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Espírito Pai Joaquim de Aruanda Médium Firmino José Leite Transcrição da palestra Encarnação – A maior aventura do espírito Contendo os capítulos 1, 2 e 3 Livro eletrônico editado pelo INSTITUTO DE ANIMAGOGIA, Centro de Estudos e Difusão de Saber Espiritualista e Universalista, mantido pela ONG Círculo de São Francisco, a partir da versão online disponibilizada no site www.meeu.org São Carlos 2006

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Espírito Pai Joaquim de Aruanda

Médium Firmino José Leite

Transcrição da palestra

Encarnação – A maior aventura do espírito

Contendo os capítulos 1, 2 e 3

Livro eletrônico editado pelo

INSTITUTO DE ANIMAGOGIA, Centro de Estudos e Difusão de Saber Espiritualista e Universalista, mantido pela ONG Círculo de São Francisco, a partir da versão online disponibilizada no site www.meeu.org

São Carlos

2006

Capítulo 1 – A aventura e seus riscos

O espírito no seu próprio mundo, ou seja, dentro da realidade espiritual pode praticar

milhares de atos que não são compreendidos pelos seres humanizados e, por isso, estes os

consideram como atos super poderosos.

O espírito pode volitar1, se locomover com a velocidade do pensamento, plasmar2

objetos, influenciar decisivamente inteligências, etc. Pode realizar diversos atos que o ser

humano considera sobrenatural. Porém, tudo isso que o espírito pode fazer para ele mesmo não é

nada, não tem tanta importância.

Todas estas ações que os seres humanos imputam tão grande valor, para os espíritos, são

como atos de uma criança do planeta Terra, que vê na capacidade de somar dois mais dois um

feito extraordinário, sem lembrar-se que seus pais já sabem dividir, multiplicar ou executar

outras funções aritméticas.

Para os espíritos aquilo que a humanidade considera como o ápice do poder espiritual é

banalidade. Mas, existe algo que para o espírito tem um valor imenso: a encarnação.

A encarnação é o momento aguardado ansiosamente por um espírito que a valoriza

profundamente quando na vivência com a sua consciência espiritual. Isto porque a encarnação é

sempre a provação final de um estudo do espírito e só ela pode conceder atestados de promoção

espiritual para o ser.

Por mais que um ser universal “estude” no mundo espiritual e conheça as coisas do

Universo, sem a encarnação não recebe o “atestado da evolução espiritual”. É por isso que a

encarnação é a maior aventura.

O momento encarnado é, para o espírito, como aqueles vividos pelos seres humanos que

se preparam para um concurso estudando e deslumbram, na hora de executá-lo, a realização de

todas as suas aspirações. Ou seja, a preparação para a encarnação bem como o que ali acontecerá

é para o ser universal acontecimentos que geram expectativa e ‘mexem com os seus nervos’.

1 Ação espiritual de locomoção – voar.

2 Ação espiritual que se consiste em modelar objetos com elementos espirituais (energias).

Este é o primeiro detalhe que temos a comentar sobre a o tema deste livro. Nele se

demonstra a grande importância da encarnação e por isso o chamamos de “Encarnação – a maior

aventura do espírito”. É uma “aventura” de uma grande responsabilidade, pois, apenas ela pode

certificar que o ser aprendeu no mundo espiritual as lições que lhe foram ministradas por seus

mestres.

Agora que já explicamos porque a encarnação é “a maior aventura do espírito”, vamos,

então, entender o que significa “encarnação” antes de continuarmos a falar da aventura em si.

Encarnação é uma palavra do planeta Terra e, aqui, significa “vir à carne”. Mas, este ato

espiritual, universalmente falando não possui este mesmo significado. Se assim fosse, a

encarnação seria um elemento exclusivo deste planeta, porque a “carne” como vocês a conhecem

só existe aqui. E, se assim fosse, tal realidade feriria um dos elementos básicos para determinar o

que é Real3: ser universal, valer para todos.

Portanto, uma encarnação não pode ser compreendida como uma “vinda à carne” por

aquele que quer aprender a viver no Universo. Na verdade, o que caracteriza esta “aventura do

espírito” não é a mudança de “corpo” ao qual o ser está ligado (de espiritual para material), mas

uma mudança de “consciência”.

Durante toda eternidade o espírito vive entre dois mundos ou entre duas consciências. A

primeira é a sua própria consciência existencial espiritual.

A consciência espiritual é a Realidade da vida do espírito. É com ela que o espírito vive

naquilo que chamamos de mundo espiritual, onde executa seu aprendizado se preparando para as

alterações de consciência ou encarnações.

Esta nova consciência que determinará o período de provação para o espírito é sempre

um novo conjunto de verdades a qual ele se liga no sentido de realizar provas, missões e

expiações.

Esta é a Realidade da existência espiritual por toda eternidade. O espírito vive a sua

existência ligado à sua consciência espiritual e, assim que acaba um ciclo de estudos, se

“desliga” dela e se liga a uma nova consciência e com ela executa provas para ganhar o “atestado

da elevação espiritual”.

3 Quando os termos ‘Real”, ‘Realidade’ ou ‘Verdade’ forem apresentados com a primeira letra maiúscula deve ser

compreendido como aquilo que realmente existe ou é verdadeiro. Quando forem iniciados com a letra minúscula, deve ser compreendido como aquilo que o ser humanizado imagina como real ou verdadeiro.

Este processo é válido para toda a eternidade da existência do ser. Ou seja, as

encarnações existem durante toda a existência do ser universal e este processo (encarnar-se) é

válido para todos os espíritos do Universo.

Por isso eu disse: a palavra encarnação com o sentido de “vir à carne” é apenas

compreensão dos habitantes do planeta Terra. Em Marte, Júpiter e no planeta mais distante do

Universo existe encarnação, só que não existe “carne”, matéria carnal como a dos seres

humanos. Mas em todos os planetas do Universo e por todos os tempos espíritos criarão novas

consciências que servirão como concurso para obtenção de um “atestado de elevação espiritual”.

Isto é uma encarnação, isto é a grande aventura do espírito: ligar-se a esta consciência temporária

e executar suas provações.

Tendo criado um nome para a consciência Real do espírito (consciência espiritual),

devemos também criar um para a consciência utilizada para a realização de provas. A

chamaremos de “ego”.

Então, a Realidade do Universo é que o espírito vive com a sua consciência espiritual

realizando estudos junto com os mestres e durante determinado período da sua existência se liga

a um ego para realizar provações com a finalidade de receber o “atestado da evolução espiritual”.

A encarnação ou a grande aventura do espírito, portanto, nada tem a ver com “carne”,

com “ligar-se à carne”, mas sim com a ligação do ser espiritual com uma nova consciência que

servirá como instrumento de provas para que ele evolua.

Pergunta: A existência espiritual tem um fim? Chega a um ponto onde

o espírito se estabiliza e para de se ligar a um ego para receber o “atestado”?

Quanto à primeira pergunta devo lhe dizer que a existência espiritual é eterna e, portanto,

não tem fim. Quanto ao fim do ciclo de encarnações ou ligações a egos, isto também nunca se

encerra. Sempre haverá um ego ao qual o ser se ligará para realizar provações, mesmo quando

não houver mais “carne”.

Mesmo quando a encarnação não for ligar-se a uma matéria mais densa, ou seja, habitar

fisicamente um planeta, sempre haverá o ego e a consciência espiritual. Este sistema evolutivo

jamais acabará porque o Universo é um constante processo de evolução para aproximar-se de

Deus, da Perfeição.

Continuando, então, pergunto: por que defini a encarnação como “aventura”? Dentro do

conselho que já dei4, vamos verificar no dicionário o que significa o vocábulo aventura para

compreendermos o que quero dizer.

AVENTURA – Empresa ou experiência arriscada. (MINI DICIONÁRIO

AURÉLIO).

A encarnação é uma aventura para o espírito porque é um “empreendimento” com riscos.

Isto porque a encarnação ou o fato de se ligar a um ego simplesmente, não traz garantia de

aprovação para o ser, garantia de receber o “certificado de aprovação”. Para que isso ocorra é

preciso que ele obre, ou seja, responda corretamente as questões para ser promovido.

A encarnação, então, é uma grande aventura para o espírito porque é um salto para o

desconhecido, mas é também um empreendimento carregado de riscos, de oportunidades para

falhar.

