

    Esse princpio, idealizado em fins do sculo XIX d.C., era

    perfeitamente justificado pelo momento em que foi criado, onde o esporte era

    praticado principalmente como estratgia de controle do tempo livre, ganhando

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    grande importncia como contedo de formao escolar (ELIAS & DUNNING,

    1995; HUARD & WONG, 1990). No entanto, tal princpio, visto como aessncia do movimento olmpico da era moderna, teve sua gnese cerca de dois

    mil e quinhentos anos antes.

    Florescia nesta poca a cultura helnica. Nela, mito e histria se

    confundiam desde os seus primeiros habitantes, fazendo com que aquela

    sociedade desenvolvesse um profundo respeito por todas as figuras divinas que

    controlavam as foras da natureza, das quais eram dependentes. Nos rituaisreligiosos, o homem buscava transcender sua condio de humano e tentava

    aproximar-se dos deuses, a maneira encontrada para isso naquela sociedade eram

    as demonstraes de destreza fsica.

    Dessa forma, foram institudos os grandes Jogos Pblicos que, com o

    passar do tempo, ganharam importncia primordial na vida de qualquer cidado

    grego. Como consequncia disso, a educao grega, de certa forma, preparava o

    homem baseado nos ideais originados desses eventos dentro dos princpios da

    aret1 (RUBIO & CARVALHO, 2005), isto , o mximo conseguido pelo

    homem equilibrado e perfeito. Quando esse princpio foi transferido para o

    esporte ele pde ser entendido como a conquista da vitria de forma nobre e

    cavalheiresca, buscando a superao das capacidades individuais. O

    desdobramento desse princpio foi okalocagathia2, cujo significado relaciona-se

    com a busca do belo e o bom, belo de corpo e bom de esprito. Os gregos

    acreditavam que um no poderia existir sem o outro e viam na prtica da

    atividade fsica a melhor maneira de tornar o corpo belo e, conseqentemente,

    educar o esprito (JAEGER, 2003).

    O surgimento dos grandes Jogos na Grcia fez com que a imagem do

    heri fosse tambm fortemente contemplada no ambiente esportivo, talvez pela

    1 Embora no exista traduo exata, as expresses virtude e excelncia so as que mais se aproximam.2 A busca pelo Bom e Belo (Kalobelo,Agaths Bom)

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    condio que o diferenciava das diversas formas de arte (CORDNER, 1988). At

    o final dos Jogos da Antigidade, muitos heris surgiram, e ficaram marcadospara sempre na histria.

    O filsofo Espinosa, citado por CHAU (1995, p. 109) em sua abertura

    do Tratado da Reforma do Intelecto, expressa o que provavelmente teriam

    sentido os helenos daquela poca, caso no conhecessem o significado e

    transcendncia dos Jogos:

    Tendo em vista que todas as causas de que me arreceavaou temia no continham em si nada de bom nem de mauseno enquanto o nimo se deixava abalar por elas,resolvi, enfim, indagar se existia algo que fosse um bemverdadeiro e capaz de comunicar-se a todos e pelo qualunicamente, afastado tudo o mais, o nimo fosse afetado.Mais ainda, se existia algo que, uma vez encontrado, medesse para sempre a fruio de uma alegria contnua esuprema.

    E conclui em seu Quinto Livro de tica:

    E com certeza h de ser rduo aquilo que raramente seencontra. Como seria possvel, com efeito, se a salvaoestivesse mo e pudesse encontrar-se sem muitotrabalho, que fosse negligenciado por quase todos? Mastudo que precioso to difcil quanto raro.

    Se Espinosa tivesse vivido na Antigidade, possivelmente ele no se

    indagaria a esse respeito, e sentado, tentando conter um sorriso, assistiria aos

    Jogos.

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    2 OBJ ETIVOS

    O objetivo principal deste trabalho analisar a funo e a importncia

    do esporte, dos festivais esportivos e da religio para a cultura grega da

    Antigidade, baseado essencialmente no imaginrio daquele povo. Para tanto

    sero buscados na histria da Grcia na Antigidade, assim como em sua

    mitologia, elementos que apontem para essa direo associando-os ao

    surgimento e aderncia das prticas esportivas por todo o territrio grego.Compreender o significado e importncia dos Jogos Pblicos para a

    sociedade desse perodo, desde o perodo minico at as invases romanas,

    representa ampliar o conhecimento sobre os Jogos Olmpicos Contemporneo,

    seu significado e sua relevncia.

    3 MTODO

    O mtodo utilizado nesse trabalho ser a pesquisa histrica analtica,

    conforme descrita por THOMAS e NELSON (2002), recorrendo a fontes

    relacionadas literatura, filosofia, histria antiga e, especificamente,

    histria dos Jogos Pblicos na Grcia antiga.

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    4 REVI SO DE L I TERATURA

    4.1 Cultura

    Por cultura, entende-se em seu sentido original ainda sob forma latina,

    como algo referente ao cultivo ou cuidado de algo que, com o passar do tempo,

    deixou de ser fsico passando a ser tambm cognitivo. TYLOR3, citado por

    THOMPSON (2000, p. 171), entende a cultura como:

    O conjunto inter-relacionado de crenas, costumes, formasde conhecimento, arte, etc., que so adquiridos pelosindivduos enquanto membros de uma sociedade particulare que podem ser estudados cientificamente. Estas crenas,costumes, etc., formam um todo complexo que caracterstico de uma determinada sociedade,diferenciando essa sociedade de outros lugares e pocasdiferentes.

    De maneira geral, a cultura define a identidade de uma sociedade,

    modelada pelo tempo e passada atravs de padres de formas simblicas j

    incorporadas, como aes, manifestaes verbais, alm de outros objetos de

    igual valor simblico, onde se partilham concepes, experincias e crenas.

    Essas frmulas simblicas foram caracterizadas por THOMPSON(2000) em cinco formas distintas, de acordo com seus aspectos intencional",

    convencional", estrutural", referencial" e contextual". O primeiro deles

    refere-se a elas como expresses de um sujeito e para um sujeito, atravs de

    formas e expresses produzidas. A segunda refere-se aplicao de regras,

    cdigos e convenes para a interpretao das formas simblicas. O aspecto

    3 E. B. TYLOR,PrimitiveCulture:Researches into the development of mithology, philosophy, religion,language, art and custom, v. 1, Londres, John Murray, 1903.

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    estrutural refere-se s suas caractersticas estruturadas. Na seqncia, o aspecto

    referencial traz a idia de que cada uma das formas simblicas representa algo ediz algo a respeito de alguma coisa. E por fim, o aspecto contextual quer dizer

    que as formas simblicas sempre estaro contextualizadas nos padres scio-

    histricos das sociedades em que elas so produzidas, transmitidas e recebidas.

    A cultura, segundo FERREIRA SANTOS (2004), pode ser entendida

    como um universo de criao, transmisso, apropriao e interpretao dos bens

    simblicos e suas relaes. O que caracteriza as vrias culturas so os processossimblicos envolvidos no ato criativo, bem como aqueles envolvidos em nossa

    capacidade de nos apropriarmos de seus contedos, sentidos e significados. Por

    meio de processos pedaggicos, isto , atravs de processos de iniciao das

    geraes mais novas pelas mais velhas ou mais experientes, as sociedades vo

    ganhando sua identidade cultural.

    Jos Carlos RODRIGUES4 citado por FERREIRA SANTOS (2004),

    afirma que as culturas, em um sentido menos abstrato, so sistemas simblicos,

    ou seja, mais que somatrias de vetores, artefatos, crenas, mitos, rituais,

    comportamentos, etc. (como queria a definio inaugural de Tylor), cada cultura

    uma gramtica que delineia e gera os elementos que as constituem e lhe so

    pertencentes, alm de atribuir sentidos nas relaes entre os mesmos. As culturas

    no se definem apenas por seus vocabulrios, mas principalmente pelas regras

    que regulam a sintaxe das relaes entre os seus elementos.

    Logo, se torna muito estreita a relao entre cultura e mito. De forma

    geral o mito aquilo que se relata. De acordo com FERREIRA SANTOS (2004),

    a narrativa dinmica de imagens e smbolos que orientam as aes na

    articulao do passado e do presente, em direo ao futuro. A prpria descrio

    de uma determinada estrutura de sensibilidade e de estados de alma que a espcie

    4 J.C. RODRIGUES,Antropologia eComunicao:princpios radicais, Rio de Janeiro, Espao e Tempo, 1989.

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    humana desenvolve em sua relao consigo mesma, com o outro e com o mundo,

    desde que, descendo das rvores, comeou a fazer do mundo um mundo humano.Da tambm a importncia das metforas, um alm sentido que impregnam a

    imagem e explode a sua semntica.

