espiritualidade no século xxi_educação, saúde e arte_volume 2

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Educação, Saúde e Arte Espiritualidade no Século XXI Volume 2

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Page 1: Espiritualidade no Século XXI_Educação, Saúde e Arte_Volume 2

Educação, Saúde e Arte

Espiritualidade no Século XXI

Volume 2

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Espiritualidade no Século XXI: Educação, Saúde e Arte

Organização:Rogério Hetmanek e Andréa Tomita

São Paulo – Novembro de 2012

Volume 2

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copyright © 2011 Fundação Mokiti OkadaEspiritualidade no Século XXI: Educação, Saúde e Arte

Volume 2 – 2012

Organização: Rogério Hetmanek e Andréa TomitaEquipe técnica

Andréa Santiago TomitaDeborah VogelsangerEdiléia Mota Diniz

Rosana C. B. CavalcantiMaria de Lourdes dos Santos

Capa: Rogério Camara e Sérgio CarnierFoto da capa: Hélcio Renato

Revisão: Maria Alice da CostaDiagramação: Maria de Lourdes dos Santos

A opinião dos pesquisadores não necessariamente reflete a da Fundação Mokiti Okada oua da Faculdade Messiânica. Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.

Rua Morgado de Mateus, 77, Vila Mariana – 4º andarSão Paulo – SP – CEP 04015-050 – Tel. (11) 5087-5030

e-mail: [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Espiritualidade no Século XXI : educação, saúde e arte, volume II / organização,Rogério Hetmanek, Andréa Tomita – São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2012.

ISBN 978-85-88173-80-4

1. Arte 2. Cultura 3. Espiritualidade 4. Prática de ensino 5. Professores – For-mação 6. Religiosidade 7. Saúde I. Hetmanek, Rogério. II. Tomita, Andréa.

11-12544 CDD-370.114Índices para catálogo sistemático:

1. Educação e espiritualidade 370.1142. Educação e religiosidade 370.114

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Apresentação 5

ConferênCias e MiniCursos

AutoconhecimentoeConsciência 7Ruy Cezar do Espírito Santo

Entrelaçamentosentreodesenvolvimentoinfantileareligiosidadedacriança:umnovoolhar 21

Maria Inês AubertEnfrentamentoreligiosonasaúdeenadoença 39

Geraldo José de Paiva

CoMuniCações

Educação

Umolhardafilosofiadareligião,pelasconcepçõesdeFranzRosenzweigeJacobLevyMoreno,paraousodopsicodramanaeducação 45

Maria Teresa da Silva Teixeira Pinto

Sensibilizaçãoartísticacomocaminhodeconscientizaçãosocioambiental:mapeandoefomentandoaçõesentremulheres 57

Andréa Gomes Santiago TomitaEspiritualidadedaóticamessiânica 71

Verônica Hayako Nagae

CapacitaçãoparaimplantaçãodehortaescolarnasApaesdeMatoGrossodoSul(MS):ométodonaturalsubstituindooconvencional 81

Maria Aparecida Lemes Reis, Sandra Rosani Martins AlcântaraEmerson Pereira Coghi e Paulo Roberto Ribeiro Chagas

Índice

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ContribuiçõesdePauloFreirenaEJAenaConstruçãodeumProjetodeVida 91

Ethel Elzon e Juliana Santos Graciani

SaúdE

Alimentaçãonasreligiõesorientaiseabordagemmultidisciplinarparaarecuperaçãodasaúde:desintoxicaçãoorgânica 111

Liliana Beat

Atividadefísicaparaummundomelhor:nastrilhasdaespiritualidade 139

Eliete Maria Silva Cardozo e Julio Vicente da Costa Neto

Práticasmessiânicaseenfrentamentodeperdaseconflitosfamiliares 159

Maria Genoveva Armelin

AgriculturanaturalemAngola:avozdosgestores 169Marcelo de Sousa Corrêa, André Faria de Pereira Neto e Carmem Luiza Cabral Marinho

artE

Arteesalvação:umbreveestudodaartesobreavisãomessiânica,muçulmana,católicaebudista 185

Guilherme de Andrade Moraes Santana e Celso Araújo Machado

Dasrelaçõesentreciência,arteeespiritualidade:oconceitodebelonafísicacontemporânea 195

Vinicius Carvalho da Silva

CançãogospelcomomidiatizadoradaBoladeNeveChurch 209Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho

Umdesigninteriorcommaisharmoniaebeleza 217Rosângela Gallucc

Ecoarquiteturaefilosofiaokadiana:algumassimilaridades 223Paula Helena da Costa Garcia

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Apresentação

Educação,saúdeeartesãotemasimportantesnavidahumanaegeralmentetêm sido apresentados, ao longo dos tempos, como aspectos não

relacionadosentresi.Porém,ostemposatuaismostramumainterligaçãoentreeles,especialmentequandosãovistoscomolhardirigidoparaamissãoqueelesdesempenhamnavidadecadaserhumano:adeelevaçãodaespiritualidade.

Naciência,avisãomaterialistatemprevalecido,muitasvezes.Contudo,paracompreenderavida–omaiordetodososmistérios–,nãopodemosdesprezaraperspectivaespiritualista,poisavivênciahumanacomportaoutrasrealidades.

Compreendemos espiritualidade como toda vivência que conduz aoautoconhecimento e à mudança profunda no interior do ser humano.Reconhecendoadinâmicadasrealidadesinvisível,perceptívelevisívelnavidacotidiana,vamospercorrendoo“caminhodaespiritualidade”comnaturalidadeeexperimentandováriaspossibilidadesdeintegração:pessoal,interpessoalecomanaturezadasdiferentesformasdeexistência.

Observandooestadocaóticoedesordenadocaracterísticodaatualidade,nósnosperguntamos:comoseriapossívelconcretizaraespiritualidadenoscamposda educação, saúde e arte, conduzindo o ser humano à compreensão de suaverdadeiranaturezaemissãonestemundo?

Oobjetivodaverdadeiraeducaçãoécontribuirparaumaformaçãointegraldo ser humano.A saúde é o elemento decisivo para que o ser humanopossadesempenhar suamissãonestemundo.Aarte representaa compreensãomaisprofunda e as mais altas aspirações do Criador. Juntos e da perspectiva daespiritualidade, esses três temas se relacionam diretamente à evolução e àcompreensãodaverdadeiramissãodoserhumano.

O SeminárioNacional “Espiritualidade no SéculoXXI: Educação, Saúde

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e Arte”, realizado em 18 e 19 de novembro de 2011, objetivou apresentar ediscutiraespiritualidadenaeducação,saúdeeartecomotemarelevanteparaasociedadecontemporânea.Tendoemmenteoserhumanocomoumserintegral,pesquisadoresdediferentesáreasdiscutiramanecessidadedodesenvolvimentoespiritual ematerialdo serhumanoapartirdeumolhar interdisciplinar.Estelivrocontémpartedostrabalhosapresentadoseconstituiumvaliosomaterialdereferênciaparaareflexãoeconscientizaçãodoimportantepapeldaespiritualidadenavidadecadapessoaedacoletividade.

Boaleitura!

Dra. Andréa TomitaCoordenação Acadêmica

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RuyCezardoEspíritoSanto1

Resumo: Oconteúdodapalestradirárespeitoàsraízesdaespiritualidadenaeducação,quesevinculam,ameuver,àquestãodoautoconhecimen-to,quenodizerdeSócrateséo“princípiodetodaasabedoria”.Buscareidesvelaropercursohistóricodaeducaçãoestabelecendoumparaleloentreodesenvolvimentopessoaleodesenvolvimentodaprópriahumanidade,comoumtodo.Procurareimostraromomentoqueestamosvivendoapar-tir da vindapara a educaçãoda ideia consubstanciadana colocaçãodePauloFreire,dentreoutros,do“conscientizarantesdealfabetizar”,quenomeuentendimentoenvolveapercepçãodaespiritualidade.Palavras-chave: educação,espiritualidade,conscientização.

OséculoXXsignificouoiníciodeumanovaera,especialmenteapar-tirde1945,quandoexplodiramasbombasatômicas,nofimdaSegundaGuerraMundial.

Eraofimdeumaépoca,quedenomino“adolescência”dahumanida-de,sendocertoqueo“adolescentehumano”percebeuquepodia“destruiroplaneta”.(...)

Observequeaguerraocorreunoaugedoquechameideadolescência,naqualo“quemmandasoueu”cristalizou-seem figurasautoritáriaseditatoriaiscomoHitler,Mussolini,Stalin,Tito,Franco,Salazareissoso-menteparafalardaEuropa,omaiscivilizadocontinente!(...)

1.Doutor em Filosofia da Educação pela Unicamp e docente da Pontifícia Universida-de Católica de São Paulo <[email protected]>.

Conferências e Minicursos

AutoconhecimentoeConsciência

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PoucoantesdaSegundaGuerraMundial, o filósofo epaleontólogoTeilharddeChardin(1881–1955)salientava,profeticamente,emsuaobraFenômeno humano,queoserhumano,apóspercorrerlongamenteocami-nhodaanálise,chegavafinalmenteàluminosasíntese.Ouseja,aquiloquecontemporaneamenteéchamado,pormuitos,devisãoholísticadavida.Nessamesmaobra,emqueChardinapontaparaofenômenodeumanovaépoca,ocorriaaquiloqueeledenominavacomooinícioda“consciencia-lização”,ouseja,umatomadaprofundadeconsciênciadoserhumano,arespeitodavida:oponto ômega comoelemesmoassimodefiniu.

Curiosamente,outroprofeta,destaveznaeducação,PauloFreire,afir-mava,anosdepois,“queantesdealfabetizareraprecisoconscientizar”.

Naverdade,asduasafirmativasnosconduzemaperceberque, real-mente,umnovomomentoteminícionahistóriadahumanidade:odesen-volvimentodaconsciência.

Por isso, o surgimento da Unesco, o avanço da ecologia, as tantasONGshojepresentes,comênfasenosdireitoshumanos.

Deminhaparte,vejotambémoiníciodocaminhoemdireçãoaoau-toconhecimentoa consciência de si mesmo–,ouseja,odesenvolvimen-todasecularprofeciadeSócrates,queemseuconhecidoaforismodizia:“Conhece-teatimesmoéoprincípiodetodaasabedoria”.Constatei,den-tre outros sinais, que, pela primeira veznumauniversidade, no casonaPUC-SP,eraaceitaacriação,naáreadaeducação,deumacadeiraeletiva,quedesenvolvidesdeosanos1990,denominada“oautoconhecimentonaformaçãodoeducador”.

Sevoltarmosàhistória,vamosconstatarqueahumanidadeviveuatéoanozero,umperíodoquecorresponderiaàsua infância.JesusCristo,quefoiomarcodecisivonoreiníciodacontagemdostempos,referindo-seaopassado,afirmava:“Osantigosdiziam:olhoporolho,dentepordente;euvosdigoamaiosinimigos”(EvangelhodeMateus20,43).Séculosan-tes,profeticamente,Sócrates,aquijámencionado,eoutrosfilósofos,comoPlatão,trazemumdespertarparaatranscendênciadoserhumano.Eraoiníciodotempoaqueacimamereferi,comooperíodode“adolescência”doserhumano,quevaiatéocitadoano1945.

Astradiçõessurgidas,emsuamaiorpartetambémemtornodoanozerodenossaépoca,comoocristianismo,igualmenteapontavamparaatranscendênciadoserhumano.Naturalmente,foramvinteséculosdeper-curso,atéchegaràvivênciadeumaconscientização,comoanunciadoporPauloFreire,oudaconsciencializaçãoapontadaporChardin.

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Nestemomento, sinto que estamos no início de umanova era, quedenominariamaturidade do ser humano.Claroquevamosconviveraindacommuitosadolescentes...Nãoesqueçamosque foramvinteséculosdeadolescência...Naverdade,oquechamodematuridadeestáinseridonocontextodeconscientizaçãoouconsciencializaçãocomojáreferidoe,se-guramente,issoimplicatambémnumlongocaminhar...

ApsicólogajunguianaJeanHouston,emsuaobraA busca do ser amado,conformeciteiemmeulivroRenascimento do sagrado na educação,napágina21/22,assimcolocaaquestão:

Oqueestáocorrendo,acredito,estámuitolongedaquiloquesetemchamadode“mudançadeparadigma”.Trata-sedetransiçãodesistematotal,umamu-dançanaprópriarealidade.Enquantoumamudançadeparadigmapoderiasercomparadaaogirardeumcaleidoscópioeobservaraspeçasdistribuindo-sedeacordocomumnovopadrãoecomnovasrelaçõesentreelas.Atransiçãosistema-totaldemandaria a inclusão,no todo,depeças inteiramentenovas.Atémesmoomundo estámudandonumnível profundamente ontológico;estruturasfundamentaisnãosãomaisoquecostumavamser.

Vê-secomoHoustondistingueoqueseriatãosomenteumamudançaparadigmáticadoiníciodeumanovaépoca!

Asimplesexistênciadeorganizaçõesnãogovernamentaisrevela,porsisó,comooserhumanoseorganizaindependentementedeumaigreja,um“partido”ou“governo”,ouseja,atomadadeconsciênciaindividualconduzapessoaaorganizarouparticipardeumorganismo,quebusquearealizaçãodaquiloqueacredita.Emoutraspalavras,nãoseficamaisàesperadeleisouordensque“devamsercumpridas”.Seguramente,éumamudançaradical,que,comoafirmaHouston,é“umamudançadaprópriarealidade”...

Curiosaesincronisticamente,énestemomento,em1945,quevaisurgirnoJapão,ondeexplodiramasbombasatômicasaIgrejaMessiânica,comumamensagemvoltadaparaesteiníciodeumnovotempoparaahuma-nidade.

Nessemesmomomento,ofísicoeprofessoruniversitárioBrianSwim-me(1950-),emsuaobraOuniversoéumdragãoverde,assimsemanifesta:

Nossacivilizaçãomodernacomeçoucomumaespéciedeesquizofreniacultu-ral.Nossapesquisacientíficaefetivamentedesvinculou-se,noiníciodoperío-domoderno,denossastradiçõeshumanistas-espirituais,porboasrazões,semdúvida,mashojeaneuroseseespalhoupordiversoscontinentes.Emaranha-

Conferências e Minicursos

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dosnamaisterrificantepatologiadahistóriadahumanidade,talvezpossamosnosatreveraperguntarsefoirealmenteboaessaideia,essafragmentaçãodouniverso.Asciênciasmostraram-seeficientesemsuasformulaçõesmecanicistase,as-sim,seentrincheiravamnomecanicismo.Nossatradiçãoreligiosa,cautelosa-menterefugiadanumaorientaçãoderedençãoedeumaCriaçãoacabada,nãoeradeseuinteresse.Aculturaocidentalresolveutrilharocaminhoquelevaaumaenfermidadeinevitávelecadavezmaisprofunda.Noentanto,algoextraordinárioestáocorrendoemnossaépoca;algoquetemopoderdepôrumfimaesseimpasse.Refiro-meàtransformaçãoradicaldanossavisãobásicadomundo,àmedidaqueahistóriacósmicadasnossasori-gensedonossodesenvolvimentoseafirmanaconsciênciahumana.Dequemodoacompreensãomaisprofundanosdápoderes?Possibilitando-nosreinventarohomemnocontextodanovahistóriacósmica.(p.10-11)

Essedesenvolvimento,queseafirmanaconsciência,comoreferidoporSwimme,precisasertrazidoparaaeducação,comoapontadoporFreire,masnãobasta“anunciar”,comojáfoifeito.Agora,trata-sedetrazerissopara o cotidianodas escolas ou outros contextos educativos.Ou ainda,comodescritoanteriormente,“reinventarohomem”.Énessesentidoquevejoasquestõesdeconscientizaçãoouconsciencializaçãomencionadas.

Háumaquestãode fundo, a serdesvelada,quediz respeitoàmen-sagemoriundadastradiçõesnoanozero,equechamavaoserhumanoparaumaformadecrença.Ora,ocorreque,curiosaesincronisticamente,nomesmoano,1945,emqueexplodiramasbombasatômicasequesituocomoummarcodofimdeumaépoca,surgemnodesertodeNagHamadi,noEgito,oschamadosEvangelhosApócrifos,queindicamparaumamen-sagemdedoismilanosatrás,tambémrelativaàstradições,comadiferençadeapontarnãomaisnadireçãodeumacrença,massimdeumsaber.Ouseja,ahumanidadecaminhouduranteoperíodoaquidenominado“ado-lescência”numalinhade“crenças”eagora,numanovaépoca,iniciamosoCaminho do Saber.

Nãohánadade“errado”nasocorrênciasdosvinteséculospassados,sendocertoquetodooprocessohavidofoiindispensávelparachegarmosaomomento presente, com as constatações que estamos delineando. Ébomlembrarque“errar”éandar,o“errante”éaquelequeanda...Odesen-volvimentodaconsciênciahumanaprecisavapassarpelasfasesjávividas,parachegarmosaomomentoemquevivemos.AciênciadoséculoXX,es-pecialmenteapartirdeEinstein,járevelavaossinaisda“maturidade”quesugiro.Éevidenteque,quandoenfrentamosasquestõesligadasàtranscen-

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dência,temosdedimensionarosegundograndeaforismodeSócratesquenosdizia:“Osábioéaquelequesabequenadasabe”.(...)Simomistériodo “numinoso” dos planos doCriador a nosso respeito sempre escapa-ráanossapura racionalidade.Aliás,hoje, físicoscomoFritjof Capra jáapontamparauma“ciênciadomistério”.MesmoSwimmejáreferido,namesmaobradeondetranscrevemostextoanterior,afirmanapágina20/21:

Agrandemaravilha é quenessa jornada empírica, racionalda ciêncianãodeviaternenhumcontatocomastradiçõesespiritualistas.Contudo,nonossoséculooperíodomecanicistadaciênciapermitiuainclusãodeumaciênciadomistério:oencontrocomasupremaciadanãoexistência,queésimultanea-mente,umreinodepotencialidadegenerativa...VejaqueSwimmeconduzàciência,aconsiderarumaafirmaçãoda

tradiçãojudaico-cristãdeque“noprincípioeraocaos...”,ouseja,avidateriasidogeradapeloVerboCriadorapartirdo“Nada”oudo“CaosPri-mordial”...Observeasimilitudedasafirmações!

Seráimportanteconsignaraquiquesempreexistiramgrupos,chama-dos“gnósticos”,ligadosàmensagemcontidanosEvangelhosApócrifos,masquesempre foramperseguidospelas igrejasdominantese fundadosnacrença,exclusivamente.Talcrençajánãoseriaapenasnosseresilumi-nadosdoanozero,ounumDeustranscendente,masnasigrejas,queseapresentavamcomoportadorasdaverdade.Aindaaqui,tratou-sedeetapapertinenteaoquedenominofasedeadolescênciadahumanidade.Foioindispensável“errar”...

Aperseguiçãodurouquasetodoperíodo,doanozeroatéoséculoXX.Assimosgrupos“gnósticos”viveram,emsuamaioria,emabsolutaclan-destinidade.Osqueeram“descobertos”,comoosCátaros,porexemplo,erameliminadosouperseguidos.

AciêncianoiníciodoséculoXX,comojámencionadoaqui,nostrazcontribuiçõesincríveisparaessavisãodo“conhecimento”oudaamplia-çãodaconsciência,comoalgumasjáreferidas.Éomomentoquepodemossituarcomoo“encontrodaciênciacomafé”.

Começando com Freud, no campo da psicologia, que veio apontarparaumarealidadesubjetivaouinconscientenoserhumano,queabrigavaquantodesofrimentosreprimidos,especialmentedenaturezasexual,equeimpediamoplenodesenvolvimentodaconsciência.Na sequencia, Jungvaiadiantedesvelandoaexistêncianãosóderepressões,comoastrazidasporFreud,masdeumarealidadequechamoude“numinosa”(espiritual),

Conferências e Minicursos

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tambémpresentenoinconsciente.SeguramentecoincidiacomaquiloquenoEvangelhodeJoãoédescritocomo“ALuzverdadeiraquehabitaemcadahomemquevemaestemundo”. (...) (Evangelhode João1,9)Talrealidade,presenteatéentãosomentenoinconsciente,eraacausamaisre-levantedadificuldadedoplenodesenvolvimentodaconsciênciahumana!Evidentemente,ostraumasanunciadosporFreudpoderiamserresolvidospelasterapiasnascenteseo“numinoso”,aespiritualidadequeJungafirma-vaestarpresentetambémnoinconsciente?Comotrazê-laparaoconscien-te?Aquiéquevamosentendermelhorasexpressõesconsciencializaçãoeconscientização,comojáreferido.Oserhumanocomeçaaser“liberto”deseuinconsciente,desuas“sombras”,aindasegundoJung,ecaminhaparaumadimensãodeintegraçãodo“ego”edo“self ”,quesimbolizanapsico-logiajunguiana,aplenitudedapessoahumana.Jungutilizouaexpressão“self ”paraindicarexatamenteessadimensãoespiritualdoserhumano.

OdramaapontadoporJungeraainconsciênciado“self ”,ouseja,de“simesmo”.Elechamavadeprocessode individuação tal integração,oqueameuveréomesmoquedesenvolveroautoconhecimento.OpróprioJung,emsuaobraMemórias sonhos e reflexões,afirmanapágina19:

Minhavidaéahistóriadeuminconscientequeserealizou

Natradiçãocristãessarealizaçãodoinconscienteeradenominadao“nascerdenovo”ou“nascerparaoespírito”.

Porocasiãodesuacrucificação,dizemosEvangelhos,umadasfrasespronunciadasporCristofoi:“Paiperdoa-lhes!Elesnãosabemoqueestãofazendo!”(Luc.23,34).Ouseja,aquelesqueomatavameramperdoadosporsua“ignorância”!Sim,oserhumanopossuiumadimensãoque,quan-doignorada,afastaqualquerjuízodevalorquantoaseusatos!Éo“self ”,quepermanecenoinconsciente!Seoserhumanonãodesenvolvesuacons-ciência,trazendodoinconscienteadimensãonuminosacitadaporJung,elepermanece“ignorante”,comoreferido.

EmsuaobraO absurdo e a graça,JeanYvesLeloup,napágina192,trans-crevetrechodeJungemquetalaspectoéassimsituado:

Faz-sedepoisdealgumtempo,umadiferençaentrepequenaegrandeterapia.Porpequenaterapiaentendem-seostratamentosdirigidosàsneurosesequevisamrestabelecerasaúdepsíquica.Seuobjetivoétornarumindivíduoaptoafazerseucaminhonasociedade,atrabalharenelacriarcontatos.Aprimeiracondiçãoélibertá-lodesuaangústia,desuaculpa,deseuisolamento...Éuma

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terapiapuramentepragmática.Mas,àsvezes,osofrimentohumano,físicooupsíquicoenraíza-semuito longe,alémdopsicologicamenteacessível,atingeonúcleodosermetafísico,situando-se,portantoaumaprofundidadedoin-consciente cujasmanifestações têmumcaráter numinoso: a vida espiritualestáemjogo.Nessecaso,acurasóépossívelseodoenteaprendeaseperce-bernessenível.Éprecisoqueelecompreendaseufracassonomundocomoumbloqueiodeumarealizaçãodesimesmo,atravésdaqualseupróprioSertranscendentedeveriamanifestar-se.TalterapiatendeaotestemunhodoSeressencialnoeuprofanoe,nessesentido,àrealizaçãodoself verdadeiro.Elasechamaagrandeterapia.Eladeveterumsentidoiniciático.

Vê-sedalongatranscrição,comoJungdistinguenitidamente,avindaparaoconscientedadimensãotranscendenteouespiritualdoserhumano,distinguindo-aclaramentedeumaaçãopsicanalítica.Vejocomoagrandetarefadaeducaçãonestemomentodesenvolveressaação,deampliaçãodaconsciênciaaqueJungdáumsentidoiniciático.

Emoutrasáreasdaciência,tambémtivemosavançosqueconduzirama essavisãomais amplada consciênciado serhumano.Assim foi comEinstein,queapontouparaareligiosidade douniversoeseusseguidorescomoHeisenberg,CapraeSwimme,dentreoutros,nafísica;ouSheldrakenabiologia;Grof eKarlfriedGraf Durckheim,aindanapsicologia.Todosnostrazemumavisãointeiramentenovadeuniversoedematéria,superan-dodefinitivamenteosparadigmasanteriores.

Naverdade,oapogeudoparadigma,denominadocartesiano,deu-senoséculoXIXquandoAugustoComtecriaaIgrejadaRazão!Eraaten-tativaúltimadoreducionismo.Sim,era levarparaoqueseriaobjetodatranscendênciaumavisãomaterialista,gestadanoparadigmacartesiano...Foiquando,namesmaépoca,Nietzscheafirmavaque“Deusestámorto”.(...)Curiosamenteeaindaumavezsincronisticamente, tivemosnomes-moséculoXIXumavisãoopostaàIgrejadaRazão,quefoiosurgimentodokardecismo,quesignificouumavisãodaespiritualidade,exatamente,numalinhado“saber”enãodacrença...AllanKardec,ocodificadordoespiritismo,anunciavauma“CiênciadoEspírito”,traduzidaemsuaobramaior,O livro dos espíritos.

Claroquenaépocafoiconsiderada“coisadodemônio”,poiscontra-riavaopoderdaIgreja,especialmenteaCatólica,quesesentiaameaçadaporumaciência,ditaespiritual,emesmoporumareleituradosEvange-lhosCanônicos,quefoifeitaporAllanKardec(1804-1869).

EstávamosdiantedeopostosaparentementeinconciliáveisequeforamtrabalhadosintensamentenoséculoXX.

Conferências e Minicursos

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Tenhoinsistidoaquinaquestãodasincronicidade.Naverdade,trata-sedeumaexpressão criadapor Jung,paraapontar acontecimentosquenãoobedeciamàleidecausaefeito,reinanteemseutempo.Jungafirmavaqueoseventosaconteciam,muitasvezes,porrazõesquetranscendiamamaterialidadeda“leidecausaeefeito”.Assimfoiem1945,comojáaquimencionado,oucomokardecismonomesmoséculo,daIgrejadaRazão.

Aabordagemdastrêsfasesdahumanidadetemsidoenfrentada,pordistintosautores,dentreosquais tragoparaesta reflexãoEdwardWhit-mont,queemsuaobraA busca do símbolo,assimsituaaquestão:

Aevoluçãodoegopodeserdivididaemtrêsfases.Ainfânciaéafasederea-lizaçãoduranteaqualumaidentidadetotalnãodiferenciadacomeçaadesin-tegrar-se,aidentidadeego-Self gradualmenteseseparaeelementosdomeioambienteinteragemcompotenciaisarquetípicosparaproduzirumaprimeirapersonagem real.Geralmente, nessa fase, as pessoas e as coisas são viven-ciadascomopoderes opressoresouameaçadores;oegopercebe-oscomosefossementidadesmágicase,posteriormente,mitológicas.OsegundoestágioestabeleceaseparaçãoentreoegoeoSelf,aspessoaseascoisassãoapenaspessoasecoisas.Oúnicopoderreconhecidoédoego–eissoéexpressonoditadofamiliar“quererépoder”.Oterceiroestágioéodoretorno,odopre-enchimentoerealizaçãodopotencialdapersonalidade.Omovimentonesseestágioéemdireçãoatotalidadedoindivíduo.Oselementosnãoracionaispressionamparaquehajaintegração;oegoéarrastadoparaorestabelecimen-todeumrelacionamentocomoSelf,nãonaidentidadeinconsciente,comonainfância,massobaformadeumencontroconsciente.EmconsequênciaessafasenãopodeserexploradaatéquehajaumegosuficientementeforteparaencararoSelf.(p.236)

Vê-sequeadivisãoemtrêsetapasnodesenvolvimentodoserhumano,seaplicado,comosustentoaqui,àprópriahistóriadahumanidade,vere-mosqueainfânciadescritaporWhitmontseaplicaàfasevividapeloserhumanoantesdoanozero:fasedasentidadesmágicasemíticas.Mesmoa visão por ele colocada de que pessoas e coisas são vivenciadas comopoderesopressoresouameaçadoresébemevidente!Nasegundafasequechameideadolescência,vamosencontraroqueeleindicacomoumegoqueviveo“quererépoder”.Creioquetalfoiacaracterísticadoquechameideadolescênciadahumanidade,comosurgimentodeditadurastantociviscomoreligiosas.Por fim,Whitmontdenomina“retorno”àterceira fase,porémcomumadiferençafundamental:aintegraçãoqueerainconscientena“infância”,agoraseráconsciente!Interessantequeessavisãodoautorencontrasimilitudecomumdosmitosmaistradicionaisdocristianismo:

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oiníciomitológicodahumanidadedá-senoparaíso,ondeainocênciaéacaracterísticafundamental.Pode-sedizerquenoparaísohaviaaintegraçãoplenadoegocomo self,aindaqueo self permanecesseno inconsciente,comosustentaWhitmont,emsuadescriçãodainfância.Asegundafasedomitocristãoéa“expulsãodoparaíso”comoexperimentodo“frutodaciênciadobemedomal”.Tementãoinícioaperegrinação“egoica”do ser humano, que como advento de JesusCristo vê o “anúncio” do“retorno”,comosustentadopeloautor.Curiosamente,umadasparábolasmaisconhecidasesignificativastrazidaspelosEvangelhosdizrespeitoaoFilhoPródigo,quesemelhantementeaoacimadescrito:deixaaCasadoPaie retornaapósumasofridaperegrinação...Neste retorno insere-seomistériodo“livre-arbítrio”daescolhafeitapelofilhode“querer”voltaràcasadoPai.Vê-senessasversõescomoahistóriadoindivíduohumanoéumsímbolodovividopelahumanidadeatéodiadehoje!Aliás,omistériodaliberdade,oudolivre-arbítrio,permanececomoumdosaspectosmaissensíveisdaexistência!

É claro que toda a temática aqui desenvolvida comportaria aborda-gembemmaisextensa,porémoslimitesdestetrabalhonãopermitemmaisdivagações.

Restaumúltimoaspectoquegostariadetrazercomorelevantenessachegadaàmaturidade.Trata-sedoretornodoprincípiofeminino.

Sim, a humanidade viveu em sua adolescência, um patriarcalismoevidente.

DizummitobabilônicoqueadeusafemininadoCaos,Thiamat,foiderrotada pelo deusmasculino daOrdem,Marduk, estabelecendo-se, apartirdeentão,uma“ordem”masculinaeumaconsequenteabominaçãodo“caos”.

MaisumavezseránoséculoXX,comominuciosamenteabordadonaobraO caos, a criatividade e o retorno ao sagrado,deautoriadeRalphAbraham,TerenceMckennaeRupertSheldrake,quesedaráarecuperaçãodofemi-ninoeavindaparaumanovaconsciênciadoprincípiofemininoquehaviasido“derrotado”...

Aindaumavezmais,“sincronisticamente”tambémnoséculoXXma-temáticos anunciama chamada “teoria do caos”, emque afirmamnãoexistirum“caosabsoluto”,masqueseráocaossempreaorigemdeumanovaordem...

Vemosassim,maisumavezumretornoaumaunidadeperdida...ClaroqueaindatemosnoOrientedeformamaisforte,adiscriminação

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damulhercomoindicativosdamarginalizaçãodofeminino.Éumlongoprocessodematuração...

Parailustraroexpostoanteriormente,mencionoaobraorganizadaporRichardCarlsoneBenjamimShield,Curar, curar-se,quenapágina62,emartigodeLynnAndrews,assimcolocaaquestão:

Quandofalamosemreconduziroequilibroparaaterra,referimo-nosaoele-mentoausente,a“consciênciafeminina”.Aodizerisso,nãoestouafirmandoqueamulhersejasuperioraohomem.Estoumereferindoa“umapartedonossoserinterior”.

Ouseja,aintegraçãodosprincípiosmasculinosefemininos,istoé,a“anima”eo“animus”,comodenominavaJung,sãoindispensáveisparaodesenvolvimentodamaturidadeaquitrazida.

Curiosamente, aGrécia clássicanos trazummito conhecido, que éodoMinotauroequemostraocaminhodaintegraçãodofemininoedomasculino.

Sim,talmitonosdácontaqueTeseu,oheróimasculino,resolveen-frentaromonstropresono labirintodeCreta–oMinotauro–,poiseleeraumapermanenteameaçaàpopulação.Armadodesuaespada,Teseudirige-seaolabirinto,porém,antesdeláadentrar,suanamoradaAriadnedizquelevasseumfio,conhecidocomofiodeAriadne,equenamedidaemqueentrassenolabirintofossesoltandoofio,parapodervoltar,nãofi-candoprisioneirodolabirinto...SabemosqueomitofindadandocontadequeTeseumataoMinotauro,e,graçasao“fiodeAriadne”,conseguesairdolabirinto...Nãosóestáaquiinseridaaimportânciadaintegraçãodosprincípiosmasculinoefeminino,comotambéma“prisão”àviolênciaemqueopatriarcalismosecoloca...Semoprincípiofemininonãohásaída...

Para finalizar esse trabalho, utilizando também formamais sutil dereflexão,apresentareidois textospoéticosquevisamexpressar,deoutramaneira,oquetrouxeparaoracional.Umdelesdenomina-se“ONascerdaConsciência”efoipublicadoemlivrodeminhaautoriaintituladoPe-dagogiadatransgressão,napágina95/96,eooutro,chamado“CavalgadadasWalkirias”,resumiráaquestãodofeminino.

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O Nascer da Consciência

HáumimensouniversoànossavoltaLuminosoInfinitoRepletodeformasedesons

HáummicrocosmostambéminfinitoànossavoltaDasbelasmargaridasdocampoÀsincríveisabelhasemsuascolmeiasAoprodigiosomundodosmicrorganismos

OHomempensaEvempensandoqueporissoexisteCriao“seupequenomundo”Terrivelmente“seu”eseparadodocosmosAssimoHomempensaqueexisteUmaexistênciapequenaLimitadaInexoravelmentemortal!

NãopercebeuoHomemaLuzdesuaconsciênciaALuzquebrilhanastrevasdopensamentoALuzquecomungacomaenergiamaiordoUniversoALuzquepermiteprofundastransformações

ONascerdessaconsciênciaÉasuperaçãodosdualismosDaciênciadobemedomalDaventuraplenadaliberdadeparaaqualfoicriado OnascimentoparaesseuniversoinfinitoSignificaapercepçãoeadescobertadomistériodaLuzMistériosutilMistériodeAmor

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Cavalgada das Walkirias

DesdesempreasWalkiriasEncantandoefazendoencantar...Buscandoesendobuscadas...Sumindoeaparecendo...

AssimoHomemdesdeomistériodesuaapariçãoExtasiadopelabelezadoUniversoSofridocomsuasdoresedaquelasemtornodesiBuscandoentendereserentendido

Épreciso“mataroMinotauro”queatodosdevora...ParatantoaqueentrarnolabirintoLabirintodocotidiano...Sairdolabirintoéodesafio...

OHomemguerreiromataefetivamenteos“Minotauros”...Mas,“sairdolabirinto”,sócomofiodeAriadneOeternofemininoA“CavalgadadasWalkirias”...

Aprenderessaliçãoédescobriromistériodo“maisdentro”...Asignificaçãoeosentidonocaminharnolabirinto...PerceberaimportânciadamortedoMinotauroPerceberasignificaçãoeabelezado“fiodeAriadne”... Assim,a“CavalgadadasWalkirias”atravessacomomúsicaAeternidadedoAgoraAcadatemposeucompassoAcadainstantesuamelodia AtéSempre!

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Referências BibliográficasABRAHAM,Ralph;McKENNA,Terence;SHELDRAKE,Rupert.O caos, a cria-tividade e o retorno ao sagrado.SãoPaulo:Cultrix,1994.CAPRA,Fritjof.O ponto de mutação.SãoPaulo:Cultrix,1990.CHARDIN,Teilhard.O fenômeno humano.SãoPaulo:Cultrix,1989.EINSTEIN,Albert.Como vejo o mundo.RiodeJaneiro:NovaFronteira,1983.ESPIRITOSANTO,RuyCezar.Renascimento do sagrado na educação.6.ed.revisa-da.Petrópolis:Vozes,2010.____________.Pedagogia da transgressão.10.ed.SãoPaulo:Ágora2011.____________.Desafios na formação do educador.Campinas:Papirus,2003.FREIRE,Paulo.Pedagogia do oprimido.RiodeJaneiro:PazeTerra,1970.HOUSTON,Jean.A busca do bem amado.SãoPaulo:Cultrix,1993.JUNG,C.Gustav.Memórias, sonhos e reflexões.Rio de Janeiro:NovaFronteira,1975.LELOUP,JeanYves.O absurdo e a graça.Campinas:Verus,2003.SHIELD, Benjamin; CARLSON, Richard. Curar, curar-se. São Paulo: Cultrix,1994.SWIMME,Brian.O universo é um dragão verde.SãoPaulo:Cultrix,1996.WHITMONT,Edward.A busca do símbolo.SãoPaulo:Cultrix.

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MariaInêsAubert1

Resumo: Este texto pretende refletir sobre desenvolvimento humano ereligiosidade,comenfoquenainfância,apartirdeconceitosteóricosso-bredesenvolvimentoinfantil,apontandoautorescomoWinnicott,queoentendeucomo“amadurecimentohumano”,eautoresdapsicologiadareligião,comoVergoteeRizzuto,quelançamumolharalémdosestágiosdesenvolvimentistas, conformepreconizados porPiaget e seus seguido-res,cientesdequenemtudosegueumalógica-padrão.Oestudodeumcasoclínico,emqueadificuldadeescolaratreladaaumaperdafamiliarconduziuacriançaaquestionamentoseafastamentodaIgreja(Católica)frequentadapelafamília,fatoquelhecausavagrandetristeza,ressaltaaimportânciadoacolhimentoda religiosidade infantil,vistacomomani-festaçãodouniversopeculiardacriança,oqualpodeconduziramelhorcompreensãodainfânciacomoumtodo.Palavras-chave:desenvolvimento, infância, criança,educadores, escola,pais,religiosidade,psicologiadareligião.

Apontamentos sobre o desenvolvimento infantil: família e escola

Demodogeral,todaanaturezaédotadadepotencialparacrescimen-toedesenvolvimento.

InseridonagrandeNatureza,oserhumano,alémdopotencialparao

1.MestraedoutoraemPsicologiaClínicapelaPUC-SP,éprofessoradePsicolo-giadaReligiãodaFaculdadeMessiânicaepesquisadoradoLaboratóriodePsico-logiaSocialdaReligiãodaUSP-SP<[email protected]>.

Entrelaçamentosentreodesenvolvimentoinfantileareligiosidadedacriança:umnovoolhar

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crescimentoedesenvolvimento,portaaindaopotencialparaaevoluçãoemváriasdimensõespor terodomdafala.Afala,enfocadacomolin-guagemoraleescrita,confereaoserhumanopossibilidadesimensasdeexpressãodossentimentos,emoções,compartilhamentodesuasdúvidasenecessidades,bemcomodesuasdescobertas;confereaindacondiçõesdebuscadecontatocomoTranscendente,atravésdaoração.

A linguagemestáatreladaaodesenvolvimentodopensamentoedapersonalidadehumana,mastambémestáatreladaàterranatal,ànação,àculturaeàprópriavida.

Noseiofamiliar,acriança,cujamãe“apresentaomundo”aospou-cos,comodizWinnicott,vaigradativamenteadequandoapalavraaoob-jetoapresentado,deformaque,aoentrarparaaescola,umapartedoseuvocabulário jáseencontraatuante.Porém,énaescolaquea fala,alémdemanifestarodesejoeopensamentodacriança,vaiinstauraremanterasrelaçõessociais,acrescentandoacadadiamaiselementosparaafor-maçãoeodesenvolvimentodapersonalidadedecadauma,visandoumaatuaçãocadavezmaiornavida,istoé,“umgestonomundo”.

DonaldWoodsWinnicott(1896–1971),pediatraepsicanalistainglêspertencenteaoMiddleGroupouGrupoIndependente,pelasuaformadepensareescreverapsicanálise,inauguraumnovoparadigma,comfunda-mentaçãoteóricaetécnicaestabelecidasapartirdesuasobservaçõesedesuapráticaclínica.2Éapartirdestaqueeleformulouumateoriadode-senvolvimento,aqualabrangeoprocessomaturacionaleocaminhoparaa integraçãonumambientesuficientementebom,ondeamãedevotadacomumestápresentecomoholding(sustentação)eohandling(manejo),apresentandoomundoepossibilitandoaobebêestabelecerumarelaçãocomosobjetos.Nosestágiosiniciais,deacordocomWinnicott,obebênãoéaindaumaunidade3emtermosdedesenvolvimentoemocional,eleé

2.Pormeiodesuapráticaclínicapediátrica,Winnicottlançaumnovoolharparaacriança,seudesenvolvimentoeseugestonomundo,levandosuasreflexõesatéospaiseeducadoresnãosóporintermédiodoslivros,comopodemosverpelostítulos:A criança e o seu mundo,O brincar e a realidade,Tudo começa em casa,Os bebês e suas mães,Conversando com os pais,A família e o desenvolvimento individualeoutros,mastambémpelaspalestrasqueofereciaepelasorientaçõesquedeuaogovernobritânico,naépocadaguerra,devidoàpreocupaçãocomascriançasqueforamevacuadasdeLondres.3Winnicottutilizoupalavrasdaaritméticaparadescreverosprimeirosmomen-tosde integração– seosnúcleosdo ego se somariamounãopara fazerumaunidade.Deacordocomopsicanalista,acriançaqueconheceosentimentodeEUSOU,sabesobreoum,eestáaptaparaquelheensinemadição,subtraçãoemultiplicação.ParaWinnicott,oum,aunidade,representaemúltimaanáliseopróprio self (1990,cap.2,parteIV).

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apenasumapartedaunidadeambiente-indivíduo;porém,deacordocomoautor,existedesdeoiníciodavidaatéofimumaconstantenoindivíduo,algoquepermanecereconhecívelnapessoa,assimcomoseurosto.Pode-sedizerqueexiste,emcadaum,umtemacentral.Apróprianaturezadapessoaapontaparaumprincípiodeunificação,paraumaharmoniaentresuaspartes,sendodesumaimportânciaoreconhecimentodesseprincípiointegrador.

Assiméqueaintegraçãoenvolveodesenvolvimentodosentimentodequeseestádentrodoprópriocorpo(cf.consideraçõesdeAubert,2003),4aoladodaintegraçãoqueocorrenotempo.Nessestermos,aintegraçãoocorrenãosódevidoà funçãoambientaldesegurança,baseando-senaunidade,mas,acimadetudo,aintegraçãotemumfatortemporal.

Devidoaocontinuum maturacional (acadamomentonovasexigênciasdeintegraçãoocorrempararecuperaroqueescapou),sógradualmenteaintegraçãosetransformaráemfato,estimuladapelocuidadoambiental,bemcomomotivadapelospróprios fatores internos,ouseja,“...agudas experiências instintivas que tendem a aglutinar a personalidade a partir de dentro”(Winnicott,2000,p.224).

Essas explanaçõesdeWinnicott nos levama considerar que, pais eeducadores,emvirtudedaàproximidadeconstantecomacriança,sãoosquetêmmaispossibilidadesdeobservareacompanharesse“continuummaturacional”,sendoassimosmaisaptosaportarumolhardopontodevistadacriança.

Também,édevidoa essa ideiade continuum maturacional que,hoje,nãosepodemaispensarqueacriançavaiàescolapara“aprenderalereaescrever”,comoseafirmavanumaconcepçãoeducacionaljáultrapas-sada,massimparacrescer,desenvolver-seeevoluir,tornando-seumele-mentoútilparaacomunidadeondeviveeparaasociedade,poisaescola,comoelementoimportantenaconstituiçãodossaberes,nãopodepostularseusobjetivos,alheiaaoqueaprópriavidacolocaparacadaum.

4.“Dentrodoseuprópriocorpo”significa,muitasvezes,queseusmuitospedaçossetornaramumcorpointeiro,umserinteiro,pois,deacordocomWinnicott,“...o bebê se desmancha em pedaços a não ser que alguém o mantenha inteiro”(1990,p.137).Winnicottaplicaessesconceitosemsuaclínicacomadultos,comentandoque,muitasvezes,notrabalhoanalítico,opacienteprecisarelatartodososdetalhesdoseufimdesemana,querendocomissomostrarqueeleprecisaserconhecidoemtodososseuspedaços,porumapessoa,quenocasoéoanalista,parapodersesentirintegrado(cf.cap.XII,“Desenvolvimentoemocionalprimitivo”,2000).

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Desenvolvimento infantil e educação: diversos olhares

Devidoàimportância,mastambémàamplitudedessetema,serádadaapenasumabrevevisãodaformacomotemsidovistoodesenvolvimentoinfantil,enfocando:(a)Piaget;(b)políticaspúblicasnoBrasil.

Ateoriaqueaolongodosanostematraídoaatençãodemuitosedu-cadores,noBrasil,éadeJeanPiaget (1896–1980),psicólogoe filósofosuíço,conhecidoporseutrabalhopioneironocampodainteligênciain-fantil.Segundoele,ocomportamentodos seresvivosnãoé inato,nemresultadodecondicionamentos.Numaexplicaçãomaisbásica,paraeleocomportamentoéconstruídonumainteraçãoentreomeioeoindiví-duo,conceituaçãoqueresultounumateoriaepistemológicacaracterizadacomointeracionista.ParaPiaget,odesenvolvimentodeumapessoa,queseinicianoperíodointrauterinoevaiatéos15ou16anos,comestruturascadavezmaiscomplexas,dá-seporestágios,quesesucedemnamesmaordemparatodos,eaconstruçãodainteligência,portanto,sedáemeta-passucessivas,comcomplexidadescrescentes,encadeadasumasàsoutras(“construtivismosequencial”).

De acordo comPiaget, há quatro estágios no processo evolutivo, asaber:período sensório-motor (de0a2anos), pré-operatório (de2a7anos),operaçõesconcretas(de7a11ou12anos)eoperaçõesformais(11ou12 emdiante).Todosos indivíduos vivenciamesses quatro estágiosnamesmasequência,porém,deacordocomTerra,“oinícioeotérminodecadaumdelespodesofrervariaçõesemfunçãodascaracterísticasdaestruturabiológicadecadaindivíduoedariqueza(ounão)dosestímulosproporcionadospelomeio ambiente emque ele estiver inserido” [s.d.].Cunhatambémressaltaque

Todaapsicologiapiagetianaconstitui,abemdaverdade,umconjuntodetesesformuladaspararesponderaquestõesrelacionadascomaorigemeode-senvolvimentodacapacidadecognitivadoserhumano,e,maisamplamente,paraexplicarcomonasceeevoluiacompetênciadoindivíduoparaapreenderabstratamenteomundoqueocerca.(1998)

Do ponto de vista da educação, especificamente da aprendizagem,sehámeioe indivíduo, entãoháo sujeito conhecedor eoobjetoa serconhecido,o que significa lidar comuma sériede fatoresde ambososlados, taiscomo:oprocessodematuraçãodoorganismo,aexperiência

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comobjetos,avivênciasociale,sobretudo,aequilibraçãodoorganismoaomeio.DizTerra:

EstáimplícitonessaóticadePiagetqueohomemépossuidordeumaestrutu-rabiológicaqueopossibilitadesenvolveromental,noentanto,essefatopersenãoasseguraodesencadeamentodefatoresquepropiciarãooseudesenvolvi-mento,hajavistaqueestesóaconteceráapartirdainteraçãodosujeitocomoobjetoaconhecer.Porsuavez,arelaçãocomoobjeto,emboraessencial,damesmaformatambémnãoéumacondiçãosuficienteaodesenvolvimentocognitivohumano,umavezqueparatantoépreciso,ainda,oexercíciodoraciocínio.Porassimdizer,aelaboraçãodopensamentológicodemandaumprocessointernodereflexão.Taisaspectosdeixamàmostraque,aotentardescreveraorigemdaconstituiçãodopensamentológico,Piagetfocalizaoprocessointernodessaconstrução.(Terra,[s.d.])

Noentanto,deacordocomalgunscríticosdePiaget,háalgunsproble-masemsuateoria.Umdeleséque:

caracterizandoodentro eo fora,Piaget se empenhaemafirmaro caráterobjetivodarealidade,porémascoisasnãotêmumaexistênciaexterioràcons-ciência,demodoqueeleacabaapostandonaexistênciaautônomadoobjeto,porémascoisas,foradaconsciência,deixamdeexistir.Asimplesexistênciafísica–ounatural–nãoconfereanadaoestatutodeobjeto,poisestesóserealizaemfacedeumaaçãohumanaqueconvertea“coisa”emobjetohu-mano.Poisbem,quemconferequalidadeeatributoàscoisassãooshomens.Semessesatributoshumanosnãoháexistênciareal.Oobjetovirapuraabs-tração.Éporissoquesedizquetomarabstratamenteumobjetoéabstraí-lodasrelaçõeshumanas.(Klein,inDuarte,2000)

Convicto de que o desenvolvimento intelectual se dá em estágiosdeterminados, Piaget aborda em seus livros temas como as “estrutu-ras operatórias” e demonstra o “sujeito epistêmico” como o conjuntode características comunsa todas as criançasdeummesmoestágiodedesenvolvimento.5Dequalquerforma,mesmofocandoodesenvolvimen-toinfantilpormeiodeestágiosrígidos,oquenãocondizcomasnovasideiassobreomundoinfantilquecomeçamadespontarnostemposatu-ais,PiagetinfluencioufortementeaeducaçãoeosestudosnoBrasil,devi-do,emparte,àsuagrandeproduçãodelivroscomtraduçãoparaalínguaportuguesa(37livrosdesuaautoriaemaisdezoitoemcoautoria).Essavastabibliografiapossibilitouaoseducadoresestudareaprofundarseus

5.Deacordocomconsideraçõesdosite<www.wikipedia.org>.

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conhecimentossobreodesenvolvimentoinfantile,ainda,repensarnovasformasque,esperamos,seconvertamemnovasteorias,numavisãomaismodernaeabrangente.

Quanto às políticas públicas, tomando-se o conceito de desenvolvi-mentoapresentadopeloMinistériodaSaúdeeSecretariadePolíticasdeSaúde,vemosque:

Quandoperguntamosaumapessoaoqueelaentendepordesenvolvimento,ouquandodiscutimoscomprofissionaisdesaúdeouáreasafinsosignificadodotermodesenvolvimentodacriança,ficamossurpresoscomasmaisvaria-dasrespostas,umavezque,defato,odesenvolvimentohumanoéperpassadoporconceitosheterogêneosdasmaisdiversasorigens.Paraopediatra,surgeadefiniçãodolivrodetextoquediz:desenvolvimentoéoaumentodaca-pacidadedo indivíduona realizaçãode funçõescadavezmaiscomplexas.Oneuropediatracertamentepensarámaisnamaturaçãodosistemanervosocentraleconsequenteintegridadedosreflexos.Opsicólogo,dependendoda formação e experiência, estarápensandonosaspectoscognitivos,nainteligência,adaptação,inter-relaçãocomomeioam-bienteetc.Opsicanalistadarámaisênfaseàsrelaçõescomosoutroseàconstituiçãodopsiquismo.(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desen-volvimento.pdf)

JáoMinistériodaEducação,pormeiodaSecretariadeEducaçãoBá-sica,lançousua“PolíticaNacionaldeEducaçãoInfantil:pelodireitodascriançasdezeroaseisanosàEducação”,explicitandoque:

Pesquisas sobre desenvolvimento humano, formação da personali-dade,construçãoda inteligênciaeaprendizagemnosprimeirosanosdevidaapontamparaaimportânciaeanecessidadedotrabalhoeducacio-nalnessafaixaetária.Damesmaforma,aspesquisassobreproduçãodasculturas infantis,históriada infânciabrasileiraepedagogiada infância,realizadasnosúltimosanos,demonstramaamplitudeeacomplexidadedesseconhecimento.

Contudo, as formas de ver as crianças vêm, aos poucos, semodifi-candoe,atualmente,emergeumanovaconcepçãodecriançacomocria-dora,capazdeestabelecermúltiplasrelações,sujeitodedireitos,umsersócio-histórico,produtordeculturaenelainserido.Naconstruçãodessaconcepção,asnovasdescobertassobreacriança,trazidasporestudosre-alizadosnasuniversidadesenoscentrosdepesquisadoBrasiledeoutrospaíses,tiverampapelfundamental.Essavisãocontribuiuparaquefosse

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definida,também,umanovafunçãoparaasaçõesdesenvolvidascomascrianças,envolvendodoisaspectosindissociáveis:educarecuidar.Tendoessafunção,otrabalhopedagógicovisaatenderàsnecessidadesdetermi-nadaspelaespecificidadedafaixaetária,superandoavisãoadultocêntricaemqueacriançaéconcebidaapenascomoumvirasere,portanto,neces-sitaser“preparadapara”.

Oprocessopedagógicodeveconsiderarascriançasemsuatotalidade,obser-vandosuasespecificidades,asdiferençasentreelasesuaformaprivilegiadadeconheceromundopormeiodobrincar.(MEC,2006)

Ostextoscitadosnospermitemverumanovaconcepçãodecriançacomo“criadora”,produtoradecultura,quetemumaforma“suigeneris”deverascoisasetemummundopeculiar.

O mundo peculiar da criança

Werner(1961)afirmaqueomundodacriançaé,antesdetudo,um“mundodeação”.Elediz:“...énaturalqueessemundodeação,qualquerquesejaograudediferençaentreeleeomundodoadulto,mudeconti-nuamenteemdiferentesníveisdeidade,deacordocomumamudançanaatitudebásicaqueogoverna”(Werner, inMoreiraLeite,1972,p.170).Deacordocomsuasconsiderações,osacontecimentosnãosãovistosdopontodevistadascoisas,oudopontodevistadeoutraspessoas,massãointerpretadosconformeseusentidoparaavidadacriança.Alémdisso,osjulgamentosqueelafazarespeitodosacontecimentosrevelamumaescaladevaloresqueseafastaradicalmentedoequivalenteadulto.

Benjamintambémressaltaque:

Ascriançasformamseuprópriomundodecoisas,umpequenomundoinseri-donogrande.Dever-se-iatersempreemvistaasnormasdessepequenomun-doquandosedesejacriarpremeditadamenteparacriançasenãosepreferedeixarqueaprópriaatividade–comtudoaquiloqueénelarequisitoeinstru-mento–encontreporsimesmaocaminhoatéelas.(Benjamim,2002,p.104)

Oque,então,estãodizendoessesdoisautores?Wernerdizqueacriançainterpretaomundodeacordocomosentido

queosacontecimentostêmparasuavida.Combaseemseuspressupostos,podemoslevantaraquestãodequetantoemeducaçãocomonapsicologia

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sãorarasasteoriasquetêm,comoobjetodeestudo,“osentidoparaavidadacriança”.

Benjamin salienta que “as crianças formam seu própriomundo decoisas”, comsuas“normas”.Suaafirmaçãodequequandopremedita-damentecriamosalgoparaascriançase“aprópriaatividade–comtudoaquilo que é nela requisito e instrumento” não pode encontrar “por simesmaocaminhoatéelas”, leva-mea indagar: conhecemos realmenteesse“mundo”eessas“normas”?Serápordesconhecimentooupor jul-garmosqueo“mundodosgrandes”émelhorquefazemosintervençõesnesse“pequenomundo”,nãodandotempoparaqueatividadefaçaseucaminhoespecíficoatéacriança?

Psicologia da religião: um novo olhar para a infância

Nosúltimos anos, tanto a espiritualidade comoa religiosidade têmganhado adeptos e ampliam-se as comunicações sobre elas, nomundointeiroetambémnoBrasil.

Porém, todoessemovimentocontemplaapenasas faixasetáriasdo“jovem”e“adulto”, sendoosestudos sobreaárea infantildeixadosdelado,nãohavendo,nopaís,nenhumlivrosobreespiritualidadeoureligio-sidadeinfantil,apenastextosesparsos,umcapítulodeumatesededouto-radoealgunsrelatos.

Valendo-nosdeautoresdapsicologiadareligião,comoVergote(1969,2001)eRizzuto(1981e2006),dapsicologiaculturaldareligiãocomoBel-zen(2011),eoutros,comoDevenish(2006)eHeller(1994),vemosqueemseusestudoselesenfatizamqueascriançaspossuemuma“religiosidadenatural”easideiasqueelastêmsobreDeus(ouJesus,ouanjos)devemserconsideradasseriamente.

ParaVergote,apsicologiadareligião“observaeanalisaasexperiên-cias,atitudeseexpressõesreligiosas”,acolheosentidoqueelastêmparaapessoa(Vergote,1969).Aoindagaremseutexto“Acriançadapsicologiadareligião”:“Dequeformapensarainfânciacomomomentonahistóriareligiosapessoal?”(p.17),eleabrecaminhoparaacompreensãoqueháuma“históriareligiosapessoal”equeainfânciaéumdeseus“momen-tos”,oquenospermitecompletarafrase:assimcomoaadolescência,avidaadultaeavelhicesãooutrosdesses“momentos”nahistóriareligiosapessoal.EssacolocaçãoinicialdeVergote,porsisó,jádáumestatutodi-ferenteparasepensarareligiosidadeinfantil.Mas,elevaialém:

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Acriançadequesetrataéevidentementeacriançavistapeloadulto,esuareligião,aquelavistapelopsicólogo.Nãoé,portanto,denosespantarqueexistamváriasconcepçõesdecriançanaliteraturapsicológica,ecertamentetambémdareligião.Asideiasdiretrizesqueconduzemaspesquisaspõemàsclarascertosdados,mastendemaocultaroutros.(Vergote,2001,p.17)

Sabemostambémque,porlongotempo,ostrabalhossobrereligiosida-deinfantilforam“encaixados”numavisãodesenvolvimentista,porcontadaspesquisasdePiagetedosseusseguidores,fatoquepersisteaindanostemposatuais.Sobreessavisão,tambémsemanifestaVergote:

Aideiadodesenvolvimentoéevidentementeessencialnapsicologiadacrian-ça.Elanãoé,entretanto,inocente,poisapalavraarrastoucomelaosconcei-tosideológicossobreahistóriadahumanidadecomovindodeumainfânciaprimitivaecaminhandoemdireçãoaoestadoadultodotempodoracionalis-momoderno.(Vergote,2001,p.18)

Rizzuto, que trabalhou comdiversas pesquisas comcrianças, tendodesenvolvidoo“QuestionáriodeDeus”eo“QuestionáriodaFamília”,relataque:

Socioculturalmente,acriançaouveaspessoasfalaremrespeitosamentesobreDeus.Hápessoasespeciais–ministros,sacerdotes,rabinos–queorepresen-tamoficialmente.EmpregamumalinguagemsolenecomentonaçõesgraveseinvocamaDeus.Acriançavêprédiosespeciais,obrasdearte,celebrações–tudorelacionadocoma“grandepessoa”chamadaDeus.Namaioriadasfamílias,ospaissubmetem-seaDeuseoadoramou,pelocontrário,indicamquesãodiferentesdeoutrospais,porquenãocreememDeus.(...)Omais importante ainda é queDeus émencionado como real, existente,poderosoeresponsávelpelomundo.(2006,p.253-254)

ParaBelzen:Inúmerossãoosmodosdeserhumanoqueforamdestacadosao longodahistóriadacultura;eaindamaisdiferenciadasasfasesnasquaisodecursodeumavidahumanaédividida.Portanto,seestousimplesmentedistinguin-doentrejuventude,maturidadeevelhice,nãoestoudizendonadaincomum,nemmesmoseeucolocarmodosdesertaiscomo:brincar,realizaçãocriativaecontemplaçãoempédeigualdadecomelas.Emquasetodateoriadedesenvolvimento,sejapsicológicaouantropológica,presume-sequedesenvolvimentoconsisteemalcançarumestágioounível

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maiselevado,emboramantendoacessoaosníveisjáatingido.6Característicasdeumafaseanteriorsãofrequentementetomadasparaumafraseposterior;portanto,setaiscaracterísticasvieremàluznocomportamento, issonãoénenhumaregressão,emesmosemodosecomportamentosdeumafasean-terioraparecerem,aregressãonãoénecessariamentemórbida.Porexemplo,brincar comoummodode se relacionar coma realidadenão seperdenoadulto,eleapenasirábrincardiferentementedeumacriança(seumaadultabrincarnovamentecombonecas,issoseráumcomportamentoduvidoso;seela jogarxadrez, seráconsiderada inteligente; se forcapazdemanterumaformatão lúdicacomseuambientequepossaprojetarcidades inteiras,elapodecomeçarcomoarquiteta).Pormaisfamiliarqueissopossaparecer,háduas7consideraçõesrelevantes:1-aspessoastêmemgeral,àsuadisposição,todosostrêsmodosdesedestacaraqui.Umproverativocertamentecaracterizaoadulto,assimcomocontem-plaçãopassiva,maisapessoaidosa.Mesmoqueojovemnãotenhasucessocompletonacriaçãoenão tenhaummínimodesabedoria,apessoa idosaaindatemacessoaobrincareelapodeatésercapazdefazercontribuiçõescriativas.Brincar,provercriativoecontemplação,todosostrêspertencemaofuncionamentohumanonormalqueestáàdisposiçãode todapessoabemdesenvolvida.(Belzen,82011)

ParaDevenish,

Baseados na teoria de Piaget (1953) de que o desenvolvimento cognitivoprovémdeestágiosclaramentedefinidoseinvariáveis,algunspesquisadorespropuseramedefiniramestágiosparaexplicarmuitosaspectosdodesenvol-vimentoreligioso.9Talpesquisaresultounoacúmulodeumagrandequanti-dadedeinformaçãosobreomodocomoascriançaspensamsobreassuntosreligiososecomotalpensamentosedesenvolvecomaidade.Noentanto,for-neceupoucainformaçãosobrecomoascriançasvivenciameserelacionamcomDeusousobreascompreensõeseconceitualizaçõesdeDeusquetemimportância(quedãosentido)navidadacriança.(2006)10

6.Emquasetodasasteoriaspsicológicasdesenvolvimentistas,taisfasessedis-tinguemdeacordocomostiposideais.Apessoapode,dessaforma,seralocadaaumafasecombaseemumoumaiscritérios,mas,narealidade,apessoaquasesemprepreencherácritériosdediferentesfases.Emqualfaseapessoaseencon-travaidependerdasmetasestabelecidasparaaanálise.7.Nessetrabalho,utilizosomenteumaconsideração.8.Traduçãodaautoradotexto.9. Ver, por exemplo, Erikson (1963), Goldman (1964), Elkind (1968), Greer(1972),Peatling (1974),Francis (1979),Oser (1980),Fowler (1981)eKohlberg(1981).10. Tradução da autora do texto.

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Interessante é que adultos, avaliando sua própria religiosidade, nãoconcordamnem se propõema ficar dentro (não se localizamnos está-gios)dosestágiosestabelecidospelosautoresdesenvolvimentistas,julgan-doseremsuasexperiênciasmaisricasemaisamplasdoqueosestágiosdeterminam,masaceitameconcordamqueaespiritualidadeeasexpe-riênciasreligiosasdascriançassigamexatamenteosestágiosjápredeter-minadospelasteoriascognitivaseemespecialpelateoriapiagetiana(cf.Devenish,2006).