Isto precisa ficar bem claro para que os espíritos atualmente encarnados no planeta Terra

obtenham sucesso nesta aventura. Eles precisam desempenhar-se durante a encarnação, ou a

ligação com o ego, para que eles possam retirar desta aventura o fim que esperam.

Para o espírito, portanto, a encarnação é uma aventura com riscos que podem torná-la

“não útil” a ele e não a certeza de lograr sempre êxito, ou seja, ela sempre resultar em elevação

espiritual.

Desta forma, começamos este trabalho falando da encarnação como a grande aventura do

espírito e porque a consideramos com tal; depois explicamos o que é encarnação e agora

acabamos de definir que esta aventura é um empreendimento com riscos para o espírito. Vamos

então começar a entender estes riscos.

Quais são os riscos que o espírito corre durante a sua encarnação?

O Espírito da Verdade, ao abordar este tema, respondeu a Kardec afirmando que os seres

universais não retroagem nunca durante uma encarnação. Portanto, este risco não acontece na

aventura espiritual. O espírito ao se desligar do ego estará sempre no mesmo nível de

consciência espiritual que tinha antes da encarnação. Este é o primeiro detalhe sobre os riscos da

aventura do espírito.

4 Ver Estudo do Livro dos Espíritos.

O risco, então, que estamos falando não é o de retroagir. Mas qual será ele? O de

estagnar.

O espírito pode voltar à sua consciência espiritual sem evoluir um milímetro sequer, sem

comprovar a si mesmo nenhum dos ensinamentos estudados com seus mestres durante o período

em que estava desencarnado. Pode retornar a sua realidade, ao seu “eu espiritual”, sem conseguir

nenhum avanço no conhecimento espiritual que é necessário para se aproximar de Deus.

Isto é um risco que o espírito corre durante a aventura. E a possibilidade deste

acontecimento traz uma grande responsabilidade: a de perder a oportunidade de elevação. Esta é

a grande falência da aventura espiritual do ser durante a encarnação e não o retrocesso.

O grande “perigo” que corre o ser quando encarnado é o da falência dos objetivos da

encarnação, ou seja, o não aproveitamento da oportunidade de elevação espiritual.

Quando o ser falha na sua comprovação de aprendizado isso é trágico para ele. O trágico

a que me refiro não está na conscientização de que se é melhor ou pior do que outro, mas porque

a “ambição espiritual” do ser é sempre evoluir.

É trágico, é frustrante para o espírito deixar de aproveitar uma oportunidade para

aproximar-se de Deus assim como é para um ser humano que se prepara para um vestibular

estudando dia e noite ver malogradas as suas intenções de evolução.

Este é um grande risco ao qual o ser se expõe. Mas, não fique desde já temeroso com o

resultado da sua encarnação, pois os riscos ao qual o ser se expõe são previamente calculados

nos seus mínimos detalhes. Eles são milimetricamente avaliados pelo espírito, por seus mestres e

por Deus antes da encarnação para que o prejuízo ao ser seja o menor possível se ele falir.

Então, toda encarnação é uma ventura para o espírito com riscos. Um deles é o não

aproveitamento da encarnação, o que é considerado como estagnação. Mas, há ainda a

possibilidade do espírito evoluir menos que o esperado por ele.

Quando um ser entra numa encarnação ele se programou para alcançar um determinado

limite, para evoluir até determinado ponto. O não alcançar esse limite também é uma frustração

que pode influenciar o espírito no retorno à pátria espiritual.

Estes são, portanto, os riscos da aventura do ser durante a sua existência: o de não evoluir

nada, estagnar, e o risco de evoluir menos do que esperado por ele mesmo. E são riscos porque

estes acontecimentos geram no ser, depois de libertado do ego, a frustração de ter não

aproveitado uma encarnação.

Participante: Mas, não é estranha esta coisa de viver eternamente

passando por provas? Isto não tem um fim? Compreender isso me assusta...

Você já me conhece e sabe que quando respondo, não estou brigando nem querendo ser

sarcástico. Por isso vou lhe responder francamente.

Se o fato de viver eternamente se testando para verificar conhecimentos lhe assusta, acho

melhor você dar já um tiro na sua cabeça e acabar com isso, pois a vida carnal também é assim.

Desde o momento que você “nasce” e até o que “morre” carnalmente, existe um processo

constante de provações para evolução.

O ser humano não descansa nunca. Mesmo na mais alta idade ele está sempre no

processo de evolução, aprendendo novas coisas, promovendo novos conhecimentos, para

alcançar a evolução material. O que estou falando é a mesma coisa. Só que na vida humana este

processo dura setenta ou oitenta anos, mas na do espírito no Universo, eternamente.

Participante: A imaginação pode nos ajudar nesse processo?

Não, atrapalha. Imaginar sobre a vida humana reflete a presunção de querer saber alguma

coisa sobre a vida, por isso atrapalha. Agora imaginar a Realidade, ou seja, que você não é um

ser humano, mas um espírito encarnado, é outra coisa. Isso pode lhe ajudar, mas a primeira

hipótese atrapalha na grande aventura do espírito.

Participante: O senhor falou em me matar, mas não faço isso porque

sei que de nada adiantaria. O que quero é mudar minha consciência.

Isso: de nada adianta.

O que falei não foi esperando que você praticasse este ato, mas utilizei este exemplo

apenas para que compreendesse que este processo não é novidade. Como você mesmo pode

constatar, se a vida humana for levada a “sério” (fundamentada na busca da elevação material),

ela também será até o seu término um constante aprendizado e a respectiva provação do que se

aprendeu.

Aliás, esta é uma queixa de vocês. O ser humanizado queixa-se constantemente que a

vida “cobra” a busca constante de evolução e que esta competitividade “cansa” o ser. Mas este

processo é Universal. Só que no Universo você não compete com ninguém, mas consigo mesmo.

A partir disso, compreenda que de nada adianta você sair desta vida e ir para a outra, que

será a mesma coisa. Mas, também não pense que adianta fugir de lá e vir para cá, pois tudo que é

Real é Universal: existe em todos os lugares.

Participante: E o que falam sobre o espírito que retrocede para o

estado de ovóide. Ele não retrocedeu?

Não acabou a encarnação. O espírito ao qual vocês conferem essas formas ainda está

ligado a uma consciência de provas e não à sua consciência espiritual. Ele ainda não voltou a sua

consciência original, espiritual, e por isso não acabou a sua encarnação.

Veja como defini neste trabalho a encarnação e o retrocesso. Para julgarmos que houve

um retrocesso seria necessário que primeiro o espírito retornasse à sua consciência espiritual. Só

se ela fosse inferior (mais individualizada) do que era antes da encarnação poderíamos afirmar

que houve uma retroação.

Estes espíritos que você está falando ainda estão presos a egos, como fantasmas. Então,

ainda estão encarnados, mesmo que não haja mais corpo físico. Por isso não pode ser decretado

que houve um retrocesso.

Um dia eles voltarão à sua consciência e somente neste dia poderá haver a avaliação

daquela encarnação. No entanto, quando isso acontecer, certamente estarão no mesmo nível de

conhecimento espiritual que estavam antes da encarnação, pois, como dissemos, não existe

retrocesso.

Participante: Não entendi a questão do fim da encarnação...

Vamos falar mais sobre isso. Para tanto, me diga, quem é você?

Participante: A Márcia...

Ou seja, você acha que é a Márcia. Mas esta identidade é, na verdade, um conjunto de

crenças e verdades (consciência) a qual você, o espírito, está ligado. A Márcia não é você; o que

ela acredita não representa o que você, o espírito sem nome, sabe.

A Márcia é a encarnação. Enquanto você imaginar-se como ela estará encarnada, mesmo

que já tenha se libertado da matéria carnal.

Agora, quando você não mais se considerar Márcia, terá de volta todos os valores que

estão na sua consciência espiritual e que hoje não lhe estão acessíveis através do consciente.

Neste momento a sua encarnação acabou, estando ou não presa à carne.

Com isso, a Márcia morre e o espírito, que está “adormecido”, renasce.

Pergunta: É isso que acontece com estes espíritos na forma de ovóides?

Eles ainda se consideram “Márcias”...

Participante: Porque essa forma de ovóides?

A forma é uma conseqüência dos sentimentos: eles se acham “maus” e por isso tomam

formas que possam assustar os outros. Mas “má” é a personalidade à qual eles estão ligados a tal

ponto que imaginam ser eles próprios.

Participante: E, existe um critério para que estes espíritos tenham a

oportunidade de reencarnar novamente, ou eles continuarão sempre como a

identidade que se imaginam?