    Como j foi dito, a principal caracterstica das vrias culturas so os

    processos simblicos envolvidos no ato criativo, bem como aqueles envolvidos

    na nossa capacidade de nos apropriarmos dos contedos, sentidos e significados,

    de poder difundi-los pela comunicao e, sobretudo, de interpret-los para acompreenso do mundo, e conseqentemente, de ns mesmos. Os processos

    simblicos podem ser transmitidos e comunicados envolvendo uma

    aprendizagem de auto-apropriao e interpretao, fechando e ao mesmo tempo,

    ampliando o conceito simblico cultural. Segundo MERLEAU-PONTY (1962),

    a comunicao transcende o verbal e tem em ns mesmos uma poderosa

    ferramenta, a gesticulao cultural, moldada historicamente pela necessidade de

    comunicao, compreende um ato fsico cheio de significados. uma forma e

    um sentido que se interpretam configurada por uma determinada estrutura de

    sensibilidade. So excedentes do nosso relacionamento com o mundo e com o

    outro numa imagem arquetpica, ancorada no prprio corpo.

    Esses excedentes de significados, que constituem a polissemia

    polifnica (as vrias vozes dos vrios significados), ondulam os oceanos de

    possibilidades humanas. E se existe uma realidade real do mundo concreto,

    ento ela s pode ser organizada e aprendida na rede simblica das prticas

    culturais (FERREIRA SANTOS, 2004).

    O imaginrio conclui e reinicia esse ciclo entre o mito e a cultura, ele

    o resultado da co-implicao entre as pulses subjetivas e as interaes do meio

    ambiente csmico e social, denominado por DURAND (2002) de trajeto

    antropolgico. A parte dos contedos e relaes estabelecida entre o corpo e o

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    meio se desenvolvem nas gesticulaes culturais concentradas em sistemas que

    produzem uma imagem arquetpica, podendo ter dois caminhos, o racionalizantee o mitolgico, o que nos faz voltar de novo ao incio.

    4.2 Princpios deRacionalidade

    Iniciarei esse captulo com uma passagem do romance A Histria sem

    Fim de Michael ENDE (1988, cap. IX), onde o autor consegue expor como ospersonagens do Mundo de Fantasia interagem com os personagens do Mundo

    dos Homens, em um dilogo entre Atrei, o protagonista do livro, e Gmork, um

    lobisomem que consegue perambular livremente por entre os mundos, acerca da

    presena e multiplicao do Nada em sua terra e como as pessoas de Fantasia

    aparecem no mundo dos Homens. O personagem reflete sobre a fico, a fantasia

    e a mentira que aos olhos de muitos parece ser a mesma coisa.

    Gmork, o lobisomem, comea:

    O Nada. Quando entramno Nada ele seapodera devoc. Passa a ser

    como uma doena contagiosa, que cega os homens, tornando-os incapazes de

    distinguir entre a aparncia e a realidade. Sabe o nome que eles do a vocs?

    Mentiras! (...)

    Voc me pergunta como vai ser l nesse mundo? Mas o que voc

    aqui? Figura de sonhos, invenes do reino da poesia, personagens de uma

    histria sem fim! Voc se julga real? Neste mundo voc , mas se entrar no

    Nada deixadeexistir. Leva ao mundo dos Homens a cegueira ea iluso (...)

    Os habitantes de Fantasia transformam-se em devaneios da mente

    humana, em imagens geradas pelo medo, quando na realidade no h o que

    temer (...)

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    por isso que os homens tememe odeiamFantasia e tudo o que dela

    vem, querem aniquil-la, mas no sabemque ao faz-lo, aumentama torrentede mentiras (...) s no pensaro emvisitar Fantasia se pensaremque ela no

    existe (...) nada tem mais poder sobre os homens que mentiras, porque os

    homens vivemde idias, e as idias podemser dirigidas, esse poder o nico

    que conta, e por isso que tenho estado do lado do poder e o servi, para poder

    participar dele.

    Quero dizer com isso que, durante muito tempo os seres humanoscreditaram sua vida a uma procedncia baseada em idias mitolgicas que

    explicavam de maneira satisfatria a origem da vida e os fenmenos da natureza.

    KANT (1959) diz em um de seus prolegmenos que, conforme o ser humano foi

    tomando maior conhecimento de si dentro do mundo, essas idias foram sendo

    abandonadas aos poucos por pensadores e cientistas, at passarem

    definitivamente para o mundo da fantasia, sendo inaceitvel t-las como

    verdades.

    Durante muito tempo, o ser humano creditou sua vida unicamente a

    uma complexa realidade divina, talvez o nico modo possvel de explicar sua

    existncia.

    Dentre as muitas construes mitolgicas criadas por diferentes

    culturas nenhuma outra cultura exerceu tanta influncia sobre o mundo ocidental

    como a grega.

    As condies peculiares do territrio grego permitiram que desde a

    chegada dos Drios, no sculo XII a.C., os gregos tivessem no mar rotas

    comerciais com povos do Oriente, facilitando o intercmbio cultural e

    incentivando muito a aventura das construes imaginrias (SOUZA, 1999), se

    distanciando cada vez mais da cultura arcaica.

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    A chegada dos Drios, superiores fisicamente, empurraram os Aqueus

    que, at ento ocupavam o territrio grego, para as pequenas ilhas e costa dasia Menor, onde l fundaram colnias e expandiram a cultura helnica. Da

    poesia, cantavam o declnio de uma era, alm das grandes epopias, narradas e

    enriquecidas durante o tempo pelos aedos (poetas e declamadores ambulantes),

    das quais sobreviveram at os dias atuais apenas A Ilada eA Odissia, escritas

    entre os sculos X e VIIIa.C., atribudas a Homero, de quem quase nada se sabe

    a respeito.A antropomorfia dos deuses dava-lhes aspectos familiares e

    inteligentes, afastando os temores relativos s foras obscuras e incontrolveis,

    gerando mais segurana existncia. A virtude (aret), dada por Homero aos

    nobres (aristoi), diferenciava-os dos homens comuns, principalmente por estes

    atriburem a sua rvore genealgica alguns dos deuses ou heris antepassados.

    Entretanto, s isso no bastava, os nobres davam provas constantes de sua

    valentia, fora e habilidade, que caracterizaram seus ancestrais, principalmente

    nas demonstraes fsicas, de luta ou nos jogos atlticos. Mais tarde, a

    genealogia foi substituda pela espiritualidade, atravs de Plato e Aristteles.

    Com Hesodo, que tambm teria vivido no sculo VIII a.C., e suas obras

    Teogonia eO trabalho e os dias, surgiu a noo de que a virtude (aret) filha

    do esforo e de que o trabalho o fundamento e a salvaguarda da justia

    (PESSANHA, 1999).

    A moeda, surgida no sculo VII a.C., dissociou gradualmente a idia

    de aristocracia e consanginidade. Junto com isso, surgia na Grcia em fins do

    sculo VI e incio do V a.C. uma nova mentalidade, que vinha superar uma

    perspectiva da cosmognese e da antropognese.

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    TUCDIDES (2001), que viveu entre 460 a 400 a.C. em seu livro

    Histria da Guerra do Peloponeso tambm expe de forma clara essecontraste entre mito e realidade, ao defender em sua obra:

    luz da evidncia apresentada at agora, todavia,ningum erraria se mantivesse o ponto de vista de que osfatos na Antigidade foram muito prximos de comodescrevi, no dando muito crdito, de um lado, s versesque os poetas cantaram, adornando e amplificando os seus

    temas, e de outro considerando que os loggrafoscompuseram suas obras mais com a inteno de agradaraos ouvidos que de dizer a verdade uma vez que suasestrias no podem ser verificadas, e eles em sua maioriaenveredaram, com o passar do tempo, para a regio dafbula, perdendo, assim, a credibilidade (Hist. 1, 21).

    E mais frente em sua obra, em relao aos antigos habitantes da

    Siclia, diz que:

    Os mais antigos que as tradies mencionam comohabitantes de qualquer parte da ilha so os ciclopes elestrignios, a respeito dos quais no posso dizer a queraa pertenciam, nem de onde vieram e nem para ondeforam. Limitemo-nos, pois, s estrias dos poetas e sopinies de cada um a propsito deles (Hist. 6, 2).