Hellerdizque:

MuitascriançassepreocupamoquãopoderosoDeuséeseDeusseráumaforçaimportanteemsuasvidas.AcreditamqueDeusestáemtodavolta,nocéu,nasflores,enaspessoastambém.Elasfalammuitosobre“oDeusnaspessoas”.Essespequenosteólogosexpressamumnítidointeressenasuare-laçãoespiritualcomoseupróximo.ParecemconcluirqueDeuscriouaraçahumanacomumafinalidadeemmenteequenósestamostodosconectadoscomaquelafinalidadeeunsaosoutros.(Heller,1994,prefácioX)

Winnicott(1975)tambémdeveserdestacado,poisseuconceitode“es-paçopotencial”,lugarintermediário,ondesedáobrincar,aexperiênciaculturaleareligião,estabelecidopormeiodeexperiênciaqueconduzàconfiança,eque“pode ser visto como sagrado para o indivíduo, porque é aí que se experimenta o viver criativo”(Winnicott,1975,p.142),abreespaçoparamuitasconsideraçõesarespeitodasvivênciasinfantis.

EmboraWinnicottnãotenhasedetidoemestudosquetivessemex-ploradoformasmaisamplasnoqueserefereàreligiosidade,elefezumaimportanteconsideraçãosobreacriançaeacriaçãodeDeus,

noqueconcerneàreligiãoeàideiadeumdeus,háclaramenteosextremosdaquelesqueignoramqueacriançatemacapacidadedecriarumdeuseporissotratamdeimplantaraideiaomaiscedopossível,edaquelesqueaguar-dameobservamosresultadosdeseusesforçosparasatisfazerasnecessidadesdeseubebêemdesenvolvimento.Essesúltimostornarãoconhecidosàcrian-çaosdeusesdafamíliaquandoacriançativeratingidooestágioapropriadoparasuaaceitação.(1990,p.94)

Alémdisso,afirmou tambémque,paraexperienciara religiosidade,énecessárioqueacriançatenhadesenvolvidoa“crençaem”.Winnicottdiz que se deve propiciar “aquelas condições que possibilitem a coisascomoconfiançaecrença em,eideiasdecertoeerrado,sedesenvolverem

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daelaboraçãodosprocessosinternosdacriança”(1990,p.89).Propiciar“aquelascondições”comomencionaWinnicotto,equivaleadizerque(ouse)acriançafoibem-sucedidaemseudesenvolvimento.

Assim,osconceitosdesenvolvidosporWinnicotttaiscomoode“fe-nômeno transicional”,bemcomoa ideiade“crença em Deus” relacionadaàideiade“crençaem”e“confiabilidade”noprocessodecuidadosqueobebêrecebeudospais,abriramamplocampoparapesquisanaáreadeexperiênciareligiosaereligião(cf.consideraçõesdeAubert,2003,p.58).Devidoaisso,váriosautores,entreeles,Rizuto,Jones,MeissnereAletti,utilizaram-sedomodelowinnicottianodatransicionalidadeemostraramemseusestudosqueDeusé“criado”noespaçopotencialdailusão(en-tendidacomoexperiênciadecriaroobjetoquesatisfazanecessidade)deformaque:ofenômenodailusão,presentenaprimeiraetapa,vaimudan-dodenível;paraqueogestocriadorpossairsehumanizando,ganhan-domovimentosdistintosemcadanível;mas,emcadanível,criandoumcamposimbólico,umaaçãocaracterística,açãoquetransformaomundo.

Entrelaçamentos: educação, psicologia, psicologia da religião – estudo de caso

Comofenômenopoucopesquisado,areligiosidadeinfantilesuasre-presentações,necessitamconsideraraportes teóricosdevariadas fontes,tantoosdapsicologiaclínicaedapsicologiadodesenvolvimentoquantoosdapsicologiadareligião.Assim,esteestudodecasosustenta-seemtrêspilares:

1.“Sandplay”,uma“formadeterapianãoverbalenãoracionalqueatingeumnívelprofundopré-verbaldapsique”(Weinrib,1993,p.19);um jogo na areia (que pode ser usada seca oumolhada) feito pelacriança,comousoounãodeminiaturas,apartirdoqualelacontaumahistóriaequepodesercompreendidocomo“umarepresentaçãotridimensionaldealgumaspectodasuasituaçãopsíquica”,segundoDoraM.Kalff (1980,p.32)queaocriaratécnicasefundamentounosupostodeque,nessasituaçãoterapêutica,seexperimentaosímbolonum“locallivreeseguro”eondeoself,comototalidade,podeseex-ternaresemanifestar(Kallf,1980,p.29).

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2.“EspaçoPotencial”,ondeselocalizaumaterceiraárea,“umaáreaintermediáriadeexperimentaçãoparaaqualcontribuemtantoarea-lidadeinternaquantoavidaexterna”(Winnicott,1975,p.15);umapossibilidadepsíquicadeexistirnomundonessecampoda ilusãoequedependedaexperiênciaqueconduzàconfiançae“podeservistocomosagradopeloindivíduo,porqueéaíqueesteexperimentaovivercriativo”(Winnicott,1975,p.142).

3.Conceitosdapsicologiadareligião,segundoosquais“apsicologianãopesquisaaquiloqueéessênciadareligião”(Vergote,1993,p.76),masinvestiga“asexperiências,atitudeseexpressõesreligiosas,obser-vando-aseanalisando-ascomaajudadasdiversastécnicasàsquaisapsicologiapoderecorrer”(Vergote,1969,p.14);afirmaçõescomoasdeRizzuto,segundoasquais,“osensodoselfdacriançaedoadultoéafetadopelostraçosrepresentacionaisdoDeusprivadodoindivíduo”(2006,p.233).

Comasbasesteóricascitadas,propus-meaestudarumcasoemqueaquestãoreligiosainterferiadiretamentenavidadacriança–assim,eraimpossível esperar umbomdesempenho escolar quandoa questãopri-mordialnaqualameninasedebruçavaeraavida,osobreviver,oser.

Um caso clínico

Umagarotade10anos,Ida,vemàterapiaporqueaescolasequeixadeseurendimentoescolar.Amãerelataumfatopreocupante:háalgumassemanas,aempregadaviuameninacomamochilaprontaparair“embo-radecasa”.Algunstestessãoaplicados,indicandoatençãoconcentradaememóriaauditivarebaixadas;odesenhodafamíliaéfeito,porémelaoemolduratodo,dizendoqueéoretratodafamília,nãoafamíliamesmo.

Oscenáriosnaareiamostram:umlugarondenãohápessoas,somenteanimaisguardiõesdaspedraspreciosasnumailha;umamontanhaalta,enumburaco,notopo,umpequenopassarinho;umamontanhamuitove-lha,quecomeçaatremererachainteirinha;umpostenaareiaquerestaraapósomundoteracabado;umminúsculoobjetoescondidoeperdidocujaprocuraaagitavaeaangustiava;areiamoldadanumaelevaçãocircular,queeraamarcadapatadodinossauro;e,porfim,umailhaondenocen-trodaelevaçãoestáumamoçaeumbebêetambémopequenopassarinho

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(presentenasegundahistória),estandonapartedorio,umíndio,numacanoa.

Osrelatosindicam:comoestátristecomJesusdesdeamortedeseuavômaterno,afaltaquesente,ospensamentosquetevedequenãoiria“sobreviver”àmortedele,afaltadevontadedeiràIgreja;mas,também,comoamaJesusemprimeirolugar,depoisaspessoasdafamília;oalíviodeencontrarosobjetosescondidos,poisquandoseperdealgo,“fica-seagoniada”.

Osdesenhosreferem-sea:um“manequimdecera”noqualseexpõemjoias;umaampulhetacomaescrita“aulasobreotempo”comonomedelaeodaterapeuta,colocadosladoalado;apartirdaí,foramtambémfeitosdesenhosdeumamulhercomonomecomposto(nomedaavóma-ternaeodamãe)eumhomemcomóculos,tambémcomonomecom-posto(odopaieodoavômaterno,falecido).

Asintervençõesterapêuticasmostraram:•queaterapeutasentemuitopelaperda,masconsideracomodeveter

sidobomconvivercomalguémcomquemIdapodiabrincarecriarcoisas;•queésofridoprocurarenãoencontraralgoounãoserencontrada;•queosanimaisdeixamsuasmarcas,masespecialmenteaspessoas

queremdeixarumamarcadesuapassagempelavida;•queIda“sobreviveu”eagorapode“viver”.

Ao términodo trabalho terapêutico, verificou-se como era impossí-velesperarumbomdesempenhoescolarquandoaquestãoprimordialéavida,osobreviver,oser.ChateadacomJesus,pela incompreensãodamorte,Idasedeprime,pois“sabequeamaJesus”egostadeiràigreja.Osencontrosterapêuticossalientaramoladopositivo:oganhodeumbomrelacionamento como avô,minimizando a perda, demodoqueo quepareciaperdido(comoapequenapeça)pôde,felizmente,serencontrado:o“pai-avô”,apartirdoqualfoidescobertoseuprópriopaieelapôdeiremfrente.

Considerações finais

Oatendimentoclínicotomoucomocritérioacolherasmanifestaçõesreligiosasdascrianças,quaisquerquesejam,pois,comoVergoteeoutrosestudiososdapsicologiadareligiãoafirmam,nãocabeaopsicólogonegarnemconfirmaracrençareligiosaquemuitaspessoastêmdequeDeus(ou

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umaentidadedivina)está“agindoemsuavidadeumamaneiraeficaz”(Vergote,1993,p.81).

Assim,aoestudaroentrelaçamentoentreodesenvolvimentoinfantileareligiosidadedacriança,está-setomandoexatamenteessa“crença”dacriançaemDeusparapesquisarquelugartemDeusemsuavida,comoelaserelacionacomoDivinoecomoessarelaçãorepercuteemsuavidaeemseudesenvolvimento.

Nocasoemquestão,ashistóriassobreoscenáriosnaareia(sandplay)queamenina fazrevelamelementos (símbolos) religiosos;asverbaliza-ções (“euvimeuavômorto”)e suasqueixasmostramcomoestá tristecomJesusdesdeamortedeseuavômaterno,afaltaquesenteeospensa-mentosdequenãoiria“sobreviver”àmortedele,afaltadevontadedeiràescola,mastambémdeiràigreja(elementoimportanteemsuafamília).

EmsuabrigacomJesus,pelaincompreensãodamortedoavô,elasedeprime,pois“sabequeamaJesus”egostadeiràigreja,porémaperdaétãograndequeasolidãotomacontadela,semespaçoparaareligiosidade.

Suaangústiasurgeaoprocuraraspedraspreciosaseoalíviovemaoencontrarosobjetosescondidos,porque,quandoseperdealgo,“fica-seagoniada”.

Oacolhimento terapêutico eo trabalhoclínico realizadoatravésdesandplay,desenhosenarrativas,ampliaramavisãodacriançaarespeitodaperda(avô)queteve,mastambémdeoutrasperdas,comoasboasnotasnaescola,avontadedeiràigrejae,porfim,asprópriasfigurasfamilia-res:seupai,suamãeesuaavó.Osencontrosterapêuticosaosalientaremoladopositivo(aboavivênciaquetevecomoavô,quepassouaserummotivoparaagradeceràdivindadeporelacultuada,Jesus)minimizaramaperda.Assim,tudoqueestavaperdido(comoaspedraspreciosas)podianovamenteserencontrado.Sódessemodo,elapôde“re-criar”omundo,comodizWinnicott,oquepossibilitouencontraroprópriopai.

Ocasoestudadosalientaanecessidadedeacolherrelatoseexperiên-ciasda“áreatransicional”(Winnicott),especialmenteasvivênciasquefa-lamdareligiosidade,pois,nãosendoacolhidooqueacriançapensa,senteefaladeDeus,aspectosqueconstituemseuuniversoreligiosoeprecisamestarintegradosaotododapersonalidadeinfantil,elestendemasediluirousetransformaremcomportamentosdissociados,comoRizzutoafirma.

Alémdisso,oqueéprecisosalientar,aofinaldessepequenoensaio,équetantoodesenvolvimentoinfantilquantoodesenvolvimentodare-ligiosidadenainfâncianãodevemserpensadoscomoestágiosrígidosde

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desenvolvimento,mascomoformaspeculiaresdoamadurecerhumano,como“continuum maturacional”,comointegraçãoquegeraharmonia.Oupodemaindaserpensadoscomoostrêsmodosdesernomundo,comodizBelzen:brincar,proverecontemplarqueseequiparamecabememtodasasidades,podendo,dealgumamaneira,estarpresentesnasdiversasida-des;assim,nãoéadequadosepararporfases:criançasbrincam,adultossãoprovedores,idososcontemplam.11

OutraformadecompreensãodessetemaédadaporPires(2008)quediz:“nareligiosidadeinfantil,areligiãoéalgoquepodeserpensadocomopartedomundoenãocomoreino,porexcelência,separadodocotidia-no”.Issosignifica,conformeosresultadosdeumapesquisadesenvolvidapela autora, que as atividades que os adultos chamariamde religiosas,paraascrianças,seriamtidascomopartedodiaadia,oqueestádeacor-docomWernerqueafirma:“acriançainterpretaomundodeacordocomosentidoqueosacontecimentostêmparasuavida”.

Comoúltimasconsiderações,gostariadecitarMokitiOkada12devidoaalgumasafirmaçõesimportantesquefaz

a) sobreaEducação:

Talvezachemparadoxaleufalarqueohomemdaatualidadedesenvolveusuainteligência,masprejudicousuacapacidadeintelectual.(...)Segundominhasobservações,éumaconsequênciadainstruçãoefetuadaantesdotempoapro-priado.Ainstruçãoprematuraémaléficaporqueseincutemconhecimentossemqueamenteestejasuficientementedesenvolvida,istoé,háumdesequilí-brioentreasnoçõestransmitidaseodesenvolvimentopsicofísico.Naverda-de,ohomemtemdeutilizarocorpoeamentedeacordocomsuaidade.Daraumacriançade7ou8anosumtrabalhomentalapropriadoaumjovemde15ou17anoséumatarefaexcessivamentepesada.(...)noensinoatual,acha-sequeébomumacriançade12ou13anosfazeroqueumadultofaz.Realmente,durantealgumtempo,acapacidadeintelec-tivasedesenvolvecomgranderapidez,eporissoainstruçãopodeparecerboa,masnãoháumdesenvolvimentoemprofundidade,formando-seadultoscomcapacidadeintelectivainadequadaesemumalógicaprofunda(Meishu-Sama,2003,v.5,p.176-177).

11.Oautoraindaafirmaqueéaexperiênciaestéticaquevaiajudararomperesseparadigma.12.FundadordaIgrejaMessiânicaMundial,cujonomereligiosoéMeishu-Sama.

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b)sobreacapacidadedeaçãodascrianças:

Este “eudomomento” refere-se à impressão instantânea, captadanomo-mentoemqueseobservaouseouvealgumacoisa.Éagircomoumacriança,semdartempoparaaintromissãode“barreiras”.Muitasvezesadmirocertaspalavrasusadaspelascriançasparasecertificaremdealgoqueumadultolhesdisse.(Meishu-Sama,2003,v.4,p.59)

c)sobreaintuiçãoverdadeira:

Tambémháocasiõesemqueaprendemoscomascrianças.Acreditoquejátiveramessaexperiência.Segundoateoriadaintuição,deBergson,ascrian-çaspossuemaintuiçãoverdadeira,poressarazãodizemcoisasmaravilhosas.Nasbrigas entremãee filhomuitasvezesaverdade estádo ladodo filho(Meishu-Sama,2003a,p.441).

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GeraldoJosédePaiva1

Resumo:Étradicionalarelaçãodareligiãocomasaúde.Sórecentemen-teasaúdeseemancipoudareligião,emrazãodosavançosdoconheci-mento da fisiologia, da patologia e, ultimamente, da biologia genética.Apesquisacontemporâneaéamplamentefavorávelàcorrelaçãopositivaentrereligiãoesaúde,eàcorrelaçãonegativaentrereligiãoedoença.Areligião,defato,éfrequentementeinvocadaemsituaçãodedoençaoudeameaçaàsaúde.Esserecursoàreligiãoédenominado“enfrentamento”ou“coping”religioso.Umgrandeestudiosodoenfrentamentoemgeral,edoenfrentamentoreligiosoemparticular,éopsicólogonorte-americanoKennethPargament.Esseautordefineenfrentamentocomo“oprocessopeloqualaspessoastentamentenderelidarcomimportantesexigênciaspessoaisousituacionaisemsuasvidas”.OminicursopretendeexploraracontribuiçãodePargamentnaquestãodoenfrentamentoreligioso.Palavras-chave:religião,saúde,psicologia.

Étradicionalarelaçãodareligiãocomasaúde.Sórecentementeasaú-deseemancipoudareligião,emrazãodosavançosdoconhecimentodafisiologia,dapatologiae,ultimamente,dabiologiagenética.Essaeman-cipaçãocontribuiuparaasecularizaçãodasaúde.Essasecularizaçãonãoéummal:pelocontrário,assinalaoreconhecimentodacomplexidadeda

1.Livre-docentedoProgramadePós-GraduaçãoemPsicologiaSocialdoInstitu-todePsicologiadaUSPedocentedaFaculdadeMessiânica<[email protected]>.

Enfrentamentoreligiosonasaúdeenadoença

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vidasocial,naqualsedistinguem,comrazão,osdiversossegmentoscomsuaautonomia.Essereconhecimentocaracterizaaidademoderna.

Apesquisacontemporâneaéamplamentefavorávelàcorrelaçãoposi-tivaentrereligiãoesaúde,eàcorrelaçãonegativaentrereligiãoedoença.Têm sido correlacionados negativamente com a prática religiosa, entreoutros,osseguintesdistúrbios:suicídio,arteriosclerose,enfisemapulmo-nar,cirrosehepática,tuberculose,câncercervical,bronquitecrônica,ton-tura, dores no peito,mononucleose, infecção da bexiga, asma e úlcera(Argyle&Beit-Hallahmi,1975;McIntosh&Spilka,1990).Osresultadosempíricostêmlevadoalgunsaseperguntarsenãoexisteumfatorpropria-mentereligioso,ouaomenosespiritual,nasaúde(LevineSchiller,1987;Piedmont,1999).

Areligião,defato,éfrequentementeinvocadaemsituaçãodedoençaoudeameaçaàsaúde.Esserecursoàreligiãoédenominado“enfrenta-mento”ou“coping”religioso.

Emsi,oenfrentamentonãoéreligioso.Aconsultamédica,ousoderemédiosoudecirurgias,adietacorretanãopertencemaocampodare-ligião.Muitasvezesaspessoassevalemdessesrecursosprofanos,ecomêxito.Outrasvezes,contudo,aspessoas,empresençadadoença,rezam,fazempromessas,participamdocultoe,debeladaadoença,dãograçasa Deus, cumprem promessas, participam de rituais de agradecimento.Nessescasos,estamosnapresençadoenfrentamentoreligioso.Esseen-frentamentonãoseopõe,geralmente,aoenfrentamentoprofano,mas,aocontrário,compõe-secomele.Oestilodeenfrentamentoaserutilizado,depende,noentanto,dascaracterísticasdapessoa,queresultamnãosódesuagenética,mastambémdesuasocialização.

Umgrandeestudiosodoenfrentamentoemgeral,edoenfrentamentoreligiosoemparticular,éopsicólogonorte-americanoKennethPargament.Esseautordefineenfrentamentocomo“o processo pelo qual as pessoas ten-tam entender e lidar com importantes exigências pessoais ou situacionais em suas vidas”(Pargamentecols.,1990,p.795).Nesseprocesso,devem-selevaremconta:(1)osacontecimentosousituaçõesdevida;(2)asavaliaçõesdasituação,quepodemser(a)primárias[quantoàsituaçãoéprejudicial]ou(b)secundárias[quaisosrecursosdapessoa];(3)asatividadesdeenfren-tamento[foconoproblemaounaemoção];(4)osresultados;(5)osrecur-soselimitaçõespessoaisesociais[porexemplo,redesderelacionamento,recursosfinanceiros].Umadasavaliaçõesmaisimportanteséaatribuiçãodaorigemdoacontecimento[natureza,acaso,pessoa]edareaçãoaele.

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Aplicadoàdoença,oenfrentamentovaiconsiderarqualsuaorigemecomoreagiradequadamenteaela.

HápessoasqueatribuemaDeusaorigemeacuradeseusmales;háoutrasqueatribuemaorigemeacuradadoençaacausasnaturaisouaoacaso;eháfinalmenteoutrasqueatribuemadoençaesuacuraacausasnaturaiseaDeus.Essastrêsmodalidadescriamtrês estilos de enfrentamento:odelegante,oautodirigidoeocooperativo.Oestilodelegante“deixatudonasmãosdeDeus”;oestiloautodirigidonãoéantirreligioso,masenfren-taosproblemassemreferênciastranscendentais;oestilocooperativocon-fianaprópriapessoaeconfiaemDeus(Agap:activeGod,activeperson).Pargamentadvertequeoestiloépredominante,enãoexclusivo.

Quandosediscuteoenfrentamentoreligioso dadoença,lidamoscomoestilodeleganteoucomoestilocooperativo,pois,emambos,Deuséleva-doemconsideração.Emrelaçãoaessesestilos,Pargamentseperguntaseacrescentamalgumaeficáciaaoestiloautodirigido.

AquiéconvenientefrisarqueaperspectivaapartirdaqualPargamentenósfazemosessaperguntaéaperspectivapsicológica,enãoaperspec-tivateológica.AteologiatemseuscritériosparadeterminarseDeusagedemodoparticularquandoinvocadonumasituaçãodedoença.Apsico-logianãotemcomochegaraDeus:elaselimitaàpessoahumana,queinvocaaDeus.ComodizMarioAletti,nãosetratadeseDeus ajuda,masdesecrer emDeusajuda(Aletti,2004).Aduplicidadedeperspectivasen-seja,etalvezexijaemalgunscasos,aconjuntacompetênciadeteólogosepsicólogos.

Doponto de vista psicológico,Pargament aduz várias ponderaçõesquenoslevamacreditaraoenfrentamentoreligiosoumaeficácia,senãomaiorqueaeficáciadoenfrentamentonatural, seguramentediferencia-da em termosdeabrangência eprofundidade.Segundoesseautor,nãosomenteo“caráterabstrato,simbólicoemisterioso”dareligiãoatornaumrecursoacessívelnavariedadedos tempos,dascircunstânciasedasnecessidades(Pargament,1990),masacaracterísticamaissingulardoen-frentamentoreligioso,istoé,osagrado“confereàpessoareligiosaumen-tendimentoeumacapacidadedereaçãopeculiaresanteaosacontecimen-tosquefogemaseucontrole”(Paiva,2007).Semdúvida,areferênciaaosagradomobilizacognições,motivaçõesepulsõesquedispõemumanovaconfiguraçãodaexistência.Comisso,podematingir,medianteosistemaimunológico,afaixadobiológiconohomem,naqualsesituaadoença,nãosófísicacomotambémmental(Paiva,1998).

Conferências e Minicursos

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Duasconsideraçõesparacomplementaradiscussãodoenfrentamentoreligiosodadoença.Aprimeiracorrespondeàinserçãodoenfrentamentoreligiosonavidacotidianadapessoa.Asegundarefere-seaosentidoqueessetipodeenfrentamentoécapazdeconferiraoconjuntodaexistência.

Quanto à primeira, escrevíamos (Paiva, 1998) que o enfrentamentoreligiosoédefensávelquandoincluídonumprazodevidamaisdilatado,asaber,odarelaçãocomDeusnavidacotidiana.Seguramente,orecursoaDeusémaisfrequenteemsituaçõesdeperigo,masadinâmicadoen-frentamentoreligiosonãoéumsimplesinvocaçãorepentina:supõecertocultivodesserecurso,queenvolvenãosóopoderdeDeus,comoseujulga-mento,suasintenções,suabondadeesualiberdade.Porisso,ainvocaçãosóéenfrentamentoreligiosoaoseenraizarnavidadapessoa.

Quantoàsegunda,éimprescindívelnotarqueareligião,quandore-curso de enfrentamento, não deve visar apenas à cura da doença,mastambémaobem-estarmaisamplodapessoa.Essebem-estarmaisamplo,queincluioutrosaspectosdavidaeorelacionamentocomparentes,ami-gos,outrossofredoreseterceiros,équedeveserbeneficiadocomorecursoàreligião,capazdereestruturarcognitivaeafetivamenteatotalidadedapessoa(Paiva,1998).

Referências Bibliográficas

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Conferências e Minicursos

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Umolhardafilosofiadareligião,pelasconcepçõesdeFranzRosenzweigeJacobLevyMoreno,paraousodopsicodramanaeducação

Educação

MariaTeresadaSilvaTeixeiraPinto1

Resumo: ParaFranzRosenzweiga filosofiaantiga reduzDeuseoho-memaomundo,oqueresultaemumaperspectivacosmológica;aIdadeMédiareduzohomemeomundoaDeus,perspectivateológica;eaIdadeModerna tem reduzidoDeus eomundoaohomem,oquenos colocaemumaperspectivaantropológica.Oendeusamentodoserhumanoeoreducionismoestabelecemvaloreshumanospelo crivoquantitativodei-xandoumlastrodeimobilidadeparaoacontecersolidárioederelaçõesdeenvolvimento,designificaçãoparaavida.Consideramosqueopsico-drama,abordadoporsuaorigemfilosóficareligiosanaobraAs Palavras do Pai,deJacobLevyMoreno,podecolaborarcommaiorefetividadenumaresignificaçãodesentidodevida, individualeoudegrupoe,poroutrolado,oNovo Pensamento deRosenzweigpermiteconheceroserhumanoem sua criaturalidade face aoCriador.O pensamento desvinculado daexperiência (opensamentopensante)consideraa relaçãoDeus-Mundo-Humanodeumaúnicaótica–aquedesvinculaoselementoseosreduzaapenasum,emsimesmo.Jáopensamentofalante,onovopensamento,consideraostrêsirredutíveisentresi.Esteartigovisaaproximarascon-cepçõesdeMorenoedeRosenzweigsobrecriação;enfatizaracondiçãodecriaturalidadedoserhumanoeseuvínculoirredutívelcomoCriadoreomundo;ecompreenderopsicodramapeloviésdafilosofiadareligião,apresentandoassimumanovapossibilidadedeseuusonaescola,espaço/tempoderelações.Palavras-chave: gestãoeducacional,psicodrama,filosofiadarealigião.

1. Pós-graduada do curso lato sensu “Estudos da Religião e suas Interfaces com a Educação”, da Faculdade Messiânica <[email protected]>.

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Estacomunicaçãorefere-seaumartigocientíficoapresentadocomoconclusãodeCursodePós-Graduação,Lato Sensu,EstudosdaReligiãoesuasInterfacescomaEducação,daFaculdadeMessiânica,soborientaçãodaProfa.Dra.VivianeCristinaCândido.Édecorrentedeumestudoqueeufizanteriormente(2007),quandodagraduaçãoempedagogia,quepro-punhaopsicodramacomoferramentadetreinamentodeGestãoOrgani-zacionalEscolar (pedagógica e administrativa).O objetivo era ofereceraosgestoresummododetrabalharosconflitosinternoseexternos.Nocasopreciso,tratava-sederelaçãoconflituosaentreeducadoresescolareseeu,enquantoresponsávelporminhafilha,quetemnecessidadesespeciais.

Oquemefezdecidirestudareducaçãofoique,numareuniãocomtrêsprofessorasquehaviamcomeçadoadaraulasparaminhafilha,semte-rem,todavia,recebidoorientaçãodacoordenaçãopedagógicasobreane-cessidadeespecialdacriança,elasrecusaramasinformaçõesqueeutraziadevidamente documentadas por relatórios especializados.De fato, essasituação foi amais severamente ridícula que vivi na educação, porque,alémda recusacientíficanumespaçoeducativo, fuicriticadaporacharque adificuldade cognitivada educandadeveria receber algum tipodeatenção,jáquetantasoutrasdificuldadesescolaresmuitomaissérias,aosolhosdessasprofissionais,seapresentavamnaquelainstituição.Foiessaincompetênciaprofissionalquemefezseguirestudosacadêmicosnaedu-caçãoatéagora.Issodatade2004,háoitoanos.

Jáointeressepelopsicodramasedeveaosestudosquerealizeinaes-colaRolePlaying,de1986a1988,sobacoordenaçãodapsicodramatistaMarisaGreeb.Naépoca,eueragestoraderecursoshumanos,naprofissãodeadministradora.Decorridosquatroanos,mantenhoaconvicçãodaefe-tividadedetalferramentadetrabalhoparaoaprimoramentodasrelaçõesinterpessoais,porém,atualmente,amplioessacompreensão,pelafilosofiadareligião,considerandoasorigensfilosóficasereligiosasdapercepçãodohumanonospensamentosdeFranzRosenzweigenopróprioautordopsicodrama,JacobLevyMoreno,oqueresultanumanovaanáliseacercadaefetividadedopsicodramacomoferramentadetrabalhonaeducação.

OpsicodramaencontrasuaorigemnopensamentoreligiosoHassidis-tadeJacobLevyMoreno (1889–1974),médico romeno judeu sefaradi.Escolhemosseulivro,As palavras do Pai,editadoem1941,epelaprimeiravezem1922sobotítuloO testamento do Pai,porqueénelequeMorenoexpõeosfundamentosfilosóficosreligiososqueorientamsuavidaeporsetratardeumaexperiênciatranscendentalcomoelemesmoodefiniu.

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Educação

FranzRosenzweig(1866–1929),historiadorefilósofojudeualemão,introduz,namesmaépoca,onovopensamento,nolivroA estrela da Re-denção (DerSternderErlösung).Sinteticamente,apresentaessemétodofilosóficonolivrocomomesmonomeEl Nuevo pensamiento–O novo pen-samento(DasNeueDenken),em1925.ComoemMoreno,seustextossãoresultantesdeumviverqueconsideraaexperiênciacomoprincípioelimi-tedoconhecimento,opontodepartidaparaopensar,queédeterminadopelaconsciênciadafinitudeedotempo.

Consideramosqueopsicodrama,abordadoporsuaorigemfilosóficaereligiosa,podecolaborarcommaiorefetividadenumaresignificaçãodesentidodevida,individualeoudegrupo,paratantoconsideramosO novo pensamento,deRosenzweig,quenospermiteconheceroserhumanoemsuacriaturalidadefaceaoCriador.

Eaplicandoàeducaçãoaconcepçãopsicodramáticamoreniana,eosfundamentosdopensamentodeRosenzweig,encontramosterrenoaindamaisfértilnaescolasecompartilharmoscomaanálisedoeducadorJoséPacheco(1951–),idealizadordaEscoladaPonte,emPortugal.Seulivro,Sozi nhos na escola, ilustra,mediante crônicas e reflexões, a escola comoespaço/tempodosolitário.Foiessasolidão,quesenti,anosafio,aodia-logarcomváriasinstituiçõesescolaressobreasnecessidadesespeciaisdeminhasfilhas.

UmdosprecursoresdopsicodramanoBrasil,opsicólogoepedagogofrancêsPierreWeil(Cf.Motta,2008,p.32-33),naapresentaçãodolivroPsicoterapia de grupo e psicodrama deMoreno,faladaexcentricidadedoau-torquandoele,porváriasvezes,afirmaserDeus:

Morenoéantesdetudo,umMístico,quetemextraídodamísticaumapsico-terapia,equetemfeitodapsicoterapiaocaminhoparaoqueMaslowcha-moudeexperiênciadepico,devalorterapêuticoinestimávelparaopresenteeofuturodahumanidade.(WeilapudNudel,1994,p.18).

Opsicodramaprivilegiaaação,aexperiência–arelaçãodiretaentreopensar,ofalar,oviver–efoiissoqueMoreno,atestouemsuaprópriavida.Opsicodramafoivividonasruas,nosparques,nascasas.

Nudel,emsuaobra,Moreno e o hassidismo: princípios e fundamentos do pensamento filosófico do criador do psicodrama,demonstraaorigemreligiosadeMoreno.Hassidismoéumacorrentedentrodojudaísmoquesurgeporvoltade 1750, porBesht, abreviaturadeBaal ShemTov, que idealizouumnovomododepraticarareligiãosemalterarseusprincípioseconteú-

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do.Ojudaísmopassaaserpraticadonãosónaelite,nassinagogas,mastambémnopovo,nas ruas,ondehouvessegentequeo seguisse.Podia-sechegaraDeus,pelavidaemtodososespaços,etodososmomentos.Deusestavanomundo,nãosónassinagogas.OencontroentreCriaturaeCriador foi facilitadopelacrençadequeDeusestáemtodasaspartesdomundoquecriou.ADivindadenãoeraexclusivadocéu(cf.Nudel,1994, p. 46).Acontecia a transformaçãoda relaçãovertical comDeus,pelarelaçãohorizontal.Influenciadoporessaabertura,Morenocriousuaprópriareligião:

Minhanovareligiãoeraareligiãodoser,daautoperfeição.Eraareligiãodacuraedaajuda,poisajudareramaisimportantedoquefalar.Eraareligiãodosilêncio.Eraareligiãodefazerumacoisaporelamesma,semprêmio,semreconhecimento.Eraareligiãodoanonimato.[...]Arazãodeeuterescolhi-doocaminhodoteatroemvezdeterfundadoumaseitareligiosa,entradonummonastério,oudesenvolvidoumsistemateológico(apesardenenhumadessasalternativasexcluirqualquerdelas)podeserentendidaaoseolharparaocenárioemquesurgiamminhasideias.Eusofriadeumaideiafixa,oudoquesepodiaentãochamardepresunção,masquehoje,quandoosfrutoses-tãosendocolhidos,chamar-se-iagraçadeDeus.[...]Aúnicaformadelivrar-sedasíndromedeDeusédesempenhando-a.(Moreno,1997,p.47,52-53)

EMoreno,pelopsicodrama,desenvolveaespontaneidadeecriativida-de(ascentelhasdivinas)paralibertarohumanoeassimesteseaproximardeDeus.

DizWeilque,noúltimoencontroseucomMoreno,estecomartristefalou:“EuquisserDeus,oPai,masfracassei”(NudelapudWeil,1994,p.18).OqueestranhamosnessaspalavrasnãoéofatodeMorenoafirmarserDeus, porque isto é próprio tanto noAntigo comonoNovoTesta-mento Deus está em nós e nós estamos em Deus,massimodesedeclararemfracasso.AindaqueMoreno tenhacriadoumaracionalidadeparaumaconcepçãofilosóficaepsicológica,porinfluênciamístico-religiosa,nossoquestionamentosedirecionaparaaidealizaçãodopsicodramacomoprá-ticadetrabalhoqueeliminaconflitos,capazderemirasieaooutropelarelação.SupomosqueosentirdeMoreno,aorevelarsuatristezaemfinsdevida,podeestarnutridopelo“endeusamento”dohumanoeissoé,porassimdizer,oporquêdeestudarmosFranzRosenzweig.

FranzRosenzweigpropõeumnovomododepensar–onovopensa-mento,queconsideraacategoriatempo,comoaprópriavida,criticandoafilosofiatradicionalquebuscaaessência:

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Todaafilosofiaperguntapelaessência,estaéaperguntaqueseparaopensarnão filosóficodo sadioentendimentohumano (o sensocomum).Estenãoperguntaoqueépropriamenteumacoisa.Alcança-oporapenassaberqueumacadeira éumacadeira.Nãopergunta seporumacasoa cadeiranãoéalgointeiramentediferente.Precisamenteistoperguntaafilosofiaquandointerrogapelaessência.Denenhumamaneiraomundopodeseromundo,DeuspodeserDeus,ohomem,homem,senãoquetodosdevemser“propria-mente”algodiferente.[...]Aessênciadohomemeaessênciadomundo–aessência!–nãoémaisinalcançávelqueaessência–aessência!–deDeus.Delessabemosnóstantoetãopouco,istoé,tudoenada.Sabemosdemodomaisexato,osabemoscomosaberintuitivodaexperiênciaoqueDeus,oqueomundoeoqueohomem,consideradosemsimesmos“são”(Rosenzweig,2005,p.19e23).“Aessêncianãoquersabernadadotempo”(Rosenzweig,2005,p.29).

Onovopensamentovalorizaotempooportuno,oinstantepresente,poisnãopodemosfazernadasemcontarcomotempo.Éotempoquesus-tentaodiálogo.SegundoRosenzweig,adiferençaentreovelhoeonovopensamentonãoconsisteemfalaraltooubaixo,masemnecessitardoou-troou,oquedánomesmo,emlevarasériootempo.Onovopensamentolevaemcontaadiferença,apluralidadeeaexperiênciasingulardecadapessoacomatemporalidadedoacontecimento.Oserhumanoépensadonaplenitudedeseuser.Rosenzweigvalorizaasexperiênciasdocotidiano,osacontecimentosdodiaadia.Averdadenãoémaisotodoemsuauni-dadeabsoluta,masaverdadesingular,opluralismodesentidoquemarcaariquezadoreal,davidacomtodasassuasexperiênciasevivências.

Opensamentodesvinculadodaexperiência(opensamentopensante)consideraarelaçãoDeus-Mundo-Humano,deumaúnicaótica–aquedesvinculaoselementoseosreduzaapenasum,emsimesmo.Jáopensa-mentofalante(Rosenzweig,1925),onovopensamento,consideraostrêsirredutíveisentresi.AfilosofiaantigareduzDeuseohomemaomundo,oque resultaemumaperspectivacosmológica;a IdadeMédia reduzohomemeomundoaDeus,perspectivateológica;eaIdadeModernatemreduzidoDeuseomundoaohomem,oquenoscolocanumaperspectivaantropológica(Cf.1925,p.20).

RecorremosaCândidoparaapresentarairredutibilidadeentreDeus-Mundoehomem.ParaRosenzweig,ahistóriadafilosofiatemretiradocadaumdesuacontingência,seusendonomundo–lugardaexperiência,lugarondesedãoasrelaçõesentreessesconceitos;sejalançando-ospara

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asupervalorizaçãodesuasindividualidades,ouisolando-osparaaabstra-ção,aqueestáfadadotodoaquelequeéretiradodomundo,dacontingên-cia(Cf.Cândido,2008,p.180).

Sóoquepodemossabersobreohomem,afinal,équeeleperecerá,é“perecedeiro”.Oqueelepodeafirmarsobresimesmoéque“segueexis-tindo”emsuaparticularidade.Trata-sedeumfenômenosingulardentrodomundoenãoumaindividualidade–estáemrelaçãocomomundoe,consequentemente, comoutras individualidades; e ilimitadoporqueemrelaçãocomDeus.Contudo,compreendidocomosimesmo,permanececomohomemsolitário(Cândido,2008,p.182).

Seperguntar:oqueéomundo?Earespostafor:omundoé...,sejaoquefor,seráumarespostasobreaaparênciaeperguntarsobreaessênciadomundoéqueelanadaé.Onadaéaessênciaquemoranofundodasaparênciasdomundo(Cf.Rosenzweig,2001,p.48).

Olhar omundopelas suas contingências, em suas singularidades, éomundoconcreto,realquevaisefazendopelasexternalidadeshomemeDeus.Esódáparaentendê-losembuscaressência,porqueelesempreéalgoparticularizado,suageneralizaçãoficaránocampodoirreal,dasaparências.

Pelosmesmosmotivosdohomemedomundo,Deusnãoéumtodoouumideal.Deustemnomecomqueonomeamos;contudo,essenome,diferentementedomundooudohomem,nadaquerdizerparaDeus.Elenãonecessitaserchamado,ouveaquemochama,ouveosilêncio.Temnomeparaquepossamoschamá-lo(Cândido,2008,p.192).

EmRosenzweig, para o conhecimento do homem, domundo e deDeus,acondiçãonecessáriaéconsiderararelaçãoentreeles,nãohavendopossibilidadedeconhecê-losemsiesimnasrelaçõesqueestabelecemen-tresi.Pois,narealidadeefetiva,quesenosdáunicamentenaexperiência,essaseparaçãodeDeus,mundoehomemésuperadaetudooquetemossãoexperiênciasdeseusvínculos.Deusemsimesmo,sequeremosfazê-loconceitualmente,seoculta;ohomem,nossosimesmo,sefecha;eomun-doseconverteemumenigmavisível.Elessóseabrememsuasrelações(2005,p.32-33).

VejamosagoracomoMorenopensaDeus,mundoehomem.SobreDeus,Morenoafirma:

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Educação

[...]umserparaoqualtodooUniversoénadamaisnadamenosdoqueumaexperiênciaíntimaepessoalquechegaatéopresente.EsseseréoCriadordoUniverso.ÉopróprioDeus.[...]olugarocupadoporDeuséaqueleondeaespontaneidadeeacriatividadechegamàsuaexpressãomáxima.(Moreno,1992,p.136-137)

Espontaneidadeéumestadodeprontidãodosujeitopararespondermaisrapidamente,quandolheforsolicitado.Éumacondição–umajus-tamento – do sujeito, umapreparaçãodomesmoparaumaação livre.Portanto,a liberdadedeumsujeitonãopodeserobtidaporumatodevontade.Elacresceemgrausemconsequênciadoensaionaespontanei-dade(Moreno,p.152).AespontaneidadepuraseriaopróprioDeuseacriatividadeoprincípiodoUniverso(p.28-29).EadiferençaentreDeusehomemseencontranograudeespontaneidadeecriatividadequecadaumpodemanifestar.ComoDeuséoCriadordoUniverso(ejamaisDeleseráseparado)eohomemnelevive,entãoohomeméinseparáveldeDeus.

ParaMoreno,Deus,mundoehomememAs palavras do Pai,serelacio-nampelapresençadaespontaneidade,cujoestadoplenoéopróprioCria-dor,quehabitaocoraçãodoserhumanocomoumacentelhadivinae,porissopequenoscriadores,pequenosdeusesossereshumanossetornam.Odivinopassaaencarnarnaexistênciahumanaeohomeminacabadoemeternodevir,ocupaumtítulodeeu-deus.

ODeusdoantigotestamentoeraum“Deus-Ele”,umsersupremoquegover-navaavidadoshomens,estavaforadeles.JáoDeusdonovotestamentoéum“Deus-Tu”,poiscomavindadeCristo,construiu-seumDeusmaispróximo,umDeus-de-amor,comenormesabedoria,inteligência,doçuraerecolhimen-to.Noentanto,novamentejáéchegadoomomentodeumareavaliaçãodoconceitodeDeus.Dessavez,concebe-seumDeusquesemanifestaatravésdenósmesmos,um“Deus-Eu”.Dessaformatodosseriamoscriadores,seria-mosDeuse,portanto,responsáveispeloUniverso.(Moreno,p.12-13)

EmMoreno,aindaqueDeussejaonipotente,CriadordoUniverso,aprópriaDivindade,Eleseaninhanocoraçãodohomem,sereduzaele.Emundo?“[...]omundoquenósescolhemos,omundoquenóscriamosequepossaviraserumaprojeçãodenósmesmos”tambéméreduzidoaoprópriohomem.

Eparapensarostrêsconceitos,ofundamentomorteéaconsciênciadafinitude.Admitiraprópriamorteéumviver,aindaquesoboespectrodomistério,conscientedafinitude–emMorenoaincomplitude,emRo-

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senzweigainsuficiência.Eafinitudedooutro,quandosecumpre,facilita(emlinguagempsicodramática)oencontrocomaprópriafinitude–“ama-nhãsereieu”.Éooutro,aofimdoseuvivendoderradeiroquepossibilitaoolharparamimmesmo,emecolocanumaposiçãodeescolhaentregrati-dãopeloestarvivo,àprópriaVida,aDeus,oudeindiferença,earrogânciapeloinstantedamorte,da“irmã”quenosacompanhadesdeonascer,dainsuficiênciado“fazersó”oprópriocaminho.

Naautossuficiêncianãoexistelugarparagratidãoeperdão.Admitiroerroé justamenteadmitira insuficiênciaenelacompartilha-secomooutroHomem–oconhecido,comoMundo–olócus,ecomDeus–omentordavida,aprópriagraça,eénasrelaçõesentreessastrêsdimen-sões,que segeraráagratidãoeoperdão;a circularidadedo temponoexercício das criaturalidades. Entendida aqui criaturalidade, conformeCândido,comoaexperiênciadeserlimitado,mortal,incapazdetodasasrespostas.Conceitoquenãoexigeodadodefé,emboraamortesejaumfato,aexperiênciadolimiteéumfato,ademais,suavalidadeparatodoséconstatável(2008,p.213).EassimaHumanidadevivesuadependênciacomoMundoeDeus.

Podemosafirmarqueénolugardainsuficiência,queDeusserevelapelomundoepelascriaturasàcriatura,eoserhumanosesalvaservindo/apresentandoDeusàoutracriatura–Criação,Revelação,Redenção.So-mossalvospelosoutros,massóosabequeméinsuficiente.Asalvaçãosedáquandosetemcoragemdeatenderopróximo.Énaaçãohumanaqueserevelaacriaturalidade,queDeusserevelaatravésdesuascriaturas–Criação,Criaturalidade,Criatura.ReconhecerainsuficiênciaédarlugarparaDeusagir.

ParaMoreno, é na consciência de sua incompletudequeohomembuscaseaproximardoCriador,sem,todavia,alcançá-la,porqueninguémsecomunicadiretamentecomDeus.Criavínculos,aninha-Oemseuco-ração,masnãoOalcança.AhumanidadecrianovosconceitosdeDeus,nestestempos–oDeus-Eu,maséElequesecomunica,éElequetemopoderparaisso.

Naintroduçãodestetrabalho,explicamosqueeleseoriginoudeumapesquisa acadêmica que propunha o psicodrama como ferramenta detreinamentodaGestãoOrganizacional(pedagógicaeadministrativa)daEscolaquefoianalisadaenquantoespaçodeconflitos.ComFranzRosen-zweig,pudemosperceberqueosconflitosnãonecessariamenteprecisamouatépossamser resolvidos,maspodem,sim,sercompreendidospela

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dinâmicadacontrovérsia–doreconhecimentodaalteridadeedacontin-gência–reconhecimentoda insuficiência.Passamosentãoaentenderaescolacomoespaço/tempoderelações.

No livrodecrônicasSozinhos na escola,dopedagogoportuguêsJoséPacheco,baseadasnavidadaEscoladaPonte,emPortugal,oprofessoré chamadoapensarnos seusalunos comoeles sãona realidadeenãonoidealismo,escoladepensamentoetendênciahumana,tãocriticadosporRosenzweigeMoreno, fechandoosolhosaoqueestádiantedeles:ooutro–comsuavidareal,suasinsuficiências.Aescola,quenoestudoanterior foiobservada comoespaçode relações conflituosas–no caso,entreresponsáveldeeducandoegestor,agoraaobservamoscomoespaçoderelaçõesdesolidão–entreprofessoresealunos.

Professoresealunosestão sozinhosnaescola, e comoPacheconosalerta:osobstáculosqueumaescolaencontra,quandoaspiraapráticasdeinclusão,sãoproblemasderelação:

Todasasescolasdeveriamserespaçosprodutoresdeculturassingulares,mastambém espaços demúltiplas interações, comunicação, cooperação, parti-lha...Sabemosquenãoébemassim.Asescolassão,quasesempre,espaçosdesolidão.Otrabalhodosprofessoreséumtrabalhofeitodesolidãoeasoli-dãodosprofessoresédamesmanaturezadasolidãodosalunos–professoresealunosestãosozinhosnasescolas.(Pacheco,2003,p.14)

Mascomonãoestarsósea idealizaçãoéoquecomandaarelaçãoenãopropriamenteoreal?Apreocupaçãocomaessênciadafunçãodaescola,doprofessor,da instituição, fazohomemsairda realidadee seocupardeabstrações enãodasnecessidades reaisdosalunos,do fazersilêncio“escutatório”,fundamentodoreconhecimentodooutro(Cf.Pa-checo,2003,p.14).

Asescolassãoespaçosdesolidão,dizPacheco;eopensamentoésem-presolitário,afirmaRosenzweig (trata-seaquidopensamentopensanteenãodopensamentofalante).Oeducador,oresponsávelpelaeducaçãodascrianças,doseducandos,aofalarparatodos(públicoemgeral),enãofalaraalguémenãopensarparaalguémqueédeterminado,aelelhecabeasolidão.Pensarparatodoséomesmoquepensarparanada.

OeducadorJoséPacheco,contrariandoaquelesdepensamentoúni-co,opensamentopensante,entregou-seaumaexperiênciaárdua,criandodesafetos,ao sededicarno tempoa transformarumaescolade solidãoemoutra ondeo ensinar e o aprender são singulares, é para cadaum.

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Trata-sedaEscoladaPonte,emPortugal,quefoieéobjetodeestudosereconhecimentomundialporsuaspráticaspedagógicas(verobraEsco-la da Ponte: formação e transformação da educação).Emseuartigo,“Solidãonãorimacominclusão...,2010”,chamaoprofessorparaamudançadepensamento.AmetamorfosecomentadaporPachecocompreendendooconhecimentodacoisaúltimaesupremae,porconseguinte,amudançadepensamentodoprofessor,podeserfacilitada,nainstituição-escolapelousodopsicodrama.

Eaquivoltarmosaoiníciodenossointeresse–quandopropusemosousodométodopsicodramáticopararesoluçãodeconflitos.Elemantémsua força como ferramenta de apoio à transformação, porém revestidodeoutrafunção:apoiarodiálogodascontrovérsias(dasdiferenças)eoreconhecimentodascontingências(dainsuficiência)enãomaisadefer-ramentapararesoluçãodeconflitos,porqueestes,alémde,porvezes,nãoseresolverem,tantasoutrasvezessempreaíestarão,seosentendermoscomocontrovérsias,cujodiálogosóacontecesehouverreconhecimentodaalteridade.

Opsicodramanaeducaçãopodeseraplicadotantoemambienteinter-no,entreosmesmospares,comonoambienteexterno,comunitário.To-dososenvolvidosnarealidadeescolapodemdeleparticiparparaclarearseuspapéisemrelaçãoaooutro,eàinstituição/mundo

OtempoéDeusparaRosenzweig.Instanteparaele,momentoparaMoreno,otempodoaquieagora,otemporeal,avidaemsuaexistênciareal.

Moreno trouxe o psicodrama para o homem se apossar dele comoferramenta,comotécnicadeapoioaoreconhecimentodesipróprio,edooutro.

Opsicodrama fez seu caminhode aceitação emambientesondeaspartesenvolvidasdiscutemsuascontrovérsias.Emespaçosescolares,nasreuniõesavaliativasdotrabalho,seatécnicaforaplicada,certamenteosqueaopsicodramarecorrem,marcassefazemedesfazememsuavida,existências.Estafoiatentativaaludidanomeuestudoanterior,quandoliaaescolacomoespaçodeconflitosdetrabalho.

A solidão que o educador pedagogo José Pacheco nos traz revestetodooentendimentoquetemossobreaaçãoeducativa,quesempreéfor-madora,oexemplosefaz.Aperguntaquemefaçoenquantoeducadoraésetenhoeducadoparaasolidãoouparaocontentamento?

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Estetrabalhoconvidaoseducadoresescolaresaperceberseuslimitesenquantoconhecedoresdedeterminadaáreadoconhecimentoe,que,poressamesmarazão,seuslimitestambémsepercebemnasatitudes,naacei-taçãodascontrovérsias.Opsicodramafacilitaoreconhecimentodooutro,porémocuidadoestánoreconhecimentodoeucomocriatura,agindonacriaturalidadedomundo.

Referências Bibliográficas

ASSIS,Machadode.Dom Casmurro.SãoPaulo:Paulus,2002.189p.CÂNDIDO,VivianeCristina.Epistemologia da controvérsia para o ensino religioso:aprendendoeensinandonadiferença,fundamentadosnopensamentodeFranzRosenzweig.SãoPaulo,2008.411f.Tese(DoutoradoemCiênciasdaReligião)–PontifíciaUniversidadeCatólica.____________.FranzRosenzweigeaeducação:conhecimentonadiferença,ten-doatensãocomométodo.In:ROSIN,Nilva;SANTOS,Robinsondos.(Orgs.).Reflexões Filosóficas no pensamento de Franz Rosenzweig.PassoFundo:IFIBE,2010.____________.Educação em Franz Rosenzweig:ensinandoanãoparalisarquandoDeus,HomemeMundoseencontram.(2010,noprelo)CUSCHNIR,Luiz.J.L.Moreno:autobiografia.SãoPaulo:Saraiva,1997.160p.GUARNIERI,MariaCristinaMariante.Ensino religioso em Franz Rosenzweig.Dis-ponívelem:<http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf>.Acessoem:30ago.2011.GUINSBURG,J.(Org.).O judeu e a modernidade: súmula do pensamento judeu.SãoPaulo:EditoraPerspectiva,1970.625p.MORENO,JacobLevi.As palavras do Pai.Campinas:EditorialPsy,1992.274p.MOTTA,JuliaMariaCasulari.(Org.)Psicodrama brasileiro:históriaememórias.SãoPaulo:Ágora.2008.NUDEL,BenjaminWaintrob.Moreno e o hassidismo:princípiosefundamentosdopensamentofilosóficodocriadordopsicodrama.SãoPaulo:Ágora,1994.93p.PACHECO,José.Solidão não rima com inclusão... 2010.Disponívelem;<http://www.educare.pt/educare/Opiniao.aspx>.Acessoem:8set.2011._______________. Sozinhos na escola. São Paulo: Editora Didática Suplegraf,2003.115p.ROSENZWEIG, Franz.El nuevo pensamiento. BuenosAires:AdrianaHidalgoEditora,2005.272p.___________________.El livro del sentido común sano y enfermo.Madri:CaparrósEditores,2001.101p.

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AndréaGomesSantiagoTomita1

Resumo: Apropostadeumaeducaçãoembasadanaimaginaçãocriati-vaenavisãoprospectivadeumautopiafundadanaconstruçãodeumanovaracionalidadeambientalé“umadasveiaspelasquaiscorreosangueda educação ambiental naAméricaLatina” (Leff, 2009).EmParelhei-ros/SP,pequenasagricultoraspulsamestaeducaçãoeprotagonizamsuashistórias.Estacomunicaçãopretendeapresentarosresultadosparciaisdoprojetoemandamento“Mulherescomoagentesdetransformaçãosocio-ambientalna regiãodeParelheiros”,denatureza interdisciplinar.Serãomapeadasefomentadasaçõesdetransformaçãosocioambiental“pormu-lhereseparamulheres”daregiãodoSoloSagradodeGuarapiranga,ten-doasensibilizaçãoartísticacomometodologiacentral.Palavras-chave: educação,meio ambiente, consciência socioambiental,mulheres,Parelheiros.

GrandepartedosvisitantesdoSoloSagradodeGuarapiranga–mem-brosdaIgrejaMessiânicaoumesmopaulistanosembuscadedescansonumdomingoensolarado–poucoconhecemsobreseuentorno:aregiãodeParelheiros.

QuandocomeceiavisitarParelheiroscomoutrosolhos,maispreci-

1.DoutoraemCiênciasdaReligião.DocentedaFaculdadeMessiânica/projetofinanciadopeloCNPQ<[email protected]>.

Sensibilizaçãoartísticacomocaminhodeconscientizaçãosocioambiental:mapeandoefomentandoaçõesentremulheres

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samenteduranteumaatividade2doprojeto“MulheresdeParelheiros”,fizumparalelo:“ParelheirosestáparaSãoPaulocomoaAmazôniaparaoBrasil”.Unsdoismesesdepois,emconversacomJoséCarlosCôrreaCavalcanti–escritordolivro-reportagem“ConhecendoazonasuldeSãoPaulo”,ouviaexpressão“AmazôniaPaulistana”:

AquiemSãoPaulo,amenosde40quilômetrosdaPraçadaSéestáa“Ama-zôniaPaulistana”,um“enclaveregional”compeculiaridadesquesedesta-camdo conjuntoda sociedadepaulistana edesconhecidasdamesma. (...)SimilarmenteàAmazônia,naregiãodeParelheiros,apopulaçãovivenumdospioresíndicesdepobrezaeestárodeadadeumenormepatrimônionatu-ral.Asnecessidadesvitaiseimediatassesobrepõemedificultamvisualizarasnecessidadesvitaisestratégicas,tantodapopulaçãoresidentecomodoen-torno.(Tesch,[s.d.])

Conforme dados do IBGE de 2010, a Subprefeitura de Parelheiroscontacom137.441habitantes,apresentandoíndicesdoIPVS(ÍndicePau-listadeVulnerabilidadeSocial)que se situamentremédiaemuitoaltavulnerabilidadesocial(Fonte:FundaçãoSeade).Arealidadedessaregiãoruralemprocessodecrescenteurbanizaçãoéadeumapopulaçãocombaixarendafamiliaregraudeescolaridade.

Énotóriooaumentodeproblemassociaiscomodesemprego,violên-ciaruraleurbana,degradaçãoambiental,delinquênciajuvenil,drogade-pendênciaeafaltadeespaçossocioeducativosparaodebateebuscadesoluçõesconformearealidadelocal.

Nesse contexto, vislumbra-se a demanda de criação de projetos denaturezainterdisciplinarquefomentemadiscussãoeproduçãocientíficasobrequestõessocioambientais,emespecial,daperspectivadosestudosdegênero.

Oproblemacentraldoprojeto“Mulherescomoagentesdetransfor-maçãosocioambientalnaregiãodeParelheiros”éaconscientizaçãodasmulheresdaregiãoqueelassãoepodemsetornarcadavezmaisefetivasagentesdetransformaçãosocioambientalnaregiãoemquehabitame/ouatuam.

Éumprojetodenaturezainterdisciplinarquetemporeixoaçõesin-vestigativase interventivas.Levandoemcontaaspotencialidadesdare-

2.Asatividadesdecampodoprojetopilototemsidoitinerantes,comperiodicida-demensal.AreferidaatividadeocorreranumsábadodentrodoprogramaEscoladaFamíliadaE.E.CarlosCattony,comafinalidadedeapresentaçãodoprojeto,seguidadeoficinadeeducaçãoambientaleikebana.

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giãodeParelheiros,pretendecontribuirparaomapeamentodeiniciativassocioambientaisjáexistentesefomentaraçõesdetransformaçãosocioam-biental,pois

Aindaháumafaltadeconscientizaçãosobreanaturezainter-relacionadadasatividadeshumanasedomeioambiente.Umesforçoglobaldeeducaçãoépropostoparafortaleceratitudes,valoreseaçõesquesejamambientalmentesaudáveisequeapoiemodesenvolvimentosustentável.Ainiciativatambémdevepromoveroturismoecológico,fazendousodeparquesnacionaiseáreasprotegidas.(Berna,2001,p.85)

Nestesentido,aapropriaçãodetécnicaseconhecimentossobrehortaorgâni-ca,alémdomanuseioeaprendizagemcomacerâmicavisampossibilitarain-teraçãocomanatureza,constituindo-seematividades-meioparaasuperaçãodequestõesaindamaiscomplexasqueasdeordemsocialoueconômica.Apropostademaiorconhecimentodospotenciaisdaregião(p.e.turístico,agrí-colaeambiental)edacontribuiçãodapopulaçãofemininadeformaorgani-zadaeconscienteserãoalgunsdosaspectospositivosdaeducaçãoconcebidaemambientesnãoformais.(Eggert,2011,p.73-74)

Édesnecessáriodizerqueasmulheressão,desdeoutrora,grandesres-ponsáveisporaçõeseducativasnafamília,nobairro,naigrejaeque,por-tanto,ocupampapéisimprescindíveisparaacriaçãodeumaconsciênciaecológicaplanetária.

Contudo,aprerrogativadesteprojetode“conscientização socioam-biental”nãopretendeserumapropostaemqueasquestõesambientaisacabem recaindomaisumavez emcimadosombrosdasmulheres.É,antesdequalquercoisa,apropostadecultivodeumaconvivênciamaiorcomanaturezaesensibilizaçãoartísticaquepossibilitemofortalecimen-to de umpoder educacional transformador que transcenda o dualismonatureza-cultura.Issoporque

Experiênciaseducacionaisbem-sucedidassãotentativasdedotaraeducaçãodeumpodertransformador,queépolítico,porquereforçaoconceitodeci-dadaniaeseconfiguracomoapossibilidadedeunirtermosopostos,consti-tuindo-senoeloquefazgiraroanel,nadireçãodacomplexaorganizaçãoemqueasoposiçõesnãosignifiquemextinçãoeadiferençanãosejasinônimodeenfraquecimentoousuperioridade.(DiCiommo,2003,p.434)

Quantoàsuperaçãodosdiferentestiposdedualismos,inclusiveodarelaçãodegêneros–ameuver,DiCiommopropõeacompreensãode

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quenadaéseparadodomundonaturalequeosfenômenosqueaparecemcomoopostosaosolhosdodualismosão,naverdade,complementares.Segundoaautora,

Valores quehoje estão sendo sufocados pela visãodemundoutilitarista eneoliberalpodemserresgatadosatravésdeinstânciasmediadorascomoain-troduçãodaEducaçãoAmbientalepopularnoconteúdodetodasasciências,sejamhumanas,sejamnaturais,fornecendoestímuloàreflexãosobreques-tõesambientais,inter-relacionandootemacomocontextoambientallocaleoenfoquedegênero(DiCiommo,id).

Faz-se,portanto,imprescindívelcompreenderque“gênero”nãoéumaques-tãoexclusivadasmulheres.Trata-sedeumconceitorelacionalqueperpassaoconjuntodasrelaçõessociais.Ouseja,ospapéissociaismasculinoefemininonãoexistemisolados,sãoconstruídosdeformainter-relacional.Portanto,

Trabalharnaperspectivadegênerosignificaolharcomnovosolhos.Olhosque,aoenfocarascoisas,passamaenxergaraspessoas,homensemulheres,quefazemahistóriadeumasociedade.E,nessanovavisão,passamaprocu-rarcomosuperarasdesigualdades,dentreelasadesigualdadeentremulheresehomens.3

Afinal,écadavezmaisurgentesuperarospreconceitosherdadosdavisãopatriarcaldopassadoereforçaraconcepçãodequenãoapenasoshomens,mastambémasmulherespodemprotagonizarpoliticamenteasmudançasnecessáriastantodoseusegmentosocialquantodasociedadecomoumtodo.

Mas como conscientizar emovermulheres e homens em torno deum projeto coletivo de transformação socioambiental na região de Pa-relheiros?

Tersimplesconsciênciadeumproblemanãoéosuficienteparaasuasolução.ConformeCarvalho,

Paraaação,sãoimprescindíveis,asensibilização,motivaçãoeautodetermi-nação.Por entendermos quemotivação e autodeterminação são processossubjetivos,pessoaiseindividuais,dependem,portanto,apenasdosujeito,po-dendoserpropostaouprovocadaexternamente.Trata-sedeumaformadeapresentaralgoouassunto,demaneiraassertiva,estratégicaepensadacomoimportanteetapaemprocessoseducativos.(2007)

3. In: http://portal.mec.gov.br/index.php?id=15678&option=com_content&view=article (Acesso em: 24 out. 2011).

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Interação, transformaçãoeorganizaçãosãoconceitos-chaveparaosaspectosteóricosepráticosdosdiversosprocessoseducativosaseremde-senvolvidosnoprojeto“MulheresdeParelheiros”.

Aolongodostrabalhos,pretendemospromoverareflexãoedebatedequestõesqueenvolvemgênero,meioambienteeateoriadacomplexidadeemque“oaparecimentodastrêsnoçõesindispensáveisaoestabelecimen-todarelaçãoordem–desordem:ainteração,quedesencadeiaefeitosneces-sários,porforçadoacasooudanecessidade;atransformação,deelementosdispersosemumtodoorganizado,ouemumaassociação;ea ideiadeorganização”(DiCiommo,R.,2003).