Para reencarnar eles precisam, antes de tudo, sair da identidade atual, matar esta

identidade.

Participante: Mesmo enquanto ovóides?

Mesmo enquanto ovóides. O problema não é a forma, mas sim consciência. A identidade

está na consciência e não na forma do corpo.

Aliás, se formos aplicar aquilo que já aprendemos, não podem nem existir espíritos

ovóides, já que o ser é apenas um brilho que, portanto, não possui forma, cor, raça, sexo, etc. A

forma que você está percebendo não é do espírito, mas é como o seu ego humanizado constrói a

imagem destes espíritos. Mas eles mesmos, na Realidade, não são assim.

Participante: Podemos dizer que isso é uma programação nossa para

vê-los dessa forma?

Na verdade é uma figura que o seu ego humanizado se programou para exibir ao seu

consciente quando se deparar com espíritos que possuam determinada carga energética.

Então, vamos continuar falando da maior aventura do espírito: a encarnação.

Como foi dito anteriormente, os riscos aos quais o ser universal está sujeito durante a

encarnação (de estagnar ou evoluir menos do que era pretendido) é friamente calculado. Por que

isso é assim? Porque a provação que o espírito faz, é escolhida por ele mesmo. Ou seja, o ego

que irá criar as provas para o ser quando humanizado, é montado, organizado, pelo próprio

espírito. Vamos explicar isso.

Pensando em termos de vida carnal que vocês conhecem, durante o tempo que freqüenta

as escolas, o ser humanizado é obrigado a estudar o que o estabelecimento lhe obriga. Ou seja,

você não pode escolher a matéria que estudará.

Já escola da evolução espiritual, cada ser universal tem a liberdade de escolher a matéria

que vai estudar. Mas, mais ainda: ele tem a liberdade de escolher dentre aquelas “matérias” que

estudou as que quer realizar a provação ou não.

Vamos dizer que você, na vida espiritual, tenha estudado uma determinada matéria.

Apesar disso, na hora de montar a encarnação, não se considera seguro com relação ao

aprendizado daquela matéria. Ela certamente não fará parte do seu ego e, por isso, não será

“trabalhada” nesta provação.

É por isso que o Espírito da Verdade ensina: “ele próprio escolhe o gênero de provas

porque há de passar e nisso se consiste o seu livre arbítrio” (O Livro dos Espíritos – pergunta

258).

E, ensina mais. “Não é Deus quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo? Nada

ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem

o Universo. Ide agora perguntar por que decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a

liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das

conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o

caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo

se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito.

Demais, cumpre que se distinga o que é obra da vontade de Deus do que é da do homem. Se um

perigo vos ameaça, não foste vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele

vos expordes, por haver visto nisso um meio de progredirdes e Deus o permitiu” (pergunta 258

a).

Portanto, o risco ao qual o ser se expõe quando se humaniza (vive uma encarnação) é

calculado, e por ele mesmo. É o espírito que organiza a sua provação nos mínimos detalhes para

que a sua aventura não tenha um fim trágico.

Desta forma, podemos dizer que encarnação, se comparada às aventuras humanas é para

o espírito como o homem que vai sai para o desconhecido (atravessar uma mata, subir uma

montanha ou, como nos tempos antigos, singrar os mares desconhecidos), mas que se prepara

com tudo que é necessário para o bom sucesso na realização da sua empreitada.

Por isso afirmo desde já: o risco ao qual o ser universal se expõe durante uma encarnação

é friamente calculado.

Agora, a maioria dos espíritos é autoconfiante demais. Para eles, fugir ou abrir mão de

uma prova é algo improvável, que não passa por sua idéia. O ser universal, aquele que está de

posse de sua consciência espiritual, é “louco” para viver esta aventura, possui verdadeiro fascínio

pela idéia de realizar esta aventura. Isto porque, como eu disse, a sua determinação é evoluir

sempre.

Por isso, ele se apega à oportunidade de vivenciar esta aventura da encarnação com unhas

e dentes e quer, a cada uma, proporcionar a si mesmo a oportunidade de dar um salto grande

adiante. Mas, como sabemos, “quando o salto é maior do que a perna”, o fim é o tombo.

Por isso Deus, que como nós vimos não impõe nenhuma prova, não deixa isto acontecer.

Através dos mentores (guias espirituais do ser) o Pai sempre orienta o espírito para que ele possa

programar para si apenas os objetivos que sejam extremamente realizáveis.

Ou seja, o Professor orienta para que o espírito retire matérias da provação, e muitas

vezes Ele próprio as retira, mesmo que o estudante se ache capaz de responder a questões sobre

elas. Age desta forma porque tem a consciência de que o aluno não vai saber responder a

questões sobre esta matéria e que está apenas iludido com o seu saber e, dessa forma, expondo-se

a riscos desnecessários já que o ser tem toda a eternidade para evoluir.

Tal procedimento do Pai, aliado ao livre arbítrio do ser de escolher a matéria que fará a

provação, diminui sensivelmente o risco de haver uma estagnação ou de não se alcançar

plenamente os objetivos previamente estabelecidos para uma encarnação. Não garante a

realização de tudo que foi pretendido, mas facilita alcançar os objetivos traçados.

Portanto, a encarnação é uma aventura, ou seja, é uma empresa com riscos, mas é uma

aventura totalmente guiada por guias experientes que montam a programação da expedição junto

com aquele que a vivenciará, de tal forma que o afã de quer aventurar-se além daquilo que lhe

pode ser útil (não vou usar a palavra bom) não provoque a falência da missão.

Participante: Mesmo sabendo que tudo é carma, fica difícil não pedir a

Deus que afaste de mim este cálice.

Nós chegaremos lá: ainda vamos falar disso.

No entanto, saiba que você hoje, mesmo pensando que é carma, não pode pedir diferente.

Isto porque não sabe ainda o que é carma e nem se conscientizou da grande aventura que está

vivendo nesse momento, já que ainda está preso às verdades do ego.

Participante: Este planejamento prévio é para espíritos evoluídos, não?

Quanto menos evoluídos somos não conseguimos avaliar corretamente o que

devemos fazer, não é mesmo?

Não, o que foi comentado aqui é Universal, ou seja, é para todos.

A “criança” da escola primária espiritual planeja o que ele quer provar durante as suas

encarnações, assim como o estudante “universitário” da mesma escola. Todos os espíritos

planejam suas provas independentemente de seu grau de evolução: não há aí diferenciação.

Quanto ao não saber, todo espírito sabe dos objetivos de sua existência espiritual: evoluir

sempre para aproximar-se de Deus e gozar da Sua glória. O conhecimento pode ser diferenciado,

mas todo ser universal conhece o objetivo de sua existência. E, este grau de conhecimento é

respeitado por Deus e pelos Mestres. Por isso, eles não exigem de um “iniciante” o mesmo que

exigiriam de um “veterano”.

Vamos fazer uma comparação com os conhecimentos dos terrestres durante a sua

evolução para podermos entender melhor esta questão. Se uma criança do primário pudesse

escolher suas provas iria pedir para ligar pontinho, fazer desenhos e colori-los. Isso é o que ele

sabe, o que pode pedir e realizar.

Para estes espíritos não será pedido nunca para que eles façam provações que incluam

fazer contas ou escrever palavras. Nunca. Mesmo que escrever palavras e fazer contas seja um

conhecimento importante e que o estudante precise ter. Isto porque ele não está pronto para isso

e o seu limite é respeitado.

Sendo assim, na Realidade cada um pede no seu nível e Deus não altera sequer um

milímetro, mesmo sabendo que esta provação é do curso primário, ou seja, baseada em

conhecimentos rudimentares.

Participante: Jesus veio a Terra porque queria passar por isso ou a sua

programação foi diferente?

Jesus veio a Terra em missão. Nós vamos falar disso depois. Mas, por agora,

compreendamos que a aventura que você está vivendo começa a lhe ficar mais clara.

A grande aventura do espírito, ou seja, a sua vida, surge da sua ligação a um ego com o

objetivo de realização de provações de conhecimentos espirituais. Estas provações são

previamente escritas e escolhidas por você mesmo. Ao aventurar-se o ser se arrisca, não a falir,

mas estagnar-se ou não alcançar todas as provações que pretendia realizar durante ela. No

entanto, os riscos desta empreitada são calculados e medidos por Deus e pelos próprios seres, o

que dá ao espírito mais confiança para vivenciá-la.