    CAMPBELL (2004) afirma que a vitria dos gregos sobre os persas

    ajudou-os a deixar de obedecer apenas a uma ordem csmica preestabelecida,

    como servos de um Deus, e passarem a ter um maior discernimento racional,

    com suas obras celebrando a humanidade, e no a divindade. Este fato associado

    a um maior desenvolvimento cultural, fez com que os homens apresentassem

    solues baseadas na razo para os problemas da natureza, substituindo a viso

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    mtica da realidade. O resultado disso foi o surgimento dos primeiros pensadores

    pr-socrticos (SOUZA, 1999).A filosofia grega se iniciou ento pela periferia de seu territrio, onde

    existia maior liberdade do julgo da tradio. No continente, enquanto a poltica

    ia se transformando, as idias filosficas aos poucos foram sendo incorporadas

    s atividades dos cidados. A seguir as principais caractersticas dos mais

    importantes pensadores pr-socrticos, que tiveram papel fundamental para a

    construo da racionalidade.O primeiro filsofo emprico grego que se tem conhecimento foi Tales

    de Mileto, viveu aproximadamente entre 625/4 a 558 a.C., era naturalista, e

    acreditava que o princpio de todas as coisas seria a gua. Sua busca ativa e

    racional dos princpios das coisas inspirou novos pensadores. De Mileto vieram

    ainda Anaximandro (cerca de 610 a 547a.C.) e Anaxmenes (cerca de 585 a 528

    a.C.). O primeiro considerado o iniciador da astronomia por definir um padro

    para medidas estrelares e, usando um princpio de pares de opostos (o qual

    tambm utilizava para definir todos os elementos da natureza), mostrava que a

    Terra estava suspensa no Universo, suportada por nada. O segundo, tambm

    relacionado a astronomia, dizia que a luz da Lua vinha do Sol, e substituiu a gua

    pelo ar como princpio de tudo.

    J a matemtica deve muito a Pitgoras de Samos (aproximadamente

    580/78 a 497/6 a.C.), que nada tendo deixado escrito permitiu que sua figura

    fosse envolvida pelo fantstico. Os pitagricos acreditavam que os nmeros eram

    o princpio de todas as coisas. Essa primeira forma concreta de cincia deu incio

    a uma onda de crticas s explicaes mitolgicas da realidade, onde o

    conhecimento, e no o xtase, tornaram-se os meios de realizaes

    (CAMPBELL, 2004). O primeiro a fazer isso foi o igualmente poeta Xenfanes

    de Colofo (570 a 528a.C.), que da mesma forma critica a situao de honra dos

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    vencedores de Olmpia, dizendo que estes nada acrescentavam s suas cidades,

    dando o primeiro golpe contra o significado transcendente dos Jogos.Por outro lado, era justamente durante a realizao dos Jogos que eles

    conseguiam se reunir e divulgar suas idias e assim, conquistar novos discpulos.

    Em virtude disso muitos filsofos ainda surgiriam. Havia entre eles um debate

    acalorado de idias sugerindo uma espcie de competio, assim como os atletas

    competiam entre si. A existncia do ser, por exemplo, foi motivo de muitas

    discusses entre Herclito de feso (540 a 470 a.C.), que acreditava namutabilidade dos seres, e Parmnides de Elia (530 a 460a.C.), que criticava as

    idias do ser e no ser, trabalhando com a unidade do individuo. A dialtica, isto

    , a argumentao combativa, foi inicialmente empregada pelo tambm elio

    Zeno (504/1 a.C. a ?), que tinha como principais idias o infinito e a noo

    espacial, com a representao no espao e no tempo. Melisso de Samos, no se

    sabe ao certo quando nasceu, floresceu em cerca de 444/1a.C., tambm concebia

    a idia do ser e no ser, unidade e pluralidade.

    A supremacia da racionalizao em detrimento do mito aconteceu com

    a discusso dos quatro elementos contra o princpio uno de Empdocles de

    Agrigento (490 a 435 a.C.), que preservou a idia de seus antecedentes,

    combinando com as suas. Ele acreditava nos deuses e pensava que os homens

    eram deuses cados, pagando por pecados. Em relao ao mundo, ele usava como

    base a dualidade como fora criadora, amizade e inimizade, o bem e o mal,

    atrao e repulsa e assim por diante. Depois dele, em meados do sculo V a.C.,

    vieram os pitagricos Filolau de Crotona, e Arquitos de Tarento (cerca de 400 a

    365a.C.), que viam nos nmeros uma verdade inabalvel e tinham a matemtica

    como cincia, apresentando provas de sua existncia. Alm disso, mostravam

    como o raciocnio podia ser usado contra as injustias.

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    A primeira escola filosfica de Atenas foi fundada por Anaxgoras de

    Clogomenos (cerca de 500 a 428 a.C.), que desenvolveu uma linha depensamento pautado nas idias de causa e efeito na natureza. Para Aristteles,

    Anaxgoras foi o primeiro a ter plena conscincia do que falou, ao contrrio de

    seus antecessores, quedentre muitas idiasdesorientadas, tinhamuma ououtra

    boa. Seguindo a linha naturalista, Leucipo de Mileto, que nasceu por volta de

    500a.C., iniciou a idia do tomo, mostrando um principio de racionalidade na

    pesquisa natural.O ltimo pensador pr-socrtico foi Demcrito de Abdena (460 a 370

    a.C.), que discutiu a essncia das coisas, como leve e pesado, slido e menos

    slido, alm de dizer que alma e mente representam a mesma coisa. Sobre o ser e

    o no ser, disse que se h movimento, deve haver espao vazio, o que equivale a

    dizer que o no ser to real quanto o ser.

    Scrates nasceu em 470 ou 469a.C. em Atenas, em um perodo que a

    Grcia vivia ainda a euforia frente a vitria contra os persas (PESSANHA,

    1999), fato que, segundo CAMPELL (2004), fez com que os homens

    acreditassem mais em suas prprias conquistas e passaram a no ser mais to

    dependentes das leis divinas. Com essa atmosfera, Scrates encontra condies

    propicias para desenvolver seu pensamento e iniciar uma nova era de

    conhecimento baseada essencialmente no homem.

    Enfim, a busca pelo conhecimento norteou o desenvolvimento do ser

    humano por toda sua histria. Os primeiros estgios de avano intelectual,

    entretanto, no tornaram isso tarefa fcil e, mesmo antes de haver uma

    linguagem j bem definida, h indcios de que o ser humano, desde os seus

    primrdios, j buscava elementos que sustentassem sua existncia, busca que,

    ainda hoje, continua.

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    PEIRCE (1878/9) relata que, no final do sculo XIX d.C., um dos

    principais objetos da pesquisa era de fixar uma opinio. A concepo que opensamento ou o sentimento nos traz certamente um progresso novo e muito

    importante. De certa forma, o problema se remete a como fixar uma opinio, no

    somente para o indivduo, mas tambm para a sociedade. Abandonamos o

    esprito humano s causas naturais, sob sua influncia, os homens direcionavam

    seus pensamentos e consideravam as escolhas de pontos de vista diversos,

    desenvolvendo gradualmente suas crenas em harmonia com as escolhasnaturais. Esse mtodo conduz a maturidade das concepes do domnio da arte,

    exatamente como fizeram os povos da Antigidade.

    A autonomia da cincia, segundo BOURDIEU (2001), foi sendo

    conquistada pouco a pouco contra os poderes religiosos, polticos e at mesmo

    econmicos, alm de ir de frente contra os burocratas do estado, que viam suas

    condies mnimas de independncia sendo enfraquecidas. Seu desenvolvimento

    no foi um processo contnuo, mas marcado por uma srie de rupturas e por

    alternncia de perodos de cincia normal e de revolues dentro de um

    movimento de acumulao contnua. WHITEHEAD (1929), completa dizendo

    que a funo da razo um dos tpicos mais antigos de discusso filosfica,

    sempre associada a uma outra coisa (f, autoridade, imaginao...), afirmando

    que sua funo de promover o entendimento da vida. No incio explicava a

    origem das espcies, mas falhava em determinar o surgimento de organismos

    mais complexos. De forma geral, se desenvolveu de trs maneiras, a de viver, de

    viver bem, e de viver melhor, isto , estar vivo, viver de forma satisfatria e

    melhorar a satisfao, direcionando seu desenvolvimento e operando as

    realizaes tericas. Cada metodologia possui sua prpria histria. Primeiro

    representa uma coordenao entre pensamento e ao, expressando a satisfao

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    da existncia, de viver bem. Determinando o destino das espcies, conseguimos

    estabilizar, tornando-nos livres e entrando na aventura de viver melhor.Ainda sobre a razo, o mesmo autor diz que os gregos possuam duas

    figuras exemplares, a saber, Plato e Ulisses. O primeiro tinha a sua razo

    baseada nos deuses, e o segundo na astcia. Respectivamente, a razo

    procurando um completo entendimento e a razo buscando um mtodo imediato

    de ao.