A“interação”comanaturezatemsidopossívelpormeiodapráticadahortaorgânica,aulasdecampodeeducaçãoambiental,confecçãodearranjosflorais(ikebana)edepeçasemcerâmica.

A“transformação”étantodequemvivenciaasatividadesartísticasemtermosdecriatividade,autoestimaesociabilidadecomodaquelesqueasapreciam.

A “organização” das ideias e das ações possibilitam que o projetosejaampliadoaoutrascomunidadesemqueasmulheresserãoagentesdetransformaçãosocioambiental.

Emtermosconcretos,aatividadedehortaorgânicaseconstitueemelementodesubsistênciaeintegraçãofamiliaroumesmodegeraçãoderenda,comojáocorrecomumgrupodemulheresqueparticipamdeumacooperativadeprodutoresorgânicos–aCooperapas.

Asatividadesdesensibilizaçãoartísticapelomanuseiodacerâmicaedasfloressãofontesdetrabalhomanualcapazesdeauxiliarnãoapenasnageraçãodeconhecimentoerenda,mas,sobretudo,nocampomotiva-cionale/outerapêutico.

Porfim,pretendemoscontribuirnaelaboraçãodepropostasdegera-çãodeconhecimentosocioambientalcomperspectivadeeconomiasoli-dária,alémdeconstituiçãodeumpequenogrupodemulheresdetrans-formaçãosocioambientalquedeverámultiplicaroprojetoeminstituiçõeslocaispormeiodeparcerias.

Implantação do projeto piloto “Mulheres de Parelheiros”

Em10defevereirode2011,foirealizadaa1areuniãocomosinte-grantesdaequipedepesquisadevárias instituiçõesdeensinopúblicaeprivada,tendosidodelineadooseguintecronogramadetrabalho:

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Mês Atividades previstas Realizado?

Fevereiro PesquisaBibliográfica/IdaaCampo1ºContatocomInterlocutores

SIM

Março DefiniçãodeAções/GrupodeMulheres PARCIAL

Abril SensibilizaçãoArtística–OficinadeBijuteria SIM

Maio IníciodoTrabalhocomHortas.ParticipaçãoemSeminárioANPTECRE(GTgênero)

PARCIAL

Junho ImplantaçãodasHortas NÃO

Julho SensibilizaçãoArtística PARCIAL

Agosto AçõesEducativas SIM

Setembro EducaçãoAmbiental NÃO

Outubro SensibilizaçãoArtísticaeHortaCaseira PARCIAL

Novembro Sensibilização Artística e Horta Comunitá-ria/Relatórios

SIM

Dezembro FinalizaçãodoProjetoPilotoPlanejamento2012

Alémdasaçõesprevistasacima,iniciamosarealizaçãodeencontrosquinzenaiscomfinsdeplanejamentoediscussãoteórica,combasenosseguintesprocedimentosmetodológicos:

-Aplicaçãodequestionários;-Observaçãoparticipanteematividadesambientaiseartísticas;-Realizaçãodeentrevistasindividuais;-Realizaçãodeentrevistasempequenosgrupos;-Apresentaçãodoprojetonauniversidadeeoutrasinstituições.

Apósavisitaacampoparacoletadedadoseaproximaçãocompossí-veiscolaboradores,delineamosaformaçãodedoissubgruposdetrabalhojuntoàs:

MoradorasdaVilaAlviverde(localizadapróximaaoSoloSagrado);AgricultorasorgânicasdaregiãoParelheiros.

Entretanto,aovisitarsubprefeituradeParelheiros,soubemosdaexis-tênciadoCCM–CentrodeCidadaniadaMulher,localizadonocentrodeParelheiros.Aobservaçãodessenovodadonosindicouapossibilidadede

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maiorconsciênciasobrequestõesdegêneronaregião.ConsideramosserfundamentalconhecermaissobreaatuaçãodoCCM,incluindoapers-pectivadealgumaformadecolaboraçãoparaaexecuçãodonossoprojeto.

Vila Alviverde: oficinas de ikebana

ComapoiodaalunadegraduaçãoemPedagogiaR.K.,moradoradaregiãopróximaaoSoloSagrado,iniciamosasvisitasàVilaAlviverde,afimdeidentificarpossibilidadesdecampodeação.Juntou-seàequipeaprofessoradoensinofundamentalI.S.,tambémmoradoradaregião,inte-ressadanosassuntossocioambientais.

ConhecemosalgunsmoradoresdaVilaAlviverdequenosinformaramsobresuadificuldadedeorganizaçãocomunitáriaedosproblemasusuaisnasassociaçõesdemoradoresdalocalidade.Umdosmoradoresquean-teriormentefoiativoemaçõescomunitáriaslocaissedispôsaapresentarseusregistrospessoaissobredadosestatísticosdaregião,porémaindanãoefetivamosnovoencontro.

Foipossívelconversarpessoalmentecomduasex-líderescomunitáriasdaVilaAlviverdequeapesardesedizereminteressadasematuarconosconoProjeto,naprática,pordificuldadespessoais,nãochegaramaseenga-jar.Nesteínterim,umadelasmudou-sedobairroeaoutranãopodeseintegraraogrupo,poistrabalhaforanumafirmaumpoucodistante,nãodispondodetempoatualmente.

Realizamosvisitasaalgumasmulheresesoubemosqueelasseorga-nizamemtornodaconfecçãodetapetesquecostumamvendernapróprialocalidade. Planejamos realizar novas visitas para delinear o perfil dasmulheresdestavila.Emboratenhamsemostradointeressadasnoprojeto–sobretudo,nasaçõesartísticas(ikebanaecerâmica)–,nãoparticiparamdasaçõesplanejadas,porvariadosmotivos:(1)Oficinasdeikebana eedu-caçãoambientalrealizadanaE.E.AntonioCattony;(2)Oficinadeikeba-na naigrejadopadreChicão.

O fatodenãohaveralgumcentro comunitárioouescoladentrodaVilaAlviverde,bemcomonãoexistiratuaçãoefetivaeumasede físicadaassociaçãodemoradores,pareceserumobstáculoàimplantaçãodoprojetonalocalidade,vistoqueaindanãotemoslocalfixopararealizarasreuniões.

ÉinteressanteobservarquenaVilaAlviverdehádoisespaçosdece-lebraçãoreligiosa:umaparóquiacatólicaeumaunidadedaAssembleia

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deDeus.Asmulheresquedemonstraraminteressenoprojetosedizemcatólicas,portanto,por intermédiodelasconseguimosaautorizaçãodopadrepararealizaraoficinade ikebana,numdomingoàtarde.Nãocom-pareceramnemcatólicasnemevangélicasàoficina.

Grupo Cultivar + Cooperapas

Porintermédiodeumintegrantedoprojeto,conhecemosC.F.,de46anos,proprietáriadeumsítionaregiãodeColônia,queproduzprodutosorgânicos eos fornecepara consumodo refeitóriodoSoloSagradodeGuarapiranga.Apartirdeentão,C.F.temsidoativacolaboradoranopro-jeto“MulheresdeParelheiros”,servindodemediadoracomoCultivar–umgrupodeprodutoresorgânicosquesereúnemdesde2006.Naocasião,cerca de trinta agricultores participaramdoProjetoAmoraCarambola(boaspráticasparaprocessosalimentícios)comassessoriadeespecialistasdaUnicamp.Posteriormente,ogrupoCultivarrecebeuapoiodetécnicosdaUSPehoje,algumasagricultorasrecebemorientaçãomensaldeagrô-nomosespecializadosnaagriculturaagroecológicadaFundaçãoMokitiOkada,atravésdoeditaldoFema8.

Em26demaiode2011,nasubprefeituradeParelheiros,comacola-boraçãodiretadeC.F.emreunirmulheresinteressadasemintegraropro-jeto,realizamosumaoficinadeartesanato–aprimeiraatividadepráticadoprojeto.

Na ocasião, aplicamos um questionário de levantamento sociocul-tural-ambiental.Soubemosque todaselaserampequenasagricultoraseestavamenvolvidasnospreparativosparaacriaçãodeumacooperativadeprodutoresorgânicos.Haviam,inclusive,participadoalgunsdiasantesnumcursoparaaberturadecooperativas,promovidopelaSecretariadeAbastecimentopormeiodasubprefeituradeParelheiros.

Detectamosquealgumasdasmulheressãoagricultorasligadasaumgrupo de produtores orgânicos orientados pelo IBD (InstitutoBiodinâ-mico),enquantoasmulheresdoCultivarrecebemapoiotécnicodeoutralinhadaagriculturaorgânica.Naocasião,elasaguardavamaliberaçãoderecursosdoFemaparareceberassistênciatécnicaregulardoCPMO(Cen-trodePesquisasMokitiOkada).Portanto, iniciaro trabalhodoprojeto“MulheresdeParelheiros”naquelemomentolhepareciamuitobenéfico,poisajudariaamanteraunidadedogrupo,enquantoosrecursosdoFemanãofossemliberados.

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Todasasmulheresqueparticiparamnaoficinadeartesanatoestavam,dealgumaforma,envolvidascomagriculturaemobilizadasparaaaber-tura da cooperativaCooperapas.Ou seja, em termos de “organização,interaçãoeparticipação”–quesãoospilaresdoprojeto“MulheresdePa-relheiros”–,pode-seconsiderarquenocamposocioambientalelassejambastanteconscientes.

Restou-nos,portanto,aalternativadeconcentraresforçosnoscamposdasensibilizaçãoartísticacomvistasàpotencializaçãodessespilares.Isso,obviamente,alémdeatentaraindamaisàsquestõesdegênero.

Cooperapas4

Emmaiode2011,porocasiãodeumcursodecapacitaçãoparaaaber-turadecooperativas,promovidopelaCasadeAgriculturaEcológicanasubprefeituradeParelheiros,porintermédiodeC.F.,pudemoscontatarcomváriasmulheresquesemostraraminteressadasemaderiraoProjeto“MulheresdeParelheiros”.

Nodia9de junhode2011, foi fundadaaCooperapas–Cooperati-vaAgroecológica deProdutoresRurais deÁguaLimpadaRegião SuldeSãoPaulo,comapresençade27produtores,quesetornaramsócios-fundadores.

Oprocessocooperativistajávinhasendodesenvolvidonaregiãopormeiodediversasorganizaçõesinformaiseiniciativaslocalizadas,apoia-dasporinstituiçõesgovernamentaisenãogovernamentais.Algumasdelassão:aCasadaAgriculturaEcológica,aSecretariaEstadualdoMeioAm-biente,aSupervisãoGeraldeAbastecimento(Abast),SecretariadoVerdeeMeioAmbiente,aFundaçãoMokitiOkada,AssociaçãoBiodinâmica,Instituto5Elementos,InstitutoPedroMatajs,AcampamentoÁguiasdaSerra,CentroPaulus,entreoutros.

CCM – Centro de Cidadania da Mulher

Em16demarçode2011,participamosdaatividadeemcomemoraçãoaoDiaInternacionaldasMulheres:palestrasobreahistóriadelutadasmulheres,apresentaçãodeprojetosprevistospara2012(exemplo:produ-tosartesanaiscomcambuci)elanchedeconfraternização.

Apartirdesse contato,agendamosumaentrevista comaentão res-

4.http://cooperapas.blogspot.com(Acessoem:24out.2011).

Educação

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Espiritualidade no Século XXI: Educação, Saúde e Arte

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ponsávelpeloCCM,realizadaemabrilde2011.Umadasdificuldadesdaregião,segundoela,éafaltadotrabalhoemredesarticuladoentreONGs,subprefeituraeoutros.Entremaioesetembro,nossocontatodiretocomoCCMfoiescasso,porqueestivemosvoltadasacumprirosplanostraçadosparaaVilaAlviverdeegrupoCultivar.Contudo,umadasintegrantesdoCultivarémuitoativanoCCM,oquefezqueovínculosemantivessee,inclusive,areputaçãodoprojetosetornassefavorável.

Nesteínterim,houvesubstituiçãodocargodachefiadoCCMenãoconseguimosavançaracontentonosplanosdaVilaAlviverde.Apartirdesetembro,optamosporretomarapossibilidadedeparceriacomoCCM.Realizamosnovavisitaafimdeapresentaroprojetoeviabilizarparceriasparaasoficinasdecerâmicaehortasorgânicas.

Identidade do projeto

Sentimosanecessidadedecriarumlogodoprojetocomvistasaofortaleci-mentodepertençadogrupo.Discuti-moscomogrupoalgumasalternativaseoptou-sepelousodomapadePare-lheirosepelafiguradediferentesmu-lheres, que representama diversidadeétnicaeculturaldaregião.ProduzimostambémumbannerdedivulgaçãoquevemsendousadoparaapresentaçãodoprojetoemescolasenoCCM,alémdaconfecçãodecamisasque sãoutiliza-dasnasatividadesdogrupo.Tambémhouveaconfecçãodebolsascomolgodoprojetopelasprópriasmulheres.

Sensibilização artística – Oficina de Cerâmica

Em23deoutubrode2011,realizamosaprimeiraoficinadecerâmi-cacomapresençadedezoitoparticipantes(dezesseismulheres,umho-memeumacriança),noIACE–InstitutodeArteCerâmicadaFundaçãoMokitiOkada,mantenedoradaFaculdadeMessiânica,localizadonaVila

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Mariana.Paraaatividade,asmulheresseorganizarampreviamenteparaotransporte,poisapenasalgumaspossuíamconduçãoprópria.

Váriasatividadesdesensibilizaçãoforamrealizadasaolongododia:mandalasemcerâmica,apreciaçãodaobradecerâmica“Semente”,cria-çãodeumapeçaemargilaporparticipante;olhosvendadosepercepçãodediferentesformasetextura;degustaçãodelanchetrazidopelogrupo;bate-paposobreatividadesdaCooperapas(feiradeorgânicosnoParquedoMorumbi);criaçãodepeçaparacomposiçãocomcolega;conversaso-breossentimentos;registrodasimpressõesdaoficina.

Éinteressanterelatarque,namaioriadasreuniões,algumaintegrantemostraàsdemaisalgumprodutoartesanaldesuaprópriaautoria,inclusi-vehavendocasosdevendasentresi.Nessaatividade,naturalmente,cadaumafoiapresentandoseusprodutosefizemosumaespéciedeexposiçãodaspeças(colarescommateriaisreciclados, origamis,bordados,entreou-tros).Em27denovembrode2011,ocorreuasegundapartedaoficinapeloprofessorJoséVieira,mestrandodoprogramadeCiênciasdaReli-giãodaUnespquepesquisasobreArteCerâmica&Espiritualidade.

Sensibilização – Horta Caseira e Horta Comunitária no CCM

ApartirdavisitaaoCCMedaconversacomanovacoordenadoraSra.Regina, iniciamosatividadesno local.Em19deoutubrode2011,apresentamosoprojetoparasetemulheresinteressadasemaprenderafa-zerhortaorgânica.Eem9denovembrode2011,comapresençadecator-zemulheres,iniciamosasensibilizaçãopormeiodeoficinassobrehortacaseiracomvistasàfuturaatividadedehortacomunitária,comorienta-çõestécnicassobreagriculturanatural.

Em dezembro, junto com a exposição de artefatos produzidos emcerâmica, realizamos atividades de sensibilizaçãopara as futuras açõesdecapacitaçãode“agentesdetransformaçãosocioambiental”,previstospara2012.

Fundamentação Teórica e Perspectivas Futuras

Em12deabrilde2011,tivemosaoportunidadedenosreunircomaprofessoraSandraDuarte,daUmesp,responsávelpelonúcleodeestudosdegênero,afimdelevantarmosmaioressubsídiosteóricos,sobretudo,notocanteaosestudosdegêneros.Apartirdeentão,temosparticipadoem

Educação

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eventos,encontrosdoNetmalepalestrasqueabordamquestõesdegênero(SotereTheologando2011).

Emjulho,porocasiãodoSimpósiodaSoteremBeloHorizonte,parti-cipeidosGTdegêneroereligião.FizcontatocomapesquisadoraAman-daMotta,daUniversidadedeSantaCruzdoSul–RS,queapresentouosresultadosdeestudosdegêneroeeducaçãoquetêmsidomuitoimportan-tesnotocanteàfundamentaçãoteóricarelativaagênero.Aindaemjulho,porocasiãodaparticipaçãoemumcursosobrecoordenaçãopedagógica,puderefletirsobrequestõesdeeducaçãocomunitáriaeformaçãodosujei-tocoletivo,segundoJairMilitãoSilva.

ApesquisadoraLiliaDinellitemcontribuídocomestudossobreedu-caçãoapartirdaperspectivadePauloFreireeEdgarMorin,fomentandoareflexãosobreaformaçãodeagentesdetransformaçãosocioambiental.Elatemaindaatuadodiretamentenasatividadesdesensibilizaçãoartísti-capormeiodaikebanaecerâmica.

EncontroscomoprofessorJoséLuizTomitaforamimportantesparaaconsolidaçãodaidentidadegrupaldasagricultorasorgânicas,bemcomooapoiotécnicorelativoaotrabalhoemhortas.Algumasalunastêmauxi-liadonasatividadesenapreparaçãodemateriais:HelenaMesquita,Sil-vanaBoghi,IzabelSouzaeRianeKurihara.

AaulasobreeducaçãoruralministradapelapesquisadoraRitaLauraAvelino,daUFSJ,realizadanaE.E.EsposoNunes,queháalgunsanosdesenvolveprojetosdehortacomunitáriacomoapoiodoCPMO–Cen-trodePesquisasMokitiOkada,foiimportanteparaampliaravisãosobreamulhernocampoapartirdeestudosdoPrograma Projovem Campo Saberes da Terra –CadernodoEducandoEducandas:Agriculturafamiliar,iden-tidade,cultura,gêneroeetnia.Soubemosaindaque,nosúltimostempos,temocorridoofenômenodemasculinizaçãodocampo,vistoquemuitasmulherestêmbuscadoinserçõesemoutrasáreasdeatuação.

Por fim,avaliamosqueoplanejamento2011 foiparcialmente cum-prido,jáqueotrabalhodesensibilizaçãofoidesenvolvidopordiferentesexpressõesartísticasquetêmsidofundamentalparaaintegraçãoecon-solidaçãodo sujeitocoletivo (Silva,1996).Contudo,o trabalhocomashortas,entreoutrospontosrelativosagênero,doravante,necessitamseraprofundadoscomvistasàetapafinaldoprojetoque,dentreoutrospon-tos,incluiacapacitaçãodeagentesdetransformaçãosocioambientalpre-vistoaolongode2012.

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Referências Bibliográficas

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Educação

Ikebana Cerâmica

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VerônicaHayakoNagae1

Resumo:OlivroAssuntos sobre fé (ShinkoZatsuwa),escritoem5desetem-brode1948,estácontidonovolume6daColetâneadeObrasCompletasdeMokitiOkada, 1882–1955, fundadorda IgrejaMessiânicaMundial,conhecido tambémpelonomereligiosoMeishu-Sama,quesignificaSe-nhordaLuz.Éumacoletâneadeassuntosinteressanteseensinamentosri-cos,extraídosdeinúmerasevaliosasexperiênciasvividasporOkada,comoobjetivodequetodasaspessoaspossamler,entenderepraticar.Combasenosestudosrealizadossobreessesensinamentos,aespiritualidadedaóticamessiânicaseráabordadaapartirdetrêspontosprincipais:(1)Viverdeacordocomaverdade.(2)Vivercomsaúde.(3)Vivercomarte.Palavras-chave:educação,espiritualidademessiânica,fé,verdade.

Aespiritualidadeéumadimensãodapessoahumanaquetraduz,se-gundodiversasreligiõeseconfissõesreligiosas,omododevivercaracte-rísticodeumcrente,quebuscaalcançaraplenitudedasuarelaçãocomotranscendental.

Paraalcançaraplenitudeouencontrarumsentidodevidaquedêasensaçãodequevaleapenaviver,éprecisosemear,regar,cuidarcomoumaplanta.Senãosemear,regar,cuidar,nãopoderácolherosfrutosenemsaboreá-los.Quandoseconseguesaborearofrutoquevocêmesmoplantou,aalegriaeoprazerquesesentesãoinexplicáveis.Semearobem,àprimeiravista,parecefácilesimples,mas,comoavidaécomplicada,

1.GraduandaemTeologianaFaculdadeMessiânica<[email protected]>.

Espiritualidadedaóticamessiânica

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édifícildepraticar.Issoporqueamaioriadaspessoaséegoísta,queremtudoparasinãoseimportandocomosofrimentoalheio.Éprecisocultivarumespíritoqueaceiteepratiqueoaltruísmotendoosentimentodequereralegrareajudaropróximo.

SegundoocientistadareligiãoJungMoSung:

Asabedoriaconsisteembuscarosentidodavidaeaalegriadeviver,enãoempossuirouguardar.Sócaminhando–paraafrentee,aomesmotempo,emdireçãoàprofundidadedonossoser–équepodemosencontrarosentidoeaalegriadevivere,assim,afelicidade.(...)Muitaspessoaspensamqueaespiritualidadetemavercomumaconsciênciaampliadaouaquisiçãodeal-gumconhecimentoesotérico,reservadoapoucos,quepermitiriaconhecerasrealidades“metafísicas”domundoespiritual,realidadesqueiriamalémdomundomeramentematerial.(Sung,2007)

Emjaponês,otermocorrespondenteàespiritualidadeé [霊性]“Reis-sei”,constituídopordoisideogramas: 霊,quesignificaespírito,e性,ca-racterísticainata,original.Dessaforma,霊性refere-seàcaracterísticadebuscaraelevaçãonocampoespiritual,consciênciareligiosa,característicaespiritualmuitoelevada.(Dicionário da Língua Japonesa Daijiten e Daijirin).

Paraqueserveaespiritualidade?Serveparasercaminhodelibertaçãoedefelicidadedoserhumano.Serveparatornaraspessoasmelhoresnaconvivênciaenorespeitoàvida.CadapessoasecomunicacomDeusapartirdesuahistóriadevida,deseutrabalho,desuacultura,desuarela-çãocomanatureza,aarte,ocotidiano.

Muitaspessoasachamqueaespiritualidadesereferesomenteàvidaespiritual,nãotendonecessidadedesepreocuparcomascoisasmateriais.Outrastêmatendênciadeassociarespiritualidadeàspráticasreligiosas.SegundoAfonsoMurad:

Umcatólicomunidodeforteespiritualidadeteriapreferênciapordetermina-dosantoeporpráticasreligiosas,taiscomooterçoeasnovenas.Umevan-gélico,porsuavez,cultivariapráticasdevocionaiscentradasnaBíbliaenolouvor.(Murad,2007,p.122)

Nolivro“Omelhordaespiritualidadebrasileira”,noartigo“Oqueéespiritualidade?”,escritoporRicardodeSouza,consta:

Emborasejaumaexpressãoreligiosaque,aprincípio,tenhaavercomorela-cionamentodeDeuscomoserhumano,tornou-se,naculturamoderna,umtermoabstrato,vagoepresenteemquasetodososseguimentosdavida:dare-

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ligiãoàeconomia,daecologiaaomundodosnegócios.Paraentendermelhoroquesignificaespiritualidadenosdiasatuais,precisamosassociá-laaoutrasduasexpressõesqueseencontramintimamenteconectadas:subjetividadeepós-modernidade.(2005,p.13)Osubjetivismo,assimcomooindividualismo,estáligadoàmoderni-

dade.Aspessoasmodernassóse tornaramautônomasatécertoponto,pois, apesar do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, formou-seumvazioexistencial.Elasbuscamacompensaçãonosbensmateriais,noconsumismo,napermissividadesexual,nasdrogas,porémissonãolhestrouxeafelicidadedesejada.Ohomemmodernotornou-seinseguroein-satisfeitoeestásempreembuscadenovosobjetosdeconsumo.

Aênfasedadaaoconsumo,àcapacidadeeodesejodeconsumiréoquecaracterizaasociedadepós-moderna,aopassoqueasociedademo-dernagiravaemtornodacapacidadedeprodução.

Assim,sãocaracterísticaspós-modernas:aglobalização,ascomunica-çõeseletrônicas,amobilidade,aflexibilidade,afluidez,arelativização,ospequenosrelatos,afragmentação,asrupturasdefronteirasebarreiras,asfusões,ocurtoprazo,oimediatismo,adescentralizaçãoeextraterritoria-lidadedopoder,aimprevisibilidadeeoconsumo.

Oquecaracterizaessaespiritualidadepós-modernaé,porumlado,abusca,nãodooutro,masdesi,datranquilidadeespiritual,dapazdoco-ração.Nessesentido,trata-sedeumaespiritualidadeegocêntrica.

Dessaforma,aespiritualidadenosdiasatuaisestárelacionadacomodesejodeconsumir,acompensaçãomaterial,oimediatismo,umabuscadesenfreadapeloter,trocandooidealpelodesejo.

Hoje,muitossãooscaminhosespirituaisemísticosdecaráterindivi-dualistaeimediatista,semnenhumcompromisso,quenãoexigemnada,eafééreduzidaasimplesexperiênciamomentânea.Existemdiferençasentrefé,religiãoereligiosidade.AfééacrençaemDeusenasuaobra.A religiosidadeéaexpressãodessa fé realizadadentrodeumcontextoculturalporumgrupodepessoas.Pode-sedizer tambémqueéabuscadoserhumanopelosagradoestabelecendorelaçãocomele.Areligiãoéahistóriadafémanifestadapormeioderitos,éticaeconhecimentos.

SegundoAfonsoMurad:

Emboraareligiãotenhaapretensãodeseraúnicaexpressãodafé,daespi-ritualidadeedareligiosidade,háumarelaçãodecontinuidadeedescontinui-dadeentreelas.Nasociedadeatual,algumaspessoasprofessamquetemfé,

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vivemdeterminadareligiosidade,masnãoseconsiderammembrosefetivosdeumareligião.Areligiãotematizaabuscaeoencontrodoserhumanocomosagrado,enquantomistérioquelherevelaosentidodaprópriaexistência.Apesardetantasnuances,pode-seafirmarqueotermo“espiritualidade”tra-duztantoocaminhoexistencialdeevoluçãoespiritualdeumapessoaquantoadimensãomísticadaféedareligião.(Murad,2007)

Asdefiniçõesanterioresnosdãoalgumasreferênciasparapensarso-breoquecaracterizariaaespiritualidademessiânica,porémpensosereminsuficientesporqueelaestábaseadanosprincípiosdafémessiânicae,aomesmotempo,abrangetodosossetoresdasociedade,taiscomoeduca-ção,política,saúde,arte,meioambiente,agriculturaeoutros.

MokitiOkada,conhecidotambémpelonomereligiosoMeishu-Sama,quesignificaSenhordaLuz,nasceunoJapãoem1882efaleceuem1955.FundouaIgrejaMessiânicaMundialem1935comoobjetivodeestabe-lecerumacivilizaçãomaterialeespiritualmenteevoluída,ummundodesaúde,prosperidadeepaz.

Aespiritualidademessiânicatemcomobaseosprincípiosmessiânicos,istoé,osensinamentosdeMeishu-Sama,quenosajudamaviverafénocotidiano,descobrindoemtudoquenoscercaosentidodavida;ouseja,umavidaalicerçadanaVerdade,Bem,Beloebuscaconstruir,primeiro,oparaísodentrodesi,e,emseguidanolar,nasociedadeenomundo.Oob-jetivodafééalegraravida,proporcionartranquilidadeepermitirquesedesfrutedosabordeviver,conformeotexto“Sabordafé”(25/01/1949).E,segundooensinamento“Entregue-seaDeus”(28/11/1951),ohomemdefétorna-sediferentedosdemais,pois,assimquesurgeumproblema,consegueentregá-loaDeus,sentindo-sealiviado.

Paraaprofundaroconceitodeespiritualidademessiânica,vouexpli-cá-loapartirdetrêspontos.Oprimeiroponto–viverdeacordocomaverdade–refere-seaoconhecimentodaexistênciadeDeus,eemseguireobedeceraocaminhoperfeito,queéaessênciadafé.Eoqueéocaminhoperfeito?Éabússolaquenorteiaohomem,seeleseperdenomeiodocaminhoousedesviadarota, indicaorumocertoaserseguido,eissoseaplicaatodasascoisas;emoutraspalavras,trata-sedeDeus.Obede-ceraocaminhoperfeitoéobedeceraDeus.Quandoohomemsegueessecaminho, obtém sucesso, confiança e respeito das pessoas, vivendo emharmoniaefeliz.

Aeducaçãoestámuitolongedocaminhoperfeito.Seuverdadeiroob-jetivo é formarhomens íntegros, quepratiquema justiça, contribuindo

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paraaumentarobem-estarsocial.Hoje,mesmoaquelesqueseformaramnasmelhoresfaculdadespraticamcrimeseatosqueprejudicamasocieda-de.Issoaconteceporqueaeducaçãoétotalmentematerialistae,portanto,precisaevoluirespiritualmenteparamodificaressasituação.Comapolíti-caaconteceamesmacoisa.

Meishu-Sama(1989)colocaque:“o idealespiritualistaé fazerreco-nheceraexistênciadoespírito,oquesignificafazerreconheceraexistên-ciadeDeus.Semisso,oespiritualismonãoteriafundamento”.

OhomemnascepordesígniodeDeus,queemiteordensconstante-menteàsuaalma,atravésdoeloespiritual.Ele foicriadoparaauxiliarnaconcretizaçãodomundoideal,oParaísoTerrestre,eprecisaconscien-tizar-sedessamissão,poisseviveretrabalhardeacordocomaVontadeDivinaterásaúdeepazassegurada.

SantoAgostinhofalavado“duploconhecimento”,referindo-seaoco-nhecimentodeDeusedenósmesmos(ChristophBenke,2011).Afirma-vaqueoconhecimentodeDeuseoautoconhecimentoandavamjuntos.Meishu-Samatambémdeumuitaimportânciaaoautoconhecimento.Elediziaquedeveríamoscriarumasegundapessoa,quenosanalisasseecri-ticasse, o que evitariamuitos problemas, conforme texto “Subjetivismoeobjetivismo”(18/03/1950).Épossível fazerumaaproximaçãocomosignificadodotermoautoconhecimentodeSantoAgostinhoedeMeishu-SamacomodeAfonsoMuradquandoelecolocaque:

Quantomaisapessoadesenvolveseutalentohumanosemapegar-seaele,maiorapossibilidadedeencontrocomDeus.Ocrescimentohumanoresultadoexercícioconstantedeautoconhecimento.Apessoadescobresuasfraque-zaseforças,apartirdeatitudeseatoscotidianos.Reconheceoserros,pedeerecebeperdão,esegueemfrente.Quantomaisalguémseconhece,maissabedistinguir,numadeterminadasituaçãodesucessooudefracasso,asuapar-ticipaçãoeadosoutros,oquelhecabeounão.Eparamanteroprocessodeautoconhecimentoénecessário,muitasvezes,fazersilêncio,sairdocontextoturbulentoemqueestámergulhadoever-sedefora,comoquemseolhanumespelhoounummonitordevídeo.(Murad,2007,p.186)

Podemos conhecer aDeus pormeio dos ensinamentos deMeishu-Sama,eelerevelanoensinamento“Apreensãodarevelaçãodivina”(In:Assuntos sobre fé)queconheceuDeusquandocuidavadeumamoçae,pormeiodesuamãe,umamédium,Deussereveloucomoodenívelmaiselevado,quevieraparaensinarcomoevitaromal,queestavaperturbandoessamoça.Nessemesmoensinamento,Meishu-Samatambémconstatou

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aexistênciadoespírito.Este seencostaraaessamoça tentandoacabarcomavidadela,pois,quandomorreu,foraenterradocomoindigenteeestavasofrendomuito.Tentousecomunicardeváriasmaneiras,mas,nãoconseguindo,nãolherestoualternativa.Meishu-Samalhedisseque,seelecometesseesseato,sofreriamuitomais,porquecairianoinferno.

Meishu-Samaexplica tambémqueaVerdadeésimples;éopróprioestadonaturaldascoisas,comoonascereopôrdosol,onascimentoeamorte,odiaeanoiteetc.OsensinamentoscontidosnolivroAssuntos sobre fé revelamaVerdade;quetodasascoisassãoregidasporumaordem,porforçasque influenciame regemavidadohomem,equesãoutilizadasparatornarapessoaumserhumanomelhor,corrigindosuaspartesne-gativaseconduzindo-aaumavidamaisfeliz.Citareialgunstrechos,queilustrambemessespontos:

OhomemfoioúltimosercriadoporDeus,portanto,neleestácontidoocaráter,ohábito,omovimentoetc.detodososseres;

apresentam-seoito tiposdeatividadesdodestino:o céu,o lago,o fogo,otrovão,ovento,aágua,amontanhaeaterra.Decifram-seassuastransforma-çõespelascombinaçõesdaslinhas.Essesoitosímbolosparecemcorrespon-deraoitoforças:amovimentação,aestatização,adissolução,acondensação,aatração,orelaxamento,auniãoeaseparação.QuerdizerquesãoforçasconstituintesdetodasascoisasexistentesnoUniverso,eelassãoorigensdetodasasatividades.(Meishu-Sama,1948,p.33)

Noensinamento“Fisiognomoniadascasasesuaposiçãoemrelaçãoaospontoscardeais”,p.34-36,Meishu-Samaexplicaqueafisiognomo-niainfluencianobomoumaudestinodohomem.Acasafoicriadaparaamoradia dohomeme nãoo contrário, portanto, seu quarto deve serconsideradoocentroe,apartirdaí,definiradireção.Onordeste,émuitoimportante,poisaemanaçãoespiritualvindadessadireçãoépuraepreci-samosconservá-la.Assim,obanheiro,acozinha,aentradaouasaídadacasanãodevemserconstruídosnessadireção,poiscontaminariaonor-destefacilitandoaatuaçãodeforçasnegativas.Definidoonordeste,tere-mososudoestedeondeprovemumaemanaçãoquetrazriquezamaterial.Apessoaqueresidenumacasacomoessaprecisaterpensamentoseatoscorretos,porqueaquelaemanaçãotemumagrandeforçapurificadora.

Osegundoponto–vivercomsaúde–étambémumaVerdade.Hoje,amaioriadaspessoaspossuisaúdeaparente.Esseestadoédecorrentedasmáculasouimpurezasacumuladasnoespírito,queserefletemnocorpo

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material.Possuímosmáculashereditárias transmitidasdegeraçãoa ge-ração,easquesãoadquiridaspelosmauspensamentos,palavraseaçõespraticadaspornósmesmos,bemcomoaingestãodealimentosproduzidoscomagrotóxicosefertilizantesquímicos.Comoacúmulodessasmáculas,surgeapurificação,processonaturaldelimpezaeelevaçãoespiritual.Pormeio do Johrei (luz que purifica o espírito), a purificação torna-se umprocessomaisamenoerápido,restituindoobem-estar.Aeliminaçãodasmáculasespirituaispromoveaelevaçãodoespíritoeoaumentodasaúdenocorpomaterial.

Aspráticasaltruístas(sentimentoepensamentosinceros–makoto–deajudaropróximo)contribuemparaaelevaçãoespiritualnamedidaemque,aofazerobem,semesperarporretribuição,commakoto,opratican-terecebeosentimentodegratidãoereconhecimentodaspessoas.Essasemanaçõespositivassãotransmitidasaoespíritofazendocomeleseeleve.E,também,quandoapessoatemocoraçãorepletodegratidão,oelocomDeussefortaleceeseunívelespiritualtorna-semaisiluminado.

Éprecisoaindalevaremconsideraçãoaquestãodaalimentaçãoedaagriculturanatural,poisosaditivoseosagrotóxicosnãomatamapenasaspragas,masaenergiavitaldosalimentosedoprópriosolo,prejudicandodessaformaasaúde.Oprincípiodaagriculturanaturalestábaseadonauniãodoselementosfogo,águaeterra,provenientesdasforçasSol,LuaeTerra,respectivamente,constituindoasenergiasresponsáveispelaexistên-ciadetodososseresvivos.

Assubstânciasquímicastambémaumentamasmáculaseosofrimen-to.Meishu-Samaapontaparaumestilodevidaconcordecomanatureza,priorizandoumavidasaudável,cuidandodasaúdefísicaemental,edoparaísointerior.

Oterceiroponto–vivercomarte–éconseguirtransformaropessimis-moemotimismo,onegativoempositivo,oegoísmoemaltruísmo,atris-tezaemalegria.ÉaartedoBelo.QuandofalamosemBelo,limitamo-nosapensarnabelezaexternaenaestética,que,semdúvida,sãoimportantesporquetambémestãodeacordocomaVontadeDivina.Deixarosobjetosemordememanter a limpeza causauma sensaçãoagradável e atrai orespeitodaspessoas.

Alémdabelezaexterna,existeabelezainterior,obelodosentimento,queseriaomaisimportanteparaaelevaçãoespiritualdoserhumano.Ossentimentoscomoagratidão,asinceridade,operdãoeaalegriacontri-buemparapurificareelevaroespírito,aopassoqueamentira,afalsidade,

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ainjustiça,alamúria,oódio,oapegoeapreguiçasujamoespíritodoserhumano.

Acontemplaçãodaartedenívelelevadoproporcionadeleiteparaapessoae,aomesmotempo,purificaeelevaseuespírito.Eoqueéumaartedenívelelevado?SegundoMeishu-Sama,éaquelaquefazacordarasemoçõeslegítimasdoserhumano.Emoutraspalavras,significaeliminarocaráteranimaldohomem,tornando-odivino.

Ocaráterdoartistadevesermaiselevadoqueodaspessoascomuns,pois,pormeiodaarte, suasvibraçõesespirituaisserão transmitidas, in-fluenciandooespíritodopovo.

Senavidapráticaohomemprocedercomamoregentileza,colocan-domaisnobrezaemsuaspalavraseatos,seráestimadoerespeitadoportodos.Apessoaqueagedessaformaésincera,otimista,nãoéegoístaesabeapreciaravirtude,anaturezaeconsegueagradeceremqualquercir-cunstânciaportodasascoisas,levandoumavidaalegreetranquila.

OmundodotadodeVerdade,BemeBeloéoParaísoTerrestre,umanovacivilização,construídadaharmoniaentreOcidenteeOriente,ondeprevaleceráo“EspíritodeIzunome”(princípioimparcial).Izunomesig-nificanãotenderaoradicalismo,manter-sesemprenocentro,nãoagirdeforma extremaou impensada.Podemos compará-lo como clima,nemquentenemfrio,oucomaculinária,nemdocenemsalgado.Observarolimiteusandoobom-sensoéagirdeacordocomaharmoniadeIzunome.

Os ensinamentos contidos no livroAssuntos sobre fé foram dispostosnumasequênciaemostramospontosnecessáriosparaatransformaçãodasociedade.Amudançaprecisaacontecer,primeiro,nohomem,poissuafelicidadenãoacompanhouoprogressodacultura.

Logonoiníciodolivro,oprimeiroensinamentojácomeçaapontandoumadascausasdainfelicidade,afaltadesinceridade(makoto),quetemorigemnoindividualeseestendeaocoletivo,frisandoaimportânciadeseprofessarumaféverdadeira.

Emsuma,aespiritualidademessiânicabaseia-senosprincípiosdes-critosanteriormente.ApessoapossuidoradaespiritualidademessiânicaseriaaquelaquepragmatizaosensinamentosdeMeishu-Sama,vivencian-do-osnoseucotidianoparacumprirsuamissão,masagecomoumapes-soacomumsemcausaraimpressãodeumreligioso.Estásempreprontaaajudar,e,porisso,recebeagratidãodemuitaspessoas,procuratransfor-maronegativoempositivoeseesforça,constantementeemcrescereemseelevarmaterialeespiritualmente.

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Referências Bibliográficas

MEISHU-SAMA.Apreensãoda revelaçãodivina. In:Assuntos sobre fé (ShinkoZatsuwa),1948.(nãopublicado)______________.Discernimentosobreosdeztroncoscelestiaiseasdozeramasterrenais.In:Assuntos sobre fé(ShinkoZatsuwa),1948.(nãopublicado)______________.“Fisiognomoniadascasaseospontoscardeais”.In:Assuntos sobre fé (ShinkoZatsuwa)(nãopublicado);AlicercedoParaíso,v.4,p.145.______________.“Sabordafé,entregue-seaDeus”.In:Alicerce do Paraíso,v.4,p.49e51.______________.“CiênciaeArte”.In:Alicerce do Paraíso,v.5,p.57.______________.“Religião,educaçãoepolítica”.In:Alicerce do Paraíso,1989,p.405.BOMÍLCAR,Nelson.(Org.).O melhor da espiritualidade cristã,SãoPaulo:MundoCristão,2005,p.13.BENKE,Christoph.Breve história da espiritualidade cristã.SãoPaulo:Santuário,2011.DAIJITEN,DAIJIRIN.DicionáriosdaLínguaJaponesa.MURAD,Afonso.Gestão e espiritualidade:umaportaentreaberta.SãoPaulo:Pau-linas,2007.KONINGS,JohanSj.(Org.).Teologia e pastoral.HomenagemaoPe.Libanio.SãoPaulo:Loyola,2002.SUNG,JungMo.Um caminho espiritual para a felicidade.Petrópolis,RiodeJanei-ro:Vozes,2007.

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Capacitação para implantação de horta escolar nas Apaes de Mato Grosso do Sul (MS): o método natural substituindo o convencional

MariaAparecidaLemesReis1

SandraRosaniMartinsAlcântara2

EmersonPereiraCoghi3

PauloRobertoRibeiroChagas4

Resumo: TendoemvistaquetodasasApaesdeMatoGrossodoSulpos-suemumahorta escolar que utilizam estercos e agrotóxicos, iniciamosumprojetoparaaimplantaçãodeumpolodecapacitaçãoemAgriculturaNaturalnasApaes.Oprojetoteveinícioemsetembrode2009,noCedeg/ApaeCampoGrandecomos seguintesobjetivos: capacitarprofessores,paisealunosnosconceitosepráticasdaeducaçãoambientalpormeiodastécnicasevivênciadaagriculturadebaseagroecológica,segundoosprin-cípiosdaagriculturaNaturaldeMokitiOkada;produziralimentosqueaumentemasaúdedohomemequepreservemomeioambiente,eorien-tarosalunossobreostiposeacomposiçãodosalimentos,estimulando-osaadotarhábitosalimentares.ParaaimplantaçãoemanutençãodashortasnaApaesdeMS,foiutilizadaatecnologiadesenvolvidapelaFundaçãoMokitiOkada,pormeiodoCentrodePesquisaMokitiOkada(CPMO).Opresenteartigobuscaapresentaroprojetoeosresultadosobtidos.Palavras-chave:agriculturanatural,Cedeg/Apae,MokitiOkada.

1.Pedagoga,autoradoprojeto,coord.deEducaçãoProfissionaldasApaesdeMS–FederaçãodasApaesdeMatoGrossodoSul<[email protected]>.2.Pedagoga,coord.doprojetonoCedeg/Apae/CampoGrande/MS,coord.daEducaçãoProfissionalnoCedeg/Apae<[email protected]>.3.Técnico emAgricultura, consultormensal do projeto –Centro dePesquisaMokitiOkada–FundaçãoMokitiOkada.<[email protected]>.4.Eng.agr.,Dr.–fitopatologia,orientadordoprojeto–CentrodePesquisaMoki-

tiOkada–FundaçãoMokitiOkada.<[email protected]>.

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Introdução

Opresenteprojetoversasobreaimplantaçãodeumpolodecapacita-çãonaáreadaagriculturanaturalnoCedeg/ApaeCampoGrande-MS,emparceriacomaFederaçãodasApaesdeMatoGrossodoSul,utilizan-doatecnologiado“SistemaCPMOdeManejodeSoloePlanta”,tecno-logiaexclusiva,desenvolvidapelaFundaçãoMokitiOkada,pormeiodoCentrodePesquisaMokitiOkada.

Oprojetoteveinícioemsetembrode2009,noCedeg/ApaeCampoGrandecomos seguintesobjetivos: capacitarprofessores,pais ealunosdas62ApaesdeMSnosconceitosepráticasdaeducaçãoambientalpormeiodastécnicasevivênciadaagriculturadebaseagroecológica,segun-doos princípiosda agriculturaNatural deMokitiOkada; produzir ali-mentosqueaumentemasaúdedohomemequepreservemomeioam-biente,eorientarosalunossobreostiposeacomposiçãodosalimentos,estimulando-osaadotarhábitosalimentaressaudáveis.

Princípios da agricultura natural de Mokiti Okada

SegundoMokitiOkada(1931),oprincípiodaagriculturanaturalcon-sisteemdeixarqueasforçasnaturaisdosolosemanifestemlivreeplena-mente,evidenciando-lheseuestadonatural(ChagaseCoghi,2010).Des-sa forma,o fundamentodaagriculturanatural resume-senas seguintespalavrasdeseufundador:“fazercomqueosolomanifestesuagrandiosaforça,ouseja,umsolosaudávelevivoondeexistamatériaorgânicaemabundância,comfartavariedadeequantidadedeorganismosdosolo,ele-vadopodertampão,desenvolvaaformaçãodeagregadosdosoloeumanaturezafísica,químicaebiologicamentefavorecida”(Okada,2002).

ChagaseCoghi(2010)ressaltamque,naagriculturanatural,afertili-zaçãodosolo“[...]consisteemfortaleceraenergianelecontida.Paraisso,énecessárioapenastorná-lopuro.Pois,quantomaispuroéosolomaiorésuaforçaparaodesenvolvimentodavidanelecontidae,consequente-mente,paraodesenvolvimentoplenodasplantas”.

Assim, tendoessa característica comobase, aagriculturanatural sediferenciadaconvencionalpelaaplicaçãode“técnicascapazesdemantererecuperaraintegridadedoecossistema,ascaracterísticasfísicasequí-micasdosolo,preservare/ouaumentaravidamicrobiológicadomesmo,conservareampliarabiodiversidadedoecossistemaenvolvido”(Chagas;

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Coghi,2010).Esseprocedimentopropiciarácondiçõesfavoráveisaobomdesenvolvimentodasplantas,aumentandoaproduçãoeaqualidadedosprodutosobtidos.Permitindooconsumodosprodutossemriscoalgumparaasaúdedoprodutor,doconsumidor,alémdeprotegeromeioam-biente.Mas,elavaimuitoalém,poisaspessoasqueconsomemessesali-mentospassamaeliminarastoxinasacumuladas“causadasporumaali-mentaçãoinferiordesolosdoentes.”(Primavesi,2006).

A agricultura convencional, visando obtermaior produção, acaboumenosprezandoaforçadosoloe,apartirdisso,passouautilizarestercos,agrotóxicosetc.Dessamaneira,anaturezadosolofoipoucoapoucosedegradando, sofrendo transformaçõese sua forçaoriginalacaboudimi-nuindo(Chagas;Coghi,2010).

MokitiOkada(2002)referiu-seassimsobreanaturezadosolo:“Vejacomoosolosecobreabundantementedefolhassecasquecaem,anoapósano,nooutono.Éprecisamenteissoqueomantémemcondiçõesdeferti-lidade.Assim,digo-lhesque,utilizemesseprocessoparavivificá-lo”.

Sistema CPMO de manejo de solo e planta no Cedeg/Apae

ParaaimplantaçãoemanutençãodashortasnaApaesdeMS,foiuti-lizadaatecnologiadesenvolvidapelaFundaçãoMokitiOkada,pormeiodoCentrodePesquisaMokitiOkada(CPMO),fundamentadanométododaagriculturanaturaldeMokitiOkada(Okada,2002).

Essemétodonãovêfatoresisolados,massempreconsideraossiste-masnaturais,osciclosvitaiseahumanidadedentrodestessistemas.Elealmejasuarecuperaçãoemanutenção.É,portanto,umavisãosistêmicadaproduçãoagrícola.(Primavesi,2006).

Atecnologiaaplicadaéo“SistemaCPMOdeManejodeSoloePlan-ta”(SCPMO-MSP).Suaaplicaçãoeseuefeitotêmcomobaseumaformaespecíficadeequalizaçãodosfatores:solo,matériaorgânica,nutrientes,água, ambiente,microrganismos e elementos de controle fitossanitário.Essemanejodiferenciadoécomplementadocomaplicaçãodeprocessomicrobianaespecificoeoresultadoéaconstruçãodeumsolofisicamenteestável, quimicamente equilibrado e biologicamente ativo, com plenascondiçõesde suprirde forma sustentável asnecessidadesdaplanta, re-duzindo significativamente ou eliminando totalmente a utilização deagroquímicos.

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Elasefundamentanasseguintesações:a.Adequaçãodascondiçõesquímicasefísicasdosoloàsdemandas

daculturaassistida;b.Utilizaçãoracionalpormeiodeinputsustentáveldematériaorgâ-

nicanaáreadecultivo;c.Adequaçãodas condições biológicasdo solo coma aplicaçãode

processosmicrobianos,resultandoemaproveitamentoefetivodosbenefí-ciosproporcionadospeloinoculantemicrobiano;

d.Aplicaçãodetécnicascomconceitosdebidisponibilizaçãodenu-trientesnosoloproporcionandooequilíbrionofluxodenutrientespelasplantasresultadoemeconomiadefertilizantes;

e.Aplicaçãodetécnicasnosoloenaplantacomconceitosdebioexclu-sãocompetitivaparamanejodepragasedoençasgerandocondiçõesparareduçõessignificativasnousodepesticidas.

O programa de educação profissional articula formação ocupacional e qualidade de vida com a agricultura natural

Esseprograma tevecomoobjetivopromover condiçõesparaqueosalunos,acimade14anos,comdeficiênciamentalsejaminseridosemofi-cinasdeformaçãoocupacional,eaquelescomidadeacimade16anosse-jaminseridosemestágiossupervisionadosremuneradoseposteriormentenoempregocompetitivo.Somam-seaessesgruposalunoscomidadesaci-made35anos.AtodossevisouodesenvolvimentosocialemelhoradasuaqualidadedevidaenfatizandoorespeitoànaturezaapartirdasideiaspreconizadasporMokitiOkadasobrepreservaçãodanaturezaealimen-taçãonatural.

OsalunosdoCedeg/Apaecomdiagnósticodedeficiênciamentalpri-máriaforamdivididosemdozegruposdedezalunos,sendoseisgruposnoperíodomatutinoeseisnoperíodovespertino,participandodasativi-dadesdahortaemsistemaderodízio.

Aformaçãodosgruposseguiuoscritérios:teridadede16anosparaaEducaçãoProfissionalenãoteroBeneficiadePrestaçãoContinuada(BPC); ter idadede14anosparaaFormaçãoOcupacional epossuiroBPC;teridadeacimade35anosparaasatividadesdeDesenvolvimentoSocialeQualidadedeVida,semperspectivadeinserçãonoestágioeem-pregocompetitivo.

Os alunos passaram por rodízio de cinco dias úteis começando na

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segunda-feiraeterminandonasexta-feiranasatividades:comunicaçãoeexpressão,matemática,história,geografia,ciênciaseorientaçãosexual,papelreciclado,institutodebeleza,agriculturanatural,cozinhapedagógi-ca,eatividadescomplementares:educaçãofísica/treinamentodesportivodançateatroebiblioteca.

Todasasatividadesforamconectadascomosconteúdospertinentesàagriculturanaturale,comoconsequência,apreservaçãodomeioambien-te.Apósaestadadoalunonasatividadescitadasanteriormente,reuniram-seaequipedeprofessoreseacoordenaçãopedagógica,quediscutiramocaso,fechando-opormeioderegistroporatividades,transformando-oemumasequênciadidáticacomconclusãosobreaelegibilidadeounãodoalunoparaosprogramas.

As oficinas internas no Cedeg/Apae ofereceram formação para osalunosconquistaremmelhordesempenhonasquestõesocupacionaisqueenvolvemsuavidadiáriaeprática,epré-requisitosbásicosparaqueessesalunossejaminseridosemestágiosupervisionadoremuneradoemexperi-ênciarealdetrabalho,culminandoemsuainserçãonotrabalhocompetiti-voe/ouDesenvolvimentoSocialeQualidadedeVida(DSQV).ODSQVatendealunoscomdeficiênciamental,comidadeacimade35anos,emprocessodeenvelhecimentoprecoce,equenãoalcançaramashabilidadesparainclusãonasescolascomunsenotrabalhocompetitivoe/outrabalhoautônomo(geraçãoderenda).Aprincipalintençãodogrupoémantê-losemaçõesquebusquemboascondiçõesbiopsicossociais.

Habilidades desenvolvidas no trabalho na horta natural

Nashabilidadesbásicas foram trabalhadosconteúdos referentesaosseguintesitens:relacionamentohumano;cuidadospessoais;segurançanotrabalho(riscosocupacionais,uniformes,prevençãoacidentes);higieneeconservaçãodo ambientede trabalho; emeio ambiente e qualidadedevida;identificaçãodedireitosedeveres.

Emrelaçãoàshabilidadesespecíficasreferentesàhorta,trabalharam-seosseguintesconteúdos:utilizaçãodasferramentas,preparaçãodecan-teiros,coberturadecanteiros,produçãoetransplantiodemudasdehorta-liças,irrigaçãodeplantas,adubaçãonaturaldasplantas,limpezadosetordahorta(varrer, rastelar...),colheitadashortaliças,embalagemevendadosprodutosproduzidos.

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Avaliação do cotidiano das atividades propostas para o aluno

Aavaliaçãofoirealizadasobtrêsformas:diagnóstica,formativaeso-mativa,comintervençõesfeitasdemaneiraqueoalunocompreendesseseusavançoseprogressosrumoàsnoçõesmaiscomplexas.

Naavaliaçãodiagnósticafoirealizadoolevantamentodasnecessida-desdoaluno,seusconhecimentosdosconteúdosdecadamódulo,avalian-do-senecessidadedeestesretornaremparaefetivaraaprendizagem.

Aavaliaçãocontínuaobjetivouproporcionaraconstataçãodoavançodaaprendizagem.Foramrealizadaspormeiodepalestras,análisecriticadetextoevídeos,dinâmicasdegrupo,vivênciasdesituaçõescotidianasemsituaçãorealdasatividadesafimdegarantirmelhordesempenhodoalunocomasquestõesqueenvolveramacozinhapedagógica.

A avaliação somática, por sua vez, constituiu-se de registro emportfólio,sequênciadidática,fichasdedesempenhos,registrosfotográfi-cosdeantesedepoisaferidopeloprofessor.(Vygotsky;Luria;Leontiev,1998,p.96).

Todoesseprocessode implementaçãoestápautadocomfundamen-tação na teoria de Vygotsky que tinha uma visão de desenvolvimen-to baseado na concepção de um organismo ativo, cujo pensamento éconstruído em ambiente histórico e essencialmente social, ou seja, daspossibilidadesqueoindivíduotemapartirdoambienteemquevive.(DeMello,1999,p.15).

Vygotsky(1998)sempredefendeuaideiadacontínuainteraçãoentreasmudançasdascondiçõessociaiseabasebiológicadocomportamentohumano.Comamaturação,oindivíduopassaaternovasemaiscomple-xasfunçõesmentais,dependendodograuaquesãoexpostasasexperiên-ciassociais.

ParaVygotsky,avivênciaemsociedadeéessencialparaatransforma-çãodohomem.(DeMello,1999,p.23).

Épelaaprendizagemnasrelaçõescomosoutrosqueconstruímososconhecimentos que permitem nosso desenvolvimentomental. SegundoVygotsky(1993),aevoluçãointelectualécaracterizadaporsaltosqualita-tivosdeumníveldeconhecimentoparaoutro.

Oeducador,paraVygotsky,desempenhapapelativodentrodaclasse.Vygotskypropõeumaescolaque“puxe”peloaluno,quefaçaavançaretraçaclaramenteopapeldoprofessorcomocondutordoprocesso.

Coerentemente, sua teoria explica a evolução intelectual como um

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processoconstantequepodeserimpulsionadotambémcomajudaexterna(DeMello,1999,p.38).

Nessaperspectiva,aeducaçãonãoficaàesperadodesenvolvimentointelectualdacriança,aocontrário,sua funçãoé levaroalunoadiante,pois,quantomaiseleaprende,mais sedesenvolvementalmente.Priori-zandoas interaçõesentreosprópriosalunosedelescomoprofessor,oobjetivoda escola, então, é fazer queos conceitos espontâneos, que ascrianças desenvolvem na convivência social, evoluam para o nível dosconceitoscientíficos.

Nessesentido,oeducadorassumeopapeldemediadorprivilegiadonaformaçãodeconhecimento.Assim,otrabalhocomosalunosnahortanaturalinsere-senessecontextopedagógico.

Resultados

Das62ApaesdoEstadodeMatoGrossodoSul,atéomomento,22delasparticiparamdoscursoseconsultorias,nopolodecapacitação;edasunidadesdointerior,foramcapacitados32professores.NoCedeg/ApaedeCampoGrande,MS,oprojetocapacitouquinzeprofessoresdaEdu-caçãoProfissionalqueatuamemsaladeaulaeemoficinasocupacionais.Mensalmente,oCPMOrealizaconsultorianoCedeg-Apaeeparticipam

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OsprodutoscolhidosnahortaforamparaacozinhadoCedeg/Apaeetambémforamvendidosparaosprofessoreseospais.

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cincoprofessoreseseisalunosfixosequepermanecemasemanatodanoprojeto,desenvolvendoserviçosnahorta,poriniciativaprópria.

Nodiaadia,observou-sequeosalunosforamassíduosrealizavamasatividadescomalegria,participavamdoscursoseconsultoriascommuitointeresse.Asmudançasnessesalunosforamnotáveis:estãomaisprestati-vos,passaramatermaisrespeitoecuidadocomanatureza.Alémdessesalunos,semanalmente,participaramdasatividadesnahortadozegruposdedezalunosemsistemaderodízio.Percebeu-sequeosalunosquenãogostavamdeverduraspassaramasaborearosprodutosqueajudaramacultivar.

Aavaliaçãodecadaatividadefoirealizadapormeioderegistrosfoto-gráficosesequênciadidática,poraluno,realizadospelosprofessorespar-ticipantesemediadospelacoordenadorapedagógicadaescola.Nasequ-ênciadidáticaficaramregistradasasatividadeseasaçõesrealizadaspelosalunos,bemcomofotosedepoimentosdeseudesempenho.

OsprodutoscolhidosnahortaforamparaacozinhadoCedeg/Apaee,também,foramvendidosparaosprofessoreseospais.

Oscanteirosforamcontornadosporcalçadascompisoespecial(podo-tátil),propiciandocondiçõesdevisitasàhortapelosalunoscomparalisiacerebral,comoformadeosterapeutasutilizaremahortacomoestímulosensorialdosalunos.

JovensdoProgramaPedagógicoEspecíficoemvisitaàhortacomacompanhamentodoprofessordeeducaçãofísica

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Osprofessoresficarammaisconscientesdaimportânciadessesalunosemmanusearosolocomrespeitoemaisatentosnocuidadododesenvol-vimentodasplantas,assimcomodespertaramointeressepeloconsumodealimentosmaissaudáveis.

Para2012,pretende-secontinuaroferecendocursoseoficinasdehortaescolarparaosprofessores,funcionários,alunosepais,emtodasasApaesdoEstadodeMatoGrossodoSul.Alémdisso,pretende-seobterocerti-ficadode“produtoorgânico”paragarantiraprocedênciaequalidadedosprodutos,seguindoasnormasdoMinistériodaAgricultura.

Referências Bibliográficas

CHAGAS,P.R.R.Fundamentos para uma agricultura sustentável (natural ou orgâni-ca).CentrodePesquisaMokitiOkada.2003.CHAGAS,P.R.R.;COGHI,E.P.Capacitação em Agricultura Natural de Mokiti Okada utilizando o Sistema CPMO de Manejo de Solo e Planta: tecnologiadebaixoimpactoeconômicoeambientalprogressivo. (apostilaelaboradaparacursodeformação).CentrodePesquisaMokitiOkada,2010.OKADA,M.Princípiosdaagriculturanatural. In:Alicerce do Paraíso.v.5.SãoPaulo:FundaçãoMokitiOkada,2002.p.26-29.PRIMAVESI,A.Agricultura natural: a solução para os problemas atuais. In:Apostila Cartilha do Solo.FundaçãoMokitiOkada-M.O.A.CentrodePesquisa,Ipeúna,SP,2003.MELLO,L.A.S.Teoria sócio histórica e educação especial.CampoGrande.15dez.2005.Dissertação(dePós-Graduação)–UFMS.VYGOTSKY,L.S.Fundamentos de defectologia.Cuba:PuebloyEducacion,1998._______________.Pensamento e linguagem.SãoPaulo:MartinsFontes,1998._______________.Pensamento e linguagem.SãoPaulo:MartinsFontes,1993.

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Contribuições de Paulo Freire na EJA e na Construção de um Projeto de Vida

EthelElzon1

JulianaSantosGraciani2

Resumo: Visando contribuir com os avanços das políticas públicas naáreadaeducaçãobrasileiraenabuscadepromoveraçõestransformado-raspessoais,sociaisepedagógicas,vemsedesenvolvendooProgramadeEducaçãodeJovenseAdultos(EJA)noestadodeSãoPaulo.ONúcleodeTrabalhosComunitários(NTC)–PUC/SPcriouumadisciplinatrans-versalizadaàsoutrasáreasdoconhecimento,comoobjetivodeauxiliarosjovenseadultosaressignificaremsuasexistênciaseafunçãosocialdoestudoemsuasvidas.EssaexperiênciafoirealizadaemsalasdeauladeEJA,comadolescentesemcumprimentodeMedidasSocioeducativaseemGrupodeMulheresVítimasdeAbusoSexual.AconstruçãodeumavisãosobreapolíticapúblicadeEJAedesuamissãonamelhoriadevidapessoal, social,espiritual, familiarecomunitária,possibilitaaospartici-pantesumaampliaçãodesuavisãodasreaisfunçõesdoatodeeducaredesuaresponsabilização.Essetrabalhotemporobjetivos:fundamentaromarcolegal,socialepolíticodosavançosnodireitoàEducaçãodeJovenseAdultos;refletirsobreoatodeeducar,baseadosnosprincípiosdoedu-cadorPauloFreire;eapresentarosresultadosdadisciplinaConstruçãodoProjetodeVidanaEJA.Palavras-chave:educação,jovenseadultos,PauloFreire.

1.Pedagoga,especialistaemDireitoEducacionaleSupervisoraPedagógicadeEJA.<[email protected]>2.Psicóloga,doutorandaemPsicologiaSocial,assessorapedagógicadoNúcleodeTrabalhosComunitáriosedocentedePolíticasPúblicasdeGestãodeSegu-rançaPUC/SPedocentecolaboradoradaFaculdadeMessiânica.<[email protected]>

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Breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Apopulação brasileira, segundo registros do senso demográfico doIBGE(2010),éde190.732.694habitantes.Dessetotal,131.120.226cida-dãosencontram-senafaixaetáriaadultaentre18e59anos,representando69%dototalpopulacionalnacional.Dentreestes,8.721.764sãoanalfa-betos.Seacrescentarmosasfaixasetáriasdeadolescentescompreendidasentre15e17anos,essetotalsobepara8.949.681pessoasanalfabetasemnossopaís,perfazendoumíndicede6,8%dototaldapopulaçãonacional,compreendidoentreasfaixasetáriasde15a59anos.

Essecontextovemsendosuperadoaolongodelutaspelaefetivaçãododireitoàeducaçãobásica,incluindooacessouniversaleosavançosnaqualidadedoatendimento,porémosdadosdemonstramquehánecessi-dadedepolíticaspúblicasnoquetangeàofertadeensinocomplementare regular aos cidadãos quenãopuderamcursar em idadeprevista, suaaprendizagemfundamental.

