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III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Espetáculo, Simulacro, Tribalismo e Hipermodernidade: os paradoxos da sociedade da imagem. Juliana Tonin, Juremir Machado da Silva (orientador) Programa de pós-graduação, Faculdade de Comunicação Social, PUCRS, Resumo A presente pesquisa busca refletir acerca de um objeto central na cultura contemporânea: a imagem. Seja midiática ou virtual esta penetra profunda e constantemente no cotidiano das pessoas promovendo um rearranjo das relações entre elas e o mundo. Este rearranjo pretende ser refletido através de um estudo teórico que privilegia os apontamentos de quatro pensadores franceses sobre as temáticas das transformações contemporâneas, sendo a imagem um dos elementos destacados como principal agente das metamorfoses. Determina-se que a tese 04 de Debord, “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada pelas imagens”, será o ponto de partida desta pesquisa. Isto porque se tem como objetivo confrontar idéias discordantes de quatro pensadores franceses acerca da questão de fundo “qual é o papel que a imagem exerce atualmente no social?”. E, por derivação: “qual é a conseqüência, as mudanças que podem ser percebidas a partir desta atuação?”. Esta opção, a da tese 04 de Debord como pontapé inicial, justifica-se porque ela condensa objetivamente as respostas segundo este autor, assim sendo, a imagem exerce papel de mediadora das relações sociais e a conseqüência disto é o espetáculo. Quer-se buscar em Jean Baudrillard, Michel Maffesoli e Gilles Lipovetsky a mesma possibilidade de afirmação sucinta, avançar nos emaranhados racionais que conduziram os autores a ela e, finalmente, estabelecer um confronto de idéias. É possível, num primeiro momento, desencadear o seguinte pensamento: para Debord o que se configura atualmente é o espetáculo, o que pode ser, segundo Baudrillard, o simulacro. Simultaneamente pode-se pensar na socialidade maffesoliniana e na hipermodernidade lipovetskiana. Tudo depende do ponto de vista, este produz significações profundamente diversas. Tensionar as respostas dadas pelos autores pela (re)criação da tese

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  • III Mostra de Pesquisa da Ps-Graduao PUCRS, 2008

    III Mostra de Pesquisa da Ps-Graduao

    PUCRS

    Espetculo, Simulacro, Tribalismo e Hipermodernidade:

    os paradoxos da sociedade da imagem.

    Juliana Tonin, Juremir Machado da Silva (orientador)

    Programa de ps-graduao, Faculdade de Comunicao Social, PUCRS,

    Resumo

    A presente pesquisa busca refletir acerca de um objeto central na cultura

    contempornea: a imagem. Seja miditica ou virtual esta penetra profunda e constantemente

    no cotidiano das pessoas promovendo um rearranjo das relaes entre elas e o mundo. Este

    rearranjo pretende ser refletido atravs de um estudo terico que privilegia os apontamentos

    de quatro pensadores franceses sobre as temticas das transformaes contemporneas, sendo

    a imagem um dos elementos destacados como principal agente das metamorfoses.

    Determina-se que a tese 04 de Debord, o espetculo no um conjunto de imagens,

    mas uma relao social entre pessoas, mediada pelas imagens, ser o ponto de partida desta

    pesquisa. Isto porque se tem como objetivo confrontar idias discordantes de quatro

    pensadores franceses acerca da questo de fundo qual o papel que a imagem exerce

    atualmente no social?. E, por derivao: qual a conseqncia, as mudanas que podem ser

    percebidas a partir desta atuao?. Esta opo, a da tese 04 de Debord como pontap inicial,

    justifica-se porque ela condensa objetivamente as respostas segundo este autor, assim sendo, a

    imagem exerce papel de mediadora das relaes sociais e a conseqncia disto o espetculo.