    Desta forma, ento, o pensamento se formou para o conhecimento darealidade (PATY, 2004). Deve-se ento considerar que o conhecimento humano

    exprime um mundo racional ao mesmo tempo em que transcende raciocnios

    imediatos da experincia singular. Esse conhecimento proporciona ao indivduo,

    uma compreenso do mundo material a partir de suas dimenses fsicas,

    biolgicas e sociais, da mesma forma que os objetos matemticos. As condies

    do pensamento racional, como acredita Kant, implicam em um principio de

    causalidade, clara para a construo de uma inteligibilidade do mundo de

    existncia material, demonstrado cientificamente.

    Nesse caso a cincia faz a representao terica e se apresenta como

    um sistema de conceitos que regulamentam preposies reportadas as

    propriedades gerais da natureza. Essas propriedades, bastante especficas,

    descrevem as diversas teorias dinmicas, referentes, em definitivo, ao mundo

    fsico e seus objetos. Nesse sentido DALEMBERT5, baseado em Descartes e em

    Kant, citado por PATY (2004), designa dois pontos limites para essa discusso:

    o conhecimento de si prprio e o conhecimento do mundo real, exterior ao

    indivduo.

    Sendo assim, o conhecimento no previsvel, ele objeto de

    descoberta, precisamente de invenes, invenes criativas, por elaborao e

    5 J. R. DALEMBERT, Elmens desSciences, In: DAlembert et Diderot, V. 5, 1755.

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    construo do material simblico do pensamento racional. Neste caso a pesquisa

    cientifica sistematizaria seu movimento, aprofundando-o e ampliando-o (PATY,2004).

    Conforme BOURDIEU (2001), o repertrio empirista caracterstico

    dos papis formais das pesquisas experimentais, que so escritas baseadas em

    representaes empiristas da ao cientfica. Os estudos de laboratrio seriam

    ento uma importante fora contra a viso global empirista. Seus mdulos de

    cincia so o resultado de um processo de fabricao, no qual o laboratrio, elemesmo um universo artificial, parte o mundo em pedaos, fsicos, sociais e

    tambm materiais, criando fenmenos elaborados e testando teorias que no

    existem a no ser pelos instrumentos laboratoriais.

    WHITEHEAD (1929) escreve que a pesquisa por si pode nada

    representar, tanto no campo fsico, onde as formas definem fatores, como no

    mental, no qual as formas conectam ocasies imediatas com ocasies futuras.

    Dessa forma, no basta apenas elaborar a metodologia, mas colocar experincias

    conscientes para detalhar operaes possveis dentro dos limites desse mtodo,

    ou ento, caminhar sobre experincias prticas. A histria da razo especulativa

    curta, pertence histria da civilizao e retrocede seis mil anos, mas o grande

    avano veio com os gregos. Eles descobriram a matemtica e a lgica como

    mtodos de especulao. Com isso, eles puderam fazer uso de um teste objetivo

    com um mtodo progressivo, no apenas baseados na viso mtica. Chineses e

    indianos tambm produziram variveis do mesmo mtodo, porm os orientais

    basearam suas descobertas quase que exclusivamente em aspectos mticos e

    religiosos. A diferena principal entre essas culturas estava entre o

    conservadorismo oriental contra as experimentaes inventivas e racionais da

    escola grega, principalmente ps-Socrtica (CAMPBELL, 2004). A tecnologia

    tambm contribuiu para esse quadro, mas ela quase nada avanou nos ltimos

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    trs mil anos em comparao com os ltimos cento e cinqenta, conseqncia da

    aproximao e contato da razo especulativa e da prtica. Enquanto uma olhavapara atividades tericas, a outra buscava por metodologias. Esse avano, iniciado

    no sculo XIX da era moderna, deveu-se inveno de novos instrumentos

    cientficos, que iam coletando dados e introduzindo, aos poucos, outros

    elementos de discusso, principalmente da noo do observvel mas no

    observado, como as ondas eletromagnticas. O antagonismo entre filosofia e

    cincias naturais, produziu limitaes no pensamento dos dois lados.De qualquer forma, a f cientfica foi construda, comunicada e

    avaliada sob uma forma de proposies escritas e os trabalhos cientficos

    tornaram-se, por essncia, uma atividade literria e interpretativa (BOURDIEU,

    2001). Assim que o trabalho histrico de elaborao, retificao, de

    familiarizao e de assimilao que representam todo o processo de

    conhecimento, chega a ns por nos permitir conceber elucubraes,

    possibilitando ao pensamento humano compreender qualquer coisa do mundo

    (PATY, 2004).

    4.3 Mitologia

    O estudo comparativo das mitologias, como mostra a obra de

    CAMPBELL (1992), nos compele a ver a histria cultural da humanidade como

    uma unidade, ou seja, achamos o roubo do fogo, o dilvio, a terra dos mortos, o

    nascimento de uma virgem e o heri ressuscitado, no mundo todo, sob novas

    combinaes e se repetem como elementos de um caleidoscpio.

    Todas elas foram criadas a partir de um nico fundo de motivos

    mitolgicos. Foram selecionadas, organizadas, interpretadas e atualizadas de

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    modos diferentes, de acordo com as necessidades locais, mas veneradas por

    todos os povos da Terra.Sendo assim, o homem aparenta no se sustentar no universo sem a

    crena em algum poder. Com a herana geral dos mitos, na verdade, a plenitude

    de suas vidas pareceria estar na relao direta entre a profundidade e a extenso,

    no do seu pensamento racional, mas de sua mitologia local.

    O mito o princpio da vida, a ordem eterna, a frmula sagrada para

    qual a vida flui quando esta projeta suas feies para fora do inconsciente. Estepode ser pessoal, o qual JUNG (1991) descreveu como o contexto de imagens

    esquecidas, ou pode ser coletivo, determinado pelos arqutipos.

    No entanto, nenhum sistema mitolgico pode explicar sua funo em

    termos de imagens universais da qual ele constitudo. Tais imagens levam as

    energias da psique para um contexto mitolgico e as une faixa histrica da

    sociedade, portanto, a mitologia possui um carter progressivo e os ritos de

    iniciao possuem um papel fundamental neste processo (CAMPBELL, 1992).

    A florescncia dos ritos resultou de uma percepo csmica, de

    tamanha fora que todo sentido, princpio estruturador do universo, durante certo

    perodo da histria humana, parece estar contido nele. Os ritos, segundo as

    palavras de Campbell, eram representaes dessas concordncias, de maneira

    comparvel s frmulas da fsica moderna, escritas, porm, no preto no branco,

    mas na carne humana.

    A idia elementar jamais , ela prpria, representada em mitologia. Ela

    sempre transmitida por meio de idias tnicas ou formas locais, regionalmente

    condicionadas e podendo refletir atitudes de resistncia ou de assimilao. Por

    isso, as imagens do mito, jamais devem ser uma representao direta do segredo

    total da espcie humana, mas apenas o propsito de uma atitude, o reflexo de

    uma posio, uma postura da vida e uma maneira de jogar o jogo, e onde as

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    regras ou formas de tal jogo so abandonadas, a mitologia dissolve-se, e com ela,

    a vida.O material do mito lida com os termos que se mostram mais adequados

    natureza do conhecimento da poca (CAMPBELL, 1997), alm de estar

    intimamente associado sociedade no qual est inserido.