Aseguir,faremosumabrevecontextualizaçãodosurgimento,dode-senvolvimentoedosdesafiosatuaisdaEducaçãodeJovenseAdultosnoBrasil.

Décadas de 1930 a 1960

Em1930,inicia-seahistóriadaeducaçãodeadultosnoBrasil.Dezanosapós,amplia-seaeducaçãoelementar,paraainclusãodosjovens.Eem1950,desenvolve-seamplaCampanhaNacionaldeMassa,apartirdecríticasquantoàssuasdeficiênciasadministrativas,financeiraseorienta-çõespedagógicas.

Jáem1960,opensamentodePauloFreireesuapropostaparaaal-fabetizaçãodeadultosinspiramosprincipaisprogramasdealfabetizaçãodopaís.

Em1964,aprovou-seoPlanoNacionaldeAlfabetização,quepreviaadisseminaçãoportodooBrasildeprogramasdealfabetizaçãoorientadospelapropostadePauloFreire,porémainiciativafoiinterrompidacomoGolpeMilitar,eseuspromotoresforamduramentereprimidos.Em1967,ogovernoassumeocontroledosProgramasdeAlfabetizaçãodeAdultos,tornando-osassistencialistaseconservadores,e lançamnesseperíodooMovimentoBrasileirodeAlfabetização–Mobral.Visandoà superaçãodosaltosíndicesdeanalfabetismo,em1969sedesenvolvenovamenteumagrandecampanhadequalificaçãoeducacionaledealfabetização.

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Décadas de 1970 e 1980OMobralexpandiu-sepor todoo territórionacional,diversificando

suaatuação.Dasiniciativasquederivaramdesseprograma,amaisimpor-tantefoioProgramadeEducaçãoIntegrada–PEI,sendoumaformacon-densadadoantigocursoprimário.Em1980,háaemergênciadosmovi-mentossociaiseoiníciodaaberturapolíticaeosprojetosdealfabetizaçãosedesdobraramemturmasdepós-alfabetização.Em1985,desacreditado,oMobralfoiextintoeseulugarfoiocupadopelaFundaçãoEducar,queapoiavafinanceiraetecnicamenteosprojetosdogoverno,dasentidadescivisedasempresas.

Em1989,surgiuoMovimentodeAlfabetizaçãodeJovenseAdultos–Mova,duranteagestãodePauloFreirenaSecretariaMunicipaldeEdu-caçãodeSãoPaulo,comoumapropostaquereuniadiversossetoresdoEstadoeorganizaçõesdasociedadecivilparacombateroanalfabetismo,oferecendooacessoàeducaçãodeformaadaptadaàsnecessidadeseàscondiçõesdosalunosjovenseadultos.

Décadas de 1990 e 2000

AEducaçãodeJovenseAdultosnoBrasilchegaàdécadade1990reclamandoreformulaçõespedagógicas,carecendodediretrizesnacionaisparasuaexecução.ComaextinçãodaFundaçãoEducarem1990,criou-seumenormevazionaEducaçãodeJovenseAdultosealgunsestadosemunicípiosassumiramaresponsabilidadedeoferecerProgramasdeEdu-caçãodeJovenseAdultos,deformaindependente.

Ressaltamos dois eventos mundiais, que produziram avanços nestaárea,daqualoBrasilésignatário.Em1990,naTailândia,emJomtien,foipromovidaaConferênciaMundialdeEducaçãoParaTodos(art.1º),ondeforamcriadasasdiretrizesplanetáriasparaaEducaçãodeCrianças,JovenseAdultos,destacandoque“cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem”.

Essasnecessidadesincluemtantoosinstrumentos(leitura,escrita,ex-pressãooral,cálculoeasoluçãodeproblemas)comoosconteúdos(co-nhecimentos,habilidades,valoreseatitudes)buscandodesenvolveropo-tencialhumanodeformaintegral.

NaAlemanha,em1997,nacidadedeHamburgo,realizou-seaVCon-ferência InternacionaldeEducaçãode Jovens –Confintea (Hamburgo,1997), promovida pelaOrganização dasNaçõesUnidas para aEduca-ção,CiênciaeCultura–Unesco,ondefoiconstruídoimportantemarco,namedidaemqueseestabeleceramdiversasvinculaçõesdaeducaçãode

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adultosaodesenvolvimentosustentáveleequitativodahumanidade,des-pertandoparaaresponsabilidadeplanetária,aculturadepazeapartici-paçãocriativaeconscientedoscidadãos.

Aalfabetizaçãoéumdireitohumanofundamental,temopapeldepromoveraparticipaçãoematividadessociais,econômicas,políticaseculturais,alémdeserrequisitobásicoparaaeducaçãocontinuadadetodaavida.(Declara-çãodeHamburgo,1997,item11)

NoBrasil,em1998,buscandoaunificaçãoeaconstruçãodediretrizesúnicas,institui-seaLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional–LD-BENnº9.394/96,queregulaoatendimentodeacesso,permanênciaesu-cessonaeducaçãodejovenseadultos,afimdeafirmaraobrigatoriedadeeagratuidadedaofertaeducacionalparatodosquenãotiveramacessonaidadeprópria(LDBEN,1996,art.37).

ALDBENtambémdelineiaabasenacional comumdocurrículoeafaixadeingressonaEJA,destacandoqueaeducaçãofundamentalsedestinaaosmaioresde15anoseoensinomédio,aosmaioresde18anos(LDBEN,1996,art.38).

OutroimportantemarcolegalparaosavançosnaspolíticaspúblicasdaEJAfoiaaprovaçãodoParecernº11/2000daCâmaradeEducaçãoBásica–CEBedoConselhoNacionaldeEducação–CNE,quetratadasDiretrizesCurricularesNacionaisparaaEducaçãodeJovenseAdultos,unificandoamatricialidadedosconteúdosaseremabordados,suaquali-dadeefunçãosocial.

Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos em 2011

NacidadedeSãoPaulo,oMovaéumprogramadealfabetizaçãoper-manentedaSecretariaMunicipaldeEducação,quefuncionaapartirdeconvêniosentreaPrefeituraeentidadessociaiseassociaçõescomunitá-rias.APrefeituracusteiaasdespesasdefuncionamentodasclassesedábolsa-auxílio;eoseducadoreseasentidadesseresponsabilizampelolocaldasaulaseporindicaraoseducadores.AsaladeEJAécompostaporcer-cadequinzealunos,aaulatemaduraçãodetrêshoras,ocorremquatrovezesporsemanae,emgeral,noperíodonoturno.

Aflexibilidadeeacapacidadedeseadequaràrealidadeeàsnecessi-dadesdosalunossãoasmaioresvantagensdoMova,destacandoaproxi-midadedassalasdeaulasdesuasresidências,diminuiçãodasexigênciasquantoàsfaltasedacargahorária;alémdoconteúdoensinadoestarmais

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relacionadocomocotidianodeumadultoquejátemexperiênciadevida,cabendoaoseducadoresfazerumamediaçãoentreosaberdoalunoeaeducaçãoformal.

O que está acontecendo agora na Educação Nacional Brasileira (2011)?

OnovoPlanoNacionaldeEducação(PNE)paraodecênio2011-2020foiidealizadoemparceriacomasociedadecivil,profissionaisdocentes,servidorespúblicosediversosgestoresintersetoriais,envolvendoapartici-paçãodemocráticanosâmbitosmunicipal,estadualefederal.

OPNE encontra-se em fase de validação peloCongressoNacionale,quandoaprovado,deveráregeraspolíticaspúblicasdeeducaçãopelapróximadécada.Seumaiordesafioéoacessouniversalaoensinofunda-mental,apermanênciaeosucessoeducacionaldecriançaseadolescentes,afimdequeessesdeemcontinuidadeaosconhecimentosportodaavida.

A seguir, apresentamosasdiretrizesdoPNE–2011/2020, visandoexplicitaraabrangênciaeosnorteadoresdapolíticaeducacionalnacional:I–erradicaçãodoanalfabetismo;II–universalizaçãodoatendimentoes-colar;III–superaçãodasdesigualdadeseducacionais;IV–melhoriadaqualidadedoensino;V– formaçãoparao trabalho;VI–promoçãodasustentabilidadesocioambiental;VII–promoçãohumanística,científicaetecnológicadopaís;VIII–estabelecimentodemetadeaplicaçãoderecur-sospúblicosemeducaçãocomoproporçãodoprodutointernobruto;IX–valorizaçãodosprofissionaisdaeducação;eX–difusãodosprincípiosdaequidade,dorespeitoàdiversidadeeagestãodemocráticadaeducação.

AefetivaçãodoPNE–2011/2020 foi idealizadoapartirda imple-mentaçãodeumplanodemetaseestratégias,que,devidamentefinancia-daseaplicadas,alcançarãoaindicaçãode10%doPIBnacional.Aseguir,citamosasprincipaismetas estabelecidas e relacionadas comapolíticapúblicadeEducaçãodeJovenseAdultos:

Meta 8–Elevaraescolaridademédiadapopulaçãode18a24anosdemodoaconseguirmínimodedozeanosdeestudoparaaspopulaçõesdocampo,daregiãodemenorescolaridadenopaísedos25%maispobres,bemcomoigualaraescolaridademédiaentrenegrosenãonegros,comvistasàreduçãodadesigualdadeeducacional.

Meta 9 –Elevarataxadealfabetizaçãodapopulaçãocom15anosoumaispara93,5%até2015eerradicar,até2020,oanalfabetismoabsolutoereduzirem50%ataxadeanalfabetismofuncional.

Meta 10–Oferecer,nomínimo,25%dasmatrículasdeeducaçãodejovenseadultosnaformaintegradaàeducaçãoprofissionalnosanosfi-naisdoensinofundamentalenoensinomédio.

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Meta 11–Duplicarasmatrículasdaeducaçãoprofissionaltécnicadenívelmédio,assegurandoaqualidadedaoferta.

Meta 12 –Elevarataxabrutadematrículanaeducaçãosuperiorpara50%eataxalíquidapara33%dapopulaçãode18a24anos,assegurandoaqualidadedaoferta.

Nota-sequeoBrasil,apartirdadécadade1990,vemconjecturandopolíticaspúblicasdeeducaçãoemcaráternacional,destacandoasdiretri-zes,ocurrículoeoacessouniversalizado,simultaneamentebuscaarticu-larcomaqualificaçãoprofissionaletécnica,visandoàinclusãoemsuasváriasdimensões,tantopessoalcomosocial,econômicaecultural.

Articulação dos Princípios da Educação Freiriana com a Educação de Jovens e Adultos – Metodologia da Pedagogia Libertadora

PauloFreire(1979a)destacaqueaeducaçãodevepropiciarumalei-turademundo,umaproblematizaçãodarealidadeasercompreendidaeumaanálisepropositivaacercadeseucontexto,afimdeconstruirproces-sosdetransformação,envolvendoasdimensõespessoal,social,econômi-ca,profissional,culturalepolítica.

APedagogiadaLibertaçãofoisendoidealizadaecriada,aolongodesuatrajetória,apartirdoprocessoeducativo,abrangendoumametodolo-giaaseraplicadaemtrêsdimensões:ação–reflexão–novaação.

Ação: Édesencadeadaporumaintervençãodossujeitosdedireitosnarealidade,expressanaconsciênciadecadaum,sendoampliadapelaconstruçãocoletivadoconhecimento.Aesseprocessodenomina-seCír-culodeCultura.

Reflexão: Abarcaumaanálisecrítica, suasdeterminações,desafios,historização, contexto, contradições, referências científicas e teóricas, apartirdaaçãoinicialcoletiva,pormeiodadialogação.Essaaçãoeducati-vaocorrepelatécnicadeRodasdeConversadeproblematizaçãotemática.

Nova ação:É referendadapelabuscacriativadopotencialhumanoemsuperação,emiralémdesuapercepção,oportunizandonovosângulosdevisão,tendodisponibilidadedecriaçãodenovasaçõesindividuais,degrupoenocoletivo,visandoàtransformaçãodarealidade.Busca-se,nestaetapa,asistematizaçãodasreflexõesedasvivênciasrealizadas,criandoedesenvolvendonovosconhecimentos.

PauloFreire(1996)propõequeaconstruçãocoletivadoconhecimen-toocorrapelareflexãocríticaeconscientedosprincípiosevaloresvividosnoprocessoeducativo,pormeiodaproblematizaçãodosconflitos,edacriaçãodepossíveissoluçõesdesuperaçãodedeterminadasituaçãoepeloexercíciodatomadadedecisãocoletiva.

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Aeducaçãoqueconstróiconhecimentos,tendocomopontodepartidaapráticaexpressapelaviadassensaçõesepercepçõespessoaisanteaumfenômenoacessadoportodoogrupo,promoveaintegração,opertenci-mento,enfim,agregaaspessoasporobjetivoscomunsdeinclusão.

Aaceitaçãodapluralidadedeopiniõesedesuavalorizaçãocontribuiparaatolerância,anãoviolênciaeaorespeitoàdiversidade.

Resultados da pedagogia da libertação

Todosassumempapelativo,depesquisaeconstruçãodesuatrajetó-ria,naapropriaçãodaconstruçãocríticadarealidadecircunstancialemquesevive,possibilitandosuaproblematizaçãodeformaarticuladacomváriosconhecimentoseasistematizaçãodaexperiênciavividaerefletidade formaaagregarnovosconhecimentosproduzidospelogrupo, forta-lecendoaconsciênciaeavalorizaçãodeaçõescoletivasecomunitárias.

Oatodeeducaréumaaçãointencional,ideológicaepolítica,jáqueproporcionaaparticipaçãocoletiva,reflexivaetransformativadarealida-desocial,política,econômicaecultural.Oeducandovaiconstruindoumanovavisãosobresi,omundo,avidaeasociedade,possibilitandonovasressignificaçõesesuperaçõesdovivido,dapresentificaçãoedovir-a-ser.“Nãohátransiçãoquenãoimpliqueumpontodepartida,umprocessoeumpontodechegada.Temosdesaberoquefomoseoquesomos,parasaberoqueseremos”(Freire,1979b,p.23).

Aleiturademundo,enãoapenasdoletramentoformal,permitequeapessoaincorporeafunçãosocialdoconhecimentoenãoapenasashabi-lidadesecompetênciasdaleitura,daescrita,dasquatrooperaçõesnumé-ricasedemaisconteúdos.Aênfasedadaàanálisecríticadarealidadedoeducandoeacontextualizaçãodeondeocorremossentidosesignificadosindividuaisecoletivospropiciouumanovaabordagemdesi,desuavida,dosocialedoconvívionoplanetaTerra.Assim,paraPauloFreire(1996,p.78),“otextoéopretextoparaentenderocontexto”.Aeducaçãoéaoportunidadeparaconstruiroinéditoviáveldasredesdepossibilidadesdenovasauroras,descobertas,finalizaçõesedecriações.Enfim,sonhospos-síveisedelibertaçãodasamarrasqueopessimismo,aapatia,oegoísmo,afalsidade,aviolência,ousodedrogasgeramnossereshumanos,masca-randoaalegriadeviver,dosercuriosoepesquisadordosconhecimentosquejáexistemedosinvisíveisaosolhos,mastãointensosaocoração.Vir-a-seréassumiradimensãoemsuaexistênciadeconstruirsonhosviáveis,apartirdaconsciênciadoqueseestásendo,doquesefoieprojetaroquesequerser.

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Construção da disciplina Projeto de Vida na Alfabetização de Jovens eAdultos

ONúcleodeTrabalhosComunitáriosdaPontifíciaUniversidadeCa-tólicadeSãoPaulo–NTC–PUC/SP3éumespaçodeextensãouniversi-tária,ligadaaoDepartamentodeEducação.Aolongodosseustrintaanosdeexistência,vemdesenvolvendodiversasatividades,noquetangeapes-quisacientífica,formaçãodeeducadoressociais,intervençõespedagógi-cas,assessoriasecriaçãodepolíticaspúblicas,representaçãonoConselhoNacional,EstadualeMunicipaldosDireitosdaCriançaedoAdolescente–Conanda,Condeca eCMDCAenaspublicizações edebates abertossobresuapráticaeteoriadentrodapedagogiasocial.

Preocupadoemauxiliarnaefetivaçãodosdireitoshumanos,naconso-lidaçãodoEstadodemocrático,naparticipaçãorepresentativaedeliberati-vaenaformaçãohumanizadoradoscidadãosbrasileiros,oNTC–PUC/SPcriouumadisciplinatransversalizadaàpolíticapúblicadeEducaçãodeJovenseAdultos,denominadaConstruçãodoProjetodeVida.

OprincipalobjetivodaconstruçãodoProjetodeVidaécriarumnor-teadordeprincípiosevaloresparacadaáreadeimportâncianavidapes-soal, familiar,comunitária,societáriaeplanetáriadeumserhumano,apartirdequestionamentos,taiscomo:quaissãoseuspropósitosemcons-truirumafamília,critériosparaopçãoprofissional,escolhadeamizades,responsabilidadesexual,experiênciasespirituais,cuidadoscomasaúde,participação na política, pertencimento social, demonstração de amor,perdãoereconciliação?

EstabelecerumProjetodeVidaparasimesmoconsisteemdefinireconstruirconscientementeossetoresimportantesdesuavida,destacandoseusobjetivos,metas,metodologias,formasdeavaliaçãoesistemademo-nitoramento.Quemtemumrumobem-definido,constróiumcenárioeumhorizonteaseralcançado.Projetosignificaaaçãodeprojetar,almejar,sonhar, idealizar, desejar e querer. Implicar-se e responsabilizar-se peloprocessosócio-históricodeexistir:oquefoi,oqueestásendoeoqueserádesuavida.

Aanálisecríticadoprojetotraçadorevelaopercursoeadiretrizase-remrealizadosparasealcançaroquefoiplanejado.

Graciani(2001)ampliaavisãodoProjetodeVida,apartirdeduascategoriasconstitucionais:aperspectivapolíticademarcadapelosgrupos

3.ONTC–PUC/SPfoifundadoeécoordenadopelaProfa.Dra.MariaStelaSantosGraciani,pedagoga,cientistasocialeprofessoratitulardaPUC/SP.Participadosmo-vimentossociaisdaáreadainfânciaeadolescênciaedireitoshumanos.Atualmente,émembrodoCondecapeloEstadodeSãoPaulo(2011/2013).

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sociaisqueatuamnaexistência,articuladocomquantoapessoapermitedemocraticamenteque se interiorizedessasvivências em sua trajetória,fazendoqueatuemaisoumenosnasociedadeeocaráterpedagógicode-limitadopelograudedisposiçãointeriorquesetem,deaprenderconsigo,comooutro,comosgrupossociaisecomocoletivo.

Essa duas categorias constitucionais são transversalizadas, segundoGraciani(2009),porquatrodimensõesaseremdesenvolvidaseamadu-recidasaolongodoaprimoramentodoProjetodeVidadeumatrajetóriaexistencial.

Aautoestimaéperpassadapelogostardesimesmo,aceitar-se,reco-nhecersuasdificuldadesepredispor-seamudá-laseperceber-seemeternaaprendizagemdoquesefoi,seestásendoedoquepodeviraser.

Aconfiançaéconstruídanarelaçãoconsigo,comosoutrosecomomundo,permitindoempreendimentoseobjetivoscomuns.Épermitir-secompartilhar,dar,receberrespeitoeéestaremdisponibilidadeparaacre-ditareteresperança.

Oreconhecimentoéocoroamentodascapacidades,ésentirovalorquesetem,éseraceitopelogrupo,pelafamíliaepelasociedade.Éobser-vararealidade,évalorizaratodosqueacompõem.

Adeterminaçãoéaconsciênciadequerumoirátomar,éacertezadeterencontradoumcaminhoemmutação.Éestartecendoumrumo,umprojetodeserhumano,devida,deserelacionarcomosoutrosedesuavidaprofissional.

AconstruçãodoProjetodeVidaéaoportunizaçãodaemancipaçãohumana,apartirdaexpressãodopotencialdecriaçãoeapropriaçãodesuaprópriavida.

Metodologia da disciplina Projeto de Vida na Alfabetização de Jovens e Adultos

AdisciplinaProjetodeVidaconstitui-senaEJAcomoumespaçodediálogo,trocasdeexperiências,vivênciasintereextrapessoais,construçãodenovosvalores,descobertadepotenciaiseressignificaçãodavida.

AmetodologiaaplicadadadisciplinaProjetodeVidanaEJAédesen-volvidaapartirdequatroeixosfundamentais:

I. Desenvolvimento Pessoal (nível educacional)Objetivos Específicos:Promover exercícios, vivências epercepçõesque contribuamparaoautoconhecimento,englobandoospensamentos,sentimentos,vonta-deseatitudes;

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Propiciar espaçode expressãodaafetividade eo conhecimentodossentimentospositivosenegativos,capacitandoossujeitosdedireitosparaaresponsabilizaçãopessoalerespeitoàsdiferenças.

II. Desenvolvimento das Relações Humanas (nível sócio educacional)Objetivos Específicos:Favoreceroprocessodereflexãopessoal,grupalecoletiva,pormeiodoexercíciodeposicionarem-senas rodasdeconversas, círculosdecultura,oficinas,eventos,problematizaçõesesistematizaçõesdoco-nhecimento.Executaraçõesprotagônicasindividuaiseemgrupo,aprendendono-vashabilidades,competências,conscientizando-sedopotencialcriati-voepropositivoemconstruirummundoemtransformação.

III. Desenvolvimento do Propósito de Vida (nível transcendental)Objetivos Específicos:Desenvolverosentidoexistencial,vinculaçãoafetiva,pertencimentosignificativo,respeitoaopróximoeahumanidade.Auxiliarnacompreensãodomundointerno,aspirações,frustraçõesemotivaçõesdiantedeseusatos;Propiciarvivênciasdoperdão,reconciliação,confiança,visandoàela-boraçãodetraumas,novosdespertaresecriaçãodenovoshábitos.

IV. Desenvolvimento Político, Social, Econômico, Cultural e de So-lidariedade (nível societário)ObjetivosEspecíficos:Desenvolveraçõesquevisempromoveracidadania,capacitandoparaosdireitosedeveresemsociedade;Vivenciarintervençõesquefavoreçamaexpressãodasolidariedade;Criareconstruiralternativasparaaviabilidadedosseusprojetosdevida;Promoverparceriasbuscandoainclusãosocial,política,econômica,espiritualecultural.

Aplicação da disciplina Construção do Projeto de Vida no contexto de cumprimento de medidas socioeducativas

Omarcolegalqueregulaapolíticapúblicarelacionadaaoatoinfracio-nal,praticadoporadolescenteséoSistemaNacionaldeAtendimentoSo-cioeducativo(2006),queinstituidiretrizesparaaequipemultidisciplinar,

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parâmetrosarquitetônicos,valoresético-pedagógicos,princípiosdeinter-vençõesterapêuticasaosjovenseseusfamiliareseestabelecenorteadoresjurídico-sancionatóriosparaocumprimentodasmedidassocioeducativas.

ALeinº8.069/1990(art.112)defineasseguintesmedidassocioedu-cativasaosadolescentesemconflitoscomaLei:Advertência,ReparaçãodeDanos,LiberdadeAssistida,PrestaçãodeServiçosComunitários,Se-miliberdadeeaInternação,tendocomotempomínimodecumprimentoseismesesenomáximodetrêsanos(art.121).Seuprincipalobjetivoéauxiliaroadolescentearepensarseuprojetodevida,suacidadania,seuestabelecimentoprofissional,reintegrando-onasociedadeemoutrospa-radigmas,princípiosevaloreshumanitários(art.100).

ONúcleo deTrabalhosComunitários –PUC/SP, preocupado comosíndicesdeatosinfracionaispraticadosporadolescentesedesuarein-cidênciacriminal,noanode2008,emparceriacomoPoderJudiciárioeaprefeituradomunicípiodeEmbudasArtes–SP,desenvolveuumaintervençãocomunitária,baseadanaeducaçãofreiriananessalocalidade.

Ametodologiautilizadanessaexperiênciaconsistiunosseguintesas-pectos: foram selecionados pelo Poder Judiciário sessenta adolescentesemcumprimentodeMedidasSocioeducativasdeLiberdadeAssistidaePrestação de ServiçosComunitários, que, durante quatro horas diáriasecincodiasdasemana,deveriamparticipardeatividadeseducacionais(EJA),esportivas,culturaisesociopedagógicas(oficinas).

Visandoinovarparaproduzirresultadosderessocializaçãobaseadasna cultura de paz, amorosidade, respeito ao próximo, capacitação pro-fissionalehumanitária,oNTC–PUC/SPacrescentounaaplicaçãodaEJA,duasvezesnasemana,asoficinasdeSexualidadeResponsável,UsodeDrogaseaCapacitaçãoTécnico-Profissional,acrescida,umaveznasemana,dadisciplinadeConstruçãodoProjetodeVida.

Paraafamíliadosadolescentes,foipropostoumatendimentosemanaldequatrohoras,realizadoapartirdetemáticassugeridasporeles,amplia-dascomodebatecríticosobrecomocolocarlimites,promoverasexuali-dadeconsciente,otratamentodedependênciaquímica,oapoioescolar,aalfabetizaçãoemocionaleacapacitaçãotécnico-profissional.

As maiores dificuldades encontradas foram no estabelecimento dacomunicaçãorespeitosa,nacriaçãodosvínculosafetivos,nodesenvolvi-mentoderelaçõesdeconfiança,naaberturaanovasideiasenovosvalo-res.Superadoessaetapa,quedurouummês,foipossívelpeloprocessodenegociaçãodasregrasdeconvivêncianogrupoaconstruçãodasoficinascoletivasedeumnovoprojetodevidapessoal,grupalecoletivo,ondeocrimefoiressignificado,possibilitandooutrasexpressõesdesentidosesignificadosparaaexistênciacidadãeareinserçãoemnovosparadigmas.

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Resultados da experiência em medidas socioeducativas

Omaiorresultadoconstruídocomosadolescentesfoioíndicebaixís-simodereincidênciacriminal;dossessentaparticipantes,apenasumnãoresistiuerecaiunoseucomportamento.

Pudemossertestemunhasdeumagrandetransformaçãonaformadeexpressãocomunicacionalerelacionalondeantesaviolênciafísica,verbalesocietáriapreponderava,e,aofinaldoprocessovivido,apósseismesesdeexperiência,osadolescentesjáconseguiamreagiràfrustração,àraiva,aosercontrariado,semapresentarexaltação,apenasutilizandoafalaex-plicativa,narrativaepropositiva,nabuscadesolucionarosconflitosdarealidadecotidiana.

Destacamostambémqueaconstruçãocoletivapossibilitouquepudés-semos,comoapoiodosfamiliares,criarumprojetocomunitáriodebarra-cadeartesanato,comprodutos,lucros,gestãoeplanejamentoexecutadoporeles,comapoiodopoderpúblico,disponibilizandoespaçopúbliconapraçaprincipalparasuaexposiçãopermanente.

Umúltimoaspectoaserressaltadofoiacapacidadeinternadaequipepedagógicaquecompôsessaexperiência.Ospróprioseducadoressociais,emváriosmomentos,tiveramdesuperarosprópriosmedos,ospreconcei-tos,afaltadeconfiança,ocontroledasprovocações,acoragemdefalaraverdadenogrupoe,comisso,adquirirmaisféemDeusenossereshuma-nosemtransformação.Asinterrogações:seráqueelesvãomebater?Seráqueelessãorealmentecapazesdemudar?SeráqueDeusestárealmenteportrásdessesatos?Essasindagaçõesforampaulatinamentesendosubs-tituídaspelaconfiança,ahumildadeemaprendercomosadolescentes,aaberturaemsedoar,emapostarnooutroenaentregadosresultadosaDeuseaopotencialdosemelhante.

Sistematização:

Umjovemquehabitaumespaçogeopolíticoondeasregrasdeconví-viosãobaseadasnasubmissãoàscondutasdocrimeorganizado,quan-do passa a frequentar outro espaço de interação humana acolhedora eaprendeadeliberarsobreaorganizaçãoeadministraçãodasnormativas,issopodesuscitaroquestionamentodesuaaprendizagempréviaesimul-taneamentepotencializararededenovaspossibilidadesdesocialização,relacionamentoemgrupoedosentidodesuaexistência(Graciani,2011).

Asregrasconstruídasdeformasocializadacomogrupofavoreceramasreflexõeshistóricasdaapreensãodoprocessocivilizatórioético-moralindividual,familiar,doterritórioquesehabitaedopaísemquevive,cons-

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truindoumaressignificaçãodopertencimentoaossistemas,instituiçõesecomunidades,contribuindoparaaelaboraçãodeumnovoprojetopessoalesocietário.

Desafios vividos pelos adolescentes em cumprimento de medidas socio-educativas

Apropriar-sedadorquecausounooutro,superarolugardaculpaedavergonha,peloarrependimento,porpedirperdãoepossibilitararecon-ciliação.

Aprenderosignificadodenovaspalavras (limitee respeito)permiteescreverumanovatrajetória(aceitarquepodeser-pensar-sentir-fazerdi-ferente),tendofé,esperançaeapoio,paraconstruirnovossonhos(acredi-tandoemsi,naspessoaseemDeus).

Despedir-seda irresponsabilidade,abrindoportasparaumnovoho-rizonte,aceitandoquesuasescolhasmachucaram,magoaram,feriramelesaramaspessoas,masqueagorapodeterumnovoresultado,agindodeoutraforma.

Aplicação da disciplina Construção do Projeto de Vida no Contexto de Mulheres Vítimas de Abuso Sexual

SegundoAzevedoeGuerra(1998),aáreadasaúdeiniciouseusestu-dossobreaviolência,devidoa três fatores:aconscientizaçãocrescentedosvaloresavida,adignidadeeorespeito,aefetivaçãodosdireitoshu-manos,expressosnaqualidadeaoacessoàcidadaniaeàsmudançasnoperfildemorbimortalidaderelacionadasàsviolênciaspraticadascontraascriançaseosadolescentes.

Foiem1996queaAssembleiaMundialdaSaúdeassumiuaquestãodaviolênciacomoumimportanteproblemamundialedesaúdepúblicacrescente,apresentandocomoconsequênciasosprejuízosparaodesen-volvimento social e econômico,para indivíduos, famílias, comunidadesepaíses.

NoBrasil,aviolênciaéindicada,desdeadécadade1970,comoumadasprincipaiscausasdemorbimortalidade,deixandodeserconsideradaumproblemaexclusivodaáreasocialejurídicaparasertambémincluídonouniversodasaúdepública.

SegundooMinistériodaSaúde,em2006,morreramporacidenteseviolências124.935pessoas.Essedadorepresenta13,7%dototaldeóbi-tosporcausasdefinidasexternamente.Asprincipaiscausasdemortesemcriançasde0a9anos,relacionadasàscausasexternas,estãoinseridasnas

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seguintescategorias:31,5%deacidentesdetransporte;29,25%deagres-sõesfísicas;22,7%deafogamentos;e16,55%deasfixiarespiratória.

Aviolênciaéexpressaporpadrõesdesociabilidade,modosdevidaepelavalorizaçãodemodeloscomportamentaisagressivos,vigentesemcadasociedadeemdeterminadomomentodeseuprocessosócio-histórico.AzevedoeGuerra(1998)acrescentamqueexistemcincotiposdeviolên-ciadoméstica:violênciafísica,sexual,psicológica,negligênciaeafatal.

Aviolênciadomésticaemcriançaseadolescentesrepresentaumfatorde risco ao processo de seu desenvolvimento, produzindo perturbaçõesnanoçãodeidentidade,naestruturaçãodapersonalidadeenaadaptaçãosocial.

Noâmagodetodaaviolênciacontraamulher,nãohácomonegaraprecedênciadaviolênciasexual,perpetradaporconhecidosouporestra-nhos,desdeque referidaàs relações sexuaisnãoconsentidase tambémreferidaaumaspectorelacionaldedifícildelimitaçãoempírica,oassédio.Esteédemarcadopelaviolêncianaesferapsicológica,caracterizadoporhumilhações,ameaças,desqualificaçõeseagressõesapessoas/bensque-ridos.

Aagressãosexualporumdesconhecidoébastantediversadamesmacometidaporumapessoapróxima,íntima,queseama(ouamou)ecomquemseoptouconviver,aindaqueestaescolhasejaalgumasvezesmaispróximadoconstrangimento.

Avisibilizaçãodaviolênciacontraamulherpassouasercompreen-didacomoumproblemapúblicoeumaquestãodeJustiça,comaimple-mentaçãodaLeinº11.340/2006,conhecidacomoLeiMariadaPenha,que regulaos atosviolentos e reconheceos familiares comoagressorescriminososemulherescomovítimas.

ONúcleodeTrabalhosComunitários–PUC/SP,afimdeauxiliarnaefetivaçãodosdireitoshumanosenofortalecimentodadignidadehuma-na,desenvolveuem2007umaexperiênciapedagógicaeterapêuticanaAs-sociaçãodeApoioasMulheres–APAM,especializadanoatendimentoasmulheresvítimasdeabusosexualequeengravidaramnessacircunstância.

Ametodologiautilizada consistiu emofertar amodalidadedeEJAàsmulheresresidentesaessaCasaLar,incluindoumaveznasemanaadisciplinaConstruçãodoProjetodeVida,umatendimentoterapêuticodeescutaacolhedoraeumaoficinadecapacitação técnico-profissionalemartesanato.

Aexperiênciafoidesenvolvidacomquinzeadultas,noperíododeumano(2007–2008)eemespaçocedidopelainstituição.

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Resultados da experiência com Mulheres Vítimas de Abuso Sexual

Omaiorresultadoconstruídocomasmulheresvítimasdeabusose-xualfoinaquestãodaressignificaçãodavidadelas,emqueoperdão,areconciliaçãocomaesperançadeumfuturopromissor,areconquistadaconfiançanossereshumanoseodesenvolvimentoaespiritualidadeforamàsdimensõesnasquaisobtivermosmaioresavanços.

Fomos colaboradoresno grande êxitona educação formal, naqualasquinzeparticipantesdaEJAforamalfabetizadasecompreenderamafunção social da escrita, da leitura, das quatro operaçõesmatemáticas,mas,sobretudo,interiorizaramumanovaformadeveragestão,estrutu-raçãoeofuncionamentodarealidadeedosconhecimentosemsuasócio-historização.

Aprenderaperderdefeitos,somarméritos,dividirsentimentos,multi-plicarhistóriasdesuperaçãodevidafizeramdaeducaçãofreiriananossaleituradeummundoem transformaçãoedeumaescritadeumanovatrajetória,maishumanizada,solidáriaecolaborativa.

Pudemosser testemunhasdadiminuiçãodos índicesdeabortoedecolocaçãoparadoaçãodosnascituros,indicandoumaoportunizaçãodaexperiênciaemsermãe,superandoodiadaorigemviolentadeseusfilhos,emqueforamsendoincorporadaaconsciênciadasinfinitasnovasaurorasdiáriasdessarelaçãoedeumfuturoempreendedor.

Outrosaspectosaseremconsideradossãooaumentodaautoestimaenoscuidadospessoaiscomocorpo,antesfragmentado,agoraemrecupe-raçãoeemtratamento,eaimportânciadedesenvolveraespiritualidadeparaterforçasemcontinuarajornadadavida.

Pormeiodacapacitaçãotécnico-profissionalemartesanato,foipossí-vel,naconstruçãocoletivadepanosdepratosecrochê,produziremsubsí-dioseconômicosdeinserçãonomercadodetrabalho,alémdeestabelecerefortalecerlaçosafetivosentreasparticipantes.Asubjetividadetrabalha-daemgrupotangiaaquestão“voltaraacreditarnossereshumanos,navidaeemDeus”,eacooperativadeartesanatofoiumexcelenteespaçodeconvívioparadesenvolverouaprimoraressesobjetivos.

Emrelaçãoàequipepedagógicaeterapêutica,ressaltamosque,diantedetantasdores,foiimpossívelnãochorarjunto,comepelosparticipantes,masaomesmotempofoipossívelaprender,naconstruçãocoletiva,ase-caraslágrimas,paradepoissorrirdealegria,nadescobertaposterior,queseestávivoequeavidasemprecontinuaequecabeacadaumescolheroseugraudepermissãodefelicidade,peranteodestinoaserconstruído.

Educação

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Sistematização:

Oatodelerpalavraspermitejuntarpedaçosdeletras,dandoumnovosentidoàescritadatrajetória,apartirdenovaspalavrascriadasenãoim-postas(violência).

Adialogaçãoemgrupoproativanaconstruçãodeumprojetodevidaproporcionaumespaçodeaprenderalerasiprópriodeoutramaneira,aperceberqueadorexisteemtodosossereshumanosequetodosestãoemfasedesuperaçãodealgumconflito.Apartirdessesnovosparâmetros,épossíveldarumanovacoloraçãodesentidosesignificadosasi,àvida,aosoutros,aopassado,presenteefuturo.

Desafios das Mulheres Vítimas de Abuso Sexual

Desenvolverumanovaconsciência,superandoadorqueooutrocau-sou, indoalémdoatode julgarouculpabilizar-sepeloerrodeoutrem,masresponsabilizar-sepelaoportunidadepresentedavidaqueDeusestálheproporcionandoeportantasalegriasfuturas.

Adquiriraconsciênciadequesomosmaioresqueumúnicoatoper-mite“iralém”denossasorigens,facilitaaressignificaçãodaprópriaexis-tência e dos atos deoutreme, assim, poder escolher umnovodestino,nãocomovítimasousobreviventesdealgoqueoutronosfez,mascomopessoaspossuidorasdeVIDA.

Afépossibilitaoaprendizadodeiralém,confiandonasrazõesinvisí-veiseescolhendosermãe,fazeroaborto(alegislaçãobrasileirapermitenestacircunstância)ouseprepararparaaadoçãodacriança.

Constata-sequeessecontextoexigemuitasressignificações,envolven-domuitosâmbitosdaexistênciahumanafemininae,nessesentido,exis-temdoisfatoresimportantesrelacionadosàeducação:asupraimportânciadepolíticaspúblicasdeprevençãoaviolênciasexualeaqualificaçãotéc-nicadosprofissionaisqueexercemintervençõesdesuperaçãonessaárea.

Enfim,aeducaçãonessasituaçãoexigeumaaprendizagemdoperdãoaoerroalheio,fazeraspazescomavida,comDeusecomasperspectivasquealmejaparaofuturo.Educaréapropriar-sedacondiçãodesersujeitodesimesmoedaresponsabilizaçãoanteaisso.

Reflexões sobre as experiências vividas

Observa-se nas experiências relatadas que, em ambas as situaçõesapresentadas,ossonhosidealizadostiveramdeseremrevistos,reeditados,elaborados,afimdeconstruirnovosparadigmasdesuperaçãodahistória

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anteriorvividae/oualmejada.Nessesentido,adisciplinaConstruçãodoProjetodeVida,ministradanaEJApeloNTC–PUC/SPpossibilitouaaberturaparaacriaçãodenovasescolhasecaminhos,queoportunizaramumnovotrilhardemetasesonhosaseremrealizados.

Oserhumanoapresentaemsiumagrandecapacidadederessignificarsuatrajetória,fazendodesiumexemplodesu-per-ar-ação:SU,naculturaoriental,éaintegraçãodeIzunome,4buscadeintegraçãoentreosopostoseaspolaridadesdaexistência,“colocandoespírito”emtodasasexperi-ênciasdavida(Okada,2007);PER,oindivíduo,nasuaconjecturamaisessencial e indivisível, o sermais profundo e particular;AR, elementoprimordial das ideias, do imaginário, lugar das representações;AÇÃO,materializaçãodanovapessoa,daconquistaemserdiferentedoquesefoi,depermitir-seseralémdesuasorigens,transcendendooscriptoriginalescolhidono,comepelocrimeeimpostopeloatoviolentoaalguém.

Tanto a educação como a autoeducação, o propósito de vida e asaçõesdesolidariedadebuscamativarosprocessosdetransformarcapa-cidades internas emhabilidades de socialização, gerando competênciascivilizatóriasparaobemviver,obem-estareobemcomum.Aculturadepaz só será efetiva quandoosdireitos fundamentais foremasseguradoscomqualidadesatodos,expressosnaculturaatolerânciaàsdiferenças,aamorosidade infinita,aoperdão irrestritoea compreensãomútuanaconivênciacomtodososentes.

Concluindo as possibilidades

Parafinalizarnossasreflexões,compartilhamosdavisãoqueaforma-çãodoeducadordeEJAdeveconterelementosquepotencializemjuntosaoseducandosvivênciasemancipatórias,queperpassemumcaráter so-ciopedagógico,visandopromoverofuncionamentosocialdapessoa:ain-clusão,aparticipação,aidentidadeeacompetênciasocialcomomembrodasociedadeenãoapenasserfuncionalaoletramentoouaalfabetizaçãoformal(Otto,2009).

ConsideramosqueamaiorcontribuiçãodePauloFreirenaeducaçãobrasileiraéqueestasefaznalutapelaefetivaçãodeumEstadoDemo-cráticodeDireitos,construídapelossujeitosativosnatransformaçãodarealidadepessoalesocial,pormeiodaconscientização,reflexão,proble-matizaçãoeação.“Ninguémeducaninguém,nósnoseducamosemco-munhão!”(Freire,1979).

4.Estadodeperfeitaharmoniaentreosprincípioshorizontalevertical;uniãoeequilíbriodascivilizaçõesorientaiseocidentais(Okada,2007,p.58).

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Okada(2008)ressaltaaimportânciadoaltruísmo,nopapeldeeducarparaviveremsociedade,comoumvalor fundamentalparaobem-estarem sociedade, pois possibilita a expressão da vinculação afetiva social,baseadanaéticadoquererbem,doseratenciosoeprestativocomossereshumanoseoplanetaTerra,enfim,naexpressãodaafetividadecomavidaecomosentesquecompõemosespaçospúblicoseprivados.

Parasealcançaressesobjetivos,precisamosconstruirumasociedadebaseadanoaltruísmo,nobemcomum,no convívio comasdiferenças,tendoacoragemdemudarpensamentos,sentimentos,vontadeseatitudes,promovendoasolidariedade,priorizandoamarinfinitamentemaisqueseramado.

Enfim,fazendopessoasfelizesondequerqueestejamos,encontrare-mosatãosonhadafelicidadepessoal,espiritual,socialecomunitária!AmissãodohomemparadisíacoéconstruiroParaísoTerrestre,ondequerque habite e independentemente emque fase esteja do ciclo do desen-volvimentohumano, enfrentando simultaneamente suas dores e as quecausaramemoutreme,aomesmotempo,despertandoeseresponsabili-zandoparaoprogressodeseuspotenciaiscriativos.Paraisso,odesejodequerercresceraqualquercustoéfundamental,devendoserdesenvolvidodemodofirme,forteeconstante!(Okada,2008).Éteracertezadequepodemossuperarqualquercircunstânciadavidapeloaprendizado!

Referências Bibliográficas

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Sites pesquisados

http://www.ibge.gov.br,consultadoem:25nov.2011.http://www.seduc.mt.gov.br,consultadoem:10nov.2011.

Educação

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Alimentaçãonasreligiõesorientaiseabordagemmultidisciplinarparaarecuperaçãodasaúde:desintoxicaçãoorgânica

1LilianaBeatrizFernándes

Resumo: OpresentetrabalhovisacomparardemaneiraabrangenteotipodealimentaçãoentreosdiversosreligiososdoOriente,desdeosprimór-diosdacivilização,eanalisaro status atualdasaúdenomundo,comin-troduçãoaoconceitodedoençadescritoporMokitiOkada.Classificaosalimentosdeacordocomsuaenergiavitalecomparaosmicrorganismoseficazesdosolofértilcomasbactériasbenéficasintestinais.Apresentaoconceitodedietadesintoxicanteeasdoençasmaiscomunscuradaspelaalimentaçãonatural.Citaaimportânciadarenovaçãodafloraintestinalparapromoverasaúdeverdadeiraeapresentanoçõesenergéticassobredi-gestão.Finaliza-secomreeducaçãoalimentaresuarepercussãonasaúdefísica,mentaleespiritualdohomem.Palavras-chave:alimentaçãonatural,reeducaçãoalimentar,desintoxica-çãoorgânica.

ParafalardenovosparadigmasdasaúdeeespiritualidadenoséculoXXI,vamosfazerumacomparaçãodaevoluçãodohomemesuaalimen-tação,nasreligiõesefilosofiasdoOriente,paracompreenderaimportân-ciadolegadoqueofundadordaIgrejaMessiânica,MokitiOkada(cujonomereligiosoéMeishu-Sama),nosdeixoupormeiodatécnicaespecífi-cadeagriculturanaturalealimentaçãonatural,parasalvarpessoasnum

1. Médica especialista em Cirurgia Plástica e Pós Graduada em Saúde da Família <[email protected]>

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contextomaisamplo.Apresentaremosumametodologiaderecuperaçãodasaúdequeseguepelomenosdoisfundamentosmessiânicosimportan-tes:AlimentaçãoNatural(aliadoàspraticasbásicasmessiânicas)ePráticadoBelo.AfilosofiamessiânicasefundamentanoJohrei,alimentaçãoeagriculturanaturaleasbelasartes,especialmenteikebana.

Apesardetantoavançotecnológico,precisamospararparapensarporqueohomemestáenfraquecendo.Asdoençascrônicasnãotransmissíveisestãocomeçandonumaidadecadavezmaisprecoceeatingindopropor-çõesepidêmicas.HipertensãoediabetesaumentaramtantoqueogovernonoBrasildistribuiremédiosgratuitamente,eoprogramasaúdedafamíliacomaçõespreventivas já fazpartedodiaadiadosbrasileiros.No seuensinamentomortenaturalemorteantinatural,Meishu-Samacomenta:

Umfatorealmenteincompreensíveléque,apesardoavançodacultura,ve-nhadiminuindocadavezmaisamortenaturaleaumentandoaincidênciademorteantinatural,principalmentemotivadapordoença.Deveexistiraíumaenormefalha.(...)Entretanto,aoinvésdelevantardúvidas,ohomemmostra um interesse ilimitado por outros assuntos, permanece totalmenteapático,conformado,acreditando,talvezquenaquestãodamortenãoexistemalternativas. (...)NãohánadamaisconflitantecomaVontadeDivinaqueoreduzidonumerodemortesnaturaisemrelaçãoasmortesantinaturais...nenhumareligiãoouciênciatêmconseguidoresolveroproblema,...(Meishu-Sama,2007,v.3,p.82)

Porissoaagriculturanaturalédefundamentalimportância,poisfoiummétodo revelado porDeus aMeishu-Sama.Hoje, chegou-se a umpontoemquehámuitacomidadisponívelepoucasegurançaparacomê-la.Oqueestádeixandoohomemtãosuscetívelamicróbios?Porqueohomemfoiperdendoseuinstintoalimentar?

ÀmedidaqueasreligiõesforamavançandoparaoOcidente,tem-seaimpressãodequeoconsumodecarnefoiaumentando;apósohinduísmo,obudismoeo taoismo, vieramo judaísmo,o cristianismoeo islamis-mo,econstata-seousodeumaproporçãomaiordeprodutosdeorigemanimaletambémmuitomaiscomilança(comersemmedida).Étípicaacaricaturadoabadegordoquecomemuitacarneetomavinho.EmtodasasreligiõesdoOriente,fala-seempurificaracomida,istoé,oferecê-laaDeus,comumaprecedemaneiraalimpá-laenergeticamente,tornando-acomidaconsagrada.Nareligiãojudaica,nosmaisradicais,háumacurio-sidadedenãomisturarcarnecomlaticíniosnamesmarefeição,porques-tõeshigiênicas,segundoeles;eosanimaissãoabatidosporumrabino;

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essascarnessãochamadaskosher.Osmuçulmanostambémtêmcostumesimilar.Ossufis,umgrupomenor,sãovegetarianos.

Nasreligiõesindianas,oBaghavadGitarecomendaseguiradietave-getariana, mas, eventualmente, segundo Yogananda, monge da ordemswami, fundadordaSelf RealizationFellowshipnosEstadosUnidos,épermitidocomeranimaisdepequenoporte,ocasionalmente,eSriSathyaSayBaba,mongetambémdaordemswami,émaisradical,recomendaso-menteprodutosvegetarianossemabsolutamentenadaanimal,masovosnãogaladoselaticíniossãopermitidos.

Otaoismoéumatradiçãoespiritualmuitoantiga,quepropõeares-tauraçãodaharmoniaemnossavida,pormeiodocultivodasuavidadeedoequilíbriobaseadonaconcepçãodeforçasqueregemouniverso:oYineYang.

Nobudismo,predominaocostumemacrobiótico,quenãonecessaria-mentesignificaservegetariano,poistudodependedascondiçõesdoclimaedolugar.Portanto,servegetarianonãoéumacondiçãoradicalparaapráticadaespiritualidade.Noslugaresmaisfriosemaisaltos,mongesbu-distascomemcarne,comonoTibet,que,peloclima,praticamentesóseencontramiaqueecereais.Paradiminuiraanimosidadeeagitaçãomentalqueacarneprovoca,elaécozidanapanela(assadanãopode)comanisestrelado.Vemosainfluênciadaalimentaçãonocaráteratédosanimais,pois,naTailândia,mongesbudistascriammaisdequarentatigrescomce-reais,leiteebolachas,e,comisso,crescemmansosesãoaatraçãoturísticadolugar,provandoquedietapodeinfluenciarmesmoocaráterdoservivoanimalouhomem.

HáduascorrentesprincipaisdealimentaçãonoOriente:alinhaAyur-vedaealinhamacrobiótica.Nasreligiõesindianas,hinduísmo,bramanis-moeoutras,predominaovegetarianismo.ParecequeaÍndiaéopaísquemaisvegetarianostempormetroquadrado.OsVedasclassificamacomi-dapeloestadodeespíritoqueelaproporciona:ostrêsgunas(qualidades)satvas,rajas etamas.Comidaquelevaapazeharmonia,aquenoslevaaomovimento,àagitaçãomentaleaquenosproporcionainércia,depressãoeindolência.Deacordocomessasescrituras,naexpectativadevidadeumhomemde116anos,eletemdealcançaralibertaçãodaescravidãodeseucorpo.

SriSatiaSayBaba,mongedaordemdosswamis,cujomaiortrabalhofoiacriaçãodeummétodoespiritualistadeeducaçãoparacrianças,equefaleceuem24deabrilde2011,falava:“Somentecomaobservaçãodevida

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àsleisdaNatureza,pode-seprevenirdoenças,(...)ohomemmodernonãotemnoçãodaimportânciadeingeriracomidacertaparasuasaúde,paraodesenvolvimentodesuasaptidões(físicas,mentaiseespirituais)(...)”(SriSathyaSayBabaapudGerardT.Savic,1995,p.6).

Sabe-sequenenhumtratamento,sejaelenatural,homeopático,alopa-ta,ouacupuntura,nãoserátotalmenteeficazsenãoseseguirumadietaricaemnutrientesvivos (comenergiavital).OAyurvedadescrevequeacomidaédesupremaimportânciaparaaespiritualidadeequeadietaéaessênciadocuidadoconsigomesmo.

Explicandoas trêsqualidadesdeação,primeirovemaemoção,mi-lésimosdesegundosdepoisvemaforma–pensamento.Opassoseguinteétransformá-laounãoemação.Mestresiluminadoscriaramháséculosummodeloparacompreenderocomportamentohumano.Assimsurgiuateoriadastrêsqualidadesdaação:astrêsqualidadesdamatéria,segundooBaghavadGita, a atitude sábia, satvica, a atitude passional, rajasica,atitudedestrutiva,tamasica.Tem-seaopção,atodomomento,deescolherumadessastrêsqualidades,cadaatitude,serdelivre-arbítrio,geraumre-sultadoquedeterminaumaconsequência,umfuturo(princípiodacausaeefeito).

Aatituderajasica,vemdoego,poragitaçãomental,movimento.Eleéacionadodeformaaconvencerquesemoprazerimediatoéimpossívelviver,éumcondicionamentomaiscompulsivo,primeirooprazerdepoisasconsequências.Oresultadogerasentimentosdeculpa, insatisfaçãoedecepçãoconsigomesmo,elevaaatitudesrepetitivas,mantémumaener-giadeestagnação,háresistênciaàmudança.

Atitudes tamasicas (destrutivas), inércia depressão, ignorância e in-dolência,sãocaracterísticasdessetipodecomida,operfildecomporta-mentovemtambémdoego, tiponão queroassumirresponsabilidades,nãoqueromudar,éacomidaemqueprevaleceatendênciaasefazerdevítima, não questiono,mas nãome informo. Também a prepotência earrogânciavêmdosuperego,sousuperinteligente,superbeminformado,superdeus.Verborrágica,apessoanãoconsegueouvir, compartilharouserhumilde.Seulemaéverparacreremesmoassiminventaexplicaçõesgeniaisparasemantercética.Apessoapodeserdisciplinadaedetermi-nada,organizada,masessasvirtudessósãoqualidadesdivinasquandopraticadascomsabedoriae compaixão.Geralmente, essaspessoascomesseperfildespertampelador:doença,pobrezaouconflito.

Nasatitudesdesabedoriaecompaixão (satvicas),ocomandodesse

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tipodeatitudevemdaalma,interlocutoradocoração,essência,espírito,necessita-segarraecoragem,disciplinadeterminação,forçadevontade,econcentração,oquerequermuitapráticaconstantedaauto-observação.Osfrutosdessetipodeatitudevememformadelucidez,paz,equilíbrio,harmonia,autorrealização,criaçãoeexpansãodeconsciência.

“Asfrutasunirradiadas,raízes,tubérculos,nozes,coco,vegetaisele-gumesfrescos,nãocozidos,brotosouensopadoscontantoquecomidoscommoderaçãoecrescidossemajudadefertilizantesartificiaiseoutrassubstânciasquímicassãoomelhortipodecomidasatvica.Senecessário,os legumespodemser cozinhadosbrevemente,desdeque sejamconsu-midosimediatamentedepois.Quantidadespequenasdeleitenãocozido,livredegermesbiológicos”(Satvic,1996),dogadoordenhadocomcari-nhoesabedoria,produtoslácteosepreparadosdesseleiteabaixatempe-ratura,comoosorodeleite,queémelhorqueleite.Alémdisso,pequenasquantidadesdecomidacontendofibrasessenciaiscomestíveis,arrozinte-gral,feitoeconsumidonahora,masacomidasóserásatvicaseapessoacomer limitadamente e coma atitudemental correta (de gratidão peloalimento).

A comida rajasica é a comida cozida emgeral e/ou cultivada comfertilizantesouaditivosquímicos,comidadesidratadasemóleo,pimenta,tamarindo,drogasemedicamentos.Excessodetemperoslevaàagitaçãomental.Aqui,sãoclassificadasascarnes,epeixes,masobomdaquali-daderajasicaéqueelaalargaeaprofundaocontatodossentidoscomomundoexterno,mascriaafetoeapego.E,assim,pormeiodadualidadeda felicidadeeda tristeza, levaohomemamergulharmais emais ematividade.

Acomidatamasicatemcomoprincipaiscaracterísticasosalimentosassadosaoforno,quesãocomidosfrios,comopãesetortas,etambémacomida industrializada e artificial, como açúcar branco, chocolate. Elaencobreavisão,diminuia intuiçãoemultiplicaapreguiça,o sonoeanegligência,levandoohomempelocaminhoerrado.Emambas,rajasetamas,háoleitepasteurizadoeseusderivados.Oprimeiropasso,nãosóemdisciplinaespiritual,masnarecuperaçãodasaúde,éeliminaraquali-dadetamasicaemsuadieta.

Sendosatvas,aqualidadequelevaohomemaoamorincondicional,altruísta,rajasaoamoraossuperiores,pessoasnopoderepessoasricas,e tamas baseadonas relações físicas, apego aos próprios parentes ou apossessões,confinadoaumcírculopequeno.Osaditivosquímicoseagro-

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tóxicos sãovenenos (poisoorganismonãoos reconhececomocomidaprogramadapelanaturezaparanosnutrir)queentramnosangue,eissopodedarlugaratodosostiposdecomplicaçõeseproblemas.

Apráticamacrobióticarecomendadaeseguidatradicionalmentepormilharesdeanosconsistenumpadrão,quedependedoclimaedaaltitudedolugar.Opadrãodealimentaçãodescritoaseguirsofrerávariaçõesdeacordocomoecossistema:clima,estação,sexo,idade,condiçõessociais,tipodetrabalho,necessidadespessoaisespeciaisemetadapessoa(física,mentalouespiritual),queveremosadiante.

GeorgeOshawa,grandedivulgadordamacrobióticanoOcidente,dizque há dez formas de se alimentarmacrobioticamente (Dr. Ser, 1973).Quantomaispuraaalimentação,maispuraamentedapessoa,equantomenospura,maisapegos,gostosedesgostos,menospuraseránossacons-tituiçãoOestilodealimentaçãomacrobiótica,recomendadapelossábiosdaantiguidade tambéméadotadoprincipalmentepelobudismo.Comoumserhumanoépartedeseuambiente,suascondiçõesfísicas,mentaiseespirituaisestãobaseadasnaquiloqueelecome,poissabe-sequeosanguetemsuaconstituiçãoanálogaàdosolo,devedefenderprimariamenteoreinovegetalcomoalimento,mastudodependedoclimadolugar.

Explicaçãodosgráficos(extraídosdolivroDO-In,deMichioKushi,1991)contendoasproporçõesdealimentoseseusefeitosemnívelfísico,mentaleespiritual:

GráficoI,alimentaçãoparadesenvolvimentopreponderantementefí-sico:A–cereais integrais,preparadosemváriosestilose formas,50%.B–sopas,principalmentedevegetais,ocasionalmenteincluindoprodutoanimal,5%.C–vegetais,empartecozidos,empartecrus,escolhidosdaregiãoedaestação,30%.D–alimentoanimal,incluindopeixes,frutosdomareocasionalmenteaves,masexcluindoosmamíferos,5%.E–feijõesououtrasleguminosasevegetaismarinhospreparadosjuntosousepara-damente,5%.F–frutaslocaisesazonaisfrescas,cozidasousecas,semen-tes cruasou torradas, picles e outros suplementos vegetais, incluindoasobremesa,5%.

GráficoII,paramaiordesenvolvimentomental:A–cereaisintegraiscozidosemváriosestilosediversasformas,masmaisnaformadegrãosquenadefarinha,50%B–sopavegetal,incluindovegetaisdaterraedomar,5%.C–vegetaisparcialmentecozidoseempartecrus,escolhidosre-

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gionalesazonalmente,30%.D–feijõesououtrasleguminosasevegetaisdomar,cozidosjuntosouseparados,ocasionalmentesuplementadosporpeixesdecarnebrancaoufrutosdomar,10%.E–frutasfrescas,cozidasousecas,escolhidaslocalesazonalmente;sementestorradasenozes;pi-cleseoutrossuplementosdequalidadevegetal,incluindoocasionalsobre-mesa,5%.

GráficoIII,desenvolvimentoespiritual:A–cereaisintegrais,maiscomogrãosemenoscomofarinha,60%B–sopavegetal,incluindovegetaisdaterraedomar,5%.C–vegetaisdaregião,empartecozidos,empartecrus,25%.D–feijõesououtrasleguminosasevegetaisdomar,cozidosjuntosou

separadamente,5%.E–frutaslocaisesazonaisfrescas,cozidasousecas,sementestorradas

enozes,picleseoutrossuplementosvegetais,inclusivesobremesa,5%.

Naantiguidade,haviapessoasquetreinavamodesenvolvimentofísico,men-taleespiritualhabitandoemlocal isolado,geralmentenasmontanhas.Emtaiscasos,époucoprovávelquesuadietatenhasidoamesmadaquelesqueviviamnasplanícies.Seualimentoteriaincluídomaisplantassilvestres,fru-tas,raízesecascas.ShinSemDo:artedalongevidadeedorejuvenescimentooucaminhodohomemlivre.Dentreessaspessoas,suaspráticasoslevaramaodesenvolvimentodeconsciênciacósmicauniversal,saúdefísicaelongevi-dadeeeramfrequentementechamados“Sen-Nin”,ouseja,“homenslivres”(Kushi.1991).Háevidênciasemlendaseemescritossobresuacapacidadeexcepcional,queincluía:1)Vida longa;maisdecemanos.2)Telepatia.3)Transportar-seagrandevelocidade,apéeporvezeslevitando.4)Visãoclaradeeventosfu-turos.5)Podercurarváriosmales.6)Convertervibraçõesearemmatériadensa.7)Controledoclima,assimcomoachuva.8)Leramentedaspessoas,seupassadoe futuroespiritual.9)Recuperaçãodosmortos.10)Caminharsobreaságuas.11)Conhecervidasanterioreseseufuturoespiritual.(Ibidem)

Nomundoatual,háalgumaspessoasquetreinamessecaminho,oShinSenDo,ouocaminhodoshomenslivres,especialmentenoOriente.Suaexistên-ciaeessaspráticasnãosãoamplamentedifundidasnasociedadeditaciviliza-da.Porém,osprincípiosalimentaresdescritosnamacrobióticasãooalicercebiológicoepsicológicoparaodesenvolvimentodaliberdadefísica,mentaleespiritual”.(Ibidem)

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Oslamastibetanos,cujotrabalhoeradosmaispesados,produziamoseupróprioalimentoeobservavamumadietapredominantementevege-tariana,comoacréscimodeumapequenaquantidadedeovos,manteigaequeijo.Alémdisso,evitavammisturas,sóseserviamdeumtipodeali-mentodecadavez.Emboranãoprecisemoschegaratalextremo,oidealémanterosamidos,asfrutaseashortaliçasseparadosdascarnesvermelhasoubrancas.Outropontoimportanteobservadoporeleséevitaracomilan-ça,oexcesso,eavariedadenumamesmarefeição,nomáximoumoudoistiposdealimentoporvez(Kelder,2002).

Paraevitarosefeitosdeletériosdaalimentaçãocommaisdedoistiposdealimentos,aalimentaçãosequencialésugerida:alimentosmaisaquo-sosantesdosalimentosmais secos.Servirecomer, regrasdopontodevistaespiritualmacrobiótico:1)Belezaàmesa.2)Comeremsilêncio,evi-tandoruídoexcessivoduranterefeição(nãoassistiràtelevisãodurantearefeição,porexemplo).3)Mastigar,misturandosalivaaomáximo–fusãodasenergiasdoalimentocomadohomem–,éumtruqueparaaumentodasaciedade(comerpouco).4)Atitudementaldegratidãopelanatureza,pelosanimais,pelosvegetaiseporaquelesqueproduziram,processaram,cozinharameserviramarefeição.5)Podehaveruma,duasoutrêsrefei-ções,masnãoamenosdetrêshorasdedormir.6)Oscereaisdevemserconsumidosjuntocomosalimentossuplementares.7)Comerpouco,depreferêncianãomaisque70%dacapacidadedoestômago(Kushi,1991).

HátrêspontosemcomumnaalimentaçãodosreligiososnoOriente:gratidãopeloalimento,comerpouco,enadadealimentosindustrializa-dos.AdiferençacomacomidapreconizadapelosVedas,quesugereumacomidapredominantementecrua,apesarde tercereaise raízescozidosdesdequecomidosimediatamente,amacrobiótica(deorigemmaispro-vável, japonesa)afirmaquesedeveevitargrandeconsumodeverdurascruas,(bom-senso)eamedicinatradicionalchinesacorroboraessavisão,salientandoquepatologiasporfrioeumidadepodemsurgircomessetipodealimentação,porémambascorrentesdepensamentoseoriginaramempaísesdeclimasubtropicaletemperadocomquatroestaçõesbem-defini-das,oquenãoéocasodoBrasil,aquiprevaleceoclimaameno,mornoouquente,sendoasestaçõesdefrioequivalemaooutonoouàprimaveradesseslugares.