Portanto, não é uma aventura tão inconseqüente assim. É uma aventura muito bem

planejada, onde nada fica ao acaso. Onde todos os “equipamentos” necessários para que o

espírito chegue ao bom sucesso estão presentes. A aventura máxima do espírito pode ser

comparada a um salto no escuro, no desconhecido, mas este salto é extremamente seguro porque

é totalmente planejado, tem seus riscos calculados.

Mas, esta segurança vai além do planejamento. Além de ele haver sido criteriosamente

feito, o espírito durante a encarnação, ou ligado ao ego, possui guias que cuidam do caminho que

será percorrido. São aqueles seres que a humanidade chama de “mentores”, “anjo da guarda”, ou

qualquer nome que queiram dar.

Por isso afirmo que a aventura do espírito é como uma expedição em um parque de

diversões: ele está caminhando através de trilhas aparentemente isoladas crente que está andando

sozinho, mas, nas sombras, existem guias e mentores que estão agindo cuidando de sua

segurança no caminho para que a aventura tenha bom sucesso.

Por tanto, a aventura espiritual, que nós começamos definimos como uma expedição de

risco, é desta forma, mas, ao mesmo tempo, ela é totalmente controlada, pois sempre “aparecerá”

à sua frente uma “placa” indicando que caminho deve tomar. Além disso, ela é totalmente

acompanhada com atenção por guias ou mentores que estão sempre prontos para o “socorro”

imediato àquele que se “machucar” no caminho, providenciando que o espírito permaneça

sempre apto a continuar a sua jornada.

Não confunda, porém, minhas palavras. Os guias agem para que a aventura do ser chegue

a bom termo espiritualmente falando e não materialmente. Por isso, não pense que estou dizendo

que eles estão aqui para guiá-lo ao sucesso material, para obter o que quer agora guiado pelo ego.

Eles não servem à identidade provisória que hoje você imagina ser, mas à sua Realidade: a

espiritual.

Com tudo o que vimos até aqui, podemos começar a ter alguma noção do que é essa vida

que vocês que estão encarnados hoje vivem. Podemos começar a compreender o papel das

religiões, dos protetores, santos, anjos ou mentores. Enfim, podemos compreender a essência da

vida e o que acontece nos seus bastidores.

Participante: Existe um carma coletivo? Além do que eu planejei para

mim posso dizer que nasci no Brasil para vivenciar uma série de experiências

típicas deste país e que me facilitariam na provação?

Sim existe.

Mas, mais do que pensar no Brasil, pense no planeta Terra. Você “nasceu” (está vivendo

a sua aventura) neste planeta porque isso facilita o seu aprendizado. Senão fosse assim, nasceria

em outro planeta.

Capítulo 2 – O caracterizador da aventura

No capítulo anterior definimos que a encarnação ocorre quando um ser universal está

ligado a uma consciência diferente da sua (ligado a um ego) e que ela só termina quando do

retorno à sua original e não pelos acontecimentos “nascimento” e “morte” como até então vocês

compreendiam. Acontece que, quando ele faz isso, cria para si uma nova identidade, que será um

personagem que este ser vivenciará durante a sua aventura. Vamos entender isso.

O que é se ligar ao novo ego, a uma nova consciência? Vamos começar por aqui a nossa

conversa.

CONSCIÊNCIA – Atributo pelo qual o homem pode conhecer ou julgar

sua própria realidade. Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos

realizados. (Mini Dicionário Aurélio).

O espírito possui uma consciência espiritual, ou seja, possui um atributo que lhe faz viver

uma determinada realidade. Esta consciência vive, portanto uma Realidade espiritual.

Quando este ser se liga à uma nova consciência, a sua anterior fica inacessível por aquilo

que vocês chamam de “véu do esquecimento”. Ou seja a realidade espiritual lhe fica inacessível.

No entanto, surge para ele uma nova realidade que é construída a partir desta nova consciência.

Chamamos esta de “realidade material”.

Portanto, para o bom entendimento do assunto a palavrinha “realidade” é fundamental,

pois ela nunca deixa de existir quer seja com uma ou outra consciência o espírito esteja ligado.

Vamos, então compreender o que é “realidade”.

REALIDADE – Qualidade do real. Aquilo que existe efetivamente, o

que é real. (Mini Dicionário Aurélio).

Ou seja, para o espírito existem algumas coisas no mundo espiritual, mas, quando se liga

ao ego, o que existe para ele se transforma, uma nova realidade é criada.

É isso que estamos falando quando dizemos que a encarnação é adotar uma nova

consciência: adotar uma nova realidade. Adotar novos conceitos, verdades, objetivos e padrões

sobre qualquer assunto.

Então, a aventura do espírito é alterar a sua realidade. Alterar a sua realidade espiritual

para uma realidade transitória que servirá como provação ao espírito para a evolução. Esta é a

aventura que o espírito vive durante uma encarnação.

Alterar a sua consciência, ou seja, a sua realidade Real para uma temporária, onde

estejam sendo colocadas provações para a sua evolução espiritual, é o que comumente é

chamado de encarnação.

Um espírito encarnado é aquele que vive com uma realidade temporária e transitória que

foi criada e montada por si mesmo com o auxílio dos mestres, mentores e de Deus, de quem tudo

se origina, para que elas sirvam de provação a ele.

Mas, essa forma de proceder gera um elemento novo no Universo: um “eu”. Não

definitivo, mas temporário. O ser humano que o espírito imagina ser durante a encarnação, é uma

criação ilusória, pois faz parte de uma realidade temporária adotada por um espírito para

executar suas provações. Por isso anteriormente respondi que enquanto alguém se entender como

“Márcia” estará preso à encarnação, pois “Márcia” é um personagem temporário que o espírito

vivencia como sendo ele porque está ligado a um determinado ego.

Se o ego fosse outro, poderia se chamar Joaquim, Manoel, ou qualquer outro nome. Mas,

esta autovisão do espírito sobre si, quando de posse da sua consciência espiritual, acaba, pois ele

volta a sua realidade que contempla que ele não possui nomes, sexo, ou qualquer outra realidade

criada pelo ego.

Acredito que a aventura do espírito está ficando mais clara cada vez que nos

aprofundamos mais na definição dos termos que a envolve. E, para nos aprofundarmos ainda

mais vamos voltar a falar da provação. Isso porque se a encarnação é caracterizada pela alteração

de consciência com o objetivo de criar provações. Sendo assim, pergunto: o que é a provação

durante a vivência dentro dessa nova realidade?

A Realidade universal é universalista. O que quer dizer isso? O Universo é como um

quebra-cabeça gigantesco formado por milhares de peças que se fundem perfeitamente formando

uma individualidade: o quebra-cabeça como um todo. Isso quer dizer que cada peça tem um

desenho próprio, o seu conteúdo próprio, mas apenas o desenho totalmente formado é Real.

Por isso, cada peça precisa se unir perfeitamente a outras com a intenção de gerar o

desenho maior. Esta é a Realidade do Universo e é isso que todos os espíritos precisam alcançar

nessa evolução: a fusão perfeita aos demais para formar o Universo.

O contrário disso chama-se individualismo, ou seja, a peça que acha que é importante por

si mesma e não como um componente do quebra-cabeça. Individualista é aquele ser do Universo

que imagina que aquilo que ele quer, gosta ou acha “certo” é mais importante do que a plena

fusão com o que os outros acham.

A partir destes dois conhecimentos podemos, então, afirmar que o processo de evolução

espiritual é caracterizado pelo abandono do individualismo para alcançar o universalismo. E a

provação está vinculada exatamente a isso, consiste exatamente nisso.

O espírito durante a sua aventura encarnatória, ou seja, a fusão a um ego, a uma nova

consciência, a uma nova realidade, será testado para provar o universalismo que aprendeu de

posse da sua consciência espiritual. Precisará provar a si mesmo que está de mão dada com todos

para o bem universal.

Mas para isso precisará abandonar os sentimentos fundamentados no individualismo e

alcançar o amor universal, incondicional. Por isso Cristo ensina: amar a Deus sobre todas as

coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta é a síntese do universalismo que o ser precisa

vivenciar que cria a fusão perfeita entre ele e a sua comunidade espiritual.

Mas, como ocorre esta provação? Nos acontecimentos vivenciados pelo “eu” transitório

ao qual o espírito está ligado. Sempre que um ato acontecer na existência desta identidade, a

consciência criará valores fundamentados no individualismo (baseados nas crenças individuais)

existentes no ego, proporcionando, assim, ao espírito uma oportunidade para provar a si mesmo

que atingiu um grau de universalismo que não lhe deixa crer naquilo.