    Quer-se buscar em Jean Baudrillard, Michel Maffesoli e Gilles Lipovetsky a mesma

    possibilidade de afirmao sucinta, avanar nos emaranhados racionais que conduziram os

    autores a ela e, finalmente, estabelecer um confronto de idias.

    possvel, num primeiro momento, desencadear o seguinte pensamento: para Debord

    o que se configura atualmente o espetculo, o que pode ser, segundo Baudrillard, o

    simulacro. Simultaneamente pode-se pensar na socialidade maffesoliniana e na

    hipermodernidade lipovetskiana. Tudo depende do ponto de vista, este produz significaes

    profundamente diversas. Tensionar as respostas dadas pelos autores pela (re)criao da tese

  • III Mostra de Pesquisa da Ps-Graduao PUCRS, 2008

    04 para cada um deles objetivo primeiro desta pesquisa. Isto para atingir, quem sabe, uma

    verso atual da tese, provocada pela aproximao de cada reflexo.

    A tese 04 condensa em apenas duas linhas a certeza de que h uma redefinio do

    social, de que a imagem o elemento fundamental desta mudana, mas no o suficiente. E

    acredita-se que, justamente nesta insuficincia, que se abrem os espaos para as divergentes

    concluses e interpretaes do social a serem exploradas aqui.

    Pode-se definir a imagem, aqui, da mesma maneira que Muniz Sodr1 define a

    comunicao: a comunicao no apenas a mdia. Ela diz respeito, sem dvida, verdade

    dos relacionamentos entre as pessoas (2001, p. 22). Compreender estes relacionamentos sob

    a gide destes autores uma escolha entre outras. Muitos outros cruzamentos poderiam ser

    estabelecidos. Entretanto, pensa-se que a proximidade das teses de Debord e Baudrillard,

    juntamente com as derivaes dspares de Maffesoli e Lipovetsky, apresenta relaes e

    originalidade tais que propiciam, possivelmente, uma barreira para a compreenso de um

    sentido nico, para a construo de um conhecimento em linha reta. Enquanto Baudrillard

    retira o carter sagrado, crtico de apresentao do problema e conseqente proposio da

    soluo presente em Debord, Maffesoli e Lipovetsky esfumaam o carter catastrfico de

    ambos, mas sem consenso entre eles.

    Ao mesmo tempo em que o espetculo de Debord uma condenao da sociedade da

    imagem pela alienao e massificao produzidas no social e advertncia para uma

    imprescindvel tomada de conscincia (idia do sujeito), o hiper-real de Baudrillard uma

    constatao da desrealizao do mundo pela imagem e da impossibilidade de retorno a um

    estgio anterior (fim do indivduo). Contudo, para Gilles Lipovetsky, a hipermodernidade a

    complexificao de um estgio no qual surge um incontestvel avano nas condies de vida,

    liberdade e autonomia dos indivduos, simultaneamente ao aparecimento de novas

    desigualdades e formas de dependncia. Para ele, emerge a figura do hipernarciso, um

    indivduo soberano de si e engajado muito mais em prticas para escapar da dor do que para

    obter um prazer efmero. Para Michel Maffesoli, a sociedade da imagem demarca o fim do

    individualismo e o nascimento da sociedade tribal caracterizada pela convergncia entre

    prticas arcaicas e desenvolvimento tecnolgico. A imagem tem funo gregria, gera lao

    social, cria microgrupos transitrios, efmeros, protagonizados por personas que fazem da

    vida uma sucesso de instantes eternos fundamentados no prazer. A imagem no o contedo

    1 SODR, Muniz. A Televiso uma forma de vida. In: Revista Famecos: Porto Alegre, n 16, pp. 18-35, dez. 2001.

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    que forma uma nova sociedade, mas o elemento que promove a socialidade, o reencantamento

    do mundo. Em linhas gerais so estes os pontos de partida para se pensar nas mudanas

    sociais promovidas pela imagem.