Osgrãossãoconsideradosoalimentoprincipaleasverdurasoulegu-mescomocomplemento secundário, juntocom leguminosas, sementes,frutasfrutosdomareanimaisterrestres.Umaobservaçãoimportanteé

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quantoaoestadoatualdasaúdedohomemdevidoàgrandequantidadedealimentosdesvitalizadosqueconsumimosnodiaadia,preferindoali-mentosricosemenergiavitaldesintoxifica-semaisdepressa.Nostrêstiposdecorrentesalimentares,é recomendadocomerbempoucocomofatorquelevaàlongevidade,porissoosmacrobióticosinsistemnamastigaçãolenta,alémdaprecedegratidãopeloalimento(atitudementaleemocio-nalemrelaçãoàcomida),emnenhumacomunidadereligiosasefazusodealimentosquenãosejamnaturais,nadadealimentosindustrializados.

ApesardeMichioKushidizerqueéacomidamacrobióticaquelevaaestasdozecaracterísticas,observa-seomesmoresultadocomacomidadita satvica pelosVedas, que levama alterações positivas logonos dezprimeirosdiasdepráticacomo:1)Libertaçãodafadigaemgeral.2)Pen-samentomaisclaro.3)Recuperaçãogradualdeflexibilidadeeresistênciafísica.4)Libertaçãogradualdedistúrbiosfísicosementais;5)Aumentogradualdepazetranquilidade.6)Desenvolvimentogradualdeamorpelosoutros.7)Recuperaçãodaautoconfiança,resultandonodesenvolvimentodahonestidade.8)Maioradaptabilidadeaoambientemutável(flexibili-dade). 9) Libertação de confusão, cobiça, e egoísmo, dissolução da ar-rogânciaegocêntrica.10)Desenvolvimentodoespíritodeaventura.11)Melhordiscernimento.12)Desenvolvimentodoespíritoordeiroemtodososaspectosdavida.OreconhecimentodaexistênciadeDeusémaisbemalcançadopormeiodoamor.

Paracultivaraatitudedeunidadeentreoshomensde todososcre-dos,devemoscomeracomidaquenospredispõeaisso,dizSriSathyaSayBaba(Satvic,1996).Emtodososgruposreligiososqueobservamdiscipli-nanaalimentação,notamosaausênciadealimentosindustrializados,e,namaioriadosgrupos,elesmesmoscultivamepreparamoquecomem;taoismo.

Estamosperdendoapercepçãodoqueéque realmenteébomparanós,nossoinstintoalimentar:acapacidadedeouvirnossocorpo.Novosparadigmasdamedicinasãorecuperaremanterasaúde, focalizandooretornoagrandenatureza.Parasechegaràcompreensãosobreaimpor-tânciadaAlimentaçãoNatural,precisamosentendercomoestáosaúdedohomem:aparente=intoxicado.

Osaspectosnegativosdaalimentaçãomodernatêmsidomuitodiscu-tidosnosúltimosanosejáépossívelperceberummovimentodereaçãoaeles.Élógicoqueestáhavendoumdesequilíbriogravenaalimentaçãohu-mana,ehámuitosdadosqueconfirmamisso.Temosdedespertaracons-

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ciênciadequenossaalimentaçãoéabasedetudo,dizoDr.HelionPovoa(2001).Nãoénatural,porexemplo,queumapessoatenhacompulsãoporumalimentoquevaiprejudicarsuasaúde,comoacontececomfrequênciahoje.Issonãoocorrecomnenhumaespécienanatureza.

Apropostadestetrabalhoemconjunto,destetratamentomultidisci-plinaremequipe,éajudaraspessoasasentirqueamudançaparaaAli-mentaçãoNatural,principalmenteaalimentaçãoviva(alimentoscrusefrescosricosemenergiavital)realmentevaleapena.Sentindoumbem-estarimediatologoduranteenofimdotratamento,temosestímuloparacontinuarcomnossamudançaemanterosresultados.

Quandocomeçamosumadietacomalimentoscomenergiavital(prin-cipalmente crus),nósnos revigoramos,mas, aomudarmosdedieta re-pentinamente,podemosterreaçõesdemelhoria(crisedeeliminaçãodetoxinas),queéoagravamentocurador=mingchuan,eotratamentomul-tidisciplinardáessesuporteparaessafase(Yum,1989).

Nofuturo,poderáhaveravisosnasembalagensdeprodutosindustria-lizadosquantoaoriscoqueessesalimentoscontêm,comohojesepodevernasembalagensdecigarro:ousofrequentedessesalimentospodege-rardoençasdegenerativas,noqueserefereàimunidadecelulareaalte-rações no aumento da permeabilidade dasmembranas intestinais, comconsequenteaumentodapassagemdetoxinasparaosangue.

Umadultode60anosquenãorecebeoJohrei,podedemoraratéoitoanosparamudarumhábitoeumacriançade10anos,doismesesemeio(Jumsai,1998).ComoJohrei,háumapredisposiçãoàmudançamaisfá-cilporcausadaelevaçãodoseuYukon(posiçãodaalmanomundoes-piritual).

Talconstataçãodequealgotemdemudaracabapordesencadearumadiscussãointeressanteacercadopaladaredaescolhadoquecomemos,porque,graçasaoapelomaciçodapropagandada indústriaalimentíciacomcoisascadavezmaissaborosas,sãoliteralmentecoisas,nãoalimen-tos,perdemosanoçãoatédoquesejaserfelizsaboreandoumafrutacomoumaperasuculenta,porexemplo.

Éumciclovicioso,quantomaisnosalimentamosdealimentosarti-ficiais,maisqueremoscontinuarassim(característicatamasica=inércia,teimosia)semnenhumapercepçãodoquerealmenteébomparanósna-quelemomento;essejáéosinalmaisevidentedeintoxicação.

Retornaraoponto inicial,ouseja,atraçãoegratidãopeloalimentoque gera emantém nossa energia vital são umamudança quemerece

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nossaatençãoerespeito,porque,aprincípio,existeumarazãoautênticadocorpoescondidaemnossosdesejosalimentares.Mascomochegaraesseponto?Étristepercebercomomuitaspessoasestãocompletamentecondicionadasaosalimentosdesvitalizadosindustrializadoscomzerodeenergiavital,cozidose,oqueépior,pensamnoquecomemdistantesdosprazereseasvantagensqueosalimentosnaturaispodemproporcionar:aalegriadeviver.

Ocorpoéobrigadoconstantementeaassimilarcarnescheiasdesubs-tânciascomoantibióticos;alimentosartificiaiscomconservantes,aditivosquímicos,substânciasestranhasquenossoestômagonãoreconhececomocomida,alimentos refinados (farinhabrancaécola),desvitalizados (ca-fé-pão-arroz-feijão-carne-pão-café), issoacarretaumaacidezno sangue,entãoocorposeprontificaemretirardecirculaçãoassubstânciasqueoestãotornandoácidoeassimcomeçamasgripes,osresfriados,asviroses,sintomasdequealgonãoandabem.Nãoatendendoaossinaisdealar-me,apróximaetapasãoobstruçãonasalcrônica,corizamatinal,alergiasalimentares,inalatóriasedecontato,doresdeestômago,enjôo,pesonacabeçaimpressãodeestardentrodeumnevoeiro;sentimentosnegativospassamaserumaconstantediária.

Essasdoençasestãotomandoumaproporçãoepidêmica,opacientejáentranoconsultórioexplicandoquetemsinusite,comoseissonãopudes-sedeixardefazerpartedele!Tudocomeçacomsintomassemalteraçõesnosexamesdesanguee,porisso,apessoaacabanãorecebendoorientaçãodietéticaimportante,poissãopoucososmédicosquesabemoquefazernessaetapadesaúdeaparente,depoisvemumexamedetriglicéridealto,umaglicosenolimite,umcolesterolalto;sãosinaisdealarme,oqueporsisóémuitasorte,porqueasdeficiênciasenzimaticassãomuitosilenciosasederepenteacasacaideumavezcomoaparecimentodeumacirrosehepática,umahipertensãoincontroláveloucâncerjácommetástase.

Aincidênciadedistúrbiosdeatenção,asmaealergiassãoasdoençasquemaiscrescementreascrianças,eaaltaincidênciadediarréiaemlac-tentesédevidoaumaflora intestinaladulteradapelosprodutos lácteos(leitedevaca),eaçúcaresemáscondiçõesdehigienealimentar.Doençasdeouvidonarizegargantageralmentesãoumarespostaaexcessodedo-cesealimentosartificiaisnoorganismo,cujaprevençãopodeserrealizadacomumaeficáciadeaté90%,tirando-seesteseaumentandooconsumodealimentoscrus.Muitafrutaemuitaverduracruanainfância.

Existeumasériedeoutros sinaisque tambémsãouma respostado

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nosso sistema imunológico que normalmente não é reconhecida comotal:olheira,enxaqueca,dornasarticulações,cansaço,artritessãoapenasalgunsdessessintomas,envolvidosnumaquestãodamaiorimportância,masqueaindanãorecebeuaatençãoquemerece:aalergiaaosalimen-tos,quesetornoucrônica,masaindaéreversível.Casodepacientescomdoresnosjoelhosquesódesuspenderousodeleiteparamdeterdores.

Estágio3deintoxicação:éclamorgeraloavançodasdoençascrônicasedegenerativas,pelomenos30%amaisquenoséculopassado,taiscomocâncer, hipertensão, doenças cardiovasculares, diabete insulino-depen-dente,discinesiabiliar,osteoporose,artrose,fibromialgiaeasdeficiênciasimunes (Dr. Soleil,1992).Chegando a ponto de oMinistério da Saúdedistribuirremédiodepressãoedediabetesgratuitamente,talaproporçãoepidêmica dessas doenças.Nessa terceira etapa, o estrago já está feito,masexistepossibilidadedereversão,vaidependerdeumgrandeesforçoe persistência paramudar drasticamente:Nas doenças degenerativas, osanguevailevandoastoxinasparaoutroscompartimentos,tirando-asdacirculação,paraasarticulações,osmúsculos,océrebroeporaívai,paraasparedesdasartérias,ou,então,osistemadedefesaestátãoatrapalhadoquesevoltacontraopróprioindivíduo,sejacomdeficiênciaimunológica,sejacomrespostaextremamenteexacerbada.Comosenãobastasseosali-mentosdesvitalizadoseosagrotóxicos,ousoregulardedrogas,comoan-ticoncepcionais, anti-inflamatórios eantibióticos, entreoutras, aumentaapermeabilidadeintestinal,piorandoasituação,porqueosanguerecebequantidadeimensadetoxinasquedeveriamserexcretadaspelointestino,sobrecarregandoafunçãorenaldedesintoxicarosangue.

Por que desintoxicar?

1)Desintoxicarsignificadeixarsairastoxinas,osvenenos:purificar.Acredito que se desintoxicar não deva ser umhábito esporádico e simdiário,jáqueédiariamentequenosintoxicamos,sejacomnossospensa-mentosousentimentos,masprincipalmentecomnossasatitudesdecomeralimentos desvitalizados, formando assim um ciclo vicioso= alimentoenergeticamente ruim–pensamentopositivo instável, comer semcons-ciênciadegratidãosubestimandooatodesealimentar(Trucom,2010).Nossasaúdeédeterminadacomacumplicidadequeoferecemosaonossoorganismoparadeixarsairtodassuasimpurezas.Naverdade,astoxinasfuncionamcomoverdadeirosescudos (desculpas)paraoacessoàcura.

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Elasbloqueiamalucidezesanidade(saúdeverdadeira),condiçõesbásicasparaocrescimentofísico,mentaleprincipalmenteespiritual.

2)Todospensamquesedesintoxicaréeliminardocorpofísicoaquelassubstânciasquereconhecemoscomovenenosas:osagrotóxicos,oexcessodeaditivosdosalimentosindustrializados,osresíduosdosremédiosqueingerimosparasanarumadoença,osresíduosdofumo,café,álcooletc.Entretanto, a questão é bemmais complexa, porque a intoxicaçãonãoocorre só no plano físico,mas tambémno nível de pensamento e sen-timento,por issoMeishu-Samacriouo Johreiparaagirnoplano sutil,eliminandoasmáculasepotencializandoaalimentaçãonatural.Éclaroque,paranós,tudoaparentasersónocorpofísico,jáqueessaéapartevisíveleconcretadahistória.Poressarazão,todadesintoxicaçãodeveseracompanhadadapráticabásicaespiritualdecadareligião;nonossocaso,o Johrei; para os budistas, ameditação, por exemplo. É fato que todoalimento,pormaisnatural,fresco,orgânicoqueseja,semprecontémumpercentualdetoxinasematerialindigesto,quedevesereliminadonatural-mentepeloorganismo.

Porisso,Deus,nasuainfinitabondadeesabedoria,crioudiferentesformase sistemasdeexcreção:as fezes,aurina,osmucos,oespirro,atranspiração,atosse,osgases,alágrima,aexpiração,amenstruação,oorgasmoetc.Diariamente,nósnosintoxicamoscomoarquerespiramos,aáguaquebebemos,oquecomemos,eoquepenetraemnossapele:cre-mes,xampus,tinturas,sabonetesetc.Nuncaahumanidadeseintoxicoutantoetãorapidamentecomonestasdécadasenuncasentiutantainsegu-rançaemedoquantoaoseufuturo,motivopeloqualseusórgãosesiste-masexcretoresestãoliteralmentecadavezmaisbloqueados.Se,apesardetudo,minimizarmosaintoxicaçãodiáriaefavorecermosoplenofuncio-namentodosórgãosdeeliminação,haveráumaintençãopositivadesaúdeverdadeiraenãoaparente,poisaquantidadedetoxinasingeridaseauto-geradasjamaisultrapassaráacapacidadeconscientededesintoxicar-se.

3)HojenoalvorecerdasegundadécadadoséculoXXI,aciênciamé-dicacomeçaaperceberofatodequeanutriçãotemimpactodecisivonasaúde ena recuperação, eprevençãodedoenças,mas ainda está longedetomarmedidasconcretasnasaúdepública,poisostratamentosaindatêmcomopontocentralaadministraçãodedrogas,enãoareeducaçãoalimentarquedeveriaestaremprimeiroplanonoprogramasaúdedafa-mília,antesdasdrogas.Nósvivemosumailusãocoletivadequeasmo-dernasdrogasda indústria farmacêuticaea limpezadosalimentosque

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ingerimosnostornamprotegidosdosgermesassassinosquenosrondamoudedeficiênciasdoorganismo.Eoquevemacontecendo?Micróbiosultraresistentesestãosurgindoemtaxasalarmantes.Naatualidade,cadabactériacausadoradedoençasemhumanosapresentaresistênciaa,pelomenos,umdoscemantibióticosdelinhadisponíveis.Biogênicos:sãoosque geram vida, sementes germinadas e brotos. Bioativos=mantém avida,sãoosprodutosdanatureza(frutas,hortaliças,ervas, todoscrus),sãoosalimentosqueexigemmenor trabalhodigestivo.Alémdisso,sãodotadosdeextraordináriaspropriedadesdespoluidorase regeneradoras,osvegetaisFeeCaeasfrutasvitCeMg.Suariquezaemfibrasasseguraumaverdadeirafaxinanotubodigestivo,levandoembora,comasfezes,umagrandequantidadedetoxinasederesíduos.Graçasaseualtoteordevitaminaseminerais,oligoelementos,enzimasesubstânciasbiológicasde todo tipo, inclusiveasbactériasbenéficas,osvegetais fornecem,aosórgãosdeeliminação,oselementosdequenecessitamparafuncionarper-feitamente.Alémdomais,quandoconsumidoscrus,fornecemaocorpoáguacheiadevitalidade,aáguacoloidalquetemamesmatensãosuperfi-cialdointeriordeascélulasseremintroduzidosatravessandoamembranacelularseingeridosfrescosrecém-cortadosouliquefeitos;seforsucover-de,entramnascélulassemgastoalgumdeenergia.

Bioestáticos,sãoosalimentosqueapenasmantêmavidaetêmpou-cacapacidadederegeneraçãocelular=osalimentoscozidos,cozidos=ascarnes,aqui, cruasestasnão têmvalorbiogênico,porque sãomerosdefuntosemdecomposição,etudoquetevesuaenergiavitaldecrescida:alimentosresfriadosecongelados.

Biocídicos,sãoosquedestroemavida,istoé,dãomuitotrabalhoaoorganismoparaseremmetabolizados,roubamvida,portanto,oorganis-mo,emvezdereceberenergia,gastasuaenergiaparadigeri-los(Dr.So-leil,1992).Sãoosprodutosindustrializadosrefinadoseprocessados,irra-diados,osembutidos,osaçúcareseasgordurassaturadas(animais),quesãooalimentoprediletodasbactériashostis.Ograudeintoxicaçãovaivariardeacordocomotipodecomidaquedamosàsnossasbactériasin-testinais,jáquetemosentre50trilhõeseumquatrilhãodelasnointestino(Gonzalez,2010).

Secomermosalimentoscrusemgrandequantidade,pelomenos50%aodia,ediminuirmosdrasticamenteosalimentosdesvitalizados,teremosumgraudeintoxicaçãobaixodiárioesentiremossaciedadecomhortali-çascruasoufrutas,massenossentirmosmalcomcomidacruaoumorrer-

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mosdefomecomendo,sóissojásedenotaumgrauseverodeintoxicação.Senodecorrerdodiamalconseguirmosnoslembrardecomerumafrutaousaladacrua,chegandoamenosde10%duranteodia,estaremosmaisintoxicadosainda.

Sefizermosumaexperiênciadecomersófrutaseverdurascruasdu-ranteumdia,veremosqueseapessoaestámuitointoxicada,sentefraque-zaefome,tonturaequasenãoassimilaosnutrientes,taléonívelintesti-naldetoxinasebactériasnocivasaoorganismo.Àmedidaqueapessoavaidandocontadecomersempassarmal,vaisentindotambémoinverso,vaiaumentandoavitalidade,adisposição,aalegriaeclarezamental.

AexemplodaGrandeNatureza,assimcomonóssereshumanosfa-zemosparteintegrantedelacomomicrocosmosinseridonomacrocosmo.Nós representamosagrandenatureza,omacrocosmoparaessequatri-lhãodebactériasqueviveemnossointestino.Nanatureza,osolofértilé representadopormilhõesdemicrorganismoseficazesquevivemneledecompondo, separando, produzindonutrientes para as plantas assimi-larem e crescerem.As bactérias intestinais representam para nós essesmicrorganismoseficazesqueà semelhançado solovivemdealimentosproduzidosporele,esótrabalharãoeficazmentebeneficiandoasaúdedohomemsedermosaelasosalimentosqueelasnasceramparacomer:ali-mentosdaterra.

Paradesintoxicaroorganismo,éimperiosorenovarnossafloraintesti-nalquesealimentadeprodutosbiocídicos,semenergiadavida,paraumafloraquesealimentadeprodutosbiogênicosparareadquiriroverdadei-roinstintoalimentar,otié shokaku(sabedoria)emrelaçãoaosalimentos.Comooprocessodemudança temaltosebaixos (parae recomeça)e,portanto, é lento, desanimamos, e o programadesintoxicação orgânicanosdáincentivoparapersistirnamudançadehábitospelobem-estarime-diatoqueproporciona.

Asbactériaspodemsernossasamigas, criandoumabarreiradede-fesanaparedeintestinal,evitandoquepassemtoxinasparaacirculação(processandomatériadesvitalizada,produzindonutrientesemesmoan-tibióticos que eliminarão outras bactérias causadoras de doenças). Ounossas inimigas, produzindo colesterol nocivo, enterotoxinas e imunos-supressores,radicaislivresdooxigênioquesecombinamcomsubstânciasquedeveriamcombinarcomoutras,tornandoosistemaimuneinstáveleautoagressivo(Gonzalez,2010).

Contudo,aatualescolamédicamundialaindanãotemessavisão;a

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visãomaterialistadequeaajudavemdeforaenãodedentroaindaper-siste.Aspregas intestinaiscomsuasmicrovilosidades fazemqueaáreadointestinoaumentetrêsvezes.Essaáreadeabsorçãointestinaléde200m²emumadultojovem,equivalenteaumcampodefuteboldesalão.Porisso,atravésdalavagemintestinalemtrêsetapasediariamente,porquatrodias,vamosajudarradicalmentenarenovaçãomaciçadafloraintestinalcommaisrapidezeficiência.Éclaroqueoresultadodestadevesermanti-docomumanovaposturaalimentardeadaptaçõesconstantes.

Hoje, a ciênciadeixa claroque somosoque temosdebactériasnonossointestino,aqualidadedasbactériasqueocupamointestinoéquedeterminanossasaúde.Issotemdeficarbemclaro.Asdoençassãocura-dasporreeducaçãoalimentar.Aqui,vemosnossarealidadedodiaadia,oquemaisapareceemambulatórioepronto-socorrosãodoençasviraistratadascomantibióticos.Opaciente insisteemtomar remédio,eoví-rus,normalmentetemseudiagnósticomaisdemoradolaboratorialmente(dengue,porexemplo,sóapósumasemanadedoençadásorologiaposi-tiva),doresabdominaiscomvermífugosemexamesdefezes,porqueseachaqueéopacienteestácomamebaougiardia,oulombriga.Masnãosecogitamudançanaalimentaçãoparamelhoraraimunidadeoupensarnumaalergiaouintolerânciaalimentar(Póvoa,2001),jáqueécomumsedesenvolvertaisdoençasjustamenteporalimentosquesecomeuavidatoda.Emvezde combatermoso vírus ououtros seres com remédio, émaisimportantefortalecermosnossavitalidade,pormeiodealimentaçãosadia,comcereaisintegrais,legumeseverdurascruas,elactobacilosvivos(iogurtesecoalhadasnaturais),assimcoexistiremoscomovírus,emvezdesairporaímatandopererecas,sapos,joaninhas,comosefazparacom-bateradengue.

Higieneintestinal,mudançadedietaeexercícios–apropostadoSPAdequatrodiaséajudarnesseprocessodeconscientizaçãoemudançadehábitosparamanterumamicrobiotabiogênicaquegaranteobomfun-cionamentode todaamucosa intestinal,mantendo-acoesaeproduzin-doassubstânciasqueoorganismoprecisaparaumbomdesempenho.Asaúdeverdadeiranãodeveserabaladapormudançasambientais.(Yum,1982)Então,alémdaprimeiramedidaeficaz,queéahidrococolonterapiacomum,aretiradamaciçaderadicaislivres(toxinas),implantandoumanovacolôniadebactériasquevemcomosalimentoscrus,elasserãoesti-muladasacresceratravésdealimentospredominantementebiogênicosebioativosnadieta,jáqueasbactériasbenéficasvêmnaturalmenteacopla-

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dasaessesalimentos.Asegundamedidaeficazéadietadesintoxicante.Sevocêaindanãoemplacounamudançadehábitos,osucoverdecomle-gumes,folhasesementesgerminadasemjejummatinaléexcelenteopçãoparacomeçaradesintoxicar.Teremoscomoobjetivoalcalinizarosangue(Gonzales,2010).

Alimentando-nos com alimentos biocídicos, (alimentos refinados:açúcar branco, pão branco farinha branca, doces, frituras, embutidos(queijos,presunto,mortadela, linguiça,salsicha),sistematicamentee in-gerindo todo tipo demedicamentos,mantemos emnosso intestino umviveirodebactériasagressivas,quetransformamtudooqueapareceemtoxinasfortíssimas,degradam-sesubstânciaspresentesnessaformadedie-taemprodutosmuitasvezescarcinogênicos,podendoagirdiretamentenaparededointestino,aumentandoapermeabilidade,sendoabsorvidosparaacorrentesanguíneaouórgãosegerandoenormeproblemaparanossocorpo se livrar.Enãoproduzindoosnutrientesqueprecisamos.Causasurpresaqueessesalimentossejamconsideradosinofensivospelasaúdepública,dizoDr.HelionPovoa,deveriahaveravisonasembalagens.

Vamos rever comoeraamedicinahá trêsmil anos: tantoa ciênciaAyurveda daÍndia,hámaisdecincomilanos,comoosessêniosdovaledeQumram,hámaisdedoismilanos,etantasoutrascivilizaçõesanti-gaspreconizavamcomomedidaterapêuticaeficazahigieneintestinal–amaiseficazterapiaquandofeitaaliadaaumadietaqueajudanoprocessodemudançadefloraintestinalpararecuperaçãodonossoinstintoalimen-tar:odescansoalimentar,asfériasparaoestômago...ojejum.

Apalavrajejumassusta,masaverdadeéqueexisteminúmerasmanei-rasdedarfériasparanossoestômago,duodenofígado,pâncreas,jejuno,íleoeintestinogrosso,bastadaraonossosistemadigestivo,nesseperíodoalimentoscombaixíssimataxaderesíduoealtacapacidadedesintoxican-te:asfrutas.

Existemmuitostiposdejejumecadaumvaidependerdoqueapessoatemeacapacidadedesuportarmudanças(processosdepurificação),todojejumdevecomeçareterminarprogressivamente.Éomeiodedesintoxi-caçãomaispoderoso,maisintensoetambémomaisdelicadodepraticar.Umavezquenossoshábitosalimentares estão tãoatrapalhados, temosdeaprenderadarfériasaonossosistemadigestivoparaquerecuperemosnosso instintoalimentarou intuiçãoalimentar,nosso“tiéshokaku”emrelaçãoàalimentação.Então,nãoénecessáriopassarsóaágua,asfrutastêmaltopoderdesintoxicante,ejáosvegetaisaltamenteregeneradores.

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Nonossoprograma,adotamos trêsdiasde frutas e,noúltimo, fru-tasesaladasemhoráriosdiferentes.Associarosmétodoscomassistênciamédicaéqueconfereeficáciaaoprograma.Nofrio,pode-setomarumaxícaradecaldodevegetaiscomorefeiçãoisoladaànoite,,nãosóduran-teotratamentocomoforadele.Cientificamente,jejuméummétododeestímulo,deaperfeiçoamentodomecanismo,dereversibilidadeentresan-gueecélulas.Ocorpoécompostoporcélulasqueforamformadaspelosangue,oqual,porsuavez,seformapelaalimentação.Adoençaé,pois,geradaporcélulasanormaisprovenientesdasimpurezasdosangue,umatentativadoorganismodeselivrardastoxinaspresentesnaluzdovaso,derecuperaçãodopHsanguíneo,pois,comastoxinas,osanguesetornaáci-do=setorizaçãodastoxinas,articulaçõesdepósitosarteriais,glomosetc.

Pelojejum,ascélulasanormaisretornamparaosanguee,pelaacele-raçãodacirculação,elasseautopurificamatravésdaexcreçãodosrins,dapeleedosintestinos.Todososanimaispraticam,instintivamente,essafor-madeterapia.Elesnãofazemusoderemédiosenãotêmhospitais,masvivemcomboasaúde,muitasvezesmorrendodeformanatural.Ofenô-menodareversibilidadeéaeternidadedaleidanatureza.Podemosdizerqueaformaçãodacadeiaalimentargerasangueeosanguegera(forma)acélula.Odesaparecimentoouarecuperaçãodascélulasanormaisrevelamoprocessodareversibilidadequeé,emsi,umprocessoderecuperaçãodasaúde.Ojejumpossibilitaqueórgãosqueexcretamdesubstânciasnocivastrabalhemmelhor(menossobrecarregados).Eventualmente,podemocor-rer reaçõesdemelhoria.Sintomascomotonteiraedoresdecabeçasãoapenaspartedoprocessodenormalização,depurificaçãodoorganismo,liberando-odoacúmulodeimpurezas.Essagrandelimpezanãopodesercomparadaanenhummedicamentooupráticamédica.Ao términodojejum,avitalidadeaumentamuito,dandoaoorganismomaiorresistênciacontraasenfermidades.

Antigamente,achava-sequeaserotoninaeraproduzidasónocérebro;hoje, sabe-se que amaioria dos neurotransmissores (há pelomenos 24delesnointestino)étambémfabricadanointestinoevice-versa.Nocasodesteneurotransmissor,aserotonina,oquetemosnosintestinospodein-fluenciarnossopensamento,nossafelicidade,nossosonen(palavrajapone-saqueexpressaumatrilogia=pensamento-sentimento-vontade).

Seingerirmosumasubstânciaqueaumentaaquantidadedeserotoni-naemnossocorpo,eestivermoscomumafloraintestinalemdesequilí-brio,otubodigestivoiniciaráreaçãodeeliminaçãodetoxinas=contra-

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çõesvigorosasque resultarãoemvômitosediarréia,queéummétodofantásticodelimpeza!

Deformaanáloga,aciênciacomprovouqueousodetranquilizantesoudeterapiapodefazerumapessoamelhorarnoâmbitopsicológico,massenadamudarnaalimentaçãoosintestinosdessesindivíduoscontinuarãoaapresentarsuasprópriaspsiconeuroses.Otubodigestivotemimportan-tesefeitossobreocomportamentohumano.Éumcomplexocomputadorde informaçõesdoambiente,quepodeharmonizar-se comohospedei-roourebelar-secontraele.Essacorreçãodafloraintestinaldáorigemagrandestransformaçõesoplanomental,atéqueoindivíduoalcanceumamudançadeparadigma,umamudançanoplanoespiritual.Comintesti-nosdeextensocomprimento (7metros),nãoestamosaparelhadosade-quadamenteaoconsumodetecidoanimal(quetemproduçãodetoxinasmuitoelevada,especialmente),daspoliaminasderivadasdadecomposi-çãoproteica.Alémdisso,nopreparodecarnes,sãoformadassubstânciasmuitotóxicas,comoacrilamidaenitrosaminas,todasreconhecidamentecancerígenas.

Porexemplo,natensãopré-menstrual,boapartedasmulherestêmavi-dezporcarboidratosnaturais;hoje,sabe-sequeelesaumentamaprodu-çãodetriptofanoqueéumprecursordaserotoninaquenosdáasensaçãodebem-estarealegria.Abuscadocarboidratopelamulhernessafaseseriaentãoumabuscanaturalpeloseuequilíbrio.Mas,emvezdecomercar-boidratosnasuaformanatural,atualmenteatendênciaécomeralimentoscomfarinharefinada...pãobolo, roscaetc.,piorandoonervosismoeatensãopré-menstrual.Outroproblemaéquetodomundoachaquebatataearrozengordam,emuitasmulheresdeixamdecomerregularmenteparamanteralinha...,equandovemaTensãoPreMenstrual,comemprodutosrefinados,emvezdenaturais.Oquesenotatambéméqueofluxomens-trualexcessivosóexisteemestadosdetoxicidade.

Aingestãofrequente(maciça)decomidasdepreparorápido(leia-sefarinhasrefinadas),excessodeaçúcarbranconadieta(nosrefrigerantes)aditivosquímicos, e comidas internacionalmente conhecidas como fast-food sãoum fator predisponentepara amenopausaprecoce, obesidade,diabeteedoençascardiovasculares,conformefoidefinitivamentecompro-vadoemestudoscientíficos(The Lancet, jornalcientífico,emespecial,opublicado em 2005). Farinha= inibe absorção de zinco... triptofano=serotonina,oquenãoacontececomCHnaturais.

Resta-nos analisar a alimentação à base de vegetais, considerada a

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maissaudável.Acupuntura,terapiaquedatademaisdedoismilanoseteveseuberçonaChina,continuasendoaceitaatéhoje,éporquefuncio-na...Éumamedicinaenergética,eoscaminhosdaenergiavitalsãobemdiferentesdosdaanatomiaconvencional,porissodeveríamosternoçõesdessescaminhosinvisíveis,enãosómostraraanatomiafísica.

Vamostonificar,potencializarosórgãosdeeliminaçãodetoxinastra-todigestivo,rins,pulmões,fígado.Outrodiachegouaoconsultórioumapacientequetinhausadoumdesodorante...(podiatersidoqualquermar-ca),comquadrodedoraxilarirradiadaparaocotoveloeparaascostasnaregiãodoossoomoplata(regiãoescapular).Aprimeiraperguntaquefizfoivocêtemintestinopreso,nãoé?Sim,demais...Passei-lheumadieta,incluindosucosdesintoxicantes,os famosos leitesda terra,e fizapenasumasessãodeacupuntura.Adorpassou,elasecurou,maslhedisse,queaempresadecosméticosnãotemnadacomisso,oproblemaestáemvocêseesforçarparamudarecurarsuaprisãodeventre,enãoterámaisessetipodealergia.Quadroscomoessesãotratadoserroneamentecomanti-inflamatórios,piorandoofuturodasaúdedapessoa

Energiapré-celestial (jing)querdizerenergiaancestral, équedeter-minaaconstituiçãofísicadohomem,suaforçaevitalidade,éoquefazcadaindivíduoserúnico.Aqualidadedessaessênciaéfixaemquantida-deequalidade (vemdospais,maspode ser influenciadapositivamentepormeiodoequilíbrioentretrabalhoedescanso,vidasexualpausadaedietabalanceadacommuitaenergiavitaleexercíciosrespiratóriosedealongamentocomoosdeioga,taichichuan,qikun,liangong.2Qualquerexcessodiminuiaenergiaancestral.Energiapóscelestialéa“energiavitaladquirida”pelaalimentaçãoerespiração.Elaérefinadaeextraídadosali-mentos,umconjuntodeessênciasproduzidopeloestômagoebaço;apósonascimento.Portanto,aqualidadedanossaalimentação,seuritmo,ali-mentosvivosesentimentosvãodeterminarnossasaúde.

Quanto ao processo digestivo, mastigar misturando bem, saliva aobolo alimentar é fundamental para o pleno aproveitamento deste, por-quequebraosalimentosemfraçõesmenoreseiniciaoprocessodefusãodaenergiadoalimentocomaenergiadonossocorpo.Nossoestômagonãotemdentes,secomermosrápidoousemmastigardireito,eleterádedarcontadeumafunçãoquenãoésua,eoprocessodigestivocomeçadeformaincorreta,acumulandotoxinas,queos indianos,porexemplo,

2.qikun,liangong=modalidadesdeexercíciosenergéticoscomooconhecidotaichichuan.

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chamamdeama;eosmacrobióticosfazemdissoumtruqueparacomermuitopouco.

Outracoisaimportanteéatemperaturadoalimento,bebidasfriasdu-rantearefeiçãosobrecarregaorim,poisenergiaancestraléaresponsávelpormantera temperaturacorporal,aqueceroconteúdoestomacalparaqueadigestãoseprocesse.Ingerir líquidosdurantearefeiçãoatrapalhanãosóaatividadeenzimáticaedossucosdigestivos,comodáasensaçãodecansaçodepoisdeumarefeição–gastouenergiaemvezdeganhar;éoqueacontecequandosetomaumacervejageladaouumsucoourefri-gerantegeladosduranteumarefeição.Acervejaimpedeasaídadasenzi-masdigestivasdopâncreas,queacabamsemisturandocomabile.Muitoativas,essasenzimascomeçamafazeradigestãonacabeçadopâncreas.Numprimeiromomento,podehaverpancreatite,depois,diabetese,porfim,háoriscodecancêrdepâncreas.Olíquidovaiesfriarocaldeirão...,porissoosorientaistomamchánasrefeições.

Noestômago,aparteenergéticapuradoalimentovaiparaopulmãoatravésdobaço,queéparceiroenergéticodoestômago.Saindodoestô-mago,oalimentochegaaointestinodelgado,quecompletaoprocessodesepararapartepuradaimpuradoalimento.Apartepura(energiavital)éenviadapelobaço-pâncreasparaopulmão,ondeseuneaoqi3(energia)doarpara formara energianutritiva.Aparte impuraéaquevaiparaointestinogrosso,láocorreránovaseparação,absorvendooquevaiseraproveitado.

Dopulmão,essaenergiaparteparaorim,paraseunircomaenergiaancestrale formaraenergiadedefesaouformar líquidoorgânicos(líq.sinovial,gástrico,entérico,líq.intesticial,líq.cefalorraquidianosendo1litro/saliva,1litro/secreçãogástrica,1litro/secreçãopancreática,1litro/bile,secreçõesprópriasdointestino2litrosnumtotalde6litrosgastosnosprocessosdedigestão.Senãobebemospelomenosuns2litros/água/dia,acabamosusandoágua“servida”(cheiadetoxinasnessesprocesso,difi-cultandoaindamaisadesintoxicação).Tambémdevemosobservarinter-valosregulares,longosperíodossemcomerlevaaesvaziamentoenergéti-co(pularrefeições,trocando-asporsalgadinhos)eacompulsãoporcomertambémlevaaodesgaste,porqueamáquinafuncionaotempotodo.

Massagensmelhoramacirculaçãodeenergianoorganismoefacili-tamorelaxamento.Todasastécnicassãoválidas,desdequepraticadasdemaneiraintuitivaesensível(umamassagemexcessivamenteintensapode

3.Qi,dochinês,refere-seaenergiavitaldocorpo.

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provocar tensãomuscular reflexaouumaondadeeliminação fortede-mais).Existemdiversastécnicasdemassagem:drenagemlinfática(muitoútilduranteojejum,poispermitealentaeliminaçãodastoxinasliberadaspelascélulasparaosvasoslinfáticos),areflexologia,odo-in,oshiatsu,ba-seadosnoscaminhosdosmeridianoseoutrostantostiposdemassagem.

Acirculaçãodaenergiavitalatravésdaatividade físicaémuito im-portante:caminhadasdetrintaaquarentaminutossãoideaisparaevitarestagnaçãodaenergiavital,RPG,alongamentoscomioga,taichichuan,qikun,liangongetc.,pedalar,nataçãoetc.

Movimentoévida,semelenosatrofiamos.Podemosvernascomuni-dadeslongevasqueaspessoastrabalhamnocampoplantandocolhendosuamusculaturasempreematividadesempreseintegrandocomagran-denatureza.Nossavidanacidadeétãosedentáriadeumamaneiraquepodemospassar oitodias seguidos sentadosoudentrodeumcarrooudeumasala,esquecemosque,nasreminiscências,Meishu-Samaandavaduashoraspordiacomsuatesoura...,nãohádoençaemcolunacorreta,dizumantigoditado.Posturaeretaéfundamentalparanãohaverpinça-mentodevértebras,comprometendonervosquesaemdaespinhadorsal.Seacolunafosseeretacomoumavara,asvértebrasnãosuportariamopesoeopróprioatodeandar ficariadifícil.Adesvantagemdessascur-vaturaséque,nasvértebras,hámais facilidadedeocorrerempequenosdeslocamentos, incompletos, quepodemacabarpressionandoos ramosnervosos,impedindo-osdeexercercompletamentesuafunção,causandováriasenfermidadesnoorganismo.Nãoéobjetivodotratamentodede-sintoxicaçãocorrigiracoluna,masdeve-seimediatamente,apósadesin-toxicação,começaralgumtipodeatividadequeajudaráacorreçãoeoalongamentodesta,comoaquiropraxia,sehouverposturahabitualmenteincorretaealongamentoscomoiogaouRPG.Asatividadesfísicas,comocaminhada,ajudamafortaleceramicrocirculação,exercícioscomoosdaunibiótica,ovasocapilar,porexemplo, sãoexercíciosque favorecemanormalizaçãodapressãosanguíneaquandofeitosregularmente.

Microcirculação:ODr.Yumdizquetodadoençadegenerativacome-çanamicrocirculação.Asdoençasdegenerativasseiniciamentão,emsuagrandemaioria,nosglomos,unidadesdevasoscapilaresmicroscópicoscompostosporvênulas e arteríolas,ondeacabao sistemaarterial e co-meçaovenoso.Osglóbulosvermelhosdesequilibrados,emsuascargaselétricasporbaixaofertadeoxigênio,atraem-seeseempilhamdentrodos

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capilares,obstruindoseufluxoedeterminandomáperfusãodostecidos,fatosquepodemserdetectadoscommicroscópiosintravitais.

Estimularamicrocirculação (circulaçãoperiférica, tomandobanhoalternadofrioequente,cincovezes,totalizandoonzeminutos,começan-doobanhocomáguafria,depoisquente,banhodeareexercícios,vasoscapilareseoutrosajudamtambémamelhoraraconstituiçãofísicademui-toyinparamenosyin.

Horadepensarnamudançadevalores:nolivrodorabinoNiltonBon-der,“Acabaladodinheiro”,emqueeleexplica,emoutraspalavras,oqueMeishu-Samafalasobreamissãodohomem.Eledizquededicar-sesóaganhardinheironãoéumbomnegócio,equeohomemdeveservirseusemelhante.Hátambémaqueleditadoquedizquequemtrabalhamuitonãotemtempodeganhardinheiro,ouseja,éimportantíssimodedicarmosnossavidaespiritual,verdadeirarazãodanossaexistência;ficarempaz,umahorapordia,éessencialparanossoequilíbriocorpo-mente-espírito.

Hábitoécomoroupa,afirmaoDr.JongSukYum,quesemprereco-mendaumamudançadehábitonoqueserefereàalimentação.Acontecequeospacientesreplicam:Ah,mascomopodemosmudarumcompor-tamentoqueveioaténósatravésdasgerações,quejáfazpartedanossacultura?Mudançadehábitoserradoséimprescindível,sequisermosbe-neficiarnossocorpo,sequisermosvê-losadio.Comparemoshábitoscomroupas: que roupasusamos?Aquelas quemelhor se adaptamaonossocorpo,não?Aquelasquenosdeixamelegantes.Poracasovestimosroupasquenosdeixamridículos?Seasroupasnãocaembemnonossocorpo,nósasmodificamos,enãonossocorpo.Domesmomodo,sãooshábitos.Devemserpraticadosnamedidaemquebeneficiamnossocorpo,enãoqueoprejudicam.Émuitomaisfácilmudaroshábitosqueocorpodire-tamente.Comoraciocínionegativo,segundooqualéimpossívelmudarosmaushábitos,comoconseguiremossobrevivercomqualidadedevidanesteséculo?Sim,porquenesteséculosobrevivemoscorajosos,aquelesquesãocapazesderevolucionaraprópriavida.

O sistema digestivo damaioria das pessoas se degenerou comendocomidaserradasanosafioeficouimpossibilitadodecomercomidacruadeumahoraparaoutra,mesmoquesejasó50%.Assim,émelhormudarumpassodecadavez.Sucoverdemaisdietahipoalérgica(alimentosdanaturezanão refinados,não industrializados), incluindoalimentos comsubstânciasantialérgicas,comoaquercitinacontidanosbrócolis,cebolae uvas, já queumdos sinais de intoxicaçãodemais difícil diagnóstico

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équandonos tornamosalérgicosaosalimentosquemaisconsumimos.Naturalmente,àmedidaquenosdesintoxicamoscomosucodeverdu-ras cruas, vamosquebrandoo cicloviciosodealimentosprocessados eperdendoavontadedecomeralimentosartificiaisparaespontaneamenteescolhermosmais frutase legumesnodiaadia.Dietahipoalérgicaéadietanacombinaçãoalimentaradequadacompoucasmisturasevitandofermentaçãodesnecessáriadosalimentos,comovimosnoiníciodaaula,somentecomalimentosnaturais.Exemplodeintoxicaçãopormetaispe-sados:sinaldepéssimabarreiraintestinalcomotomatecommercúrio...,osucoverderepõeafloraintestinaleabarreiraintestinalnãodeixamaispassarosagrotóxicosoumetaispesadosparaacirculação,restituindoanaturezadosangue.Amaiormotivaçãoparasefazerumareeducaçãoali-mentaréreconhecerodesenvolvimentodeprocessosalérgicosedeinto-lerânciaalimentarantesdasdoençasdegenerativasouautoimunes:panenosistemaimunológico.Exemplo:pacienteque,aoparardetomarleite,“sarou”daartrosenosjoelhos.

A água dos vegetais temamesmaosmolaridade que o interior dascélulas e elas são revitalizados instantaneamente semgastode energia.Alimentosemsuaformanaturalseguemoprocessodigestivo,noqualasvitaminas e os saisminerais desejados pelometabolismo são extraídosde forma extremamenteprecisa e harmônicapelo corpo.Águanão es-truturada(mineral,filtrada)=73dina/cm.Águaestruturadadesucodecenourafeitonahora=30dina/cm(Gonzales,2010).Oscomponentesnutricionaisisoladossinteticamenteatingirãoascélulasnaformadedro-gasecomodrogasserãotratadospelascélulas(acabamprovocandorea-çõesdosistemaimunológico),poissãoinorgânicos,aocontráriodosucodevegetaisfrescosbebidonahora,quetemenergiadavidaacopladoaele.Porisso,areposiçãodevedepreferênciaserfeitacomalimentosnaturaisenãocommedicinaortomolecular.

Dessaforma,entende-sequealtosníveissanguíneosdedeterminadonutrientedenotabaixosníveiscelularesdeste.Semprequeumasubstânciaorgânicareagecomoxigênio,oprodutofinalapresentarágáscarbônico,ácidosulfúricoeácidofosfórico.Essesprodutosfinaissãonocivosaoor-ganismoe,naverdade,osmaiorescausadoresdocansaço;sãoastoxinasdocansaço,dizDr.JongSukYum.Atravésdacirculação,essassubstân-ciaschegamaosrinseàpele,paraseremeliminadaspelaurinaepelosuor.Quandotemosumavidasaudável,ocorpoproduzureiaeamôniaquesetransformamparaeliminaçãocomourinaefezes.Perdendomuitolíquido

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pelosuor,vômitosoudiarreia,aureiasetransformaemguanidina.Beberáguaaumentaaproduçãodeureiaeamôniaqueseresponsabilizarãopelaeliminaçãodeguanidinaatravésdaurinaedasfezes.Oequilíbrioorgâni-cofica,portanto,refeito.

O jejummatinal diminui a transpiraçãodesnecessária – quando al-guém transpira demais independentementedo calor, é porquenão estáocorrendoaeliminaçãodessassubstânciasporvianormal,atravésdauri-na(toxinasurinárias)–e,portanto,ajudaaeliminarastoxinasurinárias.Aáguaé importanteparatransformarcarboidratoemglicose.Nósper-demosemmédia2,5litrosdeáguapordia,porexpiração,emformadevapor,uns600ml,pelosporosuns500g/dia,pelaurinaemmédia1.300gpordiaepelasfezesumamédiade100g/dia,poressarazão,émuitoimportantebeberáguafrescanãofervida.

Aspessoasquecompreenderemqueoqueseoferecenaprateleiradeuma farmáciaoudo supermercadonão lhes forneceenergiadavida jáestãoemsintoniacomaeradodia.Aindústriafarmacêuticatrabalhahádécadascomoisolamentodeprincípiosativos.Portanto,estamoscondi-cionadosacreremnutrientesisolados,emaltasconcentrações,masnuncaencontraremosnutrientes altamente concentradosnuma frutaou folha,issoporqueanaturezaestáinteressadaemequilíbrio,nãoempotência.

Nenhumserhumanopodeserplenosemlimites,dizMeishuSama.Naverdade,darlimiteéoutraformadeexpressarmosamor.Comerpou-co,tergratidãopeloalimento,evitarcomidasartificiaisnodiaadia(pãobranco commortadela e refrigerante). O desapego faz parte do nossoaprimoramentoecrescimentoespiritual,issoincluiestarabertoanovasexperiênciasdopaladar.Passoapasso,primeiro,diminuirosalimentosbiocídicos,artificiais, refinados,comconservantes,quedestroemvidaedãotrabalhoaoorganismo,emvezdaregeneraçãocelular;depois,trocarporhábitosmaissaudáveisenãomenoseconômicos,comosucosdefrutafresca,sucosdeverduras,alimentosnaturais,menosprocessados.Sefizer-mossemprecompensaçõesnoscuidandoduranteasemana,poderemosdeixarparaofimdesemanaaquiloquenãoétãonaturalassim,oeventu-al,aquiloquenãofaztãobemassim,semnosprejudicarsistematicamen-te.Asobrevivênciacomqualidadeéoprêmiopeladisposiçãodeenfrentarosprocessosdepurificaçãoerenovaçãoconstante.

Contudo,nãoadiantaapenascorrigirhábitosalimentares,poisaindaassimo“maléoquesaipelaboca”.Existempessoasque,mesmotendosubstituídoafloraintestinal,mantématitudesforadeharmonia(indiví-

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duosrígidosemseusconceitossemflexibilidade,vegetarianosfanáticos)eacabamsendoverdadeiraspropagandasnegativasdaalimentaçãoviva,naturaleoutras,mesmoemmeioatodotipodealimentos,brotamparaavidaespiritual,ouseja,maisumavez,devemosterbom-sensoenãonostornarmosradicaiscruzandoasduascolunasdaSalvaçãoatodoinstante.Existea saúdeaparenteea saúdeverdadeira,comodizMokitiOkada,criadordométododeAgriculturaNatural.Comvisãodelongoalcance,elepreviuquehaveriacomidademaiseohomemnãodeveriacomê-la,poisficariadoente,tantoqueométododaAgriculturaNaturalnãolevanem esterco animal.Os seguidores dessemétodo fundaram aKorin, amaiorindústriadefrangoscriadosnaturalmentesemantibióticos,queex-portaofrango kosher paraIsrael,JapãoeArábiaSaudita.

Essanovaposturaemrelaçãoàalimentaçãodáorigemagrandestrans-formaçõesnoplanomental,atéqueoindivíduoalcanceumamudançanoplanoespiritual.BasesólidaparaadifusãomundialdeummundodepazebelezapodeseralcançadocomapraticadoJohrei,AgriculturaeAlimen-taçãoNatural.OcruzamentodessasduascolunaséabasedaconstruçãodoParaísonaTerra,omundoplenodebelezadesentimentoeatitudes.UmapessoaquemudasuaalimentaçãoconscientedasuarepercussãonasuaevoluçãoespiritualestátreinandodesapegoeentregaaDeus.

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ElieteMariaSilvaCardozo1JulioVicentedaCostaNeto2

Resumo: Estacomunicação temporobjetivoapresentarumProjeto-Pi-lotoqueestásendodesenvolvidonoRiodeJaneiro,quetemporobjetivocontribuirparaapromoçãodasaúdepormeiodeatividadesfísicasjuntoànatureza,comoumcanaldeaproximaçãocomDeus.Arelaçãodoho-memcomanaturezaestáfundamentadanospensamentosdeManuelSér-gio(1994),Heintzman(2000),Karlis,GrafanaigeAbbas(2002),Oullette(2003)eBachelard(1994).Asatividadesdesenvolvidassão:caminhadaeatividadedeorientaçãonaFlorestadaTijuca,caminhadanaUrcacomvivênciadeescaladaecaminhadanoPicodaPedraBranca.Apósasativi-dadesosparticipantesrelatamsuasexperiênciasesãoanalisadospormeiodatécnicadeanálisedodiscurso(Orlandi,2001).Palavras-chave:saúde,atividadefísica,natureza,homemenatureza.

EstamosnacidadedoRiodeJaneiroemmeioaumapaisagemprivile-giadapelanatureza,entreomareasmontanhas,umadasmaisbelascida-desdomundo,oquelhevaleuotítulodeCidadeMaravilhosa.Localizadanocoraçãodacidadeencontramosamaior florestaurbana jávista, re-plantadapelohomem.ÉbanhadapeloOceanoAtlânticoevislumbramosalgumasdaspraiasmais conhecidasdomundo,queatraempraticantes

1.DoutoraemEducaçãoFísica.IMMB–SetordeEspiritualidadeeSaúde–RJ.UniversidadeEstáciodeSá<[email protected]>.2. Mestre em Educação Física. IMMB – Setor de Espiritualidade e Saúde – RJ. Univer-sidade Estácio de Sá <[email protected]>.

Atividade física para um mundo melhor: nas trilhas da espiritualidade

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deatividadesjuntoànaturezaemuitosturistas,principalmenteduranteoverão.Temosumagrandeconcentraçãodemontanhas, lugarperfeitoparaquemquerconhecerosesportespraticadosnasmontanhas.Énessecenáriodepraia,demontanhasedeflorestasquealgunsdosmoradorespraticamatividadefísica.

Levandoemconsideraçãoessageografia,oSetordeEspiritualidadeeSaúdedoRiode Janeiro–GrupodaAtividadeFísica,3 vaioferecernoanode2012apráticadeatividadefísicajuntoànaturezaparaqueasociedadepossaadquirirumestilodevida saudável edespertar a espi-ritualidade.Nesse sentido, desenvolvemos uma pesquisa para conheceralgunssentidosdapráticadeatividadefísicajuntoànatureza.Apesquisapossuicaracterísticasqualitativas,pois,segundoBauereGaskell(2002),“lidacominterpretaçõesdasrealidadessociais”(p.23)eestábaseadonosprincípiosdoestudocaso.Apesquisaqualitativabuscacompreenderossignificados e as características das situações apresentadas pelo estudo,apreendendoadinâmicaeacomplexidadedosfenômenossociaisemseucontextonatural(LudkeeAndré,1986).Valorizamosasubjetividadee,paraRey(2005),éoespaçoprivilegiadoemqueosujeitoseinspiraemsuasdiferentesexpressõessimbólicaseaformacomoouniversoaparececonstituídonessenível.Asubjetividadenãosubstituiosoutrossistemascomplexos do homem (bioquímico, ecológico, laboral, saúde etc.), quetambémencontram,nasdiferentesdimensõessociais,umespaçosensívelparaseudesenvolvimento,mastransforma-senumnovonívelnaanálisedessessistemas–que,historicamente,temsidoignorado.

Oestudodecasovisaàdescoberta,interpretaumcontexto,buscare-tratararealidadedeformaconcretaeprofunda,revelaexperiênciasvicá-riasepermitegeneralizaçõesnaturalísticas;usaumavariedadedefontesde informação,procura representarosdiferenteseàsvezesconflitantespontosdevistapresentesnumasituaçãosocial,eutilizaumalinguagemeumaformamaisacessíveldoqueosoutrosrelatóriosdepesquisa.

Aamostrafoiformadaporoitopessoasqueparticiparamdequatrovi-vênciaspráticas,acompanhadasporumprofessordeeducaçãofísicaqueofereceuantesdecadapráticaumaaulateórica,abordandoosseguintestemas:atransformaçãosocialocorridacomoprogressocientíficoetecno-lógicoesuarelaçãocomaFilosofiadaSalvação;anaturezaeocaminhardahumanidade;aatividadefísicanosdiasatuaiseapráticadeatividade

3.OSetordeEspiritualidadeeSaúdedoRiodeJaneiro–GrupodaAtividadeFísica–FundaçãoMokitiOkada.

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físicajuntoànaturezacomocaminhoparaaespiritualidade.Apóscadaprática,osparticipanteselaboraramumrelatório,deixandosua impres-sãosobreaatividade.EssesrelatóriosforamanalisadosdeacordocomométododeAnálisedoDiscurso(AD),propostoporOrlandi(2001),pro-curandoconhecerosparticipantescomosujeitosquepossuemuma lin-guagemprópriaeumahistóriaqueteminícionosprimórdiosdenossosancestrais.

Esse princípiometodológico foi conduzido de forma flexível, pois,noprimeiromomento,nosaproximamosdotema;emseguida,partimosparaumaabordagemteóricadoimagináriosocial,dolazeredaespiritu-alidade.Noterceiromomento,utilizamosaanálisedodiscursodedepoi-mentoscolhidos.Adotamos,assim,diferentesestratégiasmetodológicasparaalcançaroimagináriodosparticipantes.

Em relação às questões do imaginário social, recorremos aGastonBachelard (1990), que inovouas concepçõesde imaginação e explorououniversodosdevaneioshumanos,preocupando-se comosestudosdaimaginaçãohumana,caracterizadacomocriadora,dinâmicaeestimuladapelosquatroelementosdanatureza(água,ar,terraefogo).

Eleafirmaquetantoomundoreal,cercadopelarazão,comoouni-versoimaginário,ricoemsubjetividade,necessitamdeumequilíbrioquepermitaumaaproximaçãodessasduasviashumanas.Aimaginaçãoseriaomeiodeasseguraresseequilíbrio,poiséafaculdadedenoslibertardasimagensprimeiras,demudarasimagens.Paraele,nãoháimagemsemimaginação,semumprocessoqueasmodifique,asanime.

SegundoBachelard(1994),ovocábulofundamentalquecorrespondeà imaginaçãonãoé a imagem, e simo imaginário.Uma imagem fixa,estável,nãopermitequeoindivíduoselancenumcaminhoemdireçãoàimaginaçãohumana,nãodeixaqueohomem“bataasas”emergulhenouniversodesuaimaginação.

Oimagináriocriaimagens,masapresenta-sesemprecomoalgoalémdesuas imagens.Épormeiodo imaginárioqueohomemproduzumaimaginaçãoessencialmenteevasiva,aberta.Oautor,aoadotarumaabor-dagemestética,acreditaqueviveruminstanteenvolvidoemsuaimagi-naçãorepresentaestarausente,experimentandoumanovavidaricaemmagia,sensaçõesesonhos.

No reino da imaginação, os elementos da natureza apresentam-secomo hormônios da imaginação. Eles colocam em ação determinadosgrupos de imagens, auxiliam a assimilação íntima do real disperso em

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suasformas.Porelesseefetuamsíntesesqueproduzemalgumascaracte-rísticascondutorasaumapossívelregularidadedoimaginário.ParaBa-chelard(1994),oinfinitodocéu,domar,dasprofundezasterrenasoudafogueiraapresentadistinçõesquecaracterizamospensamentoshumanos.

Parao autor, a imaginação aparece comoummeioparaohomemequilibrar-se,liberar-sedeseumal-estarexistencialmarcadopelaangústia,buscandoalcançarafelicidade.Asexigênciasdafunçãodorealobrigam-nosanosadaptarmosàrealidade.Mesmodiantedeimagensnegativas,aimaginaçãocompensasuafacesombriaestruturandoasforçasdavontade.

Comaintençãodecompreenderasrelaçõesentreapráticadelazereaespiritualidade,recorremosaPaulHeintzman(2000)eaKarlis,GrafanaigeAbbas,noartigo“Leisureandspiritualityatheoreticalmodel”(2002).

PaulHeintzman(2000)identificouaexistênciadarelaçãoentrelazereespiritualidade,promovendoumaconexãocomDeusnãounicamentepormeiodeorações,mastambémpelapráticadelazer.Essapesquisafoiapresentadanoartigo“Leisureandspiritualwell-being. relationships:aqualitativestudy”(2000).Aamostra foicompostaporoitopessoasquetiveramuminteresseexpressoeativoemrelaçãoàespiritualidadeequesesentiramconfortáveisfalandosobreoassunto.Oinstrumentoutilizadofoiaentrevistaemprofundidade,conduzidapelopesquisador,gravadaeposteriormentetranscritaparaaanálisedosdados.Asperguntasiniciaisversaramsobreacompreensãodebem-estarespiritualedelazer,masorestantedasperguntasprocurouexploraras relaçõesentre lazerebem-estarespiritual.

SegundoHeintzman (2000) observa que houveumacordo entre osparticipantesdepráticasdelazer,associandosuasatividadeseexperiên-ciasnolazercomoseubem-estar-espiritual.Taisvínculosforamorgani-zados segundo quatro dimensões de estilo de lazer: tempo,motivação,valor(socialefísico)eatividade.

Emrelaçãoàdimensãodotempodelazer,oautorassinalaqueotem-poeoespaçosãoimportantesparasealcançarobem-estarespiritual.Aformacomosepreencheessetempofoivalorizada,poisosnegóciosre-duzemobem-estarespirituale,aomesmotempo,oferecemumequilíbrioparaavida.

Adimensãodamotivaçãotambéminfluenciaobem-estarespiritual.OsparticipantesdapesquisadeHeintzman (2000)mencionaramqueaatitudede estar abertoparanovas experiências eaatençãocontribuemparaolazerqueconduzaobem-estarespiritual.

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Em termosdevalores físicos, anatureza foimuitovalorizada, rela-cionadaàhistóriapessoaleassociadacombem-estarespiritual.Quantoaosvaloressociais,osilêncio,asolidãoeacalmaforamentendidoscomocondutoresdebem-estarespiritual,aopassoquevaloresbarulhentosfo-ramvistoscomonegativos.

Asatividadesde lazerdesenvolvidaspelosparticipantesdapesquisaforamescolhidasdeacordocomoperfildecadaum.Elesbuscamaquelasqueconduzemaobem-estarespiritualeseafastamdasquedificultamessaaproximação.

Tudoissonosfazentenderqueexisterelaçãoentrelazerebem-estarespiritualequeasdimensõestempo,motivação,valorfísicoesocial,comotambémotipodeatividadedelazerescolhidopodemaumentaroudimi-nuirobem-estarespiritual.

Seguindoessamesmatrajetória,Karlis,GrafanaigeAbbasnoartigo“Leisureandspiritualityatheoreticalmodel”(2002)desenvolveramumestudocomaintençãodereveraliteraturaexistentesobreesteassunto,eestabeleceramummodeloteóricoaodescreveraconexãoentreoscompo-nentesdolazereoscomponentesdaespiritualidade.

A espiritualidade foi entendida por esses autores como um poder/crençanumaforçasupremaouumacondiçãohumanafinalparaaquallutamos.Acreditamtambémqueaespiritualidadeéummeioparaalcan-çarmosagrandeharmoniaeosignificadodavida.

Mostramqueaáreadeestudosobrelazereespiritualidadenãoéumaáreanovadeinvestigação,jáquepesquisadoresdeváriasdisciplinasdasáreas humanas e ciências sociais têm tentado seguir esse caminho.Noentanto,amaioriadessespesquisadoresnãoenfocaoconceitode lazerrelacionadoàespiritualidade,queapareceligadoaotermo“atividadeen-volvente”.

A revisão de literatura desenvolvida porKarlis,Grafanaig eAbbas(2002)foidivididaemtrêsmomentos:olazercomoummeiodeconexãocomDeus;olazercomoummeiodecriar/descobrirumsignificadoparaavida,eolazercomoummeiodeconexãocomaprópriapessoaecomosoutros.

OlazercomoummeiodeconexãocomDeusfoientendidocomooeloentreaespiritualidadeeolazer.OsautoreselegeramLehman(1974)parafundamentaressaideia,nopontoemquemostraqueolazerécom-preendidopor sua função criativana vida, permitindoa construçãodeumanovaidentidade,propiciandonovasvisõessobreossentimentosea

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vida,oferecendoaoportunidadededesenvolvimentoderelaçõessociais,ensinando atitudes e habilidades variadas, restaurando a fé emDeus eajudandoadescobertadesi.

Emrelaçãoà ideologiado lazercomomeiodeconexãocomDeus,selecionaramPieper(1963),quandomostraqueolazernãoéumesporte,nemjogosouatividadesderecreação,éumestadoespiritualdemedita-çãoemquesedescobreDeuseosignificadoverdadeirodecriaçãoevida.Apesardessareflexão,paraPieper,oproblemadasociedadedo lazerévistomaisporumcaminhomaterialista,umaatividadeorientadaequepassaporaltopeladimensãoespiritual.

Karlis,GrafanaigeAbbas(2002)empesquisasrecentesafirmamqueexisteumaconexãoentrelazereespiritualidade,masessalinhaaindafor-maumpequenotraçadodemodeloteórico.Paraestabeleceressaconexão,acreditamqueocaminhoaserseguidoéodaspesquisasdesenvolvidasporHeintzman(1999)eHeintzmaneAndelDeVan(1995).