Portanto, o ‘eu’ é o personagem com o qual o espírito cria uma aventura e os

acontecimentos de sua existência são o próprio aventurar-se: o caminhar para atingir o objetivo.

Mas, vamos mais adiante em nossas análises para se compreender melhor alguns

elementos presentes nos egos humanos que até hoje ainda não foram compreendidos.

Os “graus de evolução espiritual” são baseados no universalismo e, por conseguinte, no

individualismo. Os espíritos que vocês consideram “menos evoluídos” são os mais

individualistas; os que são considerados como “evoluídos”, os mais universalistas.

Esta Verdade, como disse no início desta obra, vale para toda eternidade e para todos os

seres. O que podemos chamar de “individualismo zero”, é Deus; depois Dele todos os espíritos,

por menor grau que seja, possuem individualismo e por isso estão sempre buscando aprender a

se libertarem desta sua característica e, posteriormente, ligando-se a egos para comprovarem o

que aprenderam.

Então o ego ou uma consciência transitória a qual o espírito se une para provação não é

apenas aquilo a que se ligam os seres que atualmente encarnam no planeta Terra. Ele existe em

outros planetas e em outras “dimensões” no cosmo.

Nestes lugares, tanto como aqui, no entanto, o ego não pode ser confundido com a

consciência Real (espiritual) do espírito. As duas coisas são diferentes. Mas, diferenciados em

que sentido? Na capacidade de ser universalista, de abandonar a vaidade individualista e fundir-

se totalmente ao Todo.

Todo ego é sempre menos universalista do que a consciência que o espírito tinha antes da

encarnação, ou melhor, é mais individualista. Isso é necessário para que a provação exista, ou

seja, é necessário que o apelo ao individualismo aconteça (crie-se realidades fundamentadas no

querer para si, no valorizar-se) para que assim o ser tenha condições de provar o seu

universalismo.

Portanto, a maior aventura do espírito caracteriza-se pela fusão com um ego, um conjunto

de verdades transitórias fundamentadas no individualismo, que o espírito assume para provar o

seu universalismo não se submetendo ao apelo individualista que essas verdades criam e

distinguem como real.

Esta é a grande aventura espiritual. O espírito, possuidor de uma consciência

universalista, aventura-se por terrenos individualistas com o objetivo de provar a si mesmo o seu

aprendizado universalista não aceitando o individualismo proposto pelo ego.

Ficou claro agora o que é uma encarnação? Isso é uma encarnação. Encarnar nada tem a

ver com carne, com o planeta Terra ou com vida material. Encarnar é um processo que podemos

dizer “mental” já que se trata de uma conscientização de realidades.

Por isto afirmamos no capítulo anterior que aprisionado a verdades criadas por ele mesmo

e adicionadas ao ego, que são mais individualistas do que a sua própria consciência espiritual, o

espírito está “encarnado”. Ele está vivendo uma etapa de provação e pode acontecer durante

aquilo que vocês chamam de vida carnal ou até no que é conhecido como vida espiritual.

Por exemplo. Os espíritos que vocês dizem que estão no umbral são espíritos presos a

uma encarnação. Eles ainda vivem aprisionados a identidades transitórias que viveram quando

junto à carne e, por isso, acreditam nas realidades criadas por ela.

Mas, não é só os habitantes deste “lugar” que ainda estão encarnados. Muitos espíritos

que vocês imaginam que são superiores e que os espíritas dizem que moram nas colônias

espirituais, ainda estão presos a uma encarnação. Isso porque estão presos ao último ego,

possuem uma identidade fundamentada no “eu”, ou seja, a ultima provação que fizeram e ainda

não retornaram ao seu estado natural dentro do seu grau de evolução.

Participante: Demora muito para um espírito se desligar da sua vida

carnal?

O desligar faz parte da encarnação. Têm espíritos ligados ao corpo há cinqüenta cem

anos, assim como existem espíritos ligados ao ego há cinco mil ou mais anos.

Participante: Estou assustada, demora muito mesmo, não? E o senhor,

demorou muito...

Não se assuste...

Frente a eternidade que você vai existir este “tempo” é apenas um “piscar de olhos”. A

sensação de “muito tempo” existe apenas para os seres encarnados. Para o espírito não existe

tempo, ou se existisse não seria dentro da compreensão que vocês têm sobre a sua extensão.

Saiba que nada existe por si, mas que o valor que cada elemento possui é dado pela

comparação com que você faz dele com outros. Por exemplo: um dia para vocês é o fruto da

comparação daquele passar de tempo com uma semana, um ano, uma década ou um século. Isso

torna o período que falei muito longo. Mas, para o espírito a comparação é sempre com a

eternidade. Por isso duzentos mil anos é pouco tempo.

Participante: O senhor falou em espíritos nas colônias ainda vivendo

encarnações. Isso me deixou confuso...

Vou tirar a sua dúvida e aproveito para falar um pouco mais a fundo na compreensão

sobre uma encarnação.

Como é que se reconhece um espírito ligado a um ego, ou seja, ainda vivendo uma

aventura encarnatória? Simples, muito fácil: o espírito individualista, a peça do quebra cabeça

que ainda acha que seu desenho sozinho vale de alguma coisa. O que, em última análise

demonstra o individualismo? A existência do “eu”.

Assim sendo, enquanto um espírito tiver um “eu” e vivenciar como real as interpretações

desse “eu” (eu sou, eu gosto, eu quero, eu pertenço) ele estará vivendo uma etapa de provação e

ainda não terá alcançado o seu retorno à consciência espiritual. Quando um espírito retorna à

consciência espiritual o “eu” é sempre trocado pelo “nós” e o individualismo pelo universalismo.

Como eu disse o espírito reencarnado é como uma peça que se valoriza dentro de um

quebra-cabeça. Já o espírito na sua consciência espiritual anula o valor da sua peça e só pensa no

quebra-cabeça como um todo.

Então, a grande aventura do espírito (uma encarnação), é caracterizada pela existência da

compreensão de ser um “eu”. Enquanto houver esta compreensão, o espírito, não importa que

grau esteja, estará vivendo uma provação.

Isso quer dizer que aqueles que estão nas cidades espirituais, mas que ainda se

reconhecem por algum “eu”, ainda estão encarnados. E isso nos leva ao último assunto que eu

preciso neste momento: um espírito pode viver uma encarnação dentro de uma outra encarnação.

Ou seja, um ser universal pode estar ligado a um “eu” que é formado por um ego e, ao

mesmo tempo, criar uma outra encarnação (outro ego) e ligar-se a um corpo carnal vivendo a

realidade criada por esta segunda consciência.

Participante: Pode explicar melhor...

Antes de mais nada me deixe dizer que não estou falando mal desses espíritos. Muitos

deles são considerados por vocês como de luz e são mesmos. Ou seja, eles são mais

universalizados que os que estão ligados à matéria densa, mas isso não quer dizer que já

recuperaram a sua consciência espiritual.

Um espírito que, habitando aquilo que vocês chamam de mundo espiritual superior, ainda

tenha a consciência de que ele é o “José”, ou qualquer outro nome, ainda está encarnado.

Mesmo não estando ligado a carne e vivendo naquilo que é conhecido como mundo espiritual,

ele está ligado a uma encarnação, onde assumiu a personalidade “José”. Mesmo não ligado a

carne ele está numa encarnação porque ainda existe um “eu.”

Este espírito, vivendo a encarnação “José” no mundo espiritual, pode preparar uma nova

identidade para vivenciar no mundo material, assumi-la e depois voltar a ser o “José”. Ele sairá

do mundo espiritual e virá para o mundo material (estes dois planos na Realidade não existem,

mas estou usando estes termos para facilitar a compreensão de vocês) onde vivenciará uma nova

identidade, mas ainda estará numa encarnação onde ele era o tal do “espírito José”.

No entanto, um dia o “José” também acabará, ou seja, a ação da individualidade crendo-

se isolada do todo terá que um dia acabar para que o espírito possa completamente interpenetrar

no Universo. Só nesse momento pode-se afirmar que ele está novamente de posse da sua

identidade espiritual, da sua consciência espiritual.

Veja o exemplo de “André Luís”. Ele desencarnou e com isso assumiu uma nova

personalidade: a de “André Luís”. Nela ele viveu na “cidade” que vocês chamam de “Nosso Lar”

e executou brilhantes trabalhos de auxílio aos encarnados.