    Referncias BAUDRILLARD, Jean. A Iluso Vital. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2001 [2000]. ___. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edies 70, 2003 [1970]. ___. A Transparncia do Mal: ensaios sobre os fenmenos extremos. So Paulo: Papirus, 2003 [1990]. ___. A Troca Simblica e a Morte. So Paulo: Loyola, 1996 [1976]. ___. Carnaval/Cannibal. In: Revista Famecos: Porto Alegre, n 28, pp. 7-17, dez. 2005. ___. As Estratgias Fatais. Lisboa: Estampa, 1990 [1983]. ___. Da Seduo. Campinas, SP: Papirus, 1991 [1979]. ___. De um Fragmento ao Outro. So Paulo: Zouk, 2003 [2001]. ___. Les Exils du dialogue. Paris: Galile, 2005. ___. Le Pacte de lucidit ou lintelligence du Mal. Paris: Galile, 2004. ___. O Crime Perfeito. Lisboa: Relgio Dgua, 1996 [1994]. ___. O Paroxista Indiferente. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999 [1997]. ___. O Sistema dos Objetos. So Paulo: Perspectiva, 1993 [1968]. ___. Para uma Crtica da Economia Poltica do Signo. Lisboa: Edies 70, 1995 [1972]. ___. Tela Total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre: Sulina, 2002 [1997]. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997 [1967] DURAND, Gilbert. A Imaginao Simblica. So Paulo: Cultrix, 1988. ___. As Estruturas Antropolgicas do Imaginrio. So Paulo: Martins Fontes, 2002. ___. O Imaginrio: ensaio acerca das cincias e da filosofia da imagem. Rio de Janeiro: DIFEL, 2001. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Mtodo: traos fundamentais de uma hermenutica filosfica. Petrpolis: Vozes, 2002 [1986]. JAPPE, Anselm. Guy Debord. Petrpolis: Vozes, 1999. LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaio sobre o individualismo contemporneo. Lisboa: Relgio Dgua, 1989. ___. A sociedade ps-moralista, o crepsculo do dever: a tica indolor dos novos tempos democrticos. Barueri: Manole, 2005 ___. A terceira mulher: permanncia e revoluo do feminino. So Paulo: Cia das Letras, 2002. ___. Le bonheur paradoxal. Paris: Gallimard, 2006. ___. Metamorfoses da cultura liberal: tica, mdia, imprensa. Porto Alegre: Sulina, 2004. ___. O Imprio do Efmero: a moda e seu destino nas Sociedades Modernas. So Paulo: Companhia das Letras, 1989. ___. O luxo eterno: da idade do sagrado ao tempo das marcas. So Paulo: Cia das Letras, 2005. ___. Os tempos hipermodernos. So Paulo: Barcarolla, 2004. MAFFESOLI, Michel. A comunicao sem fim (teoria ps-moderna da comunicao. In: Genealogia do Virtual: comunicao, cultura e tecnologias do imaginrio. Porto Alegre: Sulina, 2004. ___. A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco, 1984. ___. A Contemplao do Mundo. Porto Alegre: Artes e Ofcios, 1995. ___. A parte do Diabo: resumo da subverso ps-moderna. Rio de Janeiro: Record, 2004 [2002]. ___. A Transfigurao do Poltico: a tribalizao do mundo. Porto Alegre: Sulina, 1997 [1992]. ___. A Violncia Totalitria: ensaio de antropologia poltica. Porto Alegre: Sulina, 2001. ___. Elogio da Razo Sensvel. Petrpolis: Vozes, 2005 [1996]. ___. No Fundo das Aparncias. Petrpolis: Vozes, 1996. ___. O Conhecimento Comum: Compndio de Sociologia Compreensiva. So Paulo: Brasiliense, 1988. ___. O Imaginrio uma Realidade. In: Revista Famecos, Porto Alegre, n 15, p. 74-81, ago. 2001. ___. O Instante Eterno. So Paulo: Zouk, 2003 [2000]. ___. O Mistrio da Conjuno. Porto Alegre: Sulina, 2005 [1997]. ___. O Tempo das Tribos: o declnio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1998. ___. Sombra de Dioniso. So Paulo: Zouk, 2005. MORIN, Edgar. O Mtodo 3: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999 [1986].