Emrelaçãoaolazercomoummeiodecriar/descobrirumsignificadoparaavida,osautoresapresentamaideiadequeaspesquisasemestudosdelazertendemasustentaraideiadequeanaturezaeoambienteaoarlivretêmqualidadesúnicasqueconduzemaoestadoespiritual,fornecemaoportunidadeparafazerumapausanodiaeencontrarumsignificadoespiritualparaavida.

Assim,percebemosqueanaturezapodeserconsideradaumelementofacilitadordobem-estarespiritual,comomostraCosta(2000),“Oespor-tistaadentraanaturezaereencontraasuanatureza,asuaunidade.Essabuscaéumanecessidadeexistencial.Ohomemnasceparaser livre, in-teiro,equandosepercebetolhidoemseupotencial,vaiaoencontrodaliberdadequesenteperdida”(p.199).

Noquetangeaolazercomoummeiodeconexãocomaprópriapes-soaecomosoutros,sustentamaideiadequepormeiodasexperiênciasdelazerépossívelalcançaraespiritualidade.Eacreditamqueasrelaçõescomoutras pessoas também são consideradasmeios excelentes para sealcançaraespiritualidade.

Omodeloteóricoqueosautoresconstruíramenfocaainterconexãoentreoscomponentesdelazer(tempo,atividadeeestadodamente)eoscomponentesdaespiritualidade(conexãocomDeus,criando/descobrin-doosentidodavidaeconectandoconsigomesmoecomosoutros).Cadaum dos componentes pode ser experimentado individualmente ou emconjunto,paraquesejaatingidoolazercomosentidoespiritual.

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Ocomponentedelazer“estadodamente”éentendidocomoomo-mentoemqueocaminhanteseafastadoseucotidianoepassaaapreciaranaturezaqueestáàsuavolta,acontemplá-la,entrandonumestadodeme-ditaçãoeoração.Osegundocomponentedelazer,o“tempo”,nosmostraaimportânciadeabrirmosessetempodelazeremnossavidaparasermosbeneficiadoscomobem-estarespiritual.Porfim,ocomponente“ativida-de”indicaquepormeiodediferentesatividadesdelazer,comocaminhar,nadar,ler,fazerumaoraçãoouescalarumamontanha,sepodealcançarumaconexãocomoDeus.

O componente da espiritualidade “descobrindo o sentido da vida”mostraqueanaturezaeoambienteaoarlivretêmqualidadesúnicasqueconduzemaoestadoespiritual.Essesambientesfornecemaoportunidadeparasefazerumapausanodiaadiaeencontrarumsignificadoespiritualparaavida.Ocomponente“conectandoconsigomesmoecomosoutros”expõequeasrelaçõescomoutraspessoastambémsãoconsideradasmeiosexcelentesparasealcançaraespiritualidade.Eocomponente“conexãocomDeus”apresentaoscomponentesdolazercomofacilitadoresdoen-controcomDeus.

Asconclusõesaquechegaramosautoresequeosconduziramaomo-deloteóricodelazereespiritualidadeindicamqueolazerpodefavorecerumaconexãocomDeus;quenãoépossívelexperimentaroscomponentesdelazersemaexistênciaespiritualequeaconexãoentrelazereespiritua-lidadecriaharmonianavidadaspessoas,significados,bem-estar.

Paraacompreensãodasconcepçõesdereligiãoeespiritualidade, fi-xamo-nos nas inserções dos processos histórico-culturais, que têm suasdiferentesnuançasregistradasaolongodahistóriadahumanidade,con-figurando-secomopeçasfundamentaisqueretratamasideiasdeencanta-mento,desencantamentoereencantamentodomundo.

Oencantamentodomundofoicaracterizadopelarelaçãodecumpli-cidade/intimidadequeohomemmantémcomanatureza,o sagradoeomágico,porondefluíaosignificadodavida.EssafasepredominounoOcidenteatéomomentoqueavalorizaçãodasespéciesracionaisecientí-ficaspromoveuumdistanciamentodessaformadeconceberomundo.Ohomemrelacionava-secomanaturezacontemplando-a,compreendendo-acomoalgomaravilhoso.Ocosmos–rios,mares,árvores,montanhas,céu,astros,nuvens,todososdemaiselementosdanatureza–eracontem-pladoepercebidopelohomemcomoportadordevida,deenergia,comopartedesimesmo.Ohomemeanaturezaexistiamcomoumamálgama,

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odestinohumanoestavaligadoànatureza,enessarelaçãofluíaosigni-ficadodesuavida.Existiareciprocidade,eissofaziaqueohomemnãofossemeroespectadordanatureza,masalguémqueviaesentiasuasmar-casnapróprianatureza.Haviaumsentidodepertencimento,envoltoporumasintonia,deslizandoespontaneamenteentreohomemeanatureza.

Berman(1995)nosdizque“Durantemaisdenoventaenoveporcentodopercursodahistóriahumana,omundoesteveencantadoeohomemvia-secomoparteintegrantedele”(p.23).4

O processo de desencantamento do homem começa quando ele seafastade todaamagiaqueencanta suavida.Sobrea relaçãoexistenteentreodesencantamentoeamagia,Martelli(1995)nosdizque:

Asorigensdo“desencantamentodomundo”(Entzauberung),istoé,daeli-minaçãodamagiacomotécnicadesalvação,sãoprocuradasporWebernoantigojudaísmo,oqual,emrelaçãoàsreligiõesnaturalistasdoOrienteMé-dio,apresentatrêscaracterísticaspeculiares:transcendentalização,historici-dade,eracionalizaçãoética.(p.77)

Afronteiraquedelimitaapassagemdoencantamentoparaodesen-cantamento,comseusvaloresracionais,temseumarconamodernidade,apartirdachegadadaRevoluçãoIndustrial.ApesardeessemarcoestarfixadonoséculoXVII,seusindíciosforamobservadoshámuitosséculos,quandoamagiacomeçaadesaparecerdocotidianodohomem.

Atualmente,identifica-seasociedadeimersaemvaloresobjetivos,ba-seadosnarazãoenalegitimidadedaciência.Entretanto,apresentam-secríticascomfrutosdereflexãodosefeitosdodesencantamento.Percebe-sesimultaneamentecoexistindoamentalidadedodesencantamentocomacríticadenominadade reencantamento.O reencantamento é visto comumavoltaàvalorizaçãodaconcepçãodomundo,queestabeleceumcon-trapontoàracionalidadeexacerbada.

Aideiadereencantamentocomportaassociaçõesànaturezaeàespi-ritualidade.Osentidodapalavraespiritualidadeérelativooupertencenteaoespíritoetrazaideiadoincorpóreoedascoisasimateriais.Essaideiaparecemuitoantiga,remetendo-nosàscivilizaçõespassadas,quedeixa-vamfluiremsuavidaosmistérios,asangústiaseosmedos,percebidospeloshomenscomofatosnaturaisdocotidiano.NoOriente,aformadeperceberaespiritualidadeéassociadaàespiritualidade-religião.Adistin-çãoentrereligiãoeespiritualidade,emalgunscasoscorrespondeaoponto

4.Traduçãodosautores.

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quedelimitaessafronteiradeexistirumaespiritualidadedesvinculadadareligiãoedosagrado(Vauchez,1995;Lacerda,2001,1995;Tillich,1969;Martelli,1995).

Poroutrolado,noOcidenteapalavraspiritualitasnãotemnecessa-riamenteumaconotaçãoreligiosa,conformemostramostextosfilosófi-cosdoséculoXVIIemdiante.Analisandoosentidoempíricodapalavra,Lacerda (2001) ressalta que estarmos vivendo uma época com o perfilmarcantedomaterialismoedoconsumismo,asformasdeespiritualidadeconfigurando-se com texturasmais sutis emetafóricas.Algumaspesso-asquenãopertencemaocamporeligiosoassociamespiritualidadecomequilíbrio.EssaassociaçãofoichamadaporLacerdadecorporificaçãodoespiritual,jáqueinúmeraspráticascorporaisinvocamenergiasmaissu-tisgeralmenteencontradasemsituaçõesditasmaisespiritualizadas.EssaformadeassociarocorpoaoespíritopodeserconsideradacomofazendopartedoqueVauchez(1995)assumecomoespiritualidademodernaenosentidodeBerman(1995),comoreencantamento.

AcorporificaçãodoespiritualdequefalaLacerda(2001)podeservis-tanodiscursodecaminhantes-peregrinosque,segundoCardozo(2005),encaminhaparaabuscadaharmoniaeestáeivadodesentidosespirituaiscomooautoconhecimento,asolidariedade,asuperaçãoeatranscendên-cia.Oautoconhecimentorefere-seànecessidadedeumapessoadirecio-nar-separaoconhecimentodesiprópria;asolidariedadeestárelacionadaa criar laços de reciprocidade, estando a pessoa aberta para contribuir,apoiandoaquelesqueacercam;asuperaçãoapresenta-secomoumritualdepassagem,poispoucoapoucooperegrinovaipercebendoqueexisteumaenergiainteriorqueoarrebataeoconduzaummundoprazerosoe,aomesmotempo,difícildeseratingido;eatranscendênciaremetendooperegrinoaoutrotempoeaoutroespaçoquetemporizamosujeitonointeriordacaminhada,preenchendo-odeconfiguraçõesimagéticas

Areligião,porsuavez,nocenárioatualécompreendidaporMartelli(1995)como“Umarelaçãointeriorcomarealidadetranscendente,istoé,apartirdaexperiênciadosagradovividainteriormente”(p.135).Tillich(1969)vaimaisalém:“areligiãoémaisdoquealigaçãodohomemcomDeus,elaseidentificaaoserdohomemportudoquequestionaosentidoda vida como sua própria existência” (p. 49).Ométodo da correlaçãodeTillichnosmostraarelaçãoentreteologiaecultura:aopassarmososolhospelacultura,aondeDeusvaiserevelandoalémdoespaçodaigreja.

Nessatrajetóriapercebemosossentidosdareligiãorelacionadoscom

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Deus,comatranscendênciaecomosagrado.Mascaberessaltarqueessaideiade religiãonãocirculadamesma formanosdiferentesmomentosdanossahistória.Elaflutua,ganhanovaroupagemeemalgumasépocaspareceterdesaparecido.

Oressurgimentodoreencantamentodomundoatualjápodeseracom-panhadopormeiodosestudossobreonuminoso(apresentadoporRudolf Otto,1992),osagrado(MirceaMircea,1999),aespiritualidademoderna(YaraLacerda,2001),a complexidadehumana (ManuelSérgio,1994e[s.d.])easrelaçõesentrelazereespiritualidade(PierreOullette,2003).

SegundoOtto (1992), o sagrado é uma categoria que existe exclu-sivamente na esfera do religioso. Em algumas situações, o termo podecompreenderumsentidoéticodeabsolutamoraledeperfeitamentebom.OsentidoempregadoporOttonesteestudodofenômenoreligiosoquersignificarespecificamenteaqueleelementovivoemtodasasreligiões,queconstituiapartemaisíntimadareligião,esemoqualareligiãoperderiasuas características.Ressaltaaindaqueavitalidadedessa categoria–osagrado–manifesta-sesemprecomvigornasreligiõessemíticasedentreelas,numgrausuperior,nasreligiõesbíblicas(p.12).

Masotermosagrado,porsisó,nãoécapazdetraduziromaispro-fundodessaexperiência.Porisso,Otto(1992)buscaumnomeparaesseelementoconstitutivoprimordialdasreligiõeseochamadenumem.Tra-ta-sedeumacategoriasuigeneris,quenãoéobjetodedefinição,masumobjetodeestudo.Mas,oqueéonuminoso?Elenãoéoracional,porissonãopodeserdefinidoemconceitos.“Eleédetalnaturezaquecativaeemudece a almahumana”, e “sóuma expressão apresenta-se capazdeexprimiracoisa:éosentimentodomysteriumtremendum,domistérioquefaztremer”(p.17).

ParaOtto(1992),aexperiêncianuminosapodesertraduzidaapartirdos sentimentosque elaprovoca.Elespodemser variados:um tremor,umcalafrio,umaondadequietude,umprofundorecolhimentoespiritual.Podeaindasurgirbruscamentenaalma,comochoqueseconvulsões.Podeconduziraestranhasexcitações,aalucinações,atransporteseaêxtases.

Àsombradomedo,dotremordiantedoTremendo,surgeosentimen-todedependência,dacriatura,reconheceseupróprionadanapresençadaquelequeestáalémeacimadetudo(Otto,1992).

Numterceiromomento,apóso tremor,asensaçãodedependência,agoraemgraussuperiores,surgeosentimentodeterror:

Numa forma infinitamentemais nobre da compreensão que torna a alma

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mudaeafaztremerjustamenteemseusúltimosgrausdeinterioridade.Nestacompreensão,ocultocristãoseexpressaporpalavrastaiscomo:Santo,Santo,Santo!(Idem,p.21)

ÉoqueoautorchamadeTremenda Magestas,sentimentonuminosoquequersignificarpoder,força,preponderânciaabsoluta.

Importanteressaltarqueosentimentodesercriatura,emboraconsistanoesfacelamento,diminuição,aniquilamentodoeu,nadatemavercomamoralidade,sentimentodeculpa.Elesurgeimediataeinvoluntariamentecomoummovimentoreflexodaalma.

AexperiênciadonuminosodequefalaOttoéencontradanoestudodeCosta(2000)quandopesquisaaescaladanamontanha.Aautoramos-traavivênciadonuminososeconcretizandonessaatividadedeaventura,etambémnosdizqueessaspráticaspassamaserumatendênciadomo-mento.Issonoslevaacrerqueessasatividadespodemserconsideradascomopartedabuscadoequilíbrioentreoimaterialeomaterial,reencan-tandoomundo.

MirceaEliade(1999)sepropõeaapresentarofenômenodosagradoemtodaasuacomplexidade,buscandodescreverasituaçãodohomemnummundocarregadodevaloresreligiosos.

OautoracreditaqueagranderevoluçãoocorridanoséculoXXfoiaredescobertadaimportânciaessencialdosagrado,oencontrodohomemcomsuareligiosidade,odiálogodesuaconsciênciacomadimensãosagra-da,queépercebidadevidoàsuamanifestação,absolutamentediferentedarealidadeprofana.Osagradoeoprofanorepresentamduasmodalidadesdesernomundo;sãoduassituaçõesexistenciaisassumidaspelohomem.

Eliade(1999)desenvolveaideiadaexperiênciareligiosaedasmani-festaçõesdosagradoemrelaçãoaoespaçoeaotempo.Comosetratadeconstruçõeshumanasqueorganizamsocialeimaginariamenteascultu-ras,apercepçãodoespaçoedotempoémodificadaquandoosagradoemerge,quandoeledespontanaexistênciadohomemreligioso.

AredescobertadosagradodequefalaEliadeestásendovivenciadaemdiferentes espaços neste início do séculoXXI.Entre esses espaços,podemoscitarodelazer,etambémodegruposreligiosos.5

5.ParaEliade(1999),aexperiênciadosagradoécaracterísticadohomemenquantotal,éumelementonaestruturadaconsciência,enãoumestágionahistóriadessaconsciência.ParaoHomoReligiosus,osagradoconstituiocentrodomundoe,contemporaneamente,afontedarealidadeabsoluta.Tempoeespaçosãosacralizados.

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Lacerda (2001) ao refletir sobre a espiritualidademoderna, nos dizqueareligiãoéumamanifestaçãoquecomportacaracterísticashumanasemostra-adebilitada,juntocomoutrossistemasdopensamento.Mesmoassim,indicaexistirummovimentoderenascimentoreligioso.Paraaau-tora,a secularização6 dassociedadesocidentais sofreuumprocessodeaceleração.Nadécadade1960,teveinícioopossívelresgatedointeressedaespiritualidade,comomarcasdaculturaoriental.Comoconsequência,houveaproliferaçãodaspublicaçõesesotéricas,adivulgaçãodasreligiõesorientais,oestímuloaodesenvolvimentopessoaleespiritual,adivulgaçãodecursosdeioga,taichichuan,meditação,astrologia,semináriosdetarô,cursossobreoBhagavadGitaeexperiênciasdevidaspassadas,divulgan-doassimoesoterismoeasreligiõesorientais.

NavisãodeLacerda(2001),todaessamodificaçãoapresentaumamu-dança de paradigma sob a influência da teodiceia oriental. Trata-se deumarecomposiçãodecódigosjáexistentes,fazendoqueoindivíduonãotenhanecessidadede sevincular somenteaumaescolha, coisaquenopassadonãoacontecia,poisafidelidadeeraexigida.Naatualidade,oquepassaaimportaréabuscadobem-estar,ondequerqueeleesteja:naesferaespiritual,napsicológicaenacorporal.7

Dando continuidade a reflexão sobreo reencantamentodomundo,ManuelSérgio([s.d.]e1994)afirmaqueohomemseinterrogasobreasuaprópriaessência,vaibuscaracompreensãodohomemnahistória,edessatrajetóriaemergeacomplexidadehumana:ocorpo,aalma,anaturezaeasociedade,pontoessencialparacompreendermosaexistênciadohomem.

Para alcançar essa totalidadedohomem,o autor apresenta setedi-mensõesdapessoahumana.Sãoelas:1)corporeidade–ohomemépre-sençaeespaço,comashistórias,comocorpoeatravésdocorpo;2)motri-cidade–éavirtualidadeparaomovimentointencional;3)comunicaçãoecooperação–osentidodooutronascedasuaindispensabilidadeaomeuestarnomundo;4)historicidade–ohomemnãopodeconhecer-se,com

6.SegundoMartelli(1995),ofuturodareligiãonaépocadasecularizaçãofoiocernedodebatequesedesenvolveuentreosanos1960e1970.Paraalguns,acrisedareligiãoerairreversível:asecularizaçãoeraumaconsequênciadaracionaliza-ção,quehaviatransformadooOcidente,assinalandootriunfodaracionalidadeinstrumental;porisso,eraumfenômenoquenãopodiaserdetido,quecompor-tavaaomesmotempoamarginalizaçãodareligiãoeadessacralização,istoé,oeclipse,ouatémesmoodesaparecimentodosagrado.7.Lacerda(2001)baseou-seemChampion(1995),queindicaessastrêsesferascomointerligaçãoparaabuscaespiritual.

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umaanáliseexclusivadopresente;elevemdeumpassadoderecordaçõesqueomotivaparaumfuturodeesperanças;5)liberdade–passadoreinodanecessidadeparaodaliberdadeéaexpressãoomnilateraldeumsujeitohistórico;6)noosfera–reinodoespíritoedacultura,ondeaespecializa-çãodosváriossaberesreadquireosentidodatotalidadehumana;7)trans-cendência–éagirparasermais,visaoabsoluto(ManuelSérgio,([s.d.]).

Contudo,percebe-sequenessacomplexidadedoserhumano,queMa-nuelSérgioapresenta,circulaaespiritualidade,mostradanoseusentidomaisamplo.Eéapartirdessatotalidadequeohomemécapazdepensarsua existência e encontrar as respostasparaas angústias edúvidasquesurgememsuaprópriavida.Daíanecessidadedeunire integrar,numtodo compreensível, osdomínios cadavezmais vastos e complexosdarealidade.

NoviésdePierreOullette(2003),oreencantamentodomundopodeservistonatrajetóriadolazerdepessoasidosas,queédirecionadoparaafelicidade.Paraalcançaressafelicidadeespiritual,oautorelaboraummo-delo teóricocontendoseiscomponentes:a felicidadeespiritual,auniãocomDeus,acontemplação,aspessoasidosas,olazereaespiritualidadebeneditina.

A felicidade espiritualérelacionadacomDeus,indicandoqueohomemparaalcançarafelicidadeprecisaestaremuniãocomEle,poisSeudesejoestáinscritonocoraçãodohomem,eocaminhoparachegaraunir-seaEleestánacontemplação.

AuniãocomDeusestáencaminhadaàpráticadaasceseedacontem-plação,poisnãotemoscomodelimitarseusalcances.

Acontemplação aparececomoumdospontosdaespiritualidade benedi-tina.8Oullette(2003)sugerequeacontemplaçãonãodependederelaxa-mento,dehipnoseoudeumfenômenomístico;nãosechegaàcontem-

8.SegundoPullette(2003),aespiritualidadebeneditinamostraoentendimentodafelicidadeespiritual.Paraoautor,existeapertinênciadeaplicaraespirituali-dadebeneditinaaolazerdepessoasidosas,favorecendoacontemplação,auniãocomDeuseafelicidadeespiritual.Todavia,umaatitudecontemplativadevenor-malmente impregnar os três componentes usuais do lazer, a saber: atividade/tempo/atitude.Noplanoconceitual,arelaçãolazer,contemplação,uniãocomDeusefelicidadetemfundamentossérios.Aseguir,oautorapresentaumades-criçãodosprincipaiscomponentesdessemodelo,mostrandoqueseaessênciadaespiritualidadebeneditinaimpregnaoconjuntodeatividadesdelazerdepessoasidosas, as probabilidades de atingir então uma autêntica felicidade aumentamsensivelmente.

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plaçãoatravésdeumcaminhointernoouexterno,masdepurafé:vocêcrêounãocrê.Seriaalgonosentidodepensarassim:seacreditoqueacontemplaçãovaimelevaràfelicidade,emeleva,deutudocerto.Mas,sepenseiquelevaria,enãolevou,nãoperconada,atéganho,poisnapiordashipótesesaocontemplaralgomedesligueidealgunsproblemas,estoumaistranquilo,eosaldoépositivo.

Noquedizrespeitoàspessoasidosas,Oullette(2003)mostraqueessegrupopassaporummomentodeencararasperdas,principalmenteemrelaçãoàscapacidadesfísicas,aosistemanervosoeàmemória.Mas,poroutrolado,possuicercadeoitohorasdetempolivrequepodeserutili-zadocomapráticadecertasatividades físicas recreativas, influindodeformapositivaemsuavida,suprindoouamenizandoessasperdas.

Aespiritualidade beneditina,segundooautor,éumapráticaespiritualcatólicamaisantiga,pois temsuaorigemhá1.500anos.SãoregrasdeSãoBentoquecomportamaescuta,aoração,aconversão,amoderação,osilêncio,ahumildade,aestabilidade,oequilíbrio,odesapego,ahospita-lidade,afraternidade,asacralização,avidacontemplativa,alectio,osantolazereapaz.

Todosesses componentes se relacionamentre si,diretaou indireta-mente,comaintençãodafelicidadeespiritual.

Encontramosnessecaminhomaisumaportaseabrindoemdireçãoaoreencantamento.AfelicidadeespiritualdequefalaOullette(2003)mostraomundosendodesveladonoséculoXXI,envolvidopelabuscadobem-estarespiritual.ParecequeoobjetodeconsumodoséculoXX,compraroúltimomodelodeumcarro,oconsumonoshopping,ofimdesemananacasadeférias,umcelulardeúltimageração,otãosonhadoequipamen-toeletrônico,oumesmofazerumaviagemexóticaduranteoperíododeférias,nãoocupamaisopontoaltodossonhos.Surgeumanovaestrada,compostapordiferentesatividadesdelazer,emespecialaquelaspráticascorporaisnanatureza,objetodesteestudo,queparecemconduzirosho-mensàfelicidadeespiritual.

Esse novomovimento favorece um repensar dos valores que foramacumuladosaolongodasúltimasdécadas.Asconsequênciasdasrelaçõesentre lazereespiritualidadelevamamudançasemdiferentessetoresdavidadohomem,poisaquelesvaloresdoséculopassadonãomaisatendemaosseusinteresses,aosseusdesejoseàssuasnecessidades,enovasformasdeorganizaçãovãosurgindo,novoslazeresemergem,entreelesapráticadeatividadefísicajuntoànatureza,queénossoobjetodeestudo.

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Apartir dessemergulho teórico, fomosa campoe as atividadesvi-venciadasforamdesenvolvidasnaFlorestadaTijucaenoComplexodeMontanhasdaUrca.

Nesseespaço,percorremosduastrilhas,oBicodoPapagaioeaTrilhadoAnhanguera,chegandopróximoaoMirantedoExcelsior.

OBicodoPapagaioficalocalizadonaparteoestedoParqueNacionaldaFlorestadaTijuca.Doaltodosseus890metros,pode-seobservarporcompletoagrandezadaFloresta,ecomoela interagecomacidadedoRiodeJaneiro.AvistadaBarradaTijucaeadabaixadadeJacarepaguátambém impressionam.A caminhada começa no BomRetiro, na sedeprincipaldoParquequeficanobairrodoAltodaBoaVista,aproximada-mente45minutosdazonasuldacidade.ÉomesmolugarondecomeçaatrilhaparaoPicodaTijuca.Atrilhaéacidentada,ficandomuitoíngremeeperigosanofinal.Deve-setomarmuitocuidado,especialmenteseopisoestivermolhado.

ATrilhadoAnhangueracomeçajuntoaoLargoMayrinkeessemorroédiferentedetodosdaFlorestadaTijuca,eleéincomum,temumardemistérioproporcionadopelosmuitoseucaliptosqueencontramosemseucume.Comoempraticamentetodoparqueessaáreatambémpassouporumprocessodereflorestamento,sóqueláresolveramfazeralgodiferentedasoutrasáreasdoparque,nessaáreanãoplantaramplantasnativasdaMataAtlânticaeplantaramsomenteeucaliptos.OAnhanguerarecente-mente está sofrendo com subsequentes incêndios e todos causados porbalão,masfelizmenteamaioriadasárvoresconseguiuresistirapesardeterseustroncoschamuscadospelofogo.Lá,atualmente,aadministraçãodoparqueestáfazendoumtrabalhodereflorestamento,masessetrabalhoestásendoameaçadopelofogorecorrenteeessarealidadefoiobservadadurantenossascaminhadas.

OMorrodoAnhangueratambéméchamadodeMorrodoExcelsior,poisseencontrabempertodaEstradadoExcelsioreestásituadonocon-trafortedaserraviradoparaazonanorte,maisprecisamenteparaoBairrodaTijuca.OAnhangueranãopossuiumcumeproeminenteenemmuitodefinidoesimumacristaquaseplanacomumaelevaçãomáximade693metrosde altitude.Do cumedoMorrodoAnhangueranão temosumbonitovisual,jáqueeleétodosalpicadodeeucaliptos,apenasempeque-nasbrechasnasárvoresépossívelveralgumacoisa,nadademuitointe-ressante.Masnãodesanime,atrilhadeacessoaoAnhanguerasegueporumalinhacumeadadeondeépossívelterbonitosvisuais,delápodemos

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apreciardepertinhoocumeredondodaPedradoConde,alémdeoutrospicosdoparquecomooPicodaTijucaeoBicodoPapagaio.Ultrapas-sandoessetrecho,chegamosaoMirantedaEstradadoExcelsior,queficaapoucosminutosdofinaldatrilhadoAnhanguera,edeláépossívelverbemdepertoobairrodaTijuca,doCentro,aBaiadaGuanabarariscadapelaPonteRio-Niterói,alémdaprópriaCidadedeNiterói.Essatrilhafoipercorridaemtornodeumahoraetrintaminutos.

NaUrca,percorremosapistaCláudioCoutinho,aTrilhadoMorrodaUrcaerealizamosumaescaladanoCampoEscola.

APistaClaudioCoutinho tem1.250metrosepossuiumasubidaoCaminhodoBem-Te-Vi,contornandoosopédoMorrodaUrca.Quemcaminhacedopodeobservarpássaroscomootiê-sangue,ogaviãocasacadecouroeobem-te-vi,alémdomicoestrelaousagui.

Todaessaáreainspiraospraticantesdeesportes,desdeoscorredorescomooscaminhanteseprincipalmenteosescaladores,quefazemdaáreaumverdadeiroplayground.

AtrilhaparaoMorrodaUrcacomeçaíngreme,masalterna-secomtrechosmaisplanos,levandoporvotade45minutosparaalcançarmosoplatôondeencontramosoCampoEscoladeEscalada,comumabelavistadaBaiadaGuanabaraedoCentrodoRio.

Apósvivenciaremessasatividades,osparticipantesdeixaramrelatosdasexperiênciaseforamanalisadosapartirdatécnicadaAnálisedoDis-curso(AD).OdiscursoéentendidoporOrlandi(2001),deformaetimo-lógica,comotendoemsi“aideiadecurso,depercurso,decorrerporedemovimento.Odiscurso é, assim,palavra emmovimento,práticadelinguagem:comoestudododiscursoescuta-seohomemfalando”(p.15).Portanto,osujeitoparadiscursarutiliza-sedeumsistemadesignosere-grasformais,organizandosuacomunicaçãoverbalatravésdalinguagem,fazendoamediaçãoentreelemesmoearealidadenaturalesocial.Porsuavez,aADvaicompreenderalinguagemcomoprodutorademúltiplossentidos,carregadadesignificado(suaparteinvisível,indizível),levandoemcontaohomemesuahistória.

AAD,nessaperspectiva,valorizaosujeitoafetadopelorealdalínguaepelorealdahistória.Nocasodospraticantesdeatividadesjuntoànatu-reza,osdiscursossãopermeadospelosistemadesignoseregrasformaisqueaprenderamaolongodesuavida,estandodiretamenterelacionadoscomsuashistóriasdevidaeasdeseusantepassados.

Paracompreendermoscomoosdiscursosproduzemsentidosépreciso

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conhecercomofuncionamosdispositivosteóricosdeinterpretação,comoorientaOrlandi (2001).Umaparte éde responsabilidadedoanalista: aformulaçãodaquestãoquedesencadeiaométodo.Nonossocaso,foramosdepoimentoscolhidosapósaspráticasdasatividades,eorigordomé-todoselecionado,procurandoseguirexatamenteessasduasetapasdaAD.

Odispositivoteóricoserásempreomesmo,nãosofrealteração,e,se-gundoOrlandi (2001), temcomoobjetivomediaromovimentoentreadescriçãoeainterpretação,estandorelacionadoaoconhecimentoquesetemligadoaosconceitoseaosmétodosdaanálise.Poroutrolado,odis-positivoanalíticovaivariardeacordocomaquestãopostapeloanalista,construídoacadaanálise,etambémdeacordocomanaturezadomate-rialqueseestáanalisando.

Aautoranosdizqueacondiçãodeproduçãocompreendeosujeito,asituaçãoeamemória,dentrodeumsentidoestritoedeumsentidoamplo.

Osentidoestritoéentendidocomoacircunstânciadaenunciação,ocontextoimediato,englobandoolocal,ossujeitos,osacontecimentoseoselementosquecompõemolocal.

O sentido amplo abrange o contexto sócio-histórico e ideológico,compondo-se dos elementos que derivamde nossa sociedade, como asinstituições,omodocomoelegemseusrepresentantesecomoseorgani-zaopodernessegrupo;abrangeahistória,quemostraaproduçãodosconhecimentoseabrangeamemória,queépensadaemrelaçãoaodis-cursoetratadacomointerdiscurso,identificadanodizer,confluênciadamemória(interdiscurso/jádito)edaatualidade(intradiscurso/oqueestásedizendo).

AADpropõe construir escutas quepermitam levar emconta essessentidoseesclarecerarelaçãocomessesaberquenãoseaprendeenãoseensina,masqueproduzefeitosdesentidos.Assim,essapráticadeleitura,queédiscursiva,consideraoqueéditoemumdiscurso,oqueéditoemoutrodiscurso,oqueéditodeummodo,oqueéditodeoutromodoeonãoditonaquiloqueédito.

Dentrodesse jogo,nãopodemosdeixardemencionarosdiferentestiposdeesquecimento,relacionados,deumlado,comointerdiscurso,queédaordemdosaberdiscursivo,memóriaafetadapeloesquecimentoaolongododizer;e,dooutrolado,comointertexto,arelaçãodeumtextocomoutros textos.Assim,os esquecimentos são identificados, segundoOrlandi(2001),comoesquecimentono1eesquecimentono2.

Oesquecimentonº1échamadodeesquecimentoideológico,encon-

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tra-senaordemdoinconscienteeresultadomodopeloqualsomosafe-tadospelaideologia.Nessesentido,temosailusãodeserafontedoqueestamosdizendonomomento,arealidadevivida,masnãoébemassim,poisretomamossentidospreexistentes.

Oesquecimentonº2édaordemdaenunciação.Éentendidocomoilusãoreferencial,fazendo-nosacreditarqueháumarelaçãodiretaentreopensamento,alinguagemeomundo,demodoquepensamosqueoqueestamosdizendosópodeserdessaforma.

ApartirdaperspectivadaAD,identificamosqueosdiscursosdospar-ticipantespodemserconsideradosdiscursoslúdicos,seguindocomumapolissemiaaberta,mostrandoqueapráticadeatividadefísicajuntoàna-turezaémaisqueummomentode“malhar”ouumaatividadedelazer,é trilhar o caminho do herói/aventureiro, do reencantamento e deixoupistasdequeareintegraçãocorpo/espíritopodeacontecer.

Aodemonstraremaposturadeheróis/aventureiros,pormeiodosofri-mentoquevivenciaram,docansaçofísico,dosmedos,davontadedede-sistiredoesforçoparaalcançaravitória,indicaramumintradiscursoemconfluênciacomointerdiscurso,amemória.Oqueestásendoditopelopraticantedeatividadefísicajáfoiditoporalguémemalgummomentodahistória.Ficaevidente,oesquecimentonº1,chamadodeesquecimentoideológico,queencontra-senaordemdoinconscienteeresultadomodopeloqualéafetadopelaideologia.Oinformantetemailusãodeserafon-tedoqueestádizendo,arealidadequeviveuduranteacaminhada/esca-lada.Masnãoébemassim,nestemomentoeleestáretornandoasentidospreexistentes.Oqueaconteceéqueosdiscursosjáestãoemprocesso,osinformanteséqueentramnesseprocesso.

Observandoascondiçõesdeproduçãodosdiscursosfoipossívelveri-ficarseufuncionamentoremetendoaodiscursodomundoencantado.Osinformantesrelataramque,quandoestavamjuntoànatureza,captaramumasensaçãomaravilhosa,foramenvolvidospormuitaenergia,vivencia-rammomentosdetransee,tudoisso,deixandoamentelimpa,gerandoprazer,renovaçãoefelicidade.

Esses praticantes se reencantaram, encontraram sentimentos que jáforamvividosporoutroshomens,noperíododomundoencantado.Mos-traram-seseduzidosearrebatadospelamagiadanatureza,vivenciandoobem-estarespiritual.Aocontemplaranaturezareencontraramaplenitu-de,pontoidentificadonodiscursodetodososparticipantes.Encontraramumabrechaqueosconduziuaumnovotempo/espaço,diferentedotem-

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po/espaçodocotidiano,entendidoporDuvignaud(1997)comolúdico,eporSantos(2000)eSérgio([1994]e[s.d.])comotranscendência.

Aopraticaremacaminhada/escaladaeseremseduzidosearrebatadospelamagiadanatureza,seefetivaoqueLacerda(2001)chamadecorpo-rificaçãodoespiritual,oqueVauchez(1995)assumecomoespiritualidademodernaeoqueBerman(1995)consideracomoreencantamento.Essesestudiososencontraramapresençadaespiritualidadeemseuscontextosdeestudoemostraramessedizersendoditoemalgummomentodahis-tória.

Apresentepesquisamostraossentidosdessaespiritualidadenoespaçodacaminhada/escalada,ondeosatoressereaproximaramdesuarazãoedesuasensibilidade,formandoumaunidade.Assim,corpoeespíritosereencontraram,resgataramaunidadeperdida,até,quemsabe,surgirumnovocicloderacionalidadeenvolvendoseuinterior.

Nessesentido,apráticadeatividadefísicajuntoànaturezapodeserconsideradabenéficaeatendeaosinteresses,aosdesejoseàsnecessidadesdosparticipantes.

Referências Bibliográficas

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MariaGenovevaArmelin1

Resumo: Oprojeto“PráticasMessiânicasnoEnfrentamentodePerdaseConflitosFamiliares”pretendealiarespiritualidade,saúdeequalidadedevida,diantedeperdas,conflitosedoençasdefamiliaresclassificadascomotranstornoscrônicosdeimpulsos,maspassíveisdeboaconvivênciapelavida,etentarcompreenderqualopapeldaspráticasmessiânicas(Jo-hrei,PráticadoSonen,Ensinamentos,apreciaçãodoBelo),emcasodemudanças.Palavras-chave: espiritualidade, Práticas Messiânicas, enfrentamento,perdaseconflitos.

Parâmetros do projeto:

Trata-sedeumprojetodepesquisapertencenteàLinhadeEspirituali-dadeeSaúde,doNúcleodeTeologiadaFaculdadeMessiânicaque,den-trodeumalinhadeespiritualidadeesaúde,física,mentaleespiritual,pre-tendeavaliardeformaqualitativa,utilizando-sedePráticasMessiânicas,indivíduosefamiliaresqueseapresentamfrequentementeemsituaçõesdeperdaseconflitosrelacionaisimportantes,paraverificaraspossíveismu-dançasocorridassistemicamenteentreessesindivíduos,familiareseseusdependentesquenãofrequentamogrupo.Écomumverificarmosquefa-miliares,inclusosnosprogramasde“enfrentamentodeperdaseconflitos”e recebendoassistênciaespiritual, sãomais resilientes e estendemesses

1.Terapeutadefamíliaecasal<[email protected]>.

Práticasmessiânicaseenfrentamentodeperdaseconflitosfamiliares

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recursosaoseugrupodepertencimento.Éimportantesalientarquetodoprocessosistêmicodevedeslocarofocodoindivíduoparaafamília,am-pliandoaáreadepossíveismudançasnoprocessoterapêutico,queocor-rerácomosparticipantes.

Navisãomessiânica,aessênciadaféestánoamoraltruísta,porissoogruposeautoapoiaequantomaisaconsciência,emformadepensa-mento,seexpandenocompartilhardador,maisestaficamenosdolorosa,criando-seumelogeradordefelicidade,queporsuavezchegaaosseuslares,visandocriaro“paraíso”nafamília.

Trabalhosacadêmicosligadosàespiritualidadeforamdemonstrandoqueoentendimentodadimensãoespiritual/existencial,devefazerpartedaqualidadedevidadoserhumano.Incluem-senessalinhadepensamen-to,váriosautores,filósofosepesquisadores,comoHaroldG.Koenig,umdosgrandespesquisadoresemreligiãoesaúde,naatualidade.

Inclue-se,também,GreggBraden,cientistaconhecidohojeporuniromundodaciênciacomomundodaespiritualidade.Eledizqueaciênciajáprovou,pormeiodafísicaquânticaquesomosenergiaequeestamostodosconectadospornossavibração.Assim,vivemosnumuniversodevibraçãoenossoscorpos são feitosapartirdavibraçãodaenergiaqueemanaconstantemente.Deusépuroamor, é energia epor ser energia,nãomorre,nãodesaparece,éimortalecomosomoscriadosà“imagemesemelhançadeDeus”,sabemosquesomosenergia.Aprópriafísicaquân-ticajáfoiapelidadade“físicadaspossibilidades”,pordizerquetudooqueimaginamosencontra-sedisponívelcomoumadaspossibilidadesquevamosassimilaremnossavida,portantosódevemosatrairoquedeseja-mos,pormeiodopensamento,segundoBraden(2010).EssateoriavemdeencontroaoqueasPráticasMessiânicasnomeiamcomo“Sonen”.2

Mokiti Okada, mestre e filósofo religioso, afirma nos seus ensina-mentosmessiânicosqueaverdadeirasaúdeestánaobediênciaàsleisdaNaturezaequeDeusconcedeuaohomem,atravésdelas,conhecimentoparaser felizecumprir suamissãona terra.SegundoEle,averdadeirasaúdeconsisteemeliminartrêsmales:“oconflito,adoençaeamiséria”.(Meishu-Sama,1949,p.16)

Asconceituaçõesapresentadasnestetrabalhogiramemtornodoqueexponhoaseguir:

2. É preciso, no entanto, explicar que, para os orientais, há uma diferenciação no ter-mo “pensamento”. Assim, “Sonen” engloba a trilogia: razão, sentimento e vontade.

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•Saúde,umestadodinâmicodecompletobem-estar, físico,mental,socialeespiritual(OMS).Espiritualidade,todoquestionamentopro-fundonointeriordohomem,queolevaasentirqueexisteneleumaessênciadivinaqueofazportadordeseulivre-arbítrio.

SegundoRoss (1995), a espiritualidade depende de três componen-tes:necessidadedeencontrarsignificado,razãoepreenchimentonavida,aliadosaoutrasnecessidades,como:adeteresperança/vontadeparavi-ver;adeterféemsimesmo,nosoutrosouemDeus.Anecessidadedesignificadoé consideradaumacondiçãoessencialàvidae,quandoumindivíduosesenteincapazdeencontrarumsignificado,sofreemfunçãodesentimentosdevazioedesespero.Assim,oconstrutoespiritualidadeteriaumvalorintrínsecoparaavaliaçãoemsaúde,aooferecerumreferen-cialdesignificadosparaoenfrentamentodacondiçãodedoença,perdaseconflitos.

•Johrei,“ummétododecriarfelicidade”.“OJohreinãovisacurardoenças.Elenãopodeteresteprincípio,comoobjetivo,porqueasdo-ençassãoformasdepurificação;suafinalidadeéeliminarasmáculasdoespírito.Oresultadodaerradicaçãodessasmáculaséaextinçãodosofrimentohumano”(Meishu-Sama,2010,p.94).Aorientação deMeishu-Sama é que o Johrei “desperta a naturezadivinadohomem,asua‘PartículaDivina’,preparaohomemparaul-trapassaroJuízoFinaleeliminasuasmáculasespirituais,libertando-odosseustrêsgrandesmalesjácitadosacima:adoença,oconflitoeapobreza”(PlanodeFormaçãodeNovosMembros–MaterialdeEstu-doparaMinistroseMissionários,2010,p.34).

•Enfrentamento:sãoashabilidadesquenosfazemacionarconteúdosinternoseexternos,trazendorecursosquecapacitamnossascompe-tências,paralidarmoscomcriseseadversidades.

SegundoFolkman,Lazarus,GrueneDeLongis,enfrentamentoéde-finidocomo“esforçoscognitivosecomportamentaisvoltadosparaoma-nejodeexigênciasoudemandasinternasouexternas,quesãoavaliadascomosobrecargaaosrecursospessoais”(1986,p.572).

Observa-seque,nosprocessosdedoença,perdaseconflitos,muitaspessoasatribuemaDeusoaparecimentoouaresoluçãodosproblemas

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queascometemerecorremfrequentementeaElecomorecursoscogni-tivo, emocional ou comportamental para enfrentá-los. Essas estratégiascognitivasoucomportamentaisparalidarcomelementosestressores,ad-vindasdareligiãooudaespiritualidadedaspessoasforamdefinidasporTixeFrazier(1998)comoenfrentamentoreligioso,“ER”.

Porquenosdeparamoscomanecessidadedeestudaro“Enfrentamen-toReligioso”?ParaHarrisonecols.(2001),épelosimplesfatodequepes-soastambémsedeparamcomsofrimentos,desafiosetransiçõesaolongodavida,oqueasimpulsionaalémdesuasprópriascapacidades,levando-asaumprocessodinâmicodeenfrentamento,noqualcrençasepráticasreligiosaspodemestarinseridas.Nesseprocessodeenfrentamento,oin-divíduoévistocomoumagenteproativoquelançamãodepossibilidadesdeescolhas,norteando-se,noentanto,porumsistemadevaloresecrençaspreestabelecido.Dessaforma,aorevisaraliteraturasobreprevalênciadeER,Pargament(1997)concluiquenemtodasaspessoasusamestratégiasrelativasà religiosidadeemseuprocessodeenfrentamento, sendomaispropensasautilizá-lasaquelascujascrençasepráticasreligiosassãoparterelevantedesuaorientaçãogeralnomundo.

Avaliandoaliteraturasobresignificadoseobjetivosdareligiosidade,PargamentePark(1995),deformainovadoraemrelaçãoaposiçõesdegrandesteóricoscomoFreudeMarx,opõem-seàpressuposiçãodequeareligiãoteriaafunçãodeapenasprotegeroindivíduodaconfrontaçãocomarealidade(poresquivaoudistorçãodefatosreais),comoum“ERnegativo”.Deacordo comos autores, no entanto,há suporte empíricoparafunçõesdiversasdareligião,“ERpositivo”,taiscomoalívio,confor-to,consolo,buscadesignificadoparaproblemasrelevantesdaexistência(porexemplo,injustiça,buscadeintimidade,participaçãoderituais)quefavorecemainteraçãoentrepessoas,buscadacompreensãodesimesmoebuscapelosagrado.Areligiãopodeserviradiferentespropósitosdemodoconcomitante,poisasfunçõescitadasanteriormentenãosãoexcludentes.Nessaperspectiva,a religiosidadepassaa ser concebidacomopartedoprocessodesoluçõesdeproblemasenãocomoestratégiadefensivaoudeesquiva.

Areligiãopodeassumirfunçõesdiferentesnosdiversosestilosdeso-luçãodeproblemasquevariamconformeatribuiçãodoníveldeparticipa-çãodapessoanaresoluçãodoproblema.Oprimeiroestiloédenominadoautodirigido,emquepessoascominiciativasassumemaresponsabilidadepelaresoluçãodosproblemaseDeuséconcebidocomodandoliberdade

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àpessoaparaconduziraprópriavida.Osegundoéodelegante,quandooindivíduosesentemenoscompetenteetransferetalpossibilidadeaDeusesperandoquesoluçõesvenhampormeiodosesforçosDele.Oterceiroéochamadoestiloautodirigidocolaborativo,noqualaresponsabilidadeéatribuídatantoaoindivíduocomoaDeus,sendoambosparticipantesativosnasoluçãodeproblemas;esseenfrentamentoreligiosodemonstraumpadrãopositivo,comobuscadoapoioespiritualeredefiniçãodofatorestressor(Pargamentecols.,1998).

O objetivo principal é investigarcomoasOrientaçõeseasPráticasMessiânicas influenciamnoEnfrentamentoeReduçãoda“DordaPer-da”edo“ConflitoFamiliar”;e,especificamente, trabalhar,numavisãotransgeracional,ampliadapeloolhardaespiritualidademessiânica,oen-frentamentodeconflitosfamiliares,ligadosao:alcoolismo,dependênciasquímicas,dependênciadeinternet,compulsõesajogosecompras,amorpatológico(relacionamentosconflituosos)eluto.

Trabalharoenfrentamentodadordiantedaperda:“Adiferençaentresentir-seenlutadoecompartilharoluto”.

O plano de trabalhoapresentadosugere:1.Acolhimento do grupo participante da pesquisa, numa reunião

semanaldeduashorasetrintaminutos.Enquantoescutamosetentamosresponderàshistóriasqueosindiví-

duosdogrupocompartilhamconosco,podemosveressashistóriascomorepresentando não somente experiências individuais,mas os efeitos dequestõessociaismaisamplas,querepercutemnoselementosfamiliares.

Emvezdetrazermosunicamentenossashabilidadeseiniciativasparatrabalharcomogrupo,nossopapelpodesertambémodecriarcontextosnosquaisasiniciativasdaspessoaseseusconhecimentosdecurasejamreconhecidos. Isso inclui descobrir habilidades, valores, espiritualidade,esperanças e sonhos que estão implícitos nos seus falares, possibilitan-doqueosqueestãosofrendocomosefeitosdaproblemáticafaçamumacontribuiçãosignificativaparaavidadeoutrosquetambémestejamemsofrimento,dandosentidoasipróprioscomoagentespessoaisecoletivos.Particularmente, podem ser significantes as oportunidades criadas paracontribuiçõesintergeracionais,entendendo-sequeashabilidadeseosva-loresqueasgeraçõesmaisnovastrazem,sãolegadosdasgeraçõespassa-das,acrescidasdesuasprópriasexperiências.Essetrabalhocoletivopodefornecerumantídotoparaadesarticulaçãointergeracionaldetraumasco-

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letivos,frequentementepresentesnasfamílias.2. Exposição acadêmicadetemasligadosaosassuntoseensinamen-

tosmessiânicoscorrelacionados:

•Noluto,adiferençaentresentir-seenlutadoecompartilharoluto.•Terumtempoparachorar:amorteeociclodevidafamiliar.•Omomentodaperdadotrabalhonociclodevida.•Umaapreciaçãodascomplexidadesvariáveisdasperdas:perdasdeentesqueridos,perdassimbólicasdofilhoidealizado,nocasodeusodedrogas,dossonhos,perdasfinanceiraseperdasamorosas.•Compulsão/impulsividade, também conhecida por transtorno dosimpulsos,éumfenômenomultidimensionalqueagregadiagnósticosdediferentespatologias,masligadosàquestãodaimpulsividade.

DiversosensinamentosdeMokitiOkadanospõememcontatocomasdiferentesperdaseconflitosenosapoiarãonesseprojeto,noqualvamosrelacionando religiosidade e ciência. Entre ele, gostaria se citar: “VidaeMorte”, “A existência doMundoEspiritual”, “Mundo eEspiritual eMundoMaterial (Meishu-Sama, 1947,p. 249/2; 1949, p. 258/259 ep.260/263);“Nãoseirrite”,“TreinodeHumildade”.“HomemdependedeseuPensamento”(1949,p.72);“SatisfaçãoeInsatisfação”(1953,p.76);“AmorcorretoeAmorIncorreto(Meishu-Sama,1950,p.629/631);“OParaísoéoMundodoBelo”,(Meishu-Sama,1951,p.505/507)eoutrosqueserãooportunamenteusados.

Nostranstornosdosimpulsos,porsetratardeumfenômenomultifa-cetadoecontínuo,lidaremoscomadependênciaquímica,comcompra-dorescompulsivos,jogoseabusodainternet,amorpatológico,(conflitosamorosos), compulsão alimentar e transtornos do humor, que causamenormesconflitosfamiliares.

3.Dinâmicas quepropõemaosparticipantes,vivenciarsuasquestões.

4. Cronograma:OProjetoteráduraçãodeumano.

5. Quanto àAvaliação, será utilizado, o questionárioWHOQOL-100(OMS)comopréviaavaliaçãodequalidadedevida.

Essequestionáriotemcomoobjetivodescreveroprocessodedesenvol-vimentodomóduloespiritualidade, religiosidadeecrençaspessoais,no

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momentoemqueoindivíduochegaaogrupo.Incluímosumquestionáriooraleindividualsobreoqueotrouxeao

grupo(vernofinaldoartigo).Na avaliação final, novamente aplicaremos o questionário WHO-

QOL-100,parareveroqueoprocessovivido,naespiritualidadeepráticasmessiânicas,trouxedediferenteparaseunovoestilodevida.

6.Resultados parciais:ApresentaçãodedoiscasosdeparticipantesdoGrupodePesquisa:

“PráticasMessiânicaseEnfrentamentodePerdaseConflitos”.• 1o caso: trata-se de um casal, S. (messiânica) e L. (frequentador).

Elesseintegraramaogrupodapesquisa,mencionadaanteriormente,emmaiode2011.Apresentaram-secomaqueixasobreseufilhoJ.J.S.,30anos,diabéticodesdeos4anosepaideduasfilhasderelacionamentosdiferentes.Nãomoravamaisnacasadospaiseseenvolveucomdrogas,chegandoaocrack.Comopassardotempo,nosapertos,voltavaeeraaco-lhidopelamãe,que,porsepenalizarpeloestadodesaúdedele,semprefoiumafacilitadora,acolhendo-oemsuacasaondeele,semrespeitoalgum,acabavaporfurtarobjetosdevaloredinheiroesumianovamente.Amãequeixava-sedopaiserausenteeausterocomofilho,oquecausavaconfli-tosentreocasal.Quandopedimosqueopaiviessecomamãe,elepronta-menteatendeunossasolicitação,oquecausouespantonela.Verificamosqueoqueestavaacontecendoeraoexcessodeapegodamãe,nãopermi-tindoaopaiexercersuafunçãodepôrlimiteseregras.Foramtrabalha-das,nogrupo,asquestõesligadasao“Limite”e“Desapego”.Certodia,relataramqueocasohaviaseagravado;entãoaorientaçãodadafoiqueentregassemaDeus,observandoqueoespíritoprecedeamatéria,portan-toqueeleantesdetudoerafilhodeDeuseque,talvezEsteapresentasseumcaminhoquenãoeraoesperadoporeles,porémquecontinuassemfazendosuaparte,procurandoumaclínicaadequadaaoseupodereco-nômicoeaguardassemotempocerto.Fizeramessapráticae,apenasunsdiasdepoisligaramdizendoqueelehaviaseenvolvidocomotráficoequeestavajuradodemorte.Oquefazer?Foipropostoqueochamassememsuacasae,quandoeleláchegasse,colocassemcomdeterminaçãoqueeleteriaolivre-arbítriodedecidirpelasuavidaesaúde;assim,ospaisiriamajudá-lo,ouelepartiriaparamorrer.Diantedessaproposta inesperada,eledecidiupelainternação.Jáestánaclínicahádoismeses,sente-sebemearelaçãoentreoscasalmodificou-se,amãededica-se,semansiedade,

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comgratidãoetotalentregaaDeuseaMeishuSama,permitindoaopai,apropriar-sedesuafunçãopaternaefazerprojetosdevidaparacomparti-lharcomofilho,quandoestetiveraltanotratamento.

2ocaso: a participante,M.O,messiânica, integrou-se ao grupo emmaiode2011.Traziaaqueixadeterumacompulsãoalimentar,háanos,de origem hereditária, que se agravou com o retorno do filho, usuárioocasionaldecannabis,àcasa.Sentiatremoresfortesquandoacompulsãoaparecia.Pediquedeslocasseoproblemadofilhoeolhasseparaoseupro-blema,queestavaprejudicandosuasaúde.Então,dentrodoprincípiodaspráticasmessiânicaseenfrentamentodessacompulsão,foiorientadaque,acadavezquetalcomportamentosemanifestasse,elaoobservassecomoalgonegativoexternalizado,fizesseapráticadoSonendeencaminhamen-todeantepassadoeexpressasseagratidão,materializando-a.Apósummêsdestaprática,passouanão termais tremoresnemcompulsão.Elafezquestãodesalientarque,tendooaltarnolar,acadaoraçãodegrati-dãofaziaumdonativoeque,nofimdomês,pelaquantiajuntada,podeconstatarqueencaminhou57antepassados.Namesmasequência,teveaoportunidadedeirdedicarnoSoloSagradoe,qualnãofoisuasurpresa,quandolhedisseramqueeraparadedicarnorefeitório,oqueofez,semnenhumamanifestaçãodoproblemaanterior.

Considerações finais

O trabalhoainda estánosprimórdios; procuramos construir pontesqueligamseuspassadosconflituososàrealidadepresente,comasquaisaprenderãoa lidar;pontesentreaciênciaeaespiritualidade.Nota-seocomprometimentodosparticipantesnorelacionamentounscomosou-tros,desenvolvendooaltruísmoe,mais especialmente,nodesempenhodasPráticasMessiânicas.

QueroencerrarestetrabalhocomafrasedeMeishuSama(1949):“En-sinamentosqueproporcionamaohomemumavidasadiarepresentamoCaminhodaSalvação,traçadopelaVontadedeDeus”.

Questionário individual para os participantes da Pesquisa sobre “Como se dá o Enfrentamento diante de perdas e conflitos”1.Oqueotrouxeaumgrupodeenfrentamentodeperdaseconflitos?2.Comovocêocupaseutempo?Dedica-semaisavocêouaosoutros?

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3.Comoéorelacionamentofamiliaremsuacasa?4.Quemmaissepreocupacomaasdificuldadesqueestãoenfrentando?5.Nahoradoenfrentamentodosconflitos,quemfazamediação?6.Comovocêenfrentaseusmedosesuasangústiasdiantedeperdas?7.Comoédescobrirelidarcomaespiritualidade?Istooajuda?8.Comovocêviveaespiritualidadejuntoaogrupo?9.Apóscomeçaraaprendercomoconduziroproblema,quaissãoseusplanosdesuperaçãodemomentosdifíceis?10.Descrevaquantoaespiritualidadepodetrazerbenefíciosecontribuiçãosigni-ficativaparasuavidaedeoutrosquetambémestãosofrendo.

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MarcelodeSousaCorrêa1

AndréFariadePereiraNeto2

CarmemLuizaCabralMarinho3

Resumo: OpresenteestudosepropôsainvestigaratrajetóriahistóricaeasexperiênciasadquiridaspelaAssociaçãoparaoDesenvolvimentodaAgri-culturaNaturaleCulturaAfricana(Africarte),comapráticadométododeagriculturanaturalemAngolanoperíodode2000a2010.Oscritériosutilizadosparaaescolhadainstituiçãoedosentrevistadosforamprinci-palmenteapossibilidadedeseinvestigarpossíveisinteressescomunsentreaAfricarteeaIgrejaMessiânicaMundial,queémantenedoradosproje-tosdaAfricarte.ApesquisatevecomohipóteseaexistênciadevínculosentreaTeologiadaIgrejaMessiânicaMundialeafundamentaçãotécnicadaagriculturanatural.Comisso,visandoatenderaosobjetivostraçadospelapesquisa,foiescolhidoométododehistóriaoralcomoinstrumentode investigação.Para isso foramescolhidosapenasosquatroprincipaisgestoresdaAfricarte,devidoaoseuvínculotambémcomaIgrejaMes-siânicaMundial.Aescolhasesustentaapartirdomomentoemquesediscuteautilizaçãodaagriculturanatural comoestratégiadeexpansãodasatividadesdaIgrejaMessiânicaMundialemAngola.Comisso,otra-balhonãotevecomoobjetivotrazerrespostas,masiniciareenriquecero

1.MestreemSaúdePúblicapelaEscolaNacionaldeSaúdePública/FundaçãoOswaldoCruz,Brasil<[email protected]>.2.Pós-doutorado emCiências daSaúdepelaUniversidadedaCalifórnia, SãoFrancisco,EstadosUnidos.DoutoradoemSaúdeColetivapelaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro,UERJ,Brasil<[email protected]>.3. Doutorado em Saúde Pública pela ENSP – Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz/RJ, Brasil <[email protected]>

AgriculturanaturalemAngola:avozdosgestores

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debatesobreaagriculturanatural,assimcomoestimularnovosestudossobreotema.Palavras-chave: agricultura,cultivosagrícolas,desenvolvimentosustentá-vel,religião,Angola.

Introdução

Angolaéumpaíscomumagrandediversidadeclimática,demográfi-ca,biológica,social,culturaleétnica.

DeacordocomorelatóriodoMinua(2006),4opaíspossuiumagran-de extensão geográfica, cobrindo uma superfície de 1.246.700milhõeskm²ecomumapopulaçãoestimadaatualmenteemcercade15milhõesdehabitantes.

Angolatemduasestaçõesclimáticas:umaestaçãoseca,menosquen-te,chamadaCacimbo,menosquentequesedesenvolvenoperíododemaioasetembro;eoutramaisquente,caracterizadapelaschuvas,equecom-preendeosmesesdesetembroaabril.5Opaíspossuiumagrandebaciahidrográficaetrêsáreasagrícolasprincipais,norte,suleplanaltocentral,quecorrespondemàsáreascomasprincipaiscaracterísticasclimáticasegeográficas.Alémdisso,possuirecursosnaturaissubstanciais,vastosre-cursosmarinhosefluviais,extensasáreasdefloresta,assimcomogran-desreservasdepetróleoegásnatural,mineraisvaliososeparticularmentediamantes.Opaístemaindaumimportantepotencialhidroelétrico,comchuvasanuaisqueexcedem1.000mm(Pain,2007).

Observa-seque,apesardavastabiodiversidade,oespaçogeográficocomtodooseupotencialnaturalfoipoucoutilizado,osportuguesesnãotinhaminteressenodesenvolvimentoagráriodaregiãoatéoiníciodosé-culoXX.Apresençaportuguesasefaziapresenteapenasnolitoral,seufocoestavadirecionadoparaalgomaisrentávelcomoadisputaporterrasférteiseacapturadeescravosnointeriordopaís.

Todoesseprocessodecolonização,aescravizaçãodopovoeaexplo-raçãodeterrasférteislevaramamudançasimportantesnomodeloagríco-laangolanoquefoipassadoporTradiçãoOralaolongodosséculos.Além

4.RelatóriodoEstadoGeraldoAmbienteemAngola–MinistériodeUrbanis-moeAmbientedeAngola(Minua)de2006.5.Oregimedaschuvaseavariaçãoanualdastemperaturassãoduascaracterís-ticasclimáticascomunsatodasasregiõesgeográficasdopaís(Minua,2006).

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domais,aadoçãodomodeloagrícolaeuropeu,adifíciladaptaçãodosimigrantesportuguesesea insatisfaçãodopovoangolanocontribuíramparaoacontecimentodeumasériedeconflitosaolongodosanos.EssesconflitostinhamcomoobjetivoaindependênciadeAngola.

Comisso,Angolatorna-seindependenteem11denovembrode1975,masosconflitoscontinuaramdevidoàinstabilidadepolíticaentreosmo-vimentosdelibertaçãoepartidospolíticos.

Nesseperíodopós-guerra,segundoPinto(2008),aspolíticaspúblicasdo governo deAngola estavam voltadas para a adoção demedidas decombateàfomeeàpobrezadopovo.Contudo,apesardoesforçodogo-vernonaadoçãodessasmedidas,existirammuitosentravesnaimplanta-çãodaspolíticaspúblicasvoltadasparaasáreasruraisdopaís.Asmedi-daspropostaspelogovernoangolanoestavambaseadasemCampanhasAgrícolasqueerambaseadasemaçõespontuaiseassistencialistas.Essascampanhascolocavamopovoemumasituaçãodedependência,vistoquenãoexistiainvestimentoemeducação,saúdeeinfraestruturarural.Comisso,oscamponesesabandonaramsuasterrasemigraramparaascidades.

EssecenárioficaevidentecomadivulgaçãodoresultadodorelatóriodaFAO(2004)queidentificoudadosimportantescomo:apenas57%dasaldeiasecidadesruraistêmumsistemadelatrinasfuncionando,oreduzi-donúmerodeclínicasedeprofissionaisdesaúde;80%dapopulaçãonãopossuiacessoamedicamentosessenciaisdevidoaseualtocusto;cercade10%dapopulaçãotêmacessoafontesprotegidasdeáguaeosistemadetransportedascidadesparaasaldeiaséprecário.Comoconsequênciades-sascondiçõesprecárias,doençascomoamalária,sarampo,tuberculoseeoutrastornaram-seresponsáveispelamaiorpartedamortalidadeinfantileadultadopaís.EssemesmorelatórioafirmaquenesseperíodoaconteceuumapandemiadaSíndromedeImunodeficiênciaAdquirida(Sida/Aids)naspopulaçõesmaisdesinformadas.

Segundoo relatóriodaOrganizaçãodasNaçõesUnidas (ONU)de2005,ascriançasforamosalvosmaisafetadospelascondiçõesdemisé-ria e insegurança alimentar em Angola. O documento registrou umataxade260mortes/anodecriançasatéos5anos(ONU,2005).Deacor-docomoMinistériodaSaúdedeAngola,noanode2000,17,3%dascriançasnascidasvivastinhambaixopesoaonascer.Em2002,essevaloraumentoupara24,3%.OsdadosdoInquérito sobre IndicadoresMúlti-plos(MICS)daONUde2001demonstraramqueadesnutriçãomaternarefletiunapossibilidadedeasmulheresamamentaremseusfilhos.Como

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consequência, os indicadores registraram que 86% das crianças abaixodos6mesesdevidaquenãoreceberamleitematernotinhamodobrodechancedemorrerpordiarreiaouporpneumoniaqueaquelasqueforamamamentadas.6

DeacordocomorelatóriodoProgramaAlimentarMundialdasNa-çõesUnidasde2005,noPlanaltoCentraldeAngola,52%dascriançascommenosde5anos sofremdenanismo7 epodem ficarpermanente-menteincapazesdelevarumavidainteiramenteprodutiva.Emsíntese,orelatórioconcluiuqueAngolaéosegundopiorpaísdomundoparaumacriançanascer,perdendoapenasparaSerraLeoa(Pain,2007).