    Dessa forma, ela no um fenmeno recente. Joseph CAMPBELL

    (1992) mostra que ela acompanha a evoluo do homem h muitos anos. Em

    aproximadamente 600.000 a.C. no Perodo Paleoltico, mais precisamente noEstgio do Plesiantropo, tem-se indcios de que os seres primitivos daquela

    poca se apegavam a alguns objetos e que existiam algumas pequenas

    brincadeiras alm de danas. Esses indcios podem ser o incio da mitologia. No

    Estgio do Piterantropo, cerca de 400.000 a.C., os homens j andavam eretos,

    possuam um crebro de 900 cm3 (contra aproximadamente 1500 cm3 doHomo

    Sapiens), e j tinha conhecimento do fogo. Eles possuam algumas ferramentas

    que pareciam no ter utilidade no cotidiano, podendo ser utenslios para

    cerimoniais.

    No Estgio do Homem de Neandertal, de 200.000a.C.a 75.000a.C.

    (ou 25.000a.C., no est bem determinado), j havia o domnio do fogo e o uso

    de vestimentas, alm do fato de a capacidade cerebral ser entre 1.250 a 1.750

    cm3. As evidncias mostram rituais predominantemente voltados caa, assim

    como mostram sepultamentos cerimoniais em posio fetal (volta ao tero),

    juntamente com mandbulas de javali, sendo esse um forte indcio da existncia

    de certos sacrifcios, os quais podem ser os primeiros ritos religiosos.

    O prximo Perodo, o Paleoltico Superior, inicia-se com o Estgio do

    Homem de Cro-Magnon, que viveu entre aproximadamente 30.000a.C. a 10.000

    a.C.. Estes andavam eretos e possuam uma capacidade cerebral superior a do

    Homo Sapiensentre 1.590 a 1.880 cm3. Uma das principais caractersticas do

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    Homem de Cro-Magnon era a fabricao de estatuetas femininas com os seios e

    quadris bem enfatizados, em clara aluso aos mistrios da fertilidade. Sodivididos em trs espcies diferentes, cada qual com distintos valores

    mitolgicos. Os Aurinhacenses possuam estatuetas femininas e deixaram

    inscritas muitas pinturas rupestres. Alm disso, realizavam seus rituais em

    cavernas, cuja simbologia representa a mesma esfera e substncia da noite, do

    cu noturno e das trevas. A outra espcie eram os Salutreanos que tambm

    possuam estatuetas de mulheres e tambm de animais. Por terem sidoencontradas abandonadas em grutas, acredita-se que os membros desse grupo

    podem ter seguido a linha dos Aurinhacenses. A ltima espcie eram os

    Madalenianos que tambm realizavam seus rituais em cavernas, embora tenham

    tido como principal dolo o Sol e algumas estrelas, alm de possurem

    capacidade cerebral igual a do homem contemporneo (1.500 cm3). O ltimo

    estgio desse perodo foi o Microltico-Capartano que se iniciou entre 30.000

    a.C.a 10.000 a.C.e terminou em 4.000 a.C.. Os povos dessa poca possuam

    forma expressiva de arte e realizaram inovaes na caa, alm de ser uma raa

    mais tecnolgica. Os Xams passaram a ser substitudos pelo grupo como

    detentores do poder sagrado e as cavernas continuavam a ser os locais dos

    rituais.

    Por fim, o ltimo perodo o Neoltico, no qual ocorreu o surgimento

    das civilizaes do Oriente prximo, de aproximadamente 7.500 a.C. a 2.500

    a.C. A origem dos motivos mitolgicos mais desenvolvidos aconteceu

    aproximadamente nesta poca, em meio a proteo dos vales e montanhas da

    sia Menor, Sria, Norte do Iraque e Ir, onde as tcnicas de agricultura e

    criao de gado foram se desenvolvendo, facilitando o surgimento de aldeias

    auto-suficientes. Essa pode ter sido uma das razes para o desenvolvimento do

    pensamento do ser humano que se vendo desobrigado das necessidades da

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    sobrevivncia, pde se sentir livre para desenvolver seus pensamentos,

    facilitando o surgimento das primeiras formas de cincia (CAMPBELL, 1992).Ainda existiam os cultos s foras femininas e apareciam as idias conscientes

    das oferendas aos deuses, almejando algo em troca. Desenvolveram-se tambm

    nesse momento os mitos da serpente. Neste perodo, inicia-se um conflito entre o

    poder masculino da conquista contra a fertilidade feminina que, como se viu

    anteriormente, era at ento o principal motivo dos rituais.

    Em relao a isso, CAMPBELL (2004), diz que em um perodoprimitivo, prevalecia uma ordem essencialmente orgnica e vegetal, no herica

    da natureza e das necessidades da vida ao contrrio do momento posterior

    dominado pelo mpeto guerreiro do patriarcado, onde tudo o que era bom e nobre

    estava associado aos novos senhores deuses hericos, deixando para os mortais

    apenas o carter de obscuridade. No matriarcado, os aspectos claros e obscuros

    da vida eram tratados iguais e conjuntamente como partes inerentes da

    existncia. Os ritos desse perodo no tinham o esprito alegre das festividades

    dos Jogos Atlticos e do teatro associados Grcia Clssica. Ao contrrio dos

    rituais celebrados na Grcia Clssica patriarcal, realizados em ricos templos, com

    carne de boi e dirigidos para cima, os sacrifcios Grande Me eram de porcos e

    por vezes de seres humanos, sempre dirigidos para baixo, para a terra, em

    arvoredos e campos sombrios, onde o pensamento fugia ao dou-te para que me

    d, mas dou-te para que parta. A imagem freqentemente escolhida era a da

    serpente. E foi justamente a serpente a vtima de todas as grandes batalhas das

    novas divindades masculinas. Alguns exemplos podem ser encontrados na

    Bblia, que narra a luta entre Jeov e Leviat, na poesia grega, que descreve a

    batalha entre Zeus e Tifo, e na ndia, entre Indra a Vritra. Em todos os casos era

    a serpente o monstro derrotado, smbolo do matriarcado, destruda pelo mpeto

    guerreiro do patriarcado.

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    Foi neste perodo que ocorreu a grande transio entre aqueles povos

    primitivos com as primeiras formaes de uma sociedade mais organizada. Emseu incio, no estgio do Protoneoltico, de 7.500 a.C.a 5.500a.C.,os homens

    ainda eram coletores e iniciou-se a domesticao de animais. J no Neoltico

    Basal, que vai de 5.500a.C. a 4.500a.C., comeou a haver um assentamento em

    pequenas aldeias e a manufatura de tecidos, cermica e casas. Nesta poca, as

    mulheres ocupavam um lugar de auxiliares simblicas do cultivo da terra.

    O estgio que segue o milnio seguinte, entre 4.500a.C. a 3.500a.C. o Neoltico Superior, onde h o aparecimento de um grande nmero de artefatos

    de cermica com desenhos e formas bastante elaboradas, prenunciando um

    grande desenvolvimento social e intelectual que estava por nascer. Isto de fato

    pode ser notado nos mil anos subseqentes at 2.500a.C. com o surgimento das

    cidades-estados hierrquicas. Nesse momento assiste-se ao surgimento das

    cincias, dos sacerdotes e inicia-se a observao das esferas celestes (teoria de

    organizao csmica a qual dividia os astros presos em sete diferentes esferas)

    com sua adaptao para a estrutura social da poca, o monarquismo, na qual o rei

    era considerado o centro da vida social tendo a cidade orbitando a sua volta,

    assim como a Terra est para os astros. Desenvolve-se tambm um sistema para

    medir o tempo pela posio dos astros e, concomitante a isso, surge a escrita, a

    roda e os sistemas de medio decimal e sexagenal (CAMPBELL, 1994).

    Nessa poca, na ilha de Creta, assistia-se uma continuao do culto

    Deusa-Me, enquanto no continente os povos patriarcais guerreiros realizavam

    conquistas e invases, com a conseqente transformao da cultura de

    conquistadores e conquistados. As invases Indo-europias vieram da regio

    situada ao norte do Mar Negro, onde viviam raas biologicamente diversas,

    muito embora falassem lnguas semelhantes. O surgimento do bronze favoreceu

    o desenvolvimento de utenslios e armas mais resistentes o que transformou a

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    vida destes povos, antes pacficos, levando-os a partir para a expanso, marcando

    este perodo com diversas formas de guerras.O encontro entre o masculino e o feminino na mitologia grega foi

    menos conflituoso, uma vez que na dinmica do panteo grego os deuses

    patriarcais no exterminaram as deusas locais, mas adotaram uma outra

    estratgia, desposando-as, dando incio a grande famlia Olmpica. A religio

    grega se desenvolveu a partir de ideais de duas populaes de raas diferentes, a

    pr-helnica e os indo-europeus. CAMPBELL (2004), afirma que uma diferenacrucial entre esses dois grupos pode ser sentida entre a religio

    predominantemente emocional da populao pr-helnica, que parece ter sido

    marcada por uma tendncia essencialmente mstica, e a religiosidade comedida

    dos invasores indo-europeus, que confiavam a seus deuses a proteo das leis

    no escritas de sua ordem patriarcal.