No entanto, um dia, ele foi instigado a buscar além da própria realidade, ou seja, daquela

cidade onde vivia. Conseguiu, então, compreender a fusão com o Universo e desligou-se daquela

realidade temporária. Hoje ele está no Universo, mas aceita voltar constantemente ao “Nosso

Lar” para auxiliar aqueles que ainda estão presos a este “cantinho do Universo” como sendo a

Realidade, como o Todo que pode existir.

E, com este conhecimento, amplio, então, a resposta sobre os ovóides. Os espíritos que

são vistos com esta forma, vivenciados com esta realidade, podem até não estar mais na

personalidade que tiveram durante a vida material, mas estão com uma outra personalidade com

a qual vocês convivem atribuindo esta forma.

Participante: Complicado...

Eu acredito até que seja, mas somente para aqueles que ainda estão presos à idéia de uma

encarnação como uma matéria, como vida carnal. Mas, universalmente falando, encarnação não

é prisão à matéria ou à vida carnal, mas é caracterizada com a ligação com uma consciência

fundamentada no individualismo, ou seja, com a existência de um “eu”. E isso acontece dentro e

fora da carne, neste “mundo” ou no outro.

Capítulo 3 – Conhecendo o palco da aventura

Participante: Dá para entender uma encarnação como uma peça de

teatro onde o script, o roteiro, está todo previamente programado?

Sim; e esta peça tem um nome: “A Divina Comédia Humana”.

Participante: E temos apenas que seguir o programado?

Não. Você irá obrigatoriamente seguir o que está programado, mas pode valorizar de

formas diferenciadas o que está lhe acontecendo. Agindo desta forma alterará, pelo menos para

você mesmo, o sentido dos acontecimentos. Vou explicar melhor.

Uma pessoa anda na rua e em determinado momento surge um acontecimento: alguém

enfia a mão no seu bolso e de lá retira o seu dinheiro. Para você hoje isso é um “assalto”. A partir

do momento que tiver compreendido a “lei do carma” (Deus dando a cada um segundo as suas

obras para que o acontecimento sirva de um instrumento para a provação do ser) Não mais se

verá vivenciando um assalto, mas o seu carma. Universalizando-se mais, ou seja, alcançando o

sétimo nível de consciência da reforma íntima onde se vivencia os acontecimentos da vida carnal

numa estreita relação amorosa com Deus (amando-O e sentindo-se amado por Ele) para você a

realidade sobre o acontecimento não mais será o roubo, mas o amor de Deus por você em ação.

Sendo assim, podemos então afirmar que o script da peça, o roteiro, o acontecimento da

vida está escrito (o ato de alguém enfiar a mão no seu bolso e de lá tirar seu dinheiro), mas o

valor com o qual vivenciará os acontecimentos e que gerará uma realidade, depende do seu grau

de elevação ou universalização.

Participante: O senhor fala em viver tudo com amor?

Sim, mas estou falando de um amor diferente: o amor universal, incondicional. Quando

você participa dos acontecimentos da vida carnal com este sentimento as realidades mudam. Um

ato de agressão, por exemplo, passa a ser vivenciado como um ato de amor de Deus.

Respondendo definitivamente a sua primeira pergunta, o ato vai acontecer como pré-

determinado, mas você pode vivenciar as mesmas situações de outros, tendo realidades

diferentes deles.

Participante: Não há espaços para improvisos?

Só se Deus pudesse ser pego de calças curtas... Você acha que Deus pode ser pego

desprevenido, ser surpreendido por alguma coisa? Claro que não, pois se assim fosse, Ele não

seria Onisciente.

Então, não há espaço para improvisação.

Respondida às questões iniciais, vamos voltar ao nosso estudo para nos aprofundarmos

mais na compreensão da maior aventura que o espírito vive: a encarnação.

Como já foi dito, a encarnação acontece quando o espírito se liga a uma consciência

diferente da sua. Este fato cria para o ser uma realidade diferente do que é Real, daquilo que só

pode ser percebido quando o espírito está conscientemente ligado à sua consciência espiritual.

Nós chamamos esta realidade com a qual o ser convive durante a encarnação de “ilusão”.

Krishna chama, de “maya”.

Assim sendo, afirmamos que o espírito ligado a uma consciência ego não vive a

Realidade, mas vive uma realidade ilusória que Krishna chama de maya e, também, muitas vezes

se refere a elas como “fantasias fantasmagóricas”. Mas, como se formam estas ilusões? Como é

criada a realidade com a qual o ser humanizado convive diuturnamente?

Como, por exemplo, você olha para determinado “lugar” a ali “vê” uma parede? O que

lhe leva a acreditar e ter certeza de que ela é real, apesar de não ser apenas uma ilusão? Como

isto se processa; como a parede é criada na “mente” do ser humanizado? É sobre isto que vamos

conversar agora.

Toda a realidade, quer em forma ou em valor, que um espírito vivencia quando ligado ao

ego é criada pelo processo “raciocínio”. É este processo que cria as realidades ilusórias com as

quais o ser humanizado convive durante a encarnação. Mas, o raciocínio não cria por si só: ele

age a partir de uma coisa chamada “percepções”.

Então vamos, neste capítulo, conversar sobre a formação da realidade das coisas para o

espírito e iniciaremos falando das “percepções” do ser humanizado.

A realidade do ser encarnado começa na percepção, ou seja, na audição, na visão, no

olfato, no paladar ou nas sensibilidades que o corpo físico tem. Estas sensibilidades, seja ela

auditiva ou qualquer outra, são descargas elétricas. O que interpenetra pelos órgãos sensitivos (o

que você vê, por exemplo) é uma onda de eletricidade, que não deixa de ser fluído cósmico

universal porque tudo que existe é formado desta matéria energética, e não o objeto em si. O

objeto nasce no ego...

O ego recebe, a partir dos olhos, do ouvido, do nariz, da boca ou das células sensitivas do

corpo físico, as cargas elétricas ou eletromagnéticas. Quando isso ocorre, ele inicia um processo

raciocínio sobre o conjunto de cargas elétricas que entraram pelos órgãos sensitivos. É aí que

“nasce” a realidade da existência do objeto.

Isto porque no ego existem códigos que criam realidades a partir de um impulso elétrico.

Desta forma, a parede em si como um objeto não existe. O que está sendo percebido não é uma

“parede”, mas sim um impulso elétrico, que está sendo captado pelos órgãos do corpo e levados

ao ego. Só lá este impulso ganha o valor de “parede”. Então, o que é Real é a energia e não a

“parede”.

O corpo humano, assim como todas as formas percebidas pelo ser humanizado, também

não existe: o que é Real é a energia elétrica que é decodificada como corpo humano ou qualquer

outro elemento que você conheça.

Através deste processo estão criados, então, os elementos de cena (cenário) da vida

humana. Eles são gerados pela decodificação que o ego faz de cargas energéticas que são

percebidas com o auxílio dos órgãos sensitivos do corpo humano.

Este processo não é válido apenas para as coisas matérias, mas para tudo que passa pela

razão, ou seja, pelo processo raciocínio que o ego faz. Aquilo que os seres humanizados vêem

como “mundo espiritual” (elementos que não são percebidos pela maioria dos encarnados) só

existe através do mesmo processo. São pulsos elétricos decodificados de determinada forma pelo

ego.

Na Realidade, tudo que é levado à consciência do ser humanizado é fruto de uma

codificação para determinados padrões energéticos. Por isso Krishna ensina: tudo que lhe vem à

mente é fruto do ego e, portanto, um maya.

Mas, este processo, que é Universal, não se aplica apenas ao ser humanizado, mas a todos

os “princípios inteligentes do Universo” (os espíritos). A “visão” de um ser ligado à sua

consciência espiritual funciona da mesma forma. É a consciência espiritual que cria as formas

universais e, por isso, elas não são reais.

A única diferença é que o espírito quando de posse da sua consciência espiritual sabe

disso e, portanto, não dá àquilo que foi criado como visão o valor de real. Já o ser humanizado,

aquele que vive a partir do que o ego lhe cria sem contestações (acreditando que é real), não tem

esta consciência e, por isso, acredita nas decodificações feitas por este elemento.

Portanto, o espírito desligado de sua consciência espiritual vive no seu consciente

submisso às decodificações de energia elétrica criadas pelo ego. Já quando ele está de posse da

sua consciência eterna a decodificação continua existindo, apenas sendo criadas com formas

diferentes das carnais, mas o ser não aplica a elas o valor de real.