Esse fato foi realçadonorelatóriodoProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimentodeAngola (Pnud/Angola,2005),8oqual con-cluique68%dapopulaçãoemAngolaviveabaixodalinhadapobrezae

6.Astaxasdeamamentaçãoexclusivasãopioresnasregiõesnorteeleste(2%e3%,respectivamente)emelhoresnaregiãosulenacapital(32%e21%).Aintro-duçãoemtempooportunodaalimentaçãocomplementartambémémuitopobre,com23%dascriançasnãorecebendoalimentoscomplementaresparaacompa-nharaamamentaçãonoperíodode6a9meses.Essasituaçãoépiornaregiãodacapital(37%),emelhornasregiõesoesteesul(18%e17%).Aadequaçãodaspráticasalimentaresduranteadoençaétambémmuitopobre,comapenas7%dascriançascomdiarreiarecebendomaislíquidosecontinuandoaseralimentadas(CPN-ONU,2005,p.16-17).7. Uma condição de tamanho do indivíduo quando sua altura é muito menor que a média de todos os sujeitos que pertencem à mesma população (ONU, 2005).8.OProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD)éaredeglo-baldedesenvolvimentodaOrganizaçãodasNaçõesUnidas,presenteem166pa-íses.Seumandatocentraléocombateàpobreza.Trabalhandoaoladodegover-nos,iniciativaprivadaesociedadecivil,oPnudconectapaísesaconhecimentos,experiênciaserecursos,ajudandopessoasaconstruirumavidadignaetrabalhan-do conjuntamente nas soluções traçadas pelos países-membros para fortalecercapacidades locais e proporcionar acesso a seus recursos humanos, técnicos efinanceiros,àcooperaçãoexternaeàsuaamplarededeparceiros.(Pnud,2005).

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que26%daspessoasvivemapobrezaextremaouindigência.9OPnud/Angolade2005verificouquenaszonasrurais94%dapopulaçãovivemnapobrezaextrema,enquantonasáreasurbanasessasituaçãoreduzpara57%dasfamílias.Odocumentouregistrouaindaque51%daspessoasquemoramnacapitalestãoabaixoda linhadepobreza,equeapopulaçãodeLuanda,emsuamaioria,estáconcentradaemáreasdefavela.Comoconsequênciadessesíndices,AngolaapresentouumdospioresIDH10domundo,queocolocounaposição162dorankingmundialdoIDHnumtotalde177.

CaberessaltarquefoiesteocenárioencontradopelaIgrejaMessiânicaMundialnodia11denovembrode1991,quandoFranciscoJésusFernan-deschegaaAngola.Asituaçãodopaísmotivouoiníciodeumprogramadehortascaseirasqueutilizavaométododaagriculturanatural.

Opresenteestudosepropôsainvestigaratrajetóriahistóricaeasex-

9.Oexercícioquefaremosnosparágrafosseguintesbaseia-senosdadosdispo-nibilizados no Relatório de Desenvolvimento Humano (UNDP, 2007/2008),noRelatóriodoDesenvolvimentoHumanodeAngola (Pnud/Angola,2005)enoRelatóriodeProgresso sobreosObjetivosdeDesenvolvimentodoMilênio(Pnud/Angola,2005).Noscasoscitados,amaiorpartedosdadosapresentadosbaseia-seno InquéritodeMúltiplos Indicadores eno InquéritoaosAgregadosFamiliaressobreasdespesasereceitasrealizadaspeloInstitutoNacionaldeEsta-tísticaem2001.EssassãofontespredominantementeutilizadasnosdiagnósticosprecedentesdamaiorpartedosprogramasemcursoemAngola.AprecariedadedosdadosaosquaisnosreferimosnoiníciodaseçãoésublinhadapeloRelatóriodeProgressodosODMde2005quejustificacomissoaimpossibilidadedemoni-torardeformaadequadaváriasdasmetasdosODM.10.OobjetivodaelaboraçãodoÍndicedeDesenvolvimentoHumanoéoferecerumcontrapontoaoutroindicadormuitoutilizado,oProdutoInternoBruto(PIB)per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.CriadoporMahbubulHaq,comacolaboraçãodoeconomistaindianoAmartyaSen,ganhadordoPrêmioNobeldeEconomiade1998,oIDHpretendeserumamedidageral,sintética,dodesenvolvimentohumano.Nãoabrangetodososas-pectosdedesenvolvimentoenãoéumarepresentaçãoda“felicidade”daspessoasnemindica“omelhorlugarnomundoparaseviver”.AlémdecomputaroPIBpercapita,depoisdecorrigi-lopelopoderdecompradamoedadecadapaís,oIDHlevaemcontadoisoutroscomponentes:alongevidadeeaeducação.Paraaferiralongevidade,oindicadorutilizanúmerosdeexpectativadevidaaonascer.Oitemeducaçãoéavaliadopeloíndicedeanalfabetismoepelataxadematrículaemtodososníveisdeensino.ArendaémensuradapeloPIBpercapita,emdólarPPC(paridadedopoderdecompra,queeliminaasdiferençasdecustodevidaentreospaíses).Essastrêsdimensõestêmamesmaimportâncianoíndice,quevariadezeroaum(Pnud,2005).

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periênciasadquiridas,pelaAssociaçãoparaoDesenvolvimentodaAgri-culturaNaturaleCulturaAfricana(Africarte),comapráticadométododeagriculturanaturalemAngolanoperíodode2000a2010.Oscritériosutilizadosparaaescolhadainstituiçãoedosentrevistadosfoiprincipal-menteapossibilidadedeseinvestigarpossíveisinteressescomunsentreaAfricarteeaIgrejaMessiânicaMundial,queémantenedoradosprojetosdaAfricarte.ApesquisatevecomohipóteseaexistênciadevínculosentreaTeologiadaIgrejaMessiânicaMundialeafundamentaçãotécnicadaagriculturanatural.Acreditou-se tambémquea existênciade interessesrecíprocosapartirdessesvínculostenhafavorecidoemmuitasocasiões,autilizaçãodométododeagriculturanaturalcomouminstrumentodeatraçãodopúblicoparaaIgrejaMessiânicaMundial.Masotrabalhonãodescartaocaráterfilantrópicoealtruístadesuasações.

Comisso,utilizou-secomométododehistóriaoralcomoestratégiain-vestigaçãodotrabalho.EstemétodovisouatenderaosobjetivostraçadospelapesquisacomoidentificaroprocessodeimplantaçãodaagriculturanaturalemAngola,aexistênciadevinculaçãoentreapráticadaagricultu-ranaturaleaexpansãodaIgrejaMessiânicaMundial,osavançoseentra-vesparaodesenvolvimentodaagriculturanaturalequaisasperspectivasecontribuiçõesdaimplantaçãodométododeagriculturanaturalemAngo-la.OutraimportantejustificativaparausodométododehistóriaoralfoidevidoàfaltadedocumentaçãodaAfricarteedebibliografiaacadêmicasobreotemaagriculturanatural.AescolhadométodotevecomopropostaexplorarotemaeabordarasquestõespelaspessoasquevivenciaramtodooprocessodeimplantaçãodaagriculturanaturalemAngola.Paraisso,foramescolhidosapenasosquatroprincipaisgestoresdaAfricarte,devidoaoseuvínculotambémcomaIgrejaMessiânicaMundial.AescolhasesustentaapartirdomomentoemquesediscuteautilizaçãodaagriculturanaturalcomoestratégiadeexpansãodasatividadesdaIgrejaMessiânicaMundialemAngola.Comisso,otrabalhonãotevecomoobjetivotrazerrespostas,mas iniciareenriquecerodebatesobreaagriculturanatural,assimcomoestimularnovosestudossobreotema.

Metodologia

Estetrabalhofezusodométododehistóriaoralparaanálisedosde-poimentos dos quatro principais gestores daAfricarte que vivenciaramtodooprocessodeimplantaçãoedesenvolvimentodométododeagricul-

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turanaturalemAngola.Adecisãopelométodoinicialmentesejustificapela faltadedocumentosoficiaisedematerialbibliográficoacadêmicosobreodesenvolvimentodotrabalhoeocaráterespecíficodosobjetivosdapesquisa.Alémdisso,ométodotevecomoobjetivooresgatedatrajetó-riadevidadosentrevistados,emdeterminadosmomentosconcentrouemperíodosespecíficosdesuavida.Comisso,ométodopermitiurecuperaroquenãoencontramosemdocumentosdeoutranatureza,comoaconte-cimentosqueforampoucoesclarecidosoununcaevocados,experiênciaspessoaise impressõesparticularesdosentrevistados.Observou-sequeagrandevantagemdahistóriaoralresidiunofatodeelaprivilegiararecu-peraçãodovividoconformeconcebidoporquemviveu(Alberti,2005).

PormeiodaanálisededocumentosedosdepoimentosdosgestoresdaAfricarte,buscou-semontarumrepertório.Orepertóriofoiconstruídocomoobjetivoderelacionareintegrardocumentosdoarquivoinstitucio-nal,oarquivopessoaleoacervodedepoimentosorais.DeacordocomAndréF.dePereiraNeto(1997),umrepertório,tecnicamentefalando,“éuminstrumentodepesquisaquedescrevee referenciadocumentosper-tencentesaumoumaisfundosouacervosrelevantesparadeterminadotema”(PereiraNeto,1997,p.02).

Naprimeira parte do trabalho foramcoletadosdocumentos institu-cionais daAfricarte e da IgrejaMessiânicaMundial deAngola, assimcomolivroserevistasescritosporMokitiOkada.Essaanálisededocu-mentostevecomoobjetivoverificaraexistênciadeumarelaçãoentreafundamentaçãotécnicadaagriculturanaturaleabaseTeológicadaIgrejaMessiânicaMundial.Foramanalisadostambémarquivospessoaiseex-periênciasvivenciadaspelosentrevistados,visandoidentificarquetipoderelaçãoexisteentreosgestoresdaAfricarteeaIgrejaMessiânicaMun-dial.Outroobjetivofoiodeidentificarumapossívelinfluênciadafémes-siânicanatomadadadecisãodosentrevistadosemaderiraométododeagricultura natural como estratégia de expansão da Igreja MessiânicaMundialemAngola.

Nasegundaparte,encontra-seadescriçãodoconteúdodostextoseartigosdeixadosporMokitiOkada.Essearquivoreúnedocumentosqueestão delimitados temporalmente entre os anos de 1948 a 2008. Ele écompostoporcincovolumesquereúnemtextoseartigosdeOkadaetrêsvolumesqueenglobamtantoavidapessoaleprofissionalquantoàasso-ciativa.AsrazõesdessaescolhaestãorelacionadasprincipalmentecomatrajetóriadevidaeassociativadeMokitiOkada.Aoanalisarahistóriade

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vidadosgestoresdaAfricarte,observou-sequeelestomaramcomobaseabiografiaeasexperiênciasvivenciadasporMokitiOkadaparaodesenvol-vimentodoprojetodeagriculturanaturalemAngola.

OarquivopessoaldeMokitiOkadafoiincluído,nesserepertório,deforma integral,paraqueopesquisadornãocorrao riscodeperderumdocumentoesclarecedorparaseutrabalhoetenha,aomesmotempo,con-diçõesdetentarreconstituirohomemMokitiOkadaemsuasváriasfaces.TodoessematerialestádisponívelparaconsultanabibliotecadaFaculda-deMessiânicadaFundaçãoMokitiOkadanoBrasilenaSedeGeraldaIgrejaMessiânicaMundialnoJapão.

Naterceiraparte,foiconstruído(Joutard,1983)umacervodehistóriaoralcomodepoimentodequatrogestoresquetiveramatuaçãodestacadanoprocessodeinstitucionalizaçãodaAfricarteevivenciaramtodoopro-cessodeimplantaçãoedesenvolvimentodométododeagriculturanaturalemAngola.Osentrevistadosforamselecionadosdevidoàrelevânciaeàparticularidadedesuasinformações,vistoqueotrabalhosepropôsaana-lisarumapossívelrelaçãoentreaIgrejaMessiânicaMundialeaAfricarte,assimcomoautilizaçãodométododeagriculturanaturalcomoestratégiadeexpansãodafémessiânica.

Quatrointeressesorientaramaconfecçãodosroteirosdasquatroen-trevistas.Deum lado,oobjetivoera identificar comosedesenvolveuoprocessodeimplantaçãodaagriculturanaturalemAngola,construindoumarquivooralquefornecessesubsídiosparaumahistóriainstitucional.Dooutro,osdepoimentosseriamválidosparaumareconstituiçãodastra-jetóriasprofissionaisdosgestores,necessáriasparaidentificaraexistênciadevinculaçãoentreessesgestores,arelaçãodessesgestorescomapráticadaagriculturanaturalecomaIgrejaMessiânicaMundial.

Paraatenderosobjetivosdotrabalhoforamescolhidos,osseguintesgestoresdoprojeto:

Nome Nascimento Função Entrevista

FranciscoJésusFernandes 1946-2010 Presidente/Afri-carte

2horas

CláudioCristinoLealPinheiro

1973 Vice-presidente/Africarte

2horas

MarquesZambuBambi 1956 Coordenadortéc-nico

2horas

HiroshiOta 1967 Coordenadordepesquisa

2horas

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Porfim,osdepoimentosseriamelementosúteisparaumainvestigaçãosobreosavançoseentravesenfrentadosduranteaimplantaçãoedesenvol-vimentodométododeagriculturanaturalatravésdehortascaseirasemAngola.Com isso, surgeapossibilidadede se identificarperspectivasecontribuiçõesdométododeagriculturanaturalnaquestãodareduçãodafomeemisérianopaís.Asentrevistasforamrealizadasem2010nasededaFundaçãoMokitiOkadanoRiodeJaneiro.Osdepoimentoseosdocu-mentosquecompõemorepertóriodestetrabalhoforamanalisadosapósaaplicaçãodatécnicadesaturação.

O fechamento amostral por saturação teórica é operacionalmentedefinidocomoasuspensãodeinclusãodenovosparticipantesouinfor-mações,quandoosdadosobtidospassamaapresentar,naavaliaçãodopesquisador,certaredundânciaourepetição,nãosendoconsideradore-levantepersistirnacoletadedados.Emoutraspalavras,asnovasinfor-maçõesfornecidaspelosparticipantesdapesquisapoucoacrescentariamaomaterial já obtido, nãomais contribuindo significativamente para oaperfeiçoamentodareflexãoteóricafundamentadanosdadosqueestãosendocoletados(Fontanella,2008).

AAvaliaçãodaSaturaçãoTeóricasepropôsnestetrabalhoaserumprocessocontínuodeanálisedosdados,começadojánoiníciodoproces-sodecoleta.Tomoucomobaseasquestõescolocadasaosentrevistados,que refletemosobjetivosdapesquisa, essaanálisepreliminarbuscouomomentoemquepoucodesubstancialmentenovoaparece,considerandocadaumdostópicosabordados(ouidentificadosduranteaanálise)eoconjuntodosentrevistados.Amostragemporsaturaçãosemostrouumaferramentaconceitualdeinequívocaaplicabilidadeprática,foramrealiza-dassucessivasanálisesparalelasàcoletadedadosdocumentaisqueservi-ramparanortearsuafinalização.FoiconsideradoindiretamentecomoOPontodeSaturaçãodaamostraoreferencialteóricousadopelopesquisa-doredorecortedoobjeto.Diretamente,foramconsideradososobjetivosdefinidosparaapesquisa,oníveldeprofundidadeaserexplorado,quedependedoreferencialteórico,edahomogeneidadedapopulaçãoestu-dada.Entretanto,porserumaferramentainerentementeinfluenciadaporfenômenoscognitivoseafetivosdoconjunto,pesquisadoreentrevistados,napráticadapesquisaqualitativa,oencontrodessepontodesaturaçãoestásujeitoaimprecisões.Comisso,foiconsideradofundamentalnestapesquisa,origorcientíficoeatransparêncianodecorrerdotrabalhocomoaconfecçãodorepertório,doroteirodeentrevistaenoconjuntodefatores

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identificadosquepossamtercontribuídoparaadecisãodedeterminadopontodesaturaçãoamostral.Procurou-seevitarasimplesmençãoàuti-lizaçãodesserecursometodológico,algopossivelmenterepresentativodeumailusãodetransparênciadeumprocedimentocomplexo,quecontribuidecisivamenteparaavalidadecientíficadoinstrumentodecoletaeanálisededados.

Oacervodehistóriaoral,comosdepoimentosdessesquatrogestores,encontra-segravadoemmídiaáudiovisual(DVD)edigitalizado.Alémdisso,asquaseoitohorasdegravaçãoforamtranscritasesofreramconfe-rênciadefidelidade.TodoessematerialestádisponívelparaconsultanaBibliotecadaEscolaNacionaldeSaúdePúblicadaFundaçãoOswaldoCruznoEstadodoRiodeJaneiroenaBibliotecadaFaculdadeMessiâni-cadaFundaçãoMokitiOkadaemSãoPaulo.

Resultados encontrados

Aoanalisarasexperiênciasvivenciadaspelosquatroprincipaisgesto-resdaAfricartenaimplantaçãoedesenvolvimentodométodode“agri-culturanatural”atravésdehortascaseirasemAngola,observou-sequeofatordeterminanteparaaimplantaçãodoprojetonopaís,foramosresul-tadosdasexperiênciasvivenciadasporOkadacomapráticadaagriculturanaturalnoJapão.EssesmesmosresultadosinspiraramtambémaadoçãodaagriculturanaturalpelaIgrejaMessiânicaMundialemoutraspartesdomundocomonoBrasil,naEuropaenaÁfrica.

Observou-sequeOkadabuscousepararasatividadespastoraisdaIgre-jaMessiânicaMundialdasatividadesdedivulgaçãodaagriculturanatu-ral.Noentanto,suaimplantaçãoemAngolafoirealizadagraçasàorga-nizaçãodaAssociaçãoparaoDesenvolvimentodaAgriculturaNaturaleCulturaAfricana(Africarte),umainstituiçãovinculadacujosprojetossãofinanciadospela IgrejaMessiânicaMundial.Observou-seumpropósitodebenevolênciaefilantropianaimplantaçãodesteprojetoquenãopodeser negligenciado, visto que, o programa de hortas caseiras beneficiou,segundodadosoficiaisdedocumentosdaAfricarte(2009),cercadeoitomilpessoas.

Mas,verificou-sequenão foiàvinculaçãocoma IgrejaMessiânicaMundialquefezcresceronúmerodeadeptosdométodoagrícolaemAn-gola.Cabeapresentaraideiadequeafundamentaçãotécnicadaagricul-turanaturalnãoguardaqualquerrelaçãocomabaseteológicadaIgreja

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MessiânicaMundial,ambassurgiramdasexperiênciasedosensinamen-tosdeMokitiOkada.NãoficouevidentequeOkadateriaservidodeeloentreosdoispontos,namedidaemqueintegravaabasefilosóficadaIgre-jaMessiânicaedaagriculturanatural.

Verificou-seaindaque,comachegadadaIMMem11denovembrode 1991, tem início a expansão da fémessiânica emAngola,mas, so-menteapós09anos,em2000,teminícioasatividadesdaAfricarte.EssemomentoémarcadopeladoaçãodoPoloAgrícoladoBomJesus,pelogovernodeAngola.OiníciodessasatividadessóforampossíveisgraçasaoapoiofinanceiroelogísticofornecidopelaIgrejaMessiânicaMundial.AestratégiainicialutilizadapelaAfricartefoidivulgaraagriculturanatu-ralpormeiodaimplantaçãodehortascaseirasemdomicíliosdefamíliasangolanas.Inicialmente,essetrabalhoteveaadesãodosmembrosesim-patizantesdaIgrejaMessiânicaMundialdeAngola(IMMA).EssaadesãofoifacilitadaemotivadadevidoàcrençadecadaumadessasfamíliasempôrempráticaoaltruísmopropostoporMokitiOkada.Comisso,ficouevidentequeelesacreditavamque,comosresultadosobtidoscomashor-tas caseiras, inicialmentepraticadaspor famíliasmessiânicas,poderiaminfluenciaroutraspessoas,mesmonãosendoesteoobjetivoprincipal.

Segundoosdepoentes,aequipequecomeçoucomcincopessoasem2000,em2010aindaeraformadaapenaspordezoitopessoas,sendodoisengenheirosagrônomos,trêstécnicosetrezefuncionáriossemcapacita-çãoespecífica.Comisso,podemosverificarque,emdezanosdeprojeto,quasenãohouveinvestimentoemrecursoshumanos.

Considerações finais

NavozdosgestoresficouexplícitaacrençadaIgrejaMessiânicaMun-dialdequeoalimentoproduzidoemhortascaseiraspelométododeagri-culturanatural pode contribuir coma subsistênciade famílias e comapossívelgeraçãoderendaoriundadavendadosprodutosexcedentes.Masosgestoresadmitiramanecessidadedereverasestratégiasutilizadasdu-ranteestesdezanosdeprojeto,sequiseremrealmenteexpandiromodeloangolanoparaoutrospaísesdaÁfrica.Comisso,ficouevidentequeumdosfundamentosquenorteouapráticadafémessiânicaedaagriculturanaturalfoioaltruísmo.Adivulgaçãodasexperiênciasobtidaspelapráticadaagriculturanaturalpodeservistacomomaisuma iniciativavisandooamoraopróximo,exercidocomdesprendimentoeabnegação.Parao

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altruísta,ointeresseeobem-estardaoutrapessoatraduzemafinalidadedavida.

Otrabalhonãotevecomoobjetivotrazerrespostas,masiniciareenri-quecerodebatesobreaagriculturanatural,assimcomoestimularnovosestudosacadêmicossobreotema.

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Arte

GuilhermedeAndradeMoraesSantana1CelsoAraújoMachado2

Resumo: Opropósitodessetrabalhoéacomparaçãodavisãodeobelonoâmbitoreligioso,especificamentesobreoestímuloàproduçãoartísticaesuaapreciação.Estudamosumaintroduçãoaoconceitodearteemsuasvariadas formasnasprincipais religiõesorientais, sua influênciaounãosobreaféprofessadaesuaassimilaçãopelosfiéis.OtrabalhosugereumconceitodeartenaspalavrasdeMeishu-Samaecomparacomapráticadopublicomessiânico.Palavras-chave: arte,religião,estética.

Intrdodução

Estetrabalhotemcomooobjetivodeanalisar,aindaquesuperficial-mente, a artenavisãodas religiões:messiânica, budista,mulçumanaecatólica.Ofocoescolhidofoiacomparaçãosobreaformadeessasreli-giõeslidaremcomaarte.Assim,nãonosaprofundamosnoquetangeaoestudodeconceitosdearteousuasváriasexpressões.ComoJorgeColi,emseulivroO que é arte,diz,muitostratadosdeestéticadebruçaram-sesobreatentativadesedefiniroqueéarte,massemostraramincapazessejapeladivergência,porseremcontraditóriosoumesmosepretenderemexclusivistassejactandocomosoluçõesúnicas.Adotamosapenasasim-plesdefiniçãodoWikipedia,afimdeabriradiscussão,segundooqual:

1.BacharelemTeologiapelaFaculdadeMessiânica.2. Bacharel em Teologia pela Faculdade Messiânica

Arte e salvação: um breve estudo da arte sobre a visãomessiânica,muçulmana,católicaebudista

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Arte (LatimArs,significandotécnica e/ou habilidade),geralmenteéen-tendidacomoaatividadehumana ligadaamanifestaçõesdeordemes-tética, feitapor artistas apartirdepercepção, emoções e ideias, comoobjetivodeestimularessasinstânciasdeconsciênciaemumoumaises-pectadores,dandoumsignificadoúnicoediferenteparacadaobradearte(http://pt.wikipedia.org/wiki/Art).

Arte messiânica

Enquantootemapareceestarmaisligadoaofísico,MokitiOkada,fun-dadordaIgrejaMessiânicaMundial,conhecidopelosfiéiscomoMeishu-Sama(quesignificaSenhordaLuz),nomequeadotamosnestecapítulopor representarmelhoromessianismo,diz que amissãoda arte trans-cendeolimiteestético,sendoinclusivecapazdepromoverumamudançaespiritual,sejaemquemapreciaoumesmoquemproduz.Elepropõequeatodaartedevetocarohomemdespertandosentimentosnobrese,assim,purificandoseuespíritoepromovendosuaelevação.Meishu-Samasalien-taqueoParaísoTerrestre,mundoidealdesprovidodedoença,pobrezaeconflito,éomundodobeloe,porconseguinte,principalmentequeaartetempapel fundamental na sociedade, pois pode influenciar positiva ounegativamenteopovoemgeral.Chegamesmoapontodeatribuirpartedaresponsabilidadepelomalsocialàartemeramentecomercial,interessadaapenasnolucro,que,emvezdepropiciardeleite,chocaoespectador.

ÉcertoquenoOrienteaarteestáentrelaçadacomavida.Cultural-mente,oJapão jáproduziabelezanoseucotidianohábastante tempo.Quandoseestudaaarteoriental,percebemosquemaisqueumutensíliofuncional,ariquezadedetalhes,oacabamento,abuscapeloprimor,sejanumasimplesmarmitaounumatigeladechá,conferemàqueleobjetoumstatusdeobradearte.Emalgumasinterpretações,issosedavaemfunçãodoespaçoinsuficienteparaquefossemfeitosobjetosdeartemeramentedecorativos.Todavia,Meishu-SamaafirmaquefazpartedamissãodoJa-pãoaconsciênciaartística,seempenhaeobjetivaestabeleceropaíscomomuseudomundo,jardimdomundo.Meishu-SamaafirmaissologoapósaSegundaGuerraMundialeexplicaquepormaisquepareçaestranhoosentido,nãoéemabsolutoumasupremaciaquandocomparadoaoutrasnações,mas,muitopelo contrário, servi-las todas comoummodelodeparaíso.Numepisódiorecente,opovojaponêsconfirmouaomundoessacaracterísticademodeloaserseguido.Assistimospelatelevisãoorespeito

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pelavidaquandosobreviventesdoterremotoedo tsunami (ocorridoemFukushima, Japão, em2011)ordenadamente se cuidavammutuamentecomcordialidade e educação singulares, apesarde teremperdido tudo,inclusiveentesqueridos.

Ao observar as explicações deMeishu-Sama sobre arte, observa-semaisquedefiniçõesestéticasoutécnicas.Nota-seoentendimentodequeaobradependedoespíritoeservetambémaeste.Em“TeoriadeJikansobrepintura”,Meishu-Samacriticaarduamenteospintoresquemani-festamsuacriatividadeeindividualidadesemocompromissocomaele-vaçãoespiritualdoseupúblico.Eleserefereaessespintoresdizendoquesãovendedoresdeseusubjetivismoecontinuaindicandooquedefatofazelevaraalmadoespectador.

Neméprecisodizerque,semdúvida,oqueelevaointelectohumanoéatransmissão,atravésdosolhos,doespíritodoautoraosapreciadoresdesuasobras,conduzindooespíritodestesaumnívelelevado.Sefosseapenasparadivertirnossavisão,seriaigualaumcircoouao“show”de“strip-tease”,enãoarte.Comcerteza,pode-sedizeromesmoemrelaçãoaosartistasdebelas-artes,aosliteratos,aosmúsicos,aosartistasdotea-tro,dadançaeoutros.Elesdevemsempreatrair,pormeiodasuaarte,ocoraçãodopovo,paraeliminar,umpoucoqueseja,ocaráteranimalescoexistentenointeriordaspessoaseenriqueceraindamaisseucarátercul-tural(“TeoriadeJikan3sobrepintura”,Jornal Eiko,n.103,9maio1951).

OobjetivodeMeishu-Samaéconstruirummundoparadisíacoe,porisso,umadasaçõesindispensáveiséaartedenívelelevado.EmMeishu-Samatambémencontramosreferênciaaumditadoquedizserareligiãoamãedaarte.

O conceito atual de que religião está desligadadaArte parece-meumgrandeequívoco.Enobrecerossentimentosdohomemeenriquecerlheavida,propor-cionando-lhealegriaesentido,éamissãodaArte.(...)AArteéarepresentaçãodoBelo.Masporqueseráqueelafoinegligenciadaatéosnossosdias?Mongesantigosefamososdemonstraramnotávelgenialidadenocampoartístico,escul-pindoeconstruindotemplos.Entreessesartistasreligiosos,sobressaiuoPríncipeShōtoku.Dificilmentesepodecrer,dizemtodos,queamagnificênciaarquitetôni-cadoTemploHōryūji,deNara–obra-primadopríncipe–easpinturaseescul-turasqueadornamoseuinterior,tenhamsidocriadashámaisdemiletrezentosanos.Poroutrolado,comohouvemuitosmongesquedivulgaramdoutrinasado-tandoasimplicidadeeoascetismo,certamentenasceuoconceitodequenãohánenhumarelaçãoentreaArteeareligião.AquiimperaaVerdadeeoBem,masfaltaoBelo.(Okada.2008.p.52-53)

3.Jikan,pseudônimodeMeishu-Sama.

Arte

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Ele tambémapontaaartebudistacomoorigemda japonesae real-menteanecessidadedesimbolizaroinvisívelpreconizadopelareligiãoéfontegeradorademuitasobras-primasapreciadasemtodoomundo.

Arte budista

Naturalmenteumaimagemémuitocomunicativa.Servindo-sedessetipodeexpressão,nãosóobudismo,masoutrasreligiõespuderamdifun-dir-seaoredordomundo.Numaépocaemquepoucaspessoasliam,oucompreendiamoutraslínguas,odesenho,aspinturas,asesculturasforammuitoúteispara facilitardifusãodobudismo.Talvezdaí tenhasurgidoditadodequeareligiãoéamãedaarte.

Pormuitotempo,ofatodeutilizaraartecomoferramentalitúrgicaapoiou as religiões,mas,muito antes disso, é próprio dohomem fazerusodaexpressãoartísticatambémparasedistinguir,criandoumaiden-tidade.Essaposturaetnocêntricaseriadesculpávelsenãocausassedanoaosoutros,incluindooutrosgrupos,mastalnormalmentenãoacontece.Choquesentreoshomensemfunçãodessadiferençatêmsidoobservadosaolongodahistória.

Comobudismo, essapreocupaçãoemdefender suas característicasnãotemlugar,issoporquenabasedeensinamentosbúdicosomaisimpor-tanteéomeioenãoofim,ouseja,oprocessoéomaisimportante.Comsuateologiamilenar,obudismonãoprecisareafirmar-se,casoapessoasigaosOitopassos,4obterácompreensãodascoisas,oquetambémnãoéfim,massimprocesso.NoprimeirotrabalhosobreartebudistanoBrasil,adissertaçãoorganizadaporFernandoChamas,comotítuloA arte budista japonesa com a abordagem de Mokiti Okada (nãopublicada),assimdescreveatrajetóriadaarte,quemuitocoincidecomofocomessiânico.

China,CoreiaeJapãojustamentereceberamessavertentedobudis-mo, conhecida commahayanismo,muitomais queos próprios ensina-mentosdoBudahistórico,SiddhartaGautama.Entreasperdaseosga-nhosnaturaisdeumaescolhaatravésdaimensaÁsiadurantemilanos,omahayanismopreservouanãodistinçãoentreartee religião, tendoaexpressãoartísticacomopartedoexercícioreligioso,sejapelodesenvolvi-mentoativooupassivodasensibilidade,sejapeloseucaráterritualístico,

4.Osoitopassossãorepresentadospelarodadeoitoraios(dharmachakra),esãoosseguintes:aperfeitacompreensão,aperfeitaaspiração,aperfeitafala,aperfei-taconduta,operfeitomeiodesubsistência,operfeitoesforço,aperfeitaatençãoeaperfeitacontemplação.

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afetivoeeducativo,envolvendo,deformadelicadaemarcante,oscrentes,leigosounão.

Aartebudistanãopoderiadescrever,emprincípio,nadaalémdaapa-rênciahumanadeGautama,caracterizadaportodosossignosdesuare-núnciaaomundo:

1.Sematributosdesuarealeza;2.Sentadoemposturademeditação;3.Segurandonamãoesquerdaatigelademadeiradomendigo;4.Amãodireitatocaaterra,emtestemunhodesuasoberaniasobreela.AestátuadeBudadeverepresentaraquelequeatingiucertonívelde

entendimentoeaplenitudedacondiçãohumana.AartebudistaéinspiradapeloBuda,quemanifestouoconhecimento

iluminadopormeiodesuaforma,falaeação.CadaaspectodocorpodoBuda,deperfeitasproporções,transmiteaharmoniaedespertaasereni-dadedamente.UmsimplesolhardoBudalevoumilharesdeseresanutrirodesejodealcançarailuminação.Diz-sequeobrilhoemanadodocorpodoBudaultrapassavatantoaspercepçõeshumanascomunsqueosartistasnãoconseguiamrepresentarsuaformadiretamente.

Segundoumrelato,aprimeiraimagemdoBudafoifeitaapedidosdoReiBimbisāra,quedesejavaapresentá-laaUdāyana,oreideumaregiãodistante.Depoisdeverapintura,Udāyana,tocadoporsuabeleza,pediuqueossímboloseainscriçãolhefossemexplicadosemdetalhes.Inspira-doameditar,oReiUdāyanaalcançouuminsightprofundosobreovalordeste ensinamento.Repleto de alegria, convidoumonges budistas paraestabeleceremoDharmaemsuasterras.

ComaintroduçãodobudismonoJapãoeaintroduçãodetodacul-turacontinentaltrazidacomele,aarteprimitivajaponesasetransformouprofundamente.Apossibilidadeeo estofoquecarregavamummilêniodeatividadesartísticasereligiosas,juntocomosdesenvolvimentosmate-riaisparasuasconcretizações,encantaramosjaponeses,quepraticamenteabandonaramasproduçõesanterioresdoshaniwaseoutros.EssefatopodeserevidenciadopelocessamentodeesculturasdessetipoapósoséculoVI.

Arte mulçumana

Maomé,oprofetamuçulmano,apósreceberarevelaçãodeAláfun-douoislamismomesmosofrendoperseguiçõesdetribosárabes,politeís-

Arte

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taseacabouporserefugiaremMedinaem622.Essafugaficouconheci-dacomo hégira emarcaoiníciodocalendáriomuçulmano,massomenteapósoséculoVIIIéqueessareligiãoalcançouaexpansãonaÁfrica,ÁsiaeEuropa.

Aarteislâmicaenglobaaliteratura,amúsica,adança,oteatroeasartes visuaisdeamplapopulaçãodoOrienteMédioqueadotouo isla-mismo.Nela,percebe-sea influênciadascivilizaçõespré-islâmicas,dospovosconquistadosededinastias ligadasàquestãoreligiosa.Portodososdomíniosislâmicos,difundiu-seumaproduçãoartísticamarcadapelasideiasreligiosas,imateriais–osconceitosdeinfinito,eternidade,menos-prezodavidamaterial,desejodetranscendência–epelasconcepçõesdoProfeta.EssaartebebediretamentenafontedoAlcorão,nelajustificandosuasopções,rejeiçõesedireçõesescolhidas.

Asartesvisuaisislâmicassãoexpressasatravésdefigurasgeométricasearabescos(entrelaçamentosfeitosemestiloárabequeretratamanatu-rezaemmaneirageraleoqueelarepresentaaohomem),utilizadosemdecoraçõesdeambientes,cerâmicasetapeçaria.Hácasosemqueretratamtambémohomemeosanimais,masapenasemumcontextoprofano,jáque,paraomuçulmano,esegundooAlcorão,retratarumserconcretosig-nificausurparopoderdivinodacriação,poisAláéoúnicoqueodetém.

Aarquitetura islâmica é expressapormeioda construçãodasmes-quitas,medrassas–escolas religiosas–, locaisparapráticas religiosasetúmulos.Nomundoislâmico,basicamente,asmesquitasseguemdetermi-nadopadrão,sendoelas:umátrio(pátiocentral)eumasalaparaorações,possuindoapenasumadiversificaçãonasconstruçõesedecorações.

Otapeteeotecidodesempenharampapelimportantenoislamismoenomundoárabe,poisnoiníciodonomadismo,eleseramutilizadosparadecorartendas,mas,comosedentarismo,passaramadecorarpalácioseprincipalmenteasmesquitas.Issoporque,nomomentodosalah,umdospilaresdoislamismo,asoraçõesdiárias,ofielnãopodeestaremcontatodireto coma terra.Damesma forma, a caligrafia, por ser consideradaumarevelaçãodivina,tambémtevedestaqueimportante.AntesdoséculoXVI,otapetepossuía80milnóspormetroquadrado,passandoadepoisdissoa40milnóspordecímetroquadrado;eisarazãodeseuvaloresuafama.

Apinturaeraexpressapormeiodeafrescosepinturasemminiatu-ras,asquaisdecoravampalácioseedifíciospúblicos,retratandoepisódiosdecaçaedocotidianodacorte,mas infelizmentenãosobreviveramaotempo.

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NoIslam,a literaturasedesenvolveuprincipalmenteemquatro lín-guas:árabe,persa,turcoeurdu,oárabeédeextremaimportânciacomoalínguadarevelaçãodoIslamedoAlcorão.

Apoesiaárabe,cujoselementosbásicosforamherdadosdemodelospré-islâmicos,émonorrima(todasaslinhasapresentamamesmarima)edemétricacomplicada(sílabaslongasecurtasarranjadasem16métricasbásicas).

Hátrêsgênerospoéticosprincipais:ogazel(ghazal),geralmenteumpoemadeamor,quetemdecincoadozeversosmonorrimos;oqasida,umpoemadelouvaçãocomvinteamaisdecemversosmonorrimos;eoqita,umaformaliteráriaempregadaparalidarcomaspectosdavidacotidiana.

Ospersasaperfeiçoaramosgêneros,asformaseasregrasdapoesiaárabeenosadaptaramàsuapróprialíngua,desenvolveramtambémumnovogênero,omasnavi(compostoporumasériededísticos),empregadonapoesiaépica,desconhecidadosárabes.

A literatura persa, por sua vez, influenciou tanto a literatura urduquantoaturca,especialmentenoqueserefereaovocabulárioeàmétrica.ATurquiatambémtemumaricatradiçãodepoesiapopular.

Aliteraturaislâmicacompreendeaindatextosemprosa,decunholite-rário,didáticoepopular,ogêneroquecaracterizaaprosaislâmicaéoma-qama,emqueumanarrativarelativamentesimplesécontadademaneiracomplicadaeelaborada,commetáforasejogosdepalavras.

Arte católica

Quandofalamosemarte,asprimeirasimagensquevemànossamentesãopinturas,esculturas,músicas, livrosetc.,dividindoasartesemcate-gorias.SepensarmosemBacheWagner,alémdeseremmúsicos,eramalemães;sepensarmos,MichelangeloeLeonardodaVinci,depintorese,simultaneamente,italianos.Alémdeclassificarmosasobrasdearteassim,podemostambémclassificá-lasporreligião,porexemplo.

Depoisdaascensãodoseulíder,seusapóstolosvagarampelomundodifundindoseusensinamentos,e,comopassardotempo,ahistórianãobastavaser transmitidaapenasoralmente,elaprecisavaser retratadaoucontadadealgumaoutramaneira,paranãoseresquecida.Umlocalparaoração,onascimentodeCristo,aVirgemMariasãoexemplosdequeahistóriacristãéretratadapelaarte.

Apesardeserumaartecomcertaslimitações(principalmentefinan-

Arte

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ceira),autilizaçãodaobraeradefinidanomomentodesuaencomendae,alémdisso,existiamformastradicionaisobrigatóriaspararetrataralgunsfatos,porexemplo,obatismodeCristo,aSantaCeiaetc., restringindoaindamaisaimaginaçãodoartista.

Mas, no início, o cristianismo sedesenvolveunummundo conside-radopagão,e,pelomesmomotivo,aartecomeçouempequenaescala,deformadiscretasemnenhumacaracterísticaqueaspudesseidentificar.Mesmoaartecristãtendoorigem“além-mediterrânea”sofreumuitain-fluênciadeste,esuaexpansãosedeveaartebizantina.

Outrofatorinteressanteedeorigeméqueosromanostinhamohábitodecremarosmortos,mascomooscristãosacreditavamnasegundavindadoMessias,elessepultavamosmortos,criandoassim,umaredesubterrâ-neadetúneis,chamadoscatacumbas.Àmedidaqueonúmerodemortosaumentava,otúnel,queerainicialmenteestreito,eraaumentadoemal-turaelargura,dandoorigemaoslabirintosdeRoma,existenteatéhojeeasprimeiraspinturas(impressionistas,poisnãoretratavamumacenaemsi,masaimpressãoqueelagerava)foramconcebidasnessascatacumbas.

AartecristãtevegrandeimpulsoquandooimperadorConstantinoor-denouaconstruçãodemuitasigrejasnaEuropa,ÁfricaeÁsia.Osgastosdespendidosnapreparaçãodesseslocaistornavamnecessárioqueosedifí-ciosfossemconstruídoscommaiorsolidez.Masasformasarquitetônicascristãsforamestabelecidasnumaépocaemqueosoutrostiposdeedifícioseramconstruídoscomoempregodeelaboradosmétodostécnicos.Essesmétodosforamusadospelaprimeiraveznastermasoubanhospúblicos–umagrandesala,cobertaportrêsabóbadasogivais,apoiadasemambososladosporabóbadasmaisbaixas,sustentadasporcolunas.Nadecoraçãodasigrejascristãs,astradiçõesdosartistasromanosforamadotadassemreservaseseusmotivosusadossemqualquerpreocupaçãocomopinturas,iconografias,retratosdeCristo,comoacrucificação,aascensãoeoutrosfatosquemarcamavidadeCristoedosfiéis.

DesdeoséculoV,aestilizaçãodasvestesvinhasendoacentuada,masosrostoseramaindatratadoscomosefossemretratospintados.Porém,apartirdoséculoseguinte,surgeumnovoestilo,maisbemadaptadoàdecoraçãomonumental,equeprecediadeumespíritonovo.Nasvestes,porexemplo,nãohánenhumatentativademodelarossombrearascores;elassãosimplesmenteindicadasporumjogodelinhasdestinadoasuge-rirtantoomovimentodomaterialquantoosdoscorposquecobrem.Oobjetivodesseefeitoéfazerqueasimagensnãotivessemmaisumaspecto

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estáticoeminimizarorealismoeorespeitoporvolumeparadarlugaràscoreseàvisão.

AprimeirapartedaBíbliaCristãéoAntigoTestamento,quecontaahistóriadopovojudeu.Asegundaparte,oNovoTestamento,ébasica-menteabiografiadeJesus.Emambososlivros,emboracertoscapítulostenham caráter litúrgico, o caráter predominante é o narrativo. Por sertambémeprincipalmenteumareligiãodolivro,eporrazõespedagógicas,ougrandenecessidadederetratarcaractereseacontecimentosreligiosos,oscristãossevoltaramparaailustraçãodelivros.Essasilustraçõeseramcopiadaserecopiadas,nãoporfaltadeimaginação,masparasemanteremfiéisaolivroqueasfigurasilustravam.

DoséculoIVemdiante,osmanuscritospassaramatomarformadelivrosde pergaminho (códices), comas ilustrações ainda colocadas emcolunas,algumasseexpandindoportodaapágina.Comisso,asminia-turastornaram-severdadeirosquadros.Adifusãodocatolicismoganhoumaiorforçapormeiodaarte,sejanasconstruçõesdasigrejasounocantogregoriano.

Antesdemaisnada,precisamossaberadiferençaentreartereligiosaeartesacra,poismesmoqueumaobrasejaproduzidasobinspiração,elapodenão serutilizadadiretamenteparaoculto.Entretanto,mesmonaartesacraexistemdiferençasentreapopulareaclássica,porexemplo,asformaslapidadasnessaúltima.

A arte religiosa é um reflexo de umprocesso interno que acontecenoartista, sua imagememrelaçãoaoamorcelestial.Aarte sacraestá,portanto,impregnadadessascaracterísticas,masdiferencia-seporserdes-tinadoaoatolitúrgico.Suaintençãoédespertarnosfiéisemoçõespurasesingelas,revelando-lhesavisãodoParaísoaindanaTerra,ouaperfeiçãodoSenhoraqui,ouseja,essasobras,distintasdascristãsemgeral,nãodevemcriarcontrovérsiasouquestionardogmaseconceitosreligiosos,esimfinsestritamentepragmáticos.

Podemoscitarcomoexemploo fatodenosconfessardiantedeumquadro,pormaiorquesejaseuvalorartístico.Nãoimportaosignificadoestéticoouoelementodesensibilidadedasobras,esimsuacapacidadededespertaraquelasemoçõesmencionadasnoíntimodaquelesqueascon-templam–eladeveserumareferênciadomistériodivino.Emresumo,eladeveadequar-seàscerimôniaslitúrgicas,masconservaraomesmotem-poasqualidadesestéticasdoqueseconhececomoarte,expressandosuamensagemcomumestilopróprioesuapeculiaridade.

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Outro exemplo équeumquadropodedespertarum sentimentodedevoçãoreligiosa,masissonãosignificaquesepossarealizarumapráti-careligiosadiantedoobjeto,porexemplo,realizaraSantaMissa.Seoselementos taiscomoacor,claridade,amensagemaser transmitida,deumsentimentoreligiosooudevoção,nãoestãoemumgraudeelevação,concentrando-se apenas nos aspectos visuais e estéticos, sem despertaraqueles sentimentos,nãodeveser tratadacomoarte sacra,e simcomoumaartereligiosa.

Mesmoqueumaobradearte,comoaSantaCeia,deDaVinci,sejaconsideradaatraentedoaspectodefraternidade,amoretc.,senãohouveraintençãooudesejoderefletirsobreaforçadivinaoucausarumaeleva-çãonocaráterdequemobserva,nãopoderáserconsideradaobrasacraoutampoucoreligiosa.

Aartesacra,alémdeserviraospropósitoslitúrgicos,devemanifestarsuas características comoarte,de formaestéticaque lhecabeproduzir.Porisso,seoartistanãoestávitalmentepenetradodareligiosidadegeraleaomesmotempodareligiosidadelitúrgica,nãopoderáproduzirumobraautênticadeartesacra.

Emsuma,aartenocatolicismobuscaaexpansãooudifusãopomeiodaarteenãocomoformadesalvaçãodaquelequeacontempla.

Considerações finais

Paraosmessiânicos,aartequandoenobreceosentimentopelaeleva-ção,promoveasalvaçãodoserhumano,elevandosuaespiritualidade.Osbudistasacreditamqueaarteserviucomoinstrumentodeexpansãointer-nacionaldosensinamentoseinfluencioupositivamenteaartecomoumtodo,obudismoMahayanatambémacreditanaarteassociadaàreligiãoparadesenvolvimentoespiritual.Oscatólicosincorporaramaartenasuavivênciaespiritual,masomedodaidolatriarestringiu-aaartesacraeparafinslitúrgicos.Paraosmulçumanos,aartedeveserusadaparafazercombelezatodasascoisasdavidacotidiana.

Referências Bibliografias

OKADA,Mokiti.Coletânea alicerce do paraíso.v.5.SãoPaulo:FundaçãoMokitiOkada.2008.p.52-53.

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Dasrelaçõesentreciência,arteeespiritualidade:oconceitodebelonafísicacontemporânea

ViniciusCarvalhodaSilva1

Resumo:NoséculoXXI,háumafortetendênciaderetomadadasarticu-laçõesentreciênciaeespiritualidade.Defendemosqueissosedeveaofatodeque,paramuitospioneirosdasciênciasnaturaisdaatualidade,comoEinsteineWernerHeisenberg,omundoévistocomo“ordem”,“beleza”e“mistério”,demodoqueapesquisacientíficatocadecertaforma,o“Sa-grado”,enosconduzàexperiênciada“espiritualidade”.Oconceitode“Belo”écapitalnestecontexto.ParaHeisenberg,porexemplo,pormeiodo“Belo”,capitadotantopelaciênciaquantopelaarte,ohomempodecontemplaraordemcentral.HeisenbergrecorreaopoetaalemãoGoetheparadefenderumprofundoparentescoentrearteeciênciaeadvogarqueaexperiênciaestéticacomumaambaspodeelevaroespíritohumanoacimadomaterialismovulgar.Palavras-chave: filosofiadaciência,estética,arte.

OBinômiodeNewtonétãobelocomoaVênusdeMilo.Oqueháépoucagenteparadarporisso.

ÁlvarodeCampos

Minha alma inunda-se de uma serenidade maravilhosa, harmonizando-secomadasdocesmanhãsprimaverisqueprocurofruircomtodasasminhasforças.Estousóeabandono-meàalegriadevivernestaregiãocriadaparaas

1.MestrandoemFilosofiadaCiênciapelaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro.BolsistaCapes<[email protected]>.

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almasiguaisàminha.Soutãofeliz,meuamigo,edetalmodomergulhadonotranquilosentimentodaminhaprópriaexistência,queesqueciaminhaarte.Nestemomento,ser-me-iaimpossíveldesenharacoisamaissimples;e,noentanto,nuncafuitãograndepintor.Quandoemtornodemimosvaporesseelevamdomeuvalequerido,eosolapinoprocuradevassaraimpenetrávelpenumbradaminhafloresta,masapenasalgunsdosseusraiosconsegueminsinuar-senofundodestesantuário;quando,àbeiradacascata,ocultassobosarbustos,descubrorenteaochãomildiferentesespéciesdeplantazinhas;quandosintomaispertodomeucoraçãooformigardeumpequenouniver-soescondidoembaixodaservinhas,esãoosinsetos,moscardosdeformasinumeráveiscujavariedadedesafiaoobservador,sintoapresençadoTodo-Poderoso quenos criou à sua imagem, o soprodoTodo-Amante quenossustentae faz flutuarnummundode ternasdelícias....;então,meuamigo,équandoomeuolharamortece,eomundoemredor,eocéuinfinitoador-meceminteiramentenaminhaalmacomoaimagemdabem-amada;muitasvezes,então,umdesejoardentemearrebataedigoamimmesmo:“Oh!setupudessesexprimirtudoisso!”Setupudessesexalar,sequer,efixarnopapeltudoquantopalpitadentrodeticomtantocaloreplenitude,demodoqueessaobrasetornasseoespelhodetuaalma,comotuaalmaeoespelhodeDeus!–“meuamigo!”...Estearroubamentomefazdesfalecer;sucumbosobaforçadessasvisõesmagníficas.(JohannWolgangGoethe,emOssofrimen-tosdojovemWerther)

Introdução

Sobre a relação entre ciência e religião

SeaplicarmosométodointuitivopropostoporBergsonemO pensa-mento e o movente,queconsistenumaprofundareflexãogenealógicaacercadosconceitosconstituintesdenossopensamento,a fimderemovermosdonossointelectoascamadas preconceituaisquenosinfluenciam,pode-remosrealmentecompreenderatesedeMokitiOkada,quepropõeumafusãoentreossaberesreligiososecientíficos.2ParaBergson,devemosli-bertaroespíritodoespaçoqueoaprisionaeentãooapreenderemos ime-diatamente.(DeacordoKarlPopper,eliminarasbarreiraspreconceituaisé condição semaqualnãopodemos fazer ciência.Popper salientaqueFrancisBacon, emo Novo Organon já apontarapara tal questão.)Berg-sondefendeque,pararealmenteapreendermoso“ser”dealgo,devemos

2.Trata-sedoconceitode“euprofundo”,conhecidonaliteraturaokadianacomo“eudomomento”.

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contemplá-lo demodo puro, imediato, sem a intermediação do legado preconceitualpresenteemnossointelecto.3

Nietzsche tambémnosaconselha tal tarefa.Paraele,ohomemestáafetadodemaispela cultura, pelo excessode informação, e acabouportornar-se superficial.Umhomemquenão tem tempoparameditar so-breasquestõesprofundasdaexistência,quevivecorrendoporquestõesefêmeras,etudoqueaprendeofazparaalcançarfinspráticosimediatosepessoais,nãoviveumavidadevalor.4Ohomem“prático”nãoélivre,sendoapenasumescravodeintenções,motivaçõeseconvicções,queelesequersabeasorigenseospropósitos.Oprimeiropassoparaasabedoria,segundoNietzsche,nãoéaprender,acumularmaisinformações,masde-saprender,“jogarforatudooquenãonosserve”.EmAssim falou Zaratus-tra,elerecomendaaquemquerdaralgumacoisadepresenteaoshomens:Tira-lhes, de preferência, alguma coisa de cima.Defato,osensocomumnosafastadabuscaporcompreensãoprofundaacercadarelaçãoentreciênciaeespiritualidade.Nossospreconceitosnosdizemqueou temosespíritocientífico ou temos espírito religioso, demodoque, portanto, ciência ereligiosidadesãoinconciliáveis–excludentes,até.Argumentamosincisi-vamentecontratalconcepção.

NasobrasDeus e a nova física e A mente de Deus,ofísicoPaulDaviesdiscorresobreasarticulaçõesentrefísicaemetafísica,tãoemvogaetãofrutíferas,presentesnocenárioatualdacosmologiaedafísicaquântica.Ele,eumaimensalegiãodecientistas,emtodasaspartesdomundo,per-gunta-seseháumeloentreciênciaeespiritualidade.

Opontodepartidadesteartigoéqueháumaprofundarelaçãoentreo empreendimento científico e o espírito religioso, e que a experienciaestética,ocontatocomoBelo,representaummóvelfundamentalnessaarticulação.Defendemosqueo“motor”daciênciaéabuscapor“conhe-cerarealidade”,quaseapresentaparaohomemdeciência,comobeleza,ordememistério.Sendoassim,temosaciênciacomoumabelaeprofun-daformadereligiosidade.

3.Oeuprofundoéimediatonãonosentidodeserinstantâneo–aprimeiraim-pressão que temos de x –, pois tal impressão pode ser ainda determinada, demodoinconsciente,porestruturaspreconceituais.Livrar-sedopreconceitual,é,portanto,alcançaroníveldaanáliseconceitual,quandodesconstruímosnossopretensosaberacercadexparaoanalisarmosdemodopuro,embuscadeseuserautêntico.Oeuprofundodeveserimediato,então,nosentidodeserumaanálisediretadex,livre4.NaspalavrasdeSócrates,umavidasemreflexãoéumavidavazia.

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Defato,muitoscientistasproclamamcertareligiosidade,entretanto,religiãoereligiosidadesãoduascoisasdistintas.Religiãoseriaumainsti-tuição,umaorganizaçãosocial,podendocompreenderdogmaseumsis-temateológicopróprioacercadesuaconcepçãodosagrado.Seráessade-finiçãodereligiãodemasiadoirrefletida?Argumentamosque,naverdade,aessênciadeumareligiãonãoestánosseusdogmasouemseucorpodedoutrinas,masnoníveldesuareligiosidade.Religiosidade,nessesentido,éosentimentosutildeembevecimentodiantedouniverso,agratidãoeabusca por compreensão desse enigma chamado “existência”.Religiosi-dadeseriaaquiloquetransbordadaspalavrasdeGoetheemO sofrimento do jovem Werther,oestadodeencantamentoegraçaapartirdo simplesencontrocomomundo.OjovemWerther,notextoqueconstacomopró-logodestetrabalho,narraestaremumestadodegraça,pormeiodoqualpodecontemplaranaturezanospequeninosvermesqueserevelamumuniversodebaixodasfolhascaidasnochãodojardimondeseencontraeperceberapresençadeDeusnomundo,experimentandoosagradocomooverdadeiro“eu”detodasascoisas.AexperiênciaqueGoethenosnarrapormeiodojovemWertheréquaseaversãoliteráriadoartigooSabor da fé,deMokitiOkada.Nestetexto,Okadadescreveexatamenteumaexpe-riênciadecontemplaçãoespiritual,frutodoencontrodohomemcomosagrado.Ondesedá talencontro?Nãoemumadimensãosobrenaturalmirabolante,masnoprópriomundo,ou,eemnívelaindamaiselementar,esteêxtaseestético-espiritualsedánomundointeriordaquelequeovive,demodoquesetratadeumaexperiênciaqualitativaeíntima.Noestadodesabordafé,nãotranscedemosomundo,masotransfiguramos,istoé,emboranãoabadonemosomundo,passamosaexperimentá-loemoutronível,nossaexperiênciadascoisasrevela-sequalitativamentetrasformada.Nestenível,temosaclarividênciadeperceberosagradomesmonosse-resmaispequeninos,enosachamos,assimcomoWerther,próximos,atémesmodospequenosvermes.NaspalavrasdeOkada,emtalexperiência:

(...)ascoisasdanaturezasetransfiguram:asflores,ovento,alua,ocânticodospássaros,abelezadaságuasedasmontanhaspassamaservistoscomodádivasdeDeusparaalegriadascriaturas.Epassamosaagradecerosalimen-tos,ovestuárioeacasaemquevivemos,considerando-oscomobênçãos,easimpatizarcomtodososseres,mesmoosirracionaiseosinanimados.Senti-mosqueatéopequeninovermedaterraseachapróximodenós...Éoestadodeêxtase.(Okada,1987,p.43)

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Comonãopensar,então,nocientistabiólogoJeanHenriCasimirFa-bre,autordeimportantestratadosdebotânicaezoologiaeumdosprinci-paiscientistasdesuaépoca,porocasiãodeumaentrevista,quandoques-tionadoseacreditavaemDeus.

Não!–respondeuosábio.Eunãoacredito,euOvejoemtodaparte!

Como estudioso dos pequenos insetos, Fabre reconhecia enxergarDeusnaquelesminúsculoseestranhosmundos,povoadosporexóticasebelascriaturinhas...Somenteumaordemprofundapoderiatermoldadoaevoluçãodanaturezaa fimdequeestaculminasseemtamanhograudecomplexidadeebeleza.TalnoçãonosremeteaumafraseatribuídaaoimensoGabrielGarciaMarquez:PensarqueDeusexistemedesconcertatantoquantopensarquenãoexiste!.Comotantabelezaecomplexidadefísicapodememanardeprincípiosnomológicosdeprofundasimplicida-desemquehaja,naspalavrasdeumHeisenberg,uma“ordemcentral”?5Talvezsejaestaamaiselementardasquestõesmetafísicasdaciênciana-turaldenossaépoca,questãotambémpresente,comovimos,naartedeGoethe.Sejapormeioda arte, da ciênciaouda religião, vivenciarmosestaquestãoatribuindo-lheadevida importância,por si só, jáconstituiumaexperiênciaestética-espiritualcapazdenosprovocarreflexõesgravesacercadadimensão sagrada, tantodouniverso emsi, quantodenossaexperiênciaexistêncialenquantoserescapazesdecontemplá-lo.

Amesmaexperiênciaestética-espiritualetrêscaminhosparaalcançá-la:areligiosidadedeumOkada,aartedeumGoetheeaciênciadeumFabre.6

Asrelaçõesentreciência,arteeespiritualidade,portanto,meparecemcomolegítimasdemandasfilosóficasdoséculoXXI,comoápicedeumatradiçãoquesedesdobranahistóriadopensamento,aomenosocidental,desdequeosprimeirospré-socráticosiniciaramsuasinvestigações.Nafí-sicacontemporânea,Einstein,Heisenberg,Bohr,Paulieoutrosgrandestravavamintensasconversasreflexivasa respeitode talquestão.Queos

5.A)Nomologia,nessecaso,dizrespeitoàsleisdanaturezaqueconfiguramomundo.Deumconjunto finitode leisnaturais simples,derivamosummundoextremamentecomplexoediversificado.(B)WernerHeisenberg(1901–1976)PrêmioNobeldeFísicade1932,seção3.6.Aolongodotexto,utilizamosapalavraestéticacomo“Teoriaoureflexãoacer-cadoBelo”e“experiênciaestética”comoeventosubjetivoemqueoBeloédealgumaformavivenciado.

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cientistasnãopodempensaremtãosublimeproblema,parece-me,éape-nasumdogmasemsentidoquenuncainteressouaosgrandessábios.

DesdeaGréciaantiga,osprimeirosfilósofos,portanto,osprimeiroshomensdeciênciaexperimentavamaespiritualidadedemodointensoecotidiano.Porespiritualidade,emsentidoestrito,entendoaexperiênciaestética(emística)deembevecimentodiantedaordemebelezanaturaiseacompreensãodomundocomo“mistério”(oqueresultanumaespéciedecontemplação–eatélouvor–da“belezadomundo”comoexpressãodeumnível transcendental depuraordem), bemcomoabuscadeumpensamentolivreeentendimentoprofundoacercadofenômenoexisten-cial.Veladanestaexperiência,encontra-seaintuiçãodequetantaordemebelezapresentesnanaturezadevemprovir,ouseramanifestação,dealgomuitoelevado,portanto,sagrado.FilosofiasemelhanteencontramosentreosmodernoscomoGalileu,DescarteseNewton.

Emboraosensocomumimagineocientistacontemporâneo,necessa-riamente,comoumsujeitofrio,avessoàespiritualidadeedecididamenteateu,buscamosesclarecerque tal imagemnãocorrespondeàrealidade.Pretendemosdefenderque,paramuitosdosmais importantescientistasdafísicacontemporânea,aatividadecientíficaécompreendidacomoalgonobreefundamental,justamenteporsuacapacidadedeapresentaraoho-memasestruturastranscendentaisdanatureza,introduzindo-onassendasesotéricasdarealidade,oqueseriaumaformadeviveraexperiênciadosagradopormeiodoempreendimentocientífico.NaspalavrasdoNobeldeFísicaMaxBorn,A física por si não é apenas um fator de progresso material, mas também um elemento na evolução espiritual do homem (Born.2000).Argu-mentamosquetalposturaficaevidenteseanalisarmosospensamentosdetrêspioneirosdanovafísica:AlbertEinstein,ErwinSchrödinger,eWer-nerHeisenberg.

1. EinsteineoconceitodereligiãocósmicaeoDeusdeSpinoza.

Acoisamaisbelaeprofundaqueoserhumanopodevivenciaréosentimentodomisterioso.Eleestánabasedareligiãoedasaspiraçõesmaisprofundasdaarteedaciência.Quemnuncavivenciouissomeparecemortooucego.Sentirque,portrásdovivenciável,seescondealgoinacessívelànossamente,algocujabelezaesublimidadesónosalcançadeformamediadaecomoumfracoreflexo:issoéreligiosidade.Nestesentido,soureligioso.Amim,bastapres-sentirestesmistérioscomespantoetentarapreendercomamenteecomtodahumildadeumaimagempálidadaestruturasublimedoser.(AlbertEinstein)

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EmReligião e ciência,AlbertEinsteinbuscouesclarecersuavisãoacer-cadofenômenoreligioso,desuaspossíveiscausas.Objetivou,também,discorreracercadasrelaçõesentreosentimentoreligiosoeoempreendi-mentocientífico.DeacordocomEinstein,naantiguidade,quandoacul-turaestavaaindaemsuaidadeprimitiva,oprincipalafetodosentimentoreligiosoeraotemor.Otemor,frutodaignorânciaedaprecariedade.Osgruposhumanos,quemalcompreendiamosfenômenosnaturais,nãoad-miravamanatureza,mastemiam-na.Comonãopodiamcompreendê-la,acabaramporconcluirquequaisqueracontecimentoseramfrutosdalivreeimprevisívelvontadedosdeuses.Dessemodo,aprimeiraformadecultoàs divindades foi uma tentativadeos grupos arcaicosde conquistaremasimpatiadosdeuses.Afinalidadenãopoderiasermaisprática:semaproteçãodosdeuses,mesmoasatividadesmaisbásicasficariamcompro-metidas. Se os deuses estivessem irados ou descontentes, por exemplo,poderiahaverescassezdealimentoseexcessodedoenças.OconceitodeDeusnessaépocaeradeumdeus-temor,oudeus-angústia.