    O conflito entre essas duas formas religiosas pode ser observado no

    modelo da guerra grega entre Tits e deuses que simbolizava a batalha entre a

    cria escura da Grande Me, gerada pelo seu prprio poder feminino, contra os

    claros e brilhantes filhos secundrios, fecundados pelo macho. Esse foi um dos

    resultados da conquista dos invasores patriarcais nmades sob a ordem

    matriarcal local, como parte das reformulaes das tradies locais, que eles

    foram adaptando aos seus prprios fins. Esse tipo de ao chamado por

    CAMPBELL (2004) de difamao mitolgica, que consiste na redenominao

    dos deuses de outros povos, deixando-os em um nvel de inferioridade,

    normalmente associados a demnios, ao mesmo tempo em que elevam os seus

    prprios deuses ao domnio do Universo. Criam-se, ento, mitos primrios e

    secundrios para ilustrar a fraqueza e a malcia dos demnios e o poder e a

    majestade dos grandes deuses. Isso uma clara demonstrao da formao de

    uma nova estrutura do pensamento humano, estendido a um alcance universal. A

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    batalha entre os Deuses e os Tits representou a luta entre dois aspectos da

    psique humana e ocorreu em um momento crtico de sua histria, quando ossmbolos masculinos hericos claros e racionais superavam os misteriosos e

    obscuros smbolos femininos encravados no interior de seu prprio inconsciente.

    Por toda essa poca e por muito tempo ainda em um perodo posterior,

    insistia-se em pensar na divindade como uma espcie de fato, a noo de algo

    que simbolizava a transcendncia e os mistrios. Exemplos de tais prticas so

    animais como a Serpente e o Leo, enquanto a primeira representava a Lua, avida, a conscincia e o nascimento e a morte, o segundo significava o Sol, e

    como ele a vida absoluta. Eram figuras presentes em quase todas as culturas

    primitivas (CAMPBELL, 1990, 1992).

    Essa foi a herana e o quadro que os gregos receberam para

    desenvolver seu universo mitolgico. As inmeras semelhanas entre a mitologia

    grega e a Indonsia em sua estrutura, acusavam um princpio comum em um

    passado remoto. Essa condio no prerrogativa apenas dessas duas culturas,

    mas de muitas outras, uma vez que a mitologia e seus rituais buscam sempre por

    uma renovao do sacrifcio do prprio Deus no princpio, o que originou o

    mundo conhecido do qual todos fazemos parte. CAMPBELL (2004) atribui

    quatro funes mitologia: a primeira era de trazer a tona e sustentar um sentido

    de espanto diante dos mistrios da existncia; depois, de oferecer uma

    cosmologia que sustentar e ser sustentada por aquele sentido de espanto diante

    do mistrio de uma presena e da presena de um mistrio; a terceira era de

    garantir a ordem social vigente, para integrar organicamente o indivduo em seu

    grupo; e por fim a quarta, de introduzir o indivduo na ordem das realidades de

    sua prpria psique, orientando-a para seu prprio enriquecimento e realizao

    espiritual.

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    Os mitos, portanto, foram criados para validar costumes e sistemas de

    valores de sua sociedade, no como uma preocupao em descrever uma ordemfactual dos acontecimentos, mas apenas de dar um certo suporte sobrenatural a

    uma ordem social e um sistema de crenas. Como diz CAMPBELL (2004, p.

    110):

    Essa era, portanto como o e sempre foi, para aquelesem cujas mentes o bem de uma sociedade tem prioridade

    sobre a verdade , uma justificativa adequada paraqualquer fico que a mentalidade da poca pudesse estarpersuadida a aceitar.

    No incio, os poderes sagrados ficavam restritos nas mos de poucas

    pessoas escolhidas, os chamados xams, eram estes quem centralizavam as

    mensagens do mundo oculto e dirigiam os rituais. A subjugao dos xams pelos

    deuses e sacerdotes comeou com a vitria do estilo de vida Neoltico sobre oPaleoltico, e talvez j possam estar acabando hoje:

    Nesta poca de irreversvel transio da sociedade agrcolapara a industrial, quando no mais a devoo daagricultura, curvando-se humildemente diante dasvontades do calendrio e dos deuses da chuva e do Sol,para a magia dos laboratrios e foguetes espaciais, indo

    onde outrora foi lugar dos deuses, iluminavam a promessade benefcios futuros (CAMPBELL, 1992, p. 231).

    Mas no avancemos no tempo.

    O mesmo autor diz que um princpio fundamental da tradio crist fez

    parecer que era um ato de blasfmia comparar a bblia com elementos de outras

    mitologias no mesmo plano conceitual. Enquanto os mitos gregos eram

    reconhecidos como pertencentes a uma ordem natural, os da bblia eram

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    sobrenaturais. Os heris clssicos eram tidos como obras de fico, enquanto que

    os hebreus tinham que ter uma histria factual. interessante notar que aomesmo tempo em que h uma enorme bibliografia de pesquisas usando como

    referncia os fragmentos de mitos contidos na Bblia, os historiadores no ousam

    fazer o mesmo com os relatos de Homero ou Hesodo. Interpretar um poema

    como crnica da vida perder o essencial. Contudo, os elementos fabulosos

    comuns s duas tradies mediterrneas orientais, exatamente contemporneas,

    provm da precedente civilizao mesopotmica da Idade do Bronze. Tal origemacabar determinando o caminho de seu desenvolvimento.

    No incio, enquanto os homens ainda eram completamente

    dependentes das foras da natureza e no possuam qualquer conhecimento sobre

    suas manifestaes, o temor frente ao desconhecido embasava o respeito dirigido

    a deuses superiores.

    No perodo Paleoltico, exatamente como na idade muito posterior das

    primeiras sociedades agrcolas do Oriente prximo, o corpo feminino era

    vivenciado em sua prpria natureza como um foco de fora divina e um sistema

    de ritos era dedicado a seus mistrios (OTTO, 2005). Para as sociedades de

    caadores e agricultores, o conceito de terrra-me, como gestadora, nutridora e

    sepultadora, representava o retorno ao tero e, conforme o homem foi adquirindo

    uma maior conscincia, a imagem da mulher participativa fez com que o

    indivduo faltasse em suas funes masculinas e regredisse no sistema e no

    tempo, reativando o contexto assustador do tero materno e do pai temvel. Essa

    imagem norteou e sustentou (sustenta ainda, porque no?), um sistema no qual

    domina o patriarcado que, como veremos, se inicia com os gregos e se institui

    com os romanos.

    Segundo CAMPBELL (1994), a teologia grega no foi formulada por

    clrigos e nem mesmo por profetas, mas por artistas, poetas e filsofos. Ningum

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    ditava os termos da crena. Eram personificaes trazidas existncia pela

    criatividade e imaginao humana que, por sua vez, foram bastante influenciadaspelas culturas provenientes do Oriente prximo, sendo a ndia o principal bero

    dessas idias.

    Claro, cada sociedade desenvolveu sua rede simblica de acordo com

    suas realidades. No Oriente houve uma tendncia em valorizar a transcendncia,

    o pensamento e a imaginao, no podendo estes serem qualificados, enquanto

    no Ocidente a origem da existncia era normalmente creditada a um criador,sendo o homem sua criao, dois seres distintos. ZIMMER6, citado por

    CAMPBELL (2004, p. 191) corrobora essa afirmao ao observar que:

    A escultura grega desenvolveu-se, at seu pice deperfeio, por meio da representao dos belos corposatlticos de jovens e meninos que ganhavam trofus porlutar e correr nas competies religiosas nacionais deOlmpia e outros lugares. A indiana, em seu turno, noperodo de apogeu, apoiava-se nas experincias ntimas doorganismo vivo e nos mistrios do processo vital, queprovm da conscincia interior alcanadas pelas prticasiguicas (...) A arte grega resultou das experincias daviso; a indiana, das experincias da circulao do sangue.