Participante: Todas as pessoas decodificam os objetos da mesma

forma?

Não. Os daltônicos, por exemplo, não decodificam da mesma forma as cores.

Mas, você me diria: ele é um doente. Isso não é realidade. O que é Real em qualquer

doença que interfere na criação de formas são egos com programações diferentes. Não existem

doenças físicas, até porque não existem corpos...

Isso é só um exemplo. Quer outro, que não dependa de saúde? Existem espíritos

encarnados que sentem um paladar doce e outros que têm a sensação de azedo na mesma fruta.

Participante: E com relação às formas grandes?

Você diz aos elementos “grandes” da Terra: paredes, carros, etc. Sim, estes quase todos

vêem de uma forma igual, apesar de, ainda assim mesmo, existirem alguns que os percebem de

forma diferenciada.

Por exemplo. Aqueles que tem “problemas de visão” (que também não são doenças)

vêem as coisas grandes fora de foco, o que lhes dá uma forma diferente daquela que é percebida

pelos demais. No entanto, estes também possuem uma programação que cria a necessidade da

ilusão de ter óculos para poder “enxergar” (formar a imagem no ego) de forma aparentemente

igual aos demais.

Apesar disso, quase todos vêem estes elementos de uma forma igual. E isto é necessário

porque senão haveria a confirmação que os elementos do mundo carnal são ilusões, ou seja, são

elementos que só existem individualmente e não coletivamente. Com esta confirmação lógica e

racional não haveria o exercício da Fé.

Estas percepções, portanto, formam o “palco da aventura do espírito” ou o “local de

realização da encarnação”. Esta Verdade (o que existe é criação do ego a partir de decodificação

de impulsos elétricos) vale para qualquer coisa que você chame de matéria. Porque o único

elemento material do universo é o fluído cósmico universal.

NOTA: Este ensinamento consta de ‘O Livro dos Espíritos’, perguntas

27, 30, 31, 32 e 33, além do comentário de Kardec sobre o assunto, que

transcrevemos abaixo.

“27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o

espírito? Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus,

espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade

universal”.

“30. A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só

elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros

elementos, são transformações da matéria primitiva”.

“31. Donde se originam as diversas propriedades da matéria? São

modificações que as moléculas elementares sofre, por efeito da sua união, em

certas circunstâncias”.

“32. De acordo com o que vindes de dizer, os sabores, os odores, as

cores, o som, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de

modificações de uma substância primitiva? Sem dúvida e que só existem

devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las”.

“33. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as

modificações e de adquirir todas as propriedades? Sim e é isso o que se deve

entender, quando dizemos que tudo está em tudo”.

“O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que

consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva.

Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo

pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros

elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova

ordem.”

Portanto, saiba: se você não vê fluído cósmico universal, está decodificando um impulso

elétrico gerado pelo elemento energético universal.

A partir deste conhecimento, podemos, então, entender que não existe o planeta Terra, as

estrelas que brilham no céu e nem o próprio Universo que você imagina-se capaz de ver. Tudo

isto são decodificações de amontoados de fluído cósmico universal.

E a partir desta conscientização, a primeira coisa que deve ser compreendia é que não

existem “formas”. Alguém já viu uma energia elétrica? Você pode ter visto o clarão, o brilho

resultante da ação da energia, mas não ela mesma. No entanto, neste momento, você está sendo

bombardeado por energias elétricas e eletromagnéticas e não as está percebendo.

Assim, se tudo é energia elétrica, a “forma” que as coisas possuem para você são fruto de

codificações que estão no ego, ou como o Espírito da Verdade disse, “só existem devido à

disposição dos órgãos (organismos, o ego) destinados a percebê-las”.

E isto, como disse anteriormente, vale para todo Universo. Desta forma posso afirmar

que em Marte, por exemplo, existe uma programação específica à qual chamaremos de

“marciana”, que decodifica os impulsos elétricos de lá. Ou seja, os espíritos que encarnam no

orbe daquele planeta conseguem “ver” as coisas de lá, mas você, espírito que está ligado a um

ego humano da Terra, não é capaz de ver as coisas de Marte. Isto porque você não tem no seu o

programa para decodificar o que existe lá.

Quem trabalha com computador sabe muito bem o que estou dizendo. Para que você

ouça, veja, ou simplesmente “abra” um arquivo, precisa ter o programa próprio para “abri-lo”

(decodificá-lo). Se não o tiver de nada vale possuir aquele arquivo, pois não conseguirá trazer à

realidade o seu conteúdo.

O que estou falando agora a respeito da percepção das coisas de outros planetas é a

mesma coisa. Se você não tem embutido no seu ego o “programa” necessário para decodificar o

que está em Júpiter, de nada adianta ir lá, porque nunca verá a realidade daquele planeta.

Continuará vivendo a sua realidade, ou seja, aquilo que é capaz de perceber.

Isto, então, define a encarnação nos diversos planetas: fusão de seres universais com egos

preparados para a vida em determinados planetas do Universo, ou seja, com os instrumentos

necessários para a decodificação em formas que é gerada pelos impulsos elétricos deste “lugar”.

É por isso que em “O Livro dos Espíritos” o Espírito da Verdade diz assim: “em cada

mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo”

(pergunta 132). Não é a matéria em si que constitui o instrumento do espírito para viver em

determinados mundos, porque como já vimos existe apenas uma que é Real e que “cria” tudo o

que existe. O que está sendo dito no ensinamento é que o espírito toma uma programação, ou ego

pré-programado, que é capaz de criar realidades, diferenciada em cada planeta, em cada mundo.

Participante: Existem matérias, mas não como as vemos. É isso?

Realmente, existe uma matéria: fluído cósmico universal. Esta é a matéria do Universo.

Mas ela você não consegue perceber.

Isto é a encarnação nos diversos planetas: espíritos que estão ligados a ego pré-

programados para criar realidades do mundo que vão viver.

A partir daí, então, podemos definir o ser humano (o habitante do planeta Terra) como

um espírito ligado a um ego pré-programado para criar as realidades que “existem” neste orbe.

Participante: Tem como alguém que já tenha os “programas da Terra”

conseguir os de Marte?

Neste momento não.

O que acontece com aqueles que dizem ter a visão do que acontece fora desse orbe é que

eles recebem, por intuição, de espíritos fora da carne, uma interpretação terrestre do que é

realidade em Marte. Os seres universais presos ao orbe terrestre não conseguem ver a realidade

de Marte por ela mesma enquanto estiverem ligados a um ego terrestre.

No futuro, quando o universalismo for realidade para os seres humanizados, o ego

terrestre estará apto a ver realidades de outros mundos e não mais precisará interpretar para

conhecer o que existe neles.

Voltemos a nossa busca de compreender a peça “Divina Comédia Humana”, ou seja, a

sua vida.

O ego não possui só esta característica que abordamos até agora (criar formas) à qual eu

chamarei de “técnica”. Além do programa que cria as formas, o ego possui ainda outro que opera

com verdades emocionais individualizadas.

O que quer dizer isso? Isto quer dizer que o ego tem uma pré-programação de sensações

(sentimentos racionais, baseados em motivos) que ele leva ao consciente do espírito juntamente

com aquilo que foi decodificado tecnicamente (a forma). Vou dar exemplo para melhor

compreensão...

Você imagina que está num carro. Falo assim porque achar que está num carro é uma

ilusão, não? Como já vimos você é o espírito e não o ser humano e nem existe o carro nem os

seus acessórios.

Digamos, então, que você está vivenciando uma decodificação de energias feita pelo ego

e está acreditando que está num carro. Esta forma de explicar fica mais difícil de compreender,

mas está mais adequadamente dentro da realidade comentamos até aqui.

Este veículo encontra-se, de acordo com as percepções que o ego recebe, em alta

velocidade. Imaginar-se dentro do carro e que ele possui uma velocidade são percepções que o

ego lhe dá, não realidades, mas isso é apenas uma parte do funcionamento da consciência

transitória que o ser universal está ligado.

Além desta parte técnica existe a emocional. Os egos são programados com pré-

disposições para, ao mesmo tempo em que lhe cria a ilusão da forma, também gerem sensações

como o medo, o nervosismo, a confiança ou a tranqüilidade. Ele faz tudo funcionar

simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo em que lhe dá a ilusão de percepção de formas, cria

um estado emocional vinculado àquilo que ele diz que está acontecendo.

Portanto, o ego possui uma pré-programação que vai decodificar de determinada forma as

situações e, além disso, também trará ao consciente determinada sensação, que chamaremos de

característica “sensitiva” do ego, que vinculará à ilusória percepção.

Isto é um conhecimento técnico, mas o que interessa não é a cultura, mas sim o que

representa para você o que está aprendendo. Assim sendo, vou deixar bem claro o que quero

dizer: você não fica nervoso, chateado, preocupado ou tem qualquer outra emoção que conheça.

Quem possui estas sensações é o ego e não você.

Acontece que você está tão intimamente ligado ao ego, a tal ponto de imaginar-se ele, que

acaba optando por sentir o mesmo que a consciência transitória trouxe ao seu consciente. Ou

seja, você está ligado a um ego que através de uma codificação lhe insufla achar que está

nervoso ou com medo.

É por isso que a psicologia ensina que você deve vencer os seus medos. Isto é necessário

porque esta sensação não é sua, mas do ego.

Vencer o medo é reagir com confiança e fé em Deus quando o ego lhe diz que deve

igualar seus sentimentos a esta sensação. Isto a psicologia não ensina, mas o espiritualismo sim.

Então, dentro da compreensão do palco da “Divina Comédia Humana” temos que

compreender que o ego tem a sua parte técnica, aquela que cria as formas, mas também tem a

parte das sensações com as quais o ser humanizado participa das cenas da peça.

Participante: Vou usar o seu exemplo do medo. Esta pré-programação

de ter a ilusória sensação de sentir medo, como ela é mudada? Estou falando

isso porque isso aconteceu comigo. A vida toda sempre tive muito medo de

velocidade de carro e isso agora está mudando. Tal comportamento também é

uma pré-programação, ou seja, ter medo durante uma determinada fase da

vida e depois deixar de ser insuflado pelo ego com esta sensação também foi

anteriormente programado?

Diga-me uma coisa: você realmente perdeu o medo? Ele não existe mais realmente?

Pergunta: Tenho dirigido mais rápido sem o pavor que eu tinha...

Mas, perdeu ou venceu o medo? Ou seja, esta sensação não vem mais ou sempre que ela

vem você não a aceita? Não é a segunda hipótese que tem acontecido?

Participante: Sim é assim que acontece. A sensação de medo vem mas

eu procuro eliminá-la....

Veja bem. A pré-programação não mudou e jamais mudará. O medo vem, mas você, por

um determinado processo, que, aliás, é comum a todos, é que se liberta dela. O ego continua lhe

insuflando a sensação de medo só que você se liberta do ego e não aceita mais o que ele lhe dá

emocionalmente.

Isto é uma escolha sentimental, portanto, um ato espiritual e este tipo de ação não é pré-

programada, mas vivenciada pelo ser naquilo que vocês chamam inconsciente.

Participante: Mas confiança e fé também não são sensações

codificadas do programa?

Podem até ser. Se forem motivadas por lógicas racionais (tenho fé porque já me provou

que posso ter, confio porque acredito na capacidade, etc.) são sensações e, sendo assim, estão no

programa, são frutos do ego.

Agora, sensação é uma coisa, sentimento é outra. A sensação é aquilo que o ego lhe

impõe e o sentimento é aquilo com qual o espírito vivencia a situação.

O ego pode lhe dar medo, a sensação de medo, mas o espírito pode libertar-se desta

nutrindo interiormente (sem bases racionais que justifiquem seu estado de espírito) a Fé e a

confiança ou pode escravizar-se a esse medo.

Este nutrir interiormente, como já falei, não pode conter lógicas racionais, ou seja, é um

estado de espírito que não pode ser compreendido por idéias ou imagens. Quando a confiança e a

Fé forem exercidas dessa forma, elas serão frutos do espírito e, assim, não estarão pré-

programadas para ocorrem. Deu para compreender...

Participante: Mas a libertação do medo também não é pré-

programada?

É o mesmo caso anterior... A compreensão da libertação é pré-programada, mas a

alcançar a Real liberdade não.

As sensações são pré-programadas e continuarão enquanto tiver informação para tanto.

Elas só podem ser extintas por um pré-programa que contemple essa situação.

Sentir-se libertado por uma compreensão lógica (hoje não fico mais nervoso, hoje sou

mais amorosa) são compreensões (sensações) criadas pelo ego e que, aparentemente, lhe dizem

que você está liberto. Isto é pré-programado.

Agora, ter constantemente o seu interior num estado de espírito que lhe mantenha

constantemente em paz, felicidade e harmonia com o Universo, mas que você não sabe definir

que é isso, é a verdadeira liberdade. Esta não está pré-programada e será fruto do trabalho do

espírito em provar a si mesmo o que aprendeu antes da encarnação.

Levado ao seu sentido mais amplo, viver é isso: o ego propõe através da razão as

sensações e o espírito se escraviza ou se liberta, mas neste caso não tem nem a compreensão de

que está livre.

Participante: E os sentimentos não são codificações?

Não, as sensações são, mas o sentimento com que um ser humanizado vivencia uma

sensação lançada pelo ego ao consciente é livre-arbítrio do espírito e, por isso, não são

previamente codificados.

O ego pode, forçado por uma pré-programação, estar lhe mandando uma sensação de

tristeza, mas você pode não aceitá-la e vivenciar a mesma criação da parte técnica com alegria.

Isto não há como se pré-determinar, já que é o objetivo da vida, da provação do espírito.

Alguns poderiam até dizer que Deus sabe de antemão como o espírito reagirá utilizando o

seu livre-arbítrio, já que ele é Onisciente, e eu acredito que esta pessoa tenha razão. No entanto,

mais ninguém sabe. Nem os mentores, guias ou qualquer ser que esteja auxiliando o espírito

encarnado, nem o próprio ser universal, sabem como ele reagirá às suas provações.

Sendo assim, podemos dizer que a escolha do espírito é uma incógnita para a

espiritualidade.

Mas, a pouco falei que a libertação se dá quando o ser reage com a alegria a qualquer

sensação que o ego lhe traz ao consciente. Isso precisa ser um pouco mais explanado para não

confundir com algum elemento terrestre.

A alegria que estou falando não é a do sorriso fácil, fruto de brincadeiras, mas aquele

estado de espírito onde reine a paz, a equanimidade e a tranqüilidade. Quando este estado for o

seu padrão de reação a acontecimentos, não importando o que o ego está propondo, você viverá

da seguinte forma: “estou triste, e daí?”. Agora aquele que se escraviza de outro jeito: “meu

Deus, como estou triste, como tudo é ruim”. Este caiu na cilada que o ego armou como provação.

Não sei se dá para vocês entenderem o que estou falando porque, para os seres

humanizados, a sensação com que se vive determinado acontecimento é escolhida por eles

mesmos, mas isso é uma ilusão. Ela é escolhida pelo ego utilizando-se para tanto de pré-

programações que o espírito faz antes da encarnação quando determina o gênero das provações

que vai vivenciar. E, sem isso não haveria provação para o espírito, como antes já conversamos.

Participante: Mas, não vem tudo escrito no Livro da Vida, até esse

momento da libertação?

Até o momento da libertação vem pré-programado, se você se refere a compreensão de

ter se libertado ou a tipos de atos, ou seja, a criações de formas de acontecimentos pelo ego. O

que estou falando como liberdade é do seu interior...

Estou falando da libertação interna que o espírito faz com relação às sensações que o ego

lhe cria. Isto não se traduz em atos, muito menos em compreensões lógicas, e, por isso, não está

dentro de um planejamento fechado. Isso você alcança ou não durante a encarnação e é o próprio

resultado da provação.

Se estiver escrito que você praticará atos que, aparentemente, demonstrarão que alcançou

a liberdade, eles existirão a partir do momento pré-determinado para tanto. Se houver uma pré-

programação para que a partir de algum momento o ego lhe leve ao consciente a ilusória

compreensão de que está liberto, isto acontecerá. Mas tudo isso não quer dizer que internamente

você não está mais sentindo as sensações que o ego cria.

Ponham de vez uma coisa em suas mentes: tudo aquilo que for gerado como fruto de uma

razão (passou pelo processo racional, é conhecido por uma lógica conhecida pelo raciocínio), é

gerado pelo ego a partir de pré-programações. Tudo aquilo que não pode ser explicado, que não

pode ser conhecido por valores conhecidos pela humanidade, é Real, é obra do ser.

Com as graças de Deus!