Emnívelmaiselevado,masaindainferior,Einsteindefendeaapariçãododeus-moral,presentenamaiorpartedos sistemas religiososantigos.Talreligiosidademoralévividaapenascomoaobservânciasuperficialderegrasdecondutaespecíficas.Namaiorpartedoscasos,odeus-moralérepresentadoporumaorganizaçãosociopolítica,pormeiodaqualaseli-tesseperpetuamnopodermantendosuaposiçãosocialestratégica.Paraasmassas,odeus-moralmanifesta-sepormeiodapromessadequetodosaqueles que levaremuma vida virtuosa (moral), afastados dos pecados(imoralidade), serão recompensados no além-mundo. Tais reflexões seafinambastantecomopensamentodeNietzsche,emGenealogiadamo-raleoutrasobras,deacordocomoqualatradiçãoreligiosaocidentalémarcadapeloressentimento.Oressentimentoédirigidocontraaprópriavidaecontraomundo,umavezque,taistradições,emvezdeafirmaremabelezaefertilidadedavidaedomundo,negamomundocomoapenasumaterrademisériaseexpiações,eanunciamum“céu”ouparaísoextra-terrestre,“acima”domundo,destinadoaosbonsservosdoSenhor.

Entretanto,Einsteindefendeaexistênciadeuma“religiosidadecós-mica”,umsentimentoprofundodeadmiraçãoegraçadiantedomundo–e,portanto,aafirmaçãodomundoedavida.Talreligiosidadeévividacomoumconstanteestadodeêxtase,deencantamento,ohomemsedes-cobrecomopartedeumuniversomisteriosoebelo,imersoemumrico

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contextoexistencial,diante,sempre,dosagrado,tendo,aoalcancedesuasmãos,umaprofundaordem,matéria-primadoser.

Einstein e o mundo físico como Deus manifesto

Einstein, reiteradas vezes, deixou claroque era spinozista, estabele-cendoentreanaturezaeosagradoumaconexãoinapelável.DeacordocomSpinoza,Deuséimanente,istoé,estánomundo.SuaonipresençavemjustamentedofatodequeElenãoestáemtodososlugares,mastodososlugaresestãoNele,istoé,seDeuséoprópriouniverso,entãonãohánemlugarnemtempoalgumparaosquaisDeusnãoestejapresente,emmaioroumenorgrau.7Poderíamosdizerquesetratadeumaonipresençahiperbólica:nãoésimplesmenteocasodequeDeuspossuaacapacidadedeestaremtodososlugaressimultaneamente,masodeadmitirquecadamilímetrodeespaçoediminutafraçãodetempo,cadaquantumdematé-ria,nãosãonadaalémdoquepartesdeumTodoqueéDeus,portanto,partesdeDeus,partículasdivinas.Nessesentido,asleisdanaturezasãoaexpressãodeDeus,queéOrdem.

DeacordocomEinstein,oconceitotradicionaldeDeuséodeumSerapartadodomundo,umCriadorseparadodesuacriação.Esta“ordemcriadora”,nas tradiçõesreligiosas, recebeonomedeDeusouqualqueroutroquelhesejaconceitualmenteequivalente,etalEnteépersonificadopormeio de uma séria de atributos queLhe são predicados.Entretan-to,argumentaEinstein,Deusnãoéin-divíduo,istoé,nãoestádividido,separadodomundo.Talnoçãonos remeteàspalavrasdeNidaiSama:ElenãopassadeumamanifestaçãopersonificadadaverdadeirafiguradoUniverso(Poder que Governa).8Este“PoderqueGoverna”,paraEinstein,éonúcleonomológicodomundo,istoé,atotalidadedasleisdanature-za.Sendoassim,háumarelaçãodeidentidadeentreDeuseuniverso,demodoqueossentimentosdohomemreligiosoedohomemdeciênciaseafinamprofundamente:

Reconheçamos, no entanto, na base de todoo trabalho científicode algu-ma envergadura, uma convicção bem comparável ao sentimento religioso,porqueaceitaummundobaseadonarazão,ummundointeligível!(...)Estaconvicção,ligadaaosentimentoprofundodeumarazãosuperior,desvendan-

7.BaruchSpinoza,filósofoholandêsdeorigemportuguesa,autordeÉticaàma-neirageométrica.8. Jornal Eiko,no454

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do-senomundodaexperiência,traduzparamimaideiadeDeus.Empala-vras simples,poder-se-ia traduzir, comoSpinoza,pelo termo“panteísmo”.(Einstein.1981,p.87)

Aatividadecientífica,portanto,éumabuscaespiritual,umsacerdó-cio,pormeiodoqualouniversocontemplaasimesmoatravésdesuapar-teconsciente,nóshomens.Seanaturezaésagrada,entãoaciênciaquesededicaacompreendê-laéumlaboriosoexercíciodeespiritualidade.Aci-ênciaéodesejometódicoincansáveleinsaciáveldecompreensão.Dessemodo,portanto,emcertosentido,“ésedeefomedeDeus”,umestadodegraça,umencantamentoestéticoemque,diantedeumuniverso-beleza,deumuniverso-mistério,ocientistaexperimentaoencontrocomaordemquegovernaomundoevivedemodosublimeabelezaquerepousanascoisas.Sendoassim,aCiênciasetransformaemarte,naartededecifrarocódigodanatureza,etalprocessoserevelatambémcomoreligiosidade,umavezquesemostracapazdere-ligarohomemaosagrado.Deacordocomtalinterpretação,oautênticoespíritocientíficoseencontranainter-seçãoentreciência,arteereligiosidade:

Diagrama deVenn representando a intersecção entreReligiosidade(R),Ciência(C)eArte(A)querespectivamentepermutam(P)com“ex-periênciareligiosa”(r),“experiência(“visão”)científica”e“experiênciaestética”.IssosignificaqueRpodelevaràrassimcomorpodelevaraR.Todasasvariáveissãopermutáveisentresi,porexemplo,deumaexperi-ênciaestéticaapodeseseguirumaaexperiênciareligiosa.9

9.DesenvolvidospelomatemáticoefilósofoJohnVenn(1834–1923).Osdiagra-masdeVennsãoamplamenteutilizadosemdiversasáreas,taiscomomatemáti-ca,lógica,geografia,estatística,sociologiaet caetera.

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Erwin Schrödinger e o valor transcendental da ciência

DeacordocomSchrödinger,aciênciaéumaatividadeprofundamentefilosófica,aindaqueseuvalornãosereduzaaodesenvolvimentodetécni-casetecnologiascomfinsdeutilidadeprática,emborataiscoisaspossamser importantes consequências do saber científico. Schrödinger defendequea ciência évaliosanamedidaemqueparticipadabuscapor solu-cionarasgrandesquestõesfilosóficas.Opensadornosapelaaocomandodadivindadedélfica – conhece a ti mesmo – enos lembradaquestãodePlotino–E nós, quem somos nós afinal? –a fimdeafirmarquenenhumaciênciaemparticular,isolada,possuiqualquervalorepistêmico,masape-nasatotalidadedossaberesdirecionados,concorrendoparadesvendaroenigmadoser:

(...)pretendiadizerqueconsideroaciênciacomoumaparteintegrantedonossoesforçopararesponderàgrandequestãofilosóficaqueabarcatodasasoutras,aquestãoquePlotinoexpressoudeformabreve:quemsomosnós?Emaisdoqueisso,consideroqueestaénãosóumadastarefasdaciência,masatarefadaciência,aúnicaqueefetivamentetemimportância.(Scrödinger,1996,p.132)

Nessesentido,podemostraçarfecundosparalelosentreaconcepçãodeciênciadeSchrödingereaconcepçãodeartedeMokitiOkada.AssimcomoaciênciaparaSchrödinger,aarte,paraOkada,possuivaloremsi,transcendendo a geração de produtos ou comportamentos práticos.Decertomodo,nenhumaarte isolada, completamentedescontextualizada,possuioautênticovalorestético.OconceitodeBelo,paraOkada,maisqueumaarteemparticular,nosremeteàglobalidadedeumavidaartísti-ca,ondebeleza,elegância,organização,simplicidade,sãoforçascriativaspresentesemnossospensamentospalavraseaçõesematerializadasnosobjetos físicosquenos rodeiamequegeramos, sejamobrasdearteemsentidoestrito,ouquaisquerutensíliosdeusodiário.

Arelaçãodaciênciacomosagradoébastantefecundaeevidentenes-teautor.Schrödingerconjugoupensamentovédico,atomismoefísicacon-temporânea,pensandoomundomaterialcomoefeitodoEunosentidovédico:umaconsciênciauniversal,impessoal,umaestruturatranscenden-talquedeterminaomundo,quecontrolaomovimentodoscorpúsculos

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deacordocomleisnaturais.AntonioPizaassimresumeopensamentodeSchrödinger:10

(...)oEu,nosentidomaisamplodotermo,équemcontrolaomovimentodosátomosdeacordocomasleisdaNatureza.EssaposiçãoéconfrontadacomadosUpanishads(Athman=Brahman,oeupessoalidentificadocomoeuonipresenteeeterno)ecomafrasedosmísticos:Deus Factus sum(EumefizDeus).(Piza,2007,p.177)

Aindaqueouniversosejaaexpressãode Brahman,e,portanto,sagra-

doa priori,Schrödingerargumentaqueaciência,atividadequeoinvesti-ga,éummododeapreensãodosagrado,umaarte:aartedeaproximaroentendimentohumanodoentendimentodivino.Mesmoquetalpropósitonãosejaalcançável,cadapequenopassodadopelaciênciarepresentaumgrandeavançoparaoespíritohumano.11

Werner Heisenberg e a ordem central: a ciência como experiência estéti ca

ArelaçãoentreHeisenbergeGoetheé,nessesentido,oquemelhorilustraoproblemaemquestão.Em1942,HeisenbergescreveA ordenação da realidadeummanuscritonoqualpretendeanalisaro“pensamentodeGoethe acerca do real”.Heisenberg detém-se numadendo à “doutrinadascores”deGoethe,noqualopensadoralemãoapresentaa ideiadequearealidadeécompostapor“camadas”ouregiõesjustapostas,asaber,pelaordem:causal,mecânica, física,química,orgânica,psíquica,ética,

10.AntônioF.R.deToledoPiza,doutoremFísicaNuclear,peloMassachusettsIns-tituteof Technology,professordeFísicadaUSP.11.Brahmaéumdostrêsdeusesdatrilogiadivinasuprema,namitologiahindu.OsoutrossãoVisnueShiva.Brahmaseriaaforçadecriação,oprocessocriativoquede-senvolveouniverso.Nohinduísmo,otempoécíclico.Shivaseriaaforçadestrutiva,tãosagradaenecessáriaquantoàforçacriativa,masopostaaesta.Shivaseriarespon-sável,quandochegadaaeraespecíficadecadaciclocósmico,pordestruirouniverso.Isso somente épossível, porqueBrahma,nesta era, encontra-se adormecido.Apósdespertar,Brahmarecriaouniversoeficadespertoporumdia.OdiadeBrahmaequi-valeriaa4.320.000.000anos(quatrobilhõesetrezentosevintemilhõesdeanos)paraocalendáriohindu.Emsuma:semprequeBrahmavaidormir,háadestruiçãodouniverso,esemprequeacorda,tudoérecriado.QuandosecompletaremcemanosdeBrahma(311.040.000.000.000–trezentoseonzetrilhõesequarentabilhõesdeanos),eleetodososdeuseseouniverso(mundofísico)serãodesintegrados,oudissolvidos,retornandoaoníveldeelementosprimordiais.

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religiosaegenial.Qualanaturezadecadaregiãoequaisasconexõesno-mológicasentreelassãoalgumasdasquestõesabordadasporHeisenberg.Nessetexto,HeisenbergdefendealgoquetambémapareceemA parte e o todo:aartecomomeiodereligareentreohomemeaordemcentral.Essa-obradeHeisenbergterminacomosseguintesdizeres:

VonHolstbuscousuaviola,sentou-seentreosdoisrapazesejuntou-seaelesnaexecuçãodaSerenataemrémaior,umaobradajuventudedeBeethoven.Elaé transbordantedealegria e forçavital.Aconfiançanaordemcentraldissipaacovardiaeocansaço.Enquantoeuouvia,fortaleceu-seminhacon-vicçãodeque,avaliadaspelaescalatemporalhumana,avida,amúsicaeaciênciaprosseguiriamparasempre,aindaquenósmesmosnãosejamosmaisdoquevisitantestransitórios,ou,naspalavrasdeNiels,simultaneamentees-pectadoreseatoresdograndedramadavida.(Heisenberg.1996,p.286)

Nãoestáclaro,demodoalgum,oqueHeisenbergquerdizercom“or-demcentral”–epararespondê-lo,quiçá,necessitaríamosdeumapesqui-saespecíficadessaquestão–,maspodemos inferirque se tratadealgoquepoderíamosdenominarcomo“OBelo”,“abelezaemsi”.Aordemcentral, aquilopormeiodoqualomundo“vema ser”,quemantémaconexãonomológicaentre“aParteeoTodo”–asestruturasessenciaisdanatureza–épurabeleza.Oidealdebelezaaparececomocaracterísticadasimplicidadelógicadasestruturasmatemáticasfundamentais,edetaisestruturasderivaomundo–embora taisestruturasexistam,anaturezaé.Nonívelfundamental,portanto,omundoébeleza.OBeloé,aumsótempo,caminhoquenoseleva,ecernedomundo.ParaHeisenberg,pormeiodoBelo,presentetantonaciênciaquantonaarte,ohomempodecontemplaraordem central.Heisenberg,portanto,defendeumprofundoparentescoentreciênciaearte:“Comoessaaspiraçãoporordenaçõeshar-mônicas forma constantemente a força impulsionadoradopensamentocientífico,aciênciatambémpermanececonstantementemarcadaporumparentescoestreitocomaarte”(Heisenberg.2009).

Masseháparentescoentreciênciaearte,qualéogenecomumaam-bas?Porcertoabelezadasestruturasmatemáticas,abelezadasimplicida-delógicaquegaranteopoderformaldeunificaçãodeseusfundamentos,oquetransparecedaspalavrasdeHeisenberg:“Aligaçãoestreitadamate-máticacomaarteédadapormeiodabelezaimediatadasestruturas,quesãoexpressaspormeiodeumasentençamatemática”(Heisenberg.2009).Obviamentequeoconceitode“Belo”,nessesentido,nãodizrespeitoaquantoasleisdanaturezasãobonitas,mas,sim,acomosãoelegantes.As

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estruturas fundamentaisdanatureza sãoelegantesno sentidode seremsimples,simétricas,depoderemserdescritaspormeiodefórmulasigual-mentesimples.Averdadeirasimplicidade,portanto,guardaosmistériosdomaisintricadoníveldecomplexidade.

Quantomaiorograude“beleza”,maispróximodaordemcentral,da“puraforma”seencontraumsabercientífico:

Emtodocaso,ovalordeumarealizaçãocientíficanãoémedidosegundooobjeto,istoé,nãoémedidosegundoasignificaçãohumanadomaterialaordenar,e,commaiorrazão,nãosegundouma“utilidadeprática”qualquer,masapenassegundoabelezaeaforçafrutíferadasestruturasexpostas.(Hei-senberg.2009,p.130)

Coadunamcomtalpensamento,tantoumSchrödinger,paraoqual,comojávimos,ovalordaciêncianãoresidenemnoseudesenvolvimentotécnico,nemnasuacapacidadedeproduçãodetecnologiascomfinsdeutilidadeprática,masnofatodeparticipardealgummododabuscaporsolucionaraquestãofilosóficafundamentalQuem somos nós? quantoumMaxBorn,deacordocomoqualoempreendimentocientíficotranscen-deamerabuscaporutilidade:“Opensamentoamericano,deseu lado,encontra-seàmercêdeumpragmatismosuperficialqueconfundeverdadeeutilidade”(Born,2000).

NessecontextoheisenbergnianoéquepodemosentenderaspalavrasdeFernandoPessoaquandodiz“pormeiodeÁlvarodeCampos”queobinômiodeNewtonétãoBeloquantoaVênusdeMilo:claroquenãosetratadamesmabelezaplástica,quenãoéocasodepossuíremasex-pressõesmatemáticasomesmoapelovisualquepossuemasbelasartes.Entretanto,numnívelprofundo,asexpressõesmatemáticaseasbelasar-tescompartilham,emseusfundamentos,depropriedadescomuns:simpli-cidade,ordem,estruturaçãoharmônica,capacidadedecompactaçãodeinformações(umapequenaobradearte,porexemplo,podecondensarumconteúdoculturalenosprovocarumaexperiênciasubjetiva,cujoconteú-dofinal,parecetranscenderemmuitoaformaartísticaoriginal)eenfim,ambassãocapazesdenosprovocarumaexperiênciadetranscendência,istoé,denos transportar,nemquesejaporalguns instantes,aosníveisexpandidosdeconsciência,paraquepossamos,aindaquedemodolimita-do,vislumbraraordemcentralsemosvéusquecomumenteaencobrem.

A“OntologiaFormal”deHeisenberg,portanto,étambémuma“Esté-ticadoBelo”,ouuma“Metafísicadabelezaemsi”.Todavia,taisdenomi-

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naçõessãoapenaspalavras,jogosdelinguagem,enãoparecemcaptaroaspectotranscendentaldasestruturasformaisfundamentais–estas,nasuasimplicidadelógica,são“purasformas”,e,portanto,“belezaemsi”.Nãopodemostocá-las–nãosãoempiricamentecognoscíveis–,estavamcertososantigos,teremosdecontemplá-laspelasviasformaisdopensamento.

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EduardoMeinbergdeAlbuquerqueMaranhãoFilho1

Resumo: Asociedadedoespetáculo,expressãodeGuyDebord,floresceemlugaresdistintos,eumdeleséocamporeligiosobrasileiro,localizadonumaHistóriadoTempoPresente.AigrejaneopentecostalBoladeNeve,ouBoladeNeveChurch,éexemplodeinstituiçãoqueseutilizadeferra-mentasdemidiatizaçãodistintasparaconsolidareagenciarseudiscursoreligiosoecriar/fomentarsentimentoscomoodepertença,odeinteligibi-lidadeeodeadesãoreligiosa.Umadasformascomoainstituiçãoveiculaseudiscurso,equeapresentonestacomunicação,éacançãoqueinterpolapoéticagospelemúsicareggae,servindodeinstrumentoespetacularizadoremidiatizadordainstituiçãoeelementoperformatizadordeseudiscursoreligioso.Palavras-chave:gospel,espetáculo,mercado,BoladeNeveChurch

Asociedadedoespetáculo,expressãodeGuyDèbord,floresceemlu-garesdistintos,eumdeleséocamporeligiosobrasileiro,localizadonumaHistóriadoTempoPresente.A igrejaneopentecostalBoladeNeve,ouBoladeNeveChurch,fundadaem1999,emSãoPaulo,porRinaldoSei-xas,éexemplodeinstituiçãoqueutilizaferramentasdemidiatizaçãodis-tintasparaconsolidareagenciarseudiscursoreligiosoecriar/fomentarsentimentoscomoodepertença,odeinteligibilidadeeodeadesãoreli-

1.DoutorandoemHistóriaSocialpelaUniversidadedeSãoPaulo(USP),mestreemHistóriaSocialpelaUDESC.PesquisadordoNEHO–NúcleodeHistóriaOraldaUSPedoLEI–LaboratóriodeEstudossobreaIntolerância–USP<[email protected]>.

CançãogospelcomomidiatizadoradaBoladeNeveChurch

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giosa.2ConvencionocomomarketingdeJesusesseconjuntodeestratégiasdeatendimentoecriaçãodedemandasreligiosasedeatraçãodepúblicosàsigrejasevangélicasoucatólicas,considerandoesteumfenômenoquese inserenumcontextosocial sublinhadopelocruzamentoentremídia,espetáculoemercado,inscritosnumtempopresenteeimediato.

NocasodaBoladeNeveChurch(chamadaposteriormenteBDNnes-tesescritos),acançãoqueinterpolapoéticagospel emúsicareggaeservedeinstrumento espetacularizador emidiatizadorda instituição e elementoperformatizadordeseudiscursoreligioso.

Decertomodo,nogospel sepodeidentificarcantores(entendidoscomoprodutos)vinculadosfortementeacanções.Atualmente,umexemploestánacançãoFaz um milagre em mim,referidanoprimeirocapítulo,compostaeinterpretadaporRégisDanese,ex-backing vocal doSPC(SóPraContra-riar).EssacançãosetornouconhecidanoBrasilinteiroduranteoanode2009,recebendoasinterpretaçõesdediversosartistas,inclusiveseculares.Nessecaso,apesardeoartistasevincularàcançãodemaneirapotenteeserlembradoporcausadela,háumaultrapassagem:acançãosetornandomaisconhecidaqueseuautor,nemtodosselembrandodelequandopen-samouescutamacanção.

Caia Babilônia,daTribodeLouvor,éprovavelmenteacançãomaisco-nhecidadaBDN,e,paraseufrequentador,escutarseusacordesiniciaisofazautomaticamenteassociá-laaDeniseSeixas,esposadeRinaldoSeixaselíderdaTribodeLouvor.Nessecaso,éumaligaçãotripartite:acançãoremeteàcantora,que,porsuavez,lembraaigreja,emmovimentocircu-larenãonecessariamenteordenado.Dessemodo,oqueseapontaéparaa importância da canção, especialmente daquelasmais simples, as quemarcamnossamemória:seaocantarofielselembrardoartistae/oudaigreja,discursosemercadoriasestarãosemprepositivamentepresentes.

Hatambémcantoresqueseligamadeterminadasigrejas.UmdeleséRodolfoAbrantes,ex-vocalistadosRaimundos.TendoabandonadoosRaimundosemseuauge,eporessa razãorepresentandopossivelmenteumaexceçãoemrelaçãoaosartistassecularesqueoptampelasigrejasemercadosevangélicos,RodolfosevinculoufortementeàBDN,inclusivegravandoelançandoseusúltimostrabalhospormeiodesta.Aosequestio-

2.Mais especificamente, entendo a Bola deNeve Church como igreja perten-centeaumneopentecostalismodesupergeração,ouaadequaçãoàsmaiscon-temporanizadasformasdemidiatização,especialmenteainternet,dentreoutrascaracterísticas,comopode-senotaremNeopentecostalismodesupergeração:ociberespaçocomochaveparaosucessoneopentecostal.HistóriaAgora,RevistadeHistóriadoTempoPresente.Volume10,dossiêReligiõeseReligiosidadesnoTempoPresente.25dez.2010.

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narsobreo“Rodolfoconvertido”,ouaindao“Rodolfocrente”,amaioriadaspessoasoassociaàBDN.Masporqueisto?

ÉplausívelqueRinaldoSeixas,ouapóstoloRina,comoémaisco-nhecido, tenha procurado analisar determinada demanda, a de jovensquesãoapaixonadosporessegêneromusical,eprocuradoatenderaessenichomercadológico.Assim,teriaconstituídoorock eoreggae comoins-trumentosdesatisfaçãoecooptaçãodejovens,e,nessesentido,RodolfoAbrantessetornariaumamercadoriapromotoradediscursosedeoutrasmercadorias.Alémdisto,ocapitalsimbólicoqueRodolfocarregaécapazdeatrairjovens,criarrepercussãopositivanasmídiasedotaraigrejademaioreficáciasimbólica.

Pensandona pranchade surfe sobre o púlpito,marca registrada daBDN,quesegundoseumitodefundaçãofoifrutodoacaso,elatambémserviu comopromotora de determinada imagem: “uma igreja de gentejovem,bonita,desurfistas”.Rodolfo,pelasuasuperexposiçãonasmídiasgospel eseculardesdesuasaídadosRaimundos,pelasuaimagemdejovemalternativo–etambémsurfista–epelasuacondiçãodecantorde rock,masgospel,tomaparasiopapeldeprodutordesignificadosjuntoaoseupúblico,veiculandoimagensnomesmosentido.

Rodolfo,alémdeseassociaràBDN,selinkaàgravadoradaigreja,àradiodifusora,àBolaTV,àCrista.TantoelecomoaBDNdivulgammen-sagensevangélicasporintermédiodessasmídias,edosprópriospalcos-al-tares(Campos,1997,passim),aocantare/oupregar.Ambos,emrazãodesua midiatização/espetacularização/mercadorização, podem ser vistoscomoprodutosdeconsumo,mastambémprodutoresdesentidos,graçasàcapacidadedereverberaçãodemensagensoperadaemrelaçãoaosseusouvinteseespectadores.

Omarketing de Jesus,comoseaponta,sobreviveemboapartegraçasàcançãogospel.NocasodaBDN,essaimportânciaseidentificanosítio,queserefereaváriosministériosassociadosaesta,comoodeÁudio e vídeo,responsável“pelagravaçãodoscultos,palestrasecongressosqueocorremnaIgrejaBoladeNeveepelavendadeCDseDVDsdepregação”,3odaLojinhadaBola,quecomercializaosCDsqueaigrejaproduz,oministé-riodeDançaeodeLouvoreAdoração,momentoemqueofielé“que-brantadoeoEspíritoSantodeDeussemovetrazendocura, libertação,perdão, restauração, salvaçãoepreparapara receberapalavra”,4oque

3.Ministérios.BoladeNeveChurch.Disponívelem:<http://www.boladeneve-church.com.br/index2.php?secao=ministerios>(Acesso20nov.2009).4.Ministérios.BoladeNeveChurch.Disponívelem:<http://www.boladeneve-church.com.br/index2.php?secao=ministerios>.(Acesso20nov.2009).

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identificaopapeldacançãocomosensibilizadoraeindutoradesentidos(preparandoparareceberapalavra),criandocondiçõesemocionaisfavo-ráveisàescutadapregaçãodosacerdotedaigreja,quecostumaestimularofielapassarnaLojinhaeconhecermelhorumprodutoououtro.Assim,acançãogospelsemostracomopropiciadoradetodosessesfenômenos.

Entendoqueopróprioléxicogospelfuncionecomoumdispositivoestra-tégicoempregadopelasgravadoraseigrejasparadarvaloràsmercadoriasquesãoveiculadasporeles,qualificandopositivamenteeatraindonichosdemercadoespecíficos.Aescolhadogêneromusicalquevai revestirapoéticaevangélicatambéméimportante,vistoserumdosfatoresquevaidotaroprodutoeseusdiscursosdeeficácia performativa.5Assim,conhecen-do-seoarcabouçoculturaldoseupúblico-alvoeseurespectivonichomer-cadológico,eancorando-seneste,oprodutordamercadoriagospelaten-deaosseusanseios,e,emalgunscasos,criaessasnecessidades,sendoasmercadoriasmaisbem-aceitassereceberemoepíteto gospel.Aísepoderiaperguntar:emqueníveisaindústriafonográfico-publicitáriagospel deter-minaogostodopúblico,eemquetermosademandacondicionaaoferta?

AcançãogospeldaBDNpareceapontarparaessesdoissentidos:aopassoemqueatendeumademanda,adeumpúblicoquegostadereggae ede rock,elacriainteresses,estimulandoosfiéisàaquisiçãodefonogramaseDVDseacompareceremshows.AcançãoCaia Babilônia,porseramaisconhecidadentrodorepertóriodaBDN,talvezsinalizeumpoucoparaessesaspectos,e,poressarazão,escolhoanalisá-labrevemente.

Caia BabilôniafoicompostaporDeniseGouveiadeSeixasPereira,es-posadeRinaldoSeixas,fundadordaBDN,provavelmenteem2004,anodesuagravação(ouantesdestadata).DeniseSeixas,comorelata-seemseumitopessoaldeorigem,6envolveu-secomdrogasatésofrerumaover-dose,sendoreabilitadapelaEbenézer,obradeassistênciasocialdePraiaGrande,SãoPaulo,ondeelamorava.7Evidentemente,suascomposiçõesse revestem de suas experiências religiosas, assumindo, como apontouJoséGeraldoVincideMoraes,“inevitavelmenteasingularidadeecaracte-rísticasespeciaisprópriasdoautoredeseuuniversocultural”,8nomesmosentidoquesuaperformatização(entendidaaquinosentidodeinterpre-taçãovocal),comosublinhaValente,“carregaumaidentidade,desaberesacumuladosdeexperiênciasarraigadasnopassado,quefuncionamedian-

5.BOURDIEU,1996,p.1116.CHAUÍ,2000,p.35.AobraéMitofundadoresociedadeautoritária.7 Biografia de Denise Seixas. Disponível em: <www.letras.com.br/biografia/banda-ruths>.Acessoem:20nov.2009.8.MORAES,2000,p.211.AobraéHistóriaemúsica:cançãopopulareconhe-cimentohistórico.

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teumaassimilaçãodeelementosestereotipados”,9podendo-seperceber,pormeiodaanálisedavocalidadedoartista,“todaasuahistóriadevidaedavidadaartequeeleprofessa”,10abstraindoinformaçõesarespeitoda“tecnologiaquelhepossibilitouafixaçãoemumamídia(odisco),notem-po,comotambémtodososvínculosculturaisquesubjazemàquelapoéticaquesematerializapelaperformance.11Demaneirasimilar,Napolitanoco-mentaque“acançãoéprodutodeumasubjetividadeartística,quenãoéisolada”,equecadaautor“dialogacomumaoumaistradiçõesestéticas,possui formação cultural específica, tem sua singularidade biográfica epsicológica,atingecertograudedomíniotécnicodoseucampodeexpres-sãoetemdeterminadacolocaçãosocialesimbólicanoseutempo.12

DeniseSeixas,compositoradascançõesdaTribodeLouvor,queportê-lacomocapitãéoconjuntoprincipaldaigreja,performatizaseustra-balhosnoscultosdaigreja-sede,nobairrodePerdizes,emSãoPaulo,easmidiatizaporváriosmeios,comoveremosemseguida.13

Napolitano,sinalizandoparaoentendimentodocontexto da obra,re-fere que cada trabalho tem“umuniverso referencial determinado, cujaidentificaçãoéimportantenaanálise”,14oquenocasodaBDNapontapara asdoutrinas veiculadaspelaBDN, especialmente adabatalha es-piritual.15Acançãoestáinseridanumálbum,oLouvor e Adoração,econ-

9.VALENTE,2005,p.97.AobrareferenciadaéMúsicaéinformação!MúsicaemídiaapartirdosconceitosdeR.MurraySchaferePaulZumthor.In:SILVA,RafaelSouza.Discursossimbólicosdamídia.10.Ibidem,2005,p.96.11.Ibidem,2005,p.96.12.NAPOLITANO,2002,p.100.AobraéHistóriaemúsica:históriaculturaldamúsicapopular.13.Nãoconsegui,atéomomento,localizarinformaçõescomoosinstrumentis-tasparticipantesdagravação.ComoobserveideminhaexperiênciaparticipativanaBDN,aformaçãodaTribodeLouvor,comexceçãodesuafront-leader,ébastantemóvel,seusintegrantessendomuitasvezessubstituídosdeacordocomaconveniência.14. NAPOLITANO, 2002, p. 100.15.Os títulosdascançõesdãoesta ideia:aprimeiracançãodoálbumLouvoreAdoração(primeiroálbumdaTribodeLouvor)éCaiaBabilônia,seguidadeManhãdeSol,cujaletraremeteàsensaçãoquetemosurfista(públicoquenoiníciodaigrejaeraseumaiorfrequentador)aopraticarseuesporte(emparalelocomespéciedemergulhonaPalavradeDeus),FoiporAmor,ICoríntios13(combasenosversosatribuídosaPaulo,oapóstolodosgentios),EstarnosTeusCami-nhos,NãoTemerei(queapontaparaaBatalhaEspiritual),CorpoeFamília,EueMinhaCasa,LuzdoMundo,VerdadeiroAdorador,FontedeÁguaViva,AndarcomDeuseEspíritodeDeus.

Arte

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tacomparticipaçõesnosvocaisdeDavidFantazzini(ex-participantedoprogramaFama,daTVGlobo),ZeiderPires(vocalistadabandadereggae PlantaeRaiz)edoagorapastorCatalau(ex-vocalistadabandadehard-rock paulistanaGolpedeEstado,muitoconhecidanadécadade1980).Oconjuntotambémgravoucomocantorbaianodereggae NengoVieira(quesetornoupastordaunidadedeSantos)emseusegundotrabalho,oCDTe Vejo Pai,de2006,eparticipou,comoanfitrião,do show quedeunomeaoprimeiroDVDdaBDN,O Maior Amor,de2007,gravadonoCitibankHall,casadeespetáculosemMoema,bairronobredeSãoPaulo,indican-doasuaintrojeçãonoquesecostumachamar“mundosecular”,ouonãoevangélico,talvezrefletindoumapreocupaçãoevangelística.16Asintenções de alcance do autor tambémdevemseranalisadas,podendoserassociadas,comodizNapolitano,aumpúblico-alvoaseratendido,umcamposocio-culturaldeterminado,eumcontextoespecífico:“oartista,aocriarumaobra,procurapassarumamensagemdiantenãosódeumcontextoespe-cífico,mastendoemmenteumgruposocialouumcamposocioculturaldeterminado, incluindo-se aí as implicações político-ideológicas de suaobra”.17ConsiderocomoobjetivodeCaia Babilônia,dentrodeumplane-jamentoestratégico,atenderaumnichomercadológico,atraireconservarfiéisinseridosnasociedadedoespetáculo,venderasplataformasondeacançãoseinsere(CD,DVD),divulgarumdiscursodaigreja.Outroobjeti-vopossívelestáemdaraodiscursodaigrejamaioreficáciaperformativa:aocantar(einduziraocanto)letrasquetraduzemasteologiasadotadaspelaigreja,odiscursopastoralrecebenovalegitimidade,facilitandosuaaceitaçãoporpartedoouvinte.

Referências Bibliográficas

BRASIL,MarcusRamúsyodeAlmeida.Reggae, religião,mídiaepolítica:dos“outsiders”ao“innercircle”.5oEncontrodeMúsicaeMídia:E(st)éticasdoSom,2009,SãoPaulo,Anais do Encontro de Música e Mídia: E(st)éticas do Som,SãoPaulo,2009.CHAUÍ,Marilena.Brasil.Mito fundador e sociedade autoritária.SãoPaulo:Funda-çãoPerseuAbramo,2000.

16.Jáapartirdadécadade1990,comoestratégiademidiatizaçãodesuaGospelRecords,aRenascer(comooutrasigrejas)promoveuespetáculosdeseusartistasemcasasdeshowseoutrosambientesseculares,e,comoapontaBaggio,lotaram“espaçoscomooCanecãodoRiodeJaneiroeoDamaXocemSãoPaulo”,al-cançandograndesucessoemseusobjetivos(Baggio,2005,p.63).17.NAPOLITANO,2002,p.100.

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MORAES,JoséGeraldoVinci.“Históriaemúsica:cançãopopulareconheci-mentohistórico”.Revista Brasileira de História,SãoPaulo,v.20,n.39,p.203-221,2000.NAPOLITANO,Marcos.História e Música:históriaculturaldamúsicapopular.BeloHorizonte,MinasGerais:Autêntica,2002.OLIVEIRA,MárciaRamosde.“Cantoetradição:avozcomonarrativahistóri-ca”.In:PESAVENTO,SandraJatahy;ROSSINI;MiriamdeSouza;SANTOS,NádiaMariaWeber.Narrativas, imagens e práticas sociais.PercursosemHistóriaCultural.PortoAlegre,RS:Asterisco,2008.VALENTE,HeloísadeAraújoDuarte.As vozes da canção na mídia. 1. ed. SãoPaulo:ViaLetteraEditoraeLivrariaLtda/Fapesp,2003.v.1.._____________.“Músicaé informação!Músicaemídiaapartirdos conceitosdeR.MurraySchaferePaulZumthor”. In:SILVA,RafaelS. (Org.).Discursos simbólicos da mídia.SãoPaulo;Santos:EdiçõesLoyola;EditoraUniversitáriaLe-opoldianum,2005._____________.Os cantos da voz entre o ruído e o silêncio.SãoPaulo:Annablume,1999.

Arte

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RosângelaGallucci1

Resumo: Pormeio do processo criativo executei um projeto de designparaumespaçoemminharesidência,levandoemconsideraçãoosanseiosenecessidadespessoais,conjuntaseespaciaisdeminhafamília.Oprojetofoidesenvolvidocomoobjetivodeaplicareexploraromáximodecriati-vidadedentrodeumorçamentocompatívelcomasminhaspossibilidadesfinanceiras.Alémdisso,tambémfoipriorizadaacriaçãodeumambientemaisbelo,harmoniosoeagradávelparaaspessoasquereceboemmeular.ForamredecoradasassalasdevisitaedejantaretodootrabalhofoiinspiradoemumensinamentosdeMeishu-Sama:“Emprimeirolugar,abelezanãoaprazsomenteanósmesmos,poistambémalegraosolhosdosoutros.Portanto,pode-sedizerqueéumaespéciedevirtude.” (IMMB,1996,p.328).Palavras-chave:Meishu-Sama,design,beleza,harmonia.espaço.

Introdução

Aidealizaçãodeumprojetodedesignparaumespaçointeriordeumacasadevelevaremconsideraçãoosanseiosenecessidadespessoais,con-juntaseespaciaisdaspessoasquehabitamessacasa,comoafirmaMirianGurgelemseulivroProjetando Espaços (Senac,2007)

...éfundamentalolevantamentodascaracterísticasdecadaumdosindivíduosaosquaissedestinaoprojeto,comoparticularidades,temperamento,anseios,hobbies,expectativaseprioridades.Ascaracterísticasnodesempenhodasati-

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Umdesigninteriorcommaisharmoniaebeleza

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vidades relacionadas aos ambientes doprojeto devem serminuciosamenteinvestigadas,paraqueseprovidenciemosequipamentosnecessários.

Acreditoqueoambiente,oespaçofísico,denossolarexercemuitainfluênciaemnossobem-estar.

Desdequenãoultrapassemascondiçõesadequadasacadaindivíduo,asves-tes,aalimentaçãoeamoradiadohomemdevemserutilizadasdamaneiramaisbelapossível,porque issoestádeacordocomaVontadeDivina. [...](Okada,vol.único,1996,p.329)

Comesse objetivo, foi desenvolvidoo projeto apresentado a seguir.Houveanecessidadedeseaplicareexploraromáximodecriatividadedentrodeumorçamentocompatívelcomaspossibilidadesfinanceirasdafamília.Além disso, priorizou-se a criação de um ambientemais belo,harmoniosoe agradávelparaaspessoasque são recebidaspela famílianesseambiente.

Objetivo

Comaintençãodeoferecerumambientemaisbeloeagradávelparaminhafamíliaeparaaspessoasquenosvisitam,decidiusaraminhacria-tividadeeredecorarassalasdevisitaedejantardeminhacasa,inspiradaporMeishu-Samaquedizoseguinteemumdeseusensinamentos:“Emprimeirolugar,aBelezanãoaprazsomenteanósmesmos,poistambémalegraosolhosdosoutros.Portanto,pode-sedizerqueéumaespéciedevirtude”(Okada,1996,p.328).

Procedimento

Passoadescreverosprocedimentosadotadosparaarealizaçãodopro-jeto,quesedesenvolveuconformeasetapasdoprocessocriativo(Ford,D.Y.eHarris,1992,p.186-198).

A primeira etapa— enquadramento— consistiu emmomentos dereflexãoparadefinirasfunçõesqueassalasdeveriamexercer,bemcomode observação com olhar crítico dos ambientes em questão, buscandoidentificaroquedeveriapermanecereoqueprecisariasermudado,nãosomentepelosimplesfatodevisarumanovadecoração,masdeadequarumambienteagradávelebelocomatrocadealgunsmóveiseareutili-zaçãodeoutros jáexistentes.SegundoMeishu-Sama:“...oBelonãoé

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simplesmenteumasatisfaçãoindividual,mastambémoquecausaumasensaçãoagradávelaosoutros;assim,podemosdizerqueéumaespéciedeboaação”(Okada,2003,v.5).

Nasaladevisitasdeveriasertrocadoosofá,poisseencontravades-gastadopelotempocomocourorasgado,osoutrosmóveisdeveriamsertrocadospormóveismenores,ampliandoaáreadecirculaçãoeasparedesreceberiamumanovapintura.Enasaladejantarprecisavasertrocadoobufêquenãoseharmonizavacomamesaporseremdemadeirasecoresdiferentes.

Aetapaseguinte—elaboração—consistiuemremobiliarasaladevisitasedejantardeixando-asmaisbelaseharmoniosascomomínimocusto financeiropossível.Quantoàspossibilidades financeiras,Meishu-Samadizoseguinte:“Nossasroupas,nossosalimentoseanossamoradiadevemsertãobelosquantoopermitamasnossaspossibilidades,poisistoestádeacordocomavontadedeDeus” (IMMB,1996,p.328).Foramtrocadosalgunsmóveisquealiestavam,poiseramgrandesparaoespaçoenãofavoreciamumconjuntoharmoniosoebelo.Alémdisso,forampinta-dasasparedes,que,sendodecorbranca,estavamamareladaspelotempo.

Seguiram-seoutrasfases—sondagemeexploração—,quandopes-quiseiaspossibilidadesdeeumesmaexecutaranovadecoração.Procureipelastintasepelosmateriaiscompreçosmaisacessíveis.Pesquiseiaopi-niãodeminhafamíliaepediasuaajuda.

ComoseaproximavaoDiadasMães,tiveaideiadepedirdepresenteameumaridoeàsminhasfilhasumjogodesofánovo.Emvezdecadaummedarumpresente,pediquetodossecotizassememedessemumsó,poisassimocustoparacadaumseriamenoreeupoderiaalcançarmeuobjetivo.Quantoàdisposiçãodosmóveis,paramaioraproveitamentodeespaço,penseinapossibilidadedetrocaromóveldemeuAltardoLar,pois,pertencendoàIgrejaMessiânicaMundialdoBrasil,possuoumaltaremminhacasa.Oreferidomóvel,umbufêdemognomedindo2,20m,estavagrandedemaisparaasaladevisitas,adecoraçãonãoestavaharmo-niosa,entãoeuprecisavatrocá-lo.

Parasubstituiromóvelde2,20,mandeifazerumaparadordevidromedindo1,20parareceberoAltardoLar.Dessaforma,sobroumaisespa-çonasalaepudecolocarumrackdemadeira,damesmamadeiradamesadecentroqueacompanhaojogodesofá,paracolocaraTV,aaparelha-gemdesom,discoseDVDsetambémconseguiacomodarumapoltrona

Arte

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Sala de visitas com a nova decoração.

Sala de jantar com a nova decoração.

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Arte

reclinávelparameumaridoquetantoelequeria.Obufêqueabrigavaoal-tarpassouparaasaladejantaracompanhandoamesatambémdemogno.

Useiacorbrancaparapintarassalas,pois,comotenhomuitosqua-dros,penseiquesefossedeoutracorficariaumtantorebuscada.

Comooaparadorseriadevidrotransparente,deciditambémtrocaroAltardosAntepassados,queerademadeira,paraumdeacrílicobrancotransparente,porqueassimficariamaisleveeharmonioso.Parautilizarobufêdemognonasaladejantar,tivedemedesfazerdooutrobufê,queemborafossedemognonãocombinavacomamesa,poiseralaqueado;entãofizadoaçãoparaumacasadecaridade.

Oobjetivofoialcançado.Dentrodeumorçamentocompatívelcomminhascondiçõesfinanceiras,conseguiqueassalasdevisitaedejantarficassemmaisespaçosaseharmoniosas,resultandonumdesignmaisbeloeconfortávelparaafamíliaeparaaspessoasquenosvisitam.Meumari-doficoufelizcomsuapoltrona,minhasfilhasficaramsatisfeitasempodermedarumpresentequeeutantoqueriaeaspessoasquetiveramaopor-tunidadedenosvisitarelogiaramanossanovadecoração,principalmenteonovodesigndoAltardoLar,queficoumaisleve.

Reflexão

Realizaressetipodetrabalhometrouxeumaexperiênciasignificati-vamentepositiva.Conseguiredecorarassalascomumorçamentodentrodeminhaspossibilidadesecomumexcelenteresultado.Concluique,comumpoucodecriatividade,boavontadeemagradaraspessoaseesforçonaexecuçãodeumtrabalho,todospodemalcançarseusobjetivos.

Referências Bibliográficas

GURGEL,Mirian,Projetando espaço.SãoPaulo:EditoraSenac,2007.p.17.OKADA,Mokiti.Alicerce do paraíso.v.único.9.ed.SãoPaulo:FundaçãoMokitiOkada,1996.p.328,329_____________.Alicerce do paraíso.v.5.4.ed.SãoPaulo:FundaçãoMokitiOka-da,2003.FORD,DonnaY.;HARRIS,JohnJ.“Theelusivedefinitionof creativity”.The Journal of Creative Behavior,26,3,1992,p.186-198.

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PaulaHelenadaCostaGarcia1

Resumo:O pensadorMokitiOkada2 cita a arquitetura comouma ra-mificaçãoartísticaeimportanteparaaelevaçãodoserhumanoedaso-ciedade.Aecoarquiteturaéumalinhadepensamentoarquitetônicocomprincípiosambientais e socioculturais fundamentadanapreservaçãodanatureza,norespeitocultural,nautilizaçãodemateriaisnaturaisemelho-riadascomunidadesquehabitamseuentorno.Sãocritériosqueseiden-tificamcomalgunspreceitosdafilosofiaOkadianaaseremdescritosnotrabalhoemquestãotemoobjetivoderelacionarecompararfundamentosbásicosesimilarespresentesnasduasteorias.Trata-sedeumapesquisadeordemqualitativaeexploratória,baseadaprincipalmenteempesquisabibliográficaedocumentalequevemsedelineandoemfaseinicial.Dessaforma,os resultadosapresentados se encontramem fasededesenvolvi-mento,porémalgumasquestõesafiguram-seeépossívelnotarnãoape-nasafinidades,mastambémindicativosdafilosofiadeOkadaquepodemsesomaraopensamentoecoarquitetônico,contribuindoparaadiscussãodestetemarelevanteeatual.Palavras-chave: arquitetura ecologia, arquitetura sustentável, MokitiOkada.

1. Arquiteta com graduação e mestrado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP <[email protected]>.2.MokitiOkadaviveunoJapãoentreosanosde1882e1955.

Ecoarquiteturaeafilosofiaokadiana:algumassimilaridades

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Introdução

Asconsideraçõesaquiapresentadasrelacionamosfundamentosprin-cipaisdafilosofiaokadianabaseadasnaVerdade,BemeBeloeencontra-dasemseusescritos,comosconceitosdaecoarquiteturademonstradospor alguns autores.Opensamento okadiano trata da importância e dorespeito à natureza damesma forma que a importância da arquiteturaenquantoumadasramificaçõesdaartee,portanto,tambémfundamentalparaaelevaçãodoespíritodoserhumanoedascivilizações.Intencionan-doharmonizarabelezanaturaleabelezacriadapelohomem,Okadadei-xouescritoseconstruiuprotótiposparadisíacoscomessascaracterísticas;osSolosSagradosdeAtamieHakonenoJapão.Emboraseustextosnãotratassemespecificamentedeecoarquiteturas,podem-senotarsimilarida-des entreos conceitos,descritosnopresente trabalho.Aecoarquiteturatambémétidacomoelementoparaanálisepelasuarelevâncianopensa-mentocontemporâneo,atualmentemaisvoltadoparaaspráticassusten-táveisepreservaçãodeumanaturezaameaçadapelaatuaçãodohomem.

Desenvolvimento

Filosofia okadiana

AfilosofiadeMokitiOkadaéfundamentadanatrilogiaVerdade,BemeBelo:

VERDADE,nosentidoderealidadeautêntica,expressasemerro,impurezaouobscuridade–aperfeitaharmoniadanatureza.BEM,emtodaaacepçãodapalavra,exigindoqueohomemsetorneumseraltruísta,semprevoltadoparaopróximo.BELO,expressopormeiodaarte,nãosóaartedavida,mastambémaarteelaboradapelohomem(Okada,1981).

Apartirdessestrêsconceitosprincipais,éelaboradotodoopensamen-tookadianoqueserefereaosaspectosdiversosdavidadoserhumano,danaturezaedouniverso,indicandodemaneirapráticacaminhosparaqueohomematinjasuaverdadeiramissão:criarumasociedadecivilizada,comfelicidade,semdoença,pobrezaouconflitos.Diversoseinúmerosaspec-tossãoabordadosporessafilosofia,sendoorespeitoàsleisdanaturezaumpontoextremamenterelevanteporelemencionado.

ParaMokitiOkada,anaturezaéreferência idealparaodesenvolvi-mentodopensamentoedaspráticasdo serhumanoea ela se relacio-

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naaVerdade.Emboraanaturezaexistaparaserviraohomem,eledevepreservá-laerespeitá-la.

Umdosfundamentospresentesnanaturezaequedevemosobservareimitaréaordem.Anaturezarepresentaessaordem,fundamentalparaqueavidaprogridacomfluidezeharmonia:

DaOrdemdependeaharmoniadetodososmovimentosdoUniverso:asequ-ênciadasestaçõesdoano(primavera,verão,outono,inverno),aalternânciadosdiasedasnoites,odesenvolvimentodasplantas(certasfloresjamaisde-sabrochamantesdeoutras)etc.Ainfraçãooudesconhecimentodesseprincí-pioresultaemdesarmoniaeinsucesso.(Okada,1981)

ReferenteaoBelo,umadasquestõesqueMokitiOkadasempreseem-penhoufoinatransformaçãodavidahumanaemarte.Buscavabelezadeconteúdoeestéticanavidacotidianaeemtodasassuaspráticas;belezaestaqueeraexpressanasdiversasformasartísticas:artesplásticas,música,teatro,literatura,arquiteturaenoselementosdanatureza.MokitiOkadafrequentavateatroeexposiçõesparamantercontatocomoBelo,mastam-bémapreciavacaminhadaseviagensàsregiõesparaquepudesseapreciaraspaisagenseanaturezaambientallocal,contribuindoparaaguçarseuelevadosensoestético(IgrejaMessiânicaMundial,1985).Paraele,oBeloeraumdospontosfundamentaisparaelevaçãodoespíritoedamentedoserhumano.

O Bem, referente ao altruísmo, significa pensar no bem-estar e naevoluçãodosoutrosseres;nossaresponsabilidadeperanteahumanidade.SegundoOkada,amissãodohomeméconstruiromundo ideal e estemundodeveserrepletodeVerdade,BemeBelo.

Ecoarquitetura

“Ecoarquiteturaéaarteeaciênciadedesenharsistemasparaoshu-manosqueestejamintegrados,funcionaleesteticamente,aoecossistemanatural”(Ecotecture, The Journal Of Ecological Design,[s.d.]).Aecoarquite-tura,resultadodajunçãodaspalavras“ecologia”e“arquitetura”,designaconstruçõesarquitetônicasprojetadasemambientesnaturaisqueestejamcompletamenteintegradasaoseumeioecomrespeitoàscondiçõesgeo-gráficas,climáticaseculturaislocais.Nãodeveminterferirnegativamenteemseuambiente,masadicionar-seaeledeformaharmoniosa.

Aecoarquitetura fazpartedeumgrupodeconceitoséticos relacio-nados a um comportamento social. Salama (2007) expõe o pensamen-tosobreasmúltiplasfacetasdoecodesenvolvimentoqueépoliticamente

Arte

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descentralizadoedemocrático,socialeculturalmenterefletordasdiversasrealidadeshumanaseeconomicamenteagregadordaspremissasdaeco-nomiaedaecologiagerando,assim,oconceitodeumaarquiteturacomcaracterísticaspróprias.Oautorclassificaessecomportamentocomoumanovafilosofiaquepodesercompreendidaquandocomparadaaoprocessodedesenvolvimentodaarquiteturaconvencionalemtermosdeobjetivos,significados,recursosepolíticas.OQuadroIaseguir,elaboradoporSala-ma,ilustraessacomparação.

Quadro I–Análisecomparativaentreoprocessodedesenvolvimentodaarquiteturaconvencionaleaecoarquitetura

Termos para comparação

O processo de desenvol-vimento da arquitetura convencional

O processo de desen-volvimento da ecoar-quitetura

Objetivos -avidamentedirecionado-gerarlucro

-direcionadoàscomu-nidades-solucionarnecessida-desdascomunidadesedasaspiraçõessociais

Significados -especulaçãodoterritó-rio-exploraçãodascomuni-dades

-educaçãodoterritório-autorizadopelasco-munidades

Recursosfinan-ceiros

-empréstimosdefontesdiversas,namaioriadasvezesdebancos-lucrosexportados

-investimentoséticos-lucrosbeneficiamascomunidades

Recursoshuma-nosemateriais

-tudopodeserconve-niente-dirigidoaomercado-intensificaçãodocapi-tal-anaturezaeaspessoassãotratadascomocom-bustívelparaaatividadeeconômica

-cuidadosamentesele-cionado- ambientalmente res-ponsável- intensificação do tra-balho-aeconomiaestáaser-viço da comunidade edaecologia

política -exclusiva-egocênctrica

-inclusiva-ecocêntrica

Fonte:Salama,2007.

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Naecoarquitetura, a construçãomostra a realidadedanatureza, seharmonizaaela,semesclaemsuaescalaeemseusconceitos.Anaturezanãoécolocadasobosignododecorum,daconveniência,mascomrespei-toàsuaordemeaosseusprincípios.Sãofatosquerelacionamaarquitetu-raàintegraçãocomolugarnoâmbitoculturaleespiritual.

Salama (2007)definealgunsoutrosobjetivosambientais e sociocul-turais que a ecoarquitetura deve possuir. Entre os objetivos ambientaisestariamincluídosaincorporaçãodetecnologiasimplescomestratégiasde conservaçãodanaturezaea iniciativadeproporcionaraos seusha-bitantese/ouvisitanteseducação sobrecaracterísticasnaturais,davidaselvagemedaculturalocal.Dessaforma,aarquiteturaéconsideradaforteinstrumentonoauxílioàcompreensãodosciclosecaracterísticasdeseuentornoenoentendimentodoshábitosculturaisehistóricosdaspopula-çõesquehabitamaquelaregião.Éavalorizaçãoerespeitoaoambienteeàhistórialocal.

OThe Nature Conservancy(2004)recomendanãoapenasqueedifíciosecoarquitetônicos sejam utilizados como ferramenta educacional, mastambémdevemmostrara importânciadoambientena sustentabilidadedavidahumana.Asconstruçõesecoarquitetônicasdevemreconectaraspessoas pelos benefícios espirituais, emocionais e terapêuticos que elaproporciona.

OEcotecture: The Journal of Ecological Design [s.d.] cita que devemosobservare imitaromodocomoanatureza“projeta”seussistemas,porseremmodelosperfeitosde sustentabilidade.Menciona tambémqueosconceitos ecoarquitetônicos“devemse tornaropróximoparadigmaoufundamento”paraquepossamoscontinuarexistindonoséculoXXI.

Andersen(2005)acreditaqueoprojetodasinstalaçõesecoarquitetô-nicaspodesetornaroalicercedeumanovaconsciência,podendoabriruma janela para o mundo natural, como uma forma de melhor com-preenderanatureza.

Ecoarquitetura e a filosofia okadiana

EmconformidadecomostópicosdeVerdadeeBem,ressaltadosporMokiti Okada, a ecoarquitetura é um pensamento arquitetônico compreocupações ambientais,mas que também se volta como instrumentode auxílio às populações locais e às suas tradições.Na ecoarquitetura,apreocupaçãoemconectar-seharmoniosamenteànaturezautilizando-sedaarquiteturasustentável fazqueestepensamentoseconectecomaVerdadeproferidaporOkada.Nosdoisfundamentos,anaturezadeveser

Arte

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respeitadaeimitadacomomodeloperfeitodeevoluçãodoserhumanoedassociedades.

Nafilosofiaokadiana,aordemrelaciona-seàVerdadeeaecoarqui-teturarespeitaaordemlocal:devemserobservadasascaracterísticaslo-cais,asculturasquesemprehabitarameexistiramnoentornoparadepoisserelaboradoumprojetoecoarquitetônico,assimcomotambémdevemserobservadososfluxosnaturaiscomoclima,incidênciadosventosdo-minantesecaminhopercorridopelaluzsolar.Aconstruçãodevecontermateriaiseelementospresentesnoentorno.Esteéummododerespeitaraordemlocal.

OBem,presentenaarquiteturaecológicacomsuavisão inclusivaeecocêntrica(enãoegocêntrica)ecomsuaintençãoemtrazerbenefíciosàscomunidadeslocais,tambémapresentasimilaridadecomoBemenalteci-dopelafilosofiaokadiana.Nasduascorrentes,assoluçõesapresentadasdevemestaradaptadasàscondiçõeslocaiseàscaracterísticaspreexisten-tesdedeterminadacultura.Aliás,aecoarquiteturasóexisteseestiveras-sociadaaumaatuaçãoquevalorizaainclusãodecomunidadeshabitantesdaregiãoouquetragabenefíciosaelas.E,dessaforma,aecoarquiteturaestádiretamenterelacionadaaoecoturismo,umavertente turísticacomprincípiossemelhantesàarquiteturaecológica.MokitiOkadarelataaim-portânciadoturismoparaodesenvolvimentoeconômicodeumaregião,ondeas instalaçõesmateriaisseriamimportantes,porémmaisrelevanteseriaaboaimpressãocausadaaosvisitantes,resultadodabondadeecor-tesia apresentadas pelas populações locais (Okada, 1987). Além disso,tantoaecoarquiteturacomooecoturismosãopráticas sustentáveisquebuscamoferecereducaçãoambientalaseususuárioseaosturistas,práticaincentivadatambémporOkada.

AquestãodoBelo,nãomencionadaexplicitamentepelospreceitosdaecoarquitetura,inclui-seenquantoformaarquitetônicaharmônicaàsfor-masencontradasnanaturezaporserestaconsideradareferênciaidealenorespeitoàculturadaregião.Naverdade,oBeloapresenta-sesubjetivamen-tecomoumamissãonaturaldaarquiteturaemboranãosejamencionadocomoimportânciafundamentalpelopensamentoecoarquitetônicocomoaparecenopensamentookadiano.Asdiretrizesconstrutivasapresentadaspelaecoarquiteturaapresentam-seemconformidadecomopensamentodeMokitiOkada,porémospreceitosestéticosnãoalcançamospadrõesformuladosporessepensador.Muitosautoresquedefendemaarquiteturaecológicacitamqueessasconstruçõesdevemapenasmimetizaranature-zaemesclar-seaeladeformaquaseimperceptível,oquevaideencontroaosescritosdeMokitiOkadanoqueserefereàarteeàarquiteturaequeconsideraasbelezasnaturaistãoimportantesquantoasbelezasartísticas

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criadas pelo homemdesde que estejam tambémpresentes aVerdade eoBem.Assim,segundoOkada,paraqueaecoarquiteturasetornereal-mente“umajanelaparaomundonatural”(Andersen,2005)ousetorne“opróximoparadigmaou fundamento”no séculoXXI (Ecotecture: The Journal of Ecological Design,[s.d.]),éprecisoqueestejampresentes,comamesmaintensidade,apreocupaçãocomaVerdade,oBemeoBelo.

Outro aspecto importante a ser relatado diz respeito à construçãoecoarquitetônica enquanto protótipo para construções não implantadasem ambientes naturais.O fato de que a arquitetura deve dialogar comseuentornoeharmonizar-seaelenãoselimitaàarquiteturaecológica,mastambémseenquadraaosprojetoseconstruçõesurbanas.MiguelRu-ano (2000)citao relatodealgunsurbanistasquepredizemquecentrosturísticosprojetadoscomcritériosecológicospoderãoservircomocampodeexperimentaçãoparainstalaçõesurbanasdemaiorcomplexidade,emcentrosurbanosporexemplo.Considerandoqueaecoarquiteturaseligadiretamenteaoecoturismo,logoaarquiteturaecológicatambémpoderiaseguiromesmodestinomencionadoporRuano:ademodeloouexperi-mentaçãoparaarquiteturasimplantadasnascidades,obviamentepartindodopressupostodequeumdosfundamentosdaecoarquiteturaésuaadap-taçãoàscaracterísticaslocaiseàculturahistóricadaquelaregião.Essasconsideraçõessãomaisumitemafimcomopensamentookadianoqueincentivaeprocuradelineareconstruirpequenosmodelosouprotótipos,paraquepossamsódepoisservirdeexemploemescalasmuitomaiores.

Considerações finais

Tantoaecoarquiteturaquantoafilosofiaokadianapossuemumob-jetivocomum:a construçãodeummundo ideal.Emboraaarquiteturase configure comoapenasumapartedoamploespectrodeatuaçãodopensamentodeOkada,aecoarquiteturapareceapresentar-secomointe-ressantemanifestaçãodos fundamentosdopensadornascidonoJapão,principalmenteemrelaçãoàVerdadeeaoBem.Comacomparaçãodosfundamentosemestudo,épossívelnotarmuitassimilaridades,masétam-bém perceptível a possibilidade de maior contribuição do pensamentookadianoparaodesenvolvimentodaarquiteturaecológicanaquestãododelineamentoestéticoeformaldasconstruçõesecoarquitetônicas.Aeco-arquiteturapoderiapassaraenfatizaroBelotantoquantofazemrelaçãoàVerdadeeaoBem,contribuindodeformamaisamplaparaaevoluçãodascomunidadeslocais,preservaçãodanaturezaeeducaçãoambiental,trêspontosimportantesporelaressaltados.

Arte

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Espiritualidade no Século XXI: Educação, Saúde e Arte

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Referências Bibliográficas

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O século XXI se anuncia como o século em que a espiritualidade soprará nos saberes e nos fazeres humanos. É mais do que urgente que assim seja. Pois, desprezarmos nossa espiritualidade é o mesmo que nos desligarmos de nós mesmos, de nossa dimensão mais real e profunda. Mas quem diz espiritualidade não diz fanatismo, intolerância, dogmas fecha-dos. Quem diz espiritualidade diz abertura, conexão com o sagrado, elevação ética, paz entre todos os seres, reverência ao que há de divino no universo e em nós. (…)Essa espiritualidade é uma necessidade para o bem-estar do indivíduo, para sua saúde física e mental. É também um aspecto a ser desenvolvido, estimu-lado e trabalhado com as crianças, desde seu mais tenro desenvolvimento. É igualmente uma carência para a arte, que tantas vezes tem se desgovernado pelo mau gosto do meramente comercial, sem mais falar à alma das pessoas.Este livro fala dessa espiritualidade, pensada, aplicada, vivenciada em vários campos, interligando todas as coisas e religando o ser humano a si mesmo.Uma contribuição importante, uma reflexão oportuna, uma leitura indispensável!

Dra. Dora Incontri

Jornalista, doutora e pós-doutora em Educação pela USP. Atualmente é coordenadora do curso de pós-graduação em Pedagogia Espírita na Universidade Santa Cecília (Santos/SP) e editora chefe da Editora Comenius.