    Na Grcia, o fato de os deuses, no princpio, serem filhos doCaos e da

    Terra, assim como os homens, no terem sido gerados por alguma fora criativa,mas foram surgindo como frutos espontneos e naturais de sua prpria ordem,

    facilitava essa forma de pensamento.

    Contudo, os mitos no podem ser entendidos simplesmente pelo seu

    sentido literal, e sim como uma expresso de concepes mais profundas, que

    procuram compreender o mundo de maneira espiritual, tal qual uma unidade.

    6 H. ZIMMER,TheArt of Indian sia, Concludo e editado por Joseph Campbell, Nova York, Pantheon Books,1955.

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    Como diz Joseph CAMPBELL (1994, p. 77), no comemos o cardpio

    confundindo as letras com aquilo a que elas querem representar, porque fazerisso com os deuses das diversas religies? Os smbolos permanecem como

    meios convenientes adaptados s necessidades de compreenso.

    Durante o desenvolvimento cultural do ser humano, as vrias culturas

    foram vivenciadas e comparadas, havendo ento uma tendncia inconsciente de

    julgamentos e eliminao das menos aprazveis, transformando as restantes. As

    religies possuem em comum o espanto frente a algo inexplicvel e a redeno esalvamento de um mundo que perdeu o brilho, ou seja, o Mito do Eterno

    Retornopresente em todas as manifestaes da natureza e das quatro idades da

    humanidade, que sempre em sua evoluo, tende ao pior, para apenas ressurgir.

    Conforme o pensamento humano foi se desenvolvendo, e com ele, as

    idias do sagrado, a identificao do divino passou a deixar um plano terreno,

    visualizado na figura do Rei, para um plano ultraterreno. Com isso, o Rei deixou

    de ser deus para ser apenas um servo Dele. O homem no tinha sido feito para

    ser Deus, mas para conhec-lo, honr-lo e servi-lo, de modo que o prprio Rei, a

    anterior personificao do divino na Terra, era agora apenas um sacerdote

    oferecendo sacrifcios quele acima, no a si prprio. Essa ligao do homem

    com o divino o que se denomina de religio.

    Seu incio se deu provavelmente com a adorao das foras da

    natureza. No Oriente prximo, como vimos, foram encontradas estatuetas de

    cerca de 4.500 a.C., que possivelmente representavam o Touro, induzindo a

    representao da deusa Terra sendo fertilizada pelo Touro Lua. Por volta de

    3.500 a.C., com a passagem da caa para a agricultura e domesticao de

    animais, o homem pde usar mais de seu tempo para pensar e contemplar a

    natureza de forma racionalizada, afetando as formas e funes dos rituais.

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    Nas vrias civilizaes, as diferentes culturas fizeram com que

    aparecessem diversas manifestaes dessa mesma estrutura. No Egito que,provavelmente, foi ocupado por povos tambm oriundos do Oriente prximo,

    existia a figura do Fara, o deus vivente, o centro, a sntese da esfera (do prprio

    universo) na qual atuam os pares de opostos e, por isso, acompanh-lo na morte

    era o mesmo que permanecer em vida. Esses soberanos eram conhecidos como

    os dois senhores, um sistema baseado na crena de que o Rei, embora fsico,

    tinha um corpo divino, uma pessoa com duas naturezas, tal como defendeKANTOROWICZ (1998) em seu trabalho Os dois corpos do Rei. Associado a

    esse quadro, ou ainda fundamentando esse quadro, vinha a idia de que se o Rei

    era um escolhido de Deus e defendia este reino, eu perteno a esse reino e,

    portanto, eu perteno a Deus. Apesar de se auto proclamar um deus, no o era

    verdadeiramente, e o culto ao seu eu depois da morte procurava apenas

    assegurar-lhe as condies semelhantes s que tinha em vida.

    As civilizaes do Vale do Indo (2.500 a 1.500a.C.) realizavam cultos

    Deusa-Me at um perodo muito superior, e em nenhum outro lugar do mundo

    foi to elaborado e desenvolvido. Depois veio o Perodo Vdico (1.500 a 500

    a.C.), dominado por cavalheiros com gana de expanso. Por isso, os cultos que

    no incio eram ao Touro e Grande Deusa (fertilidade), posteriormente passaram

    ao Leo, que devorava o Touro, tal como um guerreiro. E s bem depois veio a

    Ioga.

    Ouve uma grande crise espiritual na ndia depois da chegada dos Indo-

    europeus, momento em que o mito comum comeou a se tornar filosofia, dando

    origem ao perodo dos Vedas, uma coletnea de hinos nos quais se manifesta o

    conhecimento (Vedas, do snscrito ved conhecimento). A semelhana da

    mitologia indiana com a grega fica clara na frase de Alexandre, O Grande, que

    diz, aquele a quemchamamos de Zeus, vocs chamamde Indra. A mitologia

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    da ndia caminhava por um relacionamento nico com a natureza, personificado

    pelo budismo, baseado no desejo e no medo. O desejo ilusrio e medo da perdaeram as duas circunstncias que faziam com que o indivduo no sentisse sua

    existncia e, afastando-se disso, atingia o Nirvana. O Budismo expandiu-se para

    o Oriente e na China transformou-se no confucionismo, que pregava a unio com

    sua sociedade (CAMPBELL, 1997).

    O medo imposto atravs dos cerimoniais e poderes aparentes de seus

    encantamentos vdicos foi o meio utilizado pela casta sacerdotal da ndia paraconquistar superioridade sobre a nobreza. No incio, prevalecia a splica aos

    deuses e, depois, vieram os poderes atravs da fora dos rituais. A base

    mitolgica dos cultos da ndia e da Grcia era muito semelhante. As lutas de

    Siva e, posteriormente, o domnio e poderio de Indra eram muito parecidos com

    toda a Titanomaquia grega, na qual Zeus assumiu o controle do mundo, e

    semelhana do Olimpo, os deuses indianos tinham como principal morada o

    Monte Sumeru. Um dos fatores da diferena no desenvolvimento das duas

    mitologias foi que enquanto as guas do Mediterrneo convidavam os gregos a

    conhecerem seus horizontes, a vastido das terras e montanhas da ndia era

    sempre motivo de medo e apreenso frente a chegada de uma fora infinitamente

    superior a dos homens. Ento, de um lado tem-se a esfera europia, com a

    progressiva segurana do homem em um mundo onde ele poderia se sentir em

    casa, na qual os deuses e os mitos de herana arcaica ganharam uma forma

    antropomrfica. De outro lado, a ndia, onde o aspecto de espanto, o grande

    medo e poder exterior, a fora sobre-humana e a sublimidade transcendente

    alcanaram tal proporo que mesmo no corao do homem a humanidade se

    dissolveu e nela penetrou a inumanidade de Deus (CAMPBELL, 1994). Esse

    ambiente mostrou-se ideal para o aparecimento da Yoga como prtica

    transcendente, j que sua autoria atribuda a Siva (SINGH, 1990), e o

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    surgimento do budismo. Aqui tambm encontramos antigos jogos simblicos

    para marcar particularidades das estaes.Foi justamente no Oriente prximo nuclear, particularmente na Sria,

    que a civilizao bsica de Creta se originou e, para CAMPBELL (1994), por

    mais original e nica que parea qualquer uma das antigas civilizaes, nenhuma

    surgiu independentemente de forma espontnea. Havia um grande movimento

    histrico, uma concatenao de movimentos que se irradiavam de uma mesma

    fonte.Portanto, os mitos, os smbolos e os ritos exprimem, em planos

    diferentes e com os meios que lhes so prprios, um sistema complexo de

    afirmaes coerentes sobre a realidade ltima das coisas.

    Para o homem arcaico, a realidade funo da imitao de um

    arqutipo celeste. Os rituais e os gestos profanos significativos s assumem o

    significado que lhes so atribudos por repetio deliberada desses atos

    praticados na origem por deuses, heris ou antepassados. Estamos sempre

    ligados a um lugar sagrado, muitas vezes identificado como o centro do mundo,

    o qual Mircea ELIADE (1969) chamou de Simbolismo do Centro e, sendo um

    Axis Mundi, a cidade ou o templo sagrado so considerados como ponto de

    encontro entre o cu, a terra e o inferno. O centro se torna a zona sagrada por

    excelncia, da realidade absoluta.

    Qualquer ao com significado determinado participar do sagrado, e

    apenas so profanas aquelas que no possuem um significado mtico. A repetio

    uma reatualizao dessas aes sagradas e todos os atos importantes da vida

    cotidiana foram revelados na origem por heris ou deuses. Ao repetir o sacrifcio

    arquetpico, o sacrificador abandona o tempo profano e entra no imortal.

    Conseqentemente, a imitao de um modelo arquetpico uma reatualizao do

    momento mtico em que o arqutipo foi realizado pela primeira vez, de forma

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    que todos os rituais imitam um arqutipo divino cuja reatualizao contnua

    decorre num s e nico instante mtico a-temporal.O Cosmos e o Homem se regeneram constantemente e por todos os

    meios, o passado consumado, os males e os pecados eliminados, etc. Mltiplos

    nas suas formas, todos esses instrumentos de renovao tendem para os mesmos

    objetivos, isto , anular o tempo passado atravs de um retorno contnuo no

    tempo, pela repetio do ato cosmognico. Tal como o mstico e o religioso, o

    primitivo vivia num presente contnuo e, pela repetio, vivia continuamente emum presente a-temporal.

    Ainda de acordo com ELIADE (1969), o passado no mais que a

    prefigurao do futuro, nenhum acontecimento irreversvel, nenhuma

    transformao definitiva. De certo modo, podemos at afirmar que no mundo

    no se produz nada de novo, pois tudo consiste na repetio dos mesmos

    arqutipos primordiais. Essa reatualizao, ao atualizar o momento mtico em

    que o gesto arquetpico foi revelado, mantm continuamente o mundo no mesmo

    instante auroral do princpio. O tempo apenas possibilita o aparecimento e a

    existncia das coisas e no tem qualquer influncia decisiva sobre essa

    existncia, dado que ele prprio se regenera constantemente.

    Podemos falar que esse comportamento corresponde a um esforo

    desesperado para no perder o contato com o ser (ELIADE, 1969).

    No Ocidente ps-Aristotlico houve uma investida gradual contra as

    idias mitolgicas, e com isso, o satricismo ocidental tendeu a se distanciar das

    idias elementares. Conforme foi se ampliando o conhecimento, mais cresceu

    essa distncia.

    Para concluir, vimos que a mitologia e o ritual levam a uma

    transformao do indivduo, desprendendo-o de sua condio histrica local e

    conduzindo-o para algum tipo de experincia inefvel. Funciona como um tipo

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    de idia tnica e, por outro lado, a imagem prende o indivduo ao seu sistema

    familiar de valores, atividades e crenas historicamente condicionadas.Os smbolos mitolgicos transmitem uma vivncia do inefvel atravs

    do concreto, e assim, paradoxalmente, ampliam a fora e a atrao das formas

    locais, ao mesmo tempo em que conduzem a mente para alm dela.

    A mitologia e, portanto, a civilizao, uma imagem potica

    supranormal, concebida, como toda poesia, em profundidade, mas suscetvel de

    interpretaes em vrios nveis (CAMPBELL, 1992). E justamente poesiaque devemos o passado mitolgico da Grcia.

    4.4 MitologiaGrega

    Os cultos religiosos tiveram incio na Grcia muito antes do perodo

    helnico. BRANDO (1996) afirma que os habitantes primitivos da regio

    realizavam cultos nos diversos santurios sagrados em honra a certos poderes

    sobre-humanos e desconhecidos. Estes lugares eram inicialmente covas e

    espaos ilustres e s posteriormente foram construdos templos para consagrar

    uma divindade. Nas covas, geralmente de origem vulcnica, foram depois

    institudos Orculos em uma poca bem primitiva, baseados na crena de que do

    interior da terra surgiam revelaes sobrenaturais. As emanaes de gs

    carbnico e as fumaas que surgiam das fendas rochosas aumentavam o temor e

    a venerao do visitante. Os santurios eram normalmente em stios ao ar livre e

    continham um espao pblico, um altar para sacrifcios e uma esttua para o

    culto. As destinaes especficas de cada santurio exigiam instalaes

    particulares. Os principais cultos religiosos, em um perodo posterior, estiveram

    intimamente ligados a eventos de cunho atltico, para tanto, possuam

    instalaes esportivas e alojamentos para visitantes, banhos e salas de reunies.

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    Para entender o motivo dessa relao necessrio tomar conhecimento de como

    se desenvolveu a religio grega assim como toda a sua mitologia, usando comobase o trabalho de BRANDO (1996, 1997, 1998).

    No incio existia o Caos, uma massa disforme e confusa. Era a

    personificao do vazio primordial, anterior a criao, quando a ordem ainda no

    havia sido imposta aos elementos do mundo. Do Caos, surgiram as trs primeiras

    divindades Gea, Trtaro e Eros. A primeira estava ligada a terra, era a Deusa-

    Me representando a fertilidade. O segundo estava relacionado a mais profundadas entranhas da terra e o ltimo representava o amor, a fora invisvel de unio

    entre os seres, garantindo a continuidade da natureza. Do Caos ainda, surgiram

    rebo e Nix, representando respectivamente as trevas e a noite. De Nix, vieram

    ter e Hemera, representando a luz do cu e o dia.

    Gea, deusa da fertilidade, sozinha gerou Urano (cu), Montes

    (montanhas) e Pontos (mar). Urano representava o cu e tambm a chuva, com

    isso, fecundou Gea, e dessa unio surgiram os Tits, manifestaes elementares,

    as foras selvagens e insubmissas a natureza. Destes, os mais importantes foram

    Oceano (gua) e Cronos (tempo), que mais tarde mutilaria seu pai, tomando seu

    lugar. Ainda dessa unio, surgiram as Titanidas (Teia - me do sol, aurora;

    Temis - leis divinas; Mnemsina - memria; Ttis - fecundidade martima; e a

    mais importante, Ria, me dos quatro elementos e futura esposa de Cronos), os

    Cclopes, demnios das tempestades (Brontes - trovo; Estrope - relmpago, e

    Arges - raio) e os Hecatoquiros. Urano, sempre que gerava um filho, no mesmo

    instante procurava mergulh-lo de novo no seio da Terra (manifestaes

    provenientes do cu que desapareciam sem se saber para onde foram), at que

    sua esposa, a prpria Terra, irritada com isso, instigou os Tits contra ele. Nessa

    desavena, Cronos mutila seu pai Urano, que deixa cair parte de seu smen sobre

    a Terra, gerando os Gigantes, mortais, representantes das foras nascidas na

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    natureza, que poderiam ser mortos desde que fossem com foras combinadas

    entre as de um mortal com as de um imortal. A outra parte do smen de Urano seesparrama pelo mar, gerando as ninfas, personificaes femininas secundrias,

    que representavam a natureza e sua fertilidade.

    A segunda gerao divina deu-se, ento, com Cronos, o tempo

    personificado, e Ria, antiga deusa cretense da fertilidade. Da surgiram mais

    seis deuses, trs mulheres, Hstia (fogo que tudo purifica), Hera (deusa da

    fecundidade) e Demter (deusa e me da terra cultivada), e mais trs homens -Hades, Poseidon e Zeus - que mais tarde disputariam o governo do mundo. Ao

    destronar seu pai, Cronos foi por este advertido que o mesmo lhe sucederia. Por

    este motivo, assim que Ria gerava seus filhos, Cronos os devorava (o tempo a

    tudo destri desde seu nascimento). Desta forma, Ria conseguiu proteger o

    ltimo dos filhos, Zeus, oferecendo ao marido, momentos depois do parto, uma

    pedra no lugar do beb, que fora enviado a Creta para ser cuidado. Ao atingir a

    idade adulta, o filho iniciou uma batalha contra seu pai, mas no sem antes lhe

    dar uma droga que o fez vomitar todos os seus filhos devorados at ento. Essa

    batalha, tal como descrita por Hesodo emA Teogonia, envolveu todos os deuses

    do Olimpo e, assim que teve seu desfecho e a ordem voltou ao mundo, Zeus

    passou a ter poder supremo sobre o Universo, Hades se tornou senhor das

    entranhas da terra e Poseidon o senhor das guas subterrneas e martimas.

    Zeus j era a suprema divindade da maioria dos povos indo-europeus

    e, com isso, juntamente com suas batalhas pessoais, j vinha acompanhando as

    batalhas desses povos pelas conquistas territoriais. Ele conseguiu unir em uma s

    personagem os ideais de virilidade masculinos com os ideais de fertilidade,

    principalmente feminino. Seus poderes estavam associados fora da

    tempestade, por meio do poder do raio, ao mesmo tempo em que a gua